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Introdução à

Problemática Ambiental

U416. 51
Introdução à
Problemática Ambiental
Autores: Profa. Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez
Prof. Fernando de Paiva Santos
Colaboradores: Prof. Francisco Alves da Silva
Prof. Vinícius Albuquerque
Profa. Ivy Judensnaider
Professores conteudistas: Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez/
Fernando de Paiva Santo

Ivete Maria Soares Ramirez Ramirez

Cursou bacharelado e licenciatura em Ciências Sociais e Geografia pela Universidade de São Paulo (USP). É pós‑graduada
em Jornalismo Científico pelo Laboratório de Estudos Avançados de Jornalismo Científico da Universidade de Campinas
(Labjor/Unicamp). Além disso, é mestranda em Educação e cursou as disciplinas Qualidade de Vida em Sociedades
Complexas, Sustentabilidade e Políticas Públicas, Desenvolvimento, Meio Ambiente e Mudanças Ambientais Globais em
nível de pós‑graduação stricto senso no Nepam/Unicamp como aluna especial do programa de doutorado.

É autora de material didático do Ensino Médio e professora de Geografia do curso pré‑vestibular e do Ensino Médio
do Sistema de Ensino Objetivo. Escreveu o livro Tiwanaku: um olhar sobre os Andes, editado pela Escola de Comunicação e
Artes (ECA) da USP como proposta de mestrado. Atualmente, realiza trabalho de assessoria de coordenação do Ensino Médio
no Departamento de Programação Geral (DPG) do Colégio Objetivo em São Paulo e em outros estados do Brasil. Participa
de aulas online na TV Web Objetivo e faz comentários sobre exames vestibulares e Enem, além de ministrar encontros
pedagógicos para professores do Ensino Médio do Sistema Objetivo de Ensino. Coordena também o curso de Licenciatura
em Geografia, na modalidade de ensino a distância da Universidade Paulista (UNIP).

Fernando de Paiva Santos

É pós‑graduado em Gestão e Organização Escolar pelo Instituto AVM e licenciado em Biologia pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie. Também é graduando em Saúde Pública pela USP. Em 2008, cursou as disciplinas de Epistemologia
da Ciência e do Ensino; Metodologia do Trabalho Científico; Política e Organização do Ensino Brasileiro; Didática do Ensino
Superior e História da Educação Brasileira em nível de pós‑graduação no Instituto Federal de Ensino Tecnológico de São
Paulo (Cefet/SP). Desenvolve estágio no Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
como crédito necessário para o curso de mestrado em Ornitologia pela Unifesp.

É professor de Biologia do Ensino Médio do Colégio Objetivo e do curso pré‑vestibular do Sistema Objetivo. Ministra
encontros pedagógicos para professores de Biologia do Sistema de Ensino Objetivo em São Paulo e em outros estados
brasileiros. Foi professor de Ciências do Ensino Fundamental e Médio na rede municipal de ensino (PMSP) de 2002 até 2014.
É professor do curso de Licenciatura em Geografia, na modalidade de ensino a distância na UNIP.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

R173i Ramirez, Ivete Maria Soares Ramirez.

Introdução à problemática ambiental. / Ivete Maria Soares Ramirez


Ramirez, Fernando de Paiva Santos. – São Paulo: Editora Sol, 2014.
112 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XIX, n. 2-078/14, ISSN 1517-9230.

1. Problemática ambiental. 2. Saúde pública. 3. Mudanças


ambientais. I. Santos, Fernando de Paiva. II. Título.

CDU 577.4

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Unip Interativa – EaD

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Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
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Material Didático – EaD

Comissão editorial:
Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio:
Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico:
Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão:
Giovanna Oliveira
Amanda Casale
Sumário
Introdução à problemática ambiental
Apresentação.......................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 A TRANSIÇÃO DO NOMADISMO AO SEDENTARISMO....................................................................... 11
1.1 O modelo primitivo de ocupação do espaço............................................................................. 11
1.2 A relação homem–meio ambiente na Idade Média................................................................ 15
2 O modo de produção econômico e a Revolução Industrial....................................... 20
2.1 Evolução histórica................................................................................................................................. 20
3 Os conflitos mundiais e as mudanças ambientais............................................................. 28
3.1 O que é o terrorismo?.......................................................................................................................... 37
3.1.1 Guerra ao Terrorismo............................................................................................................................. 37
3.2 As fronteiras extremas ambientais e sociais.............................................................................. 39
4 A preocupação com a problemática ambiental e os projetos ambientais........ 43

Unidade II
5 Saúde Pública e qualidade de vida................................................................................................ 56
5.1 O meio ambiente e o bem‑estar..................................................................................................... 56
5.1.1 A qualidade de vida e a questão ambiental.................................................................................. 56
6 A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente....................................................................... 63
6.1 Evolução e Mudança Cultural.......................................................................................................... 65
6.2 Mudanças ambientais e a saúde pública..................................................................................... 67
6.2.1 Dengue......................................................................................................................................................... 76
6.2.2 Febre amarela silvestre.......................................................................................................................... 76
6.2.3 Riscos químicos........................................................................................................................................ 77
6.2.4 Malária......................................................................................................................................................... 77
6.3 Mudanças de clima, mudanças de vida....................................................................................... 79
6.3.1 Os efeitos El Niño e La Niña................................................................................................................ 83
6.3.2 Trajetórias típicas dos ciclones tropicais........................................................................................ 83
6.3.3 Europa resfriada....................................................................................................................................... 85
6.3.4 Ilha de calor............................................................................................................................................... 86
6.3.5 Inversão térmica....................................................................................................................................... 86
7 O modelo de desenvolvimento e o custo ambiental.......................................................... 86
8 O destino biológico do homem......................................................................................................... 89
8.1 Métodos, realidade e interpretação ambiental......................................................................... 91
Apresentação

Partindo‑se do princípio de que a problemática ambiental no contexto histórico descreve a transição


do modo de vida dos grupos humanos e de que a sociedade humana é um subsistema global, interagindo
com ele e dele dependendo para sobreviver, trabalharemos a questão ambiental dentro de um contexto
histórico, assumindo que a associação dos grupos humanos com o meio ambiente depende do nível
cultural e civilizatório, do nível tecnológico, dos padrões éticos e da velocidade com que as mudanças
são empreendidas.

Do homem primitivo à Idade Média e até as grandes guerras mundiais, muitas mudanças ocorreram
na relação homem–meio ambiente, bem como a problemática ambiental e os projetos ambientalistas
propostos na atualidade.

O modo de produção foi sendo alterado, bem como a organização do espaço, o que contribuiu para
o progresso econômico, embora simultaneamente comprometesse a questão ambiental.

A partir de uma abordagem histórica, realizaremos uma análise ambiental, estabelecendo uma linha
cronológica do tempo, relacionando os principais problemas e seus impactos nas sociedades humanas.

Buscaremos uma avaliação da qualidade de vida, saúde pública, meio ambiente e bem‑estar da
população humana, principalmente após a Revolução Industrial. Desta forma, visamos construir um
panorama do complexo sistema no qual nossa espécie está inserida, detectando também o custo
ambiental do nosso desenvolvimento e traçando o destino biológico do homem.

Sabemos que existe uma crise ecológica historicamente determinada pela relação sociedade–
ambiente, a qual pode ser observada na sua contemporaneidade pelos problemas gerados.

Houve uma mudança decorrente da maior percepção internacional da crise por parte da sociedade
civil e dos gestores ambientais sobre as razões que teriam levado às alterações.

Nesse sentido, foi elaborada a concepção de desenvolvimento sustentável e de seus respectivos


indicadores.

Assim, em 1973 surgiu o termo ecodesenvolvimento como alternativa à concepção de


desenvolvimento, termo este que passa a ser articulado por Ignacy Sachs integrando educação,
participação, preservação de recursos naturais e satisfação de necessidades básicas.

Para muitos autores, a relação entre desenvolvimento e meio ambiente é considerada um ponto
central na compreensão dos problemas ecológicos, sendo o conceito de desenvolvimento sustentável
uma nova maneira de a sociedade se relacionar com seu ambiente, garantindo sua própria existência e
a do meio no qual vive. Por outro lado, a formulação de um conceito definitivo para desenvolvimento
sustentável gera controvérsias e distintas interpretações, sem que se atinja um consenso, principalmente
no que concerne aos índices de emissão de poluentes, da eliminação de desperdícios ou de redução dos
índices de pobreza e desigualdade social.
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O modo de produção capitalista, na sua fase atual, está mudando sua forma de organização de
exploração para exclusão. Essa situação pode ser observada pelo aprofundamento da desigualdade, da
pobreza e da miséria em amplas áreas do mundo.

Pretendemos discutir em nossa disciplina também as questões relativas à identidade: Quem sou eu?
Como me relaciono com os outros? Qual é a ética necessária para chegarmos a uma melhor qualidade
de vida? O mundo globalizado apresenta‑se com novos desafios, novos problemas, novos riscos e uma
situação de mal‑estar.

Fala‑se em xenofobia, apartheid social e espacial, autodestruição em termos de perdas ambientais,


superexploração dos espaços, dominação e subjugação dos pobres aos ricos, perda de qualidade de vida
e deterioração dos padrões culturais.

Então surge o questionamento que procuramos elucidar, sobre qual o modelo de desenvolvimento
adequado para manter uma satisfatória qualidade de vida sem que haja um grande custo ambiental:
qual será o destino biológico do homem?

A disciplina Introdução à Problemática Ambiental fará, portanto, uma revisão dos problemas dentro
do contexto histórico dos grupos humanos, do modelo primitivo à relação homem–ambiente na Idade
Média, seguindo para o modo de produção capitalista do Mercantilismo à Revolução Industrial.

Também falaremos a respeito das mudanças ambientais decorrentes dos conflitos mundiais: 1a e
2a Guerras, a Guerra Fria, do Vietnam e das Coreias. Abordaremos também as mudanças empreendidas
desde a ordem bipolar à nova ordem mundial.

Questionaremos, ainda, a sobrevivência na cidade, a sustentabilidade e a qualidade de vida, bem


como as mudanças ambientais, a saúde pública e as mudanças de clima, mudanças de vida.

Introdução

Durante milênios, o homem foi caçador, perseguia suas presas seguindo suas pegadas por ambientes
distintos – lama, mata etc. – aprendendo a farejar, a registrar e a classificar suas pistas (ramos quebrados,
dejetos, pelos, odores que lhe permitiam alcançar sua presa etc.).

Na obra Mitos, Emblemas, Sinais – Morfologia e História (1985, p. 152), Carlo Ginzburg afirma o
seguinte:

Decifrar ou ler pistas dos animais são metáforas. Sentimo‑nos tentados


a tomá‑las ao pé da letra, como a condensação verbal de um processo
histórico que levou, num espaço de tempo talvez “muito longo”, à invenção
da escrita. A mesma conexão é formulada sob a forma de mito etiológico em
vários povos e suas lendas.

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Nossa proposta nesta obra é encontrar pistas atuais que nos permitam caracterizar a marca deixada
pela natureza nos distintos modos de organização da vida de lugares e de seus habitantes, bem como o
que essas pessoas imprimiram nesses lugares, como o transformaram de acordo com seu modo de vida.

Aqui temos um trabalho que pode ser realizado de forma interdisciplinar e contextualizada entre
distintos campos do conhecimento e no qual cabe ao historiador iniciar o processo de reunir fatos e
identificar grupos humanos a partir de seus conhecimentos diretos ou indiretos. Os dados obtidos, por
sua vez, podem ser complementados pela Antropologia, Arqueologia, Geografia, Biologia, Economia
entre outras áreas do conhecimento.

Sabemos que cada sociedade observa a necessidade de distinguir os seus componentes; mas os
modos de enfrentar essa necessidade variam conforme os tempos e os lugares, seu modo de produção, as
características do lugar de vivência, entre outros fatores incluindo‑se o ordenamento territorial e político.

