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Os vino Toillier

(Org.)

100 estórias
de vida e sabedoria

9- edição

2004
© Editora Sinodal, 2000
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Bibliotecária responsável: Rosemarie B. dos Santos CRB10/797

C394 100 estórias de vida e sabedoria / Osvino Toillier,


organizador. - São Leopoldo : Sinodal,
2000.
124 p.

ISBN 85-233-0626-9

1.Literatura Brasileira - Contos. I.Toillier,


Osvino.

CDU 869.0(81)-34
Eu comecei a escrever estórias para ajudar
uma criança que estava sofrendo. Estórias
ADVERTÊNCIA têm poderes curativos.
Minha filha, quando eu lhe contava estóri-
as, me perguntava sempre: "Papai, isso que
você está contando aconteceu de verdade?"
E eu não sabia como lhe responder. Minha
resposta seria incompreensível para uma
criança de quatro anos. A resposta seria: "As
estórias que eu lhe conto não aconteceram
nunca para que aconteçam sempre". Diferen-
temente das "histórias", que relatam coisas
acontecidas no passado e que ficam eterna-
mente enterradas nele, as "estórias" nunca
aconteceram num ponto do tempo passado.
As parábolas de Jesus, os mitos gregos, as
tragédias de Shakespeare não aconteceram
nunca. No entanto, quando são lidas ou con-
tadas, elas se tornam vivas dentro de nós:
choramos, rimos, nos transformamos; elas
estão tomando posse do nosso corpo e se
tornando vivas em nosso presente. As estó-
rias nos vêm da eternidade. E não é raro
que, depois de ouvirmos uma estória, passe-
mos por metamorfoses. As estórias têm o
poder de curar, transformar, abrir os olhos
aos cegos.
Livros de estórias contém palavras que têm o
poder de operar milagres na alma e no corpo.
E é por isso que faço essa advertência aos in-
cautos: é perigoso brincar com as estórias, por-
que nunca se sabe o que vão fazer com a gente.
Cuidado, portanto. Entrem no mundo mágico
preparados para surpresas e revelações!

Rubem Alves
Era uma vez...
Era uma vez um homem desesperançado, atordoado, seco,
pela violência e injustiça da vida;
não com ele, mas com seus semelhantes.
Sentia-se impotente.
Ele havia perdido pequenos tesouros dentro de si.
Estava só em sua solidão.
Então, alguém lhe contou estórias, muitas estórias ...
E o homem, então, reencontrou, dentro de si, o seu menino,
a sua criança.
Aí, o homem refloresceu em sua plenitude humana.
Divina.
E o homem abraçou os pequenos tesouros perdidos:
a compaixão, a ternura, a solidariedade e a esperança.
Os sabores da vida.
O encontro humano.
E tudo por causa das estórias
que lhe contaram.
Contação de estórias é isso.
Ah, foi uma professora
que contou estórias ao homem em sala de aula.

Wagner Costa
100 estórias de vida e sabedoria

. . . . Um pedaço de pão

H avia na Alemanha, logo após a Segunda Guerra Mundial,


um médico que falecera com a idade de 89 anos. Passada
uma semana, seus filhos encaminharam o inventário; encontraram algu-
mas preciosidades guardadas pelo pai num pequeno armário. Havia lá
um colar de pérolas da mãe, uma plaquinha de prata que o médico havia
ganho na universidade, um objeto de marfim da África e um pedaço de
pão duro e seco.
Os filhos procuravam entender a razão pela qual o pão se encontrava jun-
to às preciosidades do pai, mas não lhes ocorreu nada. Então chamaram
uma antiga cozinheira, e esta contou o seguinte:
- Depois da guerra, havia pouca comida no país. Estando o médico doen-
te, um velho veio visitá-lo e lhe deu aquele pedaço de pão. Porém, o médi-
co recusou-se a comê-lo e o mandou para a vizinha, cujo filho também
estava doente. "Eu já estou velho", disse ele, "mas aquela criança está no
começo de sua vida." A vizinha agradeceu ao receber o pão e o enviou a
um velho idoso. Este também não ficou com o pão e o mandou à sua filha,
que morava com duas crianças num porão perto dali. Esta, porém, com a
intenção de ajudar o médico, levou o pedaço de pão até ele. Ao chegar
novamente em suas mãos, o médico percebeu que se tratava do mesmo
pão. Emocionado, disse: "Enquanto permanecer vivo entre nós o amor
que reparte seu último pão, não temo pelo nosso futuro. Este pão saciou a
fome de muitas pessoas, sem que ninguém tivesse comido dele um peda-
ço sequer. Vamos guardá-lo bem e, quando o desânimo se abater sobre
nós, olhemos para ele!"
Os filhos então compreenderam a ação do pai e decidiram deixar entrar
em seus corações o amor que reparte e anima.

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100 estórias

. . . . Se melhorar, estraga

J oão era o tipo de cara que você gostaria de conhecer. Ele


estava sempre de bom humor e sempre tinha algo de positivo
a dizer. Se alguém lhe perguntasse como ele estava, a resposta seria logo:
- Se melhorar, estraga.
Ele era um gerente especial, pois seus garçons o seguiam de restaurante
em restaurante apenas pelas suas atitudes. Ele era um motivador nato.
Se um colaborador estava tendo um dia ruim, João estava sempre dizen-
do como ver o lado positivo da situação.
Fiquei tão curioso com seu estilo de vida, que um dia lhe perguntei:
- Você não pode ser uma pessoa tão positiva todo o tempo. Como você faz
isso?
Ele me respondeu:
- Toda manhã quando acordo digo a mim mesmo: João, você tem duas
escolhas hoje. Pode ficar de bom humor ou de mau humor. Eu escolho
ficar de bom humor. Cada vez que algo de ruim acontece, posso escolher
bancar a vítima ou aprender alguma coisa com o ocorrido. Eu escolho
aprender algo. Toda vez que alguém reclama, posso escolher aceitar a
reclamação ou mostrar o lado positivo da vida.
- Certo, mas não é fácil, argumentei.
- É fácil, disse-me João. A vida é feita de escolhas. Quando você examina
a fundo toda situação, sempre há uma escolha.Você escolhe como reagir
às situações. Escolhe como as pessoas afetarão o seu humor. É sua a esco-
lha como viver a sua vida.
Eu pensei sobre aquilo que João disse e sempre lembrava dele quando fazia
uma escolha. Anos mais tarde, eu soube que João cometera um erro, deixan-
do a porta de serviço aberta pela manhã. Foi rendido por assaltantes.
Dominado enquanto tentava abrir o cofre, sua mão, tremendo de nervo-
sismo, desfez a combinação do segredo. Os ladrões entraram em pânico e
atiraram nele.
Por sorte ele foi encontrado a tempo de ser socorrido e levado a um hospi-

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Vida e sabedoria

tal. Depois de oito horas de cirurgia e semanas de tratamento intensivo,


teve alta, ainda com fragmentos de balas alojados em seu corpo.
Encontrei João mais ou menos por acaso. Quando lhe perguntei como
estava, respondeu:
- Se melhorar, estraga.
Contou-me o que havia acontecido, perguntando:
- Quer ver as minhas cicatrizes?
Recusei ver seus antigos ferimentos, mas lhe perguntei o que havia pas-
sado em sua mente na ocasião do assalto.
- A primeira coisa que pensei foi que deveria ter trancado a porta de trás,
respondeu. Então, deitado no chão, ensangüentado, lembrei que tinha duas
escolhas: poderia viver ou morrer. Escolhi viver.
- Você não estava com medo?, perguntei.
- Os paramédicos foram ótimos. Eles me diziam que tudo ia dar certo e
que eu ia ficar bom. Mas quando entrei na sala de emergência e vi a ex-
pressão dos médicos e enfermeiras, fiquei apavorado. Em seus lábios eu
lia: "Este aí já era". Decidi então que tinha que fazer algo.
- O que fez?, perguntei.
- Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas. Perguntou-me
se eu era alérgico a alguma coisa. Eu respondi: "Sim". Todos pararam
para ouvir a minha resposta. Tomei fôlego e gritei: "Sou alérgico a ba-
las!" Entre as risadas eu lhes disse: "Eu estou escolhendo viver. Operem-
me como um ser vivo, não como morto".
João sobreviveu graças à persistência dos médicos, mas também graças
à sua atitude. Aprendi que todo dia temos a opção de viver plenamente.
Afinal de contas, "atitude é tudo". Agora você tem duas opções.

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100 estórias

. . . Nem pássaro nem fera

batalhas.
N o mundo dos animais, a guerra pela sobrevivência e ocu-
pação de espaço é muito natural, provocando lutas e

Assim aconteceu certa vez entre pássaros e feras. Na verdade, à luz da


razão humana, faz pouco sentido, porque uns dominam os ares e os ou-
tros, o chão. Mas a batalha ocorreu, e os pássaros levaram a pior, tendo
sido duramente espancados.
O morcego, que estava do lado dos pássaros, ao constatar que as coisas
não andavam bem, saiu de fininho e tratou de salvar sua pele. Escondeu-
se embaixo de um tronco caído até o fim da peleia.
Quando as feras, vitoriosas, estavam retornando para casa, ele saiu rapi-
damente de seu esconderijo e juntou-se a elas. Reconhecido pelas feras
como quem lutara ao lado dos pássaros, o morcego explicou:
- Eu? Não, vocês estão enganados. Eu não lutei ao lado dos pássaros.
Observem minhas orelhas e garras. E meus dentes. Já viram, por acaso,
pássaro com dentes caninos como os meus? Eu lutei ao lado de vocês e
faço parte das feras.
Impressionadas com o argumento do morcego, as feras, embora não
convencidas, deixaram-no ficar e foram para casa.
Mas houve outra batalha entre pássaros e feras. Desta vez, a vitória ficou
com os pássaros, graças à sua estratégia aérea. O morcego, tão logo per-
cebeu a tendência da batalha, novamente se escondeu debaixo de um tron-
co. Terminada a luta, juntou-se aos pássaros. Estes notaram sua presen-
ça e reagiram com firmeza:
- Você é nosso inimigo. Cai fora!
O morcego, como fizera antes, argumentou com os pássaros:
- Estão enganados. Já viram uma fera com asas? Eu pertenço ao grupo
de vocês.
Os pássaros, enrolados pela lábia do morcego, deixaram-no ficar com eles.
E ele continuava trocando de lado sempre quando havia uma batalha.
Mas chegou o dia em que pássaros e feras cansaram das brigas e decidi-

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Vida e sabedoria

ram fazer as pazes. Revelaram então a história do morcego. Formaram


um conselho para decidir o que fazer com ele.
- Vá ficar com os pássaros, disseram as feras, já que lutou com eles.
- Não, disseram os pássaros, nós não o queremos, afinal ele mudou de
lado sempre quando perdíamos uma batalha.
Enfim decidiram não dar abrigo ao morcego e, em conseqüência, ele teve
que voar sozinho à noite, não sendo acolhido nem pelos pássaros nem
pelas feras.
Ao morcego restou a dura realidade de viver para o resto de sua vida na
escuridão e esconder-se nas cavernas sem luz.
Embora voe como pássaro, o morcego não pousa em nenhum topo de ár-
vore, sendo caçado por homens, feras e pássaros.

. . . . Sobre abandonar amigos

U m homem, seu cavalo e seu cão caminhavam por uma es-


trada. Depois de muito caminhar, o homem se deu conta
de que ele, seu cavalo e seu cão haviam morrido num acidente. A cami-
nhada era muito longa, morro acima, o sol era forte e eles ficaram suados
e com muita sede. Precisavam desesperadamente de água. Numa curva
do caminho, avistaram um portão magnífico, todo de mármore, que con-
duzia a uma praça calçada com blocos de ouro, no centro da qual havia
uma fonte de onde jorrava água cristalina. O caminhante dirigiu-se ao
homem que, numa guarita, guardava a entrada.
- Que lugar é este, tão lindo?, perguntou ele.
- Isto aqui é o céu, foi a resposta.
- Que bom que nós chegamos ao céu, estamos com muita sede, disse o
homem.
- O senhor pode entrar e beber água à vontade, disse o guarda, indicando-
lhe a fonte.

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- Meu cavalo e meu cachorro também estão com sede.


- Lamento muito, disse o guarda. Aqui não se permite a entrada de animais.
O homem ficou muito desapontado, porque sua sede era grande. Mas ele
não beberia, deixando seus amigos com sede. Assim, prosseguiu seu ca-
minho. Depois de muito caminharem morro acima, com sede e cansaço
multiplicados, eles chegaram a um sítio, cuja entrada era marcada por
uma velha porteira semi-aberta.
A porteira abria para um caminho de terra, com árvores dos dois lados,
que lhe faziam sombra. À sombra de uma das árvores, estava deitado um
homem, cabeça coberta com um chapéu. Parecia que estava dormindo.
- Estamos com muita sede, eu, meu cavalo e meu cachorro.
- Há uma fonte naquelas pedras, disse o homem, indicando o lugar. Po-
dem beber à vontade.
O homem, o cavalo e o cachorro foram até a fonte e mataram a sede.
- Muito obrigado, disse ele ao sair.
- Voltem quando quiserem, respondeu o homem.
- A propósito, disse o caminhante, qual é o nome deste lugar?
- Céu, respondeu o homem.
- Céu? Mas o homem na guarita ao lado do portão de mármore disse que
lá era o céu!
- Aquilo não é o céu; aquilo é o inferno.
O caminhante ficou perplexo.
- Mas então, disse ele, essa informação falsa deve causar grandes confusões.
- De forma alguma, respondeu o homem. Na verdade, eles nos fazem um
grande favor. Porque lá ficam aqueles que são capazes de abandonar seus
melhores amigos...

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Vida e sabedoria

. . . . Aparências enganam

D ois anjos viajantes pararam para passar a noite na casa de


uma família muito rica. A família foi rude e recusou aos
anjos o pernoite no quarto de hóspedes da mansão. Foi oferecido o porão.
Ao fazerem sua cama no chão frio, o anjo mais velho viu um buraco na
parede e o consertou. Quando o anjo mais novo perguntou por quê, o anjo
mais velho respondeu:
- As coisas nem sempre são o que parecem ser.
Na noite seguinte, os dois foram buscar repouso na casa de um casal de
fazendeiros muito pobre, mas muito hospitaleiro. Depois de dividir com
eles o pouco alimento que tinham, os anjos puderam dormir na cama do
casal e repousar bem por uma noite.
Quando o sol nasceu na manhã seguinte, os anjos acharam o casal cho-
rando muito. Sua única vaca, de onde tiravam seu sustento, estava esten-
dida morta no chão.
O anjo mais novo ficou enfurecido e perguntou ao mais velho:
- Como você pôde deixar isto acontecer? O primeiro homem tinha tudo, e
ainda assim você o ajudou, retrucou, acusando-o. - A segunda família
tinha pouco, mas estava disposta a dividir tudo, e você deixou que a vaca
deles morresse.
- As coisas nem sempre são o que parecem ser, retrucou o anjo mais
velho.
- Quando estávamos no porão, disse o anjo mais velho, eu percebi que
havia ouro estocado no buraco da parede. Como o proprietário era tão ob-
cecado e ganancioso e incapaz de dividir sua fortuna, eu lacrei a parede
para que ele não possa achá-lo. Na noite passada, quando dormimos na
cama dos fazendeiros, o anjo da morte veio buscar a esposa dele, e eu lhe
dei a vaca no lugar dela. As coisas nem sempre são o que parecem ser.

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. . . . Proteção ou educação

E u era vizinho de um médico, cujo "hobby" era plantar ár-


vores no enorme quintal de sua casa. Às vezes, observava
da minha janela o seu esforço para plantar árvores e mais árvores, todos
os dias. O que mais chamava a atenção, entretanto, era o fato de que ele
jamais regava as mudas que plantava.
Passei a notar, depois de algum tempo, que suas árvores estavam demo-
rando muito para crescer. Um certo dia, resolvi aproximar-me do médico
e perguntei se ele não tinha receio de que as árvores não crescessem,
pois percebia que ele nunca as regava.
Foi quando, com um ar orgulhoso, ele me descreveu sua fantástica teoria.
Disse-me que, se regasse suas plantas, as raízes se acomodariam na su-
perfície e ficariam sempre esperando pela água mais fácil, vinda de cima.
Como ele não as regava, as árvores demorariam mais para crescer, mas
suas raízes tenderiam a migrar para o fundo em busca da água e das
várias fontes nutrientes encontradas nas camadas mais inferiores do solo.
Assim, segundo ele, as árvores teriam raízes profundas e seriam mais
resistentes às intempéries. Disse-me, ainda, que freqüentemente dava uma
palmadinha nas suas árvores com um jornal enrolado e que fazia isso
para que elas se mantivessem sempre acordadas e atentas.
Essa foi a única conversa que tive com aquele meu vizinho. Logo depois,
fui morar em outro país e nunca mais o encontrei. Passados vários anos,
retornei do exterior e fui dar uma olhada na minha antiga residência. Ao
aproximar-me, notei um bosque que não havia antes; percebi que o médi-
co, meu antigo vizinho, havia realizado seu sonho.
O curioso é que aquele era um dia de um vento muito forte e gelado; as
árvores da rua estavam arqueadas, como que não resistindo ao rigor do
inverno. Entretanto, ao aproximar-me do quintal do médico, notei como
estavam sólidas as suas árvores: praticamente não se moviam, resistindo
implacavelmente àquela ventania toda.
Que efeito curioso, pensei eu... As adversidades pelas quais aquelas árvo-
res haviam passado, levando palmadelas e tendo sido privadas de água,
pareciam tê-las beneficiado.

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. . . . Ferro-velho das almas

E ra uma vez um ferreiro que, após uma juventude cheia de


excessos, resolveu entregar sua alma a Deus. Durante mui-
tos anos, trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas, apesar de toda
sua dedicação, nada parecia dar certo em sua vida. Muito pelo contrário:
seus problemas e dúvidas acumulavam-se cada vez mais.
Uma bela tarde, um amigo que o visitava e que se compadecia de sua
situação difícil comentou:
- É realmente estranho que, justamente depois que você resolveu se tor-
nar um homem temente a Deus, sua vida começasse a piorar. Eu não dese-
jo enfraquecer sua fé, mas, apesar de toda a sua crença no mundo espiri-
tual, nada tem melhorado.
O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso mui-
tas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida.
Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a
falar e terminou encontrando a explicação que procurava. Eis o que disse
o ferreiro:
- Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-
lo em espadas. Você sabe como isto é feito? Primeiro, eu aqueço a chapa
de aço num calor infernal, até que fique vermelha. Em seguida, sem qual-
quer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a
peça adquira a forma desejada. Logo, ela é mergulhada num balde de
água fria, e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a
peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho
que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita: uma vez ape-
nas não é suficiente.
O ferreiro fez uma longa pausa, depois continuou:
- Às vezes, o aço que chega até minhas mãos não consegue agüentar esse
tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de
rachaduras. E eu sei que jamais se transformará numa boa lâmina de
espada. Então eu simplesmente o coloco no monte de ferro-velho que você
viu na entrada de minha ferraria.

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Mais uma pausa, e o ferreiro concluiu:


- Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceito as
marteladas que a vida me dá e, às vezes, sinto-me tão frio e insensível
como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço é: "Meu
Deus, não desista, até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera
de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser - mas
jamais me coloque no ferro-velho das almas".

. . . . Nossas deficiências

C erto dia, o pé, cansado de carregar o corpo com os outros


membros, disse:
- Olha, estou farto de ser burro de carga dos outros. Quero ter minha
própria vida. Quero ser livre e fazer o que bem entender. Aqui, neste
corpo, sinto-me um escravo.
E assim fez. Orgulhoso de sua decisão e coragem, saiu mundo afora com
passos faceiros.
O olho, que acompanhara tudo atentamente, olhou para o corpo capenga,
sentiu inveja da coragem do pé e decidiu:
- Então o pé não quer mais carregar o peso dos outros. Pois eu também
estou cansado de tanto esforço, de olhar, verificar, de apontar caminho. E
sempre para os outros. Eu quero ser eu. Vou é me mandar.
E lá foi o olho, radiante, satisfeito a rolar pelos caminhos da liberdade,
que tantas vezes vira na televisão.
Assim que a mão percebeu que agora, sem pé e cego, o corpo e os outros
membros precisariam ainda mais dela, resolveu cair fora também. Disse:
- Agora tudo estoura em mim. Preciso apalpar para substituir o olho,
preciso segurar e arrastar-me no chão para compensar a falta do pé. E
tudo isto além de minha tarefa de buscar, segurar e escrever. Vou para
minha liberdade também.

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Vida e sabedoria

Contudo, passado algum tempo, o pé começou a sangrar. Estava com os


dedos e as unhas machucadas de tanto bater em pedras, tocos e pisar em
espinhos, pois era cego e nada enxergava. E ainda passava fome, porque
não havia nada para lhe alcançar a comida. O olho passou por situações
piores. Ao atravessar uma rua, rolando pelo asfalto sujo de areia, perdeu
parte de sua visão e, quando viu, estava debaixo de um caminhão. Apavo-
rado, sujo e sentindo-se doente, descobriu que viver só era muito ruim. A
mão, por sua vez, teve dificuldades para andar. Deslocava-se batendo e
pegando em tudo que é coisa ruim e feia. O pé, a mão e o olho descobri-
ram que sozinhos não podiam viver e que juntos, no mesmo corpo, vive-
riam em melhor harmonia. Por isso, voltaram e viveram para sempre uni-
dos em um só corpo.

. . . . A família: o bem maior

E u estava correndo e, de repente, um estranho trombou em


mim.
- Oh, desculpe-me, por favor, foi a minha reação.
E ele disse:
- Ah, desculpe-me também, eu simplesmente nem te vi! Nós fomos muito
educados um com o outro, aquele estranho e eu. Então nos despedimos, e
cada um foi para o seu lado. Mas, em nossa casa, acontecem histórias
diferentes. Como nós tratamos aqueles que amamos?
Mais tarde naquele dia, eu estava fazendo a janta, e meu filho parou do
meu lado tão silenciosamente que eu nem percebi. Quando eu me virei, eu
lhe dei uma bronca:
- Saia do meu caminho, garoto!
Eu disse aquilo com certa brabeza. Ele foi embora, certamente com seu pe-
queno coração partido. Eu nem imaginava como havia sido rude com ele.
Quando eu fui deitar, eu podia ouvir a voz calma e doce de Deus me dizen-
do:

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- Quando falava com um estranho, quanta cortesia você usou! Mas com
seu filho, a criança que você ama, nem sequer se preocupou com isso!
Olhe no chão da cozinha, você verá algumas flores perto da porta. Aque-
las são flores que ele trouxe para você. Ele mesmo as pegou: a cor-de-rosa,
a amarela e a azul. Ele ficou quietinho para não estragar a surpresa, e
você nem viu as lágrimas nos olhos dele.
Nesse momento, eu me senti muito pequena. E, agora, o meu coração era
quem derramava lágrimas.
Então eu fui até a cama dele e ajoelhei ao seu lado.
- Acorde, filhinho, acorde. Estas são as flores que você pegou para mim?
Ele sorriu:
- Eu as encontrei embaixo da árvore. Eu as peguei porque as achei tão
bonitas como você! Eu sabia que-você iria gostar, especialmente da azul.
Eu disse:
- Filho, eu sinto muito pela maneira como agi hoje. Eu não devia ter
gritado com você daquela maneira.
Ele disse:
- Ah, mamãe, não tem problema, eu amo você mesmo assim.
Eu disse:
- Filho, eu também amo você. E eu adorei as flores, especialmente a azul.
Você já parou para pensar que, se morrermos amanhã, a empresa para a
qual trabalhamos poderá facilmente nos substituir em uma questão de
dias. Mas as pessoas que nos amam, a família que deixamos para trás,
sentirão essa perda para o resto de suas vidas. Nós raramente paramos
para pensar nisso. Às vezes, colocamos nosso esforço em coisas muito
menos importantes do que nossa família, as pessoas que nos amam, e não
nos damos conta do que realmente estamos perdendo. Perdemos o tempo
de ser carinhosos, de dizer um "Eu te amo", de dizer um "Obrigado", de
dar um sorriso ou de dizer o quanto cada pessoa é importante para nós.
Ao invés disso, muitas vezes agimos com rudeza e não percebemos o quan-
to isso machuca os nossos queridos. A família é o nosso maior bem.

