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Introdução
. Dor ! experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidual real ou potencial;
apresenta dois componentes:
➢ 1o componente ! objetivo = dano tecidual e ativação de nociceptores
➢ 2o componente ! subjetivo = reação afetiva (psicoemocional), gerando uma reação
comportamental (alerta, insônia, sofrimento, agressão, luta)
o O componente afetivo gera o fenômeno de catastrofização da dor ! o pânico, levando a
medo, depressão e incapacidade, acaba por aumentar a intensidade da dor
. Classificação da dor:
➢ Aguda ! fisiológica, autolimitada e propositada (reação à
lesão, visando defesa e reparo)
➢ Crônica ! patológica, auto-sustentada e despropositada;
progressiva e incoercível; ligada a alterações psicoemionais
. Fisiopatologia da dor
➢ O estímulo aos nociceptores (terminações livres) gera a
sensação de dor; o potencial só é disparado se o estímulo
superar o limiar de excitabilidade do neurônio
o A inflamacão perilesional leva à liberação de
citocinas, que modulam a nocicepção:
▪ Prostaglandinas ! reduzem o limiar de
excitabilidade nociceptora
▪ Bradicinina ! ativa, por si só, nociceptores
➢ Vias ascendentes ! percepção da dor
o Fibras nociceptivas C (“dor lenta”) e A-delta (“dor
rápida”) ! sinapse no corno posterior da medula !
ascende pelo sistema antero-lateral da medula (feixes
espinotalâmicos) ! sinapse no tálamo ! conexão com
o córtex somatossensorial primário (percepção da dor) e
áreas límbicas (caráter afetivo-emocional da dor)
➢ Vias descendetes (origem no núcleo da rafe e GPA, descem pelo
feixe dorso-lateral) ! modulação da dor, facilitando ou inibindo
a 1a sinapse da via ascendente
o “Gate-control” ! modulação local da 1a sinapse ! vias
descendentes (ação via encefalinas, NA e 5-HT) e
mecanoceptores (fibras A-beta) ativam interneurônios
inibitórios, que suprimem a 1a sinapse no corno dorsal
da medula
▪ As vias descendentes também atuam diretamente sobre a 1a sinapse, com a
liberação de encefalinas, NA e 5-HT
▪ Os aferentes nociceptivos inibem os interneurônios inibitórios ! “facilitação
medular”
➢ A dor neuropática se deve à lesão de fibras sensorias aferentes e é menos susceptível ao
tratamento com opioides
. Receptores opioides ! peptídeos opioides endógenos (encefalinas, endorfinas, dinorfinas, outros) atuam nos
receptores opioides mi, delta e kapa (receptores ligados à ptn Gi/o; podem dimerizar)
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➢ Sinalização intracelular
o Inibição da AC
o Redução da abertura de canais de Ca voltagem-dependentes ! redução da liberação pré-
sináptica de neurotransmissores
o Estímulo à canais de K+ ! hiperpolarização e inibição pós-sináptica
o Ativação da PKC
➢ A ativação prolongada dos receptores opioides gera:
o Tolerância (redução da eficácia do fármaco); as diferentes respostas fisiológicas
desenvolvem tolerância a taxas variadas; se deve a diferentes mecanismos:
▪ Internalização dos receptores (apenas mi e delta)
▪ Dessensibilização (via fosforilação do receptor e desacoplamento da ptnG)
▪ Adaptação dos mecanismos de sinalização intracelular (ex: superativação e hiper-
regulação da AC, gerando aumento de AMPc)
▪ Contra-adaptação sistêmica (ex: ativação de vias descendentes facilitadoras da
percepção da dor)
o Dependência ! gera síndrome de abstinência e possível adicção
➢ Localização dos receptores opioides:
o Terminais nociceptores
o Corno dorsal da medula (1a sinapse)
o Supraespinhal: tálamo, GPA, núcleos rostrais e ventrais do tronco
➢ Efeitos da ativação de receptores opioides:
o Analgesia (receptores mi, delta e kapa)
▪ Ação supraespinhal ! inibição de neurônios GABAergicos na GPA, que
estimula o núleo da rafe a liberar encefalina e 5-HT sobre o corno dorsal da
medula + ação estimulatória direta sobre o núcleo da rafe
▪ Ação espinhal ! inibição pré- e pós-sináptica da 1a sinapse no corno dorsal
▪ Ação periférica ! ação nas terminações livres e células inflamatórias
Opioides
. Classificação:
➢ Naturais (morfina, codeína) x semi-sintéticos
(hidromorfona, diamorfina) x sintéticos
(etorfina, metadona, fentanil, petidina)
➢ Fracos (codeina, tramadol, propoxifeno) x
fortes
➢ Agonistas puros x agonistas-antagonistas x
antagonistas
. E.A:
➢ Constipação, náuseas, vômitos, cólica biliar
➢ Retenção urinária
➢ Tonteira ou vertigem
➢ Hipotensão
➢ Sonolência, confusão mental, alucinações, disforia
➢ Prurido
➢ Miose
➢ Mioclonias
➢ Depressão respiratória, supressão da tosse, broncoespasmo (evitar em asmáticos)
➢ Imunodepressão (significado incerto)
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Agonistas opioides
. Codeína
➢ FC: menor taxa de metabolismo de 1a passagem (maior potência por via oral); t1/2 = 2-4h;
metabolismo hepático (10% são transformados em morfina) e excreção renal
o Há polimorfismos expressivos da CYP2D6, responsável pela conversão de codeína a
morfina. Assim, pacientes podem apresentar analgesia ineficaz com codeína ou
toxicidade mais precoce.
➢ Apresenta baixa afinidade pelos receptores opioides; efeito analgésico é atribuído à sua conversão
em morfina; apresenta efeito próprio expressivo como antitussígeno
. Diacetilmorfina (heroína)
➢ FC: mais lipossolúvel do que a morfina, apresentando facil passagem pela BHE; metabolismo a 6-
MAM e morfina; excreção renal
➢ Grande potencial de adicção
. Meperidina ! agonista mi
➢ FC: t1/2 = 3h; metabolismo hepático a normeperidina (t1/2 = 15-20h); melhor penetração pela
BHE (necessidade de doses mais baixas)
➢ Menor incidência de constipação, náuseas, vômitos e retenção urinária
➢ Não deve ser utilizada por mais de 48h, devido aos efeitos tóxicos e cumulativos de seus
metabólitos ! não é indicada para o tratamento de dor crônica
➢ I.M: iMAO (síndrome serotoninérgica, com delirium, hipertermia, cefaleia, hiper- ou hipotensão,
rigidez, convulsões, coma e óbito); clorpromazina e prometazina; fenobarbital; fenitoína;
anfetamina
➢ Utilizada principalmente como analgésico, mas também é util para reduzir os tremores pós-
anestésicos e aqueles que acompanham a infusão de anfotericina B e outro fármacos
. Fentanila ! agonista mi
➢ FC: ação de início mais rápido e duração mais curta; altamente lipofílicos, atravessa facilmente a
BHE; redistribuição expressiva para a gordura e músculo (explica sua ação de curta duração); t1/2
= 3-4h
➢ Maior incidência de rigidez muscular; reduzem a FC e levemente a PA
➢ Aprox. 100x mais potente do que a morfina
➢ Amplamente utilizada como coadjuvante anestésico (reduz expresivamente a dose necessária de
anestésicos voláteis; ação de início e fim rápidos); também utilizada para controle da dor crônica,
pós-operatória ou durante o parto
➢ Congêneres da fentanila
o Sufentanila ! semelhante a fentanila
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o Remifentanila ! ação de início mais rápido e duração mais curta do que a fentanila; t1/2
= 8-20 min; metabolismo por esterases plasmáticas (independe de metabolismo hepático
ou excreção renal); útil para procedimentos curtos e dolorosos
. Metadona ! agonista mi
➢ FC: boa absorção oral; t1/2 longo (15-40h); forte ligação a ptns teciduais, inclusive no cérebro
(tendência a se acumular com a adm repetida); síndrome de abstinência relativamente mais
branda, devido a lenta liberação dos sítios de ligação teciduais
➢ Está associada a síndrome do QT longo e sua ação é aditiva com outros fármacos que prolongam
o intervalo QT; efeitos tardios podem ser prolongados; não deve ser utilizada durante o parto
➢ IM: rifampicina e fenitoína
➢ Utilizada para o tratamento de dor crônica a da síndrome de abstinência de opioides (ex: usuários
de heroína)
. Propoxifeno ! agonista mi
➢ FC: t1/2 = 6-12h; potencial de acumulação
➢ Potência analgésica menor do que a codeína (freq associado a AAS)
➢ Muito irritante para veias e tecidos moles quando adm IV ou SC; efeitos cardiotóxicos
➢ I.M: inibidores do CYP3A4 (ritonavir, cetocozanol, itraconazol, claritromicina, nelfinavir,
nefazodona, amiodarona, amprenavir, aprepitanto, diltiazem, verapamil, eritromicina, fluconazol,
fosamprenavir)
➢ Uso não é recomendado, devido à baixa eficácia e janela terapêutica estreita
. Tramadol ! agonista mi
➢ É um agonista mi fraco (6000x menos potente do que a morfina); parte do seu efeito analgésico se
deve à inibição da captação de NA e 5-HT ! menos eficaz para o tratamento de dores graves ou
crônicas
➢ FC: início de ação em 2-3h e duração de 6h; t1/2 = 6h; metabolismo hepático a metabólito ativo
(2-4x mais potente)
➢ Muito útil para o uso durante o parto, devido à eficiência semelhante a meperidina e menor
potencial de depressão respiratória do RN
➢ Menor incidência de depressão respiratória e constipação menos grave
➢ Não deve ser utilizado concomitantemente a iMAO, ISRS ou fármacos que reduzam o limiar
convulsivo
. Tapentadol ! agonista mi
➢ Semelhantemente ao tramadol, é um agonista mi fraco (50x menos potente do que a morfina);
inibe a NET, resposável pela recaptação de NA
Antagonistas opioides
. FC:
➢ Naloxona ! intenso metabolismo hepático de 1a passagem inviabiliza a adm oral; t1/2 = 1h, com
duração de ação curta (<1h)
➢ Naltrexona ! boa eficácia após adm oral; maior potência e duração de ação (24h) do que a
naloxona
➢ Metilnatrexona ! baixa penetração no SNC (pouco lipossolúvel), com ações predominantemente
periféricas; t1/2 = 8h; excreção por secreção renal ativa
. Indicações:
➢ Intoxicação por opioides (princ infusão IV contínua de naloxona)
o Como o t1/2 de muitos agonistas opioides (ex: metadona) é maior do que o dos
antagonistas opioides, pode ocorrer um retorno tardio da síndrome tóxica, caso a infusão
de antagonistas seja interrompida precocemente.
➢ Constipação em pacientes em tratamento contínuo com opioides (princ metilnatrexona)
➢ Alcoolismo (naltrexona)
Introdução
. A inflamação é uma resposta a estímulos prejudiciais, evocada por uma variedade de agentes nocivos.
Entretanto, a resposta inflamatória pode ser exagerada e sustentada, sem benefício aparente, podendo acarretar
consequências graves.
➢ Existem muitos mediadores pró-inflamatórios, como histamina, bradicinina, 5-HT, prostanoides
(prostaglandinas, tromboxano), leucotrienos, lipoxinas e PAF.
➢ A síntese de prostanoides é aumentada em tecidos inflamados (principalmente PGE2 e PGI2).
Essas moléculas aumentam o fluxo sanguíneo local, a permeabilidade vascular e a infiltração
leucocitária.
