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ANALISE DE OBRAS INFANTO-JUVENIS NA PERSPECTIVA DE TZVETAN

TODOROV.
Giovanna Gomes Santos Oliveira¹
Josué Andrade Ramos¹
Laiany Nunes Lobato¹
Maria Clara Cunha Paixão Gomes¹
Mariana Amorim Garcia¹
Rayoline Amorim dos Santos Cirino²
RESUMO

Este trabalho engloba os conceitos de Fantástico, Estranho e Maravilhoso contidos no livro


Introdução a Literatura Fantástica de Tzvetan Todorov, bem como serão analisadas obras
infanto-juvenis com base nesses conceitos. Apresentando, assim, de acordo com essas analises,
as contribuições de Todorov para a literatura.

Palavras-chave: literatura; fantástico; Todorov; infantil; juvenil.

1. Introdução

A obra Introdução a Literatura Fantástica de Tzvetan Todorov publicado em 1975, é


um estudo sobre as definições do fantástico, seus limites, seus subgêneros, categorias,
especificidades, bem como temas importantes para o entendimento do fantástico. Todorov
começa abordando as concepções de gênero usadas por Frye que é constituída de textos uma
hora de ordem teórica outrora descritivos, este último é onde se encontra exemplificado o
conjunto de gêneros.

A classificação de fundamental importância para Frye é a que define modelos.


Romance (ideal), ironia (no real), comedia passagem (do real ao ideal) e tragédia (do ideal ao
real). Os gêneros segundo Frye também podem ser representados pela audiência esperada prosa
( obras lidas) poesia lírica ( cantadas), drama ( representada) etc.

Deixemos agora entrar na concepção da literatura fantástica. “ O fantástico se define


na incerteza”, somos levados ao centro do fantástico a partir da hesitação de acreditar ou não
na possibilidade de determinados acontecimentos sobrenaturais.

Aquele que o percebe deve escolher entre por duas


soluções possíveis ou se trata de uma ilusão dos sentidos, de
um produto da imaginação...ou então o acontecimento
¹ Graduando de Letras pela Universidade Federal do Maranhão
² Bacharel em Serviço Social; Graduanda de Letras pela Universidade Federal do Maranhão
realmente ocorreu, é parte integrante da realidade, mas neste
caso a realidade é regida por leis desconhecidas para nós. (
Todorov 1975 p. 30)

Ao escolhermos uma ou outra alternativa somos levados a gêneros vizinhos:


estranho e maravilhoso, os quais falaremos mais á frente. Segundo Soloviov : “No verdadeiro
campo do fantástico, existe, sempre a possibilidade exterior e formal de uma explicação simples
dos fenômenos, mas, ao mesmo tempo, esta explicação carece por completo de probabilidade
interna” . A capacidade de hesitar entre os dois cria o efeito fantástico pois o fenômeno só pode
ser explicado por uma destas maneiras (Todorov, 1975).

Adentremos, então na literatura infanto-juvenil, base das nossas analises. No princípio


e por muitos anos a literatura possuía um caráter adulto, excluindo assim o valor criativo que
existe na experiência infantil. Segundo a mestra em literatura e crítica literária Daniela Cristina
Agostinho Silva a origem do gênero infanto-juvenil se deu entre os séculos XVII e XVIII,
respectivamente, advinda da necessidade de considerar as especificidades das crianças em
comparação aos adultos. Todavia, apesar de terem sido produzidas narrativas de caráter popular
como as Fabulas de Esopo e Contos da Mamãe Gança, na literatura infando juvenil da época
preponderava-se a obra com função pedagógica de caráter instrucional.

O rumo da literatura infanto-juvenil muda totalmente no século XVIII com alguns


escritores introduzindo em seus textos aspectos que traduziam a realidade infantil através da
simbologia afinidade, psicologia e desenvolvimento cognitivos.

O século XIX é marcado pela dissolução da literatura infantil no mundo. Narrativas


como Branca de Neve, Rapunzel e Chapeuzinho Vermelho fazem um sucesso estrondoso com
o público infantil. Sendo posteriormente reformuladas para o teatro e cinema.

