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DIRETORIA DA
GESTÃO 2013/2014
DIRETORIA EXECUTIVA
Presidente: Mariângela Gama de Magalhães Gomes
Assessor da Presidência: Rafael Lira
1ª Vice-Presidente: Helena Regina Lobo da Costa
Suplente: Átila Pimenta Coelho Machado
2o Vice-Presidente: Cristiano Avila Maronna
Suplente: Cecília de Souza Santos
1ª Secretária: Heloisa Estellita
Suplente: Leopoldo Stefanno G. L. Louveira
2o Secretário: Pedro Luiz Bueno de Andrade
Suplente: Fernando da Nobrega Cunha
1o Tesoureiro: Fábio Tofic Simantob
Suplente: Danyelle da Silva Galvão
2o Tesoureiro: Andre Pires de Andrade Kehdi
Suplente: Renato Stanziola Vieira
Diretora Nacional das Coordenadorias Regionais e Estaduais: Eleonora Rangel Nacif
Suplente: Matheus Silveira Pupo
CONSELHO CONSULTIVO
Ana Lúcia Menezes Vieira
Ana Sofia Schmidt de Oliveira
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Gustavo Henrique Righi Ivahy Badaró
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OUVIDOR
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COORDENADORES-CHEFES
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Boletim: Rogério FernandoTaffarello
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Iniciação Científica: Ana Carolina Carlos de Oliveira
Mesas de Estudos e Debates: Andrea Cristina D’Angelo
Monografias: Fernanda Regina Vilares
Núcleo de Pesquisas: Bruna Angotti
Relações Internacionais: Marina Pinhão Coelho Araújo
Revista Brasileira de Ciências Criminais: Heloisa Estellita
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Tribuna Virtual IBCCRIM: Bruno Salles Pereira Ribeiro
Secretário-geral
Rafael Lira
Coordenador-Chefe
Bruno Salles Pereira Ribeiro
Coordenadores Adjuntos
Adriano Scalzaretto
Guilherme Suguimori Santos
Matheus Silveira Pupo
Conselho Editorial
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Antonio Baptista Gonçalves, Arthur Felipe Azevedo Barretto, Átila Machado, Camila Garcia,
Carlos Henrique da Silva Ayres, Christiany Pegorari Conte, Danilo Ticami, Davi Rodney Silva,
Diogo Henrique Duarte de Parra, Eduardo Henrique Balbino Pasqua, Érica Akie Hashimoto,
Fabiana Zanatta Viana, Fábio Suardi D’ Elia, Francisco Pereira de Queiroz, Gabriel de Freitas
Queiroz, Gabriela Prioli Della Vedova, Giancarlo Silkunas Vay, Guilherme Suguimori Santos,
Humberto Barrionuevo Fabretti, Ilana Martins Luz, Janaina Soares Gallo, João Victor Esteves
Meirelles, José Carlos Abissamra Filho, Luiz Gustavo Fernandes, Marcel Figueiredo Gonçalves,
Marcela Veturini Diorio, Marcelo Feller, Matheus Silveira Pupo, Milene Maurício, Rafael Lira,
Rafael Serra Oliveira, Ricardo Batista Capelli, Rodrigo Dall’Acqua, Ryanna Pala Veras, Thiago
Colombo Bertoncello e Yuri Felix.
APRESENTAÇÃO
Abstract: By looking back at the work developed by Sutherland, especially the labeling approach,
radical criminology and left realism, it becomes evident how important the contributions of
criminology is in terms of changing the political-criminal treatment within the economic scope,
in order to prepare the grounds for changes in value in relation to damage and social relevance of
these acts. The repercussions of legal-criminal intervention in these social scopes are direct in
relation to crime theory, leading to the construction of secondary criminal law, which covers new
areas of criminalization and new criminal protection techniques. They also shake the structure of
basic rules of legal liability, which has been conceived from an enlightenment paradigm of
criminal law due to a larger complexity involving the ruling of behavior in economic areas.
