Sei sulla pagina 1di 22

AS LUTAS POLÍTICAS PELA MEMÓRIA

Elizabeth Jelin

Paul Ricoeur nos apresenta um paradoxo. O passado já passou, é algo determinado,


não pode ser mudado. O futuro, pelo contrário, é aberto, incerto, indeterminado. O que
pode mudar é o ​sentido desse passado, sujeito a reinterpretações ancoradas na
intencionalidade e nas expectativas para esse futuro1. Esse sentido do passado é um
sentido ativo, dado por agentes sociais que se localizam em estágios de confrontação e
lutas frente a outras interpretações, outros sentidos, ou contra esquecimentos e
silêncios. Atores e militantes “usam” o passado, colocando-o na esfera pública do
debate interpretações e sentidos do mesmo. A intenção é estabelecer/ convencer/
transmitir uma narrativa que pode chegar a ser aceita.

A investigação do tema, então, não consiste em “lidar com os fatos sociais como
coisas, mas de analisar como os fatos sociais se tornam coisas, como e por que são
solidificados e dotados de duração e estabilidade” (Pollak, 1989:4). Trata-se de estudar
os processos e os atores que intervêm no trabalho de construção e formalização das
memórias. Quem são esses atores? Com que se enfrentam ou dialogam nesses
processos? Atores sociais diversos, com diferentes vinculações com a experiência
passada - quem a viveu e quem a herdou, quem a estudou e quem a expressou de
diversas maneiras - brigam por afirmar a legitimidade de “sua” verdade. Tratam-se de
atores que lutam pelo poder, que legitimam sua posição em circuitos privilegiados com
o passado, afirmando sua continuidade e sua ruptura. Nestas tentativas, sem dúvida,
os agentes têm um papel e um peso central para estabelecer e elaborar a “história/
memória oficial”. Torna-se necessário centrar o olhar sobre conflitos e disputas na
interpretação e no sentido do passado, e no processo pelo qual alguns relatos
conseguem deslocar outros e se tornam hegemônicos.

A FORMAÇÃO DE UMA HISTÓRIA NACIONAL E UMA MEMÓRIA OFICIAL


Nos processos de formação do Estado - na América Latina ao longo do século XIX, por
exemplo - uma das operações simbólicas centrais foi a elaboração do “grande relato”

1
Nota 1 do texto «Aunque, en efecto, los hechos son imborrables y no puede deshacerse lo que se ha
hecho, ni hacer que lo que ha sucedido no suceda, el sentido de lo que pasó, por el contrario, no está
fijado de una vez por todas. Además de que los acontecimientos del pasado pueden interpretarse de otra
manera, la carga moral vinculada a la relación de deuda respecto al pasado puede incrementarse o
rebajarse, según tengan primacía la acusación, que encierra al culpable en el sentimiento doloroso de lo
irreversible, o el perdón, que abre la perspectiva de la exención de la deuda, que equivale a una
conversión del propio sentido del pasado. Podemos considerar este fenómeno de la reinterpretación
tanto en el plano moral como en el del simple relato, como un caso de acción retroactiva de la
intencionalidad del futuro sobre la aprehensión del pasado» (Ricoeur, 1999: 49)
da nação. Uma versão da história que, junto com os símbolos pátrios, monumentos e
panteões de heróis nacionais, poderia servir como nó central de identificação e de
suporte para a identidade nacional.

Para que servem estas memórias oficiais? São intenções mais ou menos conscientes
de definir e reforçar sentimentos de pertencimento, que apontam para manter a coesão
social e a defender fronteiras simbólicas (Pollack, 1989: 9). Ao mesmo tempo,
proporcionam os pontos de referência para “enquadrar” as memórias de grupos y
setores dentro de cada contexto nacional.

Como toda narrativa, estes relatos nacionais são seletivos. Construir um conjunto de
heróis implica ofuscar a ação dos outros. Ressaltar certos traços como sinais de
heroísmo implica silenciar outros traços, especialmente os erros e maus passos dos
que são definidos como heróis e devem aparecer “imaculados” nessa história. Uma vez
estabelecidas estas narrativas canônicas oficiais, ligadas historicamente ao processo
de centralização política da etapa de formação de Estados nacionais, elas se
expressam e se cristalizam nos textos de história que se transmitem na educação
formal. Ao mesmo tempo, constituem-se nas metas para tentativas de reformas,
revisionismos e relatos alternativos. Porque a narrativa nacional tende a ser a dos
vencedores, e haverá outros que, seja na forma de relatos privados de transmissão oral
ou como práticas de resistência frente ao poder, oferecerão narrativas e sentidos
diferentes do passado, amenizando o consenso nacional que se pretende impor2.

Se o Estado é forte, e o “policiamento” inclui controlar as ideias e a liberdade de


expressão no espaço público, as narrativas alternativas se refugiam no mundo das
“memórias privadas”, às vezes silenciadas até no âmbito da intimidade (por vergonha
ou por debilidade), ou se integram em práticas de resistência mais ou menos
clandestinas (Scott, 1992).

Neste ponto, o trabalho dos historiadores profissionais ocupa um lugar central. Porque
no mundo moderno, as narrativas oficiais são escritas por historiadores profissionais. O
vínculo com o poder é, porém, central na intencionalidade da construção da narrativa
da nação. As interpretações contrapostas e as revisões das narrativas históricas se
produzem ao longo do tempo como produto das lutas políticas das mudanças de
sensibilidade da época e do próprio avanço da investigação histórica.

2
Nota 2 - Sobre la relación entre memoria y nación, y el análisis de varios casos específicos, ver el
número especial de Social Science History compilado porj. Olick (Olick, 1998b)
Com relação à história dos acontecimentos contemporâneos ou de tempos passados3,
especialmente quando foram marcados4 por forte conflito social e político, a instalação
de uma história oficial se torna difícil e problemática. Durante os períodos ditatoriais
deste século - o stalinismo, o nazismo, o franquismo, as ditaduras militares no Brasil,
Chile, Argentina ou Uruguai, o stronismo no Paraguai - o espaço público é
monopolizado por um relato político dominante, onde “bons” e “maus” estão claramente
identificados. A censura é explicita, as memórias alternativas são subterrâneas, e se
agregam aos estragos do terror, do medo e das lacunas traumáticas que geram
paralisia e silêncio. Nestas circunstâncias, os relatos oficiais oferecidos pelos
porta-vozes do regime têm poucos desafios na esfera pública.

No geral, os relatos das ditaduras dão aos militares um papel “salvador” frente à
ameaça (no ConiSul, nos anos 70, se tratava da ameaça do “comunismo”) e ao caos
criado pelos que tentam subverter a nação. Neste contexto, os relatos posteriores
põem a ênfase sobre as conquistas pacificadoras (especialmente notórios na
Argentina) ou sobre o progresso econômico. Por exemplo, as comemorações do
décimo aniversário do golpe de Estado no Brasil, em 1974, foram uma ocasião para pôr
na esfera pública e no sistema escolar uma versão onde o êxito econômico do regime -
o “milagre econômico” brasileiro - foi o relato exclusivo. Não houve menção sobre o
sistema político ou sobre as liberdades públicas (Carvalho y Catela, 2002). O papel
político e ético dos historiadores e intelectuais críticos é, nesse período, de uma
importância especial5.

