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ASPECTOS DA SENILIDADE IDEAL NA GRÉCIA CLÁSSICA

Por: Jonas Matheus Sousa da Silva

Figura 1: Colóquio de Sócrates e Glaucon. Fonte da figura: <http://desvariofilosofico.blogspot.com/2013/03/analisis-sobre-el-


discurso-de-glaucon.html>

Emergindo no rico patrimônio cultural da Grécia Clássica, deparamo-nos com a


importância da figura do velho idealizado. Caracterizado por uma rica experiência de
vida, trilhada no campo das virtudes, que adquiriu em sua jornada existencial, quais
sejam: a temperança, a coragem e a sabedoria, que lhe torna justo e lhe confere a
autoridade da palavra na orientação e formação de novas gerações.
Este trabalho evidencia a figura do velho idealizado, na Grécia Clássica, como o
homem que trilhou os caminhos da vida, formando o seu caráter conforme as virtudes
que lhe fazem alcançar a justeza, nesta ultima etapa da vida. Mostra que, pela sua vida,
pode orientar as novas gerações com sabedoria, além de ser exímio administrador, por
virtude de sua palavra.

1 O VELHO, AQUELE QUE PERCORREU O CAMINHO DA VIDA E


SUPEROU OS PRAZERES DO CORPO.

Na Grécia antiga, a visão ideal do velho mostra-se em torno da perspectiva de um


conhecimento experimental dos caminhos da vida, que lhe confere a sabedoria, e de
domínio da luz racional sobre as paixões associadas aos prazeres corporais. Para
evidenciar tais aspectos, do ideal de senilidade clássica, recorremos aos exemplos de
Céfalo, no livro I da “República”, de Platão, e do personagem Rei Nestor, da “Ilíada”,
homérica.
O velho, tido como experiente por ter aprendido com a vida, pode instruir os mais
novos que desejam uma boa orientação, a fim de trilharem as vias de sua existência à
luz da sabedoria. Assim, no diálogo platônico, que aludimos, Sócrates afirma: “[...] nada
me agrada tanto como praticar com pessoas de idade, pois as considero como viajantes
que percorreram um longo caminho, o qual eu talvez tenha de percorrer também”.
(PLATÃO, 1991, p. 8).
O homem senil também é idealizado como homem temperante, que venceu os
prazeres exigidos pelo corpo. Não é mais um homem em quem dominem os apetites
animalescos, vinculados à alimentação e às paixões eróticas, mas um homem que se
autogoverna pela sabedoria, colocando o seu corpo em situação de obediência para com
sua alma; então, Céfalo pode compartilhar de sua senilidade Ideal, com o poeta
Sófocles:

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“Bem me lembro de uma ocasião em que estava junto de Sófocles, o velho poeta,
e alguém lhe perguntou: ‘como vais Sófocles, no que diz respeito ao amor? És ainda
capaz de estar com uma mulher?’ E ele respondeu: ‘Sossega, homem! Com a maior
satisfação me livrei dele, como quem se livra de um déspota furioso e
selvagem.”’(PLATÃO, 1991, p.8).
No entanto, não é a velhice, por si, que proporciona ao homem a sabedoria e a
temperança, mais sim, a formação do seu caráter, pois este diálogo platônico evidencia
anciãos que não são sábios, por não terem adquirido a temperança e, por consequência,
passam sua existência senil a se lamentarem pela ausência dos prazeres corporais,
afastando o seu caráter da naturalidade, tranquilidade e bom-humor, que são
peculiaridades que se espera encontrar no velho ideal, como afirma Céfalo:
“A verdade, Sócrates, é que essas queixas, bem como as que são feitas contra os
parentes, devem ser atribuídas à mesma causa, e esta não é a velhice, e sim, o caráter
dos homens; pois aquele que tem um natural tranquilo e bem-humorado não sentirá o
peso dos anos e, ao que não é assim, não só a velhice, mas a própria juventude, é
pesada”(PLATÃO, 1991, p.8).
Então a velhice, em Céfalo, é uma velhice ideal, de um homem que tem seu
caráter formado na justiça, num caminho que se iniciou na juventude. “A velhice só lhe
trouxera paz e liberdade [...] Não se dirá dele,quando morrer, que mentiu ou que deixou
de pagar aos deuses e aos homens o que lhes devia. Em tudo e por tudo, a velhice de
Céfalo retrata a satisfação dos justos”. (NUNES, 2000, p.9).
Henrique Cairus ilustra o ideal de velhice no personagem Rei Nestor, da Ilíada, de
Homero. Para Cairus, tal personagem do poema homérico ressalta três características
que marcam a senilidade humana idealizada na Grécia clássica. Assim, afirma Cairus.
(2000, p.50):
“Um dos principais representantes da senectude que contemplamos na Ilíada é
Nestor, um honorável guerreiro da geração de Teseu, um testamento vivo do mito, um
elo entre dois ciclos da mitologia grega e detentor de valiosas informações assimiladas
no passado e sedimentadas pelo tempo. Essas características lhe conferem, sobretudo,
autoridade”.
Nessa linha de análise, as três peculiaridades, assinaladas por Cairus, que coroam
a velhice do Rei Nestor, são:
a) este personagem conviveu com uma geração anterior, uma geração superior à
mais recente;
b) o personagem não apenas testemunhou a existência dos heróis antepassados,
mas foi um desses, lutando corajosamente ao lado deles;
c) e Nestor é a testemunha credenciada para falar das experiências que
compartilhou com os antigos.
No paradigma de velhice nestoriana, o ancião possui a força testemunhal da
palavra, fundada na sua experiência heróica de tempos superiores, onde sua juventude
brilhava pela coragem.
Firmado nas figuras modelares de senilidade, que são Céfalo e Nestor, o velho
idealizado é um homem de caráter forjado, desde a juventude, nas virtudes, temperança
(dos trabalhadores), coragem (dos guardas) e sabedoria (do rei), que constituem o
homem e a polis justos, conforme o pensamento platônico.