Key words: white-collar crime, secondary criminal law, theory of crime; criminal protection
techniques; contemporary criminal policy.
I – Considerações iniciais
A criminalidade econômica tem sido um dos temas mais debatidos atualmente no âmbito
das Ciências Criminais. Este texto faz uma abordagem introdutória do assunto, atribuindo um
olhar criminológico para compreender os discursos que legitimam este novo direcionamento da
política criminal, bem como as novas técnicas de tutela que têm sido utilizadas. A partir das
pesquisas de Edwin Sutherland e, posteriormente, de outras correntes criminológicas,
desenvolveu-se o estudo sobre a atuação desigual e seletiva do sistema penal, de modo a marcar
uma nova visão sobre o fenômeno criminal, desvelando a sua presença em todas as esferas e
grupos sociais. Esses estudos criminológicos prepararam o terreno para a introdução no debate das
Ciências Criminais, e da sociedade de um modo geral, da necessidade de (re)valorização do
significado das condutas danosas que ocorriam no âmbito econômico.
O termo white collar crime1 foi cunhado por Edwin Sutherland em seu famoso
pronunciamento ocorrido no 34.º encontro anual da American Sociology Society, em 1939. A
partir desta palestra, intitulada The White Collar Criminal, iniciou-se uma profunda alteração no
estudo sobre o fenômeno criminal em todo o mundo, pela abertura de novos e diferentes âmbitos
1
Este termo foi cunhado em oposição aos “blue collars’’ os macacões azuis utilizados pelos operários.
de pesquisa que voltavam o foco de atenção a determinada forma de violação da lei que,
anteriormente, era ignorada pelas escolas criminológicas tradicionais (positivistas).2
Após o seu pronunciamento, muitos criminólogos formularam críticas das mais variadas
ordens à teoria dos crimes de colarinho branco. Paul Tappan, no artigo Who is the criminal?
(1947), criticou a teoria formulada por Sutherland, ao enaltecer a vagueza dos conceitos por ele
empregados para definir os delitos ou delinquentes de colarinho branco. Tappan faz referência,
também, a grande carga subjetiva da conceituação de white collar crime, pois a correspondência
com critérios pessoais de valoração da realidade levariam a rotular como “criminosas” pessoas que
2
GEIS, Gilbert; GOFF, Colin. Introduction. In: SUTHERLAND, Edwin. White collar crime: The uncut version.
New Haven: Yale University Press, 1983. p. ix.
3
SUTHERLAND, Edwin. White Collar Crime: The Uncut Version. New Haven: Yale University Press, 1983. p.
7.
4
Idem, p. 240.
sequer haviam infringido a lei. Portanto, a sua crítica tinha um forte cunho legalista, contra uma
postura que julgava ser excessivamente sociologizada de Sutherland.5
A obra mais importante dessa linha criminológica é Outsiders (1963), de Howard Becker,
que consistiu em um marco no campo do “desvio” ao propiciar a criminological turn.
5
TAPPAN, Paul. Who is the criminal?. In: GEIS, Gilbert (Ed.). White-collar criminal: the offender in business
and the professions. New Brunswick: Transaction publishers, 2007. p. 365-376.
6
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal: introdução à sociologia do direito. Rio
de Janeiro: Revan, 2002, p. 86.
