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Dedicatória
À Amanda – Que estas histórias inspirem sua vida. E, acima de tudo, às minhas
companheiras Diana e Juliana, exemplos de garra, força, amor e apoio. Eu amo vocês, minhas
Shaktis, que tanto me iluminam, seus amores sempre são uma alavanca e dão um sentido maior
a minha vida.
Para meus amados pais que, sempre me incentivaram o habito saudável de ler. Ler muito.
À Katalina F. Mera, por ter-me proporcionado a minha primeira viagem à Índia e por sua
amizade.
Aos milhares de alunos da Humaniversidade uma escola de iluminação, formação
terapêutica, e seres que não desistem de nada.
Também à Cici e Luís Fernando, que me proporcionam momentos de Paz e Reflexão ao me
hospedarem.
Às pessoas que me influenciaram em meu trabalho, com histórias, contos e passagens
misticas como Cláudia (amiga do colégio que me apresentou os livros do Osho), Carlos Henrique
(Caco), Leo Reisler, Vilma Agnelli, Rakel, Leonardo Boff, Lio Pai Lin, Mário Paciente, Roberto
Freire, Edmundo Pelizardi, Murillo Nunes Azevedo, Ananda Ram, Ramana, Harishi Johari,
Dalai-Lama, Monja Coen, Satya Prem, Rabino Sobel, Osho, Carlos Godo, Gurdieff, Rabino
Joseph Salton, Chasqui e Diane Stein.
1
"Se um homem começa com certezas, chegará ao fim com dúvidas;
mas, se ficar satisfeito em começar com dúvidas, chegará ao fim com certezas. "
Francis Bacon
2
Lembremo-nos que Jesus - além de iluminado - era também um Rabino e assim chamado
em todo a Bíblia.
• Na tradição Sufi que inspirou o Islamismo uma das maiores religiões do planeta onde
destaca-se os contos sufis e o misterioso Mulla Nasrudin, personagem que pode em alguns
contos fazer o papel de grande mestre e em outros de um humilde cidadão, mas sempre
nos ensinando algo.
• Histórias Budistas e Zen-Budistas que eu como sacerdote Budista sou tendêncioso, de
descrever sobre toda a sabedoria dos seus contos, das histórias de Sidharta e seus
seguidores. São extraordinárias.
• Contos do Xintoísmo - religião oficial do Japão que tem muito a apontar.
• Contos dos Padres do Deserto - depositários de toda sabedoria Cristã séria.
• Histórias, muito bem humoradas de mestres hindus que na minha opinião os maiores são
contadores de histórias de todos os tempos.
• Histórias de tradições que não sabemos muito bem a origem, mas certamente são de
inspiração divina.
• Satsangs dos grandes mestres espirituais do planeta aonde destaco Osho, Ramana,
Gangaji, E. Tolle, Satya Prem, Dolano, Shivananda, Monja Coen, Rabino Nilton Bonder,
Leonardo Boff, Dalai Lama, e tantos outros.
• Em todas essas histórias você encontrará uma única reflexão, baseada na minha
intuição, para sua meditação, porém elas podem conter outros significados que só dizem
respeito à sua trajetória de vida, sua percepção pessoal, ensinamentos espirituais profundos,
apontando um caminho de paz, felicidade, plenitude, amor, compaixão e bem-aventurança.
Sinto que, a medida em que se desenvolve a leitura, novos significados vão sendo atribuídos à
cada uma delas, e como são histórias atemporais, irão te servir e encantar eternamente.
Eu espero profundamente que essas histórias possam te incendiar sua alma em luz.
Certa vez um discípulo questionou seu mestre.
- "Mestre será que hoje os homens não vêem mais a Deus porque não olham o suficiente para o
céu?”.
- "Não"- respondeu o Mestre --- "os homens não vêem mais a Deus porque não olham para
seu coração, não olham para de si mesmo”.
3
PASSAGEM
No século passado, um turista dos Estados Unidos foi visitar o famoso rabino polonês
Hafez Hayyim. O turista ficou surpreso ao ver que o rabino morava num quarto simples, cheio
de livros, onde as únicas peças de mobília eram uma mesa e um banco. Rabi, onde estão seus
móveis? — perguntou o turista.
E onde estão os seus? — retorquiu Hafez.
Os meus? Mas eu estou aqui só de passagem.
Eu também — disse o rabino.
(Tradição Rabínica)
Reflexão: Você esta aqui para todo o sempre ou está só de passagem? O que em sua vida é
passageiro? Você se apega a algo ou alguém? Apega-se a necessidade se sucesso, luta para
provar ao mundo seu “valor”, e outros valores temporais?
GUIMPEL, O NADA
Um homem simples, chamado Guimpel, vivia uma vida sem ambições, fazendo o seu trabalho
de limpeza das ruas. Humilde e sem filhos, nunca tendo entrado em disputas, teve, até na sua
morte, um enterro de indigente, onde nem lápide lhe foi ofertada.
Porém, nos céus houve um enorme alvoroço. Nunca haviam recebido tão ilustre alma, e
todos acorreram ao tribunal celeste para receber aquela figura tão pura. O próprio Criador
fez questão de oficiar o julgamento, enquanto o Promotor Celeste se contorcia de ódio pela
causa que já percebera perdida.
Guimpel foi então trazido frente aos anjos, ao Criador e ao Promotor, que foi logo
desistindo de fazer qualquer acusação. O Criador então tomou a palavra e, elogiando Guimpel,
lhe disse:
- Tão maravilhoso foste em tua vida que tudo aqui nos céus é teu. Basta que peças e terás
de tudo. Vamos, o que queres, alma pura? Guimpel olhou então com desconfiança e, tirando o
chapéu, pergunta: - Tudo? - Tudo! — respondeu o Criador. - Então eu queria um café com leite
e um pãozinho com um pouco de manteiga. Ao revelar isto, a decepção tomou conta dos céus. O
Criador sentiu-se envergonhado e o Promotor não conteve sua risada. Guimpel não era um justo
— era um simplório.
(Sholem Aleichem)
Reflexão: Observe sua auto-estima, (amor próprio) e baixa-estima Aonde termina “uma” e
inicia-se a outra? Qual o valor que dá a sim mesmo?
Você é uma pessoa justa ou um simplório? Buda ensinou: “Nada faltando, nada sobrando”
Equilíbrio entre esses 2 elementos. Reflita.
NÃO JULGAR
Um jovem veio a Dhun-Nun e disse que os Sufis estavam errados em seus ensinamentos e
práticas.
O egípcio tirou um anel do dedo e lhe entregou: “Leve isto para os mercadores e veja se
pode conseguir uma peça de ouro por ele”, disse.
Ninguém no mercado ofereceu mais do que uma só peça de prata pelo anel.
O jovem trouxe o anel de volta.
“Agora”, disse Dhun-Nun, “leve o anel a um verdadeiro joalheiro e veja o que ele pagará”.
O joalheiro ofereceu mil moedas de ouro pela pedra.
O jovem ficou assombrado.
“Então”, disse Dhun-Nun, “seu conhecimento sobre os Sufis é tão vasto quanto o
conhecimento dos mercadores sobre jóias. Se você quer avaliar pedras preciosas, torne-se um
joalheiro”.
(Mestre Dhun-Num)
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Reflexão: Não Julgar. Economize a energia de sua mente e não julgue aquilo que não
conhece. Esse é um dos maiores ensinamentos dos mestres. Você tem julgado muito?
Reflexão: Você se compara com algo ou alguém? Essa é sem dúvida uma forma de sofrer,
assim, como o carvalho, o pinheiro e a parreira.
O maior fracasso que um ser pode ter é não ser ele mesmo. Você é autêntico e original?
O FALSO RABINO
O famoso Rabi Eliyahu de Chelm havia acumulado tanta sabedoria, que sua fama se
espalhara por todos os lugares da Polônia. Onde quer que ele pregasse recebia respeito e era
admiravelmente bem recebido.
Rabi Eliahu tinha um cocheiro que, embora amasse muito o sábio, também invejava sua
popularidade. Um dia, ele expressou seus desejos mais íntimos ao mestre:
“Rabi, por favor, não pense que estou sendo impertinente, mas eu gostaria de trocar de
lugar com o senhor. O senhor seria o cocheiro e eu o Rabi. Por favor, rabi, só por um dia!”
O Rabi, que tinha muito senso de humor, gostou da idéia, mas detectou uma falha no plano,
que poderia causar humilhação ao empregado.
“Devo lembrar-lhe — disse o Rabi — que assim como as capas não fazem um livro, as roupas
de rabino não fazem de alguém um rabino. Você não é um estudioso, mal sabe escrever e alguns
dos maiores sábios da Polônia lhe farão perguntas. “Vou pensar em algo, rabi” — assegurou-lhe
o condutor da carruagem. — “Não se preocupe.”
Assim, trocaram de roupa e entraram na cidade, com Rabi Eliahu conduzindo os cavalos e o
condutor sentado orgulhosamente ao seu lado, usando as roupas do sábio.
Como esperado, multidões vieram saudar o honorável convidado.
O “Rabi” ficou arrepiado com todas as honras que lhe eram concedidas. Era até mesmo mais
do que esperava. Enquanto isto, discretamente, o Rabi verdadeiro observava a cena com os
olhos brilhantes.
Dentro da sinagoga, o impostor recebeu o lugar de honra. Uma tigela de frutas e flores
foram colocadas diante dele. Depois, como era esperado, os sábios da cidade se agruparam em
torno do “Rabi”.
“Rabi — perguntou um dos estudiosos — o senhor poderia fazer a gentileza de explicar
esta passagem da lei? Ela é muito intrincada e não conseguimos entendê-la.”
O rabino de verdade ficou tenso.
“Agora ele está em apuros!” — pensou. Segurou a respiração, esperando que o condutor de
carruagens revelasse sua ignorância.
Mas o condutor estudou calmamente o livro sagrado colocado diante dele, embora não
pudesse ler uma única palavra do texto. Posteriormente respondeu:
“Então é assim que vocês se consideram estudiosos? Esta é a única pergunta que vocês
tinham para me fazer quando sabem que só posso visitar vocês uma vez por ano? Ora, esta
passagem é tão simples que até mesmo o meu cocheiro pode explicá-la.” E assim dizendo,
chamou Rabi Eliahu:
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“Suba até aqui, por favor, e explique a Lei para estes “estudiosos.”
Quando o rabi e o cocheiro deixaram a cidade, as pessoas estavam maravilhadas não
somente com a sabedoria de Rabi Eliahu mas também porque, até mesmo o mais humilde dos
servos de Chelm, sabia mais a respeito da lei sagrada do que eles.
Reflexão: Você acredita que é possível ter fé em situações onde tudo parece impossível de
ser solucionado de forma positiva? A iluminada monja Coen escreve: “Você é uma pessoa de
fé? Ou perdeu a fé? O que é perder a fé? Não acreditar em mais nada, em ninguém? Fé é
acreditar? Ou é mais do que isso? Será que fé é relacionamento, compromisso, confiança,
entrega, esperança? O que pode abalar a fé? Ou a fé verdadeira é inabalável? Você tem fé só
por algumas horas ou por toda a vida? A gente nasce com fé? Morre com fé? Vive com fé?”
ESTAR PRESENTE
Buda costumava contar a parábola de um homem que, ao viajar, por uma campina, depara-se
com um tigre em seu caminho. O homem foge, mas é perseguido pelo tigre. Chegando a um
precipício, agarra-se à raiz de uma vinha silvestre e joga-se à beira do abismo. O tigre fica lá
em cima, a farejá-lo. Tremendo, o homem olha para baixo e vê um jacaré com a boca aberta
esperando para devorá-lo. Somente a vinha o sustentava.
Dois camundongos começam a roer pouco a pouco a vinha na qual estava agarrado. Mas o
homem vê então um suculento morango perto dele e, segurando a vinha com uma das mãos,
estica-se para colher o morango com a outra. Como era doce!
(Zen Budismo)
Reflexão: O que você tem feito com sua vida? Com seu aqui/agora? Nesse lindo e profundo
conto, o tigre representa seu passado que já não existe, a não ser em sua mente, é uma
lembrança. O jacaré é seu futuro, que não existe ainda e quando vier é inevitável. Os
camundongos são atitudes de não se viver plenamente o momento e “jogar” a vida fora.
O morango do conto é a atitude de ser pleno aqui e agora. De viver o presente com atenção,
celebração e gratidão.
TUDO PASSARÁ
Um grande rei que empregava muitos sábios sentiu-se frustrado com suas riquezas. E um
país vizinho, um país mais poderoso que o seu, estava se preparando para atacar. O rei estava
com medo da morte, da derrota, do desespero, da velhice. Assim, chamou seus sábios e lhes
disse: “Não sei por quê, mas preciso encontrar um certo anel... Aquele que me fará feliz
quando estiver infeliz, e ao mesmo tempo, se estiver feliz e olhar para ele, tornar-me-ei
triste."
Ele estava pedindo uma chave, uma chave com a qual pudesse abrir duas portas: a porta da
felicidade e a da infelicidade.
Os sábios se consultaram, mas não puderam chegar conclusão alguma. Finalmente foram
encontrar com um místico sufi e pediram seu conselho. O sufi apenas tirou o anel de seu dedo
e lhes entregou, dizendo: "Há uma condição. Dê ao rei, mas diga-lhe que só olhe abaixo da
pedra quando tudo estiver perdido, quando a confusão for total, a agonia, completa e ele
estiver desamparado".
O rei obedeceu. Seu país estava perdido, ele estava fugindo de seu reino para salvar sua
vida. O inimigo estava seguindo, ele podia ouvir os cavalos... e seu cavalo morreu; então ele
correu a pé... e chegou a um beco se saída. Havia apenas um abismo.
No último instante lembrou-se do anel. Abriu-o, olho atrás da pedra, e lá estava a
mensagem. Ela era:
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"Isto Também Passará."
(Tradição Sufi)
Reflexão: Você tem consciência que tudo passa? Você faz pausas em suas atividades,
pratica retiros e momentos de silêncio para recuperar sua força e seguir em frente?
MULETAS
Uma vez um homem feriu a perna, e teve que andar de muletas. Estas muletas lhe eram
muito úteis, tanto para andar como para muitas outras coisas.
Ele ensinou toda a sua família a usar muletas, e elas se tornaram parte da vida normal. Ter
uma muleta ficou sendo parte da ambição de cada um. Algumas eram feitas de marfim, outras
enfeitadas com ouro. Escolas foram abertas para treinar o povo no seu uso, cadeiras de
universidades receberam doações para ensinar os aspectos mais elevados desta ciência.
Umas poucas pessoas, muito poucas, começaram a andar sem muletas. Isto foi considerado
escandaloso, absurdo. Além do mais, havia tantas utilidades para as muletas...
Algumas replicaram e foram punidas. Tentaram mostrar que uma muleta poderia ser usada
algumas vezes, quando necessário; ou que os muitos outros usos das muletas poderiam ser
resolvidos de outra maneira.
Poucos ouviram.
A fim de superar os preconceitos, algumas das pessoas que podiam andar sem este suporte,
começaram a se comportar de forma totalmente diferente da sociedade estabelecida.
Ainda assim, permaneceram poucas.
Quando foi descoberto que, tendo usado muletas por tantas gerações, poucas pessoas, de
fato, podiam andar sem elas, a maioria “provou” que elas eram necessárias, “Aqui”, disseram,
“está um homem — tentem fazê-lo andar sem muletas. Vêem? — ele não consegue!”.
“Mas nós estamos andando sem muletas”, lembraram os que andavam normalmente.
“Isto não é verdade; é meramente uma fantasia de vocês”, disseram os aleijados, porque a
essa altura eles estavam também ficando cegos — cegos porque não podiam ver.
(Sufismo)
Reflexão: Quais são as muletas de sua vida?
Existem “uniões muletas”, “profissões e ocupações muletas” e, por que não, “espiritualidade
muleta”.
Pense muito nisso: Quais são suas muletas? O que você pode abandar hoje em sua vida?
PAZ
Jesus disse:
- Os homens provavelmente pensam que eu vim para lançar paz sobre o mundo; eles não
sabem que eu vim para lançar divisões sobre a terra: o fogo, a espada, a guerra.
Desde que existam cinco numa casa, três estarão contra dois e dois contra três; o pai
contra o filho e o filho contra o pai, e ambos permanecerão solitários.
Jesus disse:
- Eu lhes darei o que os olhos não viram, o que os ouvidos não ouviram, o que as mãos não
tocaram e o que não surgiu no coração do homem.
( Evangelho de Tomé)
Reflexão: Você pensa que um iluminado traz paz? Buda, Osho, Jesus, e outros mestres
vieram para te sacudir, tirar-lhe do comodismo, das tuas crenças limitantes, criar conflitos, e
com isso te dar o que é invisível: Sua alma. Você busca sua alma e aprende com os desafios
internos da vida?
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AMA TEU PRÓXIMO
A um rabino muito justo foi permitido que visitasse o purgatório (Gehena) e o paraíso (Gan
Eden). Primeiramente foi levado ao purgatório, de onde provinham os gritos mais horrendos
dos rostos mais angustiados que já vira. Estavam todos sentados a uma grande mesa. Sobre
ela estavam as iguarias, as comidas mais deliciosas que se possam imaginar, com a prataria e a
louça mais maravilhosa que jamais vira. Não entendendo por que sofriam tanto, o rabino
prestou mais atenção e viu que seus cotovelos estavam invertidos, de tal forma que não podiam
dobrar os braços e levar aquelas delícias às suas bocas.
O rabino foi então levado ao paraíso, de onde partiam as mais deliciosas gargalhadas e onde
reinava um clima de festa. Porém, ao observar, para sua surpresa, o rabino encontrou todos
sentados à mesma mesa que vira no purgatório, contendo as mesmas iguarias, tudo igual —
inclusive seus cotovelos, invertidos também – mas com um detalhe adicional: cada um levava a
comida à boca do outro.
(Tradição Rabínica)
Reflexão: Esse é um dos meus contos prediletos. Nos faz pensar no amor ao próximo,
compaixão, tolerância, justiça, equilíbrio e ecologia planetária. Leia de novo e delicie-se.
Reflexão: O ego, o apego aos elogios e a fama, a crença que um Rei, artista de TV, jogador
de futebol ou político é superior a você, é diminuir a si mesmo. Você é único, incomparável,
imprescindível ao planeta do jeito que é. Quando você partir desse planeta todo o universo
sentirá sua falta. Você tem consciência disso?
VIVER A VIDA
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— E o que você acha então que eu estou fazendo agora?
(Sufismo)
Reflexão: O que você esta esperando para viver sua vida de forma plena, original, inventiva
e iluminada? Seguir seu coração e viver seu dharma, seu caminho? Você tem coragem para ser
feliz? Ser feliz apesar de tudo? Geórges Groddeck escreveu: Para mim o homem é o que ele
foi e viveu até o fim da adolescência, sendo sua vida adulta apenas uma doença lenta, longa e
incurável, às vezes amenizada pelo que lhe sobra da ludicidade infantil, especialmente a que
chama de amor.
MEDO
(Judaísmo)
Reflexão: Você é você mesmo? O homem tem o potencial de ser o Si-Mesmo ou só uma
máscara social. Você realiza o potencial de sua alma?
O RELÓGIO
O relógio de Mullá Nasrudin estava marcando a hora errada. - Será que não dá para você
tomar uma providência’?, alguém perguntou.
- Qual’?
- Bem o relógio nunca está certo. Qualquer que seja a providência, já será uma melhora.
Mullá deu uma martelada no relógio. Ele parou.
- Você tem toda razão, disse. De fato, já dá para sentir uma melhora.
- Eu não quis dizer qualquer providência assim ao pé-da-letra. Como é que agora o relógio
pode estar melhor que antes’?
- Bem, antes nunca estava certo. Agora ao menos, está certo duas vezes por dia.
Reflexão: Você se contenta com o mínimo em sua vida? Nivela tudo por baixo ou busca o
extraordinário? Se contenta com migalhas ou busca o grandioso?
O mestre Seistsu precisava de acomodações maiores, uma vez que o prédio no qual ensinava
estava superlotado.
Umezu, um comerciante, decidiu doar quinhentas peças de ouro para a construção do novo
edifício.
Umezu levou o dinheiro ao Instrutor e Seistsu lhe disse: - Está bem, eu o aceito.
Umezu deu-lhe o saco de ouro, mas ficou aborrecido com a atitude do Instrutor, pois dera
uma quantia alta - uma pessoa poderia viver o ano inteiro com três peças de ouro - e o
Instrutor nem sequer lhe agradecera.
- Neste saco há quinhentas peças de ouro, insinuou Umezu.
- Você já disse isto antes, disse Seistsu.
- Até mesmo para mim que sou um rico comerciante, quinhentas peças de ouro é muito
dinheiro, disse Umezu.
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- Você quer que eu lhe agradeça por isso?, disse Seistsu.
- Deveria, respondeu Umezu.
- Por que deveria?, perguntou Seistsu, - Quem dá é que deve ficar grato.
(Mestre Seistsu)
Reflexão: Dar é o caminho certo. Acumular é a via errada. Você concorda? Seria esse o
momento de sua vida de doar-se, de não ter nenhum tipo de avareza? Dar amor, o melhor de si,
criar abundância próxima a ti. Quem dá é que deve agradecer pela oportunidade de ofertar
algo ao outro, significa dar de coração e não com o ego, não esperando receber nada em troca.
Você hoje está se doando?
TENTAÇÃO
O povo de certa cidade insistiu muito junto ao mestre Báal Shem Tov, para que
convencesse seu discípulo Rabi Iehiel Mihal a aceitar o rabinato que lhe ofereciam. O Báal
Shem tentou persuadi-lo, mas ele se negava obstinadamente: — Se não me ouvires - insistiu o
mestre - perderás este mundo e o vindouro, ao mesmo tempo.
— Mesmo que por isso eu perca os dois mundos - respondeu ele - não aceitarei o que não é
para mim. — Então, sê abençoado - disse o Báal Shem - pois resististe à tentação.
Reflexão: O que você assume sabendo que não é sua vocação ou caminho (Dharma)? Você se
corrompe? Há um ditado de Fritz Pearls que aponta: “Será que é preciso para não morrer de
fome morrer de tédio”?
ADVERTÊNCIA
TUDO PASSARÁ
(Sufismo)
Reflexão: Viver sabendo e sentindo que tudo passa, que tudo acaba e tem um fim é viver
uma vida que vale a pena. Você sabe disso? Absolutamente tudo é passageiro.
O TESOURO
Rabi ltschak vivia na cidade de Cracóvia e era muito pobre. Aconteceu que, por três noites
seguidas, sonhou com um enorme tesouro escondido sob uma ponte na distante cidade de
Praga. Pela insistência do sonho, resolveu ir a Praga em busca do tesouro. Ao chegar ao local,
descobriu que a dita ponte era patrulhada dia e noite por soldados do rei. Ficou circundando o
local até que o capitão da guarda veio a ele saber o que queria. Rabi Itschak então contou
sobre seu sonho.
- Você quer me dizer que acredita em sonhos como este!, riu dele o capitão. - Se eu
acreditasse em sonhos, então também teria que ir até a distante cidade de Cracóvia e
encontrar um rabino, um tal de Itschak, porque sonhei que um grande tesouro estava
enterrado debaixo de sua cama. Rabi Itschak agradeceu ao capitão, voltou para casa e
encontrou o tesouro sob sua cama.
(Rabi Itschak)
Reflexão: O que você busca que está aqui e agora presente? Até quando vai buscar algo
que está sob “seus pés”? Qual tesouro existe em sua vida? Essa história tem uma
profundidade abismal e é, talvez, base do conto de Paulo Coelho – “O Alquimista”.
SE DEUS QUISER
Reflexão: Quando é preciso entregar-se nas mãos da Existência e quando você pode e deve
ter controle?
Você observa os sinais da existência? Os caminhos que ela aponta? Soltar ou ter o
controle?
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FICOU NA CABEÇA
Era dia de festa. A mulher de Mullá preparou uma daquelas fantásticas receitas de doce.
Os dois comeram quase tudo e deixaram um pedaço para o dia seguinte.
À noite, tentando dormir, Mullá não conseguia pegar no sono de tanto pensar no doce. Até
que acordou a mulher:
- Levanta que eu tenho algo importante para te dizer. Enquanto a mulher tratava de se
levantar, Mullá foi até a cozinha, voltando com o prato de doce nas mãos:
- Vamos comer tudo agora antes de dormir; melhor ficar com o doce no estômago, que na
cabeça!
Por muitos anos a monja Chiyono estudou sem conseguir chegar à Iluminação.
Uma noite, ela estava carregando um velho pote cheio de água. Enquanto caminhava, ia
observando a lua cheia refletida na água do pote. De repente, as tiras de bambu que
seguravam o pote inteiro quebraram-se e o pote despedaçou-se.
A água escorreu, o reflexo da lua desapareceu e Chiyono Iluminou-se.
Ela escreveu estes versos:
(Texto Zen)
Reflexão: O que é a iluminação para você? É possível acordar somente com o estudo? O que
falta para você despertar? Quanto falta para o final das buscas por si mesmo?
TALENTO
Uma jovem assistia a uma peça de teatro, e saiu para tomar um refrigerante no intervalo. A
sala de espera estava lotada; as pessoas conversavam e bebiam.
Um pianista ao fundo tocava, mas ninguém prestava atenção a sua música que parecia
sentimental, esperando apenas que o intervalo terminasse. Então, a jovem aproximou-se do
pianista.
— Você é um chato! Por que não toca apenas música para você?
