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A Origem do Alfabeto

Luiz Carlos Cagliari1

No começo, eram os nova classe de caracteres, como A, E,


pictogramas. A escrita era feita com o P, B, T, S, L, R, etc. Esta é, na teoria,
desenho das coisas, representando as a lógica do desenvolvimento do
palavras usadas para designar essas alfabeto. Mas na prática, as coisas
coisas. não aconteceram de modo tão
A palavra “olho” podia ser @, perfeito, nem a escrita apareceu ao
“casa” podia ser =. mesmo tempo em todos os povos, o
que torna essa história ainda mais
Os nomes dos caracteres eram fascinante.
os nomes das próprias coisas. Essa
escrita, chamada ideográfica, era fácil Os sistemas silábicos do Oriente
de ser entendida em muitas línguas. Médio vieram da escrita Suméria
Com o passar do tempo, no entanto, (iniciada por volta de 3200 a.C.), que
viu-se que havia um grande se transformou em cuneiforme com o
problema: os símbolos eram muito domínio da civilização acadiana
numerosos, assim como a relação de (2000 a 600 a.C.). Os dois pólos mais
coisas a serem representadas, que se importantes de irradiação dessa
tornavam cada vez mais complexas. escrita foram as civilizações
Os pictogramas cederam lugar, babilônica e assíria da Mesopotâmia.
então, aos silabários, sinais Os acadianos, assim como os
representando os sons das sílabas. egípcios, falavam uma língua
Mudou o ponto de partida da escrita, semítica, ramo ao qual pertencem
que passou do significado para o som hoje o árabe e o hebraico.
das palavras, de ideográfica a Um breve exame dessas línguas
fonográfica. Com isso, houve uma mostra que, nelas as palavras tem
redução enorme no número de uma formação muito especial, se
caracteres necessários à composição comparadas às de outros ramos,
de palavras. como o anglo-germânico e o
E uma outra modificação neolatino. Nestes, as palavras
importante ocorreu: os nomes dos apresentam uma idéia central,
caracteres foram perdendo a relação marcada pela raiz, e idéias
de conotação com as coisas adicionais, marcadas por “sufixos” e
representadas e adquirindo “prefixos”. Assim a palavra
significado próprio. Porém, o melhor “ilegalmente” tem a raiz “ileg”, que
tipo de caractere para representar os traz a idéia principal, referente a “lei”,
sons ainda era o silábico, que trazia o prefixo “i”, que implica uma
muitas redundâncias. Se existiam negativa, e os sufixos “al”, que indica
“letras” como PA, BA, TA, AS, LA, RA uma qualidade, e “mente”, que se
ou PE, BE, TE, SE, LE, RE, podia-se refere a um estado ou modo.
simplificar mais ainda e formar uma Nas línguas semíticas, as
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palavras trazem a idéia central na que os silabários cuneiformes eram


