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RESUMO ABSTRACT
Introdução. campos eletromagnéticos (CEM) são utilizados com Introduction. Electromagnetic fields (EMF) may be applied to the
objetivos reabilitacionais no corpo humano. A lesão no tecido ner- human body with rehabilitative goals. Injury to peripheral nerve
voso periférico diferencia-se da lesão no sistema nervoso central por tissue differs from the lesion in the central nervous system because
apresentar grande potencial de regeneração axonal. Uma série de it presents a great potential for axonal regeneration. physiological
efeitos fisiológicos é associada à exposição de CEM, como analgesia, effects are associated to exposure to EMFs, such as analgesia, va-
vasodilatação, contração muscular e, principalmente, regeneração sodilation, muscle contraction and, especially, tissue regeneration.
de tecidos. Objetivo. apresentar aplicações dos CEM para a viabili- Objective. The paper aim is present and explore new applications
dade na reabilitação do tecido nervoso periférico. Método. pesquisa of EMF in the rehabilitation of peripheral nerve tissue. Method.
bibliográfica realizada nas bases Springer, ScienceDirect, Pubmed, Literature search was undertaken on the bases Springer, ScienceDi-
Google Acadêmico, portal de periódicos da CAPES entre os anos rect, PubMed, Google Scholar, CAPES periodicals portal between
1972 a 2009, empregando os termos: Magnetic fields; Nerve rege- the years 1972 to 2009, using the terms: Magnetic fields; Nerve
neration; Peripheral nerve; Axonal regeneration; Electrical regene- regeneration; Peripheral nerve; Axonal regeneration; Electrical re-
ration; Peripheral nerve regeneration. Resultados. os parâmetros generation; Peripheral nerve regeneration. Results. The selected
selecionados para os CEM variam amplamente: campos elétricos parameters for EMFs vary widely: for electric fields, it is used pulse
utilizam duração do pulso (período ativo) de 65 µs a 100 µs, frequ- width (on time) from 65 μs up to 100 μs, frequency range up to 250
ência entre 0 a 250 Hz e amplitude entre 0,1 V/m a 4 V/m. Para Hz and amplitude varying from 0,1 V/m to 4 V/m. For magnetic
campos magnéticos, a intensidade varia entre 4,35 µT e 8 T e a fields, intensity varies between 4.35 µT and 8 T and frequency,
frequência entre 0 a 54 GHz. Conclusão. resultados da aplicação between 0 and 54 GHz. Conclusion. results related to axonal elon-
de CEM em tecido animal estão relacionados ao alongamento e gation and guidance, protein increment, genetic changes and reduc-
direcionamento axonal, incremento protéico, alteração genética e tion of the total time of regeneration. The application produces no
redução do tempo total de regeneração. A aplicação de CEM não physical damage and few transient adverse effects when safe magni-
produz danos físicos, com poucos efeitos colaterais transitórios tudes are yielded.
quando utilizados com magnitudes consideradas seguras.
Unitermos. Regeneração Nervosa, Regeneração Tecidual Guiada, Keywords. Nerve Regeneration, Guided Tissue Regeneration, Pe-
Sistema Nervoso, Sistema Nervoso Periférico, Engenharia Biomé- ripheral Nervous System, Biomedical Engineering, Rehabilitation.
dica, Reabilitação.
Citação. Krueger-Beck E, Scheeren EM, Nogueira Neto GN, No- Citation. Krueger-Beck E, Scheeren EM, Nogueira Neto GN, No-
hama P. Campos elétricos e magnéticos aplicados à regeneração hama P. Electric and magnetic fields applied to peripheral nerve
nervosa periférica. regeneration.
pheral nerve; Axonal regeneration; Electrical regeneration; quente a presença do citoesqueleto21. A síntese de neu-
Peripheral nerve regeneration. O critério de inclusão rotransmissores e de proteínas é realizada nas organelas
abrangeu lesão e regeneração nervosas do sistema pe- encontradas no corpo (soma ou pericário) do neurônio,
riférico empregando campos elétricos ou magnéticos. fazendo com que o transporte ocorra no axoplasma pe-
Ao critério de exclusão considerou-se regeneração do las proteínas motoras. Com a utilização de energia do
sistema nervoso central e outros meios de tratamento ATP, o transporte ocorre por meio do deslizamento so-
para regeneração nervosa periférica, tal como o uso de bre os microtúbulos de uma extremidade a outra sem o
medicamentos. Efetuou-se a procura de artigos dentro contato com o terminal sináptico22.
