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Direito Processual Penal- apontamentos disponibilizados por colega da Lusiada.

Direito Processual Penal


2002-02-18
Bibliografia
José António Barreiros – 2.º Vol. – Sistema e estrutura do Processo Penal
Figueiredo Dias – Fascículos de Processo Penal
Germano Marques da Silva – 3 volumes – Processo Penal
Livro vermelho do CEJ – Novo Código de PP – 1988
Revista do MP – Jornadas de PP
AR – Trabalhos de revisão da Lei59/88.

2002-02-25
Direito Processual Penal – é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam a aplicação do
Direito Penal aos casos concretos; ou o conjunto das normas jurídicas que orientam e
disciplinam o processo penal.

O que é o Processo Penal – é uma sequência de actos juridicamente preordenados e


praticados por certas pessoas legitimamente autorizadas em ordem à decisão sobre se foi
praticado algum crime e, em caso afirmativo, sobre as respectivas consequências jurídicas e
sua justa aplicação.
Além de ser um processo – é instrumental do Direito Penal Substantivo – No art.º 2.º
CPP – “a aplicação de penas e de medidas de segurança criminais só pode ter lugar em
conformidade com as disposições deste Código”

Há uma relação de instrumentalidade necessária entre o Direito penal e o processo penal e


isso é que distingue da conexão existente entre os demais ramos de direito e os respectivos
processos; nestes em regra, o processo tem carácter eventual, pois que o direito se realiza as
mais das vezes espontaneamente, por vontade ou anuência dos interessados, enquanto o
crime só pode ser reconhecido e as penas e medidas de segurança aplicadas mediante o
procedimento penal.

Na linguagem corrente procedimento ou processo são sinónimos, e frequentemente,


mesmo na linguagem jurídica, se usam indistintamente. Algumas vezes a lei usa o termo
procedimento para designar o modus faciendi com que a actividade processual se realiza ou
desenvolve.
Na doutrina o termo procedimento é usado com frequência para designar a actividade
processual em que não há intervenção da jurisdição, enquanto o processo corresponde à
actividade processual em que a jurisdição intervém. (Era esta a distinção tradicional).
Procedimento é a actividade efectiva.

Também é instrumental para as leis processuais específicas – art.º 3.º CPP – “As disposições
deste Código são subsidiariamente aplicáveis, salvo disposição em contrário, aos processos de
natureza penal, regulados em lei especial”

Alem de ser instrumental do DP Substantivo é o CPP que diz os passos a seguir para que seja
aplicada uma pena completa.
O PP é condição sine qua non para ser aplicadas as penas ou as medidas de segurança
criminais, o que não acontece nos outros ramos de Direito. Por exemplo no P. Civil e no
tributário os particulares podem terminar o processo. No Direito Penal só o Estado.

Objecto do processo – é o crime, no sentido que lhe é dado no art.º 1.º, n.º 1, al. a) do CPP. –
facto humano de que dependa a aplicação ao agente de uma pena ou de uma medida de
segurança criminais.

Qual a finalidade do Processo Penal? É detectar e constatar a prática de uma patologia – o


crime. Determinar os seus agentes a responsabilidade deles e descobrir e recolher provas, em
ordem à decisão sobre a acusação. Serve para a aplicação da lei penal aos casos concretos.

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No processo penal há fases preliminares:
Mas Processo penal strico sensu há 3 fases:
1.º – Inquérito – art.º 262.º a 285.º que é a fase da investigação.
2.º – Fase de Instrução – 286.º a 310.º
3.º – Fase de Julgamento – 311.º a 380.º

Contudo ( e segundo Germano Marques da Silva) – O processo penal comporta mais duas
fases:
4.º A execução
5.º- Os Recursos
É este o critério lógico e tendencialmente cronológico, uma vez que os recursos podem ocorrer
em qualquer fase.

O DPP é um conjunto de normas que regulam o processo penal, mas vai mais além que esse
conjunto de actos. Henka – Dizia quer o DPP era Direito constitucional aplicado.

O DPP faz parte do Direito Penal em sentido amplo.


O DPP tem por função também a recolha da prova. A investigação vai colidir com Direitos
fundamentais (art.º 32.º da CRP). E pode haver violação de bens jurídicos que estão mais
sensíveis.
Por exemplo é possível a violação de D. Fundamentais nos termos do art.º 187.º –
Escutas telefónicas.

Figueiredo Dias:
Quais os fins do DPP?
1.º – É a descoberta da verdade material.
2.º – O respeito dos Direitos fundamentais.
3.º – A concordância prática de interesses
4.º – A realização da justiça do Direito.

1.º- É a finalidade e o âmbito inscrito no art. 262.º do CPP.


2.º- O respeito pelos direitos fundamentais, tem a ver com os fisn não justificarem os meios, e é
por isso que se diz que o CPP é Direito Constitucional aplicado.
3.º- Concordância de interesses – traduz-se que para obter a verdade material no processo
penal – existem conflitos de interesses – necessidades de investigar, que vão contrapor-se aos
D. Fundamentais. O PP tem que fazer uma harmonização de interesses.
Veja-se o art.º 126.º do CPP- n.º 1 – São nulas, as provas obtidas mediante tortura, coacção
ou, em geral, ofensa à integridade física ou moral das pessoas. O n.º 2 elenca o que é ofensivo
da integridade física ou moral das pessoas (mesmo com o consentimento destas).
Contudo o n.º 3 ressalva alguns direitos que podem ser postos em causa.

Ou seja os do n.º 1 do art.º 126.º, não podem ser postos em causa.


Os do n.º 3 podem decair em determinadas situações previstas na lei.

2002-02-28
Como é que o legislador consegue a CONCORDÂNCIA DE INTERESSES, através de
processos de equilíbrio tendo em conta os Direitos fundamentais.
O legislador faz logo isso na CRP, no art.º 32.º, que é orientador e fundamento para o
CPP – garantias de defesa. Actualmente o art.º 32.º ultrapassa as garantias do arguido –
também prevê a garantia de intervenção do ofendido.

As garantias de defesa do arguido são nos termos da CRP colocadas ao lado dos direitos do
cidadão – é um direito de cidadania.
O n.º 2 e ss. Do art.º 32.º da CRP são enunciativos e não fazem uma hierarquia, que é feita no
art.º 126.º do CPP, entre os D. Fundamentais intocáveis e os que podem ser “violados”, por
necessidades de investigação.
Por ex. – Ninguém pode ser obrigado a auto incriminar-se – art.º 61.º, 343.º, n.º 1 e
345.º, n.º 1 do CPP. – Direito ao silêncio.
As testemunhas também podem recusar-se a responder a perguntas que as possam
incriminar. Art.º 132.º, n.º 2 do CPP.

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Assim o art.º 126.º, comporta um direito à defesa consciente. Em que no n.º 2 estão elencados
direitos fundamentais invioláveis (mesmo que consentidos), e no n.º 3 os direitos fundamentais
disponíveis – que obtêm o equilíbrio de interesses com excepções legais, pois pode haver
compressão de tais direitos.

Mas para isso existem 2 critérios:


1.º Critério – a gravidade do crime
2.º Critério – A necessidade de investigação

Um ex. da necessidade de investigação – art.º 179.º, n.º 1, al. b) e c). – Apreensão de


correspondência – só para crimes a que corresponda pena de prisão superior, no seu máximo,
a 3 anos e que se revele de grande interesse para a descoberta da verdade ou para a prova.
Outro ex. 187.º – escutas telefónicas – só para determinados crimes ou em abstracto para
crimes cujo máximo seja superior a 3 anos , e que a diligência se revele de grande interesse
para a descoberta da verdade ou da prova.

Esta característica (se revele de grande interesse) é a mais evidente na investigação.

Também se reflecte nas medidas de coação – art.s 191.º a 228.º.


As Medidas de Coação – são medidas cautelares (preventivas) que se traduzem numa
limitação maior ou menor da liberdade ambulatória do arguido.

Para que são aplicadas as medidas de coação – o que está em investigação é o ilícito mais
grave, pelo que também está em questão ser aplicadas as sanções mais graves (a prisão).
Determina que haja vários perigos relativamente à conduta do arguido. Por ex. Querer subtrair-
se ao cumprimento da pena, ou perturbar o processo (ocultando provas, coagindo testemunhas
ou continuar a actividade criminosa.
Daí para a aplicação das medidas tem de ser respeitados certos requisitos (art.º 204.º CPP):
- Fuga ou perigo de fuga;
- Perigo de perturbação do decurso do inquérito ou da instrução do processo;
- Perigo em razão da natureza e das circunstâncias do crime ou da personalidade do arguido,
da perturbação da ordem e da tranquilidade públicas ou da continuação da actividade
criminosa.

A única medida que pode ser imposta sem estes requisitos é o TIR – art.º 196.º CPP.
As outras medidas:
197.º- Caução
198.º- Obrigação de apresentação periódica (crime superior a 6 meses)
199.º- Suspensão do exercício de funções, profissão e de direitos (crimes de máximo superior
a 2 anos)
200.º- Proibição de permanência, de ausência e de contactos (crimes de máximo superior a 3
anos)
201.º- Obrigação de permanência na habitação ( superior a 3 anos)
202.º- Prisão preventiva (superior a 3 anos de prisão)

As medidas de coação estão estabelecidas por ordem de limitação da liberdade do arguido.


Também estas medidas estão sujeitas a dois princípios: A PROPORCIONALIDADE E A
ADEQUAÇÃO, de acordo com a gravidade do crime e com o desvalor da acção. – art.º 193.º
CPP

2002-03-01
Meios de aplicação do DPP
Interpretação
Integração de Lacunas – art.º 4.º
Aplicação da lei no tempo – art.º 5.º

INTERPRETAÇÃO
A interpretação do DPP faz-se nos termos gerais de Direito – atendendo ao art.º 9.º do
CC.

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Princípio do “in dubio pro reo”
Uma questão que toda gente aceita que é um princípio que tem incidência no que diz respeito
à apreciação da prova e dos factos.

No entanto existe alguma jurisprudência minoritária – que diz que este princípio também deve
estar subjacente na interpretação das normas ( O Prof. Salreu não apoia). A lei só deve ter
uma interpretação – a mais justa, quer seja favorável ou desfavorável para o arguido.
Presunção de inocência foi proclamado em França na DDHC, as suas origens, teve sobretudo
o valor de reacção contra os abusos do passado e o significado negativo de não presunção de
culpa, resulta deste princípio assegurar todas as necessárias garantias práticas de defesa do
inocente. Resulta também que todo o acusado tenha o direito de exigir a prova da sua
culpabilidade.

Como se concretiza este princípio – O 32.º, n.º 2 da CRP diz-nos que se é inocente até
ao trânsito em julgado – ou seja – há uma presunção de inocência – legal, pelo que pode ser
destruída.
Esta presunção de inocência, dizem alguns autores que é o mesmo que “o in dubio pro reo”. O
que não é. Decorre da presunção desta, mas não se confunde com a inocência (que engloba o
in dubio pro reo), que tem mais coisas, pelo que não ser destituído de garantias.

Como é que o in dubio pro reo funciona – Quando se chega a julgamento é no


julgamento que se faz a prova dos factos, e o tribunal pode chegar a uma de 3 conclusões:
1 – O arguido é inocente – absolvido
2 – O arguido é culpado – condena, por ter sido ilidida a presunção de inocência.
3 – Perante a prova produzida fica numa dúvida insanável – e tecnicamente não ilidiu a
presunção de inocência. Funciona o in dubio pro reo.

Esta dúvida tem que ser insanável – decorre do princípio da verdade material em processo
penal, e pela seguinte razão:
Ao contrário do processo civil, em que funciona a verdade formal, pois são as partes
que apresentam a prova, o juiz limita-se a analisar a prova produzida e apresentada por cada
uma das partes. No processo penal é o juiz que tem que procurar a prova, não é apenas um
seu receptor. Ver o art.º 340.º, n.º 1 CPP “…considerar necessária a produção de meios de
prova não constantes na acusação…”
Daí ser insanável quando o tribunal não puder recorrer a quaisquer outros meios de
prova.

O art.º 127.º CPP – livre apreciação da prova segundo as regras da experiência. (Princípio da
prova livre – significa que o julgador tem a liberdade de formar a sua convicção sobre os factos
submetidos a julgamento com base apenas no juízo que se fundamenta no mérito
objectivamente concreto desse caso, na sua individualidade histórica, tal como ele foi exposto
e adquirido representativamente no processo, pelas alegações, respostas e meios de prova
utilizados)

No entanto nos termos do art.º 120.º, n.º 2, al. d) constitui nulidade a omissão de
diligências que pudessem reputar-se essenciais.
O que quer isto dizer, por exemplo um juiz não aceitava mais prova arrolada por uma
das partes, pois, segundo a sua livre apreciação as considerava desnecessárias. E mais tarde,
vinha a declarar uma dúvida insanável, pelo que poderia ser arguida esta nulidade.

Em processo penal não existe o ónus da prova – existe o princípio da verdade material.
Pelo que o tribunal não está limitado pela prova dos factos aduzida pela acusação e pela
defesa, mas antes o poder-dever de investigação oficiosa. Definido o processo pela acusação
e delimitado o objecto do julgamento o tribunal deve procurar a reconstrução histórica dos
factos, e deve procurar por todos os meios processualmente admissíveis alcançar a
verdade, independentemente ou para além da contribuição da acusação e da defesa – a
verdade histórica, não é mais que a verdade material.
Este princípio da verdade material, vai implicar o princípio da investigação, que ao fim ao
cabo não é mais de que o poder-dever de esclarecer e instruir autonomamente, o facto sujeito

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a julgamento, e criando as bases necessárias à sua decisão ( ao fim ao cabo a verdade
material)

INTEGRAÇÃO DE LACUNAS – art.º 4.º


Em casos omissos a 3 situações Sucessivamente se pode recorrer:
1.º- Normas do CPP, que se possam aplicarem por analogia.
2.º- Recurso subsidiário ao CPC, desde que se harmonize com o CPP
3.º- Princípio gerais do processo penal – ou seja criar uma norma de acordo com os princípios
gerais do processo penal, à semelhança do que dispõe no art.º 10.º do CC.

1.º problema - se houver lacuna – no regime semelhante, aplica-se a analogia em “bona


parte” ou será permitida a analogia “in malem parte”( In malem parte – NÃO).
O prof. Figueiredo Dias fundamenta não ser permitida a analogia in malem parte,
porque o processo penal faz parte da globalidade penal, ou seja o CPP também faz parte do
DP em sentido amplo e no CP, no seu art.º 1.º é proibida a analogia (in malem parte).

O prof. Cavaleiro Ferreira, diz que o PP é um direito garantístico, no termos do art.º


32.º, n.º 1 da CRP, pelo que a regra é assegurar as garantias de defesa, e que as limitações
dos direitos são excepcionais, pelo que não pode ser permitida a analogia.
O CPP, no seu art.º 61.º 1, prevê normas excepcionais que limitam “ …salvas as
excepções da lei, dos direitos de:”

Ex. o art.º 409.º prevê a “reformatio in pejus”, ou seja a possibilidade de no recurso da decisão
final, a pena nunca ser agravada para o arguido.
No art.º 219.º, é para recurso das decisões interlocutórias (não finais), por analogia o 409.º
pode ser aplicado, por exemplo no recurso de aplicação de uma medida de coacção (senão
poderia ainda esta ser agravada).

Esgotada a analogia tem de se recorrer ao 2.º tipo de integração, ou seja, procurar normas do
CPC que se harmonizem com o PP.

Por último a relevância do PP – (ou seja limita o P. Civil, e passa a ser o PP a própria fonte.

Porquê o legislador primeiro recorre ao CPP, depois salta para o CPC e depois volta ao PP.
Por uma necessidade de acautelar a segurança jurídica, buscando já normas pré-existentes,
pois na terceira forma existe muita subjectividade.
Isto porque os princípios gerais do processo penal têm aqui uma dupla função:
a) Um função negativa ou de controlo ao recurso ao processo civil;
b) Um função positiva e directamente integradora

APLICAÇÃO NO TEMPO – art.º 5.º


As normas de PP são de aplicação imediata – art.º 5.º, n.º 1, sem prejuízo da validade
dos actos anteriores. Contudo, comporta excepções de situações ultra-activas, nos termos do
n.º 2 do art.º 5, quando haja agravamento para o arguido ou quebra da harmonia e unidade do
processo.

2002-03-07

Vimos que o art.º 5.º trata da aplicação da lei penal no tempo.


Deste art.º 5.º resultam duas regras:
1.º- Princípio da aplicação imediata.
A regra que tem sido assumida é a aplicada de imediato ao actos praticados,
independentemente do processo já estar a decorrer.

O CPP prevê ao contrário do CP, que não haja aplicação retroactiva das normas, mesmo que
mais favoráveis ao arguido. Isto porque se consideram os actos anteriores válidos.
Ou seja resulta deste princípio:
– Proibição retroactiva
– A aplicação imediata e para futuro da lei nova.

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Quanto à aplicação da lei nova, tem duas excepções:
- Aplicação ultra-activa da lei velha – nos casos do n.º 2 al. a) e b) do art.º 5.º, ou seja:
a) Agravamento sensível e ainda evitável da situação processual do arguido, nomeadamente
uma limitação do seu direito de defesa; ou
b) Quebra da harmonia e unidade dos vários actos do processo.

