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Resenha

ISLER-KERÉNYI, Cornelia. Dionysos in Classical Athens. An Understanding through


Images (Religions in the Graeco-Roman World)- Leiden/Boston, Brill, 2015. 1 vol.
ISBN: 987-9-004-27011-4.

Nesta obra bastante elucidativa e do que se acreditava, na iconografia


atualizada, Cornelia Isler-Kerényi reúne Dioniso estava ele presente entre os
uma coletânea de pesquisas voltadas às deuses do Olimpo e claramente era vis-
imagens de Dioniso, que se construíram to como um igual. Dentre os múltiplos
durante o período clássico, em especial papéis, o deus assumia a função de pro-
durante o V século AEC, em Atenas. A tetor da continuidade e estabilidade de
abordagem da autora insiste em apro- um período atormentado por crises. E
fundar as imagens deste contexto, a fim foram algumas imagens do século VI AE
de identificar uma nova compreensão que permitiram desenvolver a hipótese
do deus grego, um novo significado de que a representação da resolução
bastante diferente dos já sugeridos pelas das crises também se colocava sob a
fontes literárias. A autora, contrariando autoridade do deus.
algumas fontes intermediárias da época, A maioria dos vasos decorados
defende que as imagens de Dioniso se- ofertados ao deus eram fabricados para
riam como que testemunhos diretos das comportar vinho e serem usados nos
comunidades que as criaram e, tão rele- simpósios. O consumo de vinho foi
vantes quanto as fontes textuais, seriam um instrumento de transformação da
imprescindíveis para uma compreensão sociedade ateniense e também do pró-
mais efetiva do papel desempenhado prio deus, tornando-se, por sua vez, seu
pela divindade no cenário ateniense. símbolo. Mas Dioniso não é somente
O livro surge alguns anos após a o deus do vinho ou da possessão, seu
publicação de outra análise preciosa extenso terreno permite-nos concluir
sobre as imagens de Dioniso na Grécia que ele é também um deus regulador
arcaica. A introdução desta obra leva em da fertilidade, da vegetação, do solo e,
consideração os apontamentos da obra como quer a autora, das crises.
anterior, destacando que a iconografia Ainda na introdução, a autora tratará
do século V AC deriva diretamente da do séquito de Dioniso, distinguindo
produção do período arcaico. Ainda no entre as imagens dos sátiros e das ba-
século VI, Dioniso não se apresentava cantes e como elas começam a aparecer
apenas como o deus do êxtase e da no período clássico. Ela esclarece que
transgressão, mas também como aquele já resta pacífica entre os estudiosos a
que assumia the role of keeper of the or- noção de que as imagens não visavam
der of Zeus and pacifier.1 Ao contrário a retratar com exatidão o mundo real e
tangível do período, mas their mental

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p. 2 world, which only partly corresponded

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254 to the real one, isso porque as imagens mais comuns e numerosas que outras,
do séquito estavam sempre conectadas como, por exemplo, os vasos, as xícaras
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com situações rituais. Isler-Kerényi e taças, as vasilhas para misturar água


distinguirá, também, as transformações e vinho, além das crateras. As ânforas,
pelas quais as imagens de Dioniso as colunas e as hydrias aparecem mais
passaram a partir de 450 AC, já que o tardiamente.
deus deixa de ser venerado como pai, No que concerne à imagem de Dioni-
marido ou homem barbado e passa a so, ela não é a mais comum em Atenas.
ser retratado como filho e jovem nu. As figuras mais corriqueiras são as dos
As fontes literárias apresentam Dioniso anônimos, em geral, homens jovens
de várias formas: como criança, no e barbados, seguidas de mulheres e
sexto livro da Ilíada; como jovem, no representações femininas. Figuras de
sétimo Hino Homérico e nas Bacantes homens anônimos são mais retratadas
de Eurípedes. Entretanto, também na em taças e xícaras, enquanto figuras
cerâmica ele passa a ser retratado com femininas são mais representadas em
aparência jovem, o que – segundo a hydrias. Esses motivos não são menos
autora – não seria herança de Péricles relevantes que os mitológicos, são ape-
ou Fídias, mas uma transformação da nas menos estudados.
própria figura do deus. Os principais motivos dionisíacos
As imagens das cerâmicas são secun- das cerâmicas são: o próprio deus
dárias aos seus portadores (os vasos) e (em menor quantidade), os sátiros, as
só podem ser consideradas em relação bacantes, os kómos (procissões) e os
aos portadores, de modo que é preciso simpósios. E, como pode se imaginar,
estar atento a como e onde a imagem esses motivos estão mais presentes em
do portador foi usada.2 Nesse sentido, copos e taças que em outras formas de
se interpretadas de modo relacional, as cerâmica. A autora chama a atenção
mensagens deixadas pelas imagens po- para o aumento das representações que
deriam trazer um entendimento maior envolvem Dioniso na primeira metade
das transformações não só referentes à do século V AC. Curiosamente, na se-
aparência, mas ao próprio significado gunda metade deste mesmo século, a
de Dioniso. produção das cerâmicas “dionisíacas”
É por esse motivo que, no primeiro cai vertiginosamente. Após 430 AC, os
capítulo da obra, bastante conciso, a motivos mitológicos dos vasos também
autora apresenta os diferentes tipos entram em decadência e marcam o
de cenas dionisíacas encontradas nas declínio da utilização das cerâmicas de
cerâmicas de pintura vermelha, em pinturas vermelhas em geral. É de se
conexão com seus portadores. Ela cita notar, todavia, que o interesse da autora
a contribuição do Arquivo Beazley, em sobre os motivos dionisíacos não dimi-
Oxford, que permitiu investigar mais nui, já que Dioniso, Ariadne, sátiros e
de 80.000 (oitenta mil) vasos áticos e bacantes são as figuras mais populares
fragmentos de vasos registrados, que das crateras e das Cálix do século 4 AC. 3
vão do sétimo ao quarto século AEC, e Os próximos quatro capítulos suce-
destaca que, na produção das cerâmicas dem-se em ordem cronológica: as ima-
atenienses há certas formas que são gens em pinturas negras e vermelhas de