de uma janela de tempo ampla, abrangendo o período A proteína motora dineína é responsável pelo
de 1972 a 2009, e de livros entre 1972 e 2007. fluxo retrógrado de proteínas e outras substâncias, na
direção do terminal sináptico para o soma, de lenta
ESTADO DA ARTE velocidade (cerca de poucos milímetros por dia) dire-
Divisão de um nervo periférico cionando-se a um polo negativo. A proteína motora ci-
A principal estrutura de um nervo periférico é nesina, que se dirige a um polo positivo, é responsável
o seu eixo, denominado de axônio, palavra que deriva pelo fluxo anterógrado (do soma para o terminal sináp-
etimologicamente do grego axon. O axônio é recober- tico), com três velocidades diferentes: (1) cerca de 400
to por diferentes camadas de tecido conjuntivo, sendo: mm/dia, carregando maquinário para a extremidade do
(1) epineuro, a camada mais externa (espesso no nível axônio com o objetivo de sintetizar a membrana, e ou-
das articulações), que possui suprimento vascular (vasa tras duas de velocidades inferiores, (2) 0,2-2,5 mm/dia
nervorum), capilares linfáticos que desembocam nos e (3) 0,4-5,0 mm/dia com o propósito de transportar
canais das artérias do tronco nervoso, tecido adiposo proteínas para o terminal sináptico23-25. Microtúbulos
e uma adelgaçada inervação com função principal de (neurotúbulos) preenchem o MIC de um extremo ao
nocicepção denominada nervi nervorum14; (2) perineu- outro, conduzem as proteínas motoras e apresentam-se
ro, a camada intermediária envolvendo fascículos de como dipolos elétricos. Suas extremidades internas es-
várias fibras nervosas, tanto mielinizadas como amie- tão negativas em relação à periferia, sendo suscetíveis a
linizadas15,16; (3) endoneuro, o tecido colagenoso (tipo efeitos piezoelétricos e à oscilação por CE externos. São
III), adelgaçado, recobrindo cada filete nervoso que constituídos por polipeptídeos, tubulinas alfa (Tα1)26 e
está intimamente ligado com a lâmina basal da célula beta, que constituem dímeros (treze no total), forman-
de Schwann15; e (4) mesoneuro, que separa epineuros do a parede do microtúbulo com 20 nm de diâmetro e
com uma camada de tecido conjuntivo presente apenas cerca de 1 mm de comprimento17,24,27,28.
em nervos de maior diâmetro17.
Lesão nervosa
Axônio e suas principais organelas Uma lesão nervosa periférica acarreta perda da
A membrana de um axônio é constituída por função podendo ser sensorial, motora, autônoma ou
fosfolipídios na bicamada lipídica (face apolar) com mista29. É proveniente de traumas como estiramento,
ambas as extremidades possuindo moléculas de água queimadura, isquemia, contusão, laceração, dentre ou-
(face polar). Possui estruturas que facilitam a entrada tros30. No tecido humano, células nervosas, em geral,
de íons para o meio intracelular (MIC) como os canais não sofrem substituição. Atualmente, sabe-se que ape-
iônicos dependentes de tensão18-20. O MIC do axoplas- nas células específicas da mucosa olfatória do sistema
ma é um meio condutor com uma resistividade aproxi- nervoso central (SNC) possuem capacidade regenerati-
mada de 0,6 Ωm e com baixo nível de organelas como va25. O tecido nervoso é frágil, podendo ser lesionado a
mitocôndrias, retículos endoplasmáticos, sendo fre- uma temperatura de aproximadamente 43ºC, quando,
então, o axônio pode ser reconstituído no sistema ner- Schwann no segmento distal à lesão. Nas semanas sub-
voso periférico (SNP), diferenciando-se do soma31. O sequentes, os corpúsculos de Nissl sofrem dissolução,
mesmo não ocorre no SNC, pela presença de fatores denominada cromatólise, para síntese das organelas,
que inibem a regeneração, principalmente das proteínas que irão regenerar o axônio por meio de um brota-
NI35, MAG e a NI250 (Nogo)32. A Nogo é a que mais mento nervoso15,23,27,30,37,41,42. Durante todo o período,
contribui para a inibição do SNC bloqueando novas o fluxo axoplasmático sofre alteração sobre a síntese de
conexões30. Após uma lesão, a expressão gênica nervo- neurotransmissores e neurofilamentos43. Quando ne-
sa é alterada pela presença de fatores com a GAP-43 cessário, o processo cirúrgico de neurorrafia, enxertos
(growth-associated protein 43) e do BDNF (brain-deri- que mimetizam o epineuro de tecidos provenientes do
ved neurotrophic factor)26,33, dentre outros, e tem-se a próprio indivíduo, é classificado como procedimento
diminuição na síntese do citoesqueleto26. Segmentos do “padrão ouro” para regeneração nervosa (RN)29,35,37,43.