Um exemplo da alínea a) que resulta de uma nova regra que foi introduzida pela lei 59/98, é de
que actualmente os prazos passaram a ser contínuos ( até então, suspendiam-se aos fins de
semana, férias e feriados). Em que um indivíduo tinha nos termos do art.º 287.º, n.º 1, al. a) 20
dias úteis para requerer a instrução – agora são apenas 20 dias seguidos, o que poderia levar
a que fosse considerado rejeitado por extemporâneo.

Em relação à alínea b) tem a ver com os princípios de celeridade e de economia


processual
Para que os actos sejam harmoniosos e tenha a sequência normal de actos. Pois pode o
legislador alterar o Código e alterar a sequência dos actos. E esta alínea é para não destruir os
actos praticados no âmbito da lei anterior – isto é dirigido ao julgador e é subjectivo.

Um exemplo é o que aconteceu quando se passou do Código de 1929, para o Código de 1987
(art.º 7.º da Lei n.º 78/87) em que se mantiveram as regras para os processos antigos e só se
aplicou o de 87 aos processos novos, para não quebrar a harmonia.

Princípios da celeridade e economia processuais


Princípio da celeridade – é uma exigência que decorre do art.º 32.º, n.º 2 da CRP. A
celeridade do processo é do interesse do arguido e por isso lhe foi dada garantia constitucional,
mas também é do interesse do ofendido e da comunidade. E também condição
importantíssima para a realização dos fins do direito e das sanções penais. Um processo que
se arraste por muito tempo, superior ao necessário para o esclarecimento da suspeita e para
assegurar a defesa do arguido, tem efeitos negativos na vida do arguido, seja ela profissional
ou até de liberdade. Mas claro também é um mal para o ofendido. Também a sociedade
necessita de uma justiça pronta. A paz social assenta em grande parte na certeza que os
criminosos são condenados e os inocentes absolvidos, e se decorre muito tempo gera-se a
ideia de impunidade e descrédito na justiça.
Princípio da economia processual – significa que não devem ser praticados actos inúteis e vale
para todas as fases do processo. O que implica comportar actos e formalidades indispensáveis
e úteis. No inquérito devem apenas praticar-se apenas os actos relevantes para a descoberta
da verdade.

REGRAS DE APLICAÇÃO NO ESPAÇO – Art.º 6.º


A propósito da aplicação do processo no espaço são suscitadas outras questões: O art.º 229.º
e ss. Existem regras para conflitos internacionais, de cooperação policial, extradição, etc.

Contudo no nosso curso só iremos abordar os princípios de aplicação no espaço que resulta do
art.º 6.º do CPP.
E em regra é que o CPP também se aplica o princípio da territorialidade, mas não podemos
esquecer que o CPP é instrumental do CP, e este nos seus art.º 5.º e 6.º prevê a aplicação de
ordenamentos estrangeiros, logo, nestas situações o CPP irá se aplicar a ordenamentos
estrangeiros.

PROCESSO PENAL
A tramitação do processo penal começa no art.º 241.º
Mas o Processo penal sricto sensu é:
- Inquérito – art.º 262.º a 285.º
- Instrução – art.º 286.º a 310.º
- Julgamento – art.º 311.º a 380.º

Inquérito
Questão prévia – No art.º 262.º, n.º 2, ressalvadas as excepções – a notícia do crime dá
sempre lugar à abertura de inquérito.
Inquérito - tem um duplo sentido:

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1.º- fase processual preliminar – convém distinguir a perspectiva cronológica da lógica. Em
sentido cronológico é a primeira fase do processo penal comum. Em sentido lógico é uma
actividade processual que tem a finalidade essencial o esclarecimento da notícia do crime com
vista à acusação.
2.º – Actividade de investigação – é o conjunto de diligências processuais sob a direcção do
MP.

Quem dirige o inquérito?


O MP – art.º 263.º e 267.º – É o MP que tem competência própria para atingir as finalidades do
inquérito.

Mas como é que o MP tem conhecimento da notícia do crime? (241.º)


- Por conhecimento próprio
- Por intermédio dos OPC
- por denúncia:
– Obrigatória – para todas as entidades policiais, quanto a todos crimes que tome
conhecimento – 242.º a)
– Para os funcionários (386.º do CP), quanto aos crimes que tenham
conhecimento no exercício das suas funções.

– Facultativa – para qualquer pessoa (ou funcionários fora do exercício das funções) –
244.º
A denuncia facultativa reveste duas modalidades:
 A denúncia em sentido estrito – é sempre uma transmissão ao MP do conhecimento de
factos com eventual relevância criminal, e enquanto denúncia é apenas uma
declaração de ciência
 A queixa – distingue-se da denúncia, enquanto aquele é apenas uma manifestação de
ciência, a queixa, além da declaração de ciência é também uma manifestação de
vontade.

Quem abre o inquérito?


O MP (263.º), após ter adquirido a notícia do crime, nos termos do art.º 241.º.
No caso dos OPC tem que comunicar no mais curto prazo de tempo ao MP – 245.º

Os OPC tem possibilidade de tomar medidas cautelares, porque entre comunicarem a notícia
do crime (248.º) ao MP e desde que tomaram conhecimento, há um espaço temporal, e nesse
espaço temporal pode ser necessário tomar medidas cautelares, nos termos do art.º 249.º, n.º
1, mesmo antes de receberem a ordem para proceder às investigações, bem como nos termos
do n.º 3, após a intervenção da autoridade judiciária, para assegurar novos meios de prova.

Estes actos estão sujeitos as requisitos processuais, mas são antes do início do inquérito.
Tem que se ter em conta que:
O acto formal – é aquele que revela para determinar a abertura do inquérito, é quando o MP
manda abrir. É o primeiro acto do procedimento.
O acto material – é quando se adquire a notícia do crime, em regra com a participação dos
OPC.

2002-03-08
Qual é o MP competente para receber a notícia do crime? (264.º, n.º 1) – É ao MP do local
onde o crime foi cometido.

São os OPC que transmitem os crimes que tiverem conhecimento directo – 248.º
Mas também conhecimento de crimes por denúncia, e logo que a recebam, devem transmiti-la
no mais curto prazo de tempo ao MP – 245.º e 248.º, n.º 1

Quando tenham conhecimento directo tem que elaborar Auto de notícia. (243.º)
Este auto tem requisitos:
 Subjectivos

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o Tem que ser elaborados ou por AJ ou por OPC (243.º, n.º 2 CPC e art.º 1.º –
definição de AJ e OPC)
 Objectivos

o Presencialidade
o Denúncia obrigatória (242.º)

No art.º 1.º estão as definições técnico-jurídicas


No art.º 111.º- definições de actos processuais

Em relação às AJ, o art.º 1.º al. b):


Juiz (fase de julgamento) – 323.º
Juiz de instrução (instrução) – 17.º e 288.º
Ministério Público (Inquérito) – 263.º
Todos estes são funcionários para efeitos do art.º 386.º do CP

Em relação aos OPC e APC, art.º 1.º al. c) e d):


Quando o legislador se quer referir aos OPC e às APC, utiliza a expressão “ entidades
policiais”, como no caso do art.º 243.º, n.º 1, que envolve as duas em sentido amplo.

Voltando ao Auto de Notícia, elaborado por aquelas entidades e com os requisitos de


presencialidade e de denúncia obrigatória, têm ainda que ser mencionados os factos das
alíneas a) a c) do art.º 243.º, n.º 1 – hora, dia, local, autores, testemunhas e outros factos
relevantes.

O Auto de Notícia, em processo crime só vale como denúncia do crime – 243.º, n.º 3. Mas tem
uma eficácia – dar lugar à abertura do Inquérito.

O Auto de Notícia, além de dar lugar à abertura do inquérito, tem outra relevância processual –
É a base de investigação – da recolha de prova, obtenção de provas.

Outra relevância do AN – no processo sumário – 389.º, n.º 3 – pode substituir a apresentação


da acusação pela leitura do AN.

Já vimos que o MP ao adquirir a notícia do crime, nos termos do art.º 262.º, n.º 2 – dá sempre
lugar à abertura do inquérito:
Com duas excepções:
 Quando haja lugar Processo Sumário (381.º a 391.º)
 Quando os crimes denunciados, sejam de natureza semi-pública ou particular.
(Ilegitimidade do MP)

Em termos processuais os crimes dividem-se em:


Públicos
Semi-públicos
Particulares

Esta divisão tem importância em termos de impulso processual, que tem dois momentos
(início do inquérito e no fim, com a acusação), e tem a ver com o princípio da
obrigatoriedade.

O princípio da obrigatoriedade de abrir o inquérito (art.º 48.º e ss. e 262.º, n.º 1. Porque o
inquérito visa a investigação da existência de um crime, dos seus agentes a sua
responsabilidade e descobrir e recolher provas, em ordem à acusação.
O que implica que o MP só acusa se houver indícios – 283.º, n.º 1.
Caso contrário manda arquivar, nos termos do art.º 277, n.º 1 ou 2, ou não se ter verificado
o crime ou não ter obtido prova bastante.

Assim:
Tipos de crime 1.º impulso – abertura inq. 2.º momento
Públicos Promove – MP – 48.º Acusa MP – 283.º, 1

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Semi-públicos Promove – particular – 49.º Acusa MP – 283.º, 1
Particulares Promove – particular – 50.º Acusa o particular (*)
A promoção pelo particular nos crimes semi-públicos, basta a queixa, depois o MP faz o
resto.
(*) – No caso dos crimes particulares o particular, tem que se queixar, se fazer constituir
assistente, e deduzir acusação particular(285.º)

2002-03-11
Continuação da matéria anterior

Porquê a existência de crimes semi-públicos, onde se deixa a promoção por conta dos
ofendidos (se quer ou não), apesar de serem violados bem jurídicos fundamentais?
Por duas ordens de razões:
1. Protecção da própria vítima (ex. de crimes contra a liberdade ou determinação sexual);
2. Opção de política criminal, de descriminalização, transferindo crimes públicos, para
semi-públicos ou particulares (como aconteceu com as alterações ao CP de 95, que
transformaram o crime de furto, público até então, em semi-público).

Tanto os semi-públicos como os particulares, a abertura do inquérito, dependem do


impulso do ofendido.

O regime dos crimes semi-públicos – art.º 49.º- em que os ofendidos têm de apresentar
queixa. Quem são as pessoas que podem apresentar a queixa – estão elencados no art.º
113.º, n.º 1 do CP.
A queixa é uma denúncia facultativa. Mas é uma denúncia com características especiais,
conforme resulta do art.º 49.º. É necessária para o procedimento. Se há denúncia por um
crime público, o MP abre logo inquérito. Nos semi-públicos, em regra, só abre inquérito se
o ofendido se queixar.
Diz-se em regra, porque há situações excepcionais, de crimes semi-públicos, em que o MP
pode desde logo abrir o inquérito, que são as situações do art.º 113.º, n.ºs 5 e 6 do CP.
Em que o MP pode instaurar o procedimento sem queixa (1)se especiais razões de
interesse público se impuserem ou (2)quando o interesse da vítima o impuser.
Portanto nos crimes semi-públicos o impulso processual dá-se com a queixa, depois o MP
ou acusa (283.º, n.º 1 ou arquiva, 277.º, n.º1)
Nos crimes particulares (50.º)
1. Apresentar a queixa
2. Se fazer constituir assistente – 68.º
3. Acusação Particular – no fim do inquérito o MP notifica o assistente para deduzir a
acusação. (285.º, n.º 1)

Quem é o ofendido?
O ofendido é o titular do direito de queixa – 113.º do CP
Mas nos crimes particulares o ofendido tem que assumir as vestes de Sujeito processual
(Assistente)– 68.º a 70.º – que neste tipo de crimes é obrigatório. Pode constituir-se
assistente nos outros tipos de crime.
Como é que se constitui assistente – tem que ser informado na altura em que apresenta a
queixa, de que deve constituir-se assistente – 246.º, n.º 4. – no prazo de 8 dias – 68.º, n.º
2.

Caso não o faça no prazo – o MP, nos termos do art.º 277.º, n.º1 arquiva, por não ser
legalmente admissível o procedimento.

Mas e se apenas deixou passar o prazo ( o ofendido nem foi informado). Há que ver o
regime das nulidades – art.º 118.º, n.º 1 em que refere que a inobservância das
disposições do CPP só determina a nulidade do acto quando este for expresso na lei. Ora
o n.º 2 refere que nos casos em que a lei não cominar a nulidade, o acto ilegal é irregular.
Ora no 244.º, n.º 6 não diz que se deve advertir o denunciante da obrigatoriedade da
constituição, mas não refere que é sob pena de nulidade – Logo a falta de constituição de
assistente é uma irregularidade.

9
Nos termos do 123.º- as irregularidades só determinam a invalidade quando tiver sido
arguida pelos interessados. Por outro lado, nos termos do n.º 2 do mesmo artigo – pode
ordenar-se oficiosamente a reparação de qualquer irregularidade.

2002-03-14
Para que serve o inquérito?
Para investigar, para obter a prova- no art.º 262.º, n.º 1 – “ inquérito compreende o conjunto
de diligencias que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes
e a responsabilidade deles, descobrir e recolher as provas em ordem à acusação.”

É com a prova que se consegue demonstrar se houve ou não crime, e de quem é a


responsabilidade.
A prova é feita em julgamento 355.º – Princípio da imediação.
A Prova está nos art.º124.º a 190.º- mas não se dá em PP(I).

Quem intervêm no inquérito? Qual o nível subjectivo do inquérito?


Desde logo se tem de fazer uma distinção:
Por um lado Sujeitos do processo
Por outro os auxiliares ou participantes processuais

Sujeitos processuais – É aquele sujeito a quem a lei atribui poderes e direitos de


intervirem no âmbito do processo e que sejam susceptíveis de condicionar ou determinar o
nascimento do processo a sua evolução e as suas vicissitudes e a extinção – têm
competências próprias.

Sujeitos processuais públicos:


 juiz de instrução criminal – art.º 17.º, 268.º e 269.º
 Ministério Público – art.º 263.º e 267.º

Sujeitos processuais privados:


 O arguido – art.º 61.º ( 58.º a 67.º)
 O assistente – 69.º (art.º 68.º a 70.º)

Auxiliares processuais – são aqueles intervenientes no processo a quem a lei não atribui os
poderes, direitos ou deveres dos sujeitos, mas cuja intervenção é essencial para a
prossecução dos fins pretendidos.
São auxiliares processuais – As polícias, os peritos, as testemunhas (130.º), os consultores
técnicos (155.º, 165.º, 3)

Um outro problema que se coloca é se esta competência de dirigir o inquérito pelo MP é


constitucional ou não.

Há quem levante o problema de que o art.º 32.º da CRP, n.º 4, ainda tem a redacção original,
de 1976, em que se diz que a instrução é da competência de um juiz.
Este facto deve-se a que o processo penal anterior de 1929, tinha umas fases diferentes.

CPP -1929 CPP-1987


OPC/MP Inquérito preliminar Providências cautelares OPC
JIC Instrução Preparatória Inquérito MP
JIC Instrução contraditória Instrução JIC
J Julgamento Julgamento J

A instrução em 1976 abrangida pela CRP – Abrangia a Preparatória, que corresponde


actualmente, ao Inquérito. E quem dirigia a Instrução era o JIC, porque se entendia que era
uma fase que pode colidir com a compressão dos direitos fundamentais das pessoas, e só um
juiz, podia salvaguardar esses valores.

Houve um Acórdão do TC, 7/87, de fiscalização preventiva ao CPP, em que considera não ser
inconstitucional a posição do MP, uma vez que ele apenas dirige a estratégia de investigação,

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pois sempre que queira levar a cabo, meios de obtenção de prova, que possam colidir com
direitos fundamentais, tem que ser o JIC a emitir essa ordem (268.º). Assim salvaguardando o
JIC no inquérito numa função fiscalizadora, ficou sanado o problema.

2002-03-15
Continuação da aula anterior

A questão anterior também tinha a ver com o que é actos jurisdicionais – Que é julgar,
administrar a justiça, etc.
Juntamente com os actos jurisdicionais, existem outros actos quase jurisdicionais,
que se traduzem na missão de saber se a aplicação da compressão dos direitos não são
exagerados em relção aos fins em vista.

Dai o legislador tentou prever os actos susceptíveis de comprimir os direitos fundamentais


durante o inquérito e por esses passam pelo JIC – art.º 17.º, (268.º, 269.º) – que são actos de
natureza jurisdicional, os quais nem o MP nem os OPC podem praticar.

Um ex. de acto jurisdicional, que está fora do 268.º e do 269.º, e que o MP tem que pedir
autorização ao JIC.
O segredo profissional, vem regulado nos art.º 135.º, 136 e 137.º do CPP, que acaba por não
ser um segredo absoluto, pois por diversas razões pode ser violado.
No caso do art.º 135.º – as AJ podem inquirir, mas o declarante é que pode não responder.
Nos casos do art.º 136.º e 137.º as AJ nem sequer podem inquirir.
No caso do 135.º, n.º2 – em caso de evocação abusiva de segredo profissional, pode ser
ordenado a prestação de depoimento, mas como resulta daquele preceito, a autoridade
judiciária (leia-se MP), tem que requer ao JIC que ordena a prestação de depoimento.
Isto porquê?, porque pode haver uma susceptibilidade de erro das AJ, e por estar em
causa direitos fundamentais, e tem que ser um acto jurisdicional, para que possa haver
recurso

Então qual o papel do MP? É o MP que vai definir a estratégia da investigação, pois o JIC não
tem nenhuma intervenção por iniciativa própria – 268.º, n.º2 – O JIC no inquérito só intervêm a
requerimento.

