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Pedra

Tecnologia &Cal
da Reabilitação Conservação & Reabilitação

Tecnologia tradicional e “estado da


arte” na conservação do Património 
A cal: tradição e inovação
Preço: 5.00€ ( IVA incluído ) | Ano XVI - Nº 57 | Julho > Dezembro 2014 | Publicação Semestral

1 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


Para além do seu valor histórico e
simbólico, um edifício é um conjunto
de materiais sabiamente interligados.

Paredes de alvenaria de pedra, gaiolas


ou tabiques são exemplos de técnicas
complexas, praticamente esquecidas com
a construção nova e materiais associados.

É obrigação de todos zelar para que


os edifícios que integram o nosso
Património continuem a sua vida útil e
intervir de modo a manter-lhes a dignidade.
Reabilitá-los é preservar a transmissão de valor.

A AOF é uma empresa com mais de 50 anos


de existência, sempre ligada à salvaguarda do
Património. Soube adaptar-se às novas maneiras de
entender a intervenção, apostando fortemente na
formação dos seus colaboradores. A AOF possui um
grupo técnico alargado e altamente especializado
na área de conservação e restauro.

2 Nº57 | Julho > Dezembro 2014


| P&C Nº53 2012
Sumário Ficha Técnica
Pedra
&Cal
Conservação e Reabilitação

Nº 57 | 2.º Semestre
Julho > Dezembro 2014

Pedra & Cal, Conservação e Reabilitação é reconhecida


pelo Ministério da Cultura como publicação de manifesto
interesse cultural, ao abrigo da Lei do Mecenato.

EDITOR E PROPRIETÁRIO | GECoRPA – Grémio

06. EM ANÁLISE
Tecnologias do Património:
20. INVESTIGAÇÃO
Projecto de I&D RehabToolBox
do Património

a sofisticação pode esperar

DIRETOR | Vítor Cóias

COORDENAÇÃO | Joana Morão - Canto Redondo

PAGINAÇÃO | Joana Torgal - Canto Redondo

CONSELHO EDITORIAL | Alexandra de Carvalho


Antunes, André Teixeira, Catarina Valença Gonçalves,

15. INVESTIGAÇÃO
Inovação e tradição na 24. FORMAÇÃO
Fátima Fonseca, João Mascarenhas Mateus, Jorge
Correia, José Aguiar, José Maria Amador, Luiz
Oosterbeek, Maria Eunice Salavessa, Mário Mendonça
conservação do património Construção com terra
de Oliveira, Paulo Lourenço, Soraya Genin, Teresa de
com base em cal Campos Coelho

SECRETARIADO | Elsa Fonseca

COLABORADORES | Alexandre Araújo, João


Mascarenhas Mateus, João Miranda Guedes, Maria do
Rosário Veiga, Marluci Menezes, Miguel Brito Correia,
Paulina Faria, Raquel Paula, Regis Barbosa, Vítor Cóias
04 Editorial
Vítor Cóias
34 LÁ FORA
Deslocação ou morte. Salvando um IMPRESSÃO & ACABAMENTO
edifício histórico mudando-o de sítio LST - Artes Gráficas

06 EM ANÁLISE
Tecnologias do Património: 36 CARTAS & CONVENÇÕES
PUBLICIDADE
Canto Redondo
geral@cantoredondo.eu
a sofisticação pode esperar Tecnologias de construção nas normas Tel.: 21 885 20 35
internacionais de património
GECoRPA - Grémio do Património

09 O lugar das técnicas tradicionais


na conservação e na salvaguarda 38 PATRIMÓNIO PARA MIÚDOS SEDE DE REDAÇÃO
GECoRPA - Grémio do Património
do Património Aventuras e descobertas em livro Avenida Conde Valbom, 115 - 1 Esq.º
comemoram os 50 anos da Gruta 1050-067 Lisboa
do Escoural Tel.: 213 542 336 | Fax: 213 157 996

12 O lugar das técnicas tradicionais na


conservação e na salvaguarda do
www.gecorpa.pt
info@gecorpa.pt

Património 40 EDIÇÕES GECoRPA DISTRIBUIÇÃO Vasp, S.A.


Lançamento da segunda edição
do Anuário do Património atrai DEPÓSITO LEGAL 128444/00
15 INVESTIGAÇÃO
Inovação e tradição na conservação
profissionais e interessados
REGISTO NA ERC 122549
do património com base em cal
ISSN 1645-4863
42 NOTÍCIAS
NIPC 503980820
20 Projecto de I&D RehabToolBox

48 VIDA ASSOCIATIVA TIRAGEM 2500 Exemplares


Publicação Semestral

24 FORMAÇÃO Os textos assinados são da exclusiva responsabilidade


Construção com terra
50 AGENDA dos seus autores, pelo que as opiniões expressas podem
não coincidir com as do GECoRPA.

30 ESTUDO DE CASO
Estudo termográfico na igreja
51 Livraria CAPA: Mesquita de Djenné, Mali. Todas as
primaveras a comunidade local, sob a orientação
matriz de Freixo de Numão duma equipa de oitenta mestres pedreiros, procede
52 Empresas associadas do
GECoRPA - Grémio do Património
à renovação do revestimento exterior, com uma
mistura de barro e cascas de arroz.
© Christien Jaspars/Panos

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Editorial

Tecnologia
da Reabilitação
Vítor Cóias | Diretor da Pedra & Cal

“Estranhamente, a tecnologia, embora claramente um produto do homem, tende a desenvolver-se segundo


as suas próprias leis e princípios, que são muito diferentes dos da natureza humana e da natureza da vida em
geral. A natureza, por assim dizer, sabe onde e quando parar… A tecnologia não reconhece nenhum princípio
de auto limitação – em termos, por exemplo, de tamanho, velocidade, ou violência… No subtil sistema da
natureza, a tecnologia, e, em particular, a supertecnologia do mundo moderno, comporta-se como um corpo
estranho, e surgem numerosos sinais de rejeição.”
E. F. Schumacher1

A Tecnologia (do grego techne


“arte, aptidão, habilidade manual”) ocupa-
hoje, eles são chamados a espiar, através dos
impostos, da precariedade económica e da
nos conjuntos antigos […] deve respeitar
o contexto [envolvente], as proporções, as
-se dos saberes e instrumentos utilizados falta de expetativas de futuro. formas e as escalas existentes e deve utilizar
pelos humanos para contrariar as limitações materiais tradicionais”. Os prémios IHRU
que lhes são impostas pela natureza. Daí que faça todo o sentido refletir sobre 2014, ao contrário de outros prémios do
São os engenheiros os protagonistas do que contributo pode a sociedade esperar imobiliário ditos “nacionais”, fizeram a boa
desenvolvimento e aplicação dos diversos do setor da construção e, por inerência, dos pedagogia, destacando intervenções de
ramos da tecnologia. No domínio da seus atores mais informados, logo, mais reabilitação urbana discretas, económicas e
construção, é aos engenheiros civis, em responsáveis: os engenheiros civis e os respeitadoras daqueles princípios. Quanto
equipa com os arquitetos, que cabe a arquitetos. à tecnologia, justifica-se destacar em
responsabilidade pelo desenvolvimento, particular as referências à importância da
seleção e aplicação da tecnologia, dita Ultrapassada a maléfica “febre” da construção formação e da qualificação profissional
construtiva. nova, esta questão coloca-se, agora, no contidas nos textos do mesmo Autor, “é
domínio da reabilitação dos edifícios, dos indispensável estimular a formação de
Se bem que a citação de Schumacher, e a bairros, das cidades e, ao limite, do próprio artesãos e de especialistas na salvaguarda de
metáfora do aprendiz de feiticeiro, que lhe território. E não se pode dizer que a nova era conjuntos históricos”, e também no de João
está subjacente, não se aplique à tecnologia tenha começado bem, com a “festa” que Mascarenhas Mateus e, em particular, no de
construtiva com a mesma propriedade que foram as obras da Parque Escolar. Paulina Faria sobre a construção em terra.
a outras tecnologias cujos riscos são hoje
bem patentes, não há dúvida que, mercê da É essencial que a “reabilitação” atinja Em muitos aspetos, a reabilitação das
maquinaria, dos materiais e do gigantismo dos também o próprio setor da construção e o construções existentes, em particular das
meios humanos e financeiros que consegue seu parceiro por excelência, o imobiliário. que constituem património cultural, é mais
mobilizar, a construção exerce hoje um É necessário que estes dois setores, tão exigente do ponto de vista tecnológico que
enorme impacto sobre a natureza e o próprio importantes para a economia e para o a construção nova, pressupondo empresas
ambiente construído, ou seja, a cidade. O bem-estar dos cidadãos, se livrem das adequadamente qualificadas. Não há
que se passou em Portugal nas décadas da conotações com a corrupção, a fuga ao fisco empresas qualificadas sem que, nos seus
transição do milénio é disso um tristemente e o branqueamento de capitais, e se tornem quadros existam profissionais qualificados.
esclarecedor exemplo. A cupidez e falta dinamizadores duma revitalização genuína E, já agora, não haverá estímulo à aquisição
de visão dos empreiteiros, dos promotores das cidades e duma valorização sustentável de qualificações pelos profissionais, se as
imobiliários e das grandes associações do Património natural e construído do País. empresas não forem avaliadas de acordo
empresariais do setor, aliada ao facilitismo da com aquele critério
legislação e à venalidade de muitos decisores, E é, também, necessário que, enquanto
deixou em herança, aos portugueses que gestores, projetistas e dirigentes de
agora atingem a idade adulta, um País com o empresas, os arquitetos, os engenheiros e – 1. Small is beautiful: Economics as if people
seu património natural e cultural desvalorizado no domínio específico do Património cultural mattered. Londres, Blond & Briggs, 1973.
e a sua economia depauperada pelos construído – os conservadores-restauradores,
milhares de milhões de euros enterrados saibam fazer as melhores opções do ponto Nota final
Enquanto diretor da P&C cumpre-me apresentar
em obras supérfluas: centenas de milhares de vista dos programas das intervenções de aos leitores, anunciantes e demais parceiros,
de habitações vagas, hectares e hectares reabilitação e das tecnologias nelas utilizadas. as minhas desculpas pelo atraso com que este
de solos infraestruturados ao abandono, Quanto aos programas das intervenções não número da P&C é publicado, atraso que se fica
a dever a uma sobreposição de ocorrências
estádios de futebol impossíveis de rentabilizar, é demais sublinhar as referências à Carta
que afetaram a disponibilidade de alguns
quilómetros de autoestradas sem tráfego que Europeia do Património Arquitetónico, 1975, colaboradores. A direção está a tomar medidas
as justifique, mais centros de congressos, feitas no texto de Miguel Brito Correia: “A para que atrasos desta magnitude não se repitam.
pavilhões polivalentes, etc., etc.: pecados que, introdução de arquitetura contemporânea

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Se a sua área é a Reabilitação...
Dez bons motivos
para se associar ao GECoRPA
1 - Experiência 6 - Informação
Os associados têm a O GECoRPA
GECoR procede à
oportunidade de recolha e divulgação de
contactar com outras informação técnica sobre
empresas e profissionais o tema da reabilitação,
do segmento da conservação e restauro do
reabilitação, e trocar edificado e do Património.
experiências e Os associados têm acesso
conhecimentos úteis. a informaçãotécnica e
O Grémio constitui, por legislativa.
essa razão, um fórum
para discussão dos 7 - Gestão da Qualidade
problemas do setor. O Grémio do Património
proporciona apoio à
2 - Representatividade implementação de
O GECoRPA garante sistemas de gestão da
uma maior eficácia na qualidade e à certificação,
defesa dos interesses oferecendo aos sócios
comuns e uma maior condições vantajosas.
capacidade de diálogo
nas relações com as 8 - Publicações
entidades oficiais para Com uma circulação de
melhor defesa da cerca de 3000 exemplares
especificidade do setor. todos os semestres, a
revista Pedra & Cal,
3 - Concorrência Leal editada pelo Grémio, é o
O Grémio do Património veículo preferencial para
bate-se pela sã o debate de temas e
concorrência entre os problemas do setor.
agentes que operam no Os sócios recebem-na
mercado, defendendo a gratuitamente.
transparência, o preço
justo e a não 9 - Publicidade
discriminação. e Marketing
O GECoRPA distingue as
4 - Referência empresas associadas em
Muitos donos de obra todas as suas atividades.
procuram junto do Os sócios beneficiam de
Grémio os seus condições vantajosas na
fornecedores de serviços publicidade da Pedra &
e produtos. Pertencer ao Cal e no Anuário do
GECoRPA constitui, Património, onde podem
desde logo, uma boa publicar notícias, estudos
refe
referência. de caso e experiências da
sua atividade.
5 - Formação
Os sócios têm prioridade 10 - Presença na Internet
na participação e O sítio Web da associação
descontos na inscrição constitui um prestigiado
das ações de formação e centro de informação das
divulgação promovidas atividades, soluções e
pelo Grémio do serviços de cada
Património. associado na área da
conservação e da
reabilitação do
património construído.
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Em Análise

Tecnologias
do Património:
a sofisticação
pode esperar
Vítor Cóias | Presidente da Direção do GECoRPA

Na linha da visão utópica da ciência como


garante de um amanhã radioso, ou, mais
prosaicamente, do marketing das grandes
A
s últimas décadas do século XX
permitiram constatar que as tecnologias
mais sofisticadas contêm consequências
multinacionais da indústria, as tecnologias nefastas, frequentemente difíceis de avaliar,

“avançadas” surgem-nos envoltas numa para a saúde humana e para o ambiente.


Citando Alvin Toffler, “Os nossos poderes
aura de irresistível encantamento. Ao tecnológicos aumentam, mas os efeitos
laterais e os perigos potenciais também
longo do século XX, no entanto, várias crescem”.
tecnologias, antes olhadas como símbolos No setor da construção, a tecnologia
de progresso e modernidade, revelaram manteve-se até praticamente ao século
XIX, a partir do qual passámos a assistir
inconvenientes e riscos que fizerem esfriar uma evolução cada vez mais rápida, com
o entusiamo inicial, se não levaram ao o advento do aço e do betão armado. Este
último material, que dominou a construção
seu total abandono. É o caso da energia no século XX, inicialmente considerado
como paradigma da robustez e durabilidade,
nuclear, celebrada no “Atomium”, símbolo cedo mostrou os seus pontos fracos.
da Exposição de Bruxelas de 1958, uma Ironicamente, estes serviram, por seu turno,
de pretexto para o lançamento de todo um
bizarra construção de aço inoxidável que conjunto de novas tecnologias destinadas a

ainda lá permanece, ou do transporte aéreo fazer-lhes face. O exemplo mais notório, a


nível mundial, de uma promissora tecnologia
supersónico, materializado no anglo-francês construtiva que é totalmente abandonada
por pôr em perigo a saúde dos utentes dos
Concorde e no Tupolev TU-144, na versão edifícios, é, no entanto, o da utilização do
soviética. Estas novas tecnologias, uma no amianto e dos produtos com ele fabricados,
como o fibrocimento (fig. 1).
domínio da produção de energia, outra no
No setor da conservação do Património,
do transporte aéreo, aparecem-nos, hoje, um dos exemplos mais flagrantes de
indelevelmente associadas às imagens precipitação na utilização de novas
tecnologias construtivas é o do recurso ao
de pesadelo que comprovaram, de forma betão armado. De facto, a Carta de Atenas
de 1931, ao enunciar as Conclusões da
trágica, a sua inelutável falência. Conferência Internacional sobre o Restauro

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2

1 | Lusalite. Chapas de cobertura e outros


acessórios para a construção fabricados
com uma mistura de cimento e amianto.

