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Maria Lúcia Batezat Duarte 27

Arte, ensino e procedimentos de


criação

Maria Lúcia Batezat Duarte (Doutora)


Curso de Artes Plásticas - Universidade do Estado de Santa Catarina / UDESC

Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHLA 03, p. 27-42, Curitiba, out. 2001
28 Arte, ensino e procedimentos de criação

Resumo
Este ensaio aborda aspectos do ensino da Arte. A questão fundamental é: o que é possível ensinar em Artes
Visuais? Se é possível ensinar técnicas, diferentes tipos de leitura de imagens, teorias estéticas e críticas, história
da arte; tentar ensinar criatividade ou descobrir o discurso pessoal de cada um dos estudantes de arte é outro
problema. As dificuldades situam-se entorno do processo de criação. Compreende-se que é possível ensinar
ou atuar apenas sobre uma parte desse processo complexo, na parte consciente, nomeada “procedimentos de
criação”. Alguns “procedimentos de criação” são apresentados e relacionados à concepção de poética em
Luigi Pareyson.

Palavras-chave: ensino da arte, processo de criação, procedimentos de criação, partes conscientes e inconsci-
entes da produção artística.

Abstract
This essay is about some aspects of the teaching of art. The fundamental quest is: what is feasible to teach in
Visual Art? Whether it is possible to teach techniques, different kinds of images readings, aesthetic and critical
theories, and art history; trying to teach creativity or to find out the personal discourse of each student of art is
another problem. The difficulties occur around the creation process. I believe that it is possible to teach or act
upon a part of this complex process only, upon the conscious part that I called “create procedures”. In this
study, some “create procedures” are present and related to Luigi Pareyson’s concept of poetics.

Key words: art taught, creation process, creation procedures, conscious and unconscious parts of art production.

Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 27-42, Curitiba, out. 2001
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M ultiplicam-se em nosso país os cursos de Artes


Visuais, antes Artes Plásticas, agora coerente-
mente ampliando seu campo para a imagem
Concorda-se, então, que o título de Bacharel em
Artes Visuais não garante o metier, isto é, não garante
o “artista”. Mostras, participações em coletivas, indi-
desmaterializada, impressa em película ou viduais, serão necessárias. É a exposição da obra e a
transcodificada em números no espaço virtual da aceitação do público (e da crítica) que ratificam e
tecnologia. A arte sofre a mesma globalização do po- nomeiam o ARTISTA. É a história e o tempo dessa
der, da política, da economia, da miséria... Um click aceitação que mantêm ou não o título uma vez atri-
no mouse e estamos no Museu do Louvre, com milêni- buído.
os de sonhos e dores humanas revelados na telinha do Importa, então, reconhecer, e assim conferir senti-
nosso computador. Entretanto, velhos problemas nos do aos cursos universitários de Artes Visuais que pre-
perseguem, mesmo na telinha, que a tudo deveria res- tendem ensinar Arte e formar Bacharéis ou Licenciados,
ponder, porque tudo revela. Afinal, arte se ensina? o que se ensina e o que se aprende em Artes Visuais. É
Como se ensina arte? O que se ensina em arte? preciso reconhecer primeiro, humildemente, que o
Mais ainda: Aquele que recebe o diploma universi- núcleo gerador da arte, a inventividade, a criação
tário de Bacharel em Artes Visuais é, pelo diploma, diferenciadora e definidora da individualidade e parti-
um artista? Assim como é médico o bacharel em cularidade do artista e da sua obra não podem ser
Medicina ou dentista o bacharel em Odontologia? Ora, ensinadas. (Pierre Levy já lembrou com pertinência que
direis, eis um falso problema provocado pela mistura a navegação cibernética das imagens-obras retocadas,
incorreta entre Arte e Ciências Biomédicas. É possível desconstruídas, transformadas a cada abordagem de
concordar com o equívoco da mistura, mas inegável cada navegador estarão todos os dias negando essa
reconhecer que o Bacharel em Artes Visuais não é ne- identidade e essa propriedade de um único autor/
cessariamente um artista, quer dizer, o diploma não obra. Mas, acreditando ainda no desejo humano de
garante a atuação ou título social. Será necessário com- dizer alguma coisa para alguém, com começo-meio-
provar a competência. Assim, meio como a distância e-fim, apesar da distância do tempo aristotélico, con-
de uma prova na OAB entre o Bacharel em Direito e sidera-se ainda aqui a humana independência do uno.)
o Advogado. Melhor evitar novos erros com digres- (Levy, 1999)
sões em campos tão diversos. O que, então, se ensina ou não se ensina em Arte?

