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Ministério da Saúde

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde

28 e 29 de agosto de 2001
Auditório Petrõnio Portella – Senado Federal – Brasília – DF

Rio de Janeiro – RJ
2003
Ministério da Saúde

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde

28 e 29 de agosto de 2001
Auditório Petrõnio Portella – Senado Federal – Brasília – DF

Série D. Reuniões e Conferências

Rio de Janeiro – RJ
2003
© 2003. Ministério da Saúde.
É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte

Série D. Reuniões e Conferências

Tiragem: 2.000 exemplares

Elaboração, distribuição e informações:


Ministério da Saúde
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)
Av. Augusto Severo, 84, Bairro Glória
CEP: 20021-040, Rio de Janeiro – RJ
Tel.: (21) 2105 5000 Fax: (21) 2105 0030
E-mail:
Home-page: www.ans.gov.br

Realização do Simpósio:
Conselho Nacional de Saúde

Apoio:
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados (CSSF/Câmara)
Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal (CAS/Senado)
Agência Nacional de Saúde Suplementar

Produção editorial:
Ana Maria Flores, Patrícia Reis, Pedro Oliveira, Sílvia Costa, Valéria Becker

Projeto gráfico e diagramação:


Escafandro.net

Impresso no Brasil / Printed in Brasil

Ficha Catalográfica

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde. (2001: Brasília, DF).


Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde, 28 e 29 de agosto de 2001. – Rio de Janeiro: Ministério da Saúde, 2003.

170 p. – (Série D. Reuniões e Conferências)

ISBN 85-334-0754-8

1. Legislação em Saúde. 2. Planos de Saúde. I. Brasil. Ministério da Saúde. II. Brasil. Conselho Nacional de Saúde.
III. Título. IV. Série.

NLM WA 525

Catalogação na fonte – Editora MS


Sumário

Apresentação | 7
Por Mário Scheffer

Mesa de Abertura | 9

Mesa 1: Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro | 27

Mesa 2: Coberturas e Modelos Assistenciais | 51

Mesa 3: Fiscalização, Defesa do Consumidor e Direito à Saúde | 67

Mesa 4: Estrutura das Operadoras | 93

Mesa 5: Regulação de Preço | 119

Mesa 6: Encaminhamento das Propostas | 141

Programação | 162

Nomes e cargos dos participantes | 164

Siglas | 166

Ficha técnica | 169


7

Apresentação

A publicação dos anais do Simpósio Regulamentação A defesa de uma regulamentação que trate o sistema
dos Planos de Saúde, em 2003, dois anos após sua reali- de saúde como um todo; a busca do equilíbrio entre a
zação, é bastante oportuna, pois soma-se aos debates garantia do direito à saúde e os aspectos econômico-
do Fórum de Saúde Suplementar, convocado pelo financeiros; o norteamento pelos marcos doutrinários
Ministério da Saúde, e às conclusões da CPI dos Planos e de relevância pública do Sistema Único de Saúde; a
de Saúde, instalada pela Câmara dos Deputados. convivência democrática entre os legítimos interesses
Iniciativa conjunta do Conselho Nacional de Saúde envolvidos, viabilizando-os minima e negociadamente,
(CNS) e do Congresso Nacional, com o apoio da nortearam as discussões do Simpósio. Com isso, o CNS
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do reafirmou a continuidade do exercício de suas atribui-
Ministério da Saúde, o Simpósio já antecipava, em 2001, ções de Controle Social, ao mesmo tempo em que
a necessidade de aperfeiçoamento da legislação e das reiterou seu apoio à competência reguladora do
práticas de regulação do setor de saúde suplementar. Ministério da Saúde e da ANS.
Representantes dos poderes Legislativo, Executivo Esta publicação representa uma significativa
e Judiciário, das operadoras de planos de saúde, dos contribuição para os debates comprometidos com o
prestadores de serviços, das entidades de defesa dos aprimoramento do setor de saúde suplementar e
consumidores e usuários, dos conselhos de saúde e pes- com a melhoria das condições de saúde e de vida do
quisadores de notório saber sobre o tema tiveram, na povo brasileiro.
ocasião, a oportunidade de refletir sobre o impacto e
as perspectivas do arcabouço regulatório construído
desde a lei 9.656/98.

Mário Scheffer
Membro do Conselho Nacional de Saúde
Coordenador do Simpósio Regulamentação dos Planos de Saúde

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


9

Mesa de Abertura

Componentes
Senador Romeu Tuma
Senador Edison Lobão
Ministro José Serra
Deputada Laura Carneiro
Senador Sebastião Rocha
Dr. Januario Montone
Dr. Mário Scheffer

O Senador Lúcio Alcântara Execução do Hino Nacional (Palmas)


Senhoras e senhores, bom dia. Bem-vindos à cerimô-
nia de abertura do Simpósio Regulamentação dos O Senador Lúcio Alcântara
Planos de Saúde. O Simpósio Regulamentação dos Pla- Dando prosseguimento a esta solenidade, convidamos
nos de Saúde tem como objetivo fazer uma análise agora o Exmº Sr. Senador Romeu Tuma, Presidente da
sobre o impacto da regulamentação dos planos priva- Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, para dar
dos de assistência de saúde no país, três anos após a as boas vindas a todos os participantes deste simpósio.
regulamentação da Lei 9.656/98.
Convidamos para compor a Mesa o Exmº Sr. Sena- O Senador Romeu Tuma
dor Romeu Tuma, Presidente da Comissão de Assun- Senador Edison Lobão, digno Presidente em exercício
tos Sociais do Senado Federal; Exmº Sr. Senador do Senado Federal; nobre Ministro José Serra, Ministro
Edison Lobão, Presidente interino do Senado Federal; da Saúde; Deputada Laura Carneiro, presidente da Co-
Exmº Sr. José Serra, Ministro de Estado da Saúde e Pre- missão de Seguridade Social e Família da Câmara dos
sidente do Conselho Nacional de Saúde; Exmª Srª Deputados; Senador Sebastião Rocha, coordenador do
Deputada Laura Carneiro, Presidente da Comissão de simpósio e membro da Comissão de Assuntos Sociais;
Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputa- Dr. Januario Montone, Diretor-Presidente da Agência
dos; Exmº Sr. Senador Sebastião Rocha, coordenador Nacional de Saúde; Dr. Mário César Scheffer, conselhei-
do simpósio e membro da Comissão de Assuntos Sociais ro e coordenador da Comissão Intersetorial de Saúde
do Senado Federal; Ilustríssimo Sr. Januario Montone, Suplementar. Srªs e Srs. senadores, Srs. deputados que
Diretor-Presidente da Agência Nacional de Saúde Su- comparecem a este importante simpósio.
plementar; Ilustríssimo Sr. Mário César Scheffer, Minhas palavras iniciais, realmente, são de agra-
Conselheiro e Coordenador da Comissão Intersetorial decimento pela presença de todos os que aqui se
de Saúde Suplementar. encontram e que vão discutir a regulamentação dos
Convidamos todos os presentes para, de pé, ouvi- planos de saúde, na iniciativa conjunta do Conselho
rem o Hino Nacional. Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e das Co-

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missões de Seguridade Social da Câmara, e de Assun- ros, cobertos ou não cobertos pelos planos privados,
tos Sociais do Senado Federal. A prática das audiências deve servir como premissa fundamental para equa-
públicas, corriqueiramente exercidas no trabalho parla- cionar os papéis assistenciais do SUS e das operadoras
mentar, repete-se aqui, mais uma vez, quando reunidos de planos de saúde, para que possa garantir o acesso
representantes dos poderes públicos, das operadoras com qualidade aos serviços de saúde.
de planos e prestadores de serviços de saúde, das enti- Outras questões, não menos importantes para o
dades de defesa dos consumidores e usuários, dos presente debate, dizem respeito às regras de funciona-
conselhos de saúde e pesquisadores de notório saber. mento das operadoras de planos de saúde: seu suporte
Podemos efetuar uma profunda e abrangente ava- técnico, suas reservas atuariais, seus preços de prêmios,
liação do cenário e formular novas linhas de ação para sua portabilidade de planos e suas naturais parcerias
os planos de saúde no momento em que são decorri- com gestões municipais e estaduais de saúde.
dos três anos da aprovação da Lei 9.656, de 1998, pilar Igualmente não poderemos nos furtar à discussão
mestre do atual arcabouço jurídico que regula o setor. do papel do Estado no cenário dos planos de saúde,
Ao mesmo tempo em que tenho a consciência de que determinando o modelo institucional da atuação da
consideráveis avanços – tanto em termos conceituais Agência Nacional de Saúde Suplementar e de seu
quanto em termos práticos – foram já obtidos com a relacionamento com os demais integrantes desse com-
regulamentação existente, considero ser parte da di- plexo mosaico de representantes sociais.
nâmica das relações sociais que aqui se espelham o Meus caros participantes, o desafio do simpósio
permanente debate, do qual fluirá, enriquecida, a con- sobre a Regulamentação dos Planos de Saúde é enor-
vergência das opiniões e dos legítimos interesses dos me e, mesmo podendo parecer por demais ambicioso,
envolvidos, sempre sob a égide da maximização do bem tenho a mais absoluta confiança de que vocês pode-
comum da nossa pátria. rão identificar os consensos e as divergências ora
A negociação honesta e franca entre operadoras, presentes, que irão se constituir em uma agenda de dis-
consumidores, prestadores e gestores de serviços pri- cussão, a qual, envolvendo as autoridades governa-
vados e públicos tem o inequívoco poder de impul- mentais e a sociedade civil organizada, possa redundar
sionar o processo de regulamentação a patamares mais em um promissor futuro para a questão da saúde
modernos e satisfatórios para todos. Algumas questões em nosso país, garantindo a viabilidade econômico-
substantivas já surgem claramente para a nossa dis- financeira d0s agentes e a qualidade da assistência à
cussão, entre as quais destaco a adequação da saúde para os brasileiros.
assistência médica supletiva aos referenciais do Siste- Não posso deixar de prestar uma homenagem es-
ma Único de Saúde, fundamental para o aperfei- pecial ao presidente desta Casa em exercício, Senador
çoamento da regulamentação dos planos de saúde. Edison Lobão, que não tem negado, em nenhuma oca-
Preservar e interpretar adequadamente as diretrizes sião, apoio a todas as propostas que são feitas para se
de universalidade e cuidar da integralidade e controle discutir saúde na Comissão de Assuntos Sociais. Muito
social, compatibilizando-as com as reconhecidas espe- obrigado, Sr. Presidente.
cificidades jurídicas, legais e assistenciais dos planos E ao Ministro José Serra, que não se tem furtado a
privados de saúde é outro ponto crucial que se deve atender aos convites que lhe são formulados e, inclu-
ter em mente, garantindo o direito de atuação das ope- sive, por sua coragem em enfrentar lobbies, na busca
radoras, sem comprometer uma política nacional de de poder atender à população mais carente do nosso
saúde que vem, em síntese, representar o conjunto dos país. Ainda agora, ao reeditar a medida provisória, re-
objetivos de todos os atores do setor de saúde. tirou do texto, conforme palavras a nós dirigidas e ao
O direito à saúde para todos os cidadãos brasilei- Senador Sebastião Rocha, colocou de lado as frases

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mais polêmicas para que, talvez depois do simpósio, segmentos interessados na formulação de políticas de
possamos equacionar melhor esse processo tão impor- saúde para o país.
tante que é a saúde suplementar, em apoio ao SUS, Nestes dois dias, pretendemos avançar em propo-
que vem melhorando gradualmente pelas providên- sições para o aprimoramento da legislação do setor de
cias que o ministro e o governo do Presidente Fernando saúde suplementar.
Henrique têm proporcionado, procurando garantir um Nos últimos três anos, conquistamos um espaço e
maior atendimento, principalmente às populações um ambiente regulatório que precisam se consolidar.
mais carentes. Mãos à obra. Vamos à luta, para que ti- Em que pesem os esforços da ANS e os avanços im-
remos realmente algo importante para a sociedade plementados, o processo de regulamentação deve
brasileira. (Palmas) caminhar para a intensificação das negociações e pac-
tos entre os segmentos da sociedade organizada e
O Senador Lúcio Alcântara o governo. Partimos do pressuposto de que a regu-
Convidamos neste momento o Deputado Rafael Guerra, lamentação da saúde suplementar deve buscar
coordenador deste simpósio pela Câmara dos Deputa- nortear-se nos marcos doutrinários do Sistema Único
dos, para tomar um lugar à Mesa da solenidade. de Saúde de universalidade, eqüidade e integralidade.
Dando prosseguimento à solenidade de abertura, Também neste simpósio, não poderemos deixar
convidamos o ilustríssimo Sr. Mário César Scheffer, de mencionar as recentes propostas do governo con-
Conselheiro e Coordenador da Comissão Intersetorial tidas na Medida Provisória 2.177-43, que trazia
de Saúde Suplementar, para fazer uso da palavra. inúmeros pontos polêmicos e que merecem debate
mais aprofundado.
O Dr. Mário César Scheffer A reação do Conselho Nacional de Saúde, dos par-
Bom dia a todos. Exmº Sr. Senador Romeu Tuma, Pre- lamentares e das entidades à MP não foi senão no
sidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado; sentido de chamar a atenção para a necessidade do
Exmº Sr. Senador Edison Lobão, Presidente do Sena- diálogo e do debate em torno desses pontos. Que aqui
do Federal; Exmº Sr. Ministro José Serra, Ministro da sejamos capazes de valorizar o pluralismo de idéias,
Saúde e Presidente do Conselho Nacional de Saúde; conviver com as diferenças e, ao mesmo tempo, reco-
Exmª Sra. Deputada Laura Carneiro, Presidente da nhecer o conflito de interesses que envolve essa
Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara; discussão, buscando os consensos possíveis.
Exmº Sr. Senador Sebastião Rocha, coordenador do Não poderia deixar de agradecer a todos aqueles
simpósio pelo Senado Federal; Exmº Sr. Deputado Fe- que se dedicaram à viabilização desse simpósio. E, ao
deral Rafael Guerra, coordenador do simpósio pela mencionar três pessoas, estendo reconhecimento a
Câmara Federal; senhoras e senhores. Em nome do todos os que acreditaram nessa iniciativa. Primeira-
Conselho Nacional de Saúde, saúdo a todos e coloco mente, o Senador Sebastião Rocha, que desde a
aqui a nossa expectativa em relação a este simpósio, primeira hora se empenhou para tornar real essa deli-
idealizado pelo Conselho Nacional de Saúde e arti- beração do Conselho, assumindo a coordenação do
culado com o Senado Federal e a Câmara dos simpósio pelo Senado. Da mesma forma, o Deputado
Deputados, contando ainda com a participação do Rafael Guerra, ex-Conselheiro Nacional de Saúde, que
Ministério da Saúde, especialmente da Agência Na- assumiu essa tarefa junto à Câmara; e o nosso Coor-
cional de Saúde Suplementar. denador-Geral do Conselho Nacional de Saúde,
Este evento está inserido num conjunto de outras Nelson Rodrigues dos Santos, que tão bem tem con-
iniciativas do Conselho Nacional de Saúde, que visam duzido este que é o maior fórum de controle social
promover o controle social e a participação de todos os em saúde do país.

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Por fim, esperamos que nestes dois dias tenhamos plano de saúde. Fiquei oito meses estudando a ma-
ótimos debates e estejamos unidos pelo compromisso téria para conseguir entender o que era cálculo
de construir uma regulamentação que, realmente, atuarial, como iríamos fazer com o consumidor que, de
conduza a melhores condições de saúde e de vida para alguma maneira, tivesse direitos?
o povo brasileiro. Muito obrigado. E dali surgiu o primeiro anteprojeto, o primeiro pro-
jeto, o primeiro substitutivo que tratava da regu-
O Senador Lúcio Alcântara lamentação dos planos de saúde. Daí fomos para a
Neste momento, ouviremos a Exmª Sra. Deputada Comissão de Seguridade e desta para um projeto mais
Laura Carneiro, Presidente da Comissão de Seguridade amplo numa Comissão Especial – o Deputado Osmânio
Social e Família da Câmara dos Deputados. Pereira foi um dos relatores, e o Deputado Iberê
Ferreira, o Relator-Geral – e conseguimos avançar na
A Deputada Laura Carneiro lei que regulamentava os planos de seguro privados de
Sr. Presidente, Edison Lobão, Presidente Interino do saúde. A partir disso, várias modificações foram feitas.
Senado Federal; nobre Ministro da Saúde, Senador José Antes havia a Susep, logramos a Agência Nacional de
Serra, meu querido companheiro de presidência; Pre- Saúde, e hoje estamos aqui.
sidente da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Penso que o objetivo de todos nós é um só: avaliar
Federal, Senador Romeu Tuma; Srs. Senadores, Senador os três anos da lei, avaliar as modificações necessárias
Sebastião, com quem, acredito, todo o setor se vanglo- e propô-las.
ria; nobre Deputado e companheiro Rafael Guerra que, O Ministro José Serra sai de todos os seus afaze-
em nome da Comissão de Seguridade Social e Família, res e vem a este seminário. S. Exª vem dizendo que
desenvolveu todos os esforços no sentido de que a reu- quer ouvir a sociedade, as operadoras, os médicos, os
nião de hoje e a de amanhã fossem possíveis; hospitais, as entidades filantrópicas e, principalmen-
companheiro Mário Scheffer, representante do Conse- te, os consumidores.
lho Nacional de Saúde, sem o qual seria absolu- Penso que este é o objetivo do seminário: até onde
tamente impossível a realização deste simpósio. vamos encontrar ou temos a obrigação de encontrar
Queria, em nome da Comissão de Seguridade Social, os opostos? O Parlamento é sábio nisso. Somos todos
portanto em nome de todos os deputados daquela co- diferentes e conseguimos, a partir das oposições e dos
missão, saudar o esforço do Conselho Nacional de opostos, encontrar convergência, e é isso o que vai
Saúde para a realização do simpósio. A Câmara e o Se- acontecer nestes dois dias.
nado são coadjuvantes nesse cenário. Na verdade, foi Não tenho dúvida de que todos nós temos ciência
uma meta, um objetivo alcançado pelo Conselho Na- da necessidade dos consumidores, os 40 milhões de
cional de Saúde. usuários de planos de saúde, de terem direitos, mas
Dr. Januario, nosso querido Presidente da Agência também temos a completa ciência de que, se esse sis-
Nacional de Saúde, que, com certeza, durante estes tema não for equilibrado, vamos cair no Sistema Único
dois dias será o mais questionado. Mas questiona- de Saúde. E esse, sim, é o nosso grande objetivo. Todos
do sempre para a construção, que é o objetivo maior temos uma obrigação maior: nossa obrigação é com o
deste seminário. sistema público, nossa obrigação é com a defesa do Sis-
Na sexta-feira passada, fiquei imaginando, minis- tema Único de Saúde. Essa não é uma obrigação do
tro, o que iria dizer aqui. Todos os que estão lá sabem Parlamento, do Conselho Nacional ou do Ministério da
muito mais do setor que eu. Comecei a estudar o setor Saúde, é uma obrigação de todo cidadão brasileiro.
em 1996 quando, na Comissão de Defesa do Consumi- Aproveitando esta oportunidade, em que tento
dor, veio-me o primeiro projeto de regulamentação de expressar a importância do SUS, queria fazer um con-

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vite a todos. Amanhã, às 8 horas – o Ministro José Ser- Este é um momento mágico que todos vamos apro-
ra também está convidado – o Padre José Linhares, veitar, o Parlamento o aproveitará muito mais do que
nosso 1º Vice-Presidente e Presidente da Federação de os senhores. Tenham certeza de que cada frase dita
Filantrópicas Brasileiras, promoverá um café da manhã. aqui será ouvida por todos os parlamentares. Na hora
Não vou nem dizer para os senhores o nome da cam- de discutir o projeto de lei a ser enviado pelo Ministro
panha que estamos montando. Pode dizer, Deputado José Serra, que está muito gripado – vou contratar um
Perondi. Sabe que não sou nada formal. bom plano de saúde para S. Exª, se S. Exª não quiser
usar o SUS, e eu preferiria que o fizesse – tenho certe-
O Deputado Darcísio Perondi za de que vamos avançar, pelo povo brasileiro, em
Pode falar, deputada. nome do povo brasileiro e, mais do que tudo, para que
todos possamos dormir em paz, com a consciência tran-
A Deputada Laura Carneiro qüila. Que Deus nos ajude! Obrigada. (Palmas)
“Erro Mata”, este é o nome da campanha. O objetivo
da campanha, ministro, é o de que todos nós tenha- O Senador Lúcio Alcântara
mos a capacidade de lutar contra o corte de R$1,2 bilhão Agora, ouviremos o Exmº Sr. Senador Sebastião Rocha,
para a saúde pública neste país. Amanhã, o evento será coordenador do simpósio e membro da Comissão de
realizado às 8 horas, no 10º andar da Câmara dos De- Assuntos Sociais do Senado Federal.
putados. (Palmas)
Fico imaginando que, se não entendermos que o O Senador Sebastião Rocha
que vamos discutir aqui é suplementar, é um adendo Eu gostaria de saudar todos os componentes da Mesa,
a algo que não está dando certo, como todos gostaría- em nome do Senador Presidente interino do Senado,
mos, teremos uma responsabilidade muito maior com Senador Edison Lobão, e do Ministro da Saúde José Serra.
o sistema público. Por isso, é feito o convite para a nova Quero saudar os meus colegas senadores, os deputa-
campanha que lançamos amanhã, por meio da Frente dos federais aqui presentes e todos os participantes
de Defesa da Saúde da Câmara dos Deputados. deste evento.
Tenho certeza de que vamos encontrar esse equi- Serei extremamente breve, até porque nossa Co-
líbrio, o equilíbrio daqueles que entendem que esse é missão de Assuntos Sociais, presidida pelo nosso colega,
um sistema suplementar, que é importante que as Senador Romeu Tuma, está assoberbada na manhã de
empresas sejam fiscalizadas, que é importante que as hoje, com uma audiência pública sobre silicone, na
operadoras tenham, por intermédio da ANS, o contro- qual tenho o dever de estar presente porque sou o
le social necessário e, ao mesmo tempo, tenham a relator do projeto.
capacidade de entender que não adianta que criemos Quero falar apenas do sentido deste evento, da im-
todos os direitos – e eu gostaria de criá-los, presidi a portância deste simpósio e agradecer a todos os que
Comissão de Defesa do Consumidor da cidade do Rio ajudaram para que ele pudesse ser realizado. E o Se-
de Janeiro durante seis anos – possíveis se o sistema nado foi fundamental para isso. É lógico que temos
não for capaz de arcar com eles. de dar o mérito da iniciativa ao Conselho Nacional de
Esse equilíbrio só é possível porque aqui há pessoas, Saúde, que é presidido pelo Ministro José Serra e que
todas as pessoas que conseguem perceber que este é teve na pessoa do Dr. Mário Scheffer um grande coor-
um momento mágico. Quando foi que este plenário denador, dentro da comissão organizadora do simpósio.
recebeu operadoras, o Ministro da Saúde, o Conselho O Deputado Rafael Guerra representou muito bem a
Nacional de Saúde, médicos, usuários, Idec, Procons? Comissão de Seguridade da Câmara, presidida pela
Quando foi que isso aconteceu? nossa colega, Deputada Laura Carneiro. A Agência Na-

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cional de Saúde participou inicialmente, também, des- líbrio que buscamos: o Parlamento participando efeti-
se projeto e depois achou por bem participar apenas vamente, propondo, fiscalizando e ajudando a
como um dos atores neste debate e não como orga- mobilizar a sociedade para debater e escolher o me-
nizadora do evento. lhor caminho. Não há radicalismo. E, nesse aspecto,
A experiência tem mostrado que esse é um setor todos temos contribuído, e quero que o Ministro José
em permanente conflito e, se não houver uma media- Serra seja, como tem sido, um parceiro nesse setor.
ção sábia, hábil, caminharemos eternamente para os Não quero entrar no mérito dos últimos aconteci-
impasses. Costumo brincar com o Ministro José Serra – mentos, porque esse não era e nunca foi o objetivo do
e pedi à S. Exª permissão para isso – no sentido de que simpósio. O objetivo do simpósio sempre foi o de fazer
S. Exª, à frente do Ministério da Saúde, está fazendo um balanço da atual legislação e até eventualmente
um curso de pós-doutorado de Brasil. o de obter sugestões de propostas para o futuro. O nos-
A idéia que tínhamos do Ministro José Serra, eu que so objetivo jamais foi analisar problemas pontuais,
sou parlamentar do Norte, da Amazônia, do Amapá, era locais ou de estratégia política do governo. Nisso o Mi-
a de que, em sendo representante de São Paulo, S. Exª nistro José Serra mostrou uma grande habilidade ao
sempre buscava defender os interesses do Centro-Sul, conseguir contornar os problemas dos últimos dias.
em detrimento, muitas vezes, de algumas vantagens Estamos aqui em um clima de harmonia, que espero
para o Norte e para o Nordeste. Havia uma certa que prevaleça. Espero que possamos construir um Bra-
estigmatização do pensamento do economista e par- sil melhor também nesse setor de saúde suplementar.
lamentar José Serra. Muito obrigado. (Palmas)
No Ministério da Saúde, o Ministro José Serra real-
mente está fazendo um grande aprendizado. Não sei O Senador Lúcio Alcântara
se isso se deve ao pleito pela candidatura a Presidente. Fará o seu pronunciamento neste momento o Exmº Sr.
Acredito que não. Acredito que é exatamente a ampli- Ministro José Serra, Ministro de Estado da Saúde.
tude de ações que o Ministério da Saúde desenvolve
pelo país afora que força qualquer gestor competente O DR. José Serra, Ministro da Saúde
e hábil – como reconheço ser o Ministro José Serra, Queria cumprimentar o Presidente do Senado Federal,
mesmo sendo eu de oposição – a estender o pensamen- Senador Edison Lobão; o Senador Romeu Tuma, Presi-
to economista para a área social. Hoje, vemos que o dente da Comissão de Assuntos Sociais daquela Casa;
Ministro José Serra luta pelas grandes causas do Brasil a Deputada Laura Carneiro, Presidente da Comissão de
e, na saúde, isso não podia ser diferente. Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados;
Por isso, Ministro José Serra, como aliado do usuá- os demais integrantes da Mesa, Senador Sebastião
rio, respeitando as operadoras, o que buscamos no setor Rocha, Srs. Januario Montone e Mário Scheffer e De-
de saúde suplementar é o equilíbrio. E o que chamo de putado Rafael Guerra. Cumprimento a todos os
equilíbrio? Chamo de equilíbrio aquilo que a socieda- presentes aqui.
de brasileira pode suportar. O equilíbrio está na pre- Queria dizer da minha satisfação de vir aqui ao
servação das empresas, das operadoras, que precisam Senado Federal, casa da qual faço parte. Estou tempo-
continuar gerando emprego e prestando serviço de rariamente afastado, enquanto estiver no ministério.
qualidade aos usuários. O equilíbrio está na ação per- Em primeiro lugar, queria lembrar uma questão:
manente do Idec, do Procon, do Conselho Nacional de deveria ou não o Ministério da Saúde interferir na área
Saúde, do Ministério Público, a fiscalizar a legislação da Medicina Suplementar? Chamemos de Medicina Su-
em vigor, fazendo com que o usuário possa, de fato, ser plementar a área que envolve diferentes modalidades
atendido nas suas necessidades básicas. É este o equi- de assistência não pública à saúde, o que, em outros

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa de Abertura 15

países, chama-se de seguro social ou algo parecido. No eficiência e é barata. Essa foi sempre uma referência.
Brasil, assumiu a denominação genérica, imprecisa, Há o setor de seguros que deve ter cerca de 6,5 mi-
mas já consagrada, de planos de saúde. Deveria ou não lhões de associados e que, de fato, não é de seguros.
o Ministério da Saúde interferir nessa área? No Brasil, praticamente, não há seguro de saúde. Não
Isso não é trivial. Antecessores meus, inclusive o se opera com seguros, embora tenha nascido no âmbi-
Ministro Adib Jatene, não revelavam inclinação para to dos seguros. Há, sim, alguns requisitos de operação
isso, porque essa é uma questão privada. Existe o SUS, de seguro que são muito importantes e que queríamos
e o ministério deve cuidar desse órgão. Há, naturalmen- que prevalecesse no conjunto do setor, algo que o pes-
te, outros enfoques que chegam à mesma conclusão, soal de fora da área estritamente de seguros não quer.
como, por exemplo, de que se trata de uma área priva- Há as cooperativas – como são chamadas – e os pla-
da e de que o governo deve deixar o mercado regular. nos de Medicina de Grupo, que entram, na maior parte,
No momento de minha posse, defini uma mudança na chamada Associação Brasileira das Empresas de
nessa orientação. Por quê? Em primeiro lugar, porque Medicina de Grupo – Abramge. Isso deve dar cerca de
o mercado não opera perfeitamente na área de planos 30 milhões de pessoas. Diziam sempre que, no Brasil,
de saúde. Vou demonstrar o porquê. Quando não ope- havia 40 milhões de pessoas, mas encomendamos uma
ra, quando há imperfeições, defeitos, falhas, é pesquisa ao IBGE, a qual demonstrou que havia mais
indispensável a entrada do Poder Público nessa maté- ou menos 30 milhões. E, pelo cadastramento feito até
ria. E há questões específicas da área que impedem que agora, o número vai por aí, a menos que haja muita
o setor fique entregue ao mercado e que as questões coisa escondida, deve haver umas 30 milhões de pes-
se resolvam na Justiça, como é a posição de outros. soas. Se puser em Ansp isto e aquilo, poderemos chegar
De fato, a nossa doutrina tem sido pela interfe- a algo em torno de 38 milhões, mas não é a área priva-
rência do Poder Público nessa área, como também na da propriamente dita.
área de medicamentos. A força doutrinária de uma in- Quais são os problemas que envolvem o funciona-
terferência é a mesma que da outra, tanto no que se mento desse setor? Antes, dou um dado muito im-
refere a medicamentos quanto no que diz respeito à portante: calculo que, na economia, esse setor gasta
Medicina Suplementar. algo em torno de R$20 bilhões. Para que os senhores
Isso pode parecer óbvio a todos, mas não o é, nem tenham uma idéia, o orçamento da Saúde está ultra-
aos partidos de esquerda, nem aos de direita. Às vezes, passando R$30 bilhões. No ano passado, eram R$30
esse desenfoque de concepção dificulta o avanço no bilhões. Graças à emenda constitucional, deve ter cres-
sentido de uma regulamentação mais realista e eficaz. cido um pouco neste ano. Eu não diria que são dois
Os planos de saúde começaram no Brasil antes do quintos, porque há também as despesas de saúde em
SUS, pelos idos dos anos 70. Atingiram seu auge de ex- medicamentos ou fora de planos de saúde que devem
pansão, acredito, já a partir dos anos 80. De fato, são estar – esta é uma estimativa – beirando os R$10 bilhões.
muitas as modalidades. Há a autogestão, que é a que Portanto, haverá cerca de R$60 bilhões de gastos no
melhor funciona no Brasil e que deve ter por volta de Brasil e esse setor dá conta de um terço desse gasto.
oito milhões de associados. E, no geral, são serviços Mais ainda: grande parte dos serviços prestados são
muitos bons, tanto que, no início, tomamos a auto- feitos sob a forma de planos coletivos, que são pagos
gestão como parâmetro para a análise de custos. Por pelas empresas. Alguns afortunados também têm pla-
exemplo, na autogestão do Banco do Brasil, qual é o nos individuais; quando são contratados, a empresa
custo por pessoa? Talvez seja essa a melhor autogestão passa a pagar o plano individual, mas isso é menos co-
existente, e não é uma autogestão baseada nos sub- mum. O mais comum é que a empresa tenha o seu
sídios governamentais, etc. Ela funciona com muita plano de saúde.

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16 Mesa de Abertura

Portanto, daqueles R$20 bilhões, R$15 bilhões são duais. O que estou dizendo não é exclusivo – de repen-
injetados por empresas na área da saúde. Isso passou a te, alguém levanta e diz que uma caixa de deter-
ser objeto de negociação sindical e já foi incorporado minado lugar apresenta determinado problema. Sim,
na estrutura e no modo de funcionamento do sistema mas, no atacado, a questão básica está nos planos in-
de saúde no Brasil. dividuais. E estima-se que tenhamos 25% dos afiliados
Evidentemente, se, por exemplo, pensássemos que ao esquema de saúde suplementar com planos indivi-
não existe mais essa área de saúde suplementar – duais. Esses são os problemas.
como muitos gostariam – no mínimo, perderíamos, do Uma parte deles não tem problema, da mesma
ponto de vista de contribuição das empresas, R$15 bi- maneira que uma parte dos que estão nos planos co-
lhões, que não iriam para a diminuição de preços. Não letivos tem. Por isso que, na verdade, deve dar em
vivemos num mundo idílico. Esse montante não iria torno de sete milhões e meio de problemas ou de po-
para a rebaixa de preços de seus produtos e, provavel- tenciais problemas.
mente, tampouco para a arrecadação tributária. De Quais são as principais condições e dinâmicas do
fato, seriam simplesmente recursos retirados da área setor? E aqui vou me permitir fazer um pouco de análi-
da saúde. Essa é uma situação existente. se econômica. Há duas que são clássicas e que operam
Evidentemente, seria inimaginável supor que se em qualquer economia, qualquer sociedade do mun-
poderia criar um imposto especial. Isso seria incons- do que tenha planos de saúde: o mecanismo da seleção
titucional. Não é possível criar um imposto especial, adversa e o mecanismo para o qual não conseguimos
dizer que o plano de saúde que se pagava, agora vai ainda encontrar um termo adequado para traduzir
pagar para o Governo. Isso, na Justiça, cai no mesmo para o português, que se chama risco moral, mas na
dia. Imediatamente haverá uma liminar e o assunto verdade não é bem isso, o moral hazard – vou explicar
se encerra por aí. do que se trata – e depois temos os dois outros proble-
Portanto, interessa haver R$15 bilhões a mais na mas peculiares do Brasil. O da seleção adversa consiste
área da saúde? Interessa. Isso interessa para as pessoas em que às empresas interessa ter jovens sadios. Por
que devem ter uma liberdade para escolher; para os exemplo, tenho que batalhar com os meus filhos para
médicos, porque aumenta o mercado de trabalho; e que paguem um plano de saúde e peço que vejam se
para o conjunto do sistema, porque, se gasto aqui, alí- na empresa em que pleiteiam há plano de saúde. Mas
vio; por outro lado, a despesa. Portanto, dentro dessas não ficam doentes nunca e aos planos interessam es-
análises, é importante colocarmos esses ingredientes. sas pessoas. E, em se tratando do indivíduo, quem
O nobre senador Sebastião Rocha aludiu à minha pensa em pagar um plano de saúde? Aquele que
condição de economista. Uso pouco o trabalho de eco- imagina ter propensão a usar mais. Aí, temos uma im-
nomista; e o uso, inclusive, menos do que se imagina perfeição de mercado insolúvel, que é, nessa disputa,
na vida parlamentar. Foi de minha autoria o projeto a seleção adversa pelos dois lados e que – tem que ser
do seguro-desemprego, a criação do FAT, mas não me reconhecido – é exercida pelos dois lados. Daí, torna-
foi necessário o conhecimento de Economia. Para mim, se necessário entrar um poder regulador, porque pelo
o conhecimento de Economia ajuda mais é no sentido mercado não resolve. Segundo, o que eu dizia do risco
de aprender a não ser enganado pelos economistas e, moral consiste no seguinte: quando alguém paga por
evidentemente, também de não esquecer que existe algo e o aumento do consumo não onera o pagamen-
uma dimensão econômica nisso. to, a tendência é aumentar o consumo.
Agora, é interessante também dizer que o foco Eu me dei conta disso pela primeira vez quando fui
principal dos problemas em geral, na área do sistema apresentado a um plano de saúde nos anos 70, na Uni-
de saúde suplementar, está na área dos planos indivi- versidade de Cornell, onde fui fazer doutorado. Já

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estava fora do Brasil desde o golpe militar, quando saí aprendeu até hoje foi a substituir o comportamento
exilado, então não tinha idéia de que aqui havia pla- de euforia, o comportamento de manada, o que pode
nos de saúde ou algo parecido. Mas peguei um plano ocorrer numa crise a que assistimos no sistema finan-
da universidade, ela pagava e não eu e, portanto, a ceiro internacional. Quando alguém pensa que a
universidade não tinha interesse nenhum de limitar Argentina vai quebrar, a Argentina quebra, porque o
serviços. Eu tinha sinusite, porque, em Ítaca, a tempe- pessoal pensa que ela vai quebrar. É como esses filmes
ratura, no inverno, chega a vinte, vinte e cinco graus que vemos no Discovery. Chega um felino, que pode
negativos. Fui a um médico credenciado e ele me fa- ser um gato de estimação, uma gazela Thompson vê
lou que eu tinha que operar, mas, antes, tinha que aquilo, sai correndo, sai todo mundo atrás.
operar de desvio no septo. E aí fui apresentado tam- Tem também o comportamento inverso da euforia.
bém a um desvio no septo, que nem sabia que existia. Isso aconteceu com planos de saúde no Brasil, pegan-
Operamos de desvio no septo. Como foi uma operação do jovens que pagavam muito pouco. Numa aceleração
penosa, resolvi não operar de sinusite. O médico fica- grande de entrada de pessoas, deixa custo de lado, não
va ligando para mim, dizendo que eu tinha que operar. tem problema de custo, porque enquanto tiver uma
Fui apresentado ao sistema e pensei que era algo taxa maior de pessoas entrando, que não vai ser aten-
complicado, uma vez que a universidade não pagava, dida, mantenho qualquer esquema. Vou mantendo. O
eu não pagava e o médico recebia, então decidi que fôs- problema é quando desacelera. Não sei se me faço cla-
semos fazendo tudo aquilo que aparecesse. Até escrevi ro. O problema é quando desacelera, pois estou
um trabalho, que nunca consigo encontrar, para um mantendo os que estão precisando de serviço com os
curso lá e na carta de temas escrevi sobre isso, simu- que estão entrando, mas se os que estão entrando no
lando o que poderia acontecer, nos Estados Unidos, momento seguinte também vão precisar de serviço,
num prazo mais longo. Não consigo encontrar o traba- esse esquema autoderrotar-se-á, a menos que a quan-
lho e, de fato, algumas das coisas do trabalho acabaram tidade de pessoas entrando continue se acelerando.
acontecendo, na realidade, ao longo do tempo. Então, Isso aconteceu com muita clareza.
isso é o risco moral de que, naturalmente, as empresas Segundo, o mecanismo que no Brasil operava até
também se defendem. Aí é sempre essa tensão. meados de 1994: a inflação. Recebe a vista e paga a pra-
O Professor Stiglets, que foi Vice-Presidente do Ban- zo. Lembram do tíquete-refeição, supermercado?
co Mundial, que saiu como um crítico do Fundo Supermercado, no Brasil, tinha virado uma empresa fi-
Monetário, é um economista liberal, nos Estados Uni- nanceira, porque a pessoa ia comprar e pagava a prazo.
dos. Liberal significa de esquerda, nos Estados Unidos. Um grande negócio. Então, o lucro não era obtido por
Ele escreveu um trabalho interessantíssimo sobre es- um certo plus em relação à mercadoria, mas era obti-
ses dois aspectos, e eu estava ansioso para ver a con- do pelo investimento financeiro. Nessa área, aconteceu
clusão. Na conclusão, ele diz que não tem jeito. Tem algo parecido.
que ter um poder regulador e tem que ir chegando a Portanto, tivemos dois fenômenos econômicos
soluções sensatas junto à realidade. que se superpuseram a fenômenos econômicos que
No Brasil – isso aprendi aqui – entraram outros dois existem no mundo inteiro: o esquema cadeia da feli-
elementos ou pelo menos um de lógica econômica ter- cidade, sem qualquer regulação, que devia ter
rível, que é o esquema da cadeia da felicidade, que não entrado no início, para impedir isso. É o que, hoje, a
é muito diferente do esquema de especulação em Bol- agência já está fazendo. Quando vem um plano, ofe-
sa, o que houve com a Internet no ano passado. rece atendimento integral com Aids até para os netos,
O economista canadense-americano, John se tiverem, etc., cobrando R$ 30,00; tem que fechar,
Galbraith, diz que se tem algo que a humanidade não porque se sabe que isso é o esquema da cadeia da

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felicidade, ou seja, enquanto tiver pessoas entrando, Diante de lei e de agência, penso que existe um
vai dar, depois acabou. triângulo de extremos que está por trás das discussões
No passado isso acontecia, hoje já é mais difícil e dos debates de hoje. Eu poderia até nomeá-los, mas
acontecer, mas não significa que os problemas estru- não o farei porque não quero ser injusto. As posições
turais, que vieram desse comportamento distorcido, nunca são quimicamente puras, sempre têm matizes.
não tenham se projetado no dia de hoje. Evidentemente, toda vez que se aponta uma posição
Na verdade, o que aconteceu com os consumido- extrema em alguém, a pessoa destaca os matizes, e
res? As empresas, para contornarem problemas de trava-se uma discussão meio inútil. Mas é interessan-
seleção adversa, a questão da queda da inflação ou da te vermos o que existe por trás de muitas coisas.
cadeia da felicidade, eram detentoras de uma questão Uma primeira posição é contra a existência de pla-
crucial, que se chama informação, e o consumidor, sem nos de saúde suplementar porque a Constituição
essa informação. Através da falta da informação, redu- Federal preconiza o Sistema Único de Saúde, gratuito
zia-se custo. Essencialmente é isso. Não estou dizendo e universal. Nada a opor, desde que o Sistema Único
que todos faziam. Eu, por exemplo, não vou citar aqui, de Saúde tivesse dinheiro para isso.
mas a empresa da qual adquiri um plano de saúde, em No Canadá ou na Inglaterra, onde começa a haver
meados de 1985, não fazia isso. Aliás, não é por coinci- problema no sistema de saúde, o sistema é inteiramen-
dência que ela fechou e só manteve os sócios dentro. te estatal. No Brasil daria certo, só precisaríamos do
O fato é que isso passou a ser a norma na opera- correspondente a três vezes, mais ou menos, o orça-
ção do sistema, que também contraria o mercado. mento. Como o orçamento é de mais ou menos R$ 30
Para aqueles que são ortodoxos do mercado, o mer- bilhões, se me fossem dados R$ 100 bilhões, faríamos.
cado não opera assim, porque no mercado as pessoas Haveria muitas reclamações, porque, no Canadá e na
têm informação. Se vou comprar uma lata de ervilha, Inglaterra, para se fazer uma ponte de safena, demora
não gosto, mudo de lata de ervilha. No entanto, se um ano, um ano e meio. Contudo, é um sistema bom,
estou num plano de saúde, como vi uma vez, e, de re- altamente eficiente e precisa de muito mais dinheiro.
pente, tenho a pressão alterada, chego lá e falam que Há também outro ângulo: há pessoas que sempre pre-
não atendem doença crônica. Isso não é possível! Um ferirão outra coisa. Temos de deixar a liberdade de
plano desses é uma imoralidade e a pessoa não sabia, opção por causa da hotelaria e outras coisas que vira-
porque isso está escrito em pequenas letras. Esse é o ram tradicionais.
exemplo mais escandaloso que encontrei. Pressão Segundo, há posições contrárias à existência de uma
alta não é um problema de nascença, as pessoas o lei, que defendem que tudo tem de ser resolvido pelo
adquirem ao longo da vida. Aliás, contratam um pla- Poder Judiciário. Como há o Código de Defesa do Consu-
no de saúde exatamente por isso. midor, a lei só atrapalharia. O que tem que fazer a pessoa
Diante deste quadro, evidentemente, o Congresso que é mal-atendida na Santa Casa de Quixeramobim
Nacional começou a discutir o assunto. Desde que eu por um plano de saúde é contratar um advogado, recor-
era deputado, antes de 1994, já acontecia a discussão rer à Justiça e esperar quatro ou cinco anos, enquanto
do marco regulatório, que não é fácil de determinar. se observa o que acontece, procurando liminares etc.
Os Estados Unidos não conseguiram fazê-lo até hoje Como há posições contrárias à lei, mesmo discutindo-a,
porque é muito difícil. Creio que se eu fosse avaliar o no fundo, é algo que se orienta para estraçalhar a lei ou
avanço no Brasil, pelo número de anos, o avanço, com- tornar inviável a operação da área. Não raramente, a
parativamente a outros países, foi enorme. Às vezes, posição A e B coincidem também.
não temos a noção comparativa do que acontece em Em terceiro lugar, há a posição do lado empresarial
outros lugares. no sentido de que não tem que existir lei nenhuma,

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de que deve haver liberdade de mercado, de forma que, de que se desconsiderasse que era originário do Se-
se uma empresa é ruim, as pessoas mudam sua esco- nado, para que este pudesse fazer as modificações,
lha etc. Evidentemente, isso é falso. Em um sistema mas isso não prevaleceu. Quando fui para o ministé-
de concorrência perfeita, a questão básica é a infor- rio, conversei com os líderes da Câmara, inclusive, e
mação dos consumidores. no Senado com o Senador Sebastião Rocha, que era o
Isso vale para os serviços médicos? Porque serviço relator nesta Casa, e fizemos o seguinte acordo: va-
médico não é mercado, embora possa ter componen- mos consertar o projeto, no sentido de uma medida
tes da iniciativa privada. Porque, na concorrência provisória acordada por todos, porque era o único jei-
perfeita, a informação é um pré-requisito para operar to. Não havia condições de a coisa andar. Daí a origem
o sistema. Ou seja, para que o sistema opere, uma das da medida provisória.
suposições da concorrência perfeita é que a informa- Houve coisas importantes. Por exemplo, o projeto
ção seja de todos. Na saúde, em geral, o que se vende é original, que o Senado aprovou, pressupunha a
a informação. O que é uma premissa para o funciona- regulação feita no âmbito da área financeira do Governo,
mento da concorrência, na saúde, é mercadoria. O que no âmbito da Susep, do Conselho Nacional de Seguros
o consumidor compra é a informação. Isso é essencial e coisas do gênero.
para que essa discussão não se prolongue indefini- Então, naquela época, eu, que acabava de assumir
damente em nosso país. Não tem mercado operando no ministério, descobri o Dr. Barroca [João Luís Barroca
na forma tradicional no setor porque o consumidor não de Andréa] que vinha do Banco do Brasil e me ajudou.
tem a informação. Portanto, precisa haver o poder Na verdade, nós dois, no âmbito do Ministério da Saúde,
regulatório da área pública interferindo. trabalhamos no sentido de fazer essa medida provi-
Creio que essas são três posições extremas, que, sória, que passou bem e permitiu um avanço na
muitas vezes, estão por trás das discussões. Não é que regulamentação, ao invés de um retrocesso, como era
a pessoa, quando vai discutir a lei, ache que ela não o que estava acontecendo.
deva existir, mas isso condiciona a forma de discutir, Fazendo um balanço – lei e regulamentação –
tanto a lei quanto a regulamentação. identifico vários aspectos positivos, do ponto do con-
Agora, a lei, na prática, mais a regulamentação, foi junto do sistema, especialmente do ponto de vista dos
votada logo depois que assumi o ministério – acho que consumidores: a padronização de coberturas, para efeito
um mês depois. O que aconteceu? Eu mesmo fiz a emen- de o consumidor poder comparar, o que é funda-
da, juntamente com o senador, no projeto existente. mental; a mudança do critério da doença preexistente,
Na verdade, era um projeto do Senado, muito peque- porque muita gente confunde com a amplitude da
no, que foi para a Câmara e esta transformou numa cobertura – aliás, esse é outro capítulo, há uma confusão
coisa grande. Devolveu para o Senado e este não po- enorme. Essas questões são complexas; quando se
dia alterar, porque, quando um projeto se origina numa leva para a opinião pública, em geral, sempre aparece
Casa, ele vai para a outra e volta para a palavra final, tudo muito confuso.
para a Casa original. Se o Senado mandou um projeto Qual era a base da doença preexistente? O contra-
pequeno e a Câmara aumentou, o Senado só poderia to do plano de saúde é para o futuro. Não vale o passado,
fazer duas coisas: acolher o projeto da Câmara, que não senão, todo mundo que estiver doente vai e contrata
dava, ou votar o do Senado, que também não dava. um plano de saúde. Isso é ótimo, mas não há preço, ou
Ficou um impasse e até fizemos uma reunião se- empresa, que possa agüentar isso. Então, no contrato
creta, no sentido de que não havia imprensa. Os diz que não pode haver uma doença preexistente in-
senadores se encontraram no plenário com a finali- cluída. Como era antes? O ônus da prova era do con-
dade de discutir o que fazer. Até defendi a doutrina sumidor. A pessoa estava tratando-se, vamos supor que

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ela tivesse úlcera antes, ela tinha que provar isso. Mui- teríamos de decidir o que fazer com o sistema
tas vezes, ela estava dentro de um hospital, acabava preexistente. Às vezes, há esquemas bons, mas que a
pagando, para, depois, ter um ressarcimento, etc. Isso transição é impossível. É como eu querer cruzar um rio
foi mudado: o ônus passou a ser da empresa. e a correnteza me levar. Não chego do outro lado.
Continuando: a não-exclusão de doenças nos no- Outra questão importante também foi a limitação
vos planos; a não- ruptura unilateral de contratos – isso para seis meses da cobertura parcial temporária para
podia ser um bom negócio, exatamente por causa da doença ou lesão preexistente. Outra foi o ressarci-
cadeia da felicidade no passado: quando chega a hora mento que nunca foi cobrado. A lei previu – insisti que
de a pessoa ficar doente, está com mais idade, quebra- constasse na lei – e tentamos cobrar. Estamos, até hoje,
se unilateralmente o contrato. É a questão das faixas tentando cobrar, porque as empresas procuram a Jus-
etárias, porque ela está associada a dois fenômenos: o tiça e questionam a constitucionalidade. Ainda é
econômico, da cadeia da felicidade, e o moral, ao abu- pouco o que se avançou, mas foi muita a disposição.
so contra os mais idosos. O moral faz parte de tudo isso. Recentemente, houve uma descentralização me-
Por quê? Porque, se tenho prestações que variam de 1 nor, não para tirar dinheiro dos estados: daríamos de
a 30, ou seja, o mais jovem paga um e o mais velho paga bom grado para os SUS estaduais os recursos arreca-
30, é evidente que o mais velho pagará prestações que dados com o ressarcimento de quem tem plano saúde
não vai poder agüentar. Podem dizer: “mas ele quis”. e é atendido na área pública. Foi por um problema de
Ele quis, entrou num plano, paga menos, depois vai que essa descentralização está favorecendo os ques-
aumentando... Não pode haver essa diferença. tionamentos jurídicos. Aí é uma guerra: há quem quer
Por que está ligado à cadeia da felicidade? Porque cobrar e quem não quer pagar. O sistema democráti-
o 1 que, às vezes, é quase de graça, destina-se a pessoas co, com um sistema jurídico existente, permite isso e
que não vão usar. Esses fenômenos estão intimamen- tudo tem que ser respeitado.
te ligados. Isso foi mudado para seis vezes entre o Criamos a Câmara de Consulta de Saúde Suple-
mínimo e o máximo. Ouvi muita reclamação de que mentar com participação de todos e até um Disque-
seis vezes é muito. Há pessoas que propõem que a pres- Planos de Saúde – Disque-ANS –, que, segundo a Stella
tação seja constante para o resto da vida, o que, aliás, [Maria Stella Gregori], já deve estar tendo umas 300
não é proibido. Depende de haver quem ofereça e de consultas diárias, para informação. Informação é uma
haver quem queira. A menos que se queira colocar isso questão crítica dentro disso tudo.
na lei. Nesse caso, não vai entrar nenhum jovem. Por- Houve avanços, mas é preciso ter claro o seguinte:
que, numa curva assim, tenho que tirar a média disso. a Agência Nacional de Saúde não é uma agência dos
Assim, os jovens pagarão uma prestação muito alta consumidores. Ela cuida do conjunto do setor. Ela tem
sem ter doença. que tornar o conjunto do setor viável, o que significa
Essa discussão é mal-informada, às vezes, porque também defender os direitos dos consumidores. Mas
as premissas que fazem parte do jogo não são postas. ela tem que cuidar do conjunto. Isso também gera
Reduzir para seis vezes já foi um avanço, na minha incompreensão quando não se unem entidades de
opinião, extraordinário, dentro de um setor em que defesa do consumidor, que vêem nela uma concorrên-
havia de 1 a 30. Quanto mais estreita, menos pessoas cia, ou exigem que ela se comporte como se fosse um
entram, porque, evidentemente, a prestação inicial Procon de determinado estado. Não! Os Procons, por
será muito alta. exemplo, são de defesa do consumidor. Um Procon que
Disseram-me que, na Alemanha, esse é um siste- não se preocupa só com o consumidor está errado. Ele
ma que funciona. Porém, no Brasil, pode haver quem tem de se preocupar só com o consumidor, da mesma
ofereça, mas não pega. Segundo, se fôssemos obrigar, maneira que uma entidade das empresas tem de se

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preocupar com as empresas. É claro que todos vão di- tualmente, o correto é não pagar imposto de renda,
zer: “Imagine. Temos de olhar a saúde das empresas”. porque é uma reserva para determinadas situações.
Outros vão dizer: “Dos consumidores, etc.” Mas a enti- Outras questões dizem respeito à organização do
dade representa um lado do assunto. A agência mercado que a agência está promovendo: o cadas-
regulamenta o conjunto. Portanto, ela não é uma coi- tramento, os critérios para entrada, uma certa limpeza
sa nem outra. com cuidado nos planos de fantasia. Esse é um traba-
Qual é a preocupação? lho que vem sendo feito e que tem pouco respaldo
É que haja um sistema viável no Brasil, porque é político, mas o fato é que vem sendo feito e é funda-
necessário, a menos que cheguemos à conclusão de mental para nós, no Brasil, para termos um setor que
que não é preciso. Esse é outro departamento. funcione honestamente. É fundamental que os bons,
Quero dizer que, ainda no ministério, depois que na área das empresas, sejam reconhecidos como tais e
foi criada a agência, tivemos algumas batalhas junto que os ruins sejam expulsos do sistema, porque enga-
ao Supremo Tribunal Federal, porque há a tese de que nam os consumidores e a empresa quebra. Essa
a lei não vale para as seguradoras, porque seguradora limpeza deve ser feita ao máximo.
era seguro e seguro teria que ser por lei complemen- Aí entra o problema de transição de carteira. Há
tar. Então tivemos que, não por gosto, equiparar as muita batalha sendo travada, inclusive na área tribu-
seguradoras aos planos de saúde, senão cairia no Su- tária, para facilitar isso. Certa vez, fiz uma análise para
premo. Isso significa que a lei atual não valeria para as a área pertinente, porque uma carteira não é o ativo
seguradoras, porque foi lei ordinária, não lei comple- que se pensa. Suponha uma empresa em dificuldade:
mentar. Pode parecer algo meio abstrato, mas tem se corre que ela está em dificuldades, aqueles associa-
uma importância enorme. dos viram pó. Só ficam os idosos e os que estão dentro
Recentemente, houve um caso de tributação – on- do hospital. Não pode ser tratado como patrimônio se
tem saiu a medida. Queremos que todos formem for absorvido por outros. Não é um prédio, uma piscina
reservas, não para amolar a paciência, mas porque, se ou um ônibus. Não é isso. É uma coisa que se esfuma.
a empresa quebra, o consumidor tem que ter uma pro- A Receita não iria ficar com esse dinheiro, simplesmen-
teção. Se, por hipótese, uma seguradora quebra, te porque depois iria desaparecer tudo.
existem as reservas. Se for uma empresa de plano de Nessas circunstâncias, quando uma teve dificulda-
saúde, sem um tostão de reserva, que quebra, o cida- de, ouvi ataques de entidades feitas à agência de que
dão que pagou por 20 anos fica sem nada. Às vezes, não só tinham uma lógica: botar dinheiro público. Isso nós
é suficiente pegar o patrimônio das pessoas, porque não vamos fazer, pode ter a pressão que for. E tem pres-
esse patrimônio previamente se esfumou. Vocês já vi- são. Às vezes, as pessoas fazem pressão sem saber que
ram pegar patrimônio de alguém no Brasil? Muito estão fazendo. De repente, uma empresa quebra e põe
menos na área de planos de saúde. Não é uma área que, a culpa na agência ou no governo. Só se quisessem que
se tiver que quebrar, quebra de um dia para o outro, pe- puséssemos dinheiro. Essa situação aconteceu.
gando o dono de surpresa. Isso não acontece. Mas, para Chamo a atenção para isso, porque é da maior im-
formar reservas, tributava-se o dinheiro que vai para a portância e poderá ser de uma importância
reserva. Se é uma seguradora que põe R$1,00 de reser- infinitamente maior nos próximos anos. Ou encontra-
va, não precisa pagar imposto de renda. Se é uma mos mecanismos internos ou logo vem proposta para
empresa de medicina de grupo, como a Unimed ou uma dinheiro público. Ouvi isso ou inferi isso, dependendo de
cooperativa, paga o imposto de renda. Isso inviabiliza. quem fosse. Quebrou tal coisa, entra o governo para
Batalhamos muito e conseguimos, finalmente, manter. Haveria uma insurreição no país se usássemos
modificar para fazer a equiparação, porque, concei- dinheiro do SUS para isso. Seria inacreditável. Pois quero

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que se saiba que a lógica de muitas análises e de críti- de olhos, instantaneamente, sem mais nada, acabaria
cas na hora em que se está procurando administrar a o sistema, porque não haveria reajuste. Então, o que
transmissão é essa, de empregar dinheiro público nisso. pode ser válido numa situação individual, sempre que
É diferente. Outra coisa: estamos pleiteando junto ao o cidadão tenha condição de contratar advogado, não
BNDES que abra uma linha de crédito não com juro ne- é válido para o conjunto.
gativo. Às vezes, os economistas se enganam. Juro Às vezes, tenho preocupação. Analisemos, por
subsidiado é negativo, é menor do que a inflação. Um exemplo, o caso de uma Santa Casa, do interior do
juro positivo de 4%, 5% ou 6% é o mais alto em qualquer Nordeste, que atende a um plano parcial, complemen-
país desenvolvido. Não é nenhum favor poder empres- tando a sua receita do SUS. De repente, ela não tem
tar dinheiro a essa taxa de juros, que, além do mais, vem mais condição de operar, porque não pôde oferecer um
do PIS, Cofins, do FAT – que eu próprio criei, que tem di- plano completo nem conseguiu se consorciar a nada e
nheiro no BNDES e que é remunerado assim. fecha. Diminui a receita dela, que ajuda a manter o
Entretanto, estamos pleiteando a abertura de li- atendimento ao SUS. Desse modo, as pessoas serão
nhas de financiamento para as empresas sérias, opera- atendidas pelo SUS, ou seja, é uma tesoura.
cionalmente boas, para que possam mudar os seus pas- Creio que não há problema em se pensar no caso des-
sivos ruins, que devem ser destinados a um banco e sas Santas Casas nos lugares mais afastados do Brasil.
pagar juros de 50% ou 60%, a fim de que possam pagar Outra questão, que já mencionei, refere-se às insol-
um juro razoável sempre que ela já estiver bem vências. Trata-se de investir, ou não, dinheiro público.
operacionalmente. Se ela estiver bem operacio- Este assunto precisa ser debatido. Insisto que há pes-
nalmente, ela é viável. Não há razão para emprestar a soas que pensam, mesmo sem saber, que deve ser
uma fábrica de automóvel e não para planos de saúde, utilizado dinheiro público na hora da quebra.
a menos que a área social seja considerada maldita. Olhando para o futuro ou, pelo menos, examinan-
Há outros problemas na área. A lei previu planos do as questões pendentes, na minha estimativa – este
completos – ou ambulatorial completo, ou de saúde procedimento é sempre muito delicado – há empresas
completo, ou de hospital, ou odontológico. São quatro que têm situação sólida.
ou cinco variedades, dependendo do arranjo Senador Sebastião Rocha, já estou terminando a
combinatório. A questão é como migrar. Se tivesse nas- minha exposição. S. Exª está aflita com razão, porque
cido assim, maravilha! O problema é como chegar lá. ainda haverá o seminário. Aliás, tenho interesse em
Os mecanismos de seleção adversa entram com toda saber a conclusão. Eu, por exemplo, sou contra silicone.
a força: entra o problema de reajustes, de coberturas e Desculpem-me a minha posição, não quero ser
de pequenas Santas Casas. Sabemos que, num univer- antidemocrático.
so de 29 milhões, 21,5 são planos parciais, hoje
segmentados. As pessoas têm planos completos ou, O Senador Sebastião Rocha
muitas vezes – inclusive depois da discussão recente – V. Sª perderá o voto das modelos.
pensam que tudo é completo. Não é assim; pelo con-
trário. O que o ministério pretende é a maior par- O Dr. José Serra
ticipação possível dos planos completos. O problema é Mas as modelos são parte pequena do eleitorado.
como chegar lá. O fato é que há, hoje, uma situação econômico-fi-
Há pessoas que acreditam que, de fato, não precisa nanceira difícil em pelo menos metade das empresas
existir regulamentação. A pessoa tem um plano parcial, do setor e que não pode ser ignorada por parte das
recorre à Justiça e ganha o direito de receber atendi- empresas nem pelo Congresso, que deve crer na ques-
mento completo. Se isso tudo acontecesse num piscar tão do setor que acredita que deva existir. Para quem

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Mesa de Abertura 23

não pensa assim, é uma maravilha. Mas, para os ou- sibilidade de escolha. Essa é uma responsabilidade que
tros, é preocupação: para os médicos, porque repre- todos temos – os brasileiros que estão vivendo hoje –
sentará encolhimento do mercado de trabalho; e para para que o futuro não seja vítima do presente. É preci-
as pessoas, porque terão pago e ficado – desculpem- so haver esquemas que permitam essa sobrevivência
me a expressão – “de broxa na mão.” em condições decentes. Dependendo do que vier a
Esse é um problema que precisa ser analisado no ocorrer, desaparecerão planos individuais – não aque-
conjunto. Não se trata de meia dúzia de tycoons, até les que já existem, que não ensejam rescisão
porque os grandes – os maiores – não correm esse risco unilateral. No fluxo, todavia, essa é a tendência. É uma
porque têm reservas, isso e aquilo. É um assunto, por- circunstância que deve ser levada em conta, embora
tanto, que precisa ser avaliado e pensado ao se fazer haja quem considere que esse seja um fato ótimo. É
regulamentação para transição, por aqueles que acre- algo que deve ser levado em consideração.
ditam que o setor deve subsistir. Eu, particularmente, Essas são as minhas palavras, que são menos do que
penso dessa forma. um discurso. Na verdade, expus o estado das artes do
Citarei um exemplo. O Hospital Beneficência Por- setor. Todos os envolvidos, à exceção de alguns que não
tuguesa, em São Paulo, que não está entre os pequenos, representam senão a si próprios, têm legitimidade nas
pertence ao SUS, ao contrário do que muitas vezes suas postulações: as entidades médicas olham pelo
parece. Senador Sebastião Rocha, esse fato é importan- médico; a entidade do consumidor olha pelo consumi-
te. O Beneficência Portuguesa é um hospital bom do dor; a empresa olha pela empresa. Isso é evidente e não
Sistema Único de Saúde. O SUS atende a 60% – depois pode ser de outra maneira.
dos controles. Não sei se todos sabem, mas mandamos Comecei minha vida pública liderando entidade de
mensalmente cartas para os usuários do SUS, a fim de classe e, por esse motivo, fiquei 14 anos exilado. Sei
conferir se houve ou não fraude. Como ninguém sabe perfeitamente o que é entrechoque de interesses, mas
para onde vão as cartas, é um sistema terrível e de também sei que, em virtude do interesse público – que
muita eficácia para combater a fraude. Enviamos cor- acredito existir –, é possível encontrar situações, como
respondências, inclusive ao Ministério Público. Em dizia a Sra. Laura, que até absorvam o conflito e forne-
alguns lugares, esse procedimento não funciona, por- çam regras para que ele se processe e alcance soluções.
que há frouxidão estadual – noutros, vai-se até para a Estaremos sempre atuando dessa forma, pois sempre
cadeia. Outro dia, fui ao Rio Grande do Sul e soube que haverá problemas.
um prefeito – ou secretário de saúde – havia sido man- Aliás, na área da saúde, esse posicionamento vale
dado para a prisão por causa desse problema. Então, para toda a ação do ministério. Resolvemos uma quan-
realmente, vamos alterando essas situações. tidade enorme de problemas e o resultado foi que
O Beneficência Portuguesa atende a 60% do SUS. ficamos com um número maior ainda pela frente. To-
Mas é 25% ou 24% da receita dele. O restante refere-se das as vezes em que se resolve um problema, aparecem
a planos de saúde. Alguém pode dizer: “O Beneficência dois. Quando se resolvem dois, o número vai para qua-
é de um grande capitalista e o melhor do SUS, deveria tro. Parece uma progressão geométrica de razão 2,
pagar tudo”. Quero apenas saber de onde obteríamos desesperadora. Porém, é assim. O importante é que hoje
recursos, neste momento, num curto prazo, para agir seja melhor do que ontem, que amanhã seja melhor
desse modo. Portanto, devemos pensar nessa questão. do que hoje. Não há outro critério para a saúde. Se pro-
Creio – não é previsão, mas um receio – que, a lon- curarmos a solução final, não chegaremos a ela. Explo-
go prazo, os planos individuais no Brasil desaparecerão, dimos hoje. Devemos melhorar sempre, com uma certa
ou seja, não haverá mais novos ou, para estes, o preço impaciência. Faz parte da minha maneira de ser a im-
se tornará impossível, eliminando-se, portanto, a pos- paciência no trabalho, mas com tolerância. E procurar

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


24 Mesa de Abertura

sempre levar em conta todas as variáveis. Cada lado de saúde, há 30 anos havia 12 milhões de brasileiros
tem que entender as razões do outro. Não precisa estar atendidos pelo sistema oficial, que eram os institutos.
ao lado, não precisa endossar as teses, mas compreen- E hoje há 160 milhões atendidos pelo SUS, além dos
der, a fim de que o conjunto saia ganhando. Ao contrá- planos de saúde que estão surgindo. É uma verdadeira
rio, a vítima não será nenhum desses setores. As vítimas revolução em tão pouco tempo em um país de 500
principais – é claro, aqueles que perdem o mercado anos. Há, hoje, uma preocupação com a qualidade de
de trabalho têm um golpe forte – serão as pessoas no vida, coisa que não havia há 40 anos. O plano de saúde
Brasil. O futuro será vítima do presente. Portanto, não não é outra coisa senão parte dessa preocupação com
podemos permitir que isso ocorra. Muito obrigado. a qualidade de vida.
(Palmas) Fui governador há dez anos e vejo, em meu estado,
estatísticas estarrecedoras: a mortalidade infantil era
O Senador Lúcio Alcântara de 140 crianças por grupo de mil, quando assumi o go-
Pedimos a gentileza e a compreensão de todos para verno. Ao deixar o cargo, já havia reduzido esse número
que mantenham os aparelhos celulares desligados. para menos de 70. E hoje contamos com algo em torno
Obrigado. de 30, o que ainda é elevado, mas demonstra um avanço
Ouviremos, neste momento, as palavras do Exmº no setor de saúde.
Sr. Senador Edison Lobão, Presidente interino do Não pretendo aqui fazer uma conferência, pois já
Senado Federal. foi feita pelo Senador e Ministro da Saúde José Serra.
Desejo apenas enaltecer o Senador Romeu Tuma, que
O Senador Edison Lobão preside a Comissão de Assuntos Sociais com extrema
Sr. Ministro José Serra, que acaba de nos brindar com competência e com interesse permanente no exame
uma belíssima conferência, demonstrando conheci- dessas questões.
mento profundo da causa da qual tratamos neste Espero que o Senador Sebastião Rocha não se ofen-
momento; Senador Romeu Tuma, Presidente da Co- da com o que vou dizer. S. Exª é uma espécie de acólito,
missão de Assuntos Sociais; Deputada Laura Carneiro, mas um acólito ativo, permanente, do Presidente da
que preside a Comissão de Seguridade Social e Família; Comissão, instigando-o a tratar de questões dessa na-
Senador Sebastião Rocha, Coordenador do Simpósio; tureza a todo momento.
Deputado Rafael Guerra, que também o coordena pelo A Deputada Laura Carneiro, que eu começo a cha-
lado da Câmara dos Deputados; Dr. Januario Montone, mar de senadora – quem sabe daqui a pouco ela chegue
Diretor-Presidente da ANS; Dr. Mário César Scheffer; ao Senado – tem também essa preocupação. E a pre-
Senador Sérgio Machado, Líder do PSDB; Senador sença maciça das senhoras e dos senhores o demonstra.
Romero Jucá, Líder do Governo; Senadora Marluce Estou absolutamente persuadido de que nós teremos
Pinto, Sras. e Srs. deputados, Srs. parlamentares, o um rumo novo nessa questão depois desse simpósio.
Senado se sente honrado em promover este simpósio. Eu considero o Ministro José Serra o criador de um
Não é hábito, no Brasil – não era, pelo menos há até sistema diferente de lidar com a saúde no Brasil. Ouço
pouco tempo – a realização de simpósios dessa natu- muitos dizerem que ele não é médico. Não precisa ser
reza. Os americanos e europeus utilizam-nos como médico para dirigir bem o Ministério da Saúde. Ele é
mecanismo de debate e de aperfeiçoamento de seus um gerente competente do sistema de saúde do Bra-
programas nacionais. sil. Não chega a ser um fanático, mas é um obstinado
O Brasil é um país de 500 anos, que passa por uma quanto aos interesses da saúde: luta com bravura por
verdadeira transformação, uma revolução de 40 anos tudo aquilo que acha que deve ser do interesse da saú-
nessa parte. Se observarmos, por exemplo, o sistema de. Percebo essa sua conduta a todo momento e é bom

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa de Abertura 25

para a saúde que seja assim, porque, de outro modo, Faremos agora um pequeno intervalo de cinco mi-
haveria um ministério leniente com os problemas da nutos, para que seja desfeita a composição desta Mesa
saúde, quase indiferente, derrotado. Não, esse não é solene e que seja refeita a composição da Mesa de tra-
um ministério derrotado, esse é um ministério vitorio- balho deste simpósio. Pedimos aos participantes que,
so. Portanto, cumprimento o meu colega José Serra, por gentileza, não se ausentem deste recinto. A todos,
Ministro da Saúde, por tudo o que está fazendo, por- o nosso muito obrigado.
que ele o faz com obstinação. Ele estuda os problemas
e os debate sabendo o que está dizendo. Intervalo
Portanto, Ministro José Serra, V. Exª tem os meus
cumprimentos. Estou convencido de que a nação per- O Senador Lúcio Alcântara
cebe isso. Gostaríamos de dar um aviso aos participantes do 1º
Cumprimento a todos os senhores, portanto, pela Simpósio de Regulamentação dos Planos de Saúde. Em
realização do simpósio. O Senado sente-se feliz e hon- virtude do pequeno atraso na abertura, interrompere-
rado por sediar este acontecimento. Muito obrigado. mos agora para o almoço e devemos retomar os
(Palmas) trabalhos às 13h15, com a mesa A Interface entre o SUS
e os Planos de Saúde.
O Senador Lúcio Alcântara Contamos com a colaboração e com a presença de
Senhoras e senhores, finalizando a cerimônia de aber- todos na reabertura dos trabalhos, às 13h15.
tura do simpósio Regulamentação dos Planos de Saúde,
agradecemos a atenção de todos os presentes. Intervalo

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


27

Mesa 1
Interface e articulação entre o público e o privado
no sistema de saúde brasileiro

Coordenador
Deputado Padre José Linhares

Componentes
Dr. José de Carvalho Noronha
Dr. Valcler Rangel
Dr. Carlos Alberto Gebrim Preto
Dr. Arlindo de Almeida
Dr. Januario Montone

O Senador Lúcio Alcântara A Mesa é Interface e Articulação entre o Público e


Boa tarde. Retomamos os trabalhos do Simpósio de o Privado no Sistema de Saúde Brasileiro. Algumas das
Regulamentação dos Planos de Saúde. regras: cada expositor deve fazer sua apresentação em
Gostaríamos de convidar as seguintes autoridades 15 minutos e, na seqüência, devemos ter um debate.
para compor a Mesa Interface e Articulação entre o Solicitamos que as perguntas sejam encaminhadas por
Público e o Privado no Sistema de Saúde Brasileiro: con- escrito para as recepcionistas, que vão estar na late-
selheiro do Conselho Nacional de Saúde e presidente ral. Somente as perguntas por escrito serão respon-
da Abrasco, Associação Brasileira de Pós-Graduação em didas. Muito obrigado.
Saúde Coletiva, Dr. José Carvalho de Noronha; repre-
sentante do Conselho Nacional de Secretários Esta- O Deputado Pe. José Linhares
duais de Saúde – Conass e Subsecretário de Saúde do Boa tarde a todos. Como já estamos com o tempo um
Rio de Janeiro, Dr. Valcler Rangel; Diretor Institucional tanto quanto estrangulado, vamos começar logo nosso
do Conselho Nacional dos Secretários Municipais de tema, concedendo a palavra ao Dr. José Carvalho de
Saúde – Conasems e Secretário de Saúde de Califórnia, Noronha.
no Paraná, Carlos Alberto Gebrim Preto; (Palmas); Pre-
sidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo O Dr. José Carvalho de Noronha
– Abramge, Dr. Arlindo de Almeida; (Palmas); Diretor Boa tarde a todos. Em primeiro lugar, eu gostaria de
Presidente da Agência Nacional de Saúde Suplemen- registrar a imensa satisfação e a honra de poder estar
tar – ANS, Dr. Januario Montone; (Palmas); como participando, como conselheiro do Conselho Nacional
Coordenador da Mesa, Deputado Federal Padre José de Saúde e Presidente da Abrasco, deste importante
Linhares. (Palmas) simpósio realizado por iniciativa conjunta do Conselho

