DISCIPLINA: FILOSOFIA GERAL E DO DIREITO Prof.ª Esp. Ana Figueiredo
O Problema na Grécia e em Roma
O Direito na "Paideia" Grega
Direito se esclarece pela Moral, pelos costumes e pela atividade Religiosa ou
pela econômica, e vice-versa, o acerto está em saber distinguir, não em separar. Comecemos pelo mundo clássico de Grécia e Roma, conforme Platão, os sofistas tentaram múltiplas perspectivas de compreensão da lei e da justiça, ora as concebendo rudemente como o predomínio da força, ora como o resultado de um acordo, de um pacto. A explicação contratualista do Direito tem suas raízes mais remotas na História da cultura do Ocidente. Já se esboça o contratualismo entre os sofistas, que reduzem a justiça ao meramente convencional. O Direito parece-lhe ser uma convenção feita entre homens cansados de agressões mútuas, exaustos do estado selvagem, cheio de perigos recíprocos, de insegurança para todos. O Direito é fruto de convenção, de algo livremente pactuado pelos indivíduos, mas o resultado de um processo inexorável de força, de poder e mesmo do arbítrio. Os habitantes de Estagira (Aristóteles) reconhece que existe o justo por lei e o justo por natureza. A lei é inteligência menos a paixão, ou seja, depurada de todos as inclinações capazes de lançar um homem contra outro homem. Tratando da justiça como virtudes, Aristóteles soube genialmente determinar o que a distingue e específica. A justiça é uma virtude que implica sempre algo de objetivo, significando uma proporção entre um homem e outro homem; razão pela qual toda virtude, enquanto se proporcione a outrem, é, a esse título, também “justiça”. O mundo grego é um mundo em que a Política representa a expressão mais alta do homem. Tudo no setor da conduta jurídica ou moral resolve-se propriamente, como momento político. A política, para Aristóteles, não é apenas uma Ciência de Estado, mas é a maior de todas as ciências, ela representa o ponto culminante da Ética, tudo se subordinando a ela. Na Grécia não existe a palavra própria para mencionar o Direito, pois o conceito ainda se funde no conceito universal de justo. A concepção do Estado no mundo grego. A cidade era um pequeno Estado dominado por uma classe, dos “cidadãos”, colocados uns perante os outros como seres com igual direito de participar da administração da coisa pública.
O Direito como "Voluntas" — A Idéia Romana de "Jus" e de Jurisprudência.
O Mundo Romano Em Roma já se fundava uma Ciência do Direito autônoma. Não apenas cultivado por moralistas, por filósofos, teólogos ou sacerdotes. Já surge a figura do jurisconsulto, que tem consciência do objeto próprio de sua indagação, e, aos poucos, se converte em um especialista ou profissional de uma nova Ciência ou Arte, cultivando a justiça em seu sentido prático. O Direito Romano é, efetivamente, uma criação nova, os romanos não foram grandes apaixonados pelos estudos filosóficos, nem pelos pressupostos gerais da vida jurídica, atraídos de preferência pelo plano da atividade prática ou do Direito. Em Roma, o que vemos é sobretudo uma concepção do Direito Natural como conjunto dos princípios primordiais do agir, que refletem, de maneira imediata e necessária, as obrigações do homem enquanto homem. Mas, se em Roma se repetem motivos do pensamento grego, quanto ao conceito de justiça e de lei natural, já existe algo de novo que surge da experiência própria na aplicação do Direito. Essa consciência mais viva da "juridicidade" reflete- se, por exemplo, naquele fragmento de Paulo, tantas vezes invocado pelos estudiosos da matéria: — "Non omne quod licet honestum est". (Nem tudo o que é permitido é honesto). Ora, os romanos sentiram esse grave problema quando viram o contraste entre o lícito e o honesto. Consoante opinião dominante, esses três princípios refletiriam três grandes correntes filosóficas da Grécia. "Não prejudicar a outrem" O Direito teria por finalidade traçar os limites de ação dos indivíduos. "viver honestamente" alcançar a felicidade com fiel subordinação à natureza, aos ditames da razão. O último dos preceitos já representaria a lição aristotélica da justiça distributiva, como proporção de homem para homem segundo seus méritos. Os romanos diziam mesmo que esta era a única Filosofia autêntica, a verdadeira, e não a Filosofia aparente e enganosa (vera, non simulata philosophia). Faltou aos romanos, pela natureza de sua formação jurídica, o senso filosófico da questão ora ventilada, como escapara aos gregos, a estes pelo fato de não terem chegado a elaborar um mundo jurídico com configuração autônoma. Os romanos deixaram um monumento jurídico à espera de uma interpretação filosófica, mas constituíram o seu Direito segundo uma filosofia implícita, resultante de sua atitude perante o universo e a vida, subordinando todos os problemas humanos às exigências e aos interesses essenciais de uma comunidade política, moral e juridicamente unitária.
Direito e Moral na Idade Média
Concepção Tomista da Lei Com o advento do Cristianismo, opera-se uma distinção fundamental e definitiva entre Política e Religião, entre a esfera do Estado e a órbita de ação própria do homem, o qual deixa de valer apenas como "cidadão" para passar a valer como homem. Onde a religião se cristaliza nas formas exteriores do culto a serviço dos ideais ou dos interesses de uma comunidade particular. Santo Agostinho, é a grande matriz de todo o pensamento medieval, mas é o Santo Tomás de Aquino, que se inspira não só em Aristóteles, como nos ensinamentos dos juristas romanos. A teoria de Santo Tomás (1225-1274) encontra-se desenvolvida especialmente na Summa Theologica. Quando o grande pensador medieval trata da questão da lei e da justiça, cuida, com admirável penetração, de problemas jurídico- políticos. Há uma completa Teoria do Direito e do Estado admiravelmente integrada no sistema tomista, Compreende-se, desse modo, que em Santo Tomás de Aquino, intérprete máximo da cosmovisão medieval, a noção ou chave mestra de sua doutrina moral e jurídica seja a de lex. O elemento mais alto da Filosofia jurídico-moral tomista é a lex aeterna, expressão mesma da razão divina, inseparável dela, que governa todo o universo, como um fim ao qual o universo tende. A ideia de lex aeterna não deve ser confundida com a de lex divina ou revelada. Ora, sendo o homem uma criatura de Deus, participa da lei eterna na medida relativa de sua razão. O Direito Natural, na concepção tomista, não é, porém, um Código da boa razão, nem tampouco um ordenamento cerrado de preceitos, mas se resume, afinal, em alguns mandamentos fundamentais de conduta, derivados de maneira imediata da razão, por participação à lex aeterna. É uma concepção teocêntrica do Direito, porque fundada numa concepção teocêntrica do universo e da vida.
Justiça como "Proportio ad Alteram" Uma proporção à outra
Se, na teoria da lei Moral e Direito se integram em concepção unitária, a doutrina tomista da justiça inspira-se em Aristóteles, assim como profundo ensinamentos em Santo Agostinho, mas nela emerge algo de novo e profundo. Para Aristóteles, o problema da justiça reduz-se ao da igualdade, que se apresenta em dois momentos: igualdade entre iguais, e igualdade entre desiguais. Às vezes, a igualdade é absoluta, ou seja, a justiça que traça o caminho das obrigações e dos deveres das partes para com o todo.
REFERÊNCIA REALE, Miguel, 1910 – Filosofia do direito / Miguel Reale, - 20. Ed. – São Paulo: Saraiva. 2002.