2 | Guédelon, França. A construção do


castelo, utilizando tecnologia medieval,
1 deverá ficar concluída em 2022.

dos Monumentos, aprova, no seu ponto assediado, pela indústria, com propostas de Os sete requisitos básicos a satisfazer pelas
IV – Os materiais do restauro, “o emprego novas soluções, utilizando novos materiais, construções, ao longo do seu ciclo de vida,
sensato de todos os recursos da técnica novos equipamentos e novos processos. logo das tecnologias nela utilizadas, são:
moderna e muito especialmente do betão Dado o conservadorismo do setor e a
armado.” Esta aprovação explícita para a insensibilidade que frequentemente mostra 1. Resistência mecânica e estabilidade
área do Património, dum material que então em relação às questões ambientais, a 2. Segurança contra incêndio
se começava a instalar nas preferências tomada de consciência dos impactos na 3. Higiene, saúde e ambiente
de arquitetos, engenheiros e empreiteiros saúde humana e no ambiente tem sido muito 4. Segurança e acessibilidade na utilização
da obra nova, levou a que proliferassem, lenta. No entanto, para além do amianto, é já 5. Proteção contra o ruído
inclusive no nosso País, intervenções longa a “lista negra” de materiais usados na 6. Economia de energia e isolamento térmico
de “restauro” de edifícios históricos e construção e na manufatura de elementos e 7. Utilização sustentável dos recursos naturais
monumentos em que dele se usou e abusou. componentes a ela destinados, cujo efeito
As consequências não se fizeram esperar, deletério está comprovado, sendo urgente a O cumprimento destes requisitos pelos
desde a manifesta agressão à autenticidade regulamentação do seu uso entre nós. agentes envolvidos no processo construtivo,
das construções intervencionadas, até aos em particular pelos donos de obra e
danos resultantes da incompatibilidade física A utilização de novos produtos e sistemas projetistas, impõe uma “filtragem” das
e química do cimento com os materiais no setor da construção encontra-se, na tecnologias utilizadas e depende, na
antigos, passando pelo agravamento União Europeia, sujeita ao Regulamento prática, da sua rigorosa transposição para
das cargas sobre os elementos originais (UE) N.º 305/2011 do Parlamento Europeu a regulamentação nacional aplicável à
resultantes do acréscimo de massa e do Conselho, de 9 de Março de 2011, construção. Em relação aos requisitos 3 e
associado à frequente substituição de que estabelece condições harmonizadas 6 essa transposição é ainda incompleta e,
componentes de madeira por outros de para a comercialização dos produtos de em relação ao requisito 7, é praticamente
betão armado. construção, definindo um conjunto de inexistente.
sete requisitos básicos a que as obras
Constata-se, portanto, que os riscos de construção estão sujeitas – incluindo, O enunciado destes sete requisitos é,
inerentes à utilização de técnicas e produtos implicitamente, as intervenções de claramente, feito a pensar na construção de
sofisticados estão, também, presentes no reabilitação, de manutenção e, no caso dos raiz, cujo peso no conjunto da produção do
setor da construção e, em particular, no edifícios históricos e monumentos, as setor da construção tem vindo a diminuir
segmento da reabilitação, constantemente intervenções de conservação e restauro. a favor das intervenções de reabilitação

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Em Análise

das construções existentes. Nestoutro A utilização de tecnologia medieval vem 3 | Mesquita de Djenné, Mali. Todas as primaveras
a comunidade local, sob a orientação duma equipa
segmento de atividade as características sendo, desde 1997, exemplificada na de oitenta mestres pedreiros, procede à renovação
da construção a intervir são determinantes construção (no caso, de raiz) do castelo de do revestimento exterior, com uma mistura de barro
de todo o processo, justificando-se Guédelon, em França (fig. 2). Tal abordagem e cascas de arroz.
a introdução de um novo requisito, “radical” não é, no entanto, viável na
o da compatibilização do programa conservação do Património, quanto mais
da intervenção com essas mesmas não seja, por razões de custo e prazo de
caraterísticas. Este requisito adicional pode execução: a conclusão da obra de Guédelon
obrigar à flexibilização no cumprimento de está prevista para 2022! Mas é possível e
alguns dos outros. aconselhável, em muitos casos, utilizar os
materiais tradicionais e, até, métodos de
Nas intervenções no Património cultural trabalho antigos.
construído será necessário considerar,
desde logo, um requisito prioritário, O cumprimento de todos aqueles requisitos
o da salvaguarda do valor do objeto conduzirá, desejavelmente, a que, também Finalmente, cabe aqui invocar o conceito
intervencionado, em termos da sua na reabilitação e na conservação do de “sustentabilidade” numa perspetiva
autenticidade e integridade, ao passo que Património, se caminhe para a utilização mais abrangente, definindo um derradeiro
todos os outros poderão vir a ter de ser da tecnologia apropriada, isto é, segundo requisito básico dos empreendimentos de
derrogados, em maior ou menor grau, David Eisenberg, fundador do Centro de construção, incluindo os de reabilitação e
face à prioridade absoluta dessa mesma Desenvolvimento da Tecnologia Apropriada, manutenção do Património cultural: o da
salvaguarda. “a tecnologia de nível mais baixo ou mais utilização de tecnologias que não coloquem
simples capaz de executar bem o trabalho. os destinatários ou as suas comunidades na
Poderia dizer-se que, idealmente, as Pode ser “alta-tecnologia”, “média- dependência de organizações e geografias
intervenções nos imóveis de grande valor -tecnologia”, “baixa-tecnologia”, “zero- sobre as quais não têm controlo. Ou seja,
cultural deveriam recorrer aos mesmos -tecnologia”, ou uma combinação, com base de tecnologias que ajudem a desenvolver
materiais e às mesmas tecnologias nos usos e necessidades específicas”. a capacidade local para responder às
tradicionais utilizados na sua construção. necessidades locais (fig. 3)

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Em Análise

O lugar das técnicas


tradicionais na
conservação e na
salvaguarda do
Património
João Mascarenhas Mateus | CIAUD - Faculdade de Arquitectura - Universidade de Lisboa

Falar hoje de conservação ou de


A
formação de novos arquitectos e
engenheiros nas universidades portuguesas
técnicas tradicionais nas intervenções é orientada no sentido da utilização
optimizada dos materiais e processos
em antigos edifícios gera ainda, industriais disponíveis no mercado nacional,
determinado por situações de monopólio
junto de muitos profissionais da mais ou menos evidentes. A utilização de
construção e da arquitectura, grandes técnicas baseadas nas antigas culturas
construtivas da cal, da terra ou de madeira
equívocos: soluções conservadoras, é por isso vista como uma ameaça

castradoras da criatividade e aos mercados estabelecidos no sector.


Argumentos do tipo “são técnicas que só
portadoras de obstáculos à utilização encarecem as intervenções”, “repetir a sua
aplicação implica a produção de pastiches”,
de linguagens contemporâneas de “não se encontra quem as possa realizar”,
concepção e execução. Os detractores contribuem para a marginalização das
técnicas tradicionais e para a sua prática
da utilização das técnicas tradicionais residual.

ignoram profundamente as teorias As causas desta situação são na verdade


e as práticas da conservação e do múltiplas: uma atitude totalmente
ultrapassada de crença no “progresso” que
restauro arquitectónicos, as suas defende que as técnicas e os materiais
contemporâneos são muito “melhores” do
transformações, os ricos debates que que os “antigos” que leva à total ausência
as actualizam e, sobretudo, a atitude do ensino das técnicas tradicionais nos
curricula de todos os níveis de formação
de abertura à contemporaneidade que dos profissionais da construção; políticas

essas teorias apresentam. proteccionistas das indústrias estabelecidas;


ignorância generalizada sobre a natureza
das técnicas tradicionais e sobre as
vantagens da sua utilização.

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Em Análise


Os debates teóricos
sobre o uso de
técnicas tradicionais e
contemporâneas surgiram
sobretudo a partir dos
anos 60 do século XX e
intensificaram-se com o
alargamento do conceito
de património edificado
não só à arquitectura
vernácula, mas também
a sítios urbanos e
rurais. Deixando de Os debates teóricos sobre o uso de
técnicas tradicionais e contemporâneas
existentes e valorizar as novas adições e
transformações.
estar circunscritos aos surgiram sobretudo a partir dos anos 60
do século XX e intensificaram-se com o Mas a utilidade do conhecimento das
grandes monumentos, alargamento do conceito de património técnicas tradicionais de construção não
os novos conceitos de edificado não só à arquitectura vernácula,
mas também a sítios urbanos e rurais.
se limita somente às fases de projecto
e execução. Conhecer as preocupações
património implicaram Deixando de estar circunscritos aos que os antigos construtores tinham
grandes monumentos, os novos conceitos com os processos de deterioração e os
uma discussão contínua de património implicaram uma discussão cuidados que empregavam na protecção
e evolutiva sobre o contínua e evolutiva sobre o que conservar e na manutenção dos edifícios que tinham
e como conservar. construído, serve frequentemente para uma
que conservar e como escolha de soluções de intervenção mínima,

conservar.“ Saber, ou pelo menos poder inferir de


forma justificada, como se construiu um
mais económicas, localizadas e de maior
durabilidade. A aplicação de muitas acções
dado objecto arquitetónico permite uma de manutenção tradicional executadas
aproximação às intenções e ao tipo de de forma regular e em sintonia com as
estrutura de conhecimento construtivo condições climáticas e os ciclos sazonais
dos seus projectistas e dos responsáveis permite, em muitos casos, soluções de
Os edifícios antigos em alvenaria de pedra pela sua execução. Esta aproximação é alta sustentabilidade se comparadas com
/ tijolo e cal ou em terra são depositários particularmente útil na fase de estudo prévio intervenções expeditas com materiais
duma linguagem própria e específica e avaliação dos valores de que o edifício contemporâneos.
constituída por regras de “sintaxe antigo é testemunho, na compreensão das
geral” e por regras de “sintaxe local e patologias e das limitações dos materiais em A escolha das técnicas e dos princípios mais
especializada”. Estas últimas constituem presença, dos erros ou faltas cometidas na adaptados a uma determinada intervenção
adaptações e variantes usadas numa dada sua manutenção. A escolha da combinação está directamente relacionada com o
região e período histórico, dependentes de zonas a construir com zonas a conservar, “dosear” de técnicas tradicionais e técnicas
das preferências estéticas, dos materiais de intervenções de demolição localizada, contemporâneas. Porque cada edifício ou
disponíveis, das condições dos solos de de reforço e de restauro passa por associar monumento histórico apresenta as suas
fundação e das condições ambientais locais. cuidadosa e atentamente as técnicas particularidades de conservação, este
originais de construção e as novas técnicas “doseamento” deve ser feito não de forma
No entanto, a redescoberta deste antigo e materiais. facciosa baseada somente em debates
léxico só tem significado nas implicações teóricos, mas justificado pela aplicação
operativas e na sua utilidade na conservação Na fase propriamente dita da execução dos sistemática da metodologia da Conservação.
do património edificado, integrada na trabalhos, conhecer e utilizar sabiamente
metodologia mais vasta da conservação de argamassas de cal, pedra aparelhada, As técnicas tradicionais consistem antes
um edifício histórico e nos mais recentes tijolos de produção de artesanal, telhas ou de mais em conhecimento que torna mais
debates teóricos. revestimentos tradicionais permite garantir ricas as comunidades que as preservam
o bom comportamento dos materiais e as aplicam porque consubstanciam, em

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A escolha das técnicas e dos princípios mais adaptados a uma
determinada intervenção está directamente relacionada com o
“dosear” de técnicas tradicionais e técnicas contemporâneas.
Porque cada edifício ou monumento histórico apresenta as suas
particularidades de conservação, este “doseamento” deve ser feito
não de forma facciosa baseada somente em debates teóricos, mas
justificado pela aplicação sistemática da metodologia da Conservação.

geral, relações sábias com os materiais, os histórico, mas também um valor tecnológico intervir em preexistências que não foram
recursos naturais, com as paisagens e os que importa salvaguardar na hora de decidir construídas com as técnicas de hoje. Com
territórios. Para além disso, muitas técnicas sobre uma determinada intervenção. esta premissa metodológica serão sem
tradicionais da pedra, da cal, do tijolo e dúvida conseguidos resultados positivos
da madeira, subentendem a reciclagem de As técnicas tradicionais são património claros. E sempre que critérios como a
materiais, a sua reintegração na natureza imaterial e são as responsáveis pela compatibilidade física e química entre
com um baixo impacto e uma pegada produção e ao mesmo tempo o garante materiais de intervenção e os existentes,
ecológica reduzida se comparada com o da conservação e da salvaguarda a legibilidade, a reversibilidade, a baixa
emprego de muitos materiais e técnicas de uma grande parte do património intrusividade, a preservação máxima de
contemporâneos. material, em particular do edificado. O material histórico e o respeito pela unidade
conhecimento e a utilização optimizada do objecto arquitectónico constituam
A grande maioria dos edifícios antigos das técnicas tradicionais a par das objectivos orientadores das intervenções
em alvenaria e madeira são expressão técnicas contemporâneas de construção
e testemunho de culturas materiais e preservação deve fazer parte dos * Artigo redigido ao abrigo do antigo acordo
desaparecidas e por isso possuem não só curricula da formação de todos os níveis ortográfico.
valor arquitectónico, estético, artístico e de profissionais que se ocupam em


As técnicas tradicionais são património imaterial e são as responsáveis
pela produção e ao mesmo tempo o garante da conservação e da
salvaguarda de uma grande parte do património material, em
particular do edificado. O conhecimento e a utilização optimizada das
técnicas tradicionais a par das técnicas contemporâneas de construção
e preservação deve fazer parte dos curricula da formação de todos os
níveis de profissionais que se ocupam em intervir em preexistências
que não foram construídas com as técnicas de hoje.“
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Em Análise

Técnicas de reabilitação
de âmbito estrutural
tradicionais vs. modernas
João Miranda Guedes | NCREP - Consultoria em Reabilitação do Edificado e Património, Lda.

C abe aos técnicos definir


as acções que melhor se adaptam à
intervenção em cada edifício. Neste campo,
A reabilitação de uma edificação e referindo apenas as acções de carácter
estrutural, poderemos baptizar as técnicas
tem por objectivo primeiro dotá-la de intervenção como tradicionais, ou de
abordagem tradicional, se próximas ou
de condições de segurança e identificáveis com as técnicas originalmente
funcionalidade. Porque se trata de uma utilizadas na construção do edifício, ou
modernas se introduzem conceitos, ou
construção existente, deverá envolver modos de actuação novos relativamente às
anteriores. Note-se que não será apenas o
acções que promovam, prioritariamente, procedimento ou o material utilizado que
a manutenção do existente, ou seja, a distingue os dois tipos de técnicas, mas
a transformação que causa na estrutura;
preservação da edificação, aproveitando no primeiro caso aproxima a estrutura

os materiais e elementos estruturais e intervencionada da estrutura tal como foi,


ou poderia ter sido concebida originalmente,
arquitectónicos presentes. Neste contexto, e no segundo altera-a, dotando-a de um
comportamento distinto.
que distingue claramente reabilitação de
reconstrução ou construção nova, tal como A título de exemplo, e na sequência do
exposto anteriormente, referem-se em
é suportado por cartas e recomendações seguida algumas técnicas identificadas
como tradicionais e passíveis de ser
internacionais sobre intervenção no utilizadas em construções antigas com
construído, é fácil perceber que a paredes em alvenaria de pedra e pavimentos
e cobertura em madeira. Salienta-se que
reabilitação de uma edificação recorra estas técnicas serão apresentadas de
forma isolada e que o seu uso deverá
frequentemente ao uso de técnicas que se ser ponderado caso a caso, em função
aproximam das originalmente utilizadas da situação encontrada e das exigências
estabelecidas. Assim, serão apresentadas
na sua construção. três situações de dano numa parede de
alvenaria de pedra para as quais serão
descritas três soluções aplicando técnicas
tradicionais:

a) Seja uma parede estrutural de alvenaria


de pedra com deformações na direcção
perpendicular ao seu plano. É possível

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1

1 | Pavimento novo em madeira lamelada estabilizá-la ligando-a às vigas de madeira Apesar dos exemplos apresentados
colada, semelhante aos pavimentos antigos dos pavimentos e/ou da cobertura; representarem procedimentos próximos
mas com intervenções pontuais para melhorar
o comportamento. b) Se essa mesma parede for de dos utilizados na construção original,
paramentos múltiplos, é possível melhorar o procurando reproduzir aquilo que são
seu comportamento ligando os paramentos algumas das suas características, estas
através da introdução de ligadores técnicas introduzem frequentemente
horizontais posicionados transversalmente aspectos inovadores com a utilização de
à parede; novos materiais, ou de variantes no modo
c) Por outro lado, se existirem pedras como são aplicadas, sendo, nalgumas
fracturadas que condicionem o bom circunstâncias e por alguns autores,
funcionamento da parede, algumas dessas apelidadas de técnicas inovadoras. A título
pedras podem ser substituídas por novas de exemplo refere-se novamente o uso de
pedras, aproveitando-se a intervenção para ligadores transversais entre paramentos de
melhorar o imbricamento local das pedras paredes de pedra de panos múltiplos e que,
nos alçados. quando existiam, eram colocados durante
a construção. Não sendo possível utilizar
A primeira e a segunda solução o mesmo procedimento numa parede já
correspondem à utilização de procedimentos edificada, em substituição podem ser
originalmente utilizados em muitos dos efectuados furos na parede e introduzidos
edifícios com esta tipologia construtiva. ligadores metálicos, preferencialmente de
No caso dos ligadores, o seu uso está aço inox, envolvidos numa “meia” flexível
inclusivamente associado ao cumprimento na qual é injectada uma argamassa que
de uma boa regra da arte da construção, a molda à superfície irregular do furo,
embora nem sempre cumprida de forma promovendo uma boa aderência entre a
clara; era conhecida a importância da alvenaria e o ligador. Ou seja, trata-se de
existência de uma boa ligação entre os um procedimento tradicional, mas que
diferentes paramentos de uma parede e que utiliza novos materiais e é aplicado de
era garantida pela interposição, durante a forma inovadora.
construção, de pedras transversalmente
aos alçados, designadas habitualmente por Também no caso da ligação das vigas de
travadouros, ou juntouros. No terceiro caso, madeira dos pavimentos e da cobertura
a substituição de pedras repõe a situação às paredes, existem actualmente formas
anterior à rotura, podendo afirmar-se que diferentes, e por vezes mais eficazes do que
mantém o processo construtivo original. as originais, de promover essa ligação.

