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Resumo
O conceito de instalatividade é sugerido como um dispositivo emergente de uma pesquisa em
artes cênicas que procura verificar quais os impactos das recentes práticas de instalação para a
encenação pós-espetacular enquanto parte das ideias performativas no contexto
latinoamericano e com isso queremos entender como se dá a interação de um processo híbrido
entre espaços de citabilidade para com as plasticidades de experiências relacionais de espaço e
tempo. Neste artigo, exploramos alguns dos componentes que constituem parte do que
entendemos como instalatividade em uma abordagem indireta de trabalhos com a relação a arte
da instalação enquanto mise-en-scene contemporânea, mapeando quais as forças formadoras da
ideia de instalatividade - e como se articulam e combinam em diferentes momentos e contextos.
Com este modo de observar a cena e seus espaços estruturais, buscamos pensar as
possibilidades que se aplicam à instalatividade no que tange a experiência estética de tempo
agregada aos procedimentos plásticos de espacialidade e analisar a permanência independente
da instalação cênica que transborda o programa performativo para problematizar este cálculo
compositivo e agregar na discussão do teatro contemporâneo em suas tensões político e
estéticas na perspectiva latinoamericana.
É preciso dizer, para iniciar este ensaio, que não pretendemos aqui criar uma roda. E
começamos por isso, pois adianto que esta comunicação é fruto inevitável da autoria
compartilhada de uma possível teoria do teatro performativo-instalativo que se escreve neste
momento, a quatro mãos, muitas vozes e inúmeros olhares, em um pas de deux conceitual entre
um artista latinoamericano descendente de italianos e “bugres” e um pesquisador alemão
residente em solo brasileiro, que testemunham a passagem de um processo performativo (que é
em partes pragmático e conceitual) de instalatividade da cena, percebido em um certo lugar
latinoamericano de pesquisa. Nesta soma, surge uma porção de formas possivelmente
inusitadas da crítica sobre a cena contemporânea, na qual registra-se nas palavras que juntas
neste texto desmontam uma crítica pós-estrutural, que já provou parecer condizente com alguns
olhares ou soar demasiado duro para outros ouvidos, ainda que tentemos sambar diante desta
situação dialética de percepção do acontecimento em teoria.
E, é preciso dizer também, que se fazemos isso, é porque entendemos que nossos
diálogos navegam em um mar de ideias que nos movimentam neste tempo, ideias
performativas, e que como qualquer outra produção de discursos, é parte da construção social
do conhecimento. Para favorecer, uma contenção inicial de abordagem, preferimos dizer que
das correntes de pensamento que procuramos vizinhança, representamos nesta ação, uma região
de pesquisas que sondam as ideias performativas de um tempo, que se instala na concretude do
mundo e dos processos através da permanência e de um plano de fuga (fluxo, rizoma) entre
algum espaço-tempo-corpo da cena contemporânea.
A instalatividade como conceito nos parece sem precedentes na literatura científica das
artes cênicas. Portanto, é sugerido como um verbete de atualização para algumas pesquisas que
enfrentam o desafio de debruçar um estudo aprofundado sobre arte híbrida em seu aspecto mais
permanentemente dramatúrgico-espacial, e que, neste caso, permite desenvolver pontos de vista
de instalação enquanto encenação, ou melhor, focar a especificidade das ideias que incorporam
os elementos para a criação de um ambiente de performance em composições de conjunção
espaço-temporal, tendo assim por consequência também um fluxo, que é seu aspecto de mise-
en-scene.
Entendemos que para fazer pensar aquilo que surge da operação entre a instalação e o
teatro, inevitavelmente, faz-se necessário formular na própria abordagem do problema uma
perspectiva lógica e uma enunciação retórica na tangente dos discursos predominantes na teoria
das artes cênicas e/ou visuais, em um mecanismo que completa a percepção das práticas com
alguma instalatividade como uma força motriz na larga tarefa de compreensão de diversas obras
que surjam da linguagem que pode ser criada neste espaço-tempo entre os gêneros acadêmicos
que dividem os acontecimentos da paisagem. Vendo neste desvio um gesto político, nossa
pesquisa culmina em uma perspectiva no mínimo interdisciplinar, que borra os límites poéticos
e científicos que ainda separam teoricamente as cadeiras de artes visuais e artes cênicas, pelo
menos no espaço institucional que gora.
