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Sociedade Ecumênica do Triângulo e da Rosa Dourada:.

Fraternidade Espiritualista do Cruzeiro do Sul:.


Templo Xangô Quatro Luas:.

Oferendas I

Introdução aos Fundamentos da Umbanda

"Aja por quem age.”


Antigo ditado egípcio

São de todos os tempos as oferendas. Desde as primeiras sociedades agrárias, o ato de ofertar diferentes
elementos aos seres espirituais como forma de súplica, evocação ou agradecimento, constituiu um elo direto de
comunicação entre as Forças sagradas e os seres do plano da matéria. Em seu aspecto mais puro, as oferendas
voltam-se ao sensível e ao natural, constituindo e afirmando em sua essência o sentido de reintegração,
regeneração e união com a terra e, por extensão mística, com o próprio ofertante.
A palavra oferenda (do latim, offerre – levar, portar, conduzir) designa uma doação, o ato de presentear, de
entregar algo, estendendo-se na Umbanda, àquele de se comunicar e manter uma relação direta com as Forças
Espirituais. As oferendas encontram-se arroladas entre os Fundamentos tidos como essenciais ou magísticos da
Umbanda, ou seja, aqueles que participam diretamente da maioria de suas movimentações e que definem sua
estrutura no plano físico, sendo necessário compreender um pouco a respeito do significado e abrangência do
termo “Fundamento” ao interno dos Templos antes de darmos continuidade às oferendas.
Ao interno da liturgia da Umbanda, o termo “Fundamento” refere-se à totalidade do conjunto de práticas
ritualísticas e espirituais, os quais envolvem uma estrutura esotérica e simbólica próprios, verificado em torno dos
principais aspectos que abarcam sua doutrina, sendo os mesmos classificados em ocultos (misteriosos) e abertos
(acessíveis), caracterizando-se como erós1.
Toda oferenda resulta em um ato de “comunhão”, um laço ou afinidade estreitada entre ofertante e Força.
Essas constituem, em essência, um dos Fundamentos da Umbanda, pertencendo ao campo das movimentações
de natureza magística, uma vez que sempre resultam em uma ação de manipulação e intervenção energética,
cujos fluidos canalizados e transformados em suas contrapartes astrais, sempre retornam ao ofertante ou são
aproveitados em diferentes processos energéticos controlados pelos Guias por meio das correntes Elementais.
Embora muitos dos Fundamentos da Umbanda sejam abertamente conhecidos e manipulados em meio ao
cotidiano dos próprios Templos, estendendo-se por vezes aos próprios frequentadores (como no caso dos
banhos e das defumações), esses possuem uma contraparte inteiramente sigilosa e mística, que lhes doa o