Assim, temos também uma preocupação histórica sobre a temática ambiental diante da realidade do
cotidiano de cada um dos grupos humanos, que reproduzem, na sua vivência, a apropriação de recursos
naturais, o uso do solo para sua alimentação, a criação animal, a obtenção de matérias-primas para
transformação, o uso da água para dessedentação animal e humana, suas próprias condições de saúde
orgânica, a salubridade ambiental, a qualidade atmosférica, entre outras condições que poderíamos
mencionar.

Devemos lembrar que o ser humano difere de outras espécies pelo seu grande poder de alterar
os ecossistemas, no sentido de torná‑los melhores ou piores para sua sobrevivência. Contudo, o que
tem ocorrido, infelizmente, é a ênfase em transformá‑los de maneira cada vez mais comprometedora.
Apesar disso, a conscientização desse fato tem sido ampliada, bem como as discussões acerca dessa
problemática, embora nem sempre os problemas sejam realmente solucionados. O que ocorre é uma
questão de escala econômica na trajetória das alterações ambientais no Planeta, uma vez que as
atividades alteradoras acontecem de forma regionalizada.

O sistema físico global é afetado pelas alterações em distintos níveis, como o comprometimento do
sistema marinho, que desencadeia outras mudanças, ou ainda as alterações provocadas pela emissão de
CO2 no solo e que comprometem a diversidade biótica.

Os desastres e degradações podem migrar para outras áreas em decorrência das ações humanas e
promover impactos físicos. Propomos, por isso, uma análise dos efeitos decorrentes das ações humanas
no comportamento dos ambientes naturais.

Não podemos ignorar em nossa obra o fato de que as mudanças ambientais globais estão relacionadas
às noções de espaço, paisagem, recursos naturais disponíveis, tipo de organização social e política e que
envolvem também a subjetividade, sendo que esta última, por sua vez, é composta por identidade,
espiritualidade, projetos pessoais e projetos coletivos.

Todos esses elementos somados resultam nos sintomas sociais e em seus signos de manifestação,
que, por sua vez, envolvem a qualidade de vida e o risco de viver na era da globalização.
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Dessa forma, questionaremos quais são as consequências do modo de viver na sociedade moderna,
da revolução tecnológica, dos avanços científicos, da rapidez possibilitada pela informação. O modo
de viver mudou; a sociedade está cada vez mais complexa, os relacionamentos interpessoais cada vez
mais difíceis. Como afirmou o professor Milton Santos (2011), em sua obra Por uma outra globalização,
é preciso perceber três espécies de globalização, se quisermos escapar à crença de que este mundo,
assim como nos é apresentado, é a única opção verdadeira. Dessa forma, é necessário entender que
há o mundo tal como nos fazem vê‑lo, com a globalização como fábula, o mundo como ele é, com a
globalização como perversidade, e o mundo como ele pode ser, o da outra globalização.

Essa será a proposta de análise que norteará nossa disciplina.

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Introdução à problemática ambiental

Unidade I
1 A TRANSIÇÃO DO NOMADISMO AO SEDENTARISMO

1.1 O modelo primitivo de ocupação do espaço

Na história da humanidade, os problemas ambientais surgiram desde o início da interação do homem


com o meio ambiente – logo, desde que o homem existe. A espécie Homo sapiens apareceu na Terra há
mais ou menos 195 mil anos, contudo seu desenvolvimento se deu principalmente nos últimos dez mil
anos, quando formou sociedades organizadas. Elas foram se adaptando aos lugares e, ao mesmo tempo,
tronando‑se cada vez mais vulneráveis, expondo‑se aos riscos e desastres ambientais. Isso comprometeu
sua qualidade de vida, de saúde ambiental e mesmo sua cultura, conforme sua adequação aos distintos
momentos históricos.

Aparecimento-extinção Área de
(em número de anos) extensão Migração Sítio

Australopithecus

Glaciações de Homo habillis


Riss e de Worm Homo ergaster
(- 220.000 a - 8.000)
Descoberta do fogo Homo erectus*
(-400.000 anos) *Homo erectus e Homo ergaster Homo neanderthalensis
condição de expansão Os primeiros centros do gênero Homo parecem oriundos do mesmo ramo Homo sapiens
do Homo ergaster rumo Homo. A simbolização escolhida aqui
às regiões frias Os centros de nascimento da escrita Homo sapiens sapiens
sugere uma hipótese de diferenciação
mais clara.

Figura 1

Enquanto o homem não estabelecia residência fixa em um determinado local, todos os resíduos que
produzia eram abandonados onde se estabelecia temporariamente e, dessa forma, não interferiam em

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Unidade I

sua vida. Essa fase de nomadismo, somada à pequena população humana da época (Período Paleolítico),
não apresenta registros de problemas ambientais, uma vez que a interação homem–meio ambiente não
resultava em transtornos significativos.

Figura 2 – Pinturas rupestres

No Período Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, o homem, além de nômade, era coletor e caçador,
pois não dominava técnicas de agricultura e de domesticação de animais. Além disso, também não
entendia por completo o fogo e a manufatura de ferramentas. Com o tempo, passou a perceber que a
carne assada era melhor para consumo do que a carne crua; que manter o fogo gerado por raio caído em
árvores podia lhe aquecer e iluminar a noite e que sementes, ao cair das árvores ou serem abandonadas
após o consumo de frutos, geravam novas plantas. Esses fatores iniciaram processos de modificação no
homem e na sua maneira de viver.

A partir desse momento, o ser humano começou a consumir alimentos assados, o que causou uma
modificação em sua arcada dentária. Também aprendeu a manusear o fogo para manter‑se aquecido
durante a noite e afastar predadores, além de fixar moradia onde os frutos geravam novas plantas.
Dessa forma, iniciou o domínio da agricultura, eliminando a necessidade (até então constante) de
coleta dos alimentos.

Nesse momento, começou o processo de sedentarismo, que marcou o início da Revolução Neolítica
que, estima‑se, tenha acontecido entre 10000 e 7000 a.C., dependendo do grupo humano ao qual nos
referimos. Esse processo foi caracterizado pelas alterações nos costumes e habilidades do homem que
passaria, então, ao que chamamos de Idade da Pedra Polida, em referência às ferramentas feitas com
pedras polidas, ou Período Neolítico.

Durante a revolução neolítica, o homem passou a cultivar alimentos de origem vegetal. Nascia, assim,
a agricultura, que era uma atividade realizada principalmente pelas mulheres, enquanto os homens
continuavam responsáveis pela caça. A atividade perdurava num determinado local até que o solo se
esgotasse e o grupo fosse obrigado a mudar‑se novamente, procurando terra fértil. Encontrando‑a em
locais onde não havia abrigo (cavernas), começava a construir pequenas moradias para ali fixar‑se. Com

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Introdução à problemática ambiental

o crescimento das plantações, os homens passaram a ajudar na agricultura, o que reduziu a atividade
de caça.

Como dependiam de solo fértil, não é de se estranhar que as primeiras civilizações humanas tenham
surgido justamente em áreas próximas às margens de rios, como na Mesopotâmia (rios Tigre e Eufrates),
China (rios Yang‑tsé e Huang Ho) e Egito (rio Nilo).

Os grupos humanos tinham, então, um novo desafio: vencer a força da natureza que periodicamente
destruía as plantações com a cheia dos rios. A partir desse problema, novas tecnologias foram
desenvolvidas, como a construção de diques e canais de irrigação, garantindo às plantações água e
proteção. Dessa forma, o crescimento populacional foi inevitável. Com alimento abundante, o domínio
do fogo, a domesticação de animais e a moradia a taxa de crescimento humano atingiu níveis altíssimos.
O homem, assim, deixa a Pré‑história.

E qual a relação entre essa temática e as questões ambientais? Imagine que, num primeiro
momento, os grupos humanos se distribuíam em pequenos grupos nômades e, num segundo,
passaram a concentrar‑se em grandes populações sedentárias. Isso com certeza fez com que fosse
aumentada a produção de resíduos, o que marcaria o problema ambiental decorrente do consumo,
ou seja, a produção de lixo.

Enquanto nômades, os resíduos humanos eram basicamente carcaças de animais e restos de


alimentos. Como o homem mudava de local constantemente, esses resíduos não se acumulavam
em grandes volumes e também não significavam um problema para nossa espécie. Porém, quando
as comunidades passaram ao sedentarismo, acumulando‑se em grandes grupos humanos, os resíduos
começam a acumular‑se junto a essas civilizações.

Isso fez com que o homem precisasse lidar com um problema que antes não o incomodava – o lixo.
O que fazer com os restos da alimentação, fezes e também com os animais atraídos por esse lixo, como
moscas e ratos? Eis o que passou a ser um dos principais problemas ambientais a serem administrados
desde o início de nossa história até os dias de hoje: a falta de saneamento adequado.

Somado a todo esse contexto, podemos citar também o desmatamento gerado pela abertura de
áreas para agricultura e pecuária, assim como para extração de madeira para a construção de moradias
para essas civilizações.

Podemos, então, concluir que o surgimento das civilizações humanas data também o início dos
problemas ambientais em nosso planeta.

A evolução do homem ofereceu‑lhe condições físicas e intelectuais de entender quais eram suas
necessidades e, a partir disso, interagir com a natureza de forma a explorá‑la em benefício de sua espécie.
Mendonça (2005, p. 48) afirma que “alguns seres humanos se sentiram em condições de subjugar as
florestas e os povos que as habitavam e fazer prevalecer seus modos de ser e fazer a vida”. Ainda sobre
o tema do trabalho humano na natureza, Marx diz:

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Unidade I

O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um processo em que


o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo
com a natureza. Ele mesmo se defronta com a matéria natural como uma
força natural. Ele põe em movimento as forças naturais pertencentes à
sua corporalidade, braços e pernas, cabeça e mão, a fim de apropriar‑se
da matéria natural numa forma útil para sua própria vida” (MARX apud
ANTUNES, 2005, p. 36).

Sendo assim, a partir da Revolução Neolítica, entendemos que o homem adquiriu capacidade de
manipular o meio ambiente, criando condições à sua sobrevivência e à de seus pares. Com isso, vemos
um quadro de impacto ambiental criado desde a Antiguidade que se estende até os dias atuais, com
projeção nas gerações futuras. Um dos elementos mais explorados ao longo do tempo foi a madeira, que
se tornou escassa durante o século V a.C. na Grécia. Os romanos, também antes de Cristo, reclamavam
de poluição do ar, demonstrando o impacto que a civilização humana causa no meio ambiente desde
tempos remotos.

Ao longo da história, a relação do homem com a natureza foi sendo alterada de acordo
com mudanças nas próprias relações humanas. Na Antiguidade, a sociedade era matriarcal e,
sendo assim, tinha com a natureza uma relação integradora, na qual a exploração baseava‑se
simplesmente na sobrevivência dos povos e a figura da natureza como mãe era comum, como se
vê em artefatos simbolizando a natureza na forma de deusa mãe. Porém, nem todas as sociedades
eram assim e, à medida que conflitos começaram a surgir, uma nova maneira de explorar a
natureza também apareceu.

As civilizações patriarcais que valorizavam o domínio expandiram‑se e a exploração e o domínio do


meio natural tornaram‑se práticas comuns. Saía de cena, assim, o modelo coletivo e integrador para dar
lugar ao modelo de domínio e subjugação.

A grande mudança de sociedades matrísticas para patriarcais aconteceu


quando a tecnologia disponível deixou de ser aplicada unicamente para a
produção (agrícola e de artefatos) e passou efetivamente a ser utilizada
para a fabricação de armas. Paulatinamente as sociedades se tornaram
dominadoras. Surgiram os impérios. A ideia de dominação e apropriação da
natureza e de outros povos foi se ampliando e difundindo pela região que
hoje corresponde ao Oriente Médio e Europa (de onde importamos nosso
modo de ser atual) (MENDONÇA, 2005, p. 59).

Essa separação entre natureza e homem (objeto e sujeito) passou a ser integrante do pensamento
humano; apesar de focos de resistência como a Grécia, onde a concepção de que o homem era parte
da physis ainda vigoravam. Nasce, assim, a ideia de que nós, humanos, não somos parte da natureza e
de que interferir nela não nos traz quaisquer consequências. Assim, a natureza passou a ser um simples
objeto de exploração para o ser humano.

