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Artigo

A ceramista, seu pote e sua tanga:


identidade e papéis sociais em um Cacicado
Marajoara1

Denise Pahl Schaan2 Resumo


A cerâmica cerimonial Marajoara surge
a partir do ano 400 A.D., veiculando os
valores político-religiosos de elites emer-
gentes. Tais elites estavam organizadas
em cacicados competitivos, que se dife-
renciavam pela adoção de estilos estéti-
cos regionais, buscando a afirmação de
seu status e identidades sociais. Enten-
dendo que identidades individuais e so-
ciais estariam também representados na
iconografia encontrada em objetos pes-
soais, este artigo explora alguns obje-
tos encontrados em contexto funerário,
interpretando-os enquanto discursos so-
bre gênero e papéis sociais. Argumen-
ta-se que os estudos iconográficos e a
perspectiva de gênero podem ser extre-
mamente importantes para a reconsti-
tuição do passado, ao levarem em conta
as estratégias desenvolvidas por pesso-
as que agem em função de sua posição
social, gênero e idade.

Palavras-chave: Iconografia, Gênero,


Cultura Marajoara, Sociedades Comple-
xas.

1
“A ceramista, seu pote e sua tanga: identidade e significado em uma comunidade Marajoara” foi apresen-
tada dentro do Simpósio Cultura Material e Significado, organizado por Tania Andrade Lima, no XII Con-
gresso da Sociedade de Arqueologia Brasileira, realizado em São Paulo, de 21 a 25 de setembro de 2003.
2
Ph.D. em Antropologia Social / Arqueologia, Pesquisadora Bolsista MCT-CNPq/Museu Paraense Emílio
Goeldi. Caixa Postal 399, CEP 66040-170, Belém/PA.

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Schaan, D. P.

Abstract Mississipi (Meggers e Evans, 1957; Pal-


matary, 1950). Algumas das semelhan-
Marajoara ceremonial ceramics appears ças apontadas diziam respeito a formas,
by 400 A.D. as vehicles for religious and decoração e grafismos em vasilhas e ob-
political values of emergent elites. The- jetos. Temos interpretado estas seme-
se elites were organized in competitive lhanças na cultura material seja como
chiefdoms, which differentiate themsel- coincidências, seja como contato, uma
ves by the adoption of regional styles, vez que redes de trocas através das quais
seeking the affirmation of their status percebe-se a distribuição de objetos líti-
and social identities. Understanding that cos por uma vasta área transcontinental
individual and social identities were also (Boomert, 1987) poderia também ter im-
represented on the iconography of per- pulsionado a adoção de símbolos gráfi-
sonal belongings, this article explores cos. Uma terceira possibilidade, para al-
some objects found in a funerary con- guns casos, seria ainda uma base étnica
text, interpreting them as discourses on e cultural comum, construída através do
gender and social roles. It is argued that tempo por meio de migrações ou diás-
both iconographic studies and gender poras.
perspectives can be extremely important
for reconstructing the past, taking in Em âmbito local, a distribuição dife-
account the strategies developed by pe- rencial de certos sub-estilos dentro da
ople who act as a function of their social Ilha de Marajó também chamou a aten-
positions, gender and age. ção dos pesquisadores, que eventual-
mente utilizaram estas diferenças para
Keywords: Iconography, Gender, Mara- estabelecer cronologias relativas (Ma-
joara Culture, Complex Societies. galis, 1975; Meggers e Evans, 1957;
Roosevelt 1991). Apesar de concordar-
mos em que deve haver uma diferença
Introdução cronológica entre os diversos sítios, in-
O estudo da iconografia e conteúdo dicando uma expansão geográfica da
simbólico da cerâmica Marajoara sem- cultura Marajoara, as datações disponí-
pre fez parte das preocupações de seus veis indicam que esta expansão se deu
estudiosos, desde as primeiras descober- rapidamente, em um período de 100 a
tas dos tesos3 cerimoniais e sua cerâmi- 200 anos. Os dados sugerem, portan-
ca ritual, ainda no século XIX. Naquela to, que a segregação de sub-estilos es-
época, as principais perguntas que diri- taria mais provavelmente relacionada à
giram as investigações se relacionavam diferenças sociopolíticas entre áreas ge-
à origem das populações Marajoara e o ográficas distintas, e uma busca de afir-
significado de seus símbolos (ver Fer- mação de identidade e status de gru-
reira Penna, 1877; Hartt, 1871; Netto, pos sociais locais. Ainda que o conceito
1885). Mesmo as abordagens mais in- de estilo e seu uso enquanto categoria
gênuas consideravam aquela arte como analítica varie entre arqueólogos, exis-
religiosa, de conteúdo xamanístico e ri- te certo consenso de que estilos são ins-
tual, especialmente dada sua associa- trumentos de comunicação e demarcam
ção com contextos funerários. A procura (intencionalmente ou não) fronteiras
de paralelos em outras partes das Amé- sociais e políticas (Conkey e Hastorf,
ricas apontou para conexões no oeste e 1990; Earle, 1990; Wobst, 1977). Nes-
noroeste da América do Sul, partes da te sentido, o uso exclusivo de certos
América Central e Caribe estendendo-se objetos, especialmente aqueles relaci-
até áreas dos Estados Unidos, como o onados a rituais funerários, comunica

