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Civilização Editora
Rua Alberto Aires de Gouveia, 27
4050-023 Porto
Tel. 226 050 900
geral@civilizacaoeditora.pt
www.civilizacao.pt
ISBN 978-972-26-2923-2
Depósito Legal 291007/09
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1
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Guião de leitura
Os 153 textos que se seguem, escritos por Álvaro Siza, entre 1963 e
2008, apresentam-se organizados do seguinte modo:
5
[UPC] refere-se a Álvaro Siza, Escrits, Carlos Muro, edição bilingue (portu
guês/catalão), Edicions UPC, Universitat Politécnica de Catalunya, 1994.
A propósito da arquitectura dos museus, Álvaro Siza diz que deveria ser
idealmente sem paredes, nem portas, nem janelas1, com a brisa medi
terrânica entrando suavemente e substituindo-se, na pintura, no ferro,
no bronze, na gente, por magia, ao pesadelo opressor e miasmático da
climatização hightech. As pessoas passam de salas a pátios, sobem e
descem escadas normais. As portas estão escancaradas e os faunas
espreitam de cada canto, olham com ironia mais do que piedade.
Em Antibes, no Museu Picasso. Como almejaria um músico venerador
do silêncio: um Músico; ou um poeta adverso à loquacidade: um Poeta;
ou um amador de objectos de colecção: um Amador2 •
7
ao referir-se à Literatura4 . Ou, sobre Manuel Gargaleiro, lhe exalta um
gesto de Alegria Origina/5.
4 Texto N º 097.
5 A sabedoria técnica, a inteligência e experiência que a obra revela são parte de um gesto que continua
irreprimível, um gesto de Alegria Original. Texto N º 069.
6 E sobre a arquitectura, em geral: a imagem, na sua redundância e carisma, tem substituído a
necessidade do discurso (. ..). Entre o flash das coisas que estão a acontecer, lemos que começar a
falar. Jorge Figueira (A Escola do Porto: um mapa critico. Edição Departamento de Arquitectura da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, 2002, p. 137)
7 Curt Meyer-Clason, citado por Brigitte Fleck, Alvaro Siza, Relógio d'Agua Ed., 1999, p. 139, diz que,
nos portugueses, a linguagem não é a da retórica, mas é retórica. Ao que B. Fleck acrescenta: A
arquitectura de Siza é retórica.
8 Por exemplo, no Texto N º 006, ponto 6: Não gostaria de executar com as próprias mãos o que
desenho. Nem de desenhar sozinho. Seria: esterilizar. Dois verbos, separados por dois pontos.
9
virtuosa do arquitecto - a de não ser especialista de coisa alguma,
entre especialistas.
15 Texto N º 017.
16 Texto Nº 030.
17 Texto N º 045.
18 A machine à habitar de Le Corbusier? Mas, sempre presente em toda a obra de Álvaro Siza, a
complementaridade, o cruzamento, entre o trabalho da máquina e o trabalho do artesão. (Texto N º 033,
em que rende homenagem a James Sterling).
19 A necessidade de originalidade e diferença conduz quase sempre a abandonar a essência de um
determinado objecto. Texto Nº 086. Na esteira de Adolf Loos, um pré-moderno, defendendo a modéstia
e a discrição contra o culto da originalidade. (Jorge Figueira, op.cit., p. 34, 35).
11
ou à subversão de modos de ver (ou de falar, comunicar) comuns que
ele se apresenta, impressivo, lúcido: no Curriculum em que diz que
tem um pouco secreto desejo de a abandonar [a Arquitectura], para
fazer ainda não sabe o quê24, na confissão (não crível) eu, pessimista
nato25 , ou na desmistificação, que reporta a anos de chumbo do século
vinte, do vulgar estereótipo patrioteiro do nacionalismo26 : a Tradição é
24 Texto N º 067. Como se não tivesse passado a vida, anterior, futura, a esquivar-se, na Arquitectura,
cingindo-a sempre e mais, pela cintura.
25 Texto N º 039. Ou tentando iludir-nos (Texto N º 070: como sou um pessimista absoluto...).
26 Denunciando, a propósito, o conceito reaccionário de Arquitectura Nacional (Texto N º 077) e
mostrando a situação-limite em que se pode ver como conservador e tradicionalista (Texto N º 006,
ponto 4). Tema candente de um dos vários desdobramentos do Modernismo, no fabuloso cadinho
criativo (Ciência, Arte) que se desprendeu dos anos vinte e trinta, entre o horror de duas guerras
mundiais, o c_ruzamento entre técnica-tecnologia e arte-artífice-cultura vernacular, é, na arquitectura,
congénito, ontológico, filogenético. Com naturais deturpações nacionalistas, paroquiais: é conhecida a
deriva português suave, no pós-guerra português.
Contudo: passado mais de meio século, Dom Duarte Pio, Duque de Bragança, herdeiro e sucessor da
Casa Real Portuguesa, discorre ainda, sobre a matéria, escrevendo com patriótico fervor:
Durante milénios a arquitectura foi fruto da cultura dos povos. (...) Como em outros aspectos da vida,
a industrialização pôs em causa muitos dos valores das sociedades tradicionais e no século XX vimos
desaparecer muitas culturas esmagadas pela globalização.
Alguns intelectuais em Portugal ainda concordam com a globalização em matéria de arquitectura.
Os arquitectos "modernistas" insistem em seguir a moda (como os costureiros) construindo mais do
mesmo por todo o lado.
Sisa criou um molde, inspirado no estilo "Bauhaus" dos anos 30 e por todo o país aparecem clones
dele. (...). Se parte do dinheiro gasto na EXPO ou no CCB tivesse sido investido na recuperação de
Alfama e outros bairros históricos, o impacto económico seria hoje bem diferente. ( ...) Encostada à Sé
do Porto os "responsáveis" pelo nosso património cultural construiram uma torre moderna totalmente
desenquadrada, sendo o pretexto uma suposta "Casa dos 24" que teria aí existido na Idade Média!!
Também a "fortaleza marroquina" vulgo CCB ao lado dos Jerónimos são emblemáticos desta
mentalidade, que considera que a nossa geração tem o direito de destruir a harmonia e as perspectivas
dos monumentos e paisagens que fazem parte do nosso imaginário colectivo.
No próprio Santuário de Fátima, "Altar do Mundo", desfiguraram a bela esplanada onde se podiam
juntar quase um milhão de pessoas, construindo um edifício monstruoso que impede os ajuntamentos
de mais de quinhentas mil pessoas. (Pedras que choram, Revista Magazine, Julho/Agosto de 2007, pp.
86 a 91. Respeitou-se a redacção e ortografia na transcrição feita).
Este texto de Dom Duarte nem é polémico. Antes enviesado e desfocado. Tem, reconheçamos, pelo
menos uma virtude utilitária: muitos dos Textos de Álvaro Siza com ele se aparentam. A contrario sensu.
Sugere-se a leitura, a propósito, dos que têm os seguintes números: 008, 011, 015, 018, 020, 024, 033,
035, 037, 040, 048, 054, 074, 077, 087, 089, 093, 102, 108, 114, 118, 127, 133, 139, 144. Sobre o CCB,
especialmente o 032. Sobre Fátima e a obra de Alexandros Tombazis, o N ° 151 ou o número especial
da revista Arquitectura Ibérica a elas dedicado. E o 106, sobre a Casa dos 24. De Távora, Fernando
Luís Cardoso Meneses de Tavares e Távora, cuja morte em 3 de Dezembro de 2005 nos roubou um dos
mais prestigiados, influentes e respeitados mestres da Arquitectura Portuguesa do século vinte, com
um contributo ímpar em vários domínios da arquitectura, designadamente na defesa e recuperação
do nosso património arquitectónico. Cordialidade ininterrupta com a História traduzida através de um
conservadonsmo progressista (Jorge Figueira, op.cit.p. 79).
27 Texto N º 103 e Texto N º 045, respectivamente.
28 Dizem-me (alguns amigos) que não tenho teoria de suporte nem método. Que nada do que faço
aponta caminhos (...) Não me atrevo a pôr a mão no leme, olhando apenas a estrela polar. E não
aponto um caminho claro. Os caminhos não são claros. Texto N º 006, ponto 5.Se teoria, falando de
arquitectura, significa um conjunto de regras registáveis e reutilizáveis, então sinto-me bem ao não ter
teoria (como por vezes é dito). Texto N º 145.
29 Da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto.
13
conhecido arboricida tenha resistido ao seu instinto fatal, cedendo aos
pedidos e instruções dos colegas. Mas assim aconteceu30 •
30 Texto N º 133.
31 Buraco da fechadura? Abre-te Sésamo? La creme de la creme? Antes apenas um intentado vislumbre.
32 Capítulo indispensável de um Catalogue Raisonne da (ongoing) obra de Álvaro Siza
33 Até proscrito, não poucas vezes, na sombra e no silêncio ...
34 Texto N º 086.
35 Texto N º 051.
A propósito do Edifício...
Numa das minhas muitas visitas de inspecção, ouvi alguém que pas
sava na rua comparar o edifício da Cooperativa de Lordelo a um
depósito de água.
Num país onde praticamente não existe a crítica de arquitectura, este pro
cesso de apreciação traduz, pelo menos, o interesse instintivo de cada
um pelo espaço onde vive. Simplesmente, apreciar uma construção habi
tável pelo aspecto exterior é como saborear uma maçã pela cor da pele.
Usando o mesmo método, mais justo é comparar este edifício (ou qual
quer outro) a um organismo, com o seu esqueleto, o seu coração, os
seus pulmões, etc.
15
funções. As janelas e as portas não têm formas assim ou assado - de
pendem do que e da maneira como se quer iluminar o interior e da
mais apropriada relação com o exterior. Nem as ligações entre es
paços são tão simples que se possam resumir a portas para a gente
passar duns para os outros.
Mas suponho que não será estranho para quem o use, quotidiana
mente, com ou sem pressas.
l
002.1964 00 00 Arquitectura: Casa de Chá/ Restaurante da
Boa Nova (1)
17
18 01 textos por Álvaro Siza
Não basta não demolir a Torre dos Clérigos, não basta não
demolir o Barredo. Não é necessário destruir para transformar.
P_ara a transformar, é necessário e indispensável não destruir
a cidade.
Não sei como é que a palavra se insinuou: convenhamos que vem pouco
a propósito. A transparência é aqui nostalgia: até a luz terá a cor do gra
nito. Mas o granito é, às vezes, de oiro velho, e outras, azulado, com o
luar escasso que nesta noite de Outono escorre dos telhados. Quando o
sol, mesmo arrefecido, incide nos vidros, as mil e uma clarabóias e tra
peiras e mirantes da cidade enchem o crepúsculo de brilhos - o Porto
parece então pintado por Vieira da Silva: e mais imaginário que real.
Para as bandas de S. Lázaro, as ruas estão coalhadas de silêncio-(1 >
19
dos resíduos da história de que é feita a cidade, contributo fundamen
tal à consciência da história e do devir.
Pouco adianta a conservação (a protecção como sintomaticamente se
diz) de alguns monumentos abstractamente isolados do contexto que
os justifica. Imaginemos a Igreja dos Clérigos despojada do abraço do
casario que a envolve, a curva de doirados reflexos que prepara, para
lelamente ao alçado lateral, a elevação da famosa torre.
Observemos a Avenida da Boavista, despida das árvores que prolon
gavam o jardim da Rotunda em direcção ao mar. Acompanhemos a
evolução da Praça da Batalha, reduzida, a pouco e pouco, a conduta
de veículos motorizados, com um D. Pedro V impotente sequer para
dirigir o tráfego.
Quem sofre uma dor pode simplesmente recorrer a um analgésico,
mas pode também procurar as causas da dor, e tratá-las então con
venientemente. De qualquer modo, nada tem a ver com os objectivos
limitados e provisórios de um analgésico a recente operação - Praça
da República. A demolição das construções do tempo dos Almadas,
com a justificação de um novo alinhamento para a Rua de Gonçalo
Cristóvão, e a autorização de construir em altura, destroem escanda
losamente o espírito e a escala da praça, degradam o perfil da cidade,
dão origem a um acréscimo de afluência de veículos que neutralizaria
as vantagens do alargamento, se as houvesse.
Para além do património cultural que se vai perdendo, que dizer do
valor material nunca contabilizado, dos custos sociais implícitos nas
operações de «renovação», tal como são em geral realizadas (des
locação das populações, agravamento de problema de transportes,
empobrecimento da vida cívica, etc.)? E que dizer da qualidade de vida
nas novas zonas construídas?
Tudo isto e muito mais se passa na cidade que temos, junto à nossa
porta, na rua ou na praça que percorremos todos os dias, nos dormi
tórios da periferia. Muitos o sofrem directa e quotidianamente, alguns
não se apercebem do que acontece, o lucro material de outros retira
lhes a capacidade de sofrer. O granito de «oiro velho», ou «azulado»
não desaparece para que o crepúsculo se encha de outros brilhos.
Não basta não demolir a Torre dos Clérigos, não basta não demolir o
Barredo. Não é necessário destruir para transformar. Para a transfor
mar, é necessário e indispensável não destruir a cidade.
21
22 01 textos por Álvaro Siza
004.1980 03 00 Arquitectura: Piscina de Leça da Palmeira (1)
Pub. in [Figueirinhas].
Todos os anos, nas marés vivas, o mar leva o que não é essencial.
Naquele sítio, um maciço rochoso interrompe as três linhas paralelas:
encontro do mar e do céu, da praia e do mar, longo muro de suporte
da via marginal.
Alguém pensou em proteger uma depressão desse maciço, utili
zando-a como piscina de marés.
Mas·o Atlântico não é o Mediterrâneo, nem é simples construir uma piscina
onde poucas se fazem: tratamento da água, captação difícil, regulamen
tos exigentes, aprovação dependente de uma série de organismos.
"O melhor é chamar um arquitecto".
Nada mudou profundamente.
O edifício dos balneários está ancorado como um barco no muro da
!!larginal.
Dali não sai.
Alguns muros em betão sustentam a cobertura em riga e cobre e
apoiam os percursos de acesso à piscina.
�sses percursos existiam (em terreno difícil, a gente sabe escolher
o sítio onde por os pés), a piscina existia, os muros são paralelos ao
-muro de granito da avenida, do qual apenas se destacam. Aqui e além
pequenas intervenções consolidam as plataformas naturais.
Pouca coisa mudou.
Nas primeiras marés vivas o mar levou um bocado de muro, corrigindo
o que não estava bem.
Durante sete anos ainda, como Jacob, o arquitecto estudou os remates,
a norte e a sul, onde era difícil a entrega do que se fez ao que existia.
23
De tal sorte que daí resultou um plano da marginal, e o entregou e
disso foi pago.
Mas tudo foi considerado inútil: provavelmente se compreenderá que o
arquitecto apenas escolheu onde pôr os pés e aonde não ir, temeroso
dos perigos e das rochas e do mar.
E alguém disse: "qualquer um sabe onde pôr os pés, e é suposto que
um arquitecto ponha os pés em sítios diferentes dos de toda a gente".
E logo o despediram.
Construir
25
O desenho persegue-o.
Oito Pontos
2) Ouço dizer que desenho nos cafés, que sou um arquitecto de pe
quenas obras (como experimentei as outras, penso: oxalá que não;
são as mais difíceis).
É verdade que desenho nos cafés. Não o faço como Toulouse
Lautrec nos cabarés, ou algum Prix de Rome, entre as ruínas.
O ambiente de um café não inspira nem transporta. É um dos pou
cos - aqui no Porto - a permitir anonimato e concentração.
27
Não se trata de fuga à mesa de reuniões, à interdisciplinaridade, ao
telefone, aos impressos de Regulamentos, aos catálogos de pré-fabri
cados ou de ferramenta simplificadora, ao computador ou à Assembleia
de Moradores. Trata-se de conquistar - é o termo - bases para traba
lhar com isso e para isso. (Quantos cafés frequentei; mudo quando
noto especial atenção, à mistura com chá e torradas).
3) Alguns dos meus últimos projectos passaram por longo debate com
grupos organizados de moradores ou futuros moradores.
Nada de muito novo. Trabalhei assim, noutras circunstâncias, ou de
sejei trabalhar.
No Portugal saído de 74 não se tratava, contudo, de desejar ou não.
A luta pela habitação, no Porto, em Lisboa, ou no Algarve, abertas
as cadeias, ultrapassou os limites da casa, do bairro, da coopera
tiva. Possuiu a cidade.
Curto episódio. Tomado como método, o que é movimento dege
nera em cómodo alibi, moderador alienante, renitente a mergulhar
na reformulação do desejo - o nosso e o de outros.
5) Dizem-me (alguns amigos) que não tenho teoria de suporte nem mé
todo. Que nada do que faço aponta caminhos. Que não é pedagógico.
Uma espécie de barco ao sabor das ondas que inexplicavelmente
nem sempre naufraga (ao que me dizem também).