Na contemporaneidade a literatura infanto-juvenil caracteriza-se – em sua maioria-


pela utilização de conteúdos fantásticos. Vampiros, fadas, bruxos, alienígenas e mundo
alternativos fazem parte dos livros consumidos atualmente. Desta forma a partir destas
narrativas fica mais fácil analisar os conceitos criados por Todorov para distinguir o fantástico,
o estranho e o maravilhoso e seus respectivos subgêneros.

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2. Introdução de Fantástico

Um homem que se transforma em inseto, uma criança que fala com um coelho, o
funcionário público que acredita ser rei, a luta de uma mulher e seu reflexo no espelho, o
labirinto guardado por um ser sobrenatural, o gênio saído da lâmpada e o conde viúvo que
acreditar ainda viver com a esposa. Estas histórias, apesar de diferentes possuem a capacidade
de introduzir no enredo acontecimentos inabituais. A literatura fantástica é uma expressão que
refere-se a uma variedade literária ou o chamado gênero literário (Todorov. 1975). O exame
de obras literárias pode ser feito por mais de uma maneira, não há uma averiguação unilateral.
Porém é necessário encontrar uma regra que abranja todos os textos desta linha, para então
conseguir denomina-las obras fantásticas.

Há fases até que o elemento fantástico seja identificado em uma obra.


Primeiramente, o leitor é inserido em um mundo real, que segue as leis da natureza,
posteriormente, depara-se com um evento insólito, algo impossível de ocorrer. Com isso, é
instaurado no leitor e no personagem uma hesitação para entender o que está sendo apresentado,
podendo escolher por seguir uma explicação natural ou uma sobrenatural para o acontecimento.
O natural poderia ser visto como uma alucinação ou um sonho, o sobrenatural, a conformação
de que o evento existe seguindo leis até o momento desconhecidas, como a possibilidade de
torna-se invisível. Neste instante de hesitação é que nasce o fantástico.

A exemplo dessa hesitação, onde o personagem diverge entre o que deveria ser real e
o que esta posto a sua frente, temos esta pequena passagem, de As Crônicas de Nárnia: O Leão,
a Feiticeira e o Guarda-roupa, quando a pequena Lucia Pevensie, entra pelo guarda-roupa e da
de encontro com Nárnia pela primeira vez:

“ Um minuto depois, percebeu que estava num bosque, à noite, e que


havia neve sob seus pés, enquanto outros flocos tombavam do ar.
Sentiu-se um pouco assustada, mas, ao mesmo tempo, excitada e cheia
de curiosidade. [...]
— Se alguma coisa não correr bem, posso perfeitamente voltar.
E ela começou a avançar devagar sobre a neve, na direção da luz distante.
” (LEWIS, 2009, pag. 105).

Todorov define, portanto, um evento fantástico como ocorrências que não podem ser
explicadas pelas leis do mundo real, acontecendo quando há a dúvida se esse evento pode ser

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solucionado pela lógica, um evento natural, ou intrínseca às leis desconhecidas, um evento
sobrenatural:

“Há um fenômeno estranho que pode ser explicado de duas maneiras , por
tipos de causas naturais e sobrenaturais. A possibilidade de vacilar entre
ambas cria o efeito fantástico.” (TODOROV, 1975, pág. 16).

3. O Fantástico, o Estranho e o Maravilhoso

“O fantástico não dura mais que o tempo de uma vacilação: vacilação essa
comum ao leitor e ao personagem, que deve decidir se o que percebem provém
ou não da ‘realidade’”

Todorov afirma que existe uma linha tênue entre o fantástico, o estranho e o maravilhoso
e, que isso irá depender exclusivamente da solução dos acontecimentos sobrenaturais no
decorrer do livro.

Para ele, se as leis da realidade ficam intactas e, nos permite explicar os fenômenos
descritos na história, então ela pertence ao gênero Estranho. Se, pelo contrário, for necessário
admitir que é preciso criar novas leis da natureza para nos permitir explicar os fenômenos da
história, então ela pertence gênero Maravilhoso.

Sendo assim, o fantástico pode desvanecer-se a qualquer momento, ele parece estar
sempre no limite entre estes dois gêneros, a exemplo disso o livro discorre sobre várias obras
onde o fantástico sobrenatural pode ter uma explicação dentro das leis da realidade, bem como
livros em que novas leis da natureza podem ser criadas para explica-los.