SNP quando enxertados na medula, apresentam certo Hipóteses arcaicas do século XX defendiam que ape-
potencial para estimular o brotamento neural34,35. nas o coto distal e os primeiros nódulos de Ranvier
Após uma lesão, pode-se iniciar o processo de sofreriam alterações morfológicas proporcionadas pela
degeneração Walleriana30,36,37 da extremidade distal lesão44. Atualmente, esta afirmação é errônea, pois
(aquela separada da continuidade do axônio). As le- ocorrem alterações em todo o seguimento anterior à
sões do axônio seguem duas classificações principais: secção, ocorrendo tardiamente em relação às modifi-
a de Seddon e a de Sunderland. Seddon apresenta sua cações do coto distal45. Seguido da fase de intumes-
classificação em três termos: neuropraxia, axonotmese cência do soma, ocorre um período de latência, como
e neurotmese. Já Sunderland aperfeiçoou o segundo se o neurônio estivesse íntegro novamente. Logo após
termo da classificação de Seddon adicionando dois esse breve momento de ‘pseudonormalidade’, inicia-se
novos itens que são os tipos III e IV30. Segundo Se- um processo de atrofia nervosa, que poderá agravar-se
ddon e Sunderland, a neuropraxia é a estase meta- severamente na falta de reimplantação bem sucedida
bólica neural provocando interrupção da função por do coto distal no órgão efetor44.
um período curto de tempo, normalmente devido a
uma compressão, sem ocasionar degeneração Walle- Regeneração nervosa
riana. Na axonotmese, ocorre degeneração Walleriana Após a degeneração Walleriana, ocorre uma di-
com interrupção da função (sensorial e/ou motora). latação no coto proximal à lesão, denominado cone de
A axonotmese é mais prolongada que a neuropraxia, implantação, altamente dependente da concentração
acrescenta-se a ruptura do endoneuro (tipo III de do íon Ca++ 30. O novo brotamento cresce em direção
Sunderland) ou a ruptura do perineuro (tipo IV de ao coto distal a uma velocidade aproximada de 1 mm/
Sunderland). Na neurotmese, ocorre a ruptura do epi- dia43,45. Dependendo da proximidade com o neuroeixo
neuro com degeneração Walleriana e a perda da fun- (região do SNC), a velocidade ainda pode aumentar42.
ção pode ser completa se o processo cirúrgico não for O crescimento de novos neuritos deve-se à influência
bem sucedido29,30,37-40. da proteína NGF (nerve growth factor)29,30,33,37,45-47, as-
Em poucas horas, ocorre retração dos nodos de sim denominada por Levi-Montalcini em 196442, e
Ranvier em gotas lipídicas e a extremidade distal será de marcadores como a N-CAM (neural cell adhesion
fagocitada por macrófagos com dilatação da extremi- molecule)48. São transportados nos novos filamentos
dade proximal. Entre dois e três dias, ocorre a intu- de axônios por entre as bandas de Büngner43,45, estas
mescência do soma chegando ao dobro do tamanho que são células Schwann em neogênese49,50. Novos fi-
original e deslocamento do núcleo à periferia acom- lamentos têm como objetivo atingir o órgão efetor51
panhado por hipertrofia e proliferação das células de para aumentar o diâmetro do neurito47. Esses filamen-
tos necessitarão restaurarem-se antes que as bandas de sequentemente, é substituído por tecido conjuntivo,
Büngner sejam fechadas, do contrário será moldado um principalmente o colágeno. Nessa condição, o diâmetro
tecido cicatricial inacessível a uma nova inervação. Um muscular não pode ser utilizado como parâmetro de ca-
exemplo são as lesões em plexo lombossacral15, onde o pacidade de produção de força, mesmo sendo um dos
crescimento nervoso, com o objetivo de atingir a pla- fatores para uma boa reinervação30. Fibras musculares
ca neuromuscular, pode demorar dois anos e meio ou que degeneram antes que os novos brotos neuronais
mais25,39,52-54. alcancem a placa neuromuscular perderão sua função.
