Sei sulla pagina 1di 5

Agricultura familiar e produção vitivinícola na Serra Gaúcha: considerações a

partir do Projeto ATER FECOVINHO

SCHMITT, Claudia Job1; PRADO, Bruno A.2; WALTER, Fabricio H. O.3

1 Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e


Sociedade, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, claudia.js@oi.com.br;
2 bruno@aspta.org.br; 3 fabricio.walter@yahoo.com.br

Seção Temática: Construção do Conhecimento Agroecológico

Resumo: O texto trata de considerações acerca do cenário econômico, social, tecnológico e


institucional constituído pelo setor vitivinícola na Serra Gaúcha com base nos resultados de
avaliação do Projeto ATER FECOVINHO. A questão das pragas e doenças, mudanças no
clima e os desafios para a produção da “uva de qualidade” são preocupações recorrentes
por parte dos agricultores da região. A promoção de um processo de inovação de
aprendizagem com protagonismo dos agricultores aliados à presença dos técnicos e das
diferentes instituições ligadas ao setor agrícola é fundamental para a resiliência e inovação
da viticultura na Serra Gaúcha.

Palavras-chave: viticultura; ATER; Serra Gaúcha.

Abstract: This paper presents considerations about the economic, social, technological and
institutional landscape constituted by the vitiviniculture sector in the region of Serra Gaúcha.
The considerations are based on the assessment of the Project ATER FECOVINHO.
Plagues and diseases, climate change and the production of “quality grape” are recurrent
concerns held by the farmers of the region. The promotion of a process for innovation and
learning led by farmers allied with the presence of technical staff and different institutions
from the farm sector is fundamental for resilience and innovation in the viticulture of Serra
Gaúcha.

Keywords: viticulture; ATER; Serra Gaúcha.

Introdução
O artigo apresenta considerações a partir do diagnóstico e monitoramento das
unidades produtivas assessoradas pelo Projeto ATER-FECOVINHO na região da
Serra Gaúcha, Sul do Brasil. O Projeto ATER FECOVINHO estabelece uma rede de
referências técnico-produtivas envolvendo agricultores familiares, assessorias
técnicas, as cooperativas vinculadas ao sistema FECOVINHO e suas entidades
parceiras e instituições representativas do setor vitivinícola. O trabalho desenvolvido
encontra-se alicerçado em três pilares fundamentais, a saber: a formação e
capacitação contínua de técnicos e agricultores; assessoria técnica, individual e

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 10, Nº 3 de 2015


coletiva, às famílias agricultoras; e o planejamento, monitoramento de
sistematização de resultados.
A iniciativa deu seus primeiros passos no período 2007-2009, através da
implantação de dois projetos-piloto executados com o apoio do Ministério do
Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Instituto Brasileiro do Vinho (IBRAVIN). Entre
abril de 2010 e fevereiro de 2014 foi executado o Projeto de assistência técnica às
unidades produtivas familiares associadas às cooperativas do sistema FECOVINHO
com financiamento do MDA. O projeto envolveu um universo total de 600 famílias, 9
cooperativas1 e 3 sindicatos de trabalhadores rurais, fazendo-se presente em 18
municípios. O seguimento deste trabalho, que hoje alcança um universo de 280
agricultores, só se tornou possível, no entanto, em 2014, através da parceria
estabelecida com o IBRAVIN. Este apoio permitiu, de um lado, a continuidade do
trabalho junto a 183 famílias agricultoras, que já haviam participado do projeto
anterior e, de outro, a incorporação de novas famílias à rede de assessoria técnica
que vem sendo construída na região.
O encadeamento das diferentes etapas do Projeto foi fundamental para que os
resultados alcançados através desse esforço de construção de referências técnicas
e organizativas no âmbito da viticultura de base familiar existente na Serra Gaúcha
pudessem se consolidar, atingindo, de forma direta, o público beneficiário do projeto
e, indiretamente, os cerca de 11 mil estabelecimentos familiares responsáveis pelo
cultivo de aproximadamente 30 mil hectares de vinhedos na região.
Este texto resulta das ações de diagnóstico e monitoramento implementadas no
âmbito do Projeto ATER FECOVINHO e apresenta considerações a partir da
investigação acerca do perfil dos agricultores envolvidos no projeto realizada em
dois momentos: as primeiras entrevistas foram realizadas no primeiro semestre de
2010, na fase inicial de implementação do programa de assessoria técnica apoiado
pelo MDA buscando identificar características-chave das famílias/unidades

1
Cooperativa Vinícola Aurora Ltda; Cooperativa Vinícola Garibaldi Ltda.; Cooperativa Nova
Aliança; Cooperativa Vitivinícola Forqueta Ltda.; Cooperativa Vitivinícola Pompéia Ltda.;
Cooperativa Agropecuária Pradense Ltda.; Cooperativa Agropecuária Ipê Ltda.; Cooperativa
AECIA de Agricultores Ecologistas (COOPAECIA) e Cooperativa de Produtores Ecologistas
de Garibaldi (COOPEG).

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 10, Nº 3 de 2015


produtivas assessoradas, e durante o ano de 2014, em ações para o monitoramento
e diagnóstico do projeto na fase atual.

