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São Paulo
Agosto/2019
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
DEPARTAMENTO DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
PROGRAMA DE MBA EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS
São Paulo
Agosto/2019
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
DEPARTAMENTO DOS CURSOS DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
PROGRAMA DE MBA EM GERENCIAMENTO DE PROJETOS
____________________________
André Baptista Barcaui
Coordenador do MBA em Gestão de Projetos
__________________________
Neila Rockenbach Xavier
Professor Orientador
TERMO DE COMPROMISSO
____________________________________
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 08
2. REFERENCIAL TEÓRICO....................................... Erro! Indicador não definido.10
2.1 ANÁLISE SOBRE STAKEHOLDERS ................................................................ 13
2.1.1 Gerenciamento de stakeholders em projetos....................................................18
2.2 ANÁLISE SOBRE COMUNICAÇÃO .................................................................. 30
2.2.1 Gerenciamento da comunicação em projetos...................................................31
2.3 SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA ................................................................. 36
2.3.1 Sustentabilidade e viabilidade financeira em projetos......................................41
2.4 FESTIVAIS DE MÚSICA......................................................................................44
3. METODOLOGIA .................................................................................................. 51
3.1 Análise de dados................................................................................................52
3.2 Resultado geral da pesquisa.............................................................................68
4. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 69
1. INTRODUÇÃO
1
Cultural festivals and events are increasingly becoming arenas of discourse enabling people to
express their views on wider cultural, social and political issues. Often the debates polarize into those
advocating change and those wishing to preserve “traditional” or “local” culture in the face of
modernization and globalization.
8
Concomitantemente, o papel da comunicação faz-se presente sob a ótica do
gerenciamento de projetos. O desenvolvimento de práticas, processos e atividades,
para dentro e fora da organização, é também essencial para o sucesso das
organizações.
A relevância dos temas previamente expostos para a sociedade justificam um
estudo mais aprofundado, que será o foco deste trabalho, delimitando-se aos
processos de identificação, planejamento, gerenciamento e controle em projetos de
eventos. A problemática central aqui apresentada é “de que forma a aplicação das
práticas de gerenciamento da comunicação e de stakeholders em projetos
impacta na sustentabilidade financeira dos festivais de música?”, visando
auxiliar organizadores de eventos a tornarem seus projetos mais eficientes e
eficazes no longo prazo.
A construção do conhecimento necessário para a compreensão desse tema
será pela revisão bibliográfica de estudos nas áreas de conhecimento que são
objeto de investigação. O encadeamento lógico será tratar primeiramente, e de
forma isolada, dos conceitos e principais fundamentos das teorias de stakeholders e
da comunicação. No segundo momento estes serão contextualizados sob a ótica do
gerenciamento de projetos.
Em seguida serão definidos os princípios da sustentabilidade em negócios,
seus pilares, requisitos, e sua aplicação no gerenciamento de projetos, dando
destaque para o viés financeiro. Não obstante, será delineado um contexto
mercadológico da indústria de entretenimento no Brasil no que toca a organização
de festivais de música, identificando também a aplicação do ferramental de
gerenciamento de projetos em suas atividades.
Por fim, será conduzida uma pesquisa de campo quantitativa através da
aplicação de questionários estruturados fechados com organizadores de festivais,
com o objetivo específico de identificar quais são os principais erros no
gerenciamento de stakeholders e comunicação em projetos de festivais de música,
seja na identificação, classificação ou escolha de estratégias de engajamento
voltadas à sustentabilidade financeira. Na última sessão desse trabalho serão
apresentados os resultados da pesquisa e a conclusão, na qual serão tecidos
comentários gerais sobre o entrelaçamento existente entre a revisão bibliográfica e a
pesquisa de campo.
9
2. REFERENCIAL TEÓRICO
10
• Progressividade. Desenvolvimento da entrega do projeto de maneira
gradativa, por etapas e incrementos, através de um processo de refinamento
e detalhamento que ocorrem durante todo o seu planejamento e execução.