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Vida e sabedoria

. . . . O caminho das pedras

P or muitos anos, três amigos - um pastor, um rabino e um


padre - costumavam pescar num lago de águas calmas. O
pastor foi transferido e, em seu lugar, chegou à cidade o substituto, que
logo se entrosou com os dois amigos. Convidado para fazer parte da pes-
caria, ele acompanhou o rabino e o padre.
Logo no início, o rabino jogou sua linha que, sem querer, embaraçou-se
com a linha do padre. O rabino foi logo se desculpando:
- Padre, desculpa, foi culpa minha, deixa que eu resolvo. E, sem perder
tempo, saiu do barco, caminhou sobre as águas até onde as linhas tinham
se embaraçado. Soltando-as, voltou para o barco.
O novo pastor, chocado com o milagre, manteve sua postura como se nada
tivesse acontecido. Continuaram a pescar. Minutos depois, novamente as li-
nhas se embaraçaram e, desta vez, o padre assumiu a culpa:
- Pastor, mil desculpas, mas resolvo isto logo. E, saindo do barco, como o
rabino havia feito, foi andando sobre as águas até determinado local onde
desembaraçou as linhas e voltou para o barco. Espantado, mas tentando de-
monstrar tranqüilidade, o novo pastor procurou uma explicação para mais
aquele milagre.
Mas novamente as linhas se embaraçaram, e foi a vez do pastor tomar a
iniciativa. Cheio de fé, saiu logo dizendo:
- Rabino, foi culpa minha. Deixa que eu vou lá. E, saindo do barco, no
primeiro passo afundou direto, levando um grande susto.
O rabino, notando o desconforto do novo pastor dentro da água, voltou-se
agora para o padre - que observava tudo do barco - e disse:
- Padre, acho que devíamos ter mostrado ao novo pastor o caminho das
pedras.
É isto que se espera de um líder: que indique à sua equipe "o caminho
das pedras". Mostrar por onde deverão seguir para atingir seus objetivos,
apontar os caminhos para a maior produtividade. É isto que as pessoas
esperam de um líder: que este aponte o que elas têm que fazer para conse-
guir melhores resultados. Querem ouvir dicas e macetes, buscam um rumo,
uma direção, que os leve ao sucesso.

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Um verdadeiro líder de equipe não necessita guardar para si "o caminho das
pedras", com medo de perder sua posição. Também não pode deixar de tentar
encontrar esse caminho por si próprio e então levar todos eles a mergulharem
no lago, sem esperanças de chegar até os objetivos. Aí só mesmo um milagre!

. . . . A reação dos macacos

G rupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula. No


meio, uma escada e sobre esta, um cacho de bananas.
Quando um macaco subia para pegar as bananas, os cientistas jogavam
um jato de água fria naqueles que estavam no chão.
Depois de certo tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros o
pegavam e o enchiam de pancadas. Com mais algum tempo, nenhum ma-
caco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas.
Então os cientistas substituíram um dos macacos por um novo. A primei-
ra coisa que este fez foi subir a escada, sendo retirado dela pelos outros,
que o surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante não subia
mais a escada.
Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substi-
tuto participado com entusiasmo da surra ao novato. Um terceiro foi colo-
cado, e o mesmo ocorreu. Um quarto e, afinal, o último dos veteranos foi
substituído.
Os cientistas ficaram com um grupo de cinco macacos, que, mesmo nun-
ca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que ten-
tasse pegar as bananas.
Se fosse possível perguntar a algum deles por que eles batiam em quem
tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
- Não sei, mas as coisas sempre foram assim por aqui.

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Vida e sabedoria

. . . . Estrela verde

E
vermelhas...
ram uma vez milhões e milhões de estrelas no céu. Havia
estrelas de todas as cores: brancas, lilás, prateadas, azuis,

Um dia, elas procuraram o Senhor, Deus do Universo, e disseram:


- Senhor Deus! Gostaríamos de viver na terra entre os seres humanos.
- Assim será feito, respondeu Deus. Conservarei todas vocês pequeninas
como são vistas e poderão descer à terra.
Conta-se que, naquela noite, houve uma linda chuva de estrelas: algumas
semearam-se nas torres das igrejas; outras foram brincar e correr com os
vaga-lumes no campo; outras misturaram-se aos brinquedos das crian-
ças, e a terra ficou maravilhosamente iluminada.
Porém, com o passar do tempo, as estrelas resolveram abandonar os se-
res humanos e voltar para o céu, deixando a terra escura e triste.
- Por que voltaram?, perguntou Deus à medida que elas chegavam ao céu.
- Senhor, não foi possível permanecer na terra: lá existem muita miséria,
muita desgraça, violência, fome, guerra, doença, muita maldade.
E o Senhor lhes disse:
- Claro, o lugar real de vocês é aqui no céu. A terra é o lugar do transitó-
rio, daquilo que passa, daquele que cai, que erra, que morre, onde nada é
perfeito. Aqui no céu é o lugar da perfeição, onde tudo é imutável, eterno,
onde nada perece...
Depois de terem chegado todas as estrelas, conferido o seu número, Deus
falou de novo:
- Mas está faltando uma estrela. Perdeu-se no caminho?
Um anjo que estava por perto retrucou:
- Não, Senhor, uma estrela resolveu ficar entre os seres humanos. Ela
descobriu que o seu lugar é lá onde há imperfeição, limites, onde as coi-
sas não vão bem.
- Mas que estrela é essa?, voltou Deus a perguntar. - Qual é a cor dessa

21
100 estórias

estrela?, insistiu Deus. Por coincidência, era a única estrela daquela cor.
- A estrela é verde, Senhor. A estrela verde do sentimento da esperança.
Então, quando olharam para a terra, ela já não estava só. A terra estava
novamente iluminada, porque havia uma estrela verde no coração de cada
pessoa, pois o único sentimento que a pessoa tem e Deus não é a espe-
rança, porque Deus já conhece o futuro.
A esperança é própria da natureza humana. É própria daquele que cai,
que erra, que não é perfeito, daquele que ainda não sabe como será seu
futuro.

. . . . O guerreiro cruel

E ra uma vez um guerreiro muito forte, muito musculoso,


que tinha uma espada muito afiada. A sua fama era de
mau. Quando ele chegava com seu exército numa cidade, invadia as ca-
sas, matava as pessoas, espalhando terror por onde passava. Todo mundo
tinha medo desse guerreiro, porque era forte e poderoso.
Certo dia, ele chegou perto de uma pequena aldeia onde vivia um velhi-
nho muito sábio. Quando as pessoas ouviram falar de sua aproximação,
muitas trataram de agarrar o que podiam carregar e fugiram, tentando
salvar as suas vidas. Afinal, por onde esse guerreiro passava com sua
espada, ali deixava seu rastro de morte e destruição.
Quando chegou perto da aldeia do velhinho sábio, o guerreiro já mandou
avisar que dessa vez não iria sobrar ninguém para contar história. Quem
quer que ele encontrasse morreria pelo fio da espada.
Enfim, o guerreiro chegou na casa do velhinho. Ele deu um pontapé tão
forte na porta, que ela caiu abaixo. Lá dentro estava o velhinho, sentado.
- Levanta daí, seu velho, que hoje chegou o teu dia, disse o guerreiro.
- Mas eu já sou muito velho e por isso gostaria de lhe fazer um último
pedido antes de morrer, disse o velhinho.

22
Vida e sabedoria

- Um último pedido?... Está bem, mas que seja rápido, que não estou com
muita paciência.
- Eu gostaria que o senhor fosse até lá fora e com sua espada, num golpe
só, cortasse o galho de uma árvore, disse o velhinho.
- O quê? Que último pedido mais besta é esse? Que eu corte o galho de
uma árvore? Que pedido mais bobo! Mas tudo bem, essa vai ser fácil,
disse o guerreiro. E num só golpe, o guerreiro ergueu a sua espada e
cortou o galho da árvore.
- Muito bem, disse o velhinho. - Agora eu quero que o senhor ponha o
galho no mesmo lugar de onde o cortou e que o galho fique preso à árvore
do mesmo jeito que estava antes de ser cortado.
- Quê? Esse velho deve ser louco. Ninguém pode fazer isso, disse o guer-
reiro.
- Louco é o senhor, disse o velhinho, que pensa que é forte só porque sabe
matar e destruir. Forte e poderoso é aquele que sabe unir, juntar, criar,
curar, perdoar.

. . . . Zé da Gaitinha

E ra uma vez um homem que colecionava notas musicais. As


estantes de sua casa estavam cheias de livros, contendo as
notas musicais das mais belas músicas, melodias e partituras compostas
pelos compositores de todas as épocas. Todo dinheiro possível este ho-
mem gastava em adquirir mais notas e livros musicais. Procurava sem-
pre as edições mais importantes e valiosas de partituras musicais. Ele
selecionava com todo o cuidado. Tinha grande alegria em ver sua coleção
crescer. Era uma coleção valiosa.
Certo dia, a campainha de sua casa tocou: era um simples andarilho. A
sua aparência não era das melhores. Ele se apresentou como "Zé da
Gaitinha" . O colecionador levou seu hóspede mendigo até a sala para lhe
dar algo para comer.

23
100 estórias

Zé da Gaitinha ficou admirado ao olhar para as estantes repletas de li-


vros caros e bonitos: os livros musicais. Ele então perguntou ao dono da
casa que livros belos eram aqueles. O dono da casa respondeu que eram
livros com partituras musicais. O Zé da Gaitinha logo perguntou:
- Oh, você toca algum instrumento? Usa estes livros musicais que com-
pra com tanto sacrifício?
Meio sem jeito, o dono da casa respondeu:
- Não, eu não toco nenhum instrumento musical. Não tenho tempo para
tocar as notas musicais. Meu tempo mal dá para colecionar notas.
O Zé da Gaitinha ficou em silêncio por alguns instantes e então tirou a
sua velha gaitinha de boca de sua sacola e começou a tocar. Ele não toca-
va com perfeição, mas a melodia era alegre e animadora, pois tocava de
coração.
Ao se despedir do dono da casa, Zé da Gaitinha disse:
- É, as coisas são assim. Alguns passam a vida inteira colecionando no-
tas musicais para encher belas estantes, outros fazem de sua vida uma
constante música, que encanta e alegra!
Fiquei pensando nas palavras de Zé da Gaitinha. Colecionar ou viver
música. Juntar boas idéias ou torná-las carne e osso em meu viver diário.
De que adiantam as belas experiências e descobertas que fazemos duran-
te nossa vida, se apenas as colocamos em livros e não se tornam vivência
concreta! Não adianta colecionar na cabeça as mais belas intenções e
verdades, se elas não criam pés e mãos em nosso viver diário. Não colecio-
nar apenas bonitas músicas, mas fazer de sua vida uma bela melodia.
Certamente vamos ter muitas oportunidades para isso hoje. Olhemos para
Deus e deixemos que ele use nossa vida como bênção para pessoas que
estão ao nosso redor.

24
Vida e sabedoria

. . . . Ouvindo o inaudível

U m rei mandou seu filho ir estudar no templo com seu gran-


de mestre. O objetivo era preparar o príncipe, que iria su-
ceder o pai no trono, para ser um grande administrador. Quando o prínci-
pe chegou ao templo, o mestre logo o mandou, sozinho, à floresta. Ele
deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever os sons da flores-
ta. Passado o prazo, o príncipe retornou, e o sábio lhe pediu para descre-
ver os sons de tudo aquilo que tinha conseguido ouvir.
- Mestre, disse o príncipe, pude ouvir os cantos dos cucos, o roçar das
folhas, a brisa batendo suavemente na grama, o zumbido das abelhas e o
barulho do vento cortando os céus.
Quando terminou, o mestre mandou-o de volta à floresta para ouvir tudo
mais que fosse possível. O jovem ficou intrigado com a ordem do mestre.
Ele já não tinha distinguido cada som da floresta?
Por longos dias e noites, o príncipe se sentou sozinho na floresta, ouvin-
do, ouvindo. Mas não conseguiu distinguir nada de novo além daqueles
sons já mencionados ao mestre. Então, certa manhã, sentado entre as ár-
vores da floresta, começou a discernir sons vagos, diferentes de tudo o
que ouvira antes. Quanto mais atenção prestava, mais claros se torna-
vam os sons. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. "Es-
ses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse", pensou. Sem
pressa, o príncipe passou horas ali, ouvindo e ouvindo, pacientemente.
Queria ter a certeza de que estava no caminho certo.
Quando o príncipe retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais
ele tinha conseguido ouvir.
- Mestre, respondeu reverentemente o príncipe, quando prestei mais aten-
ção, pude ouvir o inaudível - o som das flores se abrindo, do sol aquecendo
a terra e da grama bebendo o orvalho da manhã.
O mestre acenou com a cabeça em sinal de aprovação.
- Ouvir o inaudível é ter a disciplina necessária para se tornar um grande
administrador, observou o sábio. - Apenas quando aprende a ouvir o cora-
ção das pessoas, seus sentimentos mudos, os medos não confessados e as
queixas silenciosas, um administrador pode inspirar confiança no seu povo,
entender o que está errado e atender as reais necessidades dos cidadãos. A

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100 estórias

. . . . O preço mais alto

Um homem por trás de um balcão olhava a rua de forma


distraída. Uma garotinha se aproximou da loja e amassou
o narizinho contra o vidro da vitrine.
Os olhos da cor do céu brilharam quando viram um certo objeto. Ela
entrou na loja e pediu o colar de turquesa azul.
- É para minha irmã. Pode fazer um pacote bem bonito?, disse ela.
O dono da loja olhou desconfiado para a garotinha e perguntou:
- Quanto dinheiro você tem?
Sem hesitar, ela tirou do bolso da saia um lenço todo amarradinho e foi
desfazendo os nós. Colocou-o sobre o balcão e disse feliz:
- Isso dá?
Eram apenas algumas moedas, que ela exibia orgulhosa.
- Sabe, quero dar este presente para minha irmã mais velha. Desde que
nossa mãe morreu, ela cuida da gente e não tem tempo para ela. É aniver-
sário dela, e tenho certeza de que ficará feliz com o colar, que é da cor dos
seus olhos.
O homem foi para o interior da loja, colocou o colar em um estojo, embru-
lhou-o com um vistoso papel vermelho e fez um laço caprichado com
uma fita verde.
- Toma, disse ele para a garota. Leva com cuidado.
Ela saiu feliz, saltitando pela rua. Ainda não acabara o dia quando uma
linda jovem de cabelos loiros e maravilhosos olhos azuis entrou na loja.

26
Vida e sabedoria

Colocou sobre o balcão o já conhecido embrulho desfeito e indagou:


- Este colar foi comprado aqui?
- Sim, senhora, disse o dono da loja.
- Quanto custou?
- Ah, falou o dono da loja, o preço de qualquer produto da minha loja é
sempre um assunto confidencial entre o vendedor e o cliente.
A moça continuou:
- Mas minha irmã tinha somente algumas moedas! O colar é verdadeiro,
não é? Ela não teria dinheiro para pagá-lo.
O homem tomou o estojo, refez o embrulho com extremo carinho, colocou
a fita e o devolveu à jovem e disse:
- Ela pagou o preço mais alto que qualquer pessoa poderia pagar. Ela
deu tudo o que tinha.

. . . . Águia entre galinhas

U m certo homem, enquanto caminhava pela floresta, encon-


trou uma pequena águia. Levou-a para casa, colocou-a no
seu galinheiro, onde logo ela aprendeu a se alimentar como as galinhas e
a se comportar como estas.

Um dia, um naturalista que ia passando por ali perguntou-lhe por que


uma águia, a rainha de todos os pássaros, deveria ser condenada a viver
com as galinhas.
- Depois que dei comida de galinha e a eduquei para ser uma galinha, ela
nunca aprendeu a voar, replicou o dono. - Ela se comporta como uma
galinha; não é mais uma águia.
- Mas... - insistia o naturalista - ... ela tem coração de águia e certamente

27
100 estórias

poderá aprender a voar.


Depois de falar muito sobre o assunto, os dois homens concordaram em
descobrir se isso seria possível. Cuidadosamente, o cientista pegou a águia
nos braços e disse:
- Você pertence ao céu e não à terra. Bata bem as asas e voe.
A águia, entretanto, estava confusa; não sabia quem era e, vendo as gali-
nhas comendo, pulou para juntar-se a elas. Inconformado, o naturalista
levou a águia no dia seguinte para uma montanha alta. Lá segurou a rai-
nha dos pássaros bem no alto e encorajou-a de novo, dizendo:
- Você é uma águia. Você pertence ao céu e não à terra. Bata bem
agora e voe.
A águia olhou em torno, olhou para o galinheiro e para o céu. Ainda não
voou. Então o cientista levantou-a na direção do sol, e a águia começou a
tremer, lentamente abriu clS clSclS. Finalmente, com um grito de triunfo,
levantou vôo para o céu.
Pode ser que a águia ainda se lembre das galinhas com saudades; pode
ser que ainda ocasionalmente torne a visitar um galinheiro. Mas até onde
foi possível saber, nunca mais voltou a viver como galinha. Ela era uma
águia, embora tivesse sido mantida e domesticada como galinha.
Será que, sendo águias, estamos vivendo entre galinhas? Viver é ter coragem,
é assumir, é ser consciente, é ser alguém, sem ser apenas mais um. O que
mais precisamos na vida é de alguém que nos leve a realizar o que podemos
fazer, ou seja, a voar como águias. Nisso reside a função de um amigo.

. . . . Olhar para dentro de si

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Vida e sabedoria

- Com certeza, respondeu o espelho, existe alguém mais triste do que


você neste momento. E este alguém sou eu.
O rapaz olhou espantado. O espelho continuou:
- Você não imagina a dor que eu sinto ao ver, no meu reflexo, uma pessoa
que deixou seus problemas tomarem conta de sua vida, que não tem mais
vontade de lutar e, principalmente, que não consegue ver dentro de si as
suas qualidades, suas capacidades, seu talento.
- É pena que você não veja através de mim toda a sua facilidade em lidar
com as pessoas, o quanto encantadora é a sua voz, o quanto seu coração
é forte e o quanto as pessoas o amam. Olhe para você! Levante essa cabe-
ça, pois dificuldades todos temos, assim como todos guardam dentro de si
uma estrela, algo especial, a capacidade de tornar a própria vida prazerosa.
Quantas são as pessoas que gostariam de ser como você: saudável, inteli-
gente e com toda uma vida pela frente! Use sua sensibilidade - ela é es-
sencial para a vida. Motive-se: ao acordar pela manhã, pense em algo do
tipo "hoje meu dia será produtivo". Faça isso com amor no coração e con-
centre-se em seus objetivos. Amigo, a vida é tão curta. Não perca tempo
com os momentos ruins. Faça deles experiência positiva para continuar.
A felicidade plena depende do nosso amor próprio. Sonhe muito, faça
planos e, acima de tudo, sinta-se capaz - para que os outros também
possam senti-lo.

. . . . Três homens de barba

Uma mulher saiu de sua casa e viu três homens com longas
barbas brancas, sentados em frente ao quintal dela. Ela
não os reconheceu.
Ela disse:
- Acho que não os conheço, mas devem estar com fome. Por favor, entrem
e comam algo.
- O homem da casa está?, perguntaram.

29
100 estórias

- Não, disse ela, está fora.


- Então não podemos entrar, responderam eles.
À noite, quando o marido chegou, ela contou-lhe o que aconteceu.
- Vá, diga que estou em casa e convide-os a entrar.
A mulher saiu e convidou-os a entrar.
- Não podemos entrar juntos, responderam.
- Por que isto?, quis ela saber.
Um dos velhos explicou-lhe:
- Seu nome é Fartura, disse ele, apontando para um dos seus amigos e,
mostrando o outro, falou:
- Ele é o Sucesso, e eu sou o Amor.
E completou:
- Agora vá e discuta com o seu marido qual de nós você quer em sua
casa.
A mulher entrou e falou ao marido o que foi dito. Ele ficou arrebatado e
disse:
- Que bom!
Ele continuou:
- Neste caso, vamos convidar a Fartura. Deixe-os vir e encher nossa casa
de Fartura.
A esposa discordou:
- Meu marido, por que não convidamos o Sucesso?
A cunhada deles ouvia do outro canto da casa. Ela apresentou sua suges-
tão:
- Não seria melhor convidar o Amor? Nossa casa então estará cheia de
amor.
- Vamos ouvir o conselho da nossa cunhada, disse o marido à esposa.
- Vá lá fora e chame o Amor para ser nosso convidado.
A mulher saiu e perguntou aos três homens:

30
Vida e sabedoria

- Qual de vocês é o Amor ? Por favor, entre e seja nosso convidado.


O Amor levantou-se e seguiu em direção à casa. Os outros dois levanta-
ram-se e seguiram-no.
Surpresa, a senhora perguntou-lhes:
- Apenas convidei o Amor. Por que vocês entraram?
Os velhos homens responderam juntos:
- Se você convidasse a Fartura ou o Sucesso, os outros dois esperariam
aqui fora. Mas se você convidar o Amor, onde ele for, iremos com ele.
Onde há Amor, também há Fartura e Sucesso.

. . . . Arvore dos problemas

E u tinha contratado um carpinteiro para ajudar-me a con-


sertar um armário. O dia dele não tinha sido fácil: traba-
lhou duro, sua máquina de cortar madeira estragou, ele perdeu uma hora
de trabalho e, na hora de sair, seu velho caminhão se negava a arrancar.
Levei-o para casa. Ele estava sentado ao meu lado. Não falou nada. Quan-
do chegamos, convidou-me para conhecer sua família. Caminhando até a
porta, ele parou um momentinho diante de uma pequena árvore e tocou-a
com suas mãos nas pontas dos galhos.
Quando se abriu a porta, aconteceu uma transformação surpreendente: a
cara braba dele estava iluminada por um grande sorriso. Abraçou os fi-
lhos e deu um beijo em sua esposa.
Mais tarde, ele me acompanhou até o carro. Quando passamos perto da
árvore, fiquei curioso e lhe perguntei sobre o que tinha observado antes:
- Oh, esta é a minha árvore de problemas, respondeu ele. Sei que não
tenho como evitar problemas no trabalho, mas uma coisa sei: eles não
pertencem à minha casa, nem à minha esposa e nem aos meus filhos. Por
isso, eu simplesmente os penduro na árvore quando chego em casa de

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100 estórias

noite. Na manhã seguinte, eu os recolho de novo.


- O engraçado é, disse ele sorrindo, que, quando saio de manhã para
recolhê-los, nunca há tantos problemas como me lembro de ter colocado
na noite anterior...

. . . . Sadako e a garça

E la era uma menina japonesa, nascida na cidade de


Hiroshima. Nasceu em 1942. Em 1945, os americanos lan-
çaram sobre Hiroshima uma bomba atômica, que matou mais de 300 mil
pessoas num só dia. Sadako tinha três anos e sobreviveu a toda aquela
tristeza de morte e destruição. Sadako foi crescendo. Era uma menina
alegre, gostava de estudar e também de praticar esportes. Estava se tor-
nando uma atleta.
Com 10 anos, quando estava participando de uma corrida, começou a se
sentir mal. Suas pernas ficaram bambas, e ela desmaiou. Foi levada às
pressas ao hospital. Os médicos diagnosticaram que Sadako estava com
a doença da bomba. Muitas pessoas morreram quando a bomba explodiu,
mas outras sofreram as conseqüências da bomba por um período muito
longo. Sadako estava com leucemia.
Certo dia, uma amiga da escola de Sadako foi visitá-la. Levou para ela
uma dobradura de uma garça. A garça é uma ave muito querida entre os
japoneses. A amiga de Sadako, entregando a dobradura, disse que, se ela
fizesse 1.000 dobraduras como aquela, ela poderia realizar um desejo,
pois existe uma lenda que diz que a garça vive mil anos. Sadako chegou a
dobrar 646 garças e morreu.
No dia do seu enterro, vieram crianças e trouxeram 354 garças dobradas,
aquelas que faltavam para completar 1.000. Mil dobraduras de garças fo-
ram colocadas no túmulo de Sadako. O desejo dela era que no mundo
houvesse PAZ, que nenhuma criança morresse em conseqüência da guer-
ra, que entre as pessoas pudesse haver mais PAZ e AMOR. A garça ficou
conhecida como símbolo da PAZ. Na cidade de Hiroshima, ergueram um
monumento em homenagem a Sadako.

32
Vida e sabedoria

É importante parar e nos perguntar se, de fato, desejamos nos integrar à


luta pela PAZ. Deus quer a PAZ. Quem quer a guerra é o homem. Talvez não
consigamos lutar pela PAZ no mundo, mas podemos lutar pela PAZ no meio
em que vivemos. Podemos amar e odiar menos, podemos estender as nossas
mãos para ajudar em vez de escondê-las. Enfim, construindo a PAZ em
nosso meio, estamos também contribuindo para que haja mais PAZ no
mundo. E quem sabe, assim poderemos dizer: Glória a Deus nas maiores
alturas do céu! E PAZ na terra para as pessoas a quem Ele quer bem!

. . . . A rosa branca

C onta-se que um escritor e poeta alemão, que passou uma


temporada em Paris, cruzava regularmente por uma praça
na qual estava sentada uma mendiga. Ali ela costumava mendigar. Era seu
ponto fixo para defender a vida. Com sua mão estendida, recebia as esmo-
las. Não olhava para quem dava. Não pedia nada. Não agradecia por nada.
O escritor, nas muitas vezes em que por ali passou, nunca colocara algo na
mão da pedinte. O amigo que acompanhava o escritor e poeta, no entanto,
sempre dava alguns trocados para ela. Um dia, o amigo perguntou ao escri-
tor por que ele não dava nada para a pobre mulher. O escritor respondeu:
- Temos que presentear algo ao seu coração e não somente colocar algo
em suas mãos.
Dias mais tarde, o escritor trouxe uma linda rosa branca, que acabara de
abrir. Com cuidado, colocou a rosa nas mãos abertas, magras e enrugadas
da mendiga e quis ir adiante, quando o inesperado aconteceu. A mendiga
levantou os olhos, olhou para o doador da rosa. Levantou-se com dificul-
dade, pegou a mão do escritor, beijou-a e foi embora, feliz com sua rosa.
Durante uma semana, ela não mais apareceu naquele lugar. O lugar fica-
ra vazio esse tempo todo. Após oito dias, ela apareceu de novo. Assumiu
seu velho jeito de ser: silenciosa, com a mão estendida.
O amigo do escritor perguntou a ele:
- De que viveu esta senhora pobre durante a semana?
- Da rosa, respondeu o escritor.

