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PORTUGUÊS JURÍDICO – EMERJ CP.I – 2013.

1 – Sala 203

Aula 01 – 28.01.2013

Assistente de turma: Helena ( amarilis@tjrj.jus.br )

Bibliografia: Teoria da argumentação jurídica (Cláudia S. Monteiro).


A argumentação nas decisões judiciais (Paulo Mendonça).
OCW FGV – colocar no google.
Curso prático de argumentação jurídica (F. Asensi).
As razões do direito: teorias da argumentação jurídica (Atienza).
Ética e direito (Perlmann).

Tema da aula: Tomada de decisão e aspectos psicolinguísticos. No decorrer da aula vamos falar sobre a
busca da certeza, a racionalidade humana, a realidade como uma estrutura aberta, o diálogo com a
realidade e no final elaboraremos um trabalho em grupo.

Objetivo da aula: Desenvolver uma atitude crítica voltada a comunicação com a complexidade do real
para garantir melhor qualidade nas decisões.

Hoje iremos trabalhar basicamente com fatos, para todos vocês tenham uma noção melhor de
como as partes e os advogados estão trazendo a realidade para vocês.

É exatamente com base nessa premissa que iremos voltar nossos olhos para a Teoria
tridimensional dinâmica (Teoria Tridimensional do Direito), de Miguel Reale. Segundo a referida teoria, o
direito corresponde as íntimas relações de implicação entre as dimensões ético-axiológicas da norma, do
valor e do fato.

Na nossa exposição ficaremos restritos a análise do fato. No módulo número dois o professor
analisará o campo da ética.

Partindo da premissa de que as pessoas não conhecem todas as hipóteses de realidades


possíveis, pergunta-se: como poderá o juiz decidir com correção a respeito de fatos que nunca
vivenciou? Digamos que Fulano seja juiz e que ele nunca tenha passado fome. Nesse contexto, como
esperar que esse profissional profira uma decisão correta a respeito de uma pessoa que tenha furtado
um pacote de biscoito para se alimentar?

Essa é só uma ideia, onde a questão principal é: como decidir a respeito das realidades que não
conhecemos?

As teorias de aprendizagem vão nos dizer o seguinte: nós não precisamos vivenciar as
experiências para poder aprendê-las, nós apenas temos que conhecê-las. O juiz tem que saber que ele
faz parte de um grupo e que existem diversas outras realidades que ele não domina e que, por conta
disso, ele vai precisar dialogar com outras áreas do saber para poder chegar o mais próximo da justiça.
É justamente por isso que nós estamos falando de fatos.

Fazendo um paralelo entre a Teoria tridimensional dinâmica de Reale e a questão da psicologia


organizacional para analisar o aspecto da competência do juiz, podemos dizer que essa competência
corresponde a um conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes colocadas a serviço do sujeito para
atingir algum resultado.

Os conhecimentos (o saber) estariam relacionados as normas; as atitudes vamos ver quando


tratarmos do aspecto valorativo (ético) e as habilidades estão relacionadas ao poder fazer.

A vontade política, por exemplo, está no universo das atitudes.

Mas como obter habilidades para captar o que é real? Para eu conversar com a sociedade que
está a minha volta? Como eu posso saber o que está vivenciando um criança na disputa por sua
guarda?

A psicologia e a linguagem vem dizendo que nós construímos o mundo por meio da linguagem.
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Desde pequeno construímos o nosso mundo psíquico através da linguagem. Como eu sei que isso é
uma mesa? Sei que isso é uma mesa sozinha? Embora o termo mesa seja uma convenção, todos nós
estamos vendo que isso é uma mesa. Perceba que todos nós construímos a realidade objetivamente, de
forma com que o que é objetivo está partindo de uma relação de intersubjetividade.

Ou seja, tudo isso nos ajuda a criar símbolos (signos convencionais) para que a nossa realidade
possa ser representada e transmitida através da linguagem (comunicação humana).

Portanto, o trabalho dos juízes é tomar uma determinada decisão. Mas o que eles vão precisar?
Vão necessitar do pensamento e da percepção.

Ocorre que tanto a percepção quanto o pensamento são construídos pela linguagem e não só
pelo conhecimento.

Assim, por mais que o juiz tenha um conhecimento jurídico, a forma como ele percebe o mundo,
a forma como ele o interpreta o mundo em que vive foi construída através da experiência.

Diante de tantos pontos de vista (discursos) apresentados como chegar ao mais justo? Essa
discussão do que é certo e errado, do que é lícito e ilícito sempre perseguiu o direito.

Se nós construímos o mundo através da linguagem será que o nosso pensamento consegue
captar tudo o que está a nossa volta? Pela apresentação de slides se consegue perceber que as
imagens podem causar dubiedade. Uns veem melhor uma realidade, outras pessoas outra. E isso ocorre
nas situações da vida também.

Conforme trabalhamos nossa visão nós vamos obtendo um feeling que nos permite conhecer a
realidade sem vivenciá-la.

O fato de nossos sentidos (nossa percepção) nos enganar fez com que DESCARTES abolisse a
percepção e dissesse que vale aquilo que nós pensamos e não aquilo que estamos vendo ou sentido.

"Havia bastante tempo observara que, no que concerne aos costumes, é às


vezes preciso seguir opiniões, que sabemos serem muito duvidosas, como se
não admitissem dúvidas, conforme já foi dito acima; porém, por desejar então
dedicar-me apenas à pesquisa da verdade, achei que deveria agir
exatamente ao contrário, e rejeitar como totalmente falso tudo aquilo em
que pudesse supor a menor dúvida, com o intuito de ver se, depois disso,
não restaria algo em meu crédito que fosse completamente incontestável. Ao
considerar que os nossos sentidos às vezes nos enganam, quis presumir
que não exista nada que fosse tal como eles nos fazem imaginar" (Descartes,
R. Discurso do Método, in Descartes, Vida e Obra. São Paulo: Nota Cultural
Ltda, 1999. p. 61).

Então, se nossos sentidos nos enganam devemos aboli-los. Ou seja, Descartes abriu mão dos
nossos sentidos e aí passou a valer somente os nossos pensamentos. Aí surgiu a famosa frase de
Descartes: “penso, logo existo” (paradigma cartesiano; racionalismo – vale o que eu penso ; o que a
lógica matemática diz é o que é o certo).

Ocorre que nós estamos vivenciando isso até os dias de hoje. As ciências exatas tinham como
fundamento esse racionalismo. Por isso a metodologia científica. Eu tenho que fazer o experimento
várias vezes para poder considerá-lo científico. Isso não surgiu na nossa história humana de graça. Nós
vivemos no império da religião por muitos anos e após esse período a ciência acabou por tomar o seu
lugar. Assim, só o que a ciência falasse era verdadeiro. O que ela não estudasse não era. Tudo isso
ocorreu em razão do momento histórico que exigia a afirmação de uma ciência.

Problema é que foi adotada a mesma lógica formal das ciências exatas nas ciências humanas.
Mas será que a lógica formal da pra ser utilizada nas ciências humanas? Ex: todo homem é mortal.
Sócrates é homem. Logo Sócrates é mortal.
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Mas será que o juiz quando aplica a lei ele chega apenas a essa conclusão. Ele trabalha com a
lógica ao aplicar a lei. Mas será que o juiz faz apenas isso, será que ele é apenas a boca da lei? Será
que não existe uma coisa a mais no ser humano, no juiz, para proferir a sentença? O positivismo jurídico
está trabalhado nessa lógica.

Com o passar do tempo passou-se a questionar essa ideia e a própria racionalidade humana.
Será que não existe uma limitação na racionalidade humana? Estamos questionando a razão.

Mesmo que durante muitos anos nós tenhamos estudado o sujeito e o objeto como coisas
separadas, a experiência humana nos mostrou que existe uma interação entre ambos. Não há um só
sujeito pensando sobre o objeto e não há um só objeto. Tudo na natureza se comunica, se dialoga. Nós
não podemos ficar na posição de neutralidade. Tudo isso começou a ser questionado.

Esse paradigma cartesiano nos fez enxergar o ser humano como máquinas.