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vasos e taças do século VI AEC (capítulo bastante úteis. Vale ressaltar que todas 255
dois), as dos primeiros anos do século as imagens são apresentadas, na obra,

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V (capítulo três), o desenvolvimento da em preto e branco e em qualidade um
imagem nas ânforas, por volta de 480 tanto quanto questionável, reduzida.
AC (capítulo quatro) e as figuras de Falha que talvez não deva ser atribuída
Dioniso no imaginário ateniense entre à autora, mas à editora, que poderia
480 e 430 AC (capítulo cinco). ter tido maior cuidado na impressão de
O capítulo seis é temático e aborda estudos iconográficos.
as representações dos rituais dionisía- Quanto aos numerosos vasos que
cos menos ou pouco conhecidos, e o não foram reproduzidos, a autora se
capítulo sete é dedicado a compreen- desculpa desde o início, ainda no prefá-
der uma nova concepção de Dioniso a cio, informando que a ausência ocorreu
partir da construção do Parthenon. Este em função dos valores descomedidos e
“novo” Dioniso, transformado, é tam- reivindicados por alguns museus pelos
bém objeto de estudo do capítulo oito, direitos de reprodução, o que, infeliz-
que se debruça sobre essa mudança na mente, é uma perda para os estudiosos
iconografia do deus a partir do ponto do tema.
de vista da pintura dos vasos. As citações de fontes e dos documen-
No capítulo nove, a autora retrata tos apresentados suscitam confiança
as imagens do período que sucede a à análise realizada, porém algumas
430 AEC, sem se olvidar das fontes sentenças e ideias se repetem ao longo
literárias, do teatro, da escultura e da dos capítulos, de forma que talvez fosse
“famosa” cratera de Derveni, sugerindo interessante reduzir a quantidade de
reflexões e interpretações nem sempre seções, a fim de que o texto se torne
bem recepcionadas pela comunidade ainda mais fluido e objetivo. A obra,
acadêmica, mas, de qualquer forma, acessível, porém extensa, é inovadora
frutíferas para o debate. em sua proposta e de grande valia aos
O capítulo de encerramento se pro- estudos iconográficos, mas não só. É
põe como um resumo da análise das fundamental para aqueles que dese-
imagens, momento em que a autora jam compreender melhor o contexto
conclui que a iconografia do período dos antigos cultos e práticas religiosas
clássico confirma o que já havia sido atenienses e, em especial, recomenda-
revelado no período arcaico: que Dio- da para os que se debruçam sobre as
niso é muito mais que o deus do vinho, representações dionisíacas, objeto de
da embriaguez, do drama e do êxtase: investigação comum aos estudiosos da
seus campos de ação cobrem tanto o Antiguidade, mas difícil, porque distante
mundo natural, selvagem, desmedido, e esquivo.
denso e cruel, quanto o da polis bem
ordenada, em um relacionamento às ve- Milena Tarzia
zes de embate, às vezes de harmonia. 4 milenatarzia@uol.com.br
Doutoranda em História Antiga, Unesp
O livro termina com uma lista de
referências deveras sucinta e dois índi-
ces, um museográfico e um temático,
além das listas de correspondência,


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