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Avó e neto contra vento e areia Teolinda Gersão afogar. A avó via todos esses perigos e avisava.

odos esses perigos e avisava. Ele ouvia, mas não ligava


muito. Só o suficiente.
Tinham ido à praia, porque estava uma manhã bonita. A avó vestia uma Não tinha medo de nada, mas, apesar disso, gostava de sentir o olhar da
saia clara e levava o neto pela mão. Ia muito contente e o seu coração avó. De vez em quando voltava a cabeça, para ver se ela lá estava sentada,
cantava. a olhar para ele. Depois esquecia-se dela e voltava a ser o rei do mundo.
O neto levava um balde, porque se propunha apanhar conchas e búzios, Por isso se sentiam tão bem um com o outro.
como já fizera de outras vezes em que tinha ido à praia com a avó. Quando saía com o neto, a avó tinha a sensação de entrar para dentro
Ir à praia com a avó era uma das melhores coisas que lhe podiam de fotografias, tiradas nos mesmos lugares, muitos anos antes. Era uma
acontecer nos dias livres. Por isso, também ele ia contente e o balde sensação de deslumbramento e de absoluta segurança, porque as coisas
dançava-lhe na mão. boas já vividas ninguém as podia mudar: eram instantes absolutos, que
A praia estava como devia estar, com sol e ondas baixas. Quase não durariam para sempre.
havia vento e a água do mar não estava fria. Por isso o neto teve muito Outras vezes a avó pensava que a vida era como uma lição já tão
tempo de procurar conchas e búzios e de tomar banho no mar. A avó sabida, tão aprendida de cor e salteada, que ela se sentia verdadeiramente
sentou-se num rochedo e ficou a olhar o neto, por detrás dos óculos. Nunca mestra. Mestra em quê? Ora, em tudo e em nada: nascimento, morte, amor,
se cansava de olhá-lo, porque o achava perfeito. Se pudesse mudar alguma filhos, netos, tudo, enfim. A avó tinha a sensação de entender o mundo.
coisa nele, não mudaria nada. Embora lhe parecesse que o via agora desfocado. Sobretudo ao longe.
Olhava para ele, também, para que não se perdesse. A mãe do neto Ah, meu Deus, tinha-se esquecido dos óculos, em cima do rochedo. Tinham
confiava nela. Deixava-o à sua guarda, em manhãs assim. A avó sentia-se de lá voltar e depressa, que a avó sem óculos não via nada. Mas, quando
orgulhosa: ainda era suficientemente forte para ter alguém por quem olhar. chegaram ao local, não estavam lá. A avó não entendia como isso pudera
Ainda era uma avó útil, antes que viesse o tempo que mais temia, em que acontecer. Não teria sido naquele rochedo? Teria a maré subido e uma
poderia tornar-se um encargo para os outros. Mas na verdade essa ideia onda os arrastara? Passara alguém que os levasse? Mas a ninguém
não a preocupava muito, porque tencionava morrer antes disso. aproveitavam e provavelmente não tinha passado ninguém, a praia estava
Estava uma manhã tão boa que também a avó tirou a blusa e a saia e quase deserta, porque ainda não era verão. Ora, não era grave, pensava a
ficou em fato-de-banho. Depois tirou os óculos, que deixou em cima de um avó, quando se cansou de procurar. Arranjaria outros.
rochedo, e entrou no mar, atrás do neto, que nadava à sua frente, muito Caminhou com o neto à beira das ondas e depois subiram para as dunas
melhor e mais depressa do que ela. à procura de camarinhas que a avó não via, mas o neto apanhava logo.
- Não te afastes, dizia a avó, um pouco ofegante. Volta para trás! Passou muito tempo e nem se deram conta de se terem afastado. O neto
A avó fazia gestos com as mãos, para que voltasse, o neto ria-se, cada vez mais feliz, com o balde onde pusera os búzios acabado de encher
mergulhava e nadava para a frente e depois regressava, ao encontro dela. com as camarinhas. Apesar da falta dos óculos, pensou a avó, não deixava
A avó não sabia mergulhar, mas deixava o neto mergulhar sozinho. Ele de ser, como das outras vezes, uma manhã perfeita.
só tinha cinco anos, mas nadava como um peixe. Até se levantar o vento.
No entanto, nunca ia demasiado longe, nem mergulhava demasiado Na verdade não se percebeu por que razão o céu se toldou e se levantou
fundo, para não assustar a avó. Sabia que ela era um bocado assustadiça e cada vez mais vento. Deixou de se ver o azul, debaixo de nuvens
ele gostava de protegê-la contra os medos. carregadas e a areia começou a zunir em volta. O vento levantava a areia,
A avó tinha medo de muitas coisas: dos paus que podiam furar os olhos, cada vez mais alto, a areia batia na cara e era preciso semicerrar as
