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A FRAUDE DO FEMINISMO

ERNEST BELFORT BAX


NOTA DO TRADUTOR

The Fraud of Feminism, do jornalista britânico


Ernest Belfort Bax, foi publicado pela primeira vez em
1913, portanto, há mais de um século. Embora algumas
de suas discussões estejam datadas (como a relativa à
histeria feminina) e alguns dos seus posicionamentos
possam ser considerados retrógrados para a nossa sensi-
bilidade contemporânea (ele era contra o voto feminino,
por exemplo), muitas de suas críticas ao feminismo con-
tinuam válidas até hoje, como a que diz respeito à indulgência da lei cri-
minal com os delitos das mulheres e ao fato de o feminismo só querer os
direitos e os privilégios dos homens, nunca os deveres e as responsabilida-
des. Além disso, é interessante observar como várias das discussões trava-
das naquela época entre feministas e antifeministas continuam presentes
nos dias atuais, como a diferença salarial entre os sexos, supostamente
motivada por sexismo, o serviço não rumerado (ou será que hiper-remu-
nerado?) da mulher etc.
A tradução foi feita a partir de uma edição espanhola que encon-
trei em PDF na Library Genesis, com exceção do capítulo 5, O falso “ca-
valheirismo”, misteriosamente ausente desta edição, e de alguns trechos
que tive dificuldade de traduzir do espanhol, pois, por mais parecida que
seja com o português, esta língua não deixa de apresentar as suas peculi-
aridades e armadilhas para o tradutor iniciante. Nesses casos, foi consul-
tada a edição inglesa.
A paragrafação do texto encontra-se diferente nas duas edições.
Foi usada a inglesa, em respeito ao autor. Quanto às notas de rodapé, as
do tradutor da versão espanhol são indicadas por N.T., as do autor por
N.A., e as minhas notas por N.C.
CONTEÚDO

PREFÁCIO 4

INTRODUÇÃO 6

CAPÍTULOS:

I. HISTÓRICO 9

II. O PRINCIPAL DOGMA DO FEMINISMO MODERNO 16

III A CRUZADA ANTI-HOMEM 39

IV. SEMPRE A “INOCENTE FERIDA” 61

V. O FALSO "CAVALHEIRISMO" 75

VI. ALGUMAS MENTIRAS E FALÁCIAS FEMINISTAS 83

VII. A PSICOLOGIA DO MOVIMENTO 107

VIII. A ACUSAÇÃO 123


PREFÁCIO

O presente volume visa fornecer uma breve exposição das reivin-


dicações do Movimento Feminista Moderno. Sua finalidade é apresentar
argumentos contra ele de um ponto de vista especial para rastrear e sus-
pender as infames falsidades, afirmações convencionais, que não são ape-
nas perversões da verdade, mas são direta e categoricamente contrárias à
verdade, mas que passam por aceitável pela força de repetição não ne-
gada. É por causa desse tipo de engano que as alegações do feminismo são
sustentadas. A frase seguinte é um bom exemplo das declarações das fe-
ministas: “Quanto a acusar o mundo em geral de indulgência ofensiva pela
feminilidade em geral, a ideia é absurda demais para as palavras. As verda-
deiras lendas da Old Bailey1 dizem não de mulheres absurdamente absolvidas,
mas de garotas miseráveis enviadas à forca por assassinatos cometidos com
medo medíocre da crueldade da sociedade hipócrita.” Este tipo de lenda é um
dos principais objetos a serem explorados nas páginas seguintes. Natural-
mente, a "indulgência ofensiva" em relação à "feminilidade" em geral, pra-
ticada pelo "mundo em geral", é precisamente uma das características
mais visíveis de nosso tempo, e a pessoa que a nega, se não está prevari-
cando, deve ser um autêntico Rip van Winkle 2 que acorda de um sonho
que dura pelo menos duas gerações. De maneira semelhante, a história
"das infelizes garotas enviadas à forca", etc., é, em referência ao que é lem-
brado, pura lenda. É bem conhecido que nos casos referidos de assassina-
tos de seus recém-nascidos pelas garotas, no máximo, um ou dois anos de
prisão ligeira era a única penalidade realmente aplicada. A absolvição da

1
N.T.: Tribunal de Assuntos Criminais de Londres.
2
N.T.: É um conto de Washington Irving e também o nome do protagonista. "Rip van Winkle" pode
se referir a alguém que dorme por um longo período, ou alguém que sem explicação não tem conheci-
mento do que aconteceu.

4
mulher, das acusações mais graves, especialmente quando as vítimas são
homens, apesar da evidência mais palpável, é, por outro lado, uma ocor-
rência diária. Agora, é por meio de declarações como as acima que, como
já foi dito, o Movimento Feminista prospera; sua mais poderosa arma ar-
gumentativa com o homem na rua é a lenda de que as mulheres são opri-
midas pelos homens. Geralmente, é raro alguém se dar ao trabalho de re-
futar a lenda ou qualquer caso específico fornecido como exemplo. No en-
tanto, quando o blefe é descoberto, quando casos reais são atraídos à luz
e a mulher mostrada não só não é oprimida, mas extremamente privilegi-
ada, então os apóstolos do feminismo, homens e mulheres, sendo incapaz
até mesmo de seriedade em resposta, com o consentimento do recurso do
boicote e ignorando o que eles não podem responder, tentar parar a pro-
pagação da verdade desagradável tão perigosa para sua causa. As pressões
sobre os editores e escritores da influente irmandade feminista são bem
conhecidas.
Quanto ao resto, não se deve presumir que este pequeno livro faz
qualquer reivindicação exaustiva de tratar o assunto ou ser um tratado
científico. É, e pretende ser, uma refutação dos argumentos populares atu-
ais em favor do feminismo e uma breve exposição contra a causa do femi-
nismo. O breve tratado do Sir Almroth Wright, The Unexpurgated Case
against Woman's Suffrage (O Caso Sem Censura Contra o Sufrágio das Mu-
lheres), que lida com a questão de um ponto de vista um pouco diferente,
pode ser proveitosamente consultado pelo leitor.
Um reconhecimento deve ser feito ao diretor da Nova Era pela co-
rajosa posição assumida por aquele jornal na tentativa de conter a ava-
lanche de lama sentimental liberada pelos defensores da feminilidade au-
toconstituídos. Também tenho que agradecer a duas autoridades médicas
eminentes por ler as evidências do meu segundo capítulo.
5
INTRODUÇÃO

A intenção nas próximas páginas não é fornecer um tratado sobre


a evolução das mulheres em geral ou sobre seu lugar na sociedade, mas
simplesmente oferecer uma crítica da teoria e prática do que é conhecido
como o feminismo moderno.
Por feminismo moderno, eu entendo uma certa atitude mental em
relação ao sexo feminino. Essa atitude da mente é muitas vezes contradi-
tória e ilógica. Se por um lado exigirá, na área da igualdade intelectual e
moral das mulheres com os homens, a concessão do sufrágio feminino, e
comumente, além disso, a admissão de mulheres em todas as profissões,
ofícios e funções da vida pública; por outro lado, defenderá vigorosamente
a preservação e a intensificação de privilégios e imunidades perante o di-
reito penal e civil, em favor das mulheres, que cresceram no decorrer do
século XIX.
A atitude acima, com todas as suas inconsistências, tem por trás
um forte partido consciente do sexo, ou união sexual, como podemos
chamá-lo, entre as mulheres e uma massa flutuante de sentimento incon-
sequente e lamacento entre os homens. Há mais do que um preconceito
popular que obscurece o sentido e o significado do feminismo moderno em
muitas pessoas. Existe uma teoria comum, por exemplo, baseada no que
realmente foi alcançado até certo ponto antes da prevalência do femi-
nismo moderno, que, em qualquer caso de antagonismo entre os dois se-
xos, as mulheres sempre se colocam lado a lado com os homens contra as
mulheres. Agora, essa teoria, se alguma vez representou o verdadeiro es-
tado da questão, deixou de fazê-lo há muito tempo.
A poderosa união sexual aludida, nos dias de hoje, exerce uma
pressão tão forte na formação da opinião pública entre as mulheres que
6
está rapidamente se tornando quase impossível, mesmo nos casos mais
flagrantes, onde o homem é a vítima, fazer com que qualquer mulher re-
conheça que outra mulher cometeu um erro. Por outro lado, deve-se notar
que a total ausência de qualquer consciência do antagonismo sexual na
atitude dos homens em relação às mulheres, juntamente com a intensifi-
cação do cavalheirismo do velho mundo prescrito pela tradição em bene-
fício do chamado sexo mais fraco, exerce, em todos os casos, uma influên-
cia crescente na opinião pública masculina. Daí a tremenda força que o
feminismo obteve no mundo do início do século XX.
Além disso, muitas vezes é assumido, e isso também é um erro, que
em casos concretos de disputa sexual, o veredicto, digamos, de um júri de
homens em favor da mulher presa ou da mulher litigante é unicamente ou
principalmente determinado pelo fato de que esta última goza de beleza.
Esse fato pode ter um papel, mas é fácil demonstrar, a partir dos registros
dos casos, que é algo subordinado – que, seja qual for sua aparência ou
idade, o veredicto é dado não tanto porque ela é uma mulher bonita, mas
porque ela é uma mulher. Mais uma vez, a questão da atratividade pode
ter desempenhado um papel mais poderoso na determinação dos veredic-
tos dos homens nos dias que antecederam o sentimento feminista e as vi-
sões feministas que atingiram seu atual domínio. Mas agora só a questão
sexual, de ser uma mulher, é suficiente para determinar a sentença a seu
favor.
Há um truque com que os defensores do feminismo buscam o pre-
conceito da opinião pública contra seus críticos, e é a "falsidade" que qual-
quer homem que ousa criticar as reivindicações do feminismo está agindo
com base no ressentimento pessoal contra o sexo feminino, devido aos ma-
les reais ou imaginários sofridos por ele nas mãos de algum membro ou
membros do sexo feminino. Suponho que seja possível que haja pessoas,
7
não exatamente idiotas microcefálicas, que poderiam ser levadas a acre-
ditar em coisas como essas em seu desprezo por aqueles que se aventuram
em um julgamento independente sobre essas questões; caso contrário, o
comportamento das feministas ao adotar essa linha de argumentação seria
incompreensível. Mas nós acreditamos de bom grado que o número dessas
pessoas mentalmente fracas, que acreditam que há alguma relação entre
um homem que tem independência de mente suficiente para se recusar a
dobrar o joelho ao dogma feminista moderno, e tem lutado com qualquer
ou todos os seus amigos ou parentes, não pode ser muito numeroso. De
fato, não há um único expoente importante com um ponto de vista hostil
às pretensões do que é conhecido como o atual "Movimento de Mulheres"
em relação ao qual há uma ênfase na evidência de não ter vivido toda a
vida nos melhores termos com o sexo feminino. Há apenas um caso conhe-
cido indiretamente pelo autor deste livro, e não um autor proeminente ou
palestrante sobre o assunto, que forneceria uma desculpa plausível para o
argumento de que visões antifeministas são influenciadas por razões pes-
soais desse tipo. Estou ciente, é claro, que as feministas, com sua costu-
meira mendacidade, fizeram declarações falsas a respeito de quase todos
os escritores proeminentes do lado antifeminista, na esperança de influen-
ciar os membros da população, mencionados acima como mentalmente
fracos, contra seus oponentes. Mas uma pequena investigação é suficiente
para mostrar em cada caso a desonrosa falta de base de suas alegações. A
tolice desprezível desse método de controvérsia deveria torná-lo indigno
de uma observação séria, e minha única desculpa para aludir a ele é a sig-
nificante evidência que ele lança sobre o calibre intelectual daqueles que
recorrem a ele, e da confiança ou falta de confiança que eles têm na justiça
inerente à sua causa e à força lógica do seu caso.

8
CAPITULO I
HISTÓRICO

A posição das mulheres na vida social foi durante muito tempo


uma questão de rotina. Não foi levantada como uma questão, porque foi
dada como certo. A predominância dos homens parecia derivar tão obvi-
amente das causas naturais, da posse de faculdades físicas, morais e inte-
lectuais nos homens que faltavam às mulheres, sendo por isso que nin-
guém pensava em questionar a situação. Ao mesmo tempo, a inferioridade
das mulheres nunca foi concebida como grandiosa a ponto de diminuir
seriamente, muito menos para eliminar completamente, sua responsabili-
dade pelos crimes que poderiam cometer. Houve casos, é claro, como os
crimes cometidos por mulheres sob cobertura 3, nos quais foi reconhecida
uma redução de responsabilidade e foi dado o cancelamento da ofensa e a
mitigação do castigo. Mas, em geral, não havia sentimento em favor da
mulher mais do que a um criminoso masculino. Não entrava na cabeça de
ninguém chorar lágrimas de piedade pela assassina de um amante ou ma-
rido em vez do assassino de uma namorada ou esposa. Da mesma forma,
em pequenos crimes, uma mulher chantagista, uma ladrona, uma autora
do sexo feminino de um assalto, elas não foram consideradas menos cul-
padas ou merecedoras de mais brando tratamento do que um agressor
masculino nos mesmos casos. A lei, assumiu-se, e a suposição foi posta em
prática, foi a mesma para ambos os sexos. Os sexos são iguais perante a
lei. As leis eram mais difíceis em alguns aspectos do que agora, embora
talvez não em todos. Mas não havia uma linha especial de demarcação a

3
N.T.: Na legislação inglesa e americana, a cobertura refere-se ao status legal das mulheres após o
casamento: legalmente, no casamento, o marido e a esposa eram tratados como uma única entidade.

9
respeito da punição de crimes entre homens e mulheres. A penalidade or-
denada por lei para o delito ou ofensa foi a mesma para ambos e, em geral,
aplicada igualmente a ambos. Do mesmo modo nos julgamentos civis, os
procedimentos não foram considerados especialmente contra o homem e
a favor da mulher. Não houve, como regra geral, gênero muito significa-
tivo na administração da lei.
Esse tipo de coisa continuou na Inglaterra até meados do século
XIX. A partir de então, a mudança começou a acontecer. O feminismo
moderno surgiu lentamente no horizonte. O feminismo moderno tem dois
lados diferentes: (1) um lado político e econômico articulado englobando
demandas para os chamados direitos; e (2) um lado sentimental que insiste
na acentuação dos privilégios e imunidades que cresceram, não articula-
damente ou como resultado de demandas definidas, mas como consequên-
cia de um apelo sentimental, conforme o caso. Desta forma, no entanto,
estabeleceu-se na opinião pública a busca pela expressão de um favori-
tismo do sexo na lei e inclusive, ainda mais, na sua administração, em fa-
vor das mulheres contra os homens.
Esses dois lados do feminismo moderno não precisam ser combina-
dos na mesma pessoa. Pode-se, por exemplo, encontrar oponentes do su-
frágio feminino que são fortes defensores do favoritismo sentimental em
relação às mulheres na lei e na administração. Por outro lado, podemos
encontrar, embora isso seja mais raro, fortes defensores dos direitos polí-
ticos e outros para o sexo feminino que sinceramente desaprovam a atual
desigualdade da lei em favor das mulheres. Como regra, no entanto, as
duas partes andam de mãos dadas, a grande maioria dos defensores dos
"Direitos da Mulher" está igualmente interessada na preservação e exten-
são dos privilégios das mulheres. De fato, parece que o principal objetivo
da maioria dos defensores do "Movimento das Mulheres" foi converter o
10
sexo feminino na posição de uma dominante sexe noblesse4. Os dois lados
do feminismo avançaram de mãos dadas nas últimas gerações, embora te-
nha sido o lado puramente sentimental que surgiu pela primeira vez na
opinião pública.
A tentativa de retratar as mulheres sob uma luz diferente à da tra-
dicional inferioridade física, intelectual e moral em relação aos homens,
provavelmente, recebeu pela primeira vez a sua expressão literária em um
tratado publicado em 1532 por Cornelius Agripa intitulado De nobiliate et
Praecellentia Femini Sexus 5 e dedicado a Margaret, regente da Holanda,
cujo favor Agripa queria conquistar. O mundo antigo não tem nada a ofe-
recer em termos de precursores literários do feminismo moderno, no en-
tanto, o coletor diligente de fofocas e variedades históricas Valerius Maxi-
mus conta a história de Afrania, que, com alguns de suas amigas criaram
tumultos no Palácio de Justiça da Roma antiga em sua tentativa de fazer
as vozes das mulheres serem ouvidas no tribunal. Quanto aos tempos mais
recentes, após Agripa, temos que esperar até o início do século XVIII para
outro caso de feminismo, num ensaio sobre o tema da mulher, de Daniel
Defoe. Mas não foi até o final do século XVIII que qualquer expressão
significativa de opinião a favor de mudar as posições relativas dos sexos,
para alterar os termos de seus valores, fundada na experiência geral da
humanidade, tornou-se perceptível.
Os nomes de Mary Wollstonecraft na literatura inglesa e Condor-
cet na França dificilmente deixam de ocorrer ao leitor nesse sentido. Du-
rante a Revolução Francesa, a fanática Olympia de Gouges alcançou no-
toriedade efêmera com sua reivindicação pela igualdade intelectual das
mulheres com os homens.

4
N do T: Sexe noblesse significa "nobreza de sexo ou sexo nobre".
5
N.T.: "Da nobreza e preexcelência do sexo feminino".

11
Até aquela época (final do século XVIII), nenhum progresso foi
feito pela legislação em reconhecimento à moderna teoria da igualdade de
gênero. As reivindicações das mulheres e seus apologistas para entrar nas
funções dos homens, políticas, sociais ou outras, embora apresentadas
ocasionalmente por indivíduos isolados, recebeu pouca aceitação da opi-
nião pública, e muito menos da lei. O que chamei, no entanto, o lado sen-
timental do feminismo moderno, sem dúvida, fez alguns progressos na opi-
nião pública no final do século XVIII e cresceu em volume durante os
primeiros anos do século XIX. Isto se verificou na lei passada em 1820
pelo parlamento inglês que suprime a penalidade do chicoteamento para
os criminosos do sexo feminino. Este foi o primeiro começo da diferencia-
ção dos sexos em termos de direito penal. O debate parlamentar sobre o
projeto de lei em questão mostra claramente o poder que teve o Femi-
nismo Sentimental 6 na opinião pública no decorrer de uma geração, mas
nenhuma proposta foi feita ao mesmo tempo pela abolição do chicotea-
mento para homens. Até este momento, o direito penal da Inglaterra e de
outros países não fazia distinção entre os sexos em matéria de crime e cas-
tigo, ou pelo menos não fazia distinção baseada no princípio ou no senti-
mento do privilégio de sexo. (A pequena exceção pode ser, talvez, o crime
de "traição à pátria", que distingue o assassinato de um marido por sua
esposa de outros casos de assassinato). Mas a partir de agora, a legislação

6
N. A.: Devo explicar que atribuo um significado diferente à palavra sentimental. Da forma como é
usado por mim, não significa, como para a maioria das pessoas, um excesso de sentimentalismo sobre o
que sinto, já que é um sentimento distribuído de forma desigual. Tal como é usado neste sentido, a
repulsa à flagelação das mulheres, embora não sentindo repulsa ao açoitamento dos homens, é senti-
mentalismo puro e simples. Por outro lado, a objeção completa ao açoitamento como punição para
homens ou mulheres não poderia ser descrita como sentimentalismo; qualquer outra coisa poderia ser.
Da mesma forma, a aversão antivivisseccionista por experimentos "fisiológicos" com animais, se limi-
tada a animais domésticos e não estendida a outros animais, poderia ser justamente descrita como sen-
timentalismo; mas quem se opõe a tais experiências em todos os animais, independentemente da exis-
tência de um acordo com seus pontos de vista ou não, não poderia ser justamente acusado de sentimen-
talismo(ou pelo menos, não a menos que, enquanto objetando à vivissecção, ele ou ela estivesse prepa-
rado para perdoar outros atos envolvendo uma quantidade igual de crueldade aos animais).

12
e a administração se distanciaram cada vez mais do princípio da igualdade
entre os sexos neste sentido, em favor da imunidade de mulheres, o resul-
tado de hoje é, assumindo que a punição imposta às mulheres por um
crime particular é uma penalidade normal, que o homem recebe um au-
mento adicional acima do prescrito pela lei, pelo crime de ter nascido um
homem e não uma mulher.
A Lei do Divórcio Original de 1857, em suas disposições relativas
a custos e pensão alimentícia, constitui outro marco na questão do privi-
légio das mulheres perante a lei. Essa é outra medida da legislação sexual
unilateral seguida nos anos seguintes até o atual estado de coisas, pelo
qual todo poder estatal está praticamente disponível para as mulheres co-
agirem e oprimirem os homens. Mas este aspecto da questão nos propomos
a abordar mais tarde.
O movimento real atual do feminismo na política e na vida social
pode ser considerado iniciado na década de sessenta, na agitação que pre-
cedeu a proposta de John Stuart Mill em 1867, sobre a questão da atribui-
ção do sufrágio parlamentar às mulheres. Isso coincidiu com uma revira-
volta na abertura de várias carreiras para as mulheres, particularmente
na faculdade de medicina. Estamos falando, é claro, aqui da Grã-Breta-
nha, que foi a primeira na Europa, tanto na teoria quanto na prática do
feminismo moderno. Mas a publicação do livro do personagem principal
do movimento, John Stuart Mill, A Sujeição das Mulheres, em 1868, dotou
a causa com um evangelho literário que foi logo traduzido para as princi-
pais línguas do continente, que iniciou os movimentos correspondentes
noutros países. Curiosamente, houve um progresso considerável na Rús-
sia, com o despertar da Rússia para as ideias do Ocidente que, recente-
mente, começaram a ser sentidas no momento em que estamos falando. O
movimento no futuro tomou seu lugar como um fator permanente na vida
13
política e social deste e de outros países. Projetos de lei para o sufrágio
feminino eram introduzidos todos os anos na Câmara dos Comuns britâ-
nica com, no geral, maiorias decrescentes anuais contra essas medidas, até
que poucos anos atrás o equilíbrio se voltou para o outro lado, e a Lei para
a Emancipação das Mulheres passou a cada ano em segunda leitura até
1912, quando pela primeira vez em muitos anos foi rejeitada por uma pe-
quena maioria. Enquanto isso, os dois lados do movimento feminista,
além da questão do sufrágio, vêm ganhando influência. O sufrágio muni-
cipal "sob as mesmas condições que para os homens" foi concedido. As
mulheres votaram e sentaram-se nos Conselhos de Escola, Conselhos de
Guardiões e outras agências públicas. Sua reivindicação de praticar a pro-
fissão médica não foi meramente admitida na lei, mas também reconhe-
cida pela opinião pública. Todas as vantagens de uma carreira acadêmica
foram abertas a elas, com a única exceção da concessão real de diplomas
em Oxford e Cambridge. Tal tem sido o crescimento da articulação e do
lado político da teoria do feminismo moderno.
O lado sentimental do feminismo, com seu resultado prático da so-
bre-ponderação da justiça no interesse das mulheres nos tribunais, tanto
civis quanto criminais, e sua imunidade prática em relação ao funciona-
mento do direito penal quando no banco dos réus, avançou corresponden-
temente; enquanto, ao mesmo tempo, a espada dessa mesma lei criminal
é afiada contra o homem, até mesmo acusado, quanto mais condenado, de
qualquer ofensa contra a sagrada santidade de "Feminilidade" 7. Essa é a
situação atual da questão das mulheres neste país, que tomamos como
modelo, no sentido de que na Grã-Bretanha, ao qual os Estados Unidos
da América e as colônias britânicas também podem acrescentar, onde – se

7
N del T: A palavra exata é “woomanhood”, que é, num sentido literal, “mulheridade”, que se refere
tanto à mulher como ao sexo e à mulher como condição existencial-cultural.

14
é possível, o movimento é mais forte do que na própria pátria – vemos o
resultado lógico da teoria e do sentimento feministas. Resta considerar os
fatos atuais com mais detalhes, e as orientações psicológicas daquele
grande número de pessoas que foram no passado recente, e atualmente
estão sendo influenciadas, pela aceitação dos dogmas do feminismo mo-
derno e pelas declarações dos fatos alegados por seus devotos. Antes de
fazê-lo, cabe a nós examinar a credibilidade dos próprios dogmas e a na-
tureza dos argumentos usados para sustentá-los e também a exatidão dos
fatos alegados empregados pelas feministas para estimular a indignação
da opinião popular contra os pretensos males das mulheres.

15
CAPÍTULO II
O PRINCIPAL DOGMA DO FEMINISMO MODERNO

Temos notado no capítulo anterior que o feminismo moderno tem


dois lados, o lado positivo8, definido e articulado, que ostensivamente
exige a igualdade de gênero, sendo sua principal preocupação a concessão
de todos os direitos e deveres dos homens para as mulheres, e a abertura
para elas de todas as carreiras. A justificativa dessas demandas é baseada
no dogma de que, apesar das aparências contraditórias, as mulheres são
dotadas pela natureza com a mesma capacidade intelectual e moral que
os homens. Também assinalamos que existe um outro lado do feminismo
moderno que lamenta de maneira vaga a imunidade das mulheres do di-
reito penal e os privilégios especiais devidos ao sexo no direito civil. A base
desse lado do feminismo é o sentimentalismo – isto é, um sentimento tra-
dicional e adquirido desigualmente distribuído em favor das mulheres.
Muito raramente foi feita uma tentativa de basear essa demanda senti-
mental das mulheres em um argumento absoluto. As principais tentativas
nessa direção são referências vagas à fraqueza física para reivindicar uma
consideração especial derivada da velha teoria de fraqueza mental e moral
do sexo feminino, tão vigorosamente combatida como antiquada quando
o primeiro lado do Feminismo Moderno está sendo defendido. Os pressu-
postos mais ou menos incipientes do segundo lado, ou sentimental, do mo-
derno "Movimento de Mulheres", como já foi dito, vão em direção a uma
demanda de mulheres que lhes permita cometer crimes, sem incorrer nas
sanções impostas pela lei sobre crimes semelhantes quando são cometidos
por homens. Deve-se notar que, na prática, os mais fortes defensores do

8
N do T: Com positivo refere-se ao lado mensurável, palpável, real ... que articula a demanda.

16
lado positivo e articulado do feminismo também são os defensores mais
sinceros do curso insubstancial e desarticulado da parte sentimental do
mesmo credo. Isso é perceptível quando uma mulher é considerada cul-
pada de crimes particularmente atrozes. A todo mundo é um pouco estra-
nho que as mulheres sejam declaradas culpadas desses crimes, uma vez
que a influência do feminismo sentimental sobre os juízes e júris é sufici-
ente para obter uma absolvição, não importa quão conclusiva seja a evi-
dência contra elas. Mesmo que as mulheres sejam culpadas, é normal pas-
sar uma sentença quase nominal. Se, no entanto, uma mulher por acaso
for condenada por um crime hediondo, como assassinato ou mutilação,
sob circunstâncias especialmente agravantes, e arrisca-se a dar uma sen-
tença que seria unanimemente sancionada pela opinião pública no caso de
um homem, então nós encontramos todo o mundo feminista em pé de
guerra. O protesto é liderado por defensores autoproclamados da igual-
dade entre os sexos, os apóstolos do lado positivo do feminismo, que bien
entendu9 exigem a supressão das fronteiras do sexo na vida política e social
no campo em que as mulheres têm as mesmas capacidades dos homens,
mas que, ao questionar a responsabilidade moral, convenientemente re-
tornam ao lado sentimental, cuja única base concebível se encontra na
fraqueza mental e moral tradicional do sexo feminino. Como exemplo da
verdade acima, o leitor pode se referir aos casos de Florence Doughty em
1906, que atirou e feriu um advogado com quem ele mantinha relações,
junto com seu filho; por Daisy Lord em 1908 10, pelo assassinato de seu
filho recém-nascido; no caso da assassina italiana Napolitano no Canadá 11,

9
N.T.: Bien entendu significa "claro, obviamente, como não ...".
10
N. T.: Daisy Lord foi condenada à morte em julho de 1908 pelo assassinato de seu filho ilegítimo, em
15 de agosto a sentença de morte foi comutada para prisão perpétua.
11
N. T.: Angelina Napolitano foi a primeira mulher no Canadá a usar a defesa de mulheres maltratadas
em uma acusação de assassinato. Seu caso inspirou o filme independente procurando por Angelina.

17
condenada pela morte de seu marido enquanto ele dormia em 1911, para
cujo alívio uma sublevação bem-sucedida foi alcançada pelas sociedades
de sufrágio!
Vamos primeiro considerar o dogma na base do lado positivo do
feminismo moderno, que reivindica fundamentos racionais de fato e razão
para si mesmo, e professa ser capaz de fazer valer seu argumento em vir-
tude de tais fundamentos. Este dogma consiste na afirmação da igualdade
na capacidade intelectual, apesar das aparências contrárias, das mulheres
com os homens. Acho que será admitido que os objetos articulados do fe-
minismo moderno, levando-os uns contra os outros, dependem desse
dogma e apenas desse dogma. Eu sei que tem sido argumentado em rela-
ção à questão do voto feminino que a demanda não é baseada apenas na
admissão de igualdade de capacidade, uma vez que homens de uma ordem
mental notoriamente inferior não são excluídos da votação sobre este as-
sunto. No entanto, a falácia deste último argumento é evidente. Em todas
essas questões, temos que lidar com as médias. A opinião pública reconhe-
ceu aqui que a mulher média é intelectualmente inferior à norma para vo-
tar e o homem médio não. Isto, se admitido, é suficiente para estabelecer
a tese antissufrágio. Este último não é afetado pelo fato de que é possível
encontrar certos homens individuais de inteligência inferior e, portanto,
intrinsecamente menos qualificados para formar um julgamento político
do que certas mulheres especialmente dotadas. O alegado absurdo de "Ge-
orge Eliot12, que não tem voto, e seu jardineiro, que tem", não é realmente
absurdo. Em primeiro lugar, dadas as vantagens econômicas que a educa-
ção dá à romancista, e não ao jardineiro, isso não é prova suficiente de que
o julgamento dele em assuntos públicos não poderia ter sido superior à da

12
N.T.: George Eliot é o pseudonimom da escritora britânica Mary Ann Evans.

18
própria George Eliot. Por outro lado, a posse da faculdade imaginativa
excepcionalmente forte, que se expressa como gênio ou talento literário
nas obras de ficção, não implica necessariamente um poder excepcional de
julgamento político. Mas seja qual for o caso, onde as médias estão em
questão, as exceções obviamente não contam.
O pressuposto básico do movimento por sufrágio pode, portanto,
ser considerado como a média da igualdade dos sexos em termos de valor
intelectual 13.
Há uma primeira dificuldade para demonstrar teoricamente a in-
ferioridade intelectual das mulheres em relação aos homens, ou até mesmo
a inadequação delas em relação ao cumprimento de funções que implicam
uma ordem especial de julgamento. Há coisas como questões de fato que
estão abertas à observação comum e que ninguém pensa em negar ou
questionar a menos que tenha alguma razão especial para fazê-lo. Agora,
é sempre possível negar um fato, por mais evidente que seja à percepção
comum, e é igualmente impossível provar que a pessoa que põe em causa
o fato óbvio supracitado está mentindo (ou "prevaricando "), ou mesmo
que ela é uma pessoa desesperadamente anormal em seus órgãos de per-
cepção sensorial.
No momento da escrita, a pessoa normal que não tem interesse
pessoal em manter o oposto declara que o sol está brilhando, mas respon-
deria a proposição a fim de que ninguém negasse esse fato óbvio, e declara
que o dia está triste e nublado, aqui não há poder de argumentação pelo
qual eu possa mostrar que estou certo e ela está errada. Eu posso apontar
para o sol, mas se ele optar por afirmar que não o vê, eu não posso provar

13
N.A.: Eu acho que existem alguns fanáticos feministas que afirmam manter a superioridade da mente
feminina, mas duvido que esta tese seja levada a sério mesmo por aqueles que a apresentaram. Em
qualquer caso, há limites para o absurdo patente que vale a pena refutar com o argumento.