3
Teso é a denominação local para colina (mound, em inglês) e significa "terra firme".

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sobre filiação a um grupo social, identi- gias desenvolvidas por pessoas que
dades individuais e possivelmente dife- agem em função de sua posição social,
renças étnicas. O que é importante sa- gênero e idade (Brumfiel, 1992). Por-
lientar, entretanto, é que a localização tanto, se considerarmos os atores soci-
geográfica desses traços dentro do do- ais em todas as dimensões de suas iden-
mínio da cultura Marajoara, represen- tidades sociais, reconhecendo que gê-
tados particularmente por determina- nero pode ser importante em definir
dos tipos de urnas funerárias e outros produção, consumo e distribuição de
objetos rituais, demarcariam centros re- itens da cultura material (Brumfiel,
gionais de poder. Estas seriam socieda- 1991; Costin, 1996; Fish, 2000), esta-
des regionais ou cacicados (na acepção remos em uma melhor posição para en-
conferida por Carneiro, 1981) constitu- tender organização social em socieda-
ídos por grupos de tesos de diferentes des do passado.
tamanhos, formando um padrão hierár-
quico de assentamento, com uma po-
pulação entre 1000 e 3000 pessoas. O O Cacicado dos Camutins
maior deles, caracterizado pela constru- O cacicado dos Camutins se consti-
ção de 34 aterros ao longo do igarapé tuía em um centro político e religioso
dos Camutins, um afluente do alto rio composto por 34 tesos de 3 a 12 me-
Anajás, foi objeto de pesquisa que re- tros de altura, construídos artificialmen-
sultou em nossa tese de doutorado te ao longo de 10 km das margens do
(Schaan, 2004). igarapé dos Camutins, cuja influência
Nesse trabalho selecionamos alguns atingia outras comunidades existentes
aspectos da iconografia Marajoara, as- na bacia do rio Anajás. Como parte dos
sim como alguns objetos da cultura ma- objetivos da pesquisa que realizamos
terial encontrados no sítio PA-JO-15: na área em 2002, estávamos preocu-
Camutins, para discutir seus possíveis pados em definir o tipo de organização
significados, tendo em vista os contex- sociopolítica que caracterizaria aquele
tos aos quais estes objetos estavam as- cacicado em termos de hierarquia, di-
sociados no sítio arqueológico. Essa dis- visão social do trabalho, distribuição de
cussão envolve também uma perspec- riqueza e poder, acesso ao espaço ceri-
tiva de gênero, dado o peso que este monial, assim como o exercício de con-
possui na iconografia Marajoara. Infe- trole sobre a produção e distribuição de
lizmente os estudos iconográficos e os itens da cultura material. Dentro do as-
estudos de gênero não fazem parte do sentamento, o teso Belém (M-17), o
dia-a-dia da pesquisa arqueológica. segundo em tamanho e importância, era
Quando são utilizados, muitas vezes um local utilizado para residência e en-
cumprem o papel de ilustrar comporta- terramento de pessoas da elite. O perí-
mento cultural, não de entendê-lo por odo investigado vai de 700 a 1000 d.C.
causa de suas manifestações simbóli- e representa a época de maior expan-
cas. Em muitos casos, no entanto, ne- são da cultura Marajoara (uma descri-
gar-se à pesquisa iconográfica ou re- ção detalhada da pesquisa pode ser en-
jeitar uma perspectiva de gênero pode contrada em Schaan, 2004).
significar fechar os olhos para aspectos Em termos da estrutura de poder,
do registro arqueológico que podem nos buscávamos identificar símbolos de pres-
ajudar enormemente na reconstrução tígio e seu uso por atores sociais para
do passado. Por exemplo, uma perspec- justificação e negociação de posições
tiva de gênero pode nos ajudar a en- sociais. Nossas principais perguntas
tender o passado arqueológico de uma eram: de que maneira a hierarquia es-
maneira que leva em conta as estraté- taria relacionada com poder? Que poder

