Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
RESUMO
o Sindrome de Meige e uma perturbacao de movirnento, rara, que ocorre na idade adulta sendo Os sin
tomas, em geral, dificilmente melhorados pelas várias terapëuticas tentadas. Tern sido sugerido que os mo
vimentos involuntãrios que caracterizam a doenca resultarn da associacao de hiperactividade acetilcolinér
gica e dopaminérgica nos gânglios da base. Michelli et al.’0 sugeriram que o Lisuride podia ser eficaz no
controle desta afecçao, mas em artigos mais recentes esta possibilidade não foi referida. Relata-se urn caso
de uma muiher de 68 anos corn Sindrome de Meige no qual o Lisuride foi eficaz no alivio dos movimentos
involuntários. Sugere-se que a serotonina possa também desempenhar urn papel importante nesta entidade.
SUMMARY
I 07
PAULA EsPERANcA, ALEXANDRE CASTRO-CALDAS
o exame geral revelava acentuacAo da cifose dorsal e de urn lado foi descrita rnelhonia com antagonistas doparninér
formacOes articulares nos joelhos e pés. 0 restante exarne gicos (Halopenidol) 6 e agravamento corn a Levodopa7 —
era normal. tendo sido por isso postulado urn estado de preponderância
Do exarne neurolôgico destacava-se a existëncia de movi dopaminérgica no estriado. Esta preponderância seria devi
mentos involuntários de abertura e encerramento intermi da ao aurnento da quantidade de dopamina nos receptores
tente dos olhos (blefarospasmo), abertura da boca corn pro das células estriadas secundária ~ nAo inibicao da producAo
tusAo e lateralizacAo da lingua e estirarnento dos mñsculos nignica de doparnina através do GABA (verificou-se urna di
cervicais. Todos estes movirnentos eram do tipo espasmô minuicao do teor de GABA no LCR destes doentes 6, 8), a
dico, corn uma frequência variável. Os rnovimentos orornan existência de urna forrna idiopática de hipersensibilidade dos
dibulares erarn mais exuberantes do que os palpebrais, dimi receptores dopaminérgicos no estriado,7 ou ainda a existên
nuindo estes corn os rnovirnentos persecutórios oculares. 0 cia de diferentes sistemas dopaminérgicos corn vãnios tipos
restante exame neurolôgico era normal. de receptores.7’ 9 Por outro lado tambérn se obtiveram rne
Do ponto de vista funcional a doente encontrava-se im ihoras corn agonistas da dopamina — Apornorfina6’ 0 e
possibilitada de se alirnentar satisfatoriamente por via oral, Lisunide.’° Curiosarnente o ernprego de urn outro conhecido
tinha dificuldade em articular palavras e tinha dispneia. agonista dopaminérgico — a Bromocniptina — foi ineficaz
Os exarnes complementares de diagnóstico não revelaram em vários doentes corn o Sindrorne de Meige ~ tal como
alteracOes. aconteceu no caso presente.
A doente iniciou terapêutica corn anticolinérgicos Quanto a irnportância do sistema acetilcolinérgico na pa
— benzotropina — em doses crescentes ate 14 rng diários. tofisiologia do Sindrorne de Meige, o seu papel tarnbém não
Observou-se o desaparecirnento do blefarospasrno mas não esta bern esclarecido embora nos pareca menos confuso.
houve alteracOes significativas nos rnovirnentos oromandi Foram relatados dois casos que melhoraram corn o Deanol7
bulares. Nesta altura foi instituida terapêutica corn Lisuride (possivel precursor da acetilcolina) mas todos os casos medi
na dose inicial de 0,2 rng/dia, per os, tendo-se aumentado cados com Fisiostigrnina piorararn.6’ 1113 Em contrapartida
progressivarnente a dose ate 1,5 mg e retirado gradualmente elevado nürnero de casos de Sindrorne de Meige tratados, de
a benzotropina. urn modo agudo ou crónico, corn anticolinérgicos de accão
A doente permaneceu sem blefarospasmo e os rnovimen central — Escopolamina, Benzotropina e Trihexifenidil —
tos orornandibulares foram dirninuindo de intensidade e de rnelhorararn, embora, por vezes com elevada incidência de
frequência, persistindo apenas alguns movirnentos de protu efeitos colaterais. II, 12
são da lingua. A doente ficou sem dispneia, sem dificuldade O facto de a nossa doente ter meihorado corn o Lisuride
na fala e passou a alimentar-se meihor. — que além de potente agonista dopaminérgico é tarnbérn
Desde então a terapêutica foi rnantida em doses rnédias agonista serotoninérgico — e corn o 5-Hidroxitriptofano
de 1,5 rng de Lisuride por dia. Em Abril de 1984 associou-se — percursor da Serotonina — leva-nos a crer que o sisterna
a esta terapêutica o 5-Hidroxitriptofano (300 rng/dia) e serotoninérgico e a sua relacão corn o balanco Dopamina
obteve-se meihoria adicional dos sintornas. Esta associacão -Acetilcolina possa ter irnportância, ate aqui pouco valorizada.