19
que ele mente. Este é, obviamente, um caso extremo, improvável de ocor-
rer na vida real. Mas é semelhante na essência ao caso de pessoas (e não
são poucas nesta linha) que, quando percebem os fatos irremediavelmente
destrutivos de uma determinada posição teórica tomadas por eles, não he-
sitam em cortar o nó da controvérsia a seu favor, tendo a coragem de ne-
gar os fatos inconvenientes. Muitas vezes, temos a experiência desse tru-
que de controvérsia na discussão da questão das características notórias
do sexo feminino. As feministas encurraladas lutam para salvar a face ne-
gando as questões imediatas abertas à observação comum e admitidas
como evidentes por todos que não são feministas. Tais fatos são a patolo-
gia mental própria do sexo feminina, geralmente conotada pelo termo his-
teria, a ausência, ou na melhor das hipóteses o desenvolvimento muito
imperfeito da faculdade lógica na maioria das mulheres, a incapacidade
da mulher média em seus julgamentos das coisas sobre considerações pes-
soais e, o que é em grande parte uma consequência disso, a falta de um
senso de justiça abstrata e jogo limpo entre as mulheres em geral. As su-
pracitadas peculiaridades das mulheres, como as mulheres, são, eu afirmo,
questões de observação comum e só são disputadas por essas pessoas – a
saber, feministas –, para cujas opiniões teóricas e exigências práticas sua
admissão seria inconveniente, se não fatal. Naturalmente, essas caracteri-
zações referem-se a médias que não excluem exceções parciais ou até
mesmo notáveis. É possível, portanto, embora talvez não seja muito pro-
vável, que a experiência individual possa, no caso de certos indivíduos,
desempenhar um papel na falsificação de seu ponto de vista geral; É pos-
sível, porém, como eu disse antes, embora talvez não seja muito provável,
que a experiência de um determinado homem em relação ao outro sexo
tem sido limitada a algumas mulheres muito excepcionais e, portanto, sua
experiência particular contradiz a da generalidade da humanidade. Nesse
20
caso, é claro, sua recusa em admitir o que para os outros são fatos óbvios
seria perfeitamente fidedigna 14. A contingência, antes altamente impro-
vável, é o único refúgio para aqueles que competem pela sinceridade nas
negações da feminista. Nesta questão, eu só lido com homens feministas.
A mulher feminista é geralmente muito tendenciosa como testemunha
nessa questão em particular.
Agora vamos considerar a totalidade das diferenciações de caráter
mental entre homem e mulher à luz de uma generalização que é suficien-
temente evidente e que foi formulada com particular clareza pelo falecido
Otto Weininger em seu notável livro Geschlecht und Charakter (Sexo e Ca-
ráter). Refiro-me às observações contidas na Seção II, Caps. 2 e 3. O ponto
foi, evidentemente, indicado acima, e aquele que escreve, entre outros, em
várias ocasiões, chamou atenção especial a ele. No entanto, a formulação
e elaboração de Weininger é a mais completa que conheço. A verdade re-
side no fato, inegável para qualquer um que não seja impermeável aos
fatos por dogmas preconcebidas, de que, como eu hei de expor em outro
lugar, enquanto o homem tem sexo, ela é um sexo. Vamos ouvir Weinin-
ger nesse ponto. “A mulher é apenas sexual, o homem também é sexual,
assim como no tempo e no espaço essa diferença pode ser traçada no ho-
mem, as partes de seu corpo suscetíveis à excitação sexual são pequenas
em número e estritamente localizadas. A sexualidade da mulher se espalha
por todo o corpo, cada contato em qualquer lugar a excita sexualmente.”
Weininger ressalta que, embora o elemento sexual no homem, devido às
características fisiológicas dos órgãos sexuais, possa às vezes ser mais vio-
lento do que na mulher, no entanto, é espasmódico e ocorre em crises se-

14
N.T.: bona fide significa "de boa fé".

21
paradas por intervalos de inatividade. Nas mulheres, por outro lado, em-
bora seja menos espasmódico, é contínuo. O instinto sexual no homem é,
como ele define, "um apêndice" e nada mais, o que lhe permite elevar-se
mentalmente inteiramente fora dele. “Ele está ciente disso como algo que
ele tem, mas que não é inseparável do resto de sua natureza. Pode ser visto
objetivamente. Com a mulher não é o caso] o elemento sexual é parte de
toda a sua natureza. Portanto, não é como no homem, claramente reco-
nhecível em manifestações locais, mas afeta sutilmente toda a vida do or-
ganismo. Por essa razão, o homem tem consciência do elemento sexual
dentro dele como tal, enquanto a mulher é inconsciente do elemento se-
xual dentro dela como tal. Não é à toa que a mulher na linguagem comum
é chamada de ‘sexo’. Nesta diferenciação sexual ao longo da vida da natu-
reza da mulher e do homem, uma vez que é dedutível das diferenças fisio-
lógicas e anatômicas, é o terreno das diferenciações da função que culmi-
nam no fato de que, enquanto a humanidade em seu desenvolvimento in-
telectual, moral e técnico é representada na maior parte pelo homem, a
mulher continuou a encontrar sua função principal na raça da procriação
direta”. Uma variedade de causas, particularmente o desenvolvimento
econômico moderno, em seu efeito sobre a vida familiar, também a apli-
cação ilegítima da moderna noção democrática de igualdade de classes e
raças à do sexo, contribuiu para a revolta moderna contra as limitações
sexuais naturais.
Assumindo de fato a precisão substancial da afirmação anterior, o
absurdo e o preço baixo da armadilha moderna da "pureza social", na me-
dida em que tem uma e a mesma moralidade sexual em ambos os sexos,
veem-se facilmente. O reconhecimento da necessidade de admitir maior
liberdade nesse sentido para os homens do que para as mulheres é clara-
mente baseado na fisiologia e no senso comum. Para os homens, o instinto
22
sexual se manifesta localmente e, em intervalos de satisfação, é uma ne-
cessidade urgente e premente. Com as mulheres, esse não é o caso. Por isso,
a distinção reconhecida entre os sexos a este respeito é, como acontece, um
fundo sólido. Não é que eu esteja defendendo a severidade das restrições
do código sexual atual às mulheres. Pelo contrário, acredito que deveria
ser e será, em uma sociedade razoável do futuro, consideravelmente rela-
xada. Só estou dizendo que a urgência não é tão grande em um caso como
no outro. E este fato é que deu origem à tolerância de uma exigência, ori-
ginalmente proveniente sobretudo de causas econômicas (questões de he-
rança e similares), no caso das mulheres, o que não teria sido tolerado em
homens, mesmo com razões semelhantes para a sua adoção no caso em
questão. Qualquer tentativa bem-sucedida dos promotores da pureza so-
cial de se contrapor à fisiologia ao impor, tanto à legislação quanto à opi-
nião pública, o mesmo rigor sobre os homens nesse aspecto, como sobre as
mulheres, poderia ter as mais desastrosas consequências para a saúde e o
bem-estar da comunidade.
Isso foi dito pelo falecido Dr. Henry Maudsley: "O sexo é mais pro-
fundo do que a cultura". Podemos entender que isso significa que as dife-
renças sexuais são orgânicas. Todas as autoridades sobre a questão fisio-
lógica concordam que as mulheres não são tão bem organizadas, menos
desenvolvidas que os homens. O Dr. de Varigny afirma que esse fato é
rastreável em todo o organismo feminino como um todo, em todos os seus
tecidos e em todas as suas funções. Por exemplo, o tamanho da fêmea hu-
mana é menor que o do homem em todas as raças. Em relação ao peso, há
uma diferença correspondente. A mulher adulta pesa, em média, pouco
mais de 11 libras a menos que um homem, e geralmente uma mulher com-
pleta seu crescimento alguns anos antes de um homem. Os ossos são mais

23
leves nas mulheres do que nos homens, não absolutamente, mas proporci-
onalmente ao peso do corpo. Dizem que eles não são apenas mais finos,
mas mais frágeis. A diferença pode ser rastreada até sua composição quí-
mica. A totalidade do desenvolvimento muscular nas mulheres é menor
que a dos homens, cerca de um terço. O coração da mulher é menor e mais
leve do que no homem – sendo cerca de 10,5 onças nos homens, em com-
paração com pouco mais de 8 onças em mulheres. Nas mulheres, os órgãos
respiratórios mostram menos capacidade pulmonar e da caixa torácica.
Novamente, o sangue contém uma proporção consideravelmente menor
de glóbulos vermelho para os glóbulos brancos. Finalmente, chegamos à
questão do tamanho e constituição do cérebro. (Deve-se notar que todas
essas distinções sexuais são mostradas mais ou menos desde o nasci-
mento.)
Os especialistas concordam que, em todas as idades, o tamanho do
cérebro de uma mulher é menor que o dos homens. A diferença no tama-
nho relativo é maior em proporção, de acordo com o grau de civilização.
Isso é notável, pois parece que o cérebro do homem cresceu com o pro-
gresso da civilização, enquanto a mulher permanece quase parada. A pro-
porção média de tamanho do crânio entre mulheres e homens hoje é de 85
a 100. O peso do cérebro nas mulheres varia de 38 ½ onças a 45 ½ onças,
enquanto nos homens é de 42 onças a 49 onças. Isso representa a diferença
absoluta em peso, mas, segundo o Dr. de Varigny, o peso relativo – isto é,
o peso proporcionalmente ao de todo o corpo – é ainda mais notável em
sua indicação de inferioridade. O peso do cérebro nas mulheres é superior
a 1/44 do peso corporal, enquanto no homem é 1/40. Essa diferença é acen-
tuada com a idade. É apenas 7% a favor de homens entre vinte e trinta
anos, é de 11% entre trinta e quarenta anos. Quanto ao mérito do próprio

24
cérebro e suas circunvoluções, a grande maioria dos fisiologistas são pra-
ticamente unânimes em declarar que o cérebro feminino é mais simples e
mais suave, suas circunvoluções são menores e mais rasas do que o cérebro
masculino, de modo que os lobos frontais, geralmente associados às facul-
dades intelectuais, são menos desenvolvidos do que os lobos occipitais, que
são universalmente relacionados às funções psicológicas mais baixas. A
massa cinzenta é mais pobre e menos abundante nas mulheres do que nos
homens, enquanto os vasos sanguíneos da região occipital são correspon-
dentemente mais completos do que os fornecidos pelos lobos frontais. No
homem, o caso é exatamente o contrário. Não pode ser negado por qual-
quer pessoa em sã consciência familiarizada com os elementos rígidos da
fisiologia do corpo feminino que tudo está subordinado aos papéis de gra-
videz e amamentação, o que explica o menor desenvolvimento dos órgãos
e faculdades que não são particularmente relacionados a este supremo fi-
nal da Mulher.
É moda feminista ignorar essas diferenças fisiológicas fundamen-
tais do sexo, alegando que a inferioridade real das mulheres, que têm a
honestidade de admitir um fato tão óbvio, é responsável por séculos de
opressão em que as mulheres estão nas mãos dos malfeitores e do homem
mal-intencionado. O absurdo dessa afirmação já foi apontado mais de
uma vez. Assumindo este fundamento de fato, o que isso implica? É evi-
dente que as meninas herdam apenas através de suas mães e filhos apenas
através de seus pais, uma hipótese que contradiz claramente os fatos co-
nhecidos da herança. No entanto, aqueles que sustentam que a distinção
de inteligência, etc., entre os sexos, têm sua origem nas condições externas
que afetam um único sexo e são herdados apenas através do sexo, não
podem evitar a suposição anterior. Aqueles, portanto, que consideram
como um artigo de sua fé que a Mulher se mostraria não inferior em poder
25
mental ao homem se ela tivesse a chance de exercer esse poder, deveriam
encontrar uma base mais segura para a sua opinião do que esta teoria dos
séculos de opressão, aos quais, como alegam, o sexo feminino esteve su-
jeito.
Chegamos agora à questão importante das condições insalubres e
patológicas mentais às quais a fêmea é sujeita e que estão normalmente
relacionadas com distúrbios do sistema nervoso constitucionais que rece-
bem o nome de histeria. A palavra é, como todos sabem, derivado de hys-
tera-the womb, e foi considerada uniformemente pelos antigos como um
resultado direto da doença do útero, mantendo-se esta visão típica da me-
dicina moderna até meados do século XIX. Assim, o Dr. J. Mason Good
(Em seu Study of Medicine, 1822, Vol. III, p. 528, um importante texto
médico de cabeceira na primeira metade do século XIX) afirma: "Com
uma condição mórbida deste órgão a histeria está muitas vezes intima-
mente ligada, embora seja ir longe demais dizer que ela sempre depende
de uma tal condição, para nos encontrarmos com os casos, por vezes, onde
nenhuma conexão é possível, pode ser traçada entre a doença e o órgão",
etc. Esta é talvez a primeira aparição, especialmente na medicina ingelsa,
de dúvidas sobre a origem do útero e os vários sintomas agrupados sob
termo geral, histeria. No final do século XIX, a opinião predominante
tende mais e mais a dissociar a histeria dos problemas uterinos. Ultima-
mente, no entanto, alguns patologistas eminentes mostraram uma ten-
dência para qualificar os termos desta última opinião. Assim, o Dr. Tho-
mas Stevenson em 1902, admite que "[a histeria] muitas vezes acompanha
um estado mórbido do útero", especialmente quando a inflamação e con-
gestão estão presentes, e não é uma coisa incomum para cirurgiões ter que
extirpar os ovários nos casos obstinados de histeria. De sua parte, Dr.
Thomas Buzzard, em um artigo sobre o assunto no Dicionário de Medicina
26
Quain de 1902, afirma que a histeria só ocorre excepcionalmente em mu-
lheres que sofrem de doenças dos órgãos genitais, e sua relação com alte-
rações do útero e do ovário é provavelmente nem mais nem menos do que
o que se refere às outras afecções do sistema nervoso que podem ocorrer
sem uma causa material óbvia. O Dr. Thomas Luff (Textbook on Legal
Medicine, 1895) mostra que os distúrbios das funções de reprodução são,
sem dúvida, a causa de vários ataques de loucura nas mulheres. Dr. Sa-
vage, em seu livro The Neurosis, diz que a mania aguda em mulheres é
mais frequente na idade adulta e madura, e às vezes pode ocorrer em qual-
quer idade extrema. A mania aguda às vezes ocorre na supressão da men-
ses15. O mesmo pode ser dito da melancolia e de outros sintomas mentais
patológicos. O Dr. Luff afirma que a mania aguda pode substituir a histe-
ria; que isso ocorre em períodos como a puberdade, a mudança de vida e a
menstruação. Estes pacientes nos intervalos dos seus ataques são muitas
vezes mórbidos, irritáveis ou excitáveis, mas com o passar do tempo as
suas energias diminuem e as suas emoções tornam-se monótonas (Medi-
cina Legal, ii.307). Tais pacientes são frequentemente vítimas do desejo de
cometer atos de violência; muitas vezes são muito desobedientes, arran-
cando roupas, quebrando janelas, etc. Nesse distúrbio mental, o paciente
é levado por um impulso mórbido e incontrolável a tais atos. Não é acom-
panhado por alucinações, e muitas vezes nenhuma mudança foi observada
no indivíduo antes da comissão do ato e, portanto, diz o Dr. Luff, "não há
muita diferença de opinião quanto à responsabilidade da pessoa "(ii. 297).
Entre os atos mencionados pelo Dr. Luff, menciona-se uma propensão a
atear fogo a móveis, casas, etc. Tudo isso, embora escrito em 1895, poderia
servir como um comentário sobre o sufrágio dos últimos anos. O renomado

15
N.T.: Menses significa menstruação. Menses deriva do latim "Mensis" (mês).

27
professor francês, Dr. Paul Janet ("histérica", 1894) define a histeria: "A
histeria é uma doença pertencente ao grande grupo de doenças devido à
fraqueza e debilidade cerebral. Seus sintomas físicos são um pouco indefi-
nidos, consistindo principalmente de uma diminuição geral na nutrição. É
principalmente caracterizada por sintomas morais, o principal delas é
uma deterioração da faculdade de síntese psicológica, a abolição e uma
contração do campo da consciência. Isso se manifesta de maneira peculiar
e por um certo número de fenômenos elementares. Portanto, sensações e
imagens não são mais percebidas, e parecem ser apagadas da percepção
individual, uma tendência que resulta em sua separação completa e per-
sistente da personalidade em alguns casos e na formação de muitos grupos
independentes. Esta série de eventos psicológicos se alternam entre si ou
coexistem. Por fim, esse defeito de síntese favorece a formação de certas
ideias independentes, que se desenvolvem completas em si mesmas e sem
vinculação com o controle da consciência da personalidade. Essas ideias
se manifestam em condições muito diferentes e características únicas." De
acordo com o Sr. Millar AS, FRCSE (Medical Encyclopaedia, vol. V),
“Histeria ... é essa condição que está lá na imaginação, imitação ou exa-
gero. Ocorre principalmente em mulheres e pessoas de temperamento ner-
voso, e é devido a algum distúrbio nervoso, que pode ou não pode ser pa-
tológico. "Sir James Paget (Lectures clínicos sobre mimetismo), também diz
que os pacientes histéricos são na sua maioria mulheres de temperamento
nervoso. "Elas pensam em si mesmas constantemente, elas gostam de fa-
lar a todos dos seus problemas e, assim, ganhar a simpatia do tribunal
para os que têm um desejo mórbido. A força de vontade é deficiente em
uma direção, embora alguns a tenham muito forte e onde seus interesses
estão alocados. "Ele acha que o termo "histeria", no sentido agora empre-

28
gado correto, é "mimetismo". "A vontade deve ser controlada pelo inte-
lecto ", diz o Dr. G. F. Still do King's College Hospital, "em vez das emo-
ções, e a falta desse controle parece estar na raiz de algumas, pelo menos,
das manifestações da histeria."
O Dr. Thomas Buzzard, acima mencionado, dá um resumo dos sin-
tomas mentais: "A inteligência pode ser, aparentemente, de boa quali-
dade, por vezes, com o paciente mostrando notável rapidez de apreensão,
mas está cuidadosamente provado que lhe faltam os fundamentos do mais
alto tipo de poder mental. A memória pode ser boa, mas o julgamento e a
capacidade de se concentrar por muito tempo a atenção sobre um assunto
estão ausentes. Assim também a precisão, bem como a energia necessária
para assegurá-la em qualquer trabalho realizado, é deficiente. As emoções
são animadas com uma disposição inadequada e, quando eles estão em um
estado de excitação, são incapazes de controlar. As lágrimas são causadas
não só por ideias patéticas, mas questões ridículas e risos incongruentes
podem saudar algumas notícias trágicas, ou o oposto pode ocorrer. Os si-
nais normais de emoção podem estar ausentes e substituídos por um ata-
que de síncope, convulsões, dor ou paralisia. Talvez mais constante do que
qualquer outro fenômeno na histeria seja um desejo pronunciado pela sim-
patia e interesse dos outros. Esta é, evidentemente, apenas uma das qua-
lidades mais características da feminilidade, não controlada pela ação dos
centros nervosos superiores, que, em um estado saudável, a mantém su-
jeita. Não é muito frequente não apenas uma relação deficiente com a ver-
dade, mas uma propensão ao engano e desonestidade ativa. Tão comum é
isso que as várias fases da histeria são frequentemente assumidas como
exemplos simples de simulação voluntária e o título de doença é negado à
condição. Mas parece mais razoável referir-se aos sintomas de deterioração

29
dos processos nervosos altamente complexos que formam o lado fisioló-
gico das faculdades morais" (Quain Dictionary of Medicine, 1902).
"Não é raro encontrar a histeria em mulheres acompanhada por
um total desrespeito e insensibilidade para com a relação sexual. Cessação
prematura da ovulação é uma causa determinante comum. Nos casos em
que os ovários estão ausentes, a mudança de menina para mulher, que
normalmente ocorre na puberdade, não ocorre. A menina cresce, mas não
se desenvolve, uma aparência masculina segue, a voz torna-se dura e viril,
a paixão sexual está ausente, a saúde ainda é boa. Os casos mais violentos
de histeria ocorrem em mulheres jovens, da constituição mais robusta e
masculina" (Dr. John Mason Good, Study of Medicine, 1822). Outras cau-
sas determinantes são dadas, como impressões dolorosas, jejum prolon-
gado, fortes emoções, a imitação, a luxúria, a educação mal orientada e
ambientes infelizes, o celibato, não por escolha, mas por força das circuns-
tâncias, casamentos infelizes, problemas a longo prazo, medo, preocupa-
ção, excesso de trabalho, como desapontamento e distúrbios nervosos, que
predispõem à histeria. "Ataca as mulheres sem filhos mais frequentemente
do que mães, especialmente as viúvas jovens" e, diz o Dr. J. Mason Bom
"especialmente aquelas que ainda estão constitucionalmente dispostas a
luxúria mórbida que tem muitas vezes sido chamado ninfomania... o re-
médio mais seguro é um casamento feliz" (Study of Medicine, 1822, III,
531). O que histeria tem em comum com outros distúrbios do sistema ner-
voso é ser essencialmente uma doença hereditária, e Briquet (Traite de
l'hysterie, 1899) fornece estatísticas para mostrar que em nove de cada dez
pais histéricos têm crianças histéricas. O Dr. Paul Sainton, da Faculdade
de Medicina de Paris, diz: "O aparecimento de um sintoma da histeria ge-
ral mostra que a doença existe há algum tempo, embora latente. O nome
de um agente provocador da histeria é dado a qualquer circunstância que,
30
de repente, revele a doença, mas a verdadeira causa da doença é uma pre-
disposição hereditária. Se a causa real é única, os agentes provocadores
são inumeráveis. As emoções morais, a dor, o medo, a raiva e outros dis-
túrbios psíquicos são as causas mais frequentes de afecções histéricas e,
em todas as áreas da vida, os sujeitos são igualmente suscetíveis a ata-
ques".
A histeria pode aparecer em qualquer idade. É comum em crian-
ças, especialmente durante os cinco ou seis anos antes da puberdade. Dos
33 casos de crianças com menos de 12 anos que estavam sob o Dr. Still, 23
foram em crianças com mais de oito anos de idade. A histeria nas mulheres
é mais frequente entre os 15 e os 30 e, mais frequentemente, entre os 15 e
os 20. Como regra geral, há uma tendência à cessação após a "mudança".
Muitas vezes acontece, no entanto, que a doença permanece em um perí-
odo avançado da vida.
"Há uma mudança constante", diz o professor Albert Moll (A Mu-
lher Nervosa, p. 165), "de um alegre a um estado de ânimo deprimido. De
livre e feliz a mulher logo se torna mal-humorada e triste. Enquanto um
momento antes ela foi capaz de entreter toda a companhia sem pausa,
conversando com cada membro sobre o que lhe interessava, pouco depois
ela não falava uma palavra. Eu mencionei o exemplo banal da recusa de
um chapéu novo que é capaz de converter o estado de ânimo mais alegre
em seu oposto. A fraqueza da vontade manifesta-se aqui em que as mu-
lheres nervosas [por "nervoso", o Dr. Moll significa o que é comumente
chamado de "histérica"] não podem, como as normais, controlar a expres-
são das emoções. Ela ri sem interrupção sobre o assunto mais indiferente
até cair num verdadeiro riso. As crises de choro que às vezes vemos per-
tencem à mesma categoria. Quando a mulher nervosa está muito excitada

31
com algo, ela apresenta explosões de raiva, perdendo todas as caracterís-
ticas da feminilidade, e ela não é capaz de evitar essas explosões emocio-
nais. Da mesma forma como as emoções que enfraquecem a vontade e a
mulher não pode suprimir esta ou aquela ação, é evidente que em muitas
mulheres nervosas, independentemente dessas emoções, há uma tendência
a mudanças contínuas em seu comportamento. Observou-se como uma
característica de muitas pessoas nervosas que sua coerência reside apenas
em sua inconsistência. Mas isso não deve de forma alguma se aplicar a
todas as pessoas nervosas. Nesta disposição, razão pela qual tantas mu-
lheres nervosas são visíveis na natureza, há apoio para o desejo de mu-
dança, como se manifesta na busca contínua de novos prazeres, teatros,
concertos, festas, excursões e outras coisas (p. 147). As coisas às quais a
mulher normal é indiferente ou às quais ela tem, em certo sentido, acostu-
mado a si mesma, são para a mulher nervosa uma fonte de preocupação
constante. Embora ela possa perfeitamente saber que as suas circunstân-
cias e as de seu marido são as mais brilhantes e que não é necessário que
ela se preocupe com sua posição material quanto ao futuro, a ideia de ru-
ína financeira a incomoda constantemente. Assim, se ela é a esposa de um
milionário, ela nunca escapa à preocupação constante. Da mesma forma,
a mulher nervosa cria problemas das coisas que são inevitáveis. Se, ao
longo dos anos, mais rugas forem adquiridas e seu apelo aos homens dimi-
nuir, isso pode facilmente se tornar uma fonte de dor durável para a mu-
lher nervosa."
Agora, temos que considerar um ponto que está sendo continua-
mente impulsionado pelas feministas hoje, quando elas enfrentam os sin-
tomas patológicos mentais tão comumente observados em mulheres que
são frequentemente considerados originários da histeria. Muitas vezes ou-

32
vimos feministas dizerem em resposta a argumentos baseados no fato an-
terior: "Ah, mas os homens também podem sofrer de histeria!" "Na Ingla-
terra", diz o Dr. Buzzard, "a histeria é relativamente incomum em ho-
mens, o sexo feminino é muito mais propenso à condição". A proporção de
homens e mulheres em histeria é, de acordo com Dr. Pitre (Clinical Essay
on Hysteria, 1891), de 1 a 3, de acordo com Bodensheim 1 a 10, e de acordo
com Briquet, de 1 a 20. O autor do artigo sobre a histeria na Enciclopédia
Britânica (edição 11 de 1911) também dá de 1 a 20 como a proporção nu-
mérica entre casos masculinos e femininos. Dr. Pitrè, no trabalho acima
mencionado, dá 82% dos casos de convulsões em mulheres, em compara-
ção com 22% em homens. Mas em tudo isso, sob o conceito de histeria
estão incluídos, e na verdade referem-se principalmente a, vários sintomas
físicos de caráter convulsivo e epiléptico que são bastante distintos das
condições mentais ligadas, correta ou incorretamente, ou mesmo identifi-
cadas, à histeria na mente popular, e por muitas autoridades médicas. Mas
mesmo em termos de histeria no primeiro sentido da palavra, uma linha
clara de distinção com base em um diagnóstico dos casos foi há muito
tempo jogada pelos médicos entre histeria masculina e histeria feminina, e
hoje eminentes autoridades – por exemplo, o Dr. Bernard Hollander – ne-
gariam que os sintomas ocasionalmente diagnosticados como histeria nos
homens sejam idênticos ou devidos às mesmas causas que as condições um
tanto semelhantes conhecidas nas mulheres sob o mesmo nome.
Afinal, toda essa questão, em sua orientação mais ampla, é mais
uma questão de bom senso do que uma observação de especialistas médi-
cos.
O que interessa aqui principalmente com tal "histeria" (de acordo
com o uso popular do termo) são alguns sintomas mentais patológicos em
mulheres abertos à observação por todos, e negados por qualquer um sem
33
os preconceitos das visões feministas. Toda pessoa imparcial tem apenas
que olhar em torno de suas conhecidas do sexo feminino, e lembrar as di-
ferentes mulheres, de todas as classes, condições e nacionalidades, com que
pode ter entrado em contato no curso de sua vida, para reconhecer os sin-
tomas de distúrbios mentais da instabilidade que são comumente chama-
dos de histéricos, e obterá pelo menos uma proporção de uma a quatro ou
cinco mulheres que conheceu, a um grau notável e inconfundível. A por-
centagem dada é, de fato, declarada em um relatório oficial do governo
prussiano que foi emitido cerca de dez anos atrás, como é evidente entre
as mulheres empregadas, as funcionárias postais e outras mulheres empre-
gadas no Serviço Público Prussiano. Certamente, no que diz respeito às
mulheres em geral, a observação do actual escritor, e de outros que ele
questionou sobre o assunto, parece indicar que as proporções dadas no re-
latório do serviço público prussiano sobre o número de mulheres afetadas
desta forma estão bastante aquém do que foi declarado 16. Há muitos mé-
dicos que afirmam que nenhuma mulher está completamente livre de sin-
tomas, pelo menos imediatamente antes e durante o período menstrual. O
cirurgião-chefe de um conhecido hospital em Londres informou a um
amigo meu que ele sempre soube quando estava nesse período ao se apro-
ximar de suas enfermeiras, por causa da mudança mental que estava to-
mando conta delas.
Agora, esses sintomas patológicos óbvios em um grau menor ou
maior de importância, na grande maioria, se não de fato, em todas as mu-
lheres, e em um grau patológico acentuado em uma grande proporção de

16
N.A.: As loucuras mencionadas acima são os extremos. Existem transtornos mentais de menor gra-
vidade que ocorrem constantemente e estão relacionados com o período menstrual regular, assim como
com a menstruação desordenada, com a gravidez, com o parto, com a amamentação e, principalmente,
com a mudança de vida [menopausa].

