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Geologia

Material Teórico
Geologia atual e história do pensamento geológico

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Ms. Carlos Eduardo Martins

Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Geologia atual e história do pensamento
geológico

• O que é a Geologia?
• História do pensamento geológico

·· Esta unidade tem por objetivo discutir as várias etapas do pensamento geológico.
Também debaterá como se deu as mudanças do pensamento diluvianista-
catastrofista-estabilista para uma visão mais dinâmica, que admite a mobilidade
da superfície terrestre.

Nesta unidade, trataremos da Geologia atualmente e da história do pensamento geológico,


você terá acesso a diversos recursos.
Veja o mapa mental, que sintetiza a estrutura do assunto tratado neste módulo.
Fique atento aos prazos das atividades que serão colocadas no ar.
Recorra sempre que possível às videoaulas e à apresentação narrada para tirar eventuais
dúvidas sobre o conteúdo textual.
Participe do fórum de discussão proposto para o tema.
No seu tempo livre, procure pesquisar as fontes do material complementar.
Além disso, procure pesquisar o máximo que puder sobre o tema geologia atual e história
do pensamento geológico. Há inúmeros conteúdos na internet que são bastante úteis para o
seu estudo e para a sua formação profissional.
Bom estudo.

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

Contextualização

Antes de iniciarmos esta unidade, veja esta tira do Calvin:

http://2.bp.blogspot.com/-X_xiF9q1cyI/UR-gemnX4ZI/AAAAAAAAB-o/RfsnJ9xj3LU/s1600/calvin+geologia.jpg

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O que é a Geologia?

A Geologia é a parte do conhecimento humano que se dedica ao estudo da estrutura,


da forma e da idade da Terra. Tal objetivo, aparentemente simples, esconde toda sorte de
fenômenos e processos que se desencadeiam na natureza.
Podemos agrupar os objetos de estudo da Geologia em dois temas gerais:
Os recursos minerais. Grande parte das nossas matrizes energéticas, das matérias primas e
dos bens industriais têm origem geológica. Além da pesquisa por novos recursos, a Geologia
também deve se preocupar em criar as condições para o uso sustentável deles.
Por outro lado, o fato de a sociedade interagir com a natureza e, muitas vezes, essa inter-
relação ser marcada pelos grandes desastres naturais – como os tsunamis, terremotos e
movimentos de massa em grande escala – não só aguça os nossos sentidos e a nossa razão
para a Geologia, como também atrai novas levas de profissionais para as geociências.
Em tempos recentes, devido ao progresso nos meios de comunicação, a relação entre
a sociedade e os fenômenos geológicos tem recebido enorme destaque nos veículos de
comunicação. São tantas as manchetes de ocorrências de vulcões, maremotos, movimentos
de massa, que muitos acreditam que vivemos uma fase de grande instabilidade dos processos
naturais que regulam os fenômenos geológicos.
Essa crença, quase um tabu, deve-se ao fato de termos meios de comunicação cada vez
mais ágeis, que mantêm relações com órgãos e instituições de pesquisa, resultando em incrível
rapidez na veiculação e divulgação de um fenômeno natural de risco ou desastroso, antes ou
depois de seu acontecimento.
Assim, nas próximas páginas faremos um pequeno resgate das ideias pioneiras e que
forjaram o nosso atual conhecimento a respeito de Geologia.

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

História do pensamento geológico

As origens do nosso pensamento sobre os fenômenos geológicos remontam ao período da


história conhecido como Antiguidade Clássica, entre o século VIII a. C., com o surgimento da
poesia grega de Homero, e o colapso do Império Romano no século V d. C., com a queda de
Constantinopla.
No entanto, os gregos são vistos como os pioneiros na observação sistemática da natureza e
os primeiros a fazer ciência natural propriamente dita, capaz de superar toda a carga mitológica
e sobrenatural que alimentavam a mente humana primitiva na explicação das causalidades
primeiras dos fenômenos naturais.

A Geologia presente nas culturas primitivas


As culturas primitivas são campos férteis para buscar os primeiros testemunhos do
pensamento humano a cerca da Geologia. As sociedades primitivas atribuíam poderes aos
fenômenos geológicos – algumas ainda o fazem, caso daquelas que, apesar dos progressos da
ciência, mantiveram-se alheias ao escolherem conservar suas formas de existência independente
do pensamento científico.
Costumamos acreditar que as sociedades primitivas vivem em “harmonia” com a natureza,
ao contrário das sociedades modernas que a degradam. Claro que essa é mais uma controvérsia
atribuída à análise da evolução linear do progresso humano e às suas atividades no decorrer
desse, principalmente quanto aos resultados recentes da produção e do consumo de bens nas
sociedades capitalistas.