A viticultura familiar em um ambiente de incertezas e vulnerabilidades

Na perspectiva de boa parte dos agricultores participantes do projeto, o contexto


atual da viticultura familiar encontra-se marcado por uma série de incertezas
relacionadas à combinação de diferentes fatores (climáticos, econômicos e
ecológicos), que interagem de forma complexa, tornando difícil prever cenários
futuros e, em muitos casos, tomar medidas de precaução de forma a evitar riscos.
Essas incertezas são, em parte, intrínsecas à atividade agrícola, mas envolvem
também as relações que as agriculturas locais estabelecem com os mercados
globais e com todo um conjunto de regras, normas e convenções de qualidade que
regem a competição entre as empresas.
Nos sistemas produtivos convencionais, altamente demandantes de fontes de
energia e insumos externos, estes problemas se amplificam, na medida em que o
agricultor se torna cada vez mais dependente do mercado como forma de garantir
suas condições de produção para a próxima safra. Na agricultura familiar, a
dependência em relação a uma única cultura ou a uma única variedade de uva, a
falta de infraestrutura, a baixa disponibilidade de mão de obra na propriedade, entre
outras limitações, podem, também, reduzir a capacidade desses sistemas produtivos
de reagir a choques e perturbações e de manter uma produção estável, em
qualidade e quantidade, de uma safra para a outra.
Ao mesmo tempo, operando em um ambiente econômico, social e tecnológico
produtor de desigualdades, determinadas unidades produtivas e/ou segmentos da
agricultura familiar, podem se tornar, ao longo de sua trajetória, mais vulneráveis às
variações e incertezas inerentes às dinâmicas do sistema agroalimentar
contemporâneo.
Os agricultores entrevistados possuem diferenças entre si, apresentando uma série
de heterogeneidades no que diz respeito ao tamanho da unidade produtiva, à
disponibilidade de força de trabalho na família, à área dedicada à cultura da uva e a

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 10, Nº 3 de 2015


outros cultivos comerciais, às suas estratégias de inserção no setor vitivinícola, aos
investimentos feitos na propriedade ao longo das gerações, ao modo como
incorporaram as tecnologias disseminadas pela Revolução Verde, entre outros
aspectos. Suas margens de manobra e possibilidades de resposta às
transformações que ocorrem no ambiente econômico, técnico e institucional em que
se encontram inseridos variam bastante.
São destacados, a seguir, alguns elementos extraídos das entrevistas que se
sobressaíram, no diálogo com os agricultores, como aspectos relevantes na leitura
que esses sujeitos sociais fazem, na atualidade, do contexto no qual estão
inseridos. A dificuldade em combater pragas e doenças aparece como um problema
central nas falas dos agricultores. Mudanças importantes também são percebidas no
que diz respeito à eclosão destes problemas em relação a períodos anteriores. A
mortandade das parreiras, problema que tem acometido a viticultura da região, e
cujas múltiplas causas ainda não são inteiramente claras, é fonte de grande
preocupação e inclusive de motivação para participação no Projeto ATER
FECOVINHO entre os agricultores, embora para aqueles que já estão em uma fase
mais avançada de transição do manejo ecológico, a questão das pragas e doenças
seja encarada de forma menos preocupante. Conforme a fala de um agricultor:
“Problema nos primeiros anos [da transição] deu muito problema. Agora não está
dando. No início da uva orgânica. Agora não tem mais, porque eu aprendi a fazer,
me ensinaram”. Juntamente com as pragas e doenças, as mudanças no clima são
vistas pelos agricultores como outra fonte muito importante de incertezas,
envolvendo tanto a ocorrência de extremos climáticos (seca, granizo, variações
abruptas de temperatura) como a incidência de fenômenos climáticos “fora de
época”.
Os agricultores destacam, também, que para obter uma produção de qualidade, uma
uva com um grau mais alto ou mesmo uma uva de qualidade orgânica, é preciso
dispor de uma boa assessoria técnica. A demanda por uma “uva de qualidade” deve
vir acompanhada de um trabalho técnico que possibilite aos agricultores atingir essa
qualidade. Ao mesmo tempo, muitos concordam que essa “virada de qualidade”
exige uma “mudança na cabeça do agricultor”.

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 10, Nº 3 de 2015


Diante deste cenário característico do momento por que passa a agricultura familiar
na Serra Gaúcha, as ações desenvolvidas pelo Projeto ATER FECOVINHO partem
de uma concepção que orientadora mais próxima da visão de uma agricultura de
base ecológica e do manejo adaptativo dos ecossistemas, compreendido como um
processo permanente de aprendizagem. Nessa perspectiva, intervenções orientadas
por princípios ecológicos, envolvendo, por exemplo, todo um conjunto de práticas de
manejo ecológico de solos (adubação verde, utilização de micronutrientes, manejo
de estercos etc.) vão sendo progressivamente implementadas pelos agricultores,
promovendo ajustes progressivos na estrutura e funcionamento dos
agroecossistemas, de modo a reconstituir os processos ecológicos que asseguram a
saúde e a resiliência dos sistemas produtivos. Busca-se, com isso, promover um
processo de inovação aprendizagem no qual os agricultores figuram como
protagonistas, mas no qual a presença dos técnicos e das diferentes instituições
ligadas ao setor agrícola também é fundamental. A conformidade dessa agricultura
de base ecológica com as normas da agricultura orgânica constitui-se como um
ponto de chegada mas não como a única motivação que orienta o processo de
transição.
No cenário de mudanças que caracteriza a viticultura de base familiar na Serra
Gaúcha, no período atual, o conceito de resiliência, posto em prática pelo Projeto
ATER FECOVINHO, ganha grande relevância demandando instituições presentes,
inovadoras e dispostas a mobilizar processos de aprendizagem e geração de
conhecimentos. Fundamental, nesse sentido, o esforço desenvolvido no âmbito do
Projeto no sentido de reposicionar o agricultor, que deixa de ser um “usuário de
tecnologias” na perspectiva difusionista, fortalecendo sua capacidade de gestão
social, técnico-produtiva e econômica dos processos produtivos na sua propriedade.
A ênfase nas atividades coletivas e nos processos de cooperação que orienta o
projeto, contribui, além disso, para a estruturação de um ambiente favorável à
inovação.

Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 10, Nº 3 de 2015

Potrebbero piacerti anche