1 Palavra de origem africana cujo significado é “mistério”, e que sempre fora empregada para expressar o conjunto de
ensinamentos ritualísticos considerados velados.
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verdadeiro caráter magístico e que permanece (na maioria dos casos) ocultada do conhecimento de seus próprios
adeptos por pura precaução.
Podemos compreender o termo “Fundamento”, como o conjunto de princípios edificadores de um
sistema ou que permitem o seu desenvolvimento em torno das expressões que afirma e exalta como sendo os
alicerces de uma determinada Corrente. Ou seja, Fundamentos constituem a base em que se assentam os
princípios de natureza ritual, estrutural e magística de um Terreiro.
Os Fundamentos, dentro do contexto da Corrente Astral da Umbanda, encontram-se todos revestidos por
um caráter sagrado, sendo essa uma das razões que impede o conhecimento e a manipulação dos mesmos por
qualquer pessoa (ainda que para muitos desses, exista uma parte possível de ser manipulada), da mesma maneira
que a profanização levada a cabo, sobretudo, pelo aspecto cotidiano, perfaz um dos motivos para a não revelação
de seus processos ou mesmo do conhecimento oculto encerrado em cada um deles.
Os Fundamentos constituem a base de todas as movimentações e princípios cultivados e manipulados na
Umbanda. Funcionam como um código especial, um conjunto de determinações a serem seguidas e que
expressam os principais elementos de sua liturgia. Na Umbanda, os Fundamentos ditam a base de sua doutrina.
Seus princípios e sua fundamentação não podem ser alterados no que diz respeito à sua essência e ao sentido que
expressam, mas podem ser reestruturados segundo as regras estabelecidas por cada Guia Chefe de um Templo,
cabendo inclusive aos mesmos, determinarem a aceitação e participação de todos ou somente de alguns
Fundamentos em sua Corrente.
A Umbanda constitui uma doutrina com fortes tendências universalistas, na qual diferentes vertentes
religiosas se entrelaçam na tentativa de consolidar um trabalho de auxílio e elevação, baseados nos ideias de
Caridade, Disciplina e Fraternidade. Seguindo as diferenças de níveis vibratórios, as necessidades da própria
Corrente, a liturgia instaurada, a classificação do Templo como de ajuste, doutrina, saneamento ou evangelização,
e até mesmo o segmento doutrinário dos Guias Chefes de um Templo, esses podem aceitar ou não a presença e
participação de um Fundamento em sua Casa, instaurando-o ou não os seus princípios em sua Corrente,
seguindo um pensamento ou uma conduta vigente em determinado tempo.
Da mesma forma, podem, a qualquer momento e se julgarem necessário, excluir ou não mais dar
seguimento à presença de certos Fundamentos ao interno dos Templos, substituindo-os ou simplesmente
abolindo-os sem nenhum prejuízo de causa espiritual ou material, o que não significa alegar que aquele
determinado Templo deixou de seguir as regras ou a liturgia imposta pelos representantes do Plano Espiritual.
Misticamente, todas as características veladas referentes aos princípios constituidores do Axé e a força de
sustentação de um Fundamento são mantidos em sigilo e guardados por aqueles que ocupam os postos mais
elevados em sua hierarquia. No entanto, na Umbanda existe a flexibilidade ditada e controlada pelos Guias
Espirituais, uma vez que, diferente da estrutura do Candomblé e de outros segmentos, onde o Bàbálòrìxá se
posiciona como a única autoridade temporal e os ensinamentos não podem, a princípio, serem modificados, na
Umbanda é o Guia Dirigente de cada Templo quem determina, estabelece e controla todo o conjunto de
ensinamentos e a forma como esses serão transmitidos, assim como os mesmos serão implantados, podendo
aceitar alguns ou mesmo modificar a estrutura dos mesmos sem prejuízo de causa alguma.
É por essa razão (além do sentido doutrinário e de ajuste que envolvem) que não existem dois Templos de
Umbanda iguais, já que os motivos esbarram em uma série de fatores de natureza muito mais espirituais do que
propriamente de ordem hierárquica ou do seguimento de uma tradição constituída no Plano da matéria.
Ademais, salvo o contexto velado (aquele que se encarrega de manter o conhecimento místico relativo aos
Fundamentos em segredo e preservados dos olhares profanos e dos próprios membros de um Templo), os
adeptos “de fora”, ou seja, os irmãos que procuram os Templos em busca de auxílio e respostas, os quais
constituem a base do ensinamento da gratuidade e da caridade da Umbanda (já que essa proíbe as “trocas de
favores” e o “cobrar” pelos benefícios espirituais prestados) podem, em partes, participar dos Fundamentos por
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meio do entrosamento que lhes é permitido nas defumações, nos banhos de limpeza, nos Pontos Cantados, nas
mirongas de Pretos-Velhos, nas oferendas e em diversos outros aspectos que não esbarram necessariamente no
desvelamento, nem tampouco no desrespeito às práticas litúrgicas e espirituais que essa encerra.
A existência de outro universo completamente oculto e mágico por detrás da estrutura visível dos Templos
de Umbanda é desconhecida em boa parte até mesmo pelos seus próprios mediadores, guardando esses os
principais conceitos, ensinamentos e manipulações da verdadeira “essência magística”, sendo evidente que
existem “segredos” de natureza magística e espiritual, relativos à manipulação das Forças e aos processos de
movimentação e controle de suas energias, mantidos é certo, em sigilo pelos Dirigentes e integrantes mais
antigos de um Templo.
A entrada nesse “outro universo” existente por detrás daquele observado apenas nas sessões abertas à
assistência possui, no entanto, suas passagens lacradas e bem guardadas por aqueles que velam pela totalidade de
seus mistérios, constituindo esse ocultamento a base sólida para a própria existência e manutenção do sagrado ao
interno da estrutura do culto espiritual e de um Templo como um todo.
O aspecto oculto conhecido apenas pelos Dirigentes, Iniciados e mediadores mais antigos, encerra as
combinações, relações, movimentações, exaltações e os sistemas que compõem o extenso aparato magístico da
Umbanda, bem como a maneira correta de despertar e colocar em movimento constante as energias cósmicas
vinculadas ao plano dos Orixás e os Guias representantes de suas egrégoras.
Muitos anos são necessários para a assimilação desses conceitos espirituais, simbólicos e ritualísticos, não
findando jamais o aprendizado, uma vez que os véus se sobrepõem uns aos outros, de maneira a permitir um
constante reinício nos métodos e maneiras de assimilação e averiguação do inteiro conjunto de ensinamentos
ocultos.
Os Fundamentos da Umbanda se basam em princípios universais e arcaicos, carregando consigo
conhecimentos aprimorados, vinculados ao plano da matemática, da astrologia, da química, da botânica, da
psicologia, da geometria e da física, sobretudo, sendo propriamente essa característica de distanciamento da ideia
de “racionalidade” (tratada como elementos de dissecação filosófica ou religiosa por outros segmentos) que
permite a não contaminação de sua essência pelos conceitos puramente humanos, voltados para o plano das
ideias racionais. Em outros termos: É melhor que os Fundamentos sejam tratados por aqueles que desconhecem
seus processos, como elementos carregados por um aspecto supersticioso e sejam acostados ao que denominam
“primitivismo”.
Muito embora exista racionalidade nas afirmações de natureza espiritual (onde tudo pode ser de fato
explicado), essas, por força de sua própria complexidade, não devem se aproximar das simples questões
especulativas dos que estão “de fora” dos Templos ou das teorias dos acadêmicos, os quais vivem a expressar
opiniões, distorcerem a realidade e negarem o “espírito” arcaico que povoa cada conceito e estrutura vinculada à
Espiritualidade, seja esse superior ou inferior. Negar e tentar explicar são papéis pertencentes aos meios tidos
como científicos. Crer, aceitar, participar pela Fé e pelo desejo de aprimoramento é o papel que cabe aos
mediadores.

A essência de algo espiritual não se dá ou se adquire pela simples “busca” pelo seu conhecimento, nem
tampouco deixa entrever sua medida na proporção da intelectualidade de cada ser. Seus princípios e sistemas são
conquistados plenamente pelo espírito livre das amarras desnecessárias e que não teme perder ou seguir nenhum
caminho que lhe ditem os Guias Espirituais.
Os Fundamentos constituem a estrutura essencial de um determinado rito, ato ou objeto considerado
sagrado ou puramente espiritual. É o Fundamento que converte uma pedra em “Otá”2 ou que transforma um

