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O Parque é seu

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca

CECIP

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 1


Ó IBAMA, 1998

Ministro do Meio Ambiente dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal


Gustavo Krause Gonçalves Sobrinho
Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis
Eduardo de Souza Martins
Diretoria de Ecossistemas
Ricardo Soavinski
Chefe do Departamento de Unidades de Conservação
Gilberto Salles
Chefe do Núcleo Regional de Unidades de Conservação Federais / RJ
Jovelino Muniz de Andrade Filho
Chefe do Parque Nacional da Tijuca
Sonia Lucia Peixoto
Responsável pela Área de Educação Ambiental
Denise Alves
Equipe técnica do PARNA-Tijuca
Ana Cristina Pereira Vieira
Henrique Castro Guerreiro
Luiz Fernando Lopes da Silva
Maria Cristina S. Soares Almeida
Marzulo Pagani Vivacqua

Realização

CECIP
Centro de Criação de Imagem Popular

Coordenação geral, direção de arte e ilustrações Redação final


Claudius Ceccon Lorenzo Aldé
Coordenação executiva Regina Protasio
Dinah Frotté Editoração eletrônica
Concepção, supervisão e acompanhamento Cristiana Lacerda
Denise Alves
Fotos cedidas por
Coordenação de texto
Ana Cristina Pereira Vieira
Jane Paiva André Hilal
Consultoria em meio ambiente e texto Eduardo Lage Santos
Philippe Pomier Layrargues Philippe Pomier Layrargues
Colaboração em textos
Ana Cristina Pereira Vieira
Denise Alves Capa: Mapa de azulejos da Floresta da Tijuca, próximo à Cascatinha Taunay

2 O Parque é seu
Agradecimentos

Para a realização deste trabalho, procuramos ouvir professores, pesquisadores e técnicos governa-
mentais, a quem agradecemos pelas valiosas contribuições na discussão do plano de publicação e
do texto final.

Afonso Silva e Marcos Aurélio R. Santos, Federação dos Bandeirantes do Brasil, Região Rio;
Alcione Maia de O. L. Gomes, professora; Armando Nunes Viana, Corpo de Bombeiros/
Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente; Cecília Bueno, Universidade Veiga de Almeida;
Claudia Ribeiro Barbosa e Sérgio May, Grupo de Defesa Ecológica - Grude; Denis Leite Gahyva,
IPLANRIO; Dione Maria Nichols, Cedae/ Projeto Prosanear; Eduardo Lage Santos, Instituto
Terra Brasil; Gláucia Moreira Monassa Martins, pedagoga, consultora do Parque Nacional da
Tijuca; Marina Azevedo, Hospital Municipal Lourenço Jorge/ NEP; Mônica Armond Serrão,
mestre em Ecologia Social, consultora do Parque Nacional da Tijuca; Mônica de Oliveira Jorge,
professora; Paula Moraes, professora; Pedro da Cunha e Menezes, Secretaria Municipal de Meio
Ambiente; Priscila Maria da Costa Santos, geógrafa, professora; Victor Andrés N. Urzúa, geógrafo,
pesquisador; Sérgio Murilo Fernandes Alves, guia ecológico; Equipe Técnica do Museu do Açu-
de; Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro/ Departamento Geral de Educação/
Diretoria de Educação Fundamental/ Projeto de Educação Ambiental e Saúde.

Em relação às informações arqueológicas e históricas, contamos com a colaboração na elaboração


do texto e revisão da Dra. Tânia Andrade Lima, professora do Departamento de Antropologia do
Museu Nacional / UFRJ, de Renata Bradford e Camilla Agostini, ambas estagiárias de Arqueolo-
gia deste Museu, integrantes da equipe que realiza estudos no Parque da Tijuca.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 3


Sumário
Apresentação 3

1. Educação ambiental: por uma melhor qualidade de vida 4

2. Parque Nacional da Tijuca: a Mata Atlântica está viva em nossa cidade 6


Pedra Bonita/Pedra da Gávea 7
Corcovado/Sumaré-Paineiras 8
Floresta da Tijuca 9

3. Viajando na história 10

4. Por dentro da floresta 15


A flora 15
A fauna 16
Produtos e serviços ambientais 18

5. Conflitos socioambientais: da lógica do conflito à lógica da cooperação 20


O Parque e seu entorno 21

6. O direito ambiental e a participação cidadã 23

7. As leis que protegem o Parque 25


O que dizem as leis? 27

8. Dez maneiras de defender o meio ambiente 29


Um modelo de petição 31

Bibliografia 32

4 O Parque é seu
Apresentação
Foto: Philippe Pomier Layrargues

Cascatinha Taunay

O Parque Nacional da Tijuca tem o prazer de apresentar aos jovens, agentes comunitários e mora-
dores do seu entorno O Parque é seu, uma publicação especialmente voltada para a difusão das
possibilidades de exercício da cidadania na proteção e preservação da floresta, resultando em
aumento da qualidade de vida para todos.

Em projeto conjunto com o Centro de Criação de Imagem Popular — CECIP, a Unidade de Con-
servação procurou situar a história, os benefícios da floresta, a educação e o direito ambiental,
além de oferecer dicas de lazer e de cuidados com o Parque, com sugestões dos diversos caminhos
que levam o cidadão à prática de seus direitos e deveres.

Esta publicação é complementada por outra, chamada Educação Ambiental no Parque Nacional
da Tijuca. Destinada a professores, propõe o desenvolvimento de estudos e ações voltados para a
educação ambiental, sugerindo a descoberta deste Parque como um grande espaço educativo.

Sonia Lucia Peixoto, Chefe do Parque Nacional da Tijuca

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 5


1 Educação ambiental:
por uma melhor
qualidade de vida

A educação ambiental é um processo participativo, voltado para a intervenção


em problemas relativos à realidade das populações.

A proposta de educação ambiental do Parque Estes são alguns dos objetivos dessa proposta:
Nacional da Tijuca está centrada na visão do
cidadão como um ator social importante na ges- · proporcionar uma noção integrada do meio
tão do meio ambiente. físico-natural e do meio construído pelos se-
res humanos. Essa noção deve levar em con-
➊ Encontro promovido A Conferência de Tbilisi➊, em 1977, foi o gran- ta a interação dos aspectos físicos, biológi-
pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio de marco da educação ambiental. Pela primeira cos, sociais, econômicos e culturais;
Ambiente (PNUMA), da vez, discutiram-se as condições históricas e cul-
Organização das Nações
Unidas para Educação, turais da relação sociedade/natureza. Definiu- · favorecer a articulação de diversas discipli-
Cultura e Ciência
(Unesco), na ex-União
se uma proposta de educação ambiental, até hoje nas e experiências educativas. Com isso, es-
Soviética. muito utilizada, apontando para um processo timula-se a troca de conhecimentos, valores,
contínuo, participativo e interdisciplinar, volta- comportamentos e habilidades práticas, para
do para a resolução de situações-problema pre- a prevenção e solução dos problemas
sentes no cotidiano da sociedade. ambientais;

6 O Parque é seu
Foto: Eduardo Lage Santos

Aula de educação
ambiental com estudantes
de escola pública e
· facilitar a compreensão das interdepen- Tanto a proposta de Tbilisi, quanto a do moradores da região,
dências econômicas, políticas e ecológicas do Ibama, expressa no Programa Nacional de promovida pelo Instituto
Terra Brasil no Mirante do
mundo atual. As decisões e atitudes dos di- Educação Ambiental, sugerem como caminho Chapecó, Pedra Bonita.
versos países têm conseqüências de alcance para a percepção integral do meio ambiente o
internacional. Isso requer desenvolver um es- desenvolvimento de atividades educativas em
pírito de solidariedade e uma atitude mais res- que os participantes tenham a oportunidade
ponsável entre eles. de confrontar ação e reflexão, na busca de
melhor qualidade de vida.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 7


2 Parque Nacional da
Tijuca: a Mata Atlântica
está viva em nossa cidade

A exuberância da Mata Atlântica pode ser apreciada no Parque Nacional


da Tijuca. Naquele ambiente de floresta, onde os caminhos formam
verdadeiros túneis verdes e a luz penetra de forma difusa, o visitante encontra
um clima fresco e a possibilidade de inúmeros passeios. De seus mirantes
➊ ALMEIDA, Maria
Cristina S. Soares.
pode-se ter uma vista privilegiada tanto da Zona Sul quanto da Zona Norte
Assessora Técnica do
Parque Nacional da Tijuca.
da cidade, descortinando-se ora a Lagoa Rodrigo de Freitas e o litoral de
In: Parque Nacional da
Tijuca. Mimeo. 1998.
Copacabana, Ipanema e Leblon, ora a Baía de Guanabara e o relevo da
Serra do Mar ao fundo.➊

O Parque Nacional da Tijuca foi criado em 8 de ros do Corcovado, Sumaré e Gávea Pequena;
fevereiro de 1967, por decreto federal. Em 1991, a outra os morros do Andaraí, da Tijuca e de
o Programa Homem e Biosfera, da Unesco, de- Três Rios; e a terceira relativa à Pedra da
clarou o Parque Patrimônio da Humanidade. Gávea e Pedra Bonita.