O pianista olhou surpreso para ela. E, no mesmo instante, começou a tocar as músicas que
gostaria de estar tocando. Em pouco tempo a sala estava em total silêncio.
Quando o pianista terminou, todos aplaudiram com entusiasmo.
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(Tradição de Contos)
Reflexão: Não importa o que você faz, faça de coração. Invista energia e devoção em seus
atos. Em hebraico isso chama-se Tsedaká: Fazer com alma. Você tem sido assim? Tem paixão e
tesão em sua vida? Roberto Freire ensina: “Sem tesão não há solução”.
PECADO
Quando o Maguid ficou sabendo que se tornara conhecido no mundo, pediu a Deus que lhe
mostrasse de que pecado se tornara culpado.
Reflexão: Você tem o desejo de aparecer num desses big-brothers da tv? A fama é mais
importante que a paz interior e a felicidade de uma vida harmoniosa?
EM TODOS OS LUGARES
Jesus disse:
“Eu sou a Luz que está sobre todos, eu sou o Todo, e o Todo vem de mim, e o Todo retorna
a mim.
Corte um pedaço de madeira e eu estarei lá; levante uma pedra e me encontrará lá.
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: Aonde você busca o divino? Os Budas ensinam que tudo é divino. Você acredita
que pode encontrar Deus em todos os lugares?
APRENDER A APRENDER
Nasrudin mandou um menino pegar água no poço. - Tome cuidado para não quebrar o pote!,
gritou Nasrudin e deu uma bordoada no garoto.
- Nasrudin, perguntou um observador, - por que bater em alguém que não fez nada?
Ora, seu estúpido, disse Nasrudin: - porque depois que quebrasse o pote seria muito tarde
para puni-lo, não acha?
JUROS
Disse Jesus:
- “Se tendes dinheiro, não o empresteis a juros, mas dai-o àquele de quem nada recebereis
em retorno.”
(Evangelho de Tomé)
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Reflexão: Essa é uma reflexão bem atual e aponta o quanto as leis humanas pouco têm de
ética planetária e divina. Jesus proíbe a cobrança de juros e isso aparece em várias passagens
bíblicas. As leis humanas permitem! Você vive de acordo com as leis políticas ou as leis divinas,
ecológicas e justas?
A RAZÃO
SEMENTE DE MOSTARDA
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: Você tem consciência que o divino está na essência de tudo? Que dentro de nós
temos uma semente de iluminação que pode trazer paz?
ORGULHO
(Rabino Hassan)
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Reflexão: Eu dedico esta história a todas as pessoas que trabalham com leis no planeta.
Você dedicaria esse conto a quem?
IDENTIDADE ENGANOSA
Mullá Nasrudin estava muito doente e todos pensavam que ele iria morrer. Sua mulher
vestiu roupas de luto e pôs-se a chorar e a se lamentar. Já o Mullá Nasrudin permanecia
imperturbável.
- Mullá, perguntou um de seus discípulos, como é isso de enfrentar a morte com tanta
calma, até rindo de vez em quando, enquanto nós, que não vamos morrer, estamos
atormentados por você nos deixar?
- Muito simples, disse Nasrudin. Enquanto estou deitado, observando todos vocês, eu digo a
mim mesmo: todos eles têm um aspecto tão pavoroso, que estou quase certo de que o anjo da
morte, quando vier fazer sua visita, levará por engano no mínimo um deles como presa —
deixando o velho Nasrudin por aqui mais um bocadinho...
A SI MESMO
Num sermão pregado perante numerosa congregação, declarou certa vez o Rabi Mihal: —
Devem-se ouvir minhas palavras — e logo acrescentou: — Não estou dizendo: “Ouvi minhas
palavras”, estou dizendo: “Devem-se ouvir minhas palavras”, e incluo a mim mesmo! Eu também
devo ouvir minhas palavras!
(Rabi Mihal)
Reflexão: Qual ensinamento valoroso você dá agora a si mesmo? Você detêm-se para
escutar os anseios de tua alma? O que sua alma hoje lhe apontaria?
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: De que adianta rituais repetitivos mas sem alma, jejuns e orações mendicantes e
doações egóicas se não há respeito e amor ao próximo e ao planeta? O que Jesus aponta aqui é
o amor gratuito e generoso. É através desse caminho que surge a paz. Qual mal sai de sua
boca?
Perguntaram ao Mullá:
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- Durante um cortejo fúnebre, deve-se caminhar à frente ou atrás do caixão?
- Dá no mesmo. Respondeu Nasrudin, não se estando dentro dele...
CONFIANÇA EM DEUS
Certa vez hospedei-me numa pensão e reparei que o dono da mesma tinha duas caixas para
guardar dinheiro. Qualquer dinheiro que ganhasse, dividia igualmente entre os dois
receptáculos. Fiquei curioso quanto ao significado disto e inquiri sobre o assunto. Ao que ele
respondeu: - Não faz muito tempo, perdi todo o dinheiro que tinha juntado durante minha vida
numa aventura e estava a ponto de perder minha pensão. Minha esposa então aconselhou-me a
encontrar um sócio e fui à cidade à procura de um. Ao passar pela floresta, ocorreu-me pedir
ao Eterno que entrasse em parceria comigo e prometi devotar Sua metade dos ganhos para
caridade. Rezei por alguns instantes e encontrei no caminho algum dinheiro no chão. Tomei isto
como um sinal de nosso acordo e desde então tenho, rigorosamente, mantido nosso contrato
verbal.
- Naquele momento elogiei a simples confiança que depositava em Deus e pronunciei uma
bênção sobre ele.
(Tradição Rabínica)
Reflexão: Você confia na existência como sua cúmplice nas realizações materiais e
espirituais? Em grupos que ministro questiono: - Vocês confiam em Deus, na existência?
- Sim respondem os alunos.
- Então por que são tão inseguros e medrosos?
Manter a serenidade requer confiança.
HONESTIDADE
(Rabino Safra)
Reflexão: Dizem os Budas: Será que é preciso perder ou vender a alma para conquistar o
mundo? Tenha consciência dos danos que você pode provocar ao mundo, trabalhe e conviva com
pessoas éticas, que não se vendem.
EGO E ILUMINAÇÃO
Hassan procurou Rabia num dia em que ela estava sentada entre diversos contempladores e
disse: “Eu tenho a capacidade de andar sobre a água. Venha, vamos ali para aquela água e,
sentados sobre ela, poderemos ter uma discussão espiritual.”
Rabia disse: “Se você deseja se separar desta augusta companhia, por que não vem comigo
para voarmos e conversarmos sentados no ar?”
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Hasan respondeu: “Não posso fazer isso, pois o poder que você menciona não é o que eu
possuo.”
Rabia disse: “Seu poder de permanecer imóvel sobre a água é o mesmo que o peixe possui.
Minha capacidade de voar pode ser realizada por uma mosca. Essas habilidades não fazem
parte da verdade real - elas podem se tornar o alicerce da egolatria e da competição, não da
espiritualidade.”
(Iluminado Rabia)
Reflexão: A espiritualidade tem alguma relação com poderes místicos e paranormais? Você
seguiria um mestre por sua vaidade ou por sua sabedoria?
ACENDA A VELA
Reflexão: Onde minha visão é estreita e meus paradigmas limitantes que impedem-me de
observar e viver plenamente a realidade como ela é? O que você finje que não quer ver?
MILAGRE VERDADEIRO
(Mestre Rinzai)
OFERTA E PROCURA
Sua majestade Imperial, o Shaninshah, chegou de surpresa a uma casa de chá entregue aos
cuidados de Mullá.
O Imperador pediu um omelete.
- Agora partimos de volta à caçada — disse ao Nasrudin.
- Diga-me quanto lhe devo.
- Senhor, para sua majestade e seus cinco companheiros, os omeletes saem por mil moedas
de ouro.
O Imperador franziu as sobrancelhas.
- Vejo que por aqui os ovos andam muito caros. Será que são assim tão escassos?
- Aqui não são propriamente os ovos que andam escassos, Majestade. São as visitas de reis.
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Reflexão: O que é escasso e o que é suficiente em sua vida? Você é justo em seus valores
materiais? Especulação em valores é considerado pelos Budas como mentira. Você especula?
O REMÉDIO
Um homem herdou uma grande fortuna mas, em pouco tempo, dilapidou seu patrimônio de
uma tal maneira, que não lhe restou um centavo sequer. Sem saber o que fazer, foi queixar-se
a Mullá.
- Nasrudin, estou numa situação terrível, disse. - Estou a ponto de ter que pedir esmolas
para sobreviver. Que faço? Qual é o remédio?
Mullá refletiu por um instante e respondeu:
- Não se preocupe, suas aflições terminarão em breve. O perdulário entusiasmou-se:
- Como? Acaso voltarei a ser rico?
- Não, não, respondeu Nasrudin, você se acostumará a ser pobre!
Reflexão: Quando devemos lutar para modificar alguma situação e quando deve-se relaxar
e acostumar-se a ela? Aqui podemos meditar em quantas pessoas sedentárias existem hoje no
planeta que não se cuidam. Você tem se cuidado? Como está sua saúde?
Sabe-se lá por que, a mulher de Mullá aborreceu-se com ele e preparou-lhe uma sopa
estupidamente quente, torcendo para que, ao tomá-la, queimasse a boca. Assim que a sopa foi
servida, esqueceu-se da trama e tomou ela mesma uma colherada, sem cuidar de esfriá-la. As
lágrimas brotaram-lhe dos olhos — mas ainda alimentava a esperança de que Mullá viesse
tomar sua colherada daquele caldo fervente.
- Por que você está chorando?, ele perguntou.
- Minha pobre e velha mãe, um pouco antes de falecer, tomou uma sopa bem assim. A
lembrança fez-me chorar.
Mullá debruçou-se sobre a sopa e atacou-a com um gole caprichado. As lágrimas rolaram-
lhe à face, exatamente como ocorria com a mulher.
- Ora, Mullá, será que está chorando?
- Estou sim, respondeu, - estou chorando só de pensar que tua pobre e velha mãe faleceu e
te deixou viva.
Reflexão: Os monges tibetanos insistem em como a raiva pode gerar atos e palavras
perversas. Há um Sutra (texto) lindíssimo do Dalai Lama chamado “A arte de lidar com a raiva”
que todos devem ler, refletir e incorporar seus valores na vida. Você tem raiva de algo?
Supere. Pondere, pois a raiva cultivada torna-se ódio. Você odeia algo?
DETALHES
Um escritor morava numa bela praia, junto a uma colônia de pescadores. Num dos seus
passeios matinais, viu um jovem jogando de volta no oceano as estrelas-do-mar que estavam na
areia. - Por que você faz isso?, perguntou o escritor.
- Porque a maré está baixa, e elas não vão resistir e vão acabar morrendo.
- Meu jovem, existem milhares de quilômetros de praia por este mundo e centenas de
milhares de estrelas-do-mar espalhadas pela areia. Que diferença você pode fazer?
O jovem pegou mais uma estrela e atirou no oceano. Depois virou-se para o escritor:
- Para esta, eu fiz uma grande diferença, respondeu.
A partir daquele dia, todas as manhãs, o escritor passou a ajudar o jovem.
(Tradição de Contos)
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Reflexão: Quando você pode contribuir para fazer uma grande diferença? Proponho
sempre a meus alunos que pensem em algo para mudar positivamente o planeta e que coloquem
em prática. Proponho isso a você também. Nessa era de Kali-Yuga (Idade das trevas) isso é
imprescindível.
O mestre zen se preparava para meditar com seus alunos, quando um deles chegou
atrasado.
- Meu primo sofre e não posso me concentrar, disse o aluno. - Não consigo entender por
que ele recebe algo que não merece. O mestre aproximou-se e, num movimento súbito, deu-lhe
um tapa no rosto. - Você merecia este tapa?, perguntou o mestre. - Não, respondeu o aluno,
assustado.
- Então por que o recebeu?, continuou o mestre.
- Porque não reagi rápido, disse o aluno.
- O sofrimento serve apenas para ensinar a reagir rápido, disse o mestre. Quem não
aprende é dominado por ele.
(Zen budismo)
Reflexão: Buda ensinou que todos sofrem e deve-se meditar nas causas do mesmo: Apego,
raiva, frustração, ego, vaidade, medo de críticas e querer ganhar sempre. Essas são só
algumas. Medite nisso. O que te faz sofrer?
(Maguid de Zlotschov)
MAIS ÚTIL
Reflexão: O que é mais importante e útil em sua vida? Pessoas ficam como zumbi em
frente da TV ao invés de exercitar-se, outras não meditam ou se investigam preferindo ler o
caderno de esportes ou grudar no computador. Isso é certo? Aonde você coloca sua luz?
O CAMINHO DO MEIO
Certa ocasião, Buda estava na montanha dos abutres. Num bosque próximo, um monge de
nome Sonn estava se entregando à meditação. Aplicava-se bastante, mas, não conseguindo a
iluminação, sentiu-se um dia desnorteado e veio conversar (Satsang) com Buda:
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— Mestre, estou fazendo exercícios severíssimos. Dentre todos os discípulos, não há quem
me iguale em zelo. Por que, então, não consigo obter a iluminação? Talvez seja melhor eu voltar
para casa. Tenho bens, que me permitem levar uma vida feliz. Não é melhor, pois, que eu
abandone este Caminho e volte ao mundo?
Buda retrucou-lhe:
— Quando as cordas da harpa estão muito tensas, obtém um bom som?
— Não, mestre.
— Quando as cordas estão bastantes frouxas, obtém-se um bom som?
— Não mestre.
— Então, como fazer para obter um bom som?
— As cordas não devem estar nem tensas e nem frouxas demais.
— O mesmo se dá com a prática do dharma, Sonn. Aplicação demasiada traz inquietação à
mente, a folga demasiada traz negligência. É necessário seguir o Caminho Médio entre esses
dois extremos.
Desde então, Sonn passou a exercitar-se segundo tais instruções, obtendo por fim a
iluminação.
(Tradição Budista)
Reflexão: Buda nos propõe em um dos seus maiores ensinamentos o “caminho do meio”, o
equilíbrio em tudo na vida: Na alimentação, trabalho, meditação, estudo, exercícios, lazer, etc.
Nem muito... nem pouco... Equilíbrio.
Você consegue manter o equilíbrio sábio dos vários aspectos da sua vida?
OS PROBLEMAS METAFÍSICOS
Certa ocasião, Buda estava no Bosque de Jeta. Um monge de nome Malunjya veio conversar
com ele, parecendo bastante preocupado. Ele se afligia com o fato de Buda jamais responder
às seguintes questões, amplamente ventiladas pelos pensadores de sua época:
a) O mundo é finito ou infinito?
b) Corpo e espírito são uma coisa só ou duas coisas separadas?
c) O homem tem uma vida além-túmulo?
Malunkya, que gostava de Filosofia, estava bastante aborrecido por Buda não tratar dessas
questões, e disse-lhe:
— Ó perfeito! Se não responderes a minha dúvida, deixarei a comunidade e voltarei à vida
mundana.
Buda respondeu-lhe da seguinte maneira:
— Malunkya, certa vez um homem foi ferido por uma seta envenenada. Os amigos correram
a buscar um médico, mas o ferido disse que só consentiria que lhe extraíssem a seta e o
tratassem depois de lhe explicarem quem atirou a seta, com que arco ela foi lançada, qual a
sua forma etc... Que terá acontecido com ele? Certamente há de ter morrido antes de ver
esclarecidas suas dúvidas. Malunkya, da mesma forma, respostas a perguntas acerca do
caráter finito ou infinito do universo, da natureza da alma etc..., não nos libertam do
sofrimento. Precisamos libertar-nos do sofrimento nesta mesma vida. Por isso, Malunkya, não
te preocupes com as questões que não ensino. Preocupa-te com as que ensino, que são: a
Existência do sofrimento, a Origem do sofrimento, a Cessação do sofrimento e o Caminho da
cessação do sofrimento.
(Tradição Budista)
Certo dia, caminhado com um discípulo, Nasrudin viu, pela primeira vez na vida, uma linda
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paisagem refletida em um lago.
“Que maravilha!”, exclamou. “Mas se ao menos, se ao menos...
“Se ao menos não tivessem colocado água no lugar!”
Reflexão: Você reclama de situações ou fatos só pelo prazer de reclamar? Meu mestre de
Tai Chi Chuan Liu Pai Lin sempre ensinou a “sentarmos na paz.”. Conta-se que em toda sua vida
ele jamais reclamou de nada. Use a energia do reclamar para agir... Para mudar algo. Sente-se
e aquiete seu coração.
Uma velha construiu uma cabana para o monge e alimentou-o durante vinte anos. Um dia ela
resolveu experimentar o monge e mandou uma linda moça entrar na cabana para seduzi-lo. Ao
entrar na cabana, a moça viu o monge sentado em postura de meditação, abraçou-se a ele e
perguntou-lhe como ele se sentia. O monge respondeu:
— É como se uma árvore seca estivesse agarrada a uma fria rocha. Está tão frio como no
mais rigoroso inverno; não sinto o menor calor.
A moça saiu da cabana e contou o sucedido à velha. Esta ficou enfurecida:
— E eu, que passei mais de vinte anos sustentando tamanho idiota!
A velha expulsou o monge e incendiou a cabana.
(Tradição Budista)
Reflexão: Nesse conto nos é mostrado a indiferença do monge que o fez esquecer da
compaixão e do amor ao próximo. Você tem amor ao próprio? Como vivencia a compaixão?
CONVITE DO MESTRE
Jesus disse:
Um homem resolveu oferecer um jantar a seus amigos e enviou seu servo para convidá-los.
O servo foi ao primeiro convidado e lhe disse:
“Meu mestre o convida para jantar”.
O homem respondeu: - “Ao anoitecer, virão aqui alguns comerciantes contra quem tenho
algumas reivindicações. Tenho de recebê-los para lhes dar minhas ordens.
Peço desculpas pelo jantar”.
O servo foi ao segundo convidado e lhe disse:
“Meu mestre o convida para jantar”.
Ele respondeu: - “Comprei uma casa e estarei ocupado o dia inteiro. Não terei tempo para ir
ao jantar”!
O servo foi ao terceiro convidado e lhe disse:
“Meu mestre o convida para jantar”.
O convidado respondeu: - “Tenho um amigo que está para se casar e preciso organizar a
festa.
Assim, não poderei ir. Peço desculpas pelo jantar”.
O servo foi ao outro convidado e lhe disse: “Meu mestre o convida para jantar”.
O homem respondeu: “Aluguei minha fazenda e tenho de ir recolher o aluguel. Não poderei
ir. Peço para ser desculpado”!
O servo voltou e disse a seu mestre:
“Todos aqueles que o senhor convidou para o jantar pedem desculpas por não poderem vir”.
O mestre disse ao servo:
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“Saia às ruas e traga aqueles que encontrar para virem jantar comigo. Os comerciantes e
negociantes não entrarão na casa de meu Pai”.
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: Você está disposto a entregar-se a um mestre? Grandes mestres como Tolle,
Satya, Dolano, Coen, Ramesh, Say Baba, estão transmitindo a verdade a quem queira ouvi-la, o
difícil é encontrar um discípulo pronto para aceitar o convite do mestre. O mestre é, e sempre
será, um anfitrião.
JUSHU E O CAMINHO
(Mestre Jushu)
Reflexão: O que você pode e deve perceber aqui e agora? Perceba que o caminho é sempre
no aqui – espaço e no agora – tempo. Muitos viajam o mundo todo em busca do Si - mesmo,
correndo atrás da iluminação, buscando um grande caminho e perdem a beleza do que não tem
caminho.
A PRÁTICA DA MEDITAÇÃO
(Zen-Budista)
LAVAR AS TIGELAS
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Um monge veio ter com Joshu e disse:
— Vim pedir que me ensineis o Zen.
— Já tomaste tua refeição matinal?
— Já — respondeu o monge.
— Então vai lavar as tigelas. Esse é o verdadeiro Zen.
(Zen-Budista)
Reflexão: O caminho espiritual é vivido no dia a dia. Para os Budas tudo é sagrado inclusive
lavar as tigelas. Você tem observado o sagrado que está em sua volta? Tem, por exemplo,
agradecido seu alimento?
PÉROLA
Jesus disse:
O Reino do Pai assemelha-se a um homem que possui uma rica mercadoria e encontrou uma
pérola
O homem era prudente.
Vendeu a mercadoria e adquiriu a pérola para si mesmo.
Procure também pelo tesouro que não desaparece que permanece firme onde nenhuma
traça alcança e nenhum verme pode destruir.
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: O que em sua vida não desaparece e é eterno? O que nenhuma traça alcança e é
imortal?
O TRABALHO DE HYAKUJÔ
O Mestre Hyakujô, já com mais de oitenta anos de idade, vivia com seus discípulos em um
grande templo. Sustentavam-se com o produto dos campos anexos, que eles mesmos
cultivavam. Não obstante a avançada idade, Hyakujô trabalhava todos os dias na roça
juntamente com os discípulos jovens. Temendo por sua saúde e sabendo que palavras seriam
inúteis para convencê-lo a deixar o trabalho, os discípulos esconderam sua enxada. Naquele dia
e nos dois subseqüentes, o Mestre recusou alimentar-se. Intrigados, os discípulos reuniram-se
para discutir o caso:
— Será que o Mestre resolveu fazer jejum?
— Não, talvez ele esteja zangado porque escondemos a enxada. De comum acordo,
resolveram devolver a enxada. O Mestre tomou-a e saiu para trabalhar. Ao voltar, comeu a
refeição que lhe foi preparada pelos discípulos. Um destes então perguntou:
— Por que não vos alimentastes nestes últimos três dias? Hyakujô respondeu:
— No dia em que não se trabalha, não se come.
(Budismo Japonês)
Reflexão: Num mundo aonde pessoas fazem greves absolutamente prejudicais ao próximo,
e que inclusive causam mortes e sofrimento, para ganharem mais dinheiro, esse conto é
reflexivo. O que você faz por dinheiro? Dinheiro normalmente é para comprar mais “coisas”.
Isso traz felicidade? Você conhece alguém que é feliz porque tem mais dinheiro?
“... Certa vez, quando o mestre Rabi Joshua Heschel se encontrava em uma de suas viagens
de visita a seus discípulos, deparou-se com uma ladeira bastante íngreme. O rabino
rapidamente desceu de sua carroça e subiu a ladeira a pé.
— “Quanto sacrifício, rabino”, disse seu ajudante, “por que o senhor desceu da carroça
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para subir a ladeira a pé?”
“Porque”, disse o rabino, “tenho medo de que o cavalo apresente uma queixa contra mim na
corte celeste por não ter pena dele e tê-lo feito carregar-me nesta ladeira íngreme.”
“E daí”, exclamou o ajudante, “acaso o senhor não venceria esta disputa nos termos de que
um cavalo foi feito para servir aos seres humanos?”
“Sim”, respondeu o rabino. “Não tenho dúvidas de que venceria, mas prefiro subir esta
ladeira a pé uma dezena de vezes, a me ver envolvido num litígio com um cavalo.”
Reflexão: Você tem litígios com animais? Você é responsável pela violência e destruição
planetária? Quais litígios você terá no mundo vindouro?
O Mestre Gutei, sempre que lhe faziam uma pergunta, respondia levantando um dedo sem
dizer nada. Um noviço adquiriu o vício de imitá-lo. Certo dia, um visitante perguntou ao noviço:
— Que sermão o Mestre está pronunciando agora?
O noviço respondeu levantando o dedo.
O visitante, quando se encontrou com o Mestre, contou-lhe que o noviço o imitara. Mais
tarde, o Mestre escondeu uma faca nas vestes e chamou o noviço. Quando este se apresentou,
Gutei perguntou-lhe:
— O que é Buda?
O rapaz respondeu levantando o dedo. O Mestre então lhe agarrou a mão e cortou-lhe o
dedo com a faca. O discípulo, apavorado, ia sair correndo, mas o Mestre o chamou com um
grito:
— Noviço!
Quando o rapaz se voltou para o Mestre, este perguntou-lhe abruptamente:
— O que é Buda?
O discípulo ia levantar o dedo, mas não tinha mais dedo. Nesse instante, ele alcançou a
iluminação.
(Zen-Budista)
Reflexão: Quem é você realmente, no seu ser? Se tirássemos todos os seus valores
familiares, educacionais e políticos que lhe foram colocados, mas que não são do seu ser, quem
estaria ai? Quem é seu ser original? Descobrir isso e se reconhecer como a gota do oceano.
VERDADE
O rei decidiu que poderia fazer com que as pessoas observassem a verdade fazendo-as
praticar a autenticidade.
O acesso à sua cidade era feito por uma ponte, sobre a qual o rei ordenou que fosse
construída uma forca.
Quando os portões foram abertos, ao alvorecer do dia seguinte, o Capitão da Guarda
estava postado à frente de um pelotão para averiguar todos que por ali entrassem.
Um édito foi proclamado: “Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu
ingresso permitido. Se mentir, será enforcado.”
Mullá deu um passo a frente.
- Aonde vai?
- Estou a caminho da forca, respondeu Mullá calmamente. - Não acredito em você.
- Muito bem, se estiver mentindo, enforquem-me!
- Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!
- Isso mesmo, agora sabem o que é verdade: a sua verdade!
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Observe que tirando todas as mentiras que a sociedade, os políticos com suas leis e os
educadores te ensinaram, o que resta?
No tempo da dinastia de Tang havia um monge de nome Tokuzan. Ordenado muito moço, era
especialista no Sutra do Diamante, além de ser versado em outras Filosofias.