2 Pedras consagradas aos Orixás e portadoras de sua essência mística.


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simples feixe de palha da costa em um instrumento de purificação e proteção. É ele que permite a uma pena
vermelha de Ekodidé,3 afirmar por sobre a cabeça de um Iniciado a sua comunhão direta com seu Orixá e que
insere vida em uma cadeira ou permite que as ervas surtam o efeito esperado no decurso dos banhos e
defumações.
As correntes energéticas que se encontram encerradas nos Fundamentos e que vibram segundo padrões
específicos de ressonância, podem imprimir a energia em uma vela, por exemplo, direcionando seu campo de
atuação, da mesma forma que definem os segredos constituidores dos Assentamentos dos Orixás e afirmam o
espírito oculto escondido em cada Ponto Riscado, fundamentados, como bem sabem os mais velhos, em
princípios matemáticos e carregados por extenso simbolismo e significação.
É a manipulação correta e o conhecimento direcionado que permite aos Fundamentos engendrar e
despertar o som espiritual encerrado nos Pontos Cantados, da mesma forma que direcionam e agregam a energia
desprendida pela fumaça dos cachimbos ou dos charutos, que por sua vez atuam como escudos defensivos e
dissipadores energéticos e miasmáticos.
As correntes de energia elementais atuantes em cada Fundamento, ou antes, em seus elementos
constituidores, por meio dos princípios da atração e da condensação, convertem a Pemba em Lei, possibilitam a
descarga com a pólvora (tuia, fundanga), determinam o sentido místico e magístico das oferendas, mantêm vivo
o Axé de cada elemento ou estrutura por meio da manipulação correta dos “ejés”, os sangues da natureza,
encontrados nas plantas e nos minerais, associados por sua vez ao Princípio Trino: Branco Funfun (fecundação),
Vermelho Pupá (geração) e Negro Dudú (multiplicador), da mesma forma que preenchem as Guias (colares de
contas) com a com as irradiações necessárias à proteção daqueles que as endossam.
É o Fundamento que determina a explosão das energias verificadas quando das saudações ritualísticas aos
Orixás ou que encerra o magnífico conjunto de leis e influências que regem e operam sobre um Congá. O
Fundamento tido como pura energia dinâmica em movimento constante e focado em padrões específicos
associados às correntes elementais, exalta a força do Templo ao interno do Ilê Axé (em realidade, uma bateria de
força); mantêm viva a estrutura do oráculo por intermédio dos búzios (como bem verificam os Iniciados que
lidam com esse sistema); doa vida espiritual às imagens dos Guias, convertendo-as em “aparelhos” que permitem
uma comunicação com os Planos Intermediários; impede a entrada de forças estranhas e perturbadoras,
inteligentes ou não, por meio da Chave de Tranca; exalta a estrutura espiritual presente ao interno da Tronqueira,
campo dos Guardiões da Lei na Esquerda e na Direita; possibilita aos Espíritos Ancestrais serem assentados em
potes de água ao interno da Casa das Almas; doa poder e vida às espadas do Altar e pertencentes aos Guardiões
Maiores de sua Cúpula Espiritual; exalta o aspecto magístico presente em cada Firmeza (ebó) por meio das
energias presentes em seus elementos compositores e muito mais ainda.
Os Fundamentos devem ser compreendidos como pura “Força Geradora” doadora e manipuladora de
vida. Tal como os antigos egípcios em sua estrutura religiosa, o sagrado na Umbanda pode ser vislumbrado em
qualquer elemento possível de ser convertido em axé ou “força vital”, uma vez que, segundo seus conceitos mais
elevados, “tudo vive”.
Pensar que os Fundamentos não são dotados de vida, potencialidades energéticas e virtudes específicas,
considerando-os como simples instrumentos de relação e expressão ou como meras projeções ritualísticas,
demonstra tão somente ao mediador, que este ainda não abriu sua visão espiritual de maneira adequada, não
tendo despontado para a realidade mística que circunda o universo da Umbanda.
Como mediadores e adeptos da Filosofia Umbandista, dependemos constantemente do axé gerado,
manipulado e contido nos Fundamentos, uma vez que somos considerados parte vivente do meio espiritual em
que nos encontramos. Dentro desse contexto, podemos tanto adotar uma postura passiva diante das afirmações

