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PROTEÇÃO DE SISTEMAS
ELÉTRICOS DE POTÊNCIA
O essencial para estudantes
de engenharia elétrica

PRO

ÇÃO
D
WILSON ARAGÃO FILHO

PROTEÇÃO DE
SISTEMAS ELÉTRICOS
DE POTÊNCIA
O essencial para estudantes de
engenharia elétrica

1ª Edição

Vitória – ES
Wilson Correia Pinto de Aragão Filho

2014
i
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

©: 2014, Aragão Filho, Wilson

Formato: digital (pdf)

Capa: Wilson Aragão Filho

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)


(Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

Aragão Filho, Wilson Correia Pinto de, 1957-


A659p Proteção de sistemas elétricos de potência [recurso
eletrônico] : o essencial para estudantes de engenharia elétrica /
Wilson Aragão Filho. - Dados eletrônicos. - 1. ed. - Vitória : Ed. do
Autor, 2014.
117 p. : il.

Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-9099-105-2
Modo de acesso:
<https://sites.google.com/site/livroseletronicosprofaragao/docume
nts-assignments>

1. Sistemas de energia elétrica. 2. Sistemas de energia


elétrica - Proteção. 3. Curtos-circuitos. I. Título.

CDU: 621.316.9
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Este livro é dedicado, com muito carinho e agradecimento, àqueles


que me trouxeram à vida e me educaram e amaram:

Minha Mãe, Yêdda Pedrosa de Aragão, e

Meu Pai, Wilson C. P. de Aragão (in Memoriam)


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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

APRESENTAÇÃO

Proteção de sistemas elétricos de potência é uma unidade curricular de muitos


cursos de engenharia elétrica. Visa a dar aos alunos os conhecimentos
fundamentais para a compreensão da lógica e dos mecanismos envolvidos nos
ajustes dos dispositivos d e proteção aplicados a sistemas elétricos de potência,
envolvendo sistemas industriais, geradores, transformadores e motores elétricos e
linhas de transmissão.

Este autor tem oferecido esta unidade curricular há alguns anos na Universidade
Federal do Espírito Santo. É uma unidade optativa oferecida aos alunos da ênfase
em sistemas elétricos de potência (ou de energia).

É uma unidade que desperta o interesse dos alunos, pelo fato de tratar-se de
estudos que são muito desafiadores e muito importantes para a manutenção da
estabilidade e da segurança dos sistemas elétricos, em geral.

Partindo do princípio da filosofia básica que descreve a necessidade de proteger


os sistemas elétricos contra várias ameaças à sua segurança, os alunos são
confrontados com conceitos, definições e normas relativos curtos-circuitos,
sobrecargas, relés, disjuntores, chaves seccionadoras, fusíveis e para-raios.

Este livro apresenta os elementos teóricos essenciais para que o aluno, uma vez os
tenha dominado, possa dar continuidade aos seus estudos em vários tópicos
especiais relativos ao assunto, que, na verdade, é muitíssimo amplo e desafiador.

Vitória – ES, outubro de 2014

Prof. Wilson Aragão Filho


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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

CONTEÚDO
O livro é constituído de seis (06) capítulos que cobrem os seguintes assuntos.

Primeiro capítulo: Faz uma introdução geral sobre conceitos importantes a serem
usados no tratamento do assunto. Inclui, também, uma discussão sobre a filosofia
e requisitos básicos da proteção de sistemas elétricos de potência, envolvendo
estatísticas sobre anomalias no sistema e apresentando os dispositivos mais
importantes para a proteção, que são os relés.

Segundo capítulo: Apresenta os transformadores de medidas (ou de instrumentos)


aplicados a correntes (TC) e a tensões (TP), discutindo vários parâmetros de seu
funcionamento e especificações das normas técnicas.

Terceiro capítulo: trata dos relés de sobrecorrente, o mais utilizado dentre os


diversos tipos de relé. Faz-se sua classificação do ponto de vista de tipo de
fabricação e são desenvolvidos diversos conceitos sobre sua operação diante de
corrente normais e anormais, particularmente os curtos-circuitos. Critérios de
definição da corrente de ajuste do relé são discutidos em sua aplicação tanto a
sistemas industriais quanto a linhas de transmissão.

Quarto capítulo: Faz-se uma análise bem detalhada sobre o comportamento de


curtos-circuitos trifásicos. Suas formas de onda são apresentadas e justificadas a
partir de circuitos equivalentes e da equação geral que rege a corrente de curto-
circuito. Todas as formas de onda apresentadas, variando em função da relação
parâmetros equivalentes reatância/resistência (X/R) e do ponto em que ocorre o
curto-circuito são produzidas por simulação computacional.

Quinto capítulo: São estudados os componentes simétricos, baseados no Teorema


de Fortescue. Tais componentes são essenciais para o cálculo de correntes de
curtos-circuitos ditos desequilibrados: os bifásicos e os monofásicos (ou
monopolares) à terra. Os circuitos monofásicos equivalentes de sequências
positiva, negativa e zero são discutidos, interpretados. Os circuitos de sequência
zero de transformadores são, particularmente, discutidos e utilizados nos cálculos
de curtos-circuitos monopolares à terra.

Sexto capítulo: Neste capítulo são propostos vários problemas, para o exercício e
esclarecimento do estudante, cobrindo os cinco capítulos do livro.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

SOBRE O AUTOR

Wilson Aragão Filho é professor Associado do Departamento de Engenharia


Elétrica do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
desde 1984, tendo iniciado sua carreira de professor federal em 1981, na antiga
Escola Técnica Federal do Espírito Santo, atual Instituto Federal de Ensino
Tecnológico do Espírito Santo (IFES).

Obteve seu Mestrado em 1988 e seu Doutorado em 1998, tendo sido ambos os
cursos realizados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sob a
orientação do Prof. Ivo Barbi. Tanto sua dissertação de mestrado quanto sua tese
de doutorado trataram do mesmo tema: Eletrônica de Potência.

O Prof. Aragão interessa-se, também, pelos temas: instalações elétricas


residenciais e industriais, sistema de energia elétrica, auditoria energética e
conservação de energia, eficiência energética, segurança contra acidentes, carga
eletrônica regenerativa, língua portuguesa, e Esperanto – língua internacional.

O currículo Lattes do Prof. Aragão pode ser acessado em:


http://lattes.cnpq.br/9279730500937858

O Blog do Professor pode ser acessado em:

http://mondaespero-blog-uilso.blogspot.com.br/ .

Outros livros já publicados pelo Prof. Aragão:

 Curso básico bilíngue de Esperanto,


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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

 Segurança na engenharia e na vida – Consciência segura,

 Eletrônica de potência I – Retificadores monofásicos e trifásicos,

 Introdução aos sistemas elétricos de potência – O essencial para


estudantes de engenharia elétrica.

 Instalações elétricas industriais – o essencial para estudantes de


engenharia elétrica.

Todos esses livros podem ser baixados, gratuitamente, da página:


https://sites.google.com/site/livroseletronicosprofaragao/documents-
assignments .
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Sumário
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO GERAL ................................................................................................................. 1
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 1
2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS .................................................................................................................. 1
2.1. PROTEÇÃO............................................................................................................................................ 2

2.2. SOBRECORRENTES ............................................................................................................................... 2


2.2.1 Corrente de sobrecarga ............................................................................................................... 2
2.2.2 Corrente de curto-circuito ........................................................................................................... 2
3 DEFEITO, FALHA, FALTA, FUGA E CURTO-CIRCUITO ............................................................................... 3
3.2 DEFEITO ................................................................................................................................................... 3
3.3 FALHA ...................................................................................................................................................... 3

3.4 FALTA....................................................................................................................................................... 3
3.5 FUGA ....................................................................................................................................................... 3
3.6 CURTO-CIRCUITO .................................................................................................................................... 4
4 ATERRAMENTO ....................................................................................................................................... 4
5 PROTEÇÃO E ANOMALIAS NO SEP .......................................................................................................... 5

6 ESTATÍSTICAS A RESPEITO DE CURTOS-CIRCUITOS ................................................................................. 6


7 DOIS REQUISITOS BÁSICOS DE UM SISTEMA DE PROTEÇÃO .................................................................. 6
8 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO .................................................................................................................. 7
8.2 Relés eletromecânicos ............................................................................................................................ 9
8.3 Relés eletrônicos ................................................................................................................................... 10
8.4 Relés digitais.......................................................................................................................................... 10

CAPÍTULO 2 – TRANSFORMADORES DE MEDIDA ........................................................................................... 11


1. TRANSFORMADORES DE MEDIDA ......................................................................................................... 11
1.1. TRANSFORMADORES DE CORRENTE (TC) .......................................................................................... 11
1.1.1. Símbolo e polaridade do TC ....................................................................................................... 12
1.1.2. Relação de transformação (RTC) de correntes .......................................................................... 13

1.1.3. Fator de sobrecorrente (FS)....................................................................................................... 14


1.1.4. TC de alta e baixa reatâncias ..................................................................................................... 15
1.1.5. ERRO E CLASSE DE EXATIDÃO DO TRANSFORMADOR DE CORRENTE ....................................... 16
1.1.6. ANÁLISE DAS CURVAS DE FLUXO E CORRENTE NA SATURAÇÃO ............................................... 19
1.1.7. CLASSES DE EXATIDÃO PELA ANSI E PELA ABNT........................................................................ 20
1.1.8. FATOR TÉRMICO (FT) DE UM TC ................................................................................................ 21

1.1.9. LIMITE TÉRMICO (LT) OU CORRENTE TÉRMICA NOMINAL DE UM TC ....................................... 21


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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

1.1.10. IMPEDÂNCIA MÁXIMA NO SECUNDÁRIO DE UM TC E TAP DE RELÉ ........................................ 22


1.2. TRANSFORMADORES DE POTENCIAL (TP) ......................................................................................... 24

1.2.1. Carga nominal do TP (VA) e classe de exatidão ......................................................................... 24


1.2.2. Curvas de excitação e saturação de TC e TP – comparação ...................................................... 26
CAPÍTULO 3 – RELÉS DE SOBRECORRENTE ..................................................................................................... 29
1. PROTEÇÃO À BASE DE RELÉS DE SOBRECORRENTE .............................................................................. 29
2. PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO RELÉ DE SOBRECORRENTE................................................................... 29
3. ESQUEMA FUNCIONAL CA .................................................................................................................... 30

4. ESQUEMA FUNCIONAL CC..................................................................................................................... 31


5. MÚLTIPLO DO RELÉ ............................................................................................................................... 33
5.1. Ajuste temporizado da corrente para relé industrial ........................................................................ 34
5.2. Ajuste temporizado da corrente para relé de linha de transmissão ................................................. 35
6. RELÉ DE SOBRECORRENTE INSTANTÂNEO (Relé de alavanca) .............................................................. 35
7. RELÉ DE SOBRECORRENTE DE TEMPO INVERSO (Relé de indução) ...................................................... 36
8. EQUAÇÃO GERAL DO TEMPO INVERSO ................................................................................................ 38
9. RELÉ DE SOBRECORRENTE EM LINHAS DE TRANSMISSÃO ................................................................... 39
9.1. Critério de ajuste da unidade temporizada (ANSI: 51) ...................................................................... 39
9.2. Critério de ajuste da unidade instantânea (ANSI: 50)........................................................................ 41
9.3. Critério de seletividade em LT radial ................................................................................................. 42

CAPÍTULO 4 – CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO ........................................................................... 46


1. FORMAS DE ONDA DA CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO ...................................................................... 46
1.1. Equivalente de Thevenin.................................................................................................................... 46
1.2. Instante em que ocorre o curto ......................................................................................................... 47
2. TRÊS SITUAÇÕES POSSÍVEIS .................................................................................................................. 49
2.1. Curto-circuito perto e longe do gerador ............................................................................................ 49

2.1.1. Curto-circuito perto do gerador ................................................................................................ 49


1.2.1. Curto-circuito longe do gerador ................................................................................................ 51
1.3. Reatância igual à resistência, ou menor (X = R ou X < R) ................................................................... 52
1.4. Reatância maior que a resistência (X > R) .......................................................................................... 54

1.4.1. Para X > R e α =  ...................................................................................................................... 54

1.4.2. Para X>R e α = 0o ....................................................................................................................... 55


3. ANÁLISE DO FATOR DE ASSIMETRIA E DA ASSIMETRIA ........................................................................ 56
3.1. Assimetria para X < R ......................................................................................................................... 56
3.2. Assimetria para X > R ......................................................................................................................... 59
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

3.3. Fator de Assimetria – gráficos em função de X/R e R/X .................................................................... 59


3.4. Conclusão ........................................................................................................................................... 62

4. CORRENTES DE CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO NAS TRÊS FASES ............................................................ 62


5. CORRENTES DE CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO ......................................................................................... 63
CAPÍTULO 5 – COMPONENTES SIMÉTRICOS................................................................................................... 65
1. TEOREMA DE FORTESCUE ..................................................................................................................... 65
1.1. Características dos componentes de sequência negativa ................................................................. 68
1.2. Características dos componentes de sequência zero ........................................................................ 68

2. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA GERADOR DESEQUILIBRADO ............................................................ 69


3. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA GERADOR EQUILIBRADO .................................................................. 71
4. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA UM SISTEMA ELÉTRICO .................................................................... 72
5. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA CURTOS-CIRCUITOS .......................................................................... 74
5.1. Curto-circuito trifásico (equilibrado) ................................................................................................. 74
5.2. Curto-circuito bifásico (desequilibrado) ............................................................................................ 75
5.3. Curto-circuito monofásico (ou monopolar, desequilibrado) ............................................................. 76
6. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA ZERO PARA TRANSFORMADORES .............................................................. 78
CAPÍTULO 6 – QUESTÕES PROPOSTAS ........................................................................................................... 80
1. SOBRE O CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................ 80
2. SOBRE O CAPÍTULO 2 ............................................................................................................................ 83

3. SOBRE O CAPÍTULO 3 ............................................................................................................................ 90


4. SOBRE O CAPÍTULO 4 .......................................................................................................................... 100
5. SOBRE O CAPÍTULO 5 .......................................................................................................................... 104
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA .................................................................................................................... 108
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO GERAL

1. INTRODUÇÃO

Como nenhum sistema artificial é isento de problemas, os mais variados, no


caso do sistema elétrico de potência, mecanismos de proteção contra situações
anormais devem ser previstos. Esses mecanismos constituem a denominada
PROTEÇÃO dos sistemas elétricos.

No caso de sistemas residenciais são, basicamente, os fusíveis e os disjuntores


termomagnéticos (DTM), para a proteção contra sobrecorrentes. E, para
sobretensões, existem os DPS (Dispositivos de Proteção contra Surto) que
podem ser considerados como que duais dos DTM.

No caso dos sistemas elétricos de potência, em geral, os mecanismos são


constituídos por disjuntores de potência (bem maiores que os residenciais),
fusíveis e os diversos tipos de relés de proteção (de sobrecorrentes, de sobre e
subtensões, de subfrequência, direcionais, diferenciais, de distância, etc.). No
caso de sobretensões, conta-se, ainda, com os dispositivos para-raios de
potência, que se destinam a limitar os picos (surtos) de tensão sobre os
equipamentos das subestações (transformadores, especialmente).

2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Alguns conceitos fundamentais devem ser discutidos, para que a base do estudo
esteja bem definida.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

2.1. PROTEÇÃO

É a ação automática para controlar (abrir ou fechar) um circuito a partir da


sensibilização de algum sensor em relação a alguma situação anormal.

2.2. SOBRECORRENTES

São intensidades de corrente elétrica superiores à intensidade aceita como


normal ou nominal de um circuito. Podem ser de dois tipos:

2.2.1 Corrente de sobrecarga

É a corrente que está pouco acima do valor da corrente nominal


de um circuito e tem seu limite prático associado à temperatura
máxima de sobrecarga da isolação dos condutores. Pode ser até
3 vezes ou mais o valor da corrente nominal. E pode durar alguns
segundos ou, até, minutos. O disjuntor atuará na região de sua
curva de tempo inverso: quanto maior a sobrecarga, menor o
tempo de atuação do DTM.

