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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS


3° OFÍCIO DO NÚCLEO DA TUTELA COLETIVA

EXMO (A). SENHOR(A) JUIZ( ÍZA) FEDERAL DA ___ª VARA DA SEÇÃO


JUDICIÁRIA DO ESTADO DE G OIÁS

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Inquérit o civi l nº 1. 18.000.000954/2017- 89

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O MI NISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL , pelo Pr ocurador da República
que est a subscreve, no uso de suas atribuições constitucionais e legais, com
f ulcro nas inf orm ações reunidas no inquérito civil em epígrafe, vem, à presença
de V. Exa., propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

CO M PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DE EVIDÊNCIA

em f ace de:

UNIÃO FEDERAL, pessoa jurídica de direito público interno, que


deve ser citada na pessoa do seu representante judicial, o Procurador-Chef e
da União em Goiás, com endereço na Rua 10, esquina com Rua 9, Qd. F-7,
Lts. 62/ 82, Setor Oest e, G oiânia- GO, CEP 74.120- 020.

1 – INTROITO

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A v. O l i n d a , Q u a d r a G , L o t e 2 , S e t o r P a r k L o z a n d e s , C E P 7 4 8 8 4 - 1 2 0 , G o i â n i a - G O
F o n e : ( 6 2 ) 3 2 4 3 - 5 3 0 0 – h o m e p a g e : h t t p : / / w w w. p r g o . m p f . m p . b r
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Esta ação civil pública tem supor te nos elementos acostados ao


inquérito civil (I C) nº 1.18.000.000954/ 2017- 89, instaurado nesta
Procuradoria da República, a f im de apurar ações ou omissões il ícitas da
Uni ão, por intermédio do Ministério da Justiça, relativament e ao
cumprim ento dos requisitos impost os aos cidadãos, para com ércio e registro

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de armas.

Vale f risar que o IC foi inst ruído com diversos document os


encaminhados por órgãos públicos, entidades e cidadãos, bem assim com os
elementos colhidos durant e audiência pública realizada neste ór gão
ministerial no dia 21/11/2017, a qual tratou do tema SEGURANÇA PÚBLICA
E ESTAT UTO DO DESARMAMENTO, contribuem sobejam ente para o
esclarecimento da matéria.

Com efeito, esta demanda tem por objetivo lograr proviment o

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judicial que assegure o cum primento da decisão do povo brasil eiro – que
rejeitou majoritariam ente a proibição do comércio regular de armas no
Brasil .

2 – CO MPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL

Os f at os que dão ensejo à presente ação encontram -se, sem


sombra de dúvidas, no âmbito de competência da Justiça Federal .

A competência da Justiça Federal, na hipótese de ações cíveis,


é estabelecida rat ione personae , isto é, na condição de autor a, ré,
assistent e ou oponente, devem estar a União, entidade autár quica ou
em presa pública f ederal submetidas à jurisdição f ederal, ao teor do artigo
109, I, da Constituição da República.

Como se não fosse o suf iciente, embora o Ministério Público


Federal seja instituição autônoma, por quanto não é dotado de personalidade
jurídica pr ópria, tem -se reconhecido que se sit ua na estr utura f ederativa
como ór gão da União. Destar te, a sua presença na ação, seja como autor,
seja como assistente ou oponente, é bastant e par a f ixar a competência da
Justiça Federal.
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Nessa dir eção, a 4ª Turm a do ST J deu provimento ao Recurso


Especial nº 1.283.737/ DF, assentando que o f at o de o MPF f igurar como
aut or de ação civil pública é suficiente para atrair a competência da Justiça
Federal para o processo 1 .

Em sum a, basta a presença do Ministério Público Federal no

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pol o ativo par a afi rmar a compet ência da Justiça Federal .

3 – LEG ITI MI DADE ATIVA

Insta salientar que a compet ência jurisdicional não se conf unde


com a legiti midade ad causam , essa, condição da ação. Em regra, a
competência antecede logicam ente à legitim idade ad causam , a qual se
passa a tratar.

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O Ministério Público é institui ção per manente , essencial à
função jurisdicional do Est ado , a quem incumbe a def esa da ordem
jurídica, do regi me democr ático e dos int eresses sociais e individuais
indisponíveis , conf orm e prevê expr essamente a Constituição da República,
artigo 127, promovendo as m edidas necessárias à sua garantia.

Desse m odo, cabe ao Ministério Público atuar em resguardo dos


princípios constit ucionais da Administração Pública, previst os no artigo 37,
caput , da Constituição Feder al: publicidade , impessoali dade , legali dade ,
efi ciência e moralidade. Com pete- lhe, também , a def esa dos direit os
f undam entais à vida , à liberdade , à propriedade , à segur ança , bens
jurídicos que competem à sua missão constitucional.
1
RECURSO ESPECIAL. A ÇÃO CIVIL PÚBLICA AJUIZADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL.
COMPET ÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. DISSÍDIO NOTÓRIO. 1. Os arts. 8º, inciso III e artigo 26, §
3 º d a L e i n . 6 . 3 8 5 / 1 9 7 6 , a r t s . 1 0 , I X e 11 , V I I , d a L e i n . 4 . 5 9 5 / 1 9 6 4 ; e a r t i g o 8 1 , p a r á g r a f o ú n i c o ,
inciso I, da Lei 8.078/1990, tidos por violados, não possuem aptidão suficiente para infirmar o
fundam ento central do acórdão recorrido - a com petência para apreciação da ação civil pública
ajuizada pelo Ministério Público Federal - , o que atrai a incidência analógica da Súmula 284 do
S T F, d o s e g u i n t e t e o r : É i n a d m i s s í v e l o r e c u r s o e x t r a o r d i n á r i o , q u a n d o a d e f i c i ê n c i a n a s u a
fundam entação não perm itir a exata com preensão da controvérsi a. 2. A ação civil públi ca, como as
dem ai s, subm ete-se, quanto à com petênci a, à regra estabel ecida no arti go 109, I, da Constituição,
segundo a qual cabe aos juízes federais processar e jul gar "as causas em que a União, enti dade
autárquica ou empr esa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assi stentes
ou oponentes, exceto as de falênci a, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justi ça Elei toral e
à J u s t i ç a d o Tr a b a l h o " . A s s i m , f i g u r a n d o c o m o a u t o r d a a ç ã o o M i n i s t é r i o P ú b l i c o F e d e r a l , q u e é
órgão da União, a competência para a causa é da Justiça Federal. 3. Recurso especial
par cial m ente conhecido e nesta parte provido para determ inar o prossegui mento do jul gamento da
p r e s e n t e a ç ã o c i v i l p ú b l i c a n a J u s t i ç a F e d e r a l . ( S T J . Q u a r t a T u r m a . R E s p . n º 1 . 2 8 3 . 7 3 7 / D F. R e l .
Luís Felipe Salomão. J. 22.10.2013).
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Per ante a violação a tais preceitos, a atuação do Ministério


Público Feder al configura-se legítima, com o ampar o das leis e do texto
constitucional, em sua tarefa de zelar pelo efetivo respeito dos poder es
públicos e dos serviços de relevância pública aos direi tos assegurados
nesta Constit uição , promovendo as medidas necessárias a sua garantia,
nas quais se inclui a promoção dest a ação civil pública, ao teor da Car ta

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Magna, artigo 129, II e III.

4 – LEGITI MIDADE PASSIVA

A União , por inter médio da Presidência da República, do


Minist ério da Justiça, especialm ente do Departament o da Polícia Federal,
expediu as regulamentações à Lei federal n° 10.826/ 2003 , concer nente à
posse, registro, porte e comercialização de ar mas – Decreto n° 5.123/ 2004 e

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Instrução Normativa n° 23/ 2005/ DG/DPF –, a pret exto de assegur ar a fiel
execução da lei.

Nesta demanda, contudo, est e ór gão ministerial pleiteia o


reconheciment o da ilicitude parcial das regulamentações supracit adas,
por quanto é vedado a União não per mitir que a Administr ação Pública e os
seus agent es ultrapassem as lindes de seus círculos de atuação, em atenção
ao princípio da legalidade; do que se inf er e a legiti midade passiva da ré.

5 – FUNDAMENTOS DE FATO E DE DIREITO

5.1 – DOS DI REITOS FUNDAMENTAIS

5.1.2 – Dir eitos à vida, à liber dade , à propr iedade, à


segurança

A Constit uição Federal, no caput do artigo 5°, enumer a entre os


dir eitos fundamentais a inviolabilidade dos dir eitos à vida , à liberdade, à
igualdade, à propriedade e à s egurança .

Direit os fundam entai s compreendem -se em dupla acepção :


enquant o normas de competênci a negat iva , proibindo ingerência do
Est ado na esf era individual ; e de liberdade positiva , quant o ao poder do
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indivíduo de exercer os direi tos fundamentais em face do Est ado e de


seus agentes : Os primeiros direitos fundamentais têm o seu surgiment o
ligado à necessidade de se impor li mites e control es aos atos praticados
pel o Estado e suas autoridades constituídas. Nascer am, pois, como uma
proteção à li berdade do indi viduo frente à inger ência abusiva do
Est ado. Por esse mot ivo – por exigirem uma abstenção, um não fazer do

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Est ado em respeito à liberdade individual – são denominados direit os
negativos, liber dades negativas, ou direitos de defesa 2 . [ grif ei]

O direi to à vida inerente a cada ser humano. Acaso não


assegur ado, todos os dem ais direit os se perdem, conf or me dita Moraes: “ [...]
é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-
requisito à existência e exercício de todos os demais 3 ”.

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Acerca do dir eito à liberdade , a Declaração Universal dos
Direitos Humanos dispõe que todos os homens nascem livres e iguais em
dignidade e dir eitos. E ventuais restrições devem ser compr eendi das nos
est ritos lim ites da necessi dade , adequação e proporcionalidade. Ainda,
[.. .] a tutela à liberdade vai mais além, assegurando a preser vação de um
núcleo mí nimo inafastável de escolhas quanto ao destino individual e
coletivo. O Estado não pode eliminar a margem de autonomia individual
necessária à realização do potencial individual 4 .

O dir eito de pr opriedade é o poder de usar, dispor e reivindicar


a coisa; e deve conf erir ao pr opriet á rio mecanismos de salvaguarda,
inclusive quanto à def esa da propriedade fr ente ao eminente pereciment o em
razão da ação ilegítim a de terceiros: Tal orientação concebe a propriedade,
a exemplo da liberdade, como di reito do homem – pois inerente à
condição humana – precedente, por tanto, ao Estado. Comporia o conjunto
de direitos que se encont ram na base da ordem política, que constituem seu
fundamento, seus direitos fundamentais. [... ] integra a propriedade o resí duo

2
PA U L O , V i c e n t e , A L E X A N D R I N O , M a r c e l o . D i r e i t o C o n s t i t u c i o n a l D e s c o m p l i c a d o . 1 4 e d . S ã o
Paulo: Método, 2014. Pág. 98.
3
MOR AIS, Al exandre. Direi to Consti tuci onal . 13ª Ed. São Paulo: Edi tora Atlas S.A., 2003, Pág. 63.
4
J U S T E N , M a r ç a l . C u r s o d e d i r e i t o a d m i n i s t r a t i v o . 6 e d . r e v. e a t u a l . B e l o H o r i z o n t e : F ó r u m , 2 0 1 0 .
Pág.168.
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de liber dade natural que restou ao homem em face da liberdade sacrificada


par a a constr ução do Estado (RUFFIA, 1984, p. 517). Consiste em direi to
ant erior às instit uições pol íticas , que, reconhecido form almente ,
cumpre- lhes o dever de assegurar e pr oteger. Ou seja, confor me assinala
Locke (1963, p. 77), o grande e principal objetivo, portanto, da união dos
homens em comunidades, colocando-se sob governo, é a preservação da

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propriedade 5 . [grifei]

A segur ança também consubstancia dir eito fundament al , que


pugna por sistemática mobilização de recursos pelo Estado, a sociedade e
os cidadãos, a fim de, mediante ações positivas e negativas, of erecer
proteção à inviolabilidade dos demais dir eitos insculpidos na Carta
Magna.

