Sei sulla pagina 1di 3

BUTLER, Judith. Quadros de guerra: quando a vida é passível de luto?

Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015.

Greyce Falcão – Doutoranda em História, UFPE, Setembro, 2017.

Em “Quadros de Guerra” vemos Judith Butler trabalhar a teoria do


enquadramento proposta inicialmente pelo sociólogo Erving Goffman. Essa formulação
nos transmite a ideia de “quadros”, no sentido de que podemos ser emoldurados,
restringindo e ao mesmo tempo configurando nosso olhar. Nesse sentido,
compreendemos que existe um enquadramento seletivo e diferenciado da violência. Nas
guerras contemporâneas, nem todas as “vidas são qualificadas como vidas, de acordo
com certos enquadramentos epistemológicos”. As vidas estão envoltas em relações de
poder e mecanismos específicos que servem muitas vezes para justificar a eliminação
em casos de guerra. A potencialização da violência decorre em certa medida da
percepção da precariedade e da vulnerabilidade.
O corpo é constituído social e politicamente, através da linguagem, do trabalho e
do desejo. Ao mesmo tempo em que o corpo pode estar ou não, exposto a precariedade.
Só reconhecendo a precariedade, é que podemos proteger a vida contra a violência. Os
enquadramentos atuam para diferenciar as vidas, através de condições normativas que
definem as condições de reconhecimento. Percebemos, no entanto, que as normas
operam para tornar certos sujeitos pessoas “reconhecíveis” e tornar outros difíceis de
reconhecer. Essas normas preparam o caminho para o reconhecimento. Não há vida nem
morte, sem relação com um determinado enquadramento. Quem está fora da
normatividade se torna um problema.
Ao longo do tempo, normas e organizações políticas se desenvolveram
historicamente a fim de maximizar a precariedade para alguns e minimizar a
precariedade para outros. Lidamos constantemente com exigências de sociabilidade para
nos adequarmos as normas. No entanto, mesmo sendo constituídos mediante normas, os
esquemas normativos não são estáticos, podem variar com o tempo e o lugar.
Nesse contexto de normatividade e sociabilidade, percebemos a questão do
reconhecimento. As normas operam para tornar certos sujeitos reconhecíveis e outros
não, atribuindo reconhecimento de forma diferenciada. Judith Butler discute o que
poderia ser feito para mudar isso e quais novas normas poderiam ser possíveis.
Os esquemas de inteligibilidade condicionam e produzem essas normas. Existe
na atualidade um intenso debate sobre o feto, a vida, o que é ser um organismo vivo, o
que determina a morte, a questão da existência, entre outras temáticas. No entanto,
percebemos que não há nem vida nem morte sem relação com um determinado
enquadramento. Ainda assim, podemos dizer que as instâncias normativas também
fracassam, elas não dão conta de tudo. A moldura nunca determinou realmente, de
forma precisa o que vemos, pensamos, reconhecemos e aprendemos. Não contém
completamente o que transmite.
Apreendemos a precariedade da vida através dos enquadramentos à nossa
disposição, novos enquadramentos fazem parte de novas propostas da mídia alternativa.
É preciso discutir novas interpretações da realidade, pois o enquadramento produz
comoção ao mesmo tempo em que produz indiferença. Só o reconhecimento da
precariedade não resolve o problema. As guerras, os atentados e a comoção seletiva,
fazem parte da vida de alguém, cuja existência está muitas vezes nas mãos do outro. A
precariedade implica viver socialmente, relacionar-se com o outro, enfatizando nossa
fragilidade e nosso anonimato em relação a determinados modos socialmente facilitados
de morrer e de viver.
A precariedade é coincidente com o próprio nascimento. Dependemos de uma
rede social de ajuda. Somente quando a perda tem importância é que o valor da vida
aparece efetivamente. A vida só é enlutada quando ela realmente importa. Muitas vezes,
há o reconhecimento que se “está vivo”, mas não há identificação que trata-se de uma
vida. Nesse sentido, percebemos que nem sempre as “vidas precárias” são “dignas” de
proteção sob condições de guerra. Algumas vidas humanas são passíveis de proteção e
outras não. Quem tem direito à proteção?. De quem é a decisão de prolongar a vida ou
abreviá-la? São questões que nos levam a reflexão ao longo do texto.
Afirmar que uma vida é precária, é admitir que a possibilidade de sua
manutenção, depende, fundamentalmente, das condições sociais e políticas, e não
somente de um impulso interno para viver. Na guerra são utilizados argumentos para
maximizar a precariedade para uns e minimizar para outros. As pessoas são separadas
entre vidas dignas de serem vividas e vidas que devem ser destruídas, não passíveis de
luto e sem vala. Por isso, é necessário um esforço considerável para melhorar as
condições de vida de quem já nasce precário.
As entidades políticas, econômicas, sociais são projetadas para atender as
necessidades sem as quais o risco de mortalidade é potencializado. Contudo, nem
sempre o Estado, teoricamente responsável por garantir o funcionamento dessas
entidades cumpre seu papel. Muitas vezes a violência vem do próprio Estado e de
instituições subordinadas diretamente a ele, como é o caso da polícia.
Outro ponto de extrema importância levantado pela autora é a questão da
transposição de temas, como a causa feminista. Nesse contexto, Butler nos mostra como
os direitos feministas e as liberdades sexuais das mulheres tem sido utilizados para
mobilizar e racionalizar as guerras contra populações predominantemente muçulmanas,
tentando justificar inclusive atitudes de violência contra os imigrantes. É preciso
observar como a política nacional dos países tem atuado em prol da guerra. Os
enquadramentos constituem a materialidade da guerra baseados principalmente nas
representações midiáticas do terrorismo. Essa condição generalizada de precariedade e
dependência é explorada e deslegitimada em determinadas formações políticas. Atuando
numa exploração específica de populações alvo, que são sacrificadas, perdidas e sem
luto. Uma vez que na lógica distorcida que racionaliza sua morte, a perda dessas
populações é considerada necessária para proteger a vida dos vivos.

Potrebbero piacerti anche