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Introdução à problemática ambiental

Observação

Physis vem do verbo phyomai, que significa emergir, nascer, crescer:


processo de nascimento. Esse conceito designa tudo aquilo que brota,
cresce, surge, vem a ser. Physis não é paisagem ou oposição ao artificial, é
tudo o que é vivo, a força originária criadora de todos os seres, responsável
por seu surgimento, transformação e degeneração (CHAUÍ, 1994).

A Grécia Antiga era detentora de diversas colônias no período anterior a Cristo que, em sua maioria,
estavam localizadas em ilhas. A manutenção do império grego demandava muitos recursos e quando
estes se esgotavam em um local os exploradores seguiam para outro. Essa manutenção se baseava
no comércio e na pesca. Naturalmente, para tanto eram necessários muitos navios e, portanto, muita
madeira. Como o território era muito seco e a extração muito grande, Aristóteles recomendou aos
magistrados que cuidassem das florestas a fim de regular o uso da madeira.

A madeira, aliás, também era importante no Império Romano. Segundo Perlin (1992), quando a
madeira próxima a Roma acabou, os romanos avançaram em direção a outras regiões enviando os
troncos através dos rios.

Na Roma Antiga também divisamos outra prática pertinente ao impacto ambiental que os humanos
causam na natureza – a reciclagem. No século I, romanos pobres recolhiam vidros quebrados da mesma
forma que as pessoas recolhem atualmente latas de alumínio para reciclagem (MENDONÇA, 2005).

Braga (2006) relata que as primeiras reclamações sobre poluição do ar apareceram na mesma Roma,
onde foram criados os aquedutos para abastecimento de água e o primeiro sistema de esgoto de que se
tem notícia (a Cloaca Máxima).

1.2 A relação homem–meio ambiente na Idade Média

A Idade Média cronologicamente caracteriza‑se como um período da história europeia com


início na queda do Império Romano Ocidental, em 476 d.C., e fim na queda do Império Bizantino de
Constantinopla, em 1453 d.C. Ela pode ser dividida em Alta e Baixa Idade Média.

A Alta Idade Média (séculos V a X) foi marcada por invasões de diversos povos sobre a Europa, que
contribuíram para a formação do feudalismo; um sistema socioeconômico, político e cultural no qual
os senhores feudais eram os donos da terra e os servos – camponeses – trabalhavam nas plantações.
A nobreza era sustentada por impostos e a Igreja tinha um enorme poder. Essa sociedade era dividida
em ordens sociais (clero, nobreza e servos) com suas funções delimitadas. Prevalecia, além disso, a
imobilidade social.

A economia era basicamente agrária e autossuficiente. A produção era feita para o consumo imediato
e o excedente, quando existia, servia para o comércio. O trabalho era regulado pelas obrigações servis

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Unidade I

entre senhor feudal e servos. Nesse ambiente, eram notáveis a desigualdade social, a pobreza e o alto
índice de doenças.

Foi uma época cheia de crises, decorrentes principalmente da alta mortalidade e da baixa expectativa
de vida devidos ao grande número de doenças e à fome que assolava a maior parte da população – em
especial os camponeses, que viviam em péssimas condições de vida e pagavam pesados impostos ao
senhor feudal, ao rei, ao clero e à nobreza.

Figura 3

Nesse momento histórico, a cultura era essencialmente teocêntrica e o poder político fazia uso da
influência religiosa da Igreja Católica, que ditava o modo de pensar e as tradições da sociedade. A fé
explicava desde os fenômenos naturais até a maneira de o homem se relacionar com o indivíduo e a
natureza.

No livro L’écologie et son historie, de 1993, Jean MarçDrouin cita Lynn White dizendo que, nesse
período da Idade Média, estão os primeiros argumentos para o domínio do homem sobre a natureza.
White concebe que a mentalidade que norteou, posteriormente, a Revolução Industrial é muito anterior
à criação da máquina e afirma que a natureza é um recurso a ser explorado pelo homem. Segundo ele,
os problemas ambientais têm sua gênese na teoria judaico‑cristã, por duas razões:

• a distinção entre o homem (feito à imagem e semelhança de Deus) e o restante da criação, que
não teria alma ou razão e, portanto, seria inferior;

16
Introdução à problemática ambiental

• uma leitura fundamentalista de uma passagem do livro “Gênesis”, da Bíblia: “Deus os abençoou:
‘Frutificai, disse ele, e multiplicai‑vos, enchei a terra e submetei‑a. Dominai sobre os peixes do mar,
sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra’” (BÍBLIA..., s.d., cap.
1, vers. 22, p. 3). A interpretação desse trecho teria sido a base histórica para o antropocentrismo
e, por consequência, para a mudança na maneira de as pessoas de conceberem a natureza e de se
relacionarem com ela.

Para White (apud DROUIN, 1993) essas razões teriam levado os cristãos a uma indiferença com
relação ao restante da criação que perdurou no mundo industrial. Ele conclui seu raciocínio dizendo
que o desenvolvimento da ciência e de novas tecnologias não solucionará a crise ambiental, pois as
ideias fundamentais da humanidade sobre a natureza é que precisam mudar. Seria necessário, então,
abandonar a ideia de superioridade e a atitude antropocêntrica que nos tornam dispostos a usar nosso
meio ambiente sem considerar os limites de suporte do planeta.

Seguindo essa linha de raciocínio, podemos entender que, a partir de uma interpretação do texto
bíblico, o homem, nesse momento histórico, passou a sentir‑se superior em relação ao restante da
criação divina e, portanto, supôs‑se apto e respaldado a dominar, explorar e usufruir da natureza.

Lembrete

Os problemas ambientais surgiram desde o início da interação do


homem com o meio ambiente, e mudanças culturais foram colaborando
para a piora dessa relação.

É preciso, contudo, entender que a passagem bíblica não expressa uma autorização divina para
a exploração desmedida que sucede esse período da história. Não é dito em momento algum que o
homem poderia apropriar‑se da natureza a ponto de destruí‑la e gerar condições comprometedoras da
sobrevivência das espécies, incluindo nisso o próprio homem.

Devemos ressaltar que a linguagem utilizada na época em que o “Gênesis” foi escrito não pode ser
comparada aos padrões atuais. Segundo o livro bíblico, Deus criou o homem à sua imagem e semelhança
e, portanto, não seria concebível que as atitudes da criação divina fossem “tiranas” em relação à natureza,
uma vez que Deus representa bondade e amor.

White (apud DROUIN, 1993) sugere adotarmos o pensamento de São Francisco de Assis como
modelo para a relação homem–natureza. Para São Francisco, todas as criaturas deviam ser respeitadas e
o domínio do homem devia ser limitado. Ele pregava que a tarefa dos homens era proteger e valorizar a
natureza uma vez que são criação divina e auxiliares do Criador, além também de Suas criaturas.

Na mesma obra, Jean MarçDrouin (1993) cita o biólogo Rene Jules Dubos, que se posiciona de maneira
diferente de White. Dubos (apud DROUIN, 1993) argumenta que o judaísmo demonstra preocupação
com a natureza, como podemos observar nos anos sabáticos, quando a terra deve ser deixada em
descanso. Consta no livro “Êxodo”: “Durante seis anos, semearás a terra e recolherás o produto. Mas, no
17
Unidade I

sétimo ano, a deixarás repousar em alqueive; os pobres de teu povo comerão o seu produto, e os animais
selvagens comerão o resto. Farás o mesmo com a tua vinha e o teu olival” (BÍBLIA..., s.d., cap. 23, vers.
10–11, p. 3).

Civilizações
ameaçadas
O possível
“choque“

Civilização
ocidental
latino-americana
ortodoxa
árabe-muçulmana
africana (e outras)
budista e confuciana
xintoísta
hinduísta

Figura 4

Dubos (apud DROUIN, 1993) embasa sua ideia citando o caso da China, que apresenta um percentual
baixo de judeus e cristãos e tem um histórico considerável de degradação ambiental. Nesse país, a
ausência da doutrina judaico‑cristã pode justificar a falta de preocupação com o meio ambiente. Assim,
segundo o autor, não se pode creditar à tradição judaico‑cristã a responsabilidade pela origem do
problema ambiental na Idade Média.

Devemos ressaltar que a religiosidade faz parte da cultura de um povo e, dessa forma, influenciou a
organização do espaço e, na prática, a apropriação e uso dos recursos.

Observação

No Islã, a relação entre a humanidade e o meio ambiente é baseada


no fato de que tudo na Terra adora Deus. Esse culto não é apenas prática

18
Introdução à problemática ambiental

ritual, pois muda‑se para as ações, o que significa que faz parte da fé
muçulmana não prejudicar o ambiente. Além disso, os seres humanos
são responsáveis pelo bem‑estar e pela vida dos outros habitantes
deste ambiente global. “Se ao menos houvesse, entre as gerações que
vos precederam, alguns sensatos que proibissem a corrupção na Terra”
(Alcorão 11:116 apud QURAN, 2003, p. 109).

A: Alemanha
F: França
PB: Países Baixos
GB: Grã-Bretanha
J: Japão
P: Portugal
DK: Dinamarca
B: Bélgica
E: Espanha
US: Estados Unidos

A Europa colonizadora em 1914

América Latina Colônia, protetorado ou zona


de influência em 1914
Data de independência
Império sem colônia
Litígio territorial

Potência não-europeia
Colônias no e zona de influência
século XVIII

Figura 5

Embora durante a Idade Média a visão de mundo predominante fosse o teocentrismo, pode‑se dizer
que, para os homens medievais, a função da natureza já era avaliada segundo padrões antropocêntricos.
Ou seja, Deus teria criado a natureza para tornar possível a existência do homem e, assim, uma estaria
subordinada à outra.

Essa concepção abriu caminho para a ideia de que o homem podia se aproveitar da natureza para
satisfazer seus interesses, inclusive econômicos. Dessa forma, embora a economia rural impedisse grandes
desequilíbrios ecológicos, começaram a surgir diversos problemas ambientais, como o desflorestamento
e a poluição do ar causada pela queima de carvão. Assim, quando a Europa passou por diversas
modificações que deram início ao processo de desintegração do sistema feudal, na Baixa Idade Média

19
Unidade I

(séculos XI a XV), o capitalismo comercial encontrou terreno fértil. As trocas comerciais, antes muito
reduzidas, começaram a crescer a partir do século XII.

Com a intensificação do comércio, os povos europeus sentiram a necessidade de buscar em terras


distantes metais preciosos, mercados, especiarias, matérias‑primas e terras. Assim, iniciaram uma
expansão marítimo‑comercial que acabaria por se tornar essencial para a interligação de todo o Globo
e para o processo de degradação ambiental europeu, uma vez que, para a construção das embarcações,
grande quantidade de madeira e outros recursos minerais eram necessária. Mais do que isso, as Grandes
Navegações possibilitaram uma acumulação de capital que seria condição básica para a Revolução
Industrial que estava por vir no século XVIII.

Saiba mais

Uma leitura envolvente e agradável sobre a história da humanidade


pode ser feita no livro:

COIMBRA, D. Uma história do mundo. São Paulo: L&PM, 2012.

2 O modo de produção econômico e a Revolução Industrial

2.1 Evolução histórica

A atividade industrial pode ser analisada por meio das fases que antecederam a caracterização
moderna, nas quais a elaboração de matérias‑primas e sua posterior transformação em bens (produtos
finais) eram realizadas de forma simples e por meio da mão de obra artesã, que era fundamental.

Assim, temos as seguintes fases:

Fase artesanal (até o século XV):

• nenhuma divisão do trabalho;

• uso de ferramentas;

• menor produção;

• produtos personificados;

• força de trabalho: mãos do artesão.

20
Introdução à problemática ambiental

Figura 6

Fase manufatureira (séculos XVI ao XVIII):

• divisão primária do trabalho;

• uso de máquinas simples;

• quantidades maiores, mas trabalho ainda depende das mãos do artesão.