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A segurança, ademais, deve ser apreciada sob duas
per spectivas: de um lado, a autot utela dos cidadãos (liberdade negativa )
em face de am eaças ou lesões aos seus dir eitos fundam entai s ; de out ro
lado, a tutela estatal (liberdade positiva ), mediante a preservação da
ordem pública voltada, sobr etudo, à incolumidade dos dir eitos
fundamentais . Nesse caso, tr ata- se de segurança pública , nos moldes do
artigo 144 da Constituição Federal. Assim, nos ensinam entos de Leal: A
gar antia de tais direitos, ademais, busca impor, segundo os pressupost os
do constitucionalismo liberal, um dever de abstenção , pois deter mina uma
esf era de aut onom ia privada imune à inter ferência estatal ou de
ter ceiros. Segundo a clássica lição de Rivero (2006, p. 9), são direitos que
repercut em nos outros negativamente. No entanto, a proteção das
liberdades perante terceiros (particulares) supõe necessariam ente a
int ervenção do est ado , que a impõe por sua legislação e a sanciona por
suas jurisdições (RIVERO, 2006, p. 10). Ou seja, são direitos de li bertação
do poder e, simul taneament e, di reitos à proteção do poder contra os

5
LEAL, Roger Stiefelmann. A propriedade como direito fundamental. Acesso em:
https://w ww2.senado.leg.br /bdsf/bi tstr eam /handl e/id/496577/000952682.pdf?
sequence=https://ww w2.senado.l eg.br /bdsf/bi tstream /handl e/i d/496577/000952682.pdf?sequence=1 ,
6/12/2017, às 15:30h.
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out ros poderes [ …] 6 . [grifei]

Os dir eitos à vida , à liberdade , à propriedade e à segurança


são, por tanto, expr essamente assegurados na Constituição a todos os
brasileiros, car acterizados, ademais, como inalienáveis , universais ,
im prescritíveis .

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5.2 – CONTEXTO HISTÓRICO

A par dos dir eitos fundam entai s , vem ao debate controle de


ar mas no Brasil. Trata- se de políticas sujeitas a f luxos e refluxos. Desde ao
descobrimento do país em 1500 – enquant o colônia de Port ugal (condição
que seria mantida até o ano de 1822) –, há menções a pol íticas de contr ole
est atal sobre a fabri cação , comér cio , uso de arm as no país , com o que

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se almejava dif icultar a formação de mi lícias col oniai s que pudessem
am eaçar o poder de cor oa portuguesa 7 . A título de exemplo, naquela época,
qualquer pessoa que fabricasse uma arma de fogo poderia receber três tipos
de punições: ser pr eso, ser obrigado a pagar cer ta quantia em dinheir o ou
ser condenado à pena de mor te.

Já no século XX, após a tomada do poder do Estado pelo ditador


Getúlio Vargas, envidam-se esforços com o desígnio de impedir o
crescim ento bélico do coronelismo ; para tant o, realizaram-se campanhas
ofi ciais de desar mamento pelo governo ditatorial varguista do "Estado
Novo". Nessa ordem, visando impedir que os Est ados f ederados
est abelecessem-se fr ente às tropas f ederais, editou- se o Decret o
24. 602/1934, que proibia instalação de f ábricas civis destinadas à produção
de armas/munições e criava restrições de calibr es e de ar mam entos, tanto
par a os cidadãos civis com o par a as polícias.

Observa-se que as restr ições às armas são alteradas conf orm e

6
LEAL, Roger Stiefelmann. A propriedade como direito fundamental. Acesso em:
https://w ww2.senado.leg.br /bdsf/bi tstr eam /handl e/id/496577/000952682.pdf?
sequence=https://ww w2.senado.l eg.br /bdsf/bi tstream /handl e/i d/496577/000952682.pdf?sequence=1 ,
6/12/2017, às 15:20h.
7
Ordenações Filipi nas, Liv ro 5 Tit . 80: Das arm as que s ão def es as e quando se dev em perder; e
o f í c i o n ° 2 8 8 / 2 0 1 7 - C A LT I / D M B , d a t a d o d e 1 7 / 11 / 2 0 1 7 – f l s . 2 11 / 2 1 4 d o I C a n e x o .

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a necessidade ou conveniência política de se inibirem potenciais ameaças


ao poder do governo cent ral . Com efeito, a defesa da incolumidade dos
dir eitos fundam entai s dos brasileiros é relegada a segundo plano, quando
não com pletamente olvidada, pelos detentores do poder do Estado.

No mesmo sentido, posteriormente, como bem relata a Polícia

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Militar do Estado de Goiás “ As ações de cont role social continuaram mesmo
após a ditadur a de Getúlio Vargas, com o ingresso da esquerda ao poder
depois do perí odo militar, trazendo consigo um notório ânimo para continuar
com as políticas de rest rição às ar mas, a partir do primeiro governo de
Fer nando Henrique Cardoso 8 ”.

Verif ica- se que, a partir de meados dos anos 80, há ascensão


contínua dos índices de aquisição de armas de fogo :

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Na década de 1980, a Portaria Ministerial nº 1.261, do então


Minist ério do Exér cito, regulamenta a compra e venda de ar mas e munições;
ent retanto, o cadastro de vendas é precário. Ainda não existe o uso de
sist emas eletr ônicos interligados par a realização desse tipo de controle.

Ao depois , promulga- se a Lei feder al n° 9.437, de 20 de


f evereiro de 1997, a qual, a par de out ras providências, institui o Sistema

8
O f í c i o n ° 2 8 8 / 2 0 1 7 - C A LT I / D M B , d a t a d o d e 1 7 / 11 / 2 0 1 7 – f l s . 2 11 / 2 1 4 d o I C a n e x o .
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Nacional de Ar mas – SINARM, tipifi cando o crime o por te ilegal de arm as


no Brasil e restringindo – com mais severidade – o acesso às arm as .
Malgr ado isso, pesquisas já apontam o gr avíssimo aumento da violência ,
inclusive o número de homicídios por armas de fogo : […] a promulgação
da Lei nº 9.437/1997 não surtiu o efeito desejado, qual seja, reduzir o
número de homicídios causados pelo uso de ar mas de fogo; pelo contrário,

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as estat ísticas apenas aumentaram 9 . [grifei]

Eis um gráf ico de homicídios por armas de f ogo no Brasil,


conf or me publicação do Mapa da Violência de 2015, com evolução do índice
após a lei supr acitada de 1997:

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Nesse cenário, várias mobilizações governament ais, sociais e
midiáticas ref orçam a linha polít ico- ideológica desarm amentista , “com a
mesma lógica inversa: desar mar os cidadãos de bem par a evitar que sejam
cometidos crimes com ar mas de fogo 1 0 ”, culminando em novo pr ojeto de lei,
que resulta na promulgação da Lei f ederal n° 10.826/ 2003 – Est atuto do
Desarmament o.

Propunha- se, nessa lei, a proibição da comer cialização de armas


de fogo par a civis em geral, submetendo a vigência do dispositivo a
ref erendo popular, o qual, entrementes, realizado em outubr o de 2005,
rechaçou categoricamente a proibição com 63,94% dos votos . Traz-se à

9
N U N E S , S i l a s B a r b o s a . A r m a s d e f o g o : A i n e f i c á c i a d a l e g i s l a ç ã o r e s t r i t i v a . h t t p : / / w w w. a m b i t o -
juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=425 – Acesso em
2 4 / 11 / 2 0 1 7 – 1 2 : 3 0 h .
10
O f í c i o P M / G O n ° 2 8 8 / 2 0 1 7 - C A LT I / D M B , d a t a d o d e 1 7 / 11 / 2 0 1 7 – f l s . 2 11 / 2 1 4 d o I C a n e x o .
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colação o artigo respectivo:

Art. 35. É proibida a comercialização de arma de fogo e munição em todo o


território nacional, salvo para as entidades previstas no art. 6 o desta Lei.

§ 1 ° E s t e d i s p o s i t i v o , p a r a e n t r a r e m v i g o r, d e p e n d e r á d e a p r o v a ç ã o
m e d i a n t e r e f e r e n d o p o p u l a r, a s e r r e a l i z a d o e m o u t u b r o d e 2 0 0 5 .

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§ 2 ° E m c a s o d e a p r o v a ç ã o d o r ef e r e n d o p o p u l a r, o d i s p o s t o n e s t e a r t i g o
e n t r a r á e m v i g o r n a d a t a d e p u b l i c a ç ã o d e s e u r e s u l t a d o p e l o Tri b u n a l
Superior Eleitoral. grifei

É incontestável, por conseguint e, que o “não” pronunciado


soberanament e pel o povo brasileir o no aludi do referendo repeliu de
f or ma cabal a tentativa dos movimentos polí tico- ideol ógicos
desarmament istas de proibir o com ércio lícito de arm as entre os brasileiros.

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Concer nentement e aos dem ais aspectos da legislação, alude- se
que a revogada Lei f ederal n° 9. 437/1997 outor gava competência para
registro e porte de ar mas às polícias civis dos Estados e do Dist rito Federal;
todavia, o superveniente Estatut o do Desar mam ento restringe- a ao Comando
do Exércit o e à Polícia Feder al, bem como estabelece requisitos mais
rigorosos par a as outor gas e renovações , inclusive quanto ao custo.

5.3 – NORMATIVI DADE APÓS O REFERENDO DE 2005

A Lei feder al n° 10.826/2003 – Estat uto do Desarmament o – foi


regulam entada pelo Decr eto n° 5. 123, de 1º de julho de 2004, e pela
Instrução Nor mativa n° 23/2005, expedida pelo Depar tamento da Polícia
Federal.

5.3.1 – Aquisição e registr o de armas

Especialment e sobre a aquisição e regist ro de arm as , o


Est atuto do Desar mamento dispõe:

Art. 3o É obrigatório o registro de arma de fogo no órgão competente.

Parágrafo único. As armas de fogo de uso restrito serão registradas no


C o m a n d o d o E x é r c i t o , n a f o rm a d o r e g u l a m e n t o d e s t a L e i .

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Tipo de ato: ini ci al de ação c iv il públi ca
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3° OFÍCIO DO NÚCLEO DA TUTELA COLETIVA

Art. 4o Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá,


além de declarar a efetiva necessidade, atender aos seguintes requisitos:

I - comprovação de idoneidade, com a apresentação de certidões


negativas de antecedentes criminais fornecidas pela Justiça Federal,
E s t a d u a l , M il i t a r e E l e i t o r a l e d e n ã o e s t a r r e s p o n d e n d o a i n q u é r i t o p o l i c i a l
ou a processo criminal, que poderão ser fornecidas por meios eletrônicos;

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II – apresentação de documento comprobatório de ocupação lícita e de
residência certa;

III – comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o


m a n u s e i o d e a r m a d e f o g o , a t e s t a d a s n a f o rm a d i s p o s t a n o r e g u l a m e n t o
desta Lei.