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Em Análise

Aliás, este é um dos pontos principais e a título de exemplo, a utilização de reboco 2 | Pormenor de aplicação de uma variante
associado à intervenção em edifícios armado em paredes de alvenaria de pedra tecnológica na aplicação de uma técnica de
intervenção tradicional; ligação de piso à parede
existentes; assegurar a correcta ligação representa uma tecnologia moderna, já que com novos ligadores metálicos e frechal ancorado
entre os elementos verticais e horizontais, dota estas paredes de capacidade resistente à parede.
garantindo um adequado comportamento à tracção propriedade que estes elementos
em caixa, obrigado toda a estrutura a naturalmente não apresentam, ou seja altera
trabalhar em conjunto. Assim, quer utilizando profundamente o seu comportamento interno.
ligações tradicionais, quer tecnologias
actuais, o objectivo a atingir é o mesmo, ou Como nota final refere-se que a evolução
seja trata-se de uma técnica de intervenção tecnológica, com o desenvolvimento de
que se enquadra nas técnicas tradicionais. novos produtos e técnicas adaptados a
novas exigências e a sua aplicação em
Faz-se notar que, mesmo nos casos construções existentes, deverá ser sempre
apresentados que procuram reproduzir ponderada, numa relação que se quer
procedimentos originais, a introdução optimizada entre salvaguarda do património
de variantes deve ser sempre analisada construído e necessidade e eficiência de
à luz da compatibilidade e intrusividade novas formas de actuar. Apesar da sua
(para além de outros critérios como a utilização dever ser sempre equacionada
reversibilidade…) referidas em documentação com base no binómio apresentado,
aceite internacionalmente. Ser tradicional nalgumas situações as tecnologias
não implica, forçosamente a cópia de uma modernas, com alteração profunda do
técnica, ou procedimento originalmente comportamento estrutural, são as únicas
utilizado numa construção, mas a aplicação passíveis de garantir um adequado
de uma filosofia de intervenção semelhante, comportamento das construções
embora podendo introduzir aspectos
inovadores com a utilização de novos
materiais, ou de variantes no modo como os * Artigo redigido ao abrigo do antigo acordo
procedimentos são aplicados. Por oposição, ortográfico.

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Investigação

Inovação e tradição na
conservação do património
com base em cal
Marluci Menezes | Doutora em Antropologia, Investigadora, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, marluci@lnec.pt
Maria do Rosário Veiga | Doutora em Engenharia Civil, Investigadora, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, rveiga@lnec.pt

O que diferencia o conhecimento científico do tradicional? Não é o


facto deste último ser imutável, porque transmitido pelas gerações, não
recorrer a procedimentos investigativos, não inovar, nem aprofundar
informação. Inovação, mudança, procedimentos lógicos e investigativos
definem ambos os tipos de conhecimento e tratam mais das suas
semelhanças do que das diferenças.

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Investigação

Conhecimento científico e As lógicas operativas no conhecimento 1 | Paisagem da cal.


conhecimento tradicional: tradicional foram verificadas em estudo sobre (pág.anterior)
diferenças e analogias o saber-técnico tradicional das artes da cal
junto de artesãos em Beja (Menezes, Veiga,
As diferenças entre estas duas culturas Santos, 2012): “Tem um tempero que é o
de conhecimento derivam do facto de dedo: Tem que se cobrir o dedo com a cal,
operarem em níveis estratégicos distintos: o para se sentir se está grossa demais ou se
conhecimento tradicional é mais percetual está temperada. Quando o dedo fica tapado
e ligado às qualidades segundas – visão, e fica carregado não se pode aplicar porque
odor, sabor, tato; enquanto o conhecimento esta cal estala” (Sr. Paixão – Mestre-de-
científico opera com unidades conceituais -Obras); “Naquele tempo o reboco era mesmo
(Cunha, 2007). a olho!” (Sr. Joaquim – Mestre-de-Obras).

Quadro 1. Dissemelhanças e semelhanças entre culturas de conhecimento.

Científico Semelhanças Tradicional

Verdade absoluta até a Relacionados com os seus A universalidade não se aplica.


refutação por outro paradigma. praticantes. É mais tolerante. Considera
explicações divergentes.

Regra da universalidade. Resultam de um conjunto


de práticas, investigações, Opera com perceções
processos e modos de fazer (cheiros, cores, sabores).
É hegemónico.
e não somente em acervos
estáticos.
Integra a parte e o todo, não
Opera com conceitos.
separa.
Assentam em operações lógicas
Realiza a análise das partes de comuns: saber mais a partir de
Realiza-se a partir de vínculos
um todo para compreender o perguntas concretas.
de continuidade entre as
conjunto que as integra.
partes biofísica, humana e
sobrenatural.
As partes tendem a ser
separadas em biofísica, mundo
É tácito e apreendido através
humano e sobrenatural.
da vivência.

É codificado, apreendido e
Enquadra-se contextualmente
reproduzido formalmente.
no espaço/tempo, geografia/
ambiente e cultura/
comunidade.

Fonte: Cunha, 2007; Duran, Rigolin, 2011; Menezes, Veiga, 2014.

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2 3

Como estabelecer pontes, quando o controvérsia, sobretudo quando se quer 2 | Forno tradicional de cal.
conhecimento tradicional opera com realizar uma validação do conhecimento 3 | Cal em pasta.
percepções, qualidades segundas tradicional a partir do científico. Contudo,
e tolerância para com explicações “mais do que encontrar uma validação
divergentes? científica para o conhecimento tradicional,
nem tão pouco aceitar de forma irrestrita e Por exemplo, é recorrente dizer-se que a
“(…) Quando o dedo fica tapado e fica inquestionável este mesmo conhecimento, cal atual, produzida industrialmente, tem
carregado não se pode aplicar porque esta o que pode ser fundamental é a sua pior qualidade que a antiga, produzida
cal estala”, esclarece sobre a consistência utilização na compreensão de processos ou artesanalmente e preparada de forma lenta e
da cal e indica que essa condiciona a mesmo de categorias que ainda não foram diferenciada conforme as exigências de cada
suscetibilidade à fissuração do revestimento decifrados pelo conhecimento científico” situação. Isto é verdade? A resposta certa
com ela executado. Porquê? Como (Cunha, 2007). Considerando ainda as varia, provavelmente, de caso para caso.
pode este conhecimento ser útil para se questões da necessidade de criação de
estabelecerem limites de consistência e condições de sustentabilidade dos recursos Os edifícios e elementos construtivos que
definirem proporções de composição? patrimoniais, poderá interessar aprender procuramos conservar mantiveram-se em
com o conhecimento tradicional para propor boas condições durante séculos, pelo
Esses aspetos do conhecimento tradicional novas hipóteses de atuação (inovação?), que os materiais usados e as técnicas
podem ser processados e utilizados pelo ainda que geradas a partir de conceitos e empregues estão amplamente “certificados”
conhecimento científico. Mas é fundamental lógicas procedimentais tradicionais. pelo tempo.
rigor, seriedade e flexibilidade: no registo
exato e análise das expressões usadas, Técnicas tradicionais versus Um conservador-restaurador afirmou
evitando ajustar estas expressões a inovação tecnológica: como recentemente, que, apesar de ser a favor da
uma suposta linguagem mais elaborada, conservar o Património? inovação e de participar frequentemente em
perdendo-se o significado inicial; no derivar projetos de investigação e inovação, “fica
em significados mal fundamentados, porque Conservar sem descaracterizar e sem criar mais descansado quando usa os materiais
se julga conhecer a técnica em causa; no novas anomalias exige compatibilidade de tradicionais nas suas obras, são esses que
considerar, pesar e analisar as interpretações materiais e técnicas. Preservar a autenticidade lhe dão as melhores garantias de sucesso”1.
possíveis, ainda que haja a tendência para do objeto histórico (seja o edifício, uma Com efeito, essa opção é sustentada pela
rejeitá-las como improváveis. parede, ou um ornamento) implica não tal certificação do tempo.
remover, não destruir, não alterar e manter,
Isto significa respeito dos cientistas pelo até ao limite do possível, as parcelas originais Então para quê a inovação na
saber tradicional, mas também a capacidade desse objeto. Estes conceitos remetem conservação do Património?
crítica para “filtrar” as derivações e para um conhecimento profundo da história
contaminações de relatos oralmente construtiva do edifício, dos materiais e Há pelo menos três respostas, apontando
transmitidos, para selecionar e adaptar a técnicas empregues em cada fase. para momentos diferentes do processo de
cada caso concreto (será a técnica referida intervenção:
pelo artesão diretamente aplicável à Os mesmos materiais são hoje produzidos
intervenção em causa, que tem uma época, de forma diferente dos antigos e adquirem 1. Início – o conhecimento científico é
um local e um conjunto de influências por isso características distintas. Então, necessário para “descobrir” os materiais
específico?). é também necessário um conhecimento usados originalmente: as matérias-primas,
holístico do comportamento do edifício no as proporções, as temperaturas. As técnicas
O principal valor de ambos os seu todo, para perceber de que modo as da química e das ciências dos materiais
conhecimentos reside na sua variações de características afetam esse são aplicadas em amostras dos elementos
diferença, enfim, no seu potencial de comportamento físico e assim como os antigos. Mas os resultados só são
complementaridade. Mas, isto pode gerar podemos usar. completos quando cruzados com a história

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Investigação

4 5 6

e a arqueologia, os documentos escritos e Em Portugal, os estudos realizados 4 | Técnicas da cal.


os relatos que complementam e ajustam a demonstram a importância das técnicas 5 | Preparação de consolidantes
informação técnica. tradicionais da cal na construção de com base em cal.
edifícios, desde a Antiguidade até meados 6 | Aplicação de caldas de cal
2. Segunda fase – o conhecimento do século XX: as argamassas de alvenaria para restituição de aderência.
científico é preciso para definir os critérios e as argamassas de revestimento exterior 7 | Paisagem da cal.
de compatibilidade: que características dos edifícios, bem como as argamassas de 8 | Preparando a cal.
físicas, mecânicas e químicas devem assentamento de azulejos, eram durante
ser reproduzidas para manter idêntico todo esse período argamassas de cal
o comportamento global do edifício ou aérea. Os acabamentos eram também,
do elemento; como escolher materiais em geral, obtidos com pinturas de cal. Os
– tradicionais ou não – que cumpram revestimentos interiores eram ainda de cal,
esses critérios (Moropoulou et al, 2005). ou, em certas épocas, de gesso e cal.
Recorrendo à física dos materiais e da
construção podem-se estabelecer de forma A cal usada durante quase dois mil anos,
fundamentada tais critérios e escolhas. desde as construções romanas até aos
edifícios modernistas, provinha da mesma
3. Terceiro momento – o conhecimento matéria-prima que é usada hoje: calcário
científico e também a inovação tecnológica calcítico e, em certos casos, dolomítico.
em termos de materiais a usar, podem ser Era obtida por calcinação a temperaturas
necessários para as ações conservativas: que rondavam os 900 ºC e posteriormente
limpeza, consolidação, proteção. Escolher as apagada, ou hidratada, de diversas formas,
técnicas menos invasivas, mais compatíveis obtendo-se a cal de construção com
e sustentáveis para estas operações exige o diferentes características: cal em pasta,
conhecimento e a possibilidade de recurso cal apagada com areia, cal em pó e ainda
a biocidas, consolidantes e produtos de leite de cal e água de cal. Estas cais têm
proteção baseados em materiais avançados composições químicas idênticas entre si
(ex. nano-materiais). e idênticas à cal produzida atualmente
(hidróxido de cálcio – CaOH2; calcite –
Estes momentos de uso do conhecimento CaCO3), mas microestruturas diversas:
científico coexistem com a utilização partículas com formas e dimensões
dos materiais tradicionais – argamassas diferentes e estruturas porosas distintas,
tradicionais de cal, estuques de gesso e originando reatividades, porosidades e
cal, caiações – e com as competências compacidades diferenciadas.
dos artesãos, na execução de partes de
revestimento perdidas ou muito degradadas. A cal usada nos edifícios históricos era
produzida em fornos artesanais, seguindo
Cal: técnicas tradicionais e procedimentos ancestrais. Em geral, era
novos produtos usada sob a forma de cal em pasta, por
vezes com anos de maturação (Margalha et
As técnicas da cal foram usadas durante al, 2011; 2013). Atualmente a cal disponível
milénios na construção, por toda a Europa. é produzida a partir de matérias-primas

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7 8

selecionadas, em fornos industriais, com características mecânicas e físicas do Changes of Lime Putty During Aging. Journal of
temperaturas e tempos de calcinação bem material a consolidar (Borsoi, 2013). Materials in Civil Engineering, Elsevier, UK. Vol. 25   Iss
10   p: 1524-1532 DOI: 10.1061/(ASCE)MT.1943-
controlados e em geral sob a forma de cal
5533.0000687.
em pó. Em todas as fases da intervenção MARGALHA, G., VEIGA, R., SANTOS SILVA, A., BRITO,
de conservação são necessários os J. (2011). Traditional methods of mortar preparation:
As cais antigas valiam pelo cuidado The hot lime mix method. Cement & Concrete
conhecimentos científico e tradicional, sendo Composites, 33 (concomp8) sept 2011, 796–804 p.
colocado na sua preparação, pelos úteis as tecnologias tradicionais da cal mas DOI: 10.106/j.cemconcomp.2011.05.008.
conhecimentos dos artesãos envolvidos, também as novas tecnologias da cal. É esta Menezes, M.; VEIGA, M. R. (2014). Conhecimento
pelo tempo de maturação e aplicação. complementaridade de conhecimentos e científico e conhecimento tradicional: que articulações
Quando estes fatores eram favoráveis, possíveis no campo da conservação do património
técnicas que pode contribuir decisivamente cultural? Atas do Congresso De Viollet-le-Duc à Carta
os resultados eram bons e certamente para o sucesso da intervenção de Veneza: Teoria e Prática do Restauro no Espaço
foi o que aconteceu com as alvenarias, Ibero-Americano. Lisboa: LNEC, p. 177-184.
os revestimentos e os acabamentos que NOTA MENEZES, M., VEIGA, M. R.; SANTOS, A. R. (2012).
1. VI Seminário SOS Azulejo, 5-12-2014, Universidade Técnicas Tradicionais de Revestimentos Históricos
chegaram aos nossos dias em boas
de Aveiro – Intervenção de António Cardoso, da Exteriores – Relato de entrevistas com artífices sobre
condições. empresa Signinum, na Mesa Redonda de Empresas de as técnicas tradicionais de revestimentos de cal. Rel.
Conservação e Restauro. 223/2012. Lisboa: LNEC.
As cais atuais para argamassas, estuques MOROPOULOU, A.; Bakolas, A., Moundoulas, P.;
Aggelakopoulou, E. (2005). Reverse engineering: a
e caiações, valem pelas matérias-primas Artigo elaborado no âmbito do Projeto do LNEC
proper methodology for compatible restoration mortars.
“PRESERVe - Preservação de revestimentos do
bem selecionadas, pela tecnologia apurada, Património construído com valor cultural: identificação
Proceedings of Workshop Repair Mortars for Historic
pelos procedimentos bem controlados. Se Masonry, TC RMH. Delft: RILEM.
de riscos, contributo do saber tradicional e novos
todas as regras forem bem aplicadas, as materiais para conservação e proteção” (incluído na
Estratégia de Investigação e Inovação E2I 2013-2020).
argamassas devem cumprir os requisitos.
Não serão iguais às antigas mas serão
compatíveis e duráveis.
Bibliografia
Por outro lado, os novos materiais com base AZEITEIRO, L. C.; VELOSA, A.; PAIVA, H.; et al. (2014).
em cal para conservação, consolidação Development of grouts for consolidation of old renders.
Construction and Building Materials, Vol. 50, p. 352-
e proteção pertencem a outra categoria: 360. DOI: 10.1016/j.conbuildmat.2013.09.006.
não visam a semelhança com os materiais BORSOI, G.; TAVARES, M.; VEIGA, M. R.; SANTOS
antigos e usam tecnologias avançadas SILVA, A. (2013). Studies of the performance of
nanostructed and other compatible consolidation
para desempenhar funções diferentes. Por products for historical renders. Materials Science
exemplo, as caldas (grouts) de cal para Forum 730-732, p. 942-947. DOI:104028/www.
restituição da aderência de revestimentos scientific.net/MSF.730-732.942.

são materiais complexos, com cal e vários CUNHA, M. C. (2007). Relações e dissensões entre
saberes tradicionais e saber científico. Revista USP, n.
adjuvantes capazes de conferir boa reologia 75, USP, São Paulo, p. 76-84. Disponível: http://www.
e adesividade (Azeiteiro et al, 2014); os usp.br/revistausp/75/08-manuelacarneiro.pdf
consolidantes de restituição de coesão DURAN, M. R. C.; Rigolin, C. C. D. (2011). Os
múltiplos sentidos do conhecimento tradicional: um
usando uma tecnologia da cal, são produtos
conceito em construção. Revista Brasileira de Ciência,
baseados em nano-cais, sintetizados em Tecnologia e Sociedade, vol. 2, 2011, p. 73-85.
partículas muito pequenas especificamente Disponível: http://www.revistabrasileiradects.ufscar.br/
index.php/cts/article/viewFile/140/62
para terem elevada concentração e boa
MARGALHA, G.; SANTOS SILVA, A.; VEIGA, R.; BRITO,
penetração, garantindo a melhoria das J. DE; BALL, R.; ALLEN, G. (2013). Microstructural

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Investigação

Projecto de I&D
RehabToolBox
Raquel Paula | Engenheira civil, Stap, S.A.

