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de um dicionário português-tupi
do período pombalino1
Cândida Barros
Museu Emílio Goeldi
Abstract
A Portuguese-Tupi dictionary prepared in Belem in 1771 is analysed
in the context of the linguistic policy of Pombal’s government in
Amazonia, and is compared to Tupi vocabularies compiled in the
Jesuit period. By these two means, we will examine whether the
Jesuits continued to serve as a reference during the Pombal period
for the evangelisation policy in the colony and for the descriptive
model of Tupi.
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OBJETIVOS
OBJETIVOS
do tupi para a região do Rio Negro, a qual se sabe ter sido ocupada
no período pré-colonial por grupos não-tupi, como tukano e aruak
(GUZMÁN, s.d.). Entre os religiosos que foram enviados para a
Capitania do Rio Negro estava o Padre Noronha (1727-1794). Nativo
do Pará, ele tinha sido aluno dos jesuítas e era ao seu tempo um dos
membros do clero secular mais habilitado em tupi. Padre Noronha
foi vigário geral e visitador naquela região por cerca de 14 anos.
Outro religioso que atuou ali foi o Padre Manuel das Neves, um
jesuíta que havia sido expulso da ordem e se tornou padre secular.
Os dois padres indicam a permanência de religiosos bilíngües, na
região, familiarizados com a evangelização dos jesuítas.
1.2.2. Inquisição
QUADRO 1
Comparação de alguns itens lexicais do campo religioso
entre dois dicionários e um catecismo tupi
Dicionário de 1750 Dicionário de 1771 Catecismo de
Bettendorff (1687)
Artigos da Santa Madre Artigos da Jandé remi Os artigos da fé são
fé Igreja recó fé robiá rama. quatorze. Catorze ace)
rerobiaçára remierobiarâma
(Bettendorff, 7)
Adam Jandé Paya Adam Jandé Pay Nosso primeiro pay Adão.
Adam ypy. Ace rûbypy Adã
Ace Paý (Bettendorff, 39); Iande
ypy. rûbypy Adam
(Bettendorff, 46)
Dia de Motuú oçú Páscoa Mutuú Páscoa. Areté-guaçú
Páscoa goaçú. (Bettendorf, 88)
Aréte goaçú.
Na comparação entre os dicionários de 1771 e 1750, verificou-
se que o primeiro é mais extenso no campo religioso. Entre os 6.877
verbetes da obra de 1771, levantamos cerca de 248 entradas que
comporiam o léxico especializado da evangelização. Em número
absoluto, o dicionário contemporâneo ao Diretório possui mais
entradas para este campo semântico do que o dicionário de 1750,
contemporâneo à presença dos jesuítas (189 verbetes). Esse resultado
é um indício de que o autor e seus possíveis leitores fossem do
mundo eclesiástico, substitutos dos jesuítas nas antigas missões.
QUADRO 4
Exemplo da forma de subcategorizar os verbos em Bluteau e nos
dicionários tupi
Bento 1771 1751 1750 1739 1740 [<1757] 1622
Pereira
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
lavando lavando2 lavando lavando
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
esfregan- esfregan- esfregan- esfregan-
do do do do
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
varrendo varrendo varrendo varrendo
Alimpar
sacrifi-
cando
Alimpar Alimpar Alimpar Limpar
espanan- espanan- espanan- de po
do do do
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar Limpar
desenfer- desenfer- tirar da da de
rujando rujando ferrugem ferrugem ferrugem ferrugem.
Alimpar Alimpar
a alma a alma
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
vg. arroz arroz arroz arroz
Alimpar
arvores
Alimpar Alimpar Alimpar
o mato o mato o mato
por baixo por baixo por baixo
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
de pedras de pedras de pedras de pedras
Alimpar Alimpar Alimpar Alimpar
poindo poindo poindo puindo
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8.000
7.000 n.º de verbetes
(total)
6.000
5.000
4.000
3.000
2.000
1.000
0
1622 [1740- 1771
1757] [1751]
350
300
250
200 n.º de verbetes em B
150
100 n.º de verbetes em B com
variação
50
0
1622 [1740- 1751 1771
1757]
3. A TÍTULO DE CONCL
TÍTULO USÃO
USÃO:: DIFERENÇAS E SIMILITUDES
CONCLUSÃO
ENTRE GOA E AMAZÔNIA EM TERMOS DE POLÍTICA
LINGÜÍSTICA POMBALINA
Na primeira parte do trabalho, apontamos as divergências entre
a administração pombalina e a Igreja em relação a qual língua se
deveria usar na evangelização dos índios. A administração defendia
o uso da “língua do príncipe”, enquanto a Igreja mantinha, na sua
prática diária, o modelo de evangelização jesuítica. Essa continuidade
ocorreu pelo uso do mesmo material catequético e pela opção de
converter em tupi, mesmo nas regiões onde não havia grupos desta
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NOTAS
NOT
1
Trabalho apresentado no Segundo Seminário Internacional sobre Lingüística
Colonial-Missionária (março de 2004, USP). A pesquisa recebeu apoio do CNPq
para sua realização. Agradecemos ao Prof. Dieter Messner a disponibilização de
trechos do Dicionário dos Dicionários, assim como de seus comentários. Sheila
Rodrigues colaborou na comparação entre os dicionários tupi.
2
A forma presente no manuscrito deste dicionário é cavando, porém, na tradução
em tupi, encontramos a mesma forma empregada nas demais obras para o verbete
“alimpar lavando”. Assim, interpretamos esse caso como um equívoco do autor
do dicionário.
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