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Estudo das características da vivência da temporalidade em homens com crises de

angústia a partir dos desejos e defesas.

Leilyane Oliveira Araújo Masson


Al. Ricardo Paranhos, Número 799, Sala 112, Ed. Prospère, Setor Marista,
Goiânia – GO.
leilyaneomasson@gmail.com

Psicanalista membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae


de São Paulo e do Grupo Psicanalítico Associação Livre em Goiânia. Professora de
Psicopatologia na Universidade Federal de Goiás. Mestre em Educação (UFG) e
Doutoranda em Psicologia (UCES).

Cada quadro psicopatológico apresenta uma forma própria de vivenciar a


temporalidade. O conceito de temporalidade, articulado com outros, pode lançar luz a
compreensão de aspectos da subjetividade e da psicopatologia na contemporaneidade. O
sujeito, desde as primeiras experiências após o nascimento, precisa realizar um acordo
entre o tempo das necessidades vitais e as possibilidades de satisfação oferecidas por
outros, tal relação é constitutiva.
Posteriormente, a forma de lidar com o tempo é, muitas vezes, apontada como
causa de sofrimento, ou mesmo, como uma das expressões do sintoma, alguns exemplos
são, a antecipação na ansiedade, a lentidão na depressão ou a imediaticidade na
compulsão. A pesquisa de doutorado desenvolvida pela autora busca investigar, a partir
dos desejos e defesas (como categorias na investigação empírica das manifestações
verbais), quais seriam as características da vivência da temporalidade subjetiva em
homens adultos que padecem de crises de angústia?
Na atualidade, uma configuração do sofrimento psíquico que, carece de
simbolizações e se manifesta em forma de crises de angústia ou em afecções corporais,
são queixas frequentes na clínica. Muitos questionamentos têm sido colocados acerca dos
diagnósticos e dos processos constitutivos do sujeito nas configurações sintomáticas
ligadas a falhas no processo de simbolização. A ideia de desvalimiento (hilflosigkeit) é
trabalhada por Freud no Projeto para uma Psicologia Científica (Freud, 1895) e em
Inibição, Sintoma e Angústia (Freud, 1926).
Alguns autores latino-americanos, entre eles David Maldavsky (1992), e Luis
Horsntein (2003) trabalham com o termo patologias do desvalimento para definir uma
falha na história libidinal e identificatória, falhas no processo de simbolização que
resultam em um prolongamento da sensação de desamparo e tem a desestimação do afeto
como principal defesa que se agrava na presença de um ambiente hostil.
Maldavsky (1992) fala ainda de um esvaziamento pulsional e localiza as
patologias do desvalimento como aquelas que se caracterizam pela impossibilidade de
tramitação das exigências pulsionais por meio do aparato psíquico, que implicam falhas
precoces nos tempos de constituição subjetiva. Se refere a fixação do eu real primitivo. E
propõe o conceito de libido intrassomática que provocaria uma intoxicação pulsional.
Segundo Horstein (2003) todos fomos desvalidos, sem recursos e aponta para o papel
fundamental do ambiente precoce na constituição psíquica e falhas que não permitem
uma simbolização e marcam o vazio do eu.
Nas patologias do desvalimento a principal defesa é a desestimação do afeto.
Freud (1894) descreveu a desestimação do afeto (verwergung), no qual o Eu rejeita uma
representação insuportável e ao mesmo tempo o seu afeto. Para Maldavsky (1992) alguns
pacientes apresentam o mecanismo especifico da desestimação do sentir, que se
desenvolve ao estarem abolidos por um déspota psicótico do qual dependem. A
desestimação do sentir é acompanhada de uma erotização cínica da ternura, com um
caráter dissolvente do esforço por processar as exigências pulsionais.

