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DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Seleção Diária da Imprensa Nacional


Quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA 4


O Globo – Em artigo, Ernesto Araújo alerta contra 'horizonte comunista' na América Latina 4
O Globo – Liga Árabe alertará Brasil sobre escritório em Jerusalém 6
O Globo – 'Vou trabalhar para fechar a fissura entre Argentina e Brasil', diz novo embaixador argentino
em Brasília / Entrevista / Daniel Scioli 7
Valor Econômico – Chanceler vê retorno de ‘ameaça comunista’ na AL 9

EDITORIAIS 10
O Estado de S. Paulo – Atenção ao comércio exterior / Editorial 10
O Globo – Depois da COP-25, é preciso voltar a fiscalizar e a punir desmatamentos / Editorial 11

AGRONEGÓCIO 12
Valor Econômico – Aquisição de terras rurais por estrangeiros / Artigo / Ricardo Quass Duarte 12
Valor Econômico – Pecuária puxa o VBP 14

ITAMARATY 14
Valor Econômico – Itamaraty aprova indicação de Scioli como embaixador da Argentina 14

MERCOSUL 15
Gazeta do Povo – Mercosul num contexto de intensificação do regionalismo / Coluna / Rodrigo
Constantino 15

AMÉRICA DO SUL 16
Agência Brasil (EBC) – ONU alerta para incorporação de milícia às Forças Armadas venezuelanas 16
Crusoé – Pacote econômico argentino não traz alívio para o setor privado 18
O Globo – Itamaraty concede em tempo record agrément a novo embaixador argentino no Brasil 18
O Globo – Câmara do Chile aprova plebiscito para nova Carta 19
O Estado de S. Paulo – A Argentina entre pragmatismo e heterodoxia / Coluna / Celso Ming 21
O Estado de S. Paulo – Fernández dá passo atrás em pacote emergencial 22
O Estado de S. Paulo – Procuradoria da Bolívia pede prisão de Evo 23
Valor Econômico – Chile propõe subir impostos por mais gasto social 23
Valor Econômico – Plano argentino ainda não tem medidas para o crescimento 25

ESTADOS UNIDOS 26
Carta Capital – Câmara dos Estados Unidos aprova impeachment de Trump 26
Crusoé – As duas consequências do processo de impeachment de Trump 28
Gazeta do Povo – Como a “cultura woke” pode ajudar a reeleger Donald Trump / Artigo / Gabriel de
Arruda Castro 28
Gazeta do Povo – O que é “transferismo” e por que os norte-americanos estão viciados nele 30
O Globo – Impeachment de Trump passa na Câmara dos EUA 33
O Globo – Sem impacto na eleição nos EUA / Coluna / Guga Chacra 35
O Globo – Trump reage a impeachment com os mesmos argumentos do PT / Coluna / Ascânio Seleme
36
O Estado de S. Paulo – Impeachment pode ser positivo para presidente dos EUA / Análise / Sebastian
Smith 37
Valor Econômico – Reguladores dos EUA apontam ‘insuficiências’ em seis bancos 38

AMÉRICA CENTRAL, CARIBE E MÉXICO 38


Istoé Dinheiro – Panamá busca a verdade da invasão americana há 30 anos 38
EUROPA 40
O Estado de S. Paulo – Macron aceita negociar pontos da reforma da previdência 40
O Globo – Boris marca diferenças de líderes da nova direita 42

ÁSIA 44
Crusoé – Coreia do Norte prepara míssil balístico de longo alcance, dizem EUA 44
Gazeta do Povo – Índia abafa protestos, bloqueia internet e detém manifestantes 44

ORGANISMOS INTERNACIONAIS E MECANISMOS REGIONAIS E


INTERREGIONAIS 45
Gazeta do Povo – Na ONU, Argentina questiona sanções dos EUA ao regime de Nicolás Maduro 45
Istoé – OEA rejeita violência racial na Bolívia e pede respeito a indígenas 46
Istoé Dinheiro – ONG denuncia a Itália na ONU por devolver migrantes à Líbia 47
Valor Econômico – EUA rejeitam China à frente da OMPI 48

DIREITOS HUMANOS E TEMAS SOCIAIS 48


Correio Braziliense – Defesa de diálogo 48

TEMAS MIGRATÓRIOS E CONSULARES 49


O Estado de S. Paulo – Cubanos serão reincorporados por 2 anos 49
Valor Econômico – Bolsonaro sanciona Médicos pelo Brasil 49

COMÉRCIO INTERNACIONAL E PROMOÇÃO COMERCIAL 50


Valor Econômico – Brasil diz na OMC que vai eliminar o que resta de subsídios proibidos 50

ASSUNTOS FINANCEIROS, ECONÔMICOS E INVESTIMENTOS 51


Valor Econômico – Analistas preveem queda do dólar no mercado global no ano que vem 51
O Globo – Ministro vê ‘avalanche de investimentos’ em 2020 53
Valor Econômico – No Brasil, franceses ganham com a força italiana 53

MEIO AMBIENTE E ENERGIA 55


Correio Braziliense – Para que algo de concreto aconteça nas políticas climáticas no Brasil / Artigo /
Cláudio Sales e Alexandre Uhlig 55
O Globo – ‘No pasarán!’ / Coluna / Luis Fernando Verissimo 56

OUTROS TEMAS 57
O Estado de S. Paulo – Capitalismo Político / Coluna / William Waack 57
O Estado de S. Paulo – Facebook admite coletar dados mesmo sem usuário autorizar 58

BLOGS E SITES 59
AgroLink – Produtores europeus vão conhecer práticas sustentáveis 59
Brasil 247 – A face oculta da diplomacia de submissão 60
BR Político – Fantasma do comunismo assombra chanceler 61
Diário do Centro do Mundo – Principal comunidade de imigrantes em Portugal, brasileiros têm salários
mais baixos 61
Diário do Poder – Brasil-Argentina, reforço de confiança 63
Estado de Minas – Bruxelas estima que acordo com Mercosul 'contribui' para ambição climática da EU
64
Nexo – A liga dos prefeitos europeus contra presidentes populistas 65
O Antagonista – Ibama contestou relatório contra navio grego suspeito de derramar óleo 67

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ONU Brasil – CNJ e PNUD firmam parceria para impulsionar Agenda 2030 no Judiciário 68
ONU Brasil – Mundo precisa transformar forma como responde à situação dos refugiados, diz Guterres
69
ONU Brasil – ONU pede que países implementem Pacto Global para Migração 72
Renova Mídia – Itália investiga novo esquema de cidadania para brasileiros 74
Revista Fórum – Ernesto Araújo distribui texto em clipping do Itamaraty onde alerta para ameaça
comunista na América Latina 74
UOL – UE "abomina" política ambiental de Bolsonaro e deputados pedem sanções / Coluna / Jamil
Chade 75
Yahoo Notícias – Acordo União Europeia e Mercosul: “É uma recolonização voluntária para o Brasil” 76

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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA

O Globo – Em artigo, Ernesto Araújo alerta contra 'horizonte


comunista' na América Latina
Chanceler diz que o intuito dos marxistas é preservar a 'utopia' comunista

Gustavo Maia

BRASÍLIA - O Itamaraty divulgou nesta quarta-feira um artigo em que o ministro das


Relações Exteriores, Ernesto Araújo, "traça um panorama da ameaça comunista nos países
latinos", que segundo ele "quer voltar a estrangular-nos" e regressar em Argentina,
Bolívia, Chile, Equador, Colômbia, México, Venezuela e no Brasil. O chanceler prega ainda
que o sistema liberal estude seu antagonista para combatê-lo, sem aversão à ideologia. O
texto foi disponibilizado na página oficial do ministério, mas foi escrito para o site Terça
Livre, onde ainda não havia sido publicado até as 16h.

Intitulado "Para além do horizonte comunista", o artigo diz que a América Latina, sem
dúvidas, "viveu dentro de um horizonte comunista" desde 2005 ou desde as vitórias
eleitorais do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2002, ou do ex-líder
venezuelano Hugo Chávez, em 1999. Em seguida, diz que este horizonte "começou a
raiar", na verdade, a partir da criação do Foro de São Paulo, em 1991. Citando uma
declaração de 2007 do então vice-presidente boliviano Álvaro García Linera de que "o
horizonte geral da nossa era é o comunismo", Ernesto expôs seu ponto de vista sobre o
cenário político na região:

"Veja-se bem a expressão: dentro de um horizonte comunista. Não em um sistema


explicitamente comunista. Muitas pessoas ridicularizam a discussão sobre a presença do
comunismo na América Latina atual dizendo que os partidos autoproclamados comunistas
são fracos ou inexistentes e que em nenhuma parte — exceto um pouco na Venezuela —
cogita-se instaurar um sistema com propriedade coletiva dos meios de produção ou
ditadura do proletariado", escreveu, rechaçando que estas sejam definições do comunismo.

'Loucura marxista'
O chanceler do governo Jair Bolsonaro criticou ainda a "loucura marxista" e disse que, além
do socialismo, há novos instrumentos de construção do comunismo sendo desenvolvidos,
sendo o "globalismo" o principal deles. Termo originalmente usado pela direita americana
para se referir de modo pejorativo às instituições internacionais, na definição de Araújo
globalismo é "a captura da economia globalizada pelo aparato ideológico marxista através
do politicamente correto, da ideologia de gênero, da obsessão climática, do
antinacionalismo".

No texto em tom de alerta, ele diz ainda que o intuito dos marxistas é "preservar a 'utopia'
comunista e reinseri-la na realidade política e social concreta de um mundo aparentemente
avesso ao comunismo".

"Pode-se argumentar que neste século XXI o projeto comunista está mais forte do que nos
anos 80, justamente porque ninguém o vê e pode operar à sombra da sociedade de
consumo. Em lugar de combater o capitalismo em nome de uma alternativa socialista
claramente fracassada, infiltrar-se de maneira sutil dentro do capitalismo", aponta o
ministro.

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Ele aproveitou ainda para criticar o que elegeu como a principal fragilidade do sistema
liberal: não pensar ou trabalhar no mundo das ideias. Segundo Araújo, os liberais criaram
uma repulsa por tudo aquilo que chama de "ideológico" e acabam ignorando os ideólogos
do comunismo, deixando que eles trabalhem em paz.

"Já os amantes da liberdade que leem esses trabalhos marxistas para entender o novo
projeto comunista e assim poder combatê-lo são chamados de 'ideológicos'. O mundo
isentão lida apenas com a figura fictícia de um certo comunismo 'derrotado em 1989' e
recusa-se terminantemente a reconhecer — muito menos a enfrentar – o projeto
comunista real que atua hoje por toda parte. O isentismo é antes de mais nada uma forma
de preguiça intelectual", argumenta. "A pressa com que hoje, no Brasil, os isentos correm
para os braços da extrema esquerda e vice-versa, formando uma estranha
'isentoesquerda', é o sinal abjeto dessas afinidades profundas", complementa.

'Isentões'
Segundo o ministro, os "isentões" estão "jogando pedra justamente naqueles líderes que,
no Brasil e no resto do mundo, querem descer ao porão" para lutar contra mazelas como
corrupção e as drogas. "O isentão, quando você aperta, ele não quer uma economia livre,
ele não quer uma internet livre, não quer um idioma livre capaz de expressar a
complexidade e beleza do espírito humano em sua aventura multidimensional", aponta.

"No Brasil estamos rompendo o horizonte comunista e reenquadrando o liberalismo no


horizonte da liberdade. O horizonte comunista está sendo rompido igualmente em outros
lugares, certamente nos EUA, também no Reino Unido, na Hungria e na Polônia, penso que
está sendo rompido na África, onde os últimos laivos da associação espúria entre
comunismo e libertação, que vigorou por décadas desde as lutas anticoloniais, parecem
estar-se dissipando", diz Araújo, citando os governos populistas de direita e extrema
direita de Donald Trump, Boris Johnson, Viktor Orbán e Mateusz Morawiecki.

De acordo com o artigo, a Igreja Católica também havia se inscrito dentro do horizonte
comunista, a partir dos anos 60 e 70, "mas ali a verdadeira fé parece estar resistindo e
repelindo o avanço marxista sobre a sua doutrina bimilenar".

Entrando em ocorrências mais recentes, ele destaca que o horizonte comunista está sendo
rompido na Bolívia, "onde o povo deu um basta a Evo Morales e García Linera, que
queriam continuar arrastando os bolivianos para o abismo à custa da fraude eleitoral". O
governo de Morales e Linera, que renunciaram em 10 de novembro sob pressão de
protestos contra o resultado das eleições de 20 de outubro e dos militares, promoveu o
maior crescimento econômico contínuo da história recente do país, a uma média de 5% ao
ano por 13 anos.

"Porém o horizonte comunista quer voltar a estrangular-nos. Quer regressar na Bolívia


(Evo Morales foi acolhido pelo novo governo e está ali, a poucos quilômetros da fronteira, à
espreita). Quer voltar no Chile, no Equador e na Colômbia, quer voltar no Brasil. Quer
'iluminar' com suas trevas essas grandes nações que são a Venezuela, o México e a
Argentina", afirma o chanceler. Chile, Equador e Colômbia passam por ondas de protestos
que têm como pano de fundo a desigualdade econômica. México e Argentina elegeram em
eleições diretas e livres, em 2018 e neste ano, governos de centro-esquerda.

"Precisamos olhar para além desse horizonte comunista, que não é um horizonte onde há
árvores e campos mas sim as paredes de uma cela, esse horizonte que não é onde a terra
encontra o céu mas onde a terra encontra o inferno. Tudo o que temos para combater o
avanço dessas paredes e a aproximação desse abismo é o apego à liberdade. A liberdade
que, insisto, não é uma ideologia, mas o eixo central do ser humano. Para começar,

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precisamos estudar o comunismo a partir do que dizem e fazem os comunistas, em lugar
de sair aos gritos de 'ideológico, ideológico' condenando quem o estuda e quem o
enfrenta", conclui Araújo.

O Globo – Liga Árabe alertará Brasil sobre escritório em


Jerusalém
Segundo embaixador da Autoridade Nacional Palestina, objetivo de reunião é fazer
chamado a Brasília para que repense decisão

MARINA GONÇALVES

Após a inauguração do escritório de negócios do Brasil em Jerusalém, no último fim de


semana, a Liga Árabe pretende enviar uma mensagem política ao Brasil contra a decisão. A
Autoridade Nacional Palestina (ANP) propôs uma reunião para discutir o assunto, moção
apoiada por outros membros da liga, como Egito e Jordânia. A reunião acontecerá na
manhã de hoje no Cairo.

Segundo o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, o objetivo da reunião é


fazer um chamado ao Brasil para que repense sua decisão.

— Abrir um escritório comercial em Jerusalém é uma violação do direito internacional. A lei


internacional está sendo violada — afirma. — É um chamado para que o Brasil retire seu
escritório de Jerusalém, esperando que a paz se resolva entre os dois países envolvidos.
Queremos fazer um chamado para que o Brasil repense e evite tomar decisões que
aprofundem o conflito. Isso não ajuda a paz.

A ocupação israelense do setor oriental (árabe) de Jerusalém — conquistado na Guerra dos


Seis Dias, em 1967 — é considerada ilegal pela ONU, e os palestinos reivindicam a área
como capital do seu futuro Estado.

Segundo Alzeben, a reunião de hoje discutirá medidas políticas, diplomáticas e


econômicas, e deve anteceder um encontro de chanceleres.

— Será uma reunião de consulta e análises. O Brasil sempre foi um mediador e defensor
da paz. Ele precisa fortalecer o processo de paz e não ser parte do conflito.

A abertura do escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos


(Apex-Brasil), no domingo, foi uma maneira de contornar as pressões contrárias à
transferência da embaixada brasileira, hoje localizada em Tel Aviv, como ocorre com a
grande maioria das missões estrangeiras em Israel.

Setores do governo brasileiro temiam que a transferência, defendida por igrejas


evangélicas e promessa de campanha do presidente Jair Bolsonaro, provocasse retaliação
dos países árabes, que estão entre os principais compradores de produtos agrícolas
brasileiros, em especial carnes.

Eduardo disse ter falado com o pai antes da cerimônia e ouvido dele, mais uma vez, a
promessa de que vai transferir a embaixada, mas sem dar um prazo.

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O Globo – 'Vou trabalhar para fechar a fissura entre Argentina e
Brasil', diz novo embaixador argentino em Brasília / Entrevista /
Daniel Scioli
Daniel Scioli fala em cooperação entre Bolsonaro e Fernández e prevê rápida melhora na
economia argentina

Janaína Figueiredo, enviada especial a Buenos Aires

BUENOS AIRES. Há 30 anos, ele era piloto de motonáutica, sofreu um acidente e perdeu
um de seus braços. No governo de Carlos Menem (1989-1999) iniciou sua carreira política,
foi vice-presidente de Néstor Kirchner (2003-2007), oito anos governador da província de
Buenos Aires, nas presidenciais de 2015 foi derrotado por Mauricio Macri por apenas 1,3%
de vantagem e nesta semana visitará seu novo local de trabalho: a embaixada da
Argentina em Brasília.

Daniel Scioli gosta de desafios e diz estar entusiasmado com o posto que lhe ofereceu o
presidente Alberto Fernández. No dia da posse do novo chefe de Estado, Scioli abraçou-se
com o vice-presidente Hamilton Mourão, quem lhe disse, afirmou o dirigente peronista ao
GLOBO, que ficou muito satisfeito com a menção ao Brasil no primeiro discurso
presidencial.

A ausência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a quem Fernández visitou na prisão
de Curitiba durante a campanha, admitiu o novo embaixador argentino, evitou ruídos em
momentos de incipiente aproximação. “Vamos aos fatos: ele (Lula) não veio, veio o vice-
presidente e isso foi muito auspicioso”, enfatizou Scioli, que conversou com o GLOBO no
dia da posse de Fernández.

Na noite de quarta-feira, o Itamaraty aprovou, em tempo recorde, o nome de Scioli para


ser embaixador no Brasil.

— Desde que Alberto expressou a vontade de que eu assumisse a embaixada no Brasil e


nossos dez consulados estou trabalhando para recolher informações. Tenho me interessado
por setores que são chaves para a Argentina, como o automobilístico, que depende, em
grande medida, do mercado brasileiro. Se você observar o discurso de Alberto na posse
(Scioli pega um papel onde tem impresso o discurso) ele falou sobre uma agenda
ambiciosa, inovadora e criativa — disse ao GLOBO.

O senhor ficou surpreso com a decisão do presidente Bolsonaro de enviar seu vice,
Hamilton Mourão?

Fiquei surpreendido e grato.

Houve um encontro rápido com Mourão na posse de Fernández?

Sim, nos abraçamos, ele me expressou sua satisfação por Alberto ter mencionado o Brasil
(no discurso de posse). Bolsonaro também falou numa relação pragmática e com esse
espírito vamos trabalhar.

Finalmente, foi dada importância à relação bilateral?

Sim, acho que sim, e foi uma decisão com muito sentido de responsabilidade. A Argentina
é um sócio estratégico. Aqui se fala muito em fechar a fissura (social entre peronistas e
não peronistas), bom, eu vou trabalhar para fechar a fissura entre Argentina e Brasil. O

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grande desafio que temos neste contexto internacional é complementar e fortalecer nossas
economias, juntos. Agregar competitividade a nossas economias. Tenho um grande
entusiasmo e confiança.

Zero estresse?

Nem um pouco. Governei a maior província da Argentina durante oito anos, fui vice-
presidente, e na minha vida também. Em 2019 se completaram 30 anos de meu acidente
(no qual perdeu um braço), sempre tive uma grande capacidade de adaptação.

O senhor teve contato com alguma outra autoridade brasileira, além de Mourão?

Ainda não. Mas sei que meu nome foi bem recebido. Sou uma pessoa de trabalho e busco
constantemente soluções. Sempre tento aproximar posições.

O fato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva finalmente não ter vindo para a posse
ajudou a aliviar a tensão entre os dois governos?

Ele mesmo disse que era um encontro entre presidentes. Era necessário dar prioridade ao
que traz benefícios para os dois países. Tentar ter a maior harmonia e encontrar
coincidências.

Estando Mourão, a presença de Lula poderia ter gerado ruído...

Sim, se especulou. Vamos aos fatos: ele (Lula) não veio, veio o vice-presidente e isso foi
muito auspicioso.

O senhor vai trabalhar para um encontro entre Bolsonaro e Fernández?

Claro, se tudo caminhar bem chegaremos a isso. Eles ainda vão conviver pelo menos três
anos.

No dia da posse alguns analistas apontaram a presença de poucas lideranças internacionais


e alertaram para um eventual isolamento da Argentina...

Alberto já recebeu a delegação dos Estados Unidos, falou com (Emmanuel) Macron... de
maneira alguma pensamos em nos isolar, pensamos em abrir.

No exterior muitos se perguntam como funcionará a relação entre Cristina e Fernández...

A experiência de Cristina é importante e Alberto a considera. A frente que se formou tem


uma grande diversidade e Alberto soube articular eleitoralmente e agora em seu gabinete.
Haverá harmonia e complementação. Alberto é o presidente, acompanhado com uma vice
que tem a experiência de Cristina.

E uma personalidade forte...

Alberto também tem uma personalidade, um caráter, é um homem de grande experiência


sobre como funciona o Estado. Ele se sente seguro para administrar o país.

Quando o senhor foi derrotado por Macri imaginou o que viria depois?

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Eu antecipei que havia dois caminhos, o do ajuste e o do desenvolvimento. As tarifas, por
exemplo, poderiam ter aumentado de outra maneira. Agora estou aqui pra ajudar
trabalhando na relação com o Brasil, que é muito importante para superar a crise.

O senhor espera uma melhora no curto prazo?

Sim.

A negociação com o FMI e credores não parece fácil...

O que queremos é tempo para nos recuperar. Acho que vão aceitar (nossas condições).
(Donald) Trump disse que está disposto a ajudar.

Os problemas econômicos começaram no governo de Cristina...

Sim, mas nossa maneira de resolvê-los era bem diferente. Havia um caminho diferente.

Valor Econômico – Chanceler vê retorno de ‘ameaça comunista’


na AL
Em artigo distribuído pelo Itamaraty, Araújo ataca suposta ascensão da esquerda em
várias partes do mundo

Em artigo para o site bolsonarista Terça Livre, o chanceler Ernesto Araújo alerta para a
volta de uma suposta ameaça comunista nos países da América Latina.

No texto, Ernesto afirma que o “horizonte comunista” quer voltar a “estrangular” o Brasil, a
Bolívia, o Chile, a Colômbia e o Equador e pretende levar “as trevas” para a Venezuela,
Argentina e México, países onde uma ditadura de esquerda e governos de centro-esquerda
estão no poder.

Intitulado “Para além do horizonte comunista”, o artigo não aparecia em busca feita no site
Terça Livre, mas foi distribuído ontem pelo serviço de clipping (“recorte” e distribuição de
publicações selecionadas) do Itamaraty, enviado a todos os diplomatas e funcionários do
ministério. O clipping dizia: “Em artigo exclusivo, o ministro das Relações Exteriores,
Ernesto Araújo, traça um panorama da ameaça comunista nos países latinos”. O chanceler
diferencia um “horizonte comunista” do comunismo já propriamente instalado e diz que o
“globalismo” é um instrumento para a construção do comunismo. Araújo define globalismo
como “a captura da economia globalizada pelo aparato ideológico marxista através do
politicamente correto, da ideologia de gênero, da obsessão climática, do antinacionalismo”.

Para o ministro, não há dúvida de que a América Latina viveu dentro de um “horizonte
comunista desde 2005, ou possivelmente desde um pouco antes, desde a vitória de Lula
em 2002, ou desde a vitória de Chávez em 1999. Na verdade, esse horizonte começou a
raiar com a criação do Foro de São Paulo, em 1991”.

Em seu longo texto, Araújo ataca também os “isentões” - termo que descreve pessoas que
não se alinham a nenhum partido ou ideologia. Ele afirma que os isentões só acreditam na
“figura fictícia de um certo comunismo derrotado em 1989” e “recusam-se
terminantemente a reconhecer - muito menos a enfrentar - o projeto comunista real que
atua hoje por toda parte”.

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“A pressa com que hoje, no Brasil, os isentos correm para os braços da extrema esquerda
e vice-versa, formando uma estranha ‘isentoesquerda’, é o sinal abjeto dessas afinidades
profundas.”

De acordo com o chanceler, há a construção de uma sociedade que é liberal apenas na


superfície, com aparência de uma economia capitalista com instituições democráticas e
direitos humanos, mas que, debaixo disso, esconde ideais comunistas, anticristianismo e
manipulação da ciência.

Segundo ele, o horizonte comunista também está sendo rompido nos EUA, Reino Unido,
Hungria, Polônia e alguns países da África.

EDITORIAIS

O Estado de S. Paulo – Atenção ao comércio exterior / Editorial


A firmeza das contas externas tem sido uma preciosa barreira contra choques vindos de
fora. Mas a deterioração já é evidente. O sinal, certamente, é amarelo.

Mais um tombo no comércio exterior está previsto para 2020, com exportações em queda
e novo aumento das importações. Na pior projeção, o saldo brasileiro deve encolher
42,18%. Outras previsões são menos alarmantes. Todas, no entanto, são alertas
importantes para quem se preocupa com a saúde das contas externas. A firmeza dessas
contas tem sido uma preciosa barreira contra choques vindos de fora. Mas a deterioração
já é evidente no comércio de bens. Ficou em US$ 43,33 bilhões o superávit acumulado no
ano até a segunda semana de dezembro. Esse valor é 20,1% menor que o de um ano
antes, ou 20,8% quando se consideram os dias úteis. Explicações frequentes apontam a
insegurança criada pela disputa comercial entre Estados Unidos e China, a onda
protecionista, a perda de vigor do comércio global e a crise na Argentina, terceiro maior
mercado para exportações brasileiras. Parte dos problemas, no entanto, está dentro do
Brasil.

A projeção mais sombria foi elaborada pela Associação de Comércio Exterior do Brasil
(AEB), informou a Agência Estado. Segundo cálculos divulgados ontem, as exportações em
2020 devem recuar para US$ 217,34 bilhões, soma 3,2% inferior à receita de US$ 224,44
estimada para 2019. Na direção contrária, as importações devem passar de US$ 179,24
bilhões para US$ 191,21 bilhões, com expansão de 6,6%. Como resultado, o superávit
deve diminuir 42,18%, de US$ 45,19 bilhões esperados neste ano para US$ 26,13 bilhões
calculados para 2020.

A despesa maior com produtos estrangeiros deve refletir a reativação mais sensível da
economia brasileira. Aumento de importações normalmente acompanha a expansão da
atividade, com elevação do consumo das famílias e do investimento em máquinas e
equipamentos. A esperada perda de receita é atribuída a causas citadas com frequência
pelos analistas, como a desaceleração e a crise argentina.

Já é bem visível a piora dos números. Até a segunda semana de dezembro, a receita
alcançou US$ 214,93 bilhões, com redução anual de 7,3%, e foram gastos US$ 171,60
bilhões, com recuo de 3,1% em relação ao registro de um ano antes.

Análise publicada pela Fundação Getúlio Vargas, com base nos números acumulados até
novembro, vinculou a perda de receita à redução de 4,8% nos preços e de 2% no volume.
No caso das importações houve aumento de 2,3% no volume e recuo de 4,2% nos preços.

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As vendas de commodities, correspondentes a 60% da receita geral, cresceram 1,8% em
volume e diminuíram 4,6% em preços. A receita foi portanto menor que a de um ano antes
– fenômeno atribuível ao menor crescimento da China e da União Europeia.

As vendas de não commodities (principalmente manufaturados) diminuíram 7% em volume


e 5,3% em preços. Redução de vendas para a Argentina, país em recessão, e para outros
países da América Latina, também grandes clientes da indústria brasileira, explica boa
parte do retrocesso.

Mas é preciso, segundo os autores do relatório, considerar outros fatores para explicar as
fracas exportações da indústria brasileira. O Brasil, assinalam, deveria melhorar seu
desempenho nas vendas de não commodities para a China e para outros mercados da Ásia,
caracterizados por taxas de crescimento econômico bem maiores que as de países de
outras áreas. Esse comentário poderia abrir uma discussão sobre a pouca integração da
maior parte da indústria brasileira no mercado global. A baixa presença na Ásia é
especialmente notável, mas também seria preciso atuar mais intensamente em outros
mercados. Há muito mais que problemas conjunturais na piora do comércio brasileiro.