É importante notar que o tempo do projeto não deve ser confundido com o
tempo do produto do projeto. Os resultados esperados para um projeto são
duradouros, garantindo o retorno sobre investimentos, atendendo demandas
perenes, sejam elas sociais, tecnológicas ou de informação.
Para gerenciar projetos, faz-se necessário um ambiente empresarial com alta
competitividade, pois obriga “as organizações a acompanharem, sistematicamente,
as áreas onde atuam a fim de melhorar o planejamento, reduzir riscos e aumentar os
lucros” (Alves, 2009). Os benefícios também englobam a otimização de recursos,
minimização de riscos, aumento do controle gerencial, da segurança das partes
interessadas ao antecipar problemas, e favorece as estimativas de projetos futuros
(Valle et al., 2014). Segundo Possi (2006), esse processo é realizado através de três
elementos básicos: habilidades técnicas, interpessoais e administrativas. Estas
11
habilidades devem ser reunidas pela gerência, que deve procurar o equilíbrio entre
necessidades concretas/intrínsecas e expectativas, escopo, prazo, custo e
qualidade.
Com o propósito de aprimorar e sistematizar os conhecimentos presentes na
área de gerenciamento de projetos, instituições como o International Project
Management Association (IPMA) e o Project Management Institute (PMI) foram
criadas, sendo reconhecidas como propositoras de boas práticas através de seus
padrões de mercado PRINCE2 e PMBoK, respectivamente, e potencializando a
aplicação de ferramentas, técnicas e habilidades intrínsecas às atividades do
projeto. Outros padrões encontrados no mercado são o ICB (IPMA Competence
Baseline), o ISO 21.500 e metodologias ágeis como o scrum e extreme
programming.
O Guia do Conjunto de Conhecimentos em Gerenciamento de Projetos
(PMBoK) representa a literatura base para o desenvolvimento deste trabalho.
Segundo o PMI (2018), existem 47 processos de trabalho que devem ser
observados por um gerente de projetos, cada um deles com técnicas e ferramentas
dedicadas, gerando resultados específicos. Esses processos são agrupados em 10
áreas de conhecimento:
• Integração: referente ao processo de unir todas as demais áreas do
projeto, trabalhando em direção de um objetivo comum.
• Escopo: garante que o projeto inclua todo o trabalho necessário, e informe
também o que não será executado.
• Cronograma: quantifica o tempo necessário para realizar todo o escopo,
encadeando as atividades de forma precisa e atualizada, controlando
prazos.
• Custos: refere-se ao planejamento, orçamento e controle financeiro do
projeto.
• Qualidade: estabelece políticas e níveis mínimos de satisfação de certos
parâmetros e pessoas.
• Recursos humanos: representa a quantificação de pessoas, delegação de
tarefas e treinamento dos membros da equipe do projeto.
12
• Comunicação: determina a forma mais eficaz de distribuir, monitorar,
controlar e armazenar informações com todas as partes envolvidas.
• Riscos: identifica, quantifica, analisa, planeja e controla ameaças e
oportunidades do projeto, estabelecendo planos de resposta caso
ocorram.
• Aquisições: padronizam a forma de contratação ou aquirencia de produtos
e serviços para concluir o projeto.
• Stakeholders: identifica todas as partes envolvidas no projeto, além de
definir o papel que desempenham, quais suas expectativas e estratégias
de engajamento.
14
Fonte: MITCHELL et al. (1997)
15
atributos apresentados. Estes são chamados de não-stakeholders ou stakeholders
potenciais.
No que tange a utilidade empresarial da teoria dos stakeholders, Donaldson e
Preston (1995) apontam que três aspectos são existentes: descritivo, instrumental e
normativo. O descritivo trata da utilização de modelos para a compreensão do papel
da empresa em diferentes ambientes, descrever seu modo de operação e
comportamentos específicos. No aspecto instrumental o modelo é utilizado como
ferramenta de gestão (stakeholder management) para identificar se existe e qual é a
interatividade entre as partes interessadas da empresa e objetivos estratégicos mais
tradicionais, como crescimento e lucratividade. O aspecto normativo diz respeito ao
reconhecimento dos interesses de todos os stakeholders, explicando a função da
empresa na sociedade através de seus princípios morais.
