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Realização
CECIP
Centro de Criação de Imagem Popular
2 O Parque é seu
Agradecimentos
Para a realização deste trabalho, procuramos ouvir professores, pesquisadores e técnicos governa-
mentais, a quem agradecemos pelas valiosas contribuições na discussão do plano de publicação e
do texto final.
Afonso Silva e Marcos Aurélio R. Santos, Federação dos Bandeirantes do Brasil, Região Rio;
Alcione Maia de O. L. Gomes, professora; Armando Nunes Viana, Corpo de Bombeiros/
Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente; Cecília Bueno, Universidade Veiga de Almeida;
Claudia Ribeiro Barbosa e Sérgio May, Grupo de Defesa Ecológica - Grude; Denis Leite Gahyva,
IPLANRIO; Dione Maria Nichols, Cedae/ Projeto Prosanear; Eduardo Lage Santos, Instituto
Terra Brasil; Gláucia Moreira Monassa Martins, pedagoga, consultora do Parque Nacional da
Tijuca; Marina Azevedo, Hospital Municipal Lourenço Jorge/ NEP; Mônica Armond Serrão,
mestre em Ecologia Social, consultora do Parque Nacional da Tijuca; Mônica de Oliveira Jorge,
professora; Paula Moraes, professora; Pedro da Cunha e Menezes, Secretaria Municipal de Meio
Ambiente; Priscila Maria da Costa Santos, geógrafa, professora; Victor Andrés N. Urzúa, geógrafo,
pesquisador; Sérgio Murilo Fernandes Alves, guia ecológico; Equipe Técnica do Museu do Açu-
de; Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro/ Departamento Geral de Educação/
Diretoria de Educação Fundamental/ Projeto de Educação Ambiental e Saúde.
3. Viajando na história 10
Bibliografia 32
4 O Parque é seu
Apresentação
Foto: Philippe Pomier Layrargues
Cascatinha Taunay
O Parque Nacional da Tijuca tem o prazer de apresentar aos jovens, agentes comunitários e mora-
dores do seu entorno O Parque é seu, uma publicação especialmente voltada para a difusão das
possibilidades de exercício da cidadania na proteção e preservação da floresta, resultando em
aumento da qualidade de vida para todos.
Em projeto conjunto com o Centro de Criação de Imagem Popular — CECIP, a Unidade de Con-
servação procurou situar a história, os benefícios da floresta, a educação e o direito ambiental,
além de oferecer dicas de lazer e de cuidados com o Parque, com sugestões dos diversos caminhos
que levam o cidadão à prática de seus direitos e deveres.
Esta publicação é complementada por outra, chamada Educação Ambiental no Parque Nacional
da Tijuca. Destinada a professores, propõe o desenvolvimento de estudos e ações voltados para a
educação ambiental, sugerindo a descoberta deste Parque como um grande espaço educativo.
A proposta de educação ambiental do Parque Estes são alguns dos objetivos dessa proposta:
Nacional da Tijuca está centrada na visão do
cidadão como um ator social importante na ges- · proporcionar uma noção integrada do meio
tão do meio ambiente. físico-natural e do meio construído pelos se-
res humanos. Essa noção deve levar em con-
➊ Encontro promovido A Conferência de Tbilisi➊, em 1977, foi o gran- ta a interação dos aspectos físicos, biológi-
pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio de marco da educação ambiental. Pela primeira cos, sociais, econômicos e culturais;
Ambiente (PNUMA), da vez, discutiram-se as condições históricas e cul-
Organização das Nações
Unidas para Educação, turais da relação sociedade/natureza. Definiu- · favorecer a articulação de diversas discipli-
Cultura e Ciência
(Unesco), na ex-União
se uma proposta de educação ambiental, até hoje nas e experiências educativas. Com isso, es-
Soviética. muito utilizada, apontando para um processo timula-se a troca de conhecimentos, valores,
contínuo, participativo e interdisciplinar, volta- comportamentos e habilidades práticas, para
do para a resolução de situações-problema pre- a prevenção e solução dos problemas
sentes no cotidiano da sociedade. ambientais;
6 O Parque é seu
Foto: Eduardo Lage Santos
Aula de educação
ambiental com estudantes
de escola pública e
· facilitar a compreensão das interdepen- Tanto a proposta de Tbilisi, quanto a do moradores da região,
dências econômicas, políticas e ecológicas do Ibama, expressa no Programa Nacional de promovida pelo Instituto
Terra Brasil no Mirante do
mundo atual. As decisões e atitudes dos di- Educação Ambiental, sugerem como caminho Chapecó, Pedra Bonita.
