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Elizabeth Jelin
A investigação do tema, então, não consiste em “lidar com os fatos sociais como
coisas, mas de analisar como os fatos sociais se tornam coisas, como e por que são
solidificados e dotados de duração e estabilidade” (Pollak, 1989:4). Trata-se de estudar
os processos e os atores que intervêm no trabalho de construção e formalização das
memórias. Quem são esses atores? Com que se enfrentam ou dialogam nesses
processos? Atores sociais diversos, com diferentes vinculações com a experiência
passada - quem a viveu e quem a herdou, quem a estudou e quem a expressou de
diversas maneiras - brigam por afirmar a legitimidade de “sua” verdade. Tratam-se de
atores que lutam pelo poder, que legitimam sua posição em circuitos privilegiados com
o passado, afirmando sua continuidade e sua ruptura. Nestas tentativas, sem dúvida,
os agentes têm um papel e um peso central para estabelecer e elaborar a “história/
memória oficial”. Torna-se necessário centrar o olhar sobre conflitos e disputas na
interpretação e no sentido do passado, e no processo pelo qual alguns relatos
conseguem deslocar outros e se tornam hegemônicos.
1
Nota 1 do texto «Aunque, en efecto, los hechos son imborrables y no puede deshacerse lo que se ha
hecho, ni hacer que lo que ha sucedido no suceda, el sentido de lo que pasó, por el contrario, no está
fijado de una vez por todas. Además de que los acontecimientos del pasado pueden interpretarse de otra
manera, la carga moral vinculada a la relación de deuda respecto al pasado puede incrementarse o
rebajarse, según tengan primacía la acusación, que encierra al culpable en el sentimiento doloroso de lo
irreversible, o el perdón, que abre la perspectiva de la exención de la deuda, que equivale a una
conversión del propio sentido del pasado. Podemos considerar este fenómeno de la reinterpretación
tanto en el plano moral como en el del simple relato, como un caso de acción retroactiva de la
intencionalidad del futuro sobre la aprehensión del pasado» (Ricoeur, 1999: 49)
da nação. Uma versão da história que, junto com os símbolos pátrios, monumentos e
panteões de heróis nacionais, poderia servir como nó central de identificação e de
suporte para a identidade nacional.
Para que servem estas memórias oficiais? São intenções mais ou menos conscientes
de definir e reforçar sentimentos de pertencimento, que apontam para manter a coesão
social e a defender fronteiras simbólicas (Pollack, 1989: 9). Ao mesmo tempo,
proporcionam os pontos de referência para “enquadrar” as memórias de grupos y
setores dentro de cada contexto nacional.
Como toda narrativa, estes relatos nacionais são seletivos. Construir um conjunto de
heróis implica ofuscar a ação dos outros. Ressaltar certos traços como sinais de
heroísmo implica silenciar outros traços, especialmente os erros e maus passos dos
que são definidos como heróis e devem aparecer “imaculados” nessa história. Uma vez
estabelecidas estas narrativas canônicas oficiais, ligadas historicamente ao processo
de centralização política da etapa de formação de Estados nacionais, elas se
expressam e se cristalizam nos textos de história que se transmitem na educação
formal. Ao mesmo tempo, constituem-se nas metas para tentativas de reformas,
revisionismos e relatos alternativos. Porque a narrativa nacional tende a ser a dos
vencedores, e haverá outros que, seja na forma de relatos privados de transmissão oral
ou como práticas de resistência frente ao poder, oferecerão narrativas e sentidos
diferentes do passado, amenizando o consenso nacional que se pretende impor2.
Neste ponto, o trabalho dos historiadores profissionais ocupa um lugar central. Porque
no mundo moderno, as narrativas oficiais são escritas por historiadores profissionais. O
vínculo com o poder é, porém, central na intencionalidade da construção da narrativa
da nação. As interpretações contrapostas e as revisões das narrativas históricas se
produzem ao longo do tempo como produto das lutas políticas das mudanças de
sensibilidade da época e do próprio avanço da investigação histórica.