34
mulheres, é quase desnecessário dizer que não ocorrem em todos os ho-
mens. Eu certamente conheci, creio eu, dois homens e apenas dois, no
curso da minha vida, com sintomas mentais análogos ao que é comumente
chamado de "histérico" em mulheres. Por outro lado, minha própria ex-
periência, e não é a única, é que muito poucas mulheres com quem tenho
tido contato mais ou menos frequente, socialmente ou não, não têm os
sintomas mencionados em um grau marcado. Se, portanto, temos que ad-
mitir a mera possibilidade de que os homens sejam afetados de maneira
semelhante, deve-se reconhecer que esses casos representam essas raroe
aves17, para serem insignificantes para propósitos práticos.
Uma coisa curiosa nos exemplos desta pronunciada instabilidade
mental nas mulheres é que os sintomas são frequentemente muito seme-
lhantes em mulheres de muito diferente nascimento, ambiente e naciona-
lidade. Lembro-me, neste momento, de três casos, cada um diferente em
relação ao nascimento, à classe e um em caso de nacionalidade, e, no en-
tanto, eles desenvolvem os mesmos sintomas sob a influência de idées fixes
muito semelhantes18.
Mas parece quase desnecessário trabalhar o ponto em questão mais
de perto. Toda a experiência da humanidade desde a aurora dos registros
escritos confirma, como acima mencionado, que todas as pessoas que não
vivem especialmente comprometidas com as teorias do feminismo mo-
derno testemunham tanto a prevalência do que poderíamos chamar de
mente histérica na mulher como a sua fragilidade mental geral. Não é à
toa que mulheres e crianças sempre foram classificadas juntas. Este ponto
de vista, que é baseado na experiência unânime da humanidade e confir-
mado pela observação de todas as pessoas independentes, repito, não foi

17
N.T.: raroe aves significa "coisas estranhas".
18
N.T.: idées fixes significa "obsessões" ou uma ideia constante como um leitmotiv.

35
desafiado pelo surgimento do atual Movimento Feminista e quase por
qualquer um fora das fileiras daquele movimento.
Não se propõe aqui adiar longamente o fato frequentemente insis-
tente da ausência ao longo da história dos sinais de gênio e, com poucas
exceções, de notável talento na mulher humana, seja na arte, ciência, li-
teratura, invenção ou "questões". O fato é indiscutível, e se for argumen-
tado que essa ausência nas mulheres, de gênio ou de alto grau de talento,
não é prova da inferioridade da mulher média para o homem comum, a
resposta é óbvia.
Além de evidências conclusivas, o fato de haver em todos os perí-
odos da civilização, e até mesmo na mais alta barbárie, homens excepcio-
nalmente talentosos, mas nunca uma mulher adequadamente dotada, cer-
tamente é uma indicação de inferioridade da mulher média em relação ao
homem comum. Da altura dos picos das montanhas podemos, em igual-
dade de circunstâncias, sem dúvida, concluir com a existência de um pla-
nalto abaixo deles na mesma área do país de onde surgem. Neste capítulo,
além de em outros lugares, mencionei a falácia de que a inferioridade in-
telectual ou outros fundamentos em mulheres existentes no presente são
rastreáveis a qualquer alegada repressão no passado, uma vez que (Weis-
smann e sua negação de transmissão de caracteres adquiridos à parte),
supondo que, em nome do argumento, tal repressão tenha realmente al-
cançado a extensão alegada, e seus efeitos tenham sido transmitidos às
gerações futuras, é contra todas as leis da hereditariedade que tal trans-
missão tenha ocorrido apenas através da linhagem feminina, como é sus-
tentado pelos defensores dessa teoria. Referindo-se a este ponto, Herbert
Spencer manifestou a convicção da maioria dos pensadores científicos so-
bre o assunto quando se declara uma diferença entre as faculdades men-
tais de homens e mulheres como resultado de "uma necessidade fisiológica
36
e que nenhuma quantidade de cultura pode apagar". Ele também observa
(as passagens são produzidas em uma carta de John Stuart Mill) que " a
relativa deficiência da mente feminina está apenas nas faculdades mais
complexas, intelectuais e morais, que têm ação política para sua esfera".
Um dos pontos sobre a inferioridade das mulheres que até mesmo
as feministas estão dispostas a reconhecer, é o único ponto que pode ser
dito, é o da fraqueza física. A razão pela qual elas deveriam estar particu-
larmente ansiosas para enfatizar essa deficiência no sexo não é difícil de
discernir. É a única aparição possível de um argumento que pode ser plau-
sível avançar para justificar os privilégios das mulheres em certas dire-
ções. Na verdade, não o fazem, mas é o único pretexto que elas podem
fornecer com qualquer programa de razão absoluta. Agora você pode ob-
servar (1) a fraqueza geral das mulheres que jogam ceteris coetaris 19, con-
tra o seu próprio dogma da igualdade intelectual entre os sexos, (2) que
esta fraqueza física é mais particularmente fraqueza muscular, uma vez
que constitucionalmente o organismo da fêmea humana tem um enorme
poder de resistência e resiliência, em geral, muito maior que o do homem
(ver abaixo, pp. 125-128). É a observação comum de que a mulher média
pode passar por tensões e se recuperar de uma forma que poucos conse-
guem fazer.
Mas, como teremos a oportunidade de voltar mais tarde a esses
dois pontos, nos absteremos de dizer mais alguma coisa aqui. Como, então,
depois de todas essas considerações, nós devemos julgar a tese feminista,
afirmada e reafirmada, defendida por muitos como um axioma incontes-
tável, de que as mulheres são iguais, intelectual e moralmente, não fisica-
mente, ao homem? Sem dúvida, isso tem todas as características de um

19
N do T: ceteris coetaris significa "todas as outras coisas iguais".

37
verdadeiro dogma. Seus devotos poderiam dizer como Tertuliano, credo
quia absurdum20. Isso contradiz toda a experiência da humanidade no
passado. É refutado por toda observação imparcial no presente. Os fatos
que atentam contra isso são seriamente negados por qualquer um, exceto
aqueles comprometidos com o dogma em questão. Como todos os dogmas,
é apoiado pelo "blefe". Neste caso, o "blefe" é o de que é "a parte, marca,
negócio, lote" (como as gramáticas latinas de nossa juventude tiveram) do
homem "avançado" que se considera atualizado, e não "antigo victori-
ano", para considerá-lo como incontestável. Os dogmas teológicos são
apoiados pelo princípio da autoridade, seja das escrituras ou das igrejas.
O dogma feminista desta seita não é concedido pela autoridade de uma
comunhão dos santos, mas pela comunhão de pessoas avançadas até a
data. Infelizmente, o dogma não se encaixa tão bem na comunidade de
pessoas avançadas – que de outra forma professa e geralmente leva os
princípios que mantém à barra da razão e do teste crítico – como acontece
em uma igreja ou comunidade de santos, que se supõe estar individual ou
coletivamente em comunicação com a sabedoria do alto. De qualquer
forma, o "homem avançado" que é dito ser "atualizado" tem que engolir e
digerir este dogma da melhor maneira possível. Ele pode secretamente, é
verdade, expulsar de sua boca, mas em público, pelo menos, deve fazer
uma simulação e aceitar sem vacilar.

20
N.T.: credo quia absurdum significa "Eu acredito porque é um absurdo".

38
CAPÍTULO III
A CRUZADA ANTI-HOMEM

Já indicamos que o feminismo moderno tem dois lados ou verten-


tes. O primeiro definido pela formulação de demandas políticas, legais e
econômicas com base na justiça, equidade, igualdade e assim por diante,
como princípios gerais; o segundo não formula em muitas palavras os re-
quisitos definidos como princípios gerais, mas parece explorar as noções
tradicionais de cavalheirismo baseadas no sentimento do sexo masculino
em favor das mulheres, de acordo com privilégios especiais por causa de
seu sexo, na lei e ainda mais na administração da lei. Por uma questão de
brevidade, chamamos o primeiro feminismo político, porque, embora suas
demandas não se limitem à esfera política, em primeiro lugar, é um movi-
mento político, e sua reivindicação típica hoje, a licença (de voto) é pura-
mente política; e o segundo é o feminismo sentimental, na medida em que
ele comumente não professa basear-se em nenhum princípio geral, seja de
equidade ou não, mas se baseia exclusivamente nos sentimentos sexuais
tradicionais e convencionais do Homem para com a Mulher. Aqui pode
estar a premissa de que a maioria das feministas políticas, por mais que se
recusem a admitir isso, também são feministas sentimentais de coração.
As feministas sentimentais, por outro lado, nem sempre são feministas po-
líticas, embora a maioria delas, indubitavelmente, seja em maior ou me-
nor grau. Logicamente, como teremos ocasião de insistir, os princípios que
professam a raiz do feminismo político estão em flagrante contradição
com aqueles que podem justificar o feminismo sentimental.
Agora, ambos os modelos do feminismo que foram mencionados
têm atuado por mais de uma geração promovendo uma cruzada contra o
sexo masculino – uma Cruzada Anti-Homem. Seus esforços foram muito
39
bem-sucedidos devido ao fato de não terem atraído atenção suficiente. No
caso de outras classes, ou corpos de pessoas com comunidade de interesses,
esse interesse comum invariavelmente interpreta-se em um sentido de
classe, casta ou solidariedade racial. A classe ou casta tem uma certa ca-
maradagem corporal em seu próprio interesse. Toda a história gira em
torno de conflito de classes em grande parte econômica baseada na obten-
ção de um sentimento comum entre os membros das respectivas classes;
em pequena escala, vemos o mesmo na solidariedade de um determinado
ofício ou profissão. Mas é desnecessário fazer mais do que chamar a aten-
ção para esta lei sociológica fundamental sobre a qual tanto as lutas de
classe da história, e dos tempos modernos, e o patriotismo dos estados da
cidade-estado do mundo antigo ao estado nacional do moderno mundo,
são baseados. Agora, considere a maneira peculiar pela qual essa lei se ma-
nifesta na questão do sexo hoje. Enquanto o feminismo moderno conse-
guiu estabelecer uma poderosa solidariedade de sexo entre uma grande
proporção de mulheres contra homens, não há solidariedade de sexo dos
homens contra as mulheres, mas a prevalência de um sentimento comple-
tamente oposto. Os homens odeiam seus irmãos-homens como homens.
Em qualquer conflito de interesses entre um homem e uma mulher, o pú-
blico masculino, muitas vezes ignorando as considerações mais óbvias de
equidade, apoia as mulheres e as glórias deste modo de agir. Aqui parece
haver uma contradição flagrante com, como já foi dito, uma das leis soci-
ológicas mais fundamentais. Explicações dos fenômenos em questão es-
tão, é claro, sempre à mão: - A tradição de cavalaria, sentimentos, talvez
inerentes, possivelmente remonta ao estágio pré-humano da evolução do
homem, derivado da competição dos homens com seus parceiros masculi-
nos para a posse da cobiçada fêmea, etc.

40
Essas explicações podem ter uma medida de validade, mas devo
confessar que, para mim, elas não são suficientes para explicar o intenso
ódio que a maioria dos homens parece nutrir pelos seus semelhantes no
mundo de hoje e sua ânsia de defender as mulheres na guerra do sexo em
que a "união sexual" das mulheres, como tem sido chamada, foi declarada
nos últimos anos. Seja qual for a explicação, e confesso que não consigo
encontrar uma completamente satisfatória, o fato permanece. O movi-
mento de mulheres sem a assistência do homem, especialmente se foi for-
temente contestado pela opinião pública de uma falange sólida da mascu-
linidade de qualquer país, não poderia fazer nenhum progresso. Tanto é
assim que vemos os legisladores, os juízes, os júris, os sacerdotes, especial-
mente os não conformistas competirem entre si em denunciar a vilania e
a baixeza do sujeito do sexo masculino, desenvolvendo formas e meios
para fazer a vida mais difícil para ele. Estes são uma série de escritores e
jornalistas de vários graus de reputação que contribuem para o fluxo de
misandria em forma de romances, contos, ensaios e artigos, cujo propósito
é pintar o homem como um ser livre, criatura desprezível, ao mesmo
tempo um patife e um imbecil, uma ave de rapina e uma ovelha com a
pele de um lobo, e tudo como um antagonista para a glória da magnificên-
cia da feminilidade. Não há artistas que não queiram pressionar esse ser-
viço. A imagem do Muro de Contenção do Tamisa à noite, dos afogados
desgraçados com o rosto do anjo, a dama e o cavalheiro de vestido de noite
que acabaram de sair de seu táxi – a senhora de mãos erguidas curvando-
se sobre a forma gotejante e o insensível e brutal cavalheiro se desviando
para acender um cigarro – esse é um exemplo típico da arte didática femi-
nista. Por estes meios, que têm sido levados a cabo com ardor crescente
por um par de gerações passadas, o que podemos chamar de culto anti-
homem foi feito para florescer e dar frutos até encontrarmos hoje em dia
41
toda legislação recente que afeta as relações entre os sexos carregando sua
marca, e todo o judiciário e magistratura agindo como seus sacerdotes e
ministrantes.
Sobre o tema da legislação anti-homem, já escrevi extensamente
em outros lugares 21, mas, por uma questão de completude, declaro breve-
mente o caso aqui. (1) As leis do casamento de hoje na Inglaterra são um
monumento do viés sexual feminista. Se posso desculpar o paradoxo, a
parcialidade das leis sobre o casamento começa com a lei referente à vio-
lação da promessa, que, como é bem sabido, permite que uma mulher cas-
tigue um homem vingativamente por se recusar a casar-se com ela depois
de ter se envolvido com ela. Eu devo acrescentar, e isso, muitas vezes, no
entanto, que você pode ter boas razões para fazê-lo. Se a mulher cometer
perjúrio, nesses casos, ela nunca será processada pelo crime. Embora a lei
de quebra da promessa também exista para o homem, é bem conhecida
por ser totalmente ineficaz e praticamente letra morta. Deve-se ressaltar
que, não obstante, as grosseiras deturpações ou influências indevidas por
parte da mulher que podem induzir o homem a se casar com ela não a
fazem perder seu direito à indenização. Como, por exemplo, quando uma
mulher com 30 ou 40 anos de experiência no mundo pega uma criança
apenas na adolescência. (2) Novamente, de acordo com a lei da Inglaterra,
o direito de manutenção só será concedido à mulher. Antigamente, esse
privilégio dependia de sua convivência com o homem e de um comporta-
mento geralmente decente para ele. Agora, até mesmo essas limitações
deixam de funcionar, enquanto o homem está sujeito à prisão e ao confisco
de qualquer propriedade que possa ter. Uma mulher está agora em plena

21
N.A.: Cf. Quinzenal Review, novembro de 1911, "uma criatura de privilégio", também um panfleto
(em colaboração), intitulado "A sujeição legal dos homens". Twentieth Century Press, reimpresso pela
New Era Press, 1908.

42
liberdade para deixar seu marido e, enquanto ela retém seu direito de ob-
ter, seu marido é enviado para a prisão se ele se recusar a mantê-la – para
colocar o assunto brevemente, a lei impõe à mulher direitos não legal-
mente executáveis, o que ela sempre faz em relação ao marido. A única
coisa que será aplicada com força de ferro é o direito de manutenção da
esposa contra o marido. No caso de um homem das classes abastadas, a
propriedade do homem é confiscada pela lei em favor de sua esposa. No
caso de um trabalhador, a lei obriga o marido a fazer corvée por ela, como
o servo feudal tinha que fazer por seu senhor. A esposa, no entanto, por
mais rica que seja, não é obrigada a dar um centavo em apoio ao marido,
apesar da deficiência devido à doença ou acidente; a única exceção, neste
último caso, seria se tivesse ficado a cargo da paróquia, caso em que a
mulher teria de pagar às autoridades a taxa de uma pessoa pobre para sua
manutenção. Em uma palavra, uma esposa tem plena posse e controle so-
bre todos os bens que ela possa possuir, bem como sobre sua renda; o ma-
rido, por outro lado, está sujeito à apreensão de bens ou renda capitali-
zada, a pedido dos tribunais de justiça em favor de sua esposa. Uma es-
posa pode até mesmo tornar seu marido falido por causa do dinheiro que
ela alega ter emprestado a ele; um marido, por outro lado, não tem ne-
nhuma reclamação contra a esposa por dinheiro adiantado, já que um ma-
rido deve dar, e não emprestar dinheiro a sua esposa ou outros objetos de
valor. (3) A lei permite às mulheres o direito a cometer atos ilícitos contra
terceiros – por exemplo, difamação e calúnia – só o marido será responsá-
vel, e esta regra se aplica mesmo que a mulher viva separada de seu ma-
rido, que é totalmente inconsciente de seus erros. Com exceção do assassi-
nato, a esposa é considerada pela lei como inocente de praticamente qual-
quer crime cometido na presença de seu marido. (4) Nenhum homem pode
obter uma separação judicial ou divórcio de sua esposa (exceto sob a Lei
43
de Licenciamento de 1902, para uma separação do Tribunal Policial so-
mente para embriaguez habitual), sem um processo caro no Supremo Tri-
bunal. Toda mulher pode obter, se não um divórcio, pelo menos uma se-
paração legal, que vai reclamar com o tribunal de polícia mais próximo,
por alguns xelins, que o marido, é claro, tem que pagar. Neste último caso,
é necessário dizer que ele é multado em pensão alimentícia segundo o "cri-
tério da Corte". Esta "discricionariedae" é muitas vezes um personagem
estranho para o marido infeliz. Portanto, um homem que trabalha e ga-
nha apenas vinte xelins por semana pode facilmente encontrar-se na po-
sição de ter que pagar entre sete e dez xelins de seu salário por semana a
uma megera.
Nos casos em que uma mulher começa a pedir o divórcio, a estrada
é novamente suavizada para ela por lei, a cargo de seu marido. Ele tem
que avançar o dinheiro para que ele possa lutar contra ele. No caso de que
tratamos, o marido acha a balança ainda mais pesada contra ele, cada
calúnia de sua esposa é assumida como sendo verdadeira até que ele prove
sua falsidade; o menor ato ou palavra dita em um momento de irritação,
até mesmo uma proferida há muito tempo, é torcida em que é chamado
de "crueldade legal", embora isso tenha sido causado por uma longa série
de maus-tratos e negligência por parte da esposa. O marido e suas teste-
munhas podem ser acusados de perjúrio ao menor exagero ou imprecisão
de suas declarações, enquanto a falsidade mais calculada das mulheres e
suas testemunhas é esquecida. A acusação grosseira pela esposa contra o
marido, mesmo que provada no tribunal como falsa, é motivo suficiente
para o marido se recusar a voltar com ela de novo, ou de impedir o tribunal
de confiscar seus ativos, se ele se resiste a fazê-lo. O conhecimento da in-
justiça do tribunal para com o marido, como todos os advogados sabem,

44
impede que um grande número de homens defenda ações de divórcio tra-
zidas por suas esposas. Vale a pena mencionar aqui um ponto relativo à
ação de um marido por danos contra o sedutor de sua esposa. Tal dano,
obviamente, pertence ao marido como compensação por sua vida no lar
destruída. Agora esses danos nossos juízes modernos, em seu zelo femi-
nista, criaram um fundo para dotar a adúltera, privando o marido da com-
pensação para o mal que lhe foi feito. Ele não pode tocar os rendimentos
dos fundos concedidos pelo júri, que será entregue pelo tribunal para sua
esposa divorciada. Levaria muito tempo passar por todos os privilégios,
diretos e indiretos, conferidos por lei ou criados pelas decisões dos juízes e
prática judicial em favor da mulher contra o marido. Não é necessário
passar por cima deles aqui, já que podem ser encontrados em detalhe casos
ilustrativos na brochura mencionada em que eu trabalhava, intitulada A
submissão legal do homem22.
Neste ponto, pode ser bom dizer uma palavra sobre uma norma da
lei do divórcio que as feministas estão perenemente repetindo como prova
da terrível injustiça da lei do casamento contra as mulheres: que, para
obter um divórcio, a mulher tem que demonstrar crueldade além do adul-
tério do marido, enquanto no caso do marido é suficiente provar apenas o
adultério. Agora, fazer dessa regra uma queixa para a mulher é, na minha
opinião, a evidência da destituição do caso feminista. Na ausência de in-
justiça real, a mulher pressionada pela feminista é obrigada a fazer o
maior capital possível da menor aparência de queixa sobre a qual ela possa
colocar a mão. As razões para essa distinção que a lei estabelece entre ma-
rido e mulher são bastante óbvias, estão perfeitamente bem fundamenta-

22
N.T.: A tradução ou parte estará disponível no MoU.

45
das. Baseia-se principalmente no simples fato de que, enquanto uma mu-
lher por adultério pode impor ao marido um bastardo que ele será obri-
gado por lei a sustentar como seu próprio filho, no caso de o marido ter
um filho ilegítimo, a mulher e sua propriedade não serão afetadas. Agora,
em uma sociedade como a nossa, baseada na propriedade privada de re-
tenção, é natural, na minha opinião, que a lei leve esse fato em considera-
ção. Mas este Estado de Direito não só está quase certamente condenado
a revogar no futuro próximo, mas ainda hoje, embora ainda exista nomi-
nalmente, é praticamente letra morta no tribunal de divórcio, pois qual-
quer ato trivial que a mulher opta por reclamar é usada pelo tribunal
como prova da crueldade no sentido legal e técnico. Do jeito que as coisas
estão, o efeito prático da norma é uma injustiça muito maior para o ma-
rido do que para a mulher, já que o primeiro é frequentemente acusado de
"crueldade", que é praticamente nada, para que o pedido da esposa possa
ser concedido, e essa é frequentemente a desculpa dos juízes feministas
para privar o marido da custódia de seus filhos. A má conduta por parte
da esposa, ou a negligência do marido e dos filhos, não pesa no tribunal,
que, neste caso, não concederá ajuda ao marido em sua obrigação de ma-
nutenção, etc. Por outro lado, o abandono da esposa pelo marido torna-se
uma questão de separação judicial com as consequências habituais – pen-
são alimentícia, etc. "Assim", como foi dito "entre a pedra de cima e a de
baixo, a crueldade de um lado, a negligência do outro, o marido infeliz
pode ser legalmente despedaçado, quer ele faça alguma coisa, quer não
faça nada." A violência pessoal por parte do marido é severamente punida,
mas, se for por parte de uma esposa, ela será liberada com impunidade.
Mesmo que em casos extremos seja aprisionada, o marido, se for um ho-
mem pobre, quando for solta, será obrigado a levá-la de volta para morar
com ele. O caso veio ao conhecimento deste escritor há alguns anos,
46
quando um magistrado humano foi obrigado a deixar uma mulher que
quase tinha assassinado um marido sob a condição de ela graciosamente
consentir em uma separação, mas ela presumivelmente ainda deveria ser
apoiada por sua vítima.
A decisão no notório caso de Jackson impediu o marido de obrigar
a esposa a obedecer a uma ordem do tribunal para a restituição dos direi-
tos conjugais. A persistente tendência feminista de toda a jurisprudência
é ilustrada por uma decisão da Câmara dos Lordes em 1894, em referência
à lei da Escócia que constitui a deserção por quatro anos, uma razão ipso
facto para um divórcio com o direito de novo casamento. Aqui o divórcio
foi recusado a um homem cuja esposa o deixou por quatro anos e levou
seu filho com ela. Os juízes lordes justificaram a sua própria interpretação
da lei alegando que o homem realmente não queria que ela voltasse. Mas,
na medida em que esse fundamento pode ser iniciado em todos os casos
em que não se pode provar que o marido se humilhara diante de sua es-
posa, implorando a ela que retornasse, e possivelmente até então - já que
a sinceridade até mesmo dessa humilhação poderia ser questionada - É
claro que a decisão praticamente tornou a velha lei escocesa inoperante
para o marido.
Quanto ao crime de bigamia, pelo qual um homem comum recebe
uma dura sentença de trabalho forçado, acredito que posso aventurar-me
a afirmar, sem risco de contradição, que nenhuma mulher nos últimos
anos foi presa por este crime. A lei estatutária, enquanto confere privilé-
gios distintos às mulheres casadas quanto ao controle de suas proprieda-
des, e para negociar separadamente e à parte de seus maridos, torna-as
isentas das responsabilidades ordinárias incorridas por um comerciante
masculino quanto aos procedimentos sob os Atos dos Devedores e os Lei
de Falências. Veja os Atos de 1822 (45 e 46 Vict, c.75); 1893 (56 e 57 Vict,
47
63.), e os casos Scott vs. Morley, 57 anos L.J.R.Q.B. 43. L.R. 20 Q.B.D.
Em re Hannah Lines exparte C.A. Lester (1893) 23, 2. 2. B. 113.
No caso da Sra. Bateman v. Faber e outros Casos de Apelação do
Chanceler (1898 Relatórios da Lei), o Presidente da Seção Civil do Tribu-
nal de Apelação (Sir N. Lindley) é informado de ter dito: "As autoridades
mostraram que uma mulher casada não podia, por bem ou por mal, até
mesmo por sua própria fraude, privar-se da restrições à antecipação. Ele
não disse nada sobre a política da lei, mas tinha sido afirmado pela Lei de
Propriedade da Mulher Casada" (lei supracitada de 1882) "e o resultado
foi que uma mulher casada poderia jogar de maneira leve e pouco confiá-
vel a um grau que ninguém poderia" (N.B 24. – é, presumivelmente, uma
pessoa do sexo masculino).
De fato, isso foi mantido em tal âmbito que a lei estende sua pro-
teção e privilégios às mulheres, e até mesmo a ocultação por uma esposa
do marido no momento do casamento de que estava grávida de outro ho-
mem não era motivo para declarar o casamento nulo e sem efeito.
O precedente pode ser tomado como um todo justo, embora de
modo algum signifique uma declaração exaustiva do estado parcial atual
da lei civil em relação ao relacionamento entre marido e mulher. Agora
vamos passar para a consideração da incidência relativa do direito penal
em ambos os sexos. Vamos começar com o crime de homicídio. A lei do
homicídio permanece aparentemente a mesma para ambos os sexos, mas,
com efeito, a aplicação de suas disposições em ambos os casos é muito di-
ferente. Como, no entanto, essas diferenças são encontradas, como acaba-
mos de dizer, não na própria lei, mas na sua administração, só podemos

23 N.C.: In re Hannah Lines exparte Lester C.A. (1893).


24
N.T.: N.B. (Note Bene) significa "parece bom" ou "tenha cuidado".

48
ceder neste lugar, onde ela lida com os princípios da lei e não com sua
aplicação, uma fórmula geral de como a administração da lei do assassi-
nato prossegue, que, resumidamente, é a seguinte: A evidência, mesmo
para garantir a condenação no caso de uma mulher, deve ser muitas vezes
mais forte do que seria suficiente para enforcar um homem. Se uma con-
denação é obtida, a pena de morte, embora pronunciada, não dá efeito à
prisioneira, que é quase sempre perdoada. Na maioria dos casos em que
todas são condenadas, é por homicídio culposo e não por assassinato,
quando uma sentença leve e quase nominal é aprovada. Os casos que con-
firmam o que foi dito aqui serão dados posteriormente. Há um detalhe, no
entanto, que será indicado aqui, e essa é a incidência esmagadora da Lei
de Difamação. Isso significa que nenhum caso de mulher, por mais noto-
riamente culpada em relação à evidência, pode ser citado depois que ela
foi absolvida por um júri feminista, já que a lei considera que tal é inocente
e fornece "um remédio" em uma ação por difamação. Agora, uma vez que
a maioria das mulheres acusadas de assassinato é absolvida, independen-
temente das evidências, fica claro que o escritor é fatalmente incapacitado
até o ponto de confirmar sua tese dos casos aos quais ele se refere.
As mulheres são, para todos os fins e propósitos, autorizadas a as-
sediar os homens, quando elas concebem que têm uma queixa, por sua
própria doce vontade, com o magistrado geralmente dizendo à vítima que
ela não pode interferir. No caso oposto, o de um homem assediando uma
mulher, ela deve sempre encontrar garantias para seu futuro bom com-
portamento, ou então ir para a prisão.
Uma das leis mais infames indicativas do preconceito de gênero
feminista é a lei que altera o Código Penal de 1886. O ato em si foi condu-
zido com o habitual efeito de uma agitação jornalística inescrupulosa no
interesse feminista e puritano, projetado para criar um pânico na mente
49
do público, sob a influência de que a legislação deste tipo geralmente pode
ser apressada através do Parlamento. O temerário descaso dos princípios
comuns de justiça e bom senso desta lei abominável pode ser visto na falta
de vergonha de privilégio sexo concedida ao sexo feminino em matéria de
sedução. Em virtude de suas disposições, um menino de 14 anos de idade
pode ser processado e enviado para a prisão por um crime que foi instigado
por uma menina menor de 16 anos, a quem a lei, é claro, com base no
privilégio de sexo já mencionado, considera inocente. A escandalosa infâ-
mia dessa disposição é especialmente evidente quando se considera a
maior precocidade da menina média, em comparação com a média da cri-
ança dessa idade.
Chegamos agora à última peça da legislação anti-homem, a cha-
mada Lei do Comércio de Brancos de 1912 (Emenda do Código Penal de
1912, 2 e 3 Geografia V. c. 20). Este estatuto foi, como sempre, instigado
pela legislatura na onda de excitação pública fictícia organizada para esse
fim, e apoiada por declarações falsas e acusações consumadas exageradas,
todo o assunto são três peças falsas e mentiras deliberadas. Os supostos
perigos da fêmea desprotegida eram, para o propósito da agitação, delibe-
radamente exagerados na proporção proverbial da montanha ao grão de
areia. Mas em relação a muitos dos mais entusiastas em promover esta
parte da legislação Anti-Homem, provavelmente havia razões psicológi-
cas especiais para explicar sua atitude. As características especiais da Lei
em questão são: (1) maiores poderes conferidos à polícia em questões de
detenção por suspeita, e (2) as cláusulas de flagelação.