As aberturas políticas, os descongelamentos6, as liberações e transições habitam uma


esfera pública e nela se pode incorporar narrativas e relatos até então contidos e
censurados. Também se pode gerar novos. Esta abertura implica num estágio de luta
pelo sentido do passado, com uma pluralidade de atores e agentes, com demandas e
reivindicações múltiplas.

3
Dúvida neste trecho “o cercamos en el tiempo”
4
Dúvida neste trecho “estuvieron signados”

5
Nota de rodapé 3 - «[...] ya no se trata de una cuestión de decadencia de la memoria colectiva [...], sino
de la violación brutal de lo que la memoria puede todavía conservar, de la mentira deliberada por
deformación de fuentes y archivos, de la invención de pasados recompuestos y míticos al servicio de los
poderes de las tinieblas. Contra los militantes del olvido, los traficantes de documentos, los asesinos de
la memoria, contra los revisores de enciclopedias y los conspiradores del silencio, contra aquellos que,
para retomar la magnífica imagen de Kundera, pueden borrar a un hombre de una fotografía para que
nada quede de él con excepción del sombrero, el historiador [...] animado por la austera pasión por los
hechos [...] puede velar y montar guardia» (Yerushalmi, 1989a: 25).

6
Dúvida neste trecho “los deshielos”
O estágio político é de mudança institucional no Estado e na relação Estado-sociedade.
A luta se dá, então, entre atores que reclamam o reconhecimento e a legitimidade de
sua palavra e de suas demandas. As memórias dos que foram oprimidos e
marginalizado - no extremo, os que foram diretamente afetados em sua integridade
física por mortes, desaparecimentos forçados, torturas, exílios e confinamentos -
surgem como uma dupla pretensão, a de dar a versão “verdadeira” da história a partir
de sua memória e a de reclamar justiça. Nesses momentos, memória, verdade e justiça
parecem confundir-se e fundir-se, porque o sentido do passado sobre o que se está
lutando é, na realidade, parte da demanda de justiça no presente.

São momentos nos quais emergem publicamente relatos e narrativas que estiveram
ocultos e silenciados por muito tempo. Provoca grande surpresa pública a
sobrevivência, às vezes durante décadas, de memórias silenciadas no mundo público,
porém conservada e transmitida no âmbito privado (familiar ou de sociabilidade
clandestina), guardadas na intimidade pessoal, “esquecidas” em um esquecimento
“evasivo” - porque podem ser memórias proibidas, indizíveis ou vergonhosas, como
assinala Pollak (1989:8), ou enterradas em lacunas e sintomas traumáticos. Estas
conjunturas de abertura mostram com toda clareza e intensidade que os processos de
esquecimento e recordação não correspondem simplesmente, diretamente ou
linearmente ao passo do tempo cronológico7.

As aberturas políticas, por outro lado, não implicam necessariamente e centralmente


uma contraposição binária, entre uma história oficial ou uma memória dominante
expressada pelo Estado, e uma outra narrativa da sociedade. São momentos, pelo
contrário, nos quais se enfrentam múltiplos atores sociais e políticos que vão
estruturando relatos do passado e, no processo de fazê-lo, expressam também seus
projetos e suas expectativas políticas para o futuro. Nestas conjunturas, o Estado
tampouco se apresenta de maneira unitária. A transição implica uma mudança no
Estado, uma nova intenção de fundação, com novas leituras do passado. Dentro do
mesmo Estado, há leituras múltiplas em luta, que se articulam com a multiplicidade de
sentidos do passado presentes no cenário social.
7
Nota de rodapé 4 - La persistencia y apropiación de los iconos de la música de protesta y de las
consignas prohibidas por parte de jóvenes que no pudieron tener experiencias directas en espacios
públicos durante las dictaduras son ejemplo de esto. En la apertura española de la segunda mitad de los
años setenta, adolescentes cantaban las canciones republicanas de la Guerra Civil y voceaban las
consignas de la época. En la transición argentina, los jóvenes coreaban las canciones de la conocida
cantante Mercedes Sosa (cuyas canciones estaban prohibidas en los medios de difusión pública durante
la dictadura militar), como si hubieran tenido un contacto directo con ella desde siempre. Pollak (1989)
presenta varios casos europeos de memorias silenciadas.
A CONFLITUOSA HISTÓRIA DAS MEMÓRIAS

As controvérsias sobre os sentidos do passado se iniciam mesmo como um


acontecimento conflituoso. No momento de um golpe militar ou na invasão de um país
estrangeiro, os vencedores interpretam suas ações e o acontecimento produzido como
parte de sua inserção num processo histórico de duração mais longa. Já as
proclamações iniciais e a maneira como o acontecimento é apresentado à população
expressam um sentido do acontecimento, uma visão geralmente salvadora de si
mesma. Como assinala Rousso, “se queremos compreender a configuração de um
discurso sobre o passado, temos que levar em conta o feito de que esse discurso se
construiu desde o começo do acontecimento, que se enraíza lá” (Rousso, en Feld,
2000:32). Este discurso será revisado e ressignificado em períodos seguintes,
dependendo da configuração das forças políticas nos espaço de disputa gerados em
distintas conjunturas econômicas e políticas.

Rousso estuda a memória de Vichy na França. Já nos primeiros discursos de De


Gaulle, em 1940, a postura expressada é que a França (a “verdadeira”) não foi vencida,
e que o regime de Vichy é um “parênteses”. A partir de 1944, constrói-se uma memória
mitificada da guerra: os franceses são apresentados como heróis da resistência, visão
acompanhada pelos julgamentos aos colaboradores e pela “depuração” depois da
guerra. A primeira onda de julgamentos no pós-guerra se centrou no crime da
colaboração, definido como “traição à pátria”. Somente no começo dos anos setenta,
produziu-se a primeira condenação de um francês por crimes “contra a humanidade”. A
definição da norma transgredida e o marco interpretativo mudam: passa-se a
reconhecer crimes cometidos por franceses sob o marco de organizações fascistas
francesas, crimes não ligados à noção de “traição à pátria”.

No lugar de colocar à frente a traição à França e a relação com Alemanha, ou seja,


uma visão nacional do crime [...] trata-se de saber até que ponto eles eram “fascistas” e
“antisemitas”, partindo da ideia, em grande parte correta, de que o fascismo e o
antissemitismo pertenciam à tradição francesa, independemente da ocupação alemã.
No extremo, nestas representações recentes, o alemão, o ocupante nazista,
particularmente nos julgamentos, passará a segundo plano (Rousso, en Feld, 200: 34)​.

Outro ponto que marca Rousso é que se, no começo, a acusação provinha do Estado,
que necessitou demarcar uma ruptura com o regime anterior de Vichy; décadas depois,
os que promoveram as ações judiciais e os reconhecimentos simbólicos oficiais foram
atores sociais - ex-deportados e ex-resistentes, que se fizeram como “militantes da
memória”, “em nome de um ‘dever de memória’ cujo objetivo era a perpetuação da
recordação contra toda forma de esquecimento, que, nesta perspectiva, se considera
um novo crime” (Rousso, en Feld, 2000: 36). Estas formulações públicas da memória
devem ser entendidas, sem dúvida, no contexto do cenário político francês, do
surgimento e popularidade de discursos e práticas da direita e suas expressões
antisemitas, e do contexto europeu mais amplo, temas que obviamente escapam a este
trabalho.

