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Geologia atual e história do pensamento geológico
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Geologia atual e história do pensamento
geológico
• O que é a Geologia?
• História do pensamento geológico
·· Esta unidade tem por objetivo discutir as várias etapas do pensamento geológico.
Também debaterá como se deu as mudanças do pensamento diluvianista-
catastrofista-estabilista para uma visão mais dinâmica, que admite a mobilidade
da superfície terrestre.
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
Contextualização
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O que é a Geologia?
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
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A convicção sobre os poderes atribuídos aos fenômenos geológicos é comum a praticamente
todas as sociedades primitivas, com algumas variações de umas para as outras.
O poder das águas está ligado à origem e à manutenção da vida em praticamente todas as
origens das diferentes sociedades.
Os poderes plásticos atribuídos às rochas e aos minerais, que podem assumir todas as
formas, incluindo as de animais e homens, é de grande relevância para a montagem da
nossa concepção moderna dos fenômenos geológicos. Ainda que nos consideremos acima e
à frente dessas culturas, nós também atribuímos nomes de animais, de deuses e demônios e
até de artefatos humanos às formas de relevo – temos os picos dedo de Deus, do Elefante, do
Papagaio, do Pão de Açúcar, do Diabo, da Canastra, entre outros.
As coleções de minerais e rochas, ou as pedras da sorte que carregamos no bolso, são sinais
de visões primitivistas ou sobrenaturais herdadas dos nossos antepassados.
E assim são os poderes do vento, dos vegetais, dos animais, da chuva e de tantos outros
elementos que combinados ou individualmente ajudaram a formar a moral, a ética e a própria
história da nossa humanidade.
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
Os pensadores da Antiguidade Clássica são divididos por escolas, umas mais empiristas e
outras mais idealistas. O fato é que podemos identificar nelas os rudimentos do que chamamos
hoje de ciência. Temos:
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Figura 1. Representação da Terra na antiguidade grega
Fonte: henry-davis.com
Píndaro de Tebas (518 - 446 a. C.), um persistente observador dos vulcões ao sul da Europa,
admitia a existência de um canal ardente (typhone) que, em profundidade, ligava a região de
Nápoles à Sicília, com ramificações subterrâneas, explicando assim as erupções alternadas do
Etna, na Sicília, do Vesúvio, em Nápoles, e dos vulcões das ilhas Lípari.
Platão (429-347 a. C.), que entrou em rota de colisão com os empiristas pela sua posição
contrária à prática da observação sensível, supôs um rio subterrâneo de lama fervente e lava, o
Pirofiláceum, que serpenteava pelos subterrâneos da Terra e alimentava as bocas vulcânicas.
Anaximandro, discípulo de Tales (610 - 547 a. C.), atribui uma origem sólida e concentrada
da matéria, além de acreditar também que a origem da vida era marinha.
Heráclito de Éfeso (535 - 475 a. C.) foi daqueles pensadores clássicos que são referência
em diversos aspectos da ciência. Sua posição em considerar que a natureza é o “pólemos”, ou
seja, a “guerra dos contrários”, a harmonia contrastante, pode ser considerada como a origem
da nossa capacidade de perceber as causalidades dialéticas presentes nos fenômenos.
Da mesma forma, Heráclito é um dos primeiros a incorporar a noção de ciclo nos processos
naturais, ao postular os seguintes aforismos: o fogo vive a morte da terra; o ar vive a morte
do fogo; a água vive a morte do ar e a terra vive a morte da água. Ou seja, para ele, os
quatro elementos estão permanentemente sujeitos a ciclos duplos: pela via descendente (ou
condensação), temos fogo água gelo terra; e pela via ascendente (ou rarefação),
temos: terra gelo água fogo (CASINI, 1987).
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
A ideia de que os corpos são formados por partes é um dos pilares das investigações
especulativas dos pré-socráticos. Anaxágoras de Clazômenas (500 - 428 a. C.), por exemplo,
afirmou que a natureza é formada por partículas invisíveis a olho nu. Essas partículas, que
ele denomina germens, combinam-se em quantidades e qualidades distintas para formar a
diversidade de coisas existentes.