Clarkson (1995) restringe a existência de uma empresa a atender
stakeholders primários sem os quais a empresa não existiria, como acionistas,
fornecedores, clientes, gestores e colaboradores, deixando como pano de fundo os
secundários, cuja representatividade é de menor escala e não impactaria a
existência da organização. Exemplos dessa categoria são o governo, a comunidade
e organizações do terceiro setor. Sousa & Almeida (2006) apontam as principais
características de cada um, descritos na tabela 1:
16
é da responsabilidade dos colaboradores. Capacidades,
conhecimentos e habilidades são seu ferramental.
Concorrentes Correspondem a uma ameaça a existência da empresa e, por
isso, colaboram com o processo de reflexão para melhoria
contínua e aproveitamento de oportunidades. Suas decisões
afetam o desempenho das demais empresas no mercado que
fazem parte.
Gestores São responsáveis por garantir o retorno para os acionistas
através do planejamento estratégico e tático. Avaliam a
importância dos demais stakeholders e gerenciam as relações
externas pelo controle de informações e recursos internos.
Governo Atua como agente regulador do mercado, facilitando as
atividades econômicas, cooperação e competição entre as
empresas. Busca defender os interesses públicos, que vezes
podem conflitar com os interesses privados.
Mídia Formadora de opinião a respeito da empresa no meio público.
Serve de veículo de propaganda e possui o papel de divulgação
da reputação produzida entre stakeholder e empresa.
Credores Responsáveis pelo financiamento da empresa para desenvolver
e entregar os seus produtos. Caso julguem que o retorno esteja
abaixo do custo de capital, podem inviabilizar financeiramente a
empresa e seus projetos.
Entidades / Representam classes de colaboradores e empresas,
Sindicatos negociando seus interesses com o governo, cooperando ou
fazendo resistência às dinâmicas políticas.
Comunidade Ratifica os aspectos morais e legais da operação da empresa.
Suas demandas são mais passivas e indiretas do que a dos
outros stakeholders.
Fonte: Adaptado de SOUSA & ALMEIDA (2006)
19
O instituto também postula que existem quatro processos de gerenciamento
de stakeholders, citados abaixo, que devem ser realizados continuamente durante a
realização do projeto, pois condições internas e externas podem mudar o contexto
de interesses e influências das partes interessadas no projeto.
a) Identificação de stakeholders
20
engajamento com essas partes interessadas. Segundo Bourne (2010) os métodos
mais comuns são:
• Matriz 2x2: representado na figura 4, é uma das principais ferramentas de
análise, representando graficamente em dois eixos os atributos dos
stakeholders, dos quais são os mais utilizados:
o Poder (baixo – alto)
o Apoio (negativo – apositivo)
o Influência (baixa – alta)
o Interesse (baixo – alto)
o Atitude (opositora – apoiadora)
22
Figura 6 – Direções de influência dos stakeholders
São saídas desse processo o registro das partes interessadas, que contêm
informações de identificação (nome, cargo, local e dados de contato),
informações de avaliação (requisitos, expectativas, potencial para influenciar o
projeto) e classificação das partes interessadas (de acordo com o método
escolhido); as solicitações de mudança (no produto, projeto ou documentos); as
atualizações dos planos de gerenciamento do projeto (requisitos, comunicação,
riscos e partes interessadas); e atualizações em documentos do projeto (registro
de premissas, de questões e de riscos).
23
nas relações de poder. A figura 5 apresenta o fluxo desse processo, que também é
descrito abaixo.
24
Figura 6 – Exemplos de estratégias na matriz poder/influência
25
1. Identificar o nível atual de apoio do stakeholder em cinco níveis: de
apoiadores ativos (compromissado, com nota 5), passando por neutro (nota
3) até ativamente opositor (antagônico, com nota 1).