Com uma área de 3.200 hectares, está situa- O Parque oferece inúmeras possibilidades
do no centro da cidade do Rio de Janeiro, na para o lazer e o turismo ecológico e cultural.
porção média superior do Maciço da Tijuca, Suas vias internas são asfaltadas e as placas
e reúne três áreas antes distintas, recortadas de sinalização indicam pontos de interesse e
pela malha urbana: uma abrangendo os mor- serviços.

8 O Parque é seu
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12 Gruta Paulo e Virgínia
13 Vista do Almirante
Ipanema
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14 Açude da Solidão
Ca
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Pedra
as

15 17 15 Pedra Bonita
Bonita/
Pedra 16 Pedra da Gávea
da 16 17 Plataforma de vôo livre
Gávea São 18 Mesa do Imperador
Conrado 5 Sede 19 Vista Chinesa
6 Pedra do Conde 20 Mirante Bela Vista
7 Mirante do Excelsior 21 Mirante Passo do Inferno
1 Portão da Floresta 8 Pico do Perdido 22 Mirante Andaime Pequeno
Barra da Tijuca
Limites do Parque 2 Cascatinha Taunay 9 Pico da Tijuca 23 Paineiras
Nacional da Tijuca
3 Capela Mayrink 10 Bom Retiro 24 Corcovado
4 Centro de visitantes 11 Bico do Papagaio 25 Mirante Dona Marta

Pedra Bonita/Pedra da Gávea

Acessos pela estrada das Canoas, Pedra Bonita, · Pedra da Gávea e Cabeça do Imperador. A
estrada do Seridó, estrada do Sorimã e vias que Pedra da Gávea é considerada o maior
levam à Barra da Tijuca e à estrada de Furnas. monolito à beira-mar do planeta, com 842m
de altitude;
Pontos turísticos:
· Agulhinha da Gávea, com 610m de altitude.
· Pedra Bonita, com altitude máxima de 696m;
Pedra da Gávea

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 9


Lazer: · Caminhadas e escaladas à Pedra Bonita e à
Pedra da Gávea-Cabeça do Imperador. É re-
· Vôo livre, a partir de um platô da Pedra Bo- comendável o acompanhamento de guias
nita, em rampa instalada especialmente para especializados.
os praticantes do esporte;
Serviços:
· Ciclismo em vias asfaltadas;
Pequeno estacionamento para veículos.

Corcovado/Sumaré-Paineiras
Envolve os morros do Corcovado, Sumaré e · Mirantes do Andaraí Pequeno e do Passo do
Gávea Pequena, com cinco portões de entrada: Inferno, na estrada do Redentor, e Mirante
dos Macacos, na estrada Dona Castorina; do do Barro Branco, na estrada do Sumaré;
Passo das Pedras, na estrada da Vista Chinesa; · Construção datada de 1884, nas Paineiras,
Morro do Corcovado das Sapucaias, na estrada Cristo Redentor; das que já foi um hotel de primeira categoria.
Caboclas, na rua Almirante Alexandrino; e do
Sumaré, na estrada do Sumaré. Lazer:
Pontos turísticos e históricos: · Caminhadas e passeios de bicicleta — nas
vias principais, como a estrada das Paineiras,
Vista Chinesa · Mirante do Corcovado, no alto da estrada do fechada aos veículos aos domingos e feria-
Corcovado, a 704m acima do nível do mar. dos. Nas trilhas que permitem o acesso a di-
Abriga a estátua do Cristo Redentor, com 30m versos pontos da cidade e a recantos especi-
de altura e 9m de altura do pedestal, que se ais, sugere-se o acompanhamento de guias
tornou o símbolo da cidade e um de seus prin- especializados;
cipais pontos turísticos, recebendo anualmente · Quedas d’água — na estrada das Paineiras,
cerca de um milhão de visitantes; refrescam os visitantes.➊
➊ Sabonete
que não limpa · Vista Chinesa, na estrada de mesmo nome.
Algumas pessoas abusam Pavilhão em estilo oriental, construído na dé- Serviços:
das duchas canalizadas do cada de 30, em homenagem aos chineses que A maioria se concentra no Corcovado: restau-
Parque, usando xampus e
sabonetes para tomar trouxeram o cultivo do chá para o Brasil, no rantes, lanchonetes, lojas de souvenirs, estação
banho. Os resíduos desses início do século XIX;
produtos químicos poluem do trem que vem do Cosme Velho, ponto de táxi,
as águas e as margens dos · Mesa do Imperador, na estrada da Vista Chi-
rios, prejudicando a estacionamento e sanitários públicos. Nas
floresta e também a cidade, nesa. Um dos locais preferidos do Imperador Paineiras, há uma estação de trem, uma bica
pois alguns cursos d’água
do Parque ainda hoje D. Pedro I para seus almoços campestres; d’água e um pequeno estacionamento. No Mi-
contribuem para seu
abastecimento.
· Mirantes das Paineiras e Dona Marta, am- rante Dona Marta funciona um heliponto, de
bos na estrada das Paineiras; onde partem vôos panorâmicos pela cidade.

10 O Parque é seu
Floresta da Tijuca

Compreende os morros do Andaraí, da Tijuca e Antiga residência do Barão de Bom Reti-


de Três Rios. Acessos pelo Portão da ro, na estrada do Visconde de Bom Retiro,
Cascatinha e Portão do Açude da Solidão. ex-sede campestre da Sociedade Hípica
Brasileira. Ponto de valor histórico, não é
Pontos turísticos e históricos: aberto à visitação;
Capela Mayrink

Gruta Paulo e Virgínia e a Vista do Almi- Antiga casa de escravos do Major Archer,
atual restaurante A Floresta;
rante, na estrada Major Archer;

Açude da Solidão, na estrada do Bom Re- Construção conhecida como Barracão,


tiro; onde funciona a administração do Parque;
Restaurante A Floresta

Cascatinha Taunay, na estrada do Impe- Sobrado chamado A Fazenda, fechado à


rador; visitação. Junto ao Bosque dos Eucaliptos.

