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Língua Portuguesa / Admissão à 1ª série do Ensino Médio – 2020

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
COLÉGIO DE APLICAÇÃO

CONCURSO DE ADMISSÃO À PRIMEIRA SÉRIE DO ENSINO MÉDIO – 2020

PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

INSTRUÇÕES:
1. Você está recebendo dois cadernos; um contém textos e o outro, as questões da prova.
Confira o número de textos (5) e de questões (8) de sua prova.
2. Registre em cada folha de resposta seu número de inscrição. Observe o local indicado para
isso. Não escreva seu nome na prova, de modo algum.
3. Faça letra legível: o que não for entendido não será considerado.
4. Use caneta azul ou preta.
5. Não é permitido o uso de fita corretiva ou corretivo líquido.
6. Responda às questões sempre com suas próprias palavras, a menos que seja solicitada
alguma transcrição do texto.
7. Não exceda o limite de linhas traçadas para cada questão.
8. Procure reler a prova antes de entregá-la. Bom exame!

Texto 1

Quarto de despejo

Nota dos editores


Esta edição respeita fielmente a linguagem da autora, que muitas vezes contraria a
gramática, incluindo a grafia e a acentuação das palavras, mas que por isso mesmo
traduz com realismo a forma de o povo enxergar e expressar seu mundo.

18 de setembro

Hoje estou alegre. Eu estou procurando aprender viver com espirito calmo.
Acho que é porque estes dias eu tenho tido o que comer.
... Quando eu vi os empregados da Fabrica (...) olhei os letreiros que eles
trazem nas costas e escrevi estes versos:

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Língua Portuguesa / Admissão à 1ª série do Ensino Médio – 2020

Alguns homens em São Paulo


Andam todos carimbados
Traz um letreiro nas costas
Dizendo onde é empregado.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: Diário de uma favelada. 10 ed. São Paulo:
Ática, 2014. p. 121. Trecho.

Texto 2

Rap da Felicidade

Eu só quero é ser feliz


Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
Fé em Deus, DJ 5

(Refrão)
Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar 10
Mas eu só quero é ser feliz, feliz, feliz, feliz, feliz
Onde eu nasci, han
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

Minha cara autoridade, eu já não sei o que fazer 15


Com tanta violência eu sinto medo de viver
Pois moro na favela e sou muito desrespeitado
A tristeza e alegria aqui caminham lado a lado
Eu faço uma oração para uma santa protetora
Mas sou interrompido a tiros de metralhadora 20

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Língua Portuguesa / Admissão à 1ª série do Ensino Médio – 2020

Enquanto os ricos moram numa casa grande e bela


O pobre é humilhado, esculachado na favela
Já não aguento mais essa onda de violência
Só peço à autoridade um pouco mais de competência

(Refrão) 25

Diversão hoje em dia não podemos nem pensar


Pois até lá nos bailes, eles vêm nos humilhar
Fica lá na praça que era tudo tão normal
Agora virou moda a violência no local
Pessoas inocentes que não têm nada a ver 30
Estão perdendo hoje o seu direito de viver
Nunca vi cartão postal que se destaque uma favela
Só vejo paisagem muito linda e muito bela
Quem vai pro exterior da favela sente saudade
O gringo vem aqui e não conhece a realidade 35
Vai pra zona sul pra conhecer água de coco
E o pobre na favela vive passando sufoco
Trocaram a presidência, uma nova esperança
Sofri na tempestade, agora eu quero a bonança1
O povo tem a força, precisa descobrir 40
Se eles lá não fazem nada, faremos tudo daqui

(Refrão)
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar 45

Mc Cidinho (Sidnei da Silva) e Mc Doca (Marcus Paulo de Jesus Peixoto). “Rap da Felicidade”.
In: Clássicos do Funk, Som Livre, 2007.

Vocabulário
1. Bonança: Tranquilidade e, por extensão, fase boa.

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Texto 3

Os meninos do Morro da Lagartixa

Roberto de Souza Penha, Carlos Eduardo de Souza e Cleiton Correa de


Souza tinham entre um e três anos de idade, quando Cidinho e Doca
emplacaram1 o mega sucesso Rap da Felicidade. Wilton Esteves e Wesley
Castro Rodrigues eram um pouco mais velhos, contavam entre cinco e dez
anos. 5

Talvez eles tenham cantado com outros contemporâneos de


comunidade que morreram antes deles os versos proféticos2. Eu só quero é
ser feliz/ andar tranquilamente na favela onde eu nasci / e poder me orgulhar /
e ter a consciência que o pobre tem seu lugar.
Talvez cantassem este hino do funk enquanto comemoravam dentro do 10
carro, o primeiro salário do menino Roberto, de 16 anos. Talvez sorrissem e
planejassem a diversão do domingo antes de tentarem, desesperados,
segundo testemunhas, colocar braços e cabeças para fora do veículo
conduzido por Wilton, clamando por misericórdia aos policiais militares
postados em posição de guerra na entrada da favela. 15
Outro verso da música ecoa: Faço uma oração para uma santa protetora
/ mas sou interrompido / a tiros de metralhadora. Não adiantou. Os policiais
Thiago Resende Barbosa, Marcio Darcy dos Santos, Antônio Carlos Filho,
fuzilaram o carro dos rapazes com cerca de 111 tiros, na entrada do Morro da
Lagartixa, onde viviam, Costa Barros, zona norte do Rio de Janeiro. A 20
conclusão lógica é que a liberdade de ir e vir não é facultada aos jovens negros
sequer na favela onde nasceram, como eternizou a canção.
Posteriormente, o policial Fabio Pizza da Silva ainda tentou fraudar a
cena do fuzilamento para simular um auto de resistência, ou seja, tentou criar
um cenário de revide dos policiais a um forjado 3 ataque das cinco vítimas com 25
uma arma plantada4 debaixo do carro, multiplamente perfurado. Felizmente
não deu certo. Os três assassinos e o comparsa foram presos e serão
julgados. O comandante responsável pela área de atuação dos quatro policiais
foi exonerado5. Ok.