Um exemplo destes limites é o livro Inés das Serras de Charles Nodier, um dos pioneiros
do fantástico na França:

Este texto se compõe de duas partes sensivelmente iguais; o final da


primeira nos some na perplexidade: não sabemos como explicar os fenômenos
estranhos que se produzem; entretanto, tampouco estamos dispostos a admitir
o sobrenatural com tanta facilidade como o natural. O narrador vacila então
entre duas condutas: interromper seu relato nesse ponto (e ficar no fantástico)
ou continuar (e, portanto, sair do fantástico). Por sua parte, declara a seus

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ouvintes que prefere deter-se, e se justifica desta maneira: “Qualquer outro
desenlace seria vicioso pois modificaria a natureza de meu relato” (pág. 697).

Mas não podemos dizer que o fantástico não existe, ou que ele existe apenas em uma
parte da obra, antes que os acontecimentos sobrenaturais sejam explicados. Todorov afirma que
o fantástico existe quando essa ambiguidade, retratada no trecho acima, se perpetua durante
todo o texto. Todorov dá em exemplo para explicar tão afirmativa o livro de Henry James, A
volta do Parafuso, onde o leitor nunca saberá se os fantasmas rondam a velha propriedade ou
se tudo não passa de alucinações da governanta que é atormentada pelo clima inquietante a sua
volta.

Na série de livros infantis de C. S. Lewis, intitulado As Crônicas de Nárnia, podemos


observar uma ambiguidade por parte do leitor entre acreditar ou não que Nárnia, o mundo criado
pelo autor, existe, mesmo sendo realidade para os personagens. Existem elementos do gênero
estranho, quando se foca nos sentimentos de medo de Eustáquio ao chegar em Nárnia pela
primeira vez e ao se deparar com situações e seres sobrenaturais e. então, ele busca explicar o
que está vendo através de sonhos. Há também aspectos do gênero maravilhoso, pois o foco da
narrativa é inteiramente na sobrevivência de Nárnia, mesmo que tal fato não seja explicado por
leis naturais. Essa indecisão, entre acreditar ou não nos fenômenos presentes na obra permanece
até o final e mesmo após fechar o livro, caracterizando-o como fantástico.

Há por vezes em que os gêneros se misturam, dessas misturas surgem subgêneros


transitivos, por vezes entre o fantástico e o estranho e em outros entre o fantástico e o
maravilhoso, para Todorov, esses subgêneros se formam quando há um período longe de
vacilação fantástica que terminam finalmente no estranho ou maravilhoso.

Todorov, usa essa pequena tabela, no livro, para nos mostrar os subgêneros.

No fantástico-estranho, os acontecimentos sobrenaturais que, no decorrer do texto


parecem sem explicação, recebem uma explicação racional. Esses acontecimentos, de caráter

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insólito, permitem que o leitor acredite na intervenção sobrenatural por um longo período de
tempo. Alguns críticos o descrevem como um sobrenatural explicado.

Um bom exemplo deste subgênero na literatura infanto-juvenil, é a obra de Lewis Carroll,


intitulada Alice no País das Maravilhas, em que a personagem Alice vai para um outro mundo
através de uma toca de coelho, conhece personagens estranhos e malucos e, arruma uma baita
confusão com uma rainha tirana que a sentencia com a famosa frase do clássico: “Cortem-lhe
a cabeça! ”. Neste mundo, como percebemos durante a narrativa, ela vai interagir com seres
sobrenaturais e vivenciar experiências que parecem sem explicação, fatos que posteriormente,
entendemos como parte de um sonho da menina.

Já no estranho puro os acontecimentos podem explicar-se perfeitamente pela lei da razão,


mas de uma maneira ou de outra causam no leitor uma reação semelhante as dos textos
fantásticos, por serem extraordinários, incríveis, chocantes, inquietantes e, por vezes, insólitos.
Para Todorov o estranho não é um gênero bem delimitado, o que o torna diferente do fantástico.
Se por um lado ele se limita com o fantástico, por outro ele se dissolve na literatura geral.