Para as sociedades primitivas, a relação estabelecida com os fenômenos


geológicos é mediada pela aquisição das necessidades vitais para a
sobrevivência. Assim, os rios, as montanhas, o solo e as rochas são
provedores temperamentais de recursos. E, por esse motivo, são
adorados e temidos ao mesmo tempo.

O ato de coleta de um recurso, ou mesmo o momento que o antecede, é sempre precedido


de rituais das mais variadas intensidades – alguns, inclusive, envolvendo sacrifícios de animais e
de membros da própria sociedade. O amadurecimento dessa relação fez com que, na maioria
dos casos, surgissem religiões feiticistas e animistas ligadas aos fenômenos geológicos.
A crença das comunidades andinas atribui às águas a origem do primeiro Inca, que teria
brotado da terra graças ao ciclo que vai do oceano até o Lago Titicaca, permeando o solo ao
longo desse trajeto. Essa divindade nos fazer associar a fertilidade do solo à circulação da água,
que, ao mesmo tempo, deu origem a vida humana e a sustenta com víveres, é a pachamama.
Nas sociedades polinésias, o mana é o sagrado que a tudo permeia e que não é revelado
aos seres humanos. É o eterno mistério da natureza que impregna a tudo.

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A convicção sobre os poderes atribuídos aos fenômenos geológicos é comum a praticamente
todas as sociedades primitivas, com algumas variações de umas para as outras.
O poder das águas está ligado à origem e à manutenção da vida em praticamente todas as
origens das diferentes sociedades.

A percepção das águas é tema antigo na história da humanidade e sua presença


pode ser observada em diversos mitos de criação e divindades associadas às
mais diferentes culturas como Namu/Engur (sul da Mesopotâmia), Poseidon
(Grécia), Netuno (Roma), Iemanjá (África), Sedna (esquimós), wata-tsumi
(Japão), Boannan (Irlanda), Mama cocha (Incas), Iara (índios do Brasil). Nos
diversos mitos de origem, a água normalmente está associada ao surgimento
do ser humano, o que nos revela a enorme carga simbólica que esse elemento
possui n imaginário e no inconsciente dos povos ao longo dos tempos. É das
águas que emerge a semente da vida e em que se dá a gênese da fartura. As
projeções humanas sobre as paisagens, e as águas nelas incluídas, refletem
nossa necessidade de dar significado à vida, por meio dos ciclos naturais, da
morte e do renascimento, entre outros. S. Shama afirma que “ver um rio
equivale a mergulhar numa grande corrente de mitos e lembranças, forte o
bastante para nos levar ao primeiro elemento aquático de nossa existência
intrauterina” (DOWBOR, 2005).

Os poderes plásticos atribuídos às rochas e aos minerais, que podem assumir todas as
formas, incluindo as de animais e homens, é de grande relevância para a montagem da
nossa concepção moderna dos fenômenos geológicos. Ainda que nos consideremos acima e
à frente dessas culturas, nós também atribuímos nomes de animais, de deuses e demônios e
até de artefatos humanos às formas de relevo – temos os picos dedo de Deus, do Elefante, do
Papagaio, do Pão de Açúcar, do Diabo, da Canastra, entre outros.
As coleções de minerais e rochas, ou as pedras da sorte que carregamos no bolso, são sinais
de visões primitivistas ou sobrenaturais herdadas dos nossos antepassados.
E assim são os poderes do vento, dos vegetais, dos animais, da chuva e de tantos outros
elementos que combinados ou individualmente ajudaram a formar a moral, a ética e a própria
história da nossa humanidade.

O pensamento antigo clássico sobre os fenômenos geológicos


Como já dissemos anteriormente, as origens da nossa visão científica sobre os fenômenos
geológicos encontram-se inseridas no contexto do pensamento clássico grego.
Nessa fase do pensamento humano, buscou-se a superação do tratamento sobrenatural
dos fenômenos naturais e a construção de explicações puramente materiais para a natureza.
Infelizmente, temos apenas fragmentos escritos dos trabalhos desses pensadores. Trataremos
de identificar alguns deles, os quais entendemos ser os mais importantes para nosso conteúdo.

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

Os pensadores da Antiguidade Clássica são divididos por escolas, umas mais empiristas e
outras mais idealistas. O fato é que podemos identificar nelas os rudimentos do que chamamos
hoje de ciência. Temos:

·· Escola Jônica (Ásia Menor): Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito de


Éfeso, Diógenes de Apolônia;
··Escola Pitagórica (Magna Grécia): Pitágoras de Samos, Filolau de Crotona;
··Escola Eleata (Magna Grécia): Parmênides de Eléia, Zenão de Eléia, Xenófanes de
Colofon;
··Escola Atomista (Trácia): Leucipo e Demócrito de Abdera;
··Outros filósofos: Empédocles de Agrigento, Anaxágoras de Clazomena.