O JIC fiscaliza e intervêm por impulso, não intervêm oficiosamente – 268.º, n.º 2 e 269.º,
n.º 2

O MP, então nos termos do 263.º- Dirige o inquérito, e a quem compete assegurar as
finalidades previstas no 262, definindo a estratégia – 267.º

Qual a posição e atribuições do MP – art.º 53.º


No n.º 1 estão as atribuições – “colaborar com o tribunal na descoberta de verdade e na
realização do direito”.
No n.º 2 estão os poderes.
a) Receber as denúncias, as queixas e as participações e apreciar o destino a dar-lhes;
b) Dirigir o inquérito – ou acusa – 283.º, ou arquiva 277.º
c) Deduzir a acusação e sustentá-la efectivamente na instrução e julgamento( ora como
estas alíneas são competências e não obrigações, pode o MP não sustentar a
acusação na fase de julgamento)
d) Interpor recursos, ainda que no exclusivo interesse da defesa ( então o MP acusa e
depois vem defender o arguido?? – Não, o que acontece é que o MP está obrigado,
nos termos do n.º 1 à descoberta da verdade – material). Ver art.º 401.º a)

Outra situação que se tem levantado é da detenção para comparência em acto processual, se
é ou não um acto jurisdicional?

Isto porque nos termos do art.º 273.º, n.º 2 o mandado de comparência pode ser efectuado
pelo MP ou pelos OPC, em quem tenha sido delegada a competência. Ora no mesmo artigo,
no n.º 3, vem a dizer que é também aplicável o 116.º, n.º 2, ou seja que pode ser mandado
deter quem tiver faltado injustificadamente, e de acordo com o o 254.º al. b) é uma das

11
finalidades da detenção – logo só pode ser um juiz a emitir o mandado, o que implica que
estamos perante um acto jurisdicional.

2002-03-18
A lei quanto ao MP tem dois artigos essenciais:
Art.º 263.º- Direcção do inquérito
Art.º 267.º- A prática de actos que competem ao MP em sentido formal.
Em sentido formal, porque devido à escassez de meios do MP, da formação do MP e das
polícias, na lei nada impede que o MP pratique os actos directamente. Ex. art.º 143.º- O
primeiro interrogatório não judicial de arguido detido.

Por natureza a competência do MP é mais de gestão do inquérito.


Daí que gere a necessidade de no inquérito ser “assistido pelos OPC” – art.º 263.º.
Em sentido material, são em regras os OPC que praticam os actos de investigação.
Estes são em regra, actos que são de competência do MP, que não são originários das forças
de segurança. (apesar de hoje terem uma competência de investigação sob a alçada do MP –
Dec.-Lei n.º 21/2001)

A delegação de poderes
Os OPC recebem no âmbito do inquérito, delegação de poderes porque o MP lhes delega os
actos.
Mas esta delegação de poderes tem que ser entendida em sentido amplo, não pode ser
encarada como delegação de poderes em sentido estrito, como é no Direito administrativo – É
uma delegação de poderes a títulos genérico.
Em regra, na prática é a polícia que faz tudo, excepto, quando sejam crimes mediáticos, em
que nesses o MP anda mais em cima.

Em sede de inquérito( art.º 270.º) – os OPC intervêm com competência delegada genérica –
“todos os actos de inquérito, com excepção dos actos do JIC” – (art.º 268.º, 269.
Nos termos do n.º 2 do art.º 268.º- O juiz de instrução só intervêm a requerimento.

O n.º 3 do art.º 270, com a redacção da L59/98, alterou as perícias, permitindo que delegar nas
APC, a faculdade de ordenar a efectivação de perícias, com excepção da autópsia médico-
legal, a prestação de esclarecimentos complementares e nova perícia.
Mas as competências são do MP – 270.º, n.º 1.

Outras competências dos OPC – art.º 55.º - parece contradizer o que se disse, que os OPC
não têm competência originária, pois o art.º 55.º, n.º 2, pode causar alguma confusão quando
refere que “compete em especial aos OPC, mesmo por iniciativa própria, …”
O que se quer dizer é que o art.º 55.º, n.º 2 comporta duas vertentes da intervenção
policial:
 Vertente de prevenção, que resulta das próprias leis orgânicas
 Investigação – nesta parece colidir, mas não.
É que são, em regra, os OPC que recolhem materialmente a notícia do crime, e por isso não
podem estar à espera de ordens para começar a recolher prova ou outras medidas – daí que
este art.º 55.º, n.º2 tem a ver com a iniciativa própria no que se refere às Medidas cautelares
de Polícia, art.º 248.º e ss., que em regra são formalmente anteriores à abertura do inquérito
pelo MP.
Por outro lado, até mesmo já depois da intervenção da autoridade judiciária, podem ainda
recolher e assegurar meios de prova, dando contudo, notícia imediata à autoridade
judiciária.(249.º, n.º 2)
Mês já durante o inquérito, apesar de haver actos que são indelegáveis (268.º e 269.º)
Excepcionalmente, nos termos do art.º 174.º, n.º 4, e do 251.º, podem proceder a buscas sem
autorização das AJ.

ENTIDADES PARTICULARESNO PROCESSO


Arguido – 57.º a 67.º
Assistente – 68.º a 70.º
O Assistente
Em regra o assistente é o ofendido. – Os titulares do Direito de queixa – art.º 113.º do CP.

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O art.º 68.º é muito importante pois diz:
Quem pode ser assistente?
Em que crimes?
Quem pretende proteger?

Pois no CPP os direitos estão individualizados art.º 68.º


No CP Os direitos não estão individualizados – art.º 113.º do CP

2002-03-21
O que resulta do art.º 68.º e ss.:
Quem pode ser assistente?
Prazos em que se pode constituir assistente?
Deveres do assistente – papel no processo?

No art.º 68.º, n.º 1 está quem pode ser assistente, e assim, verifica-se que existem 2 critérios
para a legitimidade de se ser assistente:
1.- Em regra o ofendido, ou seja o titular dos interesses a proteger, desde que maior de 16
anos:
2. – Qualquer pessoa, nos crimes contra o Estado, que resulta da actual redacção da al. e), do
art.º 68.º, com a redacção da Lei 59/98.

Estes crimes, condicionam a intervenção processual do assistente. Por exemplo um polícia


dá uma ordem legítima a um indivíduo, este foge, e o polícia vai atrás dele, quando apanha
este ainda o agride. Neste caso o polícia, pode-se fazer constituir assistente quanto ao crime
de ofensas à integridade física, quanto ao desobediência não, pois ele não é titular – É o
Estado, mas não é dos crimes que estão elencados na al. e).
Ainda em relação a estes crimes da alínea e), tem de se ter em conta quem é “qualquer
pessoa” – No que respeita às pessoas singulares – este qualquer pessoa tem a ver com quem
tenha interesse, que tenha sofrido lesões pela prática do crime, ou tenha tido expectativas
defraudadas.
No que respeita às pessoas colectivas (Prof. Salreu) aplica-se também esta alínea, nos
mesmos modos no que se disse em relação às pessoas singulares tendo em atenção até os
crimes contra economia ali referidos.
Por outro lado existem Associações de interesses, que também, terão direito a constituir-se
assistentes, pois é a sua função( contudo estas associações têm que ser anteriores aos factos,
não podem ser associações ad-hoc.

Em relação à alínea d) esta, não é mais do que uma extensão da al. a), uma vez que diz quem
pode representar ao menores de 16 anos em os incapazes.

A alínea c) do art.º 68.º, aplica-se também aos crimes públicos, e embora seja redundante em
relação aos semi-públicos e particulares, pois a alínea b) remete para o art.º 113.º do CP, que
tem no n.º 2 esta mesma redacção.

PRAZOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE ASSISTENTE


Crimes particulares (art.º 68.º, n.º 2)– 8 dias a contar da apresentação da queixa – sob pena
de o MP, mandar arquivar por inadmissibilidade, nos termos do art.º 277.º, n.º 1
Crimes semi-públicos e públicos – nos termos do n.º 3. Podem ainda intervir no caso da alínea
b) – até 10 dias após a notificação da acusação do MP, ou no prazo de 20 dias para requerer a
abertura da instrução.
Bem como nos termos da alínea a) até 5 dias do início do debate ou da audiência de
julgamento.

Antes da alteração da Lei 59/98, este artigo não tinha esta redacção, o que levou a alguma
divisão na Jurisprudência.
Como é que deve ser interpretado estes até 5 dias antes de .. ou de..
É assim, se requer até 5 dias antes do debate instrutório, pode participar nele, se requerer
depois, mas com limite até 5 dias antes da audiência só pode participar nos factos após a sua
constituição.

13
2002-04-05

 Legitimidade para a constituição de assistente – art.º 68.º, n.º 1


 Prazo para requerer a constituição de assistente, caso o procedimento dependa de
acusação particular – art.º 68.º, n.º 2
 Altura do processo em que o assistente pode intervir – art.º 68.º, n.º 3

Pedidos de intervenção do assistente – art.º 69.º


O assistente é um colaborador do MP, subordinando a este a sua intervenção:
 Colabora na realização da justiça – al. a) do n.º 2 do art.º 69.º
 Deduz acusação independentemente da do MP e deduz acusação nos crimes
particulares, mesmo que o MP não o faça – al. b) do n.º 2 do art.º 69.º
 Interpõe recursos das decisões que o afectem, mesmo que o MP não o tenha feito ( O
assistente pode recorrer se houver uma absolvição, se considerar que o arguido
cometeu o crime A e este foi condenado pelo crime B – jurisprudência do STJ ). O
assistente não pode recorrer apenas da medida da pena, porque o interesse já está
satisfeito com a declaração do crime, do ilícito.

O assistente tem que ser sempre representado por advogado – art.º 70.º
O advogado, se for assistente, não se pode representar a si próprio, ao contrário do que
acontece no processo civil, porque ele não se pode auto-interrogar a si próprio. – art.º 346.º

O Arguido
O arguido é o estatuto de sujeito processual que assume o sujeito indiciado pela prática de
um crime – n.º 1 do art.º 57.º

1. Momento da constituição do arguido


2. Direitos e deveres do arguido
3. Patrocínio do arguido

1.- A lei define um momento limite para que uma pessoa seja constituída arguido – a
acusação ou a abertura de instrução.
A regra é, no entanto, a pessoa ser constituída como arguido, antes do inquérito ou durante
o decorrer do inquérito – al. a) do n.º 1 do art.º 58.º e art.º 272.º
- Quando tenha que ser aplicada uma medida de coacção ou de garantia patrimonial – al.
b) do n.º 1 do art.º 58.º
- Quando o suspeito seja detido, em termos e para efeitos previstos nos art.º 254.º a 261.º
– al. c) do n.º 1 do art.º 58.º
- Quando for levantado um auto de notícia que dá a uma pessoa como agente de um crime
e aquele lhe for comunicado – al. d) do n.º 1 do art.º 58.º

- Quando durante qualquer inquirição feita a pessoa que não é arguido (testemunha) surgir
fundada suspeita que ela tenha cometido um crime – n.º 1 do art.º 59.º
- A pedido da pessoa sobre quem recaia a suspeita de ter cometido um crime – n.º 2 do
art.º 59.º
2002-04-11
Resultado da falta de constituição de arguido – 58.º, n.º 4 e 59.º, n.º 3 – as declarações
prestadas pela pessoa visada não podem ser utilizadas como prova contra ela.

A partir do momento em que a pessoa é constituída como arguido mantêm-se o estatuto


até ao trânsito em julgado – 57.º, n.º 2

Direitos e deveres do arguido – art.º 61.º


O arguido é um sujeito processual que é suspeito do crime e que jurídico-penalmente é que
sofre desde logo o estigma social de ter pendente contra ele a suspeita de ter praticado o
crime.
Como tal é uma pessoa que presenciou o crime e como tal os factos que presenciou são
essenciais para a descoberta da verdade.
E numa dupla perspectiva:

14
 Com estatuto de arguido (sujeito processual – art.º 57.º e 59.º)
 Como objecto (meio) de prova, porque as suas declarações são um meio de prova
essencial.

A posição do arguido no processo também é tratada na parte respeitante aos meios de prova
(139.º a 144.º), e também no que respeita à dinâmica do processo (art.º 292.º, 342.º a 345.º).

É um objecto de prova muito sui generis porque as suas declarações na subordinação ao


Estatuto e direitos do arguido. Porque em regra o que é a prova?
Em regra temos uma concepção teleológica da prova porque o art.º 341.º do CC nos diz que é
tudo que serve para demonstrar a verdade dos factos e como tal as declarações servem para
convencer a o tribunal da verdade histórica.
O problema é que as declarações do arguido estão condicionadas por um limite
essencial que resulta do art.º 32.º, n.º 1 da CRP, e portanto, essas declarações antes de
serem um meio de prova são um instrumento nas mãos do arguido para este organizar a sua
defesa.
Um dos direitos que o art.º 61.º dá ao arguido é o DIREITO AO SILÊNCIO ( art.º 61.º,
n.º 1 al. c)) em contraposição às testemunhas ( art.º 131.º) e ao assistente ( art.º 145.º) que
tem de responder com verdade.
Atenção – o arguido não tem o Direito de mentir, apenas tem a faculdade de mentir, porque
não é possível nenhuma incriminação, pelo menos, directa.
Também tem o direito de prestar declarações quando o entender fazer:
– Na fase de instrução (art.º 292.º, n.º 2)
– Na fase de julgamento (343.º, n.º 1)
O silêncio do arguido não pode ser valorado pelo tribunal, nem a favor nem contra.

Um segundo direito do arguido.


Aquilo que alguns autores apelidam do DIREITO À PROVA.
Como o processo penal assegura todas as garantias de defesa é natural que seja
concedido ao arguido a faculdade de em qualquer momento intervir nas fases de inquérito e
instrução, oferecendo provas e requerendo diligências ( art. 61.º, n.º 1 al. f)).
É um direito cerceado porque em PP são asseguradas as garantias de defesa o que
quer dizer que o PP e as suas consequências são altamente estigmatizantes e a sociedade
visa auto-proteger-se e fá-lo muito mais condenando os culpados, como absolvendo os
inocentes, daí dizer-se que o PP não é um direito de partes porque visa tutelar interesses da
sociedade, que condicionam estes direito à prova, porque todas as diligências requeridas
apenas têm como finalidade a descoberta da verdade material (art.º 291.º, n.º1)- o juiz indefere
por despacho irrecorrível…(art.º 340.º, n.º3)

Outro direito:
Decorre do CONTRADITÓRIO (Art.º 61.º, n.º 1 a) e b)
Casos em que a lei determina a obrigatoriedade da assistência de defensor (art.º 64.º)
A sua falta implica a nulidade insanável do acto (art.º 119.º)

Art.º 271.º-( declarações para memória futura) Excepção ao princípio da imediação – previsto
no art.º 355.º ( as provas são produzidas em audiência)
Ex. o arguido confessa no inquérito e na instrução, mas no julgamento remete-se ao silêncio,
daí a lei fazer a previsão de certas situações para obviar a que o esforço da justiça caia por
terra.

2002-04-12
Os sujeitos processuais que intervêm em sede de inquérito:
MP
Arguido
Assistente

O inquérito – art.º 262.º, n.º 2 – com a notícia do crime o MP abre o inquérito.


A actividade de procura, recolha e produção de prova. Há indício patológico de crime e
vai-se investigar se houve ou não crime.

15
Encerramento do Inquérito
Concluídas as diligências de investigação e de recolha de prova sobre a notícia do crime,
encerra-se a fase de inquérito.
Não há propriamente um acto específico de encerramento – O encerramento ocorre:
 Mediante despacho de arquivamento (277.º)
 Arquivamento por dispensa da pena (280.º, n.º 1)
 Pela suspensão provisória do processo (281.º)
 Pela acusação do MP (283.º)
 Pela notificação ao assistente nos crimes particulares (285.º)

Duas questões em sede de tramitação:


1.ª findo o inquérito o que se faz?
Recolheu-se a prova com vista à acusação – 262.º, n.º 2. Do qual resultam duas
possibilidades, nos termos do 276.º:
 Acusar
 Arquivar
2.ª Quando é que se acusa?
Acusa no fim do inquérito c/fundamento da existência de suficientes indícios da prática do
crime – A acusação é a manifestação da pretensão de que o arguido seja submetido a
julgamento – art.º 283.º (n.º 1 e 2) – O MP deve acusar. Se existem suficientes indícios, ou
seja, existem um rol de probabilidade razoável de o arguido ser condenado – aí deduz a
acusação, com os requisitos do art.º 283.º, n.º 3. Não é necessária ser articulada, mas
têm de constar sob pena de NULIDADE.
Identificação, narração dos factos, disposições legais aplicáveis, rol de testemunhas,
peritos e consultores, outras provas, Data e assinatura. (Daí não poder haver alteração
substancial dos factos – 358.º).
Acusação nos crimes públicos e semi-públicos tem que ser notificada também ao
assistente, além do arguido, do denunciante, defensor ou advogado)

Nos crimes públicos e semi-públicos quem deduz a acusação é o MP. E pode ainda o
assistente deduzir também acusação (284.º, n.º 1) – desde que não importem a
alteração substancial dos factos (ver al. f) do n.º 1 do art.º 1.º)

Nos crimes particulares é ao assistente que compete a deduzir a acusação, no prazo de


10 dias, após a notificação (285.º). O MP pode acompanhar a acusação.