50
Até agora, a flagelação de garrotters 25 foi justificada contra adver-
sários, pelos seus defensores, por causa da natureza peculiar do crime bru-
tal de assalto à mão armada, com violência. Deve-se notar que na Lei em
questão, tal desculpa não pode ser aplicada, pois é designada para ser im-
posta por ofensas que, sejam elas quais forem, não envolvem violência e,
portanto, não podem ser descritas como brutais no sentido comum do
termo. A natureza anti-Homem em todas as medidas, a partir da mesma
agitação que o precedeu, está provada conclusivamente pelo fato de que,
embora seja sabido que o número de mulheres que vivem por "prcura-
ção"26 é muito maior do que o número de homens envolvidos neste, com-
parativamente poucas ofensas foram ouvidas contra os infratores do sexo
feminino na matéria, e certamente nenhuma com a ferocidade cortante
que foi derramada sobre os homens que supostamente pretendiam parti-
cipar no tráfego. Uma distinção correspondente foi representada na me-
dida em que era atribuída a tortura de chicotadas apenas aos homens. É
evidente, portanto, que o zelo pela repressão do tráfico em questão não foi
o único motivo no calor da flagelação da fraternidade. Mesmo o senti-
mento anti-homem por trás de todo este tipo de legislação parece insufici-
ente para explicar o surto da sede bestial de sangue, pela ferocidade do
tigre, da qual as cláusulas da flagelação da Lei são os resultados. Acredito
que não há dúvida de que a aberração sexual psíquica desempenha um
papel não desprezível em muitas pessoas – em uma palavra, elas estão
trabalhando sob certo grau de sadismo homossexual. A luxuriosa alegria
por parte das pessoas mencionadas acima, que saúdam a noção de esfola

25
N.T.: Garrotters significa "estranguladores".
26
N.T.: Procuración significa "cafetinagem ou prostituição".

51
parcial, pois é isso que o "gato" 27 significa, de algum pobre miserável que
sucumbiu à tentação de obter seu sustento por um método inadequado,
dificilmente será explicada em qualquer outra hipótese. Os especialistas
dizem que traços de aberração psicossexual são latentes em muitas pessoas
em quem seriam esperados, e é prima facie28 bastante provável que estas
tendências latentes tanto em homens como em mulheres devem participar
ativamente ao abrigo de uma agitação em favor da pureza e da antissexu-
alidade, a ponto de se satisfazer com a ideia de tortura infligida aos ho-
mens. Um dos elementos psicossexuais de outro tipo, sem dúvida, também
desempenha um papel não insignificante na agitação das "damas" em fa-
vor daquela abominação, "a pureza social", que, quando interpretada, ge-
ralmente significa lubricidade invertida. O ardente zelo manifestado por
muitas dessas senhoras pela supressão do sexo masculino certamente não
é sem seu significado patológico.
A monstruosidade da recente promulgação da emenda relativa ao
Tráfego de Escravas Brancas29 e a vingança selvagem contra os homens
são mostradas não só, como já observado, no tumulto que a precedeu, com
sua difamação exagerada de infratores do sexo masculino em matéria de
proxenetismo e sua aprovação com a comparativa ligeira censura das mais
numerosas ofensoras, ou no espírito geral que anima a própria lei, mas é
notável no ridículo exagero de suas provisões. Por exemplo, na seção que
trata do souteneur, os autores desta Lei, e os Atos anteriores da Emenda
da Lei Criminal, aos quais este último é meramente suplementar, não es-

27
N.T.: "Cat" neste contexto refere-se ao chicote de nove caudas para a comparação de suas marcas
na carne com as garras do felino.
28
N.T.: prima facie é uma frase latina que significa "à primeira vista".
29
N.T.: A lei, ato ou emenda do Tráfico de Escravos Brancos é traduzível como o "Tráfico de Leis
Brancas" espanholas.

52
tão satisfeitos em penalizar o homem que não tem outros meios de subsis-
tência além do que deriva do salário da prostituição de algumas amigas,
mas eles atacam com rigor imparcial o homem que conscientemente vive
total ou parcialmente de tal fonte. Se, portanto, a cláusula é tomada em
seu sentido estrito, qualquer homem pobre sem dinheiro que aceitou a
hospitalidade de uma mulher de virtude duvidosa em questão, de uma
bebida ou um jantar, que foi colocado dentro dos limites desta Cláusula
da lei, poderia ser adequadamente esfolado pelo "gato" em consequência.
O caso mais flagrante ocorreu em um tribunal de polícia em Londres em
março de 1913, quando um jovem de 18 anos, contra cujo caráter geral
nada foi alegado e que era conhecido como um carreteiro, foi condenado a
trabalhos forçados um mês nas seguintes circunstâncias: - Ele relatou que
estava vivendo com uma mulher, aparentemente, bem mais velha que ele,
a quem sem dúvida ele tinha mantido por seus próprios esforços e, quando
isso não era suficiente, mesmo com os esforços de suas roupas, logo ele
descobriu que ela estava ganhando dinheiro com a prostituição que ela
havia deixado. Acredita-se que o processo foi instituído pela polícia contra
este jovem sob a injusta Lei de Trânsito dos Escravos Brancos? Mas o que
parece ainda mais incrível é que o juiz, presumivelmente um cavalheiro
sensato, depois de admitir que o pobre homem era "mais ofendido que
ofensor" não hesitou em aplicar-lhe uma pena de trabalhos forçados um
mês !!! É claro que a mulher, que era a cabeça e a frente da queixa, se
ofendida ali, permaneceu intacta. O caso acima é uma amostra suave da
"justiça" imposta em nossos tribunais de polícia", apenas para os ho-
mens"! Recentemente, houve um caso no norte da Inglaterra de um ho-
mem da estrada, deve ser admitido, que trabalhou em sua profissão, mas
que, alega-se, foi assistido pela mulher com quem ele tinha vivido. Agora
este infeliz homem foi condenado a uma longa sentença de prisão, mais
53
açoitamento. Para os juízes, é claro, qualquer extensão de seu poder sobre
o prisioneiro no banco é uma dádiva do céu. É evidente que eles se delei-
tam com o novo privilégio de infligir tortura. Um deles recentemente teve
a falta de vergonha de se vangloriar da satisfação que lhe deu e zomba dos
colegas que não fizeram pleno uso de seus poderes judiciários a esse res-
peito.
A falsa natureza das razões instigadas a favor das cláusulas mais
atrozes desta abominável lei saiu com bastante clareza nos discursos em
favor dos porta-vozes oficiais do governo. Por exemplo, Lorde Haldane,
da Câmara dos Lordes, implorou aos camaradas reunidos que as concedes-
sem à infeliz vítima do souteneur. Ele desenhou a imagem de como um
valentão sem coração poderia bater, fazer passar fome e maltratar sua ví-
tima e tirar seus lucros. Ele se omitiu de explicar como o valentão sem
coração em um país livre poderia forçar sua "vítima" a permanecer com
ele contra sua vontade. Ele ignorou a existência da polícia, ou de todo um
exército ocupado de pureza social, e sociedades de vigilância para as quais
seu caso seria um petisco saboroso a ser agarrado ansiosamente. Se a "ví-
tima" não se beneficia de nenhum desses meios de fuga, tão à mão, a pre-
sunção é que prefere a companhia de seu pretenso brutal tirano ao das
castas puritanas das sociedades de vigilância. Para aqueles que seguem o
estado atual da opinião pública na matéria artificialmente fomentada, a
sugestão de Lord Haldane de que não havia nenhum perigo para a bela
"vítima" de não ser suficientemente babada mais, vai parecer que não é
sem um toque de humor. Além disso, como ilustrado pela falta de lógica
absoluta na linha tomada pelos promotores da lei, para quem Lorde Hal-
dane atuou como porta-voz, temos apenas que observar o fato de que a
medida não limita às sanções impostas aos casos acompanhados pelas cir-

54
cunstâncias de agravamento, como o Sr. Haldane desenha, o que ele po-
deria facilmente ter feito, mas que se estende imparcialmente a todos os
casos acompanhados de crueldade ou não. Dificilmente podemos imaginar
que um homem do poder intelectual de Lord Haldane e da humanidade
em geral não deveria estar ciente do vazio do caso que ele teve que se co-
locar como um defensor oficial, e da podridão dos argumentos convencio-
nais que ele teve que declarar em seu apoio. Quando confrontados com a
inquestionavelmente verdadeira afirmação de que as punições corporais,
especialmente as de tipo selvagem e vingativo, são degradantes tanto para
os seus infligidores quanto para aqueles que são suas vítimas, ele respon-
deu que os criminosos nos casos em questão já eram assim, que degradados
que eles não poderiam ser ainda mais. Alguém poderia imaginar que ele
dificilmente poderia ter falhado em saber que ele estava falando bobagens
perniciosas. É óbvio que este argumento, além de ser falso, na verdade
abre as comportas para uma legislação penal brutal, pelo menos no que
diz respeito às ofensas mais sérias. Poder-se-ia igualmente afirmar que os
perpretadores de assassinato, roubo, até mesmo abuso de confiança 30 em
alguns casos, e outras ofensas, deviam ser tão degradados que nenhuma
quantidade de punição brutal poderia degradá-los ainda mais. Todos po-
dem considerar o crime ao qual ele tem uma aversão a animais de estima-
ção mais do que outros crimes, indicando que o perpetrador está fora do
alcance da humanidade.
Mas, em relação ao caso particular em questão, vamos por um mo-
mento limpar nossa mente da hipocrisia sobre o assunto. A procuração e
também viver dos lucros da prostituição pode ser um método moralmente

30
N.T.: O abuso de confiança neste contexto deve ser entendido como "violação da verdade".

55
abominável de garantir um sustento, embora mesmo aqui, como na mai-
oria dos outros crimes, possa haver circunstâncias atenuantes em casos
individuais. Mas depois de tudo, é duvidoso que, independentemente de
qualquer fraude ou deturpação, o que, naturalmente, coloca tudo em uma
categoria diferente, estas devem ser consideradas delitos criminais. Ofere-
cer instalações ou atuar como um agente para mulheres que estão ansiosas
para levar uma "vida alegre", ou mesmo sugerir tal curso para mulheres,
desde que a prostituição em si não seja reconhecida pela lei como crime,
embora moralmente repreensível, dificilmente parece transcender os limi-
tes da liberdade individual legítima. Em qualquer caso, a constituição
como ação criminal deveria, sem dúvida, abrir um princípio completa-
mente novo na jurisprudência, e uma das consequências de longo alcance.
As mesmas observações se aplicam ainda mais à questão da distribuição
dos benefícios de uma prostituta. A prostituição per se31 não está nos olhos
da lei como um crime ou mesmo uma contravenção. A mulher que ganha
a vida como prostituta está sob a proteção da lei, e o dinheiro que ela
recebe de seu cliente é reconhecido como sua propriedade. Se, no entanto,
no exercício do seu direito de dispor livremente de tais bens, dá um pouco
para um amigo, esse amigo, pela mera aceitação de um presente, torna-se
um criminoso aos olhos da lei. Nada mais absurdo, a julgar por todos os
princípios até agora reconhecidos da jurisprudência, dificilmente pode ser
imaginado. Mesmo do ponto de vista moral da classe de casos que estão
sob a alçada da Lei, dos homens que participam em parte dos lucros do
tráfico de suas amigas, deve envolver muitos casos em que nenhuma pes-
soa sã – ou seja, alguém que não é mordido pelo ódio irracional das femi-
nistas pelo homem e a promotora da pureza social – deve considerar a

31
N.T.: per se significa "em si".

56
obliquidade moral envolvida como não muito séria. Tomemos, por exem-
plo, o caso de um homem que não tem trabalho, que pode estar morrendo
de fome e recebe assistência temporária desse tipo. Além de tudo isso, é
sabido que algumas mulheres, assistentes de loja e outros, ganham parte
de sua vida por sua respeitável ocupação e parte de outra maneira. Agora,
presumivelmente, a entrega de uma parte de seu salário regular ao seu
amante não constituiria o segundo como um criminoso exterminador, mas
a dotação dele com uma parte de qualquer dos "presentes" obtidos pela
busca dela em sua vocação, outros o fariam. O processo de atribuir o dom
permissível e o presente inadmissível parece muito difícil, mesmo que pos-
sível.
O último ponto referido nos leva a outra reflexão. Se o homem que
vive "no todo ou em parte" do produto da prostituição das mulheres é
necessariamente um miserável degradado fora dos limites de toda a hu-
manidade, como é representado pela fraternidade do açoitamento, e
quanto ao empregador do trabalho feminino que baseia sua escala de sa-
lários no pressuposto de que as meninas e mulheres que ele ou ela emprega
complementam estes salários com presentes recebidos após o horário de
trabalho, por seus favores sexuais - em outras palavras por prostituição?
Muitos desses empregadores trabalhistas, sem dúvida, estão entre o nobre
grupo de defensores da Lei do Tráfico de Escravos Brancos, açoitamento
e pureza social. Pessoas mais velhas, é claro, são membros respeitáveis da
sociedade, enquanto um cafetão é um pária.
Além das razões mencionadas acima, como as ações dos promoto-
res da agitação artificial e falsa chamada "Escrava Branca", há um mo-
tivo político e econômico muito poderoso que não deve ser deixado de
lado. Em vista da atual "inquietação trabalhista", é altamente desejável,

57
do ponto de vista de nossas classes proprietárias e governantes, que a aten-
ção popular seja retirada dos erros trabalhistas e dos ressentimentos tra-
balhistas por algo menos assediante para a mente capitalista e oficial.
Agora, a agitação anti-homem forma uma cortina de fumaça capital para
a elaboração da essência popular da oposição de classe pela substituição
do antagonismo do sexo em seu lugar.
Se a opinião pública pode ser estabelecida fora da questão das mu-
lheres mal-intencionadas e das mulheres oprimidas, fez muito para ajudar
as empresas capitalistas a superar a crise atual. A insistência da opinião
pública por melhores condições para o trabalhador será enfraquecida ao
ser desviada para frente, exigindo leis de vingança contra os homens, e
para colocar tanto quanto o poder do estado à disposição da virago, da
megera e da fêmea mais afiada, em seus planos contra sua vítima mascu-
lina. Porque, lembre-se, é sempre o pior tipo de mulher que acumula a
vantagem das leis aprovadas como resultado da campanha anti-homem.
A natureza real da campanha é vitalmente exposta em algumas das de-
mandas concretas apresentadas por seus defensores.
Uma das medidas propostas na chamada "Carta das Mulheres",
feita por Lady M'Laren (agora Lady Aberconway) com a aprovação de
todas as feministas proeminentes, cerca de quatro ou cinco anos atrás, e
que tinha sido defendida por outras autoras feministas, foi no sentido de
que o marido, além de suas outras responsabilidades, deve ser legalmente
obrigado a pagar uma certa quantia para sua esposa, aparentemente por
seus serviços de limpeza, independentemente de ela realizar um serviço
bom ou ruim, ou nenhum. Qualquer que seja a mulher, ou não, o marido
tem que pagar o mesmo. Outra das cláusulas contidas neste documento
valioso é no sentido de que a mulher não está sob nenhuma obrigação de
seguir seu marido, provavelmente forçado pela necessidade de ganhar a
58
vida para ele e ela, em qualquer local de residência fora do Ilhas Britâni-
cas. Essa mania favorita das feministas, de aumentar a idade de consenti-
mento com o resultado de aumentar o número de vítimas para o plano das
jovens, deveria falar por si mesma a toda pessoa imparcial. Uma das pro-
postas que são mais favoráveis às feministas sentimentais é a exigência de
que, no caso de assassinato cometido por uma mulher contra seu filho ile-
gítimo, o pai putativo deve ser colocado no banco como cúmplice! Em
outras palavras, um homem deve ser punido por um crime do qual ele é
totalmente inocente, porque o culpado era na verdade uma mulher. Que
tal proposta seja assim recebida por uma pessoa saudável em outros as-
pectos é de fato significante da degeneração da fibra moral e mental indu-
zida pelo movimento feminista, uma vez que estas podem ser tomadas
como habituais. Isso me lembra uma amiga minha feminista que, desafi-
ada por mim, lutou (por muito tempo em vão) para encontrar um caso nos
tribunais onde um homem era indevidamente favorecido à custa de uma
mulher. Finalmente, ela alcançou a iluminação do seguinte, vindo de al-
gum lugar da Escócia: um homem e uma mulher que haviam bebido foram
dormir em casa, e a mulher causou a morte de seu bebê "sobrepondo-se"32.
Tanto o homem quanto a mulher foram levados perante a corte pelo crime
de homicídio, por causar a morte da criança por negligência culposa. De
acordo com as provas, a mulher que cobriu o bebê foi considerada culpada
e sentenciada a seis meses de prisão, e, claro, o homem, que não o fez, foi
libertado. Agora, na frase de minha amiga feminista, em muitos outros
assuntos saudáveis, o fato de que o homem que não cometeu nenhum
crime foi deixado de fora, enquanto sua parceira, quem quer que fosse, foi
punida, mostrou a parcialidade da corte a favor do homem! Certamente,

32
N.T.: Entende-se que o bebê é esmagado ou sufocado.

59
este é um exemplo digno de menção, gritante como é, de como todo o jul-
gamento é completamente desequilibrado e destruído em mentes judiciais
– de como tais mentes são completamente hipnotizadas pela adoção do
dogma feminista. Em face dos casos que ocorrem todos os dias em todo o
país, da flagrante injustiça para com os homens e da parcialidade dos tri-
bunais pelas mulheres, atrevo-me a dizer que não há um único caso dentro
dos limites dos quatro mares 33 de uma decisão judicial na direção oposta
– isto é, a favor do homem em detrimento das mulheres.
Esse ódio sexual, tão freqüentemente em sua natureza vingativa,
de homens para homens, que resulta em leis "artificiais" invariavelmente
a favor do sexo oposto, e que o "homem administrador da justiça" segue o
mesmo caminho, é um problema psicológico que merece a atenção séria de
estudantes de sociologia e pensadores em geral.

33
N.T.: Eu acho que se refere aos mares europeus: Mediterrâneo, Báltico, Norte e Negro.

60
CAPÍTULO IV
SEMPRE A “INOCENTE FERIDA”

Enquanto o que temos chamado Feminismo Político veemente-


mente afirma seu dogma favorito, a igualdade moral e intelectual dos se-
xos – que as mulheres são tão boas como os homens, se não melhores – o
Feminismo Sentimental procura veementemente exonerar toda mulher
criminosa e protesta contra qualquer punição imposta a ela na gravidade
que seria concedida a um homem em um caso similar. Ele o faz por razões
que envolvem a velha teoria da inferioridade incomensurável das mulhe-
res, mental e moral, que é tão rejeitada por todas as feministas políticas –
ou seja, em sua qualidade como tal. Podemos supor, portanto, que o Fe-
minismo Político, com sua teoria da igualdade de gênero baseada na su-
posição de igual capacidade dos sexos, seria forte oposição neste momento
com o Feminismo Sentimental, que pretente, como seu nome indica, ate-
nuar a responsabilidade da mulher por razões que não se distinguem da
hipótese da inferioridade antiquada. Mas o Feminismo Político adota co-
erentemente essa posição lógica? Nem um pouco. É verdade que algumas
feministas, quando estão em apuros, com relutância, podem conceder a
inconsistência em uma base racional das reivindicações do Feminismo
Sentimental. Mas como um todo, em suas relações práticas, as Feministas
Políticas concordam com as Feministas Sentimentais em reivindicar imu-
nidade às mulheres por causa do sexo. Isso é mostrado em todos os casos
em que uma criminosa recebe mais do que uma sentença nominal.
Nós realmente demos exemplos do ato em questão e eles poderiam
ser estendidos indefinidamente. No final de 1911, em Birmingham, no
caso de uma mulher condenada pelo assassinato de seu amante por verter

61
deliberadamente sobre ele óleo inflamável, enquanto ele dormia, e em se-
guida atear-lhe fogo, então não só exultou da ação, mas disse que estava
pronta para fazê-lo novamente, o júri apresentou uma recomendação de
misericórdia em seu veredicto. É desnecessário dizer que a influência do
Feminismo Político e Sentimental era forte demais para permitir que a
pena de morte fosse cumprida, mesmo que contra uma miserável desal-
mada como essa. No caso da mulher italiana no Canadá, Napolitano, an-
tes mencionada, as sociedades de licença34 das mulheres emitiram uma pe-
tição ao Sr. Borden, o primeiro-ministro do Canadá, para a comutação da
pena. O curso usual foi adotado neste caso, como na maioria dos outros
em que uma mulher assassina um homem – ou seja, o verdadeiro "cava-
lheirismo" de tentar denegrir o caráter da vítima morta em defesa da ação
da assassina. Em outros casos, especialmente, é claro, quando o homem é
culpado de um crime contra uma mulher, quando a misericórdia é solici-
tada ao ofensor, somos exortados a "pensar na pobre vítima". Como vi-
mos, Lorde Haldane apresentou essa exortação em um caso em que era
absurdamente inadequado, já que a "vítima" muito comedida tinha de
agradecer apenas por ser uma "vítima" e ainda mais por permanecer uma
"vítima". Nós nunca ouvimos este apelo para a "vítima" instigada quando
a "vítima" passa a ser um homem e o agressor uma mulher. Compare isso
com o caso do menino de 19 anos, Beal, a quem o Sr. M'Kenna enforcou
pelo assassinato de sua noiva, e que no confronto de uma dada explicação
da defesa que era pelo menos possível, quando não provável, e isso certa-
mente colocando-o no nível mais baixo, introduziu um elemento de dú-
vida no caso. Imagine que uma garota de 19 anos tenha sido condenada,
seja qual for a evidência, de ter envenenado seu amante ou mesmo que,

34
N.T.: Sociedades licenciadoras: outra forma de denominar sociedades de sufrágio ou sociedades que
reivindicam um direito particular em favor das mulheres.

62
na impossibilidade 35 de ela ser condenada, imagine que ela tenha recebido
mais do que um curto período de prisão!! Um homem morto por uma mu-
lher é sempre a horrível besta, enquanto a mulher morta pelo homem é
como a vítima angélica seguramente. Qualquer pessoa que leia os relatos
de caso com uma mente imparcial deve admitir a exatidão absoluta dessa
afirmação.
A mulher divina é sempre a "inocente ferida", não só nos crimes
mais graves, como o assassinato, mas também nos crimes menores que são
objeto de conhecimento da lei. Nas sessões de Ledbury Petty, uma mulher
a serviço de um caixeiro que roubou as mercadorias no valor de 150 libras
foi absolvida com base na "cleptomania", e isso apesar do fato de ela ter
sido contratada pelo promotor por mais de cinco anos, nunca se havia
queixado da doença e nunca estivera ausente do negócio; também que sua
senhoria deu provas mostrando que ela estava em plena capacidade física
e mental. Nas sessões muito semelhantes, dois homens foram condenados
a penas de prisão, respectivamente, oito e doze meses pelo roubo de mer-
cadorias no valor de 5 libras! (John Bull, 12 de novembro de 1910).
Neste ponto, posso citar o artigo acima mencionado (Quinzenal
Review, novembro de 1911, caso extraído de um relatório publicado no
The News of the World, de 28 de fevereiro de 1909): "Uma jovem atirou
no carteiro local com um revólver, a bala roçou seu rosto, ela tinha atirado
à queima-roupa na cabeça, o júri emitiu um veredicto de inocência, em-
bora o revólver foi encontrado com ela quando ela foi presa, e os fatos
foram admitidos e foram os seguintes: - Ao meio-dia ele saiu de casa, atra-
vessando três campos até a casa da vítima, que estava em casa e sozinha;
em sua declaração, ela disparou à queima-roupa em sua cabeça; Ele bateu

35
N.T.: Por impossível significa "o impossível foi realizado".

63
na porta, de modo que desviou a bala, que lhe roçou o rosto e "lavrou um
sulco no cabelo". Ela tinha um revólver carregado com quatro cargas não
disparadas.
Vamos agora tomar o crime de agressão violenta com a intenção
de causar danos corporais. Os seguintes casos servirão como exemplos ilus-
trativos: - A partir do News of the World, 9 de maio de 1909: Uma enfer-
meira em Belfast processou seu amante perdido por quebra de promessa.
Ela recebeu 100 libras por danos, apesar de ter sido admitido por seu ad-
vogado que ela jogou vitríolo no réu, o que causou seus ferimentos, e o réu
não a perseguiu! Também foi admitido que ele estava "vendo" outro ho-
mem. Do The Morning Leader, de 08 de julho de 1905, tomei os seguintes
fatos extraordinários sobre a sentença variada emitida em casos de liber-
tação de vitríolo: a mulher que jogou vitríolo em um sargento em Alders-
hot, foi condenada a seis meses de prisão, sem trabalho forçado, enquanto
um homem que atirou em uma mulher em Portsmuth foi julgado e conde-
nado no tribunal de Hants, em 7 de Julho de 1905, e sentenciado pelo juiz
Bigham a doze anos de trabalho forçado! Em relação ao primeiro caso,
note-se que (apesar de um crime que, no caso de um homem, foi descrito
pelo juiz como "covarde e desprezível" e mereceu doze anos de trabalho
forçado), ela foi recompensada por danos com 100 libras esterlinas, a se-
rem obtidos da vítima a quem ela mesma fizera todo o possível para mu-
tilar por toda vida (além de ser infiel a ele) e que, generosamente, se abs-
tivera de processá-la.
Mas não é só em casos de homicídio, tentativa de homicídio ou
agressão grave que a justiça pode ser desrespeitada pelo estado atual da
nossa legislação e pela sua administração em benefício do sexo feminino.
A mesma atitude é observada, as mesmas sentenças farsesas sobre a pró-

64
pria mulher, se o crime é um roubo, fraude, agressão comum, calúnia cri-
minosa ou outras ofensas menores. Temos as mesmas desculpas absurdas
admitidas, as mesmas razões absurdas permitidas, e as mesmas sentenças
falsas lavradas – se, de fato, qualquer sentença for lavrada. Os exemplos
a seguir selecionei aleatoriamente: - De John Bull, 26 de fevereiro de 1910:
Nas sessões de Londres, o Sr. Robert Wallace teve que lidar com o caso de
uma mulher bem-vestida que vive em Hampstead, que se declarou cul-
pada de obter produtos no valor de 50 libras sob falsos pretextos. Na ex-
plicação de seu crime, foi dito que ela estava com a impressão equivocada
de que seu compromisso não levaria ao casamento, que entrou depressão
e que ela "não sabia o que disse ou fez", enquanto na mitigação da pena se
alegou que o dinheiro foi pago, que seu namorado não poderia se casar
com ela se ela fosse mandada para a prisão, e que sua vida seria irremedi-
avelmente arruinada, e ela foi absolvida! Do The Birmingham Post, 4 de
fevereiro de 1902: Uma funcionária (26 anos) se declarou culpada de pecu-
lato de £ 5, 1s. 9d. em 16 de novembro, £ 2, 2s. 4d. em 21 de dezembro e £
5, 0s. 9d. em 23 de dezembro, do dinheiro do seu empregador. A acusação
do procurador disse que a prisioneira começou a trabalhar para o candi-
dato em 1900, e em junho o seu salário aumentado para seus 27s. 6d. na
semana. Os desfalques, que começaram um mês antes do aumento, foram
de 134 libras. Ela tinha falsificado os livros e, quando a suspeita caiu sobre
ela, destruiu dois livros, com o fim, segundo ela pensava, de evitar ser de-
tectada. Seu advogado pediu clemência com base em seu bom caráter an-
terior e porque ela estava noiva! O juiz meramente a vinculou36 afirmando

36
N.C.: De acordo com a Wikipédia: Na lei da Inglaterra e do País de Gales e em outras jurisdições da
lei comum, como Hong Kong, a vinculação, a vinculação da ordem e a vinculação à sentença são exer-
cícios de certos poderes dos magistrados. Uma pessoa vinculada pode ser obrigada a abster-se de certas
atividades por um período estipulado, a ter bom comportamento ou a cumprir outras condições. Ao
vincular uma pessoa, o magistrado normalmente estipula uma multa financeira condicional ou multa a
ser paga se a pessoa violar posteriormente a ligação por encomenda. Se a pessoa violar as condições, ele

65
que seus pais e a jovem eram respeitáveis, e assim era a casa em que se
hospedara!. Um correspondente menciona em The Birmingham Post feve-
reiro 1902 um caso em que uma mulher tinha queimado os escritórios e
propriedade de seu empregador, causando danos no valor de 1800 libras e
terminou um mês de prisão. Por outro lado, o mesmo juiz, na mesma Ses-
sões Trimestrais, assim lidou com dois trapaceiros masculinos: C.C. (28
anos), escrevente, que se declarou culpado de desvio de duas somas de di-
nheiro de seu mestre em Agosto e Setembro de 1901 (valores não dado),
foi enviado para a prisão por 6 meses do calendário, e o Secretário-Geral
(24 anos), escrevente, se declarou culpado de peculato de 7s. 6d. e 3s. Para
a defesa foi instado que o prisioneiro tinha sido mal pago, e o magistrado,
ao ouvir que um cavalheiro estava disposto a empregar o homem tão logo
fosse libertado, condenou-o a trabalhos forçados de três meses! Oh magis-
trado misericordioso!
A teoria das "inocentes feridas" geralmente entra em jogo com os
magistrados quando uma mulher é sobrecarregada de aborrecimento e as-
sédio agravado de homens em seus negócios ou profissão, quando, como
já foi dito, o administrador da lei normalmente diz ao promotor que ele
não pode interferir. No caso oposto de um homem incomodado por uma
mulher sob circunstâncias semelhantes, ele sempre tem que encontrar ga-
rantias substanciais de seu bom comportamento ou ir para a cadeia. Não
há "inocência ferida" para ele!
Há outro caso em que parece provável que, animados pela mesma
ideia fixa, os responsáveis pela formulação de leis negligenciaram flagran-
temente uma medida óbvia para a segurança pública. Referimo-nos à
venda irrestrita de ácido sulfúrico (vitríolo), o que é permitido. Aqui agora

ou ela pode ser preso e levado ao tribunal ou obrigado a retornar ao tribunal, onde o magistrado pode
impor a sanção financeira estipulada ou de outra forma alienar o caso.