. FC: adm oral, com rápida absorção (ingestão de alimentos e antiácidos podem retardar a absorção e
disponibilidade sistêmica); extensa ligação a ptns plasmáticas (95-99%); distribuição ampla e rápida
penetração em sítios inflamatórios; t1/2 específico para cada fármaco; metabolização hepática e excreção
renal (não são recomendados em caso de doença hepática ou renal avançadas)
. Usos clínicos:
➢ Ação anti-inflamatória ! inflamação em doenças musculoesqueléticas e reumatológicas
➢ Ação analgésica ! controle de dor de baixa a moderada intensidade; mais eficazes quando a
inflamação causa sensibilização periférica e/ou central da percepção dolorosa
o Não possuem eficácia na dor neuropática.
o Em dores de maior intensidade, podem ser associados a opioides, para reduzir a dose de
opioide necessária e a probabilidade de E.A.
➢ Ação antipirética ! controle da febre
➢ Fechamento de canal arterial persistente (PGs mantém o canal patente)
➢ Cardioproteção (AAS em baixa dose, com efeito antiplaquetário)
➢ Outros usos: mastocitose sistêmica, tolerabilidade à niacina, quimioprevenção de câncer
. E.A:
➢ GI ! anorexia, nauseas, dispepsia, dor abdominal, diarreia; úlceras gástricas e intestinais, que
podem complicar com sangramento, perfuração ou obstrução
o O risco desses E.A aumeta significativamente com o uso simultâneo de vários AINEs.
➢ IAM, AVE e trombose (apenas os AINEs
seletivos para COX-2, que inibem a formação de
PGI2 endotelial)
➢ Retenção de Na+ e água, edema, complicações
hipertensivas
➢ Insuficiência renal reversível (redução da TFG
devido à vasoconstrição das arteríolas aferentes,
cuja dilatação é mantida por PGs); pode evoluir
para IR persistente com o uso crônico ou em altas
doses
➢ Disfução plaquetária e sangramentos (apenas
AAS)
➢ Gravidez ! prolongamento da gestação e do
trabalho de parto; fechamento precoce do canal
arterial; aumento do risco de hemorragia pós-parto
➢ Hipersensibilidade
➢ Síndrome de Reye (início agudo de encefalopatia, disfunção hepática e infiltração gordurosa no
fígado e outras vísceras) ! CI ao uso de AAS em crianças e adultos < 20 anos; paracetamol é
seguro
. I.M:
➢ Redução da eficácia de IECA; bradicarda quando co-administrados
➢ Aumento de complicações GI quando co-administrados com corticoides os ISRS
➢ Aumento do risco de sangramento quando co-administrados com varfarina
➢ Deslocamento de outros fármacos, devido à intensa ligação a ptns plasmáticas ! interação com
varfarina, sulfonilureias ou metrotrexato
➢ Redução da excreção renal de lítio ou de seus níveis séricos
Propriedades específicas
Salicilatos
. Fármacos: AAS, ácido salicílico (uso externo apenas), metilsalicilato, diflunisal, salsalato, olsalazina e
sulfassalazina
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. M.A: inibição da COX-1 e COX-2; AAS promove acetilação irreversível dessas enzimas
. FC: adm oral (rápida absorção; retardada por alimentos), retal (absorção mais lenta, incompleta e
inconsistente) ou transdérmica (ácido salicílico); pico em 1h; atravessam a BHE e apresentam ampla
distribuição; t1/2 = 2-3h (AAS); ligação de 80-90% à albumina plasmática; metabolismo hepático a 3
metabólitos, com posterior excreção renal; depuração reduzida em idosos ou nefropatas
➢ O AAS exerce efeito antiangregante mesmo no sistema porta, antes da 1a passagem hepática;
portanto, sua ação é cumulativa, mesmo em baixas doses.
. Usos clínicos:
➢ Analgesia e antipirese
➢ Uso anti-inflamatório ! artrite, espondiloartrite, LES, febre reumática
o O diflunisal é um potente anti-inflamatório, mas desprovido de efeitos antipiréticos,
devido à baixa penetração no SNC. É mais eficiente que o AAS para analgesia em
osteoartrite e entorses/estiramentos musculoesqueléticos.
➢ Usos locais: DII (mesalazina em formulação de liberação retardada); verrugas, calos, micoses e
algumas dermatites eczematosas (ácido salicílico, com ação ceratolítica); dor musculoesquelética
(salicilato de metila)
. E.A:
➢ Dispepsia, náuseas e vômitos; gastrite, úlcera gástrica, hemorragia GI (princ AAS)
➢ Hepatite (princ altas doses, em tto de longo prazo)
➢ Hiperglicemia e depleção do glicogênio muscular e hepático
➢ Síndrome de Reye
➢ Hiperventilação (aumento no contumo de O2 e produção muscular de CO2 por desacoplamento
da fosforilação oxidativa + estímulo ao centro respiratório), podendo acarretar alcalose
respiratória
➢ Retenção de Na+ e água; IC e edema pulmonar em cardiopatas
➢ Nefrotoxicidade (pode levar a necrose papilar e nefrite intersticial)
➢ Redução (baixas doses) ou aumento (altas doses) na excreção de ácido úrico
➢ Disfunção plaquetária e sangramento
➢ Ototoxicidade (princ AAS em altas doses)
➢ SARA (princ idosos, com ingestão regular de salicilatos)
➢ Gravidez ! baixo peso ao nascer; anemia, complicações no parto e fechamento prematuro do
canal arterial, se adm no terceiro trimestre
. I.M:
➢ Reduz as concentrações de indometacina, naproxeno, cetoprofeno e fenoprofeno
➢ Deslocamento de outros fármacos, devido à intensa ligação a ptns plasmáticas ! interação com
varfarina, sulfonilureias ou metrotrexato
➢ Antagonismo da natriurese induzida por espironolactona
. Intoxicação por salicilato ! estimulação do SNC (pode causar convulsões), seguida por depressão; confusão
mental, tonteira, tinido, surdez para altas frequências, delírio, psicose, estupor, coma; náuseas e vômitos;
hipertermia; hiperventilação (levando a alcalose respiratória), seguida por depressão respiratória (levando à
acidose respiratória e IRp); desidratação; hipernatremia; depressão vasomotora (podendo levar ao choque)
➢ Não há antídoto específico para a intoxicação por salicilatos
➢ Salicilismo (intoxicação crônica leve) ! cefaleia, tonteira, tinido, dificuldade auditiva, visão
obscurecida, confusão mental, lassidão, sonolência, sudorese, sede, hiperventilação, náuseas,
vômitos, diarreia
. Indometacina
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➢ M.A: inibidor não-seletivo das COX; 20x mais potente do que o AAS
o Há efeitos adicionais, como inibição da motilidade de polimorfonucleares, depressão da
biossíntese de mucopolissacarídeos e efeito vasoconstritor direto
➢ FC: adm oral; 90% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 2,5h; metabolização hepática
➢ Usos clínicos
o Analgésico, antipirético e anti-inflamatório (geralmente limitado a longo prazo); muito
utilizado em AR, osteoartrite, gota aguda, espondilite anquilosante e dor aguda de ombro
o Fechamento do canal arterial persistente
➢ E.A:
o Efeitos GI semelhantes aos do AAS, porém mais comuns e intensos
o Casos raros de pancreatite aguda e hepatite
o SNC ! cefaleia frontal intensa, tonteira, vertigem, confusão mental, delírios, psicose,
convulsões, depressão grave, suicídio
▪ Deve-se tomar cuidado ao receitar indometacina para pacientes idosos,
epilépticos, com distúrbios psiquiátricos ou doença de Parkinson
o Neutropenia, trombocitopenia, anemia aplásica
. Tolmetina
➢ FC: adm oral; pode persistir por mais tempo no líquido sinovial, resultando em eficácia biológica
mais persistente do que o t1/2 plasmático; 99% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 5h;
metabolização hepática
➢ Usos clínicos ! AR, osteoartrite, AR juvenil, espondilite anquilosante
➢ E.A: efeitos GI e sobre o SNC semelhantes aos da indometacina, porém menos comuns e menos
graves
. Nabumetona
➢ FC: pró-fármaco, necessitando de metabolização hepática ao metabólito ativo
➢ Usos clínicos ! anti-inflamatório eficaz no tratamento de AR e osteoartrite
➢ E.A:
o Cólica abdominal, diarreia; menor incidência de doença péptica gástrica
o Exantema, prurido; cefaleia, tonteira, zumbido, pirose
. Diclofenaco ! mais potente do que a indometacina e outros AINEs; moderada seletividade para COX-2
➢ FC: adm oral (rápida absorção), transdérmica ou oftálmica; ampla ligação as ptns plasmáticas;
substancial efeito de 1a passagem (biodisponibilidade de 50%); t1/2 = 1-2h; acumula-se no
líquido sinovial (por isso, o efeito terapêutico é mais duradouro do que o t1/2 plasmático)
➢ Usos clínicos:
o Tratamento a longo prazo da AR, osteoartrite e espondilite anquilosante
o Dismenorreia, enxaqueca aguda
o Inflamação oftálmica pós-operatória
➢ E.A:
o Efeitos GI (incidência semelhante aos AINEs seletivos para COX-2)
o Hipersensibilidade, exantemas
o Elevação de transaminases
o Efeitos sobre o SNC (semelhantes a indometacina)
o Retenção de líquidos, edema, comprometimento da função renal
➢ Não é recomendando para crianças, gestantes ou mães que amamentam.
. Fármacos específicos:
➢ Ibuprofeno
o FC: adm oral; 99% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 2-4h; metabolização hepática
o E.A:
▪ Efeitos GI (melhor tolerado do que a indometacina e o AAS)
▪ Efeitos oftálmicos ! visão borrada, ampliopia tóxica (suspender uso)
▪ Outros: trombocitopenia, exantema, cefaleia, tonteira, retenção de líquidos, atraso
no parto (se utilizado no terceiro trimestre)
o Interfere nos efeitos antiplaquetários do AAS.
➢ Naproxeno
o FC: adm oral (absorção completa); 99% de ligação as ptns plamáticas; t1/2 = 14h (dobra
no idoso); metabolização hepática
o O naproxeno têm efeitos inibitórios proeminentes sobre a função leucocitária, podendo
ter eficácia levemente melhor. Além disso, ele é um inibidor da COX-1 mais potente do
que o AAS, e parece exercer alguma inibição plaquetária (porém, menos eficaz do que o
AAS em redução do risco CV).
o E.A:
▪ Efeitos GI (mesma frequência, mas menor gravidade do que a indometacina)
▪ SNC ! cefaleia, sonolência, tonteira, fadiga, depressão
▪ Ototoxicidade
▪ Outros, mais raros: prurido, problemas dermatológicos, icterícia,
comprometimento da função renal, angioedema, trombocitopenia, agranulocitose
➢ Outros: fenoprofeno, cetoprofeno, flurbiprofeno, oxaprozina
Fenamatos
. Suas propriedades são semelhantes aos dos AINEs tradicionais típicos, sem vantagens claras. São utilizados
no tratamento de curta duração da dor em lesões de tecidos moles, dismenorreia, AR e osteoartrite. Não são
recomendados para crianças ou gestantes.
. E.A:
➢ Efeitos GI; elevação das transaminases; diarreia com esteatorreia e inflamação intestinal
➢ Anemia hemolítica autoimune (rara, porém potencialmente grave)
Oxicans
. Meloxicam !
➢ M.A: inibição relativamente seletiva da COX-2
➢ FC: adm oral; t1/2 moderado (15-20h); metabolização hepática
➢ Seus usos clínicos são semelhantes aos do piroxicam, com menor incidência de E.A gástricos.
