Sei sulla pagina 1di 3

ACTA MEDICA PORTUGUESA 1985; 6: 187-189 CASO CLINICO

MELHORIA DO SiNDROME DE MEIGE COM LISURIDE


PAULA ESPERANcA, ALEXANDRE CASTRO-CALDAS
Instituto de Neurologia. Faculdade de Medicina de Lisboa. Hospital de Santa Maria. Lisboa. Portugal.

RESUMO
o Sindrome de Meige e uma perturbacao de movirnento, rara, que ocorre na idade adulta sendo Os sin
tomas, em geral, dificilmente melhorados pelas várias terapëuticas tentadas. Tern sido sugerido que os mo
vimentos involuntãrios que caracterizam a doenca resultarn da associacao de hiperactividade acetilcolinér
gica e dopaminérgica nos gânglios da base. Michelli et al.’0 sugeriram que o Lisuride podia ser eficaz no
controle desta afecçao, mas em artigos mais recentes esta possibilidade não foi referida. Relata-se urn caso
de uma muiher de 68 anos corn Sindrome de Meige no qual o Lisuride foi eficaz no alivio dos movimentos
involuntários. Sugere-se que a serotonina possa também desempenhar urn papel importante nesta entidade.

SUMMARY

Improvement of Meige’s syndrome with lisuride


Meige’s Syndrome is a rare movement disorder of adulthood. Symptoms are generally poorly improved
by drug therapy. It has been suggested that the symptoms are the result of increased cholinergic and dopa
minergic activity in the basal ganglia. Michelli et al.’0 suggested that Lisuride could reduce the intensity of
the abnormal movements, but further investigation of this drug has not been reported for this disorder.
The case of a 68 year old lady with Meige’s syndrome is reported whose symptoms improved with Lisuride.
It is suggested that serotonin may also play a role in the genesis of the symptoms of this disease.

INTR0DuçA0 tes sob o esforco da atencäo e da vontade e desaparecem


por completo durante o sono.” 2 Esta entidade é rnais fre
Em 1910 Henry Meige descreveu urna entidade clinica
quente em rnulheres, entre a 5•a e a 7•a década de vida, não
caracterizada por movirnentos involuntários da face que dis
havendo em geral referência a histôria familiar de doenca
tinguiu dos dois quadros de contraccoes faciais descritos ate
entäo — Os tiques e os espasmos — e que designou por Es (embora existarn casos farniliares descritos e referência a
pasmo Facial Mediano.’ 2 Para quem nunca teve a oportu outras perturbacOes extrapirarnidais nos familiares)’-5
nidade de observar directamente esta entidade torna-se difi
cil diferenciá-la das outras duas situacOes.
Os tiques da face caracterizarn-se por serem contraccOes CASO CLINICO
geralmente bruscas, uni ou bilaterais, de um ou mais rnüs
A.G.F.M., do sexo feminino, 68 anos, adrnitida no Ser
cubs faciais, que não correspondem obrigatoriamente a urn
vico de Neurologia do H. S. Maria em Outubro de 1983.
território nervoso anatornicamente definido. Estas contrac
cOes reproduzem de rnodo mais ou rnenos exagerado certos Em Outubro de 1982, sem que estivesse a fazer qualquer
gestos rnirnicos ou funcionais, e são inibidos pela atencão e medicacão, notou o aparecimento de movimentos espasmô
pela accao da ~ dicos involuntários e incontroláveis de encerramento inter
O espasmo facial é quase sempre unilateral; as contrac mitente e simêtrico das pálpebras e de abertura da boca.
cOes surgern so no territOrio do nervo facial, são erráticas, Foi rnedicada corn benzodiazepinas, meihorando de modo
parcelares, generalizando-se posteriormente para adquirirern ligeiro e transitório. Em Dezembro do mesrno ano notou
um aspecto de contractura e são totalrnente desprovidas de aumento da frequência e da intensidade dos movirnentos
qualquer significado mimico. Podem acompanhar-se de palpebrais, surgindo nesta altura protusao da lingua corn
fenOrnenos vasomotores e de perturbaçOes de audicAo unila movimentos de lateralizacao e estirarnento dos rnüsculos
terais. 0 espasrno facial persiste durante o sono e a accão cervicais, condicionando dificuldade na coordenacão res
da vontade e ou da atencao não têm qualquer efeito sobre piratOria, na degluticão e na fala. Foi internada num ser
ele.” 2 vico de Psiquiatria tendo feito vária medicacão neuro
No Espasmo Facial Mediano, ou SIndrome de Meige, léptica sern rnelhoria apreciável.
as contraccOes são bilaterais e predominarn na linha media, Ate a data do internamento fez várias rnedicacOes corn
os mOsculos rnais frequente e intensarnente atingidos são os benzodiazepinas, bromocriptina e anticolinérgicos, em doses
orbiculares das pálpebras, originando urn blefarospasrno. variãveis, mas sem rnodificacao apreciável do quadro. Erna
Estes movimentos são tónicos, espasrnôdicos, arritmicos, greceu cerca de 20 quilos nesse ano. Os rnovirnentos torna
podendo durar de alguns segundos a minutos. Coexiste yarn-se menos intensos corn a relaxacao, desapareciarn du
frequenternente envolvimento de outros müsculos faciais rante o sono e agravavam-se corn a ansiedade.
(frontais, labiais, mentonianos) e rnais esporadicamente Nos antecedentes pessoais havia a referir histOria de
dos müsculos do palato, faringe, rnandibula e lingua. 0 hipertensão arterial e reumatismo articular crOnico. NAo
padrao de contraccOes sofre rnodificacOes ao longo do dia havia referëncia a casos idênticos na familia nem histOria
— atenuarn-se ou podem rnesrno desaparecer por instan de ingestão prévia de fãrrnacos.