2
Nota 2 - Sobre la relación entre memoria y nación, y el análisis de varios casos específicos, ver el
número especial de Social Science History compilado porj. Olick (Olick, 1998b)
Com relação à história dos acontecimentos contemporâneos ou de tempos passados3,
especialmente quando foram marcados4 por forte conflito social e político, a instalação
de uma história oficial se torna difícil e problemática. Durante os períodos ditatoriais
deste século - o stalinismo, o nazismo, o franquismo, as ditaduras militares no Brasil,
Chile, Argentina ou Uruguai, o stronismo no Paraguai - o espaço público é
monopolizado por um relato político dominante, onde “bons” e “maus” estão claramente
identificados. A censura é explicita, as memórias alternativas são subterrâneas, e se
agregam aos estragos do terror, do medo e das lacunas traumáticas que geram
paralisia e silêncio. Nestas circunstâncias, os relatos oficiais oferecidos pelos
porta-vozes do regime têm poucos desafios na esfera pública.
No geral, os relatos das ditaduras dão aos militares um papel “salvador” frente à
ameaça (no ConiSul, nos anos 70, se tratava da ameaça do “comunismo”) e ao caos
criado pelos que tentam subverter a nação. Neste contexto, os relatos posteriores
põem a ênfase sobre as conquistas pacificadoras (especialmente notórios na
Argentina) ou sobre o progresso econômico. Por exemplo, as comemorações do
décimo aniversário do golpe de Estado no Brasil, em 1974, foram uma ocasião para pôr
na esfera pública e no sistema escolar uma versão onde o êxito econômico do regime -
o “milagre econômico” brasileiro - foi o relato exclusivo. Não houve menção sobre o
sistema político ou sobre as liberdades públicas (Carvalho y Catela, 2002). O papel
político e ético dos historiadores e intelectuais críticos é, nesse período, de uma
importância especial5.
3
Dúvida neste trecho “o cercamos en el tiempo”
4
Dúvida neste trecho “estuvieron signados”
5
Nota de rodapé 3 - «[...] ya no se trata de una cuestión de decadencia de la memoria colectiva [...], sino
de la violación brutal de lo que la memoria puede todavía conservar, de la mentira deliberada por
deformación de fuentes y archivos, de la invención de pasados recompuestos y míticos al servicio de los
poderes de las tinieblas. Contra los militantes del olvido, los traficantes de documentos, los asesinos de
la memoria, contra los revisores de enciclopedias y los conspiradores del silencio, contra aquellos que,
para retomar la magnífica imagen de Kundera, pueden borrar a un hombre de una fotografía para que
nada quede de él con excepción del sombrero, el historiador [...] animado por la austera pasión por los
hechos [...] puede velar y montar guardia» (Yerushalmi, 1989a: 25).
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Dúvida neste trecho “los deshielos”
O estágio político é de mudança institucional no Estado e na relação Estado-sociedade.
A luta se dá, então, entre atores que reclamam o reconhecimento e a legitimidade de
sua palavra e de suas demandas. As memórias dos que foram oprimidos e
marginalizado - no extremo, os que foram diretamente afetados em sua integridade
física por mortes, desaparecimentos forçados, torturas, exílios e confinamentos -
surgem como uma dupla pretensão, a de dar a versão “verdadeira” da história a partir
de sua memória e a de reclamar justiça. Nesses momentos, memória, verdade e justiça
parecem confundir-se e fundir-se, porque o sentido do passado sobre o que se está
lutando é, na realidade, parte da demanda de justiça no presente.
São momentos nos quais emergem publicamente relatos e narrativas que estiveram
ocultos e silenciados por muito tempo. Provoca grande surpresa pública a
sobrevivência, às vezes durante décadas, de memórias silenciadas no mundo público,
porém conservada e transmitida no âmbito privado (familiar ou de sociabilidade
clandestina), guardadas na intimidade pessoal, “esquecidas” em um esquecimento
“evasivo” - porque podem ser memórias proibidas, indizíveis ou vergonhosas, como
assinala Pollak (1989:8), ou enterradas em lacunas e sintomas traumáticos. Estas
conjunturas de abertura mostram com toda clareza e intensidade que os processos de
esquecimento e recordação não correspondem simplesmente, diretamente ou
linearmente ao passo do tempo cronológico7.
Outro ponto que marca Rousso é que se, no começo, a acusação provinha do Estado,
que necessitou demarcar uma ruptura com o regime anterior de Vichy; décadas depois,
os que promoveram as ações judiciais e os reconhecimentos simbólicos oficiais foram
atores sociais - ex-deportados e ex-resistentes, que se fizeram como “militantes da
memória”, “em nome de um ‘dever de memória’ cujo objetivo era a perpetuação da
recordação contra toda forma de esquecimento, que, nesta perspectiva, se considera
um novo crime” (Rousso, en Feld, 2000: 36). Estas formulações públicas da memória
devem ser entendidas, sem dúvida, no contexto do cenário político francês, do
surgimento e popularidade de discursos e práticas da direita e suas expressões
antisemitas, e do contexto europeu mais amplo, temas que obviamente escapam a este
trabalho.