Certa ocasião, ouviu ele falar de uma doutrina chamada Zen, que se estava expandindo no
sul da China e pregava a Iluminação instantânea. Para Tokuzan, tal coisa representava uma
verdadeira heresia e ele decidiu então ir para o sul da China para desmoralizar a falsa
doutrina.
No caminho, deteve-se numa casa de chá à beira da estrada e pediu um lanche à velha que
tomava conta.
— Vou dar-te lanche, mas antes responde as minhas perguntas, disse a velha.
— Está bem, disse Tokuzan.
— O que é isso que trazes nas costas?
— São comentários do Sutra do Diamante.
— Então deixa-me perguntar algo a respeito do Sutra do Diamante. Se me responderes, eu
te darei o lanche gratuitamente. Mas, se não fores capaz de responder, nem por todo o
dinheiro do mundo eu te darei de comer.
— Podes perguntar, retorquiu Tokuzan.
— Então, ouve bem: no Sutra do Diamante está escrito que a mente passada, a mente
presente e a mente futura são inatingíveis. Com qual delas, então, pretendes comer teu
lanche? Com toda a sua sabedoria, Tokuzan nada pode responder e foi obrigado a seguir
viagem de barriga vazia. Compreendeu, então, que o mero conhecimento teórico era
insuficiente e passou a aplicar-se diligentemente na prática do Zen, sob a direção do Mestre
Ryatan.
(Sutra do Diamante)
Reflexão: Você se ilude? Se sim em que situação hoje em sua vida há ilusões? Toda Ilusão
conduz a uma desilusão. Você já teve quantas desilusões que te ensinaram a não se iludir?
“Tenho feito o melhor. Tenho-me esforçado para estar sempre ajudando meu próximo. No
entanto, ninguém parece me dar valor”, disse o discípulo ao mestre.
Os dois foram até o campo. Ali, entre o trigal imenso, havia uma papoula solitária.
“Para quem ela se mostra”, indagou o mestre. “Para onde estão voltadas as suas pétalas?”
“Estão voltadas para o céu”, respondeu o discípulo. “Como é bela!” “Você dificilmente veria
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sua beleza no meio deste imenso trigal”, afirmou o mestre. “Ela não pensa na admiração do
viajante que passa ao acaso; está vivendo sua missão, que é ser uma papoula. Mas o Sol a vê
todos os dias, lhe dá sua luz generosa. Da mesma forma, Deus vê os esforços do homem e
derrama sobre ele suas bênçãos.”
(Conto Celta)
Reflexão: Você vive sua missão ou a missão e a vida alheia? Para ter sucesso você é sincero
ou mente? Você se corrompe para ser aplaudido ou aceito pela sua sociedade?
VIVER A VIDA
Narada, o grande místico indiano, estava indo visitar Deus. No caminho, passou por uma
floresta e encontrou um sábio sentado sob uma árvore.
O velho sábio disse: “Por favor, faça uma pergunta a Deus. Tenho feito todo tipo de
esforço durante dez vidas, e agora quanto mais é necessário? Quando minha liberação vai
acontecer?"
Narada riu e disse: "Tudo bem."
E enquanto seguia adiante, encontrou sob outra árvore, um jovem dançando e cantando.
Brincando, Narada indagou: "Você também gostaria de fazer alguma pergunta a Deus?" O
jovem não respondeu. Ele continuou sua dança como se nada tivesse ouvido. Alguns dias depois,
Narada retomou. Ele disse ao velho: "Perguntei a Deus. Ele disse três vidas mais". O velho
ficou furioso. Jogou longe suas contas e suas escrituras, e disse: "Isso é absolutamente
injusto! Três vidas mais!"
Narada dirigiu-se ao jovem, que estava novamente dançando, e disse: "Embora não tenha
pedido, de passagem perguntei a Deus sobre você. Mas agora estou em dúvida se devo ou não
lhe contar. Vendo a fúria do velho, estou hesitante."
O jovem nada falou, continuando a dançar. Narada contou-lhe "Quando perguntei, Deus
disse: ‘Diga ao jovem que ele terá que nascer tantas vezes quanto o número de folhas de
árvore sob a qual está dançando!’ E o jovem começou a dançar com mais entusiasmo ainda. Ele
disse: “Tão depressa? Existem tantas árvores neste mundo, e tantas folhas... tão poucas
vezes? Da próxima vez que encontrar Deus, agradeça-lhe!”
E o jovem se liberou, se iluminou, naquele exato momento. Quando há uma confiança tão
grande nenhum tempo é necessário. Quando não há confiança, então nem mesmo três vidas são
suficientes. Aquele velho deve estar por aí reclamando e mal dizendo até agora. Uma pessoa
assim não pode se liberar. Uma pessoa com uma mente assim é o próprio inferno.
Reflexão: “Sinta mais e pense menos”. Viva com o coração pleno, tome consciência do que
lhe acontece em todos os momentos: um nascer do sol ou as cores das flores... Observe e colha
a felicidade desses atos.
O LADRÃO E A LUA
Ryokan foi um dos maiores monges Zen do Japão, poeta, calígrafo e grande amigo das
crianças.
Certa noite de luar, a ermida que Ryokan habitava foi visitada por um gatuno. Ryokan
deixava a porta sempre aberta, de modo que o ladrão não encontrou dificuldade nenhuma em
entrar. Porém ele nada encontrou lá dentro que valesse a pena carregar. Ryokan percebeu o
ladrão e puxou o cobertor por cima da cabeça e fingiu que dormia. O gatuno, julgando-o
adormecido, arrancou o cobertor do leito e Ryokan permaneceu impassível. Como não achasse
mais nada de valor, o ladrão se retirou, levando apenas o cobertor.
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Fazia muito frio e Ryokan, despojado de sua única coberta, levantou-se do leito a tiritar.
Um maravilhoso luar banhava o aposento com seus raios argênteos e, a contemplá-lo, Ryokan se
esqueceu completamente do ladrão.
— Que belo luar! — murmurou, erguendo-se nas pontas dos pés. Abriu a janela de papel e
quedou-se a contemplar a lua, como que em transe.
— É impossível ao ladrão tocar no luar que entra através da janela, é-lhe impossível
despojar-se dele! Como isso enche meu coração de alegria e de reconhecimento para com a
natureza! Não se lembrava mais do larápio, sentia-se feliz em poder assim, sozinho,
contemplar o luar.
(Zen-Japonês)
Reflexão: O que em sua vida é eterno? O que é da sua alma e o que é perecível?
DOOGUEN E O VARREDOR
Quando Dooguen desembarcou na China, dirigiu-se ao Templo Tendôzan onde passou algum
tempo em meditação. Certa tarde, em que fazia bastante calor, viu um velho monge, todo
curvado e enrugado coberto de suor, varrendo o pátio do templo sem chapéu de palha sequer
para se proteger dos ardentes raios do sol.
Dooguen, sentindo ao mesmo tempo admiração e pena, observou:
— Sois muito corajoso e esforçado para trabalhar dessa forma nesse calor.
— Nada estou fazendo de extraordinário — retrucou o monge.
— Por que não mandais um jovem substituir-vos? — perguntou Dooguen.
— Oh, não! O serviço executado por outrem deixaria de ser o meu serviço.
— Por que não esperas ao menos que o sol se ponha e o ar se torne mais fresco?
— Oh, o tempo é uma coisa preciosa que passa e não volta mais!
—Jovem estrangeiro, estás longe de conhecer a verdadeira prática e o verdadeiro Budismo!
Até um dia!
Assim dizendo, o velho tomou suas coisas e retirou-se.
(Budismo)
Reflexão: Observe as palavras iluminadas do velho monge: O tempo é precioso e não volta
mais. Você reflete isso em sua vida ou fica adiando o inadiável? Não adie sua vida. Participe
plenamente de sua vida desde o nascer do sol até o encontro com o sono.
DESPERDÍCIO
O Mestre Dooguen costumava recomendar a seus discípulos que, quando fossem ao rio
buscar água para o serviço do templo, metade do conteúdo das vasilhas deveria ser devolvido à
correnteza. Certa vez os discípulos perguntaram-lhe a razão disso e ele explicou-lhes:
— Por mais abundante que seja água, não deveis desperdiçá-la. Metade deve ser ofertada
aos outros seres vivos. O verdadeiro Budismo ensina a não desprezar o valor de uma simples
gota d’água ou um insignificante grão de arroz.
Certa ocasião, Dooguen viu um discípulo que estava em vias de jogar fora um resto de água.
Repreendendo-o, Dooguen fê-lo usar aquela sobra para as plantas.
(Budismo Japonês)
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A JOVEM DO RIO
Hara Tanzan, famoso Mestre Zen estava uma vez fazendo uma viagem a pé em companhia
de um monge seu amigo. A certa altura da caminhada, chegaram à beira de um rio. Como não
havia nem barco e nem ponte, viram-se obrigados a nadeá-lo.
Quando iam arregaçar as vestes para entrar n’água, viram uma jovem bonita que se
preparava também para atravessar o rio, mas parecendo bastante receosa de fazê-lo.
Tanzan, sem hesitar, tomou a jovem nos braços e carregou-a para a outra margem. Lá
chegando, depositou delicadamente a jovem em terra. Esta, entre envergonhada e
reconhecida, agradeceu e seguiu caminho.
Tanzan e o monge também continuaram sua viagem. Depois de algum tempo, o amigo, que
até então se conservava calado, observou:
— És mesmo um relapso!
— Relapso por quê? — perguntou Tanzan.
— Então não é um descaramento muito grande um monge em pleno período de treinamento
tomar uma jovem nos braços?
— Ah, aquela jovem? — retrucou Tanzan rindo. — Na verdade é mesmo um grande
descaramento o fato de continuares a abraçá-la!
(Mestre Tanzan)
Reflexão: O que te acompanha até hoje que já deveria ter sido abandonado a muito tempo
em alguma margem de um rio? O que é um peso muito grande em sua vida? Quanto lixo que
está juntado a várias vidas? Abandone e entregue-se.
MASCARAS
Jesus disse:
“Não pensem desde o amanhecer até o por do sol e desde o por do sol até o amanhecer
sobre o que usarão”.
Os discípulos perguntaram: “Quando serás revelado a nós e quando nós te veremos”?
Jesus disse:
“Quando tirarem suas vestes sem sentir vergonha e, pegando suas roupas, colocarem-nas
sob seus pés e pisarem sobre elas como as criancinhas - então, contemplarão o Filho daquele
que Vive e não temerão”.
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: Essa parábola trata da Persona, das máscaras que pessoas usam boa parte da
vida e investem um tempo enorme em mantê-las. Você tem máscaras? Se preocupa com o que
mostrar? Esconde os seus sentimentos? Sua cabeça fica cheia de julgamentos, censura e
poluição?
(Budismo Japonês)
CABEÇA GRANDE
(Budismo japonês)
Reflexão: Perder a cabeça simboliza perder as ilusões. Orgulhar-se da cabeça grande é ser
egoísta e estúpido. Qual caminho você escolhe?
ENTENDIMENTO
Conta-se que foi permitido a um rabino entrar no mundo vindouro. No início teve suas
expectativas frustradas, pois esperava encontrar algo grandioso, onde os justos viveriam em
maravilhas. No entanto, tudo que encontrou foram pessoas estudando, numa ieshivá (escola)
celeste. Perguntou então: “Mas é isto que fazem? E então já não faziam isto em suas vidas
terrenas?” Ao que foi respondido: “Sim... é o que agora entendem”.
(Judaísmo)
A HISTÓRIA DE SÍSIFO
Sísifo, rei de Corinto, era tido como o mais esperto entre todos os homens.
Por causa de sua astúcia, sempre estava em situações complicadas. Cada esperteza criava
novas dificuldades, que por sua vez pediam novos estratagemas, numa eterna sucessão de
saídas provisórias.
Certa vez, Sísifo descobriu que Zeus havia raptado Egina, filha de Ásopo, o deus dos rios.
Como faltava água em suas terras, Sísifo teve a idéia de revelar a Ásopo onde estava sua
filha, recebendo como troca uma nascente. O desesperado pai aceitou a proposta. Deu a Sísifo
a nascente e soube que a filha fora raptada por Zeus.
Sísifo teve a água, mas arrumou outro problema: Zeus, devido a traição de Sísifo, ficou
furioso e mandou a morte buscá-lo. Confiando em sua esperteza, Sísifo a recebeu e
começaram a conversar. Ele elogiou sua beleza, e enfeitou seu pescoço com um colar. Que era
uma coleira e, colocado na morte, aprisionou-a e conseguiu adiar o seu destino.
Durante decadas, não morreu ninguém. Sísifo enganou a morte, mas arrumou problemas com
Plutão, deus das almas e com Marte, deus da guerra, que precisava dos serviços da Morte.
Logo que teve conhecimento do ocorrido, Plutão libertou a Morte e ordenou-lhe que trouxesse
Sísifo para os infernos. Quando Sísifo se despediu da mulher pediu secretamente que ela que
não o enterrasse.
Já instalado nos infernos, Sísifo protestou a Plutão da falta de respeito de sua mulher em
não enterrar seu corpo e pediu um dia para se vingar da esposa e cumprir as liturgias
fúnebres. Plutão concordou com o pedido e Sísifo voltou ao seu corpo e fugiu. Havia enganado
a Morte novamente.
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Viveu anos escondido, até que finalmente morreu. Quando Plutão o viu, reservou-lhe um
castigo terrível. Sísifo foi condenado a empurrar uma gigantesca pedra até o alto da
montanha. Antes de chegar ao topo, porém, a pedra rolava para baixo, obrigando Sísifo a
retomar a tarefa até o fim dos tempos.
(Mitologia Grega)
Reflexão: O que você tem repetido em sua vida sem superá-la? Isso é conhecido no
oriente como Samsara – a roda da vida e das ilusões. O que tens repetido sem alcançar o
aprendizado e a maturidade? Esse conto também nos faz pensar na ilusão de querer enganar o
destino e a existência.
MOISÉS
Moisés, no final de sua vida, quis saber de Deus porque teria que morrer.
— Porque já nomeei Josué em teu lugar para liderar os israelitas - respondeu Deus.
— Deixe que ele lidere — contestou Moisés. Eu serei seu servo.
Deus concordou, mas Josué não gostou muito da situação. Moisés então lhe perguntou:
— Você não quer que eu permaneça vivo?
Josué consentiu e tornou-se líder e mestre até mesmo para ele, Moisés.
Quando foram entrar na tenda sagrada (onde se encontrava a Arca), uma nuvem surgiu.
Josué foi autorizado a entrar no espaço sagrado e Moisés teve que permanecer do lado de
fora.
Disse Moisés: “Uma centena de mortes são preferíveis à dor da inveja”. Naquele dia pediu
para morrer.
(Judaísmo)
HIPOCRISIA
Certo sábado, Ele ensinava numa das sinagogas. Estava alí uma mulher que, havia dezoito
anos, sofria de uma doença causada por um espírito. Vendo-a, Jesus chamou:
— Estás livre do teu mal.
E pousou nela as mãos. Instantaneamente a enferma se levantou e louvou. O chefe da
sinagoga, descontente pelo fato de ter Jesus curado em dia de sábado, disse à multidão:
— Há seis dias em que é licito trabalhar. Vinde em qualquer deles e curai-vos; porém não
num sábado.
Mas o Mestre respondeu:
— Hipócritas! Acaso qualquer de vós não solta o seu boi ou o burro da estrebaria aos
sábados para que possa beber? E esta mulher, uma descendente de Abrão que Satanás
conserva atacada há dezoito anos, não podia ser libertada desses laços num dia de sábado?
(Cristianismo)
Reflexão: Às vezes só vemos a hipocrisia alheia e não olhamos para nós mesmos. Você é
assim? Seja diferente, seja ousado e pare de querer que o mundo seja do seu jeito.
DESEJO
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Um homem queixou-se amargamente a Rotschild de sua miséria e ganhou um generoso
donativo. Pouco depois o milionário o encontrou num elegante restaurante, comendo caviar.
Indignado, interpela-o:
— Mas como? Há pouco você me dizia que estava morrendo de fome e agora come caviar’?
— Senhor Rotschild, respondeu o homem, quando eu não tinha dinheiro, não podia comer
caviar. Agora que tenho dinheiro não devo comer caviar? Deste jeito, quando é que vou comer
caviar?
(Humor Místico)
ALGO ESPECIAL
O mestre perguntou:
— O que pensas, Subhuti? O Buda deve ser visto como aquele que tem características
especiais?
Subhuti respondeu:
— Não, mestre. O Buda não deve ser visto como aquele que tem características especiais.
Isso porque, Mestre, o Buda disse que ter características especiais é não ter características
especiais.
É por isso que se fala em características especiais.
(Tradição Budista)
RESPOSTAS
Perguntaram a um rabino:
— Por que vós, os rabinos sempre respondeis a uma pergunta com outra pergunta?
O rabino depois de muito pensar disse:
— E por que não?
(Tradição Rabínica)
Reflexão: Alguns pregadores religiosos acreditam que sabem tudo. Respostas prontas os
tornam medíocres papagaios. Ficam repetindo palavras vazias como pregadores de plantão que
falam na mídia. Um mestre nos faz pensar. Um mestre ensina: Investigue por si mesmo...
Investigue. E penetre profundamente em tudo o que te move ao divino. Um mestre te conecta
com seu guia interior, com sua essência e assim você reconhecerá seus caminhos (dharma).
“Um certo homem muito tolo sofria de um problema grave. Todos os dias, ao se levantar de
manhã, tinha tamanha dificuldade em encontrar suas roupas, que, à noite, muitas vezes,
hesitava em ir dormir, com temor da angústia do que teria que enfrentar ao despertar. Uma
noite, porém, resolveu proceder de maneira diferente. Tomou uma caneta e um papel e, ao
despir-se para dormir, registrou o local exato onde tinha colocado cada uma das peças de sua
vestimenta.
Na manhã seguinte, muito contente consigo mesmo, o tal homem tomou o papel onde tinha
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feito as anotações e as leu:
“Chapéu” — lá estava pendurado, colocou-o na cabeça. “Calça” —lá estava ela dobrada,
vestiu-a. Desta maneira prosseguiu até que estivesse totalmente vestido.
“Ótimo”, pensou consigo o homem consternado, “porém, onde mesmo estou eu? Onde, raios,
estou eu? Ele procurou, procurou, mas era uma busca inútil; não pôde encontrar-se.”
(Tradição Oral)
CASAMENTO
O marido e a esposa estavam tendo uma terrível discussão. Finalmente a mulher ergueu os
braços e exclamou: “Por que eu tive que me casar com você para descobrir o quão estúpido
você é?”
“Você não precisava ter casado para descobrir isso,” replicou o marido com raiva. “Você
deveria ter percebido isso no momento em que eu a pedi em casamento.”
(Prem Deepti)
ESPERTEZA
Quando Hershele Ostropolier tinha seis anos e ainda perseguia cabras na sua aldeia,
apareceu um forasteiro, um judeu Litvak e perguntou:
— Diga-me, menino, como te chamas?
— Me chamo da mesma forma como se chamava meu avô – disse Hershele.
— E como se chamava teu avô? – quis saber o Litvak.
— Com o mesmo nome que puseram em mim – respondeu Hershele.
Vendo que não podia com o garoto, o Litvak tentou saber seu nome com esperteza, e disse:
— Quando tua mãe apronta a comida, como ela te chama?
— Ninguém precisa chamar para comer - respondeu Hershele. Quando há o que comer, vou
correndo sozinho.
(Talmud)
Reflexão: Esse conto me faz pensar no arquétipo junquiano do inocente tão bem
representado no filme “Forest Grump”. Você é inocente no que em sua vida? Todos nós temos
um pouco do inocente, daquele que é simples e confia, e isso nunca pode ser perdido. Você o
preserva? Confie na existência.
Três senhoras judias estão à beira da praia, em Miami, falando sobre seus filhos.
— O meu filho, diz a primeira, todos os anos me traz aqui para Miami, me hospeda no
melhor hotel, paga todas as contas e ainda manda me buscar de avião!
— Grande coisa, diz a segunda. O meu filho me comprou um apartamento de cobertura e me
leva todos os anos para passear na Europa.
— Pois meu filho, diz a terceira, vai quatro vezes por semana ao psicanalista. Paga cem
dólares por sessão e sabem de quem ele fala? De mim!
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(Humor Judaico)
Reflexão: Esse conto humorístico tem uma mensagem de absoluta importância sobre como
estamos educando nossas crianças. Quais os valores e as direções que ensinamos e
principalmente quais os exemplos que damos.
Jesus disse:
“Se aqueles que os conduzem disserem: "Vejam, o Reino está no Céu," então os pássaros do
Céu os precederão.
Se eles disserem:
"Está no mar," então os peixes os precederão.
Mas o Reino está dentro e está fora de vocês.
Se conhecerem a si mesmos então serão conhecidos e saberão que são os filhos do Pai
Eterno. Mas se não conhecerem a si mesmos, então estarão na miséria e serão a miséria”.
Reflexão: Jesus foi um dos poucos Iluminados que apontou que o “ Reino de Deus” está
dentro e fora de você. Observar isso é ver o sagrado em tudo. Dalai-Lama certa vez disse:
“Esta é minha simples religião. Os templos são desnecessários; as filosofias complicadas são
desnecessárias. O nosso cérebro e o nosso coração são o nosso templo. “ Como você interpreta
e vive isso?”
(Evangelho de Tomé)
EXPECTATIVA
Uma mãe judia está passeando com seus dois filhos no Brooklyn. Que lindos meninos! —
admira-se uma vizinha — Que idade eles têm?
— O médico vai fazer quatro - replica a mãe -, e o advogado tem dois.
(Humor Judaico)
Reflexão: Manter expectativas é uma das maiores causas de frustração e sofrimento que
você pode ter na vida. Famílias projetam em seus filhos suas maiores perversões e sombras
quando não propiciam a liberdade de escolha e de opções. Perls ensina sobre a liberdade de
escolhas: “Eu faço as minhas coisas e você faz as suas. Não estou neste mundo para satisfazer
as suas expectativas e você não está nesse mundo para viver conforme as minhas. Você é você,
eu sou eu. E se por acaso nos encontrarmos será maravilhoso. E se não, não há nada a fazer”.
DESAPEGO
Certo dia do inverno, um samurai sem mestre chegou ao templo de Eisai e fez um apelo:
— Sou pobre e doente, e minha família está passando fome. Por favor, nos ajude, mestre.
O samurai, que para viver dependia das esmolas das viúvas, levava uma existência
extremamente austera e nada podia oferecer àquele homem. Estava prestes a mandá-lo
embora, quando lembrou-se da imagem do Yakushi-Buda na entrada do templo. Caminhou até a
estátua e, arrancando-lhe a auréola, entregou-a ao samurai
— Aceite isso - disse ele. - Deverá bastar para ajudá-los por uns tempos.
O samurai, perplexo mas desesperado, levou com ele a auréola e partiu.
— Mas, mestre - clamou um dos discípulos de Eisai. - isso e um sacrilégio! Como pudeste ser
tão estouvado?
— Estouvado? Bobagem! Você nunca ouviu falar do mestre chinês que queimou uma imagem
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de madeira de Buda para se aquecer? Certamente o que eu fiz não chega nem perto disso. Eu
apenas coloquei o espírito de Buda, que é pleno de amor e misericórdia, para funcionar, por
assim dizer. Na verdade, se Buda em pessoa tivesse ouvido este pobre samurai, com certeza
teria cortado uma parte do seu corpo para ele!
(Xintoísmo)
Reflexão: Você não deve ser ninguém além de si mesmo... Não há possibilidade de ser outra
pessoa e toda vez que há uma tentativa de imitar e fingir ser outra pessoa mais longe você
está da Iluminação. Você tenta não ser você? Também esse conto nos faz refletir na adoração
de imagens.
Uma monja em busca da Iluminação fez uma estátua de Buda em madeira e folheou-a a
ouro.
A estátua era muito bonita, e ela a carregava para onde quer que fosse.
Anos se passaram e, ainda carregando seu Buda, a monja instalou-se num pequeno templo no
campo onde havia muitas estátuas de Buda, cada qual em seu próprio santuário.
A monja queimava incenso para o seu Buda dourado todos os dias.
Mas, não gostando da idéia de o seu perfume alcançar as outras estátuas, fez um funil
através do qual a fumaça ascendia apenas para a sua. Isto escureceu o nariz da estátua
dourada que se tornou muito feia.
(Zen Budismo)
Reflexão: Você hoje ama alguém? Está apegado a alguém? O amor liberta, solta, distribui e
traz maturidade. O apego destrói, castra, limita e é infantil.
As pessoas confundem o amor com o apego como a monja que carregava o Buda. Ciúmes,
apego, controle e posse são formas de destruir qualquer forma de amar e jogar todo o amor
de sua vida fora.
Permita que seu amor dê frutos e flores, compartilhe, dê e ofereça, seja amoroso.
COMPARAÇÃO
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Reflexão: Note que tudo o que você vê e reconhece nos outros é aquilo que você tem
dentro de si. Julgamentos são projeções de seu ser e de tua sombra muito mal trabalhada.
Pedro e Mateus não tinham a mínima compreensão da pessoa e dos ensinamentos de Jesus e
projetaram sua pequenez no mestre. Tomás foi mais longe profundo, mas de toda forma ainda
era um julgamento pequeno.
O que você projeta nos outros? Jung ensina que o que mais nos incomoda nos outros é o que
temos que reconhecer e transcender em nós mesmo.