. Nimesulida
➢ M.A: além da inibição seletiva da COX-2, apresenta efeitos adicionais, como inibição da ativação
de neutrófilos, efeito antioxidante, redução da produção de citocinas e enzimas degradantes e,
possivelmente, ativação de receptores de glicocorticoides
➢ E.A: menor incidência de E.A gástricos ou CV; hepatotóxica com o uso prolongado
Outros
➢ M.A: ainda em debate; é um fraco inibidor da COX in vitro; mecanismos potenciais podem
envolver endocanabinoides e os metabólitos ativos da dipirona (MAA)
➢ FC: adm oral ou IV; ação rápida
➢ E.A:
o Hipotensão (adm IV)
o Agranulocitose (rara; motivou proibição nos EUA)
Anestésicos Gerais
Introdução
. Anestésicos gerais promovem depressão global e reversível do SNC, resultando na perda da capacidade de
percepção e resposta a estímulos dolorosos e permitindo a realização de cirurgias e procedimentos
desagradáveis.
. Mecanismos moleculares:
➢ Aumento da sensibilidade dos receptores GABAa ao GABA, intensificando a neurotransmissão
inibitória e deprimindo a atividade do SNC.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 15
➢ Efeitos pós-operatórios
o Náuseas e vômitos (ação dos anestésicos sobre a zona quimiorreceptora do gatilho e sobre
o centro do vômito no bulbo)
o Retomada do tônus simpático, ocasionando hipertensão arterial e taquicardia, e podendo
precipitar isquemia miocárdia em coronariopatas
o Excitação, inquietação, gritos, gemidos e agitação
o Efeitos no SNC, ocasionando delirium, espasticidade, hiperreflexia e sinal de Babinski
o Calafrios pós-anestésicos
! 16 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
o Obstrução das vias respiratórias (efeito anestésico residual), com redução da função
pulmonar e possível hipoxemia
Anestésicos inalatórios
Propriedades gerais
. São agentes com um índice terapêutico extremamente baixo, que os coloca entre os fármacos mais perigosos
em uso clínico. A seleção de um anestésico inalatório consiste frequentemente em ajustar a fisiopatologia do
paciente ao perfil de efeitos colaterais do fármaco.
. FC geral:
➢ Em estado de equilíbrio, a pressão parcial do
gás anestésico é igual em todos os tecidos,
assim como no gás inalado. Entretanto, a
concentração do gás é diferente em cada tecido.
Daí vem o conceito de coeficiente de partição,
isto é, a razão entre a concentração de
anestésico em dois tecidos, quando as pressões
parciais do gás nos dois tecidos são iguais.
➢ Fármacos muito solúveis em gordura, por
exemplo, demoram a atingir o equilíbrio, pois o
tecido adiposo representa um enorme
reservatório a ser preenchido.
➢ A anestesia é produzida quando a pressão
parcial do anestésico no cérebro é igual ou
maior que a CAM. Como o cérebro é bem
perfundido, a pressão parcial anestésica no cérebro iguala-se àquela no gás alveolar e no sangue
em poucos minutos. Portanto, a anestesia é alcançada logo após a pressão parcial alveolar
alcançar a CAM.
➢ A eliminação dos anestésicos inalatórios se dá por um processo reverso ao de sua captação.
Agente de alta solubilidade no sangue e nos tecidos apresentam recuperação em função da
duração de sua administração, porque as quantidades acumuladas nos reservatórios de gordura
impedem que a pressão parcial no sangue e alvéolos caia rapidamente. O despertar ocorre quando
a pressão parcial alveolar alcança a CAMacordado, uma pressão um pouco mais baixa do que a
CAM.
. Mecanismos de ação:
➢ Aumento da sensibilidade de receptores GABAa e glicinérgicos
➢ Redução da atividade de receptores NMDA, AMPA e nicotínicos
➢ Ativação de canais de K+ com domínios de dois poros
. Efeitos gerais:
➢ SNC ! aumento do fluxo sanguíneo cerebral, porém com redução do metabolismo
(desacoplamento fluxo-metabolismo cerebral); redução da amplitude do EEG; alguns podem
causar atividade epileptiforme (especialmente em hiperventilação e hipocapneia); derepssão
respiratória (reduçnao do volume-corrente e FR)
➢ Cardiovascular ! depressão miocárdica e vasodilatação periférica, com redução da PA;
prolongamento do intervalo QT
➢ Respiratório ! broncodilatação; geralmente não causam depressão respiratória pós-operatória
(mas apresentam sinergismo com os opioides)
➢ Outros ! irritação das mucosas (principalmente desflurano e isoflurano); hipotermia
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 17
. Hipertermia maligna ! síndrome caracterizada por hipertermia, taquicardia, hipertensão e rigidez muscular
intensa; causada por anestésicos gerais halogenados ou succinilcolina; relacionada a liberação excessiva de
cálcio
➢ Manejo ! interrupção imediata do anestésico + resfriamento + dantroleno
Propriedades específicas
. Halotano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás e gordura:sangue relativamente altos; indução e
recuperação intermediários; acumula-se na gordura e outros tecidos em uso prolongado; 60-80%
eliminado inalterado pelos pulmões após 24h; o restante é metabolizado no fígado a ácido
trifluoroacético, bromo e cloro, que são excretados na urina
➢ Usos: indução de anestesia (principalmente em crianças) e manutenção
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA; depressão miocárdica e redução da FC; ritmos
atrioventriculares e sensibilização aos efeitos arritmogênicos da epinefrina; vasodilatação
na pele e cérebro, porém sem efeito proeminente sobre a RVP; redução da autorregulação
do fluxo renal e esplâncnico, levando a hipoperfusão
o Respiratório ! respiração espontânea rápida e superficial, com redução da ventilação
alveolar e hipercapnia (entrentanto, não produz aumento da ventilação devido a inibição
da resposta ventilatória ao CO2); inibição da resposta ventilatória a hipoxemia
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral
o Músculos ! relaxamento de musculatura esqulelética e potencialização da ação de
relaxamentes musculares não-despolarizantes; hipertermia maligna; relaxamento uterino
o Rins ! redução do FSR e TFG, reversíveis e sem toxicidade a longo prazo
o GI ! redução do fluxo sanguíneo esplâncnico e hepático; necrose hepática fulminante
(hepatite por halotano; muito grave) pode ocorrer vários dias após a anestesia (deve-se a
ação de metabólitos do halotano)
. Isoflurano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás mais baixo do que halotano e enflurano; indução e
recuperação mais rápidas; quase 100% eliminado inalterado pelos pulmões
➢ Usos: principalmente para manutenção de anestesia; é eficaz para indução, mas evitado devido a
seu odor pungente
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA devido a redução da RVP (vasodilatação principalmente
na pele e músculos); DC relativamente inalterado; vasodilatação coronariana acentuada,
! 18 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
. Enflurano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás relativamente alto; indução e recuperação intermediários;
2-8% são metabolizados no fígado a íons fluoreto; pacientes em uso de isoniazida exibem
metabolismo mais intesno do enflurano
➢ Usos: principalmente manutenção anestésica, mas também é eficaz como indutor
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA, com depressão miocárdica e vasodilatação periférica;
efeitos mínimos sobre a FC
o Respiratório ! depressão respiratória; maior depressão das respostas a hipercapnia e
hipoxemia do que o halotano e isoflurano; broncodilatador
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral; convulsões autolimitadas (principalmente se estiver em
altas concentrações ou na presença de hipocapnia)
o Músculos ! relaxamento de musculatura esqulelética e potencialização da ação de
relaxamentes musculares não-despolarizantes; hipertermia maligna; relaxamento uterino
o Rins ! redução do FSR e TFG, reversíveis e sem toxicidade a longo prazo
o GI ! redução do fluxo sanguíneo esplâncnico e hepático; sem toxicidade
. Desflurano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás muito baixo, com pouca solubilidade em gordura e outros
tecidos; indução e recuperação muito rápidas; 99% são eliminados inalterados pelos pulmões
➢ Usos: amplo uso em cirurgias ambulatoriais (devido a rápida indução e recuperação),
principalmente para manutenção; é eficaz como indutor, mas não é usado devido a irritação das
vias aéreas, que provoca tosse, salivação e broncoespasmo
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA, principalmente por redução da RVP; DC e fluxo
sanguíneo para os principais leitos vasculares preservados; taquicardia transitória
o Respiratório ! aumento da FR e redução do volume-corrente, com preservação do
volume-minuto em baixas concentrações; concentrações maiores do que 1 CAM
deprimem o volume-minuto e promovem hipercapnia; broncodilatação; irritação das vias
aéras, promovendo tosse, laringoespasmo e secreção excessiva
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral
o Músculos ! relaxamento da musculatura esquelética e potencialização da ação de
relaxantes musculares despolarizantes e não-despolarizantes
. Sevoflurano
➢ FC: baixa solubilidade no sangue e outros tecidos; indução e recuperação muito rápidas; cerca de
3% são metabolizados no fígado a hexafluoroisopropanol e fluoreto inorgânico
➢ Usos: amplo uso em cirurgias ambulatoriais (devido a rápida indução e recuperação), tanto para
indução quanto para manutenção
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 19
➢ E.A:
o Reage com absorvente dessecado de CO2, produzindo queimaduras nas vias respiratórias,
combustão espontânea, explosão e incêndio, além de produção de CO
o Cardiovascular ! redução da PA por diminuição da RVP e do DC; não produz
taquicardia
o Respiratório ! aumenta a FR e reduz o volume-corrente, porém com redução global do
volume-minuto e aumento da PCO2; broncodilatador (mais eficaz de todos)
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral; em crianças, pode propiciar delirium ao despertar,
porém de vida curta e sem sequelas a longo prazo
o Músculos ! relaxamento da musculatura esquelética e potencialização da ação de
relaxantes musculares despolarizantes e não-despolarizantes
o Rins ! possível nefrotoxicidade devido ao composto A (produto de degradação gerado
pela interação do sevoflurano com a cal sodada, utilizada como absorvente de CO2)
. Óxido nitroso
➢ M.A: antagonismo não-competitivo de receptores NMDA
➢ FC: muito insolúvel no sangue e tecidos; indução e recuperação muito rápidas; 99% são
eliminados inalterados pelos pulmões
o Efeito do segundo gás ! a imediata assimilação do óxido nitroso concentra anestésicos
halogenados coadministrados, acelerando a indução da anestesia
o Hipoxia por difusão ! após ter sua administração interrompida, o óxido nitroso difunde-
se rapidamente do sangue para os alvéolos, podendo diluir o O2; para evitar esse efeito,
dee-se administrar O2 a 100% quando a adm do óxido nitroso é interrompida
o O óxido nitroso pode interagir com o cobalto da vitamina B12, evitando sua ação como
cofator e podendo produzir sinais de deficiência dessa vitamina, especialmente em
pacientes desnutridos, alcoolistas ou com deficiência de B12. Por isso, não é utilizado
como analgésico crônico nem como sedativo em pacientes críticos.
➢ Usos: apresenta efeitos analgésicos significativos (ativa neurônios opioidérgicos na GPA e
neurônios adrenérgicos na substância ferruginosa), mas é um anestésico fraco e incompleto (só se
alcança anestesia cirúrgica em condições hiperbáricas); dessa forma é utilizado em pacientes
odontológicos para promover analgesia e sedação branda ou como adjuvante de outros
anestésicos inalatórios e IV
➢ E.A:
o O óxido nitroso entra em qualquer cavidade do corpo que contenha ar, a uma velocidade
maior do que o N2 consegue sair. Dessa forma, aumenta a pressão de cavidades e pode
expandir coleções de ar, como pneumotórax, ouvido médio obstruído, embolias gasosas,
alças intestinais obstruídas, bolhas intraoculares, bolhas pulmonares e ar intracraniano.
o Cardiovascular ! não há depressão miocárdica in vivo; aumenta o tônus venoso e a
pressão arterial pulmonar (CI em pacientes com HAP); aumenta a FC, PA e DC se
coadministrado com halogenados; reduz a PA e o DC se coadministrado com opioides
o Respiratório ! aumento modesto da FR e redução do volume-corrente; depressão notável
da resposta ventilatória a hipóxia
o SNC ! auento expressivo do fluxo sanguíneo cerebral e PIC (atenuada pela
coadministração de opioides e propofol; acentuada pela coadministração de halogenados)
. Xenônio
➢ FC: extremamente insolúvel no sangue e tecidos; indução e recuperação extremamente rápidas
➢ Usos: é eficiente para produzir anestesia, podendo ser necessária a suplementação com um agente
IV (como o propofol); entretanto, seu uso é muito limitado pois é um gás raro, que não pode ser
manufaturado e deve ser extraído do ar, o que o torna caro e pouco disponível
➢ Não apresenta efeitos colaterais significativos sobre o sistema cardiovascular e outros.