Um dos pensadores mais relevantes entre os Pré-socráticos é Demócrito de Abdera (460 -
370 a. C.), discípulo de Leucipo (? - 420 a. C.). É considerado um dos pioneiros do pensamento
atomista da Antiguidade Clássica. Demócrito defende que todas as coisas são resultantes de
infinidades de átomos eternos e imutáveis (indivisíveis). Para ele, a formação dos corpos se
dá de acordo com cada combinação de átomos semelhantes, dentre os diversos existentes,
inclusive alguns comporiam a própria alma.
Xenofonte de Cólofon (430... a. C.), ao observar os fósseis de conchas marítimas nos
Bálcãs, desenvolveu a tese de que no passado o mar podia ter coberto a terra.
Aristóteles (384 a. C. - 322 a. C.), apesar de todo o seu esforço em corroborar com
a proposta empirista dos Pré-socráticos, não conseguiu perceber a antiguidade dos fósseis,
acreditando que eram marcas deixadas por “peixes terrestres”.
Plínio, o velho (23 d. C. - 79 d. C.), que teria morrido na explosão do Monte Vesúvio, foi
um persistente observador desse monte, tendo descrito e denominado o basalto.
Lucius Anneus Sêneca (4 a. C. – 65 d. C.) foi provavelmente o pensador romano que
mais tenha se dedicado a escrever sobre os fenômenos naturais na sua publicação Naturales
Quaestiones, de 65 d. C.
No século II d. C., o geógrafo grego Pausânias de Lídia (115 - 180 d. C.) relatou na
Descrição da Grécia as diversas paisagens gregas. Essa pode ser considerada uma das
primeiras publicações da Geografia Regional que se conhece. Pausânias teve o seu trabalho
facilitado graças à tradição de abrir estradas ou rotas que os romanos cultivaram ao longo da
sua hegemonia imperial na Europa, no Norte da África (Líbia) e Oriente Médio (Ásia).
O mesmo propósito da Geografia Regional foi escolhido por Estrabão (63 a. C. - 24 d. C.),
entretanto, esse expandiu a escala descritiva para o plano intercontinental. Na Geographia,
uma obra escrita em dezessete volumes, Estrabão relata as características paisagísticas das
áreas dos três continentes conhecidos até então como ideia de mundo eurocêntrico.
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A combinação dos seguintes elementos caracteriza a justaposição monoteísmo-monismo
emergente nesse contexto:
··Onipresença, onipotência e onisciência de um só deus arquiteto;
··A unidade da realidade como um todo, contrariamente ao dualismo ou ao pluralismo
anterior;
··A aceitação de uma única coisa, a substância, da qual tudo provêm.
Tal conjunto de princípios novos corroborou com a visão platônica e inventou uma ideia
de mundo físico teleologicamente ordenado, como o aristotélico, criado por intermédio dessa
inteligência superior, a fim de preencher o espaço entorno do homem e, assim, fora do
domínio das suas faculdades.
A Geologia do Renascimento
Essa nova circunstância deu lugar a um conjunto de princípios que passou a orientar toda
a noção a respeito das causas dos fenômenos geológicos em torno da trindade Diluvianismo/
Catastrofismo/Estabilismo, da qual passaremos a tratar.
Georgius Agricola, ou Georg Pawer (1494 - 1555), pode ser considerado o pioneiro
da Geologia. Suas obras em vida, De ortu et causis Subterraneorum libri V (Gênese dos
Materiais no Interior da Terra, cinco volumes) e De Natura Fossilium (Os Fósseis Naturais),
e sua a obra póstuma, De Re Metallica (Da Natureza dos Metais), foram a confirmação da
forte influência que recebeu do ambiente onde viveu, apesar da sua formação em medicina.
René Descartes (1596 - 1650), no Philosophiae Principia (Princípio de Filosofia) de
1644, elabora um esquema de mundo no qual a Terra é um modelo evolutivo baseado em
círculos concêntricos mutantes (Figura 3).
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
Steno defendia que a Terra estivera completamente coberta por um oceano primordial
e que, nas águas desse oceano global, teriam estado em suspensão e/ou solução todos os
componentes que integram as rochas da crosta terrestre, indícios do pensamento da escola
netunista.
Sua interpretação dos processos de erosão e de sedimentação (Figura 5) ainda são
referenciais importantes dos estudos estratigráficos.
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Figura 5. Formação das rochas e das paisagens como sugerido por Steno (1669), de acordo com os princípios de
superposição, horizontalidade original e continuidade lateral.