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100 estórias

. . . . Pegadas na areia

C erta noite, eu tive um sonho...


Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e, atra-
vés do céu, passavam cenas da minha vida.
Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de
pegadas na areia: um era o meu, e o outro era do meu Senhor.
Quando a última cena da minha vida passou diante de nós, olhei para
trás, para as pegadas na areia, e notei que muitas vezes no caminho da
minha vida havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei, também, que isso acontecia nos momentos mais difíceis e angustio-
sos do meu viver. Isso aborreceu-me deveras, e perguntei então ao Se-
nhor:
- Senhor, tu me disseste que, uma vez que eu resolvi te seguir, tu andarias
sempre comigo, todo o caminho. Mas notei que, durante as maiores tribu-
lações do meu viver, havia na areia dos caminhos da vida apenas um par
de pegadas. Não compreendo por que nas horas em que eu mais necessi-
tava de ti tu me deixaste.
O Senhor respondeu:
- Meu precioso filho, eu te amo e jamais te deixaria nas horas de tua
prova e do teu sofrimento. Quando viste na areia apenas um par de pega-
das, foi exatamente aí que eu te carreguei nos braços.
Quando você estiver precisando de força ou coragem, ou um pouco mais
de fé para chegar ao fim do dia, peça ao Senhor. Quando se sentir triste
ou sozinho, recorra ao Senhor, confie no Senhor, ame o Senhor. Ele ouve
cada oração do seu coração, porque ele ama você.

34
Vida e sabedoria

Solidariedade entre porcos-espinhos

O inverno prometia ser muito frio. As geadas apareceram


cedo. Já em meados de abril, os casacos tiveram que sair
do armário para aquecer as pessoas. Além do inverno, apareceram as
doenças típicas dessa estação.
Também os animais estavam sofrendo bastante. Alguns já apareceram
mortos depois de uma noite muito fria. Morreram indefesos diante das
baixas temperaturas e do alto grau de umidade.
Foi aí que um grande grupo de porcos-espinhos decidiu fazer algo para
garantir a sobrevivência. Alguém sugeriu que ficassem juntos e bem per-
to uns dos outros. O calor de seus corpos poderia aquecer uns aos outros,
de forma que todos ficassem aquecidos nas noites frias. E assim fizeram.
Passou o tempo, e começaram as reclamações. Um reclamava daqui, ou-
tro dali, um não queria ficar perto deste, preferia aquele, e assim por
diante. A situação foi se agravando. Uns começaram a falar mal dos ou-
tros. Quanto mais se tornavam nervosos, os seus espinhos ficavam
ouriçados, até que esses espinhos começaram a ferir uns aos outros. Já
não podiam ficar juntos por causa dos seus espinhos.
Feridos e magoados uns com os outros, resolveram se separar. Não dava
mais para continuar juntos. Por isso, foram se afastando uns dos outros
até a completa separação.
Mas o inverno continuava. As noites eram muito frias. Alguns porcos-
espinhos chegaram a morrer congelados. E a cada noite a situação ficava
mais difícil. Logo, resolveram reunir-se outra vez para tratar do proble-
ma. Decidiram que, para viver juntos e sobreviver àquele inverno, preci-
sariam tomar algumas precauções. Viveriam unidos, mas conservariam
respeito uns para com os outros. Todos deveriam entender que ali uns
precisavam dos outros.

35
100 estórias

. . . . Objetivos do ser humano

C onta-se que, em certa época, viveu um homem que tinha


grandes objetivos na cabeça, mas que não via a oportuni-
dade de colocá-los em ação.
Quando era garoto, esse homem pensava:
- Vou fazer uma grande obra, que deixará marcada minha passagem por
este mundo, mas agora tenho que trabalhar para ajudar meus pais e não
tenho tempo. Quando entrar no ginásio, eu o farei.
Aí ele entrou no ginásio, mas os estudos se complicaram, e ele pensou:
- Agora não tenho tempo, porque tenho muita matéria para estudar. Mas
quando entrar na faculdade, o mundo verá do que sou capaz.
Os anos passaram, e ele entrou na faculdade, mas as atividades acadêmi-
cas, as dependências em certas matérias e o convívio com os colegas fize-
ram-no pensar:
- Bom, ainda não deu, mas assim que me formar, tomarei todas as provi-
dências necessárias para a realização de meus objetivos. Ele se formou,
mas se viu envolvido no torvelinho da vida, casou-se com uma colega de
faculdade e teve que arranjar um emprego. Pensou:
- Logo que conseguir comprar minha casa, já terei tempo disponível para
a grande tarefa a que me propus.
Mas, mal acabara de comprar sua casa, surgiram os filhos e os proble-
mas típicos da vida familiar, o tratamento dentário da esposa, contas a
pagar, aumento do custo de vida, salários que nunca sobem proporcional-
mente, a inflação, etc...
E ele pensou:
- Não tem jeito mesmo. Vou ter que pôr de lado meus objetivos até que as
crianças tiverem crescido. Enquanto isso, estarei adquirindo experiên-
cia e mais tarde poderei realizá-los plenamente.
Mas, depois que as crianças se tornaram adultas, vieram as noras e os
genros, os netos e as netas, aumentaram as atividades em família e o
tempo disponível se tornou ainda mais exíguo.

36
Vida e sabedoria

E o homem mais uma vez pensou:


- É, parece que ainda não é desta vez, mas dentro de cinco anos me apo-
sento e então terei todo o tempo do mundo para fazer tudo o que desejar.
Mas, mal se aposentou, aquele homem morreu.

. . . . O riacho e o pântano

E ra uma vez um riacho de águas cristalinas, muito bonito,


que serpenteava entre as montanhas.
Em certo ponto de seu percurso, ele notou que à sua frente havia um
pântano imundo, por onde deveria passar.
Olhou, então, para Deus e protestou:
- Senhor, que castigo! Eu sou um riacho tão límpido, tão formoso, e o
Senhor me obriga a atravessar um pântano sujo como esse! Como faço
agora?
Deus respondeu:
- Isso depende da sua maneira de encarar o pântano. Se ficar com medo,
você vai diminuir o ritmo de seu curso, dará voltas e, inevitavelmente,
acabará misturando suas águas com as do pântano, o que o tornará igual
a ele. Mas se você o enfrentar com velocidade, com força, com decisão,
suas águas se espalharão sobre ele, a umidade as transformará em gotas
que formarão nuvens, e o vento levará essas nuvens em direção ao ocea-
no. Aí você se transformará em mar.
Assim é a vida. As pessoas engatinham nas mudanças. Quando ficam
assustadas, paralisadas, pesadas, tornam-se tensas e perdem a fluidez e a
força. É preciso entrar para valer nos projetos da vida, até que o rio se
transforme em mar.
Se uma pessoa passar a vida toda evitando sofrimento, também acabará
evitando o prazer que a vida oferece. Há milhares de tesouros guardados
em lugares onde precisamos ir para descobri-los.

37
100 estórias

Não procure o sofrimento. Mas, se ele fizer parte da conquista, enfrente-o


e supere-o. Arrisque, ouse, avance na vida. Ela é uma aventura gratifican-
te para quem tem coragem de arriscar.

. . . . Potencial humano

O s deuses da Grécia Antiga, temerosos de que as pessoas


descobrissem seu próprio potencial e ciumentos de que
assim pudessem chegar ao nível deles, realizaram uma longa reunião para
decidir a maneira mais concreta de ocultar aos seres humanos esse po-
tencial.
Várias foram as propostas. Houve quem pensasse em esconder o potencial
humano nos abismos mais imperscrutáveis dos oceanos, mas foi lembrado
que o ser humano penetraria no fundo dos mares. Outro propôs ocultar
esse potencial nas montanhas mais altas da Terra, mas tal proposta não foi
aceita, porque o ser humano as escalaria.
Outro sugeriu esconder tal riqueza na Lua, mas salientou-se que, no futu-
ro, o ser humano iria habitá-la.
Por fim, todos aceitaram uma estranha proposta: todo aquele poder inco-
mensurável, o potencial humano, deveria ser escondido... dentro do pró-
prio ser humano.
Como justificativa para tal resolução os deuses disseram:
- O ser humano é tão distraído e voltado para fora de si, que nunca pensa-
rá em encontrar seu potencial máximo dentro do seu próprio ser.

38
Vida e sabedoria

. . . . O peso da oração

U ma pobre senhora, com visível ar de derrota estampado no


rosto, entrou num armazém, aproximou-se do proprietá-
rio, conhecido pelo seu jeito grosseiro, e lhe pediu fiado alguns manti-
mentos. Ela explicou que o seu marido estava muito doente, que não po-
dia trabalhar e que tinha sete filhos para alimentar. O dono do armazém
pediu que ela se retirasse do estabelecimento.
Pensando na necessidade da sua família, ela implorou:
- Por favor, senhor, eu lhe darei o dinheiro assim que eu tiver.
O comerciante respondeu que ela não tinha crédito e nem conta na sua loja.
Em pé no balcão ao lado, um freguês que assistia a conversa entre os dois
aproximou-se do dono do armazém e lhe disse que ele deveria dar o que
aquela mulher necessitava para sua família por sua conta.
Então o comerciante falou meio relutante para a pobre mulher:
- Você tem uma lista de mantimentos?
- Sim, respondeu ela.
- Muito bem, coloque a sua lista na balança e o peso dela eu lhe darei em
mantimentos.
A pobre mulher hesitou por uns instantes e, com a cabeça curvada, reti-
rou da bolsa um pedaço de papel, escreveu alguma coisa e o depositou
suavemente na balança.
Os três ficaram admirados quando o prato da balança com o papel des-
ceu e permaneceu embaixo. Completamente pasmado com o marcador da
balança, o comerciante virou-se lentamente para o seu freguês e comen-
tou contrariado:
- Eu não posso acreditar!
O freguês sorriu, e o homem começou a colocar os mantimentos no outro
prato da balança.
Como a escala da balança não equilibrava, ele continuou colocando mais
e mais mantimentos, até não caber mais nada.

39
100 estórias

O comerciante ficou parado ali por uns instantes, olhando para a balan-
ça, tentando entender o que havia acontecido... Finalmente, ele pegou o
pedaço de papel da balança e ficou espantado, pois não era uma lista de
compras e sim uma oração que dizia:
"Meu Senhor, o Senhor conhece as minhas necessidades, e eu estou dei-
xando isto em suas mãos..."
O homem deu as mercadorias à pobre mulher no mais completo silêncio,
que agradeceu e deixou o armazém.
O freguês pagou a conta e disse:
- Valeu cada centavo...
Só mais tarde, o comerciante pôde reparar que a balança havia quebra-
do. Entretanto, só Deus sabe quanto pesa uma oração.

. . . . O pinheirinho insatisfeito

ma arvorezinha do mato sempre estava triste e ficava se


queixando:
- Por que eu não tenho folhas tão bonitas como as do ipê? Ou, pelo menos,
como as do abacateiro, que está lá naquele pomar? Eu sou um simples
pinheirinho. Minhas folhas são tão espinhosas! Ninguém vai gostar de mim.
O Criador disse bondosamente ao pinheirinho:
- Você mesmo pode escolher as folhas que quer ter.
Muito contente, o pinheirinho exclamou:
- Eu quero que as minhas folhas amanhã sejam todas de vidro transpa-
rente.
E, de fato, quando o sol começou a brilhar, a arvorezinha viu que todas as suas
folhas eram de vidro finíssimo e transparente. O brilho era maravilhoso!
- Agora eu sou a árvore mais bonita entre todas as outras!

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Vida e sabedoria

Mas, durante a tarde, veio uma tempestade. O vento forte quebrou todas
as folhas de vidro, que caíram no chão.
O pinheiro chorou muito e pediu ao Criador:
- Eu desejo que minhas folhas amanhã sejam todas de ouro.
Assim aconteceu, e ele ficou muito feliz com esta riqueza toda. Mas, duran-
te o dia, um homem passou com um saco grande pelo mato. Quando viu a
arvorezinha com as folhas de ouro, tirou-as e colocou-as dentro do saco.
Novamente o pinheirinho chorou e pediu ao Criador que, no outro dia,
suas folhas fossem verdes e, desta vez, tenras e macias como as da alface.
Tudo bem, só que passou uma cabra pelo mato. Vendo as folhas ao seu
alcance, comeu todas, pois eram deliciosas para ela.
Novamente o pinheirinho chorou muito, arrependeu-se dos seus desejos
tolos e pediu que as suas folhas fossem como antes - folhas duras como
espinhos. Assim nenhum vento, nenhum ladrão e nenhum animal teriam
interesse em prejudicar o pinheirinho.

. . . . Um homem feliz

N arra uma antiga lenda que, certa vez, um rei adoeceu gra-
vemente e, à medida que o tempo passava, seu estado con-
tinuava piorando.
Os médicos tentaram de tudo, mas nada parecia funcionar.
Estavam a ponto de perder a esperança, quando uma velha criada
falou:
- Eu sei uma forma de salvar o rei. Se vocês puderem encontrar
um homem feliz, tirar-lhe a camisa e vesti-la no rei, ele se recuperará.
Ao ouvir tal afirmativa, o rei enviou seus mensageiros a todos os cantos
do reino à procura de um homem feliz.
Eles cavalgaram por todos os lugares e não encontraram sequer um
homem feliz. Ninguém estava satisfeito; todos tinham uma queixa a fazer.

41
100 estórias

"Aquele alfaiate estúpido fez as calças muito curtas", ouviram


um homem rico dizer. "A comida está péssima; este cozinheiro não conse-
gue fazer nada direito", reclamava outro. "O que há de errado com os
nossos filhos?", resmungava um pai insatisfeito. "O teto está vazando";
"A situação financeira está péssima"; "Será que o rei não pode dar um
jeito nessa situação?"
Essas e outras tantas queixas eram o que os mensageiros do
rei ouviram por onde passaram.
Se um homem era rico, não tinha o bastante; se não era rico,
era culpa de alguém. Se era saudável, havia uma sogra indesejável em
sua vida. Se tinha uma boa sogra, a gripe o estava infelicitando.
Enfim, naquele reino todos tinham algo do que reclamar.
O rei já tinha perdido a esperança de ficar bom, quando, numa
noite, seu filho cavalgava pelos campos e, ao passar perto de uma cabana,
ouviu alguém dizer:
- Obrigado, Senhor! Concluí meu trabalho diário e ajudei meu
semelhante. Comi meu alimento, e agora posso deitar-me e dormir em paz.
O que mais poderia desejar, Senhor?
O príncipe exultou de felicidade por ter, finalmente, encontrado um ho-
mem feliz. Retornou e mandou que seus homens fossem até lá e levassem
a camisa do homem ao rei e lhe pagassem o quanto pedisse.
Mas quando os mensageiros do rei entraram na cabana para
despir a camisa do homem feliz, descobriram que ele era tão pobre que
sequer possuía uma camisa.

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Vida e sabedoria

. . . . As três peneiras

C erto dia, um rapaz veio ao filósofo para contar-lhe um fato.


Sócrates ergueu os olhos do livro e perguntou:
- O que você quer contar já passou pelas três peneiras?
- Três peneiras? Como assim?
- Sim, três peneiras. A primeira é a VERDADE. O que você quer contar
dos outros é um fato? Caso você tenha apenas ouvido contar, então a
coisa deve morrer por ai mesmo. Suponhamos, entretanto, que seja verda-
de. Neste caso, deve passar pela segunda peneira, que se chama BONDA-
DE. O que você vai contar é coisa boa? Ajuda a construir ou a destruir a
fama do próximo? Se o que você contar é verdade, é coisa boa, deverá
passar ainda pela terceira peneira, que se chama CONVIVÊNCIA ou NE-
CESSIDADE. Convém contar? É necessário contar? Resolve alguma coi-
sa? Ajuda a comunidade? O filósofo, dada a explicação, arrematou:
- Se passar pelas três peneiras, conte. Tanto você como seu irmão e a
comunidade irão lucrar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo.
Diz a história que o rapaz curvou-se às ponderações do filósofo, resolven-
do não contar nada. Seu caso, certamente, iria enroscar-se em alguma
peneira do sábio.

. . . . Anjo da guarda

D escalça e suja, a pequena garota ficava sentada no parque,


olhando as pessoas passarem. Ela nunca tentava falar, não
dizia uma única palavra.
Muitas pessoas passavam por ela, mas nenhuma sequer lhe lançava um
simples olhar; ninguém parava, inclusive eu.

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100 estórias

No outro dia, eu decidi voltar ao parque curiosa para ver se a pequena


garota ainda estava lá. E estava, exatamente no mesmo lugar onde ela
estivera sentada no dia anterior.
Ela estava empoleirada no alto do banco com o olhar mais triste do mundo.
Mas hoje eu não pude simplesmente passar ao largo, preocupada somente
com meus afazeres. Ao contrário, eu me vi caminhando ao encontro dela.
Pelo que todos sabemos, um parque cheio de pessoas estranhas não é um
lugar adequado para crianças brincarem sozinhas.
Quando comecei a me aproximar dela, pude ver que as costas do seu ves-
tido indicavam uma deformidade.
Concluí que esta era a razão pela qual as pessoas simplesmente passavam
e não faziam esforço algum em se importar com ela.
Quando cheguei mais perto, a garotinha lentamente baixou os olhos para
evitar meu intenso olhar. Eu pude ver o contorno de suas costas mais
claramente.
Ela era grotescamente corcunda. Sorri para lhe mostrar que eu estava
bem e que estava lá para ajudar e conversar. Sentei ao lado dela e iniciei
com um "olá". A garota reagiu chocada e balbuciou um "oi", após fixar
intensamente meus olhos. Sorri, e ela timidamente sorriu de volta.
Conversamos até o anoitecer, quando o parque já estava completamente
vazio. Todos tinham ido e estávamos sós. Perguntei por que a garotinha
estava tão triste. Ela olhou para mim e disse:
- Porque eu sou diferente.
Eu imediatamente disse sorrindo:
- Sim, você é.
E ela ficou ainda mais triste, dizendo: - Eu sei.
- Garotinha, eu disse, você me lembra um anjo, doce e inocente.
Ela olhou para mim e sorriu lentamente, levantou-se e disse:
- De verdade?
- Sim, querida, você é um pequeno anjo da guarda, mandado para olhar
todas essas pessoas que passam por aqui.

44
Vida e sabedoria

Ela acenou com a cabeça e disse sorrindo "sim", e com isso abriu suas asas
e piscando os olhos falou:
- Eu sou seu anjo da guarda.
Eu fiquei sem palavras e certo de que estava tendo visões. Ela finalizou:
- Quando você deixou de pensar unicamente em você, meu trabalho aqui
foi realizado.
Imediatamente, eu me levantei e disse:
- Espere, por que então ninguém mais parou para ajudar um anjo?
Ela olhou para mim e sorriu:
- Você foi a única pessoa capaz de me ver. E desapareceu.
Com isso minha vida foi mudada drasticamente. Quando você pensa que
está completamente só, lembre-se: seu anjo está sempre tomando conta de
você. O meu estava...
Como diz a história, todos precisamos de alguém. Cada um de seus ami-
gos é um anjo em sua própria maneira de ser.

. . . . Pastel, guaraná e Deus

H avia um menino que queria encontrar-se com Deus. Ele sa-


bia que tinha um longo caminho pela frente, portanto ele
encheu sua mochila com pastéis e guaraná e começou sua caminhada.
Quando ele tinha andado umas três quadras, encontrou um velhinho senta-
do em um banco da praça, olhando os pássaros. O menino sentou-se ao lado
dele, abriu sua mochila e ia tomar um gole de guaraná, quando olhou para o
velhinho e achou que este estava com fome. Então ofereceu-lhe um pastel.
O velhinho, muito agradecido, aceitou e sorriu para o menino. Seu sorri-
so era tão incrível, que o menino quis ver de novo. Então ele ofereceu-lhe
seu guaraná. Mais uma vez, o velhinho sorriu para o menino.
O menino estava muito feliz!

45
100 estórias

Ficaram sentados ali sorrindo, comendo pastel e bebendo guaraná pelo


resto da tarde, sem falar um com o outro.
Quando começou a escurecer, o menino estava cansado e resolveu voltar
para casa, mas, antes de sair, ele voltou-se e deu um grande abraço no
velhinho. Este deu-he o maior sorriso que o menino já havia recebido.
Quando o menino entrou em sua casa, sua mãe perguntou ao ver a felici-
dade estampada em seu rosto:
- O que você fez hoje que o deixou tão feliz?
Ele respondeu:
- Passei a tarde com Deus. E acrescentou: - Você sabe, ele tem o mais
lindo sorriso que eu vi até hoje.
Enquanto isso, o velhinho também chegava em casa radiante, e seu filho
perguntou:
- Por onde você esteve que está tão feliz?
Ele respondeu:
- Comi pastéis e tomei guaraná com Deus no parque.
Antes que seu filho pudesse dizer algo, ele falou:
- Você sabe que ele é bem mais jovem do que eu pensava.
Nunca subestime a força de um sorriso, o poder de uma palavra, de um
ouvido para ouvir, um honesto elogio ou até um ato de carinho. Tudo isso
tem o potencial de fazer virar uma vida.
Por medo de diminuir, deixamos de crescer.
Por medo de chorar, deixamos de sorrir.

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Vida e sabedoria

. . . . Herdeiro do cacique

C onta uma lenda indígena que um velho chefe de uma tribo


aguerrida desejava identificar o seu futuro substituto. Para
isso, reuniu uma meia dúzia dos mais jovens audazes combatentes e, pro-
vocando-os em seus brios, ordenou-lhes, apontando para um longínquo e
elevado pico de uma íngreme e nevoenta montanha:
- Vocês devem, por caminhos diferentes, alcançar o pico daquela monta-
nha e provar que chegaram lá, trazendo qualquer coisa original que en-
contrarem naquelas alturas.
Um após outro, os jovens guerreiros iniciaram suas caminhadas, sob a
expectativa incentivadora de todos os componentes da tribo.
Passaram dias e noites, tempestades e canículas, ansiedades e desânimo,
e eis que regressa o primeiro guerreiro, exangüe e maldormido, logo re-
latando:
- Chefe, galguei trilhas e atalhos, caminhos pedregosos e cheios de espi-
nhos, atravessei valões e margeei precipícios, acumulei noites
maldormidas e convivi com animais selvagens, ventos e chuvas agredi-
ram-me o peito e as costas, isolamento e pesadelos me sobressaltaram
nas poucas horas de sono, intercalados com a obsessão para alcançar a
meta que nos foi proposta, até que cheguei ao ponto mais alto da monta-
nha. De lá trouxe esta raiz de um arbusto que nunca encontrei aqui na
planície.
- Deixe ao meu lado a sua prova e se recomponha para continuar a pele-
jar na defesa de nossa comunidade, respondeu-lhe o chefe, pacientemente.
E regressou o segundo, com relato similar, descrevendo outro caminho,
pleno de aventuras e dificuldades, apresentando, como prova de ter alcan-
çado o pico da montanha, um cristal de rocha como rótulo de inédito, só
encontrável naquelas alturas, segundo o jovem guerreiro.
Mensagem idêntica à do primeiro foi-lhe transmitida pelo chefe da tribo.
Sucessivamente, foram regressando os demais guerreiros, cada um com uma
descrição cada vez mais detalhada, ousada e sofrida, todos preocupados em
provar a chegada ao topo da montanha com provas materiais originais.

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100 estórias

E a cada um, com ligeira variação na dosagem de entonação da voz, o


chefe ia ordenando que se recolhesse e se preparasse para reassumir a
rotina da tribo.
Até que, após já preocupante intervalo de tempo, regressou o último jo-
vem guerreiro, de olhar penetrante, contida euforia e contagiante presen-
ça, descrevendo, para o chefe, sua corajosa caminhada, ante a aguda apre-
ensão da tribo, surpresa com as suas mãos vazias, mas calejadas das
escaladas dos íngremes penhascos.
- Chefe, sinto-me realizado por ter cumprido a sua ordem: foi muito difícil
a rota que enfrentei, mas creio que as dificuldades, muitas, foram vencidas.
Eu não encontrei nada digno de apresentar como prova material de que
alcancei o topo da montanha, mas, lá de cima, consegui avistar, ao longe,
muito ao longe, o oceano!

. . . . Dia e noite

C onta-se que, um dia, um velho e sábio professor pediu a


seus alunos que determinassem o momento exato do final
da noite e do início de um novo dia. As mais diferentes idéias e sugestões
apareceram. Um dos alunos perguntou:
- Seria o final da noite e o início de um novo dia o momento no qual a
gente consegue distinguir na madrugada a diferença entre um cachorro
e uma ovelha?
- Não, respondeu o sábio professor.
Outro aluno sugeriu:
- Seria o final da noite e o início de um novo dia o momento em que a
gente na madrugada consegue distinguir, ao longe, entre uma palmeira e
uma figueira?
- Não, respondeu o sábio professor.
Os alunos, intrigados com tanto mistério, perguntaram:

48
Vida e sabedoria

- Mas, então, quando é o momento exato entre o final da noite e o inicio


do dia?
O professor respondeu calmamente, mas com firmeza:
- O início do dia e o final da noite acontecem quando você olha o rosto de
qualquer ser humano e reconhece nele um irmão, que deve ser respeita-
do e valorizado.