Que memória? Como se construiu? “Em primeiro lugar, a existência de uma memória
coletiva traumática da Guerra Civil empurrada a maior parte dos atores sociais que, a
qualquer preço, tentam evitar sua repetição[...]” (Aguilar Fernandez, 1996: 57-58). Na
transição, os espanhóis viram a brutalidade da Guerra Civil ocorrida quase quarenta
anos antes como “loucura coletiva”, e a principal lição que tiraram desta visão foi o
“nunca mais”. “Jamais deve se repetir na história da Espanha um drama semelhante, e
todas as forças políticas, sociais e econômicas devem contribuir para isto” (Aguilar
Fernandez, 1996: 359). Houve uma ativação muito forte da memória da Guerra Civil no
momento da morte de Franco e sua transição. A associação entre o momento que se
estava vivendo e o período prévio ao da guerra (a Segunda República) foi importante
parâmetro para não repetir os erros cometidos8. Ao mesmo tempo, tentou-se esquecer
os rancores do passado, num esquecimento intencional, que permitiria “conter o
aprendizado da história sem remexê-la”. Era um esquecimento político, ou melhor, um
8
Nota de rodapé 5 - «La sociedad española intentó [...] que no se reprodujeran los errores que habían
acabado con la Segunda República, para lo que se evitó, de forma casi supersticiosa [...] repetir su
diseño institucional. Esta es una de las razones que mejor explican la preferencia de la forma
monárquica de gobierno sobre la republicana, del sistema electoral proporcional sobre el mayoritario [...]»
(Aguilar Fernández, 1996: 360)
silêncio estratégico, que poderia ocorrer porque, no plano cultural da Guerra Civil,
tornaram-se foco de atenção de cineastas e músicos, de escritores e acadêmicos9.
9
Nota de rodapé 6 - Esta interpretación de la transición española y el lugar del olvido político en ella
puede ser leída en la clave que Nicole Loraux propone para la Antigua Grecia: la amnistía (y la amnesia)
en el campo de la política, como medio para construir el nuevo pacto o acuerdo, y la reaparición del
pasado conflictivo en forma simbólica en el plano cultural, en la clásica tragedia, con una especificidad de
género interesante para profundizar. Los hombres de la política olvidan y construyen instituciones; las
mujeres de la tragedia expresan el dolor y lloran a sus muertos (Loraux, 1989).
10
Dúvida sobre o termo yugos
11
Nota de rodapé 7 - El papel del movimiento de derechos humanos en la transición argentina, tanto en
relación con la memoria, como con las demandas de justicia, es analizado en Jelin (1995). Acuña y
Smulovitz analizan las relaciones cívico-militares en las transiciones de Argentina, Brasil y Chile (Acuña y
Smulovitz, 1996).
disputa sobre memórias e os atores que intervêm nelas [Becker, 1971 (1963)]. Becker
sustenta que no processo de gerar e “enquadrar” certas condutas como desviadas,
“alguém deve chamar a atenção do público sobre estes assuntos, prover o impulso
necessário para que as coisas se façam, e dirigir essas energias, à medida que vão
surgindo, condições adequadas para se criar uma regra” (Becker, 1971: 151). Ele
chama este grupo de “moral entrepreneurs”, empresários ou empreendedores morais,
agentes sociais que - muito frequentemente com os sentimentos humanitários -
mobilizam suas energias em função de uma causa.
Tomo emprestada essa noção de “moral entrepreneurs” para aplicá-la ao campo das
lutas pelas memórias, onde os que se expressam e tentam definir o campo podem ser
visto, frequentemente, como “empreendedores da memória”12.