Encontrando seu referencial teórico nas teorias sociológicas da “desorganização social”, Becker
demonstrou que a intervenção do sistema penal, especialmente mediante as penas de
encarceramento, consolida a identidade desviante do condenado, encaminhando seu ingresso em
uma verdadeira “carreira criminosa”.7
Assim, as reflexões sobre o crime de colarinho branco anteciparam o que veio a ser depois
afirmado pelos teóricos do labelling approach, ao considerar que uma conduta se torna criminosa
quando é assim definida pela sociedade por meio do sistema democrático, o qual está sujeito aos
(poderosos) grupos de pressão.8
A criminologia radical é outra corrente que merece destaque, ao criticar a atuação seletiva
das agências de controle penal a partir de um referencial teórico marxista,9 que busca explicar o
sistema penal sob a ótica da dominação de classes, do poder e da imposição de um modo de
produção capitalista burguês. Nessa perspectiva, o Direito (Penal) pode ser visto como
instrumento de manutenção de determinada ordem, definida, basicamente, pelas relações
econômicas. Rusche e Kirchheimer, por exemplo, defendem que a pena como tal não existe, o
que existem são sistemas de punição concretos e práticas penais específicas. Portanto, o uso da
punição pelos sistemas penais seria determinado por forças sociais, sobretudo as econômicas.10
O “rótulo” de radical recebido por essa corrente da criminologia explica-se pelo fato de
suas ideias possuírem um referencial teórico que defendia a revolução social como a solução para
as mazelas do sistema capitalista. Apesar disso, o seu papel foi fundamental na (re)valorização das
condutas lesivas ocorridas no âmbito das relações econômicas.
7
BECKER, Howard S. Outsiders. Estudos de sociologia do desvio. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 11.
8
SANTOS, Cláudia Maria Cruz. O crime de colarinho branco: da origem do conceito e sua relevância
criminológica à questão da desigualdade na administração da justiça penal. Coimbra: Universidade de Coimbra
Editora, 2001. p. 136-138.
9
Conforme Cottino, a impunidade dos governantes foi um insight de vários intelectuais do século XIX,
dentre eles Marx e Engels, explicando que os membros das cortes que devem aplicar a lei pertencem a mesma classe
dos ofensores. Cf.: COTTINO, Amedeo. White-collar crime. In: SUMNER, Colin. The Blackwell Companion to
Criminology. Oxford: Blackwell, 2004. p. 343-358.
10
RUSCHE; KIRCHHEIMER. Punição e estrutura social. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1999. p. 19-20.
11
BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica ... cit., p. 197-198.
12
YOUNG, Jock. Escribiendo en la cúspide del câmbio: una nueva criminología para una modernidade tardia.
In: SOZZO, Máximo. Reconstruyendo las Criminologias Críticas. Buenos Aires: Ad Hoc, 2006. p. 85-93.
13
KARAM, Maria Lúcia. A esquerda punitiva: entrevista com Maria Lúcia Karam. Revista de Estudos Criminais
– ITEC, Porto Alegre, n. 1, p. 11 e ss., 2001.
individual e na política criminal, existindo uma clara tendência de introdução de novos tipos
penais, de modo a ampliar os espaços de risco penalmente relevantes. A flexibilização das regras de
imputação e a relativização dos princípios político-criminais de garantia também são
características dessa tendência expansionista do Direito Penal.16
Conforme Hirsch, nas últimas décadas as novas formas e técnicas de criminalidade têm
dado lugar a uma grande atividade legislativa, que tem sido contrária a uma tendência anterior de
reforma do Direito Penal baseada na descriminalização e reinserção do delinquente. Nelas se
contemplam três manifestações parcialmente coincidentes: a primeira relaciona-se com o
surgimento de novos âmbitos jurídico-penalmente relevantes e a formação de um Direito Penal
secundário, em decorrência do progresso técnico e científico, como a informática, a técnica
nuclear e a genética.17
Um segundo grupo tem como objeto formas de conduta que, anteriormente, eram
consideradas apenas contravenções penais, porém, devido a uma mudança de valoração em
termos de relevância dos bens jurídicos, passaram a ser situadas no campo de mira com maior
ímpeto pela política criminal. 18 Pode-se citar como exemplo a Lei 1.521/1951 que tipifica as
contravenções penais contra economia popular, condutas estas que hoje, em sua grande maioria,
podem ser enquadradas como crimes previstos em outras leis esparsas.
16
SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. La expansion… cit., p. 20.