Se houver suporte sanguíneo suficiente, ocorre- O tempo estipulado para que a reinervação ocorra sem
rá uma inervação levemente debilitada, dificilmente se perder a função muscular é de aproximadamente dois
tornando equivalente ao período pré-lesão e com mais anos54. Um teste rotineiro da prática clínica, criado pelo
nódulos de Ranvier em comparação a um axônio saudá- médico francês Jules Tinel (1879-1952) em 1915, sim-
vel37. O brotamento colateral é um fenômeno que ocor- ples para a avaliação de reinervação de patologias nervo-
re proveniente de células íntegras que emitem filetes de sas periféricas, especialmente da inervação superficial,
novos axônios sobre o segmento distal da célula lesiona- descreve o trajeto do novo brotamento nervoso através
da, resultando na substituição da função que pertencia de percussão cutânea sobre a região do nervo lesiona-
à tal célula30,37,43. Toda fibra nervosa em processo de RN do, demarcando o crescimento nervoso por meio de
tem sua capacidade elétrica deficitária, representando parestesias como sensação de formigamento14,30,43. Ge-
30% a 60% da magnitude em relação a uma célula ín- ralmente, a RN tem uma elevada taxa de recuperação
tegra. A tensão elétrica da célula retorna ao seu valor sobre fibras motoras, sendo inferior sobre fibras senso-
normal, com o reparo da lesão, a isto denomina-se de riais principalmente proprioceptivas, tendo presente o
potencial de lesão. Já o gradiente de potencial elétrico, reconhecimento da variação elétrica obtida pelo eletro-
criado entre a zona lesionada e as células adjacentes, é neuromiógrafo meses antes que o músculo reinervado
chamado de corrente de injúria15,38,55. demonstre um singelo movimento30.
O axônio tende a crescer ectopicamente se não
atingir as bandas de Büngner. Porém, em casos de am- Radiação ionizante e não-ionizante
putação, pode-se ter o desenvolvimento de um neuroma Como a radiação eletromagnética pode produzir
ocasionando um processo álgico-parestésico. Existem efeitos sobre espécies vivas, classifica-se a periculosidade
casos onde ocorre implantação do novo segmento ner- de uma radiação sobre o núcleo atômico de uma estru-
voso em musculatura adjacente àquela lesionada43,45,53. tura celular por meio de parâmetros como frequência e
Brotos formados por tecidos nervosos em RN podem comprimento de onda, que determinam o coeficiente
tornar-se sensíveis ao neurotransmissor noradrenalina de penetração da radiação58. Radiações que ocasionam
nos receptores alfa-adrenérgicos, pois quando expostos alterações no núcleo atômico são denominadas ionizan-
geram novos potenciais de ação nociceptivos47,56, oca- tes12; como exemplo, tem-se raios-X, emissões alfa, beta
sionando dor. Existe a presença de sáculos com grande e deutérios59. Efeitos biológicos observados no uso de
quantidade de catecolaminas em brotos provenientes da radiação ionizante ocorrem na (1) inativação de pro-
lesão, onde se tornam hiperexcitáveis, sendo esta uma cessos metabólicos sobre as mitocôndrias, (2) quebra de
explicação para a alodinia proveniente de neuroma29,57. cadeia nucleotídica do DNA, (3) neoplasia, (4) altera-
A capacidade de gerar tensão mecânica em um ções gastrointestinais, (5) anorexia, (6) caquexia, (7) in-
músculo estriado esquelético é proporcional ao di- fluência no ritmo cardíaco e alterações hemodinâmicas
âmetro da área transversa fisiológica41. Porém, isso se e, em alguns casos, (8) morte34,60-62.
aplica ao músculo íntegro, pois quando ocorre dege- Denominam-se não-ionizantes as radiações que
neração nervosa, o tecido muscular atrofia-se e, con- não proporcionam alteração nuclear, tais como micro-
ondas, ondas-curtas, CMs terapêuticos e produzidos o efeito denominado bateria de pele (do inglês skin bat-
por equipamentos de ressonância nuclear magnética, e tery)4,67. Eletroforese caracteriza-se pela movimentação
correntes elétricas de baixa amplitude62. Mesmo que se- de substâncias orgânicas por meio de estímulos elétri-
jam menos danosas aos tecidos em relação às radiações cos gerando repulsão ou atração69,70. Na córnea do rato,
ionizantes, as radiações não-ionizantes, com o longo uma lesão gera um CE endógeno aproximado de 40mV
tempo de exposição, podem provocar alterações sobre entre a lesão e a 500µm da lesão. O centro da lesão re-
o corpo humano, tais como (1) inibição ou iniciação presenta o catodo, onde brotos nervosos crescem nessa
de mitose, (2) alterações histológicas sobre a glândula direção71.
tireóide, (3) esterilidade, (4) predisposição teratogênica Robert O. Becker é considerado como pioneiro
para mulheres que residem próximo de fortes CE, (5) na pesquisa com CE para regeneração de tecido animal.