2 O VELHO COMO, RELIGIOSO, CONSELHEIRO E EDUCADOR.

Das virtudes senis que constituem o homem justo, coroado com seus cabelos
brancos, emergem três funções, atribuídas, na literatura clássica, a esses cidadãos que

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percorreram boa parte do caminho da vida. Tais funções estão vinculadas às esferas da
transcendência religiosa, do aconselhamento e da educação.
No setor da transcendência religiosa, ressaltamos os personagens Céfalo e
Tirésias, este o adivinho cego das tragédias de Sófocles que possui o encargo de
desvelar o destino dos personagens principais, além de aconselhá-los, conforme os
oráculos que desvenda nos augúrios das aves. Céfalo, enquanto patriarca, destaca-se no
diálogo platônico, em radicar sua sabedoria na dimensão mítico-religiosa, transmitida
pelos poetas, preocupando-se com sua vida após a morte: “As fábulas que se contam a
respeito do Hades e do castigo que nos espera pelas culpas que tivemos aqui, eram antes
matéria de riso, mas agora começa a atormentá-lo o pensamento de que talvez sejam
verdadeiras”. (PLATÃO, 1991, p.9). Tirésias, o velho adivinho sofocleano, é um
homem cego, mas que observa a verdade vinculada ao destino dos seres humanos, dos
personagens do drama, que ele auxilia a desvelar, podendo, por sua visão transcendente,
mesclada com sua interpretação dos augúrios, dar conselhos aos personagens-chave,
como acontece em Antígona, ao aconselhar Creonte: “Reflete pois, nisto, meu filho:
Errar é comum a todos os homens. Mas quando errou, não é imprudente nem
desgraçado aquele que, depois de ter caído no mal, emendar-se e não permanecer
obstinado”. (SÓFOCLES, 1997, p.67).
A função de aconselhar provém da sabedoria adquirida pelo homem idoso, por ter
enfrentado muitas experiências de vida que o ensinaram a fugir dos vícios e trilhar o
caminho da virtude, como ressalta Platão (1991, p.8), quando Sócrates fala sobre as
pessoas idosas: “[...] acho necessário informar-me com elas se a estrada é lisa e fácil ou
áspera e cheia de dificuldades”. O Coro, em Antígona, possui este atributo de
senilidade, por guardar a memória histórica de Tebas, no entanto, o seu aconselhamento
está vinculado com o bem da polis tebana, portanto, possui uma finalidade política:
Nesse sentido, enfatiza Pereira Fialho (1997, p.19):
“Diversamente do que sucede noutras tragédias, o coro não se sente em sintonia
com a protagonista. A sublinhar esse distanciamento emocional está, como já foi
notado, o fato dele ser constituído – caso início nas peças conservadas de Sófocles - por
pessoas de outro sexo, cujos interesses estão ligados aos da comunidade que
representam, não aos da figura principal”.
Nessa esteira da literatura grega, na homérica “Odisséia”, o rei Nestor brilha por
sua senilitude e sabedoria, tanto que o jovem Telêmaco, filho de Odisseu, receia em
pedir-lhe conselhos e informações sobre o paradeiro de seu pai: “Como hei de”,
respondeu-lhe, “apresentai-me?/ Como saudá-lo? sou mentor, noviço/ Em discorrer com
tento, e me envergonho /De interrogar um velho” (HOMERO, 2003, p.60).
Quanto à função de educar, o idoso que instrui é representado, na Ilíada, por
Fênix, que foi o preceptor de Aquiles. Neste papel, o velho idealizado transmite suas
experiências, bem como treina seus discípulos na prática das virtudes. Também o
filosofo, como no caso de Platão, por ser amigo da sabedoria, que é atributo senil, faz a
experiência de educar: “[...] a aventura de trágico desfecho a que Platão se abalançou
em sua velhice, por ter acreditado que bastaria persuadir um único homem para
concretizar a reforma da cidade” (NUNES, 2000, p.8).
Ressaltamos que a função senil de educar as futuras gerações na vivência das
virtudes, não está só para a justeza da alma, mas, também, para a consolidação de uma
política justa.