versos países têm conseqüências de alcance para a percepção integral do meio ambiente o
internacional. Isso requer desenvolver um es- desenvolvimento de atividades educativas em
pírito de solidariedade e uma atitude mais res- que os participantes tenham a oportunidade
ponsável entre eles. de confrontar ação e reflexão, na busca de
melhor qualidade de vida.
O Parque Nacional da Tijuca foi criado em 8 de ros do Corcovado, Sumaré e Gávea Pequena;
fevereiro de 1967, por decreto federal. Em 1991, a outra os morros do Andaraí, da Tijuca e de
o Programa Homem e Biosfera, da Unesco, de- Três Rios; e a terceira relativa à Pedra da
clarou o Parque Patrimônio da Humanidade. Gávea e Pedra Bonita.
Com uma área de 3.200 hectares, está situa- O Parque oferece inúmeras possibilidades
do no centro da cidade do Rio de Janeiro, na para o lazer e o turismo ecológico e cultural.
porção média superior do Maciço da Tijuca, Suas vias internas são asfaltadas e as placas
e reúne três áreas antes distintas, recortadas de sinalização indicam pontos de interesse e
pela malha urbana: uma abrangendo os mor- serviços.
8 O Parque é seu
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12 Gruta Paulo e Virgínia
13 Vista do Almirante
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14 Açude da Solidão
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15 17 15 Pedra Bonita
Bonita/
Pedra 16 Pedra da Gávea
da 16 17 Plataforma de vôo livre
Gávea São 18 Mesa do Imperador
Conrado 5 Sede 19 Vista Chinesa
6 Pedra do Conde 20 Mirante Bela Vista
7 Mirante do Excelsior 21 Mirante Passo do Inferno
1 Portão da Floresta 8 Pico do Perdido 22 Mirante Andaime Pequeno
Barra da Tijuca
Limites do Parque 2 Cascatinha Taunay 9 Pico da Tijuca 23 Paineiras
Nacional da Tijuca
3 Capela Mayrink 10 Bom Retiro 24 Corcovado
4 Centro de visitantes 11 Bico do Papagaio 25 Mirante Dona Marta
Acessos pela estrada das Canoas, Pedra Bonita, · Pedra da Gávea e Cabeça do Imperador. A
estrada do Seridó, estrada do Sorimã e vias que Pedra da Gávea é considerada o maior
levam à Barra da Tijuca e à estrada de Furnas. monolito à beira-mar do planeta, com 842m
de altitude;
Pontos turísticos:
· Agulhinha da Gávea, com 610m de altitude.
· Pedra Bonita, com altitude máxima de 696m;
Pedra da Gávea
Corcovado/Sumaré-Paineiras
Envolve os morros do Corcovado, Sumaré e · Mirantes do Andaraí Pequeno e do Passo do
Gávea Pequena, com cinco portões de entrada: Inferno, na estrada do Redentor, e Mirante
dos Macacos, na estrada Dona Castorina; do do Barro Branco, na estrada do Sumaré;
Passo das Pedras, na estrada da Vista Chinesa; · Construção datada de 1884, nas Paineiras,
Morro do Corcovado das Sapucaias, na estrada Cristo Redentor; das que já foi um hotel de primeira categoria.
Caboclas, na rua Almirante Alexandrino; e do
Sumaré, na estrada do Sumaré. Lazer:
Pontos turísticos e históricos: · Caminhadas e passeios de bicicleta — nas
vias principais, como a estrada das Paineiras,
Vista Chinesa · Mirante do Corcovado, no alto da estrada do fechada aos veículos aos domingos e feria-
Corcovado, a 704m acima do nível do mar. dos. Nas trilhas que permitem o acesso a di-
Abriga a estátua do Cristo Redentor, com 30m versos pontos da cidade e a recantos especi-
de altura e 9m de altura do pedestal, que se ais, sugere-se o acompanhamento de guias
tornou o símbolo da cidade e um de seus prin- especializados;
cipais pontos turísticos, recebendo anualmente · Quedas d’água — na estrada das Paineiras,
cerca de um milhão de visitantes; refrescam os visitantes.➊
➊ Sabonete
que não limpa · Vista Chinesa, na estrada de mesmo nome.