Não exponho excessivamente as tábuas dos nossos barcos, pelo
menos em mar alto. Por demais têm sido partidas.
Estudo correntes, redemoinhos, procuro enseadas antes de (ar)riscar.
Posso ser visto só, passeando no convés. Mas toda a tripulação e
todos os aparelhos estão lá, o capitão é um fantasma.
Não me atrevo a pôr a mão no leme, olhando apenas a estrela polar.
29
30 01 textos por Álvaro Siza
007 .1986 09 00 Cidades (Barcelona), Família
Apercebi-me no dia seguinte, de que as estranhas esculturas
eram feitas do que existe em toda a parte: janelas, portas, ro
dapés, ferragens, lambrins em cerâmica ou pedra, caleiras,
goteiras; tudo bem funcional, adaptado às mãos e aos pés e
aos cinco sentidos. Dentro da casa Milá senti-me em casa:
nada era especial, a não ser na mágica qualidade.
Barcelona
1
31
,\'
Santiago, rodeado de autocarros franceses, assinalava os novos tempos.
O automóvel alugado já não causava espanto.
No ano destinado à Catalunha, como sempre, o meu pai estudou o que
havia para ver: reunia a família à volta da grande mesa da sala de jan
tar e fazia planos.
o meu interesse dirigiu-se ao museu de Vich e a Gaudi.
Pouco me interessava a arquitectura; mas aquela parecia escultura, ou
pintura, ou assim era.
Na primeira noite - chegamos tarde - fui com o meu irmão olhar a
Sagrada Família. Estava escuro e sentimos medo. Ninguém nas ruas.
Mas nas Ramblas havia animação e o habitual desfile de gente, como
em todas as cidades e aldeias de Espanha.
Apercebi-me no dia seguinte, de que as estranhas esculturas eram fei
tas do que existe em toda a parte: janelas, portas, rodapés, ferragens,
lambrins em cerâmica ou pedra, caleiras, goteiras; tudo bem funcional,
adaptado às mãos e aos pés e aos cinco sentidos. Dentro da casa Milá
senti-me em casa: nada era especial, a não ser na mágica qualidade. Não
muito diferente das outras casas dos quarteirões bem alinhados, nas ruas
arejadas onde apetecia passear, cruzando o dia inteiro, um após outro, os
cunhais cortados a quarenta e cinco graus, os cunhais de espaços pro
fundos que o Federico Correa, mais tarde, me faria conhecer.
Tive o primeiro pressentimento de que talvez a arquitectura me inte
ressasse mais do que qualquer outra coisa; de que estava ao meu
alcance; bastava pôr a dançar janelas, portas, rodapés, ferragens,
lambrins em cerâmica ou pedra, caleiras, goteiras.
Senti o pulsar dos tubos de secção normal, dos fios de electricidade; e
o movimento do ar através das paredes.
No regresso paramos para almoçar num restaurante dos arredores. Vi
uma tabuleta que indicava: Colonia Güell.
O meu pai estava cansado de arquitectura e de museus; mas acedeu
a que eu fosse com o motorista "ali ao lado".
Quando voltamos acabavam de almoçar. O motorista estava com fome
e zangado; o meu pai fingia que estava zangado; os meus olhos de
quinze anos brilhavam. Costa Brava acima, a benção do Mediterrâneo.
(mais tarde passei por aqui a cem à hora, formosas auto-estradas,
Coderch em dois segundos, uma cidade do Far-West feita de fachadas
em madeira, entusiasmo, entusiasmo, o entusiasmo de que precisava;
mãos, pés, cinco sentidos.)
Fernando Távora
33
Colaborou no Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa, promo
vido pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos.
35
ascendendo a parte integrante da História de uma poderosa estrutura
em lenta e contínua transformação.
A importância de desenhar
37
\ É preciso não descurar o exercício, para que os gestos não se cris
: pem, e com eles o resto.
39
ou influências, no ocaso de um mundo em que projectista e artesão se
entendem directamente, como Chareau, mas sem desânimo.
41
O 2 º piso desenvolve-se em torno de um pátio que o ilumina em condi
ções ideais. A assimetria é controlada pela rampa axial, que se repete
exteriormente até ao terraço; a violência do percurso é aí contida pelas
curvas sumptuosas dos muros, como num abraço.
Misteriosamente existe calma, feita de saturação de tensões. O largo
desenvolvimento da sala comum domina multiplicadas diagonais, reflec
tidas no pavimento de mosaico do átrio; o percurso através do quarto
principal - outro U - proporciona uma sensação de profundidade, como
numa velha casa; e de novo liberta a visão do pátio e da clareira.
Cada elemento tem uma vida autónoma, desfoca-se de súbito, como
acontece numa cidade que conhecemos de todos os dias. O encon
tro entre elementos não é absolutamente perfeito. Os rodapés hesitam
diante de obstáculos, ou os canos de água; falta às molduras das
portas ou às curvas da escada ou da parede do banho um controle in
discutível. Nada é sistemático. Há erros evidentes de desenho e das
mãos que o executam, cruzam-se as mútuas indecisões e cada erro
gera poesia, ao ensinar a transformar.
Farmácia Moderna
1.
A casa da minha Avó fica num sítio especial de Matosinhos. Aí pelos
anos 40 encontrava-se na fronteira entre as fábricas de conservas (hoje
abandonadas) e as residências de princípio de século. Em frente havia a
Farmácia Moderna, realmente moderna, no mesmo estilo dos "Mestres
de Traineira" subitamente enriquecidos, que compravam carros de luxo
e bidés onde demolhavam o bacalhau; casas geométricas, depuradas,
de reboco e madeira esmaltada e alguma pedra, quartos de banho em
mármore e algum metal de gosto Deco.
43
construir 6 ou 7 pisos. A Farmácia continuava igual e obstinadamente
Moderna; mas o reboco começava a desfazer-se.
Passei por lá há dias. A casa da Avó continua em posição estraté
gica: à esquerda uma Hospedaria, à direita o Partido Socialista, em
frente a Farmácia, com outra imagem e uma tabuleta nova onde se lê:
Farmácia Moderna.
Fiquei encantado com a perseverança, mas o nome não me fez bater
o coração, como outrora, em sobressalto.
2.
Naqueles anos 40, o sonho de muitos arquitectos portugueses era
construir em betão, teimosamente mais caro do que a pedra, usar
janelas horizontais e terraços que às vezes metiam água. Longas ba
talhas se travaram, levantaram-se paredes para encobrir o odiado
telhado, a telha de Marselha já não significava progresso. Assim acon
tecera na Alemanha e na França e noutros países; e assim se fez bela
Arquitectura.
Mas a verdade é que hoje, e de um modo geral, já não nos preocupa isso
de ser moderno. Alguns pensam que é urgente ser post-moderno.
É bom poder construir um telhado ou um terraço, usar pedra ou betão
ou outros materiais, conforme convenha ou apeteça, "ou borracha,
mas isso não passa pela cabeça de ninguém", como dizia o meu pro
fessor de Estruturas.
3.
A menção do termo post-moderno surgiu nos heróicos anos 30,
distante dos escândalos e dos triunfos contemporâneos da arquitec
tura modernista (a alguma se chamava futurista). A sua aplicação à
Arquitectura chegou tarde e mais "débil" do que o normal. Esse atraso
e outras debilidades explicam talvez a súbita ansiedade em não ficar
excluído da nova classificação.
4.
A claridade e a utilidade da Arquitectura dependem do comprometimento
na complexidade das transformações que cruzam o espaço; compro
metimento que no entanto só transforma a Arquitectura quando, pelo
desenho, atinge a estabilidade e uma espécie de silêncio, o território in
temporal e universal da ordem.
)
45
Quase sempre distante desse comprometimento e dessa autonomia,
a produção actual tende a oscilar entre hermetismo e populismo, entre
kitch e elegância; de uma forma ou de outra, sugere a substituição
do criticado contínuo de "ismos" por um "ismo" único, tão divertida
mente indiferente que pretende tudo conter, alcançando pluralismo e
sobrevivência através de máscaras e de cenários, invocando simulta
neamente o gratuito e a história.
5.
Estão ultrapassados os códigos do Modernismo? Ou nunca se defini
ram radicalmente, a não ser em sínteses episódicas, excluindo o que
perturbava a suposta universalidade?
Não faz mal ao Mundo que, por razões de método, se estabeleçam
imaginárias linhas de fronteira. Pode ser fecundo e assim se fez sem
pre, para logo serem ultrapassados os limites de cada pesquisa.
Ninguém hoje pode ignorar o pluralismo do chamado Movimento
Moderno, a permanente crítica no interior da febril reconstrução da ci
dade europeia, os gestos contraditórios, as desconcertantes, seminais
expressões de uma contínua e multifacetada pesquisa, paralela aos
conformismos e aos manifestos. É assunto solidamente estudado.
Por isso, como acontece em relação ao modernismo, começa já o
recuo na História, a procura dos Pais do post-modernismo.
Materiais
Mal sei que materiais escolher. As ideias vêm-me imateriais, linhas sobre
um papel branco; e quando quero fixá-las tenho dúvidas, escapam, espe
ram distantes.
Recordo os carpinteiros das primeiras obras, que me ensinaram que as
dobradiças se aplicavam assim no norte e de outra maneira no sul.
47
Aí permanecem, até que as primeiras tempestades põem a nu o que
era de prever: não existem.
Desenhos de Viagem
Por mim gosto de sacrificar muita coisa, de ver apenas o que imedia
tamente me atrai, de passar ao acaso, sem mapa e com uma absurda
sensação de descobridor.
49
De súbito o lápis ou a bic começam a fixar imagens, rostos em pri
meiro plano, perfis esbatidos ou luminosos pormenores, as mãos que
os desenham.
Brasil
Estas cidades são como são pelo primeiro gesto: lugares escolhidos com
sabedoria antiga como a de um desenho espanhol (traçado de que as
regras se perdem no tempo, egípcias, gregas, romanas e medievais, re
novadas pelo Código Filipino, arranha-céus e fragmentação incluídos sem
sobressalto). O gesto Português é mais brando mas igualmente definitivo.
Menos "construir tudo": o que a Natureza dá não precisa de ser feito.
51
Cálculo, preguiça, comunhão.
53
possibilidades nem legitimidade para ultrapassar, significativamente,
o ritmo de evolução de uma cidade e dos seus agentes de transfor
mação, sob pena, bastantes vezes experimentc1pa; _dÉdrc1céls�9pu de
sucesso efémero.
Isto tem pouco a ver com formas, que são coisa que se desprende
sem dificuldade, ainda que com (demasiado) sobressalto; mas muito
com a responsabilidade e a legitimidade das decisões políticas, com a
competência alargada a todas as disciplinas.
Santiago
55
56 01 textos por Álvaro Siza
017.198811 19 Família
O ponto alto do serão, ano após ano, é a Ceia dos Cardeais. A famí
lia aguarda ansiosamente as passagens arrebatadas que conhece de
cor. Todos os anos o tio solteiro improvisa um trocadilho - igual e na
mesma deixa - e a família protesta. Nunca saberei se existe indigna
ção ou jogo de coro de teatro.
57
vez em quando espreitam as excitantes actividades paralelas da sala
de jantar: apanhar migalhas, levantar toalha, arrumar os restos no
mosqueiro, em recipientes cobertos com panos de tecido branquís
simo, varrer, cantar.
Outras Cidades
59
Macau os frágeis quarteirões do Porto (sobre que granito?). Por vezes a
culpa é atribuída aos arquitectos estrangeiros que comigo trabalharam,
aos quais, ao contrário, devo muito do que aprendi, e ainda apoio ines
quecível, paciência no longo processo de um projecto, tradução do que
não se apreende imediatamente, como desejava e necessitava.
Gregotti
61
62 01 textos por Álvaro Siza
020.1989 05 25 Arquitectura: Chiado (2)
O que é
Ruínas. Fachadas descarnadas e buracos que libertam muros de
suporte antiquíssimos, bocas de misteriosas galerias. Um esqueleto be
líssimo e incompleto, um objecto frio e abstracto, a revelar Lisboa. Uma
espécie de espelho que não reflecte. E gente apressada, ou gente a ver
pedras, gruas, operários.
63
O que será
Igual ao que era? Há um toque de falsidade inevitável. Um ar de ma
queta exposta ao Tempo, propositado, apto a diluir-se.
65
66 01 textos por Álvaro Siza
021.1989 07 00 Outros Arquitectos: Eduardo Souto de Moura (1)
Por esta e por outras obras, estará Souto de Moura maduro para
integrar o arquivo dos "talentos incomunicantes".
Alguma coisa, contudo, poderá introduzir a dúvida nos apolo
gistas de uma pedagogia "mais transmissível", na Escola que o
formou: naquele arquivo vai-se reunindo, com excluente aplauso,
um número preocupante de obras de outros mais velhos, de ou
tros da mesma idade e ainda outros, discípulos.
Parece, afinal, que os incomunicantes comunicam.
Souto de Moura
1 O Inquérito à Arquitectura Regional Portuguesa foi publicado em 1961 pelo Sindicato Nacional dos
Arquitectos, com o título Arquitectura Popular em Portugal. A realização do trabalho, por encomenda do
Ministério das Obras Públicas, coube a equipas que integravam professores e estudantes das Escolas
de Arquitectura de Lisboa e do Porto. Esta publicação viria a ter grande influência no ensino e prática
da arquitectura em Portugal.
67
2. Enquanto estudante da Escola do Porto, Souto de Moura foi um dos
insatisfeitos com a orientação então dominante, a qual prolongava inde
finidamente uma suposta ilegitimidade do "desenho", contraposto a uma
prática pedagógica orientada ao impulso de mudança social e política.
Não serei eu a repudiar esse momento da Escola, de que a coerência
escapa facilmente a uma apreciação duplamente distante; nem outros
que o viveram desconhecerão hoje a complementaridade de diferen
tes vivências, de novo as confundindo com descomprometimento.
A prática dos anos posteriores à Revolução de 74, finalmente e por
instantes, viria a projectar a Forma das Contradições - luminosa, im
perfeita, fecunda.
3 A casa e o jardim adquiridos pela Secretaria de Estado da Cultura foram desenhados por Marques
da Silva, o mais influente arquitecto portuense da viragem do século. Formado em Paris, Prix de Rome,
Marques da Silva desenhou alguns dos mais importantes edifícios públicos do Porto e foi Director da
Escola de Belas-Artes. Quase todos os protagonistas do Modernismo Portuense foram seus discípulos
e passaram pelo seu atelier.
Ninguém mais vejo querer e poder utilizar, em área tão limitada, uma
tão vasta gama de materiais, cores, texturas; multiplicam-se as juntas
- momentos de transformação do desenho.
69
Os planos rectangulares verticais e horizontais que modelam volume e
espaços internos relacionam-se por gradual transição, por juntas, por
ruptura, mantendo uma constante capacidade de autonomização.
As tensões resultantes evocam a componente neoplástica de um Mies;
a crítica a isso se tem referido, acentuando a novidade contemporâ
nea desta influência. Mas evocam igualmente a materialidade e o peso
que, voluntariamente e antes, acompanham o impulso centrifugador
das casas usonianas de Wright.
Por ordem inversa, como nos esquissos que antes referi, reconhecemos
- desmontada - a complexa construção das raízes da contempora
neidade: internacionalismo proscrito, entusiasticamente apreendido
6. Por esta e por outras obras, estará Souto de Moura maduro para in
tegrar o arquivo dos "talentos incomunicantes".
Alguma coisa, contudo, poderá introduzir a dúvida nos apologistas de
uma pedagogia "mais transmissível", na Escola que o formou: naquele
arquivo vai-se reunindo, com excluente aplauso, um número preocu
pante de obras de outros mais velhos, de outros da mesma idade e
ainda outros, discípulos.
Parece, afinal, que os incomunicantes comunicam.
71
72 01 textos por AJvaro Siza
022.1990 08 09 Ensino, Desenho
73
branco cristalino, como semi-cerrar os olhos ou apreender, braço es
tendido, as proporções exactas.
Tinha uma técnica de precisão impressionante: figuras nitidamente re
cortadas sobre o papel, em linhas rectas, zonas de sombra delimitadas
por dois traços finíssimos, logo preenchidos pelo carvão deitado; rá
pido afago, por vezes com o flanco da mão, produzindo uma meia tinta
de transparência absoluta sobre a textura inalterada do papel lngres.
As duas primeiras semanas foram difíceis: o carvão afiadíssimo par
tia, a meia tinta manchava, a bola de miolo de pão agarrava-se ao
papel ou aos dedos; os Deuses troçavam de nós, distorcendo cons
tantemente o sorriso sereníssimo, aumentando a altura da testa ou
revolvendo tumultuosamente os cabelos encaracolados
No fim da segunda semana o lsolino Vaz levou-nos à praia de Leça.