A PASSAGEM DE NINAKAWA
Reflexão: Você está vindo de onde? Está indo para onde? Reflita nessa questão com o
abstrato de seu ser, sem a mente racional.
PACIÊNCIA
Na comunidade espiritual, dirigida por G.I. Gurdjieff, na França, vivia um homem idoso que
era a personificação do estorvo: irritadiço, bagunceiro, briguento, pouco asseado, incapaz de
colaborar com os demais. Ninguém se dava com ele. Finalmente, após muitos meses frustrantes
tentando permanecer com o grupo, o homem foi embora para Paris.
Gurdjieff foi atrás dele para tentar convencê-lo a retornar. Mas a experiência tinha sido
árdua demais, e o homem se recusou. Gurdjieff, porém, insistiu.
Diante disso, como poderia ele dizer não? Ao vê-lo de volta, a comunidade ficou pasmada. E
ao saberem que aquele homem estava sendo pago (ao passo que eles tinham que pagar, e muito,
para estarem lá), todos se revoltaram. Gurdjieff reuniu-se com eles e, depois de ouvir suas
reclamações, deu risada e explicou:
— Este homem é como fermento para o pão. Sem ele por perto, vocês jamais aprenderiam
verdadeiramente o que é a ira, a irritabilidade, a paciência e a compaixão. É para isso que
vocês me pagam, e é para isso que eu contratei este homem.
(Gurdjieff)
Reflexão: O Iluminado Dalai Lama ensina sempre a arte da paciência como uma forma de
todos os seres sejam felizes. Quando você estiver raivoso não culpe o outro. Você deve
assumir a responsabilidade de seu próprio inferno pessoal, da sua miséria, alegria, negativismo,
fé, etc.
Você assume essas responsabilidades? Quando isso acontece, a sua maturidade e
crescimento acontecem.
Um homem vinha caminhado pela floresta quando viu uma raposa que perdera as pernas, e
perguntou-se como ela faria para sobreviver. Viu então um tigre se aproximando com um
animal abatido na boca. O tigre saciou a sua fome e deixou o resto da presa para a raposa.
No dia seguinte, Deus alimentou a raposa usando o mesmo tigre. O homem maravilhou -se
da grandiosidade de Deus e disse a si mesmo:
—Também eu irei me recolher em um canto, com plena confiança em Deus e Ele há de
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prover tudo o que eu precisar.
Assim fez. Mas durante muitos dias nada aconteceu. Estava já quase às portas da morte,
quando ouviu a voz:
Ó, você que está no caminho do erro, abra os olhos para a verdade! Siga o exemplo do tigre
e pare de imitar a raposa aleijada.
(Hinduísmo)
Reflexão: A maioria absoluta das pessoas sabe o que deve ser feito na própria vida. Você
sabe? Você faz? Note também se você não está imitando outras pessoas. Se inspirar em
outras pessoas sábias é um caminho interessante mas deixar de ser você e só imitar é
vergonhoso e obceno. Você já notou como existem pessoas robôs: Sem vida, falsas, imitadoras
e normoticas?
AMAR A TODOS
Nasrudin decidiu fazer um canteiro de flores. Para isso, preparou o solo e plantou
sementes de diversas flores belíssimas. Quando as flores nasceram, no entanto, viu que seu
jardim estava cheio não apenas daquelas que ele escolhera e plantara, mas também atulhado
de dentes-de-leão.
Mullá foi então buscar conselho de jardineiros de toda parte e experimentou todos os
métodos conhecidos para se livrar dos dentes-de-leão.
Tudo em vão.
Por fim, resolveu caminhar até a capital a fim de entrevistar-se com o jardineiro real do
palácio do Rei. O sábio jardineiro, já velhinho, tinha aconselhado muitos outros jardineiros
antes de sugerir diversas soluções para acabar com dentes-de-leão, mas Nasrudin já
experimentara todas. Ficaram então os dois sentados juntos em silêncio por um tempo, até que
o jardineiro olhou para Nasrudin e disse:
— Bem, então eu sugiro que você aprenda a amá-los.
(Sufismo)
Reflexão: O que hoje em sua vida necessita de seu amor e não de sua revolta e rejeição?
Olhe para dentro... sempre olhe para dentro e medite a respeito da rejeição.
COMPAIXÃO
(Padres do Deserto)
RESPEITO
No curso de suas longas andanças, Zusya e Elimelekh, os dois rabinos irmãos, muitas vezes
passavam pela cidade de Ludmir, onde sempre pernoitavam na casa de um homem pobre, mas
devoto. Anos depois, quando a reputação dos irmãos já se espalhara por toda a nação, eles
retornaram a Ludmir, não mais a pé como antes, mas de carruagem. O homem mais rico dessa
pequena cidade, que outrora nunca quisera ter nada a ver com os dois rabinos, veio saudá-los
no momento em que soube que haviam chegado e implorou-lhes que se hospedassem em sua
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casa. Mas eles responderam:
— Nada mudou em nós para fazê-lo respeitamos mais do que antes. O que é novo são
apenas os cavalos e a carruagem. Leve-os como seus hóspedes. Quanto a nós, preferimos
pernoitar com nosso velho anfitrião de sempre.
(Hassidismo)
Reflexão: Você julga a si ou aos próximos por suas posses ou pelo que são? Tu tens
acompanhado as revistas e programas dos “ricos e famosos”, das fofocas, os “aprendizes”, o
big brother ou utiliza seu sagrado tempo de forma criativa, saudável, amorosa e meditativa?
EXPERIÊNCIA
Mullá era agora um homem velho, contemplando a sua vida. Estava sentado com amigos numa
casa de chá narrando as suas histórias.
—Quando jovem, eu era cheio de fogo. Queria que todos despertassem. Rezava para que
Deus me desse forças para mudar o mundo. Na meia idade, acordei certo dia e percebi que
metade da minha vida se passara e eu não mudara ninguém. Rezei então para que Deus me
desse forças para mudar aqueles próximos de mim, que tanto precisavam. Agora estou velho e
minha prece é mais simples: “Deus”, eu peço, “dai-me forças para pelo menos mudar a mim
mesmo.”
(Tradição Sufi)
Reflexão: Que tal antes de mudar o mundo mudar a si mesmo? É preciso coragem para a
auto transformação e a vida bem vivida. Quero morrer como o poeta Pablo Neruda que disse:
“Confesso que vivi”. Você confessa que viveu? Reflita ainda que não haja como mudar o mundo
ao redor, se as mudanças não se iniciarem em você.
DESACELERAÇÃO
Um dos devotos do templo cristão era bem conhecido por seu zelo e dedicação. Dia e noite
ele permanecia sentado em meditação, sem interrupção sequer para comer ou dormir. Com o
passar do tempo, porém, foi emagrecendo e ficando cada vez mais exaurido. O mestre do
templo aconselhou—o a reduzir o ritmo e tornar mais cuidado consigo mesmo. Mas o devoto se
recusava a ouvir seus conselhos.
— Por que correr tanto, qual é a pressa?
— Estou em busca da iluminação — respondeu o devoto. Não há tempo a perder.
— E como você sabe — indagou o mestre — que a iluminação está à sua frente e que é
preciso correr atrás dela? Talvez ela esteja vindo atrás de você e para encontrá-la bastaria
parar um pouco. Desse jeito você está apenas fugindo dela!
(Padres do Deserto)
CERTO E ERRADO
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Quando Bankei leu a petição, convocou todos os alunos.
— Vocês são sábios, meus irmãos — disse-lhes, — pois sabem discernir o que é certo e o
que é errado. Vocês podem ir estudar em outro lugar se quiserem. Mas este pobre irmão de
vocês não sabe sequer o que é certo e errado. Quem irá ensinar-lhe se eu não o fizer? Eu o
manterei aqui, mesmo que todos vocês partam.
Uma torrente de lágrimas purificou o rosto do irmão que roubara. Todo desejo de roubar
tinha desaparecido.
(Zen Budismo)
Reflexão: Esse conto pode nos fazer meditar em como aceitamos ou não as limitações e
erros alheios. Você lida bem com isso? Sabe perdoar?
DESPREZO
O mosteiro da Lua Nova não tem portões — disse Shantih certa vez a um conviva.
— Mas como eles mantêm longe os ladrões?
— Não há nada para roubar num mosteiro - respondeu Shantih - Tudo que tiver
verdadeiramente de valor é dado.
— Mas e os desordeiros? E as pessoas incômodas? Como os monges as mantêm afastadas?
— perguntou o conviva.
— Os monges as ignoram.
— E isso funciona?
Shantih tapou os ouvidos, fechou os olhos e recusou-se a responder. Finalmente,
desgostoso, seu conviva foi embora.
— Funciona - disse Shantih, chamando-o de volta.
(Mestre Shantih)
Reflexão: No mundo de hoje deve-se ignorar algumas situações que tiram sua paz. Reflita
agora o que pode ser ignorado.
TRANSFORMAÇÃO
Um profeta chegou certa vez a uma cidade para converter seus habitantes. A princípio, as
pessoas ouviram seus sermões, mas pouco a pouco foram se afastando até não restar uma
única alma para ouvir o profeta. Certo dia um viajante lhe perguntou:
— Por que você continua pregando?
— No começo — respondeu o profeta — eu esperava transformar as pessoas. Ainda hoje
continuo pregando, mas apenas para impedir que elas me transformem.
(Tradição de Contos)
Reflexão: Observe a beleza desse conto: Quem é você para mudar as pessoas se ainda não
conhece a si mesmo? É como um pai que fuma ou bebe e quer ensinar ao filho a não ter esses
comportamentos viciantes. Você é um exemplo de sua ética e filosofia de ser?
“Na minha juventude vivi na vila de Koshilovitz, a mesma Koshilovitz que recebeu renome
mundial por causa do mestre Báal Shem Tov, que foi um shochet (um abatedor ritual de
animais) nesta cidade, antes que sua grandiosidade lhe fosse revelada. Lá encontrei um
shochet, um ancião de mais de oitenta anos. Eu perguntei: “Você por acaso sabe de alguém que
conheceu o Shem Tov?”Ele retrucou: Nunca soube de nenhum judeu que houvesse conhecido
pessoalmente o Báal Shem Tov, mas sei de um não judeu que o conheceu. Quando eu era jovem,
costumava hospedar-me com um camponês que era judeu. Sempre que eu jogar água sobre
minha faca usada no abate, o avô do camponês, um homem idoso de uns noventa ou cem anos,
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balançava cabeça. Eu pensava que era por casa de sua idade. Certa porém, percebi que era em
desaprovação ao que eu fazia. Perguntei:
— Por que você meneia sua cabeça enquanto trabalho?”
Ele respondeu: “Você não está cumprindo sua tarefa direito, o Báal Shem Tov antes de
lavar sua faca com água, a lavava com lágrimas.”
Reflexão: Amor aos animais. Não matarás. Ética e ecologia planetária. É possível você viver
com esses valores? Quem hoje destrói o planeta e causa dor aos animais?
O CENTRO DO MUNDO
Três sábios sacerdotes viajavam pelo mundo. Ao passarem por Aksehir, ouviram falar de
um mestre muito conhecido naquela região. Desejaram conhecê-lo e um banquete foi
organizado com a presença de todos os notáveis da cidade, para que Nasrudin lhes fosse
apresentado. Depois de comerem e beberem, um dos sábios perguntou a Nasrudin:
Onde fica o ponto central do mundo?
Nasrudin apontou seu burro, parado diante da porta, disse:
No ponto sobre o qual pisa a pata dianteira do meu burro.
Como sabe? — perguntou-lhe o sábio.
Se não acredita em mim, meça-você mesmo! — respondeu. O segundo sábio perguntou-lhe:
Quantas estrelas existem no céu?
Nasrudin respondeu com a mesma tranqüilidade:
— Existem tantas estrelas no céu quantos pêlos na cauda do meu burro.
— Como pode prová-lo?
— Se não acredita em mim, conte-os você mesmo!
O terceiro sábio, assombrado diante de tanta presteza nas respostas, desistiu de fazer
qualquer pergunta.
EDUCAÇÃO
(Tradição de Contos)
Reflexão: Meu amigo e psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa diz: “A existência nos faz
nascermos gênios e a sociedade nos torna medíocres. Educar nossas crianças com carinho,
muito amor, generosidade e sabedoria, um caminho para criar-se jovens amorosos, éticos e
justos. Observar novos paradigmas, enfim... Como você educa seus filhos? Sugiro um livro
chamado “A Engrenagem e a flor” de José Ângelo Gaiarsa, Ed. Ícone. Se você tem filho já
pode estar atrasado em ler varias vezes esse texto extraordinário”.
MEIO DE VIDA
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Um amigo perguntou ao estudante universitário:
— Para que vai até o Mestre? Por acaso ele o ajudará a arrumar um meio de vida?
— Não, mas graças a ele saberei o que fazer com o meio de vida quando conseguir um. — foi
a resposta.
(Tradição de Contos)
DESAPEGO
O Rabi Ananias era um homem tão santo, que era capaz de fazer milagres. Para os outros,
porém; para si mesmo nada queria. Vivia em extrema pobreza com sua esposa. Tanto que a
pobre mulher, para não envergonhar-se diante dos vizinhos, costumava acender o fogo —
embora nada houvesse para cozinhar — a fim de que os vizinhos, vendo sair fumaça pela
chaminé, não soubessem que eles passavam fome. Mas uma vizinha, mulher perversa, resolveu
surpreendê-los e entrou de repente na casa, dirigiu-se diretamente ao forno de onde saia a
fumaça. Abriu a portinhola, e qual não foi sua surpresa ao ver que lá dentro havia dezenas de
pães, dourados e macios.
O milagre deu idéias à mulher de Ananias... E ela passou a insistir com o marido para que ele
usasse seus poderes para conseguir riqueza. Tanto insistiu, que o santo rabino, embora
violentando a si mesmo, orou a Deus pedindo que o desejo da esposa fosse atendido. Neste
instante, um objeto reluzente caiu no céu. O rabino foi ver: era uma perna de mesa feita de
ouro maciço.
Mas aquela noite não conseguia dormir... E, quando por fim adormeceu, teve um sonho
estranho e angustiante. Sonhou que estava no céu, convidado a participar do banquete dos
justos. Mas a mesa, carregada de iguarias, oscilava de tal modo que tornava impossível
assentar-se a ela. Rabi Ananias foi ver o que acontecia constatou: faltava à mesa uma perna.
Desesperado, rogou a Deus que aceitasse de volta sua dádiva, pois ele não queria perder a
eternidade “lá” por um “adiantamento aqui”. Deus aceitou e, desde então, Ananias viveu em
paz.
(Rabino Ananias)
Reflexão: Rabi Ananias nos faz pensar na questão do desapego. Há momentos em que
riquezas são as que não temos. Tenho observado quantas pessoas vazias lutam para terem na
maturidade um milhão de dólares. Por quê? Para contar vantagens ao seu vizinho. O mestre
Nilton Bolder escreveu um livro extraordinário sobre o tema: “Ter ou não ter”. Você já
refletiu nisso: Riquezas pelo que não se tem.
CONSCIÊNCIA
Rabi Abaú e Rabi Hia chegaram ao mesmo tempo na mesma cidade. Rabi Hia pronunciou um
discurso sábio, iluminado e criativo sobre as Leis da existencia, enquanto Rabi Abaú fazia um
sermão tradicional e repetitivo.
O povo abandonou Rabi Hia para ouvir Rabi Abaú.
Rabi Hia ficou profundamente abatido. Seu colega, então, lhe disse:
— Ouve esta parábola: dois homens entraram na mesma cidade; um oferecia pedras
preciosas e pérolas, outro vendia simples bijuterias. Em torno de quem se aglomerou o povo?
Com certeza em torno do vendedor de bijuterias, porque era isto que podia comprar.
(Rabi Abaú)
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oferece. Reflita hoje se seu trabalho, uniões amorosas, cuidados com o corpo e espiritualidade
são bijuterias ou diamantes?
AFOGAMENTO
Reflexão: Você agora esta dentro de algo que esta te afogando? Vive algo que nada mais é
do que um lento e doloroso suicídio?
HUMILDADE
Quando rabi Menachem escrevia cartas, na terra de Israel, sempre as assinava nomeando-
se: “Ele, que é verdadeiramente humilde“.
O rabino de Rizin certa vez foi questionado: ‘Se rabi Menachem era tão humilde, como
poderia assumir para si este título desta maneira?’
“Ele era tão humilde”, disse o rabino de Rizin, “e sua humildade estava tão internalizada,
que já não mais a considerava como uma virtude”.
(Hassidismo)
Reflexão: Quando parecer humilde é uma artimanha do ego? Expresse livremente o que
você é livre de sentir-se melhor ou pior que ninguém. Quais virtudes você ainda tem que
cultivar? Quais já são suas?
AS LÍNGUAS
Rabi Gamaliel ordenou a seu criado Tobias que fosse ao mercado comprar o que de melhor
houvesse. O criado trouxe uma língua. No dia seguinte, rabi o mandou ao mercado para que
comprasse que de pior houvesse, e Tobias voltou a trazer-lhe uma língua. Intimado a dar uma
explicação, disse:
—A boa língua é o que há de melhor no mundo. Mas a má língua é o que há de pior.
(Rabi Gamaliel)
Reflexão: José Ângelo Gaiarsa escreveu um livro maravilhoso apontando toda maldade e
neurose de quem tem má língua. O livro é “tratado geral da fofoca”. Você é um fofoqueiro? A
Bíblia Cristã condena nos Salmos a pratica da fofoca. Ensina que a fofoca “mata quem escuta,
quem fala e de quem se fala”, mas aponta o que escuta, o propagador, como o causador maior
dessa perversidade. Você escuta e propaga fofocas?
A ALTERNATIVA
- Sou uma pessoa hospitaleira, disse Mullá na casa de chá a um grupo de amigos.
- Pois muito bem, leva-nos todos para jantar em sua casa, disse o mais voraz.
Mullá juntou a turma toda e foi caminhando com eles até sua casa.
Quando estava quase lá, disse:
- Vou na frente para avisar a minha mulher: vocês esperem aqui. Sua mulher, ao ouvir as
novas, deu-lhe umas bordoadas.
- Não tem comida em casa, mande-os embora.
- Não posso fazê-lo, minha reputação está em jogo.
- Muito bem, sobe, e eu lhes direi que não está.
Depois de aproximadamente uma hora, os convidados, impacientes, apinharam-se diante da
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porta, gritando:
- Mullá, deixa-nos entrar.
A mulher de Nasrudin veio ter com eles.
- Mullá não está.
- Mas nós o vimos entrar em casa.
Ela permaneceu em silêncio.
O Nasrudin observando de uma janela do andar de cima, foi incapaz de conter-se.
Debruçando-se para o lado de fora, gritou:
- Eu poderia ter saído pela porta dos fundos, não poderia?
É MESMO?
O Mestre Budista, Hakuin, era respeitado e amado por todos os seus vizinhos como alguém
que levava uma vida pura.
Um dia, foi descoberto que uma moça linda que morava perto de sua casa estava grávida.
Os pais da moça ficaram furiosos. No início, a moça não quis dizer quem era o pai, mas após
muita pressão falou que o pai era Hakuin.
Com muito ódio, os pais foram a Hakuin, mas tudo o que ele disse foi: “É mesmo?”
Quando a criança nasceu, foi levada a Hakuin que, a essa altura, já havia perdido sua
reputação e todos seus discípulos o que parecia ter tirado sua paz Hakuin obteve leite, comida
e tudo o mais que a criança necessitava, pedindo esmola a seus vizinhos.
Cuidou da criança com todo amor. Um ano mais tarde, não suportando mais a situação, a
mãe da criança contou a verdade a seus pais – o verdadeiro pai era um jovem que trabalhava no
mercado.
O pai e a mãe da moça foram imediatamente a Hakuin contar-lhe toda a estória.
Desculparam-se muito, imploraram seu perdão e pediram a criança de volta. Enquanto
entregava a criança, de boa vontade, o Mestre simplesmente falou: “É mesmo”?
(Tradição Zen)
Reflexão: O que é pureza? Quais são as pessoas puras de sua sociedade? Qual pureza você
busca nos outros e principalmente em si mesmo? Muitas formas retrogradas religiosas do
planeta colocam como pureza valores delirantes e dogmáticos. Tu és assim?
CONSCIÊNCIA
Enquanto Noé plantava uma vinha, Satanás apareceu e perguntou o que estava semeando.
Noé respondeu: — Um vinhedo.
O espírito mal fez-se de ingênuo:
— Para que serve?
— Seus frutos são doces, com ele faz-se o vinho que alegra o coração dos mortais.
Disse-lhe então Satanás:
— Vou ajudar-te.
Trouxe um cordeiro, um leão, um porco e um macaco, matou-os e com seu sangue adubou a
vinha. É por isso que, antes de beber, o homem é manso como um cordeiro; se bebe o
suficiente, torna-se forte como um leão; bebendo além da conta, comporta-se como um porco;
e quando se embriaga dança como um macaco, diz bobagens diante de quem quer que seja e não
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sabe o que faz.
(Tradição Judaica)
Reflexão: Quem você conhece que é manso como um cordeiro, tem a força de um leão,
comporta-se como um porco e diz bobagens, e dança como um macaco embriagado? Os
iluminados ensinam consciência. Você é consciente?
PROPRIEDADE PERDIDA
Já era meia noite e Nasrudin vagava pelas ruas, quando um guarda, cruzando-lhe o caminho,
perguntou:
“Que anda fazendo por aí a esta hora da noite, Mullá?” “Perdi o sono e estou procurando
por ele”.
Reflexão: Onde você busca suas respostas? Onde você busca a felicidade?
Encontrar a si mesmo é uma experiência própria ou alguém pode fazer isso por você?
ORAÇÕES
A esposa do Ropshitser perguntou ao marido: “Suas orações foram longas hoje. Será que
você conseguiu que suas preces fossem aceitas e que com isto os ricos sejam mais generosos
em suas contribuições para os pobres?”
O Rabino respondeu: “Metade dos objetivos de minhas rezas já consegui. Os pobres estão
aceitando recebê-las.”
(Rabi Ropshitser)
Reflexão: Você tem feito orações com objetivos altruístas e principalmente com espírito
de gratidão?
PSICOLOGIA
ARREPENDIMENTO
Um pobre cego se aproximou de dois viajantes na estrada. Um deles deu-lhe uma moeda, o
outro nada. O anjo da Morte aproximou-se dizendo-lhes:
Quem deu ao mendigo, não tem porque temer-me por cinqüenta anos; o outro, em câmbio,
morrerá logo.
Posso retroceder e dar uma esmola ao mendigo? - perguntou o viajante condenado.
Não - replicou o Anjo da Morte. A embarcação é inspecionada antes de zarpar, não em alto
mar.
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(Padres do Deserto)
Reflexão: O que não pode e nem deve ser adiado em sua vida hoje? Na ordem Rosa Cruz
(Amorc) um dos maiores ensinamentos de suas lições é: “Não deixe para amanha o que pode
realizar hoje (agora)”. Ensino: “Não adie, o amanhã é uma miragem”.
MATRIMÔNIO
(Rabi Idi)
Reflexão: Amor. Tu estás amando? O que você é capaz de fazer e viver por amor? Você
consegue manter relacionamentos amorosos sem apegos, flexíveis e que mantenham sua
individualidade e crescimento? Gosto muito e recomendo os livros e das idéias de Flávio
Gikovate sobre esse tema.
INOCÊNCIA
Um judeu alto, de grande barba, estava pé num trem lotado, segurando-se no balaústre.
Sobe no trem um judeu baixo, que tentava pagar no balaústre, sem sucesso. Segura então a
barba do outro judeu.
— Solte a minha barba - grita este enfurecido.
— E por quê? — perguntou o baixinho, com inocência. — Você já vai descer?
(Humor judaico)
Reflexão: Observe como funciona a loucura da mente humana. Caetano ensina: “De perto
ninguém é normal”. Tu és? Quando alguém desequilibrado vem nos apontar caminhos, talvez
devamos pensar: “Quem é você para mudar as pessoas”?
Mullá, cansado de ter que dar comida ao jumento, pediu à sua esposa que o fizesse, ao que
ela se recusou. A coisa desandou em muita briga e discussão até que decidiram: aquele que
fosse o primeiro a falar teria que dar comida ao jumento.
Mullá aquietou-se em um canto da casa. Sua esposa logo ficou entediada e saiu para uma
visitinha aos vizinhos. Assim que chegou a hora do jantar, cuidou de mandar um garoto levar ao
marido uma tigela de sopa.
Neste meio tempo, um ladrão entrou na casa, mergulhada no mais absoluto silêncio. Foi
roubando tudo que estava ao alcance, até mesmo o chapéu de Mullá, que continuava sentado
sem esboçar sequer um movimento ou palavra. Serviço completo, o ladrão foi-se embora.
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Logo depois, chegou o garoto com a sopa.
Mullá gesticulava tentando explicar que um ladrão havia passado por ali, mas tudo que o
rapazinho pode perceber eram os gestos frenéticos que apontavam para o alto da cabeça, onde
antes havia um chapéu.
Interpretando aqueles gestos como uma ordem, o garoto derramou a sopa sobre a cabeça
de Mullá e voltou rapidamente para contar toda aquela esquisitice à mulher de Mullá.
Imediatamente sua esposa voltou para casa. Ao encontrar todas as portas abertas e os
armários vazios, começou a xingar o marido de tudo quanto foi jeito. Foi aí que ele disse:
- Agora, vá dar comida ao jumento, e que a senhora veja muito bem no que deu sua teimosia.