§ 1o O Sinarm expedirá autorização de compra de arma de fogo após


atendidos os requisitos anteriormente estabelecidos, em nome do

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requerente e para a arma indicada, sendo intransferível esta autorização.

[...]

§ 6 o A ex p e d i ç ã o d a a u t o r i za ç ã o a q u e s e r e f e r e o § 1 o s e r á c o n c e d i d a , o u
recusada com a devida fundamentação, no prazo de 30 (trinta) dias úteis ,
a contar da data do requerimento do interessado.

[...]

A r t . 5 o O c e r t i f i c a d o d e R e g i s t r o d e A rm a d e F o g o , c o m v a l i d a d e e m t o d o o
t e r r i t ó r i o n a c i o n a l , a u t o r i za o s e u p r o p r i e t á r i o a m a n t e r a a r m a d e f o g o
exclusivamente no interior de sua residência ou domicílio , ou
d e p e n d ê n c i a d e s s e s , o u , a i n d a , n o s e u l o c a l d e tr a b a l h o , d e s d e q u e s e j a
ele o titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.

[...]

§ 2o Os requisitos de que tratam os incisos I, II e III do art. 4 o deverão ser


c o m p r o v a d o s p e r i o d i c a m e n t e , e m p e r í o d o n ã o i n f e r i o r a 3 ( tr ê s ) a n o s ,
na conformidade do estabelecido no regulamento desta Lei, para a
r e n o v a ç ã o d o C e r t if i c a d o d e R e g i s t r o d e A r m a d e F o g o .

Por sua vez, o Decreto n° 5.123/ 2004 prescreve:

Art. 12. Para adquirir arma de fogo de uso permitido o interessado deverá:

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I - declarar efetiva necessidade ;

[…]

§ 1o A declaração de que trata o inciso I do caput deverá explicitar os


fatos e circunstâncias justificadoras do pedido , que serão examinados
p e l a P o l í c i a F e d e r a l s e g u n d o a s o r i e n t a ç õ e s a s e r e m ex p e d i d a s p e l o

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Mi n i s t é r i o d a J u s t i ç a .

Por fim, a Instrução Nor mativa n° 23/2005 acrescenta:

A r t . 6 o . P a r a o r e q u e r i m e n t o e ex p e d i ç ã o d a A u t o r i za ç ã o p a r a A q u i s i ç ã o d e
A rm a d e F o g o d e u s o P e r m i t i d o p o r P e s s o a F í s i c a , d e v e r ã o o c o r r e r o s
seguintes procedimentos:

[...]

§ 1 o . A a u t o r i d a d e c o m p e t e n t e p o d e r á e x i g i r d o c u m e n t o s q u e c o m p r ov e m

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a efetiva necessidade de arma de fogo.

Extrai- se que o registro de ar ma permi te a sua aquisição e a


manutenção em residência , domicíl io e suas dependênci as , ou local de
trabalho ao propri etári o ; dif erentem ente, do por te de arm a ref lete a
condução – junto à pessoa autorizada – de ar ma m uniciada, consoante se
passa expor.

5.3.2 – Por te de arm a

Sobre o por te de arm a , o Est atuto preceitua :

Art. 10. A autorização para o porte de arma de fogo de uso permitido , em


todo o território nacional, é de competência da Polícia Federal e somente
será concedida após autorização do Sinarm.

§ 1° A autorização prevista neste artigo poderá ser concedida com eficácia


temporária e territorial limitada, nos termos de atos regulamentares, e
dependerá de o requerente:

I – d e m o n s t r a r a s u a e f e t i v a n e c e s s i d a d e p o r e x e r c í c i o d e a t iv i d a d e
profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física ;

I I – a t e n d e r à s ex i g ê n c i a s p r e v i s t a s n o a r t . 4 o d e s t a L e i ;

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III – apresentar documentação de propriedade de arma de fogo, bem como o


seu devido registro no órgão competente.

O Decreto n° 5.123/ 2004 fixa:

A r t . 2 2 . O P o r t e d e A r m a d e F o g o d e u s o p e r m i t i d o , v i n c u l a d o a o p r év i o
r e g i s t r o d a a r m a e a o c a d a s t r o n o S I N A RM , s e r á ex p e d i d o p e l a P o l í c i a

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F e d e r a l , e m t o d o o t e r r i t ó r i o n a c i o n a l , e m c a r á t e r ex c e p c i o n a l , d e s d e q u e
a t e n d i d o s o s r e q u i s i t o s p r ev i s t o s n o s i n c i s o s I , I I e I I I d o § 1 o d o a r t . 1 0
da Lei no 10.826, de 2003.

[…]

Art. 29-A. Caberá ao Departamento de Polícia Federal estabelecer os


p r o c e d i m e n t o s r e l a t i v o s à c o n c e s s ã o e r e n o v a ç ã o d o P o r t e d e Ar m a d e
Fogo.

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Por fim, a IN/DPF n° 23/2005 aduz:

A r t . 1 6 O p o r t e d e a r m a d e f o g o ex p e d i d o p e l o D P F t e r á v a l i d a d e t e m p o r a l
de até 03 (três) anos, contados da data de emissão, e poderá abranger a
todo o território nacional, dependendo da justificada necessidade do
interessado, sendo classificado na categoria defesa pessoal ou caçador
de subsistência.

§ 1 ° . E x c e p c i o n a l m e n t e , a c r i t é r i o d a a u t o r i d a d e c o m p e t e n t e , o p r a zo d e
validade de que trata o caput poderá chegar a 5 (cinco) anos.

§ 2°. Na categoria defesa pessoal, o porte de arma de fogo poderá ser


c o n c e d i d o a b r a s i l e i r o s n a t o s e n a t u r a l i za d o s , b e m c o m o a e s t r a n g e i r o s
permanentes, maiores de 25 (vinte e cinco) anos, que atendam aos
requisitos constantes nos incisos I, II e III do §1 o do art. 10 da Lei
10.826 de 2003.

[…]

A r t . 1 8 P a r a a o b t e n ç ã o d o P o r t e d e A rm a d e F o g o :

I – o interessado deverá cumprir as seguintes formalidades:

a ) P o r t e d e A rm a C a t e g o r i a D ef e s a P e s s o a l :

1 . ex i g ê n c i a s c o n s t a n t e s d a s a l í n e a s “ a ” e “ b ” d o i n c i s o I d o a r t . 6 o . d e s t a

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I N ; 2 . d e c l a r a ç ã o d e e f e t i v a n e c e s s i d a d e d e a r m a d e f o g o p o r ex e r c í c i o d e
atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade física,
anexando documentos comprobatórios ;

3. cópia autenticada do registro da arma de fogo de sua propriedade; e

4 . o i n t e r e s s a d o d ev e r á s e r s u b m e t i d o a u m a e n t r e v i s t a c o m o p o l i c i a l

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designado, na qual serão expostos os motivos da pretensão e
ve r i f i c a d a , e m c a r á t e r p r e l i m i n a r e n ã o v i n c u l a n t e , a e f e t i v a n e c e s s i d a d e ,
p o r ex e r c í c i o d e a t i v i d a d e p r o f i s s i o n a l d e r i s c o o u d e a m e a ç a a s u a
integridade física;

b ) P o r t e d e A rm a C a t e g o r i a C a ç a d o r d e S u b s i s t ê n c i a :

1 . c e r t i d ã o c o m p r o b a t ó r i a d e r e s i d ê n c i a e m á r e a r u r a l , ex p e d i d a p o r ó r g ã o
municipal ou local;

2. cópias autenticadas do documento de identidade e do registro da arma de

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fogo de sua propriedade; e

3. atestado de bons antecedentes.

5.3.3 – Abuso do poder regulamentar em face do Est atuto do


Desarmament o

Atentando- se para o conteúdo do Estatuto do Desarmamento, do


Decreto n° 5.123, de 1º de julho de 2004, e da Instrução Nor mativa n°
23/ 2005, expedida pelo Depart amento da Polícia Federal, impende tratar do
poder regulamentar concernente à aqui sição , regist ro e porte de arma
de fogo de uso per miti do.

Poder regulamentar é uma das f ormas de atuação da função


nor mativa da Administração Pública, pelo que lhe é outor gada a
prerrogativa de edi tar atos compl ementares à lei formal , visando à sua
efetiva aplicação.

Impor ta salientar a est reita per tinência do poder regul amentar à


concreti zação do princí pio da legalidade , previsto no artigo 5°, inciso II,
da Constituição Federal, pelo qual ninguém ser á obrigado a f azer ou deixar
de f azer, senão em virtude de lei. Observe- se que o texto constitucional
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exi ge lei – não se satisf az com qualquer ato secundário – para restr ingir a
liberdade do cidadão , conforme ensina Celso de Mello: Em suma: é livre de
qualquer dúvida ou entre dúvida que entre nós, por força dos arts. 5°, 11,
84, IV e 37 da Constit uição, só por leis se regula liberdade e propriedade;
só por lei se impõem obr igações de fazer ou não fazer . Vale dizer:
restrição alguma à liberdade ou propriedade pode ser imposta se não estiver

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previam ente del ineada , configur ada e estabelecida em al guma lei , e só
par a cumprir dispositivos legais é que o Executivo pode expedir decretos e
regulam entos 11 . [ gr if ei]

Destar te, é com preensível que o regulam ento consubst ancia


ato normat ivo subordinado e infer ior à lei for mal , não podendo, assim,
contrariá-la ou alter ar seu alcance, sob pena de usurpação da função do
Poder Legislativo .

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Vale dest acar a úni ca possibi lidade de decreto autônomo
prevista no ordenam ento jurídico brasileiro, o qual é autorizado pela Car ta
Magna, a f im de criar e extinguir direit os e obrigações, sem prévia lei
disciplinadora. Fez-se, o Poder Constit uinte Derivado, por interm édio da
Em enda Constitucional n° 32/2001, a qual acr escenta tal per missivo no Texto
Magno, nos seguint es m oldes:

A r t . 8 4 . C om p e t e p r i v a t i v a m e n t e a o P r e s i d e n t e d a R e p ú b l i c a :

[…]

V I – d i s p o r, m e d i a n t e d e c r e t o , s o b r e :

a) organização e funcionamento da administração federal, quando não


i m p l i c a r a u m e n t o d e d e s p e s a n e m c r i a ç ã o o u ex t i n ç ã o d e ó r g ã o s p ú b l i c o s ;

b ) ex t i n ç ã o d e f u n ç õ e s o u c a r g o s p ú b l i c o s , q u a n d o v a g o s ;

Sobre o assunto, Di Pietro ratifica: […] fica estabelecido, de


for ma muit o limitada, o regulament o autônomo […] Portanto, no direito
brasileiro, excluída a hi pótese do artigo 84 , VI, com a redação dada pela

11
D E ME L L O , C e l s o A n t ô n i o B a n d e i r a , C u r s o d e D i r e i t o A d m i n i s t r a t i v o , E d . Ma l h e i r o s , S ã o
Paulo, 2001, p. 315.
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Emenda Constitucional n° 32, só existe o regulamento de execução,


hier arquicamente subordinado a uma lei pr évia […] 1 2 . [ grif ei]

Prosseguindo, no que inter essa ao caso present e, notadamente


sobre a aquisi ção e regi stro de arma de fogo , a lei for mal - Estatuto do
Desarmament o – assegura- os àquele que expressar a declar ação de efetiva

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necessidade ; no ent anto, os indigitados Decret o e Instrução Normativa, a
pretexto de regulamentar a aludida lei, ext rapol am o poder regulament ar,
inovando a ordem jurídica .