Com um dos pés dentro dos estudos da performance, em uma perspectiva da pesquisa
brasileira, visitamos uma topologia de inscrições do acontecimento que releve os mecanismos
produtores do encontro com esta interface híbrida na qual chamamos provisoriamente de
instalatividade. Percebemos como uma crítica pragmática ao teatro e as artes visuais do tempo
contemporâneo, o desafio que é dar palavras a uma crise político-estética que acompanha a
forja dessa ideia em performance, que não é de todo conceitual. Por falar em política, não é por
acaso, que aparece também nos anos 60, uma porção de derivações de conceitos que pareciam
a “novidade em si”, principalmente no mundo teórico-crítico das artes, mas que revelaram ao
longo da história contemporânea uma porção de insurgências que o acompanhavam enquanto
prática estética. Como uma vasta bibliografia a respeito é capaz de tratar, existe uma
significativa produção de obras dentro chave conceitual da performance e instalação, que eram
travadas como objetos artísticos enquanto inúmeras revoluções micropolíticas aconteciam.
A contemporaneidade, portanto, é uma singular relação com o próprio tempo, que adere
a este e, ao mesmo tempo, dele toma distâncias; mais precisamente, essa é a relação
com o tempo que a este adere através de uma dissociação e um anacronismo. Aqueles
que coincidem muito plenamente com a época, que em todos os aspectos a esta aderem
perfeitamente, não são contemporâneos porque, exatamente por isso, não conseguem
vê-la, não podem manter fixo o olhar sobre ela. (AGAMBEN, 2009, p. 59)
Enfim, esta é uma pequena dose de um suplemento teórico que propõe em parte
(re)mediar o descompasso das produções de presença que acompanham o uso (pro)pulsional de
criação dos ambientes estéticos pelos artistas contemporâneos no fazer de uma cena que tem
anos-luz para expandir sua atuação perceptiva até realmente pisar na sua lua política, que é um
satélite que sinaliza fazer parte de seu universo constitutivo desde o princípio.
O que é instalatividade?
Nas produções que vieram por volta dos anos 70, junto ao desenvolvimento de várias
obras de arte da performance e com as percepções dos efeitos das performatividades
consecutivas a insurgência desta linguagem, surge uma prática artística no espaço que dá
suporte ao conceito de instalação, no hemisfério norte, entre Estados Unidos e Europa, e que ao
longo das décadas seguintes ganha as galerias e museus de várias países do mundo, como uma
das linguagens mais difundidas entre artistas contemporâneos e público. Neste movimento
eclode inúmeras obras e conceitos que somam como registros ontológicos das artes pós-
modernas, como os readymades, environment, art in situ, site specific, happening, etc, que
aparecem como dispositivos advindos das revisões que provocaram deslocamentos para o
campo conceitual das artes, da antropologia e de outras áreas, e que se consolida como
fenômeno dos anos 901, como uma passagem histórica que é denominado como virada
performativa. Como observa o antropólogo John Dawsey
Com efeito da tamanha “cambalhota empírica”, como brinca José Gil em seu
movimento total (2005, p. 132), a dança deste pensamento que é produzida por esta subversão
durante anos deste estudo à performance permaneceu voltado as questões inerentes ao corpo do
performer e suas configurações situacionais, algumas vezes, deslocadas da discussão da
paisagem enquanto uma potência da criação de ambiências e de espacialidades da arte
contemporânea, legando este trabalho para os artistas visuais, sobretudo os instaladores, e as
dimensões do acontecimento espacializado levaram mais duas décadas para serem suscitadas
nos termos da permanência e da passagem da experiência cênica que configura em termos de
recepção teatral como retroativa: performativa e instalativa.
1
In the 1990s performance studies established itself as an academic discipline, with branches in many countries.
