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Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.

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Farmacologia da dor e Opiodes

Introdução

. Dor ! experiência sensorial e emocional desagradável, associada a dano tecidual real ou potencial;
apresenta dois componentes:
➢ 1o componente ! objetivo = dano tecidual e ativação de nociceptores
➢ 2o componente ! subjetivo = reação afetiva (psicoemocional), gerando uma reação
comportamental (alerta, insônia, sofrimento, agressão, luta)
o O componente afetivo gera o fenômeno de catastrofização da dor ! o pânico, levando a
medo, depressão e incapacidade, acaba por aumentar a intensidade da dor

. Classificação da dor:
➢ Aguda ! fisiológica, autolimitada e propositada (reação à
lesão, visando defesa e reparo)
➢ Crônica ! patológica, auto-sustentada e despropositada;
progressiva e incoercível; ligada a alterações psicoemionais

. Fármacos utilizados para controle da dor:


➢ Ação central e periférica ! opioides, AINEs, corticoides
➢ Ação apenas periférica ! anestésicos locais

. Fisiopatologia da dor
➢ O estímulo aos nociceptores (terminações livres) gera a
sensação de dor; o potencial só é disparado se o estímulo
superar o limiar de excitabilidade do neurônio
o A inflamacão perilesional leva à liberação de
citocinas, que modulam a nocicepção:
▪ Prostaglandinas ! reduzem o limiar de
excitabilidade nociceptora
▪ Bradicinina ! ativa, por si só, nociceptores
➢ Vias ascendentes ! percepção da dor
o Fibras nociceptivas C (“dor lenta”) e A-delta (“dor
rápida”) ! sinapse no corno posterior da medula !
ascende pelo sistema antero-lateral da medula (feixes
espinotalâmicos) ! sinapse no tálamo ! conexão com
o córtex somatossensorial primário (percepção da dor) e
áreas límbicas (caráter afetivo-emocional da dor)
➢ Vias descendetes (origem no núcleo da rafe e GPA, descem pelo
feixe dorso-lateral) ! modulação da dor, facilitando ou inibindo
a 1a sinapse da via ascendente
o “Gate-control” ! modulação local da 1a sinapse ! vias
descendentes (ação via encefalinas, NA e 5-HT) e
mecanoceptores (fibras A-beta) ativam interneurônios
inibitórios, que suprimem a 1a sinapse no corno dorsal
da medula
▪ As vias descendentes também atuam diretamente sobre a 1a sinapse, com a
liberação de encefalinas, NA e 5-HT
▪ Os aferentes nociceptivos inibem os interneurônios inibitórios ! “facilitação
medular”
➢ A dor neuropática se deve à lesão de fibras sensorias aferentes e é menos susceptível ao
tratamento com opioides

. Receptores opioides ! peptídeos opioides endógenos (encefalinas, endorfinas, dinorfinas, outros) atuam nos
receptores opioides mi, delta e kapa (receptores ligados à ptn Gi/o; podem dimerizar)
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➢ Sinalização intracelular
o Inibição da AC
o Redução da abertura de canais de Ca voltagem-dependentes ! redução da liberação pré-
sináptica de neurotransmissores
o Estímulo à canais de K+ ! hiperpolarização e inibição pós-sináptica
o Ativação da PKC
➢ A ativação prolongada dos receptores opioides gera:
o Tolerância (redução da eficácia do fármaco); as diferentes respostas fisiológicas
desenvolvem tolerância a taxas variadas; se deve a diferentes mecanismos:
▪ Internalização dos receptores (apenas mi e delta)
▪ Dessensibilização (via fosforilação do receptor e desacoplamento da ptnG)
▪ Adaptação dos mecanismos de sinalização intracelular (ex: superativação e hiper-
regulação da AC, gerando aumento de AMPc)
▪ Contra-adaptação sistêmica (ex: ativação de vias descendentes facilitadoras da
percepção da dor)
o Dependência ! gera síndrome de abstinência e possível adicção
➢ Localização dos receptores opioides:
o Terminais nociceptores
o Corno dorsal da medula (1a sinapse)
o Supraespinhal: tálamo, GPA, núcleos rostrais e ventrais do tronco
➢ Efeitos da ativação de receptores opioides:
o Analgesia (receptores mi, delta e kapa)
▪ Ação supraespinhal ! inibição de neurônios GABAergicos na GPA, que
estimula o núleo da rafe a liberar encefalina e 5-HT sobre o corno dorsal da
medula + ação estimulatória direta sobre o núcleo da rafe
▪ Ação espinhal ! inibição pré- e pós-sináptica da 1a sinapse no corno dorsal
▪ Ação periférica ! ação nas terminações livres e células inflamatórias

o Euforia, tranquilidade, sensação gratificante (kapa)


o Sedação (mi, kapa)
o Depressão respiratória (mi)
▪ Agravada por: associação a outros fármacos depressores do SNC (anestésicos
gerais, BZD, álcool, etc); sono e AOS; idade (RN, idosos); co-morbidades CV,
pulmonares (ex: DPOC) ou renais; alívio da dor
o Depressão do reflexo da tosse
o Redução da secreção de cortisol e hormônios sexuais
o Aumento da secreção de prolactina e GH (mi)
o Redução da secreção de ADH ! aumento da diurese (kapa)
o Miose (mi)
o Atividade pró-convulsivante; apenas em doses mais altas
o Efeitos nauseantes e eméticos
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o Vasodilatação periférica (arteriolar e venosa) e inibição do barorreflexo ! hipotensão


ortostática
o Efeito cardioprotetor
o Aumento do tônus muscular esquelético e mioclonias
o Efeitos no TGI (mi, kapa) ! aumento do tônus do EEI; prolongamento do tempo de
esvaziamento gástrico e redução da secreção de HCl; redução do trânsito GI e das
secreções intestinais (gerando constipação); aumento do tônus anal; aumento do tônus do
esfíncter de Oddi e espasmo biliar (pode gerar cólica biliar)
o Redução do FSR
o Aumento do tônus do esfíncter externo da uretra ! retenção urinária
o Redução das contrações uterinas ! pode prolongar o trabalho de parto
o Liberação de histamina ! rubor cutâneo, sudorese, prurido; urticária no local de injeção;
broncoespasmo
o Efeito imunossupressor
o Alteração da termorregulação central ! redução da temperatura corporal

Opioides
. Classificação:
➢ Naturais (morfina, codeína) x semi-sintéticos
(hidromorfona, diamorfina) x sintéticos
(etorfina, metadona, fentanil, petidina)
➢ Fracos (codeina, tramadol, propoxifeno) x
fortes
➢ Agonistas puros x agonistas-antagonistas x
antagonistas

. FC geral: adm oral (comprimidos de liberação imediata ou


lenta), retal, SC, IM, epidural, intratecal, transdérmica,
inalatória ou IV; biodisponibilidade oral reduzida por extenso metabolisma de 1a passagem (dose oral >
parenteral); bastante lipossolúveis; alta ligação a ptns plasmáticas; tecido muscular é reservatório; distribuição
ao SNC limitada por transportadores PGP (heroína e codeína atravessam mais facilmente a BHE); boa
transferência placentária (risco de depressão respiratória e abstinência em RN)

. Principais usos clínicos:


➢ Analgesia ! principalmente dor intensa e constante (ex: parto, CA, doenças terminais, etc)
➢ EAP (redução na percepção de dispneia, pré-carga e pós-carga), DPOC
➢ Tosse
➢ Diarreia
➢ Medicação pré-anestésica, anestésica local (adm epidural ou intratecal) ou associada a anestésicos
gerais (fentanila) ! atenção: a consciência continua preservada!

. E.A:
➢ Constipação, náuseas, vômitos, cólica biliar
➢ Retenção urinária
➢ Tonteira ou vertigem
➢ Hipotensão
➢ Sonolência, confusão mental, alucinações, disforia
➢ Prurido
➢ Miose
➢ Mioclonias
➢ Depressão respiratória, supressão da tosse, broncoespasmo (evitar em asmáticos)
➢ Imunodepressão (significado incerto)
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. Tratamento dos E.A:


➢ Antagonistas opioides de ação central ! naloxona, naltrexona, nalmefeno
➢ Antagonistas opioides de ação periférica ! alvimopan, metilnatrexona
➢ Sintomáticos ! metoclopramida (colinérgico), ondansetrona (antagonista 5-HT3),
psicoestimulantes simpaticomiméticos

Agonistas opioides

. Morfina (opioide protótipo)


➢ FC: menor taxa de penetração pela barreira placentária e BHE (menos lipofílica); t1/2 = 2h;
metabolismo hepático a metabólitos ativos, que respondem por boa parte de sua ação analgésica e
podem se acumular; excreção renal

. Codeína
➢ FC: menor taxa de metabolismo de 1a passagem (maior potência por via oral); t1/2 = 2-4h;
metabolismo hepático (10% são transformados em morfina) e excreção renal
o Há polimorfismos expressivos da CYP2D6, responsável pela conversão de codeína a
morfina. Assim, pacientes podem apresentar analgesia ineficaz com codeína ou
toxicidade mais precoce.
➢ Apresenta baixa afinidade pelos receptores opioides; efeito analgésico é atribuído à sua conversão
em morfina; apresenta efeito próprio expressivo como antitussígeno

. Diacetilmorfina (heroína)
➢ FC: mais lipossolúvel do que a morfina, apresentando facil passagem pela BHE; metabolismo a 6-
MAM e morfina; excreção renal
➢ Grande potencial de adicção

. Levorfanol ! agonista mi, kapa e delta


➢ Menor incidência de náuseas e vômitos do que a morfina
➢ FC: t1/2 = 12-16h devido ao metabolismo mais lento

. Meperidina ! agonista mi
➢ FC: t1/2 = 3h; metabolismo hepático a normeperidina (t1/2 = 15-20h); melhor penetração pela
BHE (necessidade de doses mais baixas)
➢ Menor incidência de constipação, náuseas, vômitos e retenção urinária
➢ Não deve ser utilizada por mais de 48h, devido aos efeitos tóxicos e cumulativos de seus
metabólitos ! não é indicada para o tratamento de dor crônica
➢ I.M: iMAO (síndrome serotoninérgica, com delirium, hipertermia, cefaleia, hiper- ou hipotensão,
rigidez, convulsões, coma e óbito); clorpromazina e prometazina; fenobarbital; fenitoína;
anfetamina
➢ Utilizada principalmente como analgésico, mas também é util para reduzir os tremores pós-
anestésicos e aqueles que acompanham a infusão de anfotericina B e outro fármacos

. Difenoxilato e loperamida ! agonistas mi (congêneres da meperidina)


➢ Utilizados exclusivamente para o tratamento da diarreia

. Fentanila ! agonista mi
➢ FC: ação de início mais rápido e duração mais curta; altamente lipofílicos, atravessa facilmente a
BHE; redistribuição expressiva para a gordura e músculo (explica sua ação de curta duração); t1/2
= 3-4h
➢ Maior incidência de rigidez muscular; reduzem a FC e levemente a PA
➢ Aprox. 100x mais potente do que a morfina
➢ Amplamente utilizada como coadjuvante anestésico (reduz expresivamente a dose necessária de
anestésicos voláteis; ação de início e fim rápidos); também utilizada para controle da dor crônica,
pós-operatória ou durante o parto
➢ Congêneres da fentanila
o Sufentanila ! semelhante a fentanila
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o Remifentanila ! ação de início mais rápido e duração mais curta do que a fentanila; t1/2
= 8-20 min; metabolismo por esterases plasmáticas (independe de metabolismo hepático
ou excreção renal); útil para procedimentos curtos e dolorosos

. Metadona ! agonista mi
➢ FC: boa absorção oral; t1/2 longo (15-40h); forte ligação a ptns teciduais, inclusive no cérebro
(tendência a se acumular com a adm repetida); síndrome de abstinência relativamente mais
branda, devido a lenta liberação dos sítios de ligação teciduais
➢ Está associada a síndrome do QT longo e sua ação é aditiva com outros fármacos que prolongam
o intervalo QT; efeitos tardios podem ser prolongados; não deve ser utilizada durante o parto
➢ IM: rifampicina e fenitoína
➢ Utilizada para o tratamento de dor crônica a da síndrome de abstinência de opioides (ex: usuários
de heroína)

. Propoxifeno ! agonista mi
➢ FC: t1/2 = 6-12h; potencial de acumulação
➢ Potência analgésica menor do que a codeína (freq associado a AAS)
➢ Muito irritante para veias e tecidos moles quando adm IV ou SC; efeitos cardiotóxicos
➢ I.M: inibidores do CYP3A4 (ritonavir, cetocozanol, itraconazol, claritromicina, nelfinavir,
nefazodona, amiodarona, amprenavir, aprepitanto, diltiazem, verapamil, eritromicina, fluconazol,
fosamprenavir)
➢ Uso não é recomendado, devido à baixa eficácia e janela terapêutica estreita

. Tramadol ! agonista mi
➢ É um agonista mi fraco (6000x menos potente do que a morfina); parte do seu efeito analgésico se
deve à inibição da captação de NA e 5-HT ! menos eficaz para o tratamento de dores graves ou
crônicas
➢ FC: início de ação em 2-3h e duração de 6h; t1/2 = 6h; metabolismo hepático a metabólito ativo
(2-4x mais potente)
➢ Muito útil para o uso durante o parto, devido à eficiência semelhante a meperidina e menor
potencial de depressão respiratória do RN
➢ Menor incidência de depressão respiratória e constipação menos grave
➢ Não deve ser utilizado concomitantemente a iMAO, ISRS ou fármacos que reduzam o limiar
convulsivo
. Tapentadol ! agonista mi
➢ Semelhantemente ao tramadol, é um agonista mi fraco (50x menos potente do que a morfina);
inibe a NET, resposável pela recaptação de NA

Agonistas-antagonistas e agonistas parciais

. Penzatocina ! agonista kapa + antagonista fraco ou agonista parcial mi


➢ Efeitos analgésicos atribuídos ao agonismo kapa (mais eficaz em mulheres)
➢ Doses altas elevam a PA e a FC
➢ Maior incidência de disforias
➢ Indicada para tratamento de dores moderadas a graves; também há uso pré-anestésico e
suplementar à anestesia

. Nalbufina ! agonista kapa + antagonista mi


➢ Efeitos analgésicos atribuídos ao agonismo kapa (mais eficaz em mulheres)
➢ Efeito limitado: doses acima de 30 mg não produzem analgesia ou depressão respiratória
adicional
➢ Causa menos disforia do que a penzatocina
➢ Uso como analgésico

. Butorfanol ! agonista kapa + antagonista mi


➢ Efeitos analgésicos atribuídos ao agonismo kapa (mais eficaz em mulheres)
➢ Doses altas elevam a PA pulmonar e o trabalho cardíaco, mas reduzem a PA ligeiramente
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➢ Efeitos potencialmente cardiotóxicos (evitar em ICC e IAM)


➢ Causa menos disforia do que a penzatocina
➢ Utilizado para tratamento de dor aguda (ex: pós-operatório)

. Buprenorfina ! agonista mi parcial


➢ Apresenta dissociação lenta dos receptores mi, acarretando efeitos adversos de início mais lento,
porém mais duradouros (mesmo após adm de naloxona)
➢ Síndrome de abstinência tardia (início após 2-14 dias) e duradoura (1-2 semanas)
➢ Utilizada como analgésico e para tratamento da dependência aos opioides
➢ IM: inibidores e indutores da CYP3A4

Antagonistas opioides

. Apresentam baixa ou nenhuma atividade intrínseca ao se ligarem aos receptores opioides.


➢ Efeitos na ausência de agonistas opioides ! sonolência e hiperalgesia brandas; aumento da
secreção de gonadotrofinas, ACTH e prolactina
➢ Efeitos na presença de agonistas opioides ! evitam ou revertem imediatamente os efeitos dos
agonistas opioides; desencadeiam síndrome de abstinência moderada a grave, de início rápido e
regressão em aprox 2h

. FC:
➢ Naloxona ! intenso metabolismo hepático de 1a passagem inviabiliza a adm oral; t1/2 = 1h, com
duração de ação curta (<1h)
➢ Naltrexona ! boa eficácia após adm oral; maior potência e duração de ação (24h) do que a
naloxona
➢ Metilnatrexona ! baixa penetração no SNC (pouco lipossolúvel), com ações predominantemente
periféricas; t1/2 = 8h; excreção por secreção renal ativa

. Indicações:
➢ Intoxicação por opioides (princ infusão IV contínua de naloxona)
o Como o t1/2 de muitos agonistas opioides (ex: metadona) é maior do que o dos
antagonistas opioides, pode ocorrer um retorno tardio da síndrome tóxica, caso a infusão
de antagonistas seja interrompida precocemente.
➢ Constipação em pacientes em tratamento contínuo com opioides (princ metilnatrexona)
➢ Alcoolismo (naltrexona)

OBS: Antitussígenos de ação central


➢ Codeína (doses mais baixas do que as utilizadas para analgesia)
➢ Dextrometorfano
o Não atua via receptores opioides, não produz analgesia ou adicção
o Eleva o limiar para tosse, por mecanismos ainda não completamente conhecidos (um
deles é o antagonismo de receptores de NMDA)
o Menor incidência de E.A; doses altas podem induzir depressão do SNC
➢ Outros: folcodina, benzonatato
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Analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios

Introdução

. A inflamação é uma resposta a estímulos prejudiciais, evocada por uma variedade de agentes nocivos.
Entretanto, a resposta inflamatória pode ser exagerada e sustentada, sem benefício aparente, podendo acarretar
consequências graves.
➢ Existem muitos mediadores pró-inflamatórios, como histamina, bradicinina, 5-HT, prostanoides
(prostaglandinas, tromboxano), leucotrienos, lipoxinas e PAF.
➢ A síntese de prostanoides é aumentada em tecidos inflamados (principalmente PGE2 e PGI2).
Essas moléculas aumentam o fluxo sanguíneo local, a permeabilidade vascular e a infiltração
leucocitária.

. Os eicosanoides são ácidos graxos


derivados do ácido araquidônico, liberado
da membrana por fosfolipases. A COX-1
(constitutiva) e a COX-2 (induzida por
inflamação, promotores de tumor, etc)
convertem o ácido araquidônico a PGH2,
que é então convertida a prostanoides
isômeros tecido-específicos (PGD2, PGE2,
PGI2, PGF2alfa, TXA2).

. Os mediadores inflamatórios promovem


hiperalgesia:
➢ Periférica ! aumento da
sensibilidade dos nociceptores
(redução do limiar de
estimulação)
➢ Central ! aumento na
excitabilidade de neurônios do
corno dorsal (princ PGE2
central)

. A inflamação também promove a formação


de pirogênios endógenos (IL-1, IL-6, TNF-
alfa, interferons), que elevam o ponto de
termorregulação no hipotálamo, induzindo a
febre.
➢ Posteriormente, a febre é
mantida pela indução de COX-2, com formação de PGE2; essa atravessa a BHE e também atua
no hipotálamo, elevando o ponto de termorregulação.