combinação de três consoantes. muito práticos (com poucos
Assim, no árabe, à seqüência KTB é caracteres escrevia-se qualquer
atribuída a idéia central de algo palavra) mas que a escrita egípcia
relativo a “escrita”. Outras idéias tinha uma forma gráfica mais
adicionais são acrescentadas através atraente para ser escrita e lida, útil
da inserção de vogais diferentes junto sobretudo nas necessidades do dia-a-
às consoantes, formando-se, desse dia.
modo, novas palavras. Por exemplo, Surgiu, então, uma escrita com
katab significa “ele escreveu” kaatib caracteres egípcios para línguas do
significa “escritor”; kitab significa Oriente Médio. Como eram línguas
“livro”. As vogais eram facilmente que estavam sendo escritas pela
recuperáveis na leitura, através do primeira vez; nada mais conveniente
contexto. do que unir as vantagens gráficas dos
A solução parecia satisfatória, caracteres egípcios às vantagens
uma vez que, nas línguas semíticas, o funcionais da escrita cuneiforme que,
sistema fonológico apresenta apenas há muito, já abandonara a maioria
três fonemas vocálicos: I, U, A. dos caracteres ideográficos em favor
Outras qualidades vocálicas eram de um silabário com poucos
facilmente detectáveis a partir de caracteres.
regras tão simples quanto a que, em Os documentos mais antigos
português, identifica o som do É que nos chegaram dessa nova escrita
aberto em “belo”, “bela”, e o do Ê foram descobertos em 1904-1905
fechado em “Beleza”. pelo arqueólogo britânico Flinders
O sistema de representação Petrie, em Serabq el Khadin, no
consonantal dos semitas durou Sinai. Essas inscrições, chamadas de
milênios: só a escrita egípcia durou proto-sinaíticas, datavam de cerca de
três mil anos. É claro que os sistemas 1500 a.C. e foram estudadas
de escrita não usam apenas um minuciosamente pelo grande
procedimento de representação. A egiptólogo, também britânico, Alan
própria escrita egípcia, basicamente Gardiner, que demonstrou sua
do tipo consonantal, utilizava ligação com os hieróglifos egípcios. A
também símbolos ideográficos, escrita proto-sinaítica certamente
determinativos semânticos e influenciou o que veio depois, mas
fonéticos. faltam-nos documentos para
estabelecer as pontes nos tempos e
lugares corretos.
O ALFABETO SEMÍTICO No outro extremo do Oriente
Os semitas das grandes Médio os fenícios tinham na escrita
civilizações estavam satisfeitos com um instrumento importante de sua
seus sistemas de escrita. De um lado, atividade comercial ao redor do
no nordeste da África, predominava o Mediterrâneo. Se, por um lado,
sistema egípcio, e do outro, na quando viajavam valia a pena seguir
Mesopotâmia, o sistema cuneiforme. cultura dos ricos egípcios, assírios e
Acontece, porém, que entre esses babilônicos, em casa a nova escrita
dois pólos de civilização viviam povos era mais prática e, portanto, mais
que não estavam comprometidos útil. Ao que tudo indica, a escrita
demais com essas culturas, mas que fenícia já estava estabelecida no
eram grandes comerciantes no século XIII a.C., época dos
Mediterrâneo. Eles logo perceberam documentos mais antigos. Os mais
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importantes são as inscrições do passou, por sua vez, a ser o nome da


sarcófago do rei Ahiirâm de Biblos, letra. Esse procedimento estendeu-se
que datam de cerca de 1300 a.C., e a todas as palavras da relação,
os da pedra Moabita, do rei Mesa, surgindo deste modo o alfabeto.
que datam de 842 a.C. O novo sistema de escrita assim
No século XI a.C., o sistema constituído, além de escrever só
utilizado na escrita fenícia já tinha consoantes, tomou-se uma forma de
passado por várias modificações e se escrita puramente fonética. Agora,
fixado numa forma definitiva, com 22 para escrever, era preciso decompor
letras apenas. Ela está na origem de as sílabas em seus elementos
muitas outras escritas, como a árabe, consonantais e vocálicos, registrando
a hebraica, a aramaica, a tamúdica, a com os novos caracteres apenas os
púnica (de Cartago) e, sobretudo, a elementos consonantais. Um
escrita grega, da qual se derivou a princípio acrofônico era a chave para
latina, origem do alfabeto que hoje decifrar e escrever o alfabeto: bastava
usamos. saber o nome das letras, reconhecer o
Os semitas do Oriente Médio som consonantal e usar o caracter
puseram em prática aquela idéia de correspondente para escrever as
formar uma escrita com poucos consoantes que iam sendo detectadas
caracteres e com formas gráficas de nas palavras a serem escritas.
fácil desenho. Para isto, fizeram uma A idéia parecia boa demais e de
lista de palavras, de tal modo que fato iria servir de modelo, muitos
cada uma delas começasse pelo som séculos depois, para que os lingüistas
de uma consoante diferente, e sua criassem os alfabetos fonéticos e
sucessão representasse toas as pudessem registrar e ler os sons de
consoantes. Além disso, o significado todas as línguas do mundo, mesmo
dessas palavras deva se associar daqueles que nunca tinham sido
diretamente a hieróglifos egípcios que escritas. Porém do ponto de vista do
pudessem ser usados para uso, como veremos adiante, esse
representar os sons iniciais. A novo sistema encontrou um
primeira palavra da lista era aleph obstáculo intransponível na variação
(boi) e para representá-la foi dialetal da fala das pessoas. Teve
escolhido o hieróglifo que era o então que sofrer uma modificação
desenho de uma cabeça de boi. básica, justamente no aspecto que
A segunda palavra foi beth parecia mais promissor, a
(casa), que ficou associada ao representação fonética dos sons da
hieróglifo que representava uma fala.
casa. Obviamente, em egípcio, esses Formas derivadas da escrita
hieróglifos estavam associados as fenícia foram encontradas em muitas
mesmas idéias mas não aos mesmos regiões do Mediterrâneo. Documentos
sons. Por exemplo “casa” em egípcio é provenientes da Espanha (El Pendo),
per e não beth. da França (Glozel), de Portugal
Feita a tabela com os caracteres, (Alvão), da Itália e até da Iugoslávia
os significados e os nomes, estava têm inscrições (não decifradas) em
criado o alfabeto. Agora, o hieróglifo caracteres cuja forma gráfica lembra
egípcio que representava “casa” e que de perto a escrita fenícia. Em outros
era associado às consoantes PR, lugares, como na Líbia, na
passou a ser o caracter que Mesopotâmia, na Turquia e na
representava apenas o som de “B” Grécia, a escrita fenícia foi adaptada
inicial da palavra beth, a qual às línguas locais e passou a ter um
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amplo uso social. letras inventadas baseavam-se no