Lago das Fadas e do Bom Retiro, na es- Lazer:


trada dos Picos;
· Locais para piqueniques e numerosas trilhas;
Represa dos Ciganos, na Floresta Santa
Inês; · Caminhadas aos picos do Papagaio (989m),
da Tijuca (1.021m), da Tijuca Mirim (917m),
Ruínas de Vila Rica, na Floresta do Perdido do Andaraí (440m) e do Conde
Andaraí; (821m), apreciando as vistas de São Conrado,
Barra, Jacarepaguá, parte da Zona Norte e Fonte Wallace
Capela Mayrink, construída em 1860, si- da Baixada Fluminense. É recomendável o
tuada na estrada do Imperador;
acompanhamento de guias especializados.
Museu do Açude, no Alto da Boa Vista; Legenda
Serviços:
Fácil acesso
Antiga residência do Barão d'Escragnolle, Churrasqueiras, cestas coletoras de lixo, mesas,
na estrada de mesmo nome, onde atual- bancos e sanitários públicos. Há locais para es- Média dificuldade

mente funciona o restaurante Os tacionamento, uma loja de souvenirs na Praça


Esquilos; da Cascatinha e três restaurantes: Cascatinha, Difícil acesso
Os Esquilos e A Floresta.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 11


3 Viajando
Século X d.C. — Os índios que habitam a re-
gião do Rio de Janeiro começam a praticar uma 1565 — É fundada a cidade do Rio de Janeiro.
Cerca de 5000 a.C. — Começa a ocupação da agricultura incipiente, principalmente o plantio O governador-geral, Mem de Sá, distribui ter-
região do Rio de Janeiro por grupos indígenas de mandioca (o aipim), complementada pela caça ras, sob o regime de sesmarias. Aos poucos, co-
que vivem da coleta de moluscos e frutos, da pes- e coleta de frutos, mel e raízes. O europeu, ao meça a utilização predatória da floresta, com a
ca e da caça. Habitam os sambaquis, montes chegar aqui, em 1500, encontra alguns desses extração de madeira para atender às necessida-
construídos com conchas, areia e terra, e fabri- grupos, conhecidos como Tupinambá, Goitacá, des da construção civil e da indústria canavieira
cam utensílios de pedra, osso e concha. Puri, Coroado, entre outros. que aqui se instala.

Final do século XVIII — Começa no Rio de


Janeiro o plantio de café, introduzido pela pri- 1808 — Chega a Família Real Portuguesa, com
meira vez no país em Belém do Pará e de lá se um séquito de cerca de 20 mil pessoas. Intensi-
1700 — Com dezenas de engenhos em ativi- espalhando por outras regiões. No Rio, as plan- fica-se o plantio de café e de espécies exóticas, e
dade, o plantio da cana é intensificado e as flo- tações cobrem as Serras da Tijuca, Carioca e aumenta a exploração da madeira destinada à
restas vão sendo destruídas pela prática Gávea. Nestas regiões, o café encontra ótimas construção de residências, para brasileiros e es-
indiscriminada da queimada. condições de solo, temperatura e umidade. trangeiros que aqui vêm morar.

12 O Parque é seu
na história
Escravos africanos e seus descendentes ocupam
Alguns estrangeiros escolhem a área do futuro expressivamente a área do futuro Parque Nacio-
Parque Nacional da Tijuca para se estabelecer. São nal da Tijuca, trabalhando nos sítios e fazendas Um grupo de chineses, trazido por D. João VI,
franceses, holandeses, ingleses, entre outros que, de café. Chegam a formar inúmeros quilombos, desenvolve plantações de chá no futuro bairro do
chegando com outros costumes e valores, dão pre- onde, embora escondidos e constantemente per- Jardim Botânico, o Real Horto. A cultura não dá
ferência às áreas mais arejadas e saudáveis em vez seguidos, cultivam pequenas roças, além de man- certo, mas na década de 1930 será construído o
de fixarem residência no centro sujo e insalubre ter relações fortuitas de troca com taberneiros Pavilhão da Vista Chinesa, homenageando esses
do Rio de Janeiro. locais e sitiantes. imigrantes.

1845 — O Ministro Almeida Torres inicia algu-


1821/29/33/43 — Nestes anos, períodos de lon- mas desapropriações ao redor das nascentes e
ga estiagem secam fontes, chafarizes, tanques e propõe o plantio destas áreas para salvar os ma-
Ainda no início de século XIX, cortes e queima- bicas. Seguem-se chuvas torrenciais, que encon- nanciais da cidade. Algumas edificações das chá-
das destroem extensas áreas da floresta, compro- tram um solo arrasado, encostas em processo de caras e fazendas de café não voltarão a ser habi-
metendo a Mata Atlântica e a perenidade dos ma- desertificação, causando avalanches e destruição, tadas, e se tornarão ruínas no futuro Parque.
nanciais (nascentes e fontes naturais de água). A além de grandes erosões. Outras, passado mais de um século, serão pontos
escassez de água coloca em risco o abastecimen- Em 1844, uma praga chamada borboletinha des- históricos e turísticos: a Capela Mayrink, os res-
to da cidade. O governo proíbe os desmatamentos trói as plantações de café e prejudica ainda mais taurantes Os Esquilos e A Floresta, a sede cam-
em mananciais e cursos d’água. os solos. pestre da Sociedade Hípica, entre outras.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 13


Barão de
Bom Retiro

Luiz Pedreira do Couto Ferraz, o Barão de Bom


Retiro, morador e apaixonado pela Tijuca, é um 1860 — É criado o Ministério da Agricultura,
1848 — A proteção das nascentes já faz sentir dos grandes incentivadores do replantio. Na dé- que passa a administrar as áreas da Floresta da
seus efeitos: aumenta o volume de água do rio cada de 1850, contribui, como Ministro do Im- Tijuca e das Paineiras. A situação dos mananci-
Carioca, mas ele é ainda insuficiente para o abas- pério, para viabilizar a Administração da Flores- ais torna-se crítica e a única solução é o reflores-
tecimento da população. ta da Tijuca e a aquisição de terrenos na área. tamento.

Major
Archer

1861 — O ministro Manuel Felizardo de Souza


e Mello elabora o documento Instruções Provi-
sórias, que denomina oficialmente como Flores-
tas as áreas na Tijuca e nas Paineiras. Com a apro-
vação de D. Pedro II, nomeia o major Manoel 1861-1874 — Trabalhando com reduzida 1870 — Mesmo com todo este trabalho de reflo-
Gomes Archer, para comandar os trabalhos na mão-de-obra — 33 assalariados e seis escravos restamento, a cidade vive a mais calamitosa cri-
Floresta da Tijuca, e Tomás Nogueira da Gama, negros —, Archer semeia cerca de 100 mil mu- se de abastecimento de água, e novas desapropri-
nas Paineiras. das durante sua administração. ações são decretadas.

14 O Parque é seu
Gastão
d’Escragnolle

1874 — Dificuldades administrativas, pouco pes-


soal e baixa remuneração comprometem a conti-
nuidade do trabalho de Archer que, decepciona-
do, pede demissão. É sucedido por Gastão
d'Escragnolle que, ao invés de utilizar árvores 1889 — Com a transição do Império para a Re-
nativas no replantio, opta, em maior escala, por pública e o conseqüente impacto sobre a vida
espécies exóticas, chegando a plantar 30 mil ár- política do país, a atenção do governo é totalmente
vores. Ao mesmo tempo, embeleza a floresta desviada dos problemas de preservação florestal.
construindo pontes, praças e mirantes, assesso- Na segunda metade do século XIX, aumenta a Durante os próximos 50 anos, a Floresta se rege-
rado pelo paisagista francês Auguste Glaziou, que fama da Floresta como um dos mais agradáveis nerará por conta própria, sem interferência hu-
o substituirá depois de sua morte. recantos da cidade. mana.

Raymundo de
Castro Maya
1920 — As favelas de São Carlos, Querosene,
Salgueiro, Macaco, Rocinha e Dona Marta co-
meçam a subir as encostas da Serra da Carioca. 1945 — O prefeito Henrique Dodsworth desig-
Também surgem algumas fábricas na periferia do na, para administrar a floresta, o industrial
Maciço da Tijuca: Cervejaria Brahma, Cia. de Raymundo de Castro Maya — responsável pela
Cigarros Souza Cruz, Cia. Franco-Brasileira de 1931/32 — É erguida, no Morro do Corcovado, sua definitiva transformação em área de lazer e
Papel e Lanifício Alto da Boa Vista. a estátua do Cristo Redentor. de turismo.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 15


1961 — Criado, por decreto federal, o Parque 1966 — O Parque é tombado pelo Patrimônio 1969/1974 — É realizado um projeto de
Nacional do Rio de Janeiro, incorporando as flo- Histórico e Artístico Nacional. No ano seguinte, reintrodução da fauna no Parque: 30 espécies de
restas de domínio da União: Tijuca, Paineiras, passará a chamar-se Parque Nacional da Tijuca, mamíferos, 100 de aves e várias de répteis.
Corcovado, Gávea Pequena, Trapicheiro, com a exclusão de áreas consideradas irrecu-
Andaraí, Três Rios e Covanca. peráveis ou invadidas por favelas — Floresta da
Covanca, parte da Floresta do Andaraí, Cháca-
ras da Bica e do Cabeça da Gávea — e a inclu-
são do Conjunto da Pedra Bonita/ Pedra da Gávea
e áreas do Morro Dona Marta, Corcovado,
Gávea, Cochrane, Alto da Boa Vista, Av. Edson
Passos e Jacarepaguá, entre outras. Sua adminis-
tração ficará subordinada ao recém-criado
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Flores-
tal — IBDF.