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


28 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

Nacional de Saúde, da Comissão de Assuntos Sociais tenho esse mandato e essa obrigação de defender o
do Senado Federal e da Comissão de Seguridade Soci- que, quero crer, tenham sido contribuições muito efeti-
al e Família da Câmara dos Deputados. Trata-se de algo vas do Conselho Nacional de Saúde, o aprimoramento
extremamente significativo, tendo essa cooperação de diversas instruções normativas baixadas pelo Minis-
entre o Conselho Nacional de Saúde e as casas legis- tério da Saúde e essa aproximação com o Congresso
lativas do nosso país sido bastante salientada esta Nacional certamente faz com que o Conselho se apro-
manhã pelo Senador Romeu Tuma. xime também, como instância de representação da
Registro o orgulho e a satisfação particular em ser sociedade civil, do aprimoramento da nossa legislação.
moderado nesta Mesa pelo Deputado Padre José O segundo tópico, enquanto presidente, represen-
Linhares que, além da sua luta pela saúde na Câmara to no conselho a comunidade científica e certamente
dos Deputados, também representa e preside a Con- a saúde suplementar, os planos de saúde, esse campo
federação das Misericórdias do Brasil. Encontramo-nos que cresceu muito – e vou voltar rapidamente a essa
muitas vezes, em várias frentes, juntos em busca questão – nos últimos anos no nosso país e constitui
da melhoria de condições de saúde e assistência da uma atividade econômica extremamente relevante
nossa população. para o país, é ainda muito pouco investigada, muito
Espero que as reflexões que aqui vou trazer pos- pouco pesquisada e o grau de profissionalização da-
sam ajudar de alguma forma, exceto contribuindo para queles que em diversas instâncias da gestão desses
o aprimoramento de qualquer peça legislativa, porque sistemas trabalham ainda deixam bastante a desejar.
não sou a pessoa mais indicada para isso, mas, talvez, Então queria também deixar claro que a Abrasco
para lançar algumas reflexões ou questões. Creio que de certa forma deu uma modesta contribuição, por in-
apresentarei mais um conjunto de dúvidas do que pro- termédio de seus sócios, na elaboração de alguns
priamente alguma proposição em termos de instru- desses documentos de apoio, mas quero crer que a dis-
mento legislativo, mas quero crer que elas devam ser posição e o processo de financiamento de estudos e
levadas em conta nesse processo, que é, simultanea- pesquisas para o aprimoramento do setor é extrema-
mente, a comemoração dos três anos de início da mente essencial.
atividade regulatória da chamada saúde suplementar Lanço, também, de antemão, e não sei se é propria-
no país e a oportunidade que está sendo dada ao Con- mente uma recomendação como membro da comuni-
gresso Nacional de estabelecer mudanças na lei dade científica, a importância desde já de se começar
atualmente em vigor. a tratar com o IBGE do aprimoramento de uma nova
Como palavras iniciais, lembro-me da exposição do rodada de suplemento de saúde da Pnad e ao mesmo
Ministro da Saúde nesta manhã: sem prejuízo da ne- tempo, talvez, se imaginar a inclusão no corpo princi-
cessária conciliação e entendimento que as diversas pal da Pnad de alguns quesitos sobre saúde, o que deve
partes envolvidas num tema tão complexo, como as- acontecer agora, para que em 2003 possamos estar ro-
sistência-saúde no nosso país, têm de estabelecer, dando essa questão.
temos que, de certa forma, também, manter nossos Feita essa introdução das preocupações mais espe-
compromissos com a entidade que representamos. E, cíficas enquanto representante da comunidade cien-
nessa abertura, volto ao tema, ressaltando a importân- tífica, passarei às minhas considerações sobre o tema
cia de que todo debate sobre o aprimoramento da que me foi proposto, que é a participação do público
legislação e da regulamentação dos planos de saúde privado no sistema de saúde brasileiro. Não poderei me
tenha como uma diretiva muito importante as dimen- estender muito porque teremos três Mesas hoje à tar-
sões do controle que o Conselho Nacional de Saúde de, mas ouso ainda, apesar de muito ter sido ultima-
representa nacionalmente. Enquanto conselheiro, mente criticado em muitos aspectos, me referir ainda

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 29

à nossa Constituição de 1988 que, pelo menos no que Há vários conceitos de extrema relevância quan-
diz respeito à saúde, foi muito feliz, e mesmo aqueles do buscamos discutir a integração entre o público e o
que criticam vários dispositivos constitucionais não privado, em que o tema essencial não é simplesmente
têm se dedicado, pelo menos de uma maneira muito um mercado gerador de serviços, não é um mercado
agressiva, à necessidade de uma proposta de revisão qualquer, como foi de certa forma mencionado pelo
do texto constitucional – no que diz respeito às dispo- Ministro José Serra esta manhã, mas um mercado ex-
sição gerais – no qual a saúde está inserida. tremamente particular, em que a questão central que
Há dois dispositivos constitucionais que desejo re- orienta a estruturação dessas políticas, inclusive as
ferir. Primeiro, a idéia que teve o constituinte de 1988, ações comerciais que se dão nesse seio, têm por objeto
a sabedoria, ao estabelecer, a meu juízo, a saúde como a prestação de serviços, garantindo o acesso universal
um componente da seguridade social; a idéia de que e igualitário às ações de serviços para sua promoção,
saúde não pode – e cada vez mais a população se com- proteção e recuperação.
plexifica em sua problemática, essa questão se torna Quis o constituinte estabelecer logo no artigo que
mais aguda ainda – ser tratada longe dos esquemas de se segue, art. 198, inciso II, que deve haver na política
cobertura de previdência e longe dos esquemas de co- de saúde, no asseguramento desse direito, o atendi-
bertura da assistência social. Quer dizer, a trinca Previ- mento integral com prioridade para as atividades
dência, em todas as suas dimensões, inclusive aquela preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais.
que mais diretamente toca à saúde: os auxílios-doença, Não gosto muito do tema, mas a idéia da integralidade
enfermidade e invalidez, até as aposentadorias por mo- do cuidado foi também prevista na Constituinte de
tivos de enfermidade e os apoios nos momentos em 1988. Assim, o serviço de prevenção e aqueles trata-
que as patologias crônicas começam a assumir impor- mentos, a recuperação e a reabilitação para reinserção
tância epidemiológica no país, elas devem ter uma nas atividades produtivas, ou a reorientação profissio-
integração absolutamente perfeita. nal ou, ainda, um apoio no caso de uma doença forte-
O fundamento essencial é que deve o Estado pro- mente incapacitante, todos devem ser integrados e ser
ver e cuidar de que sistemas de proteção integrados objeto de qualquer política de saúde.
sejam oferecidos à população brasileira, como ocorre Quero crer que já está ficando óbvio o contexto em
em grande parte do mundo civilizado, àquelas popula- que quero inserir o debate sobre planos e seguros de
ções no momento da privação do pleno exercício da sua saúde. Não posso tratar isso como se fosse um mercado
capacidade produtiva ou da inserção cidadã, sem fa- de automóveis, de televisores ou de geladeiras. A regu-
zer qualquer opção de corrente. lamentação de planos e seguros de saúde tem que ser
O segundo ponto estabelecido pela Constituição encarada no contexto de uma política de saúde nacio-
de 1988 é o consagrado – que não me canso de repetir; nal, que é dever do Estado garantir.
há coisas que devemos repetir sempre, como ladainha, No corolário dessas reflexões, esse é talvez um ele-
para que nossa fé seja reforçada – art. 196, que estabe- mento que eu gostaria que presidisse a reflexão sobre
lece a saúde como direito de todos e dever do Estado. o debate legislativo que seguirá a apresentação, após a
Diz o referido artigo: apresentação ao Congresso, da minuta do projeto de lei
“Art. 196 de aprimoramento da lei dos planos de saúde. Ou seja,
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garanti- na definição de uma política de saúde, serão as neces-
do mediante políticas sociais e econômicas que visem sidades clínicas e as necessidades de cuidados à saúde
à redução do risco de doença e de outros agravos e e não a capacidade de pagar que devem definir o aces-
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços so e uso dos serviços de saúde. Esse princípio não pode
para sua promoção, proteção e recuperação.” ser abandonado, em hipótese alguma, por qualquer

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


30 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

reflexão sobre qualquer peça legislativa. Isso, aliás, A questão regional, pela própria distribuição regio-
ocorre nos países desenvolvidos. Mesmo nos Estados nal de renda, também se expressa de uma maneira
Unidos, em que os planos de saúde vigem com um ri- muito contundente. A cobertura de sistema de saúde
gor extremamente grande, esses pontos têm sido suplementar, de acordo com a PNAD 1998 na Região
constantemente perseguidos por legislações comple- Nordeste, era de 12% contra 33%, na Região Sudeste,
mentares, a partir de 1965, sobretudo com a aprovação revelando que, regionalmente, estamos tratando de
do Medicare/Medicate. um segmento particular da população brasileira.
Não se pode travar esse debate sobre a regulamen- Por que estou chamando a atenção para isso no-
tação dos planos fora daquilo que é a construção do vamente? Preocupa-me com freqüência que nós,
sistema nacional de saúde, para que inclua – talvez no pouco a pouco, sem prejuízo da necessária e requerida
impropriamente chamado Sistema Único de Saúde, pois regulamentação dos planos de saúde, possamos estar
um país que tem sistemas múltiplos não pode dizer sis- criando uma espécie de clivagem de uma reversibili-
tema único – a idéia de que temos um sistema nacional dade mais dificultosa do que aquela que foi criada há
de saúde, com uma parte fortemente financiada pelo alguns anos, quando se tinha o sistema da previdência
público e uma parte dele financiada por meios privados. social para os remediados, trabalhadores com carteira
A outra reflexão que gostaria de trazer às V. Exªs, a assinada, e que o movimento da reforma sanitária, que
partir desta visão, é do conhecimento de quase todos. culminou na Constituição Federal de 1988, integrou-se
A partir do suplemento de saúde da PNAD de 1998, que com o sistema dos chamados indigentes, que eram
pela primeira vez – com todos os vícios, que sabemos atendidos pelas Santas Casas de Misericórdia. Dessa
não poucos, como ocorre na elaboração de instrumen- forma, tratavam segurado da Previdência Social e
tos desse tipo, de pesquisa domiciliar – tivemos uma indigente com o padrão de qualidade que era possível
aproximação da estratificação por regional e por renda ser obtido naquele momento.
da cobertura por planos de saúde. A minha preocupação, quando ressalto esse ponto,
Isso também é importante para saber de que seg- é a de inspirar na nossa própria história, quando o
mento da população brasileira estamos tratando. Não INAMPS for dissolvido no interior da construção do sis-
estamos tratando apenas de 30 milhões ou 38 milhões tema único de saúde, e lembrar que, de alguma forma,
de brasileiros, de acordo com o recorde que se queria, esse sistema, que é um sistema potencialmente em
com os dados da PNAD, que teriam algum tipo de cober- crescimento, não pode ser contemplado longe daquilo
tura por plano de saúde nas suas diversas modalida- que se configuraria um Sistema Nacional de Saúde.
des. Quer dizer, no máximo um quarto da população Sobretudo, devemos evitar que essa cisão implique
brasileira – não estamos tratando de três quartos da um aprofundamento da segmentação dos recursos
população brasileira. Esse um quarto a que estamos nos assistenciais, técnicos e das condições de atendimen-
dirigindo, por intermédio dessa discussão, segundo a to. Entender que possa haver diferenciais de conforto
estratificação por renda, varia de 2,56% da população por conta da capacidade de pagar não deve correspon-
até um salário mínimo, atingindo 76% da população der a diferenciais técnicos no atendimento prestado.
com mais de 20 salários mínimos. Estamos tratando, A conseqüência natural são os diversos níveis da hie-
portanto, dos ricos e dos remediados do nosso país. rarquia dos planos. Quando admito a possibilidade de
Quer dizer, esse debate atinge um segmento da coberturas diferenciadas – não é o que está no corpo
população brasileira que tem renda suficiente para da lei, da medida provisória em vigor – começo a po-
contratar privadamente parte de sua cobertura assis- der admitir uma segmentação da qualidade dos
tencial ou toda a sua cobertura assistencial por meio cuidados prestados.
de seguros e planos de saúde. Evidentemente, a presteza do atendimento de

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 31

uma remuneração profissional e da qualidade do pro- estranhamento que a política de saúde nada tivesse a
fissional que paga dez vezes a tabela da AMB é certa- ver com a definição dos planos de saúde. Mesmo nos
mente maior do que uma remuneração que paga a Estados Unidos, volto a insistir, onde os planos de saú-
tabela do SUS. de têm vida e tradição muito longas.
Então, com relação a essa preocupação de como Então, é preciso comemorar o que foi uma luta ex-
fazer – eu sei que o desafio não é pequeno –, lembro tremamente árdua do Congresso Nacional, e a lide-
mais uma vez a história do nosso país, a construção do rança do Ministro José Serra nesse processo também
Sistema Único de Saúde, que deve presidir o nosso ra- não pode ser questionada.
ciocínio, sobretudo quando sabemos que boa parte dos Mas, ao mesmo tempo em que celebro essa inicia-
recursos assistenciais – há ainda aqueles que não são tiva, fico um pouco preocupado – e gostaria que isso
compartilhados, como hospitais, clínicas e consultórios fosse imaginado. Embora reconheça o esforço do Dr.
– uma boa parte deles ainda é compartilhada por pla- Januario Montone e da sua equipe, confesso que ainda
nos e por clientes SUS. tenho grandes preocupações com esse tipo de formu-
Eu não gostaria que pesasse como um cutelo sobre lação administrativa, com agências que gozam de um
os segurados dos planos de saúde a ameaça de serem certo grau de independência em relação à política na-
empurrados ao atendimento do SUS. Eu gostaria que cional de saúde.
isso fosse feito de maneira integrada. Eu tenho certeza de que não é o caso, porque, em
Aliás, se me permitem contar uma breve história termos conjunturais, o Januario e o Ministro Serra têm
pessoal, eu acompanhei isso em um dos melhores hos- uma grande afinidade. Essa dissociação não se dá nes-
pitais do mundo, o Columbian Presbiterian, em Nova York, sa gestão, mas, certamente, se imaginamos uma reo-
localizado no seio da comunidade latina de Manhattan, rientação da política de saúde, podemos ter problemas
uma zona extremamente violenta e empobrecida. O nesse convívio de uma agência que regula uma parte
cliente de qualquer plano de saúde entra na mesma do segmento e não tem uma integração necessária
sala e é atendido pelos mesmos enfermeiros – não se- com o conjunto do sistema de saúde. Da mesma forma,
guramente pelos mesmos médicos, mas pelos mesmos quero crer que os gestores do SUS, dado o comparti-
enfermeiros. Assim, a capacidade técnica e a disposi- lhamento de recursos assistenciais, devem ter a palavra,
ção para um beneficiário do Medcard ou para um latino dizer alguma coisa sobre o atendimento prestado pelos
clandestino, que entra naquele hospital pelo atendi- hospitais, clínicas e laboratórios que prestam serviços
mento de emergência, só se diferenciarão – salvo os também à saúde suplementar.
serviços profissionais de determinados planos muito Como profissional de saúde pública e como profes-
segmentários ou por pagamento privado – na hotelaria sor de planejamento e de política de saúde, a lógica que
final, onde eles têm um andar especial. preside o meu raciocínio é a das necessidades assisten-
Portanto, essa idéia de que não deva haver segmen- ciais, do pleno acesso, independentemente da capaci-
tação dos recursos assistenciais é absolutamente dade de pagar essas necessidades assistenciais. A forma
essencial. Ao mesmo tempo, que não caminhemos pa- como isso é financiado é uma questão que é refletida a
ra o estabelecimento da múltipla entrada em nossos partir dessas necessidades assistenciais, e não o contrá-
serviços de saúde. rio, ou seja, o reordenamento pelo financiamento.
Essas considerações não impedem que comemore- Penso que essa mudança de enfoque é extrema-
mos os três anos em que se trouxe o campo da regula- mente significativa. Daí é corolário que os secretários
mentação dos planos de saúde para o interior da saúde. estaduais de saúde, gestores do sistema de saúde em
De fato, causava em fóruns internacionais – e não todos os níveis – e já vou evitar de chamá-lo de SUS – ,
foram poucos aqueles de que participei – grande estaduais e municipais, têm, também, o que dizer sobre

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


32 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

essas leis. Sobretudo quando admitimos ou vamos en- Constituição, deve presidir a busca da eficiência admi-
trar em considerações sobre abrangências seletivas. nistrativa. Na realidade, eu diria que não há incom-
Precisamos admitir recortes de abrangência regional, patibilidade entre a busca da eficiência, a eficiência
portanto, o TFD – o tratamento fora do domicílio que o econômica, e a garantia da eqüidade. Na realidade, não
SUS é obrigado a conceder – seria dispensado a deter- vejo, em princípio, o mercado opondo-se à regulação.
minados planos que não tivessem capacidade de aces- Creio que não há essa oposição. É preciso encontrar um
so aos recursos na sua área de abrangência. sinergismo, uma articulação adequada para garantir
Essas são as considerações. A idéia de rede ordena- eficiência econômica, mas sempre lembrando que a
da de serviços é extremamente importante. Da mes- eqüidade e o cumprimento do preceito constitucional
ma forma, creio que a inserção da regulamentação dos devem presidir nossa reflexão.
planos, de todo esse processo, não pode também dei- Concluindo, gostaria de reafirmar constantemente
xar escapar a idéia, presidida por nossa Constituição, a necessidade de estar sempre presente a idéia de que
da integralidade do cuidado. A abrangência dos servi- as políticas de proteção social, na área da saúde e nas
ços, da proteção à reabilitação, mesmo que o finan- áreas complementares, têm que ser reforçadas a todo
ciamento tenha que ser composto do outro lado do bal- momento em que debatemos qualquer pedaço, qual-
cão, tem que, de alguma forma, ser feito, senão pela quer segmento do problema da assistência à saúde. A
agência de saúde suplementar, pelo conjunto da polí- idéia da solidariedade, como princípio dominante da
tica nacional de saúde. Quero crer que estou sendo atividade das políticas públicas, no caso das políticas
absolutamente claro. de saúde, deve preceder a pretensa eficácia ou efici-
Para encerrar minha exposição, que já se faz lon- ência decorrente da concorrência desenfreada. Muito
ga, quero chamar a atenção para três pontos. Um, de obrigado. (Palmas)
certa forma, já foi enunciado pelo Ministro José Serra
na conferência desta manhã. No entanto, creio que a O Deputado Pe. José Linhares
conseqüência da afirmativa do ministro ainda não está Parabenizamos o Dr. Noronha. Já o conhecemos de lon-
disponível. Falo da capacidade de o sistema nacional ga data, sabemos de sua capacidade, sobretudo como
de saúde ter condições – e não me refiro exclusivamen- sua percuciência atinge os problemas mais vitais den-
te ao sistema de saúde suplementar, mas o incluo tro desse nosso tema, dessa interface.
nessa condição – de informar adequadamente o pú- Vamo-nos permitir, de agora para frente, colocar o
blico a respeito do que estão realmente obtendo, seja relógio no pulso. Cada um tem que falar exatamente
porque pagam ou porque contribuem pelos seus pla- 15 minutos, porque, por haver três Mesas, não daria para
nos, seja porque contribuem com impostos para a terminarmos a jornada do dia.
sustentação do sistema nacional de saúde. Em seguida, vamos ouvir o Dr. Valcler Rangel, que
Há necessidade do desenvolvimento de mecanis- está representando aqui o Dr. Gilson Cantarino, que
mos de informação e da avaliação da qualidade dos vem do Conass. Dr. Valcler, a palavra é sua.
serviços prestados – refiro-me aos mecanismos formais
e também à literatura, às experiências nacionais da O Dr. Valcler Rangel
Europa e da América do Norte, que são abundantes. Em primeiro lugar, boa tarde a todos. Trago aqui as des-
São iniciativas com monitoramento contínuo de qua- culpas do Dr. Gilson Cantarino, por um problema de
lidade, com o crédito de redes, planos, hospitais e saúde, totalmente indesejável e agudo. Por ele não
serviços de saúde que não podem ser deixados de lado. poder estar presente, pediu-me que viesse cumprir esta
No segundo conjunto de questões, quero ressal- tarefa, que não é muito fácil, de apresentar aqui algu-
tar que o princípio da eqüidade, previsto em nossa mas reflexões às senhoras e aos senhores, deixando

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 33

claro que não estou aqui trazendo uma posição do A nossa agenda se coloca a partir da busca de iden-
Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saú- tificação das necessidades que o Professor Noronha
de, pela nossa própria incipiência de discussão com expunha anteriormente. Que necessidades são pre-
relação ao processo de regulação nesta área de saúde mentes para a grande parcela da população que, na
suplementar. De qualquer forma, as minhas reco- verdade, acorre ao Sistema Único de Saúde? As neces-
mendações, do Dr. Gilson e do próprio Conass são no sidades que conseguimos identificar do ponto de vista
sentido de parabenizar o Conselho Nacional de Saúde, epidemiológico. A nossa agenda ainda permanece com
o Congresso Nacional e o Ministério da Saúde pela rea- tuberculose, com mortalidade infantil, com um con-
lização deste evento. junto de questões de um passado recente e, também,
Como o tempo é curto, gostaria de deixar algumas com um conjunto de questões que são o universo
questões que são, talvez, uma tentativa de buscar al- de demanda que absorve, inclusive, o setor privado, ou
guns pontos de contato entre os dois universos de seja, as doenças crônicas degenerativas, a violência.
discussão: o que consome, na verdade, a grande par- Obviamente, no entanto, na hora de separarmos
cela de energia dos Secretários Estaduais e Municipais esses dois campos, separamos as pessoas dentro des-
de Saúde, no conjunto de gestores do SUS; e o que se sa agenda do Sistema Único de Saúde. As pessoas
refere ao fato de que cada vez precisamos estar mais circulam em territórios, circulam nas metrópoles, são
atentos – com relação a essa grande parcela tanto da submetidas a determinados riscos; e o Sistema Único
produção do serviço de saúde quanto da população – à de Saúde, a partir do conceito da integralidade da aten-
qualidade da saúde no País. ção e da integralidade da ação de saúde, por obrigação,
A minha tarefa fica facilitada, nesse ponto de vis- necessita intervir. Essa combinação é fundamental
ta, pela fala do Professor Noronha. Vou-me permitir, para encontrarmos caminhos que alcancem um resul-
primeiro, ler alguns trechos de um documento prepa- tado objetivo, mediante ações públicas e privadas.
rado pelo Dr. Gilson para esta discussão, até para não Hoje pela manhã, eu falava com um representan-
fugir muito da linha sobre a qual tínhamos conversa- te da Associação de Clínicas do Rio de Janeiro e
do anteriormente para esta apresentação. lembrávamos um pouco da contratação de leitos de
Rapidamente, qual o princípio que estamos traba- UTI neonatal que fizemos no Estado do Rio de Janeiro.
lhando? Que o Sistema Único de Saúde constitui um Foi uma negociação longa, árdua, mas que levou o es-
novo pacto social, na medida em que a saúde passa a tado a reduzir sua taxa de mortalidade neonatal em
ser definida como um direito de todos, portanto como 42%. Este é um exemplo concreto de parcerias possí-
condição de cidadania e considerada como dever do veis, que beneficiam a população e contribuem com
estado, envolvendo uma responsabilidade e solidarie- políticas prioritárias do Sistema Único de Saúde. E o
dade do conjunto da sociedade. Essa é a primeira setor privado tem sua parcela de ação nessa situação,
questão, da qual estamos partindo. que, como está dito aqui, é de responsabilidade do con-
Qual agenda tem sido colocada para nós? A agenda, junto da sociedade.
que tem sido colocada para fazer a discussão sobre a Então, é importante identificarmos as necessida-
temática proposta para esta Mesa, é a interface e des e buscarmos certas ações conjuntas. E estamos
articulação entre o público e o privado no sistema de falando do Sistema Único implantado. Se avaliarmos
saúde brasileiro. É preciso que linguagens sejam fa- o Sistema Único de Saúde brasileiro do ponto de vista
ladas nesses dois campos para podermos, de alguma do processo de descentralização, há um altíssimo ní-
forma, fazer o que até mesmo o Ministro da Saúde, vel de descentralização. Se tomarmos como referência
de manhã, falava: que é um escutar e falar do outro, a Norma Operacional Básica 96, constataremos que
e vice-versa. praticamente 100% da população recebe assistência,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


34 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

ou seja, menos de 1% da população está fora do aten- gando com os gestores públicos, mas fazemos essa dis-
dimento. Isso significa que os municípios estão cussão – e por isso a insistência do Dr. Gilson de, apesar
habilitados, recebendo recursos para a atenção básica dos problemas, trazer aqui um representante – no sen-
diretamente, ou recebendo recursos para o conjunto tido de que precisamos inserir na nossa agenda, de
da atenção – inclusive de alta complexidade – como maneira mais incisiva, a discussão da saúde. E precisa-
também para o pagamento do setor privado, que mui- mos abordar, na discussão da saúde suplementar, o
tas vezes está misturado: há o setor privado vinculado Sistema Único de Saúde. O processo de integração com
ao SUS e o vinculado ao setor de saúde suplementar. o SUS, no breve tempo que tive o prazer de trabalhar
Então, esse é mais outro ponto de contato. com o Dr. Januario, na Agência Nacional de Saúde Su-
Apesar desse alto nível de descentralização, infe- plementar, está praticamente vinculado somente ao
lizmente não se pode dizer que a qualidade de vida da processo de ressarcimento. Ou seja, não é possível pen-
população mudou, nem que se garantiu a univer- sar em um Sistema Único de Saúde com uma am-
salização, que é a qualidade do acesso da população plitude de ação tão grande quanto essa, com o dever
aos serviços. Assim, a todo momento se apresenta esta determinado pela Constituição, enquanto 30, 32, 38,
questão, cuja discussão também deve ser conjunta: a ou 40, não importa quantos milhões de pessoas, não
da qualidade do acesso, que julgo que não se refira têm acesso ao modelo assistencial que está permeando
apenas ao setor público, mas também ao setor priva- a busca de novos patamares de qualidade de assistên-
do. É uma discussão ética, que envolve princípios cia de saúde. Se não formos parceiros nessa discussão,
éticos, formação de recursos humanos, qualificação es- estaremos incorrendo em graves erros.
trutural das unidades e a escolha de parceiros que E há uma série de discussões conjuntas para inse-
devemos levar a essa discussão conjunta. Então, nova- rirmos na agenda da saúde suplementar: a reversão do
mente, existe mais esse ponto de contato. modelo do aparelho formador, que é um aparelho que
Nesse instante, cabe-me dizer que, para nós, forma para a alta tecnologia, que forma para o modelo
gestores, há efetivamente um distanciamento das se- hospitalocêntrico, medicalizador. Essa é também uma
cretarias estaduais. Não sei se o colega do Conasems – discussão a ser colocada para esses 38 milhões de pes-
Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde soas que estão sendo atendidas. É uma discussão que
– concordará com essa exposição. Mas também há, por está na nossa agenda.
parte das próprias secretarias municipais, um distan- Para terminar, vou ler, para não fazer minhas, as pa-
ciamento com a discussão da saúde suplementar. lavras do Dr. Gilson: “O desafio de fazer essa regulação,
Na verdade, na implementação do SUS, o ponto de regular, de estabelecer relações com o setor privado
que nos foi apresentado foi o da regulação. E, para nós, e suplementar, que nos últimos anos experimentou um
a regulação precisa ser discutida num caráter mais crescimento exponencial, torna-se inadiável.
complexo. É preciso entender que é uma regulação por A regulação emerge, então, como um instrumen-
si só, mas para atender a necessidades, e que é neces- to mediador entre os interesses coletivos (aqueles aos
sário observar indicadores epidemiológicos, custos e quais me referi) e as leis de mercado, que devem ter
padrões de qualidade sanitários na atenção à saúde; e sempre como foco a justiça social. Essa questão tem
um conjunto de questões que, efetivamente, são pa- que ser um guia, quer dizer, o compromisso de fazer
pel para os gestores municipais, estaduais e federais. esse processo de regulação é um compromisso social,
Esse ponto de contato, para nós, é fundamental. É não um compromisso com o mercado.”
uma tarefa apresentada mais para nós do que propria- Ou seja, não é uma questão colocada para atender
mente para a platéia, que não é composta majorita- a uma necessidade do mercado, mas é um compromis-
riamente de gestores públicos. Não estamos aqui dialo- so social. Portanto, o diálogo entre esses dois campos

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 35

precisa, obviamente, adquirir novas linguagens para que nos foi dirigido por parte da organização do even-
podermos dar um passo adiante, além da regulamen- to, composta pela Comissão de Seguridade Social e
tação dos processos de relação entre o consumidor e o Família da Câmara dos Deputados, pela Comissão de
prestador de serviço privado. Assuntos Sociais do Senado Federal e por parte do
Eram essas as questões. Do meu ponto de vista, não Conselho Nacional de Saúde, órgãos que se empenha-
interessa para nós, do SUS, que haja insolvência do se- ram sobremaneira para que este simpósio pudesse ter
tor privado, como mencionou pela manhã o Ministro. pleno êxito, tanto de inscrições como da presença
E, obviamente, interessa ao setor privado que o SUS maciça das pessoas.
tenha mais recursos, que resolva suas questões de re- Agradeço pelo convite. Só para descontrair um pou-
muneração de serviços. Que o Sistema Único de Saúde co o ambiente, gostaria de demonstrar um pouco nossa
(SUS) possa efetivamente garantir esse acesso de uma leve indignação pelo horário da realização deste de-
maneira mais igualitária e mais permeável, mais faci- bate, que estava previsto para amanhã, porque agora,
litada para esse usuário, que, na verdade, tem muitas após o almoço, temos aquele sono pós-prandial, que
questões para serem trabalhadas do ponto de vista da eventualmente nos invade a todos, principalmente os
promoção, da prevenção, da reabilitação, desde a polí- que ouvem.
tica de atenção básica até a política de mais alta com- O Conselho Nacional de Secretários Municipais de
plexidade, num nível de integralidade, hierarquização Saúde (Conasems) é uma entidade que congrega os
e de regionalização dos serviços. municípios e produz uma linha de ação da política de
Nesses quinze minutos – penso que cumpri com saúde pública para esses atores do sistema; tem atua-
meu tempo –, essas são as contribuições que gostaría- ção amparada nas Leis nºs 8.080 e 8.142, que criam e
mos de deixar. Agradeço mais uma vez pelo Conselho regulamentam o Sistema Único de Saúde (SUS). Re-
Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), presentamos, então, os mais de 5.500 municípios
o convite de estar aqui, ficando à disposição para, em brasileiros nessa tríade de gestores entre municípios,
outros momentos, podermos estar levando essa discus- estados e, também, o Governo Federal por meio do
são para o Conselho Nacional de Saúde e para o interior Ministério da Saúde.
do próprio Conass. Muito obrigado. A entidade tem, dentro de seus preceitos, a defesa
do Sistema Único de Saúde (SUS) e das suas instâncias
O Deputado Pe. José Linhares de pactuação – como as comissões intergestores bipar-
Parabéns, Dr. Valcler Rangel. Em primeiro lugar, o senhor tite, nos estados, e a comissão intergestores tripartite,
realmente trouxe uma série de reflexões e, depois, re- em nível federal – do controle social exercido através
almente cumpriu o horário. dos conselhos e dos seus princípios e diretrizes, que
Passo a palavra ao Dr. Carlos Alberto Gebrim Preto, remetem à Constituição Federal de 1988, que instituiu
representante do Conselho Nacional de Secretários a saúde como dever do Estado e direito do cidadão,
Municipais de Saúde (Conasems). baseados na universalidade, na eqüidade e integra-
lidade da assistência de saúde que deve ser prestada
O Dr. Carlos Alberto Gebrim Preto ao cidadão brasileiro.
Boa tarde a todos os presentes no plenário. Eu gostaria tam- O Conasems tem tentado, no âmbito das pactua-
bém de cumprimentar a Mesa, na pessoa do Deputado ções, no âmbito das negociações que são realizadas,
José Linhares. As demais pessoas que compõem a Mesa diretamente ligadas à assistência de saúde, manter e
já foram citadas. buscar esses preceitos. Diante desse papel institucio-
Agradeço, em nome do Conselho Nacional de Secre- nal que o nosso conselho ocupa, a entidade se posicio-
tários Municipais de Saúde (Conasems), pelo convite na de uma maneira que podemos chamar de legalista

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


36 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

frente ao que trata a Lei nº 9.656, que institui a políti- municipais de saúde, que, eventualmente, não têm
ca adotada em relação ao funcionamento e à regula- disponibilizados números acerca dessa regulação.
mentação dos planos de seguro de saúde e também Inicialmente, dissemos que nosso conselho se posi-
quanto à criação do órgão regulador, a Agência Nacio- ciona como legítimo representante dos 5.500 muni-
nal de Saúde Suplementar (ANS), encarregado de gerir, cípios na área da saúde pública. Também em relação
regular e administrar os conflitos que acabam aconte- ao funcionamento dos planos de seguro de saúde, há
cendo nas relações entre as empresas operadoras e seus alguns itens que gostaríamos de deixar com uma po-
usuários. Entende o Conasems que a aprovação e en- sição firmada: a defesa do financiamento do Sistema
trada em vigor dessa lei significaram grande avanço no Único de Saúde, inclusive com os dispositivos previs-
resguardo de direitos sociais e também no respeito aos tos na Emenda Constitucional nº 29, ou seja, ga-
direitos de cidadania. O Congresso Nacional, o Poder rantindo que o SUS se resguarde e receba ainda mais
Executivo e todas as entidades civis envolvidas acaba- recursos para poder continuar ou aumentar o atendi-
ram por conseguir traduzir isso numa lei que já come- mento a seus usuários. Entendemos, também, que
mora três anos de entrada em vigor. temos que ter uma posição na defesa da gestão da re-
Ainda em relação à entrada em vigor da Lei nº gulamentação do sistema público sobre o setor privado,
9.656, é importante registrar seu impacto – talvez nas porque é fundamental, até para o planejamento do
diferentes regiões do país tenham existido diferenças setor de saúde, que exista essa regulamentação e tam-
no impacto – até com a queda inicial do número de bém que essa discussão toda seja realmente entro-
usuários de alguns seguros de saúde, que acabou por nizada nos conselhos municipais de saúde, com o in-
refletir, diretamente, no número de usuários do Siste- tuito de que os conselhos tenham mais informações
ma Único de Saúde. É importante frisar porque, até na sobre a questão da saúde suplementar, podendo, as-
época em que isso se deu, houve uma grande discus- sim, por meio de seus conselheiros, repassar para as
são dentro do conselho com o aumento significativo, suas entidades essas informações, a fim de que os usu-
principalmente de procedimentos ligados à alta com- ários do Sistema Único de Saúde também conheçam
plexidade e custo. Alguns números falam em 20% – mais o que está ocorrendo.
não tenho certeza. Na defesa da existência do chamado plano referên-
Uma vez que a lei existe e está em vigor, nosso con- cia, que deve ser oferecido pelas operadoras aos usuá-
selho também entende que é fundamental seu rios como forma de prestação da assistência integral à
cumprimento e conseqüente responsabilidade das saúde deles, evitando até mesmo a presença de vari-
operadoras de assistência à saúde a seus usuários, con- antes, como segmentação e subsegmentação aos pro-
forme o produto comercializado. dutos ofertados no mercado; também com o intuito
Neste ponto, também há alguns embates travados de não se criar ou, ainda, não se aumentar a lacuna de
dentro do entendimento da Lei nº 9.656: contratos responsabilidades, que acabe por criar novamente cus-
antigos, novos contratos, migração, segmentação, tos imputados ao SUS. E aqui voltamos a citar, princi-
subsegmentação e outros tantos de considerada po- palmente itens relacionados aos procedimentos de
lêmica. A ANS acaba por fazer a regulamentação desses alta complexidade e de alto custo.
pontos que vão surgindo por meio das RDCs, fato que Ainda temos de ressaltar a posição na defesa do
não pode chegar a descaracterizar o propósito inicial ressarcimento ao SUS pelas operadoras como princípio,
da lei e que consideramos fundamental, mas que tem porém com o registro de que o atual modelo proposto
que ser feito com os olhos de quem também regula o talvez tenha de passar por uma modificação, porque
mercado e acaba por entender esse funcionamento acaba por criar, também nos âmbitos municipais, da
até com dados muito mais técnicos do que os gestores maneira como inicialmente foi proposto, uma certa

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 37

burocracia. Não sei se, posteriormente, alguém fará Esse é um assunto da maior importância, que temos
algum questionamento nesse sentido, mas muitas ve- tido muito cuidado de seguir bem de perto, assim
zes acaba sendo entendido como sendo uma câmara, como a saúde suplementar, que tem todas essas mo-
uma instância inicial que, depois, eventualmente, dificações. Diante deste exposto, eu gostaria de
gera várias discussões jurídicas e possivelmente per- finalizar, agradecendo a oportunidade. Não temos a
de o seu valor. eloquência do Dr. Noronha e, com certeza, não temos
O gestor municipal é a favor do ressarcimento. todas as informações técnicas de que o Dr. Januario
Como eu disse, porém, é mais favorável ainda à garan- dispõe. Mas cremos na certeza de haver contribuído,
tia do cumprimento da lei por parte de todas as opera- pelo menos um pouco, com as posições que os
doras que atuam no mercado. gestores municipais trazem para este simpósio.
Para finalizar, e até não ultrapassando muito do Muito obrigado. (Palmas)
horário, entendemos que o SUS atende a grandiosa
maioria da população brasileira e que as operadoras O Deputado Pe. José Linhares
concentram seu atendimento, principalmente nos Muito obrigado, Dr. Gebrim Preto. A sua colaboração é
municípios maiores e nos centros regionais. Vale res- bastante efetiva. Nós tomamos nota da sua sugestão
saltar que cerca de 85% dos municípios têm menos de e, amanhã, a Frente Parlamentar do Congresso Nacio-
vinte mil habitantes. São esses os números. nal promoverá um movimento para ver se salvamos a
No momento em que a Lei nº 9.656 é respeitada PEC da saúde. Estamos ameaçados com um corte de
nas suas diretrizes, o pleno e responsável funciona- 1,280 milhão. Todos os senhores são convidados. Será
mento dos planos e seguros de saúde pode até auxiliar no décimo andar do Anexo IV do Congresso, onde os
a esfera local de gestão do SUS, mas não o substitui senhores deputados trabalham. Isso é importante por-
em eventualidade nenhuma. Isso também é importan- que todos estamos aqui em defesa do SUS, que, real-
te. Esse é um fato que nos leva ainda mais à defesa das mente, está ameaçado com esse corte que a equipe
garantias constitucionais do financiamento do SUS, econômica violentamente está a nos impor.
principalmente pela via da Emenda Constitucional nº Passemos a palavra ao Dr. Arlindo de Almeida, que
29, dando a melhor assistência possível à saúde do nos- é Presidente da Associação Brasileira de Medicina de
so cidadão brasileiro. Grupo – ABRAMGE.
Algumas posições têm sido debatidas no nosso con-
selho. Obviamente temos acompanhado, dentro das O DR. Arlindo de Almeida
nossas possibilidades, todos esses itens que vêm sen- Boa-tarde a todos. Agradeço a oportunidade de parti-
do trazidos à tona na discussão da regulamentação. A cipar deste simpósio de extrema importância, princi-
Agência Nacional da Saúde Suplementar tem coloca- palmente quando os planos de saúde passam por uma
do um grande número de resoluções, o que também, situação bastante crítica. Após as palavras do Ministro
às vezes, até para a estrutura do nosso conselho, é uma da Saúde, realmente fica um pouco difícil falar sobre
dificuldade para conseguirmos seguir todas essas no- os problemas em geral, uma vez que, com rara felici-
vidades que vão surgindo, ainda mais neste momento dade, na nossa opinião, o ministro abordou pratica-
pelo qual passa a saúde do nosso país. Estamos muito mente todas as questões de conflito. Realmente – até
próximos de uma nova pactuação entre os gestores dos brincando com o Pe. José Linhares –, o nosso querido
três âmbitos, que tem sido indicada pela aprovação coordenador dizia que S. Exª realmente deve ser mes-
recente da norma operacional de assistência à saúde mo contra o simpósio porque ele praticamente acaba
que modificará algumas relações entre os gestores, com o simpósio, colocando quase todos os problemas
inclusive no que se refere às referências dos pacientes. existentes de maneira muito clara.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


38 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

Vamos, dentro desse assunto que é proposto, pro- o embrião do que veio a ser o sistema de medicina de
curar dirigi-lo, porque é bastante extenso e dá margem grupo. Daí se originaram as cooperativas médicas – até
a muita teoria a seu respeito. Tentaremos centralizá-lo como uma contraposição à medicina de grupo que
na área que diz respeito realmente a planos de saúde. consideravam mercantilistas – o segmento de auto-
O sistema de atenção à saúde dos brasileiros origi- gestão e o seguro-saúde a seguir – apesar de ele existir
nou-se nas Santas Casas, passando pelos institutos de anteriormente, mas praticamente inexpressiva den-
previdência criados a partir de 1930 e unificados pelos tro do atendimento.
Inamps, em 1978. Este foi, posteriormente, incorpora- Foram esses os primeiros convênios chamados pla-
do ao Ministério da Saúde, com a criação do Sistema nos coletivos ou empresariais e eram custeados integral
Único de Saúde, o SUS, pela Assembléia Nacional Cons- ou parcialmente pelos empregadores. Reconhecidos
tituinte de 1988, que, como todos nós sabemos, pela sua importância, há muito tempo passaram a ser
consagrou a saúde como um direito de todos e um de- a cláusula prioritária de toda pauta de negociação tra-
ver do Estado. Sua implantação começou em 1990. balhista. É o único benefício a amparar diretamente o
A saúde é direito de todos e dever do Estado, ga- trabalhador e a sua família. Isso é importante, porque
rantido mediante políticas sociais e econômicas que o Brasil talvez seja o único país em que a iniciativa pri-
visem à redução do risco de doenças e de outros agra- vada começa atendendo o trabalhador e seus familia-
vos ao acesso universal e igualitário às ações e serviços res e não pelo topo da pirâmide social.
para a sua promoção, proteção e recuperação. É o que A fórmula deu certo e evoluiu para o atendimento
diz, com clareza, o art.196 da nossa Constituição, como, também da pessoa física. Aliás, como nós falamos do
aliás, foi aqui citado. A seguir, no §1º do art.199, permi- ministro, somente esperamos que não se cumpra o seu
te-se a participação da iniciativa privada de forma vaticínio de que os planos individuais e familiares se-
complementar ao Sistema Único de Saúde. jam extintos, porque pelo caminho que se está seguin-
Na época da Constituinte – todos nós nos lembra- do, a tendência pode ser realmente essa.
mos disso – havia a tendência de fazer o Sistema Único A medicina privada desenvolveu-se no País à mar-
de Saúde, banindo completamente a iniciativa priva- gem de políticas oficiais, suprindo as deficiências da
da de qualquer ação na área de Saúde. Uma reação que oferta pública de serviços e em resposta a uma deman-
houve naquela época permitiu a participação da inici- da insatisfeita. Hoje, os convênios coletivos são respon-
ativa privada. sáveis pela cobertura de perto de 80% do universo da
Os problemas com atendimento público à saúde da população atendida pelas diversas modalidades de
população brasileira são antigos e se agravaram a par- planos, que é da ordem de 40 milhões de beneficiários,
tir da década de 50, com o boom da industrialização e – continuamos afirmando que deve ser em torno de
o êxodo do homem do campo atraído pela oferta de 40 milhões e acreditamos que a Agência Nacional de
trabalho e de melhores condições de vida nos centros Saúde Suplementar, em breve, chegará bem próxima
em desenvolvimento. Desde então, os serviços públi- desses números – que é o equivalente à população da
cos revelaram-se insuficientes para atender às grandes Argentina e do Uruguai em conjunto, para se ter idéia
concentrações urbanas que se formavam na região do volume desse tipo de atendimento.
metropolitana da capital paulista, com a instalação da Desde que surgiu, o segmento supletivo foi reco-
indústria automobilística. nhecido como alternativa eficiente aos serviços então
Procurando alternativas para a prestação de assis- oferecidos pela Previdência Social. Tanto que se de-
tência médica aos seus empregados e familiares, os senvolveu, se expandiu e começaram a acontecer
empresários estimularam a formação dos primeiros mudanças com a disponibilização também de prêmi-
grupos médicos, contratando seus serviços e gerando os individuais e familiares em diferenciados padrões de

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 39

cobertura. Atendia-se à demanda de segmentos da nº 9.656, em junho de 1998, regulamentando o setor.


população de renda mais alta, que desejavam uma co- Multiplicaram-se, então, as dificuldades desde a pri-
bertura de melhor nível, sem filas e esperas. Assim, meira medida provisória, baixada dois dias depois da
foram-se consolidando os primeiros grupos médicos. sanção presidencial, sem vetos – diga-se de passagem
A ampliação das demandas pressionou por exten- – à lei recém-aprovada. Houve uma aprovação maciça,
são de coberturas e, como conseqüência, promoveu tanto na Câmara como no Senado, e, logo a seguir, dois
organização de redes credenciadas, que se somaram dias após, foi feita uma medida provisória. Depois da-
aos serviços próprios das empresas médicas. O processo quela, mensalmente, outras 44 foram publicadas, a
levou à formação de uma teia de relações extrema- maioria alterando a lei, desfigurando-a daquilo que foi
mente complexa, envolvendo, de um lado, empresas a expressão da vontade e decisão do legislador.
médicas e empresas empregadoras contratantes de As operadoras passaram a ser submetidas a um au-
seus serviços e, de outro, os provedores na área de saú- têntico rolo compressor, com exigências e normas em
de, sejam eles hospitais ou médicos. constante atropelo e vivendo um clima de total inse-
O setor da assistência suplementar à saúde, que gurança, até porque não conseguem caminhar por
estava sedimentado e com a qualidade de seus serviços rumos conhecidos à falta de um horizonte definido. As
reconhecida, defronta-se agora com situação atípica, regras são mutantes, causando intranqüilidade tam-
decorrente de fatores diversos que remontam ao Pla- bém aos usuários, já sem entenderem mais nada, e
no Real, desde 1994, com reduzidas taxas de cresci- preocupação ao governo, interessado em aprimorar e
mento econômico e fase lenta de expansão, quando consolidar o sistema, mas antevendo a possibilidade
não de retração. do seu desmoronamento. Certamente, não é isso que
No rastro do êxito do Plano Real, com a estabiliza- convém ao País.
ção da moeda e a redução dos índices inflacionários, A iniciativa privada não pode e nem tem condições
ficaram as operadoras impossibilitadas, naquele mo- de substituir o Estado em suas obrigações constitu-
mento, de contrabalançar os aumentos de custos com cionais; sua atuação é complementar, de acordo com
as receitas financeiras, dada a queda das taxas nomi- a Constituição, e não se pode exigir dela a ampliação
nais de juros. O próprio Ministro da Saúde nos disse que de obrigações sem contrapartida financeira, sob pena
um dos problemas que aconteciam era esse pré-paga- de levar o setor à ruína. Atendimentos de altíssima
mento que existia, à receita financeira, decorrente complexidade, como os transplantes múltiplos de ór-
desses pré-pagamentos numa época de uma inflação gãos ou casos de custo catastrófico, são impossíveis de
bastante grande. serem atendidos pelos planos de saúde. No entanto,
Posteriormente, com a compressão das margens está-se impondo a estes a prestação de coberturas ca-
operacionais, o que se deu, entre outros fatores pela da vez mais extensas, seja por meio de legislação, seja
distância em que os reajustes dos preços das mensali- pelo próprio Poder Judiciário, que vem sendo obrigado
dades e a variação dos custos somada à maior utili- a atendimentos não previstos em contrato.
zação dos serviços, foi uma mudança preocupante no Há de se reconhecer no SUS a idéia generosa de so-
setor. Empresas que, em geral, dispunham de alguma lidariedade e eqüidade, contudo impossível de ser
folga para gerar receitas viram-se constrangidas, a de- concretizada, com atendimento universal em um país
pender do sistema financeiro para garantir o giro das de dimensões continentais e parcos recursos.
suas atividades. Isto porque nossa atividade sempre foi Naturalmente, no que concerne à atenção básica,
controlada, de preços controlados. sua atribuição é exclusiva do Estado – isso está expres-
Esse era o panorama em que se situavam as ope- so no art. 200 e em seus parágrafos da nossa Consti-
radoras quando o Congresso deu por concluída a Lei tuição: controlar e fiscalizar procedimentos, produtos

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


40 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

e substâncias de interesse para a saúde e participar da estender, desmesuradamente, a cobertura assis-


produção de medicamentos, equipamentos imunobio- tencial, acrescentando custos, sem atentar para suas
lógicos, hemoderivados e outros insumos; cuidar do reais possibilidades. Criou-se uma agência com pode-
saneamento básico, do combate a vetores transmisso- res exagerados e discricionários para regular a
res de doenças, do controle das condições ambientais, atividade, provavelmente a única atividade com pre-
da fiscalização dos portos e aeroportos, além de exe- ços controlados em uma economia dita livre.
cutar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, Ampliaram largamente as coberturas, afastando o con-
bem como as da saúde do trabalhador. sumidor de menor poder aquisitivo que fica sem opção
Esses são alguns exemplos em que é imperiosa a de escolha compatível com o seu orçamento. Foi a
presença do Estado. Para tanto, há necessidade de re- elitização dos planos de saúde.
cursos de extrema complexidade, que só podem ser Há empresas em dificuldades, algumas em liqui-
financiados pelo Tesouro Nacional, resultante dos tri- dação. O sistema sente-se ameaçado. Por isso mesmo,
butos cobrados da população. acredito que é chegada a hora de se reconhecer a im-
Hospitais universitários, centros de excelência portância da nossa atividade. Este é o momento de o
avançados, como o Incor, por exemplo, também devem Poder Público e a iniciativa privada darem-se os braços,
estar a serviço da comunidade, gerando a eqüidade entendendo-se como parceiros e aliados, complemen-
necessária ao oferecimento de saúde a toda a popu- tando-se, dispostos a modificar o cenário nacional de
lação brasileira. saúde. É o que espero. Muito obrigado. (Palmas)
É verdade, também, que na contramão da História
os constituintes avolumaram as obrigações do Estado, O Deputado Pe. José Linhares
sem os meios suficientes para tal. Países ricos como a Muito obrigado, Dr. Arlindo de Almeida. Vamos ter o
Inglaterra e o Canadá não foram a tanto. Ali, o sistema prazer, agora, de ouvir o Dr. Januario Montone, Diretor
é público, mas o governo não banca tudo. Há limite Presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
para determinados gastos.
Segundo o relato do jornalista Carlos Alberto O Dr. Januario Montone
Sardemberg, em interessante artigo publicado no jor- Boa tarde. Insistentemente, tentamos utilizar essas
nal O Estado de S. Paulo, na edição de 13 de abril de 1998, tecnologias, vamos ver se hoje temos um pouco mais
no Canadá, onde há um sistema de saúde considerado de sucesso.
o melhor do mundo, o Estado custeia despesas com hos- Em primeiro lugar, gostaria de saudar o Plenário, a
pitais, médicos e remédios, mas decide quais são os Mesa, na figura do Deputado José Linhares, e dizer da
procedimentos que paga e quanto paga ou não paga UTI minha satisfação pessoal e da satisfação da agência
para pacientes com mais de 65 anos, quando vítimas de em poder participar desse simpósio para poder colabo-
derrame cerebral. Na Inglaterra, há limites para gastos, rar, da melhor forma possível, com esse esforço das
entre outras restrições; não custeiam diárias para paci- comissões do Senado e da Câmara e do Conselho Na-
entes com mais de 65 anos de idade. Nos Estados Unidos, cional de Saúde que foi, a rigor, o grande organizador
o Estado responsabiliza-se somente pela assistência aos do evento.
idosos e desempregados. É evidente que este é um as- Como disse o Dr. Heleno, a fala do Ministro José Ser-
sunto complexo, que praticamente diz respeito à Bio- ra, hoje, foi suficientemente abrangente para dar uma
ética e merece uma discussão bastante aprofundada. clareza da posição do governo aos principais desafios que
No Brasil, pretendeu-se generosamente dar tudo a temos que enfrentar. A rigor, eu e os demais diretores
todos por meio do SUS, sem supri-lo de recursos sufici- que vão participar das mesas subseqüentes vamos aca-
entes. Assim, procura-se obrigar o setor privado a bar detalhando cada um dos pontos levantados.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 41

Vou tentar fazer um esforço para resumir, na me- Ceará, na faixa de 10% a 20%.
dida do possível, para apresentar um pouco a lógica de Isso tem que ser olhado com muito cuidado, por-
atuação da ANS , que não desviará o foco do que foi que é preciso que nos lembremos que dois terços desses
proposto originalmente do processo. Porque é visível usuários são de contratos antigos, que não contem-
que, se não entendermos a lógica do processo de plam uma atenção integral à saúde. Então, não há
regulação, que é a lógica da agência, – porque é ela qualquer forma, neste momento, de que isso seja um
que executa e que tem que ser conhecida, transparen- instrumento de planejamento, mas aponta para uma
te e debatida para que possamos aprofundar essa possibilidade em relação a isso.
questão da interface do setor público e privado no pro- Quanto à concentração do setor, é uma outra evi-
cesso de regulação – que eu gostaria de ter tempo para dência e desfaz o mito da regulação, de que a ação da
comentar sobre questões de altíssima provocação que regulação e a ação da agência iriam concentrar cada
foram colocadas aqui, tanto pelo Professor Noronha e vez mais esse mercado, do ponto de vista de atividade
o Valcler, quanto pelo representante do Colasans. econômica, que já é altamente concentrado. Temos
Eu gostaria de iniciar dizendo que o Brasil tratou a 1.728 operadoras atuando no setor e apenas 45% delas
questão da saúde suplementar de maneira bastante respondem por 50% dos usuários cadastrados na agên-
diversa da maioria dos outros países. Enquanto os mo- cia nessa base de fevereiro, em torno de 29 milhões de
delos internacionais optaram por regular a partir da usuários. Então, 45 operadoras atendem a 50 milhões
atividade econômica, a opção, no Brasil, foi regular de usuários. Se nós quisermos fazer um corte em 90%
também o produto oferecido, a assistência à saúde ofe- dos usuários, estaremos falando em 435 operadoras, ou
recida, com diversas medidas inovadoras nesse aspecto, em 231 para 80% dos usuários. Há uma evidente con-
algumas das quais foram enumeradas pelo Dr. Arlindo centração aqui.
como críticas ao sistema. Eu queria concordar com uma colocação do Dr.
Essa é a principal marca dos oito anos de debate da Arlindo de que a agência acabará chegando de 35 a 38
Lei nº 9.656, no Congresso Nacional, que culminou, milhões de usuários. Hoje acredito nisso, porque o nos-
como todos sabemos, com a edição simultânea de uma so cadastro é subnotificado – visivelmente subnotifi-
medida provisória e que o projeto aprovado na Câmara cado. A agência, entre outras coisas, enfrenta batalhas
Federal tinha um modelo de regulação exclusivamen- jurídicas permanentes para garantir a entrega, por
te econômica e, por exigência do debate no Congresso, parte das operadoras, do cadastro dos usuários. Há inú-
foi-lhe acrescentada a dimensão da assistência à saúde meras operadoras que continuam não entregando,
e uma MP completou o processo, como bem esclareceu muitas delas, inclusive, por força de liminares na Justi-
hoje, pela manhã, o Ministro José Serra, na presença de ça que agora começam a ser revistas pelo Judiciário.
vários atores do processo presente, inclusive o Deputa- Acredito que chegaremos, se não a 38, a aproximada-
do José Linhares e do Senador Sebastião Rocha. mente 35 milhões de usuários.
Esses números são do cadastro da ONS de fevereiro Tentando resumir os objetivos da regulamentação
e mostram algo que, no futuro, talvez possa servir para para que possamos, depois, tentar apresentar sua ló-
a área de planejamento e saúde do SUS, que é a por- gica, hoje os resumiríamos a estes 6 pontos principais:
centagem coberta em cada estado. assegurar aos consumidores de planos privados de as-
O Estado de São Paulo possui o maior nível de co- sistência à saúde a cobertura assistencial integral e
bertura, com 35% da população como usuários de plano regular as condições de acesso; definir e controlar as
de saúde; depois temos o Distrito Federal e o Rio de Ja- condições de ingresso, operação e saída das empresas
neiro, na faixa entre 20% e 30%, e estados importantes, de entidades que operam no setor; definir e implantar
como Santa Catarina, Minas Gerais, Espírito Santo e mecanismos de garantias assistenciais e de garantias

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


42 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

financeiras que assegurem a continuidade da presta- Referência, mas progressiva durante o primeiro ano de
ção de serviços de assistência à saúde; dar transparência vigência da lei. Depois isso foi revisto, transformando
e garantir a integração do setor de saúde suplemen- a obrigatoriedade em um direito do consumidor, que
tar ao SUS e o ressarcimento dos gastos gerados por pode ou não, a seu exclusivo critério, fazer a migração
usuários de planos privados de assistência à saúde ao para o novo contrato, dado que em sua imensa maioria
sistema público; estabelecer mecanismos de controle os planos antigos não apresentam as mesmas cobertu-
de abusividade de preços e definir o próprio sistema, o ras garantidas no Plano Referência.
próprio modelo de regulamentação, normatização e Entretanto, ressalto que, mesmo sem a migração,
fiscalização do setor de saúde suplementar. estendeu-se a esses usuários garantias fundamentais
Acho que esses pontos mostram um pouco as duas de acesso e cobertura, como proibição de interrupção
dimensões iguais de que estávamos falando. As estra- na internação hospitalar, atendimento de urgência e
tégias de implantação de cada uma dessas dimensões emergência, proibição de rescisão unilateral de contra-
não emergem de um poder discricionário da agência to e o controle de preços.
ou elas não emergem sequer de uma definição de po- Essa mudança na estratégia de migração dos con-
líticas de saúde por parte do Ministério da Saúde. Elas tratos antigos para os novos talvez seja o demarcador
emergem da lei. O marco regulatório formado pela Lei da situação atual: um quarto do total dos usuários, hoje,
nº 9.656 e a medida provisória que, na época, tinha o de plano de saúde, tem o que poderíamos chamar de
nº 1.665, estabelece, na prática, a estratégia de proteção integral da regulação, tanto a proteção indi-
regulação que define a atuação do órgão regulador, vidualizada na cobertura assistencial do seu direito,
onde houve mudanças também. De qualquer manei- como a proteção mais geral do sistema regulatório do
ra, isso é pré-definido na legislação. controle das empresas e da fiscalização, mas três quar-
Destacamos nessas estratégias, quanto à cobertu- tos só têm esta garantia mais geral da legislação, a
ra assistencial e condições de acesso – a legislação foi imposição de regras para que as empresas atendam
clara –, que a mudança foi integral e imediata para os melhor, o que acaba surtindo efeito para usuários de
novos usuários: foi proibida a comercialização de pla- contrato novo ou velho, mas, na cobertura assistencial,
nos com cobertura inferior à do Plano Referência, res- três quartos dos usuários estão em contratos velhos.
salvada a segmentação admitida pela própria lei, a Temos uma tabela que mostra um pouco essa si-
segmentação ambulatorial, hospitalar, com e sem obs- tuação. São quase 28 milhões de usuários anteriores a
tetrícia, e odontológica. janeiro de 99. E, aqui, temos poucos dados desagrega-
Aqui ressalto que isso não teve grandes impactos dos, exatamente porque são contratos antigos sem
no consumidor final. Embora haja centenas de pla- qualquer padronização ou registro diferenciado. Então,
nos registrados com a segmentação que a lei exige, o máximo que temos é localização e faixa etária. Nos
92% dos usuários de contratos novos, que são aque- contratos novos, há possibilidade de ter um maior
les de que a agência tem o registro explícito, optaram detalhamento, exatamente porque o cadastro identi-
por uma cobertura ambulatorial e hospitalar nas suas fica mais as modalidades, mas, de qualquer maneira,
várias modalidades, às vezes com ou sem obstetrícia, estamos falando aqui de mais de dois milhões de usu-
não necessariamente o Plano Referência propriamen- ários só na faixa acima de 60 anos. Estou falando de
te dito, mas sempre ambulatorial e hospitalar. O seg- usuários de planos anteriores à legislação e, portanto,
mento isolado não teve grande impacto, inclusive com essa garantia mais nos moldes da regulação eco-
junto ao usuário. nômico-financeira, na verdade, e menos nos moldes da
Para os usuários de contratos antigos, a implanta- regulação assistencial. Só quem tem as duas áreas da
ção da legislação seria também obrigatória do Plano regulação é o consumidor do plano novo.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 43

Quanto ao controle das operadoras, ainda nas es- preparar para suprir, e há instrumentos no modelo que
tratégias de implantação, a estratégia inicial previa permitem suprir esses medos e esses receios que o Pro-
uma implantação progressiva e remetia fortemente à fessor levanta corretamente e que têm que ser desen-
regulamentação posterior. Assim, com a criação da ANS, volvidos pelo reaparelhamento dos ministérios para
houve um notável avanço, não apenas pelo fortaleci- tratar com as agências vinculadas sob pena de balconi-
mento de suas instâncias colegiadas de caráter, sejam zarmos o Estado, sim, mas o modelo capacita e possibi-
deliberativas ou consultivas, como a Câmara de Saúde lita o controle pelos ministérios e pelo Estado, pelo
Suplementar, mas também pela definição de normas governo como um todo, da autonomia das agências.
claras, tanto para o controle das operadoras, quanto Demarcado esse campo das estratégias – e, repito,
para o oferecimento de mecanismos de garantias. são estratégias da legislação e não da agência –, eu que-
O ressarcimento ao SUS, na verdade, era auto-apli- ria pontuar rapidamente o balanço das atividades em
cável enquanto norma, mas ele dependia de três cada um desses campos. E, para tentar dar visibilidade,
pressupostos básicos: a formação do cadastro de bene- nós estamos dando exemplo nesses itens que foram
ficiários de planos privados de assistência à saúde, a colocados: a regulamentação da cobertura assistencial,
fixação dos valores a serem ressarcidos que, depois, condições de ingresso, preço, efetividade da regulação,
geraram a tabela nacional de ressarcimento e o desen- comunicação e informação e ressarcimento ao SUS.
volvimento de um sistema de informações e processa- Antes de apontar esse balanço, eu gostaria de re-
mento que, só para lembrar, é proibida a identificação cuperar um dado que pode explicar e, também, mostrar
do usuário na porta pública para efeito de ressarcimen- um pouco as dificuldades interpostas aos trabalhos da
to. Toda identificação é feita por meio de sistema, não agência. A ANS trabalha com múltiplos atores, todos
há busca de identificação de usuário quando do aten- eles com larga história de relacionamento dentro do
dimento. Quanto ao controle da abusividade de preços setor e, entre si, com posições, contraposições, precon-
foi estendido de uma forma imediata e sem diferenci- ceitos e preceitos já estabelecidos e sistemáticas de
ação para os usuários de contratos antigos ou novos. atuação. A agência entra nesse conjunto buscando o
Essencialmente, o controle, os reajustes e os aumen- equilíbrio do sistema. Em cada um desses pontos, eu
tos nos planos individuais só poderiam ser aplicados queria apenas – acho que devo estar próximo do tema
com autorização da Agência Nacional de Saúde. Quan- – destacar alguns exemplos.
to ao modelo de regulação, tivemos uma mudança ao Na cobertura assistencial, eu destacaria o rol de
longo do processo. O sistema de regulação que emer- procedimentos de alta complexidade e o Plano Refe-
giu do Congresso em 98 era um sistema de regulação rência. Na regulação do ingresso e operação, nós tive-
bipartite, a regulação econômico-financeira a cargo da mos grandes avanços, todos por regulamentação. Cada
área da Fazenda, através da Susep e do Conselho Na- um desses pontos que os senhores vêem nessas trans-
cional de Seguros Privados e a área da assistência a parências é uma resolução de Diretoria Colegiada, sim.
cargo do Ministério da Saúde e com a criação do Consu Nós temos cerca de 20 ou 30 resoluções de diretorias
e do Desas, Departamento de Saúde Suplementar. normativas. Agora, cada uma delas é uma resolução de
A partir de 99, há uma mudança nesse modelo com diretoria. Então, é estranho. Fala-se que a agência a
a unificação das ações regulatórias na esfera do Mi- toda hora baixa uma resolução. Ela faz isso mesmo,
nistério da Saúde e, mais do que isso, com a criação da porque isso é do papel da agência reguladora, cumprin-
agência reguladora que, hoje, é o modelo mais efetivo do o que lhe foi determinado na legislação.
de regulação. E eu gostaria, em algum momento, até Quando nós entramos na sistemática de regimes
de responder a algumas dúvidas que tenha o Professor especiais, hoje, além de já ter regulamentado a dire-
Noronha das mais consistentes. O ministério precisa se ção fiscal, a técnica, etc., nós temos esse conjunto de

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


44 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

empresas ou em liquidação, no caso da Adress, Unicord, dentro de um setor que se estruturou, ao longo de qua-
Biomed e Climoge, ou em regime de direção fiscal ou se 40 anos, sem qualquer interferência estatal, a agência
direção técnica e fiscal, com representantes da agên- entendia que essa polêmica seria saudável e necessá-
cia acompanhando a recuperação, ou a tentativa, em ria, mesmo que, às vezes, extravasasse do campo do
alguns casos, de recuperação dessas entidades, des- diálogo para tribunais e outras instâncias de discussão.
sas operadoras. Desde o seu nascedouro, a ANS carrega dentro de si um
Quanto à regulação de preços, não avançamos no espírito democrático e de respeito em ouvir todos os
final, que é ter uma política definitiva. Mas todo o con- lados da questão para discutir amplamente regras que
trole, no ano de 2000 a 2001, foi feito e com limites sejam objeto de aprimoramento e consolidação do re-
muito claros. Hoje, nós temos uma política estabe- lacionamento entre as partes do setor.
lecida e funcionando. Aprendemos com observação, debate e acumula-
Na fiscalização, os avanços foram evidentes. Ape- ção de conhecimento. A missão que nos foi destinada,
nas pela unificação das ações de fiscalização de a de fazer germinar um setor de saúde suplementar
assistência e econômico-financeiras, que antes eram sólido, equilibrado e socialmente justo, exige uma pos-
feitas de forma desmembrada, tivemos um ganho de tura de enfrentar desafios, muitos deles impopulares
efetividade fantástico do ponto de vista do controle ou espinhosos. Exige diálogo, mas também exige deci-
das operadoras. são. É certo que muitos não querem regras demais, ou-
Isso mostra, um pouco, talvez – temos um quadro tros querem regras de menos, outros não querem regra
na seqüência – , num rápido balanço, entre autuações alguma. A busca de um denominador comum, de uma
e operadoras autuadas (2000 em relação a 2001), que agenda mínima que contemple esses interesses tão le-
houve, inclusive, um decréscimo do número de autos gítimos quanto conflitantes é que nos move a avançar.
por operadora, o que talvez, num certo sentido, de- Os três anos de observação da aplicação da Lei nº
monstre até uma maior aderência à regulamentação, 9.656, dos quais a ANS se faz presente nos últimos 20
ou até um maior poder de regulamentação. meses, demonstram inequivocamente que muito foi
E, na comunicação e participação, eu gostaria de feito, mas que muito ainda teremos que avançar. Re-
ressaltar o Disque-ANS, que tem um mês de funcio- centemente, por conta desse impulso por avançar na
namento, o 0800-7019656, que é o número da lei – e busca de um setor sólido e equilibrado, a ANS se envol-
nós queremos popularizar isso também – e já come- veu em uma nova e grande polêmica. Refiro-me às alte-
ça a ser, com oito mil ligações, no primeiro mês, um rações introduzidas na MP nº 2.177, na sua reedição de
grande instrumento. junho, e retiradas na sua última reedição, no dia 24 de
Quanto ao ressarcimento, precisaríamos explorar agosto, conforme compromisso assumido.
com mais cuidado. Ele precisa de mudanças? Sim. Nós Antes de mais nada, faço questão de registrar duas
tivemos que centralizar o ressarcimento? Sim. Houve observações. Primeiro, não traziam qualquer alteração
uma baixíssima adesão dos gestores estaduais e muni- nos direitos dos mais de 30 milhões de usuários de pla-
cipais ao ressarcimento e nós tivemos que centralizar. nos de saúde. Segundo, não nasceram entre quatro pa-
Então, para não me estender no balanço, eu gos- redes: foram debatidas em diversas reuniões, ainda que
taria de colocar isso. de forma fragmentada, na Câmara de Saúde Suple-
Para encerrar, eu gostaria de dizer o seguinte: que mentar. As oportunidades de avanço na regulação,
era mais do que previsível, na nossa opinião, uma su- muitas delas consignadas no texto da MP, foram obje-
cessão de polêmicas advindas da entrada em cena de to de propostas formais das mais diversas entidades
um ator com papel de regulação dos demais envolvi- representativas dos consumidores, dos prestadores de
dos, que é o papel da ANS. Com efeito, ao passar a agir serviços e das operadoras, e foram debatidas nos fóruns

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 45

setoriais. A partir dessa base, projetamos os ajustes es- “Verifico que, no decorrer de toda tratativa, visando
truturais do modelo de regulação e do modelo assisten- dar conteúdo substancial à lei, cada segmento do
cial, além de ajustes pontuais e de sistematização, para mercado, notadamente da saúde, busca patrocinar
que se iniciasse a quarta etapa de regulamentação – seus interesses, desprezando o outro pólo da relação
na nossa visão, pelo debate com a sociedade da agenda jurídica, vale dizer, o consumidor final do serviço. Di-
definida nas alterações e do debate no Congresso –, ante desse fato, enfatizo que uma relação codificada,
quando da conversão da medida provisória, objetivo sem resoluções, circulares ou portarias direcionadas
estratégico da ANS desde o seu início. no mais das vezes ao interesse do legislador de ur-
Após três anos de acumulação de experiência so- gência deve nortear a bússola do legislador consti-
bre o assunto, vivemos um momento em que, para tuinte, pois só assim os interesses primários serão
avançar, podemos partir de um modelo reconhecida- atendidos com desprezo a situações meramente ca-
mente melhor do que o existente antes da Lei nº 9.656. suísticas. Um código de seguros abrangente balizaria
Hoje, 21 milhões de brasileiros usuários de planos de normas básicas e elementares necessárias à parte que
saúde não usufruem ou usufruem pouco do alcance diretamente deve ser respeitada. Não é essa a filoso-
individualizado da lei. Vivem, pode-se dizer, em uma fia geral do Direito? É o meu entendimento”.
zona cinzenta da regulação, com uma cobertura
assistencial, na maioria dos casos, muito inferior ao do Estão perguntando se é uma declaração de direi-
Plano Referência. tos humanos. Vamos aceitar que isto aqui é uma
Podemos não ter expressado com a necessária cla- declaração de direitos do consumidor. Está aceita a
reza o sentido das nossas ações em muitos dos trechos proposta do Dr. Voltaire Mareze.
da medida provisória; porém, não queremos a imagem Aqui há outra pergunta dirigida à Mesa, de Nabi
de omissos ou de reativos a essa realidade. Queremos, Salum, de Goiás:
sim, avançar. As alterações que propusemos serão reco- “Qual o custo da administração dos planos de saúde
locadas para o debate da sociedade para, posterior- e o do SUS? Pode o povo brasileiro pagar esse custo?”
mente, serem reencaminhadas ao Congresso Nacional.
Que nasça neste simpósio, é o nosso desejo, o com- Acho dificílimo responder a isso.
bustível para empurrar rapidamente a discussão em Você tem esses números?
torno dos avanços que a sociedade espera. A ANS se
coloca pronta para mais essa etapa na construção de O Dr. Januario Montone
um setor de saúde suplementar que, se não é o espe- Nós temos grandes números que foram citados, inclu-
rado de cada um, há de ser, e tem que ser, o do desejo sive hoje de manhã. Hoje, o Sistema Público de Saúde, a
coletivo da sociedade brasileira. partir da PEC, deve movimentar mais de R$30 bilhões na
Muito obrigado. (Palmas) área de saúde. Estima-se em R$20 bilhões os valores
movimentados no setor privado e, talvez, de R$5 bilhões
O Deputado Pe. José Linhares a R$10 bilhões com gastos diretos e compra de medica-
Muito obrigado ao Dr. Januario pela exposição, sobre- mentos. Assim, estamos falando de cerca de R$60
tudo pela transparência com que apresentou a nossa bilhões, o que está abaixo de 10% do PIB brasileiro.
Agência Nacional de Saúde Suplementar. Quanto à sustentabilidade disso, teríamos que
Estamos com seis perguntas, quase todas ende- aprofundar essa discussão sobre o financiamento do
reçadas ao Dr. Januario. setor público privado, que é o assunto de uma das
A primeira delas foi formulada pelo Dr. Voltaire Mesas aqui.
Marenze, advogado em Brasília, Distrito Federal:

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


46 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

O Deputado Pe. José Linhares exemplo recente, subtração de recursos públicos da


Quero lembrar que essa pergunta tem duas maneiras saúde neste ano, desobedecendo à Emenda Consti-
de ser encarada. Uma delas é essa a que o Dr. Januario tucional nº 29, a ANS não deveria também monitorar
se referiu, e está neste texto de apoio, com dados e o público e o privado?”
estudos do Ipea e os números que foram citados pelo
ministro. Se isso for dividido pelo número de O Dr. Januario Montone
beneficiários, segundo estudo do Ipea e dados da pró- Desculpe, mas acho que estamos numa situação exa-
pria Abramge, daria um gasto per capita dos planos e tamente inversa. A ANS é parte do sistema de regulação
operadoras para essa clientela de R$687, tendo como geral da saúde e ela, como um organismo do Ministé-
ano-base o ano 2000. Os gastos públicos teriam um rio da Saúde, atua especificamente nessa área do setor
total de R$177,00. Quer dizer, há um volume grande de privado. Temos que lembrar o seguinte, que foi ressal-
gastos, mas há também uma desigualdade brutal en- tado em algum ponto: a regulação básica de saúde des-
tre aquilo que é gasto pelos planos. Como mostrei, os te país é pública e está a cargo do Ministério da Saúde
dados da Pnad demonstram que a população que é e de suas instâncias. A regulação principal, inclusive a
beneficiária dos planos são as camadas de mais alta regulação da qual deriva toda possível regulação do
renda da sociedade e que são capazes de contratar pla- setor privado, é basicamente do setor público, inclusi-
nos de cujo valor o Dr. Arlindo certamente declinará. ve de qualificação e de outros. As diferenças das nossas
Os planos de saúde mais baratos estão muito distan- agências são realmente muito grandes.
tes daquilo que é o per capita do SUS. A Agência de Vigilância Sanitária é uma agência
geral de regulação do sistema e as outras são de áreas
O Sr. Arlindo de Almeida de infra-estrutura, têm uma característica bastante
Completando, quanto aos custos operacionais dos pla- diferenciada, vêm de um outro modelo, principalmen-
nos de saúde em geral, poderíamos dizer que eles estão te no caso da telefonia e no caso do setor elétrico,
em torno de 80%; 20% seriam os custos administrati- setores estatais de produção e controle estatal e que,
vos. Não sei se é esse o enfoque de quem está questio- portanto, já tinham uma longa experiência regula-
nando. É mais ou menos isto: 20% dos custos, no que tória. São experiências bastante úteis. Acho que, no
se refere à parte de impostos, despesas gerais, aluguéis, nosso caso, no caso do setor de saúde suplementar, o
gastos com energia, até despesas comerciais são incluí- que cabe, sim, é um aprofundamento desse cruzamen-
das aí. Atualmente, esse percentual está maior. Temos to da regulamentação geral da saúde com a regu-
um trabalho da Fenasen que mostra que é de 84% o lamentação específica do setor privado. Temos pontos,
percentual de sinistralidade na área de saúde. Se eu inclusive, onde isso aparece com muita clareza: a ques-
estiver errado, corrijam-me. tão, digamos, da prestação de serviços hospitalares, das
definições de padrão de qualidade.
O Deputado Pe. José Linhares Quando estamos falando em padrão de qualidade,
Enquanto o Dr. Noronha vai tentando decifrar alguns estamos falando em padrões de qualidade em saúde.
hieróglifos, vamos à pergunta de Mauro Crisóstomo, da Não é como já foi dito aqui na mesa, do setor público
Associação Médica Brasileira, Diretor de Saúde Pública, ou do setor privado. A agência precisa receber esses
para o Dr. Januario: insumos de regulamentação das áreas, vamos dizer, da
“As outras agências controladoras – petróleo, energia regulamentação geral de saúde dentro do ministério
elétrica, telefonia, vigilância sanitária – acompa- – nesse caso, basicamente da SAS e da própria Vigilância
nham o funcionamento do público e do privado. Sanitária. Não sei se esclareci.
Considerando o financiamento deficiente do SUS –