2. Analisar o nível atual de receptividade de cada stakeholder para receber
mensagens sobre a atividade, de ansiosos por receber uma mensagem
(encorajando o contato pessoal, com nota 5), passando por ambivalente (nota
3), até completamente desinteressado (nota 1).
3. Identificar a posição ótima de engajamento, ponto que atende as
necessidades da atividade e do stakeholder. Se uma parte interessada é
ativamente opositora e completamente desinteressada no projeto, a
estratégia de engajamento com ela será bem diferente daquela empregada
com outro que seja ativo apoiador e ansioso para receber mensagens.
26
Fonte: TRENTIM, 2015
De acordo com o PMI (2018) este é o processo que comunica e trabalha com
os stakeholders para atender suas necessidades e expectativas, endereçando
problemas no momento que eles ocorrem, e promovendo engajamento apropriado
nas decisões e atividades ao longo do projeto. A figura 7 apresenta o fluxo desse
processo, que é descrito abaixo.
27
Fonte: PMI, 2018
28
Fonte: PMI, 2018
29
2.2 Análise sobre comunicação
30
uma adaptação, incluindo o mecanismo de feedback, que permite ao emissor validar
se a mensagem pretendida foi realmente percebida, conforme apresenta a figura 9.
31
observam que a comunicação entre o patrocinador e o gerente do projeto pode ser
usada para resolver questões operacionais e estratégicas, cujo comum
entendimento e alinhamento sobre critérios de sucesso colaboram para atingir os
resultados do projeto (Liu e Walker, 1998).
Herkt (2007) argumenta que a principal diferença entre projetos mais e menos
bem sucedidos está na capacidade do gerente do projeto em desenvolver
habilidades interpessoais, cujo gatilho é a comunicação. O autor complementa
afirmando que a maior responsabilidade do GP deve ser de tomar decisões e
construir relacionamentos mutuamente eficientes com um grupo diversificado de
stakeholders. Ng et al. (2006) concordam e adicionam que comunicação efetiva cria
um sentimento de responsabilidade nas pessoas sob as tarefas para as quais elas
foram alocadas para concluir, tornando possível que membros de um time possam
trabalhar melhor e sem tanta supervisão.
O ambiente da comunicação em projetos é multinacional, multicultural, multi-
projeto e multi-técnico, o que provoca, segundo Väänänen (2010), o desafio de criar
um modelo de comunicação para pessoas com diferentes hábitos, históricos de vida,
expectativas e formas de trabalho que são tão diversas para caberem dentro de uma
mesmas fôrma.
As mudanças inevitáveis no cronograma, na equipe do projeto e até na
formatação do seu escopo pedem a aplicação de uma metodologia composta de
ferramentas e melhores práticas para o gerenciamento da comunicação. O PMI
(2018), apresenta três processos que observam, esclarecem e organizam essa área
do conhecimento:
32
Fonte: PMI, 2018
2) Gerenciar as comunicações
34
• Agilidade é necessária em momentos de crise. Informação precisa,
mesmo que parcial, é preferível, pois evita boatos e instabilidade.
3) Monitorar as comunicações
35
Fonte: PMI, 2018
2
Adopting business strategies and activities that meet the needs of the enterprise and its stakeholders
today while protecting, sustaining and enhancing the human and natural resources that will be needed
in the future.
37
• Tolerável: na qual os aspectos social e ambiental são atendidos, como
níveis de poluição e ruído em áreas residências e densidade da utilização
de terras para habitação.
40
6) Além de lideranças visionárias que definam os objetivos estratégicos e um
time de execução eficiente, é necessário que essas peças fundamentais
sejam treinadas para saber trabalhar em grupo com capacidades técnicas,
habilidades interpessoais e atitude adequada.
3
Today there is an increasing understanding of the need to develop methods, tools and techniques to
integrate sustainability criteria into the management of projects, as well as a growing need of
knowledge and concepts on how to adopt sustainability in project management.
