Sei sulla pagina 1di 55

CURSO DEMONOLOGIA

1ºAULA: “A EXISTÊNCIA DO DEMÔNIO”


Com suas representações fantasiosas e desequilibradas
do mundo espiritual, os modernos contos e filmes de
terror têm provocado nas pessoas ou uma total aversão
ao tema ou uma curiosidade mórbida que beira a
obsessão. Para nós, católicos, no entanto, a existência do
demônio é uma verdade de fé.

Saiba o que ensina a Igreja a respeito dessa realidade,


nesta 1.ª aula de nosso curso de Demonologia.

Muitas pessoas se sentem desconfortáveis ou até


mesmo amedrontadas quando o assunto é Satanás e
seus demônios. Isso se deve, talvez, à ajuda prestada
pela literatura e pelo cinema que, com suas
representações, envolveu com um ar de mistério e
temor a existência de entidades demoníacas e sua ação
no mundo. Em alguns casos, vemos atitudes de total
aversão ao tema, e em outros, uma curiosidade que vai
da mais simples até a mais obsessiva.

Para os católicos, a existência do Diabo e seus demônios


é uma verdade de fé. Isso significa que, para aqueles
que aderem à Igreja Católica Apostólica Romana, crer na
existência dos demônios não é uma opção. Trata-se de
condição sine qua non, ou seja, não há um meio de se
dizer católico sem se crer naquilo que a Igreja crê e
ensina: que Satanás e seus anjos existem e atuam no
mundo de modo a perder as almas. Diante disso não há
o que temer, pois estudar e entender os seres
demoníacos acaba sendo uma importante arma para
evitar as suas ciladas.

Para tanto, o ponto de partida deste curso será a


teologia dogmática e o ponto de chegada a teologia
ascético-mística. O curso, no decorrer das aulas,
abordará questões basilares tais como a existência do
demônio e suas ações para perder as almas (da tentação
até a possessão, passando por todos os níveis dos
ataques diabólicos).

O Catecismo da Igreja Católica, no número 391, traz


uma citação do IV Concílio de Latrão: "Com efeito, o
Diabo e outros demônios foram por Deus criados bons
em (sua) natureza mas se tornaram maus por sua
própria iniciativa". Ora, eles foram criados bons por
Deus, mas, livremente escolheram rejeitá-Lo. Assim,
pecaram contra Deus de maneira irrevogável. Movidos
pelo ódio e pela inveja agiram e continuam agindo para
a perdição das almas dos homens. Até mesmo Jesus foi
alvo de suas tentações. O Catecismo segue explicando:
A Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus
chama de "homicida desde o princípio" (Jo 8,44) e que
até chegou a tentar desviar Jesus da missão recebida do
Pai. "Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para
desviar as obras do Diabo" (1Jo 3,9). A mais grave dessas
obras, devido às suas consequências, foi a sedução
mentirosa que induziu o homem a desobedecer a Deus.
(CIC 394)
Os sinais que corroboram a crença perene da Igreja na
existência de Satanás e seus demônios, podem ser
verificados nos textos da Sagrada Escritura e nos
documentos e escritos do Magistério e da Tradição.
Embasada nestes três pilares, não há como negar que
esta crença faz parte da essência da fé católica.

O Padre José Antonio Sayés Bermejo, um dos teólogos


mais importantes da atualidade, com mais de quarenta
obras publicadas de teologia e filosofia, escreveu o livro
“O Demónio: realidade ou mito?", publicado pela Ed.
Paulus, que servirá de guia para esta aula. Ele explica
que o Antigo Testamento praticamente não fala da
existência de Satanás e seus demônios, mas que o Novo
Testamento apresenta uma explosão sobre o tema.
Considerando-se os vocábulos que dizem respeito ao
demônio, satanás, possessões, etc., o Novo Testamento
apresenta cerca de 511 referências.
Como explicar essa desproporção entre o Antigo e o
Novo Testamento? A pedagogia divina. No início da
história da salvação, Deus estabelece com Abraão uma
aliança e pede que não haja outros deuses além Dele (Ex
20,3). Com o passar do tempo, ensina ao povo de Israel
que não existem outros deuses além Dele e, por meio
dos profetas, inaugura a luta para livrar Israel da
idolatria.

Quando o povo de Israel aceitou Deus como "Criador" e


entendeu que o Diabo e seus demônios são também
“criaturas", apareceram as primeiras referências a eles.
Isso se deu na época dos escritos sapienciais. Já no
chamado intertestamento, tempo em que se não se
teve escritos canônicos, mas tão-somente apócrifos,
tais como os Manuscritos de Qumram, o I Livro de Enoc
e outros relatos da apocalíptica judaica, começaram as
primeiras elaborações teológicas acerca do Diabo e seus
demônios.

Na plenitude dos tempos, quando Jesus veio ao mundo,


nem todo o povo de Israel cria na existência de Satanás.
Não era uma unanimidade de pensamento, como no
caso dos saduceus que não criam de modo algum nos
seres demoníacos. Portanto, é possível dizer que os
teólogos modernos cometem um grave erro quando
afirmam que a sociedade em que Jesus viveu possuía
uma visão “mágica" das coisas e que Ele não quis se dar
ao trabalho de desmitologizá-la. Segundo inúmeros
relatos, Jesus soube contrapor-se muito bem à
mentalidade da época, sem nunca fazer concessões.

Segundo o Pe. Sayés, Jesus cria na existência do Diabo


e, para comprovar essa afirmação, apresenta três
critérios: 1. a múltipla atestação: são inúmeras as
referências existentes nos Evangelhos que narram a
ação de Jesus contra os demônios; 2. a questão da
descontinuidade: o povo de Israel esperava um Messias
político, que o libertasse da opressão dos romanos
(quebrando esta expectativa, Jesus prega a conversão e
o Reino dos Céus); 3. a identidade de Jesus.

Em relação ao segundo critério, Joachim Jeremias,


famoso exegeta protestante que se especializou no
estudo do Jesus histórico, é categórico ao afirmar que
as três tentações de Jesus no deserto versam sobre o
messianismo político. A primeira, que propõe
transformar pedras em pães, pode ser interpretada
como uma tentativa de induzir o Senhor Jesus a ser o
“novo Moisés", libertando o povo como Moisés libertou
o povo do Egito; a segunda, como receber os reinos do
mundo para governar; a terceira, como transformar-se
numa espécie de "super-homem", realizando algo
fantástico e, então, ser seguido por todos.

Todas tentações políticas. Essa espécie de sedução


rondou Jesus durante todo o seu ministério, mas Ele
sempre resistiu, apresentando o Reino dos Céus como
uma realidade espiritual. Portanto, seu inimigo era
Satanás e seus demônios, não César.

Interessante são as palavras de Jesus, na famosa


passagem em que foi acusado pelos fariseus de expulsar
demônios em nome de Belzebu. Esse fato foi narrado
nos Evangelhos de Marcos e Lucas, e também no de
Mateus, do qual transcrevemos:

Jesus e Beelzebu - Então trouxeram-lhe um


endemoninhado cego e mudo. E ele o curou, de modo
que o mudo podia falar e ver. Toda a multidão ficou
espantada e pôs-se a dizer: “Não será este o Filho de
Davi?" Mas os fariseus, ouvindo isso, disseram: “Ele não
expulsa os demônios, senão por Beelzebu, príncipe dos
demônios".
Conhecendo seus pensamentos, Jesus lhes disse: “Todo
reino dividido contra si mesmo acaba em ruína e
nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma
poderá subsistir. Ora, se Satanás expulsa a Satanás, está
dividido contra si mesmo. Como, então, poderá subsistir
seu reinado? Se eu expulso os demônios por Beelzebu,
por quem os expulsam os vossos adeptos? Por isso, eles
mesmos serão os vossos juízes. Mas se é pelo Espírito
de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de
Deus já chegou a vós. (12,22-28)
Trata-se de um texto evidentemente semítico e
permeado de linguagem arcaica. Nisso, os exegetas
veem um sinal claro de que se trata realmente de um
fato histórico, novamente tomando por base o princípio
da múltipla atestação. O reinado de Deus está
intrinsecamente ligado ao combate contra Satanás, pois
Jesus veio para romper a escravidão produzida pelo
pecado para que Deus reine.