2002-04-15
Formas de arquivamento do processo (inquérito)
Arquivamento no âmbito do art.º 277.º (exclusiva competência do MP) a decisão não por
isso jurisdicional.
 Por não se ter verificado o crime
 De o arguido não o ter praticado
 De ser legalmente inadmissível o procedimento

a) Por razões de política criminal – Desjudicialização – retirar a decisão aos tribunais:


- Dispensa de pena – 280.º, n.º 1
– Suspensão provisória do processo –(281.º) 282.º, n.º 3

Para a dispensa de pena é necessário que se verifiquem requisitos de ordem material e de


ordem formal:
- De ordem material – tem que haver um crime passível de dispensa de pena (em regra, penas
até 6 meses – art.º 74.º do CP), pois como se trata de criminalidade menos grave, antecipa-se
a decisão de forma a não haver mais esforços por parte da justiça e daí o processo findar no
inquérito, evitando assim o julgamento.
- De ordem formal – despacho proferido pelo MP, com concordância do JIC, no caso de
ainda não ter havido acusação (280.º, n.º 1).
Ou despacho do JIC com concordância do MP e do arguido, no caso de já ter sido deduzida a
acusação (280.º, n.º 2)

16
O art.º 280.º, n.º 2 está mal inserido sistematicamente, porque fala em instrução no capítulo do
encerramento do inquérito.

Será que o arquivamento em sede de inquérito tem lugar nos crimes particulares?
Relativamente aos crimes de dispensa de pena?
Existem autores que dizem que o domínio do processo pertence aos assistentes e como tal
a decisão a eles pertence.
O Prof. entende que atendendo ao princípio da economia processual, de celeridade, deve
também ter lugar nos crimes de natureza particular, isto porque o arquivamento é também uma
censura ao arguido (declara-se que o arguido praticou o crime só que se for ao julgamento é
abrangido pela dispensa de pena, e o assistente já não tem a ver com o cumprimento das
penas.
O art.º 280.º, n.º2, prende-se com o arquivamento em sede de instrução (se a acusação já
tiver sido deduzida).
O legislador está a contemplar a hipótese de haver o arquivamento caso tenha havido uma
acusação, e sempre com o concurso das duas magistraturas(MP e JIC). Isto é, só acontece no
caso de haver crime e este estar abrangido pela dispensa de pena.

O art.º 280.º, n.º 2 funciona quando deduzida a acusação o JIC arquiva o processo.
Da acusação o arguido requer a instrução. Do Arquivamento do MP, o assistente requer a
reabertura – 287.º, n.º 1 e 2.

282.º, n.º 3 – suspensão provisória do processo,(pelo cumprimento de injunções e


regras de conduta) é uma medida de antecipação da decisão judicial, não sendo contudo, igual
à da sentença (prevista no art.º 50.º do CP). Tem a diferença que no inquérito seja suspenso
provisoriamente se se verificar que abstractamente o crime é punido com pena não superior a
5 anos.
Aqui tem que haver um consenso pleno (JIC, arguido e assistente – 281.º, 1)

Requisitos materiais:
1.º- Que o crime não seja punido com pena superior a 5 anos – 281.º/1
2.º- Que o arguido seja primário – 281.º/1, b)
3.º- Que a pena cumpra a finalidade da prevenção especial – 281.º/1, e)
4.º- Que a culpa seja diminuta – 281.º/1, d)
5.º- Não haver lugar a medida de segurança de internamento. 281.º/1 c)

O período máximo em que se cumprem as injunções e regras de conduta é de 2 anos – 282.º,


n.º 1 (regra geral).
Se forem violadas as injunções ou regras de conduta o processo prosseguir com a acusação
imediata.
O arquivamento do processo nos termos do 282.º, é mais uma causa de extinção da
responsabilidade criminal e em consequência da punibilidade e da responsabilidade do arguido
(GMS)

2002-04-18/19/22
Formas de reagir contra a acusação ou arquivamento

DA ACUSAÇÃO – de crimes públicos e semi-públicos


Quem acusa é o MP (283.º, n.º 1), no entanto a acusação obedece a requisitos formais que
constam no n.º 3 do art.º 383.º e são essenciais – a nulidade é sanável, porque o art.º 119.º diz
que são nulidades insanáveis quando previstas. E esta norma (283.º) obriga que o MP faça
diversas menções na acusação – alíneas a) a g).
Em termos materiais quando o MP deduz a acusação realiza duas operações:
Na alínea b) - a descrição dos factos que são imputados ao arguido e que são essenciais para
determinar a medida da pena ( imputação fáctica ao arguido) ;
Na alínea c) - Qualificação jurídica dos factos

Reagem:
O arguido – al. a) do art.º 287.º, n.º 1 - Pode requerer a abertura da instrução – relativamente
a factos que lhe foram deduzidos pela acusação.

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O assistente, pode reagir de duas maneiras:
1.º Pode acusar pelos mesmos factos, ou parte deles, desde que não haja alteração
substancial dos factos – 284.º, n.º 1 ( ou seja neste caso, entende-se que o assistente
concorda com os factos, mas não concorda com a qualificação jurídica.

2.º- Abertura da instrução – 287.º, n.º 1 al. b) – acusa por factos que o MP não acusou – que
importam a alteração substancial dos factos (art.º 1.º, n.º 1 al. f)

Formas de reacções AO ARQUIVAMENTO de crimes públicos ou semipúblicos :


1. exteriores ao MP – Abertura da instrução – pelo assistente – 287.º, n.º 1 b) – Abertura
do processo propriamente dito.
2. Interiores – intervenção hierárquica – art.º 278.º – Reabertura do processo – 279.º
Actualmente estas modalidades são cabíveis aos casos do 280.º, n.º 1 ou do 282.º, n.º 3?
NÃO.
Nem o requerimento de abertura de instrução, nem a intervenção hierárquica são cabíveis.

O art.º 278.º diz apenas respeito aos arquivamentos do art.º 277.º, ou seja aos arquivamentos
de competência só do MP.
Em relação ao 280.º, n.º1 – É um despacho conjunto das duas magistraturas, pelo que não é
admissível para o Superior do MP, por em causa um despacho do JIC.

Requerimento de abertura da instrução pelo assistente:


No que se refere ao 282.º, n.º 3, – este arquivamento é a consequência para a suspensão
provisória do processo – e só quando o arguido não cumpre as injunções e regras de conduta
é que se recorre à continuação do processo.
Porque foi o próprio assistente que deu concordância à suspensão do processo, e daí não
poder reagir contra o arquivamento.
No que se refere ao art.º 280.º, n.º 1 – Na dispensa da pena – também não é admissível a
abertura de instrução relativamente a este arquivamento, devido à letra do n.º 3 do 280.º – não
admite impugnações.

Só se pode atacar por vícios formais:


Se o MP decidir o arquivamento e faltar a concordância do JIC, o meio processual para o
assistente impugnar o despacho é o requerimento de abertura da instrução. (O acto é irregular
– 118.º, n.º 2- não consta no art.º 119.º)123.º)
Se tiver havido concordância –o meio processual de impugnação pelo assistente é o recurso,
porque o JIC já se pronunciou.
Não há lugar há impugnação, n.º 3

Nos crimes particulares:


Acusação
Quem acusa é o assistente – 285.º, n.º 1, podendo ser acompanhado pelo MP, 285.º, n.º 3,
logo Relativamente à acusação. Só pode reagir o arguido – 287.º, n.º 1 a)

Arquivamento
No que se refere ao arquivamento – Nos crimes particulares é insindicável – pois o MP só
arquiva se o assistente não deduzir acusação no prazo de 10 dias (285.º, n.º 1), pelo que é
arquivado, passado esse prazo, nos termos do art.º 277.º, n.º 1), por inadmissibilidade.

No que se refere aos crimes particulares, nas formas de arquivamento do 280.º, n.º 1 e 282.º,
n.º 3 – É possível – contudo é controverso – PROF.

Características especiais da fase de inquérito:


1.- O inquérito é uma fase que está subordinada ao segredo de justiça – 86.º/1
Esta subordinação prende-se por duas razões especiais:
1.ª – Protecção de imagem do arguido (por violar a presunção de inocência)
2.ª – Protecção das investigações – evitar a senogação de provas.

Segredo de Justiça na fase do inquérito – 86.º/4

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O segredo de justiça é a proibição de assistência de qualquer pessoa aos actos processuais:
4 — O segredo de justiça vincula todos os participantes processuais, bem como as pessoas
que, por qualquer título, tiverem tomado contacto com o processo e conhecimento de
elementos a ele pertencentes, e implica as proibições de:
a) Assistência à prática ou tomada de conhecimento do conteúdo de
acto processual a que não tenham o direito ou o dever de assistir;
b) Divulgação da ocorrência de acto processual ou dos seus termos, independentemente
do motivo que presidir a tal divulgação.

No entanto o segredo de justiça comporta algumas excepções:

1.ª - Que não tem a ver com garantias de defesa – é uma estratégia de investigação, nos
termos do n.º 5 do art.º 86.º – É a autoridade judiciária permitir que seja dado conhecimento a
certas pessoas do conteúdo ou de actos que esteja em segredo de justiça, se tal se configurar
conveniente para o esclarecimento da verdade.
Depois nos termos do n.º 6, do art.º 86.º, ficam a partir desse momento vinculadas ao
segredo de justiça.
2.ª - Tem a ver com o princípio da adesão (art.º 71.º) – Excepção -86.º, n.º 8 - Referente a
acidentes causados por veículo de circulação terrestre, em que pode permitir a passagem de
certidões, para efeitos da acção civil, comportada pelas excepções ao art.º 71.º, previstas no
art.º 72.º, ou para acção extra-judicial de litígio em que seja interessada uma seguradora, para
a qual tenha sido transferida a responsabilidade civil.

3.ª - Tem a ver com o art.º 86.º, n.º 9 – O exemplo mais conhecido foi o caso das viagens dos
Ministros, em que foi levantada a suspeita por órgãos de comunicação social. Em que as
pessoas visadas pela comunicação social, podem pedir ao Procurador-Geral da República, se
existe algum processo a correr contra a pessoa em questão, com vista ao restabelecimento da
verdade.

4.ª ( é uma excepção atípica – Só do prof. Salreu) e tem a ver com o art.º 340.º, n.º 1 –
Produção de prova de todos os meios cujo conhecimento se lhe afigure necessário – para o
tribunal que está a efectuar o julgamento.
Isto pode acontecer quando haja vários processos a correr pelo mesmo facto (pode
acontecer) e não havendo conexão (art.º 24.º) entre um processo que esteja na fase de
inquérito e outro que esteja na fase julgamento, que o juiz do processo em julgamento, peça a
prova que se encontra no processo, em fase de inquérito.

5.ª - Tem a ver com o art.º 89,º, n.º 2 – consulta dos autos(autos – art.º 99.º) – e Tem a ver
com uma interpretação do Tribunal Constitucional, que se traduz numa excepção ao segredo
de justiça. (ac. TC 121/97, de 19FEV97 – BMJ 464, pag. 146/169)
Isto tem a ver que quando se quer colocar um recurso, em virtude no inquérito ter sido
aplicada a medida de coacção – prisão preventiva, nos termos do art.º 219.º, tem-se 30 dias
para apresentar recurso. E uma das maneiras, era atacar o despacho, pois muitas vezes o MP
a penas referia “haver fortes indícios da prática do crime”, mas falta o essencial - A PROVA??.
E quando se pedia para consultar o processo para efeitos de recurso – A resposta é que o
processo se encontrava em segredo de justiça. – violando assim o princípio do
contraditório. O TC foi contra esta interpretação, abrindo assim , mais esta excepção.

2002-04-26
Na última aula estivemos a ver a propósito das características do Inquérito, que O segredo de
Justiça, LIMITA O PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO – uma vez que os suspeitos não podem
ter acesso aos actos de inquérito.

Este princípio traduz o direito que tem a acusação e a defesa de se pronunciarem sobre as
alegações, as iniciativas, os actos ou quaisquer atitudes processuais de qualquer delas.
Este princípio resulta do n.º 5 do art.º 32.º da CRP - redacção actual:
5. O processo criminal tem estrutura acusatória, estando a audiência de julgamento e os actos
instrutórios que a lei determinar subordinados ao princípio do contraditório.

Mas nem sempre assim foi o n.º 5 do art.º 32.º da CRP teve a sua redacção original:

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5. O processo criminal terá estrutura acusatória, ficando a audiência de julgamento
subordinada ao princípio do contraditório.

O que implica esta diferença é que antes o artigo 32.º era apenas de garantias de defesa e
actualmente além de comportar garantias de defesa também comporta garantias de
participação processual. ( ex. ver n.º 7 – O ofendido tem direito de intervir no processo)

Do princípio do contraditório resulta:


1.º - Os sujeitos devem ter acesso a todos actos processuais;
2.º - Devem ter acesso ao processo, não basta ter acesso aos actos processuais.
3.º - Os sujeitos processuais devem ser ouvidos, ou ouvidos e tidos em conta das decisões que
os afectem.
4.º - Os sujeitos processuais devem ter a faculdade de reagir contra todas as decisões
desfavoráveis.
5.º - O direito do arguido reagir contra todas as imputações que lhe são feitas – e daí ser o
último a pronunciar-se.
E desta última verifica-se que:
No julgamento é o último a produzir a prova – gere a sua defesa – 314.º, al. c)
Nas exposições introdutórias do julgamento – O defensor é o ultimo a ter a palavra. 339.º, n.º 2.
Nas alegações orais finais – 360.º- também o defensor é o último a pronunciar-se

E findas as alegações – o presidente pergunta ao arguido se tem mais alguma coisa a alegar
em sua defesa. 361.º

Por aqui se vê que o contraditório é limitado durante o inquérito:


O princípio do contraditório vai aumentando com o passar das fases, pois onde ele funciona em
pleno é no julgamento, e com a alteração do art.º 32.º, n.º 5 da CRP, foi estendido também aos
actos instrutórios.
Porque no inquérito o Princípio do contraditório só funciona:
 No âmbito do art.º 89.º, n.º 2, com a interpretação do TC,
 E com o requerimento de abertura da instrução.

Uma outra característica do inquérito, que acaba por ser uma consequência também do art.º
32.º, n.º 5 da CRP – É um processo com estrutura acusatória – Consagra o princípio do
acusatório – “5. O processo criminal tem estrutura acusatória,…”
De que resulta:
1.º- Ninguém pode ser julgado sem ser previamente acusado ( sem haver investigação, ou
indiciação suficiente) – comporta a excepção do processo sumário – que não existe
investigação prévia, devido aos requisitos daquele e de se tratar de pequena criminalidade –
381.º)
Isto, porquê? porque a audiência é pública – 321.º, e não se justifica submeter uma
pessoa a julgamento (vexame) sem que haja um mínimo de indiciação de que cometeu o facto.
2.º- A acusação prende-se não só com o vexame – mas com a garantia de lealdade processual
– só se deve ser julgado pelos factos da acusação – e onde é que esta é definida – O
objecto do processo é definido na acusação. (no inquérito)

O inquérito é livre. E daí que no fim do inquérito hajam dois tipos de acusação:
Acusação formal – A do MP ou do assistente;
Acusação material – com o requerimento de abertura da instrução.

Porquê esta acusação material?


Porque como vimos atrás o Assistente findo inquérito (nos crimes públicos ou semi-
públicos: para reagir tem duas alternativas:

Uma – é o pedido de abertura de instrução – 287.º, n.º 1 b) e art.º 1.º, n.º 1 f) – em que vai
introduzir factos pelos quais o MP não deduziu acusação, podendo esta vir a alterar os factos
que como consequência imputar ao arguido um crime diverso ou agravação – ou seja nova
fixação do objecto.

20
Outra – 284.º, n.º 1 – deduzir acusação pelos mesmos factos do MP, ou por parte deles ou
outros que não importem a alteração substancial daqueles (apenas não concorda com a
qualificação dada pelo MP aos factos) – fixando-se assim novo objecto.
Pelo n.º 2 deste art.º o assistente limita-se a aderir à adesão da acusação do MP –
situação em que a acusação formal, coincide com a acusação material.

2002-04-29

Ainda relativamente ao princípio do acusatório, resulta deste que quem participa na


investigação – não pode julgar – art.º 40.º e 43.º, n.º 2 do CPP.

Vimos já também, que só não há inquérito no Processo sumário – nos outros tipos de
processo, resulta do acusatório, que tem que haver sempre inquérito.
Se não houver inquérito – que é neste que se fecha o objecto do inquérito – conduz à
nulidade (119.º d)).

Vimos atrás que a acusação em sentido amplo material conduz a dois sentidos:
- acusação formal – MP- 283.º e assistente – 285.º (particulares)
- acusação material – assistente – 287.º b) – por factos não deduzidos pelo MP.

Se durante a instrução houver alteração substancial dos factos (art.º 1.º, n.º 1 al. f) – os factos
devem ser comunicados ao MP – 303.º, n.º 3 que abre obrigatoriamente outro inquérito.
Porque caso se faça acusação por esse factos – a instrução é nula quanto a essa pronúncia –
309.º – uma nulidade sanável. 309.º, n.º 2.
E ainda implica que estes factos não podem ser tomados em conta pelo tribunal do julgamento
sob pena de nulidade da sentença -379.º, n.º 1 b) – Mas o tribunal pode comunicar os factos da
alteração ao MP que vale como denúncia.

Ou seja é com a acusação do inquérito que se define o objecto do processo.

O princípio do acusatório tem como finalidade também a parificação do posicionamento jurídico


da acusação e da defesa em todos os actos do processo e a incrementação da igualdade
material de armas no processo.