transtornos de depressão, (6) cefaléias, e (7) alteração Becker descobriu que a capacidade de reparo tissular no
no ritmo circadiano34,60-62. corpo humano diminui com a idade, e que a aplicação
de CE pode acelerar a regeneração tissular72. O uso de
Estimulação elétrica microcorrente (do inglês Microcurrent Electrical Therapy
Tecidos excitáveis, muscular, neural e glandu- - MET) trabalha na redução da dor e acelera a regene-
lar, podem ser ativados por meio de correntes elétricas ração tissular (aumenta o ATP em 500%). A duração
endógenas. A aplicação de correntes externas sobre do pulso é usualmente 500µs e com uma corrente de
pontos específicos poderiam mimetizá-los63. Tensão 500µA, não existindo padronização para esses parâme-
elétrica é o fluxo de elétrons de uma região mais con- tros73. Apenas 2 h de estimulação elétrica com uma cor-
centrada eletricamente para outra de menor concen- rente de 10 µA aplicada a uma cultura protéica neural,
tração de elétrons64. Com o advento da tecnologia, proporciona movimentação de organelas e um singe-
tornou-se possível manipular a eletricidade alterando lo alongamento dessas estruturas35. Toda fibra nervosa
os seguintes parâmetros: frequência, intensidade e fase, possui seu gradiente elétrico diminuído por uma lesão,
com capacidade de produzir diversos tipos de modu- produzindo potenciais de ação intermitentes, sendo
lações (por amplitude, frequência e duração de pul- este provavelmente modulador em um processo de de-
sos)63,65. A aplicação de eletricidade sobre o tecido ani- generação/regeneração. Estudos que envolvem corren-
mal proporciona alterações fisiológicas como aumento tes elétricas no uso de RN esboçaram que neuritos15 são
de temperatura tissular, vasodilatação, movimentação atraídos por um cátodo (pólo negativo)70,74 como mos-
iônica, contração muscular, estímulo à mitose, lesão tra a Figura 1 e repelidos pelo ânodo, principalmente
tissular por choque e/ou queimadura, alterações au- entre tensões de 7 mV/mm a 190 mV/mm27,28.
tônomas como na síncope por reflexo vagal, analgesia Estímulos elétricos, com o objetivo de regenera-
e RN4,12,27,57,66,67. Células necrosadas adquirem uma ção tissular75 aplicados ao ser humano, atingem o limiar
polaridade positiva após uma lesão; já os neutrófilos e sensorial por utilizarem baixas correntes, geralmente na
macrófagos são negativos, consequentemente, atraem faixa de micro e miliamperes35 e frequências em dezenas
as células necrosadas por quimiotaxia, criando um es- de hertz43. Em estudo de aplicação de CE sobre úlceras
tado inflamatório27. Como a polaridade das bactérias é dermatológicas in vivo, corrente com o pico em 29,2
positiva, a aplicação de uma tensão elétrica de polari- mA e frequências de 64 e 128 Hz, mostrou-se que na
dade positiva, proporciona um efeito antiinflamatório quarta semana de tratamento o grupo teste apresentou
e ao mesmo tempo bactericida68. uma redução média de 56% do tamanho da ferida ini-
Toda lesão dermatológica acarreta uma variação cial, comparado com 33% do grupo controle67. Confir-
de tensão na epiderme, que irá retornar ao seu valor ma-se o aumento de fatores neuroquímicos responsá-
original com o decorrer da regeneração, caracterizando veis pela regeneração como o NGF em grupos expostos
DISCUSSÃO
Os protocolos de aplicação de CE para RN
mostram resultados variados com o decorrer dos anos
e alteração dos parâmetros utilizados. A aplicação de
CE mostra que o neurito cresce preferencialmente na
presença de campo elétrico extracelular, e alonga-se na
direção onde está posicionado o cátodo. As culturas que
foram submetidas à aplicação de 2,5 V/cm durante 6
h mostraram grande assimetria no crescimento celular
em comparação ao grupo controle. Poucas horas após
o término da aplicação, perdia-se a continuidade no
crescimento assimétrico e, invertendo a polaridade, a
Figura 2. Campo magnético estático gerado por um solenóide com orientação do neurito também se invertia70.
núcleo de ar aplicado sobre novos brotos do tecido nervoso tendem Foi utilizado CE bipolar no nervo femoral sutu-
a se posicionarem paralelamente ao campo aplicado com o decorrer
rado de ratazanas jovens por dez semanas, com aplica-
da regeneração.