Figura 7

Fase moderna (a partir da Revolução Industrial na Inglaterra, no séc. XVIII), em países europeus e
nos EUA:

• grande divisão do trabalho;

• especialização do trabalhador;

• máquinas modernas com uso de fontes de energia;

21
Unidade I

• produção em grandes quantidades e produtos estandardizados (padronizados, feitos em série e


dos mesmos modelos);

• indústria moderna: resultado da Revolução Industrial e da expansão do capitalismo.

Figura 8

No século XV, o comércio era a principal atividade econômica na Europa. O impulso maior para
isso ocorreu na Idade Média, com as Cruzadas e a consequente aproximação entre Ocidente e
Oriente, constituindo a base de um novo sistema econômico, o qual substituiria o decadente modo de
produção feudal. O desenvolvimento do comércio, por sua vez, fez surgir um grupo de indivíduos que
intermediavam as relações entre produção e consumo, obtendo produtos negociáveis de comerciantes e
revendendo com lucro esses produtos. Esses negociantes formaram a burguesia nessa fase embrionária
do capitalismo.

Essa fase de transição entre o modo de produção feudal e o capitalismo, já em sua fase industrial no
século XVIII, é o mercantilismo, que surgiu, portanto, com o fortalecimento da burguesia mercantil e a
centralização do poder em mãos do rei, em detrimento do poder dos senhores feudais.

A economia mercantil, por sua vez, teve como consequência a expansão marítima de algumas
monarquias europeias, a saber: Espanha, Portugal e Inglaterra, principalmente. Também teve destaque,
nesse contexto, o monopólio da navegação no mar Mediterrâneo exercido pelos árabes e pelas cidades
italianas de Gênova e Veneza. Outra decorrência desse comércio foi a anexação do Continente americano
a fim de que pudessem ser exploradas suas riquezas (minerais e vegetais) em benefício das atividades
comerciais da Europa ibérica.

22
Introdução à problemática ambiental

Observamos que, desde esse período, a despreocupação com o ambiente e a biodiversidade, bem
como com as questões relativas à saúde, ao saneamento básico e, consequentemente, à qualidade
de vida, era flagrante. Dois séculos de amadurecimento foram necessários para que acontecessem as
inovações técnicas (como o uso do vapor) associadas ao acúmulo de capitais e ao mercado em expansão,
dinamizando a economia europeia.

Estabelece‑se, portanto, uma nova etapa da produção econômica, fundamentada na indústria:


a fase da Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, em meados do século XVIII, representando
muito mais do que uma simples mudança no sistema produtivo, no qual se observam mudanças na
hierarquia social (então dividida em classes sociais) e na produção determinada pelo lucro e pelo
interesse no capital.

A insalubridade e as doenças, no entanto, proliferavam na Europa, somadas à falta de saneamento e


de higiene; as cidades eram redutos de ratos, insetos, lixo. Também eram observadas cenas de poluição
com a intensificação do uso do carvão mineral para geração de energia.

Por outro lado, como obter recursos? A dinamização da produção, que deixa de ser manufatureira e
passa a ser mecanizada (máquinas a vapor), que teve início na Inglaterra e se estendeu posteriormente
a outros países europeus, fez crescerem, principalmente na Europa do século XIX, as necessidades de
matérias–primas e novos mercados.

As nações industrializadas necessitavam de fontes constantes e abundantes de matérias–primas


para sua crescente atividade produtiva. Isso, somado à necessidade de aplicar o capital e ampliar a
rentabilidade, levou as nações industrializadas a formar verdadeiros impérios em terras dos continentes
africano e asiático.

O imperialismo, resultante da concorrência entre as nações industrializadas da Europa e como


parte da política neocolonialista, resultou no militarismo (através da dominação física do território),
do nacionalismo (exaltação do sentimento nacional, apesar das diferenças de classes), no racismo
(teoria da superioridade racial, étnica e religiosa) e na hierarquização das nações (que serviu de base
para a Divisão Internacional do Trabalho – DIT). Devemos destacar que, nesses momentos históricos,
continuava a despreocupação com temas ambientais e a saúde pública.

A partir da segunda metade do século XVIII, com a Revolução Industrial, iniciou‑se um processo
ininterrupto de produção coletiva em massa, geração de lucro e acúmulo de capital. Na Idade Média,
já existiam comerciantes que podiam ser considerados capitalistas, embora não vivessem em um
mundo capitalista. “Houve práticas capitalistas muito antes da existência do capitalismo como sistema
econômico” (KOSHIBA; PEREIRA, 2004, p. 228). Mas foi na Idade Moderna que produzir para vender e
lucrar começou a se tornar a regra geral. Tendo ocorrido inicialmente na Inglaterra, no século XVIII, a
industrialização foi almejada depois pela Alemanha, Estados Unidos, Japão e França, hoje considerados
países centrais (KOSHIBA; PEREIRA, 2004).

23
Unidade I

PIB por habitante em 2005,


paridade de poder de compra (PPC)
(em doláres)
Superior a 10.000
Entre 5.000 e 10.000
Inferior a 5.000
Sem dados disponíveis

Figura 9

Vale lembrar que o capitalismo é uma construção histórica ao longo da existência do homem e não
um comportamento inerente à sua existência.

Durante a Idade Moderna, foram se desenvolvendo na Europa as condições necessárias para


o capitalismo industrial. A expansão ultramarina e a colonização da América ampliaram o mercado
europeu e abasteceram a Europa com riquezas que aceleraram a acumulação de capitais, que, por sua
vez, preparou o surgimento do capitalismo. A classe burguesa, então, fortaleceu‑se e, inclusive, chegou
ao poder na Inglaterra no século XVII, com a Revolução Puritana (KOSHIBA; PEREIRA, 2004).

Ao contrário das sociedades antigas e medievais, a sociedade capitalista é comandada pelo mercado:
a preocupação econômica toma conta das relações sociais, que são marcadas pela impessoalidade e
concorrência. Todas as atividades são baseadas na dinâmica de compra e venda. “No capitalismo não se
trabalha para viver, vive‑se para trabalhar. O trabalho converteu‑se num fim em si mesmo” (KOSHIBA;
PEREIRA, 2004, p. 232).

As revoluções liberais da Idade Moderna (principalmente a Revolução Inglesa, a Revolução Francesa


e a Independência dos Estados Unidos da América) fizeram com que o capitalismo se estabelecesse

24
Introdução à problemática ambiental

como sistema econômico predominante nos países da Europa ocidental e nos Estados Unidos. Elas
construíram a base para o desenvolvimento capitalista no mundo contemporâneo.

A Idade Contemporânea iniciou‑se com a Revolução Francesa (1789) e estende‑se até os dias de
hoje. O capitalismo do mundo contemporâneo é um sistema econômico baseado na propriedade privada
dos meios de produção e na propriedade intelectual, que tem como objetivo a obtenção de lucro através
do risco do investimento. As decisões sobre os investimentos de capital são feitas pela iniciativa privada
e a produção, a distribuição e os preços dos bens, serviços e recursos humanos são controlados pela
força da oferta e da procura.

Como continuidade desses fatos, resultou a concorrência entre as nações industrializadas, nas
primeiras décadas do século XX, culminando nas duas grandes guerras, a saber: a primeira, de 1914 a 1918,
e a segunda, de 1939 a 1945. Esses conflitos envolveram quase todo o Mundo, especialmente Inglaterra
(atual Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte), França, Alemanha, Japão, Estados Unidos e
União Soviética. Esses conflitos influenciaram não só a ordem mundial quanto a sua organização, assim
como os aspectos sociais e os riscos ambientais.

Neste contexto, observou‑se que a ciência e a tecnologia tornaram‑se cada vez mais desenvolvidas,
buscando a melhoria da qualidade de vida dos seres humanos. No entanto, a desigualdade social foi se
tornando cada vez mais presente no Planeta, constituindo um divisor dentro do modelo capitalista criado
nos últimos séculos. O pessimismo na obra Vidas Desperdiçadas, de Baumann (2005), generaliza‑se, sai
do plano individual e atinge a coletividade social. A evolução do capitalismo pressiona os âmbitos social
e o subjetivo; torna‑se difícil superar as desigualdades com desdobramentos em termos ambientais.

Observação

Karl Marx, já no século XIX, denunciava o caráter exclusivista da


sociedade capitalista. Segundo ele, é impossível superar a desigualdade
social no capitalismo, visto que a base desse sistema é o lucro e, portanto,
a exploração do proletariado.

A sociedade de consumo atual é caracterizada por profundas crises socioambientais e socioeconômicas,


resultantes do ideal do progresso e do desenvolvimento tecnológico, da produção em massa de produtos
muitas vezes supérfluos ou até mesmo nefastos à qualidade de vida, da degradação ambiental e da
exploração dos elementos naturais em tal velocidade e intensidade que se torna impossível para a
natureza se recompor na escala de tempo humana.

Nas últimas décadas, muito se tem falado sobre os problemas ambientais que põem em risco a
perpetuação da vida na Terra. Acordos com o objetivo de reduzir a poluição e outros problemas, como
o aquecimento global e o buraco na camada de ozônio, têm sido discutidos em escala mundial. Entre
eles, podemos destacar o Protocolo de Kyoto, que estabelece metas de redução de gases poluentes para
os países industrializados.

25
Unidade I

Observação

A primeira grande produção em série aconteceu em uma fábrica de


armas nos Estados Unidos, em 1800. “Mais tarde, no início do século XX,
os americanos Frederick Taylor e depois Henry Ford elevaram os índices de
produção num sistema cada vez mais rápido, preciso e em série. Estava
criada a chamada linha de montagem” (KUPSTAS, 1997, p. 97).

Quando falamos em modo de produção capitalista, pensamos em divisão internacional do trabalho


(DIT). Observe as figuras a seguir, que ilustram a evolução na DIT em suas fases:
Origem da DIT
Metrópoles Metais preciosos, Colônias
(expansão marítima) especiarias, escravos etc. (exploração)

Colonialismo

Manufaturas

Figura 10 – Capitalismo comercial

Consolidação da DIT
Metrópoles Produtos primários: Colônias
(Revolução industrial) agrícolas, minerais e fósseis. (exploração)

Imperialismo

Produtos industrializados

Figura 11 – Capitalismo industrial e financeiro (até a Segunda Guerra Mundial)

26
Introdução à problemática ambiental

DIT clássica
Produtos primários: Países subdesenvolvidos
Países desenvolvidos agrícolas, minerais e fósseis não-industrializados

Produtos industrializados
Capitais: investimentos e
empréstimos (pouco)

Nova DIT Produtos primários


produtos industrialados
Capitais: juros, royalties e Países subdesenvolvidos
Países desenvolvidos lucros industrializados

Globalização

Produtos industrializados
(em geral de tecnologia superior)
Capitais: empréstimos,
investimentos produtivos e
especulativos, tecnologia

Figura 12 – Capitalismo financeiro (após a Segunda Guerra Mundial)

Devemos ressaltar que a produção e o consumo, assim como as necessidades humanas, tornaram‑se
cada vez mais internacionais e cosmopolitas. De acordo com o texto de Marshall Berman (1986, p. 89‑90),
o âmbito dos desejos e reivindicações humanas se amplia muito além da capacidade das indústrias
locais, que então entram em colapso. A escala de comunicações se torna mundial, o que faz emergir uma
mass media tecnologicamente sofisticada. O capital se concentra cada vez mais nas mãos de poucos.
Camponeses e artesãos independentes não podem competir com a produção de massa capitalista e são
forçados a abandonar suas terras e fechar seus estabelecimentos. A produção se centraliza de maneira
progressiva e se racionaliza em fábricas altamente automatizadas.

O texto expressa as mudanças empreendidas no modo de produção capitalista e, consequentemente,


suas repercussões nos aspectos sociais e organizacionais do espaço. Ele representa, ao mesmo tempo, a
história do modelo de trabalho e das relações na organização da sociedade na produção de riquezas e
de hábitos de consumo. Além disso, altera também as relações sociais de produção.