Em Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L´ Engle, o pai da jovem Meg Murry passa
anos preso no espaço após entrar em um buraco de minhoca. Meg, então, juntamente com seu
irmão caçula Charles Wallace e seu amigo Calvin embarcam em uma aventura no tempo e
espaço para salva-lo. Os acontecimentos inquietantes da obra que causam no leitor uma
sensação de fantasia recebem uma explicação lógica com base na física quântica. Isto a torna
uma obra exemplo de um estranho-puro na contemporaneidade.

Para Todorov, o estranho relaciona-se unicamente com os sentimentos das pessoas e não
com o acontecimento material que desafia a razão, em particular a do medo, de acordo com o
autor, a pura literatura de horror pertence ao estranho e, muitas obras do autor Ambrose Bierce
poderiam servir de exemplo para o estranho puro.

Outrossim, Meg, em Uma Dobra no Tempo, sente-se presa ao medo de nunca mais ver o
pai e de não ser suficientemente capaz de salvá-lo:

“Meg, enrolada na colcha, tremia. Ela não costumava ter medo dos
elementos. Não é só a meteorologia, ela pensou. É o tempo, acima de tudo.
Acima de mim. Acima de mim, Meg Murry, que faço tudo errado.”
(L’ENGLE, 2010, pag. 9).

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O maravilhoso, ao contrário do estranho, vai se caracterizar, exclusivamente, pela
existência dos feitos sobrenaturais, sem implicar a reação que provocam nos personagens. No
texto de Todorov não parece haver uma definição de fantástico-maravilhoso, mas, sim, uma
serie de exemplos que nos sugere que, dentro da classe de relatos que se apresentam como
fantásticos nos textos, há uma aceitação do sobrenatural e estão muito próximos do fantástico
puro, pois sugere a existência do sobrenatural e, de acordo com a presença ou ausência de
detalhes o personagem se inclina a uma nova lei da natureza ou não:

“ Ao chegarmos, não demorou muito para que ela ficasse rodeada de fadas
e risse enquanto elas brincavam com sua echarpe e cabelo. Fadas são seres
muito curiosos, mas apesar disso não costumam se aproximar tanto dos
humanos como se aproximaram de Elizabeth. É algo raro e ao mesmo tempo
especial. Fadas costumam ser atraídas por seres gentis e de bom coração. ”
(CIRINO, 2019, pág. 158).

Em Portal das Sombras, um livro de R. A. Cirino, Elizabeth é um jovem que ao ter um


primeiro contato com o Mundo das Sombras resiste em acreditar em um submundo habitado
por criaturas míticas. No decorrer da narrativa, a personagem passa a compreender que a
existência do mundo humano, depende inteiramente da existência do Mundo das Sombras, o
que antes era inabitual as leis da natureza nas quais ela foi criada, agora ganham um novo
significado e o sobrenatural é possível na obra, tornando-a pertencente ao gênero maravilhoso.

O maravilhoso-puro, assim como o estranho, não possui limites definidos, como


característica do maravilhoso, os elementos sobrenaturais não irão provocar no leitor, nem no
personagem, reações particulares. As características desse gênero estão focadas na natureza dos
acontecimentos.

Soluço, personagem principal da série de livros, Como Treinar seu Dragão, da autora
Cressida Cowell, tem como realidade a antiga civilização viking, em que humanos coabitam
com dragões, em sua maioria, domesticados. É possível ver aspectos do maravilhoso-puro nesta
obra, pois os personagens e o leitor, em nenhum momento, hesitam em relação a realidade
apresentada, a autora deixa bem claro que essa perspectiva de mundo é possível em relação a
obra.

Por fim, temos o “fantástico-puro”, que se caracteriza por ser o fantástico por excelência.
Localiza-se entre o “fantástico-estranho” e o “fantástico-maravilhoso” e assemelha-se

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principalmente a este último, pois quando o fato permanece inexplicável, a existência do
sobrenatural é admitida, deixando o fantástico na sua forma “pura” (Todorov, 1975).