Algumas pessoas abusam Pavilhão em estilo oriental, construído na dé- Serviços:
das duchas canalizadas do cada de 30, em homenagem aos chineses que A maioria se concentra no Corcovado: restau-
Parque, usando xampus e
sabonetes para tomar trouxeram o cultivo do chá para o Brasil, no rantes, lanchonetes, lojas de souvenirs, estação
banho. Os resíduos desses início do século XIX;
produtos químicos poluem do trem que vem do Cosme Velho, ponto de táxi,
as águas e as margens dos · Mesa do Imperador, na estrada da Vista Chi-
rios, prejudicando a estacionamento e sanitários públicos. Nas
floresta e também a cidade, nesa. Um dos locais preferidos do Imperador Paineiras, há uma estação de trem, uma bica
pois alguns cursos d’água
do Parque ainda hoje D. Pedro I para seus almoços campestres; d’água e um pequeno estacionamento. No Mi-
contribuem para seu
abastecimento.
· Mirantes das Paineiras e Dona Marta, am- rante Dona Marta funciona um heliponto, de
bos na estrada das Paineiras; onde partem vôos panorâmicos pela cidade.
10 O Parque é seu
Floresta da Tijuca
Gruta Paulo e Virgínia e a Vista do Almi- Antiga casa de escravos do Major Archer,
atual restaurante A Floresta;
rante, na estrada Major Archer;
12 O Parque é seu
na história
Escravos africanos e seus descendentes ocupam
Alguns estrangeiros escolhem a área do futuro expressivamente a área do futuro Parque Nacio-
Parque Nacional da Tijuca para se estabelecer. São nal da Tijuca, trabalhando nos sítios e fazendas Um grupo de chineses, trazido por D. João VI,
franceses, holandeses, ingleses, entre outros que, de café. Chegam a formar inúmeros quilombos, desenvolve plantações de chá no futuro bairro do
chegando com outros costumes e valores, dão pre- onde, embora escondidos e constantemente per- Jardim Botânico, o Real Horto. A cultura não dá
ferência às áreas mais arejadas e saudáveis em vez seguidos, cultivam pequenas roças, além de man- certo, mas na década de 1930 será construído o
de fixarem residência no centro sujo e insalubre ter relações fortuitas de troca com taberneiros Pavilhão da Vista Chinesa, homenageando esses
do Rio de Janeiro. locais e sitiantes. imigrantes.
Major
Archer
14 O Parque é seu
Gastão
d’Escragnolle
Raymundo de
Castro Maya
1920 — As favelas de São Carlos, Querosene,
Salgueiro, Macaco, Rocinha e Dona Marta co-
meçam a subir as encostas da Serra da Carioca. 1945 — O prefeito Henrique Dodsworth desig-
Também surgem algumas fábricas na periferia do na, para administrar a floresta, o industrial
Maciço da Tijuca: Cervejaria Brahma, Cia. de Raymundo de Castro Maya — responsável pela
Cigarros Souza Cruz, Cia. Franco-Brasileira de 1931/32 — É erguida, no Morro do Corcovado, sua definitiva transformação em área de lazer e
Papel e Lanifício Alto da Boa Vista. a estátua do Cristo Redentor. de turismo.
16 O Parque é seu
4 Por dentro
da floresta
O Parque Nacional da Tijuca é parte da Mata Uma das características principais do Parque é a
Atlântica, onde está concentrada alta de não ser uma floresta nativa, mas resultado de
➊ Sucessão ecológica é o biodiversidade. Ou seja, um número muito um longo processo de regeneração. Depois de de-
processo de mudança das
comunidades animais e grande de ambientes diferentes, com espécies ani- vastada pela cultura agrícola, foi em grande parte
vegetais em um mais e vegetais de características genéticas di- replantada pela mão humana. Num segundo mo-
ecossistema, caminhando
sempre para um aumento ferentes. Calcula-se que o Parque Nacional da mento, a regeneração se deu sob condições natu-
da diversidade das
espécies. Existem, Tijuca possua 600 espécies vegetais e 300 es- rais, a partir da proteção integral da área. Hoje, a
basicamente, três estágios pécies animais diferentes. Esta riqueza da di- floresta se encontra num estágio secundário de
de sucessão ecológica: o
primário, o secundário e o versidade, porém, não significa quantidade: al- sucessão ecológica.➊
clímax, quando o
ecossistema atinge a
gumas espécies estão, freqüentemente, em peri-
maturidade. No clímax go de extinção.