12
Nota de rodapé 8 - Prefiero el uso de la palabra «emprendedor» a la de «empresario». Este último
término puede provocar alguna confusión, dada la asociación de la noción de «empresa» con la idea de
lucro privado. La idea de emprendedor, aquí elegida, no tiene por qué estar asociada con el lucro
económico privado, sino que podemos pensar en emprendimientos de carácter «social» o colectivo. Lo
importante en este punto, y que es algo que quiero rescatar y conservar, es que el emprendedor se
involucra personalmente en su proyecto, pero también compromete a otros, generando participación y
una tarea organizada de carácter colectivo. A diferencia de la noción de «militantes de la memoria»
(utilizada, por ejemplo, por Rousso), el emprendedor es un generador de proyectos, de nuevas ideas y
expresiones, de creatividad —más que de repeticiones—. La noción remite también a la existencia de
una organización social ligada al proyecto de memoria, que puede implicar jerarquías sociales,
mecanismos de control y de división del trabajo bajo el mando de estos emprendedores.
Quem são? O que buscam? O que os move? Em distintas conjunturas e momentos, os
atores em cena são diversos, assim como seus interesses e suas estratégias. Poderia
se dizer que, com relação às ditaduras do Cone Sul, o movimento de direitos humanos
tem sido e segue sendo sistemático na Argentina, e com uma menor força há se
manifestado no Chile e no Uruguai. A mobilização nacional em torno dos direitos
humanos tem sido significativamente menor no Brasil, especialmente a partir da
mobilização pela anistia em 1979. Trata-se de um ator heterogêneo, onde convivem -
não sem tensões e conflitos - experiências diversas e horizontes de expectativas
múltiplas. Há também interesses empresariais que se movem por uma mescla de
critérios onde o lucrativo e a moral podem se combinar de diversas maneiras13. As
forças da direita política (a Fundação Pinochet no Chile é um caso emblemático) e
grupos políticos diversos podem também desempenhar um papel. O debate acadêmico
e o mundo artístico oferecem também canais de expressão a partir de marcos
interpretativos e oportunidades performáticas de novidades.
13
Nota de rodapé 9 - Claudia Feld analiza la televisión argentina y la «espectacularización» de las
memorias de la dictadura. Cuando en 1998 la televisión abierta proyectó un programa especial sobre la
Escuela de Mecánica de la Armada (principal centro de detención clandestina durante la dictadura
militar) conducido por la conocida periodista y ex miembro de la CONADEP, Magdalena Ruiz Guiñazú,
los diarios informaron del evento con el título: «La memoria [el juicio a los ex comandantes] tiene rating»
(Feld, 2002).
negar a singularidade, pode-se traduzir a experiência em demandas mais
generalizadas. A partir da analogia e da generalização, a recordação se converte em
um exemplo que permite aprendizados e o passado se converte em um princípio de
ação no presente.
14
Dúvida neste trecho: del ofensor así como la ofensa
15
Nota de rodapé 10 En la introducción a su libro, Ernst van Alphen relata, en tono autobiográfico, la
«saturación» de memoria del nazismo que rodeó su infancia y adolescencia en Holanda, en los años
sesenta y setenta, y la reacción de alejamiento y aun rechazo que esto provocó en él y en su generación
(Van Alphen, 1997)
comemorações. Algumas datas têm significados muito amplos e generalizados na
sociedade, como o 11 de setembro no Chile e o 24 de março na Argentina. Outras
podem ser significativas num nível regional ou local. Finalmente, outras podem ter
sentido no plano mais pessoal ou privado: o dia de um desaparecimento, a data de
aniversário de que alguém que já não está.
Até nesses momento, porém, nem todos compartilham as mesmas memórias. Além
das diferenças ideológicas entre os oponentes no momento do conflito político e entre
seus sucessores, os diferente recortes - entre os que viveram a repressão ou a guerra
em diferentes etapas de suas vidas pessoais, entre eles e os muitos jovens que não
têm memórias pessoais da repressão - produzem uma dinâmica particular na
circulação social das memórias. Por exemplo, ao longo dos anos, o 24 de março tem
sido comemorado de distintas maneiras na Argentina (Lorenz, 2002). Durante a
ditadura, nessa data aparecia no espaço público apenas uma “Mensagem ao povo
argentino” em que as forças armadas davam sua versão do que haviam feito,
enfatizando o papel de salvador da nação ameaçada pelo inimigo, a “subversão”. Dada
a repressão, não havia atividade ou relatos alternativos, exceto fora do país, entre
exilados e em movimento solidário. A partir da derrota na guerra das Malvinas (1982),
as comemorações oficiais perderam sua vigência, e inclusive o último ano antes da
transição (1983) não houve “Mensagem”.