Reflexão: Todos nós temos um grande aprendizado na vida: A harmonia também é chamada
no taoísmo de fluidez. Uma maneira de vivermos em harmonia fluídica é a flexibilidade.
Teimosia é um dos venenos da mente. Você é teimoso no que? Você empaca no que ou onde?
Buda chegou à porta do paraíso. As pessoas de lá esperavam por ele. Abriram a porta,
deram-lhe boas - vindas, mas ele deu as costas para a porta, olhando para o mundo - milhões
de almas no mesmo caminho, debatendo-se, em angústia, sofrimento lutando para alcançar
esta porta do paraíso e da iluminação.
O porteiro disse: "Entre, por favor! Estávamos esperando por você à muitas gerações”.
E Buda replicou: "Como posso entrar se os outros não alcançaram? Este não é o momento
apropriado. Como posso entrar se todos ainda não entraram? Terei que esperar. Terei que
ajudar a todos alcançarem, aí entrarei.
(Tradição Budista)
Reflexão: Você acredita que um iluminado abandona o planeta para viver num paraíso
pessoal? Outro dia me questionaram! “Se terminou tuas buscas, por que ainda estás aqui”?
Respondi: “Porque tenho que estar em algum lugar”!
O budismo ensina que os iluminados estão entre nós auxiliando no caminho.
Existem poucos iluminados e mestres? Não! Existem sim poucos buscadores sinceros.
RETIRE-SE
(Mestre Tokusan)
Reflexão: O psicoterapeuta e mestre Jung ensinou que “é melhor ser íntegro a ser bom”.
Isso significa olhar sua sombra, sua perversidade. O caminho para reconhecer a si mesmo
passa pela escuridão. Não é só de luz. Você já observou e reconheceu suas sombras? Integrar
todo seu ser é um caminho de Iluminação.
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PROSPERIDADE
Disse Jesus:
- Àquele que tem alguma coisa na mão, será dado.
E àquele que não tem, mesmo o pouco que tem, lhe será tirado.
(O Evangelho de Tomé)
Reflexão: Você se considera como alguém que tem muito? Se sim terá mais. Se não até o
pouco que tem lhe será tirado. Viver em gratidão e celebração é mostrar ao universo sua
prosperidade. Osho ensinou durante toda sua vida a celebrar absolutamente tudo, inclusive a
morte, a dor, tudo o que é “humano-divino”.
HONESTIDADE
Um homem, cujo machado desaparecera, suspeitou que o filho de seu vizinho o houvesse
roubado. O rapaz andava feito ladrão, tinha cara de ladrão e falava como um ladrão. Pouco
depois, contudo, enquanto arava um campo, o homem achou o seu machado.
Ao encontrar mais tarde o filho do vizinho, o rapaz andava, parecia e falava como qualquer
outra criança.
(Budismo Chinês)
Reflexão: A maldade está só fora de ti? A maldade está só dentro de ti? O que é a
maldade e injustiça segundo seus valores?
CÉU E INFERNO
Houve um homem que morreu e se viu em um lugar lindo, rodeado de todo conforto. Um ser
vestido inteiramente de branco veio até ele e disse:
— O senhor aqui pode ter qualquer coisa que desejar, qualquer iguaria, qualquer prazer,
qualquer tipo de entretenimento.
O homem ficou encantado e por vários dias deliciou-se com todos os prazeres que sonhara
na Terra. Um dia, porém, entediou-se daquilo tudo e, chamando o atendente de trajes brancos,
explicou:
— Estou cansado disso tudo. Preciso de alguma coisa para fazer. Que tipo de trabalho você
pode me oferecer’?
O atendente de branco sacudiu a cabeça tristemente e respondeu:
— Sinto muito, meu senhor. Essa é a única coisa que não podemos lhe oferecer. Não há
trabalho aqui.
O que o homem retrucou:
— Essa, não! Eu poderia bem estar no inferno.
O atendente respondeu com brandura.
— E onde o senhor pensa que está?
(Prem Deepti)
Reflexão: Ter tudo o que se deseja é uma benção? Dificuldades amadurecem ou são uma
maldição? Existe alguém que não sofra e vive sem dificuldades?
OBJETIVO
O venerável Ananda, o monge assistente e discípulo mais próximo de Buda, estava passando
certo dia por um pequeno vilarejo. Como estava com sede, aproximou-se do poço e,
encontrando lá uma jovem, pediu a ela que lhe desse um pouco de água. Mas a jovem
respondeu:
— Oh, grande monge, não sou digna de vos dar água. Por favor, não peça isso de mim, pois
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eu só vos causaria impureza. Sou filha da casta mais baixa deste vilarejo.
O venerável Ananda olhou-a com compaixão e disse:
— Não pedi para saber sua casta, mas apenas um pouco de água.
(Budismo Indiano)
Reflexão: Esse conto nos faz pensar em como se julgam pessoas por cargos, estudos,
casta, religião, etc. No Brasil há uma lei que trata de raças e consciência. Existe raça e
consciência colorida? Que cor é a sua alma? Qual a raça de sua alma? Seja hospitaleiro, terno
e amável com todos os seres.
O CAMINHO
Um homem de negócios, que precisava participar de uma reunião em uma cidade distante,
resolveu viajar por estradas secundárias ao invés das vias expressas, a fim de aproveitar a
bela paisagem da região. Mas, depois de algumas horas de viagem, percebeu que estava
irremediavelmente perdido.
Vendo um fazendeiro que cuidava da roça à beira da estrada, ele parou para perguntar o
caminho.
— Bom dia. Poderia me informar quanto falta para eu chegar a Chicago?
— Não tenho bem certeza, respondeu o fazendeiro.
— Bem, poderia então me dizer a que distância está de Nova Iorque?
— Não tenho bem certeza, respondeu novamente o fazendeiro.
— Será que você poderia pelo menos me dizer o caminho mais curto até a estrada principal?
— perguntou o executivo, já exasperado.
— Também não sei muito bem, respondeu mais uma vez o fazendeiro.
— Você não sabe muita coisa sabe? — retrucou o empresário com impaciência.
— Não, não sei não. Mas eu não estou perdido — respondeu fazendeiro tranqüilamente.
(Prem Deepti)
Reflexão: Você está no caminho certo ou está perdido em sua vida e em suas escolhas?
Esteja presente nesse momento. Aqui e agora.
EGOÍSMO
(Budismo Tendai)
Reflexão: Quando se medita em paz, amor e compaixão a todos os seres isso é real ou uma
artimanha do ego? É necessário reflexões constantes sobre nosso egoísmo. Sobre o pensar em
si, só em si mesmo.
DOAÇÃO
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Nadi de Shiraz conta-nos esta história sobre si mesmo.
“Quando criança eu era um menino piedoso, fervoroso nas minhas orações e na minha
devoção. Certa noite, estava de vigília com meu pai, o Corão no colo, quando os que estavam
conosco na sala começaram a cochilar. Logo estavam dormindo profundamente. E então disse a
meu pai, “Nenhum desses dorminhocos abre os olhos ou ergue a cabeça para recitar as
orações. É de pensar que estivessem todos mortos.” Mas meu pai respondeu:
“Meu querido filho, eu preferia que você também estivesse dormindo como eles, ao invés de
estar aqui maldizendo-os.”
(Nadi de Shiraz)
Reflexão: De novo, um texto que inspira a reflexão sobre nossos limites e possíveis
deficiências antes de julgar o próximo. Como dizia Jesus de Nazaré: - Aquele que não pecou
que atire a primeira pedra.
Jesus disse:
- O argueiro que existe no olho de teu irmão, tu o vês,
Mas a trave que existe em teus olhos tu não a vês,
Quando arrancares a trave de teus olhos, então verás claramente e poderás retirar o
argueiro do olho de teu irmão.
(Evangelho de Tomé)
Reflexão: Você tem compaixão e sabe perdoar? Os que só criticam, fofocam e odeiam
mesmo morando no “Paraíso” irão encontrar motivos de sofrimento. Compaixão ao próximo e a
si mesmo é ter um amor tão profundo que aceita e perdoa os limites alheios. Você perdoa?
Certo dia, um rabino, num frêmito de paixão religiosa, correu para diante da arca e, caindo
de joelhos, começou a bater no peito, clamando:
— Eu sou um ninguém! Eu sou um ninguém!
Um mendigo freqüentador da sinagoga, impressionado com este exemplo de humildade
espiritual, untou-se ao rabino e, ajoelhando-se ao seu lado, pôs-se a bradar:
— Eu sou ninguém! Eu sou ninguém!
O zelador, que observava tudo de um canto, também não pôde resistir. Caiu de joelhos ao
lado dos outros dois e começou a clamar:
— Eu sou ninguém! Eu sou ninguém!
Neste momento, o rabino cutucou o mendigo com o cotovelo, apontou para o zelador e
disse:
— Olhe só quem pensa que é um ninguém!
(Tradição Rabinica)
Reflexão: Questionar-se constantemente “quem sou eu?” é dar-se conta que qualquer ser
não é mais nem menos que ninguém. Isso é humildade que tem seu termo originário da raiz
húmus – terra. Ter os pés no chão. Você se compara, se aumenta ou diminui, diante do mundo?
MENTE CHEIA
Hogen, um mestre Zen chinês, vivia sozinho num pequeno templo afastado da cidade. Um
dia quatro monges viajantes apareceram e indagaram se podiam fazer uma fogueira ali no seu
jardim para se aquecerem. Enquanto preparavam o fogo, Hogen ouviu-os conversando sobre
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subjetividade e objetividade. Juntando-se a eles, perguntou:
— Lá está uma grande pedra. Na consideração de vocês, ela está dentro ou fora da mente?
Um dos monges respondeu:
— Do ponto de vista budista, tudo é objetivação da mente, de modo que eu diria que a
pedra está dentro da minha mente.
— Sua cabeça deve pesar muito - observou Hogen, - se precisa carregar uma pedra grande
como aquela na mente.
(Budismo Chinês)
Reflexão: Sua mente está cheia? No ato de viver é observável, que a cada dia, surgem mais
e mais problemas a serem resolvidos. Qual a solução? Observar através da meditação que só
existe um único problema: A identificação ou seu apego aos pensamentos. Entenda que
resolver todos os supostos problemas é como aparar os galhos de uma árvore. Cortar a raiz
dos problemas é observar a mente e perceber de onde surgem todas as coisas. Quando?
Agora, nesse instante!
TEORIA E PRÁTICA
Em sua primeira visita à Inglaterra, Achaan Cha, um grande mestre tailandês, discursou
para muitos grupos budistas. Certa noite, após uma palestra, recebeu uma pergunta de uma
ilustre dama inglesa que passara muitos anos estudando a complexa cibernética da mente
segundo as oitenta e nove classes de consciência dos textos psicológicos do budismo. Faria ele
a bondade de explicar alguns aspectos mais secretos desse sistema de psicologia para que ela
pudesse prosseguir em seus estudos?
O budismo nos ensina a abrir mão e deixar as coisas como elas são em si. No início, porém, é
natural a tendência de os discípulos se aterem estritamente aos princípios. Um sábio, por
outro lado, toma esses princípios e usa-os como instrumento que conduzem à essência da vida.
Pressentindo o quanto esta mulher estava presa aos conceitos intelectuais, ao invés de
beneficiar-se da prática de seu próprio coração, Achaan Cha respondeu sem meias palavras:
—A senhora, madame, é como alguém que guarda as galinhas no quintal, mas sai recolhendo
a titica em vez dos ovos.
(Budismo Tailandês)
EXPERIÊNCIA
(Tradição Rabínica)
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Reflexão: Quantos ensinamentos dos grandes mestres da humanidade foram mal
interpretados e criaram perversões? Inquisição, guerras santas, castas... Assim, fiquemos
atentos as nossas palavras para que elas possam gerar paz. Reflita se suas palavras são
amáveis e gentis. Reflita ainda a importância do silêncio. Reflita que repetir as palavras, as
maneiras, o modo de um ser que atingiu a realização, não o transforma num iluminado, mas num
papagaio.
ILUSÕES
Esta história é sobre o grande mestre tibetano Marpa, que há mil anos viveu numa fazenda
com sua família no Tibete. Na mesma fazenda moravam também muitos monges que iam
estudar com a grande mestre.
Certo dia, o filho mais velho de Marpa foi assassinado. Marpa chorava amarguradamente
quando um dos monges foi até ele e disse:
— Não compreendo, mestre. Você tem nos ensinado que tudo é ilusão. E, todavia, nós o
vemos agora aos prantos. Se tudo é ilusão, por que está sofrendo tão profundamente?
— Tudo é, de fato, ilusão — respondeu Marpa — a morte de um filho é a maior dessas
ilusões.
(Contos de Milarepa)
Reflexão: Há muitas expectativas que um ser Iluminado não sofra. Isso é não perceber o
Real. Todos os seres sofrem... Todos se iludem. Quais são suas ilusões? Você mente para si
mesmo? Aprenda a estar presente.
EFÊMERO
O mestre Zen Mu-nan chamou seu discípulo Shoju um dia e lhe disse:
—Sou um homem velho agora, Shoju, e é você que irá dar continuidade aos meus
ensinamentos. Aqui está um livro que vem sendo transmitido de mestre a mestre há sete
gerações. Eu mesmo acrescentei algumas anotações que você haverá de considerar valiosas. Ei-
lo, guarde-o consigo como um sinal de que eu o fiz meu sucessor.
Shoju queimou o livro imediatamente e iluminou-se.
(Shoju)
Reflexão: Estar com um mestre vivo é uma experiência única. Terminei minhas buscas
espirituais sentado-me com vários iluminados. Nenhum livro substitui o encontro com um Buda.
Tu tens um mestre?
PAZ DO CÉU
Um pássaro encontrou um bom naco de comida no vilarejo e sumiu voando céu afora com o
alimento no bico. Havia um bando de irmãos seus que logo começaram a persegui-lo. Gralhando
com selvajaria, atacaram-no para arrancar a comida de seu bico. Por fim, o pássaro soltou o
último pedaço e os pássaros deixaram-no em paz.
O pássaro deu uma pirueta no ar e pensou: “Perdi o alimento, é verdade, mas conquistei a
paz do céu”.
(Tradição de Contos)
Reflexão: O que é necessário soltar, desapegar-se, deixar partir para se viajar mais leve?
O que, quando eliminado trará paz de espírito? Hoje, o que lhe traz ansiedade e angústia?
A ÁGUIA E A GALINHA
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Certo homem encontrou um ovo de águia e colocou-o no ninho de uma galinha. Não muito
depois nascia uma aguiazinha junto com a ninhada de pintinhos.
A águia foi crescendo junto com os pintinhos e, durante toda a sua vida, fez tudo o que as
galinhas fazem, pois acreditava ser uma galinha: ciscava a terra em busca de minhocas e
insetos, cacarejava e, abanando as asas, dava seus saltinhos e pensava estar voando.
Os anos se passaram e a águia envelheceu. Um dia, olhou para o alto e viu uma ave magnífica
voando bem alto, num céu sem nuvens. A ave parecia deslizar em graciosa majestosidade em
meio às poderosas correntes de vento, praticamente sem bater as suas fortes asas douradas.
A velha águia ficou olhando, extasiada.
O que é aquilo? — perguntou.
— É uma águia, a rainha das aves — explicou a galinha ao seu lado. — O céu é o seu lar. O
nosso lar é a terra; nós somos galinhas.
Assim, a águia viveu e morreu como uma galinha, pois é isso que pensava ser.
Reflexão: Em sua vida onde você é uma galinha: limitada, reclamona, presa a conceitos e
paradigmas, robótica, covarde, arrependida, culpada, normal e seguidora de gado e aonde é
uma águia: Livre, original, inventiva, ousada, criativa, plena e confiante?
CONFIANÇA
Um famoso general mongol havia conquistado com as suas tropas uma extensa região da
Ásia Central. Seus soldados estavam agora exaustos e saudosos do lar, mas o general desejava
prosseguir e capturar a grande cidade de Ramakhan, defendida por um exército cinco vezes
maior que o seu. Tinha certeza que poderia vencer, mas seus homens estavam relutantes.
O general convocou-os então e juntos ergueram um altar, no qual rezaram pedindo
inspiração aos seus deuses. No final da cerimônia, o general tomou uma grande moeda de ouro
e disse que iria lançá-la ao ar para ver o que os deuses determinavam. Se caísse com a cara
para cima, seria sinal de que os soldados obteriam uma vitória estrondosa; a moeda caiu com a
cara para cima e, inspirados pelos deuses, os soldados avançaram e conquistaram facilmente a
cidade.
Após a batalha, um dos soldados comentou com o general:
— Quando nos mostram que os deuses estão conosco, nada pode alterar seu destino!
O general concordou com uma risada e o mostrou ao soldado a moeda, que tinha cara em
ambas as faces.
Reflexão: Jesus apontou: “Confia em Deus”. Você confia na existência? Tem fé real? O que
é confiança para ti?
PARADIGMAS
Krishna desejava testar a sabedoria de seus reis. Certo dia convocou um rei chamado
Durvodhana, que era bem conhecido em todo o seu reino pela crueldade e pela avareza, e cujos
súditos viviam em constante terror. Krishna disse à Durvodhana:
— Quero que parta em viagem pelo mundo e encontre para mim um homem verdadeiramente
bom.
Durvodhana, obediente deu início à busca. Conheceu e conversou com muitas pessoas.
Passaram-se muitos anos e, por fim, ele retornou a Krishna dizendo:
— Senhor, fiz como pedistes e percorri o mundo inteiro em busca de um homem
verdadeiramente bom. Ele não existe. Todos são egoístas e maus. Este homem bondoso que
buscais não pode ser encontrado em lugar algum!
Krishna mandou-o embora e chamou um rei, Dharmaraja, conhecido por sua generosidade e
benevolência, e amado por todos. Krishna disse a ele:
— Rei Dharmaraja, quero que percorra o mundo inteiro e traga para mim um homem
verdadeiramente mau.
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Dhammajara também obedeceu e em suas viagens conheceu e conversou com muitas
pessoas. Passaram-se muitos anos e por fim ele retornou a Krishna dizendo:
— Senhor, eu vos desapontei. Encontrei pessoas mal orientadas, pessoas desencaminhadas
e pessoas que agem como se fossem cegas. Mas em lugar algum pude encontrar um homem
verdadeiramente mau. São todos bons de coração apesar de suas deficiências.
(Tradição Vedanta)
Reflexão: Quando você observa o universo que te cerca, quais são seus paradigmas? Você
faz de sua vida um paraíso ou um inferno? Que força é essa que te faz brigar, estragar
prazeres, criar sofrimento, machucar, enfim?
DESTINO
Um jovem acabara de completar seu treinamento espiritual e estava ansioso para tornar-se
mestre. Ele se mudou para uma nova cidade, onde tentou ensinar. Mas ninguém parecia ouvi-lo.
O único interesse espiritual da cidade parecia ser os muitos seguidores de um rabino sábio e
bem conhecido. Frustrado, o jovem concebeu um plano para desmoralizar o velho mestre e
obter alunos para si. Capturou um pequeno pássaro e foi até onde o mestre estaria sentado,
rodeado de seus discípulos. Segurando o pequeno pássaro na mão dirigiu-se diretamente ao
mestre.
— Se és sábio, diz-me agora; este pássaro em minhas mãos está vivo ou morto?
Seu plano era o seguinte; se o mestre dissesse que o pássaro estava morto, ele abriria as
mãos, o pássaro sairia voando, e o mestre erraria e os alunos deixariam de procurá-lo; se o
mestre dissesse que o pássaro estava vivo, ele rapidamente o esmagaria entre as mãos e,
abrindo-as, diria, “Veja, o pássaro está morto”. Novamente o mestre se revelaria equivocado e
o jovem obteria os alunos.
O jovem, confiante de si, sentou-se diante o mestre, exigindo uma resposta.
— Se és tão sábio, diz-me agora: este pássaro em minhas mãos está vivo ou morto?
O mestre olhou para ele com grande compaixão e disse apenas:
— Realmente, meu amigo, depende de você.
(Tradição de Contos)
Reflexão: O que hoje em sua vida depende só de ti? Permaneça e fique sempre centrado
em si. Faça o que tem que ser feito e não se deixe manipular pela loucura ou opiniões alheias.
MESTRE VERDADEIRO
Muitos discípulos estudavam meditação com o mestre Sengai. Um deles, porém, costumava
acordar no meio da noite, pular o muro do templo e ir para a cidade à caça de prazeres.
Certa noite, ao inspecionar os dormitórios, Sengai deu pela falta deste discípulo. Logo
encontrou também o banquinho alto que ele usara para pular o muro. Sengai retirou de lá o
banquinho e colocou-se no seu lugar.
Mais tarde, o discípulo errante voltou. E, sem saber que Segai trocara de lugar com o
banquinho, colocou os pés na cabeça do mestre ao pular de volta para o jardim do templo.
Dando-se conta de que tinha feito, ficou horrorizado. Sengai disse então:
— Faz muito frio de madrugada. Cuidado para não se resfriar. O discípulo nunca mais saiu a
noite.
(Zen Budismo)
Reflexão: O verdadeiro mestre é o que, como Sengai, ensina com o exemplo e a compaixão.
Um mestre vivo te questiona, ensina, sacode, aponta os perigos do ego, ensina o silêncio, a
meditação e te conduz a iluminação. Um mestre vivo te exige a rendição.
SEM DIVISÕES
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Rumi bateu à porta da sua amada.
— Quem está aí?
—Sou eu, teu amante, Rumi.
Lá de dentro veio a voz:
— Vá embora, não há lugar para nós dois aqui dentro.
Rumi foi embora com suas meditações e preces. Mais tarde, voltou para a casa de sua
amada e bateu novamente à porta.
— Quem está aí? — a amada perguntou.
— És tu.
E a porta abriu-se com boas vindas.
(Rumi)
Reflexão: No amor profundo nunca há lugar para dois. Você se entrega no amor? Ao amor
divino, à Deus, ao outro... Tem intimidade profunda nas uniões afetivas e uma alma sincera e
total nos relacionamentos amorosos? Sinto que o desafio maior do relacionamento a dois é o
desapego, seu amor liberta? Você é egoísta ou generoso na forma de amar?
INTEIREZA
Quando Mullá Nasrudin era juiz de seu vilarejo, uma figura desagradável entrou no
tribunal, exigindo justiça.
— Fui emboscado e roubado, logo na saída desta vila. Alguém daqui deve ser culpado. Exijo
que encontrem o criminoso. Ele levou minha túnica, minha espada e até minhas botas.
Deixe-me ver — retrucou o Mullá. — Ele não levou a sua camiseta, que você ainda está
vestindo.
— Não, minha camiseta ele não levou.
— Neste caso, o criminoso não é desta vila. As coisas são feitas por inteiro aqui. Não
poderia investigar o seu caso.
(Sufismo)
Reflexão: Você em seus atos cotidianos os faz com inteireza? É total? Em sua vida, há
profundidade ou superficialidade?
ABRIR MÃO
Se um homem estiver atravessando um rio, e uma canoa vazia bater em seu barco, ele não
se enfurecerá. Mas se avistar um homem na canoa irá berrar para que ele desvie.
Se o grito não for ouvido, berrará novamente.
E novamente. E começará a xingar e amaldiçoar.
Tudo porque há alguém na canoa.
Porém, se a canoa estivesse vazia, ele não estaria berrando, nem ficaria com raiva.
Quem esvaziar seu barco ao cruzar o rio do mundo, não encontrará oposição.
Ninguém buscará lhe causar mal.
(Conto Hinduísta)
Reflexão: Esta é uma história muito linda que fala da importância de livrar-nos do ego,
esvaziar-se. Você entrega sua paz facilmente? Você interpreta tudo negativamente? Toda vez
que notar que está sendo reativo, faça uma pausa, e renasça a cada momento, agir em vez de
reagir. Não reaja a tudo como se você fosse o centro do mundo.
OS REQUISITOS CORRETOS
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“É possível que um homem de cem anos venha a ter filhos?”
“É”, respondeu Nasrudin, “desde que tenha uma cúmplice de, digamos, uns vinte ou trinta
anos mais jovem!”
ACEITAR A SI MESMO
Nasrudin estava sobrevivendo numa dieta miserável de ervilhas e pão. Seu vizinho, que
também se dizia um homem sábio, morava num palacete e deliciava-se com refeições sinuosas
oferecidas pelo próprio imperador.
Um dia o vizinho interpelou Nasrudin:
— Se você ao menos aprendesse a bajular o imperador como eu, não precisaria viver de
ervilhas e pão.
— E se você ao menos aprendesse a viver de ervilhas e pão, como eu, não precisaria bajular
ninguém - respondeu Nasrudin.
(Sufismo)
Reflexão: Novamente uma história mística que nos faz refletir sobre pessoas que se
vendem e corrompem. Vendem suas ideologias, crenças, sonhos e vivem bajulando e se
rebaixando. Você bajula ou se rebaixa à alguém?
(Judaísmo)
Reflexão: Existem perguntas que somente você mesmo pode responder. Você tem
procurado respondê-las? Utiliza-se das questões corretas? Como você diferencia alguém com
conhecimento e alguém com sabedoria?
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138º CONSCIÊNCIA
Reflexão: Tu tens consciência de si? Tens consciência de quem você é? O ser humano pleno
é aquele que simplesmente é ele mesmo e nada mais.
SUSTENTO
Conta-se que o rabino viu um homem correndo pelas ruas, sem consciência.
— Para que você está correndo deste jeito? — ele perguntou ao tal homem.
— Estou correndo atrás do meu sustento, rabino — o homem respondeu.