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Schaan, D. P.

seria reservado às mulheres? Como ca como cerimonial no mesmo local.


mulheres e homens estavam represen- Além disso, a predominância da produ-
tados em festividades e cerimônias? ção de cerâmica doméstica, a proximi-
Como o gênero se relacionaria a ativi- dade do local de produção com o con-
dades produtivas? Quais seriam as pes- texto doméstico, assim como a identifi-
soas que teriam acesso a símbolos de cação de objetos cerâmicos produzidos
prestígio e como isto estaria relaciona- por crianças indicou que as atividades
do com poder político? De que maneira produtivas estavam relacionadas a con-
a especialização na produção cerâmica textos domésticos (Schaan, 2004). Uti-
se relacionaria com as atividades domés- lizamos também a distribuição de frag-
ticas e de que maneira as mulheres es- mentos de tangas de cerâmica em di-
tariam envolvidas nesta atividade? versas áreas do sítio para mapear as ati-
Entendendo que os atores sociais vidades de mulheres e a presença femi-
utilizam objetos como instrumentos na nina.
negociação de sua identidade e poder Como resultado, verificou-se uma
(Hodder, 1982) e entendendo gênero correlação positiva entre as freqüências
como um aspecto importante desta de remanescentes de produção cerâmi-
identidade (Gero 1992; Munson, 2000; ca e fragmentos de tangas em uma área
Pollock, 1995), uma das estratégias uti- que foi considerada como área preferen-
lizadas foi a de identificar estes atores cial para produção cerâmica no sítio. O
sociais através dos remanescentes de segundo lugar onde os fragmentos de
seus objetos pessoais. Através da dis- tangas são mais freqüentes é a área de
tribuição de artefatos poderíamos ma- descarte nos fundos da casa, onde fo-
pear as atividades de determinados ato- ram encontrados também abundantes
res ou grupos sociais e entender me- remanescentes de atividades domésti-
lhor a distribuição de tarefas e especia- cas. Verificou-se, portanto, que fragmen-
lização. tos de tangas são mais comuns no refu-
Através do estudo de feições cultu- go doméstico e na área aberta entre a
rais e cultura material concluímos que o casa comunal e a casa dos antepassa-
teso Belém abrigava uma casa comunal dos (o espaço cerimonial funerário) do
(escavação 4) e uma outra estrutura que no próprio espaço cerimonial. É pos-
menor onde localizavam-se os enterra- sível, no entanto, que a área que apon-
mentos e tinham lugar os rituais fune- tamos como área de produção cerâmica
rários (escavações 5 e 6, ver Fig.01). A tenha sido também uma área de reali-
análise dos artefatos, a maioria deles zação de cerimônias rituais, por ser uma
fragmentos cerâmicos, consistiu em ve- área central ao aterro (escavação 1,
rificar distribuição quantitativa de tipos Fig.01). De qualquer maneira, notou-se
cerâmicos (avaliados com relação a as- a pequena ocorrência relativa de frag-
pectos tecnológicos e estilísticos), assim mentos de tangas junto à área de se-
como verificar distribuição quantitativa pultamentos. Pode-se talvez interpretar
e qualitativa de formas de vasilhas e essa distribuição diferencial de fragmen-
objetos, tanto nos seus aspectos diacrô- tos de tangas por práticas de limpeza.
nicos como sincrônicos. A identificação Ou seja, se fragmentos são varridos de
de remanescentes de produção cerâmi- dentro da casa e do espaço cerimonial/
ca (tais como fragmentos de vasilhas que casa dos antepassados seria de se es-
estouraram durante a queima, argila pre- perar sua maior ocorrência no refugo
parada, artefatos não acabados) foi uti- doméstico e na área aberta entre a casa
lizada para avaliar aspectos do processo comunal e a casa dos antepassados.
produtivo, que apontaram para a pro- O estudo das feições relacionadas
dução local tanto de cerâmica domésti- com sepultamentos e o estudo das prá-