O superávit comercial tem sido importante fator de segurança. Contrabalançando em parte


os saldos negativos das contas de serviços e de rendas, o comércio de bens tem permitido
manter em níveis administráveis o déficit das transações correntes, até agora financiado
com folga pelo investimento direto. Mas esse déficit tem crescido. Em um ano, até outubro,
passou de 2% para 3% do Produto Interno Bruto (PIB). Não é sinal vermelho. Mas
certamente é amarelo.

O Globo – Depois da COP-25, é preciso voltar a fiscalizar e a


punir desmatamentos / Editorial
O Brasil não receber os devidos recursos para preservar não justifica que possa relaxar nos
controles

O papel negativo cumprido pelo Brasil na Conferência do Clima, de Madri, a COP-25,éo


registro diplomático e político de que o governo Bolsonaro retirou o país do grupo de
nações sensíveis ao aquecimento global e ativas na implementação de medidas para
reduziras emissões de carbono.

Oficializa, na COP-25, seu alinhamento aos Estados Unidos de Trump, que está em
processo de rompimento como Acordo de Paris, em que se congregam países preocupados
como tema e comprometidos com a metade evitar que a temperatura da Terra suba além
de 1,5 grau centígrado até o fim do século. Objetivo que especialistas já consideram difícil
de atingir. O resultado, do qual já há indícios, é a elevação dos mares, secas e enchentes
extremas, ondas de frio e calor, com drásticos efeitos na produção de alimentos.

A COP se estendeu pelo fim de semana e, com atraso, chegou a um documento aquém do
desejado. Sem, por exemplo, regulamentar o mercado de carbono —onde se negociam
créditos de empresas que conseguem reduzir emissões para out rasque não conseguem. A
missão brasileira, com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, deu sua contribuição
para os impasses. O ministro desembarcou em Madri e embarcou de volta pedindo aos
países desenvolvidos ajuda financeira para projetos que permitam ao Brasil cortar
emissões.

Salles tem razão em pedir incentivos financeiros para quem preserva. A questão é saber
como. Ficou em aberto a chamada “dupla contagem” no crédito de carbono: um país reduz
emissões, emite o crédito para ser adquirido por algum que não cumpre, mas também

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abateria este crédito de sua meta. Seja como for, Salles tem à disposição o dinheiro do
Fundo Amazônia — R$ 3,2 bilhões, em grande parte proveniente de doações de Noruega e
Alemanha. Mas congelado, porque o governo Bolsonaro quer alterar regras, para-
ressarcimento a supostos donos de terras incluídas em reservas — uma brecha para
beneficiar grileiros.

O Brasil de Bolsonaro aumentou as emissões como relaxamento na fiscalização e repressão


amadeirei rose garimpeiros na Amazônia, agentes da devastação. A posse de um novo
presidente conhecido por criticar políticas ambientais funcionou como senha para avanços
em áreas de preservação. Entre agosto de 2018 e junho de 2019, o desmatamento
aumentou em 30% na região, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
É preciso retomara fiscalização e are pressão a desmatamentos e queimadas. O que
independe do pleito justo de mais recursos dos países desenvolvidos para preservar a
cobertura florestal brasileira, cuja destruição é a maior fonte de emissão de carbono do
país.

AGRONEGÓCIO

Valor Econômico – Aquisição de terras rurais por estrangeiros /


Artigo / Ricardo Quass Duarte
Se a pessoa jurídica tem sede no Brasil e é organizada sob as leis brasileiras, pagando
impostos e gerando empregos, não há motivo para equipará-la a estrangeiro

Nos últimos nove anos o Brasil tem vivido um cenário de incerteza jurídica, relacionada à
possibilidade, ou não, de empresas brasileiras com capital estrangeiro adquirirem terras
rurais.

Foi em 2010 que a Advocacia-Geral da União (AGU) emitiu o famigerado parecer LA


01/2010, que, contrariando dois pareceres anteriores da própria AGU (um de 1994 e outro
de 1998), passou a entender que um dispositivo da Lei 5.709/71 teria sido recepcionado
pela Constituição de 1988. Com isso, empresas brasileiras controladas por capital
estrangeiro estariam sujeitas a uma série de limitações para aquisição de terras rurais. Em
resumo: uma norma de 1971, que fora considerada inaplicável pela AGU em 1994 e 1998,
foi ressuscitada em 2010. Resultado para o país: bilhões de investimentos deixaram de ser
realizados, ante as incertezas jurídicas causadas pelo vai-e-vem interpretativo.

Se a pessoa jurídica tem sede no Brasil e é organizada sob as leis nacionais não há
razão para equipará-la a estrangeiro

O parecer de 2010, marcado por um claro viés ideológico, não se sustenta juridicamente.
Isso porque a Constituição de 1988 trouxe, em seu artigo 171, o conceito de “empresa
brasileira”, que é “a constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e
administração no país”. Assim, pouco importa se da sociedade participam ou não pessoas
estrangeiras. Ademais, o art. 190 estabelece que a lei deve regular e limitar a aquisição de
propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira, nada dizendo sobre pessoa
jurídica brasileira com capital estrangeiro. Dessa forma, desde 1988, não se podem impor
restrições à aquisição de imóvel rural por empresas brasileiras, tenham ou não participação
de estrangeiros no capital social.

Essa tese foi acolhida pela Corte Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) em
2012 (MS nº 0058947-33.2012.8.26.0000) e é defendida pela Sociedade Rural Brasileira

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na ADPF nº 342, ajuizada no STF em 2015. Não há, contudo, nenhuma previsão para o
julgamento desta ação.

Para remediar essa situação, o senador Irajá (PSD-TO) apresentou o Projeto de Lei nº
2.963/2019, que tem como objetivo “a adequação e a modernização da legislação
brasileira, para possibilitar a aquisição e o uso de imóvel rural por estrangeiro no Brasil,
mantendo a soberania nacional conforme estabelecido pela Carta Magna e legislações”.

O projeto almeja, ainda, “possibilitar o ingresso de agroindústrias transnacionais no Brasil


voltadas para o desenvolvimento da cadeia produtiva agrícola de longo prazo, que
agreguem valor, gerem mais empregos e aumentem a qualidade e a quantidade da
produção agrícola brasileira”. O seu relatório foi aprovado dia 11 de dezembro em reunião
conjunta das comissões de Assuntos Econômicos e de Agricultura e Reforma Agrária. A
matéria agora será apreciada na CCJ.

Esse PL merece aplausos. O mérito é o de revogar integralmente a Lei 5.709/71, e


estabelecer que a nova lei não se aplicará às pessoas jurídicas brasileiras, “ainda que
constituídas ou controladas direta ou indiretamente por pessoas privadas, físicas ou
jurídicas estrangeiras”. Se a pessoa jurídica tem sede no Brasil e é organizada sob as leis
brasileiras, pagando impostos e gerando empregos no Brasil, não há motivo para equipará-
la a estrangeiro, impondo-lhe severas limitações a seu direito de propriedade. Limitações,
é bom frisar, continuarão existindo, mas apenas para estrangeiros.

O projeto prevê algumas exceções para pessoas jurídicas brasileiras: organizações não
governamentais, fundações particulares e fundos soberanos, se constituídos por
estrangeiros, deverão obter aprovação do conselho de defesa nacional para adquirir
imóveis rurais. Também deve obter tal aprovação a pessoa jurídica brasileira, controlada
direta ou indiretamente por estrangeiro, quando o imóvel rural se situar no bioma
Amazônia e sujeitar-se a reserva legal igual ou superior a 80%.

Outro aspecto positivo está no fato de o projeto deixar claro que as restrições não se
estendem a direitos reais ou pessoais de garantia. Embora o entendimento correto seja o
de que, mesmo atualmente, as restrições da Lei 5.709/71 não se aplicam a garantias (pois
a lei limita apenas a aquisição e o arrendamento), há quem defenda posição contrária.
Caso a garantia acarrete na aquisição de propriedade por credor atingido pela lei (uma
sociedade estrangeira, por exemplo), a propriedade será resolúvel e deverá ser alienada
em dois anos, renováveis por mais dois anos, a contar da adjudicação do bem, sob pena de
perda da eficácia da aquisição e reversão do bem ao proprietário original.

A proposta prevê, ainda, que ficam convalidadas as aquisições e arrendamentos, por


pessoas físicas ou jurídicas (ainda que controladas por estrangeiros), durante a vigência da
Lei 5.709/71.

Por fim, o projeto reforça que os estrangeiros que adquirirem terras rurais devem observar
a função social da propriedade, sob pena de desapropriação ou anulação dos contratos.

A estimativa do senador Irajá é que a aprovação do projeto poderá trazer R$ 50 bilhões de


investimentos ao setor agroindustrial. Além desse evidente benefício, o país certamente
ganhará em termos de segurança jurídica, pois a aprovação do PL colocará fim a uma
celeuma que está prestes a completar uma década.

Ricardo Quass Duarte é mestre em direito pela USP e pela Columbia University, sócio de
Souto Correa Advogados.

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Valor Econômico – Pecuária puxa o VBP
Segundo o Ministério da Agricultura, Valor Bruto da Produção agropecuária deverá crescer
3% em 2020, para o recorde de R$ 635,2 bilhões

Por Fernando Lopes — De São Paulo

A melhora das perspectivas para os mercados de soja e carnes levou o Ministério da


Agricultura a elevar de forma expressiva sua estimativa para o valor bruto da produção
(VBP) agropecuária do país em 2020. Segundo levantamento divulgado ontem, o VBP total
deverá alcançar o recorde de R$ 635,2 bilhões, quase R$ 30 bilhões a mais que o
projetado em novembro e montante 3% superior ao calculado para 2019.

O aumento será puxado pela pecuária. Para as cinco principais cadeias do segmento, a
Pasta passou a projetar VBP conjunto de R$ 228,4 bilhões, R$ 16,1 bilhões acima da
estimativa de novembro e valor 6,9% maior que o de 2019 (R$ 213,7 bilhões, 7,8% mais
que em 2018). Tendo em vista a demanda aquecida por carnes sobretudo no exterior, o
salto será determinado por recordes previstos bovinos, suínos e frango.

Para os bovinos, o ministério agora prevê VBP de R$ 96 bilhões, um incremento de 12,1%


ante 2019; para o frango, o montante previsto para 2020 chega a R$ 66,1 bilhões, avanço
de mais 3,9%; e para os suínos o aumento em 2020 poderá chegar 15,7%, para R$ 19,3
bilhões.

Para as 21 principais lavouras cultivadas no país, a Pasta passou a calcular um VBP total
recorde de R$ 406,8 bilhões, 0,9% mais que em 2019. E o destaque nessa frente será a
soja, cujo VBP deverá se recuperar e crescer 15,1%, para R$ 155,3 bilhões.

ITAMARATY

Valor Econômico – Itamaraty aprova indicação de Scioli como


embaixador da Argentina
O pedido de agrément foi enviado pela Chancelaria argentina na terça-feira (17) e o
governo brasileiro o confirmou em menos de 24 horas

Por Marina Guimarães, Para O Valor — Buenos Aires

18/12/2019 18h41

O Ministério de Relações Exteriores do Brasil aprovou a indicação do ex-governador da


Província de Buenos Aires, Daniel Scioli, como novo embaixador da Argentina em Brasília.

O pedido de agrément foi enviado pela Chancelaria argentina na terça-feira (17) e o


governo brasileiro o confirmou em menos de 24 horas, como um sinal positivo para as
relações diplomáticas e políticas entre os dois países.

Alguns dias antes de tomar posse à frente da Casa Rosada, sede do Executivo argentino, o
presidente Alberto Fernández anunciou o nome de Scioli durante visita do presidente da
Câmara dos Deputados do Brasil, Rodrigo Maia (DEM/RJ), como gesto de aproximação. Na
ocasião, Fernández enviou um recado para o presidente Jair Bolsonaro de que sua escolha
era para honrar a relação com o Brasil, já que Scioli é muito valorizado por ele e conta com
sua total confiança.

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MERCOSUL

Gazeta do Povo – Mercosul num contexto de intensificação do


regionalismo / Coluna / Rodrigo Constantino
Por Alex Pipkin, publicado pelo Instituto Liberal

O país fecha o ano com perspectivas animadoras para 2020.

Passivo e rastro de destruição vermelha continuam a aterrorizar. Contudo, agora o Brasil


começa a apresentar sinais de recuperação, mesmo que ainda muito tímidos.

A atividade econômica deve crescer para além de 2,3% no próximo ano, com inflação
baixa e taxa de juros devendo permanecer baixa.

Indício positivo traduz-se na sinalização de redução do risco-país por parte de importantes


instituições internacionais. O presente crescimento tem sido sustentado pelo consumo
graças à expansão do crédito, mas devedores precisarão honrá-los, e o nível de emprego
tem crescido apenas modestamente.

O motor do desenvolvimento nacional, sem dúvida, é o setor privado; investimentos


seguramente aumentarão, especialmente naqueles setores vinculados à infraestrutura.
Decerto que o crescimento dependerá dos congressistas e, ainda que o comportamento
tenha sido positivo na reforma da previdência – já estava alinhavada -, a reforma tributária
e, certamente, a do Estado serão bem mais espinhosas.

O cenário externo continua nebuloso e incerto, embalado por clima imprevisível quanto à
guerra comercial entre China e EUA.

A proteção dos mercados nacionais através de barreiras tarifárias – e não-tarifárias –


acentua ainda mais a tendência de “desglobalização”, provocando um imediato repensar
nas estratégias empresariais, em especial dos grandes grupos transnacionais.

Não é possível deixar a agenda externa em “banho-maria”. Desenvolvimento sustentável


depende umbilicalmente da abertura econômica. Até agora ocorreu incremento das
compras externas. Exportações competitivas, evidentemente, resultam da aprovação de
reformas estruturantes.

Parece-me que a intensificação do comércio por meio das cadeias regionais de valor
(atividades produtivas e comerciais entre países vizinhos) veio para fincar raízes. É
justamente aqui que reside a grande incógnita referente ao Mercosul.

O presidente que havia pecado, verbalizando forte em relação ao governo rubro argentino,
às pressas enviou o vice Mourão para participar da posse de Fernández, na Argentina. Ele
desabafou, felizmente, sobre a relevância estratégica do bloco, essencial para ambos.

O futuro é incerto! Lá Macri, o procrastinador, foi liberal só no papel. Fernández tende a


políticas populistas e protecionistas e, pior, “renegociar” a dívida externa argentina,
trazendo maior retração de crédito e aprofundamento da aguda crise hermana.

Caso isso se concretize, não haverá contexto mais inapropriado para Argentina e Brasil,
num ambiente de franca escalada de regionalização global.

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Oremos pelos irmãos e, claro, pelos impactos por aqui. Aparenta-me decisivo que o Brasil
em sua grande maioria não quer mais saber da retórica empoeirada da “luta de classes”,
ideológica e partidária. Quer mesmo desenvolvimento econômico e social de fato, ou seja,
alimento, emprego, habitação, saúde, entre outras coisas essenciais!

Nesse sentido, a pior batalha dá-se entre o Estado e o povo. Esperemos que para o bem de
todos o bom senso político, pelo viés comercial, chegue a bom termo para ambos, Brasil e
Argentina.

Mercosul, em tempos de regionalismo, é fundamental. Por aqui, o próximo ano brasileiro


vai requerer efetivas reformas competitivas, a fim de que empresas possam competir e
inovar em mercados além-fronteiras, definitivamente!

AMÉRICA DO SUL

Agência Brasil (EBC) – ONU alerta para incorporação de milícia


às Forças Armadas venezuelanas
Michelle Bachelet apresentou hoje novo relatório sobre o país

Publicado em 18/12/2019 - 15:23

Por Marieta Cazarré - Repórter da Agência Brasil Montividéu

A alta comissária da Organização das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU),
Michelle Bachelet, apresentou hoje (18) um novo relatório sobre a situação na Venezuela.
Entre os temas abordados estão a liberação de presos políticos, a falha no acesso à saúde
e educação, os altos índices de violência e a preocupação com uma possível incorporação
das milícias às Forças Armadas nacionais.

A alta comissária da ONU, em sua apresentação hoje, em Bruxelas, demonstrou


preocupação com apelos de altas autoridades venezuelanas para que continuem a armar as
milícias, bem como a apresentação, no Congresso, de um projeto de lei que fortalece e
incorpora esses grupos às Forças Armadas Nacionais da Bolívia.

Bachelet afirmou ainda que membros de sua equipe fizeram visitas a nove centros de
detenção e entrevistaram, de maneira confidencial, mais de 70 pessoas privadas de
liberdade. Foram detectados 118 casos (109 homens e nove mulheres) que requerem uma
resposta urgente por motivos de saúde, atrasos em processos judiciais e demora na
liberação de pessoas que já cumpriram suas penas.

"Destaco a liberação em setembro e outubro de 28 pessoas (24 homens e quatro


mulheres) privadas de liberdade por motivos políticos e exorto as autoridades a liberar
incondicionalmente todas as pessoas detidas por motivos políticos, incluso militares.
Reitero meu pedido para que se continue dando cumprimento às orientações do grupo de
trabalho sobre detenções arbitrárias", afirmou Bachelet.

Bachelet relatou atos de assédio, ameaças e detenções pelos serviços de inteligência e


forças de segurança, além de outros casos de restrição das liberdades públicas que
"limitam o espaço cívico-democrático", como a detenção de jornalistas.

Economia

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Em relação à situação econômica e social, a alta comissária da ONU afirmou que a crise
continua afetando os direitos dos venezuelanos. De acordo com a Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe (Cepal), em 2019, a economia do país sofrerá uma
contração de 25,5%, atingindo uma perda acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) de
62,2% desde 2013.

"Embora nos últimos meses tenha havido melhora no suprimento de alimentos, apenas a
minoria da população com acesso a divisas estrangeiras pode cobrir regularmente os altos
preços dos alimentos devido à hiperinflação e à dolarização de fato da economia", relata
Bachellet, acrescentando que o salário mínimo no país cobre apenas 3,5% da cesta básica.

Na apresentação, feita hoje em Bruxelas, Bachelet disse que sua equipe visitou a cidade de
Maracaibo, onde verificou longas filas para comprar combustível, em meio a prolongados e
repetidos cortes de eletricidade, que também afetam o abastecimento de água. "Os direitos
à saúde e educação também foram afetados, principalmente devido à falta de pessoal,
infraestrutura precária e falta de insumos".

Segundo Bachelet, durante o mês de novembro, a Cáritas informou que, nas paróquias
mais pobres de 19 estados do país, 11,9% das crianças apresentam sinais de desnutrição
aguda – um aumento de 56% em relação a 2018 – e que 32,6% têm atrasos de
crescimento. A Cáritas também relatou que 48,5% das gestantes atendidas apresentam
deficiências nutricionais.

Violência

Diante da ausência de dados oficiais atualizados e públicos, o Observatório Venezuelano da


Violência estimou uma taxa de 60,3 homicídios violentos por 100 mil habitantes de janeiro
a novembro de 2019. Embora tenha havido uma redução em relação a 2018, o número
segue sendo um dos mais altos da região.

"Reitero minha preocupação com os níveis de violência que nos últimos meses também
impactaram os líderes políticos locais, como ilustrado pelos assassinatos do ex-vereador da
oposição Edmundo "Pipo" Rada Angulo e do ex-governador oficialista Johnny Yáñez Rangel.
De agosto até hoje, meu escritório documentou alegações de supostas execuções
extrajudiciais por membros das Forças de Ações Especiais (Faes), principalmente contra
jovens, no contexto de operações de segurança em favelas."

Bachelet afirmou ainda que vê com preocupação altos índices de violência e a presença de
grupos armados irregulares envolvidos em exploração ilegal de recursos naturais.

Migrações

A Plataforma de Coordenação das Nações Unidas para Refugiados e Migrantes da


Venezuela estima que 4,7 milhões de venezuelanos deixaram o país e projeta que esse
número chegará a 6,5 milhões no final de 2020.

"Estou preocupada com o aumento da migração irregular devido, por um lado, às maiores
exigências de entrada em alguns países de trânsito e destino, mas também pelas
dificuldades que o povo venezuelano enfrenta na obtenção de sua documentação de
viagem. Recentemente, as autoridades venezuelanas aumentaram o custo da emissão de
passaportes em 70%, um custo equivalente a 54 salários mínimos. O uso de rotas mais
perigosas e a exposição ao tráfico de pessoas aumentaram", afirmou.
Ano eleitoral

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Michelle Bachelet demonstrou preocupação com o processo eleitoral de 2020. "É crucial
garantir as liberdades públicas que são fundamentais para criar as condições necessárias
para eleições livres, imparciais, credíveis, transparentes e pacíficas. A esse respeito, estou
preocupada com a retirada da imunidade de cinco deputados da oposição, aumentando o
total para 30 deputados privados de imunidade, bem como com atos de assédio contra
representantes da oposição, incluindo o presidente da Assembleia Nacional", afirmou a alta
comissária da ONU.

Crusoé – Pacote econômico argentino não traz alívio para o setor


privado
Duda Teixeira

O governo do presidente da Argentina, Alberto Fernández (foto), anunciou nesta terça-


feira, 17, um pacote econômico. Um dos objetivos é aumentar a arrecadação para mostrar
ao FMI que o país será capaz de pagar sua dívida.

O pacote falha, contudo, em sua promessa de reaquecer a economia. “O governo quer


reativar a atividade controlando o gasto público e subindo os impostos a determinados
setores”, diz o economista argentino Esteban Domecq, presidente da consultoria Invecq,
em Buenos Aires. “A debilidade do programa está na falta de medidas para destravar o
setor privado, que hoje se encontra asfixiado por uma enorme carga tributária.”

Segundo Domecq, há pouca informação sobre questões monetárias, como juros, emissão
de dinheiro, política cambiária e plano contra a inflação. “O início do novo governo e as
medidas anunciadas ainda não despertam a confiança e não parecem suficientes para
sanear a atual situação”, diz o economista.

O Globo – Itamaraty concede em tempo record agrément a novo


embaixador argentino no Brasil
Decisão foi tomada em 24h. Scioli foi indicado para missão diplomática na tentativa de
superar as rusgas entre Fernández e Bolsonaro

Reuters

BRASÍLIA - O governo brasileiro aprovou em tempo recorde o pedido de agrément para o


futuro embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, informaram à Reuters duas fontes
a par do assunto.

Scioli, ex-vice-presidente da Argentina entre 2003 e 2007, foi indicado para o cargo pelo
novo presidente argentino, Alberto Fernández, no início de dezembro, antes mesmo de sua
posse, há 8 dias. O agrément — documento diplomático que pede a anuência do nome ao
país anfitrião — foi pedido na terça-feira, e foi aprovado nesta quarta.

Empresário, candidato à Presidência derrotado por Maurício Macri em 2015, Scioli foi
apresentado por Fernàndez como seu primeiro gesto para uma boa relação com o Brasil,
por representar um nome que "valoriza muito". Em entrevista ao GLOBO, Scioli disse que
sua função seria "aproximar posições" entre os dois países.

Na semana passada, Scioli esteve pela primeira vez em Brasília, em reuniões com o vice-
presidente Hamilton Mourão e o ministro da Cidadania, Osmar Terra, em um primeiro
passo de aproximação para tentar vencer a má impressão deixada pelas rusgas ideológicas
entre Fernández e o presidente Jair Bolsonaro.

18
Esportista e kirchnerista
Na década de 80, Scioli, foi um famoso piloto de jet ski, vencedor de vários campeonatos
internacionais. Em 1989, quando participava de uma corrida no rio Paraná, na província de
Buenos Aires, sofreu um acidente que provocou a perda de seu braço direito. Mesmo
depois do acidente e após colocar uma prótese, continuou competindo e ganhando prêmios
dentro e fora da Argentina.

A sua carreira política começou em 1997, quando foi convidado pelo então presidente do
país, Carlos Menem (1989-1999), para unir-se ao Partido Justicialista (PJ) e ser candidato
a deputado nacional. Scioli foi um dos primeiros outsiders a ter destaque na política
argentina.

Quando Eduardo Duhalde chegou ao poder, em 2002, Scioli assumiu o comando da


Secretaria de Turismo e Esportes. Depois de ter sido apadrinhado por Menem, o candidato
passou a ser um dos homens de confiança de Duhalde, inimigo de Menem dentro do PJ.

Na campanha eleitoral de 2003, o então candidato à Presidência Néstor Kirchner (2003-


2007) ofereceu a Scioli ser seu companheiro de chapa. A dupla acabou chegando ao poder
após a decisão de Menem de desistir de participar do segundo turno (o ex-presidente tinha
vencido o primeiro turno com 24% dos votos, contra 22% de Kirchner).

Scioli passou, então, a ser soldado da tropa kirchnerista. Depois de ter estado ao lado de
Menem e Duhalde, o candidato tornou-se aliado de Cristina Kirchner, que durante seu
governo rompeu relações com Duhalde, apesar do ex-presidente ter sido peça chave para .

O novo embaixador foi vice de Néstor Kirchner e presidente do Senado até 2007, quando
concorreu e venceu as eleições para governador da província de Buenos Aires. Em 2011, o
governador foi reeleito para um segundo mandato de quatro anos. Em 2015, teve 48,66%
dos votos no segundo turno, contra 51,34% de Macri.

O Globo – Câmara do Chile aprova plebiscito para nova Carta


Pressão da oposição por paridade de gênero e cotas para indígenas é barrada, mas
deputados dizem que vão insistir

SANTIAGO

No dia em que os protestos no Chile completaram dois meses, a Câmara dos Deputados
aprovou ontem o projeto de reforma constitucional no país. Com 127 votos a favor, 18
contra e 5 abstenções, os parlamentares apoiaram a realização de um plebiscito em 26 de
abril para consultara população sobres eu desejo demudara Constituição, herdada da
ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Mesmo assim, a pressão exercida pelas ruas e por setores de esquerda para estabelecer
paridade de gênero e cotas para povos originários entre os deputados constituintes, além
da possibilidade de que candidatos independentes concorressem, não surtiu efeito, e as
propostas foram derrotadas.

As cotas, que foram tema de calorosos debates ao longo do dia, exigiam apoio de 60% dos
deputados presentes, ou 93 deputados, mas foram apoiadas só por 80 deles. Houve 62
votos contra e 7 abstenções.

O documento agora passa ao Senado, para continuar seu trâmite legislativo. Deputados da
oposição disseram que vão tentar que o Senado inclua as cláusulas derrotadas.

19
Pouco depois de a Câmara rejeitara parida dede gênero, a Comissão de Constituição da
Casa aprovou um alei, que ainda precisa ira plenário, que estabelece paridade de gênero e
facilita candidaturas independentes. Alei foi proposta por 12 deputadas da Renovação
Nacional (RN), partido de centro-direita do presidente Sebastián Piñera.

DIREITA SE MOBILIZOU

O plebiscito de abril perguntará à população se é necessária uma nova Constituição, e por


qual mecanismo ela deve ser elaborada: por uma “convenção constituinte”, formada por
155 deputados eleitos com mandato exclusivo, ou então por uma convenção constitucional
mista de 172 membros, entre representantes do atual Congresso e novos deputados
constituintes.

Também foi aprovado um “plebiscito de saída”, ao fim do processo constituinte. Os


deputados determinaram que, caso a nova Constituição seja reprovada pela população,
então a atual Carta permanecerá vigente.

A direita chilena alinhou-se para rejeitar paridade de gênero, candidaturas independentes e


cotas para povos indígenas, depois que a legenda herdeira do pinochetismo União
Democrática Independente (UDI), que faz parte da coalizão do governo, ameaçou rejeitar
completamente a reforma constitucional e votar contra o plebiscito.

— Na UDI fizemos um grande esforço para entender este processo social e exigimos ao
restante dos partidos que se sentaram à mesa para conversar que os acordos e as palavras
sejam respeitados — disse a líder da bancada, María José Hoffmann.

O Evópoli, de centro-direita, também votou contra, enquanto RN dividiu seus votos.

CANALIZAR INSATISFAÇÕES

Uma nova Carta é considerada uma via institucional para canalizar as insatisfações que
agitam as ruas chilenas desde 18 de outubro. A resistência da UDI a aceitar mudanças é
tida como uma das principais causas para a dificuldade do governo e da classe política
dedar respostas às mobilizações. Desde o começo dos protestos, Piñera viu sua
popularidade despencar a um mínimo histórico de 14% de aprovação.

Haviam sido propostos dois mecanismos concomitantes para estabelecer paridade de


gênero. Em primeiro lugar, seria estabelecida uma cota de 50% para cada gênero nas
listas registradas pelos partidos e pelos candidatos independentes que concorressem à
Constituinte. Cada lista seria encabeçada por uma candidata e seria sucessivamente
ordenada alternando indicações de mulheres e de homens.