Os momento de mudança de regime político e os períodos de transição criam um


cenário de enfrentamento entre atores com experiências e expectativas políticas
diferentes, geralmente contrapostas. E cada uma dessas posturas envolve uma visão
do passado e um programa (implícito em muitos casos) de tratamento desse passado
em uma nova etapa, definida como ruptura e mudança em relação a anterior. No caso
da transição na Espanha, a memória dolorosa de distintos atores políticos, mais do que
acirrar as diferenças e os confrontos, deram lugar à possibilidade de convergência e
negociação. Aguilar Fernandez sustenta que “a existência de uma memória traumática
da Guerra Civil espanhola desempenhou um papel crucial no dissenso institucional da
transição ao promover uma negociação e inspirar a atitude conciliadora e tolerante dos
principais atores” (Aguilar Fernandez, 1996: 56). A memória da guerra - hipótese
central do seu trabalho - desempenhou um papel pacificador na transição.

Que memória? Como se construiu? “Em primeiro lugar, a existência de uma memória
coletiva traumática da Guerra Civil empurrada a maior parte dos atores sociais que, a
qualquer preço, tentam evitar sua repetição[...]” (Aguilar Fernandez, 1996: 57-58). Na
transição, os espanhóis viram a brutalidade da Guerra Civil ocorrida quase quarenta
anos antes como “loucura coletiva”, e a principal lição que tiraram desta visão foi o
“nunca mais”. “Jamais deve se repetir na história da Espanha um drama semelhante, e
todas as forças políticas, sociais e econômicas devem contribuir para isto” (Aguilar
Fernandez, 1996: 359). Houve uma ativação muito forte da memória da Guerra Civil no
momento da morte de Franco e sua transição. A associação entre o momento que se
estava vivendo e o período prévio ao da guerra (a Segunda República) foi importante
parâmetro para não repetir os erros cometidos8. Ao mesmo tempo, tentou-se esquecer
os rancores do passado, num esquecimento intencional, que permitiria “conter o
aprendizado da história sem remexê-la”. Era um esquecimento político, ou melhor, um

8
Nota de rodapé 5 - «La sociedad española intentó [...] que no se reprodujeran los errores que habían
acabado con la Segunda República, para lo que se evitó, de forma casi supersticiosa [...] repetir su
diseño institucional. Esta es una de las razones que mejor explican la preferencia de la forma
monárquica de gobierno sobre la republicana, del sistema electoral proporcional sobre el mayoritario [...]»
(Aguilar Fernández, 1996: 360)
silêncio estratégico, que poderia ocorrer porque, no plano cultural da Guerra Civil,
tornaram-se foco de atenção de cineastas e músicos, de escritores e acadêmicos9.

As transições no Cone Sul foram distintas e singulares, e as memórias dos conflitos


sociais anteriores à instauração das ditaduras, assim como a crueldade e o
imediatismo das violações de direitos humanos durante as mesmas, criaram cenários
para a manifestação de confrontos, no marco de uma difícil possibilidade de gerar
consenso entre os diversos atores políticos. As vozes censuradas e proibidas
começaram a fazer-se ouvir, porém as vozes autoritárias não necessariamente
desapareceram do debate público. Não se tratava - como pode ter sido representado
na França em 1945 - de um exército de ocupação que se retira, de uma comunidade
política que se liberta de amarras10 estranhas. Eram atores e forças políticas internas
(como também eram em grande medida na França, porém levou décadas para
reconhecê-las e, em consequência, atuar), que tinham que conviver com o marco de
novas regras de funcionamento democrático. A questão de como acertar as contas
com o passado recente se converteu no eixo de diversas disputas políticas
estratégicas. Nas questões sobre a memória e as transições no Cone Sul, a
diversidade de atores incluía uma presença forte e visível do movimento de direitos
humanos como ator político e como gestor de memória, a participação protagonizada
por atores autoritários - os militares e a direita (especialmente forte no Chile) - e a
participação frequentemente ambígua dos partidos políticos tradicionais (notório no
Uruguai)11

OS AGENTES DA MEMÓRIA E SEUS EMPREENDIMENTOS


Em um livro já clássico da sociologia norteamericana, Howard Becker propõe uma
perspectiva que revolucionou a maneira de se pensar o tema do desvio social, e que, a
meu entender, oferece alguns pontos para pensar analogicamente os campos de

9
Nota de rodapé 6 - Esta interpretación de la transición española y el lugar del olvido político en ella
puede ser leída en la clave que Nicole Loraux propone para la Antigua Grecia: la amnistía (y la amnesia)
en el campo de la política, como medio para construir el nuevo pacto o acuerdo, y la reaparición del
pasado conflictivo en forma simbólica en el plano cultural, en la clásica tragedia, con una especificidad de
género interesante para profundizar. Los hombres de la política olvidan y construyen instituciones; las
mujeres de la tragedia expresan el dolor y lloran a sus muertos (Loraux, 1989).

10
Dúvida sobre o termo yugos

11
Nota de rodapé 7 - El papel del movimiento de derechos humanos en la transición argentina, tanto en
relación con la memoria, como con las demandas de justicia, es analizado en Jelin (1995). Acuña y
Smulovitz analizan las relaciones cívico-militares en las transiciones de Argentina, Brasil y Chile (Acuña y
Smulovitz, 1996).
disputa sobre memórias e os atores que intervêm nelas [Becker, 1971 (1963)]. Becker
sustenta que no processo de gerar e “enquadrar” certas condutas como desviadas,
“alguém deve chamar a atenção do público sobre estes assuntos, prover o impulso
necessário para que as coisas se façam, e dirigir essas energias, à medida que vão
surgindo, condições adequadas para se criar uma regra” (Becker, 1971: 151). Ele
chama este grupo de “moral entrepreneurs”, empresários ou empreendedores morais,
agentes sociais que - muito frequentemente com os sentimentos humanitários -
mobilizam suas energias em função de uma causa.

Tomo emprestada essa noção de “moral entrepreneurs” para aplicá-la ao campo das
lutas pelas memórias, onde os que se expressam e tentam definir o campo podem ser
visto, frequentemente, como “empreendedores da memória”12.

A pergunta de como e por que certo tema se converte em um determinado momento ou


lugar numa questão pública atrai a atenção dos analistas, desde aqueles que
trabalham com políticas públicas até aqueles que tentam explicar o êxito de um filme
ou o fracasso de alguma iniciativa que, acredita-se, “deveria” provocar debates e
atenção. É evidente que a criação de uma questão pública é um processo que se
desenvolve ao longo do tempo, e que requer energia e perseverança. Devemos ter
aquém que promova, que empurre e dirija suas energias ao fim desejado. Estes são os
“moral entrepreneurs”, como nos fala Becker, estendendo sua acepção à esfera pública
em diversos temas.

No campo que nos cabe, o das memórias de um passado político recente em um


cenário conflituoso, há uma luta entre “empreendedores da memória”, que pretendem o
reconhecimento social e a legitimidade política de uma (sua) versão - ou narrativa - do
passado. Eles também se ocupam e se preocupam em manter visível e ativo a atenção
social e política sobre seu empreendimento.