ocorre o fim da
substituição de espécies, e
é quando a biomassa —
total de matéria orgânica
presente no ambiente —
atinge seu valor máximo.
A flora
Estima-se que seja no
estágio clímax que se
encontra a maior
estabilidade do ambiente, A vegetação do Parque está localizada em um O solo acumula uma camada de detritos
o que poderia significar
uma maior possibilidade relevo muito acidentado, e forma uma compo- florestais em vários estágios de decomposição
de suportar impactos sição contínua de árvores, cuja copa alcança 25 — galhos, folhas, flores, frutos, restos de ani-
temporários.
metros de altura. É entremeada por grossos ci- mais e rica presença de agentes decompositores,
➋ Epífita é qualquer pós e plantas epífitas➋, como as bromélias, que como micróbios e fungos.
espécie vegetal que
cresce ou se apóia, crescem, também, entre os arbustos e se mistu-
fisicamente, sobre outra ram às plantas herbáceas ou rasas. O espaço Nos locais em melhores condições de
planta ou objeto,
retirando seu alimento da vertical no interior da floresta é densamente preservação, encontram-se magníficos
chuva ou de detritos e ocupado, formando uma barreira que impede a exemplares do estrato arbóreo (o mais alto),
resíduos que coleta.
entrada de grande parte da luminosidade do sol, como a árvore pioneira embaúba prateada, a
e por isso mantém um alto teor de umidade. quaresmeira, o ipê-amarelo, a paineira, o
18 O Parque é seu
Fotos: Ana Cristina Vieira e André Hilal
· usar roupas que protejam contra picadas de insetos: o uso de calça comprida,
botas altas ou tênis até o tornozelo é a melhor opção;
No fim desta publicação, no quadro A quem recorrer, há uma lista dos centros de
referência em animais peçonhentos.
Além da biodiversidade, outra característica das mulada vai sendo liberada, seja pela infiltra-
florestas tropicais são seus valores físicos, que ção no solo para o lençol freático ➊ (contri-
constituem benefícios divididos em dois grupos: buindo, por sua vez, para a alimentação dos
os produtos e os serviços ambientais. cursos d’água pelas nascentes), seja pela
evapotranspiração.➋
Os produtos ambientais são representados pelo
uso direto, ou seja, o benefício imediato da ex- Além de espécies como as bromélias, verda-
ploração produtiva. É o resultado, por exem- deiros reservatórios naturais de água, tam-
plo, da extração da madeira, dos frutos, óleos, bém os troncos e raízes facilitam o percurso
sementes, fibras, etc. Este não é um tipo de ex- hídrico, escoando a água para o interior do
ploração permitido nos Parques Nacionais bra- solo, o que permite que ela se acumule no
sileiros. lençol freático.
20 O Parque é seu
· Conservação da qualidade do solo: a pre- carregados para os cursos d’água não se acu-
sença da vegetação impede que a água da chu- mulam em quantidade no fundo do leito dos ➍ Assoreamento é a
va ganhe força e carregue sedimentos do solo rios, o que evita a formação de enchentes, obstrução do fluxo de um
rio, pelo acúmulo de
rio abaixo. Uma encosta de morro desmatada, porque o leito natural fica preservado na sua sedimentos (terra ou
em períodos de chuva forte, será facilmente capacidade de dar vazão às águas. detritos, naturais ou não).
vítima de erosão: a água carrega a porção
superficial do solo — justamente sua cama- · Regulação climática em escala local: a ve-
da mais fértil, rica em nutrientes — dificul- getação impede que os raios solares atinjam
tando a sucessão natural da floresta. diretamente o solo, aumentando o calor. As-
sim, as temperaturas nas florestas são sem-
· Prevenção contra assoreamento➍: como re- pre mais amenas do que em regiões similares
sultado do controle erosivo, os sedimentos desmatadas.