2.2.2 Corrente de curto-circuito

É a corrente que está muito acima do valor da corrente nominal


de um circuito e tem o seu limite associado à temperatura
máxima de curto-circuito da isolação dos condutores. Pode ser
de valores a partir de 3 vezes a corrente nominal, podendo
chegar a 10 vezes, ou mais. Deve ser eliminada muito
rapidamente, quase instantaneamente, sob pena de sério risco
de deterioração completa da isolação dos condutores.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

3 DEFEITO, FALHA, FALTA, FUGA E CURTO-


CIRCUITO

3.2 DEFEITO

É uma alteração física de um componente elétrico, que não


corresponde ao seu projeto original, diferenciando-o de um
componente em perfeito estado de conservação. Pode comprometer a
segurança ou o funcionamento do componente. EXEMPLOS: cabo com
isolação danificada; DTM com caixa quebrada, etc.

3.3 FALHA
É uma alteração funcional de um componente elétrico, que não
corresponde ao seu projeto de funcionamento original. Um
componente pode falhar, assim como um sistema maior, também, pode
falhar. EXEMPLOS: um DTM que deixa de abrir por sobrecarga, no tempo
devido; Um disjuntor religador que não religa conforme previsto, etc.

3.4 FALTA
É um contato ou um arco elétrico entre partes vivas da instalação, e com
potenciais diferentes. Pode ser subdividida em: falta direta, quando a
impedância no ponto da falta é nula; e falta indireta, quando essa
impedância é de um valor não nulo. As faltas dão origem a correntes de
falta.

3.5 FUGA
É a corrente elétrica originada de faltas indiretas e de impedâncias de
contato relativamente elevadas. Estão, normalmente, na ordem de
miliamperes. Devem ser monitoradas ou eliminadas por dispositivos
como os disjuntores diferenciais residuais de baixa sensibilidade (500
mA) ou de alta sensibilidade (30 mA).
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

3.6 CURTO-CIRCUITO

É a falta direta em um sistema elétrico e que, normalmente, produzirá


uma corrente de curto-circuito. Os curtos-circuitos podem ser trifásicos,
bifásicos e monofásicos (ou tripolares, bipolares e monopolares), sendo
este último o mais frequente e comum. Os trifásicos e bifásicos podem
envolver a terra, ou não.

4 ATERRAMENTO

É a ligação de um condutor elétrico, de bitola apropriada, entre as massas


ou carcaças da instalação (partes condutivas ou metálicas, normalmente
não energizadas) e a terra (ground, chão), por meio de uma adequada haste
metálica de aterramento.

Os objetivos de um sistema de aterramento são:

4.2.1 Escoar os efeitos de uma descarga atmosférica (raios) que


tenha atingido os para-raios da instalação;
4.2.2 Escoar as cargas estáticas eventualmente armazenadas nas
carcaças metálicas dos equipamentos;
4.2.3 Dar maior sensibilidade aos dispositivos de proteção pelo
aumento do valor da corrente de curto-circuito circulante.
[Inclusive, permitir a circulação de correntes de fuga e a
consequente atuação de dispositivos diferenciais residuais
(DR).]
4.2.4 Proporcionar a proteção contra choques elétricos por contato
indireto.
4.2.5 Equipotencialização de todas as massas metálicas.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

5 PROTEÇÃO E ANOMALIAS NO SEP

A anomalia mais comum em qualquer sistema de potência é a falta direta, cujo


efeito imediato é a corrente de curto-circuito, de valor elevadíssimo em relação
às correntes normais do circuito.

Outras anomalias são as sobrecargas, as sub e as sobretensões e as sub e


sobrefrequências, todas sendo características de um sistema elétrico que, por
si mesmo, não é perfeito nem infalível.

A proteção do sistema elétrico visa a isolar, de forma automática, a parte do


sistema elétrico sujeita a um curto-circuito ou a outra anomalia prevista. O
sistema de proteção deverá, também, sinalizar a ocorrência da anomalia, para
que rapidamente se identifique o local e as causas do problema. O disjuntor de
potência, associado aos relés, é o principal mecanismo de eliminação das faltas
no SEP. Outro elemento importante são os fusíveis, que eliminam, em especial,
correntes de curto-circuito.

Em relação às sobretensões, oriundas de descargas atmosféricas ou de


chaveamentos de linhas de transmissão ou de grandes blocos de carga no SEP,
existem os dispositivos para-raios, localizados, normalmente, em subestações
de potência, e, também, para sistemas residenciais, industriais e comerciais, de
baixa tensão, os DPS – dispositivos de proteção contra surtos. Esta expressão,
“surto”, refere-se a elevados impulsos de tensão, que submetem os isoladores
a grandes estresses elétricos, e que devem ser limitados, para garantir a longa
vida útil desses elementos. Os DPS são como que os duais de um DTM. Enquanto
esses últimos abrem o circuito para eliminar um curto-circuito, os primeiros
fecham para a terra o circuito para descarregar o excesso de energia de um raio,
limitando, ao mesmo tempo, o valor da tensão, nesse momento, sobre os
equipamentos.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

6 ESTATÍSTICAS A RESPEITO DE CURTOS-


CIRCUITOS

Os curtos-circuitos, que podem ser trifásicos, bifásicos ou monofásicos, têm


frequências de ocorrência bem distintas. Os mais comuns são os curtos-circuitos
monofásicos, representando cerca de 78% dos eventos de curtos-circuitos no
SEP.

Em redes de distribuição urbanas ou rurais, é comum o curto-circuito fugitivo


ou temporário. São faltas diretas à terra de tempos muito curtos, ocasionadas
por galhos que tocam os fios ou por pequenos animais que fecham curtos em
subestações de energia elétrica.

7 DOIS REQUISITOS BÁSICOS DE UM SISTEMA DE


PROTEÇÃO

O estudo e o projeto de um sistema de proteção de um SEP devem atentar para,


pelo menos, dois importantes requisitos de desempenho.

A proteção deve ser seletiva, isto é: o esquema de proteção deve ser de tal
maneira elaborado que os dispositivos de proteção sejam cuidadosamente
“selecionados”, em sentido geográfico, para que eliminem a anomalia tão
somente na região diretamente afetada. Fala-se, então, em “ilhamento”, isto é,
a região afetada pela anomalia fica como que ilhada, isolada do resto do sistema
que permanece normal.

A proteção deve ser coordenada, isto é: deve haver, além da seletividade, uma
característica de atuação temporal, de tal forma que o dispositivo selecionado,
inicialmente, tenha a chance de abrir e isolar a parte afetada, mas conte com o
recurso de uma atuação de retaguarda, por parte de outros dispositivos de
proteção, após um tempo de ajuste previsto.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A seletividade é geográfica, enquanto que a coordenação é temporal. Pode-se


falar, no entanto, em coordenação seletiva, no tocante ao sistema de proteção
elétrica.

8 DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO

Os principais dispositivos de proteção contra curtos-circuitos são os disjuntores


e os fusíveis. Os primeiros podem ser autônomos, isto é, contêm em si os
sensores de sobrecorrentes. São denominados de disjuntores de caixa moldada
(MCCB = Molded Case Circuit Brakers) ou DTM (disjuntores termomagnéticos).
Outros disjuntores, normalmente de potências bem mais elevadas, e aplicáveis
em subestações de potência de concessionárias ou em subestações industriais
de grande porte, dependem, para seu funcionamento como elemento de
proteção, dos dispositivos sensores denominados relés.

Os fusíveis são elementos que atuam diante de correntes de curto-circuito,


preferencialmente, embora, também, possam ser especificados para
eliminação de correntes de sobrecarga.

Os relés são dispositivos que monitoram a corrente ou a tensão de um circuito


elétrico, sendo ajustados para que interpretem valores anormais. Em tais
situações, sinalizam a ocorrência e enviam sinal de abertura para os disjuntores
do circuito correspondente.

A título de revisão, a curva típica de disparo de um disjuntor termomagnético


(DTM), incorporando os mecanismos de atuação por sobrecarga (térmico) e por
curto-circuito (magnético), está apresentada na Fig. 1.

Com relação à Fig. 1, os seguintes comentários podem ser feitos.

 K1 e k2 correspondem às correntes de não atuação e de atuação,


respectivamente. A corrente de não atuação (k1) está na faixa de 5 a
15% acima da nominal (IN), enquanto a de atuação (k2) estará com
valor máximo de 1,45xIZ, em que IZ corresponde à corrente máxima
admissível em situação normal e sob temperatura de regime contínuo
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

para o condutor, na temperatura ambiente prevista para a sua


instalação.
 K1 é uma corrente que provocará a atuação do DTM num tempo
mínimo tc, em que tc significa tempo convencional e corresponde a
1h, para correntes nominais até 63 A (pela Norma IEC = International
Electrotechnical Comission).
 K2 é uma corrente que provocará a atuação de DTM num tempo
máximo tc, e num tempo mínimo correspondente à curva inferior
(curva de tempos mínimos de disparo).
 Esta curva típica é, na realidade, formada por duas curvas,
estabelecendo uma faixa de atuação entre valores de tempo mínimo
(curva inferior) e tempo máximo (curva superior).
 Pode-se interpretar esta curva afirmando-se que as correntes de
sobrecarga vão até 3xIN; as de curto-circuito iniciam-se a partir de 5xIN.
E a faixa de 3 a 5xIN é uma região de fronteira, em que os tempos de
atuação podem estar em qualquer ponto da área correspondente.
 A chamada atuação instantânea, característica da atuação em curto-
circuito é, na verdade, um tempo muito rápido e que só depende das
características construtivas do dispositivo. Idealmente é uma atuação
instantânea; na prática, tem um valor de tempo muito pequeno
(dezenas de milissegundos).

Fig. 1 – Curva típica de atuação de um DTM


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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

 A IEC prevê três tipos de DTM: tipo B (correntes de curto-circuito entre


3 e 5 vezes a nominal), tipo C (entre 5 e 10 vezes) e tipo D (superior a
10 vezes). Isto permitirá a escolha de um DTM adequado às correntes
muito elevadas de partida de motores ou de inrush de
transformadores.

 As curvas da Fig. 1 são curvas de temporização, isto é: os dispositivos


de proteção são, naturalmente, de resposta imediata, mas podem
estar associados a mecanismos de temporização, o que retardará a
resposta do dispositivo. Isto acontece para fusíveis (os chamados
“retardados”) e para os relés e disjuntores MCCB (que já possuem
relés/sensores incorporados). Portanto, quanto à temporização, as
curvas de respostas de relés/disjuntores podem ser: de tempo inverso
(na Fig. 1, para tempos mínimo e máximo) e para tempo definido.
Neste último caso, o tempo é fixo, e independente do valor da
corrente de acionamento. A Fig. 2 esclarece esses dois tipos de
temporização.

Tempo Inverso (T.INV.) Tempo Definido (T.DEF.)

Fig. 2 – Dois tipos básicos de temporização de dispositivos de proteção.

Os relés podem ser:

8.2 Relés eletromecânicos

São constituídos de elementos elétricos e mecânicos, tendo o seu


funcionamento associado a campos eletromagnéticos, forças mecânicas e
10
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

deslocamento de êmbolos ou alavancas para a abertura e fechamento de


contatos elétricos, estes denominados de “normalmente abertos” e
“normalmente fechados”.

8.3 Relés eletrônicos

Têm funcionamento igual ao relé eletromecânico, mas suas peças são


estáticas, baseadas em eletrônica de potência: diodos, tiristores,
transistores, etc. Mas continuam utilizar alguns contatos elétricos para
sinalização ou mesmo para acionamentos de bobinas auxiliares. Estes
conseguem ser mais rápidos que os anteriores.

8.4 Relés digitais

São relés que, além de elementos eletrônicos, e nisto são semelhantes aos
relés eletrônicos, possuem, também, circuitos micro processados
implementando lógicas de monitoramento e de decisão quanto à sua
atuação. Implementam, também, funções as mais variadas, de sinalização,
comunicação, medidas elétricas, etc. Têm entrada de dados podendo ser
feita por meio de teclados ou por meio de interface com
microcomputadores. São muito rápidos na identificação das anomalias. Mas
possuem, ainda, muitos contatos (interruptores mecânicos) para ativação
de circuitos auxiliares.
11
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

CAPÍTULO 2 – TRANSFORMADORES DE MEDIDA

1. TRANSFORMADORES DE MEDIDA

Os relés primários atuam diretamente sobre o mecanismo de abertura do


disjuntor, e os relés secundários atuam sobre contatos elétricos que vão
provocar o fechamento da bobina de abertura do disjuntor.

Ambos os relés acima, no entanto, devem monitorar a corrente primária (do


circuito sob proteção). Se esta for de valor compatível com os relés (até 5
ampères), podem utilizá-la diretamente. Tratando-se de correntes mais
elevadas, haverá a necessidade de utilização dos denominados transformadores
de medida: de corrente (TC) e de potencial (TP). Também podem ser chamados
de transdutores, uma vez que fazem uma transformação de níveis de corrente
e tensão, respectivamente, para os adequados aos relés.

Os TC e TP podem ser aplicados a esquemas de proteção e de medição, embora


tenham características próprias para cada caso.

1.1. TRANSFORMADORES DE CORRENTE (TC)

O TC objetiva reproduzir em seu secundário uma corrente que seja uma


réplica da corrente primária. Sua relação de transformação de correntes,
denominada RTC, estabelece a relação da sua corrente secundária,
padronizada em 5A, para a corrente primária, do circuito sob
monitoramento. Na Europa, a padronização é de 1A para a corrente
secundária do TC.

O TC tem, portanto, três finalidades:


12
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

 Isolar o circuito primário, de altas tensões e correntes, do circuito


secundário, em que estão localizados os dispositivos de medida e
proteção.
 Oferecer, no seu circuito secundário, correntes proporcionais às do
circuito primário.
 Oferecer, no seu circuito secundário, corrente de valor adequado aos
dispositivos de medida e proteção.

Sendo um transformador de corrente, o TC deverá ser ligado em série com


a carga do circuito primário. A corrente primária, portanto, de grande valor,
deverá percorrer o enrolamento primário do TC, que deverá, portanto, ser
construído com fio grosso, enquanto o enrolamento secundário, com fio
mais fino, porque será percorrido por corrente mais baixa.

O enrolamento primário do TC deverá ter poucas espiras, enquanto o


secundário, muitas espiras, já que a relação de espiras que controla a
relação de correntes é a inversa da relação de tensões em um
transformador.

1.1.1. Símbolo e polaridade do TC

Um símbolo muito utilizado para representar o TC em esquemas


unifilares é o da ANSI (Padrão americano para a indústria), Fig. 3:

Fig. 3– Símbolo e polaridade do TC


13
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A polaridade, isto é, a maneira de enrolar as duas bobinas, mais utilizada


pelos fabricantes é a polaridade subtrativa, o que resulta em dois pontos
de polaridade no mesmo lado do símbolo do TC. As correntes primária
e secundária estarão em fase. ZR é a impedância do relé. Somando-se a
ZR à impedância da fiação e à impedância do primário refletida no
secundário tem-se a denominada carga máxima (Burden) do TC.

1.1.2. Relação de transformação (RTC) de correntes

Sendo a inversa da relação de tensões, tem-se:


𝑁𝑆 𝐼𝑝
𝑅𝑇𝐶 = => 𝐼𝑠 =
𝑁𝑝 𝑅𝑇𝐶

Como a padronização da corrente secundária é de 5A, a RTC é dada,


também, como:
𝑋
𝑅𝑇𝐶 =
5
onde X é a corrente primária, nominal, do circuito.

A NBR 6856 prevê os seguintes valores normalizados de X: 5, 10, 15, 25,


30, 40, 50, 60, 75, ... 500, 600, 800, ... 5000, 6000 e 8000.

O TC deve se comportar o mais próximo possível do comportamento de


um transformador ideal. Isto faz com que seu projeto busque uma
elevadíssima indutância magnetizante e baixa corrente de perdas no ferro e um
funcionamento na região linear do laço de magnetização (B x H). Isto tem a
ver com a sua classe de exatidão, a ser discutida à frente.

