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E

Ensaio sobre a verdade oculta.

“Infelizmente, é impossível... dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por


si mesmo.
Esta é sua última chance. Depois não há como voltar. Se tomar a pílula
azul... a história acaba, e você acordará na sua cama acreditando... no que
quiser acreditar. Se tomar a pílula vermelha... ficará no País das Maravilhas... e
eu te mostrarei até onde vai a toca do coelho. Lembre-se... tudo que ofereço é
a verdade. Nada mais.” (Morpheus – The Matrix)

Este ensaio intenta apresentar em uma linguagem clara e


descomplicada as simbologias filosóficas propositadamente inseridas no filme
The Matrix. Utilizando este filme como base, o ensaio é um guia para aqueles
que compreenderam a importância de desconectar-se da grande Matrix que
vivemos e verdadeiramente desejam encontrar os seus reais objetivos de vida.
Abordando a principal mensagem do filme, a leitura desafia o leitor a
rever os seus conceitos e crenças do que é real ou fundamental em sua própria
filosofia de vida, além de orientar no processo de auto conhecimento e
conscientização de sua missão pessoal.

Os ditames mais puros de toda a base religiosa aliados hoje ao


conhecimento cientifico mostra com muita clareza como todos nós podemos
ser “O Escolhido”, representado no filme pelo personagem Neo, apresentando
caminhos concretos para alcançar este objetivo. Sem dúvida trata-se de uma
leitura que mexe definitivamente com toda a estrutura de vida de qualquer
pessoa.

Bem vindo ao deserto do real !!!

Dedicatória:

Dedicamos esta obra a todos que estão em busca da verdadeira


finalidade da vida. Aqueles que compreenderam a existência de um objetivo
supremo que sobrepõe às metas impostas por um mundo materialista, egoísta
e doente. Que desejam compreender melhor as leis que regem o nosso mundo
e querem melhorar o seu relacionamento com O Divino, com o próximo e
consigo mesmo.

Introdução.

I) O mito do herói. O simbolismo do auto conhecimento e auto realização.


II) A inquietação pela verdade.
III) A Verdade encontra Neo.
IV) O primeiro encontro com os agentes. O medo da mudança.
V) Encontrando Morpheus. O medo de não ter o controle.
VI) Desconectando da Matrix. O que é Real ?
a) Sonho ou realidade ?
b) Crença e conhecimento.
VII) Compreendendo a principal simbologia de Matrix.

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a) Maya e Matrix.
b) O Ego e a relação com Maya.
c) A dificuldade do auto-enfrentamento e conscientização da realidade.
d) Equilibrando as atitudes.
e) Os impulsos humanos da sexualidade.
f) Conclusão do capítulo.
VIII) O treinamento.
a) As artes marciais e a disciplina.
b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 1
c) Qualquer pessoa ainda conectada à Matrix pode ser um agente.
IX) O oráculo.
a) A importância do desapego.
b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 2
c) Onde menos se espera, ali está a sabedoria. A aparência do Oráculo
d) O medo da responsabilidade de ser o escolhido.
X) A traição de Cypher. Nem todos estão preparados.
XI) O resgate à Morpheus. Resgatando a fé e vivendo as sincronicidades.
XII) Neo enfrenta os agentes. O renascimento para uma nova realidade.
a) Relacionando-se com O Divino.
b) Relacionando-se consigo próprio.
c) Relacionando-se com o próximo.
d) Relacionamento divino.
XIII) O vôo de Neo no fim do filme. A ascensão aos céus.

Conclusão.

O ensaio.

Introdução:

O filme The Matrix é uma dentre algumas obras artísticas que surgem
eventualmente e tocam profundamente um grande número de pessoas. Obras
que normalmente tornam-se símbolos de sua época, devido a forte estrutura
mitológica (Estórias populares antigas sobre personagens que eram
referências em várias áreas do comportamento pessoal e social) e filosófica
que se utilizam.
Ao longo da história da humanidade, diversas lendas, crenças e
histórias, formaram os mitos e arquétipos (Modelos de crenças e ideais) que
regiam o comportamento de civilizações. Esses ícones formados, tornaram-se
patrimônios da humanidade e fazem parte de um inconsciente coletivo
(Conhecimentos inatos que inconscientemente podem e são acessados pela
mente) que influencia a todos nós até hoje. Desta forma o conteúdo de Matrix,
não nasceu tão somente da criatividade de seus autores, mas de uma fonte de
conhecimento milenar.
Misturado com questões atuais como inteligência artificial, realidade
virtual e muitos efeitos especiais, chega-se à receita que faz com que seja esse
grande sucesso.

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The Matrix entra para história por traduzir para uma linguagem moderna,
diversos conhecimentos fundamentais que seriam inacessíveis aos que vivem
na nossa era, se precisassem ser aprendidos nos formatos originais.
O filme é recheado de várias citações literárias, além de muitos
simbolismos e significados, porém nesse ensaio, procurarei citar somente
aqueles que segundo a nossa interpretação são mais relevantes para o
crescimento pessoal do leitor.
É fato incontestável que o filme The Matrix poder ser interpretado de
várias formas diferentes, porém a nossa expectativa é que algumas pessoas
possam se identificar com esse ensaio e quem sabe, desenvolverem uma visão
mais ampla sobre alguns pontos.
Gostaríamos de deixar claro que para uma melhor compreensão deste
artigo, é fundamental que o filme seja assistido antes. Além de aconselhar que
seja assistido novamente algum tempo depois.

Bem vindo ao mundo real !!!

I) O mito do herói.

O simbolismo do auto conhecimento e auto realização.

Voltando a falar sobre os mitos que são abordados em The Matrix,


vamos citar em especial o mito principal do filme, o mito do herói. Este pode ser
encontrado nas mais variadas culturas, estórias literárias ou fatos reais, antigas
ou contemporâneas, fazendo referência a um herói que em alguns casos a sua
vinda é profetizada. Luta para libertar os demais de algum tipo de domínio,
vivendo uma fundamental missão que visa o benefício de todos, que acaba lhe
proporcionando uma grande evolução pessoal, libertando-o de vários medos e
limitações.
Inicialmente o herói vive em um ambiente comum, normal, como as
demais pessoas, levando uma vida de rotinas e padrões, sem aventuras ou
estímulos existenciais. Porém quando se vê envolvido na nova jornada, a
mudança desse ambiente fica evidente, pois todo o modelo de vida que vinha
levando muda completamente para uma fantástica excitante aventura. Um
exemplo cinematográfico é o filme Guerra nas Estrelas, onde Luke Skywalker
passa uma situação similar, vivendo na fazenda de seu tio, uma vida comum e
sem graça, até que se vê envolvido em uma aventura contra o poderoso
império intergaláctico.
Outro bom exemplo de um mito do Herói que gostaríamos de destacar,
são os 12 trabalhos de Hércules, originado na mitologia grega. O herói
enfrentou a ira dos Deuses e lutou contra seres horríveis para transcender a
sua condição de simples mortal. Hércules não aceitava a imperfeição da
condição humana e saiu em busca de algo maior, transcendental. Os desafios
que Hércules teve que enfrentar são metáforas das diversas fases do processo
de desenvolvimento interior.
Estes podem ser divididos em quatro etapas:
1a Superação da violência e dos vícios e criação de limites;
2a Descoberta de talentos, purificação da mente e do corpo e
transformação de instinto em intuição;

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3a Domínio da sexualidade e da arte de amar;
4a Desapego e conquista da espiritualidade.

Em resumo o arquétipo do herói trata-se de um mito que simboliza uma


metáfora do processo de auto conhecimento e auto realização do ser humano.
O herói, representa cada indivíduo que parte nessa fantástica jornada do
autoconhecimento, deixando para trás a “seguranças” das velhas “certezas”,
para se aventurar em um novo universo, onde terá que enfrentar desafios que
proporcionarão a superação dos próprios medos e bloqueios, resultando em
novos conhecimentos e estados avançados de consciência.
Podemos dividir em alguns tópicos como é geralmente estruturada uma
história com base no mito do herói:

1. O Herói é apresentado no mundo comum, onde recebe um chamado


à aventura.
2. Primeiro recusa o chamado, mas num encontro com o mentor é
encorajado a fazer a travessia do primeiro limiar e entrar no mundo
especial, onde encontra testes, inimigos e aliados.
3. Na aproximação da caverna oculta, cruza um segundo limiar onde
enfrenta a provação suprema.
4. Ganha sua recompensa e é perseguido no caminho de volta ao
mundo comum.
5. Cruza então o terceiro limiar, experimenta uma ressurreição e é
transformado pela experiência.
6. Chega então o momento do retorno com o elixir, a benção ou o
tesouro que beneficia o mundo comum.

Em The Matrix, toda a trama gira em torno deste mito. Contando a saga
de Neo, o predestinado/escolhido, que fora profetizado pelo Oráculo. Ele terá
que passar por várias provas e dificuldades até atingir a sua realização pessoal
e cumprir o que esperam dele. Na verdade o filme aborda de uma forma bem
peculiar toda a trajetória de um indivíduo que chega ao estágio de partir na
jornada do auto conhecimento e auto realização, a qual procuramos destacar
nos tópicos que seguem.

II) A inquietação pela verdade.

The Matrix só pode iniciar a sua saga a partir de um fato que passa a
motivar Neo, a inquietação pela verdade, simbolizando o início da saga do
herói na aventura da auto descoberta. Neo sente que existe algo de errado, um
sentimento difícil de explicar, que age a nível inconsciente, mas que incomoda
diariamente ao indivíduo que chega a este estágio da evolução.
Neo mantém um emprego normal, como programador em uma
renomada empresa de softwares, tentando adequar-se dentro dos padrões
“normais” impostos pela sociedade que vive. Porém algo está errado. No filme
não é apenas a curiosidade de saber o que é Matrix que o motiva na busca por
Morpheus. Neo deixa claro que está insatisfeito com a vida que leva, quando
decide viver duplamente atuando nas noites como hacker. O hacker é aquele
que age contra o sistema estabelecido, o buscador de enigmas, decifrador

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senhas e invasor dos sistemas, mostrando que tudo pode ser violável e
acessível, encontrando as falhas daquilo que se chama segurança.
Neo vara noites vivendo uma realidade alternativa, que se traduz em
uma fuga do mundo de insatisfação e problemas que vive. Uma das cenas que
simbolizam esta dificuldade em viver e adequar-se a sua vida “normal” é
quando o seu chefe ameaça demiti-lo pelas dificuldades que apresenta em
cumprir as normas da empresa. Neo inconscientemente busca respostas para
a sua inquietação, pois sente que tem algo de errado com a vida que leva e
com o mundo que vive.
Esta dúvida pode ser constatada na cena que Choi vai a sua casa
buscar um programa e Neo pega o disquete em um livro o qual o título é
"Simulacro e simulação" do filósofo francês Jean Baudrillard, que consiste em
um tratado respeitado que lida com discussões sobre o que é "real" e sobre o
que é "simulação ou simulacro".
Quando Neo abre o livro, o capítulo visto é sobre o Niilismo (Rejeição
total da autoridade, porque nada existe de absoluto então porque se submeter
ao estado e a igreja e a hierarquia, é a negação de todas as crenças, a recusa
a qualquer conformismo, muitas vezes beirando a intransigência radical, luta
contra a tirania, a hipocrisia, e os artificialismos, em favor da liberdade
individual, diz que todos os males derivam da ignorância, só a eliminação da
ignorância e da opressão pode garantir a liberdade humana).
Esta mesma cena mostra mais duas representações de como a vida de
Neo está desequilibrada e em crise. A primeira é representada em sua
aparência decadente, ao ponto de ser comentado por Choi quando foi a sua
casa buscar o programa:

Choi: _“Alguma coisa errada, cara? Você parece mais branco que o normal.”
A resposta de Neo é a segunda representação:

Neo:_“Meu computador, ele... Você já teve a sensação em que não tem


certeza se está acordado ou ainda dormindo?”

Essa dificuldade de adaptação a vida normal representada por Neo no


filme, é vivida por todos os seres humanos que chegam a este determinado
estágio da evolução. O homem possui em sua natureza a necessidade inata de
evoluir, de aprender algo novo. E quando a sua vida não pode mais lhe
proporcionar isso, perdendo assim o sentido, ele entra em colapso. Quando as
suas dúvidas existências não podem mais ser satisfeitas pelas respostas
fornecidas pelo “seu mundo”, o indivíduo parte em busca de novas respostas
que satisfaçam as suas perguntas, que se adéqüem ao seu atual estágio de
consciência.

III) A Verdade encontra Neo.

Existe um ditado oriental antigo que diz que “Quando o discípulo está
pronto, o mestre aparece”.
Morpheus e sua tripulação, assim como todos os Capitães das naves
oriundas de Zion que vagam pelas galerias subterrâneas, representam a
sabedoria que busca constantemente os que estão prontos para despertar.

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Neo, assim como Trinity e os outros que foram despertos, sabiam que
havia algo de errado, que havia algo a mais e buscaram pela verdade,
mostrando-se prontos e ávidos. Por esse motivo, foram encontrados por ela.
Vejamos como exemplo a cena em que Trinity e Neo tem o seu primeiro
encontro.

Trinity: _Sei por que está aqui, Neo. Sei o que anda fazendo.
Sei por que mal dorme... por que mora sozinho e por que, noite após noite...
senta-se ao computador. Você o está procurando. Eu sei porque eu também já
procurei a mesma coisa.
E, quando ele me encontrou... ele me disse que eu não estava procurando por
ele...
eu estava procurando uma resposta.
É a pergunta que nos impulsiona, Neo. Foi a pergunta que te trouxe aqui. Você
conhece a pergunta...
assim como eu.
Neo: _O que é a Matrix?
Trinity: A resposta está aí, Neo. Ela está à sua procura. E ela te encontrará...
se você desejar.

Apesar do objetivo de desconectar as pessoas da Matrix, não seria


possível despertar aleatoriamente e maciçamente, porque nem todas
suportariam a verdade. As mais apegadas às ilusões que vivem, certamente
entrariam em colapso. Por esse motivo era importante selecionar as pessoas
qualificadas para viver essa nova realidade.
Este fato no filme, representa o estágio em que finalmente é
compreendida a verdade sobre a vida, sobre o seu real sentido. Iniciando desta
forma a busca efetiva e consciente pela auto realização, que trata-se de um
estágio da evolução humana que todo o indivíduo chegará mais cedo ou mais
tarde. Esse é um processo lento que depende de várias situações e
experiências vividas até que o indivíduo esteja pronto para iniciar.
Assim como no filme, a conscientização sobre a verdade da realidade
superior e a libertação de antigos conceitos, seria insuportável para quem não
está realmente preparado e como veremos mais a frente, uma vez desperto e
consciente, a vida nunca mais volta a ser como era. Entretanto será
apresentado nos próximos tópicos, nem todos os que estão prontos
conseguem efetivamente despertar e nem todos os que despertam conseguem
viver a nova realidade.

IV) O primeiro encontro com os agentes. O medo da mudança.

Paradoxalmente, da mesma forma que existe a inquietação em busca da


evolução e do novo, existe a resistência à mudança. Trata-se de um
mecanismo de auto-defesa do Ego que induz o ser humano a manter-se
naquilo que conhece e domina, motivado pela necessidade de sentir-se seguro.
No filme The Matrix os agentes representam também essa resistência,
representam a imposição do Ego, agindo diretamente sobre o medo da
mudança.

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Na saga, acontecem duas cenas que simbolizam bem esse medo, sendo
a primeira delas quando Neo é procurado por agentes para um interrogatório e
se vê em uma situação de escolha, entre se pendurar em um andaime no alto
de um arranha céu (representando o desconhecido, o novo), ou se entregar
aos agentes (que representam a auto-defesa de sentir-se seguro evitando a
mudança).

Morpheus: Há duas formas de sair deste prédio.