Farmacologia geral dos AINEs


. Classificação:
➢ Tradicionais (inibem tanto a COX-1 quanto a COX-2)
➢ Seletivos para COX-2 (“coxibes”)

. M.A: inibição da COX-1/COX-2 ! inibição da produção de prostaglandinas ! redução da inflamação, dor


e febre
➢ O AAS é o único inibidor irreversível das COX; assim, a duração de seus efeitos está relacionada
com a taxa de rotatividade das COX nos diferentes tecidos-alvo.
➢ Como a COX-1 é a principal responsável pela síntese de PG citoprotetoras da mucosa gástrica,
foram elaborados inibidores seletivos da COX-2, com melhor tolerabilidade GI.
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. FC: adm oral, com rápida absorção (ingestão de alimentos e antiácidos podem retardar a absorção e
disponibilidade sistêmica); extensa ligação a ptns plasmáticas (95-99%); distribuição ampla e rápida
penetração em sítios inflamatórios; t1/2 específico para cada fármaco; metabolização hepática e excreção
renal (não são recomendados em caso de doença hepática ou renal avançadas)

. Usos clínicos:
➢ Ação anti-inflamatória ! inflamação em doenças musculoesqueléticas e reumatológicas
➢ Ação analgésica ! controle de dor de baixa a moderada intensidade; mais eficazes quando a
inflamação causa sensibilização periférica e/ou central da percepção dolorosa
o Não possuem eficácia na dor neuropática.
o Em dores de maior intensidade, podem ser associados a opioides, para reduzir a dose de
opioide necessária e a probabilidade de E.A.
➢ Ação antipirética ! controle da febre
➢ Fechamento de canal arterial persistente (PGs mantém o canal patente)
➢ Cardioproteção (AAS em baixa dose, com efeito antiplaquetário)
➢ Outros usos: mastocitose sistêmica, tolerabilidade à niacina, quimioprevenção de câncer

. E.A:
➢ GI ! anorexia, nauseas, dispepsia, dor abdominal, diarreia; úlceras gástricas e intestinais, que
podem complicar com sangramento, perfuração ou obstrução
o O risco desses E.A aumeta significativamente com o uso simultâneo de vários AINEs.
➢ IAM, AVE e trombose (apenas os AINEs
seletivos para COX-2, que inibem a formação de
PGI2 endotelial)
➢ Retenção de Na+ e água, edema, complicações
hipertensivas
➢ Insuficiência renal reversível (redução da TFG
devido à vasoconstrição das arteríolas aferentes,
cuja dilatação é mantida por PGs); pode evoluir
para IR persistente com o uso crônico ou em altas
doses
➢ Disfução plaquetária e sangramentos (apenas
AAS)
➢ Gravidez ! prolongamento da gestação e do
trabalho de parto; fechamento precoce do canal
arterial; aumento do risco de hemorragia pós-parto
➢ Hipersensibilidade
➢ Síndrome de Reye (início agudo de encefalopatia, disfunção hepática e infiltração gordurosa no
fígado e outras vísceras) ! CI ao uso de AAS em crianças e adultos < 20 anos; paracetamol é
seguro

. I.M:
➢ Redução da eficácia de IECA; bradicarda quando co-administrados
➢ Aumento de complicações GI quando co-administrados com corticoides os ISRS
➢ Aumento do risco de sangramento quando co-administrados com varfarina
➢ Deslocamento de outros fármacos, devido à intensa ligação a ptns plasmáticas ! interação com
varfarina, sulfonilureias ou metrotrexato
➢ Redução da excreção renal de lítio ou de seus níveis séricos

Propriedades específicas
Salicilatos

. Fármacos: AAS, ácido salicílico (uso externo apenas), metilsalicilato, diflunisal, salsalato, olsalazina e
sulfassalazina
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. M.A: inibição da COX-1 e COX-2; AAS promove acetilação irreversível dessas enzimas

. FC: adm oral (rápida absorção; retardada por alimentos), retal (absorção mais lenta, incompleta e
inconsistente) ou transdérmica (ácido salicílico); pico em 1h; atravessam a BHE e apresentam ampla
distribuição; t1/2 = 2-3h (AAS); ligação de 80-90% à albumina plasmática; metabolismo hepático a 3
metabólitos, com posterior excreção renal; depuração reduzida em idosos ou nefropatas
➢ O AAS exerce efeito antiangregante mesmo no sistema porta, antes da 1a passagem hepática;
portanto, sua ação é cumulativa, mesmo em baixas doses.

. Usos clínicos:
➢ Analgesia e antipirese
➢ Uso anti-inflamatório ! artrite, espondiloartrite, LES, febre reumática
o O diflunisal é um potente anti-inflamatório, mas desprovido de efeitos antipiréticos,
devido à baixa penetração no SNC. É mais eficiente que o AAS para analgesia em
osteoartrite e entorses/estiramentos musculoesqueléticos.
➢ Usos locais: DII (mesalazina em formulação de liberação retardada); verrugas, calos, micoses e
algumas dermatites eczematosas (ácido salicílico, com ação ceratolítica); dor musculoesquelética
(salicilato de metila)

. E.A:
➢ Dispepsia, náuseas e vômitos; gastrite, úlcera gástrica, hemorragia GI (princ AAS)
➢ Hepatite (princ altas doses, em tto de longo prazo)
➢ Hiperglicemia e depleção do glicogênio muscular e hepático
➢ Síndrome de Reye
➢ Hiperventilação (aumento no contumo de O2 e produção muscular de CO2 por desacoplamento
da fosforilação oxidativa + estímulo ao centro respiratório), podendo acarretar alcalose
respiratória
➢ Retenção de Na+ e água; IC e edema pulmonar em cardiopatas
➢ Nefrotoxicidade (pode levar a necrose papilar e nefrite intersticial)
➢ Redução (baixas doses) ou aumento (altas doses) na excreção de ácido úrico
➢ Disfunção plaquetária e sangramento
➢ Ototoxicidade (princ AAS em altas doses)
➢ SARA (princ idosos, com ingestão regular de salicilatos)
➢ Gravidez ! baixo peso ao nascer; anemia, complicações no parto e fechamento prematuro do
canal arterial, se adm no terceiro trimestre

. I.M:
➢ Reduz as concentrações de indometacina, naproxeno, cetoprofeno e fenoprofeno
➢ Deslocamento de outros fármacos, devido à intensa ligação a ptns plasmáticas ! interação com
varfarina, sulfonilureias ou metrotrexato
➢ Antagonismo da natriurese induzida por espironolactona

. Intoxicação por salicilato ! estimulação do SNC (pode causar convulsões), seguida por depressão; confusão
mental, tonteira, tinido, surdez para altas frequências, delírio, psicose, estupor, coma; náuseas e vômitos;
hipertermia; hiperventilação (levando a alcalose respiratória), seguida por depressão respiratória (levando à
acidose respiratória e IRp); desidratação; hipernatremia; depressão vasomotora (podendo levar ao choque)
➢ Não há antídoto específico para a intoxicação por salicilatos
➢ Salicilismo (intoxicação crônica leve) ! cefaleia, tonteira, tinido, dificuldade auditiva, visão
obscurecida, confusão mental, lassidão, sonolência, sudorese, sede, hiperventilação, náuseas,
vômitos, diarreia

Derivados do ácido acético

. Indometacina
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➢ M.A: inibidor não-seletivo das COX; 20x mais potente do que o AAS
o Há efeitos adicionais, como inibição da motilidade de polimorfonucleares, depressão da
biossíntese de mucopolissacarídeos e efeito vasoconstritor direto
➢ FC: adm oral; 90% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 2,5h; metabolização hepática
➢ Usos clínicos
o Analgésico, antipirético e anti-inflamatório (geralmente limitado a longo prazo); muito
utilizado em AR, osteoartrite, gota aguda, espondilite anquilosante e dor aguda de ombro
o Fechamento do canal arterial persistente
➢ E.A:
o Efeitos GI semelhantes aos do AAS, porém mais comuns e intensos
o Casos raros de pancreatite aguda e hepatite
o SNC ! cefaleia frontal intensa, tonteira, vertigem, confusão mental, delírios, psicose,
convulsões, depressão grave, suicídio
▪ Deve-se tomar cuidado ao receitar indometacina para pacientes idosos,
epilépticos, com distúrbios psiquiátricos ou doença de Parkinson
o Neutropenia, trombocitopenia, anemia aplásica

. Sulindaco ! é um congênere da indometacina, com menos da metade de sua potência


➢ FC: adm oral; t1/2 = 7h (sulindaco) e 18h (metabólitos); é um pró-fármaco, metabolizado ao
metabólito sulfeto ativo; intensa circulação entero-hepática
➢ Usos clínicos ! analgésico, antipirético e anti-inflamatório; muito utilizado em AR, osteoartrite,
gota aguda, espondilite anquilosante, bursite, tendinite e dor aguda de ombro
➢ E.A:
o Efeitos GI semelhantes aos do AAS (menor incidência, quando comparado à
indometacina)
o SNC ! cefaleia frontal intensa, tonteira, vertigem, confusão mental, delírios, psicose,
convulsões, depressão grave, suicídio (menor incidência do que a indometacina)
o Exatema, prurido

. Etodolaco ! alguma seletividade para COX-2


➢ FC: adm oral; 99% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 7h; metabolização hepática
➢ Usos clínicos
o Analgesia pós-operatória e para dores brandas a moderadas
o AR, osteoartrite
o Uricosúrico
➢ E.A: semelhantes aos do sulindaco, porém com menor incidência de irritação gástrica (devido a
seletividade para COX-2)

. Tolmetina
➢ FC: adm oral; pode persistir por mais tempo no líquido sinovial, resultando em eficácia biológica
mais persistente do que o t1/2 plasmático; 99% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 5h;
metabolização hepática
➢ Usos clínicos ! AR, osteoartrite, AR juvenil, espondilite anquilosante
➢ E.A: efeitos GI e sobre o SNC semelhantes aos da indometacina, porém menos comuns e menos
graves

. Cetorolaco ! analgésico potente, porém anti-inflamatório apenas moderadamente eficaz


➢ FC: adm oral, IM, IV ou oftálmica; início e duração de ação curtos; 99% de ligação as ptns
plasmáticas; t1/2 = 6h; metabolismo hepático
➢ Usos clínicos:
o Dor aguda, requerendo analgesia a nível de opioide (máximo de 5 dias)
o Analgesia pós-operatória
o Conjuntivite alérgica sazonal, inflamação ocular pós-operatória
➢ E.A:
o Sonolência, tonteira, cefaleia
o Potenciais reações GI, renais e hemorágicas graves (princ idosos)
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 11

. Nabumetona
➢ FC: pró-fármaco, necessitando de metabolização hepática ao metabólito ativo
➢ Usos clínicos ! anti-inflamatório eficaz no tratamento de AR e osteoartrite
➢ E.A:
o Cólica abdominal, diarreia; menor incidência de doença péptica gástrica
o Exantema, prurido; cefaleia, tonteira, zumbido, pirose

. Diclofenaco ! mais potente do que a indometacina e outros AINEs; moderada seletividade para COX-2
➢ FC: adm oral (rápida absorção), transdérmica ou oftálmica; ampla ligação as ptns plasmáticas;
substancial efeito de 1a passagem (biodisponibilidade de 50%); t1/2 = 1-2h; acumula-se no
líquido sinovial (por isso, o efeito terapêutico é mais duradouro do que o t1/2 plasmático)
➢ Usos clínicos:
o Tratamento a longo prazo da AR, osteoartrite e espondilite anquilosante
o Dismenorreia, enxaqueca aguda
o Inflamação oftálmica pós-operatória
➢ E.A:
o Efeitos GI (incidência semelhante aos AINEs seletivos para COX-2)
o Hipersensibilidade, exantemas
o Elevação de transaminases
o Efeitos sobre o SNC (semelhantes a indometacina)
o Retenção de líquidos, edema, comprometimento da função renal
➢ Não é recomendando para crianças, gestantes ou mães que amamentam.

Derivados do ácido propiônico

. M.A: inibição não-seletiva das COX


. Usos clínicos ! tratamento de AR, osteoartrite, espondilite anquilosante, gota aguda, tendinite, bursite,
enxaqueca e dismenorreia primária

. Fármacos específicos:
➢ Ibuprofeno
o FC: adm oral; 99% de ligação as ptns plasmáticas; t1/2 = 2-4h; metabolização hepática
o E.A:
▪ Efeitos GI (melhor tolerado do que a indometacina e o AAS)
▪ Efeitos oftálmicos ! visão borrada, ampliopia tóxica (suspender uso)
▪ Outros: trombocitopenia, exantema, cefaleia, tonteira, retenção de líquidos, atraso
no parto (se utilizado no terceiro trimestre)
o Interfere nos efeitos antiplaquetários do AAS.
➢ Naproxeno
o FC: adm oral (absorção completa); 99% de ligação as ptns plamáticas; t1/2 = 14h (dobra
no idoso); metabolização hepática
o O naproxeno têm efeitos inibitórios proeminentes sobre a função leucocitária, podendo
ter eficácia levemente melhor. Além disso, ele é um inibidor da COX-1 mais potente do
que o AAS, e parece exercer alguma inibição plaquetária (porém, menos eficaz do que o
AAS em redução do risco CV).
o E.A:
▪ Efeitos GI (mesma frequência, mas menor gravidade do que a indometacina)
▪ SNC ! cefaleia, sonolência, tonteira, fadiga, depressão
▪ Ototoxicidade
▪ Outros, mais raros: prurido, problemas dermatológicos, icterícia,
comprometimento da função renal, angioedema, trombocitopenia, agranulocitose
➢ Outros: fenoprofeno, cetoprofeno, flurbiprofeno, oxaprozina

Fenamatos

. Fármacos: ácido mefenâmico, meclofenâmico e flufenâmico


! 12 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

. Suas propriedades são semelhantes aos dos AINEs tradicionais típicos, sem vantagens claras. São utilizados
no tratamento de curta duração da dor em lesões de tecidos moles, dismenorreia, AR e osteoartrite. Não são
recomendados para crianças ou gestantes.

. E.A:
➢ Efeitos GI; elevação das transaminases; diarreia com esteatorreia e inflamação intestinal
➢ Anemia hemolítica autoimune (rara, porém potencialmente grave)

Oxicans

. Piroxicam ! ação principalmente anti-inflamatória, mais do que analgésica


➢ M.A: inibição não-seletiva das COX; também inibe independentemente a ativação de neutrófilos
➢ FC: adm oral; início de ação longo (inadequado para analgesia aguda); t1/2 longo (45-50h);
metabolização hepática
➢ Usos clínicos ! AR, osteoartrite
➢ E.A: efeitos GI e cutâneos mais graves do que outros AINEs não-seletivos

. Meloxicam !
➢ M.A: inibição relativamente seletiva da COX-2
➢ FC: adm oral; t1/2 moderado (15-20h); metabolização hepática
➢ Seus usos clínicos são semelhantes aos do piroxicam, com menor incidência de E.A gástricos.

Inibidores seletivos da COX-2

. Incluem o etodolaco, meloxicam, nimesulida e os coxibes.

. Nimesulida
➢ M.A: além da inibição seletiva da COX-2, apresenta efeitos adicionais, como inibição da ativação
de neutrófilos, efeito antioxidante, redução da produção de citocinas e enzimas degradantes e,
possivelmente, ativação de receptores de glicocorticoides
➢ E.A: menor incidência de E.A gástricos ou CV; hepatotóxica com o uso prolongado

. Coxibes ! inibidores seletivos da COX-2; muitos foram retirados do mercado


➢ Celecoxibe
o FC: adm oral; idosos apresentam maiores concentrações de pico; ampla ligação as ptns
plasmáticas; t1/2 = 11h; metabolização hepática e excreção na urina e fezes;
concentrações mais elevadas em hepatopatas, necessitando de redução das doses
o Usos clínicos ! dor aguda, osteoartrite, AR, espondilite anquilosante, AR juvenil,
dismenorreia primária; quimioprevenção de polipose cólica
o E.A:
▪ Risco aumentado de IAM e AVE (inibição da COX-2 endotelial, responsável pela
produção do anti-agregante PGI2)
▪ Inibição da síntese de PG renais ! hipertensão, edema
o I.M: inibe a CYP2D6, podendo interagir com fármacos metabolizados por essa enzima
➢ Etoricoxibe
o FC: adm oral (absorção incompleta); t1/2 longo (20-26h); metabolização hepática e
excreção renal; hepatopatas podem acumular o fármaco
o Usos clínicos ! osteoartrite, AR, gota aguda, dor musculoesquelética e pós-operatória,
dismenorreia primária
o E.A: semelhantes ao celecoxibe
➢ Outros: parecoxibe (único com adm injetável, útil para analgesia perioperatória), rofecoxibe e
valdecoxibe (retirados do mercado)

Outros

. Dipirona ! excelente analgésico, antipirético e espasmolítico; sem atividade anti-inflamatória


Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 13

➢ M.A: ainda em debate; é um fraco inibidor da COX in vitro; mecanismos potenciais podem
envolver endocanabinoides e os metabólitos ativos da dipirona (MAA)
➢ FC: adm oral ou IV; ação rápida
➢ E.A:
o Hipotensão (adm IV)
o Agranulocitose (rara; motivou proibição nos EUA)

. Paracetamol (acetaminofeno) ! baixa atividade anti-inflamatória; efeitos analgésicos e antipiréticos


similares aos do AAS
➢ M.A: inibição fraca de COX-1 e COX-2 (reduzida pela presença de peróxidos em sítios
inflamatórios)
➢ FC: adm oral; t1/2 = 2h; ligação variavel a ptns, mas menor do que outros AINEs; metabolismo
hepático (conjugação) e excreção renal
o Uma pequena proporção do paracetamol sofre N-hidroxilação mediada por CYP,
formando NAPQI, um intermediário altamente reativo
➢ Usos clínicos ! analgésico e antipirético; muito utilizado em pacientes com CI ao AAS (úlcera
péptica, hipersensibilidade, crianças)
➢ E.A:
o Hipersensibilidade
o Hepatite necrosante (princ overdose, com alta conversão a NAPQI; pode ser fatal);
tambem podem ocorrer necrose tubular renal e coma hipoglicêmico
▪ Antídoto para a overdose de paracetamol = N-acetil-cisteína
! 14 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

Anestésicos Gerais

Introdução

. Anestésicos gerais promovem depressão global e reversível do SNC, resultando na perda da capacidade de
percepção e resposta a estímulos dolorosos e permitindo a realização de cirurgias e procedimentos
desagradáveis.

. Objetivos gerais da anestesia cirúrgica:


➢ Minimizar efeitos deletérios, diretos e indiretos, dos agentes e técnicas anestésicas
➢ Manter a homeostase fisiológica durante procedimentos cirúrgicos
➢ Melhorar os desfechos pós-operatórios, pelo bloqueio ou tratamento de componentes da resposta
ao estresse cirúrgico

. O estado anestésico é composto por:


➢ Amnésia (efeito mais sensível; ação no hipocampo, amígdala e lobo temporal)
➢ Inconsciência (passa por sedação e hipnose; ação no córtex, tálamo e formação reticular)
➢ Imobilidade (ação na medula e alguns sítios supraespinhais)
➢ Analgesia (periférica e central)
➢ Atenuação das respostas autonômicas

. Etapas da anestesia geral: indução ! manutenção (envolve monitoramento, aprofundamento e


superficialização) ! despertar

. Estágios clássicos de anestesia:


➢ I ! analgesia, com sedação e amnésia progressiva
➢ II ! excitação (desinibição paradoxal), com movimentos defensivos, fala desconexa, disforia,
náuseas, respiração irregular e hiperreflexia; mais rara com os fármacos modernos
➢ III ! anestesia cirúrgica, com imobilidade, retorno da regularidade respiratória e perda
progressiva de reflexos
➢ IV ! depressão medular, com depressão respiratória (requer VM) e cardiovascular

. A potência dos anestésicos gerais geralmente é definida pela concentração


necessária para impedir o movimento em resposta a estimulação cirúrgica
(imobilidade). Geralmente, consegue-se amnésia e inconsciência com metade
dessa concentração.
➢ No caso de anestésicos inalatórios, a potência é definida em
unidades CAM (definida como a concentração alveolar mínima
necessária para produzir imobilidade em 50% dos pacientes).
➢ No caso de anestésicos IV, a potência é definida pela
concentração plasmática livre que elimina a resposta a incisão
cirúrgica em 50% dos pacientes.