3 Pássaro africano semelhante ao periquito, recoberto por penas vermelhas, símbolo da afirmação iniciática.
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místicas que se manifestam à nossa frente, como também podemos criar um elo ou elemento de contato e
identificação mais direta com as forças circundantes.
Os ensinamentos afirmam que, embora sejamos os senhores de nosso próprio destino, não somos capazes
de nos prevenir ou nos desvencilhar naturalmente da malha de acontecimentos kármicos que quase sempre nos
assolam desprevenidamente no decorrer de nossa existência. A Umbanda afirma que, embora não possamos
modificar drasticamente o curso dos acontecimentos em virtude dos processos reacionários impressos na Lei de
Ação e Reação, podemos, contudo contornar ou amenizar as situações por intermédio das manipulações
magísticas, sempre dentro daquilo que denominamos “linha justa” ou “de merecimento”.
O conceito de “linha justa” afirma que todo mediador de Umbanda consciente, conhece os limites que
pode transpor e as cadeias energéticas que pode desencadear por meio de suas intenções diretas. Em outras
palavras: todo médium sabe, em razão daquilo que aprende, até onde pode ir ou não diante em se tratando das
movimentações de natureza magística. Ou seja, por mais que o indivíduo queira, esse deve estar consciente
quanto aos “limites” que circundam sua vontade, bem como compreender aquilo que é justo ou não realizar,
independente de seus intentos egoístas e muitas vezes mesquinhos.
A partir do momento que passa a fazer parte de um Templo de Umbanda, inevitavelmente alguns aspectos
particulares referentes ao mediador são postos em movimento pela Cúpula da Casa em que esse se encontra.
Assim sendo, o Guia chefe da Cúpula passa a “tutelar” o mediador em seu novo processo, colocando-o sob o
guante direto da Lei Espiritual, onde operam os Guardiões da Esquerda (advertência, punição, ajuste,
saneamento) e aqueles da Direita (recompensa, créditos, abertura), tudo sempre relacionado com os Princípios
impressos na Lei de Ação e Reação.
Isso significa que por mais que você queira ou se aventure a realizar qualquer Firmeza, oferenda ou
movimentação magística, especialmente aquelas que envolvem o aspecto cotidiano (profissional, familiar, estudo,
financeiro, sentimental, outros...), sempre irá esbarrar nos conceitos impressos pela linha justa e o merecimento.
Assim, os Guardiões da Lei responsáveis pela Cúpula do Templo, juntamente com o Exu Guardião e o Guia
Chefe, sempre irão pesar o cunho de suas ações na Esquerda ou Direita e avaliarem se aquilo que está sendo
pedido merece ser atendido ou não.
Os ensinamentos nos revelam que podemos anular as reações negativas, sobretudo aquelas que não são
consideradas kármicas ou reacionárias diretas, convertendo-as em positivas, uma vez que o negativo não pode
ser compreendido como energia fatídica, ou seja, não existe por si próprio como força única de anulação. Ou
seja, o mal como aspecto negativo que flui e que vibra no campo de ação espiritual de um indivíduo, ainda que
“arrastado” pelo mesmo em decorrência das cadeias mentais consolidadas em formas-pensamento, pode, a
depender da situação, ser completamente invertido em correntes de energia positiva, anulado e distanciado do
campo de atuação em que vibra, sempre dentro da linha justa.
Isso quer dizer que o mal não existe por si só como uma força destrutível, incapaz de ser convertida em
energia positiva, mas sim o contrário. Dessa maneira, por intermédio das Firmezas e dos demais “trabalhos”
ritualísticos ou não, podemos amenizar as tendências destrutivas e negativas, evitando em diversas situações o
acúmulo de novas forças reacionárias em nossos campos vibratórios A esse processo, em Magia, damos o nome
de “ordenação do caos individual”.
Obviamente, essa ordenação não pode ser executada por qualquer indivíduo, visto não constituir um ato
de improvisação, de manipulação e exaltação de forças desconhecidas. Conhecidas em todos os seus aspectos e
encerradas nos elementos compositores de cada Firmeza, que por sua vez possui o seu Fundamento,
representam e sintetizam um acúmulo de energias e experiências contínuas plenamente controladas pelo seu
manipulador.
As correntes energéticas e os processos de movimentação encerrados e que se consolidam em cada um
dos Fundamentos da Umbanda é, por definição mais concreta, um “ato gerador” que agrega em seu contexto
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todo um conjunto de expressões e manifestações na composição de sua obra. Dessa forma, não existe
Fundamento sem conceituação magística e não existe Umbanda sem Fundamento, sendo isso um fato.
Qualquer manifestação no campo da Umbanda que esteja distante ou fora do conceito de seus
Fundamentos não deve ser considerada de fato uma manifestação genuína da Umbanda, mas somente uma de
suas variações, o que não desmerece créditos, de forma alguma. Também as alegações de “astralização”, que por
sua vez tendem a depositar uma confiança falha nos mediadores, fazendo-os crer mais aprimorados e
estacionados em outra linha de evolução mais adiantada, não expressa as verdadeiras argumentações espirituais
em seu estado mais sutil.
A rotulação de um mediador como “mais evoluído” e “menos evoluído” unicamente em decorrência da
“linha” de trabalhos que esse escolhe é absolutamente falha, afirmando-se como fruto da vaidade, da presunção e
da ignorância. Como bem advertem os Exus a esse respeito: “Saci quando ergue a única perna que tem, cai logo no chão”.
Os sentidos magísticos e espirituais impressos nos Fundamentos da Umbanda, encontram-se distantes de
se apresentar como prática primitiva ou de cunho involuído. Templos de Umbanda são “escolas do Espírito”.
Em uma alusão, podemos dizer que alguns se destinam ao ensino fundamental, outros ao ensino médio e outros
tantos aquele superior, não podendo os mesmos serem rotulados apenas em razão das práticas que exercem.
Assim, salvo quando estamos lidando diretamente com a Quimbanda, com os ambientes que cobram
grossas somas em dinheiro ou com aqueles que lidam diretamente com a Magia em seu aspecto negativo, certo é,
que os Seres espirituais envolvidos pela Lei do Sacrifício e reconhecidos nos Guias, não desceriam ao Plano da
Matéria apenas para nos fazer compartilhar de práticas primitivas e descaracterizadas segundo aquilo que
consideram como conceitos de elevação.
Os Fundamentos mantêm a ordem e o equilíbrio de um Templo, cooperando na organização interna,
tanto da própria estrutura templar quanto de seu corpo mediativo. Seus processos de manipulação encontram-se
em harmonia com as regras estabelecidas pela Espiritualidade, podendo variar sua estrutura e essência de acordo
com as Vibrações com que se relacionam e as regras estabelecidas por cada Guia Chefe. No campo de ação ao
interno da Umbanda, encontram-se os Fundamentos divididos em Essenciais, Templares e Ritualísticos.
Essenciais ou “Magísticos” são os Fundamentos que participam de todas as movimentações da Corrente
Umbandista e que definem sua própria estrutura mística no plano físico. Todos os outros Fundamentos
dependem direta ou indiretamente da essência daqueles Magísticos, sobretudo os Ritualísticos, participando esses
de toda a liturgia da Umbanda, independente de sua forma de manifestação. Em suas atribuições, encontram-se
relacionados da seguinte forma:
 Fundamentos relativos aos Guias Espirituais e suas movimentações magísticas.
 Fundamentos relativos ao Axé de sustentação e movimentação de um Templo de Umbanda.
 Fundamentos relativos ao conhecimento das ervas ritualísticas, incluindo sua manipulação direta.
 Fundamentos relativos às Defumações, seus critérios, processos e movimentação magística.
 Fundamentos relativos às Guias (colares rituais), sua constituição e utilização.
 Fundamentos relativos aos processos de “assentamento” das diferentes Vibrações e Falanges da Umbanda.
 Fundamentos referentes aos Pontos Cantados (Curimbas), sua composição, utilização e manipulação.
 Fundamentos referentes aos Pontos Riscados, sua constituição, movimentação e ativação magística.
 Fundamentos relativos aos Cachimbos e outros (sopradores), juntamente com a manipulação ou “ciência”
de sua fumaça.
 Fundamentos relativos à Pemba, a Pólvora (tuia, fundanga) e a Marafo.
 Fundamentos relativos aos “Ejés”, os “sangues” extraídos diretamente dos reinos naturais (mineral, vegetal e
animal) e que possuem estreita ligação com os Princípios do Branco Funfun, do Vermelho Pupá e do Negro
Dudú.
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 Fundamentos relativos às Oferendas, sua correta preparação e manipulação.
 Fundamentos referentes aos encantamentos (Òfós) necessários para despertar a energia contida em cada
movimentação de cunho iniciático ou magístico superior
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Seguem-se a esses os Fundamentos Templares, que são todos aqueles que participam da organização mística
e energética de um Templo, dependendo para a sua complementação e manipulação dos princípios encerrados
naqueles Essenciais. Constituem a base de equilíbrio e determinam a estrutura vibrante ou “Linha” de segmento e
atuação de um Templo Umbandista segundo seus preceitos. Podem ser especificados da seguinte maneira:

 Fundamentos referentes ao Congá (Altar), sua constituição e manipulação.


 Fundamentos referentes ao Ilê Axé ou “Casa da Força”.
 Fundamentos referentes ao Assentamento das correntes de energias elementais por sobre as pedras,
denominadas “Otás”.
 Fundamentos referentes à Tronqueira e o assentamento das energias ao seu interno por meio das Firmezas
específicas associadas aos Exus responsáveis pelo Templo.
 Fundamentos referentes à Casa das Almas, o assentamento e manipulação das energias ancestrais.
 Fundamentos referentes às Espadas e demais objetos litúrgicos e ritualísticos; sua significação e manipulação.
 Fundamentos referentes aos Exus Guardiões e demais Forças que promovem a segurança interna e externa.
 Fundamentos referentes às Imagens dos Guias e à Cadeira do Dirigente.
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Por fim, os Fundamentos Ritualísticos ou “Divinos”, constituem a união precisa entre os Essenciais e os
Templares, necessitando do conhecimento relativo a ambos para a execução e manipulação correta de seus ritos e
cerimônias litúrgicas. Apresentam-se da seguinte maneira:

 Todos os Fundamentos referentes às Iniciações e seu complexo sistema representado pela Roda Iniciática e
simbolizado pelo Planisfério do Altar.
 Fundamentos referentes aos Assentamentos dos Orixás e Iniciados, sua simbologia e sua manipulação
correta.
 As Firmezas e os diversos trabalhos (ebós).
 Os Processos de natureza ritualística que constituem parte da sustentação da energia vital de um Templo,
como os Ritos Sazonais (Chama Nova de Ògún, no Verão; Queda das Folhas de Ossaíyn, no Outono;
Morte de Ìròkò, no Inverno; Ressurreição do Tempo, na Primavera); Os Amacís ou “lavagens de cabeça”; os
Ritos de Passagem e Purificação como as Águas de Oxalá em Setembro; os Ritos em honra aos Ancestrais
em Novembro e os Ritos de Encerramento e Abertura do ano.
 O simbolismo referente aos Orixás e a manipulação de seus sistemas de Forças.

Cada uma dessas divisões possui seu Fundamento particular e seu sistema de manipulação específica.
Prescrevem em seus processos, rituais individuais acompanhados por fórmulas místicas de evocação, imantação
e sustentação de suas energias, liberando e fixando suas potencialidades de modo a se converterem em “Força
Constante”.

