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Informe Técnico
Recebido em: 08/01/2013
Avaliado em: 29/05/2013
Publicado em: 13/06/2014
Publicação
Anhanguera Educacional Ltda.
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Correspondência
Sistema Anhanguera de
Revistas Eletrônicas - SARE
rc.ipade@anhanguera.com
1. Introdução
A Disfunção Cerebral Mínima (DCM) é um distúrbio neurocomportamental, clinicamente
caracterizado por desordem de aprendizagem, dificuldade em controlar impulsos,
manter a atenção em atividades escolares e controlar atividades motoras (Reed, 2007). A
proporção mundial entre meninos e meninas acometidos pela DCM varia de 2:1 em estudos
populacionais e até 9:1 em estudos clínicos (Rohde, Halpern, 2004).
Não é de se estranhar que sua etiologia seja desconhecida, na maioria dos casos de DCM,
dada a grande variedade de alterações presentes. A etiologia de um quadro tão variável é
provavelmente múltipla. Os seguintes fatores etiológicos têm sido lembrados: lesão cerebral
orgânica (anóxia perinatal), prematuridade, ação de toxinas exógenas (chumbo), infecções,
doenças metabólicas, transmissão genética, desnutrição e fatores psicogênicos (Shepherd,
1995).
No campo da educação, a desordem de aprendizagem mais comum é a dislexia,
caracterizada pela dificuldade de leitura, escrita e soletração. Do ponto de vista
neuropsicológico, a dislexia é considerada uma disfunção do sistema nervoso central,
acarretando também déficits sensoriais e motores. Além disso, tais crianças apresentam
risco para desenvolvimento de transtornos emocionais e comportamentais, como ansiedade
e depressão. A criança sente-se muitas vezes isolada por causa das diferenças, que se tornam
evidentes na sala de aula (Lima et al., 2008).
O diagnóstico da DCM é fundamentalmente clínico, baseados em critérios claros
e bem definidos; observando se a criança apresenta somente um ou vários sintomas
associados. Além de uma boa anamnese, e da coleta de informações desde o nascimento,
desenvolvimento, alimentação, relacionamento com a família, irmãos e amigos; é importante
que seja observado o comportamento da criança desde o momento em que ela permanece
na sala de espera, inclusive a atitude de seus pais (De Carvalho et al., 2010).
É comum crianças que possuem dificuldade para o aprendizado serem encaminhadas
para especialistas, neurologistas, para que a família entenda o porque dessa demora para
o aprendizado. Porém, os problemas são multifatoriais. Sendo assim, é necessário uma
abordagem mais ampla, porque um bom resultado depende de uma correta avaliação,
na qual serão avaliados habilidade e grau de dificuldade, para que seja executada a tarefa
proposta, reconhecimento e interpretação de figuras, testes de coordenação, equilíbrio, além
da análise de comportamento durante a execução das tarefas (De Carvalho et al., 2010).
O diagnóstico de Desatenção ocorre quando a criança apresenta seis ou mais dos
seguintes itens por mais de seis meses, em uma intensidade que seja discrepante, na qual
não condiz com o nível de desenvolvimento. Criança distrai-se facilmente com estímulos
pouco significativos, esquece as atividades do dia, tem dificuldade em manter atenção
em jogos ou trabalhos, parece não estar ouvindo o que está sendo falado, perde objetos
Anuário da Produção Acadêmica Docente
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Cristiana Rodrigues, Michele Fernanda da Paz Janessi, Flávia Cristina Carbonero, Gabriela Mariotoni Zago, Denise Campos
necessários às suas tarefas escolares, dá pouca atenção aos detalhes nas tarefas escolares e
outras atividades, tem dificuldade em organizar atividades com objetivos determinados,
evita, não gosta ou reluta em participar de tarefas que requeiram esforço mental sustentado
por tempo determinado, não segue instruções e falha em completar as tarefas escolares,
rotinas ou deveres no local das atividades (Diament et al., 2010).
Para diagnosticar corretamente é necessário estar atento aos sinais que se iniciam
antes dos sete anos, quando existe uma evidência muito clara de dificuldades significativas,
quando alguns dos itens citados destacam-se em dois ou mais ambientes, quando não há
associação dos sinais com outros distúrbios de humor ou de personalidade (Diament et al.,
2010).
Cabe ainda destacar que o diagnóstico muitas vezes pode ser tardio, mascarado por
problemas familiares, tais como separação dos pais ou mudanças de domicílio, situações
em que a criança pode se sentir sozinha, e demora para se habituar com os novos desafios.