O conflito entre os empiristas, que valorizam a experiência concreta, e os idealistas, que


valorizam a razão, pode estar no fato de que na antiguidade há a divisão entre o trabalho
intelectual, específico para a aristocracia e para os pensadores, e o trabalho físico, ou braçal,
realizado pelos escravos, e indigno aos primeiros. Essa dicotomia cria uma clara divisão entre
mente e corpo; princípio, aliás, muito veementemente defendido por Platão.
Um dos expoentes mais emblemáticos relacionados a essa discussão é Parmênides de Eleia
(530 a. C. - 460 a. C.). Diferente da maioria dos pensadores de sua época, Parmênides
assegurava a existência pura e simples das coisas. Afirmava que tudo é eterno, imutável e não
há transitoriedade em nada, não há movimento em nada, ou seja, uma coisa não pode “ser”
e “não ser” ao mesmo tempo.
Independentemente de toda a produção de pensamento da época convergir para a observação
e busca das causas físicas, Parmênides rejeita completamente que os sentidos possam ser
considerados como válidos para alcançar o conhecimento da verdade. Os sentidos são enganosos
e produzem um conhecimento ilusório sobre as coisas. A verdade, para ele, deve advir apenas a
partir da razão. Vejamos a quem Parmênides tentava intelectualmente atingir.
Tales de Mileto (640 - 550 a. C.) atribuía a origem das coisas à água, mas não necessariamente
pelos seus poderes sobrenaturais, e sim pelo seu poder físico-químico. Tales era um exímio
observador do papel erosivo e sedimentar das águas durante a época das chuvas. Por
esse motivo, é creditada a ele a primeira descrição do processo que combina a erosão e a
sedimentação.
Por sua vez, Anaximandro (610 - 547 a. C.) é considerado o primeiro a conceber a Terra
fixa e centrada em um sistema que tem a Lua, o Sol e os outros planetas girando ao seu redor
(Figura 1). O que quer dizer que ele é considerado o criador do sistema geocêntrico (Figura 2),
válido até o início do século XVI.

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Figura 1. Representação da Terra na antiguidade grega

Fonte: henry-davis.com

Píndaro de Tebas (518 - 446 a. C.), um persistente observador dos vulcões ao sul da Europa,
admitia a existência de um canal ardente (typhone) que, em profundidade, ligava a região de
Nápoles à Sicília, com ramificações subterrâneas, explicando assim as erupções alternadas do
Etna, na Sicília, do Vesúvio, em Nápoles, e dos vulcões das ilhas Lípari.
Platão (429-347 a. C.), que entrou em rota de colisão com os empiristas pela sua posição
contrária à prática da observação sensível, supôs um rio subterrâneo de lama fervente e lava, o
Pirofiláceum, que serpenteava pelos subterrâneos da Terra e alimentava as bocas vulcânicas.
Anaximandro, discípulo de Tales (610 - 547 a. C.), atribui uma origem sólida e concentrada
da matéria, além de acreditar também que a origem da vida era marinha.
Heráclito de Éfeso (535 - 475 a. C.) foi daqueles pensadores clássicos que são referência
em diversos aspectos da ciência. Sua posição em considerar que a natureza é o “pólemos”, ou
seja, a “guerra dos contrários”, a harmonia contrastante, pode ser considerada como a origem
da nossa capacidade de perceber as causalidades dialéticas presentes nos fenômenos.
Da mesma forma, Heráclito é um dos primeiros a incorporar a noção de ciclo nos processos
naturais, ao postular os seguintes aforismos: o fogo vive a morte da terra; o ar vive a morte
do fogo; a água vive a morte do ar e a terra vive a morte da água. Ou seja, para ele, os
quatro elementos estão permanentemente sujeitos a ciclos duplos: pela via descendente (ou
condensação), temos fogo água gelo terra; e pela via ascendente (ou rarefação),
temos: terra gelo água fogo (CASINI, 1987).

