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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O

TRATAMENTO DE ÁLCOOL E OUTRAS

DROGAS

Joelma Santos da Costa

11
Rio de Janeiro

2008

Joelma Santos da Costa

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O TRATAMENTO

DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Trabalho de Conclusão de Curso de


Graduação, apresentado ao
Departamento de Fundamentos do
Serviço Social da Escola de Serviço
Social da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.

Orientadora: Prof. Dr. Mariléia Franco


Marinho Inoue

12
Rio de Janeiro
2008

A importância da família para o tratamento de álcool e outras

drogas

Autor:

Joelma Santos da Costa

Orientador:

Prof. Dr. Mariléia Franco Marinho Inoue

Examinadores:

Prof. Dr. Luiz Eduardo Acosta Acosta

13
Prof. Dr. Rogério Lustosa Bastos

Departamento de Fundamentos do Serviço Social


Escola de Serviço Social – UFRJ
Rio de Janeiro, RJ – Brasil.
Fevereiro de 2008

Dedico este trabalho a todos que contribuíram para a


realização desta etapa inesquecível e fundamental em minha vida.
A minha mãe principalmente que sempre esteve ao meu lado
colaborando em todos os momentos.

14
Joelma Santos da Costa

15
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por tornar possível esta conquista em minha vida que
sem dúvida possibilitou meu crescimento pessoal e sempre me amparou nos
momentos difíceis que não foram poucos.

À minha família principalmente a minha mãe Maria José, pela


compreensão e ajuda que me foi dada durante toda a minha vida e
especialmente durante o período acadêmico, o que tornou possível a
concretização desta vitória.

Ao meu irmão George que muito contribuiu para minha permanência na


universidade.

À minha orientadora a professora Mariléia Inoue que teve muita


paciência e sempre entendeu as minhas dificuldades, inclusive quando
desanimei em algumas situações, tranqüilizou-me nos momentos em que
estava apreensiva se conseguiria tornar realidade um sonho, a conclusão
deste trabalho que é algo cristalino em minha vida, um troféu, por tudo que vivi.

Ao meu namorado Luiz Carlos que de forma indireta contribuiu com o


trabalho através de discussões sobre assuntos que mesmo sem que ele
percebesse articulei a pesquisa realizada neste estudo.

Agradeço ao empenho e dedicação do meu supervisor de estágio Ivan


Freire Nunca esquecerei o incentivo e presteza dedicado durante todo período
de convivência no Hospital Escola São Francisco de Assis.

Aos meus amigos e todos os professores que me deram força e apoio


sempre com muito otimismo e palavras positivas.

16
Agradeço a todos pela contribuição!

Eu sei,
Que os sonhos são pra sempre.
Eu sei,
Aqui no coração...
Eu vou ser mais do que eu sou
Pra cumprir as promessas que eu fiz
Porque eu sei que é assim
Que os meus sonhos dependem de mim
Eu vou tentar, sempre
E acreditar que sou capaz
De levantar uma vez mais.
Eu vou seguir, sempre
Saber que ao menos eu tentei
E vou tentar mais uma vez
Eu vou seguir...
Não sei,
Se os dias são pra sempre.
Guardei,
Você no coração...
Eu vou correndo atrás,
Aprendi que nunca é demais
Vale a pena insistir
Minha guerra é encontrar minha paz...
Eu vou tentar, sempre
E acreditar que sou capaz
De levantar uma vez mais.
Eu vou seguir, sempre
Saber que ao menos eu tentei
E vou tentar mais uma vez
Eu vou seguir...

Versão de Marina Elali e Dud Falcão

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso discorre sobre a


importância da família para o tratamento de álcool e outras drogas e o
interesse pelo referido tema surgiu a partir da experiência de estágio no
HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis e tem como objetivo
compreender o processo no qual as famílias de usuários de álcool e outras
drogas estão inseridos.
Buscou-se enfatizar a importância da família no processo de tratamento
familiar, articulando o contexto social à dinâmica vivenciada pela família em
relação a dependência química. A família como principal agente de
socialização do indivíduo tem uma contribuição fundamental a dar na
recuperação e na reintegração social de usuários de álcool e outras drogas.
Foram analisados os prejuízos ocasionados em decorrência do uso de
drogas para que se possa encontrar alternativas saudáveis e trazer a
discussão das drogas para o âmbito da saúde na perspectiva de qualidade de
vida e descriminalização do usuário.

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ABREVIATURAS

ABEAD – Associação Brasileira de Estudos do Álcool


AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida
A A – Alcoólicos Anônimos
AL-ANON – Grupos Familiares
CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas
DST – Doenças sexualmente Transmissível
HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis
HUPE – Hospital Universitário Pedro Ernesto
MS – Ministério da Saúde
N A – Narcóticos Anônimos
NEPAD – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas
OBID – Observatório Brasileiro de Informação sobre Drogas
OEA – Organização dos Estados Americanos
OMS – Organização Mundial de Saúde
SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e
Cultura
UNIAD – Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
UNIPRAD – Unidade de Projetos Relacionados ao Uso de Drogas

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ONU – Organização das Nações Unidas

LISTA DE TABELAS

Tabela I - Terminologia e Conceitos Básicos sobre Drogas

Tabela II – Classificação das Drogas Quanto a Ação no Sistema Nervoso Central

Tabela III - Classificação dos Níveis de Prevenção

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................

1- CAPÍTULO I – A família em constante mudanças ..................................... 1

1.1 Perspectiva Histórica .....................................................................................1

1.2 O que é família..................................................................................................

1.3 A mulher no âmbito familiar ............................................................................2

1.4 A configuração da família nos anos 90 ............................................................

2- CAPÍTULO II – Droga e Família ....................................................................

2.1 Considerações sobre drogas ...........................................................................2

2.1.1 Dependência .................................................................................................

2.1.2 Por que tratar...................................................................................................3

2.1.3 Por que a família é importante no tratamento ................................................

2.1.4 A influência da mídia no consumo de drogas .................................................3

3- CAPÍTULO III – Trabalhos Diferenciados e Equipes Interdisciplinares

21
Tratamento da Dependência Química.........................38

3.1 O Trabalho dos Grupos de Apoio aos Dependentes Químicos e suas


Famílias......................................................................................................................

3.1.1 Alcoólicos Anônimos (AA)..............................................................................

3.1.2 Narcóticos Anônimos (NA).............................................................................

3.1.3 Grupos Familiares (AL-ANON)........................................................................4

3.2 O Trabalho do NEPAD.....................................................................................

3.2.1 O Trabalho do HESFA................................................................................... .4

3.2.2. O Trabalho do Centra-Rio ...............................................................................

4- CAPÍTULO IV - A Análise dos Dados Obtidos na Pesquisa....................

4.1 Universo Pesquisado..................................................................................... 4

4.2 Identificação das famílias entrevistadas.........................................................4

4.3 Quanto à percepção do que é família.............................................................

4.4 Quanto aos prejuízos que ocorreram na família em decorrência do uso da


droga..........................................................................................................................

4.5 O processo de Co-dependência......................................................................5

4.6 Análise do discurso das Assistentes sociais....................................................

4.6.1 Quanto ao trabalho interdisciplinar ................................................................5

22
4.7 Análise do discurso dos demais profissionais.................................................5

4.7.1 A relevância da família no tratamento ............................................................5

4.7.2 Fatores negativos e positivos no Grupo de Família ........................................

4.7.3 O acolhimento aos familiares de usuários em tratamento...............................

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................6

ANEXOS....................................................................................................................7

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INTRODUÇÃO
O uso de drogas1 vem tomando proporções muito expressivas em todo o
mundo.
De acordo com a ONU, em todo o planeta, 162 milhões de pessoas,
entre 15 e 64 anos de idade, seriam usuárias de maconha, ou seja,
4% da população mundial. O Brasil é o quinto país da América do Sul
no consumo de maconha entre estudantes de ensino médio, de
acordo com estudo realizado pelas Nações Unidas e pela
Organização dos Estados Americanos (OEA) (Revista, Mundo em
Foco, 2007. p. 47).

Diante desse quadro, este estudo de graduação inicialmente intenciona


analisar a família do usuário ou dependentes de drogas como uma categoria
que em decorrência das transformações que ocorrem na sociedade capitalista
sofrem implicações nas relações sociais e tem conseqüências singulares no
indivíduo e conseqüentemente em sua família.
O uso de álcool e outras drogas vêm expressando significados distintos
de acordo com o processo histórico. O consumo e agravos sociais decorrentes
do uso e abuso de substâncias constatam a proporção de grave problema de
saúde pública no país por isso o enfrentamento desta problemática constitui
uma demanda mundial.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 10% das
populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem
abusivamente substâncias psicoativas2, independentemente de sexo,
idade, nível de instrução e poder aquisitivo (BRASIL, 2004, p.5).

É necessária uma ação política eficaz que vise o fortalecimento das


redes de assistência associada à de saúde que possibilite a reinserção social
e a reabilitação dos usuários. A política social não pode ser analisada sem se
remeter a questões de desenvolvimento econômico, ou seja, a transformação
quantitativa e qualitativa das relações econômicas decorrentes do processo de
acumulação particular de capital (VIEIRA, 2004, p.142).
Os assistentes sociais compõem uma das categorias profissionais
envolvidas na implementação de políticas sociais e seu significado social só

1 Droga é toda substância que introduzida no organismo, pode modificar uma ou mais de suas
funções (Organização Mundial de Saúde).
2 As substâncias psicoativas atuam no cérebro alterando o psiquismo.

24
será entendido ao levar em consideração tal característica (IAMAMOTO e
CARVALHO, 2003).
Os diversos serviços sociais previstos em políticas sociais específicas
são uma expressão da classe trabalhadora em sua luta por melhores
condições de trabalho e de vida, que são consubstanciadas e
ratificadas na legislação trabalhista (IAMAMOTO e CARVALHO,
2003, p. 2).

A afirmação de elaboração de estratégias e propostas para efetivar e


consolidar o modelo de atenção ao usuário de álcool e outras drogas não deve
reduzir esta questão a um problema exclusivo de atenção à saúde. É preciso
buscar uma articulação com outras políticas que visem subsidiar a intervenção
profissional, tais como assistência, habitação e previdência.
O presente trabalho se estrutura da seguinte forma: no capítulo I A
Família em constante mudança, é trabalhado o contexto no qual se constitui a
família a partir das transformações presentes na sociedade.
No capítulo II Drogas e Família, abordamos em primeiro lugar os
conceitos acerca da droga a fim de subsidiar o exercício profissional dos
envolvidos no tratamento da dependência química, e, em seguida, a dinâmica
das famílias dos dependentes e qual a importância de inseri-las neste
processo, bem como a influência da mídia no consumo de drogas.

O capítulo III Trabalhos Diferenciados e Equipes Interdisciplinares no


Tratamento da Dependência Química, apresentamos alguns trabalhos que são
desenvolvidos no tratamento de dependentes químicos e suas famílias, nas
diversas instituições que atuam no município do Rio de Janeiro.

No capítulo IV A Análise dos Dados Obtidos na Pesquisa, através da


pesquisa qualitativa realizada nas instituições HESFA, Alcoólicos Anônimos,
NEPAD Narcóticos Anônimos, Narcóticos Anônimos, AL-ANON e Centra Rio
realizamos uma análise das formas de atendimento acerca desta demanda e o
direcionamento do Serviço Social na prática interventiva.

O presente estudo pretende contribuir para sinalizar não apenas a


importância da família em todo o processo de recuperação dos adictos 3 como

3 O termo mais utilizado em grupos de auto-ajuda para designar o indivíduo que tem dependência química de
determinadas substâncias.

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também o adoecimento vivenciado pelos familiares e a necessidade de apoio e
atendimento profissional.
Os relatos dos que trabalham com o uso de drogas e dependência
química tem mostrado que é imprescindível incluir a família no processo de
reabilitação do dependente. Esta discussão será iniciada no capítulo I
ilustrando as constantes mudanças vivenciadas pela família e aprofundada no
capítulo II.
Muitos estudos, de diferentes referenciais teóricos, ressaltam a
importância da família tanto na prevenção quanto no tratamento dos
dependentes químicos, o que reforça a visão da dependência química como
um fenômeno que atinge não apenas o individuo, mas toda a família.
Tanto os jovens quanto os adultos fazem uso de drogas porque a
realidade social não está atendendo as necessidades humanas. Inserir a
discussão do uso de drogas na perspectiva de qualidade de vida evitando a
criminalização do indivíduo amplia o debate em estudo.
O objetivo geral desta pesquisa é analisar as repercussões do uso
abusivo de álcool e outras drogas na família de usuários em tratamento. Assim
pretendemos traçar um perfil das famílias, o tipo de auxílio prestado pela
família no tratamento de usuários de drogas, também analisar as diferenciadas
modalidades de atendimento disponibilizadas a estes usuários e abordaremos
os encaminhamentos do Serviço Social no tratamento.
O problema das drogas interroga a natureza e o sentido da existência. A
ciência pode contribuir muito significativamente para a clareza do debate,
operacionalizando conceitos e elucidando aspectos psicológicos, socioculturais
e biológicos das toxicodependências4 (BAPTISTA e INEM, 1997,p.195 ).