41
estarem preocupadas com a sustentabilidade dos seus projetos, mas também com a
dos recursos que utilizam e dos produtos e serviços que surgem a partir deles.
Do ponto de vista acadêmico, Silvius e Schipper (2010) entendem que os
resultados disponíveis sobre sustentabilidade financeira aplicada a projetos
apresentam apenas um entendimento interpretativo (e não prescritivo), limitando-se
a aspectos específicos como a alocação de recursos em portfólios, operação, e o
impacto da sustentabilidade em projetos. Percebe-se o mesmo sob a ótica do
mercado, conforme apresenta Ebbesen e Hope (2013), afirmando que apesar da
sustentabilidade ser vista como um fator chave a ser incluído no planejamento e
implementação do projeto, não existe concordância entre gestores do mercado
sobre o seu conceito (independente do setor de atuação), onde ela se encaixa em
relação as tradicionais restrições de tempo, custos e qualidade, e como os seus
princípios devem ser integrados a projetos. O mercado de eventos nesses aspectos
não é uma exceção.
Dessa forma, percebe-se a necessidade da adoção de um conceito de
sustentabilidade por parte dos profissionais de gerenciamento de projetos para
permitir que seus praticantes possam integrá-lo ao ciclo de vida dos seus projetos.
Mesmo não havendo entendimento comum sobre sustentabilidade em
projetos, a utilização de ferramentas de viabilidade financeira serve de complemento
analítico à abordagem sustentável, pois, segundo Veras (2001), essa é uma
atividade que busca identificar os benefícios esperados de um investimento em
comparação com os custos associados a ele, seja de um projeto isolado ou
comparando alternativas entre dois ou mais projetos.
Souza e Clemente (2008) dividem as metodologias de análise de viabilidade
em dois grupos:
• Indicadores de rentabilidade do projeto: Valor Presente Líquido (VPL), o
Valor Presente Líquido anualizado (VPLa), o Índice Benefício/Custo (IBC)
e o Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA)
• Indicadores de risco do projeto: Taxa Interna de Retorno (TIR), o Período
de Recuperação do Investimento (Payback) e o Ponto de Fisher.
42
Autores como Hoji (2010) e Frezatti (2008) também apontam metodologias
como o Valor Futuro Líquido (VFL), Valor Uniforme Líquido (VUL), Prazo de Retorno,
Payback Simples, Payback Ajustado e o Índice de Lucratividade (IL).
Já Assaf Neto e Lima (2009) observam um elemento essencial da
sustentabilidade: a importância das decisões financeiras de longo prazo, dando
atenção especial aos métodos que consideram o valor do dinheiro no tempo, como é
o caso da Taxa Interna de Retorno (TIR) e do Valor Presente Líquido (VPL).
Segundo Bruni e Famá (2007) essas técnicas apresentam vantagens e
desvantagens, como apresenta a tabela 3
43
aplicação de uma taxa de desconto, que pode ser o custo de oportunidade da
empresa ou taxa de mínima atratividade (TMA).
Ainda segundo esses autores, a TIR corresponde a taxa de desconto que
torna o valor presente líquido das projeções de fluxo de caixa igual a zero. Oliveira
(1982) define a TIR como a taxa que torna o valor futuro dos lucros igual ao valor
dos investimentos gastos, assim, o projeto somente será financeiramente viável
caso a TIR seja superior a TMA.
45
Fonte: Raj e Musgrave, 2010
Festivais são eventos culturais, religiosos ou não, que tem o seu principal foco
a apresentação musical de bandas, DJs e músicos e que a organização promotora
os identifica como tal. O Brasil é um país continental e a variedade de gêneros
musicais existentes no país torna-o uma fonte rica e diversificada para esse tipo de
evento. De acordo com a PwC (2014), megaeventos como a Copa do Mundo e as
Olimpíadas, e o maior acesso à informação através da internet vem corroborando
para posicionar o Brasil no segundo lugar no ranking de shows e festivais da
América Latina, apenas atrás do México.