Neste ponto, f risa- se que o Legislador, nos aspectos que


ent ende necessária comprovação pelo postulante da outorga par a
aquisição e regist ro de arm a , prescr eve-a expressamente, segundo se
pode observar nos incisos I, II e II do artigo 4°, da Lei f ederal n°

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10. 826/2003 – Estatuto do Desarm amento. Ora, se fosse objetivo do
Legislador exigir comprovação da efetiva necessidade , te- lo-ia feito de
modo expresso, igualmente aos requisitos da idoneidade, ocupação lícita,
resistência certa, capacidade técnica e aptidão psicológica, apontados no
artigo acima.

Distintament e, em out ra vereda, quanto ao porte de arma , o


Est atuto dispõe-no àquele que “ demonst rar a sua efetiva necessidade por
exercício de atividade profissional de risco ou de ameaça à sua integridade
física”. Nesse caso, à dif erença da out or ga aquisição e regist ro de arm a , a
lei for mal – Est atuto do Desar mamento – não se satisfaz com a declaração
do cidadão interessado, senão que exige efet iva comprovação de
necessidade .

Consequent emente, é mister discorrer sobre a ilegalidade do


Decreto n° 5.123/ 2004 e da Instr ução Norm ativa n° 23/2005/DG/ DPF, mercê
da usurpação da função do Poder Legislativo pelas autoridades
administr ativas da ré.

Nessa ordem de raciocínio, a s regulament ações são atos


12
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. - 23 ed. - São Paulo: Atlas, 2010. Pag.
92.
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secundár ios da Administração Pública e podem dispor, apenas, sobre os


preceitos fixados em lei , dentro dos li mites preditos .

O abuso do poder regulam entar sujeita o ato exorbi tante ao


controle jurisdicional e, tam bém, a o exercício, pelo Congr esso Nacional,
da competência extr aordinária que lhe confere o artigo 49, inciso V, da

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Constituição da República, par a " sustar os atos nor mativos do Poder
Executivo que exorbitem do poder regulamentar (.. .) " .

Ratificando essa direção, o Superior Tribunal de Justiça e


Supremo Tribunal Federal concluem:

A DMI N I S T R AT I V O . P RO C E S S U A L C I V I L . PO RTA R I A D O D ER . P RO I B I Ç Ã O
DE CIRCULAÇÃO DE ÔN I B U S COM MA IS DE V I NT E AN O S DE
FA B R I C A Ç Ã O . E X O RB I T ÂN C I A D O P O D E R R E G U L AME NTA R . FA LTA D E

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P R E Q U E S T I O N A ME NTO . S ÚMU L A 2 8 2 / ST J . D I V E RG Ê N C I A
J U R I S P R U D E N C I A L N ÃO COM PR O VA D A . 1 . A a p o n t a d a d i v e r g ê n c i a d e v e
ser comprovada, cabendo a quem recorre demonstrar as circunstâncias que
identificam ou assemelham os casos confrontados, com indicação da
similitude fática e jurídica entre eles. Indispensável a transcrição de trechos
do relatório e do voto dos acórdãos recorrido e paradigma, realizando-se o
cotejo analítico entre ambos, com o intuito de bem c a r a c t e r i za r a
interpretação legal divergente. O desrespeito a esses requisitos legais e
r e g i m e n t a i s ( a r t . 5 4 1 , p a r á g r af o ú n i c o , d o C P C e a r t . 2 5 5 d o R I / S T J ) i m p e d e
o conhecimento do Recurso Especial com base na alínea "c", III, do art. 105
da Constituição Federal. 2. Não se pode conhecer da insurgência contra a
of e n s a a o a r t . 1 . 2 2 8 d o CC , p o i s o r e f e r i d o d i s p o s i t i v o l e g a l n ã o f o i
a n a l i s a d o p e l o Tr i b u n a l d e o r i g e m . D e s s a f o rm a , n ã o s e p o d e a l e g a r q u e
houve presquestionamento da questão, nem ao menos implicitamente. 3.
Ausente, portanto, o indispensável requisito do prequestionamento, o que
atrai, por analogia, o óbice da Súmula 282/STF: "É inadmissível o recurso
ex t r a o r d i n á r i o , q u a n d o n ã o v e n t i l a d a , n a d e c i s ã o r e c o r r i d a , a q u e s t ã o
f e d e r a l s u s c i t a d a " . 4 . A r e c o r r e n t e é p r o p r i e t á r i a d e ô n i b u s u t i l i za d o p a r a o
transporte de trabalhadores rurais para as lavouras do interior do Estado de
S ã o P a u l o . C o n t u d o , o a r t . 1 o d a P o r t a r i a S U P / D ER - 0 5 3 / 2 0 1 0 , ex t r a p o l o u a
sua função regulamentadora, pois restringiu a circulação de veículos acima
de vinte anos de fabricação sem que haja previsão legal. 5. A melhor
ex e g e s e d o a r t . 2 1 , I I e X IV, d o CT B , n o r m a u t i l i za d a p e l o Tri b u n a l
b a n d e i r a n t e p a r a f u n d a m e n t a r o d e c i s um r e c o r r i d o , é d e q u e o s ó r g ã o s d e
trânsito possuem o dever/poder de regulamentar o trânsito de veículos,

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entretanto não podem exorbitar dos limites definidos pela lei. A


administração pública têm como corolário fundamental a obediência ao
Princípio da Legalidade . 6. Recurso Especial conhecido parcialmente e,
nessa medida, provido. (REsp 1 6 6 6 3 4 1 / S P, Rel. Mi n i s t r o H E RMA N
B E N J A M I N , S E G U N D A TU RMA , j u l g a d o e m 1 3 / 0 6 / 2 0 1 7 , D J e 2 0 / 0 6 / 2 0 1 7 ) .
[grifei]

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[...] Ainda que superados esses óbices, o recurso ex t r a o r d i n á r i o não
p r o s p e r a r i a . C o nf o r m e p a c í f i c a j u r i s p r u d ê n c i a d o S u p r e m o Tr i b u n a l F e d e r a l ,
é i n c a b í v e l , e m s e d e d e r e c u r s o ex t r a o r d i n á r i o , av e r i g u a r a e x t r a p o l a ç ã o
do poder regulamentar por ato normativo secundário , porquanto essa
controvérsia configura conflito de legalidade, e não de
c o n s t i t u c i o n a l i d a d e , d e m o d o q u e s e u d e s l i n d e p r e s s u p õ e o ex a m e d a l e i
infraconstitucional regulamentada. […] (ARE 1061279, Relator(a): Mi n .
RICARDO L E W A N DO W S K I , julgado em 23/08/2017, publicado em
P RO C E S S O E L E T R ÔN I C O DJe-191 DIVULG 28/08/2017 PUBLIC
29/08/2017). [grifei]

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CO N S T I T U C I O N A L . T RI B U TÁ R I O . CO NT R I B U I Ç ÃO : S E G UR O D E A C I D E N TE
DO T RA B A L H O - S AT. L e i 7 . 7 8 7 / 8 9 , a r t s . 3 º e 4 º ; L e i 8 . 2 1 2 / 9 1 , a r t . 2 2 , I I ,
r e d a ç ã o d a L e i 9 . 7 3 2 / 9 8 . D e c r e t o s 6 1 2 / 9 2 , 2 . 1 7 3 / 9 7 e 3 . 0 4 8 / 9 9 . C . F. , a r t i g o
195, § 4º; art. 154, II; art. 5º, II; art. 150, I. I. - Contribuição para o custeio
d o S e g u r o d e A c i d e n t e d o Tra b a l h o - S AT: L e i 7 . 7 8 7 / 8 9 , a r t . 3 º , I I ; L e i
8 . 2 1 2 / 9 1 , a r t . 2 2 , I I : a l e g a ç ã o n o s e n t i d o d e q u e s ã o of e n s i v o s a o a r t . 1 9 5 ,
§ 4º, c/c art. 154, I, da Constituição Federal: improcedência.
Desnecessidade de observância da técnica da competência residual da
U n i ã o , C . F. , a r t . 1 5 4 , I . D e s n e c e s s i d a d e d e l e i c o m p l e m e n t a r p a r a a
i n s t i t u i ç ã o d a c o n t r i b u i ç ã o p a r a o S AT. I I . - O a r t . 3º , I I , d a L e i 7 . 7 8 7 / 8 9 ,
n ã o é of e n s i v o a o p r i n c í p i o d a i g u a l d a d e , p o r i s s o q u e o a r t . 4 º d a
mencionada Lei 7.787/89 cuidou de tratar desigualmente aos desiguais. III.
- As Leis 7.787/89, art. 3º, II, e 8.212/91, art. 22, II, definem,
s a t i s f a t o r i a m e n t e , t o d o s o s e l e m e n t o s c a p a z e s d e f a ze r n a s c e r a o b r i g a ç ã o
tributária válida. O fato de a lei deixar para o regulamento a
complementação dos conceitos de "atividade preponderante" e "grau de
r i s c o l e v e , m é d i o e g r a v e " , n ã o i m p l i c a of e n s a a o p r i n c í p i o d a l e g a l i d a d e
g e n é r i c a , C . F. , a r t . 5 º , I I , e d a l e g a l i d a d e t r i b u t á r i a , C . F. , a r t . 1 5 0 , I . I V. - S e
o r e g u l a m e n t o va i a l é m d o c o n t e ú d o d a l e i , a q u e s t ã o n ã o é d e
inconstitucionalidade, mas de ilegalidade , matéria que não integra o
c o n t e n c i o s o c o n s t i t u c i o n a l . V. - R e c u r s o ext r a o r d i n á r i o n ã o c o n h e c i d o . (R E
3 4 3 4 4 6 , R e l a t o r ( a ) : Mi n . C A R L O S V E L L O S O , Tr i b u n a l P l e n o , j u l g a d o e m
2 0 / 0 3 / 2 0 0 3 , D J 0 4 - 0 4 - 2 0 0 3 P P - 0 0 0 4 0 EME N T V O L - 0 2 1 0 5 - 0 7 P P - 0 1 3 8 8 ) .
[grifei]
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Pois bem , a Lei f ederal n° 10.826/2003 estabelece, dentre os


requisitos par a aquisi ção e regist ro de arm as , a “ declaração de
necessidade ” (artigo 4°, caput ). Todavia, infringindo esse dispositivo
legal , o Decret o e a IN supracitados inovam a ordem jurídica , ao exigir não
só a "declaração de necessidade " , mas também a exigência de " document os
que comprovem a efetiva necessidade” de aquisi ção e registro de ar ma

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(ar tigo 6° , § 1°, da IN); submetendo- os, além disso, à apreci ação e decisão
discrici onári a da Polícia Feder al (ar tigo 12, § 1 °, do Decret o).