17
HIRSCH, Joachim Hans. Derecho penal: obras completas. Buenos Aires: Rubinzal-Culzoni, 1999. t. I, p. 61.
18
HIRSCH, Joachim Hans. Derecho penal... cit., p. 61.
19
Idem, ibidem. Por outro lado, a avalanche de novos tipos penais e o aumento de penas têm gerado um
efeito nefasto no sistema prisional, o hiperencarceiramento. Nesse contexto, a política criminal se vê obrigada a
buscar novas alternativas para, pelo menos, minimizar este problema, pela utilização de novos institutos de Direito
Figueiredo Dias retrata de forma bastante interessante essa mudança sofrida pelo Direito
Penal na contemporaneidade, ressaltando o surgimento do Direito Penal secundário que abrange
novos âmbitos de criminalização: “Uma tal idéia anuncia o fim de uma sociedade industrial em que
os riscos para a existência, individual e comunitária, ou provinham de acontecimentos naturais (para
tutela dos quais o direito penal é absolutamente incompetente) ou derivavam de acções humanas
próximas e definidas, para contenção das quais era bastante a tutela dispensada a clássicos bens
jurídicos como a vida, o corpo, a saúde, a propriedade, o patrimônio...; para contenção das quais,
numa palavra, era bastante o catálogo puramente individualista dos bens jurídicos penalmente
tutelados e, assim, o paradigma de um direito penal liberal e antropocêntrico. Aquela idéia anuncia o
fim desta sociedade e a sua substituição por uma sociedade exasperadamente tecnológica, massificada e
global, onde a acção humana, as mais das vezes anônima, se revela susceptível de serem produzidos em
tempo e em lugar largamente distanciados da acção que os originou ou para eles contribuiu e de
poderem ter como consequência, pura e simplesmente, a extinção da vida”.20
Penal e Processual Penal como penas alternativas, transações penais, sursis da pena e suspensão condicional do
processo.
20
DIAS, Jorge de Figueiredo. O direito penal entre direito penal do risco e direito penal do inimigo. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: RT, n. 33, p. 43-44, jan.-mar. 2001.
21
PRITTWITZ, Cornelius. O direito penal entre direito penal do risco e direito penal do inimigo. Revista
Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: RT, n. 47, p. 38, mar.-abr. 2004.
22
RUIVO, Marcelo Almeida. Criminalidade fiscal e colarinho branco: a fuga ao fisco é exclusividade do white-
collar. In: FARIA COSTA, José de; SILVA, Marco Antonio Nascimento da. Direito penal, direito processual penal, e
direitos fundamentais: visão luso-brasileira. São Paulo: Quartier Latin, 2006. p. 1184-1186.
princípios que norteiam o Direito Penal e Processual Penal calcado nas bases iluministas, em
razão da grande complexidade dos comportamentos relacionados à esfera econômica e do rápido
desenvolvimento tecnológico. Dessa forma, a necessidade de se respeitar as regras e princípios
jurídico-penais de garantia passa a ser vista como um obstáculo à gestão eficiente das questões de
segurança e do controle da criminalidade de um modo geral.
Diante desse impasse, para Figueiredo Dias, o Direito Penal não está preparado para a
tutela dos grandes riscos, caso seja mantida sua legitimação substancial no modelo iluminista do
contrato social. Isso porque a manutenção desses princípios corresponderia à confissão resignada
de que ao Direito Penal não se reserva nenhum papel na proteção das gerações futuras, sobretudo
em relação a âmbitos como meio ambiente, manipulação genética e da desregulamentação da
atividade produtiva.23
Esse contexto de permanentes tensões que vive o Direito Penal demonstra toda a
complexidade do cenário que deve ser enfrentado pelos legisladores e operadores do Direito em
sua atividade. Se, de um lado, é preciso conter o ímpeto punitivista, que se mostra cada vez mais
forte diante dos fenômenos expansivos do Direito Penal, de outro não se pode relegar a relevância
jurídica desses novos bens jurídicos. Portanto, um dos grandes desafios na contemporaneidade é
evitar que a tendência de expansão do Direito Penal, com a formação de um Direito Penal
secundário relativamente autônomo, esvazie o caráter de garantia que os princípios dogmáticos
foram adquirindo no transcorrer da história do Direito Penal.