O terceiro critério citado pelo Pe. Sayés é a própria


identidade de Jesus e a salvação que Ele veio trazer. Ela
não se compreende sem se considerar a existência do
Diabo e seus demônios. Jesus veio para livrar o homem
do pecado, da morte e do Diabo. Esta realidade é tão
presente no Novo Testamento que, se for retirada, tudo
perde seu sentido. É por isso que se constitui quase que
uma traição ao Evangelho a tendência moderna de
desmitologização do Novo Testamento encarnada por
Rudolf Bultmann. Crer que Jesus Cristo não combateu a
Satanás e seus demônios é crer num Jesus diferente
daquele narrado nos Evangelhos.
Jesus poderia ter dado aos fariseus qualquer outra
resposta, até mesmo negando a existência de Beelzebu,
já que não era uma crença unânime entre os judeus,
conforme já dito. Mas não, Jesus foi enfático ao dizer
que expulsava “pelo dedo de Deus", definindo Ele
mesmo sua obra de salvação.

Da mesma forma, o Novo Testamento, quando se refere


ao Diabo, o faz sempre no viés soteriológico. Não
existem grandes explicações acerca da natureza
demoníaca, nem mesmo uma teoria a esse respeito. Os
Santos Padres, porém, são unânimes em confirmar a
existência dos demônios e passam a especular sobre a
natureza deles. Eles se baseiam principalmente nos
livros apócrifos, o que acabou por gerar algumas
explicações absurdas. Finalmente, na Idade Média, com
Santo Tomás de Aquino, firmou-se um pensamento
teológico especulativo bastante sólido acerca da
natureza do Diabo e seus demônios e do modo como
eles agem.

Ao abordar um tema que suscita reações tão adversas


entre as pessoas, mas que, ao mesmo tempo compõe
de maneira inequívoca o depósito da fé católica,
pretende-se iluminar, com a luz da Igreja, o que foi
obscurecido pelo medo e pelo desconhecimento. Falar
de Satanás e de seus demônios implica antes e
principalmente falar da salvação comprada ao preço do
precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus na cruz.

Bibliografia
"Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de
acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
"Compêndio dos símbolos, definições e declarações de
fé e moral", Denzinger-Hünnermann, 2007, Ed. Paulinas
e Loyola
"A Bíblia de Jerusalém", Ed. Paulinas, 1992.
"O démonio: realidade ou mito?", José Antonio Sayés,
Ed. Paulus
2ºAULA: “A REFLEXÃO DE SANTO TOMÁS DE AQUINO
SOBRE A AÇÃO DEMONÍACA”
O grande doutor da Igreja, Tomás de Aquino, é
conhecido também pela famosa alcunha de "Doutor
Angélico", por empreender, em sua grandeza intelectual,
o talvez mais importante estudo sobre os santos Anjos e
a ação demoníaca.

É justamente essa reflexão teológica o tema da presente


aula.

O grande santo da Igreja, Tomás de Aquino, é conhecido


também pela alcunha de "Doutor Angélico" porque em
sua grandeza intelectual, realizou talvez o mais
importante estudo acerca dos Santos Anjos e sobre a
ação demoníaca. Tal análise constituiu-se um marco
teológico justamente por causa da coerência com o
dado revelado e a consonância com a própria reflexão
filosófica e metafísica dele.

A meditação de Santo Tomás sobre os anjos e os


demônios encontra-se na chamada Suma Teológica, sua
obra prima, e pode ser localizada na parte em que se
refere à Criação (exitus). Inicialmente ele se reporta aos
anjos para, em seguida, falar sobre os demônios (I, q. 63
e 64). Existem outras questões importantes
relacionadas ao tema em outras partes da sua vasta
obra, as quais serão abordadas no decorrer do curso.

A propósito dos anjos, é correto dizer que foram criados


por Deus, conforme se vê na profissão de fé do IV
Concílio de Latrão, citado pelo Catecismo da Igreja
Católica:

Deus criou conjuntamente, do nada, desde o início do


tempo, ambas as criaturas, a espiritual e a corporal, isto
é, os anjos e o mundo terrestre; em seguida, a criatura
humana, que tem algo de ambas, por compor-se de
espírito e de corpo. (CIC 328).
Santo Tomás afirmou que os anjos são espíritos puros,
não possuem matéria. Este entendimento é o mesmo
apresentado pelo Catecismo, que assim os define:
"Como criaturas puramente espirituais, são dotados de
inteligência e de vontade: são criaturas pessoais e
imortais. Superam em perfeição todas as criaturas
visíveis." (330) Na literatura católica, há quem discorde
da proposição de Santo Tomás e afirme que os anjos
possuem uma espécie de "corpo sutil", como São
Boaventura, porém, parece prevalecer a opinião do
Aquinate.
Existe uma gradação na criação: os seres puramente
materiais dão origem à vida vegetativa, que dá origem à
vida animal, que origina a vida espiritual/racional, ainda
ligada ao corpo e assim por diante. Diante disso, entre o
homem e Deus está a realidade angélica. Os anjos não
são puro espírito infinito, como Deus nem espírito
ligado à matéria como o homem. Eles ocupam o espaço
entre o homem e Deus.

Além de ser lógica, a reflexão do Doutor Angélico explica


o fato de que os anjos parecem não estar limitados nem
pelo espaço nem pelo tempo. Eles não estão em um
lugar, posto que não possuem corpo. Como explicar,
então, quando se diz que "o Diabo entrou ou saiu de um
corpo" ou "os anjos estão aqui"? Ora, "convém ao anjo
estar em um lugar", diz Santo Tomás. Ocorre que esse
estar em um lugar não deve ser entendido como
quando se refere a um corpo, pois, nesse caso, o corpo
pode ser dimensionado, o que não se dá com os anjos.
Eles exercem influência sobre o lugar e sobre as
pessoas. Deste modo, "é pela aplicação do poder
angélico a um lugar, de certa maneira, que se diz que o
anjo está em um lugar corpóreo"(cf. q. 52, a. 1).
Entender esse ponto será deveras importante quando o
estudo for sobre a ação demoníaca propriamente dita.
Os anjos são puro espírito e não possuem o que os
homens entendem por afeto, afetividade. Apesar disso,
eles podem amar, pois o amor é um ato de vontade e
requer o que eles possuem: inteligência e vontade.

Para Santo Tomás, Deus criou os anjos, mas estes não O


viam. Em certo momento, Deus revelou-se a eles de
modo indireto e lhes deu uma escolha de amor. Alguns,
num ato de amor optaram por escolher a Deus e, assim,
foram admitidos à Sua presença. Desse momento em
diante, ao contemplarem a visão beatífica de Deus,
perderam a sua liberdade, foram irrevogavelmente
atraídos para Ele.

Embora não se saiba em que consistiu a prova dos anjos,


é certo que alguns deles não aceitaram e incorreram em
desobediência. Como os anjos são seres incorpóreos
não poderiam ter cometido pecados ligados à carne,
portanto, dos pecados conhecidos pelo homem
somente a soberba e a inveja podem ter sido a causa de
Satanás e seus demônios terem ido contra Deus.

A soberba, que é o pecado principal, consistiu em


querer ser igual a Deus. Ora, se um anjo é um ser
inteligente, intuitivo, como é possível que ele tenha
desejado ser igual a Deus? O Doutor Angélico explica
que Satanás não desejou ser igual a Deus em sua
natureza, pois sabia ser impossível. Mas sim, por
semelhança. Isso quer dizer que Satanás preferiu ser
Deus a partir de sua própria natureza, sem contar com
o dom sobrenatural da graça. Movido pela soberba,
procurou a autossatisfação, voltando as costas para o
Criador.

O Diabo é arrogante e odeia profundamente quem o


criou. Além disso, vê que existem criaturas que foram
destinadas a estarem com Deus, como por exemplo, os
anjos que permaneceram fiéis, o que gera nele o
segundo pecado: a inveja, pois "ele se entristece diante
do bem do homem, e também diante da grandeza de
Deus". Não podendo seduzir os anjos bons, voltaram-se
contra os homens que ainda não haviam tido a visão
beatífica de Deus, portanto, estavam sujeitos ao
pecado.

