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GUERRA CIVIL ESPANHOLA ENTRE AS CAUSAS INTERNAS E OS INTERESSES

ESTRANGEIROS
Sabrina Sales Araujo.
Resumo
Dentro do rol dos complexos eventos que ocorreram na história contemporânea, a Guerra Civil
espanhola é imprescindível para compreender as tensões de forças europeias que entraram em
confronto durante a Segunda Guerra Mundial. Ela é inclusive citada por alguns historiadores
como o primeiro conflito desta última – iniciada oficialmente em Setembro de 1939, alguns dias
após o Pacto Molotov – Ribbentrop1. Às causas inicialmente internas e relacionadas aos
problemas econômicos vinculados a inserção periférica espanhola no sistema capitalista moderno,
somaram-se as perdas territoriais coloniais na América e o consequente desprestígio militar
espanhol durante o final do século XIX. Esses problemas internos deram margem ao surgimento
e crescimento da aceitação por parte da população, de formas alternativas de projetos de
desenvolvimento que passavam por diferentes formas de governo, entre eles liberais,
republicanos, anarquistas e comunistas, frente aos conservadores e monarquistas, bem como de
grupos e partidos fascistas que se alimentavam do caldo ideológico fascista e nacionalista que se
avolumou na Europa do século XIX-XX, sobretudo com as disputas imperialistas, a Primeira
Guerra Mundial e crise de 1929, que marcou a derrocada do modelo liberal. Essa disputa entre
diferentes projetos motivaram a tentativa de golpe de Julho de 1936 que culminou, por sua vez,
no encetamento da guerra civil, a qual, a despeito do termo, acrescentaram-se ou eximiram-se
forças externas que guardavam em relação a esse confronto, interesses estratégicos específicos
que ficam mais claros com o desenrolar dos acontecimentos e, principalmente com o advento da
Segunda Guerra.

Política e economia espanhola pré-guerra


Após a Ditadura de Primo Rivera foi instaurada em 1931 na Espanha a Segunda
República, símbolo para a elite de manutenção do status quo. Contudo, ela governada inicialmente
pelos republicanos de viés socialista, que tinham como propostas a execução de reformas
estruturais que tinham por objetivo aumentar a democracia econômica como pré-requisito
essencial para o estabelecimento da democracia política2 e para promover a inserção espanhola
no capitalismo moderno visando eliminar suas marcas de país periférico. Para isso, era necessário
eliminar os fortes traços feudais que permaneciam no país concomitantemente a urbanização de
algumas cidades e regiões.

1
Pacto de não agressão assinado por Hitler e Stalin.
2
GRAHAM, Helen. Guerra Civil Espanhola. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013, p. 18.
Esses traços feudais, sobretudo, a existência de grandes latifúndios e concentração de
terras, tornavam necessárias duas medidas reformistas, quais sejam: a reforma agrária e laicização
do Estado. Com a primeira, pretendia-se reduzir a forte desigualdade existente, que fazia com que
as diferentes regiões espanholas fossem marcadas por um grande abismo, pois havia áreas urbanas
como a capital Madrid com populações operárias, ao passo em que, em regiões interioranas a
população era ainda marcada por fortes características tradicionais, onde a igreja e o clero ainda
tinham grande predomínio. Com a segunda, pretendia-se modernizar o Estado, separando-o da
Igreja, para promover inclusive uma educação laica3. Outra reforma importante era a militar, pois
pretendia colocar o Exército sob o controle civil e constitucional.
Obviamente, reformas como essas causavam receio nas elites espanholas, notadamente
os setores proprietários, os religiosos e os militares. A respeito da questão religiosa, a República
passou a ser considerada um fenômeno apocalíptico, alimentando narrativas sobre o triunfo do
erro e do pecado, representando o fim da tradição monarquista e a vitória do moderno
republicanismo. Os setores militares, por seu turno, entre eles muitos saudosistas do período
monárquico e de suas conquistas coloniais, esse discurso ganhou uma tônica salvacionista, a qual,
só os militares poderiam retomar o prestígio espanhol e barrar os modismos modernos, mais
distantes do conservadorismo crescente dentro das castas militares - principalmente as que haviam
se engajado na nova aventura colonial no Marrocos no início do século XX entre as quais esteve
presente Francisco Franco - sobre várias formas políticas como a Falange4.
A resposta a essas reformas, cujos objetivos foram parcialmente atingidos veio com a
vitória conservadora nas eleições de 1933. Além da recusa das elites, houve divisões dentro da
esquerda e, além da dificuldade de promover as reformas pretendidas, os republicanos tiveram de
lidar ainda com a crise econômica herdada de 1929 e potencializada pelas características
econômicas peculiares internas espanholas.
O novo governo conservador tentou barrar e retroceder as conquistas reformistas
anteriores e se deparou com a mobilização de movimentos populares, dos quais participavam
muitos jovens e que promoveram greves como a de outubro de 1934, quando em decorrência da
insurreição armada de mineiros na região de Astúrias foram fortemente repelidas pelo exército do
geral Franco e suas tropas marroquinas, que suspendeu as garantias constitucionais no país e a
prisão e perseguição de pessoas vinculadas aos movimentos esquerdistas. A esses
acontecimentos, sucedeu-se a formação de uma nova coalização eleitoral das forças progressistas,