Sendo a família o principal agente de socialização do indivíduo


(CARVALHO, 2005 p.13), e o lugar inicial para o exercício da cidadania se faz
necessário dispensar a esta categoria sua devida importância na vida do
indivíduo. Por ser a família um espaço privilegiado de convivência isto não
significa que não haja conflitos e a forma de lidar com as dificuldades poderá

4 Toxicodependência é um fenômeno gerado pelo uso contínuo de drogas que leva o corpo a produzir outro equilíbrio.

26
favorecer o tratamento, mas em algumas situações o resultado pode ser
contrário. Não basta apenas o paciente querer deixar de ser dependente
químico é preciso ter o apoio da família para que se efetive a superação desta
doença. A família através das articulações constantes no dia-a-dia pode
favorecer ou atrapalhar o andamento do tratamento por isso o trabalho a ser
desenvolvido com as famílias é fundamental para obtenção de resultados
satisfatórios.
É conferida relevância à reflexão sobre a questão da importância da
família no tratamento, nas instituições que desenvolvem trabalhos na
perspectiva de prevenção e recuperação de adictos, a fim de buscar o apoio da
família durante o processo de acompanhamento dos atendimentos, mas
também trabalharem fatores externos que determinaram ou levaram o usuário
à dependência5.
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um dos seus
integrantes abala as estruturas de todos os seus membros embora a origem do
uso de drogas possa estar na própria família.
A perspectiva da saúde pública considera todas as drogas em pé de
igualdade e analisa as suas implicações globalmente em termos de riscos para
a população formulando os problemas (BAPTISTA e INEM, 1997, p.198).
O presente estudo faz-se necessário devido à intervenção do Serviço
Social, que pode esclarecer aspectos da questão junto à família no que se
refere ao uso de drogas, tendo em vista que esta temática está cada vez mais
presente na sociedade como mediadora das relações sociais (HYGINO e
GARCIA, 2003, p.220). O Assistente Social, em seu exercício profissional se
depara cotidianamente com esta demanda e suas decorrências vivenciando
impasses e limites devido à escassez de recursos disponibilizados na rede
pública de atendimento ao usuário de drogas.

5 Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/livre_das drogas acessado em 08 de agosto de 2007.

27
CAPÍTULO I
FAMÍLIA EM CONSTANTE MUDANÇA

1.1 - Perspectiva Histórica.

A família brasileira no decorrer da história sofreu transformações que


justificam o mapeamento da realidade vivenciada por estas famílias nos dias
atuais.
Numa retrospectiva breve da história a partir do século X, tomando como
base Àries (1981), veremos que até o referido século, a família, inclusive em
termos de patrimônio, não tinha expressão. A partir de então, em decorrência
das oscilações do Estado, a concepção de linhagem ganha força tendo como
uma das preocupações a não divisão do patrimônio.
Na sociedade agrária e escravocrata do Brasil colonial, a família era a
organização fundamental, desempenhando as funções econômicas e políticas.
O modelo de família patriarcal decorreu da transposição para os trópicos
brasileiros, de padrões culturais portugueses. Impondo seu domínio na Colônia,
subjugando os indígenas e mais tarde, importando escravos negros, os
portugueses foram destruindo formas familiares próprias desses grupos.
No século XIV, começam a se operar mudanças na família medieval,
que vão se processar até o século XVII. Neste período é importante destacar
que a situação da mulher é também alvo de mudanças, caracterizadas pela
perda gradativa de seus poderes, o que culmina, no século XVI, com a
formalização da incapacidade jurídica da mulher casada e a soberania do
marido na família (GUEIROS, 2002).
“Desta forma, a legislação reforça poder do marido e dos homens em
geral, estabelecendo a desigualdade entre o homem em geral, estabelecendo a
desigualdade entre o homem e a mulher”. (GUEIROS, p. 106). A escolaridade,
por exemplo, passa a ser extensiva a meninas somente no final do século XVII
e início do século XIX .

28
Somente no século XV as crianças (especificamente os meninos)
passam gradativamente, a ser educadas em escolas e a família
começa a se concentrar em torno delas, garantindo-se, entre outras
coisas, a transmissão de conhecimentos de uma geração a outra por
meio da participação das crianças na vida dos adultos (GUEIROS,
2002, p. 105).

As transformações ocorridas no século XIX com o advento da


urbanização, o início da industrialização, a abolição da escravatura e a
imigração provocam, segundo Antônio Cândido, autor clássico da literatura a
passagem da família extensa para o modelo conjugal, com privilégio das
funções afetivas. O ingresso da mulher na força de trabalho rompe a tradicional
divisão do trabalho. Os casamentos começam a ser realizados por interesses
individuais. As atitudes em relação ao namoro se alteram e este se desloca dos
limites da casa para os espaços abertos. Na “nova família” há maior igualdade
entre os sexos, maior controle de natalidade, maior número de separações e
de novos casamentos.
A partir da segunda metade do século XIX, o processo de modernização
e o movimento feminista provocam outras mudanças na família o modelo
patriarcal6, vigente até então, passa a ser questionado. Começa a se
desenvolver a família conjugal moderna, na qual o casamento se dá por
escolha dos parceiros, com base no amor romântico, presente na sociedade
durante muito tempo, tendo como perspectiva a superação da dicotomia entre
amor e sexo e novas formulações para os papéis do homem e da mulher no
casamento (GUEIROS, 2002, p. 107).
A urbanização e a expansão da indústria se acentuam nas primeiras
décadas deste século, produzindo mudanças significativas nas feições da
família e de toda sociedade (BRUSCHINI, 1990, p.69).
A partir da década de 70 vêm à tona novas questões para se pensar a
família como agência de reprodução ideológica, onde a vida cotidiana é o
ponto de partida para o estudo do âmbito ideológico. É no “fazer” de todos os

6 Denominamos família patriarcal, genericamente, a família na qual os papéis do homem e da


mulher e as fronteiras entre o público é o privado são rigorosamente definidos; o amor e o
sexo são vividos em instâncias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do
homem e atribuição de chefe da família é tida como exclusivamente do homem (GUEIROS,
20021, p. 107).

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dias que surgem e se modificam ou desaparecem idéias, atos e relações. A
origem de pressupostos ideológicos se encontra na casa, nos hábitos das
pessoas ou de um grupo. Para reproduzir a sociedade é preciso que os
homens particulares se reproduzam como tal. A vida cotidiana é um conjunto
de atividades que caracteriza a reprodução dos homens particulares criando,
por sua vez a possibilidade de reprodução social. A construção de uma vida
pautada na felicidade é, portanto um compromisso de cada ser humano e,
mais especialmente, da família enquanto grupo voltado para tal fim ( HELLER,
1987, p. 7).
Não dá para pensar no átomo do parentesco a partir da unidade
biológica, o que o leva a introduzir na análise a dimensão cultural: para se
formar a família precisa de dois grupos que se casam fora do seu próprio
grupo. O casamento nas sociedades primitivas, contudo não se originava dos
indivíduos, mas de grupos interessados. A união entre os sexos não era um
assunto privado (Lévi-Strauss, 1980).
Foi Lévi- Strauss, com as estruturas elementares do parentesco quem
deu o passo decisivo para a desnaturalização da família biológica o
foco principal [...] A família passou a ser vista como a atualização de
um sistema mais amplo [...] Para ele o fundamento da família não
está na natureza biológica do homem, mas na natureza social
(SARTI, 1995, p. 41).
Freud mostrou que a mente não é algo previamente dado, mas sim uma
estrutura construída na infância através de um longo processo de formação da
personalidade e de estabelecimento de vínculos afetivos e emocionais que
ocorre dentro da estrutura familiar (BRUSCHINI, 1990, p.62).
O fato de a vida familiar fazer parte do mundo simbólico de todas as
pessoas e estar fortemente influenciada por valores morais, religiosos e
ideológicos tem feito com que muitas vezes se tenha a ilusão de que as
discussões sobre família estão assentadas sobre bases comuns. Ao estudar o
discurso dos Assistentes Sociais sobre família, Silva (1984) assinalou a
tendência de conceituarem a família a partir de suas próprias famílias e de
enfatizarem as relações parentais a partir da consangüinidade. Ainda hoje no
contexto das discussões dos profissionais que trabalham com famílias estão
presentes esta visão de família. A família pode ser entendida como um fato

30
cultural, historicamente condicionada que não se constitui, a priori, como um
“lugar de felicidade”. O ocultamento do caráter histórico determina socialmente
a família como um espaço de felicidades (MIOTO, 1997).
Por meio do estudo das estruturas elementares do parentesco, Lévi-
Strauss (1976) chegou à tese de que a família surgiu no imbricamento entre a
natureza e a cultura. Essa tese permitiu afirmar a supremacia da regra cultural
da afinidade sobre a regra natural da consangüinidade.
A pesquisa histórica de Ariès (1981) sobre a sociedade européia mostra
claramente as diferenças na organização familiar ao longo da história, de modo
que, foi na modernidade que se estabelecem os limites entre o familiar e o
social. Nesta época se desenvolveu a idéia de privacidade, o “sentimento da
casa”, e assim o sentimento familiar (originário da aristocracia e da burguesia)
estendeu-se praticamente a toda sociedade, persistindo até nossos dias.
Dentro dessa nova ordem as crianças foram retiradas da vida comum bem
como de grande parte do tempo e das preocupações dos adultos.
A família no contexto das fronteiras entre o público e o privado com base
na sociedade francesa do pós-guerra até os nossos dias, aponta para
historicidade da construção desses espaços. As mudanças no mundo do
trabalho, com a dissociação família e empresa, foram fundamentais na
constituição da família atual, cujas relações se alteraram significativamente.
Dentro dessa nova ordem os indivíduos conquistaram na família o direito à
autonomia, reconhecimento de uma vida privada individual até então
desconhecida. Ressaltamos que esta alteração significa que a família pode
estar deixando de ser uma instituição para se tornar um ponto de encontro de
vidas privadas, e assim estaria se encaminhando para as famílias informais.

31
1.2 - O que é Família.
No mundo externo ninguém tem piedade do outro e é dentro da família
que cada um deseja receber atenção, respeito e reconhecimento. A casa não
significa mais apenas o local de moradia agora é mais do que isso. Assim a
família torna-se a esfera íntima de existência, o local exclusivo onde se pode
exprimir a própria emoção e agregar-se aos outros. Representa ainda o lugar
onde se pode refazer-se das humilhações sofridas no mundo externo, expandir
a agressividade reprimida, exercitar o próprio autocontrole, repreender e vencer
o outro. Diante de vários conflitos vivenciados pelos sujeitos na atual
conjuntura, a família pode ainda ser um lugar onde se pode contar para
extravasar suas angústias e ansiedades frente a tantos problemas
(desemprego, desentendimentos com amigos, transportes, trabalho precário,
baixos salários e outros) (HELLER, 1987).
Na família são reproduzidos os padrões, os valores e os sistemas de
relações sociais que são particularizados, vividos interiorizados ao
nível da família e de cada membro, na forma de continuidade e
descontinuidade ( VITALE, 1987, p. 35).
As trocas afetivas na família imprimem marcas que as pessoas carregam a
vida toda, definindo direções no modo de ser com os outros afetivamente e no
modo de agir com as pessoas. Esse ser com os outros, aprendido com as
pessoas significativas, prolonga-se por muitos anos e freqüentemente projeta-
se nas famílias posteriormente (SZYMANSKI,2002, p.12).
Nas últimas décadas do século XX, novas mudanças ocorrem e são
incorporadas pela Carta Constitucional: famílias monoparentais, por exemplo,
e a condição do homem ou da mulher como chefe de família. Essas mudanças
se processam entre conflitos e tensões e que certas características dos
diferentes “modelos” de família convivem numa mesma família, acentuando,
assim seu grau de complexidade (GUEIROS, 2002, p. 110).

32
1.3. A mulher no âmbito familiar
Ao examinar a história da civilização até a separação entre sociedade
civil e Estado, ocorrida em fases sucessivas, do final do século XVIII em
diante, seremos forçados a considerar meramente tautológica 7 a expressão
“as mulheres na família”. Na idade média, inclusive, as mulheres eram
excluídas das reuniões do Estado. Tudo aquilo que se verificava fora do
âmbito familiar, discussões políticas, comércio e guerra, era atividade
reservada aos homens. As mulheres casadas, por outro lado, eram até mesmo
excluídas das práticas religiosas. Durante todo processo histórico as mulheres
envolvidas em questões relacionadas ao âmbito familiar, mesmo que de certa
forma excluídas ou sem a sua devida importância (HELLER, 1987, p.8-9).
A mulher tem um papel inquestionável no núcleo familiar e são
destacadas como propulsoras de mudanças por meio de lutas no
reconhecimento de seus direitos. Tidas sempre como a responsável pela
socialização dos filhos e pelas tarefas domésticas.
A mudança na ordem econômica mundial, a partir da década de 1970
concorreu para a opção governamental no Brasil de adoção de um
modelo de desenvolvimento econômico que trouxe como
conseqüência o empobrecimento acelerado das famílias na década
de 1980. Acrescido a esse fato, houve a intensa migração do campo
para a cidade e a ampliação dos padrões de exploração de mulheres
e crianças no mercado de trabalho, além da deterioração do setor
público na prestação de serviços, contribuindo para a queda das
condições de vida (COELHO, 2002, p. 76).