A tentação exercida pelo Diabo e seus demônios contra


os homens tem autorização de Deus. "A permissão
divina da atividade diabólica é um grande mistério, mas
nós sabemos que Deus coopera em tudo para o bem
daqueles que o amam", diz o Catecismo da Igreja
Católica em seu número 395.

É claro que Deus poderia ter fechado a porta de acesso


ao homem e o motivo pelo qual não o fez constitui-se
um enigma, sobretudo quando se vê na oração do Pai-
Nosso uma alusão clara à tentação, o que se pode
significar que Deus permite ação diabólica, mas que
cabe ao homem não sucumbir a ela.

Santo Tomás continua sua reflexão sobre os anjos


explicando que o número daqueles que decaíram foi
menor do que daqueles que permaneceram fiéis a Deus.
Existem miríades e mais miríades de anjos bons,
portanto, a realidade angelical é muito maior e
triunfante que a diabólica. O livro do Apocalipse diz que
"um terço das estrelas caíram" (cf. Ap 12,4) e disso se
pode inferir que um terço dos anjos foram precipitados.

Da mesma forma que existe uma hierarquia entre os


Santos Anjos, existe também uma ordem de
importância entre os demônios. Satanás tem
preponderância sobre os demais anjos decaídos. Ele
pode ser chamado por muitos nomes: Satanás, Diabo,
Lúcifer, sempre significando anjo de luz, maior, mais
glorioso que todos os outros. Justamente essa
grandiosidade que fomentou o pecado da soberba. E foi
o pecado dele que levou os outros anjos a pecarem
também.

Na questão de número 64, artigo 1, Santo Tomás explica


que o intelecto de Satanás se encontra obscurecido.
Contudo, esse fato não faz com que ele se torne incapaz
de conhecer a verdade, mas ele só consegue conhecer
as coisas de forma natural. O que foi fechado a ele é o
conhecimento das verdades reveladas, pois ele não vê
Deus face a face e, portanto, o acesso que possui
restringe-se tão somente àquilo que lhe fora revelado
antes do pecado ou àquilo que ele recebeu dos anjos.
Os anjos são sábios por causa do dom da Sabedoria
Divina, enquanto Satanás é inteligente, mas não
"sábio". Ele não está obcecado intelectualmente no
sentido pleno da palavra, mas está privado das graças
de Deus.

No artigo 2, da mesma questão, o Doutor Angélico


afirma que a vontade de Satanás é obstinada no mal,
por isso, não existe arrependimento para ele. Não por
uma deficiência na Misericórdia divina, pois "a
misericórdia de Deus liberta do pecado os penitentes.
Mas aos incapazes de fazer penitência, que aderem ao
mal de maneira imutável, a misericórdia divina não os
liberta."

O artigo 3 fala sobre a dor existente nos demônios. Eles


sofrem. Mas, como sofrem se não possuem corpo?
"Enquanto paixões, o temor, a alegria, a dor e atos
semelhantes não podem existir nos demônios, pois são
próprios do apetite sensitivo, que é uma faculdade que
supõe um órgão corporal." Santo Tomás continua
explicando que:

Sabe-se que os demônios quereriam que muitas coisas


que existem não existissem, e que existissem muitas
coisas que não existem, pois, invejosos, quereriam a
condenação dos que foram salvos. Daí se deve dizer que
eles têm dor, até porque é da razão da pena ser
contrária à vontade. Ademais, se os demônios estão
privados da felicidade natural que podem desejar, e em
muitos deles, encontra-se inibida sua vontade
pecadora.
Algumas ideias são insuportáveis para os demônios,
como por exemplo, o nome da Virgem Santíssima. Eles
ficam desnorteados à simples menção dele e, com isso,
sofrem. Este dado é importantíssimo para se entender
alguns gestos e palavras proferidos durante o
exorcismo.

Por fim, o artigo 4 que trata do lugar da pena dos


demônios. O Doutor Angélico explica que "por sua
natureza, os anjos estão entre Deus e os homens" e que
"há dois lugares para a pena dos demônios: um, por
causa da sua culpa, que é o inferno; outro, por causa de
suas ações sobre os homens, e assim lhes é devida a
atmosfera tenebrosa."
Ele instrui que, da mesma forma que existem anjos bons
no céu servindo às almas santas, existem demônios cuja
missão é atormentar ainda mais os que induziram ao
mal.

É possível dizer que "o lugar não é de pena para o anjo


ou para alma como se os afetasse modificando-lhes a
natureza, mas como se lhes afetasse a vontade,
contristando-a. Tanto o anjo quanto a alma percebem
que estão num lugar que não corresponde à própria
vontade."

Existe, portanto, uma área da criação que foi entregue


por Deus aos demônios para que pudessem agir. Trata-
se de um mistério da providência divina. Contudo, Jesus
Cristo veio ao mundo justamente para tirar esse
domínio dos demônios e verdadeiramente salvar o
homem.
Nota
Errata 1: No vídeo, aos 16:05, Padre Paulo Ricardo cita o
nº 995 do Catecismo da Igreja Católica, porém, o
número correto é 395.

Errata 2: Aos 2:42, Padre Paulo Ricardo fala que o


estudo sobre os Anjos encontra-se na parte referente ao
reditus, porém, o correto é exitus.
Bibliografia

AQUINO, Tomas de, Suma Teológica, Ed. Loyola, v. 2,


2005
"Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de
acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição.
3ºAULA: “A TENTAÇÃO DIABÓLICA”
Apesar da grande curiosidade das pessoas em relação a
possessão e exorcismos, é a tentação a mais comum e
perigosa arma de Satanás contra os eleitos de Deus.

Nesta aula, saiba em que consiste essa ação cotidiana


dos demônios, descubra quais são as etapas da tentação
e conheça também os "três inimigos da alma", segundo
o ensinamento tradicional da Igreja.

O Diabo e seus demônios agem de modos diferentes e,


por isso, podem ser combatidos também de muitas
maneiras. O ponto de partida, porém, é sempre o
mesmo: a tentação.

Apesar de haver hoje no mundo uma grande


curiosidade acerca da possessão e dos exorcismos, a
verdade é que a tentação é muito mais perigosa e
importante do que a possessão, pois esta é uma ação
extraordinária do diabo, enquanto que aquela é uma
ação ordinária, do dia a dia. Santo Tomás, na Suma
Teológica, na I seção, questão 114, artigo 2, afirma que
o Diabo "sempre tenta para prejudicar, impelindo ao
pecado." Ou seja, é próprio de Satanás tentar o homem,
é o seu ofício, a sua função.
Assim, a ação demoníaca mais comum na vida do
homem é justamente a tentação. Trata-se de um
engano, de uma artimanha, crer que o Demônio age
somente quando se "apodera" de alguém. Concentrar-
se nesse aspecto é prestar um desserviço a si mesmo,
pois leva à distração que, por sua vez, conduz ao pecado
e à perdição.

O combate espiritual existe e é diário. Não se trata,


como muitos imaginam, de algo esporádico, pelo
contrário, é uma luta cotidiana e quanto mais cedo se
compreender isso, melhor. Santo Tomás deixa clara a
importância dessa informação no artigo 1, recordando
dois versículos da Carta de São Paulo aos Efésios:

Revesti-vos da armadura de Deus para que possais


resistir às insídias do diabo. A nossa luta não é contra a
carne e o sangue, mas contra os Principados, as
Potestades, contra os dominadores desse mundo
tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados nos
ares. (6, 11-12)
O Padre Antonio Royo Marin, em sua obra "Teologia de
la Perfeccion Cristiana", explica que nem todas as
tentações provém do diabo. Ele cita a carta de São Tiago
1, 14: "Cada um é tentado por suas próprias
concupiscências que o atraem e seduzem." A Igreja
ensina que o homem tem três inimigos: a carne, o
mundo e o Diabo.