Instrução
A instrução é uma fase processual, quer em sentido lógico, quer em sentido cronológico.
Também nesta fase se podem praticar actos que não são de instrução, em sentido lógico –
como por exemplo aplicação de medidas de coacção (194.º, n.º 1 in fine) e declarações para
memória futura ( 294.º)

Do art.º 286.º do CPP – se podem retirar à instrução 3 conclusões:


1.º- Finalidade da instrução – está no n.º 1 – comprovação judicial da decisão de deduzir
acusação (dos art.º 283.º e 285.º), ou de arquivar o inquérito (tem a ver com as situações do
277.º e do art.º 282., n.º 3º, quanto a crimes particulares – das que não estão sujeitas a
impugnação, não pode haver abertura de instrução).

2.º- O carácter facultativo da instrução – resulta do n.º 2 . Porquê o carácter facultativo? Porque
a instrução está dependente da vontade dos sujeitos particulares que intervêm no processo
penal. Só o arguido e só o assistente (287.º) – é que no prazo de 20 dias após a notificação
da acusação ou do arquivamento podem requerer a abertura da instrução.

O arquivamento do processo nos termos do art.º 277.º – é sempre temporário – até à


prescrição.

3.º Só no processo comum é que existe instrução – salvaguardando a situação especial do


debate instrutório – no processo abreviado – 391.º-C, e que só o arguido tem essa faculdade.
Ou seja em P. Sumário e em processo Sumaríssimo – não há instrução.

Havendo arquivamento (277.º), quem pode requerer a instrução – o assistente – 287.º b).

21
Havendo acusação – o arguido – 287.º a)
E note-se que na acusação pelos crimes públicos ou semi-públicos potencialmente há duas
acusações – uma do MP – 283.º, e subsidiariamente (ou subordinada) do assistente – 284.º,
pois notificada a acusação do MP ao assistente, este está limitado aos factos do MP.

As posições invertem-se nos crimes particulares – quem acusa é o assistente – 285.º, n.º 1, e é
subsidiária a do MP 285.º, n.º 3.

O que implica o quê? – que nos crimes públicos e semi-públicos, quando cai a acusação do
MP a do assistente também cai. Nos crimes particulares, caindo a acusação do assistente – cai
também a acusação do MP.
Isto é para esclarecer o facto do na al. a) do art.º 287.º estar com uma redacção não correcta, o
que quer dizer é acusação do MP, por crimes públicos e semi-públicos e do assistente, no que
se refere a crimes particulares.

Quando o arguido reage é contra a acusação principal.

Na al. b) No que se refere a crimes particulares quem acusa é o particular, e como é óbvio, não
tem qualquer sentido estar a pedir a abertura da instrução, pela qual tivesse feito a acusação.

Ainda sobre o pedido de abertura da instrução o 287.º, n.º 2 – O requerimento não obedece a
formalidades especiais.
Mas quando se faz a abertura da instrução esta têm de conter as razões de facto e de
direito, e devem desde logo ser arroladas as provas e devem também ser indicadas as
testemunhas que não podem exceder 20.

Em regra o TIC tem a obrigação de aceitar o requerimento de instrução – salvo se


extemporâneo – por incompetência do juiz ou inadmissibilidade legal da instrução – n.º 3 do
art.º 287.º

Quando no n.º 2 a lei expressa a necessidade da prova – tem que se indicar relativamente a
que factos esses meios de prova se referem. Caso falte o juiz pode mandar rectificar.

Em regra, quando se apresenta prova testemunhal ( no CPP de 1929 havia a técnica das
testemunhas abonatórias – que apenas serviam para entravar o processo). Hoje nos termos do
art.º 128.º, n.º 2 in fine – a prova, em regra é sobre elementos constitutivos do crime.

288.º- Quem dirige a instrução? O JIC, assistido pelos OPC.

288.º, n.º 2 – mas que JIC – o JIC do tribunal onde o crime se consumou (art.º 19.º, n.º 1)
O JIC que participa nos actos necessário durante o inquérito é o do lugar onde o crime se
praticou.

288.º, n.º 4 –Tem a ver com o conteúdo da instrução, e nos termos do 289.º, pode ter dois
momentos:
1.º fase – eventual – actos de instrução levados a cabo pelo JIC
2.º fase – obrigatória – debate instrutório, oral e contraditório.

Além destas fases o Prof Salreu, entende que há uma terceira fase: Encerramento da instrução
– art.º 307.º, n.º 1 que se reveste de duas modalidades:
Despacho de pronúncia
Despacho de não pronúncia

E além ainda destes dois despachos ainda mais importantes:


Arquivamento decorrente da suspensão do processo – 307.º, n.º 2
Arquivamento no caso de dispensa da pena – 280.º, n.º 2

2002-05-02

Na aula passada estávamos a analisar A INSTRUÇÃO

22
E vimos que com o encerramento do da Instrução, 307.º – Decisão instrutória – Esgota o poder
do JIC.

Vamos analisar os diversos momentos que compõem a instrução.


Mas antes vamos compaginar os actos de instrução, com o debate instrutório, que é quando
termina, quando o juiz decide (307.º)

Atenção nos termos do art.º 289.º – em regra, os actos de instrução são lógica e
cronologicamente anteriores ao Debate.
No entanto a lei prevê, por causa do Princípio da verdade material – que os actos de
instrução podem ser posteriores, antes e durante o debate (299.º- Actos supervenientes).

Os actos de instrução – estão regulados dos art.ºs 290.º a 296.º


O Debate instrutório – está regulado dos art.º 297.º a 305.º
Encerramento da instrução – 306.º a 310.º

Características dos actos de instrução


1.º – Os actos de instrução são actos instrumentais.
Servem para o juiz formular a sua convicção (290.º, n.º 1) – com vista à comprovação
judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito em ordem a submeter ou
não a causa a julgamento.

Ou seja na instrução o JIC vai decidir se deve decidir de forma contrária ao MP ou de


acompanhar o MP.
Isto resulta claramente do art.º 288.º, n.º 4 – investigação autónoma tendo em conta o
constante no requerimento de abertura de instrução (as razões de facto e de direito e os meios
de prova etc.)– Este número consagra o princípio da verdade material na instrução.

Mas na lei quanto à produção de prova – prevê a coadjuvação dos OPC – 290.º, n.º 2 – Só que
na instrução a intervenção dos OPC é mais reduzida (pois no inquérito podem inquirir
testemunhas – 270.º, interrogar arguidos – 144.º), Na instrução não o podem fazer. (até esta
alteração do art.º 290.º, n.º 2 foi com a revisão de 98, os OPC podiam fazer estes actos).
Qual a razão deste novo regime?
Em 1.º lugar para salvaguardar a própria instrução
Em 2.º lugar por causa do princípio da imediação – 355.º

Mas antes de há que referir que os actos de instrução que o JIC levar a cabo e
autonomamente são actos de investigação, que já foram investigados no inquérito. E será lícito
ao JIC repetir esses actos? Pelo princípio da economia e celeridade processual, não devem ser
repetidos os actos de inquérito. Mas e havendo conflito entre a celeridade processual e por
outro lado a verdade material – prevalece o art.º 291.º – Os actos e diligências de provas
praticados no inquérito só são repetidos no caso de não terem sido observadas as
formalidades legais ou quando a repetição se revelar indispensável à realização das
finalidades da instrução.

Agora respondendo porque as inquirições de testemunhas e interrogatórios dos arguidos não


são delegados nos OPC:
1.º- Porque se o JIC delegar os actos nos OPC de ouvir novamente, o que eles vão fazer é
ouvir a testemunha e perguntar-lhe se ela confirma o que declarou anteriormente, e fazendo
referência às folhas do auto. O que implica que era a mesma coisa, não acrescentava nada.
2.º- Na fase instrutória não é uma investigação sui generis, não é a repetição do inquérito – a
fase de instrução não é de subordinação ao inquérito – é de fiscalização do inquérito.
Porque sendo uma fase de fiscalização – é a confirmação da decisão do inquérito – e
portanto tem que ser o próprio juiz a ouvir as pessoas – porque a prova é produzida oralmente
– ( princípio da oralidade – 96.º, n.º 1)

Em regra o juiz pratica os actos de instrução que entender levar a cabo – 288.º, n.º 4:
1.º – Porque não tem limites

23
2.º- Não está obrigado a produzir toda a prova que lhe seja requerida (291.º, n.º 1). Pois
indefere os actos dilatórios – e é um acto irrecorrível. Isto é uma limitação do contraditório, mas
limitado pelo princípio da verdade material.
Há excepções – 292.º-2 – sempre que o arguido o solicitar ( mas em regra é apenas
ouvido uma vez), pois o juiz não apara golpes, e senão o arguido estava sempre a solicitar
para ser ouvido e encravar o andamento normal do processo.
Outra excepção – (165.º, n.º 1) – tem que admitir uma prova que é sempre admitida
nos autos – a prova documental.

2.ª – Outra característica dos actos de instrução


Durante os actos de instrução – o contraditório está limitado – 32.º, n.º 5 da CRP e 289.º, n.º 1
– isto porque a 1.º fase da instrução – é os actos que o juiz entenda levar a cabo. Na 2.ª fase é
obrigatório o debate instrutório, oral e contraditório.
Ou seja, na 1.ª fase o contraditório está parcialmente limitado – porque o contraditório
tem várias formas de incidência. Pode haver consulta de autos – 89.º, n.º1 – todos (Ao
contrário do inquérito). Mas não tem acesso à práticas dos actos.
O único acto que pode presenciar – é as declarações para memória futura – 294.º (e 271.º – no
inquérito) – logo está limitado o contraditório.

2002-05-03
A diferença marcante é que os actos de instrução são facultativos e o debate é obrigatório.
Em regra o JIC ouve assistente e o arguido, mas nada o impede que o não faça, pois
até pode considerar a prova do inquérito consolidada.

Pelo 291.º, n.º 1 – já vimos que pode considerar certos actos dilatórios e não os pratica. Porém
se se constatar que existem meios de prova essenciais que não foram produzidas – pressupõe
uma nulidade nos termos do art.º 120.º, n.º 2, al. d), embora sanável – uma vez que esta
nulidade está sujeita a arguição (120.º e 121.º), o que tornam inválido o acto (122.º).
Se o assistente apresentar provas novas que não existiam no inquérito, e o juiz entende
que não houve, chega ao fim e diz que não – também se pode arguir a nulidade sanável, (120.º
a 122.º)

Quanto ao debate instrutório – nos termos do art.º 298.º- este visa permitir uma discussão
perante o juiz, por forma oral e contraditória, sobre se resultam indícios de facto e elementos
de direito suficientes para justificar a submissão do arguido ao julgamento.
Pode acontecer que durante o Debate Instrutório (299.º e 302.º, n.º 2) se faça produção
de prova. Não é a regra, pois geralmente não é no debate instrutório que se produz a prova – é
nos actos de instrução. No debate instrutório o que se fazem é alegações, e o juiz, em regra
indefere a prova, a não ser que apareça uma prova profunda “bombástica”.

É o juiz que disciplina o debate (301.º), onde devem estar os intervenientes (MP, assistente,
arguido, defensor) – o qual só pode ser adiado uma vez (300.º, n.º 4), e por falta do arguido,
por grave e legítimo impedimento (300.º, n.º 1).
Se o arguido renunciar a estar presente, o debate não é adiado com fundamento na sua falta
(300.º, n.º 3).

Encerrado o Debate Instrutório – A decisão encerra o processo.


Mas um pormenor – Limitações que existem à decisão instrutória, decorrentes do princípio do
acusatório e que constam no art.º 303.º
Uma das consequências do princípio do acusatório  a acusação é que define o
objecto do processo (princípio da vinculação temática) – a acusação não pode sofrer uma
alteração substancial.
Por parte do assistente – definem-se os factos que são objecto do processo, e podem
acontecer uma de duas coisas:
1.ª – Há factos novos que não alteram substancialmente a imputação ao arguido, nos
termos do art.º 303.n.º 1 – e prossegue o processo.
Há factos novos que não alteram substancialmente a imputação ao arguido, mas nos
termos do art.º 303.º, n.º 2 – determinam a incompetência do juiz de instrução, e nos termos do
art.º 32.º a declaração de incompetência e a remessa para o tribunal competente (33.º).

24
Se o JIC, nos termos do 303.º, n.º 1 in fine – não der a possibilidade ao arguido para se
pronunciar sobre os factos – não há sanção – há apenas uma irregularidade nos termos 118.º,
n.º 2 – com as consequências do art.º 123.º – o que pode levar a invalidar o despacho de
pronúncia ( por violação do princípio do contraditório).

2.ª - Há factos novos mas que alteram substancialmente a imputação ao arguido – (303.º,
n.º 3)
1. – o Juiz deve comunicar ao MP, para este abrir inquérito – se o Juiz violar esta disposição –
nulidade nos termos do art.º 309.º, n.º 1. Ou seja a decisão instrutória é nula na parte em que
pronunciar o arguido pelos factos que constituem alteração substancial dos factos.
Porém esta nulidade tem de ser arguida no prazo de 8 dias.
Porque o arguido vai ser notificado da decisão – se não recorrer – sana-se a nulidade.

2. O MP deve abrir inquérito relativamente a que factos? Aos factos novos? A todos?
Suspender o outro inquérito? É que aquela alteração dos factos – só tem relevância em falar
de factos novos acrescidos dos existentes.
Aqui temos que ver 3 situações:
a) Os factos novos não são autonomizáveis: Por exemplo no inquérito vem acusado A
de matar B, – homicídio simples. Na instrução vêm – se a apurar que A é filho de B.
Hora este facto novo só tem relevância se ligado ao homicídio. Porque se assim não
fosse o 2.º inquérito só se ia apurar que A era filho de B, que desragado não tem
qualquer relevância penal.
Nestes casos suspende o processo – por excepção dilatória – se os factos novos nada
derem – volta ao processo antigo.

b) Os factos novos são autonomizáveis: Por questões de legalidade – devem os factos


serem apreciados no conjunto. Por exemplo A furta uma carteira a B, é acusado nos
termos do art.º 203.º ou 204.º (não importa agora), e na instrução vêm-se a descobrir
que o A para furtar a carteira, praticou ofensas à integridade. Ou seja se os factos
fossem apreciados em separado havia um processo por furto e outro por ofensas à
integridade física, o que não pode ser – pois as ofensas à integridade no crime de
furto – constituem o crime de roubo.
c) Os factos novos são autonomizáveis e independentes: Não importa, pois se A furta
um cavalo, e na instrução se vem a descobrir que noutra altura e em outro local havia
furtado uma jóia. São factos que, em princípio nada tem a ver um com o outro.

2002-05-06 (faltou 9 e 10)


Na última aula estávamos a falar da Decisão instrutória, e referimos os limites da vinculação
temática, isto porque nos termos do art.º 32.º, n.º 5 da CRP está subordinado ao princípio do
acusatório e que consagra:
1.- Ninguém pode ser julgado sem previamente ser acusado
2.- Só se deve ser julgado pelos factos da acusação (delimitação do objecto – 303.º)
3.- quem participa na investigação, não pode julgar.

Portanto, havendo alteração substancial dos factos, abre-se o inquérito, relativamente a todos
os factos( os já conhecidos e os novos). Com excepção se forem factos autónomos.

A alteração substancial dos factos – verifica-se quando aparecem novos factos que têm
relevância, que têm efeito, que o s factos anteriores sofram uma qualificação diferente ou uma
qualificação mais grave.

A violação do art.º 303.º, n.º 1 – é uma irregularidade, nos termos do 118.º, n.º 2 e tem como
consequência o art.º 123

A violação do art.º 303.º, n.º 3 – é uma NULIDADE, nos termos do 309.º, n.º 1, embora sanável.

TIPICIDADE DAS NULIDADES EM PP


Princípio da legalidade – 118.º- Só é nulo quando a lei expressamente o disser. Ex. 174.º, n.º
5; 343.º, n.º 4; 134.º, n.º 2.

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As nulidades podem ser Absolutas (insanáveis) que são de conhecimento oficioso: As
descritas no art.º 119.º + art.º 321.º + art.º 330.º, n.º 1)
Nulidades Relativas( sanáveis) – todas as restantes (que estejam expressas na lei). Têm de
ser arguidas nos termos do art.º 120.º

A doutrina e a jurisprudência têm entendido que a nulidade do art.º 126.º, n.º 1, referente a
provas nulas, que é também insanável, uma vez que está abrangida pelo art.º 118.º, n.º 3.

Os efeitos da nulidade estão no art.º 122 – implicam a invalidade do acto, e sempre que
necessário e possível há a sua repetição.
As IRREGULARIDADES – são todas as violações não consideradas nulidade – art.º 118.º, n.º
2 ( como é o caso da violação ao 303.º, n.º 1 e 2). Que têm por consequência também a sua
invalidade do acto ( se for arguida) – 123.º – mas podem ser ordenadas oficiosamente quando
for tomado conhecimento. Ou seja as irregularidades são de conhecimento oficioso.

Existem também duas modalidades de irregularidades:


- As que afectam o acto
- As que não afectam o acto ( Ex. cumprimento de prazos meramente ordenadores – art.º 312,
n.º 1

Voltando à matéria que estávamos a tratar ( visto que isto das nulidades e irregularidades foi
um extra) – Alteração de factos

Há uma 4.ª realidade – além do objecto do processo que é a alteração da qualificação


jurídica – não há factos novos, nada impede que com os mesmos factos sejam qualificados de
forma diferente – Isto em sede de instrução.