Não se falou em desenho. Jogamos a bola e corremos contra o vento,
até ao limite do fôlego. Deitados na areia, seguimos com olhos es
pantados as passagens constantes e cadenciadas de um Mestre sem
fadiga, até que o céu e o mar se fizeram lilazes.
Provavelmente este exercício preparava uma nova aprendizagem:
como fixar o carvão, que sempre ameaçava seguir a brisa da janela
sobre o Rio Douro. Compramos um objecto incrivelmente engenhoso:
dois tubos de metal de 3 milímetros de diametro e 100 milímetros de
comprimento, articulados, para mais fácil transporte em caixa de car
tão branco. Introduzia-se uma ponta no frasco de fixativo Legrand,
comprado na papelaria Azevedo; na outra soprava-se com brandura.
O sopro devia ser contínuo e de igual intensidade. Nas primeiras ex
periências as superfícies sombreadas do carvão tornavam-se baças,
po�tilhadas por estranhas manchas orgânicas, ou empastadas, ou
brilhantes aqui e ali, ou amareladas, como verniz barato sobre as ma
deiras da Rua da Picaria, ou como o papel de um cigarro sem filtro e
mal fumado.
O lsolino exemplificava. No contra luz da janela uma fina poeira doirada
poisava, mansamente, sobre Atletas, Imperadores, Deuses e Cortesãs.
Pouco a pouco, quase sem dar por isso, o carvão começou a não par
tir, o papel a não manchar, o miolo de pão a manter a plasticidade, o
fôlego a aumentar. E a confiança. O Rio Douro tornara-se tranquilís
simo, e assim a amizade entre nós. Todas as manhãs seguíamos os
altos muros de Nova Sintra, passávamos o posto de transformação
75
78 01 textos por Íwaro Siza
023.1990 03 00 Arquitectura: Malagueira (1)
Quinta da Malagueira
77
outros especialistas, a dor dos arqueólogos e dos historiadores e dos
sociólogos, as visitas dos políticos e dos críticos. O que imagina faz:
se presente e tomba sobre o chão ondulado, como um lençol branco .e.
pesado, revelando mil coisas a que ninguém prestava atenção: rochas
emergentes, árvores, muros e caminhos de pé posto, tanques, depósi-.
tos e sulcos de água, construções em ruínas, esqueletos de animais.
Pub. in [Electa], p. 87
Miragaia
Por outro lado, a curta duração do Programa SAAL não permitiu a con
solidação de um suporte teórico, em paralelo a ajustamentos e a uma
significativa concretização dos estudos em curso (viria a ser suspenso
em 1976, na sequência de violentas acusações, às quais se seguiu um
inquérito de conclusões nunca reveladas).
79
Em resumo, e por diferentes razões, passou de moda falar de "projecto
participado", ou admitir a bondade do conceito.
A imagem é a melhor.
É-me ingrato dizer isto, eventualmente menos justo, já que não me con
sidero suficientemente informado nem estou envolvido no quotidiano da
Faculdade. O meu depoimento não reflecte mais do que uma impres
são: uma outra imagem do exterior.
81
As recentes decisões sobre o curriculum da Faculdade são de recurso
e de adiamento, embora, como seria de esperar, inteligentes1 •
1 A passagem do estágio para o 5° ano elimina-o automaticamente, resolvendo por um ano, da forma
mais embaladora os problemas resultantes da falta de docentes e do aumento de discentes evitando
enfrentar o previsível progressivo agravamento dos mesmos.
2 As novas instalações estão em fase de acabamentos. Não se conhece, contudo, o traçado das vias
de acessos e das intra-estruturas, nem os limites do terreno adstrito à Faculdade. É por isso previsível
que, terminado o edifício, ele não possa funcionar em condições normais. É igualmente previsível o
seu incorrecto dimensionamento (programado para um máximo de 500 estudantes, já neste momento
esse número está largamente ultrapassado, sem que haja medidas tendentes a uma possibilidade de
ampliação). A Faculdade de Arquitectura, em tempos chamada a assessorar a Universidade, na sua
especialidade e para o pólo 3, não é ouvida nem se faz ouvir.
António Quadros
83
84 01 textos por Álvaro Siza
027 .1992 01 00 Reflexão, Outros Arquitectos
Numa época em que cada vez mais aqueles elementos são norma
lizados e prefabricados, a arquitectura exige um distanciamento da
continuidade de material, ou das transições suaves. O relacionamento
entre materiais e formas autónomos é sincopado e inclui rupturas,
como acontece em (algumas) arquitecturas ditas desconstrutivistas.
85
86 01 textos por Álvaro Siza
028.1992 03 03 Outros Arquitectos: Pep Bonet
Pep Bonet
87
de regeneração, fixando e dando sentido ao que era simplesmente dis
perso e denso.
89
o limite norte do lote; na outra margem, eleva-se de novo e rapida
mente até à cota da estrada.
91
92 01 textos por Af-laro Siza
030.1992 04 00 Arte, Família, Desenho
93
Esse dom é o resultado de uma concentração total, da espera do ins
tante, no deserto.
95
4) O objecto perfeito será um espelho sem moldura nem lapidado - o
fragmento de um espelho - poisado no chão ou encostado a um muro.
Nele um míope observa formas, sombras em movimento, reflexos de
reflexos.
Assim se alimenta o desenho.
97
grande por dentro e pequeno por fora. Por vezes os fazem enterrados.
Paradoxalmente, e com bastante aplauso, não poucos arquitectos não
resistem a transformar qualquer "célula de tecido" (por vocação, salvo
momentos de ruptura, oportunidade inestimável de uma reconstrução
do anonimato) em objecto singular, ou pretenso monumento.
99
Este eixo interliga os cinco módulos projectados, respectivamente, de
Nascente para Poente:
1 ° módulo: Centro de Congressos, neste momento ocupado pelas ins
talações da Presidência Portuguesa da Comunidade.
2 ° módulo: auditórios, dos quais um projectado e equipado para repre
sentação de ópera.
3° módulo: Centro de Exposições.
Estes módulos estão já concluídos, encontrando-se em fase de pro
jecto os dois restantes, a saber:
4° módulo: Hotel para 150 quartos, integrando um palacete do século
XVIII.
5° módulo: zona comercial e cinemas.
1 Para além do debate político em torno do C.C.B., muito se falou de desrespeito em relação ao
Mosteiro dos Jerónimos, possivelmente o mais emblemático monumento do património nacional. A
concepção da belíssima Igreja do século XVI, uma igreja-salão de inspiração alemã, é do francês
Boitaca, autor em Portugal de obras notáveis, com posteriores intervenções dos portugueses João de
Castilha e Diogo Torralva, ou de Nicolau Chanterenne e de João de Ruão, ambos de origem francesa.
A destruição provocada pelo Terramoto de 1755 deu lugar á total reconstrução da ala sul, em 1820 e
em Estilo Neo-Manuelino, segundo o tímido desenho do italiano Cinatti e do português Carvalheira. O
Mosteiro dos Jerónimos inclui o muito bom e o muito mau, por adição e alinhamento desamparado; para
além disso, e nos anos dourados do País, é demonstração de desinibida consciência de virtudes e de
carências, de abertura de espírito. De cultura.
101
102 01 textos por Álvaro Siza
033.1992 07 00 Outros Arquitectos: James Sterling, Homenagem
James Stirling
103
104 01 textos por Álvaro Siza
034.1992 09 00 Apresentação
Kenneth Frampton
A passagem do tempo
107
Ou desapareciam para mim, em 1958, com um vago sentimento de re
morso, quando disso me apercebia.
Prefácio
109
01 textos por Atvaro Siza
037 .1992 12 25 Outros Arquitectos: Fernando Távora (2),
Pedagogia
111
projecto; relacionar soluções com outras de Fernando Távora e de ou
tros, revelar coisas escondidas, desnudar o corpo construído, quebrar
o silêncio do vale e transformá-lo em literal pedagogia.
Como numa autópsia, falo de um cadáver.
113
114 01 textos por Álvaro Siza
038.1993 00 00 Arquitectura: Malagueira (2)
1.
Nova área residencial em Évora, cidade de fundação romana (30 000
habitantes, 140 km a Sudeste de Lisboa).
O primeiro eixo prolonga para Oeste a via que une as portas da mu
ralha a um bairro clandestino dos anos quarenta, acompanhando e
cruzando a linha de água que percorre o terreno, em diagonal e de
Noroeste para Sudeste.
115
arruamento) com planta em forma de L. Qualquer dos tipos pode evo
luir de T1 a T5, num máximo de dois pisos.
2.
Afluirão famílias, a ténue ordem existente será subvertida, destruídas
as culturas incipientes, ocupados os campos abandonados.
117
começam a espreitar aqui e além, aqueles em alvoroço, estes delicada
mente, quanto muito em bicos de pés, sobre plataforma quando assim
deve ser (é preciso atender ao tecido e aos Monumentos, sem bruta
lidade nem excesso de mesuras). Esses fragmentos trocam mágicos
sinais. Corrigem-se mutuamente, quando tudo corre bem. Movem ligei
ramente o pescoço de girafa, ou atam-se ao solo.
Assim o que nos escapa, escapa à ruína: antecede outro sonho.
Na Galiza
119
Nos jardins das casas do século XVIII ou XIX, ou nas fachadas das
igrejas, transparece a obsessão e a nostalgia da viagem - palmeiras
esbeltíssimas rompendo a escala e a paisagem, relevos exóticos e de
significado difícil de compreender, varandas coloniais de sobrado es
fregado à mão.
121
Ou casas de vale, parte de um tecido pouco denso, do qual reforçam
a precária consistência.
Estes dois tipos de intervenção correspondem afinal, no que à casa
respeita, aos dois tipos de que fundamentalmente depende a constru
ção da paisagem do Ticino.
a) Nos vales estende-se o tecido legível mas ténue dos espaços da co
munidade, sobre terreno plano, envolvido pela montanha - fechada a
paisagem. Snozzi procura aí, meticulosamente, cada traço no solo e
cada apetite de mudança: fiadas de vinha, muros, fundações de antigos
conventos, hábitos antigos e em transformação. Ajusta o que constrói a
alicerces duplamente firmes: material e historicamente.
As casas erguem-se sobre o já construído, destacam-se, sem prejuízo
de uma estreita relação. A sua aparente arrogância não agride; lançam
olhares de interpretação; pé ante pé procuram onde aterrar. Os símbo
los sofrem uma torção e o betão preside - garante a continuidade e a
demarcação das superfícies acrescentadas, a nitidez dos volumes.
Em frente há uma ilha. Choveu. Num dos extremos da ilha existe uma
casa. Dessa casa, subitamente, desprende-se um arco-íris. Perde-se
no céu cor de chumbo. Reaparece, contra o verde da outra margem.
Abraça a paisagem como se fosse a moldura de um quadro, ou a aura
sobre um desenho ideal.
123
01 textos por Alvaro Siza
042.1993 05 11 Discurso (DHC), Ensino
Doutoramento em Lausanne
125
Nas manhãs de domingo descia à Promenade des Anglais1 • Observava
a partida e chegada dos barcos, não muito diferentes dos que inspira
ram a Le Corbusier uma arquitectura apropriada ao pensar e ao sentir
dos contemporâneos. Depois do almoço, nalguma esplanada menos
fria, porque o sol brilhava, entregava-me a um dos meus mais ou
menos secretos violons d'lngres: a poesia escrita, na esperança e na
procura da poesia do desenho. Da Arquitectura. Pois na Arquitectura
é difícil a aproximação dos territórios da poesia, distanciados pela ex
cessiva pressa, pela procura desmedida do lucro ou da novidade e,
quantas vezes, pela promoção do que é medíocre. Assim se explicam
algumas desistências ou desinteresses.
A minha gratidão.
127
128 01 textos por Álvaro Siza
043.1993 05 22 Outros Arquitectos: Fernando Távora (3),
Ensino
Távora
Julgo que ele próprio sempre teve consciência disso, sem muito se
preocupar: é de sua natureza a dispersão em espontânea generosi
dade, sem cálculo ou sensação de sacrifício.
129
Diz-se agora que "se reforma". Mas para quem conhece a personali
dade e a vitalidade de Fernando Távora - não há reforma possível.
131
Uma teia de finíssimos fios aprisiona por instantes passado e presente,
vai ganhando a forma do amanhã.
Por isso é penoso construir agora, quando, ao olhar em volta, repetida
mente se encontra não um coro, não uns solos, mas notas dissonantes,
improvisos sobre uma partitura inexistente.
Nunca fui capaz de construir uma casa, uma autêntica casa. Não me
refiro a projectar e construir casas, coisa menor que ainda consigo
fazer, não sei se acertadamente.
133
O granito das lajes ou das calçadas cobre-se de perigosíssimo limo, o
verniz escurece, películas de tinta desprendem-se e põem a descoberto
os nós de uma madeira reduzida à capa. Qualquer dedo de anciã pode
furar os caixilhos, os vidros estão partidos, caíu o betume, o silicone
desprende-se das superfícies, há mofo nos armários e nas gavetas,
as baratas resistem aos químicos. Sempre terminou a graxa quando
procuramos a lata necessária, os tacos descolam, desprendem-se os
azulejos, primeiro um, logo a parede inteira.
Por aí fora.
Viver numa casa, numa casa autêntica, é ofício a tempo inteiro. O dono
da casa é simultaneamente bombeiro de serviço (as casas ardem cons
tantemente, ou inundam-se, ou o gás escapa-se sem ruído, em geral
explode); é um enfermeiro (já viram as lascas de madeira do corrimão
cravando-se fundo no sabugo das unhas?); é um nadador-salvador, do
mina todas as artes e profissões, é especialista em física, em química,
é jurista - ou não sobrevive. É telefonista de serviço e recepcionista, te
lefona a cada momento, procurando picheleiros, carpinteiros, trolhas,
electricistas, e logo lhes abre a porta de entrada, ou a de serviço, acom
panhando-os com subserviência; pois deles depende, embora nada
impeça a necessidade de uma oficina completa, a qual igualmente se
vai degradando. E então é necessário afiar lâminas, comprar acessórios,
olear, rearrumar, desumidificar; de imediato avaria o desumidificador, e
atrás o ar condicionado, as bombas de calor.
Quando pela primeira vez não é substituída de imediato uma lâmpada fun
dida toda a casa perde a luz, o que invariavelmente acontece ao sábado,
ao mesmo tempo que rebenta um pneu do único carro disponível.
Por isso considero heróico possuir, manter e renovar uma casa. Em minha
opinião deveria existir a Ordem dos Curadores de Casas e todos os anos
atribuída a respectiva comenda e um elevado prémio pecuniário.
135
136 01 textos por Álvaro Siza
046.1994 03 01 Cidades, Desenho
Regresso ao Porto
139
Aí está. Já não existe o sobressalto daqueles instantes, a ponte nova
não treme, os bancos de comboio são mais confortáveis, os cavaletes
dos carris elevados invadem os socalcos cobertos de lixo. Compro um
vídeo de Aniki-Bobó, de Douro Faina Fluvial, penduro uma gravura an
tiga do Porto no quarto, parto de avião.
Ignorância de Lisboa
141
fissurado, riscado pelo encosto, de cores não intensas, transparentes,
misturadas semi-cerrando os olhos, cores em deslocamento, condu
zindo a outra cota e a outra impressão.
Esta viela tem as janelas que gostaria de desenhar mas não posso, feitas
por mãos de projecto cortadas, tocos de que algo vai nascer. Ao longo
da margem do rio, em bolsas recém-formadas, surgem portas nova-ior
quinas em segunda mão, multidões na rua como em Madrid, turistas
espanhóis e brasileiros, entre gente alheia ao bulício, que recolhe às 7:30
e parte às 7:30, enchendo as estações do metropolitano forradas de azu
lejos e de pedintes. A grande massa do Centro Cultural acena aos seus
pares - os conventos e os palácios - espera o rio e o momento de se di
luir no casario, suporta o perfil móvel das arquitecturas. Cada novo traço
remete inevitavelmente a um traço antigo. Passa o taxista de Tabucchi.
Lisboa apaga a outra cidade de que não falo e de que vive a primeira.
Nas lojas emolduradas a calcário carregado de cicatrizes, ou nas pe
riferias desoladas entre colinas e sobre colinas, persiste um apetite
irreprimível de regeneração, o impulso dos cataclismos e da persis
tência, das populações marginadas, imigradas, adaptadas por uma
alegria intensa de viver.
143
144 01 textos por Álvaro Siza
049.1994 10 00 Arte - Escultura
Carlos Nogueira
145
Sou igualmente dos que pensam que a cidade, ou o território, não ne
cessitam, em princípio, do aceno de "obras de Arte". Uma cidade de
espaços conformados - negativos dos gestos de existência - é exclu
sivamente por isso bela. Impregnada dessa vida, revela-se excitante e
misteriosa e tranquila - conforme cada um de nós o desejar.
Barragan
147
Não há inovação.
Há o reencontrar da inocência, uma conquista do Estado de Graça,
para que se não perca a Memória.