. Mecanismos celulares de anestesia ! todos os anestésicos apresentam


efeitos substanciais sobre a transmissão sináptica e, em menor grau, sobre a
geração ou propagação de potenciais de ação. Além disso, anestésicos
inalatórios podem hiperpolarizar neurônios.
➢ Anestésicos inalatórios promovem inibição de sinapses
excitatórias e excitação de sinapses inibitórios, tanto por mecanismos pré- quanto pós-sinápticos.
➢ Anestésicos IV produzem uma faixa mais estreita de efeitos. A maioria deles atua a nível pós-
sináptico, intensificando a neurotransmissão inibitória; a cetamina impede de maneira
preponderante a neurotransmissão excitatória mediada por glutamato.

. Mecanismos moleculares:
➢ Aumento da sensibilidade dos receptores GABAa ao GABA, intensificando a neurotransmissão
inibitória e deprimindo a atividade do SNC.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 15

➢ Aumento da sensibilidade dos receptores glicinérgicos (canais de Cl-) à glicina, mediando a


inibição da resposta a estímulos nocivos (ação no tronco cerebral e medula).
➢ Inibição de algumas classs de receptores nicotínicos neuronais.
➢ Inibição alostérica do receptor de glutamato NMDA (canal de Ca2+ controlado por ligando).
➢ Ativação de canais de K+ com domínios de dois poros; esses canais, a nível pós-sináptico, podem
ser os responsáveis pela hiperpolarização neuronal.

. Locais anatômicos para ação anestésica:


➢ Redução da taxa metabólica e fluxo sanguíneo no cérebro, em especial no tálamo. A supressão da
atividade talâmica é crucial para impedir a transmissão de impulsos sensoriais periféricos até o
córtex.
➢ Além disso, também há supressão da atividade em regiões corticais específicas, como o córtex
parietal mesial, córtex cingulado posterior, pre-cuneus e córtex parietal inferior.
➢ Ação nos núcleos pré-ópticos ventrolaterais (POVL), aumentando seus efeitos inibitórios e
supressores da consciência.
➢ Depressão da neurotrasmissão hipocampal (importante para o efeito amnésico).

. Efeitos dos anestésicos gerais:


➢ Hemodinâmicos ! redução da PA (por vasodilatação e/ou depressão miocárdica, além de
embotamento do barorreflexo e redução do tônus simpático central); é intensificada por depleção
de volume ou disfunção miocárdica subjacente
➢ Respiratórios ! redução ou eliminação do drive ventilatório e dos reflexos que mantém a
patência das vias aéreas; geralmente, a ventilação deve ser assistida ou controlada, pelo menos
por algum período, durante cirurgias
o A perda dos reflexos da tosse e vômito, além de relaxamento do EEI, tornam a intubação
orotraqueal mais indicada para evitar broncoaspiração durante cirurgia.
➢ Hipotermia (redução da taxa metabólica e consumo de O2; além disso, também contribuem a
baixa temperatura ambiente, exposição de cavidades corporais, líquidos IV frios e alteração do
controle termorregulatório)

➢ Efeitos pós-operatórios
o Náuseas e vômitos (ação dos anestésicos sobre a zona quimiorreceptora do gatilho e sobre
o centro do vômito no bulbo)
o Retomada do tônus simpático, ocasionando hipertensão arterial e taquicardia, e podendo
precipitar isquemia miocárdia em coronariopatas
o Excitação, inquietação, gritos, gemidos e agitação
o Efeitos no SNC, ocasionando delirium, espasticidade, hiperreflexia e sinal de Babinski
o Calafrios pós-anestésicos
! 16 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

o Obstrução das vias respiratórias (efeito anestésico residual), com redução da função
pulmonar e possível hipoxemia

. Classificação dos anestésicos gerais:


➢ Inalatórios ! gases (N2O, xenônio) ou líquidos voláteis (halogenados)
➢ IV ! barbitúricos, BZD, opioides, propofol, etomidato, cetamina

Anestésicos inalatórios

Propriedades gerais

. São agentes com um índice terapêutico extremamente baixo, que os coloca entre os fármacos mais perigosos
em uso clínico. A seleção de um anestésico inalatório consiste frequentemente em ajustar a fisiopatologia do
paciente ao perfil de efeitos colaterais do fármaco.

. FC geral:
➢ Em estado de equilíbrio, a pressão parcial do
gás anestésico é igual em todos os tecidos,
assim como no gás inalado. Entretanto, a
concentração do gás é diferente em cada tecido.
Daí vem o conceito de coeficiente de partição,
isto é, a razão entre a concentração de
anestésico em dois tecidos, quando as pressões
parciais do gás nos dois tecidos são iguais.
➢ Fármacos muito solúveis em gordura, por
exemplo, demoram a atingir o equilíbrio, pois o
tecido adiposo representa um enorme
reservatório a ser preenchido.
➢ A anestesia é produzida quando a pressão
parcial do anestésico no cérebro é igual ou
maior que a CAM. Como o cérebro é bem
perfundido, a pressão parcial anestésica no cérebro iguala-se àquela no gás alveolar e no sangue
em poucos minutos. Portanto, a anestesia é alcançada logo após a pressão parcial alveolar
alcançar a CAM.
➢ A eliminação dos anestésicos inalatórios se dá por um processo reverso ao de sua captação.
Agente de alta solubilidade no sangue e nos tecidos apresentam recuperação em função da
duração de sua administração, porque as quantidades acumuladas nos reservatórios de gordura
impedem que a pressão parcial no sangue e alvéolos caia rapidamente. O despertar ocorre quando
a pressão parcial alveolar alcança a CAMacordado, uma pressão um pouco mais baixa do que a
CAM.

. Mecanismos de ação:
➢ Aumento da sensibilidade de receptores GABAa e glicinérgicos
➢ Redução da atividade de receptores NMDA, AMPA e nicotínicos
➢ Ativação de canais de K+ com domínios de dois poros
. Efeitos gerais:
➢ SNC ! aumento do fluxo sanguíneo cerebral, porém com redução do metabolismo
(desacoplamento fluxo-metabolismo cerebral); redução da amplitude do EEG; alguns podem
causar atividade epileptiforme (especialmente em hiperventilação e hipocapneia); derepssão
respiratória (reduçnao do volume-corrente e FR)
➢ Cardiovascular ! depressão miocárdica e vasodilatação periférica, com redução da PA;
prolongamento do intervalo QT
➢ Respiratório ! broncodilatação; geralmente não causam depressão respiratória pós-operatória
(mas apresentam sinergismo com os opioides)
➢ Outros ! irritação das mucosas (principalmente desflurano e isoflurano); hipotermia
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 17

➢ Efeitos pós-operatórios ! náuseas e vômitos; excitação (inqueitação, taquicardia, choro);


hipertensão; tremores; delírios; espasticidade e hiperreflexia

. Hipertermia maligna ! síndrome caracterizada por hipertermia, taquicardia, hipertensão e rigidez muscular
intensa; causada por anestésicos gerais halogenados ou succinilcolina; relacionada a liberação excessiva de
cálcio
➢ Manejo ! interrupção imediata do anestésico + resfriamento + dantroleno

Propriedades específicas

. Halotano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás e gordura:sangue relativamente altos; indução e
recuperação intermediários; acumula-se na gordura e outros tecidos em uso prolongado; 60-80%
eliminado inalterado pelos pulmões após 24h; o restante é metabolizado no fígado a ácido
trifluoroacético, bromo e cloro, que são excretados na urina
➢ Usos: indução de anestesia (principalmente em crianças) e manutenção
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA; depressão miocárdica e redução da FC; ritmos
atrioventriculares e sensibilização aos efeitos arritmogênicos da epinefrina; vasodilatação
na pele e cérebro, porém sem efeito proeminente sobre a RVP; redução da autorregulação
do fluxo renal e esplâncnico, levando a hipoperfusão
o Respiratório ! respiração espontânea rápida e superficial, com redução da ventilação
alveolar e hipercapnia (entrentanto, não produz aumento da ventilação devido a inibição
da resposta ventilatória ao CO2); inibição da resposta ventilatória a hipoxemia
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral
o Músculos ! relaxamento de musculatura esqulelética e potencialização da ação de
relaxamentes musculares não-despolarizantes; hipertermia maligna; relaxamento uterino
o Rins ! redução do FSR e TFG, reversíveis e sem toxicidade a longo prazo
o GI ! redução do fluxo sanguíneo esplâncnico e hepático; necrose hepática fulminante
(hepatite por halotano; muito grave) pode ocorrer vários dias após a anestesia (deve-se a
ação de metabólitos do halotano)

. Isoflurano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás mais baixo do que halotano e enflurano; indução e
recuperação mais rápidas; quase 100% eliminado inalterado pelos pulmões
➢ Usos: principalmente para manutenção de anestesia; é eficaz para indução, mas evitado devido a
seu odor pungente
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA devido a redução da RVP (vasodilatação principalmente
na pele e músculos); DC relativamente inalterado; vasodilatação coronariana acentuada,
! 18 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

promovendo aumento do fluxo sanguíneo e redução do consumo miocárdico de O2;


atenuação do barorreflexo, porém ocorre ligeira taquicardia em resposta a redução da PA
o Respiratório ! depressão da ventilação e da resposta ventilatória a hipercapnia e
hipoxemia; broncodilatação; entretanto, devido a sua propriedade irritativa da mucosa
respiratória, pode estimular reflexos das vias aéreas, levando a tosse e laringoespasmo
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (menor do que o halotano e
enflurano; risco modesto de elevação da PIC); redução do metabolismo cerebral
o Músculos ! relaxamento da musculatura esquelética (mais potente do que o halotano) e
potencialização da ação de relaxantes musculares despolarizantes e não-despolarizantes;
relaxamento uterino
o Rins ! redução do FSR e TFG, reversíveis e sem toxicidade a longo prazo
o GI ! redução do fluxo sanguíneo esplâncnico e hepático; sem toxicidade

. Enflurano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás relativamente alto; indução e recuperação intermediários;
2-8% são metabolizados no fígado a íons fluoreto; pacientes em uso de isoniazida exibem
metabolismo mais intesno do enflurano
➢ Usos: principalmente manutenção anestésica, mas também é eficaz como indutor
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA, com depressão miocárdica e vasodilatação periférica;
efeitos mínimos sobre a FC
o Respiratório ! depressão respiratória; maior depressão das respostas a hipercapnia e
hipoxemia do que o halotano e isoflurano; broncodilatador
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral; convulsões autolimitadas (principalmente se estiver em
altas concentrações ou na presença de hipocapnia)
o Músculos ! relaxamento de musculatura esqulelética e potencialização da ação de
relaxamentes musculares não-despolarizantes; hipertermia maligna; relaxamento uterino
o Rins ! redução do FSR e TFG, reversíveis e sem toxicidade a longo prazo
o GI ! redução do fluxo sanguíneo esplâncnico e hepático; sem toxicidade

. Desflurano
➢ FC: coeficiente de partição sangue:gás muito baixo, com pouca solubilidade em gordura e outros
tecidos; indução e recuperação muito rápidas; 99% são eliminados inalterados pelos pulmões
➢ Usos: amplo uso em cirurgias ambulatoriais (devido a rápida indução e recuperação),
principalmente para manutenção; é eficaz como indutor, mas não é usado devido a irritação das
vias aéreas, que provoca tosse, salivação e broncoespasmo
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA, principalmente por redução da RVP; DC e fluxo
sanguíneo para os principais leitos vasculares preservados; taquicardia transitória
o Respiratório ! aumento da FR e redução do volume-corrente, com preservação do
volume-minuto em baixas concentrações; concentrações maiores do que 1 CAM
deprimem o volume-minuto e promovem hipercapnia; broncodilatação; irritação das vias
aéras, promovendo tosse, laringoespasmo e secreção excessiva
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral
o Músculos ! relaxamento da musculatura esquelética e potencialização da ação de
relaxantes musculares despolarizantes e não-despolarizantes

. Sevoflurano
➢ FC: baixa solubilidade no sangue e outros tecidos; indução e recuperação muito rápidas; cerca de
3% são metabolizados no fígado a hexafluoroisopropanol e fluoreto inorgânico
➢ Usos: amplo uso em cirurgias ambulatoriais (devido a rápida indução e recuperação), tanto para
indução quanto para manutenção
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 19

➢ E.A:
o Reage com absorvente dessecado de CO2, produzindo queimaduras nas vias respiratórias,
combustão espontânea, explosão e incêndio, além de produção de CO
o Cardiovascular ! redução da PA por diminuição da RVP e do DC; não produz
taquicardia
o Respiratório ! aumenta a FR e reduz o volume-corrente, porém com redução global do
volume-minuto e aumento da PCO2; broncodilatador (mais eficaz de todos)
o SNC ! vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo cerebral (pode elevar a PIC);
redução do metabolismo cerebral; em crianças, pode propiciar delirium ao despertar,
porém de vida curta e sem sequelas a longo prazo
o Músculos ! relaxamento da musculatura esquelética e potencialização da ação de
relaxantes musculares despolarizantes e não-despolarizantes
o Rins ! possível nefrotoxicidade devido ao composto A (produto de degradação gerado
pela interação do sevoflurano com a cal sodada, utilizada como absorvente de CO2)

. Óxido nitroso
➢ M.A: antagonismo não-competitivo de receptores NMDA
➢ FC: muito insolúvel no sangue e tecidos; indução e recuperação muito rápidas; 99% são
eliminados inalterados pelos pulmões
o Efeito do segundo gás ! a imediata assimilação do óxido nitroso concentra anestésicos
halogenados coadministrados, acelerando a indução da anestesia
o Hipoxia por difusão ! após ter sua administração interrompida, o óxido nitroso difunde-
se rapidamente do sangue para os alvéolos, podendo diluir o O2; para evitar esse efeito,
dee-se administrar O2 a 100% quando a adm do óxido nitroso é interrompida
o O óxido nitroso pode interagir com o cobalto da vitamina B12, evitando sua ação como
cofator e podendo produzir sinais de deficiência dessa vitamina, especialmente em
pacientes desnutridos, alcoolistas ou com deficiência de B12. Por isso, não é utilizado
como analgésico crônico nem como sedativo em pacientes críticos.
➢ Usos: apresenta efeitos analgésicos significativos (ativa neurônios opioidérgicos na GPA e
neurônios adrenérgicos na substância ferruginosa), mas é um anestésico fraco e incompleto (só se
alcança anestesia cirúrgica em condições hiperbáricas); dessa forma é utilizado em pacientes
odontológicos para promover analgesia e sedação branda ou como adjuvante de outros
anestésicos inalatórios e IV
➢ E.A:
o O óxido nitroso entra em qualquer cavidade do corpo que contenha ar, a uma velocidade
maior do que o N2 consegue sair. Dessa forma, aumenta a pressão de cavidades e pode
expandir coleções de ar, como pneumotórax, ouvido médio obstruído, embolias gasosas,
alças intestinais obstruídas, bolhas intraoculares, bolhas pulmonares e ar intracraniano.
o Cardiovascular ! não há depressão miocárdica in vivo; aumenta o tônus venoso e a
pressão arterial pulmonar (CI em pacientes com HAP); aumenta a FC, PA e DC se
coadministrado com halogenados; reduz a PA e o DC se coadministrado com opioides
o Respiratório ! aumento modesto da FR e redução do volume-corrente; depressão notável
da resposta ventilatória a hipóxia
o SNC ! auento expressivo do fluxo sanguíneo cerebral e PIC (atenuada pela
coadministração de opioides e propofol; acentuada pela coadministração de halogenados)

. Xenônio
➢ FC: extremamente insolúvel no sangue e tecidos; indução e recuperação extremamente rápidas
➢ Usos: é eficiente para produzir anestesia, podendo ser necessária a suplementação com um agente
IV (como o propofol); entretanto, seu uso é muito limitado pois é um gás raro, que não pode ser
manufaturado e deve ser extraído do ar, o que o torna caro e pouco disponível
➢ Não apresenta efeitos colaterais significativos sobre o sistema cardiovascular e outros.

Anestésicos intravenosos
Propriedades gerais
! 20 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

. FC geral:
➢ São compostos pequenos e altamente
lipofílicos, com excelente distribuição no
cérebro e medula espinhal, com rápida indução
após uma única circulação. Os níveis
sanguíneos caem rapidamente depois, devido a
redistribuição do fármaco, que determina o
término da anestesia após doses únicas
administradas em bolo.
➢ Acumula-se no tecido adiposo.
➢ O t1/2 desses fármacos é “sensível ao
contexto”, ou seja, depende de interações
complexas entre a taxa metabólica, quantidade
e lipofilia do fármaco.