Figura 2. Ilustração original do Cosmographia de Petri Apiani (1553)

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

A ideia de que os corpos são formados por partes é um dos pilares das investigações
especulativas dos pré-socráticos. Anaxágoras de Clazômenas (500 - 428 a. C.), por exemplo,
afirmou que a natureza é formada por partículas invisíveis a olho nu. Essas partículas, que
ele denomina germens, combinam-se em quantidades e qualidades distintas para formar a
diversidade de coisas existentes.
Um dos pensadores mais relevantes entre os Pré-socráticos é Demócrito de Abdera (460 -
370 a. C.), discípulo de Leucipo (? - 420 a. C.). É considerado um dos pioneiros do pensamento
atomista da Antiguidade Clássica. Demócrito defende que todas as coisas são resultantes de
infinidades de átomos eternos e imutáveis (indivisíveis). Para ele, a formação dos corpos se
dá de acordo com cada combinação de átomos semelhantes, dentre os diversos existentes,
inclusive alguns comporiam a própria alma.
Xenofonte de Cólofon (430... a. C.), ao observar os fósseis de conchas marítimas nos
Bálcãs, desenvolveu a tese de que no passado o mar podia ter coberto a terra.
Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.), apesar de todo o seu esforço em corroborar com
a proposta empirista dos Pré-socráticos, não conseguiu perceber a antiguidade dos fósseis,
acreditando que eram marcas deixadas por “peixes terrestres”.
Plínio, o velho (23 d. C. - 79 d. C.), que teria morrido na explosão do Monte Vesúvio, foi
um persistente observador desse monte, tendo descrito e denominado o basalto.
Lucius Anneus Sêneca (4 a. C. – 65 d. C.) foi provavelmente o pensador romano que
mais tenha se dedicado a escrever sobre os fenômenos naturais na sua publicação Naturales
Quaestiones, de 65 d. C.
No século II d. C., o geógrafo grego Pausânias de Lídia (115 - 180 d. C.) relatou na
Descrição da Grécia as diversas paisagens gregas. Essa pode ser considerada uma das
primeiras publicações da Geografia Regional que se conhece. Pausânias teve o seu trabalho
facilitado graças à tradição de abrir estradas ou rotas que os romanos cultivaram ao longo da
sua hegemonia imperial na Europa, no Norte da África (Líbia) e Oriente Médio (Ásia).
O mesmo propósito da Geografia Regional foi escolhido por Estrabão (63 a. C. - 24 d. C.),
entretanto, esse expandiu a escala descritiva para o plano intercontinental. Na Geographia,
uma obra escrita em dezessete volumes, Estrabão relata as características paisagísticas das
áreas dos três continentes conhecidos até então como ideia de mundo eurocêntrico.

O pensamento da Idade Média Europeia e a Geologia


Diferentemente da efervescência de pensamento que caracterizou a Antiguidade Clássica,
na Idade Média europeia a ciência entrou em uma fase de obscurantismo, ficando restrita a
imagens de natureza completamente vinculadas à ideia da Criação.
O crescimento do cristianismo provocou o declínio da sacralidade politeísta e pluralista
grega e romana, colocando, aos poucos, em seu lugar, o monoteísmo atrelado a uma visão
monista de natureza, que já havia sido proposto desde os pré-socráticos, mas que somente se
tornaria hegemônico a partir do colapso do império romano e da ascensão do cristianismo
sediado em Roma.

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A combinação dos seguintes elementos caracteriza a justaposição monoteísmo-monismo
emergente nesse contexto:
··Onipresença, onipotência e onisciência de um só deus arquiteto;
··A unidade da realidade como um todo, contrariamente ao dualismo ou ao pluralismo
anterior;
··A aceitação de uma única coisa, a substância, da qual tudo provêm.
Tal conjunto de princípios novos corroborou com a visão platônica e inventou uma ideia
de mundo físico teleologicamente ordenado, como o aristotélico, criado por intermédio dessa
inteligência superior, a fim de preencher o espaço entorno do homem e, assim, fora do
domínio das suas faculdades.

A Geologia do Renascimento
Essa nova circunstância deu lugar a um conjunto de princípios que passou a orientar toda
a noção a respeito das causas dos fenômenos geológicos em torno da trindade Diluvianismo/
Catastrofismo/Estabilismo, da qual passaremos a tratar.
Georgius Agricola, ou Georg Pawer (1494 - 1555), pode ser considerado o pioneiro
da Geologia. Suas obras em vida, De ortu et causis Subterraneorum libri V (Gênese dos
Materiais no Interior da Terra, cinco volumes) e De Natura Fossilium (Os Fósseis Naturais),
e sua a obra póstuma, De Re Metallica (Da Natureza dos Metais), foram a confirmação da
forte influência que recebeu do ambiente onde viveu, apesar da sua formação em medicina.
René Descartes (1596 - 1650), no Philosophiae Principia (Princípio de Filosofia) de
1644, elabora um esquema de mundo no qual a Terra é um modelo evolutivo baseado em
círculos concêntricos mutantes (Figura 3).