. . . . Caixa de beijos

H á algum tempo, um homem castigou sua filha pequena de


três anos por desperdiçar um rolo de papel de presente
dourado. O dinheiro era escasso no momento, e o pai ficou furioso quan-
do viu sua filha tratando de envolver uma caixa para colocá-la debaixo da
árvore de Natal.
Entretanto, nada fez. Cansado, foi dormir. Na manhã seguinte, a filha
levou o presente para o seu pai e lhe disse:
- Isto é para você, papai.
Ele se sentiu envergonhado por sua reação de fúria, mas voltou a enfure-
cer-se quando viu que a caixa estava vazia. Retornou a gritar, dizendo:
- Não sabe que, quando se dá um presente a alguém, coloca-se algo dentro?
A pequena então, com lágrimas nos olhos, olhou para o pai e disse:
- Oh, papai, não está vazia. Eu soprei beijos dentro da caixa vazia. São
todos para você, papai.
O pai se sentiu envergonhado, pôs seus braços ao redor da filha e supli-
cou-lhe perdão. O homem guardou essa caixa dourada junto a sua cama
por muitos anos e, sempre que se sentia desanimado, tomava da caixa
um beijo imaginário, recordava o amor que sua filha havia deixado
ali.

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100 estórias

De uma forma muito sensível, cada um de nós recebeu um recipiente


dourado, cheio de amor incondicional e beijos de nossos filhos, ami-
gos, família ou de Deus. Com certeza, este é o melhor presente que
alguém pode ganhar.

. . . . As marcas dos pregos

H avia uma família com um menino. Este menino constante-


mente fazia coisas erradas, e seus pais o advertiam. Mas
isso de nada adiantava. Com o passar do tempo, o menino fazia mais e
mais coisas erradas, deixando seus pais muito preocupados.
Certo dia, o pai chamou o menino para conversar sobre os fatos e lhe
propôs o seguinte: toda vez que o menino fizesse alguma travessura ou
alguma coisa errada, os pais colocariam um prego num poste que a famí-
lia tinha em frente à sua casa; e toda vez que ele fizesse uma coisa boa,
seria tirado um prego dali.
No início, a quantidade de pregos só aumentava, e os pais ainda conti-
nuavam preocupados com seu filho, mas dessa vez não lhe falaram nada.
Depois de algum tempo, o menino começou a fazer coisas boas também.
E quando isso acontecia, o pai o chamava e mostrava que estava tirando
pregos e valorizava seus atos bons.
Depois de muito tempo, quase não havia mais pregos no poste, e o pai
chamou o menino para conversar novamente e elogiá-lo, mas o filho esta-
va muito triste e disse ao pai:
- De que adianta saber que não tem mais pregos no poste, pois as marcas
ainda continuarão ali!

50
Vida e sabedoria

. . . . Água em lugar de vinho

N os Alpes italianos, existia um pequeno vilarejo que se de-


dicava ao cultivo de uvas para a produção de vinho. Uma
vez por ano, ocorria lá uma festa para comemorar o sucesso da colheita.
A tradição exigia que, nessa festa, cada morador do vilarejo trouxesse
uma garrafa de seu melhor vinho para colocar dentro de um grande bar-
ril, que ficava na praça central.
Entretanto, um dos moradores pensou: "Por que deveria levar uma garra-
fa do meu mais puro vinho? Levarei uma de água. No meio de tanto vi-
nho, o meu não fará falta". Assim pensou e assim fez.
No auge das comemorações, como era costume, todos se reuniram na
praça, cada um com sua caneca para pegar uma porção daquele vinho
cujo fama se estendia além das fronteiras do país. Contudo, ao abrir a
torneira do barril, um silêncio tomou conta da multidão: daquele barril
saiu somente água!
Como isso acontecera? Todos haviam pensado como aquele morador: "A
ausência da minha parte não fará falta".
Todos somos, muitas vezes, conduzidos a pensar: tantas pessoas existem
neste mundo que, se eu não fizer parte, isso não terá importância.
O que aconteceria com o mundo se todos pensassem assim?

. . . . Afiando o machado

D ois homens rachavam lenha o dia todo. Um trabalhava o


tempo todo sem fazer pausas e tinha, no fim do dia, um
monte bem grande de lenha cortada. O outro trabalhava 50 minutos e
descansava 10, mas, por incrível que pareça, ele tinha mais lenha racha-
da no fim do dia.
- Como você tem sempre bem mais lenha rachada do que eu?, perguntou
o primeiro.

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100 estórias

- Porque durante os intervalos que eu fiz, eu não apenas descansei, mas


afiei o meu machado, respondeu o segundo.
Afiar o machado soa brusco. Você não usa um machado, mas usa outros
instrumentos e o principal: sua mente. Esta também precisa ser afiada,
renovada, estimulada e motivada. Só assim ela será produtiva.
Abraham Lincoln já dizia: "Se eu tivesse nove horas para derrubar uma
árvore, passaria seis horas afiando o meu machado".

. . . . Um trio estranho

U m homem estava voltando da lavoura para casa, montado


num pequeno cavalo, e o filho caminhava a seu lado.
Quando encontraram um outro senhor pelo caminho, aquele disse:
- Mas isso não está certo que um pai ande a cavalo e o filho tenha que
andar a pé. Você, pai, é mais forte!
O pai, então, desceu e deixou o filho andar a cavalo.
Um pouco mais tarde, veio uma mulher pelo caminho, dizendo:
- Mas isso não está certo que esse guri ande a cavalo e deixe o pai andar
a pé. As tuas pernas são mais jovens!
Montaram, pois, os dois em cima do pequeno cavalo e continuaram a
viagem.
Mas então encontraram um casal que se espantou:
- Mas o que é isso? Dois homens pesados em cima desse pobre cavali-
nho?! Vocês deveriam apanhar até descer desse cavalo!
Os dois desceram do cavalo e caminharam mais um pedaço a pé, ao lado
do cavalo.
Depois de alguns metros, veio um velhinho, que estranhou bastante quando
viu os três caminhando a pé - o pai, o filho e o cavalo - e disse:

52
Vida e sabedoria

- Mas vocês são um trio estranho mesmo. Não bastaria se dois de vocês
andassem a pé? Não seria mais fácil se um de vocês montasse?
Então o pai amarrou as pernas da frente do cavalo e o filho amarrou as
pernas de trás, no meio enfiaram uma haste forte, que estava na beira do
caminho, e carregaram o cavalinho nos ombros para casa.
Que absurdo - mas a esse ponto se chega quando se quer agradar a todo
mundo.

. . . . Viagem dos macacos

C erto dia, os macacos decidiram dar um passeio educativo.


Caminharam muito, e a certa altura sentaram-se para des-
cansar. Um deles perguntou:
- O que estão vendo?
- A jaula do leão, a piscina com as focas e a cabeça da girafa.
- Como é grande o mundo e como é instrutivo viajar! Retomaram o passeio.
Pararam outra vez, por volta do meio-dia.
- E agora, o que estão vendo?
- A jaula do leão, a piscina com as focas e a cabeça da girafa.
- Como é esquisito o mundo, não é? E como é instrutivo viajar! Continua-
ram o percurso e pararam somente ao entardecer.
- O que estão vendo agora?
- A jaula do leão, a piscina com as focas e a cabeça da girafa.
- Como é monótono o mundo! Vêem-se sempre as mesmas coisas. Na ver-
dade, viajar não serve para nada.
E não era para menos. Os macacos caminhavam, caminhavam, ficando po-
rém sempre na mesma jaula. Giravam dentro dela, como cavalos num
carrossel. A cena é engraçada e irreal. A mesma coisa acontece quando as
pessoas perdem a sua real dimensão. Aprisionam-se em pequenas circuns-

53
100 estórias

tâncias, aprisionam-se em si mesmas e somente conseguem vislumbrar um


horizonte limitado pelos mesmos fatos, pelas mesmas reações e sentimentos.
Uma pessoa que tenta, que busca, que está aberta, que sai da jaula, que
dá a volta ao mundo é aquela que é capaz de criar novas oportunidades e
formas diferentes de ser feliz.
Uns encontram a felicidade em organizações, outros em relações
interpessoais (família, amigos...), outros no encontro com a natureza e
ainda outros no silêncio e na reflexão.
O importante é que, quando abrimos as portas ao mundo, a viagem acon-
teça não em uma jaula, mas num horizonte infinito, e isto nos permite
descobrir nossa missão.

. . . . Sabedoria de um rei

U m rei queria libertar um preso. Foi à penitenciária e soli-


citou a lista dos presos. Todos, sem exceção, tinham prati-
cado grandes crimes. Resolveu falar com os detidos pessoalmente para
ver quem merecia a liberdade.
Falando com um sentenciado, este lamentou:
- Oh, majestade, sou um homem muito bom. Mas meu advogado de defesa
não vale nada, por isso estou aqui.
O segundo disse:
- Oh, meu rei, eu sou bom, mas foram os meus companheiros que me
levaram para o mau caminho; eles são os culpados.
O terceiro dizia o mesmo de si, alegando que o juiz o tinha condenado
injustamente. E os outros também afirmavam que eram elementos muito
bons e que era uma injustiça estarem na prisão.
Só um dos detidos disse triste:
- Meu rei, eu confesso que sou um homem muito mau. Não obedeci aos
meus pais, nem tampouco a Deus. Para mim, foi justo o juiz, porque pe-
quei com meu gênio ruim.

54
Vida e sabedoria

Então o rei exclamou:


- O que estou ouvindo? Um homem tão ruim entre tantos bons? Ordeno
que seja imediatamente posto na rua, para não contaminar os outros com
sua maldade.

. . . . Recepção do mandarim

C onta uma estória chinesa que um rico mandarim promo-


veu grandiosa recepção em seu palácio. Lá compareceram
convidados especiais, pessoas ilustres, como só acontece nessas ocasiões.
Apesar de toda a beleza e riqueza do palácio, o acesso era meio precário:
em razão da chuva havia barro, porque as ruas e os passeios não eram
calçados. Tábuas haviam sido colocadas para dar maior conforto e segu-
rança aos convidados.
Chega, porém, um convidado - um outro mandarim já bastante idoso - e,
escorregando numa das tábuas, cai na poça de água e barro.
No meio do maior alvoroço e tumulto, envergonhado diante do olhar estu-
pefato e alguns risos - quedas provocam isso invariavelmente! -, o velho
mandarim diz ao dono da festa:
- Lamento muito, mas não tenho como permanecer na festa. Vou embora.
- De jeito nenhum, disse o organizador da recepção, o senhor vai partici-
par da festa.
E, jogando-se também naquela mesma poça de água e barro, tornou-se
igual ao convidado, eliminando o constrangimento do acidente.
Jesus também se jogou no lamaçal deste mundo para tornar-se nosso ir-
mão, eliminando todos os constrangimentos que nos envergonham e cons-
truindo pontes de união.

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100 estórias

. . . . Morada dos sentimentos

E ra uma vez uma linda ilha, onde moravam muitos senti-


mentos: a Alegria, a Tristeza, a Vaidade, a Sabedoria, a
Riqueza, o Amor, entre outros. Um dia, avisaram a todos os moradores da
ilha que ela seria inundada.
Todos correram e pegaram seus barquinhos para ir a um morro bem alto.
Só o Amor não se apressou, pois queria ficar um pouco mais em sua ilha.
Quando as águas começaram a subir, ameaçando-o de afogamento, correu
para pedir ajuda. Estava passando a Riqueza, e o Amor pediu:
- Riqueza, leva-me com você?
Ela respondeu:
- Não posso, meu barco está cheio de prata e ouro, e você não vai caber nele.
Logo atrás vinha a Tristeza:
- Tristeza, posso ir com você?
- Ah!...estou tão triste, que prefiro ir sozinha.
Estava passando também a Alegria, mas ela estava tão alegre, que nem
ouviu o Amor chamar por ela.
Já desanimado, achando que ia ficar só, o Amor começou a chorar. Pas-
sou então um barquinho onde estava um velhinho, que gritou:
- Sobe, Amor, que eu levo você.
O Amor ficou tão radiante de felicidade, que até esqueceu de perguntar o
nome do velhinho.
Chegando ao novo morro onde estavam os sentimentos, o Amor pergun-
tou à Sabedoria quem era o velhinho que o tinha trazido.
- Foi o Tempo, respondeu a Sabedoria.
- O Tempo?, continuou o Amor. - Mas por que só o Tempo me trouxe até aqui?
A Sabedoria finalizou:
- Porque só o Tempo entende um grande Amor.

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Vida e sabedoria

. . . . A mais bela flor

O estacionamento estava deserto quando me sentei para ler


embaixo dos longos ramos de um velho carvalho. Desilu-
dido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava tentando
me afundar. E se não fosse razão suficiente para arruinar o dia, um garo-
to ofegante se aproximou, cansado de brincar. Ele parou na minha frente,
cabeça pendente, e disse cheio de alegria:
-Veja o que encontrei.
Na sua mão estava uma flor, e que visão lamentável: pétalas caídas, pou-
ca água ou luz. Querendo me ver livre do garoto com sua flor, fingi um
pálido sorriso e me virei. Mas, ao invés de recuar, ele se sentou a meu
lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa:
- O cheiro é ótimo, e é bonita também... Por isso a peguei; agora ela é sua.
A flor à minha frente estava morta ou morrendo, nada de cores vibran-
tes como laranja, amarelo ou vermelho, mas eu sabia que tinha que
pegá-la, ou ele jamais sairia de lá. Então me estendi para pegá-la e
respondi:
- O que eu precisava.
Mas, ao invés de colocá-la na minha mão, ele a segurou no ar sem qual-
quer razão. Nessa hora notei, pela primeira vez, que o garoto era cego,
que não podia ver o que tinha nas mãos. Ouvi minha voz sumir, lágrimas
despontaram ao sol enquanto lhe agradecia por escolher a melhor flor
daquele jardim.
- De nada, sorriu ele.
E então voltou a brincar, sem perceber o impacto que teve em meu dia.
Sentei-me e pus-me a pensar como ele conseguira enxergar um homem
autopiedoso sob um velho carvalho. Como ele sabia do meu sofrimento
auto-indulgente? Talvez no seu coração ele tenha sido abençoado com a
verdadeira visão. Através dos olhos de uma criança cega, finalmente en-
tendi que o problema não era o mundo, e sim EU. E por todos os momen-
tos em que eu mesmo fui cego, agradeci por ver a beleza da vida e apreciei
cada segundo que é só meu. Então levei aquela flor feia ao meu nariz e

57
100 estórias

senti a fragrância de uma bela rosa e sorri enquanto via aquele garoto,
com outra flor em suas mãos, prestes a mudar a vida de um insuspeito
senhor de idade.

. . . . Lição da borboleta

U m dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo. Um


homem observava a borboleta por várias horas como ela
se esforçava para fazer com que seu corpo passasse através daquele pe-
queno buraco.
Então pareceu que ela parou de fazer qualquer progresso. Parecia que ela
fizera o que lhe era possível e não conseguia ir mais longe.
Então o homem decidiu ajudar a borboleta. Ele pegou uma tesoura e cor-
tou o restante do casulo. A borboleta saiu facilmente. Mas seu corpo esta-
va murcho, era pequeno e tinha as asas amassadas.
O homem continuou a observar a borboleta, porque ele esperava que, a
qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para ser capa-
zes de suportar o corpo, que iria se afirmar a tempo.
Nada aconteceu. Na verdade, a borboleta passou o resto da vida rastejan-
do com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar.
O que o homem não compreendia em sua gentileza e vontade de ajudar
era que o casulo apertado e o esforço para passar através da pequena
abertura era a forma que Deus usava para que o fluido do corpo da borbo-
leta fosse para as suas asas, de modo que ela estaria pronta para voar
assim que estivesse livre do casulo.
Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida.
Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer
obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não iríamos ser tão fortes quanto
poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar.
Eu pedi força... e Deus me deu dificuldades para me fazer forte.
Eu pedi sabedoria... e Deus me deu problemas para resolver.

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Vida e sabedoria

Eu pedi prosperidade... e Deus me deu cérebro e músculos para traba-


lhar.
Eu pedi coragem... e Deus me deu perigo para superar.
Eu pedi amor... e Deus me deu pessoas com problemas para ajudar.
Eu pedi favores... e Deus me deu oportunidades.
Eu não recebi nada do que pedi... Mas eu recebi tudo de que precisava.

. . . . Os tesouros da alma

C onta uma lenda que certa mulher pobre, com uma criança
no colo, passou diante de uma caverna e escutou uma voz
misteriosa, que lá de dentro lhe dizia:
- Entre e apanhe tudo o que você desejar, mas não se esqueça do princi-
pal. Lembre-se, porém, de uma coisa: Depois que você sair, a porta se
fechará para sempre. Portanto, aproveite a oportunidade, mas não se es-
queça do principal.
A mulher entrou na caverna e encontrou muitas riquezas. Fascinada pelo
ouro e pelas jóias, pôs a criança no chão e começou ajuntar, ansiosamen-
te, tudo o que podia no seu avental.
A voz misteriosa falou novamente:
- Você agora só tem oito minutos.
Esgotados os oito minutos, a mulher, carregada de ouro e pedras preci-
osas, correu para fora da caverna, e a porta se fechou...
Lembrou-se, então, de que a criança ficara lá e a porta estava fechada
para sempre!
A riqueza durou pouco, e o desespero para sempre.

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100 estórias

O mesmo acontece, por vezes, conosco. Temos uns oitenta anos para viver
neste mundo, e uma voz sempre nos adverte:
- Não se esqueça do principal!
E o principal são os valores espirituais, a oração, a vigilância, a vida, a feli-
cidade, o amor! Mas a ganância, a riqueza e os prazeres materiais nos fasci-
nam tanto, que o principal vai ficando sempre de lado... Assim esgotamos o
nosso tempo aqui e deixamos de lado o essencial: os tesouros da alma.

. . . . Prêmio para os esforçados

E m uma tribo da África, havia a seguinte lei: Um dia por


semana todos deveriam trabalhar na fazenda do cacique.
Era uma forma de pagar-lhe o imposto. Ele, por sua vez, defendia a tribo
contra assaltos dos inimigos e caçadores de escravos.
Certo dia, veio a ordem do chefe para todos irem a seu trigal e colherem
trigo. Muitos murmuraram indignados:
- Hoje é feriado. Queríamos descansar e dormir bastante.
Também estavam planejadas visitas e encontros festivos. Diziam:
- E agora temos que trabalhar. Não gostamos disso.
Outros disseram:
- Nosso chefe é bondoso e nos defende. Certamente o trigo está maduro e
não é possível esperar mais um dia para colhê-lo. Vamos trabalhar com
alegria.
Cada um levou um grande cesto junto. Todos começaram a colher o trigo
na fazenda do cacique. Aqueles que reconheceram a necessidade de tra-
balhar e amavam o seu líder trabalharam com alegria e encheram o cesto
de trigo. Mas os descontentes trabalharam pouco, e os revoltados menos
ainda. Estes só colheram a metade de um cesto ou nem isso.

60
Vida e sabedoria

À tarde, quando voltaram para sua aldeia, iam despejar o trigo colhido
no celeiro. Mas o chefe lhes disse:
- Aquilo que vocês colheram hoje é prêmio. Cada um pode levar o trigo
para sua casa. Não foi para mim que vocês colheram hoje. Foi para vocês.
Grande foi a alegria daqueles que colheram muito. Mas grandes também
foram a vergonha e a tristeza dos que tinham pouco em seus cestos.

. . . . O menino e os patins

H avia um menino que tinha adoração por patins. Era tudo


o que ele queria na vida. Pediu, pediu, tanto fez que um
belo dia ele os conseguiu. Ficou muito feliz com o par de patins. Não
desgrudava deles um só minuto. De dia ou de noite, o menino estava com
seus patins.
Mas, no primeiro tombo, ele ficou com medo de estragar os patins e resol-
veu guardá-los. Os patins ainda eram a coisa que ele mais queria; o que
ele mais gostava de fazer era estar com eles.
Mas ele preferiu apenas ficar olhando e não usá-los mais para que não
estragassem. O tempo foi passando, e os patins continuavam guardados.
Passaram anos, e o garoto esqueceu os patins. Então ele se lembra, sente
saudades e resolve recuperar o tempo perdido. Ele vai até o armário, revi-
ra tudo e finalmente encontra os patins. Corre para calçá-los e então tem
uma terrível surpresa: os patins não servem mais em seus pés.
O menino chora e lamenta os anos perdidos e que não poderá mais recu-
perar. Poderia comprar outro par, mas nunca seriam iguais àqueles.

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100 estórias

. . . . Fumaça salvadora

A pós um naufrágio, o único sobrevivente agradeceu a Deus


por estar vivo e ter conseguido agarrar-se à parte dos des-
troços para poder ficar boiando. Este único sobrevivente foi parar em
uma pequena ilha desabitada e fora de qualquer rota de navegação. Ele
agradeceu novamente.
Com muita dificuldade e restos dos destroços ele conseguiu montar um
pequeno abrigo, para que pudesse proteger-se do sol, da chuva e de ani-
mais e para guardar seus poucos pertences. E, como sempre, agradeceu.
Nos dias seguintes, a cada alimento que conseguia caçar ou colher, ele
agradecia.
No entanto, um dia, quando voltava da busca por alimentos, ele encontrou
o seu abrigo em chamas, envolto em altas nuvens de fumaça.
Terrivelmente desesperado, ele se revoltou e gritava chorando:
- O pior aconteceu! Perdi tudo! Deus, por que fizeste isso comigo?
Ele chorou tanto, que adormeceu, profundamente cansado.
No dia seguinte bem cedo, ele foi despertado pelo som de um navio que se
aproximava.
- Viemos resgatá-lo, disseram.
- Como souberam que eu estava aqui?, perguntou o náufrago.
- Nós vimos o seu sinal de fumaça.

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Vida e sabedoria

. . . . Há solução para minha situação?

U m homem atentou contra a própria vida com uma arma de


fogo. Ouvindo o tiro, um vizinho entrou em seu aparta-
mento e, ao lado do corpo, encontrou uma carta, que dizia:
"Não deu para suportar. Passei a noite toda como um louco pelas ruas.
Fui a pé... Não tinha condições de dirigir. Perdi meu emprego por uma
injustiça feita contra mim. Nada mais consegui. Ontem telefonaram avi-
sando que minha casa de campo foi incendiada. Estava ameaçado de per-
der este apartamento por não ter podido pagar as prestações. Só me res-
tou um carro tão desgastado, que nada vale. Afastei-me de todos os meus
amigos com vergonha desta humilhante situação... E agora fui abandona-
do e levaram até minhas melhores roupas! Aquele que me encontrar faça
o que tem que ser feito. Perdão".
O vizinho dirigiu-se ao telefone para chamar a polícia. Quando esta che-
gou, viu que havia um recado na secretária eletrônica. Era a voz da mu-
lher do morto:
- Alô! Sou eu. Liguei para a firma. O engano foi reconhecido, e você está
sendo chamado de volta na semana que vem. O dono do apartamento dis-
se que tem uma boa proposta para não o perdermos. Estamos em nossa
casinha de campo. A história do incêndio era trote. Isso merece uma fes-
ta, não merece? Nossos amigos estão vindo para cá. Um beijo! Já colo-
quei suas melhores roupas no porta-malas do seu carro.Vem!

. . . . O agricultor e o nobre

U m certo agricultor chamado Fleming estava precisando


de dinheiro para ele e sua família. Enquanto estava traba-
lhando, escutou alguém pedindo ajuda de um lugar próximo.

63
100 estórias

Ali encontrou enterrado até a cintura, no lodo negro, uma criança, que
gritava e lutava para livrar-se do lodo. O agricultor Fleming salvou a crian-
ça daquela morte lenta e terrível.
No dia seguinte, uma carruagem muito pomposa chegou perto da casa do
agricultor. Um nobre inglês, vestido elegantemente, saiu do veículo e apre-
sentou-se como pai da criança que Fleming havia salvado.
- Eu quero recompensá-lo, pois você salvou a vida do meu filho, disse o
nobre ao agricultor.
- Não, eu não posso aceitar recompensas pelo que fiz.
Neste momento, o próprio filho do agricultor saiu até a porta da casa.
- Este é seu filho?, perguntou o nobre inglês.
- Sim, respondeu o agricultor, cheio de orgulho.
Disse o nobre inglês:
- Vou propor um trato. Deixe-me levar seu filho e oferecer-lhe uma boa
educação. Se ele é parecido com seu pai, crescerá até transformar-se num
homem do qual você ficará muito orgulhoso.
O agricultor aceitou.
Com o passar do tempo, o filho de Fleming, o agricultor, graduou-se na
escola de medicina do St. Mary's Hospital em Londres e tornou-se um
personagem conhecido no mundo: o notório Alexander Fleming, desco-
bridor da penicilina.
Alguns anos depois, o filho do nobre inglês adoeceu de pneumonia.
O que o salvou?
A penicilina!

64
Vida e sabedoria

. . . . Servente e sacristão

U m homem de pouco estudo trabalhava como servente e sa-


cristão numa igreja do interior. Além de ajudar nas ceri-
mônias, ele atendia as pessoas nos serviços burocráticos, procurando ser
o mais prestativo possível.
Os anos passaram, a cidade cresceu e, em conseqüência, a comunidade
se modernizou. Comprou um moderno computador, sofisticou o atendi-
mento, e então o servente simples e analfabeto já não tinha mais espaço
ali. Tentou-se ajudá-lo, fazendo com que ele estudasse, mas ele não quis e
acabou sendo despedido.
Para sustentar sua família, ele começou a trabalhar com madeira, que
trazia para a cidade. Seu negócio cresceu tanto, que em pouco tempo era
o mais próspero de toda a região.
Certo dia, ele foi chamado para assinar um contrato de um grande negó-
cio. Quando chegou o momento de assinar o contrato, ele molhou o pole-
gar e pôs suas digitais no contrato. Admirado, o comprador perguntou:
- Como? Um homem tão rico e poderoso não sabe nem escrever? Se o
senhor chegou até aqui não sabendo ler nem escrever, o que teria sido do
senhor se tivesse aprendido a ler e escrever?
Ele respondeu:
- Eu seria servente e sacristão na minha igreja.