27
Unidade I

Observação

Segundo Harnecker (1974), relações sociais de produção são as relações


que se estabelecem entre os proprietários dos meios de produção e os
produtores diretos em um processo de produção determinado, relação que
depende do tipo de relação de propriedade, posse, disposição ou usufruto
que eles estabelecem com os meios de produção. Assim, são estabelecidos
tipos de relação social de produção, a saber:

• relação explorador–explorado: se estabelecem quando os proprietários


dos meios de produção vivem do trabalho e dos produtores diretos;

• relações de colaboração recíproca: se estabelecem quando existe


uma propriedade social dos meios de produção e nenhum setor da
sociedade vive da exploração de outro setor, como os membros de uma
sociedade primitiva, na qual existe colaboração entre os membros.
Segundo Marx, isso ocorre no modo de produção comunista (no
sentido de comunidade).

HARNECKER, M. Los conceptos elementales del materialismo histórico.


Ed. Siglo veinteuno. Argentina editores, 1974. p. 43. Traduzido e adaptado.

3 Os conflitos mundiais e as mudanças ambientais

Figura 13 – War, de Willian Gropper

Muitos são os conflitos que ocorreram durante a história da Humanidade. Da Idade Antiga à
Contemporânea, inúmeras foram as guerras travadas entre os povos por território, controle econômico,
poder político e inúmeros outros motivos. Esses conflitos consumiram matérias‑primas em quantidades
astronômicas, se somados todos os conflitos, e esse consumo desenfreado refletiu‑se no meio ambiente.

O comprometimento ambiental deu‑se não só pelo uso de armas e pela implantação de minas
terrestres, mas também pelo uso de produtos químicos. Além das guerras ou confrontos armados,
28
Introdução à problemática ambiental

surgem disputas de ordem econômica através da industrialização com maior urbanização, do aumento
do consumo e das decorrentes alterações ambientais.

A partir dessa evolução, com a mudança do modo de habitar rural para o modo urbano, aparecem
riscos locais e globais.

Lembrete

A sociedade de consumo atual é caracterizada por profundas crises


socioambientais e socioeconômicas, resultantes do ideal do progresso e do
desenvolvimento tecnológico em detrimento da conservação dos recursos
naturais.

Figura 14 – Equipamento militar em deslocamento durante a Segunda Guerra Mundial

Assim, temos que as guerras, desde sempre, causaram numerosos impactos sobre distintos aspectos.
Entre eles, podemos destacar os impactos ambientais como o lançamento de metais pesados no
solo, na água e no ar através da destruição de estruturas militares e industriais, bombardeios, grande
concentração e movimentação de veículos terrestres, marítimos e aéreos, além da imensa quantidade de
mísseis lançados nas guerras modernas, que causam um impacto maior do que as da Antiguidade, nas
quais o desmatamento era o principal impacto causado.

29
Unidade I

Figura 15 – Desmatamento ambiental durante a Segunda Guerra Mundial

Fora isso, a modificação das paisagens naturais é algo considerável, junto com a perda da
biodiversidade a curto e longo prazo. Essa perda normalmente torna‑se irreversível por conta da
dificuldade de recuperação do ambiente, que ocorre de forma lenta ou sequer acontece, tornando o
processo de recomposição da biodiversidade inviável.

Figura 16 – Bombardeio

Dessa forma, um exemplo de guerra atual que pode ser citado é a queima dos poços de petróleo no
Iraque durante as guerras do Irã/Iraque e do Golfo, com a invasão do Kuwait pelas tropas de Saddan
Husseim. Essa queima não gerou apenas o gás carbônico, mas uma série de outros gases poluentes e
nocivos à saúde. Para o Efeito Estufa, não importa se o dióxido de carbono é lançado na atmosfera
em um espaço curto ou longo de tempo. Já a poluição concentrada de monóxido de carbono e dos

30
Introdução à problemática ambiental

óxidos de nitrogênio num curto espaço de tempo, que se combinam, é bastante prejudicial à saúde,
pois causa prejuízos como a chuva ácida e a queda de oxigenação nos organismos vivos sendo, por isso,
considerada um grave problema ambiental, visto que altamente comprometedor à biodiversidade.

Análises afirmam que os reflexos da Guerra do Golfo para a saúde e o meio ambiente, assim como
a destruição de fábricas de produtos químicos, biológicos e nucleares dispersando substâncias tóxicas
no meio ambiente trouxeram efeitos comprometedores para a saúde humana, como sequelas para o
sistema respiratório e carcinogênese. Outros estudos ainda demonstram que a utilização de armamentos
contendo urânio empobrecido teria sido uma fonte de contaminação do meio ambiente, além de
promover danos à saúde humana.

Figura 17 – Poço de petróleo queimando

O urânio empobrecido (U‑234) é um subproduto do urânio enriquecido (U‑238) utilizado nas usinas
de energia nuclear e, portanto, abundante em países que empregam esse tipo de energia. Por ser um
dos metais mais pesados que existe, ele é utilizado pela indústria bélica para produção de cabeças de
balas, o que aumenta a capacidade de penetração dos projéteis, que passam a poder perfurar veículos
militares blindados e paredes.

O urânio empobrecido também é utilizado na fabricação de mísseis e no revestimento de tanques.


Além de o peso do metal ser um atrativo bélico, ele também tem outra característica interessante: o
material é pirofórico espontâneo, isto é, quando o projétil alcança seu objetivo, gera tanto calor que se
inflama e explode. Assim, ao atingir o alvo, o urânio empobrecido queima e transforma‑se literalmente
em poeira, oxida‑se e volatiza‑se em micropartículas radioativas, que podem ser inaladas, ingeridas,
depositadas no solo e na água ou transportadas para muitos quilômetros de distância pelo ar.
31
Unidade I

Figura 18 – Ataque a Nagasaki

Não é só no caso do Iraque que o homem utilizou armamento com urânio durante conflitos armados:
na Sérvia, na Bósnia e em Kosovo, em 1999, 1995 e 1999, respectivamente, esse tipo de arma já foi
utilizado. Isso sem contar as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra
Mundial, que também continham materiais radioativos em suas ogivas.

Além de afetar a população civil que sofreu o bombardeio, o urânio também afeta os soldados, e
sua poeira pode ser transportada por ventos, o que faz com que ele possa atingir muitos outros países.

Outro armamento utilizado durante guerras que causou grande impacto ambiental foi o agente
laranja, substância química desfolhante lançada nas florestas vietnamitas, em 1975, para facilitar a
identificação de tropas inimigas em território asiático. Essa substância causa queda acelerada das folhas
das árvores, contaminação do solo e água, além de graves danos à população humana, como câncer,
síndromes neurológicas e problemas genéticos.

Dessa forma, a transição da sociedade de um momento histórico para outro, com modelos distintos
socioeconômicos, dependentes do consumo e dos impactos das ações humanas no decorrer dos
momentos históricos, só comprometeu as sociedades e os ambientes ou ecossistemas, tornando‑os
mais vulneráveis.

32
Introdução à problemática ambiental

Figura 19 – Guerra do Vietnã

Testes nucleares são outro exemplo de dano capaz de gerar imenso prejuízo ambiental por motivos
bélicos. Entre os locais escolhidos para esse tipo de teste, um dos mais conhecidos é o Atol de Mururoa,
na Polinésia Francesa. Os incessantes testes realizados entre 1966 e 1996 pelo Governo Francês deixaram
uma herança radioativa nas águas do Atol, diminuindo a biodiversidade e produzindo altos índices de
radiação na região.

Armamento nuclear
A “cortina de ferro“
Crises ou conflitos

Bloco soviético, país do Pacto de


Os Estados Unidos e seus aliados Varsóvia e outros aliados
País ligado à URSS
País ligado aos Estados Unidos (cooperação militar)
O Plano Marshall País parceiro e depois afastado
“Contenção nuclear“ (1949-89) Intervenção soviética
Intervenção americana Ação cubana

Figura 20

33
Unidade I

No período da Primeira Guerra Mundial, os soldados enfrentaram problemas de ordem climática


relacionados à exposição às intempéries: sol, chuva, neve, lama, piolhos e ratos. A partir dessas condições,
vieram as doenças – tifo, febre Quintana ou febre das trincheiras (transmitida por piolhos) – ou ainda
ferimentos de tiros e efeitos de gases venenosos. Além de tudo isso, havia ainda problemas relacionados
à gripe, dores de cabeça, febre alta, dificuldades para respirar e pneumonia.

A gripe espanhola, por exemplo, tornou‑se mortal, atingindo num primeiro momento EUA, países
europeus, além da Índia, sudeste asiático, Japão, China, países centro‑americanos e sul‑americanos. O
contágio no Brasil deu‑se através de marinheiros que serviram na África e aportaram no Nordeste por
volta de 1918.

Veja algumas doenças causadas por armas biológicas durante e após a Segunda Guerra Mundial:

• Varíola – a respiração é comprometida, causada por um vírus transmitido pelo ar. Os sintomas são
de gripe e o vírus se estabelece na garganta da pessoa infectada.

• Ebola – doença transmissível, sem tratamento, com alta taxa de mortalidade, que pode chegar até
100%.

• Peste bubônica – pode ter sido espalhada por bombas e por pulga infectada. O tratamento é feito
por antibióticos.

• Anthrax – contamina o ar, a água, o solo e os alimentos. Contamina os pulmões e deforma a pele.
Apresenta sintomas de gripe e em poucos dias pode levar a óbito.

• Botulismo – doença perigosa, o contágio ocorre por ingestão de alimento contaminado. Provoca
paralisia, falta de ar e não tem tratamento efetivo determinado.

• Bioterrorismo – liberação de produtos químicos ou agentes infecciosos que prejudicam a saúde e


o meio ambiente.

• Agente laranja – (Napalm) mistura dos herbicidas 2,4–D e 2,4,5–T. Criado pela empresa Monsanto,
o agente laranja foi usado como agente desfolhante pelo exército dos Estados Unidos na
Guerra do Vietnã, nos anos 1960. Durante a guerra, ele foi utilizado sem a devida purificação,
apresentando teores elevados de um subproduto cancerígeno resultante da síntese do 2,4,5–T, a
dioxina tetraclorodibenzodioxina. Seu uso deixou graves sequelas na população vietnamita e nos
soldados dos Estados Unidos.

Esse desfolhante destruiu o ambiente natural e as pessoas expostas foram submetidas a muitos
males, como câncer e síndromes neurológicas. Além disso, as gerações seguintes tiveram malformações
congênitas.

O objetivo inicial do seu uso era reduzir a densa floresta tropical e facilitar a circulação dos soldados
estadunidenses, além de evitar que os norte‑vietnamitas e vietcongs a usassem como cobertura. O
34
Introdução à problemática ambiental

desfolhante contribuiu também para dificultar a colheita de alimentos necessários à sobrevivência


desses grupos.

Tivemos, além disso, ainda na Segunda Guerra Mundial, o lançamento das bombas atômicas sobre
Hiroshima e Nagasaki pelos Estados Unidos sob a ordem do então presidente Harry S. Truman, visando à
rendição do império japonês. Os ataques às cidades de Hiroshima e Nagasaki, respectivamente nos dias
6 e 9 de agosto de 1945, pelas bombas “Little Boy” e “Fat Man”, provocaram sua destruição, com perdas
humanas, materiais e ambientais. Historicamente, teriam sido os dois únicos ataques nos quais foram
usadas armas nucleares.

Saiba mais

Procure os artigos:

O ARSENAL de guerra. BBCBrasil. [s.d.]. Disponível em: <http://www.


bbc.co.uk/portuguese/especial/1221_mff_bio/page8.shtml>. Acesso em: 16
jun. 2014.

COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Armas químicas e


biológicas. [s.d.]. Disponível em: <http://www.icrc.org/por/war‑and‑law/
weapons/chemical‑biological‑weapons/>. Acesso em: 16 jun. 2014.