A reabilitação de construções e a conservação do património,


o reaproveitamento do edificado existente e a melhoria do seu
desempenho, constituem vias primordiais de desenvolvimento
sustentável. Em regiões de risco sísmico, a sustentabilidade
é sobretudo defendida através da adopção de medidas
eficazes de aumento da resistência sísmica das estruturas, de
extrema importância face às consequências potencialmente
devastadoras associadas à ocorrência de terramotos. O reforço
sísmico em larga escala das tipologias construtivas mais
vulneráveis é uma das estratégias que mais contribui para a
mitigação dos danos causados pelos sismos, justificando-se o
estudo e a implementação de soluções inovadoras de protecção
e de reabilitação sísmica das construções.


O projecto RehabToolBox traduziu-
-se no desenvolvimento e validação de
Entre as soluções que compõem as
tecnologias estudadas para as construções
da parede a confinar e o tirante. Para além
da função de confinamento que beneficia
novas soluções de reabilitação do edificado antigas, apresentam-se os Confinadores o comportamento estrutural da parede,
e de melhoria do seu comportamento face de Rótula para paredes de alvenaria, o os confinadores são também utilizados
à acção sísmica. As novas tecnologias Sistema de elevado desempenho para como elementos de amarração de ligações
correspondem à aplicação de dispositivos e reforço exterior de paredes de alvenaria estruturais a alvenarias (por exemplo,
sistemas complementares, de fácil inserção e (também designado por UHPR – Ultra ligações piso-parede).
compatíveis com as estruturas existentes, e High Performance Render) e os Painéis
com vantagens acrescidas relativamente aos Dissipadores para reforço sísmico. O Sistema UHPR baseia-se na utilização
métodos tradicionais. Em simultâneo com de um compósito avançado, constituído por
a melhoria do comportamento e segurança Os Confinadores de Rótula para paredes uma rede de fibras de carbono embebidas
estrutural, a utilização das novas soluções de alvenaria foram concebidos para permitir numa matriz inorgânica, que é compatível
possibilita a preservação das características tirar partido do efeito do confinamento, com o substrato de alvenaria antiga sobre
básicas das construções sobre as quais são no aumento da capacidade resistente da a qual é realizada a intervenção (fig. 2). A
realizadas as intervenções de reabilitação. alvenaria. Os confinadores idealizados aplicação do sistema UHPR nas faces da
O recurso aos novos produtos e sistemas consistem num tirante que atravessa a parede (que funciona como “armaduras
permite atingir os objectivos pretendidos espessura da parede de alvenaria e que é exteriores” da parede de alvenaria) é uma
sem alterar o esquema estrutural original e ancorado nas suas extremidades através técnica que visa o aumento da resistência à
sem aumento significativo de peso, evitando de elementos especiais (fig. 1). O tirante flexão e ao corte das paredes de alvenaria
ou minimizando a necessidade de demolição é rotulado na ligação aos elementos de para acções horizontais actuantes no plano
de elementos estruturais existentes, ancoragem através de um dispositivo próprio, e perpendicularmente ao plano da parede
traduzindo-se a sua aplicação, portanto, em o que permite acomodar várias possibilidades (figs. 3a e 3b). A técnica permite combinar a
intervenções pouco intrusivas. de ângulos entre as superfícies exteriores utilização de um material de elevada relação

20 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


1
2

1 | Ensaios de modelos de alvenaria


com confinadores de rótula.

2 | Aplicação do sistema UHPR em


modelos de alvenaria à escala real para
realização de ensaios.

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3a
3b
resistência/peso (fibras de carbono) com após a ocorrência de um sismo, o dispositivo as propriedades dos modelos (dimensões,
uma matriz compatível com os materiais dissipador central pode facilmente ser volume, peso, etc.), a quantidade de ensaios
constituintes das alvenarias antigas e substituído por uma nova peça sem danos. e a complexidade de realização de alguns
adequada ao seu modo de funcionamento deles, conferiram ao programa experimental
(em termos de comportamento mecânico No âmbito do Projecto RehabToolBox, a do Projecto RehabToolBox características
e comportamento à água). Adicionalmente, caracterização do comportamento sísmico extraordinárias.
o sucesso da nova técnica está também das soluções referidas baseou-se numa
associado ao método distintivo de aplicação alargada campanha experimental, bem Como resultados finais relevantes dos
da matriz, nomeadamente, por projecção. como num extenso estudo numérico. estudos – experimentais e numéricos –
Os estudos experimentais visaram a mencionam-se, ainda, os modelos de
Os Painéis Dissipadores para reforço caracterização do comportamento mecânico cálculo e dimensionamento obtidos.
sísmico constituem uma solução das soluções de reabilitação, a verificação Pretende-se com estes modelos, que
de intervenção preconcebida, com dos pressupostos da sua concepção e a resultam, principalmente, da base de dados
características de comportamento obtenção de parâmetros para calibração dos de comportamento mecânico extrapolado
predefinidas, que se inscreve facilmente nos modelos numéricos. Os modelos numéricos originada pelos modelos numéricos, constituir
sistemas estruturais correntes. Cada painel foram construídos de modo a permitir a os fundamentos para o projecto das soluções
dissipador corresponde a uma estrutura compreensão dos vários fenómenos e de reforço estudadas, permitindo desta forma
plana articulada, de desenvolvimento vertical, parâmetros que condicionam a resposta dos a transferência de conhecimento para o meio
que integra um dispositivo dissipador sistemas de reforço e permitir a simulação profissional da engenharia.
especialmente concebido para dissipar de outros ensaios ou a repetição dos
elevados níveis de energia (fig. 4). Os painéis mesmos, com outras condições de carga ou Os trabalhos de investigação indispensáveis
dissipadores podem ser adossados a paredes de fronteira. à concretização do Projecto RehabToolBox
interiores existentes (frontais pombalinos, foram desenvolvidos em parceria com o
por exemplo) ou ser usados em substituição Os factores críticos de execução do Instituto Superior Técnico (IST/ADIST),
das mesmas. O recurso a dispositivos projecto estiveram sobretudo relacionados que constituiu um parceiro chave para
de dissipação de energia corresponde a com o carácter inovador das soluções atingir as metas estabelecidas. Salienta-se
uma metodologia eficiente de redução da desenvolvidas e com a extensão do a pertinência dos resultados alcançados
vulnerabilidade sísmica das estruturas, programa experimental e numérico. Dado para o sector da reabilitação, assim como
dado que aumenta a sua capacidade de que não existiam métodos padronizados ou o êxito da parceria universidade-empresa.
dissipação da energia transmitida pelo normalizados para a avaliação das soluções O Projecto RehabToolBox, promovido pela
movimento sísmico. Com a incorporação de em estudo, foi necessário conceber e Stap, iniciado no fim de 2010 e finalizado
elementos dissipadores, a quantidade de dimensionar sistemas de ensaio próprios para no início de 2014, foi co-financiado pelo
energia absorvida pela estrutura pode ser o mesmo efeito. O facto de se tratarem de FEDER através do Programa Operacional
controlada e os danos limitados. Em paralelo novas soluções tornou mais complexa a sua Regional de Lisboa – QREN – Sistema de
com a melhoria do comportamento sísmico análise e validação. O programa experimental Incentivos à Investigação e Desenvolvimento
global, o reforço com painéis dissipadores do projecto compreendeu a realização Tecnológico, através do programa I&DT
possibilita a realização de intervenções global de mais de uma centena e meia de Empresas – Projectos Individuais
mínimas e compatíveis com os esquemas ensaios, sobre modelos físicos e protótipos
estruturais originais. A instalação dos painéis especialmente fabricados para o efeito e
é reversível e as peças que os constituem representativos das características das * Artigo redigido ao abrigo do antigo acordo
podem ser parcialmente substituídas. Por novas soluções tecnológicas. A amplitude ortográfico.
exemplo, no caso de apresentar deformações da totalidade do programa experimental,

3 | Ensaios de resistência de modelos 4


de alvenaria à escala real reforçados
com o sistema UHPR.
a) Flexão no plano da parede
b) Flexão perpendicular ao plano da
parede

4 | Ensaio de caracterização do
comportamento sísmico de um
protótipo dos painéis dissipadores.
Formação

Construção
com terra
Tradição e inovação
Paulina Faria | Engenheira civil, doutorada em Reabilitação do Património Edificado, Professora Associada da Universidade Nova de Lisboa e
vice-presidente da Associação Centro da Terra | paulina.faria@fct.unl.pt

É do conhecimento comum que a terra foi


um dos primeiros materiais de construção
utilizados pelo Homem. Com efeito,
A
tualmente os exemplos mais
expressivos de monumentos históricos
construídos com terra em Portugal são
existem no atual território português as fortalezas do período de domínio
muçulmano, essencialmente da época
vestígios do denominado “barro de Almóada, em que era utilizada a denominada
cabanas” desde o período Calcolítico e taipa militar, na qual à terra era adicionada
cal aérea (fig. 2). Mas grande parte do
que consistia numa argamassa de terra património antigo existente, nomeadamente

utilizada para o preenchimento de em termos de construção de pequeno


porte, é ainda atualmente constituído por
estruturas de cabanas realizadas com terra: na zona do Alentejo (desde a fronteira
atlântica até à com Espanha) e no Algarve
troncos de madeira e outros materiais interior (uma vez que os edifícios antigos
vegetais [1] (fig. 1). Durante muito tempo do litoral foram quase todos demolidos
para dar lugar a novas urbanizações)
os arqueólogos não preservaram os encontram-se principalmente edifícios com
paredes exteriores, resistentes, de taipa;
vestígios construtivos de terra devido, na zona de Setúbal e principalmente na de
por um lado, ao facto da terra que tinha Aveiro, com paredes exteriores, resistentes,
de alvenaria de adobe. Existem ainda
sido utilizada crua na construção apenas edifícios com outras técnicas construtivas,
nomeadamente as paredes de tabique de
se conservar reconhecível como material madeira preenchidas com argamassas de
específico de construção quando sujeita terra, estas últimas muito utilizadas em
paredes interiores por todo o país e também
à ação acidental do fogo (de outro em exteriores, principalmente nas regiões

modo, a “terra volta à terra”); por outro do Norte, muitas vezes associadas a pisos
superiores em consola.
lado ao próprio desconhecimento que,
As técnicas construtivas de terra foram
durante muito tempo, os arqueólogos sobretudo utilizadas em zonas onde a
tiveram relativamente a estas tecnologias pedra não abundava, até à época em que
as soluções construtivas com base em
construtivas, nas quais, para além da estruturas de betão armado e alvenarias
de tijolo cozido passaram a ser mais
utilização apenas como revestimento, se correntes. Em termos de conhecimento e
contavam também já alvenarias de adobe e de disponibilidade financeira, esta época
variou bastante entre zonas urbanas e zonas
soluções monolíticas de terra moldada [2]. rurais. Nestas últimas ainda nos anos 60
se construíam paredes de terra, muitas

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1

1 | Fragmento de argamassa de terra utilizada


no preenchimento e revestimento de uma
cabana constituída por estrutura de troncos
de madeira do Bronze Final (Rocha do Vigio
2, Campinho, Reguengos de Monsaraz).
© Patrícia Bruno

2 | Muralhas da torre albarrã em taipa militar


do castelo de Paderne. © Patrícia Bruno

vezes já encimadas por pequenos lintéis de Aproximadamente nessa mesma época corrente chegou também a Portugal, que
betão armado, sobre os quais assentavam eclodiu uma crise energética que levou passou a contar com vários arquitetos que
as estruturas das coberturas, geralmente à subida do preço dos combustíveis e, desenvolveram projetos e obras, novas e
inclinadas e de madeira. consequentemente, da energia para a de reabilitação, de edifícios com paredes
produção dos materiais de construção mais de terra [3]. Paralelamente Portugal, e
Com as grandes necessidades de recentes e para a climatização dos edifícios. nomeadamente a zona do Litoral Alentejano
construção que ocorreram no país nas Iniciaram-se então na Europa alguns e da costa Vicentina, começou a receber
décadas de 70 e 80, as técnicas construtivas movimentos e associações, essencialmente vários novos residentes, muitos vindos de
massificadas que se aplicavam nos de arquitetos, que passaram a valorizar países mais a Norte da Europa (caso da
centros urbanos estenderam-se às zonas muito mais a construção vernacular Alemanha), que pretendiam habitações
rurais, proporcionando também a essas dos diversos países, e nomeadamente “saudáveis” e eco-eficientes e reconheciam
populações condições de habitabilidade a construção com terra. Essa maior essas características nos antigos e em
há muito aspiradas. Com efeito, todos valorização justificava-se com o facto novos edifícios com paredes de terra. E este
queriam um “apartamento de betão e tijolo”, destas construções demonstrarem ser reconhecimento, embora de forma lenta,
considerados nessa época como soluções mais eco-eficientes comparativamente às tem vindo a propagar-se mesmo aos antigos
melhores comparativamente às antigas soluções que mais recentemente tinham moradores dessas áreas, que passaram a ter
casas de paredes, geralmente espessas e surgido no mercado da construção e que mais interesse em manter e reabilitar as suas
maciças, de terra. estavam a ser amplamente utilizadas. Essa antigas casas de terra (fig. 3).

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Formação

O conjunto de todas estas situações suas possibilidades de adaptação aos 3 | Edifício de taipa reabilitado na zona do Cercal.
conduziu ao desenvolvimento de um recursos existentes, aos prazos, custos
4 | Construção de edifício com paredes de taipa
novo nicho de mercado: da conservação, e tipo de mão-de-obra atuais. Assim na zona do Cercal.
reparação, reabilitação e construção nova de tornou-se corrente aplicar, por exemplo à
edifícios com paredes de terra (fig. 4). taipa, cofragens semelhantes às utilizadas 5 | Formação profissional da área da construção
de taipa com cofragem de madeira e
para o betão armado e meios mecânicos industrailizada.
Infelizmente o sector da construção de homogeneização do material ou de
em Portugal é ainda muitas vezes compactação (fig. 5). A própria utilização de
insuficientemente especializado e, talvez por alvenarias de blocos de terra comprimida
esse motivo, a qualidade dos edifícios seja, resulta de uma adaptação mista das
nalguns casos, tão ineficiente. Mas construir, técnicas da taipa (em termos da unidades
reabilitar, reparar ou conservar paredes de alvenaria) e da técnica construtiva
de terra são atividades substancialmente da alvenaria de adobe às condições de maior parte dos novos edifícios de terra
diferentes das aplicadas em paredes construção atuais. podem utilizar as regras definidas pelo LNEC
com materiais correntes, constituídas por para edifícios de pequeno porte e adotar
alvenarias de tijolo ou blocos de betão e Em muitos países são correntes no mercado soluções construtivas tradicionais, tais
estruturas reticuladas de betão armado. argamassas pré-doseadas de terra para como “gigantes” maciços perpendiculares
rebocos interiores e elementos prefabricados às paredes e tirantes transversais às
No caso da construção nova com para paredes, tais como placas de construções. A verificação térmica
paredes de terra há conhecimentos muito revestimento e painéis de parede. Por regulamentar também pode ser atualmente
particulares que têm que ser dominados, exemplo na Alemanha, para regulação do justificada através da elevada inércia térmica
bastante distintos dos associados à mercado dos materiais de construção com que as paredes de terra apresentam e
construção com materiais atualmente mais terra existem normas (recentes) relativas com base na condutibilidade térmica e
correntes. Desde logo um conhecimento a argamassas para rebocos interiores, espessura da terra utilizada na construção.
preciso ao nível da matéria-prima (a terra) argamassas de assentamento e blocos de Do ponto de vista do conforto acústico,
e o modo como esta pode ser otimizada terra, que definem os requisitos mínimos, os da qualidade e termo-higrometria do ar
(por exemplo estabilizada com adição procedimentos de ensaio e as classes dos ambiente e de segurança contra incêndio,
de outros constituintes, tais como areia, respetivos produtos. as construções em terra têm à partida
fibras vegetais, cal aérea), face a cada vantagens comparativamente a soluções
tecnologia construtiva. Mas também aspetos O dimensionamento estrutural das paredes mais correntes. E a estas somam-se aspetos
construtivos, relativos ao conhecimento resistentes pode atualmente basear-se nas de sustentabilidade ambiental, socioculturais
que se tem que ter das técnicas e das regras definidas no Eurocódigo 6 [4] e a e socioecónomicos.