Os cuidados com a saúde da família sempre foram competência


exclusiva da mulher, cabia às mulheres ocuparem-se dos doentes, dos feridos
e dos moribundos. Hoje na sociedade ainda estão vinculadas a mulher estes
cuidados embora sua inserção no mercado de trabalho tenha submetido-a a
outra dinâmica no seu dia-a-dia (HELLER, 1987).
As mulheres no passado por não participarem mais diretamente das
instituições sócio-políticas da sociedade, viveram quase sempre “em meio” aos
acontecimentos. Estavam envolvidas nas batalhas dos homens, na troca de
visita com os vizinhos, conservando, porém, além disso, suas atividades

7 Consiste em dizer sempre a mesma coisa por formas diferentes.

33
produtivas. (HELLER, 1987, p.12).
A família emerge, portanto como esfera prioritária de identificação
feminina, isto é, o lócus no qual sua identidade é gerada, construída e
referida. Tal fenômeno se expressa, inclusive, no fato de a mulher só
conseguir se definir na ou através da família, esposa ou mãe
(SALEM, 1981, p. 60 ).

A história da sociedade em que vivemos está repleta de modelos de


famílias, que correspondem a diferentes papéis para homens e mulheres.
Dentro desses papéis, aprendemos a pensar e a nos reconhecer. Nesta
dinâmica no processo histórico as mulheres destacaram-se pela constante
importância no âmbito familiar a exemplo da mãe que ocupa um lugar de
destaque. A divisão sexual dos papéis é uma realidade que vem sendo
questionada pelas mulheres (mas também pelos homens) há alguns anos. A
família contemporânea, que a literatura especializada chama de moderna
intimista, nuclear, é uma realidade que vem constantemente sendo
questionada em nosso dia-a-dia, o que, por implicação, tem demandado a
revisão desses modelos (FREITAS, 2002).
Na construção desses papéis, historicamente, coube às mulheres o
espaço privado, o mundo da casa. Ser mãe foi o principal papel para
as mulheres nos discursos que a igreja e a medicina social
estabeleceram. Uma das grandes transformações presentes na
constituição desse ideal de família foi o sentimento da infância. Desde
o século XVIII, a criança passa a ocupar um lugar central no núcleo
familiar. Em torno dos filhos passa a girar a família, e à mulher coube
a tarefa de materná-lo, educá-lo, de cuidar dele para que se tornasse
um adulto disciplinado e ordeiro (FREITAS, 2002 p. 81).

É necessário que toda análise acerca da família leve em consideração


às condições em que vivem as famílias, “não existe a mulher, a mãe” (Freitas,
2002) ou a família. A construção desses papéis é resgatada a todo instante na
sociedade.
A entrada e o desempenho das mulheres (especialmente das mulheres
casadas) no mercado de trabalho, nas universidades e nos mais diversos
segmentos sociais é vista por Hobsbawm ( 2001 ) como um fenômeno novo e
revolucionário.
Embora a participação da mulher na esfera pública esteja associada
às próprias dificuldades econômicas que exigiam a participação de
um número maior de membros da família na composição do
orçamento doméstico, certamente o movimento feminista nos
espaços públicos contribuiu significativamente para esta vivência da

34
mulher também nos espaços públicos, anteriormente ocupados
predominantemente pelo homem (GUEIROS, 2002, p. 109).

1.4 - A configuração da família nos anos 90

Em decorrência do processo de modernização da sociedade na segunda


metade do século XX a família brasileira sofreu mudanças significativas. Estas
mudanças são compreendidas como decorrentes de diversos aspectos, dentre
os quais se destacam:
- o desenvolvimento técnico-científico, que proporcionou tantas invenções, os
anticoncepcionais e o avanço dos meios de comunicação de massa.
- a transformação e liberalização dos hábitos e dos costumes, especialmente
relacionados à sexualidade e à nova posição da mulher na sociedade.
Estas transformações revelaram um novo padrão demográfico na
sociedade brasileira e acarretaram uma fragilização dos vínculos familiares e
uma maior vulnerabilidade da família no contexto social onde não é possível
falar de família, mas sim de famílias. O uso do plural se faz no sentido de
abarcar, dentro da concepção família a diversidade de arranjos familiares
existentes hoje na sociedade brasileira (MIOTO, 1997, p. 118).
O reconhecimento da família como totalidade implica também
reconhecê-la dentro de um processo de continuas mudanças. Estas
são provocadas por inúmeros fatores nos quais estão aqueles
referentes à estrutura social em que as famílias estão inseridas e
aqueles colocados pelo processo de desenvolvimento de seus
membros. Tais fatores constituem-se em fontes de estresse familiar e
concorrem significativamente para o aparecimento das dificuldades
familiares e, conseqüentemente, para o surgimento dos membros
sintomáticos (MINUCHIN, 1990).

Pode-se dizer que a qualidade de vida das famílias depende da


articulação que cada um consegue fazer entre as demandas internas e as
demandas advindas de seu espaço social e as formas de lidar com as
transformações ocorridas no âmbito das relações sociais (MIOTO, 1997,
p.122).
As mudanças produziram efeitos sobre a estrutura familiar, e na
chamada “nova família” modernizaram-se as concepções sobre o lugar da
mulher nos alicerces da moral familiar e social. Ao contrário da família

35
tradicional a nova mulher “moderna” deveria ser educada para desempenhar o
papel de mãe (também uma educadora dos filhos) e de suporte do homem
para que ele pudesse trabalhar (NEDER, 2002, p. 31).
Como exemplo das mudanças que ocorreram na estrutura familiar há
que se ressaltar que duas famílias com a mesma composição podem
apresentar modos de relacionamento completamente diferentes. O relevante,
nesse caso são suas histórias, a classe social de pertencimento, a cultura
familiar e sua organização significativa no mundo (SZYMANSKI, 2002, p. 17).
Na família pobre as relações entre seus membros seguem um padrão
tradicional de autoridade e é uma questão de ordem moral a subordinação dos
projetos individuais aos familiares e a insistência na hierarquia. É nesse
contexto que se estabelece a tarefa socializadora da família (SARTI, 1996).
Numa cultura que valoriza o homem como o poderoso provedor da
família, é desconcertante a situação em que a mulher, ou mesmo
filhos adolescentes, consigam trabalho e remuneração mais
facilmente do que o “chefe da família” (SZYMANSKI, 2002, p. 18).
Na sociedade moderna não existe um modelo padrão de organização
familiar, devido às transformações no mundo do trabalho, nas relações sociais,
culturais e políticas. Os diversos problemas vivenciados no âmbito familiar são
decorrentes das mudanças mais amplas que estão ocorrendo. A dependência
química é uma dessas conseqüências.
Na história da civilização há presença de drogas em vários contextos:
religioso, cultural, social, econômico, medicinal e cultural. A relação entre o
homem e a droga é de longa data e está atualmente massivamente presente
nos meios de comunicação estimulando o seu uso e propiciando em
decorrência deste uso uma série de problemas dentre os quais darei enfoque
aos que ocorrem no âmbito familiar.
Nos séculos XIX e XX, o advento da economia capitalista provocou
grandes transformações sociais que repercutiram nos padrões de
comportamento e conseqüentemente levaram a mudanças na
estrutura familiar. Embora algumas dessas mudanças tenham sido
grandemente reparadoras, outras provocaram o progressivo
isolamento familiar, fatos que aliados a uma ideologia de consumo e
condutora de uma busca de prazer instantâneo e imediato
contribuíram para o surgimento de conflitos e desastres dentre os
quais apontamos o uso abusivo de drogas (BUCHER, 1988, p.52).

36
No Brasil as mudanças desencadeadas na década de 1990 com as
políticas neoliberais através da reestruturação produtiva, o avanço tecnológico
e a fragmentação e precariedade do trabalho ocasionou impactos na
reprodução social. O crescente desemprego, a violência, a pobreza, o
desmonte dos direitos sociais conquistados na década de 1980 e a
vulnerabilidade dos grupos que cada vez mais tornam-se excluídos à margem
da sociedade. Martins mostra que a pobreza, muito mais que falta de comida, e
de habitação é “carência de direitos, de possibilidades, de esperança”
(MARTINS, 1991, p. 11-15).
Historicamente o homem e a droga são companheiros de muitos séculos
conforme mencionado anteriormente, no entanto um fato se destaca nos dias
de hoje em todo o mundo há uma expansão rápida. Podendo se assinalar à
metade do século XX como ponto referencial.
As mudanças que ocorrem no mundo afetam a dinâmica familiar como
um todo e, de forma particular, cada família conforme sua composição historia
e pertencimento social. (SZYMANSKI, 2002, p. 17).
Jovens e adultos tem feito uso abusivo de drogas em nossa sociedade
questões como a violência doméstica, por exemplo, não pode ser vista
separada do alcoolismo e consumo de outras drogas, que tem efeitos
devastadores nas famílias e que não podem ser analisados fora de um quadro
de referência da sociedade mais ampla (SZYMANSKI, 2002, p.20).
É indispensável examinarmos aspectos que são compatíveis com o
aumento do consumo de drogas numa sociedade cada vez mais competitiva,
individualista e consumista. Há um favorecimento quanto ao uso de drogas
onde não há restrição à classe social ou a determinada faixa de idade.
Nesta perspectiva,
Segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, um em
quatro habitantes do mundo recorre a drogas. Outro dado que se
destaca diz respeito à indústria farmacêutica que é, atualmente, uma
das mais rendosas do mundo. Esses dados nos remete a existência
de regras tóxicas de sobrevivência. É um problema que envolve
aspectos psicológicos, sanitários, educativos, políticos e sociais,
exigindo, portanto integração entre ações preventivas, repressivas e
de tratamento. (BUCHER, 1988, p. 48-49).
Para entendermos as implicações do Neoliberalismo nas políticas

37
públicas sociais mais atuais, é significativo resgatar a conformação da política
social no capitalismo do século XIX, construída a partir das mobilizações
operárias sucedidas ao longo das primeiras revoluções industriais (VIEIRA,
2004, p.140) e presente nas principais reivindicações trabalhistas, como fruto
de contradições históricas do próprio capitalismo.
A redução considerável dos gastos sociais indica uma redução dos
serviços sociais públicos e dos subsídios ao consumo popular,
contribuindo para deteriorar as condições de vida da maioria absoluta
da população, incluindo amplos setores das camadas médias
(LAURELL, 1995, p. 151).
Neste contexto a viabilização das políticas públicas de saúde deve ser
reafirmada e o Assistente Social no seu exercício profissional deverá estar
envolvido neste processo.
Inúmeros são os desafios que permeiam a vida da família
contemporânea. Várias temáticas estão envolvidas como violência intra e extra-
familiar, desemprego, pobreza, drogas e tantas outras situações que atingem a
família e desafiam sua capacidade para resistir e encontrar saídas. O impacto
desses desafios e dessas mudanças sobre o cotidiano das relações familiares
é absorvido pelo profissional que trabalha com famílias (VITALE, 2002, p. 45).
Quando se lida com famílias, portanto depara-se com uma primeira
dificuldade, a de estranhar-se relação a si mesmo. Como reação
defensiva, há uma tendência a projetar a família com a qual nos
identificamos – como idealização ou como realidade vivida – no que é
ou deve ser a família, o que impede de olhar e ver o que se passa a
partir de outros pontos de vista (SARTI, 1999, p.100).

Entre as mudanças que estão ocorrendo no mundo, nenhuma é mais


importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais – na
sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família. É uma
revolução que avança de maneira desigual em diferentes regiões e culturas,
encontrando muitas resistências. O Assistente Social, assim como todos os
profissionais também, estão inseridos nestas mudanças e precisam considerar
estas transformações na atuação profissional (VITALE, 2002, p.60).
Devido às imposições do neoliberalismo o Estado restringe sua
participação, embora legalmente seja o responsável pela “solução” de
questões de determinados segmentos – como, por exemplo, crianças,
adolescentes, idosos, portadores de deficiências e pessoas com problemas

38
crônicos de saúde – a família tem sido chamada a preencher esta lacuna, sem
receber dos poderes públicos a devida assistência para tanto (GUEIROS,
2002, p.102). Diante do exposto coloca-se a reflexão da importância no que
refere-se a família frente os desafios impostos aos profissionais e em particular
ao Assistente Social que tem deparado com esta demanda cotidianamente.

39
CAPÍTULO II
DROGA E FAMÍLIA

2.1 - Considerações sobre drogas.


Considerando a complexidade que envolve a discussão acerca
desta temática na perspectiva multidisciplinar é necessário ir além da
simplificação imposta na abordagem farmacológica médico-legal ou jurídica
(Palatinik, 2002, p. 110).
É importante ressaltar os conceitos básicos sobre drogas, os
diferentes tipos de usuários, a classificação das drogas e os níveis de
prevenção para entendermos a dinâmica na qual o profissional e o usuário está
inserido. Estas informações podem contribuir na evolução do tratamento e
instrumentalizar o profissional na sua atuação.
TABELA I – Terminologia e Conceitos Básicos sobre Drogas
TERMINOLOGIA Conceitos Básicos
MEDICAMENTO substância ou produto que se utiliza como remédio no
tratamento de doença física ou mental.
DEPENDÊNCIA QUÍMICA é um estado caracterizado pelo uso descontrolado de
uma ou mais substâncias químicas psicoativas com
repercussões negativas em uma ou mais áreas da vida
do individuo.
TOLERÂNCIA é a necessidade do uso de doses crescentes de uma
determinada droga, para obter efeitos originalmente
alcançados com doses menores ou a redução
significativa do efeito, quando a dose consumida se
mantém estável.
SINDROME DEé o conjunto de sintomas decorrentes da interrupção do
ABSTINÊNCIA uso de uma droga.
OVERDOSE é o uso de qualquer droga com produção de efeitos
físicos e ou mentais e freqüentemente letais, seja por
quantidade excessiva, pureza da droga ou pela
diminuição da tolerância do indivíduo.
Fonte: “ Drogas: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à
Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
s/data.