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ticas funerárias sugere que as diferen- tas. É possível que os poucos indivíduos
ças observadas entre os indivíduos da com acesso a esses bens fossem ho-
elite sejam diferenças de gênero e ida- mens. Neste caso, esses objetos poderi-
de e não de status social propriamente am ser entendidos no contexto funerá-
dito. A pequena quantidade de enterra- rio como marcas de identidade social e
mentos – 24 para um período de 300 ou de gênero. A formação de alianças ex-
400 anos indica que os indivíduos en- ternas, através de trocas e contatos cul-
terrados eram indivíduos da elite, espe- turais tem sido apontada como estraté-
rando-se pouca diferenciação social en- gia que serve para reforçar posições po-
tre eles, tendo em vista que a maior di- líticas e poder a nível interno (Helms,
ferença seria entre estes e aqueles que 1979; Shennan, 1982).
nem ao mesmo mereceriam sepultamen- Por outro lado, a maior riqueza de-
to em urnas, ou seja, a maioria da po- corativa das urnas, com uma diversida-
pulação. de de símbolos que remetem a temas
Apesar do estudo das práticas fune- como morte, fecundidade, maternidade,
rárias encontrar-se ainda em andamen- renascimento, assim como sua associa-
to, notou-se uma associação entre ur- ção com tangas e remanescentes femi-
nas decoradas e tangas, em contraste ninos, como já observado em outras pes-
com uma urna sem decoração onde en- quisas (Meggers e Evans, 1957) sugere
contraram-se um machado e um colar a importância de mulheres ou de princí-
lítico. Além disso, duas das urnas que pios femininos nas relações com o so-
continham tangas continham também brenatural e com os antepassados.
um pequeno pote globular com motivos
decorativos incisos bastante simples, que
interpretamos como representando a
O simbolismo das tangas
pele da serpente (Schaan, 2001) femininas
(Fig.02). Uma hipótese que foi levanta- Tangas são peças cerâmicas triangu-
da a partir destes dados preliminares lares e côncavas, similares àquelas fei-
seria a de que as mulheres seriam en- tas de materiais orgânicos usadas por
terradas em urnas profusamente deco- índias amazônicas. O único caso conhe-
radas com motivos geométricos e antro- cido de uso de tanga cerâmica fora da
pomorfos. Como parte deste ritual fune- Ilha de Marajó foi reportado por Metraux
rário, os ossos eram acompanhados oca- (1948) entre as tribos Pano do rio Ucaya-
sionalmente por uma tanga ou um pe- li, onde meninas usavam uma tanga ce-
queno pote de cerâmica, decorado com râmica de forma oval durante a puber-
motivos incisos, ou ainda pelos dois ob- dade (Steward e Metraux 1948: 585, ci-
jetos. tado por Meggers e Evans 1957: 416).
Não foi observada a associação en- Através da analogia etnográfica, do es-
tre objetos líticos e tangas. O sepulta- tudo da iconografia, e da identificação
mento de uma criança de 10 a 12 anos do sexo de esqueletos em enterramen-
com um pequeno machado lítico e um tos acompanhados por tangas, conclui-
colar feito com 12 contas cilíndricas de se que estas eram usadas por mulheres.
microgabro indica a importância deste As tangas são conhecidas na litera-
indivíduo, tendo em vista que objetos tura por serem de dois tipos diferentes:
líticos eram necessariamente adquiridos decoradas e não-decoradas. As decora-
por meio de trocas de longa distância. das o são com motivos decorativos geo-
Uma vez que não existem rochas na Ilha métricos pintados em vermelho sobre
de Marajó, os objetos líticos eram im- uma superfície que recebeu engobo
portados de outras áreas como as baci- branco. As conhecidas como não-deco-
as dos rios Xingu, Tapajós ou Trombe- radas, ou simples, recebem um engobo

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Schaan, D. P.