das agulhas e alfinetes que se podiam engolir se se metessem na boca, das pálpebras para não a deixar entrar nos olhos.
janelas abertas, de onde se podia cair, do mar onde as pessoas se podiam - Que coisa! - disse a avó.
A manhã acabara e agora iam depressa para casa. Estariam bem, em ela correndo com ela nos braços, através de um hospital labiríntico. E
casa, jogando Às cartas, atrás de uma janela fechada. depois os dias passavam e ela perdia a criança.
Mas, de repente, a avó não sabia onde estava. As dunas eram altas e Durante muito tempo, não soube onde estava, quando lhe vieram dizer
não sabia que direção tomar. Caminharam ao acaso, voltando as costas à que perdera a criança.
praia. Mas deveriam virar à esquerda ou à direita? A avó não sabia onde E agora estava outra vez perdida, com uma criança nos braços.
ficavam as casas. Não se via nada na linha do horizonte, a não ser as Já tinha vivido algo assim. A vida era só vento e areia e ela arrastando-
dunas. E, sem óculos, a avó sentia-se perdida. se, lutando em vão contra o vento e a areia.
- Dói-me o pé – disse o neto. – Espetei um pico no pé. Doíam-lhe os ossos, não aguentava carregar o peso dele. E se de
- Calça as sandálias – disse a avó. repente ficasse imobilizada, estendida no chão, como já lhe sucedera mais
Calçaram ambos as sandálias, que traziam na mão. do que uma vez? Aquela hérnia na coluna podia sair do lugar e ela ficar sem
- Ainda dói – disse o neto. - Dói o pé. conseguir mexer-se. E se isso acontecesse e ela ficasse ali, sem poder
- Deixa ver – disse a avó, tirando-lhe outra vez a sandália. – É um andar? E se a criança se afastasse, sozinha, à procura de socorro, e se
espinho, sim – disse a avó, que, sem óculos, via bem ao perto. – Mas está perdesse? Se ela perdesse a criança?
muito enterrado e não consigo tirá-lo. Em casa eu tiro, com um alfinete. Pousou o neto e sentou-se a seu lado na areia.
Agora vamos depressa. - Vamos descansar um pouco – disse ela, ofegante. – Põe a cabeça no
- Dói o pé – disse o neto, começando a chorar. meu ombro, para fugir do vento.
- Já passa – disse a avó. Apetecia-lhe chorar, mas não podia dar-se por vencida. Ele estava À sua
O vento levava-lhe a sais, a areia batia-lhe nos braços e nas pernas, guarda e ela encontraria maneira de voltar a casa.
subia até à cara e queria entrar nos olhos. O neto esfregava os olhos, com Mas sentia-se perdida. O mundo era uma coisa sem direções e
as mãos sujas de areia. desfocada.
- Não posso andar – disse ele. – Dói o espinho. Já vivera isso antes. Uma longa extensão de areia, deserta. E ela tão
-A avó não pode levar-te ao colo – disse ela. – Não tem os ossos fortes. desamparada com a criança que levava. Ambas perdidas no vento e na
Arrastou-o alguns passos pela mão. Ele chorava e escondia a cara na areia.
saia dela, para proteger os olhos do vento. - Avó, olha o cão do senhor Lourenço! – apontou de repente o neto,
- Não posso andar – disse ele, sentando-se e tapando a cara com o recomeçando a andar na direção de um cão que corria para eles.
chapéu. – Dói o pé. - Louvado Deus, - disse a avó, recomeçando também a andar.
- Eu levo-te um bocadinho – cedeu a avó. – Mas só um bocadinho. Porque, então, estariam salvos. O café do senhor Lourenço iria aparecer,
Levantou-o nos braços e avançou contra o vento. Uns metros mais como um farol, no meio das dunas. Bastava seguir o cão.
adiante, deviam chegar ao fim das dunas e saberia a direção das casas. O neto esquecia o espinho e esquecia a dor no pé e quase corria,
O neto era muito pesado, mas a avó não se dava por vencida. alegremente, atrás do cão.
Caminhava resoluta, enterrando as sandálias na areia. Agora o caminho Em breve se sentavam à mesa do café e viam o vento levantar a areia.
entre as dunas começava a subir. Mas agora isso passava-se lá fora, do lado de lá da janela.
E depois dessa duna, havia outra duna. A avó começou a ter medo de A avó pediu um café e o neto um chocolate quente. Sorriram um para o
estar perdida. outro e o mundo voltou a ser perfeito.
Muitos anos atrás, a avó perdera uma criança. A lembrança veio Aflijo-me demais e dramatizo as coisas, pensou a avó. Afinal
subitamente e ela não conseguia afastá-la. Sempre quisera esquecê-la, mas atravessámos o vento e areia. E, amanhã de manhã, vou ao oculista.
de repente ela voltava. Mesmo em sonhos. Uma criança ardendo em febre e F I M
QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO
Avó e neto contra vento e areia Avó e neto contra vento e areia