E como é que você sabe que o seu sustento não está correndo atrás de você? Logo atrás de
você e tudo que você precisa para encontrá-lo é ficar quieto, em vez de correr continuamente.
(Judaísmo)
SABEDORIA
(Judaísmo)
Reflexão: A sabedoria do Rabino aponta para não sermos mentirosos, astutos, maliciosos e
principalmente não buscarmos vantagens. Você já agiu igual ao homem dessa história?
JUSTIÇA
Um pobre camponês, a caminho da cidade. deparou-se com uma carteira perdida na estrada.
Dentro da carteira encontrou o equivalente a $90, com a documentação e um bilhete dizendo:
“Quem achar, por favor retorne esta carteira. Pago uma recompensa.”
O camponês, rapidamente, procurou o tal endereço e devolveu a carteira ao dono que, ao
invés de ficar agradecido, disse: “Vejo que você já descontou sua recompensa.”
O pobre homem jurou que não, mas o dono da carteira insistia que faltava $10 do total de
$100 que havia em sua carteira.
Resolveram, então, levar a questão ao rabino do local, que ouviu pacientemente a colocação
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do camponês e logo depois a do dono da carteira. - Em quem você vai acreditar, rabino? —
desafiou o homem rico, - neste camponês ignorante ou em mim?
- Em você, é claro!, disparou o rabino, para desespero do camponês.
O rabino pegou a carteira e a deu ao camponês. Desta feita, foi a vez do dono da carteira
exasperar-se: - O que você está fazendo?
- Você disse que a sua carteira continha $100. Este homem diz que a carteira que
encontrou tinha apenas 90. Assim sendo, esta carteira não é a sua, disse o rabino.
- E quanto ao meu dinheiro perdido?, gritou indignado o homem. Pacientemente, o rabino
explicou: Teremos de esperar até que alguém encontre uma carteira com $100.
(Tradição Rabínica)
Um dia de calor intenso, o Sr. Finkelstein entrou numa loja para comprar um leque de
abano. Perguntou: - Que tipo de leques você tem? - Temos leques de cinco centavos, de vinte
centavos e de cinqüenta centavos, respondeu o lojista.
- Dê-me então o de cinco centavos, disse o Sr. Finkelstein. - Tudo bem, respondeu o lojista
enquanto lhe passava o fino leque de papel japonês.
Dez minutos mais tarde, o Sr. Finkelstein estava de volta. - Veja que porcaria você me
vendeu, esbravejou. - Já quebrou! - Quebrou?, espantou-se o lojista. - E como foi que o senhor
o usou?
- Como assim, como eu o usei? Como é que se usa um leque? Segurei-o com a mão e o
balancei de um lado para o outro diante de meu rosto. Então não é assim?
- Oh, não, explicou o lojista; - Como é um leque de cinco centavos, o Senhor tem de prendê-
lo firmemente parado e balançar sua cabeça para cima e para baixo diante dele.
(Tradição de Contos)
Reflexão: Minha eterna companheira Diana certa vez tomou uma decisão de não tolerar
mais nada em sua vida nada que não fosse extraordinário. Jung dizia: “O bom é o maior inimigo
do ótimo”. Tu aceitas empregos, relacionamentos, alimentação, estudo, etc que sejam só
bonzinhos?
DOAR DE CORAÇÃO
Um homem que vivia na mesma cidade que Reb Sussia, comoveu-se pelo estado de pobreza
em que este vivia. Por esta razão, todos os dias deixava uma quantidade de dinheiro na bolsa
do Reb Sussia. Com este dinheiro, Reb Sussia conseguia dar ao menos um mínimo de
alimentação a seus filhos. Desde o dia em que o tal homem começou a fazer este ato de
caridade, tornou-se mais e mais rico. Quanto mais tinha, mais dava a Reb Sussia, e mais era
recompensado.
Certo dia, no entanto, o homem se deu conta de que Reb Sussia era um discípulo de
Grarade Laguid, e ocorreu-lhe que se sua caridade para com um discípulo era tão
abundantemente recompensada, talvez viesse a se tornar ainda mais próspera se fizesse
contribuições diretamente a seu mestre. Assim fez. Foi até ao mestre e o induziu a receber
seus donativos.
Daquele momento em diante, seu patrimônio começou a decrescer, até que perdera tudo
que juntara durante seu período de prosperidade. Angustiado, o tal homem consultou Reb
Sussia e contou-lhe tudo o que sucedera, explicando que agira assim porque ele achava que seu
mestre era muito mais poderoso.
Reb Sussia respondeu: - Enquanto você contribuía e não ligava para o seu retorno, estava
sob a luz divina; ao pensar através do prisma da ambição, tudo mudou. Fosse este Reb Sussia
ou qualquer outro, Deus dava à vontade sem se preocupar para quem. Quando você começou a
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pensar nas pessoas particularmente especiais e nobres recipientes, Deus fez exatamente o
mesmo.
(Rabino Sussia)
Reflexão: Tu ajudas a fazer daqui um mundo melhor sem se preocupar com o retorno? Os
textos inspirados no livro “O Segredo” e em algumas supostas leis de “atração” falam em doar-
se pelo ego. Criam conceitos de vaidade e materialismo exagerados. Você pensa no bem de
todos os seres?
ESPERANÇA
Dois rabinos tentam de todas as maneiras levar o conforto espiritual aos judeus em campos
nazistas. Durante dois anos, embora com muito medo, enganam seus perseguidores e realizam
ofícios religiosos em várias comunidades.
Finalmente são presos. Um dos rabinos, apavorado com o que poderia acontecer dali para
frente, não pára de rezar. O outro, ao contrário, passa todo o dia dormindo.
— Por que você está agindo desta forma? — pergunta o rabino assustado.
— Para poupar minhas forças. Sei que vou precisar delas daqui para frente, diz o outro.
— Mas você não está com medo? Não sabe o que pode nos acontecer?
— Eu tive medo até o momento da prisão. Agora que estou preso, de que adianta temer o
que já se passou? O tempo do medo acabou; agora começa o tempo da fé.
(Tradição Rabínica)
Reflexão: Em sua vida, quando terminará o tempo do medo e surgirá o tempo da fé?
Coragem!! Esse é um dos grandes ensinamentos dos seres búdicos realizados.
RIQUEZA
Um velho ermitão foi certa vez convidado para a corte do rei mais poderoso daquela época.
— Eu o invejo, ermitão, pois se contenta com tão pouco, disse o rei.
— Eu o invejo, Majestade, que se contenta com menos que eu, responde o ermitão.
— Como você me diz isto, se todo este reino me pertence? — perguntou o rei ofendido.
— Certamente, - responde o velho ermitão - eu tenho os rios e as montanhas do mundo
inteiro, tenho a luz do sol, da lua e das estrelas e as esferas celestes, porque tenho Deus em
minha alma e Vossa Majestade porém, possui este pequeno reino.
(Budismo Tibetano)
Reflexão: O que te pertence? Qual é o seu reino? Meu amigo Hiroshi criador do “Francisco
Mirin”, acampamento que ensina as crianças os valores de São Francisco, tem um grande
ensinamento: “Quanto menos a gente tem, mais alto a gente voa”. Quais são suas riquezas?
DESTINO
Diz o mestre: Meu caro, preciso lhe dar uma notícia que talvez você não saiba. Pensei em
suavizá-la com cores brilhantes, enchê-la de promessas, quimeras sobre o Paraíso e visões do
Absoluto, apesar de tudo isto agora não vir ao caso.
Como mestre, vou lhe falar francamente, pois tenho absoluta certeza do que estou dizendo,
A notícia é que você vai morrer. Pode ser hoje, amanhã ou daqui a vinte anos mas, cedo ou
tarde isto acontecerá. Mesmo que não concorde, mesmo que tenha outros planos. Pense com
cuidado com que vai fazer nas próximas horas, dias, semanas e no resto dos seus dias.
(Tradição de Contos)
Reflexão: Na tradição Hagakure dos samurais é realizado todos os dias pela manhã, uma
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meditação para reconhecimento de que podemos morrer a qualquer momento. Isso nos faz
sermos mais plenos e não adirmos a vida e as utopias da mesma. Tu tens consciência que estas
com os dias contados nesse corpo e nesse planeta? Já refletiu o quanto já morreu e renasceu
nessa vida?
Nasrudin decidiu que poderia beneficiar-se com o aprendizado de algo de novo, e procurou
um professor de música.
- Quanto cobra para ensinar a tocar alaúde?
- Três moedas de prata no primeiro mês, e daí em diante uma moeda de prata por mês.
- Ótimo! disse Nasrudin. Começarei pelo segundo mês.
ALMA
Um explorador ansioso por chegar logo no seu destino no coração da África, pagou um
salário extra para que os carregadores chegassem o mais rápido possível. Nos primeiros dias
os carregadores apressaram o passo. Mas, certa tarde, todos recusaram-se a continuar. Por
mais dinheiro que lhes fosse oferecido não se moviam. Quando, finalmente, o explorador pedia
a razão do comportamento recebeu a seguinte resposta:
— Andamos muito depressa, e já não sabemos mais o que estamos fazendo. Agora
precisamos parar e esperar que as nossas almas nos alcancem.
(Tradição Africana)
INOCÊNCIA
(Padres do Deserto)
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PERDÃO
O mosteiro de Scets assistiu, certa tarde, um monge ofender o outro. O monge superior
do mosteiro pediu ao monge ofendido que perdoasse seu agressor.
— De maneira alguma, responde o monge. Ele terá que pagar. No mesmo instante, o abade
superior levantou os braços para o céu, dizendo:
— Meu Jesus, não precisamos mais de Ti. Já somos capazes de fazer com que os nossos
agressores paguem por suas ofensas. Já somos capazes de tomar a vingança em nossos meios,
e cuidar do Bem e do Mal. Portanto, o Senhor pode deixar-nos sem problemas. Envergonhado,
o monge perdoou imediatamente seu irmão.
(Padres do Deserto)
Reflexão: Quando você é vingativo e quer através da violência fazer justiça com as
próprias mãos? Você é como sua justiça que pune, vinga-se e castiga? O que é viver de forma
justa?
DOAÇÃO
Reb Schjnelke não tinha dinheiro para dar a um mendigo. Por isto foi até o armário de sua
esposa, tirou um anel e deu-o ao pobre homem. Quando sua mulher retornou e percebeu o que
tinha acontecido, começou a chorar. Reb Schmelke explicou o que havia ocorrido, e então ela
exigiu que ele corresse atrás do pedinte, uma vez que o anel valia mais de 50 talentos.
O rabino correu desenfreadamente e, ao conseguir alcançar o esmoleiro, disse: Eu acabei
de saber que este anel vale pelo menos 50 talentos. Não deixe que ninguém te engane dando
menos que seu valor.”
(Reb Schjnelke)
Reflexão: Como está sua alma caridosa? O que tens feito de coração para gerar equilíbrio
social? Você se presenteia com o melhor? O que falta nesse instante para ser feliz?
ENTREGA
Conta-se que certa vez, Rabi Nachman acolheu em sua casa um pobre viajante. De manhã,
no entanto, deu-se conta de que seu hóspede já tinha ido embora e, junto com ele, o casaco de
Rabi Nachman. Quando Rabi Nachman chegou à sinagoga um jovem o abordou:
- Rabi, há poucos instantes vi um homem usando um casaco como o seu. Naquele instante
não estava seguro se era o seu, mas agora que o vejo sem seu casaco, não tenho dúvidas.
- E como lhe caía o casaco?, perguntou o rabino.
- Bem..., concluiu o rapaz.
- Pois que fique com ele. Na verdade, é um homem muito pobre, e o inverno é muito
rigoroso.
(Rabi Nachman)
Reflexão: Há momentos em nossa vida aonde devemos ter atos surpreendentes carinhosos
e desapegados. Tu tens agido dessa maneira?
EGOÍSMO
Um homem ao morrer encontra com um anjo na porta do inferno. O anjo lhe diz:
— Basta você ter feito alguma coisa boa em sua vida, e isso o ajudará.
O homem responde:
— Nunca fiz nada de bom nesta vida.
— Pense melhor, insiste o anjo.
O homem então se lembra de que, certa vez, caminhava por uma floresta, quando viu uma
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aranha no seu caminho e deu a volta para não pisá-la.
O anjo sorri e um fio de luz começa a descer do céu, permitindo assim que o homem suba
para o Paraíso. Outros condenados aproveitam também para subir, mas o homem começa a
empurrá-los, pois tem medo de que o fio se parta. Neste momento o fio arrebenta e o homem
é precipitado para o inferno.
— Que pena, o homem ouve o anjo dizer, seu egoísmo foi maior que a única coisa boa que
você fez em toda sua vida.
(Padres do Deserto)
Reflexão: Esse conto aponta na direção do egoísmo. Você é egoísta nesse momento da sua
vida? O oposto do egoísmo é a generosidade. Pratique.
PRÓPRIAS FALHAS
Um monge comete uma falta muito grave dentro do mosteiro, e foi chamado o ermitão mais
sábio para julgá-lo.
O ermitão se recusou, mas, como insistiram muito, ele terminou por ir. Antes, porém, pegou
um balde e levou-o a vários lugares. Depois, encheu o balde de areia e se encaminhou para o
convento.
O superior, ao vê-lo entrar, perguntou o que era aquilo.
— Vim para julgar meu próximo, disse o ermitão. Meus pecados estão escorrendo atrás de
mim, como a areia escorre deste balde. Mas como não olho para trás, e não dou conta dos meus
próprios pecados, fui chamado para julgar meu próximo!
Com esta atitude do sábio ermitão, os monges desistiram da punição.
(Padres do Deserto)
FLEXIBILIDADE
Um homem, passando por uma aldeia, em meio a um temporal, viu uma casa incendiando-se.
Ao se aproximar, notou que dentro da casa havia um homem sentado na sala em chamas.
— Ei, sua casa está incendiando-se, diz o peregrino.
— Eu sei, responde o homem.
— Então por que não sai da casa?
— É porque está chovendo, responde o homem. A minha mãe me disse que a chuva pode nos
dar pneumonia.
Zso G’hi comenta : “Sábio é o homem que consegue mudar de situação quando se vê forçado
a isto.”
(Zso G’hi)
Reflexão: Quais são seus paradigmas que causam dor e sofrimento? Como você interpreta
os fatos? Você “dança conforme a música” ou vive de forma dividida e esquizóide não
observando as mudanças necessárias da vida?
A GLÓRIA DE DEUS
O viajante chega para visitar o lugarejo de San Martin de Una, em Navarra, e consegue
localizar a mulher que guarda a chave da bela igreja no povoado quase em ruínas. Muito
gentilmente ela sobe as ruelas estreitas e abre a porta.
A escuridão e o silêncio do templo medieval comovem o viajante. Conversando com a mulher
comenta que, embora seja meio dia, pouco se pode ver das belíssimas obras de arte ali
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existentes. E ela explica: - Só podemos ver os detalhes ao amanhecer. Conta a lenda, que os
construtores desta igreja queriam nos ensinar que Deus tem sempre uma hora certa para nos
mostrar sua grandiosidade.
(Padres do Deserto)
Reflexão: Você tem observado quanta beleza e magnitude provém da Existência? Muitas
vezes somos infelizes por vivermos fechados em nossas crenças e mundinho pessoal e isso é
viver aos poucos. Você ri, chora, ama, brinca, dança, enfim você vive todas as possibilidades de
sua alma?
Disse o Báal Shem: — Quando fixo meu espírito em Deus, deixo minha boca dizer tudo o
que quer, porque então todas as minhas palavras estão ligadas à sua raiz no céu.
Reflexão: Suas palavras são de paz ou de discórdia? O Dalai Lama ensina que “a paz que
queremos no mundo inicia-se em nosso coração” e Jesus apontou que “o mal é o que sai da boca
do homem”.
PROXIMIDADE
Perguntou um discípulo ao Báal Shem: — Como se explica que uma pessoa apegada a Deus e
que sabe estar próxima d’Ele, experimente às vezes uma interrupção e um afastamento?
Explicou rabino o Báal Schem: — Quando um pai quer ensinar a seu filho pequeno a andar,
coloca-o primeiro à sua frente e estende as mãos de ambos os lados, para que ele não caia, e
assim, entre as mãos paternas, a criança caminha em direção do pai. Mas, logo que se aproxima
dele, o pai se afasta um pouco e separa mais as mãos, e assim sucessivamente, para que a
criança aprenda a andar.
Reflexão: Hoje você está distante ou próximo do seu ser e do divino? Está de mãos dadas
ou andando sozinho? Você tem consciência que é o co-criador de seu destino?
BODHIDHARMA E O DISCÍPULO
Bodhidharma tornou-se iluminado na Índia, onde procurou um discípulo, mas não pode
encontrar nenhum. Assim, precisou ir à China. Ele tinha a chave, mas estava envelhecendo e
não conseguia encontrar o sucessor certo.
E durante nove anos sentou-se e esperou em uma caverna, simplesmente esperou olhando
para a parede. Estava criando uma imensa força magnética, estava tentando atrair aquele que
seria capaz de levar adiante essa tradição. E havia dito: - Quando a pessoa certa vier,
somente então me voltarei para encará-la, caso contrário continuarei a encarar minha parede.
E então, num dia, a pessoa certa veio. Ela permaneceu atrás dele. Esse homem que viera não
disse uma palavra. Simplesmente esperou, pacientemente esperou. E dois silêncios se
encontraram. E no dia seguinte, ao amanhecer, o recém-chegado cortou uma de suas mãos,
mostrou-a a Bodhidharma e disse: - Volte-se para mim, senão a próxima coisa que vou cortar
será minha cabeça!
E Bodhidharma voltou-se imediatamente. Ele tinha que se voltar. Durante nove anos não
havia olhado para ninguém. E disse - Então você veio?... porque um discípulo é somente aquele
que está pronto a dar sua cabeça.
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(Tradição Budista)
Reflexão: No que você se entrega de verdade em sua vida? No que você se entrega na
totalidade? É correto por toda uma vida se recusar a entregar-se?
OS TRÊS HOMENS
(Tradição Rabínica)
Reflexão: Quais são seus atributos maiores? Você percebe os símbolos e sinais que a
Existência aponta a ti?
O MUNDO
Rabi Baruch disse uma vez: Como o mundo é claro e belo, quando não nos perdemos nele, e
como é escuro o mundo, quando nos perdemos nele.
(Rabi Baruch)
Reflexão: A mensagem desse conto do Rabino Baruch é simples: Quando você se perde na
loucura e nas ilusões do mundo? Assista e reflita nos filmes “Sansara” e “Paraíso das Ilulsões”.
A NECESSIDADE
No começo, o Rabi Iehiel Mihal vivia em grande pobreza, mas nem por um momento deixava
a sua alegria.
Certa vez alguém lhe perguntou: — Rabi, por que rezais todos os dias: “Bendito sejas Tu,
que me dás tudo de que necessito”? Falta-vos tudo de que um homem precisa! — Ele
respondeu: — Com certeza é de pobreza que preciso, e esta me é dada.
Reflexão: Você tem tudo que precisa? Precisa de tudo que tem? O que necessita para a
realização da sua felicidade?
APRENDIZADO
(Rabi Mihal)
Reflexão: Os Xamãs ensinam que várias são as formas da manifestação divina colocar-nos
em nosso caminho sagrado. Pessoas e situações, quando estamos abertas a elas, podem nos
conduzir a sabedoria.
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O VERME
Disse o Rabi Menahem Mendel: — Não sei em que eu seria melhor do que um verme. Não sei
em que seria tão bom quanto ele. Pois vede, ele faz a vontade de seu Criador e não estraga
nada.
SEMPRE HÁ SOLUÇÃO
Reflexão: Como você observa o cumprimento da justiça no seu cotidiano? Como você reage
a situações difíceis? Os apaches ensinam que devemos soltar um grito de guerra ao vento e
sair em busca da vitória pessoal em situações que pareçam não ter solução.
NO ALVO
(Conto Celta)
Reflexão: Você já observou como muitas situações e problemas na vida são absolutamente
simples e a mente (ego) cria tempestades em copo d’água?
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BOM MESTRE
(Lucas, 18,18-27)
Reflexão: Essa passagem de Jesus é tão clara e tantos interpretam de forma errada. Os
ricos de orgulho, vaidade, avareza, inveja, apego, não poderão ser livres e desfrutar o reino. O
convite é claro: Equilíbrio e desapego material. Ter a clareza quanto a forma de lidar com os
valores materiais é um dos maiores Dharmas da vida.
NÃO ROUBARÁS
(Rabino de Kotzk)
Reflexão: Dedique um longo tempo a essa reflexão: O que você rouba de si mesmo? Remova
tudo que você rouba de si e encontrará, então, aí muito espaço para seu crescimento.
A CAÇADA
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Propuseram-lhe os fariseus a seguinte questão:
- Mestre, sabemos que dizeis a verdade e ensinais o caminho de Deus com sinceridade, sem
olhar as conseqüências, porque sois imparcial. Dai-nos, pois, a vossa opinião: é ou não justo
pagar tributo a César?
Percebendo-lhes a malícia, Jesus disse:
- Por que me submeteis a tal teste, hipócritas? Mostrai-me uma moeda.
Apresentaram-lhe eles um dinheiro.
Disse Jesus:
- De quem é esta efígie?
- De César — disseram.
- Pois então — disse Jesus — dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
(Mateus,22, 15-22)
O grande empresário estava prestes a exalar o último suspiro, mas ainda encontrou
suficiente lucidez para ditar sua derradeira vontade ao advogado.
— Abe - disse ele ao seu advogado -, quero que você inclua uma cláusula no meu testamento
dizendo que todos os empregados que me serviram por vinte ou mais anos devem receber uma
herança de 25 mil dólares cada um.
— Mas você só começou o seu negócio há 10 anos — ponderou o advogado.
— Eu sei — respondeu o empresário. — Mas já pensou que bonito isso vai ficar nos jornais’?
Reflexão: Uau... Até no momento da partida, da morte física, existem pessoas presas ao
ego. Tu és assim? Tens inveja dos Big Brothers da vida? Você conheceu alguém que é miserável
até no ato de morrer?
O ÓBVIO
Montado em seu burro, Nasrudin costumava cruzar, todos os dias, uma fronteira, levando
cestos atufados de palha. Como ele se confessava contrabandista, os guardas da fronteira
revistavam-no diariamente, quando o viam voltar para casa. Revistavam-no, examinavam
cuidadosamente a palha, mergulhavam-na dentro d’água, e chegavam até a queimá-la.
Entrementes, ele prosperava visivelmente.
Depois disso, quando Nasrudin se aposentou e foi viver em outro país, onde um dos
funcionários da alfândega encontrou com ele, anos mais tarde.
“Agora pode contar-me, Nasrudin” — disse o funcionário. — “O que era que você
contrabandeava naquele tempo em que nunca conseguimos apanhá-lo?”
Burros — respondeu Nasrudin.”
(Mestre Nasrudin)
Reflexão: Tu tens observado o que o que é obvio na vida? Ensino que a arte de viver não é
só simples. Quando éramos criança, a missão de vida era uma casinha simples, com árvores,
animais, natureza e sossego. Isso é simples.
EXEMPLO VIVO
Quando Gandhi dava Satsangs (encontros com a verdade), uma mulher com o filho foi
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levada à sua presença.
“Este menino come açúcar demais” — disse ela.
“Não tenho condições de sustentar essa mania e ela faz mal a sua saúde. Por conseguinte,
peço-lhe que o proíba formalmente de digerir açúcar, visto que ele não quer me obedecer.”
Gandhi disse-lhe que voltasse dali a sete dias.
Quando ela voltou, ele tornou a adiar a decisão por mais uma semana.
“Agora proíbo-o de comer” — disse ele ao jovem mais do que uma porção de açúcar por dia.
A mulher, depois disso, perguntou-lhe por que precisara de tanto tempo para dar uma
simples ordem.
“Porque, minha senhora, eu precisava verificar se eu mesmo poderia reduzir minha porção
de açúcar, antes de ordenar a alguém que o fizesse.”
(Contos de Gandhi)
Reflexão: Tu és um exemplo do que ensina? Imagine pais que fumam ou bebem e ensinam
seus filhos a não terem vícios. Imagine ainda pais que apontam aos filhos serem persistentes e
eles mesmos desistiram de seus sonhos e utopias?
ALMA DIVIDIDA
Conta-se que um homem resolveu colocar se à prova: passaria o sábado sem comer ou
beber. Quando o dia já ia bem próximo ao final, uma sede irresistível apoderou-se dele e ele
se dirigiu direto à fonte d’água. Mas quando já ia colocando as mãos na água para bebê-la
conseguiu controlar-se. Sentiu-se, porém, tremendamente infeliz, pois percebeu que o que o
havia feito frear diante do impulso, era seu próprio orgulho de poder gabar-se de haver con-
tido o impulso. Ficou assim entre querer beber e ficar orgulhoso, quase beirando o desespero,
até que num determinado momento percebeu que já não tinha mais sede.
No dia seguinte procurou o rabino de sua cidade para saber o que havia acontecido e como
deveria ter procedido. O rabino então lhe explicou: “Há dois tipos de almas: as inteiras e as
que são como colchas de retalhos. A sua é como a última.”
(Kabalah Judaica)
Reflexão: Assumir algo e não desistir por nada desse mundo é um dos ensinamentos do
Budô – artes marciais. Persistir, insistir, ir até o fim, mas fazer isso sem o ego e por inteiro.
Tu tens agido assim ou desistido de tudo? Tens sido inteiro ou fragmentado em suas ações?