vermelho e são polidas, resultando em rados assim como indivíduos sepultados


um vermelho vivo que faz os fragmen- diretamente no solo, tão próximos à urna
tos serem reconhecidos à distância na que teriam sido enterrados em conjun-
superfície dos sítios arqueológicos. As to. Os pesquisadores concluíram que se
vermelhas são mais freqüentes no re- tratava de um indivíduo da elite que te-
gistro arqueológico, mas as pintadas ria sido provavelmente acompanhado por
chamam mais a atenção pelos elabora- escravos, serviçais ou pessoas da famí-
dos motivos geométricos. As diferenças lia.
entre as tangas, como tem sido sugeri- Na área de sepultamentos do aterro
do por vários autores, estariam prova-
Belém, no sítio Camutins, também iden-
velmente relacionadas a diferenças de
tificamos quatro tangas simples de co-
status social entre as usuárias. Os pa-
loração clara, ou bege, acompanhando
drões de uso observados nos furos exis-
urnas funerárias decoradas (Fig.03). Em
tentes nas extremidades das tangas para
apenas dois dos enterramentos as tan-
a passagem de cordão usado para atar
gas eram vermelhas. Uma tanga deco-
a peça ao corpo sugerem que as tangas
eram usadas com freqüência maior do rada foi também encontrada na área de
que apenas em ocasiões festivas (Scha- enterramentos, mas não associada di-
an, 1997), o que também é comprovado retamente com nenhuma urna; no en-
pela abundância de fragmentos encon- tanto esta tanga pode ter acompanhado
trados nos sítios. algum dos enterramentos mais recen-
tes que sofreram distúrbios pós-deposi-
Além disso, fragmentos de tangas
cionais.
não são encontrados nos pequenos te-
sos-habitação, sugerindo que as tangas Os dados parecem indicar que as tan-
eram de uso exclusivo da elite (Meggers gas de cor clara e sem decoração eram
e Evans, 1957). reservadas para certa classe de mulhe-
res, classe essa definida por posição ge-
Um terceiro tipo de tanga, no entan-
nealógica e talvez também por idade. Ao
to, que é encontrado somente acompa-
contrário do que se poderia imaginar,
nhando enterramentos é ainda mais sim-
portanto, são justamente as tangas “sim-
ples. Possui um engobo de cor clara, bege
ples” as que indicam elevado status so-
ou alaranjada, e é polida, mas não pos-
cial, não as decoradas, como sugeriria o
sui motivos decorativos. Como fragmen-
senso comum.
tos deste tipo são totalmente ausentes
no sítio, conclui-se que essas tangas fo- As diferenças em tamanho e curva-
ram especialmente produzidas para en- tura entre as tangas mostram variações
terramentos, acompanhando uma certa que devem ter estado relacionadas à
classe de mulheres. Um dos mais elabo- anatomia das mulheres, como Meggers
rados enterramentos já escavados em e Evans (1957:382) observaram. Pelo
Marajó foi realizado por Meggers e Evans, fato das tangas vermelhas serem maio-
(1957) no sítio Monte Carmelo, aterro res, possuírem maior curvatura e serem
Guajará, onde de dentro de uma urna mais abundantes no sítio, sugerimos que
grande antropomorfa, com característi- tenham sido destinadas à mulheres mais
cas sexuais femininas e outros motivos velhas e/ou casadas. Dentro desta elite,
decorativos modelados e pintados em portanto, ao contrário do que poderia
preto e vermelho sobre branco, retira- parecer a princípio, não seriam as mu-
ram os ossos de um indivíduo adulto de lheres mais importantes na hierarquia
estatura pequena, provavelmente uma aquelas a usarem as tangas decoradas.
mulher, acompanhada por uma tanga po- Ao contrário, seriam mulheres mais jo-
lida alaranjada, sem outras decorações. vens, cuja identidade e posição social
Junto à urna havia outros vasos enter- precisava ser afirmada e lembrada ao

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grupo. Sugerimos que estas tangas de- vavelmente veicula informações a res-
coradas eram usadas por mulheres jo- peito de filiação ou algo que fosse mais
vens ou meninas, possivelmente duran- relacionado à identidades individuais.
te rituais da puberdade. É especialmente, no entanto, o segun-
Alguns estudiosos da cultura Mara- do campo decorativo, aquele dos mo-
joara notaram que a variação nos de- tivos da serpente o qual queremos en-
senhos das tangas seguia padrões con- fatizar porque, não por acaso, ele está
sistentes, possivelmente de significa- também presente nas urnas funerári-
do simbólico e religioso (Meggers e as femininas e nos potes que acompa-
Evans, 1957:384; Mordini, 1929). Ao nhavam os enterramentos femininos.
estudar estes desenhos, percebemos
que há similaridades e variações em
padrões decorativos que ocupam cam-
Iconografia, estratégias de
pos diferentes da tanga (Schaan, subsistência e poder
2001). Notamos inicialmente que es- O índio mergulhou no rio e achou a esca-
tes campos eram três, mas recente- ma de uma cobra. Ele estava vivendo nas
mente Tania Andrade Lima (com. pess. cabeceiras de um pequeno igarapé, e re-
2005) nos chamou a atenção para a solveu guardar a escama junto com suas
existência de um quarto campo, e Ma- coisas, sem dar muita importância. En-
riana Pamplona Ximenes Ponte, bolsista tão muitas cobras, de diferentes tipos,
apareceram, cobras que ele nunca tinha
de iniciação científica em estudo atu-
visto. O pajé lhe disse que as cobras vie-
almente em curso, observou em uma
ram atrás de alguma coisa que ele tinha,
tanga a existência de cinco campos de- que pertencia a uma cobra, e que ele ti-
corativos. De qualquer modo, parece nha que se livrar daquilo. O homem en-
que três campos decorativos são mais tão jogou a escama no rio, mas a água
freqüentes e abrangem quase a totali- estava muito rasa, na vazante. À noite o
dade da superfície da tanga, e podem igarapé encheu e muitas cobras vieram,
ser definidos como: a) uma faixa su- seguidas pelos peixes. O lugar onde ele
tinha atirado a escama virou uma lagoa
perior que permanece constante e que
tão cheia de peixes que se tornou o me-
provavelmente indica gênero e idade lhor lugar para pescar4 (Reichel-Dolma-
em um sentido amplo. O símbolo cen- toff, 1971:267).
tral é semelhante à representação do
órgão feminino em algumas urnas e es- Diversos aspectos da iconografia nos
tatuetas, portanto seu significado está objetos da cultura material podem ser
relacionado a gênero e possivelmente lidos como representando conceitos cos-
sexualidade (Fig.04); b) o segundo mológicos e mitológicos, de natureza cul-
campo invariavelmente veicula motivos tural. Estes conceitos tendem a ser rela-
decorativos que temos identificado ao tivamente estáveis no plano das idéias,
longo de nossos estudos iconográficos mas sua veiculação em objetos serve a
como representando a pele da serpen- determinados propósitos (Schaan.
te mitológica. São padrões decorativos 2005), muitas vezes não totalmente
que estão presentes sobre a pele de conscientes e intencionais, mas que po-
serpentes figurativas dentro do conjun- dem se relacionar à legitimação da de-
to da iconografia Marajoara, assim sigualdade social através do controle ou
como ocupam lugar de destaque em diálogo com o sobrenatural (Earle, 1990;
praticamente todos os objetos; c) o ter- Helms, 1979).
ceiro campo decorativo apresenta um Em nosso próprio trabalho com a
espectro de variabilidade maior e pro- iconografia Marajoara (Schaan, 1997),
4
Trecho de mito Desâna, reescrito a partir de relato compilado por Geraldo Reichel-Dolmatoff.