66
temos uma substância que apenas tem fins muito especiais na indústria,
não na economia do lar, ou em outros departamentos, exceto para fins
criminosos, que, no entanto, é obtida sem impedimentos ou obstáculos. É
possível acreditar que este seria o caso se os homens tivessem o hábito de
usar esta substância na solução de suas diferenças com o outro, ainda mais
se usado para enfatizar a sua desaprovação da ruptura de noivados? O
fato de ser empregada por mulheres em sua vingança contra amantes re-
calcitrantes parece uma ação natural, se não precisamente louvável, aos
olhos da opinião pública Sentimental Feminista, e que, sob a hipótese
mais branda, "não liga". Portanto, uma substância mortal pode ser com-
prada e vendida livremente, como se fosse óleo de fígado de bacalhau.
Uma coisa muito boa sobre o moleque covarde para quem a opinião pú-
blica só tem a mais suave censura! Em uma sociedade justa, a venda in-
discriminada de substâncias corrosivas seria em si um crime passível de
punição severa.
Não é só para os homens, e para uma opinião pública mórbida in-
flamada pelo sentimento feminista em geral, que as mulheres delinquentes
estão cercadas por um halo de inocência ferida. O leitor não pode deixar
de notar que essas mulheres têm o descaramento de fingir se consideram
neste sentido. Isso geralmente acontece em casos de agressão, assassinato
ou tentativa de assassinato de amantes por suas parceiras. E isso, claro, é
especialmente notável nos ataques perversos sem sentido, dos quais fala-
remos depois. O falecido Otto Weininger, em seu livro citado acima, Ges-
chlecht und Charakter (Sexo e Caráter), tem algumas observações notáveis
sobre este assunto, observações, se aceitarmos a teoria que as sugere, que
poderiam haver sido escritas como um comentário sobre casos recentes de
crimes e criminosas sufragistas. "O criminoso masculino", diz Weininger,
"tem desde o nascimento a mesma relação com a ideia de valor moral do
67
que qualquer outro homem em quem as tendências criminosas que gover-
nam a si mesmo possam estar totalmente ausentes. A mulher, por outro
lado, alega estar plenamente justificada quando cometeu a maior infâmia
concebível. Embora o criminoso genuíno seja obtusamente silencioso con-
tra todas as censuras, uma mulher expressará seu espanto e indignação de
que qualquer um possa duvidar de seu perfeito direito de agir como ela
fez. As mulheres estão convencidas de que estão certas sem nunca terem
se julgado. O criminoso masculino, pode ser verdade, também não o faz,
mas nunca afirma que está certo. Ele prefere sair rapidamente do caminho
do discurso do bem e do mal, porque se refere à sua culpa. Neste fato,
temos provas de que ele tem um relacionamento com a ideia [moral], e
isso é deslealdade para com seu eu melhor, do qual ele não está disposto a
ser lembrado. Nenhum criminoso masculuno realmente acreditou que a
injustiça foi feita a ele por punição. A mulher criminosa, por outro lado,
está convencida da maldade de seus acusadores e, se ela não quiser, nin-
guém pode persuadi-la de que agiu mal. Se alguém a adverte, é verdade
que ela muitas vezes desaba em lágrimas, implora por perdão e admite sua
culpa; Além do mais, ela pode acreditar que ela realmente sente essa falta.
Este é apenas o caso, no entanto, quando ela se sentiu inclinada a fazê-lo,
pois essa mesma dissolução em lágrimas a afeta sempre com um certo pra-
zer voluptuoso. O macho criminoso é obstinado, ele não se deixa abaixar
em um momento, pois o aparente desafio de uma mulher pode se tornar
um sentimento de culpa, onde, isto é, o acusador entende como lidar com
isso" (Geschlecht und Charakter, p. 253-254). A conclusão de Weininger é:
"não é que a mulher seja má por natureza ou antimoral, mas que ela é
simplesmente amoral, isto é, ela é destituída do que é comumente cha-
mado de 'senso moral'". Os casos de penitentes femininos e outros que pa-

68
recem contradizer essa afirmação de Weininger são explicados pela hipó-
tese de que "somente em companhia e sob influência externa a mulher
pode sentir remorso".
Seja como for, o fato é que as mulheres, quando a maioria delas
são patentes e obviamente culpadas de ações vis e criminosas, com a mais
completa indiferença, insistem que estão em seu direito. Isto pode ser, e
muitas vezes é possível, mero atrevimento descarado, contando com o pri-
vilégio do sexo feminino, ou pode ser, pelo menos em parte, como Weini-
nger insiste, rastreável na "profunda e especial altitude das características
do sexo". Mas em qualquer caso, o fato singular é que esses homens, e até
os homens treinados judicialmente, podem ser encontrar preparados vir-
tualmente para aceitar a justiça desta atitude, e que estão prontos para
tolerar, se não diretamente para defender, qualquer conduta, não importa
quão vil ou criminosa, por parte de uma mulher. Temos exemplos desse
tipo de julgamento quase todos os dias, mas pretendo dar duas instâncias
do que considero típicas, ainda que extremas perversões de julgamento
moral por parte de dois homens, ambos de posição social e intelectual, e
sem qualquer dúvida pessoalmente da mais alta integridade. Dr. James
Donaldson, diretor da Universidade de St Andrews, em seu trabalho inti-
tulado "Mulheres, sua posição e influência na Grécia e Roma antigas e
entre os primeiros cristãos", comentando a conhecida história atribuída
ao ano de 331 aC , que pode ou não ser histórica, da intoxicação sistemá-
tica de seus maridos por matronas romanas, bem como casos subsequentes
do mesmo crime, conclui seu discurso com estas palavras: "Eu acho que
devemos considerar [ou seja, essas histórias ou fatos, segundo escolhermos
considerá-los] como uma indicação de que as matronas romanas sentiam
às vezes que eram maltratadas, que não deviam suportar o mau trata-
mento, e que deviam tomar o único meio que possuíam de expressar seus
69
sentimentos e de vingar-se, empregando veneno "(p. 92). Agora, pode-se
dizer que, nessa passagem, não temos nenhuma justificativa direta para o
crime atroz atribuído às matronas romanas, mas dificilmente se pode ne-
gar que temos aqui um distinto perdão do infame e covarde ato, um per-
dão que o digno diretor da Universidade de St. Andrews dificilmente teria
dispensado aos homens sob quaisquer circunstâncias. Provavelmente, o
professor Donaldson, ao escrever o texto acima, considerou que seus co-
mentários não seriam gerariam forte ressentimento, mesmo que não fos-
sem de fato aprovados, pela opinião pública, tão rica quanto é atualmente
no Feminismo, política e sentimental.
Outro exemplo, desta vez com um pedido especial e direto para
provar que uma mulher culpada de um crime hediondo é uma "ferida ino-
cente". É tirado de um eminente alienista suíço em seu trabalho sobre
sexo. O Dr. Forel mantém uma tese que pode ou não ser verdadeira no
sentido de que o instinto materno natural está substancialmente ausente
ou enfraquecido no caso de uma mulher que deu à luz uma criança gerada
por estupro ou em circunstâncias beirando o estupro e, de fato, mais ou
menos em todos os casos em que a mulher é um participante involuntário
no ato sexual. Um exemplo dessa teoria é o caso de uma garçonete em St.
Gallen, que foi seduzida por seu empregador em circunstâncias como as
mencionadas acima; uma criança, como resultado, que foi colocada em
uma instituição até os cinco anos de idade, quando foi entregue aos cuida-
dos da mãe. Agora, o que a mulher está fazendo? Poucas horas depois de
receber a criança sob seus cuidados, ela o levou a um lugar solitário e de-
liberadamente estrangulou-a, consequentemente ela foi julgada e conde-
nada. Agora, o Dr. Forel, em seu zelo feminista, sente que cabe a ele tentar
encobrir esse monstro feminino, insistindo, com base nessa teoria, na des-

70
culpa de que, sob as circunstâncias de sua concepção, não se poderia espe-
rar que a mãe tivesse o instinto normal da maternidade em relação ao seu
filho. O médico é, aparentemente, tão cegado por todosos preconceitos fe-
ministas que (à parte a validade ou não de sua teoria) não tem conheci-
mento da irrelevância absurda de seu argumento. O que, podemos justa-
mente perguntar, tem o instinto maternal, ou a falta dele, a ver com a
culpa do assassinato do menino indefeso entregue aos seus cuidados!? En-
tão quer dizer que o menino era irrelevante? Que um ser humano e ainda
mais um de mente clara, como o Dr. Forel, pudesse tomar o miserável
desta descrição sob seu aegis37, e ainda mais que, ao fazê-lo, ele deveria
servir um absurdo tão ilógico como argumento, é apenas mais um exemplo
de como os homens mais sensatos são tornados tolos pelo glamour do fe-
minismo sentimental.
Neste capítulo, temos dado pequenos exemplos típicos de prática
que constitui uma das características mais visíveis do feminismo moderno
e da opinião pública que ele tem gerado. Temos ouvido e lido ad nauseam
desculpas, perdão por todos os crimes cometidos por mulheres, enquanto
o crime de caráter similar e sob circunstâncias precisamente similares,
onde o homem é o autor, concorre com nada mais que uma aversão viru-
lenta de idiota agressiva da opinião pública britânica manipulada pela ir-
mandade feminista do homem e da mulher. Este estado da opinião pública
repercute, é claro, nos tribunais e tem como resultado que as mulheres são
praticamente livres para cometer qualquer crime que lhes agrade, sempre
com uma esplêndida oportunidade esportiva de serem absolvidas de uma
vez por todas, e uma certeza prática de que, mesmo que condenadas, eles

37
N do T: Aegis (édida) é a concha que Zeus criou com a pele da cabra Amalteia e que posteriormente
se tornou o escudo de Atena. Portanto, neste contexto, a égide significa "proteção, defesa ou cuidado".

71
receberão sentenças farsescas ou, se a sentença estiver em algum grau ade-
quada à ofensa, que tal sentença não será cumprida. A forma pela qual a
lei penal é feita de piada e escárnio em relação a prisioneiras, como mostra
o tratamento das criminosas sufragistas, está em evidência. A desculpa de
que a saúde está em perigo pela falta de café da manhã resultou na libera-
ção de alguns dias de mulheres culpadas dos crimes mais vis, por exemplo,
a tentativa de incendiar o teatro em Dublin. Pode ser conveniente relem-
brar os fatos escandalosos da imunidade da mulher moderna e o livre de-
safio da lei, como ilustrado por uma citação de uma descrição do tempo
alegre das rompe-janelas38 de março de 1912 na prisão de Holloway, dada
por um correspondente do The Daily Telegraph. O correspondente desse
jornal descreve sua visita à prisão mencionada, onde se diz que parece não
ter havido nenhuma punição por qualquer tipo de má conduta. "Todo o
lugar", escreve ele, "é o barulho – as mulheres chamando as mulheres em
todos os lugares, e as autoridades parecem incapazes de preservar até
mesmo a aparência de disciplina." Uma sufragista chamará seu nome en-
quanto estiver em uma cela, e outra que a conhecer responderá, dando seu
nome em retorno, e uma conversa será então realizada entre as dois. Esta
conversa ocorre durante todo o dia até a entrada da noite.Os "funcioná-
rios" preferem chamar-se matronas da prisão, uma vez que deram à prisão
o nome de "casa dos macacos". A verdade é que as prisioneiras são tratadas
com todo respeito, a razão é que talvez o número de funcionários seja in-
suficiente para estabelecer a ordem correta. Enquanto esperava ontem,
uma senhora chegou em uma carruagem e um par de cavalos, em que ha-
via dois policiais e vários pacotes, para começar sua sentença e esta é a
nota que aparece a dominar toda a prisão. Setenta e seis presas se supõe

38
N.T.: Rompe-janelas faz alusão à campanha de agressão contra a propriedade por sufragistas.

72
que estão cumpinrdo penas de trabalhos forçados, mas nenhuma delas usa
roupas de prisão, e apenas uma ou duas realizam alguma das tarefas que
foram dadas a elas, geralmente de costura ou ponto." Mais uma vez, uma
membra da Liga da Liberdade das Mulheres, em uma reunião em 19 de
maio de 1912, se gabou de que as sufragistas tiveram sua própria ala na
prisão de Holloway. "Elas tinham bons tubos de água quente e todas as
mais recentes melhorias e elas foram capazes de ir até a janela e trocar
sentimentos com suas amigas." Ela tinha dinheiro guardado e gostava
muito!
Aqui temos uma imagem da maneira moderna como as autorida-
des reconhecem o direito de "inocência ferida" de mulheres criminosas que
reivindicam o direito de destruir a propriedade gratuitamente. Nossa so-
ciedade atual, baseada na propriedade privada, e que geralmente pune
com a máxima severidade qualquer violação da santidade da propriedade
privada, renuncia a suas reivindicações quando as mulheres estão em
causa. Da mesma forma, incêndios sob circunstâncias que ponham em
risco a vida humana, para os quais a lei prescreve a sentença máxima de
prisão perpétua, são considerados adequadamente punidos por uma ou
duas semanas de prisão quando os condenados pelo crime são do sexo fe-
minino. Ah, mas elas agiram por motivos políticos! Bem, e quanto aos
anarquistas terroristas, fenianos 39 e dinamitadores irlandeses da época da
Liga da Terra que também agiram por razões políticas? O terrorista anar-
quista, tolo e indefensável em suas táticas pode ser honestamente acredita
suficientemente que está pavimentando o caminho para a abolição da po-
breza, da miséria e da injustiça social, algo muito mais importante que a

39
N.T.: Feniano é o termo usado desde a década de 1850 para se referir aos nacionalistas irlandeses, que
se opunham ao domínio britânico sobre a Irlanda.

73
licença! Fenianos irlandese e dinamitadores seguem uma política seme-
lhante e não há razão para duvidar de sua crença sincera de que servirá à
causa da liberdade e independência nacional da Irlanda. No entanto, esses
crimes "políticos" foram tratados de forma diferente do que a de crimino-
sos comuns quando condenados por atos qualificados por lei como crimes
graves? E suas ações, caso contrário, qualquer um pode pensar o contrá-
rio, eram, na maioria dos casos, pelo menos, politicamente lógicas do seu
ponto de vista, e não houve feridos sem sentido para pessoas inofensivas,
como as das mulheres que buscam o sufrágio.

74
CAPÍTULO VI
O FALSO "CAVALHEIRISMO"

A justificativa para todo o movimento do feminismo moderno em


um de seus principais aspectos práticos - a colocação do sexo feminino na
posição de privilégio, vantagem e imunidade - está concentrada na atual
concepção de "cavalheirismo". Cabe, portanto, dedicar alguma considera-
ção ao significado e implicação dessa noção. Agora, essa palavra cavalhei-
rismo é o último recurso das pessoas que não sabem justificar os privilégios
modernos das mulheres. Mas aqueles que a usam raramente se dão ao tra-
balho de analisar a conotação desse termo. Quando confrontadas sobre o
seu significado, a maioria das pessoas provavelmente a definiria como de-
ferência ou fraqueza, especialmente fraqueza corporal. Usado neste sen-
tido, no entanto, o termo abrange um terreno muito mais amplo do que a
mera "deferência" para a seção feminina da raça humana, geralmente as-
sociada a ele. Rapazes, homens cuja força muscular está abaixo da média,
animais domésticos, etc., podem reivindicar essa proteção especial como
um argumento de cavalheirismo a seu favor. E, no entanto, não encontra-
mos leis criminais diferentes, ou regras diferentes de tratamento peniten-
ciário, por exemplo, para homens cuja resistência está abaixo da média.
Tampouco achamos tais homens ou meninos isentos por lei de castigos
corporais em consequência de sua fraqueza, exceto como uma exceção em
casos individuais, quando a fraqueza representa uma deficiência física pe-
rigosa. Nem, novamente, nos assuntos gerais da vida estamos acostuma-
dos a ver tal deferência a homens de desenvolvimento muscular ou cons-
titucional mais fraco como o costume exige no caso das mulheres. Mais

75
uma vez, olhando para a questão por outro ângulo, encontramos a alega-
ção de cavalheirismo lançada no caso do poderoso virago ou da atleta fe-
minina muscularmente desenvolvida, a esportista que monta, caça, joga
críquete, futebol, golfe e outros esportes masculinos, e que pode até mes-
mos esgrimir ou boxear? Nunca.
Parece então que a definição do termo em questão, baseada na no-
ção de deferência à mera fraqueza como tal, dificilmente se sustenta, já
que em sua aplicação a questão do sexo sempre tem precedência em rela-
ção à fraqueza. Vamos tentar de novo! Abandonando no momento a defi-
nição de cavalheirismo como uma consideração pela fraqueza, conside-
rada absolutamente, como podemos chamá-la, vejamos se a definição de
consideração pela falta de defesa relativa – ou seja, falta de defesa em uma
dada situação – coincidirá com o uso atual da palavra. Mas aqui, nova-
mente, nos deparamos com o fato de que o homem nas mãos da lei – a
saber, nas garras das forças do Estado, sim, até mesmo o homem mais
forte, um Hércules, está precisamente numa posição tão indefesa e vulne-
rável relativa àqueles em cujo poder se encontra quanto a mulher mais
fraca estaria no mesmo caso, nem mais nem menos! E, no entanto, uma
opinião pública esclarecida e cavalheiresca tolera as mais diabólicas bar-
baridades e excogitadas crueldades sendo perpetradas contra os condena-
dos do sexo masculino em nossas prisões, enquanto estremece com horror
à noção de condenadas do sexo feminino receberem qualquer severidade
de punição até mesmo idêntica e, por falar nisso, até por crimes mais he-
diondos. Uma ilustração particularmente grosseira e crucial é aquela in-
fame peça de legislação sexual unilateral que já ocupou nossa atenção no
decorrer do presente volume - a saber, a chamada "Lei do Tráfico de Es-
cravos Brancos" de 1912.

76
É claro, então, que o cavalheirismo como entendido nos dias atuais
realmente significa privilégio sexual e favoritismo sexual puro e simples,
e que qualquer tentativa de definir o termo em uma base maior, ou dar a
ele uma racionalidade fundamentada em fatos, é simplesmente um sub-
terfúgio, consciente ou inconsciente, por parte daqueles que o colocam à
frente. A etimologia da palavra cavalaria é bem conhecida e bastante ób-
via. O termo significava originalmente as virtudes associadas à cavalaria
considerada como um todo, a bravura até mesmo à ousadia irresponsável,
lealdade ao chefe ou superior feudal, generosidade a um inimigo caído, li-
beralidade e sinceridade, incluindo, é claro, o socorro do fraco e do opri-
mido geralmente, inter alia40, do sexo feminino quando em dificuldades.
Seria ocioso, claro, insistir na definição histórica do termo. A linguagem
se desenvolve e as palavras no decorrer do tempo afastam-se amplamente
de sua conotação original, de modo que a etimologia raramente é de muito
valor na determinação prática da definição de palavras em sua aplicação
nos dias de hoje. Mas o fato digno de nota, no entanto, é que apenas um
fragmento da conotação original da palavra cavalheirismo é coberto pelo
termo como usado em nosso tempo, e que mesmo esse fragmento é arran-
cado de sua conexão original e é feito para servir como um espantalho no
campo da opinião pública para intimidar todos os que se recusam a agir
ou que protestam contra os privilégios e imunidades do sexo feminino 41.
Eu disse que mesmo aquele elemento subsidiário na antiga noção
original de cavalheirismo que é agora quase o único remanescente sobre-
vivente de sua conotação original é arrancado de sua conexão e, portanto,

40
N.C.: A expressão latina "inter alia" significa 'entre outras coisas'.
41
N.A.: Um entre muitos casos relevantes, ocorridos recentemente, apareceu numa carta ao The Daily
Telegraph, de 21 de março de 1913, na qual foi apontado que, enquanto uma sufragette conseguiu alguns
meses de prisão na segunda divisão por intencionalmente atear fogo no pavilhão de Kew Gardens, al-
guns dias antes, no Lewes Assizes, um homem havia sido condenado a cinco anos de prisão por ter
queimado uma pilha de grama!

77
necessariamente mudou radicalmente em seu significado. De ser parte de
um código geral de boas práticas impostas a uma guilda ou profissão par-
ticular, foi degradado para significar o direito exclusivo de um sexo ga-
rantido por lei e sob certas vantagens e isenções, sem qualquer responsa-
bilidade correspondente. Não nos enganemos sobre isso. Quando os holo-
fotes de um pouco de senso comum, claro mas crítico, se voltam para essa
noção de cavalheirismo, até então considerada tão sacrossanta, afinal, isso
é visto como algo ruim; e quando os homens adquirirem o costume de ha-
bitualmente virar a luz de tal crítica sobre ela, a acusação, tão terrível no
atual estado da opinião pública, de “falta de cavalheirismo" perderá seus
terrores para eles. Nas chamadas idades do cavalheirismo, elas nunca sig-
nificaram, como hoje, a mulher certa ou errada. Nunca significou, como
acontece hoje, o privilégio legal e social do sexo. Isso nunca significou uma
defesa social ou uma exoneração legal para a mulher má e até criminosa,
simplesmente porque ela é uma mulher. Isso não significava nada disso.
Tudo o que isso significava era um serviço pessoal voluntário ou gratuito
para as mulheres abandonadas, que os membros da guilda dos Cavaleiros,
entre outros serviços, muitos dos quais tinham precedência, deveriam re-
alizar.
No que diz respeito à coragem, que talvez tenha sido a primeira
das virtudes cavalheirescas de antigamente, certamente requer mais cora-
gem em nossos dias lidar com uma mulher severamente quando ela merece
(como um homem seria tratado em circunstâncias semelhantes) do que
para apoiar uma mulher contra seu adversário masculino perverso.
É uma coisa barata, por exemplo, no caso de um homem e uma
mulher brigando na rua, bancar o galante e corajoso inglês "que não vai
ver uma mulher ser maltratada e subjugada, não ele!", e isto, claro, sem
qualquer investigação sobre os méritos da discussão. Nadar com o riacho,
78
fingir ousadia e bravura, quando o tempo todo você sabe que tem o apoio
da opinião pública convencional e da força da multidão atrás de você, é o
mais barato dos simulados heróicos.
Cavalheirismo hoje significa “a mulher certo ou errado”, assim
como patriotismo hoje significa "meu país certo ou errado". Em outras
palavras, o cavalheirismo de hoje é apenas outro nome para o feminismo
sentimental. Toda pretensão ultrajante do feminismo sentimental pode
ser justificada pelo apelo ao cavalheirismo, que equivale (a usar a expres-
são alemã) a um "apelo de Pôncio a Pilatos". Esse feminismo sentimental,
comumente chamado de cavalheirismo, é por vezes impudentemente ape-
lidado pelos seus devotos de "masculinidade". Presumivelmente, continu-
ará em seus efeitos práticos até que uma minoria suficiente de homens
sensatos tenha a coragem moral de barrar a opinião pública feminista e
lançar um pouco desse tipo de "masculinidade". Os corajosos galeses de
Llandystwmdwy, ao tratarem das sufragistas arruaceiras em uma ocasião
memorável, mostraram-se capazes de fazer isso. De fato, um bom efeito
geralmente do sufragismo militante parece ser o enfraquecimento da no-
ção de cavalaria – isto é, em seu moderno sentido de Feminismo Senti-
mental – entre a população deste país.
A combinação do Feminismo Sentimental com a sua invocação do
sentimento de cavalheirismo do velho mundo que se baseava essencial-
mente no pressuposto da inferioridade mental, moral e física da mulher
para o homem, para sua justificação, com as pretensões do moderno Fe-
minismo Político, é simplesmente grotesco em seu absurdo inconsistente.
Deste modo, o feminismo moderno alcança a proeza de comer seu bolo e
tê-lo também. Quando os direitos políticos e econômicos estão em questão,
bien entendu, como o ganho e a posição social, a suposição de inferioridade
magicamente desaparece diante da estridente afirmação do dogma da
79
igualdade da mulher com o homem – sua igualdade mental e moral certa-
mente! Quando, no entanto, a questão é de um caráter diferente – por
exemplo, para o alívio de alguma criminosa vil feminina da pena de seus
delitos – então o Feminismo Sentimental entra em cena, então todo o ar-
gumento é baseado no sentimento cavalheiresco de deferência e conside-
ração pela mulher pobre e fraca. Eu posso salientar que aqui, se for no
mínimo lógico, o pedido por misericórdia ou imunidade dificilmente pode
ser baseado em qualquer outra consideração que não seja a de uma fra-
queza moral intrínseca em vista da qual a ofensa deve ser perdoada. O
apelo da fraqueza física, se é que isso acontece, é aqui, na maioria dos ca-
sos, puramente irrelevante. Assim, no que diz respeito à comutação da
sentença de morte, a questão da força muscular ou fraqueza da pessoa
condenada não chega de forma alguma. O mesmo se aplica, mutatis mu-
tandis42, a muitas outras formas de punição penal. Mas não se deve esque-
cer que existem dois aspectos de força física ou fraqueza. Há, como já as-
sinalamos, o aspecto muscular e o aspecto constitucional. Se admitirmos
o sexo feminino como essencialmente e inerentemente mais fraco em poder
e desenvolvimento muscular do que o masculino, isso de modo algum en-
volve a suposição de que a mulher é constitucionalmente mais fraca que o
homem. Pelo contrário, é um fato conhecido atestado, tanto quanto sei,
por todos os fisiologistas, não menos do que pela observação comum, que
a dureza constitucional e o poder de resistência da mulher em geral exce-
dem em muito a do homem, como explicado em um capítulo anterior. Esse
poder resiliente do sistema, sua capacidade de suportar a tensão, que aqui
pode ser observado de passagem, não é necessariamente uma caracterís-

42
N.C.: expressão latina que significa mudando o que deve ser mudado.

80
tica de um estágio especialmente alto da evolução orgânica. De fato, en-
contramos em muitas ordens de animais invertebrados em formas mar-
cantes. Seja como for, no entanto, a existência desta maior força consti-
tucional ou poder de resistência no sistema orgânico feminino do que no
sistema orgânico masculino – crucialmente exemplificado pela taxa de
mortalidade marcadamente maior dos meninos do que das meninas na
primeira infância – deveria, em relação à severidade da punição, trata-
mento na prisão, etc., ser um forte contra-argumento contra o pedido de
clemência, ou imunidade no caso das mulheres criminosas, feita pelos de-
fensores do Feminismo Sentimental.
Mas essas considerações fornecem apenas mais uma ilustração da
irracionalidade total de todo o movimento do Feminismo Sentimental,
identificado com a noção de "cavalheirismo". Para o resto, podemos en-
contrar ilustrações desta abundância. Um caso muito flagrante é aquele
infame "domínio do mar" que se tornou muito proeminente na época do
desastre do Titanic. De acordo com esse absurdo feminismo “cavalhei-
resco", no caso de um navio afundando, é a lei não escrita dos mares, não
que os passageiros deixem o navio e sejam resgatados na ordem em que
chegam, mas que toda a porção feminina terá o direito de ser resgatada
antes que qualquer homem seja autorizado a deixar o navio. Agora, essa
parte abominável do favoritismo sexual, em face disso, clama em voz alta
em sua injustiça irracional. Aqui não se trata de força ou fraqueza corpo-
ral, seja muscular ou constitucional. A este respeito, para esse único pro-
pósito, todos estão em um nível. Mas é um caso da vida em si. Um número
de miseráveis pobres está condenado a uma sepultura aquática, simples-
mente porque não tiveram a sorte de nascer do sexo feminino privilegiado.

81
Tal é o "cavalheirismo" como é entendido hoje – a privação, o
roubo dos homens dos mais elementares direitos pessoais, a fim de dotar
as mulheres com privilégios à custa dos homens. Durante as idades do ca-
valheirismo e por muito tempo depois não foi assim. A lei e o costume,
então, eram os mesmos para os homens e para as mulheres em sua inci-
dência. Para citar o provérbio familiar de uma forma ligeiramente alte-
rada, então – "o que era molho para o ganso era molho para a gansa".
Somente no século XIX esse estado de coisas mudou. Então, pela primeira
vez, a lei começou a respeitar as pessoas e a distinguir-se a favor do sexo.
Mesmo considerando a questão da fraqueza convencional e conce-
dendo, por uma questão de argumento, a fraqueza muscular relativa da
mulher como fundamento para que ela receba a imunidade reivindicada
pelas Feministas Modernas da escola sentimental, a distinção é completa-
mente perdida de vista entre fraqueza e fraqueza agressiva. Agora eu con-
cedo que há uma diferença muito considerável entre o que é devido à fra-
queza inofensiva e não-provocativa, e a fraqueza agressiva, ainda mais
quando esta fraqueza agressiva se assume como fraqueza, e na considera-
ção estendida a ela, torna-se tirânica e opressiva. A fraqueza, como tal,
certamente merece toda consideração, mas a fraqueza agressiva não me-
rece senão ser esmagada sob o calcanhar de ferro da força. A mulher nos
dias de hoje tem sido encorajada pela opinião pública feminista a se tornar
agressiva sob a proteção de sua fraqueza. Ela foi encorajada a forjar seu
dom de fraqueza em uma arma de tirania contra o homem, sem saber que,
ao fazê-lo, privou sua fraqueza de toda reivindicação de consideração ou
mesmo tolerância.

82
CAPÍTULO VI
ALGUMAS MENTIRAS E FALÁCIAS FEMINISTAS

Por mentiras feministas eu entendo as declarações falsas feitas por


pessoas, muitas das quais devem estar perfeitamente conscientes de que
são falsas, aparentemente com a intenção deliberada de enganar a opinião
pública sobre a verdadeira situação das mulheres perante a lei. Por falá-
cias eu entendo as afirmações indubitavelmente ditadas por predisposi-
ções feministas ou tendências feministas, mas não necessariamente suge-
rindo deliberada mala fides43.
Em primeiro lugar, as declarações são feitas com desonestidade in-
tencional, na medida em que muitas das pessoas que as estão fazendo es-
tão interessadas, já que podemos supor razoavelmente que elas têm inte-
ligência e conhecimento suficientes para estarem cientes de que são con-
trárias aos fatos. A conversa de que a esposa é um bem móvel, por exem-
plo, é tão palpavelmente absurda em face da lei existente que hoje não
vale a pena ser feita (embora ocasionalmente seja ouvida, mesmo agora).
Mas isso nunca foi verdade sob a velha lei comum da Inglaterra, que, por
certas deficiências, de um lado, reconhecia a esposa certos privilégios cor-
respondentes, de outro. A lei do marido e da esposa, modificada por esta-
tuto ao longo do século XIX, como muitas vezes tivemos ocasião de assi-
nalar, é um monumento da tirania legalizada sobre o marido, no interesse
das mulheres.
Se em face dos fatos a palavra bens móveis, como aplicada à es-
posa, se tornou um pouco absurda demaismesmo para os métodos femi-
nistas controversos, existe outra falsidade que não é menos descarada que

43
N.T.: mala fides significa "má fé".

83
ouvimos de fanáticos feministas todos os dias. A esposa, ouvimos, é a
única criada sem pagar! Uma mentira mais descarada não poderia ser ima-
ginada. Como toda pessoa instruída que tem o menor conhecimento das
leis da Inglaterra sabe, a lei exige que o marido mantenha sua esposa de
acordo com sua própria posição social; tem, em outras palavras, que ali-
mentar, vestir e pagar por todos os seus luxos razoáveis, que a lei, tendo
em vista a situação econômica do marido, considera necessários. Isto ape-
sar do fato de que o marido não tem direitos sobre a propriedade ou a
renda da esposa, por mais que ela seja rica. Além disso, isso dificilmente
precisa ser dito, uma empregada que é ineficiente, preguiçosa ou intolerá-
vel pode ser demitida, ou seu salário ser reduzido. Não essa pessoa privi-
legiada, a esposa legalmente casada. Não importa que ela realize bem,
mal, com indiferença ou de forma alguma, as obrigações legais do marido
permanecem as mesmas. Ver-se-á, portanto, que a esposa recebe, em qual-
quer caso, do marido vantagens econômicas em comparação às quais o
salário do servidor mais bem pago existente é uma mera ninharia. Essa
conversa que ouvimos ad nauseum, do lado feminista, de que a esposa é
uma "serva não remunerada" é típica de toda agitação feminista. Encon-
tramos a mesma desonestidade deliberada e inescrupulosa que a caracte-
riza em toda parte. Os fatos não são simplesmente pervertidos ou exage-
rados, eles são simplesmente o contrário.
Outra frase comumente dita é que os baixos salários das mulheres
em comparação com os dos homens é o resultado de não ter uma licença
parlamentar. Agora, essa afirmação, embora não tendo talvez em seu bojo
o engano intencional que caracteriza a que acabamos de mencionar, não é
menor que a perversão da realidade econômica, e dificilmente podemos
considerá-la como intencional. O que a legislação fez para os homens foi

84
simplesmente remover os obstáculos no caminho da organização indus-
trial por parte do trabalhador para libertar os sindicatos das deficiências,
e mesmo isso começou devido à pressão da classe trabalhadora vinda de
fora, muito antes – há muito tempo, nos anos vinte do século passado, sob
os auspícios de Joseph Hume e Francis Place. Agora os sindicatos de mu-
lheres desfrutam exatamente da mesma liberdade que os sindicatos mas-
culinos, e nada impede que mulheres trabalhadoras organizem e agitem
por salários mais altos. Aqueles que falam da licença como necessária para
as mulheres trabalhadoras, a fim de obter vantagens industriais e econô-
micas iguais a dos homens trabalhando, deve perceber perfeitamente que
eles estão fazendo a operação oratória coloquialmente conhecida como
"falar através de seu chapéu”44. As razões pelas quais os salários das mu-
lheres trabalhadoras são mais baixos do que os dos homens, seja qual for
o motivo, e estes são, penso eu, bastante óbvios, claramente não são ras-
treáveis a qualquer coisa que a concessão da licença removeria. Se for su-
gerido que uma lei poderia ser promulgada obrigatoriamente no cumpri-
mento de iguais taxas de pagamento para as mulheres e para os homens,
o resultado seria aquele que o mais simples aprendiz em tais assuntos po-
deria prever – a saber, isto significaria o deslocamento das mulheres para
o trabalho dos homens nos grandes ramos da indústria, e isso, imagina-
mos, não é precisamente o que os defensores do sufrágio feminino desejam
realizar.
Sendo o trabalho masculino, devido à sua maior eficiência e outras
causas, geralmente preferido pelos empregadores ao trabalho feminino,
não é provável que, mesmo para o bem das mulheres beaux yeux45, eles

44
N.T.: Falar sobre um assunto como se você soubesse muito quando na realidade você sabe muito
pouco ou nada.
45
N.T: beaux yeux significa "olhos bonitos".