ções de CE que variavam de (1) apenas 1 h, (2) um dia,
Tabela 1
Parâmetros utilizados para aplicação de campo elétrico (CE) e magnético (CM) sobre o tecido nervoso periférico
Campo Duração
Autor N Amplitude Frequência Aplicação
CM CE do pulso
Patel e Poo Neuritos de ovos fertilizados
CC X * 0,1-10 V/cm 0,1 – 1,0 Hz
(1982)70 de sapos Xenopus laevis
Raji e Bowden E: 24 Nervo fibular comum de ratos
X A: 65 µs * 400 Hz
(1983)40 C: 24 com esmagamento ou sutura
Kolosova et E: 20
X * 4 mW/cm² 54 GHz Nervo isquiático de ratazanas
al. (1996)80 C: 20
Byers et al. E: 12
Sn * 0,4 mT 120 Hz Nervo facial de ratazanas
(1998)83 C: 12
Kolosova et E: 10
X * 4 mW/cm² 54 GHz Nervo isquiático de ratazanas
al. (1998)84 C: 10
Al maji et al. E: 12 Nervo femoral sutura-
X 100 µs 3V 20 Hz
(2000)33 C: 12 do de ratazanas jovens
A:20;10;5µs 15 Hz
Macias et 5; 6,67; 8,33 Gânglio da raiz dorsal de em-
CC Qu B:200;100; 25 Hz
al.(2000)82 Weber/m briões de ratazanas
50 µs 25 Hz
Legenda. N: número de amostras; CC: cultura celular; E: grupo experimental; C: grupo controle; Qu: onda quadrada; A: período ativo do pulso; B: período de
repouso do pulso; Sn: onda senoidal; Cd: corrente contínua (direta); Sr: onda serrilhada; *: dado não apresentado.
Campo Duração
Autor N Amplitude Frequência Aplicação
CM CE do pulso
Mendonça et
E: 43 Cd Cd 1 µA 0 Hz Nervo isquiático de ratazanas
al (2003)90
Al maji et al. E: 12 Nervo femoral sutura-
X 100 µs 3V 20 Hz
(2004)26 C: 12 do de ratazanas jovens
De Pedro et Nervo isquiático de ratos com
* Sr 200 µs 0,9 a 1,8 mT 15 Hz
al. (2005)91 neurorrafia e enxertados
Richardson et A: 100 µs Neurônios do gânglio espiral
CC BiQu ≈ 1 mA 250 Hz
al. (2007)92 B: 20 µs do nervo coclear de ratos
Geremia et E: 37
X 100 μs 3V 20 Hz Ramo L3 do nervo femoral de ratos
al. (2007)93 C: 20
Sisken et al. 225, 450 Gânglio da raiz dorsal em cultura
CC Cd Cd 0 Hz
(2007)46 ou 900 G celular de embriões de pintainhos
Ahlborn et E: 8
X 100 µs 3–4V 20 Hz Nervo femoral de ratazanas
al. (2007)94 C: 8
Kim et al.
CC Cd 0 Hz Cultura celular de neuroblastoma
(2008)95
Vivó et al. E: 15 Nervo isquiático de rataza-
Qu 100 µs 3V 20 Hz
(2008)51 C: 15 nas com neurorrafia
E: 21 1; 2; 20;
Lu et al. (2008)96 X * 1 mA Nervo isquiático de ratos
C:7 200 Hz
Weintraub e E: 13 Portadores de síndro-
X * 0,5 G 20 Hz
Cole (2008)97 C: 12 me do túnel do carpo
Legenda. N: número de amostras; CC: cultura celular; E: grupo experimental; C: grupo controle; Qu: onda quadrada; A: período ativo do pulso; B: período de
repouso do pulso; Sn: onda senoidal; Cd: corrente contínua (direta); Sr: onda serrilhada; *: dado não apresentado.
(3) uma e (4) duas semanas85. Foram utilizados marca- sótopos inseridos no fluxo axoplasmático. A aplicação
dores (neurotraces) retrógrados como fluorogold e fluoro- de CE ocorreu apenas 1 h após ou uma semana antes
ruby para diferenciar a RN sensorial da motora em seus do processo cirúrgico. Na comparação entre os grupos
órgãos distais, além de testes com a droga tetratoxina estimulados com grupos controle durante quatro se-
(TTX) que bloqueia os canais de sódio. As estimula- manas, análises histológicas não indicaram diferenças
ções de um dia, uma e duas semanas mostraram resul- estatísticas na velocidade e no alongamento da RN dos
tados semelhantes. Apenas uma hora de CE mostrou-se neuritos, denotando, assim, ineficiência do CE87 nes-
inferior em relação às estimulações de maior período, sa aplicação. Em outro trabalho, utilizou-se CE com
porém, apresentou resultados superiores em relação tempos de aplicação de 10 min e 100 min. Comparado
ao grupo controle. Pela viabilidade prática, uma hora ao grupo controle, o grupo de 100 min foi o que apre-
de aplicação de CE é eficaz na RN em comparação a sentou melhores resultados, mas a estimulação de 10
grupos que passaram por uma pseudo-aplicação. No min não foi ineficaz, pois mostrou-se superior ao grupo
mesmo ano33, aplicando-se o mesmo protocolo de CE, controle98.