EXEMPLO 1: Se Np = 20 espiras e Ns = 600 espiras, calcular a corrente


secundária para uma Ip = 90 A. Qual é a Ip nominal (IPN)?
Solução: A RTC vale 30. A Is correspondente a 90 A no primário será: 3
A. A IPN será 5 (a corrente secundária padronizada, máxima, nominal) vezes
a RTC: 5 x 30 = 150 A. Portanto: IPN = 150 A.
14
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

1.1.3. Fator de sobrecorrente (FS)

As correntes de curto-circuito são muitas vezes maiores que a corrente


nominal (ou de ajuste de um relé). A Norma brasileira de TC estabelece
valores de 5, 10, 15 e 20 vezes a nominal. No entanto, há uma tendência
de, seguindo a Norma Americana (ANSI), utilizar-se, também, no Brasil,
apenas um valor: FS = 20.
O fator de sobrecorrente pode ser, matematicamente, definido por:
𝐼𝑃𝐶𝐶
𝐹𝑆 =
𝐼𝑃𝑁
Onde: IPCC = corrente primária de curto-circuito máxima (20 x a nominal);
IPN = corrente primária nominal

Deste conceito, deriva-se um segundo critério para a determinação da


correta relação de transformação de um TC: o critério da máxima
corrente de curto-circuito primária (ou secundária). Esta máxima
corrente primária não deve levar o TC à saturação maior do que a
máxima permitida pela sua classe de exatidão – 10%, por exemplo. Isto
significa que, na situação de curto-circuito, máxima, o TC ainda terá um
comportamento adequado e dentro de sua região linear, com um
pequeno nível de saturação e de erro.

A corrente de curto-circuito primária terá uma correspondente corrente


secundária de curto-circuito igual a 5 A x 20 = 100 A. Este valor pode,
também, ser utilizado como segundo critério para a determinação da
RTC.

EXEMPLO 2: Considerando-se um circuito primário de 250 A, pede-se


calcular a RTC adequada de um TC, sabendo-se, ainda, que a corrente
máxima de curto-circuito foi calculada como sendo 6000 A.
Solução: Sendo RTC = X/5 => X = 250 => RTC = 250/5 ou RTC = 50
(primeiro critério, da corrente nominal)
15
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Sendo 5 x FS = 5 x 20 = 100 A máximos no secundário, no primário,


circularão 100 x RTC = 6000 A => RTC = 6000/100 => RTC = 60 (segundo
critério, da corrente de curto máxima).
Este último resultado, portanto, definirá a RTC, que valerá, portanto: 60.
OBS.: É fácil verificar que, se a corrente de curto-circuito máxima for
menor do que RTCx100, com RTC pelo critério da corrente nominal, este
critério prevalece.
Se, no entanto, a corrente de curto for maior do que RTCx100, o
segundo critério, da corrente de curto, prevalecerá. Se no exemplo 2, a
ICC fosse de 4500 A, menor do que RTC X 100 = 50 x 100 = 5 000 A, então,
a RTC seria 50.

PROCEDIMENTO SUGERIDO:

a) Calcular RTC, pelo critério da corrente nominal primária: RTC = X/5.


b) Conferir ICC,MÁX = RTC x 100 A? Se não => RTC = X/5; Se sim => RTC =
ICC/100.
c) Finalmente, escolher o valor comercial mais próximo, superior.

1.1.4. TC de alta e baixa reatâncias

Dependendo de o primário possuir algumas espiras (alta reatância) ou


apenas uma (baixa reatância) os TC podem ser ainda classificados, pela
forma prática de construção, como:

 TC tipo barra: a barra é o condutor primário de elevada corrente;


usado em subestações (SE).
 TC tipo enrolado: para correntes primárias mais baixas;
 TC tipo janela: o condutor primário, de correntes médias,
atravessa uma abertura (espécie de janela) em um núcleo
toroidal; utilizado em painéis de medição, comando e proteção,
para ocupar menos espaço.
16
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

 TC tipo bucha: semelhante ao TC tipo barra, mas para ser


instalado diretamente nas buchas de grandes transformadores,
disjuntores, etc.
 TC tipo núcleo dividido: é o TC conhecido como tipo alicate;
utilizado em amperímetro-alicate.
 TC com vários enrolamentos primários.
 TC com vários enrolamentos secundários.
 TC com vários núcleos.
 TC com derivação secundária: vários Taps (tomadas) de saída.

Os TC de alta reatância são denominados de TIPO A, pela ABNT, e


TIPO H, pela ANSI.

Os TC de baixa reatância são denominados de TIPO B, pela ABNT, e


TIPO L, pela ANSI.

1.1.5. ERRO E CLASSE DE EXATIDÃO DO TRANSFORMADOR


DE CORRENTE

A partir do circuito equivalente de um transformador, conforme Fig. 4,


que se aplica, igualmente, a um TC, verifica-se que o valor da corrente
de excitação (Ie) ou de magnetização é, justamente, o que se denomina
erro de um TC (que, também, pode ser designado por Ie).

ZR = impedância do relé.

ZPS = Z do primário e do
secundário referidas ao
secundário.

Fig. 4 – Circuito equivalente de um TC


17
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Se a corrente de magnetização de um TC é nula, significa que o ramo


magnetizante é de impedância infinita, o que caracteriza um
transformador ideal: sem perdas magnéticas, ou perdas no ferro. Tal TC
é dito ideal.

Se a corrente de magnetização tem um valor de 5% da corrente


secundária do TC, diz-se que o TC tem classe de exatidão de 5%. E
quanto maior for a corrente de excitação de um TC, maior será o seu
erro e maior o percentual de sua classe de exatidão. Dito de outra forma:
quanto maiores as perdas magnéticas de um TC, maior o seu erro de
transformação.

TC de medição, por sua natureza, exige classe de exatidão em valores


percentuais bem baixos: 0,3, 0,6 e 1,2%. Isto para que a corrente medida
represente bem a corrente primária.

TC de proteção, por sua natureza, não exige uma classe de exatidão


muito apertada. Normalmente têm classe de exatidão de: 5,0% e 10%,
conforme a Norma NBR 6856. Afinal, num curto-circuito, a exatidão da
amostra de corrente secundária não é tão importante quanto o seu
valor em módulo. O importante, aqui, não é a exatidão da medida, mas
a rapidez da resposta de atuação do relé diante de um valor de corrente
muitas vezes maior que a corrente de ajuste.

O erro de 10% é definido, pela ANSI, no ponto do joelho da curva de


saturação correspondente a uma tangente de 45o: é o chamado ponto
ANSI. Esta curva, Fig. 5, é obtida, teoricamente, com o TC com seus
terminais abertos (em vazio): a IP provoca a circulação da Ie, e esta
produz a indução B.
18
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Fig. 5 – Curva de magnetização de um TC

Para melhor compreensão das características de TC de medição e de


proteção, suas curvas Is x Ip podem ser comparadas. Ver Fig. 6.

Fig. 6 – Diferenças nas curvas de resposta de TC de medição (TCM) e de proteção (TCP)

Para melhor visualização e compreensão da influência da corrente de


excitação (ou magnetização) sobre a exatidão de um TC, apresenta-se a
Fig. 7.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Fig. 7 – Influência da corrente de excitação sobre a exatidão de um TC de proteção.

Observe-se que no ponto ANSI, a classe de exatidão do TC é de 10% (a


máxima, pela Norma). Esta situação corresponde à máxima corrente de
magnetização, que ocorre durante a circulação da máxima corrente de
curto-circuito. Verifica-se, ainda, que, depois do ponto ANSI, isto é, do
início da saturação mais profunda, a Ie cresce tanto que a corrente Is,
que atravessa a impedância do relé, vai ficando cada vez menor, em
relação ao valor ideal IS’.

Essa situação limite, de 20xIPnom, ilustra, ainda, um aspecto de


segurança: o TC nunca deverá estar com os seus terminais (secundários)
abertos. Pois nessa situação, a corrente primária atua como uma fonte
de corrente que provocará a circulação da única corrente possível, a Ie,
levando-a a valores muito grandes e saturando totalmente o TC, o que
provocará grande elevação de temperatura na impedância de perdas no
ferro. Além disso, poderá, pela elevada tensão entre os terminais
secundários abertos, provocar o surgimento de arco elétrico nesses
terminais, com todas as consequências previsíveis.

1.1.6. ANÁLISE DAS CURVAS DE FLUXO E CORRENTE NA


SATURAÇÃO

Considerando-se um TC com os terminais em circuito aberto, a corrente


primária (Ip), agindo como verdadeira fonte de corrente, provocará a
circulação de uma corrente de reação secundária que coincidirá com a
20
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

única possível corrente de excitação, sendo esta, no entanto, de elevado


valor, levando o núcleo do TC à saturação profunda. Esta saturação
estará associada a um fluxo de magnetização distorcido e que, nas
regiões de sua passagem por zero produzirá picos de tensão no
secundário, que poderão perfurar a isolação do TC.

A Fig. 8 esclarece a situação correspondente a essa descrição de


saturação profunda.

v
i

Fig. 8 – Fluxo e corrente magnetizantes e tensão secundária na saturação.

1.1.7. CLASSES DE EXATIDÃO PELA ANSI E PELA ABNT

A ANSI define a classe de exatidão de um TC a partir da verificação da


máxima tensão sobre a carga (impedância) total do seu secundário.
Basta, portanto, multiplicar-se a máxima corrente secundária (100 A)
pela sua carga secundária.

As possíveis combinações, na designação da ANSI, são: ex L v ou ex H v,


onde: ex = classe de exatidão (5,0 ; 10%); L = baixa reatância; H = alta
reatância; v = tensão máxima: 10, 20, 50, 100, 200, 400 e 800 V.

EXEMPLOS: TC 5L100; TC 10H400.


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OBS.: A classe de exatidão associada à máxima tensão secundária define,


também, a máxima carga secundária de um TC: Zmáx = VMAX/100. Este
conceito inclui toda e qualquer impedância no circuito secundário do TC.

A ABNT define a classe de exatidão de um TC a partir da verificação de


sua máxima potência secundária em VA, para a corrente nominal
secundária de 5A. Esta máxima potência secundária nominal
corresponderá a uma impedância de carga que corresponderá à máxima
corrente de curto-circuito secundária/primária.

A designação pela ABNT é dada por: A (ou B) ex F f C c, onde: A = alta


reatância; B = baixa reatância; ex = classe de exatidão (como acima); F
de valor f = fator de sobrecorrente = 5, 10, 15 ou 20; C de valor c = carga
em VA: 2,5 , 5,0 , 12,5 , 22,5 , 25, 45, 50, 90, 100 ou 200.

EXEMPLOS: A5F10C50; B10F20C22,5; A2,5F20C100.

1.1.8. FATOR TÉRMICO (FT) DE UM TC

Define-se Fator Térmico de um TC o valor da máxima corrente primária


que o pode percorrer em regime contínuo, sem que seu limite térmico
(temperatura máxima da isolação) seja ultrapassado. É dado por:
IPmáx
FT =
IPnom

Os valores normalizados de FT são: 1,0 ; 1,3 ; 1,5 e 2,0.

1.1.9. LIMITE TÉRMICO (LT) OU CORRENTE TÉRMICA


NOMINAL DE UM TC

Define-se Limite Térmico o valor da máxima corrente simétrica de curto-


circuito suportada por um TC durante um segundo (1 s), com os
terminais do secundário em curto-circuito. Esta situação estará
22
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

associada à máxima dissipação de calor, na máxima temperatura dada


pela classe de isolação do TC, que não deverá sofrer qualquer
deterioração de sua estrutura.
No caso de se ter um disjuntor eliminando uma corrente de curto-
circuito (Icc) num tempo tf, o nível dessa corrente pode ser calculado pela
expressão:
𝐿𝑇
𝐼𝑐𝑐 ≤
√𝑡𝑓

1.1.10. IMPEDÂNCIA MÁXIMA NO SECUNDÁRIO DE UM TC E


TAP DE RELÉ

Conforme já visto pela exigência da ANSI de uma máxima tensão


secundária durante o curto-circuito (20 x 5 A, no secundário), a
impedância máxima vista pelo secundário é denominada, em inglês,
Burden, e equivale à soma da impedância da fiação (Zfio) entre o TC e sua
carga, e da impedância desta última (ZR):

𝐵𝑢𝑟𝑑𝑒𝑛 = 𝑍𝑓𝑖𝑜 + 𝑍𝑅 = 𝑍𝑆𝑚á𝑥

Para os relés eletromagnéticos, a impedância associada (ZR) poderá ser


elevada, além de ser somada à impedância da fiação, que vai da
subestação (onde fica o TC) à sala de controle, onde ficam os relés. Isto
exigirá cuidado no projeto do sistema de proteção envolvendo o TC e
sua carga secundária máxima. Para os relés digitais, esse valor de
impedância secundária é muito baixo, não sendo fonte de maiores
preocupações. Uma tendência, atual, é que os relés eletromecânicos
fiquem situados na SE e seus sinais sejam levados à sala de controle por
meio de cabos de fibra ótica, eliminando-se, assim, a carga relativa aos
elevados comprimentos da fiação (Zfio).
23
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A impedância dos relés (ZR) está associada ao conceito de Tap da bobina


do relé eletromagnético. Tal conceito é útil para a compreensão do
funcionamento de um relé. Os denominados Taps (pronuncia-se “tapes”
vem da palavra inglesa “Tap”, com significado de torneira, derivação)
são terminais de ligação da bobina do relé, conforme ilustrados na Fig.
1.1.10.

Apesar de o conceito relacionar-se à bobina de um relé eletromagnético,


o Tap aplica-se perfeitamente a outros tipos de relés, inclusive aos
digitais. Na Fig. 9 verifica-se que os Taps são pontos de ligação da bobina
do relé e que serão selecionados de acordo com o valor da corrente que
vem do TC. Os Taps correspondem a valores de corrente e, portanto,
podem ser, também, denominados de Tap, de corrente de Tap (ITap), ou
de corrente de ajuste (Iaj).

Fig. 9 – Taps da bobina de um relé eletromagnético.

O Tap menor na Fig. 1.1.10, corresponderá à maior impedância do relé


(ZRmáx), porque associado ao maior número de espiras. O produto NxI
(amperes-espiras) para cada Tap (1, 2, 3, 4 ou 5 A) será constante e
corresponderá, ainda, à energia magnética que colocará o êmbolo ou a
alavanca do relé na iminência do movimento para fechar os contatos,
isto é, o relé estará no “limiar” de atuação. Dito de outro modo: toda
força de restrição ao movimento do êmbolo/alavanca já estará anulada
pela força magnética produzida pela corrente circulante no Tap.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A impedância de qualquer outro Tap estará relacionada à impedância


máxima (ZRmáx) pela expressão abaixo, que vem da igualdade da energia
eletromagnética para duas situações: do menor Tap (Tape mínimo) e do
Tap considerado.

2
𝐼𝑇𝑎𝑝𝑚í𝑛
𝑍𝑇𝑎𝑝 = 𝑍𝑇𝑎𝑝𝑚í𝑛 ( )
𝐼𝑇𝑎𝑝

No capítulo sobre relés serão vistos mais detalhes sobre o seu


funcionamento.

1.2. TRANSFORMADORES DE POTENCIAL (TP)

O TP objetiva reproduzir em seu secundário uma tensão que seja uma


réplica da tensão primária, devidamente rebaixada em módulo. Sua relação
de transformação (RTP) estabelece a relação entre as tensões de linha do
primário e de linha do secundário. Esta é, usualmente, normalizada em 115
V. São, normalmente, unidades monofásicas conectadas em estrela.