Propriedades específicas

. Propofol e fospropofol (pró-fármaco do propofol, convertido in vivo)


➢ M.A: modulador alostérico de receptores GABAa e glicinérgicos
➢ FC: início e duração de anestesia similar ao tiopental, quando adm em bolo, porém com
recuperação mais rápida; t1/2 = 10 min (infusão de 3h) ou 40 min (infusão de até 8h); alta ligação
as ptns plasmáticas; metabolismo hepático e excreção renal (reduzida em idosos e aumentada em
crianças, requerendo ajuste da dose)
➢ Usos: indução e manutenção anestésicas; em procedimentos rápidos, podem ser feitas pequenas
doses em bolo, enquanto a manutenção mais prolongada requer infusão contínua
➢ E.A:
o O propofol é administrado na forma de emulsão lipídica, que provoca dor significativa à
injeção e hiperlipidemia. O fospropofol foi desenvolvido para administração em solução
aquosa, para evitar esses efeitos.
o Cardiovascular ! redução da PA (mais acentuada do que o tiopental), por depressão
miocárdica leve e vasodilatação periférica; embotamento do barorreflexo e redução do
tônus simpático
o Respiratório ! depressão respiratória (levemente maior do que o tiopental);
broncodilatador (preferido em asmáticos)
o SNC ! redução do fluxo sanguíneo cerebral, PIC e taxa metabólica; ação
anticonvulsivante (uso em estado epiléptico); pode ser um potencial neuroprotetor
o Outros ! ação antiemética significativa (menor indução de náuseas e vômitos pós-
operatórios); síndrome de infusão de propofol (síndrome rara, porém potencialmente
fatal, que ocorre em infusões prolongadas de altas doses de propofol em pacientes jovens
ou com TCE; caracterizada por acidose metabólica, hiperlipidemia, rabdomiólise e
aumento do fígado)

. Etomidato
➢ M.A: modulação alostérica de receptores GABAa
➢ FC: início e duração de anestesia similar ao tiopental, porém com recuperação mais rápida;
metabolismo hepático e eliminação renal e biliar
➢ Usos: utilizado principalmente para indução anestésica em pacientes com doença cardiovascular
e/ou sob risco de hipotensão; há uso extra-bula para manutenção anestésica ou sedação, mas a
infusão prolongada não é recomendada
➢ E.A:
o A administração de etomidato é acompanhada por dor à injeção e movimentos
mioclônicos (podem ser reduzidos pela pré-medicação com BZD ou opioides).
o Cardiovascular ! pequeno aumento da FC, com pouca ou nenhuma redução da PA e DC;
reduz o consumo miocárdico de O2
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 21

o Respiratório ! depressão respirateoria (menor do que o tiopental)


o SNC ! redução do fluxo sanguíneo cerebral, PIC e taxa metabólica; aumento da
atividade em focos epileptogênicos, podendo ocasionar convulsões
o Outros ! soluços; náuseas e vômitos; inibe enzima suprarrenais envolvidas na
biossíntese de cortisol e outros esteroides

. Cetamina
➢ M.A: antagonismo não-competitivo de receptores NMDA
➢ FC: adm principalmente IV, mas também é eficaz pelas vias IM, oral e retal; indução
relativamente lenta e curta duração de ação; ligação proteica bem menos intensa do que os outros
fármacos IV; metabolismo hepático a norcetamina (atividade reduzida no SNC), que é
posteriormente metabolizada e excretada na urina e bile; a depuração rápida e grande volume de
distribuição a tornam adequada para infusão prolongada, sem que haja prolongamento da ação
➢ Usos: útil para indução de anestesia em pacientes sob risco de hipotensão e broncoespasmo, além
de determinados procedimentos pediátricos curtos
o A cetamina produz anestesia dissociativa: os pacientes tem analgesia profunda, ficam
irresponsivos e desenvolvem amnésia, mas mantém os olhos abertos, movem seus
membros involuntariamente e respiram espontaneamente (estado cataléptico).
➢ E.A:
o Cardiovascular ! aumento da PA, FC e DC (atividade simpaticomimética indireta, por
inibição da captação de catecolaminas a nível central e periférico); aumenta o consumo
miocárdico de O2 (não é indicada para coronariopatas)
o Respiratório ! depressão respiratória bem menos grave do que os outros anestésicos
gerais; broncodilatador potente
o SNC ! estado cataléptico, acompanhado por nistagmo, midríase, salivação,
lacrimejamento e hipertonia muscular; aumenta o fluxo sanguíneo cerebral e a PIC, com
alteração mínima do metabolismo cerebral; delirium durante a recuperação anestésica
(incidência reduzida pela adm de BZD)

. Barbitúricos (tiopental)
➢ M.A: modulação alostérica de receptores GABAa e glicinérgicos, além de alguma inibição
glutamatérgica
➢ FC: indução rápida, com duração dependente do tempo de infusão (curta em doses únicas;
infusões prolongadas ou doses altas podem produzir inconsciência que dura vários dias, devido a
eliminação lenta e grande volume de distribuição); ligação de 85% as ptns plasmáticas;
metabolismo hepático lento e excreção renal; uma pequena fração do tiopental é metabolizado a
pentobarbital, um hipnótico de longa ação
➢ Usos: indução anestésica, principalmente em procedimentos de curta duração; suplementação de
outros anestésicos
➢ E.A:
o Cardiovascular ! redução da PA, principalmente devido à venodilatação e, em menor
grau, à redução direta da contratilidade miocárdica; aumento reflexo da FC, embora haja
embotamento do barorreflexo
o Respiratório ! depressão respiratória, com redução do volume-corrente e FR (em menor
grau); redução das respostas à hipercapnia e hipóxia; apneia com doses altas ou na
presença de outros depressores respiratórios (ex: opioides); liberação de histamina,
podendo induzir broncoespasmo em asmáticos
o SNC ! redução do fluxo sanguíneo cerebral, PIC e taxa metabólica; efeito
anticonvulsivante (pode ser utilizado para tratamento do estado epiléptico)
o Outros ! reações de hiperssensibilidade; ataques fatais de porfiria em pacientes com
porfiria aguda intermitente ou variegada; injeção intra-arterial pode induzir inflamação
! 22 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

grave e potencial necrose do membro; pode induzir sintomas excitatórios à indução


(tosse, soluços, tremores, hipetonia espástica)

Adjuvantes anestésicos
. Benzodiazepínicos ! utilizados como medicação pré-anestésica (principalmente o midazolam, seguido de
longe por diazepam e lorazepam), devido a seus efeitos ansiolíticos, amnésticos e sedativos, apesar de
prolongarem o tempo de recuperação pós-operatória; podem ser utilizados para sedação em procedimentos
que não requerem anestesia geral

. Agonistas alfa2-adrenérgicos (dexmedetomidina) ! sedação e analgesia em curto prazo de adultos


criticamente doentes, além de sedação pré-anestésica em paciente não-entubados; entretanto não produz
amnésia confiável
➢ FC: intensa ligação as ptns plasmáticas; metabolismo hepático e excreção renal
➢ E.A: hipotensão, bradicardia; náuseas, xerostomia
o Em concentrações altas, o receptor alfa2ß é ativado, resultando em hipertensão e redução
adicional da FC e DC.

. Analgésicos ! exceto a cetomidina, nenhum dos outros anestésicos gerais é um analgésico eficaz; embora
AINEs e paracetamol resultem, às vezes, em analgesia adequada para procedimentos menores, na grande
maioria das vezes é necessário o uso de opioides, devido à analgesia rápida e profunda que produzem
➢ Os principias opioides utilizados são a fentanila, sufentanila, alfentanila, remifentanila,
meperidina e morfina. A escolha depende da duração de ação desejada, posto que todos produzem
analgesia e E.A similares.
o Remifentanila ! ação curta (10 min), utilizada para procedimentos breves
o Fentanila, alfentanila e sufentanila ! duração intermediária, com recuperação variável
(fentanila > sufentanila > alfentanila)
➢ O uso de opioides aumenta a frequência e gravidade de náuseas, vômitos e prurido que surgem
após a recuperação anestésica. A meperidina reduz os calafrios pós-operatórios.

. Bloqueadores neuromusculares ! frequentemente administrados durante a indução anestésica, para facilitar


a laringoscopia e intubação orotraqueal
➢ Barbituratos precipitam se misturados aos BNM, sendo necessário esperar que desapareçam do
cateter IV antes de infundir o BNM.
➢ BNM não-despolarizantes apresentam poucos efeitos colaterais (apesar de alguns agentes
promoverem liberação de histamina), e podem ser antagonizados por anticolinesterásicos
combinados a antagonistas muscarínicos.
➢ BNM despolarizante (succinilcolina) apresenta vários E.A graves (bradicardia, hipercalemia,
mialgia grave) e pode induzir hipertermia maligna em indivíduos susceptíveis.

!
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 23

Sedativos, hipnóticos e ansiolíticos

Introdução

. Sedativo ! diminui a atividade, modera a excitação e acalma o paciente

. Hipnótico ! produz sonolência e facilita o início e manutenção do sono

. Diversos fármacos, como os antagonistas do receptor H1 (anti-histamínicos, antipsicóticos), produzem


sedação como efeito colateral, podendo intensificar o efeito de depressores do SNC. Entretanto, em geral seus
efeitos terapêuticos são alcançados em concentrações menores do que aquelas em que se observa depressão do
SNC. Embora utilizados como sedativos-hipnóticos, esses fármacos geram proeminente sonolência diurna
residual.

Benzodiazepínicos

. M.A: modulação alostérica do receptor inibitório GABAa


(canal de cloreto), aumentando sua afinidade pelo GABA e
promovendo hiperpolarização neuronal.
➢ Como os BZD não são capazes de ativar, por si só,
os receptores GABAa, esses fármacos não são
capazes de gerar anestesia cirúrgica, paralisia ou
depressão respiratória fatal, na ausência de outros
fármacos depressores do SNC. Uma exceção é o
midazolam, capaz de reduzir o volume e
frequência respiratórios.
➢ Efeitos farmacológicos:
o SNC ! depressão do neuroeixo, gerando
hipnose, sedação, redução da ansiedade (interneurônios GABAergicos na amígdala),
amnésia anterógrada, inibição de convulsões, relaxamento muscular e ataxia
▪ O efeito hipnótico dos BZD se traduz em redução da latência do sono, do número
de despertares e do tempo gasto em estágio IV e sono REM (embora o número de
ciclos de REM aumente). O tempo total de sono é aumentado às custas de
aumento no tempo de estágio II. Quando o uso crônico é interrompido, pode
ocorrer “rebote”, com aumento na quantidade e densidade de sono REM, e
encurtamento do tempo total de sono.
o Efeitos CV (doses altas, adm IV pré-anestésica) ! vasodilatação coronariana e efeito
inotrópico negativo (princ dizepam), redução da PA e aumento da FC
o Bloqueio NM (altas doses)
o Depressão leve da respiração (doses altas, utilizadas antes de cirurgias e procedimentos
endoscópicos), reduzindo o estímulo hipóxico (efeito mais notável em pacientes com
DPOC). Podem provocar apneia quando administrados com outros fármacos depressores
do SNC ou etanol.
▪ Pode acontecer piora de distúrbios respiratórios relacionados ao sono (ex: AOS),
devido à redução do tônus das VA superiores.
o Redução da secreção gástrica noturna (diazepam)
➢ Com o uso crônico de BZD, podem surgir tolerância aos seus efeitos (principalmente quanto à
sedação, hipnose, relaxamento muscular e efeito anticonvulsivante) e/ou dependência.

. OBS: Há uma classificação, tendendo ao desuso, entre os receptores GABAa sensíveis aos BZD:
➢ Tipo 1 ! mais comum no SNC; medeia sedação
➢ Tipo 2 ! amígdala, hipocampo, estriado, medula; medeia ansiólise
. FC: adm oral (absorção completa), IM ou IV (no Brasil, apenas o diazepam e o midazolam); ligação de
70-99% às ptns plasmáticas; t1/2 depende do fármaco; muito lipofílicos, com excelente penetração no SNC;
metabolismo hepático (alguns BZD são biotransformados a metabólitos ativos com t1/2 mais longa; portanto,
! 24 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

o t1/2 de alguns fármacos tem pouca relação com a


duração de ação), necessitando de ajuste em hepatopatas
e idosos; excreção renal

. Usos terapêuticos:
➢ Insônia e distúrbios do sono (hipnose;
preferência por fármacos com t1/2 curto)
➢ Transtornos de ansiedade (preferência por
t1/2 longo) ! principalmente distúrbios
agudos, pois o uso crônico gera tolerância
e/ou dependência
➢ Anticonvulsivantes (preferência por início
de ação rápido e t1/2 longo)
➢ Alguns distúrbios do movimento
➢ Abstinência alcóolica
➢ Medicação pré-anestésica

. Efeitos adversos:
➢ Sedação, amnésia anterógrada, confusão,
comprometimento das funções mentais
➢ Ataxia, relaxamento muscular
➢ Aumento de convulsões em algumas epilepsias
➢ Cefaleia, borramento visual, vertigem
➢ Náuseas, vômitos, desconforto epigástrico, diarreia
➢ Dor articular, incontinência (raras)
➢ Piora da AOS e da respiração em pacientes com DPOC
➢ Depressão respiratória (princ IV, quando associados a etanol, outros depressores do SNC ou
outras co-morbidades)
➢ Efeitos paradoxais: pesadelos, desinibição, agitação, paranoia, depressão, ideação suicida (raros;
princ idosos, crianças, pacientes com dor ou história de comportamento anti-social ou agressivo)
➢ Síndrome de abstinência: insônia, ansiedade de rebote (princ fármacos com t1/2 curto), disforia,
irritabilidade, suores, pesadelos, anorexia, tremores, síncope, tonteira, crises convulsivas !
redução gradual, se houver uso por 2 ou mais semanas
➢ Reações alérgicas, hepatotóxicas e hematológicas (raras)
➢ Hipotermia, hipotonia e leve depressão respiratória no neonato, se utilizado durante o parto;
síndrome de abstinência no neonato, se houve abuso da mãe durante a gestação

. I.M: etanol, valproato, macrolídeos, isoniazida, itraconazol, cetoconazol, ritonavir, cimetidina,


contraceptivos orais, fenitoína, outros depressores do SNC

. O flumazenil é um antagonista do sítio de ligação dos BZD no receptor GABAa; é utilizado como antídoto
para a intoxicação por BZD ou substâncias Z.
➢ FC: adm IV; t1/2 = 1h; duração de ação = 30-60 min; metabolismo hepático;

. A bicuculina é um antagonista do local de ligação do GABA; dessa forma, sua administração prévia impede
a ação dos BZD.

Substâncias Z
. M.A: embora não sejam BZD, atuam no mesmo sítio de ligação alostérica no receptor GABAa, aumentando
a afinidade pelo GABA
➢ Efeito principal é a hipnose, devido à sua relativa seletividade por receptores GABAa com a
subunidade alfa-1 (tipo 1). Promovem redução da latência do sono e aumento do tempo total de
sono em pacientes com insônia (principal indicação).
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 25

➢ Pouca ação ansiolítica, anticonvulsivante ou relaxante muscular; porém, podem causar amnésia
anterógrada.
➢ Assim como os BZD, depressão respiratória só ocorre com a associação de outros depressores do
SNC ou etanol.
➢ Ocorre tolerância e/ou dependência com o use prolongado ou em doses altas.

. Fármacos:
➢ Zaleplona ! adm oral; absorção rápida e pico em 1h; t1/2 = 1h (pode ser usado no meio da
noite); metabolismo hepático a metabólitos inativos e excreção renal; menos E.A
➢ Zolpidem ! adm oral; absorção rápida; t1/2 = 2h (uso ao deitar, cobre a noite inteira);
metabolismo hepático a metabólitos inativos e excreção renal; pode gerar insônia de rebote,
sedação diurna ou amnésia residuais, sendo recomendado o uso por períodos curtos
➢ Eszopiclona ! adm oral; absorção rápida; t1/2 = 6h; metabolismo hepático; não gera tolerância
ou sintomas de abstinência grave; pode causar paladar amargo; uso princ no tratamento
prolongado da insônia

Barbitúricos

. M.A: modulação alostérica do receptor GABAa,


aumentando sua afinidade pelo GABA + ativação direta
dos receptores GABAa + inibição de receptores
excitatórios AMPA/cainato
➢ Efeitos farmacológicos:
o SNC ! depressão do SNC, desde
sedação leve até anestesia geral,
paralisia e depressão respiratória;
redução da ansiedade (inferior aos
BZD); anticonvulsivante; em baixas
doses, ocorre aumento da percepção
de dor (hiperalgesia), o que impede
seu uso para induzir sono na presença
de dor
▪ Os efeitos sobre o sono são equivalentes aos dos BZD, porém há maior efeito de
tolerância e rebote após interrupção.
o SNP ! inibição ganglionar e NM ! redução da PA, bloqueio NM
o Depressão respiratória (perda do drive e do ritmo respiratórios) em doses altas
o CV (geralmente doses altas, IV) ! redução da PA, do fluxo sanguíneo renal (pode gerar
IR em intoxicação aguda) e cerebral; queda da pressão liquórica; arritmias ventriculares
(princ quando associados a epinefrina ou halotano); depressão miocárdicas (doses muito
altas)
o TGI ! redução do tônus muscular e da amplitude peristáltica
o Fígado ! inibição (aguda) ou indução (crônica) de CYPs ! diversas I.M
➢ Há importante tolerância com o uso prolongado desses fármacos, principalmente quanto a seus
efeitos sobre o humor, sedação e hipnose; como a tolerância aos efeitos anticonvulsivantes e letais
é menor, o índice terapêutico reduz com a tolerância. A tolerância farmacodinâmica confere
tolerância cruzada a todos os fármacos depressores dos SNC, inclusive o etanol. Tamém estão
associados a dependência e uso abusivo.
. FC: adm oral (principal para esse uso), IM ou IV; absorção de sais de sódio é mais rápida do que a de ácidos
livres; início de ação em 10-60 min; t1/2 varia de acordo com o fármaco (a maioria é eliminada em 24h);
lipofílicos, com boa penetração no cérebro e placenta; metabolismo hepático e excreção renal (exceto
aprobarbital e fenobarbital, que apresentam 35% de excreção inalterada na urina); induzem CYPs
(importantes I.M) e necessitam de ajuste de dose em idosos, lactentes, gestantes e hepatopatas

. Usos clínicos:
➢ Insônia e ansiedade (substituídos por BZD, devido a maior segurança)
➢ Crises convulsivas
! 26 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

➢ Sedação pré-anestésica
➢ Anestesia geral

. E.A (índice terapêutico extremamente estreito):


➢ Depressão residual do SNC; comprometimento do julgamento e habilidades motoras finas
➢ Vertigem; náuseas, vômitos, diarreia
➢ Excitação paradoxal (princ idosos ou pacientes debilitados, com uso de fenobarbital)
➢ Piora da percepção da dor; podem gerar delirium na presença de dor
➢ Reações alérgicas (princ indivíduos com asma, urticaria, angioedema, etc)
➢ Aumento da síntese de porfirina ! CI absoluta em pacientes com porfiria intermitente aguda ou
porfiria variegada
➢ Colapso CV, choque
➢ Laringoespasmo, tosse, outras dificuldades respiratórios
➢ Depressão respiratória grave, potencialmente fatal (intoxicação por barbitúricos) ! tratamento
com medidas de suporte (VM, diurese forçada, alcalinização da urina)

. I.M: outros depressores do SNC, etanol, isoniazida, metilfenidato e inibidores da MAO (produzindo
depressão grave do SNC); interação farmacocinética com hormônios esteroides (causando distúrbios
endócrinos), contraceptivos orais, clorocarbônicos (podem gerar necrose periportal hepática)

Outros
. Carisoprodol ! convertido a meprobamato; mesmo M.A e riscos que os barbitúricos
➢ É utilizado como sedativo-hipnótico, ansiolítico e relaxante muscular. Aumenta o efeito
analgésico de outros fármacos, sendo associado com AINEs e cafeína. Há alto potencial de uso
abusivo.
➢ Apesar da boa absorção com adm oral, podem se formar bezoares gástricos (comprimidos não
dissolvidos), que necessitam de remoção endoscópica. O metabolismo é hepático e pode ocorrer
indução de CYPs.
➢ E.A: em baixas doses, semelhante aos BZD (sonolência, ataxia, comprometimento do
aprendizado e do tempo de reação); em altas doses, pode provocar depressão respiratória grave,
hipotensão e choque

. Congêneres da melatonina (ramelteona – indisponível no Brasil)


➢ M.A: liga-se aos receptores de melatonina MT1 e MT2 no núcleo supraquiasmático, induzindo o
início do sono (reduz a latência) e regulando a sincronia do ciclo circadiano
➢ FC: adm oral, 30 min antes de dormir; absorção rápida; biodisponibilidade baixa devido ao
extenso metabolismo de 1a passagem (<2%); t1/2 = 2h; metabolismo hepático (um dos
metabólitos gerados é ativo e contribui para o efeito da ramelteona).
➢ Indicação: tratamento da insônia transitória e crônica, principalmente na dificuldade de iniciar o
sono
➢ Sem E.A importantes; pouca tolerância, dependência ou potencial de abuso

. Serotoninérgicos
➢ Indiretos (ISRS, IRSN, tricíclicos) !
tratamento crônico da ansiedade; mais detalhes
no resumo de antidepressivos
➢ Direto (buspirona)
o M.A: agonista parcial do receptor 5-
HT1A (inibindo sinapses excitatórias);
também bloqueia receptores D2 e seu
metabólito é um alfa-2 bloqueador
o É utilizado como ansiolítico de 2a
linha, devido ao início de ação
demorado (até 2 semanas). Entretanto,
apresenta vantagens: menos sedação e
ataxia; menor dependência e potencial
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 27

de absuo; sem interação com etanol e outros sedativos; sem síndrome de abstinência pós-
retirada.
o E.A: taquicardia, nervosismo, náuseas, cefaleia, miose

. Antagonista de orexina (suvorexant – indisponível no Brasil)


➢ M.A: antagonismo de receptores de orexina OX1R e OX2R (presentes no núcleo da rafe e locus
coeruleus), inibindo o estado de vigília
o Tem efeito hipnótico, aumentando o sono REM e NREM.
➢ FC: ação intermediária, com t1/2 = 12h e metabolismo hepático
➢ E.A: sedação diurna residual; alterações do sono (narcolepsia, alucinações hipnagógicas)
➢ Supostamente gera pouca síndrome de abstinência e rebote (porém, recentemente lançado)

. Hidrato de cloral ! efeitos simulares aos dos barbitúricos sobre os receptores GABAa, após metabolismo
hepático ao fármaco ativo (tricloroetanol)
➢ Semelhante aos barbitúricos, é capaz de provocar depressão geral do SNC em graus variáveis,
com hipnose profunda. O índice terapêutico é igualmente estreito e é semelhante aos barbitúricos
no que se refere à tolerância, dependência, síndrome de abstinência, EA e intoxicação. O uso atual
é muito limitado.

