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O que é o DIREITO?
lições introdutórias sobre a ciência jurídica
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O que é o DIREITO?
lições introdutórias sobre a ciência jurídica
Aracaju
2015
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Doutorando em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Mestre em Direito pela
Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Puc-PR); Mestre em Economia pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos no Rio Grande do Sul (Unisinos-RS); Especialista em Direito e Economia pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs); Graduado em Direito pela Universidade do Vale
do Rio dos Sinos no Rio Grande do Sul (Unisinos-RS). Pesquisador filiado a (ABDE) – Associação
Brasileira de Direito e Economia, ao (IDERS) – Instituto de Direito e Economia do Rio Grande do Sul
e a (SBPC) – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência; Membro associado do (CONPEDI) –
Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito e da (SOBER) - Sociedade Brasileira de
Economia, Administração e Sociologia. Pesquisador, membro do Comitê de Ética e Pesquisa, titular
do Núcleo Docente Estruturante, membro do Colegiado da Graduação em Direito, Conselheiro
Consultivo da Revista Interfaces Científicas – Direito; Revisor, Avaliador e Parecerista dos
Periódicos da Revista Interfaces Científicas - Ciências Humanas e Sociais e dos Periódicos da Revista
de Direitos e Garantias Fundamentais - Ciências Jurídicas; Professor Adjunto de Direito e Economia
do Colegiado de Graduação em Direito e do Núcleo de Ensino à Distância da Universidade Tiradentes
no Estado de Sergipe (Unit-SE).
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BRUNO, Flávio Marcelo Rodrigues. O que é o Direito? lições introdutórias sobre a ciência jurídica.
North Charleston (USA): Book Amazon, 2015. 95p.
ISBN 978-1515042327
SUMÁRIO
O que é o Direito?
Se ao final deste curso houver uma resposta – algo não faz sentido. Desde já,
afirmo as (in)definições para o Direito e sugiro, se encontrar uma resposta – reflita.
A busca pelo conhecimento é realizada não pela resposta a esta indagação,
mas pela profundida que ela representa. Embora pareça uma pergunta simples, é na
verdade um dos mais complexos questionamentos do homem ao longo de todos os
tempos. Inúmeros foram os pensadores que buscaram uma resposta desde que o
próprio pensamento sobre a sociedade se instaurou.
Aqui, algo a ser refletido. Um homem só, solitário, gera ou possui direitos? É
preciso supor um homem sozinho em uma ilha, como o personagem Chuck Noland
de Tom Hanks em “O Náufrago”, existem direitos para este homem solitário?
Existem deveres? Existem garantias? Não, porque um homem sozinho numa ilha,
não tem conflitos, pois está só. Claro que se pode pensar em conflitos internos, dele
com ele mesmo, mas estes conflitos são de outra ordem que não a jurídica.
Um homem sozinho numa ilha tem na verdade conflitos internos, morais, do
campo da Filosofia, são os mesmos conflitos que nós temos – individualmente –
quando estamos escolhendo a roupa que vamos colocar para uma festa, quando
vemos qual o sapato combina com qual bolsa, ou quando se opta em fazer ou não a
barba – perceba-se que o direito não trata destes conflitos!
Ao direito servem os conflitos sociais! Da ordem social, da sociedade.
Logo, é o ser humano em sociedade o objeto de estudo do Direito.
Isto, porque o homem é conflituoso, sozinho não sabemos que roupa colocar,
se estamos bonitos ou feios, se a bolsa combina mesmo com o sapato, ou qual
gravata com o cinto, se estamos gordos ou magros. Assim, se o homem sozinho é
conflituoso, imagine-se ele em sociedade - quando os conflitos tornam-se
potencialmente maiores do que se pode imaginar e controlar.
Nem todos os conflitos são sociais. Estes conflitos sociais são os conflitos
que interessam ao Direito. Mas nem todos os conflitos da sociedade são jurídicos.
É possível pensar em um casal em quatro paredes, onde a mulher pede para o
homem bater nela – dar-lhe umas “palmadinhas” – dizendo: “prova que me ama, me
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bate”. O homem faz. E agora, isso é violência doméstica? Deve haver uma punição
em concordância com a Lei n° 11.340 de agosto de 2006, que cria mecanismos para
coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, também conhecida como a
Lei Maria da Penha?
Agora suponha-se que o mesmo casal está atrás de um trio elétrico, e o Asa
de Águia: “Arreia, Arreia” – de repente, entre uma bebida e outra, a mulher pede ao
homem, “me bate, prova que me ama”. Sem pensar, ele senta a mão nela – a
expressão do mais puro amor, e agora? Isso é violência? Isso é Lei Maria da Penha?
No primeiro exemplo, não cabe ao Direito uma interferência. Mas no
segundo, em público, alguém pode ver e pensar que o homem estaria agredindo a
mulher, e então isso é do Direito. Devemos pensar que na primeira hipótese o casal
não está em meio à sociedade, muito embora se entre quatro paredes os “tapinhas”
tivessem sido um pouco fortes demais, e pudessem vir a ser tornados socialmente
reprimidos, ainda assim, é na segunda hipótese que o conflito social adentrou ao
mundo jurídico. Ou o fato social tornou-se fenômeno jurídico. Ou finalmente,
adentrou ao sistema jurídico!
Mas o que é o Sistema Jurídico?
Podemos pensá-lo como uma figura: uma pirâmide. A Pirâmide Kelseniana –
o austríaco Hans Kelsen é o maior jurista de todos os tempos e foi o autor da “Teoria
Pura do Direito”, obra de 1911 onde o autor explica o Sistema Jurídico e como ele se
diferencia de todos os demais sistemas: o político, o econômico, o religioso, o
biológico, o tecnológico, etc. E fundamenta as teses da Norma Hipotética
Fundamental e do Problema da Liberdade no Direito.
O primeiro ensinamento sobre o Sistema Jurídico é no sentido de que ele é
fechado, ou seja, só cabe ao Direito o que está dentro do Sistema Jurídico, mas o que
está fora é importante. O que está dentro do sistema são as normas jurídica que
compõem um ordenamento jurídico de leis e princípios que servem à resolver os
conflitos sociais que entram no sistema jurídico. Mas o que está fora é muito
importante, tanto que é chamado de Norma Hipotética Fundamental por Hans
Kelsen.
Dentro do Sistema Jurídico, existe um sistema hierárquico, onde a lei mais
importante é chamada de lei basilar, ou lei maior, ou Carta Magna, a conhecida
Constituição Federal – um documento que determina como será a forma do Estado e
como serão seus direitos, deveres e garantias individuais e coletivas para que a
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O que é o Direito?