Segundo o BRMC (2019), cerca de 70% do público prefere festivais que
comportem entre 1.000 e 10.000 pessoas, enquanto apenas 6% preferem festivais
46
de mais de 20.000 pessoas. Outra pesquisa realizada pelo DATA SIM (2019) indica
que foram organizados cerca de 2.000 festivais entre 2016 e 2018, contabilizando
eventos recorrentes como apenas um. A região Sudeste lidera com 67% do total,
duas vezes mais do que as demais regiões juntas. A figura 15 indica qual é
participação relativa de cada estado na organização desse tipo de evento em 2018.
Ainda de acordo com o DATA SIM (2019) houve um crescimento maior dos
festivais gratuitos do que pagos entre 2016 e 2018. Enquanto os gratuitos cresceram
238%, os pagos cresceram 192%. No que diz respeito ao ticket médio, os números
dobraram em 3 anos, de R$23,04 para R$46,97. São taxas impressionantes,
especialmente tendo em vista que o Brasil teve uma retração acumulada de 1,37%
no mesmo período de acordo com o IBGE (2019).
No que diz respeito à sazonalidade, o DATA SIM (2019) pontua que festivais
no Brasil se concentram mais no segundo semestre (62%) do que no primeiro
(38%). Já no que toca aos estilos musicais, esse período não demonstrou
significante variação. A figura 16 apresenta a distribuição relativa.
47
Figura 16 – Festivais de música e seus gêneros
O prisma financeiro é também foco dessa pesquisa, que contou com o apoio
da empresa de vendas de tickets Sympla. As informações recolhidas mostram que
uma diferença gritante de ticket médio entre os gêneros musicais, conforme aponta
a figura 17.
49
Objetivos; Técnica;
Sistemas; Equipe;
Finanças; Campo;
Planejamento do evento
Sequência; Programa;
Serviços; Convidados;
Logística; Comunicação;
Recepção; Sanitário;
Seguro; Relacionamento;
Licenciamento; Risco
Patrocínios; Promoção;
Vendas; Legalização;
Segurança; Emergência
Aplicação legal; Proteção de
Contratação de staff; VIPs; Gestão do
Aquisição de programa;
equipamentos; Ensaio do Controle
programa; Montagem; criminal;
Execução do evento
evento;
Avaliação do
evento
50
3. METODOLOGIA
51
3.1 Análise de dados
52
Tratando-se das características gerais dos festivais, a amostra revela uma
preponderância do gênero eletrônico, seguido pelo rock e sertanejo. Outros estilos
musicais foram menos expressivos, mas ainda assim figuraram entre os
respondentes, como aponta o gráfico 2.
No que toca ao tempo de vida dos festivais, observa-se que 64% são
realizados há cinco anos, 23% entre 5 e 10 anos, e apenas 14% deles possuem
53
mais de 10 anos de história. Já quando o tema é conteúdo artístico nacional, 73%
dos festivais possuem mais de 60% da sua programação ocupada por brasileiros.
54
A maioria dos respondentes (52%) não utiliza qualquer metodologia de
gerenciamento de projetos. É valido notar também que 3 destes observam e
empregam esforços para áreas de conhecimento comuns a gestão empresarial. A
área de stakeholders foi mencionada uma vez, enquanto comunicação não figurou
nos resultados. Os demais não empregam qualquer esforço nesse sentido (vide
tabela 7).
55
Percebe-se que a tríplice restrição (escopo, custos e cronograma) são as
mais votadas entre os entrevistados. Observando as áreas de estudo que são foco
desse trabalho, é visto que comunicação teve a 3ª maior frequência de resposta,
junto com escopo, e stakeholders figura no último lugar da lista, junto com recursos
humanos. A quantidade de respostas por observação da amostra também foi
analisada, indicando que em média cada um desses respondentes aplica esforços
em 3,25 das 10 áreas de conhecimento apresentadas.
