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Resposta a uma questão sobre o sujeito 

Gilles Deleuze 
 
Um  conceito  filosófico  cumpre  uma  ou  várias  funções,  nos  campos  de 
pensamento  que  são,  também  eles,  definidos  por  variáveis  interiores.  Há,  enfim,  variáveis 
exteriores  (estados  de  coisas,  momentos  da  história)  em  uma  relação  complexa  com 
variáveis  internas  e  funções.  Significa  dizer  que  um  conceito  não  nasce  e  não  morre  por 
prazer,  mas  na  medida  em  que  novas  funções  em  novos  campos  relativamente 
destituem-no.  É  por  isso  também  que  não  é  nunca  interessante  criticar  um  conceito:  é 
melhor  construir  novas  funções  e  descobrir  novos  campos  que  o  tornem  inútil  ou 
inadequado. 
O  conceito  de  sujeito  não  escapa  a  essas  regras.  Ele  já  cumpriu  suas  funções: 
inicialmente,  uma  função  de  universalização,  em  um  campo  no  qual  o  universal  não  era 
mais  representado  por  essências  objetivas,  mas  por  atos  poéticos  ou  lingüísticos.  Nesse 
sentido,  Hume  assinala  um  momento  importante  na  filosofia do sujeito, porque ele invoca 
atos  que  ultrapassam  o  dado  (o  que  se  passa  quando  digo  “sempre”  ou  “necessário”?).  O 
campo  correspondente,  desde  então,  não  é  mais,  absolutamente,  o  do  conhecimento, 
mas,  antes,  o  da  “crença”,  como  nova  base  do  conhecimento:  sob  quais  condições  uma 
crença  é  legítima,  segundo  a  qual  eu  digo  mais  do  que  aquilo  que  me  é  dado?  Em 
segundo  lugar,  o  sujeito  cumpre  uma  função  de  individuação,  em  um  campo  no  qual  o 
indivíduo  não  pode  ser  uma coisa nem uma alma, mas uma pessoa, viva e vivida, falante e 
falada  (“eu-tu”).  Esses  dois  aspectos  do  sujeito,  o  Eu  universal  e  o  Mim  individual,  estão 
necessariamente  ligados?  Mesmo  ligados,  não  existe  conflito  entre  eles,  e  como  resolver 
esse  conflito?  Todas  essas  questões  animam  aquilo  que  se  pode  chamar  de  filosofia  do 
sujeito,  já  em  Hume,  mas  também  em  Kant,  que  confronta  um  Eu como determinação do 
tempo  e  um  Mim  como  determinável  no  tempo.  Em  Husserl  ainda,  questões  análogas  se 
porão na última das Meditações cartesianas. 
Pode-se  atribuir  novas  funções  e  variáveis  capazes  de  causar  uma  mudança? 
Trata-se de funções de singularização que invadiram o campo do conhecimento, em favor 
de  novas  variávies  de  espaço-tempo.  Por  singularidade,  é  preciso  não  entender  alguma 
coisa  que  se  oponha  ao  universal,  mas  um  elemento  qualquer  que  pode  ser  prolongado 
até  a  vizinhança  de  um  outro,  de  maneira  a  formar  uma  junção:  trata-se  de  uma 
singularidade  no  sentido  matemático.  O  conhecimento  e mesmo a crença tendem, pois, a 
ser  substituídos  por  noções  como  “agenciamento”  ou  “dispositivo”,  que  designam  uma 
emissão e uma repartição de singularidades. 
São  essas  emissões,  do  tipo  “lance  de  dados”,  que  constituem  um  campo 
transcendental  sem sujeito. O múltiplo se torna o substantivo, multiplicidade, e a filosofia à 
teoria  das  multiplicidades,  que  não  remetem  a  nenhum  sujeito  como  unidade  prévia.  O 
que  conta  não  é  mais o verdadeiro nem o falso, mas o singular e o regular, o remarcável e 
o  ordinário.  É  a  função  de  singularidade  que  substitui  a  de  universalidade  (em  um  novo 
campo  que  não  tem  mais  utilidade  para  o  universal).  Vê-se  isso  até  mesmo  no  direito:  a 
noção  jurídica  de  “caso”,  ou  de  “jurisprudência”,  destitui  o universal, em favor de emissões 
de  singularidades  e  de funções de prolongamento. Uma concepção do direito fundada na 
jurisprudência  dispensa  todo  “sujeito”  de  direitos.  Inversamente,  uma  filosofia  sem  sujeito 
apresenta uma concepção do sujeito fundada na jurisprudência. 
Correlativamente,  talvez,  se  impuseram tipos de individuação que não eram mais 
pessoais.  Pergunta-se  sobre  o  que  faz  a  individualidade de um acontecimento: “uma vida, 
uma  estação,  um  vento,  uma  batalha,  cinco  horas  da  tarde...”.  Pode-se  chamar  de 
hecceidadade  ou  ecceidade  essas  individuações  que  não  constituem  mais  pessoas  ou 
mins.  E  surge  a  questão  de  saber  se  não  somos  essas  heceidades  em  vez  de  mins.  A 
filosofia  e  a  literatura anglo-americana são, a esse respeito, particularmente interessantes, 
porque  elas  se  destacam,  freqüentemente,  por  sua  incapacidade  por  encontrar  um 
sentido  atribuível  à  palavra  “mim”,  exceto  o  de  uma  ficção  gramatical. Os acontecimentos 
colocam  questões  de  composição  e  de  decomposição,  de  velocidade  e  de  lentidão,  de 
longitude e de latitude, de potência e de afetos muito complexas. 
Contra  todo  personalismo,  psicológico  ou  lingüístico,  eles  implicam  a  promoção 
de  uma  terceira  pessoa, e mesmo de uma “quarta” pessoa do singular, não-pessoa ou Ele, 
na  qual  nos  reconhecemos  melhor,  nós  mesmos  e  nossa  comunidade,  do  que  em  vãs 
trocas  entre  um  Eu  e  um  Tu.  Em  suma,  cremos  que  a  noção  de  sujeito  perdeu  muito  de 
seu  interesse  em  favor de singularidades pré-individuais e de individuações não-pessoais. 
Mas,  precisamente,  não  é  suficiente opor os conceitos entre si para saber qual é o melhor. 
É  preciso  confrontar  os  campos  de  problemas  aos  quais  eles  respondem,  para  descobrir 
sob  quais  forças  os  problemas  se  transformam  e  exigem,  eles  próprios,  a  constituição  de 
novos  conceitos.  Nada do que os grandes filósofos escreveram sobre o sujeito envelhece, 
mas  esta  é  a  razão  pela  qual  nós  temos,  graças  a  eles,  outros  problemas  a  descobrir, em 
vez  de  efetuar  “retornos”  que  mostrariam  apenas  nossa  incapacidade  em  segui-los.  A 
situação  da  filosofia  não  se  distingue,  aqui,  fundamentalmente,  da situação das ciências e 
das artes. 

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