A RTP, como em qualquer transformador, é dada por:

𝑁𝑃
𝑅𝑇𝑃 =
𝑁𝑠

1.2.1. Carga nominal do TP (VA) e classe de exatidão

A carga nominal (em VA) de um TP é definida como a máxima potência


aparente possível de ser conectada ao seu secundário, para que não se
ultrapasse a sua classe de exatidão.
25
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

As classes de exatidão para os TP podem ser: 0,1%, 0,3%, 0,6%, 1,2% e


3%. As três primeiras classes destinam-se a TP de medição, que são mais
exigentes em termos de exatidão. Os TP de proteção utilizam a classe de
exatidão de 1,2%. A classe de 3,0% fica reservada para uma situação
particular: TP com ligação em  aberto para proteção residual de faltas
à terra.

Comparando-se os TC com os TP pode-se afirmar que o TC é alimentado


por uma fonte de corrente, já que é excitado pela corrente do circuito
primário, que por sua vez, produz corrente de excitação (Ie) que produz
a tensão no enrolamento secundário. Já o TP é alimentado por uma
fonte de tensão, como normalmente o são os transformadores de
potência, em geral.

Se a classe de exatidão no TC está relacionada aos valores da corrente


de excitação, sua fonte de erro, no TP a classe de exatidão está
relacionada às quedas de tensão internas (em suas reatâncias de
dispersão, primária e secundária). Felizmente, como os aparelhos de
medida de tensão (e as bobinas de tensão de relés) são de elevada
impedância, a corrente que circula na impedância de carga ligada aos
terminais do secundário do TP são de baixo valor, o que não provocará
quedas de tensão muito elevadas, facilitando a construção de TP de
classe de exatidão de baixos percentuais. Note-se que os TC têm classes
de exatidão chegando a 10%, enquanto o TP de proteção atinge 1,2%!

Um TP, portanto, se for destinado a alimentar cargas normais,


funcionando como um transformador de força, se ressentirá de
elevadas quedas de tensão, já que será percorrido por correntes muito
maiores que a prevista no funcionamento como transformador de
medição/proteção.
26
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A carga nominal de um TP, portanto, corresponde à sua máxima


potência secundária para que seja mantida sua classe de exatidão, isto
é, sua queda de tensão máxima.

No TC, fala-se em máxima tensão secundária (segundo a ANSI) tal que


ao circular a máxima corrente secundária (100 A = 20 x 5 A) a corrente
de excitação não ultrapasse o valor de sua classe de exatidão. No TP
pode-se, comparativamente, e de forma dual, falar-se em máxima
corrente secundária tal que a queda de tensão não ultrapasse o valor de
sua classe de exatidão.

1.2.2. Curvas de excitação e saturação de TC e TP –


comparação

Fazendo-se uma comparação entre as curvas que estabelecem a relação


entre a corrente de excitação e a indução magnética desenvolvida (ou
tensão induzida), tanto para o TC quanto para o TP, obtêm-se as curvas
da Fig. 10.

Fig. 10 – Influência da corrente de excitação sobre a exatidão de TC e TP de proteção.

Esta comparação é muito útil, pois estabelece, de forma clara, a


dualidade existente entre os dois transformadores de medida (TC e TP),
aplicados à proteção do SEP.
27
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Verifica-se, na Fig. 11, que, de fato, o TC é excitado por fonte de corrente


(Ip), enquanto o TP é excitado por fonte de tensão (VP). Em ambos os
transformadores a corrente de excitação é produzida, e, portanto,
dependente dessas fontes: no TC a fonte IP produz a corrente Ie; no TP a
fonte VP produz, igualmente, sua corrente de excitação Ie. Por isto pode-
se afirmar que sejam grandezas proporcionais, como aparece anotado
no eixo das abscissas na Fig. 10.

Fig. 11 – Circuitos monofásicos equivalentes para TC e TP de proteção.

Na curva do TC verifica-se que a corrente IS’ é a corrente primária (IP)


refletida no secundário e estabelece a relação ideal, linear, sem
saturação: RTC = IP/IS’. Na curva do TP, verifica-se que a tensão VS’ é a
tensão primária (VP) refletida no secundário e estabelece a relação ideal,
linear, sem saturação: RTP = VP/VS’.

A classe de exatidão do TC está associada ao desvio da pequena corrente


de excitação (Ie) e é definida para o valor de 20 x IP (10%, no máximo).
No caso do TP a classe de exatidão está definida pela pequena queda de
tensão (Ve), associada à soma da corrente de excitação com a corrente
secundária real (IS), ambas de valor muito baixo.

Se para o TC o limite de saturação (= classe de exatidão) está ligado, por


norma, ao valor 20 x IP, no TP, o limite de saturação está associado a um
valor bem mais baixo, 1,15 x VP, conforme a Norma NBR 6855.
28
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Para o TC faz-se a distinção entre TC de medição e TC de proteção: 4 x IP


para TC de medição; 20 x IP para TC de proteção. Para o TP, esta distinção
não se faz necessária, já que a máxima sobretensão a ser suportada
pelos equipamentos de uma subestação não será tão alta quanto para o
caso do TC (que precisa suportar sobrecorrentes elevadíssimas, de
curto-circuito).

Em ambos os circuitos equivalentes monofásicos tem-se a seguinte


relação entre as impedâncias:

𝑍𝑃𝑆 = 𝑍𝑃′ + 𝑍𝑆

No TC, no entanto, verifica-se a relação: ZS > ZP′ . Já para o TP verifica-


se o contrário: ZP′ > ZS .

Com relação à impedância do relé (ou do equipamento) ligado aos


terminais secundários, tem-se, para o TC: ZR = valor pequeno. Já para o
TP: ZR = valor grande. Neste último caso, as cargas são do tipo
voltímetro, que apresentam, de fato, elevada impedância de entrada. E
no caso do TC, as cargas são do tipo amperímetro, que apresentam, de
fato, baixíssima impedância de entrada.

No TC é definida a corrente secundária normalizada, de 5 A. No TP é


definida a tensão secundária normalizada, de 115 V (de linha).

Finalmente, segundo a ANSI, o TC deve suportar, na situação mais


estressante (curto-circuito), uma tensão máxima, Vmáx , sobre a
impedância secundária (ZR). Já o TP deve suportar, na situação mais
estressante (sobretensão máxima admissível), uma corrente ISmáx
através da impedância secundária (ZR).
29
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

CAPÍTULO 3 – RELÉS DE SOBRECORRENTE

1. PROTEÇÃO À BASE DE RELÉS DE SOBRECORRENTE

O SEP tem seu sistema de proteção contra curtos-circuitos baseados nos relés
de sobrecorrente, isto é: relés que se sensibilizam diante de sobrecargas e
curtos-circuitos. Relés de sobrecorrente são dispositivos eletromecânicos,
eletrônicos ou digitais (micro processados) que têm a possibilidade de ajustes
da corrente de acionamento (ou de atuação, ou de disparo, ou de trip) e de
ajustes de tempos de resposta a essa corrente, podendo ser esses significativos
e ajustáveis (temporização intencional) ou instantâneos (tempos rapidíssimos e
dependentes, apenas das características construtivas do dispositivo).

2. PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DO RELÉ DE


SOBRECORRENTE

O princípio fundamental do funcionamento de um relé de sobrecorrente


eletromecânico está ilustrado na Fig. 12.

O disjuntor (anotado com o número 52, codificação da ANSI) é representado


pelo seu contato principal no diagrama unifilar da Fig. 12. Diante de uma
anomalia, a corrente atingirá o valor de disparo do relé que energizará a sua
bobina, provocando a movimentação do êmbolo, que atuará contra a força de
restrição da mola, fechando os contatos do circuito de corrente contínua (CC),
que por sua vez, energizará a bobina de abertura (BA) do disjuntor. Esta bobina,
ao ser energizada, provocará o destravamento, ou o desarme, do sistema de
abertura do disjuntor. Este sistema, na prática, poderá ser mecânico,
pneumático. Pode-se entender, no esquema da Fig. 12, que a mola do disjuntor,
30
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

estando com energia armazenada no sentido de abrir o seu contato, tendo sido
liberada, pelo destravamento do sistema, atuará, efetivamente, no sentido de
abrir o disjuntor, com força e velocidade suficientes para uma abertura muito
rápida. À direita da figura tem-se o esquema de abertura por unidade terminal
remota (UTR) ou por unidade de aquisição de dados e controle (UAC). Pode
haver, também, um comando manual local, atuando sobre o mesmo contato da
unidade remota.

Bobina de abertura

Fig. 12 – Princípio fundamental de funcionamento de relé de sobrecorrente.

3. ESQUEMA FUNCIONAL CA

A Fig. 13 ilustra o chamado esquema funcional em corrente alternada (CA) de


um sistema de proteção baseado em relé de sobrecorrente. Verifica-se a
presença quase imprescindível de transformadores de corrente (TC) – três, no
caso trifásico – ligados, normalmente em estrela (Y) e com ponto comum
aterrado, por questões ligadas à segurança. Verificam-se na Fig. 13, o diagrama
unifilar e o seu correspondente diagrama trifilar, ou trifásico.
31
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Fig. 13 – Esquema funcional em CA de proteção com relé de sobrecorrente.


Fonte: KINDERMAN, G. Proteção de sistemas elétricos de potência. Vol.1, 3.ed

4. ESQUEMA FUNCIONAL CC

A Fig. 14 ilustra o denominado esquema funcional em corrente contínua (CC) de


um sistema de proteção baseado em relé de sobrecorrente. Este esquema CC
está implícito nos diagramas mostrados na Fig. 13, já que o relé, sendo
sensibilizado por uma corrente de acionamento (associada a uma anomalia no
sistema elétrico), responderá por meio do fechamento de seu contato de
energização da bobina de abertura do disjuntor.
32
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Fig. 14 – Esquema funcional em CC de proteção com relé de sobrecorrente.


Fonte: KINDERMAN, G. Proteção de sistemas elétricos de potência. Vol.1, 3.ed

O esquema funcional em CC enfatiza, apenas, os componentes associados à


alimentação de corrente contínua do sistema de proteção. Este esquema de
corrente contínua se justifica por garantir certa independência do sistema de
potência em corrente alternada, e estará baseado em baterias e seus circuitos
de carregamento e controle.

Para os contatos do esquema funcional em CC, utiliza-se a seguinte simbologia,


Fig. 15, para designar contatos normalmente abertos (NA) e normalmente
fechados (NF). O contato é considerado “normalmente” aberto ou fechado
quando o dispositivo não está energizado. No caso do disjuntor, quando este
estiver com a bobina de fechamento energizada, o contato, normalmente
aberto, passará a estar fechado. “52 a” é a designação da ANSI para o contato
normalmente aberto do disjuntor (52).

(NA) (NF)

Fig. 15 – Contatos normalmente aberto e fechado.


33
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

5. MÚLTIPLO DO RELÉ

O múltiplo (M) de um relé é também denominado corrente de ajuste ou Tap


(em A) e corresponde ao valor da corrente de ajuste do relé, isto é, ao valor da
corrente que estará no limiar de atuação do relé: a força de restrição da mola já
terá sido compensada, bastando um valor um pouco acima para que,
efetivamente, o relé atue, ou opere. Normalmente aplica-se um fator de 1,5,
para relés eletromecânicos (ou eletromagnéticos) ou 1,1 (para relés digitais) a
essa corrente para que se considere a atuação do relé.

A temporização associada aos relés temporizados pode ser por tempo inverso
ou por tempo definido. A Fig. 16 ilustra tais temporizações.

Tempo Inverso (T.INV.) Tempo Definido (T.DEF.)

1,0 (M) 1,0


Iajt Iajt (M)

Fig. 16 – Tipos básicos de temporização de um relé.

Verifica-se, nessa figura, que a corrente de ajuste temporizado (Iajt) corresponde


ao múltiplo M = 1,0, ou à unidade. E a atuação do relé, de acordo com a curva,
só se dará a partir do múltiplo M = 1,5. Isto acontece devido às características
construtivas dos relés eletromagnéticos que, ao serem percorridos pela
corrente de ajuste, atingem o limiar de operação, mas ainda têm necessidade
de que alguma força extra compense outras forças de restrição além da força
restritiva da mola (que se opõe ao movimento da alavanca, por exemplo, em
um relé desse tipo).
34
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Quanto à temporização, pode-se dizer que, na curva de tempo inverso,


correntes maiores provocarão no relé tempos de resposta menores. Já para a
curva de tempo definido, o tempo de resposta é único para qualquer
intensidade de corrente de falta.

Para o cálculo da corrente de ajuste, dois procedimentos podem ser efetivados.

5.1. Ajuste temporizado da corrente para relé industrial


Neste caso, deseja-se que a corrente de ajuste corresponda à maior
corrente de sobrecarga (Isc) previamente definida. Para isto, escolhe-se o
múltiplo M como igual a 1,5 (relé eletromagnético) e se calcula a corrente
de ajuste de acordo com a expressão

𝐼𝑎𝑐 𝑓𝑠𝑐 . 𝐼𝑁
𝑀= = = 1,5
𝑅𝑇𝐶. 𝐼𝑎𝑗𝑡 𝑅𝑇𝐶. 𝐼𝑎𝑗𝑡

Onde:
Iac = corrente de acionamento primária (= corrente de sobrecarga máxima
desejada);
IN = corrente nominal do circuito (ou corrente de projeto);
fsc = fator de sobrecarga (normalmente entre 10% e 60%);
RTC = relação de transformação do TC;
Iajt = corrente de ajuste temporizado a ser determinada.

A corrente de ajuste, portanto, pode ser encontrada como sendo:

𝐼𝑎𝑐
𝐼𝑎𝑗𝑡 =
𝑅𝑇𝐶. 1,5
Observe-se que, se o fator de sobrecarga do circuito for definido na faixa de
1 a 1,5, a corrente de ajuste temporizado será menor ou igual à corrente
nominal (no secundário do TC). Se o fator de sobrecarga for maior que 1,5,
a corrente de ajuste será maior que a nominal do circuito. As expressões
abaixo resumem a afirmação.
35
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

𝐼𝑁⁄
1 ≤ 𝑓𝑠𝑐 ≤ 1,5  𝐼𝑎𝑗𝑡 ≤ 𝑅𝑇𝐶

𝐼𝑁⁄
𝑓𝑠𝑐 > 1,5 𝐼𝑎𝑗𝑡 > 𝑅𝑇𝐶

5.2. Ajuste temporizado da corrente para relé de linha de


transmissão

Para linhas de transmissão (LT), a expressão que define a corrente de ajuste


temporizado terá como resultado uma corrente que será, sempre, maior do
que a nominal do circuito (alimentador, ou LT). Isto se explica porque o fator
de sobrecarga para linhas é, geralmente, bem maior do que o fator para
cargas industriais. Assim, tem-se:

𝐼𝑎𝑐 𝑓𝑠𝑐 . 𝐼𝑁
𝑀= =
𝑅𝑇𝐶. 𝐼𝑎𝑗𝑡 𝑅𝑇𝐶. 𝐼𝑎𝑗𝑡

Onde:
fsc = fator de sobrecarga, normalmente: ≥ 1,5.

6. RELÉ DE SOBRECORRENTE INSTANTÂNEO (Relé de


alavanca)

O relé eletromecânico de alavanca, ilustrado na Fig. 17, é um relé de


característica de resposta intrinsecamente instantânea. Isto se explica pelo fato
de que, ao se tentar ajustar um tempo diferente para uma dada corrente de
acionamento (corrente de ajuste, ou de limiar), não se consegue, pois a
alteração na constante da mola corresponderá a outro valor de corrente, e não
ao mesmo, como se desejaria. Isto é, aumentando-se o valor da força de
restrição da mola, exige-se uma corrente de ajuste, ou de limiar, igualmente
maior.
36
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A solução para se obter um relé de alavanca temporizado é a incorporação de


um relé de tempo (ou relé temporizador) que, uma vez tendo sido acionada a
alavanca, por uma corrente de acionamento, este relé contará o tempo
necessário para a efetiva energização da bobina de abertura do disjuntor. Neste
caso, o relé temporizado resultante terá característica de tempo definido.

Barra (SE)
+
Circuito CC
Disjuntor (52)

LT
Is
Ip
Relé de
tempo

TC
Contato: 52 a

Alavanca

Fig. 17 – Relé de sobrecorrente instantâneo com temporizador.