Haveria, também, um mecanismo de correção pós-eleitoral, determinando que, em


distritos que elegem um número par de deputados constituintes, metade seria de cada
gênero. No caso de distritos ímpares, entretanto, se cinco cadeiras fossem escolhidas,
apenas três poderiam corresponder ao mesmo sexo.

Com relação aos povos indígenas, o texto rejeitado reservava 18 cadeiras para sua
representação.

Quanto às candidaturas independentes, dois ou mais candidatos poderiam concordar com


um pacto eleitoral e competir como uma lista, desde que obtivessem um número de

20
assinaturas equivalente a 0,4% das pessoas que votaram em pleitos anteriores no distrito
onde concorreriam.

Mais cedo, um grupo feminista fez um protesto no salão da Câmara, exigindo a aprovação
da paridade de gênero.

O Estado de S. Paulo – A Argentina entre pragmatismo e


heterodoxia / Coluna / Celso Ming
Aconteceu o contrário. Quando grande parte dos analistas esperava que o novo governo
argentino de Alberto Fernández enveredasse por atalhos populistas em matéria de política
econômica, aconteceu o contrário. As primeiras decisões, ainda não suficientemente
pormenorizadas, atenderam mais às exigências da economia clássica do que às de um
pensamento tipicamente heterodoxo.

Houve, sim, concessões de cunho social, como congelamento de tarifas dos serviços
públicos. Mas o primeiro pacote de decisões de política macroeconômica reforça os
fundamentos fiscais, especialmente por meio de aumento de impostos. Depois de anunciar
aumento das retenciones (imposto sobre exportações de commodities), especialmente
soja, trigo e milho, e de aumentar as alíquotas de impostos sobre a propriedade, o ministro
da Economia, Martín Guzmán, avisou que a prioridade será recuperar o equilíbrio das
contas públicas. “Estamos buscando restaurar a consistência fiscal”, disse.

Por aí se vê que o principal diagnóstico do governo é o de que os grandes problemas da


economia argentina, como a disparada da dívida, a inflação de 52% ao ano e o mergulho
do PIB, têm como principal fonte o descalabro das contas públicas e não a falta de
crescimento econômico, como transparecia de tantos discursos eleitorais do agrupamento
justicialista de Fernández.

A mensagem anterior era a de que, para pagar a dívida tão fortemente ameaçada de
calote, seria preciso antes garantir o crescimento econômico.

Não está claro ainda se o aumento de impostos será suficiente para assegurar o equilíbrio
das contas públicas. Mais do que isso, não está claro até que ponto o aumento de impostos
fortemente calcado sobre o faturamento do agronegócio será politicamente viável. Em
2008, última vez em que isso foi tentado, ainda durante o governo de Cristina Kirchner, a
resposta do agro foi violenta, com manifestações e bloqueio de rodovias, episódio que
custou, na ocasião, a demissão de Alberto Fernández, então chefe de gabinete de Cristina.

Há duas outras fontes de incerteza que derivam dessa política econômica. Uma delas tem a
ver com a resposta do Fundo Monetário Internacional e dos demais credores a respeito da
moratória que está para ser decretada sobre o serviço e a amortização do passivo. Parece
improvável que seja aceita sem resistência e sem outros custos que recairão sobre a
economia.

Outra fonte de incertezas diz respeito à capacidade de crescimento do país. Tanto


Fernández como Guzmán haviam advertido que a obsessão pelo equilíbrio fiscal acabaria
levando à recessão e à redução da renda nacional. E, no entanto, se a prioridade agora é o
equilíbrio das contas públicas, fica para ser entendido como o governo argentino
equacionará o avanço do PIB, num momento em que o agronegócio, principal setor
produtivo, é supertaxado.

21
Dá para argumentar que a postura agora adotada é pragmática: trata-se de atender às
principais reclamações sociais que lhe deram a vitória nas urnas e, ao mesmo tempo, de
assegurar um mínimo de consistência macroeconômica. Mas, se esse governo é, antes de
tudo, pragmático, pode-se esperar que será capaz de enveredar por outros caminhos se o
pacote econômico der errado.

O Estado de S. Paulo – Fernández dá passo atrás em pacote


emergencial
Para conseguir aprovação, presidente argentino tira do texto artigo que permitia uma
reforma administrativa sem consultar Legislativo

LUCIANA DYNIEWICZ

Após ameaça da oposição de que não daria quórum para a votação na Câmara dos
Deputados do projeto de lei de emergência econômica, o governo argentino de Alberto
Fernández decidiu retirar o ponto mais sensível do texto. O artigo eliminado permitia que o
Executivo fizesse uma reforma administrativa sem consultar o Legislativo e interviesse em
60 órgãos, como os entes reguladores de eletricidade e gás. Na noite de ontem, o governo
admitia também a possibilidade de flexibilizar o aumento do imposto sobre exportações de
produtos agrícolas.

Apesar de várias questões ainda não estarem fechadas, a expectativa é que o projeto seja
aprovado ainda hoje na Câmara. A vice-presidente Cristina Kirchner, que preside o Senado,
emitiu um decreto parlamentar convocando os senadores para uma sessão amanhã, na
qual se deve debater o pacote de medidas que coloca o país em situação de emergência
pública “econômica, financeira, fiscal, administrativa, previdenciária, tarifária, energética,
sanitária e social”.

Em apresentação na Câmara dos Deputados, o ministro do Trabalho, Claudio Moroni,


confirmou ontem que o governo pretende estabelecer, por meio de decreto, um aumento
de salário aos trabalhadores do setor privado – medida prevista no projeto de lei. O
reajuste não deve ser universal, afirmou, e será concedido aos empregados que mais
perderam seu poder aquisitivo nos últimos anos por causa da inflação. Entre 2016 e 2017,
a inflação acumulada foi de quase 300%.

O pacote de medidas econômicas prevê, principalmente, aumento nos impostos, como


tarifas sobre bens pessoais e alíquotas de 30% sobre compras feitas no exterior em
dólares. Segundo cálculos da economista Melisa Sala, da consultoria LCG, sem alterações o
programa apresentado por Fernández pode elevar a arrecadação em 2% do PIB.

A Argentina deve terminar este ano com um déficit fiscal de 0,5%. O aumento previsto na
arrecadação, porém, não será suficiente para zerar o déficit, pois tarifas de serviços como
energia e transporte estão congeladas pelos próximos seis meses, e governo deverá
subsidiá-las. A situação fiscal do país – que foi descrita pelo ministro da Economia, Martín
Guzmán, como sendo mais grave do que se imaginava – ainda dependerá, portanto, de
decisões sobre o que será feito com os subsídios nos últimos seis meses do ano e com
aposentadorias.

Mercado de trabalho. O Instituto Nacional de Estatística e Censos informou ontem que o


desemprego na Argentina chegou a 9,7% no terceiro trimestre, alta de 0,7 ponto
porcentual na comparação com o mesmo período de 2018, mas queda de 0,9 ponto ante o
segundo trimestre.

22
O Estado de S. Paulo – Procuradoria da Bolívia pede prisão de
Evo
Ex-presidente é acusado de sedição e terrorismo com base em um áudio no qual ele
supostamente pede bloqueio de estradas

A procuradoria da Bolívia emitiu ontem uma ordem de prisão contra o ex-presidente Evo
Morales, atualmente refugiado na Argentina, pelas acusações de sedição e terrorismo. A
determinação assinada pelos procuradores de La Paz, Jhimmy Almanza e Richard Villaca,
ordena que promotores, policiais e ou funcionários públicos “prendam e conduzam o
senhor Juan Evo Morales Ayma aos escritórios da procuradoria”.

“Com base nessa ordem, a polícia tentará cumprir o requerimento judicial”, disse o coronel
Luis Fernando Guarachi, chefe da polícia anticrime de La Paz, à emissora Unitel. O chefe de
gabinete do atual governo, Arturo Murillo, entrou com um processo criminal contra Evo há
alguns dias por ele promover os confrontos violentos que deixaram 35 mortos no mês
passado.

O processo aberto contra o ex-presidente, que renunciou em 10 de novembro, tem como


base um áudio divulgado por Murillo no qual se escuta a voz de Evo dando instruções a um
de seus partidários, o cocaleiro Faustino Yucra, para bloquear estradas e interromper o
fornecimento de alimentos para algumas cidades.

Após a saída de Evo, que esteve quase 14 anos no poder, várias cidades do país,
principalmente La Paz e El Alto, sofreram escassez de alimentos e combustíveis, o que
obrigou o governo interino a realizar o fornecimento pelo ar.

O telefonema a Yucra pedindo o bloqueio foi feito, segundo a denúncia, quando o ex-
presidente se encontrava no México, a primeira parada de seu exílio antes de ir para a
Argentina, que o recebeu na quinta-feira como asilado político e depois lhe concederá
status de refugiado, que tem mais benefícios.

“Vamos fazer todas as investigações necessárias, mas é atribuição do Ministério Público


coordenar com seus similares de outros países para obter a detenção de Evo”, disse o
coronel Guarachi. Evo qualificou várias vezes o áudio como uma “montagem”.

Valor Econômico – Chile propõe subir impostos por mais gasto


social
Nova reforma tributária no Chile prevê aumentar alíquota de imposto de renda de 35%
para 40% para quem ganha acima de US$ 20 mil e a criação de sobretaxa sobre
patrimônio imobiliário de mais US$ 532 mil

Por Marsílea Gombata — De São Paulo

O presidente do Chile, Sebastián Piñera, enviou ontem ao Congresso novo projeto de


reforma tributária, reformulado após os protestos que começaram em outubro.

Dentre os pontos mais importantes estão elevação da alíquota de imposto de renda de


35% para 40% para quem ganha acima de 15 milhões de pesos chilenos (US$ 20 mil), a
criação de sobretaxa sobre patrimônio imobiliário de mais de 400 milhões de pesos (cerca

23
de US$ 532.127) e a manutenção para pequenas e médias empresas da chamada
integração, quando se abate o IR devido pela pessoa física do IR pago pela pessoa jurídica.

Tudo o que era o centro da reforma tributária proposta por Piñera na campanha eleitoral
em 2017 teve de ser substituído por outros pontos, afirma Patricio Rojas, da consultoria
Rojas Jimenez & Associados Economistas. “Além de manter a integração da declaração do
IR para grandes empresas, elevou a alíquota do IR para os mais ricos e incluiu imposto
sobre patrimônio”, disse. “A ideia é aumentar a progressividade do sistema tributário.”

A agenda de Piñera antes dos protestos era uma e hoje é outra, afirma Eugenio Rivera,
diretor do centro de estudos Chile 21. “Se antes falava em reduzir a alíquota de IR das
empresas de 27% para 25%, depois teve de abrir mão da ideia e se sentar com a oposição
para chegar a uma nova reforma tributária que taxasse os mais ricos”, diz.

Rivera lembra também que está em debate diminuir isenções como a ganhos de capital, o
que poderia gerar US$ 800 milhões anuais, aumentar o imposto sobre o valor agregado
(IVA) hoje em 19%, obrigar empresas a investir 1% do total dos investimentos na região
onde operam, e criar um imposto a plataformas como Netflix e Spotify.

“A oposição pressiona ainda para aumentar a carga tributária do Chile de 20,4% atuais
para 25% do PIB”, acrescenta, ao lembrar que a média dos países da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da qual o Chile faz parte, é de cerca de
34%.

Hoje a agenda de Piñera dista bastante do que foi proposto antes de ele ser reeleito, em
2017. “As prioridades são completamente distintas, com medidas sociais muito mais
presentes, como o aumento de aposentadorias para os mais pobres e debate sobre a
implementação de uma renda mínima”, diz. “Outro ponto é em relação à possibilidade de
reforma constitucional, que não estava nos planos do presidente.”

Rojas argumenta, no entanto, que a nova reforma tributária que começa a tramitar no
Congresso chileno dificilmente cobrirá o aumento dos gastos que as novas medidas sociais
implicam. Ele alerta para o risco de aumento do déficit orçamentário, ao redor de 2,1% do
PIB hoje, assim como da dívida pública, em cerca de 30% do PIB.

Até agora, afirma, o total de recursos que a agenda social demandará permanentemente é
de US$ 3,5 bilhões anuais, afirma. A reforma tributária que começará a ser debatida prevê
arrecadação de US$ 2,3 bilhões até 2023.

“O governo terá de buscar maneiras de aumentar a arrecadação porque dinheiro vai faltar
de qualquer maneira”, diz. “É uma situação bastante complicada. A sustentabilidade fiscal
está em jogo.”

O aumento dos gastos sociais representa uma quebra em relação à agenda conservadora e
fiscalmente prudente de Piñera, afirma Quinn Markwith, da consultoria Capital Economics.

“O governo não cumprirá as metas fiscais às quais se propôs a cumprir no início de seu
mandato, o que é uma grande mudança do ponto de vista econômico”, diz. “Hoje Piñera
busca algo completamente diferente do que prometeu, ao expandir os gastos em vez de
consolidar o orçamento.”

Os detalhes finais da agenda social estão sendo discutidos entre governo e oposição e
devem ser anunciados entre a última semana de dezembro e a primeira de janeiro.

24
Valor Econômico – Plano argentino ainda não tem medidas para
o crescimento
Os investimentos privados e públicos estão baixos e o país não poderá contar com
poupança externa tão cedo.

O pacote de emergência lançado pelo governo de Alberto Fernández busca estancar os


efeitos sociais da recessão com aumento de impostos e a proibição prática da formação da
poupança em dólares pelos argentinos, um costume nacional desenvolvido ao longo de
muitos episódios de inflação que destruiram o peso. As medidas quase nada fazem para
relançar investimentos privados (queda estimada de 14,5% em 2019), enquanto coloca
alguma fé em que o crescimento possa se fortalecer por meio do consumo. É uma iniciativa
de curto prazo em busca de outras (não se sabe quais) para tentar consertar o país.

Os investidores externos reagiram com moderado otimismo, com queda do risco-país, mas
as ações caíram - nenhum dos dois movimentos foi muito amplo. A reação positiva ocorreu
porque havia expectativa de um plano que ampliasse o déficit público para financiar gastos
com programas sociais, um dos maiores compromissos eleitorais de Fernández. Isso não
ocorreu - essas despesas serão financiadas com uma chuva de impostos que podem elevar
as receitas do governo em até 2% do PIB (El Cronista, ontem). O pacote não ampliará o
buraco nas contas públicas.

O fundamental foi a definição das medidas pelo ministro da Economia, Martín Guzmán, de
que o pacote emergencial não eleva o déficit público, mas tampouco a Argentina está em
condições de ter um plano que aprofunde o ajuste fiscal. Com Macri, a situação fiscal
caminhava para algum equilíbrio. O déficit primário é inferior a 1% e o déficit nominal,
pelas altíssimas taxas de juros praticadas para estancar a inflação e a fuga dos dólares, é
de 3,7% do PIB.

Estima-se que a maior parte do aumento de receitas fiscais virá das retenções sobre as
exportações agrícolas (33% para a soja, 14% para o trigo e 9% para carnes) e do imposto
de 30% sobre gastos com a compra de moeda, no país ou no exterior e de gastos dos
argentinos fora do país. Não serão desprezíveis os ganhos com o aumento dos tributos
sobre bens pessoais (imóveis, principalmente) cujas alíquotas subiram de 0,25% a 0,75%
para 0,5% a 1,25% e podem atingir 2,5% para bens declarados no exterior.

Outra decisão vital é desestimular a poupança em dólar. Os 30% sobre compras em divisas
devem perdurar por 5 anos. A contrapartida será o fim dos impostos sobre renda financeira
para aplicações em pesos (fundos de investimentos, renda fixa e bônus soberanos). É
duvidoso que as medidas acabem com o hábito argentino de entesourar dólares, mas é
certo que provocarão ruídos no câmbio. Exportadores não agrícolas terão dólares para
vender e o dólar paralelo abriu diferença de 20% sobre o oficial após o pacote. Os
importadores poderão comprar divisas para pagamentos externos sem a cunha dos 30%, o
que também abre brechas para lucrativas manipulações cambiais.

Do lado dos gastos, o governo dará dois abonos de 5 mil pesos cada, em dezembro e
janeiro, para os aposentados que ganham o piso da previdência. O impacto estimado é
nulo, porque todos os demais aposentados terão congelados por 180 dias os reajustes, o
que é doloroso com inflação de 52,1%, até que seja definida nova forma de correção. No
governos Kirchner, o reajuste para além do piso era discricionário e teme-se a repetição da
fórmula agora. As tarifas públicas foram congeladas por seis meses - e já estavam paradas
há seis meses, por determinação de Mauricio Macri.

25
Se o pacote, com algum otimismo, pode tirar o país da recessão, não vai longe na questão
dos investimentos - de apenas 14% do PIB. Haverá reorganização dos débitos das
pequenas e médias empresas, com perdão de juros, multas, seis meses de prazo de
carência e 10 anos para quitação de dívidas - uma espécie de Refis. Mas o crédito bancário
caiu 40% no ano para as empresas. Não há medidas propriamente de estímulo à
economia, apenas as que buscam consertar males deixados por três anos de recessão e
empurrar o consumo.

Os investimentos privados e públicos estão baixos e o país não poderá contar com
poupança externa tão cedo. Não se sabe como a Argentina pretende equacionar sua
enorme dívida externa (US$ 332 bilhões, 76% em dólares) nem seu plano para
reestruturá-la. A ideia é de que só com o crescimento ela começará a ser paga e não há
ainda motores evidentes que impulsionem a expansão. O alívio dos investidores veio da
impressão inicial de que o Estado não fará política expansionista para tanto. De onde
sairão os recursos para investir ainda é uma incógnita.

ESTADOS UNIDOS

Carta Capital – Câmara dos Estados Unidos aprova impeachment


de Trump
AFP

Trump reagiu à votação acusando os democratas de tentar ‘anular’ sua vitória nas urnas:
‘Estão consumidos pelo ódio’

A Câmara de Representantes dos Estados Unidos, controlada pelos democratas, aprovou


nesta quarta-feira 18 o impeachment do presidente Donald Trump por abuso de poder e
obstrução ao Congresso, em uma jornada histórica que cristaliza a divisão do país.

No Senado, que analisará o impeachment em janeiro após o recesso de final de ano,


espera-se que Trump seja absolvido, pois são necessários ao menos 67 votos para retirá-lo
do cargo e os republicanos têm 53 dos 100 assentos.

O presidente republicano é acusado de tentar pressionar a Ucrânia a investigar um de seus


principais rivais nas eleições presidenciais de 2020, o ex-vice-presidente Joe Biden.

Trump reagiu à votação acusando os democratas de tentar “anular” sua vitória nas urnas,
durante um comício em Michigan. “Estão consumidos pelo ódio” e “tentarão anular os votos
de dez milhões de patriotas americanos”.

Pela manhã, Trump escreveu no Twitter que não fez “nada de mau”, no dia seguinte ao
envio de uma carta à líder da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, afirmando que “a
história a julgará duramente” pelo processo.

Mais tarde, continuou escrevendo na rede social que este processo é “um ataque contra os
Estados Unidos e contra o Partido Republicano”.

“Vamos apoiar nosso presidente”

Já Pelosi disse que os democratas não tinham outra opção além de abrir o processo de
impeachment e chamou Trump de “ameaça contínua à segurança nacional”.

26
Trump passou o dia na Casa Branca e à tarde viajou para Michigan para o comício e não
falou com a imprensa. Os simpatizantes do presidente chegaram cedo ao local do evento,
suportando temperaturas baixíssimas.

“Acho que, com essas investigações para um impeachment e com todos os democratas
contra Trump, é importante sair e apoiar nosso presidente”, disse Cecilia Bleeker, 21 anos,
moradora de Michigan.

O processo de impeachment divide os americanos: 45% querem que Trump seja afastado
(77% entre os eleitores democratas), enquanto 47% se opõem, de acordo com uma
pesquisa da CNN-SSR.

Nesta quarta-feira, em frente ao Capitólio, em Washington, dezenas de pessoas se


reuniram para pedir a saída do presidente: “Trump precisa sair”, gritavam.

“Sinto que precisamos mostrar às pessoas que isso é importante para nós”, disse Jill
Watson, aposentada de 72 anos, a favor do processo contra o presidente.

Um debate duro

Apesar do clima de polarização em Washington, os legisladores dos dois partidos


concordam com a avaliação de que este foi um dia triste para o país, mas o restante do
debate refletiu a divisão nos Estados Unidos.

O representante republicano Barry Loudermilk afirmou que até Pôncio Pilatos havia
concedido a Jesus mais direitos no processo contra ele, enquanto seu colega de partido
Gregory Murphy afirmou que “existem indivíduos que odeiam o presidente mais do que
amam o país”.

“Olhar para o outro lado quando o presidente cometeu crimes contra nossa nação não é
uma opção”, disse a deputada democrata Rashida Tlaib.

Há pouca chance de o processo contra Trump avançar no Senado, onde dois presidentes
foram julgados: Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998. Ambos permaneceram
no cargo. O republicano Richard Nixon, envolvido no escândalo de Watergate, preferiu
renunciar em 1974 antes de passar por essa situação.

Riscos eleitorais

O presidente está agora tentando transformar o processo contra ele em um elemento que
atenda às suas bases e lhe dê um impulso para a reeleição.

Ciente do risco eleitoral, Pelosi conteve por muito tempo os pedidos para abertura de um
processo de impeachment contra Trump, até que o escândalo ucraniano surgiu.

Ela finalmente iniciou a investigação, no final de setembro, depois de ouvir a denúncia de


um funcionário não identificado sobre a suposta conduta inadequada do presidente durante
uma ligação telefônica em 25 de julho para o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Várias testemunhas confirmaram ao Comitê Judicial da Câmara as pressões para forçar


Kiev a anunciar a abertura de uma investigação sobre corrupção contra Biden e seu filho.

A Casa Branca se recusou a cooperar com a investigação, chamando-a de


“inconstitucional” e proibiu vários de seus assessores de testemunhar.

27
Por essa razão, os democratas acusam Trump de ter abusado de seu poder para obter
benefícios próprios e de ter obstruído o trabalho do Congresso.

Crusoé – As duas consequências do processo de impeachment de


Trump
Duda Teixeira

Nesta quarta-feira, 18, a Câmara dos Deputados deve aprovar duas acusações contra o
presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (foto). Como o Senado tem maioria
republicana, a chance de Trump ser removido do cargo é próxima a zero.

Mas uma pesquisa do instituto Gallup publicada na manhã desta quarta revelou duas
consequências práticas do processo de impeachment.

A primeira delas é que o apoio ao governo de Trump subiu de 39% para 45% desde que o
processo foi iniciado no Congresso, em outubro. A segunda é que a rejeição ao
impeachment pulou de 46% para 51%.

Gazeta do Povo – Como a “cultura woke” pode ajudar a reeleger


Donald Trump / Artigo / Gabriel de Arruda Castro
Woke. Uma versão corrompida e informal de “awake”, que significa “acordado” em
português. Essa é a palavra do momento na parcela progressista dos Estados Unidos. Ela
está no dicionário Merriam-Webster desde 2017, mas ainda é pouco conhecida fora das
bolhas mais militantes, em especial na internet. A definição do Merriam-Webster diz que a
expressão “fique woke” se tornou “uma palavra de ordem em partes da comunidade negra
para aqueles que são autoconscientes, questionando o paradigma dominante e buscando
algo melhor”.

Originalmente uma gíria usada pela população negra, a palavra “woke” começou a ser
popularizada por meio da música “Master Teacher”, gravada em 2008 pela cantora de R&B
Erykah Badu e que se referia à resiliência em meio às dificuldades da vida. Mas os registros
do Google mostram que a palavra se tornou popular em 2014, depois que o movimento
radical Black Lives Matter passou a adotar o termo como um sinônimo de “extremamente
engajado”.

O Black Lives Matter surgiu com o objetivo de denunciar o que seria um tratamento injusto
por parte da polícia contra os negros. Inspirado por movimentos dos anos 1960, como os
Black Panters, o grupo adotou um discurso mais agressivo e intransigente do que o de
outras organizações de defesa da população afro-americana.

Ser "woke" é estar atento às chamadas injustiças sociais, onde quer que seja, o que
necessariamente implica na politização de cada aspecto da vida cotidiana, sempre pelas
lentes mais extremistas do progressismo.

Uma característica da cultura woke é seu funcionamento em uma espiral que exige níveis
de “pureza” ideológica cada vez maiores. O Partido Democrata tem até mesmo um pré-
candidato à Presidência abertamente homossexual (e legalmente casado com seu
parceiro), Peter Buttigieg. Mas não parece ser o bastante: Shannon Keating, editora do site
de esquerda BuzzFeed, publicou um artigo que critica Buttigieg por não ser suficientemente

28
engajado. Para ela, a candidatura de Buttigieg, que apoia todos os pontos principais da
agenda LGBT, peca por não ser “revolucionária”.

Em outro exemplo da autofagia criada pelo radicalismo da esquerda americana, integrantes


do movimento Black Lives Matter, liderados por um homem branco, interromperam aos
gritos um evento de afro-americanos em apoio a Peter Buttigieg em Indiana. O homem
branco retirou o microfone da mão de uma vereadora negra e gritou coisas como “Quem
escolheu essas pessoas como líderes negras?”. O episódio aconteceu no começo de
dezembro.

Algumas semanas atrás, a espiral de radicalismo encontrou a oposição de um porta-voz


poderoso: o ex-presidente Barack Obama, idolatrado pelos progressistas de todas as
matizes, lançou um alerta público sobre as consequências desse tipo de comportamento:
“Esta ideia de pureza, e de que você nunca cede, e que é sempre politicamente ‘woke’ e
tudo isso”, ele disse, “vocês devem deixar isso para trás rapidamente”. Obama prosseguiu:
“Se tudo o que você faz é jogar pedras, você provavelmente não vai muito longe”.

A advertência de Barack Obama provavelmente deriva do receio de que os Democratas,


muito radicalizados à esquerda, sejam novamente derrotados por Donald Trump na
próxima eleição presidencial, em novembro de 2020. É um temo bem fundamentado.

Nos Estados Unidos, depois da emergência de grupos mais radicais à esquerda e de


protestos violentos em 1968, o conservador Richard Nixon acabou eleito presidente. Na
França, onde manifestações ainda mais agressivas ocorreram no mesmo ano, o resultado
foi a vitória do linha-dura Charles de Gaulle nas eleições seguintes. Assim como, no Brasil,
protestos anárquicos de 2013 e a radicalização da agenda da esquerda desembocaram na
eleição de Jair Bolsonaro em 2018.

A fala de Obama revela um problema maior vai além da cultura woke: o partido Democrata
está se tornando cada vez mais radical à esquerda (alguns podem dizer que o Partido
Republicano está cada vez mais direitista, mas a diferença é que os Democratas estão
perdendo a guerra, enquanto os republicanos têm a Presidência, o Senado e a maioria dos
governos e assembleias estaduais).

Segundo uma pesquisa feita pela Universidade Quinnipiac e divulgada em outubro, 47%
dos americanos acham que o Partido Democrata se moveu muito para a esquerda
(enquanto 37% deles acham que o Partido Republicano foi muito para a direita).

O então presidente Bill Clinton, por exemplo, defendia o aborto legal mas “raro”, apoiou
uma emenda à Constituição que definia o casamento entre um homem e uma mulher,
adotou uma posição rigorosa no combate ao crime e promoveu reforma que enxugou
programas de bem-estar social.

Hoje, nenhum dos principais pré-candidatos democratas apoia qualquer restrição sobre o
aborto (inclusive na fase final de gestação), todos defendem integralmente a agenda LGBT
e, em um debate na rede NBC em junho, quando perguntados se defendiam a assistência
de saúde estatal para imigrantes ilegais, todos ergueram a mão.

O temor de figuras mais experientes do partido, como Obama, é o de que, influenciada


pela militância mais radical (que não encontra eco no eleitor médio), a sigla não consiga
recuperar os votos perdidos para os Republicanos em 2016, quando Donald Trump venceu
inclusive em algumas regiões majoritariamente democratas. O difícil vai ser convencer a
militância “woke” a dar um passo atrás.