EGOÍSMO
(Tradição Judaica)
Reflexão: Você cuida só dos seus? Essa é a atitude de todos os seus políticos e supostos
dirigentes. Vives assim? Você é como alguns grevistas que para esmolarem um pouquinho mais
de dinheiro fazem mal e prejudicam seu próximo?
CUIDAR DE SI
Certa vez, quando o sábio Hilel terminou uma de suas aulas com seus discípulos,
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acompanhou-os parte do caminho até suas casas e então despediu-se.
“Mestre, onde o senhor está indo”? , perguntaram-lhe.
“Cumprir com uma obrigação religiosa”, respondeu ele.
“Que obrigação é essa”? , insistiram os discípulos.
“Banhar-me na casa de banhos”, respondeu.
“É esta uma obrigação religiosa”?
“Se alguém que é indicado para polir e limpar as estátuas do imperador que se encontram
na entrada dos teatros, é pago pelo trabalho e é até mesmo associado com a nobreza, então,
sem dúvida alguma, é mais louvável que eu, que fui criado à imagem e semelhança de Deus,
cuide do meu corpo”!
(Judaísmo)
Reflexão: Você tem observado o quanto seu corpo é sagrado? Você adia o cuidar de si?
Alimentação, relaxamento, exercícios físicos e saudáveis como o yoga, tai chi e liang kung
fazem parte da sua rotina?
MELHORIA
“Rabi Bunam foi ao mercado comprar feijões. O fazendeiro não ficou satisfeito com a
oferta de compra que Rabi Bunam propôs e disse: “Vê se melhora”! Essa frase cativou a
imaginação do rabino e muitas vezes, a partir deste dia, persuadiu vários de seus discípulos a
se auto-analisarem simplesmente repetindo com a mesma seriedade e entonação o apelo feito
no mercado: “Vê se melhora”!
(Rabi Bunam)
Reflexão: A reflexão aqui é simples e cabe em algumas áreas de nossa vida: “Vê se
melhora”! Você tem feito isso?
NÃO JULGAR
Um jovem veio a Dhun-Nun e disse que os Sufis estavam errados em seus ensinamentos e
práticas.
O egípcio tirou um anel do dedo e lhe entregou: “Leve isto para os mercadores e veja se
pode conseguir uma peça de ouro por ele”, disse.
Ninguém no mercado ofereceu mais do que uma só peça de prata pelo anel.
O jovem trouxe o anel de volta.
“Agora”, disse Dhun-Nun, “leve o anel a um verdadeiro joalheiro e veja o que ele pagará”.
O joalheiro ofereceu mil moedas de ouro pela pedra.
O jovem ficou assombrado.
“Então”, disse Dhun-Nun, “seu conhecimento sobre os Sufis é tão vasto quanto o
conhecimento dos mercadores sobre jóias. Se você quer avaliar pedras preciosas, torne-se um
joalheiro”.
(Mestre Dhun-Num)
Reflexão: Não Julgar. Economize a energia de sua mente e não julgue aquilo que não
conhece. Esse é um dos maiores ensinamentos dos mestres. Você tem julgado muito?
El Mahdi Abbassi anunciou ser comprovável que, quer se ajude uma pessoa ou não, algo nela
pode frustrar seu objetivo.
Tendo algumas pessoas contestado esta teoria, El Mahdi prometeu uma demonstração.
Quando todos haviam se esquecido do incidente, El Mahdi mandou um homem deixar um
saco de ouro no meio de uma ponte. Pediu a outro homem que trouxesse algum endividado a
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uma das extremidades da ponte, dizendo-lhe que a atravessasse. Abbassi e suas testemunhas
ficaram do outro lado da ponte.
Quando o homem chegou à outra extremidade, Abbassi lhe perguntou: “O que você viu no
meio da ponte”?
- Nada, respondeu o homem.
- Como foi isso?, perguntou Abbassi.
O homem replicou: “Logo que comecei a cruzar a ponte, ocorreu-me a idéia de que poderia
ser divertido fazer a travessia de olhos fechados. E assim fiz”...
A BARREIRA DO EGOÍSMO
Um homem veio a Bavazid e disse que havia jejuado e orado durante trinta anos e ainda não
havia se aproximado da compreensão de Deus.
Bayazid lhe disse que nem mesmo cem anos seriam suficientes. O homem perguntou por
quê. “Porque seu egoísmo age como uma barreira entre você e a verdade”, disse Bayazid.
(Sufismo)
Reflexão: Você é uma alma avarenta? Quando a sua oração é para buscar vantagens ou
ganhos e ficar amarrado ao seu próprio egoísmo?
AUXÍLIO
Um homem veio ao grande professor Bahaudin e pediu ajuda para seus problemas e
orientação no caminho da Doutrina.
Bahaudin lhe disse para abandonar os estudos espirituais e desfazer-se de sua corte
imediatamente.
Um visitante de bom coração começou a argumentar com o Bahaudin.
“Você terá uma demonstração”, disse o sábio.
Nesse momento um pássaro voou para dentro da sala, debatendo-se aqui e ali, sem saber
para onde ir, a fim de escapar.
O Sufi esperou até que o pássaro pousasse perto da única janela aberta da sala e, de
repente, bateu palmas.
Assustado, o pássaro voou pela abertura da janela, direto à liberdade.
Então Bahaudin disse:
“Para ele, este som deve ter sido algo assim como um choque, ou mesmo uma agressão, você
não concorda?”
(Sufismo)
Reflexão: O sofrimento muitas vezes é uma forma da existência te sacudir e deixá-lo mais
maduro e alerta. O mestre Osho ensinou: “a dor não existe para fazê-lo infeliz: ela está aí
para deixá-lo mais consciente. E quando você se torna consciente, a infelicidade desaparece”.
O CAMINHO DA CORAGEM
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O cão descobriu que o obstáculo, que era ele próprio, entre ele e o que buscava, havia se
desvanecido.
Da mesma forma, meu obstáculo se desvaneceu quando eu soube que aquilo que eu pensava
ser eu mesmo era o próprio obstáculo. E o meu Caminho foi mostrado pelo comportamento de
um cão.”
(Sufismo)
Reflexão: Como você avalia hoje sua coragem? Coragem é realizar a vida plenamente
mesmo que com medo. Quando observamos que a vida é uma aventura sem nenhuma
possibilidade de segurança, a pessoa covarde se amedronta e o corajoso mergulha de corpo e
alma nessa grande aventura.
CONHECIMENTO PERIGOSO
Um homem procurou um médico e lhe contou que sua mulher não conseguia ter filhos.
O médico viu a mulher, tomou seu pulso e disse: “Não posso tratá-la por esterilidade porque
descobri que, de qualquer forma, você vai morrer em quarenta dias”.
Quando ouviu isto, a mulher ficou tão preocupada que não conseguiu comer nada durante os
quarenta dias seguintes.
Mas ela não morreu no tempo previsto, então o marido foi certificar-se do problema com o
médico, que disse:
- “Sim, eu sabia disso. Agora ela estará fértil.”
O marido perguntou como podia ser isto.
O médico lhe respondeu:
- “Sua mulher estava gorda demais e isto estava interferindo na sua fertilidade. Eu sabia
que a única coisa que a colocaria longe da comida seria o medo de morrer. Agora, portanto, ela
está curada.”
A questão do conhecimento é muito perigosa.
(Datatreya)
A VISÃO DIVINA
Um amigo levou Hassan até a porta de uma mesquita, onde um cego pedia esmolas.
“Este cego é o homem mais sábio de nosso país”, disse o amigo de Hassan.
“Há quanto tempo o senhor é cego’?”, perguntou Hassan:
“Desde que nasci”, respondeu o homem.
“E o que o transformou em um sábio?”
“Como não me conformava com minha cegueira, tentei ser astrônomo”, respondeu o homem.
“Já que não podia ver os céus, fui obrigado a imaginar as estrelas, os sóis, as galáxias. É, à
medida que me aproximava da obra de Deus, terminei me aproximando de sua sabedoria.”
MEDITAÇÃO
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Hassan perguntou a Ajami: “Como você alcançou sua presente altura de realização
espiritual?“
Ajami respondeu: “Tornando o coração branco na meditação, não por tornar o papel preto
com a escrita.”
Numa certa localidade vivia um pobre homem que ganhava a vida cavando o barro, que
vendia. Um dia, enquanto cavava, encontrou uma pedra preciosa. Tentou avaliá-la, mas acabou
descobrindo que ninguém em sua cidade e cercanias tinha dinheiro suficiente para comprá-la,
tão grande o seu valor. Teve então de viajar a Londres para tê-la avaliada num mercado
condizente.
Sendo muito pobre, precisou vender até os seus pertences, e com estes fundos conseguiu
chegar até o porto. Lá chegando, percebeu que não teria condições de adquirir a passagem
para a Inglaterra. Procurou então o capitão do navio e apresentou-lhe a pedra preciosa. O
capitão ficou muito impressionado e permitiu que embarcasse no navio, pensando que o dono de
tal pedra tratava-se de uma pessoa muito rica e respeitável. O capitão alojou-o na primeira
classe do navio com todos os luxos rendidos aos muito ricos. O homem, bem instalado,
exultava-se com sua pedra preciosa, em especial durante as refeições, porque faz bem à
digestão alimentar-se de bom humor e moral elevado. Aconteceu, porém, que adormeceu um
dia ao lado de sua pedra quando esta estava sobre a mesa. Um dos serviçais entrou no quarto
para limpar a mesa e, não percebendo a pedra, sacudiu a toalha pela janela no mar.
Quando o homem acordou e percebeu o que havia acontecido, ficou tão desesperado que
quase perdeu a cabeça. O que o capitão faria com ele agora que não podia pagar a viagem e o
alojamento?
Não hesitaria sequer em matá-lo. Resolveu, por fim, permanecer de bom humor como se
nada houvesse ocorrido. Era comum nestes dias que o capitão passasse algumas horas junto
deste homem, até que certa vez disse: - Sei que você é um homem inteligente e honesto. Eu
gostaria de comprar trigo para vender em Londres, mas tenho sido acusado de desviar fundos
do tesouro do Rei. Permita então que esta mercadoria seja comprada em teu nome e eu te
remunerarei. O homem concordou. Logo após chegarem a Londres, o capitão subitamente
faleceu e todo o seu trigo ficou com o homem. Trigo que valia bem mais do que a pedra
preciosa original.
(Contos Rabínicos)
Reflexão: O que é teu realmente? O que é possível e o que é impossível em sua vida? Como
lida com situações que parecem não ter solução? Você consegue manter a paz em momentos
turbulentos? Se não, até quando viverá assim?
UM CAMINHO
Um homem procurou Shah e disse: “Primeiro eu segui esse professor e depois aquele. Em
seguida, estudei esses livros e depois aqueles. Creio que, embora não saiba nada sobre você e
seus ensinamentos, essa experiência preparou-me lentamente para aprender de você”.
Shah respondeu: “Nada que você tenha aprendido no passado o ajudará aqui. Se quiser
ficar conosco, você terá de abandonar todo o orgulho do passado. Isso é uma forma de
autocongratulação”.
O homem exclamou: “Esta é, para mim, a prova de que você é o grande, o real e verdadeiro
Professor! Pois nenhum daqueles que eu encontrei no passado ousou negar o valor do que eu já
havia estudado”!
Shah disse: “Esse sentimento é, em si mesmo sem valor. Aceitando-me tão
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entusiasticamente e sem compreensão, você está se elogiando por ter percepções que na
realidade lhe faltam”.
(Mestre Shan)
Reflexão: O que você levaria se tivesse que aprender e conviver com um mestre? Quais
questões a ele?
PRÊMIO
Abd Mubarali estava a caminho de Meca, quando sonhou com um diálogo angelical. Ali ouviu
anjos conversando.
“Quantos peregrinos vieram este ano à Meca?”’, perguntou um anjo.
“Seiscentos mil”, respondeu o outro. “E destes, quantos tiveram sua peregrinação aceita”?
“Nenhum. Entretanto, existe em Bagdá um sapateiro chamado Ali Mufiq, que não efetuou a
caminhada, mas sua peregrinação foi aceita, e suas graças beneficiaram os mil peregrinos”.
Mubarak voltou a Bagda e encontrou o sapateiro Mufiq e lhe contou seu sonho.
“A custa de grandes sacrifícios juntei 350 moedas”, o sapateiro disse, chorando.
“Entretanto quando estava pronto para seguir até Meca, descobri que meus vizinhos tinham
fome. Distribuí o dinheiro entre eles, sacrificando minha peregrinação”.
(Abd Mubarak)
SANTIDADE
Um membro da Igreja Católica aproximou-se de seu padre e disse: “Padre, meu cachorro
morreu e quero saber se o senhor acha certo fazer um ritual fúnebre para ele”.
O padre disse: “Sim, acho que está bem”.
“E quem o senhor acha que seria um bom sacerdote para conduzi-lo’”?
O Padre, que não estava muito feliz com a idéia daquele funeral, disse: “Conheço um bom
ministro presbiteriano que mora um pouco mais para baixo nessa mesma rua. Acredito que ele
fará isso para você”.
“Oh, obrigado, Padre. Só mais uma pergunta: Quanto o senhor acha que eu deveria pagar ao
presbiteriano por isso — duzentos ou trezentos dólares”?
Os olhos do Padre se iluminaram e ele disse: “Ora, minha amiga, por que você não disse que
era um cachorro católico”?
(Datatreya)
IGUALDADE
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“Eu a comprarei”, disse o outro. “Levarei a vaca para minha casa e trarei o dinheiro mais
tarde. Você pode confiar em mim. Sou Elder presbiteriano.”
Quando o diácono chegou em casa, ele perguntou à sua mulher:
“O que é um Elder presbiteriano’?”
“Oh!”, ela explicou, “um Elder presbiteriano é quase o mesmo que um diácono batista.”
“Santo Deus!’ gritou o diácono. “perdi minha vaca!”
(Prem Deepti)
Reflexão: Ouvi muitas vezes esta história contada pelo meu amigo Padre Lourival e ela nos
faz refletir sobre nossa honestidade. Você é honesto consigo e com o próximo? Reflita: “não
dar pérola aos porcos, mas talvez eles sejam mais limpos na lama do que mentes chafurdando
no lodo imundo da fama, do ganho, da guerra, da bomba, da mentira esfarrapada, da acusação
desumana, da lama, da sujeira, do suborno, da corrupção”. Texto da monja Coen. Lindo.
PERDÃO
(Budismo)
VALENTIA
Mullá Nasrudin arrumou tudo para que sua mulher fosse para as montanhas por causa de
sua asma. Mas ela não estava querendo ir e recusou. Disse: “Temo que o ar das montanhas
entre em desavença comigo”.
Mullá Nasrudin disse: “Minha querida, não se preocupe. Não existe nenhum ar nas
montanhas que seja tão valente a ponto de entrar em desavença com você. Não se preocupe”.
O CAMINHO
Alguém perguntou a um Mestre Zen: “Qual é o seu caminho”? Ele respondeu: “Quando sinto
fome, como; quando sinto sono, durmo — esse é o meu caminho. Nunca como quando não tenho
fome e nunca jejuo quando estou com fome — esse é o meu caminho”!
O homem disse: “Mas isso não parece ser um caminho — todos nós fazemos isso”.
O Mestre riu: “Se todos fizessem isso, não teriam necessidade de me procurar”.
(Zen)
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Reflexão: O que é ser natural?
O que é sinceridade?
Zen é plenitude, é ser total em tudo aquilo que fazemos e vivemos.
VERDADEIRA SANTIDADE
Um homem procurou um padre, o maior sacerdote da Rússia, e disse: “Conheço três santos.
Eles vivem numa ilha, e chegaram a Iluminação.
O padre disse: “Como é possível que isso tenha acontecido”? Sou o mais alto sacerdote de
todo o planeta! Sem me conhecerem, não que eu tenha tido conhecimento do fenômeno, como é
possível que três pessoas tenham chegado a Deus? Vou encontrá-las”!
E saiu num barco. Chegou à ilha. Aquelas três pessoas simples estavam sentadas ao pé de
uma árvore fazendo orações. O padre ouviu as preces, deu uma gargalhada e disse: “Seus
tolos! Onde aprenderam essa oração? Nunca ouvi tamanho absurdo em toda a minha vida! Que
tipo de prece é essa”?
Os três começaram a tremer de medo e disseram: “Perdoe-nos! Não sabemos, nós nunca
aprendemos. Nós mesmos criamos esta prece”.
A prece era simples. Dizia: “Nós somos três” — e acreditamos na Trindade, por isso
disseram: “Fizemos uma oração. Nós somos três, você também é três — tenha piedade de nós.
Fazemos isso constantemente, mas não sabemos se está correto ou errado”.
O padre disse: “Está absolutamente errado e eu lhes ensinarei o certo, a versão
autorizada.” Era uma longa oração da Igreja, e os três ouviram, tremendo. O padre ficou muito
feliz. Voltou para a Rússia já que havia realizado um ato virtuoso: convertera três pagãos ao
Cristianismo. “E aqueles tolos! — eles se tornaram famosos. Muitas pessoas foram ser
encontrar com eles, tocaram seus pés e os adoraram!”
Quando estava voltando, muito feliz por ter feito o que fez, viu de repente uma turbulência
no lago, aproximava-se. Ele ficou com medo. Depois olhou... os três santos estavam chegando,
correndo sobre a água. Ele não podia acreditar no que seus olhos viam. Os três santos vieram e
disseram: “Por favor, diga outra vez aquela oração porque nós a esquecemos! É longa demais e
somos pessoas simples, incultas. Só mais uma vez...”
Conta-se, que o padre caiu aos pés deles e disse: “Perdoem-me! Cometi um pecado.
Continuem a fazer como sempre fizeram. A prece de vocês está certa porque ela brotou de
seus corações. A minha é inútil porque veio do meu aprendizado. Não me ouçam. Simplesmente
esqueçam e façam o que estavam fazendo.”
(Tradição oral)
ESCOLA DA VIDA
Conta-se que Mullá Nasrudin trabalhava como maquinista dirigindo uma balsa. Um dia, um
padre estava atravessando para a outra margem. Exatamente na metade do caminho,
perguntou a Nasrudin: “Você chegou a aprender alguma coisa, Nasrudin”?
Ele respondeu: “Sou ignorante, não sei nada, nunca estive numa escola.”
O padre disse: “Então metade da sua vida foi praticamente desperdiçada, pois o que é um
homem sem instrução”?
Nasrudin não disse nada. Veio então uma tempestade e a balsa começou a afundar. Ele
disse: “Oh, grande sábio, você aprendeu a nadar”?
O homem disse: “Não, nunca. Eu não sei nadar”.
Mullá disse: “Então todo o restante vida foi desperdiçada, pois eu já estou indo”!
(Sufismo)
Reflexão: Há em sua vida uma preocupação com títulos e certificados? Você desperdiçou
sua vida ou a vive plenamente? Há pessoas que jogam fora sua vida reclamando de tudo,
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grudadas na TV, computador, assistindo noticiários perversos, fazendo fofoca, acumulando
bens e stress... enfim, tu vives ou sobrevive?
DEUS EXISTE?
(Aurobindo)
FELICIDADE
Mullá Nasrudin disse certa vez: “Estou muito interessado na felicidade da minha esposa”.
“O que você está fazendo para isso?”
Ele respondeu: “Contratei um detetive particular para descobrir por que ela está feliz.”
(Mullá Nasrudin)
Reflexão: Você tem feito algo real para a felicidade alheia? Em todos os momentos da vida
temos a oportunidade de deixar o mundo mais amoroso e feliz.
DEBATE
Em alguns templos Zen japoneses existe uma antiga tradição: se um monge errante
conseguir vencer um dos monges residentes num debate sobre budismo, poderá pernoitar no
templo. Caso contrário terá de ir embora.
Havia um templo assim no norte do Japão dirigido por dois irmãos.
O mais velho era muito culto e o mais novo, pelo contrário, era tolo e tinha apenas um olho.
Uma noite, um monge errante foi pedir alojamento a eles. O irmão mais velho estava muito
cansado, pois havia estudado por muitas horas; assim, pediu ao mais novo que fosse debater:
“Solicite que o diálogo seja em silêncio”, disse o mais velho.
Pouco depois, o viajante voltou e disse ao irmão mais velho:
“Que homem maravilhoso é seu irmão. Venceu brilhantemente o debate. Assim, devo ir-me
embora. Boa noite.”
Antes de partir, disse o ancião, “por favor, conte-me como foi o diálogo.”
“Bem”, disse o viajante. “Primeiramente, ergui um dedo simbolizando Buda. Seu irmão
levantou dois dedos simbolizando Buda e seus ensinamentos. Então, ergui três dedos para
representar Buda, seus ensinamentos e seus discípulos. Daí, seu inteligente irmão sacudiu o
punho cerrado em minha frente, indicando que todos os três vêm de uma única realização”.
Com isso, o viajante se foi.
Pouco depois, veio o irmão mais novo parecendo muito aborrecido.
“Soube que você venceu o debate”, falou o mais velho.
“Que nada!”, disse o mais novo “esse viajante é um homem muito rude.”
“É’?”, disse o mais velho, “Conte-me qual foi o tema do debate.”
“Ora!”, exclamou o mais novo, “no momento em que ele me viu, levantou um dedo insultando-
me, indicando que tenho apenas um olho. Mas por ser ele um estranho, achei que deveria ser
polido. Ergui dois dedos congratulando-o por ter dois olhos. Nisto, o miserável mal-educado
levantou três dedos para mostrar que nós dois juntos tínhamos três olhos. Então, fiquei louco
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e ameacei lhe dar um soco no nariz - assim, ele se foi.”
O irmão mais velho riu.
(Zen Budismo)
Reflexão: Você quer ser um vencedor em tudo? Toda necessidade de se ganhar em tudo
acaba criando pessoas estressadas e neuróticas. Você é um?
(Budismo Japonês)
Reflexão: O silêncio é um bem esquecido. Os Budas tem ensinado que “o silêncio é de ouro,
a palavra é de prata” e todos os mestres apontam a seus discípulos sua prática. Existem
pessoas que temem se recolherem. Temem observar seu interior. (OL).
O ROUBO
“Por que aquele menino pequeno está chorando?”, perguntou uma velha senhora bondosa a
um moleque esfarrapado.
“Porque outro garoto roubou-lhe o doce”, ele respondeu. “E como é que você está com o
doce, agora?”
“É claro que eu estou com o doce”, respondeu o moleque. “Eu sou o advogado dele.”
(Prem Deepti)
Reflexão: Todas as tradições místicas sérias ensinam a não mentirmos. Você é verdadeiro?
A sua profissão é ética, verdadeira ou mentirosa e cruel?
Certa vez, a mulher de Mullá Nasrudin estava muito zangada. Seu filho caçula fazia muita
desordem, muito barulho. Exausta, começou a correr atrás dele para lhe dar uns tapas, mas o
garoto conseguiu fugir e se escondeu embaixo da cama. Ela ameaçou, mas não conseguiu fazê-
lo sair de lá. Era muito gorda e não podia ajoelhar-se para pegá-lo. Acabou desistindo e disse:
“Espere até seu pai chegar”
Quando Mullá Nasrudin chegou em casa, ela lhe contou o que havia acontecido. “Deixe
comigo”, disse Mullá, “eu o colocarei na linha”.
Entrou devagarinho no quarto, ajoelhou-se, olhou embaixo da cama e teve a maior surpresa.
O menino estava rindo e dizendo, - “Oi, pai. Ela também está atrás de você”?
(Prem Deepti)
Reflexão: Medite aqui nas discórdias que fazem parte de sua vida. Faça um pacto interior
de não fugir das mesmas e resolvê-las com coragem.
PRECES OUVIDAS
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Certa vez uma mulher comprou um papagaio. Ao chegar em casa ficou preocupada. O animal
havia custado caro e era muito bonito. Estava tudo bem mas, havia um perigo, de vez em
quando o papagaio gritava: “Sou uma mulher provocante e sedutora”. Onde já se viu?!
A mulher vivia só e era muito religiosa — por que outro motivo então iria viver só?
Procurava ser muito séria, mas seu papagaio não parava de gritar aquilo. Qualquer um que
passasse na rua poderia ouvir, “Sou uma mulher provocante e sedutora”.
Ela procurou o vigário, por ser esta sua única fonte de sabedoria, conhecimento e
informação. Disse: “Isso não é bom, não sei o que fazer. É uma bela ave, tudo está bem, exceto
essa mania.”
O vigário aconselhou: “Não se preocupe. Tenho dois papagaios super-religiosos. Um toca o
sino e o outro faz orações. Traga o seu que boas companhias vão lhe fazer bem. Deixe-o aqui
por uns dias e depois venha buscá-lo.”
A mulher gostou da idéia. Levou o papagaio ao vigário que o apresentou aos outros dois. Mas
antes que dissesse qualquer coisa o papagaio dela gritou: “Sou uma mulher provocante e
sedutora.”
O vigário parou. O que fazer? Nesse momento o papagaio que fazia orações, parou de rezar
e disse ao outro, “Seu tolo, pare de tocar esse sino que nossas preces foram ouvidas!”
(Datatreya)
Reflexão: Você leva sua vida exageradamente a sério ou preserva seu espírito brincalhão?
Se você observar os aspectos lúdicos e celebrativos da vida, toda pressão, medo, cobranças e
ilusões desaparecem.
O ENGANO
Outro dia presenciei uma ótima cena: um homem conversava com Mullá Narsudin e dizia,
“Por que você é tão mesquinho com sua esposa?”
Mullá respondeu, “Você deve estar enganado. Que eu saiba, sou sempre muito generoso.”