The entrenchment of the discipline became so great that there was some discussion of the performative turn
replacing the linguistic turn f the 1970s in the humanities. (PETERSEN, 2005, p. 130)
Afinal, o que muda com este deslocamento teórico de perspectiva? Uma primeira
hipótese pode seguir o raciocínio de que: é a compreensão que se instala com a experiência de
uma criação espaço-temporal no mundo contemporâneo, abarcando uma visão aplicada aos
aspectos performáticos e instalativos, concernentes ao advento da instalatividade da cena
contemporânea. Em síntese, podemos dizer que até pouco tempo, era possível entender o jogo
estético entre performance e instalação como uma função interativa de modalidades distintas
que compõe uma conjuntura performativa de vizinhanças, fundamentalmente entendida como
potencial de desdobramento no modo de criação de um espaço-tempo de experimentação
[...] podemos entender a performance como uma função do espaço e do tempo P = f(s,
t); para caracterizar uma performance, algo precisa estar acontecendo naquele instante,
naquele local. Nesse sentido, a exibição pura e simples de um vídeo, por exemplo, que
foi pré-gravado, não caracteriza uma performance, a menos que este vídeo esteja
contextualizado dentro de uma sequência maior, funcionando como uma instalação[2],
ou seja, sendo exibido concomitantemente com alguma atuação ao vivo. (COHEN, p.
28)
2
elementos que misturam uma alquimia das proposições espaço-temporalizadas do
acontecimento.
Seguindo a ótica teatral encontrada nos estudos de Edélcio Mostaço entre Jean Piaget e
Milton Santos, o que entendemos aqui como o princípio de uma instalatividade seria para o
crítico um “esquema situacional” que cumpre a função cognitivo-perceptiva na compreensão
do processo de produção de presença que faz-se necessário “para se instalar adequadamente em
cada uma das relações criadas atribuindo-lhes os sentidos concernentes” (2016, p.108). E junto
a nossa perspectiva de uma retroatividade da recepção da cena que se instala, o autor completa:
“Isso vale tanto para a equipe de criação do espetáculo (em suas várias funções) quanto para o
público, ambos partícipes da interação social com o espaço que o acontecimento enseja” (idem).
Dito isto, podemos supor que o sujeito de um acontecimento não é completo enquanto uma
parte de um processo da performatividade das relações de produção ao vivo, mas de sua
instalatividade, sendo o componente espaço-temporal resistente de uma ação performática a sua
evidência de uma proposta de permanência estética que cria uma sombra (ou um duplo) que
ultrapassa o programa performativo pelo espaço-tempo de experimentação que é, em questão
de duração, uma parte do teatro instalativo enquanto obra, que por sua vez, não poderia deixar
de ser performativo enquanto se instala. Segundo Mostaço,“trata-se de operar o duplo.” (2016,
p.109)
Do perspectivismo ameríndio
3
Ver Erin Manning: Politics of Touch: sense, movement, sovereignty; e Always More Than One:
Individuation Dance
4 Ver Suely Rolnik: Esferas da Insurreição: notas para uma vida não cafetinada e Cartografia
Sentimental.
5
Usando aqui uma expressão minimamente espinosana.
As comunidades autóctones originárias na América Latina que ocuparam por dezenas
de séculos as terras que hoje se configuram como território nacional brasileiro, integraram suas
práticas culturais com a abundante natureza existente aqui, de maneira que, pode-se considerar,
orgânica e nômade. Esta narrativa apresenta-se pela caracterização tipológica dos vestígios da
matéria trabalhada pelos autóctones em parques arqueológicos, dentre as diversas formas de
fossilização, que configura o campo de estudo da arqueologia latinoamericana e da arqueologia
Guarani.
Até a epistemosofia
citação epistemosofia
A princípio, parece importante situar este conceito como uma lógica fundamentada na
observação empírica da realidade, da cultura e da arte latinoamericana, visando estabelecer uma
capacidade analítica, qualitativa e crítica sobre as diversas dimensões da artisticidade do fazer-
pensar estabelecido no confronto com a materialidade do espaço e na recepção penetrável do
público que se articula como corpo participante da arte instalativa no próprio contexto
latinoamericano…. [desenvolver]
Nesta parte, não busca-se estabelecer uma dissertação história a respeito do surgimento
da arte da instalação e outros aspectos de instalatividade em contextos históricos específicos.
Todavia, parece necessário tramar a defesa deste “não-suporte” nos termos da história social,
nos estudos decoloniais e na micropolítica, tendo em vista uma possível antropologia das
coisas, para cumprir o objetivo de produção do conhecimento complexo. Um leitor um pouco
mais atento, poderá verificar neste artigo uma tendência dissertativa entre acentuada na lógica
e na retórica para estabelecer uma leitura amplamente contextualizada na experiência da vida
no espaço.
