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Organizadora
Rita de Cácia Santos Souza
Aracaju, 2016
Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, com finalidade de
comercialização ou aproveitamento de lucros ou vantagens, com observância da Lei de
regência. Poderá ser reproduzido texto, entre aspas, desde que haja expressa marcação do
nome da autora, título da obra, editora, edição e paginação.
Editoração Eletrônica
Adilma Menezes
Capítulo 2 | 31
ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS: MARCOS LEGAIS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Alda Valéria S. de Melo, Josevânia T. Guedes, Mônica de Gois S. Barbosa, Rita de Cácia S. Souza
Capítulo 3 | 53
O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Josilene Souza Lima Barbosa, Rita de Cácia Santos Souza
Capítulo 4 | 71
EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO: UMA EXPERIÊNCIA DE INCLUSÃO E CIDADANIA
Edna Maria dos Santos, Alessandra Rezende dos Santos Andrade, Edivaldo da Silva Costa
Capítulo 5 | 93
SUJEITO SURDO: RELAÇÃO DIALÓGICA ENTRE INCLUSÃO/EXCLUSÃO
Soraya Cristina Pacheco de Meneses, Ronaldo Nunes Linhares, Rita de Cácia Santos Souza
Capítulo 6 | 117
SURDEZ E ENSINO SUPERIOR: O PROCESSO DE INCLUSÃO NA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
Priscila Dantas Fernandes, Verônica dos Reis Mariano Souza
Capítulo 7 | 139
ANÁLISE DA PRODUÇÃO ESCRITA DOS SURDOS: A INTERFERÊNCIA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
Mônica de Gois Silva Barbosa
Capítulo 8 | 157
GÊNEROS TEXTUAIS: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS
Iranilde dos Santos Rocha Souza, Rita de Cácia Santos Souza
Capítulo 9 | 179
EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA: LÍNGUA INGLESA, LIBRAS E ASL (AMERICAN SIGN LANGUAGE)
Roberto Carlos Bastos da Paixão, Josevânia Teixeira Guedes
Capítulo 10 | 197
REDES SOCIAIS DIGITAIS: ESPAÇO INTERATIVO NA EDUCAÇÃO E A COMUNICAÇÃO DOS SURDOS
Soraya Cristina P. de Meneses, Ronaldo N. Linhares, Andrea C. Versuti, Rita de Cácia S. Souza
Capítulo 11 | 221
WEBSITE LIBRAS MATEMÁTICA 221
Enio Gomes Araujo
Capítulo 12 | 237
ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA A PESSOA COM SURDEZ
Ana Paula Andrade de Melo, Tálita Cavalcanti Pergentino dos Anjos
Capítulo 13 | 261
O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS COM SURDEZ NO ENSINO SUPE-
RIOR: UM SERVIÇO NECESSÁRIO
Sandra de Andrade Santos, Joelma Alves da Rocha, Cristina Nunes dos Santos
Capítulo 14 | 279
O INTÉRPRETE DE LIBRAS E O ALUNO SURDO
Gicélia Barreto Nascimento
Capítulo 15 | 297
A FUNÇÃO DOS TRADUTORES/INTÉRPRETES DE LIBRAS - TILIBRAS - NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Genivaldo O. Santos Filho, Rozilda Ramos dos Santos Oliveira, Rita de Cácia Santos Souza
Capítulo 16 | 317
A formação do tradutor e intérprete de libras: ENTRE A LEI E O REAL 317
Alda Valéria S. de Melo, lka Miglio de Mesquita, Simone S. Amorim, Rita de Cácia S. Souza
1
A sigla CAIC significa Centro de Aprendizagem e Integração de Cursos.
12 | REGISTROS HISTORIOGRÁFICOS DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS EM ARACAJU E ITABAIANA/SE
lena de Barros, com o seu óbito, os cegos ficaram sem atendimento até
a fundação do Centro de Reabilitação “Ninota Garcia” em 24 de junho de
1962, sendo na época dirigido pela própria família Garcia (SOUZA, 2010).
Em 1960, como em Sergipe não havia cursos de especialização em
LIBRAS, cinco professores sergipanas, sendo três do Centro de Reabili-
tação “Ninota Garcia”, foram selecionadas pela Secretária de Educação
do Estado de Sergipe (SEED/SE) para participarem do curso de capaci-
tação na área de surdez no Instituto Nacional de Educação dos Surdos
no Rio de Janeiro (INES/RJ) 2 (SOUZA. 2010).
Somente em 1970, a professora surda de artes e portadora de sín-
drome de Usher, Maria Aparecida Nascimento Santos33, foi a primeira
profissional a introduzir a LIBRAS no Centro de Reabilitação “Ninota
Garcia” em Aracaju (SOUZA, 2010)
De acordo com pesquisa realizada por Mazotta (1996) em 03 de
julho de 1973, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CE-
NESP) com a finalidade de promover o repasse de recursos enviados
pelo MEC para a educação especial, em nível nacional e estadual visan-
do melhorar o atendimento educacional aos “excepcionais”. Em 1988,
de acordo com Souza (2000) a SEED/SE implantou oficialmente a filo-
sofia educacional “Comunicação Total/Bimodismo” para capacitação
de profissionais da educação na área de surdez.
2
O INES é atualmente, um centro de referência, a nível nacional para questões da De-
ficiência Auditiva/Surdez, é também um órgão do Ministério da Educação e Cultura
(MEC), sendo a primeira instituição de ensino especializado em surdez no Brasil.
Tem como encargo a produção, o desenvolvimento e a divulgação de conhecimen-
tos científicos e tecnológicos na área da Surdez em todo o território nacional, bem
como subsidiar a Política Nacional de Educação, promover e assegurar o desenvol-
vimento global da pessoa surda, sua plena socialização e o respeito às suas diferen-
ças. O Dia Nacional do Surdo, comemorado no dia 26 de setembro faz referência à
inauguração do INES de acordo com a Lei nº 11.976/2008, fundado em 1957. Sua
matriz está localizada na Rua das Laranjeiras, n0 232, Rio de Janeiro. Fones: (21)
2285-7546, 2285-7949, Fax: (21) 2285-7692. Site: http://www.ines.gov.br/.
3
A surda Maria Aparecida Nascimento Santos aos sete anos foi estudar no INES/RJ,
durante oito anos. Ao completar 15 anos ela terminou a quarta série e foi para São
Paulo e estudou durante oito anos. Depois foi para Recife e ao retornar para Aracaju
ficou dois anos sem desenvolver nenhuma atividade até ser admitida na escola de
surdos (SOUZA, 2010, p. 88).
Edivaldo da S. Costa | Edna M. Santos | Alessandra R. S. Andrade | Rita de C. S. Souza | 13
4
O Centro de Reabilitação “Ninota Garcia” é a primeira escola de Sergipe voltada
à educação sistemática de alunos surdos e a décima do Brasil, entretanto não con-
seguiu realizar o término dos estudos dos surdos aracajuanos. As 12 instituições
para Educação de Surdos fundadas no período de 1857 à 1970 serão mencionadas
a seguir, com suas respectivas datas de fundação e localidade: Imperial Instituto
dos Surdos-Mudos em 1857 no Rio de Janeiro, Instituto Santa Terezinha em 1929
em São Paulo, Instituto Santa Inês em 1947 em Belo Horizonte/MG, Escola Epeta em
1950 em Curitiba/MT, Instituto São Domingos Sávio em 1952 em Recife/PE, Escola
Santa Cecília em 1957 no Rio de Janeiro, Instituto Educacional em 1958 em São Paulo,
Instituto Cearense de Educação de Surdo em 1958 em Fortaleza/CE, Instituto Nossa
Senhora de Lourdes em 1959 no Rio de Janeiro, Instituto D. Conceição em 1960 em
São Paulo, Escola de Surdos Centro de Reabilitação “Ninota Garcia” em 1962 em Ara-
caju/SE (BUENO, 1993; GARCIA FILHO, 1966 apud SOUZA, 2010, p. 151).
5
Antônio Garcia Filho nasceu no dia 27 de maio de 1917, em Rosário do Catete, es-
tudou na Faculdade de Medicina da Bahia no período de 1953 a 1941. Foi um dos
fundadores da Faculdade de Medicina de Sergipe, na qual recebeu título de profes-
sor emérito. Foi secretário da Educação Cultural e Saúde no governo Luiz Garcia.