O fantástico-puro, está presente em todos os aspectos da obra, Coraline e o Mundo


Secreto de Neil Gaiman. A menina, Coraline Jones, acabou de se mudar para uma casa nova
com os pais sempre ocupados e não consegue se entender com os vizinhos que nunca acertam
a pronuncia de seu nome. Em uma exploração pela casa, a personagem encontra uma pequena
porta em uma das paredes da sala, que a transporta para o outro mundo. Lá se depara com pais
amorosos, vizinhos acolhedores e uma vida muito mais divertida. Conquanto, todos os seres
desse novo lugar possuem uma característica singular, olhos de botão. A outra mãe, como
Coraline a intitula, demonstra um amor possessivo pela menina, enquanto silenciosamente
pretende alimentar-se da alma dela.

Ao desenrolar da aventura, Coraline salva os pais que foram aprisionados em um globo


de neve pela outra mãe e consegue fugir do domínio da megera, trancando definitivamente a
pequena porta. Durante todo o percurso da obra, nem o próprio leitor, nem a personagem
conseguem discernir sobre a veracidade dos acontecimentos, não há uma explicação em torno
do sobrenatural descrito em todo o livro e, os elementos presentes ao final sugerem uma
ambiguidade entre a realidade e o sobrenatural.

4. Analise das Obras Infanto-juvenis na perspectiva de Todorov


4.1.1. Série Harry Potter

É corriqueiro na literatura infanto-juvenil contemporânea que as obras ficcionais


apresentem elementos não naturais, sendo assim mais comum se localizar as características
abordadas por Tzvetan Todorov na classificação do fantástico. Em Harry Potter, umas das sagas
de mais sucesso entre o final do século XX e o início do século XXI, de autoria de J. K. Rowling
é possível notar e exemplificar essas definições e as próprias transformações dos gêneros as
longo dos sete livros.

Na fase inicial da narrativa ocorre o choque entre o mundo natural e o sobrenatural,


onde “bruxos” aparecem em uma pequena cidade na Inglaterra para entregar um bebê
misterioso a um casal humano, os Dursleys, explicando toda a procedência da criança e pedindo
que eles o forneçam abrigo já que seus pais foram assassinados por outro bruxo e eles seriam
seus parentes mais próximos. A contragosto, o casal acaba aceitando, e cria o menino com todas

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as leis naturais sem dar a ele conhecimento de seus aspectos sobrenaturais. É importante
ressaltar que é algo que se repete ao longo da trajetória, mesmo quando Harry Potter (a criança
apresentada) tem conhecimento de seus poderes, seus tios o classificam como problemático e
por vezes até louco na frente de outros humanos, em uma tentativa de explicar e justificar seu
estranho comportamento.

Em seguida, encontramos Harry, já com 10 anos de idade, em um cenário do mundo


natural, porém em constante hesitação com seus próprios atos. Ele começa a perceber que
consegue se comunicar com cobras e até fazer um vidro desaparecer, mas não procura uma
explicação sobrenatural para isso logo de início, e quando tenta falar sobre isso aos seus
responsáveis (os Dursleys) eles o repreendem, tentando sempre ocultar a magia existente nele.
Quando Harry Potter completa 11 anos, ele recebe a visita inesperada de um ser mágico - na
história apresentado como um bruxo metade gigante – que se chama Hagrid que veio lhe
congratular e lhe explicar sobre a sua ida a Hogwarts, uma escola de formação para pessoas que
assim como ele possuem magia, informação recebida com total estranhamento por Harry, que
pela primeira vez estava sendo informado que era um bruxo e que existia todo um universo com
pessoas que também tinha essas características. Logo ele descobre de toda a sua história, antes
ocultada por seus responsáveis humanos e se abre para o conhecimento dessa nova realidade.

Nas primeiras obras, é possível observar o tom de curiosidade e descoberta de Potter


com o mundo bruxo, e cada vez mais confirmando que aquilo não era uma alucinação ou um
sonho, e sim que havia novas leis naturais dentro daquele universo no qual ele se encontrava,
permitindo explicar aqueles fenômenos mágicos, sempre apresentados como extraordinário,
chocantes e incríveis. Esses conceitos são similares aos utilizados por Todorov para delimitar
o fantástico – maravilhoso, que sugere a aceitação dos conceitos sobrenaturais ao mesmo tempo
em que ainda causa hesitação tanto no personagem principal quanto no leitor.