O exemplo do escritor
149
150 01 textos por Álvaro Siza
052.1995 03 00 Discurso (DHC), Cidades: Palermo
151
Amo esta cidade entre o azul do mar e o da montanha - e o verde e o
doirado - os bordos dos vales, fora de portas, quando deslizam pelo
sopé da montanha, exibindo um alçado verde quase horizontal; a sur
presa de uma torre espanhola sobre a rocha ou sobre a praia, depois
de algum aterro selvagem, ou o súbito aparecimento de um baglio de
austera geometria, ou de um armazém de pesca, no extremo de uma
rampa lajeada.
Gosto dos canais de visão sobre a montanha, das perspectivas aéreas,
desde o Monte Pellegrino ou de Monreale, quase como nas gravuras
antigas, quando o céu está límpido e as formas são nítidas, debruadas
a luz - estranhas rugas revelando camadas soterradas da cidade.
Em Palermo - literalmente ou indirectamente - caminhamos sobre
todas as civilizações. A solidez deste solo vem de tais sedimentos, tão
junto ao mar.
Amo ainda as salas dos palácios e dos apartamentos de generoso
pé-direito, os pavimentos em marmorite ou em mosaico, as lajes de
pedra de Billieni, polidas por nós e pelo tempo.
Gosto das palmeiras do Jardim Botânico e das plantas Arte Nova em
pedra ou em cerâmica, das construções extravagantes e dos cubos
apenas perfurados.
Não esqueço as bancas dos mercados de levante, entre a multidão,
carregadas de bluejeans e de plásticos e de fruta e de cerâmica, de
legumes e de peixe ainda vivo; os alfarrabistas e os antiquários, as
gravuras dos viajantes ingleses e as coisas cobertas de pó, as mon
tras dos confeiteiras, pintadas pelo açúcar colorido; as motos nas ruas
e as vielas bloqueadas por mesas, cadeiras, jogadores de cartas; os
cantos saltando dos rádios portáteis, dos rádios dos automóveis ou
das bancas dos vendedores ambulantes.
Amo as ruas escuras do centro, silenciosas depois do anoitecer, a res
piração adivinhada dos que aí moram, as luzes amortecidas pelo pó
dos candeeiros e as esplanadas inundadas de claridade e de barulho;
a possibilidade de um banho de mar nocturno e o susto de um som de
passos, na escuridão, quando vagueamos de noite.
Amo finalmente a impressão de presença-ausente dos parentes de
Milão, dos Estados Unidos da América.
Essas gentes ajudam a criar outras cidades, consigo transportando a
sua, fazendo-a reviver.
153
Palermo é uma das Minhas Cidades. Nada lhe ofereci a não ser o olhar
maravilhado.
É a Faculdade de Arquitectura desta cidade que agora me honra, de
forma que não julgo merecer, mas que me compraz.
155
166
L_______ _
. 01 tl9xtos por /waro Siza
054.1995 03 27 Arquitectura: Chiado (3)
157
progressiva solidez técnica e teórica e Projecto sensível à multiplici
dade de condicionantes.
Bibliotecas
159
- nas suas várias versões - e sem dúvida e definitivamente distanciou-
-se dos caminhos da nostalgia.
Sofás
161
peso do corpo, as molas lentamente perfuram os tecidos. Há novos
materiais, cómodos e laváveis e indeformáveis, é certo, para encher as
almofadas, os apoios dos braços e da nuca.
163
descrito como esquissador, com mais comiseração do que apreço.
Mas a Arquitectura não acaba no papel. Habita o espaço e contém es
paço. Está mais próxima da Música do que da Pintura.
A obsessão contemporânea da divisão de trabalho e da especialização,
aliada à incapacidade ou impreparação ou desinteresse em articular as
diferentes especialidades envolvidas no projecto e na construção, por
cálculo ou por dificuldade, tem erguido fronteiras e proposto exclusões,
o que explica em grande parte as pobres marcas gravadas no território
e a triste elementaridade da maior parte do que dele se ergue.
Por outro lado, o aparecimento de novos e preciosos instrumentos de
trabalho e de comunicação, capazes de aumentar o rigor, a rapidez e
a capacidade de coordenar, tem desenvolvido a ambição de ultrapas
sar o que pouco, através dos séculos, tem mudado: a capacidade e a
necessidade e o desejo de reflectir, de deixar fluir o que não é tão pre
visível como para arquivar em disquete, o que não é preconceito.
O tempo de reflexão.
O tempo é o maior inimigo da Arquitectura, quando em seu nome não
é permitida a normal maturação de uma ideia, com prejuízos materiais
e espirituais ignorados.
E o tempo é o maior amigo da Arquitectura, o tempo que distingue o
que permanece e o que se dissolve, o tempo propiciador de magníficas
patines e de complexas sobreposições, o tempo que não tem pressa,
resistente imbatível.
À Arquitectura compete, hoje como sempre, construir os lugares da paz,
da estabilidade, da liberdade e da segurança, do conforto e da intimidade
e do convívio, do esquecimento e do sonho constantemente proibido.
Isso e muito mais cabe à Arquitectura e aos que a estudam. É-me
grato imaginar que a honra que me é concedida corresponde ao re
conhecimento do empenho de um arquitecto em comunicar a outros
e partilhar com outros, ainda que por forma distante e imperfeita, pre
ocupações e convicções que interessa transmitir aos que a estudam
porque a amam.
Se assim é, então poderei aceitar com tranquilidade essa honra, e
também - quase com um sorriso nos lábios - o outro lado da moeda
que nos cabe.
Sobre a espontaneidade
165
,,
,,
Sobre Pedagogia
1
• O Arquitecto não é um especialista. A vastidão e variedade de co
nhecimentos que a prática de projecto hoje envolve, a sua rápida
evolução e progressiva complexidade, de modo algum permitem co
nhecimento e domínio suficientes. Relacionar - projectando - é o
seu domínio, lugar do compromisso que não signifique conformismo,
da navegação entre a teia das contradições, o peso do passado e o
peso das dúvidas e alternativas de futuro - aspectos que explicam a
inexistência de um Tratado contemporâneo de Arquitectura.
167
o outro limitar ou dispersar, ou hierarquizar, minorizando num ou
noutro sentido.
2
De um modo geral, o Ensino contemporâneo da Arquitectura não se
relaciona com esta condição, ou por ela não ser real, ou por a ela não
ser prestada atenção (e é nisso que acredito).
Na minha perspectiva, e de imediato, o Ensino da Arquitectura exige
pelo menos:
• Trabalho quotidiano real e não simulado, em inter-disciplinaridade.
Os interlocutores podem ser docentes, em exercício constante
mente coordenado, ou a isso pode corresponder um por agora
muito difícil relacionamento entre Cursos diferentes.
• A aquisição de conhecimentos - sempre são provisórios e insufi
cientes os conhecimentos - exige sobretudo a aprendizagem da
capacidade de interrogar, de contínua abertura e espírito crítico,
o oposto a Cartilha ou Sebenta ou Bíblia. A composição do corpo
docente deve ser organizada em consonância com o referido, ul
trapassando conceitos de carreira e hierarquia (ou a eles não se
limitando). Uma Escola tem de ter meios para alimentar essa vita
lidade e flexibilidade.
• A aprendizagem - a aquisição da capacidade de continuamente
aprender - continua a centrar-se, em meu entender, no desenho -
no aprender a ver, a compreender, a exprimir - e na história - no
sentido de conquista da consciência do presente em devir.
• A aprendizagem da construção - da capacidade de com outros
construir - não é dissociável da Arquitectura, pelo que não devem
existir disciplinas diferentes, mas antes convergência, em cons
tante conhecimento de que nenhum acto criador se dissocia da
materialidade do seu acontecer.
• Nenhuma ideia de oposição entre paisagem - percepção e cons
trução do território - e objecto - fragmento do território - tem lugar
no ensino da Arquitectura.
169
170 01 textos por Álvaro Siza
060.1995 11 00 Cidades: Rio de Janeiro
Rio de Janeiro
171
172 01 textos por Alvaro Siza
061. 1995 12 00 Apresentação
Construir ideias
173
É por isso premente, também para o desempenho desses agentes, uma
abertura de informação desde cedo e a todos, acabando com os mitos da es
pecialização, da incomunicável complexidade das várias especialidades.
A informação é o primeiro passo para o abrir dos olhos que olham mas
não vêem - des yeux qui ne voient pas, dizia Le Corbusier. Nenhum
esforço isolado ou colectivo dos agentes especializados da transfor
mação do ambiente é eficaz, caso esse esforço não corresponda a
uma exigência colectiva, feita de exigências individuais e decorrente
de um conhecimento generalizado.
Cidade
Tudo isso acontece por igual na cidade onde vivemos; só assim não
morre.
O peso das raízes põe-se por isso de igual modo onde quer que nos
seja dado trabalhar; a possibilidade contemporânea de chamamento a
largas viagens estimula através dos olhos e da mente.
175
Se por inteiro perdermos as amarras, arriscamo-nos a um despren
dimento que roça o vazio e se aproxima do gratuito. A alternativa é a
de uma receptividade universal capaz de despertar as raízes de cada
cidade, prolongando-as em caule, ramos, folhas, flores, frutos, em
qualquer lugar.
177
perpétuo movimento que tende a refazer o equilíbrio da cidade.
Esse movimento encontra ritmos diferentes em New York ou em
Amarante; mas existe sempre, como existe entre cidades e regiões,
entre Natureza e Construção. A acção do arquitecto habita o interior
dessa perpétua deslocação. Há um ballet quase imperceptível e inin
terrupto na superfície terrestre, e quem não segue os movimentos dos
coros ou dos solos não pode participar (Al/egro, Andante, Adagio ...).
O arquitecto não é o bailarino. Mas, como qualquer carpinteiro ou elec
tricista de cena, ou encenador ou participante imóvel, deve conhecer o
ofício, aprender a não usar demasiada luz ou luz de menos, expressão
excessiva ou insuficiente, e a não atribuir igual significado a qualquer
gesto e a qualquer voz.
Essa aprendizagem é incompatível com a ideia primária de especia
lização (arquitecto competente para casinhas, arquitecto competente
para museus, arquitecto competente para arranha-céus).
Gabriele Basílico 1
179
Esse Matosinhos não desapareceu por inteiro; encontra-se em pro
cesso de grande e natural transformação, resiste e renova-se.
Daí, também, a oportunidade do registo feito por Gabriele Basílica.
Oportunidade como memória, mas sobretudo como referência ne
cessária à acção, como ferramenta-de-abrir-os-olhos a quem não
tenha a profundidade de visão de um grande fotógrafo - a capaci
dade de destacar e analisar, sem desfocar a inconfundível atmosfera
de uma cidade (Des yeux qui ne voient pas, dizia Le Corbusier).
181
182 01 textos por Álvaro Siza
065.1997 01 12 Arte - Fotografia: Basílica (2)
Gabriele Basílica 2
183
3. Gabriele Basilico expõe no Centro Cultural de Belém uma selecção
de fotografias, correspondente a muitos anos de registo da cidade e do
território. Esse registo oscila entre as ruínas e a transformação do ter
ritório, pela pulverização de construções de variado e limitado tipo. De
ambos os casos resultam imagens de extraordinária beleza, apesar de
que todos nós - e ele próprio - nos interroguemos sobre a evolução
desse derrame de construções desrelacionadas, ou sobre a destruição
causada por desastres ou por opções.
Considerando essa beleza latente: será essa a realidade (e há erro
nos nossos olhos) ou será ilusão de câmara fotográfica, manejada por
quem sabe? Na interrogação final do texto de Basilico sobressai a in
quietação e o sentimento de colectiva dificuldade de mudança; mas
também o encantamento provocado por tudo o que o homem contra
põe à natureza: "Dietro ai caos, emerge l'immagine di un territorio che
pur a fatica resiste all'omologazione. Ma fino a quando?"
Exposição em Frankfurt
1.
Portugal é um País de pequenas dimensões: 800 kms de costa,
98 000 km2 de área, uma média de 250 kms entre o Atlântico e a fron
teira com a Espanha.
Quem o percorre de norte a sul e da costa ao interior surpreende-se
com a variedade da paisagem e da arquitectura.
Esta variedade deve-se à geografia e às complexas raízes culturais, à
presença histórica de diferentes civilizações, da fenícia à romana, da
celta à islâmica.
A arquitectura vernacular Portuguesa reflecte essa complexidade re
gional; varia desde a austera geometria das casas de granito, madeira
e telha ou ardósia, no norte, do Minho a Trás-os-Montes, à brancura
da cal aplicada sobre muros de taipa, no sul, onde a cor surge apenas
junto ao solo ou em redor das pequenas aberturas.
Varia ainda na forma como se agrupam estas casas: densamente e
duma forma orgânica no norte montanhoso, de pequena propriedade
e de pluricultura, de forma dispersa e no cimo das pequenas colinas
do Alentejo, em unidades de exploração agrícola de extensas proprie
dades de monocultura.
A diferenciação da arquitectura vernacular convive, nos centros his
tóricos (quase sempre de fundação romana) com os signos da
universalidade urbana, no caso de Portugal e a partir do século XV
185
marcada pelo encontro com o oriente - da Índia ao Japão - com a
América do Sul e a África.
Portugal é também um País em rápida transformação, movida pela
queda do regime em 1974 e pela posterior democratização, e influída
pela forte emigração dos anos 60.
Como quase sempre, esta rápida transformação e a queda dos injustos
e repressivos instrumentos de controlo anteriores - e de perpetuação
do subdesenvolvimento - reflectem-se de um modo aparentemente
negativo na arquitectura e na organização do território.
Não é frequente, nestas circunstâncias, que a construção da justiça
social e da qualidade de vida se traduza automaticamente na serena
beleza do quadro físico, ou que as reconversões indispensáveis se
façam sem deixar sulcos de destruição e desordem no território. Assim
tem acontecido em Portugal.
2.
O trabalho do arquitecto no Portugal de hoje passa por uma dependência
- pela necessidade de a considerar - em relação a estas condições de
transformação, as quais incluem decadência do trabalho artesanal e do
tecido produtivo anterior e dificuldade na adopção de novas tecnologias.
Uma situação de transição, desigual conforme o sítio onde se construa e
que exige realismo, informação diferenciada e empenhado envolvimento.
3.
A jovem geração de arquitectos Portugueses está mais livre de ini
bições e contradições (inovação ou tradição, internacionalismo ou
regionalismo) do que as gerações imediatamente anteriores.
A um modernismo dos anos 30 a 40, de inspiração francesa ou austrí
aca, alemã ou holandesa, segue-se a imposição de um suposto estilo
nacional, a que poucos e pontualmente puderam resistir.
O isolamento do regime no pós-guerra e a necessidade de uma re
lativa abertura tornaram possível a introdução de outros modelos,
sobretudo italianos e anglo-saxónicos.
O reencontro da modernidade assume então e pela primeira vez desde
há muito tempo uma posição de "contemporaneidade", simultanea
mente de universalidade e de compreensão da história como devir.
Pub. in Álvaro Siza, lmmaginare l'evidenza, ed. Gius. Laterza & figli Spa,
Roma-Bari, 1998. Trad. Portuguesa in Álvaro Siza, Imaginar a Evidência,
Edições 70, Lda, Março 2000, p. 147. O livro é a transcrição da entrevista
feita por Guida Gianfranco a Álvaro Siza.
Nota Autobiográfica
187
Quando tem prosseguimento, o trabalho transforma-se numa espécie
de corrida de obstáculos.
Mantém contudo intacta a paixão pela Arquitectura.
Tem um pouco secreto desejo de a abandonar, para fazer ainda não
sabe o quê.
Pub. in Miguel Barbosa, Lisbona dalla finestra dei miei occhi: com testo
a fronte, ed. bilingue: italiano e português, pub. Firenze, Le Lettere, col.
li nuovo melograno, 2006.
Prefácio
189
190 01 textos por Álvaro Siza
069 .1997 1 O 00 Arte - Pintura
Manuel Cargaleiro
191
192 01 textos por Álvaro Siza
070.1997 1 O 00 Outros Arquitectos: Snozzi (2)
Snozzi
193
Aí toma os mais leves indícios de desejo e tudo transforma em razão
de partilha e de amizade. Os habitantes vivem o colocar de cada "sua
pedra" - como respiram. O projecto flui ao ritmo da vila, transgride o
próprio plano, assim como um poema escapa à métrica e aos limites
do haiku ou do soneto - flutuando, sem cais, no espaço e no tempo.
Em Salzburgo, cidade conservadora, precária sob as rochas enor
mes (pode ser o Barroco, pode ser Mozart), com a maior naturalidade
o Luigi reúne os desejos que restam, até ao ponto de parecer uma
metrópole. Empresta o entusiasmo aos mais lentos, forma uma outra
espécie de orquestra sinfónica. Há sempre gente jovem ao seu lado.
Ouve-se então o trompete de Armstrong, descendo do Casino Winkler.