Ao falar sobre o dom da perseverança, o Concílio de


Trento, já recordava essa grande verdade ao dizer que
"sabendo que foram regenerados na esperança da
glória, devem temer pela batalha que ainda resta contra
a carne, contra o mundo, contra o diabo, da qual não
podem sair vencedores, se não obedecerem, com a
graça de Deus, às palavras do Apóstolo…" (DH 1541)

A palavra "carne" (em latim caro, em hebraico básar, em


grego σαρξ, sarx), que designa o primeiro inimigo do
homem, é usada na Bíblia em vários sentidos. Nesse
especificamente, quer dizer a desordem interna que
cada ser humano possui por causa do pecado original e
que o leva ao pecado. É a tendência para a transgressão
que habita cada ser humano. Ela se inicia com o pecado
original e se aprofunda com os pecados pessoais, por
isso é que não se pode dizer que toda tentação é obra
do demônio. Santo Tomás fala a respeito no artigo 3, da
mesma questão:

Diz-se que alguma coisa é diretamente causa de algo


quando age diretamente para produzir o efeito. Desse
modo, o diabo não não é causa de todo pecado. Com
efeito, nem todos os pecados são cometidos por
incitação do demônio, mas alguns pela liberdade de
nosso arbítrio e pela corrupção da carne. Como diz
Orígenes, "mesmo se o demônio não existisse, os
homens teriam desejo dos alimentos, dos prazeres
sexuais e de outras coisas parecidas." A respeito dessas
coisas acontece muita desordem, a não ser que a razão
refreie tais desejos, especialmente se se levar em conta
a corrupção da natureza. Ora, refrear e ordenar esses
desejos depende do livre-arbítrio. Não é pois necessário
que todos os pecados provenham da instigação do
demônio. Se todavia alguns provém da instigação dele,
para cometê-los os 'homens são enganados agora pela
sedução como o foram nossos primeiros pais', como diz
Isidoro.
O segundo inimigo é o mundo. Convites, lugares,
ocasiões, a própria sociedade podem ser também
alavancas para a tentação, para o pecado. Mas, "graças
à sua missão régia, os leigos têm o poder de vencer o
império do pecado em si mesmos e no mundo, por sua
abnegação e pela santidade de sua vida" (CIC 943).

O terceiro inimigo é o Diabo e seus demônios. Na


Primeira Carta de São Pedro, ele diz que o "vosso
adversário, o diabo, anda em derredor como um leão
que ruge, procurando a quem devorar" (5, 8). Diante
disso é preciso estar sempre alerta, sempre vigilante.
Contudo, saber que a tentação é quase contínua não
deve ser motivo de desânimo, pois "Deus é fiel e não
permitirá que sejais provados acima de vossas forças.
Pelo contrário, junto com a provação Ele providenciará
o bom êxito, para que possais suportá-la" (ICor 10, 13).

Deus dá a força, a graça, por isso nunca a tentação é


maior do que a capacidade de resistência da pessoa e
resistir à tentação é uma forma das formas de
manifestar o amor por Deus. "Bem-aventurado é o
homem que suporta a tentação, porque ele receberá a
coroa da vida que Deus prometeu àqueles que o amam"
(Tg 1,12). Se Deus permite a tentação é porque quer ver
a luta dos seus filhos. A luta aumenta os méritos da
pessoa perante Deus e a aproxima ainda mais Dele. É
um mistério da graça divina.

Interessante notar também que a tentação possui uma


psicologia, uma forma de acontecer. E é no pecado dos
primeiros pais que se encontra a melhor descrição de
como o homem é levado a pecar:

A serpente era o mais astuto de todos os animais


selvagens que o Senhor Deus tinha feito. Ela disse à
mulher: "É verdade que Deus vos disse: 'Não comais de
nenhuma das árvores do jardim?'" A mulher respondeu
à serpente: "Nós podemos comer do fruto das árvores
do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do
jardim, Deus nos disse: 'Não comais dele nem sequer o
toqueis, do contrário morrereis.'" Mas a serpente
respondeu à mulher: "De modo algum morrereis. Pelo
contrário, Deus sabe que, no dia em que comerdes da
árvore, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus,
conhecedores do bem e do mal. A mulher viu que seria
bom comer da árvore, pois era atraente aos olhos e
desejável para obter conhecimento. Colheu o fruto,
comeu dele e o deu ao marido ao seu lado, que também
comeu. Então os olhos de ambos se abriram, e, como
reparassem que estavam nus, teceram para si tangas
com folhas de figueira." (3, 1-7)
O Padre Royo Marin faz uma divisão desse episódio em
sete partes. Mas adverte que nem todas ocorrem,
necessariamente, quando o homem peca. Ele pode cair
imediatamente após a tentação diabólica, sem precisar
de muito esforço do inimigo. Em outras situações,
porém, o pecado pode levar algum tempo a mais para
acontecer, ou nem mesmo se concretizar, devido ao
esforço sincero de conversão e à busca de santidade da
pessoa.

Segundo o Padre Royo Marin, o primeiro passo é a


aproximação do diabo: ele não permanece ao lado
durante todo o tempo como o Anjo da Guarda. Alguns
santos e teólogos levantaram a hipótese de que um
demônio acompanha permanentemente o homem a
fim de tentá-lo, mas essa possibilidade não encontrou
nenhum respaldo bíblico nem se constituiu pertencente
ao depósito da fé, portanto, é mais aceitável que seja
mera opinião.

O segundo passo é o ataque do demônio. No caso de


pessoas afastadas das virtudes é possível que o diabo se
aproxime, ataque e ela caia rapidamente no pecado.
Contudo, normalmente não é assim que acontece e não
foi desse modo que se deu com Eva.

Os demônios são observadores e se utilizam das


informações coletadas para consumar a tentação. Eles
não têm acesso aos pensamentos nem às almas das
pessoas, por isso, servem-se da análise até descobrirem
o ponto fraco delas. O Padre Royo Marin ensina que é
muito importante estar vigilante e fechar sempre as
brechas.

Nessa etapa, tendo em seu poder as informações


relativas à pessoa e sabendo qual é o seu calcanhar de
Aquiles, o inimigo joga uma insinuação para que a
pessoa entre no debate. Não é a tentação ainda, mas
apenas uma ideia.

A terceira etapa é justamente a resposta da pessoa à


sugestão recebida. Eva respondeu à serpente e o fez
apresentando justificativas para a proibição, baseadas
em sua racionalidade. Seu desejo não era realmente
desobedecer a Deus, mas perdeu tempo raciocinando,
tentando explicar por que não deveria comer o fruto. O
Diabo, por sua vez, tenta levar a pessoa à conversa.

A proposta do pecado, quarta fase, vem sempre


acompanhada de uma mentira. Apresenta uma
proposta de felicidade imediata que, geralmente, vem
de acordo com o ponto fraco da pessoa. Se a isca for
mordida o resultado não será a felicidade, mas sim a
morte, vez que o Diabo é o Pai da Mentira. A ruína do
homem está em buscar a felicidade onde ela não se
encontra.

O Pe. Royo Marin diz que nesta etapa ainda há tempo


de retroceder, pois não houve o consentimento. Por
outro lado, a alma corre um sério risco de sucumbir à
tentação. As forças da alma vão se debilitando e a graça
de Deus se torna menos intensa porque a pessoa deu
ouvidos ao Tentador.

A quinta etapa é a vacilação, na qual já se comete um


pecado venial, pois a pessoa já contempla a hipótese de
pecar. Há uma degustação. Nesse ponto, diz o Padre
Royo Marin:
a alma começa a vacilar e a se perturbar
profundamente. O coração bate com violência dentro
do peito, um estranho nervosismo se apodera de todo o
seu ser. A alma não gostaria de ofender a Deus, porém,
por outro lado é tão sedutor o panorama que se lhe
propõe diante dos seus olhos, ela então começa a
realizar uma luta violenta que se pode prolongar por
muito tempo.
Se a alma, num supremo esforço, sob a influência de
uma graça eficaz conseguir superar a sua própria
imprudência, será quase um milagre. Nessa etapa a
alma está às porta do pecado.