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Schaan, D. P.

buscamos entendê-la em sua lógica in- mente ligada a mudanças nas estratégi-
terna como uma linguagem, usada por as de subsistência. Nossas pesquisas in-
uma sociedade iletrada para expressar dicam que a pesca intensiva, com a ma-
idéias cosmológicas, mitológicas, assim nipulação do nível das águas e da mobi-
como para demarcar status social em lidade dos peixes, obtida através da
determinados objetos de uso pessoal. construção de barragens e lagos artifici-
Aplicando princípios estruturalistas à ais esteve na origem do desenvolvimento
análise dos grafismos, propusemos que de complexidade social em Marajó (Scha-
os desenhos geométricos representa- an, 2004). Um processo similar foi ob-
vam personagens animais e humanos, servado por Erickson (2000) nas savan-
através dos quais significados simbóli- nas bolivianas, com a construção de re-
cos eram atribuídos aos objetos. Den- servatório de peixes, uma estratégia que
tre os animais representados, a figura
ele chamou de domesticação da paisa-
de uma serpente mitológica seria pre-
gem.
dominante, motivo pelo qual sugerimos
inicialmente sua ligação com mitos de A localização dos tesos cerimoniais
criação. Propusemos ainda que a in- nos pontos onde a exploração da pesca
terpretação dos grafismos era impor- intensiva era favorecida ecologicamen-
tante para identificação de grupos so- te e a construção de uma ecologia cul-
ciais dentro do domínio da cultura Ma- tural através de lagos e barragens asso-
rajoara, assim como para avaliar as ciados ao culto aos antepassados indi-
mudanças cronológicas em intensida- cam que alguns grupos sociais ter-se-
de de investimento na produção de cer- iam apropriado ou aproveitado de sím-
tos objetos, indicando mudanças nas bolos culturais (os antepassados mito-
relações sociais e estruturas de poder lógicos) para reforçar hierarquia social e
(Hays, 1993). reivindicar direitos aos recursos naturais.
O surgimento de sociedades comple- Nesse contexto, a cultura material foi uti-
xas na Ilha de Marajó, dadas as especi- lizada conscientemente por determina-
ficidades de suas características ecoló- dos grupos sociais para garantir a esta-
gicas, tem sido objeto de intenso deba- bilidade de uma economia política, cuja
te por várias décadas. Esse debate tem sustentação ideológica dependia da re-
se centrado, principalmente em aspec- alização de rituais periódicos. Não por
tos ecológicos e econômicos, uma vez acaso, as duas atividades nas quais esta
que definir uma economia capaz de sus- economia política se baseava – a pesca
tentar o nível de complexidade atingido e a produção de objetos rituais cerâmi-
pela fase Marajoara vinha-se colocando cos, ocorriam concomitantemente duran-
como o maior desafio para os pesquisa- te o verão amazônico, de julho a novem-
dores (Meggers, 2001). Apesar de mo- bro. O fato da produção de cerâmica e a
delos como os que consideram que inte- pesca serem igualmente favorecidas pelo
resses de indivíduos ou grupos sociais fim da chuvas e recuo das águas, pode
têm a potencialidade de disparar os me- sugerir uma divisão de tarefas entre
canismos que impulsionam a evolução homens pescadores e mulheres ceramis-
de complexidade social estar muito em tas. Dada a sazonalidade dessas ativi-
moda ultimamente, deixam muito a de- dades, no entanto, e o caráter hierár-
sejar em termos de sua potencialidade quico dessa sociedade, pode-se pensar
para explicar mudança cultural (ver Bru- em uma divisão de trabalho dinâmica em
mfiel e Fox, 1994; Clark e Blake, 1994; função das variáveis ecológicas, sociais
ver, por exemplo, Roscoe 2000). Ao con- e políticas (ver, por exemplo, Brumfiel,
trário, mudança cultural na fase mara- 1991 e Fish, 2000). Ambas as ativida-
joara parece ter estado fundamental- des eram primariamente conduzidas sob