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4 5

Nos últimos anos tem-se assistido a um sido acelerada por problemas de ascensão muito menos pela face exterior da parede;
grande desenvolvimento a nível internacional capilar de humidade a partir do terreno, para atingir o equilíbrio entre a humidade
na área da construção com terra, que tem por salpicos recorrentes de água de chuva, ascendente e a secagem da parede, a
vindo a ser acompanhado a nível de I&D por zonas de escorrências de drenagem da frente húmida vai ser muito mais dirigida
por inúmeras publicações científicas e cobertura, etc.. Muitas vezes tratam-se de para o interior, com os inconvenientes de
diversos projetos de desenvolvimento e de intervenções de reduzido valor comercial, degradação evidentes nessa superfície [5].
investigação na área. Estas publicações para as quais é chamado um pedreiro local.
e projetos não se aplicam apenas à Infelizmente, e porque em muitas zonas Em face do exposto, e porque se tratam
construção nova mas também à intervenção não existe pessoal técnico especializado de questões recorrentes em quase todos
em construções existentes. e particularmente sensibilizado para os os países europeus, muito interligadas à
materiais em questão, as intervenções capacitação técnica dos trabalhadores
No caso da intervenção em edifícios são efectuadas de forma semelhante às que lidam com este tipo de edifícios,
existentes, a realização de intervenções realizadas em edifícios correntes, com desde há alguns anos que se tem vindo a
desadequadas em paredes com terra materiais com comportamento distinto da trabalhar com vista a aumentar a formação e
(à semelhança de outras tecnologias terra. Relativamente à superfície das paredes validação profissional na área da construção
construtivas de edifícios existentes) pode constata-se frequentemente a aplicação com terra. Todo este desenvolvimento
até ser mais contraproducente que pura e de enchimentos ou encasques (no caso de insere-se no Sistema Europeu de Créditos
simplesmente não as ter intervencionado. As já ter ocorrido alguma perda de espessura para o Ensino Vocacional e a Formação
anomalias mais correntes costumam estar da parede) e de rebocos com argamassas Profissional (ECVET – European Credit
associadas ao abandono dos edifícios e à correntes, geralmente demasiado resistentes System for Vocational Education and
degradação e ineficiência das coberturas. É e impermeáveis ao vapor de água. Embora Training) e as qualificações enquadram-se
óbvio que um telhado que deixa entrar água com aparente bom resultado a curto prazo, no Sistema de Qualificação Europeu (EQF
tem de ser urgentemente reparado. Mas é considerando a aplicação na face exterior – European Qualification Framework). No
também corrente a degradação superficial da parede, a médio prazo estas soluções âmbito deste enquadramento do quadro
das paredes, rebocadas e pintadas, vão contribuir para o aparecimento de novas europeu de certificação, os profissionais
só pintadas ou mesmo sem qualquer ou mais expressivas anomalias nas faces (ou futuros profissionais) podem acumular
revestimento. Esta degradação pode ter interiores das paredes. Estas serão devidas unidades de aprendizagem para obter uma
diversas causas, como seja a degradação principalmente à redução da permeabilidade formação certificada e essa certificação
corrente dos revestimentos ou das ao vapor que as novas argamassas e é unificada entre os diferentes sistemas
superfícies em geral, por envelhecimento eventuais sistemas de pintura constituem no educativos nacionais dos países europeus
natural face aos agentes a que estão exterior. Devido à relativa barreira ao vapor [6]. Trata-se de uma certificação que não
expostos. Esta degradação pode ainda ter que constituem, a humidade vai dissipar-se está obrigatoriamente orientada para o

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Formação

6 | Estrutura-tipo de formação e
certificação no sistema ECVET.

7 | Rede ECVET de construção


com terra.

fornecimento de conhecimentos mas mais de Qualificação Europeu. Em Portugal greenbuildingtraining.eu/public/. Para o caso
para a validação das competências que decorreu em julho de 2013 na Faculdade das paredes monolíticas estão atualmente já
cada profissional já pode ter ou que passou de Ciências e Tecnologia da Universidade desenvolvidas as unidades: M (Preparação
a ter (fig. 6). Nova de Lisboa um primeiro curso de do material/Material), F (Cofragem/Formwork
especialização profissional sobre rebocos de – esta apenas específica para a taipa),
Há alguns anos desenvolveu-se um primeiro terra, relativo às unidades 1 e 2 (Preparação B (Construção/Building), R (Reparação/
projeto ao longo do qual se definiu um e Aplicação), que envolveu cerca de 20 Repair), E (Economia e marketing relativo à
referencial de formação e se estabeleceram profissionais de áreas distintas e que construção com terra/Economics) e ainda
unidades específicas de formação decorreu com colaboração conjunta da uma unidade transversal relativa a métodos
profissional e de validação relativos à FCT UNL, da Associação Centro da Terra gerais de trabalho. No caso das paredes de
execução e reparação de rebocos de terra. e da Associazione Nazionale Architettura alvenaria com blocos de terra a unidade F
Bioecologica (ANAB), de Itália. (Cofragem) foi substituída pela unidade P
Essas unidades abarcam as seguintes áreas: (Produção das unidades de alvenaria). No
1 – Preparação de argamassas para rebocos A partir da experiência do projeto sobre caso da unidade B (Construção) existem
de terra; rebocos de terra, partiu-se para um outro, unidades específicas para a construção
2 – Aplicação de rebocos de terra; atualmente ainda em curso, específico para de taipa (Br – Building rammed earth), a
3 – Acabamentos, tratamento de superfície e a construção das paredes, com as diferentes construção de terra empilhada (Bc – Building
reparação de rebocos de terra; técnicas de paredes monolíticas da taipa cob) e para a construção de alvenaria
4 – Rebocos de terra na conceção interior; e da terra empilhada (muito utilizada por de blocos de terra (Bb – Building brick).
5 – Elementos decorativos e ornamentação; exemplo em Inglaterra e ai designada por Todas as unidades estão estruturadas em
6 – O mercado dos rebocos de terra. cob) e ainda das alvenarias, nomeadamente Conhecimentos, Aptidões e Competências.
de adobe e de blocos de terra comprimidos A parte das unidades relativa aos critérios
Os resultados desse projeto são atualmente ou extrudidos. Este projeto designa-se de avaliação de aptidões está estruturada
utilizados a nível europeu por diversas por PIRATE (Provide Instructions and em Critérios e Indicadores. Estas unidades
instituições de formação, que atribuem Resources for Assessment and Training in e respetivos critérios de avaliação estarão
certificações até ao nível 4 (correspondente Earthbuilding) e o seu desenvolvimento pode em breve disponíveis e poderão vir a ser
a Chefe de equipa) no âmbito do Quadro ser acompanhado on-line em http://pirate. aplicados por instituições de formação

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Construção da rede
2002 - 2015
ecvet.earthbuilding.eu

precisamente para formação, avaliação e maior e principalmente mais capacitada selection of materials and execution of masonry; EN
atribuição de certificação europeia, também intervenção na construção de edifícios 1996-3:2006/AC:2009 – Part 3: Simplified calculation
methods for unreinforced masonry structures.
por créditos ECVET, para os níveis 3, 4 e novos e particularmente na intervenção em
[5] Faria, P.; Henriques, F. (2005). Condicionantes da
5 de qualificação profissional [7]. De entre edifícios existentes
conservação de construções em terra. IV SIACOT –
estas unidades a relativa à Reparação é sem Seminário Ibero-Americano de Construção em Terra.
dúvida das mais exigentes. Em memória da Arq.ª Teresa Beirão. Monsaraz, PROTERRA/CdT, (CD-rom).
[6] JOUE – 2009/C 155/02 – Recomendações do
De acordo com o sistema de créditos Parlamento e do Concelho Europeu, 18 junho 2009 –
BIBLIOGRAFIA Estabelecimento do Sistema de Créditos para o Ensino
ECVET alguém com experiência profissional
[1] Bruno, P.; Faria, P.; Candeias, A.; Mirão, J. (2010). Vocacional e Formação Profissional (ECVET), Bruxelas.
na área pode apenas requerer a validação
Earth mortars from on pre-historic habitat setlements [7] Jörchel, S.; Didier, L.; Keable, R.; Faria, P. (2014).
das suas competências através de exame in south Portugal. Case studies. ADECAP, J. Iberian Provide instructions and resources for assessment
para obtenção da certificação na(s) Archaeology 13, p. 51-67. and training in earthbuilding - the PIRATE project. 40th
unidade(s) e nível pretendidos; alguém [2] Bruno, P.; Faria, P. (2008). Earth building materials IAHS World Congress on Housing. Sustainable Housing
sem experiência profissional na área pode in pre-historic domestic architectures on the south of Construction. Funchal, 16-19 December 2014 (CD-rom).
frequentar uma formação específica e só Portugal. In HERITAGE (2008). International Conference
on World Heritage and Sustainable Development,
então submeter-se a exame para validação
Amoêda, Lira, Pinheiro, Pinheiro & Pinheiro (Eds.).
e atribuição do respetivo certificado na(s) Vila Nova de Foz Côa, The Green Lines Institute for
unidade(s) e nível pretendido (fig. 6). Sustainable Development, p. 571-579.
Pretende-se que esta certificação
[3] Jorge, F. (2015). Contemporary rammed earth
profissional europeia permita uma mais construction. Alexandre Bastos—creativity and
fácil distribuição de operários e de técnicos maturity. Earthen Architecture: Past, Present and Future
especializados no contexto europeu e uma – Mileto, Vegas, García Soriano & Cristini (Eds), Taylor
& Francis Group, London, p. 205-208.
capacitação mais específica na área da
construção de paredes de terra. A figura 7 [4] CEN, Eurocode 6 – Design of masonry structures.
EN 1996-1-1:2005+A1:2012 – Part 1-1: General rules
apresenta a extensão da rede ECVET de
for reinforced and unreinforced masonry structures; EN
construção com terra atualmente existente. 1996-1-2:2005 – Part 1-2: General rules – Structural fire
Espera-se que possa contribuir para uma design; EN 1996-2:2006 – Part 2: Design considerations,

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Estudo de caso

Estudo termográfico
na igreja matriz de
Freixo de Numão
Alexandre Araújo | ADD Building, Atelier Samthiago | geral@samthiago.com

A termografia apresenta-se como uma ferramenta útil de apoio na


intervenção de trabalhos de conservação e restauro, pois não se
tratando de um método invasivo, pode ajudar a orientar metodologias,
uma vez que pode apresentar e especificar defeitos estruturais que não
são particularmente visíveis, recorrendo a métodos convencionais.


E ste estudo foi realizado no
decorrer dos trabalhos de conservação
e restauro levados a cabo na igreja
matriz de Freixo de Numão pela empresa
Atelier Samthiago. O foco principal foi
essencialmente ao nível dos elementos
decorativos, nomeadamente altar-mor,
caixotões da capela-mor e fresco posto a
descoberto durante a intervenção.

O principal objetivo foi a identificação de


possíveis defeitos estruturais, bem como de
patologias antes e pós restauro.

Estruturalmente, as paredes do edifício


são de granito, desprovidas de qualquer
isolamento, o que por si só já constitui um
foco potenciador de patologias, uma vez
que funcionam como ponte térmica, criando
locais de baixas temperaturas, o que leva
à ocorrência de humidades por ponto de
orvalho.

Estudo termográfico
de pormenor
As medições foram efetuadas recorrendo
a uma câmara termográfica Testo 875-2,
um registador de temperatura e humidade

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1 | Vista geral exterior.

2 | Vista de pormenor da
pintura mural existente na nave
da igreja.

3 | Vista geral do teto de


caixotões da capela-mor.

4 | Vista geral interior.

2 3
4

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Estudo de caso

5 6 7

8 9

ambiente Testo 175-H2 e um medidor de uma variação com uma gama dos 85% Hr aos Por comparação com um outro local já
humidade superficial de madeira Testo 90% Hr sendo menos elevada na cobertura, intervencionado (fig. 7), este não apresenta
606. As condições ambiente registadas no podendo concluir-se, como se referiu falhas de maior, sendo a temperatura
interior da igreja foram de uma temperatura anteriormente, que através das paredes se uniforme em todos os elementos. O registo
de 9 ºC (a mesma verificada nas paredes) originam os maiores focos de problemas. de temperatura mostrou o ponto M1 com 6,6
e de uma humidade relativa de 72%Hr. ºC, M2 com 6,5 ºC, o ponto frio CS1 de 6,1
Nestas condições, o ponto de orvalho ºC e o ponto quente HS1 de 7,3 ºC.
surge para temperaturas próximas dos 5 ºC Estudo dos elementos
e na maior parte dos casos analisados a decorativos no altar-mor Os caixotões do teto da capela-mor também
temperatura registada nos elementos foi foram alvo de uma atenção cuidada devido a
de 6 ºC, o que se poderá considerar como Do estudo na nave da igreja, passou-se defeitos estruturais que poderão vir a originar
crítico. Foi, portanto, de todo o interesse ao estudo dos elementos decorativos. problemas futuros.
avaliar de que forma este parâmetro se Relativamente à análise da distribuição de
distribuía ao longo dos diversos elementos humidades nestes, não foram detetadas A figura 8 corresponde ao local onde ia
e estruturas. anomalias relevantes, embora a humidade ser colocada uma das pinturas que se
seja alta e as temperaturas superficiais são encontrava em restauro.
Inicialmente, avaliou-se a distribuição de muito próximas das do ponto de orvalho,
temperatura e humidade ao longo de toda a o que, por longas exposições nestas A união entre a estrutura de suporte do
nave da igreja, por forma a ter a noção dos condições, leva a que surjam humidades caixotão e a armação apresentava uma folga
locais potencialmente afetados. excessivas, fungos e bolores. que permitia ventilação de ar que pode não
ser desejável, bem como de propagação
Avaliou-se a distribuição das humidades Na figura 6 observa-se uma reentrância de pragas em locais inacessíveis. Além
superficiais, através da distribuição de pronunciada entre a estrutura decorativa de, como já foi referido, provocar danos
temperaturas superficiais e da humidade de suporte e o elemento decorativo. Este estruturais futuros por empenamento.
ambiente na nave da igreja (fig. 5). local do altar-mor ainda não se encontrava
intervencionado, pelo que através desta Contudo, a análise termográfica neste
O ponto mais frio CS1 corresponde ao imagem, é possível observar um local a ter tipo de elementos não é fácil, uma vez
verificado na parede, com uma temperatura em conta para evitar possíveis anomalias que por fenómenos de reflexão térmica,
de 5,3 ºC (praticamente a do ponto de na remontagem da estrutura, bem como na muita da temperatura observada é também
orvalho) e humidade de 92%. intervenção de restauro corretiva, uma vez o resultado da reflexão de outros focos
que é possível intervir de forma a estancar térmicos, como por exemplo os projetores
A linha de perfil P1 (fig. 5), corresponde à possíveis ventilações indesejadas, ou luminosos utilizados nos trabalhos, que dada
distribuição de humidades, na qual apresenta empenamentos estruturais. a sua potência, afetam as medições. No

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5 | Distribuição das humidades superficiais
na nave da igreja de Freixo de Numão.

6 | Composição da imagem termográfica


sobreposta na imagem real no altar-mor
(antes do restauro).
10
7 | Composição da imagem termográfica
sobreposta na imagem real no altar-mor
(pós restauro).

8 | Caixotões, observação de frinchas entre


a armação e os espelhos.

9 | Distribuição térmica ao longo da


estrutura do fresco.

10 | Análise da distribuição de humidade


superficial pela análise da distribuição de
temperatura.