1989 — Criado o Ibama — Instituto Brasileiro


1981 — Elaborado o Plano de Manejo do Par- do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis. 1991 — Junto com o Jardim Botânico e o Par-
que, que compatibiliza a proteção dos O órgão, que passa a responder pela gestão do que Lage, o Parque Nacional da Tijuca é decla-
ecossistemas com os benefícios deles gerados. Parque, nasce da fusão do IBDF, da SUDHEVEA rado, pela Unesco, Reserva da Biosfera, conside-
Determina o seu zoneamento, propondo diferen- — Superintendência do Desenvolvimento da rado Patrimônio da Humanidade, devido ao seu
tes tipos de atividades, de acordo com suas fina- Borracha, da SUDEPE — Superintendência do importante papel no equilíbrio do clima e na pre-
lidades, e sempre em consonância com a capaci- Desenvolvimento da Pesca, e da SEMA — Se- servação do solo, da água e do ar, e por sua rele-
dade de suporte do ambiente em questão. cretaria Especial de Meio Ambiente. vância histórica e cultural.

16 O Parque é seu
4 Por dentro
da floresta
O Parque Nacional da Tijuca é parte da Mata Uma das características principais do Parque é a
Atlântica, onde está concentrada alta de não ser uma floresta nativa, mas resultado de
➊ Sucessão ecológica é o biodiversidade. Ou seja, um número muito um longo processo de regeneração. Depois de de-
processo de mudança das
comunidades animais e grande de ambientes diferentes, com espécies ani- vastada pela cultura agrícola, foi em grande parte
vegetais em um mais e vegetais de características genéticas di- replantada pela mão humana. Num segundo mo-
ecossistema, caminhando
sempre para um aumento ferentes. Calcula-se que o Parque Nacional da mento, a regeneração se deu sob condições natu-
da diversidade das
espécies. Existem, Tijuca possua 600 espécies vegetais e 300 es- rais, a partir da proteção integral da área. Hoje, a
basicamente, três estágios pécies animais diferentes. Esta riqueza da di- floresta se encontra num estágio secundário de
de sucessão ecológica: o
primário, o secundário e o versidade, porém, não significa quantidade: al- sucessão ecológica.➊
clímax, quando o
ecossistema atinge a
gumas espécies estão, freqüentemente, em peri-
maturidade. No clímax go de extinção.
ocorre o fim da
substituição de espécies, e
é quando a biomassa —
total de matéria orgânica
presente no ambiente —
atinge seu valor máximo.
A flora
Estima-se que seja no
estágio clímax que se
encontra a maior
estabilidade do ambiente, A vegetação do Parque está localizada em um O solo acumula uma camada de detritos
o que poderia significar
uma maior possibilidade relevo muito acidentado, e forma uma compo- florestais em vários estágios de decomposição
de suportar impactos sição contínua de árvores, cuja copa alcança 25 — galhos, folhas, flores, frutos, restos de ani-
temporários.
metros de altura. É entremeada por grossos ci- mais e rica presença de agentes decompositores,
➋ Epífita é qualquer pós e plantas epífitas➋, como as bromélias, que como micróbios e fungos.
espécie vegetal que
cresce ou se apóia, crescem, também, entre os arbustos e se mistu-
fisicamente, sobre outra ram às plantas herbáceas ou rasas. O espaço Nos locais em melhores condições de
planta ou objeto,
retirando seu alimento da vertical no interior da floresta é densamente preservação, encontram-se magníficos
chuva ou de detritos e ocupado, formando uma barreira que impede a exemplares do estrato arbóreo (o mais alto),
resíduos que coleta.
entrada de grande parte da luminosidade do sol, como a árvore pioneira embaúba prateada, a
e por isso mantém um alto teor de umidade. quaresmeira, o ipê-amarelo, a paineira, o

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 17


➊ Afloramento rochoso é
qualquer exposição

Fotos: Philippe Pomier Layrargues


diretamente observável de uma
rocha, na superfície.
Distinguem-se:
1) naturais, como escarpas,
cachoeiras etc; e
2) artificiais, como túneis,
cortes de estrada, pedreiras etc.

fedegoso, o pau-ferro, a sibipiruna, o cedro, No estrato arbustivo, “andar” intermediário for-


o jacarandá, o jequitibá, a canela, a palmei- mado por arbustos de até 4m de altura, encon-
ra indaiá, além do eucalipto e do pinheiro- tram-se, sobretudo, o samambaiaçu ou feto-
do-Paraná — duas espécies exóticas, ou seja, arborescente (de onde se extrai o xaxim), o so-
não originárias da Mata Atlântica. nho-d’ouro, a leandra, o manacá, o jaborandi,
um tipo de palmeira espinhosa, o palmito, a
No estrato herbáceo, constituído pela ve- dracena (pau-d’água) e o café (estes dois não
getação rasteira, predominam as ervas são plantas nativas). Entre as epífitas, sobres-
como a helicônia ou bico-de-guará, a be- saem bromélias e orquídeas.
gônia, o caeté, a avenca, a samambaia e a
maria-sem-vergonha — planta exótica, Nos afloramentos rochosos➊, destacam-se, pela
proveniente da África. freqüência de ocorrência, três espécies não-na-
Cada macaco tivas: a orquídea, o epidendro e a velózia.
no seu galho
É proibido trazer
animais domésticos ao
Parque. Com eles podem A fauna
estar vindo vírus,
parasitas ou doenças
indesejáveis. Também os
animais de estimação Não há animais de grande porte, e são pou- juriti-piranga, o beija-flor, o sabiá, a
podem se contaminar cos os animais de médio porte. Mas pode- maritaca, o tiê-preto, o gaturano, o sanhaço
pelo contato com a fauna
e a flora do Parque. mos encontrar mamíferos como o macaco- e a saíra. Existem serpentes como a jibóia
Quanto aos animais do prego, a preguiça, o cachorro-do-mato e a verdadeira, a cobra-cipó, a coral verdadei-
Parque, não se deve irara. Também o gato-do-mato, o sagüi-es- ra, a jararacuçu e a jararaca. Ocorrem, ain-
alimentá-los, persegui-
los ou fazer barulhos que
trela, o quati, o gambá, o caxinguelê, a cutia, da, algumas espécies de lagartos, pererecas,
os afugentem. o tapiti, o guaxinim, roedores e morcegos. peixes, moluscos e insetos — destaque para
Entre as aves, destacam-se a capoeira, a a borboleta azul e a borboleta coruja.

18 O Parque é seu
Fotos: Ana Cristina Vieira e André Hilal

Prevenção é o melhor antídoto


A integração à natureza exige alguns cuidados. Certas espécies da flora e da
fauna podem causar danos à saúde, se o visitante agir de forma imprudente. Cui-
dado, por exemplo, para não pisar em uma cobra ou colocar a mão em lugares
onde aranhas, lacraias e escorpiões costumam ficar, como em troncos de árvore,
sob folhas, pedras ou entulhos. Buracos no solo ou em árvores também podem
servir de moradia a esses e outros animais. Algumas dicas:

· usar roupas que protejam contra picadas de insetos: o uso de calça comprida,
botas altas ou tênis até o tornozelo é a melhor opção;

· em caso de picada de cobra, aranha, lacraia, escorpião ou qualquer outra que


provoque reação, procurar imediatamente um hospital especializado. É impor-
tante saber descrever o animal ou, se este morreu, levá-lo junto.