3
Idem., p. 26
4
Partido fascista fundado pelo ex-ditador Miguel Primo Rivera em 1933
a Frente Popular5 que acabou vitoriosa nas eleições de 1936 com o retorno do programa
reformista.6
A partir de então, têm início a efetiva movimentação golpista que já vinha sendo
articulada com o propósito de intervir para barrar - agora de forma ilegal - as reformas
republicanas, o que foi feito com o uso maciço da propagação do temor às mudanças pretendidas
pelos republicanos, bem como da salvação que apenas os militares centralistas poderiam trazer.
No centro- norte e no Noroeste da Espanha onde predominava o pequeno campesinato houve
apoio popular ao golpe, o que não ocorreu em locais onde havia muitos camponeses sem terra,
além da Catalunha e de Valência que tinha forte sentimento anti-centralista7, redutos apoiadores
do projeto republicano. Destes últimos, foram organizadas as forças que resistiram ao golpe.

A participação e os interesses internacionais


Não é objetivo deste breve ensaio tratar dos pormenores das várias batalhas da
Guerra Civil Espanhola, tampouco no atentaremos aos detalhes que fogem dos seus
aspectos. Porém, é importante pontuar que esse complexo conflito envolveu grupos
legalistas de direita e de esquerda, a saber a burguesia vinculada aos projetos
democráticos e os diversos grupos de esquerda nacionais e estrangeiros, bem como
diferentes grupos golpistas, entre eles militares centralistas, monarquistas e fascistas. A
heterogeneidade dessas composições apresenta uma gama de contrariedades em ambos,
contrariedades mais visíveis, talvez, dentro das esquerdas que promoveram a guerra
dentro da guerra, nas conhecidas jornadas de maio8.
Para Graham, cerca de sete dias depois do começo do golpe, cedendo aos pedidos
dos militares rebeldes que temiam uma derrota frente à resistência republicana, a
intervenção internacional se tornou um fator de peso no conflito. Hitler e Mussolini,
auxiliaram no transporte das tropas da África e da Legião Estrangeira para a Espanha,
ambos disponibilizaram, além de seus exércitos e técnicos preparados, armamentos,
carros de guerra e aviões. Uma vitória rápida era esperada, mas as forças da resistência
os surpreenderam.