Ao longo da série ocorre um amadurecimento em todos os personagens, assim como


no próprio tom da história, que deixa de ser sobre a excitação de um mundo novo e mais sobre
a convivência política e social dentro das leis daquele universo. O livro passa apresentar uma
espécie de Guerra Civil dentro do mundo bruxo, onde lados opostos lutam, um para tentar
instalar a soberania dos bruxos “puros”, e o outro para impedir que isso aconteça. A narrativa
não tem mais tanto efeito de surpresa e descoberta (se tratando do impacto com o mundo
apresentado), os efeitos sobrenaturais já não provocam tanta hesitação. O sobrenatural é apenas

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aceito como comum. Aqui podemos destacar um subgênero diferente do que havia se
manifestado na primeira parte da saga, o maravilho puro.

Desse modo, pudemos perceber como os subgêneros do fantástico podem se completar


em diversos momentos, sempre dependendo da construção da narrativa e de acordo com a
presença ou ausência de detalhes, o personagem pode se inclinar a uma nova lei da natureza ou
não.

4.1.2. Série Percy Jackson

Percy Jackson e os Olimpianos é uma série literária de 5 livros composta pelo escritor
estadunidense Rick Riordan que aborda a mitologia Grega no universo contemporâneo. A saga
tem como personagem principal o pré-adolescente Percy, que com 12 anos está prestes a ser
expulso de seu colégio interno por não conseguir se encaixar e pelos seus problemas com déficit
de atenção. Ao descobrir que monstros míticos – que até então não passavam de histórias para
o personagem – o estão caçando. Ele, Percy, junto do seu amigo Grover Underwood, um sátiro
adolescente e protetor disfarçado de humano, decidem fugir de Nova York para encontrarem
refúgio num acampamento para semideuses onde estariam seguros.

Ao adentrar nesse novo mundo sobrenatural do qual Percy não tinha ideia, novos
conflitos surgem, tais quais o rapto de sua mãe pelo Minotauro, a acusação de ter roubado o
raio mestre de Zeus, que estava desaparecido e ser reclamado como filho de Poseidon, um dos
três grandes deuses: Zeus, Hades e Poseidon. A partir daí, Percy Jackson tem a missão de
encontrar o raio, descobrir quem o roubou e dar início a sua caminhada que tem como propósito
lutar contra Cronos, titã do tempo. Fazendo uma análise mais profunda do best-seller de Rick
Riordan e contextualizando com a visão de maravilhoso e estranho de Todorov, temos uma
narração em primeira pessoa participativa que até então vive num mundo que segue as leis
naturais, onde tudo segue a realidade em que vive e é a única que ele conhece. Como um
rompante, há o acontecimento inusitado, inesperado que muda o que até então é verdadeiro,
causando hesitação, caracterizando o fantástico.

“Então algo muito estranho aconteceu. Os olhos dela começaram a brilhar


como carvão de churrasco. Os dedos se esticaram, transformando-se em garras. O
casaco se fundiu em grandes asas de couro. Ela não era humana. Era uma bruxa má
e enrugada, com asas e garras de morcego e com uma boca repleta de presas
amareladas - e estava prestes a me fazer em pedaços. ” (RIORDAN, Rick. pág.20).

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Até este acontecimento, Percy acredita ter uma vida usual, quando a sua professora se
transforma em uma Benevolente, pronta para mata-lo. Atrás de respostas, ele descobre que seu
melhor amigo é um sátiro, enviado para protege-lo e pois corre perigo, posto que chegou na
idade em que seu cheiro o entrega como semideus e ele não pode mais viver entre os humanos.