Anestésicos intravenosos
Propriedades gerais
! 20 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
. FC geral:
➢ São compostos pequenos e altamente
lipofílicos, com excelente distribuição no
cérebro e medula espinhal, com rápida indução
após uma única circulação. Os níveis
sanguíneos caem rapidamente depois, devido a
redistribuição do fármaco, que determina o
término da anestesia após doses únicas
administradas em bolo.
➢ Acumula-se no tecido adiposo.
➢ O t1/2 desses fármacos é “sensível ao
contexto”, ou seja, depende de interações
complexas entre a taxa metabólica, quantidade
e lipofilia do fármaco.
Propriedades específicas
. Etomidato
➢ M.A: modulação alostérica de receptores GABAa
➢ FC: início e duração de anestesia similar ao tiopental, porém com recuperação mais rápida;
metabolismo hepático e eliminação renal e biliar
➢ Usos: utilizado principalmente para indução anestésica em pacientes com doença cardiovascular
e/ou sob risco de hipotensão; há uso extra-bula para manutenção anestésica ou sedação, mas a
infusão prolongada não é recomendada
➢ E.A:
o A administração de etomidato é acompanhada por dor à injeção e movimentos
mioclônicos (podem ser reduzidos pela pré-medicação com BZD ou opioides).
o Cardiovascular ! pequeno aumento da FC, com pouca ou nenhuma redução da PA e DC;
reduz o consumo miocárdico de O2
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 21
. Cetamina
➢ M.A: antagonismo não-competitivo de receptores NMDA
➢ FC: adm principalmente IV, mas também é eficaz pelas vias IM, oral e retal; indução
relativamente lenta e curta duração de ação; ligação proteica bem menos intensa do que os outros
fármacos IV; metabolismo hepático a norcetamina (atividade reduzida no SNC), que é
posteriormente metabolizada e excretada na urina e bile; a depuração rápida e grande volume de
distribuição a tornam adequada para infusão prolongada, sem que haja prolongamento da ação
➢ Usos: útil para indução de anestesia em pacientes sob risco de hipotensão e broncoespasmo, além
de determinados procedimentos pediátricos curtos
o A cetamina produz anestesia dissociativa: os pacientes tem analgesia profunda, ficam
irresponsivos e desenvolvem amnésia, mas mantém os olhos abertos, movem seus
membros involuntariamente e respiram espontaneamente (estado cataléptico).
➢ E.A:
o Cardiovascular ! aumento da PA, FC e DC (atividade simpaticomimética indireta, por
inibição da captação de catecolaminas a nível central e periférico); aumenta o consumo
miocárdico de O2 (não é indicada para coronariopatas)
o Respiratório ! depressão respiratória bem menos grave do que os outros anestésicos
gerais; broncodilatador potente
o SNC ! estado cataléptico, acompanhado por nistagmo, midríase, salivação,
lacrimejamento e hipertonia muscular; aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e a PIC, com
alteração mínima do metabolismo cerebral; delirium durante a recuperação anestésica
(incidência reduzida pela adm de BZD)
. Barbitúricos (tiopental)
➢ M.A: modulação alostérica de receptores GABAa e glicinérgicos, além de alguma inibição
glutamatérgica
➢ FC: indução rápida, com duração dependente do tempo de infusão (curta em doses únicas;
infusões prolongadas ou doses altas podem produzir inconsciência que dura vários dias, devido a
eliminação lenta e grande volume de distribuição); ligação de 85% as ptns plasmáticas;
metabolismo hepático lento e excreção renal; uma pequena fração do tiopental é metabolizado a
pentobarbital, um hipnótico de longa ação
➢ Usos: indução anestésica, principalmente em procedimentos de curta duração; suplementação de
outros anestésicos
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA, principalmente devido à venodilatação e, em menor
grau, à redução direta da contratilidade miocárdica; aumento reflexo da FC, embora haja
embotamento do barorreflexo
o Respiratório ! depressão respiratória, com redução do volume-corrente e FR (em menor
grau); redução das respostas à hipercapnia e hipóxia; apneia com doses altas ou na
presença de outros depressores respiratórios (ex: opioides); liberação de histamina,
podendo induzir broncoespasmo em asmáticos
o SNC ! redução do fluxo sanguíneo cerebral, PIC e taxa metabólica; efeito
anticonvulsivante (pode ser utilizado para tratamento do estado epiléptico)
o Outros ! reações de hiperssensibilidade; ataques fatais de porfiria em pacientes com
porfiria aguda intermitente ou variegada; injeção intra-arterial pode induzir inflamação
! 22 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
Adjuvantes anestésicos
. Benzodiazepínicos ! utilizados como medicação pré-anestésica (principalmente o midazolam, seguido de
longe por diazepam e lorazepam), devido a seus efeitos ansiolíticos, amnésticos e sedativos, apesar de
prolongarem o tempo de recuperação pós-operatória; podem ser utilizados para sedação em procedimentos
que não requerem anestesia geral
. Analgésicos ! exceto a cetomidina, nenhum dos outros anestésicos gerais é um analgésico eficaz; embora
AINEs e paracetamol resultem, às vezes, em analgesia adequada para procedimentos menores, na grande
maioria das vezes é necessário o uso de opioides, devido à analgesia rápida e profunda que produzem
➢ Os principias opioides utilizados são a fentanila, sufentanila, alfentanila, remifentanila,
meperidina e morfina. A escolha depende da duração de ação desejada, posto que todos produzem
analgesia e E.A similares.
o Remifentanila ! ação curta (10 min), utilizada para procedimentos breves
o Fentanila, alfentanila e sufentanila ! duração intermediária, com recuperação variável
(fentanila > sufentanila > alfentanila)
➢ O uso de opioides aumenta a frequência e gravidade de náuseas, vômitos e prurido que surgem
após a recuperação anestésica. A meperidina reduz os calafrios pós-operatórios.
!
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 23
Introdução
Benzodiazepínicos
. OBS: Há uma classificação, tendendo ao desuso, entre os receptores GABAa sensíveis aos BZD:
➢ Tipo 1 ! mais comum no SNC; medeia sedação
➢ Tipo 2 ! amígdala, hipocampo, estriado, medula; medeia ansiólise
. FC: adm oral (absorção completa), IM ou IV (no Brasil, apenas o diazepam e o midazolam); ligação de
70-99% às ptns plasmáticas; t1/2 depende do fármaco; muito lipofílicos, com excelente penetração no SNC;
metabolismo hepático (alguns BZD são biotransformados a metabólitos ativos com t1/2 mais longa; portanto,
! 24 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
. Usos terapêuticos:
➢ Insônia e distúrbios do sono (hipnose;
preferência por fármacos com t1/2 curto)
➢ Transtornos de ansiedade (preferência por
t1/2 longo) ! principalmente distúrbios
agudos, pois o uso crônico gera tolerância
e/ou dependência
➢ Anticonvulsivantes (preferência por início
de ação rápido e t1/2 longo)
➢ Alguns distúrbios do movimento
➢ Abstinência alcóolica
➢ Medicação pré-anestésica
. Efeitos adversos:
➢ Sedação, amnésia anterógrada, confusão,
comprometimento das funções mentais
➢ Ataxia, relaxamento muscular
➢ Aumento de convulsões em algumas epilepsias
➢ Cefaleia, borramento visual, vertigem
➢ Náuseas, vômitos, desconforto epigástrico, diarreia
➢ Dor articular, incontinência (raras)
➢ Piora da AOS e da respiração em pacientes com DPOC
➢ Depressão respiratória (princ IV, quando associados a etanol, outros depressores do SNC ou
outras co-morbidades)
➢ Efeitos paradoxais: pesadelos, desinibição, agitação, paranoia, depressão, ideação suicida (raros;
princ idosos, crianças, pacientes com dor ou história de comportamento anti-social ou agressivo)
➢ Síndrome de abstinência: insônia, ansiedade de rebote (princ fármacos com t1/2 curto), disforia,
irritabilidade, suores, pesadelos, anorexia, tremores, síncope, tonteira, crises convulsivas !
redução gradual, se houver uso por 2 ou mais semanas
➢ Reações alérgicas, hepatotóxicas e hematológicas (raras)
➢ Hipotermia, hipotonia e leve depressão respiratória no neonato, se utilizado durante o parto;
síndrome de abstinência no neonato, se houve abuso da mãe durante a gestação
. O flumazenil é um antagonista do sítio de ligação dos BZD no receptor GABAa; é utilizado como antídoto
para a intoxicação por BZD ou substâncias Z.
➢ FC: adm IV; t1/2 = 1h; duração de ação = 30-60 min; metabolismo hepático;
. A bicuculina é um antagonista do local de ligação do GABA; dessa forma, sua administração prévia impede
a ação dos BZD.
Substâncias Z
. M.A: embora não sejam BZD, atuam no mesmo sítio de ligação alostérica no receptor GABAa, aumentando
a afinidade pelo GABA
➢ Efeito principal é a hipnose, devido à sua relativa seletividade por receptores GABAa com a
subunidade alfa-1 (tipo 1). Promovem redução da latência do sono e aumento do tempo total de
sono em pacientes com insônia (principal indicação).
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 25
➢ Pouca ação ansiolítica, anticonvulsivante ou relaxante muscular; porém, podem causar amnésia
anterógrada.
➢ Assim como os BZD, depressão respiratória só ocorre com a associação de outros depressores do
SNC ou etanol.
➢ Ocorre tolerância e/ou dependência com o use prolongado ou em doses altas.
. Fármacos:
➢ Zaleplona ! adm oral; absorção rápida e pico em 1h; t1/2 = 1h (pode ser usado no meio da
noite); metabolismo hepático a metabólitos inativos e excreção renal; menos E.A
➢ Zolpidem ! adm oral; absorção rápida; t1/2 = 2h (uso ao deitar, cobre a noite inteira);
metabolismo hepático a metabólitos inativos e excreção renal; pode gerar insônia de rebote,
sedação diurna ou amnésia residuais, sendo recomendado o uso por períodos curtos
➢ Eszopiclona ! adm oral; absorção rápida; t1/2 = 6h; metabolismo hepático; não gera tolerância
ou sintomas de abstinência grave; pode causar paladar amargo; uso princ no tratamento
prolongado da insônia
Barbitúricos
. Usos clínicos:
➢ Insônia e ansiedade (substituídos por BZD, devido a maior segurança)
➢ Crises convulsivas
! 26 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
➢ Sedação pré-anestésica
➢ Anestesia geral
. I.M: outros depressores do SNC, etanol, isoniazida, metilfenidato e inibidores da MAO (produzindo
depressão grave do SNC); interação farmacocinética com hormônios esteroides (causando distúrbios
endócrinos), contraceptivos orais, clorocarbônicos (podem gerar necrose periportal hepática)
Outros
. Carisoprodol ! convertido a meprobamato; mesmo M.A e riscos que os barbitúricos
➢ É utilizado como sedativo-hipnótico, ansiolítico e relaxante muscular. Aumenta o efeito
analgésico de outros fármacos, sendo associado com AINEs e cafeína. Há alto potencial de uso
abusivo.