Figura 3. Os estágios de evolução da Terra segundo Descartes (1644)


No esquema da Terra de Descartes, podemos identificar os
seguintes elementos:
M – camada compacta e opaca;
I - fogo central;
1º quadrante: A – atmosfera;
2º quadrante: B – atmosfera e C – camada sólida, dura e
opaca;
3º quadrante: B – atmosfera, D – camada líquida e C –
camada sólida, dura e opaca;
4º quadrante: B – atmosfera, E – camada dura constituída
por várias capas de matéria, semelhantes a películas, D –
camada líquida, C – camada sólida, dura e opaca.
Fonte: Adaptado de Descartes, 1997, p.189

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

Segundo Descartes, o mundo é formado por três tipos de partículas em movimento no


espaço sem vácuo, ou seja, no éter. As partículas mais densas e mais quentes por atrito
poderiam ocupar o núcleo de vórtices ou redemoinhos celestiais e formar as estrelas; porém,
a superfície de alguns vórtices, por serem irregulares, poderia, a partir de certa altura, esfriar,
gerando uma crosta sólida, mas mantendo o calor aprisionado dentro da esfera.
De acordo com Descartes, a Terra teria sido no passado uma estrela. As evidências dessa
dinâmica estão na existência do fogo central da Terra, expelido pelos vulcões. A legenda da
Figura 3 representa o ordenamento desse processo evolutivo. Os quatro estágios descritos são
correspondentes a uma volta no relógio, sendo que no primeiro quadrante a massa da Terra é
composta apenas do elemento ar.
Nicolau Steno ou Niels Steensen (1631-1687) pode ser considerado um dos primeiros,
ao lado de Robert Hooke e John Ray, a admitir e a explicar corretamente a origem dos
fósseis. Asseverou que esses foram soterrados por processos de sedimentação e cimentação,
impregnando, a partir daí, alguns estratos de rochas.
Sua afirmação foi baseada em um estudo de anatomia que realizou em uma cabeça de
tubarão enviada a ele por pescadores dos arredores de Livorno, Itália. Ao dissecar o material,
Steno percebeu que havia certa semelhança entre os dentes do tubarão e as glossopetrae ou
“pedras língua” (Figura 4), muito colecionadas na época.

Figura 4. Ilustração da cabeça de tubarão por Steno (1667)

As glossopetrae eram há muito


tempo conhecidas na Europa. Plínio,
o Velho, sugeriu que haviam caído do
céu ou da Lua. Athanasius Kircher,
contemporâneo de Steno, atribuiu aos
fósseis uma “virtude lapidificante”.
Steno, por seu turno, argumentou que
as glossopetrae pareciam com dentes
de tubarões, e teorizava que, apesar de
quimicamente alterados, eram dentes de
tubarões mortos e soterrados na lama
que, posteriormente, virava terra seca.

Steno defendia que a Terra estivera completamente coberta por um oceano primordial
e que, nas águas desse oceano global, teriam estado em suspensão e/ou solução todos os
componentes que integram as rochas da crosta terrestre, indícios do pensamento da escola
netunista.
Sua interpretação dos processos de erosão e de sedimentação (Figura 5) ainda são
referenciais importantes dos estudos estratigráficos.

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Figura 5. Formação das rochas e das paisagens como sugerido por Steno (1669), de acordo com os princípios de
superposição, horizontalidade original e continuidade lateral.

Fonte: Adaptado de Decifrando a Terra/Teixeira, Toledo, Fairchild e Taioli

Também são creditados a ele os princípios ou leis de sobreposição, da horizontalidade


original e da continuidade lateral dos remanescentes de sedimentos. Ferramentas teóricas para
explicar os processos de deposição subaquática e de cimentação subaérea sazonais.

Princípio da Superposição
Para Steno, independentemente da situação, em qualquer sucessão de estratos sedimentares,
desde que não tenham sofrido alguma deformação posterior, os planos mais antigos subjazem
os mais recentes.

Princípio da Horizontalidade Original


Graças à ação gravitacional geral, os sedimentos são precipitados sempre na vertical e
invariavelmente depositados em planos horizontais. Deformações posteriores podem alterar
essa horizontalidade original.

Princípio da Continuidade Lateral


Os estratos têm a mesma idade em toda a sua extensão, continuidade e variação de
espessura.
A sequência temporal imaginada por Steno conjetura que a Terra pode ter sido completamente
coberta por um oceano primordial. Nas águas desse, todos os componentes que integram as
rochas da crosta terrestre estavam em suspensão ou mesmo em solução.
Na visão de Steno, os granitos, gnaisses, basaltos e xistos, dentre outras rochas, eram
considerados como precipitados químicos, constituindo também a unidade primitiva.
A unidade de transição iniciada com a descida do nível das águas desse oceano teria sido
formada simultaneamente por precipitados químicos, como os calcários, e por deposição de
materiais detríticos contendo fósseis, na maioria dos casos, marinhos.