Enchentes no Rio
Ano após ano,
Isso é que é serviço público! temporais castigam a
cidade do Rio de
Janeiro, causando
Que obra de engenharia poderia realizar tantos serviços, e com tanta beleza estragos e sérios danos
paisagística? Como seria a cidade do Rio de Janeiro, situada numa área de à vida de milhares de
pessoas.
baixada, espremida entre o mar e a montanha, sem suas florestas preservadas Os deslizamentos
no Parque? podem acontecer onde
a floresta não se
Todos esses serviços ambientais dependem do equilíbrio do ecossistema. Se o encontra em bom
estado de conservação,
ser humano apropriar-se indevidamente da floresta, utilizando-a além de sua sendo facilitados pelo
capacidade, impedirá, ao longo do tempo, a sua reprodução. grau de inclinação das
encostas. Estes fatos
No caso do Parque Nacional da Tijuca, a perda da cobertura vegetal causaria só reforçam a
importância de se
um grande aumento das temperaturas médias em toda a cidade, além do au- preservar a vegetação
mento da instabilidade do solo. e de se recuperar,
rapidamente, as áreas
danificadas.
Os problemas ambientais que ameaçam a vida realizada, principalmente, no rio Guandu, enquan-
da humanidade neste final de século são nossos to as nascentes do Maciço da Tijuca atendem ape-
velhos conhecidos: diminuição da camada de nas às localidades do entorno.
ozônio, poluição dos oceanos, desertificação,
aquecimento global, desmatamentos e queima- Um novo ciclo de devastação se inicia, comanda-
das. São o que podemos chamar de conflitos do pela ação inconseqüente dos baloeiros, dos que
socioambientais. deixam lixo em locais não apropriados ou dos que
não o recolhem adequadamente, e pela insuficiên-
Conflitos socioambientais são os conflitos sociais cia de políticas habitacionais que integrem o cresci-
em torno de elementos da natureza. Envolvem mento desordenado de moradias ou que o discipli-
➊ Interesse difuso é o que também o interesse difuso➊ do livre acesso e usu- nem, preservando a floresta. Mas é a relação da
une pessoas não muito bem
identificadas entre si. Por fruto da natureza por toda a coletividade. As ques- floresta com as águas, novamente, que interfere
exemplo: os usuários das tões ambientais urbanas, portanto, devem na cidade, desta vez não por sua ausência, mas
águas de um rio e os
consumidores de uma certa corresponder ao interesse coletivo. por seu excesso. Diferentemente de há um século,
marca de massa de
tomates. O meio ambiente
quando se tratava de proteger os mananciais, hoje
é um tipo característico de O primeiro ciclo de devastação da floresta — fru- é a estabilização das encostas do Maciço da Tijuca
interesse difuso.
to de conflitos socioambientais entre, por um lado, que está em jogo, com o risco de enxurradas e
os interesses particulares da expansão agrícola e, desabamentos em sua área devastada.
por outro, o abastecimento de água para a cidade
— fez com que os efeitos negativos da ausência Sabendo que os interesses particulares ameaçam
de água aparecessem, superando os benefícios eco- o patrimônio ambiental, o passo seguinte para o
nômicos da cafeicultura. Só então foi interrompi- enfrentamento do conflito socioambiental é torná-
do o processo de destruição. Atualmente, a capta- lo visível, para que possa ser negociado. Trata-se
ção de água para a cidade do Rio de Janeiro é de ultrapassar a lógica do conflito, assumindo o
22 O Parque é seu
processo participativo de negociação. A base é o Ao Estado cabe, neste processo, pelo fato de
diálogo e a responsabilidade compartilhada, quan- deter poderes estabelecidos na legislação, con-
do o interesse individual deve ceder espaço ao vocar a sociedade para a efetiva participação, e
coletivo, sempre que este estiver relacionado à assumir seu papel de mediador, zelando pelo
melhoria da qualidade de vida. bem de uso comum.