Publicou vários trabalhos na área médica e no campo da Cultura para jornais (SOU-
ZA, 2010, p. 76).
Edivaldo da S. Costa | Edna M. Santos | Alessandra R. S. Andrade | Rita de C. S. Souza | 15
[...] uma linha reta que simboliza os sãos, uma curva os defi-
cientes recuperáveis e uma linha quebrada os irrecuperáveis
de seus defeitos físicos, porém ajustáveis nas suas potenciali-
dades restantes. As linhas juntas representam o convívio so-
cial tendendo ao equilíbrio perfeito para o ALTO, ou melhor,
para DEUS” (GARCIA FILHO, 1966, apud SOUZA, 2010, p. 70).
A APADA-SE é uma entidade filantrópica que tem como finalidade preparar o aluno
6
7
A FENEIS é uma entidade não-governamental, filiada à Federação Mundial dos Surdos
(World Federation of the Deaf - WFD). Ela possui sua matriz no Rio de Janeiro e filiais
espalhadas por diversos estados brasileiros, tais como, Minas Gerais, Pernambuco, Rio
Grande do Sul, São Paulo, Teófilo Otoni e Distrito Federal. Está sediada na Rua Major
Ávila, 379, Tijuca-Rio de Janeiro CEP: 20511-140. Fone: (21) 2567 – 4800; Fax: (21)
2284 – 7462. Site: http://www.feneis.com.br/ E-mail: celesrj@feneis.org.br
8
O IPAESE é um instituto para surdos, onde é ministrado o curso básico de LIBRAS
no estado, com o objetivo de divulgar e capacitar o maior número de pessoas no
conhecimento dessa língua, para favorecer a inclusão dos surdos em todas as ins-
tâncias da sociedade, principalmente em instituições de ensino fundamental, mé-
dio e superior, além de cursos profissionalizantes. É uma instituição com reconhe-
cimento de Utilidade Pública Municipal na Lei nº 3.125 de 15 de outubro de 2003;
de Utilidade Pública Estadual na Lei nº 4.796 de 05 de maio de 2003 e de Utilidade
Pública Federal na Portaria nº 1.381 de 7 de agosto de 2007.Sua matriz está situada
na Av. Mario Jorge Menezes Vieira, 3172, no bairro Coroa do Meio/Aracaju – SE.
Fax: (79) 3211-0938 / 8121-4050 / 8854-0938. Site: http://www.ipaese.org.br/
20 | REGISTROS HISTORIOGRÁFICOS DA EDUCAÇÃO DOS SURDOS EM ARACAJU E ITABAIANA/SE
9
Disponível no Site: http://www.ipaese.org.br/
10
O CAS/SE também é responsável pela elaboração de apostilas do curso de LIBRAS
e pela capacitação de professores, intérpretes, tradutores de LIBRAS/Português, e
também surdos para serem instrutores. Está situado na Trav. Baltazar de Góis, 86
Edf. 26º andar Centro - Aracaju/SE. Fone: (79)3179-3787. Fax: (79)3179-4170.
E-mails: cas_sergipe@yahoo.com.br e cas.sergipe.brasil@gmail.com.br Blogger:
http://cassergipe.blogspot.com/
Edivaldo da S. Costa | Edna M. Santos | Alessandra R. S. Andrade | Rita de C. S. Souza | 21
Figura 9: Foto da classe especial da Escola de 1º Grau “CAIC Vicente Machado Menezes”.
Fonte: Acervo da sala de recursos multifuncional “Luan Fagundes Domingos” cedido
pela surda Jenyffer Leite da Silva
Edivaldo da S. Costa | Edna M. Santos | Alessandra R. S. Andrade | Rita de C. S. Souza | 23
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Era uma abade francês e professor de surdo. Sua principal obra Fo iCours
1
2
(MENEZES; SANTOS, 2002).
Alda V. S. de Melo | Josevânia T. Guedes | Mônica de G. S. Barbosa | Rita de Cácia S. Souza | 41
3
Termo utilizado por Perlin que remete à questão de necessidade de normalização,
que significa trabalhar o sujeito surdo do ponto de vista do sujeito ouvinte.
4
“O ouvintismo deriva de uma proximidade particular que se dá entre ouvintes e sur-
dos, na qual o ouvinte sempre está em posição de superioridade [...] Academicamente
esta palavra – ouvintismo – designa o estudo do surdo no ponto de vista da deficiên-
cia, da clinicalização e da necessidade de normalização.” (SKLIAR,1998, p59).
Alda V. S. de Melo | Josevânia T. Guedes | Mônica de G. S. Barbosa | Rita de Cácia S. Souza | 45
5
Para Strobel (2008), quando pronunciamos “povo surdo”, estamos nos referindo
aos sujeitos surdos que habitam o mesmo local, mas que estão ligados por uma
origem, por um código ético de formação visual, independente do grau de evolução
linguística, tais como a Língua de Sinais, a cultura surda e quaisquer outros laços.
6
O termo ‘ouvinte’ se refere a todos aqueles que não compartilham as experiências
visuais enquanto surdos.
46 | ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO DE SURDOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
É uma entidade não governamental, filiada à World Federation of the Deaf. Ela pos-
sui sua matriz no Rio de Janeiro e filiais por diversos estados brasileiros.
Alda V. S. de Melo | Josevânia T. Guedes | Mônica de G. S. Barbosa | Rita de Cácia S. Souza | 49
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Rosita Edler. Educação: com os pingos nos “is”. Porto Ale-
gre: Mediação, 2004.
1
Romeu Sassaki elaborou um quadro intitulado “Como Chamar as Pessoas com Defi-
ciência”, que possibilita o entendimento de cada terminologia de acordo com o marco
temporal.
54 | O PROCESSO DE INCLUSÃO ESCOLAR DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
corte, iam trabalhar em circos ou viviam nas ruas como pedintes. Al-
guns pais escondiam os filhos em cavernas e os criavam sem que a
sociedade tomasse conhecimento de sua existência. Já em Esparta, só
deveriam sobreviver os fortes e perfeitos para servir ao exército; os
que não atendiam a esses critérios deveriam ser executados.
para o aluno com deficiência, mas desafiá-lo, estimulá-lo, para que ele
mesmo encontre as soluções para seus próprios problemas. Portanto,
para que o aluno com deficiência seja esse sujeito ativo na construção
do próprio conhecimento, é necessário que vivencie condições e situa-
ções nas quais ele possa exercitar sua capacidade de pensar, comparar,
formular e testar ele mesmo suas hipóteses, relacionando conteúdos
e conceitos. Segundo o autor, para que isso aconteça, necessitará de
uma mediação instrumental buscando ‘rotas alternativas’ para a cons-
trução de conhecimentos, e encontra na Tecnologia Assistiva, um forte
aliado, neste processo.
As escolas quando recebem alunos com deficiência, altas habili-
dades ou com graves déficits educacionais, querem que os mesmos se
adaptem e aprendam como os alunos que não têm limitações, e aca-
bam não viabilizando as ações necessárias para que estes educandos
avancem no processo de aprendizagem. Desta forma tornam-se pas-
sivos, continuam dependentes, sem liberdade, tornando-se submis-
sos ao paradigma educacional que deveria ser inclusivo, porém acaba
tornando-se excludente. Muitos profissionais não apostam no poten-
cial destes alunos, por não acreditarem que possam aprender de forma
efetiva, tomar as suas próprias decisões e acabam subestimando a in-
teligência dos mesmos. E, para muitos educadores, a educação inclusi-
va serve apenas para a socialização do indivíduo. Socialização no senti-
do de brincar e fazer amizades. No entanto, a escola deve ser espaço de
aprendizagem para todo e qualquer aluno, independentemente de ter
alguma limitação. E de socialização, mas no sentido de compartilhar
experiências, modos de vida e culturas diferenciadas.
Stainback e Stainback (1999) ressaltam, que o objetivo da inclusão
não é o de apagar as diferenças, mas o de que todos os alunos perten-
çam a uma comunidade educacional que valide e valorize sua indivi-
dualidade. Dando-lhes autonomia e oportunidades para se reunirem,
formar amigos, gerar parcerias entre os grupos e aprender a assumir
a sua própria educação. Estes autores chamam à atenção para a ne-
cessidade da implantação de equipes de apoio para auxiliar alunos e
professores em escolas inclusivas. Estas equipes de apoio têm como
função debater, resolver problemas e trocar idéias, métodos, técnicas
Josilene Souza Lima Barbosa | Rita de Cácia Santos Souza | 65
REFERÊNCIAS
1
Escolhemos usar no nosso texto o termo Surdo com letra inicial maiúscula para repre-
sentar os alunos como sujeitos culturais e políticos.