Uma é pelo andaime. A outra é levado por eles.
Nas duas há um risco. Você é quem escolhe.

Neo não resiste a primeira pressão da Matrix em mante-lo conectado as


sistema e prefere se entregar aos agentes. Ele se acha pequeno demais para
tudo o que estava acontecendo. Ele se achava ninguém e se via impotente
perante toda a trama que aos poucos ia se desenrolando.

Neo: Não sou ninguém. Eu não fiz nada.


Eu vou morrer.
Droga!
Droga!
Eu não consigo.
Droga.

Neo até tenta, porém naquele momento não tinha confiança nele mesmo
para enfrentar aquela situação e isso o fez recuar e se entregar.
Essa cena representa a primeira barreira encontrada pelo herói, que
nesse caso foi suficiente para impedi-lo temporariamente.
Durante o interrogatório imposto pelos agentes, Neo deixa claro que
mesmo tendo falhado no momento crucial, ele continuava convicto que tinha
que proteger Morpheus e Trinity não revelando o contato já ocorrido, mostrando
desta forma fidelidade ao que acreditava.
Depois de ser grampeado pelos agentes e libertado, Morpheus resolve
dar mais uma oportunidade a Neo, telefonando para marcar um novo encontro.
Novamente Neo passa pela dura prova de descobrir o novo e deixar
para trás o que não está mais lhe trazendo crescimento. A segunda cena que
representa isso é quando Neo entra no carro junto com Trinity, Swich e Apoc.
Neo havia passado pelas mãos dos agentes, que buscam
incessantemente todos os que já estão despertos, e além disso havia sido
grampeado. Este fato levou Trinity e Swich agirem de forma defensiva, tendo
que aprontar uma arma para retirar o grampo que havia sido colocado nele.
Com isso Neo percebeu o quanto era grandioso, complexo e arriscado o
que estava procurando. Percebeu como a sua vida poderia mudar radicalmente
se continuasse naquela busca.
Percebendo essa insegurança, Swich mandou Apoc parar o carro, abriu a porta
e falou:

“Escute, espertinho.
Não temos tempo pra brincadeiras.
Agora só há uma regra:

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é do nosso jeito... ou caia fora.”
Mais uma vez ele terá que fazer a sua escolha, Neo pensa por dois ou três
segundos, e novamente é vencido pelo medo da mudança.
Neo exclama: Tudo bem. E abre a porta do carro para sair por ela. Trinity
pega-o pelo braço e fala:
_Por favor, Neo, confie em mim.
_Por quê?
_Porque você já esteve lá.
Neo olha para fora pela porta aberta e a visão que tem é de uma rua que se
estende verticalmente. Trinity continua.
_Você conhece essa rua. Você sabe onde ela vai dar. E sei que não é onde
você deseja estar.

Trinity nessa cena teve um papel fundamental na escolha de Neo no


momento crucial. Ela representou o lembrete da inquietação que acompanhava
Neo e que o levou até aquele lugar e até aquela escolha. Ele se conscientizou
que mesmo com todo o medo que estava da mudança, se saísse do carro para
aquela rua, a sua vida continuaria do mesmo jeito, as suas inquietações e
dúvidas continuariam a resultar na crise existencial que o estava
desequilibrando. Neo faz a escolha que mais cedo ou mais tarde teria que
enfrentar, decide continuar a sua busca pela mudança, pela sua verdade.
Muitos que intuem essa realidade superior e o real sentido para vida
fraquejam nesse primeiro medo, “o medo da mudança”. Isso é uma auto defesa
da psique humana que visa manter o seu equilíbrio interior, que só é possível
quando as perguntas existenciais abaixo estão respondidas.

- Quem eu sou ?

Exemplo de resposta: Sou João da Silva, nascido no Rio de Janeiro no


Brasil, filho de Damaceno da Silva e Orlandina da Silva, sou mecânico, casado
com Maria da Silva e tenho dois filhos, Carlos e Ricardo da Silva.

- De onde vim ?

Exemplo de resposta: Fui gerado biológicamente pelos meus pais, e


antes de O Divino me colocar na terra eu morava no céu.

- Como funciona o mundo e a sociedade que vivo ?

Exemplo de resposta: É necessário que o indivíduo estude em uma


escola regular, escolha uma profissão e se esforce para obter o máximo de
bens que trarão conforto e felicidade até a hora de deixar essa vida e viabilizar
uma boa herança para os filhos.

- Qual é a meta da minha vida ?

Exemplo de resposta: Ter a minha própria oficina e uma casa de praia


em Búzios.

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- Para onde vou depois de morrer ?

Exemplo de resposta: Se eu andar conforme as leis de O Divino vou


para o céu, se não, vou para o inferno.

Os exemplos citados de respostas existenciais formam um exemplo de


visão de mundo, neste caso do Sr. João da Silva, que poderia ser outra
completamente diferente se tivesse nascido em uma tribo indígena do
Amazonas, ou em uma aldeia africana, ou ainda em uma comunidade da Índia.
Cada pessoa tem a sua própria visão de mundo, que além das respostas
existenciais, também é formada pelas influências sofridas na sociedade que se
vive.
Mudanças nessas respostas existenciais (visão de mundo) do Sr. João
da Silva, provavelmente o levará à uma crise que desequilibrará a sua psique.
Por exemplo: O João da Silva descobre que um de seus filhos na
verdade não é seu filho, ou descobre que não é filho de seus pais. A primeira
tendência seria rejeitar essa informação, considerando a crise e o desequilíbrio
que a mesma causaria.
Por isso é tão difícil aceitar novas verdades e no caso de quem está em
busca de algo superior as mudanças na visão de mundo serão inevitáveis.
Porém esse medo assim como os outros pode e deve ser superado, pois
de todas as barreiras que impedem o indivíduo de crescer, o medo é a principal
delas.
Mais cedo ou mais tarde isso acontecerá, pois a consciência está em
constante processo de crescimento e sendo assim, chegará o dia em que a
atual visão de mundo não servirá mais e o equilíbrio da psique entrará em
crise. Neste caso, ou indivíduo enfrenta o medo da mudança, absorvendo e
adaptando-se às novas respostas, ou continuará em crise até o momento que
não terá outra alternativa.

V) Encontrando Morpheus. O medo de não ter o controle.

Um outro medo que está muito associado ao medo da mudança, mas


que merece um destaque especial é o “medo de não ter o controle”. Na cena
em que Neo finalmente encontra com Morpheus, Neo dá sinais desse medo
específico logo no início da conversa com Morpheus.

Morpheus: __Você acredita em destino, Neo?


Neo: __Não.
Morpheus: __Por que não?
Neo: __Não gosto de pensar que não controlo minha vida.
Morpheus: __Sei exatamente o que quer dizer.

O medo da mudança está fundamentado na necessidade ilusória de


controlar tudo ao seu redor, de ter nas mãos as rédeas da vida. E Morpheus
preocupava-se em saber como Neo pensava, pois isso poderia ser uma grande
barreira para continuar a sua jornada após estar desconectado da Matrix. Pois
as pessoas que acreditam ter total controle sobre suas vidas e convicção que
isso é fundamental para viverem bem, podem passar por um grande choque

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emocional, quando descobrem que o controle que achavam que tinham é muito
menor do que podiam imaginar.
Morpheus está representando “a verdade sobre a vida” e deixa bem
claro a Neo que uma vez revelada, a vida do conhecedor nunca mais será a
mesma.
Depois de descrever basicamente o que é Matrix, ele deixa claro para
Neo que não será fácil conhecer essa verdade.

Morpheus: _Infelizmente, é impossível...


dizer o que é a Matrix. Você tem de ver por si mesmo. Esta é sua última
chance.
Depois não há como voltar. Se tomar a pílula azul... a história acaba, e você
acordará na sua cama acreditando... no que quiser acreditar. Se tomar a pílula
vermelha... ficará no País das Maravilhas... e eu te mostrarei até onde vai a
toca do coelho. Lembre-se... tudo que ofereço é a verdade. Nada mais.

A questão é que a escolha já estava feita, pois Neo no episódio do carro,


havia se conscientizado que na verdade não havia escolha. Ou ele conhecia
essa verdade, tentando dar um outro rumo a sua vida, ou continuaria em crise.
Não tinha nada mais a perder, fato este que o levou a pegar a pílula
vermelha e toma-la sem hesitar.

VI) Desconectando da Matrix. O que é Real ?

a) Sonho ou realidade ?

Como no filme o processo do despertar é lento, difícil e doloroso. E leva


um tempo até que Neo possa compreender o que é Matrix. Como Neo poderia
enxergar tal fato, estando ainda conectado ? Seria impossível. Para isso ele
precisou primeiro se desconectar do sistema. Porém compreender o que é
também dependeria de libertar a sua mente em relação aos seus conceitos de
realidade.
Depois de tomar a pílula vermelha, Neo é preparado para ser
desconectado.
O programa que ingeriu em forma de pílula, começa a interferir na
funcionalidade do seu “organismo” e ele começa a ter “alucinações bem reais”.
Ali é o início dessa jornada rumo a liberdade da mente. Morpheus
percebendo exclama:

Morpheus: _Você já teve um sonho, Neo, que parecia ser verdadeiro?


E se você não conseguisse acordar desse sonho?
Como você saberia a diferença entre o mundo dos sonhos...
e o mundo real?
Neo: _Não pode ser.
Morpheus: _Ser o quê? Ser real?

Finalmente Neo é desconectado, acordando para o mundo real. Depois


e passar por um processo de adaptação, Morpheus e Neo são colocados no
programa de carregamento que simula a Matrix, Neo começa a compreender a

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verdade. Entende que o mundo em que vivia não era real, que tudo não
passava de uma grande ilusão imposta à sua mente e que a realidade vai
muito além do que ele podia compreender. Descobre que a realidade é relativa
e depende do que os nossos sentidos estão captando e traduzindo para o
nosso cérebro.
Utilizando o exemplo de Morpheus, se estamos em um sonho bem real,
interagimos com objetos e pessoas que parecem reais e sólidos, chegamos a
confundi-lo com a realidade, porque a nossa mente os percebe assim.
Alguns pensadores ao longo da história desenvolveram teorias que
abordam esse conceito.
René Descartes, após muito refletir sobre o assunto, chegou a
conclusão que não podemos confiar em experiências sensoriais. Ele ilustra a
sua teoria com a estória de um Demônio maldoso com grandes poderes, capaz
de fazer-nos acreditar na existência do mundo físico externo, que na verdade
trata-se apenas de uma ilusão para nos manter aprisionados.
Peter Unger em seu livro Ignorance (Ignorância) lançado em 1975,
sugere a possibilidade que o mundo físico como o conhecemos, seja apenas
estímulos neurológicos causados por um cientista do mal, utilizando um
supercomputador que conectado ao sistema nervoso por eletrodos, nos induz a
acreditar que existam objetos sólidos os quais interagimos.
Adotando uma teoria muito parecida, Hilary Putnam descreve a sua
versão em seu livro lançado em 1981, Reason, Truth and History (Razão,
Verdade e História), onde sugere que imaginemos que nossos cérebros foram
separados cirurgicamente do nossos corpos, e que foram colocados em um
barril cheio de elementos químicos que os nutrem. Um poderoso computador,
envia impulsos elétricos ao nosso cérebro nos fazendo viver uma “realidade”
virtual, onde achamos estar vivendo no mundo real, porém na verdades
estamos sendo estimulados por um programa de computador.
Desta forma todos eles sugerem que a nossa ideia de realidade sobre o
mundo que vivemos, pode estar limitada ao que o nosso intelecto consegue
ver, acreditar ou compreender. Ou seja, a verdade pode estar bem além do que
fomos até então capazes de conceber.
Esse conceito sobre o que é real ou não é uma teoria bem mais antiga
do que podemos imaginar. Na Grécia, aproximadamente em 387a.c., um certo
filósofo chamado Platão ilustra com muita propriedade essa questão com a sua
Alegoria da Caverna:
“Imaginemos homens que vivam numa caverna cuja entrada se abre
para a luz em toda a sua largura, com um amplo saguão de acesso.
Imaginemos que esta caverna seja habitada, e seus habitantes tenham as
pernas e o pescoço amarrados de tal modo que não possam mudar de posição
e tenham de olhar apenas para o fundo da caverna, onde há uma parede.
Imaginemos ainda que, bem em frente da entrada da caverna, exista um
pequeno muro da altura de um homem e que, por trás desse muro, se movam
homens carregando sobre os ombros estátuas trabalhadas em pedra e
madeira, representando os mais diversos tipos de coisas. Imaginemos também
que, por lá, no alto, brilhe o sol.
Finalmente, imaginemos que a caverna produza ecos e que os homens
que passam por trás do muro estejam falando de modo que suas vozes ecoem
no fundo da caverna.

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Se fosse assim, certamente os habitantes da caverna nada poderiam ver
além das sombras das pequenas estátuas projetadas no fundo da caverna e
ouviriam apenas o eco das vozes. Entretanto, por nunca terem visto outra
coisa, eles acreditariam que aquelas sombras, que eram cópias imperfeitas de
objetos reais, eram a única e verdadeira realidade e que o eco das vozes
seriam o som real das vozes emitidas pelas sombras. Suponhamos, agora, que
um daqueles habitantes consiga se soltar das correntes que o prendem. Com
muita dificuldade e sentindo-se frequentemente tonto, ele se voltaria para a luz
e começaria a subir até a entrada da caverna. Com muita dificuldade e
sentindo-se perdido, ele começaria a se habituar à nova visão com a qual se
deparava. Habituando os olhos e os ouvidos, ele veria as estatuetas moverem-
se por sobre o muro e, após formular inúmeras hipóteses, por fim
compreenderia que elas possuem mais detalhes e são muito mais belas que as
sombras que antes via na caverna, e que agora lhes parece algo irreal ou
limitado. Suponhamos que alguém o traga para o outro lado do muro.
Primeiramente ele ficaria ofuscado e amedrontado pelo excesso de luz;
depois, habituando-se, veria as várias coisas em si mesmas; e, por último,
veria a própria luz do sol refletida em todas as coisas. Compreenderia, então,
que estas e somente estas coisas seriam a realidade e que o sol seria a causa
de todas as outras coisas. Mas ele se entristeceria se seus companheiros da
caverna ficassem ainda em sua obscura ignorância acerca das causas últimas
das coisas. Assim, ele, por amor, voltaria à caverna a fim de libertar seus
irmãos do julgo da ignorância e dos grilhões que os prendiam.
Mas, quando volta, ele é recebido como um louco que não reconhece ou
não mais se adapta à realidade que eles pensam ser a verdadeira: a realidade
das sombras. E, então, eles o desprezariam.... “

O que assegura que não vivemos em um sistema como Matrix ? Será


que a visão de mundo que temos é a realidade ? O que é real e o que é ilusão?

b) Crença e conhecimento.

Uma das principais mensagens passadas pelo filme The Matrix, é a


importância de revermos o que consideramos verdade, ou seja o que é real ?
Ao longo do nosso desenvolvimento como seres humanos, absorvemos
vários conceitos, teorias e crenças que são passadas pela nossa família e pela
influência da sociedade que vivemos. Desta forma, formamos a nossa visão de
como é o mundo e de como tudo funciona.
Porém, qual é a profundidade ou a abrangência sobre alguma
determinada crença ou verdade ?
Existe uma diferença muito grande entre acreditar e ter consciência, ou
se preferir entre crença e conhecimento.
Uma crença depende que você acredite no que uma determinada fonte
de informação está lhe passando. Um conhecimento não depende que você
acredite, pois é uma informação que você mesmo, por intermédio do seu
raciocínio pode comprovar. Você acredita ou tem consciência que 2 + 2 é igual
a4?
No caso da pergunta acima, a resposta pode variar. Se o indivíduo em
questão sabe fazer contas de somar, poderá chegar ao resultado e

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consequentemente ao conhecimento que o resultado de 2 + 2 é 4, ou seja, ele
tem consciência.
Porém se o indivíduo não sabe realizar contas de somar e alguém lhe
informa que 2 + 2 é igual a 4, este dependerá de acreditar ou não nesta
informação.
No caso de acreditar, corre-se o risco da fonte estar errada e ele estará
tomando como verdade uma informação que acredita estar certa.
Sidarta Gautama, mais conhecido como O Buda à aproximadamente
2.500 anos atrás, expressou a seguinte opinião sobre o assunto:

“Não acredite no que você ouviu; não acredite em tradições porque elas
existem a muitas gerações; não acredite em algo porque é dito por muitos; não
acredite meramente em afirmações escritas de sábios antigos; não acredite em
conjecturas; não acredite em algo como verdade por força do hábito; não
acredite meramente na autoridade de seus mestres e anciãos.
Somente após a observação e análise, quando for de acordo com a
razão e condutivo para o bem e benefício de todos, somente então aceite e
viva para isso.”