O Parque Nacional da Tijuca é apontado como Os incêndios ocorrem, em sua maioria, nas áreas
a maior floresta urbana replantada do mundo. periféricas do Parque, mas também no interior da
É circundado pela malha urbana da cidade do mata, pela queima do lixo dos moradores da re-
Rio de Janeiro, e entrecortado por ela. Existem gião, pelas pontas de cigarro deixadas por visi-
43 favelas no seu entorno. A expansão urbana tantes, pelas velas de oferendas religiosas deposi-
descontrolada e a especulação imobiliária são tadas nos troncos das árvores e até mesmo por Fogo!
graves ameaças ao Parque. Outro problema latas e vidros sob o efeito do sol. Em junho de 1997,
socioambiental que afeta o Parque e seu entor- um balão caiu na
no é o lixo. Não bastasse a insuficiência da co- Mas a principal causa são os balões que, encosta do Sumaré,
leta, ele é despejado indevidamente tanto nas freqüentemente, caem na floresta, com a bucha causando um incêndio
que durou três dias e
vias rodoviárias de passagem, quanto no interi- acesa ou ainda incandescente. Associados às fes-
destruiu uma área de
or do Parque e nas encostas. tas juninas, os balões aparecem com maior fre- cerca de cinco
qüência nos meses de junho a setembro, justamen- quilômetros
As conseqüências do lixo são desastrosas. Qual- te durante o período das secas. quadrados.
quer objeto estranho à floresta (restos de alimen- A vegetação estava
tos, copos, garrafas, plástico, latas) contribui para extremamente seca,
O fogo se inicia e propaga com rapidez nas áreas contribuindo para que
a redução da biodiversidade de plantas e animais degradadas, sobretudo onde existe o capim- o fogo se propagasse
e para a transmissão de doenças. Quatis, gambás, colonião, facilmente inflamável. Estas áreas, por rapidamente.
cuícas, caxinguelês, micos e pássaros muitas ve- terem maior luminosidade e pouca umidade —
zes adoecem e morrem pela ingestão de alimentos pois perderam a cobertura vegetal —, são mais
estranhos aos seus hábitos. propícias à combustão➋ do que o interior da flo-
resta, normalmente mais úmido.
O lixo inibe o desenvolvimento de plântulas➊ e ➊ Plântulas são pequenas
plantas em início de
causa ainda a obstrução do escoamento natural desenvolvimento.
Quando o fogo acaba as árvores estão mortas, mas
da água das chuvas. O entupimento de rios,
o capim, que cresce muito rápido, volta a brotar ➋ Combustão é o processo
córregos e bueiros pelo lixo, além de diminuir o químico que dá origem ao
na estação chuvosa, e invade a área destruída, di-
oxigênio na água, matando peixes, provoca en- fogo.
minuindo a cobertura vegetal original.
chentes, que por sua vez causam deslizamentos
de encostas sujeitas à erosão.
24 O Parque é seu
6 O direito ambiental e
a participação cidadã
O direito ambiental engloba a legislação con- as resoluções também têm muita importância.
sagrada e também novos padrões e critérios Elas podem ser poderosos instrumentos de
que estão sendo criados pelos cidadãos e os defesa do meio ambiente e da qualidade de
outros atores sociais, muitas vezes renovan- vida, ao representarem os direitos que a soci-
do as lei instituídas. edade tem e seus deveres; o que cabe ao Po-
der Público; como podem agir associações
Esse conjunto de regras está presente prepon- comunitárias e cidadãos e quais os meios para
derantemente na legislação: Constituição, leis garantir o exercício dos direitos e o cumpri-
e decretos. No caso da legislação ambiental, mento dos deveres.
A qualidade da nossa vida cotidiana está sem- Na luta pela defesa do meio ambiente, pelo me-
pre precisando melhorar. Ônibus cheios, trem nos três atores sociais estão envolvidos: o cida-
apertado, falta de limpeza e higiene em locais dão, o empresário e o Estado, este último medi-
públicos, de saneamento básico e água encanada, ando o conflito, negociando a solução, fazendo
poluição urbana, fumaça negra, lixo sem cole- cumprir o direito e as leis. Mas, como se sabe,
ta... tudo isso é tão ameaçador para a qualidade nem sempre é assim que as coisas acontecem e
de vida quanto as pressões do trabalho ou do muitas vezes o Estado é mais benevolente com a
desemprego, a ausência do lazer, do direito à indústria que polui, do que com o cidadão que é
escola, à moradia, à informação, ao bem-estar. prejudicado.