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100 estórias

. . . . Um rei sem coroa

E ra uma vez um rei... Poderia ser o início de uma linda estó-


ria. Mas quem a conhece sabe que ela tem um desfecho
muito triste. É a estória de um rei sem coroa, sem armas e sem soldados,
que acabou seus dias em cima de dois pedaços de madeira, postos em
forma de cruz.
Ele tinha dito que nascera para ser rei. Mas as pessoas deram gargalha-
das na sua cara. Falava como ninguém sabia falar. Mas dizia coisas que
os manda-chuvas entenderam como revolucionárias. Ele dizia:
- Quem quiser ser dos meus tem que tomar a sua cruz. Quem quiser man-
dar seja como servo de todos. Quem quiser entrar no meu reino tem que
abandonar tudo. Quem quiser viver para sempre tem que comer da mi-
nha carne e beber do meu sangue.
Isso já era demais. As pessoas acharam inconveniente deixar que um rei
assim reinasse sobre elas. Ele só poderia ser um louco. Por isso jogaram
sobre suas costas um manto vermelho, a bandeira dos loucos. E depois,
nunca se viu um rei sem armas e sem soldados. Como ele defenderia os
confins da pátria e o orgulho nacional?
Os homens só reconhecem o direito do mais forte. Portanto, se o rei tiver
muitas armas e muitos guerreiros, viva o rei! Jesus que se acomode em
cima de uma cruz e não incomode mais.
A história poderia terminar assim.
Os homens crucificaram o seu rei, mas ele não está morto. E não é verda-
de que ele não tem armas. Tem uma só arma, mas é a mais poderosa de
todas, mais perigosa que a bomba atômica. É a arma do amor. Aliás, foi
com esta arma que ele conseguiu derrotar milhões de corações.
Então Cristo não é rei pelo poder das armas, mas pelo poderio do amor.
Ele não domina, não esmaga, não açoita, não obriga. Ele só sabe amar e
usar a força do amor. Foi necessário que Cristo sofresse e morresse para
que as ovelhas fossem salvas e não mais sofressem.
Agora compreendemos o porquê da morte do nosso rei. Se alguém tinha
que sofrer, ser açoitado, crucificado, ele mesmo se submeteu a isso. Mas
ninguém mais tem o direito de esmagar, violentar, crucificar suas ovelhas.

66
Vida e sabedoria

A essa altura, temos o direito de fazer uma pergunta: Por que existem no
mundo ainda tantas lágrimas, tantas injustiças e tantas crucificações todos
os dias? Não basta Deus ter morrido por todos nós? É possível que o
destino do nosso rei seja o de ser crucificado nas pessoas de seus irmãos
até o fim dos tempos. Mas que pelo menos não sejamos nós - eu e você -
esses crucificadores impenitentes.

. . . . O preço de nossa vida

guntou:
F amoso palestrante começou um seminário segurando uma
nota de 100 dólares. Numa sala com 200 pessoas, ele per-

- Quem quer esta nota de 100 dólares?


Mãos começaram a se erguer. Ele disse:
- Eu darei esta nota a um de vocês, mas, primeiro, deixem-me fazer o
seguinte.
Então ele amassou a nota. E novamente perguntou:
- Quem ainda quer esta nota?
As mãos continuaram erguidas:
- Bom, disse ele, e se eu fizer isto?
Ele deixou a nota cair no chão e começou a pisá-la e esfregá-la. Depois
pegou a nota, agora imunda e amassada, e perguntou:
- E agora? Quem ainda quer esta nota?
Todas as mãos permaneceram erguidas.
- Meus amigos, vocês todos devem aprender esta lição. Não importa o
que eu faça com o dinheiro, vocês ainda irão querer esta cédula, porque
ela não perdeu o valor. Ela ainda vale 100 dólares.
Isso também acontece conosco. Muitas vezes, em nossas vidas, somos
amassados, pisoteados e ficamos sujos por decisões que tomamos e/ou
pelas circunstâncias em nossos caminhos.

67
100 estórias

Assim nos sentimos desvalorizados, sem importância. Porém, creiam, não


importa o que aconteceu ou o que acontecerá. Jamais perderemos o nosso
valor ante o universo.
Quer estejamos sujos ou limpos, quer amassados ou inteiros, nada disso
altera a importância que temos. O preço de nossas vidas não é pelo que
fazemos ou sabemos, mas pelo que somos. Somos especiais.

. . . . A cruz de cada um

C erta vez, um homem muito piedoso prometeu que carrega-


ria uma cruz sobre os ombros até a cidade mais próxima
se um pedido seu fosse atendido. Pois bem, nosso personagem fez sua
cruz e iniciou sua jornada. Aproximadamente na metade de seu trajeto,
num pequeno vilarejo, já sem forças e com os ombros quase sangrando,
ele avistou uma pequena fábrica de cruzes e perguntou ao proprietário:
- O senhor trabalha com trocas?
O fabricante respondeu sem pensar muito:
- Sim, trabalho.
O cristão piedoso disse:
- Então vou "experimentar" algumas, pois já não estou agüentando o peso
da minha...
Passado algum tempo "experimentando" cruzes (pois uma era muito gran-
de, outra muito pesada, outra muito pequena), o cristão piedoso gritou:
- Achei! Finalmente encontrei uma cruz na medida certa! Quanto lhe devo,
meu caro amigo?
O fabricante, sorrindo, respondeu suavemente:
- Você não me deve nada, meu amigo.

68
Vida e sabedoria

Ainda eufórico, o cristão piedoso disse:


- Como não devo? O senhor teve trabalho, e tenho que remunerá-lo por
isso.
O fabricante, ainda com um sorriso em seu rosto, devolveu:
- Amigo, cada um tem a sua cruz para ser carregada. Deus sabe bem o
peso que cada uma deve ter.
Novamente o cristão piedoso:
- Não estou entendendo...
O fabricante explicou:
- É simples: quando você começou a experimentar as cruzes, deixou de lado
a sua e, em meio à bagunça feita em meu estabelecimento, optou por esta
cruz, que é simplesmente a mesma que entrou aqui apoiada em seus ombros.

. . . . Enfoques diferentes

U ma indústria brasileira de calçados desenvolveu um proje-


to de exportação de sapatos para a índia.
Em seguida, mandou dois de seus consultores para regiões diferentes
daquele país para estes fazerem as primeiras observações do potencial
daquele futuro mercado.
Depois de alguns dias, um dos consultores enviou o seguinte fax à dire-
ção da indústria: "Senhores, cancelem o projeto de exportação de sapatos
para a índia. Aqui ninguém usa sapatos".
Sem ter conhecimento desse fax, alguns dias depois o segundo consultor
mandou o seu: "Senhores, tripliquem o projeto da exportação de sapatos
para a Índia. Aqui ninguém usa sapatos ainda".
A mesma situação que era um tremendo obstáculo para um dos consulto-
res era uma fantástica oportunidade para outro. Da mesma forma, tudo
na vida pode ser visto com enfoques e maneiras diferentes.

69
100 estórias

A sabedoria popular traduz essa situação com a seguinte frase: "Os tris-
tes acham que o vento geme; os alegres acham que ele canta".
O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus
próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida faz a diferença.

. . . . Cheque escondido

U m rapaz ia muito mal na escola. Suas notas e seu compor-


tamento eram uma decepção para seus pais. Eles sonha-
vam ver seu filho formado e bem-sucedido. Num belo dia, o pai propôs um
acordo ao filho:
- Se você, meu filho, mudar o comportamento, dedicar-se aos estudos e
conseguir ser aprovado no vestibular para a Faculdade de Medicina, eu
lhe darei um carro de presente.
Por causa do carro, o rapaz mudou da água para o vinho. Passou a estu-
dar como nunca antes fizera e a ter um comportamento exemplar. O pai
estava feliz, mas tinha uma preocupação. Sabia que a mudança do rapaz
não era fruto de uma mudança sincera, mas apenas conseqüência do seu
interesse em ganhar um carro. Isso era ruim. O rapaz seguia os estudos
e aguardava o resultado de seus esforços.
Assim, o grande dia chegou. Foi aprovado para o curso de Medicina. Con-
forme havia prometido, o pai convidou a família e os amigos para uma
festa de comemoração. O rapaz tinha por certo que, na festa, o pai lhe daria
o carro. Quando pediu a palavra, o pai elogiou o resultado obtido pelo filho
e lhe deu como presente uma caixa. Certo de que ali estavam as chaves do
carro, o rapaz abriu emocionado o pacote. Para sua surpresa, o presente
era uma Bíblia. O rapaz ficou visivelmente decepcionado e nada disse.
A partir daquele dia, o silêncio e a distância reinavam entre pai e filho. O
jovem se sentia traído e lutava agora para ser independente. Deixou a
casa dos pais e foi morar no campus da universidade. Raramente manda-
va notícias à família. O tempo passou, ele se formou, conseguiu um em-
prego num bom hospital e esqueceu completamente o pai.
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Vida e sabedoria

Todas as tentativas do pai para reatar os laços foram em vão. Até que um
dia o velho, muito triste com a situação, adoeceu e não resistiu. Faleceu.
No enterro, a mãe entregou ao filho indiferente a Bíblia que tinha sido o
último presente do pai e que havia sido deixada para trás.
De volta à sua casa, o rapaz, que nunca perdoara o pai, ao colocar o livro
numa estante, notou que havia um envelope dentro dele. Ao abri-lo, encon-
trou uma carta e um cheque. A carta dizia:
"Meu querido filho, sei o quanto você deseja ter um carro. Eu prometi, e
aqui está o cheque para que você escolha aquele que mais lhe agradar.
No entanto, fiz questão de lhe dar um presente ainda melhor: a Bíblia
Sagrada. Nela aprenderás o amor a Deus e a fazer o bem, não pelo prazer
da recompensa, mas pela gratidão e pelo dever de consciência". Corroído
pelo remorso, o filho caiu em profundo pranto.
É triste a vida daqueles que não sabem perdoar! Isso leva a erros terrí-
veis. Antes que seja tarde, perdoe aquele que você pensa que lhe fez mal.
Talvez se olhar com cuidado, vai ver que também há um "cheque escondi-
do" em todas as adversidades da vida.

. . . . Uma amizade bonita

ra uma vez uma flor que nasceu no meio das pedras.


Quem sabe como ela conseguiu crescer e ser um sinal de
vida no meio de tanta tristeza!
Passou uma jovem e ficou admirada com a flor.
Logo pensou em Deus.
Cortou a flor e levou-a para a igreja. Mas, após uma semana, a flor tinha
morrido.
Era uma vez uma flor que nasceu no meio das pedras.
Quem sabe como ela conseguiu crescer e ser um sinal de vida no meio de
tanta tristeza!

71
100 estórias

Passou um homem, viu a flor, pensou em Deus, agradeceu e a deixou ali;


não quis cortá-la para não a matar.
Mas, dias depois, veio uma tempestade e a flor morreu.
Era uma vez uma flor que nasceu no meio das pedras.
Quem sabe como ela conseguiu crescer e ser um sinal de vida no meio de
tanta tristeza!
Passou uma criança e achou que aquela flor era parecida com ela: bonita,
mas sozinha.
Decidiu voltar todos os dias. Um dia regou, outro dia trouxe terra, outro
dia podou, depois fez um canteiro, colocou adubo...
Um mês depois, lá onde só tinha pedras e uma flor havia um jardim.

. . . . Dar sentido à vida

H á alguns anos, nas olimpíadas especiais de Seattle (EUA),


nove participantes, todos com deficiência mental ou físi-
ca, alinharam-se para a largada da corrida dos 100 metros rasos. Ao si-
nal, todos partiram, não exatamente em disparada, mas com vontade de
dar o melhor de si, terminar a corrida e ganhar.
Todos - com exceção de um garoto, que tropeçou no asfalto, caiu rolando
pelo chão e começou a chorar. Os outros oito ouviram o choro. Diminuí-
ram o passo e olharam para trás. Então eles viraram e voltaram. Todos
eles.
Uma das meninas, com Síndrome de Down, ajoelhou-se, deu um beijo no
garoto e disse:
- Pronto, agora vai sarar.
E todos os nove competidores deram os braços e andaram juntos até a
linha de chegada.

72
Vida e sabedoria

O estádio inteiro levantou, e os aplausos duraram muitos minutos. As pessoas


que estavam ah, naquele dia, continuam repetindo essa história até hoje.
Talvez os atletas fossem deficientes mentais. Mas, com certeza, não eram
deficientes de sensibilidade.
Por quê? Porque, lá no fundo, todos nós sabemos que o que importa nesta vida
é mais do que ganhar sozinho. O que importa nesta vida é ajudar os outros a
vencerem, mesmo que isso signifique diminuir o passo e mudar de curso.

. . . . Pedras grandes da vida

E specialista em "gestão do tempo" quis surpreender sua pla-


téia durante uma conferência. Tirou de baixo da mesa um
recipiente grande, de boca larga. Colocou-o sobre a mesa ao lado de uma
pilha de pedras do tamanho de um punho e perguntou:
- Quantas pedras vocês acham que cabem neste recipiente?
Após algumas conjeturas dos presentes, o consultor começou a colocar
as pedras até encher o recipiente. Então perguntou:
- Está cheio?
Todos olharam para o recipiente e disseram que sim.
Em seguida, ele tirou um saco de pedrinhas bem pequenas debaixo da
mesa. Colocou parte delas dentro do recipiente e agitou-o. As pedrinhas
se infiltraram nos espaços entre as pedras grandes.
O consultor sorriu e novamente perguntou:
- Está cheio?
Dessa vez, os ouvintes duvidaram:
- Talvez não...
- Muito bem, exclamou o consultor, pousando sobre a mesma um saco
com areia, que começou a despejar no recipiente. A areia infiltrava-se nos
pequenos buracos deixados pelas pedras e pedrinhas.

73
100 estórias

- Está cheio?, perguntou de novo.


- Não, exclamaram os ouvintes.
Pegou, então, um jarro e começou a derramar água dentro do recipiente,
que absorvia a água sem transbordar. Então ele deu por encerrada a ex-
periência e perguntou:
- Bom, o que acabamos de demonstrar?
Um participante respondeu:
- Que não importa o quão cheia está nossa agenda; se quisermos, sempre
conseguiremos fazer com que caibam outros compromissos.
- Não, concluiu o especialista, o que esta lição nos ensina é que, se não
colocarmos as pedras grandes primeiro, nunca seremos capazes de colocá-
las depois.
E quais são as grandes pedras em nossas vidas? São Deus, os nossos
filhos, a pessoa amada, os amigos, os nossos sonhos, a nossa saúde. O
resto é resto e encontrará o seu lugar.

. . . . A jarra e as moedas

U ma senhora tinha uma bela jarra de cristal. Guardou algu-


mas moedas dentro dela e colocou-a na cristaleira.
Um menino viu as moedas e enfiou a mão, que ficou presa. Fechada a
mão, o menino não conseguia tirá-la. Aberta, perderia as moedas. Então
o menino começou a gritar desesperadamente. Foi uma grande correria.
Juntou muita gente, e cada um deu seu palpite. Uns queriam chamar o
médico, outros queriam colocar água com sabão e ainda outros queriam
quebrar a jarra. Então chegou o pai do menino e falou:
- Meu filho, tenho aqui um punhado de moedas, se você abrir a mão e largar
as moedas da jarra, eu darei as que tenho aqui.
Em confiança no pai, o menino abriu a mão, largou as moedas e tirou a mão
tranqüilamente da jarra.

74
Vida e sabedoria

Nós todos seguramos as nossas moedas. E elas, às vezes, nos colocam em


grandes apuros. Gostamos de segurá-las com tanta força, ainda que com-
pliquem nossa vida e tirem a nossa liberdade.
"Cristo nos libertou para que sejamos verdadeiramente livres..." Pode-
mos analisar as moedas que seguramos, as moedas do orgulho, da honra,
da última palavra, das inimizades, das coisas proibidas, da falta de amor,
do egoísmo... Jesus Cristo nos quer libertar dessa escravidão. Quando
largamos as moedas e abrimos a mão, vamos descobrir que elas nem são
tão importantes assim quanto pensávamos que fossem.

. . . . A Verdade e o Amor

Verdade andava triste pelo caminho:


- As pessoas têm saudade de mim. Mas quando venho e as
encontro pelas ruas, ficam com medo de mim e fogem para dentro das casas.
Certo dia, a Verdade se encontrou com o Amor. O Amor estava com uma
roupa colorida e quentinha. As pessoas corriam atrás dele e o convida-
vam para entrar em seus lares.
O Amor viu a tristeza e amargura da Verdade e perguntou:
- Diga-me, amiga Verdade, por que você está tão tristonha?
- Ora, não estou nada bem, respondeu a Verdade. Estou velha, e as pes-
soas não querem compartilhar sua vida comigo.
- Não é por você estar velhinha que as pessoas não gostam de você. Eu
também sou velho, e as pessoas ainda me amam. Acontece que elas se
assustam com você por estar tão nua. Vista-se com o meu calor e a beleza
das cores. Cubra o tesouro da verdade com o abrigo do amor e será bem-
vinda às pessoas. A Verdade nua é algo tão ruim quanto um amor de
mentira. Nós ambos precisamos um do outro. Porque um Amor com Ver-
dade e uma Verdade com Amor são fontes de vida e alegria.

75
100 estórias

ntrei e vi um anjo no balcão. Maravilhado, disse-lhe:


- Santo Anjo, o que você vende?
- Todos os dons de Deus.
Voltei a perguntar:
- Custam caro?
- Não, é tudo de graça.
Contemplei a loja e vi vidros de fé, pacotes de esperança, caixinhas de
salvação e sabedoria. Tomei coragem e pedi:
- Por favor, quero muito amor de Deus, todo o perdão dele, um vidro de fé,
bastante felicidade e salvação para mim e para a minha família.
Então o anjo do Senhor preparou-me um pequeno embrulho que cabia na
minha mão.
Maravilhado, perguntei:
- É possível caber tudo aqui?
Sorrindo, o anjo respondeu-me:
- Meu querido irmão, na loja de Deus não vendemos frutos. Apenas se-
mentes.

. . . . As mães e seus filhos

C erto dia, três mulheres foram até um poço buscar água.


Ali, junto do poço, um velhinho escutava o que as mulhe-
res conversavam. Uma delas disse:
- Meu filho é o mais ágil e rápido de todos os alunos na escola. Com toda

76
Vida e sabedoria

certeza, ele será um grande atleta e desportista. Vai ganhar muitas meda-
lhas e dinheiro. Vai ficar rico com o esporte.
Ai a outra mãe disse:
- Meu filho, ele tem a voz mais melodiosa de todos os alunos da escola. Na
certa será um grande cantor. Vai gravar muitos discos. Ele também vai
ganhar muito dinheiro e vai ficar rico.
E, por último, disse, bem baixinho, a terceira mulher:
- Meu filho não faz nada de especial.
Depois dessa conversa, as três mulheres pegaram cada uma os seus pe-
sados baldes para voltar para casa. Nesse instante, vieram correndo ao
seu encontro os três filhos. O primeiro fazia piruetas, uma atrás da outra.
O segundo cantava como um sabiá. O terceiro, porém, pegou o pesado
balde de sua mãe e o levou para casa.
Foi então que a primeira mulher viu o velhinho e lhe perguntou, esperan-
do um elogio:
- O que o senhor achou dos nossos filhos?
O velhinho, admirado, respondeu:
- Seus filhos? Eu só vi um filho! Foi aquele que pegou o balde pesado de
sua mãe e o levou para casa.

. . . . A surpresa de Deus

E ntre os anjos se ouvia falar que Deus estava preparando


uma surpresa. Não se sabe bem como este boato começou.
Logo houve um pressentimento. Deve ter sido algum anjo velho, sabedor
dos movimentos do universo.
Talvez alguém pensou em voz alta, e essas palavras foram aceitas como pura
verdade. A questão é que houve mesmo movimentos nunca vistos antes no
céu. E eles não passaram desapercebidos. Será uma nova estrela? Uma galá-
xia em formação? Um novo planeta? Ou uma nova espécie de ser vivo?

77
100 estórias

O brilho do Espírito de Deus movia-se numa intensidade fora do comum.


E isto acentuava o mistério e fazia as mentes curiosas dos anjos pequenos
vibrarem.
Tudo isso não impediu que cada um fizesse sua tarefa. É claro que houve
uma e outra distração (não muito grave), nada que não fosse solucionado,
rapidamente, por algum arcanjo com mais experiência. Pouca coisa: um
par de buracos negros que cresceram mais do que o calculado, algumas
órbitas não-previstas e um pouco de pó cósmico a mais do que precisava.
É claro que, para quem vive no céu, no geral, o que mais sobra é tempo.
Mas, sem dúvida, o ato de esperar uma surpresa da parte do Criador,
assim como entre nós comuns seres humanos, como para os anjos, faz
com que os séculos não passem nunca. Até chegaram a fazer apostas
sobre qual seria o ato surpresa e dentro de que constelação, de que siste-
ma, de que planeta se consumaria tal feito de Deus.
Todas as expectativas foram superadas quando foi anunciado que Deus
mostraria plenamente seu rosto e sua glória. Nem os anjos eternamente
velhos recordavam de qualquer ação semelhante. Imediatamente, come-
çaram a pensar: "Em que lugar de sua criação se poderia acolher seme-
lhante presente e que marco poderia encerrar tanta beleza?"
E quando souberam de verdade onde Deus desceu e de que forma ele se
apresentou em toda sua glória (numa humilde estrebaria entre o boi e o
burrico), a surpresa foi tanta, que só atinaram em cantar:
"Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os homens a quem ele quer
bem".

. . . . Irmã não pesa

P edro era o filho mais velho de uma família com dois filhos.
Sua mãe trabalhava como faxineira, e seu pai, há quatro
anos, saíra para comprar cigarros e nunca mais voltara.
Todos os dias, quer fizesse sol ou chovesse, Pedro carregava sua irmã
Joana até a escola. Ela, quando era bem pequena, sofrera paralisia infan-
til e não podia mais andar.
78
Vida e sabedoria

O tempo foi passando. Joana, já com oito anos, era bem pesada e grande.
Mesmo assim, Pedro, que tinha onze anos, todos os dias carregava Joana
até a escola.
Seu João, dono do armazém - que via Pedro passar todos os dias -, per-
guntou-lhe num certo dia:
- Pedro, sua irmã é tão grande, tão crescida. Ela não é pesada demais
para você?
- Não, não, seu João, respondeu Pedro. - Ela não pesa. Ela é minha irmã.

. . . . Diamantes nas sacolas

E ra uma vez um lugar bem longínquo, há muitos e muitos


anos. Um grupo de cavaleiros viajava numa noite escura. Com
seus cavalos já cansados, subiam uma montanha pedregosa e íngreme.
A exaustão e o desânimo estavam presentes em todos os membros do
grupo. O desejo de todos era parar e dormir, mas a viagem não podia ser
interrompida.
Nisso ouviu-se uma voz forte, vinda dos céus, como um trovão:
- Desmontem de suas montarias, encham suas sacolas com as pedras que
há no chão e remontem, continuando a viagem. Ao amanhecer, vocês es-
tarão tristes e alegres ao mesmo tempo.
Alguns desmontaram; outros, não.
Uns pegaram muitas pedras; outros, poucas.
Sem muita demora, seguiram viagem.
Ao amanhecer, conforme a voz anunciara, estavam alegres e tristes ao
mesmo tempo.
Alegres, porque não eram pedras comuns: eram diamantes; tristes, porque
ficaram arrependidos de não ter recolhido maior quantidade de pedras...

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100 estórias

. . . . Cheio de luz

onta-se que, no Oriente, vivia um velho monarca. Ao pres-


sentir que sua vida estava caminhando para o fim, cha-
mou seus dois filhos e lhes propôs:
- Já sou avançado em idade e sinto minhas forças desfalecerem. Um de
vocês dois será o herdeiro real. Para não ser injusto, proponho a seguinte
tarefa: Quem de vocês encher melhor o grande salão do palácio, este será
meu sucessor.
Recebida a incumbência, cada um dos filhos buscou conselhos e se lan-
çou a solucionar sua tarefa. Um deles foi ao campo em busca de palha.
Trabalhou, trabalhou, mas, ao chegar a hora da decisão, o salão ainda
estava meio vazio.
O outro filho, mais sábio, dirigiu-se a um mercado. Comprou um vaso de
barro e óleo. Na hora marcada, chegou diante do velho rei e pôs fogo no
vaso com óleo. Todo o grande salão encheu-se de luz.
O velho rei entregou seu trono ao segundo filho, que enchera de luz o
grande salão palaciano.

. . . . Filho de sapateiro

Q uando Abraham Lincoln foi eleito presidente dos Estados


Unidos, houve um forte constrangimento entre as classes
dominantes. Afinal, ele era filho de sapateiro e iria dirigir pessoas de
famílias tradicionais.
Ao fazer o seu primeiro discurso no senado, um político muito arrogante
aproximou-se e disse:
- Antes de o senhor começar, eu gostaria de lembrá-lo de que o senhor é
filho de um sapateiro.

