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Um bom sociólogo é um bom escritor

Harry G. Levine
A primeira vez que estudei sociologia foi como estudante de graduação na Brandeis
University. Lewis Coser e Philip Slater foram meus professores e exemplos. Eles me
convidaram para ajudar em uma tese e me ensinaram “como fazer sociologia[3]”
corrigindo meus rascunhos. Quando Coser realmente gostava de um capítulo, ele
rabiscava "Bravo" no topo da primeira página, e então ele editava o texto com suas
observações. O inglês foi a terceira ou quarta língua que aprendeu, ele era um escritor
muito bom e um editor maravilhoso.
Eu fui para a faculdade em Berkeley em 1970. Os alunos em Berkeley quase não
recebiam lições de como fazer sociologia profissionalmente, comparado com o que
Coser e Slater tinham me ensinado. Eventualmente, eu entendi que minhas experiências
de graduação eram incomuns comparadas aos pós-graduandos mais típicos.
Em 1978, quando eu terminei a minha dissertação, "publicar ou perecer" foi o meu lema.
Essa é a lógica no mundo de alta tecnologia de e-mail e internet conectando o mundo
no século XXI. O mercado de trabalho limitado para doutores significa que uma carreira
de sucesso como um sociólogo-pesquisador[4] requer ser um escritor publicável e
moderadamente produtivo. Mesmo com essa realidade econômica, a pós-graduação,
na maioria das áreas, ainda raramente fornece preparação para uma escrita publicável
ou para a carreira docente. Bem ou mal, os professores mais bem-sucedidos
aprenderam a escrever por conta própria.
Alguns anos atrás, fui convidado para falar sobre ser um sociólogo em um seminário
para novos estudantes de doutorado no centro de pós-graduação da University of New
York. Eu aproveitei a ocasião para resumir algumas das coisas mais úteis que eu aprendi
ao longo dos anos sobre a escrita sociológica. Eu gostaria que alguém tivesse dito estas
coisas para mim. Como todos os conselhos, essas "dicas, observações e princípios" não
devem ser levadas ao pé da letra.