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 47

O Dr. José Carvalho de Noronha de adesão, tem uma forma simples de solucionar, que
Vou auxiliar o meu coordenador. A pergunta é de J.L. está colocada no próprio artigo. Basta não ter índice
Cell, da Strategy Consultoria, ao Dr. Januario: mínimo de adesão, basta que a proposta seja opera-
“O art. 35, L, introduzido pela MP 2.177/43, estabelece cional com qualquer índice de adesão. De qualquer
mecanismos de dificílima aplicação prática, uma vez maneira, era um artigo que considerávamos e consi-
que, além de provocar elevado gasto das operadoras deramos da maior importância, mas que, neste mo-
com a comunicação aos usuários, tende a provocar mento, vai entrar no processo geral de discussão.
uma sucessão de comunicados a esses usuários, com O Ministro Serra foi muito feliz ao afirmar que, den-
novo cálculo dos índices, que sobem à medida que tre todas as modalidades de plano de saúde, a que me-
diminuem os índices de adesão. Que solução prática lhor se comporta é a da autogestão. Parece-me existir
a ANS propõe para não provocar mais gastos à ope- um contra-senso entre a fala do ministro e a prática,
radora e qual a proposta para evitar o efeito ioiô de pois é incompreensível que um segmento que retira
sucessivas comunicações, que acabará por resultar do SUS 12 milhões de usuários seja onerado com paga-
em um índice alto de reajuste, índice baixo de ade- mento de uma taxa e com ressarcimento. Hoje, o me-
são, uma vez que a adesão é livre?” lhor para as empresas é não dar nenhum benefício de
saúde a seus empregados; pois, se assim o fizer, além
O Dr. Januario Montone da despesa do benefício, será coagida a pagar a taxa e
Primeiro, estamos falando no 35 L, que não existe mais. a reduzir seus ressarcimentos, a que não estaria obri-
Salvo melhor juízo, era o plano especial de adesão a gada caso não mantivesse o benefício.
contrato adaptado. Nos termos da discussão que foi
feita, de que reverteríamos a medida provisória nas O Deputado Pe. José Linhares
principais alterações introduzidas em agosto, essa foi Dr. Januario, novamente. Pode tomar água.
uma das que saíram. Então, essa proposta que a agên-
cia colocou, de normatizar um plano especial para O Dr. Januario Montone
adesão a contrato adaptado, induzindo e facilitando a Olha, eu queria só reforçar a opção estratégica que
migração daqueles 20 milhões de usuários aos quais temos na agência, que o ministro sempre teve pelas
me referi - usuários de planos antigos – a rigor está fora autogestões. Elas são um modelo importante, e inclu-
da regulação neste momento. Ela não será implanta- sive acabamos de fazer com a agência um convênio
da, a não ser depois desse processo todo que estamos de cooperação com as quatro maiores autogestões, e
começando neste seminário. talvez as quatro maiores do país, exatamente para
Mas, de qualquer maneira, pela importância do aprofundarmos os mecanismos gerenciais que elas
tema, só queria ressaltar o seguinte: eu, particular- usam de controle.
mente, entendo, mas não acredito tanto na inopera- Acho que precisamos olhar por um outro lado. Pri-
cionalidade do sistema. O que foi proposto no plano meiro, essa pergunta confirma que vamos acabar
especial era uma sistemática extremamente lógica, no chegando aos nossos 35 a 38 milhões de usuários, por-
momento em que você raciocina com o conjunto dos que, pelos nossos registros, a autogestão não chega a
usuários. Estamos falando o tempo todo do conjunto oito milhões, e aqui está colocado como 12, assim como
dos usuários e tenho certeza de que, com o controle a Abrange declara 18 milhões, e temos 10 e meio no nos-
que ia ser exercido sobre isso, uma comunicação basta- so cadastro, e assim por diante, nos vários segmentos.
ria, e o fato do efeito ioiô... Devo estar falando grego para Em relação a essas duas questões: primeiro, a taxa
quem não entrou na discussão do plano especial de a- é ridiculamente barata, ela sustenta as ações da agên-
desão, mas o efeito ioiô, que seria não atingir o índice cia. Estamos falando de uma taxa média de R$1,10/ano

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


48 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

por usuário. Então, não acredito que num segmento, O Deputado Pe. José Linhares
seja qual for a modalidade, que movimenta mais de Renê Patriota, Associação de Defesa dos Usuários –
R$20 milhões, falemos numa taxa média que mal ar- Aduceps –, para o Dr. Januario, novamente. A Mesa está
recada 40 e que sustenta todas as ações da agência, sendo excluída.
seja onerar o sistema, seja qual for, seja da autogestão, “A última MP que desencadeou este evento não evi-
seja das privadas. dencia a falta de independência da ANS em permitir
Segundo, o ressarcimento: existe uma maneira óti- tantos retrocessos à lei e com tantas segmentações
ma de resolver, que é não ter. O objetivo, o tempo todo, de cobertura, entre outros abusos. Quem mantém a
do processo não foi arrecadar recursos com o ressarci- ANS? Nós, os usuários, portanto, estamos insatisfei-
mento; foi que cada operadora, fosse qual fosse a tos com a ação da ANS em não lutar, claramente, por
modalidade, atendesse àquilo a que deve atender e, nós, os usuários.”
portanto, não tem que ter ressarcimento. E a autoges-
tão mais ainda; a maioria delas tem um atendimento Quero dizer ao auditório que vamos ter somente
muito próximo ao integral, então podemos ter um ou mais uma pergunta. Com a palavra, o Dr. Januario.
outro caso. Existem alguns casos que são “irresolvíveis”
até no sistema. O Dr. Januario Montone
Se me permitirem, vou citar um exemplo com que Evidentemente, só posso respeitar a posição de insa-
até hoje a agência se bate. Blumenau tem uma gran- tisfação manifestada e, pessoal e institucionalmente,
de empresa que tem um sistema de autogestão, e tem fazer os maiores esforços possíveis para avançar nesse
um único hospital que atende à autogestão dessa tipo de conjuntura, construindo uma capacidade de
empresa e o SUS. Essa empresa tem um sistema de diálogo, de confiança mútua, porque o papel central
autogestão com co-participação e co-pagamento. O da Agência Nacional de Saúde é regular as partes do
que acontece? Um empregado dessa empresa, que é a processo. Se não tiver credibilidade para fazer isso, a
maior empregadora da cidade, quando precisa de um sua missão é literalmente irrealizável. A defesa da
procedimento cirúrgico, pela autogestão da empresa credibilidade institucional da agência, para nós, é um
tem que pagar uma co-participação para ser operado ponto de honra.
no mesmo hospital que o atende como um cidadão que Por isso, apesar de todo o respeito à manifestação
tem direito de ser atendido. Ele vai lá e se interna, é de insatisfação – ela é um juízo de valor –, não enten-
atendido pelo SUS normalmente, achamos isso no sis- demos que tenha havido, nas alterações propostas, um
tema e vamos lá cobrar da autogestão. E aí vira uma retrocesso. Houve a abertura de uma agenda de discus-
discussão interminável. Então, precisamos de apro- sões muito claramente colocada, sem nenhum impacto
fundamento? Precisamos, sim. Que bom que hoje imediato, que tocava e toca em questões delicadas, tan-
podemos estar cruzando... são milhares e milhões, são to que algumas delas foram usadas como cavalo de
12 milhões de AIHs que já foram processadas e cruza- batalha do processo de discussão, como a famosa dis-
das com o sistema de saúde suplementar, muito menos cussão sobre se o que estávamos colocando em
do que para gerar dinheiro, para gerar informações, discussão, para regulamentação, de clarear, de dar trans-
para gerar capacidade de análise, para gerar capacida- parência às atuais modalidades praticadas legalmente
de de visibilidade da inter-relação desses sistemas. no setor e que, na visão que tivemos, significariam três
Apoiamos irrestritamente as autogestões e acho modelos, ou de livre escolha, ou de rede com livre esco-
que as entidades têm trabalhado com essa parceria, lha na rede e o de rede de acesso hierarquizada.
mas não é por aqui que demonstramos possíveis res- Hoje achei interessante – fazendo um parêntese
trições a ela. – quando, num ponto da discussão de que temos que

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro 49

seguir os princípios e diretrizes do SUS, foi dito da inte- 2 - Além dos pontos polêmicos da MP, o que está con-
gralidade, universalidade e eqüidade, com as quais con- tido no projeto de lei?
cordo plenamente. Se bem me lembro, a hierarquiza- 3 - Quais das alterações contidas na MP foram propo-
ção também é um dos princípios de organização do SUS. sições das entidades e quais foram as entidades
O que levantamos foi um debate. É um debate es- proponentes?”
pinhoso, com certeza, mais do que espinhoso. Mas,
primeiro, não mudou regras estabelecidas, nesse as- O Dr. Januario Montone
pecto nem em nenhum outro. Em segundo, colocou Se passei aqui a impressão de que o mundo estava er-
essas questões para debate com uma visão de trans- rado e a agência estava certa, perdoem-me.
parência. E de que podemos, ao dar transparência, Houve equívoco nosso, também. Quando se colo-
realmente equacionar a solução. cam dois, três incisos numa lei e dizem que aquilo vai
Não se resolve um problema que não se conhece. E passar por um debate, dizem que não pode excluir do-
não se conhece um problema sobre o qual não se dis- ença, não se pode limitar quantidade, e isso não é
cute, não se debate, mesmo que seja espinhoso, de entendido, então, certamente, erramos na maneira de
difícil discussão. Penso que esse é o papel básico de um dizer; não tenho dúvida de que esse é um dos motivos
órgão regulador. de estarmos re-discutindo a questão.
Erramos ao atropelar um processo de discussão Agora, quanto a questões de entendimento e de
maior? Se erramos, este erro está corrigido. O Minis- polêmica, voltamos ao que foi colocado hoje de manhã.
tro Serra assumiu e cumpriu, claramente, com o apoio Recebemos muitas críticas sobre o mesmo tema com
da agência, o compromisso de retirar as alterações visões completamente diferentes. Não citarei muitos
que foram colocadas na medida provisória. E essas exemplos para não me alongar demais. Vou ater-me a
medidas serão agora como seriam no formato em que uma pergunta feita em relação ao plano especial de
foram propostas, amplamente debatidas, porque não adesão. Sofremos críticas sérias de entidades ligadas
era auto-aplicável nenhuma delas. E continuamos a às operadoras de que esse era inexeqüível porque im-
insistir que nenhuma delas trazia prejuízo; ao con- possibilitava a exigência de novas carências e cober-
trário, uma que foi objeto até de uma pergunta aqui, tura parcial temporária e, também, exigia-se que fosse
muito possivelmente, na nossa avaliação, permitiria apurado um índice mínimo de ajuste de mensalidade
que alguns milhões dos 20 milhões de usuários, que para toda a massa de usuários de planos antigos cole-
ainda têm proteção parcial do sistema regulatório pu- tivizando aquele custo de migração e, portanto,
dessem, à sua escolha e a seu critério, ter melhores baixando esse preço.
condições de opção. Sobre o mesmo assunto ? plano especial de adesão
O debate agora fica aberto à sociedade, ao Congres- ?, fomos criticados pelas entidades e órgãos de defesa
so, às outras instâncias do próprio setor de saúde do consumidor que manifestaram opinião de que es-
suplementar. taríamos, no mínimo, abrindo uma brecha para a
Perguntas do Dr. Marcos Maria, Secretário-Geral do questão do limite do reajuste por faixa etária, de que
Conselho de Medicina da Bahia, ao Dr. Januario: estaríamos abrindo uma brecha nessa legislação.
“1 - Como a reação às alterações contidas na MP tra- Uma outra crítica e essa só posso considerar um
duziram o entendimento de vários segmentos da equívoco de leitura é de que a migração já se daria em
sociedade civil, entidades médicas, órgãos de defesa planos segmentários. Parece que, ao se colocar nesse
do consumidor, OAB, etc. e estiveram todas essas en- mesmo artigo que “as operadoras terão que elaborar um
tidades e instituições equivocadas na interpretação? plano especial de migração para a assistência prevista no
art.10 da Lei 9.686”, que é o Plano Referência, erra-se.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


50 Mesa 1 – Interface e articulação entre o público e o privado no sistema de saúde brasileiro

Essa foi outra crítica dos setores que não permitimos A agenda proposta não surgiu do nada, não surgiu
nesse projeto, nem a segmentação que a lei admite. de uma mesa de trabalho que decidiu o que discutir
Mas houve um não-entendimento certamente um ou não, o que é ou não interessante; surgiu de um pro-
equívoco de colocação de nossa parte de que isso po- cesso de análise de um ano e meio. Teve os seus erros,
deria ser um movimento para que a migração fosse atropelou o processo e está recolocando-o para o de-
num plano inferior ao do Plano Referência. bate social. Estamos com muita tranqüilidade em
Trata-se do mesmo assunto, só contextualizei. Fo- relação ao esforço feito nesse processo para cumprir o
ram entidades diferenciadas com posições conflitantes papel da agência.
sobre o mesmo assunto. Há necessidade de uma me-
diação. Num primeiro momento, é dever legal da ANS O Deputado Pe. José Linhares
buscar essa mediação ao agir na regulação. É um de- Agradecemos novamente ao Dr. José Carvalho de
ver maior da sociedade mudar a lei, rever o processo e Noronha, ao Dr. Valter Rangel, ao Dr. Carlos Alberto
até o próprio papel da ANS. Por isso, esse debate tem Gerbrim Preto, ao Dr. Arlindo de Almeida e ao infatigá-
que ser feito. vel Dr. Januario Montone, que teve que responder a
Quando disse que todos os assuntos foram debati- tantas perguntas. Estamos um pouco atrasados no
dos e discutidos, é verdade. Essa questão da lei do nosso programa e, por isso, pergunto se devemos fazer
reembolso, o acesso e plano de rede foi parte do debate uma pausa de cinco minutos e recomeçar às 4 horas,
sobre credenciamento e descredenciamento de profis- ou se devemos começar logo a outra Mesa?
sionais médicos na última câmara de saúde suple- (Pausa)
mentar, porque está intrinsecamente ligado a isso.
A maior ou menor rigidez do controle do creden- Então, como ficou decidido que devemos continu-
ciamento e descredenciamento do profissional ar, retiramo-nos humildemente e cedemos lugar para
médico, dos laboratórios e dos hospitais tem a ver com os outros que vão dirigir a próxima Mesa. As perguntas
modalidade do que está sendo oferecido e contrata- que não foram respondidas não estão sendo despreza-
do; isso estava presente na câmara. das: serão respondidas nesta Mesa.
A portabilidade de carência é uma bandeira conhe-
cida dos órgãos de defesa do consumidor, inclusive
como controle de preço do setor.
Quanto à assistência farmacêutica, há um projeto
de lei do Deputado Henrique Fontana que propõe a
obrigatoriedade do seu fornecimento e nós incluímos
como possibilidade de regulação.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


51

Mesa 2
Coberturas e modelos assistenciais

Coordenador
Dr. Ésio Cordeiro

Componentes
Profa. Lynn Silver
Dr. Eleuses Vieira de Paiva
Dr. José Diniz de Oliveira
Dr. João Luiz Barroca de Andréa

O Deputado Pe. José Linhares (Pausa)


Dando seqüência ao simpósio, anuncio os componen-
tes da segunda Mesa do dia: Cobertura, Fiscalização, O Dr. Ésio Cordeiro
Defesa do Consumidor e Direito à Saúde. Vamos iniciar imediatamente, para que não haja
Por favor, gostaria de convidar, agora, as pessoas acúmulo de atrasos em relação também à Mesa pos-
que vão compor a Mesa Fiscalização, Defesa do Con- terior. Quero convidar a Professora Lynn Silver, da UnB,
sumidor e Direito à Saúde: Lynn Silver, Diretora do Insti- e Diretora do Idec – Instituto Brasileiro de Defesa do
tuto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Idec. (Palmas) Consumidor. Professora Lynn Silver, por favor.
Corrigindo: Coberturas e Modelos Assistenciais: Lin
Silver – Diretora do Idec; Dr. Eleuses Vieira de Paiva, A Dra. Lynn Silver
Presidente da Associação Médica Brasileira; José Diniz Obrigada, Dr. Ésio. Primeiro, agradecemos a oportuni-
de Oliveira, Presidente do Comitê Integrado de Enti- dade de apresentar aqui, mais uma vez, nesta Casa –
dades Fechadas de Assistência à Saúde – Ciefas. (Palmas) parece que estamos revivendo o passado, porque mui-
E João Luiz Barroca de Andréa, Diretor de Produtos da tos desses debates já tivemos com as mesmas pessoas
Agência Nacional de Saúde, ANS. – o ponto de vista da maior organização de defesa de
O Coordenador da Mesa vai ser o Dr. Ésio Cordeiro, consumidor do país, o Idec, referente à regulamenta-
ex-presidente do INAMPS e Professor do Instituto de ção dos planos de saúde.
Medicina Social da UFRJ. (Palmas) Há mais de uma década, o Idec está lutando para
Na seqüência, vamos ter que fazer uma pequena que sejam respeitados, no campo da regulamentação
modificação no programa. O debate vai ser transferido do setor privado, os princípios constitucionais de defe-
para após a Mesa Fiscalização, Defesa do Consumidor sa do consumidor na ordem econômica, da relevância
e Direito à Saúde, e será um debate conjunto. Vamos pública das ações de saúde e da integralidade na aten-
ter esta Mesa, um pequeno intervalo, e, na seqüência, ção à saúde. Lembrando rapidamente que a aprovação
a Mesa 3 do encontro. da Lei 9.656, de 1998, foi precedida por mais de cinco

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


52 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

anos de negociação nesta Casa. Iniciou-se com um pro- confusa da localização do poder de fiscalização den-
jeto de 1993, do Senador Iram Saraiva, que proibia a ex- tro do Poder Executivo e a manutenção da isenção
clusão de doenças e que obrigou até a elaboração de tributária das deduções, aumentando ou mantendo o
uma lei complexa, posteriormente aprovada, mas que caráter de contribuição regressiva do financiamento
atendeu apenas parcialmente aos reclamos de milhões da saúde privada no Brasil, ponto presente em alguns
de consumidores lesados e enganados pelas práticas modelos do projeto de lei, mas não acolhido ao final.
abusivas dominantes nesse setor. Quanto à regulamentação subseqüente, vimos
Vou abordar muito rapidamente, porque uma das que a lei aprovada pelo Congresso Nacional foi modifi-
finalidades desse simpósio é fazer um balanço da re- cada, retalhada pelo Poder Executivo em nada menos
gulamentação, o que entendíamos como avanços e que 44 medidas provisórias – a maioria não influiu nas
problemas na lei e na regulamentação subseqüente. coberturas assistenciais. Em alguns casos houve avan-
Resumidamente, falando ainda da Lei nº 9.656, um ços, como a melhor definição da situação das segura-
de seus principais avanços foi a criação de exigências doras e a retirada efetiva de poderes da Susepe a favor
básicas e claras para definir o que seria um plano de da agência. Esse era o quadro existente até a edição
saúde aceitável no país: o principal, sendo um Plano da Medida Provisória 2.177-43, de julho, que será mais
Referência, que foi um pleito de todas as entidades de bem explicada mais à frente.
consumidores e das profissões de saúde, e quatro ou- A regulamentação da lei pelo Poder Executivo, ini-
tras opções. Embora continuemos discordando da ofer- cialmente pelo Consu e, subseqüentemente, pela
ta fragmentada dos quatro segmentos – ambulatorial, agência, foi marcada por alguns avanços e alguns re-
hospitalar, odontológico e obstétrico – pelo menos em trocessos. Como pontos positivos que podemos des-
todos os planos exigia-se a cobertura de todas as do- tacar nesses últimos três anos de legislação, temos a
enças e dos procedimentos previstos para o segmento, regulamentação de ressarcimento do SUS, a publica-
salvo algumas exceções, geralmente justificadas. ção inicial de um rol de procedimentos bastante abran-
Também a lei proibiu a limitação da participação gente, a obrigatoriedade das informações básicas que
de usuários, restringiu o descredenciamento, limitou permitem a fiscalização, a regulamentação de aten-
os prazos absurdos de carências até então existentes, dimento da saúde mental dentro de uma filosofia
tornou obrigatória a cobertura ao recém-nascido, proi- antimanicomial, algum grau de regulamentação eco-
biu a rescisão contratual unilateral, garantiu a cober- nômica de aumentos para planos individuais. Mas, ao
tura à saúde mental até então geralmente excluída, mesmo tempo, vivemos alguns retrocessos e dificul-
assegurou algum grau de atenção ao demitido e ao dades muito grandes, inclusive algumas medidas que
aposentado, definiu ressarcimento ao SUS e a obriga- ofendem e violam a própria Lei nº 9.656. Esses pro-
toriedade da cobertura de urgência e emergências. blemas incluíram a questão do reajuste por faixa
Foram realmente ganhos obtidos com essa legislação etária – que será discutida na outra Mesa –; a exclu-
aprovada aqui no Congresso. são ilegal, na nossa opinião, da cobertura de acidentes
Mas ainda havia problemas. Os principais proble- de trabalho e doenças ocupacionais; a restrição dos
mas apontados ainda eram a possibilidade de atenção transplantes de córnea e rim; a medida que regula ur-
fragmentada entre o ambulatorial e o hospitalar, por gência e emergência, limitando o atendimento a 12
exemplo, porque sabemos que as doenças não param horas e, portanto, violando, no nosso entendimento,
na porta do hospital, a possibilidade de aumentos por o espírito da lei; algumas restrições extensivas à aten-
faixa etária, a definição do conceito de doença preexis- ção ambulatorial e à saúde mental e a regulamen-
tente, o que minimizou a possibilidade das operadoras tação excessivamente ampla dos procedimentos di-
distorcerem esse conceito. Existia ainda uma divisão tos de alta complexidade que podem ser excluídos

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 53

durante o período de dois anos no caso dos chamados ças não foram discutidas publicamente e não foram
doentes preexistentes. submetidas à consulta pública. Vou ter que questio-
Realmente, foram coisas chamadas de alta comple- nar o meu colega Januario, da ANS – eu sou membro-
xidade, coisas que nada têm de alta complexidade. titular da Câmara de Saúde Complementar, assim
Além disso, havia, também, – não chegou a ser formu- como outros representantes de usuários aqui presen-
lada – uma política clara referente ao assunto, como a tes e na Câmara não houve nenhuma discussão sobre
atenção preventiva ou a assistência farmacêutica den- os aspectos assistenciais.
tro das coberturas assistenciais. Além disso, nós apon- Quais foram essas medidas que levaram a tantos
tamos um problema muito grande que não tem tanto protestos no mês de agosto e por que tantas negações
a ver com a questão assistencial, que é a omissão refe- por parte do Executivo sobre o que efetivamente es-
rente aos planos coletivos nos seus aspectos de re- tava sendo proposto? As mais importantes ampliaram
gulação financeira, que representa em torno de 70 a o leque do tipo de plano considerado aceitável. Tendo
80% do mercado. em vista que a definição da cobertura assistencial foi
Talvez o fato mais relevante que nós vemos, hoje, o ponto mais polêmico, durante anos de debates no
é que, segundo os dados cadastrais apresentados à Congresso Nacional, a modificação deste ponto por MP
Agência Nacional de Saúde, apenas 16% da população é uma verdadeira temeridade antidemocrática.
nacional está com um plano de saúde, chegando a 35% O mais grave na medida provisória é o art. 12-A que
no Estado de São Paulo – talvez seja mais, segundo os autoriza a agência a aprovar planos de saúde ou pro-
dados do PNAD. Essa baixa aderência não pode ser dutos com segmentações, subsegmentações ou
explicada pelo custo de cumprimento da nova legisla- exigências mínimas diferenciadas com cobertura
ção, pois mais de 75% dos usuários não adaptaram, assistencial condicionada à disponibilidade do serviço
ainda, os seus contratos à nova lei. na área de assistência ou organizado em sistemas
Nós entendemos que esse modo de prestação de hierarquizados e gerenciados.
assistência à saúde, operado predominantemente com O artigo que proíbe a exclusão de doenças e a limi-
a finalidade lucrativa e com custos significativamen- tação quantitativa de procedimentos, pelo que enten-
te acima do custo médio per capita do SUS – como o demos – talvez sejamos todos analfabetos, não sei – ,
Professor Noronha se reportou na última Mesa – é que mas a principal forma de segmentação que restaria se-
ele não é capaz de atender às necessidades sanitárias ria o velho truque da exclusão de procedimentos.
da grande massa da população brasileira e, ainda, em Entendemos que, mais uma vez, surgiriam os pla-
geral, aos lucros desejados pelo setor. A má adminis- nos que abandonam o usuário na hora do aperto, já não
tração – e não a nova lei – é o principal vilão, atrás das excluindo doenças como antigamente, mas excluindo
falências ou fechamento de empresas. Apesar disso, as os procedimentos caros que tratem a doença. Por exem-
empresas estão pressionando para uma nova onda de plo, o plano que cobre câncer não cobre quimioterapia,
desregulamentação para poder ampliar os mercados, porque não há nesse município ou porque tenha sido
oferecendo produtos com maior lucratividade. subsegmentado, ou deixa de cobrir hemodiálise.
É nesse contexto que surgiu uma surpresa, que foi Justamente o fim desse tipo de exclusão foi uma
a Medida Provisória 2.177, do mês de julho, que foi das grandes vitórias da lei de 1998. O art. 12-A realmen-
publicada na surdina, no mês de férias, e a lei foi apro- te estende esse absurdo, discriminando os moradores
vada, democraticamente, pelo Congresso Nacional e do interior e das regiões mais distantes, estabelecen-
foi mais uma vez afrouxada, por meio de Medida Pro- do que a agência poderia aprovar planos que não co-
visória, que jogou na lata de lixo importantes avanços brem os procedimentos necessários quando estes não
determinados pelo Congresso Nacional. Essas mudan- estão disponíveis na área de abrangência do plano.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


54 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

Como, segundo a própria agência, cinqüenta e um do falecido cardeal Josef Bernardin, da Igreja. Penso que
por cento dos planos abrangem apenas alguns muni- o humor negro realmente capta muito bem a rejeição
cípios, essa abertura é realmente perigosa, pois a gerada pela experiência na população americana.
doença não escolhe o endereço da sua vítima. E um A aprovação, por parte da agência, de planos que
morador do Morumbi ou do Lago Sul pode ter a mesma institucionalizem essas práticas no contexto das em-
chance que um morador do interior de São Paulo ou presas brasileiras com sua folha corrida histórica,
do Piauí de desenvolver um problema grave. certamente viria a restringir a liberdade do usuário e a
Ainda, os planos realmente têm muito mais recur- possibilidade de o profissional exercer, de forma ética,
sos que o SUS e, portanto, não podem ser isentados das o seu ofício.
mesmas obrigações de dispor de serviços de referência A MPA ainda tinha algumas outras surpresas que
ou de cobrir esses serviços do ponto de vista financeiro. não esperávamos. Há um aumento de carência para
Depois, vem o famoso debate sobre o médico-por- parto prematuro, inclusive a definição de calamidade,
teiro e a assistência gerenciada. Quanto às negações encontrada no Aurélio, foi esticada para incluir vaza-
da agência na imprensa, no nosso entendimento, a mento de gás e acidentes com radiação. Por exemplo,
medida se institucionalizaria se um tipo de atendi- cidadãos de Osasco ou de Fortaleza ou vítimas do césio,
mento restringisse o acesso do usuário aos níveis de em Goiânia, também teriam sido excluídos.
atenção secundário e terciário e limitasse a sua esco- Ainda medidas anteriores haviam excluído cober-
lha. Este ponto está contido no art. 12-A e no art. 16, tura odontológica do plano de referência.
revogados na atual medida provisória. Concluindo, Srs. parlamentares, membros do Con-
Quem tem o mínimo de conhecimento do sistema selho Nacional de Saúde, os dados internacionais sobre
de saúde sabe que esses geralmente são atendidos sistema de saúde mostram, de forma cada vez mais
usando o chamado médico-porteiro, que vai determi- contundente, que os seguros universais e públicos ou
nar a que serviços o usuário poderá ter acesso. administrados sem finalidades lucrativas são a forma
Na realidade, esses sistemas funcionam, de certa mais custo/efetivo justa de garantir a saúde da popu-
forma, de modo responsável dentro do sistema nacio- lação, que é um direito humano.
nal de saúde inglês, dentro do nosso próprio sistema Os constituintes brasileiros e o Congresso Nacional,
de saúde do Distrito Federal. Todavia, quando se apli- ao criarem e regulamentarem o Sistema Único de Saú-
cam os mecanismos a planos de saúde com finalidades de, na Constituição de 1988, foram sábios em acolher
lucrativas, têm-se gerado enormes distorções e dificul- as evidências internacionais e endossar um modelo de
dades, com maior incidência nos Estados Unidos, com atenção à saúde mais justa e realista para o País.
um nível de revolta e desagrado muito profundos da Com a medida provisória no mês passado, estamos
população e dos profissionais de saúde. O médico, em vendo o enfrentamento de dois modelos para a assis-
vez de ter como única prioridade o bem-estar do paci- tência à saúde: um modelo da proliferação de planinhos
ente, passa a ser pressionado para reduzir os custos a baratos e excludentes, que enganam o consumidor,
qualquer preço e, muitas vezes, utilizam-se até de in- versus a consolidação de um sistema de saúde pública
centivos financeiros negativos e positivos para influen- decente para todos os brasileiros. O Idec entende que o
ciar diretamente as decisões do médico. melhor caminho para a saúde do cidadão é o segundo,
Trouxe, para quem tiver interesse, alguns artigos dos ou seja, o da consolidação do Sistema Único de Saúde.
Estados Unidos e até caricaturas e charges e outro ma- Até que o Sistema Único de Saúde passe a funcio-
terial que fala da implementação da tensão gerenciada nar com qualidade para todos os cidadãos brasilei-
nos Estados Unidos e do impacto que isso teve na popu- ros, estaremos convivendo com os planos de saúde.
lação. Há artigos das revistas médicas prestigiosas e até Mas, enquanto convivemos com eles, é preciso exigir

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 55

características básicas de decência e abrangência a esse grande projeto nacional que é o SUS, com o nível de
setor que dispõe de muito mais recursos per capita que qualidade que o cidadão deseja.
o SUS, mas que quer cobrir muito menos assistência. Muito obrigada. (Palmas)
O setor privado está teimando em adotar os mode-
los mais retrógrados e fracassados da atenção, como os O Dr. Ésio Cordeiro
planinhos incompletos ou mannish care, à americana, Obrigado, Professora Lynn Silver.
por organizações com finalidade de lucro, que nos Es- A Professora Lynn Silver apresentou, na ótica do
tados Unidos, por exemplo, levou-os a gastar três vezes Idec, a posição em relação ao nosso debate.
mais que os países europeus, com indicadores de saúde De imediato, passamos a palavra ao Dr. Eleuses
piores e boa parte da população desassistida, enquan- Vieira de Paiva, Presidente da AMB, que apresentará a
to os executivos e os acionistas enriquecem. posição dos profissionais médicos da saúde.
Entendemos que, antes de tudo, precisamos me-
lhorar o Sistema Único de Saúde, expandindo e apri- O Dr. Eleuses Vieira de Paiva
morando as iniciativas importantes, como a Saúde da Boa tarde a todos. Primeiramente, cumprimento o Pre-
Família e outras que tornam o sistema mais humano sidente da Mesa, Ésio Cordeiro, estendo os cumpri-
e próximo, financiando-o adequadamente. mentos aos demais colegas que compõem a Mesa.
Para isso, contamos com esta Casa, que determina Cumprimento os parlamentares, aqui representados
o Orçamento da Nação. Entendemos que não é a au- pela figura do Deputado Rafael Guerra, as lideranças
torização de oferta de planos de saúde incompletos ou dos diversos segmentos de operadoras de saúde, medi-
restritos por parte das Santas Casas ou de outras enti- cina de grupo, autogestão, seguradoras de saúde e
dades filantrópicas, ou o crescimento do setor de pla- Sistema Unimed, aqui presentes.
nos baratos, com finalidade lucrativa, que resolverá o É uma grata satisfação, representando o movimen-
problema de atenção à saúde no País. Precisamos, sim, to associativo médico, estar aqui apresentando nosso
buscar em todos os municípios as formas de incorporar posicionamento. Esperamos, nestes dois dias em que
as instituições sem finalidades lucrativas dentro do SUS, estaremos reunidos nesta Casa, poder, de alguma for-
com regras em nível de financiamento que possam ga- ma, contribuir com propostas que visem ao aprimo-
rantir a qualidade do atendimento ao cidadão. ramento da Lei 9.656.
Esperamos contar com o apoio desta Casa para en- Foi-me solicitado que fizesse, principalmente, um
terrar de vez os pontos negativos aqui citados, da última histórico da avaliação da regulamentação dos planos
medida provisória, que, embora temporariamente revo- nesses últimos três anos, sob o ponto de vista médico.
gados, devem reaparecer em projeto de lei, bem como Acredito que a discussão sobre os planos de saúde
aprimorar os aspectos negativos inseridos posteriormen- no setor privado vem desde o final da década de 80,
te à aprovação da Lei 9.656 e sua regulamentação. mas, com certeza, no início da década de 90, as discus-
Esperamos que, no futuro, a regulamentação des- sões ganharam um conteúdo político importante,
se setor seja feita de forma mais transparente para a um espaço na mídia, tornando-se, com certeza, uma
sociedade, com maior controle social e sem o tipo de questão nacional.
informação enganosa que vem sendo veiculada nos Considero extremamente importante ressaltar
últimos dias. Esperamos, também, que este debate se que, sem dúvida nenhuma, a edição da Resolução nº
dê realmente dentro do marco da Política Nacional de 1.401, pelo Conselho Federal de Medicina e decisões
Saúde, da política de construção do Sistema Único de importantes do Poder Judiciário foram marcos refe-
Saúde para todos os brasileiros. Sobretudo, esperamos renciais desse período, sendo que todas apontavam
que o Congresso seja persistente na construção desse para extensão da cobertura assistencial, tendo em

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


56 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

vista as inúmeras restrições apresentadas nos contra- bém criava o Conselho de Saúde Suplementar – o
tos de consumidores. Consu, composto dos diversos ministérios, este sim,
A preocupação estendeu-se a esta Casa e ao Con- de caráter deliberativo.
gresso Nacional, no qual, em menos de um ano, o nú- A lei, em que pesem algumas questões não
mero de projetos em tramitação saltou de um para dez. consensuais, representou um avanço importante, pois
Iniciava-se, assim, a grande discussão pela regulamen- fundamentalmente apontava para a extensão da co-
tação dos planos de saúde neste país, envolvendo os bertura assistencial, mediante o Plano Referência.
diversos segmentos da sociedade que se relacionam Essa questão é estratégica, pois foi ela que debitou
com o setor: operadoras de saúde, profissionais ligados credibilidade e apoio da opinião pública à lei aprova-
ao setor e usuários. da e não, como às vezes alguns setores tentam colo-
A mobilização atingiu áreas governamentais, le- car, como simples filigranas contratuais ou questões
vando à apresentação de projetos ao Congresso meramente financeiras.
Nacional do próprio Conselho Nacional de Saúde e, É compreensível, uma vez que a necessidade sen-
posteriormente, ao Ministério da Saúde. tida pela população é da cobertura assistencial, que,
Em 1998, é aprovado o projeto de governo na for- de uma forma sensata, vem buscando atendimento
ma da Lei 9.656. Logo em seguida, é editada medida integral à saúde. No entanto, poucos têm migrado para
provisória complementar, criando a Câmara de Saúde o Plano Referência, pois a maioria das operadoras,
Suplementar, com representantes dos diversos seg- quando oferecem esse produto, o colocam em preços
mentos envolvidos na prestação e consumo de serviço. praticamente proibitivos.
Aqui, eu gostaria de fazer o primeiro adendo. Essa Medidas restritivas, no entanto, foram criadas em
Câmara de Saúde Suplementar tem um caráter mera- diversas medidas provisórias e resoluções editadas
mente consultivo, o que já é extremamente questiona- pelo Consu, logo após a aprovação da Lei 9.656. A seg-
do por diversos setores. Acredito que mais grave ainda é mentação dos planos, o ambulatorial ou somente o
o fato de essa câmara, com caráter consultivo, não ser hospitalar, poderia ser um exemplo desse processo, ou
sequer paritária. Lamentamos o fato de que temas tão poderíamos colocar outras restrições, no que tange,
polêmicos, com interesses tão distintos, não tenham por exemplo, ao campo da governabilidade das urgên-
uma forma democrática de serem abordados. cias e emergências, ou na área da reprodução huma-
Se não bastasse isso, podemos notar que, no enca- na, ou, mais recentemente, na regulação das ditas
minhamento das questões, nos três anos de regula- doenças preexistentes, onde diversos procedimentos
mentação, muito se preocupou com a criação de nor- foram colocados em carências especiais, dificultan-
matizações muito claras, que envolvem a relação entre do o acesso da clientela.
usuário e operadora de saúde, esquecendo-se de um Muito pouco tem-se discutido sobre a proposta dos
terceiro vértice desse triângulo, que são os profissio- agravos dessas patologias. É fundamental salientar
nais de saúde, que também operam nesse sistema. que três tiveram extensão de cobertura: os transtor-
Uma série de relações conflituosas, pressões desmesu- nos mentais, as doenças infecciosas e os transplantes,
radas de algumas operadoras, com certeza, nada têm sendo que esses estão previstos apenas para rins e
feito para fazer avançar esse processo. Imaginamos córnea, mas, sem dúvida, foram avanços significativos.
que, no mínimo, temos de rever esse posicionamento Portanto, ao realizarmos o balanço desses treze anos
e também uma normatização que envolva médicos, de regulamentação de planos de saúde, podemos ob-
operadoras e usuários. servar, numa análise rápida, que houve movimento
Da mesma forma que a medida provisória comple- crescente de diminuição da cobertura estabelecida pela
mentar criava a Câmara de Saúde Suplementar, tam- Lei 9.656, principalmente se levarmos em consideração

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 57

a última malfadada Medida Provisória nº 2.177/43 – que democraticamente, quando retirou a medida provisó-
já foi retirada – e que previa subsegmentações, restri- ria, levando a discussão pública e transparente de
ções por área geográfica, sem contar o plano de acesso, pontos importantes nesse setor. Talvez me tenha fal-
que abria possibilidades infinitas de manipulação da tado a compreensão necessária para entender a
cobertura assistencial. proposta que, acredito, seja de governo, porque tenho
Vista sob esse prisma, a regulamentação parece nos uma grande admiração pelo ministro, principalmente
levar para o caminho inverso – a lei. Ou seja, partiu-se no que tange à sua avaliação econômica do processo.
de uma conquista – Plano Referência –, para se nor- Veja bem: quando colocamos planos, pela tendên-
matizar restrições e obstáculos existentes nos contra- cia de termos um plano mais barato para podermos
tos antigos, que tanto lutamos para poder superar. ampliar o acesso da população a esse plano, quando
Julgo extremamente importante estarmos fazen- colocamos claramente para que esse plano seja mais
do essa avaliação. Outro movimento se verifica no ce- barato, ele vai ter uma série de restrições: ele deverá
nário da regulamentação. ter subsegmentações e restrições geográficas. Com
certeza, nessas restrições ele não estará compreenden-
O Dr. Ésio Cordeiro do a alta complexidade.
Gostaria de solicitar que, por favor, se evitem conver- Esquecemos de fazer outra análise. Se estamos
sas paralelas, para não interromper o nosso orador. querendo aumentar o acesso, não podemos esquecer
que estamos diante de um processo em que está ha-
O Dr. Eleuses Vieira de Paiva vendo a migração de planos. Como foi colocado pelo
Outro movimento se verifica no cenário da regulamen- próprio Sr. Ministro, não tenho dúvida também de
tação, não explicitado aqui neste debate, mas muito que, muito bem desenvolvidas, as campanhas publi-
claro: o de diminuir a cobertura para procedimentos citárias da mídia, com certeza, farão uma grande
de alta complexidade, deixando os mais simples como gama de usuários emigrar para os planos relativamen-
obrigatórios para esse setor privado. Tal questão, sem te mais baratos, que oferecem uma sensação de
dúvida alguma, é conseqüência natural da Resolução cobertura, quando, na realidade, sabemos que a gran-
nº 42, dos procedimentos de alta complexidade em de cobertura, o projeto mais caro, não será coberto por
carências especiais – diante das ditas doenças preexis- esses planos. Se fizermos uma análise claramente
tentes – e da última medida provisória, ao permitir, econômica, veremos que o setor que antes era cober-
principalmente, restrições por área geográfica, onde o to pelo sistema privado de saúde será coberto, agora,
beneficiário teria acesso apenas aos procedimentos pelo Sistema Único de Saúde. O que é mais caro será
existentes na região, definidos pelo plano de saúde. coberto pelo SUS.
Essa questão, colegas, é fundamental neste mo- Como disse a nobre deputada, infelizmente, no
mento, pois jamais, neste país, foi discutida essa estra- momento em que estamos vivendo restrições de finan-
tégia dentro da política de saúde aqui adotada, ou ciamento no sistema público de saúde, talvez, com
seja, ampliar a faixa de cobertura dos planos de saúde medidas como essa, ainda vamos aumentar o gasto do
em procedimentos mais simplificados para determi- sistema público de saúde. Não estamos falando mais
nadas faixas da população, deixando os procedimen- nas restrições dos 30 milhões de usuários de plano de
tos mais complexos e caros para o pagamento do Siste- saúde, mas, sim, dos outros 120 milhões que precisam
ma Único de Saúde. ter um financiamento adequado para uma vida digna.
Prestei muita atenção numa fala extremamen- Assim, acredito que essa migração pode, sim, inte-
te competente do nosso Ministro José Serra, da qual ressar muito claramente a um setor muito pequeno da
acredito não ter o governo retrocedido, mas avançado sociedade, de empresários que têm na área mercantil

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


58 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

do lucro seu grande objetivo. Mas, com certeza, esse de fazê-lo sob o enfoque dos dilemas que hoje per-
não é o interesse de 160 milhões de brasileiros. meiam o modelo assistencial que é hegemônico em
Alguns países, com certeza, já adotaram políticas nosso país, que é um modelo que busca copiar o siste-
semelhantes. Resta saber se eles têm obtido bons resul- ma americano, embora sejamos um país pobre. O
tados, conseguindo aumentar o acesso e melhorando, sistema americano não deveria ser modelo nem sob o
sim – se houve –, os indicadores da saúde da popula- ponto de vista de custo, de financiamento, porque
ção. Os senhores, com certeza, já conhecem muito bem apresenta altos índices de recursos investidos – quase
as respostas e quem são esses países. três mil dólares per capita/ano – e nem também deve-
Por último, lembramos que o Brasil desenvolveu um ria ser copiado por conta dos indicadores de saúde dos
processo ímpar na construção do Sistema Único de norte-americanos que, mesmo despendendo tanto
Saúde, lastreado nos princípios de participação coleti- recurso com assistência, ainda têm 44 milhões de
va e de decisão democrática. Dessa maneira, acredito desassistidos: são o 19º país em mortalidade infantil e
que a discussão no setor privado, hoje, deve merecer, o 21º em expectativa de vida do homem adulto.
primeiro, a análise de conteúdo e também a análise Eu falava dos dilemas desse modelo assistencial.
de metodologia, para que não tenhamos um retroces- Talvez fosse interessante lembrar que o próprio finan-
so ainda maior. ciamento da saúde é o nosso grande dilema; aliás, é
As entidades médicas, órgãos de defesa do consu- um dilema mundial, já que países desenvolvidos e em
midor, de portadores de patologias e deficiências vêm desenvolvimento, setores públicos e privados, vivem às
lutando, nos últimos três anos, para manter a cober- voltas com problemas de financiamento de sistema de
tura assistencial conquistada na Lei 9.656 e, principal- saúde. O modelo da maior parte dos países é meramen-
mente, para que o debate seja público. Todos os seg- te um modelo de consumo de serviço de saúde que não
mentos envolvidos se fortalecem na tentativa de promove a qualidade dos indicadores de saúde da po-
encaminhar um projeto, um ponto de equilíbrio, e não pulação e mal dá resposta a episódios de doenças.
um ponto que beneficie apenas o setor. Se todos bus- As autogestões foram citadas aqui como um exem-
carmos o desenvolvimento, vamos encontrar uma plo positivo dentre as modalidades existentes no Brasil,
saída não só a um segmento, mas a toda a sociedade. mas também não conseguimos nos livrar dos dilemas
Muito obrigado. (Palmas) e quero mencionar alguns deles que caracterizam o
mercado de saúde no país, já que também nós com-
O Dr. Ésio Cordeiro pramos serviços e operamos no mercado de saúde
Muito obrigado, Dr. Eleuses, que aqui falou na qualida- estabelecido, intercambiando com prestadores, aten-
de de Presidente da AMB (Associação Médica Brasileira). dendo usuários, buscando oferecer uma assistência de
Passo a palavra ao Dr. José Diniz de Oliveira, Presi- qualidade melhor, mas também sujeita ao mercan-
dente do Ciefas que falará com base na visão das enti- tilismo que caracteriza o mercado, o que iremos
dades fechadas de previdência. mencionar aqui na próxima lâmina.
Para fazer um breve diagnóstico do nosso modelo
O Dr. José Diniz de Oliveira assistencial, devemos começar por apontar que é o
Boa tarde a todos. Agradeço, em nome do Ciefas, uma mercado que dita as regras. Isso quer dizer que hoje,
das entidades que representam as autogestões no país, de uma maneira geral, em saúde, no país, quem deter-
pela participação neste simpósio tão importante. mina a demanda não é necessariamente a
Seremos auxiliados por algumas transparências. necessidade do paciente, ou a patologia ou o agravo:
Ater-me-ei ao tema desta mesa, abordando um pouco é, quase sempre, a oferta do serviço de saúde. Além dis-
as coberturas e os modelos assistenciais. Eu gostaria so, temos, também de uma maneira geral, um sistema

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 59

de saúde em que há um laissez-faire na relação entre Essa pequena história ilustra alguns fatos interes-
o usuário e o prestador – isso, no setor supletivo da saú- ses. Primeiramente, percebemos, ao lê-la, uma relação
de, que é o objeto deste simpósio. utilitarista das pessoas com relação à assistência e ao
Uma outra questão interessante que caracteriza e mercado de saúde. Mais do que isso, ela evidencia, tam-
que é um dilema do nosso modelo assistencial é a for- bém, a imperfeição do mercado de saúde, como foi
mação médica. A universidade, hoje, dividiu a medicina mencionado, inclusive, na abertura deste congresso,
em especialidades e subespecialidades, o que, sem dú- pelo Ministro José Serra. O mercado de saúde é imper-
vida, não deixa de ser um avanço na história da medi- feito e o grau de informação entre o usuário e o
cina, mas também trouxe a perda da visão do todo, da paciente é desmesuradamente inferior em relação ao
visão do paciente, do doente, não apenas de um órgão do médico. Ele não tem sequer a condição de questio-
doente ou de uma doença. nar se vai comer ou não aquela refeição – e muito
Essa mesma medicina, dividida por especialidades, menos de saber se será boa ou não.
vem fortemente amparada em tecnologia. Hoje, subs- Mas a história também não deixa o financiador
tituímos a prática médica do exame clínico por diag- sem uma mensagem, porque, se pudéssemos tirar uma
nósticos cada vez mais apoiados por exames nem sem- conclusão, seria a de que é preciso despertar as consci-
pre resolutivos, mas quase sempre caros. Associado a ências de todos os atores do nosso modelo no sentido
isso tudo – até porque o nosso usuário também é re- de que cada um tem a sua responsabilidade pela qua-
fém de um marketing da área da saúde, mas não aque- lidade daquilo que lhe é oferecido – da assistência pres-
le marketing sanitário que poderia estar despertando tada –, mas também pelo financiamento e pelo custo
a consciência das pessoas no sentido de serem elas as desse sistema para que ele, de fato, possa perenizar e,
primeiras responsáveis pela manutenção de sua saú- sobretudo, agregar cada vez mais cidadãos.
de, de que elas é que deviam estar investindo no auto- Trago também um exemplo que nos ajudará a en-
cuidado, nos bons hábitos de vida – está a cultura que tender a questão da formação médica: essa frase do
ensina que o melhor é o um exame que acabou de sair, genial Millôr Fernandes, que ilustra bem a Medicina
é um novo tomógrafo, é um novo aparelho de resso- dividida em especialidades, quando diz que “um médi-
nância magnética ou um novo medicamento. A esse co leva a outro”. Por quê? Não são incomuns nossas
propósito, é importante mencionar que esse aparato informações de saúde, já que perdemos, infelizmente,
tecnológico também é triste, porque a medicina é a o médico – seja ele de ou da família – ou o clínico geral,
única área em que o avanço tecnológico não reduz que colecionava as nossas informações de saúde. Atu-
custos, como é do conhecimento de Vs. Exªs. almente, esses dados estão perdidos nos inúmeros
Na próxima transparência, vou-me permitir ler – prontuários dos vários consultórios que visitamos du-
talvez não seja visível para todos – uma história de 1994, rante a nossa vida. As nossas informações de saúde
retirada da revista do BNDES e mencionada por Elba deveriam ser o nosso bem mais importante, sobretudo
Cristina Lima Rego em um trabalho denominado “Um na hora em que padecemos de algum agravo.
jantar para três”, sobre política de regulação no mercado Uma terceira frase de um terceiro autor vai ajudar-
de medicamentos, em que cita Furnes: “O médico entra nos a compreender também o dilema relacionado ao
no restaurante, examina o cardápio, escolhe a comida e caráter tecnológico: “Quando o doutor escreve a receita,
vai embora. Em seguida, entra o paciente, senta-se à mesa olha-nos uma última vez para ver se põe um remédio dos
e come a refeição que ele não pediu e que não tem inten- caros ou dos baratos”. Essa frase é de Ramon Gomes de
ção de pagar. Após terminar de comer, tendo gostado ou Lacerna, que morreu em 1963. Não quero, de maneira
não, levanta-se e vai embora. Entra, então, o financiador e nenhuma, fazer críticas à categoria médica. Ainda
paga pela comida que ele não pediu nem comeu”. acredito, obviamente, que o médico é o principal ator

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


60 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

do nosso sistema. Entretanto, ele também é o deman- Concluindo, tecerei algumas considerações a respei-
dador de custos e precisa ter a consciência do seu papel, to de coberturas. Não há dúvida de que o ideal seria que
exercendo-o com a responsabilidade que lhe é devida. as coberturas caminhassem no sentido de ser cada vez
Em grande parte dos casos, não levamos exatamen- mais universais. As autogestões costumam oferecer
te em conta a gravidade da patologia para designarmos uma cobertura ampla. De maneira geral, não limitam
que tipo de medicamento ou de exame reivindicamos. idade nem excluem patologias. Portanto, elas foram
Muitas vezes, essa situação é definida pela condição pouco atingidas pela Lei nº 9.656, quando do seu surgi-
social do paciente ou mesmo pelo tipo do plano que ele mento, que, sem dúvida nenhuma, representou um
porventura tenha, ou seja, pela cor da sua carteirinha. avanço no mercado, notadamente selvagem, na rela-
Essa é uma questão problemática que não é só da res- ção entre usuários e prestadores – evidentemente, com
ponsabilidade dos médicos, mas também de todo o as honrosas exceções e as devidas ressalvas.
sistema. De qualquer modo, se alguém não gostou, essa Entretanto, também somos atingidos não apenas
frase não é minha. É do Ramon Gomez de Lacerna. pela criação e regulamentação da agência, que tam-
Não vim aqui exatamente para criticar nenhum bém deve ser saudada, mas pelo fato de que, se hoje
dos atores, porque acredito que todos temos respon- percebermos que operadoras, representações de usu-
sabilidade na solução desse dilema, que é o modelo ários, prestadores e usuários estão insatisfeitos,
existencial que vigora no País. No entanto, também é estamos de fato diante da crise do sistema, isto é, do
preciso que tratemos de frente as questões, não faça- modelo. Assim, todos devemos assumir nossa parte na
mos de conta que os problemas não existem, voltando responsabilidade de solução dessa crise.
do simpósio para casa com a sensação de dever cum- Este momento não é de embate – peço perdão se,
prido mas sem termos enfrentado, como disse com meus exemplos, acabei provocando alguma
anteriormente, as questões que nos combalem. suscetibilidade –, mas de cooperação. As posturas devem
Trarei também – talvez não seja tão visível – um ser mais de proposição do que de reivindicação. Cabe às
exemplo que pode elucidar a questão da cultura do operadoras, de modo geral – inclusive às autogestões –
usuário: um quadrinho do genial cartunista Laerte, pu- profissionalizar sua gestão, investir em tecnologia de in-
blicado na Folha de S.Paulo. Talvez não seja possível formação – em banco de dados precisos – não apenas
entender o texto, mas tentarei traduzi-lo. No primeiro com relação a custo, buscando também a preocupação
quadrinho, Deus está chegando a um posto de saúde de conhecer o perfil de modus mortalidade da popula-
em cuja porta está escrito: “Não temos médico”. Ele troca ção que assistem. É necessário haver cada vez mais ética
o cartaz, põe “Temos médico” e a primeira pessoa da fila na relação, responsabilização pelo nível de saúde da
pergunta: “Vai atender ou não vai?” Ele pergunta o nome, população assistida e, ainda, por parte das operadoras,
a pessoa responde e Ele fala: “Pode se levantar e partir”. tanto ou mais atenção aos indicadores de saúde da po-
Essa pessoa está numa cadeira de rodas. Ele acabou de pulação que assistem como devotam aos indicadores
fazer um milagre, a pessoa sai e alguém pergunta: “Que econômicos ou financeiros.
tal o doutor?”. A pessoa, então, reclama, dizendo que Ele Para as representações médicas, creio que elas não
não mediu a pressão, não deu um remédio nem passou deveriam perder-se em reivindicações meramente cor-
uma receita. Essa história ilustra, de maneira bem porativistas. Elas têm um papel importantíssimo, inclu-
humorada, a cultura do usuário e o fenômeno da tercei- sive em redobrar o empenho na qualidade do ensino
rização do cuidado e da medicalização da sociedade. médio do País, a proliferação desenfreada de faculdades
Não é incomum, quando um médico deixa de pedir um de Medicina, que sei que é uma bandeira das represen-
exame ou de receitar um medicamento, o usuário não tações médicas.
se sentir consultado de fato. Temo que algumas delas tentem, no desespero de

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 61

defender suas causas, legislar, emitindo resoluções que coberturas, mas é preciso que estejamos atentos para
afetem as relações contratuais no mercado. Creio que gerenciar os cuidados e alocar os recursos adequados
não é um bom caminho o das representações médicas. de acordo com a complexidade dos agravos a fim de
Nós, operadores – é necessário dizer ainda que seja evitar desperdícios, notórios também na área da saú-
polêmico – nos ressentimos muito com a autogestão de. É passada a hora de revermos o modelo assistencial,
de algumas cooperativas de especialidades médicas sob pena de assistirmos à asfixia dos financiadores e
que não são a configuração mais concreta de cartel no sob pena de contarmos com um sistema cada vez mais
País. Aliás, conclamamos inclusive as entidades de atendendo menos pessoas.
autogestão, o Cade e a própria Agência de Saúde, a Muito obrigado. (Palmas)
despenderem atenção a esse tipo de organização.
Creio também que as representações médicas têm O Dr. Ésio Cordeiro
a responsabilidade de combater a medicina mercanti- Muito obrigado, Dr. Diniz. Realmente, nosso cardápio
lista. Os órgãos de representação de defesa do consu- de temas em relação à cobertura e modelos assis-
midor muitas vezes empunham bandeiras de maneira tenciais está sendo enriquecido na visão de usuários,
crítica, como no caso do credenciamento universal. E médicos e provedores de serviços. Agora é a vez de ou-
nós, das autogestões, somos frontalmente contra essa virmos a Agência Nacional de Saúde Suplementar,
prática. Já vi alguns órgãos de defesa do consumidor representada pelo Dr. João Luis Barroca Andréa, que
defendendo o credenciamento universal, e por conta falará sobre a visão da agência. De imediato, lembro
do mercado imperfeito, por conta da responsabilização àqueles que tiverem perguntas a fazer, que poderão
das operadoras em cima do ato médico, é indefensável encaminhá-las por escrito, de acordo com a orienta-
essa bandeira. Pois pode ser a defesa não exatamente ção recebida no início dos trabalhos. A Mesa seguinte,
de um benefício para os usuários. As representações de em conjunto com a atual, dará conta das respostas
defesa do consumidor devem estar atentas e unir-se tanto da atual quanto da seguinte, que versará sobre
às operadoras, quando vítimas de lockout provocados a questão da fiscalização e defesa do consumidor e di-
sobretudo por entidades hospitalares, como tem ocor- reitos da saúde. Mas podem já encaminhar as suas
rido em várias capitais do País. perguntas. Os participantes desta Mesa e da próxima
Quanto à Agência Nacional de Saúde, ao ampliar serão convidados, então, a responder às perguntas en-
coberturas, como ocorreu em alguns casos de edições caminhadas por escrito pelo plenário.
de medidas provisórias, é preciso avaliar o impacto da Dr. Barroca, por favor.
ampliação dessas coberturas, pois provocam efeitos
sobre planos já contratados. A agência, como grande O Dr. João Luis Barroca de Andréa
reguladora do mercado, não pode negligenciar aten- Muito boa tarde. Antes de mais nada, eu gostaria de
ção nos casos já mencionados aqui de interrupção de fazer um agradecimento pelo convite e de saudar os
atendimento aos associados não provocada por ope- nossos amigos da Mesa, em particular o meu profes-
radoras, mas pelas prestadoras de serviços, como no sor, Ésio Cordeiro. Observo que é absolutamente fun-
caso dos hospitais. damental a composição desta Mesa, que eu respeito
Enfim, as relações nesse mercado tão complexo e muito, com esse nível de debate e essa complexi-
tão importante, que é o da saúde, não podem evoluir dade do tema. Acredito, sinceramente, no início de
para uma guerra. Certamente, poderá não haver ven- novos tempos.
cedores, mas os perdedores já foram escolhidos, e não Estão sendo colocados, hoje, vários temas importan-
há dúvida de que são os consumidores, os usuários. Não tíssimos, que merecerão estudos prolongados, debates
há defesa para qualquer tipo de assistência que limite desapaixonados, por vezes, ou técnicos, outras vezes.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


62 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

Penso que os senhores já viram um pouco desse e, no outro, há uma alta responsabilidade do gestor de
papel da agência, pelas manifestações feitas somente cuidado. Esse modelo tecnológico é a espiral de alto
nesta Mesa. E, não considerando que amanhã também custo, e o humanista tende a ser um custo adequado
estarei na Mesa de Preços, exatamente estou privile- ao cuidado efetivo da necessidade em saúde. Um é ca-
giado pelo conflito. Só que sou um otimista. Acredito racterizado por um trabalho médico isolado com muito
que esse conflito tem saída, tem chance de mudança, maquinário, e o outro necessita que se faça um traba-
na medida em que acredito num processo de discus- lho em equipe de saúde. Aliás, não se está falando de
são racional e amplo. um médico criador, está-se falando de um trabalho em
Quero dizer, logo de início, que é uma honra estar equipe para a assistência à saúde. Basicamente, mui-
nesta Casa, fazendo este debate. Eu já vim ao Senado to esquematicamente, um está fundamentado na
algumas vezes. É uma honra discutir esse assunto nes- lógica da oferta e da demanda.
te fórum, que é mais democrático, para que possamos Outro dia, assisti ao presidente de um conselho di-
fazer essas discussões e aprofundar este debate, que, zer que, em Brasília, há um médico para 300 habitantes.
insisto, não tem ponto simples. Para este tema, penso Certamente, não é uma afirmação razoável. Em qual-
que vamos falar de coberturas e modelos assistenciais. quer lógica de programação, há uma geração dema-
Peço desculpas, mas voltarei um pouco ao lado siada, por excesso de oferta e de demanda. No outro
acadêmico, explicando, afinal de contas, o que são caso, há lógica, porque ainda é um modelo de vir a ser
modelos assistenciais. Muita gente já me perguntou: da necessidade.
“Afinal, de que se trata modelos assistenciais? É ter mui- A ANS pretende possibilitar mais opções para o con-
to plano? É ter pouco plano? É ter um plano só?” Vamos sumidor. É uma coisa importante que defendemos e
começar, então. que não existe na área da saúde – isso foi dito pelo
Os modelos assistenciais são formas específicas de ministro na parte da manhã. Aqui não existe mercado
organização e de articulação entre os recursos físicos, livre, não pode existir mercado livre, porque ele não é
tecnológicos e humanos, para enfrentar e resolver os concorrencial. Mas pode existir livre mercado, e tem
problemas de saúde existentes em uma coletividade. que existir livre mercado, na medida em que estamos
Por coletividade pode-se entender, no mercado de as- falando em mercado privado, que vai dar alternativas
sistência pública, uma determinada municipalidade, ao consumidor, alternativas responsáveis, independen-
por exemplo, ou se pode entender uma determinada temente do modelo utilizado para conformar esse
empresa que é atendida por uma operadora, ou uma plano e impedir que esse consumidor seja prejudica-
determinada carteira de usuários individuais. do. A ANS quer garantir que o consumidor receba,
No slide seguinte, eu fiz uma polarização. Esses são efetivamente, aquilo que contratou e que haja a rea-
conceitos que vêm sendo discutidos na saúde brasilei- lização das boas práticas assistenciais – aquilo que
ra há muitos anos. Não há uma novidade, não há um vimos discutindo desde o início, aliás, o grande móvel
sentido maniqueísta; há dois tipos clássicos de mode- que fez com que a agência tenha nascido sob a égide
lo assistencial: aquele tecnológico, em que o proce- do Ministério da Saúde. São as garantias assistenciais,
dimento é centrado, e aquele humanista, em que o afinal de contas.
usuário é centrado. Um é centrado em práticas curati- O próximo, por favor.
vas; outro incorpora práticas de prevenção e promoção. Fiz questão até de repetir a missão da agência. Por-
Um leva, naturalmente, à fragmentação da linha do que, de vez em quando, há pessoas que dizem assim:
cuidado e, no outro, a linha do cuidado é contínua. Um “A agência não tem que se meter nesse negócio de saú-
possui uma baixa responsabilidade do gestor de cui- de; tem que falar só de solvência e de contratos”.
dado – no nosso caso, estamos falando de operadora – Isso não é verdade. Nossa missão institucional nos

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 63

impõe falar de modelos assistenciais, sobre a linha de comparação entre planos oferecidos; comparabilidade;
cuidados. Então, fiz questão de lembrar isso, que todos existência de seleção de risco; impedimento de sele-
conhecemos, para dizer que não é uma missão estra- ção de risco. Temos, aqui, de dar uma paradinha.
nha à agência ou que não esteja sendo colocada. É Isso é um avanço único no mundo. O mundo intei-
parte do modelo de regulação brasileira. Aliás, só lem- ro escolhe, na área dos planos e na de seguros, quais os
brando, em janeiro tive a felicidade de ser convidado pacientes que vão ser cobertos ou não. O legislador
para o II Congresso Paulista de Política Médica e tomei brasileiro entendeu que isso não era possível. Quais os
esse compromisso naquele mês, de que este ano iría- mecanismos de equilíbrio encontrados e discutidos? A
mos falar em garantia assistencial. Então, hoje vamos cobertura parcial temporária e os mecanismos de agra-
ver, ao longo dessa rápida apresentação, que estamos vo. Isso, porque podemos achar que é uma coisa absolu-
começando efetivamente a falar. tamente tranqüila. Não, não é.
A seguir, por favor. Exclusão de doenças, proibida a exclusão de doen-
Essa proposta do simpósio é de realizar esse balan- ças; limitação de dias de internação e número de
ço. Vou tentar fazer isso. Vou dividir em três temas. Esse procedimentos, proibição da limitação de dias de
tema que todos estamos discutindo nesta Mesa dá internação e número de procedimentos.
dois, três, quatro, cinco dias – e vai ter que dar – de dis- Adiante. Em relação aos desafios, o que está acon-
cussão. Aliás, uma das melhores semanas que se teve tecendo hoje? Temos visto, temos notícia – tem chega-
no avanço da regulamentação foi em outubro de 1998, do à fiscalização e temos atuado com base nisso – de
quando a Câmara de Saúde Suplementar passou uma vendas de produtos de livro – conforme estou chaman-
semana inteira reunida. Uma semana inteirinha reu- do; estava tentando fugir da rede – como mecanismo
nida, o que foi extremamente oportuno. Então, fazer de restrição de acesso. É implícito que o consumidor
o proposto, ou seja, esse balanço com base nesses três absolutamente não entende o que é uma porta de en-
temas – e não vou fugir ao debate: cobertura, segmen- trada, ou uma hierarquização, ou um direcionamento.
tação e práticas assistenciais. Antes e depois da lei de Então, qual era nossa proposta? Aumentar a clareza
regulamentação, quais os desafios hoje e o que estamos desse tipo de contrato, desse tipo de mecanismo de re-
propondo para cada bloco, para início de discussão. gulação de uso, para que ele seja um mecanismo de
A seguir. Estou correndo feito um desesperado aqui. regulação de uso, e não um fator de restrição de acesso.
Não sei se está dando para entender, porque ele aqui É importante dizer que não inventamos isso agora. Está
já disse que vai ser absolutamente rígido no tempo. na Lei nº 9.961, art. 4º, inciso VII, e também já estava na
Em relação às coberturas, a situação antes da lei. Lei nº 9.956. O que queremos – e é compromisso da
É importante lembrarmos que não conseguimos, agência – é trazer à luz esse tipo de plano que hoje o
muitas vezes, vislumbrar o que acontecia antes. Vamos consumidor compra e está, de certa forma, desprotegido.
resgatar a história, que é importante nesse sentido. Em relação à segmentação, queria fazer uma rápi-
Antes da lei, a discussão era restrita à sustentabilidade da passagem em um ponto que, pelo que sei, nenhum
econômica. Incorporam-se os aspectos assistenciais dos estados dos Estados Unidos possui, que é a chama-
depois da lei. da regulação de produtos: “... anteriores à legislação,
Nenhum referencial de cobertura mínima. Há co- excluídas doenças crônicas ou mesmo casos crônicos”.
bertura mínima obrigatória vinculada a um rol de Vários daqueles 21 milhões de contratos apresentam
procedimentos na agência. essa exclusão exótica de algo que não consigo enten-
Possibilidade de qualquer conformação de planos; der, que é o chamado caso crônico. Limita procedi-
padronização assistencial dos planos ambulatorial, mentos, há alegação de doença e lesão preexistentes
hospitalar, com e sem obstetrícia; dificuldade para ad aeternum, sem comparabilidade.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


64 Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais

O substitutivo de Lei da Câmara, que saiu daqui em que fez um senador me telefonar para perguntar se
1997 ou 1998 e veio ao Senado, institui apenas o Plano podia produto só de maternidade. Respondi que não. É
Referência, mas mantém as determinadas condições um produto que tem que ser, hoje, hospitalar com obs-
de mercado. A Lei nº 9.656 regulamenta, mantém o tetrícia. Agora, o mercado está sugerindo produto por
Plano Referência, estabelece segmentos, vincula seg- patologia? Sim. Está sugerindo produto com exclusão
mentação ao rol de procedimentos. Isso é importan- de patologia? Sim, mantendo apenas o Plano Referên-
tíssimo e não existia. Antes, o consumidor comprava cia. Isso significa voltar a 1997, 1998.
um plano de saúde e, três anos depois, por exemplo, A nossa proposta – mostrada de forma a ser discuti-
diziam a ele que houve mudança de tabela e esse novo da agora, e não vou voltar a esse ponto, após ampla
procedimento não estava incluído em sua tabela. A discussão – é a seguinte: podem aprovar novas segmen-
agência tem como obrigação manter atualizado esse tações, segundo os seguintes princípios: manter a vincu-
rol – não permite exclusão de doença nem limitação de lação de um segmento – não é aprovar um plano – a um
quantidade e define e estabelece regras para doença rol de procedimentos que mantenha a comparabilidade
ou lesão preexistente, partindo do seguinte princípio – – é fundamental para o consumidor poder comparar –,
que pode até ser mudado, caso mude o marco legal: pla- não permitindo limitação de quantidade, nem fazer pro-
no de seguro não é tratamento, não é financiamento duto por patologia, nem excluir patologia.
de tratamentos em curso. Então, cobre eventos “em ser”. Precisamos de uma política de incentivo à adapta-
Nosso desafio é o seguinte: 74% dos segurados têm ção, sim, e só depois poderemos discutir essa tal
esse plano. Não é um plano segmentado, não; é aque- subsegmentação; mas que se mantenha o Plano Re-
le pior dos mundos, aquele de antes de 1997, com todas ferência como opção obrigatória.
aquelas cláusulas absurdas e incompreensíveis. Esse, E, nesse ponto, volto a falar de livre mercado, onde
sim, é o nosso desafio. nosso grande desafio é integrar com o SUS. Escutei
Apenas para lembrar às Vs. Exªs, a Câmara dos De- hoje de manhã, creio, alguém dizer como se fosse uma
putados tem propostas de aprovação por produtos sem condenação “vai parar no SUS”. Ninguém pode con-
vinculação à segmentação predefinida. É muito dife- cordar com isso. Trata-se de um plano que atende 120
rente aprovar um produto de aprovar uma segmenta- milhões de brasileiros e que tem deficiências orça-
ção. Isso significa eu chegar na agência e bater à porta, mentárias e de gestão.
dizendo: tenho um plano hospitalar que dá direito a O que é regular produtos? É ter o Plano Referên-
três ressonâncias por ano, e quero registrar esse pro- cia, é manter a padronização e fazer o acompa-
duto. Há propostas assim, propostas que não vinculam nhamento, segmentos vinculados a rol atualizado.
um produto a um rol de procedimentos atualizável; há Pessoas há que não gostam que façamos o rol, mas é
propostas de produtos com limitação de quantidade. obrigação. E o rol deve ser discutido com toda a socie-
Recebi diversas pessoas dizendo que havia planos esti- dade, como fizemos. Toda a trajetória foi feita com
pulando o direito a 60 consultas por ano e questionando discussão do rol e assinatura de todos. Temos que atu-
quem precisaria de todas essas consultas. Então, acha- alizar? Sim. Temos que fazer convênios com entidades
vam que 60 consultas era um bom número; outros científicas para nos ajudarem nisso? Claro, e vincula-
pensavam em 50; outros, em 40; outros, até mesmo em dos a um rol, sem limite de doenças e sem limite de
30. E perguntavam-me se podia ser assim. quantidade. São princípios que a ANS está propondo
Então, o conceito é fundamental. Esse é um con- para abrir a discussão. Vamos lembrar que somente
ceito usado no mundo todo: a limitação de quantidade. 77 municípios no Brasil, dos 5.500 – e não estou fa-
E o produto, por patologia... Aliás, deixe-me esclarecer: zendo proposta – têm, ao mesmo tempo, pelo menos
estou até escrevendo, porque outro dia vi na mídia algo um serviço de radioterapia, um de quimioterapia, um

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa 2 – Cobertura e modelos assistenciais 65

de TRS, um de ressonância, um de cintilografia e um lidade Materna, em que fomos chamados à responsa-


de cirurgia cardíaca. São 77 de 5.500. Imaginem! bilidade de construir um acompanhamento dos índices
O que estamos propondo? Estudos sobre os servi- de mortalidade materna. Essa resolução está aprovada
ços existentes e discussão com os diversos setores. pela agência. Alguns dados, os de custo, começam a ser
Aliás, novamente, a agência já poderia ter subsegmen- cobrados só em janeiro, para dar tempo para as opera-
tado. Pessoas já nos criticaram. “Se está na Lei nº 9.961, doras, com sua rede prestadora, levantar dados.
por que não fizeram?” Não fizemos por entender que Em relação aos desafios, existe hoje baixa
tinha que ser discutido. Tenho previsão legal, hoje, para contratualização, que, aliás, – sei por ser médico – há
fazer, mas deve-se discutir. Já existe essa previsão des- muito colega que recebia e aceitava folhinha de con-
de janeiro deste ano. trato e devolvia. Está na hora de aumentar o nível de
Práticas assistenciais: a inexistência, antes da lei, de contratualização, Dr. Barroca, e precisava de tempo
um órgão regulador; que passa a ser o Desas, vinculado suficiente para elucidar e trazer as posições da ANS.
à SAS e à agência, para regular questões assistenciais. Isso também motivou um grande número de pergun-
Inexistência de informações: é dramático isso. A tas. Acumularam-se algumas perguntas da mesa
agência vem brigando há um ano e meio para conse- anterior. Vamos tratar dessas questões logo em segui-
guir informação. Por incrível que pareça, há empresas da à Mesa sobre Defesa do Consumidor, Fiscalização e
que entram na Justiça contra a Coordenação de Infor- Direito à Saúde. Portanto, eu pediria aos participantes
mação e Saúde, para não mandar o cadastro do indi- dessa Mesa que permanecessem no plenário. Vamos
víduo ao coordenador – e há um médico responsável constituir a Mesa subseqüente. Depois dessa Mesa,
por garantir o sigilo da informação. Isso para vermos serão respondidas as perguntas encaminhadas. É um
de que dificuldade estamos falando: implantação des- número bastante considerável e bastante intensas e
se cadastro, do coordenador médico e do sistema de provocativas no sentido de estimular o debate.
informação de produtos, o qual já estou fechando. É a Nesse sentido, foi um sucesso a apresentação que
grande novidade aprovada pela diretoria colegiada. todos desenvolveram ao longo dessa parte dos traba-
Sinto-me muito feliz nesta Casa em dizer que estamos lhos. Muito obrigado. Em cinco minutos, começaremos
honrando um compromisso assumido na CPI da Morta- com a composição da outra Mesa.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


67

Mesa 3
Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

Coordenador
Profa. Lígia Bahia

Componentes
Procurador Adalberto de Souza Pascoaloto
Dr. Edson Oliveira
Sr. Cláudio Chiatuzzi
Sra. Maria Stella Gregori

O Dr. Ésio Cordeiro A Dra. Lígia Bahia


Agradeço a presença de todos e peço desculpas, por- Boa tarde. Vamos dar início à Mesa. Estamos tentando
que, infelizmente, não teremos intervalo. Devido ao preservar o espaço do debate de alguma maneira. En-
atraso na abertura da programação, vamos iniciar uma tão, a nossa idéia é que esta Mesa cumpra o horário
Mesa imediatamente em seguida à outra. determinado, para que ainda no dia de hoje possamos
Faço a chamada dos componentes da Mesa 3 – Fis- ter uma sessão de respostas às perguntas formuladas,
calização, Defesa do Consumidor e Direito à Saúde. que são importantes e interessantes, e devem ser res-
Procurador Adalberto de Souza Pasqualloto, represen- pondidas, na medida do possível.
tando o Instituto Brasileiro do Consumidor, Brasilcom; Gostaria de passar a palavra imediatamente ao Dr.
Presidente do Conselho Federal de Medicina, Dr. Edson Adalberto Pasqualotto, representante do BrasilCom.
Oliveira; representando a Associação Brasileira de Ser-
viços Próprios das Empresas – Abraspe, Cláudio Chituzzi; O Dr. Adalberto Pasqualotto
representante da Agência Nacional de Saúde Suple- Sra. Coordenadora, ilustres colegas da Mesa, senhoras
mentar, Diretora de Fiscalização da ANS, Maria Stella e senhores. Eu gostaria, inicialmente, de manifestar
Gregori. O coordenador da Mesa será o Deputado Fe- que me encontro nesta Mesa por delegação do Presi-
deral Henrique Fontana. dente do BrasilCom, aqui presente, Dr. João Batista de
Como o Deputado Henrique Fontana não está pre- Almeida, e me honra muito estar representando o Ins-
sente, a Professora Lígia Bahia, da Associação Brasileira tituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor,
de Saúde Coletiva, coordenará esta Mesa. antes de mais nada, em razão da tradição que tem o
Agradeço a compreensão de todos. As perguntas se- BrasilCom frente à política de defesa do consumidor
rão respondidas após a explanação pelos integrantes no Brasil, uma vez que o próprio Código de Defesa do
das duas Mesas. Consumidor nasceu, de certa forma, de um grupo de

