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Cadernos PDE
1 INTRODUÇÃO
1
Professora Ms.de História da rede estadual de Educação do Paraná, no Colégio Estadual Novo Sarandi – TOO
Email:adrianemeh@seed.pr.gov.br
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Doutora em História, Orientadora do PDE pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE –
campus de Marechal Cândido Rondon. Email: ivi.pereira21@gmail.com
Dentre as várias práticas cotidianas juvenis, uma delas é a utilização da
música nos momentos de lazer, no espaço público e privado, pois produzida por um
sujeito social, é fruto de suas vivências, e contribui para a reelaboração de conceitos
e pré-conceitos acerca de temáticas como as mulheres, por exemplo.
Nesse sentido, este artigo é fruto de uma pesquisa feita com alunos do ensino
médio, da 3º série, tanto do período matutino como do noturno, do Colégio Estadual
do Campo Novo Sarandi, para analisar, discutir e refletir sobre as representações
construídas sobre as mulheres nas músicas do sertanejo universitário.
Esta pesquisa se insere na linha de estudo: Fundamentos teórico-
metodológicos para o ensino de História, para discutir a utilização de fontes
históricas no contexto escolar, tendo como temática central a utilização da música
como fonte histórica e objeto de ensino de história.
A partir deste entendimento em relação à musica, vista como uma prática
social da cultura, produzida por sujeitos históricos num determinado contexto
histórico, construtora de sentidos e representações sobre o universo por ela criados,
a problemática desta pesquisa está em identificar que tipo de representações sobre
as mulheres as músicas do sertanejo universitário constroem, e de que maneira os
alunos percebem essas construções.
Esta problemática surgiu a partir das observações feitas entre os alunos que
tem como prática cotidiana, ao chegar ao colégio, nos intervalos e no fim das aulas,
o uso constante de aparelhos eletrônicos como MP3 e principalmente de aparelhos
de celular, que dentre seus vários usos, é utilizado para ouvir e reproduzir músicas,
de estilos variados, chamando a atenção para esta investigação. Quando
questionados sobre analisar as músicas em relação à sua composição, muitos
disseram que não o fazem e não pensam no seu conteúdo, gostando dela pela sua
sonoridade. Esse comportamento despertou o interesse em fazer junto aos alunos,
em especial do ensino médio, por ter maior compreensão e capacidade de
discussão, um trabalho de pesquisa e análise de músicas do sertanejo universitário,
o estilo mais ouvido pelos alunos (as).
Além disso, outro interesse foi a possibilidade de produção de conhecimento
histórico com a fonte música, despertando o interesse dos alunos/as por uma
história mais próxima de suas realidades, dando-lhes sentido, fazendo-os
perceberem-se como sujeitos históricos, considerando seus saberes e suas
representações de mundo e indivíduo.
Trata-se, portanto de uma atividade que viesse a despertar o gosto dos
alunos pelo conhecimento histórico a partir de uma fonte muito apreciada e próxima
a eles, a música, percebendo nela outras temáticas como das representações e os
sentidos construídos nas e pelas músicas do sertanejo universitário.
Assim, o objetivo geral estava em compreender os diversos usos da música
popular do estilo sertanejo universitário, como sendo uma fonte histórica e objeto de
ensino, problematizando-a, percebendo os sentidos e as representações construídas
sobre as mulheres.
Como objetivos específicos o interesse era de desenvolver uma metodologia
de ensino, de forma a valorizar as representações sociais dos alunos, utilizando a
música como fonte histórica; de pesquisar e selecionar músicas do sertanejo
universitário falando sobre as mulheres e compreender a construção de imaginários
sociais, representações e discursos presentes nestas músicas, relacionando o
conteúdo das músicas com seu contexto histórico de produção. Também se discutiu
a influência da Indústria Cultural com seus diversos meios de comunicação de
massa, na escolha musical dos alunos, influenciando-os ideologicamente.