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

A diminuição do nível do oceano teria conduzido à deposição da espessa sequência de rochas


sedimentares que representam as unidades que vão desde o Permiano até a era Cenozoica,
incluindo alguns basaltos.
Por fim, sucederam-se os depósitos aluvionares e, finalmente, as lavas e os tufos.
Giovanni Arduino (1714 - 1795) publicou duas obras dedicadas aos estudos de Geologia:
Due Lettere sopra varie osservazioni naturali (Dois Textos sobre várias Observações Naturais)
e Saggio Fisico-Mineralogico di Lythogonia e Orognosia (Ensaio Físico-Mineralógico de
Litologonia e Orognosia). Nelas, elaborou uma classificação litoestratigráfica em quatro estágios
de tempo geológico: primitivo (primário), secundário, terciário e vulcânico (quaternário).
Para Arduino, os processos que envolviam a origem das montanhas e dos sedimentos das
áreas por ele estudadas tinham relação com fenômenos catastróficos vulcânicos ou diluvianos,
alternados por processos de erosão e de sedimentação.
Podemos observar até aqui que entre os autores mencionados há um conjunto de aspectos
causais, todos eles vinculados a fenômenos catastróficos que têm os poderes da água e do fogo
como elementos formadores dos relevos terrestres e, por outro lado, os fatores modeladores
da superfície atuando no contrabalanceamento daqueles.
De meados do século XVIII em diante, tem início um debate em torno desses princípios que
combinam o netunismo ao catastrofismo, e que até o fim do século XIX avançou e retrocedeu
em diversos aspectos. Vejamos algumas ideias a cerca desse debate.
O médico e naturalista Etiene Guettard (1715-1786), aproveitando o conhecimento
doméstico que tinha de plantas, relacionou a distribuição da vegetação aos vários tipos de solo.
Ao pesquisar sobre a diversidade dos minerais e das rochas, prognosticava o tipo de vegetal
ajustado a cada local.
Guettard, além de ter sido autor dos primeiros mapas geológicos, localizando os afloramentos
rochosos, pesquisou as diversas formas de erosão e sedimentação que se processavam no
território francês e descobriu extintos derrames de lava vulcânica na região centro-meridional
do país.
Para Guettard, a causa dos derrames e das erupções se devia à existência de petróleo,
carvão ou betume que, de algum modo, tinham se incinerado no subsolo.
Entretanto, quem mais se projetou nas críticas ao netunismo foi James Hutton (1726 -
1797). Em sua obra Theory of the Earth (Teoria da Terra), de 1785, ele demonstrou a origem
magmática profunda e quente não apenas do basalto, mas também do granito. Tal concepção
também contrariava os princípios aristotélicos ainda vigentes e defendidos pela Igreja, segundo
os quais o fogo era o quarto e o mais periférico dos elementos, que tinha a sequência: terra,
água, ar e fogo.
Esse princípio formulado por Hutton instituiu a concepção da escola plutonista de Geologia,
segundo a qual, mais do que a água, o fogo passava assim a figurar como elemento chave dos
processos envolvidos na gênese dos basaltos, dos granitos e de outras litologias, a partir de
então identificadas pelo termo igneous.
Hutton destacou também o fato de alguns granitos intrudirem outras rochas, sendo, nesses
casos, mais jovens que elas. Com isso, estabelecia a diferenciação genética ente as rochas
sedimentares e as ígneas, destronando, enfim, a visão netunista.

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As frases: “não encontramos qualquer vestígio de um princípio, nem qualquer
prenúncio de um fim”, “processos que estão em ação são os mesmos que surgiram no
passado” e “o presente é a chave do passado” (HUTTON, 1785) são indicativas de sua
crença em um modelo cíclico – que ficou conhecido como uniformitarista-atualista – para
os processos geológicos. Nessa forma de ver os processos, os levantamentos de terrenos
por ação do calor interno da Terra (periodicamente liberado nas erupções vulcânicas) era
contrastado pela erosão.
Os materiais resultantes da erosão são transportados e acumulados em depressões do
relevo, em sucessivas camadas de sedimentos (conglomerados, arenitos, grauvaca, argilitos,
calcários, etc.). A partir daí, são posteriormente soerguidos e dobrados por novas ondas do
calor interno da Terra, que trazem de volta à superfície as rochas sedimentadas anteriormente,
consolidadas do fundo marinho, algumas delas recheadas de fósseis.
Hutton reconheceu que, com o soerguimento e o dobramento de rochas sedimentares e
ígneas ao mesmo tempo, pode ocorrer a inversão do princípio da superposição de Steno, já
que as camadas mais novas são sobrepostas pelas mais velhas.
Paralelamente, as fissuras decorrentes da deformação podem conduzir derrames que se
sobrepõem às rochas recém-expostas. Um período de calmaria permite a degradação por
erosão e a consequente modelagem das rochas soerguidas, até que essas, de tão desgastadas,
passem a ser recobertas por sedimentos oriundos de regiões soerguidas posteriormente. É o
que mostra a Figura 6.