Nessa linha, deve-se concordar com a crítica apresentada ao conceito de white collar crime
de Sutherland, no sentido de que a sua definição é eminentemente sociológica e não serve de
limite normativo para conter o poder estatal. Conforme Costa Andrade e Figueiredo Dias deve-
se ter como norte uma perspectiva jurídico-penal ou de política criminal, sem perder de vista as
relações estreitas que medeiam entre o Direito Penal Econômico e este ramo da criminologia.24
23
DIAS, Jorge de Figueiredo. O direito penal... cit., p. 45.
24
DIAS, Jorge de Figueiredo ANDRADE, Manual da Costa. Problemática geral das infracções contra economia
nacional. In: PODVAL, Roberto (Org.). Temas de direito penal econômico. São Paulo: RT, 2004. p. 81-82. Ao se
criticar as deficiências da conceituação de white collar crime proposta por Sutherland, em virtude de seu caráter
preponderantemente subjetivo, deve-se observar a cultura jurídica na qual a formação de seu pensamento estava
Nessa perspectiva, deve-se observar que o direito econômico surgiu para designar uma
nova realidade jurídica, não caracterizada pelo direito tradicional, consistente no fenômeno da
intervenção estatal na economia, que se intensificou a partir do modelo do Estado de bem-estar
social. Paralelamente, surge o Direito Penal econômico como uma necessidade das sociedades
industriais e uma consequência do intervencionismo estatal, sendo a sua motivação social bastante
distinta em comparação ao Direito Penal tradicional, pois assume uma conotação
preponderantemente de direção e prevenção, e não de proteção.25
Segundo Tiedemann, o Direito Penal econômico podia ser entendido como aquela
pequena parte do Direito Penal que reforçava com a intimidação o Direito Econômico
Administrativo, ou seja, o direito de direção e controle estatal da economia. Atualmente, entende-
se o Direito Penal econômico de uma forma mais ampla, como consequência do progresso desse
ramo do Direito no sentido de se tornar uma disciplina (relativamente) autônoma. Então, o delito
inserido. O sistema da common law não possui os mesmos paradigmas da civil law, o qual se estrutura a partir da
necessidade de segurança jurídica, precisão e certeza que decorrem do princípio da legalidade.
25
CARVALHO, Márcia Dometila Lima de. Fundamentação constitucional do direito penal. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris, 1992. p. 98-99.
Não obstante esta constatação, tanto o Direito Penal tradicional como o secundário
devem concretizar os valores constitucionais. O primeiro, ligado aos direitos e garantias do
cidadão; o segundo relacionado aos valores supraindividuais ligados aos direitos sociais, à
organização econômica, ao meio ambiente e outros contidos na Carta Magna. 28
que se mostra cada vez mais fluído, em contraposição à estaticidade e rigidez das normas jurídico-
penais. A dificuldade consiste em precisar, genericamente, mediante os tipos “ideais” de condutas,
o que configuraria o ilícito penal.