11 11 | Sobreposição da imagem termográfica


e da imagem real.

entanto, é possível avaliar em vários pontos em cima do fresco (fig. 11). De salientar que sejam possíveis grandes intervenções para
de observação, diferenças e variações com estas condições ambiente verificadas e as evitar, o conhecimento de como surgem
térmicas suficientes de forma a concluir as observadas nas paredes do fresco, a zona e do seu comportamento pode ajudar no
diversos problemas estruturais. de temperatura inferior poderá indiciar-se futuro a intervencionar curativamente os
como uma fonte de humidades. diversos elementos, bem como ajudar a
Relativamente à deteção de pragas, foi tomar decisões que vão de encontro às
efetuado um estudo de pormenor em alguns Da distribuição de temperaturas, avaliou-se a melhores soluções.
elementos decorativos e estruturais que dispersão de humidades ao longo da parede
servem de suporte ao altar-mor, todavia, do fresco (fig. 10). Para as temperaturas Tal como já foi referido, este tipo de
este não se revelou significativo, o que é registadas, as humidades mais elevadas trabalho assume-se como uma ferramenta
indicador de um trabalho curativo bem verificam-se na aresta da parede, diminuindo importante no apoio a diversos trabalhos
realizado ou a não existência das mesmas. à medida que se afasta desta para o de conservação e restauro, podendo atuar
interior do fresco. Contudo, por efeitos de como uma ferramenta de caráter preventivo
capilaridade e/ou de verificação de pontos ou de apoio a trabalhos curativos, como se
Estudo da pintura a fresco de orvalho, a humidade pode alastrar-se ao pode observar nos exemplos atras descritos.
longo de todo o fresco.
No decorrer dos trabalhos de restauro O leque de aplicações é, portanto, vasto,
foi descoberto um fresco que, embora já O ponto de temperatura mais baixo, CS1, sendo pertinente a realização da avaliação
estivesse bastante degradado, foi alvo de foi de 6,5 ºC e registou-se no na junção termográfica neste tipo de obra, em três
uma intervenção curativa. de granito nas paredes e o ponto de fases: antes da intervenção para avaliação
temperatura mais elevado, HS1, foi de 7,6 de patologias estruturais; durante a
Foi de todo o interesse aproveitar esta ºC, ainda assim, ambos muito próximos do intervenção para orientação pormenorizada
descoberta e efetuar um pequeno estudo ponto de orvalho. da atuação; por fim, na conclusão dos
para avaliar de que forma os parâmetros trabalhos como garantia de qualidade
físicos ambientais se distribuíam ao longo da
sua estrutura. Considerações finais
Na figura 9 observa-se uma distribuição de No trabalho realizado foram detetados como
temperatura que varia entre os 6,1 ºC e os pontos críticos as temperaturas baixas
7,1 ºC com uma temperatura média de 7,3 ºC. muito próximas do ponto de orvalho e
humidades ambiente e superficiais elevadas,
O ponto mais frio verificou-se na união das que funcionam como focos contínuos de
paredes (no granito) e o ponto mais quente humidades elevadas. Muito embora não

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Lá fora

Deslocação ou morte

Salvando um
edifício histórico
mudando-o de sítio
Vítor Cóias | Presidente da Direcção do GECoRPA


A necessidade de construir uma
nova linha de caminho-de-ferro obrigou, em
francos suíços pela imobiliária, não deve,
portanto, ter sido estranho à viabilização
Ficaram para a história casos como as
grandes destruições promovidas em
finais de 2012, à mudança de sítio de um desta importante operação de engenharia. Bucareste pelo regime de Ceausescu no
edifício histórico de grandes dimensões: o âmbito do tristemente famoso programa de
Edifício MFO, localizado junto da estação de A preparação começou em agosto de 2010, “Sistematização”. Com essa intervenção,
Oerlikon, em Zurique. desligando e refazendo as infraestruturas levada a cabo nos anos oitenta a pretexto
e instalações de serviço. Os trabalhos de dos danos causados pelo terramoto que
Segundo rezam as notícias da altura, foi escavação no novo local decorreram entre abalou a cidade em 1977, foram demolidos
uma tomada de posição da população local, 2011 e 2012. Foi construído um caminho cerca de 500 hectares da cidade, dos quais
consciente do valor histórico do edifício, que de rolamento constituído por vigas e cerca de metade correspondiam a áreas
impediu a demolição, promovendo a sua roletes de aço. O edifício, com 80 m de urbanas de importância histórica.
salvaguarda. comprimento e 6 200 toneladas de peso,
foi, então, deslocado 60 m segundo o seu Em Lisboa, uma tal intervenção
O edifício, com mais de 4000 m2 de eixo longitudinal (figs. 2, 3 e 4), utilizando corresponderia, em termos de área, a
área útil, foi construído em 1890 pela equipamento hidráulico. Segundo as demolir toda a Baixa, o Bairro Alto, a Avenida
“Maschinenfabrik Oerlikon”, um fabricante descrições da operação, a deslocação da Liberdade, a Colina de Santana, as
suíço de motores e locomotivas elétricas (fig. demorou cerca de 18 horas, a uma Avenidas Novas e parte de Alvalade, até
1). Esta empresa foi comprada em 1970 pela velocidade da ordem dos 4 metros por hora. Entrecampos.
Brown Boveri, a qual veio a fundir-se, por A população acompanhou com interesse a
sua vez, no grupo industrial suíço ABB. São, salvação do “seu” edifício MFO (fig. 2), que A operação levada cabo pelo regime de
ainda hoje, as iniciais da primitiva empresa foi, por fim, objeto de uma renovação dos Ceausescu incluiu a deslocação de oito
que dão o nome ao edifício, construído para interiores, concluída em 2013. igrejas, entre elas a de Santo Elias, situada
alojar os escritórios. Em 2010 o edifício no bairro de Rahova (figs. 5 a 8). Olhando
escapou à demolição e passou a integrar o Em termos de perturbação do tecido para o seu atual esplendor, dificilmente se
portfólio da Swiss Prime Site AG, uma das urbano, a deslocação do edifício de adivinham as vicissitudes por que passou.
maiores imobiliárias suíças, aparentemente Zurique pode considerar-se cirúrgica. Para além de dois mosteiros, outras
com a condição de o deslocar para permitir No entanto, as deslocações de edifícios dezanove igrejas cristãs ortodoxas, três
aos caminhos-de-ferro suíços construir históricos aparecem também associadas igrejas protestantes e seis sinagogas tiveram
uma nova linha paralela às já existentes na a intervenções altamente intrusivas, como menos sorte e foram demolidas
estação. O valor da localização “prime”, que alternativa à demolição e reconstrução,
justificou um investimento de 12 milhões de se não ao puro e simples aniquilamento.

34 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


2

1 | A antiga fábrica da Maschinenfabrik Oerlikon


(MFO), em Zurique, fins do século XIX, princípios 3
do século XX. Em primeiro plano, do lado esquerdo,
o edifício que viria a ser deslocado em 2012.

2 | O edifício MFO durante a deslocação. Note-se o


caminho de rolamento e o interesse dos populares.

3 | Controlo do deslocamento dos hidráulicos


que empurraram o edifício.

4 | O edifício MFO, em 2012, visto dum ângulo


próximo do da figura 1. A largada dos balões
vermelhos assinala o fim da deslocação.
4
5 | A Igreja de Santo Elias, no bairro de
Rahova, Bucareste, fins do século XIX.

6 | Igreja de Santo Elias, Bucareste,


em 1984, durante a deslocação.

7 | Igreja de Santo Elias, Bucareste,


no seu atual enquadramento.

8 | Igreja de Santo Elias, Bucareste. Se sofreu


com a deslocação, não se nota, aparte o ter
ficado “entalada” entre edifícios modernos.

7
Cartas & Convenções

Tecnologias de
construção nas
normas internacionais
de património
Miguel Brito Correia | Arquiteto


A s normas internacionais
abordam direta e indiretamente o tema das
[envolvente], as proporções, as formas
e as escalas existentes e deve utilizar
em que “a atividade de produção ou
prestação de serviços caracteriza-se pela
tecnologias de construção como um meio materiais tradicionais”, “favorecendo participação pessoal, manual e direta do
de salvaguarda do património. Embora o desenvolvimento das técnicas e artesão que exerce a função de criador”
seja promovida a utilização de técnicas e artes tradicionais, ameaçadas de (“Recomendação n.º R (81)13” do Conselho
de materiais tradicionais na recuperação desaparecimento” (“Carta Europeia do da Europa, n.º 4). Como exemplos de
de monumentos e edifícios antigos, pelo Património Arquitetónico”, 1975, n.o7 e 8). profissões artesanais na construção
menos, desde a “Carta de Atenas sobre temos os estucadores, os carpinteiros, os
o restauro de monumentos” (1931)1 que A referência às tecnologias tradicionais fabricantes de ferragens, os caiadores, etc.
é aprovado “o uso judicioso de todos os de construção surge explicitamente na
recursos da técnica moderna, especialmente “Declaração de Amesterdão” (1975) que
do betão armado [desde que] estes meios afirma ser “necessário assegurar que As técnicas, ou seja os saberes-fazer,
de reforço [sejam] dissimulados, […] a os materiais de construção tradicionais a par das profissões que os põem em
fim de não alterarem o aspeto e o caráter continuem disponíveis e que as respetivas prática, passaram a ser considerados “uma
do edifício a restaurar” (cap. IV). A “Carta artes e técnicas continuem a ser aplicadas.” componente do património europeu, tanto
de Veneza” (1964, art.º 10.º) acrescenta (n.º 6). Para alcançar este objetivo “é como as obras [edifícios acabados].” As
que é aconselhável o “recurso a outras indispensável estimular a formação de profissões ligadas ao património podem
técnicas modernas de conservação e de artesãos e de especialistas na salvaguarda constituir um fator de relançamento da
construção, desde que a sua eficácia tenha de conjuntos históricos.” (“Recomendação economia local. O aspeto económico das
sido comprovada por dados científicos e sobre a salvaguarda dos conjuntos profissões do património não deve ser
garantida pela experiência”. históricos” 1976, n.º 49). menosprezado, pois é fator de atração de
jovens para este setor de atividade. Além
“A introdução de arquitetura Várias técnicas tradicionais de construção destas, a “Recomendação n.º R (86)15”
contemporânea nos conjuntos enquadram-se numa forma de trabalho do Conselho da Europa propõe uma série
antigos […] deve respeitar o contexto que podemos chamar artesanal, na medida de medidas para promover as profissões

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“Cada geração apenas
dispõe do património
como depositária e
é responsável por
transmiti-lo às
gerações vindouras.”
Carta Europeia do Património
Arquitetónico, 1975, n.º 9

artesanais ligadas à conservação do tempo e a possibilidade da sua eventual da reversibilidade, da intervenção mínima,
património arquitetónico. reversibilidade. Deve estimular-se o do respeito pelo existente (enquanto obra
conhecimento dos materiais e técnicas de arte e enquanto documento histórico),
A “Carta de Cracóvia 2000” alerta para tradicionais de construção, bem como a da estabilidade estrutural, etc., as normas
as implicações da introdução de novas sua apropriada manutenção no contexto da indicam quais as opções a tomar em
tecnologias em edifícios antigos: “As sociedade contemporânea, considerando- termos de técnicas e de materiais. A tarefa
técnicas de conservação devem estar -as como componentes importantes do dos intervenientes no património é adaptar
intimamente ligadas à investigação património cultural.” (n.º 10). todos os princípios a cada caso concreto,
pluridisciplinar sobre materiais e pois cada caso exige soluções próprias
tecnologias usadas na construção, A mais recente norma internacional
reparação e no restauro do património a debruçar-se sobre as profissões e
edificado. A intervenção escolhida deve os saberes-fazer da conservação do
respeitar a função original e assegurar património cultural é a Recomendação
a compatibilidade com os materiais, as 1851 (2008), do Conselho da Europa,
estruturas e os valores arquitetónicos que insiste na cooperação entre países,
existentes. Quaisquer novos materiais entidades oficiais, organizações privadas
ou tecnologias devem ser rigorosamente e pessoas singulares para o intercâmbio
testados, comparados e experimentados de experiências que possam relançar
antes da respectiva aplicação. Embora atividades e produtos antigos.
a aplicação in situ de novas tecnologias
possa justificar-se para uma boa A abordagem indireta das tecnologias de
conservação dos materiais originais, estas construção nas normas internacionais é
1. Cf. Lopes, Flávio, e Correia, Miguel Brito,
devem ser constantemente controladas feita sob a forma de princípios aplicáveis às “Património Cultural, critérios e normas
tendo em conta os resultados obtidos, obras em monumentos e edifícios antigos. internacionais de proteção”, Editora Caleidoscópio,
o seu comportamento ao longo do Ao referir os princípios da autenticidade, Casal de Cambra, 2014.

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Património para miúdos

Aventuras e descobertas
em livro comemoram
os 50 anos da Gruta
do Escoural
Regis Barbosa | Pedra&Cal
D
e modo a celebrar a descoberta
da Gruta do Escoural há 50 anos, o município
descoberta em abril e em outubro era
classificada. A gruta deu a conhecer nas
monumento propriamente dito. Atualmente
é possível visitar a gruta do Escoural através
de Montemor-o-Novo editou o livro Um diversas campanhas de escavação em seu de marcações prévias feitas no Centro
encontro na Gruta do Escoural, que procura interior um alargado intervalo de ocupação. Interpretativo.
explicar aos mais novos a vida dos homens Os vestígios mais antigos remontam ao
no Paleolítico. A narrativa tecida por Teresa Paleolítico Médio, período no qual viveu Teresa Fonseca é licenciada em História,
Fonseca e ilustrada por Rodolfo Pimenta o homem de Neanderthal. No caso do mestre em História Cultural e Política e
leva um jovem estudante ao inesperado Escoural esta ocupação está datada de doutorada em História das Ideias Políticas.
encontro com um outro menino em plena 50.000 anos atrás. No período subsequente, É autora de diversos artigos em revistas
Pré-história. Entre corridas e aventuras o o Paleolítico Superior, surgem os vestígios nacionais e internacionais, para além de ter
leitor vai descobrindo os segredos da Gruta de arte rupestre, já composta pelo Homo escrito 11 livros sobre História Moderna e
do Escoural na Idade do Gelo. sapiens. Ao todo foram identificadas 108 Contemporânea. Escreveu também a história
figuras, 34 destas são de estilo naturalista, infanto-juvenil Uma amiga com mil anos.
A Gruta do Escoural é a única gruta com representando cavalos, bovídeos e Joana descobre a história de Montemor-o-
arte rupestre do Paleolítico no país. Foi elementos isolados (possivelmente chifres). -Novo.
descoberta em 1963 por trabalhadores Por fim, há uma utilização da gruta como
de uma pedreira, mas somente depois necrópole no Neolítico Final, quando o Rodolfo Pimenta é um artista multifacetado
da chegada dos arqueólogos foram homem já tinha um milenar domínio da que utiliza a ilustração, o cinema de
descobertas as pinturas e gravuras. agricultura. Fora da gruta, mas num cabeço animação, o documentário e a vídeo-
Os trabalhadores identificaram antes a próximo há um povoado amuralhado do -instalação como formas de expressão.
necrópole neolítica também existente no Calcolítico, época em que as comunidades Criou há 14 anos o Colectivo Fotograma
arqueossítio. A partir daí a notícia espalhou- humanas começavam paulatinamente a 24 – Laboratório itinerante de cinema
-se, motivando a chegada ao Escoural utilizar o cobre. de animação para a alfabetização visual,
do arqueólogo Farinha dos Santos, do projecto premiado que visa a educação
Museu Nacional de Arqueologia. Além Nos anos 90 foi criado o Centro artística de crianças e jovens através da
dele, especialistas de várias proveniências Interpretativo da Gruta do Escoural, na realização de curtas metragens animadas.
trabalharam na gruta, com destaque para vila do Escoural. Esta iniciativa estava Além disto, é membro do projeto Canal Zero,
André Glory, que em 1965 confirmou a enquadrada em programas de valorização que une em tempo real som e imagem, e do
gélida cronologia paleolítica da arte que se do património arqueológico do Alentejo, coletivo Dio3Stu (Estúdio 3) um laboratório
encontra em suas paredes. efetuados pelo então IPPAR, atual Direção dedicado à criação de instrumentos
Geral do Património Cultural (DGPC). A electrónicos, esculturas sonoras e
Desde cedo notou-se a importância partir daí foram feitas obras não só visando instalações site-specific
patrimonial da gruta, o que justifica a melhorias nas condições de visita no
rápida classificação do monumento: fora interior da gruta como a conservação do

À venda na livraria virtual (consulte a pág. 51)


P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014 | 39
Edições GECoRPA

Lançamento da segunda
edição do Anuário
do Património atrai
profissionais e interessados

No dia 31 de outubro 2014, no Foyer do


A sessão foi aberta por José
António Falcão, Presidente do OPArt –
Teatro Nacional de São Carlos, decorreu Organismo de Produção Artística, que no
seu discurso mencionou que o Anuário do
a Cerimónia de Lançamento do Anuário Património “constitui um importante veículo
do Património 2 – 2014, uma edição para o conhecimento do património material
do nosso país, refletindo igualmente, em
conjunta do GECoRPA – Grémio do boa medida, a maturidade que diversas
disciplinas do universo das ciências do
Património e da editora Canto Redondo. património têm vindo a alcançar entre nós.”
O evento contou com a presença de um Após estas palavras iniciais, Ana Paula
número expressivo de profissionais Amendoeira apresentou a publicação
e classificou-a como obra de interesse
para além de um público heterogéneo e público. No seu discurso, a Diretora Regional
interessado pelo Património. de Cultura do Alentejo e Presidente do
ICOMOS-Portugal salientou a necessidade
imperiosa de qualidade nas intervenções de
conservação e restauro do património, assim

40 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


À venda na livraria virtual (consulte a pág. 51)

como da qualificação dos profissionais e das agradeceu a todos os que contribuíram para
empresas intervenientes no setor. que esta obra pudesse ser publicada com a
qualidade que merece.
Vítor Cóias, presidente do GECoRPA e
diretor do Anuário do Património, enumerou O Anuário do Património é uma publicação
os requisitos a cumprir pelas intervenções bienal, única do género no país, que procura
no Património para possuírem a necessária reunir toda a informação de qualidade sobre
qualidade e destacou a importância do o património português, exercendo um nível
acesso pelos decisores a informação de exigência criterioso e uma base forte de
fidedigna sobre os agentes do setor, em cariz técnico-científico. Além do Diretório do
particular sobre as empresas que nele Património, que agrega a maior parte dos
pretendem exercer atividade. intervenientes no setor da conservação do
património e da reabilitação do edificado,
Também presente na Mesa de Honra, Joana o Anuário do Património inclui um conjunto
Morão, editora do Anuário do Património, substancial de conteúdos técnico-científicos,
realçou o esforço humano necessário para destinados a contextualizar a informação
trazer a público este segundo Anuário do disponibilizada, artigos de opinião e
Património, visto que a chamada para artigos entrevistas a profissionais do setor
foi muito superior à do primeiro número, e

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Notícias

PATORREB 2015
5ª conferência sobre patologia
e reabilitação de edifícios
A construção é um setor de atividade indispensável às sociedades
modernas e desenvolvidas, no entanto, em cada momento é fundamental
entender claramente quais as necessidades e ajustar as intervenções
a essas necessidades. A reabilitação, nomeadamente a reabilitação
do património edificado, é um dos vetores fundamentais do setor da
construção. A reabilitação passará pela preservação do património
monumental, pela reabilitação dos edifícios antigos, pela reabilitação
da envolvente e das zonas comuns dos edifícios de condomínio de
estrutura porticada de betão armado (construídos nas décadas de 60,
70 e 80) e ainda pela resolução das patologias construtivas dos edifícios
mais recentes, cuja durabilidade é claramente inferior ao período de
amortização dos empréstimos bancários.