80
Vida e sabedoria

E todos riram imediatamente. No fundo, todos queriam humilhá-lo, já


que derrotá-lo não havia sido possível. Mas um homem como Lincoln é
difícil de ser derrubado. Ele, então, respondeu:
- Obrigado por lembrar-me do meu pai neste momento. Eu provarei ser
um presidente tão bom quanto o sapateiro que ele foi. Eu me lembro de
que meu pai sempre fez os sapatos de sua família. Se os sapatos apresen-
tarem algum problema, você pode trazê-los e eu os consertarei. Desde
cedo aprendi a consertar sapatos e agora que meu pai está morto, posso
cuidar dos seus. Aliás, se algum de vocês tiver um sapato feito pelo meu
pai que esteja precisando de conserto, pode trazer para mim. Mas de uma
coisa estejam certos: eu não sou tão bom quanto ele.

. . . . A morte não tem mãos

U m cristão que vivia na África perdeu sua filha de sete anos.


A morte a arrancara de sua família. Um profundo luto e
uma profunda dor tomaram conta de todos, mas aquela família também
encontrava força e motivação para a vida na esperança da vida eterna,
anunciada por Jesus Cristo.
Sobre a sepultura simples da menina o pai colocou uma tosca cruz de
madeira e escreveu na cruz estas palavras significativas: A morte não
tem mãos. Quando alguém perguntava ao pai da menina o que significa-
vam essas palavras, ele respondia:
- Eu sei, e nisto creio firmemente, que a morte não pode levar embora
para sempre nem segurar para sempre a vida de minha filha, pois a morte
não tem mãos. Sei que a verei um dia junto a Jesus Cristo.
Desde a Páscoa, a morte não tem mais mãos que podem segurar para
sempre.

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100 estórias

. . . . Alcance de nossa visão

Q uatro crianças brincavam juntas, e cada uma resolveu con-


tar suas vantagens, como só acontece em ocasiões como
esta. Acrescente-se que todas moravam no mesmo edifício.
A primeira disse:
- Eu moro no primeiro andar e enxergo até o mato que está lá adiante,
nos fundos do edifício.
A segunda afirmou:
- Eu moro no segundo andar e enxergo por cima daquele mato e vejo a
lagoa que está bem mais longe.
A terceira criança sentenciou:
- Pois eu moro no terceiro andar e enxergo o mais longe de todos: por
cima do mato e além da lagoa. Eu vejo lá nos fundos, no horizonte, o
mar... Parece que toca o céu.
Aí as três se viraram para o quarto menino - tinha esquecido de dizer
que eram quatro guris -, que era o filho do zelador. Sua moradia era no
porão do edifício. Perguntaram a ele:
- E você enxerga até onde?
Retraída, humilde por sua condição social, a quarta criança respondeu
aos amiguinhos:
- Sabe, eu de noite abro a janela, olho para o céu e vejo as estrelas...

82
Vida e sabedoria

. . . . O que é a vida?

N
cabecinhas sob
um lindo dia de sol, por volta do meio-dia, houve grande
silêncio na mata. Os passarinhos haviam escondido suas
e tudo descansava.
Foi quando o bem-te-vi espiou por entre as folhagens da árvore e perguntou:
- O que é, afinal, a vida?
Todos estavam admirados com esta pergunta difícil. Uma roseira, à bei-
ra do caminho, estava abrindo um botão e, desenrolando uma pétala após
a outra, disse:
- A vida é desenvolvimento.
A borboleta era menos profunda. Voava de uma flor a outra, dizendo:
- A vida é só alegria e brilho.
Uma formiga carregava uma haste, dez vezes maior do que ela, e falou:
- A vida não é nada mais do que trabalho e cansaço.
A abelha, carregada de néctar, observou:
- A vida é um misto de trabalho e prazer.
Neste momento, começou a chover. E a chuva dizia:
- A vida consiste de lágrimas, só lágrimas.
E a chuva seguia para o mar. Ali as ondas se jogavam com toda a força
contra as rochas e gemiam:
- A vida é uma luta constante e sem êxito por liberdade.
Não muito longe da margem, estava uma árvore, já encurvada pelas tem-
pestades. Ela disse:
- A vida é inclinar-se sob uma força maior.
No Evangelho de João, capítulo 14, versículo 6, Jesus diz: "Eu sou o cami-
nho, a verdade e a vida". Em outra passagem, ele diz: "Eu vim para que
tenham vida em abundância".

83
100 estórias

. . . . Um ladrão de machado

milenar cultura chinesa nos traz a seguinte história:


Um homem perde seu machado. Ele desconfia do filho do
vizinho e começa a observá-lo atentamente. O andar do menino era o de
um ladrão de machado. Todos os seus movimentos e todo o seu ser expri-
miam claramente o jeito de um ladrão de machado.
Ora, ocorre que o homem que havia perdido o machado, ao cavar por
acaso a terra no vale, reencontrou seu instrumento de trabalho que havia
desaparecido.
No dia seguinte, ele observava novamente o filho do vizinho. Todos os
seus movimentos e todo o seu ser deixavam de ser os de um ladrão de
machado.
Esta narrativa nos mostra o quanto somos capazes de nos deixar influen-
ciar pelas circunstâncias, que as palavras que proferimos, as imagens
mentais que formamos, as situações que vivemos e os juízos que emiti-
mos constroem verdades.
A realidade então passa a ser tudo aquilo que criamos e firmemente acre-
ditamos. Cientes desse poder, devemos ter cautela ao analisar pessoas ou
fatos, para não correr o risco de ser injustos.
Precisamos ter muito cuidado para não ver em qualquer pessoa a figura
de um ladrão de machado.

. . . . Três leões alpinistas

H avia uma vez três leões. Um dia, o macaco, representante


eleito dos animais súditos, fez uma reunião com toda a
bicharada da floresta e disse:

84
Vida e sabedoria

- Nós, os animais todos, sabemos que o leão é o rei dos animais, mas há
uma dúvida no ar: existem três leões fortes. Ora, a quem dos três deve-
mos prestar homenagem? Quem dentre eles deverá ser nosso rei?
Os três leões souberam da reunião e comentaram entre si:
- É verdade, a preocupação da bicharada faz sentido. Uma floresta não
pode ter três reis. Precisamos saber qual de nós será o escolhido.
Mas como descobrir? Esta era a grande questão: lutar entre si eles não
queriam, pois eram muito amigos. O impasse estava formado. De novo,
todos os animais se reuniram para discutir uma solução para o caso. De-
pois de usarem técnicas de reunião do tipo brainstorming, seis chapéus,
etc, eles tiveram uma idéia excelente. O macaco se encontrou com os três
felinos e contou o que haviam decidido:
- Bem, senhores leões, encontramos uma solução desafiadora para o pro-
blema. A solução está na Montanha Difícil.
- Montanha Difícil? Como assim?
- É simples, ponderou o macaco. - Decidimos que vocês três deverão es-
calar a Montanha Difícil. Aquele que atingir o pico primeiro será consa-
grado rei dos reis.
A Montanha Difícil era a mais alta entre todas naquela imensa floresta. O
desafio foi aceito. No dia combinado, milhares de animais cercaram a
Montanha para assistir a grande escalada.
O primeiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O segundo tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
O terceiro tentou. Não conseguiu. Foi derrotado.
Os animais estavam curiosos e impacientes. Afinal, qual deles seria o rei,
sendo que os três foram derrotados? Foi nesse momento que uma Águia
sábia, idosa na idade e grande em sabedoria, pediu a palavra:
- Eu sei quem deve ser o rei.
Todos os animais fizeram um silêncio de grande expectativa.
- A senhora sabe, mas como sabe?, gritaram todos para a Águia.
- É simples, confessou a sábia Águia, eu estava voando entre eles, bem de
perto, quando eles voltaram fracassados para o vale. Eu escutei o que cada

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100 estórias

um deles disse para a montanha. O primeiro leão disse: Montanha, você me


venceu! O segundo leão disse: Montanha, você me venceu! O terceiro leão
também disse que foi vencido, mas com uma diferença. Ele olhou para sua
dificuldade e disse: Montanha, você me venceu, por enquanto! Mas você,
Montanha, já atingiu seu tamanho final, e eu ainda estou crescendo.
- A diferença, completou a Águia, é que o terceiro leão teve uma atitude
de vencedor diante da derrota, e quem pensa assim é maior que seu pro-
blema: é rei de si mesmo, está preparado para ser rei dos outros.
Os animais da floresta aplaudiram entusiasticamente o terceiro leão, que
foi coroado rei entre os reis.

. . . . A prova do rosto

H á alguns anos, alguns homens estavam à procura de ouro


em Montana, nos Estados Unidos. Encontraram uma pe-
dra muito grande, que continha muito ouro.
- Encontramos ouro. Estamos ricos.
Alguns dias depois dessa extraordinária descoberta, necessitavam fazer
compras no povoado próximo ao seu acampamento entre as montanhas.
Fizeram um pacto entre si:
- Não vamos contar a ninguém do ouro que descobrimos.
Todos prometeram guardar segredo. Após terem feito suas compras e esta-
rem se preparando para voltar ao acampamento, notaram cerca de cem
homens querendo segui-los. Perguntaram-se, uns aos outros, se alguém ti-
nha revelado seu segredo, e como ninguém tinha falado nada, pergunta-
ram àqueles homens sobre quem tinha contado a eles que haviam desco-
berto ouro.
- Ninguém precisou nos contar que vocês descobriram algo muito pre-
cioso; o rosto de vocês demonstrava isso, responderam.

86
Vida e sabedoria

. . . . Um caboclo na rede

m homem muito rico resolveu viajar. Então pegou seu iate


e saiu pelo mundo.
Certo dia, chegou a uma ilha maravilhosa, cheia de riachos de água cris-
talina e cachoeiras.
O homem rico começou a andar pela ilha e encontrou um caboclo deitado
numa rede, olhando para aquele mar muito azul.
Chegou bem perto do caboclo e puxou conversa:
- Muito bonito tudo por aqui... Tem muito peixe nesse mar?
- É só jogar a rede e pegar quantos quiser.
- Por que você não pesca?
- Pra quê?
- Ora, você pega um montão de peixes e vende.
- Pra quê?
- Com o dinheiro desses peixes você compra uma canoa maior, vai mais
no fundo e pega mais peixe ainda.
- Pra quê?
- Você vai juntando cada vez mais dinheiro, compra cada vez mais bar-
cos, até chegar um dia em que você terá uma indústria de pesca.
- Pra quê?
- Ora, você então será um homem poderoso, um homem rico, terá tudo o
que quiser, tudo o que sonhar, poderá comprar um iate como o meu, pode-
rá comprar uma ilha como esta e então ficar o "resto da vida descansan-
do" sem preocupações...
- E o que é que eu estou fazendo agora?

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100 estórias

. . . . Lealdade ao objetivo

A história ensina que Spartacus, escravo gladiador roma-


no, liderou no ano 71 a.C. uma rebelião de escravos. Aque-
les homens lutavam por sua liberdade; não queriam ser escravos de Roma.
Embora conseguissem derrotar por duas vezes as legiões romanas, não
foram capazes de suplantar o exército do general Marcus Crassus.
Os sobreviventes da batalha com Crassus foram confinados numa gran-
de praça, todos sentados sob os olhares atentos dos soldados romanos. O
general romano, todo-poderoso, dirigiu-se a eles nos seguintes termos:
- Vocês são escravos e continuarão sendo escravos. Contudo, serão pou-
pados da pena de morte por traição à Roma, desde que entreguem o escra-
vo Spartacus, pois não sabemos quem ele é.
Houve um longo e profundo silêncio em toda a praça, enquanto Spartacus
e seus liderados ponderavam o que Crassus havia acabado de falar.
Então Spartacus se levantou e gritou:
- Eu sou Spartacus.
Neste mesmo instante aconteceu o inesperado: o escravo que estava a seu
lado também se levantou e disse:
- Eu sou Spartacus.
Outro lá atrás fez o mesmo, seguido por outro bem ali na frente. Um a um
todos o que restaram do exército escravo se levantaram e gritaram:
- Eu sou Spartacus.
Todos ali optaram pela morte.
Qual é a lição que podemos tirar desta incrível história para o nosso coti-
diano?
A lealdade do exército escravo não era apenas ao homem Spartacus, mas
ao objetivo que ele inspirava e que era compartilhado por todos: a idéia
de abandoná-lo e voltar à escravidão não os moveu.
Um objetivo comum, compartilhado por um grupo, pode se tornar uma
força impressionante. Isto nos faz refletir:

88
Vida e sabedoria

Será que aqueles que são líderes estão passando a cada membro da sua
equipe um objetivo maior, de todo o grupo, usando assim esse incrível
poder em prol dos resultados?
Será que já desenvolvemos em nós mesmos a habilidade necessária para que
possamos conseguir o comprometimento de todos com um objetivo maior?

. . . . Coisas mais importantes

U m jovem rei, com um desejo muito grande de conhecer as


coisas da vida, do mundo, convocou os sábios e filósofos
de seu reino. Eles deveriam anotar e registrar tudo o que considerassem
importante sobre a vida.
O pedido do rei foi levado muito a sério. Após quarenta anos de muito
trabalho e pesquisa, de muita reflexão e anotações, os sábios retornaram
ao rei, trazendo mil livros, nos quais estava registrado tudo o que consi-
deravam importante para a vida.
O rei, que agora estava com sessenta anos, pediu a seus sábios que fizes-
sem um resumo do seu trabalho, pois ele não teria mais condições de ler
mil livros aos sessenta anos.
Após dez anos, os sábios retornaram novamente ao rei, trazendo um resu-
mo das coisas mais importantes da vida em cem livros. Novamente o rei, já
mais idoso, reagiu dizendo:
- Cem livros ainda é demais. Com setenta anos não posso mais ler e refletir
sobre as coisas mais importantes da vida.
Deu nova tarefa aos seus sábios e filósofos:
- Anotem realmente só o essencial.
Realizada a tarefa, voltaram ao rei, mas agora com um único livro. O rei,
no entanto, estava à beira da morte. O desejo de conhecer as coisas mais
importantes da vida ainda estava bem presente na vida do rei, apesar de

89
100 estórias

sua idade avançada, fraqueza e doença. Pediu aos sábios e filósofos que
resumissem todos os anos de trabalho, pesquisa e estudo em uma única
frase. O rei queria conhecer, antes de morrer, quais as descobertas e con-
clusões de seus sábios.
O resumo apresentado pelos sábios foi este:
- O ser humano nasce, vive, sofre e morre, e o mais importante na vida e
o que sobrevive a tudo é o amor recebido e o amor presenteado.

. . . . Presente de Natal

D epois que os pastores haviam se retirado, tudo silenciou


ao redor do presépio. Foi quando o menino Jesus levantou
a cabeça e olhou para a porta. Ali estava um menino, tímido e triste.
- Chega mais perto, disse Jesus. Por que estás com medo?
- Eu não trouxe nenhum presente para ti, respondeu o menino.
- Oh, mas eu gostaria que me desses três coisas, disse Jesus.
- Mas eu não tenho nada para te dar, respondeu o menino, encabulado.
- Podes dar-me o desenho que fizeste de manhã?
- Ninguém gostou do desenho, disse o menino, com tristeza.
- É por isso que eu o quero. Quero que sempre me dês aquilo que os
outros não gostam e também aquilo que não gostam em ti.
O menino Jesus continuou:
- Como segundo presente dá-me teu prato.
- Eu o quebrei hoje de manhã.
- Sim, é por isso mesmo que eu o quero. Quero consertá-lo. Quero que
sempre me tragas o que estiver quebrado em tua vida.
O menino Jesus acrescentou:

90
Vida e sabedoria

- Como última coisa, quero que me dês a resposta que deste a teus pais,
quando te perguntaram a respeito do prato.
- Eu menti, disse o menino.
- Eu sei, respondeu Jesus. Mas quero que sempre tragas para mim o que
está errado em tua vida. Tuas maldades, mentiras, tristezas, complexos e
tua falta de confiança. Quero te dar a minha alegria para substituir a tua
tristeza, minha paz para substituir tua ansiedade, minha verdade para
substituir tuas mentiras e o meu amor para preencher a tua amargura.

. . . . Você é importante

ma professora de Nova Iorque decidiu homenagear seus alu-


nos do último ano colegial, dizendo a cada um deles a sua
importância. Usando um processo desenvolvido por Hélice Eridges, da
Califórnia, ela chamou todos os alunos para a frente da classe, um de
cada vez. Primeiro, disse a eles como eram importantes para ela e para a
classe. Então, presenteou cada um deles com um laço azul com uma frase
impressa em letras douradas: "Eu sou importante".
Depois, a professora resolveu desenvolver um trabalho com a classe: Que
tipo de impacto o reconhecimento teria sobre uma comunidade? Deu a
cada aluno três laços e os instruiu para que saíssem e disseminassem a
cerimônia de reconhecimento. Em seguida, eles deveriam acompanhar
os resultados, ver quem homenageara quem e relatá-lo à classe dentro de
uma semana.
Um dos garotos foi até um executivo júnior de uma empresa próxima e o
condecorou por ajudá-lo no planejamento de sua carreira. Explicou-lhe:
- Estamos fazendo um trabalho para a escola sobre reconhecimento e gos-
taríamos que você procurasse alguém para homenagear, que o presenteas-
se com um laço azul e que então lhe desse o outro laço para homenagear
uma terceira pessoa, disseminando esta cerimônia de reconhecimento. Em
seguida, por favor, procure-me novamente e conte-me o que aconteceu.
Mais tarde naquele dia, o executivo júnior procurou seu chefe, que, por

91
100 estórias

falar nisso, era tido até então como um cara rabugento. Pediu ao chefe
que se sentasse e lhe disse que o admirava profundamente por ser um
gênio criativo. O chefe pareceu muito surpreso. O executivo júnior per-
guntou-lhe se ele aceitaria o laço azul como presente e se permitiria que
ele o colocasse. Seu chefe, surpreso, disse:
- Bem, certamente.
O executivo júnior pegou o laço azul e colocou-o no paletó do chefe bem
acima do coração. Ao dar ao chefe o último laço, disse:
- O senhor me faria um favor? Receberia este outro laço e o passaria
adiante, homenageando outra pessoa? O garoto que me deu os laços está
fazendo um trabalho para a escola e queremos que esta cerimônia de
reconhecimento prossiga, para descobrir como ela influencia as pessoas.
Naquela noite, ao chegar em casa, o chefe procurou seu filho de quatorze
anos e pediu que sentasse. Ele disse:
- Hoje me aconteceu a coisa mais incrível. Estava em meu escritório, e
um dos executivos juniores entrou, disse que me admirava e me deu este
laço azul por me considerar um gênio criativo. Então, ele prendeu este
laço azul que diz "Eu sou importante" no meu paletó, bem sobre meu
coração. Deu-me um outro laço e pediu-me que homenageasse uma outra
pessoa. Esta noite, voltando para casa, comecei a pensar em quem home-
nagearia com este laço e pensei em você. Quero homenagear você. Meus
dias são muito tumultuados e, quando chego em casa, não lhe dou muita
atenção. Algumas vezes grito com você por não tirar boas notas na esco-
la e por seu quarto estar uma bagunça, mas, de qualquer forma, esta
noite eu gostaria apenas de me sentar aqui e, bem, dizer-lhe que você é
importante para mim. Além de sua mãe, você é a pessoa mais importante
em minha vida. Você é um grande garoto, e eu amo você.
O sobressaltado garoto começou a soluçar e não conseguia parar de cho-
rar. Todo seu corpo tremia. Ele olhou para o pai e disse através das lágri-
mas:
- Papai, eu planejava cometer suicídio amanhã, porque achava que você
não me amava. Agora não preciso mais.

92
Vida e sabedoria

. . . . A causa é de todos

N uma região muito seca, havia um único e pequeno lago.


Todos os animais vinham ali saciar a sua sede. Certo dia,
assustados, os animais viram que a água diminuía visivelmente. Houve
muito alvoroço, e todos começaram a acusar-se, cada um empurrando a
culpa para o outro. A maioria desconfiava do leão, mas não tinha provas.
Como o problema era de todos, pois todos dependiam daquela água, o pato
convidou-os para uma assembléia. Foi discussão e acusação sem fim. O
pato lembrou que a causa era de todos, pois caso o problema não fosse
resolvido, todos passariam sede. A coruja voou depressa para um galho
bem alto e começou a filosofar, mas não se dispôs a entrar em ação.
O cão, mesmo não entendendo nada, ladrou e protestou, defendendo o leão,
porque, certa vez, deixara-lhe um pedaço de carne. O gato negou-se a dar
sua opinião, pois o leão sempre acariciava seu pêlo. O burro deu um coice
e ora ameaçava um, ora outro, sem perguntar quem estava ou não com a
razão. O coelho, todo assustado e para não correr riscos, preferiu escon-
der-se na sua toca.
O macaco fez careta e foi contar novidades no bar da esquina, criando
uma enorme fofoca. O louva-a-deus pulou até a igreja mais próxima, desli-
gou-se do assunto, para preocupar-se com coisas celestiais. O leão elo-
giou-o e lamentou que não fossem todos como ele. A raposa ficou neutra,
porque o leão era seu melhor freguês. O leão também a elogiou. Vários
fregueses de poucos ideais também o aplaudiram, assim como haviam
aplaudido o pato anteriormente.
O boi bocejou, alegando sono. O gavião abandonou tudo e foi em busca de
outro lago. O peixe, sem suspeitar do perigo, nadava alegremente. Al-
guns cães de guarda rosnaram ameaçadores, pedindo ao pato que aban-
donasse o caso para o bem da ordem. Desanimado, decepcionado, entris-
tecido e sozinho, o pato não teve forças para continuar sua luta e também
desistiu. Enquanto isso, o lago diminuía visivelmente.

93
100 estórias

. . . . O aluno e o sábio

feitas.
N uma pequena cidade da Grécia, vivia um sábio famoso que
sabia as respostas de todas as perguntas que lhe eram

Um dia, um jovem estudante, conversando com seus amigos, disse que


pretendia desafiar o sábio e iria enganá-lo.
Disse que faria o seguinte:
- Apanharei um passarinho e o levarei escondido em minha mão até o
sábio. Então eu vou perguntar a ele se o passarinho está vivo ou morto. Se
ele disser que está vivo, esmago o passarinho e o mato, deixando-o cair
no chão; se ele disser que está morto, abro a mão e o deixarei voar na
frente de todas as pessoas.
Assim fez. O jovem aproximou-se do sábio com o pássaro na sua mão e
perguntou:
- Sábio, o passarinho em minha mão está vivo ou morto?
O sábio olhou para o rapaz e disse:
- Meu jovem, a resposta está em suas mãos.
A excelência sempre esteve e sempre estará em suas mãos. Basta você agir.

. . . . Instalação do sistema A M O R

C LIENTE - Estou falando com o Departamento de Atendimen-


to ao Cliente?
FUNCIONÁRIO - Sim! Bom dia! Em que posso ajudá-lo?
CLIENTE - Estive revisando meu computador e encontrei um sistema
que se chama AMOR. Mas não funciona. Pode ajudar-me?

94
Vida e sabedoria

FUNCIONÁRIO - Certamente que sim. Mas eu não posso instalar. Terá


que ser instalado por você mesmo. Eu dirijo via telefone, que lhe parece?
CLIENTE - Sim, posso tentar. Não sei muito dessas coisas, mas creio que
estou apto a instalá-lo agora. Por onde começo?
FUNCIONÁRIO - O primeiro passo é abrir seu CORAÇÃO. Já o localizou?
CLIENTE - Sim, já. Mas há vários programas sendo executados neste
momento. Não há problemas em Instalar enquanto os outros seguem se
instalando?
FUNCIONÁRIO - Quais são esses programas?
CLIENTE - Deixa-me ver... Tenho BAIXA-ESTIMA.EXE, FALTA-
CORAGEM.EXE e RESSENTIMENTO.COM, sendo executados neste mo-
mento.
FUNCIONÁRIO - Não há problemas. AMOR apagará automaticamente
DOR-DO-PASSADO.EXE do sistema operacional. Pode ser que fique gra-
vado em sua memória, mas não afetará outros programas. AMOR even-
tualmente reinstalará BAIXA-ESTIMA.EXE com um módulo próprio do
sistema chamado AUTO-ESTIMA.EXE. Sem dúvida, você tem que apa-
gar completamente os programas FALTA-CORAGEM.EXE e DESEN-
TENDIMENTO.COM. Estes programas evitam que o AMOR se instale
adequadamente. Pode apagar?
CLIENTE - Não sei como apagá-los. Pode dizer como?
FUNCIONÁRIO - Sim. Vê o menu INÍCIO, chama PERDÃO.EXE. Execu-
te-o tantas vezes quanto necessário até que FALTA-CORAGEM.EXE e
RESSENTIMENTO.COM tenham sido apagados completamente.
CLIENTE - OK! Limpo? AMOR já começou a instalar-se automaticamen-
te. Isto é normal?
FUNCIONÁRIO - Sim. Em breve você receberá uma mensagem que diz
que AMOR estará ativo, enquanto CORAÇÃO estiver visível. Pode ver
essa mensagem?
CLIENTE - Sim, vejo. Já terminou a instalação?
FUNCIONÁRIO - Sim, mas é bom saber que só você tem o programa-
base. Necessita iniciar a conexão com outros CORAÇÕES para poder re-
ceber atualização.
CLIENTE - Oh, oh... Já apareceu uma mensagem de Erro. O que faço?