O Algoritmo David Liberman


Diante dos impasses referentes à sistematização da pesquisa em Psicanálise,
David Maldavsky e um grupo de pesquisadores da UCES (Universidad de Ciencias
Empresariales e Sociales) em Buenos Aires desenvolvem estudos, há mais de trinta anos,
sobre um instrumento que é capaz de apreender os desejos e defesas no discurso. Assim,
o ADL (Algoritmo David Liberman) foi criado e aperfeiçoado buscando a sensibilidade
na apreensão dos processos psíquicos relacionados ao desenvolvimento psíquico precoce,
às psicopatologias e aos vínculos.
O nome - Algoritmo David Liberman - foi uma homenagem a seu mestre,
Maldavsky (2013), que considera que Liberman estava à frente de sua época, sem dispor
de recursos conceituais e institucionais para sustentar seus argumentos frente às críticas.
O marco teórico do método ADL é a Psicanálise freudiana. As pulsões se referem ao
desenvolvimento da libido, Oral Primária (O1), Sádico-Oral Secundário (O2), Sádico-
Anal Primário (A1), Sádico-Anal Secundário (A2), Fálico-Uretral (FU) e Fálico-Genital
(FG). No entanto Maldavsky destaca a Libido Intrassomática (LI), que Freud mencionou
em 1926, ao afirmar que no primeiro momento da vida pós-natal os órgãos internos (em
especial, coração e pulmões) são fortemente investidos.
A proposta de Maldasky (2013) é original e interessante porque trabalha com as
fases pretéritas à constituição da linguagem e esse é um ponto que interessa muito aos
estudos de Psicopatologia e da Clínica Psicanalítica no momento atual. Em 1997, David
Maldasky publicou o trabalho Sobre las ciencias de la subjetividad, no qual se ocupa da
relação com os nexos entre as palavras e a vida pulsional e recorre a trabalhos de outros
autores que tratam dessa questão, como Lacan, Green, Kristeva e Liberman. A partir do
desenvolvimento de estudos e pesquisas posteriores, o aperfeiçoamento do método ADL
se concentra em traços diferenciais das manifestações verbais em relação com
determinadas pulsões e desejos, proposta que pode ser relacionada com a constituição do
pré-consciente.
Sendo as defesas, os destinos das pulsões (Freud, 1915), estas podem ser
destacadas como uma categoria de suma importância para a compreensão dos modos de
organização do psiquismo e, portanto, dos pontos de conflito e de sofrimento psíquico
descritos no campo das psicopatologias. Maldavsky (2013) ressalta a ideia freudiana de
que todas as defesas se caracterizam pela tentativa de desalojar algo da vida psíquica e
realizar uma formação substitutiva. As defesas podem ser funcionais ou patológicas e
todas têm seu preço. A fertilidade da articulação entre desejos e defesas é ampla e merece
ser discutida.

Considerando que o problema apresentado pela autora no projeto de tese é, “A


partir dos desejos e defesas (como categorias na investigação empírica das manifestações
verbais), quais seriam as características (descrição, compreensão e interpretação) da
vivência da temporalidade em homens adultos que padecem de crises de angústia?”, o
ADL pode ser um instrumento importante por sua peculiar característica de destacar a
libido intrassomática e buscar a sensibilidade na apreensão dos processos psíquicos
relacionados ao desenvolvimento psíquico precoce, em especial nas patologias do
desvalimento.
A Atemporalidade do Inconsciente em Freud
Freud não se ocupou da temática do tempo em um texto específico, os
apontamentos e reflexões sobre tal questão estão dispersos em toda a sua obra. Muitas
vezes a ideia de tempo aparece associada à memória e suas inscrições, em especial, no
início de sua obra. Na construção do conceito de inconsciente, estão presentes
questionamentos sobre a memória, o esquecimento, e o entrelaçamento de tempos nos
sonhos, assim como, na compreensão do recalque e dos sentidos dos sintomas, é valiosa
a ideia de preservação do passado, como será demostrado nas citações que seguem.
No Projeto para uma psicologia científica (1895), ainda próximo do discurso da
neurologia e da busca de cientificidade da psicologia, Freud afirma que

Uma das principais características do tecido nervoso é a


memória; isto é, em termos muito gerais, a capacidade de
ser permanentemente alterado por simples ocorrências –
característica que contrasta tão flagrantemente com o modo
de ação de uma matéria que permita a passagem de um
movimento ondulatório, para logo voltar a seu estado
primitivo. Uma teoria psicológica digna de consideração
precisa fornecer uma explicação para a memória (Freud,
1895, v. I: 351).

O sonho é expressão da atemporalidade do inconsciente, desperta outros tempos


e permite a recriação no presente de um passado e um futuro carregado de significações.
O entrelaçamento de tempos no sonho, na maioria das vezes, não causa estranheza, o
incompreendido permanece sem surpreender, com sua aparente ausência de sentido.
Assim como a experiência presente na contemplação da arte, o sonho é percebido como
sendo de outra ordem, diferente do pensamento lógico (Masson, 2006). Em Interpretação
dos sonhos (1900, v. V: 606), Freud afirma que “no inconsciente, nada pode ser
encerrado, nada é passado ou esquecido”.
Uma outra referência importante à questão da atemporalidade do inconsciente está
em A psicopatologia da vida cotidiana
No caso de traços mnêmicos recalcados pode-se constatar
que eles não sofrem nenhuma alteração, nem mesmo nos
mais extensos períodos de tempo. O inconsciente é
totalmente atemporal. O caráter mais importante, e também
mais estranho da fixação psíquica é que todas as impressões
são preservadas, não só da mesma forma como foram
originalmente recebidas, mas também em todas as formas
que adotaram nos desenvolvimentos posteriores, o que
constitui uma situação que não se pode ilustrar por nenhuma
comparação com outra esfera. Teoricamente, cada estado
anterior do conteúdo da memória pode ser restituído à
lembrança, mesmo que seus elementos tenham trocado há
muito tempo todas as suas relações originárias por novas
relações (Freud, 1907, v. VI : 268).

