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varie LITERATURA F TEORIA LITERARIA Vol. 44 Ditepio; ‘Antonio Callado Antonio Candido ClP-Brasit. cy Sindicato Nacional [se26y Vale quanto pesa : culturais / Siviano Saniage © Terr, 1982, (Colsio Literatura © Tove tert; v4 4; Ensvoe braseiros 1. Titulo 11, série Is203e6 EDITORA PAZ E TERRA Conselho Editorial: Antonio Candido Celso Furtado Femando Gasperian Femando Henrique Cardoso atalogasSona-fomte toes de Livros, RJ, Santisgo, Siviano, {nssios sobre quests potitico| — Rio de Janeiro + Pal SILVIANO SANTIAGO VALE QUANTO PESA (Ensaios sobre questées politice-culturais) DD - 869.94 DU -869.0(81)4 ry PAZ E TERRA Copyright by Silviano Santiago Capa: Laura de Castro Revisio: Heitor Ferreira da Costa Heidi Strecker Gomes Regio O-3R2- 2 Data Regisiro 231651 su/oPr 9.232. 288-0 Di EDITORA PAZ E TERRA S/A ‘CEP 2010 — Fone (021) 2213806 io de unio, ay Rua Cariés, 128 Lapa — Sto Paulo, SP Tel. 265.9559 1982 Iimpresso no Brasil Printed in Brasil Para Sébato ¢ Edla, SUMARIO Fraga (como fazer?) snide n Apesar de dependents, univers 13 Vale quanto pesa 25 As inertezas do sim a Represio e censura no campo das artes na década de 70 47 Errata . 7 Arrumar a cats, arrumar 0 pals 6 (© teorema de Walnice ¢ 9 sus reiprocs 9 Lideranga e hierarguia em Alencar 3 Imagens do remediado 47 ‘A cor da pele... a 2 A literatura e as suas crises 121 Desvios da Fiegio 15 As ondas do cotiiano BL Frutes do erpapo 161 Uma ferroada no peito'3o pe 165 Paulista © mineirs 185 Entrevista 195 FACA (COMO FAZER?) SBQKTIBG! Gentido — no duplo said, Ainds no outto setida, acrescento: of tempos. Bicudos. ear na posigdo de smmida — obrigam ‘esperam que fiquemes. Paria madi salva salve! mais Soltem-me deixemme gritar Cemido (0s cinco) & 2 busca, convenhamos, para fata de soaide Ssemido € a posi, escubrames, para dar nemide 20 dito concedide, ‘em ter sido presiado 0 necessério mmtide, (36 faz sontida, ‘quando se preenche com outro seaide.) APESAR DE DEPENDENTE, UNIVERSAL Para a Heloise ie sono supe oem amen, do out, man dexter a gl oe est, Fs {loo A penom conto. des cme se dee ‘ave‘nu dndica ene o-nlo tt ©'0 ber eur Paulo Blo Sales Gomes (575) yas 4 verde, no ww dre og cao, & xa See ee roles ‘adluee no's poked se fo com fe nerpretrionacnnzaers veinalzaeen Jo demo. Tore Guiberne Mergular (80) [io & sempre que se modifica » concepelo googréfica que tromem tem do mundo, Mar em lugar de esse ampli do hoc ronte visual operer um desequllibrio positvo e fecundo nos ali ferces do homem e da sociedade que descobrem, serve ele antes pura que 0 desbravador reproduza — em out lugar — os con Mtoe © impasser politicosocins econdmicos da sua sociedade sob a forma bésica de ocupagio. Exemplo conereto: 0 Novo Mundo serviu de palco para onde deslocar 0 becosemsside das queras Santas que ee desentolavam na Europa. © conguistadorvitorioso ‘cabs por Inuojear na “desconhecida” América o dilema maior dos reise scditce curopeus, todor as voltas com « quebra da lunidade da Igreja e com as constantes gurras entre fags rll 1B owas distintas(casico,luteranos, calvinistas, ete). E dessa forma ‘Que 0 “desconhecido” se toma “sonhecido",estabelecendo © pe: rio cultural dn colonizagio. ‘Avcatequese de umm José de Anchiets, slém de preparar 0} indigena para a “conversio" ¢ a “salvagio" da sua alm, serve também para colocé-lo — sem que salba a 120, pois simplesmen- te a desconhece — entre portuguesese franceses, entre a Reforma ‘© Contre Reforma. Hla prepara e incta 0 indio a brigar por uma ‘questo (a unidade da Igreja e a constiigio do Estado forte ‘curopeu) que no é sua nem dot seus. Exigese dele que intojete uma situagio séciopoltica e econdmica que nfo é dele. Sintomd- ico desse estado de colsas ¢ 0 fervor 20 padrociro do Espirito Santo, S¥o Mauricio, que o texto de Anchieta quer inspirar junto ‘08 catecimenos, Fel @ um imperador pagio, Mauricio, enti sol- dado, € convocado para combater os cristlos& frente da sua lito tebena. No meio da bata, vira a casaca, © jd dsposto a nfo Imatar of eristos scabs por desobedecer 0 poder supremo do Jmperador,sendo por ele sscrifcado. O soldado Mauricio é rebelde ‘om relaso aos pagios seus irmlos; 0 convertido Mauricio & mér- tir dentro do processo da catequese eatlics; Sto Mauricio € pe- ne ‘isu vder em ping aes oh tne maps don hme tle eps ic Delt cm mine en psp hm‘ wie mons. "8 clas coe ies mad. h gr po sco ae do cio, a tibertade plena, advinds do 6 ARRUMAR A CASA, ARRUMAR O PAIS Govemos autoriros gostam de trancar a porta da frente ¢ arrumar a case. £ a mancia que encontram par disciplinedamente, ‘mostrar ervigo. A casa continua a mesma na cua esséncia, mas & sparéocia € outra. Deslocam méveis de um cOmodo para outro, levantam paredes para dividir quarts, pGem trancas nas janlas, ‘mandam pintar paredes e portas — slo tarefes que dio a impressio de que 0 dono esté ccupedo e atento aos problemas da cata, Mas tudo € uma questio de glamour © nfo de necessdade. Um olhar mais critic percebe que 0 movimento dos habitantes da casa con- tina 0 mesmo, No houve melhor de vida para cles. Apenas peg saram a funciongr movidos pela forga da limpeza e da discipline (© melhor meio que existe para quem gosta de arrumar um pals € 0 aperfeigoamento da mfguina burocrtica. Georges Bataille, no seu livro © Evotismo, nos lembea que alguns seres mindsculos do nosso planeta se reproduzem por cissiparidade. A prépria cétula te subdivide para dar lugar a um novo ter. A reprodugio dt mé (quina burecrtica se dé também por cisiparidade. Vaise subd vidindo, subdiviindo, até que se chega a novos seres, que se jun tum 0 complexo grupo de sees jd existentes, todos identicos na forma e na vida, A méguina burocrética, para se reproduzi,recha- 28 colaboragdo do outro. Rechaca a oposiclo como intruso e in rig. Por isso € que governos autoritrios gostam de arrumar um pais pela burocraca. Por dentro a burocracianio é uma méquine police ideol6gic, pois o seu fim € 0 interesse de nagao e 0 de {odos.Prestamos servigo — estamos aqui paraiso. Mas na prética tla funciona por cssparidade, reproduzindo indefinidamente 0 mesmo do poder. © governo peia méquina burocrética € o oposto do funcionamento pela democracia. ‘Toda a transa burorética se past nos limits dus células que | compéem. Levando um pouco mais adiante a nossa compars- ‘Ho, vemos que o autortarismo embota 0 deseo do outro, vivendo © 6 se tig rt tin some ct erie eel rene niger ce peepee tang iene See oe en im owns See oe eee tats ae oe ms is a ae eae cera Se nerd we tine mi ee a eae oe ences bates ee ee Seeioae nies cee ee Feckorg aet re tet Sat aan eeraeies See been eetigee eerie Soe ree esas reusdnnevnet ea Tae Rio a ey soc ma ve bat Do ae eons ots me acta torg Sa voter eae oe ee frre ae cee (Siero uro sobre ov constants “descuidos” do oil, di Son imat Soeee eee Seiasne renee pés. Respondew-me que nunca tinha usado sepato na vida, Custava pa ent mm oe en roam es nes San eas aera Se SE eee vee 66 ‘do. Papel para tudo ¢ todos. No entanto, a casa ests sendo arru- Inada apenas para os que tém certaesclardade e que podem saber ‘© porgu® do controle pelo documento pela escrite. Para o grande estate de populasio, a méquina buroeriica existe como 0 sapato tare aquele oficial. E 0 conforme, nlo a utilidade, Sequem o tr: rites burocrétios, mss nio chegam 2 compreender a razio pela qual 0s seguem. A méquina bur thea, quando se sabe da sua uilidade, E quando ela tem alguma, ‘A méquina burocritica pode proporcionar péssimas experitn- slat, A piot 6 quando temos de patsar por um funcionério do me- anim que nio sabe a razdo pela qual foi nomeado para ali esta. tal funcionério serve de verdadeira barren secventin da méquina. Perdese tempo quan cle nio sabe dar a Informagio, ou a dé errada, Perde-e 2 pacigncia e até 0 bom humor, quando ele simplesmente se fecha em copas: "Nio sei". Perdemse preciosos minutos quando se descobre que salu para 0 cafezinho (aig sera sconselhavel qus 0 famoso cafezinho circulas- te de novo nas repartigGes para evita o distante botequim da ex qin), Por mals azete que se ponha em tal “parauso”, funcionar melhor. Seu defeto é mais simples © m tncia, Para esta hé remo, mas no & azcite E preciso que haja uma exata compreensio da engrenagem em que se encontra meido. Talvez no momento em que o funcionéio sar da ignorincia administrativa para 0 conhecimento, a méquina jé ‘io posta ser como 6, Num sonho de Kafka, pode-se pensar que a ‘tual maquina burocrtica,requer funcionéros incompetentes para funciona segundo 0s designios do sistema [No Brasibabertura,parlelamente &s colunas sociais (que tive- ram o seu pique poliico no governo Costa ¢ Silva, remember Tbrahim Sued!), surgam colunas de verdaderos gossips burc- crfioinatitucionss. At mil ¢ uma artimanbas dos funcionéros (em gerl, graduados, claro) sio exposts em informes lacbnicos sugestivos.O grosso dos leitores, dvido de informacto, pode assim ‘aber 0 que se passa "Id dentro”, mas o sabe por mal tragadas ¢ bias linhas. Eis af 0 interese ¢ 0 fracasso dos informes neste perfodo de abertura. Por um lado, eles dio algumas dices, e € pre- ferivel algo 90 nada, mas por outro lado as informapSes nlp podem o rmerecet maior reflento, porque tomcs & migalhes e, muitas vezes, tmigalhas dadas por um 96 © interesado grupo. "Em outras pelavres: of informes politicos nfo merecem cre- Aivitdade, no sentido ico dn palavra. Com isto, fice-se sabendo de que algo de podre acontece no reino de Brasilia, mas nio sé fonseque detectar, com segurance, o problema ou a artimanhe em ‘questo, A méquina burocrtia trance a porta e pe cera nos ouvi- dor. Nao quer 8 yor que vem de fora Serk que "sociedade civil” (por sodiedade civil, entre nés, devemos entender todos os grupos com intereses empresarinis ou inattvlonais, com eompromisso econdmico indieto com a méqut ne burocrdtica),seré que esses grupos ficario ainda por muito tem o.com o direto de apenas ruminar boatos? Sem 0 dieito de opi far para valer? Quando a informasGo correta © digna seré pas tada para esses segmentos da populagio que so — no tenhamos ‘vida — os Unicos que podem eproveitar um pouco da “Iiberde- de" dada pela abertura? ‘© mais recente e instigante boato que cicula pelas colunas 4 informe fla de win novo naseimento por cssiparidade. Um minstrio que j6 foi da sae, preparae pare gerar por um novo fdeadobremento de cfula um outro: © da cultura, Para isso, estio Gtrumendo a cast primeiro. Deslocam méveis de um cfmodo para ‘outro, levantam paredes para dividir quarter, ele. Sabemos, por txemplo, que houve mudangas sintométicas no Patrimonio His6- foo ¢ Artistic soubemos delas depois de acontecidas, deve estar hhavendo transformases no Servigo Nacional de Teatro ¢ na Tele visbo Educative, Preparemse escritores: haverd certamente uma Yasseureda no Instituto Nacional do Livro. Preparemse artistas € Dequisedores: a Funare também esti na mire. ‘io boatos, poderio dizerme. E terei de calarme. Eis a nova ‘condigdo do debate cultual-insttucional entre nés. Qualquer dia estes, ao dobrar a eaquina do tempo, deparamos com o n0¥0 mk ristéio vestiinho de verde © marelo. Arrumaram a cass, arruma- ram 0 pals. 0 TEOREMA DE WALNICE E A SUA RECIPROCA Para Auiran e Licia Walnice Nogueits Galvio, em resenha do romance de Jorge Amado, Teresa Batiste cansada de guerra, publicada em 1973, € hoje no livro Saco de Gatos (Duas Cidades, 1976), levanta um instigantedilema para se pensar 2 relagdo entre esritor ¢ Estado no Brasil, entre a obra literdria e o public Ieltor. Tomando, como txemplo, 0 caso de Jotge Amado ¢ de Erico Verissimo, os inicos tsertores que entSo podiam falar — e falavam — contra a repre to e a censura artsica, pereebia Walnice que o comportamento ‘eontestatério deles era feclitado por serem escritores sem vinculo tmpregatcio com 0 Estado. Ao contrério da maioria dos nossos ‘earitores, todot funciondrios publics e, portanto, compelidos 20 tilcio conivente, Amado ¢ Verissimo puseram boca no trom. bone e por ito mereciam os elogios da atentaletora das entrevis- tas jomnalisticas © dos romances, ‘Com certs irnis, Walnice percebe na atuagSo deles um pri miro sintoma da contradigho que foi gerada no interior do sistema politico e autoritério vigente: “O regime militar ‘condmico de livreempresa; chegese, entretanto, fue as instituigses instaladas comesam a incomodar os benefice ‘doe pelo regime’. Amado e Verissimo eram os principals eseritoes ‘que se vallam dos Iueros proporcionados pelo sistema de livre-em- press e que, por iso, podiam rebelarse contra os métodos uilizados pelo Estado para se estabelecer o capitalismo entre nés. Amado © Verissimo, acrescentamos n6s hoje, prefiguravam a disidénciaexbo- ‘da pelos empresirios paulstas trs anos mais tarde, por ocsifo do cato Herzog. De repente, todos se sentiram envolvidos com 0 ‘que munca terlam querido esta ‘contra os feitceros, “Tanto Amado quanto Verissimo em 75, tanto estes escrito: © feitgo comegava a virarse o res quanto os empresirioe paulistas posteriormente, no se mani- festam em oposigio frontal a0 regime instituido em 64; tentam anes combater 0s métodos da sua implantagdo e conservasio, mé todos represtivos ¢ violentos, pouco condizentes com a “cordial dade" da nossa civilizario e que, por outro lado, atentam contra 08 direitos universais do Homem. A questio deles no finca pé num ‘questionamento radial das estruturas de poder vigentes, mas na possbilidade de dissidéncia liberal construtiva. Apostam’no aper feigoamento democritico de um regime a priori sutortério. Amado fe Verfssino