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Gazeta do Povo – O que é “transferismo” e por que os norte-
americanos estão viciados nele
Por Antony Davies e James R. Harrigan

FEE - Foundation for Economic Education

Os Estados Unidos nunca tiveram uma tradição socialista relevante nem um partido
socialista sério. O socialismo nos Estados Unidos é, na melhor das hipóteses, um
movimento marginal – e sempre foi assim. Isso torna a aceitação repentina do socialismo
ainda mais surpreendente. Mas com um defensor declarado do socialismo, Bernie Sanders,
concorrendo à Presidência pela segunda vez e outra, Alexandra Ocasio-Cortez, ganhando
mais importância do que teria ocupando seu cargo de deputada, o socialismo norte-
americano tem mais importância hoje do que jamais teve em nossa história.
O socialismo é uma reação ao capitalismo

Para complicar ainda mais as coisas, o socialismo existe apenas como uma reação ao
capitalismo, e é assim desde que Marx escreveu o primeiro artigo sobre o assunto. E, como
se isso não bastasse, o próprio uso das palavras “capitalismo” e “socialismo” chegou a um
ponto tal que eles perderam a clareza de sentido.

Esses termos um dia já tiveram uma definição bem clara. O socialismo é o controle estatal
dos meios de produção. O objetivo é usar esses meios para o bem público. Por outro lado,
o capitalismo é simplesmente a propriedade privada dos meios de produção. O objetivo é
que os meios sejam usados para promover os interesses daqueles que os detêm, o que por
suas vezes criará as condições para uma prosperidade que possa ser desfrutada por todos.

Em pesquisas, os norte-americanos expressam uma visão relativamente clara de ambos. E


embora os eleitores americanos que defendem um sistema totalmente socialista estejam
longe de formar uma maioria, uma pesquisa recente do instituto Gallup indica que mais do
que 40% dos norte-americanos acham que “uma forma qualquer de socialismo” é algo
bom. Mas qual é essa “forma qualquer de socialismo”? Uma sociedade é socialista ou não.
Não há meio-termo. Até mesmo nossos políticos explicitamente socialistas raramente
defendem algo tão drástico quanto o controle governamental dos meios de produção.

Parece que o que os norte-americanos realmente têm em mente quando pensam em


socialismo não é um sistema econômico, e sim resultados econômicos específicos. E eles
parecem se ater sobretudo à questão do que as pessoas deveriam ter. A resposta a que
eles costumam chegar? Mais do que as pessoas conseguem num sistema baseado na busca
pelo lucro. O capitalismo, acreditam, é imoral porque é um sistema no qual alguns não têm
nada enquanto outros têm mais do que são capazes de usufruir em várias encarnações
seguidas.

Transferismo é um termo mais preciso

Esses quatro de cada dez norte-americanos e os políticos que falam por eles não estão
defendendo o socialismo, e sim algo que deveria ser chamado de “transferismo”. O
transferismo é um sistema no qual um grupo de pessoas obriga um segundo grupo a pagar
por coisas que elas acreditam que elas mesmas ou um terceiro grupo deveriam ter. O
transferismo não tem a ver com o controle dos meios de produção. Tem a ver com a
redistribuição forçada da produção.

As transferências de renda se referem ao dinheiro que o governo federal dá diretamente a


pessoas, estados ou governos locais. Não são compras. Para se configurar uma

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transferência, o dinheiro deve ser dado sem que se peça nada em troca. Os créditos de
imposto de renda e os vários programas assistencialistas são transferências de renda.
Assim como os benefícios da previdência social. Ainda que os trabalhadores tendam a
considerar os benefícios da previdência social como uma devolução de seus impostos,
juridicamente os impostos previdenciários são simplesmente parte da arrecadação do
governo. Os trabalhadores não têm direito aos benefícios da seguridade social. Quem diz
isso? A Suprema Corte, no caso Flemming v. Nestor (1960). Na verdade, os benefícios são
simplesmente transferências de renda – doações – do governo para os aposentados.

As transferências federais para pessoas físicas aumentaram de 11% em 1953 para 53%
hoje em dia. Assim como faz com indivíduos, o governo federal também realiza
transferências para os governos estaduais e municipais. As transferências federais para
pessoas e governos estaduais e municipais aumentaram de 17% dos gastos públicos em
1953 para 69% hoje. Atualmente, quase 70% do que o governo federal faz envolve
simplesmente tirar dinheiro de um grupo e dar a outro. Menos de um terço do dinheiro
gasto por Washington é usado para a governança.

Ao menos no que diz respeito ao governo federal, nossa administração adotou


completamente o federalismo. E os dois partidos são os responsáveis. Dos quatro
presidentes que promoveram as maiores transferências de renda, dois eram democratas
(Obama e Clinton) e dois republicanos (G.W. Bush e Trump). As transferências de renda
aumentaram com o tempo. As diferenças partidárias são uma questão retórica e de
percepção pública, não um reflexo da realidade.

Ao contrário do que se pensa, os políticos falam em termos bastante claros sobre os


benefícios que pretendem financiar transferindo renda de um grupo para outro, e eles
andam tendo sucesso com isso. A maioria dos norte-americanos é incapaz de imaginar um
país sem Previdência, um sistema coletivo de saúde e créditos de imposto de renda. E os
políticos parecem ter sempre novas ideias quanto ao que talvez consigam alcançar com
mais transferências de renda ainda. As novas ideias geralmente são bem definidas, ao
menos no que diz respeito ao lado beneficiado. Perdão das dívidas estudantis, renda básica
universal, saúde para todos e outros projetos redistributivos representam um benefício
óbvio para um grupo igualmente óbvio.

A falta de clareza se dá quando os políticos têm de explicar quem pagará por tudo isso. A
resposta deles é inevitavelmente alguma variação de “os ricos” é que finalmente pagarão
“a parte que lhes cabe”. Nada disso nunca é definido, o que explica o atual déficit norte-
americano de US$23 trilhões. As transferências de renda são uma armadilha política
porque os políticos precisam dizer quem se beneficia, e quanto, e ao mesmo tempo
precisam esconder quem realmente pagará por eles.

Malandrismo x Capitalismo

E, assim como o transferismo não é socialismo, o sistema contra o qual os transferistas


lutam tampouco é o capitalismo. Quando eles pensam em “capitalismo”, os transferistas
imaginam uma classe endinheirada que engana os consumidores, polui o meio ambiente e
mantém um poder monopolizado, tudo porque a classe endinheirada age em conluio com o
governo. Mas o capitalismo é simplesmente a propriedade privada dos meios de produção.
O que as pessoas descrevem é algo que deveria se chamar “malandrismo”, algo que pode
se manifestar tanto no socialismo quanto no capitalismo. O malandrismo não é um
subproduto de um sistema econômico; é um subproduto da política.

Para exemplos, basta olharmos o que acontece na Coreia do Norte, Cuba e Venezuela. Os
socialistas dizem que esses países não são exemplos do “socialismo real” – e não são

31
mesmo. Houve um tempo em que esses países foram de fato socialistas, assim como
houve um tempo em que os Estados Unidos foram um país capitalista. Mas o malandrismo
tomou conta dos sistemas econômicos desses países, assim como aconteceu no maior
experimento socialista da Humanidade: a União Soviética. A vida era simplesmente
diferente para os membros do Partido. Este é o perigo real que todos os países enfrentam,
independentemente de seus princípios econômicos e estruturas políticas.

E é aí que os perigos do transferismo se tornam claros, porque o transferismo é tão-


somente outra forma de malandrismo. Na situação dos Estados Unidos de hoje, os
malandros não são a elite endinheirada que compra políticos poderosos em proveito
próprio (apesar de isso ainda acontecer). São os eleitores que recompensam os políticos
que lhes prometem cada vez mais benefícios, ano após ano.

A questão óbvia que nunca é feita, geralmente por causa da confusão cada vez maior
quanto às palavras “socialismo” e “capitalismo”, é quanto transferismo queremos para
nossa sociedade. O atalho intelectual aberto pelo socialismo e capitalismo se revela como
algo impossível de ser aplicado nas circunstâncias atuais, mas nossa insistência em
categorizarmos as coisas praticamente garante que não cheguemos a nenhum lugar com o
discurso usado hoje em dia.

Quanto transferismo queremos?

Precisamos responder à questão fundamental: quanto transferismo queremos?

A fim de responder a isso, precisamos aceitar que toda e qualquer transferência de renda é
um confisco da riqueza das pessoas que a geraram. Esse confisco diminuirá a geração de
riqueza no longo prazo ao reduzir um incentivo importante para que se assuma os riscos
necessários para a geração de renda. Depois, temos de reconhecer que o transferismo é
viciante. Não importa quanta transferência de renda promovemos; as pessoas sempre
quererão mais. O déficit de US$23 trilhões dos Estados Unidos, o maior que o mundo já
viu, se deu por causa do apetite voraz dos eleitores norte-americanos por transferências de
renda combinadas com os inventivos políticos óbvios para criá-las.

A solução que os políticos encontraram é repassar os custos das transferências de renda


para os contribuintes que ainda nem nasceram, emprestando o dinheiro e, assim, legando
à próxima geração o problema de pagar pela dívida ou suportar o pagamento interminável
de juros. É um castelo de cartas, sim, mas, da perspectiva dessas pessoas, será um
castelo de cartas para outra pessoa continuar montando.

No final das contas, poluímos nosso discurso político com duas palavras que não têm mais
sentido: socialismo e capitalismo. Ao longo do processo, não usamos o termo correto para
o princípio por trás da política norte-americana: transferismo. Os únicos vencedores disso
são os políticos que conseguem reunir votos mantendo o eleitorado num estado quase
constante de atrito. E eles continuarão vencendo se as pessoas insistirem em pensar em
termos que deixaram de ter um sentido real há muitos anos.

Dr. Antony Davies é membro da FEE, professor de economia na Duquesne University e


coapresentador do podcast Words & Numbers.

James R. Harrigan é diretor do Centro de Filosofia da Liberdade na Universidade do Arizona


e membro da Foundation for Economic Education. Ele também coapresenta o podcast
Words & Numbers.
© 2019 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês

32
O Globo – Impeachment de Trump passa na Câmara dos EUA
Câmara aprova acusação de abuso e obstrução, e processo vai para o Senado

FILIPE BARINI (Com agências internacionais)

A Câmara dos Deputados dos EUA considerou o presidente Donald Trump culpado de abuso
de poder e de obstrução do Congresso. O processo de impeachment irá agora ao Senado,
onde Trump será julgado com remota possibilidade de ser removido do cargo, já que os
governistas são maioria na Casa.

Em uma votação histórica, a Câmara dos Deputados dos Estados Unidos considerou o
presidente Donald Trump culpado de abuso de poder e obstrução do Congresso, em um
processo de impeachment que pôs seu governo contra a parede, mas que tem poucas
chances de removê-lo do cargo, dada a maioria governista no Senado, onde ele será
julgado.

Eram necessários 216 votos, maioria simples. Na primeira acusação, de abuso, 230
votaram a favor e 197 votaram contra. A segunda acusação, de obstrução, recebeu 229
votos a favor e 198 contra. As acusações estão relacionadas às denúncias de que Trump
teria pressionado o governo da Ucrânia para que investigasse o ex-vice-presidente Joe
Biden, seu potencial rival nas eleições de 2020.

A sessão de debates antes da votação foi aberta quando a presidente da Câmara, a


democrata Nancy Pelosi, fez o juramento aos EUA e um discurso pesado contra Trump.

— Ele não nos deu escolha. O que estamos discutindo aqui hoje é o fato estabelecido de
que o presidente violou nossa Constituição. É fato que o presidente é uma ameaça à nossa
segurança nacional e à integridade de nossas eleições, bases de nossa democracia —
afirmou ao plenário. — Se não agirmos agora, teremos abandonado nossos deveres. É uma
tragédia que as ações inconsequentes de nosso presidente façam do impeachment uma
necessidade.

DIVISÃO NO PLENÁRIO

A presidente da Câmara chamou os congressistas de “guardiões da Constituição”.

—O grande medo dos fundadores [dos EUA] de presidentes desonestos ou corruptos é a


principal razão pela qual eles colocaram o impeachment na Constituição.

Em suas primeiras palavras após a votação, o presidente Trump, que estava num comício
no estado de Michigan, chamou todo o processo de “motim”, dizendo que os democratas
estão “consumidos pelo ódio” e que o único objetivo deles é “anular sua vitória nas urnas”,
referindo-se às eleições de 2016.

— Vocês declararam guerra aberta à democracia americana —disse ele, dirigindo-se aos
democratas.

Logo em seguida, a Casa Branca emitiu um comunicado dizendo que o presidente “está
confiante de que o Senado vai restaurara ordem regular, ajustiça e ode vido processo
legal”.

“Hoje marca o ápice na Câmara de um dos mais vergonhosos episódios políticos da História
de nossa nação. Sem receber um único voto republicano, e sem fornecer qualquer prova

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de malfeito, os democratas aprovaram ilegitimamente acusações de impeachment contra o
presidente por meio de deputados da Câmara”, disse a porta-voz Stephanie Grisham.

Durante o dia, a Casa Branca e aliados repetiram algumas vezes que o presidente não
acompanharia os discursos nem a votação. No Twitter, Trump disse antes da votação em
letras garrafais que o processo era “uma mentira atroz da esquerda radical” e um “ataque
aos EUA e ao Partido Republicano”. Ele citou um comentário do promotor Kenneth Starr,
figura central no processo impeachment de Bill Clinton, onde ele diz serem necessárias
“provas arrebatadoras”, que não existiriam neste caso.

A votação foi o clímax de semanas de audiências, análises de documentos e ofensas de


Trump aos democratas, que têm maioria na Câmara e conduziram as investigações. Após
relatório da Comissão de Inteligência, a Comissão de Justiça deliberou que Trump deveria
ser acusado de abuso de poder e obstrução do Congresso, neste último caso por ter se
negado a fornecer documentos e instruído funcionários do governo a não depor.

A aprovação dos artigos não significa um início automático do julgamento no Senado.

O primeiro passo é a entrega formal das acusações aprovadas para as lideranças da Casa.
Depois, a Câmara deve escolher quem serão os seus deputados que atuarão como
promotores. Não há previsão de quando isso será feito, mas acredita-se que seja ainda
este ano.

No Senado, o plenário age como um júri, inclusive coma obrigação legal de imparcialidade,
o que normalmente não é cumprido. Os representantes da Câmara são a acusação, e o
presidente terá o direito a defesa. As sessões são presididas pelo chefe da Suprema Corte,
John Roberts, mas sua autoridade não é total e, se os senadores decidirem, por maioria
simples, derrubar ou adotar alguma decisão, esta passará a valer. Os senadores também
terão o poder de convocar testemunhas e aceitar ou derrubar provas.

Ao final do processo, que não tem duração definida, as acusações serão votadas. Caso uma
delas receba 67 votos, ou dois terços do total de senadores, o presidente será afastado,
algo que jamais ocorreu nos dois processos de impeachment anteriores.

VOTAÇÃO POLÍTICA

O Partido Republicano tem maioria no Senado, com 53 cadeiras, contra 47 da oposição (45
democratas e 2 independentes). Por esse cálculo, o presidente provavelmente estará a
salvo. Em 1998, no processo de Bill Clinton, houve 10 dissidências entre os republicanos.
Clinton acabou inocentado.

De acordo com a rede de TV CNN, o líder da maioria, Mitch McConnell, deve anunciar o
cronograma até o final da semana — analistas apostam que nada acontecerá de concreto
até a semana de 6 de janeiro, quando os congressistas retornam do recesso. Ele deve se
reunir com o líder da minoria democrata, Chuck Schummer, para acertar esses detalhes.

“Ele não nos deu escolha. O que estamos discutindo aqui hoje é o fato de que o presidente
violou a Constituição” _ Nancy Pelosi, presidente da Câmara

“Vocês declararam guerra aberta à democracia americana” _ Donald Trump, presidente dos
EUA

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O Globo – Sem impacto na eleição nos EUA / Coluna / Guga
Chacra
Conforme era esperado, a Câmara dos Deputados, controlada pelos democratas, aprovou o
impeachment de Donald Trump seguindo linhas partidárias. No mês que vem, será a vez
de o Senado, sob domínio republicano, inocentar o presidente. O impacto nas eleições deve
ser irrelevante porque os eleitores do líder americano seguem contra o seu afastamento
enquanto os eleitores da oposição se posicionam a favor. Nos últimos meses, não houve
alteração relevante nos números da popularidade presidencial, de acordo com as
pesquisas.

Após encerrado o processo no Senado, o debate se focará nas primárias e veremos uma
série de previsões sobre o efeito do impeachment na reeleição ou não do atual ocupante da
Casa Branca. Mas ignorem todas as especulações sobre quem vencerá em novembro do
ano que vem. É impossível de saber. São variáveis equivalentes a jogadores perderem um
pênalti ou chutarem uma bola na trave na final do Mundial de Clubes com o jogo entre
Flamengo e Liverpool empatado ao final do segundo tempo. Basta ver como as últimas
eleições presidenciais nos EUA e as parlamentares no Reino Unido teriam um resultado
completamente diferente com uma mudança mínima nos votos ou nas regras eleitorais.
Também vale observar como o acaso ajudou Emmanuel Macron na França.

Trump venceu apenas no Colégio Eleitoral, apesar de ter perdido no voto popular por três
milhões de votos, equivalentes a dois pontos percentuais. Este dado por si só indica que a
maioria dos eleitores americanos não concordava com sua agenda. Mas estas eram as
regras, e o republicano venceu legalmente graças a diferenças mínimas de dez mil votos
em Michigan (0,2%), 44 mil na Pensilvânia (0,7%) e 23 mil em Wisconsin (0,6%). Uma
margem que poderia variar bastante de um dia para o outro. Na França, o então
presidente François Hollande sequer tentou disputar a reeleição. Era certo que um
candidato conservador dos Republicanos iria para o segundo turno e derrotaria a
nacionalista Marine LePen. François Fillon foi o escolhido e liderava as pesquisas.
Descobriram, porém, que ele nomeara a mulher como funcionária fantasma no Parlamento.
Sua candidatura se enfraqueceu. Sem opção, muitos eleitores migraram para o centrista
Macron, que havia deixado o Partido Socialista. Não fosse este escândalo, o atual
presidente francês teria terminado as eleições em terceiro ou quarto lugar, e a França teria
um conserva dorna Presidência.

O Partido Conservador britânico (Tories) obteve apenas 1,2 ponto percentual amais nas
eleições com Boris Johnson no comando do que com Theresa May em 2017. Ocorreu uma
leve oscilação, mas suficiente para muitos celebrarem a campanha do premier como
fenomenal e histórica por ter se refletido em um aumento de cerca de 50 cadeiras no
Parlamento. Na realidade, sua vitória ocorreu porque o LibDem (Partido Liberal Democrata)
e os trabalhistas se canibalizaram. Isso abriu espaço para, em alguns distritos, os
conservadores ganharem pela pluralidade. Conforme mostrou o New York Times, o LibDem
obteve 3.696.423 votos, mas só 11 cadeiras (336.038 por cadeira). Os conservadores de
Boris Johnson tiveram 38.265 votos por cadeira. Um voto liberal democrata valeu dez
vezes menos do que o conservador. Por último, a eleição não foi uma demonstração de
apoio dos britânicos ao Brexit. Os votos dos partidos favoráveis à permanência na União
Europeia foram a maioria e superaram os que queriam a saída.

Ignorem todas as especulações sobre quem vencerá em novembro do ano que vem. É
impossível de saber

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O Globo – Trump reage a impeachment com os mesmos
argumentos do PT / Coluna / Ascânio Seleme
Não tenho a menor pretensão de querer substituir Dorrit Harazim ou Demétrio Magnoli,
dois dos melhores comentaristas da política internacional do GLOBO, mas tampouco resisto
a dar meu pitaco no processo de impeachment de Donald Trump. De todo modo, vou tratar
do caso pelos pontos que o aproximam de nossa própria história política. Começando pela
delícia de carta que o presidente dos Estados Unidos mandou para a presidente da Câmara,
deputada Nancy Pelosi.

O documento mostra a fúria conhecida de Trump, mas isso pouco importa. O interessante
é como esta ira se parece com a que vimos aqui no Brasil no processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff. Separei alguns trechos da carta que parece terem sido tirados
de discursos e pronunciamentos de Dilma, Lula e de inúmeros parlamentares do Partido
dos Trabalhadores que tomaram as tribunas da Câmara e do Senado para protestar.

“Isto não passa de um golpe de Estado ilegal e partidário”. Quem disse isso? Todos os
petistas se referiam assim ao processo de impeachment de Dilma. Mas a frase reproduzida
literalmente é de Trump na carta a Pelosi. “É um abuso de poder inconstitucional sem igual
na história”, escreveu o presidente americano lembrando o “nunca antes na história desse
país”. Trump refere-se ao processo como “um juízo político (...) uma guerra contra a
democracia”. Mesmos termos, quase literais, usados pelos defensores de Dilma.

Na carta, Trump alega ser tudo uma “invenção, produto da imaginação (dos democratas)”.
O partido, segundo ele, “incapaz de aceitar o resultado das urnas de 2016 (...) tenta há
três anos mudar a vontade do povo e anular seus votos”. Se alguém encontrar alguma
semelhança mais clara entre o discurso do PT e o de Trump, só o fará na carta enviada a
Nancy Pelosi. Aliás, esse ponto é repetido de outra forma, mas com os mesmos
argumentos petistas: “Seu objetivo é desfazer as eleições de 2016 e roubar as eleições de
2020”.

O presidente dos EUA diz que os democratas estão desesperados em razão do sucesso de
seu governo, e usa o maior de todos os parágrafos da carta para enumerar resultados
econômicos e políticos da sua administração. Vimos isso por aqui também, com a mesma
eloquência. Também não faltou no documento endereçado à presidente da Câmara
momentos de autopiedade, que também presenciamos no passado recente. “Desconhecem
e não se incomodam com a dor e com os danos causados aos integrantes maravilhosos e
carinhosos de minha família”, disse ele.

Outros pontos falam em “calúnia e difamação contra uma pessoa inocente”; “usam cálculos
políticos pessoais”; “demonstram desprezo aos eleitores e à ordem constitucional”;
“nenhuma pessoa inteligente acredita nisso”; “vamos acertar contas em 2020”. A defesa
de Dilma usou os mesmos argumentos e a mesma ameaça. De nada adiantou. Dilma foi
afastada, e o acerto de contas prometido não ocorreu, como se viu. Claro que no intervalo
o maior líder do partido foi condenado e preso.

Essas semelhanças entre a carta de Trump e os argumentos petistas em favor de Dilma


não significam que o presidente americano e seu partido se pareçam politicamente com o
PT. Claro que não, muito pelo contrário. Elas apenas demonstram que políticos
encrencados e acuados ficam tão óbvios que se tornam vulgares, comuns, iguais uns aos
outros, pouco importando sua orientação partidária.

36
Mas, apesar de todas as similaridades, há uma diferença fundamental entre os processos
de Dilma e de Trump, fora o objeto da denúncia, inteiramente distinto. O da brasileira
resultou no seu impeachment, o do americano não passará pelo Senado. Não há a menor
possibilidade de os senadores republicanos endossarem o afastamento proposto pela
Câmara. Para aprovar o impeachment são necessários 77 dos 100 votos da casa. Os
republicanos têm 53 cadeiras. Os democratas não conseguirão sequer a maioria simples.

Aliás, impeachment como no Brasil, nem no país que inventou a modalidade. Nos Estados
Unidos, esta é a quarta tentativa de afastamento de um presidente. As três anteriores
naufragaram no Senado. No Brasil varonil, os dois processos abertos resultaram no
impedimento dos presidentes Collor e Dilma.

O Estado de S. Paulo – Impeachment pode ser positivo para


presidente dos EUA / Análise / Sebastian Smith
FRANCE PRESSE / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Nada é pior para um presidente dos EUA do que ser submetido a um julgamento político, a
menos que ele se chame Donald Trump.

Nada é pior para um presidente dos EUA do que ser submetido a um julgamento político, a
não ser que ele se chame Donald Trump. Sem dúvida, o fato de se tornar o terceiro na
história julgado no Congresso é uma lástima do ponto de vista pessoal. O magnata é
obcecado por sua imagem, mais do que qualquer outro que já passou pela Casa Branca.
Seu nome é uma marca que vale milhões de dólares.

Mas, por outro lado, o republicano adora uma briga. E o impeachment é a Olimpíada dos
confrontos em Washington. “O momento é para uma pessoa como ele”, disse Rich Hanley,
professor de comunicação da Universidade de Quinnipiac. A destituição deve virar
absolvição no Senado, um resultado tão previsível como um desses combates absurdos de
luta livre que Trump adora. O cenário perfeito para um homem do espetáculo.

Em primeiro lugar, Trump pode demonizar seus oponentes, usar termos como “traição”,
“louco” e “doente”. E, depois, transformar todo o caso em um elemento de campanha em
2020. Desde Andrew Johnson, que foi acusado em 1868, nenhum presidente desfrutou
exatamente da visibilidade no processo de impeachment. Richard Nixon renunciou antes de
ser acusado e Bill Clinton lutou para evitar ser condenado, em 1999.

Mas Trump, veterano em escândalos, está pronto para ser colocado à prova. Afinal, ele já
saiu ileso de acusações de abuso sexual e outros comportamentos indevidos por mais de
uma dezena de mulheres ao longo dos anos. Resistiu a uma investigação que durou dois
anos sobre conluio com os russos na eleição de 2016. E escapou de acusações de uso do
cargo em benefício do seu império imobiliário, incluindo a de alojar militares em seu campo
de golfe na Escócia, além de seu vice-presidente, Mike Pence, em seu resort na Irlanda.

Diariamente, ele insulta seus rivais, diz palavrões em público e conta tantas mentiras e
exageros que os jornalistas mal conseguem acompanhar seu ritmo. E a lista continua.
Como ele próprio afirmou, em 2016, “poderia atirar em alguém na Quinta Avenida e não
perderia nem um voto sequer”.

O julgamento político de Clinton, decorrente de sua aventura sexual com uma estagiária da
Casa Branca, foi desagradável: um programa de terror televisionado que manchou para
sempre a reputação do presidente democrata. Mas tudo isso parece algo quase inocente

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comparado com o processo de Trump, intensificado pelo Twitter, uma cobertura de TV
politizada e um presidente ansioso para protagonizar, produzir e dirigir o próprio drama.

Longe de se acovardar, Trump realiza comícios para mobilizar sua base, denunciando o
processo como uma “caça às bruxas”. No Twitter, manifesta indignação dezenas de vezes
por dia. “Nixon e Clinton se mantiveram à margem. Trump interferiu em diversas
ocasiões”, disse Allan Lichtman, professor de história na American University.

“É uma tática de alto risco e grandes ganhos. Depois de desobedecer a todas as regras,
agora Trump vem agindo da mesma maneira no impeachment”, disse Lichtman. “Ele deixa
o partido sem outra opção, a não ser defendê-lo até o fim.”

A verdadeira razão pela qual os republicanos precisam defender Trump é que a única coisa
que lhes resta é Trump. “O impeachment é algo muito triste para o país”, disse o
presidente, na semana passada. “Mas parece ser muito bom para mim politicamente.”

Valor Econômico – Reguladores dos EUA apontam ‘insuficiências’


em seis bancos
Eles devem apresentar novos planos de resolução em 2021

Reguladores encontraram “insuficiências” nos planos de resolução em seis dos maiores


bancos dos EUA, embora nenhuma das oito principais instituições examinadas tenha
apresentado “deficiências” mais graves.

O Federal Reserve e a Corporação Federal de Seguros de Depósitos (FDIC, na sigla em


inglês) disseram que Bank of America, Citigroup, Wells Fargo, BNY Mellon, Morgan Stanley
e State Street tinham insuficiências relacionadas à capacidade de produzir de forma
confiável os dados necessários no eventual caso de precisarem promover um encerramento
ordenado do banco. Esses planos de resolução em caso de condições de estresse também
são conhecidos como “testamentos” (“living will”).

Os seis bancos devem solucionar essas insuficiências até o fim de março. Em seguida,
devem apresentar novos planos de resolução em 2021. As insuficiências são menos graves
do que a descoberta de uma “deficiência”, o que poderia levar a requisitos mais rigorosos
de capital e liquidez para os bancos.

AMÉRICA CENTRAL, CARIBE E MÉXICO

Istoé Dinheiro – Panamá busca a verdade da invasão americana


há 30 anos
Panamá busca a verdade da invasão americana há 30 anos

AFP
18/12/19 - 13h18 - Atualizado em 18/12/19 - 15h12

O Panamá recorda na sexta-feira a sangrenta invasão militar dos Estados Unidos em 1989,
que derrubou o ex-ditador Manuel Antonio Noriega, uma intervenção que três décadas
depois ainda gera suspeitas, apreensões e denúncias.