40
TABELA II – CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS QUANTO A AÇÃO NO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
TIPO DE DROGAS EFEITO SOBRE O ORGANISMO HUMANO
ESTIMULANTES Aceleram a atividade cerebral. Há uma aceleração do
pensamento e euforia. Seus usuários tornam-se mais ativos.
“ligados”. Exemplos: anfetaminas ( remédio para emagrecer),
cafeína, cocaína, ecstasy e nicotina.
DEPRESSORAS Pessoas sob o efeito dessas substâncias tornam-se
sonolentas, lerdas, desatentas e desconcentradas. Exemplos:
álcool, opiáceos (heroína e morfina), tranqüilizantes, inalantes
ou solventes (cola) e indutores do sono.
PERTUBADORAS Modificam o sentido da realidade, provocando alterações na
percepção, emoções e pensamento. O consumo pode
desencadear também quadros psicóticos permanentes em
pessoas predispostas a essas doenças ou novas crises em
indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno
bipolar, esquizofrenia). Exemplos: anticolinérgicos, LSD
(ácido), maconha, chá de cogumelo, trombeta e lírios.
Fonte:“ Drogas,: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à
Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data.

Os efeitos das drogas dependem basicamente de três fatores: a droga, o


meio ambiente e o usuário. Por isso é importante observarmos aspectos
relacionados a estes três elementos. A forma como a substância é utilizada, a
quantidade consumida e o grau de pureza também terão influência no efeito e
as expectativas do usuário em relação à droga e seu estado emocional
também poderão interferir nos efeitos.
TABELA III – CLASSIFICAÇÃO DOS NÍVEIS DE PREVENÇÃO
Níveis de Prevenção Descrição
Primária deve intervir antes e consiste num conjunto de ações de
caráter educativo, face à perspectiva de consumo de drogas.
Secundária intervém quando é detectado um problema inicial de
consumo de drogas, tentando evitar o agravamento.
Terciária intervém quando o problema de dependência química já está
instalado e atua, antes, durante e após o tratamento, no
intuito de reintegrar o indivíduo na sociedade e prevenir
recaídas.
Fonte:“ Drogas,: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à
Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data.

41
O álcool e as demais drogas são substâncias químicas que causam
alterações na percepção e no comportamento das pessoas e cujo uso
continuado pode levar a dependência.
Em termos de consumo de drogas o país campeão de uso de drogas é
os Estados Unidos, seguido do Canadá e de vários países europeus. Os dados
norte americanos apontam que mais de um terço dos habitantes daquele país
já usaram maconha (34,2%)8.

2.1.1 - Dependência.
A dependência encontra-se classificada mundialmente entre os
transtornos psiquiátricos, o sujeito não se torna dependente de drogas de uma
hora para outra; trata-se de um processo lento e gradual (SCHENKER, 2003, p.
211).
Muitas pessoas que consomem bebidas alcoólicas, por exemplo, não se
tornam dependentes do álcool, porém é bom lembrar que o uso de drogas
ainda que experimental pode vir a causar danos à saúde.
O uso de algumas medicações podem ocasionar dependência também.
É de suma importância a investigação das expectativas do paciente
quanto ao tratamento. expectativas irreais, exageradas, acarretam
frustração e denotam, às vezes, pouca disponibilidade individual para
mudança do estilo de vida, fator essencial para a manutenção dos
resultados do processo terapêutico (LEITE, 2001, p. 8).

A dependência é um desejo incontrolável que a pessoa tem de consumir


a droga, a fim de sentir seus efeitos e para evitar as sensações desagradáveis
causados pela sua falta. No Brasil, as estatísticas indicam que o alcoolismo é
responsável por: internações em hospitais psiquiátricos; grande número de
faltas ao trabalho; parcela significativa dos acidentes de trânsito; parte dos
acidentes de trânsito.
O abuso de álcool pode levar à dependência física e psicológica com

8 Disponível na série por dentro do assunto. Drogas: Cartilha sobre maconha, cocaína e
inalantes

42
danos irreversíveis no cérebro, fígado e outros órgãos.

2.1.2 Por que tratar?


Levantamentos epidemiológicos apontam que o alcoolismo e outras
drogas é um dos problemas mais importantes na saúde pública em todo
mundo. Sendo a saúde um dos principais campos de atuação do Serviço Social
se faz necessário à discussão sobre drogas, assunto presente em várias
dimensões da sociedade – trabalho, escola, comunidade etc.

O uso de drogas em nossa sociedade tem se ampliado em larga escala


por isso é necessário aprofundarmos as discussões sobre o tema em questão
para os cidadãos tenham uma melhor qualidade de vida. Pesquisas dos mais
variados tipos têm demonstrado como o uso de bebidas alcoólicas e de cigarro
de nicotina têm conseqüências altamente danosas para a saúde individual e,
em vários casos com de violência física e de acidentes (VELHO, 1997, p. 9).
No ano de 2001 o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas (CEBRID) realizou uma pesquisa domiciliar de caráter
nacional em 107 cidades brasileiras com população superior a
200.000 habitantes na faixa etária compreendida entre 12 e 65 anos.
A pesquisa teve como principal objetivo estimar pela primeira vez no
país a prevalência do uso de álcool e outras drogas. Os resultados
encontram-se em um relatório intitulado “I Levantamento Domiciliar
sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil”. Os resultados em
relação ao uso de álcool no Brasil 1,2 revelam que 77,3% dos
homens e 60,6% das mulheres já fizeram uso de álcool na vida,
totalizando em 68,7% o número de participantes que já fizeram uso
de álcool na vida. Em todas as faixas etárias estudadas, os indivíduos
do sexo masculino fizeram mais uso de álcool na vida do que os
indivíduos do sexo feminino. Quanto ao uso regular de bebidas
alcoólicas (mínimo de 3 a 4 vezes por semana, incluindo aqueles que
bebem diariamente), 9,1% dos homens e 1,7% das mulheres fazem
uso regular de álcool, totalizando em 5,2% o número de indivíduos
que bebem regularmente. É importante notar a diferença entre o
consumo regular de álcool por homens e mulheres.
No ano de 2005, o CEBRID realizou a segunda versão desse estudo,
intitulado de “II Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas
Psicotrópicas no Brasil – 2005”, visando acompanhar o panorama
geral de uso de álcool e outras drogas na sociedade brasileira e de
notar possíveis flutuações na prevalência de uso dessas substâncias.
A pesquisa indicou que o número de brasileiros, com idades entre 12
e 65 anos, dependentes de bebidas alcoólicas foi de 12,3%, o que
corresponde à população de 5.799.005 pessoas.9

9 Dados fornecidos no II levantamento Domiciliar sobre ouso de drogas psicotrópicas no


Brasil.

43
Para aqueles que injetam cocaína, o risco de contrair hepatites, AIDS e
outras infecções, pelo uso de seringas contaminadas é também alto.10 Esta
situação torna-se cada vez mais preocupante em nossa sociedade
principalmente entre os jovens.
Um estudo conduzido no Instituto Médico Legal de São Paulo, em 1994,
analisou os laudos de todas as pessoas que morreram por acidentes ou
violência na Região Metropolitana de São Paulo e constatou que:
52% das vítimas morreram de homicídios,
64% daqueles que morreram afogados e
51% dos que faleceram em acidentes de trânsito apresentaram álcool na
corrente sanguínea em níveis mais elevados do que o que permitido por lei
para dirigir veículos (0,6 gramas de álcool por litro de sangue).
É um equívoco pensar a questão das drogas de forma limitada e restrita
a análise do produto. Aspectos fundamentais e importantes relativos ao
indivíduo e ao contexto social e cultural devem ser considerados. Através do
diálogo é possível fazer uma avaliação, qual é o lugar da droga na vida do
usuário ou dependente. Às vezes criamos problemas onde não existe e
atribuímos ao uso de drogas qualquer conduta ou comportamento fora dos
padrões normais.
De acordo com a OMS, no ano 2000 o álcool foi responsável por 4%
da incidência de doenças, em países emergentes como a China
tendo nessa substância o maior fator de risco à saúde. O uso
moderado de álcool, contudo, apresenta efeitos controversos sobre a
saúde. Está tanto associado com a diminuição na mortalidade em
decorrência de doenças coronárias entre indivíduos de mais de 40
anos de idade quanto com o aumento no risco de manifestação de
câncer. Ademais, seu uso está associado com problemas sociais, em
especial a violência11.

Diante da insuficiência dos mecanismos de fiscalização e repressão da


oferta de drogas houve reconhecimento da necessidade de medidas

10 Disponível na série por dentro do assunto. Drogas: Cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes.

Brasília: Presidência da República, 2001.

11 Disponível em: http://www.alcoolismo.com.br acessado em 30 de outubro 2007.

44
preventivas.

Em 1970, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a


Educação, a Ciência e a Cultura) convocou, pela primeira vez
especialistas de vários países para que discutissem a abordagem
preventiva do uso de drogas. Em seguida, vários encontros
internacionais foram realizados. A partir de 1972, a educação
destinada a prevenir o abuso de drogas foi considerada uma
necessidade universal e premente (BUCHER, 1998, p. 55).

O uso abusivo de drogas tem provocado constantes discussões na


sociedade a partir de diversos casos principalmente envolvendo jovens que
colocam não somente suas vidas em jogo como também abalam toda a família,
conforme ilustrado a seguir:
“Festa rave de Itaboraí termina em morte”
Dezoito freqüentadores de uma festa rave que começou na noite de
sábado deram entrada, domingo, no Hospital Estadual Prefeito João
Batista Caffaro, em Itaboraí. Um deles, um jovem de 17 anos morador
de Vila Isabel, chegou à unidade em coma e, de acordo com o diretor
do hospital, Marcelo Bagueira, morreu em conseqüência de uma
parada cardiorespiratória. Das 7h30m até o fim da tarde de domingo,
foram registrados 18 atendimentos de pessoas que estavam na festa
Tribe, realizada na Happy Land Diversões. De 16 atendimentos,
segundo a assessoria do governo do estado, 14 estavam ligados ao
uso de drogas ou álcool.- A maioria dos atendidos era do sexo
masculino, indo até a faixa etária de 31 anos. Jornal O DIA,
01.11.2007 pág. 05.

2.1.3 - Por que a família é importante para o


tratamento.

A família é sem dúvida fundamental para o sucesso do tratamento de


dependência química. Acreditar que tudo se resolverá a partir de algumas
consultas ambulatoriais ou de uma internação é no mínimo uma postura cética.
O dependente muitas vezes não tem noção da gravidade do seu
estado e pode sentir vontade de se “testar”, expondo-se a situações de risco. A
família deve ajudá-lo estabelecendo regras para evitar a recaída. É importante
evitar os locais de risco por isso todos devem ajudar: o patrão, os vizinhos, os

45
amigos, mas o suporte maior deve vir da família. Não se trata de fiscalizar,
mas de chamá-lo à reflexão. Nesta perspectiva há uma desmistificação da
culpabilidade do usuário de drogas para o campo da responsabilidade.
É preciso entender que o uso abusivo de drogas é uma doença. Em
primeiro lugar é preciso a motivação do dependente para iniciar o tratamento e
em seguida o apoio da família para mantê-lo motivado.
A família por estar desprovida de informações sobre a questão das
drogas, principalmente as ilícitas, pode ter sua participação no tratamento
comprometida por distorções presentes na sociedade. Afinal as drogas são
apresentadas como algo demoníaco.
O tratamento da dependência deve passar pela avaliação da família.
Estudos mostram que vítimas de maus tratos, a presença de consumo
problemático de drogas entre os mais velhos, violência, ausência de rotina
familiar e a dificuldade dos pais em colocar limites nos filhos aumenta o risco
do surgimento de dependência entre os seus membros.
No espaço familiar são construídos valores, regras, papéis que
solidificam a história de cada família que esta inserida numa realidade social e
quando ocorre algo que provoca distorções nos comportamentos surgem
conflitos. Em casa somos classificados pela idade, sexo e papel que
desempenhamos e nossa conduta é regida por valores como honra, vergonha
e respeito (GARCIA E MENANDRO, 2000, p. 344).
É importante destacar aspectos do contexto familiar em que estão
inseridos os dependentes químicos: desemprego, violência, insegurança. Um
conjunto de ações que configuram expressões da questão social, por isso é
fundamental trabalhar o papel da família que dada à realidade da sociedade
ocupa posição difícil e conflitante.

A família pode levar muito tempo para se dar conta que há um membro
na família que é dependente químico, seja por desconhecimento das reações
do uso da droga ou pelo fato de não considerar a droga uma doença.

A família está sujeita às influências que a realidade econômica, social,


cultural e histórica determinam e por isso constantemente vem atravessando

46
crises. A idéia que temos de família como um grupo relativamente bem
estruturado envolvendo o pai, a mãe e os filhos muitas vezes não corresponde
à diversidade dos modelos de família existentes e das realidades em que
vivem. Criamos em nossa cultura a idéia de uma família-modelo, porém vale
ressaltar que nenhum relacionamento está livre de conflitos. Por isso nem
sempre podemos ter a resposta ideal de nossas famílias.

No âmbito familiar deve-se buscar espaço para o diálogo, na busca da


superação de problemas, conflitos e na construção no dia-a-dia do respeito
mútuo, consolidando comportamentos preventivos em relação ao uso de
drogas. Em toda família coexistem tendências para saúde e para doença, o
diferencial se fará a depender de como a família enfrente situações de crise,
de como está à afetividade e a comunicação entre seus componentes.