Ensina o sociólogo Boaventura de Sousa Santos que
Roberto Lyra Filho considera o Direito como "algo que, vindo da própria
Sociedade, mantêm-se em constante renovação e mudanças e desta forma
dificilmente pode-se achar a "essência" do Direito".
Um dos pensadores mais renomados do Direito contemporâneo, o alemão
Immanuel Kant afirma que o "Direito é o conjunto de condições pelas quais o
arbítrio de um pode conciliar-se com o arbítrio do outro, segundo uma lei geral de
liberdade”. E para o maior jurista civilista do Brasil, Francisco Cavalcanti Pontes de
Miranda, “o Direito é processo de adaptação social, que consiste em se
estabelecerem regras de conduta, cuja incidência é independente da adesão daqueles
a que a incidência da regra jurídica possa interessar”.
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É possível perceber que a definição exata de Direito nunca foi ponto pacífico
entre os pensadores. Ao longo da História diversas formas de ver-se esta Ciência
foram ora aceitas, depois abandonadas: o Direito já foi visto como algo de
"inspiração divina", ou tendo como fonte a "natureza", sempre como aquilo que
tende a realizar a Justiça através de regras e do elemento coercitivo imposto pelo
Estado, que o diferencia das demais normas sociais (éticas, morais e religiosas).
O certo é que “o fim atribuído ao Direito não é o de criar uma ordem ideal,
mas uma ordem real de convivência”, como muito bem ensina o pensador inglês
Thomas Hobbes.
É função da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito, fornecer uma
noção global da ciência que trata dos fenômenos jurídicos, propiciando uma
compreensão de conceitos jurídicos basilares e comuns a todos os ramos do direito.
Noções básicas da Ciência Jurídica, de seu objeto: o Direito e de seu objetivo, a
efetivação da Justiça.
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sociais, sob cada aspecto da vida social – familiar, econômico, político, religioso,
jurídico, etc.
É na Antropologia Social que situa-se o estudo do homo juridicus – o sujeito
de Direitos. A compreensão antropológica do Direito, descrita por José Manuel de
Sacadura Rocha, no sentido de que o Direito antes de ser absorvido dogmaticamente
de forma acrítica, passa a ser compreendido em suas manifestações e expressões
tanto materiais quanto simbólicas, tendo-se como pano de fundo antropológico e
histórico o processo de construção e reprodução das identidades culturais no
desenvolvimento da civilização. Deixa muito claro a relação interdiscplinar entre
antropologia e a ciência jurídica.
Uma definição mais clara do Direito do ponto de vista antropológico é
ofertada por Orlando Villas Boas Filho, que demonstra a forma zetética e
epistemológica de estudo do Direito, no sentido de que é possível observer o Direito
como fato social de construção e reconstrução da sociedade, o que é algo paradoxal.
Isto porque o Direito tem como objeto de estudo a própria sociedade.
E na obra cinematográfica “1492 – A conquista do Paraíso” de Ridley Scott,
que remonta a época do descobrimento da América pelos espanhóis comandados por
Cristovam Colombo, que em trechos do filme, muito nítidos ficam os quatro
objetivos da Antropologia Jurídica, em especial aquele que denota a principal
característica do Direito Moderno, descritas por Robert Shirley.
O primeiro objetivo da Antropologia Jurídica é científico, no qual o estudo
busca a compreensão do objeto estudado; o segundo objetivo é o pragmático, no qual
o estudo busca a exploração do objeto estudado; o terceiro objetivo é o romântico, no
qual o estudo busca a proteção e; o último objetivo é o jurídico em si, no qual o
estudo busca a dominação.
Nesse sentido, a principal característica do Direito Moderno é servir como
um instrumento de dominação. De estabelecer um domínio, uma ordem. Nota-se que
a antropologia for a utilizada como instrumento de dominação pelos colonizadores,
em um relato do historiado Alfredo Attié Jr., na obra “A Reconstrução do Direito”,
quando descreve a manifestação de um dos senhores de engenho portugueses
proferida em 1587:
“…quanto aos tupinambá, faltam-lhes três letras das do ABC, que são F,
L e R, coisa muito para se notar; porque não se tem F, é porque não tem
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Por volta de 12 mil anos atrás, o ser humano vivia da caça e da coleta.
Buscava apenas a sua sobrevivência e a maior preocupação plausível era encontrar
um novo local sempre que necessário fosse – eram nômades. Tinham que se
estabelecer onde havia alimentos para a caça ou vegetais, tais como frutas, legumes e
raízes, para coletar. O homem primitivo era completamente dependente da natureza,
não sendo ele o núcleo de sua própria relação com o meio ambiente.
Ao deslocarem-se constantemente, alguns indivíduos ficavam pelo caminho,
e com a necessidade de se alimentarem aliado as transformações climáticas, foi
possível iniciar o cultivo de alguns alimentos, a compreensão da natureza, e alguns
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divino e todos devem cultuá-lo, como sinal de dependência. As leis são imperativos
divinos, ditados pelos deuses e transmitidos pela sabedoria faraônica.
A religião desempenha também um papel importante nas civilizações que
compõe a Mesopotâmia – em especial, os Assírios e os Babilônios. O rei proclama-
se instrumento dos deuses, um mediador entre a divindade e os mortais. O rei existe
para impor a justiça na terra, para riscar do mundo o injusto e o mau, para impedir
que o fraco seja dominado pelo forte.
A realeza de Direito divino justifica-se por ser posta a serviço do bem
público. Mas para os que não são do mesmo sangue, os babilônios e os assírios se
demonstraram extremamente cruéis, torturando e dizimando povos conquistados em
massa. Ao passo que a concepção patriarcal da realeza reflete-se a todo instante na
mais antiga coletânea de leis conhecida do mundo antigo – o Código de Hammurábi
– onde nota-se certa preocupação em separar a esfera religiosa da esfera moral e
jurídica.
A vocação religiosa é o traço típico do povo hebreu na antiguidade, o que
confere à sua evolução histórica um sentido todo especial. Para os Hebreus a justiça,
referida ao homem, consiste na observância integral da lei divina. Justiça é
santidade, perfeição religiosa e moral. O Direito hebraico é um Direito religioso,
embasado em uma religião monoteísta, e dado por Deus ao seu povo, sendo,
portanto, imutável pelos homens.