“Nestes 30 anos, houve um véu sobre tudo o que aconteceu. Agora, a investigação que
deveria ter sido feita na época está sendo conduzida para determinar como os eventos

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ocorreram e suas consequências”, disse Juan Planells, presidente da comissão do governo
panamenho que investiga a invasão.

Em 20 de dezembro de 1989, mais de 27.000 soldados americanos invadiram o Panamá


para derrubar Noriega (1983-1989), reclamado por um tribunal de Miami por tráfico de
drogas.

Apesar do tempo decorrido, as investigações foram realizadas “no ritmo de uma lesma”
porque “havia um desejo de não investigar e tivemos que começar do zero”, reconheceu
Planells à AFP.

A invasão dividiu os panamenhos por anos, embora agora pareça uma questão quase
esquecida. Oficialmente, o número de mortos durante a operação “Just Cause” foi de 500,
enquanto organizações de direitos humanos falam de vários milhares.

A comissão de investigação começará em janeiro as primeiras exumações para identificar


as vítimas.

“Sem dúvida, as lendas urbanas de que milhares de pessoas morreram não têm base,
embora, obviamente, depois de 30 anos, seja muito difícil alcançar o valor exato”, admitiu
Planells.

– Causa… Justa? –

Segundo o então presidente dos Estados Unidos, George Bush (1989-1993), a invasão
ocorreu para capturar Noriega, que foi colaborador da CIA, por sua relação com o
narcotráfico, e libertar o Panamá da ditadura.

Após a invasão e até sua morte em 2017, Noriega esteve preso nos Estados Unidos, França
e Panamá condenado por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e desaparecimento de
opositores durante seu regime.

A captura de Noriega foi “um pretexto usado pelos Estados Unidos para propósitos
estratégicos e geopolíticos subsequentes, não apenas no Panamá, mas na América
Central”, estima Benjamin Colamarco, ex-líder das milícias populares que se opuseram à
invasão.

Entre os supostos planos de Washington seria renegociar a entrega ao Panamá do canal


interoceânico (que finalmente ocorreu em dezembro de 1999), punir Noriega por sua
recusa em intervir contra o governo sandinista da Nicarágua, num momento em que os
Estados Unidos temia o avanço do comunismo.

“Foi uma invasão brutal com grandes desproporções. Eles sabiam que não havia mais de
2.000 homens que realmente poderiam ser considerados soldados”, disse à AFP o coronel
Roberto Díaz Herrera, número três do regime de Noriega que acabou se rebelando contra o
ex-ditador.

“Bush dizia que eles vinham caçar um bandido, mas acontece que era ele o senhor que
alimentava esse bandido, em sua condição de ex-diretor da CIA”, acrescentou.

– Contra o esquecimento –

Nos últimos anos, os atos comemorativos da invasão reuniram apenas um punhado de


parentes das vítimas.

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Além disso, em 30 anos, apenas um presidente panamenho foi às homenagens e nenhum
governo cobrou a responsabilidade dos Estados Unidos, o maior parceiro diplomático e
comercial do Panamá.

“Imagino que tenha a ver com o fato de se tratar dos Estados Unidos e de não querer
introduzir elementos que possam dificultar esse relacionamento”, comentou Planells.

“Existe uma doença de Alzheimer histórica. Não podemos esquecer que existe uma
influência rançosa e crônica dos Estados Unidos”, disse Díaz.

Foi pouco útil que, no ano passado, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos
(CIDH) apontou os Estados Unidos como responsável por “violações de direitos humanos”
durante a invasão e pediu a Washington que “reparasse integralmente” as vítimas.

As autoridades também não quiseram declarar o dia 20 de dezembro como um dia de luto
nacional, como pedem as vítimas, sob o argumento de uma suposta recusa empresarial em
dar o dia feriado.

A advogada panamenha que processou os Estados Unidos em 1990 na CIDH, Gilma


Camargo, lamentou que “o governo panamenho coloque em primeiro lugar os interesses
pessoais das elites comerciais”.

“Eles nem são capazes de reconhecer um dia de luto nacional como qualquer Estado que se
considera soberano”, disse Camargo à AFP.

Planells parece concordar.

“A caixa registradora não pode estar acima da nossa própria identidade”, afirmou.

EUROPA

O Estado de S. Paulo – Macron aceita negociar pontos da


reforma da previdência
Segundo fontes, presidente estaria disposto a rever a idade mínima de aposentadoria, a
maior reclamação dos manifestantes

O presidente francês, Emmanuel Macron, não vai retirar o projeto de reforma da


previdência, mas “está disposto a melhorá-lo durante conversas com os sindicatos”,
anunciaram ontem fontes próximas ao governo, após duas semanas de greve e de
protestos nas ruas. Segundo as fontes, que pediram anonimato, “avanços” importantes
podem ocorrer até o fim da semana.

O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, recebeu ontem os líderes dos sindicatos, ao


lado do novo secretário de governo para a reforma da previdência, Laurent Pietraszewski,
que substituiu o anterior, obrigado a pedir demissão em plena crise social por um suposto
conflito de interesses. O objetivo dos encontros, que serão realizados também hoje, é
encontrar uma saída para a greve que enfraquece o governo, bloqueia muitas atividades e
irrita a população.

As fontes afirmaram que Macron deseja negociar uma trégua na mobilização social durante
as festas de fim de ano. No entanto, o diretor do maior sindicato da França, a Central Geral

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dos Trabalhadores (CGT), Philippe Martinez, reiterou após a reunião que não tem intenção
de fazer uma “trégua de Natal” se o governo não retirar o projeto de reforma. “Temos
perspectivas diferentes. Não temos os mesmos valores”, afirmou o líder sindical.

De acordo com algumas pessoas ligadas ao governo, Macron estaria disposto a negociar a
idade mínima de aposentadoria, que a reforma aumenta de 62 para 64 anos. Essa é a
maior reclamação dos manifestantes, mas é por meio dela que o presidente pretende
manter o equilíbrio financeiro do sistema, uma vez que todos poderão continuar a se
aposentar aos 62 anos, mas sem o valor integral, que só seria pago para quem esperar até
os 64 anos.

Essa ideia foi rejeitada pelos sindicatos, principalmente pela CFDT – até pouco tempo
aliada do governo –, que a considera como “uma linha vermelha” perigosa que o governo
atravessou. Philippe fará o possível para recuperar seu aliado com o objetivo de
enfraquecer o movimento. Mas, ao deixar a sede de governo ontem, o líder da CFDT,
Laurent Berger, disse à imprensa que os dois lados ainda estavam “muito longe” de um
acordo.

As conversações continuam hoje e Philippe receberá os líderes das empresas de transporte


de Paris e da companhia ferroviária nacional. Os sindicatos chegam à mesa de negociações
fortalecidos depois de terem conseguido levar às ruas uma multidão, na terceira jornada
nacional de protestos em duas semanas.

Na terça-feira, o Ministério do Interior estima que mais de 600 mil pessoas protestaram
nas ruas das principais cidades francesas, mas os sindicatos asseguram que 1,8 milhão de
manifestantes participaram dos atos contra a reforma da previdência, que planeja unificar
os atuais 42 regimes de pensões em um sistema único.

Ontem, a situação do transporte público continuou sendo caótica. Foi o 14.º dia de
paralisação seguido e era visível o nervosismo entre a população. Ir para a escola ou para
o trabalho passou a ser um desafio para milhares de franceses, principalmente em Paris.
Oito das 16 linhas de metrô permaneceram fechadas e 4 funcionaram parcialmente.

Os trens urbanos e os ônibus circulavam apenas esporadicamente e totalmente lotados.


Muitos cidadãos preferiram alugar bicicletas, patinetes ou percorrer dezenas de
quilômetros a pé, em vez de se arriscar em algum transporte público.

Segundo uma pesquisa, 62% dos franceses continuam apoiando a greve, mas 69%
desejam uma “trégua de Natal”. A questão da aposentadoria é um assunto delicado na
França, onde a população é muito apegada a um sistema no qual os atuais trabalhadores
pagam as pensões dos aposentados e é um dos mais protecionistas do mundo.

Estimativas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OCDE) sugerem que, embora haja atualmente quase três trabalhadores
financiando um aposentado na França, em 2050 haverá menos de dois.

Em breve, as aposentadorias serão menos generosas e exigirão que as pessoas trabalhem


mais, especialmente se os gastos do Estado com as pensões se mantiverem em torno de
14% do PIB. A França não está sozinha – a crise previdenciária é um fenômeno de toda a
Europa, mas não deixa de ser um obstáculo para o futuro dos franceses.

“O presidente não retirará o projeto de reforma da previdência, mas está disposto a


melhorá-lo”

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FONTES DO GOVERNO

“Temos perspectivas diferentes. Não temos os mesmos valores (do governo)”

Philippe Martinez, LÍDER DA CENTRAL GERAL DOS TRABALHADORES

“Estamos muito, muito longe (de um acordo)”


Laurent Berger, LÍDER DA CFDT

O Globo – Boris marca diferenças de líderes da nova direita


Discurso pacificador após a vitória, atenção às mudanças climáticas e visão progressista
em temas como casamento gay distinguem premier de outros populistas; governo eleito
começa hoje com fala da rainha no Parlamento

VIVIAN OSWALD Especial para O GLOBO


LONDRES

Numa cerimônia protocolar, a rainha Elizabeth II lerá hoje no Parlamento o programa de


governo do primeiro-ministro Boris Johnson para a próxima legislatura, depois das eleições
gerais de 12 de dezembro nas quais os eleitores britânicos deram ao Partido Conservador
uma maioria absoluta de 365 dos 650 assentos da Câmara dos Comuns. O mundo,
entretanto, ainda tenta interpretar o significado da vitória de Boris no contexto mais amplo
da emergência de populismos e nacionalismos.

O premier montou o cavalo selado do Brexit — que deve tirar o Reino Unido da União
Europeia em 31 de janeiro —e promete que o país terá um futuro grandioso em voo solo. A
mensagem tem sido lida como um sinal de que ele vai na mesma linha do americano
Donald Trump, do húngaro Viktor Orbán, do polonês Jarosław Kaczynski e do brasileiro Jair
Bolsonaro. Analistas ouvidos pelo GLOBO, porém, apontam diferenças na cartilha de Boris.

Segundo Victoria Bateman, professora de História Econômica da Universidade de


Cambridge, convivem no Partido Conservador pelo menos dois tipos de convicção
aparentemente contraditórias. Há o eleitorado dos “valores tradicionais”, mas também o
que crê na liberdade individual e teme ações governamentais que possam restringi-la.

— Espera-se que, como alguém que tem um pé em cada um desses campos, Boris Johnson
também acredite na máxima “viva e deixe viver” — disse Bateman.

A agenda econômica de Boris tampouco se encaixa perfeitamente no receituário da direita,


até porque agora ele tem um novo público. Parte do eleitorado que lhe deu a vitória veio
de redutos da oposição trabalhista no decadente cinturão industrial do Norte da Inglaterra
e espera gastos públicos generosos com infraestrutura e programas sociais.

IMIGRANTES E MUÇULMANOS

Boris foi mais para a direita no tema da imigração, pauta importante do público que o
elegeu, o mesmo que optou pelo Brexit no referendo de 2016. Entre as controvérsias que o
aproximam de outros dirigentes da direita populista, destacam-se declarações racistas
contra imigrantes e muçulmanos, observa João Carlos Magalhães, da London School of
Economics. O premier comparou mulheres muçulmanas que só deixam os olhos à mostra a
caixas de correio. Quando prefeito de Londres, porém, ele foi favorável a regularizar os
imigrantes sem documentos.

42
A pauta de costumes que tanto mobiliza outros líderes da nova direita não está em
discussão no Reino Unido. Até onde se sabe, Boris não é religioso. Sua vida afetiva é
conturbada, mas o público parece indiferente a isso. Em discurso recente, ele enumerou o
que chamou de melhores valores britânicos, “da democracia ao Estado de direito, do livre
comércio à liberdade de expressão, à liberdade de amar quem você quiser”. Ao lado de
outras legendas, o Partido Conservador aprovou o casamento gay no país.

— Johnson é um animal político, cria de um dos dois grandes partidos do sistema britânico.
É mainstream — disse Magalhães.

Para Quentin Peel, do centro de estudos Chatham House, certos temas presentes no
discurso da nova direita são politicamente inaceitáveis no Reino Unido, como a homofobia.
A religião tampouco tem relevância no debate político. Segundo Peel, o premier não é
dirigido por ideologia nem convicções fortes, embora tenhas e aliado a pessoas mais
ideológicas do que ele.

— Além disso, é jornalista e sabe como chegar às primeiras páginas. Não sabemos quem é
o verdadeiro Boris —disse.

NADA DE DAVOS

O premier tampouco contesta a mudança do clima, diferentemente de Trump, que retirou


os EUA do Acordo de Paris. Boris incluiu o tema no seu discurso da vitória. O clima está no
topo das preocupações de 85% dos adultos britânicos, segundo o instituto Ipsos. O
premier determinou um prazo considerado ousado para tornar o país neutro em emissões
de carbono e ofereceu a cidade de Glasgow como sede da próxima grande conferência do
clima, a COP 26.

Nada disso, contudo, permite predizer os rumos do novo governo, que, segundo
Magalhães, “navega ao sabor do vento”. O especialista é um dos que acreditam que o
premier pode adotar medidas que lhe confiram mais poder, como mudar as regras
eleitorais de modo a beneficiar o seu partido ou tentar diminuir o poder do Judiciário.

— Ele pode seguir num campo mais “autoritário” — avaliou.

Ele lembrou que, assim que assumiu em agosto o lugar de Theresa May, antes de ser
consagrado pelo voto, Boris tentou estender artificialmente o recesso do Parlamento para
impedi-lo de interferir na implementação do Brexit. Acabou sendo forçado a recuar pela
Suprema Corte.

Tampouco se sabe como o premier vai conduzir apolítica externa e lidar com líderes da
direita mundial.

— Mesmo que não concorde com as opiniões dessas lideranças em temas morais ou
códigos sociais, ele não deve partir para a confrontação. É um homem de política mais do
que de princípios: se for bom para a economia trabalhar com alguém que seja menos
simpático a essas liberdades, duvido que opte pelo atrito. O que lhe importa não é se há
alinhamento em matéria de costumes com Trump e Bolsonaro, mas se a opinião pública
britânica está a par, se ela se interessa e se concorda com o que está acontecendo nesses
países — explicou Victoria Bateman.

O discurso de hoje da rainha trará os primeiros sinais do programa de Boris para unificar
um país dividido: embora vitorioso, o Partido Conservador teve 43% dos votos. Em outra
diferença dos líderes da nova direita, após a eleição, ele fez um discurso pacificador.

43
— Sei que tem gente que nunca cogitou votarem mime estou honrado em tomar
emprestados esses votos —disse.

Em um aceno a esses eleitores, Boris Johnson proibiu seus ministros de participarem em


janeiro do Fórum Econômico Mundial, que reúne anatada elite financeira em Davos, na
Suíça. A ordem é concentrar-se em resolver o nó do Brexit e a crise do Sistema Nacional
de Saúde, que inspirou o SUS no Brasil.

ÁSIA

Crusoé – Coreia do Norte prepara míssil balístico de longo


alcance, dizem EUA
Renato Alves

A Coreia do Norte prepara o lançamento de um míssil balístico de longo alcance. Este seria
o “presente de Natal” para os Estados, anunciado pelo regime de Kim Jong-un há uma
semana. A informação é do comandante da Força Aérea do Pacífico dos EUA, general
Charles Q. Brown.

O oficial disse à imprensa de seu país que a retórica da Coreia do Norte e uma série de
testes nas últimas semanas sugerem que o país está se preparando para alguma
movimentação. Brown acrescentou que imagina que algum tipo de míssil balístico de longo
alcance seja o “presente”.

O general ressaltou a importância de manter um sistema de resposta rápida. “Nosso


trabalho é apoiar os esforços diplomáticos, e se esforços diplomáticos falharem,
precisamos estar prontos”, resumiu.

Pyongyang estabeleceu de maneira unilateral o final do ano como prazo para Washington
suspender sanções e fazer concessões nas negociações bilaterais sobre desnuclearização.

Gazeta do Povo – Índia abafa protestos, bloqueia internet e


detém manifestantes
Por Joanna Slater, Niha Masih

Washington Post

As autoridades indianas reprimiram manifestações contra uma lei de cidadania nesta


quinta-feira (19), invocando uma medida para proibir reuniões públicas em dois estados e
partes da capital do país, que abrigam mais de 260 milhões de pessoas.

Uma coalizão de grupos da sociedade civil havia convocado manifestações em todo o país
nesta quinta-feira para expressar oposição à lei, que os oponentes dizem ser
discriminatória e violadora da constituição da Índia. A lei cria uma via rápida para a
cidadania de migrantes de seis religiões que chegaram à Índia em 2014, mas exclui os
muçulmanos.

Em Deli, centenas de manifestantes pacíficos se reuniram perto de um dos principais


monumentos da cidade para iniciar uma marcha, mas a polícia impôs uma medida que
proíbe reuniões de quatro ou mais pessoas, tornando ilegais os protestos. A polícia deteve
os manifestantes e os levou em ônibus.

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O serviço de internet também foi suspenso em algumas partes da cidade, segundo uma
funcionária de uma empresa de telefonia celular que falou sob condição de anonimato
porque não estava autorizada a discutir o assunto. A Índia é o país que mais bloqueia a
internet em todo o mundo, sob a justificativa de impedir a violência e os distúrbios.

Protestos contra a lei de cidadania surgiram nos últimos dias e alguns se tornaram
violentos. No domingo, a polícia invadiu um campus universitário em Deli, atingindo
estudantes desarmados e lançando gás lacrimogêneo na biblioteca. As manifestações se
tornaram a mais forte demonstração de oposição ao primeiro-ministro indiano, Narendra
Modi, desde que ele chegou ao poder em 2014.

Protestos são proibidos

Em Bangalore, capital do estado de Karnataka, manifestantes segurando cartazes foram


afastados pela polícia depois que as autoridades invocaram a mesma medida, conhecida
como Seção 144, para proibir reuniões públicas. Entre os detidos estava Ramachandra
Guha, um dos historiadores mais ilustres da Índia.

"Isso está totalmente errado", disse ele em um vídeo feito no local. "Nossos governantes
paranoicos em Déli estão com medo" de um protesto pacífico.

Todo Uttar Pradesh, o maior estado da Índia e lar de 200 milhões de pessoas, foi colocado
sob restrições da Seção 144 na quinta-feira. O diretor-geral de polícia do estado, O.P.
Singh, disse a repórteres que nenhum protesto seria permitido no estado.

"Os pais são aconselhados a aconselhar seus filhos e pedir que não participem de nenhum
tipo de protesto, e se o fizerem, a polícia tomará medidas contra eles", disse ele.

Em Deli, as autoridades fecharam mais de 15 estações de metrô, atrapalhando o


transporte. A polícia montou barricadas perto do local do protesto planejado no Forte
Vermelho da cidade, dificultando o acesso.

A lei de cidadania é "inconstitucional", disse Swati Khanna, estudante de 24 anos, antes de


ser levada por policiais. "A Índia está se tornando um estado policial, mas vamos recuperá-
lo".

Mais protestos são esperados em outros lugares do país ainda nesta quinta-feira, inclusive
na cidade de Kolkata e na capital financeira, Mumbai. Os governos dos respectivos estados
destas cidades, Bengala Ocidental e Maharashtra, não são controlados pelo Partido
Bharatiya Janata de Modi, e as autoridades locais permitiram que as manifestações
continuassem.

ORGANISMOS INTERNACIONAIS E MECANISMOS


REGIONAIS E INTERREGIONAIS

Gazeta do Povo – Na ONU, Argentina questiona sanções dos EUA


ao regime de Nicolás Maduro
O novo governo argentino de Alberto Fernández questionou nesta quarta-feira (18),
perante às Nações Unidas (ONU), as sanções impostas por Estados Unidos e União
Europeia contra o regime do ditador venezuelano, Nicolás Maduro. "O impacto das sanções

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econômicas, comerciais e financeiras sobre a economia venezolana é inquestionável, tendo
efeitos concretos sobre a população mais vulnerável", disse o embaixador Carlos Mario
Foradori durante uma reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, do qual a
Venezuela faz parte.

Istoé – OEA rejeita violência racial na Bolívia e pede respeito a


indígenas
Policiais bolivianos reprimem manifestação de partidários do ex-presidente boliviano Evo
Morales em La Paz.

AFP

A Organização dos Estados Americanos (OEA) rejeitou nesta quarta-feira (18) a violência
racial na Bolívia e pediu que se respeite os direitos dos povos indígenas, em uma resolução
que acolhe a investigação dos eventos ocorridos no contexto das polêmicas eleições de
outubro.

O texto proposto pela Comunidade do Caribe (Caricom) foi aprovado por 18 votos,
incluindo os de Argentina, México, Nicarágua e Uruguai.

Votaram contra Bolívia, Colômbia, Estados Unidos e Venezuela (representada por um


delegado do líder da oposição Juan Guaidó).

Dos 34 membros ativos da OEA, 11 se abstiveram, incluindo Brasil e Canadá, e o Haiti


estava ausente.

A resolução pede às autoridades bolivianas que respeitem e cumpram “efetivamente” todas


as obrigações decorrentes do Direito Internacional sobre os povos indígenas.

Além disso, congratula-se com o fato de um grupo independente de especialistas


internacionais, acordado após a recente visita ao país da Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH), investigar os atos de violência desencadeados antes e após as
últimas eleições. Estes episódios resultaram em protestos com 36 mortos.

Durante a sessão do Conselho Permanente da OEA, órgão executivo do bloco, uma


resolução com emendas ao projeto proposto pelo Caricom, apresentado pela Bolívia, não
prosperou.

Essa iniciativa manifestava “solidariedade” com o país andino em sua luta contra o uso da
violência, “incluindo todas as formas de opressão e intimidação contra bolivianos de origem
indígena”.

O projeto emendado não conseguiu obter uma maioria simples de 18 votos para ser
aprovado. Apenas oito países apoiaram: Bolívia, Brasil, Colômbia, Estados Unidos,
Guatemala, Panamá, Paraguai e Venezuela.

A Bolívia foi sacudida por violentos protestos após as eleições de 20 de outubro, vencidas
pelo presidente Evo Morales, um indígena aimará, e questionadas pela oposição.

Diante da pressão popular, da falta de apoio das Forças Armadas e de denúncias de fraude
confirmadas pela OEA, Morales abandonou o cargo e se refugiou no México, de onde seguiu
para a Argentina, onde denuncia um “golpe de Estado” e “racismo” contra os povos
indígenas.

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Istoé Dinheiro – ONG denuncia a Itália na ONU por devolver
migrantes à Líbia
AFP

Em uma ação sem precedentes, uma ONG apresentou nesta quarta-feira na ONU uma
denúncia contra a Itália por seu papel no envio de migrantes resgatados no mar para a
Líbia, onde tiveram que enfrentar condições terríveis.

A Global Legal Action Network (GLAN), uma organização não governamental, apresentou a
denúncia no Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas em nome de um migrante do
Sudão do Sul.

O homem, que atualmente reside em Malta, tinha 19 anos quando em 2018 foi resgatado
no Mediterrâneo, juntamente com outras dezenas de migrantes, e foi enviado para a Líbia,
onde foi baleado, espancado, detido arbitrariamente e obrigado a cumprir trabalhos
forçados.

Segundo a ONG, esta é a primeira denúncia que trata da questão dos chamados “privatised
push-backs” (“expulsões privatizadas”), um mecanismo segundo o qual os Estados da
União Europeia contratam embarcações comerciais para devolver refugiados e outros que
precisam de proteção a locais inseguros.

O texto sustenta que esses Estados transformaram navios mercantes privados em


instrumentos do chamado “refoulement”, – a devolução de refugiados para lugares onde
sofrem perseguição e tortura – algo que é ilegal pelo direito internacional.

– ‘Fórmula de abuso’ –

“O que estamos observando é uma tendência preocupante em que o resgate de pessoas


desesperadas no mar está sendo terceirizado para embarcações mercantes não treinadas e
mal equipadas”, declarou o chefe do GLAN, Gearoid O Cuinn, em comunicado, alertando
que “é uma fórmula de abuso”.

“Nossa denúncia legal é sobre a tentativa da Itália de abdicar de suas responsabilidades,


privatizando o retorno de migrantes a um ambiente hostil na Líbia”, disse ele.

O incidente específico mencionado na denúncia começou em 7 de novembro de 2018,


quando o Centro Italiano de Coordenação de Resgate Marítimo (IMRCC) instruiu o navio
mercante “Nivin”, com bandeira do Panamá, a resgatar uma embarcação de migrantes em
apuros e cooperar com a temida Guarda Costeira Líbia (LYCG).

A LYCG instruiu o “Nivin” a devolver os migrantes para a Líbia, onde os cerca de 80


passageiros foram brutalmente retirados da embarcação pelas forças de segurança líbias,
que usaram gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real.

O queixoso foi baleado na perna, foi arbitrariamente detido, interrogado, espancado,


submetido a trabalho forçado e teve tratamento médico negado por meses.

A queixa é apoiada por evidências de um relatório de oceanografia forense da Universidade


de Londres, publicado nesta quarta-feira.

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De acordo com este relatório, os “privatised push-backs” aumentaram consideravelmente
desde junho de 2018 e os marinheiros são cada vez mais “usados pelos Estados que
procuram fugir de suas obrigações em relação aos refugiados”.

A denúncia argumenta que a Itália, ao abandonar sua responsabilidade de oferecer porto


seguro aos migrantes em perigo, viola suas obrigações internacionais em termos de
direitos humanos.

Em uma decisão amplamente criticada, a Itália renovou em outubro um controverso acordo


assinado em 2017 com a Guarda Costeira da Líbia para bloquear os migrantes que tentam
chegar à Europa.

O Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas é composto por 18 especialistas


independentes que emitem opiniões e recomendações com grande peso internacional, mas
que não têm o poder de forçar os Estados a cumprir suas decisões.

Valor Econômico – EUA rejeitam China à frente da OMPI


O roubo de propriedade intelectual é um dos motivos usados pelo presidente dos EUA,
Donald Trump, para a guerra comercial contra a China

Por Assis Moreira — De Genebra

Em meio à tormenta provocada pelo impeachment, o presidente Donald Trump recebeu


nesta semana um pedido conjunto de democratas e republicanos para Washington se opor
à candidatura da China para dirigir a Organização Mundial de Propriedade Intelectual
(OMPI). O roubo de propriedade intelectual é um dos motivos usados por Trump para a
guerra comercial contra a China.

Há sete candidatos para a eleição na OMPI e uma representante chinesa é vista como
particularmente forte, ainda mais com a política de Pequim de ser mais assertiva nas
instituições internacionais. Na carta, os senadores americanos mencionam o caso da
Huawei, vista como influenciada por Pequim “e que apresenta claros riscos para a
segurança nacional dos EUA”.

DIREITOS HUMANOS E TEMAS SOCIAIS

Correio Braziliense – Defesa de diálogo


A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu ao
governo de Nicolas Maduro e à oposição venezuelana que voltem a dialogar em busca de
uma saída para a crise que assola o país e que afeta os direitos sociais dos habitantes de
maneira preocupante. “Reitero meu apelo a todos e a todos os atores políticos da
Venezuela para retomarem as negociações para encontrar uma solução e devolver a
esperança à população”, disse a ex-presidente do Chile ao Conselho de Direitos Humanos,
em Genebra.

Bachelet descreveu o grave cenário do país, listando diferentes atos de violência e


intimidação, desnutrição infantil ou atos de milícias armadas e execuções extrajudiciais, o
que foi refutado pelo representante venezuelano Jorge Valero, para quem a apresentação
da alta comissária foi baseada em “informações tendenciosas” e “desequilibradas”.

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Diante das eleições programadas para 2020, a chilena disse que “é crucial garantir as
liberdades públicas fundamentais para criar as condições necessárias para eleições livres,
imparciais, críveis, transparentes e pacíficas”. Ela está preocupada com a suspensão da
imunidade de cinco deputados da oposição — já são 30 os que foram privados de proteção
legal.

TEMAS MIGRATÓRIOS E CONSULARES

O Estado de S. Paulo – Cubanos serão reincorporados por 2 anos


Mateus Vargas e Emilly Behnke

Os médicos cubanos que atuaram no programa Mais Médicos serão reincorporados ao


Médicos pelo Brasil mesmo sem o Revalida, por meio da nova lei sancionada ontem pelo
presidente Jair Bolsonaro. Estes profissionais, porém, só poderão atuar nestas condições
por no máximo dois anos.