Não existem apenas direitos, para os cidadãos, mas também deveres, porque a todo
direito corresponde um dever. No entanto, há um dever que nos cabe, especialmente,
cumprir: o de fiscalizar a ação do Poder Público e da própria sociedade na defesa do
meio ambiente, um bem de todos nós.
26 O Parque é seu
7 As leis que
protegem o Parque
O Regulamento dos Parques Nacionais (decreto coletar, aprisionar ou abater exemplares da fauna
84.017 de 21/9/79) tem como objetivo principal (art. 13), introduzir espécies exóticas (art. 14),
a preservação de ecossistemas naturais contra jogar lixo fora dos locais permitidos (art. 22),
qualquer alteração que afete suas característi- praticar qualquer ato que possa provocar a ocor-
cas originais. É uma lei que assegura os limites rência de incêndio (art. 23), praticar atividades
do que é de interesse público. religiosas quando a celebração do evento trou-
xer prejuízo ao patrimônio natural preservado
Proíbe, entre outras ações: coletar frutos, semen- (art. 37), ingressar ou permanecer portando ar-
tes, raízes ou outros produtos (art. 10), abater mas ou instrumentos destinados a corte da ve-
ou plantar árvores (art. 11), perseguir, apanhar, getação, caça ou pesca (art. 38).
Zona
intangível Não é permitido qualquer tipo de interferência humana;
Zona de uso
Oferece acesso restrito para fins educativos ou recreativos;
extensivo
Zona de uso
intensivo Áreas do Centro de Visitantes e de outros serviços aos usuários;
Zona
Abriga os sítios históricos e arqueológicos;
histórico-cultural
28 O Parque é seu
O que dizem as leis?
A Constituição Federal de 1988, principal lei Maciço da Tijuca, inclusive em suas áreas não
do Brasil, não pode ser contrariada por nenhu- incorporadas ao Parque.
ma outra lei ou determinação, seja ela estadual,
municipal, ou de qualquer entidade pública ou Soltar balões é tão ameaçador ao meio ambien-
civil. A Constituição garante, para todos nós, o te que desde 1941 já era considerado uma con-
“direito ao meio ambiente ecologicamente equi- travenção penal. Em 1998, passou a ser um cri-
librado, bem de uso comum do povo e essencial me ambiental.
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Em 1965 foi instituído o atual Código Florestal,
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e que vale para todo o Brasil (lei federal 4.771). Ele
preservá-lo para as presentes e futuras gerações” define as áreas de preservação permanente, que
(artigo 225). O parágrafo (§) 4 define a Mata são as florestas localizadas ao longo dos rios ou
Atlântica como Patrimônio Nacional. de qualquer curso d’água; ao redor das lagoas,
O Município do Rio de Janeiro também tem leis lagos ou reservatórios d’água naturais ou artifici-
que se preocupam com o meio ambiente. No ais; nas nascentes; no topo dos morros, montes,
artigo 463, a Lei Orgânica do Município enun- montanhas e serras; nas encostas; nas restingas e
cia a manutenção e defesa das áreas de preser- mangues; nas bordas de tabuleiros ou chapadas;
vação permanente com cobertura vegetal que em altitudes superiores a 1.800 metros e nas áreas
contribuam para a estabilidade das encostas su- metropolitanas definidas em lei. Considera-se ain-
jeitas à erosão, destacando-se, entre outras, a da como florestas de preservação permanente aque-
Floresta da Tijuca. las que, entre outros atributos, atenuem a erosão
das terras, protejam sítios de excepcional beleza
Mais recentemente, em 1992, a Lei Complemen- ou de valor científico ou histórico, abriguem exem-
tar 16 criou o Plano Diretor da Cidade, que des- plares da fauna e flora ameaçados de extinção ou
taca a necessidade de recuperar e proteger o assegurem condições de bem-estar público.
Quando a pessoa... praticar crimes contra a flora durante o período de queda das
sementes, da formação de vegetações, em época de seca ou inundação, durante a
noite, em domingo ou feriado, contra espécies raras ou ameaçadas de extinção, ou
que o resultado incorra em diminuição de águas naturais, erosão do solo ou modifica-
ção do regime climático... a pena será aumentada.