A NATUREZA -
(filologia)
Lia Rodrigues
Um modo de pensar a crítica por uma ecologia mais agroflorestal do que monocultural
Três passagens da arte para pensar o teatro contemporâneo
Primeira passagem
A instalatividade enquanto linha de força poética na teoria do acontecimento e na arte
contemporânea é gestada na progressão dos movimentos da vanguarda moderno/pós-moderna,
com o desejo de superação das formas expositivas e da representacionalidade formal, e
frequentemente, toma como principal enunciado uma poética radicalizada na criação de um
ambiente ou um espaço. A linguagem torna-se uma das principais ferramentas expressivas do
pensar e fazer dos artistas contemporâneos em várias partes do mundo. Na atualidade, constitui
como uma das novas experiências da relação entre público e espaços para arte.
Segunda passagem
Em Caminhos da Escultura Moderna, Rosalind Krauss narra as mudanças do fazer e pensar a
arte da escultura do marco moderno da obra de Rodin até as experimentações luminosas e
conceituais da escultura do final do século XX. Neste trabalho, a autora concentra sua análise
da obra de arte com ênfase no pensamento da escultura onde o teor da discussão sobre o volume,
a forma, a estrutura e a materialidade são elementos fundamentais da paleta conceitual do
teórico da área. Em “Balés Mecânicos” e “Duplo negativo”, Krauss contribui para o
entendimento da história da experiência estética em relação ao espaço em obras de arte que
marcaram a ritmo da busca pelo novo formato da arte na contemporaneidade.
[só um comentário aqui - Fried usa o termo “teatral” de uma maneira que nem os artistas
dramáticos iam concordar com ele - pois o teatral é exatamente esse vagar do olhar em tempo
real que impossibilita o presente pleno, o aqui e agora semantica e sensorialmente plenamente
preenchido. Esse presente pleno era o ideal da arte Friedeana, mas também o discurso cênico
dramático - entendido como o discurso do realismo ilusionista cuja tempo real passa
despercebido pois o espectador fica preso em sua atençaõ num presente dramático ficcional.
Em ambos os caso, ele esquece a si mesmo.
A partir da consigna de uma arte imaterial, de outro registro de fisicalidade, “como situação,
acontecimento puro, processo” ( ), etc, pensa-se a concepção de uma contemplação ou
recepção do espectador de uma arte sem suporte, sem rigor algum enquanto referencialidade
material, construtiva e/ou física, isto se dá em outros termos que não mais a ideia de fruição
clássica onde os indivíduos se relacionam com as obras de maneira direta e vertical.
Claes Oldenburg, artista da instalação, que parte sua pesquisa calcada na plástica
escultórica, ainda que bastante visual e dona de uma representacionalidade pop. Fala também
da arte povera, um movimento italiano de arte moderna, do circuito de futuristas, minimalistas,
neo-dadá, etc, que esculpiam com materiais orgânicos, revelando a plástica natural de uma
“não-obra” em putrefação. Os ready-mades, ligados aos happenings, aos situacionistas,
environments, arte ambiental, performance art, também localizam na história da arte o fim do
conceito de obra e os primeiros indícios daquilo que o autor nomeia como “o corpo é o motor
da obra”.
3. Na busca do que se formula como uma nova objetividade, definida no contato mais
radical em relação à materialidade da expressão; e os expressionistas forjando a materialidade
com uma concepção ampla e profunda de subjetividade.
A partir dessa primeira definição, podemos entender a performance como uma função
do espaço e do tempo P = f(s, t); para caracterizar uma performance, algo precisa estar
acontecendo naquele instante, naquele local. Nesse sentido, a exibição pura e simples
de um vídeo, por exemplo, que foi pré-gravado, não caracteriza uma performance, a
menos que este vídeo esteja contextualizado dentro de uma sequência maior,
funcionando como uma instalação[6], ou seja, sendo exibido concomitantemente com
alguma atuação ao vivo. (COHEN, p. 28)
Nosso não-objeto de pesquisa no teatro brasileiro: Hélio Oiticica, Teatro Oficina e Tribo de
Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz
- A duração da instalação
Referências Bibliográficas
FÉRAL, Josette. Por uma poética da performatividade: o teatro performativo, in Sala Preta.
ECA-USP, 2008, n. 8, p. 197-210.
6
Neste conceito, o autor adiciona em nota de rodapé: “Uma instalação é algum elemento sígnico, que pode ser um
objeto, um ator, um vídeo, uma escultura etc, que fica “instalado” num local fixo e é observado por pessoas que
geralmente chegam em tempos distintos” (COHEN, p. 28).