12
Nota de rodapé 8 - Prefiero el uso de la palabra «emprendedor» a la de «empresario». Este último
término puede provocar alguna confusión, dada la asociación de la noción de «empresa» con la idea de
lucro privado. La idea de emprendedor, aquí elegida, no tiene por qué estar asociada con el lucro
económico privado, sino que podemos pensar en emprendimientos de carácter «social» o colectivo. Lo
importante en este punto, y que es algo que quiero rescatar y conservar, es que el emprendedor se
involucra personalmente en su proyecto, pero también compromete a otros, generando participación y
una tarea organizada de carácter colectivo. A diferencia de la noción de «militantes de la memoria»
(utilizada, por ejemplo, por Rousso), el emprendedor es un generador de proyectos, de nuevas ideas y
expresiones, de creatividad —más que de repeticiones—. La noción remite también a la existencia de
una organización social ligada al proyecto de memoria, que puede implicar jerarquías sociales,
mecanismos de control y de división del trabajo bajo el mando de estos emprendedores.
Quem são? O que buscam? O que os move? Em distintas conjunturas e momentos, os
atores em cena são diversos, assim como seus interesses e suas estratégias. Poderia
se dizer que, com relação às ditaduras do Cone Sul, o movimento de direitos humanos
tem sido e segue sendo sistemático na Argentina, e com uma menor força há se
manifestado no Chile e no Uruguai. A mobilização nacional em torno dos direitos
humanos tem sido significativamente menor no Brasil, especialmente a partir da
mobilização pela anistia em 1979. Trata-se de um ator heterogêneo, onde convivem -
não sem tensões e conflitos - experiências diversas e horizontes de expectativas
múltiplas. Há também interesses empresariais que se movem por uma mescla de
critérios onde o lucrativo e a moral podem se combinar de diversas maneiras13. As
forças da direita política (a Fundação Pinochet no Chile é um caso emblemático) e
grupos políticos diversos podem também desempenhar um papel. O debate acadêmico
e o mundo artístico oferecem também canais de expressão a partir de marcos
interpretativos e oportunidades performáticas de novidades.

Não há dúvida do protagonismo privilegiado de um grupo especial: o das vítimas ou os


afetados diretos. Na França poderão ser ex-deportados ou ex-resistentes, poderão ser
grupos de veteranos de guerras (do Vietnã ou das Malvinas) ou sobreviventes de
massacres. Suas frentes de demandas e de lutas variam. Podem tentar influenciar ou
mudar o sentindo e o conteúdo da “história oficial” ou dominante sobre um período com
o fim de eliminar distorções históricas ou tornar público e legítimo os relatos que
estavam nas “catacumbas”, ocultos, censurados e silenciados. Podem buscar
reivindicações e reparações materiais centradas no seu lugar de vítima de danos
produzidos pelo Estado, que deve reconhecê-los e assumir sua responsabilidade.
Podem buscar comunidades de pertencimento e contenção pessoal em grupos de seus
pares. Podem elaborar rituais, participar em comemorações, estabelecer marcos
simbólicos de reconhecimento em memoriais, monumentos ou museus.

Na realidade, no plano de ações dos “empreendedores da memória” está implícito o


uso políticos e público que se tem da memória. E aqui cabe distinguir, segundo
Todorov, os “bons” e “maus” usos da memória. Um grupo humano pode recordar um
ocorrido de maneira literal ou de maneira exemplar. No primeiro caso, se preserva um
caso único, intransferível, que não conduz a mais nada além de si mesmo. Ou, sem

13
Nota de rodapé 9 - Claudia Feld analiza la televisión argentina y la «espectacularización» de las
memorias de la dictadura. Cuando en 1998 la televisión abierta proyectó un programa especial sobre la
Escuela de Mecánica de la Armada (principal centro de detención clandestina durante la dictadura
militar) conducido por la conocida periodista y ex miembro de la CONADEP, Magdalena Ruiz Guiñazú,
los diarios informaron del evento con el título: «La memoria [el juicio a los ex comandantes] tiene rating»
(Feld, 2002).
negar a singularidade, pode-se traduzir a experiência em demandas mais
generalizadas. A partir da analogia e da generalização, a recordação se converte em
um exemplo que permite aprendizados e o passado se converte em um princípio de
ação no presente.

O uso literal, que torna o acontecimento do passado indispensável, supõe submeter o


passado ao presente. O uso exemplar, ao contrário, permite usar o passado em vistas
do presente, usar as lições das injustiças vividas para combater as injustiças presentes.
[...] O uso comum tende a designar dois termos distintos que são, para a memória
literal, a palavra memória, e para a memória exemplar, justiça. A justiça nasce da
generalização de uma ofensa particular e, por meio dela, se encarna na lei impessoal,
aplicada por um juiz anônimo e posta em ato por pessoas que ignoram a figura do
acusado, assim como a acusação14 (Todorov. 1998: 31-32).

Sobre a base das análises da rememoração das situações de guerra no século XX


(principalmente na Europa), Winter y Sivan (1999) apontam que a rememoração é uma
negociação multifacetada em que o Estado está sempre presente, porém não
necessariamente é o único ator, nem é onipresente. Grupos sociais diversos podem
estar participando, com estratégias convergentes ou contrárias às políticas de Estado.
São vozes diversas, alguma mais altas que outras - por estar mais longe do microfone,
por autocensura, ou por falta de legitimidade moral frente aos outros. Mostram também
que os propósitos manifestos de um grupo que rememora não necessariamente
coincidem com as consequências de suas ações. Pode haver atores com propósitos
pessoais (recordar a morte de um filho, por exemplo) que terminam tendo
consequências inesperadas sobre o processo de recordar político e social. Também,
adiciono eu, pode haver momento que o que se produz no mundo público é uma
“saturação de memória” com um efeito de congelamento ou rejeição, contrária ao
esperado15.

ALGUMAS MARCAS DA MEMÓRIA: COMEMORAÇÕES E LUGARES


O papel dos “empreendedores da memória” é central na dinâmica dos conflitos em
torno da memória pública. Um primeiro caminho para explorar os conflitos da memória
consiste em analisar a dinâmica social nas datas, nos aniversários e nas

14
Dúvida neste trecho: del ofensor así como la ofensa

15
Nota de rodapé 10 En la introducción a su libro, Ernst van Alphen relata, en tono autobiográfico, la
«saturación» de memoria del nazismo que rodeó su infancia y adolescencia en Holanda, en los años
sesenta y setenta, y la reacción de alejamiento y aun rechazo que esto provocó en él y en su generación
(Van Alphen, 1997)
comemorações. Algumas datas têm significados muito amplos e generalizados na
sociedade, como o 11 de setembro no Chile e o 24 de março na Argentina. Outras
podem ser significativas num nível regional ou local. Finalmente, outras podem ter
sentido no plano mais pessoal ou privado: o dia de um desaparecimento, a data de
aniversário de que alguém que já não está.

