Documenti di Didattica
Documenti di Professioni
Documenti di Cultura
Resumo: O presente artigo analisa o conceito de etnografia e sua aplicação na pesquisa em Artes
Cênicas. Fundamentando o estudo em teorias relacionadas com os Estudos da Performance, são
interpretados elementos de significação da etnografia que dialogam com os conceitos de
deslocamento, aprendizagem, discurso e culturas, demonstrando que a etnografia pode ser utilizada
de maneira eficaz como ‘grande método’ de pesquisa em Artes Cênicas.
Palavras chave: Etnografia; metodologia, artes cênicas.
Abstract: This article examines the concept of ethnography and its application in performing arts
research. Basing the study on theories related to Performance Studies, are interpreted meaning
elements of ethnography that dialogue with the concept of displacement, learning, discourse and
cultures, demonstrating that ethnography can be used in a valuable way as ‘main research method’
in performing arts
Key words: Ethnography, methodology, performing arts.
1BUTLER, Judith. Burning act Injurious Andrew (Ed.). Performativity and performance.
Speech. In: SEDGWIG, Eve Kosofsky; PARKER, New York: Routledge, 1995. Cap.9, p.197-227.
(relacionadas ao que Saussure define Sally, (1996) quando propõe uma “escrita
como paradigmas), onde existe uma performativa”, enfatiza que se baseia em
substituição do significante, e que por isso um presente escrevente, um presente
realizam uma reconhecida semelhança. A fortalecido pelo “agora performativo”
metáfora, neste sentido, se contrapõe a relacionando-o à deslocação, ao tempo, ao
metonímia, que Lévi-Strauss relaciona ao desaparecimento, a um “embodiement”
“sintagma”. visto como reelaboração corporal da
A estrutura com a qual se dispõem experiência, que a mesma autora
os significados dentro de um enunciado é reconduz ao conceito da viagem.
chamada de corrente sintática. O
Esses aspectos levam a considerar
sintagma, nesse caso, é a unidade mínima
sobre a experiência da viagem e sua
dessa corrente e constitui um leque de
transposição para o âmbito da etnografia
sons que exercitam a mesma função
nas artes cênicas.
lógica dentro do enunciado.
Assim, percebe-se que nos A viagem é o processo por meio do
fenômenos culturais, analisados por meio qual o corpo se desloca fisicamente,
de uma viagem, existem dois referencias deixando o próprio “Habitus” para entrar
para o pesquisador. O contexto de seu em contato com outra cultura, tentando
ponto de partida e as manifestações aprender e aproveitar experiências, usos,
culturais analisadas externas a ele; esses costumes,etc. Geralmente com um
dois pontos não permitem uma pressuposto, no seu imaginário, retorno
substituição de significado em termos de na própria “casa de origem”. Viajando, o
contingência, relacionando uma parte ao sujeito considera a própria inclusão, o
todo dependendo da continuidade. próprio estar e o próprio fazer com
Banes (1990), propondo a parâmetros diferentes do cotidiano; o
etnografia como método de crítica em viajante se percebe geralmente numa
dança, aponta que para muitos situação de trânsito contínuo.
etnógrafos, entre os quais Malinowsky,
A experiência da viagem é
Radcliffe, Brown, viajar para escrever foi a
considerada como enriquecedora e
chave para profissionalizar-se, sendo a
contribui para o desenvolvimento
experiência da viagem parte fundamental
humano no sentido de ser lugar propício
da própria autoridade na escrita, nesse
para construção de conhecimento e
método de pesquisa que era ainda
reflexões pessoais. Descartes (2006), no
limitado as disciplinas antropológicas.
discurso sobre o método, afirma que podem surgir novos modelos e formas de
viajar é importante para conhecer criatividade cultural.
costumes diferentes e, assim julgar os
No âmbito das Artes Cênicas, o
próprios de maneira crítica. Portanto, seja
artista e o espectador se inserem num
no processo educacional do indivíduo, na
contexto que se caracteriza por ser uma
construção do senso crítico, na
experiência extra-cotidiana, um espaço
possibilidade de se confrontar com novos
que, permeado pela experiência estética, é
desafios, diferenças e olhares, ou na
um espaço liminar entre a rotina do dia a
condição de conhecer e se conhecer, a
dia e um lugar constituído a partir do
viagem torna-se sem dúvida um processo
imaginário e da criatividade. Nesse lugar
reflexivo.
de ressignificação existem,
A viagem implica uma reflexão
permanentemente, múltiplas
que bem se insere em todos os processos
interpretações.
artísticos, e subentende, também, um
deslocamento no qual existe o privilégio Pode-se dizer que a etnografia,
de ser ao mesmo tempo na posição do envolvendo em sua significação a
atuante e do observador; de estar no experiência da viagem como
espaço do “entre”, no trânsito onde todas deslocamento, trânsito e espaço liminar,
as coisas escorregam junto com o próprio bem se relaciona ao campo artístico
significante. A própria experiência da enquanto esses elementos a aproximam à
viagem, a partir desse trânsito, se experiência estética.
aproxima ao conceito de “espaço liminar”
Essa viagem não pode ser
assim como definido por Gennep (2002)
entendida como deslocamento, no sentido
quando, ao analisar os ritos de passagem,
de ausência? Uma morte? Um ritual? E
identifica a presença de uma transição
essa ausência não pode ser relacionada
chamada pelo autor de “margem” ou
com a representação da morte no teatro e
“límen”, considerada como uma zona de
na dança e a relação entre morte, cena e
ambiguidade sociocultural na qual
ser humano?
existem uma subversão e uma
ressignificação de uma série de símbolos Gilpin, no texto Lifeness in
ligados à situação social de quem movement 2, ressalta que não é possível
participa. Segundo o autor, liminar é um
contexto de hibridação social e cultural, 2Vide: GILPIN, Heidi. Lifeness in movement or
how do the dead move? Tracing displacement
uma zona de divisa onde potencialmente and disappearance for movement
performance. New York: Routledge, 1996. p.
106-128.
na escrita. Assim o autor é aquele que dá à AUSTIN, John. L. How to do things with
linguagem suas unidades, seus nós de word. Cambridge Mass: Harvard
University Press, 1989.
coerência e sua inserção no que é
considerado real. BANES Sally. On your fingertips: Writing
Dance Criticism. In: BANES, Sally (Org.).
É nesse olhar que o pesquisador-
Writing dancing in the age of
autor em Artes Cênicas se legitima como Postmodernism Art. [S.l.]: Wesleyan
GEERTZ, Clifford. A interpretação das SALLY, Ann Ness. Dancing in the field:
culturas. Tradução: Fanny Wrobel. Rio de Notes from memory. New York: Routledge,
Janeiro: Zahar, 1978. 1996 .