A tendência é que estas dificuldades na formulação dos tipos penais aumentem cada vez
mais no âmbito das relações econômicas. Conforme um dos maiores e mais bem sucedidos
empresários do mundo, Bill Gates, no livro A empresa na velocidade do pensamento, a empresa do
século XXI deve estar inserida na “Era da Informação”, para atender uma necessidade de
velocidade das relações, expandir fronteiras e desenvolver tecnologia de informação como um
recurso estratégico para o desenvolvimento de sua atividade econômica:
“Se a questão dos anos 80 era a qualidade e dos anos 90, a reengenharia, então a
questão da primeira década do próximo século será a velocidade: com que rapidez a
natureza dos negócios mudará, quão rápidas serão as transações comerciais e como o
acesso à informação irá alterar os estilos de vida dos consumidores e suas
expectativas em relação às empresas. A melhora da qualidade e o aperfeiçoamento
dos processos empresariais irão ocorrer muito mais depressa. Quando o aumento da
velocidade dos negócios é suficientemente grande, a própria natureza das empresas
muda. Um fabricante ou comerciante que responde a mudanças nas vendas em
horas, em vez de semanas, não é mais, na essência, uma firma de produtos, mas
uma empresa de serviços que oferece produtos.
Essas mudanças ocorrerão devido a uma idéia muito simples: o fluxo de informação
digital. Estamos na Era da Informação há cerca de trinta anos, mas a maioria das
informações que circulam entre as empresas permanece em papel, por isso o processo
em que os compradores encontram os vendedores continua sem alterações. A maioria
das empresas está usando agora ferramentas digitais para monitorar suas atividades
básicas: operar seus sistemas de produção; gerar faturas; cuidar da contabilidade e
dos impostos. Mas esses usos, em geral, apenas automatizam processos antigos”.29
29
GATES, Bill. A empresa na velocidade do pensamento: com um sistema nervoso digital. São Paulo: Companhia
das Letras, 1999. p. 9-10.
Diante desse novo paradigma presente no âmbito das relações econômicas, Faria Costa
sustenta que o Direito Penal sofreu fortes e violentas modificações, sendo que as categorias
normativas nas quais os penalistas, até os dias de hoje, acostumaram-se a trabalhar parecem não
mais servir. É preciso repensá-las também pela necessidade de se refletir sobre a noção normativa
de espaço ilimitado ou global. Basta pensar na criminalidade econômica levada a cabo por meios
informáticos, nos quais o lugar da prática do fato pode não ter qualquer relação com o resultado.30
Como frisado, no caso do Direito Penal secundário, a técnica de construção dos tipos
penais vale-se de regulamentações existentes em matéria financeira ou administrativa, as quais têm
a necessidade de maior celeridade. A interação entre o Direito Penal e o Administrativo
Econômico processa-se pelos chamados “tipos penais em branco”, também conhecidos como
“técnica de reenvio”, ou “incriminação por referência”. O emprego desse método de
incriminação, entretanto, não pode ser feito de forma descuidada, pois, caso assim for, estar-se-á
violando o princípio da legalidade, além de conferir à administração poderes verdadeiramente
legislativos.31
Para Faria Costa e Costa Andrade, a utilização da técnica do reenvio comporta o perigo
da falta de clareza e de rigor, bem como da delegação excessiva do Poder Legislativo em favor da
30
FARIA COSTA, José de. Apontamentos para umas reflexões mínimas e tempestivas sobre o direito penal hoje.
Revista Brasileira de Ciências Criminais, São Paulo: RT, n. 81, p. 45-46, jan.-mar. 2001.
31
CARVALHO, Márcia Dometila Lima de. Fundamentação... cit., p. 114.