No fim desta publicação, no quadro A quem recorrer, há uma lista dos centros de
referência em animais peçonhentos.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 19


Produtos e serviços ambientais

Além da biodiversidade, outra característica das mulada vai sendo liberada, seja pela infiltra-
florestas tropicais são seus valores físicos, que ção no solo para o lençol freático ➊ (contri-
constituem benefícios divididos em dois grupos: buindo, por sua vez, para a alimentação dos
os produtos e os serviços ambientais. cursos d’água pelas nascentes), seja pela
evapotranspiração.➋
Os produtos ambientais são representados pelo
uso direto, ou seja, o benefício imediato da ex- Além de espécies como as bromélias, verda-
ploração produtiva. É o resultado, por exem- deiros reservatórios naturais de água, tam-
plo, da extração da madeira, dos frutos, óleos, bém os troncos e raízes facilitam o percurso
sementes, fibras, etc. Este não é um tipo de ex- hídrico, escoando a água para o interior do
ploração permitido nos Parques Nacionais bra- solo, o que permite que ela se acumule no
sileiros. lençol freático.

Já os serviços ambientais representam um va- Sobretudo nas florestas em bom estado de


➊ Lençol freático é o
lor de uso indireto, que reverte em qualidade de conservação, os rios mantêm a mesma quan-
lençol d’água que se vida humana, e só estão disponíveis quando as tidade de água (exceto em cabeças d’água➌)
acumula abaixo do solo.
relações ecológicas se mantêm equilibradas, sem — limpa de sedimentos, resíduos, e de todo
➋ Evapotranspiração é a impacto ambiental. tipo de material que a força da chuva poderia
evaporação das águas
acumuladas nas retenções e levar, se não ficasse retida entre as raízes das
camadas superficiais do
solo, somada à evaporação A floresta realiza, assim, dois tipos de traba- árvores.
da água da chuva lho: um que pode ser apropriado individual e
interceptada pela folhagem
da cobertura vegetal e à diretamente; e outro, que permite ao ser huma- · Controle da erosão: a copa fechada das
transpiração natural dos no desfrutar coletivamente de seu resultado, que árvores impede que a chuva atinja direta-
vegetais.
é a garantia da qualidade de vida. mente o solo. A maior parte das gotas que
➌ Cabeça d’água é um cai na floresta tem seu impacto amortecido
fenômeno que ocorre
imediatamente após um O Parque Nacional da Tijuca, como toda a Mata pelas folhas das árvores, arbustos, ervas
forte temporal na porção
superior dos cursos d’água Atlântica, fornece pelo menos cinco serviços rasteiras, cipós, troncos, galhos, e até mes-
de regiões montanhosas. ambientais: mo pelos resíduos do chão, que formam
Forma uma onda de
grandes proporções, que uma grossa camada — o húmus. Assim,
desce com grande impacto · Regulação do equilíbrio hídrico: a vege- elas perdem a velocidade da queda e, com
rio abaixo.
tação armazena grande parte da água da o impacto mais suave, não causam efeito
chuva em seu interior, funcionando como erosivo prejudicial ao solo.
uma esponja. Aos poucos, essa água acu-

20 O Parque é seu
· Conservação da qualidade do solo: a pre- carregados para os cursos d’água não se acu-
sença da vegetação impede que a água da chu- mulam em quantidade no fundo do leito dos ➍ Assoreamento é a
va ganhe força e carregue sedimentos do solo rios, o que evita a formação de enchentes, obstrução do fluxo de um
rio, pelo acúmulo de
rio abaixo. Uma encosta de morro desmatada, porque o leito natural fica preservado na sua sedimentos (terra ou
em períodos de chuva forte, será facilmente capacidade de dar vazão às águas. detritos, naturais ou não).
vítima de erosão: a água carrega a porção
superficial do solo — justamente sua cama- · Regulação climática em escala local: a ve-
da mais fértil, rica em nutrientes — dificul- getação impede que os raios solares atinjam
tando a sucessão natural da floresta. diretamente o solo, aumentando o calor. As-
sim, as temperaturas nas florestas são sem-
· Prevenção contra assoreamento➍: como re- pre mais amenas do que em regiões similares
sultado do controle erosivo, os sedimentos desmatadas.

Enchentes no Rio
Ano após ano,
Isso é que é serviço público! temporais castigam a
cidade do Rio de
Janeiro, causando
Que obra de engenharia poderia realizar tantos serviços, e com tanta beleza estragos e sérios danos
paisagística? Como seria a cidade do Rio de Janeiro, situada numa área de à vida de milhares de
pessoas.
baixada, espremida entre o mar e a montanha, sem suas florestas preservadas Os deslizamentos
no Parque? podem acontecer onde
a floresta não se
Todos esses serviços ambientais dependem do equilíbrio do ecossistema. Se o encontra em bom
estado de conservação,
ser humano apropriar-se indevidamente da floresta, utilizando-a além de sua sendo facilitados pelo
capacidade, impedirá, ao longo do tempo, a sua reprodução. grau de inclinação das
encostas. Estes fatos
No caso do Parque Nacional da Tijuca, a perda da cobertura vegetal causaria só reforçam a
importância de se
um grande aumento das temperaturas médias em toda a cidade, além do au- preservar a vegetação
mento da instabilidade do solo. e de se recuperar,
rapidamente, as áreas
danificadas.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 21


5
Conflitos socioambientais:
da lógica do conflito à
lógica da cooperação

Os problemas ambientais que ameaçam a vida realizada, principalmente, no rio Guandu, enquan-
da humanidade neste final de século são nossos to as nascentes do Maciço da Tijuca atendem ape-
velhos conhecidos: diminuição da camada de nas às localidades do entorno.
ozônio, poluição dos oceanos, desertificação,
aquecimento global, desmatamentos e queima- Um novo ciclo de devastação se inicia, comanda-
das. São o que podemos chamar de conflitos do pela ação inconseqüente dos baloeiros, dos que
socioambientais. deixam lixo em locais não apropriados ou dos que
não o recolhem adequadamente, e pela insuficiên-
Conflitos socioambientais são os conflitos sociais cia de políticas habitacionais que integrem o cresci-
em torno de elementos da natureza. Envolvem mento desordenado de moradias ou que o discipli-
➊ Interesse difuso é o que também o interesse difuso➊ do livre acesso e usu- nem, preservando a floresta. Mas é a relação da
une pessoas não muito bem
identificadas entre si. Por fruto da natureza por toda a coletividade. As ques- floresta com as águas, novamente, que interfere
exemplo: os usuários das tões ambientais urbanas, portanto, devem na cidade, desta vez não por sua ausência, mas
águas de um rio e os
consumidores de uma certa corresponder ao interesse coletivo. por seu excesso. Diferentemente de há um século,
marca de massa de
tomates. O meio ambiente
quando se tratava de proteger os mananciais, hoje
é um tipo característico de O primeiro ciclo de devastação da floresta — fru- é a estabilização das encostas do Maciço da Tijuca
interesse difuso.
to de conflitos socioambientais entre, por um lado, que está em jogo, com o risco de enxurradas e
os interesses particulares da expansão agrícola e, desabamentos em sua área devastada.
por outro, o abastecimento de água para a cidade
— fez com que os efeitos negativos da ausência Sabendo que os interesses particulares ameaçam
de água aparecessem, superando os benefícios eco- o patrimônio ambiental, o passo seguinte para o
nômicos da cafeicultura. Só então foi interrompi- enfrentamento do conflito socioambiental é torná-
do o processo de destruição. Atualmente, a capta- lo visível, para que possa ser negociado. Trata-se
ção de água para a cidade do Rio de Janeiro é de ultrapassar a lógica do conflito, assumindo o

22 O Parque é seu
processo participativo de negociação. A base é o Ao Estado cabe, neste processo, pelo fato de
diálogo e a responsabilidade compartilhada, quan- deter poderes estabelecidos na legislação, con-
do o interesse individual deve ceder espaço ao vocar a sociedade para a efetiva participação, e
coletivo, sempre que este estiver relacionado à assumir seu papel de mediador, zelando pelo
melhoria da qualidade de vida. bem de uso comum.