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


68 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

colegas do BrasilCom, que, à época, e ainda hoje, boa fé e boa vontade, não posso me furtar a trazer as
pertencentes especialmente ao Ministério Público de minhas perplexidades e, eventualmente, a manifestar
São Paulo, integraram a equipe que redigiu o ante- algumas opiniões.
projeto que acabou se transformando no Código de Eu gostaria, então, de aproveitar esses poucos mi-
Defesa do Consumidor. nutos que tenho, que já são 12 ou 13. Faço um parêntese
Essa matéria vincula-se à defesa do consumidor, e para pedir desculpas antecipadamente porque vou ter
o BrasilCom é uma instituição que, desde o primeiro que me ausentar logo em seguida, talvez sem esperar
momento, se tem feito presente aos debates relativos a participação dos demais colegas de Mesa. Lamenta-
à assistência privada à saúde, no Brasil. velmente, em face do atraso da programação, terei que
Assim, sinto-me honrado porque não falo exclusi- ir diretamente ao aeroporto, pois meu vôo de retorno
vamente por mim, mas também por essa tradição do a Porto Alegre é às 19 horas.
BrasilCom na matéria. Por outro lado, sinto-me talvez Tentarei aproveitar esse período de tempo centrando
como a Dra. Lynn, que, na mesa anterior, manifestou minhas observações em dois pontos que me parecem
no sentido de que talvez nos sintamos analfabetos ou fundamentais. O primeiro diz respeito à volubilidade
em dúvida sobre se somos efetivamente alfabetiza- da legislação e o segundo, ao desgaste da credibilidade
dos, em função das dúvidas que emergem das da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
modificações que se vêm processando, mês a mês, na Para tentar demonstrar o que quero dizer com es-
legislação dessa matéria. sas duas premissas, gostaria de estabelecer um
Eu venho trazer algumas dessas dúvidas. Venho contraponto entre alguns aspectos que considero po-
compartilhar, talvez, com os presentes algumas per- lêmicos na edição da Medida Provisória nº 2.177, em sua
plexidades. Mas gostaria de dizer que aquilo que vou edição de nº 43 do mês de julho, com a versão de nº 44,
manifestar e que evidentemente carregará um con- em vigor desde o dia 24.
teúdo crítico bem marcado e bem acentuado não vai Quais são os pontos polêmicos na medida provisó-
em demérito, em nenhum mau juízo a pessoas que ria correspondente à edição de nº 43? A adaptação dos
nem sequer conheço e que, aliás, prezaria muito co- contratos antigos, prevista no art. 35-L, e no art. 35, § 9º.
nhecer, porque teria a oportunidade de trocar idéias Segundo: a subsegmentação; a mobilidade de bene-
no sentido construtivo. Não é outro o objetivo da mi- ficiários de um plano para outro; a hierarquização do
nha intervenção. atendimento, com a instituição não denominada, mas
Aliás, no livro “Saúde e Responsabilidade”, editado flagrante, do chamado médico-porteiro e a regiona-
pelo BrasilCom com a Revista dos Tribunais, em um lização do atendimento. Dentre outros, parece-me que
texto que escrevi, o título da matéria fala exatamen- esses eram os problemas cruciais, os mais importantes.
te de uma possibilidade de interpretação construtiva Quais eram os problemas desses pontos? Fiquei me
da Lei nº 9.656. Também partilho, portanto, da boa von- perguntando, quando vi a medida provisória: por que
tade de todos que gostariam de construir um sistema reabrir o prazo de adaptação de contratos antigos?
adequado à assistência privada no Brasil, e atribuo, Vejam bem, a Lei nº 9.656 tinha estabelecido um pra-
como não poderia negar a qualquer pessoa, a boa fé zo, que se esgotou. Se sou um contratante de plano,
nas atividades de todos aqueles engajados, especial- se tenho um plano de saúde, a qualquer momento,
mente na Agência Nacional de Saúde Suplementar e evidentemente, posso procurar o operador do meu pla-
que, de uma forma ou outra, tem responsabilidades na no e dizer que quero passar para um plano novo. O
condução desse processo. operador, certamente, irá negociar imediatamente o
Não obstante isso, não obstante imaginar e reco- plano novo porque é mais caro.
nhecer que essas pessoas estejam trabalhando com Então, para que dar uma nova oportunidade para

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 69

fazer-se o que pode ser feito a qualquer momento li- no projeto de regulamentação que estava submetido à
vremente? O que está por trás disso? Ora, pareceu-me consulta pública pela ANS, a empresa deveria oferecer
muito simples. Há uma disputa, desde o começo da lei, esse plano, dizendo necessariamente que o fazia por
entre cooperativas, seguradoras e planos de pré-paga- indicação da Agência Nacional de Saúde. Evidentemen-
mento. Inicialmente, as cooperativas diziam que a lei te que o segurado, recebendo isso em casa, fica com-
só interessava às seguradoras, antes de sua aprovação, pletamente vulnerável porque pensa tratar-se de uma
em junho de 98. Depois, as seguradoras passaram a di- orientação oficial e que, portanto, a mudança de plano
zer que a lei não lhes interessava, que estavam sendo é obrigatória. Isso me parece que desgasta a credi-
prejudicadas. Acabaram sendo, de uma certa maneira, bilidade da Agência Nacional de Saúde porque ela acaba
alijadas da lei, até que foi criada a seguradora especi- fazendo o jogo das seguradoras. Não estou dizendo que
alizada em seguros de saúde pela Lei nº 10.185, que deu o segurado não possa mudar de plano. Que ele o faça
um prazo, até o dia 1º de julho deste ano, para que elas livremente! Para que mudar a lei, contribuindo com isso
se adaptassem e se transformassem, por meio de cisão que chamei de volubilidade da legislação?
ou de modificação de seu objeto social, em segura- Essa volubilidade da legislação está presente tam-
doras especializadas. bém na possibilidade de subsegmentação, que foi
O que aconteceu? Essas empresas tiveram que se mencionada antes aqui pelo ilustre representante da
transformar e não carregaram consigo, para os novos Agência Nacional de Saúde na mesa anterior. Ele alu-
planos, aquele imenso volume de segurados antigos. diu à lei que criou a agência para dizer que a possi-
Vimos hoje, aqui, que 75% dos beneficiários de planos bilidade de subsegmentação já está lá efetivamente.
estão vinculados a planos antigos. Mas, convenhamos, isso se faz como solapa na Lei nº
As seguradoras, certamente, têm interesse de tra- 9.656, que é de organização, não é de conduta! Qual o
zer esses segurados para planos novos porque estes consumidor que vai consultar? Qual o especialista, sal-
são muito mais caros. Há um dado extremamente re- vo um ou outro, que vai consultar a Lei de Organização
levante: o seguro-saúde cresceu de 5% para 25% nos da Agência Nacional de Saúde para encontrar regras
anos 90, segundo dados da Federação Nacional dos de conduta, de conteúdo contratual dos planos?
Corredores de Seguros, batendo o seguro de vida e o Então há realmente uma volubilidade voluntária, de
seguro de automóveis. caso pensado, parece-me, com alguma intenção. Ao
Possivelmente, os segurados, em sua maioria – e examinar a Medida nº 44, surpreendi-me com outras
hoje fiquei com o dado que me faltava – não fizeram situações para as quais não encontro resposta. Por
a opção para o Plano Referência no prazo dado pela exemplo, foi deletada da medida provisória a disposição
Lei nº 9.656. do art.19 da Lei nº 9.961, a Lei de Organização, da ANS,
A oportunidade oferecida agora às seguradoras car- que definia os sujeitos passivos da taxa de saúde. Então
rega em si uma flagrante desconsideração do princípio pergunto: essas empresas não vão mais pagar a taxa de
básico que orienta a política nacional das relações de saúde? O que aconteceu com a taxa de saúde? Ouvi re-
consumo, qual seja, a vulnerabilidade. Por quê? Ora, há clamações por parte das seguradoras, que achavam que
uma cooptação estatal... (Orador interrompido) a taxa de saúde era um ônus excessivo. Seriam compen-
Pois não! Desculpe, mas estou com 10 minutos, e sadas, digamos assim, pela migração de contratantes
me faltam 5. Muito obrigado! Vou usar os meus 5 mi- antigos para os planos novos, o que acarretaria um con-
nutos. Estou bem vulnerável hoje porque quase não siderável aumento de receita. Esse aumento de receita
consegui falar. Vou descontar esses 30 segundos. não foi possível em razão da grita geral.
Vejam bem, se vocês prestarem atenção não só nas Então o que se faz? Não se cobra a taxa de saúde. É
disposições da Medida Provisória nº 43, mas também isso ou entendi mal? É possível que tenha entendido

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


70 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

mal. Volto a dizer que admito a boa fé e a boa vontade ao indivíduo enfermo. Nesse cenário passamos a ter
das pessoas que estão trabalhando nisso, mas sincera- uma expectativa de vida de 70 anos. Embora a Medici-
mente não estou entendendo. É possível eu que esteja na tenha historicamente se comportado através dos
entendendo mal. É possível, como disse a Dra. Lynn, que tempos ouvindo a experiência popular – vejam aí o
eu também seja analfabeto. Com a pressa que é neces- exemplo mítico da ordenhadeira de Ener, (?) no caso
sária, era isso o que queria dizer. da varíola –, a quantidade e a qualidade do avanço do
Muito obrigado! (Palmas) conhecimento na ciência médica eram, agora, inusi-
tados e transformadores de comportamento e atitudes
A Dra. Lígia Bahia como nunca dantes tínhamos visto.
Gostaríamos de agradecer ao Dr. Adalberto a compre- Em resumo, a Medicina não mais cabia na maleta
ensão, pois, apesar de ter compromissos, permaneceu do doutor, e também a assistência hospitalar já não
conosco. Agradeço-lhe também a brilhante exposição era suportável apenas nos ombros solidários das Mise-
e a generosidade de permanecer conosco até essa hora. ricórdias. Tudo mudava, para o bem ou para o mal, mas
Foram encontrados uns óculos – parecem-me tudo mudava. Se na Medicina as mudanças se mostra-
de grau. O dono poderá pegá-los aqui. Seu direito vam intensas e sedutoras em nosso país, também os
está garantido. ventos de mudança apontavam esperançosos para um
Passo a palavra ao Dr. Edson Oliveira, que nos brinda futuro de progresso e descobertas. Muito se conseguiu
com a sua presença. Dr. Edson é Presidente do Conselho num breve espaço de um lustro. Se mergulhamos de-
Federal de Medicina – CFM. pois no silêncio das trevas por força das baionetas cala-
das, a Medicina seguiu o seu caminho, solidária com a
O Dr. Edson Oliveira humanidade, procurando constituir e construir uma
Sra. coordenadora, demais membros da Mesa, Srs. par- ponte permanente entre o homem que sofre e a espe-
lamentares, meus caros colegas médicos, minhas rança de dias melhores. Mas onde estavam os conse-
senhoras e meus senhores. Os conselhos de medicina lhos de medicina nesse contexto histórico? À época
foram criados pela sociedade brasileira, mediante a Lei cartoriais e burocráticos, sofrem em 1983 o impacto das
nº 31.268, em 1957, com a incumbência de zelarem pelo mudanças e, a partir de então, passam a intervir e, sem
bom desempenho da Medicina em todo o território falsa modéstia, a influir nos limites de suas capacida-
nacional e o vem fazendo com a ajuda e o esforço de des e competências nos destinos de nossa nação.
sete gerações de médicos herdeiros dos compromissos Desde então, assim viemos nos comportando e é por
éticos das gerações que os precederam e que dignifi- isso que aqui estamos neste momento.
caram a ciência e a arte médica em nosso país. Concatenados com as mudanças, os conselhos de
Na metade do século passado, a Medicina já estava medicina passam a fiscalizar não somente o ato médi-
experimentando e sentindo na pele os ventos das co, mas também o local e a forma como ele se dá. Afinal,
grandes mudanças e avanços que caracterizariam o a correção do ato médico não mais dependia exclusi-
século XX. No início daquele século, a expectativa de vamente do profissional, mas cada vez mais da estru-
vida do ser humano na Inglaterra, país tido com o mais tura que o cercava. No caso específico dos planos de
avançado da época, não ultrapassava 40 anos de ida- saúde, o nosso envolvimento institucional remonta à
de. Os conselhos de medicina foram criados nesse Resolução nº 19 do Conselho Regional de Medicina do
cenário de transformações. Nos seus primórdios, os Estado do Rio de Janeiro. Essa resolução foi transfor-
meios diagnósticos e terapêuticos avidamente agre- mada posteriormente na Resolução n.º 1.401, de 1993,
gavam os múltiplos conhecimentos científicos exis- portanto cinco anos antes da edição da leis dos planos,
tentes na busca de proporcionar melhor atendimento resolução essa que foi intensamente atacada pelas

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 71

operadoras de saúde, ainda que houvesse manifesta- Mais uma vez, precisamos sair na frente, pois a par-
ção, sempre constante e forte, dos pacientes e dos ceria exaustivamente proposta à Agência Nacional de
médicos em sua defesa. Nessa situação, nesse cená- Saúde Suplementar não obteve a resposta num tem-
rio, só poderíamos esperar que houvesse um compor- po certo, vindo somente agora o tema a ser motivo de
tamento totalmente desequilibrado e desparelho na pauta nessa agência. Tal descompasso soa estranho,
relação entre as pessoas envolvidas. principalmente quando outras áreas do governo de-
Com a edição da Lei nº 9.656/98, parte dos princí- senvolvem conosco parcerias efetivas, à exemplo da
pios contidos nessas resoluções passam a ser lei. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, com a polí-
A nova lei previa, em seu art. 8º, a obrigatoriedade tica dos genéricos e com a regulamentação e
de as operadoras de planos de saúde registrarem-se nos fiscalização do atendimento pré-hospitalar, apenas
Conselhos de Medicina. Se os legisladores desta Casa para dar dois exemplos.
foram sábios em prescreverem esse dispositivo legal, a A resposta à mão estendida foi uma medida provi-
sua operacionalidade foi obstaculizada por quem de- sória que teve como primeiro ato retirar dos conselhos
veria observar o seu cumprimento: a Agência Nacional o poder fiscalizador sobre as operadoras e, como segun-
de Saúde Suplementar. do gesto, fragilizar ainda mais os médicos e pacientes
Nunca conseguimos, apesar de inúmeros esforços ao criar planos com mecanismos bloqueadores e
do Conselho Federal de Medicina e da quase totalida- cerceadores dos direitos duramente alcançados.
de dos Conselhos Regionais de Medicina, que a Agência Agora estamos aqui, na Casa do povo, no local onde o
Nacional de Saúde Suplementar apresentasse a relação clamor da sociedade deve encontrar eco, onde o espaço
das operadoras em cada estado, a fim de que pudésse- democrático, este que estamos conquistando, se não
mos cumprir o nosso dever legal. Mesmo assim, continua- é garantia da construção de uma legislação justa, pelo
mos a contribuir para o aperfeiçoamento do sistema, menos nos traz a esperança de lutar um bom combate.
ainda que o equilíbrio das forças dentro da Agência Essa era a mensagem que tínhamos reservado para
Nacional fosse desigual, como já foi denunciado. este momento. Contudo, aprendi há muito tempo, que
Na busca desse aperfeiçoamento, estamos, há pior do que uma mentira é uma meia-verdade e que
muito, alertando que a fragilidade do médico dentro meia-verdade não pode ser aceita sem nenhum tipo de
do sistema se transmite em uma correia de ação con- resposta. E algumas meias-verdades foram ditas aqui.
tra o paciente. Se a lei protege o paciente, e não o Neste momento, com certeza, sem me arvorar de
protege de todo, este é atingido nos seus direitos de uma representação que poderia não possuir, quero di-
modo oblíquo quando o médico fica desprotegido e à zer o que todos os médicos nesta sala estão sentindo.
mercê das operadoras. Primeiro fato, foi imputado ao médico um ônus pelo
Na tríade atual – médico, paciente e operadoras –, qual ele não é responsável da forma como foi dito. Foi
a fragilidade manifesta na relação médico-operadora dito que o médico, com sua tecnologia e sua ciência,
desestrutura todo o sistema e o prejuízo recairá, inape- é o responsável por esse descalabro que está aí na ges-
lavelmente, sobre a parte mais fraca: agora, não ape- tão dos sistemas de saúde, sejam suplementares,
nas o paciente, mas também o seu novo companheiro sejam públicos.
de infortúnio e exploração, o médico. Se isso não é uma mentira, é uma falta de compre-
Tentamos impedir que o rolo compressor desse com- ensão da natureza das coisas. Meço os custos do meu
portamento passasse por cima do médico e do paciente. ato profissional com uma outra régua. Estou procuran-
Com a edição da resolução do CFM nº 1.616 deste ano, do o doutor da Coordenação Regional do Comitê de
esta resolução procura trazer o mínimo de segurança ao Integração de Entidades Fechadas de Assistência à
sistema ao impedir o descredenciamento justificado. Saúde (Ciefas). Ainda não o encontrei por aqui, mas

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


72 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

essa mensagem é para ele. A régua que uso e que os que não trabalhou, mas que já recebeu tudo o que ti-
médicos no Brasil utilizam é totalmente diferente da nha que receber pelo sonho dos outros e pelo trabalho
sua. Medir custo como quantia de dinheiro, essa não é dos outros, agora quer fugir às suas responsabilidades,
a régua com a qual meço. com um sonho falsamente vendido.
Essa ciência, que custa caro, que tem preço e que Muito obrigado. (Palmas)
cada médico neste Brasil sabe que tem um preço, sabe
da sua responsabilidade e dela não foge, foi que possi- A Dra. Lígia Bahia
bilitou um homem que ia viver 35, 40 anos a viver 70, Eu queria agradecer a brilhante exposição do Dr. Edson
75 anos. Esse é o custo. O custo deve ser visto ao con- e saudar a proposta que traz da realização da parceria
trário: as pessoas morriam numa dimensão inaceitável do Conselho Federal de Medicina com a Agência Nacio-
e se hoje estão vivas é porque essa ciência médica con- nal de Saúde Suplementar (ANS) para a fiscalização do
tribuiu para isso. Não verificar o custo, sob essa pers- setor de assistência médica suplementar. Acredito que
pectiva, é dizer pelo menos uma meia-verdade. essa é uma proposta importante que está sendo
trazida ao plenário, que deve ser anotada.
A Dra. Lígia Bahia Passo a palavra, então, ao Dr. Cláudio Chituzzi, re-
Dr. Edson, por favor, o senhor pode ir concluindo sua presentante da Associação Brasileira das Autogestões
intervenção? em Saúde Patrocinadas pelas Empresas (Abraspe).

O Dr. Edson Oliveira O Dr. Cláudio Chituzzi


Estou concluindo. Boa tarde a todos, já é quase boa noite. Represento aqui
a Associação Brasileira das Autogestões em Saúde Pa-
A Dra. Lígia Bahia trocinadas pelas Empresas (Abraspe). Eu gostaria de
Obrigada. fazer duas pequenas ressalvas, talvez como intróito do
que conversaremos.
O Dr. Edson Oliveira Há duas distinções que se fazem importantes. Na
Isso não pode ser dito nesta Casa sem que tenha uma autogestão, não vendemos planos de saúde. Na ver-
resposta. Isso é jogar sob o ônus da Medicina e dos dade, compramos serviços e os disponibilizamos aos
médicos brasileiros uma responsabilidade que não é usuários. Essa distinção é importante, porque vai ao
sua, a não ser a responsabilidade do sucesso, e, com passo seguinte: a autogestão não visa ao lucro. Ela
essa, temos, com a nossa humildade profissional, a cer- disponibiliza serviços aos usuários, mediante um pla-
teza de que contribuímos de forma positiva. no desenhado de comum acordo com as empresas que
Para encerrar, eu queria contar uma história para patrocinam os planos e seus empregados. Notada-
todos aqueles que comungam com o companheiro que mente, os sindicatos acabam desenhando, costurando
ainda há pouco se manifestou dessa forma, que tra- seus modelos.
duz o que pensamos daquele exemplo. Farei uma O que nos deixa bastante à vontade é que a auto-
pequena parábola sobre o que foi dito. gestão tem ampla cobertura desde seu nascedouro.
Era uma vez um cidadão que tinha um sonho de Não foi necessária a introdução de uma nova legisla-
ter assistência médica, assistência à saúde digna, com- ção para dizer à autogestão o que ela deveria oferecer
pleta, sem mentiras, e esse cidadão paga pelo seu em termos de assistência médica para os beneficiários;
sonho. Para realizar esse sonho, ele solicita o trabalho ao contrário, fomos buscar no mercado algo que os
de um médico e vai embora depois do trabalho que o outros modelos vigentes não eram capazes de oferecer
médico prestou. O vendedor do sonho, que não sonhou, ao custo do que temos hoje. Houve vantagem nesse

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 73

sentido. Pelo mesmo preço, conseguimos agregar uma dia do País. Há um desperdício dos recursos ofereci-
cobertura que até então não tínhamos. Talvez seja dos, isso quando o usuário não sabe utilizar ou mesmo
essa a maioria das decisões das empresas quando op- quando há conivência ou má utilização por prestado-
tam pelo modelo de autogestão. res. Os recursos são, portanto, escassos e, quando mal
Dito isso, e até para falar um pouco quando trata- empregados, acabam levando ao crescimento dos cus-
mos do tema do direito dos consumidores, vou focar um tos. Com isso, há insatisfação dos consumidores e vem
pouco os problemas da autogestão, que talvez também a pressão das empresas, sindicatos e usuários. Ao longo
sejam dos outros modelos. Não temos muitas informa- das discussões que vínhamos travando desde a época
ções e elas não são transparentes. Hoje o consumidor da regulamentação, talvez até antes, notamos insatis-
tem enorme dificuldade para interpretar esse emara- fação por parte da classe médica, com justa razão. Desde
nhado que aí está. Mesmo sem essa regulamentação, 1997 – parece-me –, estamos com o mesmo coeficien-
ainda nos penitenciamos pela nossa falta de transpa- te de remuneração, e isso não é bom para o sistema.
rência com nossos usuários. É difícil uma comunicação Falta de informação sobre o desempenho do setor.
muito clara que deixe absolutamente transparente Temos uma dificuldade enorme de fazer um bali-
para nossos usuários qual o alcance, direito, cobertu- zamento e saber se estamos no caminho certo, se
ra, abrangência, até onde ele pode ou não. Isso tem sido estamos fora, se estamos dentro das possibilidades.
um trabalho de formiguinha, tanto nas áreas de recur- Novas tecnologias são incorporadas, mas nem sem-
so humano das empresas, nos sindicatos, nas próprias pre geram o benefício esperado, e também incor-
empresas que atuam. poram custos ao sistema – incorporam benefícios,
Salvo algumas exceções dentro da autogestão, não mas introduzem custos.
há sistemas de mecanismo de regulação, de acesso ao Entendemos que há alguma coisa por ser feita. Es-
sistema. Hoje o usuário recebe uma carteirinha, um sas reflexões todas nos levam a uma conclusão: temos
manual, e utiliza o serviços que estão disponíveis na de fazer algo para melhorar o sistema; temos de agir
rede. Por um lado, é bom; por outro, não. Vocês podem sobre o sistema para que ele possa se sustentar. Não é
imaginar nosso grau de dificuldade, quando o usuário possível apenas agir reativamente nem só reclamar dos
não consegue utilizar adequadamente o serviço. custos, tampouco do usuário, e não fazer nada para
Também nos ressentimos da falta de educação em mudar o sistema.
saúde. O usuário não sabe utilizar adequadamente o Imaginamos que é preciso aumentar a transparên-
sistema. Isso é outro problema que acaba redundando cia em todos os níveis. É necessário ter como missão a
lá na frente. As decisões que temos tomado – não acre- saúde e a qualidade de vida e não uma medicina me-
dito que sejam diferentes nos demais modelos – são um ramente curativa.
pouco reativas. Baseiam-se um pouco na função finan- Investir em promoção de saúde, para nós, é funda-
ças – o que eu posso, até onde eu posso – e também na mental. Nem todas as empresas conseguem ou podem
obediência às leis que vêm emergindo e estamos bus- fazer isso. Investir na educação do usuário é algo que
cando acompanhar da melhor forma possível. temos feito bastante, para deixar claro o que ele pode
Outra coisa que consideramos nociva ao sistema é e o que ele não pode, a que ele tem direito, o que ele
que a remuneração dos serviços é feita com base na deve buscar, até onde ele pode ir.
doença e não na promoção de saúde e prevenção. Isso Outra coisa que achamos interessante é a intera-
é reativo. Consideramos ruim para o sistema. Com isso, ção que temos com as próprias concorrentes, o que vem
temos tido uma evolução crescente dos gastos. Não no bojo dessa regulamentação. Já faz 5, 6 anos que par-
conseguimos controlar isso historicamente. Os gastos ticipamos de mesas de debates promovidas no âmbito
sobem numa proporção bem distinta da inflação mé- do governo para a regulamentação, e temos encontrado

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


74 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

ressonância, uma boa interação com outros segmen- Fixando um pouco o foco da palestra no tocante à
tos, que passam a nos dar informações sobre como fiscalização. Na autogestão, a fiscalização se dá em
estão operando, para poderem também se situar. todos os níveis. Primeiro, pelas patrocinadoras que que-
Outro assunto que achamos interessante é o in- rem saber como está a alocação de seus recursos.
vestimento nas pesquisas de informação. Temos Segundo, pelos próprios empregados, pelos sindicatos,
atuado também no âmbito de pesquisas com a Fipe que nos fiscalizam em todas as etapas do processo.
(Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) de São Agora, evidentemente, eles também estão subordina-
Paulo, no intuito de obter indicadores de saúde que dos à nova legislação, que é bem-vinda, para a qual
possam nos dar um balizamento, nos ajudar nisso. temos tido uma parceria e fornecido subsídios, mos-
Ainda dentro do que é necessário fazer, precisamos trando abertamente qual é a nossa conduta e as nossas
estabelecer novos relacionamentos com prestadores, necessidades no intuito de melhorar o sistema.
uma relação de ganho. Temos tido, no próprio debate, O próximo, por favor.
uma série de posicionamentos em que existe animo- Trata-se dos resultados que gostaríamos de atin-
sidade, que acho absolutamente infundada, referente gir, qual seja, uma melhoria nos índices de saúde da
à relação com os prestadores. qualidade de vida. Essa é uma busca permanente do
Nós, da autogestão, entendemos que o prestador é sistema de autogestão, bem como a redução da morbi-
o principal responsável pela solução dos problemas dos dade/mortalidade, um aumento do índice de satis-
nossos usuários. Existe, sim, uma distorção entre a alo- fação dos prestadores de serviços e usuários, melhoria
cação de recursos que se faz, que privilegia muito mais do desempenho dos prestadores de serviço, o aumento
a máquina, muito mais a diagnose, do que aquele que da produtividade nas empresas, a partir do momento
efetivamente resolve problemas dos nossos usuários. em que se consegue dar uma assistência que garanta
Aqui cabe uma ressalva, dentro da visão do que temos a saúde dessa população, uma adequada alocação dos
como autogestão, de que o médico é o maior parceiro recursos do sistema com redução de gastos, se possível.
que podemos ter. Se existem distorções – e existem, Neste caso, é uma nuance a adequada alocação
seguramente, de ambas as partes –, elas precisam ser dos recursos, privilegiando aquele que, efetivamente,
eliminadas para que possamos ter uma convivência na resolve o problema e não tanto a máquina. Isso distorce
qual os dois possam se sentir privilegiados na relação. muito os nossos custos. Gasta-se muito mais com diag-
Compartilho da opinião do colega que acabou de nose que propriamente com o honorário do profissional
se posicionar. Se o Dr. Eleuses estiver presente na pla- médico. Esperamos que, com isso, se reduzam as recla-
téia, há de lembrar que, há 4 anos, numa reunião na mações e que se possa melhorar a imagem do setor
Fipe, tivemos exatamente esse posicionamento. Não como um todo.
sei se ele está presente. Dentro do que o tempo nos permite, ressalto a im-
Acreditamos que o compartilhamento da respon- portância do momento em que vivemos. Se ainda não
sabilidade deve ser, evidentemente, entre o prestador, atingimos o ideal, a nossa esperança é que possamos
o usuário e o tomador do serviço, algo que reputamos estabelecer um novo patamar de assistência e de re-
fundamental. Estabelecer novos critérios de remu- lação entre todos os segmentos do setor.
neração de saúde, voltados para a saúde, com a Muito obrigado. (Palmas)
promoção da saúde, e não para o pagamento de servi-
ços prestados para curar doenças. Sabemos que isso é A Dra. Lígia Bahia
um pouco utópico. Talvez possamos considerar que Gostaria de também agradecer e parabenizar a expo-
seja uma poesia. Mas, se não for assim, o sistema não sição do Dr. Cláudio, não falarei o sobrenome para não
suportará muito tempo. errar, dizendo que ele traz também uma contribuição

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 75

muito importante que é o ponto de vista da importância V. Exªs sabem, originária do setor consumerista, cuja
da intermediação também, não somente das operado- importância está em franco crescimento no Brasil,
ras com as prestadoras de serviço, mas das operadoras compreendi que ao lado das conquistas alcançadas
com as empresas empregadoras. Isso demonstra a com- com a lei que disciplina a saúde suplementar, também
plexidade do segmento da assistência médica suple- era grande a necessidade de se realizar ainda avanços
mentar, a importância de se estender a agenda da regu- para o País nessa área. Portanto, era importante cola-
lamentação e torná-la muito mais abrangente nesse borar nesse processo. É o que tenho buscado fazer no
processo de aprimoramento da regulamentação. meu mandato.
Passo a palavra à Dra. Maria Stella Gregori, repre- As agências regulatórias, sem dúvida nenhuma,
sentando a ANS, Diretora de Fiscalização da Agência impõem a todos nós um desafio instigante na medida
Nacional de Saúde Suplementar. em que pretendem atuar ao mesmo tempo no desen-
volvimento da competitividade dos setores onde há
A Dra. Maria Stella Gregori forte presença da iniciativa privada e proteger os inte-
Antes de iniciar a minha apresentação, eu gostaria de resses dos consumidores contra os efeitos perversos dos
fazer somente uma consideração a respeito do que o princípios financistas, próprios desses mercados priva-
Dr. Pasqualotto suscitou como uma polêmica da legis- dos. Nesse sentido, essas agências têm a tarefa de asse-
lação, que foi a retirada do art. 19, da Medida Provisória. gurar que a atividade desempenhada por agentes do
O art. 19, da Lei nº 9.961, volta à redação anterior da mercado não se oriente apenas por critérios exclusi-
lei. Portanto, ele não precisou ser reeditado na medi- vamente financeiros, mas também leve em conta
da provisória. É somente a título de esclarecimento, critérios globais de sustentabilidade econômica e so-
para não haver nenhuma dúvida. cial. E isso passa, necessariamente, pela promoção do
Bom, é um prazer estar presente neste fórum de desenvolvimento da justiça e da solidariedade.
discussão, neste painel sobre fiscalização, defesa do No caso específico da Agência Nacional de Saúde
consumidor e direito à saúde, que tem muita rela- Suplementar, cujo impacto social é de grande magni-
ção com a minha trajetória profissional e com as tude, essa preocupação se reveste, com maior razão,
atividades que tenho procurado exercer em conjun- de um caráter público não estatal, porque se de um
to com os demais diretores da Agência Nacional de lado a preocupação da ANS deve se voltar para regular
Saúde Suplementar. o investimento no setor de saúde privada, de forma a
Acredito ser importante iniciar, dizendo que acei- assegurar a complementaridade entre oferta pública
tei ser diretora da Agência Nacional de Saúde Suple- e privada dos serviços de saúde, de outro, é de suma
mentar, porque entendi o convite do Ministro José Serra importância que a atividade regulatória fomente a
como uma oportunidade de aprofundar os avanços da ampliação do investimento e da oferta dos serviços de
Lei nº 9.656, de 1998, quando S. Exª liderou inédita assistência à saúde.
transformação do setor de saúde suplementar, asse- Não tenho dúvida de que, para exercer essa missão
gurando a participação nos debates dos mais diversos tão complexa, a participação do cidadão, das entida-
setores da sociedade. des e órgãos de defesa do consumidor, das represen-
Hoje mesmo, pela manhã, S. Exª ponderou que an- tações de classe, das corporações médicas, enfim, dos
tes da chegada dele ao ministério não existia no Minis- diversos setores desse mercado é fundamental para
tério da Saúde nenhum departamento que cuidasse que a nossa atuação regulatória reflita, com equilíbrio,
desse setor. esse mosaico de interesses.
Atendi ao chamado do Sr. Ministro de Estado da O Código de Defesa do Consumidor é um bom
Saúde, porque sendo, como os senhores sabem, como exemplo de como o debate e o diálogo são saudáveis,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


76 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

pois foi de um processo amplo de discussão que emer- suas demandas, inauguramos, no dia 16 de julho deste
giu uma legislação moderna que revolucionou as ano, um serviço gratuito de call center, o Disque-ANS,
relações de consumo no País, tanto no que diz respei- que é o 0800-7019656, com funcionamento de se-
to ao exercício da cidadania pelo consumidor, quanto gunda-feira à sexta-feira, das 8h às 17h, abrangendo
às próprias empresas que cada vez mais oferecem ser- todo o território nacional. É um canal de acesso direto
viços visando à participação e à proteção do consu- que os usuários da ANS, especialmente os consumido-
midor e dos bens e serviços que produzem. res de planos privados de saúde, terão para encaminhar
O debate, hoje, não é mais a afirmação do consumi- suas demandas, as consultas ou as denúncias.
dor. Isto, penso que já se alcançou. O desafio, agora, é O Programa Cidadania Ativa é mais um dos meca-
melhorar o grau de qualidade desse reconhecimento, nismos da ANS na consolidação de sua missão
isto é, convencer as empresas de que o consumidor quer institucional de promover os direitos dos usuários das
respeito e eficiência. E isso passa por respostas rápidas; operadoras de planos privados de assistência à saúde
atendimento diferenciado; o máximo de informações e regular suas relações com prestadores e consumido-
sobre o produto que pretende consumir; a segurança dos res desse setor e assim contribuir para o desenvolvi-
seus dados pessoais, quando necessários para a realiza- mento e melhoria dos padrões de saúde do País.
ção dos negócios. Enfim, que as empresas honrem a ima- Entretanto, é importante realçar que as múltiplas
gem que passaram ou venderam para o seu cliente. Esse formas de atendimento previstas para o Cidadania Ati-
parece ser o foco do esforço que deve ser empreendido. va, onde o Disque-ANS é apenas uma delas, não está
Feita essa breve introdução, gostaria de aproveitar focado na solução de problemas específicos do consu-
a oportunidade para apresentar a V. Exªs o Projeto de midor, próprios da competência dos Procons. Trata-se
Fiscalização da ANS, que está sendo desenvolvido no daquilo que também já foi dito pela manhã pelo Minis-
âmbito de sua Diretoria de Fiscalização e cujas respon- tro José Serra: a Agência Nacional de Saúde não é um
sabilidades me cabem coordenar. órgão específico de defesa do consumidor, ou seja, ela
O modelo de fiscalização da ANS está sustentado, não vai resolver o problema individual do consumidor,
basicamente, por dois pilares: os programas Cidada- mas sim, direcionada a estimular a participação da ci-
nia Ativa e Olho Vivo. Esse modelo prevê a participação dadania, e vamos trabalhar mais no aspecto coletivo.
dos usuários, visa ao estímulo do exercício da cida- Nossa intenção, com esse programa, é fazer de cada
dania e prima por uma função pedagógica com a usuário um agente, parceiro das nossas atividades de
finalidade de manter a conduta do Setor de Saúde controle, fiscalização e melhoria do setor, ajudando a
Suplementar, em conformidade com a legislação e ANS a exercer sua missão de forma equilibrada e jus-
regulação pertinentes. O foco do primeiro está nas de- ta. Assim, tanto o Disque-ANS como os demais meca-
mandas do consumidor usuário e do segundo nas nismos de acesso – telefone, fax, e-mail e atendimento
atividades das operadoras. pessoal – são, antes de tudo, uma estratégia de comu-
Resumidamente, o Programa Cidadania Ativa reú- nicação, uma forma nova de o nosso usuário se rela-
ne as atividades voltadas para o atendimento direto e cionar conosco e, a partir desse relacionamento, gerar
individualizado ao consumidor de planos privados de valor para ele e para a solução dos problemas do setor.
assistência à saúde, além de disseminar informações Também tem o objetivo de fazer com que as informa-
e dados que estimulem o exercício da cidadania, a par- ções cheguem à ANS para que ela possa exercer cada
ticipação do cidadão na defesa dos seus direitos, a vez mais e melhor sua função regulatória e fiscalizató-
defesa da concorrência e a transparência do mercado. ria para assegurar aos consumidores de planos privados
Para facilitar o acesso dos consumidores à Agência de assistência à saúde as coberturas garantidas pela
Nacional de Saúde e agilizar o encaminhamento de Lei nº 9.656, de 1998, e a continuidade dos serviços por

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 77

eles contratados; evitar abusos na fixação de preços e A característica principal do programa é o fato de
produtos; dar transparência ao setor, garantindo o seu ele estender a fiscalização a todas as disposições da Lei
desenvolvimento e integração com o SUS; garantir que nº 9.656, de 1998, e de sua regulamentação em uma
as operadoras e prestadoras de serviços de assistência mesma ação fiscalizatória, o que significa superar o as-
à saúde suplementar exerçam suas atividades em pecto pontual das ações fiscais.
conformidade com a lei; e criar um ambiente de con- O objetivo do Olho Vivo é, então, estabelecer uma
corrência e qualidade que deixe os consumidores tendência de efetivo cumprimento da lei por parte das
desses serviços mais satisfeitos. operadoras e, conseqüentemente, do número de de-
O Cidadania Ativa desenvolve-se, fundamental- manda por fiscalizações reativas que em longo prazo
mente, nos núcleos regionais de atendimento e devem se tornar residuais, na medida em que a pre-
fiscalização, baseados nas capitais de oito estados que, sença sistemática da fiscalização pró-ativa reveste-se
por sua vez, têm jurisdição sobre as unidades estadu- de uma função pedagógica, fazendo com que as ope-
ais de fiscalização, espalhadas em outras dezenove radoras busquem, cada vez mais, adequar-se à legis-
capitais, o que permite à ANS atuar em todo o território lação do setor.
nacional. Está previsto, também, o estabelecimento de Nesse sentido, dentre as atividades do programa,
parcerias com os Procons e entidades civis de defesa somam-se as funções de conhecimento das condições
do consumidor, com a interveniência da Secretaria de gerais de funcionamento das operadoras, de checagem
Direito Econômico do Ministério da Justiça, com vistas e realização de testes específicos destas condições e
à possibilidade de encaminhamento mútuo e conco- de orientação e prevenção quanto aos possíveis riscos
mitante dos assuntos de competência de cada uma das de descontinuidade da assistência.
entidades, com a finalidade de fortalecer o Sistema Assim, podemos resumir que os benefícios diretos
Nacional de Defesa do Consumidor. esperados do programa são: adequação das condições
O outro programa, a que chamamos de Olho Vivo, de funcionamento das operadoras e do oferecimento
é um modelo de fiscalização pró-ativa que compre- dos produtos aos padrões legais previstos, consideran-
ende um conjunto de ações e procedimentos do-se a legislação vigente; as normas e princípios
contínuos e sistemáticos de fiscalização nas opera- aplicáveis e os parâmetros adotados pela ANS; e a re-
doras de planos privados de assistência à saúde. dução progressiva do número de denúncias de consu-
Diferentemente da fiscalização reativa inserida nas midores de planos de saúde.
atividades do Cidadania Ativa, e que é sempre moti- A implementação do programa requer a adoção de
vada por uma demanda específica de consumidores um critério para seleção das operadoras a serem fisca-
sobre a ocorrência de fato determinado, a fiscaliza- lizadas que permita uma probabilidade predefinida,
ção que será exercida pelo Olho Vivo fundamenta-se mesmo que diferenciada, para que qualquer operado-
na convicção da necessidade de uma ação fiscal per- ra, em funcionamento no país e registrada na ANS,
manente e ampla, o que significa, na prática, que toda possa ser fiscalizada, levando-se em conta as
operadora poderá, a qualquer momento, ser fiscaliza- especificações de cada segmento do mercado. Para
da para a verificação do cumprimento da legislação isso, o Programa Olho Vivo valer-se-á dos fluxos de in-
aplicável ao setor. formação internos e externos da ANS e da utilização
A própria denominação Olho Vivo quer traduzir a de indicadores, que através de uma metodologia e
idéia de constante visualização da ANS quanto ao fun- modelos estatísticos, construídos especificamente
cionamento das operadoras, utilizando-se da fiscali- para fiscalização, servirão como base para os critérios
zação como um instrumento efetivo que assegure o de amostragem que irão orientar a programação de
cumprimento da função regulatória da agência. trabalho desta fiscalização.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


78 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

A título de ilustração da ação de fiscalização da atuação. Dos 955 casos que já foram julgados, 136 fo-
ANS, nesse breve ano de instalação, gostaria de proje- ram julgados com multa pecuniária, que já aplicamos
tar um quadro-síntese que reflete bem o que temos R$2.476.200,00 de multas. Um auto revogado, 37; com
realizado e que demonstra a nossa ação efetiva na di- cancelamento de registro e produto, 775; com adver-
reção de se alcançar um mercado mais saudável e um tência, 2; indeferimento de pedido de rescisão uni-
consumidor mais satisfeito. Inauguramos o Disque- lateral de contrato, 5; e deferimento de pedido de res-
ANS no dia 16 de julho, há 40 dias, e já recebemos 9.588 cisão unilateral de contrato não houve nenhum.
ligações, ou seja, fizemos 9.588 atendimentos, sendo Portanto, não gostaria de concluir sem antes lem-
que 9.097 foram consultas dos consumidores usuários brar que o setor de planos privados de assistência à
e 491 foram denúncias, ou seja, denúncias que de- saúde, até o advento da Lei nº 9.656, de 1998, não ti-
monstram indícios de infração à legislação, no período nha nenhum controle por parte do Estado. A neces-
de julho a agosto de 2001. Os outros meios como, por sidade de atuar no desenvolvimento dessa atividade,
exemplo, carta, fax, e-mail pessoal e Disque-Saúde, ampliando a competitividade e, ao mesmo tempo, pro-
porque antes do Disque-ANS estávamos utilizando o tegendo o consumidor, constitui o grande desafio da
Disque-Saúde, do Ministério da Saúde, e o período que ANS. Daí encararmos, na diretoria de fiscalização, a im-
temos computado abrange janeiro de 2001 a junho de portância de se imprimir à ação fiscalizatória um
2001, quando foram realizados 10.963 atendimentos: caráter moderno e inovador, que terminou por inspi-
3.770 denúncias e 7.193 consultas. rar a concepção dos dois programas, sinteticamente
Portanto, percebemos que o consumidor demons- apresentados aqui.
tra estar carente de informações. Pelo Disque-ANS, O que se buscou foi não restringir a fiscalização
percebemos que ele está demandando informações so- apenas a uma função punitiva, como castigo para o
bre os planos, empresas etc., e as denúncias abrangem infrator, mas projetá-la também como instrumento de
5% e, no caso abaixo, 40% em relação às consultas. Es- importante transformação na conduta dos agentes
ses são os dados de atendimento ao consumidor. desse mercado. A convicção é que, depois de implan-
Agora, os dados das nossas ações de fiscalização tados esses dois programas, não só o consumidor saberá
de janeiro de 2000 a julho de 2001: tivemos 10.048 definir melhor quais são os seus direitos, como tam-
ações de fiscalização, sendo que 3.575 foram arquiva- bém terá contribuído para ampliar a competitividade
das, ou seja, eram casos improcedentes e houve repa- do setor e para estabelecer um novo padrão de condu-
ração espontânea das operadoras; existem 4.672 casos ta das operadoras, tanto no que diz respeito a uma
em diligência, foram lavrados 1.801 autos de infração, maior aderência às normas quanto a práticas que res-
sendo que 846 estão em análise e 955 já foram julga- peitem o consumidor.
dos. Em primeira instância, quem julga esses proces- Estamos tentando construir algo que, certamente,
sos é o diretor de fiscalização e, em grau de recurso, a poderá ser melhorado no futuro, mas que é um começo
diretoria colegiada. definitivo, quando não havia nada e tudo estava por ser
Os principais assuntos denunciados nesses proces- feito, para se enfrentar e superar os inevitáveis confli-
sos de fiscalização são os seguintes: 48,31% de reajuste tos de interesse entre os vários setores desse mercado
indevido; 12,31% de produto sem registro; 8,03% de ne- e, ao mesmo tempo, maximizar a produção de bens e
gativa de cobertura; 6,50% operadora sem registro; 3,70 serviços de saúde, a partir de uma atuação participati-
rescisão e suspensão de contratos e outros assuntos: va da ANS, que se deve expressar na ampla publicidade
21,15 que são assuntos menores do que 3,70%. de decisões, no exercício do direito de pleno acesso e
Já visitamos, já fiscalizamos mais de 1.232 opera- no uso de estratégias coordenadas e coerentes que
doras, ou seja, já entramos em 44.52%, em um ano de busquem para o setor a transparência e a estabilidade

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 79

de regras justas e eficientes. Federais de Odontologia; inclusive, esse artigo voltou


Muito obrigada. (Palmas) à Medida Provisória 43. Ele tinha sido retirado, e os se-
nhores podem perceber que voltou.
A Dra. Lígia Bahia
Quero pedir desculpas, evidentemente, o tempo foi A Dra. Lígia Bahia
extrapolado, mas acredito que tenha sido importante Vamos intercalar algumas perguntas. O Diniz está pre-
a apresentação. Foi um problema de coordenação da sente? Perguntas dirigidas ao Presidente do Ciefas:
Mesa, mas, ao mesmo tempo foi a oportunidade de “O senhor não acha que o final da história correta se-
apresentação do Programa de Fiscalização da ANS que, ria: o financiador pagou pelo que não pediu e não
acredito, possa contribuir para enriquecer o nosso de- comeu. Porém, antes diminuiu a quantidade de co-
bate posteriormente. mida e azedaram os ingredientes?”

O Dr. ( ) Tem um bloco de perguntas no mesmo sentido.


Convidamos, agora, os integrantes da Mesa anterior – Vou pedir licença aos formuladores das perguntas, por-
Coberturas, Modelos Assistenciais –, Lynn Silver, repre- que acredito que o Diniz possa respondê-las em bloco.
sentante do Instituto Brasileiro de Defesa do Consu- “Dr. Diniz, a cultura da operadora é ganhar dinheiro
midor; o Presidente da Associação Médica Brasileira, do usuário, não autorizar procedimentos nem pagar
Eleuses Vieira de Paiva; o Presidente do Comitê Inte- médicos. Conhece algum plano sem médico?”
grado de Entidades Fechadas de Assistência à Saúde, Ricardo, da Confederação Médica Brasileira.
Ciefas; e o Diretor de Normas da Agência Nacional de
Saúde Suplementar, João Luís Barroca, para tomarem “Dr. Diniz, quem é o financiador? No SUS, somos todos
assento à mesa, para que possamos passar a respon- nós com nossos impostos, CPMF, taxas, etc. Nos pla-
der às perguntas que foram encaminhadas. nos de seguro, o financiador é o usuário. O almoço não
é de graça. Já vi que, no caso do Ciefas, os médicos não
A Dra. Lígia Bahia têm nenhum valor, a não ser como contribuição.”
Começarei, inclusive, lendo algumas perguntas. A pri-
meira pergunta, para a Dra. Maria Stella , para não “Concordo plenamente com a sua fala. Acredito sin-
perdermos, digamos assim, a oportunidade de o assun- ceramente que saúde não tem preço, mas tem custo.
to estar em pauta. Portanto, será que a retomada do médico regulador
“Dra. Maria Stella, por que a ANS não percebe a im- para facilitar o acesso com eqüidade não seria o ca-
portância dos registros das empresas de planos de minho para a organização de um novo modelo
seguro e saúde junto aos conselhos com uma preven- assistencial?”
ção e fiscalização para uma parceria nos seus Sônia, Cesab.
programas Olho Vivo e Cidadania Ativa e para um
efetivo exercício dos Conselhos de Medicina?” Essa pergunta é num outro sentido. É bom porque
já estamos apresentando, inclusive, a polêmica, para
Esta pergunta é formulada por René Patriota, da As- que ele possa enriquecer a resposta.
sociação dos Docentes de Recife. Esta é uma pergunta do Sindieletro de Minas Ge-
rais para o Diniz também:
A Dra. Maria Stella Gregori “O senhor acredita que os planos de autogestão ao
Considero de suma importância o registro das opera- abrirem a participação de agregados dos titulares es-
doras nos Conselhos Federais de Medicina, Conselhos tão trazendo benefício à comunidade, ou seja, ofe-

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


80 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

recendo um plano melhor, mais barato e uma boa tudo o que eu disse – eu falava de cooperação e da
concorrência para o mercado?” necessidade de se buscar entendimento – foram so-
mente as historinhas, que acabaram desviando a
“Depois dos elogios que ouvimos na abertura, esperei atenção do principal.
atentamente as informações do Ciefas sobre saúde De qualquer forma, anotei aqui o que a Lígia leu
suplementar; ouvi apenas algumas palavras sobre res- rapidamente e vou tentar não fugir de nenhuma das
taurantes. Aqui registro algumas correções da história questões colocadas.
que nos foi contada. O médico escolhe o tratamento Com relação ao final da história, se azedou a comi-
em razão das necessidades do paciente. Esse é o pri- da ou não, o fato é que represento um segmento de
meiro ponto. Segundo ponto: não é nada claro”. autogestão que procura ser ético não só na relação
Não consigo entender a letra. com os usuários, mas também na relação com os pres-
tadores de serviço. Acredito que os médicos hão de
“Terceiro: tem-se visto muita conta de restaurante ser reconhecer que, se nós temos problemas de glosa, se
pendurada.” temos problemas de negativa de atendimento, não é
Desculpe não conseguir ler o segundo ponto, mas com intuito de inibir ou cercear um tratamento. É por-
acredito que o sentido esteja claro. É uma pergunta que nós administramos recursos de trabalhadores. Os
formulada por José Luiz Amaral, da Associação Paulista trabalhadores são o aporte mais pobre do sistema. Nós
de Medicina. temos que administrar bem esses recursos.
Também os médicos sabem, até muito mais do que
Outra pergunta: eu que não sou médico, que em saúde o fato de gastar
“Vocês não acham que a falta de segurança extrema mais não significa bons indicadores; os recursos são
dos médicos em relação a sua liberdade de atuação, mal alocados, a oferta determina a demanda. Ou isso
honorários insignificantes e possibilidade freqüente não é verdade? Ou não é hora de discutirmos isso?
de descredenciamento também sejam prejudiciais Então, a história vinha só esclarecer que as relações
aos pacientes e à saúde no seu todo? A ANS também estão azedadas, inclusive com responsabilidade do fi-
não deveria atuar modulando isso?” nanciador, sim, que tem também que se preocupar com
Jorge, da Associação Paulista de Medicina. a qualidade. Ele não pode ser passivo e só pagar a conta.
E isso é mudar o modelo assistencial. O modelo as-
Todas essas perguntas são para o Diniz, a quem sistencial que nós procuramos mudar na autogestão
passo a palavra. é aquele que deixa de ser o meramente pagador da do-
ença para, de fato, se responsabilizar pela saúde da
O Dr. José Diniz de Oliveira população. Isso é muito mais difícil, inclusive, porque
Não imaginei que fosse causar tanta polêmica, since- envolve mais riscos. E é isso que convidamos a classe
ramente. Mas isso é bom. Nós precisamos conversar, médica a vir fazer conosco.
debater alguns assuntos, com todas as letras, não ne- Podem ter certeza de que o que foi falado aqui,
cessariamente com passionalismo. embora possa ter sido recebido de outra forma ? e peço
Represento 140 empresas de autogestão, e não é desculpas – é que vemos a categoria médica como peça
justo que, se provoquei alguma animosidade, que isso chave, fundamental do sistema de saúde. Apenas quis
seja revertido para essas entidades. dizer que todos nós temos responsabilidade nesse pro-
Temos buscado entendimentos com a ANB e CFM cesso, e se ficarmos brigando, tentando pautar aumento
para discutirmos as questões de saúde de maneira co- do valor de consulta para, muitas vezes, resolver a ociosi-
operativa, como eu disse. Infelizmente, o que ficou de dade dos consultórios, nada acabará bem. Ou se ficarmos

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 81

discutindo por que as operadoras, querendo melhorar o tam de maneira segmentar os pacientes, esse sistema
seu desempenho, glosam atendimentos, essa discussão é pouco resolutivo e caro. Nós, os trabalhadores que re-
não nos fará chegar a um modelo melhor. Então, eu presento, não podemos pagar. Não defendo apenas o
quis trazer essa reflexão, mas acho que não fui feliz; médico regulador. Defendo o médico de família, o clíni-
por isso, eu me desculpo. co geral, que conheça o histórico, porque as operadoras,
Mas, voltando às perguntas que me foram coloca- no nosso entendimento, têm a obrigação de conhecer
das: quanto à cultura do financiador de autogestão, o histórico de saúde da população por ele assistida.
posso afirmar que não é apenas ganhar dinheiro em Por último, os planos de autogestão abertos são li-
cima da contribuição dos usuários. Posso garantir isso mitados na oferta de serviços. A Lei nº 9.656 limita o
ao senhor pela própria natureza das autogestões que atendimento a parentes até 3º grau das pessoas assisti-
não objetivam lucro. das pelos planos chamados naturais. A lei é injusta nesse
Não concordo de maneira alguma que os médicos aspecto. Sei que foi uma inclusão feita com a ajuda de
não tenham valor. Já falei isso aqui. São os profissio- um lobby, mas se pudéssemos levar a oferta de assistên-
nais mais importantes do sistema. cia à saúde administrada pelas autogestões para outras
Se tem se visto muito conta “pendurada”, lamento camadas da população, certamente mais trabalhado-
muito. Se forem contas ligadas a empresas de autoges- res seriam beneficiados de um modelo, repito, que não
tão, contem comigo na cobrança delas, porque não pretende ser melhor que os outros, que não pretende
admito que não se pague pelos melhores atendimentos. ser o máximo, mas que, com certeza, prima pela ética
Acho que os freqüentes descredenciamentos imo- na sua relação com prestadores e consumidores.
tivados são prejudiciais, sim, aos usuários e também
contrariam os interesses médicos. Mas não acho que A Dra. Lígia Bahia
uma entidade médica que não tem poder de legislar Gostaria de fazer uma pergunta para o Dr. Edson Oli-
venha interferir numa relação que é prevista no Códi- veira. O tema é propício.
go Civil e que é amparada em contratos perfeitos, como “Qual é a responsabilidade ética do médico que, sen-
costumam fazer as empresas de autogestão. do conveniado a um determinado plano de saúde,
Acho ainda que, se há necessidade de se regular a prescreve ao consumidor um tratamento, um proce-
oferta e a necessidade de demanda, não defendo a fi- dimento não coberto pelo plano?”
gura de um gate keeper; não defendo que se instituam Pergunta elaborada pelo Procon de Minas Gerais.
sistemas com médico-porteiro, o médico meramente
triador. Mas defendo, sim, o sistema apoiado em medi- O Dr. Edson Oliveira
cina da família, que passa a orientar melhor o usuário, O médico que age em uma situação dessa natureza
para que possamos voltar a ter médicos que enxer- tem que responder a apenas uma pergunta: se o pro-
guem o doente, e não apenas a doença, oferecendo um cedimento por ele indicado é necessário para o perfeito
serviço que colecione as informações de saúde das pes- atendimento de seu paciente. Se for necessário, indi-
soas e as oriente nas suas necessidades de acesso à que e realize, porque o único compromisso do médico
rede. A triagem leiga pode trazer muito benefício. é com o bem-estar do paciente. Essa é uma das gran-
Esquecemos de falar em atrogenia clínica, nos des questões que levamos para a ANS: as exclusões, a
malefícios causados pelos efeitos colaterais dos proce- briga do rol, onde exclui. Isso cria problemas dessa na-
dimentos necessários ao caso, como é o caso de grande tureza. Portanto, minha resposta é esta: se o paciente
parte dos exames apoiados em tecnologia, que pode tra- necessita do procedimento, o médico deve realizá-lo
zer efeitos colaterais para os pacientes. Precisamos por dever ético e por compromisso com a sua profissão
discutir esse tema. Se houver médicos que apenas tra- e com o bem-estar do paciente.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


82 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

A Dra. Lígia Bahia vai ser através de medida provisória que vamos cami-
Vou passar para uma pergunta conjunta para a Dra. nhar democraticamente neste país e inclusive resolver
Lynn e para o Dr. Elêuses: essa situação.
“A cobertura ampla, acesso livre aos prestadores, sem Vou defender uma tese no sentido de criarmos aqui
restrições a doenças ou lesões preexistentes ou ca- uma comissão, com a participação de todos os segmen-
rências, acesso livre a todos os procedimentos tos envolvidos – consumidores, médicos, operadoras –,
reconhecidos pelas sociedades médicas e preço con- para que esses segmentos, que são os reais interessa-
trolado pela ANS, são esses os objetivos do Idec e da dos nessa regulamentação, independentemente de
AMB? De onde sairão os recursos, os R$90 bilhões haver alguns que tentam nos regular, sentem à mesa
citados pelo Sr. ministro? Até quando manteremos conosco, democraticamente, a fim de procurarmos pon-
essa utopia?” tos de equilíbrio em comum. Acredito que há modos de
A pergunta é de Valdir Zetel e foi dirigida às Vs.Ss. pensar diferentes, mas creio na nossa capacidade para
encontrarmos saídas coletivas. Não tenho dúvida de que
Aproveitando, emendo uma pergunta para o Dr. isso é mais transparente. Posteriormente, poderemos
Eleuses. encaminhar essas propostas ao ministro, inclusive essa
“V. S. concorda com a supressão do parágrafo único de fazer avaliações, para que tenhamos um projeto de
do art. 2º da Lei nº 9.656, de 1998, que trata do refe- lei mais transparente, mais próximo dos anseios de toda
renciamento, e com a adição de um novo inciso no a sociedade e dos segmentos envolvidos nesse setor.
referido artigo, estipulando o credenciamento das Com relação à segunda pergunta da Dra. Erivaldéia,
pessoas físicas pelas centrais ou departamentos de concordo plenamente com ela. Acho que teríamos um
convênios e a definição dos valores e da forma de re- grande avanço e estaríamos resgatando algo que, in-
muneração do profissional por um processo coletivo felizmente, perdemos nessas últimas décadas; ou seja,
de negociação? “ relação médico/paciente. Acredito que é extremamen-
te salutar darmos ao usuário o direito de escolher o seu
“O credenciamento coletivo deverá conter os seguin- médico, de optar não por listas preestabelecidas, mas
tes princípios: de procurar aquele médico em quem confia. Não tenho
a) livre escolha do médico e demais profissionais de dúvida de que se essa medida parece, num primeiro
saúde pelos usuários pacientes; momento, custar mais para as operadoras – gostaria
b) o médico atenderá pacientes originários de qual- de discutir isso depois, se tivermos oportunidade, num
quer plano de seguro privado de assistência à saúde. fórum específico –, não tenho dúvida também de que
O senhor concorda também que essa proposta deva assim estaremos melhorando a resolutividade do sis-
fazer parte dos anais deste simpósio?” tema. Ao melhorarmos a relação médico/paciente, ao
Esta pergunta é da Presidente da Confederação melhorarmos a resolutividade do sistema, talvez este-
Médica Brasileira, Erivaldéia Guimarães. jamos também, do ponto de vista dos recursos, viabi-
lizando essa proposta.
O Dr. Eleuses Vieira de Paiva Não me foi feita a pergunta, mas gostaria de cum-
Dra. Lynn, primeira pergunta. Eu queria deixar claro que primentar a Ajasp. Nós sempre estivemos com a Ajasp,
o grande desafio que temos hoje, aqui, é procurar um com a Abrasp. Entendemos que a idéia deve ser a da
ponto de equilíbrio para que tenhamos um sistema parceria. Conhecemos nossas divergências, mas pode-
que não seja fragmentado e segmentado, mas que seja mos tentar caminhar juntos. Dessa forma é que pode-
amplo e viável. Penso que esse é o grande desafio. remos superar os problemas. Gostaria de cumprimen-
Acho que já ficou muito claro para todos que não tar o colega da Abrasp pela citação. Obrigado.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 83

A Dra. Lígia Bahia Realmente, o Idec e muitas outras entidades se opu-


A primeira pergunta feita para a Dra. Lynn tem o mes- seram na Câmara de Saúde Suplementar à retirada da
mo sentido daquela outra pergunta compartilhada odontologia do Plano Referência. Inicialmente, foi jus-
com vocês. Ou seja, nos últimos três anos, após a Lei tificado que as empresas não teriam a infra-estrutura
9.656, temos visto uma série sempre crescente do lado para prestar essa assistência no período imediatamen-
das operadoras para dar sustentação aos direitos, sem- te após a aprovação da lei.
pre ampliados, dos consumidores. Assim, assusta-nos Nós até entendemos alguma demora eventual-
observar uma série de MPs que estabelecem essas re- mente, mas a retirada de vez desse aspecto importante
gras. Nunca se menciona de onde virão os recursos para da assistência, particularmente a odontologia preven-
fazer frente às nossas obrigações. tiva, consideramos, mais uma vez, um exemplo de
Pergunto, então: de onde os senhores acreditam como a regulamentação posterior cortou proteções
que devem vir os recursos adicionais necessários para que foram estabelecidas pela Lei nº 9.656, aprovada
cobertura dessas obrigações sempre crescentes? Por aqui no Congresso. Então, realmente, concordamos
que não são dados reajustes, conforme solicitado pe- com o colega da odontologia.
las operadoras, recebendo todas um mesmo índice, A segunda pergunta foi sobre o sistema de médi-
sem explicação da lógica desse número? co-porteiro e se o mercado não tenderia a tornar esse
Vai haver uma mesa específica sobre o tema sistema obrigatório, mediante uma política de preços
Regulação de Preço. que faria com que as outras alternativas fossem mui-
Se o mercado suplementar é, como se diz, tão to mais caras, obrigando os consumidores a optarem
ineficiente e imperfeito, a que se atribui a adesão de pelos planos gerenciados ou planos de acesso, o que a
40 milhões de usuários? gente chama de médico-porteiro. Acredito que sei exa-
A senhora acredita no sistema com médico-portei- tamente o que iria acontecer, como vemos hoje no
ro, que seria opcional para o consumidor? mercado, que o plano de referência ficou com um pre-
Existe a possibilidade de se aumentarem escanda- ço bem mais elevado, tendendo a forçar os consu-
losamente os preços dos outros planos, deixando o midores para planos mais restritos.
plano com médico-porteiro como única alternativa fi- Acredito que será isso o que acontecerá. Quanto
nanceiramente viável para o consumidor? mais se abre o mercado para segmentações cada vez
É a pergunta do Mozart Abelha, membro da Câmara mais restritivas ou mecanismos de regulação mais
Técnica de Cirurgia do Conselho Federal de Medicina. draconianos, cada vez a política de preços vai tender a
forçar os consumidores para essas opções. Por isso que-
A última pergunta para a Dra. Lynn é do Conselho remos realmente a maior competição do mercado pos-
Federal de Odontologia: sível em torno do plano de referência. Essa sempre foi
“1) Como a senhora vê a retirada inexplicável da odon- a nossa posição. Depois vem a pergunta de onde virão
tologia desses planos? os recursos para as obrigações crescentes.
2) A exclusão da odontologia dos planos de referên- Primeiro, diria que não estou vendo obrigações
cia não onera o consumidor, que terá que firmar um crescentes. Ao contrário, estou vendo obrigações de-
contrato com dois planos para que se possa obter as- crescentes. Ou seja, houve a aprovação da lei em 1998,
sistência integral à saúde?” que estabeleceu...

A Dra. Lynn Silver A Dra. Lígia Bahia


Acho que vou começar em ordem inversa, com a res- Só um momento. Isso é um debate. A Dra. Lynn é con-
posta mais fácil, ao colega do Conselho de Odontologia. vidada do Conselho Nacional de Saúde do Senado para

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


84 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

expor e vai expor com toda liberdade do direito de ex- cação para uma boa qualidade da assistência médica,
pressão que está garantido neste simpósio. (Palmas) mediante a divulgação de informações corretas sobre
qual o produto farmacológico, sobre quais são os tes-
A Dra. Lynn Silver tes de diagnóstico de uso apropriados nas diversas
Obrigada, Lígia. Realmente houve uma especificação situações clínicas.
de obrigações bastante clara, com a Lei nº 9.656, de A experiência tem demonstrado que as operadoras
1998, quando já entendíamos que muitas dessas obri- buscam usar mecanismos de regulação indiscriminadas
gações já existiam no Código de Defesa do Consumidor, que não visem à boa qualidade da assistência, mas
mesmo antes da aprovação da lei, mas tudo bem, po- meramente à redução de custos, por isso que se opôs
demos dizer que, a partir de 1998, houve um aumento ao medir o porteiro como estratégia de redução de cus-
de obrigações, dependendo da interpretação jurídica. tos. Realmente, vêem-se operadores que estão cortando
Depois disso, não houve aumento. Ao contrário, algu- procedimentos, mas que nada fazem com uma taxa de
mas regulamentações até chegaram a retirar algumas cesárea de 80%, o que é, aliás, o mais comum entre as
obrigações, como citei na minha palestra anteriormente. operadoras e que representam riscos reais aos usuários.
Analisamos, por exemplo, uma das questões que não Tem que conter custos, mas tem que melhorar a qua-
sabemos que é quanto custa atender um paciente nes- lidade. Entendemos que a principal estratégica vai ter
ses termos no Brasil. Tínhamos alguns parcos dados da que ser educacional.
autogestão, que sugeria ser possível no Brasil atender a As últimas perguntas foram: se o mercado é tão
populações de usuários com relativa decência em pla- onificiente, por que tem 40 milhões de aderentes? Pri-
nos integrais com preços que eram bem aquém meiro não tem, aparentemente, ou seja, os dados de
daqueles praticados por muitas operadoras. Mas justa- cadastro da agência nacional não produziram, produ-
mente uma parte muito importante da informação, que ziram vinte e poucos. Diria o seguinte: moramos no país
faz falta para regular os preços, é esse conhecimento dos dois brasis, moramos num país que teve uma lon-
de quanto está custando para atender a população. ga tradição, como falou o Noronha, de clivagem no seio
Acredito que isso deve avançar com a agência. da sociedade e da assistência médica.
Estamos com uma posição dentro da agência da Anteriormente existia o INAMPS e os pobres, com
necessidade absoluta de transparência e de acesso pú- a reforma sanitária criou-se uma proposta e um aten-
blico às questões de custos e planilhas que vão orientar dimento democrático à população. Mas o que
a política de regulação de preços, porque se for para aconteceu? O setor anteriormente atendido pelo
ser mais uma caixa preta, como era o Ministério da Fa- INAMPS buscou migrar para uma outra fonte de assis-
zenda, não vamos ter nenhum avanço na transparên- tência com padrão que seria percebido como de maior
cia de regulação econômica desse setor. qualidade, como antigamente existiam os privilégios
Estou refletindo sobre os comentários do Dr. Diniz do sistema do INAMPS, que é o reflexo, realmente, da
e assino embaixo de muitas das coisas que ele falou. sociedade em que vivíamos, que é profundamente de-
Acredito que há um tremendo uso inadequado de pro- sigual. Acredito que o que estamos vendo nessa situa-
cedimentos e tecnologias médicas, mais ainda no setor ção é o reflexo da desigualdade social brasileira. As
privado, embora também exista no setor público, e que pessoas estão aí porque o projeto do SUS ainda não está
isso gera custos, gera perigos para o usuário, é ruim para funcionando a contento. Acredito que no dia em que
os operadores públicos e privados e é ruim para o con- esse projeto estiver funcionando com maior padrão de
sumidor. Agora, nosso entendimento é de que a qualidade, vamos ver migração contrária; justamente
contenção desses custos tem que ser feita sobretudo o que vemos em sociedades onde os sistemas funcio-
mediante a educação, mediante as atividades de edu- nam bem, como no Canadá, que é um compromisso

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 85

realmente universal da população com o sistema pú- Quando o cooperativismo vem associado, tem
blico, que é o que eu gostaria de ver acontecer no Brasil. como objetivo cartelizar preço, como temos conheci-
mento aqui neste país e já que estou antipatizado
A Dra. Lígia Bahia perante o plenário médico, como é o caso das coopera-
Bem, o encaminhamento que estamos dando, só para tivas anestesistas; isso é proibido pela Constituição,
ser transparente, é o seguinte: estamos tentando al- isso é abuso de poder econômico, isso é eliminação de
ternar as respostas dos membros da Mesa e deixar concorrência, isso não pode ser aceito, ainda que or-
para o final um conjunto de perguntas ao Dr. Barroca. ganizados numa excelente idéia, que defendo, que é
Vou voltar agora a perguntar ao Dr. Diniz coisas de a idéia do cooperativismo.
outra natureza. Então, o problema é esse, porque se me uno para
A primeira seria o seguinte: impor preço, estou agredindo uma lei da economia e
“O corporativismo é regulamentado por uma lei es- prejudicando usuários.
pecífica, a Lei nº 5.764, de 1971, ao abrigo da As operadoras, quando se organizam, fazem-no
Constituição. Por que os médicos não podem se or- para, conjuntamente, poder adquirir, em boas condi-
ganizar na forma de cooperativas de especialidades? ções, preços, mas também não querem comprar preços
Qual é o problema? As operadoras podem se organi- de serviços médicos.
zar e os médicos não?” Quando fomos conversar com a CFM e AMB, reco-
É a pergunta de Mário Fernando Lonjo, sindicato nhecemos que, hoje, dos grandes grupos de despesas
dos médicos de Pernambuco, da Sociedade de Medici- da área de saúde, honorários médicos são uma parcela
na de Pernambuco. menor. Só que, por outro lado, temos um gasto exces-
sivo e mal controlado, que também é demandado pelos
A segunda pergunta: médicos – tentei falar isso na minha sala –, com esse
“Os planos de autogestão – é uma segunda pergun- ADT que são os exames.
ta de outra natureza, inclusive – estão ou não subme- Então, vamos juntos construir uma forma de, sem
tidos às regras da lei? As operadoras de autogestão deixarmos cair a qualidade da assistência, transferir-
estão dispensadas de submeter seus reajustes téc- mos essa renda, porque a renda é uma só. Não há como.
nicos à ANS?” Talvez falte falar, neste plenário, quem está ga-
nhando nesse sistema, se todo mundo está perdendo.
A Mesa solicita desculpa aos expositores, mas que Certamente, quem está ganhando são os produtores
se atenham a responder às perguntas, por favor. de tecnologia, assim entendidos os grandes maqui-
nários, os grandes medicamentos. Outro dia, o ministro
O Dr. José Diniz de Oliveira denunciou um laboratório que financiava uma ONG
Por coincidência, antes de ter a felicidade de poder atuar para entrar com uma ação contra as operadoras ou
na área de saúde, militei no movimento corporativista contra o governo, para que determinado medicamen-
dos funcionários do Banco do Brasil e conheço também to pudesse ser comercializado a preços impagáveis para
a Lei nº 5.764, os primórdios do corporativismo e vejo um país pobre como o nosso.
no corporativismo uma das alternativas inclusive ao Penso que tem alguém ganhando e esse alguém
sistema capitalista neste país. Se pudéssemos reduzir está levando, inclusive para fora do País, a receita des-
a idéia do corporativismo numa idéia bem simples, se- se ganho e deixando nosotros aquí, pobrecitos, bri-
ria o fato de as pessoas que têm problemas se reuni- gando entre nós.
rem para, conjuntamente, obter uma solução melhor Os planos de autogestão também estão submetidos à
a esses problemas. regra da Lei 9.656, apenas há tratamentos diferenciados.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


86 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

Temos, dentro de autogestão, os planos chamados que permitisse uma migração de planos, simultanea-
empresariais, que são regulados por meio de uma rela- mente, com uma diminuição do custo administrativo?
ção entre os trabalhadores e a empresa, e, normal-
mente, não são amparados, fazendo parte da política A última pergunta desse bloco, que também é ou-
de benefícios da empresa. Os seus reajustes são pac- tra coisa, por favor anote:
tuados, então, entre empresa e trabalhadores. Mas “A defesa de direito ao consumidor, de direito à saúde
quando oferecermos algum outro tipo de plano para do recém-nascido prematuro ou maduro, do lactente,
agregados, para os familiares não atingidos pelos do infante, do pré-adolescente portadores de mal-
planos naturais, esses, sim, quando há necessidade de formações congênitas pequenas, médias ou grandes,
reajuste técnico, temos que submeter à Agência Na- que não têm direito à cobertura de cirurgias correti-
cional de Saúde, que acompanha cada um dos rea- vas em alguns convênios – tais pacientes não têm
justes aplicados. culpa de terem alterações na sua evolução embrio-
nária. O convênio já existia antes da sua fecundação.
A Dra. Lígia Bahia Como deixar claro, no contrato, que, caso haja tal
Queria passar, agora, para o conjunto de perguntas malformação, o paciente tem direito e será defendi-
dirigidas ao Dr. Barroca, algumas, inclusive, estão acumu- do pela Agência Nacional de Saúde Suplementar?”
ladas de uma Mesa anterior. Então, infelizmente, você Olga faz essa pergunta.
vai ser o herdeiro desse patrimônio de muitas questões.
Primeira pergunta: Esse caso é óbvio, mas, evidentemente, tem que ser
“Dentro do modelo humanista ora exposto na Mesa respondido porque, é claro, há um problema, senão a
– Coberturas e Modelos Assistenciais – e dos princí- pergunta não seria formulada. Bom, essa mesma pes-
pios de diretrizes norteadores do Sistema Único de soa faz uma outra pergunta referente ao recém-nascido
Saúde, o que seria uma equipe de saúde mencionada prematuro, portador de malformação que sequer tem o
na sua exposição e qual a atuação da mesma na área direito ao imediato tratamento nas UTIs neonatais ou
da saúde suplementar?” correções cirúrgicas. O que fazer pelo direito deles?