Tudo se torna tão simples que é um escândalo.
E eu dizia: não é possível, Luigi (vais ver que é).
Aparentemente foi tudo interrompido. Um dia veremos, com ou sem
surpresa, o projecto a surgir; ou então a reaparecer, nas margens do
Maas, no país onde não há montanha.
Dirá então, com um sorriso nos lábios: vês, Siza?
195
consciência da complementaridade dos saberes não é possível dar
resposta a uma necessidade social particular, que inclui e da qual de
pendem as outras: a Beleza.
Essa é a primeira responsabilidade do arquitecto, e nunca o capricho.
Ser aceite pelo Senado Académico da Universidade de Coimbra está
associado, no meu espírito e independentemente do mérito, à espe
rança em que tal reconhecimento não seja a excepção.
197
198 01 textos por Álvaro Siza
073.1998 05 00 Arquitectura: Igreja de Marco de Canaveses,
Piscina de Leça da Palmeira (2), Malagueira (4)
199
200 01 textos por Álvaro Siza
074. 1988 05 15 Cidades: Porto (3)
Porto
Esta minha cidade do Porto tem um solo levado dos diabos. Acidentado,
granito que durante séculos repeliu planos apressados.
201
perspectivas. Tudo reflecte tudo: azulejos e vidros finíssimos e ondu
lados, cubos de granito polido, negro, cavado pelas rodas dos carros
de bois e pelos trilhos dos eléctricos, Rio Douro castanho esverdeado
(atmosfera pesadamente aquática, de asas inesperadas que tudo re
cuperam, deformando).
Pouco importa. Esta minha cidade tem um solo levado dos diabos. E
um nevoeiro onde nenhum Sebastião penetra.
203
204 01 textos por Álvaro Siza
075.1998 07 09 Discurso
205
Séculos após a chegada dos Portugueses ao Japão não tenho dúvidas
de que a escolha deste arquitecto Português para receber o presti
giado Praemium lmperiale, concedido pela Japan Art Association,
nada tem a ver com diferenças surpreendentes, como um nariz com
prido. Mas sim com a procura e a luta por um mundo onde a felicidade
- a Beleza - possa ter lugar.
Óscar Niemeyer
207
O Mestre comentava diapositivos de esquissos e maquetes, dese
nhando simultaneamente (uma ponta de carvão na mão) grandes
folhas de papel de cenário, suspensas de um cavalete.
Via-se que havia prazer na oferta, tanto como o prazer perceptível nas
curvas das lajes, no rápido apontamento das montanhas, dos lagos,
das palmeiras - da paisagem.
209
210 01 textos por Álvaro Siza
077 .1998 09 00 Outros Arquitectos: Alvar Aalto
Alvar Aalto não era ainda uma referência na Escola do Porto, simples
mente porque não era conhecido.
Não posso esquecer esse primeiro contacto com a obra de Alvar Aalto,
tal como ela estava publicada e analisada, a fascinação e emoção com
que vi pela primeira vez as fotografias de Viipuri e do dormitório de
estudantes do M.I.T., as curvas dos objectos em madeira, aço, vidro,
couro, cobre - as curvas dos lagos da Finlândia. Ou aquela fábrica de )
geometria implacável, nascendo de um maciço rochoso - natureza e .•
betão como Material da Arquitectura.
211
Iniciavam então as Escolas do Porto e de Lisboa o estudo sistemático
da Arquitectura Popular em Portugal, publicado em 1961. Mais do que
simples registo de arquitectura tradicional, o Inquérito feito desmonta
o conceito reaccionário de "Arquitectura Nacional", revelando a arqui
tectura portuguesa na sua relação com o Homem e com o Meio, com
a História e a Geografia.
213
Disse-me um deles, os olhos a brilhar: Gosto deste trabalho; é sem
pre diferente.
- Pois é. Também eu gosto.
215
Entretanto e independentemente disso, a cabeleira prateada não dei
xará de transmitir uma mensagem de vontade de cidade; ou então,
carregada de gente, partindo os carris, saltando obstáculos, percor
rerá o curto espaço até ao mar, sobre um Tejo esplêndido e difícil de
conspurcar, acenando ao Terreiro do Paço, aos Jerónimos, ao Centro
Cultural e à Torre de Belém - jangada de aço e de vidro e de betão.
l
216 01 textos por Álvaro Siza
080.1999 02 00 Poética, Reflexão
Ainda: tudo o que faz nos protege. O sol e a tempestade não assustam,
nem no que faz se revê como poeta que é.
217
218 01 textos por Álvaro Siza
081.1999 02 00 Poética, Reflexão
219
220 01 textos por Álvaro Siza
l
082.1999 02 00 Homenagem, Arquitectura: Chiado (4)
Abecasis
- Está bem. Pensa e diz-me depois que sim. (Já me tratava por tu, e
muito em breve por "menino").
221
imediato construir um pontão, que viria a ser fundamental para manter
em actividade o Chiado e as zonas confinantes).
A Associação aceitou o meu ponto de vista de que não era caso para
concurso, mas sim para a gestão de uma teia de interesses, nostal
gias, desejos, entusiasmos, desgostos e dúvidas, no contexto de um
Chiado de súbito destruído, mas há muito em agonia.
Basílico 3
223
Recordo uma gravura de Buenos Aires, da época da fundação.
225
E que descoberta rompeu o academismo de Matisse e dos que o
precedem?
Pub. in Álvaro Siza, lmmaginare l'evidenza, ed. Gius. Laterza & figli Spa,
Roma-Bari, 1998. Trad. Portuguesa in Álvaro Siza, Imaginar a Evidência,
Edições 70, Lda, Março 2000, p. 103 a 127. O livro é a transcrição da
entrevista feita por Guida Gianfranco a Álvaro Siza.
Évora - Malagueira
227
e pelo menos até ao início deste século, era frequente que um único
arquitecto acompanhasse o desenvolvimento de uma cidade. Esta
condição ainda hoje é essencial, para garantir uma justa coerência.
Para aquela área já existia um plano, elaborado nos finais dos anos
sessenta, que previa a construção de edifícios altos, alguns dos quais
foram depois realizados, que ameaçavam o perfil da cidade. Nuno
Portas, Secretário de Estado para a Habitação e Urbanística no pri
meiro governo provisório, decidiu suspender essas construções e
definiu novos princípios. E.stes previam a conservação da densidade
do plano anterior para mil e duzentas habitações, a preservação da
faixa verde que acompanhava uma linha de água, ainda presente, e a
construção de habitações baixas e de alta densidade. Manifestou-se
assim a intenção, decididamente inovadora no País, �e preservar o
território e experimentar novas soluções para a habitação.
229
explicável naquele contexto revolucionário; todavia respondi que con
siderava inaceitável o silêncio e as demissões do arquitecto. Ou seja,
a competência específica não pode ser eclipsada pela colectividade
uma vez que constitui uma presença insubstituível. A formação profis
sional, com todos os seus conhecimentos, é um capital ao qual não se
pode renunciar.
233
já falei. Trata-se, uma vez mais, de suportes úteis para o desenho dos
espaços públicos.
As casas eram construídas com tijolos cozidos ao sol, que ainda hoje
se fabricam e se utilizam. A resposta projectual não podia contar com
235
este factor, porque as dimensões do programa eram desproporcionadas
relativamente à possibilidade produtiva. A produção tradicional estava
portanto fora de causa. Além disso, em virtude de depois do 25 de Abril
se ter dado um "boom" na construção, as grandes empresas estavam
absorvidas com novas construções nas cidades mais importantes, por
que era forte a ânsia de libertação e desenvolvimento. Por esta razão
verificava-se uma grande penúria de construtores e de materiais.
Pub. in Álvaro Siza, lmmaginare l'evidenza, ed. Gius. Laterza & figli Spa,
Roma-Bari, 1998. Trad. Portuguesa in Álvaro Siza, Imaginar a Evidência,
Edições 70, Lda, Março 2000, p. 131 a 145. O livro é a transcrição da
entrevista feita por Guida Gianfranco a Álvaro Siza.
Essencialmente
237
Posteriormente, com a solicitação de produção em série, tornou-se
muito claro que esta relação directa e exclusiva com o espaço é débil,
sendo demasiado redutora. É necessário num certo ponto do processo
libertar o projecto de uma dependência completa. O desenho de um
móvel começa assim a alcançar uma maior autonomia e adquire uma
certa singularidade. A qualidade do resultado depende desta procura,
ao mesmo tempo de autonomia e de capacidade de se relacionar. Em
tal processo, a ajuda mais importante é dada pela percepção da es
sência de cada móvel: essencialmente o que é?
No design existe um forte contacto com a produção, quer esta seja ar
tesanal quer industrial. É indispensável, assim, a compreensão das
possibilidades do sistema de produção através de uma adequada
utilização das suas potencialidades. É fundamental durante todo o
processo uma ligação muito estreita entre o desenho e a produção,
especialmente se se trata do contacto com um artesão ou um carpin
teiro de província, mais do que com uma indústria.
239
pensando no assunto e de repente surja a estrutura. Depois, é de
terminante o trabalho de aperfeiçoamento e clarificação, ligado aos
ritmos da leitura e aos pormenores da forma. Creio que não existe
uma grande diferença entre o processo de escrita e o do desenho de
tal modo que em definitivo não sou capaz de dizer como desenho um
objecto ou a própria arquitectura.
L.
240 01 textos por Álvaro Siza
amigos arquitectos e sobretudo com familiares, que têm uma visão
menos comprometida. Inicio assim um "aprendizado" durante um certo
período, enquanto o desenho avança a partir de hipóteses, críticas e,
consequentemente, respostas às críticas. Todo o processo projectual
segue substancialmente este percurso. É evidente que quanto mais
profundas são as críticas, menor é a probabilidade de insucesso, e
por mais incrível que possa parecer, maior é a autenticidade. No de
sign este processo de aperfeiçoamento através das críticas, através
dos contributos de muitas especializações, através de testes e expe
riências, é um dado de facto. O automóvel antes de ser vendido é
experimentado de muitos modos, em todos os seus aspectos de con
forto, de eficácia, de manutenção ...
Conta-se que Kandinskij entrou, um dia, no seu atelier e viu uma pintura
belíssima: ficou surpreendido, depois aproximou-se e verificou que era
um quadro pintado por ele, uma paisagem ou uma natureza morta, vi
rada de cabeça para baixo. Tinha desaparecido tudo aquilo que era fixo
na representação do quadro e ficara o essencial, nas suas formas, nos
seus equilíbrios e nas suas cores.
241
242 01 textos por Álvaro Siza
087.2000 07 00/08 OutrosArquitectos: Juan Miguel Hernandez
Léon
O recinto
Juan Miguel Hernandez Léon deposita uma lâmina de calcário quase
branca sobre a pedra de um castanho esverdeado das muralhas. Essa
fina lâmina reveste a totalidade das superfícies horizontais - pisos, e re
mates superiores dos muros. Dessas luminosas superfícies horizontais
desprendem-se, para o alto e para baixo, alguns elementos arquitectóni
cos - escadas ou gárgulas ou outros construídos na mesma pedra.
243
do grande recinto situado entre a muralha portuguesa e os bastiões
San Xavier, San lgnacio e San Pablo é trabalhado como uma enorme
escultura em baixo relevo, de modelação estudada a partir das neces
sidades essenciais de uso e da memória e informação sobre a antiga
Praça de Armas e a desaparecida "falsa Braga".
Museu
A entrada no museu não se faz pelo portal principal do bastião de San
lgnacio. Esse portal foi recuperado, bem como a escada interior, de
tecto abobadado, conduzindo ao terraço. Este acesso facilita a ma
nutenção e controle dos lanternins de iluminação, os quais ocupam
fundamentalmente a espessura dos medalhões, refeitos mas agora
esvaziados. A entrada faz-se por uma outra porta, dando acesso a
um espaço de recepção (uma das células dos espaços originais ane
xos ao muro de limite do bastião). Uma pequena porta conduz á célula
contígua, e daí aos novos espaços do museu. Um enorme arco per
mite uma primeira e dramática visão sobre a sucessão de espaços,
desenvolvidos paralelamente aos muros limite, e sobre a prodigiosa
máquina de luz inventada.
245
Não é preciso então uma janela recortada, a deslizar sobre seja o que
for.
A janela é uma rua inteira onde passam pessoas distraídas, sem re
servas, transportando malas e embrulhos, apoiando-se em bengalas,
guarda-chuvas, pensamentos. Ou pessoas que param e nos olham,
desconfiadas, subservientes por vezes, desfocadas, paralisadas no
espanto do outro. Ou que partem plenas de energia, saltando do fundo
de papel acastanhado, envolvidas por uma aura brilhante, ou mancha
de óleo, em nítidíssimo instantâneo, prestes a desaparecer.
Café Moderno
247
com Carlos Seoane. As cores brilhantes, encobertas sob camadas de
pintura, foram reaparecendo; os quadros (os belos quadros de Sobrino
e de Laxeiro, o belíssimo e abandonado fresco), foram pacientemente
restaurados; igualmente restaurados ou refeitos foram as esquadrias,
as ferragens, o jardim e as suas belas espécies vegetais, o granito,
aqui e ali perfurado, simplesmente por insensibilidade.
O Café Moderno é hoje sem dúvida "uma outra coisa". Mas a sua
nova expressão e o seu ambiente (creio que não me engano) - perfu
rando, lançaram raízes em paredes impregnadas de uma rica história
humana, social e artística. Passado incontornável, indispensável à li
bertação do Passado.
Se for assim, Jacinto Rey, terei sido eficaz. Afinal, eficaz é a qualidade.
Exposição em Nápoles
A exposição foi montada tendo como espaço principal uma belíssima sala
barroca, de paredes revestidas por lambris e pinturas a fresco; no pa
vimento, ao centro da sala, salientava-se um desenho barroco, com
embutidos em mármore.
249
na periferia da sala; sobre estas ficaria a maior parte dos desenhos.
Alguns destes, tal como as maquetas, ficariam expostos horizontal
mente e outros inclinados, para facilitar a observação.
251
permite sem erros verificar com rapidez, por exemplo, as proporções
de um projecto. Continua contudo o prazer de esquissar, ao som da
música, como que em férias. Por vezes, no dia seguinte, a verificação
rigorosa revela os enganos; mas nem tudo se perdeu.
Alvar Aalto contava que por vezes, quando o projecto não avançava,
fazia desenhos ou pinturas ao acaso, sem ligação directa com o pro
jecto. Assim retomava o percurso.
Num belíssimo filme, Picasso pinta por traz de um vidro. Quando uma
forma se define, subverte tudo, fazendo nascer uma outra. O mesmo
desejo de continuar sem fim atravessa a arquitectura.
Desenhar um Swatch
253
254 01 textos por Álvaro Siza
L
092.2001 04 08 Apresentação, Arquitectura: Avenida da Ponte,
Cidades: Porto (4)
A Cidade em suspenso
255
efectuadas nos anos 30-40, pelo menos alguns, estavam conscien
tes da necessidade de acompanhar as demolições (inevitáveis ou pelo
menos compreensíveis no contexto de então) por um renovado envol
vimento do morro da Sé, fundamentado na história, tanto como nas
exigências de transformação.
Adivinha-se nos desenhos, latente, a percepção ou a procura de um
novo conceito, uma subterrânea resistência.
257
Ao mesmo tempo, para reconstruir a urbanidade daquela parte da ci
dade, é importante fortalecer a estreita relação entre espaço público e
de comércio, colocando as lojas ao longo da rua e escolhendo uma fun
ção para o edifício que deixe perceber a articulação das extraordinárias
salas e dos dois pátios. Por todas estas razões, defendi e continuo a
acreditar na viabilidade de um hotel de prestígio, ocupando a quase tota
lidade da construção. Esta era de resto a ideia avançada pelo Presidente
Abecasis e posteriormente apoiada pelo Presidente Sampaio.
259
Sucessivamente, definida a distribuição das tarefas, acabei por ocupar
me do projecto do hotel, embora não me fosse dada a possibilidade de
desenhar a arquitectura de interiores, com prejuízo da coerência glo
bal do projecto. Assim, a iluminação e o acabamento das instalações
(com a inaceitável presença de grelhas) não apresentam o carácter
exigível. No entanto, os quartos virados para o castelo, sobretudo, são
extremamente sugestivos e qualificados.
Oiza
Exposto por ele, cada edifício se tornava corpo vivo: veias e artérias,
pulmões, coração, músculos, construindo a forma, alimentando a ima
ginação, transfigurando a informação.
Como ninguém, Oiza abria o espaço de aprendizagem, de desejo sem
limites.
261
Manifestei o desejo de visitar a obra. Recusou: "Não é obra apresen
tável, nada é conseguido".
Construir em Maastricht
263
Mais difícil foi o desenvolvimento do projecto da torre. O programa do
primeiro estudo integrava uma grande variedade de tipos de apartamen
tos, em número rigorosamente definido por Bouwfonds Woningbouw
BV e por ABP Woningfonds BV.