Administração. Defendem que a conduta ou o resultado proibidos devem ser especificados pela
própria lei penal, sendo que a respectiva interpretação e aplicação deve obedecer aos princípios
comuns do Direito Penal. O Direito Penal econômico deve, na medida do possível, evitar as
cláusulas gerais. Contudo, sempre quando utilizadas essas cláusulas gerais a conduta proibida deve
ser rigorosamente descrita.32
Em meio a todas essas discussões relativas às técnicas de tutela penal nas relações
econômicas, refere Márcia Dometila que a Recomendação n. 8 do XIII Congresso Internacional
de Direito Penal estabeleceu: “em relação à descrição dos crimes, o emprego de técnicas de remissão a
instância normativas externas ao direito penal, para determinar quais sejam as condutas incriminadas,
pode levar aos perigos da imprecisão e da falta de clareza, bem como a um excesso de delegação do poder
legislativo à administração. A conduta ou o resultado proibidos devem estar especificados, na medida
do possível, no próprio preceito penal. Com este simples cuidado, restará às normas administrativas,
apenas, o complemento da regra penal, sem risco para a função de garantia do Direito Penal”.33
Também como forma de (tentar) dar conta da complexidade e dinamicidade das condutas
ocorridas na esfera econômica, tem sido comum a utilização de elementos normativos
excessivamente abertos e abstratos, em afronta ao princípio da taxatividade da lei penal. Para
Virgolini, a construção dos tipos penais corresponde a um recorte, mais ou menos arbitrário, de
múltiplas ações e fatores – ordinariamente muito mais extensas – que integram determinado
comportamento taxado como criminoso. Entretanto, a necessidade desse recorte é uma exigência
32
COSTA, José de Faria; ANDRADE, Manuel da Costa. Sobre a concepção e os princípios do direito penal
econômico. In: PODVAL, Roberto (Org.). Temas de direito penal econômico. São Paulo: RT, 2001. p. 119.
33
CARVALHO, Márcia Dometila Lima de. Fundamentação... cit., p. 114.
de precisão e certeza, indispensável na construção dogmática dos tipos penais. Uma excessiva
generalidade na sua definição, ainda que possa ser considerada mais útil para abarcar casos não
imaginados pelo legislador, viola o princípio da legalidade e todas as suas decorrências, os quais
devem ser respeitados, pois garantias basilares do Estado Democrático de Direito.34
Sgubbi, na mesma linha, refere que o delito se tornou um risco social, pois em vastos
setores da vida econômica e social a responsabilidade penal não se apresenta como uma
reprovação ao sujeito em virtude de sua conduta. Na verdade, surge sobre a base do
desenvolvimento de uma atividade lícita, “neutra”. Tal atividade gera, objetivamente, uma
responsabilidade penal ao sujeito pela mera transgressão – ainda que causal ou acidental – das
prescrições normativas ditadas pela disciplina administrativa que regula a mesma matéria.36
34
VIRGOLINI, Julio. Crímines excelentes: delitos de cuello branco, crimen organizado y corrupción. Buenos Aires:
Editores del Puerto, 2004. p. 110.
35
VIRGOLINI, Julio. Crímines… cit., p. 121.
36
SGUBBI, Filippo. El delito como riesgo social: investigación sobre las opciones en la asignación de la ilegalidad
penal. Buenos Aires: Ábaco de Rodolfo Depalma, 1998. p. 97.
Nessa perspectiva, as garantias fundamentais passam a ser vistas como um “entrave” a ser
transposto no momento da criação dos novos tipos penais e aplicação do direito no caso concreto.
Todavia, não se pode perder de vista o caráter humanista que deve estar subsumido à formação do
pensamento jurídico. Daí o motivo de tanto se discutir a adequação da tutela penal econômica
aos preceitos constitucionais e todas as dificuldades que acabam sendo verificadas cotidianamente
no enfrentamento dessas novas temáticas.
37
Idem, p. 102-103.
38
Idem, p. 55-56.
V – Considerações finais
Referências bibliográficas
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Ad Hoc, 2006.
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usados recuos, deslocamentos, nem espaçamentos antes ou depois. Não se deve utilizar o
tabulador para determinar os parágrafos; o próprio já determina, automaticamente, a sua
abertura. Como fonte, usar a Times New Roman, corpo 12. Os parágrafos devem ter
entrelinha 1,5; as margens superior e inferior 2,5 cm e as laterais 2,5 cm. A formatação do
tamanho do papel deve ser A4.
4) Os trabalhos podem ser escritos em português, espanhol ou inglês. Em qualquer caso, deverão
ser indicados, em português e em inglês, o título do trabalho, o resumo e as palavras-chave.