7. RELÉ DE SOBRECORRENTE DE TEMPO INVERSO


(Relé de indução)

O relé eletromagnético baseado no princípio da indução magnética (princípio


do motor de indução) tem funcionamento semelhante ao medidor de energia
elétrica (o popular “relógio” de energia). Embora seja percorrido por uma única
corrente de acionamento, com característica, portanto, não direcional,
apresenta dois fluxos magnéticos atuando sobre o seu disco de indução. E esses
dois fluxos resultam fora de fase em virtude de uma bobina de sombra colocada
sobre um lado do núcleo magnético: um fluxo estará em fase com a corrente de
37
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

acionamento, enquanto o outro estará defasado, por conta da influência da


bobina de sombra. O ângulo de defasamento entre esses dois fluxos (ou duas
correntes equivalentes) provocará, para a corrente de limiar (corrente de
ajuste), o giro do disco de indução, que arrastará consigo a haste (contatos
móveis) para fechamento dos contatos fixos. (Ver descrição detalhada em:
KINDERMAN, G. Proteção de sistemas elétricos de potência. Vol. 1, 3.ed.,
Edição do autor, Florianópolis, SC. p.76.)

A Fig. 18 ilustra o disco de indução e a alavanca com os contatos móveis. De


acordo com a distância entre os contatos móveis (alavanca) e os fixos, tem-se
um determinado tempo de atuação do relé. Para uma dada corrente de
acionamento (corrente de ajuste), haverá um único tempo de acionamento
associada a dada posição da alavanca.
Circuito CC

ta
Disco de
indução

K1 t2
t1 K2
K1
K2 I
Icc

Fig. 18 – Disco de indução do relé naturalmente temporizado.

Verifica-se, nesta figura, que, se a alavanca puder ser ajustada em posições tais
que suas distâncias até os contatos fixos sejam menores, podem-se ter outros
tempos de acionamento. Esses tempos, para uma dada corrente de
acionamento, poderão ser ajustados no relé por meio de algum mecanismo de
ajuste (um parafuso, por exemplo). É o denominado dial de tempo ou, ainda,
ajustador de tempo de resposta, ou, ainda, em inglês: time multiplier setting
(TMS).

Como ambos os fluxos que produzem o torque de acionamento são diretamente


proporcionais à única corrente de acionamento, tem-se que esse torque resulta
38
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

proporcional ao quadrado da corrente. A expressão a seguir representa essa


proporcionalidade.

𝐼2 . 𝑡 = 𝐾

Onde, K é uma constante característica da fabricação do relé e dependerá,


essencialmente, da distância da alavanca, com os contatos móveis, aos contatos
fixos. Na Fig. 18 estão ilustradas duas situações correspondentes a dois
diferentes valores de K (curvas K1 e K2) para uma mesma corrente de
acionamento.

8. EQUAÇÃO GERAL DO TEMPO INVERSO

A expressão geral para o cálculo do tempo de acionamento inverso (ta), ou


tempo inverso de resposta do relé, é a seguinte.
𝐾
𝑡𝑎 = 𝑇𝑀𝑆. ( 𝛼 + 𝐿)
𝑀 −𝛽

Onde:
TMS = é o ajuste de tempo escolhido (100% = 1,0; 20% = 0,2, etc.);
K, ,  e L são coeficientes normalizados e variam em função da Norma (IEC,
IEEE, etc.) e de a curva ser uma dentre os tipos:
 Curva de tempo inverso (TI);
 Curva de tempo moderadamente inverso (TModI);
 Curva de tempo muito inverso (TMI);
 Curva de tempo extremamente inverso (TEI).

Por exemplo, para a IEC, têm-se os seguintes valores (Quadro 01):


39
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QUADRO 01
COEFICIENTES IEC PARA EQUAÇÃO GERAL DE TEMPO INVERSO
Curva / coeficientes K   L

Tempo inverso 0,14 0,02 1,0 0

Tempo moderadamente 0,05 0,04 1,0 0


inverso
Tempo muito inverso 13,50 1,00 1,0 0

Tempo extremamente 80,00 2,00 1,0 0


inverso

9. RELÉ DE SOBRECORRENTE EM LINHAS DE


TRANSMISSÃO

Relés de sobrecorrente aplicados a linhas de transmissão (LT) podem ser


ajustados para proteger a linha contra correntes de sobrecarga profunda ou
contra curtos-circuitos. Entenda-se por sobrecarga profunda valores de
corrente na LT que estejam abaixo do ajuste para corrente de curto-circuito
mínima. Os relés de sobrecorrente apresentam a possibilidade de ajustes
temporizado (para sobrecarga profunda) e instantâneo (para curtos-circuitos).
A seguir serão vistos os critérios para esses dois ajustes.

9.1. Critério de ajuste da unidade temporizada (ANSI: 51)

Para a escolha do ajuste da unidade temporizada (Iajt) pode-se utilizar o


seguinte critério:

𝑓𝑠𝑐 . 𝐼𝑛𝑜𝑚⁄ 𝐼𝑐𝑐𝑚í𝑛⁄


𝑎 ≤ 𝐼𝑎𝑗𝑡 ≤ 𝑎

Onde:
40
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

fsc = fator de sobrecarga (>1,0);


Inom = corrente nominal da LT;
Iccmín = corrente de curto-circuito mínima previsível;
a = 1,5 para relé eletromecânico; 1,1 para relé digital.

Qualquer valor nesta faixa estará, teoricamente, bem. No entanto, valores


mais próximos do limite inferior são mais recomendados, pois garantem
mais sensibilidade ao relé. Isto significa que o relé atuará para correntes de
sobrecarga profunda a partir do valor e do tempo desejado pelo projetista.
E cobrirá eventuais valores de curto-circuito, também.

O coeficiente “a” deve ser entendido da seguinte maneira: fator que diminui
o valor presumido da corrente de curto-circuito para que seja garantida
resposta suficientemente rápida diante de curto-circuito de baixo valor: a
corrente de curto-circuito mínima será, efetivamente, considerada corrente
de curto-circuito, e não, corrente de sobrecarga.

O fator de sobrecarga aplicado à corrente nominal (fsc) é o fator que garante


que sobrecargas normais não desliguem a LT. Garante-se que o relé
responda a partir do valor ajustado de sobrecarga, que será a corrente de
acionamento efetiva do relé. O que se faz é uma correspondência entre o
valor de sobrecarga máxima prevista e o fator “a” de 1,5 (relé
eletromecânico) ou 1,1 (relé digital).
41
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A Fig. 19 exemplifica a aparência da curva de tempo inverso com valores de


M de Iajt .

ta
Sobrecarga profunda

51

1,0 1,5 X M
Iajt 𝐼𝑐𝑐𝑚í𝑛⁄ (A)
𝑎
Fig. 19 – Curva de tempo inverso com ajuste da unidade temporizada.

Verifica-se que os valores de sobrecarga profunda correspondem à faixa de


valores do critério de ajuste da corrente de ajuste temporizada. No entanto,
quanto mais à direita se escolher o valor de Iajt, menos sensível será o relé à
situação de anormalidade. Se a corrente de ajuste for escolhida no seu valor
máximo (valor à direita na inequação acima: Iccmín/a), o relé somente se
sensibilizará para valores de correntes de curto-circuito pouco menores que
a corrente de curto-circuito mínima.

9.2. Critério de ajuste da unidade instantânea (ANSI: 50)

O critério para a definição do ajuste da unidade instantânea (Iaji) é baseado


no valor já definido para a presumida corrente de curto-circuito mínima:

𝐼𝑐𝑐𝑚í𝑛⁄
𝐼𝑎𝑗𝑖 ≤ 𝑎

E o valor do ajuste da unidade instantânea ainda poderá ser relacionado ao


ajuste da unidade temporizada, de tal sorte que:

𝐼𝑎𝑗𝑖 ≤ 𝑋. 𝐼𝑎𝑗𝑡
Onde:
42
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

X deve ser um valor de múltiplo M bem superior ao fator a (= 1,5 ou =1,1).

A Fig. 20 exemplifica a aparência da curva de tempo inverso com valores de


M e de Iaji.

Verifica-se, agora, que o ajuste da unidade instantânea coincide com o valor


superior do critério de ajuste da unidade temporizada. E a partir do valor X,
nesta figura, tem-se a região de atuação da unidade instantânea. Isto
significa que, a partir do valor X vezes a corrente de ajuste temporizado, o
relé deverá responder instantaneamente. Duas regiões ficam, então, bem
definidas, quais sejam: a relativa à atuação da unidade temporizada (51) e a
relativa à unidade instantânea.

ta
Sobrecarga profunda

Curto-circuito
51

50
1,0 1,5 X M
Iajt Iaji (A)

Fig. 20 - Curva de tempo inverso com ajuste da unidade instantânea.

9.3. Critério de seletividade em LT radial

Ao aplicar-se um relé de fase para proteger uma LT através da atuação de


um disjuntor na extremidade inicial da linha, há que se tomar o cuidado para
que sua unidade instantânea, barra (A), não ultrapasse a segunda barra (B).
Esta ultrapassagem está mostrada na Fig. 21.
43
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

51
50
P
(A) (B)
DA DB

a b F1
Relé 50/51 Relé 50/51

Fig. 21 – Unidade instantânea protegendo a zona A-B, mas ultrapassando a barra B.

Nesta figura as linhas tracejadas representam a atuação da unidade


instantânea (50, horizontal) e a unidade temporizada (51, parabólica).
Observa-se que, diante de uma falta no ponto F1, os relés a e b serão
sensibilizados e atuarão para abrir os seus disjuntores. Isto corresponderá a
uma situação não seletiva, já que somente o relé b deveria operar diante da
falta F1.

Para evitar tal situação, faz-se uma redução no alcance da unidade


instantânea do relé a, conforme se pode verificar na Fig. 22. Alcança-se,
desse modo, a desejada seletividade na atuação dos relés. O relé a somente
identificará curto-circuito, com atuação instantânea, a partir do valor
mínimo de corrente de curto-circuito trifásico (Icc385) ocorrendo a 85% do
comprimento total da LT A-B. Pode-se falar, igualmente, em 85% da
impedância (ZLT) da linha protegida.

51
50
P
(A) (B)
DA DB

ZLT F1
F2
a b
Relé 50/51 Relé 50/51
Icc385 (85%)

Fig. 22 – Redução do alcance da unidade instantânea do relé a.


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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

No caso de o relé ser do tipo digital, este identificará o tipo de curto-circuito,


se trifásico ou mesmo bifásico, e ajustará o valor correto de disparo mínimo.

𝐼𝑐𝑐3𝜙85 = 𝐼𝑐𝑐3𝜙𝑚í𝑛 ⁄0,85

𝐼𝑐𝑐2𝜙85 = 𝐼𝑐𝑐2𝜙𝑚í𝑛 ⁄0,85

Os valores mínimos de curto-circuito, trifásico ou bifásico, são calculados na


extremidade da zona protegida (barra B), ou seja, para a impedância total
da linha. Sabe-se, ainda, que o valor da corrente de curto-circuito bifásico,
em relação ao trifásico, vale:

𝐼𝑐𝑐2𝜙 = √3/2. 𝐼𝑐𝑐3𝜙 = 0,866. 𝐼𝑐𝑐3𝜙

No caso de relé eletromecânico, não sendo este capaz de identificar o tipo


de curto-circuito, o ajuste único do valor da corrente instantânea de atuação
terá de ser o de curto-circuito bifásico, por ser a menor corrente de curto.
No entanto, o relé deverá ser sensível, também, à corrente de curto-circuito
trifásico a 85% da LT, que é maior do que a corrente de curto-circuito
bifásico no mesmo ponto. Para que o relé responda de forma instantânea à
corrente de curto-circuito bifásico e, também, à corrente de curto-circuito
trifásico, o ponto da LT deverá ser mais restritivo, resultando no ponto a
74% da LT. Neste ponto, a corrente de curto-circuito bifásico terá valor igual
à da corrente de curto-circuito trifásico a 85% da LT. Portanto, o relé
eletromecânico terá um alcance menor, na unidade instantânea, que o relé
digital na proteção da LT. A Fig. 23 ilustra esta situação.
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Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

51
50
P
(A) (B)
DA DB

ZLT F1
F3
a b
Relé 50/51 Relé 50/51
Icc274 = Icc385

Fig. 23 – Ajuste da unidade instantânea para o caso de um relé eletromecânico.


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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

CAPÍTULO 4 – CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO

1. FORMAS DE ONDA DA CORRENTE DE CURTO-


CIRCUITO

A forma de onda uma corrente de curto-circuito é caracterizada, basicamente,


pelo seu circuito equivalente de Thevenin e pelo instante em que ocorre, com
relação à senoide da tensão da fonte. Será analisada apenas a corrente para uma
fase do sistema trifásico, já que um curto-circuito trifásico é considerado
equilibrado. E será considerada a pior situação de curto-circuito trifásico.

1.1. Equivalente de Thevenin

O equivalente de Thevenin é o circuito básico definido pela tensão da fonte


que provocará a circulação da corrente de curto-circuito em série com a
impedância de curto-circuito. Esta é a impedância total que limitará a
intensidade da corrente de curto-circuito e que é determinada pela soma
das impedâncias entre o gerador e o ponto de ocorrência do curto-circuito.

A Fig. 24 ilustra o circuito equivalente, monofásico, correspondente a uma


situação de ocorrência de curto-circuito trifásico em uma linha de
transmissão.
Zcc

Vcc
~ Icc

Fig. 24 – Circuito equivalente de Thevenin para curto-circuito.


47
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

Por meio dos valores desse circuito equivalente, pode-se calcular a


intensidade da corrente de curto-circuito em regime permanente, isto é, na
hipótese de que essa corrente permaneça por tempo suficiente para
estabilizar-se.

1.2. Instante em que ocorre o curto

O instante em que ocorre o curto-circuito é decisivo para a definição da


forma de onda da corrente resultante. Este instante pode ser definido como
um ângulo, a partir do início da senoide de tensão, em que ocorre o curto-
circuito, isto é, o ângulo ( = .t) em que se inicia a corrente de curto.

Será verificado que a pior situação de qualquer curto-circuito será quando


o ângulo  for nulo, isto é, quando o curto-circuito ocorrer no instante inicial
da senoide de tensão. Isto se justifica pelo fato de que uma componente de
corrente contínua (DC ou off set) aparecerá, necessariamente, quando o
ângulo  for diferente do ângulo da impedância de curto-circuito (). E
quando o ângulo de ocorrência do curto (α) coincidir com o ângulo , não
haverá necessidade de qualquer componente de corrente contínua.

Esta afirmação acima está de acordo com a seguinte constatação. Se o


curto-circuito ocorrer no exato momento do ângulo da impedância de curto-
circuito (), a forma de onda da corrente de curto terá somente seu
componente de regime permanente, uma vez que a corrente já se iniciará
com o defasamento correto entre tensão e corrente. A equação da corrente
de curto-circuito para o circuito da Fig. 25, esclarece esta situação, pois pode
ser dada por (Ver: ARAGÃO FILHO, W. C. P. de. Eletrônica de potência I –
Retificadores monofásicos e trifásicos. Ed. do Autor, Vitória – ES, 1.ed,
2012, p. 28):
48
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

ic (t ) 
2.Vcc
sen(t   )  sen(   )  e ( t   ) / 
 ou ic (t )  i2 (t )  i1 (t )
R X
2 2

Onde:
  tg 1 ( X R) é o ângulo da impedância de curto-circuito;
X  L é a componente reativa da impedância de curto-circuito;
  L R é a constante de tempo relativa à impedância de curto-circuito.

A Fig. 25 mostra a variação da corrente de curto-circuito, iniciando-se no


zero da tensão senoidal da fonte, e a corrente de curto-circuito, no seu
primeiro ciclo.

1.5

ic(t)
1
It(0)
i2(t)
0.5


i1(t)
0

0.5

-It(0)
1
0 1 2 3 4 5

Fig. 25 – Corrente de curto-circuito ocorrendo para o ângulo  = 0o e seus componentes transitório e de regime
permanente.