72 | EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO
2
A educação inclusiva melhora a qualidade do ensino para todos, atua como impul-
sionadora das práticas educacionais nas escolas, desafiando os professores a de-
senvolverem novas metodologias para a participação ativa que beneficia todos os
alunos. (ALVES, 2006, p. 10)
Edna Maria dos Santos | Alessandra R. dos Santos Andrade | Edivaldo da Silva Costa | 73
3
A implantação dessa modalidade de ensino em Itabaiana veio através de projeto
complementar do então secretário de Educação do Estado de Sergipe (no governo
de Albano do Prado Franco), que seguia a Lei Darcy Ribeiro (LDB nº 9394/96) em
seu capítulo V, que trata da Educação Especial em seus três artigos (58, 59, 60)
como forma de garantir a educação para todos. E a escolha dessa escola (pioneira
nesse atendimento) na cidade, deu-se junto à DRE’03 e a diretora da escola Maria
Izabel Santana, impulsionados pelo espaço e estrutura física. (SANTOS, 2003 – His-
tórico da Educação Especial da escola).
4
Projeto: “Surdos X ouvintes e as dificuldades de relacionamento dos alunos do CAIC
Vicente Machado Menezes”. De início, a professora comunicou à direção da escola o
que pretendia fazer e, mesmo sentindo certa resistência por parte desta, realizou -
o. (SANTOS, 2008)
74 | EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO
5
Casa confeccionada (construída) com caixas de leite e suco (material reutilizado da
merenda escolar) – inaugurada em outubro de 2001.
76 | EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO
6
As três turmas eram organizadas segundo os Níveis de Aprendizagem (faixa etá-
ria do alunado) nas diferentes modalidades de ensino – no caso da escola: ensino
fundamental, conforme organização e estrutura de funcionamento e atendimento
exposto nas – Diretrizes da Política Estadual da Educação Especial de Sergipe (Ara-
caju, 2000). Observação: A aplicação destes níveis visava apenas atender aos alunos
seguindo os critérios de ensino, pois a faixa etária da maioria dos alunos inclusos
nos três ciclos era acima de 12 anos de idade.
78 | EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO
7
§ 1º Considera-se Atendimento Educacional Especializado (AEE) o conjunto de ati-
vidades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente,
prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino
regular; - § 2º O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta
pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articu-
lação com as demais políticas públicas. (Decreto nº 6.571/2008)
Edna Maria dos Santos | Alessandra R. dos Santos Andrade | Edivaldo da Silva Costa | 79
Foto 1: Edna Maria dos Santos – Apresentação dos cartazes produzidos (Acervo da
Sala de Recursos da Escola Estadual Vicente Machado Menezes) Itabaiana – SE/2008
fessores não sabiam como se comunicar com eles, as aulas não eram
atrativas; tampouco havia a presença do intérprete da Libras na sala
para lhes dar suporte. Só podiam contar com o apoio das professoras
da sala de recursos em algumas situações.
Carvalho (2004) enfatiza que não basta colocar as pessoas com de-
ficiência em classes regulares; faz-se necessário assegurar-lhes garan-
tias e práticas pedagógicas que rompam as barreiras de aprendizagem
a fim de não se fazer uma educação excludente.
É importante ressaltar que é através da língua de sinais (LIBRAS)
que os alunos surdos podem receber uma educação equivalente àque-
la dada aos estudantes ouvintes, podendo eles, no entanto, receber
uma instrução adequada na língua escrita da sociedade e com isso de-
senvolver o bilinguismo funcional. Como relata Ferreira Brito (apud
QUADROS, 1997, p.37):
[...] Se, por um lado, sabemos que grande parte dos professo-
res do ensino regular não possui preparo mínimo para traba-
lhar com crianças que apresentam necessidades educativas
especiais, por outro lado, observamos que a formação dos pro-
fessores para o ensino especial está centralizada, quase que
exclusivamente, nas dificuldades específicas do alunado a que
atende, sem uma compreensão aprofundada do processo pe-
dagógico de forma ampla e abrangente. (BUENO, 2001, p. 78)
8
A presença do intérprete no âmbito educacional representa uma conquista inigua-
lável em todo o processo dos movimentos sociais do surdo, hoje já reconhecido
através da Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010, que regulamenta a profissão
de tradutor e intérprete da Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS.
Edna Maria dos Santos | Alessandra R. dos Santos Andrade | Edivaldo da Silva Costa | 85
9
Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso nor-
mal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Edu-
cação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais
da educação para o exercício do magistério. (Decreto 5.626/2005, § 1º)
86 | EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO
O movimento Surdo tem sido caracterizado como local de gestação da política de iden-
11
tidade surda contra a coesão ouvinte, através de lutas que objetivam, entre outras coi-
sas, questionar a natureza ideológica das experiências surdas e descobre interconexões
entre essa comunidade cultural e o contexto social, em geral. (PERLIN, 1998).
88 | EDUCAÇÃO DE SURDOS EM QUESTÃO
balho, ao bem-estar de todos. É nela que são gestados os movimentos surdos (ca-
racterizados pela resistência surda ao ouvintismo, à ideologia ouvinte). É por meio
dela que os surdos atuam politicamente para terem seus direitos linguísticos e de
cidadania reconhecidos, como destaca Felipe (2001).
Edna Maria dos Santos | Alessandra R. dos Santos Andrade | Edivaldo da Silva Costa | 89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva com os Pingos nos Is. Porto
Alegre, Mediação, 2004.
______. Inclusão escolar: o que é? Por quê? Como fazer? São Paulo: Mo-
derna, 2006.
Que fazer então, para que o sujeito surdo adentre o mundo le-
trado quando ainda não conseguimos alfabetizá-lo em sua própria
língua, a de sinais? A respeito desse questionamento, Quadros (2006,
p. 33) afirma que “Os surdos não são letrados na sua língua quando
se deparam com o português escrito. A escrita passa a ter uma repre-
sentação na língua portuguesa ao ser mediada por uma língua que
haja significação”.
A autora nos esclarece que, sem a compreensão do significado das
palavras em língua de sinais, não há como representá-la na língua por-
tuguesa. Como se desenvolve os processos de alfabetização /letramen-
to numa escola inclusiva?
Filosofias educacionais
Oralismo Comunicação total Bilinguismo
Integra o surdo à co- Amplia a compreensão Expor o sujeito surdo à
munidade geral, ensi- sobre o sujeito surdo e língua de sinais como pri-
O b j e t i v o nando a língua oral de surdez, priorizando a meira língua e a língua de
principal seu país. comunicação, visando seu país como segunda
aproximar e facilitar língua, para que o mesmo
a comunicação entre se desenvolva linguística
sujeito surdo e família e cognitivamente sem di-
ouvinte. ficuldades.
Soraya Cristina Pacheco de Meneses | Ronaldo Nunes Linhares | Rita de Cácia Santos Souza | 109
Então, a escola deve estar atenta para atender a todos e a cada um,
dentro das suas necessidades e perspectivas educacionais, para que o
sujeito surdo possa se apropriar de uma aprendizagem significativa,
por meio da língua que domine, seja ela a libras, ou a língua portu-
guesa. E a escola bilíngue no momento é a melhor opção.
Giordan (2005, p.60) afirma que,... “é pela mediação da oralidade e
da escrita que ocorre não apenas a maioria, mas também as principais
e mais significativas ações humanas”.
Então, tomando por base essa centralidade da linguagem verbal
nas ações humanas, questiono como o sujeito surdo, não dominante
dessa oralidade, pode se posicionar como ser social, como pode se
apropriar dessa cultura oral, se não forem disponibilizadas a eles, con-
dições de acesso a uma forma de comunicação própria, no caso, por
meio da língua de sinais, aliado a outras formas comunicacionais.