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1. Um pouco de história sobre o criar refizeram os trajetos e negaram a tal “pureza” infantil
São inúmeros os teóricos e artistas que, durante todo acompanhados por Duborgel e Darras na França.
o século XX, pensaram os processos de criação artís- Ainda nos EUA, Gardner, estudando as “Mentes que
tica. Vygotsky, compreendendo a humana impossibi- criam”, denominado “inteligências” as diferentes apti-
lidade de “criar” do nada e associando a criatividade dões humanas e tratando dos modos possíveis de
ao conhecimento, às referências. Lowenfeld e tantos ampliá-las, desenvolvê-las. Mais recentemente todas as
outros norte-americanos acompanhando e buscando pesquisas no âmbito das teorias cognitivas que, não
entender a propagada criatividade infantil (já negada raro, cotejam a nossa mente e suas redes de neurônios
na então União Soviética pelo agora divulgado hipertextuais aos mecanismos de um computador
Vygotsky). Paul Torrance apresentando os fatores de (Pinker, Damásio).
personalidade facilitadores da ação criativa. Rollo May O núcleo da discussão sobre Processo de Criação
com a teoria do insight criativo. Carl Rogers com o seu talvez se mantenha nas mãos dos estudiosos da Psica-
heureka dos indivíduos possuidores de autonomia in- nálise. Não para psicanalisar algumas obras como ten-
terna. Herbert Read e Gombrich na Inglaterra deba- tou Freud sem a costumeira luminosidade, mas para
tendo o direto e os defeitos da liberdade criadora da compreender os processos criadores. Silvano Arieti,
criança. Picasso e Dubuffet buscando, no seu próprio ainda na década de 70 do século XX parece apresen-
trabalho artístico, a espontaneidade infantil, o incons- tar a chave do problema usando a velha fórmula de
ciente criador. Aqui no Brasil, Augusto Rodrigues e Freud para os processos de pensamento. Reconhece,
Mário de Andrade propondo espaços criadores às então, como reconhecera Vygostky já na década de
crianças e atentos a essa produção. Fayga Ostrowa tra- 30, ainda que apartado do diálogo pelo distanciamento
balhando com a Teoria da Gestalt (da Forma), já anun- político-ideológico, que a criação verdadeira e intenci-
ciada por Mário Pedrosa, mas sempre convicta da onal porque tarefa de sujeitos adultos, requer conheci-
poderosa e redentora espontaneidade criativa infantil mento. Então, mesmo em arte, há o que ensinar.
a ser preservada a qualquer custo. Mais recentemente
as pesquisas desapaixonadas do Grupo Zero nos Es- 2. Sobre o processo de criação
tados Unidos (Zero, de começar do zero, sem o en- “Criativo” é atributo inerente ao produto artístico. O
cantamento anterior pela infância ingênua e pura), que filófoso italiano Luigi Pareyson prefere o termo