➢ Apesar da boa absorção com adm oral, podem se formar bezoares gástricos (comprimidos não
dissolvidos), que necessitam de remoção endoscópica. O metabolismo é hepático e pode ocorrer
indução de CYPs.
➢ E.A: em baixas doses, semelhante aos BZD (sonolência, ataxia, comprometimento do
aprendizado e do tempo de reação); em altas doses, pode provocar depressão respiratória grave,
hipotensão e choque
. Serotoninérgicos
➢ Indiretos (ISRS, IRSN, tricíclicos) !
tratamento crônico da ansiedade; mais detalhes
no resumo de antidepressivos
➢ Direto (buspirona)
o M.A: agonista parcial do receptor 5-
HT1A (inibindo sinapses excitatórias);
também bloqueia receptores D2 e seu
metabólito é um alfa-2 bloqueador
o É utilizado como ansiolítico de 2a
linha, devido ao início de ação
demorado (até 2 semanas). Entretanto,
apresenta vantagens: menos sedação e
ataxia; menor dependência e potencial
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 27
de absuo; sem interação com etanol e outros sedativos; sem síndrome de abstinência pós-
retirada.
o E.A: taquicardia, nervosismo, náuseas, cefaleia, miose
. Hidrato de cloral ! efeitos simulares aos dos barbitúricos sobre os receptores GABAa, após metabolismo
hepático ao fármaco ativo (tricloroetanol)
➢ Semelhante aos barbitúricos, é capaz de provocar depressão geral do SNC em graus variáveis,
com hipnose profunda. O índice terapêutico é igualmente estreito e é semelhante aos barbitúricos
no que se refere à tolerância, dependência, síndrome de abstinência, EA e intoxicação. O uso atual
é muito limitado.
. Fitoterápicos
➢ Passiflora spp (maracujá) ! sedativo e ansiolítico com eficácia comprovada, com mecanismo
provavelmente GABAergico
➢ Valeriana officinalis (valiriana) ! sedativo e ansiolítico com pouca evidência de eficácia
➢ Hypericum perforatum (erva de São João) ! antidepressivo com eficácia comprovada, aumenta
5-HT cerebral; porém, muitas I.M
Farmacologia clínica
Insônia
. Classificação:
➢ Insônia secundária a condições físicas (dor, prurido, dispneia, AOS, fármacos, etc)
➢ Insônia secundária a distúrbios psiquiátricos (ansiedade, depressão, mania, esquizofrenia)
➢ Insônia transitória (<3 dias; causada por estressores ambientais e situacionais breves – ex: jet lag)
➢ Insônia de curto prazo (3 dias – 3 semanas; estressores pessoais, como doenças, sofrimentos,
problemas no trabalho, etc)
➢ Insônia crônica, de longo prazo (mais de 3 semanas, sem estressor identificado)
. Nas insônias secundárias, o tratamento da doença de base frequentemente resolve a insônia; BZD e medidas
não-farmacológicas podem ser adjuvantes.
. Medidas não-farmacológicas:
➢ Ir para a cama somente com sono e sair dela se não conseguir dormir
➢ Utilizar a cama somente para dormir ou para atividade sexual
➢ Evitar assistir televisão, comer ou conversar antes do sono
➢ Limitar a ingestão de cafeína e álcool a noite
➢ Horário regular para dormir
➢ Restringir o sono diurno
➢ Exercícios físicos moderados durante o dia
➢ Quarto com temperatura adequada e silencioso
➢ Massagem e redução das tensões
. Fármacos:
➢ Moduladores do receptor GABAa
o Benzodiazepínicos (BZD)
o Substâncias Z
! 28 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
o Barbitúricos
➢ Outros: ramelteon, suvorexant
Ansiedade
. Fármacos ansiolíticos:
➢ Moduladores do receptor GABAa
o BZD ! uso preferencial para distúrbios
agudos; evitar uso crônico
o Barbitúricos
➢ Neuromodulação por monoaminas ! tratamento de
distúrbios crônicos
o Buspirona
o Ansiolíticos-antidepressivos (ISRS, IRSN)
➢ Modulação das manifestações do SNA
o Beta-bloqueadores
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 29
Antidepressivos
Introdução
. Classificação da depressão:
➢ Depressão unipolar (depressão maior)
➢ Depressão bipolar (transtorno maníaco-depressivo) – ver Antipsicóticos
. Fármacos:
➢ Fluoxetina ! também apresenta propriedades de bloqueio da NET e de receptores 5-HT2
➢ Paroxetina ! também apresenta propriedades de bloqueio da NET e de receptores muscarínicos
➢ Sertralina ! também apresenta propriedades de bloqueio de recaptação de dopamina
➢ Citalopram, escitalopram (isômero ativo do citalopram) e fluvoxamina ! apenas bloqueio da
SERT ! menos E.A
. FC: adm oral; t1/2 compatível com dose única diária; metabolismo hepático
➢ A fluoxetina apresenta ação combinada com seus metabólitos desmetilanorfluoxetina e
norfluoxetina (t1/2 = 1-2 semanas), permitindo adm em dose única semanal.
➢ A paroxetina apresenta t1/2 mais curto e não tem metabólitos ativos, apresentando maior risco de
síndrome de abstinência após retirada
. I.M:
➢ Inibição da CYP2D6 (princ paroxetina e fluoxetina, em menor grau) ! interação com
tamoxifeno, ATC (aumento de sua exposição) e outras drogas metabolizados por essa enzima
➢ Efeitos potencializados pela co-administração com IMAO ! síndrome serotoninérgica
(hipertermia, rigidez muscular, mioclonias, tremores, disautonomias, confusão, irritabilidade,
agitação, colapso cardiovascular; pode evoluir para coma e morte)
o Devido a essa I.M potencialmente fatal, deve-se aguardar pelo menos 2 semanas entre o
término do tratamento com IMAO e o início de tratamento com ISRS (e vice-versa). Uma
exceção é a fluoxetina – devido ao longo t1/2 de seus metabólitos, deve-se aguardar pelo
menos 5 semanas para iniciar adm de IMAO.
. Indicações:
➢ Depressão maior
➢ Transtornos de ansiedade (TOC, transtorno de pânico, TEPT)
➢ Bulimia nervosa
➢ Síndrome pré-menstrual disfórica
➢ Prevenção de sintomas vasovagais após a menopausa
. M.A: inibição da SERT + inibição da NET (responsável pela recaptação pré-sináptica de NA) !
prolongamento da neurotransmissão serotoninérgica e noradrenérgica (eficácia equivalente aos ISRS)
. FC:
➢ Venlafaxina ! adm oral; t1/2 = 5h; metabolismo hepático a desvenlafaxina (ativo, com t1/2 =
11h); excreção renal (ajuste em pacientes com insuficiência renal ou hepática)
➢ Duloxetina ! adm oral; t1/2 = 12h; CI em pacientes com doença renal terminal ou insuficiência
hepática
. E.A:
➢ Estímulo excessivo de 5-HT2 cerebral ! insônia, ansiedade, irritabilidade, redução da libido
➢ Estímulo excessivo de 5-HT2 espinal ! disfunção erétil, anorgasmia, retardo na ejaculação
➢ Estímulo de 5-HT3 central e periférico ! náuseas, vômitos, diarreia
➢ Outros ! embotamento intelectual e da concentração, sd de abstinência após retirada (tonteira,
cefaleia, nervosismo, náuseas, insônia; mais intensa para a venlafaxina, devido ao t1/2 mais
curto), hipertensão diastólica (apenas venlafaxina; menor com a formulação de liberação
prolongada)
. I.M: síndrome serotoninérgica se co-administrados com IMAO (aguardar um período de 7 dias para a
venlafaxina ou 5 dias para a duloxetina)
. Indicações:
➢ Depressão maior
➢ Transtornos de ansiedade
➢ Fibromialgia e dor neuropática (duloxetina)
➢ Usos extra-bula: incontinência urinária (duloxetina), autismo, transtorno de compulsão alimentar,
ondas de calor, síndromes dolorosas, síndrome pré-menstrual disfórica, TEPT (venlafaxina)
. FC: adm oral; t1/2 = 8-80h (permite dose única diária); metabolismo hepático
➢ Aproximadamente 7% dos pacientes metabolizam ATCs lentamente, devido a uma isoenzima
CYP2D6 variante, causando uma diferença e 30x nas concentrações plasmáticas do fármaco.
Como a janela terapêutica desses fármacos é estreita, é necessária a monitorização de seus níveis
plasmáticos, visando a um possível ajuste da dose.
. E.A:
! 32 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
. I.M:
➢ Aumento da exposição plasmática se co-administrados com inibidores da CYP2D6 (ex: ISRS,
fenotiazina, antiarrítmicos da classe 1C)
➢ E.A mais proeminentes se co-administrados com antagonistas H1, alfa1-adrenérgicos ou
muscarínicos
➢ Potencializam o efeito de aminas simpaticomiméticas
➢ Não devem ser co-administrados com IMAO ou antes de 2 semanas após sua suspensão
. C.I (relativas): glaucoma de ângulo fechado, íleo paralítico, HPB, arritmias com BAV, epilepsia, distúrbios
do equilíbrio
. Indicações:
➢ Depressão (não são 1a linha)
➢ Depressão com transtorno psicótico associado (geralmente associados a antipsicóticos)
➢ Transtornos de ansideda (transtorno de pânico, TOC, fobias)
➢ Insônia (ATC de amina terciária)
➢ Dor neuropática
➢ Incontinência urinária infantil
➢ Outros, menos estabelecitos: bulimia e outros transtornos alimentares, TDAH
. Fármacos
➢ “Clássicos” (fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida) ! inibição irreversível e não-seletiva,
com duração de 2-4 semanas
➢ Moclobemida ! inibição reversível da MAO-A, com duração de 12h
➢ Selegilina ! inibição reservísel da MAO-B (única encontrada nos neurônios serotoninérgicos;
entretanto, só é eficaz em doses que também inibam a MAO-A), com possibilidade de adm
transdérmica ! menor potencial para interações graves
. FC: adm oral; t1/2 de até 24h (dose única diária); duração de ação longa (inibidores irreversíveis – atividade
da MAO só se recupera após até 2 semanas); metabolismo por acetilação
➢ Cerca de 50% da população branca e uma porcentagem ainda maior de asiáticos é composta por
“acetiladores lentos”, que apresentam níveis plasmáticos mais elevados desses fármacos.
. E.A:
➢ Crise hipertensiva potencialmente fatal (decorrente de interações medicamentosas e alimentares)
➢ Hipotensão postural, ganho de peso
➢ Tremores, excitação, insônia
➢ Efeitos anticolinérgicos (menor do que os ATC)
➢ Hepatotoxicidade
➢ Convulsões e mania (superdosagem)
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 33
. I.M:
➢ Alimentos que contém tiramina (normalmente metabolizada pela MAO no fígado e mucosa
intestinal; induz a liberação de NA e adrenalina); simpaticomiméticos ! crise hipertensiva aguda,
com cefaleia latejante intensa e risco de hemorragia intracraniana
o Assim, devem ser evitados alimentos ricos em tiramina, como queijos envelhecidos,
arenque defumado, cerveja, vinhos, fígado, extratos de leveduras, embutidos e feijões de
fava.