I 07
PAULA EsPERANcA, ALEXANDRE CASTRO-CALDAS

o exame geral revelava acentuacAo da cifose dorsal e de urn lado foi descrita rnelhonia com antagonistas doparninér
formacOes articulares nos joelhos e pés. 0 restante exarne gicos (Halopenidol) 6 e agravamento corn a Levodopa7 —
era normal. tendo sido por isso postulado urn estado de preponderância
Do exarne neurolôgico destacava-se a existëncia de movi dopaminérgica no estriado. Esta preponderância seria devi
mentos involuntários de abertura e encerramento intermi da ao aurnento da quantidade de dopamina nos receptores
tente dos olhos (blefarospasmo), abertura da boca corn pro das células estriadas secundária ~ nAo inibicao da producAo
tusAo e lateralizacAo da lingua e estirarnento dos mñsculos nignica de doparnina através do GABA (verificou-se urna di
cervicais. Todos estes movirnentos eram do tipo espasmô minuicao do teor de GABA no LCR destes doentes 6, 8), a
dico, corn uma frequência variável. Os rnovimentos orornan existência de urna forrna idiopática de hipersensibilidade dos
dibulares erarn mais exuberantes do que os palpebrais, dimi receptores dopaminérgicos no estriado,7 ou ainda a existên
nuindo estes corn os rnovirnentos persecutórios oculares. 0 cia de diferentes sistemas dopaminérgicos corn vãnios tipos
restante exame neurolôgico era normal. de receptores.7’ 9 Por outro lado tambérn se obtiveram rne
Do ponto de vista funcional a doente encontrava-se im ihoras corn agonistas da dopamina — Apornorfina6’ 0 e
possibilitada de se alirnentar satisfatoriamente por via oral, Lisunide.’° Curiosarnente o ernprego de urn outro conhecido
tinha dificuldade em articular palavras e tinha dispneia. agonista dopaminérgico — a Bromocniptina — foi ineficaz
Os exarnes complementares de diagnóstico não revelaram em vários doentes corn o Sindrorne de Meige ~ tal como
alteracOes. aconteceu no caso presente.
A doente iniciou terapêutica corn anticolinérgicos Quanto a irnportância do sistema acetilcolinérgico na pa
— benzotropina — em doses crescentes ate 14 rng diários. tofisiologia do Sindrorne de Meige, o seu papel tarnbém não
Observou-se o desaparecirnento do blefarospasrno mas não esta bern esclarecido embora nos pareca menos confuso.
houve alteracOes significativas nos rnovirnentos oromandi Foram relatados dois casos que melhoraram corn o Deanol7
bulares. Nesta altura foi instituida terapêutica corn Lisuride (possivel precursor da acetilcolina) mas todos os casos medi
na dose inicial de 0,2 rng/dia, per os, tendo-se aumentado cados com Fisiostigrnina piorararn.6’ 1113 Em contrapartida
progressivarnente a dose ate 1,5 mg e retirado gradualmente elevado nürnero de casos de Sindrorne de Meige tratados, de
a benzotropina. urn modo agudo ou crónico, corn anticolinérgicos de accão
A doente permaneceu sem blefarospasmo e os rnovimen central — Escopolamina, Benzotropina e Trihexifenidil —
tos orornandibulares foram dirninuindo de intensidade e de rnelhorararn, embora, por vezes com elevada incidência de
frequência, persistindo apenas alguns movirnentos de protu efeitos colaterais. II, 12
são da lingua. A doente ficou sem dispneia, sem dificuldade O facto de a nossa doente ter meihorado corn o Lisuride
na fala e passou a alimentar-se meihor. — que além de potente agonista dopaminérgico é tarnbérn

Desde então a terapêutica foi rnantida em doses rnédias agonista serotoninérgico — e corn o 5-Hidroxitriptofano
de 1,5 rng de Lisuride por dia. Em Abril de 1984 associou-se — percursor da Serotonina — leva-nos a crer que o sisterna

a esta terapêutica o 5-Hidroxitriptofano (300 rng/dia) e serotoninérgico e a sua relacão corn o balanco Dopamina
obteve-se meihoria adicional dos sintornas. Esta associacão -Acetilcolina possa ter irnportância, ate aqui pouco valorizada.
tern-se mantido ate hoje podendo a situaçao considerar-se A corroborar o eventual papel da Serotonina nesta enti
estabilizada. NAo se regista blefarospasmo e os rnovimentos dade, existe urn caso de Sindrome de Meige (constituido so
oromandibulares, ernbora presentes, não limitam significati por blefarospasrno) que rnelhorou corn Clonazepam (o qua!
varnente a vida diana. aurnenta o nivel de Serotonina no SNC).’5