A fim de exemplificar a situação expost a, traz-se à colação


pedidos de outorga de aquisição e registro de armas de fogo , acostados
ao IC em anexo, os quais f or am negados discrici onari amente pela
aut oridade da Polícia Federal:

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1) Processo DPF/ GO 08795.001284/2017- 11: “ Mantenho o
indeferimento, conf or me despacho anterior, visto que além de já possuir 1
ar ma de fogo (pistola) para defesa pessoal, o requerente não dem onstr ou
fat os concret os e circunstâncias justi ficadoras da real e efeti va
necessidade em adquiri r outra ar ma para deixá- la em seu local de
trabalho [...] ”. [ gr ifei]

2) Processo DPF/ GO 08795.300340/2016-16: “ Considerando que


o requerent e já possui 1 ar ma curt a (revólver) par a sua defesa pessoal no
âmbito de sua residência, entendo que tais pedidos de mais duas ar mas
longas não devem prosperar, pois o requerent e não demonstrou na forma
do art. 12° , I, do Decreto 5.123/04, os fatos e as circunstâncias
justificadoras do pedido de mais 2 (duas) ar mas, razão pela qual
INDEFIRO o pedido [...] ”. [ grif ei]

Com efeito, nas demandas judiciais de natureza individual,


per cebe- se, sem maior esforço, que em decisões per tinent es à outorga de
aquisição e regist ro de arm a de fogo pr ende- se exclusivam ente aos
requisit os insertos nos atos nor mativos secundár ios , sem exam e de
eventual antijuridicidade dessas disposições:

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APELAÇÃO. AQUISIÇÃO DE A RM A D E F OG O . DE C R E TO Nº 5.123/04.


E F E T I VA NECESSIDADE N ÃO DEM ON ST R A D A . ATO A DMI N I ST R AT I VO
D I S CR I C I O N Á R I O . R E C U R SO D E S P RO V I D O . 1 . O a t o a d m i n i s t r a t i v o d e
concessão da autorização para adquirir armas de fogo possui, além dos
s e u s a s p e c t o s vi n c u l a d o s , c o n t e ú d o d i s c r i c i o n á r i o , o q u a l c o n s i s t e n a
av a l i a ç ã o d a Ad m i n i s t r a ç ã o P ú b l i c a d a j u s t i f i c a t i v a a p r e s e n t a d a p e l o
i n t e r e s s a d o . D e s s a f o r m a , c a b e à P o l í c i a F e d e r a l af e r i r s e t a l j u s t if i c a t i v a

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traduz a efetiva necessidade da aquisição de uma arma de fogo pelo
interessado. 2. O Poder Judiciário não pode fazer controle sobre o mérito do
a t o a d m i n i s t r a t i v o , o u s e j a , n ã o p o d e d i ze r s e e l e é c o n v e n i e n t e o u
o p o r t u n o , s o b p e n a d e s e i m i s c u i r n a a t i v i d a d e t í p i c a d o a d m i n i s t r a d o r. A o
Judiciário compete analisar apenas e tão-somente os aspectos relacionados
à legalidade do ato. 3. In casu, o apelante solicitou autorização para
compra de arma de fogo alegando, em síntese, que precisaria proteger sua
f a m í l i a d a vi o l ê n c i a ; q u e t r a b a l h a n a P o l í c i a R o d o v i á r i a F e d e r a l e ex i s t e u m
risco inerente à profissão; e que mora no mesmo local que seu genro, que é

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p o l i c i a l m i l i t a r. A P o l í c i a F e d e r a l n e g o u o p e d i d o a r g u m e n t a n d o q u e " N ã o
há qualquer comprovação de que sua atividade exponha o requerente a
r i s c o s r e a i s , q u e e x t r a p o l e m o s g e n é r i c o s i n e r e n t e s à p r ó p r i a a t iv i d a d e ,
o u à vi d a e m s o c i e d a d e e , t a m p o u c o , q u a l q u e r r e g i s t r o o f i c i a l d e
ameaças concretas e recentes à sua integridade física ou a de sua
família, registradas nos órgãos competentes". 4. A demonstração de
ameaça à integridade física deve ser de forma concreta, pois, caso assim
não fosse, qualquer pessoa poderia alegar a necessidade em razão do risco
de assalto, furto, roubo, etc., a que todos nós estamos sujeitos,
independentemente de frequentar um ou outro local. Não seria armando
toda a população que se resolveriam os problemas de violência. A
c o n c e s s ã o d a a u t o r i za ç ã o n ã o a d m i t e c o m o c a u s a j u s t i f i c a d o r a r i s c o s
h i p o t é t i c o s d e r i v a d o s d e c i r c u n s t a n c i a s a b s t r a t a s q u e d i ze m r e s p e i t o à
insegurança de todo e qualquer cidadão comum. 5. Apelação conhecida e
desprovida. (TRF-2 01330861020144025101 0133086-10.2014.4.02.5101,
R e l a t o r : J O S É A N TON I O N E I VA , D a t a d e J u l g a m e n t o : 1 0 / 0 3 / 2 0 1 6 , 7 ª TURM A
ESPECIALIZADA).

Repise- se, a mais não poder, a lei formal – Estatuto do


Desarmament o – ato nor mativo pri mári o , dispôs exclusivament e a
"declaração de necessidade" para obtenção de out or gada de aquisição e
registro de arma , dif erentem ente do que enunciou quanto ao porte , para o
que exige “ demonst ração da necessidade ” (artigo 10, § 1 °, do Estatuto do
Desarmament o ).
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Nessa linha, a despeito de a lei formal – Est atuto do


Desarmament o – não exigir compr ovação de necessidade para aqui sição
e regist ro de arm a , ainda que o exigisse, colidiria com os dir eitos
fundamentais à vida , à liberdade , à propri edade e à segur ança (ar tigo 5°,
caput , da Car ta Magna), à medida que os deixaria sem resguardo da

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aut otutela dos próprios titular es. E di reitos fundamentais cujo titular é
impedido de def ender dir etam ente são letra morta, como bem demonstram os
mais de 60 mil brasileiros assassinados anualmente, como público e
not oriam ente sabido e consabido.

Por conseguinte, se não bastasse a não exigência de


demonst ração de necessidade , nos casos de aquisi ção e registro de
ar ma, a própria lei formal – Est atuto do Desar mamento – vai além: satisfaz-
se com a declaração de efetiva necessidade (artigo 4° , caput , da Lei federal

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n° 10.826/ 2003) . Portanto, os atos secundários – Decreto n° 5123/2004 e IN
n° 23/2005 –, além de marcadament e ilegais, por quanto exorbi tam os
li mites da lei regul amentada , tam bém infringem gr avemente os ref eridos
dir eitos fundamentais dos brasileir os, pelo que são flagrantem ente
inconsti tucionais .

5.3.4 – Violação do pri ncípi o da legal idade administrativa


pel a regulam entação do Estatuto do Desarm amento

O pri ncípi o da legal idade adm inist rativa nada mais é do que a
submissão do Estado à lei , ou seja, f unda- se na ideia de que toda
atividade da Administr ação Pública e de seus agentes deve ser exercida em
conform idade com a lei . Em síntese, a Administração nada pode fazer,
senão o que a lei deter mina.

Citando Michel Stassinopoulos e Renat o Alessi, Celso Antônio


Bandeira de Mello 1 3 disserta o seguint e: Michel Stassinopoulos, em fór mula
sint ética e feliz, esclarece que, além de não poder atuar contra legem ou
praeter legem, a Administração só pode agir secundum legem. Aliás, no
mesmo sentido é a observação de Alessi, ao aver bar que a função
13
In: Curso de Direito Administrativo, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 101.
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administr ativa se subordina à legislativa não apenas porque a lei pode


est abelecer proibições e vedações à Administração, mas também porque
est a só pode fazer aquilo que a lei antecipadament e aut oriza.

Compreende- se, pois, que o princí pio da legalidade


administrativa consubstancia-se est rita e rigorosament e , não permitindo

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que a Administração Pública e seus agentes ultrapassem as lindes dos seus
respectivos círculos de atuação. Observa-se, ademais, que este princípio
ref orça a proibição de atos secundários contravir em lei formal , sob pena
de se conf igurar afr onta ao artigo 37 da Carta da República. Aqui, sem
necessidade de muit o esf orço, per cebe- se que essa pr oibição decorre da
submissão inar redável da Administração Pública e dos agent es públicos às
nor mativas instituídas pelo Legislador.

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Na linha do pri ncípi o da legal idade adm inist rativ a, após os
esclarecimento s sobr e o poder regul amentar, passa-se a cuidar da
nat ureza dos atos de aquisição , registro e porte de ar ma , conf orm e
instituído pelo Legislador or dinário na Lei f ederal n° 10.826/2003, a qual,
repita-se, não pode licitamente ser exor bitada pela atividade secundária a
car go do Poder Executivo e da sua autoridade policial: isso que se per petrou
por inter médio do Decret o n° 5.123/2004 e IN n° 23/2005.

Considerando, portanto, os requisit os objetivos exigidos par a


out orga de aquisição e registro de ar ma – declaração de efet iva
necessidade , idoneidade, ocupação lícita, residência certa, capacidade
técnica e aptidão psicológica, segundo o os incisos I, II e III do artigo 4° do
Est atuto do Desar mamento –, verif ica- se que, pr eenchidas tais condições, a
decisão administrativa é vinculada , devido à natureza de licença do ato:
Licença é o at o administr ativo uni later al e vinculado pelo qual a
Administr ação faculta àquele que preencha os requisit os legais o exercício
de uma atividade. […] licença é ato decl aratório de dir eito preexistente 1 4 .
[ gr if ei]

14
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. - 23 ed. - S ão Paulo: Atlas, 2010. Pag.
228.
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Sobressai que, por qualquer método inter pretativo reconhecido


pelo ordenamento jurídico, sobrem odo pelo Direito Administr ativo, não se
depreende da lei for mal a possibili dade apreciação e deci são
discrici onári a do cont eúdo dos requisitos para outor ga de aquisição e
registro de arma (artigo 4°, caput , incisos I, II e III, da Lei f ederal n°
10. 826/2003). Muito ao contrário!

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Consubstanciado, pois, a out or ga de aquisi ção e regist ro de
ar ma em ato adm inist rativo vinculado caracterizador de licença, não se
pode negá-lo sob alegação de inconveni ência ou inopor tunidade para a
Administr ação Pública, vez que sua out orga est á estri tamente submetida
ao preenchim ento dos requisitos legal ment e previstos . Assim, Supr emo
Tribunal Federal ratifica:

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A P E L A Ç Ã O C Í V E L . A Ç ÃO C I V I L PÚ B L I C A CO N EX A COM A Ç ÃO O RD I N Á R I A .
D I R E I TO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. 1. LICENÇA. ATO
A DMI N I S T R AT I V O V I N C U L A DO . Sendo a licença ato administrativo
vi n c u l a d o e d e f i n i t iv o , cabe ao Poder Público, v er i f i c a n d o que o
interessado atendeu a todas as exigências legais, possibilitar-lhe o
desempenho da atividade solicitada . A obtenção da licença resulta em
d i r e i t o s u b j e t i v o , d e c a r á t e r r e l a t i v o , p o d e n d o s e r r e v o g áv e l q u a n d o h o u v e r
interesse público superveniente, inexistindo, portanto, direito adquirido. 2.
LICENÇA CO N C E D I D A . NULIDADE. Estando a obra embargada nas
p r ox i m i d a d e s d e i m óv e l t o m b a d o , m o s t r a v a - s e i m p o s i t i v a a a u t o r i z a ç ã o d o
CO M P H I C ( C o n s e l h o Mu n i c i p a l d o P a t r i m ô n i o H i s t ó r i c o e C u l t u r a l ) p a r a
ex e c u ç ã o d a o b r a , a q u a l n ã o o c o r r e u , e m d e s r e s p e i t o a o a r t i g o 1 7 d a L e i
Mu n i c i p a l 268/02. Assim, i n ex i s t i n d o a u t o r i za ç ã o do órgão competente
designado pela legislação municipal, reconhece-se a nulidade da licença
obtida, já que a sua concessão não observou os requisitos indispensáveis
ex i s t e n t e s à é p o c a d o f a t o . A a n u l a ç ã o d o a t o i m p õ e - s e q u a n d o ex i s t e n t e
ví c i o i n s a n áv e l , o q u e d e v e r á s e r r e a l i za d o a t r a v é s d e a t o v i n c u l a d o , o u
s e j a , o b r i g a t ó r i o d a p r ó p r i a A d m i n i s t r a ç ã o . 3 . R E S PO N S A B I L I D A D E D A
A DMI N I S T R A Ç Ã O . Diante da presunção de legitimidade dos atos
administrativos, bem como da boa-fé do administrado, impõe-se à
A d m i n i s t r a ç ã o a r e s p o n s a b i l i d a d e p e l o s p r e j u í zo s o r i g i n a d o s d a l i c e n ç a
concedida, já que a ilegalidade do ato decorreu do comportamento
n e g l i g e n t e d o p r ó p r i o P o d e r P ú b l i c o . A s s i m , c a b e r á a o Mu n i c í p i o a r c a r c o m
o s p r e j u í z o s m a t e r i a i s e f e t iv a m e n t e c a u s a d o s a e m p r e s a d e m a n d a d a e m
decorrência do início da construção da antena, no período compreendido
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e n t r e a ex p e d i ç ã o d o l a u d o d e a p r o v a ç ã o a t é a d e t e r m i n a ç ã o d e p a r a l i s a ç ã o
d a o b r a , n ã o d ev e n d o a m u n i c i p a l i d a d e a r c a r c o m e v e n t u a i s d e s p e s a s
decorrentes de atos praticados pela empresa após a revogação da licença,
a q u a l s e d e u d e f o rm a l e g i t i m a . D ev e r á o q u a n t u m d a i n d e n i z a ç ã o s e r
apurado em liquidação de sentença, por artigos, conforme o comando
sentencial. (RE 817040, Relator(a): Mi n . ROSA W EBER, julgado em
03/09/2014, publicado em P RO C E S S O E L ET R Ô N I CO DJe-176 D I VU L G

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1 0 / 0 9 / 2 0 1 4 P U B L I C 11 / 0 9 / 2 0 1 4 ) .

Nesse diapasão, tratando- se de aquisi ção e regist ro de arm a ,


cabe à autoridade administrativa com petente verif icar, exclusivamente, de
f or ma objetiva, o atendimento pelo interessado dos requisit os f ixados pelo
artigo 4° da Lei feder al n° 10.826/2003; evidentement e sem juízos de
conveniência e opor tunidade , caracterizadores de discri cionariedade ,
instituídos ilicitam ente pelo Decret o n° 5123/2004 e IN n° 23/2005.

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Por outr o lado, quanto ao por te de arm a – exceto nos casos
par ticular es de agentes públicos ou em presas de segurança ou despor to –
exige-se, dentre outros requisitos, a demonst ração da efetiva necessidade
(ar tigo 10, § 1°, I, da Lei federal n° 10. 826/2003 – Estatuto do
Desarmament o). Percebe- se que esse dispositivo não é aplicável por si
mesmo, carecendo, pois, de interposição nor mativa regulam entar. Sob
esse aspect o, as regulamentações previram juízos de cunho discrici onári o
concernentes aos motivos expostos pelo solicitant e (ar tigo 29-A do Decreto
n° 5.123/2004 e artigo 17 da IN n° 23/2005). De conseguinte, a out or ga de
por te de arm a possui natureza de autorização . Confor me ensina Di Piet ro:
A autorização administrativa […] designa o ato unil ateral e discri cionário
pelo qual a Administração faculta ao par ticular o desempenho de atividade
mat erial ou a prática de ato que, sem esse consentimento , seriam
legalmente proibi dos 1 5 . [ grif ei]

5.4 – DIREITO S FUNDAMENTAIS EM ATENÇÃO À PO PULAÇÃO


RURAL

Além do quanto f oi aduzido até aqui, abrangendo todos os

15
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. - 23 ed. - São Paulo: Atlas, 2010. Pág.
226.
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3° OFÍCIO DO NÚCLEO DA TUTELA COLETIVA

brasileiros, é imprescindível esmiuçar aspecto particular da temática em


discussão, qual seja, realidade da população da zona rural brasileira,
especialm ente quanto à ausência pr aticamente absoluta de tutela estatal
dos direitos fundament ais expostos no item 5.1.

Aqui, está-se cuidando de cerca de 15,28% da população total

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brasileira, confor me os dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostr a de
Domicílios) do IBGE, ref erente ao ano de 2015 1 6 , isto é, cerca de 32 milhões
de brasi leiros que mantêm residência, domicílio ou atividade econômica na
zona rural do país 1 7 .

Além das precaríssimas condições de vida dessa par cela da


população brasilei ra , sobret udo no que respeita à dificuldade, m uitas vezes
absoluta impossibilidade, de acesso às ações , programas e pol íticas

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públicas em geral , a situação é sobrem odo pior, precisament e quanto à
ausência completa do Est ado no que respeita à segurança pública –
consoant e a significativa quantidade de f at os criminosos praticados na zona
rur al 1 8 .

A insegurança pública na zona rur al do Brasil dá ensejo a toda


espécie de crimes viol entos : roubos, latrocínios, tráficos, cárceres
privados, sequest ros, estupros, redução à condição análoga à de escr avo,
esbulhos, danos, homicídios etc. , os quais têm vinculação am iúde à
ausência do Estado , malgrado, nos ter mos do artigo 144 da Constituição
Federal, lá devesse estar provendo segurança pública , o que,
lam entavelment e, não acontece – Q uem, em sã consciência, pode- o negar?

Nesse passo, verif icam -se: 11.260 f urtos/roubos registr ados em


am bientes rur ais no Paraná, durant e o ano de 2016 1 9 ; aumento de 206% no
número de agressões envolvendo conf litos de terra, no ano de 2016, no
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17
h t t p s : / / w w 2 . i b g e . g o v. b r / a p p s / p o p u l a c a o / p r o j e c a o /
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h t t p s : / / w w w. c a m p o g r a n d e n e w s . c o m . b r / a r t i g o s / v i o l e n c i a - n a s - a r e a s - r u r a i s - b r a s i l e i r a s ;
h t t p s : / / w w w. d n . p t / l u s a / i n t e r i o r / a u m e n t o - d e - v i o l e n c i a - r u r a l - n o - b r a s i l - p r e o c u p a - a n a l i s t a s -
7581417.html; https://oglobo.globo.com/brasil/com-61-assassinatos-violencia-no-campo-registra-
recorde-em-2016-21278560.
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h t t p : / / w w w. g a ze t a d o p o v o . c o m . b r / a g r o n e g o c i o / l o g i s t i c a / v i o l e n c i a - d i s p a r a - q u a s e - m i l - f a ze n d a s - s a o -
ass al tadas-por-mes-no-estado-85v jm wk c7g43r0j0np0v33po6#ancora-1
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Brasil 2 0 .

É inescusável , dest arte, que o Estado brasileir o é incapaz de,


em todo tem po e lugar, impedir, de f or ma ger al, a viol ação dos direit os
fundamentais dos brasileir os expressos na Carta da República; ainda mais
àqueles localizados na zona rural do país. Logo, sem que esses 32 milhões

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de brasileiros possam defender por si mesmos , os seus direitos
fundamentais à vida , à liberdade, à propriedade e à segurança , ninguém
o fará.

A despeito desse quadro desolador, verif ica- se que o Estat uto do


Desarmament o e as regulament ações respectivas não possuem
disposit ivos específicos para aquisição e registro de ar mas destinados
à zona rural ; ventilando, apenas, o por te de arm a para o residente na zona

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rur al que a utilize para subsistência familiar ou caçador de subsistência .
Tratar-se- ia de ver gonhosa ofensa à dignidade hum ana asseverar que a
subsistência f amiliar de natureza alim entar seja o único dir eito desses 32
milhões de brasileiros ! Com menoscabo de todos os demais.

Nessa or dem de ideias, alude-se à audiência pública realizada


no Ministério Público Feder al em Goiás, no dia 21/11/2017, a qual trat ou do
tema SEGURANÇA PÚBLICA E ESTATUTO DO DESARMAMENTO , contando
com a presença e exposição de diversos ór gãos/entidades/moviment os, dos
quais se dest acam a Secretaria de Segurança Pública do Estado de Goiás,
Polícia Militar do Estado de G oiás, Instit uto de Pesquisa Econômica Aplicada
– IPEA e o Movimento Viva Brasil. Na ocasião, manifestar am- se per spectivas
diferent es quanto ao assunt o, todavia, most raram-se uníssonos sobre a
im perti nênci a do Estat uto do Desarmament o às condi ções reais de vida
da popul ação rural brasileir a 2 1 .

Alude- se, ademais, que pende consulta, na página do Senado


Federal, a qual já possui 21.342 (vinte e um mil trezentos e quarenta e dois)
votos a favor – contra 3.360 (três mil trezent os e sessenta) votos – da

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h t t p : / / p n s r. d e s a . u f m g . b r / w p - c o n t e n t / u p l o a d s / 2 0 1 7 / 0 7 / C o n f l i t o s - n o - C a m p o - 2 0 1 6 - W E B . p d f
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vídeo integral da audiência pública está disponível no link { http://tvmpf.mpf.mp.br/videos/2528}.
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alteração do ED, para autorizar aquisição de ar mas de f ogo de uso per mitido
aos rurais 2 2 .

Todavia, a despeit o da referida proposição legislativa, o Estado


brasilei ro não pode impedir, nem mesmo por lei, a autodef esa dos
dir eitos fundamentais dos brasil eiros – quando menos, o dir eito natur al à

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legítim a assegura- a –, sobretudo nos lugares e tem pos nos quais o
Est ado está ausent e – e não est ará até onde a inteligência alcança – para
proteger os sobreditos direi tos fundamentais . No caso, os brasileiros nas
zonas rurais estão com pletamente abandonados pelos órgãos est atais de
segurança pública ; e disso tem conhecimento qualquer político, governo,
aut oridade policial, m embr o do Ministério Público ou do Judiciário etc.
minimam ente conscient es do mundo em que vivem, como tam bém,
obviament e, qualquer bandido, por mais pé de chinelo que seja.

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Portanto, independentement e de inovação legislativa
superveniente – hoje, apenas uma quimera – é certo que a legisl ação
atualmente em vigor é perfeitam ente capaz de atender aos 32 milhões de
brasilei ros nas zonas rurais , no que se relaciona ao acesso aos meios de
aut odefesa dos seus direit os fundamentais . Para esse desider ato, a Lei
f ederal n° 10.826/2003, artigo 4°, já consubst ancia normatividade bastant e
a se prest ar às popul ações rurais br asileiras , principalment e pela out or ga
de aquisi ção e registro de arma na f or ma legal.

5.5 – HO MI CÍDI OS PO R ARMA DE FO GO NO BRASIL EM FACE


DO ESTATUTO DO DESAMAMENTO

Tudo quanto se vem de ar gum entar já seria o bast ante par a


sustentar os pedidos que adiante se f ar á. Porém , à conta de se com preender
o cont exto em que se desenvolve est a demanda, cabe trazer a lum e a
tragédia assassina que abate os brasileir os.

Pesquisas veiculam taxas com parativas de homicídio por ar ma


de f ogo (HAF) com m arco de ref erência e vinculação ao Est atuto do
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h t t p s : / / w w w 1 2 . s e n a d o . l e g . b r / e c i d a d a n i a / v i s u a l i za c a o m a t e r i a ? i d = 1 3 0 0 2 9 – A c e s s o e m 3 0 / 11 / 2 0 1 7
às 12:50h.
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Desarmament o. Deve- se esclar ecer, de antem ão, a necessidade de cautela


nesse tipo de análise, tendo em vista que o Estatut o não é o único fator que
exer ceria inf luência nos HAF. É cabível sobrepesar diversos out ros fator es
que podem deter minar a evolução da taxa de assassinatos no país.