Como a gente começou a perceber que em termos tecnológicos nós evoluímos muito, mas em
termos éticos nós estávamos nos perdendo.

Começou-se a perceber que a realidade, o pensamento e a linguagem são inseparáveis. Não há


como se manter neutro. Ao fazer uma observação eu já estou me posicionando de determinada forma a
respeito daquilo que eu estou vendo. Há uma interação com tudo que está em nossa volta.

“...a realidade, o pensamento e a linguagem são inseparáveis, suscitam uns aos


outros e interpretam-se uns aos outros.” Marilena Chauí (“Convite à Filosofia”)

Nesse racionalismo passamos a trabalhar com a lógica, em seus aspectos instrumental, formal e
normativa.

 Lógica Instrumental → instrumento para pensar corretamente e verificar a


correção do que está sendo pensado. Mas em temos humanos como falar
em correção do que está sendo pensado? Durante muitos anos, os judeus e
os ciganos, por exemplo, não foram vistos como um grupo, podendo,
portanto, serem descartados. Perceba que esse pensamento pode nos levar
a grandes barbaridades.

 Lógica Formal → não se ocupa com os conteúdos, mas com a forma geral
dos pensamentos.

 Lógica Normativa → fornece os princípios, leis, regras e normas que todo


pensamento deve seguir, se quiser ser verdadeiro. Mas aí precisamos de um
conteúdo ético.

Ou seja, o que começamos a questionar foi a forma como nós pensamos a respeito dessa
racionalidade. Nas ciências exatas temos isso. Temos o objetivo de dominar a natureza - de dominar o
objeto (Razão instrumental). Aí o que a grande guerra nos mostrou? Mostrou que essa neutralidade nas
ciências humanas não é possível. Você pode tentar ser imparcial, mas mesmo essa imparcialidade será
sempre questionada. Não há como estar totalmente neutro. O ser humano tem sentimentos, ele não é
uma máquina.

Por isso prega-se que a frase de Descartes seja mudada para: Existo e sinto, logo penso. A
neutralidade do ser humano não existe sozinha, ela não está dissecada da história pessoal e social.

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Velho Paradigma: As ciências exatas e naturais, por meio do seu prestígio,


impuseram às ciências humanas a sua lógica, deixando de considerar o caráter
histórico da própria razão.

O fortalecimento do velho paradigma promoveu a transformação do sujeito, que passou de


dominador para ser dominado. Passamos a ser dominado por esse velho paradigma, por essa nova
forma de pensar. A consequencia desse movimento foi o enfraquecimento de nossa visão crítica.

Todos os questionamentos que surgiram sobre ética a partir da segunda grande guerra surgiram
com o objetivo de mudar a forma como o ser humano estava enxergando o mundo e as instituições
sociais. Começou-se a ser questionado o papel das ciências e o papel do Estado.

A lógica que usávamos nas ciências humanas era identificada com a lógica formal. Agora eu
pergunto: já que nós estamos saindo da lógica formal, existiria uma lógica jurídica?

O que se questiona é a dissociação do processo do pensar do processo do sentir. Ex: a 2ª


guerra deixou muitas marcas em cima desse raciocínio, pois algumas experiências com seres humanos
foram feitas sem levar em consideração a sua vontade.

Por que relembrar o Tribunal de Nuremberg? As atrocidades cometidas contra


ciganos, judeus, poloneses e russos não foram enquadradas no instrumento legal
que obrigava a utilização do Consentimento Informado. Como não havia uma
proibição entendia-se que o que se estava fazendo era lícito. O problema é que esse
silogismo deixava a reflexão ética de lado.

Diante desse contexto pergunta-se: Quantas vezes mesmo os que defendem a vida humana não
fazem de maneira tão dogmática e intransigente que acabam por tratar os outros homens apenas como
coisas? Isso nós vemos até hoje. Quando nós dissociamos o pensar do sentir nós adoecemos.

Na hora de tomarmos uma decisão, não podemos dissociar o pensar do sentir. Naturalmente os
juízes são levados ao isolamento (tem elevador privativo, almoça em local específico, tem gabinete
reservado e separado dos demais servidores). Esse isolamento, às vezes, os levam a se desconectar da
realidade.

Ora se para decidir a respeito da realidade das pessoas eu devo dialogar com as várias
realidades, mas se ao mesmo tempo eu sou levado ao isolamento, o que eu devo fazer para não cair
nesse isolamento mental? Como continuar a se comunicar sem desconhecer a realidade? A grande
proposta desse módulo é justamente essa, como fazer para que vocês não se percam como juízes?

Ou seja, nós seres humanos utilizamos a lógica, nós utilizamos a nossa percepção, mesmo que
ela nos enganem. Ela contribui muito para a nossa forma de pensar. Ocorre que para nós a lógica é
diferente daquela utilizada pelo computador. O ser humano é capaz de utilizar o pensamento para criar
formas diferentes para solucionar casos ainda não pensados e isso não ocorre com a lógica do
computador.

KASPAROV: ”A desvantagem do homem em relação à máquina é que o computador é psicologicamente


preciso, perfeito. Não tem instabilidade, mau humor, irritação, dor de cabeça. Já a vantagem do homem
sobre o computador é a flexibilidade (isso vem da nossa humanidade). O computador nasce
programado para olhar o jogo de determinado jeito, com uma estratégia preestabelecida, amarrada. E
não muda. Eu, não. Tenho a habilidade de refazer a estratégia, trocar minhas prioridades. A máquina é
movida pela lógica do cálculo perfeito (essa é a lógica formal). O homem tem o poder de fazer
julgamentos (ele não tira simplesmente conclusões). Tenho certeza de que o melhor homem, no seu
melhor dia, ainda bate a eficiência da máquina -- e vai ser assim durante muito tempo." (Kasparov.
Entrevista, Revista Veja, ano 37, nº 34, de 25/8/2004).

Ou seja, estamos o tempo todo falando da realidade como uma estrutura aberta. Mas como estar
aberto as várias formas de realidade? Como transcender a esse isolamento da própria estrutura e entrar
em sintonia com a realidade? Como é que o juiz pode fazer para sentir as necessidades das partes e
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proferir a decisão mais justa e equânime para aquele caso que lhe é apresentado?
O juiz deve, portanto, perceber a realidade como construção ancorada na linguagem.

“A linguagem é um fenômeno que funciona como um processo intersubjetivo, pragmático


e ideológico e que se manifesta eminentemente como prática social.” “O processo de
construção de sentido social e a relação com a linguagem”
(Iran Ferreira Melo)

“... tanto o mito do objetivismo como o do subjetivismo ignoram o modo como


compreendemos o mundo por meio de nossa ‘interação’ com ele”. LAKOFF, George;
JOHNSON, Mark. [1980] Metáforas da vida cotidiana. Tradução de Mara Sophia Zanotto.
Campinas: Mercado de Letras; São Paulo: Educ., 2002.

A forma de pensar dialeticamente foi muito trabalhada no mundo do direito . A partir de então
surgiram diversas teorias, como o pluralismo jurídico, a teoria crítica do direito. Tudo isso foi uma forma
que os estudiosos encontraram para explicar os fenômenos sociais dentro do mundo do direito.

Sabemos que... raciocinar dialeticamente é tratar do controvertido, dos argumentos de


persuasão que nos ajudarão a obter a adesão do auditório. Ou seja, a forma de pensar
dialética começou a ser muito discutida. A partir de então começou-se a surgir inúmeras
correntes de pensamento.

Mas como ficou a racionalidade após essas transformações? Começou-se a perceber que a
verdade deveria advir de um consenso entre os sujeitos.

Nova forma de se pensar sobre a razão: a verdade passou a ser resultado de um diálogo, de um
consenso social. A nova razão brota dessa intersubjetividade do cotidiano. É preciso viver de forma
horizontal, desmontando os paradigmas organizacionais da estrutura do judiciário.