Para que o diagnóstico seja correto, é necessário que a avaliação seja bem detalhada e
multidisciplinar, envolvendo aspectos relativos ao ambiente familiar e escolar (Reed, 2007;
Diamment et al., 2010).
Atualmente, várias crianças com DCM são encaminhadas para tratamento
fisioterapêutico, o qual tem como principal objetivo melhorar a atenção nas atividades,
o equilíbrio e a coordenação motora, auxiliando também no processo de aprendizagem
(Shepherd, 1995).
A DCM é um distúrbio bastante prevalente, porém com poucas pesquisas a respeito.
Sabe-se que o profundo conhecimento da DCM, e de seus sinais e sintomas é fundamental
para detectar precocemente o distúrbio, e tratar adequadamente tais pacientes, orientando
os pais e professores de cada criança. Tendo em vista que a DCM pode comprometer o
aprendizado e o desenvolvimento global da criança, é necessário realizar este estudo de caso
para aprofundar o conhecimento sobre a DCM, contribuindo assim, para o aprimoramento
do tratamento fisioterapêutico.
2. METODOLOGIA
Tratou-se de um estudo de caso de uma paciente MY, com 8 anos de idade, com diagnóstico
de DCM, acompanhada semanalmente na Clínica de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera
de Campinas (FAC), cuja mãe concedeu seu consentimento, por escrito, após ter sido
informada a respeito da pesquisa. Esse estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa
da FAC (N0 1204/2011).
Foi realizada avaliação fisioterapêutica da paciente, para descrever seu desenvolvimento
neuropsicomotor atual. A avaliação levou cerca de 60 minutos e foi realizada pelos alunos
1) . . .
2) . . .
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Para testar a coordenação de tronco e membros, foi solicitado que a paciente realizasse
as transferências de deitada para sentada e de sentada para deitada sem apoio.
E finalmente, para testar a persistência motora, foram realizadas duas provas: na
primeira, a paciente deveria olhar para a direita, e para a esquerda, o máximo que pudesse.
Na segunda prova, a paciente posicionou seus membros superiores horizontalmente para
frente, mantendo os dedos afastados e seus polegares afastados por 1 cm.
Para avaliação da marcha, enquanto a paciente caminhava pela sala, indo e voltando,
observou-se a postura, o balanço dos membros superiores e a presença de alterações como
aumento da base, irregularidade dos passos e desvios. A manobra de caminhar encostando
o calcanhar nos artelhos é particularmente sensível para detectar distúrbios do equilíbrio
(Nitrini, Bacheschi, 2005).
Para avaliação de leitura e escrita, foram aplicadas tarefas como: leitura de textos
adequados a idade, escrita do próprio nome, e escrita de palavras e frases apresentadas sob
a forma de ditado.
Além disso, foram colhidas informações, através de um questionário, que foi respondido
pela mãe, sobre o período pré-natal, peri-natal e pós-natal.
3. RESULTADOS
Ao longo da avaliação, foram observadas alterações de postura, coordenação, equilíbrio,
marcha, leitura e escrita, que serão descritas e ilustradas a seguir. Considerando a postura
ortostática, a paciente apresentou hiperlordose acentuada e abdômen protuso (Figura 1).
Além disso, observou-se que os membros inferiores tendem a adução e rotação interna.
Para testar o equilíbrio estático, a paciente foi posicionada na ponta dos pés, braços
caídos ao longo do corpo, pés juntos e com olhos abertos. Foi observado desequilíbrio
considerável, de modo que a postura foi mantida por 8 segundos com rotação interna e
adução de quadril.
Na prova de apoio plantar sobre um pé só (paciente escolhe o pé), com braços caídos
ao longo do corpo, e olhos abertos, também houve muita dificuldade, sendo mantida a
postura por 10 segundos. Quanto a prova de apoio plantar sobre um pé só, com a outra
perna fletida em ângulo reto, as coxas paralelas e os olhos abertos, a paciente não conseguiu
manter a perna fletida, sendo evidente o desequilíbrio evidente.
Além disso, a paciente foi posicionada agachada, mantendo apoio na ponta dos pés,
calcanhares unidos e membros superiores abertos. Paciente manteve a posição, somente
no início, permanecendo por 5 segundos. Em seguida, a paciente foi posicionada sentada
equilibrando uma régua horizontalmente no dedo indicador da mão escolhida. Paciente
conseguiu manter com bom desempenho por 5 segundos, em seguida recrutava outros
dedos.