Hoje vivenciamos a era da comunicação e da informação sob o im-
pério da cultura audiovisual. Através de meios altamente desenvolvi-
dos de transmissão de imagens e sons, que trouxe benefícios através
de uma linguagem comunicacional visual abrangente, e facilitou à pes-
soa com surdez um contato maior com processo de escrita, oferecendo
algumas condições essenciais para que a pessoa surda se apodere das
competências e habilidades exigidas na nova perspectiva de mercado
de trabalho, como também melhoria na qualidade de sua comunicação
escrita e, por conseguinte, sua inclusão social.
Soraya Cristina Pacheco de Meneses | Ronaldo Nunes Linhares | Rita de Cácia Santos Souza | 113
REFERÊNCIAS
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/
resultados_preliminares_amostra/default_resultados_preliminares_
amostra.shtmAcesso em 25 de março de 2012.
http://www.ip.usp.br/lance/reportagens/revista_espaco_aberto_edi-
tora_paulus.pdf em 03/05/2012.
QUADROS, Ronice Muller de; Schmiedt, Magali. Idéias para ensinar por-
tuguês para surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.
SÁ, Simone Pereira de. Netnografia nas redes digitais. Trabalho apre-
sentado ao Grupo de Trabalho Tecnologias Informacionais de Comuni-
cação e Sociedade, X Compós, UnB, Brasília, 2001.
SACKS, Oliver. Vendo Vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. Trad.
Laura Teixeira Mota. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
1
Oralismo utiliza a língua oral ou falada; comunicação total utiliza a leitura labial,
gestos, oralização, leitura e escrita; bilinguismo utiliza duas línguas no dia a dia: a
Língua Portuguesa e a Língua de Sinais.
118 | SURDEZ E ENSINO SUPERIOR
UNESCO. Declaração Mundial sobre Educação para Todos: satisfação das neces-
2
como língua do surdo, sendo o seu uso previsto, inclusive, nas políticas
educacionais. Em 2005, foi publicado o Decreto 5.626, que regulamen-
ta a lei, e em seu artigo 3 aponta que a Libras deve ser implantada no
currículo como disciplina obrigatória nos cursos de formação de pro-
fessores e nos cursos de Fonoaudiologia. O decreto também dispõe
sobre a formação do professor de Libras e do instrutor.
3
Média dos limiares tonais em 5000, 1.000 e 2.000 Hz.
124 | SURDEZ E ENSINO SUPERIOR
4
Foram observadas e acompanhadas duas disciplinas – Cálculo II e Lógica para Com-
putação.
5
Um professor que ministra a disciplina Cálculo II, que chamaremos de A e o outro
ministra Lógica para Computação, o qual chamaremos de B.
126 | SURDEZ E ENSINO SUPERIOR
ção, disse que trocou algumas palavras, mas que o importante é o con-
texto, uma vez que “[...] os professores compreenderam, parece que os
professores na hora de corrigir tiveram que respeitar a gramática, como
a leitura, então os professores entenderam que era surda e compreende-
ram [...]. Para ela, foi importante essa compreensão por parte dos pro-
fessores, percebendo sua deficiência; corrigiram a prova entendendo
sua diferença linguística.
Segundo Goffredo (2004), para atender às necessidades educacionais
especiais dos jovens surdos, o primeiro passo é assegurar seu ingresso na
universidade por meio do vestibular. Mas isso não garante que a inclusão
se concretize. Vencida a barreira do ingresso, o próximo desafio é a per-
manência no curso, que depende muito da mediação do intérprete.
O principal sentimento refletido pelos professores ao saberem,
no primeiro dia de aula, que teriam uma aluna surda foi a inquietude
da comunicação. Neste ínterim, a comunicação é o principal caminho
para a aprendizagem. O caminho para se estabelecer comunicação é a
reflexão. Só o professor que, de fato, reflete pode pensar numa melhor
maneira de se comunicar com o seu aluno para que este possa apren-
der. Só o professor que reflete pode aliar seus saberes para proporcio-
nar uma melhor educação (MIRANDA e MIRANDA, 2011).
O professor A afirma: “Eu senti que ia ser complicado porque não
saberia como me reportar diante da situação, como por exemplo, me
comunicar.” Ele comunica-se com a aluna por meio da intérprete ou,
quando esta não está presente, através da comunicação total: “[...]
quando está a tradutora, é óbvio que [...], mas quando está só a gente,
basicamente escrita e uso de gestos”.
No entanto, de acordo com esse professor, é difícil a comunicação
entre ele e sua aluna, pois ele não sabe Libras: “não dá porque como eu
vou explicar matemática se eu não sei sinais, não dá”.
O professor B, sobre isso, esclareceu que seria uma experiência
interessante, mais um desafio, mas que também se preocupava com
relação à comunicação em sala de aula, pois não sabia a Libras. Ele
também se comunica com a aluna através da comunicação total.
Para esse professor, não há dificuldades em incluir a aluna em suas
aulas; somente “seria problemático se tivessem outros alunos. Somente ela
128 | SURDEZ E ENSINO SUPERIOR
não atrapalha, de jeito nenhum. Até porque tem outros alunos na sala e eles
também interrompem a aula, é normal, não atrapalha”. Diz ainda: “tem que
parar um pouco a aula de vez em quando. Mas como falei, isso não vejo pro-
blema nenhum. O que é difícil é quando tem a inserção de um novo termo
técnico, mas aí fica de difícil compreensão. Não vejo problemas.”
Contudo, o professor A sente bastante dificuldade em incluir a es-
tudante, pois não sabe Libras. Nunca sentiu necessidade e nunca havia
pensado sobre esse processo de inclusão; no entanto, a partir dessa
experiência, ele afirma: “[...] se eu soubesse de algum curso, que fosse
acessível e desse pra fazer eu faria, pensando nisso, porque foi difícil o
período, foi difícil porque eu não sei o que fazer. Eu entendo a dificuldade
dela, mas eu não posso ajudar muito”.
O professor não precisa necessariamente saber Libras, mas deve
saber como esta funciona e quais as dificuldades do aluno surdo com
relação à Língua Portuguesa. Por outro lado, o intérprete deve domi-
nar a área ou os conteúdos da disciplina.
Só o conhecimento da Libras não é suficiente para um processo de
ensino - aprendizagem completo. E os surdos são capazes de aprender
matemática, mas de maneira diferente da dos ouvintes, já que eles são
de uma cultura diferente, têm uma identidade diferente e, portanto,
aprendem de modo diferente (MIRANDA e MIRANDA, 2011).
A intérprete, quando indagada sobre sua dificuldade no local de
trabalho respondeu que era: “a metodologia de ensino dos professores.
A maioria não tem conhecimento que existe um aluno surdo na sala de
aula e não faz questão sequer de procurar nem o aluno e muito menos
com o intérprete”. Normalmente, os professores sabem da existência
do aluno surdo na sua turma no primeiro dia de aula. Não existe uma
preparação para o ingresso desse aluno.
Para Martins (2006), o intérprete de língua de sinais deve ser ca-
paz de perceber as dificuldades do aluno surdo e de descobrir cami-
nhos e métodos para atenuá-las. Deve ser uma ponte entre o aluno, o
professor e o conhecimento que ajude a superar a diferença linguística
na interação comunicativa.
A aluna P, sobre sua experiência na instituição, comentou que no
início foi difícil. Mas que
Priscila Dantas Fernandes | Verônica dos Reis Mariano Souza | 129
Isso não tem nada a ver com o fato da pessoa ser deficiente.
Cálculo é difícil para todos, se é difícil para um, é difícil para
o surdo, se é fácil para outro é fácil para o surdo. Não sei por
que seria mais difícil para eles. Mas isso é preconceito com as
Ciências Exatas. A Matemática está num nível de abstração que
as pessoas “normais” não conseguem entender, olhando por
esse lado, podemos dizer que a Matemática é difícil.
Com relação aos alunos ouvintes, Cagliari (2010) afirma que mui-
tas vezes o educando tem dificuldade em matemática não porque não
sabe matemática, mas porque não sabe ler o enunciado do problema. É
preciso também saber ler o português que a matemática usa.
No que se refere à interpretação nessa área, o professor B afirmou
que ajudaria se a intérprete tivesse um conhecimento maior, pois há
muitos termos técnicos que a intérprete não sabe repassar para a alu-
na. A própria intérprete confirma a posição do professor, expondo que
“o correto seria que cada intérprete interpretasse sua área de formação.
[...] Na verdade, disciplinas matemáticas não têm o que interpretar, é
tudo visual [...]”.