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Segundo a mística de sua elaboração, perfazem um complexo sistema de códigos, fórmulas e regras de
manipulação, perfeitamente harmonizados segundo suas freqüências energéticas, as quais mantêm elos preciosos
de equilíbrio com as Vibrações Primordiais e seus Guias.
As oferendas enquanto Fundamentos são também denominadas Ébós, palavra de origem yorubá traduzida
precisamente por “ato de ofertar”. Ocorre que a palavra designa tanto as oferendas em si, quanto a totalidade
dos “trabalhos” ou “firmezas” realizados pelas Nações do Candomblé, como Ketu, Angola, Nagô, Efan, Fon,
Gêge e outras, aspecto esse, que em razão do processo de “desafricanização” deixou de ser utilizado e passou a
designar tudo aquilo que fora considerado “macumba”.
É a Umbanda que, desde o início, com seus Dirigentes focados no processo de embranquecimento,
depuração e na tentativa de ser aceita pelas demais filosofias, condena a palavra ébó e passa a se valer do termo
“oferenda” para designar tudo aquilo que era ofertado às Divindades de seu novo panteão, diga-se de passagem,
advindo inteiramente do Candomblé, faltando pouco para “embranquecerem” até os mesmos.
É também a Umbanda quem cria e estende o complexo universo das oferendas aos seus Caboclos, Pretos-
Velhos e Crianças, não deixando de mencionar a enorme confusão gerada quando da inserção dos Exus Guias e
suas Linhagens, sendo os mesmos confundidos com o Èxú Orixá e suas diferentes manifestações. Contrário ao
que comumente se supõe, não é de se creditar totalmente ao Candomblé a deturpação de inúmeros Princípios e
Fundamentos ritualísticos que lhe foram “tomados” pela Umbanda e que necessitaram passar pelo seu processo
de “astralização” e “desafricanização”.
O Padê, ou “farofa com dendê” ofertada unicamente em rituais específicos e reservados, foi profanizado e
se tornou “comida vulgar” endereçada aos Exus Guias. A marafo (aguardente) substituiu as bebidas ritualísticas
do antigo culto da Jurema e de elemento ativador e canalizador que era, restrita ao Culto de Èxú Orixá, passou a
ser do agrado dos Exus, os quais foram tão erroneamente convertidos em “beberrões”.
Desconhecendo o real significado do “ofertar” do Candomblé, a Umbanda das primeiras décadas denegriu
Fundamentos milenares, lançou muita coisa ao descrédito, mistificou ensinamentos e colocou-se na posição de
“defensora e esclarecedora” de toda prática primitiva. As oferendas, outrora reservadas apenas as Divindades,
agora se estendem a um número que parece não ter fim de Linhagens, Legiões e Falanges, tudo perfeitamente
carregado com o rótulo de “perfeitamente aceito e desafricanizado”.
Hoje, a utilização do termo “ébó” faz saltar os olhos daqueles que desconhecem o seu significado que é
simplesmente aquele de “oferenda”. Mesmo os mediadores menos esclarecidos, quando diante dessa expressão
arregalam os olhos como se o assunto que se está tratando fosse algo perigoso e sinônimo de primitivismo.
Misticamente, as oferendas constituem elos com o aspecto ancestral ou primordial, onde homem e criação
se afirmam como elementos indivisíveis pertencentes a uma só matriz de expressão. Sejam como forma de
retribuição, de agradecimento, como elemento propiciatório, retificador ou simplesmente expressando o sentido
de união e contato com as Forças Espirituais, as oferendas remeterão em seu significado ao retorno do ser à sua
matriz ancestral, a “matéria massa” de origem, vinculada aos Orixás e segundo a qual, esotericamente, cada filho
fora constituído com uma parte desse axé propiciatório e expansivo.
Considerada a primeira prática ritualística da humanidade em conjunto com a adoração do Sol, da Lua e das
Estrelas, as oferendas evocam as relações das primeiras culturas com os cultos agrícolas, vinculados à
regeneração não somente da terra e de toda natureza, mas também do homem que participa efetivamente do
drama cósmico da existência.
Na antiguidade, agricultura e ritualística constituíam elementos comuns dos quais participavam o homem,
ambas consideradas práticas essenciais para o bom desenvolvimento da vida, não estando a religião separada de
todo o restante dos aspectos da vida cotidiana, mas sim, destacando-se como elemento síntese de todas as coisas,
onde o sagrado encontrava-se presente em todos os níveis da sociedade antiga, desde os ritos cerimoniais,
passando pelas guerras e incluindo a própria economia. De fato, no que diz respeito ao pensamento religioso
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antigo (sobretudo aquele pertencente às civilizações mesopotâmicas, egípcia, hindu, micenea e africana) adentrar
em suas concepções de sagrado torna-se para as mentes ocidentais, habituadas aos já batidos conceitos judaico-
cristãos, uma empresa um tanto quanto difícil, para não dizer delicada.
Vinculada ao contexto da população, a religião se desenvolvia segundo os rituais ou festas sagradas,
destinados a saudar, reverenciar e agradecer o início e término dos ciclos e eventos naturais, sobretudo a
inundação e as estações de plantio e colheita, sendo fato que as civilizações do passado focavam grande parte de
seu sentido religioso nos ritos sazonais e nas relações existentes entre os Deuses, os homens e a inteira estrutura
da natureza.
A comunicação e o contato recíproco com seus Deuses, exaltados ao interno dos rituais domésticos ou
junto aos grandes Templos, constituía uma realidade que nãopodia ser arrancado do pensamento antigo. O culto
aos Ancestrais da família, aos Deuses domésticos, ao focolar sagrado, ou seja, o fogo permanentemente aceso e
que era mantido em um espaço sacralizado da residência, tudo refletia as relações diretas entre ser espiritual e ser
material.
Por mais que desejasse obter e a vida cotidiana com todos os seus problemas não fosse muito diferente
daquilo que se vive atualmente, os antigos se apegavam às suas crenças, possuindo um profundo sentido de
espiritualidade em muitos casos, onde interagia com o divino por meio das oferendas, simples ou elaboradas,
tidas como meio mais rápido e eficaz de agradecer, evocar, suplicar e agraciar as Forças Espirituais a quem
rendiam culto.
Todas as grandes civilizações do passado fundamentaram-se inicialmente em sociedades agrárias e mesmo
após o seu pleno desenvolvimento, continuaram a expressar o sentido primordial de relação com a terra por
intermédio de seus ritos anuais ou iniciáticos, onde o homem morria misticamente, convertendo-se em semente,
para logo em seguida renascer mais uma vez, como bem nos deixam entrever os ritos de natureza sazonal,
especialmente aqueles relacionados à Primavera e ao Inverno, respectivamente, renascimento e morte como uma
necessidade direta de transformação.
Tal como o lavrador arcaico que penetrava em um mundo de símbolos e pleno de relações com o sagrado,
ainda hoje as oferendas permitem ao homem a intercomunicação com os princípios ancestrais e simbólicos
presentes em cada elemento que as constitui, os quais, por sua vez, se encontram preenchidos por um rico
significado místico, simbólico e pleno de relações com sua matriz energética de associação.
Na antiguidade, as oferendas refletiam o aspecto reacionário da própria natureza, onde o homem,
plenamente consciente de sua interferência ao interno de um processo cíclico e regido pelas estações, estabelecia
as relações harmônicas com as forças regentes desses mesmos períodos, por meio de rituais que objetivavam a
gratidão, a propiciação da harmonia e a regeneração e conservação das energias manipuladas.
Embora não sejam atualmente compreendidas em toda a sua estrutura energética, simbólica e ritualística,
sendo comparadas erroneamente às práticas primitivas e fetichistas, as oferendas, quer sejam na Umbanda, no
Candomblé ou em qualquer outra filosofia que exalte as relações entre ser e Natureza, possuem esse mesmo
caráter renovador e restituidor, que possibilita a reintegração do ser com as Forças de maneira harmônica e
especial.
Por constituir uma doutrina que baseia a grande maioria de seus Fundamentos nas relações diretas entre
criatura e natureza, agindo diretamente em concordância com os Elementos e as matrizes naturais reconhecidas
nas cachoeiras, nas pedreiras, nas matas, no mar e em toda manifestação que expresse uma relação direta com o
divino por meio da criação, a Umbanda se coliga aos princípios primordiais, onde o homem deve dedicar ao
menos um instante de sua existência à interação com o criado e as Forças Originais reconhecidas nos aspectos
manifestos da Natureza, ou antes, seu reflexo direto.