Finalizando as provas de equilíbrio estático, a paciente foi colocada em posição
ortostática, membros superiores horizontalmente para frente, dedos afastados, e polegares
afastados por cerca de 1 cm. Paciente realizou o teste por volta de 15 segundos.
Para o teste de equilíbrio dinâmico, a paciente deveria pular o mais alto possível e
enquanto estivesse com os pés sem tocar o solo, bater palmas duas vezes. Neste teste, a
paciente parava de pular para bater palmas.
Para testar a coordenação motora foram realizados os testes index-index, índex-nariz
e oponência do polegar, com olhos abertos e fechados, onde foi possível verificar déficit
durante a realização de todas as provas. No teste de coordenação motora apendicular, foi
desenhado um losango na lousa, e a paciente deveria copiá-lo. Esta prova foi realizada com
sucesso, a paciente copiou a figura exatamente como descrita na lousa. Também para testar
a coordenação motora apendicular, foi realizado o teste de “repetir ritmos variados”, onde
ela deveria seguir exatamente o padrão previamente desenhado na lousa. A paciente não
copiava devidamente, com seus espaços e ritmos variados.
Para testar a coordenação de tronco-membros, foi pedido para a paciente realizar as
transferências, de deitada para sentada, e de sentada para deitada sem apoio. Neste teste
obtivemos sucesso, sendo que a paciente realizou as transferências sem dificuldades.
No teste de olhar extremo lateral, para a direita e para a esquerda, a paciente realizou
o teste com sucesso por aproximadamente 15 segundos, distraindo-se no tempo restante.
Quanto a avaliação da marcha, observou-se que a paciente não realiza dissociação
pélvica ao andar e muitas vezes, caminha na ponta dos pés, apresentando encurtamento do
músculo tríceps sural. Ao realizar a marcha em linha reta, é notável sua falta de equilíbrio,
sendo necessário muitas vezes aumentar a base de sustentação, saindo da linha demarcada.
Quanto à escrita, verificou-se que a paciente apresenta algumas alterações, tais como:
omissão de sílabas, substituições de letras, apoio na oralidade-tendência (palavras escritas
do modo como são pronunciadas), havendo dificuldade na marcação de acentos gráficos.
Abaixo, um quadro com alguns erros cometidos pela paciente durante a aplicação do ditado.
Quadro 1- Erros típicos cometidos durante o ditado
PRETO PETO
VIZINHO VINHO
CARROÇA CAROSA
CRIANÇAS CRIÇA
Quanto à leitura de frases, o processo foi lento, havendo bastante dificuldade para
compreender o que estava escrito.
Ao avaliar o tônus muscular, foi observada hipotonia geral, de grau leve, frouxidão
ligamentar e por conseqüência destes fatores, a amplitude de movimento encontra-se
aumentada.
Durante os exercícios propostos, a paciente interrompia as atividades, fazendo novas
propostas e sempre falando excessivamente. Muitas vezes foi necessário repetir o que era
pedido nos exercícios, por falta de compreensão da parte da paciente, e pelo fato de distrair-
se muito facilmente.
Quanto às informações colhidas com a mãe, verificou-se que a paciente nasceu a termo,
com 38 semanas de gestação, pesando 3.090 gramas e 54 cm de estatura, por meio de cesariana,
sem intercorrências. De acordo com a mãe os primeiros sinais da DCM apareceram aos 4
anos, de modo que aos 6 anos foi feito o diagnóstico. De acordo com o laudo do neurologista
infantil, a criança possui distúrbio de aprendizagem e alterações motoras sutis, havendo
necessidade de estimulação motora, acompanhamento com fonoaudióloga e psicóloga.
4. discussão
Os resultados obtidos evidenciaram alterações de postura e marcha, dificuldade para
leitura, escrita, coordenação e equilíbrio, mostrando o quão necessária é a abordagem
multidisciplinar no tratamento na DCM.
De acordo com Rohde e Halpern (2004) uma queixa frequente da família, em relação
à criança, é a falta de concentração no ambiente escolar e domiciliar. Essa situação também
foi evidenciada no presente estudo, por meio do comportamento da paciente na avaliação e
tratamento fisioterapêutico, além dos relatos da mãe.
Colaborando com nossos achados, a literatura aponta que essas crianças apresentam
dificuldade específica de linguagem, leitura e escrita (De Lima, Pessoa, 2007; De Carvalho,
2010). Há vários erros de escrita por apoio na oralidade, indicando que o paciente ainda
não tem suficiente compreensão de que escrever não se limita a uma transcrição fonética, e
que elementos de natureza ortográfica desempenham um papel determinante na forma de
escrever as palavras (Zorzi, Ciasca, 2008).