Buda nasceu na Índia, onde a religião mais difundida é baseada nos


Vedas (Literatura sacra indiana). Essa é uma religião cheia de crenças, rituais e
mitos; e Buda após analisar com muita propriedade os detalhes dessa religião,
chegou a conclusão que nem tudo que era ensinado era a fiel realidade. Ele
percebeu que uma verdade(ou conhecimento), não pode estar fundamentada
em uma história criada por um “sábio” à muito tempo(o que não quer dizer que
seja real), ou em um texto “sagrado” escrito a muito tempo(o que não quer
dizer que seja real), ou em uma crença popular (o que não quer dizer que seja
real).
Para exemplificar com mais clareza, o conflito que atualmente existe
entre ciência e religião, representa a crise que atingiu toda uma sociedade na
idade média, exatamente sobre o que era conhecimento e o que era crença.
Até o surgimento da chamada revolução científica muito ditos
“conhecimentos verdadeiros e inquestionáveis” caíram por terra. Podemos citar
como exemplo de “conhecimento verdadeiro” a teoria Geocêntrica, que
afirmava ser achatada (plana) a Terra e que o nosso imóvel planeta era o
centro do universo, com tudo mais girando ao nosso redor. Graças a
genialidade de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei, essa “verdade” tornou-se
apenas uma crença prevalecendo o conhecimento. Porém para toda a
sociedade daquela época, essa era a verdade e quem falasse ao contrário
corria sérios riscos. Motivo este que levou Copérnico temer a divulgação de
sua teoria Heliocêntrica e Galileu à prisão domiciliar.
Nessa época tudo era explicado baseado em crenças. Acreditava-se que
as doenças o clima as colheitas, tudo estava relacionado diretamente a forças
espirituais, e dependiam do bom humor dos anjos, santos e demônios.
Com o surgimento dos estudos científicos, as crenças aos poucos foram
colocadas de lado e o conhecimento começou a ser utilizado.
A conclusão final sobre “crença e conhecimento” é que antes de
absorver algo como verdade, e antes de incorporar essa verdade à própria
“visão de mundo” é fundamental uma análise profunda da origem e do sentido

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da informação, para que não exista o risco da ação equivocada pela
ingenuidade. E além disso, a revisão daquilo que atualmente é considerado
“verdade”, para que se obtenha a consciência do que é crença e do que é
conhecimento na atual visão de mundo adotada.

VII) Compreendendo a principal simbologia de Matrix.

a) Maya e Matrix.

No filme The Matrix muitas são as cenas que fazem relação à filosofias e
religiões das mais diversas. Dentre elas podemos destacar em especial o
cristianismo, a gnose, o espiritismo, filosofia grega, filosofia moderna, o taoismo
e o budismo, sendo esta última a mais citada durante a trama.
Segundo entrevistas concedidas, os irmãos Wachowski autores do filme,
alegam claramente a intenção em passar ao público conceitos budistas por
intermédio do filme.
Tomando esta filosofia como base, o conceito que é mais enfatizado no
filme, representando a própria Matrix é Maya. Na verdade, existe uma intenção
real dos irmãos Wachowski de relacionar Matrix a Maya, que pode ser
constatada no entendimento do significado oculto do nome Matrix.
"Ma" indica Maya, que significa ilusão em sânscrito, e "trix" indica três
(as três ilusões que ocultam a realidade: a ilusão física, a ilusão psíquica e a
ilusão espiritual) Conceito original da filosofia Védica e adotada pelo Budismo
como Mara, Maya é um mundo de ilusões baseado nos prazeres
materiais.Trata-se de uma força magnética inferior que tem como objetivo
principal aprisionar e impedir aos que estão no mundo material partirem em
busca da auto realização. Para isso usa os mais diversos desejos e prazeres
ilusórios, dispondo do poder, da riqueza, do sexo descontrolado e outras
variações.
Maya impõe a cultura do TER, levando as pessoas a acreditarem que o
sentido da vida é concentrar os seus esforços no acúmulo de bens e na busca
do poder, tudo em nome do prazer e da auto-afirmação. Essa “filosofia” de vida
do prazer pelo prazer é chamado de Hedonismo.
Um episódio ocorrido na história de Buda, deixa muito claro os principais
mecanismos que Maya usa para aprisionar os indivíduos. Quando Buda
finalmente está às portas da iluminação (auto realização), Maya tenta impedilo
com mulheres (sexo descontrolado), dinheiro e poder (que proporcionam os
prazeres desenfreados).

b) O Ego e a relação com Maya.

Maya só consegue aprisionar em suas ilusões as mentes humanas


graças ao Ego. Trata-se de uma faceta da personalidade humana que age na
maioria das vezes a nível inconsciente, e como é sugerido tem como
característica principal o egoísmo. Não importa como, e a custo de que ou
quem, pois o egoísmo é a base do comportamento dessa faceta da
personalidade. Ela não preocupa-se quem as suas atitudes magoam, desde
que a sua vontade prevaleça e o seu desejo seja saciado.

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O Ego pode ser detectado desde muito cedo no comportamento do ser
humano. Em especial nos primeiros anos de vida, época em que a criança
ainda não sofreu influências sociais sobre o certo e o errado, pode-se constatar
um comportamento totalmente egocêntrico. Podem ser identificados
sentimentos como ciúmes, apego, ira e outros que mostram muito claramente
a real natureza humana quando dominada pelo Ego.
Esta faceta da psique humana é a responsável por nos manter aprisionados à
Maya usando o apego, o medo e a lei do retorno. Conseguir disciplinar o
próprio Ego é o grande segredo para atingir a auto realização.
O primeiro passo para cumprir esse objetivo é a conscientização que o Ego é
real. A dualidade da mente é um assunto amplamente encontrado em diversas
literaturas religiosas e filosóficas, retratando uma parte de nós que quer fazer
o errado e a outra que aconselha a não fazer (o diabinho e o anjinho interno).
Não estar consciente da atuação do Ego é o mesmo que servir de
marionete para ele. Pois acabamos acreditando que os comportamentos
oriundos dele fazem parte da nossa personalidade, e não tem jeito, “eu sou
assim mesmo e quem quiser que me aceite”.

EX: Uma pessoa que tem a tendência de falar demais da vida dos outros, pode
se justificar: _ Eu sou assim mesmo, muito comunicativa.

Ou alguém que dá vazão a ira constantemente, se justifica dizendo: _É eu


tenho o pavio curto mesmo !!

Não existe: “Eu sou assim”.


Existe sim: “Eu estou assim.”

Visando entender melhor como funciona a atuação do Ego na psique,


vamos fazer uma adaptação na teoria da Psicanálise para um foco mais
transcendental.
Nossa mente é dividida em Id, Ego e Superconsciência. Três elementos
que interagem constantemente no padrão de comportamento de um
determinado indivíduo.

_ ID: Impulso inato, instinto originado das necessidades básicas do bem estar
físico(que influenciará no seu equilíbrio psicológico). Ex: Fome, sono, sede,
afeto, sexo e etc.

Se um indivíduo sente fome, o Id o levará instintivamente a procurar


comida.

_ Ego: Como já citado é uma faceta da nossa personalidade que tem como
matriz do seu comportamento o egoísmo, além de todas as atitudes
consideradas antiéticas e inconsequentes. Ele sempre está tentando abafar e
ludibriar as manifestações da Superconsciência que são contrárias à essas
atitudes. Utiliza justificativas cheias de futilidade, mas que na maioria das vezes
acabam prevalecendo. Além das atitudes motivadas pelo ID, existem atitudes
originadas diretamente do Ego.

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Exemplo de sentimentos ações oriundas do Ego:

Medo infundado;
Preguiça;
Inconsequência;
Ganância;
Gula;
Ciúmes;
Avareza;
Infidelidade;
Desonestidade;
Violência;
Prepotência;
Injustiça;
Dominação;
Vaidade;
Impulsividade;
Indiferença;
Impaciência;
Apego;
Maledicência;
Materialismo;
Vingança;
Compulsão.

_ Superconsciência: A sua formação é influenciada pelos padrões éticos/morais


da sociedade que o indivíduo desenvolveu-se, além da bagagem
multiexistêncial trazida das experiências vividas em existências anteriores. A
superconsciência é uma parte da mente humana, que em estágios mais
profundos de consciência, tem acesso a níveis de compressões que
transcendem os cinco sentidos habituais. As atitudes mais éticas, prudentes,
benevolentes e pacientes, são formadas originalmente na Superconsciência.

_ Disputa entre o Ego e a Superconsciência:


A disputa entre a Superconsciência e Ego pelo controle da mente é
muito intensa, considerando que hora um se manifesta, hora o outro. A
intensidade e o tempo que cada um deles irá atuar, dependerá muito do nível
de consciência do indivíduo adquirido em suas existências anteriores. Existem
basicamente quatro tipos de níveis mentais, inconscientes, semiconscientes,
conscientes e auto-realizados.
Os inconscientes e os semiconscientes são simbolizados no filme pelas
pessoas ainda conectadas a Matrix, que vivem inconscientes das Leis
universais, do principal sentido da vida e da verdade sobre os seus
sentimentos e atitudes.
Não tem consciência da necessidade de disciplinar o Ego para a
manifestação constante da Superconsciência visando alcançar a auto
realização. Os seus objetivos de vida são puramente materiais, direcionando os
seus esforços para alcançar um determinado padrão financeiro,
reconhecimento pessoal e influência social (dinheiro, fama e poder).

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- Inconscientes: Extremamente materialistas, o contato com a
Superconsciência é muito pequeno e não sabem da existência do Ego,
prevalecendo de forma inconsequente a sua livre manifestação nos
sentimentos e atitudes.
A Superconsciência não consegue nem se manifestar no momento que
surge o sentimento ou a ação oriunda do Ego. Podendo, ou não, se manifestar
depois que o indivíduo estiver mais tranquilo como crise de consciência,
levando-o a lamentar-se pela atitude impensada (principalmente depois de
sofrer as consequências).

- Semiconscientes: Depois de muitos erros e consequências finalmente


perceberam a necessidade de evitar sentimentos e atitudes originadas do Ego.
Porém ainda estão aprisionadas pelo materialismo, além da total
indisciplina do Ego, que resulta em constantes batalhas com a
Superconsciência pelo controle das atitudes, que normalmente são vencidas
pelo Ego. Apesar de saberem que não devem, na maioria dos casos não
conseguem ainda resistir ao apelo do Ego. Como nessa categoria mental existe
a objeção da Superconsciência, o Ego usa vários tipos de mecanismos para
camuflar, esconder ou reprimir as atitudes ou sentimentos indesejados.

Conscientes: São representadas no filme pelos que já foram desconectados da


Matrix. Conscientes das ilusões materiais da vida, da existência do Ego e da
importância em disciplina-lo.
Compreenderam que os seus objetivos de vida devem ser direcionados
mais para o SER do que para o TER, ou seja, objetivos mais existenciais
internos do que materiais externos.
Em boa parte dos casos, a Superconsciência consegue prevalecer aos
sentimentos, atitudes e mecanismos do Ego. Isso dependerá do nível de
disciplina já adquirido em relação ao determinado sentimento e atitude. Se a
disciplina em relação a raiva por exemplo for boa, o indivíduo evitará a atitude
equivocada, porém se não for, a argumentação do Ego conseguirá justificar a
ação aproveitando o momento de nervosismo e desequilíbrio. Gostaria de
ressaltar que este exemplo está referindo-se a disciplina de uma pessoa em
relação a raiva. Porém a mesma pessoa que tem uma boa disciplina em
relação a raiva, pode não ter em relação a outras atitudes do Ego (como a gula
ou a luxúria) e consequentemente não conseguirá evita-las.

Auto-realizados: É representado no filme pelo personagem Neo, que na trama


é apenas um, porém ao longo da história real da humanidade já foram vários
(apesar da minoria esmagadora em relação às demais categorias mentais).
Atingiram a total disciplina do Ego, que não consegue manifestar mais
os seus impulsos, predominando totalmente a Superconsciência. Conseguem
ter acesso à níveis mentais que são impossíveis aos demais que ainda não
chegaram a este estágio.
Desta forma, a partir da consciência da importância de atingir a
autorealização, chegamos a conclusão que antes de mais nada, temos que nos
tornar conscientes das ações originadas e camufladas pelo Ego, para depois
com muito esforço disciplina-las.

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Para obter sucesso nesse objetivo os 3 passos abaixo são fundamentais:
1° passo: Auto-enfrentamento;
2° passo: Auto-observação;
3° passo: Mudança do que é indesejável.

A importância desses 3 passos pode ser encontrado simbolicamente no


filme na cena em que Neo após ingerir a pílula vermelha, tem uma experiência
alucinógena com o espelho que estava a sua frente. O espelho nesta parte do
filme, tem uma simbologia proposital que realiza um paralelo com o ato de
refletir, afinal este é o primeiro ato que leva ao sucesso nos referidos passos.
Vejamos a História abaixo ocorrida entre Sidarta (Buda) e seu filho
Rahula (que também era seu discípulo), que certamente resultou na cena
citada no filme.
_ O que você acha disso Rahula ? Qual é o propósito do espelho ?
_ Seu propósito é refletir, reverendo senhor.
_Mesmo assim, Rahula, algo deve ser feito com o corpo depois de muito
refletir, algo deve ser feito com a fala... com a mente depois de muito refletir.

Buda confirma com a sua teoria do espelho os três passos já citados em


outras palavras. Ele fala do refletir que é muito importante mas também afirma
que não é o suficiente, pois algo deve ser feito com o corpo depois de muito
refletir, algo deve ser feito com a fala... com a mente depois de muito refletir.
Em outras palavras: É muito importante refletir e se conscientizar dos
pensamentos e atitudes equivocadas e mais ainda agir disciplinadamente para
mudá-las, o que não é nada fácil. Pois de nada adiantará conscientizar-se de
pensamentos, sentimentos e atitudes equivocadas se não existe o esforço para
a efetiva mudança.
Para que seja possível cumprir os três passos é fundamental a
dedicação de um tempo específico para um trabalho mental, que deve ser
realizado à sós.
Para aqueles que tem dificuldades em ficar sozinhos é fundamental que
isso seja superado, pois a prática dos 3 passos só é possível com a dedicação
de um tempo diário.
Inicialmente deve ser feita uma análise dos pensamentos, sentimentos e
atitudes que fazem parte da nossa personalidade, para que seja realizado o
auto-enfrentamento. Para o segundo passo, devem ser revistos os
pensamentos, sentimentos e atitudes que ocorreram ao longo do dia que
passou, para que aconteça a auto-observação. E finalmente é importante
querer mudar os pensamentos sentimentos e atitudes que não estão de acordo
com as Leis Universais.
Para que possamos obter sucesso no auto-enfrentamento e na auto
observação
é fundamental conhecer as artimanhas que o Ego usa para enganar a
Superconsciência e a nós mesmos.
Os mecanismos de defesa do Ego têm a função de enganar a psique
evitando tomar consciência do sentimento ou atitude oriunda do Ego. Além de
defender a psique de fatos e acontecimentos que ainda são insuportáveis e
desequilibradores para o seu nível de consciência.