➢ Depressores do SNC (opioides, álcool, anestésicos) não devem ser co-administrados
➢ ISRS, IRSN, antagonistas do receptor de sertotonina e opioides podem precipitar síndrome
serotoninérgica
➢ Também evitar co-administração com bupropriona e ATC
. Indicações:
➢ Depressão (apenas se refratária a ISRS e ATC)
➢ Depressão atípica
➢ Fobias
➢ Doença de Parkinson (selegilina)
. Fármacos, FC e E.A:
➢ Mirtazapina ! também inibe receptores alfa2-adrenérgicos pré-sinápticos (aumentando a
liberação de NA e 5-HT) e receptores H1
o FC: adm oral; t1/2 = 16-30h (mudança de dose apenas a cada 1-2 semanas); depuração
reduzida em idosos, IR ou insuficiência hepática
o E.A: sedação (antagonismo H1), aumento do apetite, ganho de peso; agranulocitose (raro)
➢ Trazodona ! também inibe receptores alfa1-adrenérgicos, receptores H1, SERT e autoreceptor 5-
HT1
o E.A: sedação; priapismo (raro)
➢ Nefazodona ! também inibe SERT e autoreceptor 5-HT1
o FC: adm oral; t1/2 = 2-4h; metabolismo hepático a hidroxinefazodona (ativo, com t1/2 =
1,5-4h)
o E.A: sedação, tonteira, insuficiência hepática (descontinuado nos EUA)
. I.M:
➢ Trazodona e nefazodona ! síndrome serotoninérgica se co-administrados com IMAO; reduzir a
dose de trazodona quando co-administrados com inibidores da CYP3A4
. São indicados principalmente para o tratamento de pacientes deprimidos com insônia (devido a suas
propriedades sedativas), além de aumentar a resposta antidepressiva dos ISRS
Outros antidepressivos
. Bupropriona
➢ M.A: múltiplo, depende de:
o Inibição dos recaptadores NET, SERT e DAT (principal) ! aumento da neurotransmissão
noradrenérgica, serotoninérgica e dopaminérgica
o Liberação pré-sináptica de NE e dopamina
o Inibição do VMAT2
o Inibição de receptores nicotínicos neuronais
➢ FC: adm ora; t1/2 = 21h;metabólito ativo (hidroxibupropriona); eliminação hepática e renal
(ajuste em hepatopatas graves e IR)
! 34 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
➢ E.A: convulsões (princ doses altas); tonteira, agitação, tremores, xerostomia, sudorese,
agravamento de sintomas psicóticos
➢ I.M: possivelmente com fármacos metabolizados pela CYP2D6
➢ Indicações:
o Depressão (geralmente associada a ISRS)
o Prevenção de transtorno depressivo sazonal
o Cessação do tabagismo
o TDAH
o Extra-bula: dor neuropática, perda de peso
. Agomelatina
➢ M.A: agonista melatoninérgico, ativa receptores MT1 e MT2 + inibe receptores 5-HT2C
➢ Não causa disfunção sexual e pode ter início de ação mais rápido do que os ISRS
➢ E.A: sedação, possível hepatotoxicidade
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 35
Psicose - introdução
. Psicose é um sintoma de doença mental, caracterizado por senso distorcido ou inexistente da realidade. Os
transtornos psicóticos incluem: transtornos do humor (depressão maior e mania) com características
psicóticas; delirium com aspectos psicóticos; demência com características psicóticas; transtorno psicótico
breve; transtorno delirante; transtorno esquizoafetivo; esquizofrenia.
➢ Na esquizofrenia, há sintomas positivos (alucinações, ilusões, fala e comportamento desorganizados,
agitação), sintomas negativos (apatia, avolição, alogia) e déficits cognitivos (principalmente de
memória ocupacional, velocidade de processamento e cognição social).
. "Hipótese da dopamina (DA)" → baseada em evidências terapêuticas empíricas, preconiza que a psicose se
deve a uma hiperreatividade à DA. Atualmente, diversas limitações foram descobertas em relação a essa
hipótese, de forma que novos fármacos, que antagonizam a neurotransmissão de outras substâncias, foram
desenvolvidos.
➢ Antipsicóticos típicos (1a geração) → antagonistas do receptor D2 de dopamina → importantes E.A
extrapiramidais
➢ Antipsicóticos atípicos (2a geração) → antagonistas mais potentes do receptor 5-HT2, com menor
bloqueio do receptor D2 → E.A extrapiramidais mais limitados
. O principal objetivo da terapia antipsicótica é a diminuição dos sintomas agudas que angustiam o paciente,
em especial os sintomas comportamentais, que podem representar risco para o mesmo ou outras pessoas. Com
exceção da clozapina (que apresenta maior eficácia na esquizofrenia refratária), não há diferenças sensíveis na
eficácia dos diferente antipsicóticos para o tratamento dos distúrbios subjacentes; dessa forma, a escolha do
fármaco deve levar em consideração seus E.A, propriedades farmacocinéticas, características adicionais
(antagonismo H1 ou muscarínico) e particularidades do paciente.
. Tratamento a longo prazo da esquizofrenia → a escolha do fármaco deve se basear em seu perfil de E.A e na
resposta do paciente (em geral, os antipsicóticos atípicos são melhor tolerados que os típicos)
➢ Existem antipsicóticos injetáveis de longa ação (ILA ou antipsicóticos de depot), utilizados para
pacientes com adesã precária ao tratamento.
➢ Esquizofrenia refratária é aquela em que não há resposta adequado aos fármacos, utilizados por
períodos adequados de tempo. Nesses casos, está indicado o uso da clozapina (que apresenta diversos
E.A indesejáveis) e, como último recurso, eletroconvulsoterapia.
. Fármacos:
➢ Típicos → fenotiazinas (clorpromazina, perfenazina, trifluoperazina, flufenazina, tioridazina), outros
(haloperidol, loxapina, molindona)
➢ Atípicos → aripiprazol, asenapina, clozapina, olanzapina, hoperidona, paliperidona, risperidona,
ziprasidona, quetiapina
. Mecanismos de ação:
➢ Todos os antipsicóticos bloqueiam a
neurotransmissão dopaminérgica,
principalmente por meio do antagonismo
ao receptor D2
o Uma exceção é o aripiprazol, que é um
agonista parcial do receptor D2
(apresenta afinidade apenas
ligeiramente inferior à da DA, mas
apenas 25% de sua atividade
intrínseca). Devido a essa
característica, causa menos E.A
extrapiramidais.
o O antagonismo dos receptores D2 no
sistema límbico levam a tranquilização da agitação psicomotora, diminuição da agressividade e do
isolamento social, além de menor interferência de processos de pensamento desorganizado,
delírios e alucinações.
➢ Os antipsicóticos atípicos apresentam antagonismo significativamente mais fraco do receptor D2
(gerando menos E.A extrapiramidais), combinado com potente antagonismo do receptor 5-HT2.
o A clozapina apresenta outras atividades, como agonismo e antagonismo em subtipos de receptores
muscarínicos, além de antagonismo dos receptores D4 de dopamina (receptor presente em regiões
límbicas, que podem contribuir para as ações antipsicóticas; entretanto, fármacos seletivos para
esse receptor não apresentam eficácia antipsicótica isolada).
➢ Não ocorre adicção aos fármacos antipsicóticos. Desenvolve-se, contudo, tolerância aos seus efeitos
anti-histamínicos e anticolinérgicos, geralmente ao longo de dias ou semanas.
. FC: adm oral (absorção alta; há preparações líquidas e comprimidos de dissolução oral) ou IM (depende do
fármaco); altamente lipofílicos, penetram com facilidade a BHE (acumulando-se no cérebro) e a barreira
placentária, além de serem excretados no leite materno; apesar do t1/2 geralmente curto, os efeitos biológicos
persistem por pelo menos 24h, permitindo adm única diária; o t1/2 é muito maior nas preparações de depósito;
alta ligação às ptns plasmáticas; metabolismo hepático, com posterior excreção renal e biliar (em menor
quantidade); a maioria dos metabólitos é inativo, exceto os da iloperidona, haloperidol, risperidona, clozapina
e aripiprazol
. Usos clínicos:
➢ Transtornos psicóticos (como já comentado)
➢ Transtornos de ansiedade → adjuvantes no tratamento do TOC e TEPT (princ baixas doses de
quetiapina, olanzapina e risperidona)
➢ Síndrome de La Tourette (princ risperidona e aripiprazol)
➢ Sintomas de irritabilidade em criança com autismo (risperidona, aripiprazol)
➢ Uso antiemético → proteção contra efeitos nauseantes de agonistas da DA (o mais utilizado é a
proclorperazina, um antagonista fraco da DA sem efeitos antipsicóticos)
. E.A
➢ Antagonismo D2 (todos, exceto o aripiprazol) → sintomas extrapiramidais: distonias e parkinsonismo
(podem ser tratados com antiparkinsonianos, em especial a amantadina), discinesias tardias, com
coreia e tiques (se devem à suprarregulação dos receptores D2 devido ao bloqueio crônico; podem ser
aliviadas com o uso de um antagonista mais forte, embora isso possa piorar o quadro a longo prazo,
ou substituindo para um agente mais fraco, como a clozapina); acatisia (tratada com BZD, beta-
bloqueadores, redução da dose ou troca do fármaco); síndrome neuroléptica maligna (rara; se
caracteriza por parkinsonismo muito grave, com instabilidade autonômica - hipertermia e
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 37
. I.M:
➢ Clorpromazina, perfenazina e tioridazina inibem a CYP2D6
➢ t1/2 alterado por fármacos indutores ou inibidores de CYPs
➢ Tabagismo causa suprarregulação da CYP1A2, alterando os níveis séricos de clozapina
. Os antipsicóticos são considerados seguros para uso na gravidez, apesar da intensa passagem placentária (o
fármaco considerado mais seguro é o haloperidol). O uso na lactação é perigoso, devido ao baixo nível de
atividade catabólica hepática do RN, com aumento do risco de toxicidade.
Mania - introdução
. Mania é um período de humor elevado, expansivo ou irritável, associado a aumento de energia e da atividade
dirigida a um objetivo, além de menor necessidade de sono.
➢ A mania representa um polo do transtorno bipolor (doença maníaco-depressiva). Também pode ser
induzida por fármacos (agonistas dopaminérgicos, antidepressivos, estimulantes) e drogas de abuso
(cocaína, anfetamina).
➢ A hipomania é uma forma menos grave de mania, que não resulta em prejuízo funcional ou
hospitalização, nem está associada a sintomas psicóticos. Também pode estar associada a depressão,
nos transtornos bipolares.
. Anticonvulsivantes → utilizados para mania aguda (ácido valproico, carbamazepina) e para manutenção de
transtorno bipolar (lamotrigina); mais detalhes no resumo correspondente
. Lítio
➢ M.A: múltiplo e ainda não totalmente compreendido; pode envolver:
o Inibição da inositol-monofosfatase, da via do fosfatidilinositol → redução da concentração de
inositol no cérebro
o Redução da função de proteinocinases, principalmente a PKC → pode alterar a liberação de
aminas neurotransmissoras e de hormônios, assim como a atividade da tirosina-hidroxilase
o Inibição da atividade da GSK-3beta (reguladora de crescimento axonal e remodelamento
sináptico)
o Redução da rotatividade do ácido araquidônico, expressão de PLA2 e níveis de COX-2
! 38 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
➢ FC: adm oral (absorção imediata e quase completa); há preparações de liberação prolongada;
passagem lenta e incompleta pela BHE (níveis no cérebro são de 40-50% dos níveis séricos), mas
cruza livremente a placenta; t1/2 = 20-24h; excreção renal (aumentada pela adm de Na+; reduzida por
depleção de Na+, induzida, por exemplo, por diuréticos) e, em menor grau, pela sudorese (4-5%),
saliva, lágrimas e fezes (<1%); há excreção de aprox 20% no leite materno, porém não ocorrem
efeitos apreciáveis no lactente
o Como a janela terapêutica do lítio é estreita, fazem-se necessárias determinações periódicas de
sua concentração sérica.