prenunciam, em suma, os ventos amenos da abertura, preparando com o vigor da voz ¢ da opinido o campo para que stole do sistema te renove pelo movimento de didstole consecuti- vo, para fear com a jd cléssica férmula do general Golbery. ‘Comejava-se com Amado e Verfisimo a experincia do "rever- 0 da meditha”, de que sinda nio nos livramos até hoje e de que 0 recente episédio das bombas do Riocento seria 0 dltimo exem plo significative. A mé conscincia pablice e artstice “explode” fem movimento subseqiente ¢ antag6nico a0 das bombas. E haja protesto. E pode haver protesto piblico, porque ele ajuda as for: a8 progressistas do regime que se afirmam pela abertura No entanto, Walnice levanta, paralelamente a esta, outrainte- ressante decorténcia do fendmeno Amado ¢ Vertssimo: estaria a berdade de expressar opinito contra a censura relacionada com 0 ‘que 0 escrtorescreve enquanto romancsta? que diferencas ou se- ‘melhancas haveria entre & entrevista concedide a0 jornal em que ‘eritica 0s métodos do sistema e o romance publicado naquele mes- ‘mo ano? Responde Walnice: "Ser escrtor independente parece fmn- plicar, em certs situagdes histércss, uma relapio mais flexivel para com o Estado e mals dependente para com o mercado (...)" Gera-te uma equacio paradoxal, de que Walnice ae vale para a sua andlie do entéo recém-publicedo romance de Jorge Amado: ‘os escitores mais independentes do Estado num regime de livreem- prese nice, indicando 0 caminho de sua leitura de Teresa Batista: “Se 0 ecritor ¢ comandado pelo gosto do mereado, sua obra nfo pode {contra 0 gosto do mercado, nem como forma nem como idéis Néo pode ser nova, jd nasce velha esse sentido, Walnice se vale da concepgso de arte entlo vi- ‘gente tanto entre os tedricos da literatura estrangeiros que impul- 0 sionavam a pesquisa not notios centro univeritiios, quanto ent ow vanguarditas radicals que, isolador pelo sistema do mercado na tua torre de marfim, buscavam uma ssida digna pare # sua com: Alo de esritores herméticos © pouco cosumives Tanto os for inalizat rio, com o seu conceito de “esrenhamento”, quan tara Pound, com a sua oposgio entre “inventors” “divider, tonduziam 20 racicino de Walnice, Também o alicergava 8 pre: tmintncia que, entre ne, comegou a fee tora da Tnformagse, om a ius vrtentes Herbert MeLuhan e Umberto Eco. Por estes Vertenis ¢ que se ctileava a recmmontada Indistra, calrral {dee diana conta de brasileira) como “idee ‘tora da informagio, que fia «avaliaglo de qualidece, com @ teri dos “aparathos de Estado” (Althusser), que mostrava © pro- eno de alienasso do expectador ¢ a conscuente dominaiso da tuo peas foras repressors. Veiamot como Walnce jusien 0 envelhecimento gradatvo dos procesonartsticos: “A feglo comandada pelo gosto do mer. ‘ado mais amploestépribide de inovar, pos iovesto cia dit tuldades de leituree por iso se dstna 4 um publica mindsclo te inicindos. $6 com 0 tempo € que de novo verdoretiedontrapos catlisicos, ou extlemas, que passario a ctclor mas lrgor de fonsumo través da absorgo © divulgto por obras nbelemas, programas de tlevsbo, andnclow de publicidede, até que percam ‘eter ineratn rum alam gt fete parénete inform ue, ao tear argueologia do samento de Wolnice, no estou qurendo invalder« mu ltr do Teresa Basta, Noso raciciio, como + vert, abo € to simple quanto o de mera reabiliagbo de obras cricades porque obede Cia i leis do mercado. Pra evitarequivocos,anuncianos que tstamos de acordo com Walice quando ea diz que: “entra seo, {alan aquardence mais um romance de Jorge Amado, eitrando tev amaneiramento, apenas agugando sus insrumenton pera por”, E Walnice € precisa e contundente quando asinala at tres drives do deteriramento atstico progressivo que persegue vasta obra Fechedo 0 parénese,retomemos o fio. Pera Walnice, a Kngus sem da arte 6 sempre elitist, porque no seu indispensdvel procesto de inovasio torna a compreensto do texto dificil. claro que ela n 42 insere no circulo especifico da arte erudita que se cristalizou dentro da tradigdo ocidental. Nesta, esperase um comportamento do texto literério que seja compativel com o objeto que o veicula = livro, com a insituigdo que 0 preserva — a biblioteca, € ‘com o pablico que o consome — letrados. O objet Livro, pelo seu prego, € de circulagdo escassa numa sociedade de classes, onde 0 poder aquisitivo da massa é pratcamente nulo. Ao contrrio dos sparelhos" da comunicacio de massa, ele s6 se concretiza como saber sob a forma de estogue. Ele néo é ume “tela” onde se impri- ‘mem objetos novos e gratuites. Cada novo texto & um outro livre 4 ser comprado. A socalizayéo do livro se encontra na biblioteca pblica, de responsubilidade do Estado. Entre nbs, o lugar biblote ca piblica, As vezes por nfo exittir, x vezes por ser pouco est smulante pelos excessos e dificuldades burocrétcas, vive de abne- dos e moscas. Além do mais, a nossa tradigio 6 a da biblioteca particular. De ricos. © publico do liv, eonstituido por pessoas ‘que stibam ler, e mais: que postam retirar prazer da palavra excri- ta, 6 redusidissimo num pals onde a taxa de analfabetos ou de mobralizados astronémica Pensando assim, fica inevtivel 0 estabelecimento de uma tipo- Jogia hierarquizada em que as obras de primeira grandeza sio se- ‘ides, em escala de valor decreseente, de obras subalternas em ‘ondas sucessivas no tempo, O mais novo tem o pablico mais redu- ido; o mais velho tem o mais amplo, O cfreulo da qualidade se encolhe & medida que se alarga o circulo dos leitores. Vista pela perspectiva da teora da informacio, a questio no se apresenta de forma menos pessimist: 0 teor informativo da obra de arte vaise desgestando & medida que o seu consumo se tora silencioso. O lencio da resposta (isto ¢, da leitura) € x morte da obra de arte. Ler 6 exrever também (ainda que imaginariamente). Opondo-se 8 essa concepsio elitita de are, estabelecew-se como “popular” © 40 ‘mesmo tempo “autortério” um veiculo, a tevé, que nfo deixa of seus espectadores falarem, néo permite 0 didlo entre a obra © o leitor. O mutismo do telespectador — como se a resposta verbal {osse« dniea "boa", a dnica contra-ideolégica — foi o indicador da pétsima qualidade da produpio televisva. Houve outras “respot- tas", outras “litures” para ouvidos mais atentos. Mas no dive- ‘guemos. ‘Oswald de Andrade deu uma solucto wt6pica ao problema da n ‘quanidade de letores versus « qualidade artistca, através de um ‘wcadilbo que percorreu com insistneia os excrtoe vanguardistas ‘le entho: “A massa ainda comeré do biscoite fino que fabrico”, io cabe haver um aviltamento da qualidade por parte de quem labrica a obra de arte; deve, antes, esperar uma melhoria pro. tressiva do pablo letor para que ele, um dia, faga jus aos erité- ios de qualidade impostos e exigidos pelo arsta, A nota de espe- tanga revolucionéria nio se situa numa possivel mudanga na con- ‘epplo de are expressa pelo artista, pois esta trax implicitos ems ‘peso e a verdade da tradigfo e ainda traz explicita a opgio feita elo artista em favor das classes populares. A nota de esperange ‘0 piblico. & este que precisa chegar até nés, artista, atingir 0 grau de maturidade intelectual e 0 padrio de exce. lenciadesejados e necessrios. S6 enti quantidade © qualidade en- ‘ontrario 6 equilbro, io hé davida de que ume concepedo elitisa de arte & parte Integrante de um pensamento académico e responsével. Tenhamos ‘idado: 0 elitsmo artistico, em si, ndo € nefasto. Oswald de An? drade (Gustave Flaubert, James Joyce ..) nfo & melhor nem pior ‘seritor por ter uma visio elitista de arte. Pode, quando muito, er ‘mais ou menos atual. Ser mais ou menos digno de servi de modelo para 0s jovens. © eliismo artistico comesa a ser nefesto no mo- mento em que a obra de arte néo pode abdicar de uma (repito: uma) das suas responsabilidades pare com 0 piblico: o da sue for: macho. HA momentos histéicos — e passemos por um destes — ‘em que ao artista cabe a funglo de sero principal responsével pelo ‘aprimoramento intelectual de um publico cada vez mais amplo, de tal forma que © gradativo acesso deste & culture ndo passe pela {alsa democracia dos indices de ibope, pela demagogia do Estado ou pelo faciitrio dos cursos mobrelescos, io se chame a isso de pensamento reformista, porque 0 que ‘até em questfo nessa postura ndo é o sprimoramento educacional «/ou artistico dos grupos dominantes (estes j4 0 s40 pela excola- Fidade, que insiste sobretudo na insergio do jovem no melhor da tradigfo ocidental). Insiste-se no preparo e na formagio de grupos nio-prvilegiados para que cheguem 20 prazer © ao saber que se instilam pelo contato com obras potticas, no sentido amplo da palave Toda sociedade tem necessidade de ficgdo © de poesia. Estas, a por sua vez, tém um potencial contestatrio no mundo moderne pouco explorado entre n6s. Restringindose 20s sikimos anos, per- febe-se que 0 artista ficou de bragos cruzados ante 0 monopdlio dda auditncia de fiogdo conseguido pele televis, Nos citimos anos, ‘nossos romancistas e portas dedicarame a contestar apenas a vio- Tncia do Estado represtor, como se fossem agressivos senadores deputadot da oposigio. Arriscavam-se com 08 seus livros, como ‘0 politicos com os seut discursos em Brasilia. Podiam ter — € ‘alguns tiveram — 1 sua palavra cassada pela repressfo central € nlite, Fate a0 romancista ¢ pocta brasileiro consciéncia da vor ‘do rsc0 propiciados pela boa ficgHo. Arriscando-se pela fio, (© artista explora ¢ remexe forgas conservadoras € repressivas — microestratirar de poder — to eficentes no processo de sil clamento geral quanto a instincia de poder central Tena, anes de mals nad, de configurar uma fica de i Dilico que no estd satiseta com os padrées erigidos pelas TES atta’ aug do comutco ode ores Bf ‘estaria Interessada em algo diferente, desde que este algo no fosse hermético & sue capacidade de apreensio. Nio se pense aqui em fogero escrito de valores elitistas nas garas das feras do mercado. Nido € esta a quesifo. Falese antes da constatacio de que existe hoje uma nitida diviséo dentro do mercado entre satiseits e in saisfeitos. B pera estes que se deve voltar 0 texto artistico nos ‘anos 80, tendo consciéneia de que uma das suas responssbilidades 4 da formas de um piblico. Pablico passvel de aprimoramen- to, i que se tornaré mais e mais esclarecido pelo constante contato ‘com as novas obras de ate Se as obras recentes de Jorge Amado sio fracas, & porque ele, cscrtor politico, consciente de-que uma das tarefas da obre de late 6 a formagéo do pablico, nfo contribui positvamente para se chegar a tal fim. A sua concepsio de populism — qlerte-nos Walnice — mascara 0 velho preconceito poltico de que tudo que existe no povo € bom. Preconceito que deixa o proletri, primeiro, contente com © imobilisme sécio-politico da sociedade brasileira, segundo, auto-suficente numa nagio em que sofre as piores for- ima de injustga e, terceiro, orgulhoso por ser a forge maniquesta do Bem numa sociedade tomada pelos ricos e pelo Mal. As cons es solupSes sobrenaturis, embebidas em sincretismo religioso, " min conflitos sociais © concretos, encontradas também nos seus vaances, apontam pera o irracionalismo politico, para a ausén vk vino Iécida e racional sobre 0 autoritarismo do antagonist ' entfcacio da prosttuta,assunto caro a sua pena de roman ‘ist, nada mais € do que os resquicios “democréticos” de uma st patriarcal © machsta, cuja “pedra de toque ¢ o sadismo”. Pelo que vimos desenvolvendo, ja se pode perceber que os twos constantes endossos do raciocinio impecdvel de. Walni wm deixando aqui e ali pedrinhas cujo rastro agora explicto: ‘wn conceppHo cltista de arte aliese uma visio pessimista do bli. Que sejaelitsta a concepcio de arte, nfo hé problems, fis elitista € a tradigdo ocidental e 0 veiculo de que se vale Que seja pouco democrética nos métodos de sirmagio dos valores, nio hé problema, pois incisva € a funsio ‘weial do ertico e do artista eruditos numa sociedade de consumo, twnde tem de arcar com a responsabilidade de ser profeta dos tuwos tempos e do bom gosto, ‘A necessidade que vemos surgir nesta década de 80 € a de \lesvineular a visio de piblico da concepgio que se encontra na Inadigdo cléssica ocidental, sem que, por um lado, o intelectual shdique da sua condigho de formador do novo pablico, xem que, {or outro lado, ele caiana relagdo imobilista do sucesso pelo ibope pelo metal, pregada pelos veiculos de comunicagio “le masse. A obra de arte subaltema, na definigio de Walnice, 36 0 € porque ‘marca implictamente uma outra de que nada mais é do qi 4 diluifo. No momento em que oe padrées de qualidade artisice perderem o seu referencial dado pela tradigio cléssice ocidental, sbrise um campo inexplorado de apdo e de escrita de que se deve valer 0 escritor braileiro nesta década ‘Um dos pontos bésicos que se pode questionar quando se pie contra a parede a tradigSo literéria ocidental € o fetichismo do livto ¢ de tudo que em torno dele gira no presente estgio da erature brasileia. Assustame sempre encontrar jovens poetas ‘uje Ginica preocupacio e queixa € a de nlo consoguirem reunir (8 seus poemas em forms de livre, Nio querem saber se a sua produgdo pode ter algum interesse. Néo fazem a si mesmos a per funta fondamental; a minha poesia € necesséris? Nio querem ber se jf atingiram © minimo de qualidade que o velco livro 18 uma scidade de clases reget. Nio fam conentes em te, nent, xia coc Ss ss a ' : ‘Querem o livro, € depressa, © oh livre oh — como: ira Guimeren Rot. nares Rost vo que aenam of genersos promos de eam a era earn vais © prepagaes Ue oe cos ar am a depesasenn coma de st. Ho cute do um lo, prema” — dz 0 agatcomum Fare eS yor ut ln no vow slogan de anew bro au, me am oy Zonccn ¢abenon ue Me SPE Saber cae (umfnd. A pemiaio va sempre ptt © x re ean ne es ae ens ini os gotde ¢ dnt dle qe os fle ma cea Xe ir mcr — em fern de ma esticn oe mt, Pe wk celdna — emer 0 dt ope i eae gu, se pode epee or dm og 2 ee oe compan pln vs ects too Inet panca,Na vi eee sempre a0 © 2 ae com 0 nelor i "i puma slo para impateeconfmico« clara do Wiedman fl re a oe ee {Cente Poult de cul no iio Fo sce'megranes o raportrl pla apopiso do eed como nui cate econo velo de dak see sc emia 1 om pao mas ooo, Sn tae dae igo pba em 1963, cake stim ut ep ue gn mins rue “poxmman deforms pop roo «re eect orm e cone, erediandn qe forme ne ft dew fete otto com 0 publi poet Pept Peet eso (oo fondo marx ter00) € i ioe subtelopor um ou, ‘que, por isso, Carter contr-ideoligie. : Senso nao tei em afar qu ela de um lite inate nara o probleme. Explicase ele: “Se se entende que, @ stant pao problems. Explicnse ele: “Se entende a siesta eer ea agen spew aca 6 fio". No 6, poi, sinplitamentenegndo 0 conto ideo Nico de uma forma delta popular ete cee fomasto de'um polio mae amplo ecm ferent lac soi A tera de s apronimar do flo, como sobatito o rz, fo eran, vn vie ‘ia cura slug bastante stiftria para problema tivo ft etogada no ino da dca de 70 pla conmade gree mimerafo, © tet poico tna atin a cealgio tgs pot lor iat Gavese a devide inpoting Iya procewo de pofisinazgso gradu! do ear (o de Chacl, om 72, chanaveve ragntcamente Orso de Paseger) weedeat te pvr dg no cone de (nem tod carta de sre eto ero meres ser Pest vados para a posteridade); = 3) i soles alent de combi 20 stem eran de produto ditbigto do live. Repurm que nese fet tmporants frasio dom padi ue, do modo lgum ‘rosin de en, Iso do equiv do grupo, ou de gus de seus components, fo ode vera slug pra esa al en blnument ital rane 0 pa oper fs ecndmicosegrocron — prem a etic J "Sse Usoe ops fre compra cur, O imetga no 0 dogo do Alpe, do ariamente commie, mas aimasto va dorado proviso. O descrtével dug a to ina The Tempra Hxo de qe se salam — ea lliade elgien de te ov melhores sss de ent pra sono wt eon teres «provisos (mbrome ee Vite Ante Bier Way Sabi Go Nite Ni, ie Baus a ‘come mostou Avg de Campos, em expresivo ¢ belo pocra visual 0 lno da sockedade de consumo ere te que ‘sori o atta perso oxo da una uae ivan. Volemor 20 ue not levou 2 resenha de Wali, Tratese de um problema de pene aula ten ¢ hoje Tatse de pergntar se «rcp do tere Waist ered, O gee dr don erie, dow ass, qe man varlocmpreatcn com o Enno? Sram tes mens depend, n ten das leis do mercado? Ervitariam les as entrevistas comprome wescta seria gages a0 mecenato indireto do Extado que podiam fazer uma obra exteticamente vélida © forte? SEGUNDA PARTE: A RECIPROCA Recordemos o teorema ¢ as suas consoqiéncas. Walnice de monte fue € 0 escitor bral independente do Estado, 6m sae di datema de livreemprest, que consegu expaco ¢ liber ede para crtcar os métodos da repressio e da censura e ve, 10 aeece tempo, fot obrigndo a baixar o nivel de qualidade artistes de obra e a nela recalcar «critica social, submetendo-s a0 gosto 3G Gmorcado pare ganhar 0 dinhelro do leite das criangas. Eis © seems do cxeritor poliicamente liberal dentro de uma sociedade qiervadora, socedade ei que, 20 se moderizar slvagemente Sele répide industrializasio proporcionada pela entrada indies dai capital estengero, vira de consumo, A sociedade de cain bractcira proporeionou mais dinheiro & maoria dos arte corms agem civica a une poucos, exigindo em troce de todos & vee Scene ea responsabilidade da dependéncia do seu trabalho ‘0 mercado. rrrndistria cultural € 0 patrio que quer dos subordinados 0 pudrio de qualidade digoo do que sea, 0 jaaio dees, um ro” Parrral. Ease padric, na década passada, foi o dado pela cont Shree do que seja o funcionamento harmonioso de wma fébrice Sernivel intemacional — do parafuso d roldana, da méquins 29 eerador,precisava aver um ajuste preciso de tal forma a deixar Tein a produgao aritica sem os solavancos do artesanato Pi vauin. Noo hd Togar para as delicis prezerosts do diletantismo- meas, feabalho. © asta se paga a si dando Tucro A empress, qo qualquer operdrio. A. arte se modemiza & imagem © seme Tanya "do pais. A relagdo do artista com a empresa ¢ ica, con tree ubathista, A étiea vem antes da assinature do contrat Depots da etsinatura, vita tabalhisa. A grande vantagem nessa Pikeg € que se nomeia com todas as [crs o “patio” des anes veto tarts at_preseSes econdmicas e polices no préprio wares capecifica de atuagio, no proprio trabalho. Em outst pals, cP gous presses no se dirigem contra o homem, mus contra n oo See Sere ees Fm p cane com eae one ee esos ee nas nce seek fe gear Goel at SEIS Rina ac ie ‘Sopa yaa Tatts aera oa eee tev orn eee gs Sa ees S eee wean ar eae oe SoBe meat eae pee a Sees Sia See ees BE SRS aren ‘regime militar. 0 caso de Chico Buarque de Hollands. z das drgetdo omtem pel escalator © ‘internacional See ee Sea ene secbinm eter mn ce’ ‘suas necessidades ¢ desejos, denuncia-as. Seré que co Dig, nds aes” a ae SSS Peseta a ieee cor ine mnemseete aoe So Siem eine et poles coke oe ee! oe sei at mpg eardigiene ee ore SECS veieeege scat ones Hine Sete arse noma tg taguin oh cana toe et oe ee Se Shes meen es Sn Tae te cr apenas as exignciae ates do aresanto aniaico. Nip havi oe ee oes no ser que fom cle our anit. 0 cirsito da obra de ane s esting 0 ‘Seu donnie, O ema Ge are se resting 20 fae. ‘\impuapo arte te metalingugem. Aare ee fia com isto foc eo torn on tere nanos peretendo que ets fcndo em aero no teres de Walnn« posbidade de una refpeca? Walncenio chee S‘clocr 9 problems, Somos a que fomos aproweiando as br ‘hanno seu'rcasno, que se formalizm apr, com o into se ec Sondre, complements ante ¢oplemeataes © rt de agora, somites ue julgamos de tulad © wt Pande, Fonmulcoos a recpoce sob forme de peru Sk neve! wr aproximayo do arta brane ao Et do pars un sey hero da opresivas lis do mercado, alo de lore qutidade do seu proto arco? Seu qe oars 8 ‘essa S80, quando Estado dit dese So opresv, € 902 Sciam "popula poe ver 0 mercado como 0 Grande Taguitior? De nove se ¢ cso de abrigarmo-nos come Bemis wast de reparo piblce pre qe, nor pndops sentadas tm cai lng teuos em eopera eeperanga a rede da SCrindci oe? rede auc agora llr fore ingen “Senn? Seré evil puro atta, dependent economic tome do Estado, nfo poser suesionar © nema plo vig pet aber, no momento em gu a siajtohnrcao erg (Cat nel exe tempre? Sek este 0 propo eo inl (Sattrter te de pagar pre qe 0 28 pron arson ea {Stienment valid, orginal econtundene? Se douroramentoarsico« rbeidnpoltica ee 0 casal 20 angido pes seme Se Hvvesmres,compstaia aistica © com inc police eto cal ceo undo pelo conservdor Tar eles imecuais bree? Como se cher b competi aie, h bel polca © 3 fcc junto ao ler? As ons eS‘coos do Eaao ov num dito fem frente com as mule Siuconls india cultura? Ou dandose conta de que ext, fm poenial uma fia de polic fafensa as inves dnd Saver erica do rpine vgete? Nesta fronds nana them sero grande “pata” dis ares en 80? O Estado, as mul Paloma ete pio curr e rebelde? Depender, prt meme, do principal smog: atta, 'nonemene, 2 ecoch Jo orem de Walnce & verde 40 deira no seu duplo aspecto, ou seje, na combinagdo do radicalismo do esritor face & qualidade artistca com a ambighidede do homem ‘arena politica nacional. © Modernismo brasileiro, movimento de renovagdo, atualize- ‘lo © ertca da sociedede e da cultura bravleres, produciu obras de excelente ¢ inegivel qualidade artstica, mas foi conscientemen- te eltita na sua proposta e na sua relagéo com o piblico letor Como lembrou recentemente Anténio Carlos de Britto, seria impor. lante que se fizesse hoje um levantamento da “situasio de desam- paro editorial” que estava por detrds da publicagéo e do lansamen. to des obrasprimes da literatura brasileira modernist. Contessa Manvel Bandeira, por exemplo: “Em 1936, aos cingient'anos, de dade pois, nfo tinha ainda pablico que me proporcionasse editor para os meus veros”. Levantadas essas condigées econdmices de roduglo e de mercado, descobrrfamos que poucos desses min. ‘tundos livros foram realmente vendidos. Eram distribuidos 0s ‘companheiros, amigos ¢ admiradores. Aliés,néo € preciso ir Longe ‘no tempo. Iguais circunstinciss cercam 0” aparecimento dos. pri- tmeiros ¢vigorosos livros de Jofo Cabral; igual destino teve também © rosso da produsio concreta, necconcreta e tendénc Sérgio Miceli, em interesante capitulo de Intelectuais ¢ Classe Dirigente no Brasil, alerenos para o fato de que, na década de 50, tentouse constituir um mercado para os nosso livros. O ca: pitulo leva por titulo: “A expansio do mercado do liv € a ‘tnese de um grupo de romancstas profissionaa”. Anota Miceli ‘qe vitios comercantes de artigos finoe e importados se transfor- ‘maram nos nosios primeiros empresérios de bens culturais. Estes liveios contribuiram assim para a necesséra profssionalizago de lum restrito grupo de romancstas brasleros, curiosamente oriun dos de famfis ricas © tradicionais, mas entio em decadéncia eco. ntmica, Acrescenta Miceli que o emergente mercado do. livre ‘nacional se alicergava na literatura de ficsl0, entio 0 género de Imaior aceitapio e de comercelizagio mais segura. Dos romancistas ‘30, 0 de maior sucesso comercial foi inconteatavelmente Jorge Amado. Feche-se 0 circulo pelo seu avesto agora, Por equi, reto. ‘amos 0 teorema de Walnice, pois foram esses romancstas of ‘que — na atividade cotidiana © partidéria — mais aberta e core josamente se insurgiram contra o Estado Novo, Parece, pois, ser destino da arte critica e original nfo conse- iranian pio o seu tempo, sbrtad so atta wat En owas padres de qualidade exigidos pelo melhor da tad 125 Rise Seiden. Asi send, 0 arte bras Iii € Stig recom eons extern de Tene, pare poder br sivr com deca Sua tem sido rane vce Itza dos melhores doe iors mus te € out, problems) arts bases, Todos iis, de ums fonme ode outs viveram © “exquiztenia” de weer cbr ice ecombetva Cnubvenve™ na nguen sr porang nacional som cea o i domes ba reper fenosion's enbivelnt, carevam poems ¢piscvam pa a Tete da cam propria ay feserprtm © 6a posentdoria, A set do Bu ais na eoqurei, 2 pesha de "b- ares urea pasa eopsta owt, Estee pe ‘Sen conra ecb srica¢ combatvatentando bar repo GTS hcontio made, Caroe Demon, em not arog ‘2 de Mel ants mt nena guano ben © ata apenas se dear eee nation quence = ore ener de lara), lembra qu atid revoicnsrie, ‘cbaran plo Minstrio Capanema, erm “combatdes dentro SSecme” Jornal do Dre, 252.0) ona Gbietade ds inengiee poles da obra do homem Infelamente lo tem meerido 0 esetsrio exo por pate dos aeeerctibores intr do Moder. A acana em do Tran exunivo peor problemar du economia itera 0 texto ‘ee spor code es moteras crete du tain dat oRTieutO exepeta€ obgedo — sb 0 rn de contre: Stosio mtotea a examen 0 probioa,repandoo mk rn’ t pene powers © relutre do solo de iterate ‘Fen de cov ge, a pana de sologa & poi © red Tames Sea ela de er il ne bjetidade com que faz 0 reamed aden conretos Leniramo-ce, em parcla, ‘Gamat cepted f chad live de Mim que pe « te cevaceantmos én miguina burocrate eadonoisa gue l= an Sonem inlet de eno cooper plo proj elisa weeds de senor ou de emanvense (ind gue, mas sos Gat: ace obre ec) Sigietva pare o presente racic Seullegue tne de La me 284, de. 28 de ooo de 1536, ‘chat como Lat do Resjiamento,Comenta Mill: "Ao mes 2 mo tempo gue stable «exgtcin de um concur pico para Ineo mgd Cn» Udo Reiman nt tum conjumo de psig independents, sob a dsignapto de argos ied, cjo aces dipensava exams © que poderim ser pot Chidon ad hoe eo do poder execute", Lombr, ainda gue, ‘be 1.175 cargos exercdas cm conitan cm 1939, 0 Miao da Ear © Seite Plies dea o mar comingente, 412, Com cluele que o Exad pena "atuar como ana de recrtment, ‘lego, tenamento epromocto, do pblceportador de diplomas superiors” mo para o mencionar cate mals delicadot, como o de inlets que extveram dicamentevinculaoe 8 censua ati te, eu 80 DIP (Departameno de Tnprensae Propaganda). Por a de pesquisa conta inca neste ten, fttamoane 8 ualger coment” Arrolemon dos dor conercon © tse tho detemido de Viniis de Moraes, qu, i pouco, ao 88 con tes Hypo com a centre, como sind invocoaGuaade do seu penstzenopolltcn na fpoct,compromeide com © nado Deshou ele B revista Veo, cdigso de 16 de malo de 1979: “Tori pla Alemanha drane «gical Toria como vot tore pelo Cotnhinal” A revista Alinco, parcinada pelo DIP € Fels IDE coir laurie, otnava na ons pie pres tiem papel couche © melor da prodao doe estos mas Soveror” S eno ede ho 5 de pose dees de outosdados sobre a atuago polltica des modes 6 qu pect eo ro mes Acad, revon unilateral, ou menor manigusta dagusle movimento art tco © dos seus participants, podendo o epirto erico de le prblematizar sities ainda segurange da Ire ngrese Jo texo 0 pleno conbecinento de dado empiicot. Alm do mas, a eltada um costumer © Jplo equlvco na respon 40 pro- Bema. O primero dir das bons itengtes do intelectual, etme émpregado pela bandeira repreniva do Exado Novo, equtoco que s aera mum cero pragmatism Gavidno do tox erro pa tkipate:"“O inportnie €o gue o romance © 0 pooma darts ¢ noo ie fag" 0 sepndo died inane pica da obra de fe, equiv que finn pé na een de oe, co ose» bra dean, o pals stino eso: "De nads vale o que eaevo, © Bo set pare um resto grupo qu, no fundo, no sonia 3 Ambas as atdes sto equlocades, pout