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Os estudos da área referem mais de trinta mecanismos de defesa, na
sua grande maioria inconscientes. A seguir listarei os que considero principais:

- Compensação – É um mecanismo de defesa pelo qual o indivíduo,


inconscientemente, procura compensar uma deficiência real ou imaginária.

Exemplo: Um homem com um defeito físico pelo qual sente-se inferiorizado


perante aos demais, desprende grande esforço para desenvolver sua
capacidade intelectual. Não tem consciência que o nível de intelectualidade
alcançado teve como motivação seus sentimentos de inferioridade e com isso
se abstém da possibilidade de libertar-se desses sentimentos.

- Deslocamento – Através deste mecanismo, um impulso ou sentimento é


inconscientemente deslocado de um objeto original para um objeto substituto.
O deslocamento é um dos mecanismos fundamentais da neurose
conhecida como fobia. Um exemplo clássico é o pequeno Hans, tratado por
Freud. Filho de pais separados, o menino não podendo aceitar
conscientemente a intolerável idéia de odiar seu querido pai devido a maus
tratos impostos a sua mãe e a ele próprio em sua infância, devido repreensão
da Superconsciência que aprendeu ser correto amar o seu pai. Para resolver o
conflito entre amor e ódio, acabou deslocando os sentimentos negativos para
os cavalos da propriedade do seu pai. Os impulsos agressivos originalmente
dirigidas ao pai, passaram para aqueles animais. Por isso Hans os temia, a
ponto de não mais querer ir a casa de seu pai para não vir a encontrá-los.
Através do deslocamento o indivíduo é protegido do sofrimento que
resultaria da consciência da real origem de um problema. Seus efeitos podem
vir a tona, mas o motivo original é disfarçado.

- Fantasia – É um conjunto de ideias ou imagens mentais que procuram


resolver os conflitos intrapsíquicos, através da satisfação imaginária dos
impulsos. As fantasias conscientes, muito comuns na adolescência são
também chamadas de sonhos diurnos. Em qualquer pessoa, as fantasias
podem atuar como um saudável mecanismo de adaptação à realidade externa
sempre que a obtenção de determinados desejos são impossíveis de
satisfação imediata.
Como exemplo podemos citar um adolescente que se apaixona por uma
mulher que para ele é inacessível e para tornar suportável este fato, cria a
fantasia que esta mulher também é apaixonada por ele.

- Formação Reativa – Mecanismo inconsciente pelo qual atitudes, desejos e


sentimentos, desenvolvidos pelo Ego são o oposto do que é realmente
almejado pelos impulsos. Assim, uma atitude de extrema solicitude para com
os outros pode estar escondendo sentimentos inconscientes de hostilidade ou,
então, uma pessoa ativa e batalhadora poderá inconscientemente ter desejos
de passividade e submissão. Na formação reativa, o impulso inconsciente, em
geral, consegue uma indireta satisfação.
O exemplo clássico é o da mãe superprotetora que acumula seu filho de
cuidados e benevolências, mas que o rejeita inconscientemente. Sua
superproteção poderá satisfazer os impulsos hostis inconscientes, porque,

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pelos excessivos cuidados, limitará a liberdade e o desenvolvimento da
criança.

- Negação – Consiste no bloqueio de certas percepções do mundo externo, ou


seja, o indivíduo frente a determinadas situações intoleráveis da realidade
externa, inconscientemente nega sua existência para proteger-se do
sofrimento.

Exemplo, uma mãe que dedicou praticamente toda sua vida a uma filha
única, ao perde-la em um acidente fatal, continuou a fazer sua cama todas as
manhãs e a colocar o seu prato na mesa, como se ela ainda vivesse na família.

- Projeção – É o processo mental pelo qual atributos da própria pessoa, não


aceitos conscientemente, são imputados a outrem, sem levar em conta os
dados da realidade.

Exemplo: Uma pessoa que tem um comportamento sexual exagerado e


desequilibrado, consegue “enxergar” esse comportamento em outras pessoas
de sua convivência, em geral fazendo comentários maliciosos e críticas a
respeito.

- Racionalização – È uma tentativa de explicação consciente visando


justificar manifestações de impulsos ou afetos inconscientes e não aceitos pela
Superconsciência. Por exemplo, uma atitude agressiva em relação a um
semelhante, pode ser justificada pelo agressor como defesa a uma
provocação.

O que o indivíduo não percebe são seus sentimentos de hostilidade para


as pessoas, independente de provocações. Quando esses sentimentos são
expressos, procura explicá-los usando de argumentos aparentemente lógicos
(dentro de seu próprio universo mental, porém que não estão de acordo com as
leis universais).

Ex: Partindo de uma necessidade básica que é oriunda do Id, a fome, a


psique é motivada a buscar comida. Nesta situação a única opção é uma
sacola de frutas que não lhe pertence. O Ego libera o impulso de pegar a
sacola de frutas que está em sua frente. Porém a Superconsciência se
manifesta e lembra a psique que segundo o que aprendeu, pegar algo de
alguém é errado e que inevitavelmente trará uma consequência.
Logo em seguida é a vez do Ego, ele utiliza um de seus mecanismos de
defesa e justifica, “Mas estou com muita fome, passando necessidade e essas
pessoas nem estão preocupadas comigo, tenho mais é que pegar mesmo”.

- Repressão ou Recalque – É o processo automático que mantém fora da


consciência, impulsos, ideias ou sentimentos inaceitáveis, os quais não podem
tornar-se conscientes através da evocação voluntária. A repressão é o mais
importante dos mecanismos de defesa do ego e é utilizado desde os primeiros
anos de vida para protege-lo da angústia originada dos conflitos psíquicos.

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Exemplo: Duas senhoras da sociedade eram bastante amigas e
costumavam até trabalhar juntas em campanhas filantrópicas. Posteriormente
as circunstâncias fizeram com que tomassem rumos diferentes: uma delas por
problemas financeiros precisou mudar-se de cidade. Anos mais tarde,
reencontraram-se numa festa e foram apresentadas, uma a outra, por um
amigo comum que não sabia de seu prévio relacionamento.
Enquanto a primeira senhora mostrou-se bastante alegre pelo encontro,
a segunda não a reconheceu por mais esforço que fizesse. Percebendo que
algo estava errado, procurou não dar mostras de seu comportamento e
respondeu a outra no mesmo tom. Entretanto o fato preocupou-a muito. Uma
posterior análise, trouxe-lhe à consciência que sentira no passado muita raiva
da companheira por sua melhor sorte. Assim, para evitar reviver aqueles
desagradáveis sentimentos, “ esqueceu-se” inclusive do seu objeto causador.
As vezes, a repressão é confundida com outro mecanismo de defesa
denominado supressão. Os dois levam ao “ esquecimento”, mas a diferença é
que, na supressão, há um esforço consciente para desviar a atenção de
indesejáveis ideias, objetos ou sentimentos. Assim, ocupando-se com outras
atividades, uma pessoa pode “ esquecer-se”, durante o dia, da consulta que
fará ao dentista no fim da tarde.

- Sublimação ou substituição – É o processo pelo qual um impulso é modificado


de forma a ser expresso de conformidade com as demandas do meio. Este
processo inconsciente é considerado sempre como uma função do Ego normal.
Neste sentido, não é propriamente um mecanismo de defesa pois não
impõe nenhum trabalho defensivo ao Ego. Quer dizer, não é necessário um
controle sobre o impulso, pois este apresenta-se modificado de tal forma que
pode ser satisfeito sem proibições. O impulso é desviado para canais
socialmente aceitos ou para ações que não precisam ser conhecidas por outras
pessoas.

Exemplo: Uma pessoa que tem dificuldade de se relacionar com outras


do sexo oposto (inclusive amorosamente), porém consegue realizar isso
virtualmente pela internet. Ou um indivíduo que gostaria de ter uma Ferrari,
mas só tem dinheiro para comprar um fusca e acaba colocando o símbolo da
Ferrari no seu carro.

c) Equilibrando as atitudes.

Segundo a filosofia budista, não existe nada de errado com o prazer


material. O erro está no desequilíbrio (incentivado pelo Ego).
Disciplinar o desejo não significa extinguir todos, mas sim não estar
amarrado ou controlado por eles, nem condicionar ou acreditar que a felicidade
está atrelada a satisfação de determinados desejos. OS DESEJOS ATÉ
CERTO PONTO SÃO NORMAIS E NECESSÁRIOS, pois eles têm a função
primária de preservar a vida orgânica.
O indivíduo deve saber interagir com o mundo que vivemos buscando o
equilíbrio dos pensamentos e atitudes, entre o racional e o emocional. É o que
o budismo chama de “o caminho do meio”. Como o próprio Buda Sidarta
ilustrou: “A corda do violão frouxa, não toca. Porém se for apertada demais,

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acaba arrebentando. Ela precisa estar na pressão adequada para que toque
afinada.”
Não é mortificando o corpo e a mente, retesando ao extremo os limites
do organismo que o homem chega à compreensão da vida. Nem é entregando-
se aos prazeres excessivamente que chegará a tal.
O desequilíbrio ou exagero inevitavelmente trará as devidas
consequências, não como uma forma de castigo, mas como um mecanismo de
evolução e crescimento interior.
Segundo a filosofia Budista, todo indivíduo que vive em Maya está em
constante processo de evolução e crescimento, mesmo quando ainda não está
consciente disto. Vivem constantemente no ciclo que a lei de causa e efeito
(Karma) impõe, e vão aprendendo aos poucos com as consequências dos
erros cometidos.
O Karma (lei do retorno) é uma das imutáveis Leis universais (NAMU-
MYOUHOU-REN-GUE-KYOU) descobertas por Buda, que precisam ser
conhecidas e compreendidas para se atingir a auto realização. Como seres
humanos estamos sempre à procura da felicidade tentando nos desviar dos
sofrimentos e das tristezas, mas são exatamente estes que no proporcionam
os aprendizados.
Em se tratando de doença, verificamos que graças à existência da dor
ficamos sabendo que estamos doentes, quando então chamamos um médico
para nos examinar e localizar a causa. Se não sentíssemos a dor, a doença
progrediria até nos fazer sucumbir.

Portanto:

1º A existência de dor nos possibilita chamar um médico, de imediato.


2º Inicia-se o tratamento e ficamos ansiosos pela cura.
3º Suportamos todo tipo de tratamento, por mais penoso que seja.
4º Uma vez curados, tomamos precauções para não haver recaída ou para não
contrairmos novamente a doença.

Sendo assim o homem percebe as dificuldades da vida para que


conheça a verdadeira felicidade. Fortalece seu caráter através da simples
observação, como uma condição inevitável à aquisição e acúmulo de virtudes.
Nem toda dificuldade na vida é um Karma, pois para aqueles que estão
mais avançados e conscientes, Maya pressiona de várias formas para
desequilibra-los constantemente.
Saber sair dessas situações com sabedoria é um aprendizado e uma
vitória (como aconteceu com Neo).
E como saber quando estamos contraindo um Karma ? Como sabemos
que uma determinada atitude não está alinhada com as Leis universais ? A
regra é básica, se temos atitudes positivas, teremos retornos positivos.
Porém se temos atitudes negativas, o retorno não será diferente.
Mas como definir com mais precisão se uma atitude é positiva ou
negativa ? Esse conceito de certo ou errado não pode ser cultural ? Essa
definição pode ser resumida com “a máxima” que nos diz que todo ato deve ser
desaliviado de propósitos.

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Para definir os limites em relação ao próximo, a prática é muito simples.
Basta deixar a esperança de dependências , tenha certeza da realização de
seus intentos, então automaticamente deixaremos de nos debruçar nos outros
para atingirmos nossos ideais não permitindo com isso com a sombra interior
se projete sobre quaisquer outros.
Volte um pouco neste texto nas já citadas “ações oriundas do Ego” e
analise como a maioria atinge diretamente ou indiretamente ao seu próximo.
Sobre os limites do seu corpo é importante ter a consciência que trata-se
de um instrumento que recebemos para otimizarmos a nossa evolução nessa
grande Matrix. E se tomamos atitudes que achemos intimamente desagradável
, certamente teremos um retorno relacionado à ele. Em outras palavras,
atitudes desequilibradas que agridem ou exigem demais do corpo, trarão as
devidas reações. Podemos incluir nesse caso os mais variados vícios que
existem, como as drogas (incluindo as legalizadas), o sexo, o apetite
descontrolado, compulsão por exercícios físicos e outros tipos de compulsões
que afastam o indivíduo do convívio social.
Um dia, todos chegarão ao estágio que terão condições de otimizar a
sua jornada evolutiva de forma consciente em busca da autorealização
(desconectar-se da Matrix), graças a essa lei do retorno que ensina com os
erros e acertos a medida certa para manter as cordas do violão afinadas.
Manter essa afinação, ou seja, esse equilíbrio, não é tarefa tão fácil. Pois
para isso é necessário praticar o auto conhecimento e a auto-observação com
disciplina, considerando que as brigas entre a nossa Superconsciência com o
Ego são uma rotina na vida de quem já está consciente.
Na verdade, esse duelo interior que acontece na psique humana é tão
complexa que nem a inteligência artificial que projetou Matrix foi capaz de
compreendê-la. A cena em que os agentes estão interrogando Morpheus,
podemos constatar essa representação no discurso de Smith sobre a
“grandiosidade” que é a Matrix.

Já olhou pra tudo isso de cima?


Maravilhado com sua beleza...
sua genialidade?
Bilhões de pessoas...
vivendo suas vidas...
distraídas.
Você sabia que a primeira Matrix...
foi criada para ser o mundo humano perfeito, onde ninguém sofreria...
onde todos seriam felizes?
Foi um desastre.
Ninguém aceitou o programa. Perdemos safras inteiras.
Alguns acham que...
não tínhamos a linguagem de programação para descrever o seu mundo
perfeito.
Mas eu acho que...
como espécie...
os seres humanos definem a realidade através da desgraça...
e do sofrimento.
Então o mundo perfeito era um sonho...

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do qual o cérebro primitivo de vocês tentava acordar.
E por isso a Matrix foi recriada assim.
O ápice...
da sua civilização.

O mundo perfeito que o Arquiteto tentou implantar para que todos


pudessem viver felizes em Matrix, mostra a complexidade da psique humana e
representa a necessidade inata de evoluir. Ela nunca está parada e a maioria
das coisas que consegue realmente aprender, são baseadas em erros e
acertos. Ou seja, o ser humano só aprende errando, caindo e se levantando.
Priva-lo da possibilidade da escolha, mesmo que seja a escolha errada, foi o
que causou o colapso na primeira versão de Matrix.
Desta forma foi necessário reformula-la de para que o ser humano
pudesse viver nesse seu mundo “imperfeito”. Para que viva as suas ilusões
incentivadas de forma inconsciente pelo ego, ou como disse o agente Smith

“Bilhões de pessoas...vivendo suas vidas...distraídas.”

Com isso, suprem diariamente a Matrix ou Maya com a energia que ela
precisa para manter-se viva, até o dia em que a inevitável desconexão
acontecerá, quando o inconsciente passa a ser consciente, iniciando a jornada
que levará ao cumprimento do real sentido da vida...

d) A dificuldade do auto-enfrentamento e conscientização da realidade.