Nesse contexto Freud (1907) relaciona a atemporalidade do inconsciente ao


caráter de preservação do conteúdo recalcado, ou seja, no inconsciente o passado não
passa. A questão da memória é retomada e a ideia de fixação psíquica é associada a essa
capacidade de rememoração, mesmo considerando a alteração de formas e relações dos
traços mnêmicos ao longo do processo de desenvolvimento. Esse é, sem dúvida, um ponto
de grande valia para a clínica, ou seja, a preservação e o possível acesso ao conteúdo
recalcado, estavam, ligados ao tratamento da neurose.
No texto O Inconsciente (1915), Freud atribui ao sistema consciente a referência
de tempo e de ordenamento e afirma que

Os processos de sistemas ICs. são atemporais; isto é não são


ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem
do tempo, nem, em geral, tem qualquer referência ao tempo.
A referência ao tempo vincula-se, ao trabalho do sistema Cs
(Freud, 1915: 192).

Uma das peculiaridades do inconsciente, citada por Freud (1915/1987), é a


indestrutibilidade, pois não há nada que se acabe ou que seja completamente destruído no
inconsciente. Os traços mnêmicos recalcados não se alteram com o passar do tempo. Há,
portanto, uma preservação de tudo aquilo que foi vivido e que deixou marcas de memória
na vida do sujeito.
No entanto, é no momento em que o tempo parece ausente que ele está mais ativo,
articulando passado, presente e futuro e atuando em forma de sintomas, lapsos, atos falhos
e sonhos. No percurso analítico, a ausência de linearidade e a presença de uma
temporalidade outra, características da associação livre, permitem o contato com a
referência histórica do sujeito. Nesse processo, aparentemente ilógico, o elo que une
representação e afeto constitui o fio condutor que permitirá os avanços de um tratamento.
No texto Além do Princípio do Prazer que tem uma ideia que pode ser valiosa se
relacionada aos conceitos de pulsão e de repetição.
Com frequência os traços de memória são mais poderosos
e permanentes quando o processo que os deixou atrás de si
foi um processo que nunca penetrou na consciência (Freud,
1920, v. XVIII: 35)
Nesse sentido, está presente aqui um aporte para as discussões futuras acerca da
palavra e da imagem. Nesse momento da obra freudiana, não se trata de preservação de
um conteúdo recalcado mas da possibilidade de traços que constituem o sujeito de
maneira determinante, mesmo sem nunca ter penetrado a consciência. É possível
identificar esse aporte aos estudos futuros que tratam da questão do trauma e dos
processos de simbolização.
Em 1930, no Mal-estar na civilização, a ideia de preservação aparece de outra
forma, não mais apostando em um conteúdo que permanece intacto e passível de tornar-
se consciente, mas a preservação incorporada pelas etapas anteriores.

As primeiras fases do desenvolvimento já não se acham, em


sentido algum, preservadas, foram absorvidas pelas fases
posteriores, às quais forneceram material. O embrião não
pode ser descoberto no adulto. A glândula do timo da
infância, sendo substituída, após a puberdade, por tecidos
de ligação, não mais se apresenta como tal; nas medulas
ósseas do homem adulto posso, sem dúvida, traçar o
contorno do osso infantil, embora esse tenha desaparecido,
alongando-se e espessando-se até atingir sua forma
definitiva. Permaneceu o fato de que só na mente é possível
a preservação de todas as etapas anteriores lado a lado com
a fórmula final, e o de que não estamos em condições de
obter uma imagem intuível desse fenômeno (Freud, 1930,
v. XXI: 80).