DISCUSSAO AGRADECIMENTOS
O Sindrome de Meige e urna situacão que, ate a data,
continua a ser de etiologia desconhecida e de dificil trata Os autores agnadecern a Firma Schering AG o Lisunide
rnento. 0 facto de grande nürnero destes doentes se apre utilizado neste estudo.
sentarern psicologicamente afectados pela grande ansiedade
e depressão que a doenca ihes causa, levou a que inicial BIBLIOGRAFIA
rnente Ihe fosse atribuida uma etiologia psicogénica passivel
de ser controlada por urna disciplina psico-motora.’ 1. MEIGE, H.: Mémoines originaux — Les convulsions de Ia face:
O aparecimento de blefarospasrno e de distonia oroman une forme clinique de convulsion faciale bilatérale et médiane.
dibular secundariarnente a Encefalite Letárgica, Doenca de Rev. Neurol., 1910; 21: 437-43.
Parkinson e administracao crónica de neurolépticos consti 2. TOLOSA, E. S ; KLAWANS, H. L.: Meige’s disease — A cli
tui prova de que o Sindrome de Meige é devido a uma alte nical form of facial convulsion, bilateral and medial. Arch.
racao na fisiologia dos gânglios da base,3 não se sabendo no Neurol., 1979; 36: 635-37.
entanto se essa alteracao é primariarnente estrutural ou de
3. MARSDEN, C. D.: Blepharospasm — oromandibular dystonia
vida a erro do metabolismo das rnonoarninas. Esta ültima syndrome (Brueghel’s syndrome). J. Neural., Neurosurg., and
hipótese ajuda a explicar a predisposicao para o apareci Psychiatry., 1976; 39: 1204-209.
rnento de depressAo e distonia ern grande nürnero dos casos
4. TOLOSA, E. S.: Clinical features of Meige’s disease (Idiopathic
relatados por Tolosa.4
Orofacial Dystonia) — A report of 17 cases. Arch. Neural.,
Não é dificil perceber a dificuldade terapêutica que esta 1981; 38: 147-51.
entidade representa, uma vez que ainda não se chegou a
uma conclusao quanto a alteracao neuroquirnica que a con 5. NUTT, J. G.; HAMMERSTAD, J. P.: Blepharospasm and
Oromandibular Dystonia (Meige’s syndrome) in sisters. Ann.
diciona, ernbora várias hipóteses antagónicas tenham sido
Neural., 1981; 9: 189-91.
aventadas.
Em linhas gerais podemos dizer que a fisiologia dos gân 6. TOLOSA, E. E.: Meige disease: striatal dopaminergic prepon
glios da base assenta no equilibnio entre os sisternas acetil derance. Neurology., 1979; 29: 1126-130.
colinérgico e dopaminérgico. Em relacao a este ültirno o seu 7. CASEY, D. E.: Pharmacology of blepharospasm-oromandibular
papel na patogenia do Sindrome de Meige é paradoxal. Por dystonia syndrome. Neurology., 1980; 30: 690-95.
MELHORIA DO SINDROME DE MEIGE COM LISURIDE

8. BRENNAM, M. J. W.; RUFF, P.; SANDYK, R.: Efficacy of 13. NUTT, J. G.; HAMMERSTAD, J. P.; PAT DE GARMO,
a combination of sodium vaiproate and baclofen in Meige’s di- CARTER, J.: Cranial dystonia: Double-blind crossover study
sease (idiopathic orofacial dystonia). Brit. Med. Journal., of anticholinergics. Neurology., 1984; 34: 2 15-17.
1982; 285: 853. 14. DUVOISIN, R. C.: Meige Syndrome: Relief on high-dose anti-
9. KEBABIAN, J. W.; CALNE, D. B.: Multiple receptors for cholinergic therapy. Clin. Neuroph., 1983; vol 6: 1: 63-66.
dopamine. Nature., 1979; 277: 93-96. 15. MERIKANGAS, J. R.; REYNOLDS, C. F.: Blepharospasm:
10. MICHELLI, F.; PARDAL, M. M. F.; LEIGUARDA, R. C.: Successful treatment with Clonazepam. Ann. Neurol., 1979; 5:
Beneficial effects of Lisuride in Meige disease. Neurology., 401-402.
1982; 32: 432-34.
11. STAHL, S. M.; S. M.; BERGER, P. A.: Bromocriptine,
physiostigmine and neurotransmitter mechanisms in the dysto
nias. Neurology., 1982; 32: 889-92. Pedido de separatas: A. Castro-Caldas
12. TANNER, C. M.; GLANTZ, R. H.; KLAWANS, H. L.: Mci- Servico de Neurologia
ge disease: Acute and chronic cholinergic effects. Neurology., Hospital de Santa Maria
1982; 32: 783-85. 1600 Lisboa. Portugal

Potrebbero piacerti anche