A família se organiza com padrões que dão sentido a sua dinâmica. E a


estrutura familiar se constitui de um conjunto de regras que determinam os
relacionamentos de seus membros, localizando o lugar de cada um,
estabelecendo seu papel e função. Para ele, cada indivíduo aprende a
relacionar-se dentro do sistema através de regras verbalizadas ou não. Estes
padrões se formam pela troca do cotidiano, podendo não ser visíveis aos
membros da família. Com isso, se ocorrer uma mudança num membro da
família, conseqüentemente os outros serão afetados. Quando um indivíduo da
família apresenta algum problema, isto pode significar que toda a família está
com dificuldade. Ou seja, cada tipo de tensão vivida pela família, exigirá um
processo de adaptação, transformações de interações familiares, a fim de
manter-se o equilíbrio da família, conduzindo ao crescimento de seus membros
(MINUCHIN, 1990).
O Assistente Social deve saber que o dependente químico desenvolve
um comportamento auto-destrutivo de desestruturação de sua pessoa e do
meio onde se encontra, desenvolvendo reações disfuncionais em relação ao
outro e que o primeiro alvo a ser atingido é a família. (BEATTIE, 1997, p. 15).
Logo a atuação do Assistente Social ao lidar com o dependente e sua
família, é de fundamental importância para a facilitação da reinserção social de

47
ambas as partes, a fim de promover a recuperação dos envolvidos. É preciso
orientar o dependente e a família quanto aos prejuízos físicos e sociais
causado pela droga, ou seja, envolver a família no tratamento. A abordagem
familiar deve ser considerada como parte integrante do tratamento.
A maioria dos usuários que chega às unidades para tratamento é
trazida por parentes. O discurso utilizado pelas famílias responsabiliza o
usuário assim, como a sociedade que criminaliza e estigmatiza o dependente
sem considerar fatores externos que determinam sua condição. Nesta
dinâmica é importante incluir a família que necessita participar ativamente do
tratamento e do processo de recuperação do dependente, como núcleo de
suporte fundamental do indivíduo (LEITE, 2001, p. 23). No capítulo IV
demonstraremos através da pesquisa que, no entanto, esta tarefa não é fácil
devidos os prejuízos sofridos em decorrência do uso da droga.
É comum o dependente ou a família se autodenominarem vítimas e se
contrapor uns aos outros, sem perceber que ambos estão no processo de
saúde-doença. Neste contexto vale ressaltar a co-dependência, onde co-
dependente é uma pessoa que deixou o comportamento de outra afetar a si
própria e tem obsessão em controlar o comportamento de outras pessoas.
(BEATTIE, 1997, p. 28).
Uma condição emocional, psicológica e comportamental que se
desenvolve como resultado da exposição prolongada de um individuo
a – e a prática de – um conjunto de regras opressivas que evitam a
manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de
problemas pessoais e interpessoais (BEATTIE, 1997p. 45).
A co-dependência não ocorre apenas no que refere-se ao uso de
substâncias químicas, no entanto é muito comum lidarmos com esta demanda
quando o assunto em questão é drogas.

2.1.4 - A influência da mídia no consumo de


drogas.
A mídia tem estimulado o uso de bebidas alcoólicas, o que banaliza e
legitima o consumo de álcool, sem revelar os verdadeiros efeitos que o seu uso
excessivo pode ocasionar ao indivíduo. É interessante observar que os

48
alcoólicos não consideram o álcool uma droga, porque seu uso é legalizado.
No entanto o álcool é classificado conforme tabela II como uma droga
depressora12 que produz através do consumo indevido, diversas
conseqüências ao usuário: perda da auto-estima, conflitos na família, acidentes
de trânsito, absenteísmo no trabalho, além de distúrbios físicos e psicológicos
que podem levá-lo a dependência, interferindo de forma negativa no seu
convívio social. Durante a vida, o ser humano cria relações de dependência.
Algumas dessas relações são importantes para o bem-estar, outras causam
prejuízo. A dependência química reflete no âmbito familiar de diversas formas,
especialmente nos conflitos originados não apenas do usuário.
É importante demarcarmos que neste contexto as pessoas que se
encontram no estágio de co-dependência estão tão envolvidas pelo “outro” que
esquecem de si mesmas. O Assistente Social precisa no seu exercício
profissional estar atento a este usuário que dificilmente chegará ao
atendimento com uma demanda sua e sim sempre do “outro”.
[...] e não se pode negar o peso simbólico que a mídia, principalmente
a televisiva, desempenha em nossa sociedade (FREITAS, 2002,
p.86).
A visão proibicionista tem o foco na droga e não no sujeito, a questão
do uso deixa de ser vista como algo inerente à individualidade de cada ser
humano, e passa a ser uma questão de segurança pública. Nesta perspectiva o
inimigo passa a ser o usuário que assume características de pessoa ruim e
violenta, sem valores éticos ou morais. “O termo drogado começa a ser
utilizado no Brasil ao lado da categoria subversivo como uma categoria de
acusação” (VELHO, 1997).
A lógica de somente publicar o que se encaixa no imaginário social
acaba potencializando o problema do estigma no qual está inserido o usuário
de drogas. Uma pessoa usuária, por exemplo, não necessariamente será um
dependente. No entanto a sociedade vê todo usuário como um dependente. O
profissional deve observar em que estágio se encontra o usuário que esta
sendo atendido para que seja viabilizada uma intervenção eficaz e objetivar um

12 grifo nosso

49
encaminhamento adequado.
Um dos caminhos para se alcançar o objetivo de diminuir os riscos
associados ao uso de drogas começa na capacidade de discernimento do
cidadão bem informado.

Algumas palavras como “vício”, “drogado”, “bêbado” e “alcoólatra”,


utilizadas cotidianamente principalmente nos noticiários reforça a imagem
estigmatizada do usuário de drogas. “ O drogado se apresenta como uma
pessoa sem autonomia sobre seu consumo e não como um ator de cena do
uso” (VELHO, 1997, p.28).

A droga deixa através da mídia suas marcas e suas seqüelas.


Representações perpassam o imaginário dos cidadãos a seu respeito. Dos
“paraísos artificiais” passam a “demônios do mal”. Suas conotações variam
como variam as perspectivas daqueles que buscam compreendê-las. Aceita-
se como realistas, visões provenientes da mídia sensacionalista, perpetuando
uma situação de alienação no consumo. Estando atualmente associado à
marginalidade, à improdutividade e à violência. O uso de drogas é referido de
forma muitas vezes generalizada em conexão com esses aspectos. O impacto
disso sobre a família é freqüentemente reforçado pela desinformação e pela
associação imediata à criminalidade, podendo provocar reações de rejeição,
exclusão e criminalização do usuário e muitas vezes um incremento do
consumo (GARCIA, 1997, p. 25).
A influência do marketing tem sido importante fator para o aumento
da ingestão de bebidas no nosso país. O consumo per capita de
álcool cresceu 154,8% entre 1961 e 2000, situando o Brasil entre os
25 países do mundo que mais aumentaram o consumo de bebidas
durante esse período (OMS, 2000).
Vivemos numa sociedade capitalista altamente individualista, com um
incessante apelo a adicção consumista – comprar, comprar; ter, ter: ser;
consumo esse patrocinado pela mídia, principalmente a TV que se instala nos
lares. Assim a sociedade vem se mostrando personalista e individualista.
(SCHENKER, 2003).

50
CAPÍTULO III

TRABALHOS DIFERENCIADOS E EQUIPES


INTERDISCIPLINARES NO TRATAMENTO
DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA

3.1 - O Trabalho dos Grupos de Apoio aos Dependentes


Químicos e suas Famílias.
3.1.2 - Alcoólicos Anônimos (AA).
Alcoólicos Anônimos iniciou-se em 1935 nos Estados Unidos através do
encontro de um corretor de bolsa de valores de Nova Iorque, o Sr. Bill W., e um
cirurgião de Akron o Dr. Bobvia ambos eram alcoólicos.
Alcoólicos anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que
compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de
resolver seu problema comum e ajudar os outros a se recuperarem do
alcoolismo. O único requisito para tornar-se membro é o desejo de
parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou
mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias
contribuições.A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião,
nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não
deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate
quaisquer causas. Nosso propósito primordial é nos mantermos
sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade.13
Há cerca de 2 milhões de alcoólicos em recuperação em
aproximadamente 150 países. Os integrantes se reúnem em grupos que
podem ocorrer diariamente duas ou três vezes por semana a depender do
grupo com duração de 1h. 30min. a 2 horas por encontro. Não há distinção de
sexo ou idade, é importante ressaltar que é predominante a presença de
homens e tem sido significativa a inserção de jovens nos grupos, no entanto,
não há uma continuidade na permanência destes jovens nos encontros.
Os alcoólicos anônimos se intitulam auto-suficientes. Não é obrigatória
a contribuição financeira dos integrantes do grupo. Contribuem aqueles que
podem e com o valor que quiser dentro dos limites pertinentes, ou seja, não é

51
aceito doações com valores muito expressivos. Todas as aquisições de objetos
para os grupos são definidas em assembléia.
Não há distinção nos grupos. Os freqüentadores de um determinado
grupo podem participar de outros grupos, inclusive freqüentemente há
intercâmbio entre os mesmos. Não há controle de freqüência e a permanência
depende exclusivamente do membro do grupo. As reuniões são realizadas
geralmente às 19h30min e conduzidas por um coordenador que inicialmente
expõe aspectos formais e em seguida indica os que irão se pronunciar ao
grupo.

No estado do Rio de Janeiro há cerca de 400 grupos e na Baixada


Fluminense aproximadamente 96 e 02 escritórios que dão suporte aos grupos.
14

3.1.3 - Narcóticos Anônimos (NA).


Narcóticos Anônimos é uma associação comunitária de adictos em
recuperação. Iniciado em meados de 1953, o NA é um dos maiores e mais
antigos grupos deste tipo de demanda, com aproximadamente trinta mil
reuniões semanais em 100 países.
O primeiro grupo de Narcóticos Anônimos no Brasil estabeleceu-se em
1985, no Rio de Janeiro.
A base do programa de recuperação de Narcóticos Anônimos é uma
série de atividades pessoais conhecida como Doze Passos15, adaptados dos
Alcoólicos Anônimos. Estes "passos" incluem o reconhecimento de que existe
um problema. A busca de ajuda visa reparar danos causados e trabalhar com
outros adictos que queiram se recuperar. É importante ressaltar que tanto nos
NA quanto nos AA a abstinência é cobrada aos usuários.
Nas reuniões, cada membro partilha experiências pessoais com os
outros buscando ajuda, não como profissionais, mas simplesmente como

13 Disponível: http//www.alcoolicosanonimos.org.br acesso em : 18 de novembro de 2007.


14 Informação sistematizada em visita realizada em: 03 de dezembro de 2007.
15 Ver anexo I

52
pessoas que tiveram problemas similares e encontraram uma solução.
Narcóticos Anônimos não tem nenhum tipo de acompanhamento profissional.
O principal serviço oferecido por Narcóticos Anônimos é a reunião em
um grupo de NA. Cada grupo administra a si próprio, tendo como base
princípios comuns a toda a organização.
Narcóticos Anônimos é inteiramente auto-sustentado e não aceita
contribuições financeiras de pessoas de fora do grupo. É recolhido em cada
reunião um valor que não é estipulado a fim de colaborar com a manutenção
do lanche, água e demais utensílios.
As reuniões do NA são realizadas reuniões diárias em alguns grupos e
em alguns espaços com 3 reuniões por dia (manhã, tarde e noite). Ocorrem
reuniões fechadas e abertas. Geralmente as reuniões abertas são realizadas
na 1ª e 2ª quarta-feira do mês. Não há limite de participantes, distinção de
classe, gênero, droga de uso ou etnia. As reuniões são conduzidas sempre por
membros mais antigos os quais fazem o acompanhamento da freqüência e
direcionam os relatos. Cada integrante do grupo dirige-se à frente de todos e
inicia seu relato.
Dos 5000 membros de NA que responderam a uma pesquisa informal feita
em 1989, 64% eram homens e 36% eram mulheres. Entre estes mesmos
5.000 membros, 11% tinham menos de 20 anos de idade, 37% tinham entre
20 e 30, 48% tinham entre 30 e 45, e 4% tinham mais de 45.16

Nos relatos dos adictos a família estava presente em todas as falas


sempre num tom de sofrimento e angústia17. A palavra perda18 chamou minha
atenção quando referia-se a família. Era dita num tom mais baixo e com seus
os olhos em lágrimas, e foi muito visível pra mim tendo em vista que eu era a
única visitante na reunião e estava sentada na primeira fileira. Ao fazerem
seus relatos se dirigiam a mim, portanto não pude conter a minha emoção.
Interessante que participo de Grupo de Reflexão em outra instituição há um
ano e esta experiência foi completamente diferente. A observação participante
ampliou minha visão sobre a dinâmica da dependência química.

16 Disponível: http//www.na.org.br acesso em : 13 de dezembro de 2007.


17 Informação sistematizada em isita realizada em: 02 de janeiro de 2008.
18 Grifo nosso.

53
Após a inserção no grupo os integrantes destacam o que recuperaram e
destacam como sendo a maior conquista, a família19. Em vários discursos
ressaltam “agora sou pai, marido, amante, filho, irmão e amigo. Antes não eram
nada nem pelo nome eram chamados. As pessoas se dirigiam a mim como
psiu, viciado e ai! Neguinho! Malandro!”20. Através deste discurso é possível
perceber o quanto à questão da família é valorizada pelos adictos e a
importância de trabalhar também no grupo os aspectos que norteiam esta
dinâmica.

