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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Escola Superior de Educação Física


Bacharelado em Educação Física

Trabalho de Conclusão de Curso

As práticas corporais sob uma perspectiva holística

Mariana Alvariz Lopes

Pelotas, 2018
Mariana Alvariz Lopes

As práticas corporais sob uma perspectiva holística

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Escola Superior de Educação Física da
Universidade Federal de Pelotas, como requisito
parcial à obtenção do título de Bacharel em
Educação Física.

Orientador Prof. Dr. Márcio Xavier Bonorino Figueiredo

Pelotas, 2018
Mariana Alvariz Lopes

As práticas corporais sob uma perspectiva holística

Aprovado em: ......./......./........

Banca examinadora:

...............................................................................................................................
Prof. Dr. Márcio Xavier Bonorino Figueiredo (Orientador), Doutor em Educação e
Filosofia pela Universidade de São Paulo.

...............................................................................................................................
Prof. Dr......................... Doutora em ...................pela Universidade ................

...............................................................................................................................
Prof. Dr......................... Doutora em ...................pela Universidade ................

...............................................................................................................................
Prof. Dr......................... Doutor em ...................pela Universidade ................
“O corpo é o inconsciente visível.” (Alexander Lowen)
Agradecimentos

Sinto-me profundamente grata pela energia e inspiração que me levaram a


desenvolver este trabalho.
Agradeço às leis que regem o Universo.
Aos meus pais, pela vida e imensa influência na construção da minha base.
Por todo amor e amparo, sempre. Por serem parte de mim.
As minhas avós, sempre presentes e dispostas a acolher, dar suporte, amor e
ferramentas pra que a minha caminhada e a de meus irmãos tenha um sabor mais
doce e os passos sejam mais confiantes!
Aos meus irmãos, Amanda e Gabriel, por tanto amor, afeto e
companheirismo. Por sermos família. Aos meus, de coração.
Agradeço por cada experiência e por cada contribuição que somou neste
trabalho, de alguma forma.
Ao meu orientador Márcio, por ter sido peça fundamental pra que eu pudesse
ver a Educação Física com outros olhos e acreditar em outras e novas
possibilidades.
Agradeço aos meus amigos e mestres Antônio e Alessandra por difundirem a
Psicologia Corporal com tanto amor e entrega. Por despertar e manter aceso em
mim um encantamento sem fim pelas novas formas de perceber e sentir a vida. Por
todo o apoio!
Agradeço ao meu violão, companheiro terapêutico que tanto reabastece os
meus sonhos e me inspira a criar novas realidades.
Agradeço por tudo que foi até este momento. Pelo movimento da vida, com
toda a sua magia!
Resumo

O presente trabalho surge de uma reflexão e percepção sensíveis sobre a


linguagem do corpo. Traz a possibilidade de ver e compreender o indivíduo de forma
integral, traçando uma relação entre as esferas física, mental e emocional.
Especialmente apoiado sobre o trabalho do psiquiatra e psicanalista Wilhelm Reich e
suas vertentes terapêuticas, esta pesquisa apresenta o sentido do termo holístico e
como ele se revela, na prática, ao se analisar o desenvolvimento e a história de vida
de cada pessoa. Trata-se de um mergulho mais profundo e abrangente no que se
refere ao corpo como campo bioenergético pulsante. Sob um olhar somático,
desbravando o complexo Universo do corpo enquanto reflexo de um todo indivisível,
este estudo pretende ampliar a percepção sobre as práticas corporais, suas
influências e significações enquanto mobilizadoras de energia vital (bioenergia) e
possíveis pontes para o acesso a materiais psicoemocionais profundos, revelando-
se ferramentas de imenso potencial transformador.

Palavras-chave: Alexander Lowen; Bioenergia; Corpo; Educação Física; Energia


vital; Holismo; Orgone; Práticas corporais; Psicossomática; Wilhelm Reich.
Abstract

The presente work arises from sensible reflections and perceptions about body
language. It broaches the possibility of seeing and understanding the individual as a
whole, connecting the physical, the mental and the emotional spheres. The research
is based on the work of the psychoanalyst and psychiatrist Wilhelm Reich, presenting
the meaning of the term holisticand what it turns out to be, in practical terms, when
used to analyze the development and the life story of each person. It is a deeper dive
and a wider look the body as a pulsant bioenergetics field. In a somatic perspective,
venturing in the complex universe of the body as a reflex of an indivisible whole, this
study aims to enlarge the perception of bodily practices – their definitions and
influences – as mobilizers of vital energy (bioenergy) and as bridges to deep psycho-
emotional material. Accordingly, the bodily practices are here presented as tools of
high transforming potential.

Keywords: Alexander Lowen; Bioenergy; body; Physical Education; Vital Energy;


holistics; Orgon; bodily practices; psychosomatics; Wilhelm Reich.
Lista de Figuras

Figura 1 – Segmentos da couraça neuromuscular……………………. 19

Figura 2 – Exercício Grounding, da Bioenergética ……………………. 32


Sumário

1. Introdução .............................................................................................. 09
2. Revisão Bibliográfica............................................................................ 12
2.1 Uma história escrita no corpo ............................................................ 12
2.2 A energia vital .................................................................................... 14
2.3 O corpo vivo...................................................................................... 20
2.4 A respiração como ponte .................................................................. 27
2.5 As Psicoterapias Corporais e suas práticas ..................................... 30
3. Considerações Finais............................................................................ 36
Referências……………………………………………………………………...... 39
9

1. Introdução

A palavra Holística vem do grego Holos, que significa todo, inteiro.


Refere-se ao conjunto, à totalidade em sua relação com as partes, à inteireza
do mundo e dos seres (PIERRE, 1990).
Segundo Teixeira (1996), o paradigma holístico emergiu de uma crise da
ciência, uma crise do formato cartesiano-newtoniano, que postula a
objetividade, a racionalidade e a quantificação como únicos meios de se
alcançar o conhecimento. No que se refere à saúde, o mesmo autor defende
ainda que, por ser holística, esta precisa ser analisada e estudada como um
grande sistema,

um fenômeno multidimensional, que envolve aspectos físicos,


psicológicos, sociais e culturais, todos interdependentes e não
arrumados numa sequência de passos e medidas isoladas para
atender cada uma das dimensões apontadas (TEIXEIRA, 1996,
p. 289).

Da Mata (1993) comenta que o racionalismo é predominante na cultura


moderna e que essa visão racional do homem enfoca e deposita um valor
maior à mente. O corpo, secundário, serviria apenas como sustentação. No
entanto, a visão unicista não admite que determinadas funções tenham
supremacia sobre outras. O autor defende que o funcionamento humano
acontece de maneira integrada e tudo se relaciona de forma coerente e
unificada. A compreensão unicista baseia-se na ideia do indivíduo como sendo
um Universo em si próprio: uma experiência complexa e ao mesmo tempo
completa.
Na área da saúde, em geral, podemos notar uma abordagem
fragmentada, que analisa e estuda o ser humano de forma mecânica,
reducionista, dividindo o todo complexo em partes desintegradas – construindo
uma compreensão limitada do desenvolvimento do Ser.
Durante a graduação no curso de Educação Física (Pelotas/RS),
deparei-me com esse fato no cotidiano, dentro da maior parte das disciplinas
(geralmente vistas de forma isolada) e na forma com que o conhecimento é
difundido. Disciplinas voltadas a uma compreensão mais integral do corpo e
10

seu funcionamento, com dinâmicas de maior contato afetivo eram escassas e,


em geral, desvalorizadas. Percebia uma certa resistência dos alunos (inclusive
de minha parte) ao desenvolver as atividades propostas. Porém, apesar de me
deparar com uma espécie de barreira protetora que dificultava a minha entrega
durante aquelas práticas aparentemente “excêntricas”, havia dentro de mim
(quiçá, justamente pela percepção dessa defesa coletiva que se instaurava)
uma curiosidade, um ponto de interrogação - uma vontade de ir além e, de fato,
sentir naquelas vivências uma esfera mais humana, a verdade nua que surge
da vulnerabilidade.
Ao observar as aulas de anatomia, baseadas em cadáveres e suas
partes, podemos perceber o distanciamento que há na nossa compreensão da
saúde em comparação com as abordagens holísticas, das chamadas
medicinas alternativas e suas vertentes terapêuticas. Tratamentos e terapias
que abordam o fluxo energético do corpo e reconhecem o contexto holístico do
qual somos parte, analisam o corpo vivo, em movimento e expressão,
considerando os aspectos mais sensíveis e sutis que formam o nosso sistema
vital. Como exemplo, cito a Acupuntura, o Reiki, o Yoga ou as Psicoterapias
Corporais. Estas últimas serão especialmente abordadas neste estudo, por
acreditar que possuem estreita relação com a proposta deste trabalho.
Imersa em reflexões e cada vez mais inclinada a buscar entendimentos
que ultrapassassem a barreira tradicional-mecanicista do formato de ver e
estudar o corpo humano, encontrei diversas vertentes das chamadas
Psicoterapias Corporais, desenvolvidas com base nos estudos do médico
psiquiatra e psicanalista Wilhelm Reich. Posteriormente, encantada com cada
descoberta e com toda a nova visão que se abria a minha frente, aproximei-me
dessa linha de estudos através do curso de formação em Psicologia Corporal,
na cidade de Porto Alegre (RS), o qual baseia-se especialmente na
Psicoterapia Corporal Reichiana, que será base do material discutido ao longo
deste estudo.
Ao aprofundar-me em sua obra, concluí que Wilhelm Reich foi um
grande visionário, um observador e pesquisador que sensivelmente
ultrapassava os limites mecanicistas e enrijecidos da forma (ainda hoje) comum
de se ver e perceber a vida sem, no entanto, buscar explicações místicas para
os conteúdos que surgiam em sua prática clínica e experimentos. Reich referia-
11

se a seu método de trabalho e pensamento como funcionalismo energético ou


funcionalismo orgonômico, que seria uma manifestação vital do animal humano
não-encouraçado e que esse método considera, critica e modifica a civilização
mecânica e mística dentro da perspectiva das leis da matéria viva e não da
perspectiva da igreja, do Estado, da cultura, economia etc (VOLPI & VOLPI,
2003).
Pretendo, através deste estudo, despertar reflexões sobre o corpo
enquanto vida pulsante; sobre o papel e a influência de quem exerce uma
profissão ligada à saúde e estuda sobre o corpo em movimento. Um repensar
sobre o ser humano e suas infinitas possibilidades: o ser e o estar em
constante reestruturação. Espero que esta revisão bibliográfica contribua com a
expansão do pensamento, com o tesão da busca e o encontro
surpreendentemente mágico com novos entendimentos, sentires e
experimentações.
12

2. Revisão Bibliográfica

2.1 Uma história escrita no corpo

“Nossa experiência desenvolve estrutura e nossa estrutura limita a


nossa experiência” (LUCE apud SCARPATO, 2006, p. 50).
De acordo com Sposito (2008), o desenvolvimento humano ocorre em
etapas progressivas que entrelaça as dimensões física, cognitiva, psico-social
e energética. “O entrelaçamento de vidas forma um padrão energético,
psíquico e corporal ao longo do tempo, forma uma teia geracional que
determina o movimento expressivo das inter-relações” (DE PAULA, 2014, p. 2).
Segundo Martins (n.d.), o indivíduo se desenvolve dentro de um
processo que ele chama de formativo. Nesse processo, pensar o corpo vai
além da visão simplista de um conjunto de sistemas de padrões biológicos e
ultrapassa até mesmo a finalidade sociocultural. O corpo guarda registros,
marcas de uma história e possibilita experiências subjetivas. O mesmo autor
diz ainda que atuamos diante dos acontecimentos à partir de uma estrutura
somático-emocional, que não é fixa e pode ser reformulada. O corpo pessoal,
segundo o mesmo autor,

trata-se da singularidade psíquica e física. Esse fato se revela


em nosso código genético, bem como na organização corporal
individual, que identifica o indivíduo como um ser
absolutamente único. Respondemos corporal-emocionalmente
a cada experiência, conforme nossa história de vida
(MARTINS, n.d, p. 6).

Todo conhecimento – inclusive o de si mesmo – passa pelo corpo. O


corpo está envolvido no processo de compreender, recordar, individualizar-se
(OLIVIER apud BRANDL, 2002). “No corpo estão inscritas todas as regras,
todas as normas e todos os valores de uma sociedade específica, por ser ele o
meio de contato primário do indivíduo com o ambiente que o cerca” (DAOLIO,
1995, p.105 apud BARBOSA et al, 2011, p.1).

A mente agrupa as informações intelectuais e mesmo em suas


manifestações mais abstratas, não é separada do corpo, mas
sim, nascida dele e moldada por ele. O corpo, por sua vez,
contém a história de uma pessoa de forma que mudanças
13

psíquicas são condicionadas pelas mudanças também nas


funções corporais. Isso explica as diferentes posturas corporais
e distintos comportamentos apresentados pelas pessoas, onde
cada um possui uma forma muito particular de ser e de agir
(VOLPI, 2014, p.2).

Keleman (1996) diz que na base da identidade de cada indivíduo


encontra-se a percepção unitária do corpo. É a identidade o sentimento do
nosso Eu mais íntimo através do qual nos reconhecemos e sua função central
é “a autopercepção intransmutável que temos de nós mesmos da infância à
velhice” (KELEMAN, 1996, p. 51).
Volpi (2014) comenta que mesmo no útero o feto se comunica e faz
contato com a mãe e o mundo externo, sente e responde aos estímulos do
meio, como por exemplo, aos estresses. As sensações vão sendo registradas e
se mantêm ancoradas na memória sensorial, celular. Posteriormente, esses
registros podem vir à tona em forma de inúmeras doenças.

O corpo sente, aprende, se disciplina, se condiciona e expressa


os conflitos emocionais da mente, corporificados nos tecidos
celulares, refletidos na qualidade do tônus
muscular, expressões faciais, ritmo respiratório, postura, tom
de voz, etc. Portanto, nosso corpo é moldado de acordo com as
experiências vividas, principalmente aquelas ocorridas na
primeira infância, quando as formas que encontramos para nos
defender ainda são precárias. Esses acontecimentos muitas
vezes deixam marcas profundas e irreversíveis (VOLPI, 2014,
p. 2).

Segundo Freire (1988), a atitude muscular revela traços da repressão na


história da pessoa. Nossas emoções se encontram em partes de nossa
estrutura corporal; na respiração presa, na pélvis sem vida, na rigidez dos
músculos faciais, bem como no abdômen, tronco e pescoço, que exprimem
uma desagradável sensação de peso, dureza e perda da sensibilidade
necessária à plenitude do prazer.
Martins (n.d.) destaca que cada sociedade cria suas exigências e regras.
Então, para tentar cumprir com as mesmas, em busca de aceitação, moldamo-
nos física e emocionalmente. Durante esse processo acabamos por nos afastar
da espontaneidade e da leveza dos movimentos. Quanto mais conscientes das
formas que assumimos no mundo e de como as usamos, mais podemos nos
apropriar da identidade adquirida em cada experiência ao longo da vida.
14

De acordo com Volpi & Volpi (2003), somos educados por uma
sociedade encouraçada, por isso a educação encouraça; adapta as crianças à
igreja, à cultura, ao Estado e, acima de tudo, evita o contato com o terror que a
expressão da vitalidade infantil provoca nos adultos, os quais perderam o
contato com sua própria vitalidade e que, de alguma forma, são
constantemente lembrados disso ao lidarem com os pequenos.

2.2 A energia vital

O ucraniano Wilhelm Reich (1897-1957) foi pioneiro no estudo


laboratorial sistemático da energia que os orientais chamavam de Prana1. O
psiquiatra, pesquisador e psicanalista trouxe ao Ocidente enorme contribuição
para uma maior compreensão sobrea energia biológica específica a qual
nomeou orgone que, segundo Rodrigues (2008), era na visão de Reich “a
energia cósmica, primária e original, uma energia universal, pulsátil e excitável”
(p.114). Reich defende que a energia orgônica cósmica “funciona no organismo
vivo como energia biológica específica. Como tal, rege a totalidade do
organismo e se expressa por igual nas emoções e nos movimentos biofísicos”
(REICH, 1975, p. 362). Para Lowen (1977), “todos os processos vitais podem
ser reduzidos a manifestações desta bioenergia” (p. 33).

O orgone está presente em tudo, de forma latente ou


manifesta, em quantidades e intensidades diferenciadas. No
ser humano se apresenta como uma energia biofísica correlata
à libido e à pulsão, manifestando-se no cerne da sexualidade e
das emoções (RODRIGUES, 2008, p. 114).

Júnior (2004) esclarece que xamãs do México antigo já conheciam e


manipulavam essa energia nos chamados passes mágicos e os descreviam
como possibilidade de alcance da agilidade motriz e não enrijecimento das
cadeias musculares. Segundo eles, o corpo possuiria centenas de centros
energéticos, os quais represam a energia vital, que ao permanecer estagnada
nos tendões e articulações vai gerando um processo de tensão que,
inevitavelmente, leva o indivíduo a um enrijecimento geral e falta de vitalidade.

1
Segundo os hindus, Prana seria a Energia Vital que dá vida ao nosso corpo (MAHFUZ, 2015).
15

Essa compreensão se aproxima do que norteia as práticas corporais da linha


reichiana e suas vertentes como, por exemplo, a Bioenergética – terapia
desenvolvida por Alexander Lowen (1910-2008) – a qual será posteriormente
abordada.
A visão reichiana compreende a energia vital como sendo a mesma
energia sexual: a força que nos move pela vida e não está necessariamente ou
somente atuante no contexto de uma relação sexual propriamente dita. A
saúde depende de um saudável fluir bioenergético. Com isso, as abordagens
terapêuticas que seguem a linha reichiana preocupam-se em flexibilizar a
rigidez orgânica, que bloqueia o fluxo bioenergético, o que reflete também na
mente, afinal, soma (corpo) e psique (mente) constituem o sistema humano de
forma integrada, em constante inter-relação. De acordo com Cipullo (2002),
Reich afirmava também que o fluxo energético-emocional possui duas
possibilidades: expansão e contração. O primeiro movimento está relacionado
ao prazer e o segundo, à angústia.
Em seu trabalho psicoterapêutico, Reich desenvolveu o que chamou de
Análise do Caráter. A definição de caráter no pensamento reichiano aparece
como o conjunto de hábitos característicos da pessoa (ao jeito de sorrir, o nível
de coerência da fala, a polidez ou agressividade...). “O caráter específico de
cada indivíduo é a resultante de todas as experiências ocorridas desde a
concepção até a maturidade” (LOWEN, 1982, p.149). W. Reich percebeu que a
resistência de caráter que percebia em seus pacientes na terapia não estava
naquilo que o paciente dizia ou fazia, mas no modo de falar e agir (SILVA &
ALBERTINI, 2005).
Em suma, todo indivíduo funciona dentro do que Reich chamou de
neurose, devido a todo o contexto social e cultural ao qual estamos inseridos.
Somos neuróticos. Segundo o mesmo, existiriam dois tipos básicos de caráter:
o neurótico e o genital. De acordo com Pereira (2005), o caráter neurótico
indica uma estrutura caracterial marcada pela rigidez, pela cronificação, por
mecanismos de ação e proteção repetitivos e automáticos, que inibem as
possibilidades de mobilidade do indivíduo e, consequentemente, sua expressão
mais espontânea. E ainda, nas palavras do autor,
16

quando não se tem a possibilidade de ser autêntico, de agir


com espontaneidade, isso se registra no corpo através de
tensões musculares, ou seja, do encouraçamento.
Naturalmente, nem sempre podemos ou devemos expressar
tudo que sentimos ou pensamos, mas esta é uma situação
diferente daquela em que o indivíduo perde a capacidade de
fazê-lo e de percebê-lo. O organismo encouraçado não é capaz
de se liberar de suas próprias couraças, nem de expressar
suas emoções biológicas básicas (PEREIRA, 2005, p. 37).

De acordo com Henriques & Eisenreich (2009), o caráter neurótico é


caracterizado por um indivíduo que não consegue descarregar por completo a
carga de excitação no ato sexual, devido aos seus bloqueios - as couraças
musculares do caráter. Reich, então, ao trabalhar clinicamente com o objetivo
de dissolver (ou flexibilizar) estas couraças, desenvolveu o conceito de
Potência Orgástica:

a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer


inibições, ao fluxo de energia biológica; a capacidade de
descarregar completamente a excitação sexual reprimida, por
meio de involuntárias e agradáveis convulsões do
corpo(REICH, 1942, p. 94).

No entanto, é preciso compreender que a experiência orgástica


encontra-se fundamentalmente em todas as atividades humanas e tem a ver
com a forma com que os indivíduos operam no mundo e relacionam-se com o
prazer (CIPULLO, 2002). Para uma melhor compreensão sobre a impotência
orgástica que há em todo neurótico, Lowen (2017) comenta que

um indivíduo neurótico mantém o equilíbrio ao reter sua energia


em tensões musculares e ao limitar sua excitação sexual. Um
indivíduo saudável não tem limites e sua energia não fica
confinada na couraça muscular. Em consequência, toda sua
energia está disponível para o prazer sexual ou para qualquer
outro tipo de expressão criativa. (...) Já o baixo nível de
2
economia de energia é comum à maioria das pessoas, sendo
responsável pela tendência à depressão – fator endêmico em
nossa cultura (LOWEN, 2017, p. 9).

2
Segundo LOWEN (2017), a economia de energia de um indivíduo refere-se ao equilíbrio mantido entre
a carga e a descarga de energia ou entre a excitação sexual e sua respectiva liberação. Lowen defende
ainda que o fator econômico é uma chave importante para a compreensão da personalidade, por ter
relação com a forma de o indivíduo conduzir sua energia.
17

A abordagem reichiana defende que o indivíduo, vivenciando todas as


fases de desenvolvimento de forma plena e satisfatória teria uma estrutura
nomeada de caráter genital, no entanto, essa estruturação em nossa realidade
social seria improvável. Podemos, no entanto, alcançar momentos de
genitalidade. De maneira geral, somos todos neuróticos, orgasticamente
impotentes. Segundo Volpi & Volpi (2003), a genitalidade e a neurose são duas
formas de vida essencialmente distintas. A primeira corresponde à matéria viva
em livre funcionamento, baseada em processos naturais; a segunda
corresponde à matéria viva cujas funções plasmáticas estão bloqueadas por
uma rigidez, uma couraça automática e crônica. Os mesmos autores dizem
ainda que ter um caráter genital significa ser orgasticamente potente, isto é:

poder entregar-se sem restrições a toda possibilidade de prazer


que a vida nos oferece. Tudo isso pode acontecer se a energia,
que é propulsora da vida no corpo, for capaz de circular
livremente, sem obstáculos, à partir da cabeça em direção aos
pés e vice-versa (VOLPI & VOLPI, 2003, p.13).

Observando seus pacientes, Reich descobriu que a couraça do caráter


tinha um equivalente somático, ao qual deu o nome de couraça muscular do
caráter. Segundo Freire & Da Mata (1993), as couraças musculares podem se
manifestar tanto em contração como em flacidez musculares crônicas; regiões
corporais constante e intensamente rígidas, levando a um consumo excessivo
de energia vital, além de impedir o livre fluxo energético para outras regiões do
corpo.

Essa couraça serve, na infância, de escudo protetor a ameaças


emocionais recebidas. Na idade adulta, limitando a relação com
o mundo, a couraça impossibilita a expressão direta da
espontaneidade, da emotividade e da sexualidade (FREIRE &
DA MATA, 1993, p. 15).

Quando manipuladas em sessões terapêuticas com toques específicos,


essas contenções acabam por trazer à tona emoções e lembranças (VOLPI &
VOLPI, 2003).
Volpi & Volpi (2003) relatam que Reich mapeou o corpo em sete
segmentos ou anéis nos quais a couraça se estabelece. Estes anéis se dão em
18

forma de um cinturão envolvendo o corpo horizontalmente e compreendendo


as partes anatômicas da região envolvida, a nível de tecidos, órgãos e
músculos. Estes segmentos são, em sentido céfalo-caudal: ocular, oral,
cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico e são estruturados ao
longo da vida nessa ordem (sentido cronológico do desenvolvimento do bebê).
“Cada segmento é um conjunto de estruturas orgânicas cujo funcionamento
integrado está relacionado com determinados processos psicoafetivos e
determinados mecanismos de defesa” (JÚNIOR, 1999, p. 119).

O sofrimento afetivo crônico, a repressão dos impulsos naturais


e os eventos traumáticos da vida da pessoa, resultam em
alterações no processamento de informações e nos comandos
efetores do Sistema Nervoso Central. Isto produzirá
simultaneamente perturbações anatômico-fisiológicas
(couraças), bloqueios emocionais e bioenergéticos, conflitos
psíquicos e padrões alterados de comportamento que, em
conjunto, compõe o caráter neurótico (JÚNIOR, 1999, p. 119).

Segundo Almeida (2004) essa estrutura de couraça, composta pelos


sete segmentos citados, impede o fluxo energético natural do organismo,
levando o corpo a adotar novas posturas compensatórias, como por exemplo:
tensão no maxilar, olhos arregalados, desvios na coluna, rigidez ou flacidez
muscular localizada, ombros caídos etc.
De acordo com Henriques (2016), essas defesas tornam-se cada vez
mais fortes, formando uma espécie de armadura (couraça) que impede que
nossa amorosidade seja tocada e, ao mesmo tempo, impede que esta se
expresse. Esta camada protetora gerada pelo medo da mágoa ou de algum
perigo leva-nos a viver de forma cada vez mais isolada e, assim, não
respondemos ao mundo com base em sua informação. “Vai ficando cada vez
mais difícil “escutar” o coração” (HENRIQUES, 2016, p. 4). Para Reich, a
couraça neuromuscular do caráter é a expressão física da neurose.
Estudos clínicos sobre a couraça muscular revelaram que esta não é
uma estrutura rígida e estática, mas uma paralisia das funções vitais como
resultado de equilíbrio dinâmico de forças opostas. Ao tratar os distúrbios
psicoemocionais mais diretamente através do corpo, Reich constatou que, no
momento em que a situação muscular era desbloqueada, surgia uma reação
emocional que, quando expressa, permitia que o bloqueio se desfizesse.
19

Esses desbloqueios lentamente conduziam a uma transformação caracterial


(VOLPI & VOLPI, 2003). As tensões (couraça) armazenadas no corpo,
segundo Reich, estabelecem-se em sentido transversal, como espécies de
cinturões, obstruindo a passagem de energia, que flui ao longo do corpo, em
sentido longitudinal.
Para uma melhor compreensão e visualização desses segmentos ou
anéis de couraça, segue a ilustração simbólica abaixo:

Figura 1 – Segmentos da couraça neuromuscular.


Fonte: KELEMAN, 1992, p. 69.

Segundo Henriques & Eisenreich (2011), quando há um bloqueio no


organismo, a energia vital (ou bioenergia) passa a circular de forma disruptiva.
Esses bloqueios são consequência de situações passadas na infância, em que
o sentir e expressar de certas emoções foram reprimidos por não serem
aceitáveis em nosso ambiente. Desta forma, diante do mundo e desde a mais
tenra infância, as pessoas se armam com suas defesas – psíquicas e físicas -,
buscando evitar sentir ansiedade ou dor, mas, por outro lado, pagando o preço
de se tornarem incapazes de sentir prazer (VOLPI & VOLPI, 2003).
Freire (1993) esclarece:

Uma emoção traz sempre consigo mudanças na circulação da


bioenergia relacionadas a contrações musculares localizadas e
modificações na respiração e na postura física. Isto acontece,
por exemplo, numa situação de medo: o corpo sofre diferentes
alterações fisiológicas (aumento do batimento cardíaco,
20

dilatação das pupilas, contrações musculares etc.) necessárias


para uma melhor resposta à ameaça (FREIRE, 1993, p. 14-15).

No entanto, a problemática central não se encontra no sistema defensivo


humano (natural e necessário a sua sobrevivência), mas na disfunção desse
sistema, como complementa o mesmo autor:

Esse é um mecanismo natural de adaptação do homem a


diferentes estímulos. Mas, se um indivíduo for submetido desde
a infância a contínuas situações de medo ou insegurança, as
transformações fisiológicas naturais, em vez de circunstanciais,
tendem a se cristalizar de forma inconsciente. Aquilo que
deveria acontecer em situações específicas torna-se contínuo
na vida da pessoa, criando-se, então, uma estrutura muscular e
de postura característica que determina o seu jeito de estar no
mundo: o seu caráter (FREIRE, 1993, p.14-15).

À partir disso, pode-se perceber um alto nível de complexidade do


movimento humano e o quanto este é influenciado pelo meio interno, assim
como o externo. O sistema político, educacional, as condições gestacionais e
de parto, o ambiente em que se vive, a liberdade que se tem (ou não) para a
livre expressão e pensar – tudo faz parte da construção de quem se é
enquanto organismo pulsante e indivíduo atuante. O nosso corpo contém e
revela a nossa história.

2.3 O Corpo Vivo

De acordo com Piccinini & Cesar (2016), nossos músculos e pele


memorizam tudo o que aconteceu e acontece em nossa trajetória de vida.
Ocorre que, no entanto, nem sempre estamos ancorados na realidade
sensorial do corpo, na sutileza dos movimentos, no prazer que pode emergir da
totalidade de um corpo vivo, sem bloqueios. Encouraçados que somos,
acabamos bloqueando nossa musculatura, impedindo o livre fluxo de energia,
contribuindo, assim, para que a vida não pulse com intensidade e não libere
nossa criatividade inata. “Quanto mais tivermos zonas mortas, menos vivos nos
sentiremos” (BERTHERAT & BERNSTEIN, 1991, p.86).
O movimento, o gesto e a expressão relacionam-se com a integração do
sujeito com o seu corpo e são por vezes mais significativos do que as palavras.
21

Cada vivência propicia condições favoráveis ou não na postura e linguagem


corporal. O corpo não mente, ele sempre revela a verdade (BASTOS, 2004).
De acordo com Reich (2001), o pensamento deveria andar de mãos dadas com
intensas sensações corporais, no entanto, as pessoas têm medo de seus
corpos.
Reich (1942) afirma que o processo vital consiste em uma contínua
alternância entre expansão e contração. A nível mais profundo, a expansão
corresponde ao funcionamento parassimpático e a contração ao funcionamento
simpático. Lowen (1977) comenta que, basicamente, todo problema emocional
envolve uma redução da mobilidade.

A palavra emoção, em si, significa um movimento para fora.


“Fora”, nos organismos superiores, é sinônimo de descarga.
Todo problema emocional envolve um bloqueio do fluxo de
energia para os órgãos de descarga, entre os quais os genitais
estão em primeiro lugar. Quanto mais periférico é o bloqueio,
menos severo o distúrbio. Quando os bloqueios estão
localizados mais centralmente, tendem a ser mais severos.
Força e coragem dependem da disponibilidade de energia nas
zonas de descarga” (LOWEN, 1977, p. 112).

W. Reich deixou enorme contribuição para o entendimento do


funcionamento do organismo humano e dos diversos fatores que influenciam a
sua estruturação, assim como da forma como esta passa a influenciar as
funções vitais. Em seu livro A Biopatia do Câncer (2009), Reich descreve com
detalhes seus experimentos em laboratório e como chegou à descoberta e
posterior observação e análise sistemática da energia biológica específica a
qual nomeou orgone (em alusão aos termos organismo e orgasmo) e a sua
forma de funcionamento. Cobra (2007) comenta que, à partir dessas
descobertas, Reich compreendeu que todos os organismos vivos contêm, nos
fluídos de seus corpos, uma determinada quantidade de energia orgone. Suas
observações em laboratório o levaram a concluir que as células doentes
apresentavam baixa carga orgonótica (ou pouca energia vital), comparando-se
com células saudáveis, e que essa desvitalização tinha relação com bloqueios
no fluxo energético do organismo. Esses bloqueios estabeleciam-se ao longo
do tempo, nos diversos estágios do desenvolvimento humano em resposta a
qualidade ou características de diversos eventos (gestação, parto,
22

amamentação etc). Esses resultados o levaram a desenvolver, posteriormente,


aparelhos acumuladores desta energia, para fins terapêuticos.
Podemos perceber aqui a complexidade que envolve o desequilíbrio do
sistema humano (gerador das doenças) e o quanto este é influenciado pelo
meio familiar, social, educacional e também político. Reich teorizou com
profundidade esta última relação (que é base formadora de todas as outras) e
posicionou-se contra o fascismo e todo o contexto repressor que gerava e
alimentava a neurose social. A postura do militar é uma nítida representação de
rigidez somática.
Como um simples (e muito comum) exemplo de repressão somatizada
em um indivíduo, podemos citar a seguinte passagem de Reich (1942):

O choro reprimido leva facilmente os músculos faciais a uma


impermeabilidade de máscara. Em infância muito tenra, as
crianças desenvolvem um medo às “caretas” que tanto gostam
de fazer, mas que são ameaçadoramente aconselhadas a não
fazerem. O resultado de uma inibição do impulso
correspondente é que elas conservam a face rigidamente
controlada (REICH, 1942, p.156).

Reich levou a psicoterapia para muito além da verbalização que,


segundo ele, trazia informações que muitas vezes eram incompatíveis com o
que o corpo “dizia” e pareciam mascarar o que seria supostamente real.
Percebeu, então, que através da observação da expressão facial, gestos,
posturas, tonalidade da fala, respiração e da própria forma do corpo, era
possível perceber um material mais fidedigno dos bloqueios e conflitos
profundos de cada indivíduo que se encontravam, na maioria das vezes, a nível
inconsciente. Segundo Soares (2017), Reich buscou confirmação biofísica para
as teorias de Freud. Sua investigação baseava-se na interligação dos
processos psíquicos e corporais.
Reich (1995) explicita sensivelmente sobre o movimento e expressão
como comunicadores profundos no trecho a seguir:

Apesar de a linguagem refletir o estado emocional plasmático


de maneira imediata, ela não é capaz de alcançar esse estado
em si. A razão disso é que o início do funcionamento da vida é
muito mais profundo do que a linguagem que está além dela.
Ademais, o organismo vivo tem seus próprios modos de
expressar um movimento, os quais muitas vezes simplesmente
não podem ser colocados em palavras. Qualquer pessoa com
23

tendências musicais está familiarizada com o estado emocional


causado pela música. Porém, ao se tentar traduzir em palavras
essas experiências emocionais, a percepção musical rebela-se.
A música não tem palavras e quer continuar assim. Mas ela dá
expressão ao movimento interno do organismo vivo e escutá-la
provoca a “sensação” de um “arrebatamento interno.”. (...)
Assim, o artista confirma a asserção da biofísica orgônica de
que o organismo vivo possui uma linguagem expressiva
própria, antes de, para além de, e independente de toda a
linguagem verbal (REICH, 1995, p.5-6).

A energia vital flui do centro do corpo para a periferia na sensação de


prazer e em sentido oposto na sensação de ansiedade. Na prática clínica,
Reich observou o movimento da bioenergia no corpo de seus pacientes e
percebeu a relação dos bloqueios em níveis específicos com traumas e
situações de estresse vivenciados. Esses relatos podem ser encontrados com
detalhes em seu livro Análise do Caráter (1979).
Segundo Lowen (1985), a bioenergia ou energia vital produzida através
do metabolismo e da respiração, e a descarga de energia no movimento, são
funções básicas da vida. Além disso, a quantidade de energia disponível em
um organismo e como o indivíduo a utiliza determinam a forma como este
responde às situações da vida. Ainda segundo o autor, os processos
energéticos do corpo estão relacionados ao seu nível de vitalidade. A
depressão, por exemplo, reflete um nível reduzido de energia vital (orgone);
portanto, buscar manter pensamentos positivos, em casos como este, tem
pouca efetividade. “O corpo para Reich é, essencialmente, energético. O
movimento da energia é responsável pela pulsação da vida. Vida cuja função
intrínseca é a da auto-regulação” (CÂMARA, 2006, p.3).
Segundo Da Mata & Freire (1993), o princípio da auto-regulação
espontânea baseia-se em um mecanismo natural e próprio que determina a
existência do homem que vive a sua unicidade. O autor sugere ainda que

a auto-regulação é uma condição biológica da espécie humana.


É a capacidade que temos de auto-determinar nossa vida,
direcionar nossa existência segundo padrões próprios, desejos
e pulsões que sentimos e determinamos como sendo mais ou
menos satisfatórios para nós (DA MATA & FREIRE, 1993,
p.10).

Liberman (2009) comenta que a organização pulsátil, a capacidade de


se contrair e expandir, encurtar e alongar, inchar e recolher é um elemento
24

fundamental e observável em toda matéria viva. Pode-se observar um pulso


nos organismos unicelulares – que dão origem aos multicelulares que mantêm
o mesmo padrão, assim como em um organismo mais complexo como o nosso
(humano), que sustenta uma pulsação vital. Essa pulsão é mantida através de
trocas de substâncias, líquidos e nutrientes, em constante processamento e
transformação. “Essas trocas, no corpo e na relação com o ambiente, referem-
se a elementos químicos, mas também a afetos, a tudo aquilo que se forma,
por meio das experiências, dos encontros” (LIBERMAN, 2009, p.2).
Sposito (2008) diz que perder a capacidade de se auto-regular implica
em ter um desequilíbrio nas funções de expansão e contração energética que
ocorrem naturalmente no organismo.

Uma pessoa auto-regulada dá a sua vida ritmo e forma de


acordo com os seus ideais. Ela ama as pessoas que mais lhe
agradam, trabalha naquilo que sente maior aptidão e
competência, convive com as pessoas que mais lhe dão tesão.
Assim, a auto-regulação espontânea é determinada pela busca
do prazer (DA MATA & FREIRE, 1993, p.10).

Visto isso, abordo como ferramenta de auxílio à recuperação da


capacidade do organismo de autorregular-se a Bioenergética, terapia criada
por Alexander Lowen (1910-2008), psicanalista discípulo de Reich, que propõe
um trabalho de redistribuição da energia vital através de exercícios especiais,
como massagens, toques, pressão controlada, posturas, movimentos e
respiração consciente. Através dessa abordagem terapêutica, a pessoa pode
entrar em contato com suas tensões e liberá-las. “Todo músculo contraído está
bloqueando algum movimento” (LOWEN, 1985, p.5). Os exercícios propostos
por Lowen visam relaxar a musculatura enrijecida, aumentar o estado vibratório
do corpo, ampliar a auto-expressão, percepção do corpo e de seu estado
emocional, aprofundar a respiração e levar o indivíduo a um maior
autoconhecimento e espontaneidade, melhorando seu estado de saúde geral.
Nas palavras do próprio Lowen:

O objetivo da terapia é um corpo cheio de vida, capaz de


experienciar totalmente prazeres e dores, alegrias e tristezas
da vida. Quanto mais vitais somos, mais toleramos um maior
grau de excitação, na nossa vida cotidiana e no sexo. A análise
dos conflitos reprimidos, a liberação de sentimentos suprimidos
e a dissolução das tensões e bloqueios musculares crônicos
25

têm o propósito de aumentar a capacidade da pessoa para o


prazer (LOWEN, 1985, p. 7).

Scarpato (2006) comenta que, pela visão somática, não pode haver
separação entre as esferas cognitiva, afetiva e motora, pois estão intimamente
ligadas. Sendo assim, quando movimentamos o corpo, movemos não só uma
estrutura física formada por partes isoladas, mas um complexo sistema
construído ao longo do tempo e que se encontra em constante modificação.
“Ter forma é estar vivo. Mas permanecer fixado numa forma é estagnar. Nosso
destino é continuar a formar” (Keleman, 1995, p.31). Por fim, a couraça
muscular do caráter é um conjunto de mecanismos corporais alterados que
mantêm as emoções e os impulsos reprimidos e, segundo Júnior (1999), o
significado psíquico desses mecanismos permanece vinculado a essas
alterações corporais.

Todo sentimento envolve um significado psíquico, e também


um impulso a expressar-se pelo corpo. Por exemplo, a tristeza,
busca expressar-se pelo choro, que envolve alterações
respiratórias, expressões sonoras e faciais e movimentos
musculares. Se o significado psíquico desse sentimento precisa
ser recalcado, o choro precisará ser reprimido por meio de
contenções musculares e vegetativas que tendem a se tornar
crônicas. O mesmo acontece com outros impulsos e emoções
como raiva, medo e desejos sexuais (JÚNIOR, 1999, p. 112).

Lowen (1983) defende que o conceito de doença apenas mental estaria


equivocado, visto que todo distúrbio mental é também físico. Existe um corpo
deprimido na pessoa deprimida. O mesmo vale para qualquer outra doença dita
mental. Segundo o autor, “a vida em todas as suas várias manifestações é um
fenômeno físico” (LOWEN, 1983, p 16).
Em suas observações clínicas, W. Reich percebeu que, ao induzir um
relaxamento e intensificação do fluxo energético pelo corpo de seus pacientes
através de técnicas e respirações específicas que produziam um afrouxamento
considerável de espasmos e tensões, era possível observar a aparição natural
de um movimento corporal ondulatório. “Essas correntes de energia pareciam
provir do sistema nervoso vegetativo ou autônomo e, assim, Reich as chamou
de “correntes vegetativas”” (KIGNEL, 1997, p. 46). Reich percebeu em seus
26

pacientes bloqueios no movimento natural dessa energia pelo corpo. Concluiu,


então, após diversas observações, que os bloqueios apresentados no padrão
dos movimentos corporais evidenciados refletiam e eram reflexo de seus
traumas e patologias, dos mais diversos tipos.
Navarro (1996) relata que o reequilíbrio neurovegetativo, acompanhado
da análise do caráter (expresso pela linguagem corporal), colocam o sujeito em
condições de compreender e, principalmente, de “sentir” a sua capacidade, ou
seja, o seu “ser no mundo” como elemento dialético. Piccinini & Cesar (2016)
complementam que a auto-percepção possibilita ao indivíduo descobrir quem
ele é pela soma de todas as sensações sentidas e ancoradas no corpo. Os
músculos carregam em suas memórias as tensões que tem a ver com a nossa
personalidade.
Segundo Henriques & Eisenreich (2009), “o indivíduo encouraçado tem
pouco contato e este é fixo e restrito, sem a mobilidade necessária para a real
adaptação às exigências internas e externas” (p. 4).
Junior et al (1999) diz que as couraças podem ser classificadas em três
diferentes grupos: muscular, visceral e tissular. A seguir, vemos uma breve
explanação feita pelo referido autor.

a. A couraça muscular está ligada à contenção ou inibição de impulsos e


envolve flacidez ou tensão crônicas da musculatura. Segundo o mesmo
autor, a progressiva intensificação da couraça muscular pode resultar
em diversas patologias, tais como: doenças respiratórias, articulares,
distúrbios posturais e alterações na caixa torácica.
b. A couraça visceral envolve alterações no Sistema Nervoso Autônomo,
gerando modificações na musculatura lisa e cardíaca e nas funções
secretoras de diferentes vísceras. Encontra-se envolvida na produção de
patologias cardíacas e circulatórias, doenças brônquicas, oculares,
digestivas e disfunções sexuais.
c. A couraça tissular envolve alterações na diferenciação e proliferação
celular e também no metabolismo dos tecidos, resultantes de disfunções
endócrinas. Está envolvida no desenvolvimento de doenças alérgicas e
hormonais, imunológicas, tumores, doenças degenerativas, dentre
outras.
27

Ainda que o presente trabalho pretenda direcionar-se mais intimamente


à couraça muscular em si, mais perceptível e manipulável, considero
importante retratar a existência e interdependência dessas estruturas que,
afinal, existem e funcionam em um organismo complexo e integrado.

2.4 A Respiração como ponte

Segundo Hmeljevski (2005), a respiração está intimamente ligada com o


funcionamento bioenergético do organismo. Piccinini & Cesar (2016) defendem
que é por meio dela que integramos todos os sentidos que habitam nosso Ser.
A respiração nutre a vida, as emoções e permite o nosso encontro com a
sensação de prazer. Um respirar inadequado diminui a vitalidade do organismo
e não permite o fluir natural da vida e a sensação do seu pulsar.

A respiração é um meio de comunicação independente da


palavra: a tristeza diminui a profundidade da respiração, o
prazer aumenta. Os ansiosos respiram superficialmente,
irregularmente, prolongando as inspirações à custa da
expiração, sempre incompleta. As emoções influenciam a
respiração, é comum ver-se uma respiração entrecortada, e
suspiros no caso de angústia, uma dificuldade de respirar em
casos de medo, ou ainda uma sensação de sufocamento ou
opressão torácica (NAVARRO, 1995 p.74).

Reich destaca a importância do processo de inibição respiratória e diz


que como “mecanismo fisiológico para a supressão e repressão dos afetos, a
inibição respiratória era o mecanismo básico da neurose em geral” (REICH,
2004, p. 261).
Sabemos que respiração e emoção estão intimamente ligadas. Segundo
Vieira et al. (2018), já na infância criamos tensões musculares conscientes
como forma de bloquear impulsos que poderiam gerar um retorno hostil de
nossos pais. Com o passar do tempo, essas tensões podem tornar-se
inconscientes e crônicas, estabelecendo-se como função do ego. O mesmo
autor comenta ainda que a respiração é um mecanismo de suma importância
para o funcionamento fisiológico do nosso organismo e é também fator
fundamental no equilíbrio emocional. O indivíduo, quando relaxado, respira
28

lenta e suavemente; quando tomado por uma forte emoção, a respiração torna-
se forte e intensa; momentos de tensão tornam a respiração superficial.
Quando o sujeito sente medo, costuma inspirar e prender a respiração. O
bloqueio da respiração é a forma mais eficiente que possuímos de reprimir
sensações e emoções.

Uma respiração deficiente se constitui como o principal


obstáculo para o bom desenvolvimento da saúde emocional.
Da mesma forma que uma respiração plena é capaz de evocar
sensações e sentimentos reprimidos, trazer à tona essas
emoções bloqueadas pode permitir um fluxo integral de energia
que percorre todo o corpo, devolvendo a vivacidade para um
organismo (VIEIRA et al, 2018, p.1).

Segundo Lowen (2007), em uma respiração plena, as ondas


respiratórias atravessam o corpo todo. No entanto, quando possui músculos
cronicamente contraídos em qualquer parte do corpo, o indivíduo apresenta
restrição nesse processo e seu nível de energia e vivacidade
consequentemente diminuirá. Lowen (1989) relata que o pleno movimento
respiratório pode ser observado em crianças pequenas e animais, cujas
emoções não foram bloqueadas. Normalmente há um leve movimento da pélvis
para trás na inspiração e um leve movimento para frente na expiração – o que
Reich chamou de reflexo orgástico3. A tensão em qualquer parte do corpo
perturba o padrão considerado normal. Por exemplo, a imobilidade da pélvis
causa distúrbio nesse padrão natural. Os bloqueios, isto é, a couraça, é
originada pelas emoções represadas na musculatura corporal e, através da
flexibilização da mesma em conjunto com trabalhos respiratórios específicos, é
possível acessar e liberar a carga emocional armazenada. Volpi (2003)
defende que os efeitos desses bloqueios afetam o funcionamento geral do
indivíduo, sua relação com o mundo e consigo mesmo. Por exemplo, ao conter
o grito ou o choro através da contração da garganta, abdômen e bloqueio
respiratório, limita-se também o canto, o gargalhar ou o suspiro de prazer.

3
Considera-se o movimento pulsional do orgasmo, ou seja, caracteriza-se pela contração e expansão
involuntária do organismo que se manifesta e constitui o processo sexual pleno vivenciado em dada
relação afetiva-sexual. (REICH, 1942-1983, 254-303).
29

Segundo Lowen (2017), Reich notou a tendência comum a todos os


seus pacientes de prender a respiração e inibir a expiração, como forma de
controlar sentimentos e sensações. Concluiu, então, que o bloqueio da
respiração serve para diminuir a energia do organismo ao reduzir suas
atividades metabólicas – o que, por sua vez, inibe a formação da ansiedade.
Reich (1992) defendia que: “não há uma só pessoa neurótica que não
apresente uma tensão no abdômen” (REICH, 1992, p. 259).
A retenção dos sentimentos interliga-se com a retenção do ar, o que
mantém o tórax em posição inspiratória crônica. Nesta condição, a respiração
torna-se predominantemente diafragmática e abdominal. Além disso, uma
respiração inaudível também revela uma forte inibição da mesma. A dificuldade
de respirar pode ter sua origem no medo de sentir. Medo de sentir raiva,
tristeza, apreensão e também de se entregar às sensações profundas de
prazer (LOWEN, 2007). Uma respiração disfuncional pode gerar depressão,
falta de concentração, fadiga, diminuição do prazer sexual, alterações na
emissão da voz, dentre outros (LOWEN, 1984).
Boadella (1992) aponta que um padrão inspiratório crônico é
característico de personalidades rígidas, propensas à hipertensão e infartos.
Por outro lado, pessoas com padrão expiratório - em que o abdômen tende a
permanecer em estado de deflação – costumam ter dificuldades de contenção
e concentração.

Enfim, respirar é algo inerente à vida corporal e necessário


4
para obter saúde e motilidade . Logo, a respiração profunda e
natural é um instrumento que nos leva também ao desbloqueio
das energias contidas nas diferentes partes do corpo (JÚNIOR,
2004, p.13).

À partir de uma maior compreensão da importância e significado da


respiração para o ser humano, concluo que esta deve ser especialmente
trabalhada e vinculada nas propostas corporais. Penso que toda e qualquer
área de estudo que envolva o corpo deveria trazer um aprofundamento sobre
esse tema, de maneira holística.

4
É o fluxo interno, diferente do movimento, que se expressa externamente; “é a vitalidade do padrão
pulsátil, a força e a intensidade das pulsações dos órgãos que dão energia e identidade pessoal”
(KELEMAN, 1985/1992, p. 42).
30

2.5 As Psicoterapias Corporais e suas práticas

W. Reich encontrou uma via segura para entrar no inconsciente de


forma que o próprio paciente fosse capaz de compreender e muitas vezes
recordar, de forma integrada e emocional, conflitos que haviam sido recalcados
na infância. Assim, o processo ia além de tornar consciente o material
inconsciente, mas também fazer com que esse reconhecimento fosse
experimentado de forma viva, carregado de envolvimento emocional,
proporcionando, de fato, a transformação necessária para a cura (Garcia,
2004). “O reconhecimento pelo cérebro de sintomas como palpitações, falta de
ar, angústia, etc. gera a emoção. Em outras palavras, as sensações físicas são
a emoção” (ALMEIDA, 2004, p. 4).
Reich comprovou, de acordo com Freire & Da Mata (1993), os
equivalentes orgásticos, ou seja, outros meios de se alcançar os benefícios
terapêuticos proporcionados pelo verdadeiro e pleno orgasmo sexual.
Descobriu que existem equivalentes naturais, como: dançar, gargalhar, chorar,
bocejar, espreguiçar etc., e também artificiais, como massagens e exercícios –
todos capazes de mobilizar a couraça.
As terapias corporais tem como base o trabalho sobre a respiração.
Muitas vezes, esse trabalho em conjunto com a musculatura do diafragma
acontece desde o início das intervenções corporais, buscando-se um aumento
da carga bioenergética do organismo através da ampliação da respiração. Este
aumento, dentre outras coisas, traz à tona respostas fisiológicas e expressivas
que evidenciam os principais bloqueios bioenergéticos no organismo do
indivíduo, elucida Hmeljevski (2015). A respiração está também vinculada à
voz, visto que o ar se desloca através da laringe para a produção do som.
Sendo assim, pode-se ter certeza de se estar respirando durante uma emissão
sonora. Infelizmente, muitas pessoas foram inibidas durante a vida de emitir um
som alto; algumas crianças não são ouvidas pelos pais, outras, sufocam seu
choro e seu grito, por encontrarem uma reação hostil dos pais. Sufocar estes
sons ao longo do tempo gera uma severa constrição na garganta, limitando
seriamente a respiração. Por estas razões, muitas dinâmicas terapêuticas
31

corporais encorajam as pessoas a emitir ou vocalizar sons prolongados


enquanto realizam os exercícios ou respiram (LOWEN & LOWEN, 1985).
Os processos terapêuticos das psicoterapias corporais são inicialmente
provocados e mantidos por meio de diferentes tipos de movimento respiratório.
Através deles e do abrandamento das resistências é possível alcançar e fazer
emergir materiais emocionais que foram recalcados no passado e que se
encontram a nível inconsciente, porém, atuantes - atualmente “congelados” em
diferentes partes do corpo. Ao serem trazidos à consciência e, de certa forma,
revisitados, são então liberados, através de descargas bioenergéticas que
podem ser observadas como vibrações do corpo, muitas vezes acompanhadas
de reações como choro, gritos, risos, suspiros, dentre outras. A chamada
Respiração Holotrópica, bastante utilizada, é um exemplo de técnica de
alcance da expansão da consciência ou experiências transpessoais5.
Holotrópica, segundo Arruda (2016), refere-se a estados que se direcionam à
totalidade. O holotrópico é caraterístico de estados não-ordinários de
consciência.
Dentre as inúmeras vertentes terapêuticas que têm como base as
descobertas de Reich, optei por abordar um pouco da Bioenergética,
desenvolvida por Alexander Lowen, a fim de levar o leitor para além do
imaginário e poder visualizar de forma mais concreta a utilização dessas
dinâmicas corporais. Abaixo, a ilustração e descrição de um exercício básico
de vibração da Bioenergética denominado Grounding6:

5
“Caracterizam-se por uma experiência que pode definir-se como “aquela em que o senso de identidade
ou do eu ultrapassa (trans+passar= ir além) o individual e o pessoal a fim de abarcar aspectos da
humanidade, da vida, da psique e do cosmo” (WALSH; VAUGHAN, 1997, p. 17).
6
“Ground em inglês significa chão, base. Grounding, ter base. Grounded, a pessoa que tem base”
(LOWEN & LOWEN, 1985, p. 8).
32

Figura 2 – Exercício Grounding, da Bioenergética


Fonte: LOWEN & LOWEN, 1985, p. 8.

Execução: A pessoa se mantem em pé, com os pés separados cerca de


25 centímetros. Os pés ficam ligeiramente voltados para dentro, alongando
glúteos e isquiotibiais. Inclina-se o corpo à frente, tocando o chão com as duas
mãos, depositando, no entanto, todo o peso do corpo na região mais frontal
dos pés (“peito do pé”). Deixa-se o pescoço relaxado, “pendurando” a cabeça.
Os joelhos devem estar ligeiramente flexionados e a respiração deve ser feita
profunda e vagarosamente. Estende-se os joelhos (sem trancá-los) até chegar
o ponto onde uma suave vibração nos membros inferiores começa a surgir.
Permanece-se na posição por cerca de um minuto (LOWEN & LOWEN, 1985).
Esse exercício, também conhecido como enraizamento, visa trazer a
pessoa de volta para a realidade, para o aqui e o agora. Ao realizá-lo, sente-se
uma vibração involuntária nos membros inferiores, canalizando energia para as
pernas e os pés, havendo uma descarga de excesso de energia para o chão e
familiariza o organismo com o estado vibratório.
A criança tem o seu primeiro grounding (sua base) no colo da mãe; o
adulto precisa sentir o chão, trazendo a consciência de eixo e segurança.
Sobre a posição dos joelhos, é importante frisar que, quando se bloqueia essa
articulação ou se “tranca” os joelhos, a força fica congestionada na região
lombar, produzindo uma condição de pressão excessiva, podendo resultar em
distúrbios da coluna. Lowen & Lowen (1985) mencionam que somos sempre
alertados a manter fletidos os joelhos ao levantarmos peso e deixamos de
33

perceber que as pressões psicológicas são equivalentes aos pesos físicos para
o corpo. Da mesma forma, se tentamos suportar tais pressões com os joelhos
trancados sobrecarregamos a região lombar.
Qualquer movimento que flui livremente da parte inferior do corpo tem
qualidades mais instintivas e menos submetidas ao controle consciente. Essa
região é de natureza muito mais animal em suas funções (locomoção,
defecação e sexualidade) – e é nela que residem as qualidades de ritmo e
graça naturais; diferentemente da parte superior (pensamento, intelecto, fala e
manipulação do ambiente), atualmente supervalorizada pelo homem,
diminuindo sua acuidade sensorial e controle de poder (LOWEN & LOWEN,
1985).
O grounding implica que a pessoa “deixe acontecer”, fazendo o seu
centro de gravidade recair mais embaixo, levando a uma sensação de estar
mais perto da terra. Gera um senso de segurança, A direção descendente é o
caminho para a descarga, liberação e prazer. Uma pessoa que tem medo
desse “deixar acontecer” é bloqueada em sua habilidade de entrega total à
descarga sexual (energética) e, sendo assim, não consegue experimentar a
satisfação orgástica total – potente ferramenta de auto-regulação (LOWEN &
LOWEN, 1985). “Temos medo de cair, medo de falhar e, portanto, medo de
deixar acontecer e de nos entregarmos a nossos sentimentos” (LOWEN &
LOWEN, 1985, p.8).
De acordo com Lowen & Lowen (1985), grounding em bioenergética
significa a sensação de contato entre os pés e o chão. Estar grounded é como
dizer que a pessoa está com seus pés no chão, sabe onde está e, portanto,
sabe quem é. “O grounding representa o contato de um indivíduo com as
realidades básicas de sua existência. A pessoa está firmemente plantada na
terra, identificada com seu corpo, ciente de sua sexualidade e orientada para o
prazer” (LOWEN & LOWEN, 1985, p.8). Estas qualidades faltam à pessoa que
está “suspensa no ar” ou na sua cabeça, “desenraizada”; não se encontra, de
fato, em cima dos próprios pés. O mesmo autor defende que na maior parte do
tempo estamos andando com nossas pernas, porém, sem estarmos de fato
“dentro delas”; estamos com os pés no chão de forma automática, sem
estarmos ancorados, enraizados dentro de nós; quando a sensação de
grounding é experienciada, de fato, é algo bem diferente e transformador.
34

Esse é apenas um dos diversos exercícios da Bioenergética, propostos


por Lowen, que podem ser feitos em dinâmicas de grupo, a fim de promover e
trabalhar também o contato com o outro, podendo ser implementados meios
sensoriais (músicas, aromas etc) a fim de intensificar o efeito terapêutico dos
mesmos. Apesar de ainda serem pouco difundidas, há um vasto material
disponível sobre as psicoterapias corporais reichianas e suas vertentes.
Nascimento (2008) comenta que “os movimentos de funcionalidade de
cada órgão vão ser influenciados, modificados, facilitados, ou impedidos pelo
movimento dos sentimentos e vice-versa” (NASCIMENTO, 2008, p. 6) e, assim,
dentro da delimitação do somático e do psíquico, o organismo vai se moldando.

A dissolução de um espasmo muscular não só libera a energia


vegetativa, mas, além disso e principalmente, reproduz a
lembrança da situação de infância na qual ocorreu a repressão
do instinto. Pode-se dizer que toda rigidez muscular contém a
história e o significado de sua origem (REICH, 1942, p. 255).

Navarro (1996) relata que o reequilíbrio neurovegetativo, acompanhado


da análise do caráter (expresso pela linguagem corporal), colocam o sujeito em
condições de compreender e, principalmente, de “sentir” a sua capacidade, ou
seja, o seu “ser no mundo” como elemento dialético. Piccinini & Cesar (2016)
complementam que a auto-percepção possibilita ao indivíduo descobrir quem
ele é pela soma de todas as sensações sentidas e ancoradas no corpo. Os
músculos carregam em suas memórias as tensões que tem a ver com a nossa
personalidade.
Keleman (1999) afirma que a cisão mente-corpo nos faz perder contato
com a nossa imagem interior. Esse contato é perdido porque aprendemos com
nosso meio externo como devemos ser e nos comportar; tentamos corporificar
essas imagens de fora para dentro. Para sermos aceitos, acabamos por nos
afastar de nossa capacidade de expansão, contato e autenticidade. Vivemos
uma personagem que acreditamos ser a representação mais fidedigna de nós
mesmos, quando, na verdade, ela nos consome e reprime nossos sentimentos
mais espontâneos, nossa fluidez natural, tornando-nos temerosos e
(auto)destrutivos – indivíduos encouraçados.
Segundo Freire & Da Mata (1993), jogos, danças, brincadeiras e
movimentos variados feitos de maneira consciente, atuam como equivalentes
35

orgásticos, produzindo uma boa circulação energética e levando o indivíduo a


uma maior percepção do corpo, de si mesmo e de seus bloqueios.
A Capoeira, por exemplo, é uma prática corporal de inúmeras
características terapêuticas. A plasticidade dos movimentos, o ritmo, o canto, o
enfrentamento interpessoal, a ludicidade, dentre outros fatores, tornam-na
eficiente ferramenta de liberação bioenergética. Freire (1991) defende ainda
que a Capoeira pode ser utilizada como um reforço pedagógico e terapêutico,
pois atua “tanto do ponto de vista energético quanto na conscientização e na
mobilização da totalidade do soma das pessoas na luta ideológica, política e
física” (FREIRE, 1991, p. 75).
Com a liberação do conteúdo emocional depositado nas tensões
musculares através da flexibilização das couraças, gradualmente formam-se
novas estruturas de personalidade ou caráter; o organismo vai, no seu próprio
ritmo e tempo resgatando a sua capacidade inata de autorregular-se. Soma e
psique vão sendo reestruturadas, tornando o ser-vivo-homem cada vez mais
vivo, espontâneo e sintonizado com o seu Eu mais verdadeiro. As “máscaras” e
barreiras protetoras que são acopladas ao longo da vida vão sendo pouco a
pouco abandonadas, abrindo espaço para um viver mais fluido e respostas
internas mais saudáveis e flexíveis frente aos estímulos vindos do meio que
nos cerca.
36

3. Considerações Finais

De maneira geral, estamos imersos em um sistema que alimenta um


viver desequilibrado. Mantemo-nos rígidos, encouraçados, existindo de forma
quase mecânica e não percebemos a nossa própria patologia, já enraizada e
estruturada. Indivíduos insensíveis ao seu Universo interno e, assim, também
ao que nos rodeia. Somos corpos inconscientes e desvitalizados.
Em meio à construção deste trabalho, sua leitura e releituras, além de
vivências práticas na área da Psicoterapia Corporal, concluo que as práticas
corporais ainda são muito pouco ou mal compreendidas e, mesmo, conhecidas.
Existe uma imensa complexidade de fatores que não tomamos conhecimento
ao estudar o corpo humano nos cursos tradicionais das áreas da saúde –
incluindo a própria Educação Física, com toda a sua relevância humana e
social e aproximação com as diferentes manifestações do movimento.
Considero imensurável a contribuição que as escolas reichianas podem
oferecer a todos nós, enquanto profissionais de Educação Física e também
indivíduos, humanos. Precisamos nos aproximar desse vasto material de
estudo ainda pouco difundido e experienciar, na prática, esses saberes.
Compreendendo o vínculo e comunicação constante entre as diferentes
esferas do sistema humano, questiono-me sobre a influência que a atuação do
profissional de educação física pode ter sobre o desenvolvimento, estruturação
e transformação de seus alunos/clientes. Afinal, ao modificar o corpo, exerce-
se influência sobre estruturas da personalidade e sobre a qualidade da nutrição
energética a nível orgânico. A modificação da estrutura corporal acontece
conjuntamente com uma reestruturação interna – mexe-se com toda uma
biografia psicossomática.
Partindo do ponto de vista bioenergético, temos, então, uma gama
imensa de possíveis pesquisas e novas descobertas para enriquecimento da
nossa atuação profissional. Afinal: compreendemos e damos valor às práticas
corporais mais expressivas, dinâmicas, que não são executadas dentro dos
limites das regras rígidas e com fins competitivos? O que determinados
métodos de treinamento geram, no que auxiliam e em que situações ou perfis
individuais podem acabar intensificando (ou não contribuindo para a melhora
37

de) determinados quadros ou sintomas? O que pode estar por trás de um corpo
cansado/desvitalizado, além de uma possível recuperação incompleta de um
treino anterior? Como posso ampliar os benefícios das práticas que ofereço?
Que estruturas patológicas posso estar reforçando ou intensificando ao repetir
sistematicamente determinados movimentos e padrões motores? O que me diz
o contexto geral, o humano por detrás daquela estrutura corporal? O corpo fala.
Será que estamos abertos para ouvir?
Lidamos com um campo energético, uma ponte interconectiva entre
gerações, uma biografia em movimento - rede imensa de informações
corporificadas, um fantástico mistério que ultrapassa qualquer tentativa de
compreensão meramente teórica ou mecanicista. Acredito na possibilidade de
um aprofundamento e sensibilização na forma de explorar e estudar o corpo.
Abre-se, à partir daí, uma reflexão sobre a importância e possível
potencial terapêutico das mais variadas dinâmicas e práticas corporais que
envolvem movimentos e gestos fluidos, espontâneos, rítmicos, conscientes,
expansivos e expressivos, de maneira geral, como por exemplo, a dança, a
capoeira, a ginástica rítmica, o yoga, entre tantas outras.
Afinal, o que assimilamos e entendemos por “educação do corpo físico”
ao concluirmos uma formação acadêmica nessa área? E o que de fato
aprendemos e, mais que isso, percebemos e sentimos sobre o corpo ao longo
dessa graduação? E, por fim, questiono-me: como tornar-se um profissional de
educação do corpo sem conhecer e investigar o seu contexto por um viés
holístico, sem perceber e considerar o mesmo como arte viva? Parece-me um
pouco como a conclusão reflexiva na música Malandragem, sucesso na voz de
Cássia Eller, que diz: “Eu sou poeta e não aprendi a amar.”.
Enquanto seres humanos, somos holísticos, integrados. Penso que é
importante que nós, profissionais de educação física saibamos que não
estamos somente envolvidos num mudar e moldar corpos, mas pessoas –
construídas por histórias, sensações, percepções e ideais. Assim como pode
ser enriquecedor na formação do psicólogo a aproximação do conhecimento do
corpo e sua relação com a psique, o mesmo vale para a nossa profissão. A
divisão corpo-mente faz parte da visão fragmentada que se instituiu na área da
saúde em geral, cada vez mais especializada, porém, limitada no sentido de
compreensão da íntima relação entre as partes do nosso complexo sistema
38

humano. Estar em contato com o nosso próprio corpo é fundamental para que
possamos de fato viver o aqui e agora, conscientes do nosso fluxo e ritmo
internos, nossas emoções e nosso pulsar diante dos movimentos ondulatórios
da vida. Integrar-se para, então, tornarmo-nos corpos a caminhar com
espontaneidade em direção aos anseios da alma.
39

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