Nesta figura, It(0) corresponde ao valor inicial do componente DC, que


somente existirá para a situação em que  seja diferente do ângulo . De
fato, de acordo com a equação do curto-circuito acima, a segunda parcela,
correspondente ao componente transitório (componente DC, i1(t)) torna-
se nula quando  = .
49
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

2. TRÊS SITUAÇÕES POSSÍVEIS

Três situações podem ser analisadas para que se compreenda bem as formas de
onda de uma corrente de curto-circuito.

2.1. Curto-circuito perto e longe do gerador

O curto-circuito em uma linha de transmissão, ou em uma parte do sistema


de potência, pode ser analisado em termos de sua proximidade com a fonte
de tensão equivalente, o gerador síncrono. Este tem comportamento tão
característico, que deve ser levado em conta. Tal comportamento liga-se ao
fato de que sua impedância varia, num crescendo, durante os instantes
iniciais do curto-circuito. No primeiro instante (primeiros dois ou três ciclos)
a impedância do gerador síncrono é a menor possível e é caracterizada pela
presença dos denominados enrolamentos amortecedores (Ver
KINDERMAN, G. Curto-circuito. Ed. do Autor, Florianópolis, 5.ed, p. 57). Em
seguida, a impedância cresce e fica dependente dos enrolamentos de
campo da máquina. Finalmente, nos ciclos seguintes, a impedância é aquela
associada a impedância síncrona da máquina (impedância tradicional, de
dispersão, de sequência positiva, ou de eixo direto).

2.1.1. Curto-circuito perto do gerador

Portanto, se o curto-circuito ocorrer nos terminais do transformador


elevador de uma usina hidrelétrica, por exemplo, a corrente de curto-
circuito terá a forma dada pela Fig. 26 (Vide IEC 60909-0: 2001, p. 33,
com errata à p. inicial).
50
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Fig. 26 – Corrente de curto-circuito ocorrente perto do gerador síncrono.

Verifica-se que a corrente tem um comportamento exponencial em


virtude de o curto-circuito estar ocorrendo no início da tensão da fonte,
e, também, em virtude da variação do módulo da impedância interna do
gerador. Leve-se em conta que a impedância do transformador
(constante) não altera, substancialmente, o comportamento variável da
impedância total de curto-circuito (gerador + transformador). Observe-
se que o valor pico a pico da corrente está caindo até um valor bem
menor em regime permanente (supondo a manutenção da corrente de
curto).

Este comportamento é distinto do que será visto à frente, e que


dependerá da relação X/R e do instante do curto-circuito. Considere-se
a situação da Fig. 26 como dependente não somente da característica
variável da impedância de curto-circuito do gerador, mas, também, da
existência de um componente de corrente contínua (dc component).
51
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1.2.1. Curto-circuito longe do gerador

Para a situação em que o curto-circuito ocorra distante do gerador, incluindo a


impedância de uma linha de transmissão, por exemplo, a impedância total de
curto-circuito ficará, praticamente, independente das variações da impedância do
gerador, visto que a impedância da linha, acrescida à do transformador, é
constante e bem maior que a do gerador.

A Fig. 27 ilustra o comportamento da corrente de curto-circuito ocorrendo distante


do gerador síncrono.

Fig. 27 – Corrente de curto-circuito ocorrente distante do gerador síncrono.

Verifica-se, nesta figura, que a corrente de curto-circuito tem um comportamento


de queda exponencial devido, não mais à impedância variável do gerador síncrono,
mas à elevada relação entre a reatância e a resistência e ao ponto de ocorrência do
curto-circuito (no início da tensão senoidal da fonte). Isto será visto e demonstrado
mais à frente. Observe-se que a amplitude da corrente de curto está caindo até
estabilizar-se no valor de regime permanente (supondo corrente de curto-circuito
mantida). Mas o valor pico a pico é mantido mesmo nos instantes iniciais. Isto é
diferente do que ocorre no caso anterior, para curto perto do gerador.
52
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1.3. Reatância igual à resistência, ou menor (X = R ou X < R)

Esta segunda situação será considerada longe do gerador, portanto, com


impedância de curto-circuito constante. Neste caso, a relação X/R da
impedância influenciará o formato da corrente de curto-circuito.

A influência da relação X/R tem dois aspectos: determina o ângulo , e


determina a amplitude inicial e a constante de tempo do decaimento do
componente DC, aquela, dependente do instante de ocorrência do curto.

Para esses valores da relação X/R (X ≤ R), o instante de ocorrência do curto-


circuito tem pouca influência sobre a amplitude inicial da corrente de curto.
As figuras a seguir ilustram esse fenômeno. Nessas figuras, a senoide maior
corresponderá, sempre, à corrente de curto-circuito, e a menor, à tensão

Fig. 28 – Curto-circuito trifásico para: X = R ( = 45o) e  = 45o ( = ).

Verifica-se, nesta Fig. 28, que a amplitude inicial da corrente de curto é


exatamente igual à amplitude dos demais ciclos. Isto por quê, de acordo com
a equação definidora da corrente de curto-circuito, sendo iguais os ângulo 
e , resulta nulo o componente DC, resultando, apenas, o componente de
regime permanente.
53
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Para o caso em que o instante de ocorrência do curto-circuito aconteça no


início da tensão senoidal da fonte ( = 0o), tem-se o formato da corrente
como o ilustrado na Fig. 29.

Fig. 29 – Curto-circuito trifásico para: X = R ( = 45o) e  = 0o.

Neste caso, verifica-se uma amplitude inicial ligeiramente maior do que a


dos demais ciclos. Esta relação corresponde a um Fator de Assimetria igual
a 1,07, para X/R = 1, como será visto mais à frente. Confirma-se, já aqui, que
a amplitude inicial maior depende da relação X/R, mas somente se
concretizará se o instante do curto ocorrer no início da tensão senoidal da
fonte.

Pode-se concluir, portanto, que, para o caso X = R, o instante da ocorrência


do curto-circuito não terá influência sobre a amplitude dos ciclos iniciais da
corrente, podendo-se considerar, para essa gama de relações X/R, o Fator
de Amplitude como aproximadamente igual a um (1,0).
54
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1.4. Reatância maior que a resistência (X > R)

Esta terceira situação corresponde a valores mais práticos (reais) de linhas


de transmissão, em que, de fato, os valores da reatância de curto-circuito
são muito maiores do que os de resistência.

Neste caso, a influência do instante de ocorrência do curto-circuito será


decisiva para a definição final da forma de onda da corrente de curto-
circuito.

1.4.1. Para X > R e α = 

Neste caso, supondo a ocorrência do curto-circuito no instante exato em


que os ângulos  e  sejam iguais, ter-se-á o componente DC nulo. A
corrente de curto não apresentará qualquer amplitude maior nos
primeiros ciclos, correspondendo ao componente de regime
permanente, defasado de um ângulo , em atraso, em relação à tensão
da fonte.

A Fig. 30 ilustra o comportamento da corrente de curto-circuito para


este caso, em que o momento do curto coincide com o correspondente
ao ângulo .

Fig. 30 – Curto-circuito trifásico para: X >> R ( = 87,14o) e  = 87,14o ( = )


55
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Verifica-se, nesta figura, que o momento do curto-circuito está


ocorrendo, de fato, quase no pico da tensão da fonte. E como o ângulo
dessa tensão senoidal () coincide com o ângulo da impedância de
curto-circuito (), a corrente de curto é puramente senoidal.

1.4.2. Para X>R e α = 0o

Este caso considera a ocorrência do curto-circuito no início da tensão


senoidal da fonte, o que corresponde à pior situação de curto-circuito.
Se a relação X/R for considerada de valor elevado (como acontece na
prática), ter-se-á a forma de onda de corrente de curto com o maior
Fator de Amplitude.

A Fig. 31 ilustra a forma de onda da corrente de curto-circuito para esta


situação.

Fig. 31 – Curto-circuito trifásico para: X >> R ( = 87,14o) e  = 0o (ou  << )

A Fig. 32 ilustra a mesma corrente da Fig. 31, mas mostrando o regime


permanente tendo sido atingido.
56
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Fig. 32 – Curto-circuito trifásico para: X >> R ( = 87,14o) e  = 0o (ou  << ) – corrente atinge o regime
permanente.

3. ANÁLISE DO FATOR DE ASSIMETRIA E DA


ASSIMETRIA

O fator de assimetria é importante para dimensionar-se um disjuntor, por


exemplo. É definido como a relação entre o pico da corrente de curto-circuito
inicial e o pico da corrente de regime permanente. E depende, como já visto, da
relação X/R, sendo definido para α = 0o.

3.1. Assimetria para X < R

Considerando-se, inicialmente, a relação X < R, têm-se os seguintes


resultados de simulação para a corrente de curto-circuito ocorrendo em
alguns instantes especiais. Considere-se, a partir de agora, que a assimetria
seja “positiva” para pico inicial maior que o pico de regime permanente

A Fig. 33 ilustra o caso em que X < R ( = 26,57o) e  = 26,57o ( = ).


57
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Fig. 33 – Assimetria nula para X < R ( = 26,57o) e  = 26,57o ( = ).

Verifica-se, neste caso simulado, que o curto-circuito acontece no exato


momento em que  iguala . Isto é, a corrente de curto-circuito já está
devidamente defasada da tensão pelo seu ângulo de atraso . Isto não exige,
portanto, qualquer valor para o componente DC, e a corrente de curto não
apresenta qualquer assimetria inicial.

Fig. 34 ilustra o caso em que X < R ( = 26,57o) e  = 87o ( > ).

Fig. 34 – Assimetria “negativa”, para: X < R ( = 26,57o) e  = 87o ( > ).


58
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Verifica-se, nesta figura, que a assimetria é negativa, pois o ponto de


ocorrência do curto-circuito é tal que o ângulo  é maior que o ângulo .
Isto é, a corrente resulta atrasada de um ângulo muito grande, inicialmente,
e tem de ser como que adiantada para que seu ângulo de defasamento
correto () se estabeleça.

Fig. 35 ilustra o caso em que X < R ( = 26,57o) e  = 0o ( < ).

Fig. 35 – Fator de assimetria unitário para: X < R ( = 26,57o) e  = 0o ( < ).

Verifica-se, nesta figura, que a assimetria é praticamente nula e o Fator de


Assimetria resulta, praticamente, unitário, apesar de o instante de
ocorrência do curto-circuito ter-se dado na pior situação, isto é: no instante
inicial da tensão senoidal da fonte (que é a situação que define o Fator de
Assimetria).

Verifica-se, finalmente, que até o valor X/R = 1 (ou X = R), o fator de


assimetria é praticamente unitário, passando a crescer, como será mostrado
à frente, para valores de relação X/R crescentes a partir da unidade.
59
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3.2. Assimetria para X > R

A Fig. 36 ilustra o caso em que X/R = 4 ( = 75,96o) e  = 0O ( < ).

Fig. 36 – Fator de assimetria maior que a unidade para: X/R = 4 ( = 75,96o) e  = 0O ( < ).

Verifica-se, nesta figura, que o curto-circuito, em função de o instante de


tempo ocorrer antes do correspondente ângulo , isto é, na pior situação (
= 0o), desenvolve-se segundo uma envoltória exponencial para os seus
picos. O Fator de Assimetria é definido, pela IEC (International
Electrotechnical Commission) para o instante correspondente a meio ciclo
da rede: o primeiro pico da onda de corrente. O FA é, claramente, maior que
um nesta situação ilustrada pela Fig. 36.

3.3. Fator de Assimetria – gráficos em função de X/R e R/X

A determinação do Fator de Assimetria pode ser feita a partir de gráficos


que o relacionem com os valores de X/R ou R/X.

Todos os gráficos a seguir foram gerados a partir da expressão obtida da


Norma IEC 60909-0, Eq. 55, p. 101:

𝐹𝐴 = 1,02 + 0,98. 𝑒 −3.𝑅/𝑋


60
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A Fig. 37 mostra um gráfico FA versus R/X.

Fig. 37 – Fator de assimetria, em função de R/X.

Um gráfico equivalente, mas em escala logarítmica, pode ser visto na Fig.


38.

Fig. 38 – Fator de assimetria, em função de R/X, mas com escala logarítmica.

A Fig. 39 mostra um gráfico FA versus X/R.


61
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Fig. 39 – Fator de assimetria em função de X/R.

Um gráfico equivalente, mas em escala logarítmica, pode ser visto na Fig.


40.

Fig. 40 – Fator de assimetria, em função de X/R, mas com escala logarítmica.


62
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3.4. Conclusão

O Fator de Assimetria, de fato, depende essencialmente da relação X/R.


Quanto maior este valor, maior será o FA. No entanto, a assimetria somente
surgirá para a situação em que o momento do curto aconteça para um
ângulo alfa menor do que o ângulo .

O componente DC aparecerá em função do ponto em que ocorre o curto-


circuito em relação à tensão da fonte. Quanto menor for o ângulo alfa em
relação ao ângulo i, maior será o componente DC da corrente de curto-
circuito.

A maior assimetria ocorre para a pior situação de componente DC, Isto é,


quando a relação X/R for a máxima ( máximo) e o alfa for o mínimo (α = 0o).

OBS.: O Fator de Assimetria (FA) depende da relação X/R e é definido para α


= 0o (pior situação de curto-circuito. Já a Assimetria é dependente tanto da
relação X/R quanto do instante do curto (relação entre os ângulos  e α)..

4. CORRENTES DE CURTO-CIRCUITO TRIFÁSICO NAS


TRÊS FASES

Para ilustrar as formas de onda das correntes nas três fases de um curto-circuito
trifásico são mostradas as duas figuras a seguir.
63
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Fig. 41 – Correntes de um curto-circuito trifásico, para: X/R = 8 ( = 82,87o) e  = 0o.

Fig. 42 – Correntes de um curto-circuito trifásico, para: X/R = 8 ( = 82,87o) e ( = ).

5. CORRENTES DE CURTO-CIRCUITO BIFÁSICO

A figura a seguir ilustra as formas de onda de correntes de um curto-circuito


bifásico.
64
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Fig. 43 – Correntes de um curto-circuito bifásico para: X/R = 8 ( = 82,87o e  = 0o ( < ))

Verifica-se que as correntes são iguais e opostas.


65
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

CAPÍTULO 5 – COMPONENTES SIMÉTRICOS

Este tema, componentes simétricos, derivado do Teorema de Fortescue, é um


assunto muito importante na proteção de sistemas elétricos, na medida que
fornece a ferramenta básica para o cálculo de curtos-circuitos desequilibrados,
isto é: os curtos-circuitos bifásicos, bifásicos para terra e monofásicos (ou
monopolares) para terra.

O cálculo do curto-circuito trifásico, equilibrado, é facilmente feito a partir da


simples aplicação da Lei de Ohm. Conhecendo-se a tensão nominal de um
circuito trifásico e sua impedância de curto-circuito equivalente, basta dividir a
tensão pela impedância, obtendo-se a desejada corrente de um curto-circuito
trifásico.

A utilização dos chamados circuitos monofásicos de impedância, equivalentes


aos circuitos trifásicos equilibrados, não permite que se calcule a corrente de um
curto-circuito monopolar, por exemplo. Pois esses circuitos de impedância,
normalmente montados em valore por unidade (pu), só são válidos para situação
de cargas (ou curtos) equilibrados.

1. TEOREMA DE FORTESCUE

O Teorema de Fortescue, desenvolvido pelo engenheiro eletricista Charles


Legeyt Fortescue (Fig. 44), em 1918, é a base da teoria dos componentes
simétricos. O Teorema afirma que qualquer conjunto de N fasores (vetores
girantes) de um sistema polifásico desequilibrado pode ser expresso pela soma
de três conjuntos de N fasores equilibrados, denominados, respectivamente,
componentes simétricos: de sequências positiva, negativa e zero.
66
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No caso de um sistema de potência trifásico desequilibrado, de 60 Hz ou 50Hz,


de tensões ou correntes, esses fasores podem ser transformados em três
conjuntos de três fasores equilibrados de sequências positiva (girando em igual
sentido ao dos fasores originais), negativa (sentido contrário) e zero (girando em
fase). Observar, para estes últimos fasores de sequência zero, que não são
fasores de frequência nula, mas fasores que não estão defasados entre si, como
os demais, mas têm todos o mesmo ângulo de fase.