85
aceitem o trabalho feminino no lugar do masculino, numa base de salário
igual. Tudo isso, claro, é separado da questão levantada em uma página
anterior, sobre as responsabilidades econômicas no interesse das mulheres,
de que nossas legisladoras feministas têm sobrecarregado o homem – isto
é, a responsabilidade do marido, e do marido apenas, para a manutenção
de sua esposa e família, obrigações de qualquer correspondência da qual o
sexo feminino é totalmente livre.
Em um livreto publicado pela "Federação Masculina para o Sufrá-
gio das Mulheres", afirma-se que "muitas leis que estão no livro de estatu-
tos causam injustiça às mulheres". Desafiamos essa afirmação como uma
falsidade não mitigada. Seus gerentes devem saber perfeitamente que não
podem justificá-lo. Não há leis nos códigos que infligem injustiça às mu-
lheres como sexo, mas há muitas leis que infligem injustiça aos homens no
suposto interesse das mulheres. O rótulo esgotado que por tanto tempo foi
feito com os direitos feministas a este respeito – isto é, a regra do Tribunal
do Divórcio, que a fim de obter o divórcio, a esposa tem que provar cruel-
dade, bem como adultério por parte do marido, ao passo que o marido tem
que provar o adultério sozinho por parte da esposa – já foi tratado e sua
podridão como um espécime de uma queixa suficientemente exposta neste
trabalho e em outros lugares pelo presente escritor. O que os autores do
panfleto podem ter em mente (se é que têm alguma coisa), quando falam
de leis que impõem injustiça às mulheres, é que a lei não exige vingança
sexual contra homens o suficiente para agradá-los, por favor! Com toda a
sua flagelação, servidão penal, trabalho duro e o resto, por ofensas contra
as mulheres, algumas delas de um tipo comparativamente trivial, a lei
com relação à severidade sobre os homens nem mesmo satisfaz as ferozes
almas Feministas dos membros da “Federação Masculina para o Sufrágio

86
das Mulheres "? Esta é a única explicação da afirmação em questão, além
de que é puro blefe projetado para enganar os ignorantes da lei.
Outra mentira descarada que é estrepitada perpetuamente em nos-
sos ouvidos pelas sufragistas é a afirmação de que as mulheres têm de obe-
decer às mesmas leis que os homens. A conclusão tirada desta afirmação
falsa é que, desde que elas têm que obedecer estas leis igualmente com
homens, elas têm uma reivindicação igual com homens para participar na
fabricação ou a modificação deles. Agora, sem parar para considerar a fa-
lácia em que a conclusão se baseia, deve-se notar que é suficiente para o
nosso objetivo chamar a atenção para a falsidade da própria suposição
inicial. Basta acompanhar os acontecimentos atuais e ler o jornal com
uma mente imparcial para ver que o argumento de que as mulheres têm,
no verdadeiro sentido da palavra (ou seja, são forçadas a), que obedecer
às mesmas leis que os Homens, é uma declaração notoriamente mentirosa.
É desnecessário neste lugar ir mais uma vez à evidência maciça feita em
escritos anteriores de minha própria mão, por exemplo na brochura The
Legal Subjection of Man (A Sujeição Legal do homem) (Twentieth Century
Press), no artigo A Creature of Privilege (Uma criatura de privilégio) (For-
tnightly Review, novembro de 1911), e em outras partes deste volume,
ilustrando o fato indiscutível de que, embora, em teoria, as mulheres pos-
sam ter de obedecer à mesma lei que os homens, na prática estão desobri-
gadas de todas as consequências mais graves que os homens sofrem
quando desobedecem. O tratamento concedido recentemente às sufragis-
tas por crimes como dano intencional e incêndios, para não mencionar seu
tratamento na prisão anterior quando condenadas por obstrução, distúr-
bios e contravenções policiais, é uma prova, em maiúscula, da falsidade
da afirmação de que as mulheres não menos do que os homens têm de

87
obedecer às leis do país, até agora, ou seja, de como nenhum significado
real está ligado a esta frase.
Outra mentira sufragista que é invariavelmente autorizada a pas-
sar por padrão, salvo por um protesto ocasional do presente escritor, é a
suposição de que a lei inglesa traça uma distinção em relação ao trata-
mento da prisão, etc., entre infratores políticos e não-políticos. Todos,
mesmo com o mais elementar conhecimento legal, estão cientes de que ne-
nhuma distinção foi reconhecida ou sugerida pela lei inglesa - pelo menos
até a ordenação da prisão feita recentemente, para agradar expressamente
às sufragistas, pelo Sr. Winston Churchill quando Secretário do Interior.
No entanto, por mais desejável que muitos considerem tal distinção, nada
é mais certo do que o fato de que isso nunca foi obtido anteriormente na
carta ou na prática da lei da Inglaterra. E, no entanto, sem uma palavra
de contradição daqueles que sabem melhor, argumentos e protestos em
abundância foram fabricados do lado sufragista, baseados apenas nesta
suposição falsamente impudente.
As faltas e crimes na lei comum, quando são voluntariamente co-
metidos, em todos os países sempre foram faltas e crimes, qualquer que
seja a razão que possa ser convenientemente apresentada para dar conta
deles. Um crime político sempre significou a expressão de opiniões ou a
promoção de medidas ou atos (não de natureza criminal de direito comum)
que violam a lei vigente – por exemplo, uma "difamação" contra as auto-
ridades constituídas do Estado, ou o desprezo forçado de uma lei ou o re-
gulamento policial em impedimento do direito de expressão ou reunião
pública. Isto é o que se entende como um crime político em qualquer país
que reconheça como um tipo especial de crime autorizando aqueles que se
comprometem com um tratamento especial. Quando a questão da extra-
dição é apresentada na definição de delito político, é, naturalmente, mais
88
ampla. Tomemos o caso extremo, o assassinato de um governante ou ofi-
cial, especialmente em um estado despótico, onde a imprensa livre e a livre
expressão da opinião geral não existem. Trata-se, sem dúvida, de um de-
lito político, não de uma lei comum, no que diz respeito a outros países e,
portanto, o autor de tal ato tem o direito de reivindicar imunidade, por
esse motivo, da extradição. A posição que se pode assumir é a de que, sob
condições despóticas, o homem progressista está em guerra com o déspota
e com quem exerce autoridade sob ele; portanto, ao matar o déspota ou os
repositórios da autoridade despótica, ele está atacando diretamente o ini-
migo. Seria, no entanto, absurdo para o agente em um ato deste tipo es-
perar tratamento político especial dentro da jurisdição do próprio Estado
imediatamente em questão. De fato, ele nunca faz isso. Imagine um nii-
lista russo, quando levado a julgamento, queixando-se de que é um crimi-
noso político e, portanto, isento de qualquer tratamento duro! Não, o nii-
lista tem muita auto-estima para se ridicularizar dessa maneira. Dificil-
mente até mesmo o anarquista terrorista mais louco faria tal afirmação.
Por exemplo, a lei francesa reconhece a distinção entre crimes políticos e
crimes comuns. Mas para tudo isso, a bande tragique46, Bonnet47 e seus
associados não recebem qualquer benefício da distinção e ou mesmo pre-
tendem fazê-lo, embora, de outro modo, fossem suficientemente enérgicos
em proclamar os motivos políticos que os inspiraram. Mesmo no que diz
respeito à extradição, fazer incursões iradas, incendiar de forma promís-
cua edifícios privados ou ferir o cidadão comum não-político, como um

46
N.T.: bande tragique significa "banda trágica".
47
N.T.: Stede Bonnet (c.1688 - 10 de dezembro de 1718) foi um pirata barbadense do início do século
XVIII, às vezes chamado de "cavalheiro pirata" ("cavaleiro pirata").

89
"protesto", não entraria legalmente na categoria de crimes políticos e, por-
tanto, protegeria seus autores de serem entregues como criminosos co-
muns.
O fato real, é claro, é que todo esse discurso por parte das sufragis-
tas e seus apoiadores "políticos", bem como o tratamento carcerário de
seus crimes "políticos", é apenas uma maneira mesquinha e desonesta de
tentar obter privilégios sexuais de forma fraudulenta. Aqueles que falam
de forma mais enérgica na tensão em questão sabem perfeitamente bem
disso.
Essas falsidades são perigosas, apesar do que se poderia pensar ser
seu caráter óbvio como tal, em razão do fato psicológico de que você só
precisa repetir uma mentira com frequência suficiente, desde que não se
contradiga, para que a mentira supracitada seja ser recebido como ver-
dade estabelecida pela massa da humanidade ("principalmente tolos",
como Carlyle 48 dizia).
É uma alegação absurda, afirmo, que qualquer contravenção e, a
fortiori49, qualquer crime tenham, à parte a lei, e mesmo de um ponto de
vista meramente ético, qualquer reivindicação de consideração especial e
clemência sobre a declaração nua do criminoso ou contravenção que tinha
sido ditada por motivos políticos. Em nenhum país, em nenhum mo-
mento, a mera afirmação da motivação política foi considerada como um
crime comum no campo do tratamento de crimes políticos. De acordo com
a lógica legal e ética das sufragistas, isso é perfeitamente aberto a eles para
incendiar teatros, igrejas e casas, e até mesmo para matar o transeunte

48
N.T.: Thomas Carlyle (4 de dezembro de 1795 - 5 de fevereiro de 1881) foi um historiador, crítico
social e ensaísta britânico.
49
N.T.: a fortiori significa "pela razão mais poderosa ou forte".

90
inofensivo na rua, e reivindicar o tratamento de primeiro grau de contra-
venção alegando que o ato foi realizado como um protesto contra algumas
queixas políticas sob as quais elas se imaginavam sendo esmagadas. O ab-
surdo da proposta é evidente em sua mera declaração. E, no entanto, a
suposição absurda acima foi sofrida igualmente com a última anotada a
passar virtualmente sem protesto, e o que é mais sério, foi posta em prá-
tica pelas autoridades como se fosse uma lei indubitavelmente sólida, bem
como uma ética sólida! Pode-se assinalar que o que custou a muitos fení-
cios irlandeses nos velhos tempos, e a muitos anarquistas terroristas em
uma data posterior, uma sentença de prisão perpétua, pode ser reduzido
indulgentemente em favor das sufragistas modernas a algumas semanas
na prisão em primeira ou segunda sala 50. Naturalmente, toda essa con-
versa de "crimes políticos" quando eles são, à primeira vista, os meros cri-
mes comuns, é pura e simplesmente um truque projetado para proteger as
criaturas do sexo feminino covardes e desprezíveis que cometem estas
atrocidades sem sentido e desonrosas da punição que elas merecem e que
receberiam se não tivessem sorte de ser um sexo privilegiado. No caso dos
homens, esse absurdo impudente, é claro, nunca foi apresentado e, se ti-
vesse, teria sido rapidamente ridicularizado fora do tribunal. Que seja ne-
cessário apontar estas coisas é, em poucas palavras, um exemplo notável
da atrofia moral e intelectual produzida pelo feminismo nas mentes do
público.
Há outra falsidade que ouvimos frequentemente para desculpar os
infames ultrajes das sufragistas. A desculpa é frequentemente oferecida
quando a ilógica falta de sentido dos métodos "militantes" da sufragista
moderna está em questão: "Oh! Os homens também fizeram as mesmas

50
N.T.: primeira ou segunda sala refere-se aos tribunais usados para os crimes mais brandos. O possível
equivalente espanhol atual é o "tribunal de primeira instância".

91
coisas: os homens usaram a violência para alcançar fins políticos!" Agora
a falácia envolvida neste a resposta é bastante clara.
Pode ser perfeitamente verdade que às vezes os homens usaram a
violência para alcançar seus objetivos. Mas afirmar esse fato na conexão
da questão é puramente irrelevante. Há violência e violência. É absoluta-
mente falso dizer que os homens adotaram uma vez a violência sem pro-
pósito e sem sentido como uma política. A violência dos homens sempre
teve uma relação inteligível para os fins que tinham em vista, sejam eles
próximos ou finais. Eles derrubaram os bares do Hyde Park em 1866.
Bom! Mas por que isso aconteceu? Porque eles queriam realizar uma reu-
nião, e encontraram o parque fechado, sendo a destruição dos bares o
único meio de acesso ao parque. Mais uma vez, todos os tumultos do Ato
de Reforma de 1831 foram pelo menos dirigidos contra a propriedade go-
vernamental e pessoas governamentais – isto é, inimigos com os quais es-
tavam em guerra. Na maioria dos casos, como em Bristol e Nottingham,
foi (como nas grades do Hyde Park) muito concreto e imediato o objeto
de violência e destruição comprometida – ou seja, a libertação de pessoas
presas pela parte que haviam tomado no movimento reformista, pela des-
truição das cadeias onde estavam confinadas. Que analogia concebível
tem estas coisas com uma política de destruição da propriedade privada,
ateando fogo a pavilhões de chá, queimando mercadorias comerciais de
construtores navais, destruindo casas particulares, envenenando cães de
estimação, perturbando jóqueis, desfigurando a correspondência das pes-
soas, incluindo as ordens de pagamento dos pobres, mutilando livros em
uma universidade, as imagens de uma galeria pública, etc., etc.? E tudo
isso, bem entendido, não abertamente e no curso de uma revolta, mas fur-
tivamente, na busca de uma política deliberadamente premeditada! Os
homens, eu pergunto, já tiveram, no curso da história do mundo, tarefas
92
inúteis e covardes como essas na busca de algum propósito político ou pú-
blico? Não pode haver uma resposta para esta pergunta. Cada leitor deve
saber que não há analogia entre a "militância" das sufragistas e a violência
e os crimes dos quais os homens podem ter sido culpados. Mesmo o anar-
quista terrorista, por pior que possa ser, e por mais que seus atos possam
ser considerados moralmente repreensíveis, é pelo menos lógico em suas
ações, na medida em que estas sempre tiveram alguma influência definida
em seus fins políticos e não eram meramente incursões iradas "sem sen-
tido". O caráter totalmente desconexo, sem sentido e arbitrário sinali-
zando a política das sufragistas "militantes" seria por si só suficiente para
fornecer um argumento conclusivo para a incapacidade do intelecto femi-
nino de pensar lógica ou politicamente e contra a concessão a mulheres de
poderes públicos, políticos, judiciais ou outros.
Análoga à falácia anterior, na medida em que se destina a compen-
sar as falhas e fraquezas de mulheres por falsa acusação das deficiências
correspondentes nos homens, é a réplica feminista que, por vezes, ouviu
quando se fala da questão da histeria nas mulheres: "Oh, os homens tam-
bém podem sofrer de histeria!" Isso já foi tratado em um capítulo anterior,
mas para completar a lista de falácias feministas proeminentes, digo aqui
de maneira concisa. Agora, como vimos, é extremamente duvidoso que
essa afirmação seja verdadeira em qualquer sentido. Há autoridades emi-
nentes que negam que os homens tenham verdadeira histeria. Há outros,
é claro, mais uma vez, que estenderiam o termo histeria a fim de incluir
todas as formas de distúrbios neurastênicos. A questão é em grande parte,
para muitas pessoas que discutem o tópico, de terminologias. Basta aqui
encurtar as sutilezas a esse respeito. Por enquanto, vamos deixar a pala-
vra histeria e formular a pergunta da seguinte forma: - As mulheres estão

93
frequentemente sujeitas a um estado mental patológico, que difere em di-
ferentes casos, mas oferece certas características comuns bem marcadas,
uma condição que raramente ou nunca ocorre nos homens. Eis uma pro-
posição incontrovertida baseada na experiência que será admitida por
cada pessoa imparcial.
Agora, a existência do chamado homem histérico que, até agora,
descobri ser atestado na experiência pessoal apenas de certos médicos fe-
ministas que alegam tê-lo encontrado em seus consultórios. Sua existência
é assim concedida, assim como a realidade da serpente marinha é conce-
dida por certos capitães de mar ou outros marinheiros antigos. Longe de
mim impugnar a capacidade, e menos ainda a integridade dessas pessoas
dignas. Mas, em qualquer caso, posso ter minhas dúvidas sobre a segu-
rança de suas observações ou seus diagnósticos. Pode ser que a serpente
marinha exista e pode ser que a histeria seja às vezes visível nos homens.
Mas enquanto uma prova conclusiva da descoberta de uma única serpente
marinha do padrão ortodoxo justificaria em muito o antigo marinheiro, a
prova da ocorrência, em um caso ocasional, de histeria nos homens, nem
de longe justificaria a alegação implícita de que a histeria não é essencial-
mente uma doença feminina. Se os homens histéricos são tão comuns
quanto certas feministas em perigo argumentam, o que eu quero saber é:
onde estão eles? Enquanto nos deparamos com sintomas que seriam co-
mumente atribuídos à histeria em quase todas as segundas ou terceiras
mulheres de cuja vida temos algum conhecimento íntimo, com que fre-
quência encontramos nos homens sintomas que de alguma forma se asse-
melham a esses? Na minha própria experiência, eu encontrei apenas dois
casos de homens que evidenciaram um temperamento um tanto análogo
à da "mulher histérica". Afinal de contas, a experiência do homem co-
mum, e nisso eu afirmo que é mais ou menos típico, é mais importante no
94
caso de uma doença se manifestar em sintomas óbvios à observação co-
mum, como o que estamos considerando, do que a do médico, que, em
razão de sua profissão, provavelmente veria casos, se houvesse algum, por
mais poucos que fossem. A possibilidade, além disso, pelo menos sugere-
se, que o último pode muitas vezes confundir histeria (usando a palavra
no sentido comumente aplicado aos sintomas apresentados pelas mulhe-
res) com sintomas resultantes de neurastenia geral ou mesmo de causas
puramente estranhas, como o álcool, drogas, etc. Que isso às vezes é o caso
dificilmente é questionável. Que os sintomas da patologia mental referidos
tão frequentemente nas mulheres, se nós atribuímos à histeria ou não, ra-
ramente ou nunca são encontrados em homens é um fato inquestionável.
A rosa, diz-se, é tão doce por qualquer outro nome, e se chamamos esses
sintomas afetos de histeria, ou os descrevemos como a própria histeria, ou
negamos que eles tenham algo a ver com a "histeria verdadeira", sua exis-
tência e frequência no sexo feminino permanecem, no entanto, um fato.
Não! Se alguns dos sintomas da histeria, da "verdadeira" ou da "assim
chamada" são encontrados ocasionalmente ou não em homens, cada pes-
soa imparcial deve admitir: eles são extremamente raros, que, no que diz
respeito a certos sintomas mentais patológicos, comuns em mulheres e po-
pularmente identificados (com ou sem razão) com a histeria, há, afirmo,
pouca evidência de que eles ocorram em homens. Mesmo que se contorçam
e prevariquem como podem, é impossível para os Sufragistas e Feministas
escaparem com sucesso da verdade indubitável de que a mentalidade das
mulheres é caracterizada constitucionalmente por uma instabilidade ge-
ral, manifestando-se em sintomas patológicos radicalmente diferentes em
natureza e em frequência de qualquer um que se obtenha nos homens.

95
Altamente visível entre as falácias que fizeram o movimento femi-
nista continuar firme é a suposição de que as mulheres são constitucional-
mente o "sexo mais fraco". Isso também foi discutido por nós no Capítulo
II, mas a última vez pode ser complementada aqui por um pouco mais de
comentários, já que tão profundamente arraigada está essa falácia na opi-
nião pública. A razão para a aceitação inquestionável da suposição é em
parte devido a uma confusão de duas coisas sob um mesmo nome. Os ter-
mos "força física" e "fraqueza física" referem-se a dois fatos diferentes. A
atribuição de maior fraqueza física ao sexo feminino do que ao masculino,
sem dúvida, expressa uma verdade, mas não menos verdadeira é a atri-
buição de uma maior força física às mulheres do que aos homens. Em ta-
manho, peso e desenvolvimento muscular, o homem médio tem uma van-
tagem indiscutível e, na maioria dos casos, uma enorme vantagem sobre
a mulher média. É nesse sentido que a estrutura corporal da mulher hu-
mana pode, com alguma aparência de justiça, ser descrita como frágil. Por
outro lado, em termos de tenacidade da vida, o poder de recuperação e o
que podemos chamar de resistência da constituição, sem dúvida, as mu-
lheres são consideravelmente mais fortes que os homens. Agora esse vigor
da constituição também pode ser descrito como força física e, para essa
confusão, a suposição da fragilidade geral do organismo corporal feminino
em comparação com o masculino adquiriu uma extensão generalizada na
mente popular.
As estatísticas mais cuidadosamente controladas e confiáveis da
Secretaria-Geral e de outras fontes mostram que a mortalidade é conside-
ravelmente maior em homens do que em mulheres de todas as idades e em
todas as condições de vida. Com menos de cinco anos, as provas mostram
que morrem 120 meninos por cada 100 meninas. Na vida adulta, a Secre-
taria-Geral mostra que as doenças pulmonares são a causa de quase 40%
96
das mortes entre homens do que entre mulheres. Que a violência e os aci-
dentes devem ser a causa de 150% mais mortes entre homens do que mu-
lheres é explicada, pelo menos em parte, pela maior exposição dos homens,
apesar da enorme disparidade que levaria a suspeitar que aqui também o
poder inferior de resistência na constituição masculina desempenha um
papel não insignificante no resultado. O relatório do médico à Junta do
Governo Local mostra que, entre as idades de 55 e 65 anos, há uma dife-
rença marcante entre o número de mortes de homens e de mulheres. Os
detalhes para o ano de 1910 são os seguintes:

DOENÇAS HOMENS MULHERES


Sistema nervoso 1614 1240
Coração 5762 5336
Vasos sanguíneos 3424 3298
Sistema respiratório 3110 2473
Sistema digestivo 1769 1681
Renal etc. 2241 1488
Infecções agudas 2259 1164
Mortes violentas 1624 436

Diversas causas adicionais, relacionadas à vida mais ativa e ansi-


osa dos homens, à maior pressão a que são submetidos, sua maior exposi-
ção à infecção e igualmente a acidente, podem explicar uma certa porcen-
tagem da taxa de mortalidade excessiva na população masculina em opo-
sição à feminina, no entanto, essas explicações, mesmo permitindo-lhes a
maior latitude possível, apenas tocam a margem da diferença, com a única
exceção de mortes por violência e acidentes acima mencionadas, em que a
responsabilidade e a exposição podem representar uma porcentagem um
pouco maior. A grande causa da discrepância permanece, sem dúvida, no

97
poder enormemente maior de resistência, isto é, de força constitucional,
no organismo do corpo feminino em comparação com o masculino.
Devemos agora tratar com alguma extensão de uma falácia de al-
guma importância, devido ao aparato de aprendizagem com a qual foi
apresentada, a ser encontrada no livro de Lester F. Ward, intitulado So-
ciologia pura, apesar de sua natureza falaciosa, é bastante claro quando
analisado.gora temos de lidar com certa extensão de um erro de alguma
importância, porque a aprendizagem aparelho com o qual ele foi exposto,
que é encontrada no livro de Mr. Lester F. Ward, intitulado "Sociologia
Pura", apesar de sua natureza falacioso é bastante clara quando anali-
sado. O Sr. Ward classifica sua especulação como "Teoria Ginecocêntrica",
através da qual ele entende aparentemente o dogma feminista da suprema
importância da mulher no esquema da humanidade e da natureza em ge-
ral. Seus argumentos são em grande parte da biologia geral, especialmente
a dos organismos inferiores. Ele traça os vários processos de reprodução
nos departamentos inferiores da natureza orgânica, subdivisão, germina-
ção, etc., até as primeiras formas de bissexualidade, culminando na con-
jugação ou união sexual verdadeira. Seu ponto de vista ele assim declara
em termos de origens biológicas: "Embora a reprodução e o sexo sejam
duas coisas distintas, e embora uma criatura que se reproduza sem sexo
não possa ser apropriadamente chamada de homem ou mulher, ainda as-
sim essas concepções se misturam na mente popular, de modo que uma
criatura que realmente produz descendência fora de seu próprio corpo é
instintivamente classificada como feminina. A fêmea é o sexo fértil, e o
que é fértil é visto como feminino. Certamente, seria absurdo considerar
um organismo da reprodução sexual como um macho. Os biólogos vieram
a partir deste ponto de vista popular e regularmente falar de “células-
mãe” e “células-filhas”. Isto, portanto, é não distorcer a língua ou ciência
98
dizendo que a vida começa com o corpo feminino e é realizada em longa
distância apenas por mulheres. Portanto, não faz violência à linguagem
ou à ciência dizer que a vida começa com o organismo feminino e é levada
a uma longa distância por meio de mulheres sozinhas. Em todas as dife-
rentes formas de reprodução a-sexual, da fissão à partenogênese, pode-se
dizer que a fêmea existe sozinha e desempenha todas as funções da vida,
incluindo a reprodução. Em uma palavra, a vida começa como feminina".
Nas observações acima, vê que o Sr. Ward, por assim dizer, enfa-
tiza a afirmação de que os organismos assexuados são considerados femi-
ninos. Isso, em si mesmo, é um procedimento um tanto duvidoso, mas
serve como ponto de partida para sua teoria. A fêmea assexual (?), observa
ele, não é apenas fundamentalmente o sexo original, mas continua ao
longo do tronco principal, embora depois o elemento masculino seja acres-
centado "aos efeitos da fertilização". "Entre os milhões de criaturas hu-
mildes", diz Ward, "o macho é claramente um fertilizador". O escritor con-
tinua seus esforços para minimizar o sexo masculino no campo da biolo-
gia. "A gigantesca aranha fêmea e o minúsculo fertilizante masculino, o
inseto Mantis com sua fêmea igualmente grande e feroz, abelhas e mos-
quitos", todos são pressionados para o serviço. Até mesmo o reino vegetal,
na medida em que mostra sinais de diferenciação sexual, é trazido para as
listas em favor de sua teoria da supremacia feminina, ou ginecocentrismo,
como ele mesmo chama.
Esta teoria pode ser brevemente explicada da seguinte forma: Nos
primeiros organismos que mostram diferenciação sexual, é a fêmea que
representa o organismo apropriado, o macho rudimentar existe com o
único propósito de fecundação da fêmea. Isso se aplica à maioria das for-
mas de vida inferiores nas quais a diferenciação é obtida do sexo e, em
muitos insetos, o Mantis é um dos casos especialmente mencionados por
99
nosso autor. O processo de evolução do sexo masculino é devido à seleção
sexual da fêmea. De ser um mero agente de fertilização, pouco a pouco, à
medida que a evolução avança, assume a forma e as características de um
organismo independente como o tronco original do organismo feminino.
No entanto, este último continua a manter sua supremacia na vida das
espécies, principalmente através da seleção sexual, até o período humano,
ou seja, mais ou menos (!), para o Sr. Ward ser obrigado a admitir os sinais
da superioridade masculina em vertebrados superiores, ou seja, aves e ma-
míferos. Esta superioridade manifesta-se em tamanho, força, ornamenta-
ção, atenção, etc., mas é com o homem, com o advento da faculdade de
raciocínio e, consequentemente, da supremacia humana, que ela se mani-
festada inequivocamente em primeiro lugar. Esta superioridade, afirma
Ward, desenvolveu-se sob a égide da seleção sexual da fêmea e permitiu
que o homem cruel e mau subjugasse a mulher e escravizasse a mulher
oprimida e subjugada, que foi esmagada por um Frankenstein de sua pró-
pria criação. Embora em várias fases anteriores da organização humana
as mulheres ainda mantivessem sua supremacia social, essa situação logo
mudaria. A androcracia é estabelecida, e a mulher é reduzida ao papel de
criar a raça e ser a serva do homem. Assim, ela se manteve durante os
períodos de maior barbarismo e civilização. Nosso autor considera que o
ponto mais baixo do que ele chama de degradação das mulheres foi alcan-
çado no passado, e que os últimos dois séculos testemunharam um movi-
mento na direção oposta – isto é, em direção à emancipação de mulheres
e a igualdade entre os sexos. (Cf. "Sociologia pura", capítulo XIV. E espe-
cialmente pp. 290-377.)
O texto acima é um breve, mas, acredito, uma declaração esquelé-
tica não injusta da teoria que o Sr. Lester Ward elaborou na obra menci-
onada, em grande detalhe e com uma imensa riqueza de exemplos. Mas
100
agora me pergunto, concedendo a correções das premissas biológicas do
Sr. Ward e a exatidão de sua exposição, que não sou especialista o sufici-
ente para poder criticar em detalhes: o que isso tudo significa? O "fim dos
negócios" (como dizem os americanos) de toda a teoria, bastante evidente,
é constituir uma base credível e científica para o Movimento Feminista
Moderno e, portanto, promover suas pretensões práticas. O que o Sr.
Ward chama de teoria androcêntrica, pelo menos em relação ao homem e
aos vertebrados superiores, que é suportado pelos fatos da experiência hu-
mana e que foram recentemente aceitos quase por unanimidade, é, se-
gundo ele, todo errado. O elemento masculino no universo dos seres vivos
não é o elemento de importância primordial, e o elemento feminino não é
o secundário, mas o oposto é verdadeiro. Para esta afirmação do Sr. Ward,
como já foi apontado, ele tem, em virtude de sua aprendizagem biológica,
ele tem sido bem-sucedido pelo menos na pretensão de um caso, na medida
em que se refere às formas inferiores de vida. Ele, no entanto, deve admitir
– uma admissão letal, sem dúvida – que a evolução tendeu progressiva-
mente a quebrar a superioridade da mulher (por meio, como ele sustenta,
da sua própria seleção sexual) e à transferência da supremacia sexual para
o macho, segundo o Sr. Ward, até então um segundo ser, e que essa ten-
dência se torna muito evidente na maioria das espécies de aves e mamífe-
ros. Com o surgimento do homem, no entanto, fora do Pithecanthropus, o
homosynosis, ou qualquer outra designação que podemos chamar de or-
ganismo intermediário entre o puramente animal e puramente humano, e
a consequente superação do instinto como a forma dominante de inteli-
gência pela razão, a questão da superioridade, como o Sr. Ward candida-
mente admite, não é mais duvidosa, e a inquestionável superioridade do
homem, no decorrer do tempo, segue a supremacia inquestionável. É
claro, então, que a concessão das premissas biológicas de nosso autor de
101
que os organismos inferiores ainda são virtualmente femininos e que nos
hermafroditas predomina o elemento feminino; que nas primeiras formas
de fertilização bissexual o elemento masculino era apenas um ramo do
tronco feminino e este ramo se desenvolve principalmente através da se-
leção sexual da fêmea, semelhante a este último corpo; não é suficiente
para alcançar maiores vertebrados, aves e mamíferos, podemos encontrar
qualquer traço de superioridade masculina, e essa superioridade só se
torna definitiva e óbvia, levando a dominação masculina na espécie hu-
mana – concedendo tudo isso, eu digo, que argumento pode ser fundado
sobre ele em apoio ao valor igual fisicamente, intelectualmente e moral-
mente do sexo feminino na sociedade humana, ou a conveniência de pos-
suir poder político igual aos homens em tal sociedade? Pelo contrário, toda
a exposição do Sr. Ward, com a ilustração de seus fatos biológicos, parece
apontar na direção oposta. Nós parecemos provavelmente ter aqui, se são
aceitas as premissas do Sr. Ward sobre a insignificância primitiva do ele-
mento masculino – inicialmente ofuscado e dominado pela mulher mãe,
mas evoluindo gradualmente em importância, caráter e realização, até
chegarmos ao homem, o maior produto da evolução até hoje – um argu-
mento poderoso para o antifeminismo. Na própria demonstração do Sr.
Wad, descobrimos que a superioridade incontestável, tanto em tamanho
e poder, tanto no corpo e no cérebro, se manifestou em androcracia,
quando a fêmea é relegada, no curso natural das coisas, à função de dar à
luz. Isso dificilmente pode ser negado, é simplesmente outro exemplo do
processo geral de evolução, pelo qual o ser superior se desenvolve a partir
do inferior, sendo a princípio fraco e dependente de seus pais, e este último
dominante até que o novo ser alcance a maturidade, quando por sua vez
se torna supremo, enquanto a forma da qual se desenvolveu, e da qual foi