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Língua Portuguesa / Admissão à 1ª série do Ensino Médio – 2020

(...)
O problema de carnificina de Costa Barros é que a Polícia Militar é o 30
braço armado do Estado, autorizado a matar, a exterminar jovens negros e
pobres. Quilombolas6 e indígenas. Moradores de favelas, periferias, palafitas 7,
alagados e todos os demais quartos de despejo do Brasil endinheirado e
branco.
Dezenas de jovens que conseguiram ser avisados por familiares ou 35
amigos para não voltarem para casa naquela noite porque havia ação policial
no morro, agora choram e tremem, com os nervos em frangalhos. Os
alvejados8 poderiam ter sido eles. Podem sê-lo amanhã.
É mais ou menos tácito9 que vivamos uma cultura da violência, com
vários ex-secretários de segurança pública do Rio de Janeiro apontam a cada 40
10
chacina . E que precisamos combatê-la, por suposto. Cada um fazendo uma
parte, o Estado, a Polícia, a escola, o cidadão e a cidadã comuns, os meios de
comunicação, de maneira integrada. Temos conhecimento de boa parte das
ações necessárias, mas não fazemos nada ou praticamente nada.
Ocorre que discutir a violência, apenas, não resolve. É preciso 45
11
problematizar o racismo estrutural da sociedade brasileira que gera violência
e avaliza12 o extermínio de jovens negros, comemorado por governantes como
gols de placa. Ou alguém ousa negar que a vida desses garotos não tem valor
porque são vidas de negros?

SILVA, Cidinha da. In: AMARO, Vagner (org.). Olhos de azeviche. Rio de Janeiro: Malê, 2017.
p. 25-27. Trecho.

Vocabulário
1. Emplacar: obter êxito.
2. Profético: o que prevê ou antevê o futuro.
3. Forjado: dito ou mostrado como verdadeiro.
4. Arma plantada: arma colocada em determinado local para incriminar injustamente
alguém.
5. Exonerado: retirado ou destituído do cargo.
6. Quilombola: residente de quilombo, antigo refúgio para negros escravizados fugitivos.
7. Palafita: habitação humilde construída sobre estacas.
8. Alvejado: atingido como alvo.

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9. Tácito: subentendido sem necessidade de explicação.


10. Chacina: assassinato coletivo.
11. Racismo estrutural: racismo implícito nas relações sociais.
12. Avalizar: permitir.

Texto 4

A sabedoria indígena por dentro

Entre as perguntas que muitos me fazem nas palestras que dou, está a
questão da evolução indígena. Por que os índios não evoluíram na mesma
proporção das outras sociedades? Por que as sociedades indígenas são
atrasadas tecnologicamente? E por aí vai. As respostas a essas perguntas não
são tão simples como poderíamos supor. Imaginemos, no entanto, a seguinte 5
pergunta sendo feita por uma criança indígena: Por que os outros homens, de
outras sociedades, não têm a mesma evolução que a nossa?
Certamente alguém da sociedade não indígena diria que isso depende
do ponto de vista. E está muito certo em agir assim, pois devemos imaginar
sempre como o outro se sente quando tem sua organização social 10
questionada. É verdade que em determinados aspectos a sociedade brasileira
ou ocidental é mais evoluída que a indígena. Basta pensar na indústria
tecnológica com todo seu desenvolvimento, nas máquinas complexas, nos
meios de transportes e de comunicação. E a razão desse desenvolvimento é
muito simples: acredita-se que seja importante valorizar esse tipo de 15
conhecimento, por isso investe-se pesado nele. Nisso está, também, a busca
da felicidade, do bem-estar e da qualidade de vida das pessoas e o domínio da
natureza. Ao dominar a natureza, o homem ocidental pensa que pode chegar à
felicidade.
No contexto da sociedade indígena, no entanto, a felicidade é posta em 20
outro lugar e os esforços são investidos em outros campos. A natureza não é
objeto para ser simplesmente explorado. Nessa atitude de respeito, as
sociedades indígenas chegaram a um equilíbrio perfeito, utilizando uma
tecnologia que, comparativamente à do Ocidente, é muito simples.
Por outro lado, se considerarmos a qualidade de vida alcançada por 25
essas sociedades – em que ninguém tem mais que o outro e há abundância e

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menos violência –, notaremos que elas são mais desenvolvidas que a não
indígena.

MUNDURUKU, Daniel. O banquete dos deuses. São Paulo: Global Editora, 2010. p. 49.
Trecho.

Texto 5

PIRARO, Dan. Bizzarro Comics. Disponível em: https://www.bizarrocomics.com/

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