Sem dúvida o processo de auto-enfrentamento, conscientização da


realidade e compreensão das ilusões que somos submetidos é muito difícil e
pode causar um impacto tão profundo ao ponto de levar à uma crise.
Esse fato é simbolizado no filme quando depois que Neo entra pela
primeira vez no simulador da Matrix com Morpheus e se conscientiza da
realidade. Ele recusa-se a acreditar na verdade e tem um colapso emocional
chegando a vomitar. Na verdade esse é o primeiro dos 3 medos que Neo teve
que enfrentar para se auto-realizar, o medo de se desapegar dos prazeres que
a ilusão proporciona.
Além desse medo normal, Maya também usa a sua força para
desorientar a pessoa que está no processo de auto-conscientização, criando
situações e sentimentos que muitas vezes levam o indivíduo à uma tremenda
crise de pensamentos e atitudes.
O auto-enfrentamento, faz o indivíduo enxergar com muita clareza a
atuação do Ego na sua vida, e em contrapartida, Maya faz de tudo para nos
manter inconscientes sobre essa verdade. E mesmo depois que conhecemos,
Maya faz de tudo para nos desviar da difícil prática do auto conhecimento e
evolução, usando as mesmas armas, as ilusões da matéria que despertam e
atraem a atuação do Ego.

e) O escolhido - Conclusão dos capítulos VI e VII.

Neo finalmente compreende que a vida que levava não passava de uma
grande ilusão. E que todos os seus objetivos e metas de vida não eram reais,

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mas na verdade apenas padrões impostos pela sua mente. Tudo que achava
saber sobre o mundo que vivia estava longe de ser a verdade.
Esse conhecimento inicialmente traz um grande desequilíbrio para sua
mente, pois percebe de uma maneira abrupta que toda a sua vida e objetivos
perderam totalmente o sentido. O que leva Neo perguntar para Morpheus se
existia uma forma de voltar para a Matrix, demonstrando um total desespero
em relação a realidade. O motivo desse sentimento de fuga da verdade é o fato
da sua vida ter perdido totalmente o sentido, por não ter mais objetivo ou
propósito. Afinal toda o esforço para prosperar era em vão, pois estavam
visando objetivos de um mundo ilusório.
Desta forma, quando Neo percebeu essa condição, preferiu voltar a
viver na ilusão, onde tinha um propósito, do que viver no mundo real que
acabara de conhecer, onde aparentemente não tinha nenhuma perspectiva.

Neo: _Não posso voltar, posso?


Morpheus: _Não. Mas, se você pudesse... você realmente iria querer?
Eu te devo desculpas. Temos uma regra: nunca libertamos uma mente após
ela atingir certa idade.
É perigoso. A mente tem problemas em esquecer. Eu já vi acontecer e sinto
muito. Eu fiz o que fiz porque... fui obrigado. Quando a Matrix foi construída,
havia um homem nascido nela... que tinha a habilidade de mudar o que ele
quisesse... para refazer a Matrix a seu modo.
Foi ele quem libertou o primeiro de nós... e nos mostrou a verdade. Enquanto
a Matrix existir...
a raça humana nunca será livre. Quando ele morreu... o Oráculo profetizou a
sua volta...
e que sua chegada coroaria a destruição da Matrix... o fim da guerra... e a
liberdade para nosso povo.
E por isso nós passamos a vida fazendo buscas pela Matrix... procurando por
ele.
Eu fiz o que fiz porque... acredito que a busca terminou. Descanse um pouco.
Você vai precisar.
Neo: _Para quê?
Morpheus: O seu treinamento.

Tudo muda a partir daí, pois agora Neo não só tinha novamente um
propósito para a sua vida, mas tinha um grande propósito. O que Morpheus
estava lhe dizendo é que ele supostamente tinha a importante missão de
libertar a humanidade do domínio das máquinas. E mesmo que Neo não
quisesse aceitar isso inicialmente devido a grande responsabilidade, não
deixava de ser um propósito muito mais significativo do que os que tinha
quando vivia em Matrix.
Assim acontece com o indivíduo que desperta para o mundo real e para
as verdades da vida, pois descobre que as pessoas vivem uma ilusão imposta
por Maya (por causa do Ego). Acreditando que a visão de mundo que criaram
baseada na influência do materialismo e do egoísmo é real, mantendo-se
totalmente inconscientes do real sentido e objetivo da vida.
O indivíduo que desperta não só compreende este fato, como também
descobre que existe um objetivo muito maior para sua vida, descobre que tem

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uma missão pela frente na busca pela sua auto realização.

Conclusão prática: A mente humana pelo medo do desequilíbrio e de perder o


controle de sua vida, tem a tendência a não abrir-se à mudanças e
consequentemente à novos conhecimentos e evoluções.
Esse estado mental, possibilita que o Ego atue livremente, levando à
atitudes que estão desalinhadas às Leis Universais, mantendo o indivíduo
preso ao ciclo de causas e efeitos (Karma).
Para que seja possível libertar a mente para um nível de consciência
mais elevado, é fundamental a revisão da atual “visão de mundo”, distinguindo
o que é real e o que não é (o que é crença e o que é realmente conhecimento).
Além de uma minuciosa auto-observação seguida de auto-
enfrentamento, tornando conscientes as atitudes camufladas pelo Ego que não
estão alinhadas as Leis Universais, para finalmente ir em busca das mudanças
e evoluções.

VIII) O treinamento.

Depois de consciente da verdadeira realidade, Neo passa por um


treinamento específico para que possa cumprir a missão que o aguarda dentro
da Matrix. Isso envolve conhecer melhor e manipular o quanto possível a sua
estrutura e enfrentar os agentes que caçam incessantemente os que já estão
despertos.
Ou seja para cumprir a sua missão, o escolhido terá que atuar na
própria Matrix. Da mesma forma acontece com quem passa a conhecer e
entender Maya. Não adianta isolar-se de Maya para evitar os impulsos do Ego
(os agentes), pois mais cedo ou mais tarde a necessidade de continuar a
jornada (a mesma que o levou a conhecer a verdade) o levará de volta à Maya
e inevitavelmente ao confronto com os agentes(o Ego e a pressão ilusória), que
precisam ser superados para que ela seja vencida.
“Ser do mundo e viver no mundo é fácil. Ser diferente e viver isolado não
é tão difícil. Porém ser diferente e viver no mundo... este é o grande desafio.”

a) As artes marciais e a disciplina:

Acredito que nada melhor do que as artes marciais para representar com
tanta propriedade, a disciplina que uma mente desperta necessita alcançar
para enfrentar as ilusões de Maya. Isso porque vencer Maya é uma verdadeira
batalha, que assim como no treinamento das artes marciais, exige uma grande
disciplina. Na verdade a disciplina é a chave principal para enfrentar e vencer
as dificuldades que são impostas ao indivíduo que parte em busca da
autorealização.
As antigas tradições que detém o conhecimento das artes marciais são
consideradas (principalmente para os orientais) caminhos de disciplina em
busca do crescimento espiritual e da auto realização. Uma das tradições com
essa filosofia é o Bushido, o caminho do guerreiro. Todas as artes-marciais
orientais estão ligadas diretamente a antigas religiões, como é o caso do
Budismo e do Taoísmo.

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Dizem essas antigas artes marciais que o verdadeiro guerreiro,
consegue acalmar a sua mente focando toda a sua atenção ao momento do
combate, evitando as distrações. E desta forma consegue vencer os piores
adversários e mais terríveis batalhas.
Da mesma forma os processos de auto conhecimento e auto realização
necessitam de uma grande concentração e disciplina. Pois quando se está
inserido na Matrix ou Maya, os ataques dos agentes são constantes e
incontáveis. E saber lutar contra eles é uma questão de sobrevivência.

b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 1.

A outra parte do treinamento necessária para atuar na Matrix, é libertar a


mente para uma nova realidade sobre ela. As suas regras e leis físicas podem
ser quebradas ou modificadas em algumas situações, que possibilita atuar com
mais eficiência no cumprimento das missões e provas necessárias.
Este treinamento é iniciado no simulador de luta, quando Neo e
Morpheus se enfrentam. O objetivo de Morpheus é mostrar para Neo como o
seu padrão de pensamento pode influenciar na realidade de Matrix se ele
realmente acreditar nisso.

Morpheus: _Este é um programa de sparring...igual à realidade programada da


Matrix.
Tem as mesmas regras básicas, como a gravidade. Só que essas regras não
diferem das regras de um sistema de computador. Algumas podem ser
distorcidas. Outras... podem ser quebradas.
Entendeu? Então me acerte... se conseguir.
Morpheus e Neo começam a lutar.
Morpheus: Bom! Adaptação... improvisação. Mas sua fraqueza... não é a sua
técnica.
Morpheus vence Neo
Morpheus: _Como eu te venci?
Neo: _Você é rápido.
Morpheus: _Você acredita que... ser mais forte ou mais rápido... tem algo a
ver com os meus músculos neste lugar? Acha que está respirando ar?

Morpheus estava querendo que Neo entendesse que ele era o que
acreditava ser. Naquele programa de computador que simulava a Matrix a sua
velocidade, força e resistência estavam relacionados aos limites que a sua
propriamente determinava. E basta conseguir mudar esse padrão de
pensamento para transcender esses limites;

Morpheus: _De novo!

Neo e Morpheus voltam a lutar.

Morpheus: O que está esperando? Você é mais rápido que isso. Não pense
que é. Saiba que é.
Vamos! Pare de tentar me acertar e me acerte!
Finalmente Neo consegue ser mais rápido surpreendendo Morpheus e

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vencendo suas defesas.
Neo: _Sei o que está tentando fazer.
Morpheus: _Quero libertar sua mente, Neo. Mas só posso te mostrar a porta.
Você tem de atravessá-la.

A segunda fase desse aprendizado é quando Morpheus e Neo aparecem


no alto de um edifício e Morpheus dizendo a frase “liberte a sua mente”, salta
para um outro prédio à uma distância que seria impossível em padrões
normais. Neo compreende a necessidade de libertar a mente, porém falha na
primeira tentativa.
Não somente filosofias e religiões antigas citam a possibilidade de
realizações sobre-humanas, como também estudos científicos modernos.
Como exemplo podemos citar a “Teoria Holográfica” do Dr. Karl Pribam,
baseada nas teorias sobre a física quântica do Dr. David Bohm (Que trabalhou
e foi muito elogiado por Albert Einsten). Essa teoria (que lembra muito o filme
Matrix) afirma que o universo é um grande holograma e que pode ser
modificado e influenciado pela mente humana. Em síntese, essa teoria afirma
claramente que a mente humana pode alterar fatos da vida e regras da física
convencional, assim como é sugerido no filme, e ainda explica a maioria dos
fenômenos paranormais existentes.
Além de pessoas aparentemente normais que conseguem focar a sua
vontade para mudar positivamente situações em suas vidas, existem diversos
mestres iogues e pessoas denominadas paranormais ou não, que
demonstraram capacidade extra-humanas, realizando feitos que transcendem
os limites do corpo humano e a compreensão baseada no conhecimentos da
nossa cultura.

Como o próprio Cristo afirmou: A fé remove montanhas.

c) Qualquer pessoa ainda conectada à Matrix pode ser um agente.

Outra cena que faz parte do treinamento é quando Morpheus e Neo


estão em uma espécie de praça a céu aberto no meio a uma multidão, e
passam por uma loira com vestido vermelho que chama a atenção de Neo.

Morpheus: _A Matrix é um sistema, Neo.


Esse sistema é nosso inimigo.
Mas, quando estamos dentro dele, o que vemos?
Homens de negócio, professores, advogados, marceneiros.
As mesmas pessoas que queremos salvar.
Mas até conseguirmos, essas pessoas fazem parte desse sistema...
e isso faz delas nossas inimigas.
Você precisa entender...
que a maior parte dessas pessoas não está pronta para acordar.
E muitos estão tão inertes...
tão dependentes do sistema...
que vão lutar para protegê-lo.
Você estava me ouvindo ou olhando para a mulher de vestido vermelho?
Olhe de novo.

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Neo olha e vê um agente apontando uma arma para a sua cabeça levando um
grande susto.

Neo: Esta não é a Matrix?


Morpheus: É mais um programa de treinamento feito para ensinar uma coisa:
Se você não é um dos nossos, você é um deles.
Isso significa que qualquer um ainda não libertado...é um agente em potencial.

Os agentes não simbolizam apenas o próprio Ego e suas auto-defesas,


como também de outras pessoas. Pessoas conhecidas e até queridas, visando
defender os seus mundos particulares e matrizes personalíticas, se recusam a
ver traços da verdade e fazem de tudo para desencorajar aquele que está
tentando despertar. Até aqueles que já estão despertos em busca da auto
realização podem fraquejar em suas convicções e atitudes.
Como exemplo vejamos como foi perseguido o personagem da Alegoria
da caverna de Platão, ou como o próprio Jesus Cristo foi incompreendido e
desencorajado pelos próprios familiares no início de sua missão.

d) Os impulsos humanos da sexualidade.

Segundo a doutrina budista, é fundamental a compreensão que as


ilusões impostas por Maya ao Ego tem como mola propulsora a sexualidade
humana.
A cena em que os integrantes da Nabucodonosor estão fazendo uma refeição e
Mouse conversa com Neo sobre a mulher de vermelho, simboliza a importância
de estar atento a essa realidade. A cena chama a atenção sobre o ato de
contrariar a natureza humana reprimindo de forma inconseqüente a
sexualidade.

Dozer fala para Neo: _É uma proteína unicelular... combinada com


aminoácidos, vitaminas e minerais sintéticos. Tudo que o corpo precisa.
Mouse: _Não tem tudo que o corpo precisa.
Mouse se volta para Neo: _Soube que você passou pelo programa de
treinamento. Sabe, eu criei o programa.
Apoc: _Lá vem.
Mouse: _E o que achou dela?
Neo: _De quem?
Mouse: _A mulher de vestido vermelho. Eu a criei. Ela não fala muito... mas,
se você quiser conhecê-la, posso arranjar um encontro a sós.
Swich: _O cafetão digital em ação.
Mouse: _Não ligue para esses hipócritas, Neo. Negar os nossos impulsos... é
negar aquilo que faz de nós humanos.

Esta é uma alusão à importância de cada um de nós em estar


extremamente consciente de nossos impulsos, não recalcando-os
hipocritamente para as regiões do subconsciente, aonde irão se acumular
como tralhas no armário.

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Nesse nosso "quarto dos fundos", nossos impulsos continuarão a atuar
sem nenhum controle, disciplina ou educação, sorrateiramente, até invadirem
como uma enchente de um rio bravio a consciência.
Em síntese para que possamos nos desapegar das ilusões de Maya,
temos que aprender a disciplinar os impulsos da nossa sexualidade. E para
atingir essa disciplina é necessário que haja o auto-enfrentamento e a auto-
conscientização desses impulsos, pois afinal, só podemos disciplinar aquilo de
temos contato.
Reprimir essa realidade é esconde-la temporariamente da nossa
consciência, até o momento que os impulsos desenfreados e reprimidos se
libertarão levando as mais indevidas atitudes e até psicopatologias.
Aprender a disciplinar e lidar com a sexualidade (não reprimi-la) é o
estágio principal para quem está vivendo processo de busca pela auto
realização. Mais à frente neste ensaio voltaremos a ver este tema.

IX) O oráculo.

a) A importância do desapego.

Quando Morpheus considera que Neo está pronto, resolve levá-lo para
conhecer o Oráculo. O objetivo no filme é que ela confirme para Neo que ele é
o escolhido, e com isso passe a ter fé neste fato.
O papel do oráculo no filme The Matrix, na minha interpretação, visa
abordar a existência de uma realidade que vai além do mundo material que
vivemos.
Simboliza que compreender a ilusão que vivemos em Maya, não é
suficiente, pois temos que aprender a confiar e interagir com a Força Superior
que tudo controla, pois só dessa forma é possível se desapegar das ilusões e
vencer Maya.
Na trama, Neo já havia despertado para a realidade de Matrix, porém
ainda não havia aprendido que não controlava totalmente a sua vida, além de
ainda não ter se desapegado totalmente das ilusões.
Quando Neo vai ver o Oráculo, entrando pela primeira vez na Matrix
depois de desconectado, pode-se perceber o apego que ainda tinha da ilusão
que vivia. Dentro do carro ele olha saudoso e melancólico, tendo lembranças
de sua antiga “vida”.

