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29/07/2019
Número: 5033724-97.2018.8.13.0079
Classe: PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL
Órgão julgador: 1ª Unidade Jurisdicional - JESP - 2º JD Contagem
Última distribuição : 05/11/2018
Valor da causa: R$ 2.934,00
Assuntos: Rescisão do contrato e devolução do dinheiro, Indenização por Dano Moral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
MARIA DE LOURDES GONCALVES SANTOS (AUTOR)
LOJAS AMERICANAS S.A (RÉU) THIAGO MAHFUZ VEZZI (ADVOGADO)
B2W COMPANHIA DIGITAL (RÉU) THIAGO MAHFUZ VEZZI (ADVOGADO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
77172 24/07/2019 15:34 Sentença - Jesp Sentença - Jesp
389
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE MINAS GERAIS
PODER JUDICIÁRIO
CONTAGEM
1ª Unidade Jurisdicional - JESP - 2º JD Contagem
Avenida Maria da Glória Rocha, 425, centro, CONTAGEM - MG - CEP: 32010-375
SENTENÇA JESP
Recurso/processo: 5033724-97.2018.8.13.0079
Decido.
Arguiu a ré Lojas Americanas S.A., preliminar relativa à ilegitimidade passiva, ao fundamento de que as
transações comerciais é de responsabilidade da pessoa jurídica B2W Companhia Digital.
No caso dos autos, em que pese a parte autora não especificar qual das pessoas jurídicas que lhe vendeu o
bem, alegação que, por si só, torna a parte legítima a figurar no polo passivo da ação (teoria da asserção),
verifico que a pessoa jurídica B2W Companhia Digital é a responsável pelas vendas na plataforma digital,
pelo que reconheço a ilegitimidade da ré Lojas Americanas S.A..
A parte ré também arguiu incompetência do juízo, ao fundamento de que a solução dos pedidos demanda
produção de prova pericial. Sem razão. A fraude alegada na inicial é fato incontroverso e reconhecido pela ré,
motivo pela qual torna prescindível a produção de prova técnica.
Arguiu a ré, também, preliminar relativa a ilegitimidade passiva, ao fundamento de que não mantém com a
autora relação jurídica. No caso, a alegação inicial habita no acidente de consumo, já que a responsabilidade
da ré deriva da alegação de fraude na contratação. Assim, à luz da assertiva inicial, a ré é parte legítima para
figurar no polo passivo da ação.
Em análise das alegações, verifica-se que a fraude no pagamento do produto é fato incontroverso, motivo
pelo qual independe de prova, a teor do art. 374, III, do CPC. Tanto a ré quanto à autora não divergem do fato
de que a emissão do boleto decorreu de uma fraude. Ressalta-se que a cópia do boleto acostado aos autos
traz a logomarca da ré, o que corrobora os fatos alegados na inicial.
É certo que a responsabilidade objetiva, decorrente da teoria do risco, aplicável à atividade da ré, faz com
que a pessoa jurídica responda pelos fortuitos e fraudes inerentes à sua atividade, mesmo nas compras pela
internet, uma vez que o meio utilizado gera considerável lucro à fornecedora. O risco, portanto, deve ser
suportado pela ré.
Assinado eletronicamente por: LEONARDO LIMA PUBLIO - 24/07/2019 15:34:41 Num. 77172389 - Pág. 1
https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19072415060950100000075861404
Número do documento: 19072415060950100000075861404
Cite-se, por exemplo, acórdão da lavra do Egrégio TJMG:
Posto isso, é certo que cabe aos fornecedores repararem os consumidores dos danos oriundos de fraudes
decorrentes de transações que ocorrem por meios disponibilizados pelos próprios fornecedores – internet, por
exemplo -, sempre com vistas de obter lucro.
Contudo, a reparação do dano material não se confunde com o cumprimento forçado da oferta. Se não houve
oferta do televisor, já que esta decorre de fraude, não há falar em cumprimento forçado da obrigação. O ato
inexistente não gera esse direito. Logo, apesar de se reconhecer o direito de a autora ser restituída da
quantia paga, não vislumbro possibilidade jurídica de forçar a ré a cumprir com uma oferta a qual não
veiculou, mesmo em caso de pedido alternativo.