Os profissionais cubanos terão ainda de atender a alguns requisitos. Eles devem ter sido
desligados do programa em razão do fim do acordo de cooperação entre o Ministério da
Saúde Pública de Cuba e a Organização Panamericana da Saúde (Opas) e permanecido no
Brasil até a data da publicação da medida provisória do Médicos Pelo Brasil, em 1.º de
agosto, na condição de naturalizado, residente ou com pedido de refúgio.

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse estimar que até 2 mil médicos cubanos
tenham permanecido no País após o fim da parceria com o governo de Cuba, em 13 de
novembro do ano passado.

O governo elaborou o programa Médicos pelo Brasil para substituir o Mais Médicos, criado
durante o governo Dilma Rousseff (PT). Pelo Mais Médicos, os profissionais cubanos
deveriam atuar em regiões remotas do País, onde faltam profissionais de saúde. O
programa, no entanto, ficou esvaziado após o fim do acordo com o governo de Cuba.

Orçamento. De acordo com o Palácio do Planalto, o Médicos pelo Brasil deve abrir 7 mil
novos postos de trabalho para médicos em municípios desassistidos. O ministro Mandetta
disse esperar um orçamento de R$ 4 bilhões para o programa no ano que vem.

Valor Econômico – Bolsonaro sanciona Médicos pelo Brasil


Presidente veta revalidação de diplomas por universidades privadas

Por Matheus Schuch e Fabio Murakawa — De Brasília

O presidente Jair Bolsonaro sancionou ontem a medida provisória do programa Médicos


pelo Brasil, que gradativamente substituirá o Mais Médicos. Com a iniciativa, o governo
promete ampliar a oferta de profissionais de saúde a locais de difícil acesso e vulneráveis.

Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o texto sofreu apenas um veto de
conteúdo. Trata-se de alteração feita pela Câmara, que aprovou projeto paralelo
possibilitando a aplicação dos exames do Revalida por universidades privadas. Desta
forma, a responsabilidade sobre a revalidação de diplomas de formados fora do país
seguirá restrita às instituições públicas. A mudança tinha o apoio do ministro da Educação,
Abraham Weintraub, mas sofria resistências entre os médicos.

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“O presidente, escutando a categoria médica e entendendo que isso deve ser dever do
Estado, decidiu pelo veto no capítulo que diz respeito à validação do diploma por
faculdades particulares”, argumentou Mandetta, após uma cerimônia de sanção no
Planalto.

O Médicos Pelo Brasil prevê 18 mil vagas para todo o país, sobretudo em municípios
pequenos e distantes dos grandes centros urbanos. Prevê ampliar em 7 mil vagas a oferta
atual de médicos em cidades onde há os maiores vazios assistenciais do Brasil. Estudos da
Saúde apontaram que aproximadamente 13,8 mil profissionais serão deslocados às regiões
Norte e Nordeste, as mais carentes do país.

Para atrair profissionais, os salários e benefícios serão melhores dos que os oferecidos no
Mais Médicos. Os aprovados farão curso de especialização em medicina de família e
comunidade, recebendo por dois anos bolsa de R$ 12 mil líquidos. Haverá gratificação de
R$ 3 mil para locais remotos (rurais e intermediários) e de R$ 6 mil adicionais para áreas
indígenas, localidades ribeirinhas e fluviais.

A contratação, via CLT, terá quatro níveis salariais, e o primeiro poderá chegar a R$ 21 mil.
Com aumentos gradativos de carreira, o montante alcançará até R$ 31 mil.

O primeiro edital para seleção dos profissionais deve ocorrer em fevereiro de 2020, e o
processo de seleção tem duração prevista de quatro meses. Até que o programa esteja
funcionando plenamente, o Ministério da Saúde manterá o programa anterior, inclusive
com participação de estrangeiros.

Os cubanos que atuaram no programa Mais Médicos e foram desligados após o rompimento
do contrato com o governo poderão ser reincorporados, por um prazo improrrogável de
dois anos. A migração para o novo programa exigirá aprovação no Revalida.

COMÉRCIO INTERNACIONAL E PROMOÇÃO COMERCIAL

Valor Econômico – Brasil diz na OMC que vai eliminar o que resta
de subsídios proibidos
O país planeja eliminar nas próximas duas semanas o que resta de subsídios proibidos
vinculados à substituição de importações

Por Assis Moreira, Valor — Genebra

Cobrado por União Europeia (UE) e Japão, o Brasil informou nesta quarta-feira na
Organização Mundial do Comércio (OMC) que planeja eliminar nas próximas duas semanas
o que resta de subsídios proibidos vinculados à substituição de importações, condenados
pelos juízes da entidade.

Isso faz parte do contencioso envolvendo parte da política industrial adotada no governo
de Dilma Rousseff, que foi denunciada por UE e Japão na OMC e condenada pelos juízes da
entidade global nas duas instâncias (painel e Órgão de Apelação).

O Brasil tinha prazo até 21 de junho para revogar a exigência de conteúdo local para os
produtores se beneficiarem de incentivos pelo cumprimento dos Processos Produtivos
Básicos (PPBs).

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Mas a UE e o Japão insistiram hoje no Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) que o
Brasil manteve vários subsídios proibidos e não cumpriu o compromisso de retirar todos os
programas até 21 de junho.

Além disso, europeus e japoneses voltaram a reclamar que novos PPBs que foram
implementados, sob novas condições, pareciam não ser consistentes com os acordos da
OMC.

A delegação brasileira respondeu dizendo que priorizou a revisão de 14 portarias com


maior impacto econômico, correspondendo a 95% do faturamento dos PPBs considerados
inconsistentes com a OMC Agora, o Brasil diz que outras 27 portarias estão atualmente sob
consulta públicas e espera revogá-las até o fim do ano.

A mensagem dos parceiros na OMC, em todo caso, é de que vão continuar monitorando a
implementação das medidas pelo Brasil, para se assegurarem de que não persistirão
obrigações de conteúdo local e de outras práticas consideradas discriminatórias.

A UE e o Japão cobraram mais uma vez também as adaptações da Lei de Informática e do


Padis (semicondutores). O prazo para Brasília fazer as alterações é 31 de dezembro. O
Congresso já aprovou mudanças, mas o presidente Jair Bolsonaro precisa sancionar a lei, e
nesse contexto pode decidir se veta ou não algum item proposto pelos parlamentares.

ASSUNTOS FINANCEIROS, ECONÔMICOS E


INVESTIMENTOS

Valor Econômico – Analistas preveem queda do dólar no


mercado global no ano que vem
A previsão de consenso para o fim de 2020 é que o euro será negociado a US$ 1,16

Por Eva Szalay — Financial Times

A corrida das previsões dos bancos de investimento para o mercado em 2020 está quase
no fim e muitos concordam em um ponto: o dólar caminha para uma pequena queda.
Deustche Bank, Goldman Sachs e Bank of New York Mellon concordam que após uma
década irregular de ganhos, o dólar terá uma queda no ano que vem com a redução das
preocupações com o crescimento da economia mundial, estimulando a demanda por ativos
mais arriscados ao mesmo tempo em que o Fed sinaliza a manutenção ou mesmo o corte
das taxas de juros.

A BlackRock concorda, prevendo uma pequena desvalorização do dólar no primeiro


semestre do ano. Economistas do Citigroup também acreditam que a decisão do Federal
Reserve de manter as taxas de juros, ou mesmo cortá-las, poderá ser o catalisador da
fraqueza do dólar no ano que vem, na medida em que a recompensa pela posse da moeda
for corroída pelos juros mais baixos nos EUA.

A previsão de consenso para o fim de 2020 é que o euro será negociado a US$ 1,16, em
relação à cotação atual de US$ 1,11. Mesmo assim, previsões parecidas feitas nos anos
anteriores mostraram-se inexatas. As convicções em que os analistas apoiam seus pontos
de vistas também são impressionantes demais para servir de conforto para alguém.

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Andreas Koenig, diretor global de câmbio e gerente de ativos da Amundi, diz que todas as
reuniões que ele teve com analistas sobre as perspectivas para o ano que vem chegaram à
conclusão de que a moeda vai perder valor em relação à sua principal contraparte, o euro.
O peso da expectativa significa que ele “ficaria muito surpreso se esse consenso se
confirmar”, disse Koenig. Para ele, mesmo depois de três cortes nos juros nos EUA neste
ano, a taxa referencial de 1,75% é simplesmente interessante demais quando outras
grandes economias apresentam taxas de juros negativas. “Tenho poucos incentivos para
mudar”, acrescentou ele.

Fazer previsões para o ano que se aproxima é uma das principais tarefas dos analistas,
uma vez que tanto clientes como investidores e empresas sempre as usam como diretrizes.
Mas um ano é muito tempo nos mercados, e muita coisa pode dar errado. Para 2020, o
destino do dólar dependerá do crescimento da economia mundial e dos acontecimentos na
guerra comercial entre EUA e China. Quando o sentimento dos investidores é amplamente
positivo, a moeda americana tende a cair, uma vez que os investidores sentem-se seguros
em mudar para ativos mais arriscados, como os dos mercados emergentes.

Por outro lado, as preocupações com a desaceleração do crescimento mundial e o impacto


das tensões comerciais levaram muitos a buscar a segurança do dólar neste ano: em vez
de cair, conforme muitos previam, o índice do dólar do J.P. Morgan subiu 1,25%.

Mesmo assim, analistas acham que desta vez será diferente. O Goldman Sachs espera ver
uma ligeira desvalorização do dólar e prevê que o euro estará sendo negociado a US$ 1,15
no fim do ano. Para uma queda maior do dólar, a recuperação econômica da zona do euro
teria de melhorar, o Fed cortar mais os juros e as tarifas impostas sobre produtos da China
teriam de ser reduzidas, segundo afirmaram analistas do banco.

Os analistas do Deutsche Bank concordam, com base na expectativa de que o crescimento


global vai melhorar um pouco no ano que vem. “A próxima grande movimentação favorece
a fraqueza do dólar, mas o momento é delicado”, disseram os analistas do banco em nota,
prevendo que o euro estará sendo negociado a US$ 1,20 no fim de 2020.

Em 2019, a economia mundial deverá apresentar um crescimento de 2,5%, conduzido em


grande parte pelo desempenho superior da economia dos EUA. Mas com o crescimento
americano se aproximando de uma “perda de velocidade”, segundo Paul Meggyesi, um
analista sênior do J.P. Morgan Chase, é difícil imaginar o que substituiria os EUA como
motor do crescimento global.

“Os investidores vão olhar por sobre os ombros em busca de uma recessão”, afirmou o
analista. O J.P. Morgan prevê que o euro estará sendo negociado a US$ 1,14 no fim de
2020.

Além do dólar, analistas descrevem o câmbio como um “stockpicker’s market”, em que os


investidores buscam histórias de curto prazo em torno de moedas menores com altos
rendimentos, ou condutores domésticos fracos. No ambiente dos baixos rendimentos, as
moedas com taxas relativamente altas, como os dólares do Canadá e da Nova Zelândia,
continuarão atraindo interesse. Quanto à libra esterlina, a expectativa ampla é de alta, mas
somente se o panorama político ficar mais claro.

Mas com as taxas dos Estados Unidos ainda superando as de outras grandes economias,
há um forte incentivo para se manter dólares, especialmente para os investidores
estrangeiros.

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Andrew Fisher, diretor de alocação de ativos do fundo de pensão Sunsuper, diz que para os
investidores australianos o dólar americano quase parece bom demais para ser verdade:
um investimento que oferece retornos positivos, além de proteção em períodos
problemáticos induz a um certo ceticismo. “E, mesmo assim, é exatamente dessa forma
que o dólar americano se parece para um investidor australiano no momento”, acrescenta
ele.

Nos mercados emergentes, investidores e analistas têm grandes esperanças no real


brasileiro, outra moeda que atingiu patamares históricos de baixa neste ano. Estrategistas
do ING afirmam que o “real poderá oferecer uma das melhores histórias de 2020” depois
das reformas fiscais, uma retomada do crescimento e uma melhor avaliação global dos
riscos oferecidos pelo país aos investidores, juntamente com taxas de juros relativamente
altas, o que deverá levar a uma recuperação da moeda. O real poderá subir 10% em
relação ao dólar até o fim de 2020, segundo o ING.

O Globo – Ministro vê ‘avalanche de investimentos’ em 2020


Segundo Guedes, interesse virá de empresas nacionais e estrangeiras. Previsão é que PIB
crescerá, no mínimo, 2% no próximo ano

BRASÍLIA (Renata Vieira, Marcello Corrêa e Manoel Ventura)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou ontem que o Brasil vai viver uma
“avalanche de investimentos” em 2020. Segundo o ministro, esses investimentos virão
tanto do mercado interno quanto de estrangeiros e atingirão, principalmente, a seara do
saneamento. O marco legal do setor está em discussão no Congresso, e um projeto de lei
que facilita a entrada de empresas privadas na prestação dos serviços de água e esgoto já
foi aprovado pela Câmara. Ainda de acordo com Guedes, isso vai permitir que a economia
brasileira cresça pelo menos 2% no ano que vem.

O ministro lembrou que cerca de metade da população brasileira não tem acesso a
tratamento de esgoto. O foco do BNDES agora, afirmou, é impulsionar investimentos
privados na universalização dos serviços de água e esgoto em todo o país.

—O “S” do BNDES agora é de saneamento. O Brasil tem cem milhões de brasileiros com
lixo a céu aberto, sem água, sem esgoto. Como (projeto de lei) foi aprovado agora (na
Câmara), isso vai empurrar o Brasil para outro patamar. De um lado, investimentos em
saneamento, de outro, investimentos em infraestrutura. Agora, vamos disparar uma onda
de investimentos privados internos e internacionais. Vem uma avalanche de investimentos
no ano que vem

— afirmou Guedes ao fazer um balanço do primeiro ano do governo Bolsonaro.

Ainda segundo Guedes, o PIB brasileiro crescerá, no mínimo, 2% em 2020. Na avaliação


do ministro, essa é uma projeção conservadora, e o número pode vir ainda maior:

—No mínimo, 2% ano que vem, mas deve vir mais. Será o dobro desse ano. Se for 1,2%
(em 2019), será 2,4%, e isso é conservador da nossa parte.

Valor Econômico – No Brasil, franceses ganham com a força


italiana
O grupo Fiat Chrysler tem maior presença no mercado local

53
Por Marli Olmos — De São Paulo

Se mundialmente o grupo Fiat Chrysler tem muito a ganhar na aliança com PSA Peugeot
Citröen na área de desenvolvimento de carros elétricos e outras energias alternativas, no
caso do Brasil e da América do Sul, os franceses ganham um parceiro forte para ajudar a
ampliar sua tímida participação na região.

Os efeitos tendem a ser mais expressivos no Brasil, onde está a base de produção das
quatro marcas e que abastece toda a região. Instalada no país desde a década de 1970, a
Fiat já foi líder do mercado interno durante vários anos. Agora, ocupa o terceiro lugar, com
13,8% das vendas de carros e comerciais leves no acumulado de janeiro a novembro.

No caso da Chrysler, o investimento em uma grande e moderna fábrica em Pernambuco,


há quatro anos, levou a sua marca Jeep a avançar no mercado brasileiro. Ocupa, hoje, o
oitavo lugar, com fatia de quase 5% das vendas de janeiro a novembro.

Já Peugeot e Citröen sequer aparecem na lista das dez maiores. No acumulado deste ano,
a Citröen ficou com 1,01% das vendas e a Peugeot com 0,83%. Há tempos as
participações dessas duas marcas estão nesses patamares.

Na Argentina, Peugeot e Citröen são marcas tradicionais. A Fiat vende mais, mas a
diferença em relação às duas marcas francesas é menor do que no Brasil.

As fábricas dos dois grupos no Brasil e Argentina abastecem mercados menores da região,
como o Paraguai. O grupo FCA tem instalações robustas da linha Fiat em Betim (MG) e em
Cordoba, na Argentina, além da unidade de Goiana, em Pernambuco.

A PSA tem uma fábrica na região metropolitana de Buenos Aires, na Argentina, e outra em
Resende (RJ). Ambas produzem veículos Peugeot e Citröen.

As parcerias no setor automotivo têm efeitos distintos na América do Sul. Faz um ano que
Volkswagen e Ford anunciaram uma aliança mundial e a expectativa, para a América do
Sul, é que ambas usem a mesma plataforma para produzir picapes na Argentina.

Renault e Nissan, que se juntaram em 1999, já fizeram algumas experiências de


compartilhamento de produção. Antes de construir sua própria fábrica em Resende (RJ), há
cinco anos, a Nissan usava parte do complexo industrial Renault em São José dos Pinhais
(PR).

No ano passado, o grupo fez uma tentativa para compartilhar parte da fábrica da Renault
na Argentina. Mas a crise econômica no país adiou os planos.

Outro antigo exemplo de sinergia na região ocorreu quando Fiat e General Motors
decidiram juntar forças mundialmente nas áreas de compras e de motores. A parceria
durou entre 2000 e 2005.

Mas, no Brasil, os contratos amarraram as duas empresas por um tempo além do


desejado. Dois anos depois do fim da parceria, a GM enfrentou problemas. Planejava
aumentar a produção para atender ao aquecimento da demanda, mas um contrato de
fornecimento de um tipo de motor produzido pela Fiat a impedia.

Outro fracasso de aliança no Brasil foi a DaimlerChrysler. A Chrysler se viu obrigada a


vender uma fábrica de motores que havia erguido em Campo Largo (PR) junto com a BMW

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porque a principal marca da nova parceira, a Mercedes-Benz, era concorrente da outra
alemã.

Para o consumidor brasileiro, são também amargas as lembranças da joint venture que
uniu Volkswagen e Ford no Brasil entre 1987 e 1990, a Autolatina. O acordo integrou
fábricas e operações das duas empresas. Mas o consumidor sentiu-se enganado ao
perceber que as duas marcas passaram a lançar automóveis “gêmeos”, como os velhos
Apollo, da Volks, e Verona, da Ford.

O maior desafio do novo grupo que se forma agora, no casamento entre Fiat Chrysler e
Peugeot Citröen, na América do Sul será resolver a sobreposição de produtos. Há vários
modelos de carros compactos e de veículos comerciais parecidos nas linhas dessas marcas.
É o caso do modelo Argo, da Fiat, e o 208, da Peugeot. Ambos disputam a mesma faixa de
mercado, a de “hatch” pequeno.

Por enquanto, porém, a América do Sul não será prioridade para esses parceiros. O
objetivo maior é acelerar o desenvolvimento de novos produtos para a Europa.

MEIO AMBIENTE E ENERGIA

Correio Braziliense – Para que algo de concreto aconteça nas


políticas climáticas no Brasil / Artigo / Cláudio Sales e Alexandre
Uhlig
Cláudio Sales e Alexandre Uhlig Do Instituto Acende Brasil (www.acendebrasil.co.br)

A 25ª Conferência do Clima da ONU, encerrada em 13 de dezembro, em Madri, marcou


mais um capítulo do esforço global pela redução das emissões de gases do efeito estufa.
Ao longo de duas semanas, os países apresentaram à comunidade internacional suas
estratégias para lidar com as mudanças climáticas, os avanços alcançados e os desafios
que ainda devem ser superados.

Em eventos como esses, os holofotes se voltam para países como a China, Estados Unidos,
Índia, Indonésia, Rússia e Brasil, principais emissores globais, nessa ordem, de gases do
efeito estufa. Mas nem todos sabem que o Brasil se destaca positivamente nesse grupo
quando se olha para o perfil das emissões no setor elétrico: diferentemente dos seus
pares, que dependem de combustíveis fósseis para gerar a maior parte da sua eletricidade,
o setor elétrico brasileiro não apresenta alta intensidade em carbono.

De acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito


Estufa (Seeg), as emissões totais de gases de efeito estufa brasileiras se mantiveram
estáveis nos últimos 10 anos, pouco se distanciando da média de 2 bilhões de toneladas
anuais. Em 2018, as atividades “mudanças no uso do solo” — cujo conceito engloba o
desmatamento — e “agropecuária” foram as que mais contribuíram para as emissões do
país (44% e 25%, respectivamente, das emissões totais).

Já o setor de energia respondeu por 21% das emissões brasileiras. No entanto, esse setor
é composto por diferentes atividades, englobando a energia consumida nos transportes
(10,3% das emissões totais do país), nas indústrias (3,4%), na produção de combustíveis
(3,2%), entre outras. A geração de eletricidade também pertence ao setor de energia e
suas emissões, após três anos de queda, respondem por 1,9% das emissões. Para efeito

55
de comparação, nos três maiores emissores globais (China, Estados Unidos e Índia), a
participação da geração elétrica nas emissões totais supera 25%.

A baixa intensidade em carbono da matriz elétrica brasileira se deve principalmente ao


parque de usinas hidrelétricas e termelétricas movidas a biomassa, que fornecem três
quartos de toda a eletricidade consumida no país. Nos últimos anos, o crescimento das
fontes eólica e, em menor grau, solar, também tem contribuído para manter baixa a
utilização de combustíveis fósseis para a geração de eletricidade.

As ambições climáticas brasileiras só serão adequadamente satisfeitas por meio de


estratégias que guardem relação direta com o nosso perfil de emissões. Portanto, são
inoportunos os discursos pré-fabricados e originários de regiões com realidades distintas da
nossa, que desviam a atenção dos grandes emissores para impor políticas públicas, no
setor elétrico, que atendem a interesses muito específicos de grupos de pressão que atuam
no Brasil. Já está na hora de o setor elétrico, que se posiciona como um dos maiores
emissores em outros países, receber tratamento diferente em nossas terras.

Tal tratamento diferenciado não implica eximir o setor das responsabilidades, mas
reconhecer que nossos investimentos em fontes renováveis de geração resultaram em uma
matriz elétrica limpa. Há de se reconhecer, adicionalmente, que o setor não está parado:
os desafios para manter baixa a emissão de gases de efeito estufa da matriz elétrica
brasileira demandarão massivos investimentos e soluções de alta complexidade. Exemplo
disso é a crescente necessidade de integração entre fontes renováveis variáveis — como a
eólica e a solar — e as fontes hidrelétrica e termelétrica.

Soluções baseadas em diagnósticos incorretos não levam a resultados eficientes. Ao


definirem o setor elétrico como alvo prioritário, grupos que defendem políticas climáticas
mais restritas parecem ignorar o fato de que seus esforços de advocacy surtiriam efeitos
mais contundentes e eficazes se fossem direcionados para os setores que mais emitem
gases de efeito estufa no Brasil. Esses grupos deveriam repensar as prioridades e
mensagens para o Brasil se quiserem que algo de concreto e bom aconteça nas políticas
climáticas em nosso país.

O Globo – ‘No pasarán!’ / Coluna / Luis Fernando Verissimo


A jornalista Eliane Brum, conhecida batalhadora pelas boas causas, chamou atenção para
uma matéria publicada recentemente no jornal inglês “Guardian” assinada por Jonathan
Watts, seu editor de assuntos ambientais. A matéria é sobre os crimes em curso na
Amazônia, o desmatamento, as queimadas, a grilagem, os assassinatos — enfim, tudo que
se sabe e se lamenta dessa vergonha nacional. Mas Watts estranha que a revolta contra os
crimes ambientais ainda não tenha atingido o grau de indignação que mobilizou tanta
gente durante, por exemplo, a Guerra Civil Espanhola, quando voluntários republicanos
vindos de várias partes do mundo se apresentaram para impedir que a direita franquista
dominasse o país.

A comparação de Watts não deixa de ser injusta. Na Espanha, no fim dos anos 30,
ninguém tinha dúvidas sobre a legitimidade da sua causa e a necessidade de se engajar
contra as forças de Franco e o fascismo em ascensão. Milhares de estrangeiros foram para
as frentes de batalha, alistaram-se em tropas como as da Brigada Internacional, gritaram
“No pasarán!” e abriram o peito para enfrentar o que depois seria chamada de a última
grande causa. Ajudou a mobilização o fato de intelectuais, artistas e figuras públicas da
época, em muitos casos, não apenas se manifestarem a favor da esquerda como
desembarcarem na Espanha dispostos a lutar, como os escritores George Orwell, ferido na
guerra, e Ernest Hemingway.

56
Há cada vez mais manifestações contra o aquecimento global e os crimes na Amazônia, e
jovens com o peito aberto enfrentando os cassetetes e o gás lacrimogênio das forças da
ordem se equiparam, hoje, aos jovens antifascistas da Espanha, mas as decisões sobre o
que fazer para salvar o planeta são tomadas — ou adiadas — em conferências ascéticas,
onde os países industrializados e poluidores têm o voto decisivo e garantem que seus
interesses passarão, sim. Aliás, na Espanha os franquistas também passaram.

OUTROS TEMAS

O Estado de S. Paulo – Capitalismo Político / Coluna / William


Waack
Elites empresariais empolgadas com Guedes e Moro ainda não se deram conta de que há
dois “modelos” em choque.

O debate se a Lava Jato destruiu empresas e empregos ou se salvou a “ética” que permite
o funcionamento virtuoso de instituições públicas e privadas revela um aspecto mais
profundo das relações que organizam o funcionamento da economia brasileira. Na verdade,
a pergunta levantada pela Lava Jato é outra. É o grau de aproximação do Brasil com o
chamado “capitalismo político”.

O termo não é novo, mas voltou à moda devido ao sucesso do livro Capitalism, Alone
(assim mesmo, com vírgula), de Blanko Milanovic, um intelectual de origem iugoslava
atualmente na City University de Nova York e com longa passagem por instituições
multilaterais como o Banco Mundial – experiência que o ajudou a escrever outra obra
recente de sucesso, sobre o desequilíbrio global. A tese central dele é a de que pela
primeira vez na História da humanidade um só sistema econômico prevalece – o
capitalismo – e a ele pertence o futuro. Mas a qual capitalismo?

O tipo que se revela de grande êxito é o “capitalismo político”, em oposição ao capitalismo


liberal meritocrático. Seus grandes expoentes são China, Rússia, Índia e vários asiáticos e,
entre suas características principais, segundo Milanovic, destacam-se a ausência da
aplicação uniforme das regras legais e a imensa autonomia do Estado. Nesse modelo,
prossegue o autor, não são as elites econômicas que tomam as decisões em função de
seus interesses, mas uma elite política que as coopta e as dirige em função de seus
objetivos políticos – o paralelo com o PT e os “campeões nacionais” é evidente.

A corrupção num sistema desses é endêmica, pois os códigos legais são usados para
favorecer amigos ou punir inimigos. Nesse sentido, a Lava Jato revelou as entranhas do
“capitalismo político” à brasileira, incluindo o entusiasmo com que elites empresariais
abraçaram o programa de um partido político que parecia haver encontrado no
favorecimento de setores da economia a chave para se perpetuar no poder. Ao destruir o
esquema petista, a Lava Jato afastou o Brasil do “capitalismo político”?

As elites empresariais empolgadas com os aspectos “liberais meritocráticos” dos planos da


equipe de Paulo Guedes e, ao mesmo tempo, entusiásticas apoiadoras de Sérgio Moro e do
que ele significa ainda não se deram conta totalmente de que os dois “modelos” estão em
choque. Parte fundamental do embate entre setores do STF e expoentes da Lava Jato, por
exemplo, se dá em torno do controle de quem investiga, dos limites de quem pune – por
último, de quem controla a esfera da política.

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Hoje empresários honestos temem mais a Receita Federal do que os homens vestidos de
preto de Curitiba, sem perceber que a margem de ação que se atribuíram órgãos
investigativos é uma demonstração da autonomia do Estado e de corporações que dele se
apropriaram (como o alto funcionalismo público, entendido como elite política também).

Não são grupos que aplaudem o “capitalismo meritocrático”. Seu viés ideológico, ainda que
não petista, é claramente da permanência do controle do Estado sobre a iniciativa privada.

A empolgação (justa e legítima, importante assinalar) de elites econômicas pelo binômio


Guedes-Moro turva a percepção básica de que o capitalismo meritocrático, ao contrário do
capitalismo político, depende da aplicação estrita da “rule of law” (aqui o STF tem dado
péssimo exemplo). São elites que olham para a eficiência administrativa de regimes sob o
capitalismo político (como a China) e sonham com um grau de autoritarismo que permita
destravar os óbvios obstáculos à expansão da economia brasileira, muitos deles localizados
num Estado balofo e perdulário.

Milanovic sugere que o capitalismo político tem mais chances de sobrevivência. Nesse
sentido, com forte dose de ironia, o Brasil está abraçando a modernidade.