95
100 estórias

FUNCIONÁRIO - Que diz a mensagem de Erro?


CLIENTE - Diz "ERRO 412 - PROGRAMA NÃO ATIVO EM COMPO-
NENTES INTERNOS". Que significa isso?
FUNCIONÁRIO - Não se preocupe, este é um problema comum. Signifi-
ca que AMOR está configurado para executar-se em CORAÇÕES exter-
nos, mas não foi executado em seu CORAÇÃO. É uma dessas coisas técni-
cas complicadas da programação. Em termos não-técnicos, significa que
você tem que "amar" a si próprio, antes de poder "amar" outros.
CLIENTE - Então, o que faço?
FUNCIONÁRIO - Pode localizar o diretório chamado AUTO-ACEITAÇÃO?
CLIENTE - Sim, aqui tenho.
FUNCIONÁRIO - Ótimo, aprende rápido.
CLIENTE - Obrigado.
FUNCIONÁRIO - De nada. Dá um "clic" nos seguintes arquivos para copiá-
los para o diretório MEU-CORAÇÃO: AUTO-PERDÃO.DOC, AUTO-
ESTIMA.TXT, VALORES e REALIZAÇÃO.HTM. O sistema reinstalará
qualquer arquivo que tenha conflito e entrará num modo de reparação
para qualquer programa danificado. Você também deve eliminar AUTO-
CRÍTICA.EXE de todos os diretórios e depois apagar todos os arquivos
temporais e a lixeira, para assegurar que se apaguem completamente e
nunca mais se ativem.
CLIENTE - Entendido. Ei, meu CORAÇÃO está se comunicando com uns
arquivos muito bonitos. SORRISO.MPG, CALOR.COM, PAZ.EXE e
FELICIDADE.COM estão se comunicando com meu CORAÇÃO.
FUNCIONÁRIO - Isso mostra que AMOR está instalado e executando-se.
Você já pode manejar tudo sozinho. Uma coisa mais antes de desligar...
CLIENTE - Sim?
FUNCIONÁRIO - AMOR é um software sem custo. Assegure-se em dá-lo
a todos os que você conhece e encontra. Ao compartilhá-lo com outras
pessoas, você receberá programas agradáveis.
CLIENTE - Farei isso. Obrigado por sua ajuda.

96
Vida e sabedoria

. . . . Influência humana
onta-se que um velho sábio ficava sentado na porta de sua
cidade todos os dias, vendo a vida passar.
Certo dia, um forasteiro defrontou-se com o sábio. Perguntou-lhe então:
- Meu bom senhor, diga-me: como é esta cidade?
- Pergunto-te eu, retrucou o velho, como é a cidade de onde vens?
- Muito confusa! Há gente má, invejosa, que só quer o mal dos outros.
- Ora, meu filho, então não entre nesta cidade. Aqui terás os mesmos
problemas!
O forasteiro, desiludido, pôs-se a caminhar em direção a outra cidade.
Tempo depois, um outro forasteiro, deparando-se com o velho sábio à por-
ta da cidade, perguntou-lhe:
- Diga-me, meu bom velho, como é esta cidade?
- Pergunto-te eu, como é a cidade de onde vens?
- Ah, meu senhor, a minha terra é de gente boa, amiga, ordeira. Há sempre
alguém que faz o mal, mas o povo, na sua maioria, é gente que trabalha,
luta com dignidade, tem solidariedade e amizade uns para com os outros.
- Então, meu filho, podes chegar. Esta cidade é idêntica a que tu descreves!
O forasteiro, feliz da vida, entrou na cidade.
Um menino que tudo assistia disse-lhe:
- Por que deste ao primeiro uma resposta e ao segundo outra? As pergun-
tas foram as mesmas.
- Meu filho, aprende, pois, para toda a vida: Não há cidade boa nem ruim;
quem realmente faz o lugar onde moramos somos nós mesmos.

97
100 estórias

. . . . Cuidar do mais importante

E ra uma vez um jovem que recebeu do seu rei a tarefa de


levar uma mensagem e alguns diamantes a um outro rei
de uma terra distante. Recebeu também o melhor cavalo do reino para
levá-lo na jornada.
- Cuida do mais importante e cumprirás a missão, disse o soberano ao se
despedir.
Assim, o jovem preparou o seu alforje, escondeu a mensagem na bainha da
calça e colocou as pedras numa bolsa de couro amarrada à cintura, sob as
vestes. Pela manhã, bem cedo, sumiu no horizonte. E não pensava sequer em
falhar. Queria que todo o reino soubesse que era um nobre e valente rapaz,
pronto para desposar a princesa. Aliás, esse era o seu sonho e parecia que a
princesa correspondia às suas esperanças. Para cumprir rapidamente sua
tarefa, por vezes deixava a estrada e pegava atalhos que sacrificavam sua
montaria. Assim, exigia o máximo do animal.
Quando parava em uma estalagem, deixava o cavalo ao relento. Não o
aliviava da sela e nem da carga, tampouco se preocupava em dar-lhe de
beber ou providenciar alguma ração.
- Assim, meu jovem, acabarás perdendo o animal, disse alguém.
- Não me importo, respondeu ele. - Tenho dinheiro. Se este morrer, com-
pro outro. Nenhuma falta fará!
Com o passar dos dias e sob tamanho esforço, o pobre animal não supor-
tou mais os maus-tratos e caiu morto na estrada. O jovem simplesmente o
amaldiçoou e seguiu o caminho a pé.
Acontece que, naquela parte do país, havia poucas fazendas e eram muito
distantes umas das outras. Passadas algumas horas, ele se deu conta da
falta que lhe fazia o animal. Estava exausto e sedento. Já havia deixado
pelo caminho toda a tralha, com exceção das pedras, pois lembrava da
recomendação do rei:
- Cuida do mais importante!
Seu passo tornou-se curto e lento. As paradas, freqüentes e longas. Como
sabia que poderia cair a qualquer momento e temendo ser assaltado, es-
condeu as pedras no salto de sua bota.

98
Vida e sabedoria

Mais tarde, caiu exausto na estrada, onde ficou desacordado. Para sua
sorte, uma caravana de mercadores, que seguia viagem para o seu reino,
o encontrou e cuidou dele.
Ao recobrar os sentidos, estava de volta em sua cidade. Imediatamente foi
ter com o rei para contar o que havia acontecido e, com a maior desfaça-
tez, colocou toda a culpa do insucesso nas costas do cavalo "fraco e doen-
te" que recebera.
- Porém, majestade, conforme me recomendou, eu soube "cuidar do mais
importante". Aqui estão as pedras que me confiou. Devolvo-as ao senhor.
Não perdi uma sequer.
O rei recebeu-as de suas mãos com tristeza e o despediu, mostrando com-
pleta frieza diante de seus argumentos. Abatido, o jovem deixou o palácio
arrasado. Em casa, ao tirar a roupa suja, encontrou na bainha da calça a
mensagem do rei, que dizia:
- Ao meu irmão, rei da terra do Norte. O jovem que te envio é candidato a
casar com minha filha. Esta jornada é uma prova. Dei a ele alguns dia-
mantes e um bom cavalo. Recomendei que cuidasse do mais importante.
Faz-me, portanto, este grande favor e verifique o estado do cavalo. Se o
animal estiver forte e viçoso, saberei que o jovem aprecia a fidelidade e
força de quem o auxilia na jornada. Se, porém, perder o animal
e apenas guardar as pedras, não será um bom marido nem rei, pois terá
olhos apenas para o tesouro do reino e não dará importância à rainha
nem àqueles que o servem.

. . . . A coisa mais doce e mais amarga

onta-se que um rei pediu a um de seus servos o seguinte:


- Vá mundo afora e encontre a coisa mais doce da terra,
do ar e do mar.

99
100 estórias

O servo pôs-se a caminho e pensou nas possíveis coisas doces que poderiam
ser servidas ao rei. Decidiu comprar uma língua bem tenra e delicada.
Chegando de volta ao palácio, preparou-a para o rei como um delicioso
manjar. Levou-a ao rei e disse:
- Eis a coisa mais doce deste mundo.
O rei ficou muito satisfeito com o prato à base de língua, preparado pelo
servo. Então disse o rei:
- Trouxeste a coisa mais doce. Quero experimentar agora a coisa mais
amarga e azeda que existe sobre a face da terra.
Novamente o servo pôs-se a caminho e, após muito pensar, outra vez com-
prou uma língua e a preparou para o rei.
Surpreso e satisfeito, após experimentar também este segundo prato, dis-
se o rei:
- Como a coisa mais doce me serviste uma língua e como a coisa mais
amarga e azeda me trouxeste também uma língua. Foste um sábio. Para-
béns.
O servo respondeu:
- Meu rei, existe por acaso algo mais doce do que a língua e coisa mais
amarga do que ela?

. . . . Cruz do tamanho exato

m homem velho, cansado da vida, estava intrigado com as


pessoas e até com Deus. Achava pesada demais a carga
que ele tinha que carregar. A força disponível era pequena para suportar
a sua grande e pesada cruz.

100
Vida e sabedoria

Este homem teve um sonho. Seguia pelo caminho da vida; no princípio,


tudo era fácil e corria bem.
Com o passar do tempo, as coisas mudaram. Sua vida tornou-se muito
difícil. Vários acontecimentos o abalaram. E sua carga começou a pesar
mais e mais, fazendo com que achasse exagerados o peso e o comprimen-
to da cruz.
A idéia de cortar um pedaço, diminuindo o seu comprimento, pareceu-
lhe boa, e assim foi feito. Já com a cruz do tamanho ideal, retomou a
caminhada, agora mais agradável, com a certeza de alcançar o seu
objetivo.
Passado pouco tempo do reinício de sua jornada, já conseguiu avistar a
cidade almejada, que, ao longe, lhe parecia maravilhosa.
A vontade de alcançá-la logo fez com que ele se apressasse. Para sua sur-
presa, constatou que havia um profundo valo ao redor da cidade. Por mais
que procurasse, não conseguia encontrar uma ponte que pudesse facili-
tar a travessia. Pular o valo era impossível devido à sua largura.
Então teve uma idéia: A cruz! Sim, a cruz poderia servir de ponte.
Mas, para sua decepção, ao tentar atravessá-la, notou que ela era curta.
Faltava-lhe só um pequeno pedaço para o apoio - exatamente o pedaço
que ele havia cortado!
Assim, caindo em si, o homem pensou: "Por que eu a cortei? Achei-a com-
prida demais para mim, agora, porém, noto que era exatamente do tama-
nho que me permitia alcançar o destino, a cidade desejada. Minha cruz
tinha o tamanho certo para trazer-me a bênção da vida".

101
100 estórias

. . . . Janela de hospital

D ois homens seriamente enfermos estavam na mesma en-


fermaria de um grande hospital. O quarto era bastante
pequeno, com apenas uma janela. A cama de um deles estava próxima da
janela. Como parte de seu tratamento para melhorar sua circulação, esse
paciente tinha permissão para sentar-se na cama por uma hora durante
as tardes. O outro, contudo, tinha de passar todo o seu tempo deitado de
barriga para cima.
Todas as tardes, quando o homem cuja cama ficava perto da janela era
colocado em posição sentada, ele passava o tempo descrevendo o que via
lá fora. A janela dava aparentemente para um parque onde havia um lago.
Havia patos e cisnes no lago, e as crianças atiravam pão aos animais e
colocavam barcos de brinquedo na água. Jovens namorados caminha-
vam de mãos dadas entre as árvores, e havia flores, gramados e jogos de
bola. E, ao fundo, por trás da fileira de árvores, avistava-se o belo contor-
no dos prédios da cidade.
O homem deitado ouvia o sentado descrever tudo isso, apreciando todos
os minutos. Ouviu como uma criança quase caiu no lago e como as garo-
tas estavam bonitas em seus vestidos de verão. As descrições do seu ami-
go eventualmente o fizeram sentir que quase podia ver o que estava acon-
tecendo lá fora...
Então, numa bela tarde, ocorreu-lhe um pensamento: Por que o homem
que ficava perto da janela deveria ter todo o prazer de ver o que estava
acontecendo lá fora? Por que ele não poderia ter essa chance? Sentiu-se
envergonhado, mas quanto mais tentava não pensar assim, mais queria
uma mudança. Faria qualquer coisa!
Numa noite, enquanto olhava para o teto, o outro homem subitamente
acordou tossindo e sufocando, suas mãos procurando o botão que cha-
maria a enfermeira. Mas ele observou sem se mover... mesmo quando a
respiração parou. De manhã, a enfermeira encontrou o outro homem mor-
to e, silenciosamente, levou embora seu corpo.
Logo que pareceu apropriado, o homem perguntou se poderia ser coloca-
do na cama perto da janela. Então colocaram-no lá, aconchegaram-no sob
as cobertas e fizeram com que se sentisse bastante confortável. No minu-

102
Vida e sabedoria

to em que saíram, ele apoiou-se sobre um cotovelo, com dificuldade e sen-


tindo muita dor, e olhou para fora da janela. Viu apenas um muro...
O homem perguntou à enfermeira por que seu falecido companheiro de
quarto lhe descrevera coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela.
A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia
ver a parede.
- Talvez ele apenas quisesse dar-lhe coragem.

. . . . O velho peregrino

H avia um velho peregrino, que nunca parava de viajar pelo


mundo, trilhando seu caminho. Ele nunca descansava e
via em suas andanças as mais diversas coisas: o bem e o mal, o certo e o
errado, o homem e o animal em suas mais diversas formas de sobrevivên-
cia. Ele passava por inúmeros lugares, todos diferentes uns dos outros,
conhecia sua cultura e seu povo, nunca deixando de caminhar...
Um dia, quando atravessava o deserto, carregando uma bolsa com água e
pão suficiente para apenas algumas horas mais, um espírito apareceu-lhe
e perguntou:
- Por que andas tanto, velho peregrino? Descansa um pouco, já que sabes
que em breve morrerás nesse ímpio deserto! Veja, estás sem água e pão,
não poderás sobreviver. Por que não descansas antes do fim?
E o peregrino respondeu-lhe:
- Por este motivo não descansarei. O fim ainda não chegou. E estou fa-
zendo aquilo de que gosto. Caminhei por todo o mundo e não me cansei,
justamente porque gosto do que faço. Percorro infindáveis estradas e vejo
a humanidade sob diferentes aspectos. Por isso procuro sempre ajudar a
todo e qualquer ser. É disso que eu gosto. Você fala e age dessa maneira
porque não gostava do que fazia. Sei disso porque o conheci. Prefiro morrer
caminhando a descansar infeliz.

103
100 estórias

O velho peregrino continuou sua viagem sem pestanejar. Na manhã se-


guinte, o espírito novamente o encontrou. Ele estava deitado nas areias
do deserto, de braços abertos, morto, mas com um sorriso no rosto.
Somos todos peregrinos neste mundo. Quando gostamos do trajeto, que-
remos continuar a percorrê-lo sem jamais parar. Quando não gostamos,
queremos que tudo passe rápido ou paramos para sair da estrada.
Mas é muito bom quando vemos que percorremos o caminho certo, onde
obtemos inúmeras alegrias e sucessos, que fazem com que continuemos
em frente.
E é nessa peregrinação da vida que encontramos pessoas, apaixonadas
pelo que fazem.

. . . . A lição da natureza

C onta uma velha história que, certa vez, um filho procurou


seu pai, tido como o sábio da aldeia, e manifestou seu dese-
jo de viajar para outras terras e começar vida nova com seus próprios
esforços. O pai então perguntou ao filho o que ele pretendia ser em sua
nova vida, ouvindo então a seguinte declaração do filho:
- Quero ser um líder, meu pai.
Após refletir por alguns dias, o sábio mandou chamar seu filho e disse
que concordava com sua viagem, desde que o filho, antes de partir, pas-
sasse com ele uma noite no campo, conversando sobre o que é ser um
líder.
Assim, saíram os dois da aldeia e se dirigiram para um grande vale não
muito longe dali.
Quando chegaram, já ao entardecer, o pai disse ao filho:
- Sente-se, olhe bem para este vale e diga-me o que você vê.
- Vejo um vale verdejante e um rio caudaloso, meu pai.

104
Vida e sabedoria

Os dois ficaram admirando a beleza do lugar por longos momentos. Em


seguida, o pai se levantou e fez uma fogueira.
A noite chegou e a fogueira crepitava, com suas labaredas altas. Pai e
filho se puseram a observar a beleza das chamas. Após algumas horas, as
chamas haviam desaparecido, já não dançavam mais; restava apenas o
brilho das brasas. O pai então pediu:
- Meu filho, agora vamos descansar, e amanhã você vai me dizer que
lição tirou do que viu aqui hoje.
O filho, confuso, concordou e se pôs a meditar sobre o que tinha observa-
do. Não conseguiu concluir coisa alguma, e o cansaço acabou fazendo
com que ele adormecesse. Ao raiar do novo dia, o sábio percebeu a confu-
são na mente do seu filho e começou a ajudá-lo a aprender a lição.
- Pense bem, meu filho, sobre o fogo que queimou ontem bem aqui na
nossa frente: era forte, poderoso. Suas chamas subiam aos céus, como se
se gabassem de algo. Nada teria resistido ao seu poder, ele consumiria
tudo que se aproximasse dele, conquistaria com facilidade tudo ao seu
redor. Mas, afinal, o que sobrou do nosso fogo, tão poderoso, de ontem?
Apenas um monte de cinzas, meu filho. O fogo tem poder para destruir
tudo à sua volta, mas ele consome a si mesmo com sua força passageira. E
acaba. Existem líderes, meu filho, que são como o fogo: vangloriam-se
dos seus atos, são extremamente arrogantes e autoritários. Costumam
durar pouco e deixar apenas cinzas por onde passam. Agora, meu filho,
pense sobre o rio: ele provavelmente começou como um pequeno fio de
água em alguma montanha longe daqui. Mas, em silêncio, seguiu o seu
curso: às vezes lento, às vezes mais rápido, contornando qualquer obstá-
culo, abraçando com humildade qualquer fenda em seu caminho, cres-
cendo, obtendo cada dia mais poder dos seus afluentes. Ao invés de des-
truir tudo ao seu redor, o rio é o grande provedor da vida neste vale; ele dá
de beber aos animais, oferece moradia aos seres aquáticos e torna férteis
os campos para o crescimento das plantas. E está aí, anos a fio, sempre
marchando em direção ao seu objetivo maior: chegar ao oceano. Não é
efêmero, mas dura muito. Pense agora, meu filho, que tipo de líder você
vai escolher ser: como o fogo ou como o rio?
O sábio percebeu que a face do seu filho se iluminou ao compreender a
lição da natureza, e os dois voltaram à aldeia para preparar melhor a
jornada do filho.

105
100 estórias

. . . . Amor nao-revelado

E ra uma vez um garoto que nasceu com uma doença que


não tinha cura. Tinha 17 anos e podia morrer a qualquer
momento. Sempre vivera na casa de seus pais, sob o cuidado constante de
sua mãe. Um dia, decidiu sair sozinho e, com a permissão da mãe, cami-
nhou por sua quadra, olhando as vitrines e as pessoas que passavam.
Ao passar por uma loja de discos, notou a presença de uma garota, mais
ou menos da sua idade, que parecia ser feita de ternura e beleza. Foi amor
à primeira vista.
Abriu a porta e entrou, sem olhar para mais nada senão a sua amada.
Aproximando-se timidamente, chegou ao balcão onde ela estava.
Quando o viu, ela deu-lhe um sorriso e perguntou se podia ajudá-lo em
alguma coisa.
Era o sorriso mais lindo que ele já tinha visto, e a emoção foi tão forte que
mal conseguiu dizer que queria comprar um CD.
Pegou o primeiro que encontrou, sem olhar de quem era, e disse:
- Este aqui.
- Quer que embrulhe para presente?, perguntou a garota, sorrindo ainda
mais. Ele só mexeu com a cabeça para dizer que sim.
Ela saiu do balcão e voltou, pouco depois, com o CD muito bem embala-
do. Ele pegou o pacote e saiu, louco de vontade para ficar por ali, admi-
rando aquela figura divina.
Daquele dia em diante, todas as tardes voltava à loja de discos e comprava
um CD qualquer. Todas as vezes, a garota deixava o balcão e voltava com
um embrulho cada vez mais bem feito, que ele guardava sem abrir.
Ele estava apaixonado, mas tinha medo da reação dela. Mesmo que ela
sempre o recebesse com um sorriso doce, não tinha coragem de convidá-
la para sair e conversar.
Um dia, ele se encheu de coragem. Como todos os dias, comprou outro CD
e, como sempre, ela foi embrulhá-lo. Quando ela não estava vendo, escon-
deu um papel com seu nome e telefone no balcão e saiu da loja depressa.

106
Vida e sabedoria

No dia seguinte, o telefone tocou e a mãe do jovem atendeu. Era a garota


perguntando por ele. A mãe, desconsolada, nem perguntou quem era, co-
meçou a chorar e disse:
- Então você não sabe? Faleceu esta manhã.
Mais tarde, a mãe entrou no quarto do filho para olhar suas roupas e ficou
muito surpresa com a quantidade de CDs, todos embrulhados. Ficou curio-
sa e decidiu abrir um deles. Ao fazê-lo, viu cair um pequeno pedaço de
papel, onde estava escrito: "Você é muito simpático. Não me quer convidar
para sair? Eu adoraria".
Emocionada, a mãe abriu outro CD e dele também caiu um papel, que
dizia o mesmo, e assim todos quantos ela abriu traziam uma mensagem
de carinho e a esperança de conhecer aquele rapaz.
Assim é a vida: Não espere demais para dizer a alguém especial aquilo
que você sente. Diga-o já! Amanhã pode ser muito tarde.

. . . . Sabedoria da montanha

N a antiga China, no alto de uma montanha, morava um sá-


bio. Entre seus muitos discípulos havia um jovem. Por mais
de vinte anos, o jovem estudou e meditou sob a orientação do grande
mestre. Apesar de ser o mais inteligente e o mais determinado entre to-
dos os discípulos, o jovem ainda tinha de alcançar a iluminação. A sabe-
doria da vida não era sua. Tal meta lhe tomou dias, noites, meses e mesmo
anos, até que, numa manhã, observou uma flor de cerejeira.
"Não posso mais lutar contra o meu destino", pensou. "Como a flor de
cerejeira, devo resignar-me." Naquele momento, o jovem decidiu descer a
montanha, deixando para trás seu sonho de conseguir a iluminação.
O jovem procurou o sábio para lhe comunicar a decisão. O mestre sentou-
se diante de uma pedra branca, em profunda meditação. Depois falou:
- Amanhã estarei com você na descida da montanha. Nada mais foi dito.

107
100 estórias

Na manhã seguinte, antes de começar a descida, o mestre olhou a paisa-


gem que circundava a montanha e perguntou:
- Diga-me, o que você vê?
O jovem respondeu:
- Mestre, vejo o sol começando a levantar-se no horizonte, montanhas que
se estendem por quilômetros a fio, o vale, o lago e uma velha vila.
O mestre sorriu, e eles iniciaram a caminhada.
Hora após hora, enquanto o sol cruzava o céu, eles andaram. Só pararam no
pé da montanha. De novo, o sábio pediu ao jovem que lhe dissesse o que via.
- Grande sábio, vejo ao longe galos correndo pelo poleiro, vacas dormindo
no prado, velhos tomando o sol da tarde e crianças brincando no riacho.
O mestre, em silêncio, continuou a caminhar até chegar ao portão da vila.
Então, eles se sentaram sob uma árvore.
- O que você aprendeu hoje?, perguntou o mestre.
A resposta do jovem foi o silêncio. Depois de algum tempo, o mestre falou:
- A estrada para a iluminação é como a jornada montanha abaixo. A
graça só ocorre àqueles que se dão conta de que o que se vê lá de cima
não é igual ao que se vê aqui embaixo. Sem esse conhecimento, fechamos
nossas mentes a tudo aquilo que não podemos ver de onde estamos. Limi-
tamos então nossa capacidade de crescer e aprimorar-nos. Mas, com esse
conhecimento, há um despertar. Reconhecemos que sozinha uma pessoa
vê muito - o que é bem pouco. Essa é a sabedoria que abre nossas mentes
para o aperfeiçoamento que derruba preconceitos e nos ensina a respei-
tar o que a princípio não podemos ver. Nunca se esqueça dessa última
lição: o que você não pode ver pode ser visto de outra parte da montanha.
Quando o mestre parou de falar, o jovem pôs-se a olhar o horizonte. Enquan-
to o sol se punha diante de seus olhos, uma luz nascia dentro de seu coração.
O jovem voltou-se para seu mestre, mas ele já não estava mais ali. Dizem que
o jovem subiu novamente a montanha e se tornou um grande sábio.