Barroca, tentei organizar por bloco, mas não deu O Dr. João Luís Barroca de Andréa
certo, então vai dessa forma mesmo. Vamos começar respondendo a este último bloco. É
“Nos planos de cobertura parcial, não estaríamos au- importantíssimo dizer que um dos grandes avanços da
mentando a interface entre o privado e o público, lei foi exatamente a inclusão do recém-nascido, ou
deixando o ônus para o setor público?” seja, a possibilidade de inclusão no plano da família,
É a pergunta de Mozart Abelha, membro da Câmara no plano da mãe. O mais importante – inclusive há
Técnica de Cirurgia do Conselho Federal de Medicina. uma resolução nesse sentido – é que para o caso de
parto coberto não há a possibilidade de se alegar ne-
“O progressivo acesso a direitos da nova regulamen- nhuma doença ou lesão preexistente em caso de uma
tação dos contratos antigos, quando avaliados pelas malformação congênita. Esse é um dos extraordinários
operadoras, sobe muito o custo operacional do pla- avanços que essa lei teve; aliás, se junta às doenças ou
no de saúde, tornando inviável ao usuário a mudança lesões preexistentes.
que se tem pensado para inibir o aumento abusivo?” Acredito que o nosso esforço de comunicação pre-
Uma interpretação rápida da pergunta seria: a am- cisa ser multiplicado, porque esse foi um dos grandes
pliação das coberturas faz com que o custo administrati- avanços, na medida em que se acabou no Brasil com
vo aumente. Seria possível encontrar algum mecanismo a possibilidade insólita, mas que acontece – e até

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 87

estávamos vendo uma reportagem sobre a Inglaterra –, guinte: se eu criar plano baixo, isso é que está na per-
no mundo todo de que se poderia alegar uma doença gunta, aumenta a demanda pela alta complexidade.
ou lesão preexistente, ou seja, até mesmo uma Ué! Então, tem brasileiro que não está tendo acesso à
malformação genética, ou se dizer que existe uma alta complexidade. Portanto, a situação é muito mais
causa genética para isso. No Brasil não é mais assim. complexa do que podemos imaginar a princípio.
Doença ou lesão preexistente – não é um conceito E, para finalizar essa primeira bateria de pergun-
médico, nunca dissemos que é um conceito médico – tas, quando falávamos de equipe da saúde, o que
é aquela que o consumidor é portador ou sofredor à falamos foi de modelo, de modelo standard, de equipe
época da contratação do plano e sabe que é. Então, da saúde. Aliás, queria pedir um favor, ou é médico ou
essa é a grande inovação. é porteiro. Respeito muito os porteiros e respeito de-
Então, as perguntas feitas pela Olga, creio que essa mais os médicos porque sou médico. Não existe isso,
resposta cabe para ambas, ou seja, não há exclusão. não tem essa história, quer dizer, não se pode falar isso;
Inclusive deixei claro que o nosso foco inicial, quanto então, ou é uma coisa ou é outra. Então, para deixar
aos cuidados com a saúde, é a assistência materna. claro, equipe de saúde, equipe da descrição da cliente-
Em relação ao custo da adaptação, acredito que la, quando fui gestor, anos atrás – já passei pelo setor
está havendo um curto-circuito na comunicação. O público, já passei pela autogestão, já tenho alguma es-
que reduz, certamente, para uma operadora que faz o trada em relação a isso – uma coisa que os associados
movimento de migração, é o custo administrativo. Não e os pacientes adoravam era ter um médico que pudes-
sei quantos dos senhores, mas, vamos dizer, para uma se cuidar efetivamente da sua saúde como um todo.
operadora que atue há 10 anos no mercado, que tenha Quando se fala de equipe de saúde, está-se pensando
planos velhos, a quantidade de planos velhos, livros e numa conformação à discussão dessa forma; agora, o
registros e cadastros para se achar onde é aquele plano que não se pode é misturar uma coisa com outra. Restri-
velho, ou seja fazer a migração, reduz custo adminis- tor de acesso, nunca; garantidor de qualidade de saúde
trativo – estou dizendo claramente dentro da pergunta é uma coisa em que temos que pensar.
feita – e não o amplia. É isso que a agência e eu, particularmente, quere-
Uma outra questão colocada diz respeito aos planos mos enfrentar essa discussão com a maior tranqüilidade,
de cobertura parcial, o que traria ônus para o setor pú- até porque, fundamentalmente, quero fazer minhas as
blico. Hoje, fizemos uma colocação de princípios e de palavras do Dr. Edson hoje, quando falou na defesa do
abertura de discussão. Isso, para mim, é fundamental. ato médico. Acho que num bom sistema de saúde exis-
Temos que abrir a discussão. Mas é importante que de- te lugar para todos os médicos, de todas as especiali-
vamos enfrentar um pouco mais essa discussão. Se dizer dades; mesmo da superespecialidade para as redes de
isto, por hipótese, significaria dizer que tem brasileiro suporte, há a especialidade chamada básica, que, no fi-
que não está conseguindo fazer exame ou procedimen- nal das contas, é a quem temos que recorrer quando
to de alta complexidade por restrição de acesso. Isso é nosso filho fica doente, quando temos um problema e
verdade? Se isso é verdade, este plenário tem que pen- não sabemos o que é. Então, de jeito nenhum, para dei-
sar um pouco. Existe brasileiro que não está fazendo os xar bem claro, estou defendendo a banalização do ato
procedimentos necessários por falta de acesso? Porque médico, de jeito nenhum. Acho que temos avanços im-
essa pergunta induz a isso. Se eu criar um plano baixo, portantíssimos na medicina e lugar para superespecia-
um plano menor, que não inclua alguma cobertura, al- lista existe, para especialista, para aquele que só trata
gum procedimento, por exemplo – e, para deixar bem de uma determinada coisa, tem lugar para todo o mun-
claro, estou propondo apenas a discussão disso, para não do. O que se tem é que pensar sobre esse modelo.
usarem as palavras. Mas essa lógica pressupõe o se- Obrigado.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


88 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

A Dra. Lígia Bahia parcial e temporária dos eventos cirúrgicos, dos proce-
O segundo bloco, solicitando ,obviamente, que você dimentos de alta complexidade e dos leitos de alta
continue com a brevidade dessas respostas para que a tecnologia ligados à doença. Deve, inclusive, estar em
gente possa descansar. contrato agora.
“Foi dito, basicamente, que a ANS pretende defender Como é feito o cálculo do agravo? Há uma tabela?
o consumidor. No meu ponto de vista, a ANS tem que Não. São dois pontos a analisar. Primeiro, não existem
visar ao equilíbrio entre operador e consumidor. dois diabéticos iguais. São pessoas que terão que ser
Quanto à ampliação do rol, preocupa-me, pois quan- examinadas e preencher declarações de saúde para a
do vendemos o plano, o cálculo atuarial é feito com operadora poder sugerir uma proposta de agravo. Não
base numa cobertura já estabelecida. E se esse rol é é feito vida? Vi uma enorme tabela, se não me falha a
ampliado significativamente, como faremos com os memória, de uma resseguradora alemã que tinha até
custos assistenciais daí advindos?” cálculo de agravo para acne. Não me perguntem por
Pergunta de Selma Souza, de Goiânia. quê, mas tinha. Como não entendo absolutamente
nada de alemão, alguém traduziu a página e lá cons-
“Como a ANS vê a modalidade ‘cartão de desconto’? As tava a acne. Mas o mais importante, e vou linkar com
resoluções nada têm disciplinado sobre esse aspecto.” outra pergunta, é que agravo não tem tabela. O agra-
Pergunta de Mitohara, São Lucas - Neovida vo é paciente a paciente. É uma proposta da operadora.
Se o usuário considerar o cálculo indevido ou abusivo,
Pergunta de Suzane de Nele(?): pode enviar para a fiscalização da agência, que, por sua
“Qual a justificativa que a ANS pode apresentar à po- vez, nos enviará. É uma análise caso a caso.
pulação para excluir a odontologia dos planos de Há um outro ponto muito interessante quando se
referência de assistência à saúde pela MP 1908, de trata de cálculo atuarial – e voltaremos a esse tema
25/11/99? A ANS não considera a saúde bucal como amanhã: a necessidade de banco de dados para tal cál-
parte da saúde geral do paciente? Já que o sistema culo. Fico às vezes um pouco preocupado com a quali-
público não consegue suprir a demanda dos brasilei- dade das informações que recebemos. É possível haver
ros que jamais foram ao dentista, a ANS está banco de dados em boas operadoras, em operadoras
dificultando o acesso dessa assistência também pela ditas de bom renome no mercado, mas quando pergun-
saúde suplementar.” tamos a tais operadoras quantas diárias foram pagas, a
resposta é “não sei”. Se não sabe quantas diárias foram
Pergunta de José Batista Xavier. pagas, a operadora sabe o quê? Ah, porque essas ope-
“Por que os operadores não informam aos usuários radoras...não, o regime era outro. É necessário uma
sobre o agravo no contrato? Qual seria o valor do consolidação da base das informações para que con-
acréscimo e por quanto tempo? Por que as operado- templemos e façamos uma base de cálculo como a
ras não oferecem um plano referência?” Kaiser tem nos Estados Unidos. Essa empresa tem 30
anos de informação em saúde. Há, então, carga de do-
O Dr. João Luís Barroca de Andréa ença lá. É possível fazer esse tipo de discussão. Não
Vamos começar de novo pelo final, o agravo. Acho que temos isso ainda. A verdade é essa! Mas vamos cons-
o agravo casa um pouco com o cálculo atuarial. Só para truir esse tipo de registro. Vamos falar um pouco ama-
equalizar o nosso entendimento: um paciente é por- nhã sobre o cálculo atuarial.
tador de uma doença ou lesão preexistente, declara no Quero abordar agora um tema citado nas duas úl-
momento da entrada, tem que receber duas alterna- timas perguntas. A agência entende que o cartão de
tivas: requerer ou o cálculo desse agravo ou a cobertura desconto, que foi uma das medidas não polêmicas que

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 89

permaneceram na lei, não é um plano nem um seguro, A Dra. Lígia Bahia


mas que interfere no mercado de saúde suplementar Quanto ao terceiro bloco, a minha sugestão seria que...
e terá que ser regulamentado. Evidentemente existe Até, se você não quiser responder, declinar, tudo bem.
uma prática que pode ser colocada. Isso, pelo seguinte: quanto a uma das perguntas, sugi-
(Pausa) ro que tentemos uma negociação e que passemos para
a parte da manhã de amanhã, quando o senhor e o Dr.
Estou recebendo a informação que saiu, mas, de Barroca, que integram a mesa, também estarão pre-
qualquer forma, mesmo tendo saído, continuamos sentes – refiro-me à regulação de preços. Vamos ver se
acreditando que interfere no mercado de saúde suple- isso é possível.
mentar, e se interfere no mercado de saúde suple- Faço essa sugestão porque existem solicitações por
mentar, tem que ser regulamentado. Não é possível o parte do Dr. Edson e por parte do Dr. Diniz, pois eles irão
consumidor comprar uma listinha, um cartão com uma expor seus pontos de vista em um tempo muito limi-
lista atrás, acreditando que está comprando cobertu- tado. Vamos ver, então, se será possível conciliarmos
ra médica mas não está. todas as necessidades.
E a odontologia, para finalizar esse segundo bloco?
Posteriormente, gostaria apenas de sugerir algumas pro- “O que está sendo feito, efetivamente, para o acompa-
postas. Mas com relação à odontologia, de forma alguma nhamento da execução da lei atual e quais são os
queremos excluir a saúde bucal. Temos um grupo tra- resultados disso? É verdade que, dos mais de 20 bilhões
balhando especificamente com o rol de procedimentos que circulam nos planos de saúde, 70% são de lucro?”
odontológicos, que, aliás, tem ensinado muito para o rol Estas perguntas vêm do Dr. José Roberto, Diretor da
de procedimentos médicos. É um setor que me espanta Federação Nacional dos Médicos. Acredito que elas
pelo seu crescimento. Não o conhecia. Tem especificida- podem ser deixadas para amanhã.
de, sim. Não se trata da mesma situação. A odontologia
é tratada como o setor médico em toda câmara de saú- A reação à MP – trata-se, na realidade, mais de um
de suplementar. Esses setores não são iguais. A odonto- posicionamento – demonstrou o entendimento de que
logia tem características especiais e formas especiais de a hierarquização do atendimento teria objetivo apenas
atuação. É exótico, às vezes, falar de preexistência ou financeiro – restrição ao acesso e redução de gastos.
recorrência; enfim, é um mundo diferente, uma reali- Dessa forma, está correta a reação popular. Por outro
dade diferenciada. Naquele momento foi retirada a lado, se a hierarquização fosse trabalhada como uma
obrigatoriedade da cobertura odontológica. Não há im- forma de modificar o enfoque da doença para o ser hu-
pedimento para se oferecer um plano ambula- mano, poderíamos melhorar a resolutividade primária,
torial-hospitalar com odontologia. Estou falando de obter maior eficiência na utilização dos recursos e mai-
planos obrigatórios. A retirada da obrigatoriedade da or eficácia do sistema, independentemente da redação
cobertura odontológica foi conversada inclusive com di- futura. Qual é a real intenção da ANS com essa MP?
versos atores desse mercado de odontologia, que
afirmaram não ser possível misturar, que seria tudo lí- E a última pergunta desse bloco:
quido, mas as coisas não se misturam e não vão nos “Inovando com relação à total inexistência de
ajudar, e, sim, nos atrapalhar. Mas isso pode se revisto. limitadores, moderadores nas coberturas e proibindo
Agora, é preciso ter claro que as coisas não estão a operadora de exercer qualquer controle de utiliza-
impedidas de se somar e é um mercado que vai preci- ção correta ou incorreta de recursos, a ANS não teme
sar de regras. A consistência técnica dele é diferente. que haja crescente nível de utilização de recursos de
Acho que acabei esse bloco. forma irracional, elevando o custo ao consumidor

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


90 Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde

final? Será que todos os países do mundo estariam er- mos na regulação do setor. Eu, então, quero dizer que
rando na estratégia aplicada ao setor de saúde e essa foi uma coisa boa que ficou, ou seja, foi ampliada a
somente o Brasil estaria no caminho certo?” representação dos médicos. Temos que valorizar o es-
paço institucional existente, hoje, para os debates.
Eu separei esse bloco; são perguntas que, por as- Enfim, mesmo tendo, às vezes, opiniões divergen-
sim dizer, contêm um certo posicionamento. Eu não tes ou, às vezes, alguns problemas, eu queria deixar
sei o que o senhor prefere fazer. registrada, relativamente à ANS, a vontade de conti-
A quarta pergunta, Barroca, é uma pergunta que nuar ou de voltarmos a nos aproximar do Conselho
estou sugerindo deixar para amanhã – é uma pergun- Federal de Medicina para que possamos discutir o que
ta de Amaury da Mata. Não sei se ele está presente no é uma rede, como se monta uma rede. Enfim, os aspec-
plenário e se ele concordaria com esse encaminha- tos técnicos, atuam no sentido sinérgico das atribui-
mento. É uma pergunta sobre o valor da mensalidade ções das duas instituições.
dos contratos antigos em relação aos contratos novos. Ao encerrar a minha fala, faço-o com essas duas
Acho que todos concordam com esse encaminhamen- explicações, que julgo extremamente oportunas e me
to; deixaremos para amanhã. dá satisfação em fazê-las.
Quanto a este terceiro bloco, não sei o que o se-
nhor deseja... A Dra. Lígia Bahia
Vou passar imediatamente ao fechamento da Mesa,
O Dr. João Luís Barroca de Andréa fazendo uma pergunta ao Dr. Edson e pedindo-lhe que
Eu apenas gostaria de fazer uma colocação final nesse responda a uma pergunta feita pelo Sr. Diniz, que, por
sentido. Pelo que estou entendendo do encaminha- sua vez, terá direito à tréplica.
mento que a Mesa quer dar, eu devo fazer uma Em primeiro lugar, cabe esclarecer que a autogestão
colocação final, não é isso? – citada hoje pela manhã pelo Ministro da Saúde, Sr.
José Serra, como uma das segmentações bem-sucedi-
A Dra. Lígia Bahia das no setor saúde – a autogestão tem como missão a
Exato. saúde e a qualidade de vida dos nossos usuários.
O senhor fez uma citação em sua apresentação,
O Dr. João Luís Barroca de Andréa dizendo que as empresas de autogestão – citando o
Eu só queria destacar – além da extrema satisfação de nome do Sr. Carlos Diniz, Presidente do Ciefas –, esta-
podermos ter esta discussão, que consideramos inicial riam cerceando assistência médica e procedimentos.
– o que ficou com a MP. Corrijam-me se eu estiver er-
rado, mas não acredito que isso vá acontecer, pois já ”Pergunto: como alguns de seus colegas – nós, os
chequei aqui: foi o atendimento, ou seja, houve uma médicos – solicitam raios-x e uma tomografia de
mudança e a Associação Médica Brasileira passou a não tórax ao mesmo tempo? Qual a necessidade dos
ser mais uma convidada. Houve outras modificações dois exames ao mesmo tempo, pois este é apenas
na Câmara de Saúde Suplementar, mas a Associação um dos exemplos?”
Médica Brasileira, hoje, tem assento na Câmara de Saúde Pergunta de Vanir, da Fassincra.
Suplementar. Isso é muito importante.
Eu entendi que a proposta do Dr. Eleuses Vieira de O Dr. Edson Oliveira
Paiva, que é o presidente da AMB, era, exatamente, valo- Vamos por parte. Primeiro, apesar de reconhecer o va-
rizar a Câmara de Saúde Suplementar como um espaço lor, competência e toda a história do Ministro Serra,
de discussão e de negociação para que nós avançásse- não me sinto obrigado a concordar com tudo o que

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa3 – Fiscalização, defesa do consumidor e direito à saúde 91

S. Exª pensa sobre o sistema e sobre isso tenho algu- feita pela AMB, que jamais foi imposta em lugar ne-
mas divergências. Em segundo lugar, essa pergunta é nhum e a ninguém, a nenhum plano e a nenhum
do tipo daquelas para pegar no pé. Traz um caso con- médico. O Conselho Federal de Medicina – está regis-
creto para tentar tirar dele as ilações do geral. trado – sempre se negou a colocar aquilo como preço
Eu poderia até responder a essa questão com tran- vil, porque entendia que o processo de negociação, de
qüilidade porque sou pneumologista e é possível relacionamento entre as partes envolvidas não pode
responder. Eu poderia listar aqui situações possíveis. estar numa camisa-de-força. Asseguro-lhes que isso
Mas não é isso que a companheira da Fassincra está não existe. Desafio alguém a dizer que a tabela da AMB
querendo. Ela está trazendo uma questão real: o uso tenha sido imposta pelo Conselho Federal de Medici-
inadequado, circunstancialmente, da tecnologia pelo na como sendo obrigatória por todos os médicos.
médico, às vezes despreparado, eventualmente sem Sabe o resultado disso aí? O Ciefas foi que nos le-
condições de usar o recurso da maneira mais adequa- vou ao Cade. Médicos, aqui presentes, e operadoras:
da. Existe isso. Mas, se existe má fé, e é o que está não há, neste Brasil, um cartel, do ponto de vista de
embutido nisso aqui, o desafio é retornado para a tabela, maior e mais fechado do que o do Ciefas! Esta-
Fassincra e para todo o Ciefas. Estamos abertos em to- mos levando-o ao Cade. O Colégio Brasileiro de
dos os estados, por meio dos Conselhos Regionais de Radiologia está levando-o ao Cade, pois se trata de
Medicina, e dispostos a analisar – e fazemos isso com a cartel, embora não digam que o é. Agora, os aneste-
maior tranqüilidade e a maior transparência – todos sistas resolvem organizar-se para trabalhar, nesta selva
os atos médicos questionados e colocados sob que é, hoje, a assistência à saúde, já vira cartel e ban-
suspeição de correção. Tenho certeza absoluta de que dido. Não posso, como representante dos médicos, sair
não existe nenhuma profissão neste Brasil que o faça daqui, aceitando uma afirmação dessa natureza. As-
na dimensão, na responsabilidade e no compromisso sim, estou aqui para repudiá-la com todas as letras e
que os médicos fazem. Então, os conselhos estão, em para denunciar que, se existe um cartel aqui, amigo
cada estado, com as portas abertas. E diria até mais: a Barrocas, esse cartel se chama Ciefas, que baixa uma
maioria dos conselhos têm, nas grandes concentrações norma de norte a sul, com cuja tabela todos têm de
urbanas, delegacias. E no mais, dentro dos hospitais, trabalhar. Ninguém pode fugir dela, senão está fora.
onde o conselho atua por intermédio das comissões de Por isso, tenho muitos pedidos, em meu consultório,
ética, braço estendido do conselho junto aos hospitais, de Ciefas, seus associados e correlatos, e jamais entrei.
também ali estaremos dispostos a receber qualquer É uma vergonha! Mas não dá para agüentar pessoas
tipo de reclamação nesse sentido. passando por bom moço – não na pessoa do Diniz, mas
Rapidamente, gostaria de agradecer esse primoro- da instituição que ele representa. (Palmas)
so espaço; como ninguém está sentindo o adiantado
da hora, vamos em frente, pois a questão é palpitante. A Dra. Lígia Bahia
Mas algo me motivou aqui a me posicionar ainda um Passo a palavra ao Diniz, pedindo-lhe que compreen-
pouco mais em relação ao Ciefas. Coincidentemente, da o tom acalorado da discussão, que não vai poder
não fui eu quem manifestou essa posição aqui, no en- continuar. Isso demonstra a necessidade de aprofun-
contro, em relação à cooperativa de anestesia. damento da discussão e da organização de novos
Aqui, no Brasil, começou-se um discurso maldoso fóruns de debate para que o problema, de fato, seja tra-
contra médico. Existe algo que parece orquestrado; tado como merece.
então, o médico não pode se organizar. Toda vez que o Volto a insistir que, amanhã, haverá uma mesa so-
faz, cria cartel, ele se torna um indivíduo contrário à bre regulação de preços. Algumas dessas questões
sociedade. Temos uma tabela de honorários médicos, ficarão para mais tarde.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


92 Mesa3 – Fiscal ização, def esa do con sumidor e dir eit o à saúde

Agradeço ao Diniz, que está, pacientemente, espe- disposição para qualquer tipo de diálogo e negociação
rando para falar. Ele está atrasado para o seu vôo, mas com as associações médicas, associações estas que
foi provocado para uma resposta. considero parceiras estratégicas na construção de um
Passo a palavra ao Diniz. novo modelo assistencial que seja mais justo e que in-
clua mais pessoas.
O Dr . José Din iz de Ol iveir a
Não há problema. A Dr a. Lígia Bahia
Eu gostaria de lembrar que o Ciefas foi ao Cade, Obrigada ao Dr. Diniz.
porque se sentiu prejudicado numa relação que é da Conseguimos analisar as perguntas feitas, com
atribuição do Conselho de Direito Econômico. Se o Co- exceção de três posicionamentos finais para os quais
légio Brasileiro de Radiologia se sentir, igualmente, gostaria de utilizar 60 segundos. Um é da Lúcia de Fá-
prejudicado, é justo e legítimo que ele também procu- tima, que lamenta a situação do sistema de saúde
re o Cade. Para isso, existem essas instâncias. Eu la- brasileiro, tanto no setor público como no setor priva-
mento! O ideal seria que resolvêssemos com diálogo e do, com as restrições de acesso de ambas as partes.
negociação. Renovo minha disposição. Estive, numa Outro é do Marcelo Sidney, que chama a atenção
reunião, na AMB, junto com o Dr. Edson, para iniciar- para o fato de que este simpósio está centrado, única e
mos essa negociação. exclusivamente, na assistência médica. Ele lamenta o
Precisamos, também, ter um entendimento quan- fato de outras profissões de saúde não estarem sendo
to ao seguinte: não existe cartel de comprador. Isso contempladas. Obviamente, esse é um posicionamento.
consta dos compêndios da economia. Existe cartel de Por fim, o posicionamento de José Luis Amaral, da
quem vende e de quem impõe seu preço. O Ciefas se or- Associação Paulista de M edicina, que não concorda
ganiza e também não admite falar de tabela e, sim, refe- com que a ação da ANS deva ser um megaequilíbrio
rencial do honorário médico. Não existe tabela de nor- entre partes, operadoras e consumidoras. Ele chama
te a sul porque os preços são negociados localmente. atenção para a necessidade de a ANS se posicionar cla-
Para que tenham uma idéia, presido o Ciefas nacio- ramente a favor da defesa da saúde, da cidadania do
nal. Mas o Ciefas acontece de verdade, nas pontas, por povo brasileiro.
meio das superintendências estaduais, que têm total Aviso às Sras. e aos Srs. que os trabalhos, amanhã,
autonomia. Nem sequer tenho ingerência. Eles não serão iniciados às 9 horas em melhores condições
devem subordinação alguma ao Ciefas nacional. de infra-estrutura.
Somos também contra qualquer imposição de pre- Amanhã, estarão presentes funcionários da ANS
ço que inviabilize a operação, seja do médico, do que hoje já nos ajudaram e amanhã nos ajudarão em
hospital ou do centro de diagnóstico. Queremos che- período integral.
gar a um preço justo porque não nos interessa nenhum Agradecemos a iniciativa do Conselho Federal de
tipo de negociação em que fôssemos eficientes e em Medicina , que vai colocar à disposição quatro funcioná-
que sufocássemos nosso parceiro. Vamos, sim, defen- rios para ajudar na infra-estrutura. Pedimos desculpas
der o int eresse dos nossos f ilia dos sem pre que em nome do Conselho Nacional de Saúde e do Senado
necessário. Se deixo um voto aqui, ele não é de diver- Federal por todas as dificuldades por que passamos.
gência. Temos divergência, sim, no entendimento, e Agradeço a paciência de todos e a riqueza dos de-
vamos discuti-la. Mas o Ciefas está, absolutamente, à bates. (Palmas)

Simpósio: Regul amen t ação dos Pl an os de Saúde


93

Mesa 4
Estrutura das operadoras

Coordenador
Senador Tião Viana

Componentes
Dra. Lúcia Salgado
Dr. Antônio Rodrigues de Barros Jr.
Dr. Celso Corrêa de Barros
Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes

A Dra. Lígia Bahia ver tão participativa a primeira abertura, que foi on-
Convido para compor a Mesa “Estruturas das Opera- tem, com a presença do Ministro da Saúde, do Presi-
doras” o Senador Tião Viana, que vai coordenar os dente do Senado, dos representantes das entidades
trabalhos desta primeira Mesa; a Dra. Lúcia Salgado, que atuam em relação ao tema “Seguradoras e Planos
ex-Procuradora do CADE; o Dr. Antônio Rodrigues de de Saúde no Brasil”.
Barros Júnior, Diretor de Operadoras de Planos de Saú- Também quero dizer que sou daqueles cujo man-
de da Confederação das Misericórdias do Brasil; Dr. dato é dedicado à política de saúde pública no nosso
Celso Corrêa de Barros, Presidente da Confederação Na- país. Tenho atuado de maneira incansável, ao lado de
cional das Cooperativas Médicas, Unimed do Brasil; e a outros senadores que representam o debate de saú-
Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes, Diretora de de na Casa, como os Senadores Lúcio Alcântara,
Normas e Habilitação de Operadoras da Agência Nacio- Geraldo Althoff, Sebastião Rocha, Carlos Patrocínio e
nal de Saúde Suplementar. Mozarildo Cavalcanti, e de inúmeros deputados fede-
Cada expositor dispõe de 15 minutos. Depois, pas- rais que têm também uma força dirigida de seu
saremos às respostas das perguntas encaminhadas, mandato para a área de saúde.
que podem ser feitas durante as apresentações. Entendo que haveremos de conquistar um momen-
Obrigado. to em que haja cumplicidade, mediada pelo elemento
ético, entre o interesse e as ações da empresa, atenden-
O Senador Tião Viana do a um total de quase 40 milhões de usuários neste
Bom dia a todos! Quero externar, inicialmente, a minha país, com a função social claramente declarada, expos-
satisfação, como membro da Comissão de Assuntos So- ta a todo o povo brasileiro e ao interesse público. Na hora
ciais, de presidir esta Mesa que estamos iniciando agora, em que alcançarmos essa cumplicidade pautada pela
num simpósio que estabelece a regulamentação dos ética, estaremos muito tranqüilos nessa relação diária
planos de saúde. Gostaria de dizer da minha alegria ao entre os planos e os serviços de saúde.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


94 Mesa4 – Estrutura das operadoras

O aparelho de Estado tem tentado adaptar-se a Não uso mais o chapéu do CADE, que usei por quatro
esse momento, quando se vê surgirem a Agência Na- anos como conselheira, não como procuradora. Era
cional de Saúde Suplementar, aqui representada, a esse o esclarecimento que gostaria de fazer.
Agência Nacional de Vigilância Sanitária e os outros Sei que tenho quinze minutos para falar e que, no
instrumentos do poder público de regulamentação e décimo segundo minuto, vou receber um puxão de ore-
apoio a essa modalidade de serviço no Brasil. lha. Lavro meu protesto de que é uma crueldade
Espero que este seminário tenha como resultado o conceder quinze minutos para uma mulher falar. En-
amadurecimento do debate, o respeito aos interesses fim, tentarei falar quinze minutos. Por conta disso,
e o equilíbrio deste. Espero sinceramente que o nosso organizei minha fala, centrando-me em dois pontos de
debate, hoje, possa ser de grande contribuição a todos interesse na discussão: a mobilidade do consumidor
que estão aqui. Tentarei ser o mais obediente possível entre os planos de saúde e a unimilitância. Para não
ao horário, para que possamos aproveitar, ouvindo os fugir ao vício de professora, parto de uma démarche
que estão nos assistindo e têm interesse em emitir as conceitual e teórica para chegar a esses dois pontos, no
suas opiniões. caso concreto, da regulamentação de planos de saúde.
Estaremos representados no debate pela Dra. Lúcia Partindo dessa démarche conceitual, por que existe
Salgado, ex-Procuradora do Conselho Administrativo de regulação? Ora, existe regulação, porque, infelizmen-
Defesa Econômica (CADE); o Dr. Antônio Rodrigues de te, o mercado não é o que gostaríamos que ele fosse
Barros Júnior, Diretor de Operadoras de Plano de Saúde em várias das suas representações no mundo real. Há
e da Confederação das Santas Casas de Misericórdia do muitos mercados onde há falhas, para se usar a termi-
Brasil; Dr. Celso Correia de Barros, Presidente da Confe- nologia técnica. Essas falhas são representadas pela di-
deração Nacional das Cooperativas Médicas, Unimed ficuldade do mercado em prover os sinais adequados
do Brasil; e, representando a Agência Nacional de Saú- para que as escolhas tanto de produtores, quanto de
de Suplementar, a Dra. Solange Beatriz. consumidores sejam as melhores possíveis. Assim, exis-
Então, passo inicialmente a palavra à Dra. Lúcia Sal- te a regulação, justamente porque existe informação
gado, que representa o CADE, com o prazo de 15 assimétrica, dificuldade de entrada e saída de provedo-
minutos, informando que, com 12 minutos, avisarei que res, dificuldade de os consumidores fazerem as esco-
terá mais três minutos para a conclusão. lhas que decidirem no momento da sua necessidade de
recorrer a um plano. De uma maneira geral, a regula-
A Dra. Lúcia Salgado mentação existe para reequilibrar relações de mercado
Muito obrigada. Bom dia a todos. É para mim uma gran- que são, estruturalmente, assimétricas e desequilibra-
de honra poder fazer parte de um debate, de uma das em função da presença de falhas de mercado.
discussão dessa magnitude, dessa importância. Agra- No caso específico dos planos de saúde, existe uma
deço o convite aos organizadores, em particular ao particularidade essencial e muito bem notada, na se-
Conselho Nacional de Saúde e também à Comissão de mana passada, por um dos grandes jornais da mídia, em
Assuntos Sociais do Senado Federal. um editorial que mencionava o fato de que existe um
Gostaria apenas de fazer um reparo. Na verdade, problema essencial na área de planos de saúde. Para
não represento o CADE. Já usei vários chapéus ao lon- as operadoras, a saúde é um negócio e, por conta disso,
go da minha vida profissional. Em geral, uso vários tem preço. Para o consumidor, a saúde não tem preço.
chapéus ao mesmo tempo, os quais vou trocando. Um Achei essa definição lapidar. Como os jornalistas têm
dos que uso é o de militante pelo direito da concorrên- curto espaço de manifestação, às vezes, têm tiradas de
cia e do consumidor, através de uma ONG que presido; muito espírito. Essa afirmação joga luz sobre um dos
também uso o chapéu de professora e pesquisadora. aspectos básicos dessa particularidade nesse mercado:

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


M esa4 – Est r ut ur a das oper ador as 95

o fato de que existe a possibilidade de abuso de posi- Quero chamar a atenção para um desses pontos da
ção dominante, abuso de posição de monopólio por regulamentação: a questão da entrada e da saída. Esse
parte da ofertante do serviço sobre a sua clientela ca- ponto se concretiza na obrigatoriedade de prestação
tiva. Por outro lado, há contraponto do mesmo fenô- – isso de maneira geral e, em particular, na lei. Imagi-
meno do ponto de vista econômico. Existe essa possi- no seja esse item um dos pontos de discussão aqui
bilidade de abuso de posição dominante ou de posição neste importante simpósio, nesta jornada de dois dias:
de monopólio, justamente porque a demanda pelo a obrigatoriedade de prestação de serviços de forma
bem, no caso os planos de saúde, é inelástica. O que mais ampla do que seria a realidade em um mercado
significa dizer que a demanda é inelástica? Que o au- livre. Isso significa cobertura em termos de abran-
mento de preços não f az com que o consumidor gência das doenças a serem atendidas, cujo serviço
diminua, de forma mais do que proporcional, a deman- será prestado, e, ao mesmo tempo, o atendimento de
da por aquele bem, até porque ele depende daquele todas as faixas etárias. Chamo a atenção para esse pon-
bem para viver. to porque essa é uma questão crucial. Uma regulamen-
Assim, essa é uma particularidade desse mercado, tação de planos de saúde que não se atenha sobre esses
que torna sua regulamentação mais crítica e dramáti- dois pontos é falha, pois, em condições de livre merca-
ca do que a de outros setores. Estudo vários mercados do, o natural seria que aquelas doenças que implicam
e sei que é importante a regulamentação do uso das gastos mais dispendiosos simplesmente não seriam
águas, da telefonia, etc., mas não há nada que se igua- atendidas, numa lógica empresarial de mercado livre.
le à regulamentação da oferta do serviço de saúde. Da mesma maneira, determinadas faixas etárias
Do ponto de vista concreto, o regulador se depara, cujo risco atuarial é muito elevado, cuja possibilidade
imagino eu, quotidianamente, com um grande desa- de uso do plano é muito elevada, também teriam difi-
fio. Ele precisa andar no fio da navalha, que é garantir culdades de obter atendimento. É justamente a função
o funcionamento do mercado, que significa, de um do regulador garantir essa amplitude, porque o merca-
lado, garantir a rentabilidade adequada para as prove- do falha aí. A tendência no mercado livre seria a saída,
doras poderem participar do mercado, oferecer seus ou nem haveria sequer a entrada de ofertantes em seg-
serviços, levando em consideração a razão legítima de mentos que implicam maiores dispêndios e maior risco,
que a saúde é uma mercadoria para essas operadoras, maior sinistralidade, usando a linguagem dos seguros.
ao mesmo tempo a agência reguladora tem a obriga- Estive acompanhando as críticas, até para fazer jus
ção de zelar pelo bem-estar dos consumidores. É um à minha participação aqui. Na última semana, li inten-
fio da navalha muito complicado, e eu realmente não samente tudo o que foi possível sobre planos de saúde.
invejo a posição de um regulador da área de saúde. E chamou-me a atenção a afirmação feita pelo Presi-
Ainda nessa démarche conceitual, os três aspec- dente da Abramge ao jornal Folha de São Paulo, em que
tos principais de regulação, aqueles três pontos-chave criticava a abrangência no que diz respeito à cobertura
sob os quais se detém a regulamentação em qualquer ampla de doenças por parte de planos de saúde. E ele
setor, são sempre preço, qualidade e mecanismos de dizia que isso “não se tratava da realidade do Brasil”. Era
entrada e saída. É justamente isso que faz, depois de essa a expressão.
muitos anos sem nenhuma regulamentação, a Lei nº Na verdade, permito-me discordar dessa afirmação.
9.656, de 1998. Ela estipula regras para o funciona- Penso que irrealista é supor que é possível organizar
mento adequado, ou seja, para superar as falhas de um mercado que funcione bem graças às regras de
mercado na linha de prover regras para preços, para regulação que garantem um bom equilíbrio entre a ren-
qualidade do fornecimento de serviço e também re- tabilidade e o bem-estar dos consumidores. É difícil
gras de entrada e saída. imaginar um mercado em que não haja ampla atuação,

Simpósio: Regul amen t ação dos Pl an os de Saúde


96 Mesa4 – Estrutura das operadoras

em que não haja ampla cobertura de programas de vêm salientando – é um mecanismo fundamental para
saúde. Na verdade, os tempos que enfrentamos são reduzir o poder de mercado e de monopólio que as ope-
outros. Antes da estabilidade de preços, havia outras radoras detêm sobre os consumidores que são sua
possibilidades de se obter rentabilidade que não a pres- clientela cativa. Então, a possibilidade de migrar numa
tação de serviço de saúde, ou seja, pela chamada “ciranda disputa em que não se chegue a um resultado
financeira”. Vários setores, como os supermercadistas, satisfatório para ambas as partes é uma barganha fun-
os de bancos ou, se me permitem, também os setores damental para fortalecer a posição do consumidor –
de assistência à saúde, justamente por mobilizarem que, evidentemente, é assimétrica na sua relação com
um fluxo de caixa muito intenso, tinham a possibili- o operador em virtude, como disse anteriormente, da
dade de equilibrar sua rentabilidade por meio dos inelasticidade da demanda por produtos de saúde.
mecanismos financeiros vis-à-vis os mecanismos pró- O último ponto a ser abordado – espero respeitar os
prios da sua atividade-fim. Hoje, isso não é mais meus 15 minutos – refere-se à convergência da atuação
possível, e, certamente, uma adequação à nova reali- de uma agência de defesa da concorrência, a exemplo
dade é necessária. Entretanto, imagino que essa nova do Cade, como uma agência regulatória. Existe um as-
realidade supõe um atendimento amplo e correto da sunto relativo à proibição da unimilitância, que foi
totalidade das faixas etárias e de toda a gama de do- analisada pelo Cade em 19 processos contra uma coo-
enças a que a população está sujeita na sociedade. perativa, resultando em multas de mais de R$1 milhão
Outro ponto que também me parece importante entre os anos de 1999 e 2000. O entendimento era que
numa regulamentação adequada é atacar a falha de essa operadora detinha posição dominante e mesmo
mercado representada pela dificuldade de mobilidade monopolista por especialidades médicas em várias ci-
de consumidores entre planos de saúde. Ora, essa fa- dades e obrigava seus médicos a fazerem parte apenas
lha é crucial, porque é da natureza do livre mercado a daquela cooperativa, não podendo ser filiados a nenhu-
livre escolha. É natural do bom funcionamento do mer- ma outra. Este fato é muito claro do ponto de vista da
cado que o consumidor possa optar por aquilo que lhe concorrência: a impossibilidade de entrada de concor-
traga maior utilidade e satisfação e que as empresas rentes – analisando diretamente o assunto – e o prejuí-
escolham soluções que lhe ofereçam maior rentabili- zo ao consumidor, que deixa de poder fazer escolhas.
dade. Esse conflito de interesses é natural e típico do Havendo, assim, a unimilitância obrigatória numa
mercado, mas cabe ao poder regulatório justamente área em que aquela empresa era monopolista, justa-
tentar dirimi-lo. Um ponto difícil da discussão estava mente por deter a filiação de todos os especialistas – por
presente na última medida provisória, tendo sido, po- exemplo, na área de cardiologia ou de otorrinolaringo-
rém, retirado. É uma questão em debate aqui. Da logia –, esse procedimento implicava a impossibilidade
maneira como é regulado o mecanismo de carência, do consumidor de escolher outras operadoras – o que
pode-se aumentar ou diminuir o poder de mercado das fere a Lei de Concorrência. Essa atitude foi condenada
operadoras. Trata-se de uma das funções primordiais da pelo Cade numa jurisprudência mais do que confirma-
agência regulatória. Estou terminando, pois organizei, da. É interesse porque essa mesma regra é prevista na
sob protesto, minha exposição para durar 15 minutos. lei, não apenas na presença de poder de mercado. O
A agência regulatória pode aumentar ou diminuir regulador entende que a imposição de unimilitância
o poder de mercado das operadoras quando enfrenta – a meu ver, corretamente – é um empecilho à livre
esse ponto da mobilidade. A adoção da obrigatoriedade escolha do consumidor.
da compra de carências já cumpridas pelo consumidor Espero ter respeitado os meus 15 minutos e conti-
– que, se bem entendo, é um dos pontos que o Idec, o nuo à disposição da assistência para o debate.
Procon e outras entidades de defesa do consumidor Muito obrigada. (Palmas)

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 97

O Senador Tião Viana fica na própria instituição, sendo aplicado no seu capi-
Agradeço, em nome do simpósio, à Dra. Lúcia Salga- tal de giro bem como num investimento em equipa-
do, diligente e extremamente obediente ao seu mentos também utilizados por todos aqueles que usam
tempo, utilizando 15 minutos. Ela foi citada como ex- o hospital – carentes, SUS, conveniado ou particular.
procuradora do Cade, mas é necessário retificar: ela O apelo mercadológico para esse lançamento foi o
foi ex-conselheira daquele órgão. da própria origem das Santas Casas: trazer de volta a
Passo a palavra ao Dr. Antonio Rodrigues de Barros população para contribuir com o hospital de sua cida-
Júnior, Diretor de Operadoras de Planos de Saúde da de por meio não mais de uma doação, de um bingo ou
Confederação das Santas Casas de Misericórdia do Bra- de uma rifa, mas de uma contribuição monetária em
sil, dando continuidade à mesa-redonda cujo tema é troca de prestação dos serviços à sua comunidade. As-
estrutura das operadoras. V. S. dispõe de 15 minutos. sim foram constituídos diversos planos de saúde próprios
e hospitais filantrópicos, apesar de todas as dificulda-
O Dr. Antonio Rodrigues de Barros Júnior des e reações contrárias de medicinas de grupo, das
Bom dia. Saúdo a Mesa, a Comissão organizadora e to- cooperativas médicas e, principalmente, de seu próprio
dos aqui presentes. corpo clínico, causadas por motivos que contrariavam
Antes que a crueldade me alcance, iniciarei a mi- interesses e relações estruturais já estabelecidas. Hoje,
nha exposição. respondem pelo atendimento de cerca de três milhões
Apesar de ser muito pouco produtivo falar do pas- de vidas em todo o Brasil, em torno de 40% somente no
sado, pois não é mais possível mudá-lo, nesse caso das Estado de São Paulo num espaço de 10 anos.
operadoras filantrópicas de planos privados de saúde, Quanto à implantação dos planos de saúde pelas
vale a pena, como contraponto à atual regulamenta- empresas filantrópicas, o Governo também beneficiou-
ção e contribuição para a eventual revisão legal hoje se com a diminuição de usuários de procedimentos
existente, para se conseguir atender às necessidades feitos pelo Sistema Único de Saúde, pois, na montagem
vitais do setor filantrópico. desses planos, sempre houve a preocupação de atender
A única razão que levou as Santas Casas e os Hospi- à capacidade financeira do consumidor daquela comu-
tais Filantrópicos a constituírem seus planos de saúde nidade específica, possibilitando o maior acesso possível
foi a necessidade fundamental de ter uma fonte de re- das diversas camadas econômicas da população.
ceita alternativa de tal maneira a amenizar o déficit Enfim, com tais planos de saúde todos ganharam.
causado pelo atendimento aos beneficiários do SUS. O consumidor logrou um plano mais em conta; o go-
Decorrente de sua própria natureza, as entidades verno, com menos usuários para o SUS; os creden-
filantrópicas gozam de determinados benefícios fis- ciados, com melhor remuneração; e a Santa Casa, com
cais. Entretanto, como atendem quem procura hos- uma receita adicional sem as dificuldades legais de ser
pital e, então, têm suas quotas do SUS ultrapassadas, uma operadora até então.
o referido benefício só é assim suficiente para cobrir o Por que uma Santa Casa não pode mais vender seus
déficit desse sistema; ou seja, como regra geral, a re- serviços até o limite de sua complexidade sob a forma
ceita do SUS, incluindo a isenção, não cobre o custo de contribuições mensais? Trata-se de um plano de
total dos atendimentos. saúde? Hoje é. Dessa forma, transformou-se numa ope-
Portanto, convém que fique clara a única e a ex- radora, devendo cumprir todas as exigências e regula-
clusiva razão que fez com que as entidades filan- mentações da Agência Nacional de Saúde Suplementar,
trópicas entrassem no setor de planos de saúde: uma decorrentes da Lei nº 9.656.
necessidade de receita complementar. Além disso, Hoje, sentimos a necessidade de ter uma forma-
quando há superávit no plano de saúde, esse recurso tação devidamente regulamentada de planos de saúde

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


98 Mesa4 – Estrutura das operadoras

com subsegmentações e coberturas na complexidade todos os conflitos contábeis decorrentes da relação


disponível em cada hospital, que permitisse a prática hospital/operadora; constituição de reservas finan-
de um preço menor e, assim, atender ao maior núme- ceiras ou escassez de recursos, que é uma constante;
ro possível de pessoas. Acredito que esse procedimento necessidade de cálculos atuariais, exigindo maior cus-
seja possível desde que se queira formar parcerias. Mais to; questão de reajustes, onde o bom desempenho
uma vez, a comunidade voltaria a participar do hospi- não pode ser capitalizado. Enfim, custos que até en-
tal de sua cidade. Fica o desafio para encontrarmos tão não existiam, mas que pesam na destinação de
soluções mais práticas, mais próximas do chão da fá- recursos já tão escassos.
brica e com menor preço de venda possível. Exceções existem de planos de saúde de comuni-
Qual é a realidade atual das Santas Casas? Elas vêm dades de cidades maiores. Mas não é a realidade da
procurando adequar-se à regulamentação dos planos grande maioria que atende a municípios de pequeno
de saúde, não obstante todas as dificuldades já exis- porte. Concordamos que é preciso uma maior profissio-
tentes, para continuarem administrando seu hospital nalização no setor, não há dúvida. Mas como financiar
e procurando não deixar de atender às exigências le- essa modernização estrutural? Sabemos o que precisa
gais a fim de permanecer no mercado com seus planos ser feito na estrutura interna das operadoras. E é o que
de saúde. E por uma razão muito simples: se pararem, será apresentado. Mas é preciso criar formas de finan-
fecham as portas. Não há como continuar sem a recei- ciamento para atender a tais necessidades, sob pena
ta gerada pelos planos de saúde, já incorporada ao seu de prejuízos maiores para a assistência à saúde das
capital de giro e ao seu investimento. Sem tal receita, comunidades. É hora de somar e não de dividir. Os re-
não têm como pagar a folha de pagamento de seu qua- cursos são escassos. Portanto, se não aproveitarmos a
dro de pessoal. Portanto, o aspecto do lucro, tão necessá- participação da comunidade no equacionamento da
rio a toda empresa para continuar a gerar rendimentos saúde, as conseqüências serão, com certeza, bem mais
a seus acionistas ou investidores, no caso das Santas negativas. Os planos de saúde das Santas Casas havi-
Casas não existe. Seu superávit permanece no hospital am conseguido e continuam sendo parte da solução.
a fim de que possa continuar a atender a comunidade, Qual é a estrutura de que precisamos? Cinco pon-
deixando de investir em seu plano de saúde. tos devem ser destacados e são perseguidos para
Portanto, em termos de estrutura de operadora, formar a nova estrutura necessária a fim de propiciar
estamos hoje, com as Santas Casas e hospitais filantró- uma adequada gestão aos planos de saúde das filan-
picos com muita dificuldade de acompanhar e cumprir trópicas: melhor qualificação técnica do pessoal, um
as exigências para serem um operador de planos de saú- adequado sistema de informática, foco no cliente, um
de, tendo em vista a própria deficiência de pessoal e sis- considerado esforço de vendas e gestão de custos. Creio
temas operacionais inerentes ao processo histórico da que isso se aplica muito ao operador, não apenas às
escassez de recursos para a filantropia. Estamos intei- Santas Casas.
ramente de acordo com a regulamentação no setor de Com relação à qualificação do pessoal: quando os
planos de saúde, mas tem dificuldades estruturais de planos de saúde foram lançados, eram mais um depar-
se adaptar totalmente ao que vem sendo exigido. Tan- tamento dentro da organização dos hospitais filan-
to que após o advento da referida regulamentação, não trópicos. O nível do pessoal era encontrado dentro da
houve mais a criação de novos planos de saúde na área própria estrutura existente. Hoje se faz necessário co-
de filantropia. Pelo contrário, estamos perdendo. nhecimento, entendimento, operacionalização e rela-
Citamos, a seguir, algumas questões estruturais cionamento multidisciplinar para cumprir e aplicar todo
que dificultam o funcionamento operacional de seus um conjunto de normas e regulamentos a que estão
planos de saúde: adequação do plano de contas, com sujeitos os planos privados de assistência à saúde. Um

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 99

atendimento mal feito no balcão pode gerar multa e da Câmara, que é a fonte viva das conquistas de saúde
um comprometimento de toda a administração do neste país.
hospital e, por que não dizer, até de seus bens particu- (Palmas)
lares. Convém lembrar que a diretoria de uma Santa Mais uma vez, peço a compreensão do expositor, Dr.
Casa é formada por pessoas que se dispõem a um tra- Antonio Rodrigues de Barros, ante a visita da Frente Par-
balho voluntário e sem remuneração. lamentar de Saúde, que nos honra neste momento, na
A posição não é a de ser contra a necessidade de qual estão representantes da Comissão de Seguridade
regulamentação. Concordamos com ela. Mas são ne- Social da Câmara dos Deputados e também represen-
cessários tempo e recursos financeiros disponíveis. tantes da Comissão de Assuntos Sociais do Senado Fe-
Apenas como exemplificação do grau de dificuldade deral, como o Senador Sebastião Rocha, aqui presente.
atualmente exigido e de que é necessário pessoal com Como também sou representante da Comissão, incluo-
melhor qualificação, citaremos, a seguir, alguns traba- me numa voz que é única a favor da saúde do Brasil.
lhos que antes não existiam, mas que hoje fazem par- Neste momento, solicito a absoluta compreensão
te do dia-a-dia de qualquer operadora: o preparo das e sensibilidade do Dr. Antonio Rodrigues, com as quais
planilhas para as notas técnicas; as planilhas para o sei que conto, e passo a palavra ao Deputado Ursicino
processo de reajuste, com exigências de registro da e- Queiroz, que falará em nome da Frente Parlamentar
volução dos custos nos 24 meses anteriores; montagem de Saúde nesse momento.
do processo e eventuais impugnações de ressarcimen-
to ao SUS; preparação de dados para o acompanha- O Deputado Ursicino Queiroz
mento das operadoras e dos produtos, agora, pela ANS; Srs. dirigentes deste seminário. De início, peço perdão
procedimentos para a manutenção da qualidade do por interromper os trabalhos, mas, como o que estamos
atendimento e do desempenho financeiro das opera- para comunicar diz respeito ao assunto de que se tra-
doras, porque pode gerar uma direção fiscal. Enfim, é ta, sinto-me perdoado.
uma série de trabalhos que exigem conhecimento, en- Minhas senhoras e meus senhores, acabamos de
tendimento, operacionalização e relacionamento com realizar uma reunião da Frente Parlamentar de Saúde,
outros profissionais de melhor nível, ou seja, exigem uma frente suprapartidária que congrega deputados
prazo, recursos e disponibilidade de gerenciamento. e senadores interessados em promover a saúde do ci-
O Sistema de Informática. dadão brasileiro.
Pelos próprios exemplos mencionados no item an- A Frente reuniu-se hoje em caráter de urgência,
terior, fica muito óbvio que, sem um adequado sistema para tratarmos de um assunto de profunda importân-
de informática, não se consegue atender à demanda de cia e repercussão na saúde do cidadão brasileiro. No
informações exigidas pela agência, principalmente. ano de 1999, todos nós que aqui estamos participamos
Vamos aguardar o pessoal sentar. de uma luta titânica pela aprovação da então Emenda
Constitucional nº 29. Esta emenda, que já era o início
O Senador Tião Viana de uma modificação na estrutura do SUS, vinculava e
A Mesa informa apenas que será assegurada a prorro- vincula, por cinco anos, os Orçamentos Federal, Esta-
gação do tempo do expositor, embora a interrupção duais e Municipais. Estes dois últimos são vinculados
se deva a uma honrosa visita da Frente Parlamentar em percentuais: o estado, subindo uma escada até
de Saúde, que, junto à Comissão de Seguridade da Câ- atingir 12% no ano de 2004, e os municípios, iniciando
mara dos Deputados, honra-nos com a sua presença em 7% e chegando a 15% no ano de 2004.
neste momento. Peço a interrupção por alguns segun- Para o Governo Federal – está previsto, está aprova-
dos, para os cumprimentos da Comissão de Seguridade do e faz parte da Constituição, portanto não é uma mera

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


100 Mesa4 – Estrutura das operadoras

expectativa, precisa ser uma certeza –, previa-se que, Já agendamos uma série de contatos e providências.
no ano de 2000, o cálculo base seria todo gasto em O primeiro contato seria com os senhores e com as se-
1999, acrescentando-se 5%. Nos anos subseqüentes, nhoras que estão tratando de um assunto também de
seria aquilo realmente gasto no ano anterior, aplican- profunda importância, que é o do seguro-saúde daque-
do-se a variação nominal do PIB. A aplicação dessa les que, de uma maneira ou de outra, podem tentar
variação nominal do PIB, na verdade, foi um grande pagar. O grave é que agora estamos punindo aqueles
avanço. Imaginávamos, e por isso votamos, que have- que de maneira nenhuma podem pagar e aqueles que
ria permanentemente novo aporte de recursos para o com muito sacrifício podem fazê-lo.
Sistema Único de Saúde, para o Sistema de Saúde Na- Meu caro presidente, senhoras e senhores partici-
cional. Para a nossa surpresa, no ano de 2001, a proposta pantes, gostaria que deste seminário saísse uma mo-
orçamentária já não previa esse incremento. Melhor ção de concordância, de apoio a este movimento que
dizendo, a proposta orçamentária previa, mas a área agora iniciamos. Essa moção será de profunda impor-
econômica do governo, numa interpretação absurda, tância para o fortalecimento do movimento.
perversa, malvada, entende que o ano-base de cálculo Não vamos mais roubar o tempo dos senhores. Agra-
seria permanentemente o ano de 1999 e não o ano decemos a compreensão, a paciência. Pedimos permis-
imediatamente anterior, como está na emenda cons- são ao palestrante pela interrupção que, lhes asseguro,
titucional. Isso leva a um corte de R$1.250 bilhão/ano é danosa, porque ele sabe dizer muito melhor do que
no orçamento do Ministério da Saúde. Se somarmos nós aquilo que está dizendo. Reafirmamos que não so-
os quatro anos, teremos um corte de cerca de R$ 5 bi- mos tolos, não somos idiotas. A manipulação dessas
lhões no setor saúde. verbas da saúde com certeza é um erro que pode matar
Aí é que vem a parte que, se não fosse trágica, se- e, se não corrigida, matará brasileiros. Muito obrigado.
ria cômica. Fizemos um movimento com abrangência
nacional, com abrangência de todas as classes, de to- O Senador Tião Viana
das as entidades do setor saúde, ao elaboramos uma Agradecemos a honrosa e expressiva visita da Frente
emenda para retirarmos R$5 bilhões do sistema saúde. Parlamentar da Saúde, representada pela Comissão de
É evidente que isso nos coloca na incômoda posição Seguridade Social da Câmara dos Deputados e pela
de candidatos a tolos. Queríamos aumentar e conse- Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal.
guimos diminuir. Retomamos os nossos trabalhos.
Para que se entenda o que significam R$5 bilhões, Lamento ter que concordar com uma notícia ne-
neste ano de 2001, o Sistema Único de Saúde deverá gativa, repassada pelo Deputado Ursicino Queiroz que
gastar R$4,2 bilhões com internações de brasileiros. São é um grito de defesa da autoridade do parlamento bra-
cerca de 12 milhões de internações/ano. sileiro, é um grito de defesa do respeito à Constituição
Em resumo, fizemos uma emenda, na interpretação Federal, mas, lamentavelmente, no País tem havido
da equipe econômica, para retirarmos um ano de uma sistemática prática de rasgá-la. Parece que existe
internações hospitalares de brasileiros. E, como não a- um senador virtual e um imperador que se sobrepõem
ceitamos essa interpretação, porque é perversa, repito, à Constituição Federal brasileira e ao parlamento do
malvada, estamos nos mobilizando. Será de fundamen- país, que refletem o interesse popular.
tal importância a participação de todos os senhores, de Agradeço de maneira penhorada a presença da
toda a sociedade organizada, para consolidarmos a vi- Comissão. (Palmas)
tória que obtivemos, em outubro de 1999, na Câmara, Entendo que a matéria tratada pelo Deputado
e, em agosto de 2000, no Senado Federal. Ursicino Queiroz deverá refletir-se diretamente no as-
Temos certeza de que estamos no caminho certo. sunto discutido aqui, retorno a palavra ao Dr. Antônio

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 101

Rodrigues de Barros Júnior, assegurando-lhe a prorro- vos serviços, rever constantemente preços e modali-
gação do tempo necessária ao seu pronunciamento. dades de contratação, atentar para a remuneração dos
credenciados e não se esquecer de ouvir o cliente.
O Dr. Antônio Rodrigues de Barros Júnior O mercado vem sendo aviltado pela concorrência
Apenas para que as pessoas se situem, falamos de qua- desleal de grandes grupos que possuem massa consi-
lificação e agora falaremos sobre informática. derável de usuários e com isso conseguem um preço
Fica óbvio que para atender à demanda de informa- com uma formação de custo menor pela composição
ções exigidas pela agência, até mesmo pelos próprios decorrente de negociações que os pequenos planos de
exemplos mencionados no item anterior, isso não será saúde não atingem. A maioria dos planos de saúde de
conseguido sem um adequado sistema de informática, hospitais filantrópicos são de até 10 mil vidas, insufici-
principalmente – e esta é a parte complicada –, quando ente para se ter uma massa crítica de negociação.
se trata do período anterior quando não se imaginava o Resultado: faz-se necessário um investimento em
que seria exigido no futuro e sob que forma. campanha de vendas, montagem de equipes espe-
Portanto, falar em informática implica falar em cializadas na venda de planos de saúde, utilização de
novos equipamentos, sistema completo de operacio- todo o instrumental de marketing, enfim uma revolu-
nalização e gerenciamento do plano de saúde, e ção em termos de administração para uma Santa Casa,
lembramos que no superávit já autorizado na manu- que fez seu plano apenas para trazer a comunidade de
tenção do hospital não existem sobras financeiras. volta e ter uma alternativa de receita.
A seguinte, por favor. A seguinte, por favor.
Encantar o cliente. Esta é uma afirmação que pre- Sem acreditar que mais uma questão óbvia, a dos
cisa ser bem entendida. Na hora em que a regulamen- custos, está sendo colocada, uma melhor gestão de
tação iguala os produtos em termos de coberturas custos se faz necessária face à posição de seus
assistenciais, portanto, preços similares, vale a quali- credenciados e da igualdade de produtos. Aqui é essen-
dade do atendimento para conquistar e manter os seus cial uma ligação da qualificação do pessoal e do siste-
clientes. A filosofia das filantrópicas choca de frente, ma de informática, para uma análise mais apurada e
pois lá todos são iguais. Em relação aos hospitais, a filo- detalhada dos custos de utilização e da manutenção
sofia sempre foi um bom atendimento, independente- da estrutura operacional.
mente de raça, crença ou convênio, como fica quando O papel do profissional médico auditor tornou-se
se precisa ir ao mercado e conquistar o cliente. fundamental, exigindo-se também uma melhor con-
Assim as filantrópicas estão precisando rever a sua dição técnica e empenho mais profundo.
posição e enfrentar a realidade de mercado, na qual A seguinte, por favor.
produtos iguais e caros estão concorrendo pelo mes- Considerações finais. Como vemos, a estrutura ne-
mo cliente. Serviço de atendimento ao cliente, campa- cessária para as operadoras filantrópicas se adequarem
nhas de prevenção, auditoria do desempenho de à regulamentação exigida, e até – por que não afirmar?
credenciados, treinamento permanente para chefias, – para muitas operadoras dos outros segmentos, passa
enfim, tudo isso precisa fazer parte da estrutura fun- por questões aparentemente evidentes para qualquer
cional de um plano de saúde e de uma Santa Casa. administrador, porém, esta é a realidade, maior aten-
A seguinte. ção e apoio para que planos de saúde de pequeno porte
Esforço de vendas, os produtos precisam levar em – não só de Santas Casas – possam estruturar-se e con-
conta as pesquisas de opinião e o resultado das avalia- tinuar atendendo à população mais carente com digni-
ções e análises dos SACs, para estarem sempre se dade; maior prazo de adaptação para não se inviabilizar
antecipando aos desejos da comunidade, agregar no- a continuidade de planos de saúde das Santas Casas,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


102 Mesa4 – Estrutura das operadoras

que hoje sobrevivem com sua receita e minimizam o Tenho dito, às vezes, na Câmara de Saúde Suple-
atendimento pelo SUS. Algumas até já transferiram mentar – da qual faço parte representando a Unimed
sua carteira, com receio de não conseguirem atender – que, muitas vezes, sinto ali que as entidades do con-
ao exigido pela legislação, e hoje sentem falta da re- sumidor manifestam sua insatisfação, os hospitais
ceita perdida. estão insatisfeitos, as operadoras e os médicos estão
Enfim, uma nova formatação da assistência à saú- insatisfeitos. Comentei, certo dia, que até o presiden-
de vem sendo desenvolvida e implantada pelo governo. te da agência, Dr. Januario Montone, disse na reunião
Acreditamos que o maior estreitamento entre todos os que a própria agência estava insatisfeita.
participantes do processo se faz mais do que necessário Num momento desses, é preciso que possamos sen-
para que, juntos, possam encontrar formas de atender tar e tentar buscar o que está ocorrendo. Analisemos
à população dentro de sua capacidade de remuneração. um dado que mostrarei. Na realidade, como os clien-
Hoje, as operadoras sofrem a pressão do consumi- tes dos planos de saúde, especificamente da Unimed,
dor para o atendimento sem limite, do governo; para a estão vendo o plano de saúde, como eles se sentem.
necessidade de regulamentação dos prestadores dos Isso é importante para que possamos fazer uma análi-
serviços; para aumento do valor da remuneração, e da se mais correta desse processo que estamos vivendo.
sociedade em geral, por meio da mídia, como vilãs no Recebi o convite para falar sobre estrutura de ope-
processo de assistência à saúde. Será essa a posição radora e não soube dos organizadores mais ou menos
mais justa e produtiva? Tenho dúvidas. o que eles esperavam que apresentássemos aqui. En-
Muito obrigado. (Palmas) tão, falaremos um pouco sobre a estrutura da Unimed,
que presido, para que passemos alguns números e al-
O Senador Tião Viana guns questionamentos para o debate neste seminário
Agradecemos ao Dr. Antônio Rodrigues Barros Júnior, e, mais tarde, nas entidades que estamos freqüentan-
que cumpre a segunda fase da Mesa que aborda o tema do, na Câmara de Saúde e na própria agência.
Estrutura das Operadoras. O sistema cooperativo Unimed tem uma diferen-
Passamos, de imediato, a palavra ao Dr. Celso Corrêa ça de operadoras clássicas, porque ele se baseia nas
de Barros, Presidente da Confederação Nacional das singulares. Depois, há as federações, algumas são ope-
Operadoras Médicas, das Unimeds do Brasil. radoras, outras não. Há a Unimed do Brasil, que se
V. S. dispõe de 15 minutos. transformou numa entidade político-institucional,
Peço o apoio da equipe que está dando assistência que está, praticamente, deixando de ser operadora. E
técnica à Mesa para que não haja prejuízo em razão foi criada, em 1998, a Central Unimed.
da distância do painel. Hoje, temos 364 cooperativas e estamos presentes
em, aproximadamente, 80% do território nacional.
O Dr. Celso Corrêa de Barros Temos cerca de 11 milhões de clientes, 91 mil médicos
Bom dia a todos. cooperados, praticamente um terço dos médicos ati-
Eu gostaria de agradecer o convite para participar vos no Brasil, 70 mil empresas contratantes, geramos
deste simpósio em nome da Unimed. Penso que é um 16 mil empregos diretos e 260 mil empregos indiretos.
momento importante para que o debate se estabele- São 53 hospitais próprios, 3.560 hospitais credenciados,
ça e todas as situações de dificuldades que temos visto 3 mil leitos próprios, 42 milhões de consultas/ano,
nas últimas semanas, pela imprensa, com a questão 1.200.000 internações/ano, 75 milhões de exames
da media provisória e o projeto de lei, possam ser am- complementares/ano. A operadora nacional, hoje, tem
plamente debatidas pelos segmentos envolvidos na cerca de 199 singulares, compostas pelas federações e
assistência saúde supletiva no País. uma cooperativa central, a Confederação Uniodonto,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 103

que congrega 178 cooperativas odontológicas e 188 co- estava lendo o que dizia um diretor da Fenaseg: amplia-
operativas singulares. se a cobertura – o que eu, particularmente, defendo –,
A marca Unimed, por oito anos consecutivos, é a mas se controla o preço. É uma situação extremamen-
marca de plano de saúde mais lembrada pelo cliente no te desagradável. Evidentemente, eu, como cliente e
Brasil, tem 25% de participação no mercado nacional – como consumidor, não gostaria de pagar mais. Entre-
dado confirmado pelo IBOPE – e, há 14 anos, é sucessi- tanto, na verdade, como se equilibra isso na ampliação
vamente eleita a melhor assistência médica do país pe- da cobertura e no controle de preços? Sinto-me muito
la Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas. à vontade nessa discussão, porque já passei por todas
A nossa participação no mercado é de 25%; a da as entidades médicas como diretor – Conselho, Fede-
empresa A, 4,5%; a da empresa B, 3%. ração Nacional dos Médicos, órgão sindical, Associação
Este é um dado que considero interessante. Numa Médica Brasileira. Hoje, consigo compreender a reivin-
pesquisa feita pelo Instituto Datafolha – que tem dicação dos médicos, a situação que eles estão vivendo,
credibilidade – no Rio de Janeiro, que penso poder ser como também, do outro lado, vejo a pressão do custo e
reproduzida para o Brasil, em que as respostas poderi- como manter essa operadora ativa, fazendo o atendi-
am ser “muito satisfeito, satisfeito, nem satisfeito nem mento de qualidade que todos desejamos aos nossos
insatisfeito, insatisfeito”, 89% dos nossos clientes esta- clientes e, cada vez mais, ampliando as coberturas. Sou
vam satisfeitos ou muito satisfeitos. Desses 89%, 42% daqueles que, dentro da entidade médica e na própria
disseram estar muito satisfeitos, contra 29% da empre- Unimed, defendem a cobertura mais ampla possível.
sa B e 23% da empresa C. Não entendo que se cubra a saúde segurando o braço
A pesquisa é ampla. Na realidade, é preciso que seja esquerdo ou o direito. Tem de ser um atendimento glo-
dito também que o índice das empresas consideradas bal à saúde. Lamentavelmente, na ponta, há um custo.
mais sérias no mercado é alto também. Não é só a Essa situação desse equilíbrio talvez seja um dos gran-
Unimed que tem esses índices. A pesquisa mostra que des problemas que vivemos hoje.
a satisfação dos clientes que têm plano de saúde é re- Então, para que tenham uma idéia, em relação a
lativamente alta. uma cooperativa de quatrocentos mil clientes de uma
Menos de 3% dos clientes afirmaram estar insatis- capital grande do país, 85% da receita dessa coopera-
feitos ou muito insatisfeitos. tiva foram para hospital, médico, laboratório, Raio-X,
Há um outro dado interessante: 63% dos entrevis- remoções, enfim, custos assistenciais; 14,7% foram des-
tados disseram estar seguros, ou seja, o índice de satis- pesas operacionais indiretas, despesas administrativas,
fação é o mais alto e a segurança é o índice mais baixo. pessoal, marketing, impostos. Aliás, é interessante que
Todas essas notícias de empresas que estão quebran- a carga tributária hoje, em relação às cooperativas, seja
do, de denúncias e da situação de instabilidade de cada vez mais alta do que para as operadoras como um
mercado geram no cliente uma instabilidade dele em todo. Recentemente, se eu tivesse que pagar o PIS/
relação ao plano de saúde. Então, 63% se dizem segu- Cofins – o Ministro deu inclusive uma boa notícia on-
ros ou muito seguros. O índice da Unimed foi de 74%. tem –, muito embora tenhamos sentença na Justiça
Evidentemente, para os clientes que viveram a situa- Federal da não incidência do Cofins em relação às coo-
ção da Unimed em São Paulo, esse índice de insegu- perativas, de qualquer maneira melhorou quando se
rança foi maior que esse que estamos vendo. retirou o custo assistencial, incidindo o PIS/Cofins só
Aí, há uma situação interessante. Hoje, estamos sobre a despesa administrativa.
vivendo – como tem sido dito neste debate – como se Na verdade, uma cooperativa como a que eu presi-
equilibra esse setor. Isso tem sido muito comentado. do no Rio de Janeiro, que tem um faturamento, teria
Numa edição da Folha de S. Paulo desta semana, eu de pagar quase R$2 milhões de PIS/Cofins/mês. Além

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


104 Mesa4 – Estrutura das operadoras

disso, a Prefeitura entende que, apesar de o médico e 1% para remoções. Essa foi a distribuição. Vamos à
pagar o ISS, tem de pagá-lo no percentual de 5% sobre próxima projeção.
a base da receita. Ou seja, é completamente inviável (Pausa)
essa situação. O médico não vai receber sequer como Eu gostaria de deixar essa mensagem de que na
estava na Argentina, ou seja, 4 ou 5 dólares. Não tere- realidade vivemos hoje a situação aqui colocada. Nes-
mos condições de suportar essa pesadíssima carga sa entrevista que eu li na Folha de S. Paulo é colocado
tributária que existe hoje. que o aumento da sinistralidade das seguradoras pa-
Nesse resultado, de janeiro a agosto, dessa coope- rece ter subido de 79 para 82 ou 83. E mostra – depois a
rativa, sobrou 0,3%. Na cooperativa, não sei se os Dra. Solange irá falar sobre a agência, na parte de fis-
senhores sabem, o que fazemos é antecipar as sobras, calização – que talvez a saúde financeira dos planos
que, em uma empresa de capital, é o lucro. Poderíamos hoje seja pior do que a saúde dos clientes.
trabalhar o ano inteiro, pagar as nossas despesas e, Então, para que possamos efetivamente trabalhar
depois, ver o que sobrou para os médicos, rateando, e o e oferecer a assistência que pensamos, queremos e
resultado dava certo. procuramos oferecer, precisamos pensar muito nesse
Quando você antecipa, você pode errar, quando modelo, como estamos trabalhando, como vamos bus-
você tem a perda ou o prejuízo. E sobrou apenas 0,3%, car mecanismos para, cada vez mais, garantir aos
o que não possibilita fazer nada, efetivamente, em ter- nossos clientes assistência médica de qualidade; ten-
mos de investimento, com tudo o que você recebeu: tar remunerar melhor o profissional médico; ver a
pagou-se UTI, diárias de hospital, médico – depois mos- situação dos hospitais. Enfim, toda essa situação que
traremos a proporção disso. Enfim, estamos em uma vivemos de dificuldades.
situação de equilíbrio quase zero. Esse momento é importante para a reflexão; pen-
Se essa cooperativa tiver um prejuízo de 700 mil so que o caminho é o debate. Evidentemente não é o
reais, por exemplo, no mês de setembro, o resultado já caminho da imposição, porque assim não chegaremos
fica negativo, porque a margem é próxima de 0,3%. a lugar algum.
Vamos à próxima projeção. Preocupa-me muito a situação que vivemos hoje
(Pausa) de controle de preços. Talvez sejamos um dos únicos
Desse mesmo resultado, 36% foram para hospitais. setores da economia em que há controle de preços e
Os hospitais hoje vivem uma situação difícil e mani- temos, cada vez mais, de oferecer aos nossos clientes
festam a sua dificuldade. Na minha cidade, há hospi- os avanços.
tais fechando, eu sei disso. Mas 36% da minha receita Eu estava vendo uma situação interessante, a da
foram para hospitais; 24%, dessa cooperativa, foram mamografia digital. Ela já chegou ao Brasil. Segundo
para atos médicos – trabalho do médico. Esses médi- os radiologistas, a mamografia tradicional dá o mes-
cos da cooperativa recebiam R$32,00 de janeiro a março mo resultado, mas é evidente que na digital a imagem
por uma consulta; passam a receber agora R$27,00 – é melhor. No entanto, o custo do aparelho é de US$450
CH de 27. Tabela MB 92. mil. Daqui a pouco, teremos mamógrafos digitais es-
Ou seja, não é uma maravilha o que os médicos palhados por todo o Brasil. No Rio de Janeiro há mais
estão recebendo. A situação efetivamente é difícil. Mas aparelhos de ressonância do que no Canadá, parece-
a nossa capacidade de remunerar melhor também está me. Daqui a pouco os clientes, e com todo o direito, vão
extremamente difícil. querer fazer a mamografia digital. O avanço, a tecno-
Vinte e oito por cento é uma situação de intercâm- logia são um direito do cliente. Infelizmente, na outra
bio, ou seja, pagamos para outras Unimeds, e aí entram ponta, o aparelho custa caro, o médico quer receber o
médicos e hospitais; 11% para laboratório e radiologia valor xis, e temos toda a dificuldade que vivemos.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 105

Outros fatores são colocados como, por exemplo, o está sob minha supervisão na parte de habilitação e
envelhecimento da população. Graças a Deus, a maior normas de operadoras.
tecnologia propicia o prolongamento da vida. Hoje, os São inequívocas, entendo, as conquistas da lei que
recursos disponíveis são muito maiores. Na realidade, afetaram o conceito de serviços, as estratégias ope-
tudo isso é ótimo para o cliente. Mas, por outro lado, racionais e a prestação de serviços das empresas, os
manter o equilíbrio é difícil. limites de responsabilidade entre os agentes e, por
De repente, estamos no caminho certo, realizando que não dizer, em um futuro próximo, os níveis de
debates, ampliando a discussão para que possamos poupança interna.
obter os melhores resultados para todos os que estão Farei uma breve apresentação sobre o mercado das
envolvidos nesse segmento. Muito obrigado. operadoras. O mote de minha apresentação é falar do
nosso trabalho. Em relação às empresas operadoras de
O Senador Tião Viana planos, o acesso ao mercado passou a ser autorizado
Agradeço ao Dr. Celso Correia de Barros, que falou em pelo governo mediante requisitos estabelecidos na
nome das Unimeds do Brasil. própria lei, dentre os quais estava a demonstração de
Passo a palavra, agora, à última expositora da mesa- viabilidade econômico-financeira dos planos ofereci-
redonda Estrutura das Operadoras no Simpósio sobre dos, respeitadas as peculiaridades operacionais de cada
a Regulamentação dos Planos de Saúde, a Dra. Solan- um dos segmentos das operadoras.
ge Beatriz, que representa a Agência Nacional de Saú- Por respeitar esse mandamento legal de resguar-
de Suplementar. dar as peculiaridades, o primeiro normativo foi a RDC
V. Sª dispõe de 15 minutos. nº 39, que segmentou o mercado. Essa segmentação
Peço, mais uma vez, o auxílio técnico da equipe de contemplou um status quo já estabelecido, onde figu-
apoio à Mesa. Surpreende-me que sejam servidores do ram as administradoras, as medicinas de grupo, coope-
Senado Federal que estejam distantes do apoio de que rativas médicas, filantrópicas, odontologia de grupo,
estamos precisando aqui. cooperativas odontológicas, autogestões, com essas
subdivisões, e acrescido também da participação das
A Dra. Solange Beatriz Palheiro Mendes seguradoras que, à época, estavam ainda no setor pa-
Bom dia a todos. Srªs e Srs. senadores e deputados, Sr. ralelo. Após a edição da nº10.185, passou a integrar o
presidente da Mesa, senhoras e senhores, colegas da segmento das operadoras desse mercado. Houve uma
Mesa, em especial a Lúcia Helena, uma colega de tra- subdivisão, principalmente na questão da autogestão,
balho já de algum tempo, cuja fala me trouxe uma onde se distinguiu as patrocinadas das não patrocina-
grata satisfação, considerando que é uma autoridade das, considerando uma performance absolutamente
no assunto concorrência. São vários os chapéus que ela distinta entre ambas.
utiliza, como falou, e todos com uma admirável e ex- Na questão da segmentação médico-hospitalar,
trema autoridade no assunto. basicamente estão divididas em segmentos primários,
Haver uma autoridade que reconheça o desafio que principal subsidiário, e aí fazendo também em nível
a agência está enfrentando para nós já é um enorme secundário, e o terciário, que equivale, vamos dizer as-
conforto. Os meus agradecimentos pelo que foi dito. sim, às seguradoras. Essa segmentação teve por base,
Agradeço, também, a oportunidade de estar nesta como um critério, a capacidade de cada segmento ga-
Casa, neste momento. Dos oito compromissos assumi- rantir o risco do beneficiário, capacidade esta que está
dos em 1º de março de 2000, no Senado, seis já foram relacionada com a existência, ou não, de rede própria
cumpridos pela agência. Esses compromissos dizem para a prestação do serviço.
respeito, mais diretamente, à área das operadoras, que No caso do primário principal, que é a primeira