obteve-se aceleração da expressão gênica sobre moto- Estudou-se a variação da expressão gênica por
neurônios em RN, estimulando o BDNF e trkB. meio de CE aplicado 1 h após o processo cirúrgico. Os
Avaliou-se a RN com CE por meio de radioi- grupos sofreram cirurgia bilateralmente sobre o nervo
femoral proximal à bifurcação dos ramos motor e sen- ocorreu recuperação próxima do nível normal (antes da
sitivo, onde foram aplicados os marcadores retrógrados lesão), seis semanas antes que o mesmo efeito ocorre-se
fluorogold e fluororuby. Os resultados mostraram dife- no grupo controle94.
rença estatística entre o grupo estimulado e o grupo Um estudo92 testou o crescimento de neuritos
controle no segundo dia após a aplicação. Na compa- mediante aplicação de CE. Após a preparação da cultura
ração entre os grupos, os níveis de GAP-43 e tubulina a ser analisada, período que durou 24 h, aplicou-se CE
Tα1 aumentaram seis e duas vezes e meia para o grupo de com duração de apenas uma hora. Após a aplicação,
estimulado. Enquanto que o nível de NFM (medium- esperaram-se 3 dias para ocorrer a fixação dos fatores
molecular-weight neurofilament) foi cinco vezes e meia imunohistoquímicos antes da análise. Dividiram-se os
menor para o grupo estimulado, ou seja, o contrário do grupos banhados com o fator neurotrofina-3 (NT3) em
que ocorreu com a GAP-43 e tubulina Tα1. Os níveis diferentes concentrações: 0, 20, 40, 60 ou 80 ng/ml. O
assemelharam-se no sétimo dia após a aplicação de CE. grupo de maior significância foi o banhado com 40 ng/
Esses resultados corroboram que o alongamento do ml NT3, que teve um crescimento médio do neurito de
neurito deve-se à variação dos fatores analisados para o 900 µm em comparação ao grupo sem NT3, no qual
coto distal com maior velocidade no grupo estimulado ocorreu 300 µm de crescimento médio.
em relação ao grupo controle26. Avaliou-se a aplicação de CE por um período de
Mensurou-se a RN periférica e o incremento da 1 h após o processo cirúrgico que consistiu na sutura do
expressão gênica 21 dias após lesão tratada com CE via nervo isquiático de ratazanas51. O grupo controle passou
eletrodos implantáveis. Os tempos de aplicação varia- pelo mesmo processo cirúrgico, mas sem a aplicação de
vam entre 1 h e 14 dias. Na terapia de maior signifi- CE. Foram realizadas avaliações eletroneuromiográficas
cância, com apenas 1 h durante 21 dias, obteve-se uma por meio da amplitude dos parâmetros de onda M, re-
RN de 97%. No grupo controle, o desempenho atingiu flexo H e potenciais motores evocados (PME). Tendo
46%. Demonstrou-se o aumento de marcadores gené- como valor normalizado de amplitude em 100%, após
ticos junto com a GAP-43 e do BDNF, além da RN do três semanas, a amplitude da onda M do músculo tibial
ramo sensorial mostrar-se superior à do ramo motor. A anterior alcançou 28% no grupo controle contra 33%
utilização de TTX mostrou que a eficiência da CE era no grupo estimulado. No mesmo período, a amplitude
semelhante a do grupo controle, comprovando necessi- (em percentagem) da onda M do músculo plantar foi
dade de um potencial elétrico na célula para que ocorra 6% (da amplitude normal) no grupo controle contra
RN por meio de eletricidade93. 15% no grupo estimulado. Achados importantes fo-
Avaliou-se a RN após trauma induzido com apli- ram o aumento dos índices H/M e PME/M em que
cação de CE durante doze semanas. A forma de onda nas primeiras semanas já se confirmava o aumento do
da corrente estimulatória era quadrada e a intensidade grupo estimulado em relação ao controle. O número de
aplicada três vezes a amplitude do valor da reobase que fibras mielinizadas no final de dois meses foi de 4600
foi avaliada previamente. Observou-se que o grupo es- para o grupo estimulado em relação a 2900 do grupo
timulado teve um acréscimo no tamanho do soma, no controle, mostrando que além do aumento das fibras
diâmetro do axônio e da espessura da bainha de mieli- mielinizadas também houve um aumento no estroma
na (estrutura que isola o axônio) em relação ao grupo nervoso, como tecidos moles adjacentes e sistema vas-
controle. Uma vez que o trauma no nervo foi realizado cular interno.
