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Porquê odiar a imperfeição se todos nós somos

preenchidos por ela.

Frederico Paulo Kassanga


Copyright © 2019, Hivan Cruz (H)Ivandro Flávio da Cruz –
Kassanga-)

Revisão: Hivandro Flavio Da Cruz Kassanga.

Projeto O Renascer da Literatura

Dados Nacionais de Catalogação na Publicação (CAP)

(H)Ivandro Flavio da Cruz Kassanga)

Cruz, Hivan

Uma Historia de Vida / Hivan Cruz. – Lubango : Sem


Editora, HC, 2019

E-Mail: hivancruz.ang@gmail.com

1. Ficção Literaria / Vivencias HC. Titulo.

16-02997 CDD-968-3

Índices para catálogos sistemáticos:

1. Ficção Literaria/Vivencias 968-3

2016. Todos os direitos dessa edição reservados à Ivandro


Flavio da Cruz Kassanga & Young Leaders Angola/ Lubango.
UMA HISTORIA
DE VIDA
Ao meu Progenitor Frederico Paulo Kassanga, razão
pela qual hoje presenteio-vos com esta obra, motivo de
sorrisos, lagrimas e desse indiscritivel ser em que hoje
me tornei. Te Amarei eternamente.
Sumario

Prefacio - Pag. 7

Capitulo 1 – Gênese. Pag. 8

Capitulo 2 – O Princípio E A Primeira Perda. Pag.


10

Capitulo 3 – A Viagem. Pag. 24

Capitulo 4 – Um Amor Incompleto. Pag. 37

Capitulo 5 – Forçando Mudanças. Pag. 50

Capitulo 6 – Paixão. Pag. 65

Capitulo 7 – Um Novo Começo. Pag. 75

Capitulo 8 – O Despertar. Pag. 86

Capitulo 9 – Abre Os Olhos. Pag. 94


- Uma Historia de Vida- , baseado em factos
reais com influências fictícias, retrata sobre a
trajectoria de vida de Paulo Cruz, uma parte
apenas, onde o mesmo perde a sua esposa, e se ve
meio a um beco sem saída, na luta pelo brotar de
sua vida, e pela conquista do tempo perdido com
sua filha, meio a torbulencias reencontra amores
antigos e amizades valiosas que o levarão a viver ao
maximo uma aventura de romance, suspense e
superação. Meio a essa historia Paulo Cruz descobre
um de seus tantos talentos e decide fazer relatos
escritos de alguém com quem ele teve a honra de
patilhar a vida em uma cama de hospital, após dar-
se conta de que tudo que havia vivido não passava
de uma mera mentira desenvolvida pelo seu
subconsciente após um tragico acidente
1

- O sol hoje nasceu mais sorridente, primavera,


outono ou verão, pouco me interessa saber em
que estação estamos, meu objectivo hoje é me
render ao descanso, aproveitar o máximo de
coisas que esse cordão me proporciona, vida
ou morte, por hora não depende de mim, será
que já sou sentido? quem sou eu? quem serei
eu? já tenho um nome? eu tenho de sair da
minha zona de conforto e não ser ninguém
nesse processo que a muitos chamam de vida.
– era o que a minha voz interior dizia.

De olhos fechados era tudo o que isso e


mais alguma coisa que passava pela minha
cabeça, acompanhado por um copo de vinho,
vislumbrava o meu trajeto como pessoa, em
meros minutos permiti-me navegar ao amago
da existência humana, a gênese da criação, a
história por trás da realidade, talvez eu
simplesmente não sei quem sou, mas me lembro
que em uma das palestras em que fui nutri o
meu eu de conhecimentos sobre Identidade, e
sim, a TAC é e foi uma grande e boa ideia. Então
por que as perguntas sobre quem sou, se eu sei
definir estes factos ainda que de uma forma
subentendida, me perdi em memorias e me
quero de volta, talvez consiga me conduzir e
mostrar para mim e para você que no final do
dia não estou tão perdido quanto aparento. A
memória me falha, mas o meu coração é
certeiro e sei que por hora estou safo aqui
dentro, o que terá acontecido que nem de mim
me lembro, por onde andei?

Vamos navegar e descobrir aquilo que


nunca quis ser? no que me tornei? qual será a
minha historia?
2

Pois bem, se é que a mente não me falha,


era um dia como os outros, uma manhã calma,
os primeiros raios de sol beijavam a húmida relva
que dava um belo aspecto a minha humilde
residência.

- Bom dia – disse Naylene.

- Bom dia – em um tom frio respondi-a.

Lembro-me bem, era uma época fria,


meados de junho, completaríamos, eu e minha
esposa, mais um ano de casados, após acordar
e tomar um banho, sai para uma corrida
matinal, como era de costume, apreciar a brisa
fresca bater-me no rosto dava uma sensação
meio que inexplicável, aquelas, para mim, eram
as melhores horas do dia, era suposto ser um dia
comum, ir ao trabalho e aproveitar o resto do
dia com a família, mas a minha rotina mecânica
não possuía detalhes comuns.

“ E antes de prosseguir peço-lhes desculpas, já


ia me esquecendo, permita que me apresente,
chamo-me Paulo Cruz, sou um jovem
empresário bem sucedido, casado, bem
casado, tenho uma linda filha que se chama
Leila, tenho uma vida cômoda, feliz e
aparentemente completa, não nasci nem
cresci em um berço de ouro, mas sempre
aprendi a lutar para alcançar os meus objetivos
e conquistar o que quero, de algum modo fui
criado e moldado para ser um vencedor, cresci
admirando pessoas singrando na vida
esperando que um dia eu chegasse a esses
patamares, parecia magia mas os vencedores
sempre venciam, pois pensavam como tal
descartando toda e qualquer sombra de
negatividade existente a seu redor, e eu cresci
estudando e aprendendo isso, ser o melhor hoje
me tornaria o melhor amanhã, e vocês estão
prestes a embarcar em uma pequena viagem
e conhecer uma ínfima parte da minha história.
E por favor não se esqueça de reparar na
bagunça, a um coração partido ali, uma
lagrima, um sorriso, e tantas outras coisas
espalhados por todo o lado, agora sim
podemos continuar. “

Fui um bom visionário quando os assuntos


fossem negócios, no entanto um péssimo
marido e um pai ausente de mais, nunca estava
presente na vida das pessoas que me
rodeavam, e que realmente importavam,
tentava cobrir a minha ausência com presentes
caros e viagens, joias e brinquedos, tudo que
cobrisse qualquer rasto na minha incontável
pilha de culpa, nunca aprendi a desfrutar do
amor que as pessoas davam pra mim, pois eu
sempre andava demasiado ocupado para me
importar, para parar e apreciar a vida. Nunca
parei para ouvir, para ver, para viver ao lado da
mulher e da filha que tinha.

Então numa manhã de segunda-feira,


após voltar da minha corrida matinal, preparei-
me para ir ao trabalho, como sempre antes de
sair de casa dei um beijo a minha esposa e outro
a minha filha, era habitual tal gesto, Naylene,
minha esposa dizia sempre algo antes que eu
saísse de casa, mas nesse dia ela limitou-se em
ficar calada e observar-me como da primeira
vez em que nos vimos, Leila pediu que eu
arranjasse tempo para ver sua apresentação de
um numero de dança com suas amiguinhas, era
a sua primeira apresentação na escola e já
ganhará prestigio, ela era conhecida por não
saber quando ficar quieta, dançava que era
uma loucura, essa foi a sua primeira paixão para
sua infelicidade nesse mesmo dia acabei
marcando uma reunião de emergência com o
conselho diretivo para avaliarmos a saúde
econômica da empresa, pois a mim parecia
mais importante do que qualquer outra coisa.
Nas idas e vindas das conversas perdi-me nas
graças da secretaria do meu adjunto, a
conversa levou horas até que decidi
acompanha-la a casa, em alguns instantes quis
me deixar levar pelo calor do momento, e
minhas incertezas e na conversa meio boca que
mantínhamos a infidelidade deu o seu último
grito, como era de se esperar, não me fiz
presente na apresentação de Leila, para mim
era normal, pois achava que oferecendo-lhe
uma boneca ou um par de brincos o assunto
estava resolvido, mal conhecia eu a filha que
tinha, perdi demasiado tempo e não pude ver
ela crescer e por mais estranho que possa
parecer Leila acabou por sair parecida de mais
a mim quando mais novo, determinada e
independente, nem eu mesmo havia me dado
conta disso, pois a muito que já não usava
minha determinação para as coisas que
realmente importavam.

- Voce falhou mais uma vez – disse Leila

Como era de hábito, uma desculpa, um elogio,


um eu te amo, resolviam o caso, mas a cada
dia que passava eu sentia que perdia mais e
mais a minha filha.
- Amanhã será diferente, e o pai vai fazer
melhor, só confia em mim pequena – respondi.

Na manhã seguinte, uma rotina repetida,


uma manhã habitual como as outras, reuniões,
papeladas por assinar, projetos por aprovar,
nada que fugia do comum no incomum que
estava acostumado a viver, caindo a noite, eu,
cansado de mais para falar, queria apenas
dormir esquecer o dia que tive para no dia
seguinte voltar a rotina mecânica que era
minha vida, mas Naylene pediu para
conversarmos, fazia tempo que eu não sabia o
que isso era dentro do meu lar, dava para ver
no rosto dela a dor do abandono, eu era o
esposo mas parecia que não à conhecia, e por
sinal nem ela a mim;

- onde está o homem que comigo se casou, que


dizia que me amava, que sempre estaria por
perto, que nunca me abandonaria? –
perguntou ela.

meus lábios serraram-se, minha mente deu um


branco, nenhuma palavra surgia no momento,
pois nem eu sabia quem eu era, e continuou ela
dizendo:

- já não sei quem és, teus presentes não cobrem


o amor que nossa filha precisa receber de ti,
uma boneca não vale mais do que um sorriso
teu para ela.

Ainda com lagrimas nos olhos e sem mais


nada pra dizer, aparentemente, levantou-se e
foi para o quarto. Não conseguia responder as
perguntas, seria doloroso demais saber a
verdade por mim mesmo, eu tentava amenizar
tudo dizendo que um dia tudo seria diferente,
tudo mudaria, tudo seria melhor, é, um dia,
talvez fosse tarde demais para mudanças e feliz
ou infelizmente essa verdade pesava na minha
consciência, pois machucava o facto de que
as coisas que eu fazia machucavam as pessoas
eu dizia que tanto amava.

Fiquei sozinho na sala, perdido em um mar


de pensamentos, perdido dentro de mim
mesmo, sem me entender, sem me conhecer,
dei por conta de que como um país cheio de
estados abandonados, cidades esquecidas,
bairros desconhecidos, ruas sem saída e
encruzilhadas onde me perdia a procura de
mim mesmo, assim era a minha vida, naquele
momento vi o quanto eu perdi, perdi os
primeiros passos de Leila por uma conferência
no Dubai, perdi a confiança de Naylene por dar
mais atenção aos meus afazeres do que as
minhas obrigações como pai e marido, perdi o
maior império que havia conquistado, meu
casamento, minha família.

Entre uma chávena de café e uma


lagrima, enquanto a chuva caia, se inundavam
os meus pensamentos, navegava nas
profundezas do meu eu procurando entender o
naufrágio do meu próprio ser, a realidade
assustava demais para ser aceite, respirei
diferentes ares, mas nenhum tão sufocante
quanto aquele que exalava na plena confusão
da minha mente, naveguei em tantos mares,
mas nenhum tão complexo como aquele que
criei dentro de mim, um mar em que tinha medo
de me lançar, de sair bordo-a-fora, de me
perder. Navegava no esquecimento dos meus
pensamentos, entre as turbulências das minhas
perdas, e as incertezas dos meus feitos, acabei
me perdendo na imensidão dos meus medos,
com diversos perigos gerados pelas minhas
crenças, e no final de tudo, acabei achando a
ancora que me faz parar entre o ser e o não ser,
entre o ter e o perder entre o amar e o
esquecer, entre o ouvir e o falar, enfim entre o
estar vivo e o viver, em momentos como este
me vinha a cabeça trechos de livros outrora
lidos, na autoria de Victor Hugo Mendes e tantos
outros, mas algo apoquentava meu coração, a
dose de textos não foi suficiente para amenizar
isto, em meus pensamentos tentava me
acalmar, me consolar, dizendo para mim
mesmo que estava tudo bem, pois
aparentemente estava.

Decide fazer alguma coisa, pois tinha fé


que ainda não estava tudo perdido, pois não
aparentava ser tarde de mais, mas, no dia
seguinte de malas feitas Naylene e Leila saíram
de casa, dirigindo-se para Benguela onde
residia a mãe de Naylene, Dona Helena,
senhora simples, viúva e mãe de três filhos,
Naylene a mais velha, Priscila, e Julho o mais
novo, em toda minha vida nunca tive a
oportunidade de conhecer uma mulher mais
batalhadora, sábia, corajosa e forte do que ela,
seus feitos assemelhavam-se aos de minha mãe,
lembro-me bem de que a princípio ela nunca
gostou de mim, de uma forma curiosa ela já
sabia naquilo em que eu me tornaria, e nunca
se cansou de dizer que tudo era uma questão
de escolha e tempo, e infelizmente parece que
eu fui guiado pela natureza humana voltada
para as escolhas erradas e o mal uso do tempo.

Meio ao meu momento de reflexão o


telefone tocou:

- Alô! – falei ao atender o telefone.


- Alô! – respondeu a pessoa do outro lado da
linha – Como estás mano? Daqui é o Julho.

- Estou bem graças a Deus, e tu como estás? Faz


tempo que não falamos.

- Estou bem pela mesma graça, apercebi-me


do que aconteceu entre você e a minha irmã,
entao liguei para ver como estavas.

- Obrigado pela preocupação, mas esta tudo


bem comigo. – em seguida desliguei o telefone.