➢ Usos clínicos:
o Transtorno bipolar (tratamento e profilaxia)
o Mania aguda
o Outros: terapia adjuvante em depressão maior resistente ao tratamento
➢ E.A:
o SNC → tremor fino postural (tratamento com beta-bloqueador); ataxia em doses mais altas;
convulsões; confusão após eletroconvulsoterapia (reduzir gradualmente a dose antes do
procedimento)
o Renais → diabetes insípido nefrogênico
o Endócrinos → aumento benigno da tireoide (geralmente com função normal)
o Cardíacos → achatamento benigno e reversível da onda T, com surgimento de onda U; em
overdose, ocorre bradicardia sinusal e BAV
o Pele → reações alérgicas (dermatite, foliculite, vasculite); piora de doenças pré-existentes, como
acne vulgar e psoríase; alopedia
o Outros → ganho de peso (acentuado pelo uso concomitante de antipsicóticos); aumento benigno e
prolongado de polimorfonucleares; paladar metálico; piora de miastenia gravis
➢ A intoxicação aguda por lítio se apresenta com vômitos, diarreia profusa, tremor grosseiro, ataxia,
convulsões e coma. Em casos graves, também há hiperreflexia, déficits de nervos cranianos e outros
sinais focais. Em alguns casos, os déficits cognitivos e motores podem ser persistentes, em especial o
tremor cerebelar. Também podem ocorrer arritmias cardíacas, hipotensão e albuminúria.
➢ I.M: diuréticos (princ tiazídicos, espironolactona e amilorida), IECA e AINEs
➢ O uso de lítio na gravidez é classificado na categoria de risco D. Sua adm no início da gravidez pode
estar associada a anomalias cardiovasculares. O desenvolvimento de toxicidade fetal também está
associado a bócio neonatal, depressão do SNC e hipotonia ("síndrome do bebê flácido"). Como os
anticonvulsivantes ácido valproico e carbamazepina também estão classificados nessa categoria, a
terapia potencialmente mais segura seria o uso de antipsicóticos ou eletroconvulsoterapia.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 39
Anticonvulsivantes
Introdução
. De forma geral, o tratamento das epilepsias tem sucesso variável, de acordo com o tipo de crise, sua cause e
outros fatores. Como os fármacos utilizados apresentam E.A importantes, é preferível que o tratamento utilize
apenas um fármaco. Mesmo que não se obtenha controle adequado com a monoterapia proposta, é preferível a
substituição por outra droga do que a administração combinada com outro anticonvulsivante.
➢ A maioria dos fármacos é mantido por um mínimo de 2 anos. Caso o paciente não apresenta
novas crises nesse período, deve-se considerar a redução progressiva e posterior interrupção do
! 40 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
tratamento. Fatores associados a baixa recidiva são: epilepsia idiopática; EEG normal; início das
crises na infância; controle fácil com um único fármaco.
➢ Entretanto, em alguns casos (p.ex, em pacientes com dois ou mais tipos de atividade epiléptica ou
em estado epiléptico), o tratamento combinado pode ser necessário. Nesse caso, deve-se dar
preferência para fármacos que atuem por mecanismos diferentes e levar em conta as potenciais
I.M.
➢ O esquema terapêutico final deve ser determinado pela avaliação clínica dos seus efeitos
benéficos e adversos.
Hidantoínas
. Fenitoína
➢ M.A: redução da velocidade de recuperação dos canais de Na+ voltagem-dependentes ! limita
as deflagrações repetitivas e persistentes de potenciais de ação
o Em doses altas, também ocorre redução da atividade espontânea e aumento da resposta ao
GABA; esses efeitos podem ser responsáveis por E.A da fenitoína em doses tóxicas,
como sinais de excitação e, em doses letais, rigidez de descerebração.
➢ FC: adm oral (preparações de liberação rápida ou prolongada, que possibilita dose única diária);
ligação de 90% as ptns plasmáticas (fração livre pode ser aumentada por fármacos que competem
pelo sítio de ligação à albumina, como o valproato); t1/2 = 6-24h (aumenta exponencialmente
com o aumento da concentração plasmática); metabolismo hepático
o A fosfenitoína é um pró-fármaco da fenitoína que, por ser mais hidrossolúvel, permite
adm IV. Ela é convertida a fenitoína por fosfatases hepáticas e eritrocitárias, com t1/2 =
8-15 min. É útil para pacientes com crises parciais ou generalizadas persistentes, quando
a adm IV ou IM é mais adequada.
➢ Usos:
o Eficaz nas crises parciais e tônico-clônicas generalizadas (TCG), mas não nas crises de
ausência
o Alguns casos de neuralgia do trigêmeo e outras neuralgias
➢ E.A:
o Sintomas cerebelares e vestibulares
o Alterações comportamentais, aumento da frequência de crises
o Transtornos GI, elevação de transaminases
o Hiperplasia gengival
o Osteomalácia com hipocalcemia (inibição da absorção intestinal de Ca2+, alteração do
metabolismo da vitamina D)
o Anemia megaloblástica, neutropenia, leucopenia; mais raramente, aplasia eritroide,
agranulocitose e trombocitopenia
o Hirsutismo, inibição da secreção de ADH e insulina (hiperglicemia, glicosúria)
o Aumento do metabolismo da vitamina K
o Hipoprotrombinemia e hemorragia em RN de mães tratadas com fenitoína durante a
gravidez
o Linfadenopatia semelhante à doença de Hodgkin
o Reações de hiperssensibilidade ! exantema morbiliforme, síndrome de Stevens-Johnson,
necrose epidérmica tóxica
o Fosfenitoína IV excessiva ! arritmias cardíacas, hipotensão, depressão do SNC
o Overdose oral aguda de fenitoína ! degeneração cerebelar, sintomas vestibulares
➢ I.M:
o O valproato compete com a fenitoína pelo sítio de ligação à albumina, além de inibir seu
metabolismo.
o A carbamazepina aumenta o metabolismo da fenitoína.
o A fenitoína reduz a degradação de outros fármacos metabolizados pela CYP2C9/10 e
CYP2C19, como a varfarina (podendo levar a distúrbios hemorrágicos).
o A fenitoína aumenta a degradação de contraceptivos orais, por indução de CYPs.
➢ A fenitoína pode causar efeitos teratogênicos.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 41
Iminoestilbenos
. Carbamazepina
➢ M.A: redução da velocidade de recuperação dos canais de Na+ voltagem-dependentes ! limita
as deflagrações repetitivas e persistentes de potenciais de ação
➢ FC: adm oral (absorção lenta e errática); baixa hidrossolubilidade; ligação de 75% as ptns
plasmáticas; metabolismo hepático (CYP3A4) ao metabólito ativo 10,11-epoxicarbamazepina,
que contribui para sua eficácia anticonvulsivante; excreção renal
➢ Usos:
o Eficaz em crises parciais e TCG
o Neuralgia do trigêmeo e glossofaríngeo (principal fármaco)
o Dor lancinante (“tabética”) associada a caquexia
o Transtorno afetivo bipolar, TDAH, esquizofrenia
➢ E.A:
o Overdose aguda ! irritabilidade, convulsões, depressão respiratória, estupor, coma
o Sonolência, vertigem, ataxia, diplopia, turvação visual (geralmente há tolerância)
o Aumento da frequência de crises (especialmente quando há overdose)
o Náuses, vômitos, elevação de transaminases
o Anemia aplástica, agranulocitose; leucopenia leve e trombocitopenia transitória, no início
do tratamento
o Reações de hiperssensibilidade ! reações cutâneas perigosas, eosinofilia, linfadenopatia,
esplenomegalia
o Retenção hídrica, com hiponatremia e redução da osmolalidade (principalmente idosos,
cardiopatas; complicação tardia do tratamento crônico)
➢ I.M:
o Fenobarbital, fenitoína e valproato aumentam o metabolismo da carbamazepina por
indução da CYP3A4
o Metabolismo inibido por propoxifeno, eritromicina, cimetidina, fluoxetina e isoniazida
o Carbamazepina aumenta o metabolismo da fenitoína e reduz as concentrações de
valproato, lamotrigina, tiagabina e topiramato
o Reduz a concentração plasmática e o efeito do haloperidol
➢ A carbamazepina é teratogênica.
Benzodiazepinas
. M.A: atuam nos receptores GABAa, aumentando a frequência de abertura de canais de Cl- ativados por
GABA ! aumento da inibição sináptica mediada por GABA
➢ Entretanto, ocorre desenvolvimento de tolerância aos efeitos anticonvulsivantes dos BZD.
. FC: adm oral (boa absorção) ou IV; ligação de 85-99% as ptns plasmáticas
➢ Diazepam ! t1/2 = 24-48h; metabolizado a N-desmetildiazepam, um pouco menos ativo do que
o composto original, que funciona como agonista parcial e apresenta t1/2 = 60h
➢ Clonazepam ! t1/2 = 23h; metabolismo hepático
➢ Lorazepam ! t1/2 = 14h; metabolismo hepático
. Usos:
➢ Clonazepam ! tratamento de crises de ausência e crises mioclônicas em crianças; ocorre
tolerância aos efeitos anticonvulsivantes após 1-6 meses
➢ Diazepam e lorazepam ! tratamento do estado epiléptico
➢ Clorazepato ! adjuvante no tratamento de crises parciais; não é recomendado para crianças
menores de 9 anos
➢ Clobazam ! adjuvante no tratamento de crises associadas à síndrome de Lennox-Gastaut em
crianças maiores de 2 anos; menos sedativo
. E.A:
➢ Sedação, letargia (há tolerância)
➢ Ataxia, hipotonia, disartria, tonteira
➢ Transtornos comportamentais (princ em crianças), com agressividade, hiperatividade,
irritabilidade e dificuldade de concentração; há relatos de anorexia ou hiperfagia
➢ Aumento das secreções salivares e brônquicas
➢ Exacerbação de convulsões e estado epiléptico em caso de suspensão repentina
➢ Depressão cardiovascular e respiratória (princ em adm IV, junto a outros fármacos
anticonvulsivantes ou depressores centrais)
Succinimidas
. Etossuximida
➢ M.A: redução das correntes de Ca2+ de baixa limiar (tipo-T) nos neurônios talâmicos
➢ FC: adm oral (absorção completa); sem ligação significativa as ptns plasmáticas; t1/2 = 40-50h
(adultos) ou 30h (crianças); metabolismo hepático; excreção renal (25% inalterado)
➢ Usos: crises de ausência
➢ E.A:
o Náuseas, vômitos, anorexia
o Sonolência, letargia, euforia, tonteira, cefaleia, soluços (há tolerância)
o Parkinsonismo
o Fotofobia
o Em pacientes com história de transtorno psiquiátrico: inquietude, agitação, ansiedade,
agressividade, incapacidade de concentração
o Reações cutâneas ! urticária, síndrome de Stevens-Johnson
o Outros ! LES, eosinofilia, leucopenia, trombocitopenia, anemia aplásica, pancitopenia
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 43
Outros
. Ácido valproico
➢ M.A: redução da velocidade de recuperação dos canais de Na+ voltagem-dependentes ! limita
as deflagrações repetitivas e persistentes de potenciais de ação
o Também há redução discreta das correntes de Ca2+ tipo-T
o In vitro, também ocorre estímulo a síntese de GABA e inibição de sua decomposição
➢ FC: adm oral (absorção rápida e completa; retardada pela ingestão com alimentos); ligação de
90% as ptns plasmáticas; t1/2 = 15h (reduzida em pacientes tratados com outros
anticonvulsivantes); metabolismo hepático, com produção de dois metabólitos quase tão potentes
quanto o composto original
➢ Usos:
o Anticonvulsivante de amplo espectro, útil para o tratamento de crises de ausência, crises
mioclônicas, parciais e TCG
o Transtorno bipolar, mania
o Enxaqueca (divalproato de sódio)
➢ E.A:
o Náuseas, vômitos, anorexia (porém, alguns pacientes podem apresentar aumento do
apetite e ganho ponderal), elevação das transaminases, hiperamonemia
o Hepatite fulminante (rara, porém grave; principalmente em crianças tratadas com vários
anticonvulsivantes)
o Pancreatite
o Sedação, ataxia, tremor (infrequentes)
o Erupção cutânea, alopecia
➢ I.M:
o Inibe o metabolismo de substratos da CYP2C9, como fenitoína e fenobarbital
o Inibe as UGTs e, portanto, o metabolismo da lamotrigina e lorazepam
o Liga-se à albumina, deslocando a fenitoína e outros fármacos
➢ É teratogênico, levando a anomalias do tubo neural.