Relação do pensamento com o afeto. Se nós ficássemos somente com o pensamento (como
queria Descartes) nós vamos ficar no nível da abstração. Vamos estar preocupados com a formalidade.
Assim iremos nos distanciar dos valores sociais, da ética. Se eu só ficar com o que eu penso eu vou
achar que o mundo é tal qual como eu penso. A cada vez que eu converso com as pessoas eu vou estar
refrigerando os meus conceitos.

Ex: a partir do momento em que eu tenho amigos e familiares policiais eu passo a mudar o meu
conceito de polícia. Digo isso porque os noticiários, frequentemente, demonstram que os policiais são
corruptos, violentos e etc. Mas será que todos os policiais são assim? Será que toda a instituição prega
essa atitude?

Ou seja, nós devemos conhecer os dois lados. Devemos estar atentos para todas as realidades.
Não podemos ficar presos aos nossos pensamentos. Devemos questionar a respeito do que estamos
vendo. A realidade pode não ser o que estamos imaginando. O ideal é que não cair na abstração e
interagir com o social para melhor decidir.

4) DIÁLOGO COM A REALIDADE:

Como é que podemos dialogar melhor com a realidade?

Nesse ponto iremos analisar o pensamento de Habermas, que foi um estudioso da segunda
geração da Escola de Frankfurt. Habermas foi aluno de Adorno e tornou-se seu assistente em 1956.
Ensinou Filosofia primeiro em Heidelberg e depois tornou-se professor de Filosofia e de Sociologia na
Universidade de Frankfurt. Em 1972, mudou-se para o Instituto Max-Planck, em Starnberg, mas, em
meados de 1980, retornou para seu posto de professor em Frankfurt. Habermas foi o criador da Teoria
da ação comunicativa, de significativa influência no mundo do direito.

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“É possível perceber que Habermas reiteradamente defende a relevância da


comunicação na sociedade ao acastelar que o cerne da justiça e, ao mesmo tempo, da
democracia, depende, precipuamente, da comunicação. Situação antagônica se veria
esmerar em um regime arbitrário.” Por Clayton Ritnel Nogueira - DireitoNet

A Teoria Discursiva de Habermas, aplicada à Filosofia Jurídica, é considerada a


favor da Democracia e da Cidadania, pois coloca a possibilidade de resolução dos
conflitos no consenso de todos os concernidos. Aqui podemos ver a adesão ao auditório,
que mais tarde será objeto de análise de Perllman.

Perceba que quando nós começamos a falar do diálogo isso tem todo um peso em cima da
argumentação – da fundamentação. procura-se explicar, fundamentar o porque de ter decidido algo de
uma determinada forma.

Conjunto heterogêneo de correntes da Filosofia do Direito que reaproxima o Direito da


Moral e da Política, sem abandonar, completamente, a construção científica do
Positivismo Jurídico, revaloriza a fundamentação racional de princípios de moralidade e
justiça. Caracteriza-se, ainda, pela reabilitação dos valores na interpretação jurídica e da
argumentação pelo desenvolvimento de uma teoria dos direitos fundamentais.

“...a superação da letra da lei como fonte exclusiva do conhecimento jurídico foi adotada
como estratégia privilegiada pós-positivista e a argumentação jurídica foi adotada como
estratégia de trânsito no mundo do Direito.”

Não é que vamos deixar de utilizar as leis. Dentro do universo jurídico vamos ter uma
preocupação com a argumentação. Essa é a ideia pós-positivista. Passou-se a ter uma preocupação
com as questões éticas em virtude, por exemplo, da barbárie causada pela segunda guerra, que
legitimou sua atuação pela aplicação da letra fria da lei. isso foi o que Perelman passou a chamar de
adesão ao auditório.

Teoria da argumentação (Perelman): Construção sistemática e rigorosa das ideias, que depende
da anuência do auditório, estando intimamente ligada à questão do assentimento.

Chaim Perelman (“Ética e Direito”): “A lógica jurídica é o conjunto de técnicas de raciocínio


que permitem ao julgador conciliar, ..., o respeito ao direito e a aceitabilidade da solução
encontrada...”

Quando falamos que a ciência e a sociedade vem passando por uma mudança de paradigma
devemos ter em mente que o direito também está mudando.

DOUTRINA BRASILEIRA DA EFETIVIDADE: “Corrente doutrinária capitaneada por Luis


Roberto Barroso, a partir de três mudanças de paradigma na prática do Direito
Constituicional:

-jurídica – compreensão da norma constitucional como norma jurídica e reconhecimento de


sua aplicabilidade plena e imediata;

-científica – identificação de um Direito Constitucional autônomo em relação à política e à


sociologia;

-institucional – ascensão do Poder Judiciário, atribuindo-lhe papel de destaque na


concretização de valores e direitos fundamentais.” (F. Asensi)

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Análise da doutrina brasileira da efetividade: partindo do pressuposto de que o direito existe para
se realizar, a ideia de efetividade significa o desenvolvimento concreto da função social do direito.
Quando o juiz profere sentença ele não mexe somente com a vida das partes, mas com a vida da
sociedade. O peso da palavra judicial é maior.

“Portanto, a ideia de Efetividade busca pensar o desenvolvimento dos direitos na prática, de


modo a superar a perspectiva formalista que se traduz na mera eficácia jurídica e conferir relevo ao
papel da argumentação.” (F. Asensi)

F. Asensi nos propõe 3 elementos fundamentais (teoria da ação comunicativa)

 O reconhecimento do outro como legítimo.

 O reconhecimento de cada um como insuficiente– ninguém é tão ignorante que não


tenha algo a ensinar e ninguém é tão inteligente que não tenha algo a aprender.

 O pressuposto de que o sentido de uma situação é construído pelo conjunto dos


saberes (ciências) presentes.

A arte da conversa não é homogeneizar os sentidos, fazendo desaparecer as divergências, mas


fazer emergir o sentido no ponto de convergência das diversidades.

“Isso pode ajudar a compreender e construir outras formas de solução de conflitos que não
gerem uma cisão entre os sujeitos (formas de autocomposição), mas, pelo contrário, uma convergência
de objetivos, interesses e perspectivas distintas.” (F. Asensi)

Cláudia S. Monteiro – item IV → retrata a passagem do período positivista para o período pós-
positivista, com a indicação da evolução do pensamento humano, que deixou de ser abstrato e formal
(legalista radical), para tornar-se subjetivo e ser precipuamente social. Nesse processo a argumentação
ganhou papel de destaque, rompendo com o arcaico paradigma de que a verdadeira justiça estava
relacionada a interpretação da letra fria da lei. Surge uma nova forma de pensar a razão: a justiça passa
a ser resultado de um diálogo entre as áreas do saber, através da interpretação de diferentes realidades
e observação dos efeitos a serem produzidos pelo ato decisório emanado pelo órgão judicial.

Aula 02 – 29.01.2013

Aula 03 – 30.01.2013
Prof.: Flávia Fernandes
e-mail.: flavifernandes@gmail.com

Bibliografia recomendada: Português jurídico (Regina Damião).

Tema: TÓPICO-FRASAL – está relacionado com os textos produzidos pelo juiz no desempenho de suas
funções. No exercício da atividade jurisdicional o juiz irá trabalhar com a argumentação. A sentença é
preparada nos moldes do texto argumentativo dissertativo.

Mas quais são as características desse texto? Primeiro ele é pleno de argumentos. Inicialmente
há uma tese, que é defendida tanto pelo autor quanto pelo réu. Contrariamente a essa tese eu tenho
uma antítese, que pela dicção da palavra percebe-se que ela é diametralmente oposta. Na sentença o
juiz irá fazer a análise dessas duas teses através da técnica de enquadramento. Pelo enquadramento o
juiz vai pegar uma dessas teses e vai explicar onde está a positividade ou a negatividade dela e vai
concluir por uma delas (síntese). Isso será a sua posição pelos argumentos apresentados por A ou por B.
fato é que para se posicionar por uma delas você deve demonstrar os problemas da tese contrária.