Princípio da Superposição
Para Steno, independentemente da situação, em qualquer sucessão de estratos sedimentares,
desde que não tenham sofrido alguma deformação posterior, os planos mais antigos subjazem
os mais recentes.
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
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As frases: “não encontramos qualquer vestígio de um princípio, nem qualquer
prenúncio de um fim”, “processos que estão em ação são os mesmos que surgiram no
passado” e “o presente é a chave do passado” (HUTTON, 1785) são indicativas de sua
crença em um modelo cíclico – que ficou conhecido como uniformitarista-atualista – para
os processos geológicos. Nessa forma de ver os processos, os levantamentos de terrenos
por ação do calor interno da Terra (periodicamente liberado nas erupções vulcânicas) era
contrastado pela erosão.
Os materiais resultantes da erosão são transportados e acumulados em depressões do
relevo, em sucessivas camadas de sedimentos (conglomerados, arenitos, grauvaca, argilitos,
calcários, etc.). A partir daí, são posteriormente soerguidos e dobrados por novas ondas do
calor interno da Terra, que trazem de volta à superfície as rochas sedimentadas anteriormente,
consolidadas do fundo marinho, algumas delas recheadas de fósseis.
Hutton reconheceu que, com o soerguimento e o dobramento de rochas sedimentares e
ígneas ao mesmo tempo, pode ocorrer a inversão do princípio da superposição de Steno, já
que as camadas mais novas são sobrepostas pelas mais velhas.
Paralelamente, as fissuras decorrentes da deformação podem conduzir derrames que se
sobrepõem às rochas recém-expostas. Um período de calmaria permite a degradação por
erosão e a consequente modelagem das rochas soerguidas, até que essas, de tão desgastadas,
passem a ser recobertas por sedimentos oriundos de regiões soerguidas posteriormente. É o
que mostra a Figura 6.
Figura 6. Inconformidade utilizada por Hutton, em Jedburgh, Escócia. Ilustração de John Clerk of Eldin (1787).
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
Após essas considerações a respeito das teses de Hutton, que reforçam os princípios
plutonistas, e que dão início aos princípios uniformitaristas, qualquer um de nós imaginaria
que a derrota do netunismo-diluvianismo era uma questão de tempo, pois as evidências
de falhas no discurso dessa escola geológica em relação aos fenômenos geológicos eram
flagrantes. Entretanto, os netunistas-diluvianistas contavam com um reforço ideológico de
grande relevância: os princípios aristotélicos, mais rígidos, adotados pelo cristianismo.
Abraham Gottlob Werner (1750 - 1817), contemporâneo de Hutton, foi professor de minas
e mineralogia em Friburg-Alemanha, onde inaugurou a Geologia de Campo, levando seus
alunos às minas e montanhas, o que lhe rendeu bastante prestígio e credibilidade acadêmica,
atraindo inúmeros estudantes não só da própria Alemanha, mas da Europa e da América.
Um desses estudantes foi José Bonifácio de Andrada e Silva, conhecido como o “Patriarca da
Independência”, devido à importância que teve no processo de independência do Brasil.
Werner, ao contrário de Hutton, corrobora com os princípios netunistas-diluvianistas,
reafirmando que toda a superfície havia sido formada de água barrenta profunda. Na base desse
oceano universal, diluviano, foram depositadas em sequência temporal as rochas da crosta.
Aos que lhe questionam a ausência de um ordenamento geral das rochas depositadas de
uma só vez umas sobre as outras e a existência de deformidades nos estratos sedimentares, ele
respondia que os depósitos não eram feitos de maneira ordenada, porque a superfície desse
mar era “varrida por fortes ventos” catastróficos.
Essa perturbação das águas do oceano primordial resultou na formação dos relevos das
montanhas e dos vales, gerados ainda debaixo d’água e só expostos quando o oceano refluiu
e os depósitos secaram, transformando-se em terra firme. Uma visão bastante conveniente e
segura de si, enquanto coincidente com o conhecimento admissível e vigente na época.
Para Werner, a classificação temporal das rochas vale para o mundo todo, tendo em vista
que o dilúvio foi um fenômeno global. A ordem de antiguidade estabelecida por ele é a seguinte:
··Rochas mais antigas, ou primitivas = primárias (granito);
·· Rochas de transição = originam-se do rebaixamento universal do nível dos oceanos até
a origem da vida (poucos fósseis);
·· Rochas floetz (arenitos, calcários, carvão, basalto e obsidiana);
·· Rochas aluviais (lodo, marga, argila, areia e turfa), encontradas em terras baixas do
globo.