Essa frase exemplifica a realidade enfrentada por muitos intérpre-
tes em nosso país, pois alguns conceitos matemáticos ainda não têm
sinais específicos, e quando os têm, não são conhecidos por grande
parte da comunidade surda, o que compromete o aprendizado de mui-
tos conceitos matemáticos. (COSTA e MAGALHÃES, 2011)
No quesito avaliação, todos os professores declararam que a aluna
não teve dificuldades na realização das provas, apesar de ter obtido
nota baixa na primeira avaliação da disciplina de Cálculo II. Os profes-
sores afirmam que ela precisa estudar mais, pois deixa para fazê-lo de
última hora; é desorganizada; em contrapartida é muito inteligente.
As pessoas subestimam muito os surdos; acham que eles não têm
capacidade. Podemos notar isso nas notas da aluna P, que numa das
provas de Lógica para Computação conseguiu fazer e alcançou 5,0
(cinco), enquanto que os colegas ouvintes obtiveram dois; dois e meio;
132 | SURDEZ E ENSINO SUPERIOR
Professor B:
[...] uma coisa que sempre prezei foi a questão do respeito [...]
Aqui eu não vejo essa preocupação. Se chega um surdo perto
de mim, você não se atenta que ele chegou e continua conver-
sando em Português. A gente, por mais que esteja trabalhando
na área, a gente nunca tem essa preocupação com os surdos e
eles observam isso, essa dificuldade, esse respeito, essa coisa
de tá falando mal, eles sabem quando a pessoa tá falando mal
deles, eles percebem na hora.
134 | SURDEZ E ENSINO SUPERIOR
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1
Denominação utilizada para designar a língua de um falante não nativo.
Mônica de Gois Silva Barbosa | 141
2
Denominação utilizada para designar a língua de um falante não nativo.
144 | ANÁLISE DA PRODUÇÃO ESCRITA DOS SURDOS
renciações. Por isso, nas etapas iniciais a sua escrita estará muito mais
marcada pelas características da língua de sinais, enquanto que nas
etapas finais desse processo, mesmo com particularidades, ela estará
mais próxima do português, sua segunda língua. Isso foi comprovado
pelas pesquisas realizadas por Brocado (2003, p. 308) demonstrando
os estágios de interlíngua em crianças surdas.
Segundo ela, no estágio de interlíngua I, observa-se o emprego
predominante de estratégias de transferência da língua de sinais (L1)
para a escrita da Língua Portuguesa (L2). Já no estágio de interlíngua
II, segundo o autor, constata-se na escrita de alguns alunos uma inten-
sa mistura das duas línguas, em que se observa o emprego de estrutu-
ras linguísticas da Língua de Sinais Brasileira e o uso indiscriminado
de elementos da Língua Portuguesa, na tentativa de apropriar-se da
língua alvo. No terceiro estágio de interlíngua, há o emprego predomi-
nante da gramática da Língua Portuguesa em todos os níveis, princi-
palmente, no sintático. Definindo-se pelo aparecimento de um número
maior de frases na ordem Sujeito-Verbo-Objeto e de estruturas com-
plexas.
Diante dessas particularidades da interlíngua, o primeiro contato
com um texto escrito por um surdo é algo desconcertante para o ou-
vinte. Isso acontece pelo fato de o ouvinte não conhecer a realidade
do surdo e desconhecer que a produção escrita em Língua Portuguesa
trata-se de segunda língua. (SALLES, 2004, p. 118). Daí a importância
de conhecermos as características da LIBRAS para compreender as
implicações dessa língua na aprendizagem escrita do português.
Primeiramente, deve-se ressaltar que, como qualquer outra língua,
a LIBRAS apresenta suas características gramaticais próprias, diferen-
ciando-se, portanto, da estrutura da Língua Portuguesa. A respeito dis-
so comenta Felipe (2005, p.21):
ASPECTOS FONOLÓGICOS
No que se refere aos aspectos fonológicos, a Língua Portuguesa tem
como unidade mínima o som (fonema). Na LIBRAS a articulação das
mãos são comparadas aos fonemas. Essas articulações são denomina-
das de parâmetros, que são: configurações de mãos - a forma da mão;
ponto de articulação – o lugar onde se posiciona a mão; movimento –
os sinais podem ter ou não; orientação – a direção do sinal; expressão
facial/corporal – muitos sinais necessitam de expressões feitas pelo
rosto/ou corpo. Assim, a partir da combinação destes parâmetros são
formados os sinais que são as palavras.
Em relação às expressões faciais e corporais, que se refere ao quinto
parâmetro da LIBRAS, na língua oral também há ocorrências de tais re-
cursos que não estão presentes na escrita. Sobre isso, Carvalho afirma:
ASPECTOS MORFOLÓGICOS
ASPECTOS SINTÁTICOS
TEXTO
por favo Troca uma Porta novo de Banheiro. As pessoal não Poder
(ocupado) conversamos Os homens esta vassoura vareto chão mais
Ele ter Paciência não fica raiva porque pessoa já Ter paciência mais
Ele ter muito de vergonha não poder. Eu ver uma carrinho muito de
coisa ter Pessoas não quero compra porque ter tudo coisa esta velho
Ter trocar outro novo Só mais Na Rua Ter muitos carrinhos deixou
Rua porque os homens não quero trabalho preguiça de quer Os ho-
mens esta muito de ódio também nervoso esta ver ter um Amiga dele
só fica esperar quer?
O homem esta trabalho certo. Ele gosta muito carrinho onde fica
guardar. Ele Ela trabalhar outro fazer Papel de presente. Mais ter tra-
balho certo porque Eles Elas falar Ela não quero Ajuda outro Amiga
também
Eu não gosto de trabalho de G. Barbosa mais Pessõa gosta fazer
mal outro Eu nunca fazer amiga dela só fica nada. Nós ter fica certo
não pode raiva outro Amiga. Eu ver ter muito de confusão tudo
Eu ver ter água chão cuidado caí
1. ASPECTOS FONOLÓGICOS
Ortografia: Confusão entre a posição de algumas letras no vocá-
bulo
não damo nada
Porta de Banheiro quebrar esta muito de feito: compreende-se
que a aluna queria dizer porta feia.
Só Monia: apagamento da letra c da palavra Mônica
Eu ter muito Cetasa: palavra correta certeza
por favo Troca...: esquecimento da letra r
Os homens esta vassoura vareto chão: palavra varrendo
Nota-se também, durante todo o texto, o uso inadequado de letras
maiúsculas ou a sua falta após a pontuação:
Banheiro. nossa fala está Pior
150 | ANÁLISE DA PRODUÇÃO ESCRITA DOS SURDOS
ASPECTOS MORFOLÓGICOS
Elementos de Ligação:
Ausência de conjunção “que” e preposição “no”: Eu ver ter água
chão (Subtende-se: eu vejo que tem água no chão)
ASPECTOS SINTÁTICOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da análise feita, observa-se que a escrita dos surdos não segue
as mesmas construções dos ouvintes devido à interferência da LIBRAS
que é a língua materna da comunidade surda. Tais singularidades são
comuns a um aprendiz de segunda língua. Por outro lado, percebe-se
que alguns erros são comuns também a falantes da Língua Portuguesa,
em que são refletidos a influência da variante oral na escrita.
Constata-se também a falta de domínio das estruturas sintáticas da
Língua Portuguesa, a ausência de concordância básica, o desconheci-
mento de palavras do cotidiano. Há também a omissão de preposições
e conectivos ou o uso inadequado e uma grande quantidade de verbos
no infinitivo ou flexões impróprias. Essas dificuldades acarretam a fal-
ta de entendimento por parte do leitor, mas verifica-se que há sentido
na escrita e coerência no desenvolvimento das informações do texto,
Mônica de Gois Silva Barbosa | 153
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Maria Leonia Garcia Costa. Relação entre língua falada, lín-
gua escrita e ensino. In.: BEZERRA, Antonio Ponciano, PEDROSA, Cleide
Emilia Faye. Lingua Cultura e Ensino: Multidisciplinaridade em letras. São
Cristóvão: Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira, 2008.
154 | ANÁLISE DA PRODUÇÃO ESCRITA DOS SURDOS
Cabe ressaltar que o aluno surdo tem direito aos serviços de in-
térprete que é um profissional com formação em Libras e conhecedor
da Língua Portuguesa cuja função e intermediar a comunicação entre
surdo e ouvinte ou vice versa e sua presença é reconhecida por lei em
todas as repartições públicas e prioritariamente nas escolas.