Dessa forma, a ideia de atemporalidade do inconsciente como ausência de


ordenamento e de referência do tempo objetivo como conhecemos, referido a marcações
históricas como o relógio ou o calendário, não se aplicariam aos processos inconscientes,
no entanto se trata de um passado que está preservado mas que transformou-se em outra
coisa. Ou seja, refere-se mais a um entrelaçamento de tempos como é possível de ser
apreendido do que necessariamente a uma ausência de tempo.
No texto Construções em análise, Freud reafirma a importância dessa ideia de
preservação dos elementos que compõem a história de cada sujeito para o trabalho
analítico.
Todos os elementos essenciais estão preservados, mesmo
coisas que parecem completamente esquecidas estão
presentes, de alguma maneira e em algum lugar, e
simplesmente foram enterradas e tornadas acessíveis ao
indivíduo. Na verdade, como sabemos, é possível duvidar
de que alguma estrutura psíquica possa realmente ser vítima
da destruição total. Depende exclusivamente do trabalho
analítico obtermos sucesso em trazer a luz o que está
completamente oculto (Freud, 1937, v. XXIII: 277).

Se parte do trabalho de análise consiste em trazer a luz o que está preservado, de


forma oculta, a questão da atemporalidade ou, da temporalidade outra, do inconsciente se
faz presente também nos dispositivos técnicos do percurso analítico. Trata-se de uma
lógica outra, de um espaço de tempo em que o tempo pode ser percebido de outra forma.
A transferência sustentaria, então, a transgressão da temporalidade linear e cronológica.
Nesse sentido vale considerar os tempos e ritmos da transferência.

Cada análise marca seu ritmo, que depende da transferência


reciproca entre paciente e analista. O chamado timing
interpretativo varia em cada caso particular, e o tempo de
elaboração também é efeito da relação transferencial.
Durante a relação mesma se vai construindo sua própria
cadencia e ritmo temporal, o qual é efeito das resistências
do analista em sua interação com as do paciente. Suas
ansiedades e temores, suas urgências técnicas, suas
categorizações nosográficas e sintomáticas, sua ideologia
geral e setorial, vão marcando o ritmo de suas intervenções,
o que influencia, por sua vez, no tempo da cura
(Milmaniene, 2005, p.83).

Uma análise é feita de escuta, de palavras, de silêncios. Esses últimos provocam,


em alguns momentos aberturas e espaços de rememorações, em outros, angústia ou
constrangimento. O tempo de sustentar o silêncio, o tempo da interpretação não são
mesuráveis, pois evocam a singularidade de cada caso e convocam a relação
transferencial. Como lembra Milmaniene, 2005, é também um tempo de duplas
resistências e porque não dizer, de defesas. Acelerar ou desacelerar o tempo de acordo
com o sofrimento, ou com a tentativa de se livrar dele.

A experiência de análise produz na linearidade temporal e


homogênea que uniformiza uma vida, brechas, cortes que
transforma o tempo em algo pleno e real (Miguelez, 2010,
p. 21).
O convite a associação livre já coloca a possibilidade de que um passado intruso
ou uma antecipação possam ser bem-vindos, diferente de uma conversa convencional.
Por outro lado, o analista e sua atenção flutuante também podem menosprezar o que
protagoniza um discurso e permitir um grifo em algo que aparece como estranho, mesmo
que familiar. Da mesma forma, uma abertura ou corte no tempo da fala provocam um
reposicionamento transforma-dor.

Temporalidade e Angústia
Na pesquisa desenvolvida pela autora no mestrado (Masson, 2006), sobre a
articulação do tempo na contemporaneidade, foi ressaltado que a noção freudiana de
inconsciente constitui uma contribuição fundamental no tocante à concepção psicológica
de tempo. A relevância do tema para Freud deve-se à relação da temporalidade com uma
das mais relevantes de suas concepções: o inconsciente. Não se trata de um tempo linear,
e sim, de uma articulação entre passado, presente e futuro. O sujeito experiencia um
tempo de outra lógica, no qual o futuro se antecipa e o passado marca presença em meio
a retornos, recalques, repetições e recordações. Para Freud (1915/1987):

os processos do sistema inconsciente são intemporais, isto é, não


são ordenados temporalmente, não se alteram com a passagem
do tempo; não têm absolutamente qualquer referência ao tempo.
A referência do tempo vincula-se mais uma vez, ao trabalho do
sistema consciente (p. 214).

Maldavsky (2013) destaca que a questão da temporalidade psíquica é uma das


objeções de alguns autores de orientação lacaniana que defendem que as pulsões, mesmo
as que surgem no mais precoce desenvolvimento se ressignificam na fase fálica, nesse
sentido o conceito de retroação é destacado. Maldavsky (2013) responde retomando uma
importante definição freudiana que afirma que a temporalidade psíquica é dupla: inclui a
retroação, como destacam alguns autores lacanianos, mas também a antecipação, no
sentido de que determinadas fixações libidinais permitem antecipar o surgimento de
conteúdos específicos em momentos posteriores da vida psíquica.
Qual é a relação entre temporalidade e angústia? Para Freud (1917), as neuroses
traumáticas indicam, precisamente, que sua raiz se situa em uma fixação. A questão
da temporalidade aparece na ideia de fixação, ou seja, de parada no tempo, tanto nas
neuroses espontâneas, quanto nas neuroses de guerra. No entanto, Freud (1917)
reconhecia que havia uma diferença fundamental entre elas, dizia que a qualidade do
trauma nas neuroses de guerra não era estruturante, por se apresentarem tardiamente,
mesmo que tal diferença não fosse alcançada pelos estudos psicanalíticos até aquele
momento.