Posto isso, caberá à ré efetuar o pagamento da autora em valor igual ao gasto com o pagamento do boleto
fraudulento, qual seja R$ 978,00 (novecentos e setenta e oito reais). A quantia deverá ser monetariamente
corrigida a partir da data do pagamento (04/10/2018), e acrescida de juros moratórios, no percentual de 1%,
ao mês, desde a citação (22/01/2019).
Em relação ao dano moral, a mesma sorte não possui a autora. O dano moral deve ser conceituado pela
efetiva ocorrência de lesão a um ou mais direitos da personalidade. Sérgio Cavalieri Filho conceitua que dano
moral “envolve esses diversos graus de violação dos direitos da personalidade, abrange todas as ofensas à
pessoa, considerada esta em suas dimensões individual e social, ainda que sua dignidade não seja
1
arranhada” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 76) .
O dano moral não se define ou se restringe a sentimentos de dor e sofrimento, os quais podem se constituir
suas possíveis consequências. É o que define a doutrina de Christiano Chaves e Nelson Rosenvald:
“Ocorre que o dano moral nada tem a ver com dor, mágoa ou sofrimento da vítima ou de seus familiares. O
pesar e consternação daqueles que sofrem um dano extrapatrimonial não passam de sensações subjetivas,
ou seja, sentimentos e vivências eminentemente pessoais e intransferíveis, pois cada ser humano recebe os
golpes da vida de forma única, conforme o seu temperamento e condicionamentos. [...]
Isto implica aceitar que fatos prosaicos do cotidiano e de pequena importância para alguns de nós, possam
representar grandes abalos para outras pessoas. A subjetividade humana é uma dimensão etérea e
impalpável” (FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil Responsabilidade
Civil; edição 2014Ed. JusPodivm, pag. 332).
Os direitos da personalidade possuem amparo constitucional - artigo 5°, inciso, V, X e XLI, da Carta Magna –
e, dentre aqueles citados pelo texto constitucional, cujo rol não se exaure, tem-se: a intimidade, a vida
privada, a honra, a imagem, os direitos e liberdades fundamentais.
A cobrança indevida, ou mesmo a não entrega de um produto, pode causar danos aos direitos da
personalidade. No entanto, essa conclusão não é consequência lógica, ou mesmo pode ser alcançada de
plano, e não há prova nos autos que a corrobore.
Não há prova de que a compra da televisão tinha como fim presentear alguém ou que a perda financeira
comprometeu sua economia a ponto de não conseguir adquirir outro produto similar ao desejado. Assim,
ausente prova do dano, não há falar em dever de reparação.
Assinado eletronicamente por: LEONARDO LIMA PUBLIO - 24/07/2019 15:34:41 Num. 77172389 - Pág. 2
https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19072415060950100000075861404
Número do documento: 19072415060950100000075861404
Dispositivo:
Ante o exposto, acolho parcialmente os pedidos iniciais, nos termos do art. 485, I, do CPC, para condenar a
ré a pagar à autora a quantia de R$ 978,00 (novecentos e setenta e oito reais). A quantia deverá ser
monetariamente corrigida a partir da tabela divulgada pela Corregedoria de Justiça desde o pagamento
(04/10/2018), e acrescida de juros moratórios, no percentual de 1%, ao mês, desde a citação (22/01/2019).
Julgo extinto o processo, sem resolução de mérito, em relação à ré Lojas Americanas S.A.
Publique-se e intimem-se.
1 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 7. ed, São Paulo: Ed. Atlas, 2007.
Assinado eletronicamente por: LEONARDO LIMA PUBLIO - 24/07/2019 15:34:41 Num. 77172389 - Pág. 3
https://pje.tjmg.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=19072415060950100000075861404
Número do documento: 19072415060950100000075861404