Este breve e resumido relato serve para mostrar que na Argentina a comemoração do
24 de março, na esfera pública, não é um espaço de confronto manifesto nem conflito
aberto entre versões radicalmente diferente do passado. Uns falam e outros calam num
período e, ao mudar o contexto político, mudam os atores que seguem sem se
enfrentarem abertamente18. Os trilhos do conflito político sobre como encarar os ajustes
com o passado são outros: as demandas da corporação militar frente ao Estado e,
fundamentalmente, os casos que se dizem na justiça.
16
Nota 11 - El 23 de marzo de 1984, un día antes del aniversario del golpe, el presidente Alfonsín dirigió
un mensaje a la nación con motivo de los 100 días de su gobierno. El discurso, publicado el 24 de marzo
de 1984 en todos los diarios, no hace ninguna alusión al aniversario del golpe (Lorenz, 2002).
17
O que é murgas?
18
Nota 12 - Esto no significa la ausencia de conflictividad en el espacio público en las conmemoraciones del 24.
Pero se trata de confrontaciones entre actores diversos dentro del campo del movimiento de derechos humanos.
Desde hace más de una década, existen al menos dos convocatorias diferentes a dos eventos conmemorativos
distintos: la Asociación Madres de Plaza de Mayo no comparte la marcha con el resto de las organizaciones de
derechos humanos y la multitud de organizaciones sociales (alrededor de 200) que se han agrupado para organizar
la marcha central en Buenos Aires. Aun dentro de la misma marcha, existen disputas sobre la ubicación de los
diversos grupos y las diversas consignas. Esto muestra con claridad que la fecha y la conmemoración tienen
sentidos diferentes incluso para la gente que está «en el mismo bando» —para los distintos grupos y las distintas
identidades que se juegan en ese espacio.
Além de demarcar as datas, estão também a demarcar o espaço e os lugares. Quais
são os objetos materiais ou os lugares ligados com os acontecimentos passados que
são eleitos por diversos atores para inscrever territorialmente as memórias?
Monumento, placas de recordação e outras marcas são as maneiras em que os atores
oficiais e não-oficiais tratam de dar materialidade às memórias. Há também forças
sociais que tratam de apagar e de transformar, como se ao mudar a forma e a função
de um lugar, apaga-se a memória.
19
Nota 13 - El análisis de este tipo de conflictos ha sido objeto de trabajos ya clásicos en la crítica
cultural. Young (1993 y 2000) es quien ha analizado en profundidad los conflictos alrededor de los
diversos monumentos y obras de arte que conmemoran el exterminio nazi. Yoneyama (1999) los analiza
en el caso del Memorial de Hiroshima. Para el museo del Holocausto en Washington, ver Linenthal,
1995. El Memorial de Vietnam en Washington es analizado por Sturken (1997). Algunos estudios de
casos del Cono Sur, entre ellos el monumento Tortura Nunca Mais en Recife, Brasil, el edificio de la UNE
(Unión Nacional de Estudiantes) en Río de Janeiro, el Palacio de la Moneda y varios monumentos en
Santiago, el Parque de la Memoria y la Plaza de Mayo en Buenos Aires, serán publicados en Langland y
Jelin (eds.), en preparación.
destruição, como as placas de recordações que tentaram colocar no lugar onde
funcionou o campo de detenção O Atlético, no centro de Buenos Aires20.
20
Nota 14 - En ese caso, hubo varios eventos públicos de conmemoración, en los cuales se instalaron
algunas marcas —murales, placas con nombres de represores, esculturas conmemorativas, etc.— En
sucesivas oportunidades, estas marcas fueron destruidas durante la noche siguiente a su instalación.
Finalmente, se lograron instalar algunas señales que han perdurado y no han sido vandalizadas (Jelin y
Kaufman, 2000).
21
Nota 15 Esta falta de materialización se hace mucho más crucial cuando se trata de memorias de
desaparecidos, ya que la ausencia de cuerpos y la incertidumbre de la muerte tornan imposible el duelo:
processos de significação do passado, com novas interpretações. E então surgem
revisões, mudanças nas narrativas e novos conflitos.
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La orbita
Voltemos a Todorov por um momento, quando ele estabelece a distinção entre
recuperar um passado ou os seus passos frente às intenções de apagá-los, e o uso
que se faz do passado recuperado, ou seja, a função que o passado tem e deve ter no
presente. Na esfera da vida pública, nem todas as recordações do passado são
igualmente admiráveis. Pode haver gestos de revanche e de vingança, ou experiências
de aprendizados. E a pergunta seguinte é, sem dúvida, se há maneiras de distinguir de
antemão os “bons” e os “maus” usos do passado (Todorov, 1998: 30).