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A Doutrina da Umbanda é “Ancestral” por natureza, e mesmo seu segmento mais intelectualizado, aquele
que estuda as relações entre os seres e as faixas vibratórias reconhecidas nos Orixás e sua influência sobre o todo,
insiste nessa relação com os princípios primordiais outrora cultuados pelas sociedades primárias.
Os Fundamentos da Umbanda baseiam-se todos em aspectos e relações com as matrizes da Natureza e toda
a complexa estrutura na qual estão inseridos os Orixás e os seus Guias, estabelecem um contato pleno entre a
criação e sua simbologia mais oculta, estando a sua inteira ritualística condicionada à integração temporal regida
pelos ciclos reconhecidos nas estações.
Não somente os Iniciados, mas também os adeptos da Doutrina da Umbanda estabelecem relações
profundas com suas Forças de manifestação por meio das oferendas, estando as mesmas carregadas de
significações precisas que remetem o individuo ao mistério de associação com as estruturas arcaicas primordiais.
Quando analisadas em seu sentido místico, as oferendas deixam de simbolizar apenas um elemento de
relação entre o ser e a Natureza, para se converterem em “personificações” de poderes e elementos ocultos que
possuem profundas ligações com a estrutura sagrada ou mesmo com os padrões de ressonância que estão sendo
movimentados durante o ato ritual.
De fato, e sempre a depender daquilo que se está executando, as oferendas (especialmente aquelas mais
elaboradas e constituídas por elementos naturais), expressam os poderes ou energias de integração com as forças
sagradas, transfigurando-se como potencialidades desencadeadoras de toda uma gama de energias harmônicas,
por sua vez destinadas a uma finalidade especifica e claramente impressas em seu significado, o qual possui
inteira associação com a energia vibratória a que se está ofertando. Em seu campo de manifestação, podemos
classificar:

As Oferendas Simbólicas – São aquelas que se destinam apenas a representar e simbolizar determinados
Princípios, transfigurar ensinamentos ou expressar presenças, não constituindo em si, elementos de reintegração
direta, mas comparecendo como “essenciais” em alguns rituais específicos. As oferendas simbólicas se integram
aos ritos e não devem ser dissociadas desses. Portanto, não são ofertadas comumente com o mesmo sentido que
representam. Comparecem em sua maioria no decurso dos ritos de Iniciação ou naqueles sazonais, como no caso
da “Água Sêmen” de Oxalá (representada pela água de canjica na Noite do Branco), os elementos presentes no
Rito Iniciático de Yemanjá, as pipocas que acompanham os ritos funerários e que se destinam a representar o
estado de transformação do Espírito que passa ao outro Plano; a canjica com que se lava o “Tronco de Iroko”; o
bagaço das ervas que foram maceradas no decurso do Rito de Òssáyìn e assim por diante. Estão associadas
unicamente ao sentido de Iniciação e ao conjunto de rituais sazonais e de passagem, não abarcando os Guias das
diferentes Linhagens da Umbanda.

As Oferendas Ritualísticas – Pertencentes aos processos de Iniciação e, portanto, consideradas “veladas”,


possuem relação direta com os preceitos ritualísticos, configurando símbolos e prestando-se ao sentido de
abertura, assentamento, transmutação, harmonização e outros que circundam o contexto iniciático. Aqui
adentram as elaboradas oferendas destinadas aos Orixás e que possuem fundamentos específicos, bem como
aquelas dedicadas aos Ancestrais e ao grupo das Forças consideradas letíferas (letais) como Ikú (a Morte), as
Ìyámis e os Bàbás Égúns. Destinam-se unicamente ao contexto Iniciático, não envolvendo os Guias e demais
Linhagens da Umbanda.

As Oferendas Iniciáticas – Voltadas apenas aos Iniciados, agregam um rico conjunto de símbolos e significados,
estando destinadas à saudação, ligação, evocação, assentamento e despertar de determinadas energias com as
quais os mesmos se encontram em estreita afinidade. Nas oferendas iniciáticas, um elemento nunca é somente
um elemento, mas sim, algo possuidor de significado e relação direta com o plano dos Orixás a que estejam
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destinados. Assim, as espigas de milho representam o “pênis de Oxóssi” e o caráter fecundador e multiplicador
de que se reveste o Orixá. Já quando raladas e ofertadas como “ekó” (uma massa de milho envolta em folha de
bananeira) expressa um ser particularizado; a interação entre o Orixá e o Iniciado; o sentido de transformação e
exaltação de sua força. Os acaçás (massa obtida pela trituração da canjica branca e envolta em folhas de
bananeira) representam algo individualizado, a calmaria, a pacificação, a tranquilidade, o “esfriamento”; ofertar
acaçá equivale a uma súplica, um pedido de paz, de manutenção da harmonia e de interação direta entre Orixá e
seus filhos. Encontram-se destinadas apenas aos Orixás e demais Forças que envolvem o Universo Iniciático,
não se prolongando aos Guias e demais Linhagens da Umbanda.

As Oferendas de Súplica – São realizadas no intento de se dirigir um apelo, uma súplica direta a determinadas
Forças, seja diante de perigos e situações muito negativas ou mesmo em decorrência de faltas graves que tenham
sido cometidas. Estão destinadas aos Orixás e demais Linhagens da Umbanda.

As Oferendas de Salvamento – Quando da presença de energias muito densas, correntes de suicídio, doenças que
se prolongam, em aproximação de morte, nos casos em que tudo se encontra bloqueado. Equivalem a um
pedido imediato de “socorro” e destinam-se a todas as Linhagens da Umbanda, especialmente aos Pretos-Velhos
e Exus, sempre, contudo, dentro daquilo a que se denomina “linha justa”, a qual envolve o sentido de
merecimento perante os princípios da Lei de Ação e Reação.