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Quando você resgata uma das posições você tem que repetir ela no texto. Essa operação é
chamada de enquadramento. Cuidado!!! É preciso que você escreva algo que está na tese
contrária. Para acolher uma das teses você terá que contrapor os argumentos da tese contrária e se
posicionar a favor da tese escolhida. (isso vai cair na prova)

Ex: João gosta de chuva porque ela refresca a cidade. Ana não gosta de chuva porque ela alaga
as ruas da cidade. Quem será que tem razão? Vamos supor que a tese de João seja a correta. Sendo
assim, a decisão judicial deverá aplicar a técnica do enquadramento: “apesar da chuva provocar
alagamento na cidade (tese 2), quando chove o clima da cidade fica mais ameno (tese 1)”.

Perceba que quando eu resgato o problema da tese contrária por meio do enquadramento eu
devo emitir a opinião final. Entrando um pouco na aula do prof. Leonardo, que vai analisar a
argumentação nos moldes da lei complementar 95, podemos dizer que essa escolha judicial por uma
das teses representa o argumento. Assim, no enquadramento acima analisado, a conclusão judicial
seria: “Logo a chuva não é ruim para a população”.

Perceba que quando eu verbalizo o meu raciocínio (o que penso) eu estou no campo da
argumentação. A argumentação é, portanto, a verbalização do raciocínio.

O que você faz no psiquiatra, no psicólogo? Você só fala. E isso é assim porque é por meio da
verbalização que se consegue chegar ao raciocínio. Ou seja, profissional irá descobrir como é a pessoa
para poder demonstrar o seu raciocínio.

Falácia – é o vício da argumentação. Se eu tenho a argumentação (se eu verbalizei o meu


raciocínio), se eu mostrei para as pessoas como eu penso, na falácia esse raciocínio é falso. Eu mostro
para as pessoas o que eu não penso. Eu falo por falar. Eu argumento sobre o nada. Uma das facetas
dessa falácia é a petição de princípios, quando o início e o fim se interligam (exemplo: “o que não pode
ser o que não é”; “a mulher é deprimida porque o marido atrai – o marido a trai porque ela é deprimida”).

Falácia de primeira impressão – você mostra com a técnica da argumentação que é a primeira
impressão que fica. Mas aí se a argumentação for falaciosa você se engana com a pessoa. Você diz:
Fulano parece ser muito bacana. Agora, aquele que já conhece diz que não é bem assim. Quer ver outro
exemplo: por fora bela viola, por dentro belo bolo bolorento.

O seu texto pode ser falacioso? Sim. Você pode ser inteiro falacioso. O seu texto como juiz pode
ser falacioso? Pode. Tem juiz que julga somente com nos seus valores próprios.

Aí eu pergunto: o que vocês acham de perder 3,99 todo mês no seu cartão de crédito? Acham
ruim? Poxa mais 3,99 é muito pouco para dar dano moral. Digamos que o juiz pense que o consumidor
não lesado em sua honra objetiva e que ele não merece dano moral. Vocês conseguem perceber o
impacto que essa decisão vai causar na sociedade? Conseguem ver que os valores pessoais podem
influenciar de forma negativa numa decisão? Então cuidado!

Existe uma técnica de argumentação que você tem que dominar que é o silogismo. O Silogismo
é uma técnica de argumentação dedutiva e indutiva. A utilização do silogismo pode levar o julgador para
o acerto ou para o erro (argumentação falaciosa).

Ex: todo círculo é redondo (premissa maior). O triângulo não é redondo (premissa menor – fiz
uma comparação). Logo o triangulo não é circulo.

Ex: o amor é cego. Steve Wander é cego. Logo, Steve Wander é amor ou o amor é Steve
Wander? Perceba que no primeiro caso a utilização do silogismo nos levou a uma conclusão correta,
mas no segundo caso isso não ocorreu.

Vamos usar isso na prática como sentença. No caso da relação de consumo o juiz pode aplicar a
inversão do ônus da causa se a alegação das partes forem verossímeis. Para o juiz deferir acreditar no
que a pessoa fala ele deve ter uma prova mínima. Pensar de forma contrária poderia levar o julgador a
cair em um silogismo falaciosa. Isso porque se o réu tiver de má-fé e o ônus for invertido, o fornecedor
terá que fazer prova de fato desconstitutivo do direito do consumidor, que no caso em questão é
impossível (prova diabólica). É o caso do megabônus, quando o cara contratava o serviço só para
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ingressar com demanda indenizatória depois.

Vamos usar na sentença o texto argumentativo dissertativo, pois ele carrega uma tese, uma
antítese e uma síntese (conclusão por uma das teses). Cada parágrafo conclusivo do juiz vai ser reportar
a um pedido e em cada pedido do autor eu devo ter a repetição da tese, da antítese e da síntese. Eu
posso fazer isso usando as orações subordinadas concessivas.

Vamos imaginar que o autor tenha dito: eu recebi o cartão megabônus e na hora de utilizar ele
não bônus. O réu diz que o autor sabia que o cartão era pré-pago e que o autor sabia da contratação. O
que o juiz vai dizer? juiz vai dizer que apesar da parte autora sustentar que não conhecia o contrato,
restou provada em audiência, pela oitiva do cd-player, que ele conhecia as formas de contratação, logo o
pedido não deve ser acolhido. Perceba que o juiz decidiu com base na prova produzida em audiência à
luz da antítese.

Quando o juiz não tem prova para poder julgar ele julga com base no silogismo. O mais
recomendado é a aplicação do in dubio pro reo / pro consumidor / pro sujeito de boa-fé .

Outro exemplo de decisão com base no silogismo ocorre quando o juiz admite na sentença que
ambas as partes estão falando a verdade, mas que uma delas tinha por lei o dever de melhor se informar
a respeito de algo e tomar alguns cuidados e, como não tomou, a ação foi julgada em seu desfavor. É
silogismo porque o valor pessoal do juiz deve constar na hora da sentença.

Poderia ser dito também que o consumidor não tomou conhecimento pleno das cláusulas do
contrato, eis que estavam escritas de forma técnica e em letra pequena. Assim, pode ser julgado o caso
em favor do consumidor e em prejuízo do fornecedor.

O juiz pode admitir que ambas as partes estão dizendo a verdade e mesmo assim julgar com
base no silogismo. Ele pode dizer que apesar do autor estar falando a verdade, ela deveria ter agido de
determinada forma. Com isso o juiz está demonstrando a experiência pessoal dele na solução da lide.

Orações subordinadas concessivas – trabalham dentro da argumentação total. É chamada de


técnica modal. É a concessão para modalizar as suas orações. Nas orações subordinadas adverbiais eu
tenho uma espécie de modalizador.

Quando eu digo que Fulano sempre faz isso, ou seja, eu conheço Fulano a temos. Perceba que
se eu tirar a palavra sempre o texto terá outro sentido. A aplicação de uma palavra no texto demonstra a
opinião do juiz.

Assim, existem determinadas palavras que não podem estar presentes no relatório da sentença,
pois elas demonstram a parcialidade do julgador. Não pode haver, portanto, a utilização de orações
subordinadas concessivas no relatório.

Quando eu uso as subordinadas adverbiais concessivas a minha intenção é de valorizar


(enaltecer) a segunda oração. Quando eu uso as orações subordinadas adversativas a minha intenção é
a de derrubar a segunda oração (mas, porém, contudo, entretanto).

Ex: apesar da parte ré ter entregado a parte autora o contrato, verificou-se que ela é incapaz de
entender o contrato, logo, o contrato é abusivo.

TÉCNICA DE SENTENÇA:

Agora iremos falar do processo de formação do texto. Dentro da publicidade, o publicitário


precisa dominar o português, as figuras de linguagem e a estilística, para atingir os consumidores. Como
o juiz vai trabalhar com relação de consumo, vocês precisam estar atentos para o fato de que o objetivo
da propaganda é burlar os sentidos do consumidor.

O CDC prioriza o consumidor porque o considera hipossuficiente e vulnerável. Exemplo de


vulnerabilidade: você vai ao mercado a noite e eles estão fazendo pão. Isso é para estimular o seu
apetite e aí você acaba enchendo o carrinho. Outra técnica de vulnerabilidade é colocar os produtos
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mais caros na altura dos olhos e na altura das mãos.