102
a primeira ramificação, cai no quadro e se torna subordinada ao seu pró-
prio produto.
Voltemos agora para outra falácia científica, a consequência de um
homem bom lutando contra a adversidade – ou seja, um investigador ci-
entífico honesto e sadio, mas que, ao mesmo tempo, está obcecado com os
princípios do feminismo como com um dogma religioso, ou então está ner-
vosamente com medo de ofender os outros. Sua atitude lembra tanto a do
geólogo ortodoxo da primeira metade do século XIX, que escreveu com
um medo mortal de incorrer no odium theologicum51 por sua exposição dos
fatos da geologia, e que, portanto, estava nervosamente ansioso para per-
suadir seus leitores que os fatos em questão não colidiam com a cosmogo-
nia mosaica dada no livro de Gênesis. Com o Sr. Havelock Ellis em seu
trabalho, "Homem e Mulher", não é o dogma da infalibilidade bíblica que
ele está preocupado em defender, mas um dogma mais moderno, o da
igualdade feminina, tão caro ao coração da feminista moderna. Os esforços
do Sr. Ellis para eludir as consequências das verdades científicas que ele
honestamente proclama são quase patéticas. Não se pode deixar de notar,
depois de sua exposição, um fato que vai totalmente contra a teoria da
igualdade do sexo defendida pelas feministas, a ânsia com a qual ele se
apressa em acrescentar alguma afirmação qualificadora que tende a mos-
trar que afinal não é tão incompatível com o dogma feminista quanto pa-
rece à primeira vista.
A pièce de résistance52 do Sr. Havelock Ellis, no entanto, está em
sua "conclusão". O autor para o seu problema tem que superar a incom-
patibilidade óbvia da verdade que ele demonstrou ad nauseam no curso de

51
N.T.: odium theologicum significa "ódio aos teólogos".
52
N.T.: pièce de résistance significa "o prato principal".

103
seu livro, ou seja, que a mulher-tipo, em todos os aspectos fisiológicos e
psicológicos, se aproxima do tipo infantil, enquanto o homem, em seu pro-
gresso em direção à maturidade adequada, diverge mais e mais dele. A
implicação óbvia deste fato é certamente clara, com o princípio do desen-
volvimento do indivíduo sendo uma reprodução abreviada da evolução da
espécie, ou, para expressá-la na fraseologia científica, da ontogênese sendo
a recapitulação abreviada das etapas apresentadas por filogenia. Se par-
tirmos deste princípio da biologia bem credenciado e de outra forma uni-
versalmente aceita, a inferência é bastante clara, a saber, a mulher é, como
Herbert Spencer e outros simplesmente apontaram um "homem subde-
senvolvido" – em outras palavras, a mulher representa um estágio inferior
da evolução do homem. Agora isso, obviamente, não seria adequado ao
livro do feminismo do Sr. Ellis. Explicado, tem que ser de uma forma ou
de outra. Assim, nosso autor é levado ao ousado expediente de lançar ao
mar uma das generalizações mais bem estabelecidas da biologia moderna
e declarar com ousadia que o princípio nela contido é invertido (supomos
"apenas para esta ocasião") no caso do Homem. Desta forma, ele é capaz
de postular uma teoria consoladora para a alma feminista, que afirma que
o homem adulto está mais próximo, em termos de desenvolvimento, ao
seu ancestral pré-humano do que a criança ou a mulher! As analogias fisi-
ológicas e psicológicas observáveis entre a criança e o selvagem, e até
mesmo, especialmente na primeira infância, entre a criança e os tipos mais
baixos de mamíferos – analogias que, notavelmente na vida de instinto e
paixão, são facilmente rastreáveis também no humano feminino – tudo
isso não conta para nada; eles não são sonhados na filosofia feminista de
Ellis. O dogma do feminismo moderno exige que as mulheres sejam reco-
nhecidas como iguais em todos os aspectos (com exceção da força muscu-

104
lar) com o homem e, se possível, como bastantes superiores a ele. Se a na-
tureza não tem trabalhado em linhas feministas, como a observação co-
mum e a pesquisa científica testemunham na face das coisas, a natureza
impertinente deve ser "corrigida", pelo menos em teoria, pela ingenuidade
dos sábios feministas da persuasão masculina degradada. Para isso, deve-
mos enquadrar nossas hipóteses!
A surpreendente teoria do Sr. Havelock Ellis, que deve parecer,
pode-se pensar, a todas as pessoas imparciais, fora do acordo com todas as
leis e fatos da ciência biológica, aparece a este escritor, deve ser confessado,
a própria reductio ad absurdum 53 da polêmica perversidade feminista.
Terminarei este capítulo de Mentiras e Falácias Feministas com a
falácia da falsa analogia, ou falsa ilustração, dependendo de como esco-
lhemos o termo dela. Este quase-argumento foi recentemente apresentado
em um discurso defendendo uma das prisioneiras em um julgamento de
sufragistas e foi repetido mais tarde, por George Bernard Shaw em uma
carta ao The Times. Em suma, o assunto a ser tratado é o seguinte: - Apos-
trofando os homens, diz-se: "Como você gostaria que as relações históricas
entre os sexos fossem revertidas se as decisões e a administração das leis e
todo o poder do estado estivesse nas mãos das mulheres? Você não se re-
belaria nessa situação?” Agora, para este quase-argumento, a resposta é
clara o suficiente.
A moral destinada a ser transmitida na questão hipotética colo-
cada é que as mulheres têm tanto direito de se opor à dominação dos ho-
mens quanto os homens haveriam de se opõer à dominação das mulheres.
Mas é claro que o ponto de toda a questão reside em uma petitio principle54,

53
N.T.: reductio ad absurdum significa ou vem a se referir à "falsidade na premissa mostrada pelo
absurdo de sua conclusão".
54
N.T.: petitio principie é uma "alegação não comprovada".

105
ou seja, no pressuposto de que os desafiados admitem igual capacidade
intelectual e igual estabilidade moral entre a mulher média e o homem
médio. Na ausência dessa suposição, o desafio se torna absurdo e inútil. Se
deixarmos de lado as diferenças mentais e morais é apenas uma questão
de grau como quando caímos no absurdamente óbvio. Em As Viagens de
Gulliver, temos uma imagem da sociedade em que os cavalos eram os que
governavam e que dominavam os seres humanos. Nesta sátira, Swift for-
mulou a pergunta: "Vocês, seres humanos, gostariam de ser tratados como
inferiores pelos cavalos, assim como os cavalos são tratados por vocês até
hoje?" Não estou, sejam lembrados, instituindo qualquer comparação en-
tre os dois casos, além de apontar que o argumento como argumento é
intrinsecamente o mesmo em ambos.

106
CAPÍTULO VII
A PSICOLOGIA DO MOVIMENTO

Já falamos sobre duas tensões no feminismo moderno que, embora


normalmente encontradas juntas, são intrinsecamente distinguíveis. A
primeira eu chamo de Feminismo Sentimental e a segunda de Feminismo
Político. O Feminismo Sentimental é, em grande parte, uma extensão e
elaboração emocional da antiga noção de cavalheirismo, uma noção que
no período em que supostamente teria atingido seu apogeu, certamente
desempenhou um papel muito menor nos assuntos humanos do que em
sua forma estendida e metamorfoseada nos dias atuais. Já analisamos em
um capítulo anterior a noção de cavalheirismo. Tomado em sua forma
mais geral e elementar, representa a contraparte da fraqueza que é muito
capaz de degenerar em um culto da mera fraqueza. Fablesse prime le droit55
não está necessariamente mais perto da justiça do que a força prime le
droit56; Apesar de saber muito sobre o assunto hoje, pode-se imaginar que
o direito inerente dos fracos de oprimir os mais fortes era, a princípio, a
eterna retidão. Mas a teoria da cavalaria dificilmente é invocada até hoje,
exceto pelos interesses de uma maneira particular de fraqueza, a saber, as
mulheres como um sexo muscularmente fraco, mas aqui ela adquiriu um
caráter totalmente diferente57.
O cavalheirismo, como entendido pelo Feminismo Sentimental
Moderno, significa licença ilimitada para as mulheres em suas relações

55
N.T.: Faiblesse prime le droit significa "A fraqueza precede o direito".
56
N.T.: o force prime le droit significa "a força precede o direito".
57
N.A.: Quanto a este ponto, deve-se notar que o cavalheirismo medieval tolerado é (como Warton
expressou em sua "História da Poesia") "a mais grosseira das indecências e obscenidades entre os sexos",
coisas que o puritanismo moderno estigmatizaria com palavras como "descortês-indelicado", "covarde
não-viril" e coisas do gênero. A semelhança entre a adoração moderna das mulheres e as relações do
cavaleiro medieval com o sexo feminino é muito escassa. Alegações modernas de imunidade para as
mulheres do direito penal e cavalheirismo são coisas muito diferentes.

107
com os homens e coerção ilimitada para os homens em suas relações com
as mulheres. Para os homens todos os deveres e nenhum direito e para as
mulheres todos os direitos e nenhum dever, é o princípio básico do femi-
nismo moderno, do sufragismo e do cavalheirismo bastardo que ele gosta
tanto de invocar. As feministas políticas que defendem mais insistenten-
temete a igualdade entre os sexos, é interessante observar que, na maioria
dos casos, são defensoras igualmente insistentes das demandas do Femi-
nismo Sentimental, baseadas em noções modernas metamorfoseadas de
cavalheirismo. Parece nunca afetar ninguém que a fraqueza muscular da
mulher tenha sido forjada pelas feministas modernas como uma arma
abominável de tirania. Sob a noção de cavalheirismo, tal como entendido
pelo feminismo moderno, Feministas Políticas e Sentimentais tanto pri-
variam os homens dos mais elementares direitos de defesa contra as mu-
lheres exonerando a última praticamente de toda punição para os crimes
mais vis contra os homens. Elas sabem que podem contar com o apoio da
parte sentimental do público com algum grito de papagaios como "O que!
Atingir uma mulher!"
Por que não, se te incomoda?
“Tratar uma mulher desse jeito!” “Que vergonha!” responde auto-
maticamente a multidão de idiotas Feministas Sentimentais, esquecendo
o fato de que a verdadeira vergonha está no endosso de um inócuo privi-
légio do sexo. Se o mesmo grupo estivesse disposto a condenar qualquer
forma especial de punição ou tratamento desumano para ambos os sexos
igualmente, não haveria nada a dizer, naturalmente. Mas este não é o
caso. A crueldade mais selvagem e a animosidade vingativa para com os
homens os tornam relativamente frios. Na melhor das hipóteses, evocam
um ligeiro protesto contra a manifestação exagerada de horror e indigna-
ção sentimental espumante produzida por qualquer pequena dificuldade
108
infligida por meio de punição (digamos) a uma delinquente do sexo femi-
nino.
A psicologia do Feminismo Sentimental em geral está intima-
mente ligada ao curioso fenômeno do ódio dos homens por seu próprio
sexo como tal. Com as mulheres, apesar do que às vezes se afirma, o fenô-
meno antissexo não é encontrado. Pelo contrário, hoje estamos na pre-
sença de uma poderosa solidariedade de sexo feminina, indicando o início
de uma forte relação sexual de mulheres contra homens. Mas com os ho-
mens, como já foi dito, em todos os casos de conflito entre os sexos, nos
deparamos com uma cruel indiferença, alternando com hostilidade posi-
tiva em relação a seus semelhantes, o que parece às vezes matar neles todo
o senso de justiça. Isso é complementado, por outro lado, por uma genti-
leza imbecil em relação ao sexo feminino em geral, que lembra tanto a
farsa sentimental do gentil bêbado. Essa indulgência brutal, como obser-
vado anteriormente, é prova mesmo contra o senso indigno de dano à pro-
priedade.
Como todos sabemos, as ofensas contra a propriedade, em regra,
são aquelas que o burguês médio está menos inclinado a tolerar, mas re-
centemente vimos uma campanha de deliberada destruição arbitrária por
incêndios e outros meios, dirigidos expressamente contra a propriedade
privada, a que, no entanto, o respeitável burguês, o homem da lei e da
ordem, assistiu praticamente impassível. Vamos supor outro caso. Imagi-
nemos uma agitação anarquista, com um centro conhecido e líderes co-
nhecidos, um centro do qual ultrajes diários fossem deliberadamente pla-
nejados por esses líderes e realizados por seus emissários, todos, bien en-
tendu, de convicção masculina.

109
Agora, que atitude o leitor supõe que a "opinião pública" das clas-
ses proprietárias adotaria em relação aos trapaceiros que eram responsá-
veis por esses atos? Não pode ele imaginar para si mesmo a indignação
furiosa, as diatribes raivosas, a defesa do enforcamento, a flagelação, a
servidão penal pela vida, como a punição mínima, seguida pela legislação
de pânico sobre essas linhas, que resularia como consequência. No en-
tanto, de tais ameaças e massacres, quando se trata de sufragistas que
imitam a política do anarquista terrorista, não ouvimos nem um som. O
proprietário burguês respeitável, o homem da lei e da ordem, tem o desejo,
é verdade, provavelmente de condenar esses ataques de forma acadêmica,
mas há uma subnota de hesitação que amortece o fogo da sua ira. Não há
rancor, não há notas de atrocidade em suas objeções; além disso, até se
prepara para discutir o assunto, mantendo a impropriedade, a loucura, a
"desfeminidade" de incendiar as casas vazias, cortar pedaços do campo de
golfe, destruir correspondência, quebrando janelas e afins. Mas a exaltada
indignação da assustadora promoção de punições bárbaras, ou da feroci-
dade em geral, não tem vestígio. Pelo contrário, uma certa disposição para
admitir, e até para enfatizar, o desinteresse destas mulheres criminosas é
observável. Quanto a este último ponto, devemos novamente insistir no
que foi apontado em uma página anterior, que o desinteresse e o altruísmo
de muitos anarquistas atiradores de boma que que foram objeto de justi-
ficada e severa indignação burguesa são, pelo menos, tão inquestionáveis
quanto as das mulheres queimadoras de casas e destruidoras de janelas.
Além disso, o anarquista, por mais mal-comportado que tenha sido em
sua ação, como uma vez se observou, não deve ser esquecido, tinha pelo
menos para o objetivo de seus esforços não apenas a aquisição de um voto,
mas a revolução que ele achava que aboliria a miséria humana e elevaria
a humanidade a um nível superior.
110
Nesse estranho fenômeno, portanto, no qual a indignação do bur-
guês diante da absurda e intencional violação da sacralidade de seu ídolo
se reduz a um ligeiro protesto e sua ação punitiva a um pretexto lúdico,
temos um exemplo crucial da extraordinária influência do feminismo so-
bre a mente moderna. As classes proprietárias deveriam levar o incêndio
e a destruição deliberada de propriedade em geral com serenidade compa-
rativa, porque os culpados são mulheres, atuando no suposto interesse de
uma causa que visa aumentar a influência das mulheres no estado, este é
o exemplo mais surpreendente que podemos ter do poder do feminismo.
Temos aqui um duplo fenómeno, ódio irracional do homem como sexo,
por ser homem, e sua indulgência irracional para com o outro sexo. Como
mencionado acima, não é só o sentido de grupo espírito-consciência que
está totalmente ausente entre os homens modernos em seu próprio sexo,
enquanto a mulher moderna tem uma presença forte, mas esta caracterís-
tica negativa tem se convertido em algo positivo no outro polo. Assim, o
problema sexual moderno nos é apresentado com uma inversão da lei so-
ciológica comum da solidariedade que os interesses comuns possuem.
Resta considerar a explicação psicológica desse fato. Por que os
homens prefeririam os interesses visíveis das mulheres antes dos do pró-
prio sexo? Que este é o caso do homem moderno, a história da legislação
dos últimos cinquenta anos mostra, e o fato indubitável pode ser encon-
trado ilustrado nos relatórios de jornal de quase todos os julgamentos, seja
no direito civil ou criminal, além dos atos "cavalheirescos" comuns dos
homens no detalhe da vida social. Esta questão do sexo, portanto, como
foi dito anteriormente, constitui a única exceção à lei geral do espírito de
grupo daqueles que possuem características e interesses comuns. Não pode
ser adequadamente explicado por uma referência à evolução das funções

111
e relações sexuais do homem primitivo, pois é pelo menos na forma ex-
trema, como vemos hoje, um fenômeno social relativamente recente. A
teoria da veneração das mulheres em virtude de seu sexo, muito à parte
de seu caráter e conduta como indivíduos, tem pouco mais de um século,
desde a sua criação. O cavalheirismo anterior, onde existiu, aplicava-se
apenas à mulher que apresentou o que é concebido como o ideal moral das
características femininas em algum grau apreciável. O mero fato físico do
sexo por um momento era considerado suficiente para autorizar a mulher
a qualquer homenagem especial, consideração ou imunidade sobre o ho-
mem. Ninguém sugeria que o criminoso feminino tivesse sido menos cul-
pado ou mais desculpável do que o criminoso masculino. Ninguém acredi-
tava que uma mulher tivesse o direito adquirido de roubar ou defraudar
um homem porque fizera sexo com ele. Essa noção da mera circunstância
do sexo – da feminilidade – que em si constitui um protagonismo de pri-
vilégios e imunidades, além de qualquer outra consideração, é um produto
de épocas muito recentes. Ao lidar com esta questão, na medida em que é
levada ao direito penal, é importante distinguir cuidadosamente entre o
abrandamento de todo o sistema de sanções devido à evolução geral das
tendências humanitárias e à discriminação especial em favor do sexo fe-
minino. Estas duas coisas são muitas vezes insuficientemente distinguidas
umas das outras. A punição pode ter se tornado mais humana no que diz
respeito aos homens, pode ter avançado até certo ponto nessa direção, mas
seu caráter não mudou essencialmente. Em relação às mulheres, no en-
tanto, todo o conceito de sanção penal e disciplina criminal foi alterado.
O privilégio do sexo foi agora definitivamente estabelecido como princí-
pio.
Agora, uma investigação completa da psicologia desse fenômeno
curioso que estivemos considerando – especificamente, o ódio tão comum
112
aos homens por seus pares como sexo – é uma tarefa que nunca foi ade-
quadamente abordada. Seu anverso é visto em todas as ações na concessão
e confirmação da prerrogativa do sexo nas mulheres. Não muito tempo
atrás, como vimos, uma de suas manifestações mais marcantes veio forte-
mente sob a atenção do público – a saber, a "regra do mar", pela qual as
mulheres, em virtude de seu sexo, podem reivindicar sua salvação no nau-
frágio de um navio antes dos homens. O fato de que leis e práticas em que
esse ódio do homem e a preferência das mulheres se manifestam contrárias
a qualquer sentido elementar de justiça, em muitos casos conflitantes com
a ordem pública, obviamente, podem ser vistas como puramente arbitrá-
rias, não importa. A maioria dos homens não sente o sentimento de injus-
tiça, embora o fato da injustiça possa ser admitido, quando é categorica-
mente questionado. Os homens estão preparados quando se trata de dei-
xar que a política pública vá pelo conselho, para reforçar o sagrado privi-
légio e imunidade da mulher; enquanto quanto à natureza arbitrária e ir-
racional das leis e práticas acima mencionadas, não são incomodados com
uma consciência lógica, isso não as afeta. Devo confessar que me sinto
inapto para a tarefa de desvendar exatamente a condição psicológica do
homem comum que odeia o homem em geral, e ama as mulheres em geral,
a ponto de ir contra tantas tendências aparentemente fundamentais da
natureza humana como a conhecemos de outra maneira. A resposta, na-
turalmente, será um recurso ao poder do instinto sexual. Mas isso, repito
mais uma vez, não explica o aumento, ou, se não explica o aumento, pelo
menos, a expansão acentuada do sentimento que vem ao longo das últi-
mas três gerações, mais ou menos. Para além disso, mesmo eu estando ci-
ente do poder do amor sexual na mente de um homem quando seu objeto
individual, na minha opinião, é difícil conceber como pode influenciar tão

113
fortemente a atitude dos homens em relação às mulheres que eles não vi-
ram, ou, mesmo quando as viram, não há uma atração sexual, ou, nova-
mente, em termos da coletividade de mulheres – a categoria abstrata, mu-
lheres (em geral).
Nós já lidamos com o tratamento da campanha anti-homem na
imprensa, especialmente em romances e peças modernas. Isso, como já
dissemos, muitas vezes toma a forma de abuso direto de maridos e aman-
tes e na tentativa de fazê-los parecer ridículos como um contraponto às
qualidades brilhantes e o doce coração das esposas. Mas, às vezes, acha-
mos que simples elogio da mulher, independentemente de qualquer ataque
direto ao homem, assume o caráter de um emético intelectual. Um roman-
cista contemporâneo muito admirado, representando uma cerimônia de
casamento nos círculos da sociedade moderna, descreve os sentimentos de
seu herói, um jovem revoltado com a falsidade e vaidade da "Sociedade"
e todas as suas formas, como se segue: - "A noiva estava agora na frente
dele, e por um instinto comum de cavalheirismo, ele virou os olhos; Pare-
cia uma vergonha para ele olhar para aquela cabeça abatida sobre o mis-
tério prateado58 de seu vestido perfeito; a modesta cabeça cheia, sem dú-
vida, de devoção e anseios; a cabeça majestosa, onde jamais havia entrado
um pensamento como este: "Como estou procurando esse dia de todos os
dias, primeiro de Londres?"; a cabeça orgulhosa, onde um medo do tipo
‘como vou suportar isso?' certamente poderia ter manchado... Ele viu
abaixo da superfície deste drama diante de seus olhos, e ele colocou seu
rosto, como um homem que estava participando de um sacrifício". Eu per-
gunto, você pode acreditar que o escritor de tal extravagância feminista
pomposa é um romancista e dramaturgo de prestígio que, sem dúvida, fez

58
N.T.: Mistério prateado: Não há acordo com os espanhóis, talvez referindo-se a uma parte do vestido
que se estende desde o pescoço ou um véu de prata.

114
um bom trabalho? A crítica óbvia deve certamente atingir todos os leito-
res com a estranheza de que essa criatura divinamente inocente que ele
glorifica deva emergir de um millieu59 que se manifesta como a personifi-
cação do vazio e da superficialidade convencionais. Se os homens podem
colocar manteiga copiosa em seus louvores femininos, mulheres idólatras
de seu próprio sexo podem superar a oferta. No momento em que escrevo,
acabei de receber um ditirambo da revista The Clarion, de Miss Winnifred
Blatchford, sobre as sacrossantas perfeições da feminilidade em geral, es-
pecialmente como exemplificado nas façanhas suicidas da falecida Emily
Wilding Davidson60 no notório Epsom e um panegírico sobre a pureza,
beleza e glória inacessível da mulher. De acordo com esta senhora, a glória
da feminilidade parece se estender a todas as partes do organismo femi-
nino, mas, segundo nos dizem, é manifestada especialmente nos cabelos
(aparentemente nas raízes). Evidentemente, há algo especialmente sa-
grado no cabelo da mulher! Esta ode às mulheres em prosa, como exem-
plificado por Emily Davidson, termina com a invocação: "Virá um dia em
que a vida da mulher terá um status mais elevado do que o de um jóquei?"
Jockey pobre! Não confiaremos, apesar das aparências atuais indicarem
uma forte tendência a considerar as mulheres como tendo as prerrogativas
da famosa vaca sagrada do Egito ou da antiga Índia!
É impossível ler ou ouvir qualquer discussão sobre, digamos, as leis
do casamento, sem que seja aparente que o lado feminino da questão é o
único elemento do problema que é considerado digno de atenção. A ini-
quidade inquestionável de nossas leis matrimoniais existentes é sempre
mencionada como uma injustiça para com a mulher, e mudanças visando

59
N.T: Millieu significa "ambiente".
60
N.T: Emily Wilding Davison (11 de outubro de 1872 a 8 de junho de 1913). Ativista militante do
sufrágio britânico que foi atropelada pelo cavalo do rei Jorge V, Anmer, no Derby de Epsom no dia 4
de junho de 1913 e faleceu por causa deste acontecimento quatro dias depois.

115
uma liberdade maior são defendidas como um alívio para a esposa ligada
a um marido ruim ou insuportável. Que o caso contrário aconteça, que
aquela odiada e despreza coisa, o marido, também possa ter razão para
desejar alívio de uma esposa cujas qualidades angélicas e vasta superiori-
dade para com seu próprio eu masculino desprezível ele não consegue
apreciar, nunca parece entrar no cálculo em tudo.
Que nenhuma formulação satisfatória da psicologia do movimento
do feminismo tenha sido oferecida é, sem dúvida, verdadeira. No mo-
mento, eu entendo, tudo o que podemos fazer é coordenar o fato como um
caso do que podemos chamar de hipnotismo social, daquelas ondas de sen-
timento não influenciadas pela razão que são um fenômeno tão comum na
história - manias de bruxarias, fanatismos de flagelação, "reavivamentos"
religiosos e semelhantes convulsões sociais. A crença de que a mulher é
oprimida pelo homem e de que a necessidade de remediar essa opressão a
todo custo é urgente, em parte, pelo menos, sem dúvida, pertence a essa
ordem de fenômenos. Que esse sentimento é difundido e mantido em vá-
rios graus de intensidade por um grande número de pessoas, homens não
menos que mulheres, não deve ser negado. Que é da natureza de uma onda
hipnótica de sentimento, não influenciado pela razão, é mostrado pelo fato
de que o argumento não parece tocá-lo. Você pode mostrar conclusiva-
mente que os fatos se opõem à suposição; que, longe das mulheres serem
oprimidas, o contrário é o caso; que a lei existente e sua administração não
são, em nenhum aspecto essencial, algo desfavorável para as mulheres,
mas, pelo contrário, é, no seu conjunto, grosseiramente injusto para com
os homens – tudo não tem sentido. Seus protestos, em sua maioria, caem

116
em ouvidos surdos, ou, digamos, eles caem da mente revestida de senti-
mento feminista como a água cai das costas do pato proverbial 61. Os fatos
são ignorados e o sentimento prevalece; as mesmas palavras de ordem an-
tigas, as mesmas mentiras e falácias desgastadas são repetidas. O fato de
que elas foram mostradas como falsas não conta para nada. A onda hipnó-
tica de sentimento varre a razão e obriga os homens a acreditarem que a
mulher é oprimida e o homem o opressor, e acreditam que sim. Se os fatos
são contra a idée fixe62 da sugestão hipnótica, tanto pior para os fatos. Até
o momento, o dogma feminista da opressão do sexo feminino.
Quanto ao lado anverso deste Feminismo Sentimental, que emite
ferozes leis sexuais dirigidas contra os homens por ofensas contra as mu-
lheres – leis que promulgam torturas bárbaras, como o "gato" 63, e que são
ordenadas com entusiasmo em toda a sua gravidade em nossos tribunais
criminais – isso provavelmente é em grande parte rastreável à influência
das luxúrias sádicas. Uma agitação como a que levou à aprovação da cha-
mada Lei do Tráfico de Escravas Brancas, de 1912, é iniciada, uma agita-
ção projetada em grande parte pela libido invertida dos monges da pureza
social e, na crista dessa agitação, os devotos de crueldade sádica têm seus
innings64. A insensata Feminista Sentimental em geral, cuja indignação
com o homem mau é alimentada pela fúria de histórias falsas e seu julga-
mento capturado por representações das severidades necessárias para er-
radicar o mal que se assegura ser tão difundido, empresta seu apoio tolo
às medidas propostas. O Judiciário está, é claro, encantado com o au-
mento de poder dado sobre o prisioneiro no banco dos réus, e se algum dos

61
N.T: A expressão como a água cai da costa do pato é uma frase feita que indica a maior das indife-
renças.
62
N.T: idée fixe significa "ideia fixa" ou "obsessão" como uma constante ou leitmotiv.
63
N.T.: "Lei do Gato e o Rato" pela qual as mulheres, isto é, os "ratos", seriam libertadas pelas autori-
dades, o "gato", quando sua condição física era preocupante.
64
Ao que parece, um termo de críquete que designa momento do jogo em que um time rebate a bola.