. Gabapentina e pregabalina
➢ M.A: são agonistas centrais de GABA (formados por uma molécula de GABA ligada
covalentemente a um anel de cicloexano ou isobutano lipofílico); entretanto, seus mecanismos de
ação molecular ainda não estão totalmente esclarecidos
➢ FC: adm oral; alta lipossolubilidade, com fácil penetração na BHE; t1/2 = 6h; não se ligam as ptns
plasmáticas; não são metabolizadas; excreção renal sob forma inalterada
➢ Usos:
o Crises parciais com ou sem generalização secundária, associadas a outros
anticonvulsivantes
o Pregabalina ! neuralgias, dores neuropáticas associadas a lesões medulares
o Gabapentina ! enxaqueca, dor crônica, fibromialgia transtorno bipolar e síndrome das
pernas inquietas
➢ E.A: sonolência, tonteira, ataxia, fadiga; geralmente são bem toleradas, com regressão dos E.A
após 2 semanas de tratamento continuado
. Lamotrigina
➢ M.A: semelhante ao da fenitoína e carbamazepina; entretanto, o espectro de ação da lamotrigina é
mais amplo, implicando a existência de outros mecanismos ainda desconhecidos
➢ FC: adm oral (absorção completa); t1/2 = 24-30h; metabolismo hepático
➢ Usos:
o Crises parciais e TCG em adultos
o Síndrome de Lennox-Gastaute em crianças e adultos
o Outros ! transtorno bipolar, neuralgias, neuropatia periférica, dor neuropática,
enxaqueca
➢ E.A:
o Tonteira, ataxia, diplopia, turvação visual
! 44 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2
o Náuseas, vômitos
o Exantema (princ quando coadm a outro anticonvulsivante; mais grave em crianças)
o Síndrome de Stevens-Johnson, CID (raros)
➢ I.M:
o Concentração reduzida pela coadm de fenitoína, carbamazepina e fenobarbital
o Aumenta a concentração de carbamazepina
o Concentração aumentada pelo ácido valproico
o Reduz as concentrações de ácido valproico
. Levetiracetam
➢ M.A: desconhecido
➢ FC: adm oral (absorção rápida e quase completa); não se liga as ptns plasmáticas; metabolismo
hepático a um metabólito inativo; excreção renal (65% inalterado)
➢ Usos: adjuvante em crises parciais, mioclônicas e TCG refratárias
➢ E.A: sonolência, astenia, tonteira (geralmente bem tolerado)
. Tiagabina
➢ M.A: inibe o transportador de GABA (GAT-1), reduzindo sua recaptação pelos neurônios e glia
! aumento da permanência de GABA nas sinapses
➢ FC: adm oral (absorção rápida); ligação ampla as ptns plasmáticas; t1/2 = 8h; metabolismo
hepático (CYP3A)
➢ Usos: adjuvante em crises parciais refratárias, com ou sem generalização secundária
➢ E.A: sonolência, tremor, tonteira, dificudaldade de concentração (geralmente bem tolerados);
depressão
o Pode facilitar a deflagração de crises de ausência, estando CI nesses pacientes.
➢ I.M: t1/2 reduzido quando administrado junto a fenitoína, carbamazepina ou fenobarbital
. Topiramato
➢ M.A: semelhante à fenitoína; também ativa uma corrente de K+ hiperpolarizante, aumenta as
correntes no receptor GABAa pós-sináptico e limita a ativação de receptores AMPA-cainato de
glutamato; também é um inibidor fraco da anidrose carbônica
➢ FC: adm oral (absorção rápida); ligação de 10-20% as ptns plasmáticas; t1/2 = 24h; metabolismo
hepático pouco expressivo; excreção renal (princ na forma inalterada)
➢ Usos:
o Monoterapia para crises parciais e TCG refratárias
o Adjuvante na síndrome de Lennox-Gastaut
o Profilaxia de enxaqueca em adultos
➢ E.A:
o Sonolência, fadiga, perda ponderal, nervosismo (geralmente bem tolerado)
o Cálculos renais (devido a inibição da anidrase carbônica)
o Alteração do paladar de bebidas gaseificadas
o Associado a deficiência cognitiva
➢ I.M: ocorre redução das concentrações plasmáticas de estradiol, sugerindo a necessidade de doses
mais altas de anticoncepcionais orais
. Zonisamida
➢ M.A: semelhante à fenitoína + inibição de correntes de Ca2+ tipo-T
➢ FC: adm oral (absorção quase completa); t1/2 = 63h; ligação de 40% as ptns plasmáticas;
metabolismo hepático (CYP3A4); excreção renal
➢ Usos: adjuvante em crises parciais refratárias
➢ E.A:
o Sonolência, ataxia, fadiga, anorexia, perda ponderal, nervosismo (geralmente bem
tolerada)
o Cálculos renais (provavelmente é capaz de inibir a anidrase carbônica)
o Acidose metabólica (princ em jovens ou pacientes com doença renal, doença respiratória
grave, diarreia, cirurgia ou dieta cetogênica)
➢ I.M:
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 45
. Lacosamida
➢ M.A: semelhante à fenitoína
➢ Usos: adjuvante em crises parciais refratárias; utilizado em dor neuropática
. Rufinamida
➢ M.A: semelhante à fenitoína
➢ Usos: adjuvante em crises associadas à síndrome de Lennox-Gastaut
. Vigabatrina
➢ M.A: análogo estrutural do GABA, inibe irreversivelmente a enzima responsável por sua
degradação (GABA-transaminase), aumentando sua concentração no cérebro
➢ Usos:
o Adjuvante em crises parciais complexas refratárias de adultos
o Espasmos infantis (princ os causados por esclerose tuberosa)
➢ E.A: perda visual bilateral, progressiva e irreversível (uso muito limitado); sonolência, tonteira,
ganho de peso
. Ezogabina
➢ M.A: ativa canais de K+ hiperpolarizantes
➢ FC: adm oral; t1/2 = 8-11h; metabolismo hepático; excreção renal
➢ Usos: crises parciais
➢ E.A:
o Leves ! sonolência, tonteira, fadiga, turvação visual, tremor, déficit de memória, astenia,
distúrbio da marcha e equilíbrio, fala arrastada
o Graves ! dificuldade para urinar, alucinações, ideação suicida, prologamento do QT
. Perampanel
➢ M.A: antagonista não competitivo do receptor de glutamato AMPA
➢ FC: adm oral (absorção rápida); t1/2 = 105h; ligação de 95% as ptns plasmáticas; metabolismo
hepático
➢ Usos: crises parciais com ou sem generalização secundária
➢ E.A: agressividade, ideação suicida, sonolência, vertigem, tonteira, náuseas, problemas de
marcha, ataxia, ganho de peso
. Felbamato
➢ M.A: desconhecido
➢ Usos: 3a linha em crises parciais refratárias
➢ E.A: anemia aplásica, insuficiência hepática
. Acetalozamida ! inibidor da anidrase carbônica, eficaz em alguns casos de crises de ausência; utilidade
limitada pelo desenvolvimento rápido de tolerância
Introdução
Doença de Alzheimer
Revisão clínica
. A região cerebral mais susceptível à disfunção e perda neuronal é o lobo temporal medial, incluindo o córtex
entorrinal e o hipocampo.
. As anormalidades patológicas típicas da DA são as placas de ß-amiloide, formadas por acúmulo extracelular
dessa proteína, além dos emaranhados neurofibrilares intracelulares formados pela proteína tau
hiperfosforilada.
➢ As placas de ß-amiloide são anormalidades precoces e invariáveis; os acúmulos de proteína tau,
por outro lado, se desenvolvem com o transcorrer do tempo e tem relação mais direta com o
comprometimento cognitivo.
➢ Os mecanismos pelos quais o ß-amiloide e a tau provocam disfunção e morte neuronal podem
incluir interferência direta com a transmissão
sináptica e a plasticidade, excitotoxicidade,
estresse oxidativo e neuroinflamação.
Tratamento
➢ Outra opção são os BZD, para controle ocasional da agitação aguda, embora não sejam
recomendados para o tratamento prolongado, em razão de seus E.A na cognição.
➢ O antipsicótico típico haloperidol pode ser útil para controlar a agressividade, embora E.A como
sedação e sintomas extrapiramidais limitem sua utilidade.
➢ Os antidepressivos podem ser úteis, principalmente no controle da depressão e ansiedade. Os
fármacos preferidos são os ISRS, embora a trazodona também produza efeitos modestos.
Doença de Parkinson
Revisão clínica
Tratamento
. Levodopa
➢ M.A: convertida no cérebro a dopamina (principalmente nas terminações pré-sinápticas dos
neurônios dopaminérgicos estriatais) ! aumento da neurotransmissão dopaminérgica
o A levodopa quase sempre é administrada junto a um inibidor da descarboxilase periférica
(carbidopa, benserazida), que não penetram a BHE, mas impedem a conversão periférica
de levodopa a dopamina. Essa conversão periférica reduziria significativamente a
penetração da levodopa no SNC; além disso a liberação de dopamina na periferia
produziria E.A indesejáveis, principalmente náuseas e hipotensão.
➢ FC: adm oral (absorção rápida, porém com perda de 70%; retardada pela adm junto a refeições
hiperproteicas); níveis plasmáticos máximos em 0,5-2h;
t1/2 curto (1-3h); passagem pela BHE mediada por um
transportador de membrana para aminoácidos
aromáticos (pode ocorrer competição com proteínas da
dieta)
➢ E.A:
o O tratamento prolongado com levodopa leva a
oscilações drásticas a cada dose do fármaco,
levando às complicações motoras da levodopa:
▪ Esgotamento ou “wearing-off” !
reaparecimento do parkinsonismo logo
após o t1/2 da levodopa; pode ser
atenuado por aumento da dose e
frequência de adm, que podem,
contudo, precipitar discinesias
▪ Fenômeno “on-off” ! rápida oscilação entre os estados “desligado” (sem efeitos
benéficos da levodopa) e “ligado” (com efeitos benéficos, porém acompanhados
por discinesias); pode ser atenuado por preparações de liberação sustentada
▪ Congelamentos (“freezing”)
▪ Discinesias (coreia, atetose, hemibalismo, distonia, mioclonias, tiques, tremores)
▪ Redução geral do efeito benéfico, por progressão da doença e dessensibilização
dos receptores
!
o Náuseas, vômitos, anorexia
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 51
. Amantadina
➢ M.A: antiviral, que parece aumentar a disponibilidade de dopamina no estriado, além de possuir
propriedades anticolinérgicas e bloqueadora de receptores de glutamato NMDA
o Utilizado no tratamento de DP branda e como adjuvante para o controle de oscilações e
discinesias em pacientes que utilizam levodopa. Sua eficácia geralmente é temporária,
durando algumas semanas.
➢ FC: adm oral; t1/2 = 2-4h; eliminação renal
➢ E.A (geralmente brandos e reversíveis):
o Tonteria, letargia, desorientação, agitação, alucinações, convulsões
o Livedo reticular, edema periférica
o Náuseas e vômitos
o Efeitos anticolinérgicos