O período geopolítico posterior à Segunda Guerra foi conturbado pelo antagonismo declarado entre
os Estados Unidos e a URSS, denominado Guerra Fria, quando houve uma ordem internacional bipolar.
Com o término do conflito de 1945, foi criada a ONU (Organização das Nações Unidas) e um dos seus
organismos foi a OMS (Organização Mundial da Saúde). Isso demonstra que havia uma preocupação
maior, portanto, com as condições de vida mundiais, por isso foram estabelecidos programas de
contenção de epidemias, campanhas de vacinação e medidas preventivas, notadamente em áreas
pobres e emergentes. Além disso, ampliam‑se também as pesquisas para o setor saúde e surgiram novas
tecnologias para diagnósticos e combate às doenças.

Ao final do período da Guerra Fria, por volta dos anos 1990, com a queda do Muro de Berlim, a
reunificação das Alemanhas e o desmembramento da URSS, temos uma nova geopolítica internacional,
uma nova fase de organização econômica com o capitalismo globalizado ou a mundialização da
economia. Nessa nova fase, a automação, a robotização e a informatização são acentuadas e, com elas,
o desemprego e o aumento dos problemas sociais, com ênfase nos urbanos e nos problemas decorrentes
desse novo modelo.

Antes do final da Guerra Fria, a antiga URSS vivenciou um período de transformações e crises,
culminando com a política do Presidente Mikhail Gorbatchev de mudanças com a Perestroika (proposta
de reestruturação econômica) e a Glasnost (transparência de ideias – abertura política), as quais já não
sustentavam a desarticulação do país e a sua ruptura.
35
Unidade I

A Nova Ordem Internacional caracteriza‑se por ser predominantemente econômica. Mais do que
isso, ela se articula através de blocos econômicos e da reunião dos países no sentido de estabelecer as
diretrizes a serem seguidas e o seu fortalecimento mútuo.

Mas aí surge nosso questionamento, como ficam organizadas, dentro dessa nova ordem, a qualidade
de vida e as questões ambientais? Como são tratados temas como vulnerabilidade e riscos dentro do
contexto atual?

Observação

Devemos destacar que a partir da crise de 1929, que se instaurou nos


Estados Unidos devido à quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, o
Estado passou a intervir mais na economia das nações capitalistas com a
finalidade de proteger os mercados internos de possíveis crises e promover o
desenvolvimento econômico e social. O capitalismo entra, assim, numa fase
financeira, monopolista, marcada pela internacionalização da economia
(dirigida por empresas transnacionais ou multinacionais) e por uma nova
divisão internacional do trabalho.

David Harvey (s.d.) e Manuel Castells (apud REVISTA AMBIENTE & SOCIEDADE, 2003), apesar de
terem muitos pontos em comum, divergem quanto ao poder que certos movimentos exercem no
contexto da globalização. Para Harvey (s.d.), a globalização econômica está desencadeando ações
sociais desordenadas incapazes de desenvolver força política transnacional coordenada que possa fazer
frente às desvantagens da modernidade globalizada, o que é um impasse. Castells (ibidem), por sua vez,
considera que localismos são de fato uma forma viável de resistência à hegemonia capitalista.

A globalização da economia redefine as relações entre centro e periferia: o que a globalização


denomina movimentos de invasão em verdade são transformações produzidas em termos nacionais e
locais. É do interior dos países que não só a economia, mas também a cultura se mundializa (ORTIZ apud
Martín–Barbero, 1999a).

O que então está em jogo não é uma maior difusão de produtos, mas a rearticulação das relações
entre países mediante uma descentralização que concentra o poder econômico e um deslocamento que
mistura as culturas.

A globalização trouxe consigo os riscos ambientais, sociais, de caráter geopolítico e ideológico.


Internacionalmente, essa situação tornou‑se mais crítica com a ocorrência dos atentados de 11 de
setembro aos Estados Unidos. Desse episódio surgiu uma guerra promovida pelo então presidente George
W. Bush contra o terrorismo. Sua postura gerou animosidade com o mundo árabe, já abalado com os
ataques ao Iraque e a Saddam Hussein, além da incursão ao Afeganistão pelas tropas estadunidenses.
Podemos afirmar que essas medidas comprometeram pessoas e ambientes, promoveram perdas de
distintas ordens e de mudanças comportamentais.

36
Introdução à problemática ambiental

3.1 O que é o terrorismo?

3.1.1 Guerra ao Terrorismo

O atentado de 11 de setembro ao território dos Estados Unidos, praticamente implodindo as torres


gêmeas, suscitou uma ação contrária do então presidente dos Estados Unidos George W. Bush e do
primeiro‑ministro britânico Tony Blair: a chamada guerra ao terrorismo. Mas o que seria propriamente
terrorismo? Encontramos algumas respostas por parte da estudiosa e professora de leis e política
internacional Robin Theurkauf, esposa de Tom Theurkauf, uma das vítimas do World Trade Center.

A professora Theurkauf (2003) afirma que antes sabíamos o que era guerra e que a diferenciávamos
de uma situação de paz. As guerras aconteciam entre países que se opunham, com seus exércitos e
respectivos comandos. Os Estados disputavam territórios e se opunham ideologicamente. As guerras
eram previstas como se fossem respeitar as leis para que depois fossem feitos acordos e voltassem à
situação de paz.

Segundo Theurkauf (2003), isso mudou, pois o inimigo passou a se organizar em células articuladas,
a esconder‑se, esperando o momento certo para atacar, geralmente para surpreender o suposto inimigo,
para causar medo e disseminar o ódio e a violência, sem respeitar os direitos humanos internacionais.
Os impulsos gerados a partir dessas premissas são terroristas. Eles proliferam em culturas submetidas a
situações extremas: fome, pobreza, opressão, ignorância.

Para acabar com o terrorismo é necessário promover o respeito pelos direitos humanos, satisfazer as
necessidades básicas dos indivíduos e manter como prioridade das nações a segurança nacional.

As famílias vitimadas pelo ato terrorista de 11 de setembro criaram uma organização militante
chamada Peaceful Tomorrows, cuja missão é buscar respostas não violentas para o terrorismo e uma
aproximação com as famílias afetadas por violência em outras áreas do mundo. Os militantes dessa
organização acreditam que, ao conscientemente oferecer opções não violentas em sua busca por justiça,
escolhem ao mesmo tempo poupar famílias inocentes do sofrimento que viveram – assim como romper
o interminável ciclo de violência e retaliação gerado pela guerra.

Saiba mais

Visite o site da organização Peaceful Tomorrows no endereço:

<www.peacefultomorrows.org>

Segundo o linguista Noam Chomsky (apud THEURKAUF, 2003), de modo geral, as atrocidades que
foram cometidas em 11 de setembro contra as torres gêmeas e o Pentágono deixaram uma amarga
lembrança: as novas tecnologias que contemplam os países ricos já não lhes asseguram paz, muito
menos segurança. Eles já não têm mais o monopólio da violência que tiveram em outros períodos

37
Unidade I

históricos. Desse modo, o terrorismo é temido em todo o mundo e pode ser visto como um retorno à
barbárie. O potencial ameaçador será ignorado por aqueles a quem a história acostumou à imunidade,
não importando os terríveis crimes que tenham praticado (apud THEURKAUF, 2003).

O autor afirma ainda que o uso de formas coercitivas e intimidação a fim de suscitar o medo privam
os povos de seu direito à autodeterminação, privando‑os de sua liberdade e independência.

Observação

Como informa Moreira (2002), os ataques terroristas de 11 de setembro


de 2001 aos Estados Unidos provocaram a abertura de uma discussão sobre
os efeitos do terrorismo na globalização. O professor John Gray culpou
a globalização pela ofensiva terrorista e previu o seu definhamento à
semelhança do comunismo.

Figura 21

38
Introdução à problemática ambiental

Figura 22 – Obra de reconstrução do World Trade Center após ato terrorista de 11 de setembro

Figura 23

3.2 As fronteiras extremas ambientais e sociais

As fronteiras extremas de ordem ambiental, social e geopolítica representam no contexto da


modernidade, situações de risco e vulnerabilidade, sofrimento social e saúde mental. Refletem
situações geopolíticas e sociais com povos e governos envolvidos. A seguir apresentamos algumas
dessas fronteiras.

Podemos citar como exemplo de fronteira ambiental e social aquela existente entre Estados Unidos e
México, onde há divisão caótica encontrada no lado mexicano (como na cidade de Tijuana) e um cenário
39
Unidade I

opressor, marcado pela vigilância a fim de coibir o tráfico ilícito de drogas para os Estados Unidos e de
armas para os cartéis mexicanos.

Outra fronteira característica na América Central é que fica entre Haiti e República Dominicana. Ela
ressalta contrastes extremos da Ilha La Hispañuela. No Haiti, há as marcas das atrocidades de regimes
ditatoriais anteriores ao fatídico terremoto que arrasou o país e exigiu a intervenção da ONU e do
MINUSTAH (Missão de Estabilização do Haiti) e na República Dominicana há as florestas de pinheiros,
áreas produtivas e outros fatores atraentes ao turismo.

Figura 24

Outro exemplo seria o do Oriente Médio, envolvendo o próspero Estado de Israel, com suas áreas
desérticas irrigadas, suas indústrias e grande potencial de defesa separado das áreas palestinas,
desprovidas de condições satisfatórias sociais, econômicas e psicológicas, sempre atentas aos possíveis
ataques ou investidas do país vizinho.

40
Introdução à problemática ambiental

Figura 25

Existe ainda uma área à qual pretendemos dar uma ênfase maior: a fronteira entre as Coreias do Norte
(ex‑área de influência soviética no período da Guerra Fria, com preocupações bélicas, armamentistas,
estratégicas e nucleares; extensa e com problemas sociais e de abastecimento) e sua vizinha capitalista
do sul, um tigre asiático, ágil, dinâmico, progressista e com bons indicadores sociais.

Além das guerras travadas entre as Coreias e a grande quantidade de perdas humanas militares
e civis, tem‑se o problema da questão ambiental envolvida no fato de que a Coreia do Norte conduz
testes nucleares, os quais preocuparam a China, pela proximidade geográfica e pelos danos que seriam
causados pelos norte‑coreanos ao ambiente.

Entre as duas Coreias havia sido sugerido, desde 1896, sob a influência do Império Russo, uma
linha divisória, no sentido de atrair a Coreia para o seu controle. No entanto, foi o Japão que recebeu o
reconhecimento do Império Britânico sobre os seus direitos na Coreia. A fim de evitar conflito, o governo
japonês propôs ao Império Russo que os dois lados divididos da Coreia ficassem ao longo do Paralelo

41
Unidade I

38. Nunca houve, no entanto, um acordo formal e o Império Japonês assumiu o controle total da Coreia
em 1910.

Após a rendição do Japão, em agosto de 1945, o Paralelo 38 foi estabelecido por Dean Rusk e Charles
Bonesteel III do Departamento de Estado dos Estados Unidos, em coordenação com Washington (DC),
em 10 de agosto de 1945, quatro dias antes da libertação da Coreia do Sul. Em 1948, esse paralelo
tornou‑se o limite fronteiriço entre os países recém‑criados da Coreia do Norte e Coreia do Sul.

Em junho de 1950, após uma série de ataques, o exército norte‑coreano atacou o sul, situação
na qual houve a intervenção das tropas da ONU, ajudando na defesa da Coreia do Sul. Em 1953, foi
assinado um armistício entre os países.

E o que aconteceu na área do Paralelo 38, em termos ambientais?

A natureza ocupou o seu lugar. Seis décadas decorreram e o ambiente que antes era um campo de
batalha envolvendo tropas soviéticas, estadunidenses e coreanas transformou‑se em área impenetrável
aos ataques ambientais antrópicos.

As dimensões desse território não são tão amplas como outros ecossistemas mundiais: ele apresenta
cerca de 4 quilômetros de largura e 238 de comprimento, unindo o Mar Amarelo ao Mar do Leste.

Desprovido de população fixa, o território favoreceu o avanço da natureza sobre o espaço que antes
era ocupado por crateras abertas pelas bombas, mas que atualmente é a residência de animais como
aves, conforme afirmou um biólogo coreano, Yin Ik Tae, ao jornal espanhol El Mundo : “Este é o melhor
lugar do mundo para observar grous (aves pernaltas)” (apud CÁCERES, 2009). Além dos citados grous,
existem garças, corvos‑marinhos‑de‑faces‑brancas e águias pesqueiras.