5.5.1 – Ineficiência do Estatut o do Desar mam ento

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Como já anterior ment e expost o, o Estat uto do Desarmament o
f or a estabelecido para restringir o(a) regist ro/posse/porte/ comercialização de
ar mas de f ogo, com o desí gnio de reduzir a criminalidade praticada com
o uso dessas armas .

Pois bem, conforme publicação of icial do Mapa da Violência do


ano de 2016, as taxas de HAF por 100.000 (cem m il) habitantes são
crescent es , desde o ano inicial da pesquisa em 1980, mas com suposta

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tendência de estagnação a partir do ano de 2004:

Poder- se- ia imaginar, num vislumbre super ficial, que a dita


est agnação dever-se- ia ao Estatuto do Desarmamento. Seria, se assim

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f osse ! Por ém, há intensa diversidade de fatores que podem deter minam a
evol ução de HAF, principalment e consubst anciados na realidade
econômi ca, social e cult ural de cada região do país; o que denota
inf undada a afirm ação pretensam ente cient ífica de que exista relação de
causa e efeit o , quiça, até mesmo correlação entre Estatuto e a hipotética
est agnação de HAF no Brasil, que, lamentavelmente, ultrapassou a

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vergonhosa marca de 61 mil assassinat os por ano, exatamente sob a política
ideológica desar mamentista . Assassinatos dos quais cerca de 92% nunca
ser ão esclarecidos 2 3 .

Exemplif icando, o Mapa a Violência de 2016 revela que a região


Nor deste apr esent a elevados e contínuos índices de crescimento de HAF
de 101,9% ent re os anos de 2004/2014; por outro lado, a região Sudeste
mostrou regr essão nos índices , como o Est ado de São Paulo, onde houve

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queda de 57,7% no mesmo período assinalado:

Ora, o Est atuto do Desar mamento tem abrangência naci ona l,


est á em vigor em todo o Brasil desde o ano de 2003. Logo, se f osse a razão

23
h t t p s : / / w w w. c o r r e i o d o b r a s i l . c o m . b r / b r a s i l - 8 - d o s - h o m i c i d i o s - e s c l a r e c i d o s / ;
h t t p s : / / w w w. c o n j u r. c o m . b r / 2 0 11 - m a i - 0 9 / s o m e n t e - h o m i c i d i o s - s a o - r e s o l v i d o s - 5 0 - m i l - c o m e t i d o s - p a i s
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de uma suposta estagnação das taxas de HAF no país, teria,


necessariamente, ocasionado igual ef eito em todos os lugares do Brasil
dur ante o seu período de vigência, o que está longe de ser verdadeir o, como
evidencia supracitado Mapa da Violência.

Compr eende-se, portanto, que a política restritiva de acesso

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legalizado a ar mas de f ogo, por si só, não é motivo eficiente de hipotética
diminuição do quadr o de violência, a qual está muitíssimo distante da
realidade experimentada pelos brasileiros. A cr iminalidade geral é
indicador da reali dade social , econômica , cult ural etc. da sociedade, que
deve ser enfr entada com políti cas públicas efetivas , bem assim pelo
em penho dos ór gãos ligados à segurança pública . Todavia, gize- se, nunca
em prejuízo da aut odefesa dos dir eitos fundamentais pelos seus próprios
titulares, no caso, os br asileiros.

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Ainda nesse contexto, deve ser considerada a falta de
segurança pública nas fronteiras do país, que possibilita a ent rada ilegal
de todo tipo de ar mas utilizadas pelos bandidos contra os direitos
f undam entais dos brasileiros, no m ais das vezes, sob as bar bas omissas das
aut oridades, que não se vexam de cantar loas ao Estatuto do Desarm amento
e de brandir a pret ensão de desar mar todos os cidadãos , o que ratifica, mais
um a vez, a ineficiência da po lít ica de desarmament o como um tod o: Não
temos a ilusão de que o contr ole estat al impedirá a ocorr ência de crimes em
ger al, afinal, seria ingênuo im aginar que a marginalidade compra arm as
de fogo em lojas , promovendo o devido registr o e conseguindo o necessário
por te. 2 4 [ grif ei]

Nessa m esma senda, os especialistas Flávio Quintela e Bene


Bar bosa: A lei penal izou apenas os cidadãos cumpr idores da lei , e não
tir ou as arm as dos cri minosos . Tanto é que o número de homicídios com
as ar mas de fogo não parou de crescer desde então, e o Br asil tem se
apr oximado de bater mais um recorde negativo; a continuar a tendência alta,
em breve romperemos o índice de 30 homicí dios por 100 mil habitantes. A

24
N U C C I , G u i l h e r m e d e S o u z a . L e i s P e n a i s e P r o c e s s u a i s P e n a i s C o m e n t a d a s . 4 e d . r e v. a t u a l . e
am pl. S ão Paulo. Revis ta dos Tribunai s, 2009.
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própria Políci a Federal esti ma que, para cada arma apreendida no país ,
out ras trinta entr am ilegal ment e 2 5 . [ grif ei]

Por todas as evidências apresentadas, com enfoque no tráf ico


de armas, no acesso às arm as ilegais, na im punidade e nas def iciências das
ações, progr amas e políticas públicas, conclui-se que o ovacionado Estatut o

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do Desar mam ento consubstancia uma corti na de fum aça na linha de frente
do combate ao HAF, que almeja, tão som ente, ret irar de ci rculação as
ar mas legais ; enquanto os bandidos, em contrapartida, est ão cada vez
mais armados e conscientes de que tem à sua mercê os brasileiros
desarmados pelo Estado.

Por fim, no plano internacional, com base no Sist ema de


Inf orm ações Estatísticas da Or ganização Mundial da Saúde ( W orld Healt h

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Or ganization Statistical Infor mation System – W HOSI S ) e do CENSUS, para
100 (cem) países entre os anos de 2009- 2013, observa-se que o Brasil
ocupa a 10° posição entre os paí ses com maior taxa de HAF por cada
100.000 (cem ) mi l habitant es 2 6 :

25
QUINT ELA, Fl ávio; BARBOSA, Bene. Mentiram para m i m sobre o desar mam ento. Campinas, SP:
Vide Editorial, 2015. Pag. 72
26
w w w. m a p a d a v i o l e n c i a . o r g . b r / p d f 2 0 1 6 / M a p a 2 0 1 6 _ a r m a s _ w e b . p d f , p a g . 5 8 / 5 9 .
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Diante do nef ast o cenário ora retr atado, repise- se: o Estado não
pode im pedir, sequer dif icult ar, de for ma ar bitrária , desprezando a
legislação f or mal e os preceit os constitucionais, a autodefesa dos direitos
fundamentais dos brasi leiros , com o lam entavelment e vem perpetrando,
sob a f achada de campanhas desarmamentistas.

5.6 – ILICITUDE DAS CONDUTAS DA RÉ

No caso especí fico, most ra-se evidente que a União, por


intermédio do Ministério da Justiça, especificamente do Departamento da
Polícia Federal, conduz-se ilicitam ente, a pretexto de prover
regulam entações à Lei feder al n° 10.826/2003 – Estat uto do Desarmament o
– à proporção que, verdadeirament e, extrapola os li mites dessa lei formal .
Com ef eito, de forma arbitr ária e abusiva , impede os brasileiros de
proteger seus direitos f undamentais constitucionalmente tutelados,
par ticular ment e à vida, à liber dade, à propri edade e à segurança .

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5.7 – CONCLUSÕES DE MÉRITO

Atentando-se, enf im, aos ar gument os expendidos, conclui- se que


a ré ofende o ordenamento jurídico , à medida que seus ór gãos
administr ativos, especialmente o Ministério da Justiça, por int ermédio do
Departamento de Polícia Feder al, agem inconstitucionalmente, contra a

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aut odefesa dos direit os fundamentais à vida , à liberdade, à propri edade e
à segurança dos brasileiros, insculpidos no artigo 5 °, caput , da Carta da
República; e ilegalmente cont ra as nor mas da Lei f ederal n° 10.826/2003 –
Est atuto do Desar mamento – no que concerne à out orga de li cenci amento
par a aquisição e regist ro de arm as de fogo .

6 – PRETENSÕES DESTA DEMANDA

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6.1 – PRETENSÕES DE DIREITO MATERIAL

Consoant e tudo que f oi exposto, depreende- se que as condutas


da ré vem dando azo a funest as violações dos multicitados dir eitos
fundamentais dos brasi leiros , bem como ao descumprimento continuado
de nor mas Lei feder al n° 10.826/2003 – Estat uto do Desarmament o – no que
concerne à out orga de li cenci amento para aquisição e registro de ar mas
de fogo. A correção das prát icas ilíci tas da ré f ar- se- á mediante
pretensões e respectivas tutelas jurisdici onais inibitóri as .

A pretensão de natur eza inibitóri a e a correl ata tutela


jurisdici onal : “ prestada por meio de ação de conheci mento , e assim não
se liga instrumentalmente a nenhuma ação que possa ser dita '‘principal’'.
Trata-se de '‘ação de conhecimento’' de nat ureza preventiva destinada a
im pedir a pr ática , a repetição ou a continuação do ilí cito ” 2 7 .

Por sua vez, a tutela inibi tória funda-se : “no próprio dir eito
material . Se várias situações de direitos substanciais, diant e de sua
nat ureza, são absolutament e invioláveis, é evi dente a necessi dade de
admitir ação de conhecimento pr event iva . Do contrário, as nor mas que
27
MAR INONI , Lui z G uilher me. Técni ca Proc es s ual e Tut ela dos Direit os , Edit ora Rev ist a dos
Tribunais , S ão P aul o, 2004, p. 251.
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proclamam dir eitos, ou objetivam proteger bens fundam entai s , não teriam
qualquer significação prática, pois poderiam ser violadas a qualquer
moment o, restando somente o ressarciment o do dano ” 2 8 .

A tutela inibitóri a pressupõe : “ a possibilidade do ilícito ,


ainda que se trate de repetição ou conti nuação . Assim, é voltada par a o

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fut uro, e não para o passado. De modo que nada tem a ver com o
ressarci ment o do dano e, por consequência, com os element os para
imputação ressarcit ória – os chamados elementos subjetivos, culpa ou
dolo” 2 9 .

Concernente às técnicas processuais colocadas à disposição


da tut ela ini bitór ia , a sentença jurisdicional mandament al se adéqua à
mesma, por quanto essa: “ tem, por fim, obter, como eficácia preponderante

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da respectiva sentença de procedência, que o juiz emit a um a ordem a ser
observada pelo demandado (...). É da essência, portanto, da ação
mandam ental que a sentença que lhe reconheça a procedência contenha
uma ordem para que se expeça um mandado . Daí a designação de
sentença mandamental. Nesse tipo de sentença, o juiz ordena , e não
si mplesment e condena . E nisso reside, pr ecisamente, o elemento eficacial
que a faz diferente das sentenças próprias do pr ocesso de conhecimento ” 3 0 .