Trinity: _Inacreditável... não é? (Exclama observando o movimento da rua)


Neo: _O Divino!
Trinity: _O quê?
Neo: _Eu comia ali. Macarrão muito bom. Tenho essas lembranças da minha
vida. Nenhuma delas aconteceu.

A psique humana em geral tem tendência ao desenvolvimento do apego,


que é uma variação da necessidade de manter tudo “sob controle”. Apegos dos
mais variados, como o apego à objetos materiais, apego à pessoas, apego à
relacionamentos, apego à situações do passado, apego à situações presentes,
apego à objetivos e fantasias criadas na própria mente, apego aos mais
variados vícios e outras variações.

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Ou seja, existe a tendência ao apego, pois o apego serve como uma muleta no
“equilíbrio” da visão de mundo do indivíduo. O medo que aquela situação
mude, que o controle seja perdido.

Ex: - O carro que não pode ser emprestado, pois se alguém bate com ele,
como viverei sem.
- A esposa que acha que não conseguirá suportar a ausência do marido em
sua vida.
- O marido que perdeu a esposa e baseia a sua vida em lembranças de quando
eram felizes.
- Apego aquele emprego. Como será difícil encontrar outro como esse.
- Apego ao conceito que a sua vida estará completa quando tiver aquela
linda casa na montanha.
- Apego às drogas (todos os tipos, incluído as legalizadas). Sem elas não
conseguirei me equilibrar.

O apego e o medo andam de mãos dadas, pois se temos apego à algo,


consequentemente temos medo de perder esse algo.
Morpheus sabe que o caminho para que Neo vença a Matrix é a fé em si
mesmo e no rendimento à essa Força Superior, porém sabe também que só
pode mostrar a porta que leva a fé, pois entrar por ela dependeria tão somente
de Neo, da sua capacidade de se desapegar, de vencer principalmente o medo
da mudança e o medo de não ter controle de sua vida. Isso é simbolizado na
cena em que chegam as portas do apartamento em que está o Oráculo.

Morpheus: Eu disse que só posso te mostrar a porta.


Você tem de atravessá-la.

Essa mesma cena por intermédio de outro simbolismo, mostra que quando
você está realmente disposto a encontrar a fé(de verdade), as portas se abrem
sem dificuldade ou resistência. Na hora que Neo estica a mão para abrir a
porta, uma mulher abre antes dele e o recebe carinhosamente, mostrando que
já estava a sua espera.

b) Quebrando as leis físicas e descobrindo a metafísica. Parte 2.

A anfitriã pede que Neo aguarde um pouco até que o Oráculo lhe
atenda. Nesta espera, Neo daria continuidade ao aprendizado que iniciou nos
treinamentos de luta e salto, reforçando como a realidade de Matrix pode ser
destorcida, caso ele abra a sua mente para isso.

Neo observa um grupo de crianças que a sua anfitriã chamou de “outros


potenciais” e fica perplexo ao ver algumas crianças levitando cubos e outra
entortando uma colher.

Vejamos o diálogo com a criança que entortava e desentorta a colher:

Menino: _Não tente entortar a colher. É impossível. Em vez disso, apenas

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tente ver a verdade.
Neo: _Que verdade?
Menino: _A colher não existe.
Neo: _A colher não existe?
Menino: _Então você verá que não é a colher que entorta. É você mesmo.

Uma história muito parecida pode ser encontrada na filosofia Budista


com a história dos três monges e a bandeira:
O primeiro monge chama a atenção para a forma como a bandeira se
move. O segundo monge afirma que não é a bandeira que se move e sim o
vento que move a bandeira. O terceiro contradiz o dois, afirmando que não a
bandeira que se move nem o vendo que move a bandeira, mas a mente que se
move.

A colher não se move... tudo acontece na mente.

c) Onde menos se espera, ali está a sabedoria. A aparência do Oráculo.

Durante o desenrolar do filme, fica claro o grande respeito que todos os


companheiros de Neo tem pelo oráculo, devido a precisão de suas previsões e
sabedoria em suas palavras.
Percebe-se que os autores do filme intencionalmente criam uma
expectativa sobre o Oráculo, induzindo os espectadores a formarem em suas
mentes uma provável aparência desse “todo poderoso” Oráculo.
Porém quando Neo entra pela porta em uma cozinha e todos vêem uma
senhora negra, um pouco acima do peso, vestindo um avental e cozinhando
biscoitos, imagino que a grande maioria ficou se perguntando onde que estava
o Oráculo. Sem falar no cigarro que ela ascendeu e na bebida aparentemente
alcoólica que tomou durante a conversa com Neo.

Oráculo: _Sei que você é o Neo. Já vou te atender.


Neo: _Você é o Oráculo?
Oráculo: __Bingo. Não era bem o que esperava, não é?

Na verdade o Oráculo de Matrix simboliza um dos mais paradoxos


mistérios existentes, que resume-se nesta frase: “Do local mais esperado, mais
poderoso, mais conhecido, mais exuberante e mais provável, procurarás
desesperadamente a sabedoria e não encontrarás. Porém de onde menos
esperavas, no mais humilde, no menos conhecido, no mais simples, no menos
provável.... ali ela estará.. a verdadeira sabedoria”

d) O medo da responsabilidade de ser o escolhido.

Neo precisava conhecer-se melhor, libertar-se do medo da mudança, do


medo da responsabilidade, liberta-se do racionalismo exagerado que o impedia
de chegar a fé. Pois somente dessa forma, conseguiria transcender a realidade
da Matrix para lutar contra ela e seus agentes.
Da mesma forma, aquele que busca a auto realização, precisa se libertar
dos seus medos, fantasias e apegos. Pois somente buscando o equilíbrio entre

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a razão e a fé, será possível equilibrar o seu emocional para enfrentar Maya
com suas ilusões e os artifícios do nosso próprio Ego.
‘Visando demonstrar suas próprias habilidades e fazer despertar em Neo
uma melhor receptividade para fé na Força Superior, o Oráculo começa com a
cena do vaso.

Oráculo: _Eu te mandaria se sentar...mas você não iria querer. E não se


preocupe com o vaso.
Neo: _Que vaso? (Neo vira-se para olhar, esbarra no vaso sobre um móvel
que cai no chão e quebra-se)
Oráculo: _Esse vaso.
Neo: _Desculpe.
Oráculo: _Já disse, não se preocupe. Mandarei uma das crianças consertar.
Neo: _Como você sabia?
Oráculo: _O que vai mesmo fazer seus miolos queimarem é... você teria
quebrado se eu não tivesse dito nada?

Nesta cena, além do Oráculo demonstrar as suas habilidades, também


passou rapidamente um ensinamento sobre o futuro alternativo e o livre
arbítrio. Ela previu que se ela falasse sobre o vaso, Neo iria se virar para olhar
e o derrubaria. Mas se ela não tivesse dito nada ? Existem vários futuros
alternativos, que podem se realizar na vida do indivíduo, ou não. Um sensitivo
que tem o dom de prever o futuro, na verdade está acessando o mais provável,
porém como temos o livre arbítrio, esse futuro mais provável pode não
acontecer.
O oráculo sabia da situação que Neo estava passando naquele
momento, sabia que era extremamente complicada, e dependia só dele
conseguir vencer os seus bloqueios para se descobrir como o escolhido. Na
verdade o objetivo do Oráculo, não era dizer para Neo que ele era o escolhido,
pois como ela mesma afirmou, isso não era algo que alguém poderia lhe dizer,
e sim algo que ele deveria sentir.

Oráculo: _Você sabe por que Morpheus te trouxe aqui. Então... o que você
acha? Acha que é o Escolhido?
Neo: _Sinceramente, não sei.
Oráculo: _Sabe o que isso diz? (apontando para o dizer que estava no topo da
porta) É latim.
Diz: "Conhece a ti mesmo" . Vou te contar um segredinho. Ser o Escolhido é
como estar apaixonado.
Ninguém pode te dizer se você está. Você simplesmente sabe... e não tem
dúvida. Nenhuma.

Nesse diálogo, ela deixo claro o caminho que o levaria a ser o escolhido,
que “coincidentemente” (ou não) é o mesmo caminho que segundo a filosofia
budista e várias outras filosofias levam o indivíduo à auto realização... o
autoconhecimento.
Na verdade a cena que acontece no filme The Matrix é muito parecida
com um episódio ocorrido na vida do filósofo grego Sócrates. Na história,
também tem um Oráculo, situado na Grécia a 500 anos A.C., o Oráculo de

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Delfos. E a frase citada em latim no filme "Conhece a ti mesmo”, estava escrito
na entrada do templo. Quando Sócrates visitou o Oráculo(que era uma
senhora), este disse para ele que o homem mais sábio de todos era... ele
mesmo.
Todo mundo achava isso, menos o próprio Sócrates. Mais ou menos
como acontece com Neo no filme. O oráculo sabia que o medo estava
impedindo Neo de deixar a sua fé desabrochar. Medo da mudança, medo de
perder o “controle da sua vida”, medo da responsabilidade... e sem a fé
necessária, Neo não conseguiria entender a missão que deveria cumprir dentro
da Matrix.
Com isso ela simulou um exame falso, procurando deixar Neo à vontade para
acreditar no que ele quisesse acreditar. Ou seja, que era uma cara comum, que
não era especial, que não podia ser o tal escolhido tão esperado que salvaria
todos.

Oráculo: _Bem...melhor eu dar uma olhada em você. Abra a boca, diga: "Ah" .
Muito bem...
Agora eu deveria dizer: "Ah, interessante, mas..." Aí você diz:
Neo: _Mas o quê?
Oráculo: _Mas você já sabe o que eu vou te dizer.
Neo: _Eu não sou o Escolhido.
Oráculo: _Desculpe, garoto. Você tem o dom...mas parece que você está
esperando por algo.
Neo: _O quê?
Oráculo: _Sua próxima vida, talvez. Quem sabe? Essas coisas são assim.

Muitos que iniciam o caminho da auto realização passam por esse


problema.
Tem o dom, mas não tem fé em si próprio, e antes disso não confia na
Força Superior como deveria , não conseguindo descobrir as suas missões
pessoais.
Todos nós temos missões a cumprir dentro de Maya, e indivíduos que
muitas vezes teriam o potencial alcançar a sua auto realização, deixam para
outra vida, parecendo esperar que aconteça algo.
Só que esse algo acaba realmente acontecendo, pois quando não
compreendemos de forma suave, essa Força Superior providencia que o
entendimento fique bem evidente. No caso de Neo, isso estava bem próximo e
foi previsto pelo Oráculo.

Oráculo: _Pobre Morpheus. Sem ele, estamos perdidos.


Neo: _Como assim, "sem ele"?
Oráculo: _Você quer mesmo ouvir? Morpheus acredita em você, Neo. E
ninguém, nem você nem eu... pode convencê-lo do contrário. Ele acredita tão
cegamente... que vai sacrificar a própria vida para salvar a sua.
Neo: _Como?
Oráculo: _Você vai precisar fazer uma escolha. Numa mão, você terá a vida de
Morpheus.
Na outra mão, você terá a sua vida. Um de vocês vai morrer. Qual de vocês...
você escolherá.

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Sinto muito, menino. Sinto mesmo. Sua alma é boa. E odeio dar más notícias a
pessoas boas.
Mas não se preocupe. Assim que você passar por aquela porta... vai começar a
se sentir melhor.
Vai lembrar que não acredita nesse papo-furado de destino. Você controla sua
própria vida.
Lembra?

Nesse diálogo o Oráculo além de profetizar o evento que iria fazer Neo
resgatar a sua fé, também fez questão de enfatizar para ele o que esta lhe
impedindo de ser o escolhido, de entender a sua missão... o medo de não ter
o controle da sua vida... o medo...

X) A traição de Cypher. Nem todos estão preparados.

A participação de Cypher na saga do filme The Matrix, remonta um outro


arquétipo que pode ser encontrado na saga do herói, o traidor. Cypher
representa aquele indivíduo que despertou para a verdade, mas que não
estava pronto para isso. Não estava pronto para cumprir a sua missão, e acaba
servindo de ferramenta na evolução do herói. Pois a sua traição, a sua queda,
fortalece mais ainda quem está realmente firme no caminho do
autoconhecimento e auto realização.
Cypher ainda era muito apegado aos prazeres materiais que eram
simulados pela Matrix, e achava a vida real muito dura e sem sentido. Isso
porque na verdade assim como Neo, tinha dificuldades de desabrochar a sua
fé, e confiança em si próprio. Notem que é o mais apagado do grupo, até o
jovem Mouse tem mais expressão do que ele. Vejamos a comprovação disso
na sua negociação com o agente Smith:

Smith: _Negócio fechado, Sr. Reagan?


Cypher: _Sabe... sei que este bife não existe. Sei que, quando eu o coloco na
boca... a Matrix diz ao meu cérebro que ele é... suculento... e delicioso.
Após nove anos... sabe o que percebi? A ignorância é maravilhosa.
Smith: _Então negócio fechado.
Cypher: _Não quero me lembrar de nada. Nada. Entendeu? E eu quero ser
rico. Você sabe, alguém importante. Tipo um ator.
Smith: _O que desejar, Sr. Reagan.
Cypher: _Tudo bem.Leve o meu corpo de volta à usina... me coloque de novo
na Matrix... e eu te dou o que deseja.

O caminho para a auto realização é muito difícil, e isso é representado


no filme The Matrix pelas dificuldades e privações que sofrem aqueles que
foram desconectados e vivem no mundo real, fugindo dos sentinelas nos
subterrâneos do planeta, comendo rações e vestindo trapos. Viver o mundo
real requer disciplina e o desapego das ilusões criadas por Maya. E para
aquele que ainda não está pronto, para aquele que ainda não venceu o
desapego, os seus próprios medos e desabrochou a sua fé , o fracasso é um
resultado inevitável. Isso acontece por que para quem não está preparado, a
luta entre a Superconsciência(consciente que tudo é uma ilusão) e o Ego ( que

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gosta de viver nessa ilusão), acaba vencendo o Ego. É claro que para quem já
tem a consciência da verdade, a vida nunca mais será a mesma, pois, por mais
que ele não consiga evitar o erro, no fundo ele sabe que é uma ilusão e isso
sempre lhe acompanhará, até o momento que de tanto sofrer as
conseqüências de viver a ilusão, finalmente terá forças para vencê-la. Por isso
Cypher diz:

A ignorância é maravilhosa.

“Conhecer o caminho é bem diferente de percorrê-lo”

XI) O resgate à Morpheus. Resgatando a fé e vivendo as sincronicidades.