Já faziam dois dias desde que elas se


tinham ido embora, o tempo parecia não
passar, a solidão crescia a cada segundo, a
cada minuto, a cada hora que passava, queria-
as de volta, queria poder fazer tudo certo,
queria uma vez na vida poder acertar com
quem eu tinha a obrigação de nunca errar.
Entre algumas taças de vinho, músicas, livros e
pensamentos o tempo foi passando, já la ia um
mês, onde durante o mesmo muito aconteceu,
recebi a notícia de que Naylene estava
gravemente doente, minha querida esposa
estava sofrendo de Câncer em um estado já
avançado, dizia o velho ditado que o ser
humano só valoriza quando perde e para mim
era tarde demais pois valor algum poderia
evitar essa tragédia, valor algum podia
remunerar o tempo perdido, valor algum
poderia mudar esse quadro, e nesse luto
antecipado lembrei de cada sorriso, cada
abraço, cada beijo, cada saída, cada
discussão sem sentido, o mais importante
lembrei-me do quanto eu a amava e do quanto
eu sentiria a sua falta se ela fosse embora de
vez, no mesmo dia fiz as malas, anulei todos os
afazeres, e viajei para Benguela sem pensar
duas vezes, deixando para trás compromissos,
reuniões e um bilhão de coisas por se fazer,
durante a viagem pus-me a ler um livro para
fugir dos meus pensamentos, “ só existem dois
dias no ano em que nada pode ser feito, um se
chama ontem e o outro se chama amanhã,
portanto hoje é o dia certo para amar,
acreditar, fazer e principalmente viver ” as
palavras de Dalai Lama simplesmente
ecoavam em minha mente junto com um
turbilhão de coisas, essa frase marcou muito
uma época da minha vida onde eu sempre me
pegava refletindo no passado, e hoje não foi de
algum modo diferente, as chances que eu
desperdicei, as pessoas que eu não valorizei, as
histórias que eu não vivi, havia mais em mim do
que eu poderia descrever, com uma bagunça
enorme dentro de mim e dores que eu hoje
acho que não poderei superar, até que eu
percebi que no passado, nós não podemos
mexer, passado é lugar onde a gente não devia
nem olhar, apenas tirar as boas lições e nada
mais, e eu quis simplesmente me focar nisso,
pena ter traçado um objectivo por seguir um
tanto quanto destorcido, nunca tive antes um
mês como o que tive, preenchido por
sentimentos de puro arrependimento. Onde é
que eu estava? Porque eu acho que tudo seria
mais fácil se estivesse ali, mas a minha mente me
dizia totalmente o contrário. Falar e
completamente fácil, quando se tem as
palavras na ponta da língua que expressem sua
opinião, difícil é expressar por gestos e atitudes
o que realmente queremos dizer, o quanto
queremos dizer, antes que essa pessoa se vá,
sempre pareceu fácil demais julgar pessoas que
estão sendo expostas pelas circunstâncias, e
nunca me foquei no quão difícil era encontrar e
refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer algo
que já fez muito errado, sempre foi fácil mentir
aos quatro ventos o que tentamos camuflar,
mas mentir ao nosso coração? Não temos
coragem para tal, admitir que nos deixamos
levar, mas uma vez por ilusões e coisas
supérfulas, isso é difícil, fácil é dizer “oi” ou “tudo
bem?” mas sempre será difícil dizer adeus,
principalmente quando somos nós os culpados
pela partida de alguém de nossas vidas, e será
sempre difícil ouvir a minha consciência
acenando o tempo todo, mostrando as minhas
escolhas erradas, por conta disso tudo parecia
fácil menos a dor da realidade.

Cheguei a Benguela após algumas horas


de viagem, mas de nada adiantou, Naylene
acabou por falecer no dia 07 de Outubro,
minutos antes de eu poder dizer um adeus, um
sentimento desconhecido me possuí-o,
diferente de qualquer outro foi como se tivesse
perdido uma metade de mim, a maior parte
para ser exato, e na verdade perdi, sei que não
era perfeito mas ela cuidava de mim como se
fosse, só de pensar que não sabia viver a vida
ao lado dela, nem aproveitar seus sorrisos e
fazer com que eu fosse o motivo deles, não
soube valorizar o amor que recebia e nem dar
esse amor de volta. Desde então, eu prometi a
mim mesmo dar todo amor que recebi de
Naylene à Leila, era o mínimo que podia fazer,
pois era isso que eu devia a ela.

Minha vida deixou de ser a mesma,


depois que ela se foi a vida meio que perdeu o
sentido, sair não tinha graça me imaginava
chegando em casa, ainda que tarde, sem ter
alguém para beijar a partilhar uma cama,
sonhos e etc. comer não era mais tão
importante e o dinheiro só servia mesmo para
pagar as contas, sem vontade de fazer nada,
sem vontade de agir, de sair, sem querer saber
dos meus “impérios fictícios”. A vida passou a ser
preto e branco, os filmes que ela amava serviam
de lição e foram premiados por lagrimas em
meus olhos, infelizmente ela não estava mais ali
para ver que eu descobri o quanto eu a amava,
descobri a falta que ela fazia, mas foi tarde
demais. Meus supostos reinos começaram a ruir,
perdi o prestígio, o nome, e acabei por perder
as minhas empresas para aqueles que como
filhos alimentei, eduquei, um bando de abutres
que acabaram por excluir-me do meu próprio
reino. E no meio disso tudo alguma verdade
vieram à tona, lembrar que sou órfão de Pai,
excluído pelo resto da família pelo meu
comportamento egocêntrico e egoísta nutrido
por eles, já só me restava Leila. Começando do
zero, apostei em desfrutar da oportunidade de
dar a Leila uma nova vida, de pelo menos
acertar com ela, dar o amor, carinho e a
atenção que ela merecia. A solidão me
consumia, a dor parecia não ter fim, eram
flechas de todos os cantos, e eu estava assim
com alma rota tentado remende-la com um
sorriso, um sorriso com motivo, um nome, um
rosto, minha razão de continuar em pé, Leila.
Foram noites não dormidas, apenas pensando,
queria que quem outrora me trouxe alegrias e
ao meu lado trilhou caminhos desconhecidos,
brindasse comigo o prazer de novas
descobertas, e o ecoar de novos ventos,
lembrei-me do que Naylene disse-me da última
vez que nos vimos - seja egoísta o suficiente
para viveres por nós, aquilo que não
conseguimos viver estando juntos - e naquele
momento, entre lagrimas, fotos e um lenço,
tudo o que eu queria era uma oportunidade
para fazer melhor, para viver melhor ao lado
dela.
3

Fim a cabo Leila e eu mudamo-nos de


Luanda para o Lubango - Huila, tentado seguir
nossas vidas e encara-la de frente, tínhamos um
ao outro, era mais fácil assim, o Pai outrora
ausente já não existia, passei a estar sempre
presente, seguindo de perto os seus passos,
buscando forças e motivos para não desistir.
Conversávamos muito sobre nossos sentimentos,
sobre nossas vidas, nossos sonhos, nossos medos,
Leila deixou de ser apenas filha, tornou-se minha
amiga, minha confidente, minha conselheira,
na altura ela tinha apenas 6 (seis) aninhos, um
pequeno anjo, arrependi-me por ter trocado
esse amor por contratos e viagens que hoje não
me valem de nada, eu vivia em um presente
cheio de lembranças do passado, para me
distrair procurava ler, cantar, sair para passear,
em suma procurava fazer alguma coisa que me
desligasse da realidade, então em um certo dia
enquanto arrumava as minhas coisas encontrei
um carta de Naylene endereçada a mim, pelos
vistos a última que me escreveu, as suas
palavras formaram a mais dura poesia de se ler,
de pensar que o dia mais feliz da sua vida fosse
o ultimo como havia descrito.

Amor;
(...)

Decidi quebrar algumas regras de ética e escrever-te esta carta, possivelmente


as coisas nao aconteceram como o cosmos previu, é super estranho eu fazer isso,
mas prontos, achei que devia ao menos tentar dizer-te algumas palavras, que
creio eu, que poderás guarda-las por um bom tempo.
Lembro-me de uma vez fazeres a seguinte questao a mim, o porque se importa?
Dentre muitas outras, que de igual modo nao sei como devo responder, talvez
nao fosse o meu dever, mas ainda assim escolhi me importar, de um modo
estranho, que me leva a pensar que nada é normal entre nós, eu tive a
necessidade de cuidar de ti, de me pôr na linha por qualquer coisa que envolva
a ti, sei que nunca foi a escolha certa para ti, mas só por fazer morada em teus
sonhos e em alguns pensamentos já significou muito para mim, o mero facto de
que tu pudesses ser só meu alegrava certas manhas e quando a realidade vinha
tona o meu céu se escurecia(...)
Eu sei que podia escrever mais, eu quis escrever alguma coisa para você, é
tudo o que quis, calar e deixar o coracao falar, mas ele talvez já tenha dito
merdas de mais, frases que eu nunca disse, eu ia escrever para você, porque
ultimamente tem sido tu nos meus versos, eu podia lê-los e ver você lá, em cada
virgula, ponto, acento, mas por hoje, só por hoje, escuta o silencia dessas quatro
paredes, eles têm a dizer mais do que algum dia eu poderei dizer, entao,
aprecie o silencio e me diga quando poderes se conseguiu ler além daquilo que
lhe escrevi.
Enfim, de qualquer uma das formas eu quero você do meu lado
independentemente da posicao. Sem mais delongas, eu me despeco com
reiterados abracos, só peco que escolhas uma boa chance de ser feliz, e escolha
certo quando ela aparecer.
Assinado, Naylene Cruz

Os seus escritos fizeram com que no


silencio da noite ouvisse o ecoar da sua voz, pois
era de noite que tudo fazia sentido, era nesse
silencio que ouvia os gritos, fui invadido pela
ânsia de a ter novamente por perto, e me
punha a chorar por dentro por saber que isso
não seria possível, via o jorrar de seus olhos em
meu subconsciente, sentia o bater do seu peito,
imaginava o vazio de sua alma, e os seus
sentimentos vagueando em recônditos cantos
preenchidos por uma dor inevitável de se sentir,
nada parecia fácil de sentir nem leve de se
suportar.

Com o passar do tempo quis dar um novo


rumo a minha vida, deixar para trás o ser
egocêntrico, ausente e egoísta, preencher o
vazio que deixei na vida de Leila, mas, por vezes
a dor e a falta falavam mais alto do que a força
que pensava ter, simplesmente queria ser
alguém melhor, felizmente tinha pessoas
puxando por mim, reencontrei-me com Edmalv
durante a mudança, um velho amigo, um
amigo de infância, atualmente medico,
Neurocirurgião para ser exato, muito vaidoso e
como sempre bem aprumado com suas barbas
sempre compridas e bem tratadas, um
Excêntrico Mortdecai do século XXI, admirado
pelo seu carisma e sua autoconfiança, vendo a
dor e a aflição que carregava, fez valer o seu
lado filosófico dizendo o que de costume dizia
para mim:

- Amigo, vamos nos render e contemplar o belo,


mergulhar no cerne do que outrora não
quisemos mergulhar pelo medo do
desconhecido. Não se preocupe em entender,
viver ultrapassa qualquer entendimento.
nada melhor que uma palavra amiga, Edmalv
havia passado por uma situação idêntica, por
ser um romântico incurável todo mundo
desconfiava que tenha tido mais histórias de
amor do que se possa contar, mas como
sempre soube enfrentar situações do gênero
com a cabeça erguida e nada melhor do que
ouvir a voz da experiência, e nas suas conversas
meio boca meio ao seu palavreado caro
acabei achando a âncora que me fazia
pendular entre a razão e a loucura, refletir e me
posicionar entre o ser e o não ser, entre o ter e o
perder, entre o amar e o esquecer, entre o ouvir
e o falar, em fim entre o estar vivo e o viver,
simplesmente havia, por instantes, me tornado
em um pêndulo equilibrado.

Acabei descobrindo uma nova trilha,


desconhecida, mas fascinante ao mesmo
tempo, caminhei entre espinhos, eu sabia que
não seria fácil, mas desistir nunca foi uma
opção. Em pouco tempo de mudança,
reencontrei a minha primeira paixão, Nicole,
hoje em dia uma jovem senhora de trinta e
poucos anos, que por ironia do destino
estávamos destinados a ser vizinhos, mas é que
vocês não fazem a mínima ideia de como
aquela mulher era irritante, nem eu mesmo fazia
ideia de como fui me apaixonar por ela em
épocas passadas, agora sim eu sei o quanto o
amor é cego, e o que eu sentia por ela, bom,
acho que tinha todos os outros sentidos
bloqueados para ter cometido tamanho erro
meio a uma escolha amorosa. Após aturar uns
bons bocados de sua chatice, continuei com o
mesmo objetivo que originou a minha viagem,
o começo de uma nova vida. Ironicamente o
meu reencontro com Nicole fez-me lembrar de
tempos passados, antes de Naylene, parecia
recente demais para ser verdade, não percebia
como ainda era marcado por isso, o encontro
de dois desconhecidos que por sua vez originou
o começo de uma aventura, um romance
proibido. Dois seres descarados e sem juízo
vivendo na contramão do amor, vivendo um
amor sem tabus, incendiados por uma paixão
avassaladora, envolvente, descobrindo os mais
loucos desejos e fantasias no corpo entregue ao
alheio, no gosto, no cheiro um do outro,
amantes perfeitos, prazer e sedução eram
presentes nesse cardápio, hora frio, hora calor,
fogo e amor. Foram momentos belos os quais as
poesias verborreicas que escrevia descreveram.
Era algo que me consumia, não sei como e nem
porquê, hoje em dia penso que eu estava
seriamente a precisar da assistência de um
psicólogo.
E quando decidi dar um tempo as
fantasias que traziam realidades antigas, a nova
realidade decidiu bater à porta, vida nova,
casa nova, infelizmente as chatices são das
antigas. Só para terem uma ideia, Nicole era um
tipo de pessoa muito imprevisível, quando tudo
já estava um caos e parecia que nada podia
piorar, aparecia ela só para te provar que
estavas errado, podia sim piorar e muito,
quando tudo parecia não ter solução e o último
recurso era desistir, lá aparecia ela para mostrar
que estavas certo, quando pensasses que já
estavas com os nervos à flor da pele e que nada
mais podia te deixar mais chateado do que já
estavas, lá aparecia ela só para te provar que
te podia irritar ainda mais, oh! Pedaço do
inferno! Parecia propositada a capacidade de
ela trocar o certo pelo errado. Mas, seus
defeitos, suas chatices para mim eram
estranhamente perfeitas e atraentes. Haja
cabeça para entender, certo?

A vida no Lubango não era tão fácil


quanto eu pensava, o meu trabalho era
distante de casa, e parecendo que não era um
impedimento para estar sempre perto de Leila,
mas com tempo fui aprendendo que ter uma
vida estável e verdadeira requer sacrifícios, e
construir um novo império estava cheio disso. A
dada altura a vida decidiu sorrir para nós, meu
gabinete foi relocado para perto da área onde
eu vivia, apenas um quarteirão de distância, foi
suficiente para estar perto dela, e claro Nicole
aproveitava-se da situação para me fazer vida
cara, pois Leila ficava com ela quando não
estivesse na escola. Como fazíamos sempre,
todos os anos sem exceção, desde que eu e
Naylene decidimos nos juntar, pois era a única
data na qual eu tinha tempo para estar com a
família, nos reuníamos na última sexta feira do
ano para assistir ao concerto de Natal do coral
em que a sua mãe fazia parte, sentado ao lado
da minha esposa, minha filha, sobrinhos e
amigos deixava meus pensamentos voarem
enquanto ouvia e observava Kandy e seus
companheiros de ensaios às quintas à noite se
apresentarem e ensaiarem a mim que ainda
tinha e tenho muito a aprender, pois o que a
vida sempre desejou de nós foi nada mais que
coragem, sensibilidade e gentileza, amparada
na jornada em que as alegrias miúdas eram um
objectivo transcendental para nós, resistir e sorri
faziam parte desse leque ainda que a história e
o momento não fossem o que desejávamos
desfrutar. Neste ano eu quis fazer o mesmo,
para não afastar Leila dos hábitos aos quais a
mãe dela havia a direcionado, por sorte havia
um local ali perto de casa onde faziam sempre
concertos de natal e não só, então comprei
ingressos para que pudéssemos ver. Para minha
alegria e surpresa tive um segundo reencontro
que me deixou muitíssimo feliz, Edmalv estava
de volta a cidade e dessa vez com Greenfield,
esses que eram e continuam sendo os meus
melhores amigos desde o ensino médio (liceu).
Greenfield era uma caixinha de surpresas, era
Engenheiro, designer, Dj, enfim, munido de
qualidades, conselheiro, amigo, nós, por piada,
o apelidamos de Padre, e após tanto tempo,
estávamos nós juntos outra vez. Como era de se
esperar, ambos, Edmalv e Greenfield, tinham o
mesmo objectivo que eu, comprar os ingressos
para o concerto, então antes de nos
separarmos, fizemos uma paragem para um
café e uma conversa meio boca, que se
encheu de lembranças como era de se esperar.