Quando você trabalha com o consumidor você precisa entender que existe um psicológico
atuando, que é liberado por meio da verbalização, por meio da argumentação. E o publicitário pega esse
gancho. Veja o que ele fez com a Sandy. A Sandy tem uma imagem de pureza e aí ele pega essa
imagem e faz um paradoxo (figura de linguagem). Ele trabalha com o ícone da pureza e associa em
paradoxo com a palavra devassa, que é a ausência de pureza. E o publicitário faz mais, ele utiliza outra
figura de linguagem, que é a ambiguidade, com o fim de mostrar que todos os consumidores bebem a
sua cerveja de preferência, mais um dia eles se rendem ao sabor da cerveja devassa. O publicitário foi
muito inteligente porque ele utilizou um nome que não é positivo de forma positiva.

Outra publicidade bem elaborada é a da Brastemp, utilizada no sentido de melhor. Então o meu
sofá é uma Brastemp, pois ele é o melhor. aí o publicitário pode fazer também o inverso para chegar no
mesmo resultado: minha banda larga é tipo-net.

E que tipo de argumentação é utilizada pelo publicitário nesses discursos? Ele utiliza a
argumentação falaciosa, porque ela leva o consumidor ao erro.

O publicitário trabalha o tempo todo com o português, ele trabalha o tempo todo com a
argumentação. Vocês, juízes têm um trabalho mais fácil. Vocês trabalham com a prova. A prova será
sempre a base da verbalização do argumento de vocês.

Agora iremos analisar a sentença, tomando por base o caso do mega bônus. Antes disso iremos
tomar nota de alguns conceitos gramaticais extremamente importantes.

Tópico frasal: é a ideia núcleo da frase.

Frase: é a conjunto de palavras que contém uma ideia.

Parágrafo: é a união de várias frase.

Oração = é a mesma coisa que uma frase, porém é uma frase com verbo.

Dessa oração se eu tenho um só verbo ela é chamada de período simples, ao passo que se ela
tiver mais é chamada de período composto. (fiquem atentos com a expressão período, porque ela vai
cair na prova. Período nada mais é do que uma frase com um ou mais verbos)

O período composto é feito de duas formas. Quando eu tenho duas orações com o mesmo peso
porque elas tem a mesma estrutura, o período composto é chamado de período composto por
coordenação.

Veja que quando os períodos se equivalem em termo de poder, quando a estrutura é igual, eu
tenho duas orações com SVCA + SVCA (sujeito + verbo + complemento + acessório) .

Geralmente as orações só não possuem o acessório, que é o adjunto adverbial de alguma coisa
(tempo, modo, lugar). A maioria das vezes vocês vão encontrar o sujeito + verbo + complemento.

Voes lembram que o período composto por coordenação pode ser: a) aditivo (relação de adição),
b) adversativo (relação de oposição); c) alternativo; d) conclusivo; e) explicativo.

Na conclusiva e na explicativa pode surgir alguma dúvida. Isso porque a palavra “pois”, que é
conjunção universal, dá com as duas. A diferença está no raciocínio. No raciocínio conclusivo primeiro
vem o fato, depois a consequencia. Ex: fiquei gripado, logo não vou ao show. Agora, se eu colocar a
consequencia primeiro e o fato depois eu estou diante de um pensamento explicativo. Então: não vou
sair, pois fiquei gripado. Posso substituir essas palavras por causa e efeito.

A outra forma de período composto é por subordinação, muito utilizada na afirmação de um


parágrafo conclusivo (na minha síntese).

O período por subordinação é construído da seguinte forma: eu corto um pedaço da SVCA (SV-
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CA) e a partir disso surge uma nova oração, que vai complementar a primeira. Elas são dependentes,
não podem ser separadas como no caso do período composto por coordenação (ex: fui a feira e comprei
tomate).

Ex: eu (sujeito) desejo (verbo transitivo direito) sua vitória (objeto direito, que no caso é o
complemento verbal) hoje (acessório). Veja que esse período simples está perfeito. E se eu quiser cortar
a minha oração o sentido irá se transformar. Digamos que eu tenha separado assim: eu desejo ; sua
vitória hoje. Qual dessas palavras que eu separei no segundo grupo que pode me dar um verbo
possível? Só a palavra vitória é que poderá me dar um verbo (vencer). Vitória, na classe gramatical é um
substantivo. Para saber quando temos um substantivo basta botar um artigo na frente. Perceba que a
palavra vitória poderá me dar um verbo, que é o verbo vencer. Ora, se o meu verbo nasceu de um
substantivo, essa oração que vai nascer do verbo é chamada de oração subordinada substantiva. E qual
era a função sintática do vitória antes? Era objeto direito. Veja que agora ele se transformou em
substantivo, mas continua levando a função sintática de objeto direito. Aí como ficará a nova oração? A
nova oração ficará da seguinte forma: eu desejo que (a palavra “que ”é conjunção integrante que não
precisa ser colocada) você vença (entra o modo subjuntivo) hoje. Agora temos uma oração subordinada
substantiva objetiva. Veja que eu não posso falar: que você vença hoje. É preciso falar a outra oração
que ficou intacta que é: eu desejo (oração principal).

Existem 3 espécies de orações subordinadas (substantivas, adjetivas e adverbiais). Não serão


analisadas todas as espécies na aula, pois esse não é o objetivo.

Cuidado com o texto!!! Favor não colocar muitas orações subordinadas para não cometer o vício
de “acumulamento”. Isso será analisado na prova. Cuidado para não colocar na prova “eco”, que ocorre
quando é utilizada na mesma frase varias vezes a mesma palavra. Outro problema que será analisado é
a conclusão falsa, que ocorre quando o aluno se perde no enquadramento. Devemos ter atenção
também a petição de princípio, que ocorre quando você acaba explicando com a própria pergunta, ou
seja, você pergunta de novo fingindo que está explicando.

Alteração diacrônica = é quando o sentido da palavra muda com base no tempo. Ex: Fulano é
“cuspido e escarrado” o pai. Na verdade a expressão é: esculpido em carrara, porque era assim que se
fazia na renascença.

Agora vamos analisar a sentença, que é composta por três partes: relatório, fundamentação e o
dispositivo. No relatório deve ser produzido um texto narrativo, onde o juiz deve ser imparcial (não deve
usar quaisquer palavras modalizadoras), só pode fazer o discurso em terceira pessoa e deve ficar atento
ao tempo verbal, pois o nessa fase do processo, o tempo pode estar relacionado aos atos processuais
ou aos atos das partes. Desta forma o juiz deve se ater aos verbos processuais no presente e verbos
que narram os fatos no pretérito perfeito e pretérito mais que perfeito (isso porque a história já
aconteceu).

Modelo sem detalhes:

Estado do Rio de Janeiro


Poder Judiciário
1ª Vara Cível da Capital

Processo n.
Autor:
Réu:

SENTENÇA

Trata-se de ação pelo rito ordinário em que a parte autora requer cancelamento
do cartão “megabônus”, cancelamento da dívida lançada em sem nome e
indenização por dano moral. Como causa de pedir sustenta que foi vítima de
propaganda enganosa. Alega que, ao contratar o cartão “megabônus”, recebeu a
informação de que este se tratava de um cartão de crédito “sem limite”, entretanto, ao

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tentar utilizá-lo, recebeu a recusa por falta de crédito, vindo a descobrir que se tratava
de um cartão de débito.
A parte ré, em contestação, argui preliminar de necessidade de perícia e, no
mérito, sustenta que a parte autora tomou conhecimento dos termos contratuais,
ficando ciente de que o cartão era “pré-pago”, e não de crédito.
É o relatório. Decido.
Afasto a preliminar arguida pela parte ré porque/visto que nem mesmo houve
indicação sobre qual seria a perícia adequada para o caso em questão.
No mérito, verifico que se trata de relação de consumo, sobre a qual recaem as
regras do CDC, com o que se torna possível a inversão do ônus da prova.
A parte autora sustenta que foi vítima de propaganda enganosa, entretanto, do
seu depoimento pessoal em AIJ, foi possível verificar que ela tomara conhecimento
dos termos contratuais, logo não resta verificado o abuso da propaganda enganosa,
tampouco o dano moral
Por outro lado, a parte autora se manifesta pelo cancelamento do contrato, o
qual deve ser acatado, face o princípio da liberdade de contratar, art. 421 e 422 do
CC/02.
Diante do exposto, afasto a preliminar arguida e, no mérito, julgo parcialmente
procedente os pedidos e: a) declaro cancelado o cartão de crédito “megabônus”
emitido em nome da parte autora, de n. 1924.XXXX.999, devendo a parte ré fazê-lo
em 10 (dez) dias a contar da publicação desta, sob pena de multa diária de R$100,00
(cem reais); b) julgo improcedentes os demais pedidos.
Custas e honorários
P.R.I.
Data
Assinatura.