Na medida em que há diferentes interpretações sociais do passado, as datas de


comemoração pública estão sujeitas a conflitos e debates. Que data se comemora? Ou
melhor: quem quer comemorar o quê? Poucas vezes há consenso social sobre isto. O
11 de Setembro no Chile é claramente uma data conflituosa. O mesmo acontecimento -
o golpe militar - é lembrado e comemorado de diferentes maneiras pela esquerda e
direita, pelo grupo militar e pelo movimento de direitos humanos. Além disso, o sentido
das datas muda ao longo do tempo, à medida em que as diferentes visões cristalizam e
se institucionalizam, e à medida em que novas gerações e novo atores lhes conferem
novos sentidos (Jelin, ed. 2002)

As datas e os aniversários são conjunturas de ativação da memória. A esfera pública é


ocupada pela comemoração, com manifestações explícitas e com confrontos. Em
termos pessoais e subjetivos, são momentos em que o trabalho da memória é árduo
para todos, para os grupos distintos, para velhos e jovens, com experiências vividas
muito diversas. Os fatos se reordenam e desordenam esquemas existentes, aparecem
as vozes de novas e velhas gerações que perguntam, relatam, criam espaços
intersubjetivos, compartilham chaves do vivido, do escutado ou do omitido. São ritos ou
marcas ocasionados quando as chaves do que está ocorrendo na subjetividade e no
plano simbólico se tornam mais visíveis, quando as memórias de diferentes atores
sociais se atualizam e se voltam para o “presente”.

Até nesses momento, porém, nem todos compartilham as mesmas memórias. Além
das diferenças ideológicas entre os oponentes no momento do conflito político e entre
seus sucessores, os diferente recortes - entre os que viveram a repressão ou a guerra
em diferentes etapas de suas vidas pessoais, entre eles e os muitos jovens que não
têm memórias pessoais da repressão - produzem uma dinâmica particular na
circulação social das memórias. Por exemplo, ao longo dos anos, o 24 de março tem
sido comemorado de distintas maneiras na Argentina (Lorenz, 2002). Durante a
ditadura, nessa data aparecia no espaço público apenas uma “Mensagem ao povo
argentino” em que as forças armadas davam sua versão do que haviam feito,
enfatizando o papel de salvador da nação ameaçada pelo inimigo, a “subversão”. Dada
a repressão, não havia atividade ou relatos alternativos, exceto fora do país, entre
exilados e em movimento solidário. A partir da derrota na guerra das Malvinas (1982),
as comemorações oficiais perderam sua vigência, e inclusive o último ano antes da
transição (1983) não houve “Mensagem”.

As organizações dos direitos humanos elaboraram uma versão antagônica do ocorrido


de 24 de março de 1976, e foram eles que ocuparam a cena pública da comemoração
a partir da transição. O Estado estava ausente das mesmas durante muitos anos, até
meados dos anos 9016. As marchas e atividades comemorativas haviam sido mudadas,
tanto na configuração e na ordem dos que marcham, como nas presenças e nas
ausências. Os primeiros anos da década de 90 foram de escassa atividade. A partir de
1995, foi reativado para os preparativos do 20° aniversário, seguindo nos anos
posteriores. Novos atores juvenis, novas forma de expressão e de participação (a
agrupação filhos, as murgas17) marcam as transformações da data.

Este breve e resumido relato serve para mostrar que na Argentina a comemoração do
24 de março, na esfera pública, não é um espaço de confronto manifesto nem conflito
aberto entre versões radicalmente diferente do passado. Uns falam e outros calam num
período e, ao mudar o contexto político, mudam os atores que seguem sem se
enfrentarem abertamente18. Os trilhos do conflito político sobre como encarar os ajustes
com o passado são outros: as demandas da corporação militar frente ao Estado e,
fundamentalmente, os casos que se dizem na justiça.

O contraste entre a comemoração na Argentina com a realidade de cada 11 de


setembro no Chile é notório. No Chile, a confrontação entre atores com visões e
projetos contrapostos se dá nas ruas, às vezes inclusive com considerável violência
(Candína, 2002; Jelin, 2001; para Uruguay, Marchesi, 2002).

16
Nota 11 - El 23 de marzo de 1984, un día antes del aniversario del golpe, el presidente Alfonsín dirigió
un mensaje a la nación con motivo de los 100 días de su gobierno. El discurso, publicado el 24 de marzo
de 1984 en todos los diarios, no hace ninguna alusión al aniversario del golpe (Lorenz, 2002).

17
O que é murgas?

18
Nota 12 - ​Esto no significa la ausencia de conflictividad en el espacio público en las conmemoraciones del 24.
Pero se trata de confrontaciones entre actores diversos ​dentro ​del campo del movimiento de derechos humanos.
Desde hace más de una década, existen al menos dos convocatorias diferentes a dos eventos conmemorativos
distintos: la Asociación Madres de Plaza de Mayo no comparte la marcha con el resto de las organizaciones de
derechos humanos y la multitud de organizaciones sociales (alrededor de 200) que se han agrupado para organizar
la marcha central en Buenos Aires. Aun dentro de la misma marcha, existen disputas sobre la ubicación de los
diversos grupos y las diversas consignas. Esto muestra con claridad que la fecha y la conmemoración tienen
sentidos diferentes incluso para la gente que está «en el mismo bando» —para los distintos grupos y las distintas
identidades que se juegan en ese espacio.
Além de demarcar as datas, estão também a demarcar o espaço e os lugares. Quais
são os objetos materiais ou os lugares ligados com os acontecimentos passados que
são eleitos por diversos atores para inscrever territorialmente as memórias?
Monumento, placas de recordação e outras marcas são as maneiras em que os atores
oficiais e não-oficiais tratam de dar materialidade às memórias. Há também forças
sociais que tratam de apagar e de transformar, como se ao mudar a forma e a função
de um lugar, apaga-se a memória.

As lutas pelos monumentos e pelas lembranças se desdobram abertamente no cenário


político mundial. Toda decisão de construir um monumento, de habilitar lugares onde
se cometeram crimes graves contra a dignidade humana (campos de concentração e
detenção, especialmente) como espaços de memória, ou a construção de museus e
espaços de lembranças é fruto da iniciativa e da luta de grupos sociais que atuam
como “empreendedores da memória”. Há então lutas e conflitos pelo reconhecimento
público e oficial dessas lembranças materializadas, entre aqueles que promovem e
outros que a rechaçam ou nem dão a prioridade aos promotores que reivindicam. E
está em luta também o confronto pelo relato do que se vai transmitir, pelo conteúdo da
narrativa atrelada ao lugar19.

Tomemos dois exemplos do destino de lugares e espaços onde ocorreram a repressão,


os campos e os cárceres das ditaduras. Há casos em que o espaço físico tem sido
“recuperado para a memória”, como o Parque da Paz em Santiago, Chile, no prédio
que havia sido o campo da Villa Grimaldi durante a ditadura. A iniciativa foi de vizinhos
e ativistas dos direitos humanos que conseguiram deter a destruição da edificação e o
projeto de mudar seu sentido (ia ser um condomínio, pequeno bairro privado). Há
casos contrários, os projetos apagam as marcas e destroem os edifícios e não
permitem a materialização da memória, como a penitenciária Punta Carretas, em
Montevideo, convertida em um moderno centro de compras. Outras tentativas de
transformar lugares de repressão em lugares de memória enfretam oposição e

19
Nota 13 - El análisis de este tipo de conflictos ha sido objeto de trabajos ya clásicos en la crítica
cultural. Young (1993 y 2000) es quien ha analizado en profundidad los conflictos alrededor de los
diversos monumentos y obras de arte que conmemoran el exterminio nazi. Yoneyama (1999) los analiza
en el caso del Memorial de Hiroshima. Para el museo del Holocausto en Washington, ver Linenthal,
1995. El Memorial de Vietnam en Washington es analizado por Sturken (1997). Algunos estudios de
casos del Cono Sur, entre ellos el monumento Tortura Nunca Mais en Recife, Brasil, el edificio de la UNE
(Unión Nacional de Estudiantes) en Río de Janeiro, el Palacio de la Moneda y varios monumentos en
Santiago, el Parque de la Memoria y la Plaza de Mayo en Buenos Aires, serán publicados en Langland y
Jelin (eds.), en preparación.
destruição, como as placas de recordações que tentaram colocar no lugar onde
funcionou o campo de detenção O Atlético, no centro de Buenos Aires20.