Engenheiro eletricista (1876 – 1936), escreveu


artigo técnico em 1918, intitulado: Método das
coordenadas (componentes) simétricas aplicadas
à solução de redes polifásicas.

Fig. 44 – Charles Legeyt Fortescue: criador do sistema de componentes simétricos.

3 Fasores 3 Componentes
Desequilibrados Simétricos
Matriz de 
Transformação Vc1 Va1
VC (+)
 VA Vb1
Vb2 Va0
Vb0 (0)
(-)
Vc0
Va2
VB Vc2

Componentes simétricos de sequência positiva (+), negativa (-) e zero (0).

Fig. 45 – Transformação de componentes simétricos.

A Fig. 45 ilustra o que pode ser entendido como uma “transformação de


componentes simétricos”: de um domínio de fasores trifásicos desequilibrados
67
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(mundo real) para um domínio de três conjuntos de fasores trifásicos


equilibrados, de sequências positiva, negativa e zero (mundo fictício).

A transformação entre os dois domínios pode ser apresentada por meio da


relação matricial entre os fasores originais (desequilibrados) e os fasores
equilibrados de componentes simétricos. Supondo fasores de tensão (vale para
correntes, também), tem-se:
𝑉𝑎0 𝑉𝐴 𝑉𝑎0 1 1 1 1 𝑉𝐴
𝑉 𝑉
[ 𝑎1 ] = 𝑀𝑠 . [ 𝐵 ] => 𝑉
[ 𝑎1 ] = . [1 2 ] . [𝑉 ]
𝑎 𝑎 𝐵
3
𝑉𝑎2 𝑉𝐶 𝑉𝑎2 1 𝑎2 𝑎 𝑉𝐶

Esta relação matricial permite que sejam identificados (ou calculados) os fasores
componentes simétricos das sequências positiva, negativa e zero. Esta matriz,
MS, deve ser interpretada como a matriz que transforma (gera, cria) os
componentes simétricos a partir dos fasores originais desequilibrados. Portanto,
Ms, neste livro, denota a Matriz de Transformação de Componentes Simétricos.
Sendo conhecidos os componentes simétricos, uma transformação inversa –
utilizando a inversa da matriz de transformação Ms – permitirá calcular os
fasores desequilibrados:
𝑉𝐴 1 1 1 𝑉𝑎0
[𝑉𝐵 ] = [1 𝑎2 𝑎 ] . [ 𝑉𝑎1 ]
𝑉𝐶 2 𝑉𝑎2
1 𝑎 𝑎

Observação: A literatura relativa aos componentes simétricos denomina essas


duas matrizes de forma contrária ao que está apresentado. A matriz de
transformação inversa acima é identificada como sendo a matriz de
transformação (chamada T); e a matriz Ms, acima, é denominada de matriz de
transformação inversa. Este autor entende que a melhor designação é a adotada
acima porque, conforme a Fig. 45, os componentes simétricos são gerados pela
aplicação da matriz Ms sobre os fasores originais desequilibrados. Portanto, esta
é a matriz que os transforma em componentes simétricos, ou, que os transporta
para o domínio dos seus componentes simétricos.
1 1 1
1
Em resumo: 𝑀𝑠 = 3 . [1 𝑎 𝑎2 ] => Matriz de Transformação de comp.
1 𝑎2 𝑎
simétricos;
68
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1 1 1
𝑀𝑠−1 = [1 𝑎2 𝑎] => Matriz de transformação inversa.
1 𝑎 𝑎2

O operador “a”, nessas matrizes, vale: 𝑎 = 1 < 120𝑜 .

1.1. Características dos componentes de sequência negativa

Os componentes de sequência negativa (seq. CBA, se a sequência positiva


for ABC), só existirão se os fasores originais forem, de fato, desequilibrados.
Entenda-se que, se tais fasores forem equilibrados, como numa situação
normal de carga equilibrada trifásica, ou, até mesmo, de um curto-circuito
trifásico (as três fases unidas, sob falta direta), só existirão, no domínio dos
componentes simétricos, os de sequência positiva. A existência de
componentes de sequência negativa são, portanto, uma evidência de
desequilíbrio nas fases do sistema trifásico. Daqui fala-se em relés de
sequência (negativa), para indicar relés de desequilíbrio de correntes ou de
tensões num sistema elétrico.

1.2. Características dos componentes de sequência zero

Os componentes de sequência zero são fasores de frequência industrial,


como os originais, girando no mesmo sentido dos fasores de sequência
positiva, mas com defasamento nulo entre si (ou com ângulos de fase iguais).
Sua existência está, necessariamente, associada à ligação à terra, direta ou
por meio de impedância, de neutros do sistema elétrico.

Como são vetores que estão em fase, entre si, no circuito elétrico trifásico,
somam-se no neutro de um sistema em estrela com neutro aterrado. Neste
sentido, assemelham-se aos componentes de terceira harmônica e seus
múltiplos ímpares que circulem nas três fases de um sistema elétrico com
correntes distorcidas: esses harmônicos somam-se no neutro aterrado do
sistema elétrico.
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2. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA GERADOR


DESEQUILIBRADO
Para o bom entendimento dos circuitos monofásicos equivalentes às três
sequências (circuitos de sequência), tratados à frente, é interessante que se
faça a análise do caso de um gerador elétrico desequilibrado. Embora, na
prática tal gerador não exista, por não fazer sentido, a análise de tal caso é
bem didática para a introdução dos circuitos de sequência. Parte-se do
pressuposto de que, existindo tensões de sequências positiva, negativa e
zero, existirão as correspondentes correntes e impedâncias de sequência.
Supondo-se a existência de um gerador desequilibrado que gere as tensões
de fase desequilibradas da Fig. 45, reproduzida na Fig. 46, podem ser
identificados os três circuitos trifásicos de sequência da
Fig. 47.

3 Fasores 3 Componentes
Desequilibrados Simétricos
Matriz de 
Transformação Vc1 Va1
VC (+)
 VA Vb1
Vb2 Va0
Vb0 ( 0)
(-)
Vc0
Va2
VB Vc2

Componentes simétricos de sequência positiva (+), negativa (-) e zero (0).

Fig. 46 – Tensões de um gerador desequilibrado e seus componentes de sequência.


70
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Z1 I1 Vc1
Z1 I1  𝑉1
V1 Va1 𝑍1 =
I1 𝐼1
Z1
(+) Vb1
Z2 I2 Vb2

Z2 I2 𝑉2
V2 𝑍2 =
Va2 𝐼2
Z2 I2
(-) Vc2

Z0 Io
Va0
I0 𝑉0
Z0 Vb0 𝑍0 =
V0 𝐼0
Z0 Io Vc0
3.Io
(0)

Fig. 47 – Circuitos trifásicos equilibrados de sequências positiva, negativa e zero do gerador desequilibrado sob
estudo.

Verifica-se, na Fig. 47, que o gerador com tensões desequilibradas é


representado por três geradores equilibrados de sequências positiva,
negativa e zero. As impedâncias se relacionam conforme a Lei de Ohm,
conforme se vê na figura.

Esses três circuitos trifásicos de sequência, equilibrados, podem ser


representados por seus circuitos monofásicos equivalentes, ou,
simplesmente, seus circuitos de sequência, conforme a Fig. 48.
71
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Z1

I1
V1 (+)

N
Z2

I2
V2 (-)

N
Z0

I0
V0 (0)

Fig. 48 – Circuitos monofásicos de sequências positiva, negativa e zero do gerador desequilibrado.

Verifica-se, nesta figura, que cada fonte de sequência pode gerar sua
corrente de sequência através de sua impedância de sequência. Se o gerador
não tiver o neutro aterrado, não existirá o seu circuito de sequência zero. E
se o gerador fosse equilibrado, não existiria, também, a tensão de sequência
negativa, que só existe para circuitos originais desequilibrados. Isto é, a fonte
de tensão negativa no circuito de sequência negativa seria substituída por
um curto-circuito (= fonte de tensão nula).

3. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA GERADOR


EQUILIBRADO

Para o caso, mais real, de um gerador produzindo tensões simétricas, ou


equilibradas, as tensões de sequência negativa e zero serão substituídas por
tensões nulas, isto é, curtos-circuitos. A Fig. 49 ilustra os novos circuitos de
sequência para um gerador equilibrado.
72
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Z1

I1
V1 (+)

Z2

I2
(-)

Z0

I0
(0)

Fig. 49 – Circuitos de sequência para um gerador equilibrado.

Esses três circuitos de sequência formam a base para cálculos de curtos-circuitos


desequilibrados em sistemas elétricos de potência. As impedâncias positiva,
negativa e zero da Fig. 49 serão substituídas pelas impedâncias de sequência
totais do circuito trifásico em consideração:

4. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA UM


SISTEMA ELÉTRICO

Para os cálculos de curto-circuito desequilibrado em um sistema elétrico simples,


constituído, por exemplo, por gerador, transformador e linha de transmissão, a
impedância de sequência positiva da Fig. 49, será, portanto, a soma das
impedâncias de sequência positiva do gerador, do transformador e da linha de
transmissão, até o ponto da falta. O mesmo acontece para a impedância de
sequência negativa. Para a impedância de sequência zero, o caso é diferente,
pois, como será visto, o circuito de sequência zero total dependerá do tipo do
transformador e de sua ligação (delta, estrela ou zigue-zague).
73
Proteção de sistemas elétricos de potência – Prof. Wilson Aragão Filho – 1.ed. 2014

A Fig. 50 exemplifica a aplicação do Teorema dos componentes simétricos a um


sistema elétrico de potência que será estudado para cálculos de curto-circuito
desequilibrado.

A B C

Falta
Ger. Transf. LT

Z1G Z1T Z1L

I1
V1 (+)

Z2G Z2T Z2L

I2
(-)

Z0G Z0T Z0L

I0
(0)

Fig. 50 – Circuitos de sequência para um pequeno sistema elétrico de potência.

Se o sistema da Fig. 50 for radial, isto é, fluxo de potência do gerador para a carga
( A  C), em caso de falta no ponto C as impedâncias de sequência seriam todas
somadas para dar uma equivalente. Por exemplo: Z1 = Z1G + Z1T + Z1L. Se a falta
ocorrer na barra B, as impedâncias de sequência da LT (linha de transmissão)
serão desconsideradas, pois a corrente de curto-circuito não passará pela LT. E
os circuitos de sequência serão formados apenas pelas impedâncias de
sequência até a barra B.
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5. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA PARA CURTOS-


CIRCUITOS

Para os curtos-circuitos trifásicos (não envolvendo a terra) os circuitos de


sequência não são, estritamente, necessários, pois tais curtos são equilibrados,
podendo ser calculados diretamente dos diagramas monofásicos de impedância,
em pu, equivalentes dos circuitos trifásicos. Mas, pelo uso do circuito de
sequência positiva (o único necessário para circuitos originais equilibrados)
também é possível o cálculo do curto-circuito trifásico.

Para cálculos de curtos-circuitos desequilibrados, como os bifásicos, os bifásicos


para a terra e os monofásicos para a terra, os circuitos de sequência devem ser
obrigatoriamente formados. A seguir, a aplicação dos circuitos de sequência para
os cálculos de curtos-circuitos.

5.1. Curto-circuito trifásico (equilibrado)

Por meio do circuito monofásico equivalente de sequência positiva o curto-


circuito trifásico pode ser facilmente calculado. A Fig. 51 ilustra tal circuito
para um sistema de potência com valores conhecidos de impedância de
sequência positiva, que equivalem às impedâncias usuais dos equipamentos,
dadas, normalmente, em percentual ou em pu: impedância síncrona do
gerador; impedância percentual do transformador, etc. Nesta figura, supõe-
se que o curto-circuito esteja ocorrendo no final da linha de transmissão.
Portanto, a impedância total inclui as três impedâncias: do gerador, do
transformador e da linha.
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Z1G Z1T Z1L

I1
V (+)

Fig. 51 – Circuito monofásico equivalente de impedâncias da sequência positiva.

A corrente de curto-circuito trifásico pode ser calculada, portanto, a partir


da expressão:
1,0
𝐼𝑐𝑐3∅ = 𝐼1 =
𝑍1𝐺 + 𝑍1𝑇 + 𝑍1𝐿

Onde V, na fig 8, foi substituída por 1,0 pu e a corrente de sequência positiva


é igualada à corrente de curto-circuito trifásico. Isto pode ser facilmente
verificado pela aplicação da relação entre as correntes originais, de fase, e
os componentes simétricos, que envolve a matriz Ms-1.

5.2. Curto-circuito bifásico (desequilibrado)

Para o cálculo do curto-circuito bifásico, que é desequilibrado, já que uma


corrente fica normal, utilizam-se os circuitos de sequência positiva e negativa
ligados em paralelo. Isto vem da análise da relação de transformação de
componentes simétricos e do fato de que a componente de sequência zero
não existe, porque o curto não envolve a terra.

A Fig. 52 ilustra os circuitos de sequência para o cálculo desejado.


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Z1G Z1T Z1L

I1
V (+)

Z2G Z2T Z2L

I2
(-)

Fig. 52 – Circuitos de sequência positiva e negativa em paralelo para o cálculo de curto-circuito bifásico.

As correntes de sequência de curto-circuito bifásico podem ser calculadas,


portanto, a partir do circuito da Fig. 52, pela expressão:

1,0
𝐼1 = −𝐼2 =
𝑍1 + 𝑍2
Onde Z1 e Z2 são as impedâncias totais positiva e negativa, respectivamente.

De posse dessas correntes de sequência, aplica-se a relação de


transformação inversa para o cálculo da corrente no sistema trifásico, o que
dá:
𝐼𝑐𝑐2∅ = 𝑎2 . 𝐼1 + 𝑎. 𝐼2

Esta é a corrente de curto-circuito bifásico atravessando, portanto, as duas


fases em curto no sistema trifásico.

5.3. Curto-circuito monofásico (ou monopolar,


desequilibrado)

No caso de um curto-circuito monopolar, de uma fase para a terra, a partir


da análise da relação matricial de transformação de componentes
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simétricos, conclui-se que os circuitos monofásicos de impedâncias de


sequência devem ser ligados em série. A Fig. 53 ilustra esta ligação.

Z1G Z1T Z1L

I1
V (+)

Z2G Z2T Z2L

(-) I2
I0
Z0G Z0T Z0L

I0
(0)

Fig. 53 – Circuitos de sequência ligados em série para o cálculo de curto-circuito monopolar.

A ligação em série exige que as três correntes de sequência sejam iguais. E a


expressão que calcula o valor do componente de sequência zero é:

1,0
𝐼0 =
𝑍1 + 𝑍2 + 𝑍0

Onde V foi substituído por 1,0 pu e Z1, Z2, e Z0 correspondem aos valores
totais das impedâncias de sequência positiva, negativa e zero,
respectivamente.

Finalmente, a corrente de curto-circuito monopolar, no sistema trifásico


real, pode ser encontrada a partir das relações de transformação já vistas
acima. Supondo que o curto-circuito monopolar afete a fase A, tem-se:

𝐼𝑐𝑐1∅ = 𝑖𝑐𝑐𝐹𝑇 = 𝐼0 + 𝐼1 + 𝐼2 = 3. 𝐼0
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Observação 1: Se houver uma impedância de aterramento (Zat) no neutro do


gerador, este valor entrará no circuito de sequência zero ligado entre o terra
e o neutro (N) e será multiplicado por três (3). Isto se dá porque no circuito
trifásico de sequência zero, equilibrado, são três correntes de sequência zero
que atravessam a terra e, portanto, a impedância de aterramento. No
circuito equivalente monofásico de impedâncias de sequência, para a
equivalência acontecer, a impedância Zat deverá ser multiplicada por três
porque a corrente é apenas uma e a queda de tensão deve ser: Zat.3.I0.