D esde 2003, com uma


periodicidade trienal, têm-se realizado as
Universidad Politécnica de Cataluña – UPC e
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
patologias de caráter higrotérmico, técnicas
de diagnóstico, inspeção técnica de
conferências PATORREB sobre patologia – UFRJ, com o objetivo de impulsionar e edifícios, custos da patologia e disseminação
e reabilitação de edifícios, em Portugal divulgar a sistematização do conhecimento da informação. Por outro lado, visa-se
e em Espanha, envolvendo professores, neste domínio e contribuir para o intercâmbio discutir a reabilitação nos seus múltiplos
investigadores, estudantes, projetistas, técnico e científico entre Portugal, Espanha, aspetos, com enfoque na componente
empresas e outros profissionais. O Brasil e outros países da América Latina, técnica, estratégica, regulamentar, da
extraordinário interesse manifestado nas razão pela qual as duas línguas oficiais são o indústria da construção e do setor financeiro.
quatro edições anteriores, que contaram português e o espanhol.
com cerca de 600 participantes, motiva A comissão organizadora convida todos os
a realização da 5.ª edição da conferência Pretende-se, por um lado, refletir sobre interessados a participar no PATORREB
PATORREB 2015, que decorrerá no Porto de o problema da patologia da construção: 2015 (http://paginas.fe.up.pt/patorreb/pt/
26 a 28 de março, organizada conjuntamente responsabilidades, garantias e seguros, inscricao.htm).
pela Faculdade de Engenharia da código da construção, patologias estruturais,
Universidade do Porto – FEUP, pela patologias dos materiais e componentes,

Esta conferência tem o apoio institucional


do GECoRPA – Grémio do Património.
Os seus associados usufruem de 10%
desconto na inscrição.

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www.fe.up.pt/patorreb2015

PATORREB 2015
5ª CONFERÊNCIA SOBRE
PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIOS

26 - 28 de MARÇO
P O R T O
P O R T U G A L
2 0 1 5

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Notícias

Prémio IHRU 2014


Divulgados os vencedores
A cerimónia de atribuição do prémio IHRU alterações, refletindo assim a evolução nos Além dos dois projetos vencedores, foram
2014 teve lugar no dia 4 de dezembro no paradigmas da construção. Atualmente distinguidas com menções honrosas as
auditório do Instituto Superior de Economia incide exclusivamente na área da reabilitação seguintes candidaturas:
e Gestão. O evento contou com a presença urbana.
do Ministro do Ambiente, Ordenamento do Chalé das Três Esquinas, Freguesia da Sé,
Território e Energia, Jorge Moreira da Silva. De modo a assegurar o alto nível do prémio Braga;
Foram premiadas duas candidaturas, para foi constituído um júri de excelência que
além da atribuição de seis menções honrosas. conta com representantes do IHRU, da Edifício na Rua dos Caldeireiros, 83-85,
Ordem dos Arquitetos, da Associação Freguesia de Vitória, Porto;
O prémio avalia iniciativas em quatro Portuguesa dos Arquitetos Paisagistas, da
diferentes domínios: reabilitação de edifício, Ordem dos Engenheiros, do Laboratório Habitação Unifamiliar do Início do Século
reabilitação de conjunto urbano, reabilitação Nacional de Engenharia Civil e do GECoRPA XX, Freguesia de Bonfim, Porto;
ou requalificação de espaço público e – Grémio do Património.
reabilitação urbana. Puderam apresentar Edifício Casa do Miradouro em Viseu
candidaturas entidades públicas ou privadas Os vencedores do Prémio IHRU 2014 são: União das freguesias de Viseu, Viseu;
que tenham promovido intervenções no
âmbito dos domínios referidos. Edifício na Rua dos Caldeireiros, 79-81, Percurso Pedonal Assistido de Montemor-
Freguesia de Vitória, Porto, na categoria -o-Velho, Acesso à Encosta e ao Castelo
O prémio IHRU, como herdeiro dos “Reabilitação de Edifício”; Montemor-o-Velho;
prémios INH e RECRIA, procura promover
a disseminação de boas práticas e valorizar Espaços Públicos da Mouraria da Delimitação da ARU de Alegrete, Alegrete,
o trabalho desenvolvido por projetistas, Moura, Freguesia de São João Baptista, Portalegre.
promotores e construtores, entre outros Moura, na categoria “Reabilitação ou
objetivos. Ao longo dos anos foi sofrendo Requalificação de Espaço Público”.

1 2
3 4

1, 3, 4 | Edifício na Rua dos Caldeireiros, 79-81. P&C - Quais as características que mais anteriores. Ainda há muito a fazer, mas as
© Prompt Collective. valoriza na intervenção? coisas estão a melhorar.
2 | Espaços Públicos da Mouraria da Moura,
Freguesia de São João Baptista, Moura. Paulo Moreira - Bom, podia aqui P&C - Quais foram os desafios que foram
enumerar muitos aspetos que aprecio na colocados a si e à sua equipa ao longo da
intervenção, como por exemplo a forma intervenção?
como procura valorizar as características
construtivas originais do prédio, despindo-o Paulo Moreira - O processo burocrático foi
dos tetos e paredes “falsos” que o foram talvez o maior desafio. Quer a legislação (que
descaracterizando ao longo dos tempos... entretanto já está mais leve), quer os métodos
Mas acima de tudo valorizo o impacto de apreciação das entidades responsáveis,
positivo que esta pequena obra provocou na provocaram grandes atrasos nas obras.
zona envolvente. No início da intervenção, Julgo que deveria haver uma estratégia mais
Prémio praticamente todo o conjunto edificado económica e perspicaz para a reabilitação do
Reabilitação de Edifício envolvente também se encontrava num centro histórico, nomeadamente respeitando
estado avançado de degradação. Após as tipologias originais, em vez da sua
REABILITAÇÃO DE EDIFÍCIO NA concluir a reabilitação da “Casinha”, iniciei substituição por modelos mais favoráveis
RUA DOS CALDEIREIROS, 79-81 a obra dos dois prédios vizinhos, um de ao mercado imobiliário, supostamente mais
Freguesia da Vitória, Concelho do cada vez (um deles já está totalmente adequados ao modo de vida atual.
Porto reabilitado e obteve uma menção honrosa no
Prémio IHRU, o outro apenas parcialmente). P&C - Será suficientemente eficaz na
PROMOÇÃO Simultaneamente, fui assistindo aos trabalhos promoção de boas práticas na reabilitação
Arquiteto Paulo Moreira de recuperação dos prédios vizinhos, alguns uma iniciativa como o prémio IHRU?
com intervenções profundas, outros com
EXECUÇÃO pequenas intervenções, como a reparação de Paulo Moreira - O prémio IHRU é
Manuel Sousa Costa telhados, ou o arranjo de espaços interiores. certamente uma iniciativa louvável, mas
É muito gratificante sentir que estes trabalhos para ser plenamente eficaz merecia ter mais
PROJETO têm contribuído para a recuperação de uma visibilidade, por exemplo através de uma
Arquiteto Paulo Moreira zona da cidade que sofreu muito com a falta publicação, debates com os premiados e uma
de atenção e de investimento das décadas exposição itinerante. Ficam as sugestões!

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Notícias

Prémio Outra das características que destacamos reabilitação do espaço público da Mouraria
Reabilitação ou Requalificação é o resultado final depurado e simples. numa dinâmica mais vasta e contagiante que
de Espaço Público Esta simplicidade, que não é simplista, é potencie a reabilitação do espaço privado da
uma intenção clara do projeto que permite habitação e venha a melhorar as condições
REQUALIFICAÇÃO DOS ESPAÇOS
não só estabelecer uma continuidade sem de vida dos residentes. Ainda que de forma
PÚBLICOS DA MOURARIA DE MOURA
sobressaltos do espaço público da Mouraria embrionária, hoje já é visível o carinho como
Freguesia de São João Baptista, concelho
de Moura com a cidade, mas também, valoriza a os habitantes valorizam e cuidam das suas
identidade patrimonial e cultural da Mouraria, próprias casas, caiando as fachadas e
PROMOÇÃO onde cada edifício não pode ser encarado colocando flores. Esperamos que os desafios
Município de Moura como um objeto isolado, mas sim, como futuros passem pela requalificação dos
parte integrante do conjunto arquitetónico espaços habitacionais.
EXECUÇÃO classificado. Reconhecemos também, que
Agrocinco - Construções, S.A. esta intencionalidade obrigou a um rigor P&C - Será suficientemente eficaz na
acrescido não só em fase de projeto como promoção de boas práticas na reabilitação
Projeto
também em obra. uma iniciativa como o prémio IHRU?
Coordenação
Pedro Guilherme
Arquitetura P&C - Quais foram os desafios que foram Sofia Salema e Pedro Guilherme - O
Sofia Salema e Pedro Guilherme Arquitetos colocados a si e à sua equipa ao longo da reconhecimento através do prémio IHRU
Arquitetura paisagista intervenção? é sem sombra de dúvidas uma iniciativa
PB ARQ – Pedro Batalha que ajuda a promover a disseminação de
Drenagem de águas pluviais Sofia Salema e Pedro Guilherme - O boas práticas na reabilitação. De facto esta
Carlos Mata desafio não foi só um, mas sim um conjunto distinção anual atribuída pelo Instituto da
Telecomunicações e iluminação pública de desafios que foram sendo ultrapassados Habitação e da Reabilitação Urbana, a todos
João Giga
ao longo do processo. O primeiro desafio os intervenientes na obra contribui para o
foi o do conhecimento social, espacial, reconhecimento da importância de todos
arquitetónico e patrimonial da Mouraria. os participantes na obra (desde o promotor,
Depois, surgiu o desafio da execução do ao projetista, ao empreiteiro e ao utente). A
P&C - Quais as características que mais projeto e da coordenação de todos os visibilidade deste tipo de iniciativas poderá
valoriza na intervenção? intervenientes envolvidos. Esse desafio promover o reconhecimento da importância
foi superado pela convicção de que a da reabilitação do património edificado não
Sofia Salema e Pedro Guilherme - Com a coordenação é um conjunto de ações só junto dos promotores públicos e privados,
obra acabada, valorizamos a apropriação e concertadas, coerentes, interligadas e mas também da sociedade civil em geral.
vivência do espaço público pelos habitantes e detalhadas e não apenas um somatório de Consideramos contudo pertinente promover
pela população em geral. Quando iniciámos o ações. Por outro lado havia ainda o desafio da a parceria deste tipo iniciativas com outras
projeto na Mouraria sentimos uma resistência austeridade da obra e da escassez pretendida relacionadas com a inovação e investigação
por parte dos residentes no seu envolvimento para a intervenção (mínima) e de que aplicada em / pelo / através do projeto
com as iniciativas relacionadas com o projeto modo era possível fazer muito com pouco. de modo a potenciar os resultados de
global de requalificação da Mouraria. Hoje Surgiu depois o desafio da execução física intervenções sustentáveis de reabilitação do
o sentimento de exclusão deu lugar ao da obra, que compreendeu as inevitáveis património.
reconhecimento e à valorização do espaço adaptações do projeto à realidade do que se
público urbano e arquitetónico, visível no foi encontrando, sem perda da coerência do
carinho e orgulho com que todos cuidam das projeto. Por último, e, talvez o maior desafio 5, 6 | Espaços Públicos da Mouraria da Moura,
suas fachadas floridas. foi o de transformar esta intervenção de Freguesia de São João Baptista, Moura.

5 6
Conservação do retábulo de João
de Ruão, na Catedral da Guarda
O Atelier Samthiago deu recentemente por
concluídos os trabalhos de conservação
do retábulo-mor da Catedral da Guarda.
O retábulo é da autoria de João de Ruão e
data de 1553.

A estrutura, em pedra de Ançã, possui


planta côncava, com seis andares e é
dividido em apainelados por pilares dóricos
e colunas coríntias. Na zona inferior,
os 12 Apóstolos, seguidos por friso e
arcanjos, cenas da Paixão, representando
o “Caminho do Calvário”, “Calvário” e
“Descida da Cruz”; no quarto andar,
as figuras de Isaías, David, Jeremias
e Zacarias, separados pelas cenas da
“Adoração” e “Apresentação de Jesus no
Templo”, a que se sucedem as imagens
de Ezequiel, Moisés, Elias e Daniel e
duas cenas com a “Anunciação” e a
“Natividade”; no topo, Deus Pai, rodeado
de querubins.

O trabalho, realizado para a Direção


Regional de Cultura do Centro e para
a Diocese da Guarda, representa uma
primeira fase do projeto e foi desenvolvido
com a parceira Lusocol, integrando-se no
programa ROTA DAS CATEDRAIS.

NVE
distinguida PME Excelência 2014

A 26 de Janeiro de 2015, a NVE desempenho, critérios económico-


Engenharias, S.A. foi, uma vez mais, -financeiros e de gestão.
premiada com o estatuto de PME
Excelência 2014. A cerimónia decorreu no As PME Excelência assumem cada vez
Europarque e contou com a participação do uma maior relevância, com o seu contributo
Ministro da Economia, Dr. António Pires de para o PIB, para o reforço da balança
Lima, e do Vice-Primeiro Ministro, Dr. Paulo comercial e para a criação emprego,
Portas. mas simultaneamente garantindo solidez
financeira, rendibilidade económica e um
Esta iniciativa, promovida pelo IAPMEI padrão de serviço altamente competitivo.
e pelo Turismo de Portugal em parceria Dedicando-se há 22 anos à construção
com os maiores Bancos a operar em e reabilitação de obras públicas e
Portugal, visa distinguir as empresas que se particulares, a NVE integra novamente o
destacam anualmente pelos seus níveis de restrito lote das melhores PME portuguesas.

P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014 | 47


Vida Associativa

GECoRPA
Grémio do
Património
declarado pessoa coletiva
de utilidade pública e
abrangido pelo regime do
Mecenato Cultural
Em dezembro último, as atividades e excelência nas intervenções do património – Grémio do Património, no âmbito das
iniciativas do GECoRPA – Grémio do edificado, na participação e organização de atividades previstas no Programa, gozam
Património, foram objeto de um duplo eventos culturais e científicos (seminários, dos benefícios fiscais previstos no regime do
reconhecimento: a Presidência do Conselho conferências, visitas técnicas, debates, ações Mecenato Cultural.
de Ministros emitiu a declaração de utilidade de formação) relevantes para a divulgação
pública da associação, e a Secretaria de e salvaguarda do património arquitetónico Este regime é regulado pelo Estatuto dos
Estado da Cultura declarou o interesse e na edição e divulgação de publicações Benefícios Fiscais (Capítulo X), aprovado pelo
cultural do programa de atividades para o especializadas na área da conservação e Decreto-Lei n.º 215/89, de 1 de Julho, na
triénio 2014-2016. restauro do património arquitetónico.” redação dada pelo Decreto-Lei n.º 108/2008,
de 26 de Junho (artigos 61.º a 66.º).
De acordo com o despacho n.º 14926/2014 A declaração de utilidade pública é concedida
do Diário da República n.º 238/2014, 2.ª pela Presidência do Conselho de Ministros a O duplo reconhecimento do GECoRPA –
série de 10 de dezembro de 2014, emitido associações ou fundações que desenvolvam, Grémio do Património, cujas atividades e
pela Presidência do Conselho de Ministros e sem fins lucrativos, a sua ação em favor da iniciativas em prol do Património construído
pelo Ministro da Presidência e dos Assuntos comunidade em várias áreas de relevo social. vêm sendo desenvolvidas desde 1997,
Parlamentares, “O GECoRPA — Grémio do A declaração é emitida com base no Decreto- constitui um importante estímulo para os
Património (...) vem desenvolvendo desde -Lei n.º 391/2007, de 13 de Dezembro, que seus dirigentes e associados.
a sua constituição, em 1997, relevantes estabelece os respetivos requisitos.
e continuadas atividades em prol do
bem comum nas áreas da proteção do Quase em simultâneo com a declaração de
património natural e da preservação do utilidade pública, mais precisamente em
património cultural, especialmente na área 23 de dezembro, o Programa de atividades
da conservação, reabilitação e restauro do do GECoRPA para o triénio 2014-2016 foi
património arquitetónico, abrangendo os objeto de “Declaração de interesse cultural”
domínios técnico e científico. Tem promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, o
e participado em numerosas atividades e que significa que os donativos e apoios,
iniciativas, nomeadamente na promoção da em dinheiro ou em espécie, ao GECoRPA

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O GECoRPA participou
no Dia do Património
das Misericórdias, a 17
de outubro, no Redondo

Ao participar no Dia do Património das A sessão de abertura contou com as degradação do património, com particular
Misericórdias, o Grémio pretendeu participações do provedor da Misericórdia destaque para as associadas à deficiente
contribuir para a divulgação das boas do Redondo, da diretora regional de qualificação de quem as concebe e executa,
práticas na conservação do vasto legado Cultura do Alentejo, do presidente da outra do eng.º Vítor Cóias, sobre os critérios
patrimonial das misericórdias portuguesas. autarquia, do presidente da UMP, do de seleção das empresas intervenientes e de
membro do Secretariado Nacional da UMP adjudicação dos trabalhos a executar.
Neste encontro, que decorreu no Centro responsável pelo património e do arcebispo
Cultural daquela vila alentejana, promoveu- de Évora. Estiveram em foco as boas A colaboração do GECoRPA neste
-se o debate público sobre os arquivos, a práticas na gestão e na conservação do evento insere-se no âmbito do protocolo
história e o património das Misericórdias, património das misericórdias. existente entre o Grémio e a UMP, que visa,
a sua relação com o turismo, o papel da sobretudo, a qualidade das intervenções
União das Misericórdias portuguesas O GECoRPA participou com duas de conservação do Património, através do
(UMP) na defesa do património. comunicações, uma do eng.º Filipe recurso a empresas e profissionais com a
Ferreira, sobre as causas frequentes da adequada qualificação.