“É o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do
país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete [...]
o profissional intérprete também deve ter formação específica na área
de sua atuação (por exemplo, a área da educação)”. (QUADROS, 2005,
p. 28).
A língua de sinais possibilita a comunicação da pessoa surda com
os ouvintes, mas a grande dificuldade é a falta de profissional na área
de tradução e interpretação de libras. Segundo Quadros (2005), os
surdos se prejudicam em atividades sociais, educacionais, culturais e
politicas. Dessa forma, percebe-se o quanto é importante à difusão da
língua de sinais.
A língua é a principal marca de identidade de uma comunidade ou
de uma nação. Quando se trata de surdo, eles dividem o mesmo espaço
e mesmo costumes dos ouvintes, além de possuírem sua língua mater-
na a LIBRAS e se enquadrarem numa cultura essencialmente visual,
adquirindo, assim, uma identidade multicultural, e necessitam apren-
der o português escrito como forma de socializarem sua participação
junto aos ouvintes.
Iranilde dos Santos Rocha Souza | Rita de Cácia Santos Souza | 161
ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO
CONSIDERAÇOES FINAIS
REFERÊNCIAS
1
Primeira língua – Língua materna.
180 | EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
Fonte: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade1/libras_
mito.htm
184 | EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
Figura 2: (a) 1ASK2 ‘I ask you’ (1PERGUNTAR2 – ‘Eu pergunto para você’) (b) jASK1
‘S/he asks me’ (jPERGUNTAR1 – ‘El@ pergunta para mim’) in (QUADROS; PIZZIO;
REZENDE, 2009, p.30).
186 | EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
NUMERAIS
Quadro 3 – Numerais
Fonte: http://rcolacique.wordpress.com/2010/02/20/numerais/
190 | EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSIVA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacao Especifica/linguaBrasilei-
raDeSinaisIII/assets/263/TEXTO_BASE_-_DEFINITIVO_-_
2010.pdf. Acesso em 15 abr. 2013.
DVDs interativos
Aulas temáticas - Este programa destina-se ao ensino de pala-
vras em Libras. Não envolve palavras da língua portuguesa. Abrange
diversos temas como: frutas, profissões, animais, cidade, utensílios
domésticos, cores, verbos, família dentre outros. Não utiliza anima-
ções 2D, que podem demonstrar sinais distorcidos.
Dicionário de libras
Você escolhe uma palavra e procura pela inicial o seu significado,
a demonstração em vídeo, exemplos de uso dessa palavra, a classe gra-
matical e o sinal feito com a mão.
tro, e é capaz de “ler” os sinais feitos pela mão que a usa e convertê-los
em sons, facilitando a comunicação das pessoas com deficiência audi-
tiva com aqueles que não sabem Libras.
O Facebook (FB) é uma rede social que foi lançada no ano de 2004,
por Mark Zuckerberg, tendo como objetivo principal criar uma rápida
comunicação entre os estudantes da Harvard que estavam cadastrados
no sistema. Porém, o crescimento do Facebook fez com que os cria-
dores expandissem o acesso para outras universidades americanas, a
214 | ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA A PESSOA COM SURDEZ
partir daí, a rede social não parou de crescer e hoje conta com aproxi-
madamente 800 milhões de usuários cadastrados.
A posição do FB é de que as pessoas desejam compartilhar mais,
e que a empresa está fornecendo a plataforma de que precisam para
isso. O executivo-chefe Mark Zuckerberg afirmou, em um post no blog
da empresa: “Nós facilitamos as coisas para que as pessoas se sintam
confortáveis ao compartilhar coisas sobre suas vidas reais”.
Como empresa de capital fechado cujo foco é criar tecnologia, ado-
tou a postura de que, quanto mais serviços oferecer, mais atrairá usu-
ários. Quanto mais tempo as pessoas passarem em seu site e quanto
mais informações compartilharem sobre si mesmas, mais fácil será
para as empresas em direcionar sua publicidade. Quanto mais usuá-
rios o Facebook atrair, mais pessoas verão os anúncios, e maior será o
faturamento publicitário.
Baseados nas informações obtidas no site www.ufsm.br/rede-
vistadireito, o Facebook afirma que, ao desenvolver anúncios dire-
cionados, não compartilha dados dos usuários com os anunciantes. Os
endereços de e-mail e nomes de anunciantes são codificados e depois
analisados de forma anônima. Os usuários podem optar por não rece-
ber anúncios de determinadas marcas em suas páginas, e podem optar
por não receber quaisquer mensagens direcionadas recorrendo aos
sites das empresas parceiras no programa de publicidade direcionada.
A compilação dos dados coletados cria um perfil do usuário, para
os quais são enviadas as propagandas exploradas pelas redes sociais.
Ou seja, as informações são utilizadas como “moeda de troca” por par-
te da rede social que oferta a informação dos usuários para empresas,
com interesse em divulgar seus serviços/produtos e as mesmas dire-
cionam sua publicidade pelo site com o uso das informações presta-
das pelos usuários. Dessa forma estas empresas conseguem ofertar ao
mercado de publicidade um serviço diferenciado trazendo para si o
lucro. Agora trago alguns dados estatísticos sobre o Facebook no Brasil
e em Sergipe.
Ana Paula Andrade de Melo | Tálita Cavalcanti Pergentino dos Anjos | 215
Feed de Notícias
No Feed de Notícias é possível acompanhar as atualizações de cada
um dos seus amigos da rede social.
216 | ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA A PESSOA COM SURDEZ
Mensagens
A “página de recados” do Facebook. A opção se desdobra em Atua-
lizações e Enviadas. Na primeira, é possível acompanhar as respostas
dos seus amigos, e a segunda, permite listar todas as mensagens já en-
viadas por você. Ao clicar numa mensagem qualquer, é possível carre-
gar uma nova interface, com a conversa na íntegra, com suas mensa-
gens e as do contato exibidas em ordem.
Eventos
Evento desdobra-se em outras opções: Eventos de amigos, Aniver-
sários e Eventos anteriores.
Amigos
Na opção Amigos, além de visualizar todos os amigos do seu Perfil,
você pode informar outros endereços de e-mail válidos, para que o sis-
tema procure por novos possíveis amigos. Adicionalmente o Facebook
lista uma série de pessoas com interesses semelhantes ou que tenham
amigos em comum com você. Adicioná-los ou não é uma escolha sua.
Fotos
É a área onde os álbuns de todos os seus amigos ficam disponíveis
para apreciação. Em Álbuns recentes podemos ver aqueles que rece-
beram aquisições nos últimos dias. Exibidos em ordem de atualização,
permitem que você deixe comentário nas imagens que mais gostou. Há
também a categoria Vídeos, com arquivos multimídia gravados pelos
próprios contatos, ou encontrados pela rede.
Links
Podem ser postados links de quaisquer sites, além de poder com-
partilhar com seus contatos.
Grupos
Podem ser criados por você para reunir os amigos ou interessados
em algum assunto, por exemplo.
Ana Paula Andrade de Melo | Tálita Cavalcanti Pergentino dos Anjos | 217
Jogos
Uma lista das pessoas que fazem uso dos chamados Social Games
está em destaque, com os jogos destacados em azul e link direto para
os mesmos.
REFERÊNCIAS
CAPRA, Fritjof. Vivendo Redes. In: Duarte, Fábio; Quandt, Carlos; Souza,
Queila. O Tempo Das Redes. Editora Perspectiva S/A, 2008. P. 21/23.