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os auspícios da elite, mas não de uma peixes, a base econômica da sociedade


maneira totalmente centralizada. Pelo Marajoara. Esta situação explicaria a re-
menos duas barragens existiam no Ca- corrência da serpente na iconografia Ma-
mutins, coincidindo com a localização de rajoara e sua associação freqüente com
dois grupos de aterros cerimoniais da objetos femininos. Além disso, indica-
elite, sugerindo uma segmentação do ria uma importância do gênero femini-
poder. Além disso, a produção de cerâ- no para o equilíbrio das relações entre
mica ocorria também nos dois aterros sociedade humana e ciclo de vida dos
principais e provavelmente também nos animais.
outros quatro aterros habitados pela eli-
te. Pode-se pensar, portanto em uma co-
ordenação das atividades por parte da
Observações finais
elite. Antropólogos têm sugerido que, em
A associação dos pequenos vasos ce- sociedades como cacicados, na medida
râmicos com enterramentos femininos em que complexidade social aumenta e
pode talvez ser entendido como repre- a produção cerâmica se torna uma ati-
sentando o aspecto de gênero desta di- vidade especializada, grupos de ceramis-
visão de tarefas, onde as mulheres se- tas se dedicam exclusivamente a pro-
riam as responsáveis pela produção ce- duzir cerâmica mais elaborada para fes-
râmica. Pode ainda ser objeto utilizado tas e rituais (Earle 1991, 1997; Feinman,
para conter medicamento, bebida ou ali- Kowalewski e Blanton, 1984).É neste
mento no contexto funerário. Esse pe- momento em que a produção cerâmica
queno pote cerâmico é muitas vezes pode vir a se tornar uma atividade mas-
desprovido de decoração, contrastando culina, ou quando a participação mas-
com a riqueza de detalhes e pintura po- culina aumenta. Em sociedades mais
licrômica observados nas urnas. Os simples ou de menor escala, por outro
motivos da serpente, tanto nas tangas lado, a produção cerâmica geralmente
quanto nos potes, parecem indicar que tem lugar no contexto doméstico, e é
a serpente mitológica estaria relaciona- tarefa desempenhada por mulheres, sen-
da com objetos femininos e deve, por- do a participação dos homens restrita a
tanto, ser entendida dentro do contex- certas partes do processo produtivo
to dos significados de gênero que os po- (Costin, 1991).
vos amazônicos geralmente conferem No teso Belém, a correlação entre
aos seres da natureza e ao sobrenatu- vestimenta feminina (tangas verme-
ral. Sociedades indígenas amazônicas lhas) e remanescentes de produção ce-
entendem que os animais, assim como râmica na mesma área, além de ou-
os humanos, possuem vida social. Sua tras evidências como o caráter predo-
cosmologia é então habitada por seres minantemente doméstico da produção
que possuem gênero e personalidade e (Schaan, 2003) sugere que as mulhe-
que, por esse motivo são usados como res estivessem primariamente encar-
metáforas das relações sociais (Vivei- regadas da produção cerâmica. Pelo
ros de Castro, 1996). Na mitologia ama- fato de ambas as atividades ocorrerem
zônica, a serpente é em geral um ser no mesmo período sugere-se que a
feminino, cujos poderes e atributos va- pesca fosse atividade predominante-
riam culturalmente mas que estão as- mente masculina, pelo menos durante
sociados freqüentemente com fertilida- o período de maior produção. Além dis-
de (Reichel-Dolmatoff, 1971). É possí- so, a coleta de peixes envolvia previa-
vel que a serpente mítica fosse consi- mente as obras de terra (construção
derada responsável pela procriação de de barragens, limpeza de lagos), o que