Em seguida, vem o consentimento do pecado. E sobre


essa etapa não há muito o que falar, pois está bastante
clara: é a consumação do ato pecaminoso.

Por fim, o estágio do arrependimento. Ele que não é de


todo mau, pois revela a consciência da alta vocação do
homem para a santidade e produz nele o desejo de
reparação, de proferir um ato virtuoso de humilhação e
de reconciliação com Deus.

Como combater a tentação e o que fazer após ter


sucumbido a ela serão os temas da próxima aula.
Bibliografia
"Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de
acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
"Compêndio dos símbolos, definições e declarações de
fé e moral", Denzinger-Hünnermann, 2007, Ed. Paulinas
e Loyola
Bíblia Sagrada, tradução da CNBB, ed. CNBB, ed. Canção
Nova
TOMÁS DE AQUINO (Santo). "Suma teológica". São
Paulo: Loyola. [A questão que foi objeto de reflexão no
texto está localizada no 2º volume, na I seção, questão
114, artigo 1 e 2]
ROYO MARIN, Antonio. "Teologia de la Perfeccion
Cristiana", disponível aqui em formato pdf, acessado em
09/09/2013.
4ºAULA: “A LUTA CONTRA A TENTAÇÃO”
A missão de Satanás é fazer o homem pecar e perder a
amizade com Deus. Por isso, a fim de resistir às investidas
do inimigo, é muito importante saber como ele age para
alcançar esse intento.

A missão de Satanás é fazer com que o homem perca a


amizade com Deus e, com isso, a possibilidade de
salvação. Saber como age para alcançar o seu intento é
tão importante quanto conhecer o que diz a literatura a
seu respeito. Do mesmo modo, compreender quais são
os meios mais eficazes para se evitar os ataques
demoníacos e restabelecer imediatamente a união com
Deus, caso a perca, é bem mais produtivo que ater-se
aos aspectos teóricos sobre o tema.

Apesar de haver a possibilidade de a tentação ser


potencializada pelos outros dois inimigos do homem (a
carne e o mundo), ela pode ser desferida de maneira
direta pelo demônio.

A tentação diabólica, lançada exclusivamente pela ação


de Satanás e de seus demônios, se divide em três fases:
antes, durante e depois. E, para cada uma existe um
modo de combate. Na primeira fase, o antes, Nosso
Senhor Jesus Cristo ensinou: "Vigiai e orai para que não
entreis em tentação." (Mt 26, 41).

Como se vê, são dois momentos distintos: vigilância e


oração. A vigilância consiste em estar atento à vitória
que o Cordeiro Imolado alcançou na cruz para cada um
de seus filhos. O Sangue de Cristo resgatou toda a
humanidade das garras do pecado, do inimigo, porém,
Satanás não se dá por vencido e faz tudo para que as
almas percam o que já lhes foi conquistado. Para que
isso ocorra, ele se vale da tentação.

Vigiar, portanto, significa estar sempre em estado de


alerta porque a qualquer momento os demônios podem
desferir um ataque. Uma das formas de assim
permanecer é fugindo das ocasiões de pecado. Guardar
o olhar, a imaginação, evitar o passo que costuma
desencadear o pecado, mudar hábitos, são pequenos
gestos que propiciam o sucesso na vigilância.

O exame de consciência também é de grande ajuda para


se estar continuamente atento. Os pecados pequenos
são passos em direção aos grandes, portanto, refletir
sobre eles e arrepender-se pode evitar a distração.
Outro aliado para a vigilância é o combate à ociosidade,
pois, devido ao pecado original o homem se tornou
preguiçoso espiritualmente. Ele deve se assemelhar a
um soldado no campo de batalha, atento às balas que
vêm do campo inimigo. Assim, não pode estar ocioso,
mas sempre em posição de combate.

Nosso Senhor Jesus Cristo deixou bem claro que o reino


dos céus pertence aos violentos (MT 11,12), ou seja,
àqueles que usam de força pessoal para deixar que Deus
reine em sua vida. Mas, não basta somente a vigilância,
pois Jesus disse: "vigiai e orai" (Mc 13,33). O segundo
momento, portanto, é a oração. Igualmente de suma
importância, pois, por mais que a pessoa se esforce, ela
não é capaz de vencer o pecado sozinha.

Aquele que imagina vencer a tentação e o pecado por


suas próprias forças incorre na heresia pelagiana. Para
vencê-la é necessário rezar, suplicar como um mendigo
da graça de Deus que pede a ação divina para se manter
longe do pecado. O Catecismo da Igreja Católica define
o pecado como sendo:

Uma falta contra a razão, a verdade, a consciência reta;


é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para
com o próximo, por causa de um apego perverso a
certos bens. Fere a natureza do homem e ofende a
solidariedade humana. Foi definido como 'uma palavra,
um ato ou um desejo contrários à lei eterna'. O pecado
é ofensa a Deus. [...] é amor de si mesmo até o desprezo
de Deus. (1849-50)
O que se percebe, portanto, é que o pecado prejudica o
homem em sua vida física e espiritual. O mais grave,
claro, é destruir a possibilidade da vida eterna, pois,
coloca o indivíduo numa dinâmica de transgressão, de
egoísmo, portanto, contra Deus. É por isso que a oração
é imprescindível, e pedir a graça eficaz para resistir, uma
necessidade.

Deus oferece dois grandes auxílios na batalha contra a


tentação e o pecado: a Virgem Maria e o Anjo da
Guarda. Todo católico deve nutrir uma devoção filial,
afetiva e efetiva pela Mãe do Senhor. Não é sem motivo
que ela é chamada em sua ladainha como "Porta do
céu" e que Tomás de Kempis assim se tenha referido a
ela:

Os espíritos malignos tremem ante a Rainha dos Céus, e


fogem como se corre do fogo, ao ouvir seu santo Nome.
Causa-lhes pavor o santo e terrível Nome de Maria, que
para o cristão é um extremo amável e constantemente
celebrado. Não podem os demônios comparecer nem
poder por em jogo suas artimanhas onde vêem
resplandecer o nome de Maria. Como trovão que ressoa
no céu, assim caem derrubados ao ouvirem o nome de
Santa Maria. E quanto mais amiúde se profere este
nome, e mais fervorosamente se invoca, mais céleres e
para mais longe escapam."
Quanto ao Anjo da Guarda, sua principal função é
justamente proteger do Inimigo, por isso é importante
confiar de modo reverente e piedoso nele. A diferença
entre o Anjo da Guarda e os anjos demoníacos é que
enquanto aqueles só agem quando solicitados,
mediante permissão ou pedido explícito, esses são
invasivos, não esperam convite.

O segundo momento da tentação é o durante, ou seja,


quando a pessoa está sendo atacada. Nesse caso, a
reação pode ser direta ou indireta. A resistência direta
consiste naquilo que o santos chamam de agire contra,
ou seja, ao perceber que está sendo levada pela
tentação a agir numa determinada direção, voltar-se
exatamente para a direção contrária. Por exemplo,
quando a pessoa está sendo tentada à avareza, ela deve
dar uma esmola, assim indo no sentido oposto ao da
tentação.

No entanto, existem dois tipos de tentação que não


devem ser combatidos de maneira direta: a luxúria e da
dúvida de fé, pois elas estão em dois terrenos bastante
escorregadios.
Os Santos Padres já alertavam para a imprudência de se
enfrentar o demônio no caso da tentação carnal pelo
simples motivo de que ele tem ao seu lado um poderoso
aliado: o corpo. Embora a alma não queira se render ao
pecado, o corpo anseia por ele, por isso, o melhor modo
de se combater esse tipo de sedução é fugindo.
Lembrando que nem toda tentação carnal provém do
demônio, mas pode ser consequência do que a pessoa
já viveu e ser ativada pela fantasia e imaginação. Essa
hipótese será esclarecida no desenvolvimento do curso.

A tentação demoníaca da luxúria geralmente consiste


em estar a pessoa fazendo algo absolutamente normal,
sem qualquer viés sexual e, de repente, ser assaltada
por pensamentos luxuriosos, carnais. De modo
concreto, a sugestão é usar a própria memória e a
fantasia para fugir deles, levando o pensamento para
aspectos práticos, reais, desviando a mente daquilo que
o demônio sugere.