1. Um bom sociólogo é um bom escritor


Tornar-se um bom escritor é um passo inteligente para a carreira de sociólogo, pois o
sociólogo é acima de tudo um escritor. Para nós sociólogos, a escrita é a nossa
ferramenta e nosso ofício. Acadêmicos de todas as áreas, que escrevem bem, tem maior
facilidade para conseguir editoras e leitores. Escritores ruins e sem graça tem dificuldade
de serem lidos e levados a sério[5]. Poucos alunos entendem isso quando começam a
pós-graduação. Aprenda isso agora. Compreenda que os grandes pensadores pensam
em si mesmos como escritores. Se você começar a pensar em si mesmo como um
escritor, e tentar se tornar um bom escritor, você estará se destacando da maioria dos
sociólogos.
Bons escritores têm sempre seus rabiscos guardados. Anote sempre suas reflexões,
mesmo que desorganizadas. Até notas confusas e incompletas podem ser muito úteis
mais tarde. Tome notas sobre sua vida. Copie trechos de livros e frases interessantes
que tenha ouvido.
Bons escritores escrevem com frequência. Quando for escrever uma correspondência
não se prive de usar plenamente as palavras. Escreva poesias, ensaios, notas de leitura
e de campo, experiências pessoais e descrições detalhadas de coisas que são familiares
a você. Mantenha diálogos por e-mail para escrever com frequência. Escreva, escreva,
escreva.
Para fazer uma boa sociologia nós precisamos aprender as habilidades dos contadores
de histórias e dos grandes mestres de todas as áreas do conhecimento. E todos nós
somos obrigados a aprender por conta própria. Portanto, temos que aprimorar a escrita
por conta própria. Recomendo comprar, ler e reler The Elements of Style de Strunk e
White[6], e On Writing Well de William Zinsser. Os escritores profissionais bem-
sucedidos estão sempre aprendendo mais sobre seu ofício, mesmo quando eles estão
revendo o que já sabiam e esqueceram.
A primeira regra da boa escrita é: escreva com clareza[7]. Você precisa tornar a sua
escrita de fácil entendimento para o leitor assimilar o que você está dizendo. Deixe a
mensagem clara e saia do caminho do leitor. Use frases curtas, varie o comprimento das
frases no parágrafo, e use palavras difíceis com moderação. Até certo ponto é bom que
o escritor “desapareça” do texto. Ao escrever de forma clara você ajuda o leitor a aceitar
que o que você está dizendo é verdade. A ciência é em parte uma estratégia retórica.
A segunda regra da boa escrita é: Escreva na voz ativa. Ou, escreva na voz passiva e
depois metodicamente edite seu texto de volta para a voz ativa[8].
Sociólogos tendem a focar em forças e tendências sociais, enquanto deixando de
mencionar (ou mesmo pensar) a vida, a respiração, os atores humanos. Por exemplo: "O
padrão foi criado", "a política foi alterada", e "A companhia Ford Motors foi processada".
Todas as três frases deixam em aberto quem fez a criação, a alteração e o processo. A
escrita na voz ativa exige que nós deixemos os atores explícitos. Em vez disso, diga: "Os
Beatles criaram o padrão", "Eleanor Roosevelt mudou a política" e "os parentes das
pessoas que morreram em chamas processaram a companhia Ford Motor". Se não
conseguimos dizer claramente quem são os atores, provavelmente precisamos de mais
informações sobre os fatos ocorridos.
A terceira regra da boa escrita é: Organize bem o seu texto. Quando eu era um estudante
de pós-graduação, um escritor de sucesso me contratou para ajudar a escrever um
texto. Sua única recomendação foi: "apenas certifique-se de usar segmentações de A, B,
C e 1, 2, 3 ". Ele quis dizer que um texto deve ser bem organizado, que os temas devem
ser agrupadas em parágrafos e seções. Seguir esse conselho e melhorar a organização
de uma obra geralmente envolve a organização da estrutura do texto. Portanto, a
organização das partes do texto é sua amiga.
A quarta regra da boa escrita é: Dar o seu trabalho para várias pessoas, principalmente
aqueles que escrevem com clareza. Primeiro, peça que digam o que gostaram no texto,
o que ficou bom e o que acharam interessante. Todo leitor vai ter críticas. Embora
necessário, a crítica pode ser desanimadora. Os amigos sempre irão demorar para lhe
dizer o que acharam sobre seu texto. É difícil conseguir deles uma resposta imediata.
Então peça para darem exemplos específicos de coisas que gostaram. Reafirme para eles
em suas palavras e a mensagem central do manuscrito. Mostre sede de conhecimento.
Tente produzir o que seus leitores gostam. Force seus interlocutores a sugerir frases
alternativas e soluções específicas para os problemas que eles encontraram. E leve as
sugestões a sério. Se dois leitores de confiança encontrarem uma frase, parágrafo ou
seção confusa, mude - mesmo se você acha que é a melhor coisa que você já escreveu
na vida.
A boa escrita vem da reescrita. Eu costumo escrever pelo menos 4 a 6 rascunhos de
coisas importantes, e às vezes letra por letra. A reescrita significa releitura, olhando de
novo e de novo para as palavras, frases e sentenças desnecessárias e inadequadas. Mark
Twain disse uma vez "A diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a
mesma diferença entre um raio e um vaga-lume.".
A quinta regra da boa escrita é: Edite o trabalho de outras pessoas. Este é, de fato, a
única maneira de se tornar competente em editar o seu próprio trabalho. É muito mais
fácil ver os problemas em escritos de outras pessoas do que no seu.
Edite o seu trabalho, divida suas sentenças. Corte suas redundâncias, reorganizar seus
parágrafos, reescreva suas sentenças na voz ativa, dê alternativas para frases, peça para
desenvolver melhor as ideias mal formuladas. A longo prazo, a edição generosa que você
fizer aos outros será a ação mais egoísta que você já fez. Escrever é um trabalho solitário.
Escritores ficam sozinhos por muito tempo, olhando o texto no papel ou na tela do
computador, dialogando com ele. Ao editar o trabalho de outras pessoas, escrever para
pessoas que conhecemos, aprender o que os leitores inteligentes gostam de ler,
incorporando as sugestões ao texto, isso torna o trabalho menos solitário e muito
melhor.