3.1.4 - Grupos Familiares (AL-ANON).


Os Grupos Familiares Al-Anon são associações de parentes e amigos
de alcoólicos que compartilham sua experiência, força e esperança, a fim de
solucionar os problemas que têm em comum. A família pode fazer muito para
se ajudar, quer o alcoólico procure ajuda ou não.
Desde 1951 este grupo vem prestando serviço a familiares e amigos de
alcoólicos. Hoje, existem mais de 30.000 Grupos em mais de 100 países. O
Alateen, que é para adolescentes, tem mais de 3.500 Grupos no mundo todo.
Já existem no Brasil desde 1965, mas somente em 1966 o Grupo foi registrado
no Escritório de Serviços Mundiais. Hoje o Brasil dispõe de aproximadamente
1000 Grupos.21
O propósito primordial do programa Al-Anon é dar compreensão e apoio
a familiares e amigos de alcoólicos. Qualquer pessoa cuja vida foi ou está
sendo afetada pelo alcoolismo de alguém pode fazer parte desta entidade. Isso
inclui os familiares imediatos, parentes, amigos, colegas, empregadores etc.

19 Gripo nosso.
20 Informação obtida na pesquisa de campo observação em 02 de Janeiro de 2008.
21 Disponível :www.al-anon.org.br acesso: em 15 de novembro de 2007.

54
3.1.5 - O Trabalho do NEPAD.
O trabalho no NEPAD – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao
Uso de Drogas teve início na década de 80. O atendimento é oferecido a
qualquer familiar que venha sozinho à instituição ou se outro profissional do
setor atendendo ao dependente de drogas considerar que a abordagem
familiar pode favorecer o tratamento.
Em entrevista com o Assistente Social confirmei que a maioria dos
usuários atendidos na referida instituição são do sexo masculino, e revela
uma semelhança entre os usuários do HESFA que, na sua maioria também são
do sexo masculino, e quanto aos familiares ocorre o inverso são geralmente
mulheres e especificamente em relação aos atendimentos do NEPAD são
geralmente mães.
Não há exigência em relação à quantidade de drogas consumida pelo
adicto, idade, classe social, raça ou localidade que resida, no entanto, o
atendimento oferecido pela referida instituição se dá àqueles usuários de
drogas lícitas e/ou ilícitas (menos álcool, quando seu uso é exclusivo) e é
extensivo a seus familiares ou pessoas próximas. O atendimento também é
extensivo às pessoas que tem algum familiar dependente ou usuário de
drogas, mesmo que o usuário não seja paciente do NEPAD. O paciente ao
chegar à instituição é atendido pelo plantonista da equipe (psicólogo ou
médico). Não é exigido que o sujeito esteja abstinente.
A equipe interdisciplinar é composta de médicos, psicólogos,
assistentes sociais, pedagogos, terapeutas ocupacionais e pessoal
administrativo.
Atualmente a estrutura do NEPAD é formada pela Direção
Coordenadora Administrativa e coordenadoria de Estudos e Assistência.
Nestas se inserem três setores: atenção primária, epidemiologia e pesquisa
médica e o de assistência terapêutica.
No setor de atenção primária está inserido o Programa de Redução de
Danos, que surgiu em convênio com a Coordenadoria Nacional de DVST /
AIDS / MS, em 1996, neste setor são elaborados programas dos cursos

55
oferecidos para professores de escolas públicas.
O setor de epidemiologia desenvolve estudos sobre a temática da
toxicomania, organiza banco de dados sobre os pacientes e elabora o perfil da
clientela.
O setor de Assistência terapêutica oferece atendimento ambulatorial aos
usuários de drogas, adultos ou adolescentes e seus familiares. A modalidade
básica de atendimento aos usuários é a psicoterapia de base psicanalítica.
Quando necessária internação os pacientes são encaminhados para
enfermaria do serviço de Psiquiatria e Psicologia Médica do Hospital
Universitário Pedro Ernesto (HUPE – UERJ).
Os atendimentos aos familiares ocorrem em duas modalidades Terapia
Familiar (abordagem sistêmica) e atendimento a familiares, que é oferecido aos
familiares, individualmente ou em grupo. Este atendimento surgiu quando os
profissionais perceberam que os familiares que vinham acompanhando os
usuários, na grande maioria mães que queriam conversar com os terapeutas.
A instituição não considera a causa da dependência como sendo
unicamente do produto e considera fatores psicológicos, sociais e políticos,
entre outros.22

3.1.6- O Trabalho do HESFA.

O objetivo desta instituição é construir uma unidade diferenciada de


caráter eminentemente acadêmico, que visa à produção de conhecimento e
conseqüentemente dedicada à pesquisa e ao ensino de temas ligados ao
consumo abusivo de álcool e drogas, bem como a outros transtornos dos
impulsos, que tanto afligem as sociedades ocidentais no capitalismo atual.
Dar-se-á prioridade às seguintes áreas na atenção e formação e
capacitação: adolescência, programas de saúde da família (prevenção primária
na promoção da saúde mental) e problemas relativos ao uso de substâncias

22 Informações sistematizadas em entrevista com Assistente Social em: 16 de outubro de


2007.

56
psicoativas em ambientes laborais. No entanto, não ficam excluídas as
possibilidades de pesquisas em relação ao tratamento médico/ psicológico e
outras abordagens psicossociais, desde que atreladas à linha de pesquisa do
UNIPRAD ou projetos específicos acima mencionadas e que implicam na
permanente perspectiva da avaliação e implantação de serviços, face a novos
paradigmas nesta área.
Dentre as propostas da UNIPRAD destacam-se:
Propor uma atuação transdisciplinar no campo de álcool, drogas e
outros transtornos dos impulsos que contemplem de forma integrada o ensino,
a pesquisa e a assistência, articulando a prevenção ao tratamento. É
importante ressaltar os atendimentos em grupo (recepção, família e de
usuários) que tem obtido resultados satisfatórios para os usuários dos serviços
prestados pela unidade e também aos profissionais.
Formação e capacitação prática e teórica para alunos de graduação e
pós-graduação nas diversas disciplinas: enfermagem, medicina, psicologia,
serviço social entre outras. São realizados anualmente cursos de extensão só
para os profissionais da equipe.
Propõe-se o aprofundamento das parcerias interinstitucionais para a
formação e treinamento de recursos humanos para a atuação na promoção da
saúde mental, prevenção primária, junto a locais do trabalho, escolas,
Programa de Saúde da Família e Programa de Agentes Comunitários de
Saúde.23

3.1.7 O Trabalho do Centra-Rio

Não foi possível realizar a pesquisa de campo na referida instituição


devido sucessivas entrevistas postergadas fato que impossibilitou nossa
inserção neste espaço de atendimento à usuário de drogas e suas respectivas
famílias disponibilizado pela Secretária de Saúde do Estado do Rio de Janeiro.

23 .Disponível em: www.hesfa.ufrj.br/prog_docentes/uniprad acesso em 18 de outubro de


2007.

57
CAPÍTULO IV
Análise de dados obtidos na pesquisa
4.1 - Universo pesquisado.

A pesquisa exploratória realizada optou por ser com metodologia


qualitativa que "trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações,
crenças, valores e atitudes o que corresponde a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis" (MINAYO, 2004, p. 21-22).
Foi realizada revisão bibliográfica pertinente à produção teórica sobre o
uso de álcool e outras drogas, com foco na família dos usuários em tratamento.
"A teoria é um conhecimento de que nos servimos no processo de investigação
como um sistema que orientam a análise e obtenção de dados e de conceitos
que veiculam seu sentido" (MINAYO, 2004, p. 19). Através dessa revisão, foi
consolidado o roteiro de pesquisa. "Destacamos a entrevista e a observação
participante24 por se tratar de importantes componentes da realização da
pesquisa qualitativa" (MINAYO, 2004, p. 57).
Participamos no HESFA do Grupo de Reflexão junto aos usuários de
álcool e outras drogas e do Grupo de Família, visitamos o escritório de
negócios do AA e reuniões do AA, NA e AL-ANON onde realizamos a pesquisa
de campo com objetivo de articular a importância da família no processo de
recuperação do usuário de drogas.
A escolha do HESFA se deveu por constituir nosso campo de estágio na
unidade de atendimento ambulatorial UNIPRAD (Unidade De Projetos
Relacionados ao Uso de Drogas) por 2 semestres e em decorrência da
elaboração dessa monografia permaneci no campo por mais um semestre. O
que atrai na produção do conhecimento é a existência do desconhecido, é o
sentido da novidade e o confronto com o que nos é estranho. Essa
aproximação por sua vez, requer sucessivas aproximações em direção ao que

24 A importância dessa técnica reside no fato de podermos captar uma variedade de situações
ou fenômenos que não são obtidos por meio de perguntas, uma vez que, observados
diretamente, na própria realidade (MINAYO, 2004, p. 60).

58
se quer conhecer (MNAYO, 2004, p. 64).
Quanto as demais instituições pesquisadas o interesse se deu a partir de
indicações no campo de estágio e análise de referencial teórico sobre
dependência química. As instituições de apoio ou de ajuda mútua não se
constituíram em foco para entrevistas, uma vez que não há equipe de
profissionais e sim grupo de usuários em processo de “auto-ajuda25 para
recuperação”. A pesquisa de campo ocorreu no período de Janeiro a
Dezembro de 2007 e a observação participante junto às famílias nos meses de
Outubro de 2007 a Janeiro de 2008.
Foram realizadas entrevistas, no Hospital São Francisco de Assis,
envolvendo as famílias com os Assistentes Sociais e demais integrantes da
equipe que trabalham com as famílias dos adictos. Houve a necessidade de
aplicar um roteiro de entrevista diferenciado ao profissional de Serviço Social a
fim de possibilitar uma análise específica da prática interventiva do Assistente
Social na dinâmica pesquisada.
As entrevistas foram realizadas entre os meses de outubro e dezembro
de 2007. Para preservar a identidade dos entrevistados os assistentes sociais
serão identificados por AS e quanto aos familiares utilizaremos as designações
família 1, família 2 e assim sucessivamente.

4.2 - Identificação das famílias entrevistadas.

A entrevista foi realizada com familiares de usuários de drogas que


participam do Grupo de Família do HESFA e integrantes do AL-ANON. Foram
entrevistados 4 familiares de cada instituição que participam do Grupo há 6
meses em média.
Foi utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada, com base em um
roteiro preestabelecido.
As entrevistas foram realizadas entre os meses de Novembro 2007 e

25 Os grupos de auto-ajuda caracterizam-se por reunir pessoas com o objetivo de superar o


uso de substâncias químicas onde todos os participantes interagem durante os encontros e
sempre um procurando ajudar o outro com experiências e principalmente com a escuta.

59
Janeiro de 2008. Os familiares serão identificados conforme esquema abaixo a
fim de assegurar que sua identidade seja preservada.
Esquema de Entrevista Utilizada nesta pesquisa no HESFA
Família 1 Mãe

Família 2 Irmão

Família 3 Esposa

Família 4 Irmã

Ao participar do Grupo de Família do HESFA percebemos que no Grupo


não há predomínio de um tipo de parentesco participam esposa, pai, avô, mãe
irmãos. Já no NEPAD em entrevista com a Assistente Social ela mencionou
que a grande maioria de familiares que procuram a instituição são as mães -
demanda que originou a dissertação da profissional.
As famílias entendem que fazem parte do processo de recuperação dos
usuários de drogas e reconhecem que precisam de instrumentos para lidar com
esta realidade.
“Quando comecei a participar do Grupo de Família, ganhei força a mais
eu era sozinha, aqui eu pude falar levantei minha auto-estima, aprendi a lidar
com meu esposo, o confronto não adianta. Aqui me sinto importante me sentia
deprimida estava completamente envolvida pelo problema” (Família 3,
dezembro de 2007).
As famílias se sentem isoladas e tem receio de buscar ajuda, fato
compreensível dada a sociedade em que vivemos que incessantemente visa a
produção e reprodução social deixando sempre em segundo lugar as questões
que vão surgindo como conseqüências inevitáveis deste processo.
O mundo familiar mostra-se numa vibrante variedade de formas de
organização com crenças, valores e soluções para as vicissitudes que
a vida vai trazendo. Desconsiderar isso e ter multiplicidade de
manifestações sob a camisa-de-força de uma única forma de
emocionar, interpretar , comunicar ( SZYMANSKI, 1995, p. 27).