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“inventivo”. Diz que a arte é um tal fazer que, enquanto Afinal, o que ocorre nas mentes desses inventores
faz, inventa o por fazer e o modo de fazer. (Pareyson, 1997, das Artes Visuais? Denomina-se Processo de Criação,
p.26) Se, na música ou na poesia a arte se faz pela os caminhos percorridos pelo sujeito (autor/fazedor
(inovadora) combinação dos códigos, dos signos de arte) até a conclusão de sua obra (o produto artísti-
musicais e lingüísticos, nas artes plásticas e visuais é a co). Há mais de um século Freud já nos fazia entender
possibilidade da ausência de códigos ou da criação de que há, em nossas mentes, um espaço do obscuro, do
novos códigos que as qualificam. Trata-se de um dis- inarticulado, representações e afetos guardados em de-
curso sem códigos prévios, que se organiza na sua sordem no sótão ou porão da nossa morada, que o
sintaxe enquanto estrutura, enquanto “ícone”1 . Uma esforço artístico (do artista) busca lançar luzes, articular.
imagem em totalidade. Uma possibilidade, então, de Nos anos 70 do século recém encerrado, Silvano
inovação total, no material utilizado na construção, na Arieti, psicanalista norte-americano, indicava dois es-
técnica de uso desse material, nas relações estabelecidas tágios diferenciados no conjunto de atos que com-
entre material, técnica, e articulação de formas e figu- põem o Processo de Criação (Arieti, 1976). Referia-se,
ras do discurso. É pela diferenciação (criadora), que é então, a todo e qualquer ato de criação em qualquer
garantida a autonomia e a particularidade do discurso área do conhecimento humano, das ciências às artes.
do sujeito que o engendrou. É pela identidade e pela Revendo Freud, retomava como movimento de arti-
indissociabilidade autor-obra que se caracteriza o pro- culação mental: 1) o Processo Primário, mais intuitivo,
duto artístico. Se, a Arte Pop (e o Dadaísmo anterior- primitivo, de domínio inconsciente (o sótão em de-
mente) e a Ciberarte promoveram e possibilitam o sordem), e 2) o Processo Secundário, mais consciente
uso de códigos culturais: os quadrinhos dos Comics, o e racional, onde o fazedor/criador elabora os conhe-
uso iconoclasta de históricas e consagradas imagens cimentos técnicos e teóricos adquiridos. Diz ainda Arieti,
de obras de arte; o sentido buscado nesse uso está que é na interação e no imbricamento desses dois pro-
constantemente proposto para além da simples iden- cessos - o primário e o secundário - que ocorre a “sín-
tificação do código, que passa a ser outro, ou pano de tese mágica”, isto é, a concepção final do produto
fundo, tela opaca de uma nova semiose. inovador. (Einstein, por exemplo, nos legou relatos

1 Ver para isso: WALTER-BENSE, Elisabeth. A teoria geral dos signos. São Paulo: Perspectiva, 2000. P.16 e ss.

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vibrantes de seus momentos de criação.) mais adiante a denominar PROCEDIMENTOS DE


Sendo o inconsciente o lugar do Processo Primário, CRIAÇÃO.
não há como pretender uma elaboração consciente (ver- Entendendo que o ato de criação ou processo de
bal) deste componente do Processo de Criação. A ele criação envolve conhecimentos adquiridos que se ma-
pertencem os fantasmas, as fantasias e o inventário de nifestam no espaço preciso do “processo secundá-
imagens e sentimentos de cada sujeito em particular. rio”, resta perguntar que conhecimentos são estes, ou
Recanto da sexualidade? A ortodoxia freudiana talvez enfim, no caso das Artes Visuais, o que se aprende e o
responde-se rapidamente que sim. Parece ser, entretan- que se ensina.
to, um limite falsamente imposto para um discurso/ Ensina-se História da Arte. O conhecimento da His-
teoria que se realiza também no espaço da cultura como tória e das obras já produzidos, é recurso pelo qual o
um todo, reconhecendo todos os modos de expressão estudante poderá propor novas imagens, sua (nova)
da libido, da pulsão, do desejo humano, ainda que cons- produção. Ensinam-se técnicas de manuseio de materi-
tantemente escamoteado ou sublimado. ais, de representação e construção, de uso adequado de
Às vezes, tem-se a impressão que alguns artistas, agentes (tintas, por exemplo) e suportes (tipos de pa-
revelando suas angústias sexuais pensam revelar a péis, por exemplo). Ensinam-se teorias de leitura de
“primeiridade” de seu processo de criação, pensam imagens, concepções e definições da própria arte nos
dominá-lo, subjulgá-lo ao poder de um ego que se âmbitos da Estética e das Poéticas através dos tempos.
quer o mais forte. Provavelmente o velho Freud sor- São justamente as poéticas que permitem e sem-
riria complacente a essa vã tentativa. Mesmo no divã, pre permitiram, no percorrer da história, um último
a novela humana não é tão simples ou simplória. tipo de aprendizagem. Aquele sobre o qual passamos
Entretanto, no que se refere ao Processo Secundá- a nos referir agora.
rio, é possível elaborar algumas possibilidades, apon-
tar alguns caminhos historicamente percorridos pelos 3. Procedimentos de criação
artistas e que são conscientes, verbalizáveis, ainda que Procedimentos são seqüências de ações propostas e
não remetam exclusivamente às questões técnicas e executadas, atitudes adotadas, com determinada fina-
teóricas. lidade. No ensino de Artes Plásticas e Visuais, as ques-
A um desses caminhos, “segundos”, passaremos tões de método e procedimentos remetem ao fator