Ainda analisando esses grupos separadamente (usuários e não usuários de
metodologias de gerenciamento de projetos), foi perguntado o quanto acreditam que
este uso impacta na sustentabilidade financeira do festival que organizam, sendo 1
um impacto irrelevante e 5 um impacto extremamente relevante. Abaixo os gráficos
6 e 7 apontam respectivamente a frequência das respostas, e a média geral e dos
grupos supracitados.
56
Fica evidente que existe uma relação positiva entre aqueles que usam
metodologias de gestão de projetos e a crença que isso causará um impacto positivo
na sustentabilidade financeira dos festivais que organizam. Enquanto 14% dos
entrevistados consideram o impacto extremamente relevante, o mesmo número
acredita que é irrelevante, mostrando que apesar da média geral pender para o lado
“positivo” não é possível dizer que existe consenso sobre o assunto, levantando a
hipótese de que tendo em vista que a maioria dos respondentes não pratica as
melhores práticas de gestão em projetos, acabam desconhecendo os efeitos
positivos que elas podem gerar.
58
fornecedores, concorrentes, governo, mídia e comunidade (médio poder e
interesse). Os sindicatos e entidades devem ser apenas informados sobre as
mudanças no projeto (baixo poder e médio interesse). A execução dessas
estratégias está ligada ao perfil de comunicação que a empresa emprega com cada
um, que será analisada mais a frente nesse capítulo.
Segundo Bourne (2010) quanto mais alta for a posição na matriz
poder/interesse, melhor deve ser (1) a qualidade da relação, (2) a proximidade entre
o organizador do festival e seu stakeholder e (3) a frequência de comunicação entre
eles. Foi solicitado então aos entrevistados que classificassem as duas primeiras
variáveis (sendo 1 péssima qualidade/relação inexistente e 5 ótima
qualidade/relação estreita), como pode ser visto na tabela 9.
61
Gestores 27% 55% 5% 5% 5% 5%
Clientes 50% 27% 9% 0% 5% 9%
Acionistas 18% 59% 5% 0% 0% 18%
Patrocinadores 0% 32% 32% 23% 9% 5%
Empregados 64% 9% 9% 0% 14% 5%
Fornecedores 14% 55% 14% 9% 5% 5%
Mídia 14% 14% 27% 14% 9% 23%
Concorrentes 0% 0% 14% 41% 9% 36%
Comunidade 9% 9% 18% 14% 18% 32%
Governo 0% 9% 18% 27% 23% 23%
Entidades/Sindicatos 0% 0% 18% 9% 14% 59%
62
concorrentes obtiveram somatória de 55%, sendo que 36% do total dos
entrevistados não se comunicam com eles, uma falha estratégia que pode ocasionar
em miopia empresarial que reduz a sua competitividade. O governo também soma
um total de 55% e a comunicação insuficiente com ele pode causar em perda ou não
maximização de incentivos tributário e cultural. A mídia soma apenas 27%, o que
significa dizer que os organizadores estão falhando em manter aliados os veículos
de comunicação que podem propagar mensagens positivas sobre seus festivais, ou
ainda prevenir que notícias negativas sejam espalhadas ou mal interpretadas.
Apesar do nível de poder/interesse e qualidade/proximidade da relação com a
comunidade não ser alto, os resultados somam 41%, longe do necessário e indica
que festivais podem perder o apoio da comunidade circunvizinha aos locais onde os
eventos acontecem. Problemas comuns como engarrafamentos longos e som alto
durante a madrugada podem levar a atritos com as autoridades locais (que também
não estão recebendo a comunicação na frequência adequada), resultando em
multas e embargos do evento no médio prazo. Sem o devido apoio da mídia, isso
pode gerar um efeito catalizador negativo para a sua sustentabilidade financeira do
festival. Por fim aqueles que devem ser apenas mantidos informados sobre o projeto
(sindicatos e entidades) estão recebendo a comunicação na frequência adequada.