estilo gráfico das já existentes.
O ALFABETO GREGO O alfabeto grego passou mesmo
a ter letras para mais de um
Segundo Heródoto, um fenício segmento fonético das sílabas, como
chamado Cadmos, que viveu de 1350 ζ = [dz], ξ =[ts], χ = [ks], Ψ [ps]. É
a 1209 a.C., instalou-se na Boécia, curioso notar que o grego arcaico
onde fundou Tebas e começou a começou distinguindo a aspiração de
escrever grego com 16 caracteres sua não-ocorrência através de
fenícios. Conta-se também que, dígrafos, escrevendo ΘΤ para [th] e
durante a guerra de Tróia, surgiram somente depois a letra Θ passou a
quatro novas letras, introduzidas por representar sozinha o som [th],
Palamedes. O alfabeto grego teria ficando a letra Τ para representar [t].
sido completado pelo poeta A distinção entre κ e χ diferenciava
Simônides de Ceos (556-468 a.C.) [k] e [kh]. Sutilezas fonéticas também
com mais quatro letras. É difícil surgiram nas vogais, com letras
distinguir a história da lenda. diferentes para as breves ε τ ο e as
O fato de colocar letras longas η ω.
representando consoantes e vogais, O documento mais antigo que
umas ao lado das outras, compondo
as sílabas, deu ao sistema de escrita temos é a inscrição no vaso Dipylon
o verdadeiro alfabeto. É por isso que (entre os séculos IX e X a.C.). Outros
muitos estudiosos dizem que o exemplos são as inscrições de
alfabeto propriamente dito foi Yehimelek, Tera, Melos e Creta.
inventado pelos gregos. Esta Somente no século IV a.C. foram
afirmação dá ênfase à função das uniformizados os diferentes usos das
letras na representação dos letras num alfabeto de 24 letras, com
segmentos das sílabas e deixa de uma ortografia estabelecida,
lado, de certo modo, a própria formando a escrita do grego clássico.
natureza das letras, tal qual existia As marcas de acento e alguns
na escrita semítica. São duas sinais de pontuação, acompanhando
concepções diferentes do que é uma a escrita das palavras, foram
escrita alfabética. introduzidas por Aristófanes de
No esforço para adaptar à sua Bizâncio (250-180 a.C.) e pelo grande
língua o sistema de escrita já Aristarco. O documento mais antigo
estabelecido para os fenícios, os com essas marcas é o papiro
gregos seguiram o mesmo princípio Bacchylides, que data do século I
acrofônico da escrita fenícia. a.C., mas os sinais diacríticos só se
Começaram adaptando os nomes das tornariam obrigatórios na escrita a
letras lendo-os à moda grega. Assim, partir do século IX de nossa era. O
ale passou a se chamar alfa, beth tipo atual dos caracteres gregos foi
passou a se chamar beta, e assim lançado em 1660 por Wetstein na
por diante. O conjunto das letras Antuérpia.
recebeu um nome composto pela Os antigos costumavam escrever
soma das duas primeiras, ou seja, as palavras sem separação,
alfabeto. Algumas letras dos fenícios emendando umas nas outras. Para
representavam sons inexistentes em evitar ambigüidades, ou
grego. Passaram então, a representar simplesmente destacar palavras,
sons que existiam em grego mas não usavam um ponto separando-as. Os
nas línguas semíticas. As novas semitas escreviam em geral da direita
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para a esquerda. Os gregos um sistema de escrita útil para uma