Estado do Rio de Janeiro


Poder Judiciário
1ª Vara Cível da Capital

Processo n.
Autor:
Réu:

SENTENÇA
(não se coloca nada abaixo da palavra sentença. A expressão “vistos, relatados e etc.
só é utilizada em acórdãos ”)

Trata-se (O verbo deve sempre ser utilizado no singular. Isso porque o verbo
está representando uma partícula de um sujeito indeterminado, que é a partícula “se”.
Mas isso eu sei porque, sei porque o verbo tratar é transitivo indireto. Quem, trata,
trata de alguma coisa. Quando o meu verbo é transitivo indireto, ele precisa de uma
preposição qualquer, que é o escudo contra o agente da passiva. Não existe agente
da passiva em VTI, mas apenas em VTD. Quando colocamos a partícula de
indeterminação do sujeito “se” depois de um VTI, não podemos colocar o verbo no
plural, pois assim estaríamos identificando o sujeito. Agora, se o sujeito estivesse no
plural o verbo estaria também no plural. Se estivéssemos falando de embargos a
escrita ficaria: trata-se de embargos) de ação pelo rito ordinário em que (se não for
espaço físico de local, lugar, a expressão correta é “em que”. Acho que li algo na lei.
Então temos, a lei em que vi. A palavra “onde” fica só para lugar aonde você pode
chegar) a parte autora requer cancelamento do cartão “megabônus”,
cancelamento da dívida lançada em sem nome e indenização por dano moral.
Como causa de pedir sustenta que foi vítima de propaganda enganosa. Alega
que, ao contratar o cartão “megabônus”, recebeu a informação de que este se
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PORTUGUÊS JURÍDICO – EMERJ CP.I – 2013.1 – Sala 203

tratava de um cartão de crédito “sem limite”, entretanto, ao tentar utilizá-lo,


recebeu a recusa por falta de crédito, vindo a descobrir que se tratava de um
cartão de débito.
A parte ré, em contestação, argui preliminar de necessidade de perícia e,
no mérito, sustenta que a parte autora tomou conhecimento dos termos
contratuais, ficando ciente (gerúndio – pressupõe mais uma oração para dar
sentido) de que o cartão era “pré-pago”, e não de crédito. Perceba que até agora
o juiz somente utilizou verbos processuais no presente. Acabou o relatório, vamos
para a segunda fase da sentença, que é a fundamentação (art. 93, IX, CF88). Se não
houver fundamentação o ato é nulo. Todo ato administrativo deve ser fundamentado.
Vai mudar, tudo o que ele não faz no relatório ele vai fazer na fundamentação. Vai ser
parcial, vai discorrer sua fundamentação em texto dissertativo, vai utilizar
modalizadores, vai fazer discurso direto, os tempos verbais vão variar se eles forem
processuais e narrativos.
É o relatório. Decido.
Afasto a preliminar arguida pela parte ré porque/visto que nem mesmo
houve indicação sobre qual seria a perícia adequada para o caso em questão.
No mérito, verifico que se trata de relação de consumo, sobre a qual
recaem as regras do CDC, com o que se torna possível a inversão do ônus da
prova.
A parte autora sustenta (o verbo deve ficar no presente porque ela sustentou
na petição) que foi (ter sido) vítima de propaganda enganosa (oração coordenada
– vou iniciar a segunda com uma conjunção adversativa), entretanto, do seu
depoimento pessoal em AIJ, foi possível verificar que ela tomara conhecimento
dos termos contratuais (para modalizar eu poderia ter colocado “tomara
conhecimento, devidamente,”), logo não resta verificado o abuso da propaganda
enganosa, tampouco (nem) o dano moral (poderia ter sido colocado ponto final na
frase e iniciado assim: nesse passo, o dano moral alegado não ocorreu, nem a
constituição indevida da dívida). Perceba que o enquadramento está nas duas
primeiras linhas quando eu volto ao que o autor alegou. A minha tese está no
depoimento colhido em AIJ. Outro enquadramento está na quinta linha, quando eu
aponto que a parte autora tinha conhecimento. A síntese (conclusão) está no final,
quando eu nego o pedido de dano moral.
Por outro lado, a parte autora se manifesta pelo cancelamento do
contrato, o qual deve ser acatado, face o princípio da liberdade de contratar, art.
421 e 422 do CC/02.
Jurisprudência: 28 toques de espaçamento + itálico, quando tiver mais de 4
linhas. Se tiver menos deve colocar no corpo do texto. Encerrada essa parte
passaremos para o dispositivo. No dispositivo o juiz pode ter 3 comandos: declarar,
constituir, desconstituir ou condenar. Nesse caso a parte autora pediu a declaração e
a condenação.
Diante do exposto (isso posto; posto isso – jamais posto isto...), afasto a
preliminar arguida e, no mérito, julgo parcialmente procedente os pedidos e: a)
declaro cancelado o cartão de crédito “megabônus” emitido em nome da parte
autora, de n. 1924.XXXX.999, devendo a parte ré fazê-lo em 10 (dez) dias a
contar da publicação desta, sob pena de multa diária (a multa é diária porque
estamos falando de obrigação de fazer. Se fosse obrigação de pagar a multa seria
fixa.) de R$100,00 (cem reais); b) julgo improcedentes os demais pedidos. Para
treinar melhor, procurar na jurisprudência do TJ o tema da jurisprudência que vocês
querem fazer. Depois pegar a íntegra da sentença e fazer.
Custas e honorários (salvo nos juizados).
P.R.I.
Data
Assinatura.

Caso Megabônus – O Unibanco criou um “cartão de crédito internacional sem limites” e


ofereceu ao público. Na verdade, esse cartão era de débito e que o titular não precisava ter conta no
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banco. Eram oferecidos bônus em condições específicas, tais como a recomendação do cartão para
terceiros. Trata-se de um cartão pré-pago que não possuía limite mesmo, esse cartão não dava direito a
crédito algum num primeiro momento. Essa dubiedade causou confusão em muitas pessoas. Sentenças
foram proferidas concedendo altos valores a título de dano moral. Houve uma enxurradas de demandas
nos juizados. Com o passar do tempo o MP fez TAC com o Unibanco e as decisões pararam de conferir
dano moral aos consumidores.

Aula 04 - 31.01.2013
Prof.: Maria Augusta

Frase 01 – Convêm, a despeito das evidências lhe serem favoráveis a contratação de


profissional experiente. Convém, a despeito de as evidências lhe serem favoráveis, a contração
de profissional experiente.

Frase 02 – Posto que não lhe aprouvesse tais atitudes deveria acatar-lhe. Posto que não lhe
aprouvessem tais atitudes, deveria acatá-las.

Frase 03 – Há provas consistentes, a cuja apresentação não se pode insurgir. Há provas


consistentes, contra cuja apresentação não se pode insurgir.

Aula 05 - 01.02.2013
Pro.: Leonardo Jacintho

TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA

NOÇÃO DE ARGUMENTAÇÃO PROPRIAMENTE DITA

Primeiro vamos analisar a distinção entre argumentar, convencer e persuadir. A diferença entre a
argumentação e a exposição de ideias está no fato de que na argumentação existe o propósito do
convencimento. Ou seja, argumentar é levar ao conhecimento. Se eu quero meramente apresentar as
minhas ideias eu faço uma mera exposição. Só existe argumentação efetiva se houver um objetido de
conhecimento. Isso é o pacto argumentativo.