Figura 6. Inconformidade utilizada por Hutton, em Jedburgh, Escócia. Ilustração de John Clerk of Eldin (1787).

Fonte: Hutton (1785)

De forma claramente indutiva, a partir da observação empírica, Hutton estabeleceu a


diferenciação entre as rochas ígneas intrusivas (esfriadas e cristalizadas a grandes profundidades)
– como o granito e as extrusivas –, do fruto de derrames (esfriadas e cristalizadas sob ou sobre
a superfície) – como o basalto. Ambas identificadas pelos netunistas como rochas sedimentares
subaquáticas.

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

Após essas considerações a respeito das teses de Hutton, que reforçam os princípios
plutonistas, e que dão início aos princípios uniformitaristas, qualquer um de nós imaginaria
que a derrota do netunismo-diluvianismo era uma questão de tempo, pois as evidências
de falhas no discurso dessa escola geológica em relação aos fenômenos geológicos eram
flagrantes. Entretanto, os netunistas-diluvianistas contavam com um reforço ideológico de
grande relevância: os princípios aristotélicos, mais rígidos, adotados pelo cristianismo.
Abraham Gottlob Werner (1750 - 1817), contemporâneo de Hutton, foi professor de minas
e mineralogia em Friburg-Alemanha, onde inaugurou a Geologia de Campo, levando seus
alunos às minas e montanhas, o que lhe rendeu bastante prestígio e credibilidade acadêmica,
atraindo inúmeros estudantes não só da própria Alemanha, mas da Europa e da América.
Um desses estudantes foi José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como o “Patriarca da
Independência”, devido à importância que teve no processo de independência do Brasil.
Werner, ao contrário de Hutton, corrobora com os princípios netunistas-diluvianistas,
reafirmando que toda a superfície havia sido formada de água barrenta profunda. Na base desse
oceano universal, diluviano, foram depositadas em sequência temporal as rochas da crosta.
Aos que lhe questionam a ausência de um ordenamento geral das rochas depositadas de
uma só vez umas sobre as outras e a existência de deformidades nos estratos sedimentares, ele
respondia que os depósitos não eram feitos de maneira ordenada, porque a superfície desse
mar era “varrida por fortes ventos” catastróficos.
Essa perturbação das águas do oceano primordial resultou na formação dos relevos das
montanhas e dos vales, gerados ainda debaixo d’água e só expostos quando o oceano refluiu
e os depósitos secaram, transformando-se em terra firme. Uma visão bastante conveniente e
segura de si, enquanto coincidente com o conhecimento admissível e vigente na época.
Para Werner, a classificação temporal das rochas vale para o mundo todo, tendo em vista
que o dilúvio foi um fenômeno global. A ordem de antiguidade estabelecida por ele é a seguinte:
··Rochas mais antigas, ou primitivas = primárias (granito);
·· Rochas de transição = originam-se do rebaixamento universal do nível dos oceanos até
a origem da vida (poucos fósseis);
·· Rochas floetz (arenitos, calcários, carvão, basalto e obsidiana);
·· Rochas aluviais (lodo, marga, argila, areia e turfa), encontradas em terras baixas do
globo.
Tal classificação recebeu inúmeras críticas e foi-lhe questionado sobre a formação e a
posição dos basaltos. Em resposta, afirmava que os vulcões só entraram em atividade após o
refluxo das águas, por conta de incêndios esporádicos nos filões de carvão.
Para ele, mais uma vez corroborando com Steno, tanto o granito quanto o basalto eram de
origem deposicional aquática, por tanto, de rochas sedimentares.

Leopold von Buch (1774-1853), discípulo de Werner, em viagens ao Sul da


Itália e da França, reconheceu a lava sobre granitos e conjeturou que a causa
desse comportamento era o calor advindo de grandes profundidades. Com
essa afirmação, Buch reascendeu o pensamento plutonista e deu início ao
declínio do netunismo.