Estes lugares são os espaço físicos onde ocorreram a repressão ditatorial.


Testemunhos inegáveis. Pode-se tentar apagá-los, destruir o edifício, porém ficam as
marcas nas memórias pessoais, como seus múltiplos sentidos. O que ocorre quando
se estraga a iniciativa de um monumento localizar fisicamente o ato de recordação?
Quando a memória não pode materializar-se em um lugar específico? Pareceria que a
força ou as medidas administrativas não podem apagar as memórias personalizadas e
os projetos públicos de empreendedores ativos. Os sujeitos têm que buscar então
canais alternativos de expressão. Quando se encontra bloqueada por outras forças
sociais, a subjetividade, o desejo e a vontade das mulheres e dos homens que estão
lutando por materializar sua memória se põem claramente manifesta de maneira
pública e renovam suas forças ou suas potências. Não há pausa, não há descanso,
porque a memória não tem sido “depositada” em nenhum lugar, tem que ficar nas
cabeças e nos corações da gente21. A questão de transformar os sentidos pessoais,
únicos e intransferíveis, em siginifcados coletivos e públicos fica aberta e ativa. A
pergunta que cabe aqui é se é possível “destruir” o que a gente tentar recordar ou
perpetuar. Será que o esquecimento que se quer impõe com a oposição/repressão
policial tem o efeito paradoxal de multiplicar as memórias, e de atualizar as pergunta e
o debate do vivido no passado recente? Enfrentamos aqui novamente o tema da
temporalidade e das etapas pelas quais transitam as memórias: é possível que este
efeito paradoxal ocorra em um “tempo pessoal” ou biográfico específico em que as
energias e o desassossego existam em um grupo humano específico que viveu um
período e uma experiência dada e que não seja transferida ou transmitidas a outros
que não viveram.

A controvérsia e o conflito de interpretações não desaparecem necessariamente uma


vez construído o memorial, o museu ou o monumento, com a versão do sentido do
passado que aqueles que cumpriram suas tarefa impuseram ou negociaram. A
passagem do tempo histórico, político e cultural necessariamente implica novos

20
Nota 14 - En ese caso, hubo varios eventos públicos de conmemoración, en los cuales se instalaron
algunas marcas —murales, placas con nombres de represores, esculturas conmemorativas, etc.— En
sucesivas oportunidades, estas marcas fueron destruidas durante la noche siguiente a su instalación.
Finalmente, se lograron instalar algunas señales que han perdurado y no han sido vandalizadas (Jelin y
Kaufman, 2000).

21
Nota 15 Esta falta de materialización se hace mucho más crucial cuando se trata de memorias de
desaparecidos, ya que la ausencia de cuerpos y la incertidumbre de la muerte tornan imposible el duelo:
processos de significação do passado, com novas interpretações. E então surgem
revisões, mudanças nas narrativas e novos conflitos.

Um caso extremo deste conflito e desta mudança é o ocorrido na Alemanha, a partir da


reunificação, especialmente no ex-RDA. Segundo Koonz (1994), os relatos que se
ouviam nas visitas aos campos de concentração na Alemanha oriental quando estava
sob o comando22 soviético enfatizavam três pontos básicos: primeiro, a
responsabilidade dos crimes de guerra do fascismo e o capitalismo monopolista;
segundo, que a classe operária alemã, liderada pelo partido comunista e ajudada pelas
tropas soviéticas, resistiram com bravura o domínio nazista; terceiro, que esta herança
heróica é a base para as lutas futuras contra o capitalismo internacional. Não havia
referências aos judeus, aos ciganos ou às vítimas não-marxistas nos campos. No lado
ocidental, a narrativa era muito diferente.

A reunificação sob o domínio da Alemanha Ocidental provocou, por parte de grupos de


cidadãos da ex-RDA, reações de rechaço a refazer suas histórias segundo o modelo
ocidental. Romperam-se os consenso “oficiais” de um lado e do outro, e o resultado
foram conflitos localizados (por exemplo, tentativas de comemorar as vítimas dos
campos soviéticos instalados na pós-guerra nos mesmos campos nazistas, por um
lado; tentativas de reivindicar ou reparar as vítimas judias por outro). Também houve
expressões de protesto das comunidades próximas que não queria ver seus lugares
danificados por imagens de horror em iniciativas potencialmente lucrativas pela atração
turística. Como conclui Koonz: “Os campos de concentração seguem assustando
(hauting) a paisagem alemã, porém as categorias de vítimas tenham se expandido para
além dos antifascistas recordados no Leste e as vítimas do holocausto que sofreram no
Oeste”. E termina como uma exortação mais geral:

As paisagens da brutalidade nazista retêm seu poder de horrorizar. As atrocidades


nazistas devem permanecer no centro da memória pública compartilhada, mesmo
quando confrontamos a complexa herança que configura nosso mundo pós-guerra.
Para alcançá-lo, os memoriais no campos devem comemorar tanto a contribuição
soviética na liberação dos aliados, como reconhecer que alguns alemães morreram
injustamente nos “campos especiais”. O legado deixado pelos campos, sem dúvida,
deve servir como alerta contra todas as formas de terror político e de ódio racial
(Koonz, 1994: 275).

USOS E ABUSOS DA MEMÓRIA, A PROPRIEDADE E OS SENTIDO DE “NÓS”

22
La orbita
Voltemos a Todorov por um momento, quando ele estabelece a distinção entre
recuperar um passado ou os seus passos frente às intenções de apagá-los, e o uso
que se faz do passado recuperado, ou seja, a função que o passado tem e deve ter no
presente. Na esfera da vida pública, nem todas as recordações do passado são
igualmente admiráveis. Pode haver gestos de revanche e de vingança, ou experiências
de aprendizados. E a pergunta seguinte é, sem dúvida, se há maneiras de distinguir de
antemão os “bons” e os “maus” usos do passado (Todorov, 1998: 30).

Como já foi dito, Todorov propõe a distinção entre memória ‘literal’ e memória
“exemplar” como ponto de partida para avançar no tema. E a frase final do texto de
Koonz é um bom caso desta distinção. Quando ela pede que o legado dos campos
sirva “como alerta contra todas as formas de terror político e de ódio racial” está
estimulando um uso universal da memória dos múltiplos horrores do campo - e o dos
horrores nazistas contra os judeus, ciganos ou comunistas, ou os horrores soviéticos
contra alemães - que levaria a uma política de glorificação de uns e a infâmia de
outros, ao mesmo tempo que traria a identificação de “vítimas privilegiadas”.