Além disso, algumas crianças com dificuldades de aprendizado apresentam problemas
em relação ao controle motor, os quais se manifestam principalmente durante o uso das
mãos e nas atividades relacionadas com o equilíbrio. O equilíbrio é um problema típico neste
grupo de crianças. Consiste na capacidade de realizar ajustes posturais que são específicos
em relação ao ato e contexto no qual este é realizado. A falta de equilíbrio manifesta-se
através dos seguintes problemas: incapacidade para manter-se em apoio unipodal, com
deslocamento exagerado do centro de gravidade sobre a perna de sustentação e com
movimentação excessiva dos braços; dificuldade para caminhar em condições que exigem
maior controle do equilíbrio, como por exemplo, ao longo de uma linha estreita. Pode ser
que a criança consiga atravessar a linha rapidamente, mas não é capaz de fazê-lo lentamente,
visto que os movimentos lentos exigem maior controle sobre sua postura; perda do equilíbrio
quando se eliminam estímulos visuais. A criança é obrigada a basear-se nas informações de
origem somatossensitiva (proprioceptiva e tátil) e vestibular. Na falta dessas informações, o
equilíbrio estará prejudicado (Shepherd, 1995).
Segundo Baker (1986) os problemas motores são frequentemente descritos de maneira
global, compreendendo a precariedade das funções de equilíbrio, e a coordenação imperfeita
entre os membros e/ou o corpo inteiro. Alguns procedimentos sugeridos para avaliar
e tratar tais crianças incluem observar esse paciente com o máximo de atenção, desde a
entrada no consultório, colher todos os dados, observar o comportamento dos cuidadores,
observar o comportamento espontâneo do paciente, a comunicação e compreensão, observar
sua postura, e como realiza as transferências, observar as atividades manuais, manter boa
interação com a criança e família, impor regras, mas dar o direito da criança fazer escolhas
(Diament et al., 2010).
Nas diretrizes para o tratamento os professores devem ser orientados a não impor
tarefas longas, aluno sempre na primeira fila, longe da janela para não se distrair, dar
atenção diferenciada à criança (Rohde, Halpern, 2004). Os pais devem ser orientados sobre
as dificuldades que a criança apresenta evitar castigos, evitar barulhos durante execução de
atividades que exijam atenção, estabelecer normas claras, evitar discussões e gritos, manter
diálogo franco, prestar atenção em brincadeiras e comportamento da criança, ser objetivo
como: “Guarde seus brinquedos”, ouvir a criança e respeitar suas opiniões, e saber impor,
quando necessário, limites e não exigir demais. Além disso, deve-se incentivar e elogiar
Outro recurso interessante é a cama elástica, na qual se podem solicitar várias atividades
com apoio unipodal ou bipodal, com os olhos abertos ou fechados, utilizando o arremessar,
agarrar e/ou rebater a bola em várias direções.
Além disso, os familiares devem ser orientados a realizar atividades que estimulem
o desenvolvimento global da criança, utilizando jogo da memória, quebra-cabeças, e
também brincadeiras mais dinâmicas, que exijam força, equilíbrio e coordenação, tais como
atividades no parque utilizando gira-gira, gangorra e balanço. Acredita-se que a atuação
da família seja imprescindível, pois os pais são as pessoas mais próximas da criança, tendo,
portanto, muitas oportunidades para contribuir no desenvolvimento neuropsicomotor da
criança.
O presente estudo apresenta algumas limitações que devem ser levadas em conta
quando se considera o estudo e suas contribuições. Primeiro, foi incluída apenas uma criança
no estudo, de modo que não se podem generalizar tais achados para população. Segundo,
houve dificuldade para discutir os resultados encontrados, devido à carência de pesquisas
publicadas sobre o assunto na área da fisioterapia. A literatura é predominantemente
constituída por estudos que enfatizam os distúrbios de linguagem, leitura, escrita e questões
relativas ao comportamento.
5. conclusão
Verificou-se, a partir do estudo de caso, que a DCM cursa com dificuldade de aprendizagem,
alterações de postura, marcha, déficit de atenção, equilíbrio e coordenação. Diante dessa
diversidade de alterações faz-se necessário o acompanhamento multidisciplinar do paciente.
Apesar das limitações, este estudo contribui para o conhecimento da DCM e aprimoramento
do tratamento fisioterapêutico no distúrbio em questão.
Referências
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Physioterapy 67, 1986.
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