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


106 Mesa4 – Estrutura das operadoras

caixinha, são aquelas que têm, no caso, mais de 60% do plenamente, embora ainda em caráter precário, de
do custo assistencial promovido por rede própria. E, no provisoriedade, mas as normas de registro definitivo já
caso do segmento terciário, são aquelas que têm me- estão em andamento e, em breve, serão publicadas.
nos de 30% por óbvio da rede própria sendo atendida. Vale a pena dizer que ainda não temos um dado
Portanto, são essas que, a nosso ver, e até no entendi- absolutamente fidedigno com relação à receita anual
mento de todo o mercado, eqüivalem-se e bancam desse setor, pergunta que me é feita comumente. Mas,
maiores riscos. aproximadamente, estimamos que esteja em 23 bi-
Esta norma foi elaborada e consensuada numa câ- lhões a receita anual. A distribuição dos beneficiários
mara técnica onde contou com a participação de todos se dá da seguinte forma: pode-se perceber que apenas
os atores envolvidos, indicados representantes técni- cinco operadoras possuem 20.84% do total de
cos de cada setor, de cada segmento do mercado. beneficiários do mercado de saúde suplementar, en-
Portanto, esta é uma norma que não é da agência, é quanto que 93,8 das operadores possuem pratica-
uma norma consensuada no mercado. mente 34% do total de beneficiários do mercado.
A seguir, vale esclarecer a participação das segura- A maior concentração de beneficiários se encon-
doras nesse contexto. Por meio da Lei nº10.185, de feve- tra em 105 operadoras que representam 6% do total
reiro deste ano, elas foram obrigadas a se especializar de operadores e são responsáveis por praticamente a
no ramo de saúde para poderem participar desse mer- metade do total de beneficiários. Se vê que a distribui-
cado. Não poderão atuar em quaisquer outros ramos ção está bastante heterogênea; se considerarmos o
ou modalidades de seguro. número total de 1.754 empresas, poderia dizer-se que
Com exceção das duas seguradoras que já passa- há uma concentração de empresas na faixa superior
ram sua carteira – uma, a Générale, que passou para o do total de beneficiários. Mas, considerando um núme-
HSBC, e a Sasse, que passou para a Sul-América – as ro de 105 operadoras, também podemos entender que
demais seguradoras já estão promovendo seu pedido 105 operadoras para esse público atingido não carac-
de especialização junto à Susepe, que é seu órgão re- teriza exatamente um setor concentrado. Dentre as
gulador de origem, e outras, inclusive, já obtiveram a operadoras que detêm até 2000 beneficiários, que são
autorização de operar por parte da agência. Portanto, 796 operadoras, as medicinas de grupos são aquelas
esse processo está caminhando dentro do tempo nor- com maior fatia de mercado, quase 55%; seguida das
mal, e essas seguradoras, então, já estão compondo cooperativas, com praticamente 25%; e autogestões,
mercado e, portanto, sujeitando-se às normas e à su- 17%. A presença das seguradoras e administradoras
pervisão da Agência Nacional de Saúde. nessa faixa é quase inexpressiva.
Foi contemplada também para essas seguradoras O mesmo ocorre em relação às faixas de 2 mil a 10
a manutenção de todas as regras até então vigentes, mil beneficiários, e de 10 mil a 50 mil. A partir da faixa
editadas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados de 50 mil a 100 mil beneficiários, que conta com 50
e pela Susepe. Foram todas recepcionadas com o obje- operadores, há um aumento da participação das segu-
tivo de manterem o status quo vigente de regulação radoras e das administradoras. Entre 100 mil e 500 mil
que, sobre essas, já era alcançado e também os níveis beneficiários, 47 operadores atuam, sendo que as me-
de reserva já constituídos. Vale também dizer que, nes- dicinas de grupo possuem 41% dos beneficiários,
te momento, essas seguradoras já especializadas já seguidos das cooperativas com 34 e das seguradoras
estão vinculando seus ativos à agência. Todos os pro- com 10,77%. Apenas 5 possuem mais de 500 mil bene-
cedimentos, convênio Cetip, Selic, já estão firmados, e ficiários, sendo que 69,44% desses beneficiários estão
o processo está andando sem interrupção alguma. nas seguradoras; 21,49 nas medicinas de grupo e 9%
O registro provisório, hoje, na agência vem atenden- nas autogestões.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 107

Vamos ver, agora, o percentual de beneficiários por manutenção da estrutura do mercado, por intermédio
segmento. Neste caso, o destaque, como pode ser visto, do mecanismo de aprovação prévia das transferências
fica por conta da participação do segmento das segu- societárias, RDC nº 83; a garantia mínima para o início
radoras que, embora tenham uma participação pequena das operações, por meio da obrigatoriedade de consti-
de 1,25 do total em termos de prestação de assistência tuição de capital mínimo, da RDC nº 77; a garantia das
aos consumidores, contribui com praticamente 20%. obrigações assumidas, contratualmente, junto aos
A distribuição geográfica das operadoras se dá em consumidores, por meio da obrigatoriedade de consti-
conformidade com a concentração populacional e de tuição de provisões técnicas, da RDC nº 77.
renda do país. Assim, do total de operadoras registradas, Vale destacar, neste caso, que a RDC nº 77 contem-
aproximadamente 62%, ou seja, 1,704 se encontram na plou tratamento diferenciado para as empresas que já
Região Sudeste; 480, que correspondem a 17%, se en- estavam operando e para aquelas que entrariam no
contram na Região Sul; 12%, na Região Nordeste; 6%, mercado após a edição da norma. Para aquelas que já
na Região Centro-Oeste; e 3% correspondem a 82, na operavam, foi previsto um prazo de até 6 anos para a
Região Norte. constituição gradual dessas garantias. Quanto às no-
O estado que possui o maior número de operadoras vas, terão que entrar com a regra cheia.
é São Paulo, com 966 empresas, seguido pelo Estado de A metodologia utilizada para a fixação dos valores
Minas Gerais com 342 operadoras e o Estado do Rio de devidos levou em conta o segmento e a região de atua-
Janeiro com 336, embora o Rio, populacionalmente, te- ção das operadoras. Mais uma vez, essas regras foram
nha um número maior do que Minas Gerais. objeto de debate e de deliberação em câmara técnica
O quadro a seguir vai mostrar o percentual da po- promovida pela agência e fruto de consenso dos atores
pulação assistida pelos planos privados por estado. e dos setores do mercado.
Então, pode-se observar que São Paulo mantém o pri- Para exemplificar, rapidamente, os níveis de exi-
meiro lugar, mas pode-se observar que o Distrito gência dessas garantias, vemos que houve uma preo-
Federal é o segundo, quer dizer, a população do Distri- cupação em garantir o respeito às peculiaridades de
to Federal, proporcionalmente, ocupa o segundo lugar cada segmento, de cada fatia desses setores e por re-
em assistência privada, passando à frente do Rio de Ja- gião de atuação. Sobre cada um desses casos se aplicou
neiro e de Minas; e o Espírito Santo também passa à um fator de moderação, um Fator “K”, onde se levou
frente de Minas Gerais em termos de população assis- em conta, exatamente, a área de atuação, a possibili-
tida pela medicina privada. dade de abrangência do produto das empresas e a
Os primeiros passos da regulação das operadoras capacidade de demanda da região. Tudo isso foi consi-
são exatamente as ações promovidas pela agência no derado para a elaboração desse Fator “K” que, ao ser
sentido de estruturar. Podemos dizer que as bases da aplicado sobre a base de cálculo, que nesse caso do
profissionalização do setor já estão lançadas. As regras capital mínimo é de 3 milhões e 100 mil, gerou essa dis-
básicas que regulamentam as condições de acesso e persão dentro desses segmentos.
funcionamento já estão editadas. Assim, temos o ca- Então, por exemplo, uma medicina de grupo do se-
dastro de todas as empresas por meio do registro tor terciário, ou seja, aquela que não tem praticamente
provisório, que foi objeto da resoluçao nº 5; a uniformi- rede própria, que está equiparada a uma seguradora, ela
zação da contabilidade, por meio do Plano de Contas terá que constituir o capital mínimo de 3 milhões e 100
padrão, da RDC nº 38; a capacitação técnico-profissio- mil. E terá que operar no Brasil todo. E uma cooperativa
nal dos administradores, por meio das regras que odontológica que opere somente em um município, que
prevêem os requisitos mínimos necessários ao exercí- não seja São Paulo, Belo Horizonte ou Rio de Janeiro,
cio dos cargos, da RDC nº 79; o acompanhamento da deverá ter como capital mínimo 4 mil e 960 reais.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


108 Mesa4 – Estrutura das operadoras

Então, houve uma preocupação em se observar a da Fazenda, Ministro da Saúde e o Ministro-Chefe da


capacidade e a peculiaridade de cada um desses seg- Casa Civil. Todos reconhecemos, entendemos – e acre-
mentos. Como eu fiz a analogia da medicina de grupo dito que a sociedade também – a necessidade da
do setor terciário com a do setor segurador, onde esse constituição de garantias para esse setor que opera com
deverá cumprir com o capital mínimo de 3 milhões e poupança popular, que lida com a renda dos trabalha-
cem mil, para o setor segurador, essa exigência hoje dores e dos cidadãos. Eles administram a poupança de
é de 5 milhões. cada cidadão; portanto, aquele que lida com matéria
Então, penso que as regras e o resultado dessa câ- financeira é obrigado a constituir garantias para essa
mara demonstraram que estão plenamente adequadas operação, pois ele não está lidando com recurso próprio,
às capacidades das empresas que estão em condições ele lida com recurso de poupança popular.
de operar. Aquelas empresas que hoje têm as condi- Então, considero que essa Medida Provisória 2.188-
ções mínimas de operação terão condições de satis- 35, de 24 de agosto de 2001, coloca uma pedra sobre
fazer essas regras ao longo de seis anos; aquelas que essa discussão da necessidade de constituição de ga-
não têm condições hoje de operar, por óbvio não terão rantias e também sobre a discussão sobre se as ope-
condições de suprir essa exigência de garantias. radoras de plano de saúde lidam com poupança po-
Também com relação às garantias, não participei pular. Elas lidam com poupança popular e lidam com a
do evento de ontem, mas penso que o Sr. Ministro da saúde de todo cidadão brasileiro. Daí o mérito dessa
Saúde fez referência a uma medida provisória que foi medida e o empenho de todos nós em fazermos desse
editada na segunda-feira. Essa medida provisória con- setor um setor profissional e capaz de atender à de-
templa exatamente a preocupação que o Governo teve manda dos consumidores.
em regular esse mercado com cuidado, com prudência, Com relação aos regimes especiais, como não po-
com coerência e, acima de tudo, dando a essa questão deria deixar de ser, é a saída dessas empresas do
das garantias o reconhecimento da importância vital mercado, empresas que não estejam atendendo a re-
da sua constituição, por isso a edição dessa medida pro- gras mínimas de solvência, que não mereçam parti-
visória, onde se reduz a base de cálculo do imposto de cipar desse mercado de saúde. Então, a agência conta
renda para as operadoras de plano privado que consti- com dois mecanismos: um, dos regimes especiais de
tuirão essas provisões técnicas. direção; e o outro, de liquidação.
Então, as co-responsabilidades cedidas e a parcela O regime especial de direção, tanto técnica quan-
desse provisionamento serão abatidas da base de cál- to fiscal, não substitui os administradores, não é um
culo para efeito de imposto de renda e também para a regime de intervenção, é um regime de fiscalização,
contribuição social. Na base de cálculo da contribui- onde a agência, na verdade, vai promover uma fiscali-
ção social será deduzido o valor das provisões técnicas, zação mais próxima junto a essas empresas. Ela entra
que são uma exigência legal, não só no que diz respei- na empresa e a ajuda a enxergar os seus problemas e a
to a imposto de renda e contribuição social, mas tentar sanear as suas dificuldades, as suas questões.
também quanto ao PIS/Pasep e Cofins. Se não obtiver êxito nesses procedimentos, aí, sim, é
Foi alterada a base de cálculo do PIS/Pasep e Cofins determinada a liquidação extrajudicial dessas empre-
no que diz respeito à dedução de co-responsabilidades sas. O regime de liquidação é intervencionista. O
cedidas da parcela das contraprestações pecuniárias regime de direção fiscal e técnica não é intervencio-
destinadas à constituição de provisões técnicas e do va- nista, mas de fiscalização junto às empresas apenas de
lor referente às despesas médico-assistenciais. Isso é o forma mais direta. Hoje há empresas submetidas a es-
reconhecimento do governo – e como Governo leia-se ses regimes especiais. Duas têm os dois regimes: o de
Presidente da República, Ministro da Justiça, Ministro direção técnica, que se dá sobre a questão assistencial,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 109

e o de direção fiscal, que é exatamente as questões de entre os agentes e os incentivos à sobreutilização, ali-
anormalidade econômico-financeira da empresa. Es- ados ao fim dos ganhos financeiros, passaram a evi-
sas outras seis estão somente submetidas ao regime denciar que o mercado passara de um período de boom
de direção fiscal, considerando que foram observadas para um de ajuste de margens.
anormalidades econômico-financeiras e a questão Ademais, como em qualquer processo de regula-
assistencial estava dentro da normalidade. A liquida- mentação, uma elevação nos níveis de exigências foi
ção judicial se deu sobre estas quatro: Climoge, Unicor, observada, o que demandará uma gestão cada vez mais
Adress e Biomede, sendo que, no caso das direções, fo- eficiente por parte das empresas.
ram alcançados 260 mil consumidores e, no caso da Isto posto, a DIOPE – Diretoria de Normas e Habili-
liquidação, essas carteiras foram repassadas, volunta- tação das Operadoras – realizou, no exercício de 2000,
riamente, para outras operadoras. No caso, quem uma análise econômico-financeira sobre 112 operado-
absorveu a Climoge foi Cerves Saúde; a Unicor foi a ras que respondem por 34% do total de beneficiados
Rapes e, depois, a Sampe; a Adress foi a Unimed Rio de do setor, sendo que 70% dessa amostra apresentaram
Janeiro; e a Biomede foi a Silver Life, ou seja, os consu- problemas econômico-financeiros. Portanto, somente
midores remanescentes de cada carteira dessa tiveram 30% apresentam uma situação razoável.
a atenção de outras operadoras do mercado de forma
voluntária. Não houve participação, pelo menos for- O Senador Tião Viana
mal, da agência nessa transferência. Peço ao plenário que aguarde mais alguns minutos
Com relação à situação econômico-financeira, para a conclusão. Ela já está ciente disso. É preciso to-
uma combinação de fatores de ordem macroeco- lerância, porque entendo que ela fala em nome do
nômica atuou, estimulando o crescimento do mercado governo e é do interesse de todos aqui que haja pleno
de planos de assistência médica. Principalmente nos esclarecimento. Peço silêncio aos senhores, por genti-
anos 90, o Brasil retomou o crescimento após um pífio leza. Estou ciente do tempo que tem que ser dado na
desempenho econômico na chamada década perdida valorização de cada um que está no plenário.
de 80, elevando a renda per capita da população. Com
a queda das taxas de inflação, após o advento do Pla- A Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes
no Real, foi constatada uma melhora significativa nos Vale ressaltar que uma análise mais apurada do se-
níveis de distribuição de renda. Essa conjugação de fa- tor só será possível ao final do próximo ano, com a
tores desestimulou fortemente a demanda por planos consolidação do Diops, que é um documento de infor-
privados. O mercado ofertante, aproveitando essas mação periódica, que está sendo prestado à agência,
novas oportunidades, beneficiou-se, com a maior faci- a partir de julho deste ano, e que, portanto, ao térmi-
lidade, para a incorporação de tecnologias, como vimos no do ano de 2001, já se tem uma série histórica que
aqui. Dessa forma, após o Plano Real, as operadoras permita se dispor de informações mais ágeis e siste-
aumentaram e diversificaram a oferta de planos. máticas das operadoras.
Então, o crescimento desse mercado não era susten- Com o Diops, a agência tomará conhecimento, en-
tável, pois havia problemas estruturais, tais como tre outros, da estrutura de custo e do nível de endi-
incentivo à sobreutilização, além da ausência de me- vidamento das operadoras. Assim, a agência poderá
canismos oficiais que zelassem pela solvência das inferir, mais apuradamente, sobre a situação econô-
empresas e, como não havia barreiras regulatórias à en- mico-financeira de cada segmento de mercado, aper-
trada, o que se observou foi o aumento de empresas feiçoando o processo de regulamentação. E, diante da
comprometidas com a lucratividade e não com o padrão indicação de descapitalização do setor e das novas exi-
de assistência. A persistência do conflito de interesses gências para sua vida operacional, podemos prever

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


110 Mesa4 – Estrutura das operadoras

uma concentração do setor. Porém, um mercado com A terceira pergunta é:


um grupo de empresas sólidas pode possuir mais atri- “Dra. Lúcia Salgado, a senhora fala muito da defesa
butos competitivos do que um mercado no qual um do consumidor. Onde ficam as operadoras, com os
grande número de empresas, de tamanhos desiguais abusos do consumo, na fraude sistemática (entrega
e características absolutamente diferenciadas, coexis- de carteira), no aumento da prestação pela tecno-
tem com algumas poucas entidades dominantes. logia nas decisões judiciais, em confronto com a
Assim, não se tem dúvidas de que as empresas preci- própria lei (transplante de medula)? Eu gostaria de
sam ser auto-suficientes com respeito à sua capita- sua opinião.”
lização e solvência, com a finalidade de preservarem
sua própria viabilidade a longo prazo, garantindo sem- A próxima pergunta é à Dra. Lúcia Salgado ainda:
pre os interesses pactuados com o consumidor, onde a “Em sua opinião, qual seria a rentabilidade adequa-
sobrevivência das empresas estará relacionada à profis- da e justa para uma operadora privada de plano
sionalização. A palavra-chave, então, a partir deste de saúde?”
momento, será planejamento.
Obrigada. (Palmas) Pergunta à Dra. Lúcia Salgado:
“Nos últimos anos, foi enorme a transformação legal
O Senador Tião Viana que afeta as condições de mercado do setor de saúde”.
Agradeço à Dra. Solange Beatriz, que falou em nome Pede-se um comentário dela a respeito dessas mo-
da Agência Nacional de Saúde Suplementar, portan- dificações e como fica previsto em lei.
to, em nome do governo.
Passamos ao aproveitamento das perguntas da ple- A outra pergunta já foi também citada. São cinco per-
nária. Farei a leitura em blocos de cinco perguntas e peço guntas que a Dra. Lúcia Salgado responderá em bloco.
a maior objetividade possível, entendendo que houve
um prejuízo de tempo neste debate, o qual temos de A Dra. Lúcia Salgado
tentar recuperar em benefício de todos da plenária. Procurarei ser objetiva, para não tomar muito o tempo
A primeira pergunta é à Dra. Lúcia Salgado: dos senhores.
“Qual é o lucro em percentual e faturamento que cres- Com relação a qual lucro acho justo, na verdade não
ceria justo e motivador para as empresas?” tenho de achar nada sobre isso. O preço justo é uma
questão com relação à qual a humanidade se coloca
A próxima pergunta é: desde o século V antes de Cristo. Aristóteles já se per-
“Após a primeira resposta, por favor, justifique por guntava qual seria o preço justo das mercadorias,
que não teriam as operadoras interesse em compe- depois, na Idade Média, São Tomás de Aquino também
tir, oferecendo abertura cada vez mais completa, fazia a mesma pergunta.
incluindo todo tipo de procedimento na busca de Na verdade, no que diz respeito a esse mercado em
aumentar suas vendas. Enfim, por que não confiar particular, é necessária uma análise técnica criteriosa
na livre concorrência?” e exaustiva para que se evidenciem as condições de
lucratividade, supondo um break even point, para usar
A segunda pergunta à Dra. Lúcia Salgado é: um termo econômico, no sentido de que os custos se-
“Na opinião da senhora, qual o impacto da entrada jam cobertos pelo faturamento.
do capital estrangeiro na concorrência entre as ope- Quanto à outra pergunta, se a livre concorrência
radoras e na melhoria da assistência ao usuário?” não valeria nesse mercado, insisto que a livre concor-
rência não funciona em mercados com muitas falhas,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 111

como é o mercado de planos de saúde, em que existe é fazer essa migração e administrar este conflito de
uma grande assimetria entre o demandante e o modo que haja menos fricção no mercado.
ofertante, onde existe uma extrema insegurança com Sobre a rentabilidade adequada e justa para uma
relação ao futuro. Quer dizer, é impossível se prever. Eu operadora, voltamos a uma questão aristotélica. Exis-
não tenho capacidade de prever qual é a possibilidade tem parâmetros internacionais e técnicos, como a
de eu ter a doença X e Y, quando eu tiver sessenta anos. questão do break even point. Penso que a resposta dis-
É natural que as empresas, seguindo a racionalidade so seja um resultado de um trabalho técnico que, ima-
econômica, tentem fugir das áreas de menor rentabi- gino, a agência esteja fazendo, qual seja o de avaliar
lidade. Essa é uma das razões que eu entendo. Con- justamente as condições econômico-financeiras de
cordo com a Dra. Solange que, no processo de ajuste, cada uma dessas entidades e, por conta disso, haver
isso se faz necessário agora neste mercado. Este é um maior rigor na exigência de capital para o funciona-
mercado, se me permitem, que está em crise, por con- mento no mercado, hoje.
ta de todas as mudanças macroeconômicas e institu- Quem tem de estabelecer qual é a rentabilidade
cionais dos últimos anos. Como economista, acredito justa, quem tem de dar esta resposta, é a ANS, após
que a tendência é de concentração nesse mercado, um trabalho exaustivo de análise do mercado. Sem
para empresas que sejam mais sólidas do ponto de vis- dúvida, é uma solução que não pode sair do mercado,
ta econômico-financeiro. Isso não significa, sendo uma justamente em função das enormes assimetrias que
especialista nesta área de concorrência, que concen- existem entre os concorrentes, operadoras e entre os
tração de mercado contraria a concorrência; muito clientes. Sem a interferência de uma agência
pelo contrário: empresas fortes e rivais são o melhor regulatória, é praticamente impossível se chegar a algo
que o consumidor pode ter. Ao contrário de uma situa- próximo do justo.
ção, como hoje descreveu a Dra. Solange, de poucas Sobre o impacto da entrada de capital estrangeiro,
empresas que têm condições econômico-financeiras no meu ponto de vista de uma militante, de uma estu-
sólidas, que dominam o mercado, e uma minoria de diosa, já há muitos anos, dessa área de concorrência e
empresas com pouca capacidade de alcançar este regulação, eu entendo ser benéfica em qualquer mer-
equilíbrio econômico-financeiro. cado a entrada de novos players, sejam eles de capital
Talvez um processo de concentração permita – ain- nacional ou internacional. Acredito que isso, do ponto
da respondendo à pergunta – a diluição dos riscos embu- de vista da concorrência e do consumidor, a proprieda-
tidos no fato de que há segmentos de muito maior risco de do capital é de menor importância. Acredito que a
e de muito menor rentabilidade em carteiras mais am- maior concorrência somente venha a trazer maior estí-
plas. Acredito que isso responda à primeira pergunta. mulo para que as operadoras hoje no mercado operem
Com relação à cláusula de saída, que fossem ou- com um nível de rentabilidade menor, infelizmente,
tras cláusulas que não a de falência prevista em lei, mas com maior foco no consumidor, justamente para
acredito que seja possível para a agência regulatória poder atraí-lo, tendo em vista o aumento da concorrên-
prever, sim, cláusulas de saída justamente de opera- cia em função da entrada de novas operadoras.
doras que não tenham condições de se ajustar a este Com relação à pergunta sobre o fato de que eu falo
novo momento econômico por que o país passa, mas muito a respeito da defesa do consumidor e quem de-
essas cláusulas devem, sim, garantir a migração de car- fende as operadoras. Bom, chamei atenção, para repetir
teiras, respeitadas as carências, cumpridas pelo consu- esse ponto e não me alongar muito, para o fato de que
midor, para outras operadoras que detenham maior essa é justamente a função muito difícil de ser exerci-
fôlego econômico-financeiro. Eu entendo que seja o da pela agência regulatória. Ela precisa discutir o ponto
papel da agência. Um dos grandes desafios que ela tem de equilíbrio entre permitir a rentabilidade daquelas

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


112 Mesa4 – Estrutura das operadoras

operadoras que têm condições de funcionar no mer- internação hospitalar, usar o seu plano de saúde
cado. Isso é uma realidade perversa, mas da lógica do mais AIH e ficar em apartamento, sem ônus? Obser-
mercado. Não são todos que sobrevivem ou têm con- vação: Na década de 70, a Patronal, hoje GEAP,
dições de operar no mercado. Talvez o processo de permitia, ao mesmo tempo, usar a GIH-Inamps e Pa-
concentração e centralização em torno de operadoras tronal, em apartamento.”
com maior porte econômico-financeiro seja a solução
para um equilíbrio das relações entre consumidor e “Prezada doutora, apesar de existirem tramitando no
operadoras, nesse mercado. CAS alguns processos administrativos que visam com-
bater a unimilitância supostamente praticada por uma
O Senador Tião Viana operadora de saúde, ressaltamos à V. S. que o Poder
Agradeço a primeira fase. Judiciário, inclusive, que já se posicionou contrário à
Farei a leitura das outras 5 perguntas destinadas à tese adotada pelo CAS, pergunta: o que deve prevale-
Dra. Lúcia, mas tenho o dever, no exercício da demo- cer? Entendimento do Poder Judiciário que já salientou,
cracia, de responder a uma crítica que o Dr. Lourival em alguns acórdãos, que o dispositivo estatutário é
Cunha, de Salvador, Bahia, faz à Mesa: dado o exemplo válido, é legal, ou o entendimento do CAS?”
de ontem, aparentemente os palestrantes da Agência
Nacional de Saúde Suplementar não têm a limitação “Dra. Lúcia, parabéns! Nossa Constituição é perfeita
do tempo para as suas apresentações. Os demais apre- na humanização dos direitos, mas, no meu entender
sentadores não deveriam ter o mesmo direito? de cidadã, é carente na garantia de caminhos para a
Entendo que é uma crítica justa que se faz. Tive o viabilização desses direitos. Na sua opinião de procu-
cuidado de chegar exatamente no horário de início da radora, é justo que o cidadão somente tenha direitos?
palestra, às 9 horas. Foi preciso ter uma tolerância de É possível esclarecer quem paga esses direitos? A se-
30 minutos e tivemos uma economia de 5 minutos na nhora enxerga, enquanto procuradora, dentro das
apresentação dos palestrantes anteriores. Então, a Dra. definições legais, uma saída a curto prazo para a
Solange extrapolou o seu tempo em 7 minutos, basi- materialização, para uma viabilização econômica e
camente. Na interpretação da Mesa, o maior bene- social destes conflitos, já que me pareceu um enten-
ficiado com isso foi a própria plenária. Por isso, adotei dimento comum aos palestrantes que a existência de
essa conduta. saúde suplementar é saudável para a estimulação do
Perguntas para a Dra. Lúcia Salgado: mercado, geração de empregos etc.?”
Quem faz a pergunta aqui é Carla Sartori.
“A senhora entende que o mercado de assistência à
saúde pode ser considerado como um mercado livre?” A Dra. Lúcia Salgado
Com relação à primeira pergunta, se entendo que esse
“Um representante da Agência Nacional de Saúde afir- mercado de assistência pode ser considerado um mer-
mou que o papel da agência não se confunde com o cado livre, a minha resposta é não. Não pode funcionar
de defesa do consumidor, consubstanciando-se em como mercado livre na ausência de regulação, à cus-
regular o mercado da assistência privada à saúde. ta da saúde da população não ser atendida, justa-
Qual o entendimento da senhora acerca da postura mente por conta das falhas, todas de mercado, que
da agência?” mencionei anteriormente.
Menciona ainda a pergunta que, tendo em vista a
“Dra. Lúcia, qual o impedimento legal, moral ou éti- necessidade de o consumidor ter de cumprir novas ca-
co para que o cidadão brasileiro, SUS, possa, em uma rências quando muda de operadora, penso que essa é

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 113

uma falha grave. Entendo que a regulamentação pre- resses dos cidadãos – não é questão só do consumidor,
cisa sanar – repetindo – no sentido de exigir a compra são todos os cidadãos, todos dos contribuintes – e, no
de carências já cumpridas. Quer dizer, é isso que vai re- outro lado da moeda, defender também, garantir o fun-
por condições mínimas de migração e de escolha por par- cionamento adequado, do ponto de vista econô-
te do consumidor; isso é o papel da agência regulatória. mico-financeiro das empresas. Esse é o grande dilema
A pergunta segue: quais são as alternativas possí- de qualquer órgão regulatório como a ANS. Penso que
veis a serem adotadas pelo órgão regulador? Considero ela se enquadra nisso também.
ter respondido a esse ponto. Penso que uma regula- Uma pergunta de Carla Sandroni, que é médica:
mentação adequada preveria a compra integral de ca- nossa Constituição é perfeita com relação à questão
rências já cumpridas. da humanização dos direitos. Ela entende que há ca-
Há uma pergunta que não tenho capacidade de rência de garantias de como viabilizar esses direitos. É
responder porque é muito técnica, feita por um médi- possível esclarecer quem paga pelos direitos? Na ver-
co. Peço desculpas, mas sobre o impedimento legal, dade, a Constituição, no meu entender, trazendo os
moral e ético para o cidadão brasileiro do SUS ser aten- meus estudos de Ciência Política do passado, não pas-
dido em apartamentos, sem ônus, realmente não sa de um contrato social da sociedade, firmado entre
tenho condições de responder a essa pergunta. Sou todos os cidadãos através dos representantes eleitos.
economista, não conheço os meandros da administra- Ali é um contrato social em que as regras de funciona-
ção de planos de saúde. mento da sociedade estão colocadas. Quem paga por
Uma outra pergunta, referente ao que um repre- essas regras? É o contribuinte. Não há outra dúvida.
sentante da ANS teria dito que o papel da agência não Quer dizer, o contribuinte, seja ele aquele que forne-
se confunde com defesa do consumidor, como é que ce recursos para o SUS, usando-o ou não, seja aquele
entendo isso, eu me permito discordar do entendimen- que também fornece de forma privada os recursos para
to – não sei qual foi o representante –, até poderia a existência de planos de saúde. Agora, com relação a
discutir isso mais longamente. Mas entendo, sim – o quem paga esses direitos, para mim, é uma questão
ministro disse isso, está certo? –, que existe um duplo clara, vem do contrato social. Como procuradora, não
papel, foi o que tentei mencionar. É óbvio que a ANS posso responder – insisto –, sou economista e fui
não é um órgão de defesa do consumidor. Felizmente, conselheira, durante quatro anos do CADE, mas como
a sociedade tem lucrado muito com a existência de estudiosa posso responder quais seriam as saídas a cur-
numerosos e ativos organismos de defesa do consumi- to prazo para viabilizar econômica e socialmente esses
dor, como o Idec, os Procons estaduais, o Brasilcon; conflitos. Na verdade essa é uma das perguntas que
existem vários agentes especificamente voltados – vão na mesma direção de anteriores, e entendo que
ONGs e órgãos do Governo – para a defesa do consu- esse é o papel desafiador a ser desempenhado pela ANS
midor. Agora, no meu entender, qualquer agência e tentar dirimir esses conflitos de interesse.
regulatória – essa é uma opinião geral; sou professora Quanto à outra pergunta, tenho mais condições de
dessa matéria da área regulatória – tem um dilema a respondê-la, porque fui relatora de inúmeros desses
enfrentar: ela precisa defender os cidadãos, sim, sejam casos em que se puniu uma cooperativa por incluir em
eles cidadãos que consomem aparelhos telefônicos, seus estatutos a unimilitância e esse advogado me
energia ou produtos de saúde e defender também a chama a atenção de que o Judiciário tem contrariado
possibilidade de um bom funcionamento em condições as decisões do CADE. Ora, em última instância, quem
de rentabilidade das operadoras. Quer dizer, essa é toda deve prevalecer não há dúvida, basta ler a Constitui-
a dificuldade. Então, não existe um viés para um lado ção, prevalece a decisão do Judiciário. Mas uma coisa
ou para outro. Andar nessa corda bamba entre os inte- que posso adiantar para os senhores é que realmente

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


114 Mesa4 – Estrutura das operadoras

existe uma defasagem muito grande entre a familia- possa atuar sem uma tabela referencial de valores
ridade que os órgãos administrativos de defesa da con- para honorários? Acha possível que cada médico des-
corrência têm com a matéria concorrencial, vis-à-vis a te país possa negociar individualmente os valores de
familiaridade que o Judiciário tem. Durante os meus seus honorários junto ao grande número de opera-
quatro anos no CADE tentamos uma aproximação doras? Ao dificultar a tabela referencial da AMB o
muito grande justamente para sensibilizar os juízes CADE, fere a dignidade do médico e dos usuários e
para as novas questões. Isso tudo é novo, o Brasil é um atende claramente aos interesses das operadoras.”
mercado e não faz dez anos. Antes não era uma eco- É uma afirmação de Samir Dahas Bitah.
nomia de mercado, era uma economia mista. Então,
todos esses conceitos de concorrência, de defesa do A Dra. Lúcia Salgado
consumidor são muito novos, são revolucionários no Entendo essa afirmação contundente de que o CADE
Brasil. Entendo que há uma série de decisões de pri- feriu a dignidade do médico; lamento que essa impres-
meira instância, tenho conhecimento disso, são tenha ficado. Fui uma das relatoras desses proces-
contrariando a decisão do CADE. Lembro-me de uma sos contra tabela da AMB. Foram decisões de 1995 e
decisão que me pareceu muito curiosa em que a juíza 1996 e muito abertamente, muito francamente digo
aqui de Brasília dizia que não cabia atuação do CADE que é uma decisão de que hoje tenho dúvidas. Passa-
nessa área porque o serviço de saúde não era o merca- dos cinco anos e vendo as dificuldades do mercado...
do, não era assunto de mercado, era assunto de saúde (Palmas) ... tenho dúvidas quanto à correção dessa deci-
pública. Na verdade, trata-se de um desconhecimen- são, que foi minha, seguida pelo plenário, também antes
to do Judiciário com relação a essas questões novas da Conselheira Neide Malar, foi a primeira decisão nes-
associadas à concorrência. Entendo que essa cultura sa direção, entendo que existem custos de transação
jurídica econômica vai pouco a pouco se disseminan- muito grandes na interação entre médicos e planos de
do na sociedade, inclusive no Poder Judiciário, mas sem saúde, mas creio que a solução talvez não seja a tabela
sombra de dúvida esses processos que em primeira ins- unilateralmente imposta pela AMB. Talvez fosse um
tância tiveram a sua decisão recorrida, obviamente a caminho para se chegar a uma solução de consenso e
procuradoria do CADE já recorreu dessas decisões e elas que não fira a legislação em vigor, o uso do poder de bar-
continuam em tramitação no Judiciário. ganha que a AMB tem, afinal é a Associação de Médicos
do Brasil, tem um poder de barganha muito grande, fren-
O Senador Tião Viana te às operadoras, para negociar coletivamente tabelas,
Temos ainda uma pergunta à Dra. Lúcia, depois passa- referenciais de preço para seus associados. Em 2001 é
remos ao Dr. Celso Barros. esse o entendimento que tenho e continuamos estu-
Registro, com muito prazer, a presença dos Depu- dando e é bom até mudar de idéia.
tados Federais Tetê Bezerra, José Pimentel, Elias Murad
e Rita Camata, que, sem dúvida alguma, têm acompa- O Senador Tião Viana
nhado de modo muito diligente e prestado absoluta Perguntas ao Dr. Celso Barros:
solidariedade, já que se acha uma solução que atenda “Como o senhor acha que podem ser melhor con-
aos direitos de quarenta milhões de usuários dessa trolados os gastos crescentes e preocupantes com
rede e aos direitos das empresas na defesa daquilo que tecnologia na área de saúde, de forma ética, e sem
seja justo. utilização de modelos esperados como a mamo-
“Dra. Lúcia Salgado, a senhora acha possível que uma grafia cara?”
classe como a médica, com o número de profissionais Quem pergunta é o Dr. Jorge Cury, da Associação
que há no país, com a diversidade de especialidade, Paulista de Medicina.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 115

José Roberto Maricel faz a seguinte pergunta que do Estado do Rio de Janeiro e temos debatido que os
não consigo ler. médicos precisam começar a discutir custo, senão te-
remos um sistema com dificuldade de remunerar
“Dr. Celso Correia de Barros: qual o vínculo existente melhor os médicos.
entre as Unimeds singulares e entre estas e a Confe- Como o governo poderia colaborar em relação aos
deração das Unimeds no Brasil? Por exemplo, no caso impostos? Quando olhamos os números e vemos que
de uma ação condenatória contra uma determinada uma operadora fatura muito, temos que observar que
cooperativa, essa responsabilidade se transmitiria às ela tem um número grande de clientes e paga diárias
outras ou mesmo à confederação. Por quê?” de UTI, cirurgias cardíacas, neurocirurgia e que, no fi-
Quem pergunta é Cárnia Rodrigues, do Idec. nal, sobra 0,3 quando imaginamos que, na realidade,
elas estão ganhando muito dinheiro. Talvez em outro
“A lei não se sobrepõe à Constituição Federal, que ga- momento, na cooperativa, essa “riqueza”, essa sobra
rante o direito de organização em cooperativas; como seja repassada para o médico nos valores que falei e
regulamenta a Lei nº 5.764, de 1971?” que não considero nenhuma maravilha. Na coopera-
Quem pergunta é a Dra. Lúcia. tiva que presido e que tem receita significativa, assim
como o custo, e que resulta num saldo muito peque-
O Dr. Celso Correia de Barros no, se e eu tivesse que pagar o PIS/Cofins, como ele
A primeira pergunta é a seguinte: como acha que po- estava colocado, e o ISS que a prefeitura quer sobre a
dem ser mais bem controlados os gastos crescentes e receita, eu teria que pagar de imposto, por mês – só
preocupantes com tecnologia na área de saúde, de for- com esses dois impostos –, R$4,8 milhões. No ano, eu
ma ética e sem a utilização de modelos superados como pagaria R$57,6 milhões. Na realidade, não sobraria para
o manager care e como o governo poderia colaborar em pagar nada mais.
relação aos impostos? Creio que deve haver bom senso por parte do gover-
Primeiramente, temos alguns problemas na área no. Fala-se muito na reforma tributária. Houve agora –
médica, como a proliferação de escolas médicas; e as e foi positiva – a decisão dessa medida provisória do PIS/
entidades médicas têm lutado para evitar que isso Cofins e do Imposto de Renda, senão, ninguém conse-
aconteça, causando um excesso de médicos no mer- gue manter isso. Não há condições!
cado, muitas vezes formados em escolas desprepa- Precisamos avaliar isso porque é totalmente insu-
radas, fazendo com que o médico vá para o mercado portável. Eu, por exemplo, estou inscrito na dívida ativa
de trabalho mal preparado e numa competição brutal. no Município do Rio de Janeiro, em R$53 milhões. Como
Falo com muita preocupação porque tenho uma filha vou pagar isso que eles acham que vou pagar com a
no quarto ano de medicina e um no segundo, são meus minha receita? Não há condição. Já conversei com o
únicos filhos e ambos foram fazer medicina. prefeito, mas creio que isso tem que ser uma solução
Um trabalho importante que a Associação Médica nacional. Não é possível. Como mostrei, as cooperati-
Brasileira vem fazendo é o trabalho de diretrizes, que vas geram emprego e, na realidade, hoje, querem tribu-
seriam os protocolos ou consensos e que poderão aju- tar dessa forma. É um absurdo!
dar na educação médica continuada e poderá auxiliar Outra pergunta do Dr. José Roberto Murissete, Di-
os médicos para que possam estar mais preparados e retor da Federação Nacional dos Médicos.
usando os recursos que efetivamente sejam necessá- A que se deve o fato de a Unimed pagar ao médico
rios para os pacientes. Enfim, creio que a educação 27 ou 32, e os planos de saúde pagarem 13 ou 15? Não
médica continuada pode nos ajudar, a AMB com seus posso falar pelos planos de saúde, outros, que pagam
protocolos. Sou conselheiro do Conselho de Medicina 13 ou 15, ou não sei que valor. Na realidade, na coope-

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


116 Mesa4 – Estrutura das operadoras

rativa, o nosso objetivo é dar condições de trabalho e A última pergunta também fala na unimilitância,
remuneração adequadas para o médico e garantia de que a lei não sobrepuja a Constituição Federal, que
assistência de qualidade ao cliente. Então, na realida- garante o direito de organização com a regulamenta-
de, o nosso lucro, que é sobra, não é lucro; na realidade, ção pela Lei nº 5.764.
ele deve ser repartido entre os médicos. A cooperativa Creio que, como foi dito aqui, cada vez mais temos
tem uma visão social, nesse aspecto, interessante. Evi- que estar profissionalizados. As cooperativas têm que
dentemente que a seguradora quer o lucro; tem se profissionalizar. Vivemos hoje um outro momento
direito, o sistema é capitalista, mas procuramos, na efetivamente no país. Somos cooperativas de trabalho.
medida do possível, remunerar melhor os médicos, o Na primeira discussão sobre reservas – lembro-me
que é nossa finalidade. bem da Dra. Solange, na Susep –, fechei a minha pasta
Qual é o vínculo existente entre as Unimeds singu- e disse: “Vou embora, nós vamos fechar”, porque os nú-
lares, e entre estas e a Confederação das Unimeds? Por meros indicavam aproximadamente 40 milhões de
exemplo, em caso de uma ação condenatória contra reserva. Não tenho resultado. Se tudo meu vai para a
uma determinada cooperativa, essa responsabilidade assistência e para tentar pagar melhor o médico, não
se transmitiria às outras ou mesmo à confederação? tenho a menor condição. Efetivamente, hoje, o núme-
Na realidade, a confederação é uma associação de ro é mais palatável, mais viável. Creio que a agência
cooperativas. Ela procura, no nosso caso – isto é, o ato compreendeu isso. Quer dizer, à época nem havia agên-
cooperativo –, o nosso intercâmbio, a nossa relação de cia. Mas não vai ser fácil fazermos isso. Com essa
que o meu usuário pode ser atendido em Cuiabá. No situação de resultado, tenho que fazer provisão para
entanto, por exemplo, foi muito falado aqui a questão contingências tributárias, tenho que fazer provisão de
da unimilitância. Da mesma forma que a Dra. Lúcia ho- risco, tenho o custo lá em cima, então não é fácil, mas a
je faz uma reflexão sobre a proibição da tabela do AMB, realidade é que o número, hoje, é melhor.
também a justiça, de alguma forma, tem demonstra- Creio que não tem mais perguntas para passar para
do isso. Você não pode obrigar o médico, evidente- a Dra. Solange.
mente, a se associar a quem ele não queira. Quando o Só para terminar, acho muito interessante essa dis-
estatuto da cooperativa, de repente, diz isso, é uma cussão de tabela porque fui Presidente da Comissão
questão de que o médico tomou conhecimento daqui- Nacional de Honorários durante dois anos, na Associa-
lo, e ele se associa ou não. ção Médica Brasileira, e vivi e vivo todas as lutas dos
Fico muito à vontade com essa situação, porque, médicos. Uma vez, revoltado com a questão da tabela,
no Rio de Janeiro, por exemplo, na Unimed que presi- de tentar implantar a tabela e as empresas não acei-
do, não há unimilitância. Concorro no mercado e hoje tarem, comentei com um amigo meu, comunista:
sou líder de mercado e não tenho nenhum problema “Poxa! Os médicos não têm direito de fixar o preço?” Esse
desse tipo. Creio que tenho que ter competência efe- meu amigo, comunista, disse o seguinte: “Não, até têm,
tivamente no atendimento. mas quem fixa é o mercado.” Fiquei meio arrasado nas
O que a Dra. Solange mostrou também demonstra minhas convicções porque, na realidade, não adianta
que, de alguma forma, essa unimilitância não tem signifi- um delírio nosso, dos médicos. Há cinco ou seis anos, o
cado, uma concentração na mão da Unimed. Na realida- Presidente da AMB disse que a consulta devia ser
de, a medicina de grupo, com as suas aproximadamente R$39,00. Penso que, na época, devia ser R$58,00, e, hoje,
900 empresas, é que tem o maior número de clientes. talvez R$110,00. Mas, até hoje, quem paga melhor está
Portanto, essa é uma opção do médico e, a meu ver, pagando R$27,00, R$28,00. Então, aquele era um nú-
não tem efeito essa situação de reservas de mercado mero que não era possível. E não adianta fazer uma
de especialidades. tabela nesse ponto.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa4 – Estrutura das operadoras 117

O trabalho que a AMB está fazendo, espero que pos- não concede a elas os reajustes de preço solicitados e
samos tomar conhecimento mais rápido, pode ser inte- comprovados, conforme os critérios estabelecidos?”
ressante. Foi feito pela FIPE, junto com as sociedades, Não está assinada esta pergunta.
avaliou-se a questão do mercado, a tabela não vai ser,
parece-me, em CH, vai ser em pontos, que podem ser Quem pergunta, agora, é Eugênia Nascimento Ba-
fixados regionalmente. Pode ser uma boa alternativa tista, representante da Empresa Brasileira de Correios
para que, efetivamente, possamos implantar essa tabe- e Telégrafos, Departamento de Saúde:
la. Na realidade, a última tabela que temos implantada “Sugestão para que a Lei 9.656, de 98 estabeleça prazo
é a 92, que nós pagamos, e a concorrência paga a 90. para que as operadoras iniciem programas aprovados
Essa é uma discussão importante, de valorização pela ANS de prevenção à saúde, em especial com a
do trabalho do médico, mas temos que trabalhar isso implantação de política de fornecimento de medica-
com consciência, analisando a situações que estamos mento de uso continuado ou não. A literatura mundial
vivendo para que, efetivamente, possa ser implanta- comprova que a introdução de tais programas apre-
da a tabela. senta excelentes resultados e, mais ainda, modifica o
Obrigado. (Palmas) foco das operadoras de empresa que trata de doenças
para uma empresa que promove a saúde.”
O Senador Tião Viana É o último comentário.
Temos as três últimas perguntas, antes de encerrar
a reunião. Eu só peço à Dra. Solange que me ajude no sentido
Registro também a presença do Deputado de uma reconciliação com o plenário, poupando tempo.
Pimentel Gomes, do Partido Popular Socialista, que nos
honra com sua presença. A Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes
Com relação à primeira questão, segmentação das ope-
Dra. Solange Beatriz: radoras de assistência à saúde, devo dizer que a segmen-
“Como a Agência Nacional de Saúde Suplementar se tação objeto da regulamentação da agência é resulta-
posiciona frente ao fato de que a segmentação das do, é fruto de uma matéria legal. As normas da agência
operadoras de assistência à saúde não contempla co- são infralegais, estamos atidos à lei, e dentro dos parâ-
operativas e outras formas de organização do metros da Lei 5.696, foram estabelecidos, então, os seg-
trabalho das demais categorias profissionais da saú- mentos que não estão por categorias profissionais.
de, tais como fisioterapeutas, fonoaudiólogos, Com relação à segunda: se a agência se ocupa da
psicólogos, terapeutas ocupacionais, etc, haja vista preservação da saúde econômico-financeira, por que
que a saúde não é prerrogativa exclusiva da medici- não concede a eles reajuste de preço? Penso que, hoje,
na e/ou odontologia, e a agência se intitula uma estamos vivendo um momento de transição, um mo-
agência nacional de saúde? A agência e o governo não mento que se deu após uma regulamentação de um
estariam assumindo a ignorância sobre o que é saú- mercado praticamente anárquico, portanto não madu-
de e o espectro das práticas assistenciais da mesma?” ro, em que a política de reajuste foi entendida a mais
Quem pergunta é Dr. Marcelo Sidney Gonçalves, adequada dentro das restrições e limitações que este já
representando o Coffito. apresentava. A preocupação com a saúde econômica
das empresas está demonstrada neste mesmo momen-
Para a Dra. Solange: to, paralelamente a essa questão da política de reajus-
“Se a Agência Nacional de Saúde se ocupa da preser- te por meio de normativos, onde isso é reivindicado. E,
vação da saúde econômica das operadoras, por que certamente, as políticas acompanham a evolução da

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


118 Mesa4 – Estrutura das operadoras

realidade. Eu acredito que, num momento bastante objetivo para o qual ela foi criado. Nós temos dado mos-
próximo, haja alteração significativa no que se está tras significativas de que estamos atendendo aos
promovendo com o objetivo, não de preservar saúde objetivos legais para os quais a agência foi criada.
econômico-financeira das operadoras, mas o de trazer Muito obrigada. (Palmas)
ao mercado uma assistência à saúde dentro dos níveis
desejáveis, tanto do interesse econômico-financeiro, O Senador Tião Viana
como do assistencial. Agradeço à Dra. Solange Beatriz, que cumpriu a minha
Com relação à última questão, que visa a estabele- intenção de reconciliação com o plenário.
cer prazo para que as operadoras iniciem programas de Encerro a reunião, agradecendo a tolerância e a
prevenção à saúde, eu acho que nós estamos trabalhan- compreensão de todos, pois julgo que o tema contri-
do no sentido de encontrar novos mecanismos, bui muito para o interesse de todos.
patamares e paradigmas de assistência à saúde. Isso vem Após encerrarmos esta reunião, de imediato, dare-
sendo desenvolvido. Nem devo me alongar nesse tema mos continuidade à próxima Mesa que terá como tema
porque não é exatamente minha área, mas eu acho que a “Regulação de Preço”. Muito obrigado a todos.
a agência tem dado mostras. Talvez o meu pecado, no (Palmas)
momento anterior de eu me ter estendido, é dizer que
a agência tem trabalhado e correspondido à meta e ao Está encerrada a reunião.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


119

Mesa 5
Regulação de preço

Coordenador
Senador Lúcio Alcântara
Dra. Regina Parizi

Componentes
Sra. Lúcia Helena Magalhães
Dr. Carlos Eduardo Ferreira
Sr. Roberto Westenberger
Dr. João Luiz Barroca de Andréa

O Senador Tião Viana O Senador Lúcio Alcântara


Dando continuidade ao simpósio, queria informar-lhes Devo informar às Vs.Ss que a Mesa tratará do tema
que o tema é “Regulação de Preços”. “Regulação de Preço”.
Esta presidência lembra às Vs.Ss que, em virtude do Devo ressaltar a presença dos seguintes conferen-
atraso na abertura dos trabalhos, não haverá o interva- cistas: Lúcia Helena Magalhães, Assistente de Direção
lo de praxe, prosseguindo-se com a programação normal. da Fundação Procon, de São Paulo; Carlos Eduardo
Gostaria de convidar para fazerem parte da Mesa Ferreira, Presidente da Federação Brasileira de Hospi-
as seguintes pessoas que nos honram com suas pre- tais; Roberto Westemberg, representante da Fede-
sença: Lúcia Helena Magalhães, Assistente de Direção ração Nacional de Seguradoras; João Luiz Barroca de
da Fundação Procon, de São Paulo; Carlos Eduardo Andréa, Diretor de Normas e Habilitação de Produtos
Ferreira, Presidente da Federação Brasileira de Hospi- da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS.
tais – FBH; Roberto Westemberg, representante da Cumpre-me informar às Vs.Ss que a Dra. Regina
Federação Nacional de Seguradoras – Fenaseg; João Parizi trabalhará conosco na coordenação deste semi-
Luís Barroca de Andréa, Diretor de Normas e Habilita- nário, uma vez que, lamentavelmente, eu não posso
ção de Produtos da Agência Nacional de Saúde ficar até o fim dos trabalhos em virtude de compromis-
Suplementar – ANS. sos anteriormente assumidos. Mas, certamente, ela vai
Estarão funcionando como coordenadores do pre- suceder-me com muito mais competência. Dou as
sente seminário o Senador Lúcio Alcântara e a Dra. boas-vindas a todos e, como estamos com problema de
Regina Parizi, do Conselho Regional de Medicina de horário, vamos diretamente ao assunto.
São Paulo. Inicialmente, vamos ouvir a Dra. Lúcia Helena
Com a palavra, o Senador Lúcio Alcântara. Magalhães.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


120 Mesa5 – Regulação de preços

A Dra. Lúcia Helena Magalhães autorizou esses reajustes de forma genérica, sem ne-
Bom dia a todos. Pretendo não me estender na minha cessariamente estipular e analisar esses contratos,
fala, ficando dentro dos 15 minutos, para que todos dizendo literalmente que não fazia objeção quanto à
possam, democraticamente, também se manifestar. aplicação da faixa etária. Essas autorizações foram sen-
Gostaria de parabenizar o Conselho Nacional de do concedidas – se é que podemos chamar isso de
Saúde pelo simpósio, colocando que a mesa de regu- autorização – para as empresas de uma forma linear.
lação de preços é bastante contraditória e que enseja Todas as empresas tinham essas autorizações, com
diversas discussões. Todos os segmentos seguramen- exceção de algumas, pois não se podia aplicar o rea-
te têm posições divergentes. Assim, sem sombra de juste para quem tivesse mais de 60 anos de idade e
dúvida, cabe à Fundação Procon de São Paulo colocar mais de 10 anos de plano, com base no art. 15, segundo
o ponto de vista dos consumidores, as reclamações que entendimento do próprio Ministério da Saúde.
efetivamente temos recepcionado, os principais pro- Fato é que, além de haver contratos omissos quan-
blemas nesses três anos de regulação. Desejamos fazer to aos percentuais de reajustes, havia também
com que as pessoas presentes neste simpósio apresen- contratos com percentuais abusivos, ou redigidos de
tem os problemas verificados na regulamentação forma a não dar clareza ao consumidor, com fórmulas
dentro dos seus segmentos. – USs e Uhs – só compreendidas pela própria empresa
Em se tratando de regulação de preços, o que mais e que ainda continuavam nos contratos dos consumi-
aflige o consumidor são os reajustes. Com relação aos dores. Mais do que isso, acabavam por não dar o direito
reajustes, vamos falar de três pontos cruciais: os rea- básico previsto no Código de Defesa do Consumidor: o
justes por alteração de faixa etária, os reajustes direito à informação.
financeiros ou os reajustes anuais e a revisão técnica, Assim, todos os contratos já padeciam desse vício.
uma implementação da nova regulamentação. Den- Depois da regulamentação, esperávamos que os órgãos
tro dessa nova regulamentação, temos pontos reguladores e fiscalizadores adotassem medidas para
divergentes e aquilo que entendemos pode contrariar coibir esse abuso – na realidade, entendíamos isso co-
o Código de Defesa do Consumidor. mo um abuso, um prejuízo para o consumidor. Não foi
Com relação aos reajustes por alteração de faixa isso o que verificamos no primeiro ano da regulamen-
etária, teremos sempre aquela grande discussão: os tação, quando a Susep, de forma subjetiva, acabou por
contratos antigos, os contratos novos. O que traz mai- autorizar que qualquer tipo de reajuste fosse aplicado
or problema para o consumidor hoje em dia com dessa forma.
relação aos reajustes? Primeiro, conforme determina No início de 2000, a ANS é composta, mas, mesmo
o art. 35, e, para os consumidores com mais de 60 anos assim, essa situação perdura, pois questiona-se na Jus-
de idade, deve haver uma autorização prévia da Agên- tiça se a ANS deve ou não regular e fiscalizar os contra-
cia Nacional de Saúde, para que as operadoras possam tos firmados antes da vigência da lei.
repassar o reajuste. Entendemos – os órgãos de defesa do consumidor,
Faço um resgate. Já que estamos falando de três o Procon, os Procons municipais e estaduais que estão
anos da regulamentação, cabe rememorar a situação. aqui presentes – que a Agência Nacional deve, sim, fis-
Primeiro, antes de existir a Agência Nacional de Saú- calizar e regular todos os tipos de contrato. Se assim
de, a fiscalização cabia ao Desas e, antes, à própria não for, estar-se-á criando uma segmentação não só
Susep. Dentro da Susep, órgão ligado ao Ministério da das coberturas, como está sendo discutido aqui, mas
Fazenda, no início dessa regulamentação, especifica- da própria regulação – isso, num momento em que o que
mente para o reajuste por alteração de faixa etária, ve- se pretende é integralizar, é ter uma regulamentação,
rificamos grandes problemas. Primeiro, porque a Susep uma lei, um segmento que seja, no mínimo, coerente,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 121

que atenda às necessidades do setor e, sem dúvida O Senador Lúcio Alcântara


nenhuma, do destinatário final dessa prestação de ser- Dra. Lúcia Helena, se a senhora pudesse concluir...
viços, que é o consumidor.
Nos anos seguintes, então, essa situação com re- A Dra. Lúcia Helena Magalhães
lação aos reajustes prevaleceram – não só prevale- É até bom o senhor colocar essa situação, porque va-
ceram, como em alguns momentos se agravaram. Com mos discutir aqui preço e qualidade, senador; trata-se
relação aos reajustes, ainda para os mais idosos, que, de interesse específico dos usuários e é de grande im-
sem dúvida, são a nossa maior preocupação, houve a portância. A Agência Nacional, em todas as Mesas, dis-
possibilidade de se aplicar a repactuação. O que era pôs de tempo além do complementar; houve atraso de
isso? Era um reajuste específico para consumidores mais de uma hora. Então, vou pedir um pouco de paci-
com mais de 60 anos de idade e que já contassem com ência para que possamos colocar todos os pontos e conto
mais de dez anos de plano. com o apoio da nossa tribuna.
Abro parênteses para fazer um retrocesso: no iní-
cio da regulamentação, o Ministério da Saúde enten- O Senador Lúcio Alcântara
deu que não cabia a aplicação desses reajustes para os Não queremos fazer nenhuma discriminação. Se hou-
maiores de 60 e com mais de dez anos de plano para ve isso anteriormente, não posso responder, porque eu
os contratos antigos, algo que foi questionado e aca- não era coordenador de nenhuma Mesa. Mais do que
bou gerando uma grande polêmica. Para tentar apazi- ninguém, tenho obrigação com os usuários por ser re-
guar essa polêmica, a regulamentação trouxe o que presentante deles no Congresso Nacional. Fique tran-
se chamou de repactuação, que seria a utilização de qüila quanto a isso.
um percentual fixo – que já deveria estar previsto no
contrato – que seria diluído num período máximo de A Dra. Lúcia Helena Magalhães
dez anos. Digo máximo, porque se o contrato tivesse Obrigada, senador.
faixas aos 60, aos 65 e aos 70 poderia diluir as duas pri- De qualquer forma, os reajustes acabaram sendo
meiras em cinco e a última em dez anos. Essa repac- concedidos. A Fundação Procon oficiou a agência, foi,
tuação constou da medida provisória, mas o grande obviamente, algo que foi tratado, mas, de qualquer
problema é que ela deveria ter uma autorização prévia forma, entendimentos diversos, inclusive que contra-
da agência para que pudesse ser implementada. riavam o Código de Defesa do Consumidor, como tabela
Recentemente, as autorizações para várias opera- de venda ser entendida como integrante do contrato
doras começaram a ser publicadas – basicamente, em – aquela tabela de venda que há dez anos você nem
novembro de 2000 – e, desde então, temos constatado sequer olhou, sequer teve ciência, sequer assinou, se-
que vários desses reajustes têm sido nominais – foram quer ficou com uma cópia, há o entendimento de que
por empresas, por operadoras, uma série de empresas ela integra o contrato, o que, sem dúvida alguma, é
com reajustes que são altamente questionáveis. questionado. Encaminhamos, portanto, o assunto para
A Fundação Procon e os órgãos de defesa do consu- o Ministério Público Federal porque é algo que precisa
midor questionaram a Agência Nacional nesse sentido ser analisado. Não há que se concordar com retroces-
porque a base dessas autorizações, seguramente, de- so e com problemas que já se advinham desse segmento
veria ser os contratos dos consumidores, mas isso não antes da regulamentação. Ou seja, agora, no momento
acontecia: estava-se voltando à época em que as au- regulatório, não há que se persistir nesses erros quan-
torizações eram concedidas aleatoriamente. Nos de- do existe uma agência criada também para defender
paramos com essa situação. Por quê? Porque, de fato, os interesses dos consumidores. Contrariamente ao
estavam ratificados reajustes que chegavam... que pensa o ministro, para o qual peço desculpa,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


122 Mesa5 – Regulação de preços

entendo que a agência é regulatória, mas também Se o governo não vai colocar dinheiro nas empre-
deve olhar para os interesses dos consumidores. sas, é um posição que tem que ser respeitada, mas
De qualquer forma, esse caso foi levado ao conheci- também não é justo que o consumidor pague esses re-
mento do Ministério Público Federal, que o recebeu com ajustes sem que tenham conhecimento dos reais
uma representação contra a ANS, onde os fatos são nar- custos das empresas. Além disso, há brechas na própria
rados pelos órgãos de defesa do consumidor, no caso, a regulamentação, por exemplo, a própria RDC nº 66 diz
Fundação Procon de São Paulo. São dois pontos cruciais. que não há necessidade de uma empresa de plano co-
Dentro da regulamentação, estão previstas sete letivo ter uma autorização prévia da ANS, se ela for
faixas etárias, sendo que o valor da última não pode patrocinada ou parcialmente patrocinada. Se ela for
exceder seis vezes o valor da primeira. Ontem, inclusi- parcialmente patrocinada por apenas 1%, isso significa
ve, dizia-se que as faixas etárias seriam discutidas. que o consumidor vai assumir os outros 99%, visto que
Assim, se há 600% – colocamos 100% na primeira fai- a empresa é considerada parcialmente patrocinada?
xa e 600% na última –, teremos uma variação de A regulamentação não deixa claro a porcentagem mí-
600%. Quando se diz que antes os reajustes eram nima desse patrocínio para que a empresa seja consi-
muito maiores, fica claro que temos um equilíbrio nes- derada como patrocinada ou parcialmente patrocina-
sa regulamentação. E a defesa do consumidor busca da. Esses são problemas que têm que ser equalizados.
esse equilíbrio. No entanto, pensar que ao se atenuar Por último, gostaria de falar sobre a revisão técnica,
um prejuízo ao consumidor, que são os reajustes por questão que foi muito criticada pelos órgãos de defe-
faixa etária, e entender que 600% vai resolver o seu sa do consumidor. Por quê? Porque ela é a expressão da
problema é, no mínimo, um pensamento equivocado. alteração unilateral do contrato. Em razão de proble-
Temos reclamações registradas no Procon de São Paulo mas econômico-financeiros das operadoras, o consu-
contra contratos novos, já que, na prática, acabam-se midor tinha três alternativas: ou ele pagava em torno
jogando os maiores reajustes para as faixas etárias mais de 20% de reajuste para que pudesse manter a rede
idosas, e o consumidor dessa faixa etária, que normal- hospitalar – as duas empresas que tiveram a revisão téc-
mente já tem uma série de dificuldades econômicas, nica arcariam com algo em torno de 10%, com perda de
mais uma vez é lesado. Não existe, pois, um equilíbrio rede hospitalar – ou, para que ele efetivamente não
nessa relação e o consumidor fica sujeito à imputa- tivesse reajuste, teria que co-participar, ou franquiar,
ção de uma cláusula que vai ser desequilibrada e, sem perdendo rede hospitalar. Ou seja, o consumidor que ti-
dúvida, desvantajosa. nha o seu contrato firmado – estamos de contrato antigo
Com relação aos reajustes anuais, não vou extra- –, teve uma total violação do seu direito contratual pre-
polar muito o meu tempo, só quero colocar rapida- visto e garantido pelo Código de Defesa do Consumidor.
mente alguns pontos. O último reajuste foi de 8,71%. De qualquer forma, o consumidor teve que pagar
Desde o ano de 1999, cumpre ressaltar, a Susep, mais para conseguir manter ou estar no seu plano de saú-
uma vez, enquanto órgão regulador, autorizou rea- de. E cabe observar: que garantias que o consumidor
justes diferenciados empresa por empresa. Houve tem que essa empresa vai conseguir novamente se
seguradoras que, na época, tiveram 20% de reajuste, equilibrar? Porque essa preocupação existe.
contando aplicação de sinistros, e também empresas É fato notório, pois foram veiculadas na televisão
de medicina de grupo. E se fala em mercado desequi- denúncias de má gestão da operadora Classe Laboriosa,
librado porque essas mazelas vêm de problemas que teve sua revisão técnica autorizada pela Agência
antigos, de má administração de operadoras, mas o Nacional de Saúde. E mais, foi publicado nos jornais de
consumidor é que acaba tendo que pagar a conta de grande circulação de São Paulo que será feita uma as-
qualquer forma. sembléia geral extraordinária onde será proposto para

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 123

os seus associados o pagamento de uma contribuição de Assuntos Sociais do Senado, da Comissão de


associativa voluntária dividida em quatro parcelas. É o Seguridade Social da Câmara dos Deputados e do Con-
que posso chamar de proposta indecente, porque o con- selho Federal de Saúde; às entidades que organizaram
sumidor, de forma alguma, terá que, novamente, estar este seminário, os nossos parabéns. O momento é ex-
nessa posição, ainda que voluntária. tremamente oportuno para que todos os segmentos
E cabe ressaltar que a Classe Laboriosa está sob di- coloquem suas dificuldades, seus problemas, haja vis-
reção fiscal da ANS. Preocupa-nos uma proposta nessa ta que o setor saúde, na opinião de todos, atravessa
linha, dentro de uma direção fiscal, porque novamente uma das suas mais graves crises.
estamos vendo o consumidor ter que pagar essa conta. Queríamos agradecer, em nome da Federação Bra-
Sem dúvida, sei que isso cria um debate imenso, sileira de Hospitais, o convite para participar deste
mas, na função de representante dos órgãos de defesa evento, pontuando e colocando algumas reflexões pa-
do consumidor, tenho que trazer todos os problemas ra debates futuros. A conclusão entre nós é a de que o
para que sejam discutidos. E este é o momento. O sim- setor de saúde do Brasil, tanto o público quanto o priva-
pósio está trazendo à tona os problemas de todos os do, passa por uma crise sem precedentes. Os hospitais
segmentos para que se busque o equilíbrio, mas sem passam por dificuldades extremas, estando altamen-
ferir o Código de Defesa do Consumidor. te endividados. Em recente pesquisa da federação,
Só para finalizar, é de suma importância que a ANS demonstrou-se que os hospitais estão endividados em
fiscalize regulamente os planos coletivos, que se con- algo em torno de seis meses de seu faturamento.
cretizam em 80% do mercado e as autogestões geram Não existe uma política de financiamento para o se-
a possibilidade de estarem fora, alheios, muitas vezes, tor, não existe um reconhecimento do setor público do
a um processo regulatório mais contundente, a uma papel fundamental e importante da iniciativa privada
fiscalização. Os planos são utilizados como base de re- na prestação de serviço, de modo que são pontos que
ajustes, como foram os 8,71%. Falta a definição de uma vamos colocar como propostas no final da nossa fala.
política de reajuste. Os órgãos de defesa do consumi- Dentro do tema proposto, Regulamentação dos Pla-
dor apresentaram uma política de reajuste que deve nos de Saúde, a posição da federação em relação à Lei
ser analisada e estudada, mas deve ser feito um estu- nº 9.656 é uma posição onde a regulamentação era
do regional de todas os segmentos e insumos que a importante, era um pleito antigo dos hospitais que
compõem. Isso deve ser feito por uma instituição na- houvesse regulamentação dos planos de operadoras de
cionalmente reconhecida e que estabeleça um saúde, tendo em vista que um dos conflitos enfrenta-
patamar mínimo, ou seja, quem é, como fica, quanto dos pelos hospitais são operadoras que não têm estru-
custa o segmento de saúde suplementar, para que seja tura, não têm qualificação, vendem planos de saúde,
realmente mais transparente. Obrigado. encaminham os usuários para hospitais e, depois, não
tendo condições de pagar os hospitais. Esses conflitos
O Senador Lúcio Alcântara ainda são importantes e essa regulamentação do se-
Dra. Lúcia Helena, muito obrigado pela sua exposição. tor vem sanar um pleito antigo da Federação Brasileira
Infelizmente, o tempo é um ditador. A senhora extra- de Hospitais, que era exatamente definir a regra de
polou menos que o reajuste dos preços. quem é competente e qualificado para atuar no mer-
Com a palavra, o Dr. Carlos Eduardo Ferreira. cado dos planos de saúde.
Algumas ponderações no amadurecimento da Lei
O Dr. Carlos Eduardo Ferreira nº 9.656, que é uma sugestão de revisão do modus
Meu caro senador, em nome do qual saúdo todos os operandi das câmaras técnicas, com verticalização dos
parlamentares aqui presentes, membros da Comissão temas, tempo hábil para os participantes debaterem

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


124 Mesa5 – Regulação de preços

os sistemas do âmbito interno. Foi dito aqui e por mais que modificar, mas é um processo cultural, e toda mu-
de um representante, quer dizer, o problema das reu- dança de processo cultural é lenta. O hospital vai ter
niões da Câmara de Saúde Suplementar, muitas vezes que ser administrado por profissionais e se organizar
atropeladas, rápidas, as decisões tendo que serem to- para a demanda da sociedade e não para a necessida-
madas de maneira importante, pontos importantes em de do médico. O médico vai ter que fazer uma opção:
tempo de discutir, que é exatamente o tempo hábil ou ele vai se preparar para administrar a estrutura hos-
para o consenso entre os participantes das câmaras. pitalar ou vão contratar profissionais de administração
E aqui quero terminar o comentário em relação à para gerir o hospital.
Lei nº 9.656, dizendo de um receio que a Medida Provi- A maioria dos hospitais do Brasil, e tenho dito isso
sória nº 43, substituída pela 44, e que foi transformada freqüentemente, não consigo, nunca vi um hospital no
num projeto de lei para ser discutido por toda a socieda- Brasil que tenha sido construído com o objetivo de lu-
de, não tem o mesmo caminho que a lei que foi aprovada cro, que aplico o meu dinheiro, como usuário, para ter
inicialmente em relação aos planos de saúde e que, 24 renda daquela aplicação de dinheiro, quer dizer, orga-
horas depois, foi substituída por uma medida provisó- nizaram-se, são hospitais filantrópicos em que a
ria. Então, ou temos lei neste país, em que o Congresso comunidade se organizou, reuniu-se, montou as San-
define que vai ser aplicada e depois revista, ou não adi- tas Casas, as organizações beneficentes, e os hospitais,
anta aprovar uma lei e 24 horas depois ela ser substituída que foram grupos de médicos que se reuniram para or-
por uma medida provisória, que vem sendo alterada a ganizarem a sua oficina de trabalho. E aquele conjunto
cada mês, chegando a 44. Realmente não tem nenhum de médicos heterogêneos que se reuniram houve uma
segmento, tanto em nível de hospital, de operadora de recomendação jurídica para que se organizassem em
usuário, que consiga planejar a sua organização com forma de sociedade anônima. E, aí, toda a legislação
modificações que ocorrem a cada 30 dias. que rege aquela estrutura hospitalar é a legislação da
De modo que a definição e a construção de regras sociedade anônima industrial. Então, temos que tam-
nesse mercado é extremamente importante, mas não bém modificar essas regras do jogo, que aplicam ao
podemos ficar sujeitos a essa modificação a cada 30 setor hospitalar a mesma regra do setor industrial ou
dias. Então, como fazer regulação de preços dentro do mesmo setor comercial.
dessa parafernália que existe aí é, realmente, extre- As estruturas do setor hospitalar são estruturas dis-
mamente complicado. Vários pontos foram elencados tintas, em termos de gerência, de gestão, de região de
durante as falas dos senhores em relação à necessida- demanda, de complexidade e de conforto. Então, a hete-
de de rever o sistema tributário, de rever o sistema de rogeneidade no setor hospitalar é extremamente im-
valor, o pagamento, criar regras, enfim, qualidade e a portante. E, apenas para exemplificar, a realidade, no
creditação, mas isso tudo vamos sugerir uma proposta Brasil, é que 70% dos hospitais no Brasil, hoje, têm me-
no final da fala. nos de 70 leitos. Essa é a realidade do Brasil. Não pode-
Uma breve palavra sobre o setor hospitalar brasi- mos raciocinar que os hospitais do Brasil são os cha-
leiro. O setor privado não-filantrópico responde por 35% mados hospitais 5 estrelas de São Paulo ou os de primeira
da prestação de serviço do nosso Brasil, o setor filan- linha de Belo Horizonte ou do Rio de Janeiro; a realidade
trópico responde pelo montante aproximadamente do nosso segmento hospitalar é extremamente diferen-
igual. De modo que o setor privado não-governamental te e tem que ser repensada dentro dessa realidade.
responde, no Brasil, por 70% da prestação de serviço. Esse Então, dentro dessa cultura que foi implantada, de
é um setor que está atravessando uma lenta transição o médico ser gestor do hospital, ele é dono e interessa
do amadorismo para o profissionalismo. Penso que esse a ele prestar o serviço de assistência médica, os hospi-
é um conceito extremamente importante que temos tais consentidamente permitiram uma invasão dos