Como já havia citado, quando não compreendemos de forma suave, a


Força Superior providencia que o entendimento fique bem evidente. E isso
aconteceu de forma contundente na saga de Neo, quando ele percebeu que a
previsão do Oráculo estava realmente se concretizando.
E esse fato o levará a enxergar a atuação da Força Superior na trama
que se desenrolava. Naquele momento ele tinha que decidir entre permitir que
Morpheus fosse morto para não revelar os códigos de acesso de Zion, ou
resgatar Morpheus de um lugar e circunstâncias que em princípio pareciam
impossíveis. Na verdade a decisão de Neo em resgatar Morpheus, simboliza o
resgate de sua fé, pois para cumprir essa missão de resgate, Neo precisaria de
muita confiança em si próprio e na Força Superior que se revelava.
Na trama, felizmente Neo toma a decisão mais acertada, representando
o primeiro passo para resgatar a fé necessária para a sua auto realização.
Após o cumprimento da missão, Neo percebe que os fatos ocorridos
coincidiram incrivelmente com as previsões feitas pelo Oráculo, fazendo-o
refletir e aceitar algo muito além do seu racionalismo habitual. O que havia
acontecido não poderia ser apenas uma mera coincidência.
Esse exemplo ocorrido com Neo, já é observado por várias filosofias e
tradições antigas, onde coincidências muito significativas orientam ou trazem
respostas ao indivíduo que as vive. Mais recentemente em 1920, este fato
chamou a atenção de um dos mais brilhantes pupilos de Sigmund Freud, que
passou a estudar centenas de casos, chegando inclusive nas terapias com
seus pacientes, induzi-los à seguir as orientações dessas “coincidências”. Carl
Jung denominou esse fenômeno de Lei da Sincronicidade, devido à sincronia
que os eventos apresentam.
Jung buscou o embasamento em uma área que acreditou se encaixar
perfeitamente com a sua teoria, a mecânica quântica, que sem dúvida atendeu
amplamente as suas expectativas. Durante anos contou com a ajuda de um
físico austríaco chamado Wolfgang Pauli, o que resultou em uma autoria
conjunta de um pequeno livro que questionava as leis clássicas da física.
Sobre a Lei da Sincronicidade, chegaram a conclusão que eventos e
pessoas podem ter uma relação sincronística em determinadas ocasiões de
suas vidas.
Em especial quando precisam compreender ou decidir situações
extremamente importantes.

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Em outras palavras, a teoria afirma que quando buscamos uma
determinada resposta, ou conhecimento, ou direção, uma Força Superior leva o
universo conspirar de forma a orientar ou realizar o que é necessário. E isso
acontece por sutis ou berrantes “coincidências”, que nos fazem questionar
sobre a casualidade do que aconteceu, além de situações que apontam de
forma muito clara em uma determinada direção.
Existem várias formas de detectarmos uma real sincronicidade.
Exemplos:

- Cláudio era um jovem que sempre gostou muito de informática e procura


preparar-se cada vez mais para conseguir o seu espaço no mercado de
trabalho, de preferência em uma grande empresa. Ele tinha uma grande
necessidade de se estabilizar financeiramente. Ao assistir uma palestra sobre
novas tendências da informática, o palestrante falou sobre uma determinada
linguagem de programação que vem aos poucos ganhando mercado em
alguns países do mundo. Como não era muito difundida no seu próprio país,
Cláudio não deu muita atenção ao assunto. A noite em sua casa, Cláudio ligou
a televisão e coincidentemente estava passando uma reportagem sobre a tal
linguagem de programação falada pelo palestrante.
No dia seguinte, após tomar o seu café da manhã, Cláudio pegou um
ônibus em direção ao seu trabalho e tamanha foi a sua surpresa quando um
outro jovem sentou-se ao seu lado e colocou no colo uma apostila da mesma
linguagem de programação.
Cláudio incomodado com tantas coincidências perguntou ao outro jovem
sobre a apostila, que por sua vez afirmou fazer parte de um curso que estava
iniciando na cidade. Cláudio não sabia por que mas havia ficado muito
interessado em fazer o tal curso, afinal não havia nenhuma perspectiva de
utilizar aquele conhecimento no mercado de trabalho que atualmente atuava.
Ao chegar no seu trabalho, folheou o jornal e quase como um farol o
anúncio da escola que estava oferecendo o tal curso da tal linguagem de
programação, praticamente saltou chamando a atenção de Cláudio.
Não perdendo mais tempo Cláudio ligou para o telefone da escola e na
mesma semana tudo deu certo para que ele iniciasse o curso.
Dois meses após ter concluído o curso, já considerando jogado fora o
dinheiro investido, Cláudio vê na internet um anúncio de uma multinacional
contratando programadores daquela linguagem específica de programação.
Em pouco tempo estava empregado, estabilizado financeiramente e
crescendo profissionalmente na grande empresa que estava agora
trabalhando.

- Paula estava vivendo sérios problemas emocionais, pois o seu casamento


estava passando por uma tremenda crise, com constantes desentendimentos
que Paula não conseguia entender muito bem por que aconteciam. Ela queria
muito progredir com o seu relacionamento, mas sentia que faltava
compreender alguns pontos fundamentais para melhorar os atritos que vinham
acontecendo no dia à dia. Naquela noite, Paula sonhou com uma amiga que
não via a pelo menos 6 anos e no sonho as duas estavam conversando bem
descontraídas.

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Pela manhã, havia marcado de ir ao supermercado com a sua própria
mãe, que coincidentemente comentou que havia sonhado com a mesma amiga
que Paula. Intrigada com a tremenda coincidência, ela foi para casa pensando
no assunto e quando estava preparando o almoço, o telefone tocou
insistentemente fazendo Paula largar as panelas para atender.
Grande foi o seu espanto quando percebeu que era a mesma amiga que
estava telefonando depois de seis anos.
Depois de passado o susto, Paula intrigada, marcou um encontro com a
sua velha amiga para conversarem.
Pois foi justamente essa amiga baseada em experiências vividas que fez
Paula enxergar os erros que ela mesma vinha cometendo em seu casamento,
e indicou a terapia de casais que havia feito com o seu marido em meio a uma
crise que também passaram.
O resultado foi fantástico e Paula e seu marido conseguiram uma
harmonia jamais vivida anteriormente.

Esses exemplos mostram como acontecem as sincronicidades nas mais


variadas situações que chamam a atenção pelos acontecimentos inusitados. E
estar atento aos acontecimentos e sentimentos, pode levar ao vivenciamento
prático dessas fantásticas “coincidências”.
Depois de ter vivido essa tremenda sincronicidade, Neo teve a sua fé
resgatada e finalmente percebia que por mais que quisesse estar no controle
da sua vida, existe uma Força Superior que controla tudo. Além disso descobre
que alinhar-se ao fluxo de orientações que vem dessa força era a atitude que o
levaria ao cumprimento da sua missão.
Porém ainda não acreditava que era o escolhido. O fato de ter vencido o
seu racionalismo excessivo não provava que ele realmente era o escolhido.
Vejamos o diálogo que acontece quando ele salva Trinity de dentro do
helicóptero que explode no edifício logo após o resgate de Morpheus:

Morpheus: _Eu sabia. Ele é o Escolhido. Você acredita agora, Trinity?


Neo: _O Oráculo... Ela me disse...
Morpheus: _Ela te disse... O que você precisava ouvir. Só isso. Cedo ou tarde
você vai perceber, como eu...que há uma diferença entre conhecer o
caminho...
e percorrer o caminho.

Morpheus quis dizer que Neo não estava ainda pronto para aceitar que
era o escolhido e o Oráculo sabia disso. Sabia que se tentasse forçar que ele
aceitasse isso poderia comprometer todo o processo de compreensão que ele
estava vivendo.
Tudo tem que acontecer respeitando o tempo individual de cada um.

XII) Neo enfrenta os agentes. O renascimento para uma nova realidade.

A barreira mais difícil de ser superada ainda estava por vir, e esta,
levaria Neo a aceitar e ser o escolhido. Ele precisava enfrentar e vencer os
agentes, que também estava associado a enfrentar e vencer os seus próprios
medos e limitações. Quando ele se vê de frente ao agente Smith, Neo quer e

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acredita que pode vencê-lo, mas a sua vontade ainda não é o suficiente para
isso. Ele se sai bem na luta contra o agente, porém ser derrotado seria
inevitável. Por quê ? Porque Neo ainda estava apegado a conceitos da sua
antiga personalidade, e de nada adiantaria acreditar que era o escolhido. O
antigo Neo tinha que morrer por completo para que o novo Neo renascesse.
Ao perceber que ainda não podia vencê-lo, Neo decide fugir, porém não
consegue chegar até o telefone para fugir da Matrix, quando finalmente é
baleado e morto pelo agente Smith.
Esta cena representa uma situação que faz alusão ao arquétipo da
Fênix, chegar até as cinzas para depois renascer. Na maioria das vezes o
indivíduo em busca da auto realização, precisa passar por situações que o
levem aos seus limites, ao fundo do poço, para que consiga se libertar das
antigas matrizes (com licença do trocadilho) e renascer em outras. Em outras
palavras é necessário que morra o velho homem, e com ele morram os medos,
as incertezas, os apegos e o ego.
Morpheus, Trinity e Tank, não acreditam no que vêem, pois tinham
convicção que Neo era o escolhido. Em especial Trinity, por que o Oráculo
havia lhe dito que ela se apaixonaria pelo escolhido e era exatamente o que ela
sentia por Neo.

Trinity: _Não estou mais com medo. O Oráculo disse que eu me apaixonaria e
que o homem que eu amaria... seria o Escolhido. Então, veja... você não pode
estar morto.
Não pode estar... porque eu te amo.
Está me ouvindo?
Eu te amo.

A partir desse momento, Neo finalmente entendeu o que era ser o


escolhido, venceu os seus próprios medos libertando-se dos antigos apegos e
renasceu para uma nova realidade. Neo havia transcendido os limites da Matrix
e agora podia manipulá-la como desejasse. Ele não precisava mais temer os
agentes(as ilusões do Ego e de Maya), pois enfrentá-los agora era plenamente
possível. Finalmente Neo havia se tornado o escolhido.
Essa cena entre Neo e Trinity simboliza o único caminho que pode levar
a auto realização, os relacionamentos.
Reparem que o momento do renascimento para a condição de
Escolhido, foi marcado pelo início do relacionamento amoroso dos dois, que
até então não havia acontecido (mesmo ele estando “morto”, pois no filme de
alguma forma supostamente ele conseguiu ouvi-la).
Trinity confessa que o ama beijando-o e a partir daí tudo muda.
Quando me refiro a relacionamentos, estou me referindo a todos os tipos
de relacionamentos e não apenas os amorosos.
Diariamente vivemos diversos tipos de relacionamentos. Familiares,
profissionais, fraternais, amorosos. Os quais vamos definir como
relacionamentos com o próximo.
Porém existem outros dois tipos de relacionamentos fundamentais para
atingir a auto realização:
O relacionamento consigo mesmo e o relacionamento com O Divino (ou
com a Força Superior).

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Basta que prestemos atenção qual o novo mandamento que Jesus
Cristo considerou o mais importante, o principal: “Amai o senhor teu Deus
acima de todas as coisas e o teu próximo como a ti mesmo”.
Analisando a frase, chegaremos a conclusão que existem nela os três
tipos de relacionamentos já citados. Colocando com outras palavras o principal
mandamento de Jesus Cristo: “Ame e relacione-se bem, com o teu O Divino,
com o teu próximo e com você mesmo”

a) Relacionando-se com O Divino

Para amar a O Divino acima de todas as coisas, temos que aprender a


nos relacionar com Ele. É impossível amar (verdadeiramente) alguém, mesmo
sendo O Divino, sem estabelecer um contato e um relacionamento. Quem
realmente vive um relacionamento com O Divino e verdadeiramente o ama,
sabe o quanto é difícil manter estes laços vivendo no mundo de Maya (ou
Matrix).
Se relacionar com O Divino é viver uma nova realidade de vida, com
novas perspectivas e motivações. Procurando compreender como funcionam
as Leis Universais que Ele criou e alinhar-se à Elas, sentindo-se orientado com
um objetivo que realmente faz sentido.
Muitos dizem viver um relacionamento com O Divino, mas na verdade
usam O Divino como um gênio da lâmpada. Traçam eles próprios os seus
objetivos baseados no Ego e querem praticamente obrigar O Divino a realizar o
que desejam.
“Eu quero tanto aquele emprego no banco. Se O Divino quiser e Ele
quer, eu vou conseguir.”
E o mais engraçado é que quando não conseguem o que desejam ficam
revoltados e “de mal” com O Divino. Não aceitam como Ele deixou que isso
acontecesse, ou que não acontecesse.
O grande segredo do relacionamento com O Divino é conscientizar-se
que Ele sempre está visando o nosso crescimento em direção da auto
realização.
Em outras palavras ele não vai permitir que uma determinada situação
ocorra ou não ocorra por um mero capricho. Pois os eventos que acontecem ou
não acontecem em nossas vidas sempre têm a finalidade de proporcionar
aprendizados, crescimentos e evoluções.
Em resumo é fundamental estar totalmente atento à vontade de O Divino (Que
em última análise trata-se de uma contra parte de nós mesmos, por intermédio
das sincronicidades por exemplo) e realmente entregar-se a esta vontade. E
além disso sempre procurar conscientizar-se dos aprendizados que precisam
ser assimilados na situação que atualmente está sendo vivida, fazer um
balanço de quanto crescemos e o quanto ainda podemos crescer.

b) Relacionando-se consigo próprio

Antes de aprender a amar alguém o indivíduo deve aprender a amar a si


próprio. A falta de amor próprio é um dos principais males que assolam a
sociedade moderna, e pode levar aos mais diversos quadros de doenças

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psicossomáticas, que vão desde uma depressão até quadros graves de
compulsões, esquizofrenias e até suicídio.
A falta de amor próprio, normalmente está relacionado a algo no
indivíduo que não está alinhado ao padrão que ele acha socialmente aceitável
para atingir os seus objetivos. Em outras palavras, tem algo nele que acha não
estar de acordo com o que as outras pessoas esperam, normalmente baseada
em normas e padrões impostas por uma sociedade que exalta o materialismo e
o Ego.
Se acha feio, ou gordo, ou magro, ou não tem coragem, ou não se acha
inteligente, ou é pobre, ou não atrai os homens como gostaria, ou não tem a
família que gostaria e etc. etc.
Na verdade a falta de amor próprio, parte sempre de um complexo de
inferioridade. O indivíduo em questão se acha injustiçado, perseguido, um
verdadeiro coitado. É claro que existem níveis mais intensos e níveis mais
amenos, porém basicamente é esse o princípio que está relacionado a falta de
amor próprio.
Partindo do pré-suposto que a Lei da Sincronicidade é uma realidade e
que temos um O Divino ou uma Força Superior que controla tudo sempre
visando o nosso crescimento em busca da auto realização, existe uma
finalidade para sermos como somos. Existem pontos da nossa evolução que
precisam ser trabalhados, e somente nas circunstâncias que viemos
(aparência, família, localidade e etc.) poderemos obter o sucesso.
Por isso o indivíduo com problemas de auto-estima não deve se sentir
“O coitado”, mas sim procurar compreender o que a atual circunstância que
vive está proporcionando para o seu aprendizado e crescimento. E se alguém
ao seu redor não lhe der o devido valor, não aceita você como é, não entende o
seu momento de superação e crescimento pessoal, então essa pessoa não
serve para um relacionamento mais profundo.
Não saber se amar, sem dúvida não está alinhado as Leis Universais e
certamente estará trazendo o retorno correspondente de acordo com a lei de
causas e efeitos (Karma), principalmente quando o próprio corpo torna-se
vítima desse estado psicológico, na busca do conforto em bebidas, drogas,
remédios e outras válvulas de escape que prejudicam o organismo.
O importante é estar bem consigo mesmo e se amar intensamente
independente de qualquer coisa.
Por outro lado o excesso de amor próprio também pode ser prejudicial
trazendo consequências não muito satisfatórias. Quando somos confiantes
demais, quando nos amamos demais, corremos o risco de sermos prepotentes,
cruéis com as outras pessoas e exageradamente vaidosos, prejudicando assim
um outro pilar importante da ferramenta chamada relacionamentos. E como já
citado, “a corda do violão não pode estar frouxa nem apertada demais”.
É importante estar atento aos excessos. Atento aos limites do próprio
corpo para não força-lo mais do que é capaz. Muitas vezes em nome de um
objetivo esportivo ou estético, pessoas “forçam a barra” e acabam por
prejudicar o seu próprio corpo, o nosso principal instrumento de interação e
manifestação.

c) Relacionando-se com o próximo.

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Não menos importante é saber se relacionar com o próximo. Isso por
que a maioria das ações que trazem consequências infelizes, estão
relacionadas à outras pessoas.