GECoRPA na Feira do Património 2014


O GECoRPA - Grémio do Património
participou na Feira do Património 2014,
em Guimarães.

Após diversas reuniões com a entidade


promotora da Feira do Património, a
Spira, foram delineados os termos de
uma parceria entre esta entidade e o
Grémio do Património com vista a uma
colaboração no evento a realizar a partir
de 2015.

Com o apoio de dois dos seus


associados, a Monumenta e a AOF, o
1 GECoRPA – Grémio do Património esteve
já presente este ano no evento, que
1 | Junto ao stand do GECoRPA, da esquerda para a direita: Dr.ª Celeste Amaro, Diretora
Regional da Cultura do Centro, Eng.º Filipe Ferreira e Arq.º Francisco Azeredo, da AOF, e teve lugar em Guimarães, de 10 a 12 de
Dr. Carlos Costa, do Atelier Samthiago. © Pedro Ramos / Diário de Coimbra outubro.

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Agenda

Março Abril
Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua

16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

18 a 21 de Março 2015
Simpósio EAC - “Quando Valletta e Faro se encontram.
A realidade da arqueologia europeia no século XXI”
Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa

24 a 27 de Março 2015
ISBP 2015 - 1st International Symposium on Building Pathology
Faculdade de Engenharia daUniversidade do Porto

26 a 28 de Março 2015
PATORREB 2015 - 5.ª Conferência
sobre Patologia e Reabilitação de Edifícios
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto

Simpósio EAC - “Quando ISBP 2015 - 1st International PATORREB 2015 - 5.ª
Valletta e Faro se encontram. Symposium on Building Conferência sobre Patologia
A realidade da arqueologia Pathology e Reabilitação de Edifícios
europeia no século XXI” Faculdade de Engenharia Faculdade de Engenharia
Museu Nacional de da Universidade do Porto da Universidade do Porto
Arqueologia, Lisboa The ISBP conferences aim at attracting a Desde 2003, com uma periodicidade trienal,
balanced portion of delegates from academia, têm-se realizado as conferências PATORREB
O simpósio do EAC centra-se na análise industry and research institutions; providing sobre patologia e reabilitação de edifícios,
das diferentes formas de desempenho de a binding platform for academics and em Portugal e em Espanha, envolvendo
arqueologia preventiva em toda a Europa, industrialists to learn with the past and current professores, investigadores, estudantes,
que nas últimas décadas se desenvolveu building pathologies and encouraging the projetistas, empresas e outros profissionais.
face às exigências impostas pelas políticas systematic application of that knowledge to O extraordinário interesse manifestado nas 4
territoriais, conjugando os contributos da the design, construction and management of edições anteriores, que contaram com cerca
arqueologia estatal, privada ou comercial. buildings. Building pathology is the scientific de 600 participantes, motiva a realização da
Pretende-se realizar um diagnóstico study of the nature of building failure and 5.ª edição da conferência PATORREB 2015,
das experiências nos diferentes estados its causes, processes, development and organizada com o objetivo de impulsionar e
europeus, com o intuito de promover um consequences. In order to provide an economic divulgar a sistematização do conhecimento
aconselhamento mais informado sobre and effective remedy to building defects it is neste domínio e contribuir para o intercâmbio
a adequação e aplicação das políticas essential to identify properly the cause in order técnico e científico entre Portugal, Espanha,
culturais às diversas realidades nacionais. to address the problem. Brasil e outros países da América Latina,
Nesse sentido, impõe-se uma reflexão sobre This first International Conference will be razão pela qual as duas línguas oficiais são o
a aplicação dos princípios da Convenção de held in cooperation with the CIB W086 português e o espanhol.
La Valletta, numa abordagem integrada com Commission - Building Pathology supporting Pretende-se, por um lado, refletir sobre
o conceito de comunidades patrimoniais, the discussion of the Problems on Building o problema da patologia da construção:
constantes da Convenção de Faro, Pathology - The Research and the Practice. responsabilidades, garantias e seguros,
procurando fomentar novas estratégias face The main objectives are to produce information código da construção, patologias estruturais,
aos desafios do século XXI para a gestão do which will assist in the effective management patologias dos materiais e componentes,
património cultural. of service loss; to develop and evaluate patologias de caráter higrotérmico, técnicas
O encontro é composto por um Seminário methodologies for the assessment of defects de diagnóstico, inspeção técnica de edifícios,
sobre a gestão de Arquivos Arqueológicos, and failures; to propose methodologies for custos da patologia e disseminação da
da responsabilidade do EAC Archaeological the prevention and mitigation of building informação. Por outro lado, visa-se discutir a
Archives Working Group, a Assembleia defects; to analyze costs associated with reabilitação nos seus múltiplos aspetos, com
Geral do EAC (sessão exclusiva para building pathology and to disseminate findings enfoque na componente técnica, estratégica,
membros do EAC) e o 16.º Simpósio de among all those involved in the production and regulamentar, da indústria da construção e
Gestão Patrimonial. management of buildings. do setor financeiro.
Informações: Informações: Informações:
http://european-archaeological-council.org/ http://paginas.fe.up.pt/~isbp2015/ http://paginas.fe.up.pt/~patorreb/pt/index.htm
activities-und-events/general-assembly isbp2015@fe.up.pt patorreb2015@fe.up.pt
info@e-a-c.org

50 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


Livraria
Terra, Palha, Cal São Carlos – um Anuário do
teatro de ópera Património 2 - 2014
para Lisboa
Autor: (coord.) João
Autor: Pedro Prista Autor: VVAA
Mascarenhas Mateus
Edição: ARGUMENTUM Edição: Canto Redondo
Edição: TNSC/INCM
Preço: € 20,00 Preço: € 20,00
Preço: € 25,00
Código: AR.EN.1 Código: CAR.M.2
Código: TNSC/INCM.E.1

A Argumentum acaba de lançar o livro Inaugurado em 1793 em honra da O Anuário do Património é uma publicação
Terra Palha Cal – Ensaios de Antropologia princesa D. Carlota Joaquina, o Teatro especializada bienal que nasceu em 2012 com
sobre Materiais de Construção Vernacular Nacional de São Carlos acaba de ganhar o objetivo de promover o património cultural em
em Portugal de Pedro Prista. O autor parte um livro intitulado São Carlos – um teatro Portugal e criar valor nesta área. Ao dar a conhecer
de uma perspetiva transdisciplinar onde a de ópera para Lisboa. Trata-se de um as melhores práticas, ideias e projetos de um setor
Antropologia, a Etnologia e a Arquitetura conjunto de estudos coordenados por vital para o país, o Anuário do Património assume
dialogam sobre técnicas e materiais João Mascarenhas Mateus e Carlos a missão de contribuir para a sua dinamização.
construtivos tradicionais portugueses. Ao Vargas, e que conta com a colaboração O Anuário do Património inclui um diretório dos
longo da obra são abordadas construções de reputados investigadores. A obra principais agentes do setor dividido em nove
em taipa, coberturas em palha e a prática procura dar conta de diferentes aspetos categorias, classificadas da seguinte forma:
da caiação, evidenciando-se os factos deste que é o único teatro de ópera Património Construído; Património Integrado e
sociais por trás da utilização destas do país, são analisados temas como a Móvel; Edifícios e Outras Construções; Projeto e
técnicas e realçando o valor patrimonial que história, a construção do imóvel e o seu Fiscalização; Inspeções, Ensaios e Arqueologia;
guardam. A edição é bilingue e conta com papel no desenvolvimento da área onde Produtos Materiais e Equipamentos; Gestão
diversas imagens. se insere, para além das características Cultural e Patrimonial; Formação e Investigação;
Pedro Prista licenciou-se em Ciências formais e do valor patrimonial que Associações, Ordens e Fundações. Além disso,
Sociais e Humanas na Universidade guarda. A edição, ricamente ilustrada, é e tal como na primeira edição, o Anuário do
Nova de Lisboa em 1979, e doutorou-se uma parceria entre o Teatro Nacional de Património inclui um conjunto de conteúdos
em Antropologia no ISCTE. É professor São Carlos e a Imprensa Nacional Casa técnico-científicos, destinados a contextualizar
no departamento de Antropologia neste da Moeda. a informação disponibilizada. A fim de assegurar
instituto desde 1984, tendo integrado a qualidade destes conteúdos, todos os artigos
igualmente o Departamento de Arquitetura técnico-científicos propostos para publicação
e Urbanismo. Seu trabalho incide sobre na presente edição foram aprovados por uma
a sociedade tradicional portuguesa em Comissão Científica constituída por profissionais,
contextos de mudança, dentro de uma investigadores e especialistas credenciados no setor
perspetiva vincadamente etnológica. do património.

Inspecções e Sistemas de A Arquitectura Reabilitação Tecnologias Um encontro


Ensaios na construção Sustentabilidade de Terra em de Edifícios construtivas na Gruta do
Reabilitação XIII dos Materiais Portugal Antigos para a Escoural
de Edifícios Reabilitação de Construção Earth Patologias e Sustentabilidade
Urbana Architecture tecnologias de da Construção
in Portugal intervenção
Autores:
Teresa Fonseca (texto),
Rodolfo Pimenta
Autor: Autor: Autor: Autores: Autor: Autor: (ilustração)
Vítor Cóias Jorge Mascarenhas F. Pacheco Torgal Vários Autores João Appleton Ricardo Mateus
Edição:
Edição: Edição: Edição: Edição: Edição: Edição: Câmara Municipal de
IST Press Livros Horizonte TecMinho Argumentum Edições Orion Edições Ecopy Montemor-o-Novo
Preço: € 45,43 Preço: € 25,44 Preço: € 19,00 Preço: € 50,00 Preço: € 58,00 Preço: € 25,00 Preço: € 14,00
Código: IST.M.1 Código: HT.E.48 Código: TM.M.1 Código: AR.E.5 Código: OR.E.1 Código: EE.M.1 Código: CMMON.I.1

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GECoRPA e assinantes
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P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014 | 51
Empresas associadas do GECoRPA — Grémio doPatrimónio

Grupo I
Projeto, fiscalização e consultoria

Construção e reabilitação de edifícios.


Consolidação estrutural.
Reabilitação de estruturas de betão.
Consolidação de fundações.
Consolidação estrutural.
Consultoria em reabilitação do património edificado.
Inspeção e diagnóstico.
Avaliação de segurança estrutural e sísmica.
Modelação numérica avançada.
Projeto de reabilitação e reforço.
Monitorização.

Construção de edifícios.
Conservação e reabilitação de construções antigas.
Grupo II Reparação e reforço de estruturas.
Reabilitação de edifícios.
Levantamentos, inspeções e ensaios Inspeção técnica de edifícios e estruturas.
Instalação de juntas.
Pintura e revestimentos industriais.

Estudo e valorização do património histórico móvel


Grupo IV
e imóvel. Projetos de reabilitação e de conservação Fabrico e/ou distribuição
Levantamentos.
Inspeções e ensaios não destrutivos.
e restauro. Consultoria sobre o património cultural e de produtos e materiais
controle técnico de obras. Levantamentos técnicos
Estudo e diagnóstico. do património construído, estudo e diagnóstico
de anomalias para projetos de conservação e
restauro. Recuperação do património arquitetónico
e arqueológico. Intervenção de conservação e
restauro do património histórico integrado, móvel
Grupo III e imóvel.

Execução dos trabalhos.


Empreiteiros e Subempreiteiros
Produção e comercialização de
materiais para construção.

Conservação e reabilitação de edifícios.


Conservação e restauro do património arquitetónico. Consolidação estrutural.
Reabilitação, recuperação e renovação de Conservação de cantarias e alvenarias.
construções antigas.
Fabricante de reforços de estruturas em
Instalações especiais em património arquitetónico
betão armado e alvejarias com compósitos
e construções antigas.
de fibras. Reforço de pavimentos rodoviários,
aeroportuários e portuários com malhas de fibra
de carbono e vidro.

Engenharia, construção e reabilitação.


Produção e comercialização de produtos
Conservação e restauro do património arquitetónico. e materiais para o património arquitetónico e
Conservação e reabilitação de construções antigas. construções antigas.

Projeto de conservação e restauro do património


arquitetónico. Gabinete de estudos e projetos
Conservação e restauro do património arquitetónico. Reabilitação de edifícios
Azulejos; cantarias (limpeza e tratamento); dourados; Restauro e conservação do património
esculturas de pedra; pinturas decorativas; rebocos e arquitectónico construído
estuques; talha.

Projetos de reabilitação, reforço e eficiência


energética de edifícios.
Operações de reabilitação em betão, coberturas
Conservação e reabilitação de edifícios. planas e inclinadas, fachadas em reboco, pinturas e
Consolidação estrutural. revestimentos cerâmicos.
Cantarias e alvenarias. Isolamento térmico pelo exterior.
Pinturas e carpintarias. Inspeção e diagnóstico de diferentes patologias ao
Conservação e restauro de património artístico. nível do edificado.

52 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


CAMPANHA PROMOCIONAL
ATÉ 15 DE JUNHO

NOVOS ASSOCIADOS
Boas práticas na reabilitação do edificado e do Património:
Portugal agradece.

O GECoRPA – Grémio do Património está a oferecer, até 15 de junho, condições especiais de


adesão a pessoas coletivas ou singulares que queiram associar-se.

ASSOCIADOS ASSOCIADOS OUTRAS ENTIDADES


SINGULARES EMPRESARIAIS COLETIVAS
Todas as pessoas que, indepen- Destina-se a todas as empresas Todas as entidades coletivas
dentemente de desenvolverem que, desenvolvendo atividade (empresariais e não empresa-
atividade proossional signiica- signiicativa no âmbito da rea- riais) que, mesmo não desen-
tiva no âmbito da reabilitação bilitação do ediicado e/ou da volvendo atividade relacionada
do ediicado e/ou da conserva- conservação do Património, se com a reabilitação do ediicado
ção do Património, demonstra- candidatem à categoria de Asso- e do Património, demonstrem
rem interesse sério, colaboran- ciados Ordinários, de acordo ter interesse sério, colaborante
te e construtivo por estas áreas, com a Área de Atividade em que e construtivo por estas áreas,
podem tornar-se Associados se inserem. Nos termos da podem tornar-se Associados
Singulares do Grémio do Patri- campanha em curso, o novo Extraordinários, usufruindo de
mónio, usufruindo de uma associado usufrui da oferta da uma redução de 50% nas
redução de 50% nas quotas joia e de um trimestre de quotas do primeiro semestre.
do primeiro semestre. isenção de pagamento da
quota.

Lançamento do Anuário do Património Participação na Feira do Património Visita Estaleiro-Aberto à Igreja da Santa Visita Estaleiro-Aberto a obra de rea-
2 – 2014 2014, em Guimarães Casa da Misericórdia de Caminha bilitação no Centro Histórico do Porto

Ajude a defender o Património do País:


as futuras gerações agradecem!
Pela salvaguarda do nosso Património: Adira ao GECoRPA!

GECoRPA - Grémio do Património | T. 213 542 336 | www.gecorpa.pt | info@gecorpa.pt | www.facebook.com/gecorpa

P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014 | 53


Boletim de
assinatura
Pedra & Cal

Assinaturas

Assinatura anual de dois números da Pedra & Cal: € 10 (portes incluídos)


Assinatura anual para estudante de dois números da Pedra & Cal: € 8,50 (portes incluídos; mediante envio de cópia de documento
comprovativo de estudante).

Boletim de Assinatura

Nome ____________________________________________________________________________________

Morada __________________________________________________________________________________

Código Postal ____________ - ________ Localidade ____________________

Telefone ____________________ E-mail ____________________

N.º contribuinte ____________________ Atividade / Profissão ____________________

Modalidade de pagamento

NIB: 0033 0000 0022 8202 78305 Millennium BCP (Agradecemos o envio do comprovativo de pagamento por e-mail)
Cheque à ordem de GECoRPA - Grémio do Património, n.º ______________________________________________

www.gecorpa.pt
GECoRPA- Grémio doPatrimónio
Av. Conde Valbom 115, 1º Esq.
1050 – 067 Lisboa
T. 213 542 336
info@gecorpa.pt
www.facebook.com/gecorpa

54 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014


P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014 | 55
POR ENVIAR

PUB GRANDES OBJECTIVOS

56 | P&C Nº57 | Julho > Dezembro 2014

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