As neuroses traumáticas dão uma indicação


precisa de que em sua raiz se situa uma
fixação no momento do acidente traumático.
Esses pacientes repetem com regularidade a
situação traumática, em seus sonhos; [...] É
como se esses pacientes não tivessem
findado com a situação traumática, como se
estivessem enfrentando-a como tarefa
imediata ainda não executada” (Ibid., p.
325).

Assim, está em causa a repetição, o passado que não passa, o que é impossível de
tramitar, o que é excessivo, é atualizado a todo momento. Trata-se do valor econômico
atribuído ao trauma. Em 1920, no texto Além do Princípio do Prazer, o desenvolvimento
do conceito de pulsão de morte e a compulsão à repetição, lançam novos rumos à
articulação entre trauma e angústia. Os sonhos dos soldados que voltaram da guerra
contribuíram para que Freud compreendesse que a angústia não seria a causa do trauma,
ao contrário, a angústia seria uma defesa, uma proteção diante do inesperado que ameaça
a vida.

O conceito de trauma, condensa diversas questões


na teoria psicanalítica. O trauma coloca em questão
a dimensão temporal tanto em seu caráter histórico
quanto em sua dimensão de ressignificação a
posteriori (Berta, 2015).

Posteriormente, Freud (1926) formula que “A angústia, por conseguinte, é, por


um lado, uma expectativa de um trauma e, por outro, uma repetição dele em forma
atenuada(...), sendo reproduzida depois da situação de perigo como um sinal em busca
de ajuda”.

Maldavsky (2013) afirma que é importante destacar os diferentes tipos de angústia


em relação a diferentes fixações libidinais. Seguindo a proposta freudiana, o autor sugere
que para cada desejo existe um ideal de eu específico e, nos traços dos relatos, é possível
fazer uma relação entre os desejos e os estados afetivos como por exemplo, a angústia
moral ligada à fixação sádico-anal secundária e a angústia automática à libido
intrassomática.
Em recente artigo, Maldavsky (2015) apresenta aspectos referentes à intervenções
clínicas com pacientes com crises de angústia. Nos casos clínicos apresentados, o autor
destaca uma divisão entre as palavras e os fatos e uma combinação das crises com estados
de abatimento e de vazio. O autor citado aponta as diferenças entre cognitivistas e
psicanalistas no tratamento das crises de angústia e ressalta que para conseguir uma
atenuação nos estados de angústia são necessárias intervenções centrais eficazes e um
maior desenvolvimento do trabalho psicanalítico em situações de urgência.
Maldavsky (1991) sustenta uma interessante questão sobre temporalidade e
atividade motriz. Afirma que a temporalidade deriva da descontinuidade da consciência.
As diferenças temporais da repetição são retornos do mesmo, porém sua monotonia deriva
da eficácia da pulsão de morte. Segundo o autor, considerando a simultaneidade do
surgimento da erogeneidade, da percepção e da motricidade, deve haver, então, uma
articulação entre erogeneidade e certos movimentos, ritmos na tentativa de opor-se ao
retorno do inerte. Tal concepção é de extrema importância para o trabalho clínico na
atualidade.

Considerações Finais
Certamente, não foi por acaso que, ao final do percurso, em Análise terminável e
interminável, Freud (1937) evoca a figura da feiticeira para qualificar sua metapsicologia
e conceder-lhe um poder especulativo. Sendo assim, longe de permanecer identificada a
um arcabouço teórico fixo, a escuta do analista re-instaura, a cada vez, este pensar
metapsicológico, que, tal como a feiticeira, nos permite fantasiar metapsicologicamente
para poder pensar clinicamente (Fernandes, 2006, p.247).
Mais uma vez, esse é um laço possível para pensar a articulação entre a psicanálise
e a temporalidade em seus mais diferentes aportes. O analista também está mergulhado
em um tempo objetivo que, nesse momento histórico, privilegia o presente imediato. O
trabalho de análise convida ambos, analista e analisando a sustentar outra lógica, outra
forma de articulação temporal e o que se busca ao final refere-se a uma tentativa de lidar
com a finitude, que tem no tempo sua maior representante.
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