Vamos analisar os Dez mandamentos que regem várias religiões e


denominações:

1) Não roubarás
2) Não matarás
3) Não cometerás adultérios
4) Não cobiçarás
5) Honrarás pai e mãe
6) Não dê falso testemunho
7) Não furtarás
8) Não adorarás outros Deuses
9) Não mencionarás o nome de Deus em vão
10) Guardeis o sábado como dia santo de dedicação a Deus

Agora vamos analisar os sete pecados capitais do cristianismo:

1) Ira
2) Inveja
3) Preguiça
4) Luxúria
5) Gula
6) Vaidade
7) Cobiça

Reparem agora como a maioria dos mandamentos e dos pecados estão


diretamente ligados ao relacionamento com o nosso próximo. E os que sobram
estão ligados ao nosso relacionamento com O Divino e conosco mesmo.
Reparem também que sabiamente Jesus Cristo resumiu todos os
mandamentos e pecados capitais em um só, que já foi citado anteriormente.
Porém respeitar os mandamentos, não praticar os pecados capitais e
seguir o principal mandamento do Cristo não é tão fácil assim. Pois esse é o
grande desafio da nossa existência. Principalmente quando trata-se do nosso
próximo é necessária uma dedicação aplicada e uma disciplina militar.
Todos que vivem em um convívio social passam por problemas de
relacionamentos com a família, com os amigos, com o sexo oposto, etc. e etc.
Não existe essa pessoa que ao relacionar-se com o próximo esteja
isenta de perceber o quanto é difícil manter um nível de harmonia satisfatório.
Acredito que a chave de relacionar-se bem com o próximo pode ser
resumida na expressão “Amor incondicional”. Ou seja, manter o seu nível de
amor pelas pessoas independente do retorno que elas apresentem.
A maioria das pessoas ainda tem um padrão de comportamento nos
relacionamentos baseadas no Ego. Visam antes de mais nada o que aquele
relacionamento pode lhe proporcionar, qual o benefício que poderá tirar em
relacionar-se com aquela determinada pessoa.

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É claro que na maioria dos casos isso acontece de forma inconsciente. A
maioria das pessoas não pensa conscientemente por exemplo... ...”Vou me
aproximar do Robson pois ele é filho do meu chefe e poderei tirar proveitos de
sua simpatia.” Porém no fundo faz com essa intenção e por ser uma atitude
não aceitável ética e socialmente, o Ego trata de escondê-la da consciência da
própria pessoa.
Porém se esse indivíduo tiver a possibilidade de enfrentar-se e
responder sinceramente o real motivo que o levou a aproximar-se de Robson,
será tomada ciência do que era inconsciente.
É importante fazer essa avaliação sobre os nossos relacionamentos. É
claro que mesmo que não queiramos, passamos por relacionamentos que nos
trazem benefícios e vantagens, porém o importante é a nossa postura em
relação a eles. Pois o mais importante em um relacionamento é: O que eu
posso acrescentar a esta pessoa ? O que posso fazer para que ela cresça, o
que posso fazer para que ela se desenvolva, ame-se e me ame ? O que posso
investir nesse relacionamento ? Isso inclui aqueles relacionamentos que em
princípio não podem nos acrescentar nada, aqueles que o nosso Ego não vê
como proveitoso ou interessante.
Acredito que O Divino (por favor não se deixem levar pelo figurativismo
da palavra) não coloca pessoas em nosso caminho ao acaso, e quando não
fazemos a nossa parte não dando a devida atenção, deixamos de ajudar
aquelas pessoas, e o pior de tudo, deixamos também de nos ajudar.
Isso porque por mais simples que seja a pessoa e por mais que
achemos que ela não tem nada a nos acrescentar, eu afirmo que quando
alguém é colocado em nossa vida, sempre tem algo a nos acrescentar, nem
que seja o exercício da nossa compaixão e do nosso amor incondicional.
Agora não podemos confundir “o investir” com “o controlar”. É importante
ter a consciência que apesar de todos termos que aprender as mesmas coisas
para chegarmos à auto realização, os caminhos e lições para esse objetivo são
diferentes para cada um. Além de cada um ter o seu ritmo e maneira particular
de aprendizado.
Saber se relacionar é sinônimo de deixar que o outro seja livre.
Respeitar o seu momento e o seu ritmo. Se eu consigo ver algo que uma outra
pessoa não consegue, não devo forçar a barra e pressionar. No tempo certo
ela verá o que hoje não consegue, e força-la a mudar antes do tempo pode
trazer sérios danos ao seu equilíbrio interior e ao seu crescimento. Aconselhe
sim, mas sempre deixe que o seu próximo faça o que achar melhor, pois ele
mesmo que arcará com as consequências dos seus atos.
Existe uma história que retrata bem essa situação. “Um jovem observava
o casulo de uma antiga lagarta que agora começava a se romper para tornar-
se uma borboleta. No meio do processo o jovem percebeu que a pequena
borboleta estava tendo uma tremenda dificuldade em romper o casulo e aí
resolveu ajudá-la.
Grande foi a sua surpresa quando percebeu que a borboleta depois de
ter o seu casulo aberto, não conseguiu sair voando de dentro dele e ali mesmo
morreu. Depois disso o jovem compreendeu que o esforço que estava fazendo
para romper o casulo era necessário para que ela estivesse pronta para voar.”
É claro que quando as atitudes do próximo invadem o nosso espaço, não
respeitando os nossos limites e abalando o nosso equilíbrio, devemos tomar as

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atitudes necessárias (Sempre alinhadas as Leis Universais ). Não podemos
confundir “amor ao próximo” com “ser o capacho do próximo”, ou confundir “ser
uma pessoa boa” com “ser uma pessoa boba”.
Neste caso quando o relacionamento torna-se prejudicial para o nosso
equilíbrio é justificável até um certo afastamento dessa pessoa. Notem que
escrevi um certo afastamento e não uma exclusão total.
Pois mesmo nessas circunstâncias, devemos continuar investindo nesse
relacionamento, porém investindo o que a pessoa está permitindo. É
importante nunca deixar de investir e sempre de acordo com as possibilidades
ajudar essa pessoa a desenvolver-se, nunca deixar o relacionamento morrer
completamente.
“Relacionamentos são como plantas, se não regados regularmente,
secam e morrem.”
Quando falo em investir nos relacionamentos, e quando coloco os
relacionamentos como a principal ferramenta para atingir a autorealização (que
é o nosso objetivo principal na vida), fica evidente a importância de darmos
total prioridade a eles.
A maioria das pessoas não fazem isso e colocam egoísticamente os
seus “objetivos de vida” baseados no Ego ( e no materialismo que ele tanto
gosta) na frente dos relacionamentos.
Muitos são os exemplos que são amplamente vistos no dia a dia. É o pai
que não dá atenção ao filho e a esposa por causa do trabalho. É a namorada
que se dedica excessivamente aos estudos e não dá atenção ao namorado. É
a pessoa que tem muitas atividades e não cuida no seu corpo e de si próprio. É
a pessoa que nunca tem tempo para um momento a sós com O Divino, etc, e
etc.
Porém posso afirmar que NADA é mais importante. Não existe a falta de
tempo, existe a falta de reformular as prioridades. Devemos dedicar a maioria
dos nossos momentos aos relacionamentos, pois essa é a grande receita para
uma vida verdadeiramente FELIZ.
É normal acontecer por exemplo de alguém justificar estar com pressa e
mal falar com as pessoas que convive. Mesmo que seja a faxineira do seu
prédio, o seu João da banca de jornal e etc.
As vezes a pessoa chega até nós precisando de ajuda ou de conversar
e não damos a devida atenção por estarmos muito ocupados com alguma
coisa. E ainda justificamos para nós mesmos com o Ego (egoísticamente) só
para não nos sentirmos tão mal por ter negado atenção: “Poxa, fulano é tão
negativo... poxa fulano não percebe que estou ocupado...”
É claro que temos que tomar cuidado para que a pessoa não fique
dependente sempre na nossa atenção, afinal sempre temos que estar atentos
aos exageros também ( caminho do meio) e essa pessoa tem que se manter
equilibrada por ela mesma.

“Se somos a luz da vida de alguém, esta pessoa ficará no escuro se


precisarmos ir embora.”

É importante estar sempre falando com as pessoas ao nosso redor,


darmos nem que seja um pouco da nossa atenção e alegria, desejar um bom
dia, perguntar como está, demonstrar que você se importa com ela. Isso é

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investir nos relacionamentos, plantar o amor, e acreditem, a colheita é
maravilhosa.

d) Relacionamento divino

Dos relacionamentos com o próximo, inquestionavelmente o mais


complicado é o amoroso.
Com certeza os demais relacionamentos apresentam um bom grau de
dificuldades, porém o amoroso tem uma particularidade que o torna
especialmente complicado em relação aos outros, a necessidade de ter que
lidar de forma bem específica com a sexualidade.
Como já citado anteriormente, para que se obtenha sucesso na
conquista da auto realização é fundamental aprender disciplinar a sexualidade,
o que não deve ser confundido com reprimir. E para lidar com a sexualidade é
fundamental que seja vivido um relacionamento amoroso.
Mesmo que inconscientemente todo ser humano sempre está
procurando suprir a sua sexualidade. O que é muito natural pois trata-se de
uma característica inata da nossa personalidade, ou seja, já nascemos com
ela.
Todo animal tem essa característica que está relacionada com o instinto
de sobrevivência e perpetuação da espécie. Desta forma, por mais que não
queiramos admitir, ela sempre estará lá. A pessoa que reprime esse instinto e
afirma que nunca pensa em sexo está certamente mentindo, em especial para
ela mesma.
E mesmo aquelas que conseguem evitar comportamentos sexuais
visando suprir o seu desejo interno, compensam de outras formas
desenvolvendo as mais diversas compulsões por outros tipos de prazeres e
atividades. São indivíduos que normalmente comem demais, ou usam drogas
(incluindo as legalizadas) demais, trabalham demais, estudam demais, são
religiosas demais e etc.
Em outras palavras, quando a sexualidade é reprimida, a psique
certamente passa por um tipo de desequilíbrio que certamente resultará em
consequências para a mente e para o corpo.
É fundamental suprir a sexualidade para estar realmente saudável
fisicamente e psicologicamente. Porém como tudo na vida é importante usar a
regra do caminho do meio. Ou seja, o uso descontrolado e indevido trará as
inevitáveis conseqüências.
São dois lados de uma mesma moeda, de um lado está o reprimido e do
outro o devasso.
Por isso os relacionamentos amorosos são tão complicados.
Além dos vários pilares que formam a base de um bom relacionamento
amoroso, saber lidar com a própria sexualidade é o mais complicado deles.
Como conseguir se relacionar com alguém que não se assume ou aceita
sexualmente ? Como se relacionar com alguém que tem o apetite sexual
descontrolado ? Para seja possível viver um relacionamento amoroso de
sucesso é fundamental que cada um dos integrantes conscientizem-se da atual
condição da sua própria sexualidade (é claro que não depende somente disso).
E a partir daí os dois devem trabalhar juntos para equilibrar as suas atuais
posturas.

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Segundo a filosofia Gnóstica, doutrina que teve o seu início no antigo
Egito, e a prática Tântrica, disciplina indiana, por mais consciência e vontade
que o indivíduo tenha de disciplinar o seu Ego e libertar-se das ilusões
materialistas (Maya), isso só será possível com a disciplina da própria
sexualidade, que deve acontecer à partir de um relacionamento amoroso
perfeito com outra pessoa do sexo oposto.
De acordo com essa teoria, este é o único caminho para atingir este
objetivo.
Essa filosofia afirma também que o homem e a mulher são duas
metades de um verdadeiro ser humano e somente pelo amor e sexo divino
pode-se chegar a energia e força necessária para alcançar a verdadeira auto
realização.
“Nascemos como humanos do sexo humano. E renasceremos como
divinos do sexo divino.”
Segundo essas filosofias existe uma tremenda má interpretação por
parte de muitos religiosos, que consideram a sexualidade e o sexo nocivos à
espiritualidade, afastando-se e reprimindo esse tão importante aspecto do ser
humano. É fato que a maioria das atitudes que não estão alinhadas com as
Leis universais tem como origem o impulso sexual, porém o reprimir não é o
caminho, mas sim disciplinar, direcionar essa poderosa energia para a sua
principal finalidade.
Não existe nenhuma critica às religiões que adotam o celibato e a
reclusão em mosteiros como parte de sua doutrina, até mesmo porque nada
acontece por acaso e se estão passando por isso existe alguma finalidade para
eles. Porém é inquestionável que essa prática desenvolve de uma forma bem
limitada apenas o relacionamento com O Divino e consigo mesmo, pois sem o
relacionamento com o próximo não existem alguns parâmetros importantes
para definir o nosso relacionamento com O Divino e conosco. Isso sem falar
dos vários problemas psicológicos e até psicossomáticos que surgem da
repressão da sexualidade e da exclusão do convívio social, chegando inclusive
a escândalos sexuais entre os próprios adeptos dessa doutrina que não são
novidades para ninguém.
A cena entre Trinity e Neo, também simboliza categoricamente o
estágio em que finalmente a auto realização é alcançada a partir do
relacionamento amoroso perfeito. Possibilitando o renascer de um novo
homem (e uma nova mulher), que viverá uma nova realidade, agora consciente
do seu papel junto ao todo e a humanidade, pronto para cumprir uma missão
bem maior do que poderia imaginar.

XIII) O vôo de Neo no fim do filme. A ascensão aos céus.

Esta última cena do filme certamente passa despercebida para a maioria


das pessoas que assistem, porém tem um papel fundamental no fechamento
do filme, pois ela confirma a intenção de relacionar a saga de Neo ao caminho
da auto realização. A subida aos céus, ou arrebatamento, ou nirvana, ou
iluminação, são símbolos que representam o alcance da auto realização e
podem ser encontrados nas mais variadas literaturas sacras e filosóficas.
O final do filme The Matrix proporciona um desfecho inesperado e com
forte conteúdo filosófico, quando Neo fala pelo telefone com a Matrix.

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Neo: Sei que você está aí.
Eu sinto você agora.
Sei que está com medo.
Está com medo de nós.
Está com medo das mudanças.
Eu não conheço o futuro.
Eu não vim aqui te dizer como isso vai acabar.
Eu vim aqui te dizer como vai começar.
Vou desligar este telefone.
E vou mostrar a essas pessoas o que não quer que elas vejam.
Vou mostrar a elas um mundo... sem você.
Um mundo sem regras e controle, sem limites e fronteiras.
Um mundo onde tudo é possível.
Para onde vamos daqui...
é uma escolha que deixo pra você.

Conclusão:

E você ? Percebe que existe alguma coisa errada com o mundo que vive ?
Algo dentro de você que não consegue explicar, mas que te incomoda e te
impulsiona a buscar uma resposta de uma pergunta que ainda nem conseguiu
formular ? Percebe que a vida não pode ser tão somente material. Você sente
que não veio aqui somente para ter uma profissão que lhe integre a sociedade,
formar uma família e morrer ? Sente que existe uma missão a ser cumprida ?
Então está na hora de iniciar a sua busca.
Busca por respostas, sentimentos e crescimento. Está na hora de
libertar-se das ilusões impostas à sua mente e focar a sua vida para o seu real
sentido e objetivo. Se auto-conhecendo, enfrentando e conscientizando dos
medos e atitudes equivocadas que precisam ser transcendidas para se atingir a
autorealização.
Ou se você após ler este ensaio identificou-se na condição de já
desconectado da Matrix. Percebe-se já atuando em busca do cumprimento da
sua missão pessoal e do objetivo supremo da vida ? Seja qual for a sua
condição vá em frente, faça a sua história acontecer, viva o seu Neo, vença os
seus agentes e a sua Matrix.
Pois a partir de agora a pergunta que fica é...

...qual pílula ?
Vermelha ou azul ?
se livro.

Sociedade de Estudos Transcedentais (SET)


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