Julgo que esta solução não foi claramente convincente, se bem que
tenha sido aprovada pela Comissão Estética da cidade, não sem exi
gente debate.
265
266 01 textos por Álvaro Siza
096.2001 09 30 Móveis, Design
Pub. in [Figueirinhas).
A mesa
267
Pesa muito, o tubo não deve ser em aço. Pode-se usar alumínio?
Necessita de mais travação (ensaiamos, usando pedaços de barra).
Surge, sob o tampo, uma cruz em diagonal (os joelhos não devem
tocar a travação superior). A travação junto ao solo tem de ser afas
tada dos pés. Um centímetro mais - aqui.
Peço uma cadeira, sento-me. Anotamos medidas. Refazemos o de
senho, em esquisso. Verificamos a proporção. Fita métrica, medidas
apontadas no papel de uma factura (o que encontramos nos bolsos).
Discutimos junções: travação diagonal. .. travação ortogonal. .. o tubu
lar das pernas tem de torcer, tem de receber em posição conveniente
os perfis de travação. A altura da torção? Que tal acha?
Terminamos com um jantar em Perafita.
269
270 01 textos por Álvaro Siza
097 .2001 1 O 12 Exposições, Cidades, Discurso
271
Lido isto, desejo e devo referir a minha gratidão às pessoas que pen
saram, executaram e possibilitaram a montagem da exposição,
nomeadamente à Administração da fábrica FAMO e ao Comissário de
signado, Arquitecto Carlos Castanheira; e a minha gratidão à Sociedade
Porto 2001, pela oportunidade de apresentar, no Porto, como noutros
lugares aconteceu, testemunho do que para mim representa viver a ci
dade, isto é, construi-la um pouco, transformá-la eventualmente - se
momento e desejo o permitem. Testemunho acumulado ao longo de
anos, quando era natural viajar sem pressentimento de tragédia.
273
274 01 textos por Álvaro Siza
099.2001 11 20 Design
Objecto de Vidro
275
276 01 textos por Álvaro Siza
100.1996 a 2002 00 00 Desenho
10/01/96
32 quartos, 32 desenhos.
Gostei do convite.
4/03/96
Desenho pouco mas regularmente, em casa, quase sempre à noite.
Ou em casa de amigos, igualmente à noite, enquanto conversam. Sou
um amador, o desenho é um remédio.
Concentro-me no desenho, sem contudo dispensar a conversa.
Embora atento, há uma parte de mim distante do que faço; o desenho
é mais livre, menos constantemente pensado; a mão autonomiza-se
por instantes (não lhe permito escapar por inteiro).
4/06/96
Figuras em movimento. Trinta e duas folhas de papel branco riscadas
uma a uma (3 ou 4 por noite, uma ou outra rasgada).
12/01/97
Tive o prazer de pendurar os desenhos, devidamente emoldurados,
um a um em cada quarto.
Aí ficaram.
3/09/99
Desafiam-me de novo. São necessários outros trinta e dois desenhos;
mais visíveis e usando a cor.
277
Escolho o pastel: parece-me próprio a um "fazer nas horas livres" -
curtas horas.
12/10/99
Desenhos a pastel.
Vejo agora como é diferente, mais penoso do que o deslizar da esfero
gráfica ou da pena de "Nankin". Impressiona-me o esforço físico.
15/01/00
No fim de cada desenho é improvisado um comité de crítica.
Apercebo-me do esforço, quando não gostam e evitam dizer "NÃO".
10/04/00
Custa a chegar o mágico número dez, e mais ainda o trinta e dois.
Estou prestes a desistir.
13/05/00
Preciso de desistir, embora me sinta cobarde, embora me sinta humi
lhado. Os amigos estão preocupados, ou melhor: embaraçados.
Sinto um irracional desprezo por mim próprio, como se desenhar a
pastel fosse questão de honra.
18/09/00
Interrompi o trabalho. Não desenho há três meses.
2/01/01
Sinto-me "coagido" a prosseguir, aliciado pelas mais condenáveis
mordomias (jantares em casa dos amigos, copos de whisky velho, for
necimento de pastéis "Rembrandt" e de grandes folhas de papel).
3/03/01
No fim do jantar a mesa de mármore da cozinha é limpa e o material
pousado na melhor ordem. Leve meditação antes de começar.
16/03/01
Fazem por mim algo para que nunca tive coragem: fixar o desenho
com spray miraculoso (o desenho vai diluir-se, desfazer-se em lágri
mas coloridas, escorrer pelo chão?)
25/04/01
Por vezes levo um desenho na mente. Outras vezes começo quase ao
acaso. As cores vão tomando forma, cada uma se desprende das ou
tras. A primeira é a grande Aventura.
Sinto surpresa e sobressalto. Há uma espécie de euforia latente.
1/05/01
Chegou o número trinta e dois. Sinto alivío e logo uma espécie de de
samparo. Acabo o desenho e lavo e esfrego as mãos com aquele pó
especial.
4/07/01
Nas noites que se seguiram ao último desenho, até hoje, nunca mais
segurei um pastel, nunca mais os músculos tensos.
Por vezes invade-me uma incompreensível nostalgia. Foi bom? Não:
ouço Billy Holiday.
20/09/02
Quase esqueço o agradecimento aos amigos, sem os quais não
existiriam aqueles desenhos pendurados em Bouro, nem o livro em
preparação.
Começo a gostar do odiado pastel.
Inesperado banho de cor.
279
280 01 textos por Álvaro Siza
101.2002 02 05 Homenagem, Viagens, Outros Arquitectos:
Fernando Távora (4)
Fernando Távora
281
01 ,textos por lvvaro Siza
102.2002 02 11 Homenagem, Arquitectura: Piscina da Quinta
da Conceição
Quinta da Conceição
1 AAVV, Arquitectura Popular em Portugal, Lisboa, Sindicato Nacional dos Arquitectos. 1961. (3ª Ed.
1988).
283
de Matosinhos a encarregar Távora de redigir o plano para a transfor
mação da Quinta em Parque Público.
Talvez por isso, fez-me um dia uma proposta extraordinária: "O melhor
é você levar isso para casa, desenvolve-lo por si; prometo acompa
nhar o trabalho, sempre que julgue necessário".
Assim foi.
Este projecto, que eu ainda não assinei por não estar diplomado, be
neficiou do encorajamento e da crítica de Távora.
285
286 01 textos por Álvaro Siza
103.2002 09 09 Discurso, Pedagogia
287
Os emigrantes cruzam informação, levam e trazem o que para eles é
uso ou coisa nova. Outros cruzamentos vão envolvendo outros luga
res nucleares; todos atravessando o território, em todas as direcções
e sentidos, até à consciência da Universalidade possível.
Por isso, nenhum de nós estará totalmente surpreendido, ao chegar a
qualquer lugar, ou ao trabalhar em lugar que desconhecia - como tam
bém a mim me aconteceu, e a tantos arquitectos, através de séculos.
Em cada cidade-outra onde algum dia trabalharmos há um pouco de
nós, de que depressa nos apercebemos; também os que por nós algo
recebem cedo nisso se reconhecem.
As raízes de cada um são longuíssimas, bebem desde há milénios ou
tras e várias águas. Assim se alimenta e persiste o que hoje, por vezes
com estranha e recente inquietação, se designa por identidade cultural.
A antiquíssima consciência e experiência de um cada vez mais denso
tecido de saberes e de relações não explicam essa inquietação, antes
tornam inaceitáveis, desumanas, a marginalização ou a intolerância.
A sobrevivência da cidade depende, ao contrário, da solidariedade,
como por diferentes vias se vem tornando evidente.
Para os arquitectos e para a Arquitectura, compreensão, tolerância e
solidariedade, estão na origem da criação; explicam-na, constituem inspi
ração primeira na procura da Beleza - utilidade última da Arquitectura.
289
Pelo exercício da invenção e da memória, a arquitectura faz-se ins
trumento e objecto de procura de beleza - desejo colectivo instintivo,
talento de criança, que o homem consciencializa continuamente.
Não sendo por inteiro a prática, é vocação do homem transformar em
solidariedade o instinto de sobrevivência, em possibilidade de vida o
sofrimento, em ânsia de descoberta o conformismo, em ordem a de
sordem: em beleza.
Sair de um sonho
Por isso ter casa é o sonho universal, uma casa com tubos que ligam
ao céu e à terra, com luz, com porta e com armários, corredor, átrio.
Casa refúgio e casa aberta. Casa com jardim. Casa com ascensor.
Casa não portátil, ramo em piso 16 ou base de caule. Casa gruta e
casa árvore. Casa bóia. Outro lado do vento.
291
292 01 textos por Álvaro Siza
106.2003 04 29 Discurso (DHC F. Távora), Homenagem,
Outros Arquitectos: Fernando Távora (5)
Doutoramento em Veneza
293
A um olhar atento, a obra nada fácil de Fernando Távora revela-se
universalmente contemporânea, num país que foi o de marasmo e de
sufocada ansiedade. Revela-se sucessivamente como acto de refle
xão, de continuidade e de subversão, num contraponto de projectos
"em estado de felicidade" e de suspensas decomposições.
É nesta óptica que se pode entender a complexa coerência da suces
são de projectos e de construções realizados pelo Arquitecto e as suas
diversas e apaixonadas actividades - do viajante ao coleccionador, do
construtor ao pedagogo. Actividades que foram povoando a minha juven
tude (e o passar dos anos) de contínuas surpresas: de sobressaltos.
Recordo antes de tudo a tranquilidade e a paciência na correcção do
trabalho de qualquer estudante; e logo a entusiástica partilha de expe
riências e de descobertas, o relato do que se debatia num encontro do
CIAM, da experiência de um jardim Zen ou do desenho do puxador de
porta de Ronchamp.
Recordo o aparecimento de uma pequena casa, desenhada fora do
estúdio e quase em segredo, uma casa que de súbito materializava
as imprecisas intuições minhas e dos da minha geração; ou de um
edifício público em adormecida periferia - associação de contempora
neidade a continuidade, de tradição e de invenção.
Sendo recente, não é esta obra ainda uma recordação; sê-lo-á, como
momento relevante da sua obra e ensinamento, tal como os vê este
discípulo: contínua construção de Memórias de Amanhã, sendo instru
mentos Memória e olhos e coração abertos, serenidade e desejo.
295
296 01 textos por Álvaro Siza
L
107 .2003 06 24 Discurso, Cidades
297
As cidades cresceram e crescem pelas oportunidades reais ou ilusó
rias que oferecem, pela esperança, de algum modo confirmada, numa
existência mais justa e universalmente prometedora.
Não crescem em imediata beleza. A beleza revela-se por lenta e longa
acumulação e selecção.
A cidade é a um tempo lugar protegido e aberto, lugar de intercâmbio
e de preservação das mais fundas raízes, onde se associam estabili
dade e mudança, acesso à cultura e violência.
A contribuição do arquitecto neste complexo contexto é sobretudo e
necessariamente de cariz conservador: ele trabalha ao serviço e no
respeito de um Homem que não muda tão vertiginosa e radicalmente
como alguns pretendem.
A arquitectura da cidade é maioritariamente uma arquitectura de repe
tição e de continuidade, sujeita a um ritmo quase sempre lento.
Talvez por isso surja a tentação, tantas vezes presente nos nossos
dias, de procurar a todo o custo a singularidade no que é parte de um
tecido contínuo, construindo uma banalidade decorrente de ilusórias e
paradoxalmente repetidas originalidades.
E contudo, é a qualidade desse tecido imerso e imenso que torna pos
sível a emergência do edifício singular, protagonista e intérprete de um
desejo ou necessidade que a cidade invoca e assume como símbolo.
Compete ao arquitecto atender a tudo o que revela a natureza hu
mana: procura de estabilidade, mas também desejo, exigência, revolta,
identificação.
Sob esse impulso podem coexistir persistência de referências e desejo
de inovação: possibilidades de invenção.
Não foram esses momentos doirados e as obras singulares que deles
decorrem, às quais poucas vezes me foi dado acesso, que ocuparam a
maior parte do meu tempo e actividade; mas sim as outras, aquelas que
mais directa, contínua e universalmente convivem com as necessidades
e desejos do Homem.
Apraz-me pensar que sejam sobretudo essas obras, que não são ha
bitualmente notícia, mas que vão construindo o carácter da cidade e
o espaço dos palácios, as que justifiquem o prémio que tão generosa
mente me é atribuído.
Os meus agradecimentos.
Muitos dos meus projectos não foram realizados; muitos outros foram
profundamente alterados ou mesmo destruídos.
Pelas mesmas razões, essa proposta não pode ser ambígua, nem limi
tar-se a um discurso disciplinar, por muito apropriado que pareça.
Talvez por isso, apenas as obras marginais (uma residência num lugar
tranquilo, uma casa de férias afastada de tudo) foram mantidas tal
como projectadas.
299
É esse o preço de não trair a transformação cultural contemporânea,
que compreende construção e desconstrução.
Mesmo assim, alguma coisa permanece: fragmentos retidos aqui e ali,
dentro de nós próprios, ou por alguém, mais tarde; fragmentos que dei
xam sinais no espaço e nas pessoas.
Latinidade
301
l 302 01 textos por Álvaro Siza
110.2004 04 13 Reflexão
Não com uma ou duas pessoas de cada lado, como no ténis, mas
com seis. Isso dá a dimensão colectiva a um desporto de irrepreensí
vel correcção.
303
Gira a fortuna, de novo. O treinador suspende o jogo. Segredam-se
conselhos, nervosas instruções. Forma-se uma roda, braços nos om
bros uns dos outros, corrente invisível. Abraço colectivo.
O Fotógrafo
O ritmo das portas pauta a envolvente das ruas do Porto, e cada porta
dá a face a uma casa: está à altura dos olhos.
305
de novo - tantos vermelhos vivíssimos - como que dizendo «sou novo
na casa e na mente, não importa o que pensem, são outras as minhas
referências». Regista o gesto dos que mudam as ferragens por gosto ou
por medo, dos que acrescentam delicada ou atabalhoadamente peque
nos écrans de televisão; dos que remendam ou abandonam e dos que
mudam a função da casa: ocupação por uma empresa ou uma congre
gação religiosa; subdivisão para consultórios, escritórios de advogados
e de arquitectos, dormitórios de estudantes e de emigrantes.
Eusébio
307
Só algum mestre de ballet poderá simular, por vocação e por exercí
cio, aquela expressão de simplicidade e de elástica naturalidade; ou
alguma pantera solta na savana.
l
308 01 textos por Álvaro Siza
113.2004 10 00 Discurso(DHC), Cidades: Nápoles
Nápoles
309
homens os vão descobrindo. Essa matéria acumulada condiciona e
orienta o que se vai fazendo.
É meu hábito, ao fim do dia, quando aqui trabalho, sentar-me na va
randa do mesmo hotel, varanda aberta à paz e ao bulício da cidade.
Para um napolitano é natural e espontânea a partilha do território com
tudo o que faz a atmosfera febril da cidade contemporânea: automóveis,
motos e motoretas, autocarros, carros eléctricos, comboios e grandes
naves que se misturam com os potentes edifícios de que é feita.
Bem diferente é a vocação de Veneza. O fascínio de Veneza resulta
sobretudo da sensação de total liberdade de movimentos, sendo os
únicos obstáculos canalizados e constantemente atravessados por
pontes. Esse fascínio marcou profundamente Le Corbusier, o arqui
tecto que sonhava uma cidade nova feita para o homem livre.
A utopia construída sobre o fascínio de Veneza estará na origem da
ideia moderna - um compromisso todavia - de pedonização de partes
da cidade. Uma ideia injusta e prejudicial para as outras, multiplicadora
de nós de conflito: pois a cada espaço de onde se exclui o tráfego me
cânico, criando um suposto oásis, corresponderá um outro saturado.
Não falta quem cite Nápoles como exemplo de caos.
Para mim Nápoles, o outro sonho, permanece como incontornável re
ferencia. Para mim esse suposto caos é a essência do ambiente da
cidade sem acidentes - ainda que sejam desrespeitados os semáforos,
objectos estranhos e excessivos, aqui inúteis pela força da convivência
e da tolerância: pela cidadania.
O transporte mecânico é aqui o amigo do homem, um complemento
ao qual se diz simplesmente bom dia.
Penso assim muitas vezes, quando torno ao hotel, saindo do velho e
sólido pa/azzo que transformo em museu.
Um pa/azzo contido entre estreitas e maciças construções, de tal modo
que não é possível a percepção global da sua forma. Estas são estru
turas construtoras de espaços carregados de intimidade e de mistério,
conquistadoras da luz a partir da penumbra, perfuradas por portas
enormes, portas que revelam pátios cobertos de plantas e de pó e de
velhas pedras.