60
4.3 Quanto à percepção do que é família
Na tentativa de entender qual a percepção dos familiares acerca do
conceito, perguntamos: O que é família? Qual o papel da família no
tratamento?
A primeira percepção é a de ajuda mútua:
“Família é estar reunido é compreensão é ajuda. Família não é apenas
cobrança é preciso muita conversa, mostrar o que é certo o que é errado e
entender o por quê. A família não deve apenas cobrar” ( Família 1, dezembro
de 2007).
Outra maneira de abordar é pela vida da educação:
“A família é o início de tudo, uma educação ruim a pessoa vai aprender
coisas ruins. É preciso acreditar em Deus não basta criticar tem que procurar
entender. Se não fosse vício seria fácil lidar. O diálogo é importante, a
agressão gera agressão por isso é preciso não reprimir” (Família 2, dezembro
de 2007).
O que se percebe nos dois discursos acima é que embora partam de
pontos diferenciados em ambos percebemos o discurso do diálogo e da
compreensão como forma de abordagem do assunto.
Na verdade, não existe uma única via de abordagem e mesmo a
instituição família, cujo conceito discutimos no capítulo I é mutável. “A
variabilidade histórica da instituição família desafia qualquer conceito geral de
família”. (BILAC, 1995, p. 31).
Embora, para o senso comum a representação da família seja sempre
compreensível ela não é idêntica e ocorrem mudanças que podem alterar esta
representação. As variações possíveis exigem a qualificação, ou seja, de que
família estamos falando e de que país, de que estrato social, de que momento.
Estes aspectos irão influenciar em como a família será vista na sociedade. Os
instrumentos de análise devem ser criados a partir da pesquisa (MELLO,
1995).
Mesmo nos discursos mais exaltados sobre a importância da família,

61
essa abordagem se torna abstrata, sem conseguir ligar esta fala a uma ação
possível, como por exemplo: “A família é a base de tudo se não houver a força
da família, quem ajudará. Tudo parte da família” (Família 3, dezembro de
2007).
A família não é uma totalidade homogênea, mas um universo de
relações diferenciadas, e as mudanças atingem de modo diverso cada uma
destas relações e cada uma das partes da relação (SARTI, 1995, p. 39).
Nas entrevistas que realizamos identificamos que os familiares atribuem
um significado muito importante ao conceito de família considerando-a
fundamental na vida do ser humano. Esta afirmação é evidenciada em várias
falas quando afirmam que a família é a base e o início de tudo. No entanto, ao
admitirem que a família é essencial para que haja um desenvolvimento sadio
dos indivíduos reconhecem que algo está errado. No primeiro momento é
difícil perceber que algo de errado está acontecendo e mais ainda identificar
que a própria família pode estar motivando estas mudanças. “No mundo
contemporâneo, as mudanças ocorridas na família relacionam-se com a perda
do sentido da tradição. [...] Nada nos é dado “de barato”, os relacionamentos
são construídos, negociados e repensados continuamente” (SARTI, 1995,
p.43-48).
“ A família é muito importante em todo o processo do tratamento acredito
que com o apoio da equipe e a colaboração da família seja possível a
recuperação do doente.” (Família 4, janeiro de 2008).
O discurso acima reforça assim como a família 3 a importância da
família no tratamento e ressalta que a equipe e contribui positivamente para
que seja possível atingirmos resultados positivos.

4.4 Quanto aos prejuízos que ocorreram na família em


decorrência do uso de droga
Com o objetivo de descobrir quais os problemas ocasionados à família
em decorrência do uso de drogas por um integrante fizemos a seguinte
pergunta: Quais os prejuízos que ocorreram como conseqüência do uso de
droga na família? De que forma a família poderá auxiliar no processo de

62
recuperação?
“Decepção, grande decepção a toda família. Só a família que passa pelo
problema é que sabe [...] é preciso uma atitude ele acha que não precisa de
ajuda” (Família 1, dezembro de 2007).
A família muitas vezes custa a se dar conta da necessidade de
tratamento não só pela barreira de silêncio, como também por sua própria
resistência. O reconhecimento de que a família também esta inserida no
processo de adoecimento pelo uso de droga é o primeiro passo para que se
possa estabelecer uma aproximação entre os familiares e o adicto. O
profissional que atua nesta realidade precisa viabilizar este processo.
O reconhecimento que a origem do problema pode estar na família é
algo que muitos familiares relutam em não admitir. Num ato às vezes
impensado, ocasionando o distanciamento do membro da família envolvido
com o uso de drogas e a negação de que há um comprometimento de todos na
família em relação ao problema conforme relato abaixo:
“Vergonha, degradação para a própria família e para o indivíduo que usa
a droga. A família afastou-se, mas não a condeno reconheço que o
acolhimento é fundamental, mas é difícil” (Família 2, dezembro de 2007) .
As famílias geralmente buscam auxilio terapêutico quando já estão
desgastadas suas relações e sua comunicação. São raras as famílias que
buscam auxilio preventivo (SCHENKER, 2003).
A grande maioria das famílias recorrem ao tratamento quando o uso de
droga já trouxe algum prejuízo dentre os quais destacamos o financeiro e o
afetivo, tanto os usuários quanto as famílias sempre relatam perdas financeiras
com ênfase na perca de trabalho em decorrência da dependência química. Os
laços afetivos também são fragilizados e tanto no discurso dos usuários como
na fala do familiar percebemos que a questão emocional fica bastante
comprometida:
“Problemas emocionais e financeiros, ficamos sem força para nada é
preciso ser forte [...] haja paciência preciso de muita paciência, todos os
membros da família, pai, mãe, filhos devem participar do tratamento” (Família
3, dezembro de 2007).

63
“ A Família contribui muito através do diálogo [...] a conversa o apoio
sem dúvida é um caminho que possibilita a aproximação com a pessoa que
usa droga na família.” (Família 4, janeiro de 2008).
Em todos os relatos as famílias entrevistadas demonstram
claramente uma profunda insatisfação ocasionada pela droga no âmbito
familiar, no entanto não identificam que a origem do uso da substância pode
estar na própria família.
“A família fica psicologicamente e financeiramente abalada. O uso de
drogas produz diversos prejuízos; roubos, brigas e um enorme sofrimento e se
a família não for tratada também fica enfraquecida e fragilizada.” (AS 1,
dezembro de 2007).
“Profundo sofrimento associado à culpa. A droga impacta a construção
de vida os projetos são mudados e alguns casos as mudanças podem ser
irreversíveis “ (AS 2, outubro de 2007).

4.5 O processo de Co-dependência


“A vida cotidiana torna-se um exercício permanente de atenção a si e

aos outros” (SARTI, 1995, p. 48).


A co-dependência é uma doença emocional que foi "diagnosticada"
nos Estados Unidos por volta das décadas de 70 e 80, em uma
clínica para dependentes químicos, através do atendimento a seus
familiares A co-dependência também pode ser fatal, causando morte
por depressão, suicídio, assassinato, câncer e outros. Embora não
haja nas certidões de óbito o termo co-dependência, muitas vezes ela
é o agente desencadeante de doenças muito sérias. Mas pode-se
reverter este quadro, adotando-se comportamentos mais saudáveis.
Os profissionais apontam que o primeiro passo em direção à
mudança é tomar consciência e aceitar o problema.26

Para entender o que as famílias envolvidas no processo de recuperação


dos usuários pensam sobre o auxílio que pode ser prestado por estas e
avaliarmos o adoecimento simultâneo que ocorre com estas famílias faremos a
seguir a análise da co-dependência.
As famílias são unânimes quando perguntadas sobre como podem

26 Disponível em: www.gafas.org.br/co-dependente.html acessado em 30 de outubro de 2007.

64
colaborar no tratamento e expressam profundo sofrimento e decepção.
É importante ressaltar que a família 1 é representada pela mãe de um
adicto que revela que não precisa de ajuda, o que dificulta o processo de
recuperação , mas mostra a atuação da família na perspectiva de contribuir no
tratamento.

4.6 Análise do discurso dos Assistentes Sociais


No atendimento às famílias em situações de maior vulnerabilidade tem
sido comum a prática de Assistentes Sociais. Nos parece retratar a ausência
de políticas de proteção social à população das camadas sociais de baixa
renda, em conseqüência do retraimento do Estado neste campo. Conceber a
família em suas múltiplas configurações e formas de organização,
apreendendo suas particularidades como pertencentes para os profissionais de
Serviço Social e áreas afins (GUEIROS, 2002, p. 102-105).
Nos relatos percebemos que a família é fundamental no processo de
recuperação dos adictos contribuindo na eficácia do tratamento.
Na tentativa de entender qual a percepção dos Assistentes Sociais sobre
o papel da família no tratamento, perguntamos: Qual o papel da família no
processo de recuperação do usuário de drogas?
Encontramos as seguintes respostas:
“A recuperação dos usuários de drogas depende principalmente da
disponibilidade do usuário querer tratar-se. A família sem dúvida é uma fonte
de apoio e fortalecimento neste processo. Se a família estiver participando do
tratamento poderá orientar o dependente com mais segurança” (AS 1,
dezembro de 2007) .
“Em primeiro lugar é preciso entender que nem todo usuário quer a
participação da família no tratamento. A família deve identificar a questão das
drogas como problema de saúde e contribuir através do apoio e amenizar a
cura” (AS 2, outubro de 2007) .
Quanto aos fatores determinantes para uma pessoa se tornar
dependente químico, está presente no discurso das Assistentes Sociais a
família como um ponto fundamental que precisa ser considerado pelos

65
profissionais no tratamento.
Cabe ressaltar que esta pergunta utilizada no roteiro de entrevista foi
pensada com o propósito de observarmos se a família seria citada pelas
assistentes sociais como um dos fatores determinantes para o uso de drogas.
“A desestruturação familiar os fatores sociais e questões financeiras
como desemprego e a falta de recursos devem ser considerados. Quanto ao
adolescente destaco a família como elemento básico para entendermos o uso
de drogas e no adulto os aspectos financeiros são motivadores” (AS 1,
dezembro de 2007).
Enquanto a AS 1 destaca os fatores sociais para o uso da droga, a AS 2
lembra que a dependência química tem componentes genéticos que
determinam também o uso da droga.
“Para alguns os componentes genéticos determinam o uso de drogas a
exemplo do AA e para outros no vinculo afetivo e no desenvolvimento
psicodinâmico se dá o “nó” que desencadeia os problemas relacionados ao uso
de drogas” (AS 2, outubro de 2007).
No processo de entender a dependência como uma doença a AS 2
aponta que a grande maioria das famílias atribui o sentimento de “culpa” a si
mesma. Isto nos leva a considerar que mesmo de forma inconsciente e com
grandes dificuldades a família se inclui nesta dinâmica. A AS 1 já aponta que
quando as famílias iniciam o tratamento atribuem ao dependente a
dependência como “desleixo”:
“Acredito que 50% dos familiares entendiam a dependência como
doença e os demais acreditavam que não havia tratamento, encararam a
dependência como desleixo, sem-vergonhice. Hoje após estarem participando
do grupo de família cerca de 70% vêem o trabalho que é desenvolvido com os
familiares com outros olhos e mais importância” (AS 1, dezembro de 2007).

4.6.1 Quanto ao trabalho interdisciplinar


Lidar com o uso e dependência de drogas exige do profissional uma
postura isenta de preconceitos o que felizmente esta presente no discurso das

66
Assistentes Sociais entrevistadas:
“Há um trabalho interdisciplinar onde a equipe é composta por
assistentes sociais, psicólogos, psiquiatra e técnico de enfermagem há um
entrosamento bastante saudável entre os mesmos. O investimento da unidade
nos atendimentos em grupo ampliou significativamente o trabalho da equipe.”
(AS 1, dezembro de 2007).
A interdisciplinaridade está em debate na atualidade, mas encontra
impasses na sua efetivação, por isso é necessário considerarmos o processo
histórico das profissões:
É preciso compreender que a idéia de trabalho conjunto,
racionalizando, socializando é um exercício de uma nova sociedade
que quebra os modelos apreendidos na vida social que tenta banir a
idéia de autoridade e poder que tanto nos marca na família, escola,
clubes, instituições, emprego e partido político (RAMALHO, 2006, p.
70).

Na atuação profissional embora haja uma intencionalidade por parte não


apenas dos Assistentes Sociais como também de outros profissionais de
colocar em prática o trabalho interdisciplinar devido a interdisciplinaridade
exigir que cada especialista ultrapasse os seus próprios limites abrindo-se as
contribuições de outras disciplinas (SAMPAIO, 2006, p. 82).
Mas por que é tão difícil a efetivação do trabalho interdisciplinar? A
interdisciplinaridade é complexa, é difícil e traz em seu bojo a trajetória de cada
profissão, a postura ideológica, pessoal e profissional de cada elemento da
equipe e as relações sociais que implicam a conquista de espaços e a
competitividade, originárias da própria estrutura social, onde está presente a
variável da divisão social do trabalho vinculada ao modelo capitalista
dependente (SAMPAIO, 2006, p. 93).
“Integram a equipe assistentes sociais, psicólogos, psicopedagoga
auxiliar de enfermagem e psiquiatra sem dúvida há um bom trabalho
interdisciplinar que reflete no atendimento aos usuários ” (AS 2, outubro de
2007) .
Com relação aos depoimentos obtidos constatamos que todas as
profissionais colocam o seu papel enquanto membro de uma equipe e
mencionam o bom relacionamento que há entre os integrantes buscando

67
sempre a “integração e complementação de papéis” (SAMPAIO, 2006, p. 86).
Embora se constate o entrosamento e a interação entre os profissionais
em dados momentos é perceptível à fragmentação do saber, o que demonstra
um espaço entre o discurso e a prática, o que nos leva a concluir que ainda
ocorre a fragmentação.