Satanás é insistente, portanto, mesmo tendo perdido


essa investida, não significa que ele não vá atacar
novamente, o que importa é que a pessoa não perca a
calma, pois, pode acontecer de o demônio querer
provocar apenas uma agitação, uma angústia, um
desvio de foco e não necessariamente o cometimento
do pecado propriamente dito. A ansiedade gerada pela
tentação pode levar ao desânimo, ao desespero, à
desistência do combate e isso pode ser interessante
para Satanás, pois, de qualquer forma ele alcançará o
objetivo de afastar a pessoa de Deus.

A tentação vencida é ocasião de mérito diante de Deus,


pois é uma prova de amor. Manter a calma, aceitar o
combate, não se desesperar e continuar lutando são as
atitudes esperadas por Deus de seus filhos.

A terceira etapa da tentação, o depois, oferece três


possibilidades: a pessoa venceu a tentação, caiu nela ou
está em dúvida se pecou ou não. No primeiro caso é
necessário dar graças a Deus para não correr o risco de
cair no pecado da vanglória.

A vaidade é uma grande causa de queda entre as


pessoas, pois ela não é capaz de sustentar a virtude, mas
tão-somente uma aparência de virtude durante um
curto espaço de tempo. Agradecer a Deus é o remédio
para a vanglória.

Quando a pessoa caiu em tentação e pecou


concretamente deve, em primeiro lugar, fazer com que
o pecado se torne uma grande lição. Humilhar-se e
envergonhar-se pelo pecado cometido pode ser
também uma escola de santificação, tendo sempre em
mente a parábola do filho pródigo e lembrando que o
Pai amoroso está sempre esperando pela volta do seu
filho amado.

Se o pecado foi de natureza leve, recomenda-se um ato


de arrependimento, um ato de contrição perfeita e um
propósito de mudança. Porém, se foi grave, a orientação
é procurar o quanto antes o sacramento da confissão.
Não demorar para se reconciliar com Deus assemelha-
se a erigir uma barreira contra o pecado, impedindo que
ele se repita pelo desânimo, pois, ao se ver privada da
amizade com Deus, a pessoa pode "aproveitar" até a
próxima confissão, se afundando ainda mais no pecado.
Em ambos casos, a penitência também tem grande valor
para resistir à sedução diabólica.

Por fim, a terceira possibilidade, aquela em que a


pessoa ficou em dúvida de pecou ou não. Neste
momento não é prudente meditar sobre o assunto,
sendo melhor esperar até se recuperar do ataque para
somente então avaliar se ocorreu realmente o pecado.

No caso de a pessoa que se encontra em dúvida ter o


hábito de comungar diariamente é recomendado que
ela peça orientação ao seu confessor ou diretor
espiritual, pois existem dois tipos de pessoas
circunstâncias: aquelas propensas ao escrúpulo e
aquelas com a consciência mais frouxa. As primeira
devem ser orientadas a fazer um ato de contrição e
comungar, já que se confessam com frequência.

As segundas, ou seja, aquelas pessoas laxas, cujas


consciências são mais "deformadas", devem ser
orientadas a não comungarem, pois o impedimento
pode servir como uma espécie de "castigo". O confessor
ou diretor espiritual, ao recomendar a confissão após a
dúvida, poderá produzir nela uma maior consciência e
visão moral dos próprios atos.

Bibliografia
"Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de
acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
Bíblia Sagrada, tradução da CNBB, ed. CNBB, ed. Canção
Nova.
5ºAULA: “O duro combate ao mundo e à carne”
Além do diabo, o homem tem ainda outros dois inimigos,
que são o mundo e a carne. Por meio deles, o demônio
também executa o seu ofício, mas de maneira indireta: a
própria vida que a pessoa leva potencializa a ação da
carne, e o ambiente em que ela está, a ação do mundo.
Conheça nesta aula o modo como a carne e o mundo
influenciam na perdição eterna da humanidade.

A tentação é a artimanha mais importante utilizada pelo


demônio em sua missão de perder as almas, mas não a
única, pois ele conta ainda com a possessão e a
obsessão. Todavia, ambas não executam de maneira
direta a intenção maior do demônio, ao passo que a
tentação sim, pois nela o homem é levado ao pecado e,
consequentemente, a se afastar de Deus.

Além do Diabo, o homem tem ainda mais dois inimigos:


o mundo e a carne. Por meio desses dois, o demônio
também executa o seu ofício, mas de maneira indireta,
pois a própria vida que a pessoa leva potencializa a ação
da carne e o ambiente que ela vive a ação do mundo.
Conhecer o modo como a carne e o mundo influenciam
na perdição da humanidade é o tema desta aula.
O mundo, da mesma forma que o demônio, é um inimigo
externo do homem. Ele pode ser definido como a cultura
pagã a serviço do anticristo que rodeia o homem. Ela leva
o homem a crer que sua felicidade está neste mundo e
no que ele oferece. A filosofia do mundo é composta de
carnalidade imanente: "eu quero ser feliz aqui e agora".
Este pensamento se reflete em diversas máximas:
"aproveite enquanto você é jovem", "a vida é pra isso
mesmo", "aproveite a vida", "carpe diem", etc. Em
muitos casos, ela não se apresenta de maneira explícita,
mas de modo velado, para que a pessoa, sem perceber,
seja nela envolvida.

Uma outra tática da mundanidade é utilizar-se de


gozações, sarcasmo, como por exemplo, quando o
cristão, católico, devoto, vira objeto de piada, de
escárnio.

Para combater esse inimigo externo, o primeiro passo é


avivar a fé no amor de Deus. A felicidade está no céu e
fixar os corações nele, em Deus, meditando seriamente
sobre o vazio do mundo, sobre a morte, sobre o fim
último das coisas pode ser de grande valia para se
combater o espírito mundano.

Lutar contra o chamado "respeito humano". Esta


expressão que causa bastante confusão, ainda mais
nesses tempos politicamente corretos. Na linguagem
ascética, cristã e clássica significa "vergonha de Deus por
deferência ao ser humano", ou seja, quando a pessoa
está num ambiente notadamente anticristão ou pagão,
não manifesta a sua fé, nem a defende, por vergonha ou
medo de não ser bem aceito.

Um outro inimigo ainda mais potente que o diabo e o


mundo é a chamada carne. A teologia espiritual explica
que ela é a tendência de todo homem para o pecado e é
proveniente do pecado original. Tanto a mundanidade
como a concupiscência carnal são consequências das
ações indiretas do demônio, já os pecados da carne são
ações diretas do demônio, potencializadas pelo pecado
original e pelos próprios pecados da pessoa.

A tendência carnal se manifesta de duas formas


concretas, resumidas em uma só frase: "foge da dor,
busca o prazer". Esta é a lei da carne. A mais grave é a
busca do prazer. Ela nasce da confusão do homem em
confundir felicidade com prazer. A primeira vem da alma
e a segunda do corpo. O homem quer ser feliz e, por isso,
peca, pois procura a felicidade onde ela não se encontra.
Ela não está no prazer, muito pelo contrário, basta
observar que a maioria dos prazeres é seguida de uma
grande tristeza, pois o corpo não dá conta de sustentar
a demanda de felicidade da alma.
A busca do prazer (concupiscência ou ephitumia, em
grego), está presente no homem porque é uma criação
divina, foi Deus quem criou o prazer. Ele criou o corpo
que, para ser sustentado, precisa ingerir alimentos, criou
também o homem e mulher que, para reproduzirem-se,
precisam manter relações sexuais. Ora, tanto o comer
quanto o sexo são lícitos e queridos por Deus. Contudo,
ao serem pervertidos pelo pecado original, tornaram-se
fonte de destruição do homem.

Caso a busca pelo prazer não tivesse sido distorcida pelo


pecado original, estas realidades - boas em si mesmas -
seriam trampolins para louvar e agradecer a Deus. No
entanto, houve a distorção e o homem, para satisfazer-
se, vira as costas para Deus e passa a tratar os prazeres
como se fossem os verdadeiros deuses e fontes da
felicidade. Assim, no coração da vitalidade humana está
também uma tendência para a destruição e a morte.