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 125

planos de saúde, quer dizer, os planos de saúde passa- reunião que fizemos, de dois dias, as entidades, os parti-
ram a ser normativos em relação à atividade hospitalar, cipantes dessa reunião elencaram os seguintes pon-
em termos de imposição de preços, de regras, de paga- tos importantes a serem discutidos e definidos: modelo
mentos, muitas vezes encaminhando alterações de de saúde não cumprido e submetido ao arbítrio de
pagamentos a serem faturados para o prestador de ser- gestores em todos os níveis; financiamento – a socie-
viço diretamente ao setor de faturamento do hospital, dade paga e não retorna a ela; parâmetros de remune-
sem sequer conversar com a administração do hospi- ração insuficientes; financiamento insuficiente, lei não
tal. Mas isso foi por uma autorização, uma permissão cumprida. Não há solidariedade entre o público e o pri-
consentida pela própria administração do hospital. vado; abertura de novas faculdades de medicina sem
Um outro problema que nós, hospitais, temos que critério; cultura de população em consumir serviço de
definir é criar uma linguagem uniforme, que seja en- saúde excessivamente; falta de diretrizes para o aten-
tendida por todos os hospitais e por todos os dimento médico-hospitalar; falta de planejamento para
compradores de serviço e, inclusive, para o próprio Sis- atender às necessidades dos três tipos de clientes, o
tema Único de Saúde. O que é uma diária de hospital, público, o convênio e o particular; critérios de financia-
o que é uma diária de CTI, o que compõe uma diária de mento hospitalar diferentes para procedimentos iguais.
CTI? Como consigo conceituar, e que esse conceito seja Estamos criando Mesas específicas dentro da Fe-
entendido igualmente por todo mundo? Então, ainda deração, do Conselho e da Associação Médica Brasileira,
não temos conceitos definidos. E que essa linguagem para discutir cada um desses pontos.
seja uniforme para todos nós. Então, as negociações O próximo, por favor.
passam a ser diferentes, isoladamente, entre cada ope- Ainda com relação ao problema do setor hospitalar,
rador e cada hospital, dentro de terminologias abso- é um ponto extremamente importante o sentimen-
lutamente próprias, de cada hospital, e não em termos to de conflito que existe entre o prestador e o usuário
de conceitos definidos. do serviço. Na realidade, deveria existir, conforme já
Então, em função dessa norma ou em função da citado ontem pelo presidente do Ciefas, um sistema
mudança disso, estamos preparando e vamos apresen- de ganha-ganha, não de perde-ganha. Quer dizer, to-
tar, tão logo seja possível, um modelo de um sistema dos temos que sair ganhando dentro do sistema. Mas
operacional hospitalar, para que realmente possamos a cultura existente é a de que o hospital quer super-
entender o que é um hospital, quer dizer, um hospital é faturar em cima do plano, para cobrir prejuízo do SUS
uma organização prestadora de serviços hospitalares e e de que o plano quer implementar mecanismos de
ele tem que ser remunerado pela prestação de serviços auditoria, o que gera um conflito extremamente im-
hospitalares. Então, como é que se faz esse contrato ou portante entre hospital e médico, que também não
essa aliança dos médicos com os hospitais é outro desa- interessa ao segmento. Temos que alterar as regras do
fio que também vamos ter que enfrentar. E gostaria de jogo, para que possamos criar esse comprometimento
me permitir ler pontos importantes, que nós, numa reu- de confiabilidade entre as partes envolvidas.
nião há cerca de 15 dias, fizemos com o Conselho Federal Ontem, em toda a discussão do dia, não se falou
de Medicina e com a Associação Médica Brasileira, jun- uma única vez na palavra hospital. Foi abordado o tri-
to com a Federação Brasileira de Hospitais, no sentido ângulo médico-usuário-operadora, e o hospital, que
exatamente de que essas entidades comecem a buscar presta o serviço e que às vezes consome a maior parte
essa linguagem comum, a discutir os seus pontos de do recurso, não foi citado uma única vez. Definem-se
conflito e os seus pontos de interação. preços de contrato de planos de saúde baseados nas
E em relação aos problemas relacionados ao mo- planilhas dos planos de saúde, mas sem levar em conta
delo de saúde, então, nesse planejamento ou nessa os custos hospitalares. Temos, então, que buscar, junto

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


126 Mesa5 – Regulação de preços

à Agência Nacional de Saúde, uma maior interação com hospitalar, com conhecimento da linguagem;
os hospitais para entendermos como é o processo de 4) Planejamento para se decidir a demanda e a ofer-
custo hospitalar e o atendimento. ta. Creio que, à tarde, nas proposições, o Dr. Rafael Guerra
Dentro da construção desse modelo, só há um ca- vai apresentar sugestões para aumento da clientela;
minho: mesa de negociações. Não existe outro cami- 5) A mesa de negociações.
nho. Devemos buscar o entendimento entre nós. A
mesa de negociações foi citada por todas as entidades E uma mudança fundamental: o hospital terá que
que já participaram deste evento até agora. Fica aqui, mudar seu paradigma. Vai ter que deixar de ser aquela
então, já, uma proposta. estrutura paquidérmica, apenas para receber o clien-
O nosso tempo está esgotado, mas queria apenas te, e organizar-se pró-ativamente, para atuar de ma-
refletir sobre mais dois pontos. Um deles foi o citado neira extremamente mais significativa na prevenção,
há pouco, no final da palestra da Dra. Solange: plane- juntamente com o seu corpo clínico, mas também sen-
jamento. Não existe planejamento do setor saúde no do remunerado para isso.
Brasil. Não consigo entender, diagnosticar a demanda Desculpem-me se extrapolei o tempo.
da sociedade e como o setor prestador de serviço se Muito obrigado.
organiza em relação a essa demanda. Essa regra ainda
não existe. Temos que construir essa regra, para ver O Senador Lúcio Alcântara
como ofertar esse serviço. Não é mais possível, e vou Muito obrigado, Dr. Carlos Eduardo, pela sua exposição.
dar o exemplo da minha cidade, Belo Horizonte, que, Concedo a palavra ao Dr. Roberto Westenberger,
em uma avenida, haja 10 hospitais realizando cirurgia que representa a cinqüentenária Fenaseg - Federação
cardíaca. Não há espaço para cirurgia cardíaca em 10 Nacional de Seguradoras.
hospitais. Temos, então, que rever todo esse planeja-
mento para regularizar a oferta. O Sr. Roberto Westenberg
O outro ponto para o qual gostaríamos de chamar a Em primeiro lugar, eu queria me congratular com os
atenção é o seguinte: há uma disputa extremamente organizadores do evento pelo seu sucesso. Estou bas-
grave e séria, dentro do mercado de operadoras, em fun- tante honrado em participar deste debate, como repre-
ção dos usuários. Cada grupo busca conquistar o usuário sentante da Fenaseg.
do outro. Enquanto isso, temos um caminho imenso a Tendo em vista que atuo como consultor atuarial
seguir no sentido de aumentar expressivamente o nú- em vários segmentos do mercado, ajudando na esti-
mero de usuários dos planos de saúde, de modo que pulação de preços não só de seguros de saúde, mas de
parte da sociedade não-usuária desses planos, mas com outros ramos de seguro, apresentarei hoje algumas
poder aquisitivo para tal, possa também começar a par- idéias para os senhores, mas na minha condição de pro-
ticipar das suas despesas, e o dinheiro do SUS, que é fessor universitário. Sou professor da Coppead, escola
curto, possa ser direcionado aos mais necessitados. de pós-graduação em Administração da Universidade
Terminando, Sr. Presidente, gostaria de definir cin- Federal do Rio de Janeiro, e passarei aos senhores es-
co pontos que a federação propõe para a conclusão sas idéias porque noto que, na discussão específica
deste seminário: sobre os determinantes de preços de seguros, há um
1) A definição do mix público-privado; mal-entendimento ou um desentendimento de certas
2) O reconhecimento do setor privado como setor questões que, por serem específicas e exclusivas do
de prestação do serviço, definindo regras claras para processo segurador, não podem ser importadas de ou-
cada prestador, em função da sua natureza jurídica; tros produtos ou de outros processos industriais.
3) Definição de um sistema operacional, sistema Nosso objetivo aqui, então, é conceitual e didático.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 127

Vou apresentar aos senhores algumas idéias específi- temente, esse custo precisa ser estimado – eu coloquei
cas da atividade seguradora, no sentido de acrescentar a palavra “estimar” em vermelho, porque esta, talvez,
elementos para este debate, que considero muitíssimo seja a arte da administração do risco de seguros. Esse
oportuno e importante. custo precisa ser estimado e, como essa estimativa uti-
A formação do preço do seguro não difere da for- liza processos de probabilidade e processos financeiros,
mação do preço de outros produtos, ou seja, os com- é requerida toda uma metodologia específica para essa
ponentes do preço de seguro são: o custo da atividade atividade, em geral aplicada pelo profissional específi-
– no caso, o custo do seguro; as margens e os adicio- co, que é o atuário. Então, são necessários procedi-
nais para as despesas incorridas na atividade; eviden- mentos atuariais, principalmente para se estimar essa
temente, se essa empresa busca o lucro, a margem de incerteza futura inerente a esse custo.
lucro; se é uma empresa sem fins lucrativos, em vez Relembrando um princípio básico da atividade se-
do lucro, o que interessa é o que será distribuído ao guradora, a previsão do custo só é factível se a
final da operação. seguradora operar um grande número de riscos. É a
Esse custo do seguro, na verdade, é segmentado. A famosa lei dos grandes números, lá da Estatística. É um
cobertura do seguro normalmente é dividida em riscos conceito e não um processo.
individualizados. Quando se calcula o preço do segu- A Sra. Lúcia, no painel anterior, se viu às voltas com
ro, a primeira tarefa é dividir todos os riscos individuais este mesmo problema. Não consigo prever o que vai
que compõem aquele seguro. Por exemplo, se o segu- acontecer quando eu tiver sessenta anos. É impossível
ro for de automóvel, os riscos envolvidos, em geral, são a previsão em cima de um risco, de uma vida. Não po-
riscos de colisão, roubo e incêndio, quer dizer, o atuá- demos prever o resultado do lançamento de um dado
rio precisa segmentar, tratar individualmente esses ris- – este é um conceito estatístico – mas é possível prever
cos para se poder chegar ao preço. Se o seguro for de o resultado de mil lançamentos de um dado, se tiver-
vida, esses riscos são morte, invalidez e doença – essa mos noção se esse dado é equilibrado ou não.
doença associada um pouco à invalidez. Se o seguro Então, a seguradora ou operadora, para ter suces-
for de saúde – que é o objeto da nossa discussão –, os so na estimação desse custo, necessariamente precisa
riscos fundamentais, os componentes do custo do se- trabalhar massificada. Do contrário, há mecanismos,
guro seriam internação, consulta, exames e outros que a própria atividade seguradora provê, para admi-
riscos inerentes à atividade. nistrar esse risco. São exemplos disso o mecanismo de
A primeira particularidade e especificidade da ativi- resseguro, repasse e outros.
dade seguradora, que não ocorre na determinação de Como a seguradora/operadora vai estimar o custo
preço de outros produtos, é que o custo do produto se- desse risco? O princípio é básico, fundamental. Ela sim-
guro só é conhecido após a venda. Quando menciono plesmente vai diluir o custo dos prejuízos, as inde-
as seguradoras, refiro-me a elas em termos genéricos – nizações, independentemente do ramo do seguro. Ela
o operador de risco, o grupo segurador, aquele que está vai distribuir o custo observado num determinado pe-
assumindo o risco do seguro. O segurador não conhece ríodo de tempo entre todas as pessoas que fizeram
o custo da atividade antes da venda do produto, dife- seguros e que estiveram expostas àquele risco.
rentemente de outros setores industriais. Quando o Este é um princípio da atividade e, na verdade, nos
fabricante de automóveis vende o automóvel, ele já referimos a ele como o princípio do mutualismo e que
sabe quais foram os custos incorridos, tem isso determi- prega ser o seguro um mecanismo em que alguns de-
nisticamente avaliado e sabe até a margem de lucro safortunados – aqueles para os quais o risco se ma-
obtida naquele produto no instante da venda. terializou – terão a compensação dos prejuízos por
O segurador não tem essa faculdade. Conseqüen- aqueles que contribuíram para o conjunto, que vai,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


128 Mesa5 – Regulação de preços

então, sustentar aqueles riscos. Só há um detalhe: a região em que opera pouco, o que requer, para esse exer-
apuração desse custo, conforme dissemos anteriormen- cício, informações consolidadas de todo o mercado.
te, vai se dar para o futuro. Ou seja, a seguradora, na hora Assim, além das suas próprias informações, ela utiliza
em que está efetivamente precificando, precisa fazer também informações colocadas à disposição por um
uma estimativa que vai ter, evidentemente, que olhar pool de informações, envolvendo várias operadoras.
o futuro. Para isso e para que tenha precisão nessas es- A título de uma exemplificação, dado que a nossa
timativas, ela tem que olhar o comportamento desse discussão é sobre saúde, estou apresentando um
risco no passado, que constitui o melhor indicador do exemplo de um custo real – esses valores são reais –,
comportamento desse risco. A partir dessa análise pas- derivado exatamente de uma experiência, que é um
sada, ela então determina os diversos parâmetros que pool de seguradoras, para as quais desenvolvemos tra-
vão compor a precificação. balhos nos últimos meses.
Fizemos aqui um exercício algébrico simples que Então, a definição do risco que vai ser precificado: o
consistiu em decompor o custo do risco. Se observar- de internação, que é uma das componentes do risco de
mos a fórmula colocada na distribuição da avaliação saúde; plano individual anterior à Lei nº 9.656, com ca-
do custo seguro em duas parcelas, vamos ver que o que rência máxima de 270 dias, sem cobertura para trans-
se fez ali foi introduzir na fórmula que colocamos uma plante, doenças pré-existentes e doenças crônicas.
variável que divide a apuração desse custo em duas com- Como seria feita essa precificação? Conforme co-
ponentes, sendo uma a freqüência de ocorrência do locado, o custo desse risco é dividido nos dois fatores
risco, que vai ser o indicador numérico da incidência que o compõe – a freqüência e o custo médio –, e todos
daquele risco; a outra componente é uma distribuição os números que aparecem nessas duas frações são ex-
do custo dos prejuízos ocorridos naquela massa segura- traídos desse banco de dados de informações histó-
da por todos aqueles que sofreram aquele prejuízo. Ou ricas, envolvendo dados da seguradora e também do
seja, dá uma idéia da intensidade do prejuízo sofrido por mercado, onde aquele risco está-se materializando. No
cada uma das pessoas. caso, temos um custo de R$42,71 para esse risco que foi
Então, na prática, na hora em que a seguradora vai exemplificado. Vejam que isso não é preço, mas custo
efetivamente estimar esse custo futuro, ela o divide do risco, senão teríamos que adicionar as margens.
em dois fatores, multiplicando-os. Um mede a incidên- A mudança de cobertura implica alteração no cus-
cia, a probabilidade de ocorrência do risco e o outro, a to do risco. Essa é inevitável. Vocês devem ter obser-
intensidade do custo daquele procedimento.As deno- vado que a discrição do risco é com palavras difíceis de
minações são jargões atuariais: freqüência de ocorrên- entender, e essa uma crítica muito grande que os ór-
cia de risco, valor médio da indenização... gãos de defesa ao consumidor fazem às atividades das
Importante: essa precisão requer o armazena- seguradoras. Porém, esse é um mal necessário, porque,
mento de um grande volume de informações histó- se não se especifica de forma a que não crie nenhuma
ricas. Ou seja, para a operadora de risco é uma função ambigüidade à cobertura do risco, gera-se uma insa-
precípua da atividade guardar dados e informações tisfação futura desse cliente segurado, que é o de
referentes a suas operações passadas, para que pos- reclamar os seus direitos, ou seja, uma briga entre se-
sa, ao olhar o passado, derivar as melhores estimativas guradora e segurado, em relação a qual é exatamente
possíveis para o futuro. a abrangência do risco coberto ou não.
Numa atividade como a de seguradora, na maioria Então, normalmente, essas coberturas são textos
dos casos, nem sempre o banco de dados próprio da se- jurídicos um tanto quanto difíceis de serem entendi-
guradora é suficiente para que ela possa precificar o dos por pessoas leigas, mas têm de ser dessa forma.
risco. Por vezes, ela precisa fazer uma precificação numa Agora estou considerando um outro risco, que é o

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 129

mesmo risco de internação, porém com alguns atribu- No seguro, isso é uma necessidade. O preço do se-
tos referentes à Lei nº 9.656. No caso, há uma pequena guro, necessariamente, tem de ter uma segmentação,
redução de carência, de 270 para 180 dias de cobertu- buscando uma proporcionalidade do preço com o risco.
ra, permitindo duas formas de transplantes – córneas Se isso não ocorrer, a operadora desse risco fica sujeita a
e rins –, e também a cobertura parcial temporária para um processo de anti-seletividade, usando nosso jargão.
doenças preexistentes, que, na verdade, em termos Isso já está ilustrado na transparência.
práticos, pressupõe uma carência adicional, de uns 24 É claro que o mesmo risco da internação que mos-
meses, para alguns procedimentos específicos. Ou seja, tramos, mais de 42%, varia em função da idade.
houve uma ligeira modificada no risco. Pessoas mais jovens terão uma incidência e, talvez,
Vamos ver o efeito no custo do risco. Agora, pre- até um valor menor do que pessoas mais idosas, em
cisamos extrair desse banco de dados (R$48 mil) o núme- fase adulta, gerando a diferença de custo. Se a ope-
ro de segurados que efetivamente ficaram expostos a radora cobrar o mesmo preço de todos, significa que
esse novo risco. Nos numeradores, podem ser vistos os o risco laranja, que são as pessoas mais jovens, não se
prejuízos, quer dizer, o número de pessoas, no caso, sentirá incentivado a fazer o seguro porque lhe está
890, foi o daquelas que efetivamente utilizaram es- sendo cobrado um preço exorbitante, ao passo que a
ses procedimentos médicos, em cima das quais esse pessoa adulta se sentirá extremamente incentivada
risco se materializou. porque a seguradora estará cobrando um preço me-
Então, há a freqüência multiplicada pelo custo nor do que o custo da atividade.
médio, resultando num custo majorado de R$48,96, Estou dando o exemplo da idade, mas poderia dar
15% acima do custo inicial, ou seja, mudou a cobertu- outros. Se a seguradora não segmentar esses custos,
ra; muda o custo de risco. Isso é inevitável. Agora, vou passa a atrair os riscos de maior custo e a repelir os ris-
até fazer um paralelo. A definição de uma cobertura co de menor custo. Isso significa que, nas renovações
de seguro seria como se fosse uma planta de um pré- seguintes, o preço do seguro vai aumentando. Porque
dio construído, feita por um arquiteto. Este fez uma as pessoas de risco mais baixo não vão fazer seguro e
planta, com toda a especificação. O atuário vai lá, em as pessoas de risco mais alto vão fazer mais seguro o pre-
cima daquela planta, e faz o cálculo, exatamente como ço, naturalmente, vai subir. Esse princípio se chama
estou mostrando, utilizando os elementos históricos anti-seletividade. Fiz questão de usar a terminologia
daquele risco. para que todos tenham essa dimensão.
O engenheiro, através da planta, vai fazer o cálculo Seguindo, apresentarei um exemplo utilizando
estrutural para se certificar de que o prédio efetivamen- aquele primeiro risco de internação antes da Lei nº
te vai sustentar aquele projeto feito pelo arquiteto. Se 9.656. Abrimos o custo de 42,71 agora, de acordo com
este mudou o projeto – vamos colocar mais um banhei- as diversas faixas etárias. Esse número colocado, em-
ro aqui desse lado, ou vamos modificar a disposição bora seja baseado em massa real de dados, tem de ser
desses quartos –, vai mudar o projeto estrutural e o cus- entendido com certo cuidado. Não sei se V. Exªs lem-
to do risco. Essa é uma relação inevitável. bram, mas a massa que gerou esse número, 370 mil,
Esse é um princípio interessante, o segundo prin- embora seja muito grande, em termos atuarias é muito
cípio básico da precificação de seguro e só ocorre no pequena para dar uma estabilidade estatística a esse
seguro. Se você vai à /na/ concessionária e pede um número, havendo, portanto, uma margem para flutua-
carro, ficaria extremamente furioso se a pessoa te per- ção. Mesmo assim, V. Exª podem perceber a diferença
guntasse onde você mora e te cobrasse um preço di- dramática entre as faixas etárias quando esse custo é
ferente do carro em função de onde você mora. Você segmentado por idade.
ficaria revoltado. A Lei nº 9.656 preconiza que exista uma diferença

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


130 Mesa5 – Regulação de preços

de preço de seis vezes entre a faixa mais jovem e a fai- O Senador Lúcio Alcântara
xa mais idosa. Isso coloca a operadora – usarei um termo Muito obrigado, Professor Westemberg, pela sua didá-
um tanto quanto chulo – em uma sinuca de bico por- tica exposição.
que, se, para seguir a lei, estabelecer um preço por Passamos a palavra ao Dr. João Luís Barroca de
baixo, mantendo 3,60, ficará insolvente para os riscos Andréa. O último dos que se pronunciaram agora.
de maior idade. Se, por outro lado, estabelecer um pre-
ço acima do valor para os riscos mais jovens estará O Dr. João Luís Barroca de Andréa
extorquindo essa massa segurada. Essa é uma ques- Bom dia a todos! Agradeço a oportunidade de retornar
tão para discussão. a esta reunião para discutir um dos outros lados da
Na verdade, a segmentação desses custos não se regulação, que é a de preço, e saudar o Senador Lúcio
dá só pelo fator idade. Na realidade, especialmente em Alcântara e a todos da Mesa aqui presentes, pela opor-
seguros de saúde, esse processo é multidimensional. A tunidade de estarmos aqui discutindo esse tema, tão
seguradora tem que fazer essa avaliação levando em importante e candente, trazendo opiniões tão diver-
conta um grande número de fatores. Citei apenas três sas, mesmo que implícitas ou não muito bem colo-
como exemplo, mas, na verdade, há mais fatores, como cadas, que já remeteram à agência e vem remeter a
se a pessoa é fumante ou não, se faz ou não jogging, este plenário a necessidade do reconhecimento inicial,
quais os cuidados que toma com a saúde. Esses dados questões complexas.
geram um processo multidimensional de uma riqueza Trata-se não só de regulação de preço, mas de
estatística muito grande. Evidentemente, não entra- regulação de sustentabilidade para o setor. Ou seja,
remos nesse mérito. como é que ele se sustenta. Fora do reajuste de que
Apresentarei as mensagens finais, um resumo do vamos falar também, e vou permitir-me voltar um
que falei. pouco na lei para dar uma contextualização, estamos
A precificação de seguros é algo dinâmico. Em rela- falando de um desafio muito maior – sobre sustenta-
ção ao comentário do painel, isso é inevitável. Existe um bilidade, de como se faz, até porque –, sempre resisto a
escalonamento de custos médicos e uma variação na não responder ao que foi falado na Mesa, mas, nesse
taxa de morbidade da população que precisam ser con- caso, não o farei. O ministro não disse que uma das
sideradas. Isso afeta diretamente o custo do risco e, atividades da agência não era defender o consumidor,
conseqüentemente, o preço. Nos debates até posso dis- mas defender o consumidor também. Ele tinha como
cutir um pouco quais são os mecanismos que teríamos princípio fazer essa defesa também, mas é uma agên-
para fazer face a isso. Penso que colocar uma camisa de cia, exatamente como foi colocado aqui, que encontra
força na operadora, digamos assim, para que essa deter- esse dilema.
mine um preço artificial, desrespeitando um fenômeno Aliás, encontra esse dilema que, às vezes, é um pou-
natural, soa um tanto quanto inconveniente. co falso, porque defender um mercado saudável tam-
A modificação das coberturas altera o custo do bém é defender o consumidor. Então, é importante que
risco. Se mudou a planta da arquitetura, muda o cál- tenhamos claro, porque senão essas inverdades vão-
culo estrutural. se repetindo e, daqui a pouco, fica como se o Ministro
Finalmente, a última. Se a seguradora não fizer tivesse dito que agência não é para defender o consu-
estimativa de custo de riscos – uma das seleções que midor. Não foi isso que S. Exa disse. Reitero esse aspecto
ela faz é exatamente na “precificação” –, o mercado nesta Mesa, já que já foi colocado duas vezes esse tipo
fará uma seleção contra ela, criando aquele processo de afirmação neste debate.
que exemplificamos. Bem, vamos à apresentação, antes que eu perca tem-
Agradeço o tempo da apresentação. po, a presidência da Mesa, corretamente, me cobre isso.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 131

Acredito que, quando falamos de complexidade, te- Próxima: este gráfico é um pouco difícil de ler. Os
mos que começar dividindo essa discussão, porque há, azuis são os valores médios de gastos num plano em-
na verdade, dois tipos de negócio – os planos coletivos e presarial no primeiro ano e após o primeiro ano, o azul
os individuais. Vou arriscar bastante nessa explicação. claro – vou tentar fazer essa linha – e o azul escuro. O
Os planos coletivos são administração de recursos roxo e o vermelho são de planos individuais. Quis mos-
de terceiros. Eles podem ser em regime de pré-paga- trar com este gráfico que, nos dados hoje disponíveis,
mento ou pós-pagamento e são contratos entre existe um comportamento semelhante entre esses
pessoas jurídicas. Os planos individuais, sim, são ad- dois. Significa que são a mesma coisa? Não. Um plano
ministração de risco. O regime, necessariamente, é de coletivo e um plano individual não são a mesma coisa,
pré-pagamento, e os contratos são assinados individual- mas há investigações a serem feitas.
mente. Isso vai ter muita importância quando se fala de Próxima: no aspecto regulação de preços, que é
regulação de mercado, uma vez que um número expres- objeto desta mesa, o foco principal da regulação são
sivo desses contratos vem dessa administração de re- os produtos individuais ou familiares pela maior
cursos de terceiros. assimetria de informação. Passamos a fazer de forma
As principais diferenças entre esses segmentos são: inédita o monitoramento desse mercado concorrencial
o coletivo – existe uma possibilidade fortemente de planos coletivos. Há necessidade de regulação em
concorrencial, pois, no individual, há falhas na estru- função dos abusos. O regime financeiro é de reparti-
tura concorrencial. Já no coletivo, há forte competição ção simples. E o grande desafio é como se estruturar
pelos contratos; existe contrato entre pessoa jurídica, o financiamento do segmento de planos individuais,
havendo negociação entre as partes. Há uma possibi- protegendo-se o consumidor e estimulando-se a
lidade muito grande de pressão em relação a isso. Há eficiência ao mesmo tempo.
possibilidade de haver rescisão unilateral de ambas as Esse gráfico é uma reflexão para termos idéia do
partes, nesse processo de negociação. O preço vai ser que estamos falando. Muitas vezes, fala-se de uma
calculado em função do perfil da empresa, por popula- comparação com a previdência privada aberta. Ou seja,
ção pré-definida. os regimes de capitalização. Hoje existem, no Brasil,
No individual, há falhas na estrutura concorrencial, dois grandes tipos: o de contribuição definida e o de
conforme já falei, competição fundamentalmente pe- benefício definido. O que isso tem a ver com o plano
los mais jovens, relação desigual (pessoa jurídica x de saúde? Tem a ver para fazermos uma contraposição.
pessoa física) na informação, na estrutura da informa- É um regime de repartição simples que segue o princí-
ção. O contrato é por tempo indeterminado – esse foi pio do mutualismo em que – a frase que encontrei: –
um avanço dentro da lei – e o preço é calculado esti- todos pagam a mensalidade para cobertura da neces-
mando-se um provável perfil do produto que deve sidade de saúde de quem precisa. O beneficiário entra
acompanhar uma pirâmide etária numa população no plano e, vencida a carência, tem direito a todas as
aberta e indefinida. coberturas, o que é nosso desejo, o que é bom, mas em
Próxima transparência: curiosamente, no nosso termos de sustentabilidade do negócio é um desafio
cadastro – ou seja, nos 29 milhões –, a idade média dos para o Brasil, como o é para o mundo todo. Ou seja, não
planos individuais é a de 30,6 anos; no coletivos, 30,87 é um benefício definido. A necessidade da assistência
anos. Há muita informação que a agência está cons- é indefinida. Não se sabe se vai ocorrer, quando vai
truindo para verificar qual é a realidade no Brasil. Não ocorrer e quanto vai custar.
adianta buscarmos tábuas de maior mortalidade de Próxima: que metodologia existia antes da
outros países. Essa é uma informação curiosa que a regulação? Sem base técnica atuarial, o preço – não
agência terá de investigar e discutir com o mercado. digo de todas as empresas, mas de uma grande parte

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


132 Mesa5 – Regulação de preços

das empresas – era baseado no preço do concorrente, Irei falar um pouco, a seguir, do pacto intergeracional
com critérios obscuros. Em caso de dificuldades finan- para entrar na chamada revisão técnica, que, às vezes,
ceiras, a operadora compensava no momento do é confundida com reajuste, mas não o é.
reajuste. E, após a regulação, o preço é calculado em cri- O que estamos aqui mostrando é que existe uma
térios atuarias. A agência já instituiu a obrigatoriedade pirâmide etária – não fomos nós que inventamos isso;
da nota técnica de registro de produto, com instituição é a consistência da população do Brasil, ou seja, ela se
do preço mínimo. Por que preço mínimo? Para evitar distribui –, a despesa assistencial. Quando falamos, nas
aquela prática antiga e lesiva aos consumidores de se seis vezes, eu, ao contrário, defendo essa metodologia,
jogar o preço muito para baixo, vender e depois não en- porque penso que embute o critério de justiça social.
tregar ou procurar compensar no reajuste. O mais novo paga, efetivamente, um pedaço dessa as-
Próxima: esta é uma interpretação visual do que sistência que vá ser prestada ao mais velho. Diferen-
estávamos falando em relação ao coletivo e ao indivi- temente de antes, quando o resultado era por faixa
dual. Deixei o preço de propósito para verem que o etária sobrava na faixa etária, porque o cálculo era fei-
preço do coletivo é menor, inclusive porque as despe- to para sustentar cada faixa etária.
sas administrativas são menores e a chamada margem Como disse a Profa. Lúcia, temos idéias e estas po-
de segurança também é menor no preço de venda. Há dem mudar. Esse debate é uma oportunidade para isso.
um ponto importante que daqui a pouco vai surgir no A revisão técnica não é um instrumento de reajus-
debate, mas que vou logo antecipar: os planos de saú- te, mas um instrumento quando uma operadora em
de subiram 15,5%, em São Paulo, de acordo com direção fiscal, em direção técnica, aproveitando plano
pesquisa do Dieese. Trata-se de preço de venda. Por que de recuperação, tem necessidade de rever. Vamos ci-
– essa é a grande pergunta –, num mercado fortemen- tar um caso concreto, que está na mídia e que foi hoje
te concorrencial, que está brigando pelos clientes, citado aqui: classes laboriosas com idade média de 53
como é o do Município de São Paulo, com a diversida- anos, faixa única de preço. Saiu de R$ 140,00 para R$
de empresarial que tem e onde não há possibilidade 163,00. R$ 23,00 faz diferença no bolso do povo? Faz. Se
de cartel, neste semestre aumenta 15,5%? É hora de co- essa pessoa saísse dali para comprar um plano novo,
meçarmos a nos preocupar com isso. não encontraria. É disso que estamos falando, assim
Instrumentos de equilíbrio. Antes da regulação: – como estamos falando de revisão técnica, para preser-
chamei esses mecanismos de selvagens –: ausência de var a assistência dessas pessoas. Não é um reajuste
critérios técnicos atuariais, reajustes, muitas vezes, por disfarçado. A empresa tem que fazer uma profunda
planilhas ou índices inflacionários extra-setoriais, re- reestruturação interna. Aliás, nos dois casos ocorridos,
passe integral dos custos, desestimulando a eficiência, mais de 90% dos usuários encamparam essa opção.
rescisão unilateral do contrato – esquecemos que an- Como política de reajuste, em 2000, criamos, com
tigamente podia ocorrer que o consumidor que base nos índices de preços, 5,42%, como teto. Às vezes,
gastava, no momento do aniversário do seu contrato, parece que inventamos. Discutiu-se e houve consenso.
não tinha o mesmo renovado –, seleção de risco, que Não havia índices que realmente capturassem a vari-
hoje não existe mais, faixas etárias indeterminadas, ação da saúde suplementar. Havia grandes inconsis-
expulsão por aumentos abusivos. tências nas informações enviadas pelas operadoras.
Depois da regulação: nota técnica, reajuste do indi- Então vinculamos ao mercado coletivo. Por que? Estão
vidual vinculado ao mercado competitivo, de que irei misturando os mercados? As pessoas ou as empresas
falar mais adiante, o qual estimula a eficiência, impede são diferentes? Não. Não estamos misturando. Num
o repasse automático. Não há rescisão unilateral, não mercado competitivo, um empresário só consegue re-
há seleção de risco, as faixas etárias são determinadas. passar para outro aquilo que foi profundamente nego-

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 133

ciado, que diz respeito à despesa da assistência. Pega- Esse debate é muito importante. A questão não é
mos treze mil contratos, passamos a esse monitora- simples, pois envolve uma série de aspectos extrema-
mento e construímos, estatisticamente, esse índice mente complexos de natureza econômica e social. Os
máximo. É muito interessante quando falamos de ín- diferentes atores que participam do processo têm seus
dice. Ninguém gosta de índices. Dizem que foi maior interesses, e a Agência deve arbitrar a matéria. A cor-
que o IPCA, mas foi menor que o IGPM, a que, na maio- reção feita pelo Dr. João Luís foi oportuna. Eu não
ria, os contratos estavam indexados. Essa regra protege estava presente quando o Sr. Ministro falou, mas, evi-
o consumidor e estimula a eficiência. O consumidor está dentemente, essa agência tem, entre outros deveres,
recebendo, hoje, no boleto, pela primeira vez, a autori- o de defender o consumidor.
zação do processo. Isso está na página da Internet. Não Creio que já avançamos e conseguimos uma lei.
é feito dentro de gabinete; é um processo amplamente Pode não ser o ideal, pois há muitas restrições e uma
discutido e público. série de problemas. Entretanto, lembro-me de que par-
Temos desafios adiante. ticipei ativamente da discussão dos planos de seguros
Entretanto, há desafios, como a construção do sis- de saúde no Congresso Nacional e havia algumas pes-
tema de informação – ontem falei sobre a parte assis- soas mais radicais que diziam que essa lei não servia e
tencial. Vamos construir esse sistema mencionado pelo talvez fosse melhor deixar como estava, porque seria
professor e que implica a utilização de tábuas externas. possível ir à Justiça e ganhar mais do que se pretendia
Pretendo obter os dados do Brasil: número de eventos e oferecer por meio da referida lei. Era um erro, um equí-
custo unitário. Vamos construir um índice de preço se- voco absoluto. Primeiramente, conhecemos a precarie-
torial – não estamos confortáveis com essa situação. dade do nosso sistema judiciário, quão poucas pessoas
Então, encampamos a proposta elaborada pelas en- têm acesso à Justiça e quanto tempo se leva para obter
tidades de defesa do consumidor de construir um uma decisão. Era é uma visão completamente equivo-
índice setorial e estamos conversando com todas as en- cada, mas pessoas mais radicais pensavam assim, o que
tidades que realizam esse trabalho. Recentemente, era um absoluto equívoco.
dialogamos para construir um índice do setor. Vamos Vamos aprendendo, melhorando e construindo so-
reabrir a câmara técnica de preços, pois não concorda- luções de interesse geral. Para mim, um dos erros é
mos com essa situação. pensar que resolveremos os problemas de saúde no Bra-
Temos o dever de procurar instrumentos de equilí- sil mediante planos de seguros de saúde. Isso não
brio para o setor. Nesse mercado, que não é seguro e ocorrerá porque a nossa população não tem capacida-
tem várias características híbridas – como contratos de econômica para isso. (Palmas) Desse modo, entra-
de modalidades absolutamente diferentes –, não adi- remos nesses planos, entre aspas, que não dão direito
anta tentar simplificar essa discussão, que é compli- a nada. Surge, então, a frustração do consumidor, o
cada. Mas estamos enfrentando o problema e, a meu conflito e o litígio.
ver, protegendo o consumidor com regras claras e O Professor Westenberg falou sobre as peculiarida-
transparentes para a sociedade. des do sistema de seguro e aprofundou-se mais na
Muito obrigado. (Palmas) questão da saúde. Existem, porém, outras característi-
cas da área de saúde a que ele não se referiu e que a
O Senador Lúcio Alcântara tornam mais peculiar. Há muito tempo, tenho um se-
Muito obrigado, Dr. João Luís. guro contra furto do meu carro e outro referente ao meu
Antes de passar a coordenação para a Dra. Regina apartamento. Até hoje, graças a Deus, não os usei. Por
Parizi em razão de um compromisso já assumido ante- outro lado, tenho diabetes tipo 2 e sou hipertenso mo-
riormente, farei um rápido comentário. derado, sendo, portanto, freguês assíduo do meu plano

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


134 Mesa5 – Regulação de preços

de saúde. Essa circunstância estabelece uma relação melhor que eu, pois ela tem competência para isso
completamente diferente nos dois casos, pois é muito muito mais que eu.
difícil alguém ter um plano de seguro de saúde e morrer Muito obrigado. (Palmas)
sem nunca tê-lo usado. O mais comum é esse plano ser
bastante utilizado. Então, há a possibilidade de desen- A Dra. Regina Parizi
tendimento, pois essa relação é sutil, extremamente Pelo que estou vendo, temos trinta minutos para os
delicada. O bem mais valioso de todos é a vida, diferen- debates. Estou tentando esquematizar as perguntas.
temente de um carro, por mais que faça falta perdê-lo. Seguirei a seqüência dos expositores. Penso que o nú-
Esse fato, por si só, já é extremamente peculiar. mero de perguntas que temos aqui é suficiente. Talvez
Esse é um ponto que transforma essa relação em nem seja possível responder a todas, porque é um nú-
algo extremamente delicado. Entretanto, não podemos mero bastante grande.
pensar que essas empresas são filantrópicas. Até mes- Aproveitarei que estou na condição de coordenado-
mo as filantrópicas que têm planos os têm para ganhar ra para falar sobre uma questão, que eu não poderia
dinheiro e financiar suas atividades. Aí está a questão deixar de registrar. Realmente, a Medicina virou sacer-
mais delicada: o equilíbrio econômico entre o justo di- dócio. A questão da regulação de preços de honorários
reito ao lucro e a capacidade contributiva do segurado. médicos nem pensar, não está na mesa para debate, mas
Então, é uma ilusão pensar que vamos resolver o pro- deveria fazer parte. Chamo atenção para essa questão.
blema de assistência médica do brasileiro com plano de (Palmas)
seguro-saúde. Eles têm uma clientela em uma faixa – e No final, fecharei e apresentarei algumas propostas.
Deus queira que, no futuro, muitos possam pagar –, mas As primeiras perguntas seriam para a Dra. Lúcia, do
é uma faixa que se exaure. Não adianta querer desco- Procon. Há duas perguntas sobre a questão das clas-
brir cliente em potencial onde ele simplesmente não ses laboriosas. Em uma oportunidade, foram oferecidas
existe, porque ele não tem capacidade contributiva. três opções em relação a operadoras classes laboriosas,
Esse é um ponto. Pensar que se terá plano simplifi- de revisão técnica em São Paulo, com as quais a senho-
cado para se tirar essa clientela do SUS é um equívoco. ra não concordou. A pergunta é se a proposta do Procon
O principal é se buscar o entendimento entre esses seria uma quarta opção, que seria quebrar as classes
interesses diversos. Pensar que se exigirá do seu plano laboriosas e deixar os milhares de usuários sem cober-
de saúde aquilo que ele não pode dar, porque isso afe- tura assistencial. Ou se o Procon, além dessas quatro,
tará o seu equilíbrio, também não levará a nada. teria solução alternativa ou se poderia verificar junto
Antes, para essas empresas, não havia exigência de aos beneficiários qual, entre essas opções, seria aque-
lastro, de toda segurança que precisamos ter quando la pela qual o beneficiário optaria. Aí, sim, a senhora
procuramos uma empresa dessas, segurança que, em estaria representando a opinião dos consumidores.
princípio, essa agência garante, pois ela nos protege. Há outra pergunta aqui que também toca na ques-
Antes dessa lei, havia a lei dos grandes números e a lei tão das classes laboriosas, em que ele considera uma
das pequenas letras, aquelas que ninguém lê, que nin- contradição em sua argumentação. O Procon concor-
guém via, mas que eram invocadas na hora da exi- da com a Lei nº 9.656/98, que inclui os contratos antigos
gência do contrato. Agora, temos uma lei. Vamos de forma retrospectiva, cuja constitucionalidade é dis-
melhorá-la, debatê-la, discuti-la, que vamos encontrar cutida. Nos exemplos do Sr. Sérgio, das classes laboriosas
um caminho razoável. e outras operadoras de São Paulo, entende absurdo que
Peço desculpas por não poder continuar aqui, mas, consumidores com contrato antigo tivessem de arcar
infelizmente, tenho um compromisso a que não posso com novos reajustes. Afinal, são dois pesos e duas me-
faltar. A Dra. Regina Parizi fará essa coordenação muito didas. O Procon concorda que contratos firmados sejam

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 135

alterados por lei posterior a sua data de celebração? Isso a Sancil. Enfim, o consumidor acaba sofrendo uma re-
não cria uma instabilidade jurídica? dução substancial no atendimento. E não há, nesse
momento, repasse para o consumidor. Ou, pelo menos
A Dra. Lúcia Helena Magalhães no futuro, algum plano de “ressarcimento”, ainda que
Com relação ao caso das classes laboriosas, na realida- em forma de atendimento, pecuniariamente falando.
de, as três opções. Vários usuários nos procuraram por O fato é que os consumidores diziam que não havia
se sentirem sem alternativa. Realmente, é uma cartei- alternativa, teriam de pagar e ir para o mercado se su-
ra idosa. Com a proposta inicial de mobilidade, que jeitar a novos cumprimentos de carência, o que tam-
possibilita ir ao mercado em busca de uma próxi- bém não é a melhor solução. Se houvesse a certeza,
ma contratação sem ter de cumprir novos prazos de ou pelo menos a segurança, de que a operadora se
carência, o consumidor se sentia sem alternativa. Com mantém, independentemente da versão de má gestão
relação às classes laboriosas, existe ação judicial a res- veiculada pela imprensa... É uma situação preocupan-
peito. Mas, sem dúvida, o que nos preocupa em relação te. Consumidores que procuraram a Fundação
à revisão técnica é garantir ao consumidor a possibili- externaram essa preocupação.
dade de que a operadora se mantenha. De fato, se o Não somos contra a regulamentação. Creio que a
consumidor tivesse a segurança de que a revisão téc- revisão técnica poderia ser melhor estruturada a fim
nica solucionaria os problemas da operadora, quem de que contasse, pelo menos futuramente, com um
sabe pagasse de bom grado para que a operadora se retorno para o consumidor que sofreu perdas. Ele per-
mantivesse no mercado. de a rede hospitalar, paga por isso, sem ter garantias
Em nenhum momento desejamos a quebra das de que a operadora se sustenta. Assim, qual é o limite
operadoras. Apoiamos que as operadoras se mante- para que ela se mantenha no mercado? Estamos falan-
nham. Mas buscamos o equilíbrio. Como disse desde o do nesta classe, mas podem ser outras. É uma preocu-
início, apoiamos a Lei nº 9.656. Entendemos que deve pação efetiva que devemos discutir. Mas há um caso
ser benéfica para o consumidor, sobretudo deve trazer concreto em andamento. Vamos acompanhar.
esse ponto de equilíbrio. Quando se propõe uma revi-
são técnica em que o consumidor conta com uma A Dra. Regina Parizi
junção de situações em que a perda de rede hospitalar Muito obrigada. Passamos a palavra ao Dr. Ferreira, da
é combinada com o aumento da mensalidade, ele é du- FPH. São duas perguntas. Primeira:
plamente penalizado. Ou seja, haverá redução no “Uma vez que não há planejamento de sistema de
atendimento e aumento da mensalidade em prol da saúde privado, seria plausível que a Agência passas-
manutenção da empresa. se também a abranger os hospitais, os serviços
Qual é o limite? O que vamos seguir? Em que mo- complementares, inclusive Faculdades de Medicina.
mento se dá a análise? A empresa permanece no O senhor acredita que uma harmonização do funci-
mercado ou não? É algo que devemos buscar. Pois se onamento em relação a cada parte do setor, e
está sob direção fiscal, o que se espera é que seja defi- exercida por um órgão do governo como a agência,
nido da melhor forma possível. Mas qual é o limite para pode ser a solução?”
o consumidor? Que segurança ele terá de que amanhã, Esta é uma pergunta.
mesmo pagando a revisão técnica, a empresa não se
mantenha no mercado e ele terá ou de buscar por suas A segunda pergunta, para os hospitais, é ligada a
próprias formas ou se submeter a um leilão? São casos uma denúncia que leremos depois, a ser encaminhada
que muitas vezes não consideramos preocupantes, ao Dr. Pedro Fásio, da Sul América, sobre problema que
como o da Unicor, amplamente discutido, que foi para está ocorrendo hoje com um beneficiário, no Estado de

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


136 Mesa5 – Regulação de preços

Pernambuco. E à ANS também. Trata-se da negativa de dizia que a indústria queria explorá-lo; a indústria dizia
atendimento a uma pessoa com infarto do miocárdio. que o exportador queria acabar com ela. Reuniram to-
A Sul América acaba de negar transporte para a cidade dos os segmentos e construíram uma forma opera-
mais próxima. cional com a qual todos saíram ganhando.
É uma denúncia, que está ligada à questão dos hos- Nós temos que entender que o consumidor tem
pitais. E que também está ligada a essa denúncia. Eu que ser respeitado, que há necessidade de incorpora-
pediria ao senhor que respondesse a essa outra questão. ção tecnológica, que o Brasil é um país pobre, em que
não pode haver essa dicotomia com o desperdício de
O Dr. Pedro Fásio recursos, que temos que melhorar os instrumentos de
Entendo que não existe ainda planejamento no setor gestão. Enfim, temos de buscar na mesa de negocia-
de saúde no Brasil, nem no setor privado. Não existe pla- ção como todos vamos sobreviver no mercado que está
nejamento da oferta para a sociedade e da demanda aí, porque todos estão se queixando.
da sociedade. Não sabemos como se organiza o presta- Eu penso que a Agência Nacional de Saúde desem-
dor de serviço para atender a essa demanda, algo que penha um papel importante, mas, fundamentalmente,
acredito que temos que construir. Nós teremos que sen- querer essa mudança e essa transformação é uma de-
tar e conversar sobre qual é o papel do setor público e cisão política das organizações.
do setor privado no atendimento dessa demanda.
A Agência Nacional de Saúde pode ser um órgão A Dra. Regina Parizi
extremamente importante, mas acredito que definir Obrigada. A regra do jogo estabelecida foi o plenário não
esse planejamento e discutir esse mix público-privado intervir oralmente, e manteremos dessa forma. É uma
é papel que cabe mais ao Ministério da Saúde. É fun- regra que vale para todos, e todos devem cumprir.
damental que seja discutido o papel do setor privado (Palmas)
no Brasil e a sua importância, para que ele se planeje.
Ninguém planeja no momento do incêndio, ninguém Fenaseg, agora. Dr. Roberto.
planeja no momento de algo espasmódico. Se realmen- Existe uma pergunta aqui:
te o setor privado não tiver uma idéia do planejamento, “No cálculo do custo de risco que o senhor apresen-
a tendência é ele se extinguir. tou, quanto deve ser representado em consulta,
O que nós comentamos em relação à Agência exames e internações? E, dentro das internações,
Nacional de Saúde é que ela ainda não está entenden- quanto representa percentualmente os honorários
do muito de custos hospitalares, mas sim dos custos médicos e despesas hospitalares?”
das operadoras de plano de saúde.
Para terminar, reitero que a mesa de negociação é Há uma outra pergunta, que diz:
o caminho. Médico, hospital, operadora de plano de “É claro que novas coberturas implicam custos maio-
saúde e produtor de insumo de serviços de saúde têm res. No entanto, o que a sociedade desconhece é qual
que se sentar em uma mesa de negociação e conver- a parte do faturamento que é dedicada ao custo de
sar. E penso que a presença do Governo é importante, risco. Na sua experiência, na média, no mercado bra-
mas o setor prestador de serviço como um todo tem sileiro de seguro-saúde, qual é a composição
que se sentar para tentar definir regras. percentual de distribuição de faturamento entre co-
E vou dar um exemplo do que aconteceu no setor bertura efetiva de risco, despesa de administração e
têxtil. Ele também tinha problemas, como o setor de margem de lucro? A Fenaseg se dispõe a abrir as
saúde do Brasil, e decidiu criar uma mesa de negocia- planilhas das empresas para as entidades?”
ção entre os seus próprios atores. O produtor de algodão

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 137

E a última pergunta: onde está o fundo da piscina. Essa idéia do fundo da


“Qual a sugestão que o senhor daria para uma siste- piscina já pode ser obtida por esses 83%.
mática de correção de preços dos planos em vigor E, finalmente, as sugestões a despeito dessa neces-
diante da mudança das condições de risco – por sidade de reajustes técnicos – até vou pegar aqui um
exemplo, aumento nas coberturas ou nos preços dos gancho na exposição anterior –, não concordo que o
procedimentos médico-hospitalares?” reajuste técnico deva ser dado...

O Dr. Roberto Westemberg A Dra. Regina Parizi


Bom, com relação à primeira pergunta: sim, naquele Cinco minutos já, Dr. Roberto.
custo que colocamos de internação, você tem todos os
procedimentos médicos ligados à internação. Eventual- O Sr. Roberto Westemberg
mente, exames pré-internação, ou durante interna- ...para entidades que estejam, digamos, com problemas.
ção, ou pós-internação, tudo incluído, e, evidentemente, Reajuste técnico é uma contingência da atividade, con-
com os honorários médicos praticados à época da forme mostramos. O escalonamento na morbidade, o
internação. Então, estão considerados os três riscos e escalonamento dos custos médicos provocam a neces-
os honorários médicos praticados. sidade de um reajuste médico. Para fazer face a essa
Sobre a segunda pergunta, qual é a margem, vou contingência, eu daria aqui três sugestões: primeiro,
recorrer a um dado público divulgado recentemente: aqui nesse livrinho que recebemos, diz que o seguro-
as seguradoras operando no segmento saúde estão saúde cobre um contingente de 32 milhões de pessoas,
com a sinistralidade – que é um termo talvez um pouco e a população economicamente ativa no Brasil é de 70
técnico, mas mede, dentro do que a seguradora rece- milhões de pessoas. Então, temos ainda 40 milhões de
be de prêmios, quanto representa o gasto exclusi- pessoas com renda, quer dizer, com disponibilidade,
vamente com sinistros ou com os gastos médicos. Este para serem atendidas. Podem dizer que a renda é mui-
número está em 83%, ou seja, depreende-se que, sen- to baixa – com o que concordo –, mas o produto pode
do 83%, sobram 17% supondo que a seguradora tenha ser proporcional a essa renda muito baixa.
margem de lucro zero. Então, na verdade, cada segu- Existe um efeito na administração de risco, ainda
radora/operadora evidentemente tem a sua eficiência derivado da Lei dos Grandes Números: quanto maior
administrativa, os seus custos. Esses valores, as mar- a massa de riscos segurados, menor é a variabilidade
gens que colocamos naquela transparência vão variar dos valores de custo, quando apurados pelas segura-
de operadora para operadora, mas esse número 83% doras. Se aumentam a sua base de operação, as segu-
sugere que o custo do risco chega a um patamar que radoras conseguem uma defesa no preço menor para
gera muito pouca margem para a seguradora operar essa variabilidade que é natural no preço. A massifi-
as suas despesas administrativas, suas despesas comer- cação reduz o preço.
ciais, porque esses planos de seguro são vendidos por Estamos num dilema mais uma vez, porque há, de
alguém e, em geral, esse alguém é terceirizado, e há um lado, uma falta de incentivo ao seguro individual,
conseqüente margem de lucro. e as pessoas mencionadas são exatamente as que não
No terceiro ponto, se a Fenaseg disponibilizaria as estão ligadas a planos coletivos empresariais.
informações, não posso falar em nome da Fenaseg. O segundo ponto é o combate à fraude, o que é uma
Existe evidentemente essa informação, 83%, que é busca constante.
uma informação pública e já dá, digamos assim, uma
margem, pelo menos onde está, vou usar um termo A Dra. Regina Parizi
também técnico, o breakeven – traduzindo no popular, Desculpe-me interrompê-lo, Dr. Roberto. Eu pediria que

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


138 Mesa5 – Regulação de preços

V. Sª respondesse sucintamente, porque o seu tempo aproveitadas, mesmo as que não puderam ser respon-
já está ultrapassando os sete minutos e precisamos didas neste momento.
concluir nossos trabalhos às 13 horas e 30 minutos. “Dr. Barroca, qual a atitude da agência, especificamen-
te sobre a questão do ressarcimento, quando
O Dr. Roberto Westemberg derrubadas as liminares? A agência adotará o perío-
Sra. Presidente, estou tomando um tempo proporcio- do legal todo implantado, ou seja, será coberto todo
nal à complexidade da pergunta. Essa pergunta é tão o período, ou haverá cobertura só daqui para frente?
relevante, que eu pediria a V. Exª que me concedesse Se a ANS conseguir cassar a liminar da operadora,
mais meio minuto para que eu pudesse respondê-la. será feita a cobrança retroativamente ou somente
O combate à fraude seria o segundo determinante daqui para frente?”
da redução do custo; pode-se fazer o escalonamento
e, ao mesmo tempo, reduzir o custo, combatendo-se A outra pergunta é a seguinte:
a fraude. “Considerando que o equilíbrio no relacionamento
O terceiro fator é a racionalização da utilização. To- entre operadoras e usuários é inatingível com a des-
dos sabem que há um uso excessivo dos recursos consideração da participação indispensável do
médicos em função da não existência de uma racio- prestador, qual a perspectiva de regulamentação dos
nalização dessa utilização. Mas esse assunto é sufici- direitos e responsabilidades desse ator pela Agência?”
entemente complexo para eu passar para o próximo.
O Senador Lúcio Alcântara
A Dra. Regina Parizi São somente essas as perguntas?
Há ainda uma resposta que todos estão esperando. A
Fenaseg abre sua planilha de custos? V. Sª já respondeu? A Dra. Regina Parizi
Há muito mais, mas estou utilizando, como fiz com os
O Dr. Roberto Westemberg demais, só a primeira parte das perguntas que vieram.
Já respondi. “Ontem foi mencionado que as operadoras trabalham
com uma margem de 20% de lucro. Essa informação
A Dra. Regina Parizi é verdadeira? Se não, qual é a margem de lucro real e
Desculpe-me. Todos os meses, na Câmara, essa pergun- quanto, na avaliação da agência, seria a margem de
ta é feita às operadoras. lucro aceitável?”
Antes de passar a palavra ao Dr. Barroca, que tam- São essas as perguntas.
bém terá cinco minutos para falar, quero dizer que –
embora existam várias perguntas também para os de- O Dr. João Luís Barroca de Andréa
mais membros, separamos apenas a primeira rodada Foi-me encaminhada mais uma pergunta. Foram du-
– deram-me uma orientação no sentido de que não as da Mesa anterior, que não conseguimos responder.
haverá tempo hábil para a segunda rodada de respos- Para deixar mais claro, deixarei meu e-mail com a
tas, por conta da Mesa da tarde. Faremos um intervalo organização do evento para que sejam encaminhadas
até às 14 horas e 30 minutos, quando, pontualmente, essas perguntas. Queremos esse debate. As perguntas
retomaremos os trabalhos. que não poderão ser respondidas aqui podem ser en-
Estas perguntas que estão aqui farão parte de caminhadas pelo meu e-mail da agência, e poderemos,
uma discussão que será travada à tarde. Como serão então, conversar.
encaminhadas perguntas e propostas que nesses dois Em relação ao ressarcimento, trata-se de uma dis-
dias chegaram até a Mesa? Com certeza elas serão cussão que está sendo vista juridicamente. O interes-

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa5 – Regulação de preços 139

sante é o fato de que se apostava que o ressarcimento Qual é o preço justo? Qual é a margem de lucro acei-
não iria dar certo. Os que entraram com liminar acaba- tável? Não trabalho com um modelo de regulação por
ram perdendo, mas perguntam se vão ser cobrados pelo taxação ou fixação de margem de lucro, até porque
período em que aguardavam decisão e não pagaram. acredito que ele estimula a ineficiência. Ora, é óbvio,
Não é devido? Não apostaram no meio jurídico que iri- nesse caso, haveria repasse sempre à frente. Existem
am derrubar o ressarcimento e não conseguiram? Não operadoras que adorariam que fizéssemos isso. Pedem
sou jurista, há muitas coisas a serem discutidas, mas o para fixarmos a margem. Fixa-se a margem, mas tudo é
devido é para ser, sem dúvida nenhuma, cobrado. repasse de custo a preço. Custou, passou. Brincamos que
Quanto à segunda pergunta, sobre o fato de o equi- é como “Escravos de Jó”: custa, passa. Particularmente
líbrio ser inatingível, eu disse ontem e repito hoje: sou – não sou oriundo da área econômica, mas fiz adminis-
otimista e acredito que esse equilíbrio seja atingível tração e sou médico – não concordo com esse tipo de
sim, com informação, responsabilidade e com transpa- coisa. A realidade do mercado, segundo o que temos vis-
rência das informações. Creio que seja possível e que to na Agência e segundo os números que foram falados
envolverá o prestador. Eu disse ontem que os direitos – ontem se falou em 70% do lucro nesta mesa – e a vi-
e as responsabilidades devem estar muito mais claros são do dia-a-dia, nos orienta a que coloquemos os pés
nos contratos atuais, ou seja, os contratos devem dis- no chão. Precisamos de mais informações, estamos co-
cutidos com os prestadores, inclusive médicos. Há letando essas informações. Precisamos de pontos de
colegas que, lamentavelmente, fazem contratos numa equilíbrio. Existe insatisfação, chegaremos lá. Nenhu-
folhinha. Recebemos denúncia na ANS de que o médi- ma solução será simples, porque soluções simples para
co vinha atendendo e, de repente, porque estava problemas excessivamente complexos me deixam ate-
recebendo pouco, disse que não iria ao hospital. morizado. Elas são normalmente erradas. Então, fixar
Temos conversado com os Conselhos. Eu estava a margem de lucro, o que é isso? Certamente é muito
conversando ontem com o Edson, quando disse para a menor do que 20, 10 e o que está sendo falado. Vamos
Regina para fazermos esse tipo de aproximação com lembrar daquilo que falamos: 70% desse mercado é for-
os Conselhos. A contratualização nesse sentido é fun- temente concorrencial. Negocia preço unha a unha,
damental. O preço dos planos não é o único preço con- empresário a empresário.
trolado pelo governo. Já ouvi muitas vezes que era o Para finalizar, Dra. Regina, a nossa metodologia de
único controlado pelo Governo. Não é verdade. O se- reajuste acabou com uma coisa que era prática antiga,
tor de infra-estrutura, com mecanismos de regulação que era subsidiar a concorrência do coletivo pelo resul-
de preços diferentes, é controlado pelo governo. Faço tado do individual. Atualmente, esses dois segmentos
essa correção. têm que ser auto-sustentados. O ponto de equilíbrio é
Há uma outra correção: revisão técnica não é rea- que faz parte dessas futuras discussões em relação à
juste. Também não é feita para manter operadora. Para regulamentação. Obrigado.
isso, há direção fiscal e planos de recuperação. Revisão
técnica é para reequilibrar a carteira que se encontra A Dra. Regina Parizi
deficitária e para fazer a revisão da sua gestão. Revi- Muito obrigada. Vamos encerrar esta Mesa, lembrando
são técnica não é para manter empresa. que às 14 horas e 30 minutos iniciamos a última, que é a
A última pergunta é sobre a margem de lucro acei- do encaminhamento de propostas. Muito obrigada.
tável. Essa pergunta está junto com a do preço justo.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


141

Mesa 6
Propostas de aprimoramento da regulamentação
dos planos de saúde

Coordenador
Deputado Henrique Fontana

Componentes
Dr. João Luiz Barroca de Andréa
Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes
Deputado Rafael Guerra
Senador Sebastião Rocha
Dr. Humberto Jacques de Medeiros
Dr. Mário Scheffer

O Deputado Henrique Fontana O Dr. Humberto Jacques de Medeiros


Quero convidar, para compor a Mesa, o Dr. João Luís Boa tarde. É um prazer estar com Vs. Ss. Agradeço à or-
Barroca de Andréa, Diretor de Normas e Habilitação de ganização do evento pela gentileza do convite de
Produtos da Agência Nacional de Saúde Suplementar, dividir esta Mesa com estes nobres conferencistas e go-
e a Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes. zar da atenção dos senhores pelos mais desejados dez
Quero convidar o meu colega, membro da Comissão minutos dos meus últimos tempos em Brasília.
de Seguridade da Câmara dos Deputados, Deputado Precisava explicar-lhes que, quando venho pelo
Rafael Guerra, e o Senador Sebastião Rocha, que repre- Ministério Público, seria necessário que situássemos
senta a Comissão de Assuntos Sociais do Senado Federal, em que ponto nos encontramos quando discutimos o
que é co-promotor deste nosso simpósio. marco regulatório do sistema de saúde suplementar.
Pretendemos propor um tempo – vamos consultar Talvez Vs. Ss esperassem a fala de alguém do Ministé-
os nossos debatedores – de dez minutos, com uma to- rio Público pelas várias facetas que temos quando
lerância de dois ou três minutos, para que possamos trabalhamos com sistema de saúde. Talvez aqueles,
ter uma disponibilidade maior para o nosso debate, até neste auditório, que pertencem a algum plano de saú-
para recuperar um pouco do nosso atraso. de privada, a alguma seguradora, devam estar
Quero, de imediato, passar a palavra ao Dr. Humber- acostumados a dialogar com os meus combativos ami-
to Jacques de Medeiros, pelo prazo de dez minutos. gos que trabalham com o consumidor e encaram essa
problemática sob a lógica estritamente contratualista

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


142 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

e a proteção que o Código do Consumidor deu a todos Ao contrário, também já tivemos modelos de orga-
que se envolvem em relação de consumo. Também al- nizações estatais que, primando pela liberdade, abando-
guns dos meus colegas deste auditório talvez naram as pessoas e fizeram com que a igualdade fosse
conheçam uma outra face dos meus colegas do Minis- apenas um ideal e, muito longe disso, uma realidade.
tério Público que trabalham na área de cidadania e Quando a nossa Constituição foi escrita, houve o
estão acostumados a lidar com pleitos de indivíduos desafio para que o Estado contemporâneo conseguis-
ante, via de regra, demandas estatais. se fazer essas duas coisas: promover igualdade e
Preciso esclarecer que tentarei mostrar-lhes o garantir liberdades. Não é fácil na história da humani-
quanto há de comum nesses dois aspectos e tentar não dade conseguir fazer a promoção de igualdade sem
representar somente os meus colegas do consumidor suprimir as liberdades. Algumas fórmulas, alguns me-
ou somente os meus colegas de cidadania, mas tentar canismos foram inscritos na Constituição para que
pautar em que contexto se passa isso e como nós, do pudéssemos, nesse novo milênio, adentrar no desafio
Ministério Público, enxergamos essa discussão do apri- de promover essas duas coisas simultaneamente,
moramento da regulamentação ou da regulação. quando historicamente houve uma série de fracassos,
O primeiro dado para explicar aos senhores é que nós não no Brasil, mas em toda a humanidade.
todos do Ministério Público trabalhamos a partir da lei. Por isso a Constituição tem uma série enorme de
A nossa tarefa não é a feitura das leis, mas trabalhar- compromissos com a feitura da justiça social. Obvia-
mos a partir das leis para que elas sejam respeitadas. É mente, quando escrevemos a Constituição, está escrito
por isso que é um prazer estar nesta Casa legislativa, vir no preâmbulo, atendemos aos dois flancos; a dívida e a
discutir como aprimorar ou modificar as leis junto com meta da justiça social se dá com a assunção do Estado,
todos os interessados nessa grande audiência pública. que tem algumas finalidades, entre elas a promoção
Mas se nós do Ministério Público trabalhamos – e é da igualdade. Não a igualdade formal, mas a material.
isso que eu preciso esclarecer – a partir da lei e temos Por isso a Constituição colocou um capítulo extrema-
todo o respeito pelo caráter democrático com que fo- mente solidário como o Sistema Único de Saúde.
ram eleitos os legisladores e os processos públicos, ou Igualmente, não trabalhou a Constituição com a
nem sempre tão públicos, tão visíveis com que as leis idéia de suprimirmos liberdades. Por isso, esse mesmo
são feitas e os processos de persuasão no Congresso, o capítulo da Constituição assegura a liberdade do exer-
fato é que nós aqui podemos falar ou a partir da lei cício das profissões na área de saúde, não criando um
existente ou a partir dos parâmetros que a Constitui- monopólio do Sistema Único de Saúde. Obviamente não
ção impôs à feitura das leis. é em uma redução tão simples que se faz o casamento
Eu não quero transformar essa discussão em extre- entre igualdade e liberdade, mas em uma série de ou-
mamente jurídica, porque nem todos aqui são juristas, tros flancos do desenho do ordenamento do Estado.
mas tentar dar alguns paradigmas para entendermos o O que lhes explico é que como nós, quando trata-
que estamos fazendo ou em que condições estamos li- mos da regulação dos planos de saúde, podemos
dando com os planos de saúde ou a saúde suplementar. encarar esse problema. Em parte, entendam, existe
O primeiro dado que eu precisava lembrar aos senho- esse desenho constitucional do Estado provedor de um
res é que trabalhamos debaixo de uma Constituição que sistema de saúde solidário a toda a sociedade indistin-
se propôs de uma maneira elevadíssima a atingir dois tamente e a liberdade do exercício das profissões da
grandes focos: a manutenção das liberdades e a promo- saúde, a todos igualmente livres.
ção da igualdade. Já tivemos modelos de organização es- Não se impôs um único sistema, mas se permitiu a
tatal que primaram absolutamente pela lógica da liber- coabitação desses sistemas quando tratamos da regu-
dade e, por isso, abandonaram ou suprimiram liberdades. lação dos planos de saúde. Estamos a transitar nessa

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 143

linha que tem que manter a promoção da justiça social, que há princípios, lógicas e valores distintos.
a promoção de parâmetros de igualdade, de oportuni- Na hora em que vamos mexer na lei que lida com a
dade para todas as pessoas, mas, igualmente, o exercício questão, aprimorá-la, temos que nos lembrar de que o
das liberdades. processo de feitura de uma lei, no sistema democráti-
Talvez pudéssemos pontuar e exemplificar como co, passa não só pelo atendimento, em absoluto, dos
compor ou como ajustar a questão. É exatamente por interesses de um certo segmento, mas pela visibilida-
isso que se faz uma audiência pública, por isso o pro- de e pela satisfação de todos os interessados: maiorias
cesso legislativo é aberto e discutido. Como podemos e minorias. Falo da massa consumidora e, também, da
exercitar as liberdades sem suprimir igualdades? Ou massa que poucos recursos possui para consumir mui-
seja, um sistema de saúde suplementar que sabotas- tas ou poucas coisas.
se, minasse ou esvaziasse o Sistema Único de Saúde Tenho que ser exigente com meu tempo, para dar
seria um exercício da liberdade que poderia estar aten- um bom exemplo. Encerrando minha fala, preciso lem-
tando contra a promoção da igualdade. Da mesma brar-lhes um outro dado que é extremamente
forma, a contrario sensu, o Sistema Único de Saúde tão importante e que também é subjacente à tensão exis-
avassalador, tão dominador que não deixasse espaços tente em redor da regulação dos planos de saúde. Falo
para outra solução, para o exercício livre das profissões do fato de que quando nós, cidadãos, sociedade, apos-
da saúde, seria a supressão de liberdades. Seria impe- tamos na idéia da existência de um Estado que pudesse
dir a liberdade de iniciativa, a livre organização, o livre produzir igualdade sem suprimir liberdades, criamos
acesso ao mercado, o livre trabalho. uma ferramenta única. Afinal de contas, o que temos
Quando mexemos nesse ponto, estamos a tratar hoje que não tínhamos há 100, 200, 500 anos para im-
dessa linha divisória delicada, sutil. Obviamente, depen- pedir que um Estado se exceda, que abuse e suprima
dendo da coloração ideológica e política de cada um de liberdades? O que me preocupa, em um campo como o
nós, há um modo claro de enxergar onde está a linha da regulação dos planos de saúde, é que a primeira ten-
divisória. Por isso, o processo de solução deve ser aberto, tação de todos é a saída regulatória. E agências
plural e discutido. Talvez pudesse listar uma série de reguladoras, poder regulador, normas feitas pelo Esta-
pontos onde essa tensão seria visível. Por isso, há o de- do soam como o velho modelo do Estado forte.
safio de como fazermos esses dois sistemas coabitarem Não estou aqui a combater o poder regulador do Es-
sem suprimirmos liberdades, sem sabotarmos ou impe- tado, mas Estados fortes já tivemos e não foi suficiente.
dirmos a construção de um modelo de igualdade. No desenho do Estado Democrático de Direito, a ótica
A discussão da construção de um modelo de igual- que o preside é a colocação, no cenário, de um novo su-
dade tem que ser franca e honesta, entendendo que, jeito, de um novo fator, no qual se confia a possibilidade
ao fim e ao cabo – e é importante que não percamos de um Estado que possa produzir igualdades, mas não
isso de vista – , somos todos igualmente cidadãos, so- consiga suprimir liberdades. Isso é o que conhecemos
mos todos igualmente brasileiros. A saúde é um bem por cidadania ou, se preferirem com um outro nome, o
absolutamente indivisível. Não é possível assegurar o poder de controle das pessoas. Não o controle estatal,
acesso à saúde a uma parcela da população e não não o controle autoritário, mas o que é efetuado por
assegurá-lo a toda a população. Não existem ilhas de todos nós, em face de todo e qualquer centro e foco de
saúde. De certo modo, se por um lado podem parecer poder. A relação entre mim e o Estado, que cobra os meus
antagônicos o sistema suplementar e o sistema único, direitos, entre mim e a violação que a indústria faz ao
na verdade, não são necessariamente antagônicos, mas meio ambiente, entre mim e a violação aos direitos hu-
em vários aspectos são parceiros e solidários, porque o manos que aconteça em outro país, todos, hoje, temos
bem saúde é absolutamente indivisível. A questão é pretensões dirigidas a qualquer foco de poder. Isso se

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


144 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

chama o poder democrático de controle. já existentes e, se necessário, criando outras.