começaram a escrever na forma sociedade com tanta variação dentro
bustrofedom (em grego, “caminho do de uma mesma língua. Mas a escrita
boi”), compondo uma linha da acabou sendo salva pela ortografia.
esquerda para a direita e a seguinte Com a introdução da noção de
da direita para a esquerda, ortografia na escrita alfabética, as
invertendo a direção dos caracteres, e palavras passaram a ser escrita
assim sucessivamente a cada nova apenas de uma forma e foi possível
linha. neutralizar as variantes dialetais.
Obviamente, a ortografia de uma
UM IMPASSE NA ESCRITA língua depende, basicamente, do seu
ALFABÉTICA prestígio. A língua passa a ter uma
ortografia mais regular e estável
Alguns dos povos semitas, como quando surge uma obra clássica
os egípcios, os assírios e os modelar. Foi o que aconteceu com o
babilônicos, tinham uma grande grego antigo e, muitos anos depois,
civilização e contaram com sistema com as línguas derivadas do grego e
de escrita próprios e bem do latim.
estabelecidos. Outros povos menores,
que viviam no Oriente Médio,
passaram a escrever somente depois O ALFABETO ROMANO
do surgimento da escrita alfabética. A Os etruscos instalaram-se no
adaptação do sistema existente a centro da Itália por volta do ano 1000
essas línguas ágrafas procurava a.C. Uma das poucas coisas que se
manter as funções das letras, com conhece deste povo é sua escrita,
variações locais na forma gráfica de baseada no alfabeto grego. Por volta
alguns caracteres, mas sem grandes de 700 a.C., os etruscos começaram
modificações, como as que ocorreram a escrever, adaptando à sua língua o
entre os gregos. alfabeto grego de 21 caracteres que,
Em ambos os casos, entretanto, com o tempo, chegou a ter 26 letras.
os usuários da escrita tiveram que O documento mais antigo que
enfrentar o sério problema dos deixaram é o Cippus Perusianus, do
dialetos. As diferenças dialetais da século V a.C.
língua grega podiam ser reunidas em Aos etruscos sucederam os
grandes grupos: o arcádio, da romanos. Roma foi fundada em 753
Arcádia e de Chipre; o eólio da a.C. e desde sempre manteve
Tessália, Beócia e do Norte; o Jônico, vínculos com os gregos. A República
da Ática; e o dórico, do Peloponeso Romana começou em 509 a.C. e, em
(exceto Árcadia) e Creta. Por sua 451 a.C., foi escrita a Lei das Doze
importância histórica e cultural, o Tábuas. A mais antiga inscrição
dialeto ático, próprio de Atenas, conhecida em latim foi feita em
prevaleceu e passou a ser conhecido bustrofedom e gravada na “Pedra
como koiné, ou seja, “língua Preta” do Fórum Romano, por volta
comum”. Posteriormente, a palavra do ano 600 a.C.
koiné passou a representar apenas a
linguagem do povo, por oposição à da Dos 26 caracteres etruscos, os
elite. romanos passaram a usar apenas 21
letras. Algumas sofreram
Diante de tal diversidade modificações na forma gráfica e,
lingüística, o alfabeto parecia fadado sobretudo, no valor fonético. Depois
a desaparecer, pois já não podia ser que houve uma mudança fonética
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significativa no latim, distinguindo Com o objetivo de seguir o