No que diz respeito às ferramentas de comunicação, os organizadores de
festivais de música puderam assinalar quantas ferramentas quisessem para cada
stakeholder. Em linhas gerais os resultados apontam que e-mail é a ferramenta mais
utilizada, seguido de telefonemas e reuniões presenciais. Em último lugar estão os
websites. Conforme apontado no capítulo 2, o processo de comunicação é
considerado como bem-sucedido quando a mensagem enviada pelo emissor é
compreendida da mesma forma pelo receptor, assim como o tom de voz e os gestos
corporais são facilitadores da comunicação e interpretação da mensagem, o que
implica na preferência por telefonemas e reuniões presenciais com os stakeholders-
chave, e-mails e mensagens para os aliados, e as redes sociais e websites para os
que necessitam ser apenas mantidos informados. A tabela 12 traz os resultados
dessa questão, que serão analisadas a luz das classificações mencionadas.
63
sociais
Gestores 19 19 18 18 3 1 78 1
Patrocinadores 20 17 14 15 7 4 77 4
Fornecedores 19 19 15 14 0 0 67 6
Empregados 16 17 14 17 2 0 66 5
Acionistas 14 14 12 17 3 0 60 3
Clientes 12 2 8 1 16 9 48 2
Mídia 14 8 6 5 10 5 48 7
Governo 9 9 2 11 1 1 33 10
Comunidade 3 3 3 4 11 7 31 9
Concorrentes 1 6 6 4 4 3 24 8
Ent./ Sind. 5 3 1 4 1 1 15 11
64
e-mails e mensagens). Os sindicatos e entidades também estão sendo comunicados
através das ferramentas incorretas, com apenas 13% das respostas para redes
sociais e websites, enquanto telefonemas e reuniões possuem 47%, e e-mails e
mensagens com 40%.
Na segunda parte do questionário o foco da análise foi a sustentabilidade
financeira relacionada aos stakeholders. Primeiramente foi solicitado que fosse
classificada a gravidade do principal conflito ocorrido com uma parte interessada sob
a ótica da sustentabilidade financeira do respectivo festival (sendo 1 insignificante e
5 extremamente relevante). Exemplos desses tipos de conflito são o desrespeito às
leis de silêncio urbano, quebra de contrato com patrocinador, depósito do lixo em
lugares inadequados, falta de aparato médico para o público, más condições de
trabalho para os empregados, entre outros. O gráfico 10 apresenta os resultados.
65
Gráfico 12 – Prazo de impacto do principal conflito com stakeholder
66
(privados ou público, tipo lei de incentivo fiscal)
Contatou a mídia para ser patrocinador oficial 9% 5% 14% 9% 9% 55%
Desenvolveu iniciativas de reciclagem ou
5% 0% 23% 32% 14% 27%
preservação do meio ambiente
Realizou doação para instituição ou ONG com
5% 0% 23% 18% 18% 36%
propósito social
Armazena materiais com fornecedor (sinalização,
9% 5% 14% 14% 45% 14%
mobiliário) para utilizar em vários eventos
Converteu um fornecedor em um patrocinador
5% 18% 9% 9% 18% 41%
(para reduzir custos)
Praticou lobby (ex.: governo local, dono do
9% 5% 5% 18% 27% 36%
imóvel) para obter algum benefício
Copia outros eventos para manter-se atualizado
9% 9% 18% 32% 14% 18%
com as tendências de mercado
Faz pacote com fornecedores para múltiplos
5% 5% 14% 14% 55% 9%
eventos para reduzir custos
Negocia verba com patrocinadores para múltiplos
0% 5% 18% 9% 59% 9%
eventos para gerar sinergia
Patrocina o treinamento de seus colaboradores 14% 5% 36% 14% 14% 18%
Cria alianças comerciais com concorrentes para
23% 14% 14% 18% 0% 32%
contratar produtos ou serviços
Alinha calendário de eventos com concorrentes
9% 5% 27% 27% 18% 14%
locais
Média 9% 6% 18% 17% 23% 28%
68
4. CONCLUSÃO
70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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