Como já foi dito, Todorov propõe a distinção entre memória ‘literal’ e memória
“exemplar” como ponto de partida para avançar no tema. E a frase final do texto de
Koonz é um bom caso desta distinção. Quando ela pede que o legado dos campos
sirva “como alerta contra todas as formas de terror político e de ódio racial” está
estimulando um uso universal da memória dos múltiplos horrores do campo - e o dos
horrores nazistas contra os judeus, ciganos ou comunistas, ou os horrores soviéticos
contra alemães - que levaria a uma política de glorificação de uns e a infâmia de
outros, ao mesmo tempo que traria a identificação de “vítimas privilegiadas”.
Se trata de um apelo à memória “exemplar”. Esta postura implica uma dupla lição. Por
um lado, superar a dor causada pela recordação e conseguir marginalizá-la para que
não invada a vida, por outro - e aqui saímos do âmbito pessoal e privado para passar a
esfera pública - aprender com ele, extrair do passado as lições que puderam
converter-se em princípio de ações para o presente.
A memória literal, por outro lado, fica fechada em si mesma. Todo o trabalho de
memória se situa na continuidade direta. As buscas e o trabalho de memória serviram
para identificar todas as personagens que tiveram que conviver com o sofrimento
inicial, para relevar em detalhe o acontecido, para entender causas e consequências do
acontecido, para se aprofundar nele. Porém não para guiar comportamentos futuros em
outros campos da vida, porque as recordações literais são incomensuráveis, e está
vedada a transmissão para outras experiências. O uso literal, dirá Todorov, “faz do
acontecimento passado algo insuperável, e afinal de contas submete o presente ao
passado” (Todorov, 1998: 31).
O problema público e social que acompanha estas duas posturas refere-se, de maneira
direta, à formação da comunidade política e às regras que a regem. E aqui podemos
introduzir o guarani. O guarani possui dois vocábulos para expressar a ideia de “nós”.
Um - oré - marca a fronteira entre aqueles que fala e sua comunidade e o “outro”, o que
escuta e observa, que fica claramente excluído. O outro - ñande - é um nós inclusivo,
que convida o interlocutor a ser parte da mesma comunidade. Vou sugerir que as duas
formas de memória, e seus usos, correspondem a estas duas noções de “nós” ou de
comunidade - uma inclusiva, a outra excludente24.
23
Nota 16 - Rousso señala que el problema no es la militancia en sí, sino el peligro de que para el
militante, el fin justifica los medios, y los militantes «aceptan a veces mentir sobre la historia, muchas
veces intencionadamente, para salvaguardar una idea pura y simple del pasado, con «buenos» y
«malos» bien identificados, fuera de toda la complejidad de los comportamientos humanos» (Rousso, en
Feld, 2000: 37)
24
Nota 17 He aprendido esta distinción de Line Bareiro, colega paraguaya con quien compartimos
inquietudes y preocupaciones en estos temas. Los vocablos en guaraní no están acentuados, ya que en
esa lengua toda palabra que termina en vocal es aguda. La pronunciación es «oré» y «ñandé».
própria” ou ser “vítima direta” é também parte do processo história de construção social
do sentido.
25
Nota 18 Los símbolos del sufrimiento personal tienden a estar corporeizados en las mujeres —las
Madres y las Abuelas en el caso de Argentina— mientras que los mecanismos institucionales parecen
pertenecer más a menudo al mundo de los hombres. El significado de esta dimensión de género del
tema y las dificultades de quebrar los estereotipos de género en relación con los recursos del poder
requieren, sin duda, mucha más atención analítica. La investigación futura también deberá estudiar el
impacto que la imagen prevaleciente —en el movimiento de derechos humanos y en la sociedad en su
conjunto— de demandas de verdad basadas en el sufrimiento y de las imágenes de la familia y los
vínculos de parentesco (Filc, 1997) tienen en el proceso de construcción de una cultura de la ciudadanía
y la igualdad, temas a los que también alude Cátela (2001).
Referências
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septiembre de 1973 en Chile», en Jelin, Elizabeth (ed.), Las conmemoraciones: Las
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