O pacto argumentativo (acordo argumentativo) é a disposição que o auditório (elemento;


grupo;pessoa) tem de ouvir.

O processo argumentativo é construído pelo pacto, aí o indivíduo pode aceitar ou não, ou seja,
pode haver conhecimento ou não.

Argumentar e persuadir possuem o mesmo objetivo, que é convencer o seu auditório.

Quanto a necessidade de convencimento que uma sentença traz, esse aspecto está em
discussão ultimamente. Isso porque, por meio da sentença, o juiz está exercendo um processo de
convencimento da sociedade.

Convencer é o objetivo. Daí dizer que argumentar e persuadir são os processos para se chegar
ao objetivo. O que é essencial no processo argumentativo que é ausente na persuasão? Na
argumentação você traz de maneira explícita os argumentos. O pacto argumentativo traz de forma
explícita os argumentos.

Enfim, na argumentação o jogo é explícito. Ao passo que na argumentação você leva o indivíduo
a tirar por si mesmo uma conclusão sem apresentar argumentos explícitos. A persuasão pode ocorrer
por sedução, por imposição ou por ameaça.

Esse processo de abstração que a persuasão desenvolve se adéqua a cada auditório. A maneira
de se persuadir uma criança não é a mesma de se persuadir um homem de 30 anos. Tudo bem que na
argumentação eu também tenho que levar em consideração a diferença de auditório.
Na persuasão, em muitas vezes é preciso recorrer ao emprego das falácias.
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PORTUGUÊS JURÍDICO – EMERJ CP.I – 2013.1 – Sala 203

A persuasão pode ser utilizada para fazer com que o auditório deseje celebrar o pacto
argumentativo. Isso ocorre, por exemplo, no caso dos agentes de saúde, que desejam remover os
dependentes químicos das ruas da cidade.

Na técnica argumentativa você utiliza elementos formais, teorias, teses, tudo com o objetivo de
convencer o seu auditório. Agora, o convencimento do auditório também pode ser feito por meio da
persuasão, quando se utiliza de recursos não formais para fazer surgir a ideia no auditório.

Um dos elementos fundamentais do processo argumentativo é a competência linguística e


discursiva. Essa competência é um argumento oculto.

Analogia: você sai da EMERJ e vai em uma livraria. Você não tem referência da editora e nem
do autor. Você encontra dois livros com o título quase que idêntico. A única diferença entre eles está na
capa. O primeiro tem uma capa berrante e o segundo tem uma capa mais sóbria. Se você compra o de
capa berrante e não gosta do que lê nele você tende a imaginar que o livro de capa mais sóbria também
não irá prestar.

Pode ser criado um escudo protetor em face do pacto argumentativo. Esse escudo quebra o
pacto argumentativo e impede o convencimento. Isso ocorreria se um professor de português não
tivesse conhecimento da língua.

O que se quer dizer é que o processo de convencimento ocorre de maneira oculta através da
competência oculta.

Temos de construir a nossa competência linguística e discursiva com alto grau de argumento
oculto. Para desenvolver a competência linguística e discursiva eu devo buscar clareza e precisão.

A clareza e precisão vão estar na lei complementar 95/98 (veio consolidar as mudanças
democráticas propostas pela CRFB). Para compreendê-la precisamos resgatar dois conceitos: a eficácia
e a eficiência.

A eficácia é atingir plenamente o objetivo proposto. Eficiência é alcançar o objetivo da melhor


maneira possível, empregando menos esforço.

E o conceito de efetividade? A presença de eficácia e eficiência em todo o processo gera a


efetividade.

Aplicando isso ao ato da comunicação temos: construir um texto eficaz é atingir o objetivo
proposto em relação a determinado público. Agora eu levei isso em 100 ou em 10 páginas. Se eu tinha
condição de fazer em 10 páginas e utilizei 100 eu não fui eficiente.

Eficácia e eficiência vão resgatar as noções principais para a elaboração dos textos segundo a
lei complementar 95/98.

A Lc n. 95/98, didaticamente, elenca uma série de regras que dão clareza e precisão à redação
legislativa e que deveriam nortear também a redação dos atos administrativos, judiciais e das peças
jurídicas em geral.

O problema é que esse trabalho encontra barreiras em questões políticas, que se fundamentam
no argumento de restrição a liberdade construtiva do magistrado. O que se propõe não a construção de
uma linguagem mais acessível ao jurisdicionado e não uma imposição de regras específicas.

Nesse ideal existe até uma proposta de criação de um manual específico para regular a redação
desses atos.

O número que vem depois de uma lei é o que se não a própria lei? Ou seja, o n. tem alguma
significação? Não. Ele aparece nos textos por mera tradição. Podemos colocar o número da lei logo
após o seu nome. O que se propõe é a adoção de um critério mais simplificado para escrever.

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Na escrita moderna não é necessário elevar a palavra para indicar V. Exª. Hoje pode ser escrito
da seguinte forma: v. exa.

Outro ponto está na necessidade de primeiro descrever o que é a sigla para somente depois
abreviar.

Algarismos romanos após o nome deverão ser mantidos no ordinal até o IX (primeiro, segundo,
terceiro e assim vai). Antes do nome será sempre ordinal.

A lei complementar prega a utilização das palavas e expressões em seu sentido comum, salvo
quando a norma versar sobre assunto técnico, hipótese em que se empregará a nomenclatura própria da
área em que se esteja legislado.

Vale advertir que ao ser escolhido um padrão aportuguesado para uma expressão estrangeira
deve-se seguir esse padrão até o final. Não se pode variar. Começou com um vai até o final.

Pode ser utilizado sentido figurado em lei? Não, pois a norma é taxativa em relação as leis. Mas
e em relação as sentenças? Na sentença podem ser utilizadas metáforas, desde que haja bom senso.
Agora, a metáfora deve funcionar como elemento acessório e não como um elemento substitutivo. E
mais, a metáfora deve ser adequada ao público auditório.

Numa sentença pode existir tanto o emprego de termos técnicos como a aplicação de metáforas,
tudo com o fim de que essa decisão atinja outras pessoas que não só os detentores do conhecimento
jurídico.

Vislumbrar é o que se vê mal, é o que se vê com pouca luz. Vis = mal, lumbrar = pouca luz.
Sendo assim, como é que se pode imaginar que o juiz utilize vislumbrar para fundamentar as suas
decisões. Assim, vislumbrar vai funcionar bem em frases negativas (ex: não vislumbrando a presença de
fumus boni iuris e periculum in mora).

Inconteste, geralmente é empregado no sentido de que não se pode contestar, não se poder
refutar. Ocorre que esse termo está sendo empregado no sentido equivocado. Uma testemunha conteste
é uma testemunha válida. Uma testemunha inconteste é uma testemunha inválida. Ou seja, inconteste
não é a mesma coisa que incontestável.

Qual é a diferença entre usar e utilizar? Usar é fazer o uso da coisa com o propósito que existe.
Se eu pego uma caneta para escrever eu estou usando a caneta. Agora se seu pego a caneta para
prender o cabelo eu estou dando utilizando a caneta em outro sentido que não foi o que destinado a ela
propriamente.

Qual é a diferença entre alegar e arguir. Normalmente utilizamos como sinônimos, mas não são.
Em essência alegar significa trazer algo novo ao discurso, uma nova forma de dizer. Ao passo que arguir,
significa questionar, discutir. Eu só posso questionar algo que já foi posto e não algo que não existe.

Portanto eu vou alegar questões de mérito e arguir questões processuais. Questões prejudiciais
de méritos podem ser arguidas ou alegadas.

E o aduzir? Qual é a diferença de alegar e o aduzir? São usados como sinônimos. Estão na
mesma família, mas o aduzir tem um sentido a mais. E qual é? Aduzir tem um sentido somatório. Qual é
o contrário de aduzir? É abduzir. Aduzir tem um efeito somatório que só pode ser utilizado quando você
já empregou elementos ao texto.

A alínea “b” do art. 11 da lei complementar 95/98 diz que devemos utilizar frases curtas e
concisas. Não podemos colocar a virgula e o gerúndio, pois isso é sintoma de frase alongada
desnecessariamente.