2. Escrever uma pesquisa: contar histórias a partir de dados.


Nosso trabalho como sociólogos, estudiosos, escritores e professores, é contar histórias.
Nunca se esqueça, e nunca aceite qualquer interpretação do seu trabalho que não inclua
a ideia de que você é um contador de histórias. Você é um contador de histórias que
conta histórias reais.
Para contar boas histórias é preciso dados, geralmente dados fiéis, e se possível de
muitos dados. Somente com dados fiéis se pode escrever uma boa história. Os dados
vêm em todas as formas - números, imagens, palavras, gravações, artefatos, pixels, o
que seja. Ao contrário do que pensam muitos estudantes de pós-graduação, sociólogos
e jovens universitários que estão tentando ter suas pesquisas publicadas, os dados
obtidos sem teoria são melhores do que estudar uma teoria sem relacionar com dados.
Para obter boas informações é preciso fazer uma pesquisa antes. Temos que sair de
casa, conseguir os dados, trazer para casa, e trabalhar com eles. Felizmente, as pós-
graduações de Sociologia dão suporte para a aprendizagem das técnicas básicas de
pesquisa, outra possibilidade é encomendar a captação dos dados através de empresas
de pesquisa[9] que podem fazer um ótimo serviço. Para a maioria dos projetos de
pesquisa é fundamental ter curiosidade, persistência, sorte e algum recurso.
Para contar boas histórias a partir de dados, nós temos que perceber o que
interpretamos e o que queremos dizer. Isso requer reflexão. A maior parte do tempo, o
escritor passa pelo processo de bloqueio de escrita. Às vezes, o bloqueio na escrita é
causado por falta de dados, e para resolver isso temos que refletir sobre o que temos.
Se você achar que está com bloqueio para escrever é preciso tomar isso como um sinal
de que está precisando pensar mais sobre o que está tentando escrever, e que também
pode precisar de mais informações. Temos de encontrar histórias para contar usando a
interpretação dos dados.
Todo mundo faz alguma reflexão enquanto está escrevendo. No entanto, muitos
problemas são resolvidos longe do teclado. Andar, caminhar, tomar banho, andar de
bicicleta, dirigir, ler, ouvir música, ou simplesmente se encostar em uma parede às vezes
pode estimular a reflexão e a escrita para algumas pessoas. Conversar com amigos e
colegas também pode ajudar muito. E alguns escritores só conseguem refletir sobre os
dados quando estão escrevendo. Nesse caso, reescrever é ainda mais importante.
Encontre um modelo de formato de pesquisa[10]. Livros e artigos acadêmicos que tenha
afinidade como o trabalho que você quer fazer. Se não podemos encontrar bons
exemplos do tipo de pesquisa e de forma de escrita que nós queremos fazer, nós
provavelmente não teremos condição de executar esse projeto.
Busque ler periodicamente revistas de alto nível acadêmico. Um sociólogo sério é um
verdadeiro intelectual, alguém que joga de forma criativa com ideias e linguagem. Por
isso, leia os melhores intelectuais que escrevem na atualidade. Estude suas obras e
imite. Compre seus livros, ou pegue na biblioteca emprestado e leve para casa, mesmo
que não vá conseguir ler tudo. Todos os bons estudiosos fazem isso. Para ser um
intelectual competente também é preciso aprender a história do que se estuda. Quanto
mais se sabe sobre a história do nosso tema, mais fácil será escrever sobre ele em
qualquer campo, e melhor o trabalho fica.
Ao escrever um artigo, eu recomendo começar trabalhando com dados específicos, com
um caso, e no final buscar desenvolver generalidades a partir dele. Use a teoria para
explicar os dados. Conte a história a partir dos dados empíricos se orientando pela
teoria. Depois de apresentar as interpretações sobre os dados, se assim desejar, poderá
sair de trás “das cortinas” e explicar melhor as suas intenções no texto. Ao contrário de
historiadores, sociólogos tendem a fazer o oposto - a começar com uma generalização
ou hipótese. Eu acho que os sociólogos têm muito a aprender com historiadores sobre
contar histórias.
Fazer um argumento é criar uma história. Um trabalho científico deve apresentar uma
ou duas mensagens centrais e argumentos que os apoiem. Um trabalho deve narrar os
fatos em torno do objeto de estudo e buscar traçar uma generalidade a partir deles. A
teoria é uma história contada em um nível um pouco mais elevado de abstração, no
entanto, não passa de uma narrativa. Se algo não pode ser contado como narrativa,
então não faz sentido. E, se algo não faz sentido, não faz sentido contar. Porém, não
tenha medo de não fazer sentido. As mesmas perguntas que podem ser impostas ao seu
trabalho podem ser aplicadas ao trabalho de qualquer outra pessoa: Qual é o ponto
defendido? Qual é o argumento? Qual é a história?
Desenvolva relacionamentos com outras pessoas que estão estudando o mesmo tema
que o seu ou temas semelhantes. Leia seus escritos, converse por e-mail, fale com eles
por telefone. Tente fazer deles seus amigos. No século XXI, temos a possibilidade de
manter relações de trabalho, e até mesmo amizades íntimas com as pessoas que
raramente vemos.
Escrever e pesquisar com outra pessoa pode ser algo divertido e produtivo. Duas
pessoas podem ser mais espertas do que uma, e um trabalho escrito por duas pessoas
pode ser mais interessante do que qualquer trabalho que uma das duas poderia fazer
sozinha. Mas a colaboração entre duas pessoas não torna o trabalho menos complexo.
Um bom trabalho escrito por duas pessoas leva pelo menos duas vezes mais tempo para
ser feito do que um trabalho escrito por uma pessoa. Para fazer um bom trabalho
sociológico, muitas vezes é necessário conhecer a fundo pelo menos duas áreas do
conhecimento. Para fazer uma boa sociologia histórica, antes eu tenho que trabalhar
bem com a sociologia e com a história. Ter a expertise em dois ou mais campos é
necessário para muitos tipos de projetos de pesquisa e áreas de estudo. É necessário
muito esforço para alcançar profundidade em dois campos, mas as recompensas
pessoais, intelectuais e profissionais são substanciais.