A modernidade do choque no Brasil entre economia ‘liberal’ e autoritarismo político.

O Estado de S. Paulo – Facebook admite coletar dados mesmo


sem usuário autorizar
Dados de localização são captados para fins de segurança e publicidade, disse empresa,
em carta a senadores dos EUA

O Facebook admitiu que registra a localização de cada usuário, tenha ele ativado ou não as
funções de geolocalização. A medida é tomada por razões de segurança e também para
fins publicitários.

“Inclusive se alguém não ativa os serviços, pode ser que o Facebook ainda obtenha
informação sobre sua localização com base nos dados que ele e outros fornecem por meio
de suas atividades e conexões com os nossos serviços”, disse a rede social, na terça-feira,
em uma carta enviada aos senadores americanos Chris Coons, do Partido Democrata, e
Josh Hawley, do Partido Republicano. Trata-se de uma resposta da companhia sobre suas
práticas de privacidade.

A resposta, inicialmente sigilosa e restrita aos congressistas, foi divulgada nesta semana
por uma jornalista da publicação americana The Hill, em sua conta pessoal no Twitter.

O senador Hawley compartilhou a publicação da jornalista e escreveu: “O Facebook admite


que você desliga os serviços de localização e eles ainda registram onde você está para
ganhar dinheiro, enviando propagandas”.

“Não há como sair. Não existe controle sobre a sua informação pessoal. Isso é a grande
tecnologia. E é por isso que o Congresso precisa atuar”, adicionou o senador republicano.

O Facebook recolhe dados pessoais de seus mais de 2 bilhões de usuários frequentes em


pelo menos uma das plataformas que pertencem ao grupo: Instagram, Facebook
Messenger, WhatsApp ou o próprio aplicativo Facebook.

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Os dados são a base de seu modelo econômico, que se sustenta nos ganhos obtidos por
mensagens publicitárias segmentadas em grande escala.

BLOGS E SITES

AgroLink – Produtores europeus vão conhecer práticas


sustentáveis
Entidade tem trabalhado em parceria com a Apex-Brasil para melhorar a comunicação do
setor no mercado internacional.

Por: Agrolink com inf. de assessoria

A Sociedade Rural Brasileira (SRB) convidou grupos de agricultores europeus para vir ao
Brasil conhecer modelos de produção considerados referência entre os brasileiros. A
intenção é apresentar esses exemplos aos estrangeiros para referendar o País como padrão
de sustentabilidade e inovação no campo. Para a entidade, é uma prioridade melhorar a
imagem do Brasil perante a comunidade internacional, por meio do aumento do diálogo e,
principalmente, do contato direto com a nossa realidade. A SRB contará com o apoio da
Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) nesse que
deve ser um intercâmbio de experiência entre produtores dos dois blocos.

O convite foi feito na semana passada pelo presidente da SRB, Marcelo Vieira, que esteve
em Bruxelas para uma série de encontros e reuniões com representantes da União
Europeia e associações de produtores rurais do continente. "As mensagens sobre o
agronegócio brasileiro que chegam à Europa, pautadas apenas em queimadas e
desmatamento, criam uma visão distorcida dos esforços que empreendemos aqui", diz
Vieira.

Na capital belga, o presidente da SRB participou de um simpósio promovido pela Apex-


Brasil. O dirigente aproveitou a ocasião para exaltar modelos produtivos sustentáveis já
implementados por agricultores brasileiros. Segundo Vieira, propriedades rurais no Brasil
possuem percentuais de vegetação nativa preservada superiores a outros países. "Temos
uma legislação ambiental complexa e uma lei trabalhista no campo altamente exigente,
mas essas notícias não chegam lá fora", explica Vieira.

As discussões na Europa também estão associadas ao acordo Mercosul-UE e ao trabalho de


esclarecimento para que as próximas etapas da negociação tenham por base informações
mais precisas para os países. "Alguns nos encaram como competidores, precisamos
construir o entendimento de um acordo agregador, vantajoso para todos e eficiente no
longo prazo. Foi um dos principais pontos do nosso evento em Bruxelas", explica o
presidente da SRB.

Durante a série de compromissos na Europa, Marcelo Vieira visitou diversas associações de


produtores rurais, como a Fundação de Apoio ao Investimento Rural para a Europa (RISE)
e a Federação Europeia de Fabricantes de Alimentos (FEFAC). Vieira esteve ainda na
Associação da Indústria de óleos e proteínas vegetais da União Europeia (FEDIOL) e na
União Europeia de Pecuária e Carnes (UECBV).

Assinado em junho de 2019, o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia foi
aprovado após 20 anos de negociações. Entretanto, o processo de assinatura e ratificação
do tratado depende da assinatura de todos os Países dos dois blocos, processo que
também depende de diálogo e bom entendimento entre as partes.

59
Brasil 247 – A face oculta da diplomacia de submissão
"A prisão de 18 000 brasileiros -- entre eles, 3 000 crianças -- pela polícia de fronteira dos
Estados Unidos é uma vergonha para o país e uma ofensa à nossa dignidade. Também é
uma resposta esclarecedora à diplomacia de submissão de Jair Bolsonaro", diz Paulo
Moreira Leite, do Jornalistas pela Democracia.

18 de dezembro de 2019, 11:56 h

Por Paulo Moreira Leite, para o Jornalistas pela Democracia - Enquanto Bolsonaro abriu as
fronteiras para visitantes estrangeiros, 18 000 brasileiros seguem foram presos no último
ano quando tentavam atravessar a fronteira dos Estados Unidos, escreve Paulo Moreira
Leite, do Jornalistas pela Democracia

A prisão de 18 000 brasileiros -- entre eles, 3 000 crianças -- pela polícia de fronteira dos
Estados Unidos é uma vergonha para o país e uma ofensa à nossa dignidade.

Também é uma resposta esclarecedora à diplomacia de submissão de Jair Bolsonaro.

Há apenas 9 meses, na primeira visita oficial ao Deus Trump, como diz o chanceler Ernesto
Araújo, Bolsonaro anunciou uma alfandega de gentileza.

Informou que a partir de então os viajantes norte-americanos estariam dispensados de


obter visto de entrada no Brasil.

Depois disso, eles puderam entrar no Brasil como se estivessem na casa deles.

O problema é que, ignorando regras elementares da tradição diplomática, onde a


reciprocidade faz parte do tratamento obrigatório entre governos que prezam sua
soberania, foi uma gentileza de um lado só.

Como acontece há décadas, sempre que tentam entrar nos Estados Unidos os brasileiros
continuam enfrentando um controle rigoroso, que pode ter momentos de muito
constrangimento -- como testemunham viajantes de várias categorias, inclusive aqueles
com patrimônio acima da média.

O resultado está lá, estampado na Folha de hoje, em reportagem de Marina Dias. Sem
documentos para ingressar no país, a imagem mostra um grupo de brasileiros e brasileiras
apanhados na fronteira, vigiados por soldados e cães.

São foragidos do desemprego prolongado, e da falta de perspectiva de um país que


entrega suas riquezas a preço de banana.

No Brasil, o número de 18 000 pessoas é suficiente para se formar uma pequena cidade.
(Segundo o IBGE, pelo menos 161 cidades brasileiras possuem entre 15 000 e 20 000
habitantes).

Comparando com o registro anterior, o número de prisioneiros brasileiros deu um salto


gigantesco, Multiplicou-se por seis, entre outubro de 2018-2019. A projeção para o
próximo ano é idêntica -- se não for maior.

Como tantos povos do mundo, por muitos anos teremos brasileiros e brasileiras dispostos a
lutar por seu destino em outras fronteiras.

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BR Político – Fantasma do comunismo assombra chanceler
Em artigo recheado de teorias da conspiração para o site bolsonarista Terça Livre, o
chanceler Ernesto Araújo escreve sobre uma suposta volta da ameaça comunista na
América Latina. O texto também está disponível no site do Itamaraty. Ernesto demonstra
ter mais fé na volta do comunismo do que a própria esquerda.

Intitulado “Para além do horizonte comunista”, o artigo diz que não há dúvida de que a
América Latina “viveu dentro de um horizonte comunista” desde 2005 ou desde as vitórias
eleitorais do ex-presidente Lula, em 2002, ou do ex-líder venezuelano Hugo Chávez, em
1999. Nesse contexto, segundo ele, o “horizonte comunista” quer voltar a “estrangular” o
Brasil, a Bolívia, o Chile, a Colômbia e o Equador e pretende levar “as trevas” para a
Venezuela, Argentina e México.

O ministro das Relações Exteriores afirma que o globalismo é a ferramenta para a


construção do comunismo. Segundo ele, globalismo é a “a captura da economia
globalizada pelo aparato ideológico marxista através do politicamente correto, da ideologia
de gênero, da obsessão climática, do antinacionalismo”. Eis o inimigo do governo
Bolsonaro.

Não à toa, o chanceler afirma que “no Brasil estamos rompendo o horizonte comunista e
reenquadrando o liberalismo no horizonte da liberdade”, diz. Segundo Ernesto, o “horizonte
comunista” também está sendo rompido nos EUA, Reino Unido, Hungria, Polônia e alguns
países da África.

Diário do Centro do Mundo – Principal comunidade de imigrantes


em Portugal, brasileiros têm salários mais baixos
PUBLICADO NA RFI
POR FÁBIA BELÉM

Os brasileiros continuam a ser a maior comunidade de imigrantes em Portugal, com


105.423 residentes (21,9% do total de estrangeiros), segundo os indicadores de 2018.
Esta é a conclusão do Relatório de Indicadores de Integração de Imigrantes, lançado pelo
Observatório das Migrações, em Lisboa, nesta quarta-feira (18) quando se comemora o Dia
Internacional dos Migrantes

A data, criada pela Assembleia Geral das Nações Unidas há 19 anos, marca o lançamento
pelo governo português das suas mais recentes publicações, com destaque para o
documento, que traz informações relativas aos dois últimos anos.

Depois do Brasil, os outros nove países com as comunidades mais numerosas em Portugal
são: Cabo Verde (7,2%), Romênia (6,4%), Ucrânia (6,1%), Reino Unido (5,5%), China
(5,3%), França (4,1%), Itália (3,9%), Angola (3,8%) e Guiné-Bissau (3,4%).

Quanto ao volume de novos títulos de autorização de residência emitidos pelo Serviço de


Estrangeiros e Fronteiras (SEF), os brasileiros detêm o maior número: 28.210 títulos em
2018, o que representa um acréscimo de 143,7%, se comparado ao registrado em 2017.
Somos seguidos dos italianos (6.989 em 2018) e dos franceses (5.306 em 2018).

As razões de entrada mudam de país para país. Segundo o relatório, somente no ano
passado, grande parte dos nacionais do Brasil, de Angola, Cabo Verde e da Guiné-Bissau
veio para estudar em Portugal. No caso dos chineses e nepaleses, é o reagrupamento

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familiar a principal razão para a concessão de vistos de residência. Já a entrada de
aposentados estrangeiros está mais associada a nacionais da União Europeia, embora os
brasileiros aposentados venham ganhando importância nos últimos anos.

Saldo negativo desde a crise de 2008

O relatório também mostra que houve aumento do número de imigrantes – no final de


2018, residiam em Portugal 480.300 estrangeiros com título de residência válido,
representando 4,7% do total da população do país. No ano anterior, os estrangeiros
somavam 422 mil. Apesar da elevação dos números, entre os países da União Europeia,
Portugal continua a ocupar o 21º lugar quanto à importância relativa de estrangeiros no
total de residentes.

Os indicadores também revelam que a recuperação do saldo migratório registrada em 2017


e 2018 ainda não chega para compensar o valor negativo do saldo natural. Portugal
permanece, portanto, com diminuição da população residente no país – uma das marcas
profundas deixadas pela crise financeira de 2008, que forçou a emigração de portugueses,
principalmente jovens. O país também aparece como o terceiro mais envelhecido da União
Europeia. Por cada grupo de 100 jovens, há 159 pessoas com 65 anos ou mais.

Foi observado, por exemplo, que a população estrangeira residente tende a ser mais jovem
que a portuguesa, com destaque para grupos etários ativos e em idade fértil.

Ao abordar a demografia, o Relatório chama a atenção, inclusive, para a contribuição


positiva dos imigrantes. Nesse sentido, revela que os indicadores confirmam maior taxa de
fecundidade dos estrangeiros residentes quando comparada a dos portugueses. As mães
de nacionalidade brasileira e angolana detêm o maior número de nascimentos entre os
estrangeiros.

Presença brasileira nas salas de aula

O Observatório das Migrações ressaltou que os imigrantes tendem a apresentar mais


dificuldades em obter bons resultados na escola, quando comparados com os nacionais dos
países de acolhimento. Apesar disso, sublinhou que houve uma evolução positiva no
desempenho escolar dos estrangeiros matriculados no ensino básico e no secundário.

No ano letivo de 2017/2018, cerca de um terço dos alunos estrangeiros tinha nacionalidade
de um país da América do Sul, com destaque para o Brasil, com 15.626 alunos.

Em números, a nacionalidade brasileira também é a mais expressiva no ensino superior.


São 16.125 brasileiros, o que corresponde a 38,4% do total de estudantes estrangeiros nas
universidades portuguesas.

Diferenças salariais

De acordo com o relatório, o mercado de trabalho não reflete necessariamente as


qualificações dos trabalhadores estrangeiros. Em Portugal, há mais estrangeiros que
portugueses que não usam as suas habilitações nas funções que ocupam.

Em 2017, 10% dos estrangeiros com habilitações superiores ocupavam postos de trabalho
associados à construção, indústria e transportes. Os dados revelam que os a média dos
salários dos trabalhadores brasileiros e angolanos era mais baixa que a dos portugueses,
mas não tanto como a dos outros grupos de nacionalidades.

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Ainda no âmbito do mercado de trabalho, os brasileiros são citados como imigrantes que
mostram forte propensão à iniciativa empresarial em Portugal, ao lado de chineses,
ingleses e alemães. Do total de empregadores estrangeiros registrados em 2017, os
brasileiros representavam 22,8%; os chineses, 18,3%.

Contribuição para a integração dos imigrantes

O Observatório das Migrações faz parte do Alto Comissariado para as Migrações, que é um
instituto público português. A missão do Observatório é estudar e fazer o acompanhamento
científico das migrações. É responsável por recolher e analisar informação estatística e
administrativa de fontes nacionais e internacionais.

O resultado desse trabalho é a publicação de centenas de estudos que ajudam a entender


os fenômenos migratórios em Portugal. Por estar baseado em dados concretos, o relatório
pode contribuir para a integração dos imigrantes, considerando que o acesso a informações
precisas ajuda o poder público na definição de políticas para a integração dos estrangeiros
residentes em Portugal.

Diário do Poder – Brasil-Argentina, reforço de confiança


Pedro Luiz Rodrigues

Não posso negar minha genuína satisfação com a mudança de humor no relacionamento
entre o Brasil e a Argentina. As farpas e cotoveladas que andaram trocando o presidente
Jair Bolsonaro e o seu recém-empossado colega argentino, Alberto Fernández, dão lugar a
gestos de moderada mas encorajadora cordialidade.

Temos uma Venezuela desarranjada em nossa fronteira setentrional, e não precisamos de


uma Argentina com convulsões na fronteira meridional. Somos os dois países latino-
americanos que entre si apresentam o mais rico e intenso relacionamento, e não podemos
fazer de conta que nossa integração não existe.

Na verdade, a melhor alternativa para ambos os países – embora não a única,


evidentemente (sempre haverá quem considere um “Braxit”!) – é continuar a aprimorar a
complexa malha de vínculos que entre nós começou a ser tecida em 1985. A natureza
dessa malha, não custa recordar, mais do que econômica e comercial, é fundamentalmente
política.

Na segunda metade do século 20, e em particular no período em que os dois países


estiveram sob governos militares (Brasil: 1964 a 1985; Argentina: 1966-1973) – durante
os quais o Brasil atravessou período de intensa expansão econômica, em particular até
meados da década de 1970 – a desconfiança prevaleceu nas relações bilaterais. Essa era
de tal monta, que não se descartava em alguns meios a hipótese de um conflito armado
entre os dois países.

Em meados dos anos 1980, com a retomada na normalidade democrática nos dois lados,
essa situação começaria a mudar. Em fevereiro de 1985, como presidente-eleito, Tancredo
Neves encontrou-se em Buenos Aires com o presidente argentino (não peronista) Raúl
Alfonsín (1983-1989).

Integrei pequeno grupo de diplomatas (encabeçados pelos embaixadores Paulo Tarso


Flecha de Lima e Rubens Ricupero, à época, respectivamente chefes do Departamento de
Promoção Comercial e do Departamento das Américas) que organizou e acompanhou o

63
tour de Tancredo (a países da Europa, Estados Unidos, México, Peru e Argentina) no início
de 1985.

Na agenda do presidente-eleito, o estabelecimento de uma aliança estratégica com a


Argentina esteve no topo da lista de prioridades. Tancredo e Alfonsín se deram bem desde
o primeiro momento e decidiram que os dois países estabeleceriam relações muito
próximas nas esferas econômico-comercial e política, conforme relato que me fez o
embaixador Paulo Tarso.

Como observou o embaixador Rubens Ricupero no livro (Diário de Bordo) em que


descreveu a viagem do presidente-eleito, depois da morte de Tancredo (21 de abril de
1985), a semente lançada em Buenos Aires frutificou na gestão do presidente José Sarney,
que com Alfonsín manteve sempre uma relação extremamente cordial e cooperativa.
Gestos de ambos os lados se sucederam, ampliando o grau de transparência e confiança
entre as partes.

Sarney, em agosto do mesmo ano, enviou o chanceler Olavo Setúbal a Buenos Aires, com
a missão de estabelecer as bases de modelo inteiramente novo para as relações entre
Brasil e Argentina. Em novembro, Sarney e Alfonsín se encontraram em Foz do Iguaçu,
deslanchando o processo de entendimento de integração, ao qual viriam se juntar depois o
Uruguai e o Paraguai (acabando por conformar o Mercosul).

Pedro Luiz Rodrigues é embaixador aposentado e jornalista. Coordenou a missão


precursora das visitas do presidente-eleito Tancredo Neves a países da Europa, aos EUA e
ao México, Peru e Argentina. Foi subsecretário de Imprensa da Presidência da República na
transição dos governos Tancredo Neves e José Sarney. Como conselheiro, foi chefe do
setor político da Embaixada do Brasil em Buenos Aire (1993-1997).

Estado de Minas – Bruxelas estima que acordo com Mercosul


'contribui' para ambição climática da EU
AFP

O comissário europeu para o Comércio, Phil Hogan, disse nesta quarta-feira (18) que o
acordo comercial entre a União Europeia (UE) e os países do Mercosul "contribui" para as
metas climáticas europeias, apesar da relutância na Eurocâmara.

"Este acordo pode contribuir para alcançar os objetivos do Pacto Verde de várias
maneiras", afirmou Hogan durante um debate na Eurocâmara em Estrasburgo (nordeste da
França), lembrando que o pacto inclui um capítulo sobre desenvolvimento sustentável e
referências ao Acordo de Paris.

Os negociadores da UE e do Mercosul chegaram a um acordo político em junho, após 20


anos de negociações comerciais, que devem passar por uma revisão legal antes da
aprovação formal dos países europeus.

Desde então, a Eurocâmara realizou dois debates sobre o acordo, em um contexto de


preocupação em alguns países europeus com a política ambiental do atual presidente
brasileiro, Jair Bolsonaro, e do auge desta temática no bloco.

A nova chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, apresentou na semana passada
o Pacto Verde, uma das políticas prioritárias de seu mandato que busca alcançar a
neutralidade de carbono na UE até 2050 e se tornar sua "nova estratégia de crescimento"
econômico.

64
"Se o Pacto Verde é salvar o clima, nesse momento o acordo com o Mercosul não pode ser
assinado, nem deve ser considerado", disse o eurodeputado ecologista Yannick Jadot, cujo
grupo promoveu o debate sobre se o acordo com o Mercosul está em conformidade com o
Pacto Verde.

O eurodeputado liberal Jordi Cañas, que será o relator do pacto com o Mercosul na
Eurocâmara, criticou um debate "viciado de origem" que "apenas busca encontrar um novo
inimigo".

"Alguns precisam de um novo Ceta [acordo UE-Canadá] e conseguiram isso", acrescentou.


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Para os eurodeputados Sven Simon (PPE, à direita) e Geert Bourgeois (conservador), se a


UE quiser ampliar sua ambição climática em todo mundo, deve assinar o acordo com o
Mercosul. "Não teremos influência no mundo, se não assinarmos", alegou Simon.

A parlamentar social-democrata Kathleen Van Brempt, para quem atualmente não há


maioria no Parlamento Europeu a favor do pacto, pediu aos países do Mercosul,
"especialmente o Brasil", que adotem uma atitude diferente em relação às mudanças
climáticas para serem os "parceiros" da UE.

A Comissão Europeia prevê que a assinatura formal do acordo possa ocorrer até o final de
2020.

Nexo – A liga dos prefeitos europeus contra presidentes


populistas
João Paulo Charleaux

Para barrar onda conservadora, governantes de 4 capitais da Europa Central se unem


contra os mandatários de seus próprios países

Os prefeitos de quatro capitais da Europa Central – Budapeste (Hungria), Varsóvia


(Polônia), Praga (República Tcheca) e Bratislava (Eslováquia) – lançaram na segunda-feira
(16) um “Pacto das Cidades Livres” para reafirmar valores progressistas diante da onda
populista de extrema direita.

O pacto pretende alçar a voz de prefeituras europeias cosmopolitas em um movimento


contra presidentes que governam com base em plataformas conservadoras, religiosas,
ultranacionalistas e eurocéticas.

O lançamento do manifesto ocorreu em Budapeste, onde Gergely Karácsony, de centro-


esquerda, foi eleito prefeito em outubro, depois de derrotar Istvan Tarlos — candidato que
concorria à reeleição com apoio do presidente Viktor Orbán, um dos principais nomes da
extrema direita na Europa.

Vitórias eleitorais como a de Karácsony em Budapeste inspiram partidos verdes e de


esquerda na Europa a mobilizar o eleitorado em disputas locais e a implementar uma
agenda progressista, mesmo quando a maior parte dos eleitores decide, em nível nacional,
apoiar presidentes conservadores.

Com a iniciativa, os prefeitos dessas quatro cidades se propõem a garantir o respeito à


comunidade LGBTI, coibir campanhas de ódio contra imigrantes e promover políticas

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ambientais em nível municipal, mesmo que o poder central em seus respectivos países
esteja nas mãos de líderes que se opõem a essas bandeiras.

Além das pautas identitárias e de direitos humanos, os prefeitos dessas cidades também
pedem que a União Europeia reduza o repasse de verbas para os governos centrais e
aumente a colaboração com as prefeituras, em nível municipal.

A ação dos prefeitos estará focada na aprovação de leis municipais, campanhas de


comunicação e declarações públicas de reafirmação dos valores atacados pelos respectivos
presidentes. Essas prefeituras pretendem, por exemplo, cumprir metas de redução na
emissão de gases do efeito estufa, ainda que os governos de seus países adotem posturas
negacionistas sobre as mudanças climáticas.

“O populismo está lutando por hegemonia, mas não pode vencer as cidades. As cidades
podem ser a cabeça de ponte por meio da qual a atual crise das democracias pode
começar a ser revertida”

Gergely Karácsony, prefeito de Budapeste, no lançamento do “Pacto das Cidades Livres”,


em 16 de dezembro

“Se falharmos, uma onda populista oferecerá respostas simplistas e erradas para os
problemas que enfrentamos”

Zdeněk Hřib, prefeito de Praga, no lançamento do “Pacto das Cidades Livres”, em 16 de


dezembro

O contexto em cada país

Das quatro cidades envolvidas na iniciativa, três estão em países governados por líderes de
extrema direita populista (Hungria, Polônia e República Tcheca), e uma delas (Eslováquia)
está sob comando de um governo de centro-esquerda.

O “Pacto das Cidades Livres” inclui exatamente as capitais dos mesmos quatro países que
formam o “Grupo dos Quatro de Visegrád”, coletivo criado nos anos 1990 entre húngaros,
poloneses, tchecos e eslovacos. É como se, na América do Sul, prefeitos de Montevidéu,
Buenos Aires e Assunção, além do governador do Distrito Federal, Brasília, fizessem um
coletivo seguindo a formação dos países fundadores do Mercosul.

O pacto não é dirigido contra ou a favor de um político ou de um partido em particular,


mas busca reafirmar valores mais abrangentes. O que ocorre é que, na prática, esses
valores estão sendo atacados por um número cada vez maior de líderes políticos na região.

A Hungria, por exemplo, é governada por Orban desde 2010. O presidente é membro do
Fidesz, um partido de extrema direita cuja campanha baseia-se na defesa de valores
conservadores e no discurso de combate à corrupção que embala tentativas de controle do
Judiciário, sob crítica da União Europeia.

A Polônia é governada desde 2015 pelo PiS (Partido da Lei e Justiça), também de extrema
direita, descrito pela imprensa local como “ultraconservador”, “nacionalista” e “populista”.
O primeiro-ministro é Mateusz Morawiecki, mas a figura forte do governo é o deputado
Jaroslaw Kaczynski, líder do PiS e eminência parda entre os conservadores locais.

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A República Tcheca é governada desde 2013 por Miloš Zeman, ex-membro do Partido
Comunista que hoje defende porte de armas, critica a União Europeia e faz campanha
contra a imigração, comparando a si mesmo com o presidente americano, Donald Trump.

A Eslováquia constitui o único caso da lista no qual uma prefeita de esquerda, Zuzana
Čaputová – primeira mulher a governar o país –, defende a mesma pauta dos prefeitos que
compõem o “Pacto das Cidades Livres”.

Governadores brasileiros contra Bolsonaro

No Brasil, governadores dos estados do Nordeste também se uniram em agosto depois de


ataques à região feitos pelo presidente Jair Bolsonaro, que se referiu genericamente a eles
como “paraíba”.

Os nove governadores dos estados nordestinos – sete deles de partidos de esquerda –


formaram um bloco que antagonizou em vários momentos com Bolsonaro. O presidente
chegou a dizer que esses governadores agiam para “dividir o país”.

Depois do embate entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron, a respeito


da preservação da Amazônia, governadores nordestinos foram a Paris em novembro, pedir
que o repasse de verbas internacionais para a região não cessasse, mesmo depois de o
governo federal ter desdenhado os programas de colaboração internacional.

Durante a COP-25, encontro do clima realizado em Madri, de 2 a 15 de dezembro, o


governo Bolsonaro tentou obter ganhos econômicos no chamado “mercado de carbono”,
propondo receber, pelo Acordo de Paris, verba internacional por não desmatar. Enquanto
isso, governadores pleitearam a continuidade dos financiamentos nos moldes atuais, mas
com os fundos sendo depositados diretamente para os estados e não para o governo
federal.

João Paulo Charleaux é repórter especial do Nexo e escreve de Paris

O Antagonista – Ibama contestou relatório contra navio grego


suspeito de derramar óleo
Uma semana antes de a PF deflagrar a operação Mácula, o Ibama rejeitou o relatório que
apontava o navio grego Bouboulina como o principal suspeito pelo derramamento de óleo
no litoral brasileiro.

A revelação foi feita por Pedro Alberto Bignelli, coordenador-geral do Centro Nacional de
Monitoramento e Informações Ambientais (Cenipa) do Ibama, durante audiência na CPI do
Óleo.

Bignelli também comentou sobre o caso com o G1:

“Expliquei para o meu diretor que eu não tinha sido convencido, pelo aspecto da mancha e
pela falta de informação no relatório. Eu trato essas imagens [de satélite] há 25 anos,
tenho dois doutores no assunto aqui que ajudaram a avaliar. Disse [ao diretor] que não
arriscaria meu currículo naquele relatório, que não acreditava naquele documento.”

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ONU Brasil – CNJ e PNUD firmam parceria para impulsionar
Agenda 2030 no Judiciário
18/12/2019

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Programa das Nações Unidas para o


Desenvolvimento (PNUD) assinaram na terça-feira (17) projetos de cooperação
internacional em prol da Agenda 2030.

O acordo envolve três projetos: a consolidação dos Laboratórios de Inovação, Inteligência


e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (LIODS); o fortalecimento da gestão de
informações sobre a atenção às crianças no Sistema de Justiça; e a revisão do projeto
“Fortalecimento do Monitoramento e da Fiscalização do Sistema Prisional e
Socioeducativo”.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Programa das Nações Unidas para o


Desenvolvimento (PNUD) assinaram na terça-feira (17) projetos de cooperação
internacional em prol da Agenda 2030.