“— Percy — disse minha mãe — há muito a explicar e não temos tempo


suficiente. Precisamos pôr você em segurança.
— Em segurança como? Quem está atrás de mim?
— Ah, nada demais — disse Grover, obviamente ainda ofendido com o
comentário sobre o burro. — Apenas o Senhor dos Mortos e alguns dos seus
asseclas mais sedentos de sangue.
— Grover!
— Desculpe sra. Jackson. Poderia dirigir mais depressa, por favor?
Tentei envolver minha mente no que estava acontecendo, mas não consegui.
Sabia que aquilo não era um sonho. Eu não tinha imaginação. Jamais poderia
sonhar algo tão estranho. ” (RIORDAN, 2008, pág.54).
A saga Percy Jackson e os Olimpianos se caracteriza como fantástico maravilhoso,
visto que se faz necessário a aceitação, pelo personagem, daquela realidade introduzida. Ele
sabia que aquilo parecia loucura comparado com sua vida de antes, mas parte de si o obrigou a
aceitar que aquilo era real, para o garoto aquilo não podia ser um sonho visto que sua mãe e
melhor amigo estavam protegendo-o e vendo as mesmas coisas que ele viu, assim como todo o
perigo que ele passou. Tais acontecimentos causam emoções tanto no leitor que está
descobrindo aquele mundo pela primeira vez quanto no personagem que se vê confuso com as
novas informações e mudança repentina de cenário.

4.1.3. Série Rainha Vermelha

A rainha vermelha da americana Victoria Averyard é um livro exemplo por excelência


do Maravilhoso-puro na literatura infanto-juvenil contemporânea.

No reino de Norta dividido por dois grupos, sangue vermelho e sangue prateado, os
primeiros sendo servos, escravos e pobres e o segundo nobres e burgueses com poderes
sobrenaturais, vive Mare Barrow, uma jovem de 17 anos humilde de sangue vermelho. Sem
títulos, dinheiro ou emprego, Mare mora com sua mãe, uma dona de casa, seu pai um veterano
de guerra com uma perna amputada e sem um dos pulmões e uma irmã aprendiz de costureira.

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Com a aproximação de seu aniversário de 18 anos, a personagem está cada vez mais
proxima destino de jovens, sem opções profissionais como ela, ir para as trincheiras lutar na
guerra dos reinos que se perdura a anos. Mas antes disto, precisa garantir a sobrevivência da
família, com pequenos furtos de viajantes bêbados, já que o salário da irmã não supre as
necessidades do pai e seus problemas de saúde. Em uma das suas atividades ilícitas Mare rouba
um homem mais importante do que poderia imaginar, o próprio príncipe herdeiro que ao
contrário do que esperava em vez de prende-la lhe oferece um emprego no castelo.

Com a maioridade do então príncipe e futuro rei Cal da casa Calore, faz-se necessário
a escolha de uma futura rainha. Todas as casas então enviam suas princesas para fazerem uma
demonstração de poderes na arena. A família real, nobres e todo o reino acompanham a disputa.
Em meio da demonstração de poder magnetizante da casa Samos uma parte da arena sede e faz
com que Mare caia sobre o escudo de proteção da área de combate. Mas diferentemente dos
que muitos pensam a garota não queima no muro magico desintegrador, ela o destrói e vai de
encontro ao chão, proeza quase impossível, até para um prateado. Em meio a um turbilhão de
confusão, incredulidade e medo, Mare utiliza-se de poderes elétricos, até então desconhecidos,
para garantir sua sobrevivência na arena.

Após uma vitória inacreditável a personagem desmaia e ao acordar encontra uma nova
vida. A exposição de Mare, fez com que despertar-se no povo vermelho e no rei esperança e
desespero respectivamente, então este último esconde a identidade de Mare. A personagem
agora é Mareena princesa herdeira da casa Titanos e noiva do príncipe Maven, irmão casula do
príncipe herdeiro. Enquanto se passa por nobre a personagem trabalha silenciosamente
ajudando a Guarda Escarlate – movimento dos vermelhos contra a divisão de classes – na sua
lutar por liberdade. Fato que vai desencadear futuramente na maior guerra do reino de Norta.
No decorrer da história ela se torna para os seus a Rainha Vermelha.

O maravilhoso-puro ocorre quando não há hesitação tanto do personagem quanto do


leitor sobre os acontecimentos da obra. Fato recorrente no livro A Rainha Vermelha desde as
primeiras linhas com a apresentação do reino de Norta, criado pela autora para designar o local
onde se sucedem os fatos sobrenaturais. Casas da nobreza superdotadas de poderes da natureza,
animais pitorescos, mares e florestas inabituais fazem parte da vida de Mare, não há então nem
uma relutância dela em acreditar ou não nas coisas que ver e ouve, pois aquilo é tudo que
conheceu. O leitor, graças a esses aspectos também é levado a um estado de credulidade, tudo
é possível segundo a veracidade da obra.