3. Ser um sociólogo
Meu velho amigo, Jerry Himmelstein, escreveu um trabalho de graduação em seu último
ano na Universidade de Columbia. Jerry trabalhou arduamente durante todo o ano. Nas
últimas semanas ele virava dias e noites para concluir o trabalho. Já exausto, ele
entregou a monografia no escritório de seu orientador. O orientador pegou calhamaço
pesado, folheou-o brevemente e disse:
"Bom trabalho, Himmelstein - você está querendo ir para a pós-graduação em
sociologia, não é?"
"Sim, eu estou", respondeu Jerry orgulhosamente.
"Bem", disse o professor, "se você trabalhar duro, e se você for muito bom, você
conseguirá fazer isso para o resto de sua vida."
Por que alguém iria querer fazer isso?
Estou feliz de ser um sociólogo por várias razões, sobretudo por não ser um trabalho tão
alienante. Gosto de ensinar e agora estou ficando muito bom nisso. Mas eu tenho sido
contratado, pago, e promovido para aprender coisas e escrever um pouco do que eu
aprendi. A escrita ainda hoje é algo difícil para mim, mas o aprendizado é fantástico.
Como sociólogo eu posso estudar sobre quase tudo que eu quero.
Uma das melhores coisas de ser um sociólogo, é que podemos ir a qualquer lugar, não
ver nada, não ler nada, não falar com ninguém, e sempre poderemos dizer que
estávamos fazendo trabalho de campo. E pior que podemos realmente estar fazendo
trabalho de campo. Ninguém sabe o que será útil para nossos escritos ou nossas aulas -
e nós certamente também não sabemos. Como disse Edward Brecher, “certas coisas não
aparecem no resultado”.
O nosso trabalho como sociólogos é aprender as verdades sobre o mundo social para
escrever sobre elas. Grande parte do tempo, talvez a maior parte do tempo, nós não
podemos estar indiferentes ou desinteressados. Mas podemos ser honestos e sinceros
sobre o que interpretamos. O mundo real é feito de seres humanos e dificilmente é da
forma como gostaríamos que fosse. As ações das pessoas, palavras e criações são muitas
vezes surpreendentes, até mesmo peculiares, estranhas ou bizarras. Nossa tarefa como
sociólogos é descrever de maneira mais clara e honestamente possível alguma parcela
do mundo social. Se você não acredita que existam coisas verdadeiramente importantes
a serem ditas sobre o mundo social e sobre o que as pessoas fazem, então você está no
campo errado. Considere uma carreira no direito, filosofia ou economia.
Sociologia é uma ciência. Não é uma ciência puramente positivista ao molde das ciências
naturais. Mas faz uso de muitas das ferramentas lógicas e empíricas das ciências
naturais. Todas as ciências, incluindo a sociologia, procuram descrever e compreender
o mundo. Mas a sociologia é também uma forma de arte - entre muitas outras razões,
porque é uma variedade de literatura. (Robert Nisbet tem uma boa discussão sobre isso
em seu livro, A sociologia como uma forma de arte[11]).
Em Perspectivas Sociológicas: uma visão humanística[12], Peter Berger diz que a
sociologia não é definida pelo que ela estuda, nem pelas teorias e métodos que utiliza.
Ele diz que a sociologia se distingue por suas perspectivas, especialmente pela sua
desconfiança em relação aos dados obtidos. Berger oferece o que ele chama de
“primeira verdade sociológica". A ideia de que um campo acadêmico tem uma "primeira
verdade" é inteligente e ousado. A primeira verdade da sociologia de Berger é: as coisas
não são o que parecem ser. Eu gosto muito desse conceito.
Berger aponta quatro características que ele considera centrais na escrita sociológica.
Ele chama de desmascaramento (desmascaramento no sentido de revelar a verdade
sobre algo), não-respeitabilidade (olhar o mundo a partir da perspectiva dos não-
respeitáveis, os perdedores), relativização (compreensão de que quase tudo depende
do contexto), e cosmopolitismo (uma valorização da visão cosmopolita e da diversidade
humana). Eu amo fazer uma ciência com essas características. Todas essas
características são importantes, mas acho que a primeira é a mais importante. No
mesmo sentido de Berger, eu afirmo que os sociólogos bons são bons contadores de
histórias, que mostram que as coisas não são como parecem ser.
Eu sou um wrightmillsiano. Eu acredito que decifrar os sentidos do mundo é um trabalho
fascinante e útil. Eu amo interpretar o mundo, e para isso eu preciso de uma
representação grande para poder me orientar e ter um parâmetro. Rotineiramente, eu
busco entender quem eu sou, o que eu quero, e o que eu sinto a partir da observação
do contexto histórico em que estou inserido em relação a minha biografia. Eu entendo
minha própria vida visualizando-a no contexto político, econômico, cultural,
institucional e histórico. Eu acredito que a imaginação sociológica pode realmente
ajudar as pessoas - coletivamente e individualmente - para melhorar suas vidas, as
tornando mais felizes, mais saudáveis e mais eficientes em tudo que fazem. Acredito
que com mais força do que nunca.