. Fitoterápicos
➢ Passiflora spp (maracujá) ! sedativo e ansiolítico com eficácia comprovada, com mecanismo
provavelmente GABAergico
➢ Valeriana officinalis (valiriana) ! sedativo e ansiolítico com pouca evidência de eficácia
➢ Hypericum perforatum (erva de São João) ! antidepressivo com eficácia comprovada, aumenta
5-HT cerebral; porém, muitas I.M

Farmacologia clínica

Insônia

. Classificação:
➢ Insônia secundária a condições físicas (dor, prurido, dispneia, AOS, fármacos, etc)
➢ Insônia secundária a distúrbios psiquiátricos (ansiedade, depressão, mania, esquizofrenia)
➢ Insônia transitória (<3 dias; causada por estressores ambientais e situacionais breves – ex: jet lag)
➢ Insônia de curto prazo (3 dias – 3 semanas; estressores pessoais, como doenças, sofrimentos,
problemas no trabalho, etc)
➢ Insônia crônica, de longo prazo (mais de 3 semanas, sem estressor identificado)

. Nas insônias secundárias, o tratamento da doença de base frequentemente resolve a insônia; BZD e medidas
não-farmacológicas podem ser adjuvantes.

. Medidas não-farmacológicas:
➢ Ir para a cama somente com sono e sair dela se não conseguir dormir
➢ Utilizar a cama somente para dormir ou para atividade sexual
➢ Evitar assistir televisão, comer ou conversar antes do sono
➢ Limitar a ingestão de cafeína e álcool a noite
➢ Horário regular para dormir
➢ Restringir o sono diurno
➢ Exercícios físicos moderados durante o dia
➢ Quarto com temperatura adequada e silencioso
➢ Massagem e redução das tensões

. Fármacos:
➢ Moduladores do receptor GABAa
o Benzodiazepínicos (BZD)
o Substâncias Z
! 28 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

o Barbitúricos
➢ Outros: ramelteon, suvorexant

Ansiedade

. Distúrbios de ansiedade ! prevalência elevada, com grande impacto


social e econômico; muitas vezes, farmacoterapia inadequada; alta co-
morbidade com depressão
➢ CID-10: transtorno de pânico, ansiedade generalizada,
agorafobia, fobia social, fobias específicas, estado de
estresse pós-traumático, reação aguda ao estresse, TOC
➢ Outros: distúrbio de ansiedade devido a uma condição
médica generalizada, transtorno de ansiedade orgânico
(ex: tireotoxicose), ansiedade induzida por substâncias
(ex: medicações, drogas de abuso, toxinas)

. A reação de medo, que está na base dos distúrbios de ansiedade, é


mediada pela amígdala e precede a percepção consciente do estímulo
potencialmente perigoso. Ocorre uma reação comportamental e uma
reação autonômica, com ativação simpática-adrenal, gerando agitação, taquicardia, taquipneia, insônia,
aumento da PA e da glicemia.

. Fármacos ansiolíticos:
➢ Moduladores do receptor GABAa
o BZD ! uso preferencial para distúrbios
agudos; evitar uso crônico
o Barbitúricos
➢ Neuromodulação por monoaminas ! tratamento de
distúrbios crônicos
o Buspirona
o Ansiolíticos-antidepressivos (ISRS, IRSN)
➢ Modulação das manifestações do SNA
o Beta-bloqueadores
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 29

Antidepressivos

Introdução

. Classificação da depressão:
➢ Depressão unipolar (depressão maior)
➢ Depressão bipolar (transtorno maníaco-depressivo) – ver Antipsicóticos

. A depressão é subdiagnosticada e subtratada. Os episódios depressivos se caracterizam por humor deprimido/


triste, preocupação pessimista, anedonia (incapacidade de sentir prazer), diminuição do interesse pelas
atividades normais, alentecimento mental, falta de concentração, indecisão, insônia ou aumento do sono,
perda ou ganho significativo de peso (devido à alteração de padrões de alimentação e atividade), agitação ou
atraso psicomotor, sentimentos de culpa e inutilidade, diminuição da energia e da libido, ideação suicida. Se
presentes por 5x ou mais, num período de 2 semanas, esses sintomas sugerem fortemente um transtorno
depressivo.
➢ Em alguns casos, a principal queixa é a dor somática ou outros sintomas físicos. Além disso, há
forte reforço mútuo entre depressão e dor (especialmente dor crônica).
➢ A depressão frequentemente complica o tratamento de outras doenças (princ crônicas).

. Os sintomas depressivos pode ocorrer secundariamente a:


➢ Doenças orgânicas (ex: hipotireoidismo, doença de Parkinson, doenças inflamatórias)
➢ Fármacos (ex: anti-hipertensivos, propranolol, corticoesteroides)
➢ Drogas de abuso
➢ Outros transtornos psiquiátricos (ex: transtorno do pânico)

. Em geral, os antidepressivos atuam aumentando a neurotransmissão adrenérgica e serotoninérgica.


➢ Primeira geração: inibidores da MAO
(IMAO) e antidepressivos tricíclios (ATC)
➢ Segunda geração: inibidores seletivos da
recaptação de serotonina (ISRS) e
inibidores da recaptação de serotonina-
norepinefrina (IRSN)

. Em alguns casos, a combinação de fármacos é eficaz;


entretanto, é necessário extremo cuidado com as I.M
potencialmente graves.

. A longo prazo, a terapia com antidepressivos evoca


mecanismos reguladores que aumentam sua eficácia.
Esses incluem:
➢ Aumento da densidade e sensibilidade dos
receptores adrenérgicos e serotoninérgicos
➢ Aumento do acoplamento receptor-ptnG
➢ Indução de fatores neurotróficos (BDNF)
➢ Aumento da neurogênese no hipocampo

. Há uma “defasagem terapêutica” de 3-4 semanas


após o início do uso de antidepressivos, até o
aparecimento de resposta terapêutica mensurável.
Após o sucesso do tratamento inicial, geralmente é
feito um tratamento de manutenção durante 6-12
meses, até a retirada do fármaco. Entretanto,
pacientes cronicamente deprimidos (mais de 2 anos)
podem necessitar de tratamento por toda a vida.
! 30 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)


. M.A: inibição da SERT (proteína pré-sináptica responsável pela recaptação da serotonina) ! prolongamento
da neurotransmissão serotoninérgica
➢ A longo prazo, há uma série de mecanismos que aumentam a eficácia terapêutica:
o Hiporregulação e dessensibilização de mecanismos autorreceptores (receptores 5-HT1A/
1D/7), que inicialmente são ativados com o uso dos fármacos e reduzem a síntese e
liberação de 5-HT
o Aumento da sinalização intracelular via AMPc e CREB
o Aumento na expressão de BDNF e neurogênese no hipocampo
o Redução da expressão de SERT

. Fármacos:
➢ Fluoxetina ! também apresenta propriedades de bloqueio da NET e de receptores 5-HT2
➢ Paroxetina ! também apresenta propriedades de bloqueio da NET e de receptores muscarínicos
➢ Sertralina ! também apresenta propriedades de bloqueio de recaptação de dopamina
➢ Citalopram, escitalopram (isômero ativo do citalopram) e fluvoxamina ! apenas bloqueio da
SERT ! menos E.A

. FC: adm oral; t1/2 compatível com dose única diária; metabolismo hepático
➢ A fluoxetina apresenta ação combinada com seus metabólitos desmetilanorfluoxetina e
norfluoxetina (t1/2 = 1-2 semanas), permitindo adm em dose única semanal.
➢ A paroxetina apresenta t1/2 mais curto e não tem metabólitos ativos, apresentando maior risco de
síndrome de abstinência após retirada

E.A (apresentam menor risco de toxicidade aguda, em caso de superdosagem):


➢ Estímulo excessivo de 5-HT2 cerebral ! insônia, cefaleia, ansiedade, irritabilidade, redução da
libido
➢ Estímulo excessivo de 5-HT2 espinal ! disfunção erétil, anorgasmia, retardo na ejaculação (princ
paroxetina)
➢ Estímulo de 5-HT3 central e periférico ! anorexia, náuseas, vômitos, diarreia
➢ Outros ! embotamento intelectual e da concentração, síndrome de abstinência após retirada
(tonteira, cefaleia, nervosismo, náuseas, insônia; mais intensa para a paroxetina e menos intensa
para a fluoxetina), malformações cardíacas se adm no 1o trimestre (apenas paroxetina), erupções
cutâneas, prurido, tremores, sudorese, xerostomia, tonteira, astenia

. I.M:
➢ Inibição da CYP2D6 (princ paroxetina e fluoxetina, em menor grau) ! interação com
tamoxifeno, ATC (aumento de sua exposição) e outras drogas metabolizados por essa enzima
➢ Efeitos potencializados pela co-administração com IMAO ! síndrome serotoninérgica
(hipertermia, rigidez muscular, mioclonias, tremores, disautonomias, confusão, irritabilidade,
agitação, colapso cardiovascular; pode evoluir para coma e morte)
o Devido a essa I.M potencialmente fatal, deve-se aguardar pelo menos 2 semanas entre o
término do tratamento com IMAO e o início de tratamento com ISRS (e vice-versa). Uma
exceção é a fluoxetina – devido ao longo t1/2 de seus metabólitos, deve-se aguardar pelo
menos 5 semanas para iniciar adm de IMAO.

. Indicações:
➢ Depressão maior
➢ Transtornos de ansiedade (TOC, transtorno de pânico, TEPT)
➢ Bulimia nervosa
➢ Síndrome pré-menstrual disfórica
➢ Prevenção de sintomas vasovagais após a menopausa

Inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina (IRSN)


Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 31

. M.A: inibição da SERT + inibição da NET (responsável pela recaptação pré-sináptica de NA) !
prolongamento da neurotransmissão serotoninérgica e noradrenérgica (eficácia equivalente aos ISRS)

. Fármacos: venlafaxina, duloxetina e milnaciprano

. FC:
➢ Venlafaxina ! adm oral; t1/2 = 5h; metabolismo hepático a desvenlafaxina (ativo, com t1/2 =
11h); excreção renal (ajuste em pacientes com insuficiência renal ou hepática)
➢ Duloxetina ! adm oral; t1/2 = 12h; CI em pacientes com doença renal terminal ou insuficiência
hepática

. E.A:
➢ Estímulo excessivo de 5-HT2 cerebral ! insônia, ansiedade, irritabilidade, redução da libido
➢ Estímulo excessivo de 5-HT2 espinal ! disfunção erétil, anorgasmia, retardo na ejaculação
➢ Estímulo de 5-HT3 central e periférico ! náuseas, vômitos, diarreia
➢ Outros ! embotamento intelectual e da concentração, sd de abstinência após retirada (tonteira,
cefaleia, nervosismo, náuseas, insônia; mais intensa para a venlafaxina, devido ao t1/2 mais
curto), hipertensão diastólica (apenas venlafaxina; menor com a formulação de liberação
prolongada)

. I.M: síndrome serotoninérgica se co-administrados com IMAO (aguardar um período de 7 dias para a
venlafaxina ou 5 dias para a duloxetina)

. Indicações:
➢ Depressão maior
➢ Transtornos de ansiedade
➢ Fibromialgia e dor neuropática (duloxetina)
➢ Usos extra-bula: incontinência urinária (duloxetina), autismo, transtorno de compulsão alimentar,
ondas de calor, síndromes dolorosas, síndrome pré-menstrual disfórica, TEPT (venlafaxina)

Antidepressivos tricíclicos (ATC)


. M.A:
➢ Inibição da SERT e NET (eficácia equivalente à dos ISRS)
o Aminas terciárias (imipramina, amitriptilina, clomipramina, doxepina) apresentam maior
seletividade para a SERT, enquanto aminas quaternárias (desipramina, nortriptilina,
maprotilina, protriptilina) são mais seletivas para a NET
➢ Antagonismo de receptores H1, 5-HT2, alfa1-adrenérgicos e muscarínicos
➢ Antagonismo de receptores dopaminérgicos (amoxapina) ! risco de desenvolvimento de E.A
extrapiramidais (discinesias tardias)

. Fármacos: imipramina, amitriptilina, trimipramina, clomipramina, doxepina, desipramina, nortriptilina,


protriptilina, maprotilina, amoxapina

. FC: adm oral; t1/2 = 8-80h (permite dose única diária); metabolismo hepático
➢ Aproximadamente 7% dos pacientes metabolizam ATCs lentamente, devido a uma isoenzima
CYP2D6 variante, causando uma diferença e 30x nas concentrações plasmáticas do fármaco.
Como a janela terapêutica desses fármacos é estreita, é necessária a monitorização de seus níveis
plasmáticos, visando a um possível ajuste da dose.

. E.A:
! 32 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

➢ Antagonismo H1 ! sedação, ganho de peso


➢ Antagonismo muscarínico (ocorre certa tolerância) ! entorpecimento cognitivo, visão turva,
xerostomia, taquicardia, constipação, retenção urinária, disfunção sexual
➢ Antagonismo alfa1-adrenérgico ! hipotensão postural, tonteira, taquicardia reflexa
➢ Outros ! ganho de peso, redução do limiar convulsivo, efeitos semelhantes à quinidina sobre a
condução cardíaca (bloqueio cardíaco potencialmente fatal, limitam o uso em pacientes com
DAC), episódios de mania
o Em caso de superdosagem/suicídio, ocorre delírio, convulsões, coma, depressão
respiratória e morte por bloqueio cardíaco progressivo.

. I.M:
➢ Aumento da exposição plasmática se co-administrados com inibidores da CYP2D6 (ex: ISRS,
fenotiazina, antiarrítmicos da classe 1C)
➢ E.A mais proeminentes se co-administrados com antagonistas H1, alfa1-adrenérgicos ou
muscarínicos
➢ Potencializam o efeito de aminas simpaticomiméticas
➢ Não devem ser co-administrados com IMAO ou antes de 2 semanas após sua suspensão

. C.I (relativas): glaucoma de ângulo fechado, íleo paralítico, HPB, arritmias com BAV, epilepsia, distúrbios
do equilíbrio

. Indicações:
➢ Depressão (não são 1a linha)
➢ Depressão com transtorno psicótico associado (geralmente associados a antipsicóticos)
➢ Transtornos de ansideda (transtorno de pânico, TOC, fobias)
➢ Insônia (ATC de amina terciária)
➢ Dor neuropática
➢ Incontinência urinária infantil
➢ Outros, menos estabelecitos: bulimia e outros transtornos alimentares, TDAH

Inibidores da monoaminoxidase (IMAO)


. M.A: inibição da MAO-A e MAO-B (responsáveis pelo metabolismo de NA e 5-HT)

. Fármacos
➢ “Clássicos” (fenelzina, tranilcipromina, isocarboxazida) ! inibição irreversível e não-seletiva,
com duração de 2-4 semanas
➢ Moclobemida ! inibição reversível da MAO-A, com duração de 12h
➢ Selegilina ! inibição reservísel da MAO-B (única encontrada nos neurônios serotoninérgicos;
entretanto, só é eficaz em doses que também inibam a MAO-A), com possibilidade de adm
transdérmica ! menor potencial para interações graves

. FC: adm oral; t1/2 de até 24h (dose única diária); duração de ação longa (inibidores irreversíveis – atividade
da MAO só se recupera após até 2 semanas); metabolismo por acetilação
➢ Cerca de 50% da população branca e uma porcentagem ainda maior de asiáticos é composta por
“acetiladores lentos”, que apresentam níveis plasmáticos mais elevados desses fármacos.