O acordo envolve três projetos: a consolidação dos Laboratórios de Inovação, Inteligência


e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (LIODS); o fortalecimento da gestão de
informações sobre a atenção às crianças no Sistema de Justiça; e a revisão do projeto
“Fortalecimento do Monitoramento e da Fiscalização do Sistema Prisional e
Socioeducativo”.

Na cerimônia de assinatura, o presidente do CNJ, ministro Dias Toffoli, afirmou que os três
termos de cooperação técnica estão voltados à concretização de importantes projetos no
âmbito do Judiciário.

“As parcerias firmadas com o PNUD têm em comum a finalidade de imprimir efetividade a
direitos fundamentais assegurados no texto constitucional e em diplomas e tratados
internacionais dos quais o Brasil é signatário”, declarou.

Segundo a representante-residente do PNUD no Brasil, Katyna Argueta, a parceria com o


CNJ tem foco no alcance do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16 – Paz,
Justiça e Instituições Eficazes.

“Esse é o objetivo estruturante, necessário para fazer avançar os demais objetivos. Nesse
contexto, o PNUD trabalha com o CNJ a fim de garantir o acesso à Justiça e o respeito aos
direitos humanos e à dignidade das pessoas privadas de liberdade, crianças e
adolescentes”, afirmou.

Consolidação dos LIODS

O primeiro acordo assinado trata da consolidação dos LIODS e do fortalecimento das


capacidades do CNJ para a produção e gestão de dados e pesquisas em temas relacionados
à Agenda 2030.

Além disso, o termo prevê a capacitação de magistrados e servidores do Judiciário para


atuarem nos LIODS, com o propósito de promover uma atuação integrada, aperfeiçoar a
prestação de serviços e alinhar as diretrizes estratégicas às metas dos ODS.
Atenção às crianças

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O segundo projeto é sobre o fortalecimento da gestão de informações para a proteção das
crianças na primeira infância no Sistema de Justiça brasileiro. Tem como foco o
desenvolvimento de estudos e pesquisas, assim como a elaboração de metodologia
quantitativa e qualitativa voltada à investigação da realidade do atendimento prestado às
crianças pelo Judiciário e pelas instituições da rede de proteção e promoção à primeira
infância.

O acordo contará, ainda, com a expertise do Centro Internacional de Políticas para o


Crescimento Inclusivo (IPC-IG) para atividades como estudos comparativos e intercâmbio
de melhores práticas internacionais.

Justiça Presente

O terceiro acordo revisa o projeto de cooperação técnica “Fortalecimento do Monitoramento


e da Fiscalização do Sistema Prisional e Socioeducativo”, firmado em 2018 entre CNJ e
PNUD.

Essa revisão tem por finalidade promover ajustes necessários à plena efetividade do
programa Justiça Presente, a partir dos avanços já obtidos e da necessidade de adequação
sob o ponto de vista metodológico, financeiro, orçamentário e operacional, incluindo a
criação de um fundo voltado à sustentabilidade das ações do projeto.

O programa tem por objeto o desenvolvimento de estratégias para combater a


superlotação e a superpopulação carcerária no Brasil, com enfoque nas políticas de
alternativas penais e de monitoração eletrônica, bem como nas ações de atenção ao
Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), a fim de garantir direitos de
adolescentes em cumprimento e pós-cumprimento de medidas socioeducativas.

No escopo do projeto, também estão previstas ações relacionadas com a promoção da


cidadania e garantia de direitos das pessoas privadas de liberdade e egressas do sistema
prisional, assim como a implementação nacional do Sistema Eletrônico de Execução
Unificado (SEEU).

ONU Brasil – Mundo precisa transformar forma como responde à


situação dos refugiados, diz Guterres
18/12/2019

O mundo precisa transformar a maneira como responde à situação dos refugiados e fazer
mais pelos países que abrigam a maioria deles, disse o secretário-geral da ONU, António
Guterres, na terça-feira (17), no primeiro Fórum Global sobre Refugiados. Realizado em
Genebra, o encontro busca soluções para uma década de aumento dos fluxos migratórios.

“É o momento de deixar para trás um modelo de apoio que muitas vezes deixou refugiados
por décadas com suas vidas em espera: confinados em acampamentos, apenas
sobrevivendo, incapazes de progredir ou contribuir. É o momento de construir uma
resposta mais igualitária através da partilha de responsabilidades”, declarou.

O mundo precisa transformar a maneira como responde à situação dos refugiados e fazer
mais pelos países que abrigam a maioria deles, disse o secretário-geral da ONU, António
Guterres, na terça-feira (17), no primeiro Fórum Global sobre Refugiados. Realizado em
Genebra, o encontro busca soluções para uma década de aumento dos fluxos migratórios.

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“Agora, mais do que nunca, precisamos da cooperação internacional e respostas práticas e
eficazes. Precisamos de melhores soluções para quem precisa fugir e melhorar a ajuda
para as comunidades e os países que recebem essas pessoas e as acolhem”, afirmou.

Um ano depois de os países assinarem em Nova Iorque o Pacto Global sobre Refugiados –
descrito por Guterres como o plano para reafirmar seus direitos humanos —, o fórum
global acontece em meio ao que os especialistas chamaram de “a década de
deslocamento”.

Em seu pedido de ação conjunta, Guterres descreveu o Pacto Global como “nossa
conquista e responsabilidade coletiva”. “Ele fala da situação difícil que milhões de pessoas
atravessam. Fala ao coração da missão das Nações Unidas”, declarou.

Mais de 70 milhões de pessoas foram deslocadas à força – o dobro do nível de 20 anos


atrás e 2,3 milhões a mais em pouco mais de um ano, segundo dados da ONU. Mais de 25
milhões são refugiados que, tendo fugido através das fronteiras internacionais, não podem
voltar para suas casas.

Em referência aos principais acordos internacionais que há décadas sustentam a


assistência aos refugiados, o secretário-geral da ONU disse que hoje é necessário
“restabelecer a integridade do regime internacional de proteção aos refugiados”, com base
na Convenção de Refugiados de 1951 e no Protocolo de 1967.

“De fato, no momento em que o direito ao refúgio está sob ataque, quando tantas
fronteiras e portas estão sendo fechadas para refugiados, quando até crianças refugiadas
estão sendo detidas e separadas de suas famílias, precisamos reafirmar os direitos
humanos dos refugiados”, disse Guterres.

Como co-anfitrião do evento, o alto-comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi,


pediu à comunidade internacional que transforme sua posição sobre as pessoas que
precisam de proteção.

“Injustiça, conflito e violência. É por isso que estamos aqui”, disse a liderança da Agência
da ONU para Refugiados (ACNUR). “Nosso mundo está tumultuado e 25 milhões de
refugiados estão nos procurando por soluções.”

Avaliando a ação global de hoje sobre os refugiados como “fragmentada e desequilibrada”,


Grandi acrescentou que “com 71 milhões de pessoas globalmente expulsas de suas casas,
dentro e fora de seus países, é hora de reiniciar nossas respostas”.

Mas, em vez de demonstrar solidariedade às pessoas necessitadas, “países com mais


recursos” transferiram o fardo para as nações mais pobres.

Isso significa que “os refugiados são deixados de lado também… muitas vezes em
acampamentos, isolados da vida social e econômica das comunidades que os acolhem”,
disse Grandi. “A ajuda humanitária auxilia e continua sendo vital, porém não é suficiente e
nem apropriada para inverter o curso do desespero rumo à esperança”, acrescentou.

125 milhões de dólares em quatro anos

Incentivando uma maior partilha de responsabilidades entre os países, o conselheiro


federal da Suíça, Ignazio Cassis, observou que seu país comprometeu cerca de 125
milhões de dólares nos próximos quatro anos para a proteção de refugiados.

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Embora cerca de oito em cada dez refugiados estejam em países em desenvolvimento, as
cidades e vilas suíças contribuem para sua proteção, ajudando-os a integrar suas
comunidades, assegurou Cassis, na condição de co-anfitrião do Fórum.

“A vida é igual andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio, é preciso se manter em


movimento… Isso se aplica a todos nós, não devemos perder o equilíbrio e olhar para o
futuro”, disse Cassis, lembrando um ditado de Albert Einstein, um dos refugiados mais
famosos do país.

O conselheiro também ressaltou o papel positivo que os parceiros religiosos poderiam ter
na busca de soluções para a proteção e integração de refugiados, citando o acordo “único”
escrito entre os países cristãos, judeus e muçulmanos, baseado em “ética e solidariedade”.

Heiko Maas, ministro das Relações Exteriores da Alemanha, pediu que a responsabilidade
em relação ao apoio aos refugiados seja distribuído entre “ombros mais numerosos e mais
largos”.

Paquistão: 40 anos de acolhimento de refugiados

Destacando as pressões enfrentadas pelos países em desenvolvimento que recebem


famílias vulneráveis forçadas a deixar suas casas, o primeiro-ministro do Paquistão, Imran
Khan, disse que esses fluxos “causam problemas que não podem ser imaginados pelos
países mais ricos”.

A Europa estava tendo outras dificuldades, acrescentou Khan, citando o surgimento de


políticos populistas que “lucram com o sofrimento público” e com a falsa ideia de que os
recém-chegados seriam uma ameaça.

No Paquistão, que abriga quase 3 milhões de refugiados, “um país com enorme
desemprego, sabemos o que passamos”, disse Khan.

ONU pede promessas “ousadas e concretas”

“Este é um momento de ambição”, disse Guterres aos delegados. “É um momento para


deixar para trás um modelo de apoio que muitas vezes deixou refugiados por décadas com
suas vidas em espera: confinados em acampamentos, apenas sobrevivendo, incapazes de
progredir ou contribuir. É um momento para construir uma resposta mais igualitária
através da partilha de responsabilidades”.

Guterres atuou como alto-comissário da ONU para refugiados por dez anos (2005-2015),
antes de assumir o cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Ele se referiu às
proteções dos refugiados como uma das grandes questões desta era, ou de qualquer era.

O que é o Fórum Global de Refugiados?

O primeiro Fórum Global de Refugiados reúne refugiados, chefes de Estado e de governo,


líderes de ONU, instituições internacionais, organizações de desenvolvimento, empresas e
representantes da sociedade civil, entre outros, nas Nações Unidas em Genebra.

O ACNUR está organizando o fórum, juntamente com a Suíça, sob convocação de Costa
Rica, Etiópia, Alemanha, Paquistão e Turquia.

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O objetivo do evento é gerar novas abordagens e compromissos de longo prazo de vários
atores para ajudar os refugiados e as comunidades em que vivem. Em todo o mundo, mais
de 70 milhões de pessoas são deslocadas por guerras, conflitos e perseguições.

O Fórum Global para Refugiados termina nesta quarta-feira (18).

ONU Brasil – ONU pede que países implementem Pacto Global


para Migração
Atualizado em 18/12/2019

Enquanto políticas moldadas mais pelo medo do que pelos fatos provocam sofrimento
incalculável entre os migrantes, o secretário-geral da ONU pediu nesta quarta-feira (18)
que os países façam mais para atingir os objetivos estabelecidos por um acordo global que
promove uma maior cooperação internacional sobre migrações.

Antônio Guterres fez o chamado em sua mensagem para o Dia Internacional dos
Migrantes, lembrado anualmente em 18 de dezembro. “Uma migração segura, ordenada e
regular é do interesse de todos. E prioridades nacionais para a migração são mais bem
atingidas por meio da cooperação internacional”, declarou.

Sua mensagem foi repetida por dois especialistas independentes em direitos humanos da
ONU, que também pediram uma ação maior para conter o discurso de ódio contra
migrantes.

Enquanto políticas moldadas mais pelo medo do que pelos fatos provocam sofrimento
incalculável entre os migrantes, o secretário-geral da ONU pediu nesta quarta-feira (18)
que os países façam mais para atingir os objetivos estabelecidos por um acordo global que
promove uma maior cooperação internacional sobre migrações.

Antônio Guterres fez o chamado em sua mensagem para o Dia Internacional dos
Migrantes, lembrado anualmente em 18 de dezembro. “Uma migração segura, ordenada e
regular é do interesse de todos. E prioridades nacionais para a migração são mais bem
atingidas por meio da cooperação internacional”, declarou.

Globalmente, há mais de 270 milhões de migrantes, de acordo com estimativas das Nações
Unidas.

Em dezembro do ano passado, países concordaram com o Pacto Global para uma Migração
Segura, Ordenada e Regular após 18 meses de consultas e negociações.

Seus objetivos endereçam a questão em todos os níveis, incluindo mitigação dos fatores
que levam as pessoas a deixar seus locais de origem, seja para conseguir trabalho ou por
outras razões.

Comunidades anfitriãs do mundo todo têm uma longa tradição de receber migrantes, disse
o chefe da Organização Internacional para as Migrações (OIM). “As comunidades que se
tornam bem sucedidas são aquelas que abraçam as mudanças e se ajustam a elas.
Migrantes são um elemento integral e bem-vindo dessas mudanças”, disse o diretor-
executivo da OIM, António Vitorino, em comunicado para o dia.

Ele acrescentou que os migrantes também podem se tornar “defensores da resiliência”, por
exemplo, em tempos de desastre, mudança ambiental, desemprego e turbulência política.

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Desejo de pertencimento

“Toda pessoa que migra tem suas próprias razões para deixar para trás casa e família, e
cada uma dessas pessoas tem suas próprias experiências ao longo da jornada: sua própria
história pessoal de exílio e pertencimento”, disse a alta-comissária da ONU para os direitos
humanos, Michelle Bachelet, em mensagem de vídeo.

Nascida no Chile, Bachelet teve um bisavô que deixou a França com destino ao país sul-
americano, onde ela teve dois mandatos como presidente.

Ela também foi forçada a deixar sua terra natal por um período, e lembrou como a
solidariedade e a generosidade expressadas naquele momento a ajudaram a desenvolver
“um novo senso de pertencimento e esperança”.

Histórias como essas mostram como todas as pessoas compartilham o que a chefe de
direitos humanos da ONU descreveu como “um desejo de pertencer”, que inclui cuidar de
seus entes queridos, mas também se conectar com amigos e comunidades.

“Eu sempre expressei minha preocupação com as atitudes e comportamentos que rejeitam,
desumanizam, excluem e atacam migrantes”, disse Bachelet.

“Embora esses sentimentos raramente representem a visão principal sobre a migração,


alguns tentam nos dividir e calar opiniões mais moderadas. Os efeitos de tais narrativas de
divisão são de amplo alcance em nossas sociedades, reduzindo nossa confiança e conexões
uns com os outros.”

No Dia Internacional dos Migrantes, a alta-comissária incentivou as pessoas em todos os


lugares a celebrar “o que nos une”, acrescentando: “é quando nos reunimos que podemos
superar diferenças e dificuldades”. “É aí que todos nós descobrimos que pertencemos.”
Temores de segurança nacional

Como o chefe da ONU enfatizou em sua mensagem, todos os migrantes têm direito à
proteção dos direitos humanos, consagrada no Pacto Global.

“No entanto, muitas vezes ouvimos narrativas sobre migrantes que são prejudiciais e
falsas”, disse ele. “E muitas vezes testemunhamos migrantes enfrentando dificuldades
indescritíveis como resultado de políticas moldadas mais pelo medo do que pelo fato.”

O secretário-geral instou os líderes e as pessoas de todos os lugares a “dar vida ao Pacto


Global, para que a migração funcione para todos”.

Sua mensagem foi repetida por dois especialistas independentes em direitos humanos da
ONU, que também pediram uma ação maior para conter o discurso de ódio contra
migrantes.

Felipe González Morales, relator especial para os direitos humanos dos migrantes, e Can
Ünver, presidente do Comitê das Nações Unidas para os Trabalhadores Migrantes,
alertaram que as preocupações com a segurança nacional estão sendo usadas
indevidamente para criminalizar migrantes e aqueles que os apoiam.

“Embora a segurança possa ser uma preocupação legítima e invocada como justificativa
para limitações a certos direitos humanos, ela não pode levar à criminalização da migração
ou daqueles que apoiam os migrantes”, disseram eles em comunicado.

73
Os especialistas acrescentaram que o Pacto Global ajuda a garantir que os direitos
humanos sejam respeitados em todas as etapas da migração e sejam totalmente
implementados.

Vitorino, da OIM, observou que, no atual clima político “desafiador”, os migrantes estão
sendo usados como bode expiatório para todos os problemas que assolam a sociedade.

“Portanto, neste dia, precisamos lembrar constantemente a comunidade internacional da


realidade – histórica e contemporânea – de que, quando uma migração bem administrada
funciona, as sociedades fechadas poderão se abrir e as tensões políticas desaparecerão”,
escreveu ele.

“Quer estejamos vivendo, trabalhando, amando ou construindo, fazemos isso juntos.”

Renova Mídia – Itália investiga novo esquema de cidadania para


brasileiros
Tarciso Morais

Os brasileiros respondem por 85% dos pedidos de reconhecimento de cidadania jus


sanguinis feitos em solo italiano em 2017, segundo dados do Istat.

Lino Nicola Gentile, prefeito de Castel del Giudice, vilarejo do centro da Itália, está sendo
investigado pelo Ministério Público por suspeita de receber propina de brasileiros para
facilitar o reconhecimento da cidadania por direito de sangue.

Os 17 alvos do inquérito estão sendo acusados pelos crimes de corrupção em atos de ofício
e falsidade ideológica.

A hipótese das autoridades é de que os investigados tenham montado uma organização


que recebia dinheiro e outros benefícios de cidadãos do Brasil para certificar a cidadania
jus sanguinis, mesmo na ausência da documentação prevista em lei.

Para realizar o reconhecimento de cidadania na Itália, é preciso fixar residência no país


durante a tramitação do requerimento, o que pode levar alguns meses.

Com o objetivo de agilizar o processo, cada candidato pagava 300 euros às autoridades,
além de cestas de Natal e caixas de vinho, enquanto intermediários recebiam até 3 mil
euros pelo serviço, informa o portal Terra.

Revista Fórum – Ernesto Araújo distribui texto em clipping do


Itamaraty onde alerta para ameaça comunista na América Latina
O ministro considera que a América Latina viveu dentro de um “horizonte comunista desde
2005, ou possivelmente desde um pouco antes, desde a vitória de Lula em 2002”

Em artigo intitulado “Para além do horizonte comunista”, distribuído nesta quarta-feira


(18), através do clipping do Itamaraty, o chanceler Ernesto Araújo alerta para a volta de
uma suposta ameaça comunista nos países da América Latina.

No texto ele diz que o “horizonte comunista” quer voltar a “estrangular” o Brasil, a Bolívia,
o Chile, a Colômbia e o Equador e pretende levar “as trevas” para a Venezuela, Argentina e

74
México, países onde uma ditadura de esquerda e governos de centro-esquerda estão no
poder.

Ernesto Araújo aponta diferenças para um “horizonte comunista” do comunismo já


propriamente instalado. Ele diz também que o “globalismo” é um instrumento para a
construção do comunismo. Globalismo para ele é “a captura da economia globalizada pelo
aparato ideológico marxista através do politicamente correto, da ideologia de gênero, da
obsessão climática, do antinacionalismo”.

O ministro considera que a América Latina viveu dentro de um “horizonte comunista desde
2005, ou possivelmente desde um pouco antes, desde a vitória de Lula em 2002, ou desde
a vitória de Chávez em 1999. Na verdade, esse horizonte começou a raiar com a criação do
Foro de São Paulo, em 1991”.

Ao final, o ministro diz que “no Brasil estamos rompendo o horizonte comunista e
reenquadrando o liberalismo no horizonte da liberdade”, diz Ernesto. Segundo ele, o
horizonte comunista também está sendo rompido nos EUA, Reino Unido, Hungria, Polônia e
alguns países da África –onde, para o ministro, a Igreja Católica deixou de fazer parte do
“horizonte comunista”.

Com informações da Folha

UOL – UE "abomina" política ambiental de Bolsonaro e deputados


pedem sanções / Coluna / Jamil Chade
A nova direção da Comissão Europeia afirma "abominar" as políticas ambientais de Jair
Bolsonaro. As declarações foram feitas diante do Parlamento Europeu nesta quarta-feira,
numa reunião convocada pela bancada verde do Legislativo como forma de retaliação
contra o posicionamento do Brasil na cúpula do Clima, em Madri.

Ao longo de um intenso debate, parlamentares europeus demonstraram uma forte


oposição ao acordo comercial entre UE e Mercosul. Diante do ocorrido nos últimos dias na
reunião da ONU, exigiram explicações do braço executivo do bloco e alertaram que não
ratificariam tratado de livre comércio com o Mercosul.

Durante o debate, partidos ecologistas e de esquerda se declararam contra a ratificação do


acordo. Mas mesmo aqueles de direita que defendem o tratado alertaram que são
contrários ao posicionamento de Bolsonaro na questão ambiental.

Parlamentares do grupo Social-Democrata ainda pediram que o acordo seja alvo de uma
emenda, criando espaço para "sanções" eficientes contra o Brasil caso o país viole seus
compromissos.

E mesmo a extrema-direita se pronunciou contra o acordo, desta vez por conta da ameaça
que representaria ao setor agrícola, uma das principais bases de apoio dos populistas.

"Esse acordo nem deve ser considerado", disse Yannick Jadot, um dos principais nomes
dos ecologistas europeus. "Sob Bolsonaro, o desmatamento dobrou e os ataques aos
direitos humanos são diários", insistiu. "Não podemos assinar esse acordo com o
Mercosul", afirmou.

Para os sociais-democratas, não existe hoje maioria no Parlamento europeu para aprovar
um acordo com o Brasil. "Se o Brasil quer ser nosso parceiro comercial, precisa ser um

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parceiro ambiental", disse o grupo. Só haverá um apoio ao tratado, na avaliação deles, se
houver um capítulo que estipule sanções contra o governo Bolsonaro.

Abomina

Tentando se defender, a Comissão Europeia insistiu que o acordo comercial pode ser usado
como forma de forçar o Brasil a seguir seus compromissos ambientais. Mas admitiu que a
política ambiental de Brasília não é correta.

"Abominamos totalmente o que o presidente Bolsonaro e seu governo têm feito ao


negligenciar seu dever em relação à proteção da Amazônia. Todos nós compartilhamos
esse objetivo", disse o comissário de Comércio da UE, Phil Hogan. "Mas temos que nos
perguntar qual é a alavancagem que temos para garantir que esse tipo de cenário não
volte a acontecer", afirmou.

Hogan assumiu o cargo de chefe comercial da UE sob a nova comissão, que tomou posse
há poucas semanas. Ele, porém, acredita que o acordo entre a Europa e o Mercosul seja
uma "oportunidade" para pressionar o Brasil a respeitar regras ambientais.

O comissário, que defende a existência do acordo comercial e sua ratificação, lembrou que
Bolsonaro fez parte de sua campanha em 2018 com base em uma ameaça de retirar o
Brasil do Acordo do Clima de Paris. "Ele mudou de opinião. Vamos ver como será
implementado", disse. Segundo ele, porém, é o acordo comercial que permitirá que tais
compromissos ambientais sejam implementados, além de questões indígenas e direitos
sociais.

Nos últimos dias, o Brasil tem sido apontado como um dos responsáveis pelo fracasso da
COP 25, a reunião de cúpula da ONU sobre o Clima e que terminou em um impasse.

O impacto do posicionamento brasileiro, porém, foi além do encontro em Madri.


Parlamentares ecologistas pediram que a UE desse explicações sobre como faria para exigir
que o Mercosul cumprisse suas responsabilidades ambientais. Em meados do ano, os dois
blocos fecharam um acordo comercial, sob forte polêmica por conta do posicionamento do
Brasil em assuntos climáticos.

A UE, naquele momento, garantiu que teria como fazer o governo de Bolsonaro seguir as
regras ambientais, já que isso traria ganhos financeiros e comerciais reais.

Mas diante do posicionamento do governo brasileiro na COP 25, parlamentares agora


querem saber da Comissão o que será feito para "conter" Bolsonaro. No total, 64
parlamentares tomaram a palavra para se pronunciar diante da situação no Brasil. Muitos
alertaram: da forma que está colocado hoje, não darão seu voto pelo acordo com o
Mercosul.

Yahoo Notícias – Acordo União Europeia e Mercosul: “É uma


recolonização voluntária para o Brasil”
“Se a Europa é contra o genocídio do povo judeu, eles têm que ser contra o extermínio
negro e indígena. Não dá para ser contra um e fazer vista grossa para o outro”, é o que
afirmou Mariah Rafaela Silva, da organização Conexão G, doutoranda em Comunicação
pela UFF-RJ e representante da Coalizão Negra por Direitos.

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A ativista, que trabalha no Complexo da Maré, Rio de Janeiro (RJ), acompanhou o encontro
“Pare o Acordo União Europeia-Mercosul - Por Agricultura, Empregos e Meio Ambiente” em
Bruxelas, capital da Bélgica, entre os dias 11 e 12 de dezembro. O objetivo era apresentar
os impactos do acordo entre os blocos econômicos Mercosul e União Europeia. No dia 13,
houve diálogo com políticos do parlamento europeu, em especial figuras do Grupo
Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde, composto por 42
deputados.

O acordo entre União Europeia e Mercosul prevê a criação de uma zona de livre comércio
com ampla redução de impostos. Depois da assinatura do negócio em 28 de junho deste
ano, o pacto pode demorar de sete meses a três anos para entrar em vigor. A demora se
dá pela necessidade de aprovação dos poderes legislativos dos países do Mercosul e
também do parlamento europeu.

Mariah Rafaela Silva apresentou os principais impactos de um possível acordo entre os dois
blocos econômicos para o Brasil. Ela acredita que o país enfrentará mais problemas no
quesito da imigração, motivada pela ausência de empregos.

“O acordo prevê que o Brasil exportaria insumo, commodities, frutas, produtos com baixo
teor tecnológico. A Europa tem todas as cartas na mão porque se o Brasil não cumprir
parte desses acordos, o parlamento europeu pode simplesmente brecar as importações,
prejudicando o próprio Brasil. E como se desdobra isso? Uma migração interna e externa
para os grandes centros de gravidade. Não é à toa que agora houve a autorização de
entrada no continente europeu”, explicou. “É claramente uma posição assimétrica. Esse é
um acordo de recolonização voluntária, em outras palavras”, completou a pesquisadora e
ativista.

Movimento negro vai à União Europeia denunciar acordo com o Mercosul

A imigração sobretudo de grupos mais vulneráveis pode aumentar os indicadores de


violência no país, em especial nas grandes cidades. Mariah Rafaela Silva ressalta que
estados como Rio de Janeiro e São Paulo têm sido governados por regimes de direita. É o
caso das gestões de Wilson Witzel e João Dória, figuras com forte discurso bélico.

“Onde essas pessoas migrantes vão morar? Regiões de favela, de periferia. Isso contribui
para o genocídio porque essas pessoas vão se mudar para serem exterminadas”, alerta.

A maior demanda brasileira de produtos agrícolas também deve elevar a voracidade da


produção nacional de soja, o que pode aumentar os impactos sobre o meio ambiente e as
mudanças climáticas.

“Haverá também uma intensificação da monocultura da soja, que a Europa consome e


importa muito. Área de produção é área de desmatamento, ou seja, não só compromete o
desmatamento, mas também a biodiversidade no Brasil. Os rios, a água, a poluição dos
lugares, os desastres naturais que ocorrem, as queimadas, mas do ponto de vista
ambiental é uma consequência gravíssima para toda humanidade e o planeta”, avalia.

A Rede Europeia contra o Racismo (ENAR) articulou a atividade em Bruxelas e convidou a


Coalizão Negra por Direitos para participar do encontro. O grupo desenvolve políticas
públicas em defesa de minorias racializadas na Europa e constrói diálogo com instituições
públicas para o combate ao racismo.

A Coalizão e a ENAR, durante as agendas na capital belga, participaram de encontros com


o Comitê Belga-Brasileiro, formado por ativistas europeus, e parlamentares, entre eles a

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deputada alemã Pierrete Gabrielle Herzberger-Fofana (Greens), uma das poucas negras
eleitas para o mandato atual do Parlamento.

Em entrevista ao Alma Preta, Juliana Wahlgren, integrante da ENAR, fez uma avaliação
positiva da participação dos dois grupos antirracistas em Bruxelas. “A ENAR e a Coalizão
conseguiram inserir a questão do racismo dentro da pauta de negociações a nível europeu
e insistiram na construção de um diálogo com nossos grupos nas etapas a seguir”, revelou.

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