As alegrias eram muitas, mas nem por isso


ocultavam as dores que por instantes me
fizeram lembrar, mas de certo modo conseguia
supera-las, as dores desapareciam lentamente
e com elas as culpas, simplesmente as
saudades permaneciam. Já era um grande
passo para mim, finalmente aprendi a viver e a
ver a vida de um outro jeito.

Reunimo-nos para um jantar entre


amigos, no qual dividimos a mesa com Nicole e
suas amigas que nos proporcionaram risos, uma
mesa recheada de boa conversa e
maravilhosas lembranças, mas a um ponto da
conversa Handra amiga de Nicole perfumou o
ambiente com uma ideia pertinente

- como vocês acham que seria a vida de vocês


se de repente acordassem e se dessem conta
de que tudo o que vocês viveram até o
momento não passou de um sonho? -
perguntou ela

Essa pergunta paralisou-nos por alguns instantes,


pois nunca nós pusemos a pensar em tais
verdades, minha cabeça fervia, meus
pensamentos aceleravam-se feliz ou
infelizmente iam de encontro com o que me
causava tempestades interiores, pensava como
seria se tivesse uma vida totalmente diferente,
se nunca tivesse conhecido meus amigos,
minha esposa, se nunca tivesse tido uma filha,
nesse tempo era levado a pensar mais para o
passado, se eles, de maneira alguma tivessem
existido em minha vida. Edmalv não querendo
ficar de parte por não ter comentado sobre tal
pergunta, em seguida deixou no ar uma outra
sem que alguém desse uma resposta concisa
de facto;
- Como acham que seria a vossa vida se
acordassem cada dia em um corpo diferente,
vivendo a vida de outras pessoas com as tuas
memorias, sentimentos e tudo mais?

parecia mais uma competição de perguntas


aparentemente sem sentidos entre Nicolau
Copérnico e Nietzsche, de pensar que poderia
ver a vida de inúmeras formas, ver o mesmo céu
azul de diferentes modos e com diferentes
olhos, saber o que nos faz diferentes um do outro
e curiosamente iguais ao mesmo tempo, mas
não poder ficar tempo suficiente para ver algo
ou alguém crescer, tinha la os seus pontos
negativos e positivos, mas o que tornava isso
igual é que as lagrimas vinham tanto na
chegada quanto na partida. De pensar que
havia verdades nas respostas que eu estava
disposto a dar, contorci-me por dores e pelo
sofrimento imaginário, por instantes parecia que
aquelas perguntas me tinham arrebatado a
alma para um plano totalmente diferente e
inexplorado.

Decidimos deixar para trás esse jogo


árcade responsável pela viagem aos labirintos
da nossa imaginação, quando um dos garçons
se aproximou da mesa e ofereceu-me o
microfone, era uma noite de karaokê, ainda me
lembro que pude brindar os ouvidos de quem
me ouvia com a música All Of Me de John
Legend, na terrível voz de Paulo Cruz, confesso
que a terrível atuação trouxe de volta o
ambiente de calmaria e o bom humor do jantar.

No dia seguinte minha em minha mente


ainda ecoava as perguntas de Handra e
Edmalv, surgiam frases, flashes, talvez fosse um
episódio, eu semiacordado, mais parecia um
zumbi com vontade própria. Em meus
pensamentos me desculpava por ainda gostar
dela, após as promessas que fiz, que viveria a
minha vida o máximo que pudesse, seria feliz
por ela, sabes como é, não é, o coração além
de burro não desiste! Contudo, sou fã das voltas
que o mundo da. Só espero que Deus me livre
de me tornar pistantrofóbico, pensava nisso,
pensava em como seria a minha vida daqui
para frente, sem Naylene, sem o amor com o
qual por pouco tempo sonhei.

Cansei-me de pensar e resolvi tomar um


banho, por um bom perfume, me vestir e sair,
vaguear pelas ruas da cidade sem hora para
voltar, fazer algo diferente, viver por um dia, pois
era isso que eu estava mesmo a precisar,
almoçar em algum restaurante e talvez terminar
o dia em alguma discoteca ou em algum outro
lugar que oferecesse um ambiente propício
para não pensar, mas não era isso que estava
reservado para o meu dia, uma mudança de
animo súbita, sem justificação plausível para tal
sentimento, parece que o negro me consumia
do nada, sentia um turbilhão de emoções
inexplicáveis.

Senti-me no fim de tudo, já não havia


motivos para continuar. Senti que o mundo e a
natureza em si são tão inóspitos ao ser humano,
e a vida é tão dura, tão rude e, às vezes, tão
cruel, que é de surpreender essa esperança
invencível que nos sustenta e não permite que
a maior parte da população mundial definhe
na depressão e na insanidade. Bom, tenho
minhas dúvidas, tudo parecia tão tenebroso até
que por fim o meu despertador chamou por
mim. Planos e sensações aborrecidas faziam
parte de um mau sonho graças a Deus.
4

(“Caros amigos prometi guardar segredo, então sobre


esse amor saberão apenas a historia, mas não o nome.”)

Tive um dia normal, diferente do que o


meu sonho previa, então vagueando pelas ruas
da cidade com os meus compinchas Greenfield
e Edmalv, em um belo dia de sol em que
combinamos nos encontrar proxomo ao
parque, havia um local perfeito para nós, fomos
ao encontro de Klaver e Danny equanto
esperavamos que Zaddy Chegasse, posemo-
nos a andar e paramos para ver um jogo de
voleibol, a muito que não via um, mal lembrava
dos tempos em que praticava tal desporto.

Anos depois, uma boca linda e um olhar


misterioso, não há muito o que dizer quando se
há apenas um desejo te corroendo por dentro
com um olhar sem jeito, porém penetrante.
Anos atrás não imaginei que fosse conhecer
outra pessoa com um sorriso tão belo, parecia
estranho, estranho demais para fazer parte de
uma realidade e um dia comum para mim,
quando dei por mim estava eu olhando
fixamente pra ela, morena, um metro e meio
aproximadamente, cabelos longos e pretos,
carregava nela um dos sorrisos mas lindos que
eu tinha visto em toda minha vida, com seu jeito
meigo, parecia que carregava uma criança
dentro dela, lembro-me de ter puxado Zaddy a
um canto para eperguntar-lhe sobre quem era
a menina que me cativou com um primeiro
olhar, ele afirmou com certeza que conhecia e
apos a partida poderia apresemta-la a mim.

Bom, creio eu que todos nós lembramos


do velho ditado que diz “a alegria do pobre
dura pouco” não é, e esse ditado fazia-se sentir
muito na minha vida nos ultimos dias, Nicol,
como sempre, fazia questão de destruir os meus
meros minutos de sossego, também o que se
esperava vindo da dona de um bordel. Mas
nesse dia tudo foi diferente, graças a Nicol
acabei por conhecer a mulher que roubou
minha atenção. Nos envolvemos em uma
conversa muito simpatica, observador que sou,
me focava no sorriso, nos gestos, no olhar, ou
seja em todos os detalhes passiveis de
admiração, quando ela falava, parece que a
voz da brisa simplesmente se calava, talvez um
anjo emudecesse, ela falava e eu apenas
ouvia, parvo, me limitava a contemplar a sua
beleza. Parecia não exitir nada que predensse
a minha atenção como ela.
— Porquê que olhas para mim desse jeito? —
Perguntei a ela.

Ela abaixou seu olhar para o chão, e se perdeu


em sorrisos escondidos
— Desculpe
— Eu disse que não era necessário se desculpar
– mantive o olhar fixo sobre ela, e para aliviar a
tensão perguntei se demorava muito para o
termino do jogo.
— Você é tão tolo que já se esqueceu? -
Respondeu

Digamos que eu ja não tinha um


psicologico muito bom, e aguentar tamanha
beleza era meio complicado para mim, e ela
ainda vem com o pacote completo, ai não
tinha como aguentar. Elogios pareciam meio
superfulos, pois além de linda ela era bem culta,
então mativemos uma conversa estilo Ghandi e
mais alguns monjes que todo mundo
desconhece. Após alguma insistencia,
trocamos os nossos números e moradas,
simplesmente não quis perder a oportunidade
de conhecê-la melhor.

Meus pensamentos me levavam a viajar a


maior parte do tempo, pensando que
impressaão eu teria causado, sabia dos seus
comportamentos estranhos, pois tive de a
conhecer por duas vezes, engraçado mas
apaixonante. A verdade é que aquela não foi a
primeira vez que tivemos contacto.
Encontramo-nos algunas vezes por acaso,
antes que eu ganhasse coragem para convida-
lá para saírmos, nossas conversas nem
pareciam conversas, ela falava e eu apenas
ouvia, eram raras as vezes que eu falava, por
quê não sei, mas era assim, ela era uma jovem
cheia de vida, amava filmes, amava corridas,
amava coisas calmas, mas era louca por
adrenalina, ela era uma mistura doce e azeda,
agridoce, tímida e louca, totalmente diferente
de todas as outras, era paz e guerra,
caracterizada pela musica do Projota, pois tal
como o titulo da mesma dizia tudo o que ela
queria era paz.

O tempo foi passando, fomos nos


conhecendo melhor, quando dei por mim tudo
o que eu queria era ter ela comigo, apaixonado
não estava, ainda, mas estava bem perto disso.
Greenfield e Klaver com as suas exageradas
inclinações para serem cupidos, fizeram
questão de armar uma saida para nós, pois,
alguém tinha que dar o primeiro passo. Lembro-
me perfeitamente do nosso primeiro encontro
como se fosse hoje, era uma noite de Sexta-
Feira, Shoping Xyame, CineMax para ser exato,
após vermos o filme, decidimos andar um
pouco até a casa, estávamos a um quarteirão
da sua casa e a dois da minha, noite de luar,
não dava para desperdiçar o clima.

- Para mim essa é a combinação mais perfeita


que existe.
- Qual? – Perguntou ela olhando para o ceu.

- Lua, estrelas, calmaria, só faltava o barulho


das ondas para completar – respondi

- Não sabia que eras esse tipo de pessoa – disse


ela com um sorriso no canto da boca. – poucos
são os rapazes que admiram as coisas simples
da vida, gosto disso em ti.

As vontades falavam mais alto, o coração


dizia coisas, e a mente reprovava as suas ideias
pois não queria estragar a perfeição do
momento, éramos amigos e não namorados,
queria beijar mas pensei que talvez fosse errado
fazer tal coisa, no momento mil palavras, mil
ideias surgiam para que eu dissesse alguma
coisa a ela, curiosamente ela perguntou se eu
conhecia ou se simplesmente compreendia o
amor na sua forma pura, e as únicas palavras
que saíram da minha boca foram

- Não sei ao certo se compreendo o amor, mas


sei que gosto de ti o suficiente para querer
descobrir o que

Esperava palavras, mas conformei-me com um


doce sorriso como resposta, o momento tornou-
me em um filosofo parvo de mais para expor
ideias claras.

- Confesso que é muito bom estar contigo – disse


ela com um sorriso envergonhado no rosto.
Era estranhamente curiosa aquela
sensassão de bloqueio mental em que a unica
password possivel era a presença dela, os
sentimentos, não se sabiam revelar, sabia bem
olhar pra ela, mas falar era uma equação
totalmente diferente, quem quer dizer o que
sente, nem sempre sabe o que há de dizer, pois
ao falar parece mentir, quando cala parece
esquecer, e essa complexidade era saborosa
de se viver em alguns instantes. Na mesma noite
graças ao calor do momento, nossos labios
chamavam um ao outro, vontade não faltava,
até que acabamos por nos render ao desejo de
nossos corações, beijamo-nos como se não
houvesse amanhã, parecia estar tudo certo,
naqueles miseros minutos perfeitos de mais para
durar uma eternidade, por instantes pareciamos
apenas um, fundidos pelo excitante calor das
diversas pegadas, parecia que eu conseguia
ouvir seus pensamentos atravez dos seu suspiros
e eu podia jurar que a ouvi dizer que erão essas
minhas mãos soalheiras e deliciosas que a
mantinham quente por instantes, erão as
minhas mãos, dava para acreditar, eu ascendia
a sua mente, a fazia subir ao ceu por minutos,
arrancava o seu veu, uma distinta autoridade a
faziam ferver, eu cobiçava o seu corpo a
tremer, as minhas mãos a faziam morrer de
delicias em tanto prazer. E eu como sentia o seu
vibrar, atormentava-me em meus pensamentos
que se tornavam mas fogases e perversos a
cada minuto que passava, com o meu toque a
enloquecia, e pensava eu que talvez um
poema não fosse suficiente pois ela sabia que a
sua sensualidade não cabia em meio pote, se
em um epaço aberto ela tinha a sensualidade
como perfume que vinha de dentro e a atração
que realmente nos movia não passava só pelo
corpo, o que se dira de ideias contrarias ao
hambiente. Uma explicação não seria exata,
pois nesse tema as explicações seriam mais
abstrato do que uma escultura com apenas um
traço no universo interpretativo. Foi um dia
memoravel.

Tivemos outras saídas, fomos conhecendo


melhor um ao outro, até quando eu decidi me
abrir e falar sobre o que eu sentia, feliz ou
infelizmente as coisas nem sempre serão como
nós queremos. Ela estava apaixonada por outro
alguém, talvez, dizia que não era a hora certa
para ficar com alguém pois não sabia o que
sentia na realidade, naquele momento eu só
quis entender porquê que o coração faz
escolhas das quais não nos podemos livrar,
meus sentimentos me trairam, nada que seja
novidade, entendia perfeitamente que no
momento entre nós não poderia existir nada,
mas gostava do que ela me fazia sentir, ela
conseguiu preencher o vazio que a muito existia
em mim, fazia-me sentir alguém, um novo
alguém. Lembro-me de ter expressado a ponta
de iceberg de sentimentos que possuia da
unica maneira que sei fazer, escrevendo.
“Infelizmente eu não posso retribuir o que sentes,
o meu coração não esta livre, e eu não posso
ficar contigo pela metade. O meu passado
ainda faz parte do meu presente, desculpa.”-
foram essas as suas palavras quando sobre
sentimentos decidi falar.

Ela não me podia dar o que eu queria, e


eu de jeito algum poderia obriga-lá a fazer o
mesmo, os sentimentos foram crescendo, e só
Deus sabia onde isso ia parar, não me via a
desistir, a perder, mas também não me via
insistindo mais, em uma luta na qual estava
destinado a perder. Recusava-me a acreditar
que algum dia a sua resposta ao que eu sentia
foi não, mas essa era a realdade, e de uma
maneira ou de outra eu teria de seguir em
frente, erguer a cabeça, continuar sendo eu,
pois frieza nenhuma justifica um coração
partido.

Parei para pensar novamente, refrescar


as ideias, fazer o uso do analgegico natural, o
tempo, seguir a lei da vida sem vandalizar o que
outrora nos fez feliz, foi um dos momentos em
que tive uma conversa comigo mesmo,

- hey para um pouco, reduz essa intensidade


toda, respira, vamos chegar ao ponto da
questão,e consequentemente a uma solução.
- Por um motivo ou por outro as suas emoçãoes
foram excitadas por comportamentos que te
cativaram você não tem culpa.