. E.A:
➢ Crise hipertensiva potencialmente fatal (decorrente de interações medicamentosas e alimentares)
➢ Hipotensão postural, ganho de peso
➢ Tremores, excitação, insônia
➢ Efeitos anticolinérgicos (menor do que os ATC)
➢ Hepatotoxicidade
➢ Convulsões e mania (superdosagem)
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 33

. I.M:
➢ Alimentos que contém tiramina (normalmente metabolizada pela MAO no fígado e mucosa
intestinal; induz a liberação de NA e adrenalina); simpaticomiméticos ! crise hipertensiva aguda,
com cefaleia latejante intensa e risco de hemorragia intracraniana
o Assim, devem ser evitados alimentos ricos em tiramina, como queijos envelhecidos,
arenque defumado, cerveja, vinhos, fígado, extratos de leveduras, embutidos e feijões de
fava.
➢ Depressores do SNC (opioides, álcool, anestésicos) não devem ser co-administrados
➢ ISRS, IRSN, antagonistas do receptor de sertotonina e opioides podem precipitar síndrome
serotoninérgica
➢ Também evitar co-administração com bupropriona e ATC

. Indicações:
➢ Depressão (apenas se refratária a ISRS e ATC)
➢ Depressão atípica
➢ Fobias
➢ Doença de Parkinson (selegilina)

Antagonistas dos receptores de serotonina


. M.A: inibição de receptores 5-HT2 (ansiedade, agitação, disfunção sexual) e 5-HT3 (efeitos GI; apenas
mirtazapina) ! estimulação seletiva dos receptores 5-HT1

. Fármacos, FC e E.A:
➢ Mirtazapina ! também inibe receptores alfa2-adrenérgicos pré-sinápticos (aumentando a
liberação de NA e 5-HT) e receptores H1
o FC: adm oral; t1/2 = 16-30h (mudança de dose apenas a cada 1-2 semanas); depuração
reduzida em idosos, IR ou insuficiência hepática
o E.A: sedação (antagonismo H1), aumento do apetite, ganho de peso; agranulocitose (raro)
➢ Trazodona ! também inibe receptores alfa1-adrenérgicos, receptores H1, SERT e autoreceptor 5-
HT1
o E.A: sedação; priapismo (raro)
➢ Nefazodona ! também inibe SERT e autoreceptor 5-HT1
o FC: adm oral; t1/2 = 2-4h; metabolismo hepático a hidroxinefazodona (ativo, com t1/2 =
1,5-4h)
o E.A: sedação, tonteira, insuficiência hepática (descontinuado nos EUA)

. I.M:
➢ Trazodona e nefazodona ! síndrome serotoninérgica se co-administrados com IMAO; reduzir a
dose de trazodona quando co-administrados com inibidores da CYP3A4

. São indicados principalmente para o tratamento de pacientes deprimidos com insônia (devido a suas
propriedades sedativas), além de aumentar a resposta antidepressiva dos ISRS

Outros antidepressivos

. Bupropriona
➢ M.A: múltiplo, depende de:
o Inibição dos recaptadores NET, SERT e DAT (principal) ! aumento da neurotransmissão
noradrenérgica, serotoninérgica e dopaminérgica
o Liberação pré-sináptica de NE e dopamina
o Inibição do VMAT2
o Inibição de receptores nicotínicos neuronais
➢ FC: adm ora; t1/2 = 21h;metabólito ativo (hidroxibupropriona); eliminação hepática e renal
(ajuste em hepatopatas graves e IR)
! 34 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

➢ E.A: convulsões (princ doses altas); tonteira, agitação, tremores, xerostomia, sudorese,
agravamento de sintomas psicóticos
➢ I.M: possivelmente com fármacos metabolizados pela CYP2D6
➢ Indicações:
o Depressão (geralmente associada a ISRS)
o Prevenção de transtorno depressivo sazonal
o Cessação do tabagismo
o TDAH
o Extra-bula: dor neuropática, perda de peso

. Antipsicóticos atípicos (mais detalhes em Antipsicóticos)


➢ Fármacos: aripiprazol, olanzapina, quetiapina
➢ Indicações:
o Depressão maior, resistente ao tratamento (geralmente associados a ISRS ou IRSN)
o Depressão maior com transtornos psicóticos associados
o Depressão bipolar
o Esquizofrenia

. Agomelatina
➢ M.A: agonista melatoninérgico, ativa receptores MT1 e MT2 + inibe receptores 5-HT2C
➢ Não causa disfunção sexual e pode ter início de ação mais rápido do que os ISRS
➢ E.A: sedação, possível hepatotoxicidade
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 35

TRATAMENTO DA PSICOSE E MANIA

Psicose - introdução

. Psicose é um sintoma de doença mental, caracterizado por senso distorcido ou inexistente da realidade. Os
transtornos psicóticos incluem: transtornos do humor (depressão maior e mania) com características
psicóticas; delirium com aspectos psicóticos; demência com características psicóticas; transtorno psicótico
breve; transtorno delirante; transtorno esquizoafetivo; esquizofrenia.
➢ Na esquizofrenia, há sintomas positivos (alucinações, ilusões, fala e comportamento desorganizados,
agitação), sintomas negativos (apatia, avolição, alogia) e déficits cognitivos (principalmente de
memória ocupacional, velocidade de processamento e cognição social).

. "Hipótese da dopamina (DA)" → baseada em evidências terapêuticas empíricas, preconiza que a psicose se
deve a uma hiperreatividade à DA. Atualmente, diversas limitações foram descobertas em relação a essa
hipótese, de forma que novos fármacos, que antagonizam a neurotransmissão de outras substâncias, foram
desenvolvidos.
➢ Antipsicóticos típicos (1a geração) → antagonistas do receptor D2 de dopamina → importantes E.A
extrapiramidais
➢ Antipsicóticos atípicos (2a geração) → antagonistas mais potentes do receptor 5-HT2, com menor
bloqueio do receptor D2 → E.A extrapiramidais mais limitados

. O principal objetivo da terapia antipsicótica é a diminuição dos sintomas agudas que angustiam o paciente,
em especial os sintomas comportamentais, que podem representar risco para o mesmo ou outras pessoas. Com
exceção da clozapina (que apresenta maior eficácia na esquizofrenia refratária), não há diferenças sensíveis na
eficácia dos diferente antipsicóticos para o tratamento dos distúrbios subjacentes; dessa forma, a escolha do
fármaco deve levar em consideração seus E.A, propriedades farmacocinéticas, características adicionais
(antagonismo H1 ou muscarínico) e particularidades do paciente.

. Tratamento a curto prazo:


➢ Delirium e demência → geralmente tratados com dose baixa de medicação; como os efeitos
anticolinérgicos podem agravar os sintomas, é dada preferência a antipsicóticos típicos de alta
potência (ex: haloperidol) ou antipsicóticos atípicos com propriedades antimuscarínicas limitadas (ex:
risperidona)
➢ Mania aguda → geralmente necessitam de doses muito elevadas; os fármacos indicados são os
antipsicóticos atípicos, exceto a clozapina e iloperidona; após a crise aguda, os pacientes podem
necessitar de tratamento continuado com antipsicóticos e estabilizadores do humor (lítio, ácido
valproico)
➢ Depressão maior com características psicóticas → geralmente as doses são baixas, e associa-se um
antidepressivo; alguns antipsicóticos atípicos são eficazes como terapia adjuvante na depressão
resistente ao tratamento, devido a suas propriedades antagonistas do receptor 5-HT2a
➢ Esquizofrenia → geralmente são utilizadas doses altas; os antipsicóticos atípicos são preferidos,
devido a seu perfil de E.A mais favorável; por vezes, também pode ser necessária sedação na psicose
aguda, embora o uso de sedativo possa interferir na função cognitiva e na reintegração social do
paciente; embora haja resposta em algumas horas após adm do fármaco, podem ser necessárias
semamas para atingir sua resposta máxima, em especial para os sintomas negativos

. Tratamento a longo prazo da esquizofrenia → a escolha do fármaco deve se basear em seu perfil de E.A e na
resposta do paciente (em geral, os antipsicóticos atípicos são melhor tolerados que os típicos)
➢ Existem antipsicóticos injetáveis de longa ação (ILA ou antipsicóticos de depot), utilizados para
pacientes com adesã precária ao tratamento.
➢ Esquizofrenia refratária é aquela em que não há resposta adequado aos fármacos, utilizados por
períodos adequados de tempo. Nesses casos, está indicado o uso da clozapina (que apresenta diversos
E.A indesejáveis) e, como último recurso, eletroconvulsoterapia.

Farmacologia dos fármacos antipsicóticos


! 36 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

. Fármacos:
➢ Típicos → fenotiazinas (clorpromazina, perfenazina, trifluoperazina, flufenazina, tioridazina), outros
(haloperidol, loxapina, molindona)
➢ Atípicos → aripiprazol, asenapina, clozapina, olanzapina, hoperidona, paliperidona, risperidona,
ziprasidona, quetiapina

. Mecanismos de ação:
➢ Todos os antipsicóticos bloqueiam a
neurotransmissão dopaminérgica,
principalmente por meio do antagonismo
ao receptor D2
o Uma exceção é o aripiprazol, que é um
agonista parcial do receptor D2
(apresenta afinidade apenas
ligeiramente inferior à da DA, mas
apenas 25% de sua atividade
intrínseca). Devido a essa
característica, causa menos E.A
extrapiramidais.
o O antagonismo dos receptores D2 no
sistema límbico levam a tranquilização da agitação psicomotora, diminuição da agressividade e do
isolamento social, além de menor interferência de processos de pensamento desorganizado,
delírios e alucinações.
➢ Os antipsicóticos atípicos apresentam antagonismo significativamente mais fraco do receptor D2
(gerando menos E.A extrapiramidais), combinado com potente antagonismo do receptor 5-HT2.
o A clozapina apresenta outras atividades, como agonismo e antagonismo em subtipos de receptores
muscarínicos, além de antagonismo dos receptores D4 de dopamina (receptor presente em regiões
límbicas, que podem contribuir para as ações antipsicóticas; entretanto, fármacos seletivos para
esse receptor não apresentam eficácia antipsicótica isolada).
➢ Não ocorre adicção aos fármacos antipsicóticos. Desenvolve-se, contudo, tolerância aos seus efeitos
anti-histamínicos e anticolinérgicos, geralmente ao longo de dias ou semanas.

. FC: adm oral (absorção alta; há preparações líquidas e comprimidos de dissolução oral) ou IM (depende do
fármaco); altamente lipofílicos, penetram com facilidade a BHE (acumulando-se no cérebro) e a barreira
placentária, além de serem excretados no leite materno; apesar do t1/2 geralmente curto, os efeitos biológicos
persistem por pelo menos 24h, permitindo adm única diária; o t1/2 é muito maior nas preparações de depósito;
alta ligação às ptns plasmáticas; metabolismo hepático, com posterior excreção renal e biliar (em menor
quantidade); a maioria dos metabólitos é inativo, exceto os da iloperidona, haloperidol, risperidona, clozapina
e aripiprazol

. Usos clínicos:
➢ Transtornos psicóticos (como já comentado)
➢ Transtornos de ansiedade → adjuvantes no tratamento do TOC e TEPT (princ baixas doses de
quetiapina, olanzapina e risperidona)
➢ Síndrome de La Tourette (princ risperidona e aripiprazol)
➢ Sintomas de irritabilidade em criança com autismo (risperidona, aripiprazol)
➢ Uso antiemético → proteção contra efeitos nauseantes de agonistas da DA (o mais utilizado é a
proclorperazina, um antagonista fraco da DA sem efeitos antipsicóticos)

. E.A
➢ Antagonismo D2 (todos, exceto o aripiprazol) → sintomas extrapiramidais: distonias e parkinsonismo
(podem ser tratados com antiparkinsonianos, em especial a amantadina), discinesias tardias, com
coreia e tiques (se devem à suprarregulação dos receptores D2 devido ao bloqueio crônico; podem ser
aliviadas com o uso de um antagonista mais forte, embora isso possa piorar o quadro a longo prazo,
ou substituindo para um agente mais fraco, como a clozapina); acatisia (tratada com BZD, beta-
bloqueadores, redução da dose ou troca do fármaco); síndrome neuroléptica maligna (rara; se
caracteriza por parkinsonismo muito grave, com instabilidade autonômica - hipertermia e
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 37

instabilidade do pulso, PA e FR -, estupor e elevação de CK e mioglobina); hiperprolactinemia (princ


com uso de agentes típicos mais potentes)
➢ Antagonismo H1 (clorpromazina, tioridazina, clozapina, quetiapina) → sedação e aumento do apetite
(levando a ganho de peso); ocorre tolerância ao longo do tempo
➢ Antagonismo M1 (clozapina, quetiapina, clorpromazina, perfenazina, trifluoperazina, flufenazina) →
constipação, retenção urinária, xerostomia, embotamento cognitivo e outras manifestações
anticolinérgicas periférica e centrais; ocorre tolerância, mas seu uso deve ser evitado em pacientes
idosos, com delirium ou demência
➢ Antagonismo alfa1-adrenérgico (princ agentes típicos de baixa potência, clopromazina, tioridazina,
clozapina e quetiapina) → hipotensão ortostática (pode ser tratada com o mineralocorticoide expansor
de volume fludrocortisona)
➢ Efeitos metabólicos (sem mecanismo bem definido) → ganho de peso, dislipidemias (princ TG) e
deficiências no controle glicêmico (pode levar ao DM e CAD)
➢ Efeitos cardíacos → prolongamento do QT (princ tioridazina), torsade de pointes, arritmias
ventriculares, morte súbita cardíaca
➢ Outros → redução do limiar convulsivo (entretanto, convulsões são incomuns; o risco é maior com a
clozapina); agranulocitose (apenas clozapina); retinopatia pigmentar (apenas tioridazina);
fotossensibilidae e aumento de enzimas hepáticas e biliares (fenotiazinas de baixa potência); aumento
de mortalidade em pacientes com demência

. I.M:
➢ Clorpromazina, perfenazina e tioridazina inibem a CYP2D6
➢ t1/2 alterado por fármacos indutores ou inibidores de CYPs
➢ Tabagismo causa suprarregulação da CYP1A2, alterando os níveis séricos de clozapina

. Os antipsicóticos são considerados seguros para uso na gravidez, apesar da intensa passagem placentária (o
fármaco considerado mais seguro é o haloperidol). O uso na lactação é perigoso, devido ao baixo nível de
atividade catabólica hepática do RN, com aumento do risco de toxicidade.

Mania - introdução
. Mania é um período de humor elevado, expansivo ou irritável, associado a aumento de energia e da atividade
dirigida a um objetivo, além de menor necessidade de sono.
➢ A mania representa um polo do transtorno bipolor (doença maníaco-depressiva). Também pode ser
induzida por fármacos (agonistas dopaminérgicos, antidepressivos, estimulantes) e drogas de abuso
(cocaína, anfetamina).
➢ A hipomania é uma forma menos grave de mania, que não resulta em prejuízo funcional ou
hospitalização, nem está associada a sintomas psicóticos. Também pode estar associada a depressão,
nos transtornos bipolares.

Fármacos utilizados no tratamento da mania


. Antipsicóticos (abordados anteriormente) → principalmente aripiprazol, olanzapina, risperidona e clozapina

. Anticonvulsivantes → utilizados para mania aguda (ácido valproico, carbamazepina) e para manutenção de
transtorno bipolar (lamotrigina); mais detalhes no resumo correspondente

. Lítio
➢ M.A: múltiplo e ainda não totalmente compreendido; pode envolver:
o Inibição da inositol-monofosfatase, da via do fosfatidilinositol → redução da concentração de
inositol no cérebro
o Redução da função de proteinocinases, principalmente a PKC → pode alterar a liberação de
aminas neurotransmissoras e de hormônios, assim como a atividade da tirosina-hidroxilase
o Inibição da atividade da GSK-3beta (reguladora de crescimento axonal e remodelamento
sináptico)
o Redução da rotatividade do ácido araquidônico, expressão de PLA2 e níveis de COX-2
! 38 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

➢ FC: adm oral (absorção imediata e quase completa); há preparações de liberação prolongada;
passagem lenta e incompleta pela BHE (níveis no cérebro são de 40-50% dos níveis séricos), mas
cruza livremente a placenta; t1/2 = 20-24h; excreção renal (aumentada pela adm de Na+; reduzida por
depleção de Na+, induzida, por exemplo, por diuréticos) e, em menor grau, pela sudorese (4-5%),
saliva, lágrimas e fezes (<1%); há excreção de aprox 20% no leite materno, porém não ocorrem
efeitos apreciáveis no lactente
o Como a janela terapêutica do lítio é estreita, fazem-se necessárias determinações periódicas de
sua concentração sérica.
➢ Usos clínicos:
o Transtorno bipolar (tratamento e profilaxia)
o Mania aguda
o Outros: terapia adjuvante em depressão maior resistente ao tratamento
➢ E.A:
o SNC → tremor fino postural (tratamento com beta-bloqueador); ataxia em doses mais altas;
convulsões; confusão após eletroconvulsoterapia (reduzir gradualmente a dose antes do
procedimento)
o Renais → diabetes insípido nefrogênico
o Endócrinos → aumento benigno da tireoide (geralmente com função normal)
o Cardíacos → achatamento benigno e reversível da onda T, com surgimento de onda U; em
overdose, ocorre bradicardia sinusal e BAV
o Pele → reações alérgicas (dermatite, foliculite, vasculite); piora de doenças pré-existentes, como
acne vulgar e psoríase; alopedia
o Outros → ganho de peso (acentuado pelo uso concomitante de antipsicóticos); aumento benigno e
prolongado de polimorfonucleares; paladar metálico; piora de miastenia gravis
➢ A intoxicação aguda por lítio se apresenta com vômitos, diarreia profusa, tremor grosseiro, ataxia,
convulsões e coma. Em casos graves, também há hiperreflexia, déficits de nervos cranianos e outros
sinais focais. Em alguns casos, os déficits cognitivos e motores podem ser persistentes, em especial o
tremor cerebelar. Também podem ocorrer arritmias cardíacas, hipotensão e albuminúria.
➢ I.M: diuréticos (princ tiazídicos, espironolactona e amilorida), IECA e AINEs
➢ O uso de lítio na gravidez é classificado na categoria de risco D. Sua adm no início da gravidez pode
estar associada a anomalias cardiovasculares. O desenvolvimento de toxicidade fetal também está
associado a bócio neonatal, depressão do SNC e hipotonia ("síndrome do bebê flácido"). Como os
anticonvulsivantes ácido valproico e carbamazepina também estão classificados nessa categoria, a
terapia potencialmente mais segura seria o uso de antipsicóticos ou eletroconvulsoterapia.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 39

Anticonvulsivantes

Introdução

. O tratamento das epilepsias é sintomático, uma vez que os


fármacos inibem as convulsões, porém não se dispõe de
profilaxia eficaz nem cura.

. Há 3 mecanismos de ação principais dos antiepilépticos:


➢ Inativação de canais de Na+ voltagem-dependentes,
levando a redução das deflagrações neuronais
repetitivas e persistentes ! mais eficaz em crises
tônico-clônicas parciais e secundariamente
generalizadas
➢ Aumento da inibição sináptica mediada por GABA
! mais eficaz em crises tônico-clônicas parciais e
secundariamente generalizadas
➢ Inibição de canais de Ca2+ voltagem-dependentes
(responsáveis por corrente tipo-T) ! mais eficaz nas
crises de ausência

. As crises epilépticas podem ser divididas em parciais (simples ou


complexas) e generalizadas. As manifestações de uma crise são
determinadas pelas funções desempenhadas pela sua área de origem
cortical.

. Crises parciais podem ser desencadeadas pelo aumento da atividade


sináptica excitatória (mediada principalmente por glutamato) ou
redução da atividade sináptica inibitória (mediada principalmente por
GABA).
➢ Em crises epilépticas, os neurônios disparam em alta
frequência. Esse padrão é particularmente susceptível a
fármacos que reduzam a taxa de recuperação dos canais
de Na+ inativados, aumentando o período refratário.
➢ Outra abordagem farmacológica, nesses casos, é a
intensificação da inibição sináptica mediada pelo
GABA, reduzindo a excitabilidade neuronal e elevando
o limiar convulsivo.

. Crises de ausência parecem ser desencadeadas por ritmos de baixa


frequência, mediados por conexões sinápticas excitatórias
recíprocas entre o tálamo e o córtex cerebral. Uma propriedade dos
neurônios talâmicos é uma corrente de Ca2+ de baixo limiar (tipo-
T), que amplifica oscilações do potencial de membrana, deflagrando
a geração das descargas de pontas e ondas a 3Hz características
dessas crises.
➢ Dessa forma, os fármacos utilizados no tratamento dessas crises são inibidores dos canais de
Ca2+ voltagem-dependentes do tipo-T.

. De forma geral, o tratamento das epilepsias tem sucesso variável, de acordo com o tipo de crise, sua cause e
outros fatores. Como os fármacos utilizados apresentam E.A importantes, é preferível que o tratamento utilize
apenas um fármaco. Mesmo que não se obtenha controle adequado com a monoterapia proposta, é preferível a
substituição por outra droga do que a administração combinada com outro anticonvulsivante.
➢ A maioria dos fármacos é mantido por um mínimo de 2 anos. Caso o paciente não apresenta
novas crises nesse período, deve-se considerar a redução progressiva e posterior interrupção do
! 40 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

tratamento. Fatores associados a baixa recidiva são: epilepsia idiopática; EEG normal; início das
crises na infância; controle fácil com um único fármaco.
➢ Entretanto, em alguns casos (p.ex, em pacientes com dois ou mais tipos de atividade epiléptica ou
em estado epiléptico), o tratamento combinado pode ser necessário. Nesse caso, deve-se dar
preferência para fármacos que atuem por mecanismos diferentes e levar em conta as potenciais
I.M.
➢ O esquema terapêutico final deve ser determinado pela avaliação clínica dos seus efeitos
benéficos e adversos.