tern-se mantido ate hoje podendo a situaçao considerar-se A corroborar o eventual papel da Serotonina nesta enti
estabilizada. NAo se regista blefarospasmo e os rnovimentos dade, existe urn caso de Sindrome de Meige (constituido so
oromandibulares, ernbora presentes, não limitam significati por blefarospasrno) que rnelhorou corn Clonazepam (o qua!
varnente a vida diana. aurnenta o nivel de Serotonina no SNC).’5
DISCUSSAO AGRADECIMENTOS
O Sindrome de Meige e urna situacão que, ate a data,
continua a ser de etiologia desconhecida e de dificil trata Os autores agnadecern a Firma Schering AG o Lisunide
rnento. 0 facto de grande nürnero destes doentes se apre utilizado neste estudo.
sentarern psicologicamente afectados pela grande ansiedade
e depressão que a doenca ihes causa, levou a que inicial BIBLIOGRAFIA
rnente Ihe fosse atribuida uma etiologia psicogénica passivel
de ser controlada por urna disciplina psico-motora.’ 1. MEIGE, H.: Mémoines originaux — Les convulsions de Ia face:
O aparecimento de blefarospasrno e de distonia oroman une forme clinique de convulsion faciale bilatérale et médiane.
dibular secundariarnente a Encefalite Letárgica, Doenca de Rev. Neurol., 1910; 21: 437-43.
Parkinson e administracao crónica de neurolépticos consti 2. TOLOSA, E. S ; KLAWANS, H. L.: Meige’s disease — A cli
tui prova de que o Sindrome de Meige é devido a uma alte nical form of facial convulsion, bilateral and medial. Arch.
racao na fisiologia dos gânglios da base,3 não se sabendo no Neurol., 1979; 36: 635-37.
entanto se essa alteracao é primariarnente estrutural ou de
3. MARSDEN, C. D.: Blepharospasm — oromandibular dystonia
vida a erro do metabolismo das rnonoarninas. Esta ültima syndrome (Brueghel’s syndrome). J. Neural., Neurosurg., and
hipótese ajuda a explicar a predisposicao para o apareci Psychiatry., 1976; 39: 1204-209.
rnento de depressAo e distonia ern grande nürnero dos casos
4. TOLOSA, E. S.: Clinical features of Meige’s disease (Idiopathic
relatados por Tolosa.4
Orofacial Dystonia) — A report of 17 cases. Arch. Neural.,
Não é dificil perceber a dificuldade terapêutica que esta 1981; 38: 147-51.
entidade representa, uma vez que ainda não se chegou a
uma conclusao quanto a alteracao neuroquirnica que a con 5. NUTT, J. G.; HAMMERSTAD, J. P.: Blepharospasm and
Oromandibular Dystonia (Meige’s syndrome) in sisters. Ann.
diciona, ernbora várias hipóteses antagónicas tenham sido
Neural., 1981; 9: 189-91.
aventadas.
Em linhas gerais podemos dizer que a fisiologia dos gân 6. TOLOSA, E. E.: Meige disease: striatal dopaminergic prepon
glios da base assenta no equilibnio entre os sisternas acetil derance. Neurology., 1979; 29: 1126-130.
colinérgico e dopaminérgico. Em relacao a este ültirno o seu 7. CASEY, D. E.: Pharmacology of blepharospasm-oromandibular
papel na patogenia do Sindrome de Meige é paradoxal. Por dystonia syndrome. Neurology., 1980; 30: 690-95.
MELHORIA DO SINDROME DE MEIGE COM LISURIDE
8. BRENNAM, M. J. W.; RUFF, P.; SANDYK, R.: Efficacy of 13. NUTT, J. G.; HAMMERSTAD, J. P.; PAT DE GARMO,
a combination of sodium vaiproate and baclofen in Meige’s di- CARTER, J.: Cranial dystonia: Double-blind crossover study
sease (idiopathic orofacial dystonia). Brit. Med. Journal., of anticholinergics. Neurology., 1984; 34: 2 15-17.
1982; 285: 853. 14. DUVOISIN, R. C.: Meige Syndrome: Relief on high-dose anti-
9. KEBABIAN, J. W.; CALNE, D. B.: Multiple receptors for cholinergic therapy. Clin. Neuroph., 1983; vol 6: 1: 63-66.
dopamine. Nature., 1979; 277: 93-96. 15. MERIKANGAS, J. R.; REYNOLDS, C. F.: Blepharospasm:
10. MICHELLI, F.; PARDAL, M. M. F.; LEIGUARDA, R. C.: Successful treatment with Clonazepam. Ann. Neurol., 1979; 5:
Beneficial effects of Lisuride in Meige disease. Neurology., 401-402.
1982; 32: 432-34.
11. STAHL, S. M.; S. M.; BERGER, P. A.: Bromocriptine,
physiostigmine and neurotransmitter mechanisms in the dysto
nias. Neurology., 1982; 32: 889-92. Pedido de separatas: A. Castro-Caldas
12. TANNER, C. M.; GLANTZ, R. H.; KLAWANS, H. L.: Mci- Servico de Neurologia
ge disease: Acute and chronic cholinergic effects. Neurology., Hospital de Santa Maria
1982; 32: 783-85. 1600 Lisboa. Portugal