Após alguns tempo e esforço, de cabeça


erguida, mais um episodio foi escrito, então
posteriormente dediquei-me ao trabalho onde
tive o prazer de ser promovido e posteriormente
tive meu gabinete relocado novamente, onde
tive honra de fazer novas amizades, no entanto
acabei trabalhando com uma amizade não
tão nova assim, Zaddy seria meu parceiro de
trabalho nas prospeções e nas investigações
Geo-Arqueologicas que estava prestes a fazer.
Com isso decidimos sair um dia para
almoçarmos, ou seja, para por a conversa em
dia, curiosamente avistei-me com alguém, uma
aparencia diferente no mesmo corpo, passava-
me pela mente, eu coheço esta pessoa e seu
cheiro me é familiar, mas simplesmente deixei
passar, havia coisas mais importantes no
momento para me preocupar.

Passaram-se sessenta dias depois de um


ano de trabalho, quando finalmente tivemos de
marcar uma reunião para estabelecer outros
parametros para continuar o trabalho, em que
os acontecimentos foram os mesmos, mesmo
corpo, mesma silhueta, mesmo tom de voz,
mesmo perfume, mas não pode, passou-se
quase um ano, não tem como ser ela, outra vez,
e esse cabelo loiro? Seu cabelos são pretos, ou
castanhos escuros, mas por fim deixei passar tal
coisa, outra vez, para me focar no que era
verdadeiramente relevante no momento. Meu
pensamento se corroia mais do que eu era
capaz de controlar, pensamentos percorriam o
meu cerebro a velocidade da luz no exato
momento em que o meu telemovel toca, era
Zaddy, avisando que tinha-mos de nos
encontrar no refeitorio havia uma papelada por
assinar e estavamos na pausa para o almoço,
onde tudo teve um novo começo. Zaddy e ela
estavam juntos, conversando, quando ele
chamou-me para que pudessemos começar
com o trabalho, e eu estava outra vez frente a
frente com alguém que era uma desconhecida
muito bem conhecida, ali, naquele exatamo
momento deu-se o inicio de um novo ciclo.

Estando no mesmo trabalho tornava as


coisas mais faceis, mais dificeis, mais
complicadas talvez mais simplificadas, não ha
como saber ao certo, talvez o cosmos ofereça
mais de mil chances a quem so pediu por uma.
Sai do trabalho para casa, e no percuroso
deparei-me com uma frase no letreiro de uma
publicidade que dizia “uma força do
sobrenatural pode mudar o rumo de uma vida”,
mais paradoxal nao podia ser, mas ainda assim
foi suficiemte para me colocar a pensar em tal
escritura.

E assim ia, mais uma noite, e com ela se


foi o medo de perder o que eu nunca tive, a
vontade de lutar por algus impérios, a fantasia
de sermos um só no alheio de nossos corpos, as
esperanças de uma manhã colorida, pois como
dizia sempre Renato, um dos meus amigos de
longa data “uma vez que as cochoeiras
geradas do meu interior alimentavam o
cinzento de um céu outrora azul, exterminavam-
se as vontades, de te ter e querer. Mais uma
noite se foi, e surgi um dia em que o sol não
brilhava, simplesmente nasci um conto de
fadas, mas, sem magia.”

Com o tempo aprendi que, somos


movidos pelas palavras sejam elas boas ou não,
somos constituídos por verdades assim como
por mentiras, eu escolhi mentir a mim mesmo
que a podia esquecer qualquer coisa e me
interessar por outra pessoa, mas eram meras
mentiras, palavras e promessas nunca definiram
o que o meu coração sentia. É dificil esquecer
um impacto na dimesão de 900 toneladas em
uma fração de segundos.

Havia verdades ocultas, eu não


conversava sobre sentimentos e as coisas se
matiam trancadas ca dentro, mas apesar dos
apesares queria que soubesses o quanto eu
gostava de ti. Historias nem sempre têm finais
felizes. Mas enquanto tivermos a oportunidade
de definir os episodios da mesma, ela não
precisará de ter um Fim. E quero revogar o
direito, onde podemos eternizar lembranças e
viver de emoções. Decidi aceitar as tuas
decisões e seguir em frente, mas antes disso
queria que lesses a carta que te escrevi:

Resolvi escrever porque nao sei se teria a oportunidade de te ver novamente. Às


vezes fica difícil acreditar em palavras ditas ou escritas. Bem, eu gostaria muito
de demonstrar os meus sentimentos, nao apenas com palavras, mas com atitudes.
Porém, nem sempre isso é possível, nem sempre as pessoas estao abertas para
aceitar.
Reconheco todos os seus motivos para tal e compreendo, mas algo que ainda me
incomoda é gostar de ti e nao poder ser correspondido.Por isso, as vezes nao
devemos deixar o tempo resolver ou responder por nós. Nao me envergonho de ter
que mostrar o quanto eu gosto de você, porque sou humano e, se nao deu certo é
porque nao era pra ser. Das idas e vindas nas voltas que a vida dá, aprendi
algo essencial. A ME AMAR independente de qualquer coisa, a nao me
permitir mais a certos tipos de situacao.
É preciso coragem para enfrentar todos os nossos conflitos internos, e em meio a
tantas emocoes; parar, refletir e ser racional. Tomar uma ATITUDE!
A amizade ficará para sempre. Agora é preciso seguir em frente! Grande
abraco, espero te reencontrar um dia.
Acredito eu que isso nunca Foi um adeus.
E a pior parte é de puder lembrar de tudo.
5

Quando dei por mim, estava eu, perdido,


na minha mente bagunçada, perdido entre
ideias, lembranças, planos, perspectivas,
crenças, passado e presente, querendo
entender o futuro, perdido entre sentimentos,
ilusões, amores, rancores, querendo achar uma
saída, um mero buraco para poder respirar e
me livrar desse filme de longa metragem ao
qual muitos chamam de lembranças. Ancorado
em um mar em que estava patente o naufrágio
eminente, diversas correntes me prendiam a
uma prisão da qual já estava livre, mas meu
corpo habituou-se a seu peso, tanto que tinha
receio de que a liberdade fosse mais dolorosa.

E naquele momento, o oxigênio sumiu ou


os meus pulmões pareciam não querer mais
receber ar, os meus pensamentos pareciam
não ter fim, eram milhões e milhões de
pensamento que tomavam conta da minha
mente por segundos. Naylene, a miúda
misteriosa, Leila, qual desses amores fazia a
minha mente se corroer. A dúvida era mais forte
que a certeza, eu só queria entender no que
verdadeiramente estava a pensar, queria que a
minha razão de sorrir, Leila, tomasse conta dos
meus pensamentos por completo, mas por
algum motivo tinha uma mistura de
pensamentos e sentimentos dos quais eu não
entendia nenhum, eu quis não sentir, mas
parecia impossível.

Já lá se foram os anos em que eu a podia


ter só para mim, em que eu não era obrigado a
dividi-la com o mundo, hoje ela já é quase uma
mulher, hoje eu tenho que dividir suas lagrimas
com o seu travesseiro, suas alegrias com os seus
amigos, seus segredos com aquela que outrora
era o meu maior pesadelo, Nicole, hoje eu
tenho de me conformar, tenho simplesmente
que aceitar e apoiar as suas escolhas. Queria
poder dividir minhas alegrias com Naylene, e
não lembrar que ela já não está aqui do meu
lado, dói saber que seu cheiro ainda invade o
meu olfato durante o dia, seu rosto, seu sorriso,
seu corpo ainda invadem os meus sonhos, já
não há um porto segura em que me possa
esconder para não ser tomado pelas saudades
e torturado pelas visões, até restar apenas a
imensidão do vazio em mim.
Quem me dera lembrar das minhas
amizades de infância, das minhas amizades do
médio (Liceu), eram as melhores companhias,
hoje em dia, muitos não passam de meros
desconhecidos, e outros ainda permanecem
em minha vida, queria lembrar de como a nossa
eterna amizade demorou o tempo suficiente
para marcar nossas vidas.

Preferia ainda lembrar da mulher pela


qual escolhi abrir o coração, ou pelo menos
acho que cheguei perto disso, poder lembrar
do seu sorriso, dos seus abraços, das nossas
conversas, da sua voz imelodica cantado tudo
o que podia. Quis lembrar do quanto eu era feliz
tentando ganhar o seu amor, ou simplesmente
tentando despertar um mero sentimento acima
dos níveis de amizade, mas o estranho e que a
minha vontade era munida de gritos sem voz,
simplesmente navegava perdido na nevoa
existente em meus pensamentos, as vezes
tentando não lembrar, tentando não pensar,
tentando expulsar os intrusos, os assaltantes da
minha atenção, mas é inútil, pois mas parecia
que como encéfalo ou cérebro
desempenhavam um papel crucial no
funcionamento interno da minha estrutura
mental. Quis lembrar de tudo e ao mesmo
tempo de nada, tudo o que quis era me
encontrar nos meus próprios pensamentos,
lembrar apenas daquilo que me fazia bem, ter
o controle sobre isso, com lembranças as vezes
os meus medos eram despertados, não me
lembrava de lembrar se algum dia alguém se
lembraria de mim pelos meus feitos, se Leila irá
sorrir quando lembrar de seu Pai? Se meus
amigos, meus irmãos se lembraram que fiz parte
de suas vidas? Se o meu amor incompleto se
lembrará de mim com a alegria e satisfação de
um dia me ter conhecido? E Nicole lembrará de
mim? Como? E Zaddy, Edmalv, Klaver,
Greenfield? Mais do que amigos, mais do que
irmãos, o que eu serei para eles quando partir?
Será a minha história algo relevante a partilhar?

As emoções fluíam, quem diria que um


mero sentimento desencadearia tudo isso, se eu
lhes pudesse dizer alguma coisa agora, de certo
que diria: não quero ser apenas um
pensamento passageiro, mas quero poder fazer
parte dos vossos pensamentos matinais, quero
que se lembrem de mim, quero me tornar uma
parte de vocês, quero fazer parte da vossa
essência.

Eu era prezo por correntes, sim correntes,


presas nos pulsos da minha memória, que me
faziam viver em alguns instantes, e em outros
retiravam o pouco de vida que me sobrava,
mas a liberdade parecia mais dolorosa eu me
recusava a deixar a luz entrar, a enxergar o
obvio e a aceitar a verdade, sobrava apenas a
opção de enterrar as minhas lembranças e
tormentos no vago espaço da minha alma,
entre caídas flores e um copo com gelo e gin,
simplesmente depositava tudo junto a enorme
pilha de erros, revoadas de escuridão em tantos
pensamentos, misturavam-se todo o tipo de
emoção que limitavam o meu sentir meio a
montanha de sentimentos incertos, até que
meio a esse enredo poético que usei para
descrever esta situação, o meu suspiro quebrou
o silencio intenso, incomodo e interrupto que
torava o momento propicio para um suicídio
emocional. E meio ao que eu queria ter, lembrar
ou ser eu queria mais é me achar onde mereço,
longe de dúvidas e tristezas, mas só me
encontrava onde não pertencia, situações
diferentes do meu comum.

Quando por fim brilhou o primeiro raio de


sol do dia, que atravessou as janelas e as
cortinas do meu quarto fazendo-me despertar
de um sonho acordado, e eu acordei pensado
na vida, parecia um dia perfeito para uma
caminhada, para sair com os amigos quem
sabe, longe de tudo que a noite me
proporcionou, foi quando tive a ideia de fazer
as pazes comigo mesmo e me colocar para
fazer uma terapia individual. Me coloquei a
discutir com o espelho, tal como todas as
manhãs por vezes fazia, e meio a esse ritual
perguntas como: em quem me tornei? Como
vim parar aqui? (Tão distante de mim mesmo)
surgiam nesse bate boca, eu mal consigo
formular palavras a desconhecidos, nem
mesmo acreditava mais na minha capacidade
de marcar a vida de alguém que eu
conhecesse, eu estava literalmente no fundo,
embora pesava a ter superado, o meu
complexo de inferioridade já me fazia perder
noites de sono a procura de respostas para
medos ridículos, muitas vezes inexistentes. A
história parecia mais complexo e confusa do
que podia parecer na verdade, talvez volte a
contar e complete com os versos em falta.

Hoje Leila faz 15 anos, e o objectivo é


tornar este dia especial para ela, leva-la a fazer
alguma coisa também faria bem a mim, então
decidi tirar o dia de folga, e aproveitar ao
máximo o dia com a minha filha, passamos o
dia todo fora de casa apenas eu e ela, lanches,
cinema, compras, jogos, preencheram o dia, no
final do dia ela falou-me sobre o seu sonho,
entraria no ensino médio e queria seguir o seu
sonho de se formar em Artes-Plásticas, então
escolhi, no mês seguinte, manda-la para junto
da avô, em Benguela, para continuar a sua
formação, em artes, tornar o mundo mais
subjetivo, poder dar aos outros a capacidade
de interpretação, poder jogar com suas mentes,
suas atenções, seus olhos, seu intelecto era um
dos poucos objectivos de sua formação, e não
me restava nada a não ser apoiar as suas
escolhas, por mais difícil que fosse para mim
concordar, tive de aprender a ser forte por ela.
Ao voltar para casa pedi que Nicole preparasse
uma festinha surpresa para Leila e suas amigas,
afinal de contas o objetivo era tornar o dia
especial, então dirigi-me ao escritório e
coloquei os auriculares para me perder um
pouco nos meu pensamentos, Jerry Jack & L-
Diey – Tarde Demais, foi o bilhete de passagem
melódico que decidi comprar para essa viagem
ao cerne de mim mesmo, nada me restava a
não ser a minha mente como companhia, e
nada melhor do que gastar o meu precioso
tempo com quem me intendia melhor, EU.

Então permiti-me entrar e dar início a essa


pequena terapia, acomodei-me e incomodei-
me com o que vi, era diferente do que estava
acostumado a ver ou do que me permitia ver,
imaginava que fosse diferente talvez, não
esperava tanto caos, desordem, bagunça,
estava tão acostumada a entrar por becos e
vielas, procurando um pouco de organização e
não encontrar pedaços espalhados de quebra-
cabeças mal montados, eram tanta sucata
abandonada, tanta confusão em uma mente
aparentemente pequena, e eu sabia o porquê,
eu fugi de mim mesmo, abandonei-me por um
bom tempo, esperava que alguém aparecesse
para arrumar a minha própria bagunça,
achava que seria dever de outra pessoa limpar
e arrumar as tralhas que nem mesmo eu me
dava o luxo de arruma-las.

Arrumar a minha própria bagunça não


seria fácil, convidar os meus demônios para um
café parecia algo arriscado de mias para se
fazer, no começo eles iam tentar me matar de
certeza, nada fora do normal, são demônios
afinal de contas, e a verdade é que concertar
um coração ou uma mente quebrada não é
um trabalho fácil, requer paciência, ouvimos
todos os dias que o tempo cura tudo, quantos
de nós somos a prova de que isso não passa de
uma mentira esfarrapada para amenizar as
coisas, uma lenda talvez, de certo que ao
arrumar a minha bagunça vou encontrar as
dúvidas que plantei, na hora certa elas iriam
florescer, era inevitável, mas a esperança de
que tudo isso fosse possível veio nos primeiros
raios de luz que rompiam das janelas que nunca
foram abertas, e creio que quando começar a
fazer essa limpeza mental a luz e a nitidez serão
maiores, talvez só precise começar do zero e
refazer as coisas.

Mas meio a essa bagunça não encontrei


os meus sentimentos, para onde foram os
sentimentos? Onde foram as dúvidas? E o que
aconteceu depois disso? Talvez só o tempo e os
sete ventos do Sul poderão revelar esses
segredos para vocês. Ou talvez vos conte no
próximo capitulo.