plain Inon terete de una stugfo qu, reaidne,€ niin. A pol Tapio no dea de sr a mansra de melhor se escpar @o ave compleso pela simplifcasso natal Visu a inpedtr © plo onhecimento: de um problema gue € wiped: erttco” (© da ‘hea ema, poltico (a da atonao olen de quem a faba) Ciileao (do polio que I a obra. Se historcamente a reiroca do toma de Walnice parece ver verdad esi continua ser tragcamente vida Pe or jvens vanguard estes Brass de bandeira aber O po. biema nio € simples, nio tenor perspective histriea sobre cle fr dads so nds exams (ecm to poten Fiaue claro que, de modo sleum, quero rest "slusSo" para ele Oiica interest € 0 de levantr ituagdes texts, compromisos, pra poder, na mein do pone, problemas, com vistas 2 int ostra ronos conforms 20 nivel do comportmento. pro fila “eequioftsica” do fovem aint brat. Este, a0 funar at leis do. mercado, tems. sbrigedo no colo empress da undages ltr, fend obra etticmete vida, met por demuisdedenhos de‘um posiel plo slteratve. Detxemot de ido, para uta oprtnidade, a andie de una forma de "esuiofenia” diferente das dus cladas ember 2 movernsa e «do vanguard de hoje) Esta tec supa Como solagho para‘ jovem intelectual progreina os anew 20: ‘toca empegncio com uma initigho que por defile, Conservadora, como uniersdade problema’ ago fol 0 de Ccovllar a sivigadetudecms ds peanlen (odo tablko art tio peo) com a arta decent. Sabemos, oj, como de repent 1 ago exuloftica do Inletal/ profesor ove um fim pro- forslonado polos ste de eceqo de 640 de 67, O conservadori fo deste, soba forma de ntervengao militar na adminstagso nest, dev um fi a0 esti anbigvo do vo revoucons ‘io mu sla de aul, da pesquisa mo emprego, da formas ctrl propria jute 2 vende Interessa.nos colocar agora 0 retorno da opsio Estado jovens artistas (ou te6ricos) que comesaram a se profisionalizar hha década de 70 © ocuparam postos pablicos de importincia no final da década passade © no inicio desta. Nio € descabido colocar “ somo bas par 1 dicusio do problems una snasdo butane soneea para jover nesta” 9 mereado de abl rex. ome devon © eprovant deve stags, tre tm sents to nimero de postulanes ts vege, Lambros 0 tomo don Inn (esa ea dos ano 0) © tom mimeo ders potrcamente caazs,peprndon ple cnc de poogaa de aquém © além-mares. ieee amo capa par edo 0 problems, embrese que ese jovent — nunca tou no Bra ante omogeeade na quod is ictal de uma gergso — ego de proprion» or ses pe exci see tec, sj n arti, ‘Como exceio 8 rep confirma do torema de Wane cuss oewo de Femando Gain Como © separ Tog Anas (quardadas as devids e Gviedifeega), le envey nce a imposes das Tes de merendo. Vie bos © bem, de dil flora e nfo mentines a cescenta ue gua dens repute ‘que decresce em elogios & medida que sai novo livro. —. HA uma «prio aude diveregto no mercado de ie batho pare o intl! (vem ou nie) rl, Ele, por separ aos problemas penfios deta recpoct, © rand toe ress clas parler, fda les ulin de ceebon¢ ta Fenconando a pena vapor de aondo com a lt o ure, Eel das at empress parts, hé 0 tadkonl empegs pica, ue comport desde'0 imponente homem do Tamera, pee felo pero bomen do Mino ino até o combat rent, havendo hole mls do que one »ponsidde Sum trabalho mais aim com as nero de carte aren Hi a iveriade (federal prcla), com at res diversi di Silas © com» poniidade dom aden dni cadence, Hé,foalment, ar chamadasfundstes cultura, gos Comesaran puller no ‘momento em gio regime eons fn 64 comerou lar or lice pars ineligncia bros sare de resusos. Era perso dar um bs priate Kin, Asim como sede un basta elo ao rehab ‘A qué sil Teor fla mesa port do questo cult No por coincidence, co, Voltemos ow olon pea fundaper Fovenseinenids elas © compromets st mis dos cet, foram as funds clr at ste mais aa ont lige cambios (enum crc, por Ivor ovens neg 8s tunis, interessados no bindmio qualidade artistica © sobrevivencia evonbmica "A fundagdo cultural € o meiotermo que © estamento buto- crétco da naedo neocapitalista encontrou para ter o controle acio- ‘haro de una emprese federal na reaidade ¢ privada na aparéncie [A fundagao carla entre o capitalismo de Estado e o empresaril £0 Estado querendo tirar patido dos privilégios financeiros que cconcedeu 0 empresério captalista, no srcando soziaho com st despesas da cultura (e em educago, amanhé). Isso do ponto de Vote econdmico. Do ponto de vista intelectual, a fundaso marce Ui necessidade de dar ao intelectual brasileiro (4 soviedade civil?) ima gradative autonomia na organizagio do projeto cultural da Thanos Nese sentido, « fundagSo pode ser o abrigo de_ que falé Vamos a respeito de:Chico Buarque, onde se tocaia o intelectual Trente 2 desceracterizagho artista tramada pelo lucro multine onal “Tenho a impressio — repite: impressio, porque estas cos ‘agente nunca fica sabendo claramente — de que o SNI nfo vat jo postulantes a uma vaga em fundagbo Com as mesmas lentes que uliza para liberar ou berrar os indi fados para o funcionelismo pblico. Se isso for verdade, nto deixe de ser um bom indicio, signo certo de que & difstole caminhs, ‘Parece, pois, ser destino da fundaso nestes governos de aberts- 1a ter um alto compromisso com as formas eruditas ¢ populares da ‘Cultura Brasileira © que nfo sto passvels de autofinanciamento pela indistria cultural, Cabethe, por um lado, dar forga Bs mani- Footages artisticas do povo que, pelo seu caréter pré-industrial, fio ineressam as multinacionais da cultura e, por outro edo, Ivar atvidedes eruditas que, pela radicalidade da sun proposte, fngo encontram respaldo junto ao péblico “narcotizado” pelas leis Jo mercado, No enfanto, fica no ar a impressio de que, como france antes, ficou delimitado, em compartimentos fochados, © que ve chumna de produgéo erudita e de produsio popular. A impressio (que ae tem € a de que o artista (ou te6rico) erudito, enquanto Administrador da fundagio, tenta promover manifestagSes genut fhamente populares, ao mesmo tempo que radicaliza — no seu projeto pessoal, atstico e tesrico — as formas eruditas ¢ elitistas Ge are ccidental atual Parece ser esta a mancira como o erudito fava as mios diante de sua obrigagdo para com o Estado (deixa 26 cm: coo pscore heme “tices” $e ie, 2 noo panain inten’ do eit setrio de fa). be mio Ape, eh apr noon amblots de bao pric, le bow im anepe' rior sri ou nb tim ov tein» jena de nner da “xq « de obra molars fo» siinado ea hte ene teutto © pepo, A appragio ci dn ane genie sopra tisem Mra de Andrade gusto Blmuris Rone te em Onval de Ande quanto cn Taal tant am Tenge Amado qumnto no CPC. Anoio Cando bra te tl por tie Toma" gue Modersomo de cantina m0 ovens alco gue exrine © mor nos ae ert Ene movimento tadus& "negro progesve, du expen Ie epi oma dea ce 0 ao a tease como sitncn do expe) © ov mde eras {uuu europea (ques apreteniam con forma 8¢ expe thy" Dando romeo tet nh de stn, os Roe ‘ics eocneram nr grit manos de vguada cup th mena duo aqua are, Porat, hve de 00 © acasalamento feliz iza¢io ocidental da arte brasileira com © rcnecimento afore Foyle, resales om Rss Alt ane Eas conan Candi tu saw “iia pundolr'"ae toss ound Seo Prago eum Brant um Mx Jacob un Tran Tare rm, be funder mle coc coma awe beret 30908 Sa cms monte mr a convent “infin europa po un erglh Bo brasileiro”. mas suena ene e's nn bari ents oer © o pols mere ua tetanus wre Por pans dx oe copes com @ Eu, tumbée gn de fon stengio "promo qua um Aire aury ftom de cos emer pope Que ttimam pla epee No cso osha pri there area do Ea, wrt funda, € mens oo, pub ma sue ria comunidad cle veo proto ssn fe fe on fs tn mugen er cee tea (un deco cave rouse do Sandi, quando reads des no Sonae o promod Smeal a pane dade A ransormas a do sto em expetiulo, do ciadio em ants, se pode sr convin- cent pare 0 publica lading frente &descarectrizasio Operada pela indnin clea 26 pode ser lmentada se se tem © Ponto 2: vt de quem se peer em pbc. ‘Lanbrome, nese wo, de uma passagem do Doutor Faso, de Thomas Mann, O pal de Adrian 6 se dedicava & Tetura dx Bible c bs atidade de eopeclago cenifen com os sus fam tes dann‘ veo, esto em ge — con dito rome AG ola propidade ormia sob a nove. A culara, para quem ‘Mo vive dela um lzr, As formas tualizads de culture po- puler 16 in ‘senido see dio" no tempo eno foval do ier. ‘Feanformé as em expticulo€ viletar as regres mais element tes do proceso de profisionalizso do homem na wcidade Fiala, € increr no equvoco jf eparvel — om que Eansformou © desile das ecole de samba no Rio de Tani O sambina paste do lazer 2 profisonlzaio, em no entan tet SS repillas econdias devas ao su tablko. Contnan cidadio (ltt, se quieren), enquanto se encem os Blis os dit fetes © don copon de isamo,responaivels pelo expetdeao. (Dezembro de 1981) LIDERANGA E HIERARQUIA EM ALENCAR Para 0 Carlos e a Janice La Phrase est hidarchique: ele im des thority, deren interne e's ae: CS ie terin Cu") el gu pee Ses se. Sa Few capt tot aon ee, paw tut fot pve) Roland Barthes Os textos que temos © que envolvem, de mancira descitiva ‘0u ficcional, este terrtério chamado Brasil ¢ este povo chamado brasileiro, sempre serviram de far, para que, com a sua ajuds € uz se acarassem tanto a regido quanto os habitantes, no tocante ‘08 valores socisis, politicos © econdmicos que seriam determinan- tes da condigio de ambos. O interesse direto que estes textos ma nifesam néo é pelos habitantes que se transplantavam para cf, trazendo cargos, dinheiro e obeditncia irrestrita A Coroa Portu ‘gcse, mas antes pelos que, adotando a nova pétria ou j& nascidos ‘ela, procuravam definir si mesmos eB regio em gestot de independéncia (relativa, claro) com relagdo & Europa. O fim Sbvio os textos era apresentar 0 pais como Natio ¢ o sidito como inde- pendente. Ou por serem filhos adotivos, ou por serem filhos de terra “\desconhecida’, se sentiam os brasileios sem estatuto sécio- cxonmico definido, em situagfo amorfa e negativa portant. Tudo {sso propiciava acs que empunhavam a pens abordar os problemas da identidade, da lideranca e da hierarquia. Identidade, lideranga, « hicrarquia que foram rejeltadas no momento em que se comesava 1 rejitar Portugal; identidade,lideranca e hierarquia que nlo exis- tiam aqui por falta de tradigfo sécio-cultural. Para ambos os casos, palavra escrita, o texto (tanto o descrtivo quanto o fccional, servir como mecanismo de defnggo eexablecimento dos valores vocas, polices e ovontnine da nova terra © darn gets, Ver lores exe que “entronzan” a elite nati Aauele fart (e nfo epelo, como queeria ums texto apegada «umn relapio mimétice cts ene rs dincurs) fem « funo de etabelecer, dexnvover¢ cod taco e reflnivaete, on novos valores qoe vio srgindo tna (Guam ito 6, on aoe serio faalnente determinants da exo ture socal do ais eda hierarqia entre os seus habitants, Os Glvenos components sci, na medida em que we dlo oxo der ‘tnbeckin, roo ieginn, opvettam probes qos caver wr decirades, que devem ser compreendidos. Que pais € exe? Quem tou ex? Em vitae de minke fomcao socal, ue Inger ope? Por que cata sockedade — a nossa —~ vaise formando deta ta neira © néo dequela? Por que é este o senhor? Que tarefa cabe to ceahor? ao indi? ao cave? E asi ifiamentee ‘e preion textos que foram execs pera config tra ‘¢ homem levam @ assinatura de portugueses ¢ respondem a slgumas: isn peguntn es tennot evan afinmais enact, foo, mais especfieamene,europacintias, Or maven eam de are ceo, mas nso existan, Ra Canta de Paro Ver de Caribe, Carman math wo Obventen don portnguows do on Pret ‘pager dot indgens. Nio € por casualidade que a primera tettfors paso indiana € 8 “tabula rx, ot 0 "papel brane’ No ponuem esc ee, portguts gue excrevo, posto; no esuem valores cultura préprio€ ne, cvilzaos, & possuinos. iss de obs eda fol ca 0 selvagem (Centro do reclc ttnoctotico) a leooncia © a viride pardiics, inland ue tanto sccitariam lingua portuguese quanto es valores que tein coolant? ea trmupenteie. Cane heervon_sgudameds Eugenio Atenso,aaliendo nas gramétices rnasoontsts © topos dx "gua companeira 40 Impéio", pramdcos portugues, "fs. 0 dn umm alan gr inne oo AED ge arent ca eb eer Vota yess SoU SF Se tetany a Sts to Smt Hee itl ios ep ed 2 BS Sil es Be Sa det sop « ere ts love de ae cans Sus a Teil Pa EW io ne 9 90 ‘quando receberam a expresso do colege espanhol, Nebrije, 00 significado original do topos que era poliico e nacional, acrescen- ‘wm matizes afins de assimilagdo colonial ¢ de missio cristi* ‘Somente numa leitra “sintomal” da Carta, para usar o termo €.0 método de Althusser, devidamente alicersada em wm instr: mental tomado de empréstimo & Antropologie, € que se poderd it revelando todos os valores indigenas que se encontram recalcados no texto portugués. Talvez 0 aspecio mais instrtivo para o nosso Bropéito wa od rasearo problema de chefia inden no texto de Caminha. Todas as interpretagdes do texto portugués salentam 1 mise-rscéne que Cabral faz em seu camarote para passar 20¢ Indigenas uma imagem concreta da sua superioridade: “O capitam ‘quando eles vieram estaua asentado em huua cadeira e hua alee tifa 20s pees por estrado e bem vestido c6 huu colar douro muy arande a0 pescoro, ¢ Sancho de Toar ¢ Simam de Miranda ¢ NNycolaso Coelho © Aires Corea e nos outros que aquy na naao 8 ele himos asentados no chalo per esa aletifa” (p, 89). Acen- tuam também as interpretagSes © propésito do encontro: através de linguagem gestual (cujo eSdigo ¢ constantemente verificado € sprimorado), 08 portugueses desejam obler dos selvagens informa- bes sobre as riquezas da terra, Esquecem as interpretagSes, no entanto, de astinalar que, bem mais tarde, 0 