4. Boa escrita como uma tradição sociológica.


Para C. Wright Mills, escrever bem era fundamental para a tarefa de interpretar o
mundo social. Para Mills, entre as qualidades importantes que faziam seus heróis - Emile
Durkheim, Max Weber, Karl Marx, Georg Simmel, Sigmund Freud, W.E.H. Lecky, Jackob
Burckhardt, W.E.B. DuBois, Robert Park, Karl Manheim, Charles Beard e Thorstein
Veblen - a principal era a de que todos eram escritores bons ou muito bons habilidosos
com as palavras. O que há em comum na maioria dos sociólogos bons ou apenas lidos
na minha geração, nas gerações anteriores, de vertentes políticas e perspectivas
sociológicas distintas, é que todos se viam como escritores e trabalharam duro para
conseguir uma boa escrita. Certamente, alguns sociólogos, a partir de Talcott Parson a
Harold Garfinkle, tiveram uma escrita densa, pesada, e prosa com jargões cheios. Porém
a escrita mais didática também tem se mantido como uma tradição forte dentro da
sociologia. Por exemplo, a partir de meados dos anos 1930 até meados dos anos 1970,
junto com C. Wright Mills e Peter Berger, outros foram surgindo:
Robert Lynd, Helen Lynd, Lewis Coser, Rose Coser, Phillip Slater, Alice Rossi, David
Reisman, Everett Hughes, Helen Hughes, Howard Becker, Robert Merton, Louis Wirth,
Mirra Komarovsky, Alvin Gouldner, Paul Cressy, Oliver Cox, Alfred Lindesmith, Seymour
Lipset, William F. White, Dennis Wrong, Jessie Bernard, Nathan Glazer, Elliot Liebow,
Ralph Miliband, Vance Packard, Robert Nisbet, Erving Goffman, Norbert Elias, Betty
Friedan, Michel Foucault, Irving Zeitlin, Eric Fromm, Phillip Reiff, Ralph Daherndorf,
Herbert Blumer, Arthur J. Vidich, Joseph Bensman, Ned Polsky, Ernst Becker, Robin
Williams, E. Digby Baltzell, Joseph Gusfield, John Seeley, Raymond Aron, William
Domhoff, David Matza, Robert Blauner, Kingsley Davis, Reinhard Bendix, Herbert Gans,
Daniel Bell, e Kai Erickson.
Na mesma época, boa parte dos bons antropólogos, historiadores, cientistas políticos,
geógrafos, linguistas e filósofos também eram escritores hábeis. Suas obras importantes
resistem e continuam a ter importância para os estudantes e pesquisadores, em parte,
porque essas obras geralmente foram bem estruturadas em termos da frase e de
parágrafo. Têm surgido muitos cientistas sociais que são bons e bem-sucedidos, porque
eles têm algo importante a dizer e dizem isso bem. Devemos aprender com os seus
trabalhos e exemplos. No final, somente existem duas tarefas profissionais para o
sociólogo - descobrir o sentido das coisas através do trabalho sociológico e escrever
sobre ele com habilidade.