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3 O VELHO COMO ADMINISTRADOR

O velho, como homem experiente e autônomo na arte da cidadania, no contexto


grego, é experiente na prática administrativa, tanto de sua propriedade privada (Oîkos),
como na administração da cidade-estado (Polis).
Na sua propriedade privada, conforme o “Econômico”, de Xenofonte, partindo do
diálogo entre Sócrates e Iscômaco, o patriarca age em conjunto com sua esposa; esta
governa a casa em si, ao passo que aquele administra a propriedade externa, vinculado à
agricultura e à orientação dos escravos e ambos cuidam da educação dos filhos. Para
tanto, o administrador da oîkos deve valer-se da palavra e, por isso, exercitar-se nela:
“Estou sempre, Sócrates, exercitando-me para falar. Quando ouço um servo
fazendo uma acusação ou uma defesa, procuro pôr o caso a limpo; ou censuro alguém
diante dos meus amigos ou elogio, ou tento reconciliar conhecidos meus, procurando
ensinar-lhes que é mais vantajoso serem amigos que adversários” (XENOFANTE,
1999, p.61).
O campo da linguagem é fundamental na questão administrativa, também na
polis. Apesar de a senilidade grega ser contada a partir dos sessenta anos, o Conselho
dos Quinhentos, instituído por Péricles, em Atenas, dava ensejo à participação de
cidadãos a partir dos trinta anos de idade. No entanto, para se deliberar e legislar na
polis grega, o cidadão deveria se valer da linguagem e, nesse setor, o mais exímio
deveria ser o idoso, por estar dotado de rica experiência, assim como de sabedoria, que
conferiam autoridade aos seus pronunciamentos políticos. Quanto ao Conselho dos
Quinhentos, afirma Ferreira (1990, p.98): “Nenhum cidadão podia representar o seu
demo no conselho, antes dos trinta anos e, durante a vida, apenas tinha a possibilidade
de ser escolhido para esse órgão duas vezes, não seguidas”.
Assim, em questão administrativa, seja na propriedade privada, como na
Assembleia e no Conselho da polis ateniense, pelo primado da palavra, enfatizamos o
cidadão senil como exímio administrador.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Falar da importância da velhice ideal é evidenciar a importância da educação do


ser humano, na virtude, na cultura e na piedade, para que chegue à velhice, como
homem justo e feliz, com a autoridade da palavra, orientando os destinos dos indivíduos
humanos de sua casa e da polis, para que, cumprindo a sua finalidade, alcance a
felicidade vital.
Nessa perspectiva, embasada na filosofia e literatura clássicas, bem como de seus
respectivos comentadores; destaca-se a figura do idoso, nos autores Homero, Sófocles,
Platão e Xenofonte, desvelando a figura do velho ideal, sem deixar de aludir aos
homens que chegaram a esta fase da vida sem a virtude da justiça, por deficiência de
caráter.

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REFERÊNCIAS

CAIRUS, Henrique. Ser velho entre gregos. In: II Jornada de Psicanálise com velhos e suas interseções.
Rio de Janeiro: Lidador, 2000. V.1. p.49-58.
FERREIRA, José Ribeiro. A democracia na Grécia Antiga. Coimbra: Livraria Minerva, 1990.
FIALHO, Maria A. R. Pereira. Introdução. In: SÓFOCLES. Antígona. Brasília: UnB, 1997.
HOMERO. Ilíada. São Paulo: Martin Claret, 2008.
_______. Odisséia. São Paulo: Martin Claret, 2003.
NUNES. Benedito. Introdução. In: Platão. A República. 3.ed.rev. Belém: UFPA, 2000.
PLATÃO. A República. São Paulo: EDIOURO, 1991.
SÓFOCLES. Antígona. Brasília: UnB, 1997.
XENOFONTE. Econômico. São Paulo: Martins Fontes, 1999.

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