Atravesso Piazza Dona Regina. Os rapazes do bairro jogam a bola. Há
uma baliza pintada a branco na grade enferrujada do patamar de uma
igreja. Uma baliza intermitente. A bola escapa-se para a rua estreita,
311
312
114.200412 15 Outros Arquitectos: Vittorio Gregotti (3),
Ciclades
Gregotti
313
sector urbano significativo (cidade de fundação ou fragmento resultante
de uma profunda transformação), escapa a julgamentos apressados.
Álvaro Siza
Por vezes a dor é violenta. Oculto-a, quanto possível, para que nin
guém diga que odeio o meu corpo crucificado.
315
316 01 textos por Álvaro Siza
116.2005 01 24 Reflexão
Projectar
Uma grande viagem em espiral sem principio nem fim, na qual se entra
quase ao acaso. Comboio assaltado em movimento.
317
318 01 textos por Álvaro Siza
117.2005 02 00 (e 02 1988)Arquitectura: Museu de Serralves,
Exposições, Museus
Exposição de Serralves 1
Projecto de Museu é sempre polémico e sempre ambiguamente ima
ginado entre conservadorismo e invenção. Entre conhecimento e
transgressão, dúvidas e convicções. Amado e odiado, sujeito à des
truição e ao restauro.
Exposição de Serralves 2
Nos museus, a luz faz-se doce, cuidadosa, impassível de preferência, e
imutável. É preciso não ferir, é preciso não ferir os cuidados de Vermeer,
não se deve competir com a violenta luz de Goya, ou a penumbra, não
se pode desfazer a quente atmosfera de Ticiano, prestes a extinguir-se,
ou a luz universal de Velasquez ou a dissecada de Picasso, tudo isso
escapa ao tempo e ao lugar no voo da Vitória de Samotrácia.
319
invisíveis fabulosas máquinas de controle, acessíveis por alçapões,
por escadas de bombeiro, cobertas de pó e de teias de aranha e de
pontes reservadas, máquinas que dizem à luz, ao sol e às invenções:
pára, entra na ponta dos pés, silêncio, o que iluminas resistiu à tua vio
lência, ao teu percurso de monótona novidade e demasiado rápido,
ousou resistir, pretende resistir. Concede benevolência ao que os ho
mens fazem com as mãos e nasce de ti, adorando-te e imobilizando a
tua impaciência. Concede aos homens que se movam nestes espaços
serenamente, esquecendo-te, viajante imperturbável que cria e mata
sem maldade nem bondade.
Exposição de Serralves 3
No Museu não deve haver propriamente espaço, não deve haver pare
des nem chão nem tecto; nem luz. No Museu não deve haver espessuras
nem aberturas nem sensação de interior e de exterior. O espaço do
Museu impede a criação e a vizinhança deve ser apagada. A paisagem
será exterior ao Museu, no sentido último e único: não existir.
O Museu não deve ter princípio nem fim nem percursos. O Museu é
um nada e a luz deve ser apagada para que o fogo não recomece sem
ser notado.
[Fevereiro 2005]
Exposição de Serralves 4
As tábuas repousavam há séculos, tranquilamente, não sei em que
Museu da Europa.
Alguém entrou em sobressalto: podiam degradar-se aquelas preciosas
tábuas a perpetuar.
Exposição de Serralves 5
As janelas estão abertas - grandes janelas de madeira - e cheira a
maresia.
O mar é azul.
A luz intensa.
Exposição de Serralves 6
No Museu de Serralves há uns bancos admiráveis de 0,40 x 4,20 me
tros, feitos com tábuas de castanho de 0,20 x 0,12. São por vezes
deslocados de sala para sala, conforme o que convém, com grande
esforço, creio eu.
321
Há salas climatizadas e outras não: espaços de transição.
323
Parece que os novos sectores da cidade - e não pretendo generalizar
- têm estado excluídos de igual atenção.
Aos arquitectos compete, se tal lhes for permitido, preservar património
tanto como criá-lo; sempre assim aconteceu - com ou sem arquitectos.
No que à História pertence, que o façam com rigor intransigente, afas
tando a tentação de deixar alguma assinatura por demais perceptível;
para tal existe o campo vasto do que se vai construindo nos novos ter
ritórios (na condição de não comprometer o tecido, mais compacto ou
menos, que a junção de casas consente).
A casa é um espaço branco, parte desse tecido essencial da cidade; a as
sinatura incontornável, em cada casa, é a de quem lá encontra morada.
Em alguns episódios emergentes, pólos que a todos servem, cabe ao
arquitecto navegar em mar agitado - entre contradições, dúvidas, frus
trações e desejos - sem se permitir naufragar.
Poderá então e aí plasmar a Modernidade, a modernidade fugidia mas
necessariamente sólida que é desejo persistente da cidade.
Para tal se atingir é indispensável a presença física, o fio condutor inin
terrupto das construções que conformaram e transformaram a História.
Uma presença íntegra. Local e universal.
É preciso não violentar os muros bem fundados, ou o solo que os
moldou e que moldaram - por obsessiva ânsia de uma modernidade
tantas vezes desintegradora de construções e do seu assentamento,
de jardins de praças, jardins de interior de quarteirão, terraços, en
costas e perfis. E é preciso não construir desertos vedados, palácios
desfigurados; sobretudo não construir mais do que o necessário.
Sem o arquivo instantâneo da Memória não há Invenção; nem chave
alguma abrirá as portas exactas.
A minha gratidão pela honra que me é concedida.
Casa da Música
Quando se trata de obra pública surge, quase sempre, uma data in
contornável em qualquer circunstância: evento de prestigio, eleições...
Como se a fixação das datas não tivesse de incluir a programação rigo
rosa de todo o processo.
325
O projecto da Casa da Música traduz a reflexão sobre a cidade con
temporânea e as convicções de Rem Koolhaas em torno aos sinais de
impossibilidade de controlar globalmente o seu evoluir. Assim, consti
tui proposta radical de transformação urbana, assumindo-se como um
núcleo potencialmente organizativo de cidade.
Que tenha longa e formosa vida, que a cidade a saiba usar. E que não
se percam as múltiplas lições que encerra.
Serpentine
327
328 01 textos por Álvaro Siza
121.2005 05 05 Reflexão
O ansioso comprador pagou mas não resistiu a dizer: tanto por tão
pouco esforço? Picasso calmamente explicou (terá sido assim?) que
aquele rápido e espontâneo e belo desenho era o resultado de anos e
anos de trabalho.
Para quem assista a um ballet, para quem escute a melhor Billy Holiday,
o prazer vem da sensação de que tudo é fácil, atingível, natural. E no
fundo assim é e é o sonho de cada um.
329
01 textos por Álvaro Siza
L 330
122.2005 08 12 Arquitectura: Casa Bahia, Casas.
331
neste ou naquele momento, conforme métodos ou intuições; ou como
se fosse rara aptidão.
O que flutua pré-consciente não é doença ou «outra coisa». A fronteira
entre consciente e inconsciente depende dos percursos da razão, da
sua energia e exigência.
Viver em liberdade - aprender a viver - passa por quebrar essa linha
de fronteira.
333
334 01 textos por Álvaro Siza
123.2005 09 00 Homenagem, Outros Arquitectos: Fernando
Távora (6)
Contudo, talvez seja este o projecto em que mais claramente está inscrita
335
uma ideia central na obra de Fernando Távora: mais do que Memória, o
Património Histórico é sobretudo material e instrumento de Criação.
A homenagem devida e inadiável consiste na preservação, para além
dos arquivos, da totalidade da obra construída; testemunho material
que a formação das novas gerações não pode dispensar.
Sahel-AI Hiyari
337
Mostramos um ao outro os nossos projectos. Debatemos, neste e nou
tros encontros, semelhanças e diferenças nas condições de trabalho,
nas limitações e estímulos em cada contexto, no sopro globalizante
dos dias de hoje. Pude notar como no seu discurso e nos seus pro
jectos coexistem a persistência das raízes culturais e o conhecimento
e domínio da evolução da tecnologia e das artes visuais, face aos di
ferentes estados de desenvolvimento que conformam o instável e
complexo mundo contemporâneo.
339
340 01 textos por Álvaro Siza
l
125.2005 11 28 Discurso
341
Quando um projecto de arquitectura preenche espaço, muito ou pouco
significativo que seja, propondo variedade ou prudente continuidade,
assume-se inevitavelmente, num e noutro caso, como fragmento de
plano, pouco ou muito transformador.
Visitei-a muito jovem, menino que não imaginava vir a ser um dia
arquitecto.
343
Trinta anos depois, ao visitar Compostela, convidado a construir um
"perigoso" projecto, precisamente junto a Bonaval, o Tempo - esse ar
quitecto maior - tinha devolvido a essas mesmas pedras, ao solo da
cidade, a sua doce materialidade.
345
Gente aberta a encontrar um consenso exigente e realizável.
A todos eles o meu agradecimento, ao finalizar um longo percurso,
pautado por visitas inesquecíveis a esta cidade, por momentos de dura
polémica, ou de generosa compreensão, pelos longos poentes que
transfiguram a Alhambra e a Sierra Nevada - glorificando o mirador
de San Nicolas.
Este percurso obteve finalmente a confiança traduzida em votação dos
cidadãos.
O Prémio Nominaciones de Arquitectura de Granada, atribuído pelo
Colegio de Arquitectos, constitui honra para mim inesperada, que me
emociona profundamente.
Muito obrigado.
Armanda Passos
Encontrei por fim alguém mais exigente do que eu. Alguém que pro
cura pacientemente a perfeição e por isso, não poucas vezes, se torna
impaciente.
347
Sobreviveu contudo.
A calma regressa.
A casa
A casa é o abrigo.
O sol entra pela janela e pinta a parede em frente, a chuva martela os vi
dros, zumbe o vento. Sabemos que a rua vai por aí fora, ramifica-se e sai
da cidade, liga a Norte a Sul a Leste a Oeste e a todos os espaços inter
médios, tece uma manta sem princípio nem fim porque se torce sobre si
própria, mesmo ao cruzar o mar (com grande dispêndio e dificuldade).
A Aventura apetece.
349
tem peitoril: só um degrau de poucos centímetros para o mundo ou
para fugir ao mundo (sempre se pode fechar a porta ou não a abrir ou
escancarar as folhas da porta).
Sou dono da casa, sou dono do mundo, ou inquilino dos dois, o que é
rigorosamente o mesmo e nada. A menos que não consiga ter casa e
então uso uma gruta, ou uma tenda, ou uma estação de metropolitano
ou o pórtico do Palácio da Justiça (casas menos confortáveis e sobre
tudo inaceitáveis: as possíveis).
Juan Rodriguez
351
formas que nós vemos - assim acontece também na procura derra
deira dos fotógrafos. Ou do fotógrafo Juan Rodriguez.
Beleza
353
354 01 textos por Álvaro Siza
132.2006 06 20 Discurso, Arquitectura: Edifício no Complexo
de Cornellà
Cornellà
355
356 01 textos por Álvaro Siza
133.2006 06 23 Arquitectura: Pavilhão Carlos Ramos (FAUP),
Homenagem
357
A atracção evidente entre o Pavilhão e a casa-mãe enchia o jardim
de eixos virtuais rebeldes e contraditórios. Essa espécie de irresistível
magnetismo foi desenhando o Pavilhão, clarificando relações, redese
nhando o jardim, motivando um prolongamento em pátio.
Ao tocar o solo as paredes brancas limitam, a traço negro, a superfície
aberta à humidade, à contaminação do verde.
A pedra de fundação foi como sempre fictícia; a pedra final foi a como
vida homenagem a Mestre Carlos Ramos.
Estava lá o rododendro e ao lado e em meu apoio o querido Amigo e
Mestre Fernando Távora.
Viagem a Marrocos
Recordo isso e muito mais e não acredito que seja apenas nostalgia.
Recordo a ausência de ansiedade.
359
360 01 textos por Álvaro Siza
135.2006 09 12 Arquitectura: Conjunto Habitacional da Bouça
A conclusão da Bouça foi para mim uma quase surpresa. Nunca perdi
completamente a esperança de que isso acontecesse, sobretudo pela
contínua pressão dos moradores das nunca acabadas casas da pri
meira fase.
361
relação ao contexto anterior à revolução de 1974 (era então impensá
vel a necessidade de uma garagem, ou a preocupação em demarcar
espaços público e privado, impossível prever o grau de exigência dos
Regulamentos actuais).
Memória Descritiva
Buraca
polido objecto
estende os braços
as curvas l<i' -as pelo sol
'17 biÓ
recebe
acena
suga
estreitas janelas
necessárias tudo
e:
lâmpadas inúteis
(/)
e
(/)
::::,
(/)
0l
(/)
luz e luz
o dia inteiro
graves óleos gravados
aura paz
363
364 01 textos por Álvaro Siza
137 .2007 01 16 Reflexão
Arquitectura: Começar-Acabar
Começar
365
Ensaiar e poder corrigir sem limite.
Acabar
Idealidades
367
368 01 textos por Álvaro Siza
l
139.2007 05 00 Arquitectura: Thoronet
Espero que não se diga uma vez mais (como noutros casos)
que esta é uma intervenção minimalista.
Ao contrário: é quase brutal.
Le Thoronet
Espero que não se diga uma vez mais (como noutros casos) que esta
é uma intervenção minimalista.
Ao contrário: é quase brutal. Transforma Thoronet ao tornar imediata a
percepção da arquitectura.
Permite compreender a razão da sua beleza, perdida a função que lhe
deu origem - e apesar disso.
Repõe a verdade e contudo mente.
369
370 01 textos por Atvaro Siza
140.2007 05 30 Homenagem, Outros Arquitectos: óscar
Niemeyer (2)
371
Nas mesas já não havia espaço para revistas, nem elas eram
necessárias.
Mas nunca se apagou a imagem dos pilares como pontos negros e
das linhas ondulantes de Niemeyer - leveza e curvas dos morros e
das musas do Rio.
373
374 01 textos por Mtaro Siza
142.2007 07 00 Móveis, Design
375
01 textos por ÁNaro Siza
143.2007 07 13 Homenagem, Outros Arquitectos: óscar
Niemeyer (3)
Óscar Niemeyer
377
que a mais exigente prática de então particularmente procurava, sob a
orientação de uma equipa de jovens professores de grande talento.
Fernando Távora apareceu um dia na escola com um livro debaixo do
braço, que mostrou triunfalmente: Brasil Builds.
379
arquitectura da Revista/ Verri (79 a 98); director de Rassegna (79 a 98);
director de Casabella (82 a 96). Foi responsável da rúbrica de arquitec
tura de Panorama (8 4 a 92); e colaborou com o Corriere dei/a Sera (de
92 a 97) e com La Republica (a partir de 97).
Em 1966 publicou um livro fundamental, sucessivamente reeditado: O
Território da Arquitectura.
Esta abundante produção acompanha uma constante actividade pe
dagógica, como professor do Instituto Universitário de Veneza e das
Faculdades de Arquitectura de Milão e Palermo; e ainda como profes
sor visitante, um pouco por todo o mundo.
Esta actividade não se dirige somente à arquitectura, como indica a
entrega, pela Presidência da República Italiana, da Medalha de Oiro
reservada aos Beneméritos da Ciência e da Cultura.
Assume e desenvolve com total entrega e ao longo dos anos tudo o
que se refere à formação e à responsabilidade do Arquitecto e à sua
relação com o território e com a Sociedade, em resposta à rápida e
universal transformação.
381
01 textos por Álvaro Siza
145.2007 08 02 Pedagogia, Reflexão
Ser Teórico
Ausente a prática, a critica não age directamente. Não pisa, a não ser
em intervalos e à posteriori, o território deslizante da criação -dos aci
dentes que iluminam o devir.
383
l. 384 01 textos por Álvaro Siza
146.2007 08 06 Apresentação
Moderno e Brasileiro
385
No projecto proposto, o Autor recupera os traços fundamentais da
implantação e articulação do conjunto do Engenho, internamente e
na sua relação com o território. Traços consolidados pela ampliação
do eixo definido pelas ruínas existentes - chaminé, casa e restos de
muros - às quais acrescenta um novo pavilhão. A sequência de volu
mes ao longo desse eixo reforça a entrega do conjunto arquitectónico
a largos horizontes.
Que se realize.
Casa em Canoas
387
,,
',i
,)
389
Essa imagem reapareceu de súbito, com igual nitidez e diferente emo
ção, ao receber notícia que não esperava.
Bisavô Júlio
Pouco sei do meu bisavô Júlio. A avó falava pouco do passado, for
çada a encarar um presente difícil: viúva e seis filhos a educar, numa
cidade que não era a sua, após anos de prosperidade em Lisboa, na
Madeira, na Guiana Inglesa, no Brasil.
Belém do Pará entrou no meu imaginário por relatos apaixonados
do meu pai e por lembranças periodicamente recebidas: Goiabada
marca Peixe, Globo Juvenil com histórias aos quadradinhos, Doce de
Cupuaçu, que a minha mãe adorava, Carne Seca para a incontornável
feijoada à brasileira, feita por Didi, brasileira da Baía. A minha meni
nice alimentou-se de aventura e de doçura.