5
De acordo com FERNÁNDEZ, a Frente Popular era formada por uma coalizão organizada pelos
comunistas, mas que tendia a aglutinar todas as forças políticas anti-fascistas, desde os burgueses
republicanos, passando pelos nacionalistas catalães e bascos, e chegando até os mais variados matizes da
esquerda. In FERNÁNDEZ, J. C. A Guerra Civil Espanhola: prelúdio sangrento da Segunda Guerra
Mundial. (s/d). p. 6.
6
GRAHAM. op cit,, p. 29.
7
Idem., p. 33.
8
Confrontos ocorridos entre 3 e 8 de maio de 1937 nas ruas de Barcelona entre frações esquerdistas da
resistência republicana.
À elas se uniram forças estrangeiras voluntárias em sua maioria europeias, mas
também de outros locais, que tinham na maioria das vezes motivos mais subjetivos e
pessoais contra o fascismo que lhes atacavam em seus respectivos países devido à
religião, a etnia e ao pensamento político. O aspecto anti-modernista do fascismo e do
nacionalismo que se pretendia unificador também fez com que muitos artistas e
intelectuais reprimidos em seus respectivos países ou mesmo na Espanha, se juntassem
às forças anti-golpistas.
Tendo em vistas as forças de Franco sendo multiplicadas pela ajuda estrangeira,
os republicanos também pediram auxílio das democracias ocidentais como a França e a
Inglaterra. Contudo, esses países, alegando uma diplomacia de não intervenção e de
neutralidade, assinaram um pacto de não intervenção que era válido apenas para os
republicanos, enquanto os golpistas continuaram recebendo - sem dificuldades e sem
retaliações desses países - o apoio italiano e alemão. Por um breve período a França levou
esse pacto de modo flexível, facilitando a entrada de ajuda aos republicanos, por receio
do cerco fascista que podia ser feito em suas fronteiras caso os golpistas vencessem,
porém, essa prática foi logo deixada e lado para não implicar negativamente em suas
próprias reformas internas.
O pedido de ajuda à União Soviética demorou a ser atendido, pois na conjuntura
tensa de relações de forças europeia, a Espanha periférica não tinha grande relevância e
Stalin pretendia se aproximar das democracias ocidentais como Inglaterra e França para
fazer frente ao crescimento nazi-facista dos apoiadores do golpe. Contudo, mesmo com
receio a Rússia ajudou no fornecimento de homens, armas e aviões para a resistência
espanhola, mas não sem impor suas condições e preços que, em um contexto de não
intervenção ficaram mais caros e foram pagos com os recursos do tesouro.
Ao fim e ao cabo, o conflito espanhol serviu de maneira secundária para os
grandes produtores bélicos em ascensão como Alemanha, Itália e Rússia, testarem novas
armas e táticas que seriam largamente utilizadas durante a Segunda Guerra Mundial. A
república sitiada e dependente da difícil e inferior ajuda soviética e de voluntários não
conseguiu resistir à imposição de força estratégica de Franco que não objetivava só
conquistar a capital, mas principalmente eliminar e exterminar os inimigos vermelhos e
os civis vistos como causa dos problemas espanhóis. Por esse motivo, houve os
bombardeios de cidades pouco estratégicas para os objetivos golpistas como Guernica em
1937.
Ciente da impossibilidade de vitória dos republicanos, após a batalha Ebro e o
Pacto de não agressão assinado pela Inglaterra e pela França em Munique - que dava aval
para Hitler tomar a democrática Tchecoslováquia, na Europa Central - Stalin retira seu
apoio material da resistência espanhola e, diante do crescimento nazi-fascista, assinou o
pacto de não agressão diretamente com Hitler em 1939. Aos republicanos resistentes
liderados pelo primeiro ministro Dr. Juan Negrín, coube apenas tentar uma saída
negociada com Franco.
À Inglaterra não interessava de imediato o apoio dos republicanos, pois isso seria
romper seus princípios liberais e os interesses de sua elite com relação à Espanha, além
disso, sua indústria não estava preparada para fazer frente à potência bélica alemã de
Hitler. Para Graham,
Franco prestou a Hitler o colossal serviço de alterar a balança de poder
na Europa em favor do eixo germano-italiano, ao passo em que a
resistência republicana, mantida por quase três anos a despeito da
política britância, adiou outras formas de agressão nazista na Europa e,
ao fazê-lo, doou à mesma Grã-Bretanha o precioso presente de um
tempo para rearmar-se9.

Diante do exposto e à guisa de conclusão, compreende-se que os interesses


particulares ingleses, franceses e mesmo soviéticos e norte-americanos10 demonstram a
falta de compromisso com a democracia que foi determinante para o derrota dos
republicanos, contribuindo principalmente para o crescimento do poderio fascista italiano
e alemão no tenso cenário europeu que culminaram, logo em seguida, nos eventos
relativos à Segunda Guerra Mundial. Por esse motivo, ter em mente o complexo jogo de
forças estabelecido durante o conflito espanhol, contribui para a compreensão do maior
conflito bélico ocorrido na história mundial.
Há ainda muitos aspectos que podem ser colocados em perspectiva dentro do
conflito espanhol, como a questão do desenvolvimento de identidades no decorrer da
guerra e a conflituosa relação entre os diferentes grupos que dela participaram. Esses
temas, infelizmente não couberam na proposta desse breve texto e precisariam ainda de
um complemento bibliográfico mais extenso, porém, de modo geral, o que aqui foi
exposto auxilia na compreensão mais ampla desse evento e de suas implicações nos anos
seguintes.

9
GRAHAM. Op cit., p. 131
10
FERNÁNDEZ, op cit., p. 11.

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