Se trata de um apelo à memória “exemplar”. Esta postura implica uma dupla lição. Por
um lado, superar a dor causada pela recordação e conseguir marginalizá-la para que
não invada a vida, por outro - e aqui saímos do âmbito pessoal e privado para passar a
esfera pública - aprender com ele, extrair do passado as lições que puderam
converter-se em princípio de ações para o presente.

A memória literal, por outro lado, fica fechada em si mesma. Todo o trabalho de
memória se situa na continuidade direta. As buscas e o trabalho de memória serviram
para identificar todas as personagens que tiveram que conviver com o sofrimento
inicial, para relevar em detalhe o acontecido, para entender causas e consequências do
acontecido, para se aprofundar nele. Porém não para guiar comportamentos futuros em
outros campos da vida, porque as recordações literais são incomensuráveis, e está
vedada a transmissão para outras experiências. O uso literal, dirá Todorov, “faz do
acontecimento passado algo insuperável, e afinal de contas submete o presente ao
passado” (Todorov, 1998: 31).

Os usos que se fazem da memória corresponde a estas modalidades. No caso literal, a


memória é um fim em si mesmo, em oposição ao que pede Koonz. A ação se explica e
se justifica como “dever de memória”, e há uma imposição moral de perpetuação da
recordação contra toda forma de esquecimento. Rousso se queixa destes “militantes da
memória“, cuja ação terá efeitos diferentes segundo o contexto mais amplo que os
recebam mais abertamente ou se negam a escutá-los23. A noção de “empreendedor da
memória”, que apresentamos mais acima, implica numa elaboração da memória em
função de um projeto ou empreendimento, que pode significar a possibilidade da
passagem para uma memória “exemplar”.

O problema público e social que acompanha estas duas posturas refere-se, de maneira
direta, à formação da comunidade política e às regras que a regem. E aqui podemos
introduzir o guarani. O guarani possui dois vocábulos para expressar a ideia de “nós”.
Um - ​oré - marca a fronteira entre aqueles que fala e sua comunidade e o “outro”, o que
escuta e observa, que fica claramente excluído. O outro - ​ñande - é um nós inclusivo,
que convida o interlocutor a ser parte da mesma comunidade. Vou sugerir que as duas
formas de memória, e seus usos, correspondem a estas duas noções de “nós” ou de
comunidade - uma inclusiva, a outra excludente24.

Tanto nas comemorações como no estabelecimento dos lugares da memória há uma


luta política cujos adversários principais são as forças sociais que demandam marcas
de memória e aqueles que pedem o apagamento da marca, sobre a base de uma
versão do passado que minimiza ou elimina o sentido que os outros querem
rememorar. Também há confrontos acerca das formas ou meios “apropriados” de
rememorar, assim como na determinação de quais atores têm legitimidade para atuar,
quer dizer, quem tem o poder (simbólico) de definir qual deverá ser o conteúdo da
memória. Esses conflitos podem resumir no tempo da propriedade ou da apropriação
da memória.

Em um nível, há um confronto acerca das formas apropriadas e inapropriadas de


expressar a memória. Existem normas para julgar as rememorações e os memoriais?
Porém, e isto é o mais importante, quem é a autoridade que vai decidir quais são as
formas “apropriadas” de recordar? Quem encarna a ​verdadeira memória? É condição
necessária haver sido vítima direta da repressão? Podem aqueles que não viveram em
carne própria uma experiência pessoal de repressão participar do processo histórico de
construção de uma memória coletiva? A própria definição do que é “viver em carne

23
Nota 16 - Rousso señala que el problema no es la militancia en sí, sino el peligro de que para el
militante, el fin justifica los medios, y los militantes «aceptan a veces mentir sobre la historia, muchas
veces intencionadamente, para salvaguardar una idea pura y simple del pasado, con «buenos» y
«malos» bien identificados, fuera de toda la complejidad de los comportamientos humanos» (Rousso, en
Feld, 2000: 37)

24
Nota 17 He aprendido esta distinción de Line Bareiro, colega paraguaya con quien compartimos
inquietudes y preocupaciones en estos temas. Los vocablos en guaraní no están acentuados, ya que en
esa lengua toda palabra que termina en vocal es aguda. La pronunciación es «oré» y «ñandé».
própria” ou ser “vítima direta” é também parte do processo história de construção social
do sentido.

Ninguém duvida da dor da vítima, nem de seu direito de recuperar as verdades do


ocorrido. Tampouco está em discussão o papel protagonista (em termos históricos) que
em diferente casos tiveram as ‘vítimas diretas’ e seus familiares como vozes iniciais
nos empreendimentos das memórias. O tema, ao contrário, é outro, e é duplo. Por um
lado, quem é o “nós” com legitimidade de recordar? É um outro excludente, em que só
pode participar aqueles que “viveram” o acontecimento? Ou há lugar para ampliar esse
nós, numa operação pela qual começam a funcionar mecanismos de incorporação
legítima - sobre a base do diálogo horizontal mais do que da identificação vertical, tema
sobre o qual voltaremos a falar do testemunho - de (nos)otros? Trata-se de un ​oré ou
de um ​ñande​? Por outro lado, o tema está apresentado por Todorov, quer dizer, em
que medida a memória serve para ampliar o horizonte de experiência e expectativas,
ou se restringe ao acontecimento? Aqui o tema da memória passa a jogar com outro
estágio: o da justiça e instituições. Porque quando se pretende a generalização ou a
universalização, a memória e a justiça confluem em oposição ao esquecimento
intencional (Yerushalmi, 1989a y 1989b).

Um hipótese preliminar, que deverá ser objeto de investigação futura, relaciona os


cenários da luta pela memória com a ação estatal. Quando o Estado não desenvolve
canais institucionais oficiais e legítimos que reconhecem abertamente os
acontecimento de violência de Estado e repressão passadas, a luta sobre a verdade e
sobre as memórias apropriadas se desenvolve na arena social. Neste cenário, há
vozes cuja legitimidade é poucas vezes questionadas: o discurso das vítimas direta e
seus parentes mais próximos. Na ausência de parâmetros de legitimação sócio-política
baseada em critérios éticos gerais (a legitimidade do Estado de direito) e da tradução
ou transferência da memória à justiça institucional, há disputas permanentes entre
quem pode promover ou reivindicar algo ou quem pode falar e em nome de quem.

A questão da autoridade da memória e da VERDADE pode chegar a ter uma dimensão


ainda mais inquietante. Existe o perigo (especial em relação ao biologismo racista) de
apoiar a legitimidade de quem expressa a VERDADE em uma visão essencialista da
biologia do corpo. O sofrimento pessoal (especialmente quando se viveu ‘em carne’
própria ou a partir de vínculos de parentesco sanguíneo) pode chegar a converter-se
para muitos no determinante básico da legitimidade e da verdade. Paradoxalmente, se
a legitimidade social para expressar a memória coletiva é socialmente atribuída a
aqueles que tiveram uma experiência pessoal de sofrimento corporal, esta autoridade
simbólica pode facilmente deslizar-se (consciente ou inconscientemente) a uma
reivindicação monopolizadora do sentido e do conteúdo da memória e da verdade25. O
nós reconhecido é, então, excludente e intransferível. Além disso, naquelas situações
em que prevalece o silêncio e a ausência dos espaços sociais de circulação da
memória (mecanismos necessários para a elaboração das experiências traumáticas),
as vítimas podem ver-se isoladas e fechadas num repetição ritualizada de sua dor, sem
elaboração social. No extremo, este poder pode chegar a obstruir os mecanismo de
ampliação do compromisso social com a memória, não deixando lugar para a
reinterpretação e a ressignificação - em seus próprios termos - do sentido das
experiências transmitidas.