Nor mativamente , a tut ela jurisdicional ini bitór ia fundamenta-


se constitucionalmente : “a lei não excluirá da apr eciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a dir eito” (ar tigo 5º, inciso XXXV, da Carta
Magna). Inf raconstitucionalmente , o inst rumento processual colocado a
serviço da indigitada tutel a jurisdicional se inser ta na Lei f ederal nº
7.347/1985, artigo 11: “Na ação que tenha por objeto o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz deter minar á o cumpriment o da
prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena
de execução especí fica, ou de cominação de multa diária, se esta for
suficiente ou compatível, independentemente do requerimento do autor ”.
28
MARINONI, Luiz Guilher me. Op. cit. p. 251.
29
MARINONI, Luiz Guilher me. Op. cit. p. 255.
30
D A S I LVA , O v í d i o A . C u r s o d e P r o c e s s o C i v i l , Vo l u m e I I , 5 ª e d . E d i t o r a R e v i s t a d o s T r i b u n a i s ,
São Paulo, 2002, p. 336.
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Assim sendo, no caso em apr eço, a tut ela jurídico-processual


à disposição das pretensões inibitórias desta dem anda é a sentença de
efi cácia preponderantemente mandam ental , por meio da qual o magistrado
deve impor ordens ou vedações a ré, com vistas ao total cumprim ento dos
seus deveres- poderes , até agora negligenciados.

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Compreendida, port anto, a tutela jurisdicional almejada, torna- se
imprescindível propugnar pela ant ecipação da tut ela pret endida , com base
na evidência .

6.2 – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA DE EVIDÊNCIA

O novo Código de Processo Civil, no seu ar tigo 311, incisos I ao


I V, institui a tutela de evidência , a qual será concedida, entr e outras

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hipóteses, independentemente da demonstração de peri go de dano ou de
risco ao resultado útil do processo , quando, dentr e outras hipóteses, a
petição inicial f or instruída com prova docum ental sufici ente dos fatos
constitutivos do di reito do autor, a que o réu não oponha prova capaz de
ger ar dúvida razoável 3 1 .

Repise-se, outrossim: “ O legislador pr ocurou caract erizar a


evi dênci a do direi to postulado em juízo capaz de justificar a prest ação de
“tut ela provisóri a ” a partir das quatro situações arroladas no artigo 311,
CPC. O denominador comum capaz das de amalgamá-las é a noção de
def esa inconsist ente . A tut ela pode ser antecipada por que a defesa

31
A r t i g o 3 11 . A t u t e l a d a e v i d ê n c i a s e r á c o n c e d i d a , i n d e p e n d e n t e m e n t e d a d e m o n s t r a ç ã o d e p e r i g o
de dano ou de risco ao resultado útil do processo, quando:
I - fi car caracterizado o abuso do direito de defesa ou o m anifesto prop ósi to protelatório da
par te;
II - as alega ções de fato puderem ser com provadas apenas documental m ente e houver tese
firmada em julgamento de casos repetitivos ou em súmula vinculante;
III - se tratar de pedi do reipersecut ório fundado em prova docum ental adequada do contrato
de depósito, caso em que será decretada a ordem de entrega do objeto custodiado, sob cominação
de multa;
IV - a peti ção ini cial for instruída com prova documental sufi ciente dos fatos consti tutivos
d o d i r e i t o d o a u t o r, a q u e o r é u n ã o o p o n h a p r o v a c a p a z d e g e r a r d ú v i d a r a z o á v e l .
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o juiz poderá decidir liminarmente.

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articulada pelo réu é inconsistente ou provavelmente o ser á” 3 2 .

A inova ção legal veio, pois, em boa hora, uma vez que
distribui o ônus do tempo do processo entr e as partes , fazendo com que
o litigant e que não tenha razão suporte o far do da duração do processo .
Noutras palavras, o objetivo da tut ela de evidência : “é distribuir o ônus

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que advém do tempo necessário para tr anscurso de um processo e a
concessão de tutela definitiva. Isso é feit o mediante a concessão de uma
tut ela imediata e provisória par a a parte que revela o elevado grau de
reprovabilidade de suas alegações (devidamente provadas), em det rimento
da par te adversa e a improbabilidade de êxito em sua resistência – mesmo
após inst rução processual ” 3 3 .

Eis o caso concreto. Est a petição inicial acha- se instr uída com

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substancial prova docum ental , a qual revela a f lagrant e violação das
nor mas aludidas nos tópicos retro. Não existindo nenhum a contr aposição
hábil a ser oposta pela ré para se escusar do descumprimento dos seus
deveres- poderes pertinentes ao resguardo aos direitos fundament ais à
vida, à liberdade , à propri edade e à segurança dos brasileir os, os quais
est ão sendo diariam ente violentados, gr aças às práticas ilícita s perpetradas
pela ré, por inter médio dos seus ór gãos administ rativos, que lhes sonega a
out orga de li cenci amento para aquisição e registro de ar ma de fogo , em
afr onta às normas pertinentes da Lei feder al 10.9826/2003 – Estatuto do
Desarmament o.

Destarte, consubstanciam técnicas processuais à disposição


das pretensões de direito mater ial desta demanda aquelas instit uídas pelo
novo Código de Processo Civil, artigo 311, inciso I V, integr adas
sistemi camente , para def esa de dir eitos e interesses coletivos , difusos e
individuais homogêneos , à Lei f ederal nº 7.347/85, artigos 11, 12, caput ,
§§ 1º e 2º, 19 e 21, e à Lei f ederal nº 8.078/90, artigos 81, par ágraf o único,
incisos I, II e III, 82, inciso I, 84, caput , §§ 3º, 4º e 5º, e 90. Ref eridas
32
M A R I N O N I , L u i z G u i l h e r m e , A R E N H A R T, S é r g i o C r u z , M I T I D I E R O , D a n i e l . N o v o C ó d i g o d e
P r o c e s s o C i v i l C o m e n t a d o , E d i t o r a R e v i s t a d o s Tr i b u n a i s , 2 0 1 5 , p á g i n a 3 2 2 .
33
D I D I E R J R , F r e d i e , B R A G A , P a u l a S a r n o . C u r s o d e D i r e i t o P r o c e s s u a l C i v i l , Vo l u m e 2 , E d i t o r a
Jus Podivm, 10ª Edição, 2015, página 618.
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técnicas processuais são aptas a justificar, no caso específico, a


ant ecipação da tut ela jurisdi cional , com suport e na evidência.

7 – PEDI DOS

Posto isso, o MINIST ÉRI O PÚBLICO FEDERAL pede a V. Exa. o

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que se segue

7.1 – Pedido de antecipação de tutela de evi dênci a

7.1.1 – proíba à União de utilizar regulamentações ilegais,


f ixadas no artigo 12, § 1º, do Decreto nº 5.123/2004 e no artigo 6º, § 1º, da
Instrução nor mativa nº 23/ 2005 do Departament o de Polícia Federal e
nor mativas cor relatas, sobretudo no que concerne a exi gênci a de qualquer
comprovação à autoridade pol icial de necessidade de aquisi ção e

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registro de arma de fogo , limitando- se, para esse fim, aos ditames do
artigo 4º, caput , Lei feder al n° 10.826/2003 – Estat uto do Desarmament o –
isto é, à declaração de efet iva necessidade ;

7.1.2 – ordene à União que revise todos os requerim entos de


aquisição e regist ro de arm a de fogo , elaborados nos últimos 5 (cinco)
anos, nos moldes do artigo 4º da Lei f ederal n° 10.826/ 2003 – Est atuto do
Desarmament o – a f im de identificar os casos de indef erim ento da outor ga
com base em exigência de qualquer comprovação à autoridade policial de
necessidade de aquisição e registro de arma de f ogo, fundamentada nas
regulam entações ilegais consubstanciadas no artigo 12, § 1º, do Decreto nº
5.123/2004 e no ar tigo 6º, § 1º, da Instrução normativa nº 23/2005 do
Departamento de Polícia Feder al e normativas cor relatas; bem assim, nos
casos identificados, edite novo ato administrativo concreto sem a mácula da
ilicitude;

7.1.3 – comine multa diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil


reais) à União, no caso de ret ardamento das medidas acima pugnadas (itens
7.1.1 e 7.1.2); e

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7.1.4 – imponha m ulta diária de R$10.000,00 aos agentes


públicos da ré que concorram , de qualquer f or ma, para o descumpriment o da
decisão judicial concedida nos termos acim a postulados.

7.2 – Pedido de julgamento defini tivo

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Ultr apassada a instr ução processual, no mérito:

7.2.1 – reconheça a nat ureza jurídica de licença , isto é, de ato


administrativo vinculado aos requisitos objetivos, da out orga de li cença
par a aquisição de registro de ar ma de fogo , e, consequentemente,
declare ilegal qualquer exigência de comprovação de necessidade
per ante atividade discri cionária de autoridade policial da União, f ixada no
artigo 12, § 1 º, do Decreto nº 5.123/2004 e no artigo 6º, § 1º, da Instrução

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nor mativa nº 23/ 2005 do Departament o de Polícia Federal, e normativas
cor relatas, em f ace da Lei feder al nº 10.826/ 2003;

7.2.2 – proíba à União de utilizar regulam entações ilegais,


f ixadas no artigo 12, § 1º, do Decreto nº 5.123/2004 e no artigo 6º, § 1º, da
Instrução nor mativa nº 23/ 2005 do Departament o de Polícia Federal e
nor mativas cor relatas , sobret udo no que concerne a exi gênci a de qualquer
comprovação à autoridade pol icial de necessidade de aquisi ção e
registro de arma de fogo , limitando- se, para esse fim, aos ditames do 4º,
caput , Lei f ederal n° 10.826/2003 – Estatut o do Desar mam ento – ou seja, à
declaração de efet iva necessidade ;

7.2.3 – ordene à União que revi se todos os requeri mentos de


aquisição e regist ro de arm a de fogo , elabor ados nos últimos 5 (cinco)
anos, nos moldes do artigo 4º da Lei f ederal n° 10.826/ 2003 – Est atuto do
Desarmament o – a f im de identificar os casos de indef erim ento da outor ga
com base em exigência de qualquer comprovação à aut oridade policial de
necessidade de aquisição e registro de arma de f ogo, fundamentada nas
regulam entações ilegais consubstanciadas no artigo 12, § 1º, do Decreto nº
5.123/2004 e no ar tigo 6º, § 1º, da Instrução normativa nº 23/2005 do
Departamento de Polícia Feder al e normativas cor relatas; bem assim, nos

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casos identificados, edite novo ato administrativo concreto sem a mácula da


ilicitude;

7.2.4 – comine multa diária de R$ 200.000,00 (duzentos mil


reais) à União, no caso de ret ardamento das medidas acima pugnadas (itens
7.2.1 e 7.2.2);

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7.2.5 – imponha multa diária de R$10.000,00 aos agentes
públicos da ré que concorram , de qualquer f or ma, para o descumpriment o da
decisão judicial concedida nos termos acim a postulados; e

7.2.6 – confirme os ef eitos da decisão antecipatória concedida


nos ter mos do item 7.1., acima, tornando- os def initivos.

8 – REQ UERI MENTOS

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Afinal, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL requer:

8.1 – recebim ento da pr esent e petição inicial, instruída com


cópia par cial do inquérito civil n° 1.18.000. 000954/2017-89, em anexo; e

8.2 – cit ação da ré para com parecer à audiência de conciliação,


nos ter mos do artigo 334 do NCPC.

9 – PROVAS

Provar-se-á o alegado por todos os meios de provas em direito


admitidas.

10 – VALOR DA CAUSA

Dá- se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais), para fins


meramente fiscais.

AILTON BENEDITO DE SO UZA

Procur ador da Repúbli ca


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