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Outrossim, no segundo livro Mare juntamente com príncipe Cal descobre a existência
de outros vermelhos possuintes de poderes, estes são denominados sangue novos – vermelhos
com poderes sobrenaturais superiores aos prateados – já no quarto livro descobrisse reinos
distantes onde vermelhos prateados e sangue novos convivem pacificamente. Em ambas as
situações Mare hesita em crê ou não nessas informações que posteriormente são comprovados
por ela. Ocorre aí uma alternância do maravilhoso-puro para o fantástico-maravilhoso,
caracterizada como a hesitação do personagem com base em acontecimentos que não fazem
parte do seu cotidiano. Carece então da criação de uma nova lei natural que possibilite a
aceitação destes fatos. No mundo conhecido por Mare, por séculos apenas os prateados
possuíam poderes, riquezas e liberdade, ter um conhecimento de um lugar em que o diferente
ocorra causa um estranhamento e depois uma aceitação a partir da criação de uma explicação
com base na verossimilhança delimitada pelo autor.

Segundo Todorov, em Introdução a Literatura Fantástica, fatos como este servem para
comprovar a existência de mais de um subgênero do fantástico, mesmo que de maneira rápida,
em obras que já tenham um gênero definido. No caso da obra abordada acima temos o
Maravilhoso-puro que oscila em duas passagens, mas com exceção destas passagens toda a
série Rainha Vermelha se guia pelo maravilhoso-puro.

Considerações finais

Depois de todos os aspectos comentados é possível perceber as contribuições de


Todorov no universo de literatura fantástica, suas teorias e subdivisões predominam na
contemporaneidade. A literatura fantástica tem atraído adeptos de todas as idades, inclusive,
como diz Todorov, pela hesitação, estágio pelo qual passamos a confrontar realidade e fantasia,
momento este, em que somos envolvidos completamente pelas leituras (TODOROV, 1978 P.
31). É importante ressaltar que se antes a predominância na literatura fantástica era misturar-se
ao gênero estranho e estranho-puro, graças principalmente a grande disseminação do romance
policial em meados do século XIX, atualmente o cenário fantástico foi dominado pelo
maravilhoso e maravilhoso-puro presentes em obras como Harry Pottter e As Crônicas de Gelo
e Fogo.

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É interessante observar o quanto a atual literatura infanto-juvenil tem atraído as
crianças e jovens, principalmente a fantástica que tem ultrapassado barreiras, dominando outros
mercados, como nos mostra o trecho a seguir:

O mais fantástico da literatura fantástica, porém, é que ela se mantém mais


forte do que nunca com o passar dos anos, dando origem a inúmeros filmes, peças
de teatro e seriados apesar de ser considerada pela crítica especializada um gênero
menor... Quanto a nós, leitores, continuamos abdicando de nossos Mundos
Primários e mergulhando com maior prazer possível nesses Mundos Secundários
em que, talvez, encontremos apenas a fantasia, mas a nós mesmos. (Rios, 2008).

O poder encantador dessa literatura tem levado os escritores a fazerem até mesmo
releituras de obras consagradas. Já existem hoje releituras de obras consideradas mais cultas,
como Escrava Isaura e O Vampiro, Razão e Sensibilidade e Monstros Marinhos e Dom
Casmurro e os Discos voadores, que chamam a atenção, por misturarem outros gêneros com o
fantástico. Fatos como estes reforçam a importância e contribuições da literatura fantástica no
mundo pós-moderno.

Referencias
CIRINO, R. A. Portal das Sombras. Editora Portal. Minas Gerais, 2019.
COWELL, Cressida. Como Treinar seu Dragão. Editora Intrínseca. Rio de Janeiro, 2010.
L’ENGLE, Madeleine. Uma Dobra no Tempo. Editora Haper Collins. Rio de Janeiro, 2017.
LEWIS, C. S. As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa. Trad. Editora
Martins Fontes. São Paulo, 2009.
RIORDAN, Rick. Percy Jackson e o Ladrão de Raios. Intrínseca. Rio de Janeiro, 2008.
RIOS, Rosana. Uma Introdução à Literatura Fantástica. Dezembro 2008. Dispinível
em:<http://www.valinor.com.br/8283/>
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