108
Vida e sabedoria

. . . . Decisão precipitada

E xistiu um lenhador que acordava às 6 horas da manhã e


trabalhava o dia inteiro cortando lenha. Ele só parava tarde
da noite. Esse lenhador tinha um filho, lindo, de poucos meses, e uma rapo-
sa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança.
Todos os dias, o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando de seu
filho.Todas as noites, ao retornar do trabalho, a raposa ficava feliz com
sua chegada.
Os vizinhos do lenhador alertavam que a raposa era um bicho, um ani-
mal selvagem; e, portanto, não era confiável. Quando ela sentisse fome,
comeria a criança.
O lenhador sempre respondia aos vizinhos que isso era uma grande boba-
gem. A raposa era sua amiga e jamais faria isso.
Os vizinhos insistiam:
- Lenhador, abra os olhos! A raposa vai comer seu filho.
- Quando ela sentir fome, comerá seu filho!
Um dia, o lenhador, muito exausto do trabalho e muito cansado desses
comentários, ao chegar em casa, viu a raposa sorrindo como sempre e
sua boca totalmente ensangüentada... O lenhador suou frio e, sem pensar
duas vezes, golpeou o machado na cabeça da raposa.
Ao entrar no quarto desesperado, encontrou seu filho no berço, dormindo
tranqüilamente e, ao lado do berço, estava uma cobra morta.
O lenhador enterrou o machado e a raposa juntos.
Se você confia em alguém, não importa o que os outros pensem a respei-
to. Siga sempre o seu caminho e não se deixe influenciar, mas principal-
mente nunca tome decisões precipitadas.

109
100 estórias

. . . . Esconde-esconde dos sentimentos

Contam que, certa vez, reuniram-se todos os sentimentos e


qualidades dos seres humanos em algum lugar da terra.
Quando o ABORRECIMENTO havia reclamado pela terceira vez, a LOU-
CURA, como sempre tão louca, propôs:
- Vamos brincar de esconde-esconde?
A INTRIGA levantou a sobrancelha intrigada, e a CURIOSIDADE, sem
poder conter-se, perguntou:
- Esconde-esconde? Como é isso?
- É um jogo, explicou a LOUCURA, em que eu fecho os olhos e começo a
contar de um a um milhão, enquanto vocês se escondem. Quando eu tiver
terminado de contar, o primeiro de vocês que eu encontrar ocupará meu
lugar para continuar o jogo.
O ENTUSIASMO dançou, seguido pela EUFORIA.
A ALEGRIA deu tantos saltos, que acabou por convencer a DÚVIDA, e até
mesmo a APATIA, que nunca se interessava por nada. Mas nem todos
quiseram participar. A VERDADE preferiu não se esconder:
- Para que, se no final todos me encontram?
A SOBERBA opinou que era um jogo muito chato, e a COVARDIA prefe-
riu não se arriscar.
- Um, dois, três, quatro... - começou a contar a LOUCURA.
A primeira a esconder-se foi a PRESSA, que caiu atrás da primeira pedra
do caminho. A FÉ subiu ao céu, e a INVEJA escondeu-se atrás da sombra
do TRIUNFO, que tinha conseguido subir na copa da árvore mais alta.
A GENEROSIDADE quase não conseguiu esconder-se, pois cada local
que encontrava lhe parecia maravilhoso para algum de seus amigos: se
era um lago cristalino, ideal para a BELEZA; se era a copa de uma árvo-
re, perfeita para a TIMIDEZ. E assim acabou escondendo-se em um raio
de sol. O EGOÍSMO, ao contrário, encontrou um local muito bom desde o
início. Ventilado, cômodo, mas apenas para ele.
A MENTIRA escondeu-se no fundo do oceano, mentira, na realidade es-

110
Vida e sabedoria

condeu-se atrás do arco-íris, e a PAIXÃO e o DESEJO, no centro dos vul-


cões. O ESQUECIMENTO, não me recordo onde se escondeu, mas isso
não é o mais importante. Quando a LOUCURA estava lá pelo 999.999, o
AMOR ainda não havia encontrado um lugar para esconder-se, pois todos
já estavam ocupados, até que encontrou uma roseira e, carinhosamente,
decidiu esconder-se entre suas flores.
- Um milhão, terminou de contar a LOUCURA e começou a busca.
A primeira a aparecer foi a PRESSA, apenas a três passos de uma pedra.
Depois, escutou-se a FÉ discutindo com DEUS no céu sobre zoologia.
Sentiu vibrar a PALXAO e o DESEJO nos vulcões. Em um descuido, en-
controu a INVEJA e pôde deduzir onde estava o TRIUNFO.
O EGOÍSMO não teve nem que procurar. Ele sozinho saiu disparado de
seu esconderijo, que era um ninho de vespas. De tanto caminhar, sentiu
sede e, ao aproximar-se de um lago, descobriu a BELEZA. A DÚVIDA foi
mais fácil ainda, pois a encontrou sentada sobre uma cerca sem decidir
de que lado esconder-se.
E assim foi encontrando todos: o TALENTO entre a erva fresca, a AN-
GÚSTIA em uma cova escura, a MENTIRA atrás do arco-íris, mentira,
estava no fundo do oceano, e até o ESQUECIMENTO, que já havia esque-
cido que estava brincando de esconde-esconde.
Apenas o AMOR não aparecia em nenhum local. A LOUCURA procurou
atrás de cada árvore, embaixo de cada rocha do planeta e em cima das
montanhas.
Quando estava a ponto de dar-se por vencida, encontrou um roseiral. Pe-
gou uma forquilha e começou a mover os ramos, quando escutou um do-
loroso grito. Os espinhos tinham ferido o AMOR nos olhos. A LOUCURA
não sabia o que fazer para desculpar-se.
Chorou, rezou, implorou, pediu e até prometeu ser seu guia.
Desde então, a primeira vez que se brincou de esconde-esconde na terra, o
AMOR é cego e a LOUCURA sempre o acompanha.

111
100 estórias

. . . . A cotovia e as rãs

E ra uma vez uma sociedade de rãs que viviam no fundo de


um poço muito escuro e profundo. Estas eram governadas
por uma grande líder, que se dizia proprietária do poço e de seus ocupan-
tes. Esta líder vivia do trabalho dos outros.
Ocasionalmente, uma cotovia excêntrica voava até o fundo do poço e can-
tava para as rãs as coisas maravilhosas que ela via fora do poço, como o
sol, a lua, as estrelas, as montanhas, os vales, o mar, o vento, as flores, etc.
A cada visita, a líder dizia às rãs que essa terra encantada seria, depois
da morte, a recompensa pelo bom trabalho que elas faziam no fundo do
poço. Secretamente a líder, que era meio surda e nunca muito segura do
que cantava a cotovia, pensava que aquele estranho pássaro era comple-
tamente louco.
Com o tempo e talvez desiludidas com os dizeres da líder, as rãs se torna-
ram mais céticas aos cantos da cotovia e também a achavam um pouco
louca. Entretanto, as rãs tinham sido convencidas pelas idéias de alguns
livres-pensadores que viviam entre elas de que o pássaro era contratado
pela grande líder para reconfortá-las e distraí-las e que todos os seus can-
tos eram mentiras.
Mas havia entre elas um filósofo, que pensava que aquilo que a cotovia
cantava não era exatamente mentira ou loucura, mas uma mensagem para
as rãs de que elas podiam ser menos infelizes se decidissem organizar seu
próprio poço. Ele lhes explicava então que, quando a cotovia falava do sol
e da lua, ela queria com certeza dizer que poderiam introduzir luz no fundo
do poço e fazer desaparecer a escuridão. Quando ela falava do vento, ela
queria provavelmente dizer que as rãs poderiam propiciar melhor ventila-
ção no fundo do poço em vez de respirar sempre aquele ar viciado. Quando
ela falava do seu vôo livre e feliz no céu, ela chamava a atenção para a
felicidade de liberar os seus sentidos e que não deveriam ser escravas do
trabalho no fundo do poço. Seu vôo selvagem, perto das estrelas, significa-
va a liberdade para todas quando a grande líder fosse deposta. Assim, o
filósofo concluía que não se deveria desprezar aquele pássaro.
As rãs se encheram de afeição pela cotovia e, quando veio a revolução -
porque todas as revoluções sempre acabam por acontecer -, as rãs coloca-
ram a imagem da cotovia na bandeira delas. Depois de destituírem a grande

112
Vida e sabedoria

líder, elas iluminaram e ventilaram o poço e se beneficiaram de muitas


diversões e de liberdade.
Entretanto, a excêntrica cotovia continuava vindo e cantando o sol, o mar,
o vento, as flores, e a rã-filósofa chateada disse que elas não tinham ne-
cessidade desses cantos ambíguos. De toda maneira, era muito aborreci-
do sempre escutar suas fantasias, que tinham perdido o propósito no pla-
no social.
Assim, um dia, elas capturaram a cotovia; depois de matá-la, empalharam-
na e a instalaram num lugar de honra no museu da cidade, onde a entrada
é gratuita.

. . . . Consertando o mundo

U m cientista vivia preocupado com os problemas do mun-


do e estava resolvido a encontrar os meios para minorá-
los. Passava dias em seu laboratório em busca de respostas para suas
dúvidas. Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário, decidi-
do a ajudá-lo a trabalhar. O cientista, nervoso pela interrupção, sugeriu
que o filho fosse brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível
demovê-lo, o pai procurou algo que pudesse ser oferecido ao filho com o
objetivo de distrair sua atenção. De repente, deparou-se com o mapa do
mundo. Era exatamente o que procurava!
Com o auxílio de uma tesoura, recortou o mapa em vários pedaços e,
junto com um rolo de fita adesiva, entregou-o ao garoto, dizendo:
- Você gosta de quebra-cabeças? Então vou lhe dar o mundo para conser-
tar. Aqui está o mundo todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem
direitinho e faça tudo sozinho.
Ele calculou que a criança levaria dias para recompor o mapa. Pois bem,
passadas algumas horas, eis que ele ouviu a voz do filho, que o chamava
calmamente:
- Pai, pai, já fiz tudo! Consegui terminar tudinho!

113
100 estórias

A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível


na sua idade ter conseguido recompor um mapa que jamais havia visto.
Relutante, o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que
veria um trabalho digno de uma criança. Mas, para sua surpresa, o mapa
estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos
lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?
- Você não sabia como era o mundo, meu filho. Como conseguiu?
- Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da
revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um ho-
mem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não
consegui. Foi aí que me lembrei do homem. Então, virei os recortes e
comecei a consertar o homem que eu sabia como era. Quando eu conse-
gui consertar o homem, virei a folha e vi que havia consertado o mundo.

. . . . A flor da honestidade

P or volta do ano 250 a.C, um príncipe do norte da China


estava na véspera de ser coroado imperador, mas, de acor-
do com a lei, ele deveria casar antes disso. Sabendo isso, ele resolveu
promover uma "disputa" entre as moças da corte ou quem quer se achas-
se digna de sua proposta. No dia seguinte, o príncipe anunciou que rece-
beria, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um
desafio.
Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ao ouvir os comentá-
rios sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua
jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe. Ao che-
gar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao ouvir que esta preten-
dia ir à celebração. Ela perguntou incrédula:
- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e
ricas moças da corte. Tire essa idéia insensata da cabeça. Eu sei que você
deve estar sofrendo, mas não transforme o sofrimento numa loucura.

114
Vida e sabedoria

A filha respondeu:
- Não, querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca. Eu sei que
jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo
menos alguns momentos perto do príncipe. Isto já me faz feliz.
À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas
moças com as mais belas roupas, as mais belas jóias e as mais determina-
das intenções. Então, finalmente, o príncipe anunciou o desafio:
- Darei a cada uma de vocês uma semente. Aquela que, dentro de seis
meses, me trouxer a mais bela flor será escolhida minha esposa e futura
imperatriz da China.
A proposta do príncipe não fugiu das profundas tradições daquele povo,
que valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo, fossem costumes,
amizades, relacionamentos, etc.
O tempo passou, e a doce jovem, que não tinha muita habilidade na jardi-
nagem, cuidava com muita paciência e ternura da sua semente. Sabia
que, se a beleza da flor surgisse na mesma proporção do seu amor, ela não
precisaria preocupar-se com o resultado.
Passaram três meses, e nada. A jovem tentara tudo; usara todos os méto-
dos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia, ela via cada vez
mais longe seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os
seis meses tinham passado e nada havia brotado.
Consciente do seu esforço e dedicação, a moça comunicou à mãe que,
independente das circunstâncias, retornaria ao palácio na data e hora
combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na
companhia do príncipe.
Na hora marcada, ela estava lá com seu vaso vazio, bem como todas as
outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela do que a outra,
das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada. Nunca havia vis-
to tão bela cena.
Finalmente chega o momento esperado, e o príncipe observa cada uma
das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas,
uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura
esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Nin-
guém compreendeu por que ele havia escolhido justamente aquela que
nada havia cultivado.

115
100 estórias

Então calmamente o príncipe esclareceu:


- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de ser uma
imperatriz: a flor da honestidade. Pois todas as sementes que eu entre-
guei eram estéreis.

. . . . Debate sem palavras

N um mosteiro viviam dois irmãos. O mais velho era muito


sábio, já o mais novo, ao contrário, era tolo e tinha apenas
um olho. Se algum viajante quisesse hospedar-se no mosteiro, tinha que
vencer qualquer um dos irmãos num debate.
Certa noite, um viajante pediu hospedagem no mosteiro. O irmão mais
velho, o sábio, alegou cansaço e ordenou ao mais novo que debatesse com
o viajante. Mas fez uma ressalva: o debate deveria acontecer em absoluto
silêncio. Assim, o monge tolo não cometeria enganos.
Um pouco mais tarde, o viajante entrou na sala do monge sábio e falou:
- Homem sábio esse seu irmão! Ele conseguiu vencer-me no debate, por
isso devo ir embora e não poderei hospedar-me aqui.
O monge sábio ficou intrigado e perguntou ao viajante:
- Mas, afinal, o que aconteceu?
Este respondeu:
- Primeiramente, ergui um dedo simbolizando Deus, e seu irmão levantou
dois, simbolizando Deus e Jesus Cristo. Então ergui três dedos para repre-
sentar Deus, Jesus Cristo e o Espírito Santo. Aí seu irmão sacudiu o punho
cerrado na minha frente para mostrar que os três são uma só pessoa.
Pouco depois entrou o monge tolo, muito aborrecido. Seu irmão sábio
perguntou por que ele estava chateado. O tolo respondeu:
- Esse viajante é muito grosso! No momento em que me viu, levantou um

116
Vida e sabedoria

dedo, insultando-me que tenho apenas um olho. Mas, como ele era visi-
tante, não quis responder à ofensa e ergui dois dedos, parabenizando-o
por ele ter dois olhos. E o miserável levantou três dedos, para mostrar que
nós dois juntos tínhamos três olhos. Então fiquei furioso e ameacei dar-
lhe um soco com o punho fechado. Então ele foi embora.
Esse "debate sem palavras" revela que o diálogo e as relações pessoais
são uma "arte". Não raramente relações são rompidas, antipatias e má-
goas estabelecidas por causa de palavras mal-colocadas ou por com-
preensões distorcidas.

. . . . Carta de Jesus

C omo estás? Eu necessito mandar esta carta para dizer o


quanto te amo, o quanto és importante para mim e o quan-
to me preocupo contigo.
Ontem eu te vi conversando com teus amigos. Esperei o dia todo, crendo
que, em algum momento do dia, tu gostarias de conversar comigo. Eu te
dei um pôr-do-sol para encerrar o teu dia e uma brisa fresca para teu
descanso. Esperei, mas não vieste. Isso me dói muito, mas, mesmo as-
sim, eu ainda te amo porque sou teu amigo. És importante para mim.
Eu te vi adormecer e quis tocar em tua fronte, por isso derramei o luar
sobre o teu travesseiro e face. Novamente eu esperei, querendo aproxi-
mar-me para conversar contigo. Sabe, eu tenho tantas coisas para ti, mas
acordaste atrasado e saíste correndo de casa. Minhas lágrimas estavam
na chuva que caía sobre ti. Hoje tu pareces tão triste, tão sozinho. Isso faz
o meu coração doer, porque eu te compreendo. Meus amigos também me
abandonam e me magoam muitas vezes, mas eu te amo.
Se ao menos me escutasses. Eu tento te dizer isso no azul do céu e no
verde da grama. Eu murmuro isso nas folhas das árvores e respiro no
colorido das flores. Eu grito isso nos riachos das montanhas e dou aos
pássaros canções de amor e de esperança para te alegrarem e animarem.
Eu te visto com o calor do sol e perfumo o ar com os perfumes da nature-

117
100 estórias

za. O meu amor por ti é mais profundo do que o mais profundo dos ocea-
nos e maior do que a tua necessidade ou querer. Ah, se soubesses o quan-
to quero andar e conversar contigo! Nós poderíamos passar a eternidade
juntos no céu.
Eu sei o quanto é difícil viver aqui na terra. Existem tantos preconceitos,
tanto ódio, tantas injustiças, tanto medo, tanta violência, tanta angústia. Eu
quero ajudar-te. Quero que conheças meu Pai. Ele quer ajudar-te também.
Chama, pergunta, conversa comigo sobre tudo o que oprime teu coração.
Por favor, não me esqueças. Eu tenho tanto para compartilhar contigo!
Está bem, não te incomodarei mais. Tu és livre para escolher-me, esco-
lher ser meu amigo. Eu te escolhi, por causa disso eu te esperarei, porque
te amo e és importante para mim.
De teu grande amigo, Jesus Cristo

118
Para terminar

Dois monges em peregrinação iam passando por um rio. Lá avistaram


uma menina que necessitava atravessar aquele rio, porém a correnteza
estava muito forte, e ela ficou com medo. Um dos monges pegou-a nos
braços, atravessou-a e depositou-a em solo seco no outro lado.
E continuaram seu caminho. Porém, o outro monge, ao longo das duas
horas seguintes, ficou a reclamar:
- Com certeza, não é certo tocar numa mulher. É contra os mandamentos
ter contato íntimo com mulheres... Como você pode ir contra as leis da
nossa ordem? Você pecou fortemente!
O monge que carregara a menina seguia junto com o companheiro em
silêncio, mas, finalmente, observou:
- Eu a deixei no outro lado do rio há duas horas. Por que você ainda a está
carregando?
O fascínio pelas estórias encanta o ser humano desde os primórdios da
humanidade. São metáforas que transportam, na singeleza de sua con-
cepção, verdades profundas.
Nas Escrituras, encontramo-las sob a forma de parábolas, através das quais
Jesus ensinava o Evangelho, porque o concreto facilitava o entendimento
da abstração. Comparar a fé ao grão de mostarda era uma forma de o
povo entender a pregação do Mestre.
O fenômeno da comunicação me fascina e inquieta há muito tempo, mas,
especialmente nos últimos anos, tenho me debruçado sobre esse assunto,
observando como os ouvintes reagem à palavra e que expedientes os al-
cançam melhor e quais os encantam.
Quando se tem a missão de transmitir a mensagem a um grupo de pes-
soas - seja palestra, meditação, curso -, imagina-se que todos sejam aten-
tos ouvintes e estejam na sintonia.
Quem garante isso? Será que todos estarão aí com a gente, em plena
sintonia? Será que todos "saíram de casa", onde talvez repouse um fami-
liar doente ou haja tantas outras preocupações que inquietam a alma
humana?
Pois o primeiro grande desafio de quem trata com comunicação é sintonia,
é abrir uma janela de conexão com o ouvinte e despertar sua atenção e
curiosidade pelo tema que se quer abordar.

119
A escolha da estória-âncora tem que estar na freqüência, para que não
ocorra "ruído de comunicação". Tem que linear com o conteúdo que se
quer abordar.
No exemplo da estória com que abrimos esta reflexão, poderiam ser abor-
dados diversos conteúdos, tais como relações interpessoais, preconcei-
tos, solidariedade, reações a críticas, enfim, o segredo é fazer uso inteli-
gente e criativo da estória, que, se não tiver conexão íntima, neutraliza a
intenção e complica a comunicação.
A estória, se for bem empregada, estará permeando o conteúdo da refle-
xão permanentemente, e é ela que ficará na memória das pessoas. Aliás,
servirá de ponte para recuperar abstrações.
Cada estória abriga um mundo mágico de significados e guarda em si a
curiosidade pelo seu final, o que potencializa o poder da comunicação.
Explorar a força de comunicação de uma estória é arte. Aliás, a sabedoria
está em transformar questões complexas em coisas simples, abstrações mais
profundas em linguagem simples, que qualquer pessoa possa entender.
Não se trata também de usar estórias a todo momento, porque vulgariza a
comunicação. É preciso ter sensibilidade para o uso criativo desse pode-
roso recurso.
Esta coletânea é resultado de cuidadosa seleção de alguns anos, a maio-
ria garimpada de programas do "Um olhar para o Vale", da Rádio União
FM, de Novo Hamburgo, RS; outras foram recolhidas ocasionalmente cá e
lá, com o desejo de um dia reuni-las numa publicação.
Agora este sonho está contemplado, e é só escolher a estória que melhor
se adapte ao contexto do assunto que se queira abordar.
Se você dispuser de alguma estória interessante e desejar compartilhá-la
com o autor para, talvez futuramente, integrar publicação semelhante, en-
vie-a por fax, pelo telefone (51) 594-3022, e-mail: osvino@ienh.gl2.br ou ainda
por correspondência para a Caixa Postal 2123 - 93.525-360 - Novo Ham-
burgo/RS.
Osvino Toillier

Dedico esta obra a todas as pessoas que contribuíram com textos para
esta coletânea, à Rádio União FM 105.3, de Novo Hamburgo, aos colegas,
aos meus professores, à minha esposa e filhos e agradeço à Editora Sino-
dal por acreditar neste projeto.

120
Osvino Toillier, professor, nasceu
em Santa Cruz do Sul (RS) no dia
lº de março de 1944. Cursou o
Primário na Escola Particular
"Centenário" de Rio Pardinho, em
Santa Cruz do Sul, e Fundamen-
tal e Médio no Colégio Mauá, no
mesmo município, onde iniciou
suas atividades como funcionário,
professor, chegando a diretor-ge-
ral. Formou-se em Letras pela
Fundação Universidade Bagé
(RS). É professor de Língua Por-
tuguesa e diretor-geral da Institui-
ção Evangélica de Novo Hambur-
go (RS), além de vice-presidente e coordenador de comunicação do
SINEPE/RS. Também escreve crônicas para a revista "Expansão
do Vale", é colaborador de diversos jornais e apresentador do pro-
grama "Um Olhar para o Vale", da Rádio União FM, de Novo Ham-
burgo, desde 1992. Organizou a Coletânea de Mensagens "Um Olhar
para o Vale", volumes 1 e 2, publicados pela Editora Sinodal.

121
100 estórias
Um pedaço de pão 7
Se melhorar, estraga 8
Nem pássaro nem fera 10
Sobre abandonar amigos 11
Aparências enganam 13
Proteção ou educação 14
Ferro-velho das almas 15
Nossas deficiências 16
A família: o bem maior 17
O caminho das pedras 19
A reação dos macacos 20
Estrela verde 21
O guerreiro cruel 22
Zé da Gaitinha 23
Ouvindo o inaudível 25
O preço mais alto 26
Águia entre galinhas 27
Olhar para dentro de si 28
Três homens de barba 29
Árvore dos problemas 31
Sadako e a garça 32
A rosa branca 33
Pegadas na areia 34
Solidariedade entre porcos-espinhos 35
Objetivos do ser humano 36
O riacho e o pântano 37
Potencial humano 38
O peso da oração 39
O pinheirinho insatisfeito 40
Um homem feliz 41
As três peneiras 43
Anjo da guarda 43
Pastel, guaraná e Deus 45
Herdeiro do cacique 47
Dia e noite 48
Caixa de beijos 49
As marcas dos pregos 50
Água em lugar de vinho 51
Afiando o machado 51

122
Um trio estranho 52
Viagem dos macacos 53
Sabedoria de um rei 54
Recepção do mandarim 55
Morada dos sentimentos 56
A mais bela flor 57
Lição da borboleta 58
Os tesouros da alma 59
Prêmio para os esforçados 60
O menino e os patins 61
Fumaça salvadora 62
Há solução para minha situação? 63
O agricultor e o nobre 63
Servente e sacristão 65
Um rei sem coroa 66
O preço de nossa vida 67
A cruz de cada um 68
Enfoques diferentes 69
Cheque escondido 70
Uma amizade bonita 71
Dar sentido à vida 72
Pedras grandes da vida 73
A jarra e as moedas 74
A Verdade e o Amor 75
À procura de um presente 76
As mães e seus filhos 76
A surpresa de Deus , 77
Irmã não pesa 78
Diamantes nas sacolas 79
Cheio de luz 80
Filho de sapateiro 80
A morte não tem mãos 81
Alcance de nossa visão 82
O que é a vida? 83
Um ladrão de machado 84
Três leões alpinistas 84
A prova do rosto 86
Um caboclo na rede 87
Lealdade ao objetivo 88
Coisas mais importantes 89
Presente de Natal 90
Você é importante 91
A causa é de todos 93

123
O aluno e o sábio 94
Instalação do sistema AMOR 94
Influência humana 97
Cuidar do mais importante 98
A coisa mais doce e mais amarga 99
Cruz do tamanho exato 100
Janela de hospital 102
O velho peregrino 103
A lição da natureza 104
Amor não-revelado 106
Sabedoria da montanha 107
Decisão precipitada 109
Esconde-esconde dos sentimentos 110
A cotovia e as rãs 112
Consertando o mundo 113
A flor da honestidade 114
Debate sem palavras 116
Carta de Jesus 117

124
Impresso na Gráfica Sinodal

Textos: Clarendon, corpo 10/12


Títulos: Clarendon, corpo 18/22
Impresso em papel off-set: miólo 75g e capa 240g

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