117
puisnes65 tiver tendências sádicas, eles serão tão felizes quanto cavalos no
trevo66 e o "gato" florescerá como uma árvore de louro verde67.
Vamos agora nos voltar para a questão da psicologia do feminismo
político. O Feminismo Político, em sua demanda imediata pelo sufrágio
das mulheres, está diretamente baseado na concepção moderna de demo-
cracia. Esta é a base declarada. Com noções modernas de sufrágio univer-
sal se declara que a exclusão do sufrágio feminino é logicamente inconsis-
tente. Se se incluem nas listas de votação parlamentar todos os tipos e
condições de homens, diz-se, é claramente uma violação do princípio da
democracia excluir das urnas mais da metade da população adulta. Como
Mill costumava dizer em sua defesa do voto feminino, desde que a votação
foi restrita a uma parte muito pequena da população, pode não ter havido
nada de digno na exclusão das mulheres. Mas agora que a massa dos ho-
mens tem o direito de votar, e o objetivo declarado é o de estender a de-
mocracia a todos os homens, a recusa de estender ainda para as mulheres
é uma anomalia e uma incoerência manifesta. Mas nisso Mill e outros que
usaram esse argumento não conseguiram considerar um ponto muito im-
portante. As extensões do sufrágio, como foram exigidas e parcialmente
obtidas pela democracia até a atual turbulência, sempre se referiram à eli-
minação de barreiras de classe, barreiras de riqueza, barreiras raciais, etc.
– nua palavra, barreiras sociais – mas nunca de barreiras baseadas em ca-
madas profundas de diferenças orgânicas – isto é, barreiras determinadas
não pelas distinções sociológicas, mas biológicas. Se o sexo é único a este

65
N.T.: puisnes é um termo em desuso que literalmente indica "inferioridade na classificação". Assim,
neste contexto, pode significar "tribunais, julgamentos ou juízes menores".
66
N.T.: "Cavalos no trevo" significa "viver em abundância".
67
N.T.: Esta expressão "floresce como uma árvore de louro verde" é tirada da Bíblia (Salmo 37:35 vi
um homem perverso cheio de arrogância que floresceu como um cedro de folhas), então ele se refere à
arrogância ímpia da lei e suas prevaricações. A versão inglesa da Bíblia fala do louro e do espanhol do
cedro.

118
respeito, isso vicia qualquer analogia entre a extensão do sufrágio às mu-
lheres e sua extensão aos novos estratos sociais como a democracia tem
tido aqui em vista, terminando no sufrágio masculino que é o objetivo
final de todos os democratas políticos. Agora o sexo constitui uma dife-
rença orgânica e biológica, assim como a espécie constitui outra e (é claro)
uma diferença biológica mais forte. Portanto, afirmo que o simples fato
dessa diferença exclui o apelo ao princípio da democracia per se 68 como um
argumento em favor da extensão do sufrágio às mulheres. Não existe, na
minha opinião, paridade entre o princípio e a prática da democracia en-
tendida até agora, e a nova extensão proposta de receber a licença da in-
clusão das mulheres dentro dela é pálida. E, no entanto, não há dúvida de
que a demanda aparente, mas ilusória, de consistência lógica nessa ques-
tão influenciou e ainda influencia muitos democratas honestos em sua ati-
tude nessa questão.
Mas, embora o reconhecimento da diferença do sexo como sendo
uma diferença orgânica e, portanto, radicalmente distinta das diferenças
sociais de casta, classe, riqueza ou mesmo raça, indubitavelmente invalida
o apelo para o democrata, com base na consistência, aceitar o princípio de
sufrágio feminino, mas não necessariamente descarta a questão. Simples-
mente deixa o terreno livre para o problema de saber se a distinção orgâ-
nica implícita no sexo envolve ou não as diferenças intelectuais e morais
correspondentes no sexo feminino que se propõe a emancipar; e ainda, se
tais diferenças, se existirem, envolvem inferioridade geral, ou pelo menos
uma inaptidão ad hoc69 para o exercício de funções políticas. Essas ques-
tões que temos, penso eu, já foram suficientemente discutidas no presente

68
N.T.: per se significa "em si".
69
N.T: ad hoc significa "específico ou particular" para o caso em questão.

119
trabalho. O fato da existência de mulheres excepcionalmente capazes em
vários departamentos indubitavelmente engana muitos homens em seu
julgamento quanto à capacidade da mulher média de "pensar politica-
mente", ou de outra forma mostrar-se o equivalente efetivo do homem
comum, moralmente e intelectualmente. As razões para responder a essa
pergunta de maneira negativa já foram brevemente indicadas no curso de
nossas investigações. Isso torna desnecessário discutir o assunto aqui com
mais detalhes.
Ao tratar dos aspectos psicológicos do Movimento Feminista, as
condições intelectuais que pavimentaram o caminho para a sua aceitação,
vale a pena relembrar duas ou três instâncias típicas da classe de "argu-
mento" a ser ouvida ocasionalmente das defensoras do sexo feminino para
o sufrágio. Assim, quando o censo foi feito em 1911, a União Política e
Social das Mulheres concebeu, como elas pensavam, a ideia brilhante de
incomodar as autoridades e prejudicar os resultados do recenseamento,
recusando-se a permitir que fossem registradas. Uma das líderes, quando
entrevistada sobre o ponto, deu a razão para sua recusa a ser incluída, nos
seguintes termos: - "Eu não sou uma cidadã" (significando que ela não
possuía a licença) "e eu não vou fingir seja uma." A tolice dessa observação
é, naturalmente, óbvia, visto que a licença ou mesmo a cidadania não tem
nada a ver com o censo, que inclui crianças, além de criminosos, lunáticos,
imbecis, etc. Mais uma vez, em um manifesto da União Social e Política
das Mulheres defendendo a quebra de janelas e outros ultrajes "militan-
tes", foi apontado que a greve do carvão causou mais danos do que o es-
magamento de janelas e ainda os grevistas não foram processados como
as esmagadores de janela foram – o exercício do direito pessoal fundamen-
tal de homens livres para manter seu trabalho seguro nas condições acor-
dadas por ele é comparado com a atrocidade criminal contra a pessoa e a
120
propriedade! Novamente, uns três ou quatro anos atrás, quando a Lei de
Sufrágio das Mulheres havia passado na Câmara dos Comuns 70, ao ser
anunciado pelo Governo que, durante o restante da Sessão, não haveria
mais facilidade para receber proposições de lei, exceto aquelas de um ca-
ráter não contencioso, uma dessas mulheres sapientes instou na imprensa
que, vendo que havia pessoas a serem encontradas em ambos os campos
políticos ortodoxos que eram a favor do sufrágio feminino, portanto, o
projeto de lei em questão deveria ser considerado como de um caráter não
contencioso! Mais uma vez, uma senhora, escrevendo há alguns meses
para um dos jornais semanais, observou que, embora a deliberada quebra
de janela, a destruição de cartas e o incêndio premeditado pudessem ser
atos ilegais, a punição deles por prisão com trabalho duro, sendo delitos
políticos, também foi um ato ilegal, concluindo que as "militantes" e as
autoridades, tendo ambas cometido atos ilegais, estavam "quites"! Estes
espécimes de escolha da lógica das sufragistas lançam uma luz significa-
tiva sobre a condição mental das mulheres no movimento sufragista, e
indiretamente na psicologia feminina em geral. Supostamente, suporía-
mos que as mulheres que as apresentassem não conseguiram ver a exposi-
ção que estavam fazendo de si mesmas. Que qualquer ser humano de um
asilo poderia ter afundado até a profundidade da idiotice inconsequente
que elas indicam seria pouco credível. É a ordem de imbecilidade que o
enunciado acima e muitos enunciados similares refletem, confinada ape-
nas à inteligência sufragista, ou aponta para a inferioridade radical da fi-
bra intelectual, não em grau meramente, mas em espécie, na constituição
mental da fêmea humana em geral? Certamente, é difícil pensar que qual-
quer homem, por menor que seja sua inteligência, seria capaz de se fazer

70
N.T.: Câmara dos Comuns. Na Espanha, um órgão análogo é o Congresso dos Deputados.

121
de tolo exatamente pelo modo como essas mulheres estão continuamente
fazendo suas tentativas de defender sua causa e suas táticas.
Nas páginas anteriores, tentamos traçar algumas das principais li-
nhas de pensamento que orquestram o Movimento Feminista Moderno. O
Feminismo Sentimental está claramente enraizado no sentimento sexual
e na tradição do cavalheirismo, embora o conceito de cavalheirismo tenha
essencialmente mudado no curso de sua evolução. De resto, o Feminismo
Sentimental, com seu duplo caráter de homem-antipatia e mulher-simpa-
tia, como o vemos hoje, assumiu o caráter de um dos fenômenos sociais
psicopáticos que muitas vezes se repetiu na história. Só pode ser expli-
cado, o último, como uma onda hipnótica que passa pela sociedade.
Quanto ao Feminismo Político, mostramos que isso se baseia em
grande parte na má aplicação do conceito de democracia, participando em
grande parte da falácia lógica conhecida tecnicamente como secundum
quid dicto simpliciter ad dictum 71. Essa falácia lógica do Feminismo Polí-
tico é, naturalmente, reforçada e impulsionada pelo feminismo sentimen-
tal. Chegando à cabeça da psicologia do movimento, também chamamos
a atenção para alguns curiosos fenômenos da imbecilidade lógica, percep-
tíveis nos enunciados de mulheres instruídas na agitação sufragista.

71
N.T.: secundum quid dicto simpliciter ad dictum significa "generalizar a partir de casos atípicos".

122
CAPÍTULO VIII
A ACUSAÇÃO

O FEMINISMO, ou, como às vezes é chamado, a emancipação das


mulheres, como a conhecemos hoje, pode ser justamente acusado como
uma fraude gigantesca - uma fraude em seu objetivo geral e uma fraude
semelhante em táticas práticas. É inteiramente dissimulado e desonesto.
O feminismo moderno sempre professou ser um movimento pela igualdade
política e social entre os sexos. A demanda pela compensação de posição e
direitos na sociedade moderna é logicamente baseada na suposição de uma
igualdade essencial na capacidade entre os sexos. Com relação a isso, indi-
camos nas páginas anteriores, em linhas gerais, as razões para considerar
a suposição acima falsa. Mas, além desta questão, considero que a natu-
reza fraudulenta do movimento atual pode ser facilmente vista, mos-
trando que não se baseia apenas em motivos falsos, mas é direta e consci-
entemente fraudulento.
Uniformemente professa o objetivo de colocar os sexos em pé de
igualdade social e política. Mas uma pequena pesquisa de suas exigências
concretas é suficiente para mostrar que o seu objectivo, longe de ser a
igualdada, é o oposto – ou seja, conseguir com a ajuda dos próprios ho-
mens, incorporados nas forças do Estado, a ascensão das mulheres e a con-
solidação e expansão dos privilégios femininos já existentes. Que isto é
assim pode ser visto em geral pela conjunção constante do Feminismo Po-
lítico e Sentimental nas mesmas pessoas. Isso pode ser visto particular-
mente em detalhes nas demandas específicas das feministas. Essas deman-
das, formuladas por sufragistas como uma razão pela qual a votação é
essencial para os interesses das mulheres, significam pouco ou nada além
de propostas de leis para escravizar e intimidar os homens e conceder às
123
mulheres virtual, se não real imunidade para todas os crimes cometidos
por elas contra os homens. Basta consultar as sugestões dos "estatutos" da
mulher para confirmar o que é dito aqui. Estas propostas invariavelmente
sugerem o sacrifício do homem para mulher em todos os momentos 72.
Na década de oitenta do século passado, parecia uma paródia na
forma de um romance saído da pluma do falecido Sir Walter Besant, inti-
tulado The Revolt of Man (A rebelião do homem), que representa a opres-
são do homem sob um regime feminista, uma opressão que terminou em
um motim e o restabelecimento da supremacia masculina. As ideias sub-
jacentes a esse jeu d’esprit 73 pareciam ser seriamente entretidas pelas líde-
res do atual movimento das mulheres. Já faz muitos anos desde que um
ministro que ocupava um dos cargos mais altos no atual Gabinete fez a
seguinte observação para mim: - "O verdadeiro objetivo, você sabe, para
o qual essas mulheres querem que o voto é simplesmente para aprovar leis
contra os homens". Após a agitação feminista, a verdade dessa observação
foi amplamente demonstrada. Um exemplo dos resultados práticos do mo-
vimento moderno de mulheres é visto na infame Lei do Tráfico de Escra-
vas Brancas, de 1912, apressada pelo Parlamento como uma legislação de
pânico pela força de uma árdua campanha de mentiras. A atrocidade
desta lei foi suficientemente tratada no capítulo anterior 74.

72
N.A.: Isto é alcançado pelo truque inteligente de 1) apelar à teoria moderna da capacidade mental
igual dos sexos quando se trata de uma questão de direitos políticos e econômicos e as vantagens para
as mulheres, e 2) do contra-apelo ao sentimento tradicional baseado na crença na inferioridade do sexo
feminino quando se trata de privilégio e consideração legal e administrativa. As feministas, desta forma,
geralmente conseguiram sua difícil façanha de "fazer as duas coisas" para seus bons clientes.
73
N.T.: jeu d'espirit significa "jogo de entendimento".
74
N.A.: Há uma coisa afortunada em relação a estas leis selvagens que visam a supressão de certos
crimes, e que, como parece, nunca são eficazes em alcançar seu propósito. Como os comentários do Sr.
Tighe Hopkins, sobre a tortura do "gato" ("Sob a tutela do Estado", p. 203): - "A tentativa de corrigir
o crime com o crime em todos os lugares nos pagou no passado de uma maneira desastrosa". De fato,
seria desastroso se pudesse ser demonstrado que as leis criminais desse tipo foram bem-sucedidas. É
muito melhor que os crimes de indivíduos isolados continuem como crimes do que a imposição a sangue-
frio da tortura e morte cometidas a mando do Estado, que, como se supõe que representam toda a
sociedade, devem alcançar seu objetivo, mesmo que o objeto seja a repressão de outros crimes cometidos

124
Outros resultados de desigualdade entre os sexos efetivamente im-
pulsionados pelo feminismo atual são observados na conduta de magistra-
dos, juízes e jurados, em nossos tribunais civis e criminais. Isso já foi de-
nunciado ao longo do presente trabalho, e os casos ilustrativos apresenta-
dos, bem como nos escritos anteriores do autor deste artigo, aos quais ele
alude. Não é exagero dizer que um homem praticamente não tem possibi-
lidade hoje em um tribunal, civil ou criminal, de obter justiça onde uma
mulher está no caso. A vingança selvagem exibida em relação aos homens,
como demonstram a avidez dos juízes para obter, e a prontidão dos júris
para retornar, uma condenação contra homens acusados de crimes contra
mulheres, com evidências que, em muitos casos, não seriam boas o sufici-
ente (para usar a frase coloquial) para pendurar um cachorro, com a ine-
vitável e feroz sentença após a condenação, pode ser testemunhada em
quase todas as ocasiões em que tais casos são julgados. Falei da ânsia dos
juízes em obter condenações. A seguir um exemplo desse tipo de coisa:
“No julgamento de um homem pelo assassinato de uma mulher, perante
o juiz Bucknill, que ocorreu há algum tempo, saiu a prova de que a mulher
abusou e ameaçou de forma violenta e obscena o homem imediatamente
antes, na presença de outras pessoas. O júri ficou tão impressionado com
a evidência da provocação extraordinariamente forte que hesitou se não
era suficiente reduzir o crime a homicídio culposo e, incapaz de concordar
com um veredicto de assassinato, pediu ao juiz mais orientações. Suas de-
liberações foram, no entanto, cortadas pelo juiz, que comentou sobre a
hesitação que tiveram em chegar ao seu veredicto, finalmente acrescen-

pelas pessoas acima mencionadas dentro da sociedade. A repressão bem-sucedida de crimes cometidos
por indivíduos, por um crime cometido pela autoridade do Estado, só pode servir de estímulo para que
o Estado siga seu curso de infligir uma punição que é em si um crime.

125
tando: "Só pensem, senhores, como vocês veriam se fosse sua própria es-
posa ou irmã que tivesse sido cruelmente morta! "Com a obsequiosidade
habitual de um júri britânico em relação ao ocupante do Banco, os senho-
res em questão engoliram complacentemente o insulto lançado a suas es-
posas e irmãs ao colocá-los na mesma categoria de uma prostituta, e pron-
tamente fizeram o que o juiz, obviamente, queria deles, a saber, trouxe-
ram o veredicto de homicídio doloso. Nos casos opostos, onde o juiz, por
apelo sentimental semelhante, visa obter a absolvição de mulheres presas
notoriamente culpadas com forte evidência contra elas, o palladium75 dos
malandros, a lei inglesa da difamação, me impede de me referir individu-
almente. Quanto à disparidade de punição, ainda temos ilustração recente
e relevante na execução de um jovem de 19 anos de idade, condenado por
uma evidência duvidosa pelo assassinato de sua namorada, e o perdão da
mulher condenada por sua própria admissão pelo assassinato de seu
amante, mergulhando-o em parafina durante o seu sono e ateando fogo
nele!
Outro efeito da influência do Feminismo Sentimental é visto nos
crimes da "lei não escrita", o crime passionel76 dos franceses. Os mais atro-
zes e covardes assassinatos e outros crimes de violência são perdoados e
até mesmo glorificados se puderem ser cobertos pela desculpa de que são
ditados pelo desejo de vingar a "honra" de uma mulher ou permitir que
ela obtenha o objeto de seus desejos. O incidente do processo de Sir J.M.
Barrie sobre a mulher que mata um homem, jogando-o fora de um vagão
de trem devido a uma disputa sobre a abertura de uma janela, e se saiu
com a desculpa de que sua filha tinha pego um resfriado, não representam

75
N.T: O paládio é um metal usado para ligas instáveis pelo seu poder de coesão. Neste contexto, pode
ser traduzido como "protetor" ou "salvaguarda".
76
N.T.: crime passionel significa "crime de paixão".

126
uma imagem exagerada da "justiça moderna" – apenas para mulheres! A
aplicação ultrajante dos princípios, se é que podemos chamá-los assim, do
Feminismo Sentimental neste país, no caso das sufragistas, tornou a jus-
tiça e a administração penal inglesas o alvo da risada do mundo. Mas o
modo como os crimes das sufragistas foram tratados, afinal de contas, é
apenas um ligeiro exagero da imunidade de todas as penas mais severas
da lei de que gozam as mulheres condenadas em geral. Isso levou, no caso
das criminosas do sufrágio, aos últimos limites do absurdo. Na verdade, a
deferência a estes autores deliberados de destruição arbitrária é, por vezes,
cômica, como no caso do juiz de Richmond, como no caso do magistrado
de Richmond que repreendeu a testemunha policial acusando-a de ter
omitido o "Senhora”, ao se referir a uma das prisioneiras no banco dos
réus, bem como ao "caráter elevado" geralmente atribuído às perpetrado-
ras desses feitos de indignação e violência, até mesmo por certos funcioná-
rios da Igreja e do Estado. Eles não falavam dessa forma mais pronta-
mente quando os anarquistas ou os Fenianos estavam envolvidos em difi-
culdades com a lei devido ao excesso de zelo por sua causa.
Todo o movimento, é evidente, depende para seu sucesso, pelo me-
nos em grande parte, da apatia dos homens. A maioria dos homens, sem
dúvida, não simpatiza com as pretensões da agitação feminista, mas a
maioria dos homens é indiferente de uma forma ou de outra. Eles não le-
vam a sério o Movimento Feminista. A imagem crua das mulheres como
sendo um perigo para os homens parece-lhes absurda. Eles não percebem
que a questão não é a força física das mulheres como mulheres, mas que
todas as forças do Estado estão disponíveis às mulheres para colocar em
movimento a satisfação de seus caprichos e paixões. A ideia de uma guerra
dos sexos em que as mulheres tomam o campo contra os homens, como a
interioridade de todo o Movimento Feminista de hoje representa, parece
127
ridícula para eles. O sentimento que está na raiz do patrocínio bem-humo-
rado da maioria dos homens, ou da indiferença às alegações feministas
modernas, é expresso grosseiramente em uma observação do falecido Wil-
liam Morris em resposta a algumas das minhas objeções críticas sobre o
assunto: - "O que importa? Um homem deve sempre ser capaz de lidar
com uma mulher, se necessário. Ora, eu poderia enfrentar meia dúzia de
mulheres de cada vez neste caso! " Esta é uma atitude comum na mente
entre os homens sobre o assunto, de outra forma saudável e sensata. O
absurdo disso se manifesta quando se considera que a questão do homem
versus mulher como unidades de força física, respectivamente, é pura-
mente irrelevante. Não é uma questão de luta do homem contra as mu-
lheres ou qualquer número de mulheres. É a questão de toda a força do
Estado lutando contra o homem em favor das mulheres. A ideia predomi-
nante na mente de muitos homens parece ser a do Estado fazendo uma
cerca circular ao redor do homem e da mulher em litígio e permitindo que
eles combatam o assunto entre si, o que, para usar a linguagem do grande
geômetra da antiguidade, “é absurda”.
O feminismo moderno, aderindo-se a uma tradição mais antiga que
é travestida além de todo reconhecimento, conseguiu afetar a opinião pú-
blica moderna com um senso avassalador da sacralidade da feminilidade 77
humana como tal. Não se contenta com o respeito pelo ideal da boa femi-
nilidade78, mas lhe dá um pedestal pelo mero fato da feminilidade 79 em si.
Isso é ilustrado de mil maneiras. Assim, enquanto a opinião pública tolera
as formas mais bestiais e infames de punição corporal contra os homens

77
N.T.: A palavra original é " femality", uma palavra que não existe mais em inglês. Aparentemente,
refere-se ao aspecto social, no sentido de gênero.
78
N.T.: A palavra original é " womanhood", uma palavra usada hoje para definir o feminino como a
qualidade de ser mulher tanto no sentido de gênero quanto no sentido de sexo.
79
N.T.: A palavra original é "femalehood", não usada hoje, e eu não encontrei uma tradução exata. Eu
não sei o seu significado, por isso foi traduzido pela assimilação como "feminilidade".

128
nas prisões, considerará o leve castigo pelo chefe médico de uma institui-
ção para doentes mentais contra uma menina que é reconhecidamente
obstinada e rebelde, em vez de mentalmente afetada no sentido comum
do termo, como "degradante".
Mais uma vez, a fim de sustentar sua tese favorita, a igualdade
intelectual das mulheres com os homens, cada vez que um caso plausível
surge, eles recorrem à sua política usual de falsificar fatos. Tomemos o
exemplo de Madame Curie. Quando o rádio foi descoberto no laboratório
do falecido professor Curie, foi-nos dito que ele havia feito a descoberta,
sendo mencionado ao mesmo tempo que ele tinha em sua esposa uma va-
liosa ajuda em seu trabalho de laboratório. Disseram-nos mais tarde que
a descoberta do rádio foi o trabalho conjunto de ambos, o que implica que
as honras foram divididas igualmente. Agora, a influência feminista con-
seguiu falar sobre Madame Curie como a descobridora do rádio! Atrevo-
me a dizer que não há provas para supor que o rádio nunca teria visto a
luz se o falecido professor Curie não tivesse experimentado em seu labora-
tório, para não mencionar seu predecessor Becquerel.
Vimos que as feministas são, pelo menos neste país, zelosas em de-
fender a visão puritana da moralidade sexual. Muitas delas, na veemência
de sua cruzada Anti-homem, aguardam com prazer a oportunidade que
antecipam que lhes será oferecida quando as mulheres conseguirem o
voto, de aprovar leis que reforcem rigorosamente o ascetismo nos homens
por meio de decretos penais severos. Todas as formas de indulgência (por
homens), sexuais ou não, incompatíveis com a mente puritânica, seriam
igualmente colocadas sob a proibição do direito penal! Qualquer um dese-
joso de testar a verdade da afirmação acima, tem apenas que ler os artigos
da suffragette e outras exposições do evangelho do feminismo, como de-
fendido por seus defensores mais dedicados.
129
Um ponto que não deve ser perdido de vista é a atitude da im-
prensa. Quase todas as revistas estão prontas para publicar qualquer ar-
gumento em favor do sufrágio ou de outras demandas do movimento em
favor das mulheres. Desafiando este fato, um proeminente prelado femi-
nista, há algum tempo atrás, em uma carta ao The Times, alegou, entre
as outras reclamações das mulheres nos dias de hoje, e aparentemente
como uma espécie de condescendência da "militância", que a imprensa es-
tava fechada para as mulheres ansiosas para expor suas queixas! Uma
afirmação mais direta do reverso da verdade dificilmente poderia ter sido
feita. Abra qualquer documento de circulação geral – qualquer dos jornais
da manhã – e há muitas cartas defendendo o lado feminista da questão!
De acordo com minha própria observação, eles são em proporção a algo
como três ou quatro a favor e um contra. De fato, é inútil negar que essa
agitação sexual tem tudo a favor mostrado na atual "opinião pública",
incluindo a de seus oponentes. “Militantes” feministas do sufrágio apelam
para o perdão de seus atos criminosos, como base no seu alegado "caráter
elevado", que seria ridicularizado no caso dos homens – e ainda assim elas
reclamam de serem boicotadas.
A disposição e quase o entusiasmo com que alguns setores do pú-
blico britânico estão dispostos a considerar favoravelmente qualquer ação
em nome do sufrágio feminino são bem ilustrados pelo conhecido argu-
mento tantas vezes ouvido quando a existência da "militância" é apon-
tada como uma razão para negar o sufrágio – o argumento, a saber, de que
seria injustiça de negar a licença ao número de mulheres pacíficas e cum-
pridoras da lei porque um setor relativamente pequeno de mulheres re-
corre a métodos criminosos para enfatizar sua demanda. Agora vamos
examinar a interpretação real dos fatos. É bem verdade que a maioria das
mulheres que estão votando pelo sufrágio hoje se vê como não militante.
130
Será que alguma vez repudiaram as táticas criminosas das sufragistas com
a decisão e até a indignação que se poderia razoavelmente esperar se ti-
vessem realmente considerado a campanha de violência e indignação ir-
responsável com forte desaprovação, para não dizer aversão? A resposta
deve ser um não decidido. No máximo, reprovam ligeiramente a insensa-
tez dos métodos militantes, abençoando-os, por assim dizer, com uma leve
culpa, embora, como regra geral, não cheguem tão longe quanto isso, mas
estejam contentes, enquanto graciosamente se dignam a contar para você
que, embora seus próprios métodos não sejam os da militância, elas e as
militantes trabalhem igualmente para o mesm propósito, apesar de dife-
rirem quanto aos métodos mais eficazes de alcançá-lo. A mulher não mili-
tante sufragista sempre toma cuidado para não parecer antiinflamatória.
Todos podem ver que se a maior parte das sufragistas chamadas de "pací-
ficas e cumpridores da lei", a cujas alegações estamos obrigados a dar ou-
vidos, de forma honesta e resoluta, enfrentassem e denunciassem vigoro-
samente a campanha criminosa, recusando-se a ter qualquer coisa a ver
com isso ou seus autores, a campanha em questão teria chegado ao fim há
muito tempo. Mas não! Isso não seria adequado ao livro dos defensores do
sufrágio das mulheres "pacíficas e cumpridoras da lei". Seu objetivo foi, e
ainda é, correr com a lebre "militante" e caçar com os galgos "pacíficos e
cumpridores da lei". Enquanto se abstêm de qualquer ato ilícito, elas estão
perfeitamente dispostas e desejosas de que as sufragistas e seus movimen-
tos possam colher todas as vantagens da propaganda e de outras formas
que possam advir da política militante. Que o acima exposto é o verda-
deiro estado das coisas no que diz respeito aos elementos "pacíficos e cum-
pridores da lei" do movimento sufragista, que nos asseguram ser o tipo
majoritário na seção militante, alguém poderia pensar ser claro para to-
dos, até o mais obtuso, que acompanhou com atenção o curso da agitação
131
atual. E, no entanto, há tolos do sexo masculino que consideram seria-
mente esse argumento absurdo da injustiça de se recusar a conceder o su-
frágio a um grande número de mulheres "pacíficas e cumpridoras da lei"
que o exigem, por causa da ação de um pequeno corpo de mulheres vio-
lentas – de quem, bien entendu, o supracitado corpo de mulheres "pacíficas
e cumpridoras da lei" (embora mantendo-se cuidadosamente distante da
participação ativa na militância), não pretendem ocultar sua simpatia.
Como um todo, o movimento moderno das mulheres baseia-se, em
certa medida, pelo menos no pressuposto de que é absolutamente infun-
dado – ou seja, que o homem oprimiu sistematicamente as mulheres no
passado, que a tendência natural do homem mau é sempre oprimir a mu-
lher, ou, em outras palavras, a mulher é vítima do egoísmo do homem! A
falta de solidez desse ponto de vista deve ser evidente para todo estudante
imparcial da história, antropologia e fisiologia. Feministas preferem ver a
evidência de opressão masculina da mulher que tomou o seu lugar na vida
social e política, ao invés da consequência natural de sua constituição or-
gânica, suas características sexuais secundárias, e a inferioridade natural,
média, que flui a partir dela. No que diz respeito às relações pessoais entre
homens e mulheres, uma visão imparcial do caso deve inevitavelmente
levar à conclusão de que, seja o que for que o homem possa ter em sua
consciência, não há lugar para nenhuma censura razoável em relação a seu
tratamento da mulher. A paciência, a tolerância e a gentileza com as
quais, de Sócrates no decorrer do tempo, aos homens em geral sempre ti-
veram com os caprichos, os temperamentos e as birras de sua mulher, mui-
tas vezes indigna, são realmente uma maravilha. Mas é uma maravilha
ainda maior do que o feminismo moderno nisso, como em outras coisas,
tenha conseguido enganar a opinião pública na ilusão de que o oposto da

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verdade representa o estado real das coisas. Isso, no entanto, é uma ma-
ravilha que perpassa a história dos feitos polêmicos de todo o Movimento
Feminista.
Nas páginas anteriores, nos esforçamos para desmascarar a impos-
tura desavergonhada que, na maior parte, representa esse movimento.
Nós rastreamos um argumento desonesto após o outro. Nós apontamos
como os subterfúgios mais finos e ocos podem passar, e até mesmo tornar-
se moeda corrente, por meio de reiteração não refutada. O truque femi-
nista de reverter os fatos do caso, como, por exemplo, a afirmação de que
a lei feita pelo homem e sua administração é injusta com as mulheres, e
então levantam um uivo de indignação diante da situação que elas imagi-
nam, sendo, naturalmente, o oposto diametral dos fatos reais – tudo isso
foi exposto. Só posso expressar a esperança de que homens honestos e di-
retos, que foram mordidos por artimanhas feministas, façam uma pausa e
reconsiderem sua posição. Qualquer sentimento ou simpatia que eles pos-
sam ter com os objetivos intrínsecos do movimento, não devem esperar
muito para ver com desprezo e aversão a massa de mentiras dissimuladas
e subterfúgio transparente que os adeptos do feminismo sistematicamente
buscam vender à opinião pública – umito facilmente ingênua nesta ques-
tão – como fato verdadeiro e argumento válido.

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