Há aqui um perigo histórico: o esquecimento e o vazio institucional por um lado, que


converte as memórias em memórias literais de propriedade intransferível e
incompatível. Obstrui assim as possibilidades de incorporar novos sujeitos. E a fixação
dos “militantes da memória” no acontecimento específico do passado, que obstrui a
possibilidade da criação de novos sentidos. Escolher falar de “empreendedor” da
memória agrega aqui um elemento de otimismo. Porque os empreendedores sabem
muito bem que seu êxito depende da “reprodução ampliar” e da abertura de novos
projetos e novos espaços. E lá reside a possibilidade de um ​ñande e da ação da
memória exemplar.

25
Nota 18 Los símbolos del sufrimiento personal tienden a estar corporeizados en las mujeres —las
Madres y las Abuelas en el caso de Argentina— mientras que los mecanismos institucionales parecen
pertenecer más a menudo al mundo de los hombres. El significado de esta dimensión de género del
tema y las dificultades de quebrar los estereotipos de género en relación con los recursos del poder
requieren, sin duda, mucha más atención analítica. La investigación futura también deberá estudiar el
impacto que la imagen prevaleciente —en el movimiento de derechos humanos y en la sociedad en su
conjunto— de demandas de verdad basadas en el sufrimiento y de las imágenes de la familia y los
vínculos de parentesco (Filc, 1997) tienen en el proceso de construcción de una cultura de la ciudadanía
y la igualdad, temas a los que también alude Cátela (2001).
Referências

Acuña, Carlos, y Smulovitz, Catalina (1996), «Ajustando las fuerzas armadas a la


democracia: éxitos, fracasos y ambigüedades de las experiencias en el Cono Sur», en
Jelin, Elizabeth, y Hershberg, Eric (eds.), Construir la democracia: derechos humanos,
ciudadanía y sociedad en América Latina, Caracas: Nueva Sociedad.

Aguilar Fernández, Paloma (1996), Memoria y olvido de la Guerra Civil Española,


Madrid: Alianza.

Becker, Howard S. (1971), Los extraños. Sociología de la desviación, Buenos Aires:


Tiempo Contemporáneo.

Candína Palomer, Azun (2002), «El día interminable. Memoria e instalación del 11 de
septiembre de 1973 en Chile», en Jelin, Elizabeth (ed.), Las conmemoraciones: Las
disputas en las fechas "in-jelices", Madrid y Buenos Aires: Siglo XXI.

Carvalho, Alessandra, y Cátela, Ludmila da Silva (2002), «31 de marzo de 1964 en


Brasil: memorias deshilachadas», en Jelin, Elizabeth (ed.), Las conmemoraciones: Las
disputas en las fechas "in-felkes", Madrid y Buenos Aires: Siglo XXI.

Cátela, Ludmila da Silva (2002), «Territorios de memoria política: Los archivos de la


represión en Brasil», en Cátela, Ludmila da Silva y Jelin, Elizabeth (eds.), Los archivos
de la represión: Documentos, memoria y verdad, Madrid y Buenos Aires: Siglo XXI.

Feld, Claudia (2000), «Entrevista con Henry Rousso. El duelo es imposible y


necesario», en Puentes, año 1, núm. 2, diciembre.

Filc, Judith (1997), Entre el parentesco y la política. Familia y dictadura, 1976-1983,


Buenos Aires: Biblos.

Jelin, Elizabeth. (ed.) (2002), Las conmemoraciones: Las disputas en las fechas
"in-felices", Madrid y Buenos Aires: Siglo XXI.

____________. (2001), «Fechas de la memoria social. Las conmemoraciones en


perspectiva comparada», Voces recobradas. Revista de Historia Oral, año 3, núm. 10,
Buenos Aires: Instituto Histórico de la Ciudad de Buenos Aires.
Jelin, Elizabeth, y Kaufman, Susana (2000), «Layers of Memories: Twenty Years after
in Argentina», en Ashplant, T.; Dawson, Graham, y Roper, Michael (eds.), The Polines
of War Memory and Commemoration, Londres: Routledg

Koonz, Claudia (1994), «Between Memory and Oblivion: Concentration Camps in


Germán Memory», en Gillis,John (ed.), Commemorations.The Politics ofNational
Identity, Princeton: Princeton University Press.

Loraux, Nicole (1989), «De la amnistía y su contrario», en AAW, Usos del olvido,
Buenos Aires: Nueva Visión.

Lorenz, Federico G. (2002), «¿De quién es el 24 de marzo? Las luchas por la memoria
del golpe del 76», en Jelin, Elizabeth (ed.), Las conmemoraciones: Las disputas en las
fechas "in-fellees", Madrid y Buenos Aires: Siglo XXI

Marchesi, Aldo (2002), «¿"Guerra" o "Terrorismo de Estado"? Recuerdos enfrentados


sobre el pasado reciente uruguayo», en Jelin, Elizabeth (ed.), Las conmemoraciones:
Las disputas en las fechas "in-f élites", Madrid y Buenos Aires: Siglo XXI.

Olick, Jeffrey K. (ed.) (1998b), «Special Issue: Memory and the Nation», Social Science
History, vol. 22, núm. 4.

Pollak, Michael (1989), «Memoria, esquecimento, silencio», Estudos históricos, vol. 2,


núm. 3.

Ricoeur, Paul (1999), La lectura del tiempo pasado: memoria y olvido, Madrid:
Arrecife-Universidad Autónoma de Madrid.

Scott, James C. (1992), Hidden Transcripts. Domination and the Arts ofResístante, New
Haven: Yale University Press.

Sturken, Marita (1997), Tangled Memories. The Vietnam War, the AIDS Epidemic, and
the Politics ofRemembering, Berkeley y Londres: University of California Press.

Todorov, Tzvetan (1998), Les abus de la mémoire, París: Arl.

Van Alphen, Ernst (1997), Caught by History. Holocaust Effects in Contemporary Art,
Literature and Theory, California: Stanford University Press
Winter, Jay, y Sivan, Emmanuel (1999), «Introduction», en Winter, Jay, y Sivan,
Emmanuel (eds.), War and Remémbrame in the Twentieth Century, Cambridge:
Cambridge University Press.

Yoneyama, Lisa (1999), Hiroshima Traces. Time, Space, and the Dialectics ofMemory,
Berkeley: California University Press.

Young, James E. (1993), The Texture ofMemory. Holocaust Memorials and Meaning,
New Haven-Londres: Yale University Press.

— (2000), At Memory's Edge. After-images ofthe Holocaust in Contemporary Art and


Architecture, New Haven-Londres: Yale University Press

Yerushalmi, Yosef H. (1989a), «Reflexiones sobre el olvido», en AAW, USOS del


olvido, Buenos Aires: Nueva Visión.

— (1989b), Zakhor. Jewish History andjewish Memory, Washington: University of


Washington Press.

Potrebbero piacerti anche