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criatividade. É este fator que faz integrar aos procedi- viabilizam a construção no espaço bidimensional e/
mentos de ensino em Artes Visuais, ações que se está ou tridimensional de sinais que representem a nature-
nomeando PROCEDIMENTOS DE CRIAÇÃO. za, artefatos, cenas, sentimentos, invenções, transfor-
PROCEDIMENTOS DE CRIAÇÃO são ações mações, criações dos sujeitos nas áreas gráfica e
propostas pelo professor, para colocar o aluno em con- pictórica das Artes Plásticas e Visuais.
tato direto com coisas, fatos ou fenômenos que possi- Para tanto, atribui-se à palavra DESENHO uma
bilitem uma experiência transformadora, inventiva. conotação ampla, indicando qualquer ação
Luigi Pareyson (Pareyson, 1997, p.15 e ss) denomi- modificadora e criadora de ruídos no silêncio do es-
na POÉTICA, o “caráter programático e operativo” paço plástico/visual.
de um determinado programa de arte que traduz em Os PROCEDIMENTOS DE CRIAÇÃO estão
“ normas ou modos operativos um determinado gosto arrolados em função de dois aspectos
pessoal ou histórico”. Pareyson relembra que, especi- interdependentes: o objeto visual real ou imaginário
almente no século XX, grupos de artistas plásticos de- desencadeador do exercício plástico (que passa a no-
clararam em Manifestos, as suas Poéticas, isto é, as mear o item), e o tipo de ação envolvida no exercício
suas intenções ao produzir arte e o seu MODO, a proposto (que subdivide o item).
metodologia empregada nessa produção. Assim, de-
nomina Poética o caráter operativo da arte e os mo- 3.1. Construção plástica a partir da natureza e
dos de produção, além da expressão de um dos artefatos
determinado “ideal de arte”. Exercícios que partem da materialidade de determi-
PROCEDIMENTOS DE CRIAÇÃO entrela- nado objeto.
çam-se ao conceito de Poética em Pareyson, no que se 3.1.1. Desenho de Observação Clássica - dado o objeto
refere as indicações de ações (modos operativos) para para observação, compete aos alunos repro-
a obtenção de determinado produto “artístico”. duzi-lo em detalhes, respeitando perspectivas,
Passa-se, então, a arrolar, ainda que de modo relações de proporção e de volume (luz e som-
incipiente2 , PROCEDIMENTOS DE CRIAÇÃO que bra).
2 Esta pesquisa teve início nos anos 90, com alunos da disciplina de “Metodologia do ensino de arte” da Universidade Federal de Uberlândia
– MG, na época sob responsabilidade desta pesquisadora.

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3.1.2. Desenho Tátil - reprodução de um objeto a partir


das sensações de comprimento, largura, textura
etc.,dadas pelo contato manual e cego do obje-
to.
3.1.3. Desenho de Observação Visual em linha contínua com o
objeto em movimento - o desenho é iniciado e con-
cluído sem interrupções da linha de contorno
que o configura, ainda que seja constantemente
alterado o ponto de vista do desenhista em re-
lação ao objeto que registra.
3.1.4. Desenho através da análise e síntese da forma - seqüên- Iberê Camargo Tudo te é falso e inútil I 1992 - Pintura a óleo sobre tela
cia de exercícios de análise e síntese, a partir da
observação das estruturas formais do objeto Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses
registrado primeiramente em desenho clássico, exercícios podem oferecer aos alunos:
até a transformação do mesmo (o objeto) em - aquisição de “programas gráficos”;
“forma pura”. Conforme Onofre Penteado - fluência do traço de desenho;
(Penteado, 1976: p.25 e ss, sit. Mondrian, Piet.) - capacitação para o registro gráfico de objetos;
3.1.5. Desenho de Expressão Fisionômica da Forma - apre- - criação de figuras e formas.
ensão e representação da qualidade expressiva
da forma do objeto observado, cuja ênfase 3.2. Construção plástica a partir dos
pode e deve alterar relações de observação e elementos de linguagem
percepção visual fisiomecânica, como propor- Exercícios a partir do PONTO, da LINHA, e do
ções anatômicas, etc. Conforme Rudolf PLANO em tensão, expansão, retração, dinâmica, rit-
Arnheim (Arnheim, 1980; p.437 e ss). mo, movimento. Conforme Wassily Kandinsky
3.1.6. Croqui - registro rápido, com linhas e manchas, (Kandinsky, 1987).
indicando massa, volume e movimento do ob- Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses
jeto dado à percepção visual. exercícios podem oferecer aos alunos:

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- capacitação para a organização e composição do de estímulos verbais, estímulos musicais, estí-


espaço bidimensional (ritmo, equilíbrio, princípios mulos táteis.
de relação entre as figuras que compõem o todo); Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses
- abstração e domínio dos elementos da linguagem exercícios podem oferecer aos alunos:
plástica e visual; - reflexão e reconhecimento das referências visuais
- representação gestual e plástica do sentir desvinculado externas e internas de cada um (dos alunos);
de referências a formas conhecidas do mundo ex- - configuração e compreensão do próprio sentir e
terno; desejar;
- criação de figuras e formas. - capacitação para a organização e composição de es-
paço bidimensional;
3.3. Construção plástica a partir de registros - abstração e domínio dos elementos da linguagem
mentais plástica e visual;
3.3.1 Desenho de Objetos Memorizados – representação - criação de figuras e formas.
de objetos conhecidos mas ausentes da
visualidade imediata, através de esforço consci- 3.4. Construção plástica a partir da
ente de memória. (O professor pode auxiliar a apropriação de imagens
revivência da imagem através de verbalização.) 3.4.1. Recorte e Colagem - composição plástica através
3.3.2 Desenho de Cena - construção de cenas de vida, de recorte e colagem de reproduções fotográ-
com personagens reais ou fictícios, a partir da ficas e reproduções gráficas (impressas), acres-
sugestão de temas, leitura de histórias ou notíci- cidas ou não de outros recursos gráficos,
as de jornais e revistas, revivência de sonhos, pictóricos, ou de informática.
construções mentais de cenas com recursos do 3.4.2. Interferências e Apropriações - ações sobre imagens
imaginário (desejos, sonhos,...) obtidas em reproduções fotográficas, reprodu-
3.3.3. Desenho de Experiências Afetivas - ponto, linha, pla- ções de obras de arte, diapositivos, filmes pu-
no, cor, textura, transparências, volume..., utili- blicitários e cinematográficos, vídeos, imagens
zados na representação (gestual) de energia-afeto obtidas nos sites da WEB.
imbricada em qualificações do sentir, a partir 3.4.3. Releitura de Obras de Arte - repetição de obras de

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- capacitação para a organização do espaço


bidimensional;
- domínio dos elementos da linguagem plástica e visu-
al;
- domínio técnico;
- criação de figuras e formas.
Tomas Porett
Deceptions - 1988
(Computer art) 3.5. Construção plástica a partir da
transformação da figura
3.5.1. Alteração ou Multiplicação dos Elementos Gráficos -
transformação de uma figura através da altera-
ção ou multiplicação dos elementos gráficos que
a compõem. Por exemplo, os personagens de
longos pescoços de Modigliani, ou repetição
de determinado membro ou elemento da fi-
gura no espaço.
3.5.2. Expansão ou Retração do Plano no Espaço - trans-
formação das figuras através da expansão ou
retração, como, por exemplo, nas pinturas de
Gudrun von Maltzan
Natural stories - figuras humanas de Botero ou de Giacometti.
1988 (Computer art) 3.5.3. Reconstrução - uma figura é seccionada e remon-
tada em nova configuração que reorganiza o
arte consagradas, provocando alterações de es- espaço plástico.
tilo, técnica, espacialidade, descontextualização 3.5.4. Repetição - uma figura é utilizada como módulo,
histórica, etc. cuja repetição preenche e organiza o espaço
Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses plástico. Como, por exemplo, os trabalhos de
exercícios podem oferecer aos alunos: Escher.