Hidantoínas
. Fenitoína
➢ M.A: redução da velocidade de recuperação dos canais de Na+ voltagem-dependentes ! limita
as deflagrações repetitivas e persistentes de potenciais de ação
o Em doses altas, também ocorre redução da atividade espontânea e aumento da resposta ao
GABA; esses efeitos podem ser responsáveis por E.A da fenitoína em doses tóxicas,
como sinais de excitação e, em doses letais, rigidez de descerebração.
➢ FC: adm oral (preparações de liberação rápida ou prolongada, que possibilita dose única diária);
ligação de 90% as ptns plasmáticas (fração livre pode ser aumentada por fármacos que competem
pelo sítio de ligação à albumina, como o valproato); t1/2 = 6-24h (aumenta exponencialmente
com o aumento da concentração plasmática); metabolismo hepático
o A fosfenitoína é um pró-fármaco da fenitoína que, por ser mais hidrossolúvel, permite
adm IV. Ela é convertida a fenitoína por fosfatases hepáticas e eritrocitárias, com t1/2 =
8-15 min. É útil para pacientes com crises parciais ou generalizadas persistentes, quando
a adm IV ou IM é mais adequada.
➢ Usos:
o Eficaz nas crises parciais e tônico-clônicas generalizadas (TCG), mas não nas crises de
ausência
o Alguns casos de neuralgia do trigêmeo e outras neuralgias
➢ E.A:
o Sintomas cerebelares e vestibulares
o Alterações comportamentais, aumento da frequência de crises
o Transtornos GI, elevação de transaminases
o Hiperplasia gengival
o Osteomalácia com hipocalcemia (inibição da absorção intestinal de Ca2+, alteração do
metabolismo da vitamina D)
o Anemia megaloblástica, neutropenia, leucopenia; mais raramente, aplasia eritroide,
agranulocitose e trombocitopenia
o Hirsutismo, inibição da secreção de ADH e insulina (hiperglicemia, glicosúria)
o Aumento do metabolismo da vitamina K
o Hipoprotrombinemia e hemorragia em RN de mães tratadas com fenitoína durante a
gravidez
o Linfadenopatia semelhante à doença de Hodgkin
o Reações de hiperssensibilidade ! exantema morbiliforme, síndrome de Stevens-Johnson,
necrose epidérmica tóxica
o Fosfenitoína IV excessiva ! arritmias cardíacas, hipotensão, depressão do SNC
o Overdose oral aguda de fenitoína ! degeneração cerebelar, sintomas vestibulares

➢ I.M:
o O valproato compete com a fenitoína pelo sítio de ligação à albumina, além de inibir seu
metabolismo.
o A carbamazepina aumenta o metabolismo da fenitoína.
o A fenitoína reduz a degradação de outros fármacos metabolizados pela CYP2C9/10 e
CYP2C19, como a varfarina (podendo levar a distúrbios hemorrágicos).
o A fenitoína aumenta a degradação de contraceptivos orais, por indução de CYPs.
➢ A fenitoína pode causar efeitos teratogênicos.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 41

Iminoestilbenos
. Carbamazepina
➢ M.A: redução da velocidade de recuperação dos canais de Na+ voltagem-dependentes ! limita
as deflagrações repetitivas e persistentes de potenciais de ação
➢ FC: adm oral (absorção lenta e errática); baixa hidrossolubilidade; ligação de 75% as ptns
plasmáticas; metabolismo hepático (CYP3A4) ao metabólito ativo 10,11-epoxicarbamazepina,
que contribui para sua eficácia anticonvulsivante; excreção renal
➢ Usos:
o Eficaz em crises parciais e TCG
o Neuralgia do trigêmeo e glossofaríngeo (principal fármaco)
o Dor lancinante (“tabética”) associada a caquexia
o Transtorno afetivo bipolar, TDAH, esquizofrenia
➢ E.A:
o Overdose aguda ! irritabilidade, convulsões, depressão respiratória, estupor, coma
o Sonolência, vertigem, ataxia, diplopia, turvação visual (geralmente há tolerância)
o Aumento da frequência de crises (especialmente quando há overdose)
o Náuses, vômitos, elevação de transaminases
o Anemia aplástica, agranulocitose; leucopenia leve e trombocitopenia transitória, no início
do tratamento
o Reações de hiperssensibilidade ! reações cutâneas perigosas, eosinofilia, linfadenopatia,
esplenomegalia
o Retenção hídrica, com hiponatremia e redução da osmolalidade (principalmente idosos,
cardiopatas; complicação tardia do tratamento crônico)
➢ I.M:
o Fenobarbital, fenitoína e valproato aumentam o metabolismo da carbamazepina por
indução da CYP3A4
o Metabolismo inibido por propoxifeno, eritromicina, cimetidina, fluoxetina e isoniazida
o Carbamazepina aumenta o metabolismo da fenitoína e reduz as concentrações de
valproato, lamotrigina, tiagabina e topiramato
o Reduz a concentração plasmática e o efeito do haloperidol
➢ A carbamazepina é teratogênica.

. Oxcarbazepina (cetoanálogo da carbamazepina, menos potente)


➢ M.A: idêntico à carbamazepina
➢ FC: funciona como pró-fármaco, sendo quase imediatamente convertida ao metabólito ativo
principal (derivado 10-mono-hidroxi), cujo metabolismo é hepático e excreção é renal
➢ Usos:
o Monoterapia ou adjuvante em crises parciais de adultos; adjuvante em crises parciais de
crianças
o Neuralgias, transtorno bipolar, TDAH, esquizofrenia
➢ I.M: apresenta menor potência como indutor enzimático, com I.M menos intensas; entretanto,
ainda reduz a concentração plasmática de anticoncepcionais orais (CYP3A4)
Barbitúricos
. Fenobarbital
➢ M.A: aumento da inibição sináptica induzida pelo receptor GABAa
➢ FC: adm oral (absorção completa, mas um pouco lenta); ligação de 40-60% as ptns plasmáticas;
metabolismo hepático e excreção renal (25% de excreção inalterado)
➢ Usos: eficaz nas crises parciais e TCG
➢ E.A:
o Sedação (geralmente desenvolve-se tolerância)
o Nistagmo e ataxia (doses excessivas)
o Irritabilidade e hiperatividade em crianças; agitação e confusão em idosos
o Reações de hiperssensibilidade ! exantema escarlatiniforme ou morbiliforme
o Dermatite esfoliativa (rara)
! 42 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

o Hipoprotrombinemia e hemorragia em RN de mães tratadas com fenitoína durante a


gravidez
o Anemia megaloblástica
o Osteomalácia
➢ I.M: indução de CYPs, alterando o metabolismo de outras drogas (p.ex, ACO)

. Congêneres: primidona e mefobarbital (convertidos a fenobarbital)

Benzodiazepinas
. M.A: atuam nos receptores GABAa, aumentando a frequência de abertura de canais de Cl- ativados por
GABA ! aumento da inibição sináptica mediada por GABA
➢ Entretanto, ocorre desenvolvimento de tolerância aos efeitos anticonvulsivantes dos BZD.

. FC: adm oral (boa absorção) ou IV; ligação de 85-99% as ptns plasmáticas
➢ Diazepam ! t1/2 = 24-48h; metabolizado a N-desmetildiazepam, um pouco menos ativo do que
o composto original, que funciona como agonista parcial e apresenta t1/2 = 60h
➢ Clonazepam ! t1/2 = 23h; metabolismo hepático
➢ Lorazepam ! t1/2 = 14h; metabolismo hepático

. Usos:
➢ Clonazepam ! tratamento de crises de ausência e crises mioclônicas em crianças; ocorre
tolerância aos efeitos anticonvulsivantes após 1-6 meses
➢ Diazepam e lorazepam ! tratamento do estado epiléptico
➢ Clorazepato ! adjuvante no tratamento de crises parciais; não é recomendado para crianças
menores de 9 anos
➢ Clobazam ! adjuvante no tratamento de crises associadas à síndrome de Lennox-Gastaut em
crianças maiores de 2 anos; menos sedativo

. E.A:
➢ Sedação, letargia (há tolerância)
➢ Ataxia, hipotonia, disartria, tonteira
➢ Transtornos comportamentais (princ em crianças), com agressividade, hiperatividade,
irritabilidade e dificuldade de concentração; há relatos de anorexia ou hiperfagia
➢ Aumento das secreções salivares e brônquicas
➢ Exacerbação de convulsões e estado epiléptico em caso de suspensão repentina
➢ Depressão cardiovascular e respiratória (princ em adm IV, junto a outros fármacos
anticonvulsivantes ou depressores centrais)

Succinimidas
. Etossuximida
➢ M.A: redução das correntes de Ca2+ de baixa limiar (tipo-T) nos neurônios talâmicos
➢ FC: adm oral (absorção completa); sem ligação significativa as ptns plasmáticas; t1/2 = 40-50h
(adultos) ou 30h (crianças); metabolismo hepático; excreção renal (25% inalterado)
➢ Usos: crises de ausência
➢ E.A:
o Náuseas, vômitos, anorexia
o Sonolência, letargia, euforia, tonteira, cefaleia, soluços (há tolerância)
o Parkinsonismo
o Fotofobia
o Em pacientes com história de transtorno psiquiátrico: inquietude, agitação, ansiedade,
agressividade, incapacidade de concentração
o Reações cutâneas ! urticária, síndrome de Stevens-Johnson
o Outros ! LES, eosinofilia, leucopenia, trombocitopenia, anemia aplásica, pancitopenia
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 43

Outros
. Ácido valproico
➢ M.A: redução da velocidade de recuperação dos canais de Na+ voltagem-dependentes ! limita
as deflagrações repetitivas e persistentes de potenciais de ação
o Também há redução discreta das correntes de Ca2+ tipo-T
o In vitro, também ocorre estímulo a síntese de GABA e inibição de sua decomposição
➢ FC: adm oral (absorção rápida e completa; retardada pela ingestão com alimentos); ligação de
90% as ptns plasmáticas; t1/2 = 15h (reduzida em pacientes tratados com outros
anticonvulsivantes); metabolismo hepático, com produção de dois metabólitos quase tão potentes
quanto o composto original
➢ Usos:
o Anticonvulsivante de amplo espectro, útil para o tratamento de crises de ausência, crises
mioclônicas, parciais e TCG
o Transtorno bipolar, mania
o Enxaqueca (divalproato de sódio)
➢ E.A:
o Náuseas, vômitos, anorexia (porém, alguns pacientes podem apresentar aumento do
apetite e ganho ponderal), elevação das transaminases, hiperamonemia
o Hepatite fulminante (rara, porém grave; principalmente em crianças tratadas com vários
anticonvulsivantes)
o Pancreatite
o Sedação, ataxia, tremor (infrequentes)
o Erupção cutânea, alopecia
➢ I.M:
o Inibe o metabolismo de substratos da CYP2C9, como fenitoína e fenobarbital
o Inibe as UGTs e, portanto, o metabolismo da lamotrigina e lorazepam
o Liga-se à albumina, deslocando a fenitoína e outros fármacos
➢ É teratogênico, levando a anomalias do tubo neural.

. Gabapentina e pregabalina
➢ M.A: são agonistas centrais de GABA (formados por uma molécula de GABA ligada
covalentemente a um anel de cicloexano ou isobutano lipofílico); entretanto, seus mecanismos de
ação molecular ainda não estão totalmente esclarecidos
➢ FC: adm oral; alta lipossolubilidade, com fácil penetração na BHE; t1/2 = 6h; não se ligam as ptns
plasmáticas; não são metabolizadas; excreção renal sob forma inalterada
➢ Usos:
o Crises parciais com ou sem generalização secundária, associadas a outros
anticonvulsivantes
o Pregabalina ! neuralgias, dores neuropáticas associadas a lesões medulares
o Gabapentina ! enxaqueca, dor crônica, fibromialgia transtorno bipolar e síndrome das
pernas inquietas
➢ E.A: sonolência, tonteira, ataxia, fadiga; geralmente são bem toleradas, com regressão dos E.A
após 2 semanas de tratamento continuado

. Lamotrigina
➢ M.A: semelhante ao da fenitoína e carbamazepina; entretanto, o espectro de ação da lamotrigina é
mais amplo, implicando a existência de outros mecanismos ainda desconhecidos
➢ FC: adm oral (absorção completa); t1/2 = 24-30h; metabolismo hepático
➢ Usos:
o Crises parciais e TCG em adultos
o Síndrome de Lennox-Gastaute em crianças e adultos
o Outros ! transtorno bipolar, neuralgias, neuropatia periférica, dor neuropática,
enxaqueca
➢ E.A:
o Tonteira, ataxia, diplopia, turvação visual
! 44 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

o Náuseas, vômitos
o Exantema (princ quando coadm a outro anticonvulsivante; mais grave em crianças)
o Síndrome de Stevens-Johnson, CID (raros)
➢ I.M:
o Concentração reduzida pela coadm de fenitoína, carbamazepina e fenobarbital
o Aumenta a concentração de carbamazepina
o Concentração aumentada pelo ácido valproico
o Reduz as concentrações de ácido valproico

. Levetiracetam
➢ M.A: desconhecido
➢ FC: adm oral (absorção rápida e quase completa); não se liga as ptns plasmáticas; metabolismo
hepático a um metabólito inativo; excreção renal (65% inalterado)
➢ Usos: adjuvante em crises parciais, mioclônicas e TCG refratárias
➢ E.A: sonolência, astenia, tonteira (geralmente bem tolerado)

. Tiagabina
➢ M.A: inibe o transportador de GABA (GAT-1), reduzindo sua recaptação pelos neurônios e glia
! aumento da permanência de GABA nas sinapses
➢ FC: adm oral (absorção rápida); ligação ampla as ptns plasmáticas; t1/2 = 8h; metabolismo
hepático (CYP3A)
➢ Usos: adjuvante em crises parciais refratárias, com ou sem generalização secundária
➢ E.A: sonolência, tremor, tonteira, dificudaldade de concentração (geralmente bem tolerados);
depressão
o Pode facilitar a deflagração de crises de ausência, estando CI nesses pacientes.
➢ I.M: t1/2 reduzido quando administrado junto a fenitoína, carbamazepina ou fenobarbital

. Topiramato
➢ M.A: semelhante à fenitoína; também ativa uma corrente de K+ hiperpolarizante, aumenta as
correntes no receptor GABAa pós-sináptico e limita a ativação de receptores AMPA-cainato de
glutamato; também é um inibidor fraco da anidrose carbônica
➢ FC: adm oral (absorção rápida); ligação de 10-20% as ptns plasmáticas; t1/2 = 24h; metabolismo
hepático pouco expressivo; excreção renal (princ na forma inalterada)
➢ Usos:
o Monoterapia para crises parciais e TCG refratárias
o Adjuvante na síndrome de Lennox-Gastaut
o Profilaxia de enxaqueca em adultos
➢ E.A:
o Sonolência, fadiga, perda ponderal, nervosismo (geralmente bem tolerado)
o Cálculos renais (devido a inibição da anidrase carbônica)
o Alteração do paladar de bebidas gaseificadas
o Associado a deficiência cognitiva
➢ I.M: ocorre redução das concentrações plasmáticas de estradiol, sugerindo a necessidade de doses
mais altas de anticoncepcionais orais

. Zonisamida
➢ M.A: semelhante à fenitoína + inibição de correntes de Ca2+ tipo-T
➢ FC: adm oral (absorção quase completa); t1/2 = 63h; ligação de 40% as ptns plasmáticas;
metabolismo hepático (CYP3A4); excreção renal
➢ Usos: adjuvante em crises parciais refratárias
➢ E.A:
o Sonolência, ataxia, fadiga, anorexia, perda ponderal, nervosismo (geralmente bem
tolerada)
o Cálculos renais (provavelmente é capaz de inibir a anidrase carbônica)
o Acidose metabólica (princ em jovens ou pacientes com doença renal, doença respiratória
grave, diarreia, cirurgia ou dieta cetogênica)
➢ I.M:
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 45

o Concentração reduzida por fenitoína, carbamazepina e fenobarbital


o Concentração aumentada por lamotrigina

. Lacosamida
➢ M.A: semelhante à fenitoína
➢ Usos: adjuvante em crises parciais refratárias; utilizado em dor neuropática

. Rufinamida
➢ M.A: semelhante à fenitoína
➢ Usos: adjuvante em crises associadas à síndrome de Lennox-Gastaut

. Vigabatrina
➢ M.A: análogo estrutural do GABA, inibe irreversivelmente a enzima responsável por sua
degradação (GABA-transaminase), aumentando sua concentração no cérebro
➢ Usos:
o Adjuvante em crises parciais complexas refratárias de adultos
o Espasmos infantis (princ os causados por esclerose tuberosa)
➢ E.A: perda visual bilateral, progressiva e irreversível (uso muito limitado); sonolência, tonteira,
ganho de peso

. Ezogabina
➢ M.A: ativa canais de K+ hiperpolarizantes
➢ FC: adm oral; t1/2 = 8-11h; metabolismo hepático; excreção renal
➢ Usos: crises parciais
➢ E.A:
o Leves ! sonolência, tonteira, fadiga, turvação visual, tremor, déficit de memória, astenia,
distúrbio da marcha e equilíbrio, fala arrastada
o Graves ! dificuldade para urinar, alucinações, ideação suicida, prologamento do QT
. Perampanel
➢ M.A: antagonista não competitivo do receptor de glutamato AMPA
➢ FC: adm oral (absorção rápida); t1/2 = 105h; ligação de 95% as ptns plasmáticas; metabolismo
hepático
➢ Usos: crises parciais com ou sem generalização secundária
➢ E.A: agressividade, ideação suicida, sonolência, vertigem, tonteira, náuseas, problemas de
marcha, ataxia, ganho de peso

. Felbamato
➢ M.A: desconhecido
➢ Usos: 3a linha em crises parciais refratárias
➢ E.A: anemia aplásica, insuficiência hepática

. Acetalozamida ! inibidor da anidrase carbônica, eficaz em alguns casos de crises de ausência; utilidade
limitada pelo desenvolvimento rápido de tolerância

OBS: Principais indicações de fármacos


anticonvulsivantes:
➢ Crises parciais simples e complexas; crises
TCG ! fenitoína, carbamazepina,
fenobarbital
➢ Crises de ausência ! etossuximida, ácido
valproico (1a opção quando também há crises
TCG), lamotrigina (mesmo que não aprovada
para esse fim)
➢ Crises mioclônicas ! ácido valproico,
levetiracetam, topiramato, zonisamida
➢ Convulsões febris ! diazepam (via retal)
➢ Convulsões em lactentes e crianças pequenas
! 46 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

! glicocorticoides, vigabatrina (espasmos infantis)


o Síndrome de Lennox-Gastraut (início na infância de déficits cognitivos e várias formas de
atividade epiléptica) ! lamotrigina, topiramato
➢ Estado epiléptico ! diazepam ou lorazepam, fenitoína, fenobarbital
o BZD: lorazepam IV/VO, diazepam IV/retal, midazolam IV/VO/intranasal
o Se não ceder em 10 min, repetir BZD
o Se não ceder em 10 min: fenitoína, fenobarbital
o Se não ceder, chamar anestesista: tiopental, midazolam ou propofol

OBS2: Tratamento anticonvulsivante e gravidez


➢ Os anticoncepcionais orais tem sua eficácia reduzida pelo uso concomitante de
anticonvulsivantes, devido ao metabolismo acelerado pela indução de CYPs causadas por alguns
desses fármacos
➢ Além disso, fármacos indutores de CYPs também estão associados a deficência de vitamina K no
RN, que pode causar coagulopatia e hemorragias. Alguns autores recomendam o tratamento
profilático com vitamina K durante o último mês de gestação.
➢ Fenitoína, carbamazepina, ácido valproico, lamotrigina e fenobarbital são teratogênicos,
induzindo uma série de malformações. Uma possibilidade para mulheres epilépticas que desejam
engravidar é um período de experiência sem anticonvulsivantes, ou a monoterapia com controle
cuidadoso dos níveis do fármaco.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 47

Farmacoterapia das doenças neurodegenerativas

Introdução

. As doenças neurodegenerativas decorrem de perda progressiva e irreversível de neurônios locazilados em


regiões específicas do SNC. Os tratamentos atualmente disponíveis atenuam os sintomas da doença, mas não
alteram a evolução do processo neurodegenerativo.