escrevente Caminha, ao pereeber que of selvagens se aproximam de Cabral © nfo dos marinhelros, jé tem segurange pra interpretar que o fazem “n6 polo conhecere por Senhor ca ‘me parece que nd enfendem ne tomaul dysio conto” (p. 97), mas simplesmente porque os marinheiros tinham se distanciado dos sel ‘vagens, tinham jf atravessado o rio que agora ot separave, Aque- las interpretayées deixam, ainda, de lado a preocupaglo que tem 5 Dig Eagenlo Aseni: *Lectoras {eect a fg compare SE Ramanien tala Lorenzo anes, eee ia, aha ido rsa eh frase pa ore re a 4 Lire Te Cop aca, Mager, 1563, ¥- 1, p16. ‘grupo portugués em encontrar um chefe entre os selvagens (sto 6, 0 correspondente simétrco s0 capito). Diversas vezes 0 por tugueses parecem dlstinguir um lider ne multidio dos indigenss, mas todas as vezes 0 individuo sobre quem recal a escolha frustra (0s intentos portugueses. Logo depois da missa de domingo, um dos selvagens, com seus 50 ou 55 anos, apontava para o altar e depois para o cu, conseguindo atrair com sua_gesiculagdo um bom hhimero de companheiros em torno de si. Caminha no € 0 tinieo ‘que jules ser ele 0 organizador; também 0 capitio da esquadra, Ente faz trazer & gua presenga 0 indio, juntamente com o irmlo (sic), ¢ Ihe dispensa muita honre. Cabral chege até a presente-lo ‘com’ uma “cathiea mourisea” e a0 imo com uma comum, ov Seja, “destroutras”, como diz 0 texto (p. 107-1 Cabral estabelecese a hierarquia entre os dois "Bo pri smeito germe de ume estatficagdo politica que se dé pela diferenga entre os favores feitos pelo chefe portugués Piere Clastres, em recente e polémico livro, La Société contre ‘Etat reabre a possibilidede de uma Antropologia Politica, aven- tandd a hipdtese de haver ume organizaio social sem 0 “poder coercitivo”. Portanto, at estruturas socials onde o poder € dado pelo mecanismo de coergio ¢ obedigncia so apenas um caso em particular, no o geral. Na Antropologia tradicional, por efito de etnocentrismo, era impossivel vislumbrar uma sociedade onde ' organizacdo social néo dependia do uso da forya e da violencia, ‘Tomase importante consatar que esse modelo niocoerctivo € encontrado por Clastres nat tribos ds América do Sul, sendo pos- vel comprovar a sua tese de que "il ne nous est pas évident que coercion et subordinnation constituent V'esence du pouvoir poli tique partout et toujours" (p. 12) Tal preocupagio em detectar chefe indigena no meio da ultidlo pode ser perseguida em diversos textos do periodo colo- nial. A favor da tese de Clastres, citese de Gabriel Soares de Souss, no Tratado Descrtivo do Brasil em 1587, esta passagem: “Em cada aldeia dos tupinambés hé um principel, a que seguem somente na guerra onde the dio algume obediéncia, pela confianca ue tém em seu esforgo e experiéncia, que nos tempos de paz cada tum faz 0 a que o obriga o seu apetite”* A obediéncia ao chefe 5. Pare, Minuit, 1974, Em particulars “Copernic les snuvages” 6 Sto aol, Eto Neclonl/USP. 1971 p50. 2 A se evidencia em tempo de guerra: cada indigena segue sua pré- prin vontade em tempo de paz Pode-se entio levantar a hipstese (56 hip6tese, pois 0s textos jue a comprovariam nos faltam) de que a lideranga coercitiva entre os selvagens s6 surge no momento em que os portugueses {ou outrot grupos europeus) jé se dfo como inimigos. Como jus- tificative para a formulagio dessa hipStese basta perseguir 0 sig- nificante “arcos” na Carta de Ceminha. Desde 0 primeiro encontro entre portugueses indios, os olhos europeus percebem que os natvos esto armados, mas as armas sio de imediato neutralizada, Mal of portugueses thes acenam pera que as depositem no chio, ‘obedecem (p. 87). Néo existe por parte deles a menor agresividede mada, Tanto € que, péginas posteriores, constata Caminha que © depor armas é jf algo ensinado: “do emsino que dante tijnham poseram todos of arcos e acenauam que saisemos" (p. 97). E na lergaeira, dia 28, quando os navegadores pisam de novo a terra, descobrem que os sessenta ou setenta selvagens jé estavam “sem arcos € sem nada” (p. 102), sentindose pois os portugueses les. Duas vezee anota Ca- "e amdauam ja mais mansos € seguros antre nos do que nos amdauamos zntreles” (p. 105). ‘A medida que recebem dos conquistadores uma imagem cor dial e desinteressada, vio sintomaticamente se desarmando, Quanto mais os portugueses procuram detectar um lider no grupo, tanto mais desnecesséria € a sua necessidade, tanto mais meliflua € a sua resenga 'Néo € nosso interese desenvolver, nesta jé Tonga introdugho so problema que pretendemos abordar em Alencar, 3s conseqlén- clas da nossa leitura para o melhor conhecimento do problema da cordilidade como mediadora entre dois grupos antagtnicos. Isto 6 0 problema da conquista sem violéncia, ou dessa histéria “in- cruenta",? que foi se diseminando pelos textos, para se tomar & dominanie ideol6gica de todos os conflites* (politics, sociis, re 7 Nese sentido 6 indispemaéel letra Nii que Jou Hondtio Ro. gue fer do problema! A Pollen de conclisgto: Hiséia cuenta © im: Conctgdo ¢ Reforma no Brau Ri, Civlizagho Br. temor_siletado, 0 frto de ave erat 1 sempre temtiade” pelo) dlcoro amore, Eis ematiasso plo erotiomo vst explicar © nile cordial doe 93 iis, econbmicos, ete) dentro do desenrolar histrico do Brasil ‘Tampouco nos interesta, no presente momento, tentar recolocar a necessidade de se estudar esses textos nas faculdades de Letras fem preconceitos beletristas. Evite-se assim que se analisem em fula 86 08 falsos poemas épicos Brasileiros, como a Prosopopia E preciso estudar ainda ¢ também os textos que traduzem, como alerta Raymundo Feoro, “o capitulo original da histria brasileira, © cenrio de outra epopéia, sem a projeqdo da outra [a européia}, fomamentada pelos deuses latinos © pelas letras da. Renascence "Também passaremos por cima do fato de como a lideranga indigena 6 para todo o sempre anulada, sendo substtuida pelo que poderiamor chamar de lideranga "nativa". E aqui voltamos 20 rosso primelro parégrafo, nio sem antes acrescentar que a lide- ranga estava pare sempre em mfos brancas (ou mestigas) © que #8 cexpreseava em Iingua portuguesa, como previam os graméticos Femio de Oliveira e Joio de Barros. A nfo ser que fosse impor- tante lembrar 0 projeto de lei, utdpico e intempestivo, de Poli: carpo Quaresma. Por ele o presidente da Repdblica decretaria 0 fupiguarani como a lingua oficial destas terras. Nao € a toa que ‘o apelido do personagem de Lima, Barreto, na repartigfo, era 0 nome do pré-cabralino Ubirajara [A definiglo politicosoclal da lideranca sécioecondmica nativa 6 dada, de maneira jé organizada, na Cultura e Opuléncia do Brasil® desde 0 primeiro parigrafo, e o recurso esilistico usado tert, desde entfo, 0 que tem determinado 0 padrko lingifstico no proceso de configuragio da arquitetura do poder brasileiro. © processo de definigéo do ser politco-social brasileiro (0 que € © fer senhor de engenho? por exemplo) é dado pela comparagzo dele ‘com o correspondente na estrutura européia, gerando como con- Sseqincia tum deslocamento geogréfico e temporal bastante signi- Fieativo, As duas forgas econ6micas mais fortes no Brasil, o senbor de engenho e 0 colono, 80 dadas como semelhantes & do fidalgo isms pla ciple. Veianae sinds: “A Ilha de Mar", 0 Cor oroabne is ee Cont atest ator auto Senet SSoentads de Irena Ri, Francico’ Alves 1973 9, Gr Donor do Poder Pore Alegre/Sso Pauls, Clobo/USP, 1975, v. 1 10, Bio Palo, Edkors Nasi, a/4. Intedusfo e Vocabuldtio por A. Cabra oy 2 do cldadgo euopeus E, ao meso tempo que as compar, Ssabelcoae uma princi herarguia nacional aim como or Shatos dependem dos fidalgor na Europa, wi tamberm eve doresdependem dot seaboes de engenho. Na medida em que © Pirmide do poder etbelecid, Tull €comprender «princi fae deliv de Antonis "0 ex seor de cngeo € tuo & ate muitos aspram (.-.)"(p- 139) No entasi, se, na Europe, lo € enceddo plo Re, ou plo proprio stats familiar do vide, aul oto € dado pelo tero aida gue le fo ® deleguecarament), dado plo veto a uma ldeanga de, ince Sve, condur 8 explorag do homem plo homem, no sstma 0 travocrt, Ede novo uma out se de compares So ec ‘ora, como & dependtacis€ toa, 0 campo semtetico dav det ges Heart reset corpo, 20 corpo do senor de engsho. De ‘to, eatabelecido 0 vértcesupetior da prkmid, at compares cam Eup devparecem deo, pot nl ei ee Nowe purtculr 6 sgiicativo que orci © 0 quarto seg sents sci (0 senor eo colon sera ov doe prin, pts tstumes exlindo da nosa dace o clo") no depend do tequndo segmento ew ligan,rexpectvamente, peas fos e pelos sao seor de engen, O terete quarto segmenis tla Tetoes(govero dn fazends) © or caves (tbulbo na fe tends) Vejamon como os feltores so ears "Os Bago de que serve 0 senor de engeaho para 0 bom governo da gente de fazenda, sho os feres” (151). Reparese, no eniant, que so “Bron qc nso pe spi seen “cabeyas" "we ce Um dele eller] quer sor ease, ser © goremo nso & tum verdadero retato do clo Cltbero,« quem oo posts fabul samente dio ts cabeys, Eu no digo gue se ndo de etoridede tos eotes; digo que eiaauordade bide ter bem ordenada ¢ dependent, n8o abucua,de ore que ot menos se hlem com ssn mr © srs gc en” 15) che o pimcro segment ¢ frie hésuberdingio 8 cabegae'diferenga quanto 20 rag, ete 0 tercro © 0 quate Soo pés que se ajntam bs mlon. "Os escraves slo a mos cs pés do senkor de enpenho, porue sm ces no Bra no € Ponvel fer, conservare umentarfernda nem tr engea cot Fone” (159). Reslnete mui edrlo 80 que 0 elo Ceero 9s seria ese corpo branco com mis © pés negro. Apesar de set 0 “timo na esala hierérquica, diz 0 texto que # 0 verdadeiramente indispensével. ‘Sem querer entrar em méritos que seriam melhor explctados por ume leitura feta por soiGlogos ou economists, gostariamos de videnciar a importineia que tem nestes textos 0 recurso b com- paragho entre os valores curopeus estabelecidos e op valores basi Isis at eno indefinides ‘A justeza da relago entre s “realidade"™ européia e a “rea: Tidade” que se Ihe ajuta por comperacéo #6 pode ser julgada pelo designio do texio que € 0 de estabelecer uma estrutura de poder paralela, altamente hicrarguizade © “usta”, © 0 de dar estetuto focial condigno Aquele que, por sua situasio econdmica, por sua posi de governo, se situa no alto da pirdmide. Da mesma forma, {ponsivelcoertneia dentro do sistema das comparapies esabele ‘ido (cabega, mos, ps — em ordem decrescente de poder pare © chio e para o trabalho) dependera ainda do feto de que tinha 4e se dar uma imagem yerosimil da estruture social brasileira © ‘da maneira como essa estrutura ia lendo, ia interpretando a reall ‘dade, fixando de mancira legal e escrta os divers escales. Por. tanto, toda dicussio sobre a adequasio, ou nfo, da “realidade” comparada 4 “realidade” europtin que se The sjunta, pode ser exala, mas € frustrate, pois apenas insite na flsidade da interpretapio, sem indagar o porqué dela. Diss, por exemplo, fo pode escapat A. P. Canabrava, licida comentadora da Cultura ¢ Opuiéncia do Brasil: “Em to alta conta (Antonil] tem a quali Ficagio de senhor de engenho, que a igusla a um titulo de mobi liarguia dos fidalgos do Reino. Ne América Portuguesa esta nove fidalguia se acomodava os padrées de uma sociedede de base ccondmica marcadamente mercenti. E continua mais abaixo: « comparagio ¢ uma “estrnha transposgfo de um tipo de relasbo ‘de mundo medieval, para formas de condo econdmico-secial de ‘atureza completamente dstinta que caracerizaram na Coldnia © two da tera” (p. 41). “Disp Ss sone tates alo we gee ms genes Gee rae Ei see SIE Be Sonndage Pak ha Bo Portanto, antes de mais nad, a comparacdo tem a funsio pre- fpua de definir a hierarquia de poder no Brasil (ainda que o {ema seja totalmente equivocado, caso oe tome o sigificedo euro: peu dos conceitos). Se, como diz hoje McLuhan, ot meics de com nicagdo slo extensbes do homem, naguela época a forgarabalho fra extensio dos membros do Senbor de engenho. A ociosidade das mios e dos pés do senhor $6 & possvel por ter sido 0 seu) ttabalho delegado ao feitor (mando) e ao escravo"? (obediéncia € trabalho). Deatro desta visio ampla, bicolor e socal do corpo"™ do senhor de engenho € que se justfica o seu govemo e o seu pres: io enquanto ser. De todos, ele é a cabeya e € o cabedal, AA singularizagio do senor de engenho no topo da escala 96 cioeconémica obedece 20 intento final ds reflerdo e do texio de ‘Antoni: obter para ele, que realmente merece, as gragas do Rei. No dtimo parégrafo da Cultura, lé-se: “Se os senhores de engenhos, ©. lavradores de agcar e do tubgco sf0 os que mals promovers tum lucro t2o estimdvel, parece que merecem mais que outtos pre- ferie no favor e achar em todos os wibunais aquela pronta expe: digdo que atatha as dilsbes dos requerimentos © 0 enfedo e 08 fatos de prolongadas demandas" (p. 316). Aqui néo temos a lingua gem do mero tratado desriivo, mos a vor possante do Tuero e da ‘eivindicagdo de favores junto 80 poder central. Nesse posivl jogo entre a buroeracia do Estado, que se dé enferrujada © morosa, e 8 empresa agucarcira, que se quer agressiva, lucrative e eeguia, neste jogo em que as pedras sio marcadas pelo préprio texto laudatrio de Anionil, 0 étbtro méximo da partida, © Rei, nfo poders ter dlividas em indicar o vencedor. Ou as teré? Ratificando a nossa letura vem um apéndice no livro a Li. cenga do Santo Oficio, assinada na prépria Lisboa pelo Fr. Paulo 4e Sto Boaventura: pelo livre “saberso 0s que quiserem passar 20 Estado do Brasil, o muito que custam as culturas do apicar, tabaco «€ ouro, que sio mais doces de possuir no