a 5-6 mm da bifurcação do nervo femoral para o seu Utilizou-se CM pulsado, onde o pico de potência
ramo safeno, obteve-se a mesma incidência de RN cru- do aparelho foi de 15,2 W por pulso, com aplicações de
zada do grupo estimulado e a taxa de reinervação foi 15 min/dia durante oito semanas. Observou-se diferen-
maior no grupo estimulado. Neste grupo (estimulado), ça estatística entre os grupos estimulados onde a dege-
neração Walleriana e a recuperação foram mais rápidas dose de NGF82. Depois de preparado o local do ensaio,
com maturação dos axônios mielinizados, do estroma observou-se 12 h de período de latência, 18 h de esti-
nervoso como epineuro (grupo tratado sendo mais adel- mulação e, ainda, 18 h de período de latência pós-esti-
gaçado), e do perineuro; e redução da fibrose intraneu- mulação. Três tipos de parâmetros foram selecionados
ral com aumento do lúmen da vasa nervorum em ambos para testes distintos. Achados significativos foram eleva-
os tipos de lesão. A porcentagem de nervos mieliniza- ção da taxa de crescimento nos grupos estimulados em
dos após oito semanas foi de 89% no grupo estimulado relação ao controle, com crescimento máximo de 243,1
contra 76% do grupo controle, no segmento proximal µm em comparação a 78,7 µm, crescimento médio de
à lesão; e de 64% contra 40%, no segmento distal40. 43,1 µm em comparação a 24,2 µm. Dos protocolos
Aplicou-se CM durante 20 dias de tratamento, aplicados, o que utilizou parâmetros com duração da
em exposições de 10 min com intervalos de 3 dias. A fração ativa do pulso em 10 µs e 100 µs em repouso,
aplicação do CM era iniciada logo após a intervenção 6,67 Wb/m para o CM e frequência de 25 Hz, foi o
cirúrgica. O CM fornecia potência de 4 mW/cm² (va- que apresentou maior diferença em relação ao grupo
lor inferior a 10 mW/cm² não provoca aquecimento controle. O crescimento do neurito47 teve maior signi-
tissular). Tanto no sétimo como no vigésimo dia, houve ficância na região paralela ao CM82. Entretanto, outro
uma melhora de 32% no crescimento da RN e de 26% estudo com aplicação de CM sobre cepa de cultura ce-
na velocidade de condução nervosa do grupo estimula- lular (CC)95, mostrou que neuritos crescem perpendi-
do em relação ao controle80. Dois anos depois, foram cularmente a direção do CM comparado com o grupo
utilizados os mesmos parâmetros, porém, o tempo de controle e foi possível constatar que neuritos expostos
tratamento foi de cinco meses. Observou-se um acrésci- paralelamente ao CM apresentaram um formato incoe-
mo de 25-30% na frequência dos potenciais de ação em rente, dificultando o alongamento do neurito.
relação ao grupo controle, além do aumento na ampli- Aplicou-se CM durante 23 h sobre culturas ce-
tude, de 156 ± 15 µV para 313 ± 34 µV. Os resultados lulares banhadas em NGF previamente, comprovaram
corroboram a melhora da RN por meio de CM84. que os grupos que foram estimulados com CM de in-
Foi aplicado CM em ratazanas em que o grupo tensidades de 4,35 a 8,25 µT obtiveram um crescimen-
experimental passou 4 h/dia, cinco dias por semana, to significativo de 16,9 ± 1,1% em relação ao grupo
durante oito semanas sob a incidência desse campo. Por controle86. Grupos estimulados com campos de 8,25
análise eletroneuromiográfica, esse grupo apresentou a 15,8 µT não mostraram crescimento significativo,
maior amplitude do potencial nervoso duas semanas o que está de acordo com a lei de Arndt-Schultz46,78.
após a aplicação do campo eletromagnético, além de Entretanto, nenhum dos níveis de intensidade de CM
ter um incremento na força dos músculos do olho e do mostrou alteração na ativação da mitose celular sobre a
bigode. A taxa de RN ao fim do experimento atingiu cultura celular.
uma média de 91% para o grupo experimental, com- Um trabalho utilizou aplicação de CM durante
parado a 66% do grupo controle83. Em outro estudo 60 h, demonstrou que a cultura celular, que antes se
foi utilizado sobre o nervo isquiático de ratos CE com apresentava desorganizada, adquiriu um alinhamen-
o cátodo posicionado distalmente a lesão. O circuito to paralelo ao CM aplicado, resultado que confirma a
era uma bateria de 1,5 V e um resistor de 1,3 MΩ para ocorrência de magnetoforese88.
fornecer uma corrente de 1 µA durante três semanas. Com o uso de CM, foi avaliada a RN e altera-
Os resultados mostraram aumento na regeneração do ções enzimáticas no músculo gastrocnêmio de ratos. Os
tecido nervoso e dos vasos sanguíneos90. trens de pulso de CM ininterrupto aplicados possuíam
Foi avaliada a aplicação de CM em culturas ce- período ativo de pulso ajustado para 5 ms e de repou-
lulares de 15 dias, nutridas com soro que continha uma so em 62 ms durante quatro semanas91. A população