O homem não gostou da resposta. As pessoas não gostam quando suas opiniões são
refutadas. Ele ficou muito bravo e disse:
“Pare de se defender, todos sabem que você é duro demais com sua esposa. Ela tem que
mendigar dinheiro até para as despesas diárias. Todos sabem disso!”
Mullá respondeu, “Está bem. Se você prefere assim, não me defenderei. Mas posso dizer só
uma coisa?”
O homem ficou curioso: “O quê?”
“Eu não sou casado”, disse Mullá.
Reflexão: Quais são suas ilusões a respeito de quem lhe cerca? Os iluminados dizem:
“somente vemos defeitos e limitações em nossos irmãos e não em nós mesmos”. Isso também
chama-se projeção. O que há de pior, o que mais nos incomoda no outro pode ser também nosso
maior defeito. Pense nisso.
SER VOCÊ
Rumi, o grande poeta do divino, teve um mestre extraordinário chamado Shams. Desde
criança Shams parecia diferente. Seus próprios pais não sabiam se o mandavam para um
mosteiro ou para a casa dos loucos. Não sabiam o que fazer com ele.
Depois de adulto, Shams contou-lhes a história do ovo de pato que uma galinha encontrou.
A galinha chocou o ovo e criou o patinho lado a lado com os seus pintinhos. Um dia, foram todos
caminhar até o lago. O pato entrou diretamente na água e saiu nadando e mergulhando,
enquanto a galinha permanecia timidamente na borda. Shams explicou aos pais:
- “Agora, pai e mãe, eu encontrei meu lugar. Aprendi a nadar no oceano, mesmo que vocês
tenham que permanecer na costa”.
(Rumi)
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Reflexão: Em sua vida você tem nadado no oceano ou observado os que nadam da costa?
Você busca e vive o ordinário ou o extraordinário? Você vive como um pato ou uma galinha?
O PESO DA CULPA
Um dia, ao voltarem para casa, Mullá Nasrudin e sua mulher encontram-na assaltada. Tudo
o que poderia ser carregado o foi. “A culpa é sua, disse sua esposa, porque deveria ter se
certificado, antes de sairmos, de que a casa estava trancada”. Os vizinhos bateram na mesma
tecla:
“Você não trancou as janelas”, disse um deles.
“Por que não se preveniu para uma situação como essa?”, disse outro deles.
“As trancas estavam com defeito e você não as substituiu”, disse um terceiro.
“Um momento”, disse Nasrudin, “certamente não sou o único culpado, sou”?
“E quem deveríamos culpar”?, gritaram todos.
“Que tal os ladrões?”, disse o Mullá.
Reflexão: Evite procurar culpados para tudo, olhe na direção certa. Já desenvolveu essa
qualidade de foco correto que leva a maturidade para uma vida de paz?
CRIANÇAS
Jesus viu algumas crianças que estavam se amamentando ao seio. Disse aos discípulos:
“Essas crianças que estão se amamentando são semelhantes aos que entram no Reino”.
Eles perguntaram:
“Então, se nos tornarmos crianças, entraremos no Reino”?
Jesus respondeu-lhes:
“Quando de dois fizerdes Um e quando fizerdes o interior como o exterior e o alto como o
baixo, quando tomardes o masculino e o feminino um Único ser, a fim de que o masculino não
seja um macho, nem o feminino uma fêmea, quando tiverdes olhos em vossos olhos, a mão em
vossa mão, e o pé em vosso pé, um ícone em vosso ícone, então, encontrareis o Reino”!
(O Evangelho de Tomé)
Reflexão: É possível estar além das dualidades? Você é um ser total ou um ser
fragmentado? Uma pessoa ou uma meia pessoa?
HUMILDADE
(Padres do deserto)
Reflexão: Ser e viver de maneira simples é viver de acordo com sua alma e com seu
coração. É difícil para viver de forma simples? Você vive de forma complicada?
RELAXAR
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Certa vez, o abade Antonius estava conversando com alguns irmãos quando um caçador que
caçava nas cercanias encontrou-se com eles. Ao ver o abade Antonius e os irmãos se
divertindo, censurou-os. Mas o abade Antonius disse:
Ponha uma flecha em seu arco e atire.
Assim fez o caçador.
Agora atire outra — disse um dos anciãos. — E outra. E outra. E outra.
E o caçador retrucou:
Se eu esticar o meu arco sem parar, ele irá se quebrar.
O abade Antonius respondeu:
Assim também com a obra de Deus. Se exigirmos de nós mesmos além da nossa medida,
nossos confrades logo sucumbirão. É correto, portanto, relaxar os esforços de tempos em
tempos.
(Padres do Deserto)
Reflexão: Quanto você é exigido e cobrado pelo social? Você permite cobranças? Permite
que lhe questionem onde estava, com quem estava e que horas volta? O que é ser livre?
IMPACIÊNCIA
Um filósofo, tendo marcado um encontro para discutir com Nasrudin, foi até a casa dele.
Lá chegando, verificou que o Mullá havia saído. Furioso, pegou um pedaço de giz e escreveu
“Cretino Insensato” no portão de Nasrudin.
Assim que chegou em casa, Nasrudin viu a mensagem e foi correndo até a casa do filósofo.
Esqueci que tínhamos marcado um encontro em casa — esclareceu ele. — E peço que me
desculpe por haver saído. Mas, é claro, lembrei-me imediatamente do nosso compromisso tão
logo vi que você deixara seu nome em meu portão.
(Sufismo)
Reflexão: Medite sobre o que mais o incomoda em relação às pessoas. O que você mais
odeia no seu próximo? Talvez isso esteja também dentro de ti. Jung ensinou: “Tudo o que nos
irrita nos outros pode nos levar a um conhecimento de nós mesmos”. Isso chama-se projeção.
O que você projeta nos outros?
MEDO
Quando Khrushchev pronunciou sua célebre denúncia contra Stalin, comenta-se que alguém
no Salão do Congresso teria dito:
- “Onde estava você, camarada Khrushchev, quando todas essas pessoas inocentes estavam
sendo massacradas”?
Khrushchev parou, percorreu o Salão com os olhos e disse:
- “O homem que acabou de fazer esta pergunta poderia ter a bondade de se levantar”?
A tensão foi crescendo no grande Salão. Ninguém se mexeu. Ninguém abriu a boca. Até que
Khrushchev disse:
- “Bem, seja lá quem for, já tem a resposta à sua pergunta. Eu estava exatamente na
mesma posição em que você está agora”.
(Tradição Russa)
Reflexão: Os xamãs dizem que a maior doença do ser humano é o medo. Você tem medo do
quê? És corajoso ou um covarde? A coragem é um sentimento fundamental para uma vida plena
e realização de sua missão.
COMPAIXÃO
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- “Diga-nos; quando vemos irmãos cochilando durante o ofício sagrado, deveremos cutucá-
los para que permaneçam acordados”? O velho Abba respondeu-lhes;
- “Na realidade, se eu visse um irmão dormindo, colocaria a sua cabeça no colo e o deixaria
descansar”.
(Mestre Abba)
Reflexão: A quem você oferece seu colo para um repouso? Você tem solicitado colo das
pessoas que ama? Reflita sobre o verdadeiro sentido da compaixão: qualquer pessoa no mundo,
qualquer ser tem o mesmo direito à felicidade, à paz que você.
INVEJA
(Tradição Rabínica)
IGUALDADE
“Eu sou uma criatura de Deus e meu vizinho é também uma criatura de Deus.
Eu trabalho na cidade e ele no campo.
Eu me levanto cedo para meu trabalho e ele se levanta cedo para seu trabalho.
Da mesma forma que ele não me supera em meu trabalho, eu não o supero em seu trabalho.
Você diria que eu faço grandes coisas e ele faz pequenas coisas? Nós já aprendemos que
não interessa se uma pessoa faz muito ou pouco, contanto que seu coração esteja direcionado
aos céus.”
(Rabino Strein)
Reflexão: Você precisa dos aplausos e reconhecimentos de quem? Rabino Strein ensina e
explica este salmo. “Quanto ao orgulho, é a vestimenta do Eterno” (Salmo 93:1).
“O Eterno se cobre com uma vestimenta que confecciona do orgulho que as pessoas sábias
conseguem abandonar.”
79
QUEIMAR EM DEUS
“O rabino Teitelbaum, desde sua juventude, era um fervoroso inimigo da doutrina hassídica
que, segundo sua opinião, era das piores formas de heresia. Certa vez, visitou a casa de seu
amigo Rabi Asher, que também se opunha ao movimento hassídico e a suas inovações. Naquela
época, o livro de orações do rabino lsaac Luria, um dos precursores da doutrina hassídica,
havia acabado de ser impresso.
Passado algum tempo. uma cópia foi trazida aos dois rabinos; o rabino Teitelbaum mais que
rapidamente arrancou-a da mão do mensageiro, rasgou-a e jogou-a ao chão. Porém, Rabi Asher
recolheu-a do chão dizendo: “Afinal de contas, é um livro de orações e não deve ser
desrespeitado”.
Quando o relato deste acontecimento chegou aos ouvidos do rabino de Lublin, integrante
do movimento hassídico, este comentou: ‘O rabino Teitelhaum tornar-se-á um membro do
grupo hassídico; Rabi Asher, no entanto, jamais. Isto porque aquele que hoje queima com ódio
e inimizade, queimará amanhã com amor a Deus; porém a porta está fechada para aquele cujo
ódio é frio e inexpressivo”.
E ocorreu exatamente como o rabino de Lublin dissera.”
(Rabino de Lublin)
Reflexão: Seja total em tudo o que fizer. O chamado do iluminado Jesus é “Só as crianças
entrarão na casa de meu pai”. Por quê? Porque são totais e plenas em tudo: no amor, raiva, dor,
tristeza, alegria, enfim... a criança vive na totalidade sem máscaras e disfarces.
PERDÃO
“Realizar algo de mal a uma outra pessoa é pior do que realizá-lo contra o Criador. A pessoa
que você prejudicou pode ter ido a algum lugar que você desconhece e você terá então perdido
a oportunidade de obter dela o perdão. O Eterno, no entanto, está em todos os lugares e você
poderá encontrá-lo toda vez que procurar”.
Reflexão: Hoje que você pode perdoar? Como está seu coração na questão do perdão? “É
perdoando que se é perdoado”, ensina Francisco de Assis.
SABEDORIA REAL
O Mullá Nasrudin costumava perambular pelas ruas nos dias de feira a fim de ser apontado
como um idiota: não importava quantas vezes as pessoas lhe apresentassem uma moeda grande
e uma pequena, ele sempre escolhia a menor. Até que um dia um homem bondoso lhe sugeriu:
- “Mullá, você deveria aceitar a moeda maior. Dessa forma teria mais dinheiro e não seria
mais motivo de chacota”.
- “Isso talvez possa ser verdade” — concordou Nasrudin. — “Mas se eu escolhesse a moeda
maior, as pessoas deixariam de me oferecer dinheiro para provarem que sou mais idiota que
elas. E então eu não teria dinheiro algum”.
(Sufismo)
Reflexão: Um ser de conhecimento não é um ser racional, rígido e previsível e sim um ser
intuitivo, flexível e imprevisível. Leal a seus ideais e não aos ideais sociais. Quais
características do seu Ser?
JULGAR MAL
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“Akabia bou Mahalalel discordava de seus colegas rabinos em quatro diferentes questões
relativas à lei. Os sábios pediram-lhe que abandonasse sua posição, prometendo-lhe que
assumiria a Presidência dos Juízes. Este reagiu, dizendo: “Prefiro ser chamado de tolo pelos
humanos a ser malévolo aos olhos de Deus.”
(Tradição Rabinica)
Reflexão: Devemos prestar contas aos olhos humanos ou aos olhos da Eternidade, ao
julgamento social ou às leis éticas do Karma?
VERDADE
Reflexão: Você é sincero? Como avalias a expressão “não mentiras”? Ser sincero não é só
com quem te cerca mas com você, com suas vocações, sonhos, maneira de amar... Enfim
sinceridade plena. Você vive assim?
MUNDO TURVO
“Rabi Iossef, filho de Rabi Ioshua ben Levi, ficou muito doente e entrou em coma.
Após ter-se restabelecido, seu pai lhe perguntou: ‘O que foi que você viu?’ ‘Eu vi um mundo
todo ao contrário, um mundo turvo e de cabeça para baixo, respondeu. ‘Os mais elevados na
Terra eram os mais baixos lá, e os mais baixos na Terra, os mais elevados lá’
Meu filho, disse o pai, você não viu um mundo turvo, mas um mundo claro’
(Pessachim 50a.)
Reflexão: O que é um mundo turvo para você? Concorda com a visão de Rabi de Rimanov
que os mais elevados de nosso planeta seriam os mais baixos “lá”. Quando você é elevado?
Quando é mais baixo?
Naquela noite, depois que todos contaram como tinham realizado maravilhas em suas vidas,
o Mestre levou-os para fora, apontou para o céu e disse:
- “Aquela é a galáxia espiral de Andrômeda. É tão grande como nossa via Láctea e sua luz, a
uma velocidade de trezentos mil quilômetros por segundo, demora meio milhão de anos para
chegar até nós. Está formada por cem mil milhões de sóis, muitos milhões deles maiores que o
nosso”.
Fez uma pausa e disse, sorrindo:
- “E agora que já nos colocamos em nosso devido lugar, vamos dormir”.
(Tradição Celta)
Reflexão: Qual é o seu devido lugar? A maior maravilha do mundo não depende de você, ou
do que você faça. Descobrir quem você é, é sentir-se Uno com a Existência e para isso é
necessário a meditação que te mostra sua própria essência sem ser necessário sair do lugar.
ACEITAÇÃO
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E o discípulo disse ao novo Mestre:
O meu Mestre anterior me ensinou a aceitar o nascimento e a morte.
E o que você quer de mim, afinal? — perguntou-lhe o Mestre.
Aprender a aceitar o que está no meio.
(Conto Zen)
PROJEÇOES
“Há uma lenda de que durante a Idade Média o papa resolveu que os judeus não mais
poderiam viver em Roma; deveriam ser todos expulsos. Temendo abandonar a cidade e
defrontar-se com a brutalidade da Europa rural do período medieval, os judeus imploraram
que lhes fosse permitido permanecer.
O papa ouviu seus apelos e decidiu dar-lhes uma chance, com a seguinte condição:
permitiria um debate feito todo em pantomima entre o núncio católico e qualquer judeu que ao
mesmo se dispusesse. Se o judeu vencesse o debate, seu povo poderia ficar; caso contrário,
teria de abandonar a cidade.
Ponderaram os judeus: Que chances realmente teriam? O próprio papa seria o juiz da
contenda e, além do mais, o perdedor seria executado. Quem iria se expor nestas condições?
O tolo, o servente da sinagoga, voluntariou-se para tão difícil tarefa. Ele enfrentaria o
debate e todos sabiam que, na verdade, estava cometendo um suicídio. Mas o que fazer? Não
havia outra saída. Sequer havia tempo para que os sábios preparassem o tolo para o debate.
No dia, todos permaneceram em silêncio absoluto na arena. E foi o núncio que deu início ao
debate. Ele levantou seu dedo indicador e moveu-o em direção aos céus. O tolo imediatamente
gesticulou com segurança apontando para o chão. O papa mostrou-se inquieto.
Em seguida, o núncio ergueu um dedo e colocou-o diante do tolo desafiadoramente. Este
não titubeou: apontou três dedos para o rosto do núncio com desembaraço. O papa parecia
desconcertado.
O núncio, então, sacou de seu bolso uma maçã e mostrou ao papa.
Neste instante, tolo retirou de seu sobretudo uma sacola de papel e dela um pedaço de
matzá (pão ázimo).
No mesmo instante o papa anunciou que o debate havia terminado: o tolo judeu havia
vencido e judeus poderiam permanecer em Roma.
Quando a multidão se foi, o clero por inteiro veio ter com o papa. ‘Por que destes vosso
veredito em favor dos judeus?’
‘Este homem’, explicou, ‘era um mestre do debate. Quando meu núncio elevou seu dedo aos
céus para mostrar que Deus tem soberania sobre todo o universo, o judeu apontou o chão,
indicando que o Demônio também tinha poderes neste mundo!
Quando o núncio reagiu, dizendo que existe um único Deus, o judeu de imediato levantou
três dedos demonstrando que existem três aspectos de Deus, de sua Sagrada Trindade.
Quando meu núncio tirou uma maçã para indicar o erro dos cientistas, que insistem em
dizer que a terra é redonda, o judeu contrapôs fazendo surgir um pedaço de matzá que, por
ser uma superfície plana, referia-se à postura bíblica de reconhecer que a Terra é plana.’
Enquanto isto, os judeus festejavam perplexos. Imploraram para que o tolo lhes explicasse
o que sucedera. Este reagiu:
‘Não há o que dizer. Em primeiro lugar, o padre apontou seu dedo para mim, como se
dissesse: Os judeus devem sair de Roma! Eu reagi, apontando para o chão e dizendo que não
sairíamos daqui. Logo depois, apontou o dedo para mim, como que praguejando:
Caia morto, seu judeu! Ao que eu retribui: Morra você três vezes, pois não sairemos.’
‘E então?’ perguntou toda a comunidade em suspense absoluto. ‘Então? Então ele resolveu
tirar seu almoço e eu tirei o meu!”’
Reflexão: Você já assistiu a um debate político ou uma mesa “quadrada” de futebol? Você
gosta de entrar em debates como os exemplos anteriores? Já se deu conta da inutilidade,
jogos de ego e vaidade dos debates? Você gosta de sentar-se na mesa dos bares e ficar
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debatendo, não em busca da verdade, mas do ter razão ou sentir-se um “vencedor”?
Um dia Bankei estava calmamente falando a seus seguidores, quando sua palestra foi
interrompida por um sacerdote de outra seita. Esta seita acreditava no poder dos milagres.
O sacerdote gabava-se que o fundador de sua religião era capaz de ficar na margem de um
rio com um pincel em sua mão, e escrever um nome sagrado em um pedaço de papel que um
assistente segurava na margem oposta do rio.
Então ele perguntou: "Que milagres você pode fazer?"
Bankei respondeu: "Apenas um. Quando tenho fome como, e quando tenho sede, bebo”.
(Bankei)
Reflexão: Você tem essa percepção que o maior milagre do mundo é comer, beber, andar,
viver e morrer? “É simples assim?” você pergunta. Não! É assustadoramente simples! O mestre
Bankei ensinou essa grande verdade a seus discípulos:
- “Eu fluo com a natureza, qualquer coisa que meu ser sinta, eu faço”. Você vive o que tua
alma aponta?
GRATIDÃO
Muito poucas mulheres alcançaram a iluminação através do Zen. Rengetsu é uma dessas
raras mulheres.
Ela estava em peregrinação, e chegando a uma vila pediu hospedagem mas os moradores
fecharam suas portas. Eles não permitiram que essa monja Zen lá permanecesse; jogaram-na
fora da vila.
Era uma noite fria, e a velha mulher sem hospedagem ...e com fome. Ela teve que fazer de
uma cerejeira dos campos o seu abrigo.
À meia-noite ela acordou - estava com muito frio viu, no céu noturno da primavera, as
flores da cerejeira totalmente abertas, rindo para a lua envolta em névoa. Tomada pela
beleza, levantou-se e fez uma reverência e direção à vila.
“Pela sua bondade
Em me recusarem hospedagem,
Encontrei-me sob as flores,
No luar desta noite em névoas.”
Com grande gratidão ela saudou as pessoas que lhe recusaram hospedagem, pois de outra
forma estaria dormindo sob um teto comum e teria perdido esta bênção das flores da
cerejeira da lua, do silêncio da noite. Ela não sente raiva, ela aceita... Não só aceita, mas
acolhe. A vida é imensa, e a cada momento traz mil e uma dádivas para você se houver uma
abertura. Um homem se torna um Buda no momento em que aceita com gratidão tudo que a
vida traz.
(Conto Zen)
Reflexão: Como está sua gratidão? Você tem agradecido ou reclamado da vida, do mundo
cada vez mais? Em Satsang observo o quanto é difícil para as pessoas aceitarem as dádivas e
benções da existência. Você aceita?
FISGADO
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O rei enviou uma delegação em missão secreta às zonas rurais, para que se encontrasse um
homem modesto que pudesse ser designado para juiz. Mullá acabou sabendo disso.
Quando a delegação, fazendo se passar por um grupo de viajantes, visitou Mullá, verificou
que ele tinha uma rede de pesca enrolada nos ombros.
Um deles perguntou:
- Diga-nos, por favor, por que usa esta rede?
- Simplesmente para recordar-me da minha origem humilde, pois um dia já fui pescador.
Pela força deste nobre sentimento, Mullá foi nomeado juiz e passou a exercer essa função
de forma injusta e corrupta. Um dia, ao visitar sua corte, um dos oficiais que estivera naquela
delegação. Perguntou-lhe:
- O que aconteceu a sua rede, Mullá’?
- Com toda a certeza, respondeu Mullá-juiz, - não há necessidade de uma rede, quando já
se fisgou o peixe.
(Nasrudin – Tradição Sufi)
VAIDADE
Um grupo de monges do mosteiro de Sceba, entre eles o grande abade Niscerius, passeava
pelo deserto egípcio quando um leão surgiu diante deles.
Apavorados, todos se puseram a correr. Anos depois, quando Niscerius estava em seu leito
de morte, um dos monges resolveu perguntar-lhe:
- Abade, lembra-se do dia em que encontramos o leão? Niscerius fez um sinal afirmativo
com a cabeça.
- Foi a única vez que o vi ter medo, continuou o monge. - Mas eu não tive medo do leão,
respondeu Niscerius. - Então por que correu conosco?
- Achei melhor correr uma tarde de um animal que passar o resto da vida fugindo da
vaidade.
(Monges de Sceba)
Reflexão: Aqui o convite é que reflitas na diferença entre a vaidade sadia e a exagerada,
que pode se tornar narcisismo.
Se apegar a vaidade exagerada é uma forma certa de dor. Como está sua vaidade?
Certa vez o Rabino Báal Shem Tov viu num sonho seu futuro vizinho no paraíso. Quando
despertou, resolveu fazer-lhe uma visita. Ele acabou por encontrar o homem, que era bastante
robusto, gordo e com aparência rude. ‘Quão bem ele se disfarça’, pensou o Báal Shem Tov, e
lhe pediu que o hospedasse por alguns dias.
O Báal Shem estava convencido de que seu anfitrião levava uma vida dupla: provavelmente
ele se levantava durante a noite para realizar sabe lá Deus que grandiosos atos. Mas ele estava
errado. O homem dormia profundamente até a manhã seguinte. Ele despertava cedo,
rapidamente dizia suas orações e se jogava sobre um grande café da manhã. No almoço comia
ainda mais, e três vezes mais no jantar. E isto se repetiu por vários dias.
“Vamos esperar pelo Sábado”, pensou o Báal Shem. Talvez sua santidade coincida com a do
sétimo dia. Estava enganado de novo: seu anfitrião comia e dormia ainda mais do que nos dias
de semana. Incapaz de conter sua curiosidade, o Báal Shem lhe disse:
“Quando vim para cá, eu tinha uma pergunta em mente que gostaria de fazer. Mas agora eu
tenho uma outra: Por que você come tanto”?
“Vou lhe contar”, disse o homem. “Tudo isto tem a ver com meu pai, que era um bom homem
e um bom judeu, muito gentil e frágil. Sua única preocupação era a de agradar o seu Criador,
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nada mais lhe interessava. Nem mesmo dinheiro ou honras, nem mesmo sua saúde. Ele vivia só
para a Torá. Um dia, quando estava a caminho da sinagoga, foi pego por bandidos que o
amarraram a uma árvore e lhe ordenaram que profanasse seu Deus. Obviamente ele se
recusou. Eles então o surraram sem piedade, mas ele continuou se negando. Por fim
derramaram querosene sobre ele e atearam fogo. E por que meu pai era tão fraco e magro, ele
queimou apenas por um momento, quase que imediatamente após ser incendiado. E eu, que
estava lá, que presenciei tudo, jurei que, se algum dia viesse a passar pelo mesmo teste, não
deixaria que se desincumbissem tão facilmente. Eu lhes mostraria que um judeu não se
consome assim como uma magra e miserável vela. Não! Quando eu queimar, vou queimar por
tanto tempo que vão se morder de ódio. Esta é a razão pela qual eu como tanto: toda a minha
energia, toda a minha paixão é devotada à comida. Não que eu esteja com fome, você
entende... ”’
Reflexão: Aqui há uma reflexão simples: Você já achou em seu coração a determinação do
homem dessa história? A dedicação a uma causa espiritual ou planetária? Você vai até o fim ou
se entrega facilmente?
DESEJOS
(Prem Deepti)
Reflexão: Nós projetamos em nossa vida uma série de julgamentos, desejos e ilusões. Uma
projeção pode ser construtiva ou destrutiva. Você observa a realidade como é ou não tem
consciência alguma do real. O mestre Osho ensina: “Quando você der com um julgamento se
formando a respeito de outra pessoa, vire-o do avesso: aquilo que você está vendo no outro, na
verdade, não pertence a você? A sua visão está límpida, ou obstruída pelo que você quer ver”?
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BIBLIOGRAFIA
A bibliografia abaixo se limita a alguns ótimos livros que me inspiraram e onde você poderá
encontrar algumas das histórias contidas nesse livro. Há ainda em todos esses títulos
excelentes ensinamentos, portanto os mesmos são recomendados de coração por mim.
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