A alínea “b” do art. 11 da lei complementar 95/98 diz que devemos construir as orações na
ordem direta, evitando preciosismo, neologismo e adjetivações dispensáveis.

O preciosismo é a utilização de um termo técnico que não é conhecido pela população. Ex:
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emprego da palavra nosocômio para dizer hospital. Ou seja, devemos empregar a palavra de acordo
com o auditório, de acordo com o padrão médio de conhecimento da população.

Isso tem de ser fixado na cabeça do magistrado, pois ele escreve não só para as partes, mas
para todos os cidadãos. O Estado tem essa função educativa do povo.

É tendência natural que o advogado enfeite demais a petição para poder agradar o seu cliente.

O emprego de termos técnicos e termos em latim devemos atentar para a necessidade de


explicar o significado do termo.

Quando você traz uma palavra em latim para um texto em português ela também apresenta uma
função tática.

Interna corporis = quase nunca se utiliza essa expressão latina na sua forma declinada.

O que significa a quo? É empregado como inicial, mas tem o sentido de anterior. Mas e se no
lugar de falar tribunal a quo eu falar sentença a quo, isso está correto? O correto seria flexionar e colocar
sentença a qua, decisão a quo.

Neologismo é a invenção de palavras com o uso que se justifica tecnicamente ou poeticamente.


E no direito, eu posso criar palavras? Sim, mas desde que apareçam coisas novas.

Hoje o direito inventou que quando duas coisas colidem existe uma colidência. Ocorre que essa
palavra não existe. Quando duas coisas colidem ocorre uma colisão.

Outro problema do neologismo no direito é colocar “i” e “des” na frente de tudo. Eu posso dar
provimento para um pedido. Eu posso não dar provimento para um pedido. Improvimento ou
desprovimento não existe. Isso também é neologismo.

Ainda vamos rejeitar o neologismo do inobstante.

O direito penal criou inação. Mas será que inação é a mesma coisa que uma não ação? O
correto é não há.

Há ainda um universo enorme de neologismo que vamos analisar com calma. A adjetivação pode
ser dispensável também. Ou seja, toda adjetivação valorativa, impressionista deve ser dispensada. Daí
não cabe que a fundamentação do juiz seja carregada de adjetivação dispensável.

Ao lado dessa adjetivação dispensável existe uma muleta de linguagem. O emprego de “é


necessário destacar que... cumpre ressaltar que....”. O que devemos ressaltar é apenas o que é
imprescindível, o que foge realmente do padrão.

A alínea “d” deve ser adaptada. Para nós fica obrigatório utilizar os tempos verbais com precisão.
Eu vou pensar sempre na linha do tempo. Se eu quiser me referir a um fato pontual no passo que teve
início e fim conhecidos eu devo utilizar o pretérito perfeito. Para eu me referir a uma ação ocorrida
anteriormente a uma ação já enunciada no passado eu devo utilizar o pretérito mais que perfeito.

Nesse sentido, veja a frase: “quando eu cheguei, ela saiu”. Os verbos são cheguei e saiu – estão
no pretérito perfeito. Se as ações estão no mesmo tempo há uma concomitância no passado. Nessa
frase temos uma ideia de encontro. Se eu não quero passar essa ideia eu tenho que trocar a forma
verbal. Assim eu evitaria que alguém pudesse supor que ela saiu por minha causa.

Solução do problema: “quando eu cheguei, ela tinha/havia saiu”. Perceba que nesse caso eu
desloquei a ação dela para anterior a minha. Aqui nós não nos encontramos. A quebra da causalidade foi
construída com o pretérito mais que perfeito.

O pretérito imperfeito é assim chamado porque ele não tem um aspecto durativo. Eu sei que ele
teve um início e um fim, mas não sei qual foi. Se eu disser: “quando cheguei, ela saia / estava saindo”.
Que relação é essa? Dá pra dizer que existe um nexo de causalidade entre as duas ações?
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Dominar pretérito perfeito, pretérito imperfeito e pretérito mais que perfeito é uma obrigação do
magistrado. Assim ele vai eliminar a existência de nexos de causalidade.

Cuidado também para não traduzir o que é alegado como um fato verdadeiro pelo autor. Então
devemos escrever: o autor alega que teria contraído. Aqui empregamos o futuro do pretérito, dando ao
fato um aspecto de hipótese.

Eu vou usar verbos no presente para atos processuais. Vou usar verbos no passado para fatos
no passado em si.

A alínea “e” diz que devemos utilizar os recursos de pontuação de forma judiciosa, evitando os
abusos de caráter estilístico.

Art. 11, inciso II, “a” - a sentença deve deixar claramente dito o que o juiz pretendida com a
exposição dos fatos.

A respeito do alcance da norma há toda uma apresentação da lógica criada para o Brasil para a
elaboração de textos legislativos.

Art. 11, inciso II, “b” - evitar o emprego de sinonímia com propósito meramente estilístico. Isso
vale para termos técnicos, que não são construídos por meio de sinônimos. Em todas as áreas do
conhecimento isso é respeitado, menos no direito.

No CPC está dito petição inicial. No máximo que você pode fazer é reduzir para inicial. Qualquer
outro sinônimo está errado. O termo técnico deve ser empregado para não afastar do cidadão comum a
compreensão necessária do termo.

Outra ideia: você colocou no texto autor, depois colocou demandante, reclamante e assim por
diante. Se começou com autor vai até o final. No máximo parte autora.

O termo contratante e contratado é técnico e deve ser mantido. Não dá pra fugir, eu tendo de
manter a técnica.

Art. 11, inciso II, “c” - evitar ambiguidades.

Art. 11, inciso II, “d” - evitar a prática de sentidos regionais.

Art. 11, inciso II, “e” - devemos usar as siglas já consagradas. Toda primeira vez que ela aparecer
no texto ela deve vir acompanhada da sua explicação.

Ex: a AGU (Advocacia Geral da União). Um dos usos do parênteses é explicar o significado de
algumas siglas. Mas será que posso fazer o contrário? Sim. E quando eu fizer isso eu vou indicar que a
partir daquele momento eu só vou usar siglas.

Para se referir a Constituição Federal o correto é colocar CRFB e não CF/88 ou só CF ou só CB.
Vamos analisar outras siglas:

ONU
PUC
PIS
Pasep
ONG
UFRJ
Uerj
Emerj
aids
Confins
UFRGS
A regra é: sigla até 3 letras tanto faz se você lê letra por letra ou fala a palavra corrida. De
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PORTUGUÊS JURÍDICO – EMERJ CP.I – 2013.1 – Sala 203

qualquer forma as letras devem estar todas em maiúscula (ex: AGU).

Tendo a sigla 4 letras, se vamos ler como palavra, devemos escrever como palavra (ex: Emerj;
Cofins; Pasep). Se não der para ler o que está escrito nós devemos deixar tudo em letra maiúscula
(UFRJ; UFRGS).

Perigos: plural de sigla → tradicionalmente se fazia com a duplicação da letra. Antigamente se


abreviava página com “pp.”. Modernamente se utiliza “págs.”.

Exmo. → excelentíssimo; Ilmo. → ilustríssimo; Mmo. (ou m.) → meritíssimo (entenda que M.M.
Já foi validado como correto, mas está equivocado.). Dmo. → digníssimo (está proibido usar).

Grafia de números, percentuais, datas, valores, etc. Vamos usar a base do manual do senado
como orientação do que vem a ser correto ou não.

Pelo manual do Senado, para separa dia, mês e ano nós somente podemos usar “/” ou “-”. O
correto seria 2-2-13 ou 2/2/13. Não é correto utilizar agora o 2013 no final.

Manual do senado → Item 3 (emprego das iniciais maiúsculas e minúsculas); item 4 (a escrita
dos numerais); item 9.1 (detalhes gráficos).

Manual da presidência da república → ler cap. I (o que é a redação oficial); cap II; cap III (a parte
de hífen e acentuação ortográfica está desatualizada); atenção com o item 9.3 ( vai cair na prova); item
9.3.2.

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