O Parque e seu entorno

O Parque Nacional da Tijuca é apontado como Os incêndios ocorrem, em sua maioria, nas áreas
a maior floresta urbana replantada do mundo. periféricas do Parque, mas também no interior da
É circundado pela malha urbana da cidade do mata, pela queima do lixo dos moradores da re-
Rio de Janeiro, e entrecortado por ela. Existem gião, pelas pontas de cigarro deixadas por visi-
43 favelas no seu entorno. A expansão urbana tantes, pelas velas de oferendas religiosas deposi-
descontrolada e a especulação imobiliária são tadas nos troncos das árvores e até mesmo por Fogo!
graves ameaças ao Parque. Outro problema latas e vidros sob o efeito do sol. Em junho de 1997,
socioambiental que afeta o Parque e seu entor- um balão caiu na
no é o lixo. Não bastasse a insuficiência da co- Mas a principal causa são os balões que, encosta do Sumaré,
leta, ele é despejado indevidamente tanto nas freqüentemente, caem na floresta, com a bucha causando um incêndio
que durou três dias e
vias rodoviárias de passagem, quanto no interi- acesa ou ainda incandescente. Associados às fes-
destruiu uma área de
or do Parque e nas encostas. tas juninas, os balões aparecem com maior fre- cerca de cinco
qüência nos meses de junho a setembro, justamen- quilômetros
As conseqüências do lixo são desastrosas. Qual- te durante o período das secas. quadrados.
quer objeto estranho à floresta (restos de alimen- A vegetação estava
tos, copos, garrafas, plástico, latas) contribui para extremamente seca,
O fogo se inicia e propaga com rapidez nas áreas contribuindo para que
a redução da biodiversidade de plantas e animais degradadas, sobretudo onde existe o capim- o fogo se propagasse
e para a transmissão de doenças. Quatis, gambás, colonião, facilmente inflamável. Estas áreas, por rapidamente.
cuícas, caxinguelês, micos e pássaros muitas ve- terem maior luminosidade e pouca umidade —
zes adoecem e morrem pela ingestão de alimentos pois perderam a cobertura vegetal —, são mais
estranhos aos seus hábitos. propícias à combustão➋ do que o interior da flo-
resta, normalmente mais úmido.
O lixo inibe o desenvolvimento de plântulas➊ e ➊ Plântulas são pequenas
plantas em início de
causa ainda a obstrução do escoamento natural desenvolvimento.
Quando o fogo acaba as árvores estão mortas, mas
da água das chuvas. O entupimento de rios,
o capim, que cresce muito rápido, volta a brotar ➋ Combustão é o processo
córregos e bueiros pelo lixo, além de diminuir o químico que dá origem ao
na estação chuvosa, e invade a área destruída, di-
oxigênio na água, matando peixes, provoca en- fogo.
minuindo a cobertura vegetal original.
chentes, que por sua vez causam deslizamentos
de encostas sujeitas à erosão.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 23


Cultura e meio ambiente
As culturas têm um importante papel nas temente explorados, sem preocupação com
relações entre uma sociedade e a natureza. a manutenção do equilíbrio ecológico. Em
Existem diferentes formas de adaptação, conseqüência, perderam-se, também, os
de interferência, de transformação e de serviços ambientais que beneficiavam a co-
interação entre as sociedades humanas e letividade.
seus ambientes naturais.
Entretanto, a diversidade cultural que mar-
As primeiras sociedades, as chamadas ci- ca o nosso país vem sobrevivendo e se afir-
vilizações “simples” ou “primitivas”, mando de formas múltiplas, muitas vezes
conviviam diretamente com a natureza, em confronto com os modelos dominantes,
sua fonte de subsistência e referência de mas coexistindo com eles.
valores culturais. Por isso, desenvolve-
ram formas de interação que, hoje em Pode-se observar, nesse sentido, o
dia, existem somente nas nações indíge- crescimento das chamadas “religiões da
nas tradicionais: um estilo de vida base- natureza”, que mantêm o caráter sagrado
ado na reverência ao meio ambiente e aos da relação do ser humano com as forças
fenômenos climáticos, impedindo o ser naturais. Suas práticas incluem meditação,
humano de provocar desequilíbrios eco- orações, cânticos e oferendas, uma vez que
lógicos. os adeptos cultuam as entidades e forças
da água, da mata, das pedras e outros ele-
Ao longo do processo evolutivo e, princi- mentos da natureza. Os tipos de culto são
palmente, a partir da Revolução Industri- diversos, e têm como referência culturas
al, no século XIX, a relação do ser huma- como a afro-brasileira, a indígena, a ciga-
no com o meio ambiente mudou. Hoje, a na, a oriental (o budismo, por exemplo),
natureza é explorada para fins de acumu- entre outras.
lação de capital, ou seja, para o lucro.
Quem mais consegue dominar os recursos Uma relação harmônica ser humano/natu-
naturais torna-se “dono” desses recursos, reza passa pelo repensar dos valores da
explorando-os em benefício próprio. civilização ocidental e industrial que, qua-
se sempre, desqualifica e desrespeita as di-
Aconteceu assim com a Floresta. Os ferentes vertentes culturais que existem na
produtos ambientais foram sendo crescen- sociedade.

24 O Parque é seu
6 O direito ambiental e
a participação cidadã

O direito ambiental engloba a legislação con- as resoluções também têm muita importância.
sagrada e também novos padrões e critérios Elas podem ser poderosos instrumentos de
que estão sendo criados pelos cidadãos e os defesa do meio ambiente e da qualidade de
outros atores sociais, muitas vezes renovan- vida, ao representarem os direitos que a soci-
do as lei instituídas. edade tem e seus deveres; o que cabe ao Po-
der Público; como podem agir associações
Esse conjunto de regras está presente prepon- comunitárias e cidadãos e quais os meios para
derantemente na legislação: Constituição, leis garantir o exercício dos direitos e o cumpri-
e decretos. No caso da legislação ambiental, mento dos deveres.

Ter uma vida boa depende de participação!

A qualidade da nossa vida cotidiana está sem- Na luta pela defesa do meio ambiente, pelo me-
pre precisando melhorar. Ônibus cheios, trem nos três atores sociais estão envolvidos: o cida-
apertado, falta de limpeza e higiene em locais dão, o empresário e o Estado, este último medi-
públicos, de saneamento básico e água encanada, ando o conflito, negociando a solução, fazendo
poluição urbana, fumaça negra, lixo sem cole- cumprir o direito e as leis. Mas, como se sabe,
ta... tudo isso é tão ameaçador para a qualidade nem sempre é assim que as coisas acontecem e
de vida quanto as pressões do trabalho ou do muitas vezes o Estado é mais benevolente com a
desemprego, a ausência do lazer, do direito à indústria que polui, do que com o cidadão que é
escola, à moradia, à informação, ao bem-estar. prejudicado.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 25


Por isso, a população precisa se organizar em Segundo a Constituição Brasileira, o meio am-
associações representativas de seus interes- biente é um bem de uso comum da população,
ses, para ganhar mais força e fazer frente ao ou seja, uma riqueza social. Ainda que seja di-
poder das grandes empresas que não inves- fícil transformar esse bem em dinheiro, sabe-se
tem na melhoria dos processos industriais, que ele existe e que, por isso mesmo, precisa
para não abrir mão de qualquer parcela de ser preservado. Quanto vale o Parque Nacional
lucro. Muitas leis nasceram do trabalho des- da Tijuca? É possível estimar o preço da área,
ses movimentos populares e de defesa do meio mas e o patrimônio que é a mata, a fauna, além
ambiente. dos tantos serviços que a floresta cumpre, por
exemplo, em relação ao clima?

Os principais direitos ambientais do cidadão

· Direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado;

· Direito de estar informado sobre a situação do meio ambiente e sobre a ação do


Estado em sua defesa;

· Direito de ter reparados os danos ao meio ambiente, penalizado o responsável e


ressarcidos os prejuízos;

· Direito de se educar sobre as questões ambientais;

· Direito de ter áreas especialmente protegidas;

· Direito de ter o ambiente adequado à sua saúde.

Não existem apenas direitos, para os cidadãos, mas também deveres, porque a todo
direito corresponde um dever. No entanto, há um dever que nos cabe, especialmente,
cumprir: o de fiscalizar a ação do Poder Público e da própria sociedade na defesa do
meio ambiente, um bem de todos nós.