Nas primeiras civilizações o Direito era tratado por sacerdotes das várias
religiões, e posto a serviço da política, o Direito trazia a sua marca dos deuses e dos
monarcas, sendo considerado como fato metafísico, veja-se a explicação de Giorgio
Del Vecchio.
pensado, faltando apenas, entre esses povos da antiguidade, uma cogitação autônoma
a respeito do fenômeno jurídico.
Nunca houvera e nunca mais houve, na história dos povos, concentração tão
extraordinária, em quantidade e qualidade, de espíritos tão evoluídos, que se erigiram
em padrões insuperáveis como na Grécia Antiga em seu período helênico.
Considerada o berço do surgimento das ciências humanas, pela primeira vez, o
homem se vê como ser que pensa e, por isso, diferencia-se dos demais seres vivos.
Dessa forma, inicia a filosofia – a arte do pensar.
Pela primeira vez o Direito é objeto de profundas e específicas indagações
filosóficas, deixando de ser algo privado dos sacerdotes e monarcas para ser cultuado
por grandes pensadores. O que ocasionou significativas contribuições ao Direito.
A mais antiga legislação conhecida de Atenas que possuía alguma
representatividade são as Leis de Drácon (621 a.C),que põem fim à solidariedade
familiar e tornar obrigatório o recurso aos tribunais para o conflito entre clãs. A
superação da solidariedade familiar tem por objetivo transformar a cidade no centro
da vida social e política, indicando que o fundamento da vida social não se restringe
às famílias. Com isso, busca-se uma amizade cívica, um espírito aberto aos outros de
fora da família.
Posteriormente, sob influência egípcia, Sólon (595 a.C.) cria suas leis,
alterando as leis draconianas muito rígidas. Além disso, promove ampla reforma
institucional, social, econômica e política, que influenciam o desenvolvimento da
Grécia no período. Criou o Tribunal de Heliaia, instaurou a igualdade civil, suprimiu
a propriedade coletiva dos clás, limitou o poder paternal e instaurou uma democracia
moderada que fará a grandeza de Atenas, onde, por meio de assembleias, a Justiça
estava nas mãos dos cidadãos, e não de profissionais especializados.
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A época pré-socrática
A jusfilosofia sofística
A jusfilosofia ática
direito algo proporcional, por ser aquilo que é justo. Hodiernamente, a partir dos
ensinamentos aristotélicos, a justiça formal se baliza pelo critério da igualdade
formal e a justiça extraída à luz da equidade se baliza pela igualdade material, de
onde se extrai a frase: “tratar igualmente os iguais, desigualmente os desiguais na
medida das suas desigualdades”. O Direito se confunde com a justiça.
O epicurismo
A escola epicurista surge nos arredores de Athenas, oriunda dos ideais das
escolas Cirenaica e Hedonística. Era uma escola conhecida por seus lindos jardins,
nos quais seu precursor, Epicuro (341 a.C.), ministrava suas aulas, contando com
discípulos que amplificaram a sua voz, tais como Menequeu, Heródoto, Pítocles,
Metrodoro, Hermarco e Colotes.
Em linhas gerais a doutrina considera que a realidade é plenamente
penetrável e compreensível pela inteligência do homem; em diversas situações, o
homem pode construir sua felicidade; a felicidade significa ausência de dores no
corpo e perturbações na alma e para atingir a paz e a felicidade, o homem precisa
apenas de si mesmo.
A felicidade não depende da nobreza, da riqueza, dos deuses, ou das
conquistas exteriores, pois o homem só é feliz quando é autônomo e independente de
condicionantes exteriores. A doutrina epicurista tem no prazer a finalidade do
homem. Tendo sido objeto de diversas críticas, como a afirmação de que não pode
ser no prazer que a razão encontra seu ponto máximo. Os desejos são tidos como o
meio de acesso ao prazer e, consequentemente, na doutrina epicurista, a felicidade.
Esta escola propõe ao homem que experimente o mundo a partir das
sensações. Essa percepção de mundo que o homem começa a ter, do visível e do
invisível, faz com que o homem sinta e consiga formar um conhecimento a partir de
suas experiências. Tais experiências propõem um arcabouço para que o homem
consiga distinguir o que é bom e o que é ruim, o prazer da dor, o natural do não
natural.
Para e escola Epicurista o problema do Estado é importante. Contrapondo-se
a Aristóteles, acha que o homem não é um ser eminentemente social. E ensinava que
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o Estado interveio na naturalidade das coisas e nada mais sendo o Direito do que o
acordo ditado pela utilidade.
O estoicismo
Tal corrente surge após o Epicurismo, e o maior filósofo dessa época foi
Zenão de Cício (336 a.C). Mas é no período romano com Marcus Tullius Cícerus
(106 a.C), que a escola ganhou força e notoriedade. Os estoicos diziam que a
filosofia poderia ser vista como uma árvore: nas raízes está a lógica, no tronco a
física e nos frutos, a ética.
Entendiam que a base do conhecimento é a sensação, ou seja, aquilo que
afeta os sentidos. Sendo assim, a sensação é uma impressão provocada pelos objetos
sobre os nossos órgãos sensoriais, e que se transmite à alma, nela se imprimindo e
gerando a representação. É preciso, porém, um consentir, uma aprovar que está em
nossa alma, ou seja, em nossas impressões. Temos então, a representação
compreensiva sobre os sentidos.
A ética estoica consiste na busca da felicidade, que se alcança vivendo
segundo a natureza. Existem três princípios para esta vida: conservar-se a si mesmo;
apropriar-se do próprio ser e de tudo que é necessário para a sua conservação e;
conciliar-se consigo mesmo, saber o que você é, para possuir autocrítica e preservar
a sua essência. Seriam os princípios que nos trazem a noção do bem segundo a ética
estoica. Como o homem é um ser racional, o bem é o que conserva e incrementa a
razão, o mal é o que danifica a razão.
Assim, a sabedoria e a virtude tornam o homem livre e feliz. Sabedoria e
virtude significam erradicar e eliminar todas as paixões, tornar-se sereno e
indiferente aos sofrimentos impostos pelo destino. O Direito decorre da natureza, e
sendo o ser humano parte da natureza, deve viver conforme as leis que resultam da
natureza, e que necessariamente são iguais para todos. Nessa ótica, o estudo da
natureza humana permite deduzir as regras que constituem o Direito, sendo válidas
mesmo quando o Estado ou os homens não as respeitam.
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“a lei não é invenção do engenho humano nem vontade dos povos, mas
algo de eterno que deve reger o mundo inteiro pela sabedoria dos seus
mandatos e proibições”.
Paulo que “nem tudo que é lícito é honesto”, ao procurar distinguir o Direito da
moral, ao contrário de Celso, que parece identificar os dois campos, definindo o
Direito como “arte do bem e do justo”.
Ao definir a jurisprudentia, Ulpiano nada mais fez que transliterar para o
cenário jurídico latino a colocação estoica de filosofia, esclarecendo que a
“jurisprudentia é o conhecimento das coisas divinas e humanas, a ciência do justo e
do injusto”.
Gregório, São Basílio, Santo Atanásio, São João Crisóstomo, São Cirilo de
Alexandria.
O advento do cristianismo acarreta total mudança no mundo filosófico,
dividindo-se, mesmo, a história do pensamento humano, como, aliás, a história da
civilização, em dois períodos: antes do cristianismo e depois do cristianismo.
A patrística pode ser ilustrada pela figura de Santo Agostinho “que
sistematizou todo o pensamento católico que vinha sendo construído”. Na filosofia
patrística se destaca a defesa da doutrina cristã, nas palavras de Hilton Japiassú e
Danilo Marcondes pode-se ler:
lei humana deve retratar o que a lei natural preceitua; deve o legislador positivar o
que é dado pela natureza, o que da natureza decorre, e não o contrário.
A lei justa deve ser revestida da justiça, de acordo com a lei natural, deve ser
moral, fisicamente possível, fiel à tradição do povo, adaptada ao espaço e ao tempo,
promulgada em vista do bem comum. Em havendo qualquer conflito, sempre
prevalecerá a lei eterna.
Na concepção do tomismo, o ato de julgar consiste em um ato de
individualização da lei, ou seja, a sentença do juiz é como uma lei particular aplicada
a um fato particular. Entende o pensador, que o julgamento consiste no
estabelecimento concreto da igualdade, fato que reclama sua intervenção para o
reequilíbrio das partes, e, consequentemente, que se retome a igualdade rompida,
dando-se, a cada um, o que é seu. O julgamento deve ser sempre segundo as leis
escritas, que expressam o Direito Natural. Se a lei escrita contém algo contra o
Direito Natural, é injusta e não tem força para obrigar, portanto, o desrespeito ao
julgado fica autorizado somente na hipótese de decisão injusta.
jusnaturalismo é a escola que estuda o Direito Natural e considera a lei natural como
superior a qualquer lei, e concebe o Direito dualisticamente, ou seja: é composto por
duas formas, a saber, o Direito Natural e o Direito Positivo. O juspositivismo ou
positivismo jurídico é o nome da escola que estuda apenas o Direito posto – escrito.
Não acreditando que possa existir um jusnaturalismo que justifique o Direito. Trata-
se de uma concepção monista, ou seja, de que existe apenas um sistema jurídico, que
é aquele consistente pelas normas postas pelo Legislador.
O termo natural sugere duas ideias. Em primeiro lugar, a imutabilidade, sabe-
se que os processos e as regras da natureza não mudam. Mesmo quando temos uma
evolução natural, ela é extremamente lenta e gradual. Em segundo lugar, o termo
natural sugere a ideia da perfeição, da existência de regras objetivas e necessárias, ao
contrário das normas “artificiais”, impostas pela simples vontade do legislador
político.
Nesse sentido, o Direito natural apresenta-se como o conjunto de normas de
dever ser que são estáveis, necessárias, adequadas e regulamentam o comportamento
de todos os seres da natureza. Assim sendo, o Direito natural apresenta-se como a
melhor forma de Direito, que assegura a perfeição, a ordem e a harmonia.
Quais são, porém, as fontes do Direito natural? Quem estabelece o conteúdo
de um direito perfeito e imutável? Quatro são as principais respostas dadas pelos
doutrinadores que admitem a existência do Direito natural – os jusnaturalistas.
A primeira resposta considera como fonte do Direito natural a própria
natureza que, no dizer de Ulpiano, “ensina a todos o justo e o necessário”. Aqui o
termo Direito natural é interpretado literalmente – é o jusnaturalismo finalístico.
Decorrente da própria natureza e, principalmente, da natureza do ser humano. Dessa
forma, os jusnaturalistas no sentido estrito atribuem à natureza uma particular força
normativa; natural não é somente aquilo que existe, mas também aquilo que deve
guiar o nosso comportamento e merece ser respeitado por todos. A segunda resposta
é conhecida como jusnaturalismo teológico e sustenta que o Direito natural decorre
da vontade divina. O Ser Supremo, que criou e ordenou o mundo, dita as regras que
devem guiar o comportamento do ser humano.
A terceira resposta encontra-se nos autores racionalistas da Modernidade e
pode ser qualificada como jusracionalismo. Os mandamentos do Direito natural
decorrem da razão humana. Parte-se do pressuposto que todos os seres humanos
possuem a capacidade de pensar e de atuar de modo racional. Sendo satisfeitas as
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natural é o direito do mais forte que domina os mais fracos, tanto na selva
como na concorrência do mercado. Devemos aceitar esse destino natural
ou, ao contrário, lutar pela abolição das distinções e discriminações
sociais, inclusive por meio de mudanças jurídicas? Em nosso entender, o
direito foi criado para transformar a ordem natural, para civilizar a
convivência humana, para combater as fatalidades naturais e para limitar
o poder social. Em uma palavra, o direito é um fenômeno contrafático e
não uma cópia da organização natural do mundo.
O Estado de Direito
Afirma-se que “ao juiz, especialmente, não cabe aplicar a lei, mas fazer justiça”. O
que evidencia o conflito paradoxal entre Direito e Justiça. Antes de se pensar no
justo ao não aplicar a lei, deve-se encontrar uma definição para a Justiça.
Coloca-se aqui o problema da definição da Justiça. Se questionar-se os
legisladores e a maioria dos operadores do Direito, assim como os juristas – todos
dirão que as leis são justas e a Justiça constitui finalidade dos processos legais e do
sistema jurídico em geral. Mas essas afirmações são vazias enquanto não há critérios
terminantemente objetivos para comprovar o caráter justo de uma decisão.
Nesse sentido, o jurisconsulto Ulpiano ensina que a “Justiça é a constante e
perpétua vontade de atribuir a cada um aquilo que lhe pertence”. Mas esta definição
que deu essência ao Direito Romano, assim como já havia, com Platão, sido o
pensamento do Direito Grego nas suas épocas clássicas, faz depender o justo de um
critério de distribuição: “dar a cada um, o que é seu”. Mas como saber o que
pertence a cada um? Como decidir o que deve pertencer a cada um?
O critério mais indicado parece ser utilizar-se do princípio da igualdade. Que
nos ensinamentos de Aristóteles, faz parte da essência do Direito tratar os iguais de
forma igual e os desiguais de forma desigual, de acordo com o grau e a intensidade
de suas diferenças.
Segundo o filósofo, o Estado define o que é Direito, devendo empregar o
critério da Justiça. O Direito é justo quando protege os interesses gerais da sociedade
e, em particular, quando trata de maneira igual as pessoas que se encontram em
situação igual. Há duas formas de igualdade. A igualdade aritmética e a igualdade
geométrica. A primeira exprime a Justiça comulativa; a segunda a Justiça
distributiva. O Direito, para Aristóteles, se confunde com a Justiça. Mas, por haver
duas formas de Justiça, deve ser decido em cada caso se é aplicável a comulativa ou
a distributiva.
Mas o critério da igualdade tampouco resolve o problema. A igualdade impõe
tratar os iguais de forma igual. Mas não mostra qual é o critério procedimental para
definir quem é igual a quem. Por essa razão a igualdade é um conceito vazio. Graças
ao princípio da igualdade sabemos que duas pessoas devem ser tratadas da mesma
forma se forem iguais. Mas como saber se são realmente iguais, uma vez que é da
natureza humana a diferença.
O problema ganha em proporção se a questão envolve o tratamento de
pessoas que são socialmente desiguais. Seria conforme os requisitos da Justiça tratar
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princípios não exprimem verdades gerais, tampouco são neutros, mas reproduzem a
ideologia dos regimes capitalistas.
Mas sem um maior aprofundamento teórico sobre as teorias epistemológicas
da Justiça, supondo que seja possível definir os critérios de Justiça e forma
satisfatória, o problema jurídico é saber o que acontece quando uma norma de
Direito revela-se contrária a mandamentos de Justiça. Em outras palavras, o
problema é estabelecer qual a relevância normativa do discurso sobre a Justiça.
Os adeptos da corrente do absolutismo, que deram origem aos jusnaturalistas
e moralistas do Direito – que logo serão objeto deste estudo – consideram que as
normas em vigor que contrariam exigências da justiça não possuem validade. Para
aceitar essa visão devemos pressupor que a opinião dos juristas ou jusfilósofos sobre
o justo pode ser mais correta que a opinião dos legisladores, apesar de este último ter
recebido da Constituição Federal, o poder de criar normas e ser legitimado pelo voto
popular.
Essa posição não convence em um ordenamento jurídico estruturado
segundo rigorosas normas de competência normativa. Os juízes receberam da Carta
Magna a tarefa de executar as leis em vigor e não podem, alegando supostas
exigências da Justiça, deixar de aplicar certas normas ou tentar corrigi-las, segundo
seus entendimentos e sentimentos pessoais, mesmo quando estes tiverem o mais
plausível respaldo das elaborações teóricas sobre a Justiça. Se não fosse assim, a
Constituição Federal teria confiado o poder legislativo a reconhecidos filósofos,
juristas e jusfilósofos e não aos políticos escolhidos pelo povo na forma democrática
do sufrágio universal.
Desta construção resulta o fato de que as referências sobre a Justiça não
apresentam particular utilidade. Os pensadores e operadores do Direito que
sustentam que as leis são justas estão a instrumentalizar a Justiça, colocando-a a
serviço do Direito que ideologicamente pensar ser o Direito Justo.
A referência ao justo também pode ser feita para criticar o próprio Direito.
Mas para que uma norma jurídica mude não são suficientes às elaborações teóricas
que invocam o ideal da Justiça. Com efeito, a experiência histórica indica que as
normas jurídicas nunca mudaram simplesmente porque alguém o considerou injusto.
Pelo contrário, muitas vezes ocorreram mudanças radicais, apesar de terem sido
consideradas injustas pela sociedade, como ocorre quando temos um golpe de Estado
que instaura uma Ditadura.
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O Estado cria leis para ordenar e pacificar a sociedade, mas não se submete a
nenhuma lei. A soberania é a vontade do Estado. Então, o Estado cria normas e
aplica no exercício do seu próprio poder.
CONSTITUIÇÃO
O critério da liberdade
Fonte Material
Materializam o Direito.
Fonte Formal
1. LEI
2. JURISPRUDÊNCIA
3. DOUTRINA
1. COSTUMES SOCIAIS
2. PRINCÍPIOS GERAIS
3. VONTADES INDIVIDUAIS
1) – LEI
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a) é escrita
b) entra em vigor por decisão de autoridade competente
c) apresenta conformidade com procedimentos fixados constitucionalmente
d) e objetivam regular direta ou indiretamente a sociedade
Nesse sentido, a fonte do direito, escrita que constitui a lei pode ser imediata
(primária) – constituídas pela Constituição Federal, as Emendas à Constituição e a
Lei no Sentido Estrito que pode ser uma Lei Complementar, uma Lei Ordinária ou
uma Lei Delegada; ou mediata (secundária) – constituídas por todas as demais
formas legislativas existentes.
A composição da lei em seu sentido formal possui três critérios para sua definição
a generalidade e abstração: indica que a lei prevê uma situação hipotética para
destinatários desconhecidos, devendo ser generalista portanto. A Declaração
Universal do Homem e do Cidadão de 1789 proclama o princípio da igualdade de
todos perante a lei em seu artigo 6º: “a lei deve ser a mesma para todos, quer ela
proteja, quer ela castigue”. Mas vimos que se este fosse o critério, algumas leis
poderiam ser inconstitucionais. Assim, os melhores critérios são:
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a) origem: quando criada pela instituição responsável por esta função – o Poder
Legislativo. Sua origem é um processo legislativo rígido na forma
constitucional.
c) instrumento: uma lei imediata, primária de sentido estrito ou formal deve ser
escrita, para que assim seja do conhecimento de todos – positivada (posta) – é
o que preceitua a Decreto-Lei de nº 4657, de 1942, chamada de Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB) em seu artigo 3º:
“Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”.
INCISOS: são elencados por números romanos. Eles servem para detalhar a
informação trazida pelo caput do artigo.
ALÍNEAS: representadas por letras minúsculas do nosso alfabeto. Elas servem para
enumerar as informações do artigo.
87
Vamos dar uma olhada nas alíneas do parágrafo primeiro do artigo 72 da Lei n.º
5.869, de 11 de janeiro de 1973 que regulamenta o Código de Processo Civil:
constitucional é diferente do normal para uma lei, devendo ser mais rígido e especial
nos termos do artigo 60 do texto constitucional:
Além disso, o alcance do poder de emenda é limitado, não podendo abolir as normas
fundamentais da ordem constitucional, as denominadas cláusulas pétreas dispostas
no § 4º do artigo 60 da Constituição Federal.
[...]
[...]
Entre os anos de 1988 e 2001 foram emitidas 6.110 medidas provisórias, o que levou
o legislativo a repensar a modalidade, instituindo a Emenda Constitucional de n. 32
em 2001, e com essa limitação entre os anos de 2001 e 2013 foram editadas apenas
626.
2) – JURISPRUDÊNCIA
Uma única decisão judicial não pode ser considerada como fonte de direito, pois em
nosso ordenamento apenas as decisões reiteradas sobre determinado tema podem vir
a ser consideradas como fonte do direito.
A conduta a ser considerada, deve criar uma linha harmônica de decisões dos
tribunais ao ponto de sobrepor à letra escrita do direito dos textos judiciais.
94
A jurisprudência tem sua origem nos julgados que geram uma sentença ou acórdão.
SENTENÇA
Em todas as sentenças o juiz declara quem tem a razão. E além disso constitui ou
desconstitui a relação jurídica, ou impõe à uma das partes a obrigação de dar, fazer
ou deixar de fazer alguma coisa. A decisão judicial é vinculante as partes
processuais.
A Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 que institui o Código de Processo Civil em
seu artigo 162, § 1°, em redação atribuída pela Lei n.º 11.232 de 2005, conceitua
sentença da seguinte forma:
Nesse sentido, pode se compreender que o artigo 267 do mesmo diploma cuida da
extinção do processo sem resolução de mérito – isto é, sem examinar os pedidos.
Enquanto que o artigo 269 fala da apreciação do mérito em busca de uma resolução
para o caso.
Isto significa dizer que temos duas espécies de sentenças: as terminativas – quando
não apreciam o mérito como disposto pelo artigo 267 complementado pelo artigo
301 do mesmo diploma; e as sentenças definitivas – quando o mérito é apreciado
podendo esta ser: declaratória, condenatória ou constitutiva, como disposto pelo
artigo 269.
95
Sentença Terminativa:
Sentença Definitiva:
Além de ser declaratória e criar uma nova situação jurídica antes inexistente,
portanto constitutiva, resulta na formação de um título executivo judicial. O juiz não
apenas declara existência de um direito, mas também concede a uma das partes a
possibilidade de utilizar-se da sentença para fazer ser reconhecida sua realidade.
Possui o efeito ex tunc, uma vez que, retroativos ao momento do início da ação.
Podendo ser mandamental, quando o juiz emite uma ordem, um comando, que visa a
efetiva satisfação de seu direito – como ocorre nas obrigações de fazer ou não fazer.
E também pode ser uma executiva, em que não há a necessidade de uma fase
executória de sentença, como por exemplo, na entrega da coisa, quando o réu não
entrega por si mesmo, e o estado em mandado de busca e apreensão de coisa, o faz
em seu lugar de acordo com o poder da sentença condenatória executória.
ACÓRDÃO
É uma decisão final ou sentença que, quando atribuída por uma instância superior,
vale como um modelo para resolver casos ou situações análogas. Os acórdãos são
proferidos por órgãos colegiados de Tribunal, ou seja, todos ou a maioria devem
entrar em acordo para que a decisão seja aprovada. Não é caracterizado por decisões
monocráticas e sim colegiadas.
SÚMULAS
Porém, uma súmula não é vinculante, uma vez que a sociedade é mutável e os
entendimentos sobre a interpretação do direito também podem ser alterados.
Atualmente, apenas em sede máxima de órgão do poder judiciário, o Superior
Tribunal de Justiça emitiu 500 súmulas e o Supremo Tribunal Federal o quantitativo
de 735.
3) – DOUTRINA
Toma-se por exemplo os pareceres dos juristas Miguel Reale e de Ives Gandra
Martins sobre o a admissibilidade de impeachment da atual Presidente da República.
http://s.conjur.com.br/dl/parecer-ives-gandra-impeachment.pdf
1) – COSTUMES JURÍDICOS
Os princípios gerais do direito são regras consagradas no direito e podem ter como
substrato o direito comparado, a história do direito, institutos jurídicos, princípios
não positivados, valores sociais e realidades consuetudinárias.
Devem ser genéricos e abstratos, não determinando quem vem a ser o titular de sua
pretensão, e também se condicionam a regra da ponderação quando se está em
conflito com outro princípio.
A interpretação do direito é que revela os princípios gerais do direito, mas por vezes
estes podem estar manifestamente escritos no texto normativo de forma explícita
como ocorre nos artigos 1º. a 4º. da Constituição Federal:
I - a soberania;
II - a cidadania
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
104
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
105
3) – VONTADES INDIVIDUAIS
Em sede contratual, dois particulares podem negociar seus direitos de acordo com o
mínimo formal exigido pelo ordenamento jurídico, mas com livre arbítrio e
autonomia de vontades contratuais.
4) – ANALOGIA
Percebe-se que o problema da aplicação analógica não está na averiguação das notas
comuns entre o fato-tipo e o não previsto, mas sim em verificar se essa coincidência
sobreleva, em termos valorativos, de maneira a justificar plenamente um tratamento
jurídico idêntico para os fatos ora em exame.
5) – EQUIDADE
Com efeito, prescreve o art. 5º da Lei de Introdução ao Código Civil: “na aplicação
da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem
comum”, com isso reconhecendo a validade da lógica do razoável no
estabelecimento de critérios de valoração para a aplicação da norma, não podendo
deixar de se estender ao uso da analogia e da equidade.
107
Direito Objetivo:
Direito Subjetivo:
“Direito é aquilo que alguém pode fazer, exercendo uma faculdade (direito de votar),
exigindo uma prestação (direito do vendedor de receber a quantia sobre a
mercadoria) ou omissão (exigir silêncio dos vizinhos após a meia-noite)”.
Uma das classificações que a Teoria do Direito criou para os direitos subjetivos foi a
de Direitos Públicos e Direitos Privados.
111
privus e polis
CRITÉRIOS DE DEFINIÇÃO
DIREITO PÚBLICO
DIREITO PRIVADO
Direito Civil
Direito Empresarial
Direito do Trabalho
Direito Agrário
14. Categorias Jurídica: sujeito de direito, fato, ato, relação e negócio jurídico
FATO JURÍDICO
Ato de vontade humana que gera consequências previstas pelo ordenamento jurídico.
A Redação de um testamento (CC, art. 1.857)
Omissão do sujeito de direito que acarreta sanções quando viola um dever de agir.
O eleitor que não votar está sujeito a sanções e multas (CE, art. 7º)
118
ATO JURÍDICO
“Todo o ato lícito, que tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir,
modificar ou extinguir direitos, se denomina ato jurídico” (CC, art. 81). O ato
jurídico é produto da conduta humana, sem que seja necessária a manifestação de
uma vontade concreta e explícita. Assim, seria uma categoria de Fato Jurídico.
Porém, o ilícito ou ilegal não se situa fora do direito, isto é, os atos jurídico
constituem uma ampla categoria de manifestações da ação humana com interesse
jurídico, englobando tanto condutas aprovadas pelo ordenamentos jurídico (atos
jurídico lícitos) como condutas reprovadas negativamente sancionadas (atos ilícitos)
Podem ser unilaterais (testamento), bilaterais ou multilaterais (locação ou sindicato),
ou atos de direito público ou de direito privado.
RELAÇÕES JURÍDICAS
NEGÓCIO JURÍDICO
Indica uma subcategoria de relações jurídicas e uma subcategoria dos atos jurídicos
lícitos, definida como qualquer estipulação de consequências jurídicas, realizada por
sujeitos de direito no âmbito do exercício da autonomia privada. Seu fundamento é a
manifestação de vontade das partes, isto é, dos sujeitos de uma relação jurídica.
Contrato de compra e venda é fundamentada na autonomia das vontades. As
características de um negócio jurídico devem ser o que está previsto em lei:
I- Agente capaz;
II- objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III- forma prescritaou não defesa em lei
Podem ser:
típicos e atípicos
bilaterais, multilaterais e unilaterais
solenes e informais
causais e abstratos
a título oneroso e a título gratuito
patrimoniais e não patrimoniais
120
A tridimensionalidade do Direito
Três amigos leram no jornal que uma jovem de 19 anos, separada, mãe de
três filhos, que ganha um salário mínimo trabalhando como empacotadora nas Casas
Turquia, foi condenada pelo 1º. Tribunal do Júri de João Pessoa a três anos de prisão
por ter cometido aborto.
Um dos amigos que estudava Direito, afirma que o aborto constitui crime
contra a vida, punível segundo o art. 124 do Código Penal com até três anos de
prisão. Nesse sentido considera a punição certa, já que o Tribunal do Júri aplicou
corretamente a lei.
O segundo amigo discorda. Sustenta que a condenação foi injustificada,
porque a lei sobre o aborto quase nunca é aplicada. Conta que o irmão, formado em
Sociologia, escreve inclusive, uma monografia sobre o assunto; realizando uma
pesquisa empírica, constatando que entre 1.500 mulheres que realizaram o aborto em
uma clínica particular no período de um ano, nenhuma foi acusada de praticar o
delito. Assim sendo, considera “um absurdo” a condenação da mulher. Não é este o
anseio da sociedade sobre esse tipo de prática.
O terceiro amigo, professor de Filosofia do Direito, diz que o problema é de
cunho filosófico, envolvendo reflexões sobre o moralmente certo e errado. Não
interessam o conteúdo da lei, nem a impunidade que se constata na prática. Deve-se
refletir sobre a justificativa da decisão de realizar o aborto. Ninguém pode tirar a
vida de um ser humano e o feto é potencialmente um ser humano. Mas, ao lado do
desse princípio, devemos considerar a dignidade da pessoa humana. O Tribunal do
Júri condenou uma jovem que realizou o aborto porque não tinha condições de
oferecer ao filho uma vida digna. Decidiu de forma unilateral, ignorando o princípio
da dignidade da pessoa humana e a falta de assistência social no país. Houve uma
injustiça já que o problema resolveu-se segundo a letra da lei e não segundo as
exigências da justiça.
O aluno de Direito admite que o problema é filosófico. Mas observa que já
leu vários livros de filósofos sobre os problemas morais e não chegou a uma
121
conclusão objetiva. Por isso, é necessário ter uma norma jurídica fixa e clara que
oriente as pessoas na vida prática, devendo ser seguida, mesmo quando se revela a
problemática.
O irmão sociólogo sustenta que isso está totalmente fora da realidade e acusa
o amigo de ter se tornado um alienado pelo estudo do Direito e acreditar cegamente
na lei. Insiste que uma lei que não é efetivamente aplicada não passa de um pedaço
de papel, frio e morto.
O jusfilósofo diz que os dois outros esquivam-se de suas responsabilidades
como cidadãos, não querem pensar com a própria cabeça nem assumir
responsabilidades e, por isso, invocam a lei e a realidade social. E aí então, começa
uma briga com acusações ideológicas. Mas quem tem a razão ?
A proposta da Teoria Tridimensional elaborada pelo jus filósofo Miguel
Reale, a primeiro momento foi visto como uma forma de alcançar uma visão integral
do Direito, ultrapassando algumas das visões e explicações unilaterais aprofundadas
por alguns grandes nomes já citados anteriormente. Essa então “nova teoria” se
tornou uma forma inovadora de abordagem da ciência jurídica através de três
aspectos conhecidos como normativo, onde se percebe o Direito como ordenamento;
o fático, com a afetividade histórica e social, e por fim, o valor.
Para uma melhor compreensão sobre o surgimento da teoria
tridimensionalista, faz-se necessário uma rápida análise conceitual a cerca dos
significados isolados destes elementos.
O valor, considerado não como um objeto ideal, mais como um dever ser,
situado num plano prático e ligado a uma ação.
O fato, capaz de revelar as intencionalidades objetivas de um determinado
lugar ou época, é compreendido não como um mero fato natural, mas sim sempre
imantado por um valor.
A norma descreve os valores que vão se concretizando na condicionalidade
dos fatos sociais e históricos.
Percebe-se, então, que a tridimensionalidade explica que os fatos geram
juízos de valores que demandam normas para regulamentá-los. Sendo assim, para o
eminente jurista Miguel Reale, o Direito não é abstrato, pois também está imerso na
vida humana, que é um complexo de sentimentos e estimativas.
122
Só para finalizar, poderíamos ainda enfatizar que essa nova teoria nos trás
contribuições positivas, uma vez que nos remete a pensar em novas “teorias das
fontes do direito”, não superadas, mas complementar pelas “teorias do modelo de
direito”.
Analisando dentro de uma perspectiva geral os vários conceitos colocados
neste artigo e relacionando, apenas de forma simbólica, com a tridimensionalidade
de Reale, se pode perceber que este rompe com a unilateralidade criadas pelos jus
filósofos que buscam e se baseiam em um único elemento, como forma de
compreensão e interpretação o direito.
Afirmar isso não significa, porém, dizer que estes autores estão interpretando
o direito de maneira incorreta, mas sim que os mesmos acabam supervalorizando um
único elemento, seja ele o fato, seja ele o valor ou somente a norma, para se chegar
ao caso concreto. Enquanto que Miguel Reale vai unir todos os elementos mostrando
que a junção dos mesmos pode ainda dar um maior sentido ao significado e
interpretação das leis.
Pensar o direito pelo viés jusfilosófico é o embrião do tema proposto por este
projeto de doutoramento. Partindo de uma concepção da teoria socialista do direito,
em específico do teórico russo do direito estalinista Andrej Wyschinsky, o direito
seria:
Não há outra saída que não leve a uma reflexão profunda: qual a função
social do direito? O direito promete a paz, a segurança, o bem estar e a justiça.
123
Aristóteles ocorre uma confusão entre Direito e justiça. O direito é a justiça que,
assim, age de forma justa, ao tratar os iguais de forma igual. Ainda na Grécia, surge
o Estoicismo voltado ao Jusnaturalismo – O Direito provém das leis naturais, que
são válidas mesmo sem o respeito do Estado e dos homens a elas.
Na Roma, do Ocidente Ulpiano aborda o ius gentium e o ius civilie ao
afirmar que além do Direito natural igual para todos existe o Direito das gentes –
individual – e quando vive-se em coletividade o da sociedade, na Roma do Oriente
Celso trata o Direito de forma equânime, como arte do bem e do justo, o Direito
corresponde aos princípios da sociedade; esse pensamento permanece até a Idade
Média, pois o fim do Império Romano acarreta a formação do Direito Feudal
consagrado até a metade da Idade Média quando a Igreja impõe-se e faz aparecer o
Direito Canônico; da metade para o final da Idade Média volta-se para a reflexão
sobre o Direito como por exemplo Tomás de Aquino, que ao reforçar o papel da
Igreja da constituição de seus mandamentos como o Direito; por sua vez garantidos
pelo Estado de forma positivada reforça o papel do Estado - Juspositivismo – ao
tentar resolver o embate entre Igreja e Estado.
Uma nova fase de pensamento nomeada de Renascimento fez acender linhas
de raciocínio como a de Thomas Hobbes para ele o Direito é imposto pelo Estado
de acordo com o contrato social, sendo que os homens devem submete-se a essa
soberania estatal, ou seja, ao Direito do Estado. Para Samuel vön Pufendorf, a
liberdade humana é o conteúdo do Direito e que deve ser limitada pela lei –
legalidade – de acordo com o Contrato Social. Em Baruch Spinoza, o Direito é o
domínio do mais forte – o absolutismo – que impõe as leis, ou seja, o Estado e essa é
a visão do Direito até o fim do Renascimento.
Com Jean-Jacques Rousseau, o iluminista, a idéia do constitucionalismo
encaminha-se, o Direito deve expressar a soberania do povo, garantir a ordem e a
segurança jurídica, sem anulas as liberdades. Assim, o contrato social é a expressão
da vontade geral da sociedade. Na visão moderna e Immanuel Kant resgata a
jusfilosofia grega, desenvolve o racionalismo jurídico no qual o Direito é a expressão
da moral coletiva enquanto soma das morais individuais sancionadas pelo Estado
fruto do imperativo categórico, uma espécie de regra geral baseada na assertiva:
“Não farei aos outros o que não desejo que os outros façam comigo”.
As vertentes científicas do Direito, definiram: Georg Wilhelm Friedrich
Hegel – O estado é a liberdade humana e a moralidade, dessa forma, o Direito
Moderno é a liberdade plena – o liberalismo exegético – definida e garantida pelo
126
Estado. Carl Magnus Bergbohn, diz que o Direito não possui forma jurídica
atribuída pelo Estado, ele não é Direito, para ser Direito deve estar formalmente
positivado pelo Estado.
Hans Kelsen, com base no normativismo jurídico, o que é o fundador,
advinda da existência de um sistema de normas vigentes em determinada época e
território específicos, demonstra a força do Direito mostrando-se como organização
da força e da ordem por meio da coação.
A vertente crítica do Direito Contemporâneo sustenta-se com autores como:
Friedrich Carl vön Savigny, para quem o Direito é um produto histórico –
historicismo casuístico – produzido por uma consciência coletiva formada pelas
tradições e costumes dos povos. Em Eugen Ehrlich, o Direito não é exclusivo do
Estado, devendo ser reconhecido pela sociedade, pois dela depende – sociologia
jurídica. Evgeny Pachukanis, aborda o marxismo jurídico para compor o Direito
como fruto da sociedade burguesa que efetiva uma falsa legalidade, uma utópica
democracia e idéia de liberdade e igualdade que correspondem ao capitalismo e não
ao Estado de Direito.
Robert Alexy, Ronald Dworkin, Georg Gadamer e Ludwig Wittgenstein,
afirma que o direito é vinculado aos preceitos morais e nos axiomas da sociedade,
visto da perspectiva da hermenêutica filosófica, a teoria da argumentação e da
retórica do Direito; o significado das coisas é dado na forma do Direito, um
significado jurídico quando transformado em fenômeno jurídico. Outro crítico do
Direito é Eros Grau que assim como Günther Teübner, Niklas Luhmann e
Boaventura de Sousa Santos, formam um pensamento sistêmico do Direito, no qual
o Direito é um sistema normativo provindo de um Direito posto – o ideal – e de um
Direito pressuposto – o real. Que pode ser ou não reconhecido pela sociedade em seu
contexto.
Seguindo essa linha crítica, Josef Kohler, ensina que o ordenamento jurídico
encontra-se em permanente fluxo – mutação. Dimitri Dimoulis, afirma que o Direito
é um conjunto de normas que buscam – não necessariamente conseguem –
regulamentar o comportamento humano na sociedade. Bruno Salama, vai afirmar
que o Direito é uma complexa arte e regulamentar a vida humana em sociedade. Ou
então, numa visão romanista do Direito, lúdica, afirma Flávio Bruno que o Direito é
a arte da prudência, no sentido de buscar a promoção da justiça e a efetivação da
democracia.
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