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/
resultados_preliminares_amostra/default_resultados_preliminares_
amostra.shtmAcesso em 25 de março de 2012.
http://www.ip.usp.br/lance/reportagens/revista_espaco_aberto_edi-
tora_paulus.pdf em 03/05/2012
http://www.noticiasemoda.com.br/facebook-login-www-facebook-
-com.html Acesso em 04/05/2011
http://www1.folha.uol.com.br/tec/1252590-o-facebook-pode-sa-
ber-ate-sobre-aquilo-que-voce-nao-compartilha.shtml . acesso em
04/04/2013.
http://www.noticiasemoda.com.br/facebook-login-www-facebook-
-com.html) . Acesso em 04/04/2013.
http://www.socialbakers.com/facebook-statistics/brazil. Acesso em
04/04/2013.
http://www1.folha.uol.com.br/tec/1252590-o-facebook-pode-sa-
ber-ate-sobre-aquilo-que-voce-nao-compartilha.shtml. Acesso em
04/04/2013.
http://oglobo.globo.com/megazine/pesquisa-79-dos-jovens-que-
-usam-internet-no-brasil-sao-membros-do-facebook-4473320Acesso
em 15/04/2013.
http://www.pontosdevista.com.pt/index.php?option=com_conte
nt&view=article&id=3585:oculos-inovadores-com-legendas-para-
-surdos&catid=65:tecnologia.Acesso em 17/01/2013
220 | ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA A PESSOA COM SURDEZ
http://www.bhlegal.net/blog/ve-libras-software-livre-traduz-fala-e-
-escrita-para-a-lingua-de-sinais/
A PROPEX e o PIBITE
1
O termo “surdo” é vago, ou melhor, é tão abrangente que nos impede de levar em
conta os graus de surdez imensamente variados, graus que têm uma importância
qualitativa e mesmo “existencial” (SACKS, 2010, p. 17)
224 | WEBSITE LIBRAS MATEMÁTICA
O intérprete tem tido uma importância valiosa nas interações entre surdos e
2
ouvintes. Na maioria dos casos, os intérpretes têm contato com a língua de sinais a
partir dos laços familiares e da convivência social, vizinhos e amigos surdos (ocor-
rendo geralmente em espaços escolares e religiosos) (GESSER, 2009, p. 47).
Enio Gomes Araujo | 225
da questão pelo surdo. Poderá usar o sinal “Capital”, que para o surdo
pode ser compreendido como o termo “cidade”, e “Iniciar”, que o surdo
pode interpretar como “Começar”. O surdo interpretará: “Cidade co-
meçar”! Não terá nenhum sentido para a compreensão da matemática.
Assim, Quadros (1997, p. 33) afirma que “de fato, é muito complicado
pensar em educação de surdos sem sequer ter como prioridade o do-
mínio da língua de sinais. Estende-se essa dificuldade a todos os pro-
fissionais que atuam diretamente na área da surdez”.
É interessante também, e necessário para a aprendizagem do sur-
do, que ele tenha a sua língua primeira, a Libras3, de forma fluente. “É
óbvio que a linguagem é pré-requisito para se construir um processo
educacional e, talvez, por essa razão, os profissionais continuem discu-
tindo sobre língua de sinais e línguas orais (QUADROS, 1997, p. 110)”.
3
A Libras é adquirida pelos surdos brasileiros de forma natural mediante contato
com sinalizadores, sem ser ensinada, consequentemente [...] e deve ser sua primei-
ra língua. A aquisição dessa língua precisa ser assegurada para realizar um trabalho
sistemático com a L2, considerando a realidade do ensino formal. A necessidade
formal do ensino da língua portuguesa evidencia que essa língua é, por excelência,
uma segunda língua para a pessoa surda (QUADROS, 1997, p. 84).
Enio Gomes Araujo | 227
Figura 1
Fonte: http://www.libras.ufsc.br
2. O projeto
4
HTML (abreviação para a expressão inglesa Hyper Text Markup Language, que sig-
nifica Linguagem de Marcação de Hipertexto). É uma linguagem de marcação uti-
lizada para produzir páginas na Web. Documentos HTML podem ser interpretados
por navegadores.
Enio Gomes Araujo | 229
GoCDQmVuAt4.
232 | WEBSITE LIBRAS MATEMÁTICA
3. Resultados da Pesquisa
REFERÊNCIAS
SACKS, Oliver. Vendo vozes: uma viagem ao mundo dos surdos. São Pau-
lo: Companhia das Letras, 2010.
Ana Paula Andrade de Melo | Tálita Cavalcanti Pergentino dos Anjos | 237
A LEGITIMAÇÃO DE UM DIREITO
A EDUCAÇÃO DO SURDO
Não podemos negar que uma criança ouvinte traz para a escola uma
gama de vocabulário e uma compreensão da função social da língua que
permite que ela tenha acesso mais rápido ao mundo letrado (leitura e es-
crita). A criança ouvinte aprende a falar naturalmente e chega à escola com
uma gramática interna bem formada. Em contrapartida, a criança surda
não traz para a escola tais conhecimentos. O seu processo de conhecimen-
to é outro. Então, estar no mesmo espaço dividindo as mesmas regras é no
mínimo extremamente desvantajoso, para não dizer uma imensa cruelda-
de. É neste momento que se torna necessário individualizar e especializar
o atendimento no sentido de atender às suas particularidades.
Hoje, cada vez mais vemos, a partir das várias experiências, que
a educação de surdos deve ser centrada no desenvolvimento de um
trabalho preparatório de língua escrita, tendo como apoio o modelo
BILÍNGUE, assegurando esse conhecimento para o surdo. Ou seja, ter
uma educação que lhe ofereça conhecimento da sua L I (Língua de Si-
nais) e a L II (Língua Portuguesa escrita), entendendo que o português
é, para o surdo, sua segunda língua e deve ser ensinada e exigida como
tal. Para tanto, devem ser empregadas metodologia e estratégias dife-
renciadas para atender essa clientela.
Com esse modelo de educação bilíngue, o desenvolvimento lin-
guístico e cognitivo do surdo é garantido prioritariamente através da
língua de Sinais. Esta é quem vai permitir que ele adquira tanto os co-
nhecimentos da língua portuguesa escrita como todo o conhecimento
de mundo para que possa crescer como uma pessoa cidadã. O desen-
volvimento de uma educação bilíngue de qualidade é fundamental ao
exercício de sua cidadania, na qual o acesso aos conteúdos curricula-
res, leitura e escrita não dependem do domínio da oralidade.
Stokoe, já em 1960, percebeu e comprovou que a Língua de Sinais
atendia a todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no lé-
xico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade infinita de
sentenças. Observou também que os sinais não eram imagens, mas
símbolos abstratos complexos, com uma estrutura interior. As línguas
de sinais são, portanto, consideradas pela linguística como línguas na-
turais ou como um sistema linguístico legítimo e não como um proble-
ma do surdo ou como uma patologia da linguagem.
248 | ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA A PESSOA COM SURDEZ
A LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim o ensino da Língua Portuguesa, por sua vez, tem como
função desenvolver um trabalho que leve o aluno a observar, perceber,
interferir, refletir sobre o mundo, interagir com seu semelhante, por
meio do uso funcional da linguagem, de modo que o aluno torne-se
um cidadão crítico, atuante e transformador para a existência de uma
sociedade mais justa, humana e democrática.
É inerente ao ser humano a necessidade individual de se expressar,
bem como a necessidade social de se comunicar. Desde os primórdios,
essa necessidade era aparente, visto que eles utilizavam os desenhos
como forma de expressar suas ideias visualmente. A partir daí tais for-
mas foram evoluindo até chegarem à forma atual, passando, é claro,
por etapas e civilizações diferentes. E neste trajeto, até chegar à escri-
ta, o homem foi tomando consciência das várias unidades linguísticas:
palavras, sílabas, som, etc.
Sabe-se que as pessoas de uma forma geral necessitam utilizar a
leitura e a escrita nas suas diferentes funções sociais. O primeiro con-
tato com o texto geralmente é de ordem mais afetiva do que intelec-
tual. O educador deve ajudar o aluno a aperfeiçoar essas habilidades
de produzir e compreender textos, a descobrir como são ricas as pos-
sibilidades de interação consigo mesmo e com os outros por meio da
linguagem. É importante proporcionar ao educando situações através
das quais ele possa assumir-se sujeito da sua aprendizagem.
Diferentes das atuais aulas de português que perseguem as regras
gramaticais que o aluno decora e dificilmente lembra, elas deveriam
ir em busca de uma constante produção pessoal de textos, leitura, co-
mentário, análise e interpretação de bons textos, ou seja, vivência cria-
tiva com o idioma.
A organização de um texto enquanto história vai depender, além
do domínio de uma língua e experiências sociais, mas também e prin-
cipalmente se a pessoa está alfabetizado, porque a escrita é a tradição
literária. É através da leitura compartilhada de textos que as crianças
aprendem a estruturar, unificar e fechar os discursos. Segundo Tabe-
Ana Paula Andrade de Melo | Tálita Cavalcanti Pergentino dos Anjos | 251
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABNT NTR 6023 Informação e Documentação – Referências e Documen-
tação. Rio de Janeiro. 2002. Disponível em: <http://www.habitus.ifcs.
ufrj.br/pdf/abntnbr6023.pdf>. Acesso em 17 de setembro de 2011.
LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade. 8ª edição. São Paulo: Ática, 2001.
A SURDEZ
leitura labial depende muito de quem está falando, pois fatores como
espessura dos lábios, a expressão facial e fala rápida de boca fechada
ou aberta podem dificultar essa leitura (STROBEL in BRASIL, 2006).
É notório que muitos estudantes do ensino superior enfrentarão
dificuldades em sua trajetória acadêmica, já que as instituições ainda
agem como se os alunos, recém-saídos do ensino médio, estivessem
prontos para cursar a educação superior, com o domínio de conheci-
mentos básicos exigidos. O aprendizado de disciplinas importantes
para sua formação será prejudicado, já que muitos acadêmicos estu-
daram em escolas públicas que não possuíam recursos humanos e
materiais necessários para sua formação escolar, que atualmente é
garantida por lei. Nota-se que os conhecimentos mínimos, básicos, exi-
gidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, que especificam o que
aprender e as habilidades que precisam ser alcançadas em cada disci-
plina curricular, não foram contemplados em sua totalidade.
Para Strobel in Brasil (2006), a inclusão não acontece. O que ocorre
é uma adaptação forçada com a situação do dia a dia dentro das ins-
tituições de ensino. Seria mais fácil se essas instituições aceitassem
ajudar sem preconceitos e procurassem adequar as várias situações
de dificuldades cedendo intérpretes, profissionais de língua de sinais
durante as aulas. Contudo, é importante destacar que para a disponibi-
lização dos intérpretes depende da individualidade de cada ser surdo:
a identidade surda, o domínio de língua de sinais, para que haja a plena
satisfação em receber esse profissional.
Brasil (2006) defende a potencialização de atividades que visem
ao exercício dialógico no cotidiano, estabelecendo o respeito mútuo
e o reconhecimento das diferenças. As aulas tradicionais, nas quais
o professor demonstra conhecimento e os alunos apenas o recebem,
dificulta o relacionamento dos alunos surdos, pois impede o trabalho
cooperativo com seus colegas. A utilização de recursos visuais, manu-
ais ou simbólicos, a experiência direta, a observação, a exploração e a
descoberta possibilitam tal trabalho cooperativo e o contato entre os
membros do grupo nas instituições de ensino superior.
É perceptível que a educação ofertada nas instituições de ensino
superior está pouco familiarizada com a inclusão em relação ao ensino
Sandra de Andrade Santos | Joelma Alves da Rocha | Cristina Nunes dos Santos | 267
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SURDEZ E INCLUSÃO
tre os colegas de sala. Entretanto, vale lembrar que essa era a única
sala que dispunha de intérprete e que nas demais salas essa inter-re-
lação não existia para possibilitar um adequado processo educacional
a esses alunos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
SACKS, O.W. Vendo Vozes: Uma Jornada pelo Mundo dos Surdos. Rio de
Janeiro: Imago, 1989.
Iluminismo.
1
300 | A FUNÇÃO DOS TRADUTORES/INTÉRPRETES DE LIBRAS
2
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
3
Departamento Nacional de Intérpretes da FENEIS
Genivaldo O. Santos Filho | Rozilda R. dos Santos Oliveira | Rita de Cácia S. Souza | 303
4
Língua de Sinais Americana
Genivaldo O. Santos Filho | Rozilda R. dos Santos Oliveira | Rita de Cácia S. Souza | 305
5
Intérprete de Língua de Sinais
306 | A FUNÇÃO DOS TRADUTORES/INTÉRPRETES DE LIBRAS
6
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12319.htm
Alda Valéria S. de Melo | lka Miglio de Mesquita | Simone S. Amorim | Rita de Cácia S. Souza | 311
7
Segunda Língua.
312 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1
CNE – Conselho Nacional de Educação
318 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
2
Charles Miguel de L’Epée (1712-1784), fundou o Instituto Nacional de Surdos-Mu-
dos de Paris, em 1760, educou surdos pelos sinais metódicos. (Januzzi, 2006, p.30).
Alda Valéria S. de Melo | lka Miglio de Mesquita | Simone S. Amorim | Rita de Cácia S. Souza | 321
3
Federação Nacional de Educação e Inclusão do Surdo – fundada em 1989.
322 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
4
Centro de Capacitação de Profissionais da Educação e de Atendimento às Pessoas
com Surdez (CAS). Esta modalidade de centro foi criada em todos os estados da
Federação, e a disseminação da LIBRAS é um dos seus objetivos.
326 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
5
Strobel (2008, p. 31) define os sujeitos surdos que não habitam o mesmo local, mas
que estão ligados por uma origem, por um código ético de formação visual, inde-
pendente de evolução linguística [...].
328 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
6
O conceito de acessibilidade associa-se ao compromisso de melhorar a qualidade
de vida de todas as pessoas, dentre suas seis dimensões está a comunicacional, que
transpõe obstáculos em todos os âmbitos da comunicação, considerada nas suas
diferentes formas (falada, escrita, gestual, língua de sinais, digital, entre outras).
Recursos básicos de acessibilidade sócio-digital para pessoas com deficiência – Ins-
tituto de Tecnologia Social (ITS BRASIL, 2008, p.10).
330 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
Lei nº 10.098/94 - Estabe- Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais e critérios
lece normas gerais e crité- básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
rios básicos para a promo- portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida,
ção da acessibilidade das mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas
pessoas portadoras de defi- vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na cons-
ciência ou com mobilidade trução e reforma de edifícios e nos meios de transporte
reduzida, e dá outras provi- e de comunicação.
dências. Art. 2o Para os fins desta Lei são estabelecidas as seguin-
tes definições:
I- acessibilidade: possibilidade e condição de alcance
para utilização, com segurança e autonomia, dos espa-
ços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edifica-
ções, dos transportes e dos sistemas e meios de comu-
nicação, por pessoa portadora de deficiência ou com
mobilidade reduzida;
II- barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite
ou impeça o acesso, a liberdade de movimento e a circu-
lação com segurança das pessoas, classificadas em:
d) barreiras nas comunicações: qualquer entrave ou
obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o
recebimento de mensagens por intermédio dos meios ou
sistemas de comunicação, sejam ou não de massa;
Lei nº 9394/96 - Estabele- Art. 58 Entende-se por educação especial, para os efei-
ce as diretrizes e bases da tos desta Lei, a modalidade de educação escolar, ofere-
educação nacional. cida preferencialmente na rede regular de ensino, para
educandos portadores de necessidades especiais.
§2º- O atendimento educacional será feito em classes, es-
colas ou serviços especializados, sempre que, em função
das condições específicas dos alunos, não for possível a
sua integração nas classes comuns do ensino regular.
Art. 59 Os sistemas de ensino assegurarão aos educan-
dos com necessidades especiais:
I- currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
organização específicos, para atender às suas necessida-
des; [...]
III- professores com especialização adequada em nível
médio ou superior, para atendimento especializado, bem
como professores do ensino regular capacitados para a
integração desses educandos nas classes comuns;
Decreto nº 3.298/99 Art. 4o É considerada pessoa portadora de deficiência a
Regulamenta a Lei no 7.853, de que se enquadra nas seguintes categorias:
24 de outubro de 1989, dispõe II- deficiência auditiva - perda bilateral, parcial ou total,
sobre a Política Nacional para de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por au-
a Integração da Pessoa Porta- diograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e
dora de Deficiência, consolida 3.000Hz; (Redação dada pelo Decreto nº 5.296, de 2004)
as normas de proteção, e dá
outras providências.
Alda Valéria S. de Melo | lka Miglio de Mesquita | Simone S. Amorim | Rita de Cácia S. Souza | 335
Fonte: Melo, A.V. S. (2012) – Elaborado a partir dos estudos da Pesquisa (2012)
336 | A FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
7
Foi o segundo presidente da FENEIS/RJ.
Alda Valéria S. de Melo | lka Miglio de Mesquita | Simone S. Amorim | Rita de Cácia S. Souza | 339
REFERÊNCIAS
SOBRE OS AUTORES