26 O Parque é seu
7 As leis que
protegem o Parque

Conhecer as leis nos leva a entender nossos direitos e deveres em relação ao


meio ambiente, para melhor promovê-lo, defendê-lo e conviver em harmonia
com ele.

Os Parques Nacionais são destinados a “proteger e preservar unidades importantes


➊ Jorge Pádua, 1977. ou sistemas completos de valores naturais e culturais; proteger recursos genéticos;
desenvolver a educação ambiental; oferecer oportunidades para recreação pública e
servir para as atividades de investigação e outras afins de índole científica.”➊

O Regulamento dos Parques Nacionais (decreto coletar, aprisionar ou abater exemplares da fauna
84.017 de 21/9/79) tem como objetivo principal (art. 13), introduzir espécies exóticas (art. 14),
a preservação de ecossistemas naturais contra jogar lixo fora dos locais permitidos (art. 22),
qualquer alteração que afete suas característi- praticar qualquer ato que possa provocar a ocor-
cas originais. É uma lei que assegura os limites rência de incêndio (art. 23), praticar atividades
do que é de interesse público. religiosas quando a celebração do evento trou-
xer prejuízo ao patrimônio natural preservado
Proíbe, entre outras ações: coletar frutos, semen- (art. 37), ingressar ou permanecer portando ar-
tes, raízes ou outros produtos (art. 10), abater mas ou instrumentos destinados a corte da ve-
ou plantar árvores (art. 11), perseguir, apanhar, getação, caça ou pesca (art. 38).

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 27


Cada Parque Nacional deve possuir um Pla- vidade, de acordo com a capacidade de su-
no de Manejo, que determine o zoneamento porte do ambiente em questão. Estas são as
do Parque, propondo diferentes tipos de ati- delimitações, por zona:

Zona
intangível Não é permitido qualquer tipo de interferência humana;

Zona Permite apenas a atividade científica, educativa, ou formas


primitiva primitivas de recreação;

Zona de uso
Oferece acesso restrito para fins educativos ou recreativos;
extensivo

Zona de uso
intensivo Áreas do Centro de Visitantes e de outros serviços aos usuários;

Zona
Abriga os sítios históricos e arqueológicos;
histórico-cultural

Zona de Local consideravelmente alterado pelo homem, que deve sofrer


recuperação tratamento de recuperação natural ou induzida, para deter a
degradação ambiental;

Zona de uso Áreas destinadas à administração e manutenção dos serviços do


especial Parque Nacional.

Em relação às áreas de proteção integral, o protegida e as de intensa atividade humana.


Parque Nacional da Tijuca tem alguns pro- Assim, os habitantes do entorno do Parque
blemas: com apenas 3.200 hectares, ele está têm responsabilidades diferenciadas: morar ali
situado em plena área urbana, totalmente é um privilégio, que deve corresponder, po-
circundado pela cidade, ao contrário dos de- rém, a alguns compromissos que permitam o
mais Parques Nacionais. Isso significa a au- desenvolvimento e a preservação da floresta.
sência de uma zona de transição entre a área

28 O Parque é seu
O que dizem as leis?

A Constituição Federal de 1988, principal lei Maciço da Tijuca, inclusive em suas áreas não
do Brasil, não pode ser contrariada por nenhu- incorporadas ao Parque.
ma outra lei ou determinação, seja ela estadual,
municipal, ou de qualquer entidade pública ou Soltar balões é tão ameaçador ao meio ambien-
civil. A Constituição garante, para todos nós, o te que desde 1941 já era considerado uma con-
“direito ao meio ambiente ecologicamente equi- travenção penal. Em 1998, passou a ser um cri-
librado, bem de uso comum do povo e essencial me ambiental.
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Em 1965 foi instituído o atual Código Florestal,
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e que vale para todo o Brasil (lei federal 4.771). Ele
preservá-lo para as presentes e futuras gerações” define as áreas de preservação permanente, que
(artigo 225). O parágrafo (§) 4 define a Mata são as florestas localizadas ao longo dos rios ou
Atlântica como Patrimônio Nacional. de qualquer curso d’água; ao redor das lagoas,
O Município do Rio de Janeiro também tem leis lagos ou reservatórios d’água naturais ou artifici-
que se preocupam com o meio ambiente. No ais; nas nascentes; no topo dos morros, montes,
artigo 463, a Lei Orgânica do Município enun- montanhas e serras; nas encostas; nas restingas e
cia a manutenção e defesa das áreas de preser- mangues; nas bordas de tabuleiros ou chapadas;
vação permanente com cobertura vegetal que em altitudes superiores a 1.800 metros e nas áreas
contribuam para a estabilidade das encostas su- metropolitanas definidas em lei. Considera-se ain-
jeitas à erosão, destacando-se, entre outras, a da como florestas de preservação permanente aque-
Floresta da Tijuca. las que, entre outros atributos, atenuem a erosão
das terras, protejam sítios de excepcional beleza
Mais recentemente, em 1992, a Lei Complemen- ou de valor científico ou histórico, abriguem exem-
tar 16 criou o Plano Diretor da Cidade, que des- plares da fauna e flora ameaçados de extinção ou
taca a necessidade de recuperar e proteger o assegurem condições de bem-estar público.

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 29


Os crimes ambientais
Em fevereiro de 1998 foi aprovada a Lei dos Crimes Ambientais (lei federal 9.605).
É crime, passível de detenção de três meses a cinco anos:

· matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar animais silvestres, nativos ou em rota


migratória, sem permissão;
· destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que
em formação;
· cortar árvores em floresta considerada de preservação permanente, sem permissão;
· causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação;
· provocar incêndio em mata ou floresta;
· fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios;
· impedir ou dificultar a regeneração natural de florestas e demais formas de
vegetação;
· penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos
próprios para caça ou para a exploração de produtos ou subprodutos florestais,
sem licença;
· promover construção, sem autorização, em solo não edificável ou no seu entorno.
O solo é considerado não edificável quando possui valor paisagístico, ecológico,
artístico, turístico, histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou mo-
numental.

Quando a pessoa... praticar crimes contra a flora durante o período de queda das
sementes, da formação de vegetações, em época de seca ou inundação, durante a
noite, em domingo ou feriado, contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ou
que o resultado incorra em diminuição de águas naturais, erosão do solo ou modifica-
ção do regime climático... a pena será aumentada.

30 O Parque é seu
8 Dez maneiras de defender
o meio ambiente
Como toda a legislação ambiental ainda é nova e a prática da participação da
sociedade também engatinha, uma “mãozinha” é sempre bem-vinda para saber
o que fazer. Uma coisa é certa: há que ter vontade de mudar e acreditar, para
valer, que uma andorinha só não faz verão.

Alguns instrumentos são bastante eficientes na interagem com o Parque na discussão de pro-
defesa do meio ambiente e dos direitos dos ci- postas, tomada de decisões e parcerias, com
dadãos. A organização da sociedade pode re- direitos e deveres bem definidos, seja em edu-
sultar em maiores benefícios do que ações indi- cação ambiental, ecoturismo, monitoramento
viduais ou solitárias. A população pode se or- e outras ações pertinentes.
ganizar fundando associações de pessoa jurídi-
ca de direito privado, e o Código Civil regula- · Acesso à informação: Por meio de uma peti-
menta este processo. ção, podem-se obter informações relevantes
para pensar como agir diante de questões
Os órgãos colegiados — como os Conselhos ambientais. O Poder Público produz muito
Municipais, Estaduais e Federal de Meio Am- material de consulta que interessa aos cida-
biente — apóiam-se no princípio democrático dãos, nos diversos órgãos técnicos que acom-
e, portanto, precisam da participação da socie- panham e estudam a realidade.
dade organizada.
· Direito de certidão: O cidadão tem direito
O exemplo mais conhecido é o Conselho Naci- de pedir atestado de atuação dos órgãos pú-
onal do Meio Ambiente — Conama. É um ór- blicos, sempre que perceber que parte das re-
gão que tem como finalidade assessorar, estu- gras ambientais está sendo descumprida. Com
dar e fazer propostas para a formulação de po- essa certidão, pode acionar o Estado, em ação
líticas públicas ambientais. Cada estado e mu- civil pública e em ação popular, caso des-
nicípio deve ter uma câmara colegiada, com a confie de algum procedimento adotado.
participação da sociedade organizada.
· Ação Civil Pública de responsabilidade por
· Gestão participativa: A atual Administra- danos ao meio ambiente: As ações podem
ção procura envolver os vários atores que acontecer por iniciativa das associações civis