É esse cuidado que temos que ter na hora em que Muito obrigado! (Palmas)
desenhamos um ajuste no modelo de regulação do
sistema de saúde suplementar, ou seja, é necessário O Deputado Henrique Fontana
que existam mecanismos sociais de controle, e não Muito obrigado! Agradecemos ao Dr. Humberto. A Mesa
apenas mecanismos entregues e confiados exclusi- sentiu que ele estava caminhando para a conclusão,
vamente ao Estado, sob pena de alguém se apropriar porque, quando deu dez minutos, ele avisou que esta-
desses mecanismos, como já aconteceu em outros va indo para a conclusão; então, ele segurou mais cinco,
episódios da história. e a Mesa deixou prosseguir, porque era preciso.
O ideal seria que, paralelo a qualquer poder, exis- Fui chamado à atenção, porque me esqueci de me
tisse o co-respectivo espaço de controle social. Por isso, apresentar a todos vocês. Sou Henrique Fontana, mé-
não podemos permitir, como cidadãos, como brasilei- dico e Deputado Federal pelo PT do Rio Grande do Sul.
ros, a existência de espaços autoritários ou de focos de Passo a palavra ao Sr. Mário Scheffer, por dez mi-
poder sem controle. nutos, com a tolerância necessária da Mesa.
A cidadania se volta, hoje, não apenas contra o Es-
tado, mas contra consumidores, fornecedores, ou O Dr. Mário Scheffer
mesmo em casa, na condição de pais, em que temos Em nome do Conselho Nacional de Saúde, idealizador
que dar satisfação às nossas crianças, que exercem deste simpósio, mais uma vez, agradeço a presença das
uma cidadania doméstica, exigindo, por exemplo, que senhoras e senhores nesses dois dias. Acredito que o
coloquemos o cinto de segurança no carro, sob pena propósito maior deste evento já foi alcançado, que é o
de a minha autoridade paterna ir por água abaixo, se de promover o debate, com a participação de todos os
não tenho essa possibilidade de legitimar meus atos. segmentos envolvidos e interessados na regulamen-
Então, temos que ter o cuidado de não repetir erros ve- tação dos planos de saúde. E não podia ser diferente
lhos, de imaginar um Estado todo poderoso, que possa aqui neste espaço democrático, que é o Parlamento,
ser um grande provedor e um grande regulador. onde todos podem colocar os seus pontos de vista.
É essencial que nós, sociedade, não nos alijemos O Conselho Nacional de Saúde tem a convicção de
disso e não terceirizemos, não transfiramos ao Estado, que, ao promover a discussão entre parlamentares,
a uma agência, ao Ministério Público, a uma ONG, ou governo, operadoras, prestadores de serviço, consumi-
a alguém fora do planeta, a Deus, a possibilidade de dores e usuários, está cumprindo o seu papel e a sua
manter esse modelo que busca garantir liberdades e competência legal como fórum de controle social, que
promover igualdades. formula estratégias e acompanha a execução da polí-
Posso, mais adiante, voltar a conversar com os se- tica nacional de saúde, seja ela pública ou privada.
nhores durante o debate, mas é extremamente Antes de entrar em algumas recomendações do
importante de minha parte, como Ministério Público, Conselho para o aprimoramento da regulamentação,
pontuar que, quando meditamos a mudança do regi- creio ser imprescindível o entendimento entre todos nós
me regulatório, mudemos o que queremos mudar, mas aqui presentes de que precisamos caminhar no amadu-
não percamos de vista que nós todos, solidariamente, recimento desse processo de regulamentação. E isso só
temos esta meta de manter a liberdade e promover será possível se avançarmos nas negociações, nos pac-
igualdade e justiça social. tos, no ambiente mais democrático e plural possível.
Igualmente, neste marco, temos, a cada foco de Assim, estamos propondo o fortalecimento dessa
poder criado, um co-respectivo foco de controle social aliança entre o Conselho Nacional de Saúde, o Senado
sobre isso, valorizando as instâncias de controle social Federal, a Câmara dos Deputados e a Agência Nacional

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 145

de Saúde Suplementar. Sugerimos, inclusive, a forma- Nesse sentido, queria recuperar rapidamente a
ção de uma comissão permanente de acompanha- agenda de regulamentação desde a promulgação da
mento da regulamentação dos planos de saúde, entre Lei nº 9656, em 1998. Creio que ela foi configurada em
essas quatro instâncias, e que tenha a missão de pro- cinco temas. Dois deles foram originários do Ministé-
por um agenda conjunta, um plano de trabalho, com rio da Fazenda: a questão da abertura do capital
organização de fóruns, de audiências públicas, asse- estrangeiro e a padronização das regras para a consti-
gurada a paridade de participação entre todos os tuição de reservas e demonstração de solvência para
segmentos envolvidos. permanência das empresas no mercado.
E, aí sim, com organização, com diálogo, com res- Outro ponto da agenda diz respeito à ampliação de
peito e também de forma franca e honesta, como o Dr. coberturas. O acúmulo de denúncias de negação de
Humberto colocou, na busca do consenso possível, nós atendimento, de restrição de coberturas, de reajustes
vamos conseguir aprimorar a legislação e as práticas exorbitantes, enfim, de abusos de todo o tipo como
de regulação. Ou seja, antes de propor pontos de revi- controle de utilização de recursos diagnósticos e
são da lei ou mudança no conteúdo da regulamen- terapêuticos, problemas no credenciamento e des-
tação, o Conselho Nacional de Saúde está propondo credenciamento, a má remuneração dos prestadores,
um novo processo, uma nova forma de articulação e tudo isso uniu as entidades de defesa do consumidor,
relacionamento entre as instâncias, as instituições e dos usuários e entidades de defesas de profissionais,
as entidades que têm compromissos e interesses nes- especialmente os médicos. E a criação, em São Paulo,
sa regulamentação. do Fórum Nacional de Acompanhamento da Regula-
O atual modelo de apresentação e discussão dos mentação dos Planos de Saúde deu forma a essa articu-
pontos da regulação é muito precário. A Câmara de lação. Essas entidades passaram a ocupar espaços for-
Saúde Suplementar, meramente consultiva, sem ne- mais possíveis como a Câmara de Saúde Suplementar e
nhuma paridade na sua composição, tem ficado à também outros espaços, como a presença constante na
margem das principais decisões e deliberações da mídia e ações junto aos órgãos do Judiciário. Essas enti-
ANS, haja vista a MP 43, que foi unilateral, autoritá- dades estão por trás da agenda da questão da cobertura.
ria e desrespeitou os princípios mais elementares do Um quarto ponto da agenda, que é da relação en-
convívio democrático. tre os setores públicos e privados, infelizmente, tem
Nós não vamos discutir aqui a MP 43, até porque passado apenas pela discussão da utilização dos pro-
ela foi retirada, quem sabe até sepultada, por pressão cedimentos de alto custo e alta complexidade e pela
da sociedade, mas temos que registrar esse episódio na regulamentação do ressarcimento ao SUS.
história da regulamentação, até para que não se repi- Um quinto tema, hoje menos evidente após a cria-
ta tamanha aberração. ção da ANS, era a disputa interministerial pela institu-
Um outro mecanismo, além da Câmara de Saúde cionalização da regulamentação. Esses temas ditaram
Suplementar, sempre acionado pela ANS, que é a con- a agenda e integraram o núcleo do processo de regu-
sulta pública via Internet, a meu ver, é questionável lamentação nesses três anos: a própria lei, as suces-
do ponto de vista de assegurar a participação de todos. sivas MPs e dezenas de resoluções da ANS. Mas após
E também é necessário estabelecer, de forma pactua- três anos da Lei n.º 9.656 faz-se necessário a amplia-
da, entre todos nós, uma agenda prioritária que ção dessa agenda.
contemple a discussão da revisão da legislação naque- Ao analisar os avanços e os obstáculos desse pro-
les pontos ainda insatisfatórios, mas uma agenda que cesso regulatório, que já foram tratados com bastante
também contemple importantes questões que ainda propriedade nas Mesas de hoje e de ontem, percebe-
não foram reguladas. mos que alguns temas ainda não entraram na pauta

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


146 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

de regulamentação. O Conselho Nacional de Saúde hospitais universitários coloquem 25% da sua capaci-
teve oportunidade de discutir nesse sentido e espera dade instalada para atender planos e particulares. Esse
que esses temas sejam introduzidos na nova agenda. é um assunto muito sério que devemos discutir, inclu-
A primeira coisa seria passar a regulamentar na lógica sive, a questão da complementaridade de legislações
do conceito de saúde e de direito à saúde, aprimoran- entre a saúde suplementar e o SUS para definir me-
do as relações desse segmento de saúde suplementar lhor essa relação.
com o SUS e o papel da saúde suplementar no sistema Por fim, acredito que precisamos rever esse mo-
de saúde brasileiro. delo institucional para a regulamentação dos planos
A atual legislação baseia-se na concepção, do nos- de saúde. Para tanto, é preciso maior integração da
so ponto de vista equivocado, de que existem dois Agência Nacional de Saúde Suplementar com o pró-
sistemas distintos e que a única interface entre eles prio Ministério da Saúde, principalmente com as outras
seria a alta complexidade. Na prática, sabemos que as instâncias de gestão e de controle social da saúde, es-
interferências, as relações entre os recursos financei- pecialmente o Conselho Nacional de Saúde.
ros e assistenciais entre o público e o privado na área Da mesma forma, as informações sobre os bene-
da saúde, em nosso país, são muito mais complexas e ficiários de planos, a oferta e a qualidade da assistência
extensas. Isso requer – é claro que respeitando o direi- das operadoras, sobre os valores de remuneração pra-
to de atuação das empresas privadas – definições claras ticados, os preços de prêmios de todos os planos antigos
sobre a subordinação dos interesses privados aos pú- e novos, são informações que devem ser sistematica-
blicos. Nesse sentido, a regulamentação deve ir além mente compartilhadas e integrar um repertório de
da assistência médico-hospitalar. Afinal de contas, as indicadores disponibilizado pelo Ministério da Saúde
ações de vigilância, de prevenção, de promoção da saú- para todos os interessados.
de, os procedimentos clínicos cirúrgicos de emergência Termino por aqui. Mais uma vez, queria agradecer
e aqueles realizados pelo SUS que não são cobertos aos expositores e participantes deste simpósio, em
contratualmente pelas operadoras beneficiam, direta nome do Conselho Nacional de Saúde, pela riqueza das
ou indiretamente, os clientes desses planos de saúde. contribuições e dos debates.
Já foi dito hoje pela representante do Procon, a Sra. Fica aqui o compromisso do Conselho de que va-
Lúcia Helena Magalhães, que é preciso, e o Conselho mos organizar, editar e divulgar esse conjunto de con-
entende isso também, estender a abrangência da legis- tribuições. E, também, o compromisso de que vamos
lação aos planos coletivos, que é uma forma de dar continuidade a esse processo de levar a prática do
contratação que atinge de 70% a 80% dos beneficiários. controle social para a regulamentação dos planos de
Outro ponto muito importante – e já estou quase saúde. Era o que eu tinha a dizer.
concluindo – é a questão da relação entre as operado- Muito obrigado. (Palmas)
ras e os prestadores de serviço. Devemos avançar em
definições de responsabilidades sobre a garantia da O Deputado Henrique Fontana
qualidade do atendimento, políticas e parâmetros de A Mesa agradece a precisão dos dez minutos do Sr. Mário
remuneração, políticas de credenciamento, regras de Scheffer e passa imediatamente a palavra ao represen-
descredenciamento e precisamos dar uma atenção tante da Agência Nacional de Saúde Suplementar
muito especial para a questão da fila dupla, da dupla (ANS), Dr. João Luís Barroca de Andréa.
porta de entrada, o atendimento de usuários de pla-
nos em serviços do SUS. O Dr. João Luís Barroca de Andréa
O Senado está discutindo e parece-me que já apro- Boa tarde a todos. É uma satisfação retornar à Mesa
vou em alguma instância a autorização para que os para que possamos fazer comentários sobre as perspec-

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 147

tivas de aprimoramento e a necessidade de regu- os seus compromissos. O que não é, não era e conti-
lamentação, dos avanços e da consolidação da regula- nua não sendo possível é que o regime de recolher as
mentação do setor. mensalidades seja privado e que se preste o serviço
Eu queria começar saudando mais enfaticamente publicamente. Ou seja, a receita é privada e a despesa
o Fórum, que deu oportunidade inclusive à agência de é pública. Isso não é possível, a agência continua bata-
trazer aqui, nas suas diversas intervenções, de todos lhando, inclusive em todos os fóruns judiciais, para
os seus diretores, o trabalho que vem sendo feito, tan- impedir esse tipo de coisa.
to na fiscalização e na estrutura normativa, quanto no Acho que o momento é complexo, exigirá muita
monitoramento dessas informações, ou seja, na cons- capacidade de análise nossa porque estão vindo à tona
trução dessa agência, que era um anseio, que era e questões que estão obscuras há vinte, trinta anos. Elas
ainda é – como sempre – objeto de aprimoramento, estão aparecendo, essas relações, esses desafios da re-
mas que sem dúvida nenhuma representa um avanço gulamentação de que falávamos.
enorme na regulação do setor e a incorporação, na área Então, a agência – e eu represento aqui todos os
da saúde, dessa discussão. diretores – fica extremamente honrada de ter vindo
Aqui, em 1988, houve o vácuo desse subsistema – até aqui prestar contas, como já prestamos no Conse-
não consigo chamar ainda de sistema porque, na ver- lho Nacional de Saúde. Faz parte das nossas atribuições
dade, é um conjunto de empresas, mas haveremos de prestar contas à sociedade do que estamos fazendo.
chegar lá em algum momento –, dessa realidade de Creio que nessa Mesa final, por tudo que já disse-
empresas que operavam essa assistência não de for- mos, cabe à agência ouvir, receber essas propostas, e
ma direta, mas em forma já organizada desde 1964 ou, ficamos muito à vontade de, já previamente, aceitar
se retornarmos à origem, desde a década de cinqüen- participar de outros fóruns. Achamos que essa proposta
ta, com as autogestões complementares. – sempre plural e rica, ou seja, ouvindo e reunindo ope-
Acho que é um enorme desafio da sociedade, é um radores, prestadores e consumidores – é extraordi-
enorme desafio do Estado não regulamentar no senti- nariamente importante. Aí repito algo que disse ontem:
do de interferir, acho que temos que ousar um pouco uma das melhores semanas que já tive do entendi-
mais nisso. Quando se fala de política pública, fala-se mento no setor foi em 1998, no início da regulamen-
de direcionalidade, fala-se de apontamento, fala-se da tação, quando a Câmara de Saúde Suplementar passou
necessidade de uma integração, e uma integração não uma semana discutindo os assuntos. Foi muito exaus-
coercitiva. Ouvimos muito aqui – e vai haver muito o tivo e cansativo, mas se quebram as resistências ini-
que debater ainda – no sentido de haver bons e maus ciais do preconceito e das posições com as quais já vim
nesse sistema. Acho que isso não é verdade, é uma vi- e se começa fazer algo vital para nós: escutar o outro,
são simplista, e essa integração e formas dessa obtendo informação.
integração podem e serão necessárias para que cami- Senti isso nesse Fórum. Por isso, lembro-me do que
nhemos nessa regulamentação. aconteceu em 1998. Fica aqui o compromisso da agên-
Em relação ao ressarcimento, por exemplo – rapida- cia de participação de maneira geral. Já há uma Câmara
mente –, lembro-me de quando estávamos debatendo, de Saúde Suplementar, que foi ampliada, inclusive, ago-
ainda no Ministério da Saúde, e houve uma enorme ra, na correção da medida provisória, para dar mais repre-
discussão quando dizíamos que o objetivo do ressarci- sentação às entidades médicas e dos consumidores.
mento era o ressarcimento zero. Ou seja, o ressar- Vou deixar aqui uma última sugestão em relação
cimento nunca é – e ainda é assim na Agência – visto a isso: foi criticado ou minimizado o método de con-
como fonte alternativa de recursos. Cada empresa sultas públicas. Realmente, acho que ele está sendo
cumprir o que foi pactuado contratualmente, honrar muito menos usado do que deveria ser pela sociedade

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


148 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

organizada. Por isso, ficamos à disposição de organizar presença dos senhores, pela presença maciça de repre-
as entidades, quaisquer que sejam, dos consumidores, sentantes de todos os setores envolvidos na questão da
prestadores, enfim, operadoras, que solicitarem à agên- saúde suplementar.
cia o cadastramento do seu e-mail –hoje isso é forma Creio que dessa forma devemos dar seqüência ao
bastante comum de comunicação – para, no momento nosso trabalho, com ampla discussão, com a participa-
em que sair uma consulta pública, independente- ção da sociedade civil, na verdade, sem medidas provisó-
mente de apenas colocar na página, distribuirmos com rias, porque acho que é um assunto que já foi discutido
a máxima circulação possível, porque a participação três ou quatro anos na Câmara dos Deputados, até que
nos interessa. fosse elaborada a primeira regulamentação em 1998.
É muito frustrante quando, em uma consulta pú- Agora, todas as novas modificações ou novos aperfeiço-
blica sobre sistema de informação, recebemos sete amentos devem passar pelo mesmo tipo de fórum, pelo
sugestões, tendo mandado para os membros da Câma- mesmo tipo de debate.
ra de Saúde Suplementar. Precisamos ampliar Eu gostaria de ressaltar alguns pontos que, nesta
realmente. Já fica registrado aqui nosso oferecimento mesa final, seria importante ficassem registrados, no
de fazer o que chamam de mail list, cadastrar os e-mails meu modo de entender. O nosso representante do
para mandar a todos, porque à Agência interessa a par- Ministério Público, Dr. Humberto Jacques, já abordou
ticipação, a discussão e trazer à superfície o que ficou, um pouco esses aspectos, de fundamentos de princípios
durante muito tempo, na mais completa escuridão. que temos de seguir. Não adianta querermos adaptar
Muito obrigado. (Palmas) as leis de mercado, abrindo mãos de certos princípios.
Esse é o primeiro ponto que eu ressaltaria. Precisamos
O Deputado Henrique Fontana manter os valores éticos e sociais que precisam reger a
Agradeço ao Dr. João Luís Barroca e dizer que ele não convivência da sociedade civil e deles não podemos
usou nem os dez minutos. abrir mão por comodismo ou por outros interesses.
Há, aqui, pelo menos seis manifestações do plená- Dentro desses valores, acredito que já foi feito an-
rio. Estamos recebendo perguntas, opiniões e posições tes um registro, pelo Idec, pela Sílvia, que falou sobre
do plenário para que possamos, imediatamente, ex- isso ontem, mas eu gostaria de reforçar hoje, nesta úl-
pressá-las. Passo a palavra ao Deputado Rafael Guerra. tima mesa. Estamos aqui, hoje, num simpósio de saúde
suplementar, mas é preciso registrar que quanto mais
O Deputado Rafael Guerra problemas e quanto mais se amplia o setor de saúde
Muito obrigado, Deputado Henrique Fontana. Cumpri- suplementar, mais isso decorre das dificuldades do
mento a todos e aos membros da mesa. Sistema Único de Saúde.
Neste momento, na última mesa do Simpósio, re- O primeiro ponto que temos de estabelecer é a de-
gistro o trabalho da comissão organizadora, em es- fesa do Sistema Único de Saúde. Temos um sistema
pecial do Mário Scheffer e do Senador Sebastião Rocha, extremamente avançado em termos teóricos, que pre-
que foram fundamentais na organização deste cisa continuar sendo aperfeiçoado, ser estendido a
Simpósio. Mário Scheffer já vem se dedicando a esse tra- todos os cidadãos brasileiros. Temos de trabalhar per-
balho profundamente há uns três meses. A proposta que manentemente para reduzir a exclusão social, a
levantamos no início, o Senador Sebastião Rocha, na exclusão do cidadão do Sistema Único de Saúde.
Comissão de Assuntos Sociais do Senado, eu, o Deputado Os princípios que a Constituição estabeleceu para
Henrique Fontana e outros, na Comissão de Seguridade, o SUS, na verdade, não são para o Sistema Único de
da Câmara, para a realização do simpósio e ampla dis- Saúde, pois são princípios e valores éticos que têm de
cussão, foi amplamente alcançada pela participação e ser contemplados no nosso país. Quer dizer, a saúde,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 149

como bem fundamental da pessoa humana, tem de ser hemodiálise. Esses são pacientes que, se não forem à
encarada de forma diferente de certos outros setores máquina, dia sim, dia não, morrem. Então, isso pode fi-
do mercado. Ela não pode, primordialmente, estar su- car para o sistema público, porque ele não resiste a esse
jeita ao lucro, mas ao atendimento ao cidadão e à tipo de pressão. Nós não podemos trabalhar constan-
prestação digna e adequada de serviço. temente dessa forma.
Creio que os princípios do SUS, que eu gostaria de A eqüidade foi muito bem abordada pelos Drs.
recuperar e comentar mais uma vez, têm de se aplicar Humberto e Mário Scheffer É outro ponto que precisa
à saúde suplementar. Não quer dizer que o princípio ser contemplado em todo o processo de regulamenta-
da universalidade é para o sistema público e, no siste- ção. As pessoas têm de ser tratadas igualmente, com
ma de saúde suplementar, não precisa ser observado. os mesmos direitos. Isso tem de ser lembrado em toda
Penso que não pode ser assim. O princípio da universa- a regulamentação futura dos planos de saúde que ve-
lidade tem de, também, acompanhar todas as ações nham a solicitar o seu credenciamento, a sua inscrição.
de saúde do País, sejam elas públicas ou não, e tem de Acredito que seja preciso fazer um registro, claro, e
se estender a todos os cidadãos. Dentro disso, por não falo apenas como um profissional de saúde, mas,
exemplo – é só uma observação, pois não acho que a como um político que vem trabalhando e dedicando a
função deste simpósio é criticar a medida provisória –, maior parte do seu trabalho, na Câmara Federal, ao
temos de levantar e abordar alguns pontos que foram setor saúde. Temos de fazer um registro em relação ao
polêmicos. O princípio da universalidade, por exemplo, manage care. Não podemos aceitar esse tipo de patru-
contrapõe-se totalmente à questão da abrangência lhamento e de limitação aos usurários e aos presta-
geográfica. Estaremos aceitando as limitações geográ- dores de serviço de saúde. Penso que deve haver a
ficas e infringindo o princípio da universalidade. organização do atendimento.
E assim vem a integralidade. É a mesma coisa. Se, por exemplo, dentro do sistema público, consi-
Quando começamos a falar em segmentação e subseg- deramos que a porta de entrada do paciente deve ser
mentação, estamos abrindo mão da integralidade. a saúde da família, o médico da família, a equipe da
Estamos oferecendo parcelas de serviços ou, às vezes, saúde da família, isso não quer dizer que essas pessoas
até serviços de segunda categoria. terão de trabalhar sob pressão e se sujeitar a outras
O sistema público tem de ter o papel regulador, sim, normas que não sejam os valores éticos e sociais.
por meio do controle social, e também precisa enten- Então, não podemos aceitar esse tipo de limitação.
der que todas as vezes que abrir mão da integralidade Evidentemente, o encaminhamento, a orientação, a
estará sendo onerado, porque planos de atendimento auditoria, tudo isso, é óbvio, é permitido e deve ser feito.
parcial certamente jogam os procedimentos de alto Agora, instituirmos um sistema que vise, primordial-
custo para o sistema público. mente, a economizar exames e recursos, não podemos
Então, temos de trabalhar para atingir esses prin- também aceitar. Assim, feriremos, certamente, o prin-
cípios. Como o SUS vem trabalhando, também a saúde cípio da livre escolha que, acredito, precisa ser
suplementar tem de trabalhar na busca de alcançar basicamente mantido.
esses princípios. Não quer dizer que vamos fazer isso O nosso Presidente já está avisando que o meu
de hoje para amanhã, mas esse tem de ser o caminho. tempo está terminando. Realmente, o tempo passa
Todas as exclusões na saúde suplementar irão onerar muito rápido. Para concluir, tenho algumas observa-
o sistema público de saúde. Não há a menor dúvida. ções que gostaria de fazer. Acredito que deveríamos dar
Isso já vem acontecendo em muitos setores, exata- seqüência, como o Mário Scheffer já falou, a este sim-
mente naqueles que têm mais poder de pressão, como, pósio, não somente com a criação de um fórum per-
por exemplo, no setor de pacientes dependentes de manente. Eu coloco, sem dúvida, em nome da nossa

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


150 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

presidente, a Deputada Laura Carneiro e dos meus mútuos trabalhariam mais ou menos como o sistema
companheiros, a Comissão de Seguridade à disposição hoje já existente no País: de autogestão.
para ser esse fórum de reuniões e de debates, para rea- Basicamente, eram esses os comentários que eu
lizarmos audiências públicas e para discutirmos os gostaria de fazer. Deixo ainda para os debates alguma
pontos polêmicos que serão encaminhados ao Con- outra observação que possamos vir a colocar.
gresso Nacional sob a forma de projeto de lei, para que Muito obrigado.
tenhamos ampla discussão. Acredito que esse seja um
ponto importante, que precisa ser tirado, hoje, deste O Deputado Henrique Fontana
simpósio para que mantenhamos um fórum perma- Obrigado, Deputado Rafael Guerra. Passo a palavra, de
nente, inclusive com audiências públicas, para imediato, ao Senador Sebastião Rocha.
ouvirmos a sociedade e construirmos esse consenso.
Finalmente, eu gostaria de fazer uma referência, a O Senador Sebastião Rocha
última, porque eu acho que pode vir a ser algo muito Agradeço a V. Ex.ª, Deputado Henrique Fontana; aos
construtivo para a saúde do nosso país. Eu citaria nessa demais membros da Mesa e a todos os presentes.
referência um exemplo, o qual podemos acompanhar, Mais uma vez gostaria de saudá-los. Nas minhas pri-
conhecendo como funciona o sistema de saúde na meiras palavras, eu quero falar da nossa satisfação no
França, que tem, evidentemente, um sistema público Senado, na Comissão de Assuntos Sociais e também na
muito mais estabelecido e avançado do que o nosso, Câmara – que na coordenação do Simpósio teve esta
com atualização de equipamentos e tecnológica, além figura brilhante do Deputado Rafael Guerra. Para nós,
de boa prestação de serviços que inclui o fornecimen- do Parlamento brasileiro, é muito gratificante poder
to de medicamentos para os cidadãos franceses, sediar um Simpósio dessa qualidade e com essa efici-
naturalmente aplicando em torno de US$1.600 per ência. Não há dúvida nenhuma de que o êxito desse
capita. Bem mais do que nós. Simpósio está devidamente comprovado. A expressão
Mas como suplementação ou complementação a que melhor vai representar esse êxito, a partir da
esse sistema público, existem, em várias regiões da finalização desse Simpósio, será certamente a de que
França, em vários locais, os chamados fundos mútuos valeu a pena! Sobretudo para nós, que passamos por
para a complementação do serviço de saúde, que são, um período de turbulência pré-organização do
na verdade, cooperativas, ou de empresas, ou regionais, simpósio, valeu mais a pena ainda, porque houve mo-
ou associações que se transformam em fundos mútu- mentos de dúvidas, sim, se deveríamos ou não
os, em que as pessoas decidem participar, contribuir, e mantê-lo, em função de toda polêmica e controvérsia
são co-gestoras; quer dizer, esses fundos não têm a fi- provocada pela medida provisória e pelo ato que tam-
nalidade de lucro, mas de receber o recurso e aplicar bém movimentou a sociedade organizada, previsto a
em benefício dos seus sócios, dos seus participantes, sua manifestação em frente ao Congresso Nacional.
mais ou menos como uma forma de cooperativa. Eu afirmo que prevaleceu a serenidade. Se, de um
Entendo que há uma grande possibilidade, e seria lado, o setor vive em permanente conflito e preparado
uma boa proposta, de tratarmos da regulamentação, para reagir de imediato, para entrar em ebulição com
de uma lei que regulamentasse esses fundos, de forma muita rapidez – este é um setor que entra em ebuli-
que também não viessem a se transformar em fonte ção com muita rapidez, como aconteceu nesse
de exploração para o cidadão, devido à má organização, episódio recente –, mas, por outro lado, prevaleceu a
falências fraudulentas, etc. Certamente seria um ca- serenidade das Lideranças no Congresso Nacional jun-
minho em que o lucro não é o primeiro objetivo. Esse é to ao Ministério da Saúde e também das entidades
um ponto no qual poderíamos avançar. Esses fundos para que, através de uma profunda e ampla – embora

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 151

que num período muito curto – negociação pudésse- falei rapidamente disso na abertura –, que é aquele que
mos, enfim, realizar este simpósio, que marca época as operadoras podem suportar, que os usuários podem
aqui no Congresso Nacional, no Senado da República sobreviver de maneira digna junto a seus planos, que o
por duas razões: primeiro, porque não é hábito que o médico possa ser tratado também com respeito a seu
Congresso sedie esse tipo de evento mais técnico, mais trabalho e que os órgãos de defesa do consumidor tam-
voltado para a análise, para o aprimoramento de legis- bém possam atuar em benefício do usuário.
lação neste estilo; é muito mais freqüente a audiência Esta mesa representa segmentos importantíssi-
pública com menor número de participantes. Por ou- mos: o Ministério Público, que trabalha na fiscalização;
tro lado, parece-me que esta é a segunda experiência, a Agência Nacional, na regulação; o Parlamento, na
pelo menos da qual participo, onde as duas Comissões legislação; e o Conselho Nacional de Saúde, que tam-
no setor social mais importante do Congresso Nacio- bém é um órgão de apoio da sociedade civil.
nal, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado e a Co- Feito dessa forma, o propósito do simpósio não era
missão de Seguridade Social da Câmara, organizam extrair propostas concretas de encaminhamento para
eventos dessa natureza – o primeiro foi o Simpósio de alterar a legislação. Pensamos até nisso, que poderia ser,
Saúde Ocular, que foi sucesso absoluto também, e este, mas, depois, entendemos que era importante fazer um
que já falei do êxito do evento. balanço. E aqui foi feito o balanço. Da minha parte, te-
Por isso ficam aqui, na condição de coordenador do nho grande interesse pelo setor. Vou ler cuidadosamen-
evento pelo Senado, os meus agradecimentos a todos te todas as notas taquigráficas, vou ouvir a gravação
que colaboraram e a contribuição que todos aqui pu- das palestras, porque não pude estar muito presente.
deram realizar. Se o ordenamento jurídico desse setor for realizado
Quanto à análise do processo, como devemo-nos de forma democrática, a permitir que todos os setores
mover daqui por diante? Como esse setor deve-se arti- possam atuar, extrairemos cada vez mais propostas
cular entre os vários segmentos? Costumo dizer que equilibradas e que permitam a sobrevivência de todos.
este é um cenário com vários atores, onde todos são É claro que há uma certa preocupação com o nú-
primordiais; se faltar um dos atores, a cena fica incom- mero de operadoras que estão entrando em solvência;
pleta, e a cena incompleta pode gerar grandes prejuí- são problemas muitas vezes estruturais do próprio se-
zos para a saúde, para a cidadania ou para as empresas tor, aquilo que o Ministro Serra chamou de corrente
ou para o Parlamento. da felicidade. Operadoras que não se prepararam para
Na questão da medida provisória, um dos atores ingressar no mercado e que vêem nisso apenas um bom
praticamente estava excluído, que era exatamente o negócio e por isso, muitas vezes, ingressam nesse se-
Parlamento, além da sociedade civil organizada e re- tor sem estarem devidamente qualificadas para atuar
presentantes de entidades. e, logicamente, não podem prestar um bom serviço.
Então esse setor, complexo como é, repleto de con- Nunca vão sobreviver, até porque o objetivo não é esse,
flitos, não pode de forma nenhuma ser objeto de mas apenas o lucro.
regulamentação a partir de medidas unilaterais. Acre- Os pontos conflitantes de toda a legislação perma-
dito que o governo aprendeu essa lição e, de forma necem inalterados e confesso que temos dificuldades
serena e muito responsável, houve então o entendi- de apresentar propostas definitivas. Não somos salva-
mento de que da medida provisória precisavam ser dores da pátria, nem donos da verdade. Por isso,
retirados do seu contexto os pontos polêmicos, e o go- qualquer projeto tem de ser discutido democratica-
verno então retorna à trajetória natural, que é a da mente. De repente, pode surgir uma luz no fim do túnel,
discussão democrática. A partir daí, vamos buscar aqui- e vamos ver como fica melhor a situação do portador
lo que costumo chamar de ponto de equilíbrio – ontem de doença preexistente, dos aposentados, o reajuste

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


152 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

por faixa etária, a carência e uma série de outras ques- segmento não irá sobreviver. Onde encontrar o ponto
tões que permanecem praticamente como pontos de equilíbrio? O que vamos oferecer em contrapartida
conflitantes. Lamentavelmente, não será este Simpósio para o médico e para o usuário? Qual é a contrapartida
– não era a sua proposta – que irá apresentar soluções de um plano de acesso? Porque, se o plano de acesso é
práticas para isso. apenas para baixar o custo, gerenciar custos e permitir
No entanto, há a proposta de que possamos consti- mais lucro para as empresas, então temos de contes-
tuir, a partir deste simpósio, um fórum permanente de tar mesmo e ser radicalmente contra.
acompanhamento, com representantes das duas Casas É verdade, por exemplo, que o governo propôs o pla-
do Congresso Nacional; do Conselho Nacional de Saú- no de adaptação e, ao mesmo tempo, propôs a subseg-
de; da Agência Nacional; das operadoras e órgãos de mentação e o plano de acesso, para facilitar a migração
defesa do consumidor. Quem sabe, assim, não possamos dos usuários dos contratos antigos para os novos, dentro
caminhar por alguns pontos de consenso. Por exemplo, dessa nova sistemática da adaptação dos contratos? Se
sempre defendi concretamente uma readaptação dos isso é verdade, que o governo diga claramente que os
planos à nova legislação. Se dependesse de mim, a lei contratos antigos precisam migrar para os contratos
teria ficado como estava, adaptando-se todos os planos, novos, com custos cinco, seis, sete vezes maiores. Por
até um ano depois da vigência da lei. Sabendo que isso isso, temos de encontrar mecanismos para baratear esse
onera as operadoras, tivemos de buscar soluções. E não contrato novo adaptado. E quais são esses mecanismos?
nos parece melhor a solução apontada pelo Governo, a Concluindo, Sr. Presidente, apenas gostaria de co-
da segmentação, a do plano de acesso. locar uma questão também relativamente temática,
Que os elementos que possam orientar o Parla- eu diria, para a discussão futura sobre a legislação e
mento, os consumidores e a todos, possam democratica- até como sugestão para as operadoras.
mente ser debatidos conosco. Se a Agência Nacional A questão do plano regional me faz lembrar de
entende possível, por exemplo, um plano de acesso uma santa casa do interior ou de um hospital lá da
com as características da proposta da medida provisória, minha cidade, Macapá – o Dr. José Arcângelo, meu co-
que justifique concretamente – colocaremos salva- lega médico, e o Dr. Dardenger, que é também do
guardas. A priori, sou contra o plano de acesso – estou Conselho Federal de Medicina, sabem muito bem do
falando em tese. Que salvaguardas podemos garantir? que estou falando.
Que benefícios podemos atribuir aos usuários? O Hospital São Camilo tem um plano local, eles tem
Lembro uma conversa que tive com o Ministro José uma espécie de convênio, digamos, com Minas Gerais
Serra há um ano, quando discutíamos como – não sei se no âmbito hospitalar ou através de outra
implementar um plano farmacêutico, um modelo de operadora – para que os procedimentos que não po-
plano que pudesse abranger os medicamentos. Fiz con- dem ser feitos em Macapá sejam feitos em Minas
tatos com empresas e operadoras e surgiu a idéia: um Gerais – se eles forem para São Paulo ou vierem para
certo segmento disse que aceitava cobrir os medica- Brasília, por exemplo, talvez esse atendimento não seja
mentos, mas com o gerenciamento do plano, porque o possível. É preciso que, pelo menos, seja apresentada
plano de acesso tem limites de procedimentos, com uma alternativa fora do local, com todos os procedi-
dificuldades de se chegar a um especialista. mentos. Claro que o paciente fica limitado, pois se
Então, que balanceamento será feito em defesa do sofrer um acidente em São Paulo, Fortaleza etc não po-
usuário ou do médico? Como o médico pode ser bene- derá ser atendido pelo plano.
ficiado? Como estudar e propor um plano de acesso em Surge, então, uma outra idéia, de uma experiên-
que o médico não seja massacrado? No momento em cia do Senado, do SIS, que é o Plano de Saúde do
que se sacrifica um setor, há um desequilíbrio e aquele Senado. Há uma espécie de convênio ou cooperação

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 153

entre o plano de saúde dos servidores do Senado – e A minha contribuição para esta reflexão, até por-
vou citar o nome porque é um fato concreto, não es- que teremos muitas oportunidades para debater este
tou fazendo propaganda, é apenas para exemplificar assunto, é a seguinte: sempre que olhamos para este
– e a Bradesco Seguros de Saúde. Fora de Brasília, o desafio, para o tema que está posto nesta mesa - Pro-
servidor do Senado é atendido de acordo com os mes- postas de Aprimoramento da Regulamentação dos
mos parâmetros de preços, qualidade e cobertura do Planos de Saúde -, temos que fazer uma escolha bási-
Seguro Bradesco. ca. Temos que fazer uma escolha se quisermos
Essa espécie de entrosamento e de cooperação pode aprimorar a regulamentação de planos de saúde, por-
ser estudada, pode ser um aspecto importante para fu- que, evidentemente, não há solução mágica.
gir da regionalização, garantindo que os pequenos e sé- Foi colocado por diversos debatedores aqui que,
rios planos, que não estejam apenas preocupados com quando se inclui um direito, tem-se um custo dele de-
o lucro mas também com o tratamento global do paci- corrente que incidirá sobre o preço dos planos. Então,
ente, possam se articular com planos maiores, bem sedi- precisamos fazer essa primeira grande escolha, que, na
mentados, e oferecer a cobertura que não há no local. minha opinião, é a seguinte: ou aceitaremos a lógica
Essas são as minhas ponderações. de caminhar em direção à integralidade da atenção à
Peço desculpas pois vou ter que me retirar. Haverá saúde, com limites pactuados em situação “a” ou “b”,
votação nominal no Senado de cinco ou seis matérias, que podemos contemplar, ou caminharemos em senti-
algumas importantes e que precisam da minha presen- do inverso, que seria no sentido da desregulamentação
ça, que são emendas constitucionais. Tenho certeza da precarização progressiva do direito de atendimen-
de que os meus colegas de Mesa vão responder com to, porque é preciso baixar o preço, cada vez mais, de
brilhantismo as perguntas apresentadas. outros produtos para absorver uma parcela maior de
Encerro dizendo da minha gratidão pela colabora- cidadãos que passariam a ser clientes ou usuários de
ção que tivemos na organização deste simpósio e, planos privados de saúde.
sobretudo, da satisfação muito grande pelo seu êxito. Penso que caminhar na segunda direção que colo-
Muito obrigado e parabéns a todos. (Palmas) quei é ruim para o país, pois vamos criar um mercado
onde teríamos centenas ou milhares de produtos com
O Deputado Henrique Fontana “n” limitadores para atender o poder aquisitivo de uma
Agradecemos ao Senador Sebastião Rocha. Natural- determinada parcela da população. Por exemplo, se
mente compreendemos a necessidade de ele se retirar. hoje temos 40 milhões de usuários, precarizando um
Quero partilhar com os senhores a nossa sistemá- pouco mais algum tipo de plano de saúde, talvez pos-
tica de trabalho antes de nos encaminharmos para a samos ampliar esse número para 50 milhões. Assim,
sua conclusão. temos que ter, no sentido inverso, patamares míni-
Primeiramente, quero dizer que fiz uma consulta mos muito claros, os quais não podemos transpor em
democrática a alguns membros da Mesa para saber se hipótese alguma.
eu, como coordenador, poderia expressar a minha opi- E vou citar dois exemplos, que são temas sobre os
nião de três a quatro minutos sobre alguns dos temas. quais tenho debatido na nossa Comissão, inclusive já
Fui autorizado. tenho projetos protocolados. Do ponto de vista ético
Segundo: temos pelo menos dez opiniões e pergun- da atenção à saúde, que não é um produto que você
tas. A minha sugestão é que a Mesa leia todas elas, pode escolher: por exemplo, se vai comprar um par de
dizendo a quem a pergunta é dirigida, ou, quando ela sapatos, pode escolher entre vermelho, preto, marrom,
for genérica, que seja anotada e façamos uma rodada ou se quer um par de R$ 20, R$ 100, R$ 500 ou R$ 1.000.
final de falas de cada um dos componentes da Mesa. Na saúde, é diferente.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


154 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

É, portanto, eticamente insustentável a idéia de que preço para jovens e idosos, não vamos “atrair” os jovens,
os planos continuem deixando de cobrir medicamen- é a palavra que se usa. Sou defensor, tenho muita con-
tos de uso contínuo, porque se cria a seguinte situação: vicção disto, de que devemos caminhar para a não-
um cidadão hipertenso vai ter um plano de saúde que diferenciação de preço por faixas etárias, que é aquilo
assiste a progressão da sua patologia ao longo de cin- que se define sobre os critérios da solidariedade
co ou dez anos, porque não inclui o medicamento de intergeracional, e que se criem outros mecanismos
uso contínuo, e espera para atender aquele usuário, para atrair jovens pacientes de média idade que não
aquele paciente, aquele cidadão no momento em que sejam os mecanismos do preço. Isso é uma perversida-
ele tiver um acidente vascular cerebral (AVC), quando de, porque a faixa de rendimento da população é
pode vir a ter uma seqüela irreparável. Ou seja, o pla- declinante na velhice. Então, não podemos fazer com
no cobre o atendimento da seqüela da hipertensão o plano de saúde o oposto, ou seja, que se torne cada
daquele usuário, internando-o na UTI, fazendo tal e vez mais caro no momento em que a renda diminui.
qual procedimento, etc. Assim, é preciso distribuir esse risco ao longo das fai-
Se para incluir medicamento de uso contínuo, terá xas etárias, para que tenhamos segurança de que
que se aumentar o plano em “x” por cento, alguns que vamos poder suportar a manutenção do nosso plano
hoje o pagam poderão não mais poder pagá-lo, o que de saúde ao longo dos anos.
vai onerar o SUS. Então, estaremos com uma relação Desculpe-me ter excedido meus três minutos, mas
mais verdadeira no produto de saúde que está sendo queria contribuir com essas treze idéias. Em outros
vendido. Não é possível, portanto, que se deixe de dar momentos, vamos contribuir com outras.
atendimento a um hipertenso a fim de que ele man- Vamos passar para as nossas perguntas. A primeira
tenha a sua pressão controlada e não venha a sofrer delas é dirigida ao Dr. Barroca.
um acidente vascular cerebral. “A Agência Nacional de Saúde pensa em intervir, de
Não tenho uma posição absolutamente imutável alguma forma, nos custos dos riscos das operadoras
em relação a nenhum assunto, estou sempre disposto de planos de saúde? Há fatores desequilibrados para
a ouvir e debater. Por exemplo, o desafio do credencia- mais, como as taxas hospitalares mais os índices de
mento universal me parece muito positivo do ponto comercialização de materiais e medicamentos e, para
de vista do mercado. Se há um mercado dos planos menos, como os honorários dos profissionais de saú-
privados de saúde, por que os planos não dizem para os de. Se a Agência Nacional de Saúde quer regulamen-
cidadãos, para os pacientes, quanto eles pagam por tar o setor buscando o equilíbrio entre operadoras,
uma consulta médica? Se assim fizessem, o cidadão prestadores e usuários, não deveria evitar esses fato-
poderia procurar um médico da sua confiança, da sua res desequilibradores?”
relação e que está disposto a atender por aquele valor
que o plano de saúde paga. Com isso, inclusive, have- Agora, uma opinião.
ria competição entre os planos de saúde para oferecer “Considerando-se que a saúde é direito de todos, as
uma remuneração melhor para alguns procedimentos, empresas de autogestão não comercializam produ-
para a consulta, etc. E o cidadão, no momento de com- tos, não têm objetivo de lucro, fornecem plano de
prar o seu plano, veria o quanto será cobrado por mês e saúde como benefício restrito a funcionários e de-
também o quanto o plano pagaria por uma consulta. pendentes diretos. Quando maior a utilização do
Por último, gostaríamos de falar sobre tantas coi- plano maior será a sinistralidade, com conseqüente
sas, mas, por último, vou referir-me ao tema abordado incremento dos custos. Solicitamos à Agência
pelo ministro na abertura. Se não tivermos um preço Nacional que reveja a obrigatoriedade do ressarci-
diferenciado – antes, era muito maior a diferença de mento ao SUS para as empresas de autogestão,

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 155

principalmente as que atuam na modalidade de Código Internacional de Doenças e outros critérios de


pós-pagamento. Temos receio de que, se a agência classificação. Assim, os profissionais que atuam com
mantiver tal prática, muitas empresas deixarão de esses pacientes têm o direito de ver cumprida esta lei.
conceder o benefício, sendo que todos os atendimen- Isso garantirá a concretização da mudança do mo-
tos serão efetuados pelo SUS, o que não será bom delo assistencial, antes, centrado na doença para o
para nenhuma das partes: empresa, usuários, modelo orientado para prevenção e promoção de
prestadores de serviços, SUS, sindicatos, etc. Contan- saúde. Essa transformação exige integralidade (a
do com a compreensão de V. Sª agradecemos.” pergunta faz remissão a outras profissões relaciona-
Dilva Grando Dale, Perdigão Agroindustrial S. A., das com a área de saúde).”
imagino que tenha uma autogestão da Perdigão.
A seguir, há uma outra pergunta, encaminhada ao
Mais uma: Coordenador do Simpósio, Mário Scheffer, que consti-
“Gostaríamos de manifestar nossa discordância em tui um documento final do Fórum Paulista Multi-
relação à possibilidade de credenciamento coletivo profissional de Saúde:
dos prestadores de serviços. Entendemos que o con- “Inserção dos profissionais de saúde (não médicos) nos
trato de prestação de serviço deva continuar sendo planos de seguros privados de saúde em torno de 160
firmado entre a operadora e o próprio credenciado, mil profissionais (no caso, aqui, só em São Paulo), e o
pois facilitará no processo de negociação, consideran- entendimento é que, em um processo democrático em
do que cada um tem suas particularidades. Contamos que deve-se promover igualdade e manter liberdade,
com a compreensão de todos.” ficamos totalmente à margem da discussão, e o sen-
timento é de indignação por não estarmos
A Mesa, depois de um rápido colóquio entre os seus efetivamente contemplados nos fóruns nem contri-
participantes, procede à leitura de algumas perguntas buir nessa ação.”
e avaliações, dirigidas ao Dr. João Luís Barroca de Andréa. Assina André Luiz, do Conselho Federal de Fisiote-
rapia e Terapia Ocupacional. Ele, inclusive, anexa docu-
A primeira pergunta foi formulada pela Neide, nos mento, que eu passo ao Mário.
seguintes termos: Há, ainda, umas seis perguntas a serem formula-
“Entendo saúde suplementar como parte do SUS. En- das. Entretanto, vou tentar organizá-las em bloco e,
tendo também que o objetivo de garantir a quali- posteriormente, dirigi-las-ei aos Srs. debatedores. Con-
dade só é alcançado pelo controle social. Proponho cedo a palavra ao Dr. João Luís Barroca de Andréa.
que a legislação do SUS seja aplicada ao setor. Que
seja formado, na Agência Nacional de Saúde Suple- O Dr. João Luís Barroca de Andréa
mentar, um Conselho Deliberativo e Paritário, só Sabemos que várias questões que foram levantadas
assim podemos garantir que o direito dos usuários durante esses dois dias de debate vão necessitar de um
será respeitado.” aprofundamento maior.

A segunda pergunta é formulada pelo Fórum de O Deputado Henrique Fontana


Entidades Nacionais dos Trabalhadores da Área de Saú- Só um minuto, Dr. Barroca. Devo informar ao Plenário
de, que pede registro, aqui no relatório final, da sua que, neste momento, está encerrado o período para a
participação neste seminário, que diz o seguinte: formulação de perguntas, conforme foi aqui lembrado
“O art. 10 da Lei n° 9.656, de 1998, refere-se à cobertu- pelo Mário, porque elas foram encaminhadas durante
ra assistencial para doenças relacionadas no CID – a realização do seminário. Com a palavra, V.S.

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


156 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

O Dr. João Luís Barroca de Andréa a uma determinada instituição. E insisto que são ab-
Eu assumi o compromisso de responder a todas as solutamente necessárias, na linha de cuidado, as
perguntas que me foram dirigidas. Entretanto, posso especialidades. E existe uma discussão muito impor-
respondê-las por e-mail, que é o seguinte: tante relacionada à formação do médico. Ela não se
barroca@ans.saude.gov.br. refere somente à quantidade de escolas, mas sim ao
Então, eventualmente, se não puder respondê-las currículo da formação médica, essa distribuição, a ne-
ao vivo, faço questão de fazê-lo dessa forma. cessária inserção do médico na linha de cuidado, que
Eu vou ser muito breve nessas respostas. é multiprofissional. Esses são os constrangimentos
Quanto à intervenção nos custos, taxas hospitala- que os médicos sofrem hoje no seu dia-a-dia.
res e honorários, entendo que, primeiro, precisamos Essas perguntas só nos fazem ter a certeza de que
conhecer a realidade. Há uma realidade, hoje, no se- esses debates serão muito ricos, que começaremos a
tor hospitalar que vem lá desde o Plano Cruzado, que desvendar, a conhecer e a colocar na mesa toda a com-
já foi levantada aqui, que é um contingenciamento e plexidade dessa situação, a montar uma rede de
um desvirtuamento do que é uma diária e que deu ori- atendimento, ou seja, o médico estará dentro de uma
gem às famosas taxas de utilização, que ninguém sabe rede de atendimento. No nosso consultório, tínhamos
hoje em dia, efetivamente, o que é. Então, tem que nossos colegas de suporte, para o qual encaminhá-
haver uma negociação, uma recomposição do que é vamos pacientes ou relatávamos o caso e ele descrevia
uma diária, o que significa uma diária de UTI, para que o procedimento adequado. Não acredito no trabalho
essa relação entre prestadora e operadora fique mais isolado, no ato isolado. Os pacientes serão mais bem
clara. A Agência tem que estimular esse tipo de situa- atendidos quando a linha de cuidado for mais clara,
ção, e vai cumprir o seu papel. do início ao fim, com a complexidade, e aí não resisto,
Em relação à autogestão, acolhemos essa sugestão. não é de restrição.
Na Câmara de Saúde Suplementar não existe apenas Foi uma infelicidade total essa medida provisória,
essa questão relacionada ao ressarcimento. Há outras inclusive porque muitos não leram. Estava ali “garan-
questões em relação ao pós-pagamento, por exemplo, tia de acesso”. O que isso significa? Não é restrição de
na co-participação, que têm que ser respondidas. acesso. É o oposto, ou seja, é oferecer ao usuário o ne-
Em relação à participação da agência em fóruns, cessário atendimento em todo nível de complexidade.
estamos abertos, como já falei. Esse debate vai voltar e é importantíssimo. Queria, e
E o último ponto desse bloco de perguntas, Depu- vou dizer isso em todas as falas, não sei se falarei no-
tado, é sobre o respeito ao trabalho médico. Esse tema vamente, se o deputado vai me colocar para responder
foi abordado aqui várias vezes e é um objeto de preo- mais perguntas, aproveitar a oportunidade para agra-
cupação da agência, e estávamos demonstrando isso decer novamente esse tipo de fórum e que possamos
no sistema de informação de acompanhamento, de continuar discutindo.
conhecimento e de atuação contra os constrangi-
mentos que o médico hoje já sofre, muitas vezes, no O Deputado Henrique Fontana
exercício de sua profissão. Em algum momento, nes- Muito obrigado, Dr. João Luiz Barroca de Andréa.
ses nossos diversos pontos de pauta, vamos ter que Vou passar, de imediato, mudando a sistemática, a
abordar, e sou médico também, a valorização do ato palavra ao Deputado Rafael Guerra, que já está com as
médico. O que é valorizar o ato médico? É valorizar perguntas. V. Exª poderia ler e responder as perguntas
aquele profissional que depende única e exclusiva- e concluir suas observações?
mente do estetoscópio, da relação médico-paciente,
que vai na casa do cliente, que não trabalha vinculado

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 157

O Deputado Rafael Guerra com a empresa pública, com o setor. Por exemplo, o Dr.
Pedi ao Presidente que me desse essa prerrogativa por- Sérgio é da Bemgecaixa. Eu não posso dizer: eu agora
que já estou sendo também convocado aqui. quero ser membro da Bemgecaixa. Assim, o fundo mú-
Há aqui duas perguntas que me foram dirigidas. tuo é uma forma de democratizar, de ampliar isso. É uma
Uma vez que as operadoras são proibidas de fazer qual- cooperativa de usuários. A Bemgecaixa é uma coopera-
quer gerenciamento ou interferência sobre o uso dos tiva de usuários. É mais ou menos a mesma coisa. A
recursos, a quem caberia zelar, para que esses recursos proposta do fundo mútuo é ampliar.
tão caros fossem usados racionalmente, sem fraudes, Hoje, a regulamentação com relação aos planos de
evitando os aumentos desnecessários dos custos? autogestão é mais tranqüila até em termos de segu-
Essa pergunta está partindo da premissa de que eu rança para o cidadão. Quer dizer, a segurança para
teria dito isso. Não é bem isso que foi dito. Os recursos quem participa da Bemgecaixa, hoje, é quase que ga-
têm que ser auditados – deixei isso bem claro na minha rantida. Temos que regulamentar uma forma de
fala –, devem ter acompanhamento. Não concordamos cooperativas de usuários ou de fundo mútuo que dê
com o que já vem acontecendo nos Estados Unidos. Por garantias aos sócios. Eu acho que não há nenhum con-
exemplo, um paciente que mora em Chicago – estou flito. Tudo isso é só uma questão de ampliação e de
citando um exemplo concreto, porque conversei há democratização do serviço.
pouco tempo com um médico de lá a respeito – tem Com relação a um comentário no documento do
que ir a um subúrbio, para procurar um médico, por- Fórum das Entidades Nacionais de Trabalhadores da
que é o único que serve. Isso não pode acontecer. Não Áreas de Saúde sobre ampliar para as outras áreas de
se pode obrigar o doente a viajar, para saber para quem saúde, é evidente que isso tem o nosso apoio. Penso
vai ser encaminhado depois, porque há alguns especí- que a saúde não se refere só a médicos e dentistas. Essa
ficos. Com essa triagem prévia é que não concordamos. é uma questão multidisciplinar. Quando começamos
Quanto à questão da fiscalização e da aplicação de a falar em equipe de saúde da família, era só médicos
recursos, da auditoria, para quem defende a ética e os e enfermeiras, mas hoje isso já se estendeu a odon-
valores, como eu, a fiscalização é uma forma de se co- tólogos e, em muitos locais do país, já se estendeu para
brar o cumprimento da ética. assistentes sociais, para nutricionistas, psicólogos, en-
Esse tipo de ingerência, de interferência – influir fim, para outros profissionais. É só um registro que
no diálogo médico/paciente, às vezes até se desrespei- queria fazer, pela importância que tem.
tando o sigilo profissional – não pode ser aceito. Agradeço, mais uma vez, pelas duas perguntas que
Quanto ao acompanhamento de fiscalização, não me foram dirigidas. Cumprimento a todos os senhores
há nenhuma dúvida. e espero que possamos manter este fórum permanen-
Outra pergunta, do Sérgio de Paula e Silva: A te. Penso que o grande canal de comunicação, além
autogestão é sempre lembrada como boa referência da Câmara e do Senado, é o Conselho Nacional de Saú-
no atendimento à saúde dos cidadãos. Sabemos que é de. Já conversei com o Mário Scheffer. Temos as
um produto exclusivamente brasileiro. Por que não inscrições com endereços e telefones e esperamos
incentivar sua ampliação e manutenção e, se fosse o manter esses contatos para que, em futuros debates,
caso, uma regulamentação separada, em vez da cria- em audiências públicas ou em outras reuniões, possa-
ção dos fundos mútuos citados por V. Sª? mos contar novamente com a contribuição, com o
Da forma como entendo a questão, se há alguém interesse e com a participação tão boa quanto a que
aqui que não está incluído no plano de autogestão, não os senhores deram durante estes dias.
pode, por opção própria, incluir-se em determinado Muito obrigado.
plano. Eles limitam a área de atendimento, de acordo

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


158 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

O Deputado Henrique Fontana mente. É isso que o Sistema Único de Saúde está ten-
Agradeço ao Deputado Rafael Guerra, que terá de ir ao tando fazer agora com um programa maciço de capa-
plenário. Só peço ao Deputado que, se houver uma vo- citação de conselheiros de saúde e de membros do Mi-
tação meio parelha, que ele me chame também para, nistério Público, para que o Direito Sanitário seja pensa-
de repente, empatarmos se for um assunto em que o do no Brasil coletivamente. Ou seja, atender ao pleito
PT e o PSDB estejam diferentes. (Risos) do segurado desse plano privado de saúde pode signifi-
Passo a palavra ao Dr. Humberto Jacques de car a quebra do plano, por exemplo, e a desassistência
Medeiros e, depois, passarei mais três perguntas ao Dr. de todos os demais segurados. Só que, normalmente, a
Barroca de Andréa. O Mário responderá as perguntas tendência da Justiça é olhar o indivíduo de um lado e o
dirigidas a ele, junto com a conclusão da nossa mesa. plano de outro. E aí cabe aos senhores, pelos seus advo-
Se porventura eu for chamado para o plenário, terei gados ou consorciando-se com o Sistema Único de
de sair à francesa, e o trabalho deverá prosseguir. Saúde, a divulgação da filosofia do Direito Sanitário, de
relações que envolvem coletividades, e, não, individua-
O Dr. Humberto Jacques de Medeiros lidades. Os senhores têm nisso muito a ganhar com o
Eu queria agradecer aos senhores pelas perguntas que que o SUS já tem feito.
me foram dirigidas. Vou lê-las e respondê-las. Outra pergunta que me é dirigida veio do Coffito
“Está sendo prevista alguma forma de proteção às ope- do Marcelo Sidney Gonçalves.
radoras que vêm sofrendo pesadas perdas por fraudes “Concordando com o Ministério Público do Trabalho
praticadas sob a proteção de liminares judiciais?” pautado na lei, qual é o posicionamento do Ministério
Público com relação à Lei nº 9.656, regulamentação
Não tenho procuração para defender os meus cole- de saúde suplementar, que não contempla as práti-
gas juizes, mas vou tentar posicionar esse problema cas assistenciais dos profissionais de saúde
quando falo das relações ou do que há de comum no não-médicos? É extremamente bem lembrada a
consórcio entre o Sistema Único de Saúde e a saúde questão da fisioterapia, terapia ocupacional. Um pro-
suplementar. Ora, esse tipo de problema não é exclusi- blema bissexto que temos é de imaginarmos que
vo das agências, das operadoras. Recentemente, vários saúde seja assistência médica. Falamos em saúde
gestores municipais de saúde foram presos. A tensão no suplementar, mas muitas vezes o que vemos são pro-
sistema de saúde não alcança exclusivamente opera- gramas de assistência médica e ponto final.”
doras. A ira judicial veiculada pela indignação de cida-
dãos, usuários ou contribuintes de planos privados não O que eu lhe respondo, Marcelo – e é muito boa a
é apenas voltada contra os senhores, mas contra todos. pergunta – é que há um ponto não maduramente tra-
Nesse sentido, talvez seja importante que os senhores tado na construção da co-habitação do Sistema Único
apreendam aquilo que o Sistema Único de Saúde se de Saúde e programas de planos de saúde privado. É o
adianta em relação aos senhores nessa área. fato do direito à informação que temos todos, na con-
Na lógica individualista absoluta, os senhores têm dição de cidadãos ou na condição de consumidores.
os seus advogados para defendê-los – isto é ônus do Não são colocados à mesa com clareza a todos as por-
empreendimento. Poderia dar-lhes uma saída simples tas de entrada, os focos de referência, as coberturas do
como essa, mas poderia lhes explicar outro dado extre- sistema público e do sistema privado.
mamente importante: a Justiça, habitualmente, pensa Existem planos públicos de saúde, como manda a
de modo individual. O normal da Justiça é pensar indivi- Lei 8.080 e a Lei 8.142? Sabemos qual é a cobertura? Esse
dualmente. Por isso é que há o Ministério Público: para desrespeito ao direito à informação faz com que a co-
tentar pensar e fazer com que a Justiça pense coletiva- habitação não seja a mais correta. Não é minha tarefa

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 159

afirmar se os planos devem ou não devem cobrir fisio- eu preciso me acautelar. Essa co-habitação sem infor-
terapia e terapia ocupacional. Eu tenho a minha po- mação e mal regulada permite, por exemplo, algo que
sição muito pessoal sobre isso, mas o consumidor deve é extremamente violador do princípio da igualdade e
saber se esse ou aquele plano cobre ou não, se o plano da eqüidade e é um abuso da liberdade: pensar que o
público de saúde cobre ou não isso. Posso admitir uma Sistema de Saúde suplementar tenha como carro-che-
co-habitação razoável desde que fique esclarecido que fe da sua tração o mau funcionamento do SUS ou a
a limitação dos recursos públicos de saúde não permi- deficiência do SUS.
te essa ou aquela cobertura e que a cobertura seja Um sistema que vive da deficiência do outro e que
estrita; assim, o cidadão pode desejar um plano priva- combate o outro é sensivelmente um abuso da liberda-
do de saúde que lhe dê essa a cobertura. de de iniciativa. Ao contrário – e fazendo uma ligação
O fato é que hoje as decisões do consumidor, do ci- com fisioterapia e terapia ocupacional – revelemos a
dadão são tomadas um tanto quanto no escuro. O cidadania que isso está descoberto pelo Sistema Único
direito à informação não é respeitado; e aí surge um de Saúde e que ainda não chegou a esse ponto.
outro drama, não sabemos porque optarmos por um E, então, vendamos este serviço: odontológico, far-
plano ou outro plano. Se a lei deu esse mínimo e não macêutico, terapia ocupacional, fisioterapia. E o setor
contemplou esse ou aquele aspecto, talvez seja lasti- privado colaborará para o progresso do público, porque
mável mas o ideal é que o consumidor saiba dessa fará com que a cidadania exija a extensão do público
restrição. O plano público oferece? O plano público ofe- àquilo. Porque sabemos todos que as necessidades de
rece isso satisfatoriamente? Como é esse delinea- saúde são absolutamente ilimitadas. E há espaço, nes-
mento das coberturas? E aí faço uma ligação com ou- sa infinidade de pretensões das pessoas por saúde, para
tra pergunta que me foi feita: todos. O que não é possível é a disputa de uma única
“Como o senhor falou em urgente necessidade de ga- faixa, de um único espaço com a exclusão do outro. E
rantir liberdade, prover igualdade e justiça social, o a falta de informação produz isso em demasia.
senhor não acha que é o momento em que todos os Nesse sentido, esclareço-lhes que o acesso da po-
envolvidos na luta pela regulamentação do setor pri- pulação a essas informações passa pelo controle social
vado de saúde se envolvam e lutem pela saúde do sistema público de saúde e o controle social sobre
pública, já que mais de dois terços da população es- os planos privados de saúde. Sem informação não é
tão à margem dessa maravilha de setor privado de possível o exercício da liberdade de opção.
saúde? Ou seja, lutamos para que haja a prioridade Não posso acreditar em liberdade de iniciativa que
do Governo em relação à saúde para todos. Com a não tenha do outro lado uma co-respectiva liberdade
regulamentação ficando mais clara, os usuários po- de opção das pessoas. Não é exercício da liberdade de
dem optar pela saúde privada sem constrangimento iniciativa se a minha iniciativa de explorar planos pri-
de serem enganados, como foram, e ainda correm o vados de saúde está fundada no desrespeito ao direito
risco de ser, apesar do Código do Consumidor, da à informação do cidadão. Isso é abuso da minha liber-
Agência Nacional de Saúde, da entidades de defesa dade e ofensa aos direitos do cidadão.
do consumidor e das entidades médicas?” Nessa direção, exalto a visibilidade dos planos pri-
A pergunta é de Renê Patriota, de Recife. vados de saúde, a abertura dos planos privados de saúde
para que os seus usuários também o controlem, tam-
O que está sendo flagrantemente violado por todo bém o vejam. E a associação, com os mecanismos esta-
o sistema de saúde – o Sistema Único Público e os pla- belecidos de controle social do Sistema Único de Saúde.
nos privados – é a revelação do que está coberto, onde Saúdo este evento, a lisura e a correção com que
está descoberto, onde não há resolutividade e do que todos dirigimo-nos aqui para, de forma aberta, franca

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


160 Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde

e objetiva, expormos os nossos modos, as nossas ten- acupuntura era de cobertura obrigatória, se está no rol
dências, as nossas ambições e pretensões dentro dessa de procedimentos. Sim, está no rol de procedimentos.
necessidade de traçarmos um marco delimitador da co- Ele faz uma espécie de denúncia de que várias ope-
habitação entre o Sistema Único de Saúde e a explo- radoras, incluindo a Unimed, não estavam reconhe-
ração pela iniciativa privada de serviços de saúde. cendo isso. Já esclareci, enfim, não estou vendo, mas é
Dessa forma, saúdo esta Casa Legislativa, que hoje de cobertura obrigatória.
cumpre uma das recomendações da XI Conferência A outra pergunta é do Dr. Eurípedes Carvalho, do
Nacional de Saúde, que pede a aproximação do Conselho Sindicato dos Médicos de São Paulo:
Nacional de Saúde, o controle social, com o Parlamento. “Há estudos para implantar algum mecanismo de
E agradeço a resposta que o Parlamento deu nesse resseguro para custear custos extraordinários no sis-
campo e já em alguns outros, que permaneça inves- tema ou procedimentos de alto custo?”
tindo nesse campo pela defesa da cidadania brasileira.
Muito obrigado. (Palmas) Temos conversado, enfim, estamos interessados
em relação a isso. A diretoria responsável tem feito es-
O Deputado Henrique Fontana forços nesse sentido, mas depende, fundamental-
Muito obrigado, Dr. Humberto. mente, quando se fala de resseguro, está-se falando
Só quero ler aqui mais uma pergunta, de caráter necessariamente da construção de uma base de infor-
geral, que ficou extraviada aqui na mesa e vou passar mações sólida, e isso é uma coisa ainda em construção.
a palavra ao Dr. Barroca, depois ao Mário. Mas é nosso interesse conversar para poder haver essa
A pergunta é do Paulo Roberto Couto, da SAB, Saú- disponibilidade ou se tem mais essa alternativa.
de e Beneficência Portuguesa: Por fim, encerrando a participação, quero fazer o
“Por que rechaçar totalmente a figura do médico por- mesmo pedido de ontem: somos ou médico ou portei-
teiro clínico, já que usuários e operadores querem ro. Quer dizer, não tem essa situação, isso não existe.
menor custo? Não seria este um caminho a ser aper- São duas profissões rigorosamente distintas, ambas
feiçoado? Quando a mãe busca o atendimento do absolutamente respeitáveis e que têm atribuições
pediatra para assistir o filho não está ela usando, na- completamente diferentes.
turalmente, este porteiro? Por que na população Muito interessante quando a colega ou o colega
adulta não funcionaria?” fala do pediatra, que é um desses profissionais que
falamos da linha de cuidado que tem que ficar on-line
Depois, quero pedir desculpa para não desviarmos, 24 horas, não tem máquina para fazer exame, não
há uma consideração do José Valentim Lino a respeito complementa o orçamento com coisa nenhuma e fica,
do assunto que a Frente Parlamentar trouxe hoje, pela na verdade, responsável pelos nossos filhos. Esse pro-
manhã, do corte ou da controvérsia em torno da Emen- fissional que temos...
da Constitucional nº 29, que penso que não dá para Vivi uma situação familiar muito recente e muito
abrirmos, senão desvia demais do assunto. Mas esta- interessante de ter uma afilhada que, com um ano de
mos à disposição do Sr. José para conversar sobre esse idade, tinha uma colega que já tinha recomendado
tema, a qualquer momento. doze especialistas, já tinha feito três cirurgias, vários
Com a palavra, o Sr. Barroca. exames, até que, finalmente, alguém a encaminhou
para um outro colega, com um pouco mais de experi-
O Dr. João Luís Barroca de Andréa ência, que ouviu e disse: “Mas isso é bronquite de criança”.
Sobre as duas considerações que estão aqui, uma é Então dá para contornar. E os 22 remédios que essa
uma pergunta, já tinha até conversado com o colega: se criança tomava, com menos de um ano de idade, foram

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Mesa6 – Proposta de aprimoramento da regulamentação dos planos de saúde 161

reduzidos para dois ou três. É claro que esse é um caso 25% de atendimentos a planos e particulares nos hos-
dentro de vários, mas que diz respeito a quê? Diz res- pitais universitários e, ao mesmo tempo, com tanta
peito a que a agência quer absolutamente valorizar a ênfase à defesa da saúde que, como a Frente Parlamen-
linha de cuidado e valorizar o profissional. tar trouxe aqui, está sendo desvirtuada. Só quando
Penso que estamos num momento de reflexão. conseguirmos ampliar o orçamento da saúde, ter um
Esse fórum – insisto – foi muito importante e abre pers- financiamento decente para o SUS, vamos eliminar
pectivas. E a Agência está disponível quantas vezes essas iniciativas para tentar captar mais recursos como
forem necessárias, em quantos fóruns forem necessá- a fila dupla.
rios para travar esse tipo de discussão. Para concluir, gostaria de retomar na proposta, que
Muito obrigado. (Palmas) penso que houve consenso na mesa pela fala do Dr.
Barroca, do Senador Sebastião Rocha e do Deputado
O Deputado Henrique Fontana Rafael Guerra, de tentarmos realmente caminhar para
Passo a palavra para o Mário, que vai responder às per- uma maior integração entre as instâncias; a proposta
guntas e fazer o encerramento do nosso simpósio. concreta de formalizar uma comissão permanente
Quero agradecer a presença de todos vocês e pedir li- entre o Conselho Nacional de Saúde, a Câmara, o Senado
cença para me retirar. e a ANS para acompanhar a regulamentação. É claro
que com a manutenção de todos os fóruns que estão
O Dr. Mário Scheffer aí. A idéia era uma comissão permanente e, a partir
São duas questões rápidas: uma é sobre os profissio- dela, iríamos propor uma agenda conjunta e um plano
nais de saúde não-médicos – o Dr. Humberto já colocou de trabalho. Aí organizaríamos fóruns temáticos, es-
aqui, já respondeu, mas esse pleito com certeza vai ser pecíficos, de acordo com cada demanda e cada
encaminhado para o Conselho Nacional de Saúde. necessidade da regulamentação, assegurando a par-
Penso que deve compor realmente essa nova agenda ticipação paritária de todos os segmentos.
prioritária a partir de agora. A outra pergunta é sobre a Em nome do Conselho Nacional de Saúde, declaro
fila dupla: é uma colocação e uma crítica a essa ques- encerrado este simpósio que, com certeza, foi um passo
tão da fila dupla. Concordamos com essa crítica. O importante, uma contribuição relevante, não só para o
Conselho Nacional de Saúde já deliberou contra essa aprimoramento da regulamentação dos planos de saú-
iniciativa. A fila dupla cria dois agendamentos, duas de, mas para a efetivação de um sistema de saúde mais
resolutividades, institui o cidadão de segunda linha, humano e mais justo no país. E isso só vamos construir
utiliza o bem público em benefício das operadoras de compartilhando espaços e momentos como este. Cabe
planos de saúde. a nós e não apenas ao governo e ao Estado escolher o
Enfim, penso que agora estamos no momento de nosso próprio destino e o Brasil em que queremos viver.
lutar contra esse projeto de lei, que tenta instituir os Muito obrigado a todos. (Palmas)

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


162

Programação
Em todas as mesas, cada expositor terá 15 minutos para apresentação

Dia 28 de agosto, terça-feira

9:00 às 10:00 14:00 às 15:00


Mesa de Abertura Mesa 2: Coberturas e Modelos Assistenciais
Componentes Coordenador
Senador Romeu Tuma Dr. Ésio Cordeiro
Senador Edison Lobão
Ministro José Serra Componentes
Deputada Laura Carneiro Profa. Lynn Silver
Senador Sebastião Rocha Dr. Eleuses Vieira de Paiva
Dr. Januario Montone Dr. José Diniz de Oliveira
Dr. Mário Scheffer Dr. João Luiz Barroca de Andréa

10:00 às 10:10 15:00 às 15:30


Intervalo Debate

10:10 às 11:25 15:30 às 15:40


Mesa 1: Interface e articulação entre o público Intervalo
e o privado no sistema de saúde brasileiro
Coordenador
Deputado Padre José Linhares 15:40 às 16:40
Mesa 3: Fiscalização, Defesa do Consumidor
Componentes
Dr. José Carvalho de Noronha e Direito à Saúde
Dr. Valcler Rangel
Coordenadora
Dr. Carlos Alberto Gebrim Prieto
Profa. Lígia Bahia
Dr. Arlindo de Almeida
Dr. Januario Montone Componentes
Procurador Adalberto de Souza Pascoaloto
Dr. Edson Oliveira
Sr. Cláudio Chiatuzzi
11:25 às 11:55 Sra. Maria Stella Gregori
Debate

16:40 às 17:10
11:55 às 14:00 Debate
Almoço

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Programação 163

Dia 29 de agosto, quarta-feira

9:00 às 10:00 12:10 às 14:00


Mesa 4: Estrutura das Operadoras Almoço
Coordenador
Senador Tião Viana 14:00 às 15:15
Componentes Mesa 6: Encaminhamento das Propostas
Dra. Lúcia Salgado
Coordenador
Dr. Antônio Rodrigues de Barros Jr.
Deputado Henrique Fontana
Dr. Celso Corrêa de Barros
Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes Componentes
Dr. João Luiz Barroca de Andréa
Dra. Solange Beatriz Palheiros Mendes
Deputado Rafael Guerra
10:00 às 10:30 Senador Sebastião Rocha
Debate Dr. Humberto Jacques de Medeiros
Dr. Mário Scheffer

10:30 às 10:40
15:15 às 15:45
Intervalo
Debate

10:40 às 11:40
15:45
Mesa 5: Regulação de Preço
Encerramento
Coordenadores
Senador Lúcio Alcântara
Dra. Regina Parizi
Componentes
Sra. Lúcia Helena Magalhães
Dr. Carlos Eduardo Ferreira
Sr. Roberto Westenberger
Dr. João Luiz Barroca de Andréa

11:40 às 12:10
Debate

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


164

Nomes e cargos dos participantes

Senador Romeu Tuma (PFL – SP) Valcler Rangel


Presidente da Comissão de Assuntos Sociais do Subsecretário de Saúde do Estado do Rio de Janeiro
Senado Federal Representante do Conselho Nacional de Secretários
Estaduais de Saúde – Conass
Senador Edison Lobão (PFL – MA)
Presidente interino do Senado Federal Carlos Alberto Gebrim Preto
Secretário de Saúde de Califórnia, no Paraná e Diretor
José Serra Institucional do Conselho Nacional dos Secretários
Ministro de Estado da Saúde e Municipais de Saúde – Conasems
Presidente do Conselho Nacional de Saúde
Arlindo de Almeida
Deputada Laura Carneiro (PFL – RJ) Presidente da Associação Brasileira de Medicina de
Presidente da Comissão de Seguridade Social e Grupo – Abramge
Família da Câmara dos Deputados
Deputado Padre José Linhares
Senador Sebastião Rocha (PDT – AP) Presidente da Confederação das Misericórdias
Coordenador do Simpósio e membro da Comissão do Brasil
de Assuntos Sociais do Senado Federal
Lynn Silver
Januario Montone Diretora do Instituto Brasileiro de Defesa do
Diretor-Presidente da Agência Nacional de Saúde Consumidor (Idec)
Suplementar
Eleuses Vieira de Paiva
Mário César Scheffer Presidente da Associação Médica Brasileira
Conselheiro e coordenador da Comissão
Intersetorial de Saúde Suplementar do José Diniz de Oliveira
Conselho Nacional de Saúde Presidente do Comitê Integrado de Entidades
Fechadas de Assistência à Saúde (CIEFAS)
Deputado Rafael Guerra (PSDB – MG)
Coordenador do Simpósio pela Câmara Federal João Luiz Barroca de Andréa
Diretor de Produtos da Agência Nacional de Saúde
José Carvalho de Noronha Suplementar (ANS)
Presidente da Abrasco*, Associação Brasileira de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva, Conselheiro do
Conselho Nacional de Saúde.

SSimpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Nomes e Cargos dos Participantes 165

Ésio Cordeiro Celso Corrêa de Barros


Professor do Instituto de Medicina Social da UFRJ e ex- Presidente da Confederação Nacional das Cooperativas
presidente do Inamps Médicas, Unimed do Brasil

Adalberto de Souza Pasqualloto Solange Beatriz Palheiros Mendes


Instituto Brasileiro do Consumidor (Brasilcom) Diretora de Normas e Habilitação de Operadoras
da Agência Nacional de Saúde Suplementar
Edson Oliveira
Presidente do Conselho Federal de Medicina Lúcia Helena Magalhães
Assistente de Direção da Fundação Procon de
Cláudio Chituzzi São Paulo
Associação Brasileira de Serviços Próprios das
Empresas (Abraspe) Carlos Eduardo Ferreira
Presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH)
Maria Stella Gregori
Diretora de Fiscalização da Agência Nacional de Roberto Westemberg
Saúde Suplementar (ANS) Federação Nacional de Seguradoras – Fenaseg

Lígia Bahia Regina Parizi


Associação Brasileira de Saúde Coletiva Conselho Regional de Medicina de São Paulo

Senador Tião Viana (PT – AC) Senador Lúcio Alcântara (PSDB – CE)
Membro da Comissão de Assuntos Sociais do
Senado Federal Humberto Jacques de Medeiros
Ministério Público
Lúcia Salgado
Ex-Procuradora do Conselho Administrativo de Deputado Henrique Fontana (PT – RS)
Defesa Econômica (CADE)
Deputado Ursicino Queiroz (PFL – BA)
Antônio Rodrigues de Barros Júnior
Diretor de Operadoras de Plano de Saúde e Deputado Darcísio Perondi (PMDB – RS)
da Confederação das Santas Casas de
Misericórdia do Brasil

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


166

Siglas

ABRAMGE CIEFAS
Associação Brasileira de Medicina de Grupo Comitê de Integração de Entidades Fechadas

ABRASCO CNS
Associação Brasileira de Pós-Graduação em Conselho Nacional de Saúde
Saúde Coletiva
COFFITO
ABRASPE Conselho Federal de Fisioterapia e
Associação Brasileira das Autogestões em Saúde Terapia Ocupacional
Patrocinadas pelas Empresas
COFINS
ADT Contribuição para Financiamento da
Assistência Domiciliar Terapêutica Seguridade Social

ADUCEPS CONASEMS
Associação dos Usuários de Planos de Saúde Conselho Nacional de Secretários
Municipais de Saúde
AIH
Autorização de Internação Hospitalar CONASS
Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde
AMB
Associação Médica Brasileira CONSU
Conselho de Saúde Suplementar
ANS
Agência Nacional de Saúde Suplementar COPPEAD
Escola de Pós-Graduação em Administração da UFRJ
BNDES
Banco Nacional de Desenvolvimento DESAS
Departamento de Saúde Suplementar
CADE
Conselho Administrativo de Defesa Econômica DIEESE
Departamento Intersindical de Estatística e
CFM Estudos Sócio-Econômicos
Conselho Federal de Medicina

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Siglas 167

FASSINCRA IPCA
Fundação Assistencial dos Funcionários do INCRA Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo

FBH IPEA
Federação Brasileira de Hospitais Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

FENASEG OAB
Federação Nacional de Seguradoras Ordem dos Advogados do Brasil

IBGE ONG
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Organização Não-Governamental

IDEC PNAD
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio

IGPM SUS
Índice Geral de Preços de Mercadorias Sistema Único de Saúde

INAMPS SUSEP
Instituto Nacional de Assistência Médica da Superintendência de Seguros Privados
Previdência Social

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


169

Ficha técnica

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


28 e 29 de agosto de 2001
Auditório Petrônio Portella – Senado Federal - Brasília, DF

Coordenadores
Mário Scheffer – Conselheiro do Conselho Nacional de Saúde;
Deputado Rafael Guerra – Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados ( PSDB-MG);
Senador Sebastião Rocha – Comissão de Assuntos Sociais do Senado (PDT - AP)

Coordenador do Conselho Nacional de Saúde


Nelson Rodrigues dos Santos

Comissão de Saúde Suplementar do Conselho Nacional de Saúde


Mário Scheffer – Conselheiro/Coordenador
Lígia Bahia – Representante da ABRASCO
José Carlos Passos – Representante da Confederação Nacional das Indústrias
José Luiz Spigolon – Representante dos Prestadores de Serviços de Saúde
Pedro Pablo Magalhães Chocel – Representante do CFM
Lindomar Tomé Lopes – Representante das Entidades Nacionais e Outros Profissionais da Área de Saúde
Geraldo Adão dos Santos – Representante da COBAP
Carlos Alberto Gebrim Preto – Representante do CONASEMS
Júlia Roland – Representante da CUT
Henrique de M. Barbosa – Representante das Operadoras de Planos Privados de Saúde

Apoio Técnico
Maria Camila Borges Faccenda
Paulo Henrique de Souza

Agradecimento Especial
Lígia Bahia

Simpósio: Regulamentação dos Planos de Saúde


Os textos deste livro foram compostos na tipografia The Sans.
A capa foi impressa sobre papel Reciclato 240g/m2 e o miolo sobre
Reciclato 75g/m2 pela gráfica Projefilm.

Reciclato é um papel offset 100% reciclado, produzido pela Suzano


em escala industrial a partir de aparas pré e pós-consumo
(75% de aparas pré-consumo e 25% de aparas pós-consumo).

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