Existem, ainda segundo o cientista Yin Ik Tae (apud CÁCERES, 2009), 15 espécies de grous existentes
no Planeta, das quais cinco estão presentes no local. Entre elas, ele destaca os grous de coroa vermelha,
dos quais só restam 2.500 em todo o mundo. Além de aves, ainda habitam a antiga zona de conflito
animais e plantas raros, tais como o tigre da Sibéria, o leopardo oriental e o urso negro asiático. Com
relação à vegetação, destacam‑se o bordo da Noruega e a zelkova. O ecossistema em questão ainda se
preserva devido às regras rígidas para o ingresso na área.

Os arrozais e colinas da zona desmilitarizada atraem as aves no inverno e no verão. Quando a


temperatura aumenta, essas aves emigram para a Sibéria (Rússia asiática) em busca do frio. Há um lago
denominado Dongson que é o ponto de encontro das aves. Ele se estende para a direção sul, ou seja,
para a Coreia do Sul. O local tem atraído turistas. Embora ainda seja uma área desmilitarizada, ela ainda
é restrita aos militares e, para entrar nela, é necessária uma autorização do exército.

O contraste entre as Coreias é grande: a do Norte é rural e mais subdesenvolvida, já a do Sul é


repleta de fábricas, muitas delas poluentes e com uma população numerosa, consumista, capitalista e
neoliberal.

42
Introdução à problemática ambiental

Figura 26

A zona ambiental de fronteira passou a interessar a Coreia do Sul como possível área de exploração,
embora Ted Turner, fundador da CNN, tenha sugerido que a área do Paralelo 38 se transforme em
reserva e patrimônio da Unesco.

Já se tem informações de que agricultores trabalham os campos nessa área de forma sazonal, com
idas e vindas, sem fixação.

4 A preocupação com a problemática ambiental e os projetos


ambientais

O meio ambiente geral é um sistema e, como parte dele, os recursos naturais água, ar e solo, flora,
fauna, espaço, paisagens etc. constituem um subsistema, por seu inter‑relacionamento. Porém, não
só esse subsistema pode ser encarado como um sistema, como cada um de seus elementos (água, por
exemplo) pode ser também tomado como um subsistema ou mesmo como um sistema. O próprio meio
ambiente é parte de um sistema mais complexo e deve ser visto como uma estrutura global, complexa
e organizada; um todo composto de diversas partes entrosadas, relacionadas, que interagem. Esse todo
é estudado mais a fundo pela ciência denominada Ecologia.

43
Unidade I

De origem grega, oikos, ecologia significa casa. Pela definição é o segmento da Biologia que se
propõe estudar as relações dos seres vivos com o meio onde vivem.

O Ártico no fim dos anos 1990


Banquista permanente

Inlandsis

Áreas não geladas ou


pouco geladas
Banquista sazonal e
limite médio máximo
da banquisa
Mar permanentemente
livre de gelo
Isotermo 10ºC para a
média do mês menos frio

Os fatores econômicos
Nova rota marítima

Perfuração (prospecção)

Jazida de petróleo e/ou gás

Área pesquisada por


hidrocarbonetos potenciais
Fronteira não estabelecida (limite
das zonas econômicas nacionais)

Área reinvidicada pela Rússia

Figura 27

O termo ecologia foi definido em 1866 pelo zoologista alemão Ernst Haeckel, porém a preocupação
do homem em entender a relação dos seres vivos com seu meio é muito anterior a isso. Apesar de
ser incerta a data da origem desses estudos, já na Grécia, por volta de 350 a.C, Aristóteles dissertava
sobre o comportamento das aves e a influência da sazonalidade na reprodução, assim como sobre
a descrição de diversas espécies e suas características em cada uma das fases da vida. Pouco tempo
depois, Theophastus descrevia a origem das plantas com sementes fazendo experimentos e discutindo
a influência de fatores abióticos sobre as plantas.

Depois disso, diversos pesquisadores se preocuparam em estudar as relações entre ser vivo e ambiente,
porém a maior parte deles dedicava‑se ao estudo do crescimento das populações, especialmente a
humana. Entre estes podemos citar Nicolo Machiavelli (1525), Giovanni Botero (1588), John Graunt
(1592), Mathew Hale (1677), Lambert Quetelet (1835) entre outros.

44
Introdução à problemática ambiental

A partir de então, começam a aparecer teorias voltadas à interação do meio ambiente com os seres
vivos e as consequências dessa relação. Nesse panorama, um dos mais importantes cientistas foi Charles
Darwin com seus estudos sobre a seleção natural e a diversidade dos organismos vivos. Outros, contudo,
também deram enorme contribuição ao avanço da Ecologia, como Alexander Von Humboldt (1807),
pioneiro na determinação de relação entre altitude e latitude na distribuição dos organismos e Alphonse
de Candolle (1855), taxonomista vegetal que descreveu blocos de vegetação os quais denominou
formações, além de levantar a hipótese de um controle climático na distribuição dessas vegetações.

Figura 28 – Charles Darwin

Seguindo essa corrente, foi então que Haeckel propôs o termo Ecologia, baseado no pressuposto de
que não podemos observar um indivíduo isoladamente, pois ele está em constante interação com outros
e com o meio onde vive. A partir disso, inúmeros cientistas vêm estudando as interações entre os seres
vivos e o ambiente, fazendo relações entre diversas áreas do conhecimento como Estatística, Geografia,
Genética e outras, tornando a Ecologia uma ciência interativa.

Figura 29 – Ernst Haeckel

45
Unidade I

Conforme define Haeckel (apud ACOT, 1990, p. 27), “Por ecologia entendemos a totalidade da ciência
das relações do organismo com o meio ambiente compreendendo, no sentido lato, todas as condições
de existência”.

Atmosfera Litosfera Hidrosfera


Esporos em suspensão Seres vivos (animais e Seres vivos (animais e
Ar vegetais) vegetais)
ambientais
Ssitemas

Água Rochas Água


Energia radiante Ciclos minerais Ciclos minerais
Ciclos gasosos Depósitos minerais Depósitos minerais

humano interno
Metabolismo
Biofísico
Processos fisiológicos e metabólicos
Ciclos de vida dos organismos: industrial, das comunidades e populações

Psicossocial
Iterpessoal: relações expressas em padrão de comportamento individual e coletivo
Sistemas humanos

Instituições sociais: políticas, familiares, religiosas etc.

humano externo
Sistemas ideológicos e simbólicos: filosofia, ciências e arte

Metabolismo
Tecnológico
Material: equipamentos físicos e químicos
Técnicas: sistema organizado de processos (extração, produção, transporte, pesquisa etc.)
Instituições sociais: políticas, familiares, religiosas etc.
Sistemas ideológicos e simbólicos: filosofia, ciências e arte

Figura 30

Em se tratando de interação ecológica entre seres vivos e biomas, é impossível não pensarmos na
relação entre o homem e o meio ambiente. Os humanos constituem‑se em elementos importantes na
biosfera e as atividades desenvolvidas por eles criaram uma crise ambiental que alcançou proporções
globais.

Embora muito numerosa (mais de sete bilhões de indivíduos), a espécie humana, à qual pertencemos,
não é a maior população do planeta, visto que é superada em número por diversas outras. Apesar disso,
é a espécie que mais interfere e transforma as paisagens por onde se instala.

Sendo assim, devemos dar atenção às modificações que fazemos nos biomas mundiais, modificações
estas feitas por motivos diversos, como atividades agrícolas, pecuária, mineração, habitação entre outras.
Com isso, ao longo do tempo nos vimos, diversas vezes, repensando as atitudes desastrosas que tivemos
frente à natureza.

Como consequências dessa interação com os humanos os biomas perderam território, foram
modificados, queimados, ameaçados. Por outro lado, muitos humanos vêm refletindo sobre essa
interação e buscando maneiras por meio das quais possam interagir com o meio sem destruí‑lo. Mas
como tomar atitudes sustentáveis ou ecologicamente corretas?

46
Introdução à problemática ambiental

A partir da década de 1970, começaram a surgir encontros mundiais sobre meio ambiente. O marco
inicial foi dado pelas Nações Unidas com o Encontro de Estocolmo 72, seguido por diversos outros
encontros que culminaram com o surgimento de documentos de grande importância nas discussões
ambientais. Na década de 1980, podemos citar o Relatório de Brundtland (Noruega), que sugeria a
iniciativa do desenvolvimento sustentável e o Relatório de Montreal, que tinha o objetivo de reduzir o
buraco na camada de ozônio. Já na década de 1990, tivemos a conferência Rio 92, com a publicação da
Agenda 21 e a Convenção da Biodiversidade; o Protocolo de Quioto, com uma discussão sobre a emissão
dos gases do efeito estufa para os países desenvolvidos e, por fim, já no novo milênio, a Plataforma de
Durban e a Rio +20, apresentando preocupações tanto com a biodiversidade quanto com os efeitos
climáticos no globo.

Alguns dos eventos que promoveram discussões e trabalhos sobre o assunto foram:

• 1972: Primeira Conferência sobre Meio Ambiente Humano das Nações Unidas – Estocolmo (Suécia);
nesse momento realiza‑se uma primeira análise sobre as consequências de nossas atitudes para o
meio ambiente. Com uma análise de nossos atos, podemos garantir para a posteridade condições
melhores de vida e recursos para as necessidades do homem.

• 1975: Conferência de Belgardo publica a Carta de Belgrado (UNESCO, s.d.), na qual são definidos
seis objetivos da educação ambiental, elencados a seguir:

— Conscientização: contribuir para que os indivíduos e grupos construam uma consciência do


meio ambiente global e dos problemas socioambientais e se tornem sensíveis a eles.

— Conhecimento: levar os indivíduos e os grupos a adquirirem uma compreensão essencial do


meio ambiente global, dos problemas a eles interligados e do papel e responsabilidade crítica
dos seres humanos.

— Comportamento: levar os indivíduos e os grupos a adquirirem o sentido dos valores sociais,


um sentimento profundo de interesse pelo meio ambiente e a vontade de contribuir com sua
proteção e qualidade.

— Competência: levar os indivíduos e os grupos a adquirirem os conhecimentos técnicos


necessários para que soluções para os problemas ambientais sejam alcançadas.

— Capacidade de avaliação: levar os indivíduos e os grupos a avaliar medidas e programas


relacionados ao meio ambiente em função de fatores ecológicos, políticos, econômicos, sociais,
estéticos e educativos. A educação ambiental deve buscar traduzir o jargão técnico‑científico
para a compreensão de todos.

— Participação: levar os indivíduos e grupos a perceberem suas responsabilidades e necessidades


de ação imediata para a solução de problemas ambientais.

47
Unidade I

• 1983: Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento;

• 1985: Convenção de Viena para a proteção da camada de ozônio;

• 1986: Relatório Brundtland de Desenvolvimento Sustentável (Nosso Futuro Comum),


desenvolvimento atual que permite utilizar os recursos naturais sem ferir os direitos das futuras
gerações;

• 1987: Protocolo de Montreal, que objetiva erradicar as substâncias nocivas à camada de ozônio,
como CFCs. A meta desse protocolo foi cumprida, pois, entre 1987 e 2008, houve a diminuição de
99,7% desses gases.

• 1992: II Conferência sobre o Meio Ambiente das Nações Unidas (ECO‑92), no Rio de Janeiro.
Participação de 170 países, comissões da ONU e organizações não governamentais (ONGs).

• 1994: Convenção da Desertificação, que entrou em vigor em 1996.

• 1997: Protocolo de Quioto; no qual os países desenvolvidos se comprometeram a reduzir sua


emissão de gases do efeito estufa em pelo menos 5% em relação aos níveis de 1990, meta que
deveria ser cumprida entre 2008 e 2012.

• 2002: em Johanesburgo (África do Sul), ocorre a Cúpula Mundial sobre o Desenvolvimento


Sustentável, a Rio + 10.