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 31


representativas, ou da União, Estados e Mu- valor ambiental. Um bem tombado não pode
nicípios, de empresas públicas ou de socie- ser modificado, tendo de guardar suas carac-
dades de economia mista. As ações são terísticas. É de uso exclusivo do Poder Pú-
conduzidas pelo Ministério Público, a quem blico, que deve fazê-lo com a participação
cabe a defesa da ordem jurídica, do regime da sociedade, que tem a responsabilidade de
democrático e dos interesses sociais e preservar o bem tombado.
individuais.
· Reserva Particular do Patrimônio Natu-
· Ação popular: É um instrumento de defesa ral (RPPN): Propriedades particulares com
do patrimônio público. Diferentemente da rica diversidade biológica, paisagem de gran-
ação anterior, qualquer cidadão pode entrar de beleza ou que abriguem ecossistemas frá-
com ação popular. geis ou ameaçados, podem se transformar em
RPPNs, por solicitação ao Ibama. A nova
· Audiência pública: Reunião aberta a todos, condição concede a isenção de pagamento do
com representantes do poder público e da Imposto Territorial Rural (ITR) e facilida-
sociedade, para debater questões de interesse des para o crédito agrícola e para o acesso ao
sobre o meio ambiente. A participação po- Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA).
pular e suas opiniões ficam registradas em As RPPNs podem desenvolver atividades lu-
atas e, em caso de licenciamento ambiental crativas, como o turismo ecológico e a edu-
contrário às regras e aos interesses da coleti- cação ambiental.
vidade, as atas podem integrar o processo,
como peças fundamentais. · Área de Proteção Ambiental (APA) / Área
de Proteção Ambiental e Recuperação Ur-
· Desapropriação: Mecanismo em que o Po- bana (APARU): Áreas com aspectos natu-
der Público extingue a propriedade privada rais, culturais ou históricos de características
de um bem e torna esse bem propriedade pú- notáveis são consideradas de interesse para
blica. Pode viabilizar a criação de áreas es- proteção ambiental, e sua ocupação e utiliza-
peciais que, para existirem, têm de pertencer ção devem ser disciplinadas para valorizar o
ao Poder Público. Os bens podem se tornar de patrimônio ambiental da cidade. A criação
utilidade pública — preservação e conserva- dessas áreas é realizada por decreto do Poder
ção de monumentos históricos e artísticos, e Executivo Municipal, e deve ser precedida por
proteção de paisagens e locais particularmen- estudos realizados pelo Departamento Geral
te dotados pela natureza — e bens de interes- de Patrimônio Cultural. No Maciço da Tijuca
se social — proteção do solo e preservação existe a APA de Santa Teresa, e parcialmente
de cursos e mananciais de água e de reservas superposta ao Parque Nacional da Tijuca exis-
florestais, e áreas propícias ao turismo. te a APARU do Alto da Boa Vista, protegen-
do uma faixa da área de entorno do Parque,
· Tombamento: Por ele, o Poder Público cria contra usos futuros que porventura sejam in-
restrições de uso e manejo de áreas e bens de compatíveis com a proteção da floresta.

32 O Parque é seu
Um modelo de petição

Não é preciso
ser advogado Exmo. Sr. Procurador, Ministério Público Federal
Qualquer pessoa pode
redigir uma petição. É
direito de todos,
independentemente do
pagamento de taxas,
encaminhar uma petição Joana de Souza, vendedora, casada, doméstica, residente à rua do
aos Poderes Públicos, em
defesa de direitos ou contra Bispo, 54, vem com base no art. 5º, 34 “a” da Constituição Fede-
ilegalidade e abuso do
poder.
ral, exercer o direito de petição, expondo e requerendo o seguinte:

É fácil fazer
uma petição Ocupo uma residência no Parque Nacional da Tijuca há dez
É uma carta contendo um anos. Sabedora de que a Subprefeitura da Tijuca vem desenvolven-
pedido dirigido ao
promotor de Justiça do um Programa de reassentamento, gostaria de saber da
(Ministério Público), ao
delegado de polícia, ao
possibilidade de V. Sa. interceder para que possa me integrar no
prefeito, aos vereadores, ao referido Programa.
juiz de direito, ou a
qualquer representante do
Poder Público, reclamando,
denunciando e exigindo a
Nestes termos, pede deferimento.
garantia de um direito.

Rio, 2 de abril de 1998

..............................................................................
Joana de Souza

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 33


Bibliografia
AGUIAR, Roberto A. Ramos. Direito do Meio PARQUE NACIONAL DA TIJUCA. Plano de Ges-
Ambiente e Participação Popular. Ibama. tão Participativa e Integrada do Parque Nacio-
Brasília, 1994. nal da Tijuca. Mimeo., coordenado por Sonia
Lucia Peixoto. Rio de Janeiro, 1996.
ALVES, Denise et al. Meio ambiente e espaços sa-
grados. In: Congresso Brasileiro de Unidades de SCOTTO, Gabriela (superv.). Conflitos Ambientais
Conservação, anais, v. 2. Unilivre. Curitiba, no Brasil: Natureza para todos ou somente para
1997. alguns?. IBASE. Rio de Janeiro, 1997.

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na escola. Cartilha. Rio de Janeiro, 1997. Ação. São Paulo: Cortez: Autores Associados,
1992.
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da Tijuca. Brasília, 1981. VIEIRA, Ana Cristina P. et al. Lazer e Cultura na
Floresta da Tijuca - História, Arte, Religião e
NEVES, Estela e TOSTES, André. Meio Ambien- Literatura. Parque Nacional da Tijuca. Rio de Ja-
te: Aplicando a Lei. Petrópolis: Vozes, 1992. neiro, 1998.

NEVES, Estela e TOSTES, André. A Lei e a Vida. VIEZZER, Moema L. e OVALLES, Omar (org.).
Petrópolis: Vozes, 1991. Manual Latino-Americano de Educação
Ambiental. São Paulo: Gaia, 1995.

As publicações do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente


podem ser adquiridas pelo telefax (061) 244 8022 (Empório
Ambiental), ou pelo endereço eletrônico http://www.ibama.gov.br.

34 O Parque é seu
O Parque Nacional da Tijuca tem o prazer de apresentar aos jovens,
agentes comunitários e moradores do seu entorno O Parque é seu,
uma publicação especialmente voltada para a difusão das possibi-
lidades de exercício da cidadania na proteção e preservação da
floresta, resultando em aumento da qualidade de vida para todos.

Em projeto conjunto com o Centro de Criação de Imagem Popular


— CECIP, a Unidade de Conservação procurou situar a história, os
benefícios da floresta, a educação e o direito ambiental, além de
oferecer dicas de lazer e de cuidados com o Parque, com sugestões
dos diversos caminhos que levam o cidadão à prática de seus direitos
e deveres.

Esta publicação é complementada por outra, chamada Educação


Ambiental no Parque Nacional da Tijuca. Destinada a professo-
res, propõe o desenvolvimento de estudos e ações voltados para a
educação ambiental, sugerindo a descoberta deste Parque como
um grande espaço educativo.

CECIP

Parque Nacional da Tijuca Centro de Criação de Imagem Popular


Estrada da Cascatinha, 850 Largo de São Francisco de Paula, 34 / 4º andar
20531-590 · Rio de Janeiro · RJ 20051-070 · Rio de Janeiro · RJ
Tel: (021) 570 5002 e 570 4389 Tel: (021) 509 3812 e 232 6723 · Fax: 252 8604
Fax: (021) 570 4194 E-mail: cecip@ax.apc.org

Como conhecer, usar e cuidar do Parque Nacional da Tijuca 35

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