Harry G. Levine, Departamento de Sociologia, Queens College e Centro de Pós-


Graduação, Universidade da Cidade de Nova York, Flushing, Nova York, 11367. e-
mail: HGLevine@compuserve.com

Tradução de Pedro Jorge Chaves Mourão

LEVINE, Harry G. Um bom sociólogo é um bom escritor. Tradução. Pedro J. C. Mourão.


Fortaleza: S/Ed. Disponível
em: http://cienciasocialceara.blogspot.com.br/2013/01/um-bom-sociologo-e-um-
bom-escritor.html

[1] Agradeço a contribuição dos amigos Vinicius Frota, Napoleão Araujo Neto, Carlos do
Valle, Diego de Almeida Alves
[2] Artigo originalmente publicado em
http://dharma.soc.qc.cuny.edu/soc/faculty/pages/levine/docs/a-good-sociologist.html
[3] No original “how to write sociology”.
[4] Aqui ele faz uma distinção entre o ofício de sociólogo como pesquisador e como
professor.
Nos EUA essa diferença é mais clara devido a diversidade do mercado de trabalho, já no
Brasil essa distinção ainda é pouco aparente.
[5] Um indício do fenômeno que Levine descreve pode ser percebido na transformação
linguística através das redes sociais eletrônicas e microblogs, como facebook e twitter.
Dificilmente, as pessoas leem textos grandes e complexos nas mídias digitais, que cada
vez mais ganham espaço no cotidiano dos leitores.
[6] Ambos sem tradução para o português:
STRUNK, Jr., William; E.B. White. The Elements of Style. Boston: Ed Allyn & Bacon, 2009.
ZINSSER, William Knowlton. On writing well: the classic guide to writing nonfiction.New
York: Ed First HarperResource Quill, 2001. Disponível em: . Acesso em: 3 dez. 2012.
[7] Lembro que durante minha própria pós-graduação meu orientador, Domingos Sávio
Abreu, sempre fazia a recomendação: escreva como se sua avó fosse ler. Com isso ele
queria dizer para que eu não fosse prolixo na escrita.
[8] Um exemplo de voz ativa: O deputado roubou o povo. Na voz passiva seria: O povo
foi roubado pelo deputado.
[9] No mercado norte-americano existem diversas empresas que fazem pesquisa de
mercado, pesquisa de opinião e até especializadas em pesquisas acadêmicas.
[10] Aqui o autor se refere à busca por um trabalho que possa orientar na confecção da
estrutura da monografia.
[11] NISBET, Robert. A sociologia como uma forma de arte [orig. ingl.1962]. Trad. S.
Garcia. Re. técn. H. Martins. Plural, Revista do curso de pós-graduação em sociologia da
USP, São Paulo, n.7, pp.111-130,10 sem.2000. Disponível em:
http://www.fflch.usp.br/ds/plural/edicoes/07/traducao_1_Plural_7.pdf
[12] BERGER, Peter I. Perspectivas Sociológicas – uma visão humanística. Petrópolis:
Vozes, 1986.

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