Porque em julgamento já não pode ser bem assim – 358.º, n.º 3

2002-05-16
Formas de reacção ao Despacho de Pronúncia

Quem elabora o despacho é o juiz de instrução em que pronuncia ou não pronuncia – Para
reagir a forma por excelência é o RECURSO – art.º 399.º ( regra geral).

O despacho de não pronúncia materialmente corresponde ao arquivamento do art.º 277.º,


porque se considera que não se ter verificado os pressupostos – art.º 308.º, n.º 1

Um aparte de professor: Porquê no 308.º está “os pressupostos de que depende a aplicação
ao arguido de uma pena ou medidas de segurança”, aqui bastava ao legislador ter dito “ da
prática de um crime”, pois o conceito de crime para efeitos de CPP é mais amplo que para
efeitos de CP ( art.º 1.º, n.º 1 CPP).
Porquê no CPP o conceito de crime é mais lato? É uma decorrência do art.º 32.º, n.º 1
da CRP – serve para assegurar as garantias de defesa de forma inequívoca dos inimputáveis
por anomalia psíquica – Pois para efeitos processuais considera crime um facto praticado por
um inimputável. Como se sabe em direito penal os inimputáveis não cometem crimes – estão
sujeitos a medidas de internamento – 91.º CP.
Isto já acontecia nos Códigos Penais anteriores – internamento de inimputáveis e que estava
sujeito a certos requisitos:
- Que o agente fosse inimputável.
- Que tivesse praticado um facto típico
- e que fosse atestada por prova pericial a sua perigosidade

No CPP de 1929 – existia para os interditos por anomalia psíquica – o incidente por anomalia
psíquica – Este incidente de alienação mental tinha por efeito perverter a psicologia judiciária.
Pois aparecia um “maluco” acusado de ter praticado um facto, sujeitavam-no a um exame
médico e aplicavam logo a medida – nem sequer era avaliado o facto. Ora isto era
manifestamente contra a dignidade humana. E por isso é que o legislador em PP veio adoptar
um conceito de crime mais amplo, englobando assim os factos em que se vai aplicar medidas

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de segurança. Consegue uniformizar o processo, para que o que tenha anomalia psíquica, seja
detentor dos mesmos direitos de defesa que os outros arguidos.

Por isso é que existe também nos art.º 368.º e 369 do CP o Princípio da cisão mitigada ( Que
veio do francês “Princípio do Cejour”)

Porque a sentença tem duas fases:


A 1.ª, – art.º 368.º – Apreciação da culpabilidade
A 2.ª, – art.º 369.º – A determinação da pena

Na primeira fase Pode resultar:


– Não existem os factos – inocente – absolvição
– Dúvida insanável – in dubio pro reu – absolvição
– Praticou os factos passa para o 369.º
Na segunda fase – aplicação da sanção

A lei distingue estes dois momentos por causa de incapacidade do tribunal- que no nosso caso
a cisão é mitigada, porque é o mesmo tribunal, os mesmos juizes que apreciam tudo ( em
França, um tribunal aprecia os factos, o outro é que decide)

Isto tudo pode ser posto em causa, pois o art.º 351.º, 1 – pois a ponderação se o arguido é
imputável ou não é feita no fim, quando durante o julgamento se suscitar a questão da
inimputabilidade. Pois esta do perícia do 351.º, é para o juiz em julgamento aferir se
declarações podem ser ponderadas. Apesar que pode ser suscitada a questão em qualquer
altura – 152.º – prova pericial/Despacho 154.º e 159.º.

Voltando à matéria que estávamos a tratar OU SEJA Formas de reacção ao despacho de não
pronúncia.
Como se pode reagir contra um despacho de não pronúncia – em regra temos um processo o
Recurso, regra geral – pois o art.º 399.º, comporta algumas excepções – art.º 400.º

A forma normal de reagir contra o despacho de não pronúncia é o Recurso ordinário, a ser
interposto no prazo de 15 dias.
Mas há aqui um problema existem os recursos ordinários e os Recursos extraordinários estes
últimos para interpor para situações já transitadas em julgado.

Existem três modalidades de recursos extraordinários:


- Habeas corpus – por prisão ilegal – 222.º do CPP
- Para Fixação de jurisprudência – 437.º e ss CPP
- De revisão – 449.º

Isto aparece a propósito do Despacho de Não pronúncia, porque o recurso de Revisão está
configurado para sentenças e acórdãos, mas o 449.º, n.º 2 também abre a porta às DECISÕES
que ponham fim ao processo.

Podem acontecer duas situações decorrentes do Despacho de não pronúncia:


1.ª- O MP arquiva o processo, por não haver suficientes indícios (277.º, n.º 1 e 2), reage o
assistente – Abertura de inquérito – 287.º 1, b) – E o JIC faz despacho de pronuncia ou de não
pronúncia, neste último caso confirma a decisão do MP.(308.º)
2.ª – O MP acusa nos termos do art.º 283.º, e o arguido não conformado, recorre (287.º, n.º 1,
a) e daqui também pode decorre ao pronuncia ou não pronuncia nos termos do art.º 308.º

Daqui se retira que do Despacho de Não pronúncia se pode formular o recurso ordinário.
Mas após a formulação do recurso ordinário, ou não havendo recurso ordinário, à posterior
aparecem factos novos que vêm fundamentar o recurso de revisão.

2002-05-17
Na aula passada estávamos a ver formas de reagir contra o despacho de não pronúncia.

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O prof. Germano Marques da Silva diz que não pode haver revisão se aparecerem
factos novos que ponham em causa o despacho. Que nesta situação deve haver lugar a
reabertura de inquérito nos termos do art.º 279.º
Diz que Despacho de não pronúncia tem os efeitos de uma sentença absolutória e por isso nos
termos do art.º 449.º al. c) e d) não podem ser admissíveis recursos de revisão, uma vez que
aquelas alíneas se recorre de sentenças condenatórias.

Mas a alínea d) do n.º 1 do art.º 449.º, equipara ao art.º 279.º, tem a ver com a justiça da
condenação.

E assim quando há arquivamento pelo MP, e o assistente recorre, e o juiz profere um despacho
de Não pronúncia, está a confirmar o despacho de arquivamento. nestes casos se surgirem
factos novos não se pode reagir (al. d) do 449.º) porque o despacho de não pronúncia é de
absolvição – se aparecerem factos novos – neste caso tem razão o prof. Germano M da Silva,
que se aplique o art.º 279.º

Não tem razão o citado prof. Em dizer que nunca pode ter lugar o recurso de revisão do
Despacho de Não pronúncia, pois pode haver nas situações da al. a) e b). Pois Na acusação
não se pode recorrer ao 279.º.

REACÇÃO CONTRA O DESPACHO DE PRONÚNCIA


No despacho de pronúncia dá-se o contrário da não pronúncia, ou seja:
Do arquivamento – recorre o assistente – Despacho de pronúncia
Da acusação – recorre o arguido – Despacho de pronúncia.

O Despacho de pronúncia é emitido por um juiz, e como já se viu a regra é o art.º 399.º, mas
há situações que a lei prevê a irrecobilidade.

1.ª – Art.º 310.º, n.º 1 –“ A decisão instrutória que pronunciar o arguido pelos factos constantes
da acusação do MP é irrecorrível…”

Então temos que ver:


Crimes públicos e Semipúblicos
a) MP acusa (283.º) – Arguido requer instrução (287.º/1/a) – Juiz pronuncia
(307/308.º)
b) MP acusa (283.º) – assistente por factos novos (287.º, n.º 1 b):
a. Confirma o factos do MP – E despacho de pronúncia( 307.º e 308.º)
b. Além dos factos do MP acusa pelos do assistente – Despacho de pronúncia
(307.º e 308.º)
c) MP arquiva (277.º, n.º 1 e 2)- assistente requer instrução (287.º, 1, b) – juiz pronuncia
(307.º/308)
Crimes particulares
Assistente acusa (50/285.º, 1) – arguido requer a instrução (287.º, 1 a) – Despacho de
pronúncia (307/308)

Ora o art.º 310.º, n.º 1- é uma norma excepcional – logo permite a interpretação à contrário. O
que implica que desde que a acusação do MP não coincida com a da decisão instrutória –
permite o recurso.

Ou seja a irrecobilidade resultante do art.º 310.º, só tem lugar quando coincide a acusação do
MP, com os factos pronunciados pela decisão instrutória.( atrás em Bold)

Mas e o despacho de pronúncia pelos mesmos factos constantes na acusação, será que terá
irrecobilidade absoluta?
Temos que analisar duas situações:
1.ª – O Despacho de pronúncia não se limita a dizer que há suficientes indícios. A lei por
questão de economia processual e por garantias de defesa, obriga o juiz – antes de se
pronunciar sobre o âmbito que tem de se pronunciar – tem que verificar se existem nulidades
de questões prévias ou incidentais (308.º, n.º 3), ( o mesmo acontece quando o processo é

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apreciado pelo juiz do tribunal – 311.º, n.º 1- bem como antes da audiência – 338, n.º1, e
depois da audiência e antes da sentença – 368.º, n.º 1).
A questão que se coloca é que o despacho ao ser irrecorrível, é que a primeira
interpretação que se coloca é que nas questões prévias (analisadas durante a instrução) não
havia direito a recurso nos termos do art.º 402.º e 403.º por incindibilidade do recurso.
Apesar da lei dizer ser irrecorrível – o que a lei o que está a dizer é o que é irrecorrível
é sobre o objecto do processo. (ver acórdão STJ 6/2000, de 19/1 publicado no DR de
7/3/2000

2002-05-20

2.ª Situação – E se o JIC descrever os mesmos factos e qualificar de modo diferente à lugar à
irrecobilidade do art.º 310?

Vimos que a sentença está sujeita ao princípio da incindibilidade – art.º 402.º e 403.º
Por outro lado o art.º 309.º, não prevê que o despacho de pronúncia não possa ter os
mesmos factos, mas a que tenha sido atribuído uma qualificação diferente.
E como aplicar o art.º 310.º se a qualificação for diferente?
Esta questão já foi apreciada pela Relação de Lisboa, em que “ O despacho que pronunciar
pelos mesmos factos constantes na acusação do MP é irrecorrível.
É um facto que esse despacho pode agravar a posição do arguido ( pois alterando a
qualificação a acusação de homicídio pode passar a ser uma acusação por homicídio
qualificado). E se piora a posição processual do arguido ele não pode recorrer? Não – porque
os factos são os mesmos – estão consolidados (310.º). O arguido vai sempre a julgamento,
seja com uma qualificação ou com outra, poder recorrer deste despacho iria por em causa o
próprio julgamento, uma vez que recorrendo para a Relação, no julgamento o tribunal ficaria
condicionado à qualificação atribuída pela Relação. E é por isso que a jurisprudência entende
não ser recorrível, quando haja os mesmos factos, a que tenha sido atribuída qualificação
diferente, pois a pronúncia é pelos factos, e sendo provados e qualificados o arguido pode
recorrer depois da sentença.

Resumindo, o despacho de pronúncia pelos mesmos factos, e qualificação diferente da


acusação – é IRRECORRÍVEL.

3.ª situação – Em que o JIC viola o art.º 303.º, n.º 3 . Pois decorre deste artigo o princípio da
vinculação temática – e por isso tem que voltar tudo ao início – novo inquérito.

Ora se á uma acusação do MP – e o assistente por factos que alteram substancialmente, pede
a abertura da instrução. Se efectivamente se apurar esta alteração de factos há lugar à
abertura de novo inquérito.
No entanto se não o fizer o despacho é nulo por violação do art.º 303.º, n.º 3 – o que implica a
nulidade (309.º, n.º 1, embora sanável, n.º 2)

Um aparte – As nulidades sanáveis – a lei não permite que se recorra directamente, ou seja as
nulidades sanáveis, em regra são arguidas perante o juiz do processo, no prazo de 8 dias.
Do despacho do juiz que não aceite a admissibilidade da nulidade – é que cabe recurso
– 310.º, n.º 2.
Diz-se que em regra não são recorríveis directamente, pois existe uma excepção de
uma nulidade sanável que é recorrível directamente – que é o caso do art.º 379.º, n.º 2 –
nulidade de sentença - e se não se recorrer desta – acabou.

Outro à parte o 310.º- refere que é recorrível o despacho que indeferir a arguição de
nulidade.
Será que se pode fazer uma interpretação à contrário? Ou seja é irrecorrível o
despacho de deferimento – claro que não – esta é uma regra geral e por isso não se pode
fazer interpretação à contrario – a acontecer aplica-se a regra geral do art.º 399.º

Outras formas de acabar a instrução


Além do:
Despacho de não pronúncia

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Despacho de pronúncia
Existem ainda
- Arquivamento por dispensa da pena – 280.º, n.º 2
- Arquivamento suspensão provisória – 282.º, n.º 3 ( por força do 307.º, n.º 2)
As formas de reacção a estas modalidades são as mesmas que já demos quando tratamos
delas no inquérito – ou seja só são impugnáveis se os requisitos formais não forem cumpridos
– 118.º, n.º 2 e 123.º do CPP.

Existe uma outra forma ( Segundo o Prof. Salreu) que pode ser questionável – se cabe ou
não na instrução o arquivamento pela parte final do 277.º, n.º 1 ou seja por ser legalmente
inadmissível o processo.
Se se vier a detectar na instrução por exemplo: a morte do agente ( são as tais questões
prévias) ou há uma desistência em que o JIC homologa e tem que arquivar.
Nestas situações existem alguns autores que entendem ser enquadráveis no Despacho de não
pronúncia, nos termos do 308.º, n.º 1 em sentido amplo ( para abranger não só os
pressupostos).
O Prof. Salreu, entende que se deve aplicar por analogia o art.º 277.º, n.º 1, para quando se
detecte uma situação de inadmissibilidade legal, em sede de instrução. (e entende que o
mesmo se deve aplicar na fase de julgamento).

Resumo da instrução
A instrução tem carácter facultativo – pois só existe se requerido por um dos sujeitos
particulares – o arguido ou o assistente – art.º 287.º, n.º 1, al. a) e b). CPP

Mas sendo requerida só pode ser rejeitada nos termos do art.º 287.º, n.º 3 – Por ser
extemporânea, por incompetência do Juiz ou por inadmissibilidade legal.

Mas e se for requerida e não for aceite – nulidade insanável – art.º 119.º, d) CPP.

Havendo instrução esta comporta 3 fases ( a 1.ª não é obrigatória)


- Actos instrutórios – 288.º, n.º 4 – 290.º e ss
- Debate instrutório – 289.º, n.º 2 – 297.º e ss
- Decisão – 307.º e ss.

Na instrução se não houver debate instrutório – nulidade sanável – art.º 120.º, n.º 2 d) CPP –
“diligências necessárias para a descoberta da verdade”.
Nota: Só há uma situação em que o juiz pode decidir não haver debate instrutório – quando o
arguido morrer – extinção do processo – art.º 127 do CP.

2002-05-24
Objecto da instrução
Qual o objecto da instrução?
1) Só matéria de facto – pode 287.º, n.º 1, al. a) e b).
2) Matéria de facto e de direito – pode 287.º, n.º 2, e 298.º
3) Só matéria de direito – Só relativamente a ser só matéria de direito é que há dúvidas.
Pois existem determinadas situações de abertura de instrução, que são só questões de direito
mas vêm encapotadas com factos.

A instrução por parte do assistente


Em crime em que é difícil a sua enquadração fática, cuja tipicidade é controversa ( Ex.
Associação criminosa, Burla usura, etc.). E a decisão do inquérito é de que considera os factos
provados, só que não os qualifica como crime, por não haver tipicidade , ou qualifica-os com
outro tipo típico – ou seja passa a ser uma questão de direito.
Prof. Salreu, entende que neste e só neste caso é que se pode recorrer ( pedir abertura em
matéria exclusiva de direito).
( Claro que só nos crimes públicos e semi-públicos)

Em todas as outras situações do assistente – só por qualificação jurídica – não precisa de


requerer a abertura pode utilizar o expediente do art.º 284.º

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Instrução por parte do arguido
A lei diz claramente que deve ou pode relativamente aos factos que pelos quais foi acusado (
pelo MP – Público e semi-públicos, ou pelo assistente – particulares)
E no que respeita a uma divergência jurídica? Quando é que pode haver por parte do arguido
uma divergência puramente de direito – Duas situações:
a) Quando há uma acusação por determinado facto ( por ex. Homicídio simples), e o arguido
vem dizer que não que é homicídio privilegiado – É uma divergência jurídica
Nesta situação não há lugar à abertura da instrução – qual o fundamento – para não protelar o
processo – pois seja em homicídio simples, seja, em homicídio privilegiado o processo vai
sempre para julgamento – pelo que não interessa protelar.

b) A outra situação é a inversa do assistente(no caso do arguido) O MP considera provados os


factos e qualifica-os. O arguido concorda com os factos, mas que os factos não correspondem
a qualquer crime – não sindica os factos – mas apenas a qualificação jurídica – É impossível –
por causa do art.º 287.º, n.º1 a) – só por factos.