fonemicamente os sons k e g, a letra princípio acrofônico já mencionado,
C, que originariamente representava os romanos modificavam os nomes
o g, passou a representar o k; a letra das letras. Se a chave para a
K, que representava o k, caiu em decifração das letras está em seus
desuso e foi substituída pela letra C. nomes, uma vez perdido totalmente o
Para representar, então, o som de g, caráter icônico das formas gráficas,
os romanos passaram a anotar a já não se precisava mais de nomes
letra C com uma pequena barra com significados especiais para as
vertical na parte inferior, no final da letras, como no alfabeto dos semitas.
curva, dando origem, assim, à letra Por outro lado, não havia
G. A invenção do G foi atribuída a necessidade de adaptar esses nomes
Spurius Carvilius Ruga (230 a.C.), Do à língua, como fizeram os gregos. O
ipsilon grego, os romanos ficaram mais prático era designar as letras
apenas com a forma V, por monossílabos iniciados com o
representando um segmento labial som mais representativo de cada
consonantal ou vocálico. uma delas.
Posteriormente, com a distinção Foi assim que as letras
fonêmica entre estas duas passaram a se chamar a, bê, cê, dê,
realizações, a letra V ficou para o etc. e o alfabeto passou a ter outro
segmento consonantal e a forma nome, em português: “abecê”. Na
arredondada U para a vogal. A forma época de varrão (116-27 a.C.), havia
grega do Y limitou-se à escrita de duas maneiras de dizer os nomes de
palavras de origem grega. Alguns algumas letras: a antiga e uma nova,
eruditos e até imperadores, como com um E inicial, seguindo-se o som
Cláudio, tentaram inventar letras da consoante, como em EF, EL, EM,
para se tornarem famosos, mas EN, ER e ES.
nenhuma dessas tentativas deu
certo.
Os romanos usavam um O ALFABETO ROMANO DEPOIS DO
diacrítico chamado apex para marcar LATIM
vogais ou consoantes longas A forma misturada de dizer o
(geminadas). Tal uso não era, porém, nome das letras em latim passou,
obrigatório. Esse diacrítico era um mais tarde, para as línguas
acento ou uma vírgula sobre a letra: Í neolatinas, como o português. Essa
= ii, S = ss. A partir do século II mudança alterou, em parte, o
torna-se mais comum o uso da princípio acrofônico. Posteriormente,
compendia, ou seja, da ligadura com a introdução de novas letras, o
para unir duas letras, como A+E – princípio acrofônico nem sempre foi
Æ, O + E – Œ. respeitado. Assim a letras H, que os
As formas gráficas da escrita romanos chamavam de adspiratio,
cursiva desenvolvida pelos romanos passou a se chamar agá em
alteraram bastante as letras capitais português. Desde sua origem mais
de seus monumentos. Documentos remota, ela tem sido usada como
com esse tipo de escrita, chamado uma espécie de “curinga”,
pugillares, foram encontrados em representando sons diversos ou, mais
Pompéia em 1875. Em 1973, muitas freqüentemente, modificando o valor
tabuinhas com a mesma forma de fonético da letra anterior e formando
escrita foram descobertas no poço de dígrafos.
um forte romano em Vindolândia, no A letra W, em Portugal chamada
norte da Inglaterra.
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de “duplo vê” e no Brasil de “dábliu”, modificar a forma gráfica básica de