Tal classificação recebeu inúmeras críticas e foi-lhe questionado sobre a formação e a
posição dos basaltos. Em resposta, afirmava que os vulcões só entraram em atividade após o
refluxo das águas, por conta de incêndios esporádicos nos filões de carvão.
Para ele, mais uma vez corroborando com Steno, tanto o granito quanto o basalto eram de
origem deposicional aquática, por tanto, de rochas sedimentares.
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Esse período de grande efervescência para a Geologia carecia de procedimentos
metodológicos, constituídos apenas a longo prazo.
Foi Charles Lyell (1797 - 1875), em 1830, ao publicar Principles of Geology (Princípios
de Geologia), que contribuiu de forma mais decisiva para o enfraquecimento do netunismo
– muito embora ele próprio carregasse alguns resquícios catastrofistas. Lyell descobriu que o
calor ou a pressão produzida pelo vulcanismo pode transformar rochas sedimentares e/ou
ígneas em rochas derivadas, que ele denominou metamórficas.
Todas essas referências analisadas estavam mergulhadas no debate netunismo x plutonismo
e uniformitarismo x catastrofismo. Independentemente dessas controvérsias sobre a dinâmica
na superfície terrestre, dos diversos fenômenos vulcânicos e sismológicos conhecidos desde
a antiguidade e dos incontáveis casos de similaridade entre fósseis e amostras de rochas e
minerais encontrados em diferentes continentes, o fato é que quase ninguém duvidava da
estabilidade dos continentes.
O que não impediu que houvesse quem ousasse duvidar desse aspecto, como foi o caso de
Abrahan Ortelius em Thesaurus Geographicus, de 1596, no qual afirma que as Américas
“[...] foram rasgadas e afastadas da Europa e África por terremotos e inundações” (MANSUR,
2013). Ideia apoiada por Francis Bacon no Novum Organum, de 1620, e retratada pelo
geógrafo Antonio Snider-Pellegrini, em 1858 (Figura 7).
Figura 7. Justaposição das margens africana e americana e do Oceano Atlântico, por Antonio Snider-Pellegrini (1858)
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
Edward Suess (1831 - 1914) foi responsável pelo resgate daqueles que, de forma isolada,
defenderam a mobilidade da superfície da Terra. Em sua obra Das Antlitz der Erde (A face da
Terra), afirmou que no passado não eram as “pontes naturais” que ligavam os continentes,
mas esses estavam ligados em um único supercontinente, ao qual denominou de Gondwana,
cercado por um oceano primordial que chamou de Tétis.
Segundo Suess, no início da Era Mesozoica, o supercontinente Gondwana ou Gondwanaland
(terra de Gondwana) fragmentou-se em placas que derivaram para formar a África, a Austrália,
a América do Sul, a Índia e a Antártica.
A partir de Suess, tem início uma série de questionamentos a respeito da estabilidade da
superfície da Terra. Os pesquisadores acadêmicos e amadores em Geologia passaram a buscar
e relacionar as evidências, cada vez mais numerosas e consistentes, a respeito da mobilidade da
superfície. Todavia, as ideias, conceitos e teorias sobre uma possível mobilidade da superfície
só seriam estruturadas no início do século XX, quando diversas inovações tecnológicas serão
aplicadas aos estudos geológicos.
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Material Complementar
Leituras:
Culturas científicas no início do Século XX: um estudo sobre as pontes continentais de
Hermann Von Ihering (1850-1930)
http://www.hcte.ufrj.br/downloads/sh/sh4/palestrantes/palestrante%20MARIA%20MAGARET.pdf
Oceanos e continentes em debate
http://www.revistafenix.pro.br/PDF12/dossie.artigo.6-Maria.Margaret.Lopes.pdf
O Dilúvio de Noé e os primórdios da Geologia
http://www.ppegeo.igc.usp.br/pdf/rbg/v42n1/v42n1a08.pdf
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Unidade: Geologia atual e história do pensamento geológico
Referências
PLACE, M. Nossa Terra: Geologia e Geólogos. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura,
1963.
DESCARTES. Princípios da filosofia. Tradução João Gama. Lisboa: Edições 70, 1997.
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Anotações
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