Mas o Prof. Salreu diz que por uma interpretação extensiva do art.º 287.º. al. a) para poder
equiparar ao assitente, colocando-o assim em condição de igualdade

Em relação à instrução há ainda a referir o art.º 307.º, n.º 4 – cuja redacção actual não é mais
do que já estava assente pela jurisprudência, (Assento STJ, n.º 1/97, publicado no DR
18/10/97) ou seja desde que a instrução seja requerida apenas por um arguido, o juiz tem o
dever de retirar da instrução as consequências impostas para todos os arguidos.
Este acórdão veio a criar o seguinte: se o arguido vier a recorrer nos recursos, neste vigora a
proibição do reformatio in pejus – 409.º CPP – ou seja quando o arguido recorre a pena nunca
lhe pode ser aumentada – isto tem a ver com o assegurar do Direito Constitucional ao recurso (
pois se pudesse ser punido com mais ninguém recorria). Ou seja se a possibilidade de reagir
contra o inquérito, e se a abertura da instrução é uma garantia de defesa, – Requerer a
instrução nunca deveria o arguido sair pior da instrução. Ora o que este acórdão vem dizer é
precisamente isto – seja a favor ou seja contra o arguido que não requereu a instrução este
pode ficar prejudicado.

O que acontece quando o processo vai para julgamento (isto vem na Lei 3/99) a primeira coisa
é a distribuição do processo ao juízo competente – o juiz relator faz o despacho saneador –
que assume diversas vertentes, e nos termos do n.º 2 do art.º 311.º, se não tiver sido requerida
a instrução pode( entre outras):
Rejeitar a acusação, por manifestamente infundada.
Por vezes acontece haver 20 arguidos e um requerer a abertura da instrução, e um dos
arguidos, no inquérito nem sequer tinha os seus factos qualificados, por os factos não serem
crime. E nos termos do art.º 307.º, n.º 4. o juiz vai ter que se pronunciar em realção a todos.
Ora o Acórdão do STJ permite que havendo instrução, abrange mesmo os que não a
requereram, Ora o que isto implica é que se na instrução acusarem aquele arguido que não
requereu, pelos mesmos factos, este não pode recorrer, nos termos do 310.º.

O próprio acórdão dá uma resposta, se ele quisesse beneficiar de algum modo, deveria ter
pedido a separação do processo – art.º 29.º e 30.º do CPP, e retarda o julgamento.

2002-05-27
Julgamento

Quando é que um processo é enviado para tribunal para julgamento?


Logo que do Inquérito haja acusação- e não tenha sido aberta a instrução.

Ou aberta a instrução e tenha havido Despacho de Pronúncia transitado em julgado.


As regras determinantes das competências dos tribunais, estão na lei 3/99 – LOT e nos art.º
11.º a 16.º do CPP.

Há 4 critérios para se qualificar a competência dos Tribunais:


 Competência Hierárquica

31
 Competência Material
 Competência funcional
 Competência em razão da estrutura do processo.

1.Competência hierárquica: Que são as regras para os recursos de decisões de outros


tribunais.
Resulta do art.º 12.º – Competência das Relações e do art.º 11.º competência do STJ.

Em regra os recursos são para os tribunais imediatamente superiores:


Art.º 11.º, e 432.º: Recursos para o STJ
- Decisões das relações proferidas em 1.ª instância
- De acórdãos finais de tribunais do júri
- De acórdãos finais proferidos pelo tribunal colectivo, só de matéria de direito.

Porque relativamente a acórdãos finais proferidos pelo tribunal colectivo, de matéria de facto e
de direito – 427 e 428.º – são para as relações.

Este critério fica para explorar mais tarde.

2. Competência Material:
Em sede de primeira instância a lei atribui a competência por 3 critérios de definição:
1.º Critério Qualitativo
2.º Critério Quantitativo
3.º Critério subjectivo (referente à qualidade dos sujeitos)

E em 1.º tem que se ter em conta a estrutura dos tribunais:


 Tribunal do Júri – art.º 13.º
 Tribunal Colectivo – 14.º
 Tribunal Singular – 16.º

Existem processos que são atribuídos à competência destes tribunais tendo em conta a
qualidade desses crimes.
O critério qualitativo tem uma dupla função:
Função positiva – atribui a competência aos tribunais, atendendo a determinados tipos de
crime, independentemente da moldura penal.
Função negativa – quando retira competência aos tribunais o julgamento de alguns crimes,
independentemente da pena.
Tribunal do Júri – art.º 13.º
Qualitativo positivo – n.º 1 – Crimes contra a segurança do Estado e Crimes contra a paz e
humanidade.
Quantitativo positivo – n.º 2- crimes cuja pena abstractamente sejam superiores a 8 anos.

Tribunal Colectivo – art.º 14


Qualitativo – 14.º, n.º 1 e 2.º a)
Quantitativo – 14.º, n.º 2 b) – pena abstractamente superior a 5 anos.

Tribunal Singular – art.º 16.º


Qualitativo positivo – 16.º, n.º 1 e 2 a)
Quantitativo – 16.º, n.º 2 b) – Penas abstractamente aplicáveis igual ou inferior a cinco anos.

O legislador quando das alterações do CPP de 98, cometeu um lapso no que respeita à
competência destes tribunal, pois eram julgados todos os crimes de cheque sem provisão, cuja
pena poderia ir até 10 anos.
E esqueceu-se de atribuir essa competência, então quando da publicação destas alterações
inseriu no art.º 4 da Lei preambular 59/98 – mantendo essa competência, mesmo que exceda
os 5 anos.

O critério qualitativo tem em regra uma projecção positiva, independentemente da moldura


penal.

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Mas o critério qualitativo também tem uma natureza selectiva negativa pois também retira
competências aos tribunais. Pois o tribunal do júri só funciona se for requerido pelo arguido ou
pelo assistente, se o não for é atribuída a competência ao Tribunal colectivo.

Mas há dois casos expressamente subtraídos ao tribunal do júri – art.º 111.º da LOT – em que
nunca podem ser atribuídas competência para crimes de terrorismo, Organizações criminosas,
actos terroristas ( tem a ver com a influência sobre o júri- pois o crime de Montechoro, o júri
com medo, não considerou provado que o palestino tinha morto o socialista- e com centenas
de testemunhas) Mas antes tinha competência.

Os crimes praticados no exercício de altos cargos políticos – pelas mesmas razões – vem na
lei que regula o estatuto de altos cargos políticos.

Relativamente ao critério quantitativo – é em regra definido tendo em conta a medida abstracta


da pena – Júri: 13.º, n.º2 – mais de 8 anos, Colectivo 14.º, n.º 2 – mais de 5 anos e singular –
menos de 5 anos.

Qualquer destes preceitos fala em crimes cujas penas sejam abstractamente…

Ora ao Tribunal colectivo que é elemento determinante quantitativo, no que diz respeito ao
tribunal colectivo e ao tribunal singular pode haver conflito de competência entre os dois, por
causa do abstractamente aplicável.

Neste caso o critério é o da pena em concreto, e retira-se com base no art.º 15.º e 16.º, n.º 3
e 4.
O 16.º, n.º 3 refere que aos crimes previstos na al. b) do n.º 2 do art.º 14 ( e só a estes),
mesmo em caso de concurso de infracções quando o MP na acusação ou em requerimento
entenda que não deva ser aplicada a pena em concreto superior a 5 anos.
E diz ainda o n.º 4 que nestes caso o tribunal não pode aplicar pena superior a 5 anos.

Este artigo é útil para situações em que haja colisão quantitativo/qualitativo.


Por. Ex. o MP olha para um caso concreto de homicídio – que vai de 8 a 16 anos e entende
que não deve ser aplicada mais de 5 anos – Nestes caso não pode, pois está abrangido pela
al. a) do n.º 2 do art.º 14, a que não se aplica o 3 e 4 do art.º 16 – só para os casos do art.º
14.º, n.º 2 al. b).

Mas há várias questões a ponderar – a constitucionalidade desta previsão do 16.º, n.º 3 e 4,


que já foi questionada quase uma centena de vezes, a primeira foi logo na fiscalização
preventiva – Acórdão do TC 7/87, e passou na fiscalização preventiva e também nas diversas
fiscalizações sucessivas só uma delas é que o TC declarou inconstitucional o 16.º, n.º 4 e só
por aspectos formais e não materiais.
Quais os critérios para atacar o 16.º, n.º 3 e 4.
1.º- a violação da independência dos tribunais face ao MP.
2.º- Algumas situações em que foi questionado em, que estes preceitos violavam o princípio da
separação de poderes. E também já foi questionado o facto do 16.º, n.º 3 e 4 ao permitir que o
MP diminuísse a pena, ao remeter para tribunal singular violaria as garantias de defesa do
arguido e assim em contrário ao 32.º, n.º 1 da CRP.
2002-05-31
Art.º 16.º, n.º 3 e 4
Quando o 16.º, n.º 4 diz que o tribunal singular não pode aplicar pena superior, isso não
resulta de uma faculdade do tribunal diminuir a pena, resulta sim, de acordo com o critério
quantitativo que o tribunal singular em regra não pode aplicar pena de prisão superior a 5 anos,
e o que acontece quando o MP acusa e remete para o tribunal singular e este se entender
julgar o processo não vai aplicar os 5 anos por dependência do MP, mas sim devido à natureza
do próprio tribunal.

Segundo o Prof. Salreu, quando o tribunal singular recebe o processo e decide julgar, pega no
processo e se ao iniciar o julgamento constatar que naquele caso concreto cabe uma pena
superior a 5 anos e como está limitado pela sua natureza e como aí não tem competência, nos

33
termos do art.º 32.º, n.º 1 – declara-se incompetente e o que implica a remessa para o tribunal
competente.
Os crimes de homicídio negligente não estão no art.º 14.º, n.º 2 a), e supondo que o MP
acusa, e se durante o julgamento no tribunal singular e juiz entender que há homicídio doloso,
perde a competência (359.º, n.º2, in fine).

Em resumo, se o tribunal decidir aplicar 5 anos não está na dependência, mas sim em
concordância com o MP.

Não está em causa a Separação de poderes


Se o MP entende que deve ser aplicada a pena não se está a sobrepor ao poder legislativo,
porque é a lei que lhe dá essa prerrogativa. Também não se sobrepõe ao poder judicial porque
o juiz pode mandar o processo para o tribunal colectivo

Não se colocam em causa Garantias de defesa


O tribunal singular desde logo assegura uma punição menos grave

Dentro da competência material já analisámos o critério qualitativo, o quantitativo e falta


analisar o critério subjectivo.

Critério subjectivo – atende à qualidade do arguido, isto é, se o arguido for um magistrado de


1.ª instância deverá ser julgado pelo Tribunal da Relação – art.º 12.º

No art.º 11.º:
Se for juiz da relação ou do Supremo – julgado pelas secções do STJ
Se for o PR, ou o PM – julgados pelo pleno das secções do STJ

Quem é competente para julgar do mérito da causa? – conflito entre dois tribunais de comarca
da mesma relação – art.º 12 e 36.º- Tribunal da relação

Conflito entre tribunais pertencentes a relações diferentes art.º 11.º, n.º 3 al. d) e 36.º – STJ
A competência material é definida tendo em conta determinadas características do processo.
Pelo que a competência material é diferente da competência funcional.

3. Competência funcional
O papel dos juízes no processo penal desdobra-se funcionalmente.

O Juiz que intervém no inquérito – art.º 17.º, 268.º e 269.º É o JIC – Juiz de instrução
A função é determinada não tendo em conta a natureza do processo, mas sim a
natureza das actividades que o juiz tem de exercer ( intervir nas fases preliminares e na fase
de julgamento)

4. Competência territorial( art.º 19.º a 23.º)


Aqui há um padrão base:
Quem tem competência para julgar – juiz do local onde o crime se consumou
Crimes tentados – juiz do local onde se deu o último acto de execução.

2002-06-03
O elemento fundamental para a competência do tribunal – é o elemento que tem a ver com a
consumação do crime.

Em regra os crimes tem a sua comissão e a sua consumação ao mesmo tempo e no mesmo
lugar.
Contudo, há crimes que tem a comissão num local e a sua consumação, em outro local.
Portanto só há problema quando o crime é cometido em local diferente da consumação.

Quem é competente para Dirigir o inquérito – art.º 264.º, n.º 1- o MP do lugar onde se cometeu
o crime.
Quem é competente para julgar – o Juiz do tribunal onde se consumou.

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No que respeita ao JIC, no que se refere à fase de instrução – no art.º 288.º, n.º 2 remete para
o art.º 19.º- é o do local da consumação.
Mas no que respeita ao JIC, o art.º 17.º também lhe atribui competências durante a
fase de inquérito – 268.º e 269.º – e no que respeita a isto é omisso quanto à competência
territorial – como nada diz e é no âmbito do inquérito, assim deve ser o JIC do lugar onde se
cometeu, nos termos do art.º 264.º.
Em regra a competência do tribunal, nos termos do 19.º, n.º 1 é o do local onde se cometeu,
mas comporta excepções:
19.º, n.º 2 para crimes continuados – é o tribunal do último acto
19.º, n.º 3 para crimes tentados – o tribunal do último acto de execução.

O art.º 20 – Crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves – estes artigo só se aplica a


viagens internacionais, não se aplica aos cacilheiros, pois é tudo em Portugal.
2 critérios:
1. Tribunal da área para onde o agente se dirigia ou onde desembarcar;
2. Não se dirigindo para território português, não desembarcando ou fazendo parte da
tripulação – tribunal da matrícula do navio.

Art.º 21.º- Localização duvidosa ou desconhecida.


1.º critério – onde foi praticado o elemento mais relevante.
2.º critério – o tribunal onde tiver havido primeiro a notícia do crime.

Art.º 22.º- Crimes cometidos no estrangeiro.


O tribunal da área onde o agente tiver sido encontrado, ou do seu domicílio. Subsidiariamente,
se não for possível apurar – O tribunal que primeiro tiver tido conhecimento do crime.

Art.º 23.º – Quando um magistrado seja assistente no processo – antes da revisão de 98,
previa-se a possibilidade de um magistrado ser arguido, e nesta quem julgava era o tribunal
superior. Como assistente quem julga é o tribunal da mesma hierarquia, com sede mais
próxima.

Competência pela Lei 3/99 LOTJ


Tribunais Criminais
 Competência especializada
o Critério funcional
 Tribunais de instrução criminal
 Tribunais criminais
 Tribunais de execução de Penas
 Competência especifica

Tribunais de instrução Criminal:


1- Para crimes económicos e de corrupção – Tribunal Central de Instrução Criminal –
vem na Lei orgânica do MP – junto da Direcção Central de Investigação e Acção Penal
– DCIAP
2- Para acções encobertas – Lei 101/2001, de 25 de Agosto – Em acções de prevenção
– TCIC
3- Para acções encobertas – mas de acções de investigação – qualquer TIC

Tribunais criminais
1. TPIC – Tribunais de Pequenas Instâncias Criminais – Tribunal de recurso das contra-
ordenações, Processos sumários e sumaríssimos
2. Tribunais Criminais – por exclusão de partes o que não for dos outros tribunais – art.º
16.º Singular
3. Varas Criminais – Tribunais colectivos – art.º 13.º e 14.º
2002-06-06
Processos de resolução de conflitos de competências

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Antes de mais o valor dos actos celebrados – Nos termos do art.º 119.º, al. e) os actos estão
sujeitos a uma nulidade insanável, com excepção do art.º 32.º, n.º 2.

As nulidades insanáveis são de conhecimento oficioso e por isso declaradas e invocadas a


qualquer momento do processo, e nos termos do 122.º, tem como efeitos a declaração de
nulidade – a invalidade do acto em que se verificarem, bem como os que dele dependerem e
aquelas que poder afectar.

Incompetência - quadro geral


1.º- Nos termos do art.º 32.º é reconhecida oficiosamente ou requerida pelo MP, arguido ou
assistente – até ao trânsito em julgado da decisão final.
Quando a incompetência é reconhecida pelo tribunal (33.º, n.º1) – o tribunal remete o processo
para o tribunal competente, que depois de receber o processo, o qual anula os actos que se
não teriam praticado se perante ele tivesse ocorrido e ordena a repetição dos actos
necessários para conhecer a causa.
Apesar do tribunal “X”, ser incompetente e ter praticado uma série de actos, não quer
dizer que esses actos sejam destruídos por força da incompetência é o tribunal “a quo” que vai
apreciar.

Quando se tratar de uma incompetência territorial, esta regra sofre o desvio, nos termos do
art.º 32.º, n.º 2 ( excepcionada no art.º 119.º), porque a nulidade decorrente da incompetência
territorial – é uma “nulidade insanável mista” Ou seja as nulidades mistas são aquelas que
têm um regime híbrido, ou seja tem elementos de nulidades sanáveis e de nulidades
insanáveis.
É o que acontece com esta – é uma nulidade insanável – porque é de conhecimento
oficioso – 119.º, mas assume o papel de nulidade sanável, no que refere à incompetência
territorial – Não pode ser invocada a todo o tempo: Só até ao início do debate instrutório, na
instrução, ou até ao início da audiência, em tribunal de julgamento. – a partir daqui sana-se a
nulidade “insanável”

Quanto ao julgamento - Há diversos momentos que é preciso tomar em consideração:

 Fases preliminares – 311.º a 320.º


 Audiência – 321.º a 364.º
 Sentença – 365.º a 380.º

Fases preliminares
Existem nestas basicamente os seguintes aspectos relevantes:
1) Despacho saneador
2) Marcação da data da audiência
3) Apresentação de provas e produção antes da audiência

Despacho saneador (311.º):


Como sabemos o processo pode chegar a julgamento de duas maneiras:
1. Com a acusação do MP (públicos e semi-públicos) 283.º, n.º 1 ou do assistente (particulares)
285.º , em que não tenha sido requerida a instrução
2. Com o Despacho de Pronúncia – 308.º

Em seguida o processo é distribuído no Tribunal Competente – TPIC, Juízos Criminais ou


Varas criminais.