já aparece em documentos insulares certas letras para obter novos
em 692 e veio, como o nome caracteres e assim representar sons
português indica, da escrita de dois que não tinham letras próprias no
V. Sua difusão deve-se ao extenso alfabeto romano. O tcheco, por
uso que teve em manuscritos da exemplo, incluiu letras como C C; o
Alemanha nos séculos XI e XII. No rumeno, T; o norueguês, Æ Ø; o
século XVII, passou a representar sueco, Ä Å; o espanhol, Ñ etc. O uso
uma consoante diferente, tornando- dos acentos para diferenciar
se assim uma letra a mais no qualidades vocálicas diferentes em
alfabeto. português vem da influência árabe e
A letra J é também uma já aparece no português arcaico.
invenção da Idade Média. Surgiu Convém lembrar também que os
quando os escribas perceberam que, alfabetos de algumas línguas
escrevendo dois ii góticos juntos, deixaram de lado certas letras do
pareciam estar escrevendo um H. alfabeto romano. O italiano não
Para distinguir os dois casos, o possui as letras J, K, W, X e Y. O
segundo I da seqüência passou a ser iorubá não tem as letras C, Q, V e Z.
grafado com uma pequena curva Finalmente, as letras do alfabeto
virada para a esquerda, originando- romano foram assumindo estilos
se assim a letra J. O pingo do J diferentes, com a produção de livros
começou a aparecer no século XIV, manuscritos e, sobretudo, depois do
tornando essa letra mais fácil de ser surgimento das tipografias (1456). A
reconhecida na escrita gótica. Foi forma gráfica das letras foi se
Louis Meigret quem colocou no modificando criando-se, assim, novos
alfabeto francês o J como letra alfabetos. A escrita monumental
independente, em 1542. A escrita romana deu origem às letras de
minúscula passou a ter a barra forma maiúsculas e a escrita
vertical do t aumentada, cortando a carolíngia deu origem às letras de
barra horizontal, em 1467. forma minúsculas, no século IX. No
O alfabeto inglês antigo tinha século XII, surgiram as letras góticas
duas letras novas, o thorn ð e o (ou pretas) e as escritas cursivas
winn þ. A letra winn veio do alfabeto caligráficas.
rúnico, também derivado do romano, Folheando-se, hoje, uma página
e apareceu pela primeira vez num de jornal ou de revista, constatamos
documento do ano de 811. A letra C uma infinidade de alfabetos. Mas o
representava o som inicial da palavra princípio alfabético permanece
child, escrita cild. A letra S passou a constante: a ortografia define o valor
ter duas formas gráficas: ƒ e S, e as funcional das letras, mesmo quando
duas formas amalgamadas aparecem o aspecto gráfico vai gerando novos
na escrita alemã fracture como ß. A alfabetos que, por serem usados para
letra Ç surgiu na península Ibérica, transcrever uma mesma língua e
quando as línguas neolatinas valerem como substitutos do alfabeto
começavam a ser escritas, para romano primitivo (letras de forma
representar o mesmo som grafado maiúsculas), são, para nós, simples
pelos antigos ingleses com as letras variantes de um mesmo alfabeto. Na
thorn e wynn. A forma gráfica mais verdade, no mundo de escrita em que
antiga do Ç era um C com um vivemos, lidamos com inúmeros
pequeno Z subscrito. alfabetos, além de contarmos, ainda,
Algumas línguas procuraram com caracteres não alfabéticos, como
os pictogramas modernos, a escrita
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ideográfica dos números, das uma parte do sistema de escrita que


abreviaturas, siglas, logotipos e usamos, mas as letras ainda são a
inúmeras marcas e sinais que parte mais importante deste sistema.
completam o nosso sistema de
escrita. O alfabeto, hoje, é apenas

LETRAS, DO EGITO AOS NOSSOS DIAS.

Os caracteres egípcios deram origem à escrita semítica. Observe, no quando a


seguir, que o nome da letra semítica coincide com o significado do hieróglifo
egípcio. O alfabeto grego formou-se a partir do sistema fenício, uma
ramificação da escrita semítica, que funcionou como modelo gráfico. Alguns
caracteres fenícios, entretanto, passaram a representar vogais no alfabeto
grego, perdendo seu valor consonantal de origem (as línguas semíticas
grafavam apenas as consoantes das palavras). Pode-se dizer que os gregos, ao
introduzirem vogais no sistema de escrita, desenvolveram o primeiro alfabeto
moderno. O abecedário romano, empregado até hoje, derivou do alfabeto grego.
Inicialmente existiam apenas as letras capitais (maiúsculas). As minúsculas
correspondentes surgiram na Idade Média. Seu uso cursivo, com ligaduras
entre as letras, modificou bastante sua forma gráfica.

1 Luiz Carlos Cagliari é Mestre em Lingüística pela Universidade Estadual de


Campinas- UNICAMP e doutor em Fonética pela Universidade de Edimburgo,
Escócia. Em 1982, obteve o título de Doutor Livre Docente em Fonética e
Fonologia e, em 1990, o de Professor Titular de Fonética e Fonologia, ambos
pela UNICAMP. Tendo desenvolvido pesquisas na School of Oriental and
African Studies, Universidade de Londres, e no Museu Britânico, atualmente
trabalha no Departamento de Lingüística da UNICAMP. Autor de vários artigos
sobre aspectos da fonética no português brasileiro, tem dois livros publicados
no Brasil sobre o tema da alfabetização.
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