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- experiência de seletividade visual e descoberta de sub-


áreas de interesse em uma figura/forma;
- abstração do real a partir da seleção e ampliação de
sub-áreas e elementos que compõem uma figura/
forma;
- capacitação para a organização e composição do
espaço bidimensional (ritmo, equilíbrio, princípios
de relação entre as figuras que compõem o espaço).

3.6. Construção plástica a partir de conceitos


geométricos e ópticos
Exercícios proporcionados pela repetição de formas
geométricas na busca de efeitos de perspectiva, pro-
fundidade etc., através de alterações das dimensões
das figuras e das cores empregadas, como, por exem-
plo, nos trabalhos de Vasarely, Ivan Serpa e Volpi. Ver
Fernando Botero Mona Lisa - 1978 Pintura a óleo sobre tela para isso, Israel Pedrosa (Pedrosa, 1982).
Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses
3.5.5. Fragmentação e Ampliação - uma parte é seccionada exercícios podem oferecer aos alunos:
de uma figura ou forma e este fragmento, am- - experiências com efeitos de perspectiva e profundi-
pliado, passa a ocupar completamente o novo dade no plano bidimensional (e/ou tridmensional)
espaço plástico. através de soluções dadas por linhas, planos e cores;
Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses - capacitação para a organização e composição do
exercícios podem oferecer aos alunos: espaço plástico;
- experiência de transformação e recriação da figura/ - percepção da influência da cor na visualidade das
forma; figuras e do espaço plástico;
- fluência do traço no desenho; - criação de figuras e formas.

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Ver para isso, André Breton (Breton, 1934), “O que é


surrealismo” in: Chipp, H.B. 1988.
Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esses
exercícios podem oferecer aos alunos:
- utilização de “programas” de desenho em aproxi-
mações que organizem o espaço plástico configu-
rando um todo insólito;
- transformação de elementos da realidade pela in-
venção de um espaço cênico próprio, individual,
inexistente no mundo real externo.

3.8. Construção plástica a partir das


possibilidades dos materiais
Exercícios de descoberta e tensionamento dos mate-
riais, através da produção de novos suportes e novos
Salvador Dalí Girafas
modos de construção de formas, pela transformação
Encendiadas - 1937 dos usos convencionais dos materiais convencionais
Pintura a óleo sobre
madeira
(como por exemplo, os vários tipos de papéis), e pela
descoberta de materiais novos. Trata-se de trabalhar a
3.7. Construção plástica a partir de sensibilização para o material expressivo e suas possi-
aproximações insólitas de elementos bilidades enquanto objeto capaz de construir uma idéia
díspares e não apenas suportá-la (tela convencional) ou registrá-
Exercícios proporcionados pela aproximação no la (tintas convencionais) como recurso passivo do ar-
mesmo espaço plástico de figuras retiradas da realida- tista. Como por exemplo, o barro amassado de
de vivencial, mas oriundas de contextos bastante dife- Celeida Tostes, ou as latas de Caito, ambos os traba-
renciados e reunidas de modo insólito, “surreal”, como, lhos expostos na XXI Bienal de São Paulo (1991).
por exemplo, as obras de Bosch ou Salvador Dali. Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esse

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exercício pode oferecer ao aluno:


- experimentar a integração entre descoberta do ma-
terial, da técnica e do discurso possível;
- experimentar o abandono da idéia pré-estabelecida
e pré-concebida pelo diálogo direto com o ma-
terial;
- criação de figuras, formas, materiais e técnicas.