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Esse período de grande efervescência para a Geologia carecia de procedimentos
metodológicos, constituídos apenas a longo prazo.
Foi Charles Lyell (1797 - 1875), em 1830, ao publicar Principles of Geology (Princípios
de Geologia), que contribuiu de forma mais decisiva para o enfraquecimento do netunismo
– muito embora ele próprio carregasse alguns resquícios catastrofistas. Lyell descobriu que o
calor ou a pressão produzida pelo vulcanismo pode transformar rochas sedimentares e/ou
ígneas em rochas derivadas, que ele denominou metamórficas.
Todas essas referências analisadas estavam mergulhadas no debate netunismo x plutonismo
e uniformitarismo x catastrofismo. Independentemente dessas controvérsias sobre a dinâmica
na superfície terrestre, dos diversos fenômenos vulcânicos e sismológicos conhecidos desde
a antiguidade e dos incontáveis casos de similaridade entre fósseis e amostras de rochas e
minerais encontrados em diferentes continentes, o fato é que quase ninguém duvidava da
estabilidade dos continentes.
O que não impediu que houvesse quem ousasse duvidar desse aspecto, como foi o caso de
Abrahan Ortelius em Thesaurus Geographicus, de 1596, no qual afirma que as Américas
“[...] foram rasgadas e afastadas da Europa e África por terremotos e inundações” (MANSUR,
2013). Ideia apoiada por Francis Bacon no Novum Organum, de 1620, e retratada pelo
geógrafo Antonio Snider-Pellegrini, em 1858 (Figura 7).

Figura 7. Justaposição das margens africana e americana e do Oceano Atlântico, por Antonio Snider-Pellegrini (1858)

*Esquerda: “antes da separação”; direita: depois da separação.

Aparentemente, faltavam a esses autores citados argumentos para debater a possibilidade,


mesmo que remota, de haver alguma mobilidade na superfície terrestre. As justificativas para a
estabilidade da superfície iam da pura incredulidade na possibilidade de haver força propulsora
capaz de tirar os continentes dos seus lugares, a suposições extraordinariamente criativas.
Alguns defensores do estabilismo da superfície terrestre explicavam a coincidência de haver
fósseis, rochas e minerais idênticos em diferentes continentes, devido à existência, já extinta,
de “pontes naturais” ou “ilhas” (teoria de William Logan, 1842) ligando os continentes,
ou mesmo, por conta de “viagens acidentais” em objetos flutuantes. Tais recursos, após
permitirem o trânsito de animais e vegetais (Figura 8) – fim esse para o qual foram criados –,
desapareceram sob as águas por causa de terremotos.

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

Figura 8. Justificativas imobilistas para a ocorrência de fósseis idênticos em diferentes continentes.

Fonte: gs.sysu.edu.cn Acessado em 12/10/2014

Edward Suess (1831 - 1914) foi responsável pelo resgate daqueles que, de forma isolada,
defenderam a mobilidade da superfície da Terra. Em sua obra Das Antlitz der Erde (A face da
Terra), afirmou que no passado não eram as “pontes naturais” que ligavam os continentes,
mas esses estavam ligados em um único supercontinente, ao qual denominou de Gondwana,
cercado por um oceano primordial que chamou de Tétis.
Segundo Suess, no início da Era Mesozoica, o supercontinente Gondwana ou Gondwanaland
(terra de Gondwana) fragmentou-se em placas que derivaram para formar a África, a Austrália,
a América do Sul, a Índia e a Antártica.
A partir de Suess, tem início uma série de questionamentos a respeito da estabilidade da
superfície da Terra. Os pesquisadores acadêmicos e amadores em Geologia passaram a buscar
e relacionar as evidências, cada vez mais numerosas e consistentes, a respeito da mobilidade da
superfície. Todavia, as ideias, conceitos e teorias sobre uma possível mobilidade da superfície
só seriam estruturadas no início do século XX, quando diversas inovações tecnológicas serão
aplicadas aos estudos geológicos.

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Material Complementar

Artigos sobre as teorias das “pontes naturais” entre os continentes.

Leituras:
Culturas científicas no início do Século XX: um estudo sobre as pontes continentais de
Hermann Von Ihering (1850-1930)
http://www.hcte.ufrj.br/downloads/sh/sh4/palestrantes/palestrante%20MARIA%20MAGARET.pdf
Oceanos e continentes em debate
http://www.revistafenix.pro.br/PDF12/dossie.artigo.6-Maria.Margaret.Lopes.pdf
O Dilúvio de Noé e os primórdios da Geologia
http://www.ppegeo.igc.usp.br/pdf/rbg/v42n1/v42n1a08.pdf

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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico

Referências

DOWBOR, L.; TAGNIN, R. A. Administrando a água como se fosse Importante – Gestão


Ambiental e Sustentabilidade. São Paulo: Editora SENAC, 2005.

PLACE, M. Nossa Terra: Geologia e Geólogos. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura,
1963.

MANSUR, K. Teoria da Tectônica de Placas. Texto Digital disponível em: <http://www.


drm.rj.gov.br/>. DRM-RJ. 2013.

DESCARTES. Princípios da filosofia. Tradução João Gama. Lisboa: Edições 70, 1997.

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Anotações

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