A pesquisa foi realizada entre os meses de março e julho de 2014,
simultaneamente às aulas de história, com alunos do período matutino e noturno.
Como método de trabalho, foi utilizada a proposta metodológica das diretrizes
curriculares de História aliada à proposta da pedagogia histórico-crítica de João Luiz
Gasparin. Como material, foi produzido aos alunos/as uma apostila a partir da
produção didático- pedagógica – Unidade Didática, divida em 05 capítulos, que
contemplou desde a análise da música como fonte histórica à uma discussão
historiográfica de alguns conceitos como Representação, Indústria Cultural, dentre
outros. Quanto às fontes, optamos um utilizar videoclipes musicais selecionados dos
principais artistas indicados pelos alunos, como Michel Teló, Munhoz e Mariano,
Luan Santana, Fernando e Sorocaba, Pedro Paulo e Alex.
Contribuiu ainda para esta pesquisa a discussão feita por professores da rede
estadual no Grupo de Trabalho em Rede – GTR, onde fizeram suas contribuições ao
projeto e ao material produzido, sendo muitas dessas contribuições positivas,
apresentando diferentes pontos de vista acerca das interpretações das músicas.
A organização deste artigo se inicia com uma discussão bibliográfica acerca
da fundamentação histórica da pesquisa, para na sequencia apresentar de forma
mais detalhada a metodologia utilizada nesta pesquisa. Após, apresenta-se a
organização dos conteúdos de História em relação à temática central (música e
mulheres) com indicação dos instrumentos e recursos usados no trabalho. Posterior
a esta atividade há um detalhamento das atividades contidas na Unidade Didática,
para compreender como as ações foram efetivadas.
Ainda, há uma breve análise da implementação do projeto na escola, com as
diversas situações e atividades desenvolvidas na pesquisa para finalmente
apresentar o entendimento dos alunos sobre sua percepção acerca das
representações das mulheres nas musicas do sertanejo universitário, culminando
com algumas contribuições do GTR.
A música, aqui entendida como uma prática social da cultura, por vezes
requisitada pelos poetas ou pelos críticos, entoada pelas mais diversas
vozes e nos mais variados lugares, expressa tanto estados de espírito como
experiências de sujeitos históricos múltiplos. (HARTWIG, 2008, p.14)
3 O conceito de cultura é polissêmico, mas nesse contexto é entendido como ―[...] um padrão,
transmitido historicamente, de significados corporizados em símbolos, um sistema de concepções
herdadas, expressas em formas simbólicas, por meio das quais os homens comunicam, perpetuam
e desenvolvem o seu conhecimento e as atitudes perante a vida» (GEERTZ apud CHARTIER, 1988,
p.67). Ainda, ―a cultura designa e sintetiza os aspectos que conferem identidade e especificidade
aos diversos grupos humanos e sociedades humanas‖. (SIMÕES; GIUMBELLI, 2011, p. 188)
chamando a atenção do ouvinte, que passa a desejar o fetiche dessa música,
consumindo apenas seu sucesso. ―O ouvinte quer o simples, o conhecido, a parte
que lhe agrada. A criação musical inovadora fica bloqueada na medida em que se
querem agências de comercialização da música e querem apenas a fórmula‖.
(ADORNO apud NAPOLITANO, 2005, p. 27).
Nos anos de 1990 essa discussão ampliou à criação de um novo conceito, o
de cena musical (STRAW, 1991 apud NAPOLITANO, 2005) para dar conta dessa
multiplicidade e pluralidade de novos estilos, de novas possibilidades musicais
advindas de vários grupos sociais, como sendo práticas de uma cultura, não sendo
necessariamente uma cultura de oposição ao sistema, mas traduzindo várias
coalizões e alianças (NEGUS apud NAPOLITANO, 2005, p. 31).