. Vulnerabilidade seletiva ! cada doença neurodegenerativa apresenta um padrão específico de processos


patológicos, para determinados tipos de neurônios e regiões do SNC.
➢ Doença de Parkinson (DP) ! degeneração extensiva de neurônios dopaminérgicos na substância
nigra
➢ Doença de Alzheimer (DA) ! degeneração mais marcante no hipocampo e em determinadas
regiões do córtex cerebral
➢ Doença de Huntington (DH) ! alterações mais marcantes no neoestriado
➢ Esclerose lateral amiotrófica (ELA) ! perda dos neurônios motores espinhais e corticais

. Há diversos fatores genéticos e ambientais implicados na patogênese dessas doenças.

. Mecanismos celulares comuns da neurodegeneração:


➢ Proteínas mal-formadas e agregadas ! alfa-sinucleína na DP; ß-amiloide e tau na DA;
huntingtina da DH; SOD e TDP-43 na ELA
➢ Lesão neural excitotóxica (quantidades
excessivas de glutamato no cérebro, agindo
principalmente em receptores NMDA);
diferenças celulares e regionais na
susceptibilidade à excitotoxicidade (p.ex,
diferenças nos tipos de receptores de glutamato)
podem contribuir para a vulnerabilidade seletiva
caracterísitica das doenças neurodegenerativas
➢ Estresse oxidativo aumentado com o
envelhecimento, devido à redução progressiva da
capacidade dos neurônios de realizarem o
metabolismo oxidativo

Doença de Alzheimer

Revisão clínica

. A região cerebral mais susceptível à disfunção e perda neuronal é o lobo temporal medial, incluindo o córtex
entorrinal e o hipocampo.

. Quadro clínico da DA:


➢ Inicialmente, ocorre perda episódica da memória anterógrada, ainda sem limitação para as
funções da vida diária. Como os critérios diagnósticos exigem a presença de demência (isto é,
limitação funcional), esses pacientes geralmente têm o diagnóstico de disfunção cognitiva branda
(DCB). Ao ano, cerca de 10% dos pacientes com DCB evoluem para DA, embora nem todos
desenvolvam a doença.
➢ O declínio cognitivo e funcional na DA é progressivo e inexorável, progredindo de forma a afetar
outros domínios cognitivos, como a função visuoespacial e executiva.
➢ Em estágios avançados, há dependência crescente e progressão para um estado mudo e acinético,
que caracteriza a doença terminal.
➢ A morte ocorre 6-12 depois do início da doença, geralmente por complicações da imobilidade
(pneumonia, TEP, etc).
! 48 Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2

. As anormalidades patológicas típicas da DA são as placas de ß-amiloide, formadas por acúmulo extracelular
dessa proteína, além dos emaranhados neurofibrilares intracelulares formados pela proteína tau
hiperfosforilada.
➢ As placas de ß-amiloide são anormalidades precoces e invariáveis; os acúmulos de proteína tau,
por outro lado, se desenvolvem com o transcorrer do tempo e tem relação mais direta com o
comprometimento cognitivo.
➢ Os mecanismos pelos quais o ß-amiloide e a tau provocam disfunção e morte neuronal podem
incluir interferência direta com a transmissão
sináptica e a plasticidade, excitotoxicidade,
estresse oxidativo e neuroinflamação.

. O distúrbio bioquímico mais marcante na DA é uma


deficiência de acetilcolina, baseada na atrofia e degeneração
de neurônios colinérgicos subcorticais. A “hipótese
colinérgica” propõe que a deficiência desse
neurotransmissor é fundamental à patogenia dos sinais e
sintomas da doença.

Tratamento

. Tratamento dos sintomas cognitivos


➢ Antagonistas reversíveis da acetilcolinesterase
! ampliação da transmissão colinérgica
o De maneira geral, esses fármacos são a primeira opção geral para o tratamento dos
déficits cognitivos na DA branda a moderada.
o Geralmente, são bem tolerados; os principais E.A são náuseas, vômitos, colicas, diarreia,
anorexia, cãibras e sonhos anormais. Entretanto, devem ser utilizados com cautelo em
pacientes com bradicardia ou síncope.
o Fármacos:
▪ Donepezila ! inibição não-competitiva e reversível da AChE
• FC: t1/2 = 60-90h; metabolismo hepático (CYP2D6 e CYP3A4)
▪ Rivastigmina ! inibição não-competitiva, pseudo-irreversível, da AChE e
BuChE (butilcolinesterase, encontrada no plasma e hiper-regulada no cérebro na
DA); também utilizada em DDP (demência da doença de Parkinson); há
formulação para adm transdérmica
• FC: t1/2 = 2h; metabolismo por esterases plasmáticas
▪ Galantamina ! inibição competitiva e reversível da AChE; há formulação de
liberação prolongada
• FC; t1/2 = 5-7h; metabolismo hepático (CYP2D6 e CYP3A4)
▪ Tacrina ! inibição não-competitiva e reversível da AChE e BuChE; metabolismo
hepático (CYP1A2); abadonada devido a elevada hepatotoxicidade
➢ Memantina ! utilizado como adjuvante ou alternativo aos inibidores de colinesterase; é um
antagonista não-competitivo do receptor de glutamato NMDA, reduzindo expressivamente a taxa
de deterioração clínica de pacientes com DA moderada a grave
o FC: t1/2 = 60-80h; excreção renal (ajuste da dose em doentes renais graves)
o É bem tolerada; os E.A incluem cefaleia, tonteiras, confusão e alucinações.

. Tratamento dos sintomas comportamentais (irritabilidade, agitação, paranoisa, ilusões, perambulação,


ansiedade, depressão)
➢ Tratamento não-farmacológico deve ser utilizado primeiramente. Além disso, os inibidores de
colinesterase e a memantina reduzem alguns desses sintomas, embora de forma modesta e
incompleta.
➢ Antipsicóticos atípicos (risperidona, olanzapina, quetiapina) são a opção mais eficaz para
tratamento da agitação e psicose na DA. Entretanto, seu uso em pacientes idosos foi associada a
risco mais alto de AVE e mortalidade global.
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 49

➢ Outra opção são os BZD, para controle ocasional da agitação aguda, embora não sejam
recomendados para o tratamento prolongado, em razão de seus E.A na cognição.
➢ O antipsicótico típico haloperidol pode ser útil para controlar a agressividade, embora E.A como
sedação e sintomas extrapiramidais limitem sua utilidade.
➢ Os antidepressivos podem ser úteis, principalmente no controle da depressão e ansiedade. Os
fármacos preferidos são os ISRS, embora a trazodona também produza efeitos modestos.

Doença de Parkinson

Revisão clínica

. O parkinsonimos é uma síndrome clínica formada por


bradicinesia, rigidez muscular (hipertonia plástica), tremor de
repouso e instabilidade postural. A causa mais comum de
parkinsonismo é a DP.
➢ A degeneração neuronal em outras regiões do SNC é
responsável pelas manifestações não-motoras da DP,
incluindo distúrbios do sono, depressão e déficit de
memória.
➢ Sem tratamento, a DP progride ao longo de 5-10
anos para um estado de rigidez e acinesia. A morte
resulta de complicações da imobilidade.
➢ O tratamento farmacológico alterou radicalmente o
prognóstico da DP, possibilitando manter a
mobilidade funcional ao longo de muitos anos e
aumentar expressivamente a expectativa de vida dos
pacientes.

. Outras causas de parkinsonismo, geralmente refratárias ao


tratamento, são outras doenças neurodegenerativas (PCP, AMS,
DCB, DCL, etc), AVE e intoxicação por antagonistas de
receptores dopaminérgicos.
➢ Fármacos que podem causar ou agravar o parkinsonismo:
o Antipsicóticos (haloperidol, clorpromazina, torazina, flufenazina, pimozida,
levomepromazina, propericiazina, sulpirida)
o Antidepressivos e estabilizadores do humor (lítio, tranilcipromina, fluoxetina, paroxetina)
o Antieméticos e anti-vertiginosos (flunarizina, cinarizina, metoclopramida,
proclorperazina, bromoprida)
o Anti-hipertensivos (metildopa, reserpina)
. O achado patológico característico da DP é a
perda dos neurônios dopaminérgicos da
substância negra, com aparecimento de
inclusões intracelulares (corpúsculos de Lewy),
levando a uma redução da dopamina no
estriado (rico em receptores D1 e D2).
➢ Os neurônios estriatais que
originam a via direta (via eferente
dos núcleos da base que resulta em
aumento da saída de estímulos
excitatórios do tálamo para o
córtex) expressam principalmente o
receptor de dopamina D1
(excitatório).
➢ Por outro lado, os neurônios
estriatais que originam a via indirea
(via eferente dos núcleos da base
que resulta em redução da saída de
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estímulos excitatórios do tálamo para o córtex) expressam principalmente o receptor de dopamina


D2 (inibitório).
➢ Dessa forma, a dopamina liberada no estriado pela substância nigra tende a aumentar a atividade
da via direta e reduzir a atividade da via indireta, aumentando a estimulação excitatório do tálamo
para o córtex.
➢ De maneira oposta, na DP, a depleção de dopamina devido a degeneração da via nigro-estriatal
aumenta acentuadamente os estímulos inibitórios sobre o tálamo, reduzindo a excitação do córtex
motor.

Tratamento

. Levodopa
➢ M.A: convertida no cérebro a dopamina (principalmente nas terminações pré-sinápticas dos
neurônios dopaminérgicos estriatais) ! aumento da neurotransmissão dopaminérgica
o A levodopa quase sempre é administrada junto a um inibidor da descarboxilase periférica
(carbidopa, benserazida), que não penetram a BHE, mas impedem a conversão periférica
de levodopa a dopamina. Essa conversão periférica reduziria significativamente a
penetração da levodopa no SNC; além disso a liberação de dopamina na periferia
produziria E.A indesejáveis, principalmente náuseas e hipotensão.
➢ FC: adm oral (absorção rápida, porém com perda de 70%; retardada pela adm junto a refeições
hiperproteicas); níveis plasmáticos máximos em 0,5-2h;
t1/2 curto (1-3h); passagem pela BHE mediada por um
transportador de membrana para aminoácidos
aromáticos (pode ocorrer competição com proteínas da
dieta)
➢ E.A:
o O tratamento prolongado com levodopa leva a
oscilações drásticas a cada dose do fármaco,
levando às complicações motoras da levodopa:
▪ Esgotamento ou “wearing-off” !
reaparecimento do parkinsonismo logo
após o t1/2 da levodopa; pode ser
atenuado por aumento da dose e
frequência de adm, que podem,
contudo, precipitar discinesias
▪ Fenômeno “on-off” ! rápida oscilação entre os estados “desligado” (sem efeitos
benéficos da levodopa) e “ligado” (com efeitos benéficos, porém acompanhados
por discinesias); pode ser atenuado por preparações de liberação sustentada
▪ Congelamentos (“freezing”)
▪ Discinesias (coreia, atetose, hemibalismo, distonia, mioclonias, tiques, tremores)
▪ Redução geral do efeito benéfico, por progressão da doença e dessensibilização
dos receptores

!
o Náuseas, vômitos, anorexia
Farmacologia – José Paulo Amoedo B. Brandão – 2016.2 51

o Confusão, alucinações, alterações do humor e da personalidade (principalemente em


idosos ou com disfução cognitiva; podem ser controlados por antipsicóticos, dando-se
preferência aos atípicos)
o Hipotensão postural (devido a descarboxilação periférica da levodopa e liberação de
dopamina na circulação); arritmias cardíacas
o Síndrome neuroléptica maligna (confusão, rigidez, hipertermia) ao se interromper
subitamente o tratamento
➢ I.M: a administração de levodopa junto a inibidores não-seletivos da MAO acentua
significativamente as ações da levodopa e pode desencadear hiperreflexia e crises hipertensivas
potencialmente fatais; esses fármacos devem ter seu uso interrompido 14 dias antes do início do
tratamento com levodopa (essa proibição não se aplica aos inibidores específicos da MAO-B).

. Agonistas dos receptores de dopamina (ropinirol e pramipexol)


➢ M.A: ativação de receptores D2 de dopamina no estriado
➢ FC: adm oral (absorção boa); duração de ação mais prolongada do que a levodopa (8-24h; úteis à
profilaxia e tratamento de oscilações motoras; são preferidos em pacientes jovens, para reduzir a
ocorrência dessas complicações); eliminação hepática (ropinirol) ou renal (pramipexol)
o O ropinirol também está disponível em formulação de liberação prolongada, com dose
única diária.
➢ E.A:
o Confusão e alucinações; náuseas; hipotensão postural (semelhante à levodopa)
o Fadiga e sonolência
o Impulsividade

OBS: A bromocriptina é um agonista dopaminérgico derivado do ergot.


➢ M.A: agonista D2 e D1 (parcial)
➢ FC: adm oral; t1/2 = 6h; eliminação hepática
➢ E.A: hipotensão, excesso de atividade dopaminérgica, vasoespasmo digital
➢ Outros usos: hiperprolactinemia, síndrome neuroléptica maligna
. Apomorfina
➢ M.A: agonista dopaminérgico (alta afinidade por receptores D4; afinidade intermediária por
receptores D2, D3 e D5 e por certos receptores alfa-adrenérgicos; pouca afinidade por receptores
D1)
➢ FC: adm SC
o É utilizada como “resgate” para o tratamento agudo de episódios de “desligamento” dos
pacientes com flutuações motoras.
➢ E.A:
o Confusão e alucinações; hipotensão postural (semelhante à levodopa)
o Fadiga e sonolência
o Altamente emetogênica, necessitando de uso de antiemético antes e após sua adm
(entretanto, antagonistas de 5-HT3 estão CI devido ao risco de hipotensão profunda)
o Prolongamento do QT
o Reações no local de injeção
o Potencial de uso abusivo, com adm cada vez mais frequente, resultando em alucinações,
discinesias e comportamento anormal

. Inibidores da COMT (tolcapona e entacapona)


➢ M.A: inibição da COMT ! redução da
metabolização da levodopa a 3-O-metil-DOPA,
aumentando sua meia-vida plasmática e a
fração que alcança o SNC
o São utilizados principalmente para
reduzir os sintomas de esgotamento
em pacientes tratados com levodopa/
carbidopa.
➢ Fármacos e FC:
o Entacapona ! inibição principalmente
da COMT periférica; ação curta (2h)
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o Tolcapona ! inibição da COMT central e periférica; ação relativamente mais longa e


mais potente
➢ E.A:
o Náuseas, hipotensão postural
o Confusão, alucinações, sonhos vívidos
o Hepatotoxicidade potencialmente grave (apenas tolcapona); por isso, deve ser usada
apenas em pacientes sem resposta aos demais tratamentos, e com monitorização
cuidadosa da função hepática

. Inibidores da MAO-B (selegilina e rasagilina)


➢ M.A: inibição irreversível da MAO-B (isoforma predominante no estriado) ! redução da
degradação de dopamina no estriado
o Como esses fármacos não inibem a MAO-A (responsável principal pelo metabolismo
periférico das catecolaminas), não há risco de hipertensão com a administração de
levodopa ou ingestão de alimentos ricos em tiramina.
➢ Fármacos, FC e E.A:
o Selegilina ! melhor tolerada em pacientes jovens ou com DP branda; em pacientes com
DP mais avançada ou disfunção cognitiva concomitante, pode acentuar os E.A motores e
cognitivos da levodopa
▪ FC: adm oral ou transdérmica; metabolização hepática a anfetamina e
metanfetamina (podem causar ansiedade, insônia e outros E.A)
o Rasagilina ! eficaz em DP inicial; reduz significativamente os sintomas de
“desligamento” em pacientes com DP avançada em uso de levodopa; pode exibir efeitos
neuroprotetores, devido a redução da formação de radicais livres potencialmente tóxicos
▪ FC: não produz os metabólitos indesejáveis da selegilina
➢ I.M: podem causar estupor, rigidez, agitação e hipertermia se coadministrados com meperidina
(não se sabe exatamente por qual mecanismo); também há relatos de E.A resultantes da adm
simultânea com antidepressivos tricíclicos e ISRS (sd serotoninérgica)

. Antagonistas muscarínicos (triexifenidil, biperideno, benzitropina e difenidramina, um anti-histamínico que


interage com receptores muscarínicos centrais)
➢ M.A: mecanismo ainda não esclarecido; podem atuar no estriado por receptores que medeiam a
resposta à sua inervação colinérgica intrínseca
o Apresentam atividade modesta e são usados apenas em DP inicial ou como adjuvantes ao
tratamento dopaminérgico; apresentam eficácia quase exclusiva no manuseio do tremor,
com efeito desprezível sobre a rigidez, bradicinesia e instabilidade postrual. Não devem
ser utilizado em pacientes idosos ou com disfunção cognitiva.
➢ E.A: efeitos anticolinérgicos, incluindo deterioração cognitiva, alucinações, sedação, confusão
mental, retenção urinária, taquicardia, constipação, xerostomia, midríase e borramento visual;
devem ser utilizados com cuidado em pacientes com glaucoma de ângulo fechado.

. Amantadina
➢ M.A: antiviral, que parece aumentar a disponibilidade de dopamina no estriado, além de possuir
propriedades anticolinérgicas e bloqueadora de receptores de glutamato NMDA
o Utilizado no tratamento de DP branda e como adjuvante para o controle de oscilações e
discinesias em pacientes que utilizam levodopa. Sua eficácia geralmente é temporária,
durando algumas semanas.
➢ FC: adm oral; t1/2 = 2-4h; eliminação renal
➢ E.A (geralmente brandos e reversíveis):
o Tonteria, letargia, desorientação, agitação, alucinações, convulsões
o Livedo reticular, edema periférica
o Náuseas e vômitos
o Efeitos anticolinérgicos

. O tratamento da DP deve ser individualizado e combinado a medidas não-farmacológicas, como exercícios e


modificações no estilo de vida. Algumas linhas gerais de tratamento são:
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➢ Na DP branda, os inibidores da MAO-B, amantadina ou anticolinérgicos (para os mais jovens)


são opções razoáveis.
➢ Com a progressão da doença, o tratamento dopaminérgico se torna necessário. Em jovens, se dá
preferência ao uso de agonistas de dopamina como tratamento inicial, para atenuar as
complicações motoras. Em idosos ou pacientes com co-morbidades significativas, a levodopa/
carbidopa é geralmente bem tolerada.

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