As Oferendas de Defesa – Circundadas por uma energia especial, são realizadas quando dos ataques diretos de
correntes de imantação (feitiçaria); agressão por intermédio de pesadas correntes mentais e verbais. Como o
próprio nome expressa, destinam-se à defesa, proteção e descarga tanto de indivíduos quanto de ambientes em
específico. Envolvem Correntes específicas como os Exus, sobretudo, estendendo-se aos Caboclos de Ògún, de
Xangô, de Omolu e Oxóssi, bem como aos Boiadeiros, Juremeiros e determinadas Linhagens de Pretos-Velhos
como o Povo das Almas, Da Calunga, Do Cruzeiro e da Senzala.

As Oferendas de “Calmaria” - Também denominadas de “resfriamento”, são executadas quando as situações se


encontram no limite, desordenadas, exaustivamente carregadas, havendo muitos conflitos, impaciência e
correntes de desespero. Enfim, destinam-se a trazer ou promover as energias necessárias para a entronização de
ressonâncias que tendam a devolver ou arrastar a harmonia, a calma e a tranquilidade a pessoas e localidades
onde são realizadas. Os elementos relacionados às mesmas são sempre brancos e frios, sendo essas oferendas
realizadas sempre em alta noite, antes do amanhecer ou em períodos de chuva. Envolvem tanto os Orixás como
as diferentes Linhagens da Umbanda, especialmente os Pretos-Velhos, os Caboclos de Yemanjá, de Oxum, as
Crianças e a Linha do Oriente.

As Oferendas de Agradecimento – Realizadas sempre no intento de agradecer por algo que se tenha recebido ou
mesmo diante da finalização de ciclos, rompimentos e desligamentos. Abarcam todas as Correntes de Força.

As Oferendas Sacramentais – Possuidoras de cunho iniciático e voltadas para a sacralização de um compromisso,


juramento ou ligação com determinadas Forças Espirituais. São de natureza velada, mantendo relações apenas
com os Orixás e demais Forças pertencentes ao universo iniciático.

As Oferendas de Consagração – Também reconhecidas como “de perpetuação”, são aquelas realizadas quando
da abertura e fundação de um Templo, Tronqueira, Capelas e demais estruturas consideradas sagradas, bem
como da manutenção de seu Axé pelo “alimentar” das mais diferentes Energias e Forças que compõem seu
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conjunto espiritual e físico. Dentre esses destaca-se o Oníbodè, oferenda específica que “sela” o perímetro
espiritual de um Templo de Umbanda ou mesmo residência, quando do caso, consagrando-o a uma Força
específica.

As Oferendas de Transformação – Na instauração de elementos que proporcionem paz, harmonia e equilíbrio.


Quando da criação de correntes estáveis, na consolidação de energias positivas, na modificação de padrões de
um estado negativo para aquele positivo, quando o indivíduo não os consegue estabelecer por si só.

As Oferendas de Apaziguamento – Nos pedidos de perdão, diante da necessidade de reparação de faltas


cometidas e no sincero desejo de modificação. Diante de contendas de naturezas diversas, na conciliação e
harmonização de pessoas e ambientes.

As Oferendas de Odùs – As “Firmezas dos Odùs”. Pela regra destinadas aos Iniciados e demais mediadores,
embora sejam elaboradas e modificadas de modo que esses últimos as possam realizar. Na retificação de
situações que estejam vibrando absolutamente fora do padrão de harmonia em que deviam estar e que podem ter
sido geradas por uma série de outras situações que foram desestabilizando a segurança pessoal, atuando, porém,
sempre dentro da linha justa e de merecimento do indivíduo.

As Oferendas de Abertura – O conhecido “abre caminhos”, executada quando todas as situações e energias
parecem fechadas, travadas e estáticas. Envolvem o conceito de linha justa e merecimento.

As Oferendas de “Paralisação” – Conjunto de oferendas especiais destinadas à paralisação de determinadas


situações. Nessas oferendas, todos os elementos são queimados ao final de três, quatro ou sete dias, no intento
de rompimento e purificação. Envolvem o aspecto magístico em sua manipulação, razão pela qual devem ser
executadas com certa cautela.

As Oferendas de Redenção – Também chamadas de “oferendas do bom retorno”. Destinam-se unicamente aos
Iniciados que tendo abandonado o caminho, recebem após um pedido de perdão ou súplica, o direito de
regressarem à Casa que pertenciam ou mesmo à corrente Iniciática. Envolvem especialmente os Orixás.

As Oferendas aos Ancestrais – Realizadas com o intento de saudar, render homenagem e agradecer aos
Ancestrais da própria linhagem e família. Também nos casos em que existam “nós ancestrais”, ou seja, correntes
de energias ligadas à determinadas pessoas que á faleceram, mas que ainda vibram sobre determinadas pessoas e
ambientes. Aqui adentram desde aquelas mais elaboradas pertencentes ao contexto iniciático, como oferendas
mais simples destinadas a saudação e desligamento, alcançando oferendas de cunho magístico mais profundo e
que requerem pessoas experientes em sua manipulação.

As Oferendas de Substituição – Oferendas muito complexas, conhecidas entre os Iniciados como Bámidíyà.
Realizada apenas diante de situações muito específicas e graves, as quais envolvem doenças sérias ou mesmo nos
casos de morte. O Bámidíyà consiste em uma “troca”, onde as energias que atuam sobre o indivíduo são
transferidas para um animal ou mesmo objeto específico. Carregadas por densa natureza magística, são
absolutamente veladas.

As Oferendas Propiciatórias – Destinadas aos aspectos mais “materiais” que permeiam a vida de um indivíduo.
São realizadas com intentos específicos que envolvem argumentos como a família e o convívio direto entre os
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seres; o ambiente de trabalho, os estudos, o campo emocional, sentimental e financeiro; os desafetos, correntes
de inveja, de ódio, de intriga, de afastamento, enfim, tudo aquilo que engloba a cotidianidade a qual todos estão
sujeitos. Essas oferendas atuam sempre dentro da Lina justa e do conceito de merecimento.

Continua

Flávio Juliano:.
Dirigente

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