4Pierre Bourdieu definiu habitus como ―sistema das disposições socialmente constituídas que,
enquanto estruturas estruturadas e estruturantes, constituem o princípio gerador e unificador do
conjunto das práticas e das ideologias características de um grupo de agentes‖.
5
A expressão indústria cultural foi empregada pelos filósofos da Escola da Frankfurt, Theodor Adorno
e Max Horkheimer e Walter Benjamin quando da publicação de obra, ―Dialética do Esclarecimento‖,
em 1947, que procurou analisar as produções culturais dos anos de 1930 em diante, na Alemanha.
Para Adorno o termo Indústria Cultural serviria para explicar a arte consumida pelas massas,
transformada numa mercadoria, pertencente a uma grande ―indústria‖, perdeu sua espontaneidade,
originalidade.
criando necessidades de consumo. No caso do sertanejo universitário uma
estratégia publicitária muito utilizada atualmente é a produção de videoclipes para a
internet, criando a ideia de fetiche na música. A cultura de consumo se transformou
numa das principais modelos para definir e legitimar comportamentos, valores e
ideologias.
Assim, é possível perceber que a música, constituidora de uma identidade,
está fortemente arraigada na memória dos sujeitos, pelo processo de repetição, o hit
parede, que dominados ou alienados por uma audição fetichizada, faz com que
muitos dos jovens nela se identifiquem. Numa sociedade marcada por mudanças
constantes e rápidas, a música se torna um dos elementos que contribuem para a
construção dessas identidades, ao que Hall (2006), irá chamar de identidades
plurais6, onde as velhas identidades estão em declínio, fazendo surgir novas
identidades.
Muitos de nossos alunos/as têm sua audição dominada ou alienada por uma
cultura de massa, que por vezes é apenas construída por uma indústria da cultura
6 Identidade plural é uma criação de Stuart Hall, para explicar as múltiplas identidades do fim do séc.
XX.
interessada em torná-los ouvintes cada vez mais pobres em audição e cultura, vistos
apenas como consumidores.
E, para que esses sentidos construídos na música sejam entendidos, há de
se compreender uma série de fatores como: criar um artista com carisma popular,
um estilo de música que terá identificação popular, uma sonoridade que leve em
conta a pluralidade da música popular e que caia no gosto da massa, uma ampla
difusão nos meios de comunicação de massa e uma temática que possibilite
identificação e envolvimento do sujeito.
Portanto, são nessas relações sociais construídas ao longo do tempo de cada
ser, que as identidades se constituem diferentemente para cada lugar e sujeito,
sofrendo influências oriundas de diversos lugares, como com família, escola, meios
de comunicação e a partir de uma música, por exemplo, construindo um imaginário
sobre as mulheres na sociedade.
Esta foi uma das canções mais cantaroladas pelos alunos e mais tocadas nas
mídias locais, como o rádio. Trata-se de uma canção curta, com o tempo de 2‘43
min e que tem boa parte de seu tempo destinado a repetição constante do refrão:
―Pra dá pra dá, pra dá, pra dá pra dá pra dá pra dá pra dá - Pra dar o que falar‖ . Na
visão dos/as alunos/as, o refrão, que se apresenta com duplo sentido cria a
conotação de que a mulher gosta de ser falada, que sai com roupas insinuantes
para ser popularizada quando sai, e que quer mostrar-se às outras mulheres e aos
homens, e que não se importa com o que vão falar dela. Noutro sentido, analisaram
que ela se sente livre para fazer as opções que quiser, que as roupas fazem parte
de uma ação maior, como de sair para a prática do sexo, mas que por isso será
falada, criticada, julgada.