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Schaan, D. P.

devia ser tarefa masculina. Ao mesmo tes foram usados para reforçar discur-
tempo é possível que a pesca congre- sos sobre identidade e negociar poder.
gasse homens e mulheres comuns, que Estes objetos, quando entendidos nos
não fizessem parte da elite, morado- seus contextos domésticos e produtivos,
res tanto do sítio Camutins como de nos comunicam sobre atividades que
outras localidades que dirigiam-se para são, no seu dia-a-dia, determinadas por
o Camutins na época de maior produ- gênero, posição social e idade (Hastorf,
tividade. 1991). Ao usar gênero como um com-
Caso se confirme que as urnas deco- ponente importante da investigação tem
radas antropomorfas era, realmente, so- sido possível observar diversos aspec-
mente destinadas a mulheres, é bastante tos da organização social e entender di-
provável que a sociedade Marajoara fos- ferenças de status social em um contex-
se matrilinear, como sugere Roosevelt to mais amplo.
(1991). Entretanto, não defendemos a É possível que outros objetos pere-
idéia de que o poder político estivesse cíveis acompanhassem a ceramista,
necessariamente na mão de mulheres. juntamente com seu pote e sua tanga,
A provável correlação simbólica entre a em sua moradia no espaço funerário e
serpente mitológica e a reprodução de ritual. O que encontramos, no entan-
peixes e sua associação com o gênero to, é apenas uma tanga não decorada,
feminino sugere que a serpente pode ter com um pequeno pote que carrega mo-
sido considerada como ancestral dentro tivos decorativos incisos e que contras-
de uma linhagem feminina, o que daria
tam, em sua simplicidade, com a ri-
a uma elite de mulheres prerrogativas
queza decorativa da urna. Seus signi-
especiais. Sociedades matrilineares eram
ficados simbólicos, no entanto, pare-
bastante comuns na pré-história das
cem transcender a simplicidade, ao
Américas, onde a linha de descendência
marcar status social e gênero em uma
e o exercício do poder nem sempre con-
vergiam, sendo os chefes nomeados sociedade cuja complexidade da cul-
dada a sua filiação pela linha materna tura material tem instigado pesquisa-
(Boada-Rivas, 1998; Wilson, 1977). A dores e leigos, e fascinado a todos nós
iconografia Marajoara, pela predominân- através dos anos.
cia das imagens femininas indica a im-
portância de ancestrais femininos; ao
mesmo tempo, a freqüente convivência
Agradecimentos
de símbolos masculinos e femininos em Uma versão preliminar deste artigo
um mesmo objeto, como no caso das es- foi apresentada (mas não publicada) no
tatuetas fálico-femininas (Fig.03) ques- XII Congresso da Sociedade de Arqueo-
tiona a idéia de uma dicotomia entre os logia Brasileira, em São Paulo, em 2003,
gêneros na organização da vida social. no Simpósio “Cultura Material e Signifi-
Seria mais adequado sugerir que, ainda cados Simbólicos”, coordenado pela Profª
Dra. Tania Andrade Lima. O artigo foi re-
que gênero fosse importante, as diferen-
digido enquanto a autora esteve rece-
ças sociais entre a elite e pessoas co-
bendo bolsas GDE e, posteriormente, DTI
muns seria o princípio de organização
do CNPq. Agradecemos à Profª Tania o
social mais importante.
convite, que resultou na redação deste
Estudos iconográficos podem ajudar artigo, assim como seu apoio e troca de
enormemente a entender o registro ar- idéias ao longo dos anos e, é claro, à
queológico, na medida em que os con- constante fonte de inspiração e motiva-
textos de uso e descarte de objetos nos ção que temos encontrado em seu tra-
informam sobre a maneira pela qual es- balho.

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A ceramista, seu pote e sua tanga: identidade e papéis sociais em um Cacicado Marajoara

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Fig.01 – Localização de escavações e reconstituição da distribuição espacial de moradia e espaço


funerário no teso Belém (M-17).

Fig.02 – Pequenos potes globulares com decoração incisa são encontrados dentro ou próximos a
urnas funerárias.

44 Revista Arqueologia, 16: 31-45, 2003


A ceramista, seu pote e sua tanga: identidade e papéis sociais em um Cacicado Marajoara

Fig.03 – Tanga cerâmica retirada de dentro de urna funerária durante


escavação do teso Belém. Foto de Carlos Mora.

Fig.04 – Estatueta fálico-feminina e tanga


cerâmicas. A vagina da estatueta e o signo
gráfico central superior da tanga são similares.

Revista Arqueologia, 16: 31-45, 2003 45

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