Observação 2: Se houver uma impedância de aterramento (Zat) no neutro do


transformador (estrela aterrado por meio de impedância) no secundário ou
no primário, este valor deverá ser introduzido, no circuito de sequência zero,
em série com a impedância de sequência zero do transformador, também
multiplicada por três (3), pelas mesmas razões dadas acima, para o gerador.

6. CIRCUITOS DE SEQUÊNCIA ZERO PARA


TRANSFORMADORES

Os transformadores, em função da variedade de ligações (delta, estrela e


ziguezague) afetando o primário e o secundário, devem ser estudados de
forma particular e cuidadosa. O resultado de tal estudo conduz ao seguinte
circuito monofásico equivalente (Fig. 54) para a sequência zero de um
transformador de núcleo envolvente (ou banco trifásico de
transformadores).

(Fecha) Z0 (Fecha)

(Fecha) (Fecha)
(0)

(Primário) (Secundário)

Fig. 54 – Circuito monofásico equivalente para a sequência zero de um transformador de núcleo envolvente.
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A interpretação desta figura é a seguinte: somente se o primário ou o


secundário estiver ligado em delta, a chave em derivação (para terra) será
fechada; somente se o primário ou o secundário estiver em estrela aterrada,
a chave série será fechada. A elaboração correta do circuito monofásico
equivalente de impedâncias de sequência é fundamental para os cálculos de
curtos-circuitos desequilibrados.

No caso da existência de impedância de aterramento no neutro do


transformador, esta será ligada, conforme explicado na Observação 2, acima,
em série com a impedância Z0 do transformador, no lado correspondente
(primário ou secundário).
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PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS DE POTÊNCIA

CAPÍTULO 6 – QUESTÕES PROPOSTAS

1. SOBRE O CAPÍTULO 1
1.1) Como pode ser definido um sistema de proteção aplicável ao sistema
elétrico de potência (SEP)?

1.2) Que mecanismos ou dispositivos são, normalmente, aplicáveis ao SEP para


prover a devida proteção do sistema elétrico contra as previsíveis
anormalidades?
81
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1.3) Quais são os três elementos básicos presentes no conceito relativo ao termo
proteção (aplicado ao SEP)?

1.4) O que são sobrecorrentes? Como estas podem ser desmembradas?

1.5) Um curto-circuito é uma falha no sistema elétrico? Ou provoca uma falha


no sistema? Esclarecer a diferença.
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1.6) Qual é o tipo de curto-circuito mais comum num SEP?

1.7) Qual é a diferença entre corrente de não atuação e corrente de atuação


associadas às curvas típicas de resposta de um DTM do tipo de caixa
moldada?
83
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2. SOBRE O CAPÍTULO 2
2.1) Um sistema de proteção aplicado a um SEP deve apresentar dois requisitos
básicos, dentre outros, também, desejáveis. Quais são esses dois
requisitos? Explicar, brevemente, o que se entende por cada um deles.

2.2) Existe uma interpretação dual ligando as atuações do DTM e do DPS.


Explicar tal dualidade de funcionamento.

2.3) Explique a diferença entre os termos da língua inglesa aplicados à atuação


de um disjuntor: opening e clearing. Apresente a tradução desses termos e
seu significado.
84
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2.4) Que tipo de cuidado deve existir em um esquema de proteção de um SEP


para prevenir a falha de um disjuntor que deveria abrir diante de um curto-
circuito e o não o faz, ou demora mais do que deveria para atuar?

2.5) Quais são as duas curvas básicas de temporização de um dispositivo de


proteção diante de sobrecorrentes? Explicar o comportamento do
dispositivo frente a duas correntes diferentes, para os dois casos de
temporização.

2.6) Dado um valor de tempo máximo de eliminação de um curto-circuito,


desenvolva uma expressão que permita calcular o valor máximo desse
curto que o TC deve suportar nesse tempo máximo, conhecido o valor do
seu LT ou corrente térmica nominal.
85
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2.7) Faça o desenho de uma curva que esclareça a relação entre as correntes
primária e secundária de um TC e seu erro (ou sua classe de exatidão).

2.8) Qual é a máxima corrente primária de um TC que apresente FT igual a 1,5


e cuja corrente nominal seja 250 A?

2.9) Qual é o valor máximo da impedância que pode ser ligada aos terminais
do secundário de um TC tipo 10H400?
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2.10) Calcular a RTP de um TP eletromagnético, do Grupo 2, que deva ser


instalado em uma LT de 138 kV, em um sistema elétrico supostamente bem
aterrado. Calcular a tensão máxima que surgirá no secundário para que o
TP ainda mantenha sua classe de exatidão.

2.11) Calcular o erro, em volts, do TP acima e verificar se corresponde a 1,2%,


sua classe de exatidão.

2.12) Desenhar a curva de saturação do TP e identificar a situação de erro


máximo (1,2%).
87
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2.13) O que é o burden de um TC? E o que isto significa, em termos de cuidados


com a operação do TC?

2.14) Desenvolva uma expressão que estabeleça a relação entre uma designação
ANSI e uma correspondente ABNT para um TC.

2.15) “Um TC deve ter uma impedância mínima a ser ligada no seu secundário,
enquanto um TP deve ter um valor de impedância máxima.” Esclarecer se
esta afirmação é verdadeira ou falsa; e explicar o significado da afirmação
verdadeira.
88
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2.16) Se um TC é designado por 5BF20C100, pela ABNT, qual é a


correspondente designação, para esse mesmo TC, dada pela ANSI?
Justificar.

2.17) Uma instalação industrial de grande porte tem um TC de proteção instalado


em sua SE geral. Se a demanda máxima da instalação é de 10 MVA, sob
tensão de 13,8 kV, e sua corrente de curto-circuito assimétrica (inicial)
máxima presumida é de 11 kA, pede-se:
Calcular e especificar a relação de transformação (RTC) nominal do TC,
sabendo-se que alguns valores normalizados de corrente primária são: 250,
300, 400, 500, 600, 800 e 1000A.
89
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2.18) Qual é o erro característico de um TC e que está associado à sua classe de


exatidão? Fazer o circuito equivalente monofásico, básico, e explicar o
significado desse erro.
90
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3. SOBRE O CAPÍTULO 3

3.1) Como pode ser definido, de forma bem genérica, um relé? E como se
classificam, quanto à sua forma construtiva?

3.2) O que é um relé primário? E um secundário? Tente dar exemplos ou fazer


algum esquema ilustrativo.
91
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3.3) O que significa "Tap" de um relé? Faça um esquema elétrico que ajude a
esclarecer este conceito. A que correspondem os diferentes produtos N.I
correspondentes aos vários Taps?

3.4) Calcular a impedância do Tap (ZTap) correspondente à corrente do Tap (ITap)


de 2,5 A de um relé de sobrecorrente eletromecânico, sabendo-se que a
corrente de Tap mínima vale 0,75 A e sua impedância correspondente vale
4 .
92
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3.5) Calcular a menor corrente secundária que aciona (atua, opera, ou “tripa”),
efetivamente, um relé de sobrecorrente que monitora uma corrente
primária nominal de carga de 100 A, com fator de sobrecarga normal de
20%, alimentado por um TC de relação 200/5.

3.6) Calcular a corrente (secundária) de ajuste (ou I de Tap, ou o Tap) do relé


ICM2, da Brown Boveri, que deva atuar (operar) a partir de uma corrente
de sobrecarga de 30% de um circuito cuja corrente nominal seja 50 A.
Determinar, ainda, a curva de temporização do relé (TMS, em %) para que
atue num tempo máximo de 5 segundos. Seu TC tem RTC igual a 400/5.
93
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3.7) Calcular a corrente de ajuste do exercício 3, em por unidade, considerando-


se 5 A como a corrente base no circuito do relé.

3.8) Qual seria a corrente de ajuste de resposta instantânea (unidade 50) do relé
do exercício 3, supondo que apresente os dois ajustes possíveis
(temporizado e instantâneo), em termos de múltiplo (M) do relé? A
corrente de curto-circuito mínima é conhecida e vale 700 A.
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3.9) Desenhe e explique cada componente do esquema básico de um relé de


sobrecorrente.

3.10) Calcule o tempo de resposta de um relé de indução ICM2 da Brown


Boveri, com curva de tempo inverso selecionada em 70%, para uma
corrente de sobrecarga profunda igual a 5 vezes o Tap do relé e de duração
de 2 segundos. Calcular o valor deste Tap que é escolhido em função de
uma corrente de sobrecarga normal de 40% acima da nominal (100A) do
circuito. RTC igual a 50.
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3.11) Calcular a máxima corrente de ajuste temporizado de um relé de


sobrecorrente ICM2 da Brown Boveri (51), aplicado em uma LT, para uma
corrente de curto-circuito mínima igual a 450 A. Cite, ainda, dois valores
de sobrecarga profunda que estejam protegidos pelo relé.

3.12) Sabendo-se que a corrente de ajuste temporizado de um relé digital,


aplicado em uma LT, é de 3 A (secundário do TC), determinar o valor da
corrente de ajuste instantâneo (Iaji), no primário do TC, sabendo-se que o
múltiplo dessa corrente de curto-circuito é 10 e o RTC vale 100.
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3.13) Conhecendo-se o valor de uma corrente de curto-circuito bifásico, 5 kA,


de uma LT monitorada por um relé digital com tempo de atuação (trip)
selecionado para operar na curva de IEEE muito inversa, com TMS de
20%, com corrente de ajuste de 4 A e com RTC de 400/5, pede-se calcular
o tempo de atuação do relé.

3.14) Quais são as duas curvas básicas de temporização de um dispositivo de


proteção diante de sobrecorrentes? Explicar o comportamento do
dispositivo frente a duas correntes diferentes, para os dois casos de
temporização.
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3.15) Considere-se um relé digital industrial tipo 50/51, de tempo inverso, que
deve ser ajustado para os seguintes dados: IN = 50A, ISC = 1,25.IN
(corrente de sobrecarga), RTC = 80 e Iccmín = 300 A. Pede-se:
a) A corrente de ajuste temporizado (Iajt), em A, no secundário do TC
(ou o Tap em A do relé), supondo ajustes contínuos para os Taps.
b) O valor do múltiplo (M) do ajuste de corrente da unidade
instantânea (Iaji) e o esquema da curva do relé com os ajustes feitos.

3.16) Desenhe o esquema funcional em corrente contínua de um relé de


sobrecorrente trifásico, monitorando o disjuntor de um alimentador
trifásico. Explique o significado (a função) de cada elemento e explique a
operação diante de uma corrente de curto-circuito.
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3.17) Apresente a expressão matemática que relaciona a Iajt, a corrente nominal


secundária (INs) e o fator de sobrecarga (fsc) para relés eletromecânicos de
aplicação industrial. E explique em que situação de sobrecarga a corrente
de ajuste temporizado resultará maior que a nominal.

3.18) Calcular a menor corrente secundária que aciona (atua, opera, ou


“tripa”), efetivamente, um relé de sobrecorrente de tempo inverso que
monitora uma corrente primária nominal de carga de 100 A, com fator de
sobrecarga máxima de 20%, alimentado por um TC de relação 200/5.
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3.19) a) Identifique o TMS e o tempo de resposta de um relé de indução ICM2


da Brown Boveri, aplicado a uma LT, para uma corrente de sobrecarga
profunda igual a 7 vezes o Tap do relé e que não deva ultrapassar o tempo
máximo de 3 segundos. b) Calcular o valor deste Tap (supondo Taps iguais
a 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 4,0 e 5,0 A) que é escolhido em função de uma
corrente de sobrecarga máxima de 30% acima da nominal (100A) do
circuito. RTC igual a 50. Justificar a escolha do Tap.

3.20) Supondo-se que o Tap de 3,0 A do relé eletromecânico da questão 3.19)


apresente impedância igual a 2,0 ohms, qual será a impedância do Tap
mínimo?
100
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4. SOBRE O CAPÍTULO 4

4.1) Qual é a pior situação para a ocorrência de um curto-circuito qualquer


(monofásico ou trifásico), em termos do seu instante inicial? Por quê?

4.2) Por que o valor inicial do componente de corrente contínua é igual ao


valor inicial do componente de regime permanente de uma corrente de
curto-circuito?
101
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4.3) Quais são duas condições diferentes em que a corrente de curto-circuito


resulte somente constituída (praticamente) pelo seu componente de
regime permanente?

4.4) Justifique, graficamente, por que a corrente de curto-circuito da Fig. 26


está ocorrendo no instante inicial da senoide de tensão da rede.
102
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4.5) Estabeleça a diferença fundamental entre as correntes das Fig. 26 e Fig.


27.

4.6) Por que o comportamento de uma corrente de curto-circuito longe do


gerador não sofre da influência da variação da impedância do gerador
durante o curto-circuito?
103
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4.7) Quais são as influências da relação X/R do circuito equivalente


monofásico de um curto-circuito sobre a forma de onda da corrente de
curto-circuito resultante?
104
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5. SOBRE O CAPÍTULO 5

5.1) O que afirma o Teorema de Fortescue sobre um conjunto n-fásico de


fasores desequilibrados? Faça algum desenho/esquema para explicar.

5.2) Quais são as características particulares dos componentes de sequência


zero de um circuito elétrico de potência? Como se comparam esses
componentes com as correntes harmônicas de terceira ordem e suas
múltiplas de uma corrente distorcida de uma instalação elétrica?
105
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5.3) Dadas as seguintes tensões de fase desequilibradas pede-se calcular seus


componentes de sequência zero, positiva e negativa (Va0, Va1 e Va2). VA =
100 10° V, VB = 200 120° V e VC = 190 -100° V. Prove que VB =
Va0 + a2 Va1 + a Va2 .
106
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5.4) Considere uma parte de um sistema elétrico de potência constituído por: a)


um gerador síncrono de polos salientes, aterrado por meio de uma reatância
de 0,09 pu, com reatância subtransitória igual a 0,20 pu, reatância de
sequência negativa igual a 0,25 pu e reatância de sequência zero igual a
0,08 pu; b) um transformador elevador com reatância igual a 10% (x 0 = x1
= x2). Desenhe os circuitos monofásicos equivalentes (separados) de
sequência positiva, negativa e zero desse subsistema, para cálculos de
curto circuito nos terminais do transformador.
107
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5.5) Continuando o exercício anterior, pede-se desenhar os circuitos para os


cálculos dos seguintes curtos-circuitos: a) trifásico; b) bifásico; c) fase-
terra.
108
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

1. MAMEDE FILHO, J.; MAMEDE, D. R. Proteção de sistemas


elétricos de potência. 1.ed. Rio de Janeiro: LTC, 2011. 620p.

2. DIAS, M. P.; CÂNDIDO, J. R. R; ARAÚJO, C. A. S.; SOUZA, F.C.


de. Proteção de Sistemas Elétricos. 2.ed. [S.l.]: Interciência, 2005.

3. KINDERMANN, G. Proteção de Sistemas Elétricos de Potência.


Santa Catarina: Edição do autor, 2005.

4. ANTHONY, M. A. Electric Power System Protection and


Coordination: A Design Handbook for Overcurrent Protection.
[S.l]: Mcgraw-Hill, 1995.

5. THE NATIONAL ELECTRICAL CODE. 4. ed. - Massachusetts:


National Fire Protection, 1989.

6. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS.


Standard 141: Recommended Practice for Grounding of Industrial and
Commercial Power Systems. [S.l]: 2007.

7. INSTITUTE OF ELECTRICAL AND ELECTRONICS ENGINEERS.


Standard 142: Recommended Practice for Electric Power Distribution
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8. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR


6855: transformador de potencial indutivo. Rio de Janeiro, 1992.

9. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR


6856: transformador de corrente. Rio de Janeiro.
10. SKM Systems Analysis, Inc. Disponível em: <
http://www.skm.com>. Acesso em: 20 de outubro de 2014.

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