30 O Parque é seu
8 Dez maneiras de defender
o meio ambiente
Como toda a legislação ambiental ainda é nova e a prática da participação da
sociedade também engatinha, uma “mãozinha” é sempre bem-vinda para saber
o que fazer. Uma coisa é certa: há que ter vontade de mudar e acreditar, para
valer, que uma andorinha só não faz verão.
Alguns instrumentos são bastante eficientes na interagem com o Parque na discussão de pro-
defesa do meio ambiente e dos direitos dos ci- postas, tomada de decisões e parcerias, com
dadãos. A organização da sociedade pode re- direitos e deveres bem definidos, seja em edu-
sultar em maiores benefícios do que ações indi- cação ambiental, ecoturismo, monitoramento
viduais ou solitárias. A população pode se or- e outras ações pertinentes.
ganizar fundando associações de pessoa jurídi-
ca de direito privado, e o Código Civil regula- · Acesso à informação: Por meio de uma peti-
menta este processo. ção, podem-se obter informações relevantes
para pensar como agir diante de questões
Os órgãos colegiados — como os Conselhos ambientais. O Poder Público produz muito
Municipais, Estaduais e Federal de Meio Am- material de consulta que interessa aos cida-
biente — apóiam-se no princípio democrático dãos, nos diversos órgãos técnicos que acom-
e, portanto, precisam da participação da socie- panham e estudam a realidade.
dade organizada.
· Direito de certidão: O cidadão tem direito
O exemplo mais conhecido é o Conselho Naci- de pedir atestado de atuação dos órgãos pú-
onal do Meio Ambiente — Conama. É um ór- blicos, sempre que perceber que parte das re-
gão que tem como finalidade assessorar, estu- gras ambientais está sendo descumprida. Com
dar e fazer propostas para a formulação de po- essa certidão, pode acionar o Estado, em ação
líticas públicas ambientais. Cada estado e mu- civil pública e em ação popular, caso des-
nicípio deve ter uma câmara colegiada, com a confie de algum procedimento adotado.
participação da sociedade organizada.
· Ação Civil Pública de responsabilidade por
· Gestão participativa: A atual Administra- danos ao meio ambiente: As ações podem
ção procura envolver os vários atores que acontecer por iniciativa das associações civis
32 O Parque é seu
Um modelo de petição
Não é preciso
ser advogado Exmo. Sr. Procurador, Ministério Público Federal
Qualquer pessoa pode
redigir uma petição. É
direito de todos,
independentemente do
pagamento de taxas,
encaminhar uma petição Joana de Souza, vendedora, casada, doméstica, residente à rua do
aos Poderes Públicos, em
defesa de direitos ou contra Bispo, 54, vem com base no art. 5º, 34 “a” da Constituição Fede-
ilegalidade e abuso do
poder.
ral, exercer o direito de petição, expondo e requerendo o seguinte:
É fácil fazer
uma petição Ocupo uma residência no Parque Nacional da Tijuca há dez
É uma carta contendo um anos. Sabedora de que a Subprefeitura da Tijuca vem desenvolven-
pedido dirigido ao
promotor de Justiça do um Programa de reassentamento, gostaria de saber da
(Ministério Público), ao
delegado de polícia, ao
possibilidade de V. Sa. interceder para que possa me integrar no
prefeito, aos vereadores, ao referido Programa.
juiz de direito, ou a
qualquer representante do
Poder Público, reclamando,
denunciando e exigindo a
Nestes termos, pede deferimento.
garantia de um direito.
..............................................................................
Joana de Souza
NEVES, Estela e TOSTES, André. A Lei e a Vida. VIEZZER, Moema L. e OVALLES, Omar (org.).
Petrópolis: Vozes, 1991. Manual Latino-Americano de Educação
Ambiental. São Paulo: Gaia, 1995.
34 O Parque é seu
O Parque Nacional da Tijuca tem o prazer de apresentar aos jovens,
agentes comunitários e moradores do seu entorno O Parque é seu,
uma publicação especialmente voltada para a difusão das possibi-
lidades de exercício da cidadania na proteção e preservação da
floresta, resultando em aumento da qualidade de vida para todos.
CECIP