Combater a concupiscência é tarefa árdua, mas não


impossível. O Padre Antonio Royo Marin, em sua já
citada obra "La teologia de la perfeccion cristiana",
apresenta dez "remédios" para essa missão:
Mortificação: mortificar-se nas coisas lícitas,
renunciando a prazeres honestos a fim de ter forças para
renunciar aos ilícitos;
Afeição ao sofrimento e à cruz: aproximar-se de Cristo na
Cruz é também aproximar-se do Amor que será pleno no
céu. Não existe meio de amar sem estar disposto a
carregar a cruz e a amar os outros;
Combate à ociosidade: usar o tempo para estar com
Deus;
Fuga das ocasiões perigosas: não dar oportunidade para
a tentação carnal se manifestar. Não bastam os
propósitos de não pecar, pois o corpo quer o contrário
do que a alma deseja;
Meditação a respeito da dignidade do cristão: considerar
que todos são chamados à santidade, todos têm essa
alta vocação e pensar sobre ela afasta do pecado;
Lembrar que o Inferno existe: o castigo do pecado pode
ser aplicado tanto pela danação eterna quanto ainda
neste mundo;
Recordar a Paixão de Cristo: olhando o amor com que
Jesus amou a humanidade, doando-se inteiramente para
salvá-la, faz com que haja uma maior resistência ao
pecado;
Orar de modo humilde e perseverante: para combater o
pecado é preciso contar com a ajuda da graça eficaz. O
pedido amoroso a Deus é fundamental para que a carne
seja vencida;
Devoção terna e amorosa pela Virgem Maria: Ela foi dada
à humanidade como auxílio na luta contra o pecado. No
dia em que pecado instalou-se no mundo, Ela foi
profetizada por Deus. Maria Castíssima, Puríssima e
Santíssima ajuda no combate;
Frequência nos sacramentos: especialmente o da
Confissão e da Eucaristia, que são escolas de santidade,
importantíssimas para a verdadeira conversão. O
sistema de salvação que vem pelo sacramentos foi dado
por Deus para esta batalha;
O segundo aspecto do combate da carne é "fugir da dor".
Ela impede que a pessoa se santifique. Pode até se
salvar, mas passará um tempo no Purgatório, pois é
necessária a penitência para reparar os pecados
cometidos. O sofrimento é algo importante para o
homem e alguns pontos de sua necessidade devem ser
recordados:

O sofrimento expia os pecados: são atos de mérito


diante de Jesus;
Submeter a carne ao espírito: por causa do pecado
original quem manda no homem é a carne e não o
espírito, por isso é preciso domá-la, colocar limites;
Desapegar-se das coisas mundanas: os quais impedem
que o homem ame a Deus sobre todas as coisas;
A penitência purifica e torna o homem mais belo: o
objetivo do homem é deixar sua alma cada vez mais
bonita, esta é a beleza que importa realmente: a
espiritual;
A penitência ajuda a alcançar graças diante de Deus: a
oração de quem agrada a Deus é ouvido de maneira mais
eficaz por Ele;
A penitência faz com que as pessoas sejam mais
apostólicas: pessoas que evangelizam mais, pois estão
mais voltadas para o outro;
A penitência torna as pessoas mais parecidas com Jesus
e Maria;
O Padre Royo Marin faz distinção entre os graus de
santidade. Ele diz que o grau básico é não deixar de
cumprir os deveres por serem eles dolorosos. Trata-se
do salário mínimo da virtude. Segundo, é a aceitação
resignada dos sofrimentos que Deus permite,
oferecendo-os como ato de amor. Terceiro, a
mortificação voluntária. O quarto grau encontra-se
somente nos grandes santos, para os quais é preferível a
dor ao prazer. O quinto grau, aquele perfeito, é quando
a pessoa se oferece como vítima de expiação, aceitando
os sofrimentos mais terríveis para agradar a Deus.
Todos os homens são chamados à santidade. Desse
modo, os graus relacionados a ela devem ser aspirados
por todos. Começando pelos primeiros é possível
almejar chegar ao último e mais perfeito, assemelhando-
se aos grandes santos e santas da Igreja.
6ºAULA: “Um sistema erigido nas mentiras de Satanás”
Antes da segunda vinda de Cristo, a Igreja deve passar
por uma provação final que abalará a fé de muitos
crentes. Essa provação se manifestará sob a forma de
uma impostura religiosa que trará aos homens uma
solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia
da verdade.

Nesta aula, Padre Paulo Ricardo fala sobre a ação


demoníaca que se manifesta na história humana e que o
Catecismo da Igreja Católica denomina de "mistério da
iniqüidade".

Dando prosseguimento ao estudo sobre as modalidades


existentes de tentação, não seria possível deixar de lado
aquela espécie de ação demoníaca que se manifesta na
História. É o que comumente se chama de provação, e
que São Paulo, na II Carta aos Tessalonicenses, chama de
mistério da iniquidade.
Lembrando que a tentação é a maneira pela qual o
demônio age com o fim único de afastar o homem de
Deus e que, portanto, deve estar o homem muitíssimo
atento à sua ocorrência. Usando essa mesma linha de
pensamento, é possível afirmar que existe uma forma de
tentação que acontece sistematicamente através de um
movimento histórico.

Ora, o mecanismo usado pelo demônio para levar o


homem para o inferno é a mentira, e esse mesmo
mecanismo, transformado num sistema, vem se
agigantando ao longo dos séculos. Alguns dizem que se
trata de mero acaso, da maturação dos tempos, da
evolução natural da sociedade que deixou para trás a
infância ainda atrelada à religião e agora caminha para a
vida adulta, livre das amarras religiosas, da qual nasceria
o novo homem, o Super-Homem independente de Deus.

Esta visão se montou como um sistema na história da


Humanidade. A fala mentirosa dos homens tem se
tornado uma tônica no mundo atual. E a mentira está
levando a humanidade à apostasia. Não se trata de
alarmismo, mas tão-somente a reprodução do que está
tanto no Catecismo da Igreja Católica quando na Sagrada
Escritura. O primeiro afirma:
Antes do advento de Cristo, a Igreja deve passar por uma
provação final que abalará a fé de muitos crentes. A
perseguição que acompanha a peregrinação dela na
terra desvendará o “mistério da iniquidade" sob a forma
de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens
uma solução aparente a seus problemas, à custa da
apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a
do Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em
que o homem glorifica-se a si mesmo em lugar de Deus
e do seu Messias que veio na carne. (CIC 675)
Não se trata simplesmente de atitudes isoladas de
pessoas más. Não. Trata-se de um ação
sistematicamente conduzida e impetrada pelo próprio
Demônio. Ele é a inteligência por trás desse mistério e
que se incumbe de tentar a humanidade toda a caminhar
na direção da apostasia, do abandono de Deus. E o faz
de maneira metódica, contínua e histórica. São Paulo
explica com bastante clareza:

No que diz respeito à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo


e nossa reunião com ele, rogamo-vos, irmãos, não vos
deixeis facilmente perturbar o espírito e alarmar-vos,
nem por alguma pretensa revelação nem por palavra ou
carta tidas como procedentes de nós e que vos
afirmassem estar iminente o dia do Senhor. Ninguém de
modo algum vos engane. Porque primeiro deve vir a
apostasia, e deve manifestar-se o homem da iniqüidade,
o filho da perdição, o adversário, aquele que se levanta
contra tudo o que é divino e sagrado, a ponto de tomar
lugar no templo de Deus, e apresentar-se como se fosse
Deus.
Não vos lembrais de que vos dizia estas coisas, quando
estava ainda convosco? Agora, sabeis perfeitamente que
algo o detém, de modo que ele só se manifestará a seu
tempo. Porque o mistério da iniquidade já está em ação,
apenas esperando o desaparecimento daquele que o
detém. Então o tal ímpio se manifestará. Mas o Senhor
Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará
com o resplendor da sua vinda. A manifestação do ímpio
será acompanhada, graças ao poder de Satanás, de toda
a sorte de portentos, sinais e prodígios enganadores. Ele
usará de todas as seduções do mal com aqueles que se
perdem, por não terem cultivado o amor à verdade que
os teria podido salvar. Por isso, Deus lhes enviará um
poder que os enganará e os induzirá a acreditar no erro.
Desse modo, serão julgados e condenados todos os que
não deram crédito à verdade, mas consentiram no mal.
Nós, porém, sentimo-nos na obrigação de
incessantemente dar graças a Deus a respeito de vós,
irmãos queridos de Deus, porque desde o princípio vos
escolheu Deus para vos dar a salvação, pela santificação
do Espírito e pela fé na verdade. E pelo anúncio do nosso
Evangelho vos chamou para tomardes parte na glória de
nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, pois, irmãos, ficai
firmes e conservai os ensinamentos que de nós
aprendestes, seja por palavras, seja por carta nossa.
Nosso Senhor Jesus Cristo e Deus, nosso Pai, que nos
amou e nos deu consolação eterna e boa esperança pela
sua graça, consolem os vossos corações e os confirmem
para toda boa obra e palavra! (II Ts 2)
A história mostra que existe uma manifestação cada vez
mais clara do mistério da iniquidade. A mentira está se
erigindo em sistema e aqueles que são filhos de Deus
sabem que precisam amar a Verdade. São Paulo ensina
que o reino da mentira se combate com o amor à
Verdade. Portanto, o remédio para se combater o
Demônio é o estudo.

Para se lutar contra a mentira de Satanás é preciso ter


amor à Verdade, estudar a Filosofia Perene, à teologia,
ao ensinamento dos doutores da Igreja ao longo dos
séculos, à doutrina... É preciso estudar. Esta tentação é
muito mais grave, mais sorrateira e eficaz para conduzir
a humanidade à perdição. E o reino da mentira, o
mistério da iniquidade, essa investida de Satanás só pode
ser combatida com a Verdade.

Santo Tomás de Aquino em seu tratado sobre as


auréolas explica que quando a pessoa for salva receberá
a alegria, o gozo de estar com Deus, o que ele chama de
coroa de ouro. É Deus que se dá. Porém, existe um
acréscimo acidental a isso, a chamada auréola, que nada
mais é do a alegria que a pessoa terá por ter feito obras
boas.

Quem combateu a carne receberá a auréola das virgens,


ou seja, aqueles que viveram a virgindade, a castidade, a
temperança, receberão a alegria de terem sido fiéis no
campo da sexualidade. Quem combateu o mundo
receberá a auréola dos mártires, pois somente o martírio
é capaz de vencer o mundo. Por fim, existe o combate ao
Demônio que, por ser o pai da mentira, somente pode
ser vencido com a Verdade. Isso quem faz recebe a
auréola dos doutores.

O galardão dos virgens é grande, pois o combate é


diuturno e constante. O dos mártires é grande também
porque o combate é muito acirrado, porém, o dos
doutores é bem maior porque o inimigo é maior. O
inimigo é Satanás e o objeto do qual se trata esse
combate é espiritual, é intelectual. Ora, não se pode
pensar estar livre do ataque de Satanás estando
indolente, sem a preocupação de conhecer as
armadilhas do inimigo.

Quando Jesus deixou a Igreja no mundo disse: “Ide,


pregai o Evangelho a toda criatura, fazei discípulos" (Mc
16,15). Ele criou uma Igreja para ensinar a verdade, ou
seja, ensinar é missão da Igreja, portanto, é dever de
cada um estudar a verdade e ensiná-la. Para manter-se
cristão e combater verdadeiramente Satanás é preciso
estar entregue à Palavra de Deus, à meditação das
verdades de Deus, à contemplação, ao estudo assíduo e
também ao ensinamento. É preciso ensinar. Esta é a
forma de diminuir a ação de Satanás no mundo é o
ensino da verdade.

Ensinar a verdade que é fruto da meditação pessoal,


mas, ela deve alimentar a cada um antes de alimentar o
outro. A pregação só se torna eficaz quando o pregador
é tocado pela Palavra que prega. O movimento do
cristianismo resume-se na frase de Nosso Senhor Jesus
Cristo acima citada. É o movimento de sístole: vinde
estar com Cristo (discípulo) e de diástole: ide
(missionário) para ensinar. É esse movimento que
mantem a fé cristã. Só se é e se permanece cristão
enquanto se empenhar em fazer outros cristãos. Parar
de pregar o Evangelho significa parar de ser discípulo e
tem como consequência a derrota para o Maligno.

O Demônio sabe disso. Tanto que uma de suas primeiras


armadilhas foi justamente acabar com a missionariedade
dentro da Igreja. Introduzindo os conceitos de tolerância
e relativismo religioso, agora é senso comum achar que
todas as religiões são boas, que se deve respeitar e
tolerar todos os tipos de cultura. Ora, isso é perverso,
pois significa realmente extirpar o caráter missionário da
Esposa de Cristo que, não só para de crescer, como
começa a diminuir, pois, como foi dito, parar de pregar o
Evangelho significa parar de ser cristão. A mentira vai
tomando conta das almas.

O remédio é estudar as verdades de Deus. E uma das


maiores armas que se pode ter é a teologia de Santo
Tomás de Aquino. O Concílio Vaticano II, de maneira
providencial e incisiva, até mesmo mais que do
aconteceu em Trento, proclamou a necessidade de se
estudar a filosofia tomista. É o que diz claramente o
decreto Optatam totius sobre a formação sacerdotal:

A teologia dogmática ordene-se de tal forma que os


temas bíblicos se proponham em primeiro lugar.
Exponha-se aos alunos o contributo dos Padres da Igreja
oriental e ocidental para a Interpretação e transmissão
fiel de cada uma das verdades da Revelação, bem como
a história posterior do Dogma tendo em conta a sua
relação com a história geral da Igreja. Depois, para
aclarar, quanto for possível, os mistérios da salvação de
forma perfeita, aprendam a penetrá-los mais
profundamente pela especulação, tendo por guia Santo
Tomás, e a ver o nexo existente entre eles. Aprendam a
vê-los presentes e operantes nas ações litúrgicas e em
toda a vida da Igreja. Saibam buscar, à luz da Revelação,
a solução dos problemas humanos, aplicar as verdades
eternas à condição mutável das coisas humanas e
anunciá-las de modo conveniente aos homens seus
contemporâneos. (OT, 16)
Infelizmente, a realidade é que essa decisão do Concílio
jamais saiu do papel, jamais foi implantada de fato. E o
resultado é esse que todos vêem. Deste modo, é
altamente recomendável que, ao menos uma vez na
vida, cada cristão leia a Suma Teológica de Santo Tomás
Aquino, em todos os seus dez volumes. Um bom padre
ou um bom cristão precisa estudar a Suma, pois se trata
de um instrumento valiosíssimo, um sistema teológico
compacto, um coroamento do pensamento dos grandes
doutores da Igreja, poderoso auxílio no combate à ação
do Demônio.

O sistema da mentira foi erigido e está preparado para


receber a grande apostasia, ou seja, o abandono da
verdade. Se vai acontecer nesta geração ou na vindoura
não é possível precisar, mas é inegável que o edifício está
quase concluído. Nunca o inimigo esteve tão bem
preparado e nunca a Igreja esteve tão desarmada. Neste
campo da verdade, ela está sucumbindo sob as vagas,
sob as ondas do relativismo, da tempestade das heresias,
das ideologias, cada vez mais compactas.
Estudar. Estudar. E estudar sobretudo Santo Tomás de
Aquino, a Suma Teologia, a doutrina da Igreja, os
documentos do Magistério perene da Igreja, somente
isto poderá eliminar a tentação sistemática, a provação,
o mistério da iniquidade que está se revelando ao
mundo.
Bibliografia
"Catecismo da Igreja Católica", Edição revisada de
acordo com o texto oficial em latim, 9ª edição
Bíblia Sagrada, tradução da CNBB, ed. CNBB, ed. Canção
Nova
Decreto Optatam totius sobre a formação sacerdotal,
disponível neste link, acessado em 04/10/2013, 12h35.

Potrebbero piacerti anche