Mas o Brasil era distante; a comunicação com parentes e amigos foi
diminuindo.
391
Talvez o meu interesse pela arquitectura, dificilmente explicável, tenha
a ver com o espírito desses antepassados corajosos, que viveram
intensamente a necessidade e o prazer de ver, de compreender, de ex
perimentar o mundo inteiro. Desse bisavô do Mundo Novo que, como
outros fotógrafos precursores, se especializou - até à paixão - em
captar e registar Passado e Presente em pleno e contínuo movi
mento: à sua maneira, em construir o Futuro.
Zoides
393
394 01 textos por Álvaro Siza
151.2008 01 29 Desenho
(. ..) pelo acerto das proporções, pela forma elíptica que dis
pensa arestas, pela criteriosa escolha de materiais e cores, um
espace "indicible", como diria Le Corbusier (. ..)
Os azulejos de Fátima
395
revisitar a Capela de Vence, o maravilhoso trabalho de Matisse. Não
pude evitar uma sensação de irresponsável atrevimento. Aquele painel
de azulejos põe de joelhos qualquer um, quanto mais quem pretenda
realizar, em ambiente religioso, exactamente um painel de azulejos.
Senti-me inseguro e incompetente. Refugiei-me no trabalho. Consultei
reproduções das inúmeras e sublimes obras realizadas sobre os mes
mos temas, através dos séculos. Uma das primeiras hesitações teve a
ver com a representação de S. Pedro, S. Paulo e outros personagens.
Matisse representou os santos com traços negros, as caras reduzi
das à oval do rosto. Não podia imaginar rostos de Santos, dizia. Ante
as minhas dúvidas e perguntas lembraram-me que Pedro e Paulo não
eram Santos, quando aconteceram esses episódios. Eram homens
disponíveis para a solidariedade, homens capazes de convicções e
tolerância, abertos à luta por uma vida diferente e mais justa, até ao
martírio. Homens justos, com a sua grandeza e as suas dúvidas.
À noite, em casa, em cada noite, enchia ansiosamente folhas de papel
A3, procurando a aproximação ao tema, a expressão do desenho,
procurando a espontaneidade, a qualidade do traço executado em se
gundos: a segunda espontaneidade, resultado do trabalho sem pausa
e da libertação do trabalho.
Seleccionava o que melhor me parecia para cada episódio. Fui re
conquistando a calma. Depois de não sei quantas noites de trabalho
mostrei o resultado a Tombazis, e ao Reitor de Fátima. Apoiaram-me e
transmitiram-me confiança. O prazer invadiu o meu trabalho.
Fixei nas paredes do escritório a ampliação de dois desenhos, tentando
encontrar a justa escala. Em seguida coloquei um deles em Fátima, no
lugar que lhe estava destinado. Ajustamos a dimensão, tendo contudo
de mudar a ordem (no primeiro estudo conjunto ajustei as cenas mais
densas aos espaços de maior dimensão entre duas portas; fui con
tudo informado da necessidade de as colocar por ordem cronológica,
sendo cada um dos relatos - da vida de S. Pedro e de S. Paulo - de
senvolvido a partir de cada um dos extremos da galeria e concluído no
centro do painel, com a representação dos martírios). Esta nova distri
buição obrigou a significativas alterações.
A conclusão do painel dependia agora do trabalho dos experientes
pintores da Viúva Lamego, que eu já conhecia de outras realizações
de menor vulto, orientados por Duarte Garcia. Eles são capazes de
397
398 01 textos por Álvaro Siza
152.2008 01 29 Homenagem
Dizia Miguel Ângelo que o dinheiro mais bem gasto num projecto é o
de uma maqueta.
A maqueta permite representar, de forma compreensível para todos, o
essencial da proposta contida nos complexos e para muita gente her
méticos desenhos de arquitectura (plantas, alçados, cortes).
Permite assim tornar efectivo e consciente o diálogo entre quem neces
sita de apoio profissional e de quem o presta, eventualmente o encontro
de entusiasmos em torno de um projecto - condição indispensável à qua
lidade da arquitectura.
Constitui igualmente instrumento de estudo e de optimização, comple
mento de outros meios também insubstituíveis. Uma parte do que se
faz, referido a maquetas, pode e deve acontecer passo a passo e no
interior do estúdio do Arquitecto: modelos expeditos em material de
fácil manipulação, apropriado à rápida modificação, à destruição e cor
recção. Testes de verificação global ou parcial.
Mas em determinadas fases torna-se necessário um maior rigor, para
apresentação de uma ideia em âmbito alargado ou para confirmação
tranquilizante. É neste caso exigível uma experiência especializada e
meios de execução apropriados, raramente justificáveis num gabinete
de arquitectura.
João Barata Feyo, Escultor e João Ricardo Barata Feyo, Arquitecto,
decidiram há 25 anos dedicar grande parte da sua actividade ao pre
enchimento de uma lacuna evidente, mesmo se não total, pondo à
disposição dos projectistas uma estrutura independente que reúne
competência e qualidade de equipamento.
A capacidade de rigor e eficácia tem sido beneficiada pela utilização e
actualização dos meios tecnológicos sucessivamente disponíveis.
399
É justo destacar esse esforço, como é natural esperar a sua continui
dade. O mundo não pára.
Doutoramento no Pará
401
amado, a literatura, a música, a poesia, o futebol, o cinema - o pen
samento em curso no Brasil - tornam-se mais do que nunca parte do
que nos move.
Voltando ao princípio: não podia nesses dias imaginar que a primeira
visita efectiva a Belém se deveria, em muito, ao registo e memória que
aqui se conserva da obra do meu bisavô, artista a um tempo aven
tureiro e estável; e à honra que me é concedida pela Universidade
Federal do Pará ao nomear-me Professor Honoris Causa.
Estou emocionadamente grato. Há um sorriso invisível no ar.
Muito obrigado.
405
041 Impressões de uma viagem ao T icino, visitando as casas de
Luigi Snozzi, 121
042 Doutoramento em Lausanne, 125
043 Távora, 129
044 Num Seminário de Projecto em Almeria, 131
045 Viver uma casa, 133
046 O desenho como memória, 137
047 Regresso ao Porto, 139
048 Ignorância de Lisboa, 141
049 Carlos Nogueira, 145
050 Barragan, 147
051 O exemplo do escritor, 149
052 Palermo é uma das minhas cidades, 151
053 Razões para expor a colecção do Centro Nacional de Fotografia
sobre mesas, 155
054 Apontamentos sobre a Recuperação da Baixa Pombalina, 157
055 Bibliotecas, 159
056 Sofás, 161
057 Doutoramento Honoris Causa, 163
058 Sobre a espontaneidade, 165
059 Sobre Pedagogia, 167
060 Rio de Janeiro, 171
061 Construir Ideias, 173
062 Cidade, 175
063 A ideia primária de especialização, 177
064 Gabriele Basílica 1, 179
065 Gabriele Basílica 2, 183
066 Exposição em Frankfurt, 185
067 Nota Autobiográfica, 187
068 Prefácio, 189
069 Manuel Gargaleiro, 191
070 Snozzi, 193
071 Doutoramento Honoris Causa em Coimbra, 195
072 Eduardo Souto de Moura, 197
073 Três obras de boa recordação, 199
074 Porto, 201
075 Prcemium lmperiale, da Japan Art Association, 205
076 óscar Niemeyer, 207
077 Alvar Aalto: algumas referências à sua influência em Portugal, 211
078 Escultura - o prazer do trabalho, 213
079 A propósito de uma cabeleira prateada, 215
080 A propósito de um velho artesão, 217
081 Desenho de Pormenor (detalhe, do francês détai/), 219
082 Abecasis, 221
407
127 Nominaciones de Arquitectura de Granada, 345
128 Armanda Passos, 347
129 A casa, 349
130 Juan Rodriguez, 351
131 Beleza, 353
132 Cornellà, 355
133 Pavilhão Carlos Ramos, 357
134 Viagem a Marrocos, 359
135 Conjunto Habitacional da Bouça, 361
136 Memória Descritiva, 363
137 Arquitectura: Começar-Acabar, 365
138 Idealidades, 367
139 Le Thoronet, 369
140 óscar Niemeyer- por ocasião do 100° aniversário, 371
141 Só as pessoas estão alegres ou tristes, 373
142 A minha cadeira favorita, 375
143 óscar Niemeyer, 377
144 Prémio da Trienal de Arquitectura, 379
145 Ser Teórico, 383
146 Moderno e Brasileiro, 385
147 Casa em Canoas, 387
148 Evocação de Aida Rossi, 389
149 Bisavô Júlio, 391
150 Zoides, 393
151 Os azulejos de Fátima, 395
152 Maqueta- instrumento de trabalho e representação, 399
153 Doutoramento no Pará, 401
APRESENTAÇÃO
026 António Quadros, 83
034 Kenneth Frampton, 105
036 Prefácio, 109
061 Construir Ideias, 173
068 Prefácio, 189
092 A Cidade em suspenso, 255
105 Sair de um sonho, 291
146 Moderno e Brasileiro, 385
ARQU ITECTU RA
001 A propósito do edifício ... , 15
002 Restaurante junto ao mar, Boa Nova, 17
004 Piscina de Leça da Palmeira, 23
015 Pedem-me para falar do Chiado, 53
020 Chiado: o que é, o que será... , 63
023 Quinta da Malagueira, 77
035 A passagem do tempo, 107
038 Quinta da Malagueira-Êvora, 115
054 Apontamentos sobre a Recuperação da Baixa Pombalina, 157
055 Bibliotecas, 159
073 Três obras de boa recordação, 199
082 Abecasis, 221
085 Évora-Malagueira, 227
089 Café Moderno, 247
092 A Cidade em suspenso, 255
093 (Grandes) Armazéns do Chiado, 257
095 Construir em Maastricht, 263
102 Quinta da Conceição, 283
117 Exposição de Serralves Expor, 319
120 Serpentina, 327
122 Sobre a Casa Bahia, 331
128 Armanda Passos, 347
132 Cornellà, 355
133 Pavilhão Carlos Ramos, 357
135 Conjunto Habitacional da Bouça, 361
136 Memória Descritiva, 363
139 Le T horonet, 369
141 Só as pessoas estão alegres ou tristes, 373
409
ARTE
026 António Quadros, 83
030 Exposição de Maria Antónia Siza, 93
049 Carlos Nogueira, 145
053 Razões para expor a colecção do Centro Nacional de Fotografia
sobre mesas, 155
064 Gabriele Basílica 1, 179
065 Gabriele Basílica 2, 183
069 Manuel Gargaleiro, 191
078 Escultura - O prazer do trabalho, 213
083 Gabriele Basílica 3, 223
088 Pessoas sob um céu azul imaginado, 245
111 O Fotógrafo, 305
130 Juan Rodriguez, 351
BIBLIOTECAS
055 Bibliotecas, 159
CASAS
045 Viver uma casa, 133
105 Sair de um sonho, 291
122 Sobre a Casa Bahia, 331
129 A casa, 349
CIDADES
003 A cidade que temos, 19
007 Barcelona, 31
014 Brasil, 51
016 Santiago, 55
018 Outras Cidades, 59
039 Xerardo Esteves, Alcaide de Santiago de Compostela, 117
040 Na Galiza, 119
046 O desenho como memória, 137
047 Regresso ao Porto, 139
048 Ignorância de Lisboa, 141
052 Palermo é uma das minhas cidades, 151
060 Rio de Janeiro, 171
062 Cidade, 175
063 A ideia primária de especialização, 177
074 Porto, 201
DESENHO
009 A importância de desenhar, 37
013 Desenhos de Viagem, 49
022 Manhãs entre os Deuses, 73
030 Exposição de Maria Antónia Siza, 93
031 Sobre a dificuldade de desenhar um móvel, 95
046 O desenho como memória, 137
057 Doutoramento Honoris Causa, 163
098 Desenhos - Exposição Japão, 273
100 Fragmentos de um Diário Quase Desesperado, 277
151 Os azulejos de Fátima, 395
DESIGN
031 Sobre a dificuldade de desenhar um móvel, 95
056 Sofás, 161
086 Essencialmente, 237
091 Desenhar um Swatch, 253
096 A mesa, 267
099 Objecto de Vidro, 275
142 A minha cadeira favorita, 375
DISCURSO
042 Doutoramento em Lausanne, 125
052 Palermo é uma das minhas cidades, 151
057 Doutoramento Honoris Causa, 163
071 Doutoramento Honoris Causa em Coimbra, 195
075 Prffimium Imperiais, da Japan Art Association, 205
097 Exposição - as Cidades de Siza, 271
103 Mundo à parte, Mundo-parte, 287
104 Medalha Internacional das Artes da Comunidade de Madrid, 289
106 Doutoramento em Veneza, 293
107 Porquê um arquitecto e porquê eu?, 297
109 Latinidade, 301
411
113 Nápoles, 309
118 As Chaves da Cidade do Porto, 323
125 Grande Prémio Especial de Urbanismo de França, 341
126 Medalha de Ouro de Santiago de Compostela, 343
127 Nominaciones de Arquitectura de Granada, 345
132 Cornellà, 355
144 Prémio da Trienal de Arquitectura, 379
153 Doutoramento no Pará, 401
DIVERSOS
136 Memória Descritiva, 363
138 Idealidades, 367
150 Zoides, 393
ENSINO
022 Manhãs entre os Deuses, 73
025 FAUP: imagem exterior, 81
042 Doutoramento em Lausanne, 125
043 Távora, 129
059 Sobre Pedagogia, 167
EXPOSIÇÕES
090 Exposição em Nápoles, 249
097 Exposição - as Cidades de Siza, 271
098 Desenhos - Exposição Japão, 273
117 Exposição de Serralves Expor, 319
FAMÍLIA
007 Barcelona, 31
011 Farmácia Moderna, 43
016 Santiago, 55
017 Todos os Natais da casa da Avó, 57
030 Exposição de Maria Antónia Siza, 93
149 Bisavô Júlio, 391
HOMENAGEM
033 James Strrling, 103
082 Abecasis, 221
094 Oíza, 261
MÓVEIS
031 Sobre a dificuldade de desenhar um móvel, 95
056 Sofás, 161
096 A mesa, 267
142 A minha cadeira favorita, 375
MUSEUS
090 Exposição em Nápoles, 249
117 Exposição de Serralves Expor, 319
OUTROS ARQUITECTOS
008 Fernando Távora, 33
010 A Villa Savoie revisitada, 39
019 Gregotti, 61
021 Souto de Moura, 67
027 Frank Lloyd Wright, 85
028 Pep Bonet, 87
029 Um primeiro trabalho de Adalberto Dias, 89
032 Outro italiano em Portugal, 97
033 James Stirling, 103
037 A propósito da arquitectura de Fernando Távora, 111
041 Impressões de uma viagem ao Ticino, visitando as casas de
Luigi Snozzi, 121
043 Távora, 129
050 Barragan, 147
070 Snozzi, 193
072 Eduardo Souto de Moura, 197
076 Óscar Niemeyer, 207
077 Alvar Aalto: algumas referências à sua influência em Portugal, 211
079 A propósito de uma cabeleira prateada, 215
413
084 Leito e Água - Modernidade de Barragan, 225
087 Muralha Portuguesa - Ceuta, 243
094 Oíza, 261
101 Fernando Távora, 281
106 Doutoramento em Veneza, 293
114 Gregotti, 313
119 Casa da Música, 325
123 Na morte de Fernando Távora, 335
124 Sahel-AI-Hiyari, 337
140 Óscar Niemeyer - por ocasião do 100 ° aniversário, 371
143 óscar Niemeyer, 377
144 Prémio da Trienal de Arquitectura, 379
147 Casa em Canoas, 387
148 Evocação de Aldo Rossi, 389
PEDAGOGIA
006 Oito Pontos, 27
009 A importância de desenhar, 37
011 Farmácia Moderna, 43
037 A propósito da arquitectura de Fernando Távora, 111
059 Sobre Pedagogia, 167
063 A ideia primária de especialização, 177
066 Exposição em Frankfurt ,185
086 Essencialmente, 237
103 Mundo à parte, Mundo-parte, 287
145 Ser Teórico, 383
POÉTICA
080 A propósito de um velho artesão, 217
081 Desenho de Pormenor (detalhe, do francês détail), 219
REFLEXÃO
005 Construir, 25
012 Materiais, 47
024 Miragaia, 79
027 Frank Lloyd Wright, 85
044 Num Seminário de Projecto em Almeria, 131
051 O exemplo do escritor, 149
058 Sobre a espontaneidade, 165
067 Nota Autobiográfica, 187
078 Escultura - O prazer do trabalho, 213
VIAGENS
013 Desenhos de Viagem, 49
014 Brasil, 51
016 Santiago, 55
040 Na Galiza, 119
101 Fernando Távora, 281
134 Viagem a Marrocos, 359
415