4.7 Análise do discurso dos demais profissionais


4.7.1 A Relevância da família no tratamento
A equipe do HESFA é unânime ao considerar que é fundamental a
participação da família na recuperação dos usuários de drogas:
“Os usuários precisam contar com o apoio da família durante o
tratamento” (Psicóloga 1, dezembro de 2007).
A partir do momento que tanto o familiar quanto os usuários
reconhecem a importância de inserir a família no processo de tratamento da
dependência química isto possibilita que a família também seja tratada do
processo de adoecimento que ela também vivencia:
“A família deve acompanhar o usuário no tratamento, pois também é
vitima e adoece também” (Técnica de enfermagem, novembro de 2007).
O processo de adoecimento vivido pela família requer tratamento e
cuidados:
“É fundamental no tratamento a participação da família por que esta fica
totalmente envolvida e precisa de cuidado. Às vezes era um comportamento
negativo ou mesmo às vezes a família prefere uma doença do que ter um
dependente químico em casa. É difícil sair da dependência sozinho a família
precisa participar do processo de recuperação. Só a medicação não é
suficiente se não houver apoio da família tudo fica mais difícil. Por outro lado a
família precisa de orientação. É importante destacar que os dependentes
sempre fazem relação com a família.” (Psicóloga 2, dezembro de 2007 ).
Na fala da Psicóloga 2 quando ela diz “ por outro lado à família precisa
de orientação”, neste momento fica subentendido o quanto é importante a

68
intervenção do profissional através do conhecimento e experiência para que a
família possa realmente contribuir no tratamento:
“O trabalho realizado no grupo de família é um apoio, suporte e
esperança destaco o valor do nosso trabalho a dedicação e preocupação com
o próximo” (Técnica de Enfermagem, novembro de 2007).
As trocas de experiências entre os familiares é um exercício que
contribui em todo o processo de tratamento inclusive em relação à co-
dependência:
“Através da empatia, trabalho com as falas, todos participam, o que
funciona para um pode funcionar para o outro, há uma troca muito proveitosa”
(Psicóloga 1, dezembro de 2007).
Os trabalhos em grupos com as famílias são apontados pelos
profissionais como algo muito relevante no tratamento por que define espaços
diferenciados:
“O grupo é um lugar onde as famílias se conscientizam tem informação,
orientação e suporte. É um espaço para os familiares e muito importante
porque eles também adoecem. Os familiares descobrem que há espaço para
eles e o espaço do doente. Participam tio, pai, avós, esposa, irmão é um grupo
bem diversificado” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

4.7.2 Fatores negativos e positivos


Para que possamos avaliar o quanto os trabalhos desenvolvidos nos
grupos de famílias podem contribuir no tratamento da dependência química
perguntamos aos profissionais quais os pontos positivos e negativos
evidenciados no Grupo:
“O aspecto financeiro é considerado um fator que dificulta o andamento
do tratamento, pois as famílias têm dificuldade para chegar à unidade de saúde
por não dispor de passagem. Não há apoio nem estrutura por parte do Estado
que possibilite a continuidade do tratamento” (Psicóloga 1, dezembro de
2007).

“A esperança e a expectativa que a família tem na recuperação é um

69
fator muito positivo principalmente quando elas percebem que há solução, que
é possível através do tratamento uma superação do problema e mais elas
tomam conhecimento que alguém na sociedade se preocupa com esta
questão e pode dar apoio e suporte neste momento tão difícil” (Técnica de
enfermagem, dezembro de 2007).
A partir destes discursos é possível perceber que muitas famílias
acreditam estão sozinhas e que não há profissionais preocupados em tratar
das questões relacionadas às drogas. Por isso, no grupo, as famílias
depositam credibilidade e encontram um espaço de possibilidade para reflexão
e troca não apenas com os profissionais mais também com os demais
integrantes.
“No grupo há uma identificação com o outro as famílias não se sentem
isoladas, se sentem apoiados cria-se um elo de ajuda mútua. Quanto aos
aspectos negativos não vejo nenhum” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).
O grupo é um espaço privilegiado onde o familiar além de ter a
possibilidade de refletir as questões discutidas, é também um lugar que o
familiar busca o seu autoconhecimento:
“Os familiares falam coisas no grupo que os usuários de drogas não
falam“ (Psicóloga 2, dezembro de 2007).

4.7.3 O acolhimento aos familiares de usuários em


tratamento
O acolhimento oferecido aos familiares pode tanto aproximar e facilitar o
processo de tratamento como destruir todas as possibilidades para o resultado
satisfatório. As informações repassadas pelos profissionais devem ser claras,
diretas e destituídas de qualquer tipo de preconceito:
“Todos precisam ser ouvidos e os profissionais saem do grupo
esgotados” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).
A estrutura física, o carisma, a cordialidade, a presteza e o respeito

70
dispensados aos usuários e, principalmente o saber “ouvir” é fundamental para
que o usuário do serviço se sinta bem acolhido na instituição:
“ Há carência de recursos, espaço e material o que dificulta as
dinâmicas que pretendemos realizar no grupo” (Técnica de Enfermagem,
novembro de 2007).
A falta de recursos levantados pela técnica de enfermagem é ressaltado
também pela psicóloga, quando afirma que “Não existe espaço físico, não há
estrutura de acolhimento” (Psicóloga 2, dezembro de 2007).
Os resultados são considerados pelos profissionais satisfatórios. O
grupo é um espaço importante para que os familiares possam falar o quanto
são acolhidos e que entendem o que sentem. O foco é o grupo, porém o
atendimento individual auxilia o enfrentamento do problema.

71
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve o intuito inicialmente de propor uma discussão


acerca das transformações vivenciadas pela família. A fim de compreendermos
as mudanças de atitudes e comportamentos que, na subjetividade de cada
indivíduo revela implicações mais amplas, considerando o contexto social no
qual estamos inseridos.
A família, onde se dá à reprodução humana é caracterizada como
principal espaço de socialização. É uma instituição na qual os indivíduos
podem encontrar refúgio , mas também pode conviver com violências, conflitos,
desencontros e tribulações dentre os quais destaca-se em nossa sociedade o
uso de drogas entre jovens e adultos. A pesquisa realizada aponta diversos
prejuízos ocasionados em decorrência do uso da dependência química. É tanto
os usuários quanto os familiares apontam que as perdas mais intensas e que
provocam maior sofrimento se dão no âmbito familiar, quando o usuário deixa
de ser um pai, um amigo, um filho, um esposo e passa a ser reconhecido
como o “drogado”, o “viciado”.
Neste sentido as instituições que trabalham com a temática do uso de
drogas requer profissionais que estejam aptos a lidar com esta questão. O
Assistente Social conforme atestado nas entrevistas realizadas desempenha
um importante papel junto aos demais profissionais da equipe e aos usuários
e às famílias que buscam tratamento.
É importante destacar que a família se percebe de grande valor no
processo de tratamento dos usuários de drogas assim como os adictos
também a consideram. Por isso a atuação do Assistente Social pode favorecer
o tratamento quando a família é convocada a participar do tratamento.
Este estudo demonstra que embora sejam desenvolvidos vários grupos
de auto-ajuda, há escassez de unidades de atendimento para usuários de
substâncias psicoativas, portanto, esta pesquisa não se esgota neste trabalho
e requer continuidade e aprofundamento visando atingir a perspectiva de saúde
e qualidade de vida dos que necessitam destes serviços.
A família indiscutivelmente é um eixo importante na vida do

72
indivíduo e por isso merece atenção continua a fim de possibilitar condições
favoráveis a um desenvolvimento sadio e buscar sempre a superação dos
desafios impostos a esta instituição.

73
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81
ANEXOS

Anexo I – 12 Passos da terapia de auto-ajuda utilizada pelo Alcoólicos


Anônimos e Narcóticos Anônimos

Anexo II – As drogas e seus efeitos (drogas que diminuem a atividade


mental)

Anexo III – As drogas e seus efeitos (drogas que aumentam a atividade


mental)

Anexo IV – As drogas e seus efeitos (drogas que produzem distorções da


percepção)

Anexo V – Entrevista com as equipes nas instituições

Anexo VI – Roteiro da entrevista utilizado com o Assistente Social

Anexo VII – Roteiro da entrevista utilizado com familiares de usuário de


drogas em tratamento

82
ANEXO I
12 PASSOS DA TERAPIA DE AUTO-AJUDA UTILIZADA
PELOS ALCOÓLICOS ANÔNIMOS E NARCÓTICOS
ANÔNIMOS

01. Admitimos que éramos impotentes perante o álcool – que tínhamos perdido
o domínio sobre nossas vidas.
02. Viemos a acreditar que um Poder superior a nós mesmos poderia
devolver-nos à sanidade.
03. Decidimos entregar nossa vontade e nossa vida aos cuidados de Deus, na
forma em que o concebíamos.
04. Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos.
05. Admitimos perante Deus, perante nós mesmos e perante outro ser
humano, a natureza exata de nossas falhas.
06. Prontificamo-nos inteiramente a deixar que Deus removesse todos esses
defeitos de caráter.
07. Humildemente rogamos a ele que nos livrasse de nossas imperfeições.
08. Fizemos uma relação de todas as pessoas que tínhamos eis os passos
que são sugeridos como um programa de recuperação.
09. Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre
que possível, salvo quando fazê-lo significasse prejudicá-las ou a outrem.
10. Continuamos fazendo o inventário pessoal e, quando estávamos errados,
nós o admitíamos prontamente.
11. Procuramos, através da prece e da meditação, melhorar nosso contato
consciente com Deus, na forma em que o concebíamos, rogando apenas o
conhecimento de sua vontade em relação a nós, e forças para realizar essa
vontade.
12. Tendo experimentado um despertar espiritual, graças a esses passos,
procuramos transmitir essa mensagem aos alcoólicos e praticar esses
princípios em todas as nossas atividades .

83
ANEXO II

AS DROGAS E SEUS EFEITOS (DROGAS QUE


DIMINUEM A ATIVIDADE MENTAL)

Substância Conhecida Possíveis efeitos


Como

Ansiolíticos Calmantes Alívio da tensão e da ansiedade.

Álcool etílico Álcool, “birita”, “mé”, Em pequenas doses: desinibição,


“mel”, “pinga”, euforia, perda da capacidade
“cerva” crítica;
Em doses maiores: sensação de
anestesia, sonolência e sedação.
Inalantes Cola de sapateiro, Euforia, sonolência, diminuição
esmalte, benzina, da fome, alucinações. Tosse,
lança-perfume, “loló”, coriza, náuseas, vômitos e dores
gasolina, musculares. Visão dupla, fala
acetona,éter, tiner, enrolada, movimentos
aguarrás e tintas desordenados e confusão mental.
Narcóticos Heroína, morfina e Sonolência, estado de torpor,
codeína (xaropes de alívio da dor; sedativo da tosse,
tosse. Dolantina, sensação de leveza e prazer.
Meperidina e Pupilas contraídas.
Demerol.
Fonte: “ Um guia para a família. Cartilha da Secretaria Nacional Antidrogas, Brasília:
Presidência da República, 2001.

84
ANEXO III

AS DROGAS E SEUS EFEITOS (DROGAS QUE


AUMENTAM A ATIVIDADE MENTAL)

Substância Conhecida Possíveis efeitos


Como

Anfetaminas Metanfetamina, “ice”, Estimulam a atividade física e


“bolinha”, “rebite”, mental, causando inibição do
“boleta” sono e diminuição do cansaço e
da fome.
Cocaína “Pó”, “brilho”, “crack”, Sensação de poder, excitação e
“merla”, pasta-base euforia. Estimulam a atividade
física e mental, causando inibição
do sono e diminuição do cansaço
e da fome.
Tabaco Cigarro, charuto e Estimulante, sensação de prazer.
fumo

Fonte: “ Um guia para a família. Cartilha da Secretaria Nacional Antidrogas, Brasília:


Presidência da República, 2001.

85
ANEXO IV

AS DROGAS E SEUS EFEITOS (DROGAS QUE


PRODUZEM DISTORÇÕES DA PERCEPÇÃO)

Substância Conhecida Possíveis efeitos


Como

Maconha Maconha, haxixe, Excitação seguida de


“baseado”, “fininho”, relaxamento, euforia, problemas
“marrom” com o tempo e o espaço, falar
em demasia e fome intensa.
Palidez, taquicardia, olhos
avermelhados, pupilas dilatadas
e boca seca.
Alucinógeneos LSD (ácido lisérgico, Sensação de poder, excitação e
“ácido”, “selo”, euforia. Estimulam a atividade
“microponto” física e mental, causando inibição
(extraída de do sono e diminuição do cansaço
cogumelos) e e da fome.
mescalina (extraída
de cactos)
Ectasy MDMA, “êxtase”, Sensação de bem-estar;
“pílula do amor” plenitude e leveza. Aguçamento
dos sentidos. Aumento da
disposição e resistência física,
podendo levar à exaustão.
Fonte:”Um guia para a família. Cartilha da Secretaria Nacional Antidrogas, Brasília:
Presidência da República, 2001.

86
ANEXO V
ENTREVISTA COM AS EQUIPES NAS INSTITUIÇÕES

Roteiro da Entrevista Utilizado com a Enfermagem e


Psicologia
1. Qual a Importância da Família no Tratamento de Álcool e outras Drogas?

2. Quais Fatores Positivos e Negativos Evidenciados no Grupo?

3. Como o Grupo Pode no Tratamento da Dependência Química?

4. Que Aspectos na Unidade são Considerados Facilitadores Dificultadores do


Trabalho Desenvolvido pela equipe?

87
ANEXO VI
Roteiro da Entrevista Utilizado com o Assistente Social

1. Qual a sua experiência na área de dependência química?

2. Como é o trabalho do assistente social na instituição?

3. Quais os prejuízos em decorrência do uso de drogas na família?

4. Há trabalho interdisciplinar na instituição?

5. Quais os fatores determinantes para uma pessoa se tornar um


dependente químico?

6. Como as Famílias entendem a Dependência ?

7. Qual o papel da família no processo de recuperação do usuário de


drogas?

88
ANEXO VII
Roteiro da Entrevista Utilizado com Familiares de usuário
de drogas em tratamento

1. O que é família?

2. Qual a importância da família no tratamento?

3. Quais os prejuízos ocasionados na família em decorrência do uso de

drogas?

4. O que a família pode fazer para contribuir no tratamento?

89

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