3.9. Construção plástica a partir da tradução


da forma, idéia ou sentimento Luiz Pizzarro Sem
título - 1991
Exercício no qual uma forma, idéia ou sentimento Maquete da
deve ser TRADUZIDA em uma metáfora visual. Isto construção que
apoiada em
é, a forma ou idéia não podem ser representadas lite- espelho d’água
ralmente, como por exemplo, um pássaro representa- (embaixo) e
espelho (em
do pelo desenho de um pássaro. É necessário cima), era multi-
considerar atributos que pertencem ao objeto pássaro plicada, por
como leveza, agilidade, flexibilidade, liberdade, reflexo, infinita-
mente.
“aereabilidade”, e buscar materiais e formas que tra-
duzam estes atributos sem confiná-los na maquete
reprodutora da visualidade habitual do objeto. Por
exemplo, o trabalho de Luiz Pizzarro na XXI Bienal - trabalhar amplamente com “conceitos” visuais a partir
de São Paulo (1991), que através de um jogo de espe- de uma forma, idéia ou sentimento gerador;
lhos e água, parece traduzir “infinitude”. - experimentar o abandono da idéia de arte apenas
Sobre os Objetivos de Aula - Possibilidades que esse como reprodução de objetos da visualidade ou pura
exercício pode oferecer ao aluno: abstração, buscando trabalhar com sentidos, signifi-
- experimentar a integração entre material, técnica e cados visuais;
discurso possível; - criação de formas.

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Considerações finais papel de liderança do processo de ensino-aprendiza-


Entende-se, que toda a produção realizada em sala de gem; alguém que propõe, seqüencia e orienta as ativi-
aula de arte, em qualquer nível de ensino, direcionada dades teóricas e práticas a partir de um objetivo a ser
e proposta pelo professor, é fundamentalmente um atingido.
exercício. Mesmo que esse professor seguindo a Entende-se, também, que as considerações aqui le-
metodologia do “deixar fazer” dos anos 60, pratica- vantadas poderão ser compreendidas e utilizadas de
mente não interfira nos trabalhos dos alunos com uma modo diverso de acordo com a formação filosófica
proposta mais objetiva. Atender a uma proposta ou e ideológica do professor. Importa, portanto, esclare-
postura do professor, é diferente da produção de arte, cer que as possibilidades diversificadas de procedimen-
que envolve uma intenção particular e própria do ar- tos de criação apontadas aqui não deverão resultar em
tista. Acredita-se que a produção de arte requer, ne- qualquer tipo de estratégia a ser utilizada ipsis litteris
cessária e concomitantemente, a construção de um pelo professor. Pois, frente às possibilidades aponta-
discurso próprio, do artista, e, portanto, não pode es- das pelo texto, caberá SEMPRE ao professor selecio-
tar sustentada no discurso provocador ou estimulante nar modos e organizar o seu planejamento tendo em
do professor, ou simplesmente no seu “exemplo” e vista seus objetivos de ensino elaborados a partir das
princípios artísticos. Precisa antes de tudo ser um “ca- condições garantidas pela sua formação e experiência,
minhar com as próprias pernas”, um “dizer com a e pela caracterização da clientela e da comunidade na
própria voz”. Por isso, apesar dos exercícios, e de to- qual se insere.
dos os Procedimentos de Criação, com os quais o No ensino de Artes Visuais a eficiência no proces-
professor pode e deve auxiliar o aluno a encontrar o so de ensino-aprendizagem de determinadas técnicas,
seu caminho artístico, é necessário que ele saiba OU- procedimentos de ensino e de criação depende sem-
VIR o que o aluno tem a dizer. Ou, aquilo que ele pre dos grupos e indivíduos com quem se está traba-
gostaria de dizer, reconhecendo diferentes vontades, lhando. Isto é, determinados procedimentos que
idéias e necessidades de aprendizagem, dissociadas, foram adequados para determinados indivíduos po-
tantas vezes, das vontades e interesses do professor. dem não provocar qualquer resultado satisfatórios
Como última ressalva é necessário indicar que a quando a clientela é alterada.
formulação deste texto pressupõe o professor no Finalmente, as questões de ensino aqui apresenta-

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das pressupõem, sempre, o ensino formal de Artes tes últimos, geralmente, apenas um determinado tipo
Visuais nos seus diferentes níveis. São conhecidas e ne- de procedimento de criação é trabalhado (aquele pra-
cessárias as diferenças entre o ensino formal, “acadê- ticado pelo artista que ensina) e compete ao aluno, em
mico”, e aquele praticado de modo não-formal ou sua livre mas interessada escolha, selecionar aquele cur-
informal nos ateliês de artistas ou ateliês “livres”. Nes- so/professor que lhe parecer mais adequado.

Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHLA 03, p. 27-42, Curitiba, out. 2001
42 Arte, ensino e procedimentos de criação

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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 23, FCHL A 03, p. 27-42, Curitiba, out. 2001

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