• 2011: 17ª Conferência das Partes (COP 17) em Durban, África do Sul. Fica decidida a extensão do
Protocolo de Quioto e cria‑se a Plataforma de Durban, que fixou uma agenda para a criação em
2015 de um novo instrumento que obrigue a redução da emissão de carbono a partir de 2020.

Os principais objetivos dessas iniciativas são:

• promover o desenvolvimento sem destruir a natureza;

• criar um fundo de auxílio aos países em desenvolvimento para a proteção do meio ambiente;

• buscar uma solução para a relação entre o consumo excessivo dos países desenvolvidos e a
destruição do meio ambiente nos países periféricos pressionados pelas dívidas externas.

Recentemente a ONU decretou a década da biodiversidade, demonstrando grande preocupação com


as espécies naturais do globo frente ao quadro atual de degradação ambiental, assim como garantir
a qualidade de vida da população humana futura que, segundo o secretário geral da entidade, Ban
Ki‑moon, depende da biodiversidade.

48
Introdução à problemática ambiental

Observação

“Chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos


atos em todo o mundo com particular atenção às consequências que podem
ter para o meio ambiente. Por ignorância ou indiferença, podemos causar
danos imensos e irreparáveis ao meio ambiente da terra do qual dependem
nossa vida e nosso bem‑estar. Ao contrário, com um conhecimento mais
profundo e uma ação mais prudente, podemos conseguir para nós mesmos
e para nossa posteridade, condições melhores de vida, em um meio
ambiente mais de acordo com as necessidades e aspirações do homem […]
A defesa e o melhoramento do meio ambiente humano para as gerações
presentes e futuras se converteu na meta imperiosa da humanidade [...]”
(ONU, 1972, p. 2).

A preocupação existente com o meio ambiente realmente se justifica, uma vez que não seria possível
a vida do ser humano sem essa interação. Só que, para que ela continue a existir, é necessário que sejam
tomadas providências para a manutenção de um equilíbrio entre as partes envolvidas a fim de que
essa relação perdure e garanta a existência tanto da espécie exploradora, o homem, como a do bioma
explorado.

Neste contexto, pensando no Brasil, essa preocupação está clara inclusive na Constituição Federal
(BRASIL, 1988), Artigo 225, que se inicia da seguinte maneira:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,


bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo‑se
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê‑lo e preservá‑lo para
as presentes e futuras gerações.

Para que sejam atingidos os objetivos enunciados no artigo citado dois caminhos principais podem
ser tomados: a preservação ou a conservação. Preservar, segundo a própria definição da palavra,
consiste em proteger de danos, resguardar; então a preservação tem por objetivo manter áreas naturais
livres da ação predatória humana, determinando espaços somente para fins de pesquisa e proteção
do patrimônio natural. Por outro lado, a conservação estabelece a possibilidade da atividade humana
desde que se mantenha parte da área ou, ao menos, suas características, permitindo sua exploração pelo
homem.

Sabemos que não é mais possível viver como as civilizações antigas por diversos motivos, entre eles
o alto grau de tecnologia aplicada ao nosso cotidiano. Contudo, buscar soluções que visem à harmonia
entre seres humanos e meio ambiente dentro das possibilidades atuais, garantindo o bem‑estar das
gerações futuras, é uma necessidade urgente da população humana.

49
Unidade I

Figura 31 - Como fica o Código Florestal após a sanção da presidente

Saiba mais

Sobre o tema, procure os livros:

CARSON, R. Primavera silenciosa. São Paulo: Gaia, 2010.

VIGEVANI, T. Terceiro mundo: conceito e história. São Paulo: Ática, 1990.

Assista também aos filmes:

BOA noite, boa sorte. Dir. George Clooney. EUA: Warner Independent
Pictures (WIP)/2929 Productions/Participant Media/Davis‑Films/Redbus
Pictures/Tohokushinsha Film/Section Eight/Metropolitan (MTA), 2005. 93
minutos.

RAPSÓDIA em agosto. Dir. Akira Kurosawa. Japão; EUA: Feature Film


Enterprise II/Kurosawa Production Co./Shôchiku Eiga, 1991. 98 minutos.

Resumo

Abordamos a problemática ambiental dentro do contexto histórico e


da evolução dos grupos humanos. Observamos que a transição do estilo
50
Introdução à problemática ambiental

de vida e a organização do espaço dos hominídios em sua transição do


nomadismo ao sedentarismo implicaram alteração de hábitos alimentares
e atividades desenvolvidas pelos grupos e, em decorrência desse fato,
mudaram também a apropriação e o manuseio dos recursos da natureza,
bem como a forma de deposição dos resíduos.

Nossa preocupação foi comparar o modelo primitivo da ocupação do


espaço com momentos subsequentes, já no período Paleolítico, quando
mudaram os hábitos: surgiu o uso do fogo, foram abandonadas as sementes
e gerados frutos.

Com o aumento do consumo, surgiu a necessidade de cultivar os


alimentos, daí o sedentarismo e até mesmo mudanças na constituição
orgânica humana, como a arcada dentária, devido ao consumo de alimentos
assados e cozidos.

Durante o Neolítico, a agricultura passou a ser uma prática comum


entre os grupos humanos, ao contrário da fase de coleta anteriormente
praticada.

O ser humano passou, assim, a ter que controlar a natureza, como as


cheias dos rios, o controle através de diques, além de canais de irrigação.
Ao mesmo tempo, passou a utilizar a lenha e a madeira e a criar animais, o
que levou ao desmatamento.

Os problemas ambientais vão surgindo com as ações antrópicas. Ao


longo da história, a relação do homem com a natureza foi sendo alterada de
acordo com as mudanças nas próprias relações humanas e em decorrência
do processo produtivo. Isso ocorre na Grécia Antiga e na Roma Antiga,
onde já se denunciavam comprometimento ambiental e preocupação
com o recolhimento de resíduos. O filósofo Aristóteles recomendou aos
magistrados que se preocupassem em cuidar das florestas a fim de regular
o uso da madeira.

Na Idade Média, as invasões marcaram o período e no campo


trabalhavam‑se os cultivos, com uma economia agrária e com pretensões
de autossuficiência.

A religiosidade era forte e a interpretação da vida baseava‑se em preceitos


bíblicos. Na Europa, o homem sentiu‑se apoiado pela religião, superior e
propício a dominar, explorar e usufruir dos recursos que a natureza lhe
oferecia. O interessante é que nessa época predominava a visão teocêntrica,
mas a natureza era apropriada segundo padrões antropocêntricos.

51
Unidade I

Os padrões de produção, de consumo e de organização do espaço são,


assim, mudados a partir do momento histórico que coincide com as grandes
navegações. A ampliação dos horizontes geográficos e o reconhecimento de
novas terras e novos grupos humanos faz com que novos “produtos” sejam
identificados pelos grandes impérios coloniais e que ocorra a intensificação da
exploração dos povos e riquezas, com as já decorrentes alterações ambientais.

O acúmulo de riquezas patrocina a Revolução Industrial nas suas


distintas fases, intensificam‑se a urbanização, o consumo, a participação
humana no processo produtivo e, em decorrência disso, a problemática
ambiental e seus impactos nas respectivas sociedades humanas e nos
problemas biológicos que a elas também se tornaram inerentes.

Fica claro, portanto, dentro desse contexto histórico, que as mudanças


ambientais globais podem ser entendidas como uma construção histórica
relacionada e influenciada por ações políticas, econômicas e sociais
que envolviam processos produtivos e organização do espaço, além de
comprometer os indivíduos em sua vulnerabilidade ambiental e social.

Com o aumento da produção industrial e o intenso processo de


urbanização mundial, houve o crescimento do consumo e das supostas
necessidades de forma heterogênea, em termos continentais entre países
ou regiões.

Em decorrência disso, surgiu o problema da poluição e de outras


formas de degradação ambiental, o que influenciou a qualidade de vida
das aglomerações humanas. A degradação do meio ambiente pelos grupos
humanos, por sua vez, provocou uma deterioração dessa qualidade de vida.
O uso abusivo e indiscriminado dos recursos naturais, o desmatamento
em larga escala, a crescente contaminação dos alimentos, a poluição
atmosférica e dos mananciais hídricos, com a mesma velocidade, degradou
os solos e, dessa forma, ameaça‑se a vida no planeta e compromete‑se a
biodiversidade.

As guerras mundiais acabaram gerando outra sorte de problemas, dessa


vez relacionados ao uso de armamentos, de produtos químicos, de armas
nucleares, de minas terrestres, de testes nucleares, enfim, problemas que
comprometeram a natureza e os grupos humanos, a terra e o mar.

Em decorrência da ordem mundial bipolar após a Segunda Guerra,


observaram‑se outros “confrontos”, nem sempre diretos entre as
superpotências Estados Unidos e União Soviética. Mas como ficou a questão
ambiental com relação a isso? Em uma palavra: comprometida, tanto no
que se refere à natureza em si, quanto à natureza humana.
52
Introdução à problemática ambiental

A espécie humana difere das outras por ser um mecanismo de relojoaria


extremamente complexo. O ser humano está exposto ao perigo, corre
riscos, que são originados de suas próprias ações em relação à natureza.
Como é um ser cultural, ele avançou no cientificismo, na tecnologia, mas
não pensou na autodestruição e nos problemas de caráter biológico e
psicológico que trazia a si mesmo.

A concepção marxista da História, baseada na ideia de progresso


material, está fundamentada em uma luta de classes, como afirmou Hegel,
”toda história da humanidade, desde a dissolução da primitiva sociedade
tribal, que mantinha a terra em propriedade comum, tem sido uma
história de luta de classes, contendas entre explorador e explorado, classes
governantes e oprimidas” (Hegel apud HERRERA, 1982, p. 69).

Para exemplificar tais situações, citamos a questão da qualidade de vida


e a subjetividade, a questão das fronteiras extremas e ao mesmo tempo
instáveis e comprometedoras para os grupos humanos envolvidos.

Exercícios

Questão 1. (Enade 2007 – Adaptada)

Figura 32

Fonte: Isto é.

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Unidade I

O alerta que a gravura acima pretende transmitir refere‑se a uma situação que:

A) Atinge circunstancialmente os habitantes da área rural do País.

B) Atinge, por sua gravidade, principalmente as crianças da área rural.

C) Preocupa no presente, com graves consequências para o futuro.

D) Preocupa no presente, sem possibilidade de ter consequências no futuro.

E) Preocupa, por sua gravidade, especialmente os que têm filhos.

Resposta correta: alternativa C.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o cenário em que ocorre a história do Chapeuzinho Vermelho é rural. Isso não quer
dizer, porém, que a mensagem da gravura pretenda atingir preferencial ou circunstancialmente os
moradores de regiões rurais.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: a gravura faz referência a uma história infantil. Isso não quer dizer, porém, que a
mensagem da gravura pretenda atingir preferencial ou circunstancialmente as crianças, tampouco
aquelas que moram em regiões rurais.

C) Alternativa correta.

Justificativa: a gravura, ao mostrar as árvores cortadas, passa a mensagem de devastação. Da floresta


que existia na história infantil, restam apenas tocos de troncos. Isso já ocorre no presente e é uma
situação que pode perdurar no futuro, o que causa preocupação.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: a gravura mostra uma imagem referente ao tempo presente e que pode acarretar
consequências graves para o futuro, em função da devastação da floresta.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: A mensagem da gravura é destinada a todos, e não apenas aos que têm filhos, embora
ela mantenha uma relação de intertextualidade com uma história infantil.

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Introdução à problemática ambiental

Questão 2. (Enade, 2008 – Adaptada)

Quando o homem não trata bem a natureza, a natureza não trata bem o homem. Essa afirmativa
reitera a necessária interação das diferentes espécies, representadas na imagem a seguir.

Figura 33

Depreende‑se dessa imagem a:

A) Atuação do homem na clonagem de animais pré‑históricos.

B) Exclusão do homem na ameaça efetiva à sobrevivência do planeta.

C) Ingerência do homem na reprodução de espécies em cativeiro.

D) Mutação das espécies pela ação predatória do homem.

E) Responsabilidade do homem na manutenção da biodiversidade.

Resolução desta questão na plataforma.

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