reino que de cavar no Brasil” (p. 155). Sintomético & que toda a linguagem mais forte — 2 Glam Poeyra deta pigioas Ingomatan so Colo fe smaher se Sreenho. Coss Grande St na presenga do Rei — em que os reindis deve ser preterdos aos brasleros cercase sempre de um tom humoristico, de onde no se exclui até mesmo o trocadilho. Aqui o jogo entre o doce de possuire o de caver, ligado 90 campo semintco de apicare tabaco, No caso do padre AniSnio Vieira, 0 célebre trocaditho que tem sus. tentado as inumeréveis discusses sobre cultismo e conceptismo: “A Dia do Julzo! Ah pregedores! Os de cf, acharvorel com mais ago; os de Ié, com mais pascor” ie Kinior, © primeiro bidgrafo de Alencar, chamou ‘tengo para o gosto que o romencista quando crianca tinha pela charads. J& adulto, Alencar nio 0 abandonou. Apenss 0 transferia pera a sua atividade mais exigente, a produgio literdria, deixando rela algumas marcas profundss. Araripe comenta: “O mesmo gosto, que 0 levara em menino a0 enigma, araiu o adolescente 40 pas. sado de sua pétria. Quis decifré1o, darthe forma, e, de vago, redi- ilo a concreto (grifo nosso); e como seu genio nio se afcigoava 2 anélie, 4 observasio, tentou adivinhélo”™™ Parece'not intlre- ‘mente coreta a percepeio de Araripe, inclusive jé tentamos provat ‘como Alencar aplicou o exere(cio da charada & construgio de nomes _ropros e palavras em uma lingua aglutinante como o tupi-gvarani fencontrando e justificando a sua correspondente perifrase em por: tugués. Tanto ia charade quanto na lingua, desenvolve 0 gosto de divisto da pal 325" com significado automo (ou Seja: palevras dentro de palavras). Mas na lingua portuguest 0 exercicio vira pura charada, enguanto no tup-guarani o processo sjuda Alencar a formar os seus neologismos. Basta ver como cle explice a composigfo © o significado de “Iracems": "Em guarani significa libios de mel; de ira, mel; e tembe, Isbios. Tembe na ‘composigfo altera-sé em ceme, como na palavra ceme iba” Mas (0 prazer do jogo nfo péra af em Iracema. Como nos slertou desde 1951 Afrinio Peixoto, “Iracema” por outro lado € 0 anagrama 14. Jove de Alenar. Rio, Pancho & Cia, 1894, p, 1920. 15 Ro irri Fae Av 1957 ting ume ry intra ‘Patna tase Bras Reviews veins Ge 193, ¥- Ap 358 para América"* Organizando todas essas informagdes, complemen lundoas com outras semelhantes que se disseminam pelo texto, ve- ‘mos como s6 uma letura de Iracema que levasse em consideraglo ‘ses aspectos polissémicos do texto € que podia ser uma tentative de eicura digna do valor do romancista, NNosso interese, agore, 6 mals ambicioso, pois visa a. mostrar como Alencar “adivinhava”, para retomar 0 verbo de Araripe, ade- ‘quadamente © nosso pasado, davahe forma segundo os valores ‘que estavam sendo determinantes de uma posiglo ideologicemente correta dentro do pensamento conservador e independentsta do séeulo XIX. Para chegar a tal, temos primeiro de limpar 0 caminho, Qual- ‘quer inssténcia exagerada no fato de que Alencar bebeu e se em briagou em fontesestrangeras apenas marca a necesidade que tem ‘za critica comparatista em marcar 0 débito do esritor brasileiro, ‘como se a cultura brasileira (asim como a sua economia) 6 pur esse ser consituida enquanto massa falda. Por que um Raimundo Magalies JGnior,* em lugar de s6 ocentuar ‘a linhagem literéria ‘de O Guarani, citando dnica e exclusivamente textos etrangeios, (que certamente’ Alencar leu, néo teve o cuidado de também pes. (quisar a maneira como o texto de Alencar jé estava’ sendo escrito pelos mais importantes livros do passado que representavam a cul- ture brasileira? Ou seja: como, 20 mesmo tempo que Alencar #© ava dentro da esttica romintica, pagando juros ¢ mora cultura européia, ia deixando transparecet no teu texto os valores scioecondmicos que jé eram constitutives de certa, pesada e resen- te tmdigdo. A impressio que se tem, lendo os nossos comparatistas, 44 de que toda possibilidade de escolha de um personagem, de claboragdo de uma trama — apesar de serem ele e ela nitidamente nacionais — advém apenas desses “alguns modelos a seguir” que os chegavam de alémmar ¢ que estavam 2 dsposigio dos nossos romancistas, asim como os nosso frutos exsticos extavam dispor- tos para os olhos europeus. Sim, Alencar era um homem de multas turas. Mas de leturas muito mais amplas generosas do que as que ostentam os seus eriticos, como alls atesaria qualquer con- sulla As suas copiosas notes de pé de pégina. Suas leitures nfo 16, Nopdes de intra de Literatura Brasilia. Ri, Paacaco Ales, 1951, 17 Fd de Alencar sua époce. Rio, Cvllagho Braseir/MEC, 1977, oe ec 9 feram x6 a literfrias que nossos erfticos insistem em repetit: ‘Chateaubriand, Fenimore Cooper, Walter Scott, Herculano, roman- ces de cavalaria, etc. Eram também outa.” ‘Sempre me intrigou a maneira como Alencar escolhia os seus personagens histéricos, os seus heréis evilios. Por que escolheu D. ‘Antonio de Mariz para personagem principal de O Guarani? Por ‘que precisamente aquela 6poca, inicio do século XVII, quando Por- tugal estava sob 0 jugo espanhol? ‘Retomando a diretiva da nossa leitura dos textos descritives 4o perfodo colonial, percebese que o inteesse dado pela tradisfo do discuro nativo é pelo lider brasileiro que constitu, numa deter ‘minada zona (ainda que diminuta), um governo por si préprio, mas ‘sempre em obediéncia a Portugal. A par disso, tem cle de ter cabe- dal préprio para dissoclar os seus inteesses econtimioos dos do Reino, isto ¢, poder ser um empresdrio autOoomo na nova terra, ‘porianto sein dependéncia econémica direta da Coroa; pelo con {ritio, deve inclusive ser fonte de lucro para cla. E desta forms, nos alert Antooil, que consegue valer 0 seu valor na Corte, com © fim de intevir na morosa méquina burocrtice transplantada ou ‘io para o Brasil. Sintomaticamente, Alencer, ao elaborar © seu primeiro romance histérico, escolhe D. AntGnio em uma situncio Bastante exemplar, que se presta « uma interpretagSo complex © sugestiva. Leiamos 08 capitules 1 © TI de O Guarani D. Antbnio € um dos fundadores da cidade do Rio de Janeiro. ‘Combeicu os inimigos ds sua pftria (franceses e selvfgens), com 0 fim de consolidar 0 dominio de Portugal nessa capitania”. Ajudou ‘a Mem de S4-¢ por ele foi recompensado com “uma sesmaria de ‘uma Iégua com fundo sobre sertio” (p. 30). E nessa sesmais ‘que o vamos encontrar, letores,abrindo “a pesada porta de jaa Tandé que serve de entrada” para o edifcio © 0 romance. O moti- ‘yo por que abandona o Rio ¢ se embrenha pelo serio € logo expli- ‘ado: Portugal tinha cafdo nas mos dos Filipes. “Quando pois, em. 1582, foi wlamado no Brasil D. Filipe II como o sucessor da monar- quia portuguesa, o velho fidalgo embeinhou a espada e retirouse do servigo” (p. 50). ‘Tal stuagio cxiethe a poss idade de articular, dentro de 18 Todas as citstee de O Guarani, Ircema « Ubijar, a, ari de {Sram exiles do 11 Ga Obra Complota (Ro, Agu, 1968). inte arigo de Augusto Meyer, analsedo mats ter, econ. 100 ‘0 seu proprio poder e exercer © govern. Poder © overno desvinculado —e ao mesmo tempo néo — de Portugal, fhuma atitude semelhante & de D. Joéo VI, transferindo o verda. Aeiro Portugal para o Brasil. Surge, assim, dentro do livro, o tema dd independéncia e da liberdade, com toda uma conotaglo ambt- sua que procureremos analisar. Tanto é livre o territ6rio com rela- (fo ao Portugal filipino, como o esté sendo porque nele consegue te estabelecer um senhor brasileiro, com plenos poderes. E claro ve, de mancira explicita, apenas se articule & independén frases situadas em pastagens diferentes: "Nesta terra que me foi dada pelo meu re, © conquistada pelo meu brago, nesta terra livre, tu reinarés, Portugal ( .) esse pedago de sertlo, nfo era senfo um fragmento de Portugal live”. Vemos que, jogendo com 0 conceito de liberdade relativa, consegue D. AntSnio introje- ‘ar Portugal no seu préprio projeto sécio-econdmico, legiimando-o, podendo assim constituirse em “senhor de barago ¢ cutelo, de alta baixa justiga dentro de seus dominios” (p. 32) ‘Tomase de novo imperioso preccuparse com as compara- {8es que o texto alencarino apresenta. Como no caso da Cultura ¢ Oputéncia do Brasil, elas visam a dar wm determinado status social 10 fidalgo rebelde, ao grupo de aventureios que o cercam e & casa ‘que 06 abriga. As comparagGes fluem no texto em nenhiuma econo- mia. D. Ant6nio de Mariz € realmente fidalgo, mas os aventareiros sio dados como vastalos ¢ a casa “fazia as vezes de um castelo feudal na Idade Média". Percebese nitidamente que, apesir de ‘fo se ter um senor de engenho no texto, as comparagdes abran: ‘gem o mesmo campo semintico feudal « medieval encontrado em ‘Anton E mais ainda: se em Antonl a lgica entre a “realidade” com parads © 2 que se Ihe compara 6 totalmente desprovide de jstezs, por razSes que s6 um especialsta pode detectar, tal 0 mascaramento sutil que 0 texto opera quando se refere as verdadeiras relagtes ‘condmicas que norteavam a empresa, equi jé nfo se dé o mesmo. © texto aponta para 0 mascaramento, Os aventureiros s80, prime’. ro, “pobres, desejosos de fazer fortuna répida e que tinhamse ‘animado a se estabeleer neste lugar, em parceries de dez ¢ vine, pera mais facilmente praticarem 0 contrabando de ouro e pedras preciosas que iam vender na costa”, para poucas linhas absixo 101 ‘seremvistos de outra perspectiva: “O fidalgo [D. Anténio} os rece- bia cémo um ricoshomem que devia protegéo e aslo aos seus vas salos (...)" (p. 31). E, em nota, Alencar nos informa: “Esse cos- tume tinha 0 quer que seja dos usos da Média Idade, ¢ a neces sidade 0 fez reviver em nosso pais onde faltavam tropas regula- res para as conguistas e exploragées”. Fica difcil poder articular uma relapio de igualdade étca e just (valores importantes no uni- verso alencarino) entre, de um lado, aqueles pobres, ambiciosos © contrabandistes, ¢, do outro, estes vassalos de um rico senhor fur- rani estamos diante de uma sociedade que jé se apresenta como histécica e européia (ainda 6 exatamente o {indice desse transplante). Na lenda, a sociedade é arcaica © histrica. Iso nio impede que Alencar retome suas costu- reiras comparagées, recaindo em perdodvel europeocentrismo ro- mintico, pois o fim Gbvio do texto é o de comprover, pela analo- ia, o valor “nobre” do elvagem, No capitulo VI de Ubirsjara, quando 0s diversos pretenden- tes aspiram 2 Araci como esposa, 0 romancista estabelece uma fencenagio para as festividades que, sem fugit as descrigdes fac- tunis dos visjante, guarda uma marcaglo que lembra os torneos rmedievais. Em note, esclarece Alencar: “Estes certames guerrel- 104, esses jogos de luts, combate e carrera, presididos por mulhe- res que julgavam do valor dos campeses ¢ conferiam prémio aos vencedores, no devem em galanteria aos torneios de cavalatia”” Como no pardgrafo anterior, € diffcil aceitar a proposta comps rativa se nio se tentar compreendé-la em termos da eficécia social pretendida pelo texto em pleno sfculo XIX. Isto se consegue, per- cexbendo que Alencar estabelece uma diferenca social bésica entre a crganizagio politica dot selvagens © a dos portugueses, criendo Pportanto estruturas nobres e parslelas. Ao mesmo tempo nega a diferenga, postulando a idenidade entre os dois grupos socais, ‘com o fim de dar estatulo feudal 20 indigena que, nar eucessivas suerras da Conquista, tudo tinha perdido. 19. CE now andes “Roto para uma letreSntrtexual de Ubiiae” Tn: Ubirlrs. Sto Pani, Ata, 1976. 102 Em O Guarani, constatamos que D. Anténio de Mariz, ape- tar de nio estar na frente de uma sociedade européia organizade, ‘tem em linguagem e comparacio nos trépicos. Assim também, apesar das criticas que viajantes, aventureiros ¢ missionérios tinham. feito ao selvagem brasileiro, apresentandoo como “bérbaro”, ou “tabula rasa”, 4 “papel branco”, Alencar os recupera posliva: mente em linguagem e em compara¢io. Dé-lhes de volta uma ima gem de valentia que Ihestinha sido negada. Adverte Alencar: “Os historiadores, cronstase viajantes da primeira épocs, senso de todo © periodo colonial, devem ser lidos & lux de uma critica severa”. E acresoenta: “Como admitir que bérberos, quais nos pintaram of igenas,brutos e canibais, antes feras que homens, fossem suscep- tives desses bros nativos que realgam a dignidade do rei da Crise $802" (p. 1159). No entanto, talvez.0 melhor exemplo de recuperagio do selva- gem, exatamente porque jé estamos dentro de um texto histérico, tsteja em O Guarani. Salientada por todos os seus leitores tem sido a earacterizasio de Peri que faz D. AntOnio: “Credeme, Alvaro, ‘um cavalheiro portugués no corpo de um selvagem!”®® Nesse sen- tido, ele € admitido dentro do “castelo feudal” como qualg iro branco, a nfo ser por D. Lauriana, que ainda considera “um animal como um cavalo ou um c#o”. A barreia entre o mun- do dos selvagens © o mundo arstocrético rui a0 mero estabeleci- mento de uma comparaglo de valor europeu por equele que man- ‘6m a chefia na regido. E importante salientar como Alencer vai separando os‘indigenas entre os que sio recupertveis como amigos © 06 que serdo para sempre inimigos e destrudos. Em Iracema, 0 drama da heroine resulta do fato de que pertence a uma tribo que 6 inimiga dos amigos de Martim. No entanto, este, elegendo-a como ‘exposa, separa-a do grupo, fazendo dela elemento amigo e postivo. ‘Ap6s 0 massacre dos irmios de taba, Alencar consti belissime frase para traduzir a angistia de Iracema: “Aquele sangue, que cnrubeseia a terra, era o mesmo sangue brioso que The ardia nas faces de vergonha” (p. 1094) 7 Sip sects, me ond om fo, 0 ses de mater so Biamanes", de Alfonto‘Arinor Pare qu a fil wor po nian neste € preciso que opal impor ‘inne scbrinha 6 um" homem®. PolSSerlo, Rio, Edges Ge" Our, wap. To. 103 ‘Atém do aspecto que estamos salientando, ou sej, que a com- ‘paragdo visa a dar um status social condigno a diferentes grupos (quer de brancos, quer de selvagens) que, em principio, nlo 0 tém, ppodemes ir além e ver como a discrepancia entre as “realidades”™ comparadas (por exemplo: os aventurciros s80 contrabandistas vassalos ao mesmo tempo) s6 pode ser compreendide com maior igor e noutro nivel levando em conta determinado padrao de pen- samento de Alencar, que chega mesmo a transcender 0 seu autor © época, Toda atitude de poder por parte do chefe nao é frontal- ‘mente aberta no texto slencarino; © gesto autoritrio #6 ve dé como forte © violento em circunstincias excepcionais, Assim & que, depois de definir D. Anténio de Mariz como senhor de "barago € culelo” (vide citagio acima), acrescenta: “devemos declarer que ara vex se tormara preciso a aplicacso dessa lei rigorosa; a sever dade tinha apenas o efeito salutar de conservar a ordem, « dsc ‘lina ¢ » harmonia” (p. 32). O chefe alencarino — pelo menoe noe seus romances histricos ¢ lendas — guarda muito da transparén- ia do “principal” indigena, como o descreveu Gabriel Soares de Sousa. O poder nlo é necesariamente coeritivo,e ele assim 0 pode ser e ele assim se mantém porque a hierarquia é muito e continue: mente marcada no texto. Em outras palavres: a lideranga € mais produto de uma hierarquizasio rigida do que conseqlncia de or dens violentat e repressivas. ‘A hierarquizacio em Alencar existe, como estamos salientando, Para os homens brancos (ou para os que se aproximam deles), com © fim de dar uma organizacio social ao grupo, de buscar um gover- ‘no que nfo seja coeritivo, violento ou arbtrério, Temos visto tam ‘bém que o recurso mais uilizado para tal fim a comparacto com ‘uma “realidade” européi, Este recurso é, ainda, utlizado para dar conta da diferenga que © texto estabelete entre dois elementos faparentemente idénticos, isto é, da mesma classe “social”, estabe- lecendo portanto subdivisies. Nesse aspecto, a hirarquizacio extra. ‘vasa of limites restritos dos seres humanos, para inaugurar di eneas no mundo natural. Uma classe & superior ¢ outta inferior como se pegfssemos o nome genérico rio para exctevé-lo no plu. ral indicando dois cursos de dgua distintos. Mas no momento em que a caneta rscasse o papel brotaria a necessidade de ssinalar ue, apesar de tudo, todos 0s ros no xf0 0 mesmo, 3s Ieitores de © Guarani tém acentuado a relago “feudal” 104 (que se estabelece entre os roe Paraiba e Paquequer nas pégines de sbertura desse romance. Através de duas comparagées, stabelece- ve 0 desnivelhierdrquico entre eles: “Dir-se-ia que, vasealo e tribu- tlrio deste rei das éguas, © pequeno ro, altivo e sobranceiro contra (0s rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano” (p. 27). Ora, o que esses letoresnio ifm percebido ¢ que o rio Paquequer, apesar de pequeno e de vassslo do “rei das dguas”, € altivo € sbranceiro diante dos rochedos. Estes passam portanto a funcio- rar como vassalos de um vassalo. Alencar sempre divide e subdi- vide para classficarhierarquicamente, estabelecendo relagSes infi- nits de diferenga, como se estivesse nos dizendo que nio hé pos blidede de uma repeti¢fo do mesmo dentro de qualquer siste- mma, A altiver e « humildade, Podemos chegar a uma primeira conclusdo: nko existe, no reino dos homens brancos e da natureza que os rodeia, posibilide- ede uma organizacio onde as posigées nio sejam hierarquica- mente definidas. E como a hierarquia € sélida © inguestiondvel, pois advém de valores categsricos, recobertos pelo campo semin- tico feudal, nfo hé necessidade de que haja poder coercitivo por pre do chefe contra as camadas que lhe so inferiores. C ‘um sabe o lugar que ocupa e que € 0 certo, visto que as possibilide- es de transfertncia, de mobilidade, de ascensio, estéo benides 40 universo textual de Alencar. © imobilismo rocial eongela todos os lementos da comunidade dos brancos, seam eles humanos ou nat ais. E 0 texto literdrio serve exatamente como efeito de codgulo, Apenas uma excegio € aberta dentro da sociedade branca. Exeegdo para o selvagem, sea ele indio, soa ele qualquer elemento de natureza que ainda nfo tenha entrado em contato com 0 branco. Ele foge & regra porque € live Por oposiglo, dirfamos que todos 0s elementos néoselvagens sio press, fixos e estticos socialmen- te, Sem diivid, nfo existe maior elopio sozial do indio do que este, ‘maior isengio de preconceito social contra a sua figura, (O mesmo io pode ser dito a respeito do negro, pois em nenfium texto dos que conhecemos se tematiza a netureze “nabre” do aficano e menos 21, Qbviamente,em Ubi, o sevage no 4 dar em liberdade soca Enconeve ‘em hirreuizaio sol, praia ‘co pda do Branco. Tem miso yer‘com nusncie: de fm Alener, doe com a Toi de" wsar naan 105 il) Dentro de uma organizaso s6cio- da, rigida, & 0 selvagem 0 tnico individuo ‘que tem o poder de mobilidade. Se for inimigo, 6 enfrentado ne ‘guerra. Caso seja tomado apenas como cativo, € vasislo: “quando ‘os respeitam sho vastalos de uma terra que conguistemos, mat so homens". Quando so “nobres” em seu proprio meio, poder se inscrever num excalio mais alto dentro da hierarquia europe ‘ade, mas neste caso nfo existe ascensio, apenas absoreso dign, ‘Vejamos, agora, como 0 selvagem “nobre” é absorvido © como se insereve na escals social. Recapitulemos um situaglo jf descrta fem parte. Peri € dado por D. Ant6nio de Mariz como “cavalheiro Portugués no corpo de um selvagem”. Mas Peri tem, ainds, status paralelo 20 instituido pela comparasio: “Peri estendeu 0 brago fex com a mio um gesto de rei, que rei dat florestas ele era, int ‘mando sos cavalheiros que continuassem sua marcha” (p. 39). Portanto o paralelismo das organizagtes socias, jf salientado ante rlormente, 6 que o deixa entrar na casa de D. Ant6nio, © nfo uma jusificaiva que se bascaria apenas na andlise do enredo, ou das Peripécias draméticas™ Alencar quer dizer que para o selvagem “nobre” sempre existe um lugar dentro da chefia do castelo feudal Desse modo, parece-nos também equivocads a tese que preten de colocar Peri de inicio como “escrava", visto que € assim que le se situa com relapio a Ceci, ¢ que veria ainda, no fato de no final do romance ele ser dado como seu “limo”, uma evidente ‘ascensto social. No. © escravo (escravo do. amor — isso sim) entra nesses constantes ¢ sucessivos processos de hierarquzasio, referidos anteriorment. A hierarquia € usads, neste caso, para me: lhor dfinir ediferenciar os trés pretendentes 8 mo de Ceci. Aten 22. © mhor exemplo de incbillamo sacial no sslo XIX encontrese em £8 Cortzo Todos os elementos hamancr preter cu tslton, m0 eo fhm foes ero tex gud, iif) "de um pres "simtin“beenco."A acenio existe para 0 ‘meno ebrdi ane, Go Stra Ropar Too Rom 25. Tiplen due ptnoro de letra 6 9 constaiago de Magaies Tier {STemancist nto explea como Pes a igac 4 tantla Maree fl por Gn no anaes soto, man verdedaamente sborigo, -) NBO ‘sabe como’ Peta salar em. de que nem como eine 29 fonto de conviver em’ Uo boa harmony om ox Maras © am gente” Feet pa 106 0: se existe sempre hierarquizacio em Alencer, eta no é sem- Dre social. Na medida em que seja capnz de abandonar 0 “corpo de selvagem” (isto é, de néo manter mals vida dupla e ambigus), Peri € um cavalheiro portugués e, portanto, digno do coragto de Ceci sem maiores transtomos ou reviravoltas socials. Para isto & preciso que haje “batismo” e ‘conversio", tSpico que jé tratamos ‘em outro lugar e que esceparia os limits tragados pare este ta: batho: ‘© mesmo nlo podemos dizer de Loredsno, por exemplo. Pois cate tem a sus posicfo social sempre inscrita como a de um vas- salo, O deanivel € um dado categérico no texto: ergue-e uma “bar reira que se elevava entre ee, pobre colon, ea filha de D. Antbaio ‘de Marz, rico fidalgo de solar e braslo” (p. 59). Caso quiseate cle conseguir uma situsgéo vantajsa, despertaria no senhor apenas 0 ‘poder coercitivo". Quando se ataca o chefe, ou sua fama, € 0 sistema de governo que € atingido, pois nfo existe diferenga textual entre 0 seu corpo (de came--oss0) 0 seu corpo social, como vimos fem Anionil. A ambigtidade lingistica existe apenas para dar conta deste duplo valor. Continua Alencar: "Para detrur esta barreira © iglar as posigées, sera necessrio um acontecimento extreordind- rio, um fato que alteasse completamente as leit da sociedade na- quele tempo mais rigorosas do que hoje” (p. 59). Esse acontecl mento extraordindrio nunca chega a acontecer dentro do texto de ‘Alencar, portanto 0 chefe s6 chega a ter de ostentar a sun ver. Aadeira face defensora da hicrarquia ¢ repressora das reivindion s8es quando surge um tipo semelhante de ameaga. ‘Mesmo que um elemento selvagem antes tenha se dado — 20 ter se aproximado do mundo do branco — como vasselo ou come ‘ativo, quando ele € aprisionado por uma comparagio do seu pré- prio reino (sto é, ndo existe intromisséo no campo semintico da ‘comparasio de um valor feudal), entdo se dé em total liberdade, (Caio extraordindrio neste sentido’ 0 de uma situaplo que apenas explicamos em parte, e que s6 tem atraido a eiica por esta prime 1 parte. Tratase do rio Paquequer de novo. Caso se o veje és ‘ou quatro lguas de sua for, ali “€ livre sind, como 0 filho indB- mito desta pétria da liberdade” (p. 27). Téo livre 6 que atravessa 2%. Algumas considerate # rexpito do disci refigoo oes mesmon {phere crn sealed sats cious an gt "Rhus de eae” Boro, 23, tn 107 1 florestas “como o tapt”, para precipitar-se “como o tigre sobre 4 presa, Assim como Peri tem vidas socais paraleas, assim tam ‘bém o ro. S40 eles que ttm uma ambiglidade social que permite, por exemplo, Pri ser fidalgo e selvagem. O rio 6 live, é susereno dos rochedos, 6 vassalo do rio Paratha. Se a hicrarquizagéo, dentro do mundo branco, é tio sélid, necessirio nio ve fax 0 uso da forga por parte do senhor, Este, em ‘Alencar, tem as mesmas caracteristicas do senhor de engenho des- crito em Antonl. Mas, 0 dcurso de Antoni é dirgido obviamen- te a0 Rei, O Guarani jé se dé numa relasio mais ambigua, pois ‘0 Rei que esté no poder em Portugal & falso. O verdadeiro Rei ¢ Inmeriorizado:interiorizado no Senhor (que assim pode devobedecer 0 falso, preservando em si o verdadeio), inteiorizado na Nova Pétria (6 pedago de tera brasileira é Portugal livre). AmbigUidede 4a liberdade: tanto & livre a tera sob o poder de D. Antinio de Mariz, quanto 0 f0i sob o poder do “rei das florestas”. No encon- two das duas nobrezas saris 0 chefe da napio tropical. Nao é esta 4 Teitura que deve ser feta de Moacir, em Iracema? Nio & esta a rando de ser das interpretagSes género Brasi-mestioo? um CChegado 6 0 ponto em que podemes colocar alguns problemas {de ordem geral, para que néo fiquem no ar as idéis lancades du ‘ante a Tetura que fizemos dos textos. Colocaremos dois tipos de problema: o primeiro deriva da leitura que fez Augusto Meyer de (© Guerani, » mex ver o trabalho mais compleno (apetar de suns ‘Poucas péginas) sobre Alencar que tivemos nos itimos anos. O se- ‘gundo problema (que, de fato, serd um confrontc) viria da const tasfo de que, a partir da década dos 50, as Cignciss Socias (alta mente europeizadas pela visio histérica e etnocéntrica), munidas de instrumental cientifco e sstemstico, passam a examinar também © passado histrico brasileiro, com resultados bem diferentes. Sera, entio, interesante que, em lugar de simplesmente fechar 0 nosso ‘trabalho com as suas conclustes légicas, fossem essas conclusSes ‘objeto de tensio num jogo de forgas dscursivas em que entrariam tanto Augusto Meyer quanto os cientisas sociais ‘0 artigo de Augusto Meyer & excepcionalmente bem construt do, © por iso serd fil confrontar nossa leitura com as suas trés pares: a) a ptimania de uma leitura esttica em Alencar; b) a ex- tmordinéria capacidade retrica em Alencer, como pode ser com- provada com instrumental de andlive tomado de empréstimo & exti- listca; ¢) apesar de tudo, Alencar nfo ¢ ainda 0 “intérprete” do Novo Mundo, vendo apenas um exemplo a mais do “vazio” cultu: ‘a, da “tenuidade” da conscitncia nacional. Comecemos pela ter- ceira parte. ‘Afirma Meyer: “Viviamos em meio dessa exuberincla; ela entre va pelos olhos; bastava aprender a olhar pera sofrer.he o influxo; tas faltando 0 interprete, aguele que impregna as coisas de um sen ido vivo (gifo nosso), ensina a ver e & suscultar a muda apart la, nada viamos nem senfamot, a nio ser 0 catélogo de produtos da tera, a fastidiosa enumerapo metrificads, eepéce de pavilhio pottco de propaganda na exposiio das maravilhas do Novo Mun- 4" (p. 21). E conclui: “Tudo isso correspondia ao ‘vaxio brat: lei’, & tenuidade da nossa consci8ncia nacional, sem Iason de tmadigdes sedimentadas, capaz de alimentar a obra lterdsia prescin: indo do arrimo de influtacias peregrinas” (p. 22). Claro 6 que tal racioeinio e conclusto nfo sio gratultos em Meyer; visa ele & uma critica do Romantismo brasileiro © a um elogio do Modernismo os cientistas sociais (através da figure de Sérgio Buarque de Hol anda) — ests, sim, os nossos primeiros “intérprete ‘ese que estamos desenvolvendo neste trabalho ameaga frontalmente a conclusio a que chege Augusto Meyer. Ten- ‘mos mostrar como, apesat da violencia do etnocentrismo, apesar de ser lingua companheira do Império, epesar deo chefe “nati v0" pouco usar © poder coereitivo (Sendo, portanto, pouco vive), © texto colonial no Brasil ¢ 0 farol que ilumina e codifica os novos valores que vio surgindo de maneira andrquica, mat dependente (oval, econdmica ¢ culturalmente). Dizer que falta “o interpret, fquele’que impregna as coisas de um sentido vivo”, é realmente scredtar na metifora da tabula rasa ao inverso dos portugueses, isto é, pensar que o indigena — completamente neutralizado duran’ te 0 periodo Colonial — pudesse, a partir do seu zero cultural, dado pelos textos ¢ pela lingua dominantes, pudeste ser elemento const- tutivo de uma “consciéneia nacional”. A tanto ndo chega o india- nismo de Alencar, exatamente porque ele recusa a metéfora da ‘abula rasa ¢ investepoliticamente no conflio entre portugueses € indigenas, encontrando entre estes amigos recuperdvels ¢ inimigos 109 destruldos. Dizer que falte 0 “intérprete” seria, por outro lado, pensar que a metéfora da tabula rasa deva ser tomada como 4 to ‘maram 0s primeiros conguistadores, iso &, acreditar que a cultura “nativa’ seria toda ela dade a partir da reflex nossa (e qual seria © sentido de “nossa” nesta frase) sobre a cultura europa. Linha ‘machadiana, de que Augusto Meyer mais se aproxima, levado cer tamente pela run inigualével erudigéo. ‘A conscitncia nacional x6 pode surgir de formas de compro- rmisso, de um entrelugar que passa a ser definidor no mais do ‘puro exotismo europeu, nem da pura exuberincia brasileira, mas 4a contaminacso do exotismo sobre a exuberincia e vice-versa. M festa contaminagio tem de ter diregio certa: a marca ideol6gica deve surgir no texto (ela sempre surge), indicando que a valore: ‘980 € dada pela “realidade” (européia) que & eserita inicialmente 1a frase, © no pela “realidade” que se the screscenta por compe: aslo. Existe uma corrosio dos valores entre si, de tal modo que © resultado final & um produto impuro, mas este & afirmativo, posi- tivo da nacionslidade. Ora, Meyer pode chegar & sua conclusio pessimista sobre 0 Romantismo brasileiro porque, na segunda parte do seu artigo, ‘esvazia semanticamente a utilizagSo por parte de Alencar dos con. tinuos exercicis retGricos, vendo no romancista apenas 0 “pulso do poeta domador de metéforas” (p. 15). Esse esvaziamento se dé yer faz'do recurso retGrico de comparagdes apenas uma tilistiea”, dentro doe moldes da escola expanhola chefia- dda por Démaso Alonso Assim & que a série de comparagées ini- ciais de O Guarani, referentes 20s dois riot, sio lidas, ou em con- Tonto com os textos hist6ricos de onde foram retiradas, ese insinua ‘af a copacidade transformadora e criatva de Alencar, ou nos seus efeitos sonoros, nos seus efeitos junto & sensibilidade (?) de leitor ‘moderno (7). Com a primeira leitura estamos de acordo, pois Alen- car ndo se resumin 8 transcrever as suas fontes histGricas, com uma “simples imagem”, mas evitava a “banalidade inevitivel da prosa Aescrtiva” de Os ‘Anais do Rio de Janeiro. Basta, no entanto, que confrontemos nossa leitura dessas mesmas comparapSes com a de ‘Augusto Meyer, para que de modo algum fiquemos satisfeltos #6 om esta conclusio: “A segunda oclusiva da palavra ‘tapir’ v coar seis vezes na frase repetida cinco vezes em ténica (...). Tratase de pros, certamente, mas logo se acusam outros recursos pottcos: ‘espumando e deixando’, rimas; ‘pelo’ e ‘pela’, rimas toantes (...)" (p. 16) ‘Um doe problemas da leituraestilistic € que ela tende a apenas tulientar no texto os processos retéricos empregados pelo criador, snalizando a impressd0 que eles esto causando no leitor. Esse tipo de leitura restringe-s a “série literéri, para user 0 termo dos for rmalistas rusios, © a uma outra série, mitoldgica, esta de sensasSes, Intuigdes, que © leitor (ideal) sentiia diante do texto, Preocupe-se cla em perceber apenas of jogos estlisticos e retéricos dentro da frase, numa busca de definigho do texto como pertencente ao g&- nero prosa ou a0 poesia, esquecendo-se de que, como nos alerta Roland Barthes, a frase € também sintaxe, & também estabelecedo- ra de hicrarquia. Alencar nig é s6 um pensador; caso 0 fosse tefa- mos de concordar com a terceira e jf debatida parte do artigo de Meyer e falar da tenuidade da sua conscincia nacional. Tampouco 6 6 um fazedor de frases (phraseur); caso o fosseteriamos de ficar tatifltos com qualquer leituraestilistica. Como diz Barthes, apoian- dose em Paul Valery, o escrtor & um Pensa-Frase. E, sendo a frase hierérquice, produz sempre um escalonamento de valores que a Teitara critica deve explicit. ‘A primeira parte do trabatho de Meyer indica — levando em conta as outras duss conclusdes que resumimos — a conceppio «que tem da letura ideal que se pode fazer hoje de Alencar. Afirma, ‘que, preocupedos em buscar uma inguitscdo analitica Fa leitura, perdemos 0 gosto da gratuidade, o amor 0 diverto e pitoresco, 20 imprevisto pelo simples imprevis ‘Quernos dizer que o testo de Alencar nfo se realga com a leitura tradicional ou com este que estamos fazendo. Isso porque a narra- tiva alencerina 6 parente dos romances de cavalaria, onde o que realmente conta é 0 “jogo de imprevistos". Negando portanto qual: quer leitura “robervalista” de Alencar, Meyer finalmente desabs- im confesso humildemente que no vejo indigenas lencar, nem personagens histGricas, nem romances histéricos; vejo uma poderosa imaginagio que transfigura tudo, a tudo atribui um sentido fabuloso e nio sabe criar sent dentro de mt tum clima de intemperanca fantasista. Poeta do romance, romances- tudo” (p. 153). Lamentamnos apenas que ertieos do porte acadé- ‘de umn Joio Alexandre Barbosa endosse estas palavras: “Esta 6 posgo mais adequada para que o letor de hoje, familisrizado ‘com ar tenis mais sofisticedas da narrative, pose ler ainda José de Alencar (...)”2" Actescentamos, 2 guisa de esclarecimento, que ‘fo estamos querendo torr “realsta” Alencar (como 0 fez Mon- tsiro Lobeto, segundo Meyer) tanto que nosea metéfora para o texto 6 farol, O que queremas salientar & que, diate da matéria anér ‘quica que € 0 Brasil e os brasileiro, diante da materia amor, ‘Alencar “adivinhou" o pessado brasileiro através de uma forma lite: rita, onde deixou explicito 0 discurso do chefe, empresirio no [Nove Mundo. E é por iso que o seu romance € hist6rico, 0 seu indigens 6 seivagem, e 0 confito nlo € mero imprevist, tomado dde empréstimo a romances de cavalaria (winds que sua “técnica” Ficcional 0 possa ter sido). O texto alencarino veicula 0 desejo de manter um diseurso da lideranca civil, camuflada por valores feu- dais. Diante da coguciea estética da primeira parte do artigo de ‘Meyer, diante do instrumental estlistico da segunda parte, 0 critico, #6 poderianegar, como o nega, qualquer organizagdo © ordem rocal ‘estabelecidas por Alencar. ‘Que & lideranga ¢ at hierarquias seam as equivocadas € 0 que nos diz 0 discurso das Ciéncias Sociais nos ciimos quarenta fanos. Portanto, aqueles dois focos de luz se multplicam, criando fuma yerdedeira tranga de fachos luminosos, quando se acendem sobre o mesmo eendro € os mesmos atores (pois, apesar de todos (0s textos, cenfrio © atores sfo os mesmos) as luzes do texto cien- tifico, Claro eth que antes teremos de levantar certa suspeigho ‘quanto A vaidade de se extabelecer, no processo do Conheciment, tuma identidade entre Cidncia ¢ Verdade. Todo discurso sobre regito © oF seus habitants (descritvo,ficcional,e actescentemos clentifico) € antes de mais nada uma tentativa de reflexio, de inter pretagio e de valorasio. Toda imposigéo da identidade Ciéncis— Verdade transform-se na forma mais aguda que pode ating um discurso toalitéio, dentro das demarcagSes do que se entende por Saber. Nio queremos negar que 0 texto cientfico imponha 0 seu deseo de poder; queremos apenas frisar que este deseo, se respal- 26, “Letra de Jou de Alencar" a: © Guarank, Sto Paulo, Ati, 1974, m dado pela mascara da Verdade, pode-se tomar intransignte, inques- tionével e ditatoril. (© interesse do presente trabalho € 0 de ndo deixar que se Afogue, por mero menosprezo clentfiista, 0 texto da lideranga privads, Jogtlo para dentro das Citncias ‘Socials com o fim de sumentar a concorréncia de discursos. Ao analisar priticas discur sivas, temos de salientar, primeiro, como cada forma tenta impor ‘of seus valores e qualssfo estes valores, para em seguida investigar ‘ome elas constituem uma concorréneia de discurso, um fixe terk entio devidamente evaliado pelo intérprete. ‘Tamando portanto um feixe de discurios, poderemos estabe- lecer com maior clareza 0 descompasso entre 0 texto feudal, que te afirma arcrico em suas estruturas, com o doe cientsts coca, ‘ue 8 afirma revolucionério nos seus propésitos. Alencar e Anto- ail apresentam um sistema de governo ¢ econbmico onde o lider tomase senhor absoluto da regi, gerando lucro para o Estado ‘ mantendo a sua posigho sem poder coerctivo porque a herarquid { estivel. Se Antonil se dirige a0 Rei (ou Alencar 0 Imperador, ‘como veremos adiane),é para reclamer da morosidade e da esma- ‘gadora pressio do “estamento burocrétio”, para usar a expressio de Raymundo Faoro. Assim como 0 estamento gers, em seu discur- 50 ¢ atuaglo, um intincado sistema de governo e fiscalizagio, hie- rarquias sociais que comportam certa mobilidade, 0 chefe alence- fino vai sendo responsivel pela forma politica que Maria Isaure Pereira de Queiroz estudou scb a categoria de “‘mandonismo leeal”3 Pode ser que, em iltima instinca, a tese de Raymundo Faoro, deseavolvida em Os Donos do Poder, sea correta. Sim, “o inglés fundou na Américe uma pétria, o portugués um prolongamento do Estado” (p. 122). Sim, & iiciativa particular entre nés se apre- Senta “sem o trago de rebeldia e de desafio a0 Estado do capita. lism industrial do futuro” (p. 114). Mais diffeil € rochagar com uma penada s6 a teoria feudal que explica o passado braileito, estabelecida pelos textos que estamos estudando, Diz Faoro com Seguranga: “0 feudalismo brasileiro se reduz em conseqiéncia, na palavra de um historiador, a uma figura de retrica” (p. 151). 27.9 Mando oc na she rola bei, Sto Palo, Aone, 13 Af esté 0 equivoco, © feudalismo nfo & spenas uma figura de retbria, se por figura de retrica se entende uma imagem gratu bela, E uma figura de retGrica utlizada para produzir um discur- 40 onde exatamente se dé poder ao Senhor para que possa questio- nar os exageros do estamento burocritico, O que Faoro nio chegs ‘8 compreender € que a metéfors pode ser ineliz, mas nio & ingt- ‘nua, E 0 que ele nio chega ainda a compreender é como ela & ‘ativada no momento em que o Estado se torna opressivo e exigente demas. Bastaria que, para isso, colocasse juntos ot captuloe IV € X do seu livro. No primeiro, rechaga a teoria feudal, e no outro ‘firma a importincia de um José de Alencar na critica ao esta ‘mento burocritco do Segundo Reinado. Leiamos Alencar, ativado por Faoro: “A nosta aristocracia € burocrética: nlo que se cont pponha somente de funcionérios pGblicos; mas essa classe forma 8 sua base, 2 qual adere, por alianga ou dependéncia, toda a camada superior da sociedade brasileira” (p. 389). Feudalism e extica 2 Durocracia vlo bras dessus, bras dessous, no discurso slencarino, ‘© Conhécimento, para quem 0 dé como nfosabido, € ums tentative de organizar essa concorréncia de préticas discursive, ‘este feixe que esté a nossa disposicéo desde que nos interessemos pelo discurso da Cultura Brasileira. Tentative de discernir cada forma, de movimentélas, ativando aquela que, no momento, nos parece a mais préxima das necessidades do presente. Assim, cre ‘mor, podemos comesar a falar de uma atividade politica que se dé através do discurso, com o pleno consentimento da Critica Litert- ria ¢ das Cienc is. Bo discurso (0 nosso, por exemplo) que avanga um presente que se mostra com todo o seu inguestionével desejo de poder, ao mesmo.tempo que inventa um passado que the serve de profundidade, ‘Atengio, no entanto. O sujet tanto impée valores através do seu texto, quanto valores The sfo impostos por aquela forma de dis- curso que ele passa a movimentar. Tanto aparece o eujtito a des ‘coberto no texto, quanto desaparece nas malhas intetextunis. Re- tomando um discurso de que se pretende mestre, mas que Ihe esce- et na-sua totalidade, porque jé foi escrito e repetido antes dele, 0 ‘escritor passa a ser'um mero elemento também discursivo, dife- rente portanto do seu desejo individual no ato da inscrigdo. © ex: ctor 86 pode ser encontrado numa anélise feita por um tereiro do s2u proprio diséurso,E este terceiro que, movimentando 0 discutso na de Alencar, diz da sua importincia politica hoje, Do alto da sua hierarguia evondmica, o chefe da empresa privade sé ousa manife {arse contra o Estado quando atacado. E af pronun: do luero, da liberdade © da democracia, Repitamos: liberdade ¢ democracia nfo estio dissociadas do lucro empresaral. Alencar, por exemplo, nas Cartas de Erasmo: dirigidas ao imperador, para iscutir © poder, 0 Visconde de Itaboral, para sugerit solugdes para a crise financeira, © 20 povo. Quem: repete suas frases hoje? “"Rasgase a Consituigdo, entorne-se sem medida a renda ne- ‘ional, caleam-se as leis de veguranca, ofende-se a propriedade indi. Vidual, engana-se despejadamente o pais zombando da sua bos fé (..) A este quadro lastimoso junta-e a crise das duas fonts prin. cipais da renda piblica. Q comércio (...); 8 agricultura (..°)2¥ (Setembro de 1977) 2%, Cartas de Erasmo. Obra Completa (Rio, Agile, 1965), p. #76 6 eta (Rio, Agila, 1965), p. 876 « 680, us

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