Iniciar com a titulação acadêmica (da última para a primeira); caso exerça o magistério,
inserir os dados pertinentes, logo após a titulação; em seguida completar as informações
adicionais (associações ou outras instituições de que seja integrante) – máximo de três;
finalizar com a função ou profissão exercida (que não seja na área acadêmica).
Exemplo:
Pós-doutor em Direito Público pela Università Statale di Milano e pela Universidad de
Valencia. Doutor em Direito Processual Civil pela PUC-SP. Professor em Direito
Processual Civil na Faculdade de Direito da USP. Membro do IBDP. Juiz Federal em
Londrina.
5.3. Os trabalhos deverão ser precedidos por um breve Resumo (10 linhas no máximo) em
português e em outra língua estrangeira, preferencialmente em inglês;
6) Não serão aceitos trabalhos publicados ou pendentes de publicação em outro veículo, seja em
mídia impressa ou digital.
7) As referências bibliográficas deverão ser feitas de acordo com a NBR 10520/2002 (Norma
Brasileira da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT).
8) As referências legislativas ou jurisprudenciais devem conter todos os dados necessários para sua
adequada identificação e localização. Em citações de sites de Internet, deve-se indicar
expressamente, entre parênteses, a data de acesso.
9) Todo destaque que se queira dar ao texto deve ser feito com o uso de itálico ou negrito.
Jamais deve ser usada a sublinha. Citações de textos de outros autores deverão ser feitas entre
aspas ou em itálico.
10) A seleção e análise dos trabalhos para publicação é de competência do Conselho Editorial da
Tribuna Virtual IBCCRIM. Os trabalhos recebidos para análise fisicamente não serão
devolvidos.
do IBCCRIM. Após essa avaliação, o artigo terá suprimidos os elementos que permitam a
identificação de seu autor e será remetido à análise de três pareceristas, membros do
Conselho Editorial da Tribuna Virtual IBCCRIM, para avaliação qualitativa de sua forma
e conteúdo, seguindo o sistema do duplo blind peer review e atendendo os critérios
constantes do formulário de parecer.
10.1.1. Os pareceres anônimos ficam à disposição dos autores, que serão cientificados
de eventual rejeição dos trabalhos, a fim de que possam adaptar o trabalho ou
justificar a manutenção do formato original. Em todo caso, a decisão final sobre a
publicação ou não dos artigos em que o autor manteve o formato original cabe à
Coordenação da Tribuna Virtual IBCCRIM.
11) Não serão devidos direitos autorais ou qualquer remuneração, a qualquer título, pela
publicação dos trabalhos. Ainda observa-se que o IBCCRIM não se responsabiliza pelo
conteúdo dos textos publicados, que são de exclusiva responsabilidade de seus autores e não
representam necessariamente as opiniões do Instituto.
12) Serão aceitos trabalhos redigidos em língua portuguesa, inglesa e espanhola. Trabalhos
redigidos em outras línguas deverão ser traduzidos para alguma das três línguas aceitas.
12.1. Textos escritos em outros idiomas deverão ser remetidos com a respectiva
"chamada" (Headline) em português, pois o sistema de busca do site foi desenvolvido para
realizar pesquisas neste idioma.
13) Os trabalhos que não se ativerem a estas normas poderão ser reenviados para novo processo de
seleção, efetuadas as modificações necessárias. A Tribuna Virtual IBCCRIM não se
responsabilizará por realizar quaisquer complementos aos trabalhos, que serão de elaboração
exclusiva do autor do artigo.
14) Caso os artigos não sejam aprovados, ficam à disposição para publicação em outros órgãos
de divulgação. Uma vez publicados, os artigos só poderão ser publicados em outros órgãos
com menção expressa à publicação anterior na Tribuna Virtual IBCCRIM.
15) Demais dúvidas serão dirimidas pela Coordenação da Tribuna Virtual IBCCRIM.
Atenciosamente,
Coordenação da Tribuna Virtual IBCCRIM.