Quando estamos perante o tribunal singular, não faz sentido falar em juiz relator ( presidente),
pois onde este existe é nos tribunais colectivos.
Assim o Juiz ao receber o processo e faz logo em 1.º lugar:
O despacho saneador – onde tem que pronunciar-se sobre as nulidades, questões prévias ou
incidentais.

Um aparte de prof. – o que são questões prévias? – São matéria relativamente à questão
principal ou objecto do processo que assumem duas características na vertente de ligação:
Tem que ser relativamente à questão principal:

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1- Uma questão prévia ( anterior) – para ser conhecida a questão principal tem de haver
uma decisão sobre a questão prévia.
2- São necessárias – porque a necessidade de ser deriva de ser por eles também
decididas.
Por. Ex. Invocada a incompetência – o tribunal tem que se declarar, sobre pena de nulidade –
art.º 379.º, al. c) – se não se pronunciar. sobre questões que devesse apreciar.

Questões incidentais – são incidentes que se levantam sobre o processo. Ex. nos termos do
art.º 98.º – O arguido em qualquer momento pode apresentar exposições; o assistente nos
termos do 68.º e o MP, nos termos do 53.º
Existem outras questões – questões prejudiciais – que são questões prévias, e que são
necessariamente autonomizáveis.
Ex. No crime de bigamia – para se condenar é preciso saber se o arguido já tinha casado
antes, e aferir se esse casamento era válido ( princípio da autonomia não penal) – é necessário
resolver esta – que é uma questão autónoma – era ou não já casado? – sem a qual não se
pode resolver o objecto do processo.
O mesmo pode acontecer no furto entre cônjuges ( de quem são as coisas – falta saber se o
bem é alheio), Também em algumas situações de fisco.

O art.º 311.º, não fala nas questões prejudiciais. Qual o regime a dar às questões prejudiciais –
É coberto pelo princípio da suficiência do Processo Penal( art.º 7.º).
Por uma questão de economia processual – o tribunal criminal é competente para
conhecer todas as questões ( idêntico ao princípio da adesão – 71.º)- Alarga a jurisdição. É
além do penal, em que a lei permite que a requerimento dos intervenientes no processo ou
oficiosamente a requerimento do tribunal que este não se considere competente para resolver
a questão em apreço devido à complexidade técnica, e que faça a devolução da questão prévia
ao tribunal competente ( no prazo máximo de um ano – art.º 7.º, n.º 2, 3 e 4). Se o tribunal
competente no prazo fixado não resolver a questão, esta é resolvida no penal, que entretanto
suspendeu o processo.

Voltando ao Despacho saneador – o Juiz em todos os casos tem que verificar o art.º 311.º, n.º
1, mas se não tiver havido instrução, o juiz tem que fazer mais duas operações 311.º, n.º
2:
1.º – avaliar a acusação principal do MP (283.º, n.º 1) ou do Assistente (285.º), para verificar se
a aceita ou rejeita.
Para a rejeitar esta acusação tem de ser manifestamente infundada. (n.º 2, al. a) do art.º 311.º
E quando é que se considera manifestamente infundada ( n.º 3):
a) Quando não tenha a identificação do arguido
b) Quando não contenha a narração dois factos
c) Se não indicar as disposições legais aplicáveis ou as provas que a
fundamentam
d) Se os factos não constituírem crime.

Como se verifica as primeiras alíneas deste número, tem o mesmo conteúdo das alíneas a) a
c) do n.º 3 do art.º 283.º – Acusação – e cuja falta nos termos do 283.º, n.º 3 – é uma nulidade,
daí nesta fase ser uma nulidade mista, pois é conhecida oficiosamente pelo juiz.

A alínea d) do n.º 3 do art.º 311, foi introduzida pelas alterações de 98, e há quem considere a
mesma inconstitucional, porque iria colidir com o princípio do acusatório (32.º, n.º 5 da CRP).
Ou seja resulta do princípio do acusatório, 4 consequências, uma dela é que o juiz que
intervém na instrução, não pode ser o mesmo que intervém no julgamento. Ora há quem
entenda que o juiz ao apreciar se os factos constituem ou não crime deixa de ser imparcial.
Não é colocada em causa a imparcialidade. Pois o juiz no julgamento o que vai fazer é
confrontar a matéria de facto com a prova, e neste momento de saneamento, ele não se
pronuncia sobre a prova apresentada. O juízo que ele vai fazer é se os factos eventualmente
vierem a ser provados, mesmo assim não constitui crime.

2002-06-07
2.º Momento – Audiência de Julgamento

37
Feito o despacho saneador – é feita a marcação da data da audiência – art.º 312.º, n.º
1.
Os sujeitos processuais são notificados – n.º 2 do art.º 313.º, e a partir da qual começa a contar
o tempo para apresentar a prova, mas tem que se partir de dois planos.
Por um lado – Acusação (MP/assistente)
Por outro lado – Defesa ( arguido).

No que se refere à Acusação o momento adequado é quando da acusação – 283.º e 285.º

No que se refere à defesa – a prova do arguido – 315.º


Tem 20 dias, e é de bom tom apresentar testemunhas para serem ouvidas em audiência ( nada
impede o arguido requeira na instrução prova, nem que nos termos do art.º 98.º apresente
exposições).
De qualquer maneira em regra estas testemunhas que são apresentadas são para
serem ouvidas em audiência. O rol de testemunhas bem como a prova são requeridas. As
testemunhas podem ser alteradas até 3 dias antes da data fixada para a audiência, desde que
possam ser comunicados aos outros sujeitos – 316.º, n.º 1, a prova deve ser logo apresentada.

Se o arguido não apresentar essas testemunhas, não fica arredada essa hipótese ( por causa
do princípio da verdade material – 340.º) o tribunal oficiosamente ou a requerimento pode
determinar a produção da prova que reputar para a decisão da verdade.
Só que isto é perigoso – tem havido jurisprudência em que a interpretação do art. 340.º-
é de que o tribunal tem que reputar a prova necessária, e que esse juízo “necessário”, passa
pela livre apreciação da prova (127.º)- E pode acontecer que o tribunal dar “sopa”, por entender
que aquela prova não é necessária. Por tanto o melhor é logo na altura certa apresentar a
prova.

A prova traduz-se numa declaração de ciência, das testemunhas e do arguido, em audiência (


atendendo ao princípio da imediação) – é me julgamento que se faz a prova.
No entanto pode haver excepções, nos termos do 356.º, em que pode ser permitida a leitura de
autos, quando:
- Situações de declarações para memória futura – art.º 320.º e 271.º
- Situações de pessoas fora da comarca – 319.º
- Audições no domicílio – 318.º

Iniciada a audiência – Quem deve estar presente?


O Juiz ( singular ou colectivo)
330.º- Tem de estar o MP e o defensor – a sua falta é uma nulidade insanável – (é um dos
dois casos que estão fora do 119.º, o outro é a situação do art.º 321.º)

Ter muita atenção ao n.º 2 do art.º 330.º, no que se refere aos crimes particulares, Pois quando
falte o representante do assistente, a falta não justificada ou a segunda falta – valem como
desistência de acusação, salvo se houver oposição do arguido.

Quanto ao arguido – 332.º - as alterações introduzidas pelo Dec.-Lei n.º 320-C/2000, de 15 de


Dezembro, veio a criar mecanismos para acelerar o processo – pois o arguido tem um domicílio
judicial.
Para tal tem que ser sempre aplicado ao mesmo o TIR – art.º 196 ( isto já está explicado nas
medidas de coacção). E para efeitos do art.º 113.º- notificações, é considerada a morada
prestada no TIR, e considera-se este nos termos do art.º 333.º, n.º 1 regularmente notificado.
É obrigatória a presença do arguido na audiência com as excepções dos art.º 333.º, n.º 1
e 2, e 334.º, n.º 1 e 2.

Mas pode haver arguidos a quem não foi aplicado o TIR.

2002-06-12
Há dois aspectos essenciais – art.º 334.º
n.º 1- Se ao caso couber processo sumaríssimo (ver art.º 392.º, que não tem
audiência, basta o arguido aceitar a pena, se não aceitar ou o juiz não
concordar com a pena proposta pelo MP) o procedimento tiver sido reenviado

38
para a forma comum e se o arguido não puder ser notificado do despacho que
designa dia para a audiência ou faltar a esta injustificadamente, o tribunal
pode determinar que a audiência tenha lugar na ausência do arguido.
2 — Sempre que o arguido se encontrar praticamente impossibilitado de comparecer à
audiência, nomeadamente por idade, doença grave ou residência no estrangeiro, pode
requerer ou consentir que a audiência tenha lugar na sua ausência.

Até 1998, só havia estes dois casos de julgamento com ausência dos arguidos.

(Uma explicação prévia)


Quando um suspeito é constituído arguido, há o dever quer seja dos OPC ou AJ (MP ou Juiz),
que pela primeira vez que contactam com o arguido de o sujeitar a TIR – art.º 196.º – esta
medida de coacção, pode ser aplicada com qualquer outra. Mas esta medida de coacção que
gera uma restrição ambulatória do arguido, tem uma consolidação – do chamado domicílio
judicial – Ou seja, o domicílio que o arguido indicar naquela altura, é o domicílio para onde
deve ser notificado.
E considera-se notificado, quando for feito por via postal simples.

O que pode resultar daqui, é que pode haver processos penais contra pessoas a quem já foi
aplicado o TIR e têm um domicílio judicial, e outros a quem foi instaurado um processo crime e
que nunca foi sujeito a TIR – esse arguido é notificado por editais.

Volta à matéria
Nos termos do art.º 313.º, n.º 3 – que remete para o 113.º, n.º 1 c), quando o arguido tenha
indicado um domicílio para ser contactado.
Se não tiver TIR, nos termos do art.º 113.º é feito um esforço dos OPC para o notificar que não
acontecendo, (art.º 115.º) estes elaboram uma certidão negativa. E este é notificado por
edital. (não é considerado regularmente notificado)

Quando o arguido é notificado do dia para julgamento, nos termos do art.º 312.º, n.º 2.
O Despacho designa logo 2 dias para efeitos do art.º 333.º, n.º 1 e 333.º, n.º 3.
O art.º 333.º,3 – implica que o arguido tenha sido regularmente notificado para o 1.º dia e para
o 2.º dia (isto tem a ver com motivos de celeridade processual).
O arguido falta há primeira data:
1.º o tribunal pode optar por realizar o julgamento na ausência do arguido, e neste caso a
requerimento do seu defensor o tribunal pode ouvi-lo na segunda data.
2.º O tribunal adia

O arguido falta à segunda data:


(além de poder emitir mandatos de detenção – 333.º, n.º 5 – O tribunal realiza a audiência de
julgamento na ausência do arguido. E a sentença é notificada ao arguido logo que seja detido
ou se apresente voluntariamente. O prazo para interposição do recurso pelo arguido,
conta-se a partir da notificação da sentença.
Nota – não está no artigo, mas esta situação é para quando o arguido tenha sido considerado
regularmente notificado e não tenha comparecido na 1.ª data de audiência e tribunal tenha
efectuado a mesma.(É uma excepção).
Isto porque se o arguido falta à segunda data, o advogado é notificado da sentença, nos
termos do art.º 372.º e 373.º, considerando-se este notificado. E nestes casos o prazo para
interposição de recurso, conta-se logo a partir da notificação ao advogado.

Por editais, os arguidos não se consideram regularmente notificados.


E permite que funcione o regime da contumácia ( art.º 335.º), que tem como fim coagir o
arguido a apresentar-se.
Este regime tem dois efeitos: Efeitos no âmbito processual e efeitos na esfera pessoal do
arguido.
Efeitos processuais, nos termos do art.º 335 e 336.º – implica a suspensão do processo e dos
prazos de prescrição.

39
Efeitos pessoais, arresto de bens e todos os actos jurídicos patrimoniais são anuláveis pelo
MP. Não pode obter qualquer documento público.
A declaração de contumácia, tem que ser publicada na 3.ª série do DR e num jornal de tiragem
diária.

Ainda relativamente ao julgamento falta ainda referir:


Tribunal do júri – Em regras as decisões do tribunal do Júri sobre matéria de facto não são
susceptíveis de recurso – pois só relativamente a matéria de direito – art.º 432.º, al. c).
Pois em regra o STJ só conhece matéria de direito (4343.º), a não ser nos casos do art.º 410.º,
n.ºs 2 e 3 (vícios de insuficiência de matéria provada, contradição ou erro notório de apreciação
da prova, ou nos casos de Revisão da sentença – 449.º.

O problema coloca-se é nos Tribunais singulares ou nos tribunais colectivos. Porque da


decisão destes pode-se sempre recorrer para a Relação (428.º). E esta conhece tanto matéria
de facto como de direito.
Mas há situações que não pode conhecer matéria de facto, pois ela pode ser dispensada nas
audiências:
Processo Comum – Quando a audiência se realizar sem a presença do arguido, as
declarações orais são sempre documentadas.(363.º, n.º 3) e se não estiverem à disposição do
tribunal meios técnicos idóneos para reprodução, o juiz dita para a acta as declarações
prestadas.
No entanto, nos termos do 364.º, n.º 1 – Nos casos do tribunal singular - , a declaração que se
prescinde da reprodução, ou nos casos de Sumário 389.º, n.º 2 e Abreviado, 391.º – E, n.º 2,
se não for requerida a transcrição – vale como renúncia ao recurso em matéria de facto
(428.º, n.º 2).

Nos processos especiais, (Sumário e Sumaríssimo)- o juiz no início da audiência sob pena de
nulidade – tem que informar que podem requerer a documentação dos actos da audiência – se
não o fizer – nulidade sanável, nos termos do art.º 120.º, n.º 3, al. a).

Quanto ao Tribunal colectivo, o art.º 364.º, não fala no tribunal colectivo, uma vez que a matéria
de facto está mais consolidada, pois a apreciação é feita por 3 juízes. Hoje em dia já se pode
recorrer de decisões de facto do colectivo para a relação.
E como se recorre para relação se esta não pode constatar a prova que foi produzida – Daí
aplicar-se o 364.º, e se não se prescindir da reprodução da prova das declarações orais (363.º)
estas tem que ser efectuadas.

Um outro aspecto – A sequência de produção de prova – 341.º-


1.º – Existe durante a audiência uma sequência de produção de prova que se traduz num
afloramento do princípio do contraditório e garantia de defesa, 1.º produz prova quem acusa e
depois quem defende ( atenção que em processo penal não é como o processo civil – que é
um processo de partes, em que cada parte tem a disponibilidade da prova, ou seja quando
chega a defesa esta se quiser dispensa a prova) Em processo penal os sujeitos podem
prescindir da prova, só que o juiz se entender necessário – nos termos do 340.º- princípio da
verdade material – pode oficiosamente ordenar a produção da prova.
2.º- A ordem da produção de prova pode ser alterada tendo em conta dois interesses:
a) O interesse da descoberta da verdade material – 323.º a)
b) O interesse da celeridade processual – 328, 3, a)

3.º Momento – A sentença (374.º)


A sentença é comporta de 3 partes:
1. Relatório – 374.º, n.º 1
Identificação do arguido, assistentes e partes, indicação dos crimes imputados, indicação
sumária das conclusões contidas na contestação se houver.
2. Fundamentação – 374.º, n.º 2
Neste deve constar a enumeração dos factos provados e não provados, bem como de uma
exposição tanto quanto possível completa dos motivos de facto e de direito que
fundamentam a decisão com a indicação e exame crítico das provas que serviram para

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formar a convicção do tribunal. Este exame crítico é a fundamentação positiva da prova
que o juiz entendeu valorar, atendendo ao seu poder de livre apreciação da prova(127.º).
Mas há 3 excepções ao dever de fundamentação positiva, em que o juiz tem que
fundamentar negativamente a não aceitação da prova:
1) casos de prova pericial (163.º, n.º 1 e 2)
2) Casos de prova documental autênticos e autenticados – 169.º
3) Caso da confissão integral e sem reservas – art.º 344.º, em que nos termos do n.º
3 a), b) e c), pode não ser admitida, mas no caso da al. b) tem que fundamentar.

3. Dispositivo – 374.º, nº 3
Define a sanção e as disposições legais aplicáveis.

A falta de fundamentação e de parte do Dispositivo – implica nulidade da sentença –


379.º, n.º1 a)
Se faltar qualquer dos outros elementos do art.º 374.º, nos termos do art.º 380.º, pode ser
corrigida a sentença.

Há mais dois casos de nulidade de sentença – 379,º. n.º 1 b) – Se condenar por factos
diversos dos descritos na acusação ou na pronúncia, fora dos casos dos art.º 358.º e 359.º
– alteração não substancial dos factos e substancial dos factos. O art.º 379.º tem um erro,
pois não foi alterado quando foi o art.º 358.º – no que se refere à qualificação jurídica
diferente – a jurisprudência também tem aceite, quando haja alteração de qualificação. E
há a excepção do n.º 2 do art.º 359.º, em que os sujeitos estiverem de acordo na
continuação do julgamento pelos novos factos.

Art.º 379.º, n.º 1 c) – Quando o tribunal deixe de pronunciar-se por questões que devesse
pronunciar-se, ou conheça questões que não podia tomar conhecimento.
Quanto ao primeiro omissão de pronúncia – ex. em todo o julgamento o arguido diz que
matou mas em legítima defesa e o tribunal não aprecia a legítima defesa.
Excesso de pronúncia – ex- As nulidades sanáveis tem que ser arguidas (120.º) – só as
partes, o tribunal não se pode pronunciar.

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