Nome ____________________________________ Turma ___________ Nome ____________________________________ Turma ___________

1. Quais foram as razões para a avó ir à praia com o neto? 1. Quais foram as razões para a avó ir à praia com o neto?
2. Porque é que a avó olhava tanto para o neto? 2. Porque é que a avó olhava tanto para o neto?
3. Como reagia o neto aos pedidos da avó? 3. Como reagia o neto aos pedidos da avó?
4. Avó e neto têm reações diferentes em relação ao medo. Explica. 4. Avó e neto têm reações diferentes em relação ao medo. Explica.
5. Explica o sentido da frase: “…tinha a sensação de entrar para dentro 5. Explica o sentido da frase: “…tinha a sensação de entrar para dentro
de fotografias…” de fotografias…”
6. Entretanto, surge um problema. Qual é? Como reagiu a avó a ele? 6. Entretanto, surge um problema. Qual é? Como reagiu a avó a ele?
7. “Uma desgraça nunca vem só.” Justifica este dito popular com base 7. “Uma desgraça nunca vem só.” Justifica este dito popular com base
nos acontecimentos do texto. nos acontecimentos do texto.
8. Que consequências teve para a avó a tempestade de vento? 8. Que consequências teve para a avó a tempestade de vento?
9. E surge ainda outro problema. Qual? 9. E surge ainda outro problema. Qual?
10. Na situação em que está, a avó lembra-se de uma desgraça passada. 10. Na situação em que está, a avó lembra-se de uma desgraça passada.
Qual foi? Qual foi?
11. Explica o sentido da frase: “A vida era só vento e areia…” 11. Explica o sentido da frase: “A vida era só vento e areia…”
12. A piorar a situação há um problema físico da avó. Qual é? Que 12. A piorar a situação há um problema físico da avó. Qual é? Que
consequências poderá ter? consequências poderá ter?
13. Como ficou o estado de espírito da avó, a esta altura da história? 13. Como ficou o estado de espírito da avó, a esta altura da história?
14. Mas renasce a esperança. Porquê? 14. Mas renasce a esperança. Porquê?
15. Qual foi a conclusão que tirou a avó, depois de tudo? 15. Qual foi a conclusão que tirou a avó, depois de tudo?

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