Na análise feita pelos/as alunos/as, de forma individualizada justamente para
perceber como cada um deles/as percebeu as diferentes construções sobre as
mulheres na música, uma das questões consistia em saber que tipo de imagem
sobre as mulheres a música estaria construindo, ao que responderam:
Meninos Meninas
―uma mulher que não se valoriza, apronta todas, ―que a mulher é fácil, usa roupas curtas e bem
provoca olhares, atraente, que saem a noite para coladas para chamar a atenção‖
flertar, perder a linha‖ ―que ela é linda e usa roupas curtas e coladas
―que a mulher é assanhada e gosta de chamar a provocando o desejo nos homens‖
atenção dos homens‖ ―que a mulher para ser bonita e ―gostosa‖ tem
―uma mulher que veste roupas provocativas e que usar roupas apertadinhas e coladas‖
roupas apertadas‖ ―uma mulher safada, vulgar e gostosa‖
―de mulher que não sabe se valorizar‖ ―que a mulher que coloca roupas curtas vai pra
balada pra fazer sexo.‖
―uma mulher bonita e bem arrumada‖
―uma imagem irônica, mas que as mulheres não
são assim‖
―de mulher piriguete‖
―que a mulher é submissa a vontade do homem‖
Meninos Meninas
―que todo homem gosta de vestido apertadinho e ―de um homem que gosta de mulher que se
mulher gostosa‖ veste com vestido curto e corpo sarado‖
―que o homem manda do jeito que o pai gosta‖ ―alguém sério, bonito, charmoso, poderoso e que
―que o homem gosta de mulher com jeito de tem a razão‖
santinha e ele observa seu corpo‖ ―de homem safadinho que gosta de mulher que
―de um homem que visualiza somente o corpo da usa roupa bem apertadinha‖
mulher‖ ―de homem pegador, que pega todas‖
―de pagador e se a mulher de mole o homem
pega‖
―de homem safado que não se importa com a
mulher‖
― que o homem tudo pode‖
Ou seja, para maioria dos professores a música mexe com os sentidos dos
jovens, em especial pelo do aparato tecnológico, que lhes chama a atenção, para
então reproduzir seus comportamentos, suas falas, suas propostas de que ele seja
um ator, ou seja, de que ele represente alguém que interesse à sociedade
capitalista.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
— Existe sim, a sociedade em geral julga muito uma mulher, na roupa que
ela usa, a personalidade dela, se ela gosta de beber ou não, se vai em
festas, baladas, etc. Na visão de muitos uma mulher com o comportamento
adequado é aquela que cuida da casa, da família, uma mulher comportada,
que não usa roupas vulgares ou no caso de mulheres jovens, que não tem
família (marido, filhos), tem que ser uma jovem que trabalha, estuda, que se
valoriza e não se vulgariza.(menina)
— A sociedade impõe um comportamento que ela diz ser certo, e se você
não cumprir essas maneiras e "obrigações" você acaba sofrendo
preconceitos (menina)
— Não existe comportamento dito como certo ou errado, pois cada mulher
tem características psicológicas, emocionais e até mesmo culturais diferente
das outras. Porém a sociedade, como um órgão do convívio entre os
humanos, exerce uma pressão nas mulheres de modo que o seu
comportamento rotulam o seu modo de pensar e, portanto, influenciam nas
suas características pessoais que denominam o que é o certo ou o errado.
(menino)
7
Os vídeos finais podem ser encontrados no link: https://www.facebook.com/groups/
466580916802649/
— Perante a sociedade há sim um comportamento adequado a ser seguido
pelas mulheres... Como, por exemplo, cuidar dos filhos, da casa, não vestir-
se com vulgaridade!! Quando não seguidos dessa maneira, as mulheres
normalmente são vistas de uma maneira diferente, como se não fossem
apropriadas. (menino)
REFERÊNCIAS
MORAES, José Geraldo Vinci de. História e música: canção popular e conhecimento
histórico. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 20, n. 39, 2000.
SETTON, Maria da Graça Jacinto. A teoria do habitus em Pierre Boudieu: uma leitura
contemporânea. Revista Comunicação e Educação, São Paulo, maio/jun./jul./ago.
2002.