Mal me dei conta e acabei caindo no


sono, na manhã seguinte acordei com o
barulho de uma notificação do facebook do
tipo “fulano marcou-te em uma publicação”,
era uma publicação de um amigo, e a mesma
dizia: “Nós nos tornamos a incrível geração que
usa camisinhas no coração” parecia ser
impossível concordar, mas após tudo o que foi
vivido meio a esse curto espaço de tempo me
senti tentado a concordar, afinal, não seria mais
difícil dar o corpo do que se entregar de afeto
e alma? Essa parece ser a tarefa mais difícil nos
dias de hoje. Não seria mais fácil ter um orgasmo
do que encontrar companheirismo? Hoje o
prazer se reflete onde não há afeto. Não seria
mais fácil achar alguém que tire a nossa roupa
do que achar alguém que por quem vale a
pena despir a alma? As conexões emocionais
tornaram-se raras, e cada vez mais escassas, e
a incompatibilidade de emoções parece ser o
produto mais barato no mercado. Isto só
fortalece as minhas certezas de que é muito
mais fácil viver na superficialidade, e a cada
momento, a cada pensar, a cada frase
construída eu encontrava um motivo para
esquecer o que foi outrora vivido.

Nos tornamos na incrível geração que usa


“camisinhas” no coração, e
consequentemente temos usado toda a sorte
de contraceptivos emocionais, para amores,
paixões e qualquer outro tipo de conexão a um
nível “ameaçador”. Amar já não tem graça
para muitos, há quem afirma que o amor está
morto, ou que ele nunca existiu, mas me lembro
que no meio dessas inverdades, o que faz com
que as mesmas existam foi a previa existência
desse sentimento chamado amor, nos
prendemos meio a desculpas e privamos a
nossa flora interior de brotar.

E como a típica frase que Zaddy


costumava usar “Abstinência de palavras,
overdose de pensamentos” e eu me atrevo em
reescreve-la “Abstinência de sentimentos,
overdose de emoções”, o que me leva a pensar
que talvez se as pessoas se dessem o luxo de
abrir os corações, se elas simplesmente tirassem
o que está dentro de certos corações
trancados a sete chaves, se as pessoas
dissessem como realmente se sentem, as ruas
estariam inundadas de lagrimas.

Mas ainda assim remontasse a teoria da não


existência de tais sentimentos, mas porquê? Se
tais pessoas se tornaram nesse iceberg nessa
bola gélida e fria pela previa existência de tais
sentimentos, porque sofreram por sentir, se
magoaram por sentir, deram com a cara no
chão por sentir, tudo se resumia a existência de
algo, de um sentimento, de algo fora do normal,
então me respondam: COMO SENTIR ALGO QUE
NÃO EXISTSTE? Nada vai bem em um regime
político em que as palavras contradizem os
factos.

______________________________________________

“Através das palavras escritas conseguimos expressar o


que estamos sentindo por dentro. Delas, conseguimos
desabafar e colocar para fora o que não temos coragem
de falar. É por isso que escrevo, para poder expressar com
escrituras, o que muitos não teriam paciência para escuta-
las."
Desde então minha filosofia de vida
mudou por completo, sinal de que finalmente
consegui fazer as pazes comigo mesmo, sova
como o começo de algo novo, apetecia-me
fazer algo fora da rotina, alguma coisa
diferente, foi quando lembrei-me que havia
recebido o convite de um amigo que relatava
algo parecido com um “clube de pensadores”
onde expúnhamos ideias e por vezes
recebíamos terceiros, uma forma de aprender
mais sobre a vida, sem tabus, sem julgamentos,
e garanto que no começo não foi uma boa
ideia, de certo modo eu sabia que tinha
pensamentos que, se pudesse revelá-los e fazê-
los viver, acrescentaria nova luminosidade às
estrelas, nova beleza ao mundo e maior amor
ao coração dos homens, e outros seriam
macabros de mais para serem expostos, e era
disso que eu tinha medo, mas hoje abraço até
meu lado mais sombrio e encontrei alguns
semelhantes, então era pouco provável
aterrorizar alguém que tenha vivido episódios
idênticos.

A princípio me perder foi uma das


melhores coisas que aconteceu pois encontrei-
me em caminhos diferentes, e de formas que
nunca havia imaginado, achei a minha
essência, e ter achado a minha essência trouxe
de volta a sensibilidade espiritual que perdera
faz tempo, e tinhas os meus pensamentos a flor
da pele a maior parte dos dias, nunca consegui
compreender a capacidade que o homem
tinha de viajar para lugares totalmente
desconhecidos, desvendar os mistérios da
galáxia, buracos negros e tudo mais, e ao
mesmo tempo possuir uma incapacidade
abismal de viajar para dentro do seu próprio ser,
no seu interior, para desvendar os mistérios da
sua alma, dizem ser mais assustador
enfrentarmos a nós mesmos do que aos ouros, e
sempre que me vinha essa verdade a mente
lembrava-me de imediato das palavras de
Dalai Lama - não existem mistérios ou medos,
confronta-os e verás – e num tom sereno
associei a frase de Denys Mucuege a voz de
Klaver - acenda a luz e recupere o teu eu, a
falta de coragem destrói pontes, evita engolir-
te a ti próprio, entrega-te às evidencias do teu
ser.

Mais parecia que eu estava rodeado de


filosofo como Platão ou Descartes, por
conseguinte acabava por sentir que havia um
em mim também, quando caminhava a minha
mente era preenchida por palavras, mas
poucas eram as vezes que as deixava sair até
que comecei a fazer apontamentos, na
empresa, em casa, na rua, ainda me lembro de
uma das primeiras coisas que escrevi mesmo
sendo uma lembrança vaga – “Não é possível
vivermos todos os dias e todas as noites ao
mesmo tempo, não da, não há tempo, assim
como as horas são o morrer de uma e o
despertar da outra, nossa existência também é
culminante por etapas.” - para cada momento
havia uma frase ideal, chega uma fase da vida
em que nos perguntamos o que realmente
queremos, o que realmente somos, por várias
vezes e por vários motivos eu me perguntava
isso, e em mim encontrava frases que davam
respostas a essas fazes todas, eu achava ter
achado o meu porto seguro, mas a verdade era
que eu me mantinha firme meio ao
emaranhado de dúvidas que se geravam a
partir de dentro mim, podia mudar quando
quisesse, mudar meus ideias, minhas
convicções, minhas crenças, meu jeito de
pensar, de agir e de viver, mas as mesmas
seriam forçadas era uma mistura confusa do
que eu escolhi ser.

Como um todo eu era movido por um


sentimento, por um objetivo, ser melhor em
tudo, em todos os sentidos, e queria continuar
carregando isso dentro de mim, ainda que para
isso forçasse mudanças.
“Nada será o mesmo para sempre, tal como as coisas,
as pessoas serão obrigadas a mudar, seja por crescimento, seja
por sofrimento, ou por obrigações maiores que elas, nunca nos
manteremos os mesmos, ainda que acreditemos que sim, é só
uma crença. ”
6

Final de semana, havaianas e calção,


praia e lua, estranho, mas o comum não me
atraia, desde pequeno sempre fui atraído por
essa combinação fora dos padrões, e a
calmaria que o oceano transmitia acalmava
qualquer tipo de fera existente dentro de mim,
me fazia lembrar do que Einstein dizia – o
oceano, em muitos, causa receio, em alguns,
respeito, em outros, fascinação. Mas ele pode
nos dizer mais do que pudemos imaginar. Ele
pode nos embriagar em sua imensidão (...) – eu,
literalmente, era preenchido por uma
fascinação imensurável, a minha vida, meus
sonhos, meus desejos, meus amores, meus
medos tudo passava em minha mente como
um flashback já vivido em alguma vida de um
plano alternativo, tanta calmaria me fazia
pensar, pensar mais do que o normal, e silencio
e solidão nunca fora uma boa combinação
para coisas adormecidas, então já dá para
imaginar o que vinha à tona, e como se não
bastasse, tinha como música ambiente Rui
Orlando - me leva contigo, fio então que
percebi que somos preenchei que como o
universos somos preenchidos por vários
desconhecidos, e do que adianta viver, se não
existir motivos de sorrisos meio as descobertas
do nosso universo interior, era uma das
perguntas pertinentes no momento, Edmalv e
Greenfield vieram ter comigo, e dispostos a
oferecerem-me algum prazer meio ao escrever
de uma nova história, convidaram-me a sair,
fazer o que geralmente fazíamos nos anos
passados, compramos um monte de comida e
posemo-nos a contemplar a cidade num dos
pontos mais alto da mesma, boa conversa, nós
e a natureza como companhia, nem nos
dávamos conta do tempo a passar.

Na manhã seguinte, tarde de sábado,


preguiçoso de mais para sair e até para
contemplar o canto dos pássaros, CJ, que era
carinhosamente chamado de Papoite, bateu a
porta de minha casa alegando que precisava
de mim com muita urgência, após um banho,
vesti-me e saímos, como era de se esperar era
nada mais nada menos do que uma
maquiavélica ideia de Greenfield, o mesmo
marcará uma saída com amizades antigas e
dentre elas, Nicole. Não era suposto, mas o
ambiente foi propicio para que as recordações
surgissem, boas recordações, não bastava
Greenfield estar apaixonado e tentando
reconquistar o seu primeiro amor, nós, Edmalv,
eu e o Papoite, tínhamos de estar presentes
para por ironia do destino recordamos de tudo
que aconteceu no Liceu, o trio de amigos
saindo com o Trio de amigas mais desejadas da
nossa época. Acabamos por nos deixar levar
pelas conversas e pelos bons tempos vividos, já
me tinha esquecido do quão bom era desfrutar
esses momentos. Momentos para se recordar
não faltavam, as inúmeras indisciplinas
cometidas, as tretas que aprontávamos, os
grupos criados, e o poder que nos foi dado
quando nos candidatamos para a Associação
de estudantes do liceu na época, as partidas,
as razias, entre outras lembranças que faziam a
barriga doer de tanto rir, também existiam fases
más, mas até delas conseguimos nos colocar a
rir, pois o passado trazia consigo um balsamo
especial, mas além disso tudo, o passado trouxe
um clima de tensão na mesa, pois também nos
fez lembrar de como nos sentíamos atraídos uns
pelos outros, e tentar fugir de tais coisas era
meio impossível, porque tudo era propicio no
momento, nosso restaurante favorito, uma
franquia, nossas comidas favoritas, canções e
conversas, tudo remetia a isso, era difícil e ao
mesmo tempo prazeroso viver aquele
momento, e assim o dia foi passando, e quando
nos demos conta a lua já estava brilhando no
céu, o tempo passou por nós e nem demos por
ele, a parte má de é que ainda me lembrava
do muito que aconteceu entre nós, para meu
azar, e como não era suficiente, Greenfield
ainda sugeriu que levasse uma das meninas
para casa, por já ser tarde tornava o caminho
de regresso meio perigoso.

A noite extasiante, éramos dois


“desconhecidos”, entregues de corpo e alma a
uma noite que nos cobria com seu manto de
estrelas reluzentes, no carro a música romântica
quase melancólica, mas se tornava irresistível e
impulsiva, nos envolvíamos a cada vez mais
pela sedução da madrugada, e com a
conversa agradável, com nossas sensibilidades
todas atingidas, era um combo de injustiças que
não dava para aguentar, a emoção
aumentava e com ela o desejo, ainda
demoraria um pouco para chegarmos a casa
dela, quando então ela sugeriu que fizéssemos
uma paragem a beira mar, pois ela queria
contemplar as estralas, sentir a areia nos pés e a
brisa fresca da noite, com uma mão no volante
a outra sobre sua coxa, dava para ver que ela
não se importava que a tocasse, era agradável
para ambos. Poucos minutos depois paramos,
desliguei o carro e deixei a música tocando, era
apaga a luz de Gloria Groove, descemos do
carro e sedemos os nosso pés descalços a areia
da praia, era uma noite fria, ambos
desagasalhados nos abraçamos para que
pudéssemos contemplar a beleza da noite
enquanto nos aquecíamos, as minhas mãos se
corromperam pela vontade e acabaram
deslizando pelo seu corpo saliente fazendo-a
arrepiar-se inteira, parecia que tudo nos
convidava, sua boca chamava pela minha,
seus olhos pelos meus, meu corpo pelo dela,
então nos rendemos, entrado para o banco
traseiro do carro deitamos sobre a cama estrelar
por quentes horas de amor e balbucia. O fogo
de nossos corpos nos dominava e
mergulhávamos profundamente na sensação
de fazer o mundo parar no tempo e, enfim,
serem escutados os nossos gritos de satisfação
no ritmo do bater das ondas. Dentro daquele
carro navegava na bruma dos seus seios tão
quentes, nunca senti nada assim, o corpo, o
rosto, o cheiro, erão assim, para mim, tão
diferentes de qualquer coisa que me pudesse
lembrar, mas tive de me conter e não deixar a
excitação falar mais alto. Decidimos nos
recompor e sair do carro para aproveitar a brisa
fresca e conversar um pouco mais, até que no
final da noite deixei-a em casa, despedi-me e
voltei para o meu mundo.
No dia seguinte, tiramos a tarde para
conversar entre amigos, apenas rapazes dessa
vez, dividir um vinho e por a conversa em dia,
aproveitar o domingo, e no desenrolar da
conversa acabei descobrindo que não fui o
unico que havia provado um pouco do seu
passado, todos tinham historias por contar,
momentos dos quais detalhavam e outros que
prefereiam deixar em segredo, ate que
Greenfield disse:

- quem dera fosse apenas uma conquista de


uma noite, pois paixões não são sentimentos
exatos, por instantes me senti atraido
novamente pelo seu corpo, seu sorriso, suas
conversas, e tudo mais, mas não era o suficiente
para amar seu todo.

- Cala a boca oh pasteis, estas a estragar o


momento com essa tua filosofia toda profunda
– disse Edmalv

caimos de imediato no riso e no gozo,


tentávamos fugir uns dos outros, mas feliz ou
infelizmente não havia muito que pudéssemos
fazer, e o poema acabava sempre por se
repetir. Caimos em risos pelas piadas que o
Papoite e Edmalv jogavam pelo comentario de
Greenfield, mas no fundo todos sabia, que
havia uma pitada de verdade, e todos
esperimentamos as mesmas experienencias.

Éramos isso, apenas isso, amigos amantes,


pois ambos estavamos cheios com as nossas
quotas de amores errados e enganos por causa
de definições românticas certamente erradas.
Meus pensamentos eram ocupados por aquela
sensação de quero mais, enquanto argumentos
desconhecidos me devoravam por dentro
numa ausência igualmente repetida, fingia
espanto quando recebia suas chamadas como
se fosse algo que eu não estivesse a espera, mas
aguardando o que se me afigurava, me perdia
meio as negações do que eu certamente
queria, queria ter certeza nas voltas a dar.

Caminhei ao seu lado na manhã


seguinte, a terça feira lotada de papeladas por
assinar, dos quais me decidi esquivar, sem que
ela desconfiasse de qualquer sorte de vontade
existente

- desiste de te ausentares - dizia eu - o seu


mundo interior está desorganizado, talvez eu te
ajude a encontrar um caminho através de ti,

- eu quero voar de novo - respndeu ela olhando


fixamente para os meus olhos e continuou
dizendo - e dessa vez sem amarras, avançar
caminhos, entregar-te o meu sorriso, o meu
corpo, e só preciso que me dês o que quero, já
somos adultos, mas até os crescidos precisam
brincar as vezes;

era injusto, o corpo dela era uma verdadeira


obra de arte, e ela olhava para mim com um
sorriso malandro e covarde, não há psicológico
que aguente, infelizmente para mim a paixão
era como um preconceito, ao meu ver nos
atraiamos pelo que precisávamos, pelo que
achámos que nos fazia bem, que para nós era
conveniente, e o qu ela dizia precisar no
momento eu não sabia se queria ou se pudia
dar. De igual modo eu era tentado a querer
algumas coisa, mas não era da razão que eu
precisava no momento, então convidei-a a
passar pela minha casa as 20h do mesmo dia,
apos a minha jronada lanbral, aproveitei o resto
da tarde para me organizar, despachar todo o
trabalho e ter a noite livre, além de tudo uma
senhora merece um verdadeiro tempo de
qualidade.

Eram 20h:30min e ela tocou a campainha


de casa, atendi-a, ao abrir a porta uma visão
única, um vestido vermelho cobria o seu corpo,
uma racha na perna direita mostrava a lingerie
que condizia com a cor do vestido, renda por
baixo, ela sabia que eu adorava isso, mas sem
pressas, ofereci-lhe uma taça de vinho, e
convidei-a a sentar-se à mesa, vinho e luz de
velas decoravam o ambiente, a melodia n
fundo era a música de ambiente de Darion
Ja´Von, proporcionou-nos o clima ideal para
aquela noite, tivemos uma excitante conversa
antes que terminássemos o jantar, até que por
instantes ela levantou-se e dirigiu-se a mim,
convidou-me a dançar, e ali no centro da sala,
com os nossos corpos encostados um ao outro,
nesse momento começou a nossa noite, ela
passou a mão pelo meu peito, enquanto a
agarrava firme pela cintura, olhei-a fixamente e
devagarinho fui aproximando os meus lábios
dos seus, deixamos os nossos corpos falarem,
entregamo-nos a paixão, ao calor do
momento, retirei o seu vestido enquanto ela
lentamente desabotoava a minha camisa e
abria-me o sinto, toquei-lhe o corpo e a mente
até que seus suspiros substituíssem a música nos
meus ouvidos, e era a única coisa na qual
conseguia me concentrar, entre trocas de
caricias, excitação, calor, um vai e vem de
emoções e prazeres nos perdemos na conta do
tempo, tornamos aquele momento eterno com
o pico mais alto de qualquer ato, seu corpo se
rendia ao momento, sua mente não podia mais
resistir até que ela soltou o seu grito seguido de
um suspiro único, squirt, era apenas começo de
uma longa noite.

Durante duas semanas, tornou-se meio


que um habito, e vicio para ela, me ter era uma
satisfação necessária a seu ver, até que
entramos em fóruns que prometemos nunca
discutir, sentimentos não faziam parte do nosso
acordo, não por não querer, mas por algum
motivo era difícil sentir alguma coisa
relacionada a isto, então ela perguntou-me se
poderia ter esperanças, se talvez um dia o amor
poderia nascer entre nós, eu queria dizer que a
amo, mas não podia, como dizer isso se há dez
mil outras pessoas no mundo que eu amaria do
mesmo jeito se as conhecesse? Mas ainda que
quisesse não poderia fazer isso, pois, estava de
regresso de uma viagem em que me esqueci de
arrumar o coração na mala para traze-lo de
volta.
7

“Renda-se, com eu me rendi. Mergulhe no que você não


conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver
ultrapassa qualquer intendimento.”

7 de novembro, 9h:45min, o despertador


chamou por mim, de um jeito curioso acordei
com uma vontade infinita de me acabar da
forma mais bonita, me atirar do nada e embater
contra lugar nenhum, flutuar no horizonte, ser o
único, hoje estou assim, com vontade de mim
mesmo, o meu melhor amigo, a muito tempo
que não me via, nunca mas estive comigo
mesmo, talvez ande meio ausente. Menticídio,
pelas razões dessa gente acordei uma vontade
tão bonita de mergulhar fundo, no vazio da vida
e despertar num ermo solitário, andar de lês-a-
lês pelas veredas de algum troço com
significado, descobrir o gerúndio de mim, a
dançar em alguns becos, talvez em troca de
algumas moedas para também ser um alguém
em um mundo onde o pouco, ou melhor o
simples tenha o valor merecido, queria me
aventurar para conhecer novos mundos, viver
novas vidas, descobrir novos sons, fazer valer o
sorriso. Embora cheio de perdas pude ganhar
uma nova vida, uma nova oportunidade de
fazer melhor, e para ti, se me permite dizer, não
importa onde você parou, em que momento da
vida você cansou, recomeçar é dar uma nova
chance a si mesmo, é renovar as esperanças na
vida e o mais importante, acreditar em você de
novo.

Eram exatamente essas palavras que


ecoavam em minha mente, talvez estivesse
sonhando acordado e eu não soubesse. Tinha
pouco a perder e muito a dar, perguntava a
mim mesmo, para quê desistir de viver? Nem
acredito que cheguei a pensar nisso, para quê
deixar para trás minhas convicções, minhas
crenças, e me render ao desejo desse deus que
muitos o denominam como morte? Física ou
não, ainda é morte. Para quê privar meu
coração de amar alguém, se os tempos felizes
dos sentimentos passados não vão voltar?
Porquê não ser feliz?

Tantas perguntas não é, mas enquanto eu


caminhava sozinho naquela fria manhã achava
mais respostas do que perguntas, queria
entender o porquê de tudo, e parece que o
meu subconsciente desbloqueou a enorme
enciclopédia humana que existe em mim. Por
instantes senti que a minha vida estava a tomar
o mesmo rumo, mas dessa vez eu tinha o poder
de controlar os meus passos, meus caminhos, de
moldar o meu eu, tinha em minhas mãos a
oportunidade de ser um novo alguém, mas tudo
o que eu lembrava era do que eu era, e eu era
e ainda sou apaixonado pelo homem que eu
um dia fui, e me lembro de ter dito que se
voltasse no tempo não mudaria nada, pois eu
fui feito pelas vivencias que tive, pelas perdas, e
conquistas, tudo fez de mim quem sou, mas essa
nunca foi a verdade e encontrei essa
mensagem onde menos esperava, passando
próximo a uma loja de música, ecoava o som
da música de Prodígio – Máquina do tempo
(Feat Deezy) e na verdade eu quis ter sim uma
máquina do tempo para mudar certas
realidades, e me privar de escolher errado em
outras.

Tudo o que eu queria é que não me


dessem fórmulas certas, porque eu não
esperava acertar sempre, não me mostrassem o
que esperavam de mim, porque eu ia seguir o
meu coração.

Que não me fizessem ser o que não sou,


que de modo algum me convidem a ser igual,
porque sinceramente não seria possível, não sei
amar pela metade, não sei viver de mentiras,
não sei voar com os pés no chão, simplesmente
não sei. Era sempre eu mesmo, mas com
certeza não seria o mesmo pra SEMPRE!

Gostava dos venenos mais lentos, parece


que eles chamavam por mim, das bebidas mais
amargas, das drogas mais poderosas, das ideias
mais insanas, dos pensamentos mais complexos,
dos sentimentos mais fortes, esse era eu, tinha
um apetite voraz aos delírios mais loucos. Esse
sim. Era esse “EU” que eu queria ser novamente.
Sempre me sentia feliz, e sabes o porquê?

Porque não esperava nada de ninguém,


esperar sempre dói, damos muito a quem
esperamos que nos dê muito e acabamos por
receber desilusões como moeda de troca, eu
achava que as pessoas são egoístas de mais,
por não dividirem seus amores, suas felicidades,
suas lagrimas, por não se entregarem as suas
paixões, seus desejos, por se privarem da
felicidade ao lado de outros, e eu amava isso
em mim, o facto de poder fazer o que mais
ninguém era capaz de fazer, então decidi não
esperar que as pessoas passassem a pensar
como eu.

Estou aqui contando minhas vivencias e


me perdendo em meus delírios que me esqueci
da nossa conversa. Mas isso não e sobre mim e
sobre vocês. Eu vivi, eu tive minhas escolhas,
agora a pergunta é: O que que você vai fazer
com a sua vida? Quais são as suas escolhas?
Suas metas? Seus sonhos? Qual é o seu porquê?
Porquê acordou hoje? Por que fez ou faz o que
faz? Porquê? Você tem a oportunidade de
recomeçar a sua vida, olha, você tem essa
oportunidade todos os santos dias, só cabe a
você aproveitar.

Essa é a minha História, bom pelo menos


um quarto dela, espero que você faça um bom
proveito dos meus erros, dos meus acertos, dos
meus pensamentos, das nossas conversas.
Quando pensares que é o fim lembra que o fim
de algo é a oportunidade do nascimento de
algo novo.

Afinal de contas, a gente sempre supera,


mesmo quando dói ou quando arde, parece
que nunca vai passar, mesmo quando a rasteira
foi tão inesperada que a gente fica caído sem
saber qual rumo tomar, a gente supera. E
levanta mais forte.

E hoje em dia eu ouso a me aventurar por


caminhos desconhecidos porque prefiro
conviver com as incertezas e em paralelo as
remedições das mesmas; do que viver a
extrema calmaria da comodidade e
segurança, só assim consigo me sentir vivo,
melhor voltarmos a nossa pequena história
ainda que me perca meio a narrativa.

Passou-se algum tempo,


aproximadamente três (3) anos, Leila estava
agora com 18 anos, terminou o seu ensino
médio de artes e foi para Paris-França para
fazer a sua formação superior no mesmo ramo,
minha menina já estava crescida, uma mulher
procurando realizações maiores.

Fácil para ela não seria, mas força de


vontade e determinação ela tinha de sobra, a
fase de adaptação foi difícil como geralmente
costume ser, língua, hábitos, entre outras coisas,
e lidar com a distância daquele que por ela
mudou a sua vida parecia ser a parte mais difícil
de todas, amor de pai, essa muita das vezes é a
parte oculta de muitas histórias, 13 anos lutando
para colocar um orgulho em seu coração e um
sorriso no rosto quando ouvisse falar de seu pai,
não havia presente melhor, a parte complicada
foi explicar sobre sexualidade e ciclos
menstruais, nunca é fácil para nenhum pai, é
estranho, por vezes incomodo, mas necessário,
memorias não faltavam para fazer o coração
apertar, mas por vezes era necessário abdicar
das emoções para manter a cabeça erguida,
os olhos secos e o foco no lugar. O primeiro ano
foi complicado, dividir a casa com a minha
sombra, meus pensamentos, minhas músicas,
minhas imagens, era meio triste, mas dava para
aliviar a tensão sempre que o vinho me visitasse.

Com a cabeça mergulhada no trabalho,


e a mente ocupada, não dei conta do segundo
ano passando, já não era tão incomodo assim,
os outros dois foram difíceis, parecia que eu
estava a perder muito mais do que eu estava
disposto a abrir a mão, pode até ser egoísmo,
mas foi difícil aceitar que ela já cresceu e
cresceu longe, ainda que fosse pouco tempo,
mas eu não estava lá, talvez ela precisou de
mim, era estranho me sentir bem, essa sensação
incomoda de certo modo nutria a minha
vontade de trabalhar e arranjar um tempo para
ir la ter.

Fui até França para reencontrar a minha


filha após quatro (4) longos anos sem a ver,
queria fazer-lhe uma surpresa então combinei
com sua avó e marcamos uma viagem sem
avisar, mal sabia eu que no final de tudo a
surpresa seria para mim.

Estávamos no aeroporto quando Márcio,


namorado de Leila, veio a nossa busca, rapaz
de 20 anos de idade, cabelo preto, olhos
castanhos, corpo atlético, e eu sem fazer ideia
de quem ele era, e o engraçado foi que eu não
fui com a cara dele, também poderá, que pai
iria com a cara do namorado de sua filha logo
de primeira. Postos em Paris fiz questão de ligar
ao Danny para avisar que me encontrava no
seu território, fazia tempo que não nos víamos
também, ele e sua família haviam mudado
para França fazia um tempo.

Na noite em que chegamos, Dona


Helena convidou-me para ver uma exposição
fotográfica de uma artista nova no mercado,
seu pseudónimo artístico era “Sky, por mais
estranho que possa parecer, esse nome
parecia-me demasiado familiar, lembrei-me
que quando pequena costumava chamar
minha filha por esse nome, mas Dona Helena
sabendo de tudo fez questão de dizer-me
insistidamente que não passava de uma mera
coincidência.

Então preparei-me e fui a busca de Dona


Helena, eram aproximadamente 9h da noite,
dirigimo-nos a Casa Vogue, para vermos a
exposição, bom demais para ser verdade,
deparei-me com Leila a porta do Complexo de
Vogue, meus olhos se encheram de lagrimas ao
rever minha filha, corri para abraça-la, parecia
que as saudades só aumentavam em vez de
diminuírem conversamos por breves minutos e
depois tivemos de entrar, e eu nem fazia ideia
do que me esperava ao cruzar aquela porta.

Para minha alegria e orgulho, Leila era a


grande anfitriã da exposição, ou seja, a minha
pequena Sky era a rainha do baile naquele dia,
naquela noite. Lembro-me bem que sua
exposição teve como tema “O RETRADO DA
MINHA HISTORIA” nunca tivera ficado tão
emocionado quanto fiquei naquele dia, a
exposição era composta por fotos minhas, fotos
de Naylene, fotos de Leila quando criança,
fotos de cartas que havia trocado com sua
mãe, das quais Dona Helena a fazia questão de
guardar algumas, fotos de Greenfield, Klaver,
Edmalv, Danny, Blue e outros amigos das quais
já não me lembrava de suas caras, fotos de
amiguinhos de infância de Leila, era o meu
mundo, o mundo de Leila retratado naquelas
paredes, meus sorrisos e minhas lagrimas,
minhas perdas e conquistas, a gênese e o
desenvolver da história dela, tudo aquilo que
nos constituía. E para ser mais inesquecível
ainda, era o dia de meu aniversário, não podia
receber prenda melhor.

Foram as mais longas e confortantes três


(3) horas da minha vida inteira, eu tinha tudo,
minha filha, minha sogra, minha vida em meros
minutos completa outra vez, como um filme de
curta metragem com um final feliz, eu sabia que
aquilo eu não podia perder de jeito nenhum,
não havia preço possível de ser estipulado para
que eu pudesse pagar por aquilo, as certezas
de que a felicidade reside nos locais onde
menos esperamos falavam mais alto.

Sabe a vida nos oferece tudo aquilo que


não podemos imaginar, que talvez podemos
desejar, que nunca poderemos comprar, só
depende de nós saber aproveitar, saber viver
cada momento, cada instante. A vida é como
uma moeda, nós podemos gastar no que
quisermos, isso é uma escolha que nos é dada,
mas não nos podemos esquecer a mesma só
pode ser gasta uma vez, então em que você
acha que vale a pena gastar os minutos, as
horas, os dias, os anos? Tudo é uma questão de
escolha.
FIM?

8
Fim!?

Talvez esse fosse o fim, se essa fosse a


história verdadeira, mas infelizmente não foi
assim que aconteceu na totalidade, essa
realidade fictícia possuía apenas alguns pontos
de uma verdade mal contada. Após a morte de
Naylene acabei me abandonando, e
consequentemente acabei abandonado
também por completo o que me impedia de
ter por perto as pessoas que eu mais amava,
visando me livrar, ou pelo menos aliviar o
grande fardo que carregava, programei uma
viajem com Leila, decidimos ir por estrada
conhecer algumas cidades vizinhas, esfriar a
cabeça e ter uma nova visão do mundo,
aproveitar os poucos momentos que me
restavam antes que a minha princesa voltasse
para junto da avó para terminar os seus estudos,
infelizmente a viagem não correu como
esperado, quando estávamos saindo de
Luanda a caminho da província da Huíla,
propriamente para o Lubango, para desfrutar
da bela paisagem que o mesmo oferecia,
tivemos um acidente inesperado, na qual
alguns companheiros de viagem acabaram
morrendo no local, foi um embate contra uma
frota de camiões que transportavam fluidos
inflamáveis, houve desvios nas estradas,
explosões, estilhaços alcançando os carros e
etc. Quando me despertei, dei conta de que
tudo o que eu tive não passou de um mero
sonho criado pelo meu critico estado de saúde
e consequências de um coma profundo.

Meus amores, minhas saídas, minhas


superações, meus medos, minhas conquistas,
tudo não passava de um sonho, talvez Deus
tivesse atendido o meu pedido e me concedido
uma viagem de volta ao tempo, mas a mesma
não correu como esperado, ou talvez eu
simplesmente tivesse acordado de um sonho
em que sempre vivi, e se a minha vida não foi
nada além de um sonho, mas como? Será hoje
eu acordei em algum corpo diferente? Quem
sou eu hoje? Será que ao fechar os olhos serei
outro alguém ao abrir? Será que verei o só com
outros olhos? De outra forma? Em uma
geografia diferente? E complicado viver com
duvidas meio ao desconhecido, após recuperar
minha consciência, dei conta de que estava
paralisado sem poder mover meia parte do
meio corpo, meu pescoço imóvel, perna
quebrada, braço fraturado, pontos em partes
que o sol desconhece a sua existência, estava
mais para lá do que para cá. Por sorte estava
em boas mãos, Dr. Edmalv o bravo e velho
amigo de infância, Dra. Xim, chinesa de 35 anos
de idade, Dra. Yo dona de uma beleza única, e
suas respectivas equipas dispostos a fazer de
tudo para melhorar o meu estado, que além de
critico era praticamente um jogo entre a vida e
a morte, fui operado diversas vezes enquanto
estava em estado de coma para remoção de
estilhaços, reparação de tecidos e outras coisas
mais, após algumas horas de lucides apercebe-
me que não tinha nenhuma notícia de minha
filha, não lembrava de seu nome, mas a
imagem de seu rosto vagueava em minha
memória, que curiosamente era uma das
poucas coisas de que me lembrava, pois tudo
antes do acidente se apagou da minha
memória, uma vida completa, simplesmente
sumiu, não tinha como perguntar pois além de
paralisado, por algum tempo foi roubado de
mim o dom da fala, meu coração
apoquentava-se a cada hora, a cada minuto,
a cada segundo que passava, pôs para mim
não importava minha condição desde que
pudesse ver o rosto da minha filha nem que
fosse uma última vez, quis ver algo, alguém que
me ligasse ao meu eu, que me fizesse lembrar
quem eu era.
Me corroía com a dor de ser literalmente
um ninguém, eu não sei quem sou, qual é a
minha história? A minha gênese? Quem sou eu?
Quem fui eu? Estava mais agitado do que o
normal, tinha perguntas que não conseguia
achar respostas, eu sabia de algum modo que
eu nunca gostei de não ter respostas, devido a
agitação os médicos se sentiram obrigados a
sedar-me para que assim eu pudesse me
acalmar.

Passou-se algum tempo até que pude


acordar, felizmente me encontrava mais calmo.
Finalmente estava despertado após seis longos
meses naquele estado infernal, minha
recuperação era lenta, lenta de mais para o
meu agrado, enquanto isso, não podia fazer
muito além de ter algumas partidas de Xadrez
com Edmalv, algumas visitas que eram
desconhecidas, e sim, sem me esquecer dos
inúmeros flashes de memória que andei tendo,
e das várias lições de vida que não pude tirar
delas, pela confusão como elas se
predispuseram.

Por instantes lembrei-me de meu Pai, que


era mais um deus para mim do que outra coisa,
o Senhor todo poderoso, que viveu exatamente
como eu, mas por alguma razão possuía algo
que eu nunca tive antes, era um homem de 55
anos quando eu tinha apenas 19, senhor muito
jovem para partir dessa vida, mas devido ao
estresse, seus pensamentos mórbidos e uma
vida dedicada somente ao trabalho, sua
doença se agravou, foi justamente nessa altura
que ele percebeu que nem todo o dinheiro e
poder do mundo traria sua saúde de volta,
muito menos compraria a felicidade de ver seu
filho assumindo a empresa, se cansando e lhe
dando netos, nunca compraria paz no
coração. Ele então achou por bem viajar e
aproveitar esse tempo para refletir sobre sua
vida, deixou sua esposa, minha mãe,
responsável pela empresa, disse que precisava
de umas férias, mas eu estava preocupado
demais comigo para prestar atenção, ele não
teve a coragem de dizer a verdade. No dia de
sua morte, eu fui comunicado, o advogado
além de ser responsável pela notícia, também
lhe foi incumbida outra tarefa, meu pai deixara
para mim duas riquezas que foram acumuladas
por toda a sua vida, e todas essas riquezas
estavam dentro de um cofre em minha casa.

No cofre havia fotos e recados de


quando eu era criança, uma foto de minha
mãe, algumas poesias e textos assinados por
ele, uma coleção de livros do Doutor Augusto
Cury, além disso, havia também uma carta, a
qual as palavras escritas nela ecoavam em
minha mente sem parar, a carta dizia:

“Querido filho que eu tanto amo e sempre amarei,


primeiramente gostaria de me desculpar com você e pelo
péssimo exemplo que dei a você e pelo pai ausente que
fui, somente agora perto de minha morte estou me
humanizando, tentei o meu ser, lapidar os meus defeitos.
Saiba, meu filho que esses foram os dois meses mais
intensos da minha vida, comecei agora perto de minha
morte a descobrir o que a vida é muito mais do que o
nosso exterior, eu existi somente na superfície, nos meus
últimos dias entendi a verdade e a essência de nossas
vidas, aprendi a verdade e a essência de nossas vidas,
aprendia a contemplar o belo da natureza, tudo e todos
ao nosso redor. A noite eu conversava com a lua e
namorava as estrelas, voei pelo lindo céu azul na asa delta
da imaginação, presenciei os pássaros cantando, aprendi
a dançar com alegria seguindo os tons da vida, fiz uma
viagem como nunca havia feito antes, mas dessa vez não
cruzei o meridiano. Por certo você acha que fui a Europa?
Paris? Portugal? Não meu filho dessa vez viajei para dentro
do meu ser, visitei os vales da sombra de minha arrogância
e soberba, nesta viagem aprendi a controlar minhas
emoções e filtrar meus pensamentos ruins, nunca na vida
agi por impulso e através do ego, comecei a me divertir
com minha insensatez e minhas mazelas, percebi que uma
pessoa inteligente aprende com seus erros, mas uma
pessoa sabia aprende com o erro do outro, por isso
aprenda com o meu erro de como não se deve viver,
aprenda as grandes lições da escola da vida. Só agora
dissecando o meu ser percebi que eu era autoritário e
rígido por ser infeliz interiormente, me vi agora como uma
pessoa porco espinho: agressiva por fora e frágil por
dentro. Então como um pedido final, eis que digo, não seja
como eu, não viva como eu vivi. ”

(FPK-07.10.2007)

Contudo acabei vendo que não é só a


Fé que move montanhas, nem que todas as
estrelas estão ao nosso alcance, mas que para
além das coisas que não podem ser mudadas
resta-nos somente paciência, porém, preferir a
derrota previa à duvida da vitória e desperdiçar
as oportunidades de merecer. Ainda sabendo
que para os erros há perdão, para os fracassos,
chances, para amores impossíveis o tempo, a
vida merece mais de nós, mas do que nós
esperamos que ela nos de, mais do que nós
achamos que podemos dar.

Sem saber quem era, sem acreditar que


podia ser aquela pessoa da qual as pessoas que
supostamente me conheciam alegavam dizer
que eu era, só me restava um rosto, um sorriso,
uma mera lembrança da minha filha, e uns
tantos flashes de memória, que só serviam para
inquietar a minha alma do que acalmar o meu
espirito, onde será que ela está? Quem será que
ela é?

Era o início de uma nova história, o nascer


de um novo ator, o emergir de um novo sonho,
dia após dia em uma luta constante no
emaranhado de dúvidas, crenças, dizeres e a
própria realidade, e constantemente me punha
a pensar se nessa dramaturgia ao sublime
demiurgo, nesse teatro da dor em que eu
incorporo um mero ator desconhecido, um
figurante sem cor que usa mascaras e vestes
escuras, um papel fraco e um sorriso barato,
sabendo que o meu figurino são retalhos
remendados pelo alfaiate de um rei, então me
diz, quem é, quem é o diretor do espetáculo da
vida? Quem vai me dizer? Quem irá fechar as
cortinas e apagar as luzes ao sair? Quem? Uma
pilha de pensamentos e perguntas que ansiava
pelas suas respostas tanto quanto chegava a
recusa-las também.
9

Eu queria não ter acordado, não ter saído


de uma realidade menos dolorosa do que
aquela em que me encontrava. Era
insuportável o facto de ter vivido uma fantasia
quase perfeita e ver ela desvanecer num piscar
de olhos, eu estava em um mundo totalmente
diferente, um mundo no qual o meu novo eu
não estava habituado a viver, fui levado a ver a
realidade sem precisar de escolta, fui levado a
receber amor sem saber se estes eram sobras ou
não, estava a caminho de uma viagem da qual
a possível compra de um bilhete de volta era
absolutamente impossível.

No hospital em que me encontrava


dividia o quarto com um senhor de meia idade,
negro robusto, e muito sábio, e eu era
apaixonado pelas nossas conversas unilaterais,
pois eu ainda não havia recuperado a fala, e
ele não se cansava de falar por horas, dividindo
seus sonhos, suas paixões, seus medos, suas
perspectivas do mundo, um tagarela incurável
com uma mente de gênio, assim era Hossas
Nyuman, eu me limitava apenas a sorrir e a
acenar coma cabeça como resposta de que
estava prestando atenção as suas histórias.

Numa tarde de quinta-feira após a visita


que ele recebia constantemente do pastor de
sua igreja, pôs-se novamente a falar, e dizia:

“Dê uma olhada para o mundo filho. Parece


que muito do amor que outrora existia
desapareceu, somos seres humanos, somos
estranhos de mais para nos entendermos, só nos
damos conta da existência e importância de
algo quando o mesma está escasso para
exploração e consumo, perdemos
constantemente os valores, os princípios, tudo
aquilo que dignifica e edifica um ser, nos
recusamos a aceitar a pouca sanidade que nos
é oferecida, eu queria dar ao mundo um pouco
de cor, um pouco do arco-íris que carrego em
mim, mas não faço ideia de como fazê-lo, mas
caro jovem se tiveres uma solução avisa-me.”

Eu olhava aquele homem com tamanha


admiração que não podia me conter quando
ele falava, suas palavras pareciam apaziguar as
guerras que eu carregava dentro de mim, seus
conselhos pareciam dar um rumo aos
momentos sem sentido que eu costumava viver,
então passei de um bom ouvinte a um péssimo
escritor, quis arranjar uma maneira de expressar
tudo o que aquele homem me fazia sentir, e
encontrei esse aconchego na escrita, escrevia
de tudo um tudo, descobri coisas que nem fazia
ideia de que existiam em mim, pensamentos
mórbidos, paraísos perdidos, desencadeei
sentimentos, esperanças, crenças, etc. E ainda
me lembro como se fosse hoje o dia em que
comecei a escrever o livro falando da vida do
meu parceiro de quarto.

Foram noites perdidas escrevendo,


sobrepondo as recomendações medicas,
vivendo uma história que só de ouvir brotou
dentro de mim esperança, força e fé, após
sacrifícios consegui escrever o primeiro capitulo
sem mesmo a existência de um prefacio ou um
prologo bem aprumado, a única coisa em que
eu pensava era em contar para o mundo o
máximo que eu pudesse aproveitar da
esplêndida figura matriz que eu tinha bem ao
meu lado, eu narrava a história como se tivesse
sido vivida por mim mesmo, e o primeiro passo
era dar ênfase ao que ele mais amava, a pátria,
a bandeira Africana.
“Capitulo 1

Raízes – Hossas Nyuman.

(...) Essência, parece ser um tesouro perdido nos


dias de hoje, e nessa expedição para salvaguardar o
pouco que sobrou, nos deparamos com o visível facto
do quão frágil o homem pode ser. Talvez fosse a perda
daquilo que nos mante assentes no chão, do que nos
define, do que nos tornas seres completos, do que faz
de nós melhores, infelizmente chega a ser mais do que
eu possa explicar.

Eu sonho em poder mudar o mundo, o meu


mundo, consequentemente o seu e depois quem sabe,
mudemos o nosso, por alguns instantes deixe-me
conduzi-lo a uma viagem sem precedentes, a uma
nação, a sonhos, a ideias, a um centro do universo
outrora esquecido.

Eu vim para dizer o que somos, somos o


coração de África, embora nem todos batam
coordenados pelos mesmos motivos, somos a força da
nação, somos lagrimas de esperança, somos som,
somos luz, somos paz e amor, somos menos ou talvez
mais do que queremos ser, somos o oculto mais culto
que é notável de maneira sublime, somos poemas,
prosas e poesias, somos céu e mar.

Dor, amor, somos presente, passado e futuro,


somos alegria meio a choros, festas meio a tribulações.
Talvez hão de se perguntar como sei o que somos, com
os meus olhos castanhos que refletem mais do que uma
humilde alma eu vi. Vi um passado que África pede que
eu conte, tudo o que se queria era que as chibatadas
fossem mais leves se suportar, meu coração chora, pelo
egocentrismo que como veias para a humanidade se
ramificou, e pelos olhos de homens e mulheres que me
obrigam a compara-los com as quedas de Calandula
pois como cachoeiras jorravam pela humedecida dor
infligida sobre a sua pele, pelas mentes que se
corromperam e se deixaram levar pela moda social, o
atualmente chamado racismo, meu coração também
chora. Uma dívida não paga, um perdão concedido
pela humildade de espirito, e por instantes vi sangue
irrigar terra seca, mais um episódio e a sanidade fugirá
de nós, feridas não cicatrizadas foram cobertas com
tratados de paz.

Mas nós somos mais que um passado, eu olho


para o presente e também vejo o belo, o mais belo que
há, o filho do cosmos e da natureza, olhos como de
águia, robustez de um embondeiro firmes que nem os
montes que o circundam, Moco e Kilimanjaro. Somos
uma versão melhorada de esboços de uma alma,
somos frases de inúmeras canções unidas como uma
só, ideias, pensamentos, contos e cantos.

O meu povo é poesia pura, inumerável como


os seus encantos, a escuridão falou mais alto, mas a luz
refletida de uma pele negra fez clarear os céus como
uma supernova, a luz transcendia, como holofotes,
brilhavam os olhos do meu povo, era coisa que se
podia ver a três galáxias de distância, iluminava toda a
redondeza fazendo ciúmes até a via – láctea, em
sonhos, por vezes com os pés assentes em terra quente,
viajávamos por um cinturão de asteroides, na
contramão, sempre com o impulso de um cometa, a
gravidade de planetas vizinhos (nações) não foi mais
forte que o medo que possuímos de ser engolidos por
um buraco negro, em nosso sangue corria a mais pura
composição dos céus, eis o motivos de sermos um
berço para a humanidade, nuvens e arco – íris
enfeitaram o nosso céu desde que não desistamos de
nós.

E eu olho mais para frente, um pouco mais


além do horizonte e te convido a espreitar comigo,
veja, já podemos dançar na chuva sem medo dos
relâmpagos, o que sentiremos será da imensidão de
dois universos, razão de tudo isso é a aura do nosso
paraíso, nosso futuro é preenchido por sonhos, sorrisos e
conquistas, já fiz o convite então vem comigo a viagem
para o cerne de uma nação inteira, o seu passe é livre
(...)

Faz tempo que venho sonhando, ou melhor,


fantasiando em ter uma família, e viver sem medo que
a mesma seja magoada pelas atrocidades causadas
pelo mundo em que vivemos, onde somos subjugados
e menosprezados pelo nosso estatuto social, somos
pisoteados e tratados como animais pelo mero facto
de possuirmos um tom de pele mais escuro e um cabelo
crespo, o que mais mexe com a minha alma e com o
meu coração, é o facto de que a sociedade
corrompeu-se de um modo inimaginável, onde o
racismo e preconceito predominam até no seio de
indivíduos com a mesma cor. (...)

Escrevia tudo que me podia lembrar e


mais alguma coisa, apaixonei-me por uma
história, criei identidades para inúmeras
personagens, algumas verdadeiros e outras
meio que fictícias, mas desconhecia a minha,
ou ao menos ainda me recusava em aceita-la.
A única coisa que parecia real e da qual sentia
falta era a ausência da minha filha, que parecia
mais fictícia do que os personagens que criava
em minhas histórias, pois no instante não
passava de um sentimento inserto por alguém
que podia ser só mais uma criação da minha
fértil imaginação. Um belo dia chegou a mim
alguém aparentemente desconhecido, seus
olhos se encheram de lagrimas ao olhar para
mim e eu fiquei sem entender nada, sem saber
o porquê, sem perceber a gênese dessa
emoção toda, deu-me um abraço bem
apertado e disse o quanto me amava o quanto
sentiu a minha falta, inquietava-me o facto de
não saber quem era essa pessoa, e a mesma
limitou-se a falar sem sequer se apresentar,
parecia ser alguém que me conhecia muito
bem, mas a mim era só mais um rosto
desconhecido. Fui contaminado pela sua
emoção, mas a minha mente se negava a ser
preenchida pelas imagens e lembranças de
quem me visitava, eu estava feliz e confuso,
estava irritado, e ao mesmo tempo
esperançoso, porque que eu não me consigo
lembrar? Porque? Após alguns instantes foi
necessária uma intervenção medica pois,
estava alteado e descontrolado, tiveram de me
sedar antes que soubesse apenas o nome
daquela pessoa.

Quando acordei ela já não se fazia


presente, a boa notícia é que dentro em breve
eu receberia alta, então durante o pouco
tempo que me restava naquele hospital
continuei escrevendo até então o segundo
capitulo onde contava mais ou menos como foi
a fuga de Hossas de sua aldeia natal atrás de
melhorias de vida para si e sua família.

(...)

“Então naquela noite decidimos partir em um


incessante galope, sentido o vento cortante beijar nossos
rostos, perseguindo os dias em que o amor, a paz, e a alegrias
fosse devolvida, ao menos em nossos corações, e com a
esperança de que um dia isso acontecesse com o povo
“africano”, em minha mente perdido no meu mapa interior
sem saber quando parar, como andar, o que fazer, pus-me
a pensar que em todas essas idas e vindas, obscuramente eu
sempre soube que embora tudo pareça mudar, na verdade
nada muda porque tudo acaba por permanecer aqui
dentro, e tudo o que eu pedia era que alguém falasse
comigo, que alguém me segurasse no colo quando eu não
pudesse me sustentar, e depois, quando mais forte, me solte
de novo para eu volte a alcançar feitos com os meus próprios
passos. Contudo pude ver que a vida e como uma mãe,
logico nem sempre carinhosa, mas tem uma vara de condão
especial, o mistério com que embrulha todas as coisas,
algumas deixa invisível, e era assim que eu via muitos
episódios pela qual passamos, na sua maioria as partes
positivas eram praticamente inexistentes.

É bem verdade que a respiração nos iguala a todos,


pobres e ricos, reis e rainhas, assassinos e vítimas, mas isso
pouco importava, era uma realidade que a minha realidade
não albergava, e bem lembro que naquela noite o ar estava
insuportavelmente irrespirável devido a pesada troca de
balas, e o infeliz bombardeio de lagrimas proporcionado por
nossas mulheres e crianças, por mais corajoso que meu filho
fosse ele não conseguia esconder a tamanha avalanche de
medo e susto que brotava na de sua alma. (...)
Alguns dias após terminar o segundo
capitulo, recebi alta do hospital junto ao meus
bens estava uma carta endereçada a mim,
nessa mesma carta tinha algumas notas em
dinheiro, minha documentação e uma folha de
papel com escritas meio descuidadas que
fizeram com que tivesse outro flash de memória,
dessa vez não só com minha filha, havia outras
pessoas, pareciam amigos, pareciam irmãos,
mas por algum motivo preferi ignorar, na saída
do hospital estavam três pessoas uma delas
com uma placa com o meu nome escrito nela,
esses eram nada mais nada menos do que
Greenfield, Edmalv e Klaver, um trio que seria
muitíssimo útil para a minha recuperação.
Passou-se uma semana até recuperar
novamente a fala, durante esse tempo estava
naquela incessante buscas por respostas sobre
minha vida, e meus amigos na imparável buscas
por respostas sobre o paradeiro da minha filha,
o tempo foi passando e com ele as memorias
voltavam, quis arrancar tudo o que as
lembranças me faziam sentir, chorei por ter
cada uma das minhas histórias, cada um dos
meus feitos cravados em mim, cada momento
que vivi tornou-se parte de mim, e era impossível
dividir-me, isso fazia parte da minha história, da
gênese da minha vida, das minhas
experiências, com o tempo fui aprendendo a
lidar com isso, a não tentar arrancar isso de mim,
e sim, a valorizar o que vivi, a aceitar as falhas,
enaltecer as vitorias, e a ter fé num presente e
num futuro cada vez melhor, entendia o que
ficou no passado, e me orgulhava até dos meus
erros, pois é por causa deles que hoje sou o que
sou, mas de certo modo fui levado a amar mais
ainda o que estava por vir.

Passaram-se incontáveis noites em que


me perdia nos meus pensamentos, me
agoniava o facto de não saber onde estava a
minha filha, quem era a minha filha, mas decidi
fazer o bom uso dessa dor e desfrutar da
criatividade que ela oferecia, continuei
trabalhando no meu livro, após alguns meses fui
ao hospital tributar uma visita ao Senhor Hossas,
seu estado de saúde estava se agravando mais
a cada dia que passava, segundo os médicos
nada o poderia salvar, não havia operações
que pudessem fazer, só mesmo um milagre para
mudar esse quadro, conversamos por alguns
instantes, ele com muita dificuldade para falar,
ainda assim podia ver o sorriso no rosto daquele
homem, e pude tirar forças daí para voltar a
acreditar que tudo seria restaurado cedo ou
tarde, tudo voltaria ao “normal”, enquanto
conversava com ele entrou alguém no quarto
que fez com que Hossas desviasse a sua
atenção;

- tenho o prazer de lhe apresentar a minha filha


caro jovem - abrindo um sorriso ele disse isso
para mim.

ele tratava a filha pelo segundo nome, Melany,


eu resolvi retirar-me, despedindo-me trocamos
olhares de modos a parecer que nos
conhecíamos, talvez de outra vida, ao sair do
hospital ela interpelou-me, seus olhos reluziam e
ela então disse:

- foi um enorme prazer revê-lo - e em seguida


pôs-se andar

não passou disso, cumprimentos, frases não


faladas, pensamentos esquecidos.

Um mês após a visita terminei de escrever


o livro, por influencias das minhas amizades
assinei com um Editora que estava disposta a
apostar naquilo que era o meu novo sonho.
Saímos para comemorar entre amigos, lembrei-
me das palavras do Senhor Hossas “Não perca
tempo com quem não está disposto a te
oferecer algo que te faça crescer.”, e isso só
fortificava a minha ideia de que tivera feito a
escolha certa concernente as minhas
amizades, para minha surpresa além de reunir
com os meus amigos, fazia-se presente Dona
Helena, que por sua vez convidou algumas
outras pessoas, e no canto do olho atravessou
um rosto conhecido, era nada mais, nada
menos do que a filha do senhor Hossas, confesso
que fiquei atônito, ao ver todo mundo ai meu
corpo foi tomado por tamanha alegria e
regozijo que não me pude conter, as lagrimas
fluíam dos meus olhos fervorosamente como as
quedas da Tundavala, não podia ser melhor,
mas me perguntava porquê? Quem será essa
mulher, foi então que Zaddy sussurrou no meu
ouvido o nome das pessoas que ali estavam, e
Klaver fez questão de dizer, quem está a sua
frente neste exato momento é uma das pessoas
com quem estiveste, por mais que e queira
ajudar não saberei como, nunca soubemos o
seu nome, em seus escritos, em suas chamadas,
nunca te referiste a ninguém como te referiste a
ela, talvez seja uma das suas histórias de amor
que nunca teve um fim. Me limitei a desfrutar
aquele momento, deixar a memória fluir meio
aos risos, meio as conversas, o resto seria
resolvido em outra altura.

Algumas semanas depois de ter assinado


com a Editora contava os dias para aquele que
seria um dos melhores dias dessa nova vida, o
Livro tinha sido intitulado “Como Vejo O Mundo”
e exclusivamente dedicado em homenagem a
Hossas Nyuman. Passaram-se 178 dias, e
finalmente chegou o dia da gloria, após a
disponibilização do prefacio do Livro tivemos
mais audiência do que pensávamos, e no meio
da multidão vi um rosto conhecido, que me
trouxe alegria, tristeza, calma, uma mistura de
sentimentos ao mesmo tempo, antes que me
pudesse aproximar para saber quem era, este
mesmo rosto perdeu-se na multidão. Será? É
possível que seja ela? Não podia pensar em,
mas nada a não ser na possibilidade de ser a
minha filha, infelizmente ao fim da venda e
sessão de autógrafos, não à pude ver de novo.

Naquela mesma tarde dirigi-me para a


um dos picos altos da cidade, que era o seu era
um dos meus lugares favoritos, com esperanças
de que a fosse encontrar paz, havia uma
parede onde os casais colocavam seus nomes
e cravavam algum item, que muitos
acreditavam que através daquilo podiam firmar
um amor indestrutível enquanto aquela muralha
se mantivesse em pé, mantive-me lá por várias
horas sentado nem um banco observando os
inúmeros nomes e itens daquela parede,
quanto amor ainda perdura das pessoas que se
dispuseram a firmar tais alianças, lá no final da
parede, uma ponte, com o pôr do sol na suas
costas, seus cabelos, seu andar, sem sorriso, seu
rosto tudo era tão familiar, tão
apaixonadamente apaziguador, no entanto ao
aproximar-se dei conta de que aparências,
traços faceais não trazem de volta quem
almejamos ter, mas ainda assim o rosto era
conhecido, Melany, sabia onde me encontrar,
eu adorava a noite, apreciar o céu estralado, e
de certo que não era o único, passaram por nós
vários rostos enquanto conversávamos, até que
ela acabou indo embora, naquele período de
tempo passaram só por mim mais dezessete (17)
pessoas mas infelizmente nenhum era o da
minha filha, da qual havia lembrado o rosto e
nome, Leila, e o mesmo acabou por se perder
no horizonte junto com minhas esperanças, só
espero que os sete ventos te tragam de volta, e
que a minha mensagem de socorro pelo
universo seja finalmente ouvida que ao menos
um sinal de esperança seja dado, com lagrima
nos olhos esses pensamentos vagavam pela
minha mente, com um semblante jucundo meio
que disfarçado por sorrisos falsos não consegui
esconder muito do que sentia, naquele mesmo
instante o meu tele-móvel tocou era um número
estranhamente conhecido, uma voz suave
como a brisa, delicada e meiga, era
estranhamente comum para mim, dizia ter
saudades, dizia sentir a minha falta, dizia que
me amou como ninguém amou, dizia que só
não lutou porque não teve meios, e eu me
pergunto quem será essa pessoa, será que
quem ama desiste? Abandalha? E meio difícil
de se acreditar, aí lembrei-me do porquê dessa
voz ser estranhamente comum, pois a mesma
era da pessoa por quem outrora me apaixonei,
hoje tu ligaste para mim, depois de um ano, 178
dias e algumas horas, finalmente você ligou. De
uma maneira estranha uma conversa meia-
boca, meio sem sentido, em que as tuas
palavras se perdem nas entrelinhas da própria
culpa, foi um silencio constrangedor, não tão
constrangedor, mas um em que se podia ouvir
frases inteiras guardadas no vazio do silencio.
Talvez porque essa conversa já tivesse
acontecido várias vezes na minha cabeça, e te
confesso que a minha versão era tão bem mais
bem cheia de luz, um pouco mais Bollywood.

É que nesse tempo todo não parou, né?


Eu continuo para mim também. Esse coração já
que não te tinha mais, teve espaça para muitas
outras coisas, se (re)encheu de amigos, música,
comida, filme, compras, passeios, sorriso, paz e
serenidade, aprecie a variação do imutável,
mudou o cabelo, sapatos e até algumas
roupas, também mudaram algumas
convicções, mas só hoje, durante esse
monologo vestido de conversa, me dei conta,
percebi que havíamos desbotado em água e
agora somos tão neutros nesse mundo de
infinitas cores, que tu e eu não somos nós. No
final das contas as notas nem se encaixam na
melodia, também deu para ver que já
aprendemos a tal lição. Só te aviso que nesse
jogo não se podem alterar as definições nem
reiniciar, vamos ter que jogar com as peças
escolhidas. Porque a verdade é que ao lado de
cá, já se passaram um ano, 178 dias e algumas
horas.

A última coisa que pude ouvir foi um Bip,


e no mesmo instante tive uma erupção de
pensamentos, na qual os mesmos deixavam-me
apoquentado, sem direções exatas, inutilizáveis
correntes das quais não me havia livrado, presas
em meu pulso de memorias, vivas em instantes,
e me matando em outros não nego,
arrastavam-me para portos desconhecidos
onde jamais pertenci antes, o que já não tinha
vivia em poucas glorias, enterrava minhas
lembranças de tormento no vago espaço da
minha alma, entre caídas flores e pura calma, o
vazio se tornou o meu contentamento, ainda
que lute para ser revogado o direito em que
terminar perdido também seja um final feliz,
revoadas de escuridão entre tantos
pensamentos, em tanta solidão, que limita meu
sentir de tantos sentimentos, suspiros quebram o
silêncio intenso em cada nebulosa noite fria.

Tudo o que eu mais queria era achar-me


onde merecia, mas só me encontro onde não
pertenço.
FIM

(PRIMEIRO VOLUME)
Nota sobre o Livro – Uma História de Vida –

As historia encontradas neste livro, são noventa por


cento (90%) de índole ficcionista, há pequenas
percentagens de realidades, vividas pelo escritor e
por pessoas ao seu redor